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Linguagem jurídica Na sociedade brasileira, o discurso jurídico, em

especial, foi muito influenciado pela retórica


tradicional, e, por isso, continuou resistente às
1. Linguagem Jurídica e Sociedade transformações. Essa resistência se torna
O estudo da linguagem jurídica é um dos perceptível, por exemplo, na permanência do uso
momentos ricos de percepção da língua como dos brocardos jurídicos incluídos nos discursos
instituição social, enraizada na tradição cultural que orais ou escritos.
ela reproduz, transmitida de geração após geração. 3. Linguagem Jurídica e Análise do Poder
A linguagem jurídica é formada por gramática e É sabido que a linguagem permeia todos nossos
dicionário próprios. atos, em todas as instâncias da realidade social e
A linguagem jurídica depende de forma crucial, em que, por meio dela, se podem perceber
seu desenvolvimento, da linguagem natural. Mas, manifestações de poder entre os indivíduos que
ao provir da linguagem natural, é ao modo de uma deixam transparecer a hierarquia existente na
especialização, que a linguagem jurídica irá se sociedade.
diferenciar. A linguagem do direito é matéria privilegiada para a
A Linguagem Jurídica por meio do legislador e os percepção do universo hierárquico, consideradas as
seus operadores tem o poder de incorporar a relações de poder.
linguagem natural com forma de essa linguagem Atualmente, é importante ressaltar o incômodo da
servir melhor ao direito e a própria sociedade, ante sociedade em face do "jargão jurídico", da
a sua especificidade. linguagem do "bacharel", o que deve ser evitado ao
2. Linguagem Jurídica: Semântica, Sintática e máximo, em favor da clareza, objetividade e
Pragmática precisão técnica da linguagem.
A existência das normas depende da linguagem, a No entanto, a linguagem jurídica não se confunde
linguagem é como um conjunto de símbolos onde com o obscurantismo linguístico, pois se trata de
podemos analisar em três concepções, conhecidos um fenômeno comum a todas as ciências, qual seja,
como: Concepção Sintática, que consiste a especialização e o desenvolvimento terminológico
basicamente em explicar a utilidade de escrever, e o e técnico do saber jurídico, associado ao saber
mais importante interpretar o direito de forma técnico das diversas áreas reguladas pelo Direito.
correta, uma ideia de segurança jurídica. 4. Linguagem jurídica e análise semiótica do
A segunda concepção é a Semântica, onde se tem o discurso jurídico
estudo do signo, dentro da realidade, excluindo tudo A análise narratológica do discurso jurídico pode
aquilo que é impreciso que muitas das vezes ser feita, considerando-se a perspectiva de
provem da linguagem natural, a semântica tem por abordagem da Semiótica do Direito.
base a denotação e a conotação, para poder buscar a Há várias linhas teóricas com valiosa contribuição à
realidade para cada termo. análise semiótica do discurso jurídico, destacando-
A terceira concepção é a Pragmática é um estudo se as contribuições de Algirdas Julien Greimas, Eric
que facilita a comunicação entre o que emite a Landowski, Bernard Jackson.
norma e o destinatário desta, que pode ser apenas No Brasil, há interessantes estudos no campo
um receptor. Dessa forma deixa de ser um mero semiótico, a exemplo dos trabalhos de Lucia
receptor parasse tornar um conhecedor da mesma, Santaella, José Luiz Fiorin, no campo da semiótica
tornando a linguagem algo muito mais leve e eficaz. geral, e, Tercio S. F. Jr, Eduardo C. B. Bittar e
Para se transpor no mundo do Direito e sua Marcelo Neves, no campo da semiótica jurídica.
linguagem é preciso, pois, de um estudo de cinco Entre várias linhas metodológicas, a abordagem
anos e que dedique com atenção redobrada a pela via da semiótica greimasiana (Algirdas Julien
termologia jurídica, onde se encontra um Greimas) tem se mostrado um campo de
conhecimento amplo e necessário de uma outra investigações de relevante contribuição à área do
forma não há possibilidade de algum conhecimento Direito.
e comunicação. Assim, o discurso jurídico pode ser analisado como:
i) discurso normativo (legislação); ii) discurso
burocrático (burocracia); iii) discurso decisório
(judiciário); iv) discurso científico (ciência do
direito), Nesta linha de reflexão, identifica-se: "...a
tarefa da Semiótica Jurídica como investigação dos
sistemas de significação jurídica...", adotando-se a
perspectiva do Prof. Eduardo Bittar.[1]
A Semiótica do Direito ainda tem tarefas
interessantes a cumprir, e vem se desdobrando na
análise dos signos verbais e não-verbais - a exemplo
de estudos que envolvem o campo da simbólica da
justiça -,[2] utilizados para comunicar comandos
normativos, ademais de estudar a iconologia da
justiça, as formas de utilização da argumentação
jurídica e a retórica judiciária.

Referências
 BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Linguagem
jurídica: semiótica, discurso e direito. 7.ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.
 BULHÕES, Eliane Simões Pereira. [1]
 DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio.
Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas,
2000.
 MEDEIROS, João Bosco; TOMASI, Carolina.
Português Forense: a produção do sentido. São
Paulo: Atlas, 2004.
 SABBAG, Eduardo de Moraes. Redação forense
e elementos da gramática. São Paulo: Premier
Máxima, 2005.
 XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no direito:
linguagem forense. Rio de Janeiro: Forense,
1982.
 REALE, Miguel 1910 Lições Preliminares de
Direito 27.ed. São Paulo:Saraiva,2002 11°
triagem, 2012.

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