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HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CORRELAÇÃO DA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA COM OS

PRINCIPAIS ANIMAIS DOMÉSTICOS: REVISÃO LITERÁRIA

1. INTRODUÇÃO

No século XVII, no ano de 1665, Richard Lowoer realizou as primeiras transfusões sanguíneas
em animais, em Oxford, mas após 2 anos Jean Baptiste, o médico de Luiz XIV, quem era
professor de filosofia e matemática, realizou a transfusão de sangue de um carneiro para um
doente mental que perambulava pelas ruas, cujo homem veio a óbito em seguida da terceira
transfusão de sangue que recebeu, ainda que na técnica tenha sido utilizado um tubo de prata.
Nessa época, era defendida essa prática heteróloga, ou seja, essa transfusão sanguínea que o
sangue doado tinha origem de uma espécie diferente, motivo pelo qual se acreditava que o
sangue de animais era menos contaminado do que o sangue dos homens. Com algum tempo, a
faculdade de medicina de Paris foi a primeira instituição a considerar essa prática um crime e
proibí-la, ainda que, logo, também tenha sido proibida em Roma e na Royal Society, na
Inglaterra.
O ano é 1788 quando Pontick e Landois realizaram transfusões homólogas, ou seja, do sangue
pertencente à mesma espécie, quando os resultados foram positivos e eles chegaram à conclusão
de que essa transfusão poderia ser a mais benéfica e que salvaria muitas vidas. James Blundell
foi o primeiro a receber uma transfusão de sangue de outro humano e experimentar o novo
método da prática em animais para enfim conseguir realizar a transfusão sanguínea em mulheres
que estivessem com hemorragias pós-parto.
No final do século XIX, os cientistas se deparavam com um novo desafio: Os problemas com a
coagulação sanguínea e suas reações adversas. Para se tentar solucionar a nova problemática, a
primeira transfusão sanguínea após ter sido colocado à prova a compatibilidade foi realizado em
Reuben Ottenber, ainda que esse procedimento não tenha sido utilizado em larga escala logo no
começo, somente a partir da Primeira Guerra Mundial.
Ao longo da história também houve 2 relatos relacionados à resolução da coagulação do sangue
para transfusões, o primeiro foi sobre o emprego de citrato de sódio e glicose como solução
diluente e anticoagulante e o segundo referente a uma quantidade mínima para a anticoagulação,
de forma que os avanços tornavam as transfusões sanguíneas cada vez mais seguras e práticas.
Após o avanço, as pesquisas e o aprimoramento da prática ao longo dos anos, o primeiro banco
de sangue foi criado em Barcelona, em 1936, durante o período da guerra civil espanhola, tendo
sido uma proposta idealizada há 4 anos atrás, em Leningrado. E depois de 4 décadas da
descoberta do sistema ABO, descobriu-se o fator Rh, um novo fato que ajudou a revolucionar a
prática da medicina transfusional. Todavia, foi no século XX que o descobrimento dos grupos
sanguíneos; do fator Rh; do emprego científico dos anticoagulantes; do aperfeiçoamento
sucessivo da aparelhagem de coleta e de aplicação de sangue e do conhecimento mais rigoroso
das indicações e contraindicações do uso do sangue que firmou o progresso das transfusões
sanguíneas.
Inclusive, no Brasil, foi somente após a Segunda Guerra Mundial que surgiram os primeiros
bancos de sangue, devido os progressos científicos e o crescimento da demanda por transfusões.
2. CONTEÚDO

O sistema de determinação do tipo sanguíneo no ser humano é chamado de sistema ABO, nele
as hemácias podem ou não apresentar na superfície externa de suas membranas 2 tipos de
antígenos, os aglutinogênios A e B. Nesse sistema é possível encontrar 4 tipos de hemácias, no
tipo A as hemácias apresentam somente o aglutinogênio A; no tipo B as hemácias apresentam
somente o aglutinogênio B; no tipo AB as hemácias apresentam os 2 aglutinogênios: A e B; já
no tipo O as hemácias não apresentam nenhum aglutinogênio.
Agora no plasma sanguíneo podem ou não existir 2 tipos de anticorpos denominados de
aglutininas, sendo assim quem é do tipo sanguíneo A produz aglutininas anti-B; quem é do tipo
B produz aglutininas anti-A; quem é do tipo AB não produz nenhuma aglutinina e quem é do
tipo O produz aglutininas anti-A e anti-B. Por causa dessas características imunitárias é que as
primeiras tentativas de transfusões sanguíneas no passado fracassaram.
Aliás, pessoas do grupo O são considerados doadores universais, porque suas hemácias não
possuem aglutinogênios, então não são aglutinadas no plasma de quem recebe o sangue do
doador, enquanto isso as pessoas do grupo AB são consideradas receptores universais, por conta
que não apresentam aglutininas no plasma, o que significa que não sofre a aglutinação das
hemácias devido o sangue recebido do doador. Evidentemente, para os indivíduos com o mesmo
tipo sanguíneo não devem ocorrer problemas em transfusões.
Tratando-se de cães e gatos, esses animais podem doar e receber sangue da sua própria espécie,
ademais eles também têm diferentes tipos de grupos sanguíneos, embora a tipagem das 2
espécies ainda não esteja disponível e seja realizado apenas alguns testes ‘’ cruzando'’ o sangue
do doador e do receptor com a intenção de prever possíveis reações. no teste é observado se
ocorre a aglutinação da amostra, o que indica que a transfusão será incompatível caso seja
realizada. Ainda assim, na transfusão sanguínea entre cães ou entre gatos o processo deve
suceder sempre bem lento, com exceção em casos de urgências ou grandes perdas de sangue,
tendo em mente sempre observar qualquer sinal de reação no paciente.
O tempo total de uma transfusão de sangue nesses animais deve ser de uma média de até 4
horas, antes quando após os primeiras 30 minutos a velocidade já foi aumentada. De toda forma,
é necessário fazer o acompanhamento do estado geral, verificando-se os sinais de reação e
convalescência, inclusive fazendo a aferição da temperatura, frequência cardíaca e frequência
respiratória do paciente.
Por outro lado, os equinos possuem antígenos sanguíneos agrupados em 7 sistemas: A, C, D, K,
P, Q e U, que possuem cada vários subgrupos que resultam em mais de 400.000 possibilidades
de tipos sanguíneos diferentes. Essa variabilidade torna praticamente impossível uma transfusão
sanguínea totalmente compatível mesmo entre a espécie equina. Dentre os antígenos, apenas o
Aa e Qa são potencialmente imunogênicos, portanto, o portador deve ser negativo para esses
antígenos e não possuir anticorpos contra esses antígenos.
Já os bovinos têm pelo menos 13 grupos sanguíneos, que independente do grupo sanguíneo
estes não possuem ou possuem poucas aglutininas, ou seja, anticorpos circulantes, o que facilita
ao menos na primeira transfusão sanguínea que pode ser realizada com baixos riscos de reações
adversas fatais. É claro que se deve tomar cuidados com essa espécie no caso de transfusões
repetidas. Parecidos aos bovinos, os suínos também possuem poucas aglutininas circulantes
naturalmente, qual a diferença que nessa espécie existem 15 grupos sanguíneos, 2 grupos
sanguíneos a mais.
3. CONCLUSÃO

No processo histórico foram relatadas grandes mudanças de paradigmas quanto à transfusão


sanguínea. Em animais a transfusão de sangue de uma mesma espécie para um segundo animal
é muito útil para auxiliar na recuperação da capacidade de transporte de O 2 como em casos de
anemias graves por hemorragia, lembrando que a prática pode provocar reações severas de
aglutinação das hemácias doadas no sangue do doador e causar danos a organismo receptor, um
exemplo é a obstrução dos capilares sanguíneos que pode levar à morte do paciente. mesmo
assim, na grande maioria dos casos os cães os bovinos e os suínos são compatíveis com o
sangue recebido doador. Porém, é claro, é muito importante que seja realizado o teste de
compatibilidade antes da transfusão sanguínea ser iniciada, por garantia.

4. REFERÊNCIA

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em 23/04/2009 às 21:34 .
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