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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO METROPOLITANO DE ANGOLA

ADILSON LUKENY CAMILO CAMBIETE

ANÁLISE HIDROLÓGICA E HIDRÁULICA DA BACIA DE RETENÇÃO


DO TALATONA

LUANDA

2021
ADILSON LUKENY CAMILO CAMBIETE

ANÁLISE HIDROLÓGICA E DA BACIA DE RETENÇÃO DO TALATONA

Trabalho de fim de curso apresentado ao Instituto Superior


Politécnico Metropolitano de Angola como requisito
parcial para a conclusão da Licenciatura em Engenharia
Civil sob orientação da Eng.ª Civil, Msc Prof.ª Tatiana Da
Encarnação Casaca.

LUANDA

2021
ADILSON LUKENY CAMILO CAMBIETE

ANÁLISE HIDROLÓGICA E HIDRÁULICA DA BACIA DE RETENÇÃO DO


TALATONA

Trabalho de fim de Curso apresentado ao Instituto Superior Politécnico Metropolitano de


Angola como requisito parcial para a conclusão da Licenciatura em Engenharia Civil sob
orientação da Eng.ª Civil, Msc Prof.ª Tatiana Da Encarnação Casaca.
Aprovado ao: __/__/____
________________________________________________________________

Coordenação do curso de Engenharia Civil

Considerações_______________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________
Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais e toda
minha família, pois sem eles jamais conseguiria
trilhar esse caminho durante os anos de formação.
Aqueles que de forma directa ou indirecta deram o
seu contributo moral para a realização deste trabalho.
Agradecimentos

Agradeço acima de tudo a Deus pela protecção, saúde e orientação, durante a formação
permitindo assim que no tempo Dele tudo acontecesse segundo Sua vontade, agradeço também
aos meus pais, por me terem trazido ao mundo, pelo apoio emocional e financeiro aos meus
irmãos pelo companheirismo, aos meus colegas pelo apoio, aos professores pela excelência
naquilo que foi a transmissão de conhecimentos. Para a execução desse trabalho agradeço a
orientadora Tatiana Casaca pelo tempo investido para a conclusão desse trabalho, ao
coordenador do curso Deodósio Kakinda pela disponibilidade em ajudar sempre durante a
execução do mesmo, ao Engº. Mamissa Nzengani, que apesar de não se encontrar mais na
universidade, ainda assim se disponibilizou em ajudar na elaboração do trabalho, agradeço
também ao corpo da administração municipal do Talatona pela disponibilização de informações
que ajudaram a elaborar o trabalho, a minha Namorada pelo apoio durante o processo de
execução do mesmo e a todos que directa ou indirectamente ajudaram para alcançar esse
objectivo.
"Em seu coração, a engenharia é sobre usar a ciência
para encontrar soluções criativas e práticas. É uma
profissão nobre" (Rainha Elizabeth II).
RESUMO

Bacias de amortização de cheias são elementos que visam ajudar a controlar os picos de vazão
na perspectiva de evitar cheias. Neste trabalho realizou-se uma análise para cálculos
hidrológicos e hidráulicos, necessários para o redimensionamento de bacias de retenção, a área
de estudo delimita-se na bacia de retenção do Talatona, analisou-se o funcionamento global do
sistema de drenagem, a integração paisagística e a exequibilidade socioeconómica, estudando
o comportamento da bacia em tempos de forte precipitação, levantamento do estado actual da
mesma e particularmente a insuficiência de retenção das águas, os procedimentos de pesquisa
se focaram em entrevistas, análise de documentos, pesquisas de campo e revisões bibliográfica,
sendo que analise de dados será feita com a ajuda de uma especialista, e com os dados e
resultados da pesquisa demonstrou-se que a bacia em estudo não cumpre com vários parâmetros
técnicos, e em função disso fez-se recomendações para melhorias da mesma em trabalhos
futuros.

PALAVRAS-CHAVE: Análise hidrológica e hidráulica. Bacias de retenção. Drenagem pluvial.


ABSTRACT

Flood amortization basins are elements that aim to help control peak flow in the perspective of
avoiding floods. In this work, an analysis was carried out for hydrological and hydraulic
calculations, necessary for the redimensioning of retention basins, the study area is delimited
in the Talatona retention basin, the overall functioning of the drainage system, the landscape
integration was analyzed. and socio-economic feasibility, studying the behavior of the basin in
times of heavy rainfall, surveying its current status and particularly the insufficiency of water
retention, the research procedures focused on interviews, document analysis, field research and
bibliographical reviews , with the data analysis being carried out with the help of a specialist,
and with the data and results of the research, it was demonstrated that the basin under study
does not comply with several technical parameters, and as a result, recommendations were
made for improvements to it. in future work.

KEYWORDS: Hydrological and hydraulic analysis. Retention basins. Rain drainage.


LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Ciclo hidrológico. ................................................................................................. 18
Figura 1.2 - Bacia de retenção: a) em série; b) em paralelo. .................................................... 27
Figura 1.3 - Galeria de águas pluviais. ..................................................................................... 32
Figura 1.4 - Vista frontal da secção geométrica de um canal ................................................... 34
Figura 2.1 - Secção rectangular ............................................................................................... 40
Figura 3.1 - Localização geográfica da bacia de retenção. ....................................................... 41
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1.1 - Bacia de retenção do Coelho (Luanda)........................................................... 23
Fotografia 1.2 - Bacia de retenção utilizadas para diferir os caudais de ponta………..………24
Fotografia 1.3 - Bacia de retenção para uso recreativo. ........................................................... 25
Fotografia 1.4 - Bacia de retenção com enriquecimento de paisagem. .................................... 25
Fotografia 1.5 - Bacia de retenção a céu aberto. ...................................................................... 28
Fotografia 1.6 - Bacia de retenção enterrada. ........................................................................... 29
Fotografia 1.7 - Bacia seca. ...................................................................................................... 29
Fotografia 1.8 - Bacia com nível de água permanente. ............................................................ 30
Fotografia 1.9 - Aqueduto composto por anéis de betão. ........................................................ 33
Fotografia 1.10 - Canal de extravasor. .................................................................................... 34
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Valores médios do coeficiente C da fórmula racional – Áreas Urbanas .............. 37
Tabela 2.2 - Valores médios do coeficiente C da fórmula racional Áreas agrícolas. ............... 38
Tabela 2.3 - Velocidades máximas sugeridas em função do tipo de solo adaptado. ................ 39
Tabela 3.1 - Dados da bacia hidrográfica, e a da bacia de retenção ......................................... 45
Tabela 3.2 - Dados para o dimensionamento da secção do canal............................................. 46
LISTA DE ACRÔNIMOS E SIGLAS
A – Área da bacia drenante

a, b,c,d – Parâmetros

AM – Área molhada

B – Base do canal

BL – Bordo livre

BMP – Best Management Practice

C - Coeficiente de escoamento

CH´s – Canais hidráulicos

H – Altura da secção transversal do canal

I – Intensidade de precipitação para um período de retorno

IDF – Intensidade Duração Frequência

L – Comprimento do talvegue

Lc – Longitude do canal

n – Coeficiente de rugosidade

Patm – Pressão atmosférica

PM – Perímetro molhado

Qp – Caudal de ponta de cheia

RH – Raio hidráulico

S – Declividade do canal

Tc – Tempo de concentração

td – duração

TR – Tempo de retorno

V – Velocidade

Vmáx/min - Velocidade máxima/mínima

Vmin - Velocidade mínima

yo - Altura da água

∆h - Diferença de altitude ao longo do talvegue


INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS. EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NA DRENAGEM


PLUVIAL. .......................................................................................................................... 18

EXPANSÃO URBANA ............................................................................................... 19

SOLUÇÕES ALTERNATIVAS DE GESTÃO DE ESCOAMENTO......................... 21

1.2.1 SOLUÇÕES ESTRUTURAIS .................................................................. 21

1.2.2 SOLUÇÕES NÃO ESTRUTURAIS ........................................................ 22

BACIAS DE RETENÇÃO ........................................................................................... 22

1.3.1 DESCRIÇÃO GENÉRICA DO SEU MODO DE FUNCIONAMENTO 23

1.3.2 FINALIDADE .......................................................................................... 23

1.3.3 PROTECÇÃO DO MEIO AMBIENTE. .................................................. 26

1.3.4 TIPOS DE BACIA .................................................................................... 27

1.3.5 SELECÇÃO DO TIPO DE BACIA .......................................................... 30

1.3.6 DISPOSIÇÕES TÉCNICAS ..................................................................... 30

1.3.7 FASES DO PROJECTO ........................................................................... 31

CANAIS HIDRÁULICOS ........................................................................................... 32

1.4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CANAIS .......................................................... 33

2. MÉTODOS DE CÁLCULOS HIDROLÓGICOS E HIDRÁULICOS PARA


REDIMENSIONAMENTO DE BACIAS DE RETENÇÃO. ........................................ 35

2.1 DIMENSIONAMENTO HIDROLÓGICO .................................................................. 35

2.1.1 CAUDAL DE PONTA DE CHEIA .......................................................... 35

2.1.2 MÉTODO RACIONAL ............................................................................ 35

2.2 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO ..................................................................... 39

2.2.1 VELOCIDADES MÍNIMAS .................................................................... 39

2.2.2 VELOCIDADES MÁXIMAS .................................................................. 39


3. APLICAÇÃO PRÁTICA NO CASO DE ESTUDO .................................................. 41

3.1 SISTEMA DE DRENAGEM DAS ÁGUAS PLUVIAIS ............................................ 41

3.2 ESTADO DA BACIA EM TEMPOS DE CHUVAS DE GRANDE INTENSIDADE42

3.3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................. 43

3.4 DIMENSIONAMENTO HIDROLÓGICO E HIDRÁULICO ..................................... 44

3.4.1 Dimensionamento hidrológico .................................................................. 45

3.4.2 Dimensionamento hidráulico ..................................................................... 46

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 47

LIMITAÇÕES DO TRABALHO ........................................................................................ 48

RECOMENDAÇÕES FUTURAS ....................................................................................... 49

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 50

APÊNDICES ....................................................................................................................... 51

ANEXOS ............................................................................................................................. 60
15

INTRODUÇÃO
O processo de desenvolvimento urbano, ocorrendo de forma não controlada, tende a
comprometer o desenvolvimento económico com efeitos directos sobre a degradação do meio
ambiente e qualidade de vida das populações, conceito totalmente aplicável na realidade da
cidade de Luanda.

Como reflexo das alterações dos estilos de vida e dos padrões de consumo da sociedade
actual, aliado ao crescimento demográfico verificado nas últimas décadas na cidade de Luanda,
cresce concomitantemente a necessidade construção de novas residências, polos industriais,
zonas de comercio, lazer, vias de comunicação e outras infra-estruturas, resultando na expansão
e densificação das zonas. O cenário de crescimento urbano e consequente alteração dos padrões
de ocupação do solo, em particular a impermeabilização dos terrenos pela sua própria natureza
tem efeitos nefastos no ciclo hidrológico natural da bacia hidrográfica, por um lado cria uma
barreira isolante entre o solo e a atmosfera, impossibilitando a infiltração da água precipitada,
e por outro lado a regularização da superfície aumenta de forma significativa a resistência ao
escoamento, originando o aumento dos caudais de ponta de cheia, bem como a diminuição do
tempo de concentração, traduzindo-se em situações de elevado risco de ocorrência de enchentes
e desastres.

Localizada no município de Talatona, província de Luanda, a bacia de retenção do


Talatona, tem sido apontada como causadora de vários transtornos a moradores e automobilistas
e transeuntes, das zonas adjacentes.

Tudo porque em época chuvosa a mesma tem se mostrado insuficiente para amortecer
o elevado pico de vazão, resultando assim no transbordo das águas para as vias e também para
as residências nos condomínios adjacentes, os moradores mostram-se preocupados com essa
situação, uma vez que as águas chegam a aceder as residências, criando assim um ambiente
propício para o surgimento de alguns repteis dentro das residências e um ambiente propicio ao
desenvolvimento de doenças.

Descrição do problema

Um dos grandes problemas resultante da impermeabilização superficial dos solos, são


as enchentes que se verificam na área da ZR5, município do Talatona, na bacia de retenção da
Vanan, costuma ficar completamente cheia em tempos de fortes descargas pluviométricas, com
volume armazenado além da capacidade provocando o transbordo e consequentemente
16

alagamentos nas áreas adjacentes e até mesmo a ocorrência de prejuízos que vão desde perdas
de bens materiais até situações que colocam em risco a vida humana. Tudo porque foi
identificado um índice de expansão urbana desenfreado na cidade capital.

Hipóteses

Com base o problema descrito no item anterior, resultante do estudo de campo


formulam-se como hipóteses:

• Área da bacia insuficiente para reter o volume de água resultante das descargas
pluviais;
• Ausência de um canal hidráulico com propósito de evacuar as águas pluviais que
aí incidem e resultam no transbordo da bacia;
• Ausência ou insuficiência no Grupo de bombas referentes ao sistema de sucção
das águas.

Objectivos

Com base no problema, delinearam-se os seguintes objectivos a atingir:

Objectivo geral

Analisar na bacia de retenção do Talatona os aspectos hidrológicos e hidráulicos, e dessa


forma evitar o transbordo.

Objectivos específicos

• Analisar o funcionamento global do sistema de drenagem, a integração


paisagística e exequibilidade socioeconómica da bacia em estudo.
• Apresentar um relatório sobre a situação actual da bacia de retenção do Talatona.
• Elaborar recomendações de melhoria nos aspectos de retenção das águas em
tempos de fortes descargas pluviométricas.

Justificativa

Com a elaboração desse projecto cria-se uma base de análise para a exequibilidade de
bacias de retenção que visa propor recomendações para os problemas relativos ao transbordo
de água na bacia evitando assim o condicionamento de vias de transito resultante do alagamento
das mesmas, inundações nas residências das áreas adjacentes, criação de condições propícias
17

para a proliferação de agentes patológicos como mosquitos, répteis entre outros factores que
acabam colocando em perigo a vida humana, de um modo geral o projecto mostra-se essencial
para despertar a importância do desenvolvimento de um projecto de requalificação da bacia de
retenção do caso de estudo.

Metodologia

Os métodos utilizados para a elaboração deste estudo estão descritos a seguir:

• Pesquisa bibliográfica

Na pesquisa bibliográfica fez-se consultas em diversos livros relacionados ao


dimensionamento de bacias de retenção, métodos de controle de cheias e dissertações de
mestrado.

• Pesquisa descritiva

Neste tipo de pesquisa fez-se um estudo na zona de intervenção e chegou-se e verificou-


se que o dispositivo de amortecimento de cheias é uma bacia de retenção.

• Pesquisa de campo

Fez-se a recolha de solo, estado actual do sistema de evacuação das águas na zona de
intervenção para assim fazer a sua caracterização.

• Estrutura do trabalho

O primeiro capítulo, terá o enfoque em fazer um enquadramento do tema, o problema


de estudo, e um breve histórico dos problemas causados pelas chuvas no decorrer do ano.
Apresentando também o desenvolvimento teórico centrado nos princípios básicos do
funcionamento dos sistemas de macro drenagens nas cidades com enfoque para as bacias de
retenção.

O segundo capítulo faz-se um enquadramento técnico, sobre cálculo hidrológico e com


especificações relacionadas a estruturas hidráulicas, modelos de cálculo e directrizes para a
definição de caudais.

No terceiro capítulo faz-se a discussão e análise dos resultados, para a posterior elaborar
as recomendações futuras, referências bibliográficas, apêndices e por fim anexo.
18

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS. EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NA


DRENAGEM PLUVIAL.
Segundo (CAMARGO & SCHIAVETTI, 2002), o conceito de bacia hidrográfica
relaciona-se o conjunto de áreas drenadas por um corpo d´água principal e seus afluentes 1.

Segundo (ROSA, 2017) o ciclo da água, em suas condições naturais, pode ser apontado
como um sistema em equilíbrio. Porém, com o crescente processo de expansão urbana,
percebem-se impactos que acarretam em alterações na dinâmica do ciclo hidrológico como um
todo ou em partes dele. Em áreas urbanas, a alta taxa de impermeabilização do terreno, a
remoção da vegetação e a canalização de cursos fluviais criam condições necessárias que
intensificam os processos de erosão, assoreamento e inundações e ocasionam mudanças no
lençol freático.

Estima-se que cerca de apenas 9% do volume de água percorre a via terrestre, na


realidade grande parte da chuva cai no mar ou evapora-se na atmosfera. Para entendermos o
ciclo hidrológico, como ilustra a figura a seguir, podemos partir do momento em que a água se
evapora dos oceanos e da superfície da terra e passa a integrar a atmosfera no estado gasoso,
em condições especificas surgem gotículas que, pela acção da gravidade formam precipitação
pluviométrica (chuva). Desse ponto em diante, a água que cai pode seguir por dois caminhos:
parte infiltra-se no solo, abastecendo os reservatórios subterrâneos(lençóis freáticos e aquíferos)
a outra parte forma o escoamento superficial. As águas armazenadas nos reservatórios
subterrâneos fluem lentamente e, por meio da evaporação fecha-se o ciclo hidrológico,
conforme se ilustra na Figura 1.1 (BINHANÇA, 2006).

Figura 1.1 - Ciclo hidrológico.

Fonte: http://ga.water.usgs.gov/, 2018.

1
Afluente: Corpo de água que flui para um rio maior para um lago ou reservatório.
19

EXPANSÃO URBANA

“Planejar ou gerenciar sistemas de drenagem urbana envolve administrar um problema


de alocação de espaço” (CANHOLI, 2014).

A urbanização desordenada e uso inadequado do solo provocam a redução da


capacidade de armazenamento natural do escoamento que por consequência natural encontrará
outros locais para ocupar (CANHOLI, 2014).

As alterações causadas pela urbanização em um ambiente natural podem se verificar a


partir da análise do ciclo hidrológico. Qualquer meio natural tem sua forma determinada
principalmente pela acção das águas entre outros condicionantes físicos. As águas pluviais são
dissipadas através da evapotranspiração, infiltração e escoamento superficial (BARBOSA,
2006).

Com o passar do tempo os centros populacionais vão se expandindo a partir das


periferias, provocando assim possíveis inundações nas zonas centrais dos aglomerados urbanos
em tempos de grandes precipitações. A razão se finda no facto da rede de drenagem concebida
inicialmente, não estar preparada para fazer face aos novos caudais de ponta causados pela
expansão urbana (MATIAS, 2006).

Com o crescimento dos centros urbanos, todos estes processos são reduzidos
drasticamente, o que faz aumentar o escoamento, encurtando o seu tempo de concentração,
causando graves reflexos nos cursos de drenagem natural, provocando erosão, assoreamento e
enchentes (BARBOSA, 2006).

1.1.1 Impermeabilização dos solos

As cheias costumam aumentar a sua frequência e amplitude devido a impermeabilização


superficial causada pela ocupação do solo resultante da expansão urbana, mas também devido
a construção nos vales, o desenvolvimento urbano pode, ainda, constituir obstáculo ao
escoamento, por meio de construções de aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções
diversas (BINHANÇA, 2006).

Historicamente os engenheiros responsáveis pela drenagem urbana tentaram solucionar


o problema da perda do armazenamento natural, causando um aumento na velocidade dos
escoamentos com obras de canalização. A aceleração dos escoamentos resultou na transferência
do problema de redução de espaços naturais para a jusante, ou seja, quanto menor o tempo de
20

concentração, maior o pico de vazão a jusante. Isso com frequência resulta na inundação em
zonas que anteriormente não sofriam de tais problemas (CANHOLI, 2014).

“As enchentes aumentam a sua frequência e magnitude não só devido a


impermeabilização causada pela ocupação do solo, mas também devido a construção a rede de
colectores de águas pluviais, que acelera o encaminhamento das águas para os vales.”
(MATIAS, 2006).

1.1.2 Consequências da impermeabilização dos solos

A impermeabilização, compactação e regularização dos solos urbanos, leva ao aumento


da parcela que corresponde ao escoamento superficial, uma vez que num solo em estado natural,
importantes fenómenos conduzem a absorção de água. Gerando impactos consideráveis no
ciclo hidrológico natural, pois diminui a evapotranspiração2, devido ao desmatamento, e
aumenta o escoamento superficial, o que intensifica processos de erosão e assoreamento de
corpos de água o que diminui o volume de capacidade de infiltração, resultando no decréscimo
na quantidade de água armazenada no solo, tudo se deve ao facto de grande parte da água escoa-
se superficialmente (ROSA, 2017).

1.1.3 Impactos da drenagem pluvial urbana

Segundo (VIEIRA, 2014). Além da alteração de uso e ocupação dos solos, a drenagem
pluvial urbana vem para substituir, parte do ciclo natural da água, particularmente falando da
transferência pelos sistemas de drenagem pluvial urbana utilizando uma filosofia “tout l’
egout”, consiste em escoar a água precipitada o mais rapidamente, sem qualquer preocupação
com a retenção dos volumes escoados dos picos de caudais amplificados pela
impermeabilização das zonas urbanas a, montante, que induz sérios problemas a jusante tais
como:

• A criação de linhas de águas artificiais, como colectores ou canais, com


materiais com baixo coeficiente de rugosidade, como o betão ou aço, e o
aumento da declividade dos terrenos, induzem a altas velocidades de
escoamento.
• É também comum a inundação localizada devido à diminuição da secção de
escoamento, pelo estreitamento dos cursos de água por colunas de pontes,

2
Evapotranspiração: A evaporação é um processo pelo qual a água passa do estado líquido para o gasoso
de maneira lenta e gradual, a uma temperatura inferior à de ebulição.
21

passagens hidráulicas incompatíveis com os caudais, afluentes, vias de


comunicação e em geral pela ocupação da área de inundação das linhas de água.

SOLUÇÕES ALTERNATIVAS DE GESTÃO DE ESCOAMENTO

Na intenção mitigar os impactos previamente descritos, no que concerne a drenagem


pluvial devem ser levadas em conta e estudadas um conjunto de soluções alternativas com
intuito de contrapor os efeitos da urbanização no meio receptor, quer no ponto de vista
qualitativo, quer no quantitativo, actuando sempre que possível nas proximidades das zonas
impermeabilizadas,(VIEIRA, 2014).

Estas soluções designadas por BMP (Best Management Practice, na nomenclatura


anglo-saxónica), podem ser estruturais, quando a sua execução requer o uso de materiais ou
estruturas físicas de gestão do escoamento, ou ainda não estruturais, quando são essencialmente
de medidas preventivas de carácter institucional e educacional, perspectivando a restrição e
coordenação do uso e ocupação dos solos, com base em políticas de desenvolvimento
sustentável (VIEIRA, 2014).

1.2.1 Soluções estruturais

Segundo Vieira (apud, SANTOS, 2010) as soluções estruturais são aquelas


caracterizadas pela necessidade de intervenções estruturais mais ou menos profundas, usando
técnicas e materiais específicos, incluindo neste tipo de medidas bacias de retenção, existem
várias outras medidas que serão apresentadas a seguir que são vulgarmente aplicadas nesse
contexto, cuja a análise e execução depende das especificações da mesma, bem como as
condições da zona por implantar:

• Pavimentos porosos;
• Trincheiras de infiltração;
• Poços absorventes;
• Faixas filtrantes;
• Valas revestidas com vegetação;
• Bio retenção;
• Leitos de macrófitas;
• Entre outros.
22

1.2.2 Soluções não estruturais

Segundo (SOUZA, 2018). As medidas não estruturais, são essencialmente preventivas,


e sendo que não implicam a execução de infra-estruturas, tem algumas vantagens, como custos
mais reduzidos, menor agressão ambiental e paisagística.

Resumidamente a eficácia destas medidas, dependem do comportamento da população


e dos órgãos de tutela da gestão regional, e incluem planeamento urbano, desenvolvimento de
planos de ordenamento do território, implementação de leis e políticas ambientais que visam
um desenvolvimento sustentável, práticas de manutenção dos sistemas de drenagem e
campanhas de conscientização junto da população.

Segundo Vieira (apud, SEMCOG, 2008) os principais objectivos destas medidas são:

• Protecção de áreas sensíveis;


• Redução de áreas impermeabilizadas;
• Minimização das áreas perturbadas;
• Protecção de linhas de água;
• Gestão prevenção e restauração do solo.

BACIAS DE RETENÇÃO

“Uma alternativa ao reforço, em pleno tecido urbano, dos colectores existentes será a
criação, a jusante dos novos loteamentos, de reservatórios ou bacias de acumulação de águas
pluviais, permitindo descarregar aí caudais que ultrapassem a capacidade de vazão da rede
existente.” (BINHANÇA, 2006).

Uma bacia de retenção é uma estrutura hidráulica que tem como objectivo principal
reduzir o valor de ponta do caudal máximo e retardar o escoamento durante um período de
tempo especificado. Regularizando-se assim o escoamento pluvial afluente, amortecendo os
picos de vazão e permitindo compatibilizar o valor do caudal efluente com os limites
preconizados (BINHANÇA, 2006).

Quanto as dimensões, poderá na maioria dos casos, ser ampliada para acompanhar os
efeitos decorrentes da impermeabilização crescente a montante da bacia de drenagem, outras
vezes, essa ampliação é justificada, A possibilidade de se fasearem os investimentos, de acordo
com as necessidades construtivas e disponibilidades financeiras, torna esse tipo de solução
frequentemente atraente, na fotografia 1.1 apresenta-se a bacia de retenção do Coelho (PIRES,
2017).
23

Fotografia 1.1- Bacia de retenção do Coelho (Luanda).

Fonte: ANGOLA-ONLINE.net, 2018.

1.3.1 Descrição genérica do seu modo de funcionamento

Segundo Binhança (2006) Independentemente do seu tipo, uma bacia normalmente é


constituída por:

• Corpo da bacia: composto por fundo e bermas ou taludes laterais.


• Dique de jusante: Estrutura linear, que a altura condiciona a altura máxima de
retenção e onde geralmente, se instalam os dispositivos de descarga sob
condições normais.
• Dispositivos de descarga sob condições normais: colectores, orifícios e válvulas
• Dispositivos de segurança: descarregador de superfície.

O dispositivo de descarga não permite que o escoamento seja realizado na totalidade


dos caudais afluentes em casos de forte pluviosidade, provocando o armazenamento da água e
consequente subida de seu nível dentro da bacia, que por sua vez aumenta o caudal
descarregado. Com o tempo, a cheia dissipa-se e o caudal que se escoa é superior ao que entra,
reduzindo assim o nível na bacia até que se atinja um ponto de equilíbrio (BINHANÇA, 2006).

1.3.2 Finalidade

As bacias de retenção são estruturas de armazenamento de águas pluviais, e têm a


finalidade de regularizar os caudais, tornando assim possível a restituição de caudais
compatíveis com um limite previamente estabelecido ou imposto pela capacidade de vazão de
um colector existente ou por construir. A principal vantagem é de permitir descarregar caudais
muito inferiores aos que entram em regime de ponta, reduzindo assim os riscos de inundações
(MATIAS, 2006).
24

Predominantemente uma bacia de retenção tem finalidade, quantitativa ou hidráulica,


isto é, destina-se a regularizar os caudais, através de um armazenamento temporário, reduzindo
os caudais de ponta para a jusante, que terão que ser compatibilizados com o meio receptor.
Contudo, este efeito de armazenamento atribui à bacia uma função qualitativa, ao permitir
melhorar a qualidade da água retida, principalmente, por efeito da decantação dos materiais
sólidos suspensos (BINHANÇA, 2006).

As bacias de retenção podem ter interesses múltiplos interesses, desde o ponto de vista
social, estético e de protecção do meio ambiente. O planeamento de drenagem urbana deverá
ser feito de forma integrada, concomitantemente com outros melhoramentos urbanos e os
planos regionais, quando os mesmos existirem. Quando bem exploradas executadas podem, de
facto contribuir para valorização do tecido urbano nas fotografias 1.2; 1.3; 1.4, apresentam-se
bacias com variadas funções descritas nas respectivas legendas (MATIAS, 2006).

Segundo Binhança, a integração das bacias de retenção nos sistemas de drenagem,


quando bem concebida, constitui, assim, uma mais valia para o meio urbano, contribuindo com
os seguintes benefícios e utilidades:

• Melhoria do comportamento do sistema de drenagem, através da capacidade de


armazenamento e consequente diminuição dos riscos de inundação;
• Criação de reservas de água para fazer face a necessidades agrícolas, ocorrência
de incêndios e actividades industriais e municipais, como a limpeza de
arruamentos e parques;
• Custos de investimento, em regra, inferiores á ampliação da rede existente;
• Regularização dos caudais de ponta;

Fotografia 1.2 - Bacia de retenção utilizadas para diferir os caudais de ponta.

Fonte: Binhança, 2006.


25

• Diminuição da poluição das águas pluviais através de diversos processos físicos,


químicos e microbiológicos que permanentemente ocorrem na bacia e
consequente melhoramento da qualidade da água;
• Evita obras incómodas e dispendiosas de aumento da capacidade dos colectores
de águas pluviais;
• Recarga dos aquíferos por infiltração, quando a qualidade das águas pluviais não
conduz a riscos para a qualidade da água subterrânea.
• Criação de pólos de interesse recreativo e turístico, nomeadamente zonas para a
prática de pesca e outros desportos náuticos;

Fotografia 1.3 - Bacia de retenção para uso recreativo.

Fonte: ferdinandodesousa.com, 2016.

• Embelezamento estético da paisagem através do efeito de espelho de água (no


caso de bacias com nível de água permanente);

Fotografia 1.4 - Bacia de retenção com enriquecimento de paisagem.

Fonte: docplayer.com.br/, 2017.


26

1.3.3 Protecção do meio ambiente.

Sob o ponto de vista ambiental vale salientar o aumento da qualidade de água pluvial,
nomeadamente do ponto de vista de redução do teor de sólidos suspenso e de matéria orgânica
que se pode conseguir por meio de bacias de retenção estrategicamente localizadas. Como
resultado das primeiras descargas pluviométricas após estiagem3, a água pluvial está bastante
poluída, essa poluição resulta, fundamentalmente, da acção erosiva no solo e da acção da
lavagem dos pavimentos e outras superfícies superficialmente impermeabilizadas. Uma água
pluvial pode conter matéria segregável ou com partículas arenosas, óleos, agentes patológicos
e entre outras impurezas de maior ou menor dimensão (MATIAS, 2006).

Sob condições extremas, quando o consumo de oxigénio no interior da massa líquida


não é compensado pelo rearejamento atmosférico, a concentração desse elemento no líquido
pode se anular (situação da anaerobiose4). Nestas condições, a actividade de microorganismos
redutores pode dar origem a compostos nocivos para a qualidade do ambiente (como gás
sulfídrico), o que consequentemente provoca a liberação de odores indesejáveis. (MATIAS,
2006).

Segundo Matias (2006). As bacias de retenção, desempenham um papel importante para


a melhoria da qualidade das águas afluentes. As transformações que aí ocorrem são de natureza
física, química e microbiológica, podendo assumir maior pendor as seguintes:

• Sedimentação dos sólidos em suspensão e consequente redução do grau de


turvação da água.
• Variação da concentração de oxigénio dissolvido na massa líquida, devido aos
efeitos conjugados de transferência de oxigénio da atmosfera, actividade
fotossintética das espécies vegetais e consumo verificado no processo de
oxidação, em condições aeróbias, da matéria orgânica existente.
• Variação da concentração de nutrientes: com água em repouso e sem
alimentação constante verifica-se em regra, uma redução da concentração de
nutrientes, especialmente se retirarem-se, com frequência a vegetação que aí se
desenvolve.

3
A estiagem é um fenómeno climático que tem como principal consequência a falta de chuva por
períodos prolongados. Diferentemente da seca, que tem duração permanente, a estiagem acontece de forma
cíclica.
4
Respiração anaeróbia ou anaerobiose é o processo metabólico celular condicionado em ambientes
caracterizados pela ausência de gás oxigénio (O2).
27

• Redução de microorganismos, nomeadamente bactérias patogénicas: o


armazenamento de água ao ar livre contribui, em regra, para a redução de
microorganismos, devido a um conjunto de circunstâncias (temperatura, a
radiação solar, competição biológica e a sedimentação) desfavoráveis ao seu
crescimento.

1.3.4 Tipos de bacia

Segundo Matias (2006) Quanto a tipologia as bacias de retenção podem classificar-se:

A. Quanto à sua localização relativamente ao colector ou canal de drenagem, em:


• Bacias em série

As bacias em série (On-Line) situam-se no alinhamento directo do colector ou canal de


drenagem afluente, interceptando-o, e permitindo que todo o escoamento afluente passe pela
bacia.

• Bacias em paralelo

As bacias em paralelo (Off-Line) localizam-se paralelamente ao colector ou canal


afluente. Neste caso, nem todo o escoamento aflui à bacia, sendo a passagem feita, geralmente
por meio de um descarregador lateral. A figura a seguir representa o funcionamento das bacias
em série e em paralelo

Figura 1.2 – Bacia de retenção: a) em série; b) em paralelo.

Fonte: Matias, 2006.


28

B. Quanto á sua posição relativamente à superfície do solo, em:


• Bacias a céu aberto

Segundo Vieira (2014), as bacias a céu aberto, caracterizam-se por se situarem à


superfície, sendo geralmente construídas em terra, com taludes reforçados e diques 5 de
protecção lateral. A implantação deste tipo de bacias é relativamente simples, pois na medida
em que é possível aproveitar os relevos do terreno, ou podem simplesmente resultar na
intercepção de uma linha de água em local de fisiografia favorável, sendo necessário apenas a
construção de barragem ou açude. Essas bacias são particularmente interessantes do ponto de
vista da integração em meio urbano, uma vez que permitem múltiplas utilidades, de cariz
estético, criação de zonas de lazer, zonas verdes e recreativas conforme se apresenta na
fotografia a seguir.

Fotografia 1.5 – Bacia de retenção a céu aberto.

Fonte: Vieira, (2014).

• Bacias enterradas

Segundo Vieira (2014), as bacias enterradas são aquelas instaladas abaixo no nível do
solo, quando não há disponibilidade do terreno à superfície em áreas urbanas densamente
ocupadas, ou em zonas que não seja uma alternativa funcional o uso de bacias a céu aberto por
diversos factores conforme se apresenta na fotografia a seguir.

5
Dique, represa ou açude é uma obra de engenharia hidráulica com a finalidade de manter determinadas
porções de terra secas através do represamento de águas correntes.[1] Sua estrutura pode ser de concreto, de terra
ou de enrocamento.
29

Fotografia 1.6 – Bacia de retenção enterrada.

Fonte: Vieira, 2014.

C. Quanto ao seu comportamento hidráulico, as bacias a céu aberto podem ser:


• Bacias secas

Essas bacias possuem os dispositivos de descarga no na cota mais baixa da bacia de


modo a que seja possível esvaziar por completo a bacia após a ocorrência de precipitação, sendo
que a descarga de água é feita no máximo alguns dias, o que consequentemente significa que a
bacia fica vazia durante períodos de tempo seco. Estes tipos de bacias são caracterizados por
proporcionar, a possibilidade de criação de espaços verdes e áreas de lazer durante o período
seco conforme se apresenta na fotografia a seguir (VIEIRA, 2014).

Fotografia 1.7 – Bacia seca.

Fonte: Vieira, 2014.

• Bacias com nível de água permanente

Essas bacias possuem dispositivos de descarga a uma cota mais elevada que o fundo da
bacia, permitindo assim manter-se um determinado nível de água mesmo em período em que
não se verifica a ocorrência de descargas pluviais. Neste tipo de bacias é desejável a intercessão
com o nível freático, de modos que se garanta a alimentação por parte do escoamento
30

subterrâneo, de outra forma pode se recorrer à impermeabilização do fundo com materiais


naturais ou artificiais conforme se apresenta na fotografia a seguir (VIEIRA, 2014).

Fotografia 1.8 – Bacia com nível de água permanente.

Fonte: Agriculture, 1997.

1.3.5 Selecção do tipo de bacia

A escolha do tipo de bacia de retenção, entre a “seca” e de “nível de água permanente”


depende de vários factores, como, o tipo de integração paisagístico que se pretende obter, o
volume de armazenamento necessário, acessibilidades, custos, entre outros, mas existem outras
condicionantes cruciais, fundamentalmente referentes as características geológicas
hidrogeológicas do solo onde se pretende a sua instalação e das variações do nível freático local
(VIEIRA, 2014).

1.3.6 Disposições técnicas

Segundo Binhança (2006), para a selecção do tipo de bacia, será necessário garantir
alguns aspectos na sua concepção e forma, de modos a garantir maior segurança e eficiência
durante o seu funcionamento.

A. Bacias secas.
• Inclinação do fundo ≥ 5% (evitando assim zonas pantanosas).
• Inclinação das bermas ≤ 1/6 (em bacias acessíveis ao público).
• Inclinação das bermas ≤ 1/2 (em bacias não acessíveis ao público).

B. Bacias com nível de água permanente.


• Altura permanente de água em tempo seco deverá ser de 1,5m (para evitar o
desenvolvimento de plantas aquáticas e garantir a vida piscícola, que é
importante para a estabilidade do equilíbrio ecológico no ecossistema formado
pela bacia).
31

No caso da bacia estar numa zona de fácil acesso ao público, será ainda necessário
assegurar o seguinte:

• Uma variação do nível de água, com limite de 0,5 metros, para a precipitação do
período de retorno escolhido;
• O tratamento convenientemente das bermas:
• talude relvado de pequena inclinação no corpo da bacia;
• paramento vertical de 0,75m ao longo do qual se manifestam as
flutuações do nível da água e que é, usualmente, construído em material
rígido (betão) ou semí-flexível (gabiões), envolvendo a periferia da
bacia;
• passadeira horizontal de 2 a 4m de largura, no topo do paramento
vertical, concebida, fundamentalmente, por razões de segurança e
protecção.

1.3.7 Fases do projecto

A necessidade de garantir as condicionantes descritas implica que o projecto de bacias


de retenção seja elaborado de acordo com seguintes etapas sequenciais.

A. Estudo e recolha de dados

Segundo Binhança (2006), a fase de estudo e recolha de dados, é composta pelas fases
descritas a seguir:

• Hidráulico/hidrológico: tem como finalidade principal o conhecimento dos


caudais afluentes e caudais de estiagem do meio receptor, situação e
flutuação do lençol freático, e do funcionamento global do sistema de
drenagem.
• Caracterização do meio receptor e da rede de drenagem: a caracterização do
meio receptor, objectivos de qualidade, caudais de estiagem, indicadores do
estado físico, biológico e ecológico tornará possível a identificação dos
débitos de chegada de água tolerados e os níveis admissíveis de qualidade
das descargas de águas pluviais.
• Conhecimento da rede de drenagem: O conhecimento da capacidade e
localização dos colectores existentes tornará possível a definição do papel da
bacia de retenção nessa rede de drenagem, se será em série o em paralelo, e
também sua posição tendo em conta a zona de risco.
32

B. Identificação preliminar dos locais potenciais de implantação

Essa etapa identifica concomitantemente aspectos técnicos definidos nas etapas


anteriores com outros não menos importantes na natureza ambiental, integração paisagística e
exequibilidade socioeconómica. O estudo de viabilidade de execução e precisão do tipo de bacia
a implantar nos locais definidos preliminarmente deve ser complementada com dados mais
detalhados, como: topográficos, geológicos, geotécnicos e outros de natureza sociológica e
patrimonial.

CANAIS HIDRÁULICOS

Em sistemas de condutos livre ou canais têm a características peculiar da existência de


uma superfície livre onde actua a pressão atmosférica. O transporte da água se dá pela força
gravitacional apenas, sendo que as canalizações podem trabalhar parcialmente cheias, ou na
iminência de encher(secção plena), pela situação limite em que ainda existe uma superfície
infinitesimal livre na secção onde actua a pressão atmosférica, na figura a seguir apresenta-se
(AKUTSU, 2012).

Figura 1.3 – Galeria de águas pluviais.

Fonte: Akutsu, 2012.

O escoamento em canais pode ser resumido pela existência das seguintes


particularidades:

• Existência de superfície livre onde actua a pressão atmosférica;


• Diferente do escoamento em condutos forçados o escoamento em canais se dá
apenas pela acção gravitacional.
33

1.4.1 Classificação dos canais

Os canais podem ser classificados pêlos critérios citados a seguir:

• De acordo o contorno da secção.


• Canais de secções abertas (superfícies livres ou expostas ou a “céu
aberto”) tais como os rios (canais naturais), canais construídos (canais de
irrigação, aquedutos entre outros.);
• Canais de secções fechadas, como redes de esgotos e galerias de águas
pluviais.
• De acordo com a cota de assentamento em relação à cota do terreno.
• Canais de secção aberta, construídos com a cota na superfície do terreno;
• Canais de secção fechada, implantados abaixo do nível do solo, tais
como redes e esgoto e galerias de águas pluviais, como ilustrado na
imagem a seguir.
• De acordo a forma geométrica da secção transversal.
• Canais de secção rectangular;
• Canais de secção trapezoidal;
• Canais de secção triangular;
• Canais de secção circular;
• Canais de secção especial (oval, arco de circo, entre outros);
• Canais de secção não uniformes ou não simétricas.

Fotografia 1.9 – Aqueduto composto por anéis de betão.

Fonte: aecweb.com.br.
34

• Segundo o seu objectivo.


• Canais de drenagem;
• Canais colectores;
• Canais de extravasor, como ilustrado na figura a seguir;
• Canais de rega;
• Canais para a navegação.

Fotografia 1.10 – Canal de extravasor.

Fonte: Akutsu, 2012.

A imagem a seguir ilustra os parâmetros utilizados na hidráulica dos canais:

Figura 1.4 – Vista frontal da secção geométrica de um canal.

Fonte: Akutsu, 2012.


35

2. MÉTODOS DE CÁLCULOS HIDROLÓGICOS E HIDRÁULICOS PARA


REDIMENSIONAMENTO DE BACIAS DE RETENÇÃO.
São vários os modelos empregados para cálculo dos volumes de detenção, segundo
Assunção (apud PORTO, 2002), as diferenças nas metodologias e critérios de cálculos
hidráulico-hidrológicos surgem como problemas básicos. É considerável a quantidade de
trabalhos que abordam essas discussões, sendo apresentadas nos mesmos aplicações detalhadas
ou generalistas, estabelecendo relações directas entre o volume reservado e as principais
variáveis hidrológicas. O cálculo de volumes detidos em bacias de detenção pode ser realizado
com apoio de metodologias totalmente hidrológicas. As proposições hidrológicas baseiam-se
em métodos chuva-vazão, e levam em consideração o uso do solo em condições antes e depois
a urbanização, enquanto que métodos hidráulico-hidrológicos levam em consideração as
condições de controle das estruturas de saída.

2.1 DIMENSIONAMENTO HIDROLÓGICO

O dimensionamento hidrológico tem como objectivos delimitar a bacia hidrográfica que


contribuirá para a bacia de retenção, reconhecendo as infra-estruturas naturais e rede de
drenagem de águas pluviais que afluem para o ponto a estudar e no qual será posicionada a
bacia de retenção. Determinar os caudais de ponta que servirão de base ao dimensionamento
das bacias de retenção. Existem vários métodos que podem ser adoptados.

2.1.1 Caudal de ponta de cheia

O dimensionamento de bacias de retenção, para a gestão do escoamento requer o cálculo


do hidrograma do escoamento da bacia de drenagem, para os períodos de pré e pós-
desenvolvimento. Por essa razão, o caudal do escoamento deve ser obtido através de um método
capaz de reproduzir o escoamento acumulado (volume) Lima (apud USACE, 1994; FHWA,
1999 e VDOT, 2001). Existem vários métodos de cálculos que podem servir de base para o
dimensionamento do caudal de ponta em bacias de retenção. No presente trabalho de fim de
curso apresenta-se o método racional como modelo de cálculo.

2.1.2 Método racional

Binhança (2006), afirma que as limitações do método racional se prendem com as


simplificações tanto de natureza hidráulica e hidrológica da sua formulação. As de ordem
hidrológicas se relacionam com a precipitação que se admite invariável no tempo e no espaço,
e da representação conceptual da transformação precipitação – escoamento que se considera
36

uma relação linear e representada por um coeficiente de escoamento invariável. Salientar que
em bacias de grandes dimensões e com percentagem de áreas impermeáveis importante, são
menos plausíveis as hipóteses de invariância temporal e espacial da precipitação e da
linearidade do respectivo processo de transformação em escoamento.

Do ponto de vista hidráulico, as limitações se fundamentam na inadequação para se


fazer a representação do escoamento pluvial como um fenómeno dinâmico quer no espaço
como no tempo. O método racional estima um caudal de ponta, que ocorre no instante em que
toda a bacia está a contribuir para o escoamento, isto é, quando a duração da chuva critica e o
tempo de concentração entram em condição de equilíbrio, a dimensão da bacia deve servir de
base para estabelecer um limite para aplicabilidade do método racional, o referido limite
costuma variar conforme a região na europa (Portugal) recomenda-se aplicar em áreas inferiores
à 25km2. Na américa recomenda-se um limite de área inferior à 15km2 Paiva, (apud,
BRUTSAERT, 2005).

Hipóteses básicas consideradas no método racional:

• a relação entre o caudal máximo e a área drenante e entre o caudal máximo e a


intensidade de precipitação é linear;
• a intensidade de precipitação é constante no intervalo de tempo t = tc;
• o tempo de duração da precipitação é igual ao tempo de concentração;
• a precipitação e o caudal têm a mesma frequência ou período de retorno.

A utilização da fórmula racional requer o conhecimento da área e tipo de ocupação do


solo da bacia, do tempo de concentração e das curvas de Intensidade-Duração-Frequência (IDF)
para um dado período de retorno, a fórmula racional é definida pela expressão (2.1).

• Caudal de ponta de cheia:


C.I
Qp = 3,6 . A (2.1)

Onde: Qp – Caudal de ponta de cheia [m3/s]

C – Coeficiente de escoamento (C≤ 1)

I – Intensidade de precipitação para um período de retorno T [mm/h]

A – Área da bacia drenante [ha]


37

Tabela 2.1 – Valores médios do coeficiente C da fórmula racional, áreas urbanas.

Tipo de ocupação Coeficiente C

Zonas verdes

Relvados em solos arenosos 0,05 – 0,20

Relvados em solos pesados 0,15 – 0.35

Parques e cemitérios 0,10 – 0,25

Campos desportivos 0,20 – 0,35

Zonas comerciais

Centros da cidade 0,70 – 0,95

Periferia 0,50 – 0,70

Zonas residenciais

Vivendas no centro da cidade 0,30 – 0,50

Vivendas na periferia 0,25 – 0,40

Prédios de apartamento 0,50 – 0,70

Zonas industriais

Indústria dispersa 0,50 – 0,80

Indústria Concentrada 0,60 – 0,90

Vias férreas 0,20 – 0,40

Ruas e estradas

Asfaltadas 0,70 – 0,95

De betão 0,80 – 0,95

De tijolos 0,70 – 0,85

Passeios 0,75 – 0,85

Telhados 0,75 – 0,95

Baldios 0,10 – 0,30

Fonte: Chow, 1964.


38

Tabela 2.2 – Valores médios do coeficiente C da fórmula racional áreas agrícolas.

Cobertura da bacia
Tipos de solos Culturas Paisagens Bosques
e
florestas
Coeficiente C
Com capacidade de infiltração superior à média; 0,20 0,15 0,10
usualmente arenosos.
Com capacidade de infiltração média; sem camadas de 0,40 0,35 0,30
argila; solos francos ou similares.
Com capacidade de infiltração inferior à média; solos 0,50 0,45 0,40
argilosos pesados ou solos com uma camada argilosa
junto a superfície; solos delgados sobre rocha
impermeável.

Fonte: Chow, 1964.

Os valores apresentados para o coeficiente de escoamento, C, apresentados nas tabelas


2.1 e 2.2 correspondem a um período de retorno compreendido no intervalo de 5 a 10 anos

• Curvas Intensidade duração Frequência


𝑎×𝑇𝑅 𝑏
𝐼 = (𝑡 𝑑
(2.2)
𝑑 +𝑐)

Onde: TR – Tempo de retorno (anos)

td - duração (min)

a.,b,c,d – Parâmetros de dimensionamento que dependem da região.

• Equação empírica baseada na característica física da bacia, Paiva ( apud, KIRPICH,


1940).
𝐿3
𝑇𝑐 = 57. (∆ℎ)0,385 (2.3)

Onde: Tc – Tempo de concentração (min)

L - Comprimento do talvegue6 (km)

∆ℎ - Diferença de altitude ao longo do talvegue (m).

6
Talvegue: Linha de maior profundidade de um vale ou rio, ou pode ainda ser identificado como canal
principal da bacia.
39

2.2 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO

Em projectos de canais, deve-se ter em conta para além dos limites superiores os limites
inferiores de velocidade (AKUTSU, 2012).

2.2.1 Velocidades mínimas

Em redes de galerias de águas pluviais, que carregam água contendo sólidos em


suspensão ou areia. Existe a preocupação de utilizar uma declividade mínima para evitar que
tais materiais venham a sedimentar no fundo dessas canalizações, pois poderão resultar em
obstruções.

A imposição de velocidades mínimas, tem o intuito de evitar a formação de depósitos


indesejáveis de materiais no fundo do canal, que podem promover o assoreamento7, e assim
alterar a rugosidade e a secção do canal (AKUTSU, 2012).

2.2.2 Velocidades máximas

Segundo Akutsu A imposição de velocidades limites superiores ou velocidades


máximas tem o intuito de evitar desgastes excessivos das paredes do canal que podem causar
corrosões progressiva e inclusive comprometer totalmente a estrutura a estabilidade do canal.
A tabela a seguir descreve as velocidades máximas sugeridas para se evitar processos erosivos8
para diferentes tipos de solo conforme se apresenta na tabela 2.3 (AKUTSU, 2012).

Tabela 2.3 – Velocidades máximas sugeridas em função do tipo de solo adaptado.

Tipo de material das paredes do canal (Velocidade média máxima admitida


m/s)

Areia grossa 0,46 a 0,61

Alvenaria 2,44 a 3,05

Rochas compactas 3,05 a 4,00

Betão 4,00 a 6,00

Fonte: Akutsu, 2012

7
Assoreamento: processo em que cursos d'água são afectados pelo acúmulo de sedimentos, o que resulta
no excesso de material sobre o seu leito e dificulta a navegabilidade e o seu aproveitamento.
8
Erosão: acção de processos superficiais, que remove solo, rochas, ou material dissolvido de um local na
crosta da Terra, que então o transporta para outro local.
40

• Expressão que define os elementos geométricos das secções transversais:

Figura – 2.1 Secção rectangular

Fonte: Akutsu, 2012

AM = b.y (2.4)

PM = b + 2y (2.5)

RH = b.y / b + 2y (2.5)

• Restrições hidráulicas
o 𝑉 ≤ 𝑉𝑚á𝑥 → Não erosão;
o 𝑉 ≥ 𝑉𝑚𝑖𝑛 → Não sedimentação;
o 0,05𝑦 ≤ 𝐵𝐿 ≤ 0,3𝑦 → Bordo livre adequado.
• Restrições da relação b/y
o 1 ≤ 𝑏/𝑦 ≤ 6 como valores admissíveis;
o 2 ≤ 𝑏/𝑦 ≤ 5 como valores óptimos.
41

3. APLICAÇÃO PRÁTICA NO CASO DE ESTUDO


Aspira-se com o terceiro capítulo demonstrar a aplicabilidade dos resultados
constatados nos estudos efectuados nos capítulos precedentes por meio de análise de dados e
em função disso elaborar um diagnóstico real da situação, para além se recomendar melhorias
e para tal efeito, usou-se como caso de estudo a bacia de retenção da Vanan, localizada no
distrito de Talatona, mais precisamente adjacente as vias AL19, S4B e S15 do referido distrito
e ocupa uma área aproximada de 46.200m2.

Figura 3.1 - Localização geográfica da bacia de retenção.

Fonte: Autor, 2021.

3.1 SISTEMA DE DRENAGEM DAS ÁGUAS PLUVIAIS

Segundo documento disponibilizado pela administração municipal do talatona, o sítio


de Talatona abriga o divisor de águas do Rio Cambamba, que divide o território em duas bacias
hidrográficas, a Bacia Sul e a Bacia Norte.

A bacia Sul drena directamente para o Rio Cambamba, por conta disso todas as águas
colectadas nessa bacia são conduzidas através de galerias de tubos de betão e canais e lançadas
no Rio Cambamba.

A bacia Norte se subdivide em duas bacias conforme demonstrado nos anexos. Uma
pequena bacia que drena para o Futungo e a Bacia da Lagoa de retenção. Esta bacia hidrográfica
possui uma área de aproximadamente 240 ha. Na época das chuvas as águas eram escoadas
para uma depressão formando uma lagoa, fazendo com que as áreas adjacentes ficassem
42

expostas a inundações. Com o objectivo de solucionar esse problema foi implantada uma bacia
de retenção, no local da referida lagoa, com o volume capaz de reter temporariamente todo o
escoamento superficial produzido por um temporal cuja a intensidade e frequência
correspondentes estejam associados a determinada segurança previamente definida.

Segundo documento disponibilizado pela administração municipal do Talatona, o


sistema de drenagem contempla uma bacia de retenção, e de um sistema de recalque composto
de bombas, tubulações e acessórios. Após os temporais o volume retido será afastado da bacia
de detenção e lançado além do divisor de águas, na bacia adjacente (Futungo) utilizando- se, a
partir desse local, as próprias galerias de águas pluviais para promover o transporte do caudal
até o corpo receptor, no caso a rede de drenagem natural.

Importante observar que o funcionamento do sistema requer que a bacia esteja


completamente vazia, como condição de espera para a retenção do volume precipitado e
posterior esgotamento.

3.2 ESTADO DA BACIA EM TEMPOS DE CHUVAS DE GRANDE INTENSIDADE

Em tempos de fortes de descargas pluviométricas a bacia de retenção costuma estar


completamente cheia, com volume armazenado além da capacidade prevista, provocando
alagamentos nas áreas adjacentes, contaminação das águas devido a mistura das águas residuais
e pluviais, propiciando assim a proliferação de doenças causadas por mosquitos, repteis e outros
agentes patogénicos. As informações disponíveis dão conta que esta situação costuma perdurar
por um período de 2 meses. Não existem informações sobre as condições de operação das
bombas na bacia antes da ocorrência da chuva de maior intensidade.

Os documentos disponibilizados dão conta das seguintes informações:

• As bombas do sistema de recalque9 são bombas submersas, porém as mesmas


não estão operacionais como ilustrado nos anexos
• O sistema de bombeamento instalado tem altura geométrica da ordem de 10m.
• A tubulação da linha de recalque existente, implantada ao longo da Via Al-19,
tem diâmetro de 400 mm e capacidade de até 160 l/s.
• O ponto de lançamento da linha de recalque do sistema de esgotamento está a
cerca de 1.300 m da casa de bombas.

9
Sistema de recalque: O conjunto de meios mecânicos e de canalização, sendo que, este permite
transportar fluídos (água ou outros), de uma fonte inferior para um ponto superior, por meio de bombeamento.
43

3.3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

Dentre vários problemas apresentados pela bacia, o presente trabalho de fim de curso
tem como principal foco, evitar o transbordo de água na bacia, desta feita definiu-se como
solução a aplicação de CH´s com o objectivo de definir um nível de água máximo na bacia e
sempre que esse nível é ultrapassado consequentemente, inicia-se o processo de escoamento até
a cota pré-estabelecida, solucionando assim o problema de alagamento nas residências e vias
adjacentes como ilustrado nos apêndices em função disso foram formuladas hipóteses de
soluções, dessa forma definiu-se uma cota de nível máximo da água a 1,5m abaixo da superfície
da bacia.

Hipótese 1

• Criação de um CH enterrada que escoa as águas ao longo da via AL19, levando até a
bacia a norte- futungo trajecto ilustrado nos anexos, e a partir desse ponto usar os
próprios canais e galerias de betão daquela bacia e daí reencaminhar por gravidade para
a rede de drenagem natural.

Condicionantes:

A partir do software google maps, pelo levantamento topográfico do terreno verificou-


se que o ponto que serviria de jusante está numa cota mais elevada, uma diferença de 6m, sendo
que a montante tem uma cota planimétrica de + 48m e a jusante está a +54m em relação ao
nível do mar. considerando a superfície nos dois pontos, logo tendo a montante à determinada
altura abaixo da superfície da bacia, teríamos de a montante abaixo da superfície da Jusante,
sem levar em conta a pendente ou inclinação o que condicionaria a possibilidade de usar as
galerias de águas pluviais da bacia a norte-futungo para encaminhamento das águas, a
alternativa seria continuar com o CH até ao mar, mas tornaria o projecto economicamente
inviável, no ponto de vista custo/benefício, logo verificou-se que tal hipótese é inviável.

Hipótese 2

• Criação de um CH enterrada que escoa as águas para a vala do rio Cambamba, e a partir
daí encaminha-las para a rede de drenagem natural, o trajecto do CH seria de 1,72km a
diferença de cotas é de 27m sendo que a montante está a uma cota de +47 e a jusante a
uma cota de +20m acima do nível do mar.

Condicionantes:
44

Verificou-se que a solução seria usual se a zona envolvente não fosse uma zona já
urbanizada e de alto padrão, mas devido a esse mesmo factor não será viável devido a análise
de custo/benefício.

Hipótese 3

• Criação de um CH enterrada que escoa as águas para o sistema de recolha de águas,


pluviais da Avenida Pedro de Castro Van-Dunem Loy.

Condicionantes:

Verificou-se que tal solução dependeria do sistema de drenagem da referida via,


condicionando assim a uma verificação do actual sistema de drenagem da mesma de modos a
compatibilizar os dados de caudais existentes com o caudal que receberia da bacia de retenção.

• Criação de uma segunda bacia de retenção enterrada nos terrenos adjacentes com
volume necessário para receber as águas pluviais que ultrapassem a cota de água
definida para a bacia em estudo e assim evitar a situação de transbordo da bacia.

Condicionantes:

Para execução dessa solução deve-se criar uma separação das águas residuais e pluviais,
para que dessa forma não haja contaminação das águas, e as águas colectadas na bacia
enterrada sejam reaproveitadas para outros fins desde que não para o consumo humano,
sendo que a bacia enterrada seja construída de tal forma que não receba água resultante do
escoamento superficial e receba apenas água da bacia de retenção a céu aberto.

3.4 DIMENSIONAMENTO HIDROLÓGICO E HIDRÁULICO

Em função das hipóteses levantadas, efectuou-se cálculos hidrológicos e hidráulicos que


visam, a obtenção de dados como Caudal de ponta e o dimensionamento da estrutura de entrada
da passagem hidráulica, para desta forma apresentar dados que possam servir de base para o
desenvolvimento de trabalhos futuros.

Devido a dificuldade de obtenção de alguns dados e parâmetros necessários para o


dimensionamento hidrológico, houve a necessidade de usar-se dados de outras regiões, porém
com características climáticas semelhantes para simulação dos cálculos.
45

3.4.1 Dimensionamento hidrológico

Com o dimensionamento hidrológico pretende-se obter os dados relativos ao caudal de


ponta na bacia hidrográfica da lagoa de retenção, a seguir apresentam-se dados relativos a bacia
hidrográfica e de retenção.

Tabela 3.1 - Dados da bacia hidrográfica, e a da bacia de retenção

Dados da bacia hidrográfica

L (km) 2,57

∆ℎ (m) 24

A (km2) 2,53

Fonte: Autor, 2021.

Dados extraídos de tabelas e outras fontes para simulação de cálculos:

Tr: 5 anos

C = 0,88 (Ruas asfaltadas)

Parâmetros

a: 1000 b: 0,15 c: 12 d: 0,7


2,573 0,385
Tc = 57. ( ) → Tc = 50min
24

1000×50,15
I= → I = 70mm/h
(50+12)0,7

0,88×70×2,53
Qmáx = → Qmáx = 43,29m3/s
3,6

Para a simulação da zona encontrou-se um Qmáx = 43,29m3/s


46

3.4.2 Dimensionamento hidráulico

Com o dimensionamento hidráulico pretende-se definir a secção ideal do canal capaz


de evacuar o caudal apresentado no cálculo hidrológico, na tabela a seguir apresentam-se dados
necessários par ao dimensionamento do Canal hidráulico.

Tabela 3.2 - Dados para o dimensionamento da secção do canal.

Dados para o dimensionamento

Revestido de betão

N 0,016

Vmáx (m/s) 6

Vmin (m/s) 4

Qmáx m3/s 43,29

Lc (m) 60

∆ℎ (m) 3

S 46 − 43
60

Fonte: Autor, 2021.

𝑄𝑛 43,26.0,016
= = 3,10
√𝑠 √0,05

Com isso supõe-se uma largura da placa de fundo de b=3,0 m

b/y = 3,33 valor óptimo.


43,29
Q = A.v → 𝑣 = 3.3
= 13,12m/s

Nota: há erosão.
• Borda Livre
o 0,05𝑦 ≤ 𝐵𝐿 ≤ 0,3𝑦 → 0,045 ≤ 𝐵𝐿 ≤ 0,27
o BL = 0,20m
o H = 0.90 + 0,20 = 1,1m
47

CONCLUSÃO
No contexto das cidades, verifica-se hoje uma grande cobrança da população para
prevenção e a minimização dos problemas de inundações e os mesmo costumam estar sob tutela
dos administradores e urbanistas, que ao definir o desenho urbano de Luanda não puderam
prever tamanha expansão, e deste ponto surge a necessidade de tomar-se medidas que visam
minimizar os efeitos das inundações, porém essas soluções quando são estruturais carecem de
pessoal qualificado para execução das mesmas e para essas situações as soluções de engenharia
costumam a ser correctivas e não preventivas.

Dessa forma vale então afirmar que, a zona estudada não beneficiou de estudos prévios
(para o caso de serem efectuados, os estudos não foram aplicados) que levariam em
consideração aspectos como, expansão urbana, impermeabilização do solo em função de
factores como coeficientes de escoamento superficiais, e para além disso de acordos a estudos
apresentados, existe uma mistura entre as águas pluviais e residuais dos condomínios adjacente,
o que torna a água dessa bacia contaminada, desta feita qualquer encaminhamento da mesma
para a rede de drenagem de águas pluviais, necessitaria primeiro de uma separação das águas
pluviais e residuais ou então do devido tratamento antes do encaminhamento para a rede de
drenagem natural.

verificou-se que para bacias de retenção do género existe a necessidade colocação de


extravasores que visam definir um nível de água máximo permanente na bacia, elemento não
existente na bacia em estudo, dizer que para a bacia em estudo as soluções imediatas possíveis
seriam apenas soluções que visariam mitigar os danos causados pelas precipitações intensas
nessa região.

Este documento apresenta então como solução a criação de uma bacia enterrada
adjacente a bacia em estudo que visará definir um nível de água permanente. Após os cálculos
efectuados e definição de dimensões satisfatórias para o canal hidráulico, compatibilizou-se
para dimensões comerciais conforme ilustrado no anexo 7 e a secção transversal se encontra
ilustrada no apêndice 14, e para além disso elaborou-se recomendações que visam minimizar o
impacto das descargas na bacia.
48

LIMITAÇÕES DO TRABALHO
A principal limitação prende-se ao facto da dificuldade de colecta de dados como os das
curvas IDF para assim executar o dimensionamento do caudal. Por tal razão usou-se dados de
outras regiões com condições climáticas similares a da zona de estudo para execução de
cálculos simulados. Portanto os resultados obtidos no trabalho de fim de curso servem para
representação do modelo ideal de cálculo para o dimensionamento hidrológico e hidráulico.

A segunda limitação prende-se as condições actuais do objecto de estudo e sua


envolvente, que pelo actual desenvolvimento urbano inviabiliza algumas soluções, em função
disso as soluções aqui sugeridas sejam com o intuito de mitigar os efeitos das fortes descargas
pluviométricas na bacia de retenção em análise.
49

RECOMENDAÇÕES FUTURAS
No desenrolar do trabalho surgiu a necessidade de tecer algumas recomendações
inerentes a ocorrência de cheias e o método de prevenção das mesmas, primeiramente fazer
uma abordagem sobre a metodologia correcta para implementação de bacias de retenção e
finalmente tecer algumas recomendações que visam mitigar, a questão do transbordo e outras
variáveis que tornam a bacia de retenção em estudo não funcional.

Para a implementação de bacias de amortecimento de cheias recomenda-se que se faça


os seguintes estudos prévios:

• Hidráulico;
• Hidrológico;
• Caracterização do meio receptor;
• Conhecimento da rede de drenagem;
• Identificação preliminar dos potenciais locais a implantar.

Na perspectiva de mitigar a situação de cheias, alagamentos, contaminação das águas


pluviais e melhor aproveitamento da área ocupada pela bacia recomenda-se que:

• Criação de espaços verdes na bacia hidrográfica, de modos a reduzir a


impermeabilização superficial e desta forma reduzir os caudais de ponta;
• Separação das águas residuais das águas pluviais, através da criação de uma
fossa com capacidade de suportar a demanda de esgoto dos condomínios cuja
a ligação foi feita na bacia, de forma que a manutenção da mesma fossa fique
sob responsabilidade da administração dos condomínios;
• Manutenção na bacia de retenção de modos a fazer o devido tratamento, da
água contaminada;
• Criação de um espelho de água de modo a melhorar o aspecto de integração
paisagística.
50

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, F. D. A. D. R. Medidas de protecção e controle de inundações urbanas na


bacia do rio Mamanguape/PB. Paraíba: Universidade Federal da Paraíba, 2006.

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resolução de situações extremas. Cheias e secas. Porto: Universidade do porto, 2006.

CANHOLI, A. Planejamento de sistemas de drenagem urbana. São paulo: oficina de textos,


2014.

CANHOLI, A. P. Drenagem urbana e controle de enchentes. 2º. ed. São Paulo: Oficina de
Textos, 2014.

CEOLIN, L. D. F. M. Análise hidráulica-hidrológica da implantação de bacias de retenção


e detenção em vicente pires. Brasília: [s.n.], 2019.

COLLISCHON, W.; DORNELLES, F. Hidrologia para Engenharia e Ciencias ambientais.


Porto Alegre: [s.n.], 2013.

MATIAS, M. G. B. Bacias de retenção estudos de métodos de dimensionamento. Porto:


[s.n.], 2006.

NAKAZONE, L. M. Implantação de reservatórios de detenção em conjuntos


habitacionais: a experiência da cdhu. São Paulo: [s.n.], 2005.

PAIVA, R. Rodrigo Paiva, 2020. Disponivel em:


<https://www.youtube.com/watch?v=f1OfCBnHMOY&t=256s>. Acesso em: 29 Agosto 2021.

PIRES, B. M. R. Caracterização de bacias de retenção no algarve. Algarve: [s.n.], 2017.

QUARENTA, D. Luanda: Estratégias de Regeneração Urbana através da criação de novos


espaços. Lisboa: FA ULISBOA, 2016.

ROSA, A. F. Os impactos da urbanização sobre o ciclo hidrológico no município de


patrocínio - MG. Minas gerais: [s.n.], 2017.

SCHIAVETTI, A.; CAMARGO, A. F. M. Conceitos de bacias hidrográficas: teorias e


aplicações. Ilhéu: UESC, 2002. Disponivel em: <http://www.uesc.br>.

SOUZA, R. C. C. D. Método para dimensionamento eficiente de reservatórios de


contenção de cheias. Paraná: [s.n.], 2018.

VIEIRA, I. L. S. Análise de Bacias de Retenção. Madeira: [s.n.], 2014.


51

APÊNDICES
Apêndice - 1 Via S4B alagada devido o transbordo da bacia. ................................................. 52
Apêndice - 2 Bacia após o transbordo de água. ........................................................................ 52
Apêndice - 3 Zona alagada devido o transbordo da bacia. ....................................................... 53
Apêndice - 4 Via S15 alagada devido o transbordo da bacia. .................................................. 53
Apêndice - 5 Via S15 alagada devido o transbordo da bacia com carro preso. ....................... 54
Apêndice - 6 Via S15 em tempos secos. .................................................................................. 54
Apêndice - 7 Bacia de retenção em tempo de seca................................................................... 55
Apêndice - 8 Bacia de retenção em tempos secos. ................................................................... 55
Apêndice - 9 Delimitação da área de intervenção. ................................................................... 56
Apêndice - 10 Mapa de elevação, para hipótese 1. .................................................................. 56
Apêndice - 11 Mapa de elevação, para hipótese 2. .................................................................. 57
Apêndice - 12 Localização do espaço para aplicação da bacia enterrada. ............................... 57
Apêndice - 13 Traçado do canal hidráulico. ............................................................................. 58
Apêndice - 14 Secção Transversal com pormenor da entrada do Canal .................................. 59
Apêndice - 15 Secção transversal do canal hidráulico. ............................................................ 59
52

Apêndice 1 - Via S4B alagada devido o transbordo da bacia.

Apêndice 2 - Bacia após o transbordo de água.


53

Apêndice 3 - Zona alagada devido o transbordo da bacia.

Apêndice 4 - Via S15 alagada devido o transbordo da bacia.


54

Apêndice 5 - Via S15 alagada devido o transbordo da bacia com carro preso.

Apêndice 6 - Via S15 em tempos secos.


55

Apêndice 7 - Bacia de retenção em tempo de seca.

Apêndice 8 - Bacia de retenção em tempos secos.


56

Apêndice 9 - Delimitação da área de intervenção.

Apêndice 10 - Mapa de elevação, para hipótese 1.


57

Apêndice 11 - Mapa de elevação, para hipótese 2.

Apêndice 12 - Localização do espaço para aplicação da bacia enterrada.


58

Apêndice 13 - Traçado do Canal Hidráulico.


59

Apêndice 14 – Secção Transversal com pormenor da entrada do Canal.

Apêndice 15 – Secção longitudinal do Canal.


60

ANEXOS
Anexo 1 - Carta de pesquisa remetida a administração municipal do Talatona com carimbo de
diferimento ............................................................................................................................... 61
Anexo 2 - Divisão da bacia hidrográfica a norte do Talatona .................................................. 62
Anexo 3 - Dados de tempo de retorno para estruturas de drenagem (São Paulo) .................... 62
Anexo 4 - Valores de coeficiente de rugosidade (n) da fórmula de Manning, para distintos tipos
de revestimento das paredes dos canais. ................................................................................... 63
Anexo 5 - Rede de drenagem de águas pluviais ....................................................................... 63
Anexo 6 - Bombas submersíveis inoperantes ........................................................................... 64
Anexo 7 - Tabela com secções comerciais. .............................................................................. 64
61

Anexo 1 - Carta de pesquisa remetida a administração municipal do Talatona com carimbo de diferimento.
62

Anexo 2 - Divisão da bacia hidrográfica a norte do Talatona.

Fonte: Administração municipal do Talatona.

Anexo 3 - Dados de tempo de retorno para estruturas de drenagem (São Paulo).

Fonte: (Collischon; Dornelles, 2013).


63

Anexo 4 - Valores de coeficiente de rugosidade n da fórmula de Manning, para distintos tipos de revestimento
das paredes dos canais.

Fonte: Adaptado de Porto, R. M., Hidráulica Básica, 2004.

Anexo 5 - Rede de drenagem de águas pluviais.

Fonte: Administração municipal do Talatona.


64

Anexo 6 - Bombas submersíveis inoperantes.

Fonte: Administração municipal do Talatona.

Anexo 7 – Tabela com secções comerciais.

Fonte: Catálogo Mota-Engil.

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