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Renate Watanabe
Universidade Mackenzie
Neste artigo vamos fazer, inicialmente, algumas afirmações sobre números naturais que são verdadeiras para
os números 1, 2, 3 e muitos outros e vamos tentar responder à pergunta: elas são verdadeiras sempre?
Após enunciar uma forma do princípio de indução e usá-lo em um exemplo, passaremos a descrever duas
situações envolvendo indução:
- uma, para ver se, de acordo com uma lenda, o mundo está para acabar, e
- outra, para provar que inteligência é contagiosa, pois demonstraremos que havendo um aluno
inteligente numa classe com n alunos, então todos os alunos da classe são inteligentes.
O objetivo do artigo é enriquecer o estoque de fatos e problemas interessantes que professores colecionam
para usar em momentos oportunos nas aulas que ministram.
Verdadeiro ou falso?
Vejamos:
1. “n < 100” é uma sentença verdadeira para n = 1, n = 2, n = 3 e outros, mas torna-se falsa para qualquer
número natural maior do que 99. Portanto,
402 + 40 + 41 = 40 . (40 + 1) + 41 = 41 . 41
Em 1772, Euler mostrou que f(n) = n2 + n + 41 assumia valores primos para n = 0, 1, 2,..., 39.
Observando que f(n – 1) = f( - n), vê-se que n2 + n + 41 assume valores primos para 80 inteiros
consecutivos: -40, -39, ..., -1, 0, 1, ..., 39. Substituindo a variável n por n – 40, obtém-se
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que assume valores primos para todos os números naturais de 0 até 79 – um “record” para trinômios do
segundo grau(1).
e, portanto, a sentença
4. “A soma dos n primeiros números ímpares é n2” é uma sentença verdadeira para n = 1, n = 2, n = 3 e,
como no caso anterior, após muitas e muitas tentativas, não se acha um número natural que a torne falsa.
Neste caso, tal número não existe pois, como veremos adiante, esta sentença é verdadeira sempre.
5. “2n + 2 é a soma de dois números primos” é uma sentença verdadeira para n = 1, n=2, n=3 e, como nos
dois exemplos anteriores, após muitas e muitas tentativas, não se encontra um número natural que a torne
falsa. Mas agora temos uma situação nova: ninguém, até hoje, encontrou um número que tornasse a sentença
falsa e ninguém, até hoje, sabe demonstrar que a sentença é verdadeira sempre.
A sentença é a famosa conjetura de Goldbach(3) feita em 1742, em uma carta dirigida a Euler: “Tudo inteiro
par, maior do que 2, é a soma de dois números primos”. Não se sabe, até hoje, se esta sentença é verdadeira
ou falsa.
Em suma, dada uma afirmação sobre números naturais, se encontrarmos um contra-exemplo, saberemos que
a afirmação não é sempre verdadeira. E se não acharmos um contra-exemplo? Neste caso, suspeitando que a
afirmação seja verdadeira sempre, uma possibilidade é tentar demonstrá-la recorrendo ao princípio da
indução.
1. 0 S
2. k IN, se k Î S, então k + 1 S.
Vamos ver como este princípio nos permite demonstrar que a sentença 4 é verdadeira.
Demonstração:
Seja S o conjunto dos números naturais n para os quais a soma dos n primeiros números ímpares é n2.
2. Vamos supor que k S, isto é, que a soma dos k primeiros números ímpares seja k2.
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Vamos provar que k + 1 S, isto é, que a soma dos k + 1 primeiros números ímpares é (k + 1)2.
1 + 3 + 5 + ... + 2k – 1 = k2
O princípio da indução nos garante, agora, que S = IN*, ou seja, a afirmação “a soma dos n primeiros
ímpares é n2” é verdadeira para todos os números naturais maiores do que zero.
No 2o. grau o professor encontra muitas oportunidades para fazer demonstrações por indução, se assim o
desejar, mas não nos deteremos aqui para dar os exemplos clássicos.
Uma lenda
Após a criação do mundo, em um mosteiro escondido na Índia, o Grande Criador colocou uma placa de
bronze e nela fixou três bastões cobertos de diamantes. Em um dos bastões, em ordem decrescente de
tamanho, colocou 64 discos de ouro. E assim disse aos monges: “Transfiram esta pilha de discos para outro
bastão, movendo, ininterruptamente, um disco de cada vez e nunca permitindo que um disco fique acima de
um menor. Quando terminarem esta tarefa e os 64 discos estiverem em outro bastão, este templo se reduzirá
à pó e com um estrondo de trovões o mundo acabará.”
Dizem os sábios que o mundo foi criado há 4 bilhões de anos aproximadamente e os monges, desde a
criação, estão movendo os discos na razão de um disco por segundo.
m1 = 1
Dois discos
m2 = 3
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Três discos:
m3 = 7
Quatro discos:
m4 = 15
Já se pode ver como deslocar n discos, com um menor número de movimentos possível: inicialmente,
movem-se n – 1 discos para o bastão de trás, com mn-1 movimentos; em seguida, move-se o n-ésimo disco
para o outro bastão da frente, com 1 movimento; finalmente movem-se os n – 1 discos do bastão de trás para
o da frente, com mn-1 movimentos. Tem-se:
mn = mn-1 + 1 + mn-1 = 2mn-1 + 1
Façamos uma tabela com o número de discos e o número de movimentos mínimo para mudá-los de um
bastão para outro:
n 1 2 3 4 5 6 ...
mn 1 3 7 15 31 63 ...
Precisamos descobrir o valor de m64 porque m64 segundos após a criação do mundo, ele acabará e já se
passaram 4 bilhões de anos!
Observando a segunda linha da tabela vemos que os seus números são, a menos de 1: 2, 4, 8, 16, 32, 64, ou
seja, 21, 22, 23, 24, 25, 26, o que nos leva a fazer a seguinte conjetura:
mn = 2n –1
Esta sentença é verdadeira para n = 1, 2, 3 ,4 5, 6, mas será verdadeira sempre?
Tentemos demonstrá-la por indução.
Seja S o conjunto dos números naturais n tais que n discos são movidos com 2n –1 movimentos.
1. 1 S, pois para 1 disco necessitamos de 1 = 21 – 1 movimentos.
2. Vamos supor que k S, isto é, k discos são removidos com 2k – 1 movimentos.
Vamos provar que k + 1 S, isto é, que mk +1 = 2k +1 – 1.
Para remover k + 1 discos passamos, inicialmente, k discos para o bastão de trás com mk movimentos; em
seguida, com 1 movimento, o (k + 1) –ésimo disco vai para o outro bastão da frente; com m k movimentos,
os k discos de trás passam para o bastão da frente. Isto é,
mk + 1 = mk + 1 + mk.
mk + 1 = 2k – 1 + 1 + 2k – 1 = 2 . 2k – 1 = 2k + 1 – 1
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E assim, ficamos sabendo que 264 – 1 segundos após a criação do mundo, ele terminará. Com um pouco
mais de Matemática ficaremos sabendo se isto ocorrerá logo.
Façamos alguns cálculos.
Quantos segundos tem um ano?
Exagerando, vamos supor que os monges façam 225 movimentos por ano (na verdade fazem
239 = 210 . 210 . 29 = 1 024 . 1 024 . 1 024 . 512 > 512 . 109
Passaram-se até hoje 4 bilhões de anos, ou seja, 4 . 109 anos.
Podemos ficar tranqüilos – faltam mais do que 508 bilhões de anos para os monges terminarem sua tarefa –
isto, supondo que eles não errem no caminho.
Os bastões com 7, 8 ou 9 discos constituem um brinquedo conhecido como “Torre de Hanoi”(4), inventado
pelo matemático francês Edouard Lucas (1842-1891) e já vendido como brinquedo em 1883. Um folheto o
acompanhava contando a lenda acima. E. Lucas demonstrou um teorema conhecido como “teste de Lucas”
que lhe permitiu provar, entre outros fatos, que 2127 – 1 é um número primo e este foi, até 1952, o maior
número primo conhecido.
2127 – 1 = 170 141 183 460 469 231 731 687 303 715 884 105 727(5)
Alunos inteligentes
O teorema que vamos enunciar e demonstrar é uma versão mais popular de uma demonstração atribuída a A.
Tarski (1902-1983) de que todos os números naturais são iguais(6).
O enunciado do teorema é o seguinte:
“ n IN*, se numa classe com n alunos um for inteligente, então todos os alunos da classe são inteligentes”.
Demonstração (por indução):
Seja S o conjunto dos números naturais n tais que se numa classe com n alunos, um for inteligente, então
todos são inteligentes.
1. 1 S, pois se numa classe com 1 aluno, um for inteligente, então todos (ele, somente) são inteligentes.
2. Vamos supor que k S, isto é, se numa classe com k alunos, um for inteligente, então todos são
inteligentes.
Vamos provar que k + 1 S:
Imaginemos uma classe com k + 1 alunos, dos quais um é inteligente.
Vamos pedir que um dos alunos, não o inteligente, saia da classe.
Restam na classe k alunos dos quais um é inteligente.
Pela hipótese (k S), todos os k alunos da classe são inteligentes.
Chamemos de volta o aluno que saiu.
Temos k + 1 alunos dos quais, com certeza, k já são inteligentes.
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Pelo princípio da indução, qualquer que seja n > 0, se numa classe com n alunos, um for inteligente, então
todos são inteligentes.
Mas, pela nossa experiência, infelizmente, isto é bobagem.
E agora? Onde está o erro?
Referências
Ou
SEE, I HAVE A RHYME ASSISTING MY FEEBLE BRAIN ITS TASKS SOMETIME RESISTING
3 , 1 4 1 5 9 2 6 5 3 5 8 9
(Veja eu tenho uma rima ajudando meu fraco cérebro às vezes resistindo às suas tarefas).
Em francês:
QUE J’ AIME A FAIRE APPRENDRE UN NOMBRE UTILE AUX SAGES
3 1 4 1 5 9 2 6 5 3 5
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