RESUMO
Este artigo propõe uma reflexão sobre o uso da internet na escola pelos alunos adolescentes diante das
inúmeras possibilidades oferecidas pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e,
consequentemente, a avalanche de informações que os sites de busca como o Google despejam em
nossas telas a cada clique. Assim, faz-se necessário que os professores estejam conectados e
capacitados para mediar os alunos adolescentes como usuários conscientes e críticos. No entanto,
percebe-se, entre os educadores, resistência à inserção das TICs na prática pedagógica, permanecendo
na perspectiva da educação tradicional, que prioriza o instrucionismo. Considerando que a presença da
internet no cotidiano da escola e de seus sujeitos é um fenômeno irreversível, o que se propõe é um
diálogo entre a educação e as TICs, reconfigurando a relação professor-aluno de uma estrutura vertical
e hierarquizada para um ambiente interativo e pautado pelo compartilhamento de saberes.
Discutiremos a importância das TICs para a Educação, pois mais do que recursos pedagógicos que
precisam ser melhores compreendidos, as TICs são mediadoras da comunicação entre professores e
alunos em um contexto de transformação das relações sociais.
ABSTRACT
This paper proposes a reflection about the use of the Internet by teenager students faced with
numerous possibilities offered by information and communication technologies (ICTs) and therefore
the avalanche of information that search engines like Google to dump on our screens each click. Thus,
it is necessary that teachers are connected and empowered to mediate adolescent students as conscious
and critic users. However, it is noticed, among educators, resistance to integration of ICT in teaching
practice, staying in the perspective of traditional education, which prioritizes instructionism. Whereas
the presence of the Internet in everyday school and people an irreversible phenomenon, what is
proposed is a dialogue between education and ICTs, reconfiguring the teacher-student relationship in a
vertical and hierarchical structure for an interactive environment and guided by the sharing of
knowledge. We will discuss the importance of ICT for Education, for more than pedagogical resources
that need to be better understood, ICTs mediate the communication between teachers and students in a
context of transformation of social relations.
1
Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atualmente é jornalista no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). É mestranda em Educação
pelo Centro Universitário La Salle (Unilasalle), pesquisando a área de Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs). Email: andrezacunha@hotmail.com
2
Graduada em Pedagogia Habilitação Magistério e Séries Iniciais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(1996), e doutora em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2011) e Sciences de Education pela
Université Lumière Lyon 2 (2011). Professora titular do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Educação
do Centro Universitário LaSalle - Unilasalle. Email: luciana.backes@unilasalle.edu.br
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Em uma escola da rede pública de ensino, situada em uma cidade do interior gaúcho,
com aproximadamente 250 alunos, foi criada uma “sala de convivência digital”, ao lado do
laboratório de informática. A sala de convivência digital tem o objetivo de proporcionar aos
alunos um espaço para fazerem trabalhos ou mesmo acessarem a internet. O espaço também
servia como sala de aula quando o laboratório de informática estava ocupado. Eram 16
computadores, todos tomados pelos alunos adolescentes, do Ensino Médio, quando estavam
fora do horário de aula, principalmente para jogar e acessar redes sociais. Qualquer um
poderia utilizar os computadores, mas ninguém se atrevia a entrar lá, nem os alunos mais
velhos, do curso técnico, nem os professores, nem os funcionários, pois o território era
totalmente deles, os alunos adolescentes. A bagunça era geral. A situação piorou quando a
direção resolveu tomar uma atitude e estabeleceu regras para o uso dos computadores. Logo
correu a notícia, entre os jovens, de que “tinham acabado com a internet”. Na verdade, eles
poderiam utilizar três máquinas ligadas à rede, mediante agendamento, para fazer trabalhos ou
pesquisas. Os demais computadores poderiam ser usados, mas não estavam conectados à web.
Tudo controlado por monitores bolsistas.
No primeiro dia, a sala ficou vazia. Uma aluna entrou na biblioteca, em pânico: tinha
que fazer um trabalho de inglês e, sem internet, não teria como fazê-lo. Ou melhor dizendo,
sem o Google Tradutor, era “impossível”. Uma colega ainda argumentou que ela poderia
utilizar o dicionário de inglês, disponível ali na biblioteca. Não era a mesma coisa, demoraria
muito, rebateu de pronto a aluna. Enfim, nenhuma solução, que não fosse o acesso imediato à
internet, resolveria a situação problema vivida por esta aluna. Pisando forte, ela saiu pelo
pátio, disposta a reclamar a meio mundo contra a “proibição” do acesso a internet, que a
estava “impedindo” de fazer o tal trabalho. Os dias passaram e os ânimos se acalmaram: as
novas regras foram assimiladas. Alguns se acostumaram como puderam, outros passaram a
levar seus notebooks.
A história acima, testemunhada pela autora Andreza Cunha na instituição onde
trabalhava jornalista, nos faz refletir: em como a tecnologia está afetando a sala de aula e o
que devemos fazer para que os jovens aprendam a usar criticamente a internet. Preocupa-nos,
como educadores, que os alunos adolescentes desenvolveram uma dependência exagerada em
relação às tecnologias de informação e comunicação. Num primeiro momento, no contexto
educacional, entendeu-se a inserção das TICs como apoio à aprendizagem. No entanto,
evidenciamos apenas um “atalho”, simples e prático, para os alunos realizarem as atividade e
tarefas escolares. É o tal professor Google, sempre ali, à disposição, com a resposta a um
clique. A TIC, em particular o acesso à internet, transformou-se no caminho mais rápido, mais
fácil, que reduz o tempo do estudo e da pesquisa, sem precisar realizar ações mentais. No
entanto, é possível visualizar as potencialidades do acesso à internet enquanto um ambiente de
interação entre os alunos, construção e troca de conhecimentos e experiências, ou seja, de
compartilhamento de saberes.
Entre as TIC utilizadas, a maior adesão entre os estudantes é o site de busca da internet
“Google”. O que o professor Google não pode fazer, e nossos educadores podem, é resgatar
no aluno a capacidade de interpretação e crítica em relação ao que se pesquisa, o interesse
pelo conhecimento, pela partilha. Aprender a utilizar uma tecnologia na educação não é o
suficiente, afinal a criação de novas tecnologias encontra-se em acelerado desenvolvimento. O
aprendizado de conhecimentos está se tornando tão fluido, líquido, passageiro, que à medida
que é usado se esvai, é deixado de lado, dando lugar a novos conhecimentos (BAUMAN,
2007). É possível conviver com a TIC e perseguir um saber sólido, não descartável?
O que podemos responder é que temos a chance de acompanhar essas mudanças, de
refletir e agir sobre elas, tirando a educação da posição de mera espectadora das
transformações do nosso tempo e das que ainda estão por vir. O que precisamos aprender é
pensar as tecnologias para a educação, construir práticas pedagógicas que contemplem as
potencialidades das TICs para o desenvolvimento da comunicação, da interação, da
cooperação, por meio das representações das percepções de alunos e professor numa relação
dialogada. A escola precisa ser o centro desse movimento de inovação (GADOTTI, 2000).
Os jovens apresentam hoje outras maneiras de aprender, compreender, perceber, sentir,
marcadas pela afetividade e pela imaginação (PORTO, 2004). Esse comportamento é
motivado, principalmente, pelas novas linguagens tecnológicas, pelas diferentes
possibilidades de representação da percepção por meio das TICs – sendo elas: gráfica, oral,
textual, gestual. Para Porto (2004), “os estudantes não se interessam tanto pelos conteúdos e
temas de estudos, quanto pelas relações que se estabelecem (ou podem ser estabelecidas) no
ambiente escolar”. Precisamos compreender a escola como um local de permanente
movimento, dinâmico nas suas relações e complexo nas suas diferenças.
É importante conhecer e respeitar o estilo de aprendizagem do aluno. Nem todos
aprendem da mesma maneira, alguns baseiam-se no visual, outros pela escrita e leitura, pelos
sons, pelo movimento, alguns preferem estudar sozinhos, outros em grupo. E o fato da TIC
estar mais presente na sala de aula só amplia as possibilidades de ensino e de aprendizagem,
com recursos que vão além do quadro branco e permitem a produção coletiva de
conhecimentos, como a criação de wikis, por exemplo, além de criar novas formas de
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comunicação entre alunos e professores, que permitem postagem e a troca instantânea ou não
de mensagens e conteúdos à distância por meio de e-mail, chat, fóruns, redes sociais, entre
outras ferramentas da internet. Para Mattar (2010), o desafio é adequar os estilos de
“ensinagem” dos professores aos estilos de aprendizagem dos alunos. Nesse contexto,
também destaca que “conhecer o estilo de aprendizagem do aluno permite não só aproveitar
no ensino o estilo predominante desse aluno, mas também desenvolver atividades que
estimulem os estilos que não são predominantes” (MATTAR, 2010).
Kenski (2012) afirma que os processos de interação social e de comunicação são
inerentes às atividades de ensinar. Portanto, não será mais possível falar de educação sem
falar das tecnologias de informação e comunicação, que abrem alternativas de reconfiguração
desses processos de interação. Afinal, a educação se dá através de um processo de
comunicação, de troca de conhecimentos, experiências, vivências, olhares do mundo.
Acontece que agora temos que pensar nesse processo de comunicação mediado pelas TICs,
como ele pode se dar para maximizar a construção desse conhecimento aproveitando todas as
suas potencialidades. A interação assume papel fundamental, pois é uma das características
dos inúmeros recursos criados a partir das TICs.
Frequentemente relacionamos as TICs com máquinas, ou seja, algo frio e sem vida.
Então, a partir desta relação, dizemos que a TIC distancia as pessoas ou torna a relação fria, o
que, no entanto, é um mito. Um mito que está se disseminando rapidamente, resultante de
uma análise apressada e sem crítica, uma visão dicotômica entre o que é geograficamente
localizado e o que é digital virtual. Para Levy (1999), as redes de computadores não
substituirão os encontros físicos, mas atuarão como seu complemento, numa perspectiva de
coexistência, as relações estabelecidas num espaço geograficamente localizado coexistem
com as relações estabelecidas no ciberespaço. Para ele, o ciberespaço possibilita reuniões de
grupos humanos que antes eram apenas potenciais.
Aproveitando a definição de Levy, de que o ciberespaço é um “espaço de comunicação
aberto pela interconexão mundial de computadores”, podemos dizer que as TICs ampliam as
possibilidades de interação entre os indivíduos mesmo que exista uma ideia de
distanciamento, como ressalta Lemos (2010): “as novas tecnologias podem atuar não apenas
como vetores de alienação e desagregação, mas também como máquinas de comunhão, de
compartilhamento de ideias e sentimentos, de formação comunitária”. As pessoas continuam
querendo se comunicar, interagir, trocar informações. Diferentemente do que pensamos, que
as TICs distanciam, elas possibilitam um “estar junto” entre os seres humanos numa outra
dimensão.
REFERÊNCIAS
DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo:
Atlas, 2009.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais em educação. São Paulo em Perspectiva, vol. 14, n. 2,
abr./jun. 2000. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392000000200002}. Acesso
em 15 nov. 2011.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 9. ed. Campinas, SP:
2012.
LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e visa social na cultura contemporânea. 5. ed. Porto
Alegre: Sulina, 2010.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: 34, 1999.
MATTAR, João. Games em educação: como os nativos digitais aprendem. São Paulo: Person,
2010.
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