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A esplanada corbusiana de
Reidy para o Castelo (1938)
Reidy’s corbusian project for Esplanada do Castelo

THIAGO SANTOS MATHIAS DA FONSECA


Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Flumi-
nense e pós-graduando em Patrimônio Cultural no CEFET/RJ.
thiagosmfonseca@gmail.com
RESUMO: Este artigo busca investigar a influência dos princípios corbusianos no
projeto elaborado por Affonso Eduardo Reidy para a Esplanada do Castelo no Rio de
Janeiro em 1938. A proposição, apesar de pouco discutida nos círculos acadêmicos,
apresenta grande relevância na medida em que constitui a primeira proposta em
escala urbana divulgada nos grandes meios de circulação que adotava princípios
modernistas. Tais princípios estavam alinhados com o discurso e obra de Le Corbu-
sier, que, como veremos, exerceram grande fascínio em Reidy e foram apropriados
no projeto objeto desta discussão.
PALAVRAS-CHAVE: Reidy; castelo; urbanismo.

ABSTRACT: This article intends to investigate the influence of Corbusian principles


in the project developed by Affonso Eduardo Reidy for Esplanada do Castelo in Rio de
Janeiro in 1938. The proposition, although rarely discussed in academic context, has
great relevance as it constitutes the first proposal on an urban scale disseminated in
important magasines that adopted modernist principles. Such principles were aligned
with the speech and work of Le Corbusier, who, as we shall see, exercised great fasci-
nation in Reidy and were appropriated in the project object of this discussion.
KEYWORDS: Reidy; castelo; urbanism.
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Introdução

A produção do arquiteto e urbanista Affonso Eduardo Reidy é um


dos marcos fundamentais das manifestações do Movimento Moder-
nista na cidade do Rio de Janeiro. Seu repertório arquitetônico, que
inclui vários projetos não realizados, é frequentemente destacado
pelo forte viés urbanístico na medida em que a escala, bem como a
relação com o entorno imediato, são fatores decisivos no desenvol-
vimento do partido adotado (BONDUKI, 1999; BRUAND, 1991). Dos
projetos urbanos, os mais conhecidos são, sem dúvida, o concebi-
do para a Esplanada de Santo Antônio, que foi implementado de for-
ma fragmentada e sucessivamente alterado ao longo de décadas, e
o Aterro do Flamengo, elaborado com Lota Soares, que se valeu do
desmonte do referido Morro.
No portfólio de Reidy, entretanto, há outro projeto dessa moda-
lidade com projeção substancialmente menor nos círculos acadêmi-
cos: trata-se do projeto jamais construído para a Esplanada do Cas-
telo, publicado na Revista Municipal de Engenharia em 1938 (REIDY,
1938), disponível no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Nele,
percebem-se soluções de influência claramente corbusiana às quais
Reidy acrescentou a sua leitura, traduzindo as diretrizes defendidas
pelo arquiteto franco-suíço à realidade que se apresentava na re-
gião do Castelo no final da década de 1930. Neste artigo, pretende-
-se resgatar em um momento inicial os princípios preconizados por
Le Corbusier nos planos elaborados para Paris e para cidades idea-
lizadas1; os contatos de Reidy com esses princípios, os projetos de
Corbusier para o Brasil e sua influência na obra publicada na Revis-
ta Municipal de Engenharia para, enfim, proceder à análise propria-
mente dita do projeto para a Esplanada do Castelo.

A Questão Urbana em Corbusier

Le Corbusier é considerado, junto com Walter Gropius e Mies van


der Rohe, um dos mais célebres mestres da arquitetura modernis-
ta (BENÉVOLO, 2020). A influência de seus ensaios, livros e obras foi
extraordinária no século XX (BENÉVOLO, 2016), e se disseminou nos
círculos arquitetônicos caracterizada pelo forte viés vanguardista,
rompendo com todas as noções relacionadas não apenas à cidade

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tradicional, mas também ao modo de projetá-las, ditado pela Aca-


demia. Apesar da obra que lhe permitiu projeção internacional, Vers
une Architecture (Por uma Arquitetura), publicada em 1923, apresen-
tar viés arquitetônico, em Urbanisme (1925) ele amplia seu raciocí-
nio à cidade (Ibidem). De forma semelhante, ao longo das décadas
de 1920 e 1930, Corbusier idealizou utopias urbanas que ensejaram
o escândalo da sociedade e introduziram um repertório inovador às
possibilidades projetuais naquela escala.
A primeira dessas propostas foi Une Ville Contemporaine de 3
millions d’Habitants (1922), apresentada a pedido do Salon d’Autom-
ne de Paris (Ibidem). Trata-se de uma cidade sem nome em terreno
genérico, plano, sem quaisquer resquícios de vinculação com a rea-
lidade concreta de uma urbe ou sociedade existente: a Ville Contem-
poraine é um modelo. Esse posicionamento, marcado pela escolha
de um local idealizado, foi por si só uma ruptura, e está baseado no
pressuposto, anunciado anteriormente nas obras corbusianas, de
que a I Guerra Mundial foi o ponto de partida de uma tábula rasa na
qual era possível o desenvolvimento de uma nova era marcada pela
padronização em massa (CAÚLA, 2009). Para Corbusier, era neces-
sário que a Arquitetura e o Urbanismo se apropriassem dos instru-
mentos da Era Maquinista, utilizando a tecnologia oriunda da Revo-
lução Industrial em favor do bem-estar do homem.

Figura 1: Une Ville Contemporaine, Le Corbusier. Fondation Le


Corbusier, ref. 30830

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Esse desejo em Ville Contemporaine se traduz pela forte padro-


nização. Tal estratégia, a nível do arruamento, é traduzida por uma
malha ortogonal simétrica e rígida, cuja única concessão é a presen-
ça de quatro vias diagonais, e na qual são empregados cruzamen-
tos em níveis, evitando semáforos e diminuição da velocidade dos
automóveis (Ibidem). Já nas tipologias arquitetônicas, percebemos a
utilização de três modelos (ver figura 1): o gratte-ciel cruciforme (ar-
ranha-céus em forma de cruz), isolados nas quadras; os edifícios en
redent, que poderiam abrigar tanto escritórios quanto apartamen-
tos, e os immeubles-villas, que lembram os edifícios tradicionais, nos
quais era previsto exclusivamente o uso residencial (LAMAS, 2007). E
isto é tudo: são esses três tipos que se repetem no projeto, os quais
poderiam ser multiplicados quantas vezes fossem necessárias, obe-
decendo, portanto, ao princípio de padronização.
Segundo Lamas (2007), “mais interessado em expor uma visão
arquitetónica da cidade do que analisar o organismo urbano, a aten-
ção de Le Corbusier centra-se no desenho dos edifícios e sua envol-
vente imediata”, e não necessariamente nas soluções de caráter ur-
bano. Assim, apesar de ser um projeto revolucionário, a completa
ausência da quadra, característica da obra corbusiana, não é alcan-
çada: a delimitação pelas ruas e, principalmente, a massa edificada
dos immeubles-villas, tornam esse elemento morfológico ainda reco-
nhecível na proposta.
Sobre os edifícios en redent é válido breve comentário na me-
dida em que será reproduzido na obra de Reidy. De acordo com
Cubero (2016), esse tipo é o único que se transforma e sobrevive
na obra de Corbusier; outros, como o próprio gratte-ciel cruciforme
e immeubles-villas desaparecem para dar lugar a novos, tal qual a
unité d’habitation. Trata-se de um modelo flexível, que conta tanto
com áreas abertas quanto fechadas, e o qual, ainda segundo o mes-
mo autor, o arquiteto franco-suíço utiliza para pontuar o espaço, de
modo que a população, principal fruidora da cidade, não perca a no-
ção de escala. É interessante assinalar ainda que seu formato, ora
côncavo, ora convexo, alterna um alinhamento tradicional próximo
à via e o descolamento total em relação a ela, corroborando o racio-
cínio de flexibilidade exposto por Cubero. Nos espaços vazios cria-
dos pelas concavidades, é utilizado com frequência paisagismo que
lhes confere características de praças.

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Por ocasião da Exposição Internacional de Artes Decorativas,


também em Paris, Le Corbusier apresentou o Plan Voisin (1925), sua
primeira proposta de caráter urbanístico para um local concreto –
isto é, existente – e que foi aperfeiçoada até 1946 (BENÉVOLO, 2016).
As premissas são as mesmas de Une Ville Contemporaine, mas des-
sa vez aplicadas à Paris. Portanto, notamos os mesmos modelos de
edifícios, malha ortogonal e uma atitude projetual que ignora siste-
maticamente o contexto urbano existente e afasta qualquer possibi-
lidade de menção à cidade tradicional, de modo que persiste a ideia
de uma tábula rasa e, por conseguinte, a reprodução de um local
ideal em uma ilha em meio à maior cidade da França. Isso significa-
ria demolição completa da área, que escandalizou a sociedade. Não
obstante, segundo Lamas (2007), não se tratava de proposta visan-
do realização direta e imediata, e sim uma discussão de uma aplica-
ção metodológica.
Cinco anos depois, por ocasião do VIII Congresso Internacional
de Arquitetura Moderna (CIAM), Le Corbusier apresentou seu pro-
jeto para La Ville Radieuse (1930). Tal como Une Ville Contemporai-
ne, La Ville Radieuse não tem lugar, não tem nome, não existe e exer-
ceu extraordinária influência na arquitetura do período pós-guerra
(PANERAI; CASTEX; DEPAULE, 2017). Vemos aqui “recusa de levar em
conta toda limitação específica [oriunda] da implantação” (Ibidem,
p. 131, tradução livre), com um terreno representado por um pla-
tô plano genérico e abstrato. Nessa tábula rasa, mais uma vez cons-
tam os gratte-ciel cruciformes, de uso administrativo (CAÚLA, 2009), e
uma profusão surpreendente de edifícios en redant, que substituem
os immeubles-villas e criam uma dinâmica de espaços vazios inédi-
ta. É mantida a ortogonalidade e a padronização e idealizado ainda
um subúrbio industrial, separado do restante da cidade por um cin-
turão verde.
Uma das grandes diferenças desse projeto em relação aos ante-
riores é a extensiva aplicação de pilotis – ou seja, construções sus-
pensas por colunas esbeltas – criando espaços que se apresentam
totalmente permeáveis. A hierarquização dos fluxos alcança níveis
mais sofisticados, separando-os em níveis com o intuito de torná-los
eficientes: as ruas se tornam máquinas de circulação (Ibidem) com-
pletamente segregadas dos pedestres. Assim, percebemos que as
referências da cidade tradicional vão se extinguindo paulatinamente

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com o amadurecimento da sua obra, e a proposta se torna um mar


verde atravessado por vias de comunicação e pontuados por cons-
truções. A Ville Radieuse é, para Lamas (2007), composta de obras
arquitetônicas em escala urbana nas quais o desenho da cidade se
adapta à residência materializada por meio das edificações, já que o
contrário – o meio ditando a arquitetura – não careceria de sentido
por se tratar de terreno abstrato.

Influências, trocas e traduções dos princípios


corbusianos

De forma paralela, no Brasil também começavam as manifesta-


ções do Modernismo na Arquitetura e Urbanismo. Em 1925, foram
publicados dois artigos – um em São Paulo, intitulado A Architectu-
ra e a Esthetica das Cidades, de Rino Levi, defendendo que “os velhos
systemas já fizeram sua época” (LEVI, 2020, sem paginação); outro
no Rio de Janeiro denominado Acerca da Arquitetura Moderna, de
Warchavchik, advogando pelo racionalismo e pela padronização in-
dustrial (WARCHAVCHIK, 1925). Nessa mesma época, Grigori War-
chavchik, autor do segundo artigo, fazia experimentações arquitetô-
nicas no eixo Rio-São Paulo que foram precursoras do Modernismo
(BRUAND, 1991).
Affonso Eduardo Reidy, por sua vez, ingressou em 1926, com 17
anos, no curso de Arquitetura da Escola de Belas-Artes, no qual se
graduou em 1930 (BONDUKI, 1999), ambiente no qual, apesar da ex-
tensiva presença do academicismo tradicional, já começavam a sur-
gir questionamentos e contestações. O próprio Reidy teria lido Vers
une Architecture em 1928, quando entrou em contato com as ideias
corbusianas (CAVALCANTI, 2008). Posteriormente, em 1929 Le Cor-
busier veio ao Rio de Janeiro, onde proferiu palestras aos jovens es-
tudantes de arquitetura. Se por um lado essa primeira passagem
pelas terras cariocas não é tão noticiada e impactante quanto seu re-
torno em 1936, podemos inferir, a partir da fala de Reidy, que foi um
momento de inflexão na sua formação acadêmica:

Aqueles que por temperamento ou por feitio intelectual desejas-


sem conhecer as razões de ser do que se estudava, isto é, a teo-
ria da arquitetura, tinham que apelar para outras fontes, que não

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a da escola. Foi o que sucedeu comigo. Através dos livros, das re-
vistas, e da razão a qual submetia judiciosamente tudo quanto
via, lia, ouvia, fui construindo o edifício da minha doutrina. Nes-
ta fase da construção, tive o concurso inesperado e oportuno da
presença de Eugene Stinhof e do notável Le Corbusier. Senti que
se firmava uma convicção e simultaneamente crescia a minha re-
volta ante a orientação falsa que era estimulada na escola [de Be-
las Artes] (REIDY, 1933, apud BONDUKI, 1999)

Também Alfredo Britto em entrevista (FREIRE; OLIVEIRA, 2002)


atribui proeminência à passagem de Corbusier naquele ano, afir-
mando que sua figura “se tornou mitológica para aquela turma, que
organizou grupos de estudo para discutir e tentar obter mais refe-
rências” (p. 16). Nesse sentido, a duradoura influência exercida pelo
Edifício Viaduto, idealizado por Le Corbusier em 1929 para o Rio, nos
conjuntos habitacionais de Reidy corroboram a ideia de que esse
ano foi importante na absorção dos princípios modernistas.
Entre 1930 e 1931, Lúcio Costa assumiu a diretoria do Curso de
Arquitetura, implementando um ensino que buscava romper com o
academicismo tradicional. Na ocasião, convidou Reidy para lecionar,
junto com Warchavchik, na cadeira de Composição de Arquitetura,
na qual permaneceu como titular até 1932, quando passa a ser fun-
cionário da Prefeitura, já que seu colega nunca chegou a assumir as
aulas (CAVALCANTI, 2008).
Durante a década de 1930, o arquiteto elaborou propostas que ex-
pressavam, em nível arquitetônico, a apropriação das diretrizes mo-
dernistas. A primeira de grande projeção foi o Albergue da Boa Vonta-
de (1932), elaborado junto com o arquiteto Gerson Pinheiro, na qual já
se pronunciam alguns elementos como as esquadrias em fita e gran-
des vãos enquanto expressão da estrutura de concreto armado. Após
1932, já no serviço público, vários dos projetos de Reidy passaram a
circular na recém-criada Revista Municipal de Engenharia, e que ofe-
recem amostra da evolução da sua linguagem projetual.
Em Ante-Projecto de um edificio destinado a conter depen-
dencias de Serviços Municipaes, Reidy (1932) expressa cuidado com
a padronização dos elementos construtivos da construção, facilitando
a posterior etapa de obras e seguindo a tendência modernista voltada
à industrialização da construção civil. Para justificar a forma, cita tex-

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tualmente Le Corbusier e adota partido que não está alinhado de for-


ma paralela a todas as testadas do quarteirão, além de adotar, mais
uma vez, janelas em fita. Posteriormente, naquela que seria, segun-
do Bonduki (1999), uma segunda versão da proposta, Reidy (1934a)
opta por uma implantação mais ousada, criando prismas vazios que
buscam romper com a cidade tradicional através de uma volumetria
em formato de “h”, a qual apresenta horizontalidade característica
da obra corbusiana desse período. Já em Projeto para a construção
de séde da Diretoria Geral de Engenharia, Reidy (1934b) expressa
preocupação em relação ao “aproveitamento racional do terreno” (p.
4), tirando partido de uma implantação que é determinada pelo prin-
cípio da insolação e, tal qual Une Ville Contemporaine, a presença ou
não de janelas é orientada por tal princípio.
Essas experimentações, não obstante, são de cunho arquitetôni-
co. A proposta de maior escala coincide com a segunda visita de Le
Corbusier ao Rio de Janeiro em 1936. Nesse ano, sob pretexto de pro-
ferir palestras relacionadas a arquitetura moderna, o arquiteto fran-
co-suíço foi convidado, por sugestão de Lúcio Costa, para prestar con-
sultoria para o desenvolvimento de dois projetos: a nova sede do
Ministério da Educação e da Saúde (MES) e a Cidade Universitária da
Universidade do Brasil (HARRIS, 1987). Os amplos estudos existentes
sobre o assunto, bem como a escala da proposta, nos permitem focar
no projeto da Cidade Universitária, de dimensão urbana.
Antes disso, é pertinente tecer breves comentários sobre as pa-
lestras proferidas por Le Corbusier. Ocorridas no Instituto de Música
entre junho e agosto de 1936, as seis conferências, das quais Reidy
provavelmente participou, versaram, de uma maneira geral, sobre
o futuro funcionamento ideal das cidades contemporâneas. Já mais
sistematizado do que na década de 1920, o raciocínio de Le Corbu-
sier se apoiava amplamente na radical transformação da morfologia
das cidades: defendia os pilotis como premissa básica da arquitetu-
ra, possibilitando que o solo ficasse livre para o trânsito de pedestres
e construção de equipamentos de lazer. O programa da cidade seria
abrigado por grandes torres sem comprometimento com qualquer
noção de lote ou quadra, possibilitando acesso a elementos consi-
derados cruciais: o sol, áreas verdes e amplitude do espaço. As vias,
já concebidas enquanto máquinas de circulação, estariam comple-
tamente segregadas do pedestre, possibilitando deslocamentos rá-

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pidos. Sobretudo, as transformações urbanísticas intendidas iriam


propiciar a completa transformação da sociedade, que teria condi-
ções de utilizar a tecnologia a favor dos trabalhadores, os quais dis-
poriam de mais tempo livre.
Em relação à Cidade Universitária, foram duas as propostas da
equipe – uma resultante da consultoria direta de Le Corbusier, ou-
tra já revista apenas pelos membros brasileiros; em ambas, houve a
participação de Reidy. A versão corbusiana do projeto adota diretri-
zes de caráter generalizador, e o terreno escolhido, a Quinta da Boa
Vista, se torna, nas peças gráficas, uma ilha recortada na paisagem,
com desenhos que não representam de fato a cidade do Rio de Ja-
neiro (OLIVEIRA, 2006). Corroborando a ideia de uma cidade abstra-
ta, de forma semelhante os eixos viários sugerem prolongamentos
de caráter indefinido que se perdem junto à cadeia de montanhas;
já os caminhos internos, sempre dispostos de maneira diagonal às
construções, proporcionam uma apreensão dos blocos de maneira
diagonal, evitando pontos focais (Ibidem). Em relação às edificações,
foi adotado o emprego extensivo de pilotis, alinhado com essa fase
da obra de Le Corbusier, bem como uma solução mista que alterna
entre duas grandes lâminas isoladas e blocos menores lineares, in-
cluindo alguns poucos edifícios en redent.

Figura 2: Projeto da equipe brasileira para a Cidade Universitária Brasileira

Fonte: COSTA et al., 1935, p. 131

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A versão revista dos membros brasileiros, publicada na Revista


Municipal de Engenharia (COSTA et al., 1935) é totalmente distin-
ta. Em função do princípio de padronização, quase todos os blocos
são idênticos, constituídos por blocos de acentuada horizontalidade
com térreos em pilotis e eixos de circulação vertical na parte exter-
na. Esses prédios, o contrário da primeira versão, são dispostos em
um áxis central muito bem definido, o qual define um percurso pelo
campus pontuado por duas lâminas, e que é iniciado por um pórtico
e finalizado junto ao hospital. Oliveira (2006) entende que os mem-
bros da equipe brasileira, ao estruturarem a composição do projeto
por meio do grande eixo, buscaram minimamente articular a inter-
face entre a cidade existente e o campus, pontuando de forma clara
os acessos e respeitando os limites do terreno. De forma semelhan-
te, o mesmo autor identifica a utilização de estratégias acadêmicas
– marche, o percurso ritmado, e tableaux, planos que controlam tal
percurso – como indício de que a equipe compreendeu a cidade mo-
derna como continuidade e síntese do legado da urbe existente.

A Esplanada do Castelo e o Projeto de Reidy

Com a demolição do Morro do Castelo por ocasião do centenário


da independência, foi criada uma grande área vazia em pleno centro
financeiro da capital brasileira o qual as construções provisórias da
Exposição Internacional de 1922 não foram capazes de preencher.
Esse contexto ensejou a proposição de vários projetos urbanos para
aquela área nos anos 1920 que resultaram em uma intensa discus-
são sobre como deveria ser a sua ocupação, gerando um impasse
entre os profissionais brasileiros (FONSECA, 2019). A solução encon-
trada pela prefeitura e apoiada por amplos setores das elites sociais
e profissionais foi a contratação de Alfred Agache para a elaboração
de um plano geral para cidade, precedida pela realização de pales-
tras em 1927 (Ibidem). O projeto, entregue em 1930, aprovado em
1932 e revogado em 1934, tinha como principal setor a Esplanada do
Castelo, resultante da demolição do Morro, mas foi implementado
de forma fragmentada, de modo que no final da década de 1930 os
terrenos compreendidos entre a atual Av. Presidente Antônio Car-
los, a Praça XV e a linha da costa encontravam-se vazios (Ibidem).
Figura 3: Projeto de Reidy para a Esplanada do Castelo (planta)

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Fonte: REIDY, 1938, p. 605.

Após a instauração do Estado Novo em 1937, o interventor Hen-


rique Dodsworth criou a Comissão do Plano da Cidade por meio do
Decreto 6.092, de 08 de novembro daquele ano. Naquele momen-
to da década de 1930, os arquitetos cariocas se mostravam mais re-
ceptivos aos princípios modernistas, os quais foram adotados em
vários projetos arquitetônicos construídos na cidade, e de maneira
mais ampla foram divulgados nos periódicos, como a própria Revis-
ta Municipal de Engenharia que, segundo Bonduki (1999), se tornou
um instrumento de expressão modernista frente a uma realidade
de clientes que, de uma maneira geral, demonstravam resistência
em acolhê-la. Não obstante, em nível de projeto urbano ainda eram
incipientes as experimentações sob essa ótica. Rezende (2004) afir-
ma que mesmo que “alguns princípios do urbanismo modernista,
como a separação de roadways para veículos e pedestres, a con-
centração em torres e a ausência de lotes subdivididos não são nem
usados em projetos” (p. 4).

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É nesse contexto que se insere a proposta de Reidy para o Caste-


lo. A ocupação dessa região, que se arrastava por mais de uma déca-
da, era prioritária e estratégica para a Comissão do Plano da Cidade
tanto por uma questão política, em função dos interesses imobiliá-
rios, quanto por uma questão econômica, já que havia a expectativa
de que a venda de lotes pudesse financiar as grandes obras do go-
verno na capital (FONSECA, 2019). O projeto, apesar de jamais cons-
truído, foi publicado na Revista Municipal de Engenharia em 1938 e
compõe parte importante do repertório projetual daquele tempo,
uma vez que um projeto urbano carioca dessa dimensão e de cará-
ter modernista era então inédito nos grandes meios de circulação.
Reidy (1938) reporta-se inicialmente ao Plano Agache, reconhe-
cendo sua importância:

O plano Agache destinava aquela parte da cidade a seu principal


centro de negocios. As edificações foram projetadas obedecen-
do aquele objetivo, sendo adotado o criterio das areas internas
coletivas, que deveriam substituir as pequenas areas individuais.
Indiscutivelmente, tal sistema, embora já tivesse sido posto de
lado pelos estudos realisados em paizes mais adeantados, en-
tre nós constituiu um sensível progresso, comparado com as
precarias condições com que vinha sido construida, até então,
a nossa capital. (REIDY, 1938, p. 604)

Se por um lado o autor indica que o Plano Agache representa-


va condições urbanas mais desejáveis e salubres dos que as que ha-
viam sido desenvolvidas na cidade até o início do século XX, por ou-
tro entende que a morfologia urbana adotada por Agache – ou seja,
quadras de ocupação periférica com miolos livres – seriam inade-
quadas ao estágio da modernidade em que se encontravam as dis-
cussões urbanísticas. Nesse sentido, usa nominalmente a expres-
são “rua corredor”, anteriormente utilizada por Le Corbusier ainda
nos anos 1920, para designar o partido adotado pelo antigo plano
de 1930, criticando a “orientação defeituosa, deficiencia da ilumina-
ção e ventilação, propagação de ruidos, ausencia de vista para o ex-
terior, etc.” (Ibidem, p. 605). É interessante notar o peso que Reidy dá
à “vista para o exterior”, a qual Corbusier enfatizou categoricamente
em suas palestras de 1936, como vimos anteriormente.

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270 A ESPLANADA CORBUSIANA DE REIDY PARA O CASTELO (1938)

A solução de tráfego adotada parte do princípio da necessidade


de eficiência da ligação entre as Zonas Norte e Sul do Rio de Janei-
ro, que já havia sido esboçada, segundo o próprio autor, por Agache.
Reidy nos informa, na mesma linha de raciocínio, que Le Corbusier,
durante sua estada em 1936, também voltou os olhos para a ques-
tão do ordenamento urbano da cidade, indicando a ligação entre as
Zonas como crucial e coincidindo com as direções do Plano Agache,
ainda que “partindo de principios diametralmente opostos” (Ibidem,
p. 606). Em relação ao funcionamento das vias, expõe as seguintes
estratégias projetuais:

Le Corbusier parte do principio da separação do trafego ra-


pido, do local, e eliminação dos cruzamentos de nivel, com a
creação de auto-estradas elevadas. Vias essenciais de penetra-
ção, cujas condições devem satisfazer as exigencias mais mo-
dernas do trafego automovel, proporcionando a segurança re-
querida para grandes velocidades.
Uma vez fixado o esquema das vias essenciais de comuni-
cações, esse (sic) será a base de qualquer plano parcial de
expansão ou transformação da cidade. (REIDY, 1938, p. 606
– grifos meus)

Percebemos, pois, que Reidy considerava que o ponto de parti-


da não só da sua própria proposta, mas como qualquer bom plano
urbano alinhado com os princípios da modernidade, origina-se ne-
cessariamente das premissas corbusianas, com soluções de tráfego
que se reportam aos projetos urbano-conceituais de Corbusier nas
décadas de 1920-1930, como vimos.

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Figura 4: Projeto de Reidy para a Esplanada do Castelo (maquete).

REIDY, 1938, p. 604.

Uma via elevada de maior proeminência é responsável por efe-


tivar a ligação Norte-Sul e faz as vezes da Perimetral, que foi poste-
riormente construída com traçado distinto e lindeiro à linha da cos-
ta. Tão importante era o princípio da alta velocidade que, na seção
onde o percurso cortaria o projeto de Reidy, não há previsão de al-
ças (ver figura 3). De maneira paralela, a Av. Presidente Antônio Car-
los, então denominada Av. Santos Dumont, seria uma via auxiliar, ao
rés do chão, com um grande cruzamento em nível na altura da Av.
Almirante Barroso.
Em relação à tipologia arquitetônica adotada, podemos verificar
o destaque indiscutível dos edifícios en redent. O arquiteto brasilei-
ro, não obstante, vai além na exploração desse tipo e faz experimen-
tações com a altura das edificações, que variam entre 25 e 55 metros
de altura, conferindo-lhes nova dinâmica (ver figuras 3 e 4); grandes
lâminas, em função da demasiada proximidade com o aeroporto, são
dispensadas. Nos blocos mais altos, era previsto o uso administrati-
vo-governamental, e nos menores o comercial. Em três quadras, a in-
fluência da experiência junto à equipe brasileira e Le Corbusier na ela-
boração da sede do Ministério da Educação e da Saúde (MES, também
conhecido como Palácio Gustavo Capanema) se faz mostrar na medi-
da em que também foram empregadas edificações isoladas na qua-

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272 A ESPLANADA CORBUSIANA DE REIDY PARA O CASTELO (1938)

dra, com blocos menores perpassando-os de maneira perpendicular


acoplados a auditórios que se abrem em direção à rua. Quase todos
os prédios são lançados sobre pilotis, premissa fundamental de Le
Corbusier, ainda que adaptados à necessidade de lojas comerciais no
térreo, alocadas de maneira recuada à projeção das edificações.
A observação mais ampla da proposta nos releva distinções e ori-
ginalidades em relação à composição do conjunto frente às obras cor-
busianas. Se os projetos de Corbusier denotam grande rigidez e or-
togonalidade, Reidy flexibiliza esses aspectos em parte por conta da
necessidade de adaptar a proposta à cidade existente. Longe de qual-
quer eixo de simetria, o que percebemos são vias que se ajustam ao de-
senho curvo da costa e edifícios en redent que se rebatem apenas par-
cialmente, e que são estrategicamente dispostos junto às vias de maior
velocidade, visando dinamizar a sua apreensão visual. Com a concavi-
dade formada por prédios de quatro quadras, é idealizada uma grande
praça de escala gigante cuja intenção parece estar mais voltada ao es-
tabelecimento de um grande cruzamento e estacionamento subterrâ-
neo do que para fruição dos pedestres. As reentrâncias dos redents são
aproveitadas para abrigar estacionamento no sentido de atendê-los. O
resultado, apesar da expressão original de Reidy, é um espaço urbano
com elementos corbusianos e sem nenhuma menção à “rua corredor”.
Há outro aspecto ainda mais interessante no projeto. Se em Le
Corbusier vemos de maneira reiterada uma intenção generalista e
conceitual, com vagos terrenos planos, cidades idealizadas em lugar
nenhum, repetições ad eternum, Reidy teve de lidar com um contex-
to distinto no qual seu projeto precisaria necessariamente resolver
de maneira satisfatória a interface com a cidade existente. Isso re-
sultou em soluções interessantes, algumas as quais já foram men-
cionadas como adaptação à sinuosidade da costa, ligação norte-sul,
altura das edificações. Entretanto, talvez a resposta mais surpreen-
dente tenha sido dada no lado voltado para a região onde foi im-
plementado, de maneira fragmentada, o Plano Agache. Podemos
perceber que houve preocupação em articular a transição entre a
malha de ruas daquela região com as grandes vias projetadas, reali-
zadas através do entroncamento com a Av. Santos Dumont. Porém,
para além disso, consciente de que, apesar de longe de estarem to-
talmente ocupados, os lotes do Plano Agache estavam apenas par-
cialmente construídos, Reidy replicou e completou os quarteirões

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THIAGO SANTOS MATHIAS DA FONSECA 273

nos locais em que estes se encontravam vazios, mesmo apesar de


suas ressalvas pessoais em relação a essa morfologia urbana. Se por
um lado é razoável inferir que a estratégia poderia estar atrelada a
lotes já vendidos, por outro notamos que outros locais, como onde
se localiza a Santa Casa de Misericórdia, isolada do conjunto, foram
eliminados da proposta sem qualquer cerimônia, possivelmente por
não contribuírem para a transição do tecido urbano.

Considerações finais

Os princípios modernistas e, de maneira especial, os corbusianos,


encontraram campo mais propício para aplicação na Arquitetura do
que no Urbanismo. No caso da Esplanada do Castelo não foi diferente:
a proposta de Reidy jamais foi levada a cabo. Alguns fatores podem ter
contribuído para tanto: a) a própria resistência em relação à aceitação
em relação a tais princípios; b) necessidade de obtenção de espaços
mais significativos de área construída. Sobre o último, devemos lem-
brar que, ainda que Corbusier previsse um aproveitamento de 110% do
terreno, ele dependia de edificações de grande altura, o que Reidy não
poderia ter alcançado em virtude das restrições de gabarito.
O fato é que para a região a Comissão do Plano da Cidade ado-
tou um plano de características conciliadoras entre princípios mo-
dernistas e tradicionais, proposto por José de Oliveira Reis, e que foi
implementado através do Projeto de Alinhamento nº 3.085 (FONSE-
CA, 2019). Nele, as edificações são contíguas e adjacentes às ruas,
voltando à noção de rua corredor, ainda que em proporções mui-
to mais amplas. Alguns elementos do Plano Agache foram retoma-
dos, como o escalonamento e o tratamento monolítico dos prédios.
Curiosamente, esse mesmo tratamento que confere unidade à qua-
dra foi aliado ao desenvolvimento da quadra tradicional, que ga-
nhou formato linear, emulando os blocos horizontais modernistas.
Apesar de não ter sido implementado, o Plano de Reidy para o Cas-
telo foi importante na medida em que buscou aplicar os elementos cor-
busianos em um projeto de escala urbana, inédito até então. Afinal, as-
sim como as contribuições de Corbusier, mais teóricas e conceituais
do que práticas, também o projeto de Reidy, publicado na Revista Mu-
nicpal de Engenharia, certamente exerceu influência no imaginário ur-
banístico daquele período enquanto primeiro proposição de seu tipo.

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274 A ESPLANADA CORBUSIANA DE REIDY PARA O CASTELO (1938)

notas
existência de forma mais veemente entre
1 as atuais Av. Nilo Peçanha, Av. Presidente
Não será considerado o teor da Carta de
Atenas, já que, apesar de ser oriunda do Antônio Carlos, Av. Rio Branco e Av. Beira Mar,
CIAM de 1933, foi publicada apenas em ainda que haja vestígios da sua aplicação em
1941 (BENÉVOLO, 2016), ou seja, depois outras partes. Ver FONSECA, 2019.
11
do projeto de Reidy. A Perimetral foi demolida em 2014, por
2 ocasião dos preparativos para os Jogos
Le Corbusier usa o temor para se referir
ao mundo pós Revolução Industrial. Olímpicos de 2016.
3 12
Ainda segundo CUBERO (2016), trata- Tive a oportunidade de desenvolver
se de um tipo arquitetônico oriundo dos melhor essa ideia no âmbito de monografia
boulevards à redans, de Eugène Hénard. de Conclusão de Curso (FONSECA, 2019).
13
Na obra de Corbusier, teria aparecido O próprio Reidy posteriormente teve a
pela primeira vez como rue à redans em oportunidade de novamente aplicar esses
Vers une Architecture, e posteriormente princípios em seu projeto para o Morro de
empregado como lotissemants à redents no Santo Antônio, implementado de forma
projeto para La Roche (1920-1922), antes bastante fragmentada.
de se consolidar como edifício en redent
em Une Ville Contemporaine. bibliografia
4
Le Corbusier apresentou a proposta
para os sucessivos governos que se AGACHE, Alfred. Cidade do Rio de
alternaram em Paris e na França no período Janeiro: Extensão, Remodelação e
entreguerras e na Segunda Guerra Mundial. Embellezamento. 1 ed. Paris: Foyer
5
Trata-se aqui da versão inicial, mostrada Brésilien, 1930. Disponível em: <http://
na imagem. O projeto foi reiteradamente objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/
revisado e ao longo dos anos foi div_obrasraras/ or1355316/or1355316.
substancialmente alterado. pdf>; acesso em 04/08/2018.
6
Ainda no final da década de 1920, outra
influência se fez presente em Reidy: trata- BENÉVOLO, Leonardo. História da
se de Alfred Agache, para quem trabalhou Arquitetura Moderna. São Paulo:
no Plano de Remodelação do Rio, e do Perspectiva, 2016.
qual herdou a visão ampla e técnica sobre
a cidade (CAICHETA, 2002). _________. História da Cidade. São Paulo:
7
As informações do trecho referente às Perspectiva, 2019.
Palestras têm como base as transcrições
existentes no Centro de Pesquisa e BONDUKI, Nabil (Org.). Affonso Eduardo
Documentação da Fundação Getúlio Reidy. Série Arquitetos Brasileiros.
Vargas (CPDOC-FGV), nas pastas de Lisboa, Blau, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
referência GC pi Le Corbusier. 1999.
8
É possível inferir tal informação na
medida em que os integrantes da equipe BRUAND, Yves. Arquitetura
que projeto com Le Corbusier participaram Contemporânea no Brasil. São Paulo:
como ouvintes das conferências. Editora Perspectiva, 1991, 2 ed.
9
Muitos arquitetos, em função da falta da
regulamentação da profissão no Brasil, CAICHETA, Eliane. Uma Arquitetura para a
fizeram forte campanha para a contratação cidade: a obra de Affonso Eduardo Reidy.
de um brasileiro, assim como parcelas Arqtexto. Porto Alegre: n. 2, 2002. Disponível
de outros setores, e a questão também em: <https://www.ufrgs.br/propar/
foi, por isso, um ponto de inflexão. Ver publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_2/2_
também SILVA, L. 2003. Eliane.pdf>; acesso em 12/03/2021.
10
Apesar da revogação, o Plano continuou
sendo aplicado na região através de Projetos CAÚLA, Adriana Mattos de. Trilogia das
de Alinhamento, que asseguraram sua

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THIAGO SANTOS MATHIAS DA FONSECA 275

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disponível in: https://www.archdaily.
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da-arquitetura-moderna-slash-gregori-
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