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Colabor@ - Revista Digital da CVA - Ricesu, ISSN 1519-8529

Volume 7, Número 27, Fevereiro de 2012

O QUE O PROFESSOR GOOGLE NÃO ENSINA AOS ALUNOS ADOLESCENTES E


O QUE NÓS, EDUCADORES, PRECISAMOS APRENDER

Andreza Lima Marimon da Cunha1


Luciana Backes2

RESUMO

Este artigo propõe uma reflexão sobre o uso da internet na escola pelos alunos adolescentes diante das
inúmeras possibilidades oferecidas pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e,
consequentemente, a avalanche de informações que os sites de busca como o Google despejam em
nossas telas a cada clique. Assim, faz-se necessário que os professores estejam conectados e
capacitados para mediar os alunos adolescentes como usuários conscientes e críticos. No entanto,
percebe-se, entre os educadores, resistência à inserção das TICs na prática pedagógica, permanecendo
na perspectiva da educação tradicional, que prioriza o instrucionismo. Considerando que a presença da
internet no cotidiano da escola e de seus sujeitos é um fenômeno irreversível, o que se propõe é um
diálogo entre a educação e as TICs, reconfigurando a relação professor-aluno de uma estrutura vertical
e hierarquizada para um ambiente interativo e pautado pelo compartilhamento de saberes.
Discutiremos a importância das TICs para a Educação, pois mais do que recursos pedagógicos que
precisam ser melhores compreendidos, as TICs são mediadoras da comunicação entre professores e
alunos em um contexto de transformação das relações sociais.

Palavras-chave: Educação digital; Comunicação; Ciberespaço; Tecnologias de Informação e


Comunicação.

WHAT PROFESSOR GOOGLE DOES NOT TEACH TEENAGER STUDENTS AND


WHAT WE EDUCATORS NEED TO LEARN

ABSTRACT

This paper proposes a reflection about the use of the Internet by teenager students faced with
numerous possibilities offered by information and communication technologies (ICTs) and therefore
the avalanche of information that search engines like Google to dump on our screens each click. Thus,
it is necessary that teachers are connected and empowered to mediate adolescent students as conscious
and critic users. However, it is noticed, among educators, resistance to integration of ICT in teaching
practice, staying in the perspective of traditional education, which prioritizes instructionism. Whereas
the presence of the Internet in everyday school and people an irreversible phenomenon, what is
proposed is a dialogue between education and ICTs, reconfiguring the teacher-student relationship in a
vertical and hierarchical structure for an interactive environment and guided by the sharing of
knowledge. We will discuss the importance of ICT for Education, for more than pedagogical resources
that need to be better understood, ICTs mediate the communication between teachers and students in a
context of transformation of social relations.

Keywords: Digital Education, Communication, Cyberspace, Information and Communication


Technologies.

1
Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atualmente é jornalista no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). É mestranda em Educação
pelo Centro Universitário La Salle (Unilasalle), pesquisando a área de Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs). Email: andrezacunha@hotmail.com
2
Graduada em Pedagogia Habilitação Magistério e Séries Iniciais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(1996), e doutora em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2011) e Sciences de Education pela
Université Lumière Lyon 2 (2011). Professora titular do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Educação
do Centro Universitário LaSalle - Unilasalle. Email: luciana.backes@unilasalle.edu.br
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1. INTRODUÇÃO: A TENSÃO EVIDENCIADA NA ESCOLA

Em uma escola da rede pública de ensino, situada em uma cidade do interior gaúcho,
com aproximadamente 250 alunos, foi criada uma “sala de convivência digital”, ao lado do
laboratório de informática. A sala de convivência digital tem o objetivo de proporcionar aos
alunos um espaço para fazerem trabalhos ou mesmo acessarem a internet. O espaço também
servia como sala de aula quando o laboratório de informática estava ocupado. Eram 16
computadores, todos tomados pelos alunos adolescentes, do Ensino Médio, quando estavam
fora do horário de aula, principalmente para jogar e acessar redes sociais. Qualquer um
poderia utilizar os computadores, mas ninguém se atrevia a entrar lá, nem os alunos mais
velhos, do curso técnico, nem os professores, nem os funcionários, pois o território era
totalmente deles, os alunos adolescentes. A bagunça era geral. A situação piorou quando a
direção resolveu tomar uma atitude e estabeleceu regras para o uso dos computadores. Logo
correu a notícia, entre os jovens, de que “tinham acabado com a internet”. Na verdade, eles
poderiam utilizar três máquinas ligadas à rede, mediante agendamento, para fazer trabalhos ou
pesquisas. Os demais computadores poderiam ser usados, mas não estavam conectados à web.
Tudo controlado por monitores bolsistas.
No primeiro dia, a sala ficou vazia. Uma aluna entrou na biblioteca, em pânico: tinha
que fazer um trabalho de inglês e, sem internet, não teria como fazê-lo. Ou melhor dizendo,
sem o Google Tradutor, era “impossível”. Uma colega ainda argumentou que ela poderia
utilizar o dicionário de inglês, disponível ali na biblioteca. Não era a mesma coisa, demoraria
muito, rebateu de pronto a aluna. Enfim, nenhuma solução, que não fosse o acesso imediato à
internet, resolveria a situação problema vivida por esta aluna. Pisando forte, ela saiu pelo
pátio, disposta a reclamar a meio mundo contra a “proibição” do acesso a internet, que a
estava “impedindo” de fazer o tal trabalho. Os dias passaram e os ânimos se acalmaram: as
novas regras foram assimiladas. Alguns se acostumaram como puderam, outros passaram a
levar seus notebooks.
A história acima, testemunhada pela autora Andreza Cunha na instituição onde
trabalhava jornalista, nos faz refletir: em como a tecnologia está afetando a sala de aula e o
que devemos fazer para que os jovens aprendam a usar criticamente a internet. Preocupa-nos,
como educadores, que os alunos adolescentes desenvolveram uma dependência exagerada em
relação às tecnologias de informação e comunicação. Num primeiro momento, no contexto
educacional, entendeu-se a inserção das TICs como apoio à aprendizagem. No entanto,
evidenciamos apenas um “atalho”, simples e prático, para os alunos realizarem as atividade e
tarefas escolares. É o tal professor Google, sempre ali, à disposição, com a resposta a um
clique. A TIC, em particular o acesso à internet, transformou-se no caminho mais rápido, mais
fácil, que reduz o tempo do estudo e da pesquisa, sem precisar realizar ações mentais. No
entanto, é possível visualizar as potencialidades do acesso à internet enquanto um ambiente de
interação entre os alunos, construção e troca de conhecimentos e experiências, ou seja, de
compartilhamento de saberes.

2. AS TICS NO CONTEXTO ESCOLAR: PERSPECTIVAS

Na sociedade contemporânea não podemos minimizar a presença e a importância das


TICs em nossas vidas, considerando todas as dimensões. Está sendo transformador o viver e o
conviver de homens e mulheres a partir do crescimento das TICs, onde as pessoas se
relacionam, interagem e compartilham informações de toda ordem. O computador, o celular, a
internet entraram e ficaram em nossas vidas, mudando nossos modos de nos comunicar, de
escrever, de se relacionar e até de aprender e de ensinar. Em especial, o acesso à internet
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permite a construção coletiva, através da interação e da comunicação, rompendo os limites do


tempo e do espaço, construindo comunidades virtuais e redes sociais (LEVY, 1999). Assim, os
seres humanos estão se relacionando em outros espaços, denominados segundo Backes (2007)
espaços digitais virtuais ou segundo Levy (1999) ciberespaço. Os espaços digitais virtuais ou
o ciberespaço se constituem no viver e conviver dos seres humanos que estabelecem fluxo de
relações e interações por meio de TICs, assim, afirma Levy (1999), podemos “colocar em
sinergia os saberes, as imaginações, as energias espirituais daqueles que estão conectados a
ele”.
A educação está inserida nesse contexto à medida em que cria-se um novo espaço para
a construção do conhecimento, livre e universal. Para Kenski (2012), as tecnologias de
informação e comunicação, além de alterar nossas formas de agir e de pensar, afetam, no
campo da educação, “a maneira de trabalhar em atividades ligadas à educação escolar”. Ou
seja, a educação, à medida que também é comunicação, diálogo, transforma não só o saber
como o compartilhamento do saber. No entanto, a TIC é uma potencialidade e por isso não
garante o desenvolvimento do processo de aprendizagem se não houver uma prática
pedagógica congruente.
É preciso diversificar espaços, processos e metodologias educacionais, bem como
expandir a escola em direção à comunidade, utilizando os recursos tecnológicos que
estão disponíveis, colocá-los a serviço da educação e não mais nos alijarmos deles.
(MORAES, 2000)

Se pensarmos nesta perspectiva, podemos visualizar a possibilidade de um avanço


para a Educação, ou seja, potencializar o processo de aprendizagem por meio das TICs. No
entanto, a realidade do contexto educacional se apresenta um pouco diferente. O que ocorre,
contudo, é que os computadores estão sendo instalados nas escolas, softwares e objetos de
aprendizagens são disponibilizados e diferentes programas foram implementados, mas pouco
tem se pensado sobre as possibilidades e limites das TICs ou a sua utilização para
potencializar o processo de aprendizagem.
Os professores, oriundos de outra geração, ainda não sabem lidar totalmente com a
onipresença da tecnologia na sua vida e tão pouco na vida dos jovens. Então as opiniões se
dividem, uns veem esse fenômeno como absurdo, outros até procuram surfar na onda, mas
ainda encaram as TICs como um mero adorno da aula instrucionista, o que apenas disfarça a
continuidade das formas tradicionais de ensino e de aprendizagem (DEMO, 2009). As
tecnologias não devem chegar à escola pela novidade, pela inovação, mas antes pelo seu
sentido, pelo “para quê” (TOSCHI, 2005).
Então, em algumas situações presenciamos um discurso que trata a TIC como um erro
e exalta as maravilhas do ensino tradicional através da frase “no meu tempo é que
aprendíamos”. Tempo em que os alunos sentados quietinhos em fileiras ouviam o professor e
copiavam a matéria do quadro. Mas como fazer isto com a presença do computador e da
internet na sala de aula, em casa, no celular? Afinal, estamos num caminho sem volta. De
nada adianta ficar chorando pelos “velhos tempos”, em que o professor ensinava e o aluno,
supunha-se, aprendia. O mundo mudou, e é preciso identificar quais são as mudanças
necessárias em cada segmento. Enquanto não identificamos as mudanças necessárias no
contexto educacional, o que identificamos no dia a dia da escola são alunos entediados, que
compreendem a existência do mundo através da internet. A frequência dos alunos ocorre
porque a escola é quem legitima a educação formal, necessária para a inserção no mundo de
trabalho. Como os professores devem enfrentar o professor Google, que tem todas as
respostas na ponta da língua?
As velozes transformações tecnológicas da atualidade impõem novos ritmos e
dimensões à tarefa de ensinar e aprender. É preciso estar em permanente estado de
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aprendizagem e de adaptação ao novo. Não existe mais a possibilidade de considerar


a pessoa totalmente formada independentemente do grau de escolarização alcançado.
(KENSKI, 2012, p. 30)

Diante deste cenário podemos construir algumas perspectivas:


Em primeiro lugar, para Backes (2011), as TICs não são a salvação da humanidade e,
tão pouco, não são a epidemia. Precisamos romper a visão dicotômica entre o positivo e
negativo e assumirmos uma visão complexa onde podemos evidenciar possibilidade e limites
das TICs, principalmente para o desenvolvimento do processo de aprendizagem.
Assim, em segundo lugar, podemos compreender que não trata-se de uma guerra
(professores X TICs). Os professores podem compreender as TICs como instrumentos de uma
prática pedagógica que potencializa o processo de aprendizagem. Portanto, não precisam lutar
contra ela.
Em terceiro lugar, é preciso estar aberto para mudanças de atitudes e culturas no
ambiente escolar (MORAES, 2000). A escola não pode fazer com a TIC o que fez com a
televisão, simplificando-a como uma mídia de má qualidade (TOSCHI, 2005). O fato é que a
área do conhecimento da pedagogia e a área do conhecimento das tecnologias não dialogam.
Reside aí o perigo de que, na euforia, as tecnologias atropelam a pedagogia e são
perigosamente banalizadas, fomentando a cópia e a reprodução, em vez de estimular seu uso
criativo (DEMO, 2009).
A TIC não é apenas uma ferramenta de aprendizagem, é um meio de comunicação, um
espaço de socialização, de partilha. A manutenção da prática instrucionista parece mais fácil,
mas de certa forma não explora todas as potencialidades que as TICs oferecem. Nosso desafio
na educação é articular as TIC com os conteúdos e atividades escolares, proporcionando a
interação entre os sujeitos (PORTO, 2006), inovando com práticas pedagógicas que tornam a
construção do conhecimento uma realidade no contexto escolar. Importante lembrar, citando
Porto (2006), que estudantes e professores não adquirem conhecimentos apenas na escola e na
família, mas também “na vida, nas relações com os amigos e com os meios de comunicação”.
Então como podemos pensar a Educação Digital?

3. EDUCAÇÃO DIGITAL: UM DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO

Se os professores não reagirem ao “dilúvio” da internet - utilizando a mesma metáfora


que Levy (1999), os alunos adolescente podem se perder nesse oceano de informações,
caótico e muitas vezes traiçoeiro. Cabe aos professores mediar esses alunos na escolha do que
colocar em suas arcas (e aqui não falamos mais de uma única e grande arca), pois não é
possível acessar e carregar tudo. Assim, professor torna-se parceiro do aluno nessa navegação,
orientando-o na construção do conhecimento, o que difere da compreensão tradicional de
“detentor do monópolio do saber” (KENSKI, 2012, p. 46). Nessa parceria de convivência,
abre-se espaço para experimentar, ousar, trocar, dialogar, refletir, buscar caminhos, onde
professor e alunos são considerados legítimos nessa convivência, ou seja, segundo Backes
(2011), alguém com quem posso aprender. Para Gadotti, “o educador é um mediador do
conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação” (2000, p. 8).
Nessa perspectiva de que todos aprendem, professor e aluno, a escola precisa
(re)significar o seu cotidiano estando mais conectada à realidade dos seres humanos que
participam do contexto escolar. É preciso ouvir os interesses dos alunos, seu mundo, o que
eles buscam, o que questionam, o que esperam e entender que professores e alunos pertencem
a gerações diferentes. Nesta diferença há muito a aprender e a desenvolver, pois vivemos um
momento importante no encontro da lógica analógica e da lógica digital. Falta-nos aí
competência comunicativa para desenvolver essa sensibilidade tão simples e enxergar o que
está além da escola (TOSCHI, 2005).
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Não há dúvidas de que a TIC é útil e importante para a aprendizagem de alunos e


professores. Ela serve para pesquisar, informar, comunicar, interagir, compartilhar e construir
novos conhecimentos. Mas sua aplicação e sua presença no cotidiano social geram fenômenos
interessantes para se pensar, como a mobilização social via redes sociais, a divulgação e o
acompanhamento de notícias em tempo real, a criatividade da produção coletiva de conteúdos
online, a dependência e ócio tecnológicos, a autoexclusão digital e o bullyng tecnológico,
entre outros
Desta forma, é imprescindível “pensar” a TIC, buscar entender o que está acontecendo,
identificar os limites e potencialidades, construir práticas pedagógicas que contribuam para o
processo de aprendizagem, desenvolver um conhecimento crítico sobre sua inserção e o seu
futuro. Esse debate não é exclusivo de faculdades de ciência da computação, comunicação e
educação. Ele precisa estar em todas as dimensões, incluindo a educação básica. Sob pena de
nossos jovens sucumbirem ao uso superficial das máquinas, apenas como ferramentas. A
questão que se coloca para a escola hoje não é usar ou não usar as tecnologias, mas
compreender suas possibilidades (KENSKI, 2012).
Esta nova linguagem tecnológica, que interconecta e aproxima os indivíduos,
também treina múltiplas atitudes perceptivas e solicita constantemente a imaginação,
investindo na afetividade e nas relações como mediação primordial para o mundo.
São possibilidades de linguagens tecnológicas que podem incorporar-se à escola
para ensinar o respeito ao diferente, a vencer obstáculos, a trabalhar coletivamente,
entre outros aspectos. (PORTO, 2006)

Entre as TIC utilizadas, a maior adesão entre os estudantes é o site de busca da internet
“Google”. O que o professor Google não pode fazer, e nossos educadores podem, é resgatar
no aluno a capacidade de interpretação e crítica em relação ao que se pesquisa, o interesse
pelo conhecimento, pela partilha. Aprender a utilizar uma tecnologia na educação não é o
suficiente, afinal a criação de novas tecnologias encontra-se em acelerado desenvolvimento. O
aprendizado de conhecimentos está se tornando tão fluido, líquido, passageiro, que à medida
que é usado se esvai, é deixado de lado, dando lugar a novos conhecimentos (BAUMAN,
2007). É possível conviver com a TIC e perseguir um saber sólido, não descartável?
O que podemos responder é que temos a chance de acompanhar essas mudanças, de
refletir e agir sobre elas, tirando a educação da posição de mera espectadora das
transformações do nosso tempo e das que ainda estão por vir. O que precisamos aprender é
pensar as tecnologias para a educação, construir práticas pedagógicas que contemplem as
potencialidades das TICs para o desenvolvimento da comunicação, da interação, da
cooperação, por meio das representações das percepções de alunos e professor numa relação
dialogada. A escola precisa ser o centro desse movimento de inovação (GADOTTI, 2000).
Os jovens apresentam hoje outras maneiras de aprender, compreender, perceber, sentir,
marcadas pela afetividade e pela imaginação (PORTO, 2004). Esse comportamento é
motivado, principalmente, pelas novas linguagens tecnológicas, pelas diferentes
possibilidades de representação da percepção por meio das TICs – sendo elas: gráfica, oral,
textual, gestual. Para Porto (2004), “os estudantes não se interessam tanto pelos conteúdos e
temas de estudos, quanto pelas relações que se estabelecem (ou podem ser estabelecidas) no
ambiente escolar”. Precisamos compreender a escola como um local de permanente
movimento, dinâmico nas suas relações e complexo nas suas diferenças.
É importante conhecer e respeitar o estilo de aprendizagem do aluno. Nem todos
aprendem da mesma maneira, alguns baseiam-se no visual, outros pela escrita e leitura, pelos
sons, pelo movimento, alguns preferem estudar sozinhos, outros em grupo. E o fato da TIC
estar mais presente na sala de aula só amplia as possibilidades de ensino e de aprendizagem,
com recursos que vão além do quadro branco e permitem a produção coletiva de
conhecimentos, como a criação de wikis, por exemplo, além de criar novas formas de
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comunicação entre alunos e professores, que permitem postagem e a troca instantânea ou não
de mensagens e conteúdos à distância por meio de e-mail, chat, fóruns, redes sociais, entre
outras ferramentas da internet. Para Mattar (2010), o desafio é adequar os estilos de
“ensinagem” dos professores aos estilos de aprendizagem dos alunos. Nesse contexto,
também destaca que “conhecer o estilo de aprendizagem do aluno permite não só aproveitar
no ensino o estilo predominante desse aluno, mas também desenvolver atividades que
estimulem os estilos que não são predominantes” (MATTAR, 2010).
Kenski (2012) afirma que os processos de interação social e de comunicação são
inerentes às atividades de ensinar. Portanto, não será mais possível falar de educação sem
falar das tecnologias de informação e comunicação, que abrem alternativas de reconfiguração
desses processos de interação. Afinal, a educação se dá através de um processo de
comunicação, de troca de conhecimentos, experiências, vivências, olhares do mundo.
Acontece que agora temos que pensar nesse processo de comunicação mediado pelas TICs,
como ele pode se dar para maximizar a construção desse conhecimento aproveitando todas as
suas potencialidades. A interação assume papel fundamental, pois é uma das características
dos inúmeros recursos criados a partir das TICs.
Frequentemente relacionamos as TICs com máquinas, ou seja, algo frio e sem vida.
Então, a partir desta relação, dizemos que a TIC distancia as pessoas ou torna a relação fria, o
que, no entanto, é um mito. Um mito que está se disseminando rapidamente, resultante de
uma análise apressada e sem crítica, uma visão dicotômica entre o que é geograficamente
localizado e o que é digital virtual. Para Levy (1999), as redes de computadores não
substituirão os encontros físicos, mas atuarão como seu complemento, numa perspectiva de
coexistência, as relações estabelecidas num espaço geograficamente localizado coexistem
com as relações estabelecidas no ciberespaço. Para ele, o ciberespaço possibilita reuniões de
grupos humanos que antes eram apenas potenciais.
Aproveitando a definição de Levy, de que o ciberespaço é um “espaço de comunicação
aberto pela interconexão mundial de computadores”, podemos dizer que as TICs ampliam as
possibilidades de interação entre os indivíduos mesmo que exista uma ideia de
distanciamento, como ressalta Lemos (2010): “as novas tecnologias podem atuar não apenas
como vetores de alienação e desagregação, mas também como máquinas de comunhão, de
compartilhamento de ideias e sentimentos, de formação comunitária”. As pessoas continuam
querendo se comunicar, interagir, trocar informações. Diferentemente do que pensamos, que
as TICs distanciam, elas possibilitam um “estar junto” entre os seres humanos numa outra
dimensão.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: TEMPO PARA REFLEXÃO, TEMPO PARA


MUDANÇAS

Considerando esta realidade, retomamos a nossa questão inicial: como alunos


adolescentes estão fazendo uso das tecnologias de informação e comunicação e como nós,
educadores, estamos reagindo a essas mudanças na Educação. É preciso reconectar alunos e
professores por meio de uma relação dialógica a fim de discutir o que conhecemos, o que não
conhecemos e o que queremos conhecer e a tecnologia é um dos caminhos para essa
reconfiguração das relações na educação. O foco da discussão não consiste em conhecer a
TIC, mas conhecer o conhecer por meio das TICs.
Desta forma não desvalorizamos o professor em detrimento das tecnologias de
informação e comunicação. O que queremos é refletir sobre o objetivo da educação: o
conhecer, numa outra dimensão, considerando os novos papéis que as tecnologias
naturalmente começam a demandar. Ficar alheio a esse processo não interromperá o longo
caminho de mudanças pelo qual a educação deve passar, com o avanço da educação a
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distância, a disseminação de recursos tecnológicos na sala de aula, o uso de plataformas


digitais para apoio do professor e do aluno. A velocidade com que as tecnologias de
informação e comunicação estão avançando no cotidiano e no próprio ambiente escolar,
contudo, emite um sinal amarelo. Não podemos apressar a construção desse novo cenário,
mesmo que o ritmo das TICs seja acelerado. Não precisamos queimar etapas na implantação
de uma educação que aceite e compreenda o papel social e pedagógico das TICs e sair por aí
praticando uma suposta revolução, ao inserir computadores de qualquer jeito na sala de aula.
Kenski alerta para o fato de que não são as tecnologias que vão revolucionar o ensino,
mas “a maneira como essa tecnologia é utilizada para a mediação entre professores, alunos e a
informação” (2012, p. 121). Elas podem servir como mote de reflexão sobre a complexidade
do mundo atual assim como atuar como mediadoras de processos comunicacionais (PORTO,
2006). Por isso, como educadores, temos de avaliar criticamente cada passo que estamos
dando rumo à Educação 2.0, para avançar na costura de um novo paradigma educacional, que
atenda às demandas de formação de indivíduos críticos e preparados para os novos desafios e
esteja conectado às potencialidades das tecnologias de informação e comunicação sem,
contudo, nos transformarmos e a nossos alunos em seus reféns. Precisamos entender que o
professor Google está aí para nos ajudar a encontrar respostas, mas o mais importante é saber
o que fazer com elas e aprender a perguntar.

REFERÊNCIAS

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processos de autonomia e de autoria. Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Educação,
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