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Pensar, Articular, Agir e Realizar

Mirtzi Lima Ribeiro


mirtzi@gmail.com

Há quem não alcance o sentido amplo e de elo entre pensar, articular, agir e realizar. Entretanto, todas essas faces
estão ou devem estar em uníssono para que esse ato seja um fluxo e possua iniciativa e acabativa.
Trata-se de estratégia, e, ela só acontece quando há pensamento anterior que a sustente. E esse pensamento
precisará ser tão abrangente, que seja capaz de mensurar cenários, pontos frágeis que precisam ser melhorados,
pontos fortes que devem ser aproveitados para alavancar uma ideia ou ideário.
Quando ocorrem deslizes, erros, tropeços, dificuldades, se realmente o desejo foi encontrar e solucionar problemas,
se busca exímios pensadores que tenham alcance e visão de tal modo que tenham a capacidade de chegar a esse
feito. Por sua vez, em um país complexo e com altíssimo nível de desigualdade social como é o Brasil, há de se ter,
no mínimo, condições de trabalhar os objetivos em três níveis:
1 – Aqueles objetivos de curtíssimo prazo, de cunho imediato (se há fome, é preciso oferecer meios de colocar
comida na mesa dos cidadãos desassistidos, de modo urgente);
2 – Os de cunho secundário (identificar as pessoas com condições de pensar, ter estratégia global e particular,
método de trabalho ordenado e lógico;
3 – Os objetivos que demandam maior prazo (planejar e ordenar as prioridades para o estabelecimento de políticas
públicas, e, subsequentemente, executar esses planos o mais próximo da realidade e de acordo com os recursos
disponíveis).

A ação sem planejamento e sem um pensar acurado, tende ao fracasso.


O planejamento sem a ação adequada à sua realização, sepulta o que se pensou.
Nenhuma desses aspectos para a realização devem ser menosprezados, esquecidos ou excluídos desse processo,
até que se possa ter a consolidação exitosa do que foi planejado.
O pensamento, por sua vez, deverá ser multifacetado, sistêmico, observando todo o cenário com o qual é revestido
o objetivo a ser alcançado.

Além desses aspectos, o DISCERNIMENTO em relação aos fóruns adequados para debate, para a preparação e
para a ação, precisam ser respeitados também, sob pena de não haver êxito nos projetos idealizados.

NENHUM aspecto que componha os cenários, podem ser minimizados ou abdicados.

Eu me lembro que nos meus verdes 23 anos, quando trabalhava como analista de custos júnior em uma grande
empresa de capital aberto e internacional, eu fui chamada para ser observadora em uma reunião de cúpula da
diretoria, que visava apresentar um modelo de custos que deveria ser implantado na fábrica local. Por que fui
chamada? Porque pensava de modo sistêmico e usava o raciocínio lógico sem desprezar nenhuma variável dos
processos. Ao apresentarem os imensos mapas referentes às máquinas associados às “novas” fórmulas para custo
padrão (stand), que seriam implantadas naquele mês, os idealizadores sequer tinham visitado a fábrica local ou
conhecido os tipos de máquinas usados, atendo-se à realidade do maquinário utilizado no sudeste do país, que
eram mais modernos que aquele destinado ao parque fabril do Nordeste.
Os diretores locais, todos com idade entre 40 e 60 anos de idade, que não tinham o hábito de observar detalhes de
suas próprias máquinas e de seus processos de trabalho, apenas aquiesciam sem nada comentar. O diretor
Financeiro que me convidara a observar, pediu para que eu comentasse o que eu achava dos mapas e das novas
fórmulas a serem empregadas.

Eu, pensadora lúdica nata, falei: ‘Tenho três perguntas:


1ª – os idealizadores conhecem as máquinas que estão funcionando aqui no parque fabril do Nordeste?
2ª – verificaram que o aproveitamento do material que se perde no processo do parque fabril do Sudeste com
reaproveitamento imediato, nas máquinas daqui, por questões de formatação dos equipamentos demanda um
almoxarifado de material para reuso, cujo material do processo fabril entra a custo zero apenas no mês seguinte?
3ª – observaram que a umidade no ar local interfere e diferencia os níveis e quotas de colocação de água no
processo de fabricação, sendo a dosagem sugerida pelo setor de ‘Garantia de Qualidade’ diferente do que é no
Sudeste?’
Essas três perguntas fizeram com que a reunião fosse suspensa, a equipe que veio do Sudeste fosse visitar a
fábrica Nordeste para verificar esses itens, e, a implementação das fórmulas fosse adiada e AJUSTADA à realidade
local.
Moral da história: um pensador serve para isso: trazer lucidez às ações que precisam ser implementadas, encontrar
soluções hábeis e exequíveis, além de estabelecer alternativas e caminhos eficazes e eficientes.
Em 2012, com expertise no planejamento e pensamento sistêmico, pude ajudar a elaborar o Plano Plurianual do
Estado da Paraíba para o ano seguinte, usando um planejamento muito maior, com abrangência da problemática
nos cenários para a Paraíba até o ano de 2020 (externos – exterior e nacional, internos – nacional e local),
organizando promessas de campanha eleitoral do então governador, enquanto pilares para infraestrutura e para
implementação do planejamento estratégico e sua consequente execução/realização.
Para a execução, que é outra fase importantíssima, também houve percalços. E está em outro segmento de trabalho,
completamente diferente do planejamento, para o qual, também é necessário articular com todos os ‘atores’
envolvidos no processo.
Para alcançar os fins com êxito, foi preciso PENSAR, ARTICULAR, AGIR, para que a ação fosse EXECUTADA com
precisão.
Por exemplo, para a execução do PAC I e II (Programa de Aceleração do Crescimento – Brasil), algumas despesas
foram glosadas por órgãos repassadores porque não estavam dentro de critérios requeridos, entre eles as várias
licenças exigidas. O que um solucionador de problemas faz? Examina a matéria, se debruça nos detalhes
contratuais, de convênios, de repasses e encontra as brechas para substituição dessas despesas por outras
realizadas em montante semelhante, pagas com recursos do próprio Estado e estavam revestidas das prerrogativas
que pudessem ser aceitas. Feito isso, o contato com os órgãos repassadores era crucial e milimétrico, de modo que
a substituição fosse feita de modo legal, adequado e preenchendo os requisitos para a permuta de modo lícito. Sem
articulação e técnica isso não poderia ter sido feito.
Novamente, um pensador é a solução mais sábia para resolver impasses dessa ordem.
Portanto, jamais se deveria menosprezar o caráter lúdico ou ‘abstrato’ do pensamento, porque é ele que vai moldar
as ações adequadas e pontuais, com vistas à execução ou realização exitosa dos mais venturosos projetos,
inclusive os relacionados à sustentação da vida humana e das políticas públicas voltadas ao povo/cidadãos.

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