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Karla Maria Silva de Faria

Silas Pereira Trindade


[ Organização ]

PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS

C OL ETÂ N E A I
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Karla Maria Silva de Faria
Silas Pereira Trindade

PROJETO GRÁFICO
Leonardo Huscc
Natã Silva de Carvalho

REVISÃO
Matheus Caldeira Alves Mendes Mychelle Priscila de Melo
Angélica Silvério Freires Karla Maria Silva de Faria
Ana Karolyna Nunes Amaral Silas Pereira Trindade
Marcos Antônio Bonifácio da Silva

COMISSÃO CIENTÍFICA
Adalto Moreira Braz Ingrid Graziele Reis do Nascimento
Adriano Luis Heck Simon Jaqueline Gomes Batista
Aichely Rodrigues da Silva Jefferson Castilho
Alecio Perini Martins Juliana Felipe Farias
Ana Caroline Rodrigues Cassiano de Sousa Kalyna Ynanhia Silva de Faria
Ana Karolyna Nunes Amaral dos Santos Kamila Almeida dos Santos
Ana Novais Karla Maria Silva de Faria
Antônio Cezar Leal Kássio Samay Ribeiro Tavares
Daniel Araújo Ramos dos Santos Marcio H. Campos Zancopé
Denilson Teixeira Mariana Nascimento Siqueira
Denise Oliveira Maxmiliano Bayer
Elizon Dias Nunes Mirtes Tatiane Neisse Boldrin
Flávia Darre Barbosa Rafael Rodrigues
Franciele Fath Rodrigo Lima Santos
Gervásio Soares Barbosa Neto Silas Pereira Trindade
Guilherme Marques de Lima

REALIZAÇÃO:

APOIO:
Karla Maria Silva de Faria
Silas Pereira Trindade
[ Organização ]

PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS

GOIÂNIA | 2021
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

P712 Planejamento e desenvolvimento sustentável em bacias hidrográficas [recurso eletrônico]


/ Karla Maria Silva de Faria, Silas Pereira Trindade (Organização). – Goiânia : C&A Alfa
Comunicação, 2021.
1195 p. ; 21 x 28 cm.
ISBN: 978-65-89324-28-7
1. Planejamento sustentável. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Bacias hidro-
gráficas. I. Faria, Karla Maria Silva de. II. Trindade, Silas Pereira.
CDU 556
(RESPONSÁVEL: FILIPE REIS - CRB 1/3388)
APRESENTAÇÃO

O Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física, junto com os progra-


mas de pós-graduação em Ciências Ambientais e de Geografia, responsabilizaram-se pela
organização do VIII Workshop Internacional Sobre Planejamento e Desenvolvimento
Sustentável em Bacias Hidrográficas, com o objetivo principal de levar a discussão de
temas relacionados a planejamento, manejo, preservação, conservação e desenvolvimento
sustentável de bacias hidrográficas.
O evento almejou criar um espaço de troca de experiências entre os pesquisadores, ges-
tores e docentes que atuam na área de planejamento e gestão de bacias hidrográficas, com
intuito de contribuir para o avanço dos estudos na área e o aprimoramento de métodos e téc-
nicas de pesquisa e de gestão.
Os trabalhos de pesquisa aprovados nesse evento confirmam a quão rica é o campo de
atuação dos pesquisadores que se dedicam a estudar, avaliar as bacias hidrográficas.
Agradecemos a todos(as) os pesquisadores(as) nacionais e internacionais, que compartilham
seus trabalhos e permitiram a organização dessa coletânea.

Karla M S Faria
Coordenação Geral do Evento
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Unidade I
BACIA HIDROGRÁFICA NO ENSINO DE GEOGRÁFIA
1 CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS E
SUA ASSOCIAÇÃO COM OS COMPONENTES FÍSICO-NATURAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2 MAQUETE GEOGRÁFICA: UM RECURSO DIDÁTICO PARA ABORDAGEM DA BACIA


HIDROGRAFICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3 BACIAS HIDROGRÁFICAS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NA GEOGRAFIA


ESCOLAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Unidade II
BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS
4 A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS: O CASO DO CANAL DO
PARACURI EM BELÉM-PA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

5 ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS PRO-


CESSOS DE INUNDAÇÃO NA BACIA DO RIO VIEIRA – MONTES CLAROS-MG . . . . . . . . 67

6 ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFI-


CIAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO CÓRREGO MACAMBIRA-GOIÂNIA-GO . . . 79

7 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSER-


VAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS URBANOS EM SANTA MARIA (RS, BRASIL). . . . . . . . . 92

8 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO


CHÃO NA COMUNIDADE AGRÍCOLA NOVA ESPERANÇA, MANAUS-AM. . . . . . . . . . . . . 104

9 CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE DAS NASCENTES 1 E 2 DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
QUATI – LONDRINA-PR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

10 CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE DAS NASCENTES 3 E 4 DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
QUATI – LONDRINA-PR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

11 CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA


DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO QUATI
– LONDRINA-PR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
12 CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA
COMO SUBSÍDIOS PARA A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA CIDADE DE
PARINTINS, AMAZONAS, BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148

13 CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO


CEARÁ – REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160

14 DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS NA CIDADE DE BOA VISTA-RR. . . . . . . . . . . . . 173

15 ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE: PROBLEMAS DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA


URBANA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185

16 EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁ-


FICA DO RIO ANHANGABAÚ (SÃO PAULO-SP) ENTRE OS ANOS DE 1930 E 2020. . . . . . 196

17 EXPANSÃO URBANA E DEGRADAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


DO RIBEIRÃO ANICUNS, GOIÂNIA-GO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210

18 FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO: A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓR-


REGO PROSA, CAMPO GRANDE-MS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219

19 IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SÃO JOSÉ-ITUIUTABA-MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233

20 IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS: UMA ANÁLISE


SOBRE A CACHOEIRA ALTA DO TARUMÃ (MANAUS-AM). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245

21 IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS: UMA ANÁLISE DA


CACHOEIRA ALTA E CACHOEIRA BAIXA,RIO TARUMÃ-AÇU (MANAUS-AM). . . . . . . . . 257

22 MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO:


IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE MORFOMÉTRICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268

23 POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE


ASSÚ-RN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278

24 PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS NA REDE DE HIDROGRÁFICA DA BACIA


DO EDUCANDOS, MANAUS, AMAZONAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289

25 PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/


CE NO CONTEXTO DA BACIA HIDROGRÁFICA DE ACARAÚ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300

26 QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE: UMA ANÁLISE DAS PRAIAS DAS PRO-
XIMIDADES DA BARRA DO RIO JUCU-ES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313

27 RISCOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO JOSEFA GOMES. . . . . 327

28 SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA O PLANEJAMENTO


AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339

29 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: ESTUDO DE CASO NA BACIA HIDROGRÁFICA


DO RIO PIRANGI-RN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351

30 SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS DO MUNICÍPIO DE CON-


CEIÇÃO DO ARAGUAIA-PA E O DESCARTE DE EFLUENTES EM CORPO HÍDRICO . . . . 363

Unidade III
CONFLITOS PELO USO DAS ÁGUAS
31 A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE . . . 373

32 APROXIMACIÓN AL ANÁLISIS DE CONFLICTOS SOCIO-AMBIENTALES EN CUEN-


CAS HIDROGRÁFICAS: EL CASO DE LA CUENCA DEL RÍO EBRO EN ESPAÑA. . . . . . . . . 385

33 CONFLITO DE INTERESSES: A IDENTIDADE CULTURAL DE UM POVO VERSOS


A NARRATIVA DO PROGRESSO ENRAIZADA NA CONSTRUÇÃO DE PEQUENAS
CENTRAIS HIDRELÉTRICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394

34 A GOVERNANÇA NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA EVITAR


CONFLITOS: O CASO DO RIO QUARAÍ/CUAREÍM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405

35 USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIADO RIO UNA EM MORROS,


MARANHÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416

Unidade IV
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NA GESTÃO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS
36 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS: AÇÕES PROPOSITIVAS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO PITIMBU/RN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 429

Unidade V
IMPACTOS DO AGRONEGÓCIO
PARA AS BACIAS HIDROGRÁFICAS
37 O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
TIMBURI, NA APA DO TIMBURI, PRESIDENTE PRUDENTE-SP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 440

38 ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM


EM SUB BACIA HIDROGRÁFICA GOIANA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 451

39 ANÁLISE DOS IMPACTOS DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA SOBRE O USO DA


ÀGUA NO VALLE DEL CAUCA – COLÔMBIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 463

40 EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL


EMBALSE CANELÓN GRANDE, URUGUAY. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 476
41 METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO EN
SUBCUENCA DEL RÍO TACUAREMBÓ CHICO, URUGUAY. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 484

42 PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA INTENSIVA NA REGIÃO HIDROGRÁ-


FICA DO CHAPADÃO DE SANTO DO RIO VERDE, EM CATALÃO-GO. . . . . . . . . . . . . . . . 493

Unidade VI
MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CRISES HÍDRICAS
E GESTÃO DAS ÁGUAS
43 A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO: O CLIMA NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO ALTO RIO PARAGUAI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 506

44 AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS


DE BALSAS-MA, FRENTE AOS CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. . . . . . . . . . . . . 522

45 INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NO


BRASIL: UM PANORAMA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 531

Unidade VII
PESQUISAS APLICADAS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
46 ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO NO
MUNICÍPIO DE PORTO NACIONAL-TO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 543

47 ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI


NO ECOSSISTEMA MANGUEZAL NO ESTUÁRIO DO RIO JAGUARIBE: PERÍODO DE
1990 A 2020. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552

48 ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO. . . 564

49 ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔ-


NIA: AS IMPLICAÇÕES DAS TERRAS CAÍDAS EM PARINTINS-AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 575

50 ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA HIDROGRÁ-


FICA DO RIO DO PEIXE: MUDANÇAS DE USO E VULNERABILIDADE AMBIENTAL . . . . . 587

51 APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA COMPONENTES PRINCI-


PAIS NO ESTUDO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO CAPIM BRANCO-MG. . . . . . . . . . . . . . 599

52 APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA


O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRA DE
IGUAPE E LITORAL SUL-SP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 610

53 ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: UMA ANÁLISE DAS NASCENTES DA BACIA


DO RIO PIRACANJUBA (BHRP). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 623
54 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS
(MA) COM USO DE UM PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO RÁPIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 633

55 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER DO


CHÃO NA CIDADE DE PARINTINS-AMAZONAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 646

56 AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDRO-


GRÁFICA DO RIO MAPARI, MARANHÃO, BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 657

57 AVALIAÇÃO DE VANTAGENS, DESVANTAGENS E DESAFIOS DA RENATURALIZA-


ÇÃO DO LAGO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 669

58 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO JOSEFA GOMES, FORMOSA-GO. . . . . . . . . 681

59 DINAMISMO GEOGRÁFICO: ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E COBERTURA


DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DAS PITANGUEIRAS, BARRE-
TOS-SP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 692

60 DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA


BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACARAÚ-CE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 707

61 ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO


VAI-E-VOLTA A PARTIR DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE QUALIDADE DA
ÁGUA E APLICAÇÃO DE PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO RÁPIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 717

62 ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO, PRINCI-


PAL MANANCIAL DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA DE ORLEANS-SC, BRASIL. 730

63 INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂ-


METROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS DOS RIOS DO PARQUE ESTADUAL DE
TERRA RONCA (PETER) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 741

64 LEVANTAMENTO DE SOLOS: DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI-CE/PI – BRASIL. 756

65 LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA


SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIACHO JATOBÁ MUCAMBO-CE. . . . . . . . . . . . . . . . . . 766

66 MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE PROCESSOS EROSIVOS E DA PREDISPOSI-


ÇÃO DO RELEVO À SUSCETIBILIDADE EROSIVA EM BORDAS DE RESERVATÓRIOS
DE USINAS HIDRELÉTRICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 779

67 MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE, REGIÃO OESTE DE GOIÁS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 791

68 MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


ANIL, SÃO LUÍS-MA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 804

69 PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ: REVISÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA


DOS PROCESSOS DE GEOMORFOGÊNESE E CONECTIVIDADE FLUVIAL. . . . . . . . . . . . 814
70 POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA: UMA
ANÁLISE DA POLUIÇÃO E CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS. . . . . . . . . . . . 824

71 RISCO DE INCÊNDIOS PARA A BACIA DO RIO PIRACICABA EM MINAS GERAIS . . . . . . 835

72 USO DE GEOTECNOLOGIA NA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁ-


FICA DO RIO DA PRATA EM JUSCIMEIRA-MT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 845

73 USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO DA PORÇÃO


OESTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUARIBAS, PIAUÍ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 857

74 VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDRO-


GRÁFICA DO RIO CLARO-GO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 869

Unidade VIII
PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
75 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GES-
TÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 884

76 A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO


PARANAPANEMA-SP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 894

77 ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO


NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO RIO SÃO MARCOS E SÃO BARTOLOMEU, GOIÁS. . . 904

78 APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA


(SDVI) EN LA DEMARCACIÓN HIDROGRÁFICA DEL SEGURA Y MANCOMUNIDAD
DE LOS CANALES DEL TAIBILLA (SURESTE DE ESPAÑA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 915

79 APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS PRINCIPAIS ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA NO


CONTINENTE AMERICANO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 927

80 APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES MORFOMÉTRICAS, COBERTURA DA TERRA E


USO DO SOLO NA BACIA DO RIO BARRA GRANDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 939

81 AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO,


SUDESTE DO TOCANTINS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 950

82 CARTOGRAFIA SOCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS: DISCUSSÕES INICIAIS. . 962

83 DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA HIDROGRÁFICA


DO IGARAPÉ CARRAPATO NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA, RORAIMA . . . . . . . . . . . . . . . 971

84 DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO


MUNICÍPIO DE SENADOR CANEDO-GOIÁS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 982
85 DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE
DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 994

86 GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO: EXEMPLOS NO BRASIL E EM PORTUGAL. . . . . . . 1007

87 IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE: COM-


POSIÇÃO E DADOS BÁSICOS ECOLÓGICOS DA AVIFAUNA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1018

88 MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS: UMA


ANÁLISE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRACANJUBA II, GOIÁS, BRASIL. . . . . . . . 1027

89 MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL, MUNICÍ-


PIO DE PIRES DO RIO-GO – 1985 A 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1042

90 OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS:


O CASO DO SISTEMA HÍDRICO PAPICU/MACEIÓ, FORTALEZA, CEARÁ. . . . . . . . . . . . . 1053

91 PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO


JACÚ-RN: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GOIANINHA-RN . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1063

92 POTENCIAL EROSIVO NATURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACAREÍ. . . . 1075

Unidade IX
PRODUTOR DE ÁGUAS E PAGAMENTO POR SERVIÇOS
AMBIENTAIS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS
DE ABASTECIMENTO URBANO
93 ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO
URBANO NA VERTENTE PAULISTA DA UGRH PARANAPANEMA – BRASIL: INTE-
GRANDO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1088

Unidade X
REVITALIZAÇÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
94 DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ
DO BINDÁ, MANAUS-AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1100

95 O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO


RAMOS, NO MUNICÍPIO DE PARINTINS-AM (BRASIL). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1110
Unidade XI
SEGURANÇA HÍDRICA E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
96 A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS. . . . . . . . 1123

97 CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE-


-CEARÁ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1133

98 CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS: MÉTODO PARA LAVAGEM DE BETONEIRA E


REUSO DAS ÁGUAS RESIDUAIS EM UMA OBRA DO PROGRAMA SOCIAL E AMBIEN-
TAL DOS IGARAPÉS DE MANAUS – PROSAMIM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1145

99 LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURANÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA


VISTA-RR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1156

100 POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ: UMA REVISÃO ACERCA


DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1168

101 USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS


MANGUES, PORTO SEGURO, BAHIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1182
UNIDADE
1

BACIA HIDROGRÁFICA
NO ENSINO
DE GEOGRÁFIA
1. CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES
SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS E SUA
ASSOCIAÇÃO COM OS COMPONENTES
FÍSICO-NATURAIS

STEPHANI DA CRUZ FARIA1


ADRIANA OLIVIA ALVES2

Resumo: A presente pesquisa versa sobre os conhecimentos dos professores iniciantes de geogra-
fia sobre bacias hidrográficas e suas associações com os componentes físico-naturais, e da abor-
dagem da unidade enquanto conteúdo na geografia escolar. O ensino dos componentes
físico-naturais é uma dificuldade comum em muitos professores de geografia da educação básica,
como atestam outras investigações e obras da linha de ensino de geografia. Dessa forma, com-
preendemos a bacia hidrográfica, como unidade físico-natural e territorial que facilita a com-
preensão integrada das dinâmicas físicas e sociais do espaço. A presente investigação teve,
portanto, o objetivo de analisar os conhecimentos geográficos dos professores iniciantes de geo-
grafia sobre bacias hidrográficas e sua vinculação com os componentes físico-naturais.
Palavras-chave: Ensino de geografia; Componentes físico-naturais; Bacias hidrográficas.
Abstract: This research deals with the knowledge of beginning geography teachers about water-
sheds and their associations with the physical-natural components, and the approach of the unit
as a content in school geography. The teaching of physical-natural components is a common diffi-
culty for many geography teachers in basic education, as evidenced by other investigations and
works in the area of ​​geography teaching. In this way, we understand the watersheds unit, as a unit
physical-natural and territorial that facilitates an integrated understanding of the physical and
social dynamics of the space. The present investigation therefore had of aims to analyze the geo-
graphic knowledge of beginners teachers of geography about watersheds and their association
with the physical-natural components.
Keywords: Geography teaching; Physical-natural components; Watersheds.

1 UFG. E-mail: stephanifaria@discente.ufg.br

2 UFG. E-mail: adrianaolivia@ufg.br

[ 16 ]
CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 17

1 INTRODUÇÃO
A presente investigação surgiu de uma inquietação, relacionada ao ensino dos compo-
nentes físico-naturais na geografia escolar. Visto que, compreendemos que o ensino desses
componentes, muitas vezes ainda é pautado nas descrições, memorização e abordado de
forma fragmentada, como afirma Rodrigues (2001).
Na intenção de compreender o contexto do problema, identificamos que muitos profes-
sores apresentam dificuldades, relacionadas ao conhecimento específico dos componentes
físico-naturais, e consequentemente, encontram entraves na abordagem pedagógica destes
em sala de aula (CAVALCANTI, 2010).
À vista disso, com a finalidade de compreender as primícias e consequências dessas
dificuldades docentes, e contribuir para as discussões e pesquisas acerca de ensino de geografia
e componentes físico-naturais, elegemos a unidade territorial bacia hidrográfica e seu ensino
enquanto conteúdo na geografia escolar, como foco desta investigação. Com ênfase no com-
ponente relevo e fenômenos socioambientais, como as erosões urbanas e enchentes.
A pesquisa justifica-se pela intenção de contribuir com as discussões acerca do ensino de
geografia com recorte nos componentes físico-naturais, e unidade bacia hidrográfica. Também
parte de uma vontade de pensar em formas de contribuir com as discussões de ensino de geo-
grafia e formação de professores.
Isto posto, o objetivo geral desta pesquisa é analisar os conhecimentos geográficos dos
professores iniciantes de geografia sobre bacia hidrográfica e sua vinculação com os compo-
nentes físico-naturais. Para alcançá-lo, foi necessário atingir os objetivos específicos, sendo
eles: (i) Identificar as percepções docentes acerca das bacias hidrográficas e as associações por
eles realizadas em relação aos componentes físico-naturais e sociais com a unidade; (ii)
Mobilizar conceitos e conhecimentos geográficos atrelados ao componente físico natural
relevo, o processo de erosão urbana e o fenômeno das enchentes na unidade da bacia hidro-
gráfica; (iii) Abordar o raciocínio geográfico escalar micro, atrelado a questões socioambientais
urbanas na unidade da bacia hidrográfica.

1.1 A unidade físico-natural e territorial Bacia hidrográfica e o ensino de


Geografia
As bacias hidrográficas são unidades físico-naturais e territoriais que compreende toda a
área de drenagem de um determinado rio, seus componentes físico-naturais, sociais e suas
dinâmicas. Tomita, Torres e Fonseca (2016) consideram que as bacias hidrográficas são prefe-
rencialmente adotadas, principalmente no ensino básico, devido a sua abordagem que permite
um enfoque nas relações natureza e sociedade e pela facilidade com que podem ser com-
preendidas as dinâmicas de seu interior.
A análise e compreensão dos componentes físico-naturais, a partir da unidade bacia
hidrográfica, permite que sejam compreendidas relações tanto dos fenômenos naturais,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


18 Stephani da Cruz Faria; Adriana Olivia Alves

quanto da relação sociedade-natureza de forma integrada. Sendo que a identificação de impac-


tos ambientais, bem como suas causas e consequências também é facilitada.
Aqui compreendemos as bacias hidrográficas, para além dos elementos relacionados aos
corpos hídricos e componente água. Defendemos as bacias hidrográficas enquanto unidade
físico-natural e territorial, potencial para compreensão das relações e dinâmicas, pautados
numa compreensão geossistêmica de análise da paisagem, considerando a entrada e saída de
matéria e energia e interação humana.
Apesar dessa característica integradora, observa-se que seus componentes ainda são
abordados, de forma a ressaltar cada um individualmente e de forma descritiva. Isso parte de
uma preocupação dos professores em destacar os componentes e elementos presentes na uni-
dade. No entanto, essa condução reforça uma aprendizagem pautada na memorização e não
atrai a atenção dos escolares, já que ele não reconhece a finalidade desse conhecimento em
seu cotidiano.
Borges e Alves (2020) ao abordarem as bacias hidrográficas no ensino de geografia, asso-
ciadas à estratégia de trabalho de campo, consideram a unidade territorial para mobilização do
conteúdo de relevo, suas feições geomorfológicas e impactos ambientais. Apresentam que
encaminhar bacias na paisagem urbana possibilita uma visão integradora dos componentes
sociais e naturais, em contrapartida a visão fragmentada dos componentes físico-naturais.
Sendo que essa abordagem é potencializada, se realizada a partir da perspectiva local do
escolar. Ao trabalhar a bacia hidrográfica em que ele está inserido, a mobilização dos conheci-
mentos geográficos, poderá alcançar a realidade do escolar, permitindo que sejam realizadas
inter-relações com o conhecimento cotidiano dele, de forma a viabilizar associações entre o
conhecimento científico e a prática cotidiana.
Desse modo é desenvolvido também um raciocínio geográfico escalar, partindo dos fenô-
menos locais em microescala, para uma compreensão multiescalar dos processos da unidade
territorial. A partir disso, o professor poderá mobilizar componentes físico-naturais, sociais,
econômicos e culturais, e transitar por diferentes escalas a fim de desenvolver um olhar geo-
gráfico para esses conhecimentos.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), já prevê a necessidade de uma associação
escalar das bacias e seu uso. O conteúdo de bacias hidrográficas se encontra presente nos anos
finais do Ensino Fundamental, mais especificamente no sexto ano. O documento apresenta
como objetivo, o desenvolvimento da habilidade (EF06GE12) “Identificar o consumo dos recur-
sos hídricos e o uso das principais bacias hidrográficas no Brasil e no mundo, enfatizando as
transformações nos ambientes urbanos”
Dessa forma, a abordagem a partir de uma perspectiva local, tem o potencial de desen-
cadear associações com a escala nacional e mundial. Atingindo assim, o desenvolvimento da
habilidade proposta na base, e permitindo que o professor faça associações do uso do compo-
nente água com os demais, que também são pautados nas orientações curriculares.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 19

Apesar de sua análise e abordagem conduzir em sua maioria, um foco no componente


água, os demais componentes que a integram, também suscitam inúmeras reflexões. Para
Christofoletti (1980, p. 103) “[...] a análise da rede hidrográfica pode levar a compreensão de
numerosas questões geomorfológicas, pois os cursos de água constituem processo morfogê-
nico dos mais ativos na esculturação da paisagem terrestre.”
O autor apresenta os possíveis padrões de drenagem e a relação desses com a forma que
relevo se apresenta no ambiente. Essa relação nos permite refletir, que partindo da análise de
um componente, inevitavelmente são realizadas inter-relações com os demais, e a partir des-
sas associações é construído um raciocínio que permite uma leitura geográfica do espaço.

2 METODOLOGIA
A investigação está amparada na vertente metodológica de pesquisa qualitativa em edu-
cação (BOGDAN e BIKLEN, 1994), dentre os tipos de pesquisa qualitativa, a pesquisa partici-
pante, (DEMO, 1995).
Huberman (1995) ao versar sobre as fases do profissional docente, afirma que professo-
res iniciantes vivem fases de sobrevivência e descoberta. Segundo o autor, o que ocorre é um
choque com o real, em que perpassam pelo profissional. Paralelo a isso, os professores inician-
tes vivem a empolgação do primeiro contato com a vida profissional e as responsabilidades da
sala de aula, sendo apontada pelo autor como o que os mantém na profissão.
Consideramos pertinente dessa forma, que os sujeitos da presente investigação fos-
sem professores iniciantes. Visto que, o recente contato dos mesmos com o ensino de geo-
grafia e a prática docente, revela efetivamente as dificuldades por eles encontradas no
processo de ensino-aprendizagem, no que diz respeito ao conhecimento pedagógico e o
conhecimento específico.
Desta forma, os critérios para seleção dos sujeitos da pesquisa foram: (a) que fossem pro-
fessores iniciantes (com até 6 anos de experiência), (b) que atuassem nos anos finais do ensino
fundamental, (c) que esses sujeitos não houvessem realizado pesquisas referentes ao ensino
do componentes físico-naturais, visto que o conhecimento adquirido na pesquisa poderia
influenciar as respostas, (d) que atuassem em escolas da Região Metropolitana de Goiânia.
Como técnica de investigação, serão utilizadas as entrevistas remotas (LUDKE E ANDRÉ,
1986). Selecionamos cinco professores, dois atuantes da rede de ensino privada, dois da rede
de ensino pública estadual, e um da rede municipal de Goiânia. Dessa forma pudemos abran-
ger a perspectiva de professores situados em diferentes realidades escolares, a partir de suas
práticas e experiências nas esferas escolares em que estão situados.
Aos sujeitos da pesquisa, foram atribuídos nomes que fazem referências às grandes
bacias hidrográficas presentes na região Centro-Oeste. Dessa forma, foram denominados aos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


20 Stephani da Cruz Faria; Adriana Olivia Alves

cinco sujeitos, cinco bacias, sendo elas: Bacia Hidrográfica Paraná, Araguaia/Tocantins, Platina,
São Francisco e Amazônica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao realizar as entrevistas, nossa primeira diligência foi identificar a percepção dos profes-
sores em relação aos componentes físico-naturais. Em se tratando das dificuldades de conhe-
cimento específico acerca dos componentes físico-naturais, solicitamos durante a entrevista
que os sujeitos identificassem em quais componentes têm mais dificuldades, e classificassem o
nível da dificuldade de 1 a 3, sendo 1 razoável e três dificuldade alta.
O componente solo foi apresentado por quatro professores, com dificuldade nível 3,
somente o professor São Francisco não disse ter dificuldade com o componente, concentrando
seus maiores obstáculos nos conteúdos de estrutura interna da terra (3) e bacias hidrográficas
(2). Os professores Araguaia/Tocantins e Amazônica, relataram enfrentar adversidades com
todos os componentes, apesar do destaque para o componente solo.
Isto posto, solicitamos que os professores justificassem suas dificuldades, de forma a
indicar a que eles a atribuíam. Os principais fatores por eles apresentados foram a formação, a
abordagem metodológica em sala de aula, e a forma que o professor conduziu a disciplina na
graduação. O professor Paraná ao justificar sua dificuldade proferiu a seguinte colocação:
“[...] Na minha formação eu não tive muito contato também, eu tive as disciplinas de
por exemplo pedologia, mas não foram tão voltadas para parte prática da escola,
então talvez um pouco disso ficou meio defasado e por isso minha dificuldade”.
(PROFESSOR PARANÁ, 2021, grifos nossos)

No intuito de compreender as formas que esses professores encontraram para suprir


esses entraves, questionamos que ações eles realizam para tanto, e solicitamos que fossem
citadas as fontes de consulta mais recorrentes. Shulman (2015) ao versar sobre as fontes para
base de conhecimento para o ensino, enumera quatro principais, sendo elas:
Há pelo menos quatro grandes fontes para a base de conhecimento para o ensino:
(1) formação acadêmica nas áreas de conhecimento ou disciplinas; (2) os materiais e
o entorno do processo educacional institucionalizado (por exemplo, currículos,
materiais didáticos, organização e financiamento educacional, e a estrutura da pro-
fissão docente); (3) pesquisas sobre escolarização, organizações sociais, aprendi-
zado humano, ensino e desenvolvimento, e outros fenômenos sociais e culturais
que afetam o que os professores fazem; e (4) a sabedoria que deriva da própria prá-
tica. (SHULMAN, 2015, p. 207)

Os professores relataram, fontes que costumam consultar para superar as dificuldades


de conhecimento e pedagógicas, boa parte dessas correspondem ao número 2, na ordem de
enumeração do autor. O livro didático foi a fonte mais mencionada pelos sujeitos, sendo que 3
deles também relataram assistir vídeos, disponíveis em blogs e na plataforma Youtube. Outras
fontes citadas, foram o próprio currículo, artigos e atividades do período da formação e as

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 21

experiências dos colegas de profissão, o que demonstra que mesmo com menos tempo de prá-
tica docente, eles buscam da fonte 4 (sabedoria que deriva da própria prática) nas vivências
dos colegas que estão a mais tempo em sala de aula.

3.1 Compreensões e associações docentes sobre bacias hidrográficas


Após verificar a compreensão dos professores participantes acerca dos componentes
físico-naturais, concentramo-nos na unidade territorial bacia hidrográfica. No intuito de reco-
nhecer a compreensão e definição dos sujeitos sobre a unidade que é conteúdo da Geografia
Escolar, o primeiro questionamento foi acerca da definição entendida por eles sobre bacias
hidrográficas. O quadro na sequência (Quadro 1) apresenta as definições por eles colocadas.

Quadro 1 – Definição dos professores sobre bacias hidrográficas

Professor(a) Definição sobre bacias hidrográficas


Paraná [...] são a capacitação das águas de um determinado território em uma locali-
dade, bacia hidrográfica do João leite, onde as águas vão descendo pra lá e aí vai
formar essa bacia.
[...] eu costumo falar que bacia é a mãe dos rios, que bacia hidrográfica é o prin-
cípio dos rios que sem essas bacias hidrográficas seria impossível a gente ter
Araguaia/Tocantins acesso ao monte de coisas que às vezes a gente não percebe, não só água enquanto
elemento de sobrevivência humana, mas todo um contexto de ecossistema [...].
[...] um conjunto de elementos que resultam num, deixa eu pensar direito [...]
dos elementos e do espaço geográfico que corroboram para essa união dos cor-
Platina pos hídricos [...], ou seja esse conjunto de elementos do espaço que formam uma
bacia hidrográfica, uma bacia de águas, o rio é um elemento, mas não é só a bacia.
[...] pautada na região em que está presente vários cursos de água com o leito
principal, tem o curso principal e todos seus afluentes, a região que abarca essa
São Francisco área.
Amazônica [...] uma região caracterizada, delimitada pelos recursos hídricos daquela região.
Fonte: Entrevista sujeitos participantes da pesquisa. Elaboração: (FARIA, 2021).

Tendo em vista as respostas obtidas, podemos levantar algumas ponderações. A pri-


meira delas se baseia na dificuldade encontrada pelos professores em definir a unidade terri-
torial, mesmo dois deles relatando terem mediado o conteúdo na mesma semana da realização
da entrevista, notou-se um impasse no momento organizar a resposta.
Outra questão, diz respeito ao destaque que o componente água carrega nas definições.
Claramente, a água é de vital importância na compreensão das bacias hidrográficas (como
explicita a denominação), no entanto o que nos chama a atenção é o descrédito dado aos
demais componentes físico-naturais que compõem uma bacia hidrográfica na maior parte das
respostas. Somente a professora Platina apresentou em sua definição, a importância da con-
junção de elementos na composição de uma bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


22 Stephani da Cruz Faria; Adriana Olivia Alves

Outra é a persistência de uma compreensão fragmentada da paisagem, em que os com-


ponentes são analisados de forma isolada. Ao refletirem bacias hidrográficas, os professores
automaticamente associam o componente água, sem se atentarem aos componentes relevo,
solo, clima, vegetação, que integram a unidade territorial e proporcionam a própria dinâmica
do ciclo da água.
Haja vista esse raciocínio, questionamos aos professores quais associações eram realiza-
das por eles em relação aos componentes físico-naturais e sociais, ao trabalharem bacias hidro-
gráficas. Colocado esse questionamento, as relações são mais facilmente realizadas, e os
docentes passam a verbalizar os outros componentes que podem ser associados à unidade.
Dentre os componentes físico-naturais, o mais citado foi o componente vegetação, pelos
professores Paraná, Platina e São Francisco. O relevo aparece como o segundo mais citado,
enquanto solo e clima também estão presentes nas respostas.
Em relação aos aspectos sociais, o uso e ocupação do solo foi o mais pautado, outras
associações apresentadas pelos professores ocorreram em relação aos problemas ambientais,
utilização de recursos naturais, relação campo e cidade, especulação imobiliária e trabalho.
Ainda sobre as associações realizadas pelos professores ao mediar bacias hidrográficas
em sala de aula, questionamos eles sobre as relações, que fazem entre o conteúdo de bacias
hidrográficas e as experiências cotidianas dos escolares. Tendo em vista as considerações de
Cavalcanti (2019) acerca do papel do professor, de pensar os conteúdos a partir da realidade
dos escolares. Como versa autora, é preciso que o professor acione a realidade do escolar, para
que a internalização dos conhecimentos seja de fato significativa.
As respostas colocadas pelos profissionais docentes foram diversas, apresentaram dife-
rentes enfoques e escalas e possibilitaram inclusive que conseguíssemos compreender um
pouco mais sobre as percepções dos docentes acerca da unidade bacia hidrográfica.
O professor Amazônica, relata realizar uma simples associação ao questionar os escola-
res sobre a água e seu uso cotidiano, à partir do recebimento da deste recurso em suas mora-
dias quando sai da torneira, do chuveiro. Também destacando a água, a professora Araguaia/
Tocantins disse que costuma relacionar bacias as fontes de energia advinda das hidrelétricas,
procurando destacar o ônus e bônus da utilização dessa fonte.

3.2 Questionário iconográfico e solução de problemas para mobilização de


conhecimentos docentes
O questionário iconográfico é uma estratégia de ensinagem proposta por Pimenta (2015),
baseado no modelo de Anastasiou e Alves (2005). Na estratégia, como afirma Pimenta (2015,
p. 140-141) “considerou-se relevante associar tanto as operações de pensamento na intenção
de “ensinar a aprender”, quanto na formação de conceitos para se desenvolver um modelo de
questionário associado à análise de fotos.”

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 23

Adotamos aqui, o uso do questionário iconográfico, para tanto, selecionamos a Bacia


Hidrográfica Urbana, que abrange os municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia, do
Córrego Botafogo. Se trata de um recorte exemplificativo, cuja área se relaciona com espa-
ços em que as escolas, professores e escolares estão inseridos, para facilitar a mobilização
de conhecimentos relacionados a bacia hidrográfica, relevo, a integração dos componentes
físico-naturais e sociais.
Aliamos a estratégia do questionário iconográfico com a estratégia de solução de proble-
mas colocada por Anastasiou e Alves (2015). Dessa forma, a intencionalidade de mobilização
das respostas é influenciada pela estratégia de solução de problemas, evidenciadas nesse
recorte da unidade de bacia hidrográfica mencionada anteriormente.
Dessa forma, consideramos ambas as estratégias aqui pautadas, para mobilizar junto aos
professores, durante as entrevistas, questões sobre problemas de cunho socioambiental pre-
sentes na bacia hidrográfica do córrego Botafogo. A primeira questão utilizando a estratégia do
questionário iconográfico, foi a enumerada, questão 11 da entrevista. A pergunta versa sobre
as enchentes que ocorrem na marginal Botafogo, nos períodos chuvosos.

Figura 1 – Questão 11 da entrevista

Fonte: (FARIA, 2021).

Ao responderem a presente questão, os professores focaram em diferentes aspectos. O


enunciado em si próprio já apresentava elementos para a reflexão do fenômeno das enchen-
tes, alguns professores deram maior atenção a este fator e procuraram associá-los, para expli-
car a causa e intensificação das enchentes, como os Professores São Francisco e Amazônica.
A questão permite realizar reflexões, acerca de diferentes aspectos sobre a unidade
bacias hidrográficas. O primeiro elemento para a reflexão dos professores, é acerca da aborda-
gem de uma bacia local, com uma escala mais ampliada e de experiência cotidiana. O que se

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


24 Stephani da Cruz Faria; Adriana Olivia Alves

faz importante, visto que alguns deles recorriam a associações com bacias de outras regiões,
para abordar o conteúdo, a exemplo do professor Amazônica que relatou realizar exemplifica-
ções a partir do Rio São Francisco.
Outro elemento suscitado pela questão é a interferência e integração humana com as
bacias hidrográficas. Haja vista que, os professores apresentavam relações sociais com as
bacias hidrográficas, partindo de uma concepção externalizada da natureza (CASSETI, 2002),
ou seja, associado ao uso dos recursos naturais para produção de energia ou outras demandas,
mas sem compreender o ser humano como elemento que integra a bacia hidrográfica e faz
parte de sua dinâmica, como identificado em suas respostas ao longo da entrevista.
A segunda questão iconográfica, número 12 da entrevista, sob a perspectiva da estraté-
gia soluções de problemas, ao considerar as mesmas imagens da questão 11, solicita que os
docentes apontassem ações a serem realizadas pelos órgãos municipais cabíveis, para solucio-
nar ou reduzir o fenômeno das enchentes na marginal Botafogo.
Um aspecto a ser destacado acerca dessa questão, foi a relutância dos professores, por
considerarem as enchentes da marginal Botafogo como sendo uma questão sem solução. No
entanto, após insistir, ações muito válidas e interessantes foram propostas por eles. Como
demonstrado no trecho:
[...] repensar a canalização, repensar e estrutura que tá em volta, são coisas que
eles não vão pensar de forma alguma, até porque ele veem esse canal como um
problema que eles queriam extingui-lo, isso sim. (PROFESSOR PARANÁ, 2021, gri-
fos nossos)

Ao conduzir os professores a uma reflexão acerca das soluções para minimizar o impacto
das enchentes, a questão 12, mobilizou conhecimentos acerca de um raciocínio integrado dos
componentes físico-naturais e sociais. Já que, foi preciso que fossem por eles levantadas hipó-
teses de natureza física e social para pensar ações eficazes na solução do problema.
Na questão de número 13 da entrevista, foi apresentada aos professores a situação de
moradias localizadas em de fundos de vale, com recorte para o córrego Capim Puba, na cidade
de GOIÂNIA-GO. Foi solicitado que fossem identificados os possíveis problemas que poderiam
ocorrer no local, partindo de uma análise integrada dos componentes físico-naturais e sociais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 25

Figura 2 – Questão 13 da entrevista

Fonte: (FARIA, 2021).

Ao relatar os fenômenos possíveis de serem identificados a partir das imagens, os profes-


sores destacaram tanto questões referentes à aspectos naturais, quanto sociais. A poluição, o
desmatamento e a erosão, a pobreza, a segregação social e falta de moradia digna foram os
fenômenos mais citados pelos professores.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conseguimos identificar através das respostas dos professores, que apesar da autonomia
de pesquisa, há uma carência de fundamentação teórico-prática sobre bacias hidrográficas.
Essa carência reflete na abordagem teórico-metodológica da unidade enquanto conteúdo, em
sala de aula, que por vezes passam a se utilizar apenas dos livros didáticos enquanto fonte,
como relatado por alguns deles, da reprodução de sensos comuns, por vezes equivocados, e de
uma abordagem tradicional, por meio de descrições, e exemplificações distantes das vivências
dos escolares, fundamentadas em uma concepção externalizada da natureza.
Durante as entrevistas, foi possível perceber que os professores têm consciência da
importância da abordagem integrada dos componentes físico-naturais e sociais. No entanto,
essa dificuldade identificada, acerca da fundamentação teórica sobre bacias hidrográficas,
leva-os a tratar somente o componente água, a rede hidrográfica e o ciclo hidrológico de forma
isolada dos demais componentes com a interação humana. Outra reflexão possível, foi acerca
de uma maior facilidade dos professores para tratar de aspectos sociais em detrimento dos
fenômenos e componentes físico-naturais.
Quando questionados acerca dos componentes físico-naturais, muitos relataram ter uma
dificuldade de forma geral, com os conteúdos por eles denominados de “geografia física”. Essas
colocações, refletem a ainda presente dicotomia da geografia, que apesar das tentativas para

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


26 Stephani da Cruz Faria; Adriana Olivia Alves

ser superada, ainda assombra a ciência geográfica e reflete na formação dos geógrafos e pro-
fessores de geografia.
Alguns professores participantes, destacaram a abordagem de fenômenos socioam-
bientais urbanos em microescala, abordados nas respostas às questões iconográficas, como
importante contribuição e refletiram a ideia em seus sistemas conceituais. Consideramos um
avanço relevante, essa percepção por parte dos professores, visto que, quando explorados
aspectos da vivência dos escolares a aprendizagem se faz significativa e a apreensão do
conhecimento é potencializada.
Torna-se evidente, o potencial da unidade para realização de uma abordagem integrada
dos componentes físico-naturais, em diferentes escalas, e com diferentes focos nas relações
entre os componentes. Aspectos sociais e socioambientais, de natureza econômica, política,
dentre outras, também são possibilidades a serem exploradas ao trabalhar o conteúdo em sala
de aula e relacionados às dinâmicas naturais que nela se apresentam.
Diante do exposto, concluímos que apesar dos avanços teóricos e práticos na formação
docente, ainda há resquícios de uma concepção externalizada da natureza na abordagem prá-
tica dos professores ao tratar o conteúdo de bacias hidrográficas. Consequência da insuficiên-
cia identificado em suas fundamentações teóricas, não somente sobre as bacias hidrográficas,
como também acerca dos demais componentes.
Portanto, existe a necessidade de serem pensadas maneiras de superar, a ainda presente
dicotomia da geografia na formação docente e pautar as disciplinas de forma integrada, e rela-
cionando-as com a prática docente, de maneira que a abordagem pedagógica do conheci-
mento, se torne eixo obrigatório nas disciplinas de caráter específico. Visto que, é papel da
formação inicial, fornece as bases para a construção profissional e formação de professores
intelectuais e com autonomia teórico-metodológica.

5 REFERÊNCIAS
ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo; ALVES, Leonir Pessate. Estratégias de ensinagem. In ______. Processos
de ensinagem na universidade: Pressupostos para as estratégias de trabalho e aula. Joinville – SC: Univille. p.
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 27

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Geografia, v.94, p. 47-64, 2016.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


2.
MAQUETE GEOGRÁFICA
Um recurso didático para abordagem da bacia
hidrografica no ensino de Geografia

RICARDO FARIA SILVA1


ADRIANA OLIVIA ALVES2
MARCIO PINHEIRO MACIEL3

Resumo: O trabalho discute a relevância da maquete geográfica para a abordagem da bacia hidro-
gráfica como conteúdo no ensino de Geografia Escolar, considerando que nesse espaço não há um
encaminhamento na perspectiva do escolar, conhecê-la e analisá-la em sua realidade. Dessa forma,
a pesquisa tem como objetivo geral propor a elaboração da maquete geográfica para representar e
analisar a bacia hidrográfica urbana numa perspectiva integrada com os demais componentes físico-
-naturais e sociais. A pesquisa é do tipo qualitativa em educação e foi dividida nas seguintes etapas:
revisão bibliográfica que versam sobre a temática, aquisição de materiais de baixo custo, elaboração
da maquete geográfica. A abordagem da bacia hidrográfica, por meio da maquete geográfica possi-
bilita os escolares conhecerem suas características físicas naturais e sociais; os impactos ambientais
decorrentes das atividades humanas e também desenvolver projetos de recuperação desse recorte
espacial. Portanto, esse recurso didático é um dos caminhos para tornar os conteúdos geográficos
relevantes para formação dos escolares.
Palavras-chave: Maquete Geográfica; Bacia Hidrográfica; Ensino de Geografia.
Abstract: The work discusses the relevance of the geographic model for the approach of the water-
shed as content in the teaching of School Geography, considering that in this space there is no
referral from the perspective of the student, knowing it and analyzing it in its reality. In this way,
the research has as general objective to propose the elaboration of the geographic model to rep-
resent and analyze the urban watershed in an integrated perspective with the other physical-nat-
ural and social components. The research is of a qualitative type in education and was divided into
the following stages: bibliographical review that deal with the theme, acquisition of low-cost
materials, elaboration of the geographic model. The approach of the hydrographic basin, through

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Goiás – IESA. E-mail: ricardogeo-
silva@gmail.com
2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Goiás – IESA. E-mail: adrianaolivia@
ufg.br
3 Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Goiás – IESA. E-mail: adrianaolivia@
ufg.br

[ 28 ]
MAQUETE GEOGRÁFICA 29

the geographic model, allows the students to know their natural and social physical characteris-
tics; the environmental impacts resulting from human activities and develop projects to recover
this space. Therefore, this didactic resource is one of the ways to make geographic content rele-
vant for the education of students.
Keywords: Geographical Model; Hydrographic Basin; Geography Teaching

1 INTRODUÇÃO
O trabalho discuti a relevância da maquete geográfica para a abordagem da bacia hidro-
gráfica na Geografia Escolar como possibilidade de investigá-la, numa perspectiva integrada
entre os componentes físico-naturais e sociais do espaço geográfico. A utilização desse recurso
didático no ensino de geografia para abordagem da bacia hidrográfica deve-se ao fato desse
recorte espacial ser pouco explorado considerando, o contexto dos escolares, isto, é prioriza o
estudo das grandes bacias hidrográfica, o que pouco contribui para sua realidade se tornar um
objeto de estudo.
O trabalho tem como objetivo principal propor a elaboração da maquete geográfica para
a abordagem da bacia hidrográfica na escala local no ensino e aprendizagem em geografia no
ambiente escolar. Diante disso, desenvolve-se a seguinte problemática: De que maneira a
maquete geográfica pode contribuir para a abordagem significativa da bacia hidrográfica com
intuito de atribuir significado aos conteúdos geográficos?
O caminho metodológico para o desenvolvimento do trabalho consistiu em revisão
bibliográfica que versam sobre a temática ora apresentada, aquisição de materiais de baixo
custo, elaboração e análise da maquete geográfica da bacia hidrográfica do Córrego do Rola
localizada no município de Aragarças-GO. O trabalho divide-se em duas seções, a primeira des-
taca o ensino de geografia e a bacia hidrográfica apoiando se em pesquisadores como Machado
e Torres (2012), Botelho (2011), Guimarães (1999), Cavalcanti (2019) e Callai (2010). O segundo
trata-se da relevância da maquete geográfica no ensino de geografia tem-se como referência
os estudos de Simielli et al. (1991) e Pitano e Roqué (2015).
Acredita-se que o uso da linguagem cartográfica e geomorfológica, para trabalhar com a
bacia hidrográfica do local de vivência dos escolares no ensino e aprendizagem em geografia
possibilita torná-la um objeto a ser mais explorado e conhecido nas aulas de geografia tor-
nando os conteúdos geográficos interessantes.

1.1 Geografia Escolar e bacia hidrográfica


Na Geografia Escolar, o processo de ensino e aprendizagem tem sido de modo geral mar-
cado por práticas docentes e uso de recursos didáticos, principalmente de livros didáticos que
não tem contribuído efetivamente, sobretudo, a atribuir significado aos conteúdos geográfi-
cos. Isso tem tornado as aulas de geografia desinteressante e pouco significativa aos escolares.
Segundo Cavalcanti (2019, p. 150) “A falta de motivação dos alunos para os estudos, sobretudo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


30 Ricardo Faria Silva; Adriana Olivia Alves; Marcio Pinheiro Maciel

na disciplina de Geografia é uma realidade apontada muito frequentemente pelos próprios


alunos”. Em outras palavras, é uma problemática expressada pelos próprios escolares.
Diante dessa realidade, cabe ao professor a função de orientar e intervir para que os
escolares se sintam motivados e dispostos a aprenderem geografia. Para tanto, é necessário
que o docente torne suas aulas mais atrativas no sentido de motivá-los, organizando temáticas
relevantes, no sentido de dar significados para sua formação (CAVALCANTI, 2019). A bacia
hidrográfica constitui uma temática relevante que possibilita a mobilização de conhecimentos
geográficos tornarem úteis para a vida dos escolares, principalmente, no que diz respeito ao
componente físico-natural água.
Nesse sentido, a água enquanto conteúdo geográfico, pode se tornar significativo ao
abordar problemáticas sobre as atividades que tem comprometido a qualidade e a disponibili-
dade desse recurso no local de vivência dos escolares. Em áreas urbanas, o uso de fossas
negras, descarte de esgoto e lixo doméstico tem-se constituído umas das principais fontes de
contaminação desse recurso. É interessante tratar esse conteúdo numa perspectiva histórica,
tendo em vista que a busca por esse recurso não é recente, porém, tem se intensificado nas
últimas décadas. Sobre essa discussão Botelho (2011) traz as seguintes contribuições:
Os recursos hídricos têm sido alvo das intervenções antrópicas há ao longo do
tempo, desde o surgimento das primeiras comunidades humanas, que se utilizavam
deles para sua dessedentação, preparo, de alimentos, higiene, construção, navega-
ção, irrigação etc. Contudo, é em tempos historicamente mais recente que são
registradas as maiores intervenções nesses recursos, notadamente nos rios.
(BOTELHO, 2011, p. 74)

Recentemente, as atividades do agronegócio têm impactado drasticamente na qualidade


e volume, e até mesmo na supressão de vários afluentes das bacias hidrográficas. A abertura
de novas áreas para o cultivo de comodities tem exaurido a vegetação de extensas áreas, e em
muitos caso avançando sobre as áreas de preservação permanente – fundos de vale, verten-
tes, nascentes –, a saber. A ausência da vegetação interfere no processo de infiltração e, assim,
boa parte do solo (sedimentos) será carreado até as nascentes e ao leito dos rios.
Devido a demanda pela água em diferentes atividades produtivas e de consumo, a bacia
hidrográfica tornou-se na sociedade atual alvo de planejamento e intervenção, no que diz res-
peito a gestão ambiental, assim escrevem Machado e Torres (2012):
A crescente demanda para todos os usos (irrigação, geração de energia elétrica,
abastecimento humano e industrial) acabou dando início a várias experiências de
manejo de recursos hídricos que evoluíram fortemente nas últimas décadas até
resultarem em políticas e legislações especificas, e que ao mesmo tempo consagra-
ram a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e intervenção, passando a
ser adotada como um dos principais recortes territoriais para efetivação da gestão
ambiental (MACHADO; TORRES, 2012, p. 163).

Em virtude da importância da água para sociedade atual, a bacia hidrográfica tornou-se


objeto de estudos de diversas áreas de conhecimento, a Geologia, Climatologia, Geografia e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAQUETE GEOGRÁFICA 31

Biologia. Assim, esse recorte espacial passou a ser alvo de discussão no cenário político inter-
nacional, nacional, regional, local nos meios de comunicação. Por outro lado, é preciso que
essa discussão adentre na Geografia Escolar para que os escolares em diferentes níveis de
ensino conheçam, participam e intervenham em sua realidade. Nessa concepção Callai (2010)
faz as seguintes considerações:
As coisas que acontecem no cotidiano da vida das pessoas precisam ser entendidas
e a escola tem um papel fundamental nesse processo. O mundo da vida precisa
entrar na escola, para que ela seja viva, para que consiga acolher os alunos e dar-
-lhes condições de realizarem sua formação, desenvolverem um crítico e ampliarem
suas visões de mundo (CALLAI, 2010, p. 33).

Para tanto, considera-se, o docente deve se apropriar de estratégias de ensino que bus-
que associar os conteúdos geográficos com os fatos, assuntos que motivam os escolares a
conhecerem seu cotidiano. Investigar a bacia hidrográfica do seu espaço de vivência para
entender a problemática ambiental que a envolve, significa aprender a analisar os resultados
das práticas espaciais materializada no espaço geográfico.
Muito tem-se se escrito sobre estratégias de ensino para abordagem significativa de con-
teúdos geográficos. Nesse conjunto, inclui-se a maquete geográfica de um determinado espaço
geográfico, porém em muitos casos, explora-se a maquete de maneira estática, como possibi-
lidade de ser abordar somente um recorte temático, ora o relevo, vegetação, curva de nível, a
cidade, solo, isto é, o tratamento é dado de forma isolada.
Neste trabalho, visualiza-se a construção e o uso da maquete geográfica como possibili-
dade de abordar uma gama de conteúdos tais como urbanização, processos erosivos, poluição
do solo e dos recursos hídricos, desmatamento, ocupação de áreas de preservação permanen-
tes. Nessa perspectiva, a bacia hidrográfica é considerada um recorte espacial importantíssimo
a ser representado e analisada na Geografia Escolar.

1.2 A relevância da maquete geográfica para a abordagem da bacia


hidrográfica na geografia escolar
Frequentemente tem-se verificado no meio da comunidade de geógrafos brasileiros que
atuam na linha de ensino e aprendizagem em Geografia, reflexões a respeito do uso de recur-
sos didáticos e/ou metodologias de ensino que contribuam para abordagem de conteúdos geo-
gráficos – relevo, solo, urbanização, água, bacia hidrográfica, vegetação, paisagem – de maneira
significativa para os escolares. Assim, os avanços ocorridos nos últimos 40 anos no campo de
conhecimento da Cartografia Escolar têm contribuído na indicação de recursos didáticos –
mapas mentais, croquis, maquete geográfica, atlas geográfico – que possibilitem representar e
abordar conteúdos numa perspectiva de ensino e aprendizagem significativa.
Muitos desses recursos didáticos são conhecidos na Geografia Escolar, porém muitas
vezes são utilizados numa perspectiva de apenas representar e identificar elementos isolados,
isto é, torna-se um instrumento insignificante e repetitivo. Apesar de serem recursos didáticos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


32 Ricardo Faria Silva; Adriana Olivia Alves; Marcio Pinheiro Maciel

ou metodologias de ensino amplamente divulgados, cabe ao professor inovar em sua prática


pedagógica para dar significado ao conteúdo em estudo. Sobre esse assunto Lopes (2014) faz
as seguintes considerações:

O professor criativo, de espírito transformador, está sempre buscando inovar sua


prática e um dos caminhos para tal fim seria dinamizar atividades desenvolvidas em
sala de aula. Uma alternativa para dinamização seria a variação das técnicas de
ensino utilizadas; outra seria a introdução de inovações nas técnicas já amplamente
conhecidas e empregadas (LOPES, 2014, p. 37).

Dentre as representações cartográfica ora mencionadas, a maquete geográfica – com-


preendida como uma representação tridimensional, em escala reduzida ou ampliada, de um
recorte espacial – no ensino de geografia constitui um recurso didático importantíssimo para
abordar temáticas e/ou conteúdos considerados relevantes na Geografia Escolar. Para tanto,
há de se considerar que o espaço geográfico a ser representado na maquete geográfica não é
estanque, ou seja, é dinâmico, é constantemente modificado pela ação antrópica. Essa concep-
ção é que faz desse recurso didático potente para mobilizar conhecimentos geográficos em
diferentes recortes espaciais. Com relação ao uso da maquete Simielli et al. (1991) afirma que,

[...] o trabalho com maquetes não é apenas a sua confecção, mas a possibilidade de
utilização de uma ferramenta para a correlação. Quando se trabalha com a maquete,
se torna mais fácil o entendimento de correlações entre espaço físico, as ações
antrópicas e a própria dinâmica da paisagem, além dos conceitos cartográficos apli-
cados a um plano tridimensional. (SIMIELLI et al., 1991, p. 89).

Em outras palavras, a maquete não pode ser considerada uma representação estática do
espaço geográfico. Há de se considerar a relação entre os componentes físico-naturais – relevo,
solo, água, vegetação – e sociais, e o resultado dessa interação em diferentes recortes espa-
ciais. Além de possibilitar fazer correlações entre os componentes espaciais, a maquete geo-
gráfica permite investigar o espaço de vivência dos escolares conforme destacam Pitano e
Roqué (2015):

As maquetes despertam os alunos a investigar o espaço vivido, interpretá-lo e con-


textualizar a Geografia do lugar, promovendo o interesse da participação nas
mudanças da sociedade. Propicia a valorização local e a solução de problemas,
desde o espaço físico ao social, ligando o ensino da disciplina ao cotidiano do aluno,
pois possibilita mostrar a organização e a ocupação do espaço, além da interação
com o meio representado na maquete (PITANO; ROQUÉ, 2015, p. 276).

Nessa concepção, a representação da bacia hidrográfica urbana, por meio da maquete


geográfica é considerada uma estratégia de ensino importante para estabelecer relações,
entre os componentes físico-naturais e sociais no ensino de geografia na escala local. Portanto,
devido a relevância dos recursos hídricos na sociedade atual, a bacia hidrográfica tornou-se um
recorte espacial significativo para estudo, sobretudo, no uso e gestão dos cursos d’águas con-
forme destacam Machado e Torres (2012):

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAQUETE GEOGRÁFICA 33

Com a importância alcançada pelo recurso água em nossa sociedade industrial


moderna, tornou-se notável, sobretudo nas últimas três décadas, o substancial
incremento de estudos relativos aos recursos hídricos, bem como a eleição da bacia
hidrográfica como unidade territorial preferencial destes estudos, o que tem tor-
nado referência espacial destacada, subsidiando tanto o planejamento ambiental e
territorial quanto fundamentando boa parte da legislação ambiental no Brasil e em
muitos países (MACHADO; TORRES, 2012, p. 39).

Na Geografia Escolar na prática docente, comumente não se estudam, ou não é objeto


de estudo a bacia hidrográfica, ao qual os escolares estão inseridos, fica-se restrito apenas a
representação e as características físico-naturais das grandes bacias hidrográficas, tais como,
Amazônica, Paraguai, Paraná, São Francisco, Tocantins-Araguaia. É uma abordagem que não
permite pensar, investigar, problematizar a bacia hidrográfica numa perspectiva que considere
a sua realidade vivida. Nessa mesma linha de pensamento Botelho (2011) faz as seguintes
considerações:
Poucos são os indivíduos que tem a noção de que habitam uma bacia hidrográfica, a
compõem e são elementos que interagem dentro de um sistema, cujo funciona-
mento também depende das suas ações. Se nas áreas rurais essa visão é tênue, nas
áreas urbanas ela é ainda mais nebulosa, pois muitas vezes os rios estão “invisíveis”.
[...]. É preciso conhecer o lugar que se habita. Nosso endereço precisa ser mais do
que uma rua, um bairro, uma cidade; precisa ser também uma bacia hidrográfica. É
preciso saber de onde veem suas águas e, principalmente, para onde vão e em que
parte desse trajeto nos encontramos (BOTELHO, 2011, p. 79-80).

Nesse sentido, a representação da bacia hidrográfica por meio da maquete geográfica, é


um dos caminhos que possibilita os escolares a conhecer, a entender o seu funcionamento
como um todo. Nessa concepção, o ensino de geografia ganha sentido e significado, por se tra-
tar de um recorte espacial que permite problematizar a maneira como o homem tem-se rela-
cionado com os componentes físico-naturais. Nessa mesma linha de raciocínio Guimarães
(1999) faz os seguintes apontamentos:
A escolha da bacia ‘local’ permite a amarração com as discussões pedagógicas que
enfatizam o estudo da realidade do aluno, do próximo, daquilo que lhe é cotidiano.
Certamente todas as escolas, professores e alunos estão numa bacia hidrográfica,
mas poucos a têm como parte de suas realidades. Por isso, enfatizo a necessidade
de trabalhar a bacia ‘local’, transformá-la em objeto de estudos e parte da realidade
dos alunos e professores (GUIMARÃES, 1999, p. 132)

Portanto, não resta dúvida da relevância do estudo da bacia hidrográfica na escala local,
por meio da maquete geográfica, por permitir um envolvimento maior dos escolares no pro-
cesso de ensino e aprendizagem.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


34 Ricardo Faria Silva; Adriana Olivia Alves; Marcio Pinheiro Maciel

2 METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido em cinco etapas. A primeira fase realizou-se revisão biblio-
gráfica de teses, dissertações, artigos e livros que versam sobre a temática. Na segunda fase
elaborou-se um mapa hipsométrico (figura 1) da área em estudo.

Figura 1 – Mapa hipsométrico

Fonte: IBGE, 2017; 2019: TOPODATA: 2011.

Na terceira fase adquiriu-se materiais – 01 folha de isopor, medindo 50 x 100cm de tama-


nho e 1 cm de espessura, cola de isopor, 1 litro de massa corrida e tinta pva branca, 02 pincéis
de pinturas em tecido, 1 folha de lixa n° 120, tinta de corante solúvel nas cores azul, vermelha
e amarela e ½ quilo de serragem, palitos de palitar dentes e 01 lixa de unha metal flex. A quarta
etapa consistiu na transposição das curvas de nível para as folhas de isopor conforme se
observa na figura (2).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAQUETE GEOGRÁFICA 35

Figura 2 – Curvas de Nível

D
C A

Fonte: Galeria dos autores.

O recorte de cada curva de nível foi realizado da seguinte forma: fixou as extremidades
do mapa hipsométrico com palitos de palitar dentes na placa de isopor; em seguida perfurou
cada curva de nível com palito de palitar dentes; logo após com a lixa de metal flex começou a
recortar cada curva de nível. Na figura 2 cada letra corresponde a um intervalo de altitude
entre as curvas de nível: A (menor ou igual a 30 m); B (300-320 m); C (320-340 m); D (340-360
m); e E (maior que 360 m).
A quinta etapa montou-se a maquete (figura 3) iniciando pela placa de menor até a de
maior altitude. Para montagem da maquete, utilizou-se cola de isopor escolar 90 gramas em
cada placa de isopor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


36 Ricardo Faria Silva; Adriana Olivia Alves; Marcio Pinheiro Maciel

Figura 3 – Maquete montada

Fonte: Galeria dos autores.

Nessa etapa após colagem e montagem da maquete é importante fixar suas extremida-
des com palitos de palitar dentes para obter uma melhor fixação entre as placas. É importante
deixá-la em descanso por 12 horas. Após esse período as placas não se desprenderem uma da
outra. Logo após lixou-se as bordas de cada placa de isopor suavizando o máximo os saltos arti-
ficias do relevo dando uma forma mais natural.
Na sexta etapa, utilizando de pincel, aplicou-se massa corrida PVA com água em toda
superfície da maquete suavizando as variações de altura de cada folha de isopor, isto é, na rea-
lidade não há patamares abruptos em relação ao limite entres as curvas de nível conforme a
figura (4). Após a secagem da massa corrida, lixou novamente a maquete corrigindo as
imperfeições.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAQUETE GEOGRÁFICA 37

Figura 4 – Maquete com massa corrida

Fonte: Galeria dos autores.

Observa-se que após as correções, fica visível na maquete as feições geomorfológicas –


fundos de vale, vertentes e topos – da bacia hidrográfica em estudo. A última etapa consistiu
em inserir os componentes físico-naturais e sociais, e os elementos cartográficos na maquete
conforme mostra a figura 4. Aplicou-se cola branca escolar para fixar na maquete a serragem
(vegetação) e as casas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As representações cartográficas de um determinado espaço geográfico possibilitam
investigá-lo de maneira significativa de acordo com o interesse, o propósito do pesquisador, e
do conhecimento docente sobre o objeto geográfico a ser analisado. Por isso, é importante
que o docente saiba planejar suas aulas com a finalidade de explorar o máximo da representa-
ção a ser utilizada. Neste caso, a maquete geográfica da bacia hidrográfica permite aos docen-
tes investigar esse recorte espacial numa perspectiva de ensino e aprendizagem relevante para
os escolares por permiti abordar temáticas relevantes, no que diz respeito ao seu uso e ocupa-
ção, e os resultados dessa relação.
A maquete geográfica (figura 5) representa a bacia hidrográfica do córrego do Rola loca-
lizada no perímetro urbano na cidade de Aragarças-GO. Observa-se que esta é marcada por
um conjunto de intervenções antrópicas que tem provocado impactos ambientais relevantes
conforme se verifica na legenda.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


38 Ricardo Faria Silva; Adriana Olivia Alves; Marcio Pinheiro Maciel

Figura 4 – Maquete com massa corrida

Fonte: Galeria dos autores.

Por meio dessa linguagem, o professor pode explorar incialmente tema como contamina-
ção do solo e dos recursos hídricos por descarte de esgoto e resíduos sólidos. Essa temática mui-
tas das vezes na Geografia Escolar têm como referência de estudo as regiões metropolitanas, isto
é, distante de sua realidade. Sabe-se que é uma problemática que está presente na realidade do
escolar, porém a ausência de uma abordagem local e de materiais didáticos impossibilita os esco-
lares, a conhecerem e interferirem em sua realidade enquanto cidadãos críticos.
Outra temática interessante a ser investigada, trata-se da falta de planejamento urbano,
no que diz respeito ao processo de uso e ocupação das áreas de preservação permanentes, e/
ou consideradas instáveis ao assentamento humano. Analisando atentamente a maquete,
visualiza-se impactos ambientais – processos erosivos, assoreamentos – decorrentes do uso
das vertentes e fundo de vales. Nesse sentido, a maquete geográfica, por se tratar de uma
representação reduzida, possibilita pensar em: projetos de educação ambiental; ações de pla-
nejamento e reflexão da atuação política sobre esse espaço; e projetos de recuperação dessa
bacia hidrográfica.
As unidades do relevo são classificadas de acordo com a escala de análise em macro (pla-
naltos, depressões e planícies), meso (topos, vertentes, vales) e micro (sulcos, ravinas, voçoro-
cas) formas. No ensino de geografia na Educação Básica, muitas vezes, o docente prioriza o
estudo das grandes formas do relevo que estão distantes de sua realidade, portanto, pouco
contribuirá com sua formação. Nesse sentido, as meso (topos, vertentes, fundos de vale) e as
micro (sulcos, ravinas, voçorocas) formas do relevo tornam-se conteúdos concreto e visíveis ao
serem abordados pela maquete por ser tratar de uma representação tridimensional facilita seu

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAQUETE GEOGRÁFICA 39

entendimento. Em outras palavras, são feições do relevo que estão presentes no seu espaço de
vivência. Por outro lado, é importante a adoção de uma escala cartográfica que permita visua-
lizar essas feições, caso o docente adote, por exemplo, a escala (1:100000) provavelmente não
seria possível visualizar as microfomas do relevo.
O processo de urbanização desordenado tem gerado diversos problemas ambientais,
sobretudo no que diz respeito a remoção da vegetação, o que tem ocasionado a supressão de
nascentes, desvio dos cursos hídricos e diminuição do volume d’água dos principais afluentes
da bacia hidrográfica do córrego do Rola. Pensar a bacia hidrográfica local na Geografia escolar
significa conscientizar os escolares sobre a ocupação desordenada desse recorte espacial, no
sentido de a sociedade enfrentar num futuro próximo, em alguns casos no momento atual,
uma crise hídrica.
Além da problemática ambiental, pode-se trabalhar com os principais elementos da
bacia hidrográfica, divisor topográfico, rede drenagem, nascente, rio principal, afluentes, mar-
gens direita e esquerda, montante, jusante. O uso da maquete possibilita compreender o con-
ceito de bacia hidrográfica, fundos de vale, vertentes, topos, curvas de nível que muitas vezes
se tornam abstrato.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É comum ouvir no meio da comunidade acadêmica de pesquisadores da linha de ensino
e aprendizagem em Geografia a necessidade de tornar o processo de ensino e aprendizagem
em geografia interessante e significativo aos escolares. Por outro, considera-se necessário pro-
por caminhos para tal objetivo. Neste trabalho considerou-se a maquete geográfica como um
recurso didático com grande potencial para mobilizar conhecimentos geográficos no contexto
das bacias hidrográficas urbanas. Por se tratar de um recorte espacial ainda pouco explorado
na escala local de vivência dos escolares, espera-se que esta pesquisa incentive e contribua
com o trabalho docente, no sentido de tornar a realidade dos escolares objetos de análise na
Geografia Escolar.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


40 Ricardo Faria Silva; Adriana Olivia Alves; Marcio Pinheiro Maciel

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


3.
BACIAS HIDROGRÁFICAS
E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS
NA GEOGRAFIA ESCOLAR

ELIANA MARTA BARBOSA DE MORAIS1


PATRÍCIA DE ARAÚJO ROMÃO2
DOMITILA THEIL RADTKE3
CAMYLLA SILVA OTTO4

Resumo: Objetiva-se no presente trabalho discutir os referenciais teórico-metodológicos e peda-


gógico-didáticos que subsidiaram o planejamento, elaboração, utilização e revisão de um fascículo
temático sobre bacias hidrográficas. Para subsidiar seu desenvolvimento, foram realizadas revisão
bibliográfica, análise de livros didáticos, oficinas e Grupo Focal com professores e uso do material
em sala de aula. Após elaborado, com o intuito de verificar sua importância no processo de ensino
e aprendizagem, foram efetivadas investigações e atividades de extensão junto a professores que
atuam na Educação Básica. Como resultado, destacou-se a importância da elaboração de mate-
riais dessa natureza, aproximando universidade e escola, bem como teoria e prática, a partir de
temáticas importantes ao trabalho do professor e que muitas vezes são abordadas de forma dis-
tante do cotidiano dos estudantes. Nessa perspectiva, são discutidas neste trabalho as diferenças
entre rede e bacia hidrográfica, a concepção da bacia hidrográfica a partir da tridimensionalidade,
bem como as concepções de nível freático e a existência de bacias dentro de bacias. Somam-se a
essas discussões apontamentos realizados em torno dos procedimentos metodológicos, numa
perspectiva de ultrapassar a abordagem tecnicista e indicar caminhos para o trabalho com essa
temática na Educação Básica. Perpassa essa discussão a compreensão acerca do espaço geográ-
fico como objeto de análise da Geografia; a de que estudantes e professores são sujeitos do pro-
cesso de ensino e aprendizagem; e de que o trabalho com problemáticas situadas no cotidiano dos
estudantes são potencializadoras para o desenvolvimento do pensamento e, consequentemente,
para a formação cidadã.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Bacias Hidrográficas; Região Metropolitana de Goiânia;
Fascículo Didático; Construção de conceitos.

1 E-mail: Universidade Federal de Goiás – eliana@ufg.br


2 E-mail: Universidade Federal de Goiás – patricia_romao@ufg.br
3 E-mail: Universidade Federal de Goiás – domitilatr@gmail.com
4 E-mail: Universidade Federal de Goiás – camyllaotto@gmail.com

[ 41 ]
42 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto

Abstract: This paper aims to discuss the theoretical-methodological and pedagogical-didactic


references that subsidized the planning, development, use and review of a thematic booklet on
watersheds. To support its development, a literature review, textbook analysis, workshops and
focus groups with teachers and the use of the material in the classroom were carried out. After it
was developed, in order to verify its importance in the teaching and learning process, investiga-
tions and extension activities were carried out with teachers who work in Basic Education. As a
result, the importance of developing materials of this nature was highlighted, bringing together
university and school, as well as theory and practice, from important themes to the teacher’s work
and that are often addressed far from the students’ daily lives. In this perspective, this paper dis-
cusses the differences between network and watershed, the conception of the watershed from
the three-dimensionality, as well as the conceptions of water table and the existence of basins
within basins. Added to these discussions are notes made around the methodological procedures,
in a perspective to overcome the technical approach and indicate ways to work with this theme in
Basic Education. This discussion goes through the understanding about the geographic space as an
object of analysis of Geography; that students and teachers are subjects of the teaching and lear-
ning process; and that the work with problems located in the students’ daily lives are potentiali-
zers for the development of thought and, consequently, for citizen formation.
Keywords: Teaching of Geography; Watersheds; Metropolitan Region of Goiânia; Didactic Fascicle;
Construction of concepts.

1 INTRODUÇÃO
Se realizarmos uma pequena busca pela internet, identificamos uma enorme gama de
informações relativas às bacias hidrográficas. Nela estão presentes diferentes tipos de ima-
gens, que evidenciam, dentre outros, os elementos de uma bacia, com destaque para os cursos
d’água e seus divisores, bem como as localizadas no território nacional. No caso dos textos
apresentados, o destaque é direcionado às definições associadas a essa unidade de análise.
Embora haja outras referências sobre esse tema, quando direcionamos a busca para sites
específicos, a exemplo do Google Acadêmico, ou sobre recortes temáticos também específicos,
como bacias hidrográficas e ensino de Geografia, nosso intuito neste texto é o diálogo inicial com
as informações com as quais a maioria dos estudantes da Educação Básica tem acesso ao realizar
pesquisas, pois, a internet tem-se configurado como um dos recursos mais utilizados.
Nesse sentido, a construção de conhecimentos tem sido mediada por informações par-
ciais acerca da concepção e dos elementos que compõem essa unidade de análise. Poucas dife-
renças têm sido apresentadas para a relação entre rede e bacia hidrográfica, bem como tem
tido supremacia a visão bidimensional, furtando-se desse debate os elementos em subsuperfí-
cie que a compõem. Para além desses, o trabalho com esse tema tem utilizado especialmente
o recorte do território nacional, distanciando-se de uma abordagem que leve em conta o coti-
diano dos estudantes, numa perspectiva de diálogo entre as diferentes escalaridades.
Isto posto, desejamos no presente artigo defender a concepção de que o papel da escola
e, em especial, do professor de Geografia, é o de mediar a construção de conhecimentos pelos
estudantes, o que nos leva a fortalecer a ideia de que eles sejam sujeitos de sua aprendizagem.
Assim sendo, questionamos: Como construir conhecimentos, com os estudantes, em torno do

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


BACIAS HIDROGRÁFICAS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR 43

tema bacias hidrográficas? Como mobilizar o cotidiano deles nessa construção? Quais ideias
são nucleares para a formação dos sistemas conceituais de bacias hidrográficas? Em que
medida a construção do pensamento geográfico, a partir dessa temática, dialoga com as ações
cotidianas? Quais pistas podem ser indicadas aos professores para potencializar a construção
de conhecimentos no ensino de Geografia?
Apresentar reflexões, ainda que parciais, sobre esses questionamentos e encaminhar o
processo de ensino e aprendizagem para além do que tem sido apresentado na internet, colo-
ca-nos em contato direto com a construção de conhecimentos, dando outro sentido para a
profissão docente.
Destarte, o intento, ao término deste trabalho, é o de apresentar a necessidade de con-
frontar conhecimento cotidiano e conhecimento científico para a formação de conceitos, na
Educação Básica, que ao serem internalizados possibilitem o desenvolvimento do pensamento
geográfico, considerando para isso os processos espaço-temporais que ocorrem em bacias
hidrográficas, tendo em vista a escala e a perspectiva tridimensional.

2 METODOLOGIA
Tendo em vista o que foi aqui apresentado, em uma concepção teórico-metodológica
que atendesse à perspectiva de contribuição para o processo de ensino e aprendizagem, este
trabalho seguiu etapas que abrangeram alguns procedimentos. Estes envolveram atividades
de planejamento, de elaboração, de utilização e, no atual estágio, de revisão de um material
didático, denominado de fascículo, sobre temática associada à unidade bacia hidrográfica, cuja
área de estudos se referiu à Região Metropolitana de Goiânia – RMG (MORAIS; ROMÃO, 2009).
A perspectiva proposta no fascículo para a construção de conhecimentos, assentada em
diferentes etapas de problematização, sistematização e síntese (CAVALCANTI, 2014), objetiva
superar a exposição tradicional, na qual o acesso ao conhecimento veiculado em materiais
didático se daria mediante o contato passivo com os conteúdos.
Com essa metodologia é possível problematizar e fazer com que os estudantes compreen-
dam e se sintam inseridos no diálogo a partir de sua realidade, instigando-os, com a ajuda do
material, a mobilizarem suas concepções prévias e realizarem a sistematização do conhecimento
científico, assim como elaborarem uma síntese, na qual construirão sua própria narrativa.
Logo, a partir da realização de debates em torno da estruturação do fascículo, seguiram-se
reflexões acerca dos conceitos abordados, de modo a construir um texto originado a partir do
envolvimento de diferentes segmentos da sociedade, ligados à Educação, não perdendo de vista a
ideia de que isso redundaria em aproximação com a vivência do próprio estudante do ensino básico.
Nessa direção, a utilização do fascículo no ensino gerou experiências diversificadas para
educadores e estudantes do ensino básico; estudantes de graduação e de pós-graduação em
Geografia; e para professores da educação superior, também do curso de Geografia. Estas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


44 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto

foram conhecidas, por meio da realização de oficinas, de Grupo Focal, da utilização do material
didático em sala de aula, e, inclusive por meio de pesquisas e atividades de extensão.
Desta forma, o fascículo foi desenvolvido de modo colaborativo, com o objetivo de con-
tribuir com uma abordagem crítica dos conteúdos que envolvem o tema bacias hidrográficas,
principalmente, no que se refere à necessidade de integrar componentes físico-naturais e
sociais, no espaço geográfico.
Portanto, por meio das diferentes partes que compõem cada uma das sessões do fascí-
culo, situam-se os fundamentos teórico-metodológicos e pedagógico-didáticos, que apresen-
tamos no presente trabalho. A estrutura do fascículo se baseou em quatro seções independentes
que, por sua vez, contém tópicos que norteiam como cada tema será abordado e quais as ati-
vidades estão previstas na seção.
O fascículo está dividido em quatro seções e cada uma delas em cinco subseções. As
seções são: (i) E agora Joaquim?, (ii) Onde o rio faz a curva, (iii) Brincando com água e (iv) A
culpa não é da chuva. A primeira subseção, denominada Converse Comigo, é iniciada com uma
situação-problema, mediante o uso de diferentes linguagens. A ideia é que esta situação-pro-
blema leve o estudante a questionar o que ocorre em seu cotidiano. Já na subseção Traços e
Retratos são apresentadas atividades que os auxiliem a relacionar o conteúdo abordado com a
sua realidade. A subseção Mergulhando no Tema aprofunda essa discussão, trazendo um con-
junto de informações que favorece, junto àquelas já realizadas, a construção de conceitos. Na
subseção O que foi que eu aprendi mesmo? é realizada uma síntese, evidenciando os principais
conceitos e temas tratados nessa seção do fascículo. Na última subseção, intitulada Antenado
com a realidade, são apresentadas diferentes fontes de informação, como sites, filmes, textos,
músicas, jogos entre outros materiais disponíveis, de fácil acesso.
Ao longo do fascículo, objetivou-se que conteúdos e conceitos geográficos fossem desen-
volvidos, utilizando diferentes linguagens e procedimentos metodológicos, em prol da forma-
ção do pensamento geográfico. Desse modo, o presente texto segue a perspectiva de
externalizar conteúdos e conceitos mobilizados durante o planejamento, elaboração e reelabo-
ração do fascículo “Bacias hidrográficas da Região Metropolitana de Goiânia”, possibilitando,
de igual modo, a compreensão de outras realidades.

3 BACIAS HIDROGRÁFICAS: CONSTRUINDO CONCEITOS E


TRANSFORMANDO AÇÕES
Trabalhar o conceito de bacia hidrográfica na Educação Básica significa mobilizar referen-
ciais teórico-metodológicos e pedagógico-didáticos, que dialoguem com a motivação dos estu-
dantes em prol da construção de conhecimentos, confrontados com a sua vivência. Esse
aspecto indica a necessidade de sistematização, pelos próprios docentes, de uma concepção
que os possibilitem construir seus próprios conceitos, a partir de um sistema conceitual, e
serem mediadores junto aos estudantes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


BACIAS HIDROGRÁFICAS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR 45

Nesse sentido, questionamos a concepção de bacia hidrográfica mobilizada no processo


de ensino e aprendizagem e seu encaminhamento na Educação Básica. Nosso intuito com esse
questionamento é o de apresentar contribuições a esses referenciais, assentado na importân-
cia do conhecimento do conteúdo e pedagógico-didático, em interação conforme pontua
Shulman (2005).
Nossa perspectiva neste item se vincula, portanto, à integração entre esses dois aspec-
tos. Inicialmente queremos fortalecer a ideia de que há diferenças entre bacia hidrográfica e
rede hidrográfica, constituindo-se, este último, em um dos elementos da bacia. Poderíamos
questionar a importância dessa diferenciação. E, como argumentos elencar sua relação com as
ações que empreendemos em nosso cotidiano. Uma resposta seria, por exemplo, a de que a
compreensão em torno da inundação ou da seca, de uma determinada localidade, leva em
consideração elementos que ultrapassam a rede hidrográfica, formada pelos canais fluviais,
como rios, ribeirões e córregos, por exemplo.
Quando abordamos a rede hidrográfica, o foco de análise é o conjunto dos cursos d’água,
estruturados de forma interligada, como numa rede, numa teia. Esse conjunto inclui os compo-
nentes do ciclo hidrológico, como por exemplo, o fluxo subsuperficial e sua surgência, for-
mando as nascentes. Os cursos d’água escoam de forma hierárquica conforme suas inclinações,
das partes mais altas para as mais baixas do relevo, indo ao encontro do curso principal, seja
ele rio, ribeirão, córrego, ou outro manancial hídrico.
Já a concepção de bacia hidrográfica se sustenta a partir da composição, integração e
interação entre vários componentes, amparada na concepção de que a bacia hidrográfica é tri-
dimensional. Isso significa compreender que existem, entre outros, diferentes tipos de ocupa-
ção, de hidrografia, de cobertura vegetal, de solos, de relevo e de substrato rochoso, portanto
ela deve ser concebida em largura, comprimento e profundidade.
A partir dessa concepção, a de tridimensionalidade, extrapolamos a ideia comumente
aceita em torno dos elementos de uma bacia, incorporando para além da rede hidrográfica e
dos divisores de águas, as vertentes, as planícies de inundação, a cobertura superficial e o
substrato rochoso.
Os divisores de águas consistem no delimitador superior entre as bacias hidrográficas.
Por vezes eles se configuram como topos de morros. A partir deles, as águas da chuva come-
çam a escoar para diferentes lados, separando diferentes bacias. Por isso, é conhecido, tam-
bém, como espigão ou interflúvio. Podemos citar como exemplos, os chapadões, as chapadas,
as serras e os morros.
Devemos considerar, ainda, a existência em diferentes localidades, da rede de água pluvial,
que artificialmente coloca em integração diferentes bacias hidrográficas por meio da tubulação
interna. Os divisores de água nos permitem dialogar também com a forma da bacia hidrográfica,
o que auxilia a compreender que seu formato mais arredondado ou alongado, estabelece a quan-
tidade e tempo para que o fluxo d’água alcance a foz da bacia, em um episódio pluviométrico.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


46 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto

Iniciando-se no divisor de águas, as vertentes podem ser compreendidas como as incli-


nações de uma área, desde a parte mais alta até a mais baixa. Portanto, a vertente começa
onde se iniciam os processos intrínsecos a ela e finaliza onde iniciam processos afeitos aos cur-
sos d’água. Quanto à sua forma, elas podem ser descritas pela amplitude altimétrica (desnível);
pelo comprimento ao longo da linha superficial de maior inclinação; por sua orientação e sen-
tido; e pela declividade e curvatura (côncava, convexa ou retilínea).
Situadas nas porções mais baixas e planas das vertentes, as planícies de inundação cor-
respondem às margens dos cursos hídricos, que podem ficar inundadas na estação chuvosa.
Por vezes, quando se trata de cursos d’água de menor ordem, suas margens não formam pla-
nícies, fazendo parte de um segmento da vertente, denominado Fundo de Vale.
Até o presente momento destacaram-se os elementos de superfície formadores de uma
bacia hidrográfica (divisores d’água, vertente, planície de inundação, fundo de vale). Todavia,
conforme anunciamos anteriormente, para além destes há os de subsuperfície, os quais são
concebidos a partir de sua integração, que pode ser percebida por meio da análise de diferen-
tes temáticas vivenciadas em nosso cotidiano, a exemplo das inundações. Compreender as
inundações significa, portanto, considerar, por um lado, que ela faz parte da dinâmica de um
curso d’água e, por outro, que elas podem ser intensificadas pelo processo de uso e ocupação
do solo, colocando diferentes classes sociais em vulnerabilidade.
A análise em torno dessa temática nos indica a necessidade de entender o ciclo da água,
utilizando como recorte a bacia hidrográfica. Sua compreensão envolve, também, análises
acerca da cobertura superficial. Ao tratarmos dessa cobertura nossa abordagem contempla os
solos, a vegetação e o uso do solo. Compreendidos enquanto material inconsolidado, os solos
se referem aos elementos constituintes da paisagem originados por desagregação e decompo-
sição de rochas ou solos transportados.
Quanto à vegetação, seu debate tem externalizado a concepção em torno das áreas ver-
des, numa perspectiva de discussões acerca das Áreas de Preservação Permanente (APP), bem
como a sua manutenção nas diversas unidades residenciais. Nesse sentido, sua compreensão
envolve áreas com vegetação natural ou plantada.
Considerando que a cobertura superficial diz respeito também ao uso e ocupação do
solo, destacamos que este conecta os diversos componentes físico-naturais existentes em uma
bacia, a partir do processo de apropriação e de exclusão, realizado por diferentes classes
sociais. Em áreas mais urbanizadas, a cobertura superficial fica em sua grande parte encoberta
por construções, como asfaltos, casas, prédios e outros.
Já o substrato rochoso corresponde à rocha mãe ou matriz, que dá origem ao solo da
bacia em virtude do processo de desagregação/decomposição. As rochas pouco alteradas
quanto aos processos intempéricos podem ser encontradas em diferentes profundidades e em
superfície. Assim, é possível identificar casos em que as rochas afloram; perfis de solos rasos,
sobre rochas pouco intemperizadas; e solos profundos sobre o substrato rochoso.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


BACIAS HIDROGRÁFICAS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR 47

Nesse sentido, os poros, as cavidades e os condutos existentes nas rochas ou solos,


quando interconectados, permitem a infiltração da água da chuva e sua percolação. Os poros
existentes nos solos ou nas rochas, podem ser exemplificados pelos solos porosos ou rochas
areníticas; as cavidades, que podem ser originadas a partir do fraturamento das rochas ocor-
rem geralmente nas metamórficas; os condutos que por dissolução podem formar cavernas
em subsuperfície, predominam em rochas calcárias.
Em subsuperfície, a conexão entre os poros, formam no perfil de solo ou rocha, porções
menos úmidas e mais úmidas. As que se encontram com os poros saturados pela água delimitam
o nível denominado de freático. A superfície formada pelo nível freático, assim, não é contínua e
nem se constitui em rios subterrâneos, a não ser no caso das grandes cavidades, como as referi-
das cavernas em rochas calcárias. Assim, como temos afirmado em trabalhos anteriores (MORAIS;
ROMÃO, 2009), há a necessidade de repensar o conceito de lençol freático abordado predomi-
nantemente em diferentes materiais de acesso aos estudantes da Educação Básica.
Deste modo, por causa desses diversos elementos, os processos associados ao ciclo da
água nessa unidade de análise também ocorrem de maneiras distintas. Por isso, entender a
dinâmica que envolve os componentes físico-naturais contribui para o conhecimento do que
acontece nos cursos d’água de determinada bacia.
Uma evidência dessa afirmação trata-se dos conceitos de cursos d’água efluentes e
influentes, associados aos elementos do ciclo hidrológico na bacia hidrográfica. No primeiro
caso, pode ser imaginado que existem condições favoráveis à infiltração da água no momento
das chuvas, em uma situação de relativa densidade de cobertura vegetal, em relevos mais pla-
nos e relativamente altos, e em solos permeáveis e profundos, locais esses denominados de
áreas de recarga. Ali, a água infiltrada ao longo da estação chuvosa, por meio da comunicação
entre os poros do solo, lentamente chega ao substrato rochoso, o qual, dependendo de sua
profundidade, de sua capacidade de percolação e de armazenamento permite que essa água
possa ressurgir por meio das nascentes, alimentando os mananciais hídricos, mesmo em
momentos de estiagem. Essas condições são frequentes no Cerrado, porém é necessário ter
em mente que nesse ciclo foram descritas condições favoráveis para que ele se completasse,
formando os cursos d’água perenes.
Por outro lado, existe outra situação que pode ser apontada, para o segundo tipo de
curso d’água, o influente, que, como o próprio nome diz, tem influência na recarga do nível
freático. Só que nesse segundo tipo, em geral, a água, na estação chuvosa, é infiltrada, princi-
palmente, a partir do próprio leito do curso d’água. Esses leitos são mais permeáveis, em vir-
tude de serem formados por sedimentos com alta porosidade. Além disso, a evaporação
intensa sazonal, em conjunto com processos de salinização pela ascendência da água subterrâ-
nea, rica em sais dissolvidos, pode levar à formação de solos endurecidos em superfície, como
os caliches, dificultando a infiltração da água nas vertentes. São exemplos desses casos, fre-
quentes em áreas semiáridas, os cursos d’água que podem secar se o nível freático for muito

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


48 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto

rebaixado, em relação ao nível anterior, que comumente se encontra a maiores profundidades,


comparativamente aos cursos efluentes (KARMANN, 2000).
Dialogar sobre os cursos de água efluentes e influentes já nos aponta um debate tendo
como referência diferentes áreas do território nacional. Trabalhar a concepção teórico-meto-
dológica de bacia hidrográfica também pode situar-se nessa perspectiva – a de diferentes esca-
las e localidades, visto que, não há um contraponto que distancie bacias de grandes e de
pequenas dimensões, pois é certo que existem bacias dentro de bacias, bem como bacias limí-
trofes a outras, com formatos e tamanhos diversos.
Há autores que as denominam de bacias, sub-bacias e microbacias, de acordo com a hie-
rarquia de seus cursos d’água, a título de exemplo. Devido à dinamicidade da bacia e dos seus
componentes, faz-se necessário entender os processos que as caracterizam, mais que catego-
rizá-las, nas aulas de Geografia da Educação Básica. A opção por se trabalhar apenas com o
termo bacia deve-se ao fato de que, embora os processos ocorram nas bacias hidrográficas,
em diferentes dimensões no tempo e no espaço, possuem características similares dentro de
cada unidade, se os componentes físico-naturais forem também similares.
Vemos, por conseguinte, a importância de mobilizar, no processo de ensino e aprendiza-
gem, o cotidiano dos estudantes. Isso implica na necessidade de levantar questionamentos
sobre o local e ao mesmo tempo transitar entre diferentes escalaridades, pois a discussão
sobre os processos existentes nessa unidade de análise, explicitados durante a problematiza-
ção, consiste na motivação para a aprendizagem dessa e de outras realidades.
Na dinâmica existente nas bacias hidrográficas destacam-se, principalmente, a desagrega-
ção do solo, pelo efeito splash advindo das gotas d’água da chuva; a infiltração e o escoamento
superficial difuso ou concentrado da água pluvial; os processos erosivos hídricos laminares e
lineares (sulcos, ravinas e voçorocas) e eólicos; o entalhamento do curso d’água; e os movimentos
de massa (rastejo, queda de blocos, corrida de detritos, corrida de lama, deslizamentos etc.).
Esses processos ocorrem nas bacias hidrográficas, independente da sua dimensão.
É certo que a dinamicidade de uma bacia hidrográfica pode ser alterada por meio do uso
e ocupação. Em locais mais urbanizados, como consequência, tem-se o aumento do escoa-
mento superficial, decorrente da impermeabilização do solo que diminui a capacidade de infil-
tração da água. Essa redução pode ocasionar o rebaixamento do nível freático, comprometendo
a vazão do curso d’água, especialmente na estação seca. Sendo assim, a bacia hidrográfica
deve ser pensada em sua integridade, correlacionando componentes físico-naturais e sociais
do espaço (MORAIS, 2011).
Neste contexto, para auxiliar na compreensão de que os processos que ocorrem dentro
das bacias independem de suas dimensões, apresentamos a seguir a Figura 1, na qual se evi-
dencia a existência de bacias no interior de outras bacias hidrográficas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


BACIAS HIDROGRÁFICAS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR 49

Figura 1 – Mapas com destaques nas bacias hidrográficas, dos rios (a) Paranaíba e (b) Meia Ponte, (c)
do ribeirão Anicuns e (d) dos córregos Cascavel e Vaca Brava

Fonte: Elaborado pelas autoras.

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50 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto

A análise das bacias hidrográficas apresentadas na Figura 1 (a dos rios Paranaíba e Meia
Ponte, a do ribeirão Anicuns e a dos córregos Cascavel e Vaca Brava) indica que a localidade
onde ocorrem os processos situados no cotidiano do estudante é contemplada, também, no
contexto de bacias hidrográficas de diferentes dimensões. Esse fator nos permite compreen-
der que, ao tratarmos de processos relativos a bacias hidrográficas situadas no cotidiano dos
estudantes, estamos auxiliando-os ao mesmo tempo a entender a sua realidade, bem como
formando conceitos que os possibilitem analisar processos em escalas espaciais distintas do
seu contexto imediato. Isso posto, evidenciamos que os processos são contínuos no tempo e
no espaço, gerando novas formas, tanto em referência a um segmento da vertente, a uma
bacia de contribuição ou a uma bacia hidrográfica (dimensões no espaço), quanto em relação,
por exemplo, à deflagração de uma erosão linear e ao entalhamento de um curso d’água
(embora tenham sua expressão espacial, seus processos associam-se a diferentes dimensões
no tempo). Esse conjunto de componentes confere a cada bacia, uma especificidade, sendo
necessário compreender a sua integração e dinamicidade, dialogando com as dinâmicas sociais.
É na compreensão do espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia que situa-
mos a importância de questionar como tem sido realizada a produção do espaço nessa uni-
dade de análise. Para que esse questionamento faça sentido aos estudantes e contribua para
o desenvolvimento do pensamento geográfico, é importante que a análise em torno da espa-
cialidade de fatos, fenômenos e objetos, esteja assentada em questionamentos sobre o que,
onde e porque nessa localidade, possibilitando o diálogo entre natureza e sociedade, e entre o
local e o global. Portanto, a fundamentação teórico-metodológica aqui apresentada terá sen-
tido para os estudantes, se considerarmos em que medida ela auxilia a compreender a reali-
dade na qual estão inseridos e consequentemente a entender outras realidades, a partir do
diálogo entre totalidade e particularidade.
Se considerarmos que esses conhecimentos, conforme apresentado no início desse item,
são importantes para os estudantes, como podemos mediar essa construção junto a eles?
Conceber os estudantes como sujeitos desse processo; extrapolar os conceitos ora apresenta-
dos a partir da problematização em torno do espaço geográfico; considerar a dinamicidade da
realidade; e entender que a apropriação do espaço se dá de forma desigual; tornam-se ele-
mentos centrais para a fundamentação do diálogo estabelecido entre professores e estudan-
tes na Educação Básica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi elencado ao longo deste trabalho, ressaltamos que a discussão
metodológica não é específica da escola e/ou do professor, mas perpassa todo sistema educa-
cional. Existem diferentes formas de organizar o conhecimento. Na perspectiva tecnicista, o
professor repassa aos estudantes, de forma meramente expositiva, os conteúdos temáticos,
numa hierarquização professor-aluno, não sendo instigados a correlacionar as informações
com as situações cotidianas nem a desenvolver pensamentos críticos, sendo passivos ao ensino.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


BACIAS HIDROGRÁFICAS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR 51

É preciso considerar que a metodologia tecnicista tem seus moldes na concepção tradi-
cional de educação, com raízes assentadas na concepção clássica ou escolástica, como aponta
Vasconcellos (1997). Há alguns pontos que reforçam o refletir sobre essa metodologia, em prol
de uma perspectiva mais significativa. Vejamos alguns deles: (i) o aluno possui necessidades e
interesses próprios, cujo percurso não se faz linearmente, necessitando de significação e res-
significação nos processos de aprendizagem; e, (ii) o professor não se configura como o único
sujeito do processo de ensino e aprendizagem, sendo necessário envolver o aluno, mobilizando
seus conhecimentos, motivando-os em direção ao desenvolvimento do pensamento. Dessa
forma, para potencializar a aprendizagem, é importante que sejam utilizadas, em sala de aula,
diferentes metodologias, tendo alunos e professores como sujeitos desse processo.
A mera reprodução de um conteúdo, não se caracteriza como aprendizagem, tratando-
-se de uma atividade mecânica. A escola é um lugar de construção de conhecimentos e não de
repasse de informações, sendo fundamental para o alcance dos objetivos postos a ela, a arti-
culação entre teoria e prática, e entre conhecimentos científicos e cotidianos. Ensinar Geografia
na sala de aula requer que os estudantes reconheçam a sua identidade e pertencimento no
mundo, enquanto sujeitos sociais, entendendo a espacialidade dos fenômenos a partir de fer-
ramentas intelectuais aportadas pelo desenvolvimento do pensamento geográfico. Dessa
forma, assentamo-nos numa perspectiva crítica de ensino, concebendo a escola como lugar da
construção de conhecimentos.
Assim, consideramos que deve perpassar pelas aulas de Geografia, a nossa visão de
mundo, a concepção de Geografia e de aprendizagem, pois ao buscar atingir um objetivo, sele-
cionar um tema ou mobilizar um procedimento para encaminhar o processo de ensino e apren-
dizagem, o que estamos fazendo é explicitar em qual sociedade acreditamos e como podemos
contribuir, a partir da educação dos estudantes, para uma sociedade mais justa e igualitária.
Nesse sentido, podemos utilizar a imaginação para construir uma história inventada e a
partir dela introduzir problemáticas que contribuam para a construção de conceitos geográfi-
cos ligados à bacia hidrográfica, de forma significativa. Visando apresentar possibilidades de
construir conceitos, como os expostos, acreditamos que o uso de filmes, documentários, músi-
cas, fotografias, literatura, teatro, charges, tirinhas, mapas, croquis, desenhos, entrevistas,
maquetes, trabalhos de campo, pesquisas, trabalhos em grupo, entre outros, favorece o desen-
volvimento da aprendizagem.
Portanto, nosso sistema conceitual de bacia hidrográfica deve dialogar com os conheci-
mentos que queremos construir, mobilizando para essa construção, diferentes procedimentos,
que favoreçam o desenvolvimento do pensamento geográfico e, consequentemente, a forma-
ção cidadã dos sujeitos envolvidos nesse processo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


52 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto

5 REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, L. de S. A metrópole em foco no ensino de Geografia: o que/ para que/ para quem ensinar? In:
PAULA, F. M. de; Cavalcanti, L de S.; SOUZA, V. C. de. (Org.) Ensino de Geografia e metrópole. 1ª ed. Goiânia:
Gráfica e Editora América, 2014.
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M. C. M. DE; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. pp. 113-138.
MORAIS, E. M. B. de. As temáticas físico-naturais na Geografia escolar. Tese (doutorado). Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Geografia da USP, 2011.
MORAIS, E. M. B. de; ROMÃO, P. A. Bacias hidrográficas da Região Metropolitana de Goiânia. 1. ed. Goiânia:
Gráfica e Editora Vieira, 2009. 64p.
SHULMAN, L. S. Conocimiento y enseñanza: fundamentos de La nueva reforma. Profesorado: Revista de
Curriculum y Formación del Profesorado, v. 9, n. 2, 2005, pp. 1-30.
VASCONCELLOS, C. S. Construção do Conhecimento em sala de aula. 6. Ed. São Paulo: Libertad, 1997.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
II

BACIAS HIDROGRÁFICAS
URBANAS
4.
A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL
DOS RIOS URBANOS
O caso do canal do paracuri em Belém-PA

VANESSA MAINA RIBEIRO DE ARAÚJO1


FRANCISCO EMERSON VALE COSTA2
RODRIGO RAFAEL SOUZA DE OLIVEIRA3
MICHEL PACHECO GUEDES4

Resumo: Pesquisas relacionadas às questões socioambientais são importantes para compreender


a interação sociedade / natureza no contexto do crescimento e desenvolvimento dos territórios.
Assim, as cidades são espaços sujeitos a esta análise porque é onde ocorrem mais intensamente
as interações, como canalização e retificação de rios, pavimentação do solo e retirada da cober-
tura vegetal gerando degradação ambiental. O trabalho visa compreender as formas de ocupação
das bacias hidrográficas de Belém no âmbito da gestão dos recursos hídricos, a fim de avaliar o
canal do Paracuri e o modelo de gestão projetado para a bacia em que está inserido. Os procedi-
mentos metodológicos foram realizados por meio da coleta de dados bibliográficos, documentos
(disponibilizados por órgãos públicos), trabalhos de campo e análises no ambiente de Sistema de
Informações Geográficas – SIG. A partir dos dados obtidos, foi possível verificar que existem ins-
trumentos de planejamento e gestão para as bacias hidrográficas do Estado do Pará, mas não são
implementados em sua totalidade; as obras de macrodrenagem nas bacias hidrográficas de Belém
não reduziram os impactos socioambientais devido à permanência de focos de inundação e alaga-
mento, bem como ao aumento de aglomerados subnormais em áreas de proteção permanente.
Porém, na área de estudo, as obras de macrodrenagem foram paralisadas e somadas à ausência
de políticas públicas ambientais reproduzem os efeitos das demais bacias do município.
Palavras-chave: Socioambientais; Rios urbanos; Canal do Paracuri; Gestão.
Abstract: Research related to socio-environmental issues is important to understand the society/
nature interaction in the context of the growth and development of territories. Thus, cities are
spaces subject to this analysis because it is where interactions occur more intensely, such as chan-
neling and straightening of rivers, paving the ground and removing vegetation cover, generating
environmental degradation. The work aims to understand the forms of occupation of the
hydrographic basins of Belém within the scope of water resources management, in order to assess

1 UEPA. E-mail: vanessamaina06@gmail.com


2 UEPA. E-mail: emersonvale@uepa.br
3 UEPA. E-mail: rodrigo.oliveira@uepa.br
4 UFPA. E-mail: professormichelguedes@yhaoo.com.br

[ 54 ]
A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 55

the Paracuri channel and the management model designed for the basin in which it is inserted. The
methodological procedures were carried out through the collection of bibliographic data, docu-
ments (available by public agencies), field work and analyzes in the Geographic Information System
– GIS environment. From the data obtained, it was possible to verify that there are planning and
management instruments for the hydrographic basins of the State of Pará, but they are not imple-
mented in their entirety; the macro-drainage works in the Belém hydrographic basins did not
reduce the socio-environmental impacts due to the permanence of flooding and flooding sites, as
well as the increase in subnormal agglomerates in areas of permanent protection. However, in the
study area, the macro-drainage works were stopped and, added to the absence of environmental
public policies, reproduce the effects of the other basins in the municipality.
Keywords: Social and Environmental; urban rivers; Paracuri Channel; Management

1 INTRODUÇÃO
O debate acerca dos recursos hídricos no espaço urbano é imprescindível para uma
melhor gestão das suas bacias hidrográficas, educação ambiental e conscientização da socie-
dade. Pois, é partir de análises das intervenções político-econômico e sociais no processo de
ocupação da bacia hidrográfica que se pode compreender os principais impactos vigentes bem
como possiblidades que busquem minimizar seus efeitos.
Vários aspectos podem ser afetados na bacia hidrográfica quando não há um correto
ordenamento territorial fato que pode ser observado em cidades onde a urbanização ocorreu
de forma acelerada. Nesse contexto, destaca-se a questão hídrica na Amazônia onde a densi-
dade urbana passou a modificar o ciclo hidrológico com a ocupação intensiva e inadequada
gestão gerando conflitos pela água pois, mesmo havendo disponibilidade hídrica na região, há
uma crise decorrente da má gestão dos recursos hídricos, assim como o baixo investimento
financeiro e tecnológico para a ampliação e melhoria dos serviços de abastecimento de água
(BORDALO, 2017).
Os recursos hídricos são diretamente afetados pelo uso e ocupação5 do solo não plane-
jados sem a adequada implementação da gestão na bacia hidrográfica. Tais características
podem ser observadas em Belém/PA principalmente quando se analisa o processo de ocupa-
ção e produção do seu espaço relacionados a influência na e da água pois, historicamente ado-
tou-se em Belém um “modelo de urbanização que transformou cursos d’água em elementos
da drenagem urbana, que sem um sistema de tratamento de esgoto funcionando perfeita-
mente, gerou degradação e poluição ambiental” (MONIQUE, VICTÓRIA E SÂMYA, p. 5, 2020).
Em Belém-Pará a canalização e retificação dos rios ocorreram sem considerar as condi-
ções ecossistêmicas da bacia hidrográfica influenciando nos alagamentos e enchentes. Além
disso, as adversidades vigentes na cidade estão relacionadas ao saneamento básico, às habita-
ções, violência, déficits nos serviços públicos devido, entre outros, à desigualdade socioespa-
cial (GUSMÃO; SOARES, 2018 Apud COSTA et al, 2019), assim como, a perda de áreas verdes e

5 A expressão “uso e ocupação solo” refere-se a densificação, regime de atividades, edificações e parcelamento do solo
que configuram o regime urbanístico

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


56 Vanessa de Araújo; Francisco Vale Costa; Rodrigo de Oliveira; Michel Guedes

conflitos relacionados à água como a poluição e a distribuição desse recurso demonstrando


assim a falta do disciplinamento do uso e ocupação do solo.
O trabalho objetiva compreender a problemática socioambiental dos rios urbanos com
enfoque para o canal do Paracuri a partir da análise do processo do uso e ocupação do solo das
bacias hidrográficas de Belém e da gestão dos recursos hídricos. A pesquisa se justifica pela
importância de temáticas relacionadas às questões socioambientais para compreender a inte-
ração sociedade/natureza no contexto do crescimento e desenvolvimento dos territórios.
Dessa forma, as cidades são espaços passíveis dessa análise pois, é onde essas interações
ocorrem é de forma mais intensa através da canalização e retificação dos rios, a pavimentação
do solo e retirada da cobertura vegetal gerando a degradação do meio ambiente. Nesse con-
texto destaca-se para esse estudo o canal do Paracuri cujo o ambiente está sendo degradado
pela falta de aplicação de políticas públicas, aglomerados subnormais e por projetos inconclu-
sos como o projeto de macrodrenagem sendo mais um cenário, quando comparado as demais
bacias hidrográficas de Belém, do problema de gestão dos recursos hídricos.

2 METODOLOGIA
Inquietações acerca da questão hídrica na Amazônia deu início à presente pesquisa por
meio de levantamento de dados bibliográficos relacionados à gestão de recursos hídricos no
espaço urbano e a interação da sociedade-natureza sob a análise socioambiental tendo como
recorte espacial e temporal: o canal do Paracuri a partir de 2007 quando houve o projeto de
urbanização pelo Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e de Macrodrenagem.
Relacionando o canal ao contexto das bacias hidrográficas de Belém e o problema de gestão
dos seus rios.
Para isso, também se utilizou dados disponíveis em sites governamentais (Prefeitura de
Belém, IBGE, ANA e SESAN) como notícias e documentos referentes ao projeto de macrodre-
nagem, assim como bases cartográficas para confecção de mapas de localização e temáticos
no software QGIS 3.12.2. Foram utilizadas imagens de satélite por meio de Google Earth e
mapa da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém –
CODEM (2010) sobre bacias hidrográficas de Belém para vetorização. Já o registro do alaga-
mento na Travessa Berredos foi obtido através de verificação em campo no mês de setembro
de 2021, assim como, na figura 7 (Rua Dois de Dezembro), no mês de novembro de 2021.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 A análise socioambiental na Geografia
De acordo com Veiga (2007 apud PINTO, 2015), o emprego do termo socioambiental evi-
dencia a necessidade de buscar compatibilizar as atividades humanas com a manutenção do
ecossistema entendendo que a relação humana com o resto da natureza não pode ser sepa-
rada. Portanto, a geografia busca interpretar a relação sociedade/natureza trazendo uma

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 57

abordagem multi e interdisciplinar. Nessa perspectiva, traz uma contribuição muito impor-
tante para a análise da problemática socioambiental, sobretudo, nos espaços urbanos onde a
relação do homem com seu meio ocorre de forma mais intensa.

3.2 O processo histórico de ocupação em Belém


Em Belém, as primeiras ocupações ocorreram nas áreas mais altas pois, foi onde se
implantou o arruamento ao mesmo tempo em que se abandonou as áreas baixas e alagáveis
visto que, para o plano vigente na época, os custos com aterros e drenagem eram altos e tais
locais eram considerados insalubres pela elite o que configurou uma ocupação urbana predo-
minante em cotas elevadas (CRUZ, 2018).
Todavia, conforme Costa, et al (2021), a urbanização intensificou-se na década de 1980
com a exploração agrária sobretudo com minifúndio e latifúndio possibilitando maior migra-
ção do campo para a cidade. Esse processo ficou caracterizado pelo uso de rodovias construí-
das no projeto de integração amazônica ao restante do país assim como gerou a acelerada
urbanização na região priorizando a ocupação em torno das rodovias.
Segundo o autor, o fluxo migratório da população de baixa renda já encontrou a cidade
organizada de forma desigual pela especulação imobiliária onde as planícies de inundações se
tornaram áreas de ocupação. Essas planícies de inundação coincidem com áreas ocupadas por
“aglomerados subnormais”. De acordo com o IBGE (2010), os aglomerados subnormais são um
conjunto constituído por 51 ou mais unidades habitacionais caracterizadas por ausência de
título de propriedade e pelo menos uma das seguintes características: a) irregularidade das
vias de circulação e do tamanho e forma dos lotes; b) carência de serviços públicos essenciais;
c) rede de água, energia elétrica e iluminação pública.
Diante disso, muitos são os rios das cidades amazônicas marcados por ocupações sub-
normais tendo em vista a baixa especulação imobiliária dessas áreas, principalmente em
Belém/Pará onde houve uma preferência pela elite por locais mais altos. Segundo Araújo e
Rezende (2016, p. 120 apud LEÃO, 2021): “essa foi a opção de boa parte da população que não
tem acesso ao mercado imobiliário formal, e resolveu sanar seus problemas habitacionais, ocu-
pando essas áreas de preservação permanente (APP’s urbanas) ”. Logo, os rios urbanos vêm
passando por um processo de degradação devido à forma de uso e ocupação de sua área com-
prometendo a qualidade e quantidade da água da bacia sendo necessária ações pelo poder
público e eficácia da gestão dos recursos hídricos.

3.3 Bacias Hidrográficas de Belém


De acordo com a Lei nº 9.433 de 1997, a bacia hidrográfica é a unidade territorial para
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Dessa forma, é unidade apropriada para planejamento e
coordenação pelo poder público e a sociedade. Para Bordalo (2009), o uso da bacia

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


58 Vanessa de Araújo; Francisco Vale Costa; Rodrigo de Oliveira; Michel Guedes

hidrográfica como unidade de estudo e gestão ambiental visa planejar e executar melhores
formas de apropriação e exploração dos recursos ambientais.
O município de Belém abrange 14 bacias hidrográficas na área continental (Figura 1), de
acordo com a CODEM (2014): a) Reduto; b) Tamandaré; c) Estrada Nova; d) Tucunduba; e) Una;
f) Murucutum; g) Aurá; h) Val-de-cães; i) Mata Fome; j) Ariri; k) Anani); l) Cajé; m) Paracuri; e, n)
Outeiro. O uso e ocupação do solo ocorreram de forma diferente nessas bacias considerando
que a região sul e oeste possui a planície de inundação dos rios e canais mais ocupada em com-
paração com a região norte e leste (COSTA, et al, 2021, p. 10). Portanto, a questão da intensifi-
cação do uso do solo pelo crescimento urbano pode ser observada na forma de ocupação nas
bacias hidrográficas de Belém.

Figura 1 – Mapa das Bacias Hidrográficas da área continental de Belém

Fonte: Galeria do autor.

As bacias hidrográficas da porção sul (Tamandaré, Reduto, Estrada Nova, Tucunduba e


Una) concentram a maior parte da população (COSTA, et al, 2021). Assim, possuem em comum
a alta impermeabilização das suas superfícies devido ao processo desordenado de urbanização
e ao intenso adensamento, muitas vezes relacionados a projetos de macrodrenagem pois, na
maioria houve intervenções de macrodrenagem que atraíram o interesse do mercado imobiliá-
rio onde as áreas alagáveis foram espaços deixados para a população de baixa renda (CRUZ,
2018). Somado à canalização dos cursos d’água estas condições tornaram difíceis a manuten-
ção do equilíbrio hidrológico dessas bacias.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 59

Quanto as bacias hidrográficas de Val-de-Cães, Mata-fome e Cajé possuem vasta exten-


são de aglomerados subnormais assentados, principalmente, em torno de rios e igarapés se
assemelhando às bacias da porção norte (Outeiro, Anani e Paracuri) que, mesmo apresentando
boa parte da cobertura vegetal, são comprometidas pelo uso industrial, estaleiros e transpor-
tadoras (CRUZ, 2018). Ademais, nas bacias hidrográficas supracitadas, há bairros considerados
periféricos devido ao processo de expansão de Belém produzindo espaços diferenciados,
segregados e hierarquizados (BARROS, BRITO E XIMENES, 2016).

3.4 A problemática socioambiental no canal do Paracuri


Na Bacia do Paracuri se localizam os bairros do Paracuri, Ponta Grossa, Parque Guajará,
Agulha e parte dos bairros Parque Verde e Tapanã. O solo é predominantemente argiloso e
plíntico o que dificulta a infiltração da água e a drenagem, essas características induzem a pre-
sença constante de áreas pantanosas e alagáveis. Sua rede de drenagem escoa em direção a
Baía do Guajará por dois rios, o Rio Paracuri e o Rio Livramento (Figura 2).

Figura 2 – Rede de Drenagem da bacia hidrográfica do Paracuri

Fonte: CODEM, 2010. Adaptado pelos autores.

Os aglomerados subnormais surgiram ao norte da Bacia onde estão localizados parte dos
bairros do distrito de Icoaraci enquanto ao Sul se delinearam a partir da malha dos conjuntos
habitacionais o que gerou diversas modificações no curso natural de drenagem devido ao pro-
cesso de aterramento das áreas de várzeas que somado à impermeabilização do solo acarre-
tam problemas relacionados aos alagamentos (BARROS, BRITO e XIMENES, 2016).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


60 Vanessa de Araújo; Francisco Vale Costa; Rodrigo de Oliveira; Michel Guedes

As áreas de cumes e zonas intermediárias foram alvos do mercado imobiliário o que con-
solidou os aglomerados subnormais nas áreas de várzea e de preservação permanente. Ainda
assim, o processo de adensamento na bacia vem se intensificando produzindo um espaço
urbano desfavorável para o meio ambiente, modificando a dinâmica do escoamento devido à
remoção da vegetação, como as matas ciliares, e consequentemente comprometendo a quali-
dade da água. Na figura 3, identificam-se aglomerados subnormais na área continental de
Belém e sua concentração nos bairros da bacia hidrográfica do Paracuri.
Nesse contexto, há a problemática da implementação dos instrumentos de planejamento
e gestão dos recursos hídricos em Belém por meio da Lei Estadual n° 6.381de 25 de julho de
2001, que institui a Política Estadual de Recursos Hídricos e regulamenta a gestão do uso da
água (MARTINS, et al, 2020), pois na referida lei destaca-se o princípio de que se deve adotar a
bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão visando os usos múltiplos de forma
sustentável, a descentralização, as interações do ciclo hidrológico e os aspectos socioeconômi-
cos e ambientais da água do território do Pará (SEMA, 2010).

Figura 3 – Aglomerados subnormais da área continental de Belém-PA

Fonte: Galeria do autor.

De acordo com a SEMA (2010), os instrumentos de planejamento e gestão para o Estado


do Pará são: o plano de recursos hídricos; Enquadramento dos corpos d’água em classes
segundo os usos preponderantes; Outorga de direito de uso dos recursos hídricos; Cobrança

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 61

pelo uso dos recursos hídricos; Capacitação, educação ambiental e desenvolvimento tecnoló-
gico; Sistema de informações sobre recursos hídricos e Compensação aos municípios das quais
encontram-se implementadas apenas a outorga pelo uso dos recursos hídrico, a capacitação,
desenvolvimento tecnológico e educação ambiental e o sistema de informações sobre os recur-
sos hídricos (MARTINS, et al, 2020, p. 2437).
Sendo assim, parte desses instrumentos são considerados não implementados ou em pla-
nejamento, situação essa que se reflete nas bacias hidrográficas do município de Belém, pois há
significativa redução da qualidade das suas águas como é o caso da bacia hidrográfica do Paracuri.
De acordo com Costa (et al, 2021), os problemas socioambientais da cidade de Belém mais rele-
vantes estão relacionados à gestão das bacias hidrográficas urbanas. Nesse sentido, a bacia hidro-
gráfica do Paracuri carece de uma boa gestão de seu território, pois apresenta adversidades
sociais e ambientais derivadas da falta do adequado planejamento de uso e ocupação do solo,
bem como a falta implementação integral dos instrumentos de planejamento e gestão.
Além da impermeabilização do solo, há o problema com o controle da poluição e dos ser-
viços de saneamento básico o que compromete a qualidade dos cursos d’água. Assim, é possí-
vel deparar-se com os afluentes dos rios Livramento e Paracuri, sobretudo os que estão mais
adensados pela ocupação urbana e aglomerados subnormais, assoreados e tornando-se em
muitos casos valas e depósitos de lixo.

Figura 4 – Localização do Canal do Paracuri

Fonte: Galeria do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


62 Vanessa de Araújo; Francisco Vale Costa; Rodrigo de Oliveira; Michel Guedes

Através da forma de uso e ocupação do solo da bacia é que se compreende as caracterís-


ticas da área de estudo: o Canal do Paracuri (figura 4), esse sendo uma via de escoamento das
águas pluviais em direção ao afluente da bacia; trata-se de uma área de pouca especulação
imobiliária e pouco investimento em obras públicas.
No canal do Paracuri houve a conversão em canal de um trecho do rio Paracuri, a partir
da implementação do projeto de macrodrenagem efetuado pela Companhia de Habitação do
Estado do Pará – COHAB sendo viabilizado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)6
em 2007 para o Rio Paracuri pela gestão da prefeitura de Belém, atendendo os bairros Ponta
Grossa e Paracuri. O projeto previa a retificação de um trecho do curso d’água (canal do
Paracuri), blocos habitacionais, urbanização de vias, estação de tratamentos de esgoto (ETE) e
áreas de lazer (MONIQUE, VICTÓRIA e SÂMYA, 2020.
Contudo, as obras não foram finalizadas, o que gerou vários problemas resultantes da
impermeabilização do solo sem um adequado sistema de drenagem urbana, ocupações
informais e insuficiente serviço de saneamento básico. Somado às condições naturais da
bacia onde há dificuldade para infiltração da água devido ao solo ser argiloso e plíntico, bem
como a baixa altimetria da área e locais de várzea, é comum a ocorrência de inundações no
período chuvoso.
Para Carvalho; Maragon; Santos (2020), as obras de canalização, compreendidas como
“engenharias em canais fluviais, sejam elas alargamento e aprofundamento da calha fluvial,
retificação do canal, construção de canais artificiais, proteção de margens, diques ou obras de
desassoreamento” são caracterizadas por transformar “os leitos em perfis regulares, extingui-
rem meandros, encurtar o curso do rio e aumentar a velocidade do escoamento, picos de
vazão e erosão de margens alterando o ecossistema aquático”. Logo, a canalização por ser uma
artificialização dos cursos d’água causa impactos no meio físico e biológico, pois “a criação de
novos canais e a impermeabilização da bacia de drenagem, alteraram o equilíbrio do sistema,
gerando um ambiente mais vulnerável às inundações” (CARVALHO; MARANGON; SANTOS,
2020, p. 164).
No canal, os aglomerados subnormais prevalecem em conjunto com a falta de infraestru-
tura e saneamento básico e outros fatores que resultam na poluição hídrica como o despejo
inadequado de resíduos sólidos nas proximidades ou diretamente no canal, o trecho também
é utilizado como lançamento de esgoto doméstico. Nota-se um intenso assoreamento decor-
rente da ocupação desordenada do leio do canal. Assim, a forma como a população vem utili-
zando essas áreas acabaram conduzindo a um cenário insalubre comprometendo o meio físico
e social (ALCÂNTARA; SOUZA; FILHO, 2014, p. 7).

6 O PAC, criado em 2007 pelo governo federal, visa impulsionar a urbanização, modernização tecnológica e desenvol-
vimento através de grandes projetos e obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética como as obras de
macrodrenagem BRASIL, 2012.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 63

Essa problemática se reflete na piora das condições de vida da população e no compro-


metimento da qualidade do corpo hídrico. Conforme Correa; Silva; Silva (2014), quando o
escoamento superficial sofre alterações, sobretudo na área urbana em consequência da imper-
meabilização do solo e da má gestão de sua bacia hidrográfica, há, entre outros, a degradação
da qualidade da água, veiculação de moléstias, a deficiência de redes de esgoto o que contribui
para o aumento de ocorrência de alagamentos – caso que é recorrente na área do canal como
pode ser observado na figura 5.

Figura 5 – Alagamento Tv. Berredos

Fonte: Galeria do autor.

Uma possível explicação ocorrência de alagamentos seria a falta de um sistema de dre-


nagem de qualidade. Contudo, não se pode esquecer do papel dos moradores em contribuir
para o ambiente de forma a não jogar lixo nas ruas e nos rios.

3.5 O modelo de Gestão adotado para a bacia do Paracuri: Projeto e obras de


macrodrenagem do Paracuri
Os problemas oriundos das ocupações informais na bacia do paracuri são antigos, há
anos várias pesquisas têm confirmado os impactos sociais e ambientais nesta área e muitas
vezes contribuindo para mudanças através de seus projetos. Em 2007 foi criado o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e no intuito de melhorar a vida da população o programa
buscou retificar o canal em talude natural, relocalizar as famílias assentadas em condições de
risco, ampliar a rede de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, coleta de resí-
duos sólidos e a construção de rede de micro drenagem. Assim como vários projetos pensados
para drenagem de bacias hidrográficas em Belém para recuperar áreas de baixadas e alagáveis
(CORREA; SILVA; SILVA, 2014, p. 1158).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


64 Vanessa de Araújo; Francisco Vale Costa; Rodrigo de Oliveira; Michel Guedes

Conforme a SEURB (2009 apud Correa; Silva e Silva 2014), 640 famílias do bairro do
Paracuri foram envolvidas diretamente no PAC e 3735 indiretamente, porém apenas um
pequeno número de famílias em situação de risco foi retirada da bacia e passaram a viver em
casas alugadas e outros foram indenizados pela prefeitura e, através do PAC, em outubro de
2011 a prefeitura municipal juntou-se à Caixa Econômica Federal visando iniciar obra de urba-
nização na bacia do Paracuri.
A macrodrenagem teve como objetivo melhorar as condições de moradia de cerca de
150 mil pessoas que vivem em áreas de invasão de Icoaraci, beneficiar pessoas que sofrem
com problemas de abastecimento e saneamento. Na figura 6, identifica-se o início das obras de
urbanização pela PAC onde houve a construção do conjunto habitacional para o remaneja-
mento das famílias.

Figura 6 – Área de atuação do projeto de Urbanização pela PAC

Fonte: Corrêa (2014)

Embora algumas das obras existam, como a pavimentação da Rua Dois de dezembro e
habitações que foram criadas no intuito de retirar a população que estava nas várzeas do iga-
rapé, as demais não foram concluídas gerando ocupações irregulares, sobretudo em torno do
canal do Paracuri como se pode observar na figura 7 da situação atual desta área.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 65

Figura 7 – Rua Dois de dezembro e conjunto habitacional

Fonte: Galeria do autor.

Atualmente, o canal vem sofrendo com as práticas da comunidade que residem no con-
junto habitacional como despejo de lixo e esgoto doméstico gerando o assoreamento do rio e
consequentemente influenciando na ocorrência de alagamentos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa permitiu entender que há um modelo de gestão projetado para as bacias
hidrográficas e que está previsto na Política Nacional e Estadual de recursos hídricos onde
determina que deve ocorrer de forma integrada – considerando as fases do ciclo hidrológico,
ecossistema, os usos múltiplos e o desenvolvimento econômico e ambiental -, descentralizada
e participativa. Dentro dessa política existem os instrumentos de planejamento e gestão pen-
sados para o Estado do Pará pela lei 6.381 de 25 de julho de 2001, mas que não estão sendo
integralmente implementados.
Além disso, no modelo de gestão para os rios urbanos belenenses foram criados obras e
projetos de micro e macrodrenagem que não conseguiram sanar os problemas sociais e
ambientais como observou-se com a sua implementação na porção sul da cidade onde, nas
bacias hidrográficas, permaneceram a situação de precariedade, uso intensivo do solo com
adensamento e sua impermeabilização o que se refletiu no alagamento e inundações enquanto
que nas bacias da porção norte essas obras não ocorreram intensivamente, mas que também
apresentam significativas mudanças devido a periferização de suas áreas caracterizada pelos
aglomerados subnormais em locais de várzea.
Os projetos de micro e macrodrenagem envolvem a canalização e retificação dos rios
urbanos que, no caso de Belém, possuem muitas deficiências tendo em vista que não se con-
segue conciliar a qualidade de vida da população com a qualidade do corpo hídrico como pôde
ser observado para o modelo de gestão pensado para a bacia hidrográfica do Paracuri.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


66 Vanessa de Araújo; Francisco Vale Costa; Rodrigo de Oliveira; Michel Guedes

Nesse contexto há a possibilidade da requalificação urbana e ambiental através da efe-


tiva gestão do território e controle de uso e ocupação do solo sob a implementação dos instru-
mentos da Lei 6.381 de 25 de julho de 2001, principalmente na bacia do Paracuri onde há o
canal ainda não modificado intensivamente, sendo uma estratégia de mudança para as práti-
cas sociais, econômicas e política por meio da consciência ambiental.

5 REFERÊNCIAS
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Paracuri, Icoaraci-Pará. VII Congresso Brasileiro de Geógrafos. Anais do VII CBG. Vitória/ES, 2014.
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Disponível em https://www.semas.pa.gov.br. Acesso em 27 de agosto de 2021.w

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


5. ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS
ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS
PROCESSOS DE INUNDAÇÃO NA BACIA DO
RIO VIEIRA – MONTES CLAROS-MG

JOÃO VITOR FERREIRA FERNANDES1


RICARDO HENRIQUE PALHARES2

Resumo: A cidade de Montes Claros-MG caracteriza-se como uma cidade média que, principal-
mente a partir da década de 1990, apresentou alto índice de crescimento urbano, se configurando
como um grande e importante polo de referência regional. Este crescimento rápido ocasionou a
ocupação indevida de áreas próximas aos canais fluviais, acarretando um alto índice de exposição
da população aos fenômenos hidrológicos. Sendo assim, o objetivo deste trabalho consiste em
discutir a correlação entre os parâmetros morfométricos obtidos na bacia do rio Vieira com o pro-
cesso de inundação na cidade de Montes Claros-MG. As etapas de execução do trabalho foram
organizadas em três eixos de desenvolvimento: o eixo i) delimitação da bacia hidrográfica e mapea-
mento da rede hidrológica; eixo ii) extração dos parâmetros morfométricos e eixo iii) análise da
correlação dos dados morfométricos com o processo de inundação. A extração e análise das variá-
veis morfométricas indicaram, em geral, baixo grau de correlação entre a morfometria da bacia
com os eventos de inundações. Através desta informação pode-se inferir que outras variáveis de
análise podem estar relacionadas as causas do processo de inundação.
Palavras-chave: Inundação; Bacia Hidrográfica; Morfometria.
Abstract: The city of Montes Claros-MG is characterized as a medium-sized city that, mainly from
the 1990s onwards, presented a high rate of urban growth, configuring itself as a large and impor-
tant center of regional reference. This rapid growth caused the undue occupation of areas close to
river channels, resulting in a high rate of exposure of this population to hydrological phenomena.
Therefore, the objective of this work is to discuss the correlation between the morphometric para-
meters obtained from the Vieira River basin with the flooding process in the city of Montes
Claros-MG. The stages of execution of the work were organized into three development axes: axis
i) delimitation of the hydrographic basin and mapping of the hydrological network; axis ii) extrac-
tion of morphometric parameters and axis iii) analysis of the correlation of morphometric data
with the flooding process. The extraction and analysis of the morphometric variables indicated, in
general, a low degree of correlation between the morphometry of the basin and the flood events.

1 UNIMONTES. E-mail: vitoruni1998@gmail.com.


2 UNIMONTES. E-mail: ricardo.palhares@unimontes.br.

[ 67 ]
68 João Vitor Ferreira Fernandes

Through this information, it can be inferred that other analysis variables may be related to the cau-
ses of the flooding process.
Keywords: Inundation. Hydrographic basin. Morphometry.

1 INTRODUÇÃO
A partir das décadas de 1980 e 1990 tem se um processo de grande crescimento das cida-
des médias, que passaram a atrair grandes parques industriais, aumentando o potencial de gera-
ção de emprego destas cidades. Esse processo desencadeou uma série de transformações destas
cidades, que ficaram marcadas, principalmente, pelo rápido e, muitas vezes, desordenado cresci-
mento urbano, se notabilizando como novos polos de referência regional, com o aumento da
oferta principalmente de serviços relacionados a saúde, educação e comércio, mas também o
desenvolvimento industrial, contribuindo para o aumento da oferta de empregos.
Montes Claros se encaixa dentre essas cidades, que a partir das décadas de 1980 e 1990
passaram por um rápido processo de urbanização que, assim como outras cidades, não tive-
ram um planejamento na expansão da malha urbana. Sendo assim, ocasionou-se a ocupação
de áreas propícias a ocorrência de eventos como inundações, alagamentos e enchentes. Os
trabalhos de Leite e Pereira (2008) corroboram com esta afirmação, ao passo que destacam
que o crescimento de Montes Claros ocorreu de forma rápida e intensa, com ênfase nas regiões
adjacentes ao distrito industrial.
Neste contexto, o rio Vieira e seus afluentes estão intrinsicamente associados ao desen-
volvimento do centro urbano de Montes Claros, ao passo que nos primórdios da cidade a pro-
ximidade aos cursos fluviais compunha a base econômica local, muito associada a dinâmica
agropecuária. Contudo, observa-se hodiernamente, que as áreas próximas ao rio Vieira repre-
sentam regiões de alto poder aquisitivo e com índice de valorização do solo urbano, dentre as
quais podemos destacar os bairros Morada do Sol, Ibituruna, Melo, Todos os Santos, Jardim
São Luiz, Vila Mauricéia e Centro, em conformidade com Costa e França (2019).
Tal processo ocasionou, dentre outros fatores, o processo de canalização dos rios, bem
como o aumento da impermeabilidade do solo que, junto com a canalização e retificação dos
cursos d’água que passam pelo perímetro urbano de Montes Claros, podem aumentar a sus-
ceptibilidade à formação de inundações nas proximidades dos canais. Devido ao aumento
populacional da cidade nas últimas décadas, o número de habitantes que podem ser atingidos
por esses eventos também aumenta, configurando um risco para a população.
Christofoletti (1980) enfatiza a importância da bacia hidrográfica enquanto unidade
funcional, sendo que seu comportamento é regido pela integração das características fisio-
gráficas (topografia, geologia, geomorfologia, pedologia, dinâmica climática e disposição
vegetacional). O autor salienta ainda que a bacia hidrográfica pode ser entendida como uma
unidade de análise ambiental em razão de possibilitar uma visão integrada a respeito de seus

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS PROCESSOS DE INUNDAÇÃO 69

componentes e, concomitantemente, entender as relações entre os mesmos e sua influência


no sistema de drenagem.
Os atributos morfométricos discutidos aqui visam compreender estruturalmente o
potencial de inundações que a bacia do rio Vieira possui à medida que fornecem informações
sobre a forma da bacia e de seus cursos, tal como a relação do formato da bacia com o relevo.
Essas informações ajudam a assimilar o comportamento do padrão de escoamento quando a
área estiver sujeita a quantidades elevadas de pluviometria, quando se consegue observar
maior velocidade potencial da água ou em outras situações o padrão de maior concentração
de água no interior da bacia (ALVES; CASTRO, 2003; SIRANGELO, 2014).
Com base na discussão exposta e nos dados apresentados, a justificativa deste trabalho
associa-se a importância de estudos que visam compreender a dinâmica estrutural da bacia
para assim entender os processos de inundação nestas áreas. Tais estudos contribuem não só
para a área de estudo em questão, mas podem servir de parâmetro e proposta metodológica
para análise de outras localidades atingidas pelos mesmos processos discutidos. Além disso,
são fundamentais para o diagnóstico inicial dos fenômenos ocorridos na área e servem de
embasamento para se traçar estratégias para o uso e ocupação do solo urbano. Observa-se
então a relevância deste tipo de estudo como ferramenta do planejamento urbano, essencial-
mente no âmbito dos impactos ambientais urbanos.
Logo o objetivo deste trabalho é discutir a correlação entre os parâmetros morfométri-
cos obtidos na bacia do rio Vieira com o processo de inundação na área urbana de Montes
Claros-MG.

2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
Montes Claros situa-se na mesorregião do Norte de Minas, entre as coordenadas 16º 04’
57” e 17º 08’ 41” de longitude sul e 43º 41’ 56” e 44º 13’ 01” de longitude oeste, conforme
exemplificado na Figura 1 – Do ponto de vista climático, o município compreende o tipo climá-
tico Tropical Subúmido úmido, mais próximo ao limite do Subúmido seco, caracterizado essen-
cialmente pelos períodos de chuvas concentradas entre os meses de outubro a março, enquanto
que o período de estiagem compreende o intervalo dos meses de junho a agosto. A precipita-
ção média anual está em volta dos 1.080 mm, enquanto a temperatura média anual é de
24,2°C. (NIMER; BRANDÃO, 1989).
A bacia do rio Vieira encontra-se totalmente inserida dentro do município de Montes
Claros, sendo um importante afluente da margem esquerda do rio Verde Grande, que por sua
vez é afluente da margem direita do rio São Francisco. O autor destaca ainda que a nascente
do rio se situa a oito quilômetros do perímetro da cidade, na Fazenda Vieira, nas coordenadas
43°56’04” Oeste de longitude e 16°47’22” Sul de latitude, conforme destacado na Figura 1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


70 João Vitor Ferreira Fernandes

Figura 1 – Mapa de localização da Bacia do rio Vieira– Montes Claros-MG

Fonte: IBGE, 2010.

2.2 Procedimentos metodológicos


A execução do trabalho se deu por três eixos de desenvolvimento: o eixo i) delimitação
da bacia hidrográfica e mapeamento da rede hidrológica da bacia; eixo ii) extração dos parâ-
metros morfométricos e eixo iii) análise da correlação dos dados morfométricos com o pro-
cesso de inundação.
Eixo i: O primeiro processo realizado foi a delimitação da bacia hidrográfica, tendo por
base os dados obtidos pelo modelo digital de elevação da missão SRTM. Nesta etapa optou
se pela utilização da metodologia proposta por Valeriano et al. (2006) e adaptada por Leite
e Rocha (2016) para reamostragem do dado SRTM para resolução espacial de 30 m. Toda
esta etapa foi realizada utilizando o software ArcGIS 10.5. Durante o processo são identifica-
dos a Fluxo de Direção (Flow Direction) e através desse produto obtém se o Acúmulo de Fluxo
(Flow Accumulation) e por fim é identificado o ponto de menor altitude da bacia (Pour Point)
Leite e Rocha (2016).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS PROCESSOS DE INUNDAÇÃO 71

Para a extração e mapeamento dos canais fluviais foi utilizado o processo de vetorização
dos canais fluviais com base nas imagens obtidas através do programa Google Earth. Em
seguida os dados obtidos foram comparados e validados com o mapeamento elaborado por
Leite e Rocha (2016).
O eixo ii por sua vez, foi responsável pela extração dos parâmetros morfométricos. O pri-
meiro parâmetro a ser extraído foi a Hierarquia Fluvial (Hf), com base na classificação apresen-
tada por Strahler (1952), definindo os canais de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem. Posteriormente foi
extraída a Densidade de Drenagem (DD), Fator de Forma ( kf), Índice de Circularidade (IC),
Índice de Sinuosidade (IS), Área (A), Amplitude Altimétrica(∆A), Relação de Relevo (RR),
Declividade (D), Índice de Rugosidade (IR) e a Relação entre os gradientes dos canais (Rgc).
O eixo iii: destinou se a compreensão das variáveis morfométricas da bacia do rio Vieira e
sua correlação com o processo de inundação, com base na referência metodológica utilizada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre 2005 e 2018 foram contabilizadas um total de 587 ocorrências, englobando enxur-
radas, inundações e alagamentos. Com base nos dados observados por Rodrigues (2020) os
anos de 2006, 2008, 2012 e 2013 apresentaram maior incidência de eventos, sendo que o
último contabilizou 167 ocorrências. A pesquisa supracitada destacou que a ocorrência desses
eventos está intrinsicamente ligada aos altos índices pluviométricos, sendo que os anos com
maior quantidade de chuva tem-se maior ocorrência destes fenômenos.
Acerca da hipsometria da bacia do rio Vieira observa– se que ela possui uma amplitude
altimétrica (∆A) de 474 metros, sendo que o ponto de menor altitude situa-se a 564 metros de
altitude, ao passo que o ponto mais elevado está situado a 1038 metros. Através da análise do
mapa hipsométrico destacado na Figura 2 – Mapa de Declividade e Hipsometria da bacia do rio
Vieira/ Montes Claros-MG -, observa-se que as áreas na proximidade do curso principal são as
que possuem as altitudes com menor índice de elevação. Os trabalhos de Leite e Rocha (2016)
enfatizam que cerca de 83% da bacia situa-se entre as classes de 600 a 900 metros.
Através da análise dos indicadores de declividade (G) observados na figura 2, foi possível
observar que cerca de 90% da bacia do rio Vieira possui percentual de declividade inferior a
20%, representando assim características de relevo predominantemente plano, suave ondu-
lado e ondulado, em consonância com a tabela 1, disponibilizada pela Embrapa (2009).
A relação de relevo (Rr) indicou um índice de 14,11 m/km, para a extração deste índice
tem-se por base o relevo da bacia e o seu comprimento. Juntamente com a declividade e ampli-
tude altimétrica fornecem importantes informações acerca da dinâmica do relevo, que influem
diretamente na dinâmica hidrológica, possibilitando maior ou menor volume de água no canal.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


72 João Vitor Ferreira Fernandes

Figura 2 – Mapa de Declividade e Hipsometria da bacia do rio Vieira/ Montes Claros-MG

Fonte: IBGE, 2010.

Com os dados da amplitude altimétrica, declividade e relação de relevo verifica-se que


quanto maiores os valores, maior a velocidade de escoamento, o que inibe a formação de
enchentes no interior da bacia e incrementam a ocorrência a jusante da bacia. Contudo, com
base nos estudos de Brubacher et al. (2011) verifica-se que os dados obtidos para a bacia do rio
Vieira indicam uma baixa amplitude altimétrica. Já os padrões de declividade indicam que
grande parte do relevo é caracterizado como suave ondulado e ondulado, o que indica baixa
influência destes parâmetros no processo de inundação. Esta constatação se deve ao fato de
que os baixos índices observados demonstram um controle hidrológico da bacia, o que diminui
a possibilidade de ocorrência de inundações repentinas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS PROCESSOS DE INUNDAÇÃO 73

Tabela 1 – Declividade na Bacia do rio Vieira/ Montes Claros-MG

Classes Característica do Relevo Área Km² Percentual


0 a 3% Plano 88,37 15,23
3a8% Suave ondulado 238,04 41,06
8 a 20 % Ondulado 194,53 33,54
20 a 45 % Forte Ondulado 56,88 9,84
45 a 75% Montanhoso 2,12 0,36
>75% Escarpado 0,002 0,02
Fonte: Embrapa (2009).

A densidade de drenagem (Dd) foi inicialmente apresentada por Horton (1945) e expressa
a relação entre o comprimento total dos cursos d’água de uma bacia e sua área total. Sendo
assim, conforme Barros et al. (2014) maiores índices de densidade de drenagem indicam que o
escoamento superficial originado pela água da chuva chegará mais rapidamente ao exutório da
bacia, podendo gerar altos picos de vazão o que favorece os fenômenos de enchente e inunda-
ção. A Tabela 2 – Classes da densidade de drenagem – explana as classes de densidade de dre-
nagem, podendo organizar as classes que indicam maior densidade de drenagem e sua relação
com o processo de inundação.

Tabela 2 – Classes da densidade de drenagem

Classes Caracterização
5,0 km/km² Baixa
5,0 – 13,5 km/km² Média
13,5 – 155,5 km/km² Alta
> 155,5 km/km² Muito alta
Fonte: Silva (2012).

A densidade de drenagem observada foi de 0,5 km/km², o que assinala que área da bacia
pode ser considerada uma área pouco drenada. Como destacado anteriormente os valores de
densidade de drenagem mais elevados caracterizam bacias com tendência a maior ocorrência de
inundações. Logo com base no dado obtido pode-se inferir um baixo grau de correlação entre o
parâmetro da densidade de drenagem com a ocorrência de inundação na bacia do rio Vieira.
No que tange a área (A) da bacia, foi constatado uma área de 582,3 km², este parâmetro
indica a medida de toda a região drenada da bacia. Brubacher et al. (2011) enfatiza que quanto
maior a área, maior volume de água passará pelo exutório, incrementando o efeito a jusante
da bacia e ao mesmo tempo diminuindo a possibilidade de cheias no interior da bacia. Este
parâmetro, por influir diretamente no ponto de ocorrência do evento possui baixa correlação

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


74 João Vitor Ferreira Fernandes

com o processo de inundação na cidade, ao passo que o perímetro urbano da área de estudo
concentra-se na parte central da bacia, sofrendo assim pouca influência deste fator.
O fator forma (Kf) compreende a relação entre a área da bacia e o quadrado de seu com-
primento axial. Mede-se o comprimento axial da bacia (L) quando se segue o curso d’água mais
longo desde a foz até a cabeceira mais distante. Sendo assim este parâmetro utiliza-se do for-
mato da bacia para entender a sua dinâmica e desenvolvimento.

Tabela 3 – Susceptibilidade a inundações de acordo com o fator forma

Fator Forma (Kf) Caracterização


1,0 – 0,75 Alta susceptibilidade
0,75 – 0,5 Média Susceptibilidade
<0,5 Baixa Susceptibilidade
Fonte: Sirangelo (2014).

O fator forma (Kf) observado na bacia do rio Vieira foi de 0,52 (vide Tabela 3), podendo
ser encaixado com susceptibilidade mediana ou baixa. Esta variável indica que o perfil da bacia
é mais alongado o que faz com que em períodos de alta pluviosidade o escoamento superficial
seja potencializado e a maior concentração de água não ocorra no interior da bacia, mas sim
nas áreas próximas ao ponto de menor altitude da bacia.
O índice de circularidade (Ic) Proposto por Miller (1953) e citado por Strahler (1957) apre-
senta a relação entre a área total da bacia e a área do círculo de mesmo perímetro. O valor
máximo encontrado é 1,0, quando o perímetro da bacia corresponder ao perímetro do círculo.
A tabela 4 apresenta as classes de análise do (Ic) com o potencial de escoamento superficial.

Tabela 4 – Classes do índice de circularidade

Índice de circularidade (Ic) Caracterização

< 0,51 Favorece o escoamento

0,51 Escoamento moderado

>0,51 Baixo escoamento, favorece os processos de inundação


Fonte: Castro (2003).

O índice de circularidade obtido para a bacia foi de 0,35, sendo assim quanto mais circu-
lar for a bacia maior a capacidade de retenção de água aumentando a possibilidade de enchen-
tes no interior da bacia e diminuindo os efeitos a jusante (ALVES; CASTRO, 2003). Deste modo,
o baixo índice de circularidade obtido compactua com os dados obtidos para o fator forma, em

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS PROCESSOS DE INUNDAÇÃO 75

que a característica da bacia preconiza o escoamento superficial, potencializando a ocorrência


de eventos a jusante da bacia.
A relação entre os gradientes dos canais (Rgc) preconiza a declividade média dos estrei-
tos de cada ordem com a declividade média dos canais de ordem imediatamente superior, ao
verificar o grau de normalidade de uma bacia de acordo com a terceira lei de Horton (1945). De
acordo com Cajazeiro (2011), os valores de Rgc maiores que 1 indicam maior susceptibilidade a
inundações, ao passo que os rios à montante possuem maior transmissibilidade hidráulica que
os à jusante ao tender a água acumular-se nestes últimos, porque os valores de Rgc menores
do que 1 indicam que a declividade média dos canais analisados se torna menor que a dos
canais à jusante.
No caso da área de estudo deste trabalho a relação entre os gradientes dos canais encon-
trada foi de 1,2. Sendo assim entende-se que há maior possibilidade de ocorrência de inunda-
ções a jusante da bacia.
O índice de rugosidade combina a diferença de nível da bacia e a densidade de drena-
gem, onde valores altos indicam vertentes íngremes e longas. Seguindo a proposta de Cajazeiro
(2011) as Classes de Susceptibilidade de acordo com Ir menor 61, indicam alta susceptibilidade,
ao passo que as maiores que 61 representam baixa susceptibilidade. Para a área de estudo o Ir
encontrado foi de 238,82, que segundo a proposta de Cajazeiro (2011) indicam alto grau de
susceptibilidade a formação de cheias.
O Índice de Forma (Kc) expressa a relação entre o perímetro e a área da bacia. Conforme
Franco e Santo (2018) quanto mais próximo da unidade, maior a tendência a bacia possuir for-
mato circular, apresentando tendência a cheias. Nesta linha os valores obtidos para a bacia do
rio Vieira cujo Kc encontrado foi de 16,34. Contudo a bibliografia existente não expressou
resultados conclusivos acerca deste parâmetro na correlação com o processo de inundação.
O índice de sinuosidade (Is) representa a razão entre o comprimento do canal principal
pela distância vetorial. Canais com Is mais elevados indicam canais meândricos onde a veloci-
dade do escoamento superficial é diminuída em virtude das barreiras naturais postas pelos
meandros. Nesta linha, canais mais sinuosos indicam maior tendência a ocorrência de inunda-
ções, ao passo que possibilitam maior concentração de água no interior da bacia. Canais mais
retilíneos indicam maior velocidade potencial da água, o que acarreta maior ocorrência de
inundações nas áreas próximas ao exutório. A Tabela 5 destaca as classes de sinuosidade para
os canais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


76 João Vitor Ferreira Fernandes

Tabela 5 – Classes do índice de sinuosidade

Índice de circularidade (Ic) Caracterização

Igual a 1 Canal retilíneo

Valores intermediários Canais Sinuosos

Maior que 2 Canais tortuosos


Fonte: Sirangelo (2014).

O valor referente ao Is do canal principal da bacia do rio Vieira foi de 1,6, sendo assim
encaixado como canais sinuosos. Logo, entende-se que a sinuosidade dos canais possibilita
maior concentração de água no interior da bacia, ao passo que diminuem o potencial de escoa-
mento superficial.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na bibliografia analisada foi possível compreender que os fenômenos de cunho
hidrológico que atingem a cidade de Montes Claros não são estritamente de inundações, mas
sim contemplam outros eventos como os alagamentos, enxurradas e cheias. Com a obtenção
dos dados gerais sobre a dinâmica populacional e urbanização da área de estudo, fica evidente
o alto índice de periculosidade que tais eventos podem representar para a população, necessi-
tando serem estudados em suas raízes para mais bem tomada de decisão no que tange a miti-
gação dos danos provocados.
O padrão de urbanização observado na cidade de Montes Claros condiz com a dinâmica
observada em outras cidades médias, as quais a partir da década de 1990 passaram por um
rápido e desordenado processo de urbanização, fruto do processo de descentralização das
grandes metrópoles e constituição de subcentros regionais que passaram a ofertar um grande
leque de serviços. Este fator propiciou o rápido processo de urbanização e consequente aden-
samento populacional, resultando na ocupação inadequada de áreas susceptíveis á inunda-
ções, assim como as enxurradas e alagamentos.
A extração e análise das variáveis morfométricas indicaram. em geral, baixo grau de cor-
relação entre a morfometria da bacia com os eventos de inundações. Através desta informação
pode-se inferir que outras variáveis de análise podem estar relacionadas as causas do processo
de inundação. Dentre estas variáveis podemos destacar a ocupação inadequada das planícies
de inundação, áreas que naturalmente são expostas a inundações nos períodos de alto índice
de pluviosidade, assim como as obras públicas de canalização e retificação dos canais fluviais
discutidos por Cajazeiro (2011), que influem diretamente na dinâmica natural do curso fluvial
impactando essencialmente a análise acerca do índice de sinuosidade.
As variáveis analisadas neste trabalho podem servir de embasamento para futuros estu-
dos sobre este processo na área ou em outros locais, oferecendo suporte para a gestão e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ENTRE OS ATRIBUTOS MORFOMÉTRICOS E OS PROCESSOS DE INUNDAÇÃO 77

planejamento ambiental no espaço urbano. Esta contribuição se dá essencialmente a partir do


entendimento da relação entre a dinâmica espaço natural em contraste com o avanço da ocu-
pação antrópica, necessitando assim um campo de discussão mais amplo, que englobe desde
os estudos ambientais até os estudos de cunho social.
Contudo, cabe salientar que novos estudos podem refutar as variáveis de correlação aqui
estudadas, como também corroborar para a compreensão mais aprofundada sobre o processo
de inundação em áreas urbanas. Tais estudos podem ampliar a discussão acerca dos impactos
da ação antrópica sobre o meio e sua relação com o fenômeno estudado, dando um outro
retrato acerca do panorama das inundações no espaço urbano de Montes Claros.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


78 João Vitor Ferreira Fernandes

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


6. ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA
E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO
SUPERFICIAL DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO ALTO CÓRREGO MACAMBIRA-
GOIÂNIA-GO

RODRIGO LIMA SANTOS1


JOELSON DE SOUZA PASSOS2
FABRIZIA GIOPPO NUNES3

Resumo: A cobertura da terra urbana especialmente nos grandes centros constitui-se um ele-
mento complexo e que interfere diretamente no funcionamento hidrológico da bacia hidrográfica
analisada. Um dos exemplos mais claros dessas interferências são as taxas de escoamento super-
ficial da água, que continuamente se veem ampliadas, ocasionando assim, diversos problemas nos
grandes centros. O objetivo desse trabalho é acompanhar temporalmente a cobertura da terra na
bacia hidrográfica considerando seus reflexos no escoamento superficial. Assim, foram utilizados
dados de sensoriamento remoto e técnicas de classificação de imagens, conjugados com metodo-
logias de obtenção dos fluxos superficiais por meio de modelos digitais de elevação e equações
conhecidas no meio hidrológico. Os resultados apontam que a cobertura da terra se antropiza,
sendo convertida fortemente em classes como, áreas edificadas e superfícies pavimentadas e o
tempo de concentração do escoamento superficial se reduz além de setores específicos da bacia
hidrográfica apresentarem um aumento dos fluxos de escoamento superficial.
Palavras-chave: Hidrologia de superfície; Bacia hidrográfica urbana; Coeficiente de escoamento
superficial.
Abstract: The urban land cover, especially in large centers, constitutes a complex element that
directly interferes with the hydrological functioning of the analyzed hydrographic basin. One of the
clearest examples of these interferences are the water runoff rates, which are continuously increased,
thus causing several problems in large centers. The objective of this work is to temporally monitor
the land cover in the hydrographic basin considering its effects on surface runoff. Thus, remote sens-
ing data and image classification techniques were used, combined with methodologies for obtaining
surface flows through digital elevation models and equations known in the hydrological environ-
ment. The results show that the land cover is anthropized, being strongly converted into classes such
as built-up areas and paved surfaces and the time of concentration of runoff is reduced, in addition
to specific sectors of the watershed presenting an increase in runoff flows.

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: rlimasantos3@gmail.com


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: joelson3000@gmail.com
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: fabrizia.iesa.ufg@gmail.com

[ 79 ]
80 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes

Keywords: Surface hydrology; Urban watershed; Runoff coeficiente.

1 INTRODUÇÃO
De modo geral as cidades, nas últimas décadas experimentaram um grande crescimento.
Esse fenômeno se intensificou bastante especialmente nas regiões metropolitanas e suas adja-
cências, como no caso de Goiânia (NASCIMENTO e OLIVEIRA, 2015). Pressionada por uma
demanda crescente, a terra urbana, especialmente a partir dos anos 2000, passa a ser um ativo
importante no equacionamento dos problemas ambientais, notadamente aqueles que envol-
vem diretamente as bacias hidrográficas e seu funcionamento hidrológico. O presente traba-
lho, é um recorte da tese de doutorado do primeiro autor, a ser defendida no programa de
pós-graduação em geografia do IESA-UFG, ainda em 2021, portanto torna-se indispensável a
consulta ao trabalho completo, para entender de maneira mais ampla, aspectos da metodolo-
gia utilizada.
Dentre os problemas mais comuns, em Goiânia, ocorrem anualmente os alagamentos e
não muito raras as inundações e enxurradas, como pontuada Guerra e Zacharias (2015) estes,
são problemas decorrentes de processo antrópicos como a permeabilização da terra, do rápido
escoamento superficial e da ineficiência dos equipamentos de drenagem urbana. O presente
trabalho justifica sua importância pela tentativa de contribuir com a espacialização da capaci-
dade de escoamento superficial de uma bacia urbana do município de Goiânia. Uma vez que,
desenvolvendo temporalmente essa avaliação da capacidade de escoamento superficial, estão
postos os parâmetros necessários para uma melhor gestão do espaço e abertas as possibilida-
des de intervenção para mitigação dos potenciais impactos.
No âmbito das pesquisas em modelagem hidrológica e aspectos correlatos, alguns estu-
dos têm sido realizados em GOIÂNIA-GO e região metropolitana, sob diversas subáreas da
hidrologia e, em diferentes perspectivas (ALMEIDA DE OLIVEIRA et al., 2016; ALVES et al., 2011a,
2011b; ARGOLO; DELLA GIUSTINA, 2016; CARVALHO, 2008; LINO, 2013; NASCIMENTO, 2019;
NAYDA, 2013; OLIVEIRA et al., 2012; OLIVEIRA; VESPUCCI, 2015; PEREIRA, 2015; REGO, 2015;
REGO; BARROS, 2014; SANTOS, 2015, 2010, 2012; SANTOS; LEMES; SANTOS; ROMÃO, 2009,
2010; SEIBT, 2013; SOUZA; CRISPIM; FORMIGA, 2012).
Especificamente sobre a hidrologia de superfície e considerando o escoamento superfi-
cial como parâmetros, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos, dentre eles encontram-se
aqueles realizados por Nunes (2012) onde a autora avalia a capacidade permeável do solo
urbano da bacia hidrográfica do Ribeirão Anicuns e o estudo de Nunes e Borba (2018) por meio
do qual os autores avaliam os efeitos do adensamento urbano na dinâmica hidrológica da bacia
do Córrego Tamanduá, no município de Aparecida de Goiânia. Em seguida, pode-se apreciar
alguns aspectos sobre a bacia hidrográfica, seguidos pelo procedimento metodológico e resul-
tados do trabalho.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL 81

1.1 Área de estudo


A bacia hidrográfica do Alto Córrego Macambira – BHACM, (Figura 1) localiza-se no muni-
cípio de GOIÂNIA-GO, e encontra-se ao sul da região hidrográfica da Bacia do Córrego Anicuns
e possui uma área de 5 km². É uma bacia hidrográfica urbana, sua malha citadina varia em ter-
mos de consolidação, entre áreas com ocupação antiga e padrão residencial denso com no
máximo um pavimento e áreas de ocupação recente com modelo residencial disperso, já
incluindo aspectos de verticalização em determinados setores da bacia.

Figura 1 – Mapa de localização da bacia hidrográfica do alto córrego macambira

Fonte: produzido pelos autores (2021).

Silva et al., (2019) avaliam que suas áreas de recarga ainda conseguem desempenhar um
papel hidrológico satisfatório, quando consideradas a presença de áreas de infiltração. Sua
urbanização é predominantemente horizontal, porém ocorre a presença de espaços com pre-
sença de vegetação, que variam de gramíneas até vegetação arbórea. Seus solos são compos-
tos predominantemente por áreas de latossolo vermelho, especialmente no topo das vertentes
e cambissolos nas médias vertentes, além dos neossolos flúvicos em associação com gleissolos
em seus canais de drenagem. Sua hipsometria varia entre 775 m e 887 m de atitude, sendo
composta por declividades em suas rampas que variam no máximo até 27,6 %, com especial
predominâncias das áreas de declividade até 4,3%.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


82 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes

2 METODOLOGIA
2.1 Mapeamento de cobertura da terra
O procedimento de classificação foi executado a partir das fotografias aéreas reamostra-
das para 1 metro de resolução espacial, para os anos de 2002, 2006, 2011 e 2016. O ano de
2020, foi mapeado por meio de imagens do Google Earth Pro, baixadas e reamostradas para a
resolução compatível. Posteriormente utilizou-se o algoritmo Segment Mean Shift, presente na
versão 10.6.1 do ArcMap, sob licença estudantil, com a finalidade de reduzir/homogeneizar os
detalhes espectrais internos das classes.
As tipologias das classes de cobertura da terra, foram definidas tendo em mente dois
aspectos fundamentais, a finalidade da classificação e a resolução disponíveis. Portanto, pensar
o aspecto hidrológica da classe dentro do funcionamento do sistema ambiental que é a bacia
hidrográfica e se a resolução disponível permitia realizar essa distinção, foram duas preocupa-
ções eminentes, de modo que foram selecionadas 9 classes, espacializadas na Figura 2 – De posse
das imagens e da chave de classificação, foram gerados os arquivos de assinaturas espectrais,
estas foram separadas de modo automático em um total de 30 classes diferentes, podendo estas
serem consideradas amostras de treinamento coletadas de modo automático pelo SIG.
Em seguida, de posse das assinaturas espectrais foi aplicado o método de classifica-
ção Maximum Likelihood Classification, neste o classificador assume que a imagem é com-
posta por pixels distribuídos e calcula a probabilidade de um determinado pixel pertencer
a uma das classes delimitadas. Posteriormente as classes geradas passaram por processo
de enquadramento na chave de classificação estabelecida, eliminação de ruídos e inspe-
ção visual, respectivamente.

2.1.1 Parâmetros para Exatidão da Acurácia dos Mapas


A avaliação da acurácia dos mapas de cobertura da terra, foi realizada com auxílio do
complemento/plugin AcATaMa – Accuracy Assessment of Thematic Maps, o mesmo opera vin-
culado ao Sistema de Informação Geográficas – SIG, Qgis Desktop, atualmente na versão está-
vel 3.4.15. O AcATaMa, opera baseado na inspeção visual de amostras. Tais amostras são
criadas aleatoriamente e estratificadas segundo a significância de cada classe temática no
mapeamento que se deseja validar.
Deste modo, considerando a resolução espacial das imagens, a área da bacia, a confusão
média percebida entre classes durante a fase de correção e ajustes dos mapas gerados, foi
definido um limiar de 10 inspeções por classe/ano em cada um dos mapas gerados. Por sua vez
a exatidão global dos mapas, pode ser consultada na Tabela 4. Dentre os resultados obtidos,
pode-se considerar a acuraria global elevada, com valores máximos e mínimos, respectiva-
mente iguais a 0.96 e 0.72 e média por bacia igual a 0.8.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL 83

Tabela 1 – Acurácia total da classificação de cobertura da terra

Anos mapeados
Bacia Acurácia média
2002 2006 2011 2016 2020
Bacia do Alto
córrego 0.86 0.76 0.72 0.88 0.85 0.81
Macambira
Fonte: Produzido e organizado pelo autor (2020).

Para realização da modelagem de escoamento superficial, foram selecionados os anos de


2002, 2011 e 2020. A modelagem hidrológica aplicada, faz uso dos princípios do método racio-
nal, conforme utilizados por Nunes e Borba (2018). O coeficiente de escoamento superficial
utilizado constitui-se no volume de chuva que não infiltra e participa efetivamente ou pode ser
convertido em fluxo superficial e é dado pela equação abaixo:

Equação (10)

Onde:
C = coeficiente de escoamento superficial, adimensional.
P = precipitação considerada, em mm
S = coeficiente de infiltração, em mm

3 A TEMPORALIDADE DA COBERTURA DA TERRA E O IMPACTO NO


ESCOAMENTO SUPERFICIAL URBANO
A bacia do Alto Córrego Macambira, apresenta-se como uma bacia predominantemente
urbanizada, em todos os anos analisados, fato que se intensifica especialmente nos anos mais
recentes (Figura 2). No ano de 2002, a bacia apresentava as seguintes características: 30,2% de
cobertura representada por gramíneas compactadas; seguida pelos solos compactados e gra-
míneas não compactadas, com 16,4% e 16,1% respectivamente. A vegetação arbórea concen-
trava-se em pouco mais de 14%, ficando restrita às margens dos canais de drenagem e; as
superfícies pavimentadas e áreas edificadas, são representadas inicialmente por 11,7 % e 11,4
% respectivamente.
Os anos seguintes, notoriamente 2006, 2011, 2016, são marcados por movimentos bem
definidos, que na verdade constituem uma tendência, apresentada por meio da diminuição da
cobertura vegetal em estrato arbóreo, seguida pela redução das gramíneas compactadas e não
compactadas, e na contramão desse processo ocorre a ampliação das áreas urbanas e das
superfícies pavimentadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


84 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes

Toda a dinâmica de cobertura da bacia é bastante alterada neste intervalo de tempo, no


entanto, em alguns setores específicos pode-se notar uma maior preponderância ora da ten-
dência um, como no caso de áreas ligadas a média bacia hidrográfica, e ora da tendencia dois,
como no caso da alta bacia hidrográfica afetando toda a área de recarga das nascentes.
Somando-se positivamente a esses fatos nota-se que as proximidades do canal de drenagem,
englobadas em parte, pelo projeto de parque linear macambira/anicuns, tem contribuído para
a manutenção das áreas verdes e preservação das apps.

Figura 2 – Cobertura da terra da bacia hidrográfica do Alto Córrego Macambira

Fonte: Produzido e organizado pelo autor (2020).

Conforme o Figura 3 podemos notar as tendências de mudanças na cobertura da terra,


no caso das áreas urbanas e nas superfícies pavimentadas, um claro e expressivo aumento, em

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL 85

relação com a figura anterior, nota-se uma intencionalidade em recobrir as áreas de recarga
das nascentes, fato corroborado hoje, pelo atual estágio de implantação de diversos empreen-
dimentos de habitação vertical na alta bacia e terrenos já preparados com essa finalidade.
Outro ponto característico da cobertura diz respeito as gramíneas compactadas, inclusive cor-
roborando com os argumentos anteriores, pois essas sofrem uma redução.

Figura 3 – Quantificação dos percentuais da cobertura da terra no


período analisado

Fonte: Produzido e organizado pelo autor (2020).

Essa bacia em característico, dispõe de duas peculiaridades, sendo a primeira um valor


relativamente constante de cobertura vegetal arbórea, em decorrência do Parque Linear
Macambira, sendo as oscilações justificadas pela retirada de outras coberturas fragmentadas.
A segunda, diz respeito a presença elevada de áreas com gramínea compactada e não compac-
tada. Parâmetros esses, que servem de fortes indícios, a considerar a história recente da bacia
e as análises de campo, que novas áreas urbanas serão implementadas nos próximos anos.
Observa-se na Figura 4 (a), um padrão urbano marcado pela horizontalidade das residências
com alta densidade e muitas áreas pavimentadas, essas áreas predominam especialmente
entre a média e baixa bacia. A Figura 4 (b), por sua vez, apresenta indícios de áreas destinadas
para urbanização vertical.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


86 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes

Figura 4 – Padrão de urbanização na Bacia Hidrográfica do Alto Córrego Macambira

Fonte: Pesquisa de campo (2021).

No que tange a permeabilidade da bacia hidrográfica, observa-se que as coberturas da


terra confluíram para a redução da capacidade permeável dos solos (Figura 5). Essas cobertu-
ras com menor permeabilidade que já era acentuada em 2002, encontrando-se concentrada
nas adjacências do baixo curso do canal principal, passa nos anos seguintes a estender-se sig-
nificativamente para as regiões próximas ao médio curso e áreas de cabeceiras, especialmente
entre os anos de 2016 e 2020. As áreas permeáveis que totalizavam juntas 50% da bacia no ano
de 2002, diminuem respectivamente para 45,69% e 35,81% em 2011 e 2020. As tendências, no
que diz respeito ao comportamento da capacidade permeável da bacia podem ser melhor
observadas no Figura 5.

Figura 5 – Relação entre áreas permeáveis e com permeabilidade


reduzida na bacia hidrográfica do Alto Córrego Macambira entre os
anos analisados

Fonte – Mapeamento de cobertura da terra.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL 87

As Figuras 6 (a) e (b), revelam respectivamente aspectos das áreas permeáveis na região
das cabeçeiras da bacia hidrográfica. Neste caso, tratando-se especificamente da área de pre-
servação do Parque Linear do Córrego Macambira, projeto de revitalização executado pela
prefeitura de Goiânia e que tem servido como elemento indutor de uma estratégia de ocupa-
ção e valoração imobiliária da região (SILVA et. al. 2019).

Figura 6 – Aspectos naturais na bacia. (a) área próxima à nascente do Córrego Macambira; (b) formações
florestais e savânicas de cerrado na APP do Córrego Macambira

Fonte: Pesquisa de campo (2021)

A Figura 7, revela a transição da cobertura da terra, ressaltando as classes permeáveis


que foram mais impactadas por transições para coberturas pouco ou não permeáveis. Nesta,
nota-se que a cobertura mais alterada por sucessões para classes com permeabilidade redu-
zida, foram as gramíneas compactadas, apresentando 70,64% e 47,72% respectivamente nos
intervalos 2002/2011 e 2011/2020. Em seguida constata-se um substancial aumento das as
áreas de formação vegetal, convertidas para classes de superfícies pavimentadas e áreas edifi-
cadas respectivamente, conforme os dados, há um aumento de mais de 100% entre os perío-
dos analisados.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


88 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes

Figura 7 – Conversão de classes de cobertura permeáveis para classes com permeabilidade reduzida.
a) período 2002/2011; b) período 2011/2020

Fonte – Produzido e organizado pelo autor (2020).

No período 2002/2011, as conversões foram mais intensas em termos de ocupação


urbana, reproduzindo, no entanto, um padrão de ocupação distribuído por toda a extensão da
bacia. O período seguinte, por sua vez, revela além da manutenção do padrão distribuído, frag-
mentos de cobertura urbana maiores em extensão e localizados majoritariamente nos setores
ligados as áreas de recargas, sinalizando um claro, avanço da ocupação dessas áreas. Assim
nota-se uma cobertura urbana que se intensifica bastante por toda a bacia hidrográfica, redu-
zindo a capacidade permeável, ampliando superfícies com capacidade permeável reduzida e
aos poucos implantando um padrão residencial urbano, vertical.
O coeficiente de escoamento superficial espacializado (Figura 8), de modo geral varia na
bacia hidrográfica do alto córrego macambira, entre 0 a 0,94, dessa forma quanto mais pró-
ximo de zero menor o potencial de escoamento da água na superfície, assim valores mais ele-
vados indicam grande propensão a ocorrência do escoamento superficial. Uma análise geral
revela que a bacia hidrográfica apresentava pouco potencial de escoamento superficial da
água no ano de 2002, indicando uma situação hidrológica mais equilibrada, com exceção de
algumas regiões muito próximas a grandes vias de acesso e pequenos setores específicos loca-
lizados na baixa bacia, já os anos seguintes apresentam uma tendência de aumento no percen-
tual de áreas propensas a sofrer escoamento superficial, ampliação intensificada e observada
em todos os setores da bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL 89

Figura 8 – Coeficiente de escoamento superficial na bacia hidrográfica do alto córrego macambira

Fonte: produzido pelos autores (2021).

É notório o aumento das áreas com predisposição à amplificação dos fluxos superficiais,
essas áreas localizam-se especialmente na bacia e média bacia, fato que contribui para a redu-
ção do tempo de concentração na bacia. As regiões menos susceptíveis ao escoamento super-
ficial, embora já não tenham mais sua plena capacidade realizar infiltração da água, uma vez
que os lotes/quarteirões, localizados na alta bacia e áreas de recarga, não estejam construídos
ou recoberto por coberturas urbanas, estes encontram-se compactados e na sua maioria
expostos, fato que eleva a carga de sedimentos, agravando potencialmente problemas de
inundações e alagamentos urbanos.
Os valores de áreas do fatiamento de classes realizado, pelo método das quebras natu-
rais da bacia, exibem os valores mais elevados concentrados a partir das maiores faixas de
escoamento superficial, 0,23 a 0,58 até 0,94. As faixas 1 e 2 exibem os menores valores de refe-
rência em todos os anos e ambas com tendências de queda. As faixas 3 e 4, concentram os
maiores valores percentuais em área, 65, 46 e 54% do total de área da bacia, respectivamente
nos anos de 2002, 2011 e 202l além disso são tendências diametralmente opostas, uma repre-
sentando acessão e outra, com os valores mais elevados mostrando recessão.
A faixa 5, representada por valores entre 079 – 0,94, apresentam valores com tendência
de elevação em relação ao ano de 2002. Em 2020, o valor do coeficiente de escoamento super-
ficial cai, mas no geral se mantem no patamar alto, podendo ampliar-se nos próximos anos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


90 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes

Dessa forma, o coeficiente de escoamento superficial se vê ampliado quando considerado de


forma geral, mas o fatiamento pelo método das quebras naturais não releva essa tendência
para todos os intervalos criados.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cobertura da terra se antropiza, pois é convertida fortemente em classes como, áreas
edificadas e superfícies pavimentadas, classes de cobertura sempre lembradas como de pri-
meira ordem no que diz respeito a alterações no funcionamento hidrológico da paisagem.
Seguindo a tendência as áreas com capacidade permeável reduzida ampliam-se bastante no
período analisado, esses dois fatores desencadeiam um cenário bastante propício para o
aumento dos fluxos de escoamento superficial e problemas advindos, como carreamento de
sedimentos, alagamentos, enchentes e enxurradas urbanas. O tempo de concentração do
escoamento superficial é outro parâmetro que inegavelmente se reduz, nesse sentido a água
vai levar um tempo menor para atingir o exutório da bacia, que por sua vez irá receber volumes
cada vez mais expressivos de água.
O projeto do Parque Linear Macambira Anicuns é um elemento importante para a paisa-
gem, pois desempenha um importante papel de amortecimento dos fluxos no canal principal
e manutenção das áreas de preservação permanente. No entanto, estudo mais aprofundados
necessitam ser realizados a respeito da efetividade do ponto de visto hidrológico dessas áreas
e até que ponto elas conseguem desempenhar sua função perante a pressão hidrológica cau-
sada pela ampliação das coberturas urbanas adjacentes, incluindo as urbanizações verticais.
O reconhecimento e análise da cobertura da terra urbana pode ser um parâmetro para
melhoria da gestão dos fluxos superficiais e mitigação dos desastres urbanos, na medida em
que possibilita a realização de modelagens e intervenções a fim de recuperar a capacidade per-
meável da bacia nos pontos mais críticos. Análises mais acuradas em precisam ser realizadas
em todos os pontos acima ressaltados, pois este ensaio tem o objetivo de ser uma aproxima-
ção da temática.

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ANÁLISE DE COBERTURA DA TERRA E PERTUBAÇÕES NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL 91

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7. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
COMO JUSTIFICATIVA PARA A
CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
URBANOS EM SANTA MARIA (RS, BRASIL)

NATÁLIA HUBER DA SILVA1


PATRÍCIA ZIANI2
ELIANE MARIA FOLETO3

Resumo: Localizada na região central do Rio Grande do Sul, ao extremo sul do Brasil, Santa Maria
é um município de porte médio, que sofreu com sua colonização baseada no conceito antinatura-
lista. Como consequência, a rede de drenagem inserida no perímetro urbano experienciou gran-
des alterações e o uso e cobertura do solo nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) hídricas
não está de acordo com a legislação federal, estadual ou municipal. A falta de cobertura vegetal e
ocupação destas APPs preconiza a formação de áreas de risco, potencializando a formação de
eventos de deslizamentos de terra ou enchentes. Deste modo, o objetivo deste estudo é verificar
a situação de APPs de recursos hídricos urbanos em Santa Maria. Para isso, foi realizado o mapea-
mento do uso e cobertura do solo nas APPs dos principais cursos d’água. Notou-se que um terço
das APPs hídricas urbanas municipais contém formações florestais nativas, no entanto uma área
de, aproximadamente, 550 campos de futebol já foi impermeabilizada por estruturas urbanas nas
APPs, sendo este, um quadro irreversível da paisagem. Sugere-se ao poder público que possa
atuar junto aos pesquisadores das universidades do município para a realização do mapeamento
de áreas prioritárias à conservação hídrica e implementação de um planejamento para a recupe-
ração das APPs, bem como possam inserir esta pauta nas mídias sociais e televisivas locais, como
ferramenta educativa informal.
Palavras-chave: Uso e cobertura do solo; Mata Atlântica; Área urbana, Rede de drenagem.
Abstract: In the central region of Rio Grande do Sul, in the extreme south of Brazil, is located Santa
Maria, a medium-sized city, which suffered with its colonization based on the anti-naturalist con-
cept. As a consequence, the drainage network of the city has undergone major changes, as well as
the land use and coverage in the Permanent Preservation Areas (APPs) for hydrographic resources
is not in accordance with federal, state or municipal legislation. The lack of vegetation cover and
occupation of these APPs profess the formation of risk areas, boosting the formation of landslide
or flood events. Thus, the present study objective is to verify the situation of hydrographic urban
APPs in Santa Maria. For this purpose, the mapping of land use and coverage was executed in the

1 Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: natalia.silva@ufsm.br


2 UFSM. E-mail: pathyziani@gmail.com
3 UFSM. E-mail: efoleto@gmail.com

[ 92 ]
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 93

APPs of the main watercourses. It was noticed that one third of the municipal urban hydrographic
APPs contains native forest formations, however an area of ​​approximately 550 soccer fields has
already been impermeable by urban structures in the APPs, which is an irreversible landscape pic-
ture. It is suggested that the government can work with researchers from the city universities to
map priority areas for water conservation and implement planning for the recovery of APPs, as
well as inserting this agenda in local social media and television, as an informal educational tool.
Keywords: Land use and coverage; Atlantic Forest; Urban area; Drainage network.

1 INTRODUÇÃO
Localizada no “coração” do Rio Grande do Sul, estado ao extremo sul do Brasil, a cidade
de Santa Maria traz consigo um problema ambiental originado na sua colonização. Os primei-
ros citadinos se apropriaram da ideia de natureza associada ao antinaturalismo pós Revolução
Industrial, ou seja, a ideia de natureza presente é a natureza racionalizada e construída. Esta
concepção ocasionou uma devastação de vegetação dos Biomas Pampa e Mata Atlântica na
área onde, atualmente, é localizado o Distrito Sede municipal, gerando carência de cobertura
vegetal e desrespeito à hidrografia nesta localidade, o que influencia na construção do pensa-
mento ambientalista dos cidadãos.
Dentro da paisagem urbana, os conflitos entre homem e natureza se mostram agravados
e expostos. Consegue-se evidenciar mudanças na dinâmica da paisagem, associadas a dinâmi-
cas territoriais, incidindo em consequências para a própria natureza (MORERA et al., 2007) e
para o ser humano, como problemas de alagamentos, deslizamentos, mudanças no micro-
clima, qualidade e quantidade de água potável, ou seja, perda da qualidade de vida.

1.1 Remanescentes Florestais e Bases Legais Ambientais


O Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012), considera que as florestas em territó-
rio nacional “são bens de interesse comum a todos os habitantes do País”, e estão sujeitas aos
direitos de propriedade, assim como as limitações que a legislação estabelece (BRASIL, 2012).
Ou seja, a conservação dos remanescentes florestais, sejam ripários, pequenos fragmentos ou
grandes áreas naturais, deveria ser de interesse primordial social, devido aos serviços presta-
dos por estes à população humana, bem como à biodiversidade faunística e florística local e
regional. Assim, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) dispõe-se como um ótimo instru-
mento de preservação desses remanescentes, sendo definidas como áreas protegidas com a
“função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar
das populações humanas”, podendo estar ou não cobertas por vegetação nativa (ibidem).
A conservação das APPs em zonas urbanas, além de maior estabilidade da dinâmica
hídrica, proporciona à sociedade um meio de valorização da paisagem e do patrimônio natural
e construído, por exercerem funções sociais, educativas, ecológicas, paisagísticas e até mesmo
turísticas. Estas, se realmente implementadas, proporcionariam uma maior qualidade de vida
às populações urbanas, que representam 84,4% da população brasileira (BRASIL, c2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


94 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Santa Maria sempre exaltou suas belezas naturais e seus músicos sempre citam os mor-
ros em seu entorno, ao comporem músicas sobre o município. Estes morros situam-se predo-
minantemente ao Norte municipal e fazem parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
(RBMA), selo da UNESCO, que teve sua última fase de implantação em 2018 (Fase VII), sendo
abrangida por áreas de Zona Núcleo, de Transição e Amortecimento. Neste mesmo ano, o
último Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental vigente de Santa Maria, é san-
cionado, que reconhece o município como o “Portal Sul da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica”, e prevendo um Programa de Desenvolvimento Ecoturístico e de Educação Ambiental,
que visam implementar um Circuito Turístico da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um
Trem Turístico, capacitar a população para empreendimentos turísticos e sensibilizá-la quanto
à importância da Educação Ambiental (SANTA MARIA, 2018a).
O Plano Diretor traça objetivos e diretrizes da Política de manejo de recursos hídricos
municipal, sendo relevante destacar alguns como: a reutilização de água para fins não potáveis,
a busca da sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental das Bacias Hidrográficas
Vacacaí, Vacacaí-Mirim e Ibicuí, mananciais, que abastecem o Município, através da participa-
ção nos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica, aprimorar a gestão integrada dos
recursos hídricos; difundir políticas de conservação do uso da água e de proteção das matas
ciliares, recuperar áreas degradadas, principalmente de nascentes para melhoria quali-quanti-
tativa dos recursos hídricos, entre outros igualmente relevantes.
Do mesmo modo, há valorização no planejamento quanto ao patrimônio ambiental
municipal na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Santa Maria (LUOS) (SANTA MARIA, 2018b), que
delimita as Áreas Especiais Naturais municipais. Estas, são divididas em “Áreas de Conservação
Natural” e em “Áreas de Preservação Permanente”. Neste estudo, o enfoque é dado às APPs
segundo o conceito do Código Florestal Brasileiro, que inclui ambas as classificações de Áreas
Especiais Naturais de Santa Maria da LUOS.

1.2 Áreas de Preservação Hídrica de Santa Maria


A rede de drenagem de Santa Maria é caracterizada por ser um divisor de águas: por um
lado, é demarcada no limite sul pelo o maior curso d’água da região, o Rio Vacacaí, enquanto 70%
do abastecimento d’água municipal provém do Rio Ibicuí, mais especificamente de seu afluente
Ibicuí-Mirim, a nordeste dos limites do território, localizado na Bacia do Rio Uruguai. Dentro de
seus limites, o município é cortado por dois cursos d’água que se destacam: o Rio Vacacaí-Mirim
e o Arroio Cadena, porém estes não possuem características de grandes rios (SUTILI et al., 2009)
e pertencem à Bacia do Rio Vacacaí-Vacacaí-Mirim. Este último é objeto de uma barragem que
integra 30% do abastecimento municipal, a “Barragem DNOS”, “Barragem do Vacacaí-Mirim”, ou
ainda, “Eco-Parque da Montanha Russa”, que segue com o curso de suas águas na direção leste
do Estado, desaguando na Bacia do Rio Jacuí, onde sua foz é o Oceano Atlântico. Apenas cerca de
dois terços (64%) destas, são clarificadas através da estação de tratamento de efluentes, con-
forme dados fornecidos pela Companhia Riograndense de Saneamento municipal (Corsan).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 95

Estes cursos d’água são protegidos pela LUOS (SANTA MARIA, 2009) e pelo Código
Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012) que prevê a destinação de 30 metros em cada lado da
margem para APP em cursos d’água de até 10 metros de largura – que é o caso dos rios que
atravessam a cidade – e o raio de 50 metros nas nascentes destes. A LUOS divide duas classes
de conservação de recursos naturais municipais: as APPs e as Áreas de Conservação Natural.
As APPs, conforme a LUOS, são áreas com inclinação igual ou superior a 45º, topos de mor-
ros, cursos d’água e suas margens contendo ou não matas de galeria, áreas vegetadas ou não no
entorno de nascentes, como forma de proteger a água, o solo e toda ou qualquer cobertura vege-
tal com características originais da paisagem. Todos os mananciais hídricos constituídos por suas
margens e matas ciliares e qualquer tipo de vegetação natural se incluem nesta categoria, sendo
que esta segue a legislação ambiental vigente, no caso, o Código Florestal Brasileiro.
A APP hídrica exclusiva da LUOS é a Barragem do Vacacaí-Mirim, uma área que com-
preende um dos reservatórios artificiais de água que abastece Santa Maria e sua respectiva
margem com largura mínima de 30 metros (trinta metros), em projeção horizontal, no entorno
do reservatório, medida a partir do nível máximo normal e conforme legislação vigente espe-
cífica. Neste mesmo reservatório, há uma faixa extra de 70 metros de Área de Conservação
Natural com uso sustentável, somando 100 metros de área de proteção em seu entorno.
As Áreas de Conservação Natural em Santa Maria são aquelas onde o homem e os ecos-
sistemas podem conviver sem causar grandes impactos ambientais, destinadas ao turismo eco-
lógico, atividades culturais, recreativas, educacionais e podem-se estabelecer-se loteamentos,
desde que respeitem os recursos naturais listados na lei. Nestas, incluem-se as áreas contíguas
às margens dos Arroios Ferreira, Cadena, Área de Recarga do Aquífero Arenito Basal Santa
Maria, localizada no oeste da área urbana, Área da Sub-bacia do Rio Vacacaí Mirim, Área
Produtiva do Rio Vacacaí Mirim, além de áreas relevantes como as cotas acima de 100 metros
de altitude pertencentes à RBMA e as já citadas da Barragem DNOS.
No entorno desta barragem, se encontra a única Unidade de Conservação municipal:
o Parque Natural Municipal dos Morros (PNMM), com seus 151,6 hectares, instituído em
2016, através de Decreto Municipal (SANTA MARIA, 2016). Assim, a barragem se encontra
dentro da Zona de Amortecimento do PNMM. Este Parque urbano com abundância em
cobertura de Mata Atlântica, tem como objetivos básicos preservar os remanescentes do
Bioma, bem como os recursos hídricos e de beleza cênica, sendo um excelente instru-
mento à recreação em contato com a natureza, a contemplação paisagística da cidade de
Santa Maria, o desenvolvimento de atividades de educação, a realização de pesquisas
científicas e a interpretação ambiental.
Como uma constante em diversos municípios brasileiros, a ocupação antrópica de APPs
em Santa Maria preconiza a formação de áreas de risco, através de sua deterioração, imper-
meabilização, assoreamento dos cursos d’água, potencializando a formação de eventos de des-
lizamentos de terra ou enchentes. Deste modo, o objetivo deste estudo é verificar a situação

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


96 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

de APPs de recursos hídricos urbanos em Santa Maria, tendo como objetivos específicos reali-
zar o mapeamento do uso e cobertura do solo nos principais cursos d’água e discutir soluções
viáveis à gestão municipal.

2 METODOLOGIA
Com o auxílio do software ArcGIS 10.1(ESRI), foi possível gerar o mapa de localização da
área de estudo e o mapa das APPs de cursos d’água do perímetro urbano de Santa Maria/RS.
Para tanto, fez-se necessário a utilização das seguintes bases: malhas territoriais dos limites dos
estados brasileiros e países da América Latina, disponíveis no Portal de Mapas do IBGE (2021);
um conjunto de dados geoespaciais referentes a cartografia do município de Santa Maria, que
dispõem da hidrografia e dos limites municipais, disponibilizados pelo Instituto de Planejamento
de Santa Maria (IPLAN); e a base de dados disponibilizados pela Coleção 5.0 do MapBiomas
(SOUZA et al., 2020), que apresenta os dados de uso e cobertura do solo de todo o Brasil, do
ano de 2019. Estes dados foram obtidos no Google Earth Engine, que permite recortes territo-
riais e temporais específicos, em formato raster (resolução de 30 metros, com escala 1:250.000),
os quais foram processados e gerados shapefiles.
Levando em consideração o Código Florestal Brasileiro e a LUOS, delimitaram-se as APPs
de curso d’água do perímetro urbano de Santa Maria/RS, por meio do uso da ferramenta buf-
fer. Para os rios, estabeleceu-se um buffer de 30 metros, às nascentes, 50 metros e, para a
Barragem DNOS, 100 metros. Em seguida utilizou-se a ferramenta merge para fazer a junção
desses três arquivos vetoriais em um só, e o comando dissolve para não haver sobreposição.
Diante da delimitação das APPs de curso d’água da área de estudo e os dados de uso e
cobertura do solo do MapBiomas, por meio da ferramenta “clip”, realizou-se o cruzamento
dessas informações, destacando os tipos de uso e cobertura do solo presentes apenas nas
APPs de cursos d’água do perímetro urbano de Santa Maria/RS. A diferenciação entre Florestas
Plantadas (exóticas) e Formação Florestal (nativas), foi realizada através da vetorização manual
com a ferramenta “polígono” no software Google Earth Pro₢, a uma escala de aproximada-
mente 1: 2.000, com imagem do satélite Digital Globe₢. Na tabela de atributos, por meio da
ferramenta Calculate Geometry foi possível obter, em quilômetros quadrados (km²), a área de
cada tipo de uso e cobertura do solo da área de estudo, os quais foram exportados para uma
planilha eletrônica Excel, onde foi elaborada uma tabela e um gráfico com seus respectivos
valores, visando a interpretação destes resultados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Devido à geomorfologia da porção norte de Santa Maria, muitos cursos d’água possuem
comportamento de montanha, com nascentes em cotas elevadas, descidas íngremes para
então alcançar as regiões mais planas. Porém, apesar de os Rios Ibicuí-Mirim e Vacacaí-Mirim
possuírem uma pequena parte do curso no Rebordo do Planalto, devido a suas grandes

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 97

extensões, não possuem um comportamento torrencial de montanha (SUTILI et. al., 2009).
Deste modo, conforme a Figura 1, a maioria dos cursos d’água que integram o município se
comportam como típicos cursos de planície, podendo citar como mais relevantes em extensão
municipal, os Arroios Cadena, Cancela, Wolf, Passo das Tropas e Sanga Lagoão do Ouro, além
do Rio Vacacaí-Mirim, já supracitado.
Muitas intervenções urbanas prejudiciais à rede hidrográfica santa-mariense já ocorre-
ram nestes cursos d’água. É o caso de partes do Arroio Cadena, a Centro-Oeste e Arroio
Cancela, ao Centro-Sul, que se encontram canalizadas a fim de regularizar a vazão e moldar a
rede de drenagem ao processo de urbanização do Distrito Sede de Santa Maria (ibidem).

Figura 1 – Mapa hidrográfico da área urbana de Santa Maria, RS, Brasil

Fonte: Elaborado por Patricia Ziani.

O planejamento da expansão urbana é a ferramenta protagonista da conservação das


bacias hidrográficas urbanas. Santa Maria, com uma riqueza abundante de cursos d’água que
passam em regiões centrais e periféricas da cidade, sofreu muito com a falta deste planeja-
mento desde a sua colonização. Esta, resultou na ocupação de margens de rios, soterramentos
para arruamentos, canalizações e lançamento de efluentes e resíduos sólidos em cursos d’água.
Com seus 163 anos de história de municipalização, o território é organizado em três grandes
polos de expansão urbana: um a Oeste, próximo ao Distrito Industrial, o Central, cerca da esta-
ção ferroviária e centro comercial e a zona Leste, nas cercanias da universidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


98 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Atualmente, com a especulação imobiliária e a falta de áreas mais próximas ao Centro, a


região Sul e Leste, na última década, começaram a sofrer processos de loteamento, que apesar
de estarem sujeitos aos limites impostos pela legislação ambiental, as APPs não parecem ser
incorporadas à paisagem pelas empresas de construção, não sendo observado o respeito às
faixas marginas ripárias de APP em Santa Maria. Em votação – não surpreendente no Brasil –
da câmara de deputados, em agosto de 2021, tem-se aprovação do Projeto de Lei 2722/2021,
que transfere para o município as regras de proteção de margens de rios em áreas urbanas. O
projeto segue para aprovação no Senado, mas se aprovado, prospecta-se que a pressão imobi-
liária ao executivo municipal prejudique ainda mais a recuperação ambiental destas áreas.
As APPs do Arroio Cadena já foram alvo de ocupações irregulares na periferia da cidade,
hoje já regularizadas, que demandaram, porém, muito esforço do poder público para sua recu-
peração. Ainda assim, alguns de seus afluentes, como a Sanga do Hospital, encontram-se à
mercê de resíduos sólidos urbanos e de construção civil em suas partes não canalizadas e há
recentes intervenções, com menos de uma década, que sofreram mais processos de canaliza-
ção em sua extensão para novos arruamentos (Figura 2).

Figura 2 – À esquerda, trecho da Sanga do Hospital, afluente do Arroio Cadena, em obra sendo
canalizado e, à direita, margens de trecho do mesmo curso d’água

Fotografias: Fabrício J. Sutili (SUTILI et al., 2009).

Através do mapeamento realizado resultante do presente estudo (Figura 3), observa-se,


no Centro Urbano, Centro-Oeste e Norte do perímetro urbano de Santa Maria, a predominân-
cia da ocupação de APPs por Infraestrutura Urbana (em vermelho). Já ao Nordeste e ao Sul,
nota-se que as Formações Florestais são a classe dominante da ocupação de APPs ripárias
urbanas de Santa Maria. A Leste as classes são variadas, porém predominantemente de forma-
ções campestres e lavouras e, a Oeste do município a predominância é de formações campes-
tres, porém, no limite oeste do Distrito Sede com o Distrito Boca do Monte, no arroio Ferreira,
grande extensão deste curso d’água possui suas formações florestais preservadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 99

Figura 3 – Mapa de Áreas de Preservação Permanente de Cursos D’água do perímetro urbano de Santa
Maria/RS

Fonte: Elaborado por Patrícia Ziani.

A Região Nordeste, onde se encontra a Barragem Vacacaí-Mirim, possui pouca urbaniza-


ção, no entanto, há ocupações com construções civis de famílias em vulnerabilidade social em
encostas de morro, sofrendo riscos de deslizamentos de terra. Assim, salienta-se que os parâ-
metros estabelecidos para as APPs para as encostas com declividade acentuada, tem o obje-
tivo da proteção direta e bem-estar humano, especialmente contra perdas humanas, além dos
prejuízos econômicos e socioambientais causados por enchentes e deslizamentos (ALVES;
FIGUEIRÓ, 2014). Nota-se também, na barragem Vacacaí-Mirim, que apesar de possuir 30
metros de APP mais 70 metros no entorno para uso sustentável como área especial de conser-
vação, cerca de 40% deste entorno está descaracterizado, possuindo lavouras e pastagens.
Há de ser efetivada a legislação que cria o Parque Natural Municipal dos Morros (PNMM),
onde objetiva, na sua Zona de Amortecimento, promover e incentivar atitudes de proteção,
uso adequado e respeito à área do parque e igualmente das áreas produtivas em seu entorno
(SANTA MARIA, 2016). É essencial uma constante fiscalização da utilização dos agrotóxicos lan-
çados à montante da barragem do Vacacaí-Mirim, pois estes não são detectados nos parâme-
tros medidos pela Corsan. Igualmente, há prática esportiva na barragem, além do consumo, o
que coloca em risco os citadinos anteriormente ao tratamento para potabilidade da água.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


100 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Assim, medidas como cerceamento de acesso aos animais de pastagens também deveriam ser
tomadas para a garantia da qualidade da água.
Outro objetivo a ser enfatizado do PNMM, é a efetivação das ações que possibilitem a
ligação da comunidade com a área do parque, para que este não se torne uma ilha. Há dois
anos, é exatamente isso que tem acontecido no parque: ficou ilhado. Devido à falta de infraes-
trutura, o local é mantido fechado para visitação e sujeito à multa, enquanto estão em pro-
cesso de elaboração do plano de manejo. No final de 2019, foi disponibilizada a possibilidade
para cadastro de esportistas e outras pessoas que possam vir a utilizar o parque com autoriza-
ção municipal, mas desde 2020 esse cadastro não está aberto, sendo que o esportista ou qual-
quer outro cidadão que adentre ao parque está sujeito a multa, em qualquer dia da semana. A
lei visa o “reconhecimento, respeito e apoio das comunidades do entorno”, no entanto, este
empecilho limita os citadinos a ingressar no único espaço verde urbano da cidade com rema-
nescentes de mata atlântica preservados por uma Unidade de Conservação.
Para as outras regiões administrativas municipais, o risco tanto social como ambiental
são existentes, porém de modos diferentes. Ao descaracterizar os cursos d’água urbanos, na
região Central, devido à impermeabilização do solo, pouca presença de áreas verdes urbanas e
canalização dos rios, a probabilidade de enchentes se torna muito grande. A própria geomor-
fologia do centro não auxilia no escoamento, pois há variação entre cotas altas e baixas em
curtos espaços, gerando um problema social, sanitário e de mobilidade urbana.
Em rios não canalizados, como é o caso de todas outras regiões municipais com exceção
da Central e Nordeste, percebe-se que a predominância do uso do solo das APPs é por vegeta-
ções campestres. Isso se explica devido ao fato de Santa Maria se encontrar em uma região
ecótone entre os Biomas Mata Atlântica e Pampa. No entanto, sabe-se que nas margens de
sangas nesta região, a vegetação subarbustiva e arbustiva é predominante, portanto, é provável
que estas margens de rios já tenham sofrido intervenção humana direta ou indireta em algum
momento de suas histórias.
Como características de rios de planície, os arroios como o Cancela e Passo das Tropas,
ao Sul, Ferreira a oeste e Sanga Lagoão do Ouro, a Leste, ao sofrerem processo de desmata-
mento, degradação ou ocupação indevida de APPs, têm maior potencial de ocasionar cheias e
enchentes. Isso ocorre devido à perda da proteção da vegetação ciliar, que facilita o carrea-
mento de sedimento ao o leito dos rios, ocasionando seu assoreamento e, consequentemente,
ficam mais rasos e a água extravasa de seus limites superiores mais facilmente.
Conforme observado no mapa, nota-se que as Formações Florestais nativas são a classe
dominante da ocupação de APPs ripárias urbanas de Santa Maria, com cerca de 34% do uso do
solo em relação ao total de APPs hidrográficas do Distrito Sede de Santa Maria (Figura 4). Este
fato ocorre devido aos remanescentes de Mata Atlântica ainda presentes ao Norte, no entorno
do Vacacaí-Mirim, ao Sul, nas margens do Arroio Passo das Tropas e no Arroio Ferreira, em sua
extensão no limite Oeste do Distrito Sede.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 101

Figura 4 – Gráfico demonstrativo do uso do solo nas APPs hidrográficas urbanas de Santa
Maria, RS, Brasil

Fonte: Elaborado por Natália Huber da Silva.

As formações campestres se encontram na sequência em questão de taxas de uso de


APPs hidrográficas urbanas em Santa Maria, com cerca de 23% da área ocupada. As únicas
regiões em que não se observa a presença desta classe é na região centro e nestas, ainda há
probabilidade de ou serem vegetação nativa do Bioma Pampa, ou estarem em processo de
recuperação em estágio sucessional primário da Mata Atlântica.
A terceira classe predominante de uso e cobertura do solo nas APPs de cursos d’água de
Santa Maria, foi a de Infraestrutura Urbana, com cerca de 20% de ocupação impermeabilizada
em áreas de preservação permanente ripárias do perímetro urbano. Estas somam 3,9 km² de
vegetação ciliar já em situação irreversível de conservação em Santa Maria, o que equivale ao
tamanho de 546 campos de futebol.
Mesmo em zona urbana, o município possui áreas de agricultura e pastagem, que somam
12% da área de APPs ripárias do Distrito Sede municipal. Considera-se este, um número ele-
vado para atividades do setor primário inseridas em uma área que objetiva predominante-
mente a ocupação e desenvolvimento do setor terciário.
Mostrados os dados acima, nota-se que há uma dificuldade dentro do Distrito Sede de
Santa Maria em manter APPs ripárias, mesmo que ainda não ocupadas por infraestruturas
urbanas, somando-se apenas um terço destas áreas como florestadas. Com isso, a primeira
medida sugerida à gestão é um investimento maior na fiscalização ambiental em processos de
licenciamento ambiental de novos loteamentos do município, principalmente durante o
período da Licença de Instalação, quando as obras de esgotamento, drenagem e pavimentação
de ruas é realizado. Ainda se ressalta que deve ser dada maior atenção às áreas mais adensa-
das, havendo necessidade de um mapeamento de zonas de risco para a água em Santa Maria.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


102 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Após este mapeamento, podem ser idealizados e implementados projetos de reconstrução de


APPs, com pesquisa em parceria das universidades com o executivo municipal.
Apesar de diversos programas de educação ambiental sendo executados em projetos de
extensão universitária e dentro das próprias escolas, a consciência ambiental da população
não atingida por estes ainda não está bem formada. Assim, é extremamente necessário um
investimento em educação ambiental informal, através das redes sociais da prefeitura, que
estão muito populares com as campanhas de vacinação contra Covid-19 neste ano de 2021 e,
igualmente, campanhas midiáticas televisivas em horários nobres como nos intervalos dos jor-
nais locais nas redes televisivas abertas.
Ademais, o caráter proibitivo da legislação ambiental nacional e municipal de uso das
APPs urbanas pode ser discutido como um empecilho à conservação das margens de rios, nas-
centes ou olhos d’água. O uso sustentável é permitido para populações rurais em vulnerabili-
dade, mas na zona urbana não há flexibilidade na lei e, talvez, por isso, estas não sejam tão
efetivas. Hortas coletivas, associação com áreas verdes obrigatórias de loteamentos, formação
de corredor de fauna urbana, extração florestal sustentável com o plantio de nativas, prática
de esportes como arvorismo e trilhas, educação prática ambiental, observação de aves, podem
ser citadas como exemplo de atividades que poderiam ser executadas em APPs urbanas e tra-
riam mais impactos positivos do que negativos ao meio ambiente e à qualidade de vida da
população, pois se que a saúde está estritamente relacionada a questões sanitárias.
O potencial santa-mariense para a conservação e valorização do meio-ambiente é
grandioso e, considerando sua riqueza de recurso hídricos urbanos, estes poderiam ter sido
historicamente melhor usufruídos. Espera-se que novos empreendedores do setor da cons-
trução civil e o poder público saibam observar e enaltecer suas paisagens ao planejá-las, afi-
nal: água é lazer, é saúde, é beleza. Destarte, assim como a bacia hidrográfica é a unidade
territorial para a gestão, os recursos hídricos, por menores que sejam, devem ser considera-
dos a principal fonte de planejamento territorial, devendo ser exaltados e não escondidos,
como tem ocorrido.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Santa Maria ainda possui cerca de um terço de suas áreas de preservação permanentes
hidrográficas urbanas conservadas, sendo cobertas por floresta nativa da Mata Atlântica, dado
este que é digno de consideração, devido à cultura da cidade-máquina e ruralista em que se
situa. No entanto, estes outros dois terços de APPs ocupadas por infraestrutura urbana, campos,
pastagens e lavouras, carece de atenção do poder público, sendo necessário um planejamento da
conservação dos recursos hídricos municipais. Antes disso, o investimento em educação informal
através das mídias é fundamental, a fim de conscientização de todas as faixas etárias sobre a
importância da proteção das margens ripárias para o desenvolvimento sustentável.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 103

5 REFERÊNCIAS
ALVES, D. B.; FIGUEIRÓ, A. S. Olhares e reflexões acerca da perda de cobertura vegetal na paisagem urbana
de Santa Maria. In: FOLETO, E. M.; NASCIMENTO, D. B (org). Áreas Protegidas: Discussões e desafios a partir da
Região Central do Rio Grande do Sul. Santa Maria: Editora UFSM, 2014. p. 120-137.
BRASIL. Lei nº 12.651, 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos
6.938, de 31 de agosto de 1981 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006;
revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no
2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Casa Civil: Brasília. 2012.
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IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Portal de Mapas do IBGE. Disponível em: https://
cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/passo-fundo/panorama. Acesso em: 11 set. 2021.
SANTA MARIA. Decreto Executivo nº 74, de 6 de setembro de 2016. Cria o Parque Natural Municipal dos
Morros – PNMM, dispõe sobre os seus limites, zona de amortecimento e dá outras providências. Secretaria de
Meio Ambiente: Santa Maria. 2016.
SANTA MARIA. Lei Complementar nº 117, de 26 de julho de 2018. Institui a Lei de Uso e Ocupação do Solo,
Parcelamento, Perímetro Urbano e Sistema Viário do Município de Santa Maria. Secretaria de Município de
Gestão e Modernização Administrativa: Santa Maria. 2018b.
SANTA MARIA. Lei Complementar nº 118, de 26 de julho de 2018. Dispõe sobre a Política de Desenvolvimento
Sustentável e sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Territorial do Município de Santa Maria. Secretaria de
Município de Gestão e Modernização Administrativa: Santa Maria. 2018a.
SOUZA et al. Reconstructing Three Decades of Land Use and Land Cover Changes in Brazilian Biomes with
Landsat Archive and Earth Engine – Remote Sensing, Volume 12, Issue 17, 10.3390/rs12172735. 2020.
SUTILI, F.J.; DURLO, M.A.; BRESSAN, D.A. Hidrografia de Santa Maria. Revista Ciência & Ambiente, n. 38. p.
79-92, 2009.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


8. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO
CHÃO NA COMUNIDADE AGRÍCOLA NOVA
ESPERANÇA, MANAUS-AM

SAMARA AQUINO MAIA1


FRANKILANDIOTEIXEIRA COSTA2
JOÃO CARLOS DE QUEIROZ NETO3
RONILSON VASCONCELOS BARBOSA4

Resumo: A definição da qualidade físico-química das águas subterrâneas está atrelada a análise
química laboratorial para confirmar ou refutar a contaminação das águas por agentes poluidores.
Quando se trata da água para consumo humano, a temática se torna mais sensível, uma vez que
estão sendo utilizadas por usuários que não possuem saneamento básico, ou até mesmo, condi-
ções financeiras para realizar análise laboratorial dos indicadores de qualidade da água. Visto isso,
o objetivo desse trabalho preliminar é avaliar a qualidade da água dos poços artesianos no aquí-
fero Alter do Chão na comunidade agrícola Nova Esperança localizada na zona leste da cidade de
Manaus-AM, através da análise de parâmetros físico-químicos de amostras de água coletadas,
relacionando com atividades antrópicas e fontes potenciais de contaminação. Com isso, estão
sendo apresentados três indicadores de qualidade da água: potencial hidrogeniônico, condutivi-
dade elétrica (µS/cm) e sólidos totais dissolvidos (mg/l). Foram identificados valores anormais de
pH que deveriam ter valores ácidos de acordo com a geologia da região amazônica; o valor elevado
de condutividade elétrica em relação aos aspectos naturais sugere um aporte de sais dissolvidos
na água. Neste contexto, um poço destacou– se por apresentar valores de condutividade elétrica
de 283 µS/cm e 142 mg/l de sólidos totais dissolvidos. Portanto, nesta análise preliminar, detecta-
ram– se alterações na qualidade da água nos poços de captação de água na Comunidade Agrícola
Nova Esperança, em relação ao pH, condutividade e sólidos totais dissolvidos. A baixa profundi-
dade e inexistência de atendimento às normas técnicas para construção e operação desses poços.
Palavras-chave: Águas subterrâneas. Potenciais de contaminação. Consumo humano.

1 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: sam.mgr21@uea.edu.br
2 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: ftc.mgr21@uea.edu.br;
3 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: jcdqn.mgr21@uea.edu.br
4 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: rvb.mgr21@uea.edu.br

[ 104 ]
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO CHÃO 105

Abstract: The definition of the physicochemical quality of groundwater is linked to laboratory che-
mical analysis to confirm or refute water contamination by polluting agents. When it comes to
water for human consumption, the issue becomes more sensitive, since it is being used by agents
who do not have basic sanitation, or even financial conditions to carry out laboratory analysis of
water quality indicators. Therefore, the objective of this preliminary work is to evaluate the water
quality of artesian wells in the Alter do Chão aquifer in the Nova Esperance agricultural community
located in the eastern zone of the city of Manaus-AM, through the analysis of physical-chemical
parameters of water samples collected, relating to human activities and potential sources of con-
tamination. Thus, three water quality indicators are being presented: hydrogen potential, electri-
cal conductivity (µS/cm) and total dissolved solids (mg/l). Abnormal pH values ​​were identified that
should have acidic values ​​according to the geology of the Amazon region; the high value of electri-
cal conductivity in relation to natural aspects suggests a contribution of dissolved salts in the
water. In this context, one well stood out for presenting electrical conductivity values ​​of 283 µS/
cm and 142 mg/l of total dissolved solids. Therefore, in this preliminary analysis, changes in water
quality were detected in the water catchment wells in the Nova Esperance Agricultural Community,
in relation to pH, conductivity and total dissolved solids. The low depth and lack of compliance
with technical standards for construction and operation of these wells require more.
Keywords – Ground water. Water quality. Contamination potentials. Human consumption.

1 INTRODUÇÃO
As águas subterrâneas são essenciais para o abastecimento público, possuem boa quali-
dade e menor custo financeiro para se tornarem disponíveis ao consumo humano, passando
apenas pela desinfecção com cloro e adição de flúor. Porém, diante da má utilização das terras
e a falta de planejamento da gestão pública tem-se observado um aumento da contaminação
dessas águas nas últimas décadas (MANZIONE, 2015). Para ANA (2007) as principais fontes de
contaminação das águas subterrâneas estão relacionadas com a construção dos poços, sem
levar em consideração as normas técnicas, o esgotamento sanitário pela falta de saneamento,
os resíduos sólidos dispostos em locais inadequados. O chorume resultante desses resíduos
que penetram nas camadas profundas do solo e podem alcançar o lençol freático, práticas ado-
tadas na agricultura, como, por exemplo, a adição de fertilizantes nas plantações.
O crescimento populacional na cidade Manaus tem contribuído para o aumento do con-
sumo da água subterrânea; a frágil política de expansão da rede de serviço e a falta de fiscali-
zação, têm ocasionado a abertura irregulares, sem nenhum estudo técnico para implantação
do poço em áreas suscetíveis à contaminação. Isto resulta no possível comprometimento da
qualidade da água para uso e consumo e tem por consequência da contaminação dos lençóis
freáticos, podendo comprometer a qualidade da água para uso e consumo e contribuir para a
contaminação dos lençóis freáticos.
Perante o exposto, os estudos prévios de análise e qualidade das águas e identificação de
fatores de contaminação da água são necessários para avaliar a situação atual e investir na melho-
ria de políticas públicas de conservação e controle das águas subterrâneas (COSTA et al., 2004). A
demanda por água em casa, nesse momento de pandemia da Covid-19 provocada pelo novo
coronavírus, pode ter agravado o problema dado este a ser explorado em outros trabalhos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


106 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Uma das formas de analisar a qualidade das águas subterrâneas é por meio de parâme-
tros físicos e químicos. Dentre estes, pode-se citar parâmetros que podem ser obtidos facil-
mente in situ através de sondas multiparâmetros. Esses equipamentos podem mensurar
diversos parâmetros, como a condutividade elétrica, os sólidos totais dissolvidos, temperatura,
oxigênio dissolvido e o potencial hidrogeniônico (LAUREANO et al., 2020).
A instalação da população em áreas que não possuem um controle do uso e ocupação do
espaço urbano, nem infraestrutura instalada, como o saneamento básico, traz como conse-
quências a proliferação de diversos problemas, uma vez que os moradores vão recorrer a
meios alternativos para suprir a falta desses conjuntos de serviços, principalmente, se tratando
de água para consumo humano.
A abertura de poços tanto para consumo humano quanto para o uso na irrigação das
lavouras pode estar contaminada por esgoto doméstico e produtos químicos utilizados nas
plantações agrícolas que estão localizada no entorno dessas fontes de captação de água.
Alterando os índices de qualidade das águas do lençol freático e consequentemente gerando
complicações, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública. Portanto, fez-se neces-
sário levantamento preliminar das condições ambientais e físico-químico das águas que abas-
tecem as residências da Comunidade Agrícola Nova Esperança.
Neste contexto, o objetivo desse trabalho foi identificar possíveis alterações na quali-
dade da água dos poços no aquífero Alter do Chão na comunidade agrícola Nova Esperança,
localizada na zona leste da cidade de Manaus-AM, através da análise de parâmetros físico-quí-
micos de amostras de água, relacionando com atividades antrópicas e fontes potenciais de
contaminação.

2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
A área de estudo está situada na zona leste da cidade de Manaus no bairro Jorge Teixeira
IV etapa, na Comunidade Agrícola Nova Esperança, inserida na bacia hidrográfica do Mindu,
microbacia Nova Esperança (Figura 1), segundo os dados do (AMAZONAS, 2009) a população
estimada do ano de 2009 dessa área é de 426 famílias, sendo apenas 98 que trabalham com
agricultura familiar urbana. “O clima da região é tropical úmido” (ALVES et al. p.2, 2019). O
aquífero predominante – Alter do Chão formado por rochas sedimentares das formações
superficiais cenozóicas, com boa capacidade de armazenamento e fornecimento de água,
devido a porosidade primária e alta permeabilidade dos terrenos arenosos (BRASIL, 2012).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO CHÃO 107

Figura 1 –Localização da área de estudo – Comunidade Agrícola Nova Esperança

Fonte: IBGE, 2014. Google Earth, 2019.

Quadro 1 – Caracterização dos poços de captação da água

Poço Lat Long Profundidade (m) Usos

1 3° 0’34.84”S 59°55’26.85”O 29 Irrigação de hortaliças.

Consumo humano, uso doméstico,


2 3° 0’44.72”S 59°55’28.91”O 24
irrigação de hortaliças.
Consumo humano, uso doméstico,
3 3° 0’52.82”S 59°55’14.07”O 12
irrigação de hortaliças.
Consumo humano, uso doméstico,
4 3° 1’4.87”S 59°55’5.89”O 18
irrigação de hortaliças.

5 3° 1’9.34”S 59°55’27.04”O Sem dado Uso doméstico.


Fonte: Os autores (2021).

A espacialização dos pontos amostrais na área de cultivo agrícola foi de acordo com os
setores: superior, médio e inferior do igarapé (figura 1). Os cinco poços foram escolhidos de
acordo com essa distribuição para demonstrar uma análise preliminar de como está a quali-
dade da água da comunidade agrícola Nova Esperança.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


108 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Os poços possuem caracterização ambiental e antrópica diferenciado (tabela 1) no seu


entorno assim como profundidade: o poço 1 (figura 2 A) com profundidade de 29 m, está
situado no início da vertente, o seu entorno possui solo exposto, vegetação arbórea e cultivo
agrícola; o poço 2 (figura 2 B), está próximo ao igarapé Nova Esperança, no entorno tem maior
intensidade de cultivo agrícola; o poço 3 (figura 2 C) estar localizado no médio curso do canal,
profundidade de 12 metros, vegetação arbórea no entorno; o poço 4 (figura 2 D) está situado
em uma área com maior intensidade de residências e cultivo agrícola; o ponto 5 (figura 2 E)
está situado na foz da comunidade agrícola, esse está localizado em uma área com maior inten-
sidade de residências e pouca área vegetal.

Figura 2 – Poços de captação de água – Comunidade Nova Esperança

Fonte – os autores (2021).

2.2 Procedimentos metodológicos


Foram realizadas duas visitas in loco: A primeira (31/05/2021) para identificar e georrefe-
renciar os pontos de medição das variáveis para análise preliminar; a segunda (01/06/2021)
consistiu na coleta e medidas dos parâmetros estabelecidos. Foram obtidos em campo valores
de três parâmetros: o pH, a condutividade elétrica e os sólidos totais dissolvidos por meio da
sonda multiparâmetro. Antes de realizar as análises, deixou-se por 5 minutos a bomba do poço
funcionando para minimizar a influência da água parada no bombeamento. Após este tempo,
foi coletada uma amostra da água em um recipiente previamente enxaguado com água desti-
lada e ambientado com a água do próprio poço (CETESB, 2011).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO CHÃO 109

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ocorrência de poços artesianos na cidade de Manaus com profundidades abaixo de 30
metros não é novidade e, no geral, são utilizados para abastecimento doméstico. Por serem
considerados poços rasos, estão sujeitos a contaminação por esgotos, fossas das residências e
outras fontes poluidoras. A população recorre a essas fontes de abastecimento individual pelo
fato de não serem atendidas pela rede de distribuição de água encanada e de tratamento de
esgoto. A maioria desses poços não possuem análises de qualidade da água e são construídos
sem seguir as normas técnicas brasileiras para perfuração de poços (COSTA et al., 2004).
Os valores de pH obtidos variaram de 4,36, no poço 5, sendo considerado ácido, a 7,42,
no poço 2, classificado como de caráter básico. Em relação à hidroquímica da região de estudo,
espera –se que as águas coletadas sejam ácidas, com valores de pH menores que 6. Foi o que
constatou Silva e Silva (2007) quando analisaram o perfil da qualidade das águas subterrâneas
de Manaus através de análises físicas e químicas, em 14 poços tubulares com profundidades
variando entre 66 m e 228 m. O menor e o maior valor de pH relatado foi de 3,3 e 5,7 respec-
tivamente. O baixo valor de pH foi associado à pobreza química do solo e recarga rápida do
aquífero Alter do chão. Logo, os valores obtidos nos poços 1, 2 e 3 estão em desacordo com o
que se espera para a região (Figura 3).

Figura 3 – Valores de pH obtidos na análise de água de cinco poços artesianos na


Comunidade Agrícola Nova Esperança, bairro Jorge Teixeira IV, Manaus– AM

Fonte: Os autores (2021).

A condutividade das águas dos poços analisados oscilou de 16,9 µS/cm a 283 µS/cm. O
maior valor de condutividade obtido nesta pesquisa ocorreu no poço 5 e apresenta um valor
bem acima do encontrado nos demais poços (Figura3. Em condições naturais, as águas do
Aquífero Alter do Chão são consideradas “moles”, com baixas concentrações de cátions e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


110 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

ânions e apresentam baixos valores de condutividade elétrica, conforme encontrado nos poços
1, 2, 3 e 4 (SILVA e SILVA, 2007). Gonzales e Miranda (2015) corroboram com essa constatação
de que as águas do Aquífero Alter do Chão são pouco mineralizadas ao relatarem em seus estu-
dos, valores de condutividade que variaram de 9,39 µS/cm à 22,36 µS/cm.
A alta condutividade encontrada no poço 5 coincide também com o menor valor de pH
obtido neste estudo. Esta observação também é similar ao encontrado em um poço analisado
por Silva e Silva (2007) em Manaus, onde o valor de pH foi o menor relatado (3,3) e o de con-
dutividade maior do que nos demais outros poços na cidade (116,7 µS/cm), o que foi conside-
rado como anômulo pelos autores.

Figura 4 – Valores de Condutividade (µS/cm) obtidos na análise de água de cinco


poços artesianos Comunidade Agrícola Nova Esperança, bairro Jorge Teixeira IV,
Manaus– AM

Fonte: Os autores (2021).

Os valores dos sólidos totais dissolvidos (Figura 5) variaram de 8,28 mg/l, no poço 3, a
142 mg/l no poço 5. Novamente o poço 5 foi o que apresentou valor alterado em relação aos
demais pontos analisados. A portaria do Ministério da Saúde n° 2.914, de 12 de dezembro de
2011, que “dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade” estabelece o valor máximo permitido de
1.000 mg/l de sólidos totais dissolvidos. Logo, em nenhum poço foram identificados valores
iguais ou superiores ao da portaria do Ministério da Saúde.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO CHÃO 111

Figura 5 – Valores de Sólidos totais dissolvidos (mg/l) obtidos na análise de água de


cinco poços artesianos na Comunidade Agrícola Nova Esperança, bairro Jorge
Teixeira IV, Manaus– AM

Fonte: Os autores (2021

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho realizou análise preliminar da qualidade da água dos poços de cap-
tação no aquífero Alter do Chão, na comunidade agrícola Nova Esperança, através de três
variáveis físico-químicas. Com os valores obtidos do potencial hidrogeniônico (pH) variaram
desde ácido a básico, levando em consideração que o pH acima de sete não condiz com as con-
dições naturais do Aquífero Alter do chão.
Na maioria dos poços o valor da condutividade elétrica estava dentro do aceitável para
águas com baixa concentração de cátion e aníons. Isso foi observado em relação aos sólidos
totais dissolvidos. Com exceção de um poço que apresentou resultados anômalos.
Esses resultados indicam possível contaminação da qualidade das águas nesses em
alguns poços de captação, uma vez que foram constatadas alterações de parâmetros analisa-
dos, logo, mas ainda são necessários estudos mais aprofundados e com mais indicadores de
qualidade da água para contribuir com as pesquisas sobre a temática agricultura urbana e cap-
tação de água subterrânea.
Considera-se que esse trabalho é essencial para a gestão das águas subterrâneas, forne-
cendo resultados que contribuem com as tomadas de decisão pelos gestores de recursos hídri-
cos locais, além de refletir sobre vulnerabilidade social desses comunitários que não possuem
conhecimento técnico da potabilidade para o consumo humano e segurança alimentar, uma
vez que utilizam essas águas para irrigação das culturas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


112 Natália Huber da Silva; Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

AGRADECIMENTOS
À Agência Nacional de Águas (ANA) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior -CAPES. Ao Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão e Regulação
em Recursos Hídricos (ProfÁgua). À Universidade do Estado do Amazonas– UEA. À Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, a qual disponibiliza recursos financeiros
aos discentes do programa. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia– INPA cujo foi o
responsável pelos recursos materiais e humano para a realização dessa pesquisa.

5 REFERÊNCIAS
ALVES et al,. Classificação climática para o estado do Amazonas segundo as zonas de vida holdridge.
AMAZONIAN JOURNAL OF AGRICULTURAL AND ENVIRONMENTAL SCIENCES / REVISTA DE CIÊNCIAS
AGRÁRIAS, v. 62, p. 1-12, 2019.
AMAZONAS. Instituto de desenvolvimento agropecuário e florestal do Estado. Levantamento para
diagnóstico da Comunidade Nova Esperança, 2009.
BRASIL. Agência Nacional de Águas. Panorama do enquadramento dos corpos d’água do Brasil, e, Panorama
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LAUREANO, J. J. et al. Análise da qualidade da água subterrânea: estudo de caso na microbacia do Igarapé
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MANZIONE, R. L. Águas Subterrâneas: Conceitos e Aplicações sob uma Visão Multidisciplinar. Jundiaí– SP, p.
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(1), p. 1-15, 2007.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


9. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO
AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE DAS NASCENTES 1 E 2 DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
QUATI – LONDRINA-PR

VITÓRIA ALVES DE MORAIS 1


GILNEI MACHADO2

Resumo: A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati está localizada na região norte da área urbana de
Londrina/PR e possui registros de ocupação desde 1930, inicialmente com utilização para a agri-
cultura com as plantações de café e posteriormente com atividades urbanas. A pesquisa ora con-
cluída se propôs a realizar o levantamento da situação ambiental das nascentes 1 e 2 da referida
bacia. Através do software ArcMap 10.5 conseguiu-se delimitar as áreas de preservação perma-
nente no entorno das nascentes, a partir das quais foi possível determinar os usos que atualmente
encontramos nestas áreas. O mesmo software tornou possível a elaboração de um mapa de NDVI
ou de Índice de Vegetação, bem como a elaboração de uma composição colorida falsa-cor com as
bandas 4 (R), 3 (G) e 1 (B) do satélite CBERS – 4A, de alta resolução, que facilitou identificar os usos
existentes na área. Os dados gerados demonstraram que a nascente 1 está em condições ruins de
preservação, enquanto a nascente 2 se apresenta em condições Razoáveis. Com isso foi possível
perceber que a situação das nascentes não está de acordo com o estabelecido na Lei 12.251/2012,
que determina a proteção e o uso sustentável da vegetação nativa em Áreas de APP. Recomenda-se
que as nascentes da bacia do Ribeirão Quati recebam mais atenção por parte dos Gestores Públicos
e da população próxima, no sentido de recuperar sua cobertura vegetal e preservá-las.
Palavras-Chave: Nascentes; bacias hidrográficas urbanas; degradação ambiental.
Abstract: The Ribeirão Quati Hydrographic Basin is located in the northern region of the urban area
of Londrina/PR and has been occupated since 1930, initially with coffee plantations and later with
urban activities. The research now concluded was intended to carry out a survey of the environmen-
tal situation of springs 1 and 2 of the referred basin. Through the ArcMap 10.5 software it was possi-
ble to delimit the permanent preservation areas around the springs, from which it was possible to
determine the uses that we currently find in these areas. The same software made possible the ela-
boration of an NDVI or Vegetation Index map, as well as the elaboration of a false-color color com-
position with bands 4 (R), 3 (G) and 1 (B) of the CBERS satellite – 4A, high resolution, which facilitated
the identification of existing uses in the area. The data generated showed that spring 1 is in poor

1 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: vitoria.alves.morais@uel.br


2 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gilnei@uel.br

[ 113 ]
114 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado

conditions of preservation, while spring 2 is in reasonable conditions. With this, it was possible to see
that the situation of the springs is not in accordance with what is established in law 12.251/2012,
which determines the protection of native vegetation in APP areas. It is recommended that the sour-
ces of the Ribeirão Quati basin receive more attention from Public Managers and the surrounding
population, in order to recover their vegetation cover and preserve them.
Keywords: Spring; urban hydrographic basins; ambiental degradation.

1 INTRODUÇÃO
As nascentes podem ser classificadas, segundo Castro e Gomes (2001), em três diferen-
tes tipos: efêmeras (permanecem com um grande fluxo de água durante as chuvas, mas desa-
parecem em horas ou dias), perenes (possuem água em todas as estações) e temporárias
(grande fluxo de água em períodos de chuva).
De acordo com o Caderno de Mata Ciliar (2009, p.04), publicado pelo Governo do Estado
de São Paulo, nascente corresponde a todo e qualquer afloramento do lençol freático na super-
fície do solo, que dá origem a uma fonte de água ou à cursos d’água (regatos, ribeirões, córre-
gos e rios). Portanto, é um bem natural que, pela sua importância, para a preservação da fauna
e da flora, para a manutenção da qualidade de vida das populações, para a manutenção da
quantidade e da qualidade de água e dos ecossistemas a elas associados, necessita de cons-
tante cuidado, manutenção e preservação.
Localizada quase sempre nas partes mais altas do terreno, as nascentes têm suas águas
derivadas dos aquíferos ou lençóis subterrâneos que, por sua vez, alimentarão córregos, ria-
chos ou lagos, sustentando assim, o contínuo fluxo hídrico das bacias hidrográficas.
A vegetação existente ao redor dos cursos d’água e nascentes são consideradas Áreas de
Preservação Permanente (APP), pela Lei Federal nº 12.651/2012, que institui o Código Florestal
Brasileiro (BRASIL, 2012), sendo 30 metros para os rios de menor porte e 50 metros de raio no
entorno das nascentes (BRASIL, 2012).
Considerando os aspectos apresentados, a presente pesquisa buscou estudar as condi-
ções ambientais das nascentes 1 e 2 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati, localizada na área
urbana de Londrina, no estado do Paraná (PR) (Figura 1).
A ocupação da área de estudo começou a ocorrer entre as décadas de 1920 e 1930 devido
as lavouras de café. Entre os anos de 1960 e 1980 iniciou-se o processo de urbanização do espaço,
fato que acarretou mudanças significativas em sua vegetação natural e na qualidade da água do
local (MACHADO; SILVA, 2016). Dos anos 1990 aos dias atuais esse processo de urbanização se
intensificou (SILVA, 2017), o que certamente, provocou maior pressão sobre as nascentes.
Entre os anos de 1990 a 1995 oito loteamentos foram criados. De acordo com o IPPUL
(Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), entre 1995 e 2008, treze lotea-
mentos foram criados na área da bacia, sendo em maioria, originados a partir de iniciativas pri-
vadas (SILVA, 2017).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 1 e 2 115

Figura 1 – Localização das Nascentes da Bacia Hidrográfica Ribeirão Quati

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

As transformações do uso da terra na bacia do ribeirão Quati entre 1974 a 2017 foram
mapeadas por Silva (2017), utilizando critérios de classificação em quatro categorias: residen-
cial, agropastoril, solo exposto e vegetação florestal, como apresentado na Figura 2.
Pode-se observar que a partir de 2002 ocorre uma recuperação da vegetação marginal,
porém sua funcionalidade é apenas aparente, pois não abrange a margem de 30 metros exigida na
legislação brasileira (Lei Federal Nº 12.651, de 25 de maio de 2012) para cursos de água com até 10
metros de largura. Com isso, percebe-se apropriações do espaço que deveria ser destinado às APPs,
inclusive das áreas de nascente sendo a fina cobertura vegetal utilizada como camuflagem para
usos inadequados pela população e indústrias que em suas margens se localizam.
Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é realizar a caracterização da situação ambiental
atual das áreas das nascentes 1 e 2 da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, através da identifica-
ção dos tipos de uso e cobertura do solo, e a comparação de seus Índice de Cobertura Vegetal.
A bacia do Ribeirão Quati é uma pequena bacia cujo rio principal tem cerca de 8,5 kms
de extensão e que corre no sentido oeste-leste da área urbana de Londrina, desde o Bairro
Leonor até o Bairro Mister Thomas. Ela possui apenas um afluente de destaque que é o Córrego
Bom Retiro, que possui um subafluente na área conhecida como “Buracão”, na Vila Recreio.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


116 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado

Desta forma a bacia apresente um rio principal, dois afluentes e um subafluente, perfazendo
um total de quatro nascentes.

2 METODOLOGIA
Para a realização deste estudo sobre a bacia hidrográfica do Ribeirão Quati foi inicial-
mente, necessário fazer o levantamento das nascentes existentes nesta bacia. Para tanto, foi
utilizado o software ARCMap® 10.5, e sua ferramenta Feature to Point, a partir da qual fez-se a
criação de um arquivo shape de pontos (Figura 1) a se localizarem nas extremidades das linhas
correspondentes aos córregos existentes na área.
Com a utilização da ferramenta Feature to Point foi possível identificar a existência de 4
nascentes na bacia estudada, sendo 1 do rio principal, 2 em seus afluentes e 1 em um dos suba-
fluentes. Estas nascentes foram divididas em nascentes 1 e 2 e nascentes 3 e 4, sendo que para
esta pesquisa nos debruçaremos sobre as de número 1 e 2 (Figura 1).
Após a identificação e catalogação das nascentes, foi realizado o mapeamento das áreas
de preservação permanentes (APP’s) ao redor delas, através da Ferramenta Buffer do ARCMap®
10.5. Com essa ferramenta foi criado um buffer de 50 metros de raio ao redor das nascentes,
que por sua vez, corresponde às Áreas de Preservação Permanente.
Com o arquivo shape criado por este Buffer, foi realizado o recorte da imagem de satélite
CBERS – 4, na sua composição colorida falsa cor nas bandas 4 (R), 3 (G) e 1 (B), a qual possibili-
tou identificar os usos da terra existentes em cada nascente (Figura 2).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 1 e 2 117

Figura 2 – Uso da Terra nas Nascentes 1 e 2 do Ribeirão Quati – LONDRINA-PR

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Com as bandas Vermelho e Infravermelho desta mesma imagem de satélite, foi elabo-
rado o mapa de NDVI da área de estudo (Figura 3). O Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI) expõe ou não a presença de vegetação viva, sendo assim, uma importante
ferramenta de análise ambiental.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


118 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado

Figura 3 – NDVI da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati – LONDRINA-PR

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Para a identificação dos tipos de uso e cobertura do solo nas áreas das nascentes foram
estabelecidas duas classes: o uso arbóreo e os outros usos (Figura 4), já que o Grau de
Preservação foi estabelecido com base na porcentagem de cobertura arbórea.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 1 e 2 119

Figura 4 – Usos na área das Nascentes 1 e 2 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Esta classificação foi realizada com base na ferramenta Iso Cluster Unsupervised
Classification do ARCMap 10.5. Este recorte gerou um arquivo raster (imagem) com todas as
nascentes, que foi transformado em polígonos a partir da ferramenta Raster to Polygon do
ARCMap® 10.5.
Este Grau de Preservação foi estabelecido tendo por base a adaptação da metodologia
de Gomes et al., (2005) os quais propõem as classes A, B, C, D e E e os Graus de Preservação
Ótimo, Bom, Razoável, Ruim e Péssimo embasado em pontuações dadas às nascentes.
Nesta pesquisa não serão utilizadas as pontuações, como proposto pelos autores, porém,
será trabalhado o percentual de cobertura vegetal, o que nos proporcionará chegar ao Grau de
Preservação das nascentes em estudo, como pode ser visto no Quadro 1.
Para determinarmos a situação ambiental e o Grau de Preservação das nascentes da
bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, foi levada em consideração a área total ocupada pela nas-
cente e sua área de preservação permanente, ou seja, a área de 50 metros (Figura 4) no entorno
da mesma e seu tipo de uso e cobertura de solo (vegetação arbórea ou outro).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


120 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado

Quadro 1 – Classificação e Grau de Preservação das Nascentes

Classe Percentual de Cobertura Arbórea % Grau de Preservação

A 100 – 81 Ótimo

B 80 – 61 Bom

C 60 – 41 Razoável

D 40 – 21 Ruim

E 20 – 0 Péssimo

Fonte: Adaptado de Gomes et al., (2005).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Situação Ambiental da APP da Nascente 1


A Figura 4 apresenta as Áreas de Preservação Permanente existentes ao redor das nas-
centes 1 e 2 da bacia do Ribeirão Quati, bem como as respectivas condições de uso da terra
num raio de aproximadamente 50 metros ao redor das mesmas. Nesta imagem a vegetação ou
uso arbóreo foi destacada em verde, enquanto os outros usos (urbano, pastagem etc.) são des-
tacados em vermelho.
Este mapeamento permitiu identificar que a nascente 1 possui um percentual de 28,75%
de cobertura arbórea, em contraposição aos 71,25% de outros usos (pastagem ou urbano etc.).
No Quadro 2 são apresentados os resultados obtidos a partir dos procedimentos adota-
dos. Com eles foi possível classificar a referida nascente como estando em Condições Ruins.
Com o trabalho de campo realizado nas áreas das nascentes 1 e 2, foi possível constatar
como as ações antrópicas têm causado impactos na área em estudo. Na figura 5, por exemplo,
podem ser observados depósitos de resíduos sólidos, como restos de construção, móveis
velhos etc.
O mapa de NDVI apresentado na Figura 3 permitiu detectar a existência de inúmeras
falhas na vegetação ao longo das APPs do Ribeirão Quati. CFabe destacar que estas falhas
estão presentes ao longo de todo o vale do Ribeirão Quati, como também em suas nascentes,
o que demostra que a legislação relacionada às Áreas de Preservação Permanente não tem
sido respeitada na nascente 1, o que é claramente visível em campo (Figura 5).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 1 e 2 121

Quadro 2 – Usos atuais da área da Nascente 1 BH. Ribeirão Quati

Uso Arbóreo % Área Outros Usos % Área Classe

Nascente 1 2252,66m 28,75% 5580,66m 71,25% Ruim

Área Total
7833,33 100%
Buffer (50 m)
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Os trabalhos de campo na área permitiram a identificação de inúmeros processos erosi-


vos acelerados do tipo ravinas e voçorocas, os quais estão senso aterrados com toda sorte de
entulho e materiais.

Figura 5 – Resíduos Sólidos Presentes na Nascente 1

Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

3.2 Situação Ambiental da APP da Nascente 2


A área da nascente 2, ao longo da realização desta pesquisa, passou por um processo de
recuperação mecânico vegetativa, em função da ocorrência de processos erosivos acelerados
provocados por chuvas intensas ocorridas entre o final do ano de 2015 e o início do ano de
2016 (IAPAR, 2015). As feições erosivas do tipo ravinas e voçorocas foram geradas a partir do
escoamento superficial das águas das chuvas e devido ao rompimento de galerias de condução
das águas pluviais.
As obras de recuperação do local terminaram em meados de 2019, com a realização de
aterros, construção de muros de arrimo, canais de drenagem e tubulações. Hoje esta nascente
está completamente recuperada e com uma cobertura vegetal significativa (Figura 6), mesmo
com algumas áreas concretadas em suas adjacências.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


122 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado

Esta nascente está localizada em uma área fechada, onde o acesso é feito por meio de uma
porteira, o que ajuda a evitar que a comunidade lance entulhos no local e resíduos sólidos.
A Figura 5, anteriormente apresentada, destaca os usos existentes na área da nascente
2, assim como os dados do Quadro 3, que por sua vez, permite verificar que cerca de 52,04%
de cobertura arbórea e 47,96% de outros usos na APP desta nascente. Tais valores, portanto,
permititiram classificá-la na classe Razoável.

Figura 6 – Registro Nascente 2

Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Quadro 3 – Usos atuais da área da Nascente 2 BH. Ribeirão Quati.

Uso Arbóreo Área (%) Outros Usos Área (%) Classe

Nascente 2 4076,66m 52,04% 3756,66m 47,96% Razoável

Área Total Buffer


7833,33 100%
(50 m)
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Com os dados analisados pode-se afirmar que a ocupação urbana também contribuiu
para a degradação das áreas de APPs das nascentes 1 e 2 da bacia hidrográfica do Ribeirão
Quati, uma vez que se encontra nas proximidades da nascente 1 a Comunidade BRATAC e pró-
ximo à nascente 2 a Comunidade Pantanal, cujos moradores usam a área destas nascentes
como pastagem ou como local de descarte de materiais diversos.
No caso das nascentes estudadas, sugere-se a aplicação de medidas de proteção como,
por exemplo, identificação de espécies, limpeza e replantio de espécies nativas. Logo, percebe-
-se a importância de projetos de revitalização e recomposição de tais ecossistemas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 1 e 2 123

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante os resultados obtidos por meio desta pesquisa, pode-se afirmar que as nascen-
tes do Ribeirão Quati estão consideravelmente degradadas e as ações antrópicas contribuem
efetivamente para tal, especialmente pelo fato destas ações serem realizadas desde 1960 com
a utilização do local para atividades agrícolas e urbanas.
De acordo com os dados obtidos pôde-se evidenciar que a nascente 1 não possui sua
área de preservação permanente mínima, considerando que a cobertura vegetal arbórea cor-
responde à apenas 28,75% da área, o que a classifica em uma situação RUIM. Já a nascente 2,
se apresenta um pouco mais preservada, mas isso em função de uma série de obras que foram
realizadas entre os anos de 2016 e 2019 em função de processos erosivos que ali ocorreram
devido às chuvas de 2015. Com a recuperação desta área, a nascente 2 foi classificada em
RAZOÁVEL, devido à sua área apresentar 52,04% de cobertura vegetal arbórea.
Após a análise realizada nesta pesquisa, entende-se como premente a recuperação e a
conservação do espaço das nascentes 1 e 2 para adequação das mesmas aos padrões ambien-
tais estabelecidos pela Lei 12.651, de 25 de maio de 2012.
Os principais problemas ambientais identificados nestas áreas são: erosão dos solos,
assoreamento dos cursos d’água, descarte irregular de resíduos sólidos, cortes de árvores,
usos não autorizados, lançamento de efluentes domésticos, presença de animais (cavalo, vaca),
a diminuição das áreas permeáveis, poluição das águas e até mesmo o escoamento superficial
das chuvas.
Sugere-se a proteção e recuperação das nascentes 1 e 2 do Ribeirão Quati, por meio da
criação de projetos e destinação de verbas públicas ou privadas para esta finalidade, a fim de
assegurar a qualidade delas para as atuais e futuras gerações.

5 REFERÊNCIAS
BARROS, M. V. F.; SCOMPARIM, A.; KISH, C. S.; CAVIGLIONE, J. H.; ARANTES, M. R. L.; NAKASHIMA, S. Y.; REIS,
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imagem Landsat 7. RA’EGA, n. 7, Curitiba: UFPR, p. 47-54, 2003.
BRASIL – LEI Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras
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CADERNOS DA MATA CILIAR / Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Departamento de Proteção da
Biodiversidade. – N 1 (2009) – São Paulo: SMA, 2009.
CASTRO. P.S; GOMES, M.A. Técnicas de conservação de nascente. Ação Ambiental, Viçosa, V.4, n.20, p.24-26,
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IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Manual de Recuperação
de áreas degradadas pela mineração. Brasília: IBAMA, 1990.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


124 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado

INMET – INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Anomalias de Precipitação. Disponível em: https://clima.


inmet.gov.br/prec, Acesso em: 22 de outubro de 2021.
MACHADO, Gilnei; SILVA, Edmiler José da. Impactos ambientais causados pela urbanização na bacia
hidrográfica do Ribeirão Quati – LONDRINA-PR: uma análise dos depósitos tecnogênicos. Revista Geographia
Opportuno Tempore, Londrina, v. 2, n. 3, p. 1-16, 2016.
MENDES, A. V. Avaliação Ambiental em Nascentes com o Uso de Ferramentas de Geoprocessamento. 2008,
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SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS. Caderno Nascentes. 2020, 16f.
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SILVA, Edmiler José da. A formação dos depósitos tecnogênicos entre o médio-baixo curso do Ribeirão Quati
– LONDRINA-PR. Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Londrina,
Londrina: UEL, 2017. 103 folhas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


10. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO
AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE DAS NASCENTES 3 E 4 DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
QUATI – LONDRINA-PR

GABRIEL VARGAS OLIVEIRA1


GILNEI MACHADO2

Resumo: A bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati, vem desde a década de 1930 e, mais particularmente
a partir da década de 1960 passando por um processo de degradação ambiental, inicialmente com a
retirada da cobertura vegetal para o plantio de café e criação de gado e posteriormente para a ocupa-
ção urbana. Nesta pesquisa analisamos a situação ambiental das nascentes 3 e 4 desta bacia hidrográ-
fica, localizadas no afluente Córrego Bom Retiro. Usando técnicas de geoprocessamento foram
delimitadas as APPs e os usos da terra nelas presentes e percebeu-se que estas nascentes apresentam
problemas relacionados à ausência de áreas de preservação permanente e à qualidade da água.
Também se percebeu que as nascentes reais foram tubuladas, enterradas e completamente urbaniza-
das e que as nascentes visuais, ou seja, onde as nascentes afloram atualmente, foi transformada em
parque urbano e que elas apresentam cobertura vegetal arbórea esparsa. Sugere-se, a partir desta
pesquisa, que a área das nascentes estudadas seja recuperada com a utilização de espécies nativas.
Destaca-se que a participação popular é importante para o sucesso deste empreendimento.
Palavras-chave: Córrego Bom Retiro; Nascentes; Bacia Hidrográfica; Área de Preservação.
Abstract: The Ribeirão Quati Hydrographic Basin has been used since the 1930s and more partic-
ularly since the 1960s, undergoing a process of environmental degradation, initially with the
removal of vegetation cover for coffee planting and cattle raising and later for urban occupation.
In this research we analyze the environmental situation of springs 3 and 4 of this hydrographic
basin, located in the tributary Córrego Bom Retiro. Using geoprocessing techniques, the APPs and
land uses present in them were delimited and it was noticed that these springs present problems
related to the absence of permanent preservation areas and water quality. It was also noticed that
the real springs were piped, buried and completely urbanized and that the visual springs, that is,
where the springs currently surface, was transformed into an urban park and that they have sparse
tree vegetation cover. It is suggested, from this research, that the area of the studied springs be
recovered with the use of native species. It is noteworthy that popular participation is important
for the success of this venture.

1 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gabriel.vargas@uel.br


2 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gilnei@uel.br

[ 125 ]
126 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado

Keywords: Bom Retiro Stream; Springs; Hydrographic Basin; Preservation Area.

1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica funciona como um sistema aberto, em que os elementos presentes
nele estão intrinsecamente relacionados entre si, e tudo que ocorre em uma determinada área
da bacia, repercute direta ou indiretamente nos rios e na qualidade das águas (LEAL, 1995,
apud LEAL, 2003).
O uso da água pela população e a devolução dos efluentes, sem tratamento, para os rios
gera uma situação de poluição que inviabiliza, geralmente, a utilização do recurso nos canais
fluviais dos centros urbanos (TUCCI, 1997).
Esta situação é bem visualizada na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati (Figura 1), locali-
zada na área urbana de Londrina. Este Ribeirão tem suas nascentes localizadas na zona oeste de
Londrina, no Bairro Leonor, e sua foz no ribeirão Lindóia, na Zona Leste, no Bairro Mister Thomas.
A bacia em estudo foi marcada por processos de degradação ambiental ao longo de sua
ocupação, que até hoje podem ser observados, na forma de ravinamento, voçoracamento e
poluição hídrica. No passado, muitos destes impactos eram causados pelas atividades agrope-
cuárias, porém na atualidade, é a urbanização que gera os mesmos.
A urbanização ocorrida na área, desde a década de 1960, tem gerado o aumento das
áreas impermeáveis e, por conseguinte, da velocidade do escoamento superficial, gerando
ravinas e voçorocas, bem como a produção de sedimentos que escoam para a drenagem
(TUCCI, 1997), causando muitas vezes o recuo a jusante das nascentes, como identificado na
área das nascentes 3 e 4.
Por esta razão que as nascentes em estudo foram divididas em real e visual, real, sendo
onde ocorre o brotamento da água, que foi resultado de observações visuais na região e dados
obtidos no SIGLON, e a visual o resultado da canalização dos brotamentos da região das nas-
centes, como apresentado na (Figura 1).
O volume de chuvas abundantes na região Norte do Paraná, entre os meses de outubro
a março, contribui para a ocorrência destes processos erosivos na bacia hidrográfica do Ribeirão
Quati (SILVA, 2017). Pode-se destacar também os usos inadequados das nascentes, como é o
caso da presença de pastagens ou mesmo de estruturas urbanas.
De acordo com a Lei Federal nº Lei 12.651, de 25 de maio 2012, toda e qualquer área de
nascente, em um raio de 50 metros, deveria ser considerada como Área de Preservação
Permanente, não cabendo aí qualquer tipo de uso que não seja o vegetativo arbóreo.
Desta maneira, esta pesquisa tem por objetivo analisar a situação ambiental atual das
nascentes 3 e 4 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati, localizadas na área urbana de Londrina,
as quais deveriam estar na situação de área de preservação permanente, mas que apresentam
outros usos que não o vegetativo arbóreo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 3 e 4 127

Figura 1 – Localização Nascentes 3 e 4

Fonte: Os Autores(2021).

2 METODOLOGIA
Nesta pesquisa foram utilizados os seguintes materiais:
• Imagens do satélite CBERS® 4A;
• Fotografias obtidas em trabalho de campo;
• Imagens do Google Earth®;
• Imagens tipo Basemap disponibilizadas pela Maxar Technologies®;
• Software ARCMap® 10.5 produzido e distribuído pela ESRI;
• Arquivos Shape de hidrografia, curvas de níveis e arruamento disponíveis no site do
SIGLON da Prefeitura Municipal de Londrina
Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados os seguintes Procedimentos
Metodológicos:
• As Imagens de satélite foram baixadas a partir do site do INPE e classificadas de forma
supervisionada no software ARCMap® 10.5 para a elaboração do mapa de uso do solo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


128 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado

Estas imagens foram úteis também para a identificação da localização das nascentes
da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati;
• Durante a pesquisa foi realizado um trabalho de campo com o objetivo de reconheci-
mento da área de estudo e tomada de fotografias das nascentes. As tomadas fotográ-
ficas tiveram como objetivo a identificação e comprovação das condições ambientais
atuais das mesmas;
• Imagens tipo Basemap disponibilizadas pela Maxar Technologies, utilizadas como
meio de comparação com as imagens CBERS®, em função de sua resolução, para con-
ferência dos resultados obtidos naquelas imagens. Essa imagem data de 27/04/2020;
• O Software ARCMap®, produzido e distribuído pela ESRI®, foi utilizado como ferra-
menta para a confecção dos mapas de localização, de identificação das nascentes,
delimitação da área de estudo e de uso do solo, por meio de sobreposição de dados
shape, vetorização e manipulação de imagens;
• Por meio dos arquivos shape de hidrografia foi confeccionado o mapa de hidrografia
ou rede de drenagem da bacia em estudo. As curvas de nível permitiram a delimitação
da área de pesquisa e arruamento a identificação da área urbana nela existente. Todos
estes shapes estão disponíveis no site do SIGLON da Prefeitura Municipal de Londrina;
• Foram criados buffers, de 50 metros seguindo as APPs, e pontos identificando os
padrões das regiões das nascentes 3 e 4, que foram divididas em nascente real e nas-
cente visual, sendo a nascente real a localização verdadeira da nascente do ribeirão,
enquanto a visual é onde ela se encontra atualmente;
• Foi feita a classificação visual da região, dividida em 3 temas, gramínea, urbano e
vegetação arbórea esparsa, dentro de um buffer de 50 metros ao redor das nascen-
tes. A partir daí cada uso foi recortado separadamente para obter-se a área de cada
um deles;
• Dentro do Arcmap, usando a tabela de atributos gerada na criação das classificações,
foi calculada a área de cada um dos temas dentro de cada opção de nascente, esses
dados foram transferidos para o Microsoft Excel onde foi calculada a proporção de
cada parte.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Bacia do Ribeirão Quati apresenta quatro nascentes, as mais importantes são denomi-
nadas de 1 e 2 e se apresentam mais bem conservadas, em relação às nascentes 3 e 4, isso
quando se leva em consideração a presença de cobertura arbórea. Porém, quando se leva em
conta a presença de resíduos sólidos, lançamento de efluentes e a presença de processos ero-
sivos (ravinas e voçorocas) as nascentes 3 e 4 estão em melhores condições, mas ainda assim
em uma situação delicada, por apresentarem cobertura vegetal esparsa.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 3 e 4 129

A realização da pesquisa mostrou-nos que o uso de softwares de sensoriamento remoto,


como o ARCMap 10.5, contribui para o entendimento de como as áreas de nascentes e fundos de
vale se encontram, uma vez que ao utilizar ferramentas destes softwares e processar os dados
referentes à estas áreas pode-se chegar a classificação dos usos presentes em cada delas.
Para esta pesquisa delimitou-se 3 tipos de usos básicos, a saber: uso urbano, uso arbó-
reo, e uso por gramínea. Os mesmos foram mapeados a partir da classificação supervisionada
da imagem do satélite CBERS 4, composição colorida RGB com as bandas 4, 3 e 1.
Com a classificação supervisionada, pode-se, por meio do software, organizar os pixels
da imagem com valores iguais ou semelhantes e, assim criar feições de uso, as quais possibili-
tarão gerar mapas de uso da área estudada.
Ao realizar trabalho de campo na área das nascentes 3 e 4 da bacia hidrográfica do
Ribeirão Quati, percebeu-se que as mesmas apresentaram deslocamento ao longo do tempo,
o que fez com que elas pudessem ser configuradas em Nascente Real, onde elas se localizavam
anteriormente e Nascente Visual, onde elas se localizam atualmente.
As Nascentes visuais, onde podemos ver o afloramento da água atualmente, foram uti-
lizadas para a caracterização do uso do solo da área de estudo, ele sendo feito com as nas-
centes reais.
As nascentes reais apresentam uso eminentemente urbano, o que contribui com a redução
da permeabilidade do solo, contrapondo-se às nascentes visuais e seus arredores, que mostram
cobertura vegetal significativa, porém a água que aí aflora, não se origina nessa região.
Os usos da terra existentes nas áreas de APP das nascentes 3 e 4, tanto reais quanto
visuais, foram divididos em três classes, a saber: Arbórea Esparsa, Gramínea e Urbano. A partir
desta subdivisão foram elaborados mapas de uso da terra. Para elaboração destes mapas uti-
lizou-se a área de 7500 metros quadrados referente ao buffer de 50 metros de raio ao redor de
cada uma das nascentes.
Tendo por base a área do buffer, que ao mesmo tempo se refere à APP ao redor das
nascentes, buscou-se identificar o Grau de Preservação destas áreas. Para isto estipulou-se
uma metodologia que varia de 0 a 100 % de cobertura vegetal, sendo este total dividido em
5 classes:
• 0 a 20% condição péssima;
• 21 a 40% condição ruim;
• 41 a 60% condição razoável;
• de 61 a 80% condição Boa;
• de 81 a 100% condição ótima.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


130 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado

3.1 Caracterização das Condições Ambientais Atuais da Nascente 3


Os mapas de uso da terra elaborados para a nascente 3 Real (Figura 8), mostrou que a
mesmas se apresenta com 31,64% de cobertura de gramínea, 20,25% de uso urbano e 48,10%
(Quadro 1) de cobertura arbórea esparsa. Os usos identificados permitiram classificar essa nas-
cente como tendo uma condição ambiental razoável.
Na nascente 3 Visual (Figura 9), por outro lado, encontrou-se 41,33% de cobertura vege-
tal de gramínea e 58,66% (Quadro 1) de cobertura Arbórea Esparsa, o que permite classificar
esta nascente em condição Razoável.

Quadro 1 – Usos da Terra nas Nascentes 3 Visual e Real

Gramínea Urbano Arbórea Esparsa

Nascente 3 Visual 3100 m² / 41,33% 0 4400 m² / 58,66%

Nascente 3 Real 2500 m² / 31,64% 1600 m² / 20,25% 3800 m² / 48,10%


Fonte: O Autor (2021).

Figura 8 – Nascente 3 Real

Fonte: O Autor (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 3 e 4 131

Figura 9 – Nascente 3 Visual

Fonte: O Autor (2021).

3.2 Caracterização das Condições Ambientais Atuais da Nascente 4


Os mapas de uso da terra elaborados para a nascente 4 Real (Figura 10), mostrou que ela
se apresenta com 10,12% de cobertura arbórea esparsa e 89,87% de uso urbano (Quadro 2).
Os usos identificados permitiram classificar essa nascente como tendo uma condição ambien-
tal Péssima. Na nascente 4 Visual (Figura 11), por outro lado, encontrou-se 97,5% de cobertura
arbórea esparsa e 2,5% (Quadro 2) de uso urbano, o que permite classificar esta nascente em
condição Ótima.

Quadro 2 – Usos da Terra nas Nascentes 3 Visual e Real

Gramínea Urbano Arbórea Esparsa

Nascente 4 Real 0 7100 m² / 89,87% 800 m² / 10.12%

Nascente 4 Visual 0 200 m² / 2,5% 7800 m² / 97.5%


Fonte: O Autor (2021).

Com a análise realizada foi possível perceber que as nascentes 3 e 4 da bacia hidrográfica
do Ribeirão Quati estão fora dos padrões esperados paras as áreas de APPs. Quando conside-
ramos as nascentes Reais percebemos que o Grau de Degradação destas é maior, quando com-
paradas às nascentes Visuais, não que estas estejam em melhores condições que as anteriores,
como é possível verificar na Figuras 11 e 12.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


132 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado

Figura 10 – Nascente 4 Real

Fonte: Os Autores (2021).

Figura 11 – Nascente 4 Visual

Fonte: Os Autores (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 3 e 4 133

Figura 12 – Nascente 4 Visual

Fonte: Os Autores (2021).

Considerando o odor presente na região das nascentes visíveis, e a condição da localiza-


ção das nascentes reais, pode-se inferir que existe uma clara ligação da rede de esgoto com
estas nascentes.
Durante a realização de trabalhos de campo na área de estudo pode-se verificar que exis-
tem processos erosivos superficiais, particularmente na área da nascente 03, os quais podem
ser resultado da ação antrópica, em função da retirada da vegetação no local.
Nas nascentes 3 e 4 visuais, a região passou por um processo de urbanização mudando a
paisagem, para uma situação de parque urbano, que apesar de estar fora das condições das
áreas de preservação permanente, é coberta por vegetação arbórea esparsa, em cuja base
pode ser encontrada gramínea, mas nenhuma vegetação arbustiva.
A presença desta cobertura vegetal arbórea esparsa com gramíneas não anula a possibi-
lidade de haver erosão na área, como já está acontecendo com a região da nascente 3, onde
água erode a margem direita do ribeirão (Figura 14).
Com a criação do parque urbano, a partir das nascentes 3 e 4 visuais, o ribeirão foi cana-
lizado (Figuras 14 e 15), a fim de aumentar a velocidade do fluxo da água e evitar enchentes,
inundações e processos erosivos que eram comuns na área.
A condição da água das nascentes 3 e 4, pode ser considerada problemática, de acordo
com o Índice de Impactos Ambientais Macroscópicos em Nascentes (IIAN) apresentado por
Gomes (2005). O odor sentido no percurso da água, poderia ser classificado como “forte”, o
que indicaria uma possível ligação com a galeria de esgoto, como destacado anteriormente.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


134 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado

Figura 14 – Riacho canalizado com processos erosivos nas margens

Fonte: Os autores (2021).

Figura 15 – Riacho canalizado e seus afluentes tubulados

Fonte: Os Autores (2021).

3.3 Soluções
Pesquisas realizadas por Calheiros et al. (2004), Paula et al. (2009), Baggio et al. (2013)
e Neves et al. (2014) concordam em relação às etapas de recuperação das nascentes. Os
mesmos destacam que, primeiramente, é necessário que a ação de degradação seja inter-
rompida e a área isolada, para que o processo de recuperação ecológica possa ocorrer e que
a área se recupere naturalmente, sem interferências externas. O objetivo deste procedi-
mento é que o ambiente se regenere e se recupere, especialmente no tocante à sua mata
ciliar (NEVES et al., 2014).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DAS NASCENTES 3 e 4 135

Porém deve-se considerar a situação da região em qual as nascestes estão localizadas, no


caso das nascestes 3 e 4, a região já foi urbanizada e transformada em um parque, e a localiza-
ção real das nascentes já está completamente urbanizada e as nascentes tubuladas.
A recuperação das nascentes estudadas poderia ser realizada através de plantio de árvo-
res nativas nas áreas mais degradadas, e com acompanhamento e manutenção das mudas. Em
função de estarem localizadas em um Parque Urbano, torna-se importante envolver a popula-
ção local nesta atividade, diminuindo a possibilidade de futura degradação das nascentes.
A recuperação da mata ciliar na área estudada auxiliaria, sem dúvida, na redução do
perigo de ocorrência de enchentes e inundações, no controle de erosão, no melhoramento da
qualidade da água, em função da proteção que ela conferiria para o leito do Ribeirão contra os
processos de degradação e contaminação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos a partir desta pesquisa foi possível identificarmos que há uma
divisão das nascentes estudadas, isto é, as nascentes 3 e 4 mudaram a sua localização no decor-
rer do tempo e atualmente podemos identificar as que chamamos de reais, onde elas se loca-
lizavam originalmente e, visuais, onde elas afloram atualmente.
O mapeamento realizado permitiu identificar que as nascentes reais se apresentam com-
pletamente urbanizadas, impermeabilizadas, enterradas e tubuladas e com pouquíssima cober-
tura vegetal. Já as nascentes visuais estão localizadas em um parque urbano, onde há predomínio
de gramínea e cobertura arbórea esparsa.
A nascente 4 visual apresenta 97,5% de cobertura arbórea esparsa, sem a presença de
arbustos. Por outro lado, a nascente 3 visual apresenta 41,33% de cobertura por gramínea e
58,66% de cobertura arbórea esparsa
Nestas áreas as nascentes apresentam-se tubuladas e o ribeirão canalizado e retilinizado,
o que demostra a necessidade de intervenção e recuperação destas áreas.
Finalizamos esta pesquisa afirmando que há a necessidade de intervenção, por parte do
poder público e da população local na área, a fim de promover a recuperação da mata ciliar e
da qualidade das nascentes.
Uma opção mais radical, envolveria fechar toda a região e trabalhar para reestabelecer
uma condição mais próxima do natural/ideal possível, replantando espécies nativas e com o
tempo buscando a condição original.
Em uma opção mais leve, seria envolver a população local neste processo de recupera-
ção e/ou transformar a região mais ainda em um parque ecológico, mantendo o acesso e as
condições para as atividades que já eram praticadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


136 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado

5 REFERÊNCIAS
BAGGIO, A. J., et al. Recuperação e Proteção das nascentes em propriedades rurais de Machadinho, RS.
Brasília-DF: EMBRAPA, 26 p. 2013.
BRASIL – LEI Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras
providências.
CALHEIROS, R. D. O., et al. Preservação e Recuperação das Nascentes (de água e de vida). Piracicaba: Comitê
das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ, 40p. 2004.
GOMES, Priscila Moreira; MELO, Celine de; VALE Vagner Santiago do. Avaliação dos impactos ambientais em
nascentes da cidade de Uberlândia– MG: análise macroscópica. In: Sociedade e Natureza, Ano 17, Número 32,
p. 103-120, 2005.
LEAL, A. L. Gestão Urbana e regional em bacias hidrográficas: interfaces com o gerenciamento de recursos
hídricos. In: BRAGA, Roberto. Recursos Hídricos e planejamento urbano e regional. Rio Claro: Laboratório de
Planejamento Municipal da UNESP, 2003. P.65-85.
NEVES, L. S., et al. Nascentes, áreas de preservação permanentes e restauração florestal: histórico da
degradação e conservação no Brasil. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.7, n.3, p. 747-760, set./dez.
2014.
PAULA, A. E. A de., et al. Água: conservação, uso racional e reuso. Associação Novo Encanto de
Desenvolvimento Ecológico. Brasília: MMA, 2009.73p
SILVA, Edmiler José da. A formação de depósitos tecnogênicos entre o médio-baixo curso do Ribeirão Quati
– LONDRINA-PR. 2017. P, 103. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2017.
TUCCI, Carlos E. M. Água no meio urbano. In: Água Doce. 1997.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


11. CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES
DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA
DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
QUATI – LONDRINA-PR

GILNEI MACHADO1
JOSÉ VINÍCIUS DOS SANTOS PIRES2
WILLIAM FERNANDES DE SOUZA3

Resumo: A área de preservação permanente do fundo de vale da bacia hidrográfica do Ribeirão


Quati, está enquadrada pela legislação ambiental do município de Londrina como Áreas Especiais de
Fundo de Vale e Preservação Ambiental, desde o ano de 1998. Deve assim serem respeitados os 30
metros de largura mínima das margens dos corpos d´água de cada lado como Área de Preservação
Permanente. Apesar da obrigatoriedade existente em lei, são percebidas várias interferências antró-
picas, o que impede que a lei das APPs seja totalmente cumprida. Para a realização deste trabalho foi
utilizado software ARCMap 10.5, o qual se mostrou como uma importante ferramenta para se fazer
o levantamento ao longo da rede hidrográfica da referida bacia. Para uma melhor identificação da
cobertura vegetal da bacia, dividimos em cinco trechos, com isso foram identificadas várias particu-
laridades da densidade da vegetação no entorno das margens do curso de água. Dentre os resulta-
dos obtidos destacam-se a degradação da cobertura vegetal, a ocupação irregular do fundo de vale,
os resíduos sólidos lançados irregularmente, causando impactos, e a existência de processos erosi-
vos como ravinas e voçorocas. Tudo isto contribui para que a cobertura vegetal da APP do fundo de
vale do Ribeirão Quati seja irregular, ora apresentando a metragem exigida em lei, ora não, com
áreas desmatadas que se aproximam muito da margem do ribeirão e que permitem concluir que é
premente a ação do poder público para a recuperação dos referidos trechos.
Palavras-chave: Ambiente Urbano; Desmatamento; Expansão Urbana; Degradação; APP.
Abstract: The permanent preservation area of the valley fund of the Ribeirão Quati river basin, is
framed by the environmental legislation of the municipality of Londrina as Special Areas of Valley
Fund and Environmental Preservation, since 1998. It should thusbe respected the 30 meters of
minimum width of the margins of the water bodies on each side as permanent preservation area.
Despite the mandatory existing law, the various anthropic interferences are perceived, which pre-
vents the law of PACs from being fully complied with. To accomplish this work, ARCMap 10.5 soft-
ware was used, which proved to be an important tool to survey along the hydrographic network

1 Docente Adjunto D da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gilnei@uel.br


2 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: jose.vinicius.santos@uel.br
3 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: william.fernandes@uel.br

[ 137 ]
138 Gilnei Machado; José Vinícius Pires; William de Souza

of this basin. For a better identification of the vegetation cover of the basin, we divided into five
stretches, with this were identified several particularities of the density of vegetation around the
banks of the watercourse. Among the results obtained are the degradation of the vegetation
cover, the irregular occupation of the valley bottom, the solid residues released irregularly, causing
impacts, and the existence of erosive processes such as ravines and gullies. All this contributes to
the plant cover of the PPA of the bottom of the valley of the Ribeirão Quati is irregular, while pre-
senting the footage required by law, now not, with deforested areas that are very close to the bank
of the river and that allow us to conclude that the action of the public power for the recovery of
these stretches is pressing.
Keywords: Urban Environment; Deforestation; Urban Sprawl; Degradation; PPA.

1 INTRODUÇÃO
O objeto de estudo desta pesquisa é a vegetação da área de preservação permanente do
fundo de vale da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, localizada na área urbana do município
de Londrina, PR, porém antes de adentrarmos na análise dos resultados obtidos por meio deste
trabalho, importante se torna, definir o que são os fundos de vale.
Para Christofoletti (1981, p. 287), “o fundo de vale pode ser entendido como uma desig-
nação dada às formas de relevo entalhadas como corredor ou depressão longitudinal, de tama-
nho e aspectos, variados, e ocupados pelos cursos de água”.
Guerra (1993, p. 446) define os fundos de vale como “formas topográficas constituídas
por talvegues e duas vertentes, com dois sistemas de declives convergentes”. O que nos possi-
bilita entender os fundos de vale como sendo compostos pelo leito dos rios e as baixas encos-
tas localizadas à margem esquerda e direita deste, sendo caracterizados por uma depressão
distribuída ao longo do rio.
Geomorfologicamente falando, os vales fluviais se desenvolvem a partir do escavamento
do rio, pelo aprofundamento do talvegue e pelo alargamento das vertentes (CHRISTOFOLETTI,
1981, p. 287). É por isso que os fundos de vale podem ser interpretados como as áreas da
superfície do terreno que apresentam cotas mais baixas em relação às suas áreas próximas
(TUCCI, 1997; CRISTIANO et al., 2011).
As áreas de fundo de vale, apresentam uma importância ambiental significativa, pois a
cobertura vegetal, que normalmente é aí encontrada, auxilia na proteção dos rios, funcionando
como filtro das impurezas físicas e químicas que chegam nessa área por gravidade ou que aí
são lançadas.
Devido à importância ambiental que apresentam, os fundos de vale são legalmente con-
siderados Áreas de Preservação Permanente (APPs) e sua proteção visa evitar ou atenuar o
surgimento de processos erosivos, formar faixas de proteção ao longo dos rios e assegurar o
bem-estar público. Desta forma, as áreas que margeiam os cursos d’água, suas nascentes e as
encostas próximas devem ser entendidas como APPs.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 139

As APPs foram criadas para proteger os rios, o que significa dizer que não podem ser ocu-
padas ou alteradas, devendo estar cobertas com vegetação natural. A importância das APPs
está no fato de elas serem imprescindíveis para a manutenção da fauna e da flora, bem como
para atenuar os processos erosivos, garantir a regularização do fluxo hídrico, e reduzir o asso-
reamento dos rios.
As APPs são áreas onde, por imposição da lei, a vegetação deve ser mantida inalterada
ou intocada, admitida, excepcionalmente, a supressão dela se for do interesse público ou
social, conforme previsto em lei (LEI FEDERAL n. 12.651, de 25 de maio de 2012).
Apesar de ser protegido por lei desde o ano de 1965, com o sancionamento da lei 4.771,
de 15 de setembro de 1965, na prática não vemos a proteção integral dessas áreas, particular-
mente nos meios urbanizados.
Ao longo do século XX, vimos muitas cidades brasileiras serem formadas e crescerem
sem as estruturas básicas de saneamento ou mesmo sem o controle necessário, o que causou
uma série de impactos na cobertura vegetal e na qualidade das águas, com a ocupação de fun-
dos de vale e o desmatamento deles.
O êxodo rural, ocorrido no Brasil, principalmente, a partir dos anos 1960, contribuiu para o
quadro citado, pois foi o grande responsável pelo crescimento acelerado das cidades que não
tinham sido planejadas para receber este grande contingente populacional. Existem cidades em
que a ocupação dos fundos de vales é uma das principais causas da degradação destes ambientes.
No município de Londrina as leis de parcelamento do solo para fins de uso, ocupação e
expansão urbana datadas do ano de 1998 definem as áreas de fundo de vale como “Áreas
Especiais de Fundo de Vale e de Preservação Ambiental”, devendo ser respeitadas as que esti-
verem ao longo das margens dos corpos d’água, numa largura mínima de 30 metros de cada
lado, em conformidade com o Código Florestal de 1965 e com o novo Código Florestal 12.651,
de 25 de maio de 2012.
Infelizmente, apesar de existir uma legislação que visa a proteção das áreas de fundo de
vale e sua vegetação, ela permanece inaplicada, causando inúmeros impactos ambientais nes-
sas áreas devido à degradação da qualidade ambiental.
Sendo assim, o objetivo principal desta pesquisa é caracterizar as condições da cobertura
vegetal da área de APP do fundo de vale do Ribeirão Quati, localizado na área urbana de
Londrina (Figura 1), Paraná.
A bacia do Ribeirão Quati é uma pequena bacia cujo rio principal tem cerca de 8,5 kms
de extensão e que corre no sentido oeste-leste da área urbana de Londrina, desde o Bairro
Leonor até o Bairro Mister Thomas. Ela possui apenas um afluente de destaque que é o Córrego
Bom Retiro, que possui um subafluente na área conhecida como “Buracão”, na Vila Recreio.
Desta forma a bacia apresente um rio principal, dois afluentes e um subafluente, perfazendo
um total de quatro nascentes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


140 Gilnei Machado; José Vinícius Pires; William de Souza

2 METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa sobre as condições da cobertura vegetal da área de APP
dos fundos de vale da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, localizado em Londrina, PR, foi ini-
cialmente, necessário fazer o levantamento da rede hidrográfica existente na referida bacia.
Para tanto, foi utilizado o software ARCMap® 10.5, no qual foi inserida a rede de drenagem dis-
ponibilizada pelo Instituto Águas Paraná em formato Shape.

Figura 1 – Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati – Londrina-PR

Fonte: Os autores (2021).

Com a utilização da ferramenta Feature to Point foi possível identificar a existência de 04


nascentes na bacia estudada, sendo 01 do rio principal e as outras 03 em seus afluentes e suba-
fluentes. Estas nascentes foram divididas em nascentes 1 e 2 e nascentes 3 e 4.
Após a identificação da rede hidrográfica, foram iniciadas as atividades de mapeamento
das áreas de preservação permanentes. O que foi conseguido por meio da Ferramenta Buffer do
ARCMap® 10.5. Com essa ferramenta criou-se um buffer de 50 metros de raio ao redor das nas-
centes, o que corresponde às áreas de APP e um buffer de 30 metros ao longo dos córregos.
Com o arquivo shape criado por meio do Buffer procedeu-se o recorte da imagem de
satélite CBERS – 4, na sua composição colorida falsa cor nas bandas 4 (R), 3 (G) e 1 (B), a qual

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 141

possibilitou identificar os usos da terra existentes. Com isso, elaborou-se um Mapa de Uso da
Terra, a fim de compreender qual a utilização que se tem feito das áreas de APPs.
Para a identificação dos usos da terra nas áreas das nascentes e fundos de vale foram
estabelecidas duas classes: o uso arbóreo e os outros usos, uma vez que, o Grau de preserva-
ção foi estabelecido com base na porcentagem de cobertura arbórea. Tal classificação foi rea-
lizada com base na ferramenta Iso Cluster Unsupervised Classification do ARCMap® 10.5.
Este recorte gerou um arquivo raster (imagem) que foi transformado em polígonos a par-
tir da ferramenta Raster to Polygon do ARCMap® 10.5. Uma vez separados manualmente os
polígonos correspondentes a cada uso, pode-se chegar ao estabelecimento do grau de cober-
tura arbórea ou ao grau de preservação das APPs. Para tanto o ribeirão Quati e seus afluentes
foram divididos em cinco trechos, a saber:
• Trecho 1: das Nascentes principais até a Av. Wiston Churchil;
• Trecho 2: Da Av. Wiston Churchil até a Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana;
• Trecho 3: das nascentes a foz do Córrego Bom Retiro (afluente);
• Trecho 4: da Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana até a Av. Angelina Ricci Vezozzo;
• Trecho 5: da Av. Angelina Ricci Vezozzo até a foz no Bairro Mister Thomaz.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como visto na parte que trata da metodologia empregada nesta pesquisa, as áreas de
APP encontradas na bacia hidrográfica do Ribeirão Quati foram divididas em cinco trechos para
serem mais bem estudadas e compreendidas. Na parte que segue será realizada a análise dos
resultados obtidos para cada um destes trechos.

3.1 Análise do Trecho 1


O Trecho nº 1 (Figura 2) distribui-se entre as nascentes 1 e 2 até a Avenida Winston
Churchill, na Zona Oeste da área urbana de Londrina. Ao longo deste trecho foi possível identi-
ficar que a área de APP é mais intensamente vegetada na margem esquerda, sendo mais
estreita na margem direita, além disso, é possível perceber também que existem alguns esta-
belecimentos que invadem a área que deveria ser destinada à preservação, como é o caso da
BRATAC e da Torno e Solda Brasília (TSB) (Figura 2).
As nascentes 1 e 2 (Figura 2) localizam-se, respectivamente, no Bairro Leonor, proximida-
des da indústria BRATAC e Comunidade homônima e na Comunidade Pantanal (Figura 2).
A nascente 1 (Figura 2) está em condições ruins de preservação, pois na área em que
deveria estar a sua APP encontram-se uma série de outros usos, dentre os quais se destaca a
paisagem e o uso urbano.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


142 Gilnei Machado; José Vinícius Pires; William de Souza

Figura 2 – Trecho 1 – Das nascentes 1 e 2 à Avenida Wiston Churchil

Fonte da imagem: Google Earth, 2021. Adaptada pelos Autores (2021).

Os Quadros 1 e 2 apresentam os dados levantados através do projeto intitulado


“Caracterização da situação ambiental das nascentes da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati
– LONDRINA-PR”, desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina. Este projeto mapeou as
quatro nascentes da bacia hidrográfica em seus usos predominantes, a saber, o arbóreo e os
“outros usos” (urbano, pastagem ou outro). Com os dados levantados foi possível verificar que
a área da APP da nascente 1 está em condições ruins enquanto a área da nascente 2 está em
condições razoáveis.

Quadro 1 – Usos da terra na Nascente 1 da BH. Ribeirão Quati

Uso Arbóreo % Área Outros Usos % Área Classe

Nascente 1 2252,66m 28,70 e 5580,66m 71,25% Ruim

Área Total Buffer 50


7833,33 100%
metros

Fonte: Os autores (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 143

Quadro 2 – Usos da terra na Nascente 2 BH. Ribeirão Quati

Uso Arbóreo % Área Outros Usos % Área Classe

Nascente 2 4076,66m 52,04% 3756,66m 47,96% Razoável

Área Total Buffer 50


7833,33 100%
metros
Fonte: Os autores (2021).

3.2 Análise do Trecho 2


O Trecho 2 (Figura 3) se distribui entre a Avenida Wiston Churchil e a Avenida Lúcia Helena
Gonçalves Viana e, ao longo dele, são encontrados locais onde simplesmente a mata ciliar com-
ponente da APP não existe, como é o caso de ponto próximo à ponte da Avenida Wiston Churchil
(na margem esquerda, representado pelo número 1 na Figura 4), ao longo da Rua Edmur Elias
Neder (2) e proximidades da Rua Danilo Orcelli (na margem direita, representado pelo número 3).

Figura 3 – Trecho 2 – Da Avenida Wiston Churchil até a Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana

Fonte da imagem: Google Earth, 2021.

3.3 Análise do Trecho 3


O trecho 3 corresponde ao afluente Córrego Bom Retiro (Figura 4). Ao longo deste trecho
é possível notar alguns pontos com mais densidade de vegetação que outros, isso devido a
intensificação da interferência antrópica em alguns pontos, mais que em outros.
Encontra-se na bacia deste afluente um garnde parque urbano conhecido como
“Buracão”, onde existem áreas para lazer. O mesmo pode ser identificado na Figura 5 a partir

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


144 Gilnei Machado; José Vinícius Pires; William de Souza

do nome Vila Recreio, onde se encontram as nascentes 3 e 4 da bacia hidrográfica do Ribeirão


Quati (Figura 4).

Figura 4 – Trecho 3 – Córrego Bom Retiro. Nascentes 3 e 4 da BH do Ribeirão Quati

Fonte da imagem: Google Earth, 2021.

No meio do trecho, onde está a rua Emerlino Leão, a vegetação da APP é rarefeita. Já nas
proximidades da foz do Córrego Bom Retiro a mesma se intensifica, e observa-se uma área
bem preservada.
As nascentes 3 e 4 (Figura 5) estão fora dos padrões esperados paras as áreas de APPs
(Quadros 3 e 4) de nascentes, que deve ter raio de 50 metros ao redor de cada nascente. Essa
região passou por um processo de urbanização que mudou sua paisagem, para uma situação
de parque urbano, que apesar de estar fora das condições das áreas de preservação perma-
nente, é coberta por vegetação arbórea esparsa, em cuja base pode ser encontrada gramínea,
mas nenhuma vegetação arbustiva.
A presença desta cobertura vegetal (Quadros 3 e 4) arbórea esparsa com gramíneas não
anula a possibilidade de haver erosão na área, como já está acontecendo com a região da nas-
cente 3, onde água erode a margem direita do ribeirão, o qual foi canalizado (Figura 6), a fim
de aumentar a velocidade do fluxo da água e evitar enchentes e inundações.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 145

Quadro 3 – Usos da terra na Nascente 3 – BH. Ribeirão Quati

Uso Arbóreo % Área Outros Usos % Área Classe

Nascente 3 4400 m² 58,66% 3100 m² 41,33% Razoável

Área Total Buffer 50


7833,33 100%
metros

Fonte: Os Autores (2021).

Quadro 4 – Usos da terra na Nascente 4 – BH. Ribeirão Quati

Uso Arbóreo % Área Outros Usos % Área Classe

Nascente 4 7800 m² / 97.5% 200 m² 2,5% Excelente

Área Total Buffer 50


7833,33 100%
metros

Fonte: O Autor (2021).

3.4 Análise do Trecho 4


O Trecho Quatro (Figura 5) é cortado pela Avenidas Lúcia Helena Gonçalves Viana,
Rodovia Carlos João Strass e Rua Angelina Ricci Vezozzo, distribuindo-se entre a primeira e a
última. Observa-se que no início do mesmo, na margem direita, tem-se uma concentração
maior de vegetação do que na margem esquerda.
Ao longo do trecho, mais especificamente do meio para o final pode-se observar uma
diminuição no número de cosntruções próximas às margens e com isso é possível observar
uma intensificação das áreas vegetais neste trecho. Aqui destaca-se que as grandes vilãs da
APP são as avenidas que a cortam (Figura 5).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


146 Gilnei Machado; José Vinícius Pires; William de Souza

Figura 5 – Trecho 4 – Da Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana até a Av. Angelina Ricci Vezozzo

Norte Shopping

Fonte da imagem: Google Earth, 2021.

3.5 ANÁLISE DO TRECHO 5


O Trecho 5 (Figura 6) se distribui entre a Av. Angelina Ricci Vezozzo e a foz do Ribeirão
Quati no Ribeirão Lindóia, localizada no Bairro Mister Thomas, Zona Leste de Londrina. este é
um dos trechos onde a vegetação da APP está mais preservada, uma vez que, depois da Avenida
Angelina Ricci, não há nenhuma outra grande avenida cortando a área da APP.

Figura 6 – Trecho 5 – Da Av. Angelina Ricci Vezozzo até a Foz no Bairro Mister Thomas

Fonte da imagem: Google Earth, 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA COBERTURA VEGETAL DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 147

Percebe-se neste trecho que os loteamentos urbanos respeitaram a área de preserva-


ção, não exercendo pressão sobre ela como percebido nos outros trechos analisados. Nas pro-
ximidades da foz encontra-se uma área de terreno alagável cujas dificuldades de ocupação
contribuiu para a preservação da vegetação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a pesquisa realizada sobre as condições da cobertura vegetal da área de APP da
bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, localizado na área urbana de Londrina, no estado do
Paraná, foi possível concluir que a vegetação da APP apresenta inúmeras falhas ocasionadas
pela passagem de ruas e avenidas sobre ela.
Percebeu-se também muitos pontos de pressão da urbanização sobre a APP, onde o uso
urbano ocasiona a redução da área que deveria estar preservada, ou seja, ao andar pelo fundo
de vale verifica-se que muitos moradores transformaram a APP no “jardim” ou na “pracinha”
de sua casa, muitas vezes desmatando a área e cultivando plantas de seu interesse ou simples-
mente plantando gramíneas e colocando uma infraestrutura para seu uso.
A partir dos dados obtidos com esta pesquisa é possível afirmar que as Apps das nascentes
da bacia do Ribeirão Quati precisam de intervenção e recuperação de sua cobertura vegetal e a
proibição de descarte de resíduos sólidos e de outros usos que não sejam o vegetal arbóreo.
Tal fato cabe para a APP de fundo de vale cuja cobertura vegetal, além de não apresentar
os 30 metros de cada lado, também apresentam falhas em muitos pontos. O que demanda
intervenção e recuperação.

5 REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal nº. 12.651, de 25 de maio de 2012, dispõe sobre as áreas de preservação permanentes.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia Fluvial. Rio Claro: Edgard Blucher, 1981.
CRISTIANO, C. C.; ARAÚJO, M. I. de; CORINO, H. L. Considerações gerais sobre as áreas de fundos de vale na
cidade de Maringá – PR. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.4, n.2, p. 291-304, maio/ago. 2011.
GUERRA, A. T. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.
TUCCI, Carlos E. M. Água no meio urbano. In: Água Doce. 1997.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


12. CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS
CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO
SUBSÍDIOS PARA A GESTÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS NA CIDADE DE PARINTINS,
AMAZONAS, BRASIL

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA TEIXEIRA1


MONICA JACAÚNA DOS SANTOS2
JOSÉ CAMILO RAMOS DE SOUZA3
IEDA HORTÊNCIO BATISTA4

Resumo: A água subterrânea é um recurso natural estratégico principalmente para abastecimento


público. Encontrar mecanismos que possam subsidiar a gestão desse recurso é fundamental para
o uso sustentável. Neste sentido, este estudo objetivou gerar informações que possam subsidiar a
gestão dos recursos hídricos subterrâneos na cidade de Parintins, priorizando avaliar o índice de
vulnerabilidade dos recursos hídricos subterrâneos na cidade de Parintins. O resultado encon-
trado da Vulnerabilidade do Aquífero, utilizando a metodologia GOD, foram analisados três parâ-
metros básicos: tipo de aquífero foi considerado livre atribuindo o índice 1,0, característica
litológicas da zona não saturada que tem como caracteristicas 65% de arenito e 35% de argelito foi
definido o índice 0,6 e profundidade do nível estático dos poços as variações enconrada foram de
3,50m a 4,90m e foi atribuido o valor de 0,9 e 5,20m a 8,80m atribuindo o valor 0,8. O resultado
apresentado, mostra duas classes de vulnerabilidade média e alta. A partir das análises destes
parâmetros foram elaborados mapas para identificar as áreas de vulnerabilidade à contaminação
das águas subterrâneas, utilizando o software ArcGIS 10.5 por meio de raster e de krigagem, com
a interpolação pela ponderação do inverso a distância (IDW). Espera-se que o resultado desse
estudo seja relevante para auxiliar na gestão dos recursos hídricos subterrâneos no município de
Parintins, e subsidiar outros trabalhos vinculados a esse estudo.
Palavras-chave: Água Subterrânea; Abastecimento Público; Índice de Vulnerabilidade.
Abstract: The subterranean water is a strategic natural resource to public supply. It is fundamental
to find mechanisms that may subside the management of this sustainable resource. In that sense,
this study aimed to generate information that can subside the management of hydric resources in
the city of Parintins, prioritizing evaluate the index of vulnerability of the subterranean hydric
resources in the city of Parintins. The result found regarding the Aquifer Vulnerability, utilizing the

1 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: jrteixeirapim@hotmail.com


2 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: monicajacauna9@hotmail.com
3 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: jcamilodesouza@gmail.com
4 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: iedahbatista@gmail.com

[ 148 ]
CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 149

GOD methodology, were analysed three basic parameters: aquifer type, lithological characteristics
of the unsaturated zone and depth of the static level of the wells. The presented result shows two
classes of medium and high vulnerability. From the analysis of these parameters maps were elabo-
rated to identify the areas of vulnerability to contamination of the subterranean waters, using ArcGIS
10.5 software through raster and kriging, with distance inverse weighting (IDW) interpolation. It’s
hoped that the result of this study become relevant to auxiliate in the management of the subterra-
nean hydric resources of the city of Parintins, and subside other works bound to this study.
Keywords: Subterranean water; Public Supply; Vulnerability Index.

1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento fundamental para a manutenção de todas as formas de vida no
planeta. Dessa forma, faz-se necessário a gestão sustentável dos recursos hídricos, a infraes-
trutura hídrica e o acesso ao abastecimento seguro, confiável e regular de água, bem como
serviços adequados de saneamento, que melhoram os padrões de vida da população.
Para garantir uma gestão sustentável dos Recursos Hidricos, a Lei 9.433/97 instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos que define no Art. 5º seus instrumentos de gestão: I – os
Planos de Recursos Hídricos; II – o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os
usos preponderantes da água; III – a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; IV – a
cobrança pelo uso de recursos hídricos e o sistema de informações de recursos hídricos.
Os poços tubulares têm sido preferencialmente utilizados para o abastecimento público,
devido à importância e disponibilidade dos corpos de água subterrânea, assim como sua pro-
dutividade. No entanto, os aquíferos não têm sido protegidos de forma eficiente e raramente
há uma boa gestão nesse processo de exploração.
No Estado do Amazonas, 71%, dos 62 municípios, utilizam água subterrânea como prin-
cipal fonte de abastecimento público (ELTON, 2019). Todo o fornecimento de água para con-
sumo humano na área urbana na cidade de Parintins provém de captação subterrânea, por
meio de 20 (vinte) poços tubulares, distribuídos em 06 (seis) áreas de captação (SAAE, 2018).
Dentre as principais ameaças às águas subterrâneas destacam-se a exploração intensiva
ou descontrolada de água e as fontes potenciais de poluição provenientes das atividades antró-
picas. É também comum a falta de cuidados na proteção dos poços tubulares, gerando riscos
de contaminação das águas.
Diante desse contexto, decidiu-se por realizar um estudo do índice de vulnerabilidade do
aquífero, como subsídios para a gestão, dos corpos de águas subterrâneas utilizadas no abas-
tecimento púbico na cidade de Parintins/Amazonas.

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O município de Parintins, distante de Manaus 369 km, possui uma área de 45 km². A
população é aproximadamente 111.575 habitantes (4% da população amazonense) e conta

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


150 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

aproximadamente com 70 mil habitantes na zona urbana, com densidade demográfica em


17,14h/km² (IBGE, 2015).
Toda a água distribuída no abastecimento público na cidade de Parintins provém de cap-
tação subterrânea. Segundo informações do SAAE (2018), a quantidade de ligações de água
cadastradas são de 21.025 e atende 100% da área urbana da cidade de Parintins.
Os poços tubulares selecionados nas áreas de estudo do presente trabalho estão situa-
dos nos seguintes bairros: Centro/Francesa/Palmares, com seis poços; Vitória Régia, seis poços;
Itaúna II, quatro poços; Djard Vieira, dois poços; um poço localizado na área do hospital Jofre
Cohen, rua Hebert de Azevedo e um poço localizado na rua Faria Neto, totalizando assim 20
poços tubulares. As profundidades dos poços variam de 50 – 120 metros e vazão, aproximada-
mente, de 1.653m³/h (Figura 1) (SAAE, 2018).

Figura 1 – Mapa de localização dos poços tubulares em Parintins

Fonte: Trabalho de campo (2018), IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2018.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 151

3 METODOLOGIA
O método utilizado para definição dos índices de vulnerabilidade de cada área de estudo foi o
GOD, proposto por Foster e Hirata (1988) que leva em consideração a avaliação de três parâmetros.
O parâmetro G representa o tipo de aquífero (livre, semi-confinado ou confinado) em
que os valores são obtidos dentro de um intervalo de 0 a 1,0.
O parâmetro O representa as características litológicas da zona não saturada do aquí-
fero, no qual é condicionado o tempo de deslocamento de contaminantes, ou seja, cada tipo
de solo tem sua capacidade de atenuação e se encontra numa escala de 0,4 a 1,0.
O parâmetro D refere-se à profundidade do nível estático e equivale a distância que o
contaminante terá que percorrer para alcançar a zona saturada do aquífero. As profundidades
foram medidas no mês de maio, época da cheia. Esses parâmetros, tem valores que podem
variar de 0,6 a 1,0.
Para determinação do primeiro parâmetro, tipo de aquífero, por tratar-se de uma uni-
dade geológica de origem fluvial, não deve apresentar camadas argilosas ou argilo-arenosas de
grande continuidade que possam dividir hidraulicamente o aquífero em subunidades, assim, o
Aquífero Alter do Chão deve ser considerado como livre.
Enquanto o segundo parâmetro, características litológicas, conforme a formação do
aquífero ser constituído de camadas arenosas e argilosas, foi atribuído o valor de 0,6. Essas
informações foram obtidas, a partir de um estudo realizado no ano de 2005, sobre o nível de
contaminação do Aquífero na cidade de Parintins (MARMOS; AGUIAR, 2005).
O terceiro parâmetro, nível estático, foi obtido direto em campo com equipamento des-
tinado a medição dos níveis estático dos poços tubulares, já citado na Figura 9.
O índice de vulnerabilidade foi determinado com a multiplicação dos valores obtidos em
cada fator, e pode ser considerado insignificante (valores de 0 a 0,1), baixa (0,1 a 0,3), média
(0,3 a 0,5) alta (0,5 a 0,7) e extrema (0,7 a 1,0) (FOSTER; HIRATA, 1988) como mostra a Figura 2.
O parâmetro G foi considerado que o aquifero é livre atribuindo o valor 1,0, o parâmetro
O tem como caracetristicas 65% de arenito e 35% de argelito, foi definido o índice 0,6, enquanto
o parâmetro D as variações enconrada foram de 3,50 m a 4,90 m e foi atribuido o valor de 0,9
e 5,20 m a 8,80 m atribuindo o valor 0,8. Os valores dos índices encontrados foram organizados
através de Tabela.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


152 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Figura 2 – Sistema GOD para avaliação do índice da vulnerabilidade de aquífero

Fonte: Foster et al. (2006).

Após os valores dos índices já definidos em tabelas, foram gerados mapas de vulnerabi-
lidade do Aquífero Alter do Chão, por meio de raster que é uma forma de imagem que contém
informações relativas à imagem ou pixel. De tal modo, na plataforma ArcGIS 10.5, foram usa-
das em combinação as interpolações e modelagens para definir as ações da espacialização rela-
tivas aos bairros que determinavam o limite de ação dos poços tubulares. Em termos práticos,
raster se refere a utilização de imagem combinada com dados geográficos, ou seja, pontos,
linhas polígonos em que são definidos ações para cálculo de distância e área interpoladas com
a imagem.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 153

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado encontrado do índice de vulnerabilidade do Aquífero utilizando a metodolo-
gia GOD, conforme características de cada parâmetro estão descritas na (Tabela 1).

Tabela 1 – Resultado da vulnerabilidade do aquífero.

Coordenadas Tipo de Profun-


Litologia
Poços Aquífero didade Índice Vulnerabilidade
O
S W G D

01 2.62837 56.72960 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

02 2.62913 56.72977 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

03 2.62921 56.73014 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

04 2.62960 56.73001 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

05 2.62948 56.72973 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

06 2.62970 56.72874 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

07 2.63558 56.73981 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

08 2.63576 56.74015 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

09 2.63618 56.74026 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

10 2.63593 56.74055 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

11 2.63652 56.74047 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

12 2.63590 56.73920 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

13 2.65104 56.74078 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

14 2.65130 56.74058 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

15 2.65151 56.74152 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

16 2.65171 56.74128 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta

17 2.64705 56.75068 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

18 2.64744 56.75101 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

19 2.37590 56.44398 1,0 0,6 0,8 0,48 Média

20 2.62114 56.72697 1,0 0,6 0,9 0,54 Alta


Fonte: Souza Teixeira, J. R (2018).

O parâmetro (G), grau de confinamento do Aquífero, foi definido com índice 1,0, con-
forme o Aquífero Alter do Chão que predomina na cidade de Parintins, ser considerado livre.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


154 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

O segundo parâmetro (O), característico da zona não saturada, de acordo com as infor-
mações construtivas dos poços tubulares a litologia tem uma formação repetitiva de camadas
arenosas e argilosas, ou seja, de 65% de arenitos e 35% de argilitos, para esta condição foi defi-
nido o índice 0,6.
O terceiro parâmetro (D), se relaciona a profundidade do nível estático dos poços. Dos 20
poços selecionados, as profundidades encontradas de 08 poços variaram de 3,50 a 4,90 m
abaixo de 5 metros, atribuindo assim o valor de 0,9. Enquanto de 12 poços restantes as profun-
didades encontradas variaram de 5,20 a 8,80 m, atribuído o valor de 0,8.
O resultado apresentado, através de mapas de vulnerabilidade, pelo método GOD mos-
tra os níveis estáticos, as classes, a predominância do nitrato e a concentração de alumínio nos
poços tubulares, como referência os limites dos bairros ou a área urbana da cidade Parintins.
A partir da coleta de dados sobre os níveis estáticos dos poços tubulares, na área urbana
de Parintins, foi possível especializá-los a partir da utilização da ferramenta buffer no software
ArcGIS 10.5. Isto se deu em função da interpolação da representação nos bairros de Parintins,
por meio de raster e dos pontos coletados usados como referência pra aplicação da técnica de
distância inversa ponderada (IDW). Dessa forma foi possível obter as relações de hierarquias
dos grupos de níveis estáticos dos poços tubulares, bem como relacioná-los ao status de nitrato
presente nos poços (Figura 3).
O método GOD estabelece que, quanto maior a distância da superfície do terreno até o
lençol subterrâneo, maior a proteção do aquífero, fato que sob a ótica do tempo de trânsito de
percolação descendente de um contaminante, em meio não saturado, está correto. Assim, são
estabelecidas áreas de maior ou de menor vulnerabilidade, influenciadas respectivamente
pelos níveis de água profundos ou rasos. Nas áreas de níveis mais profundos de águas subter-
râneas admite-se menor vulnerabilidade dos aquíferos (ANA, 2018).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 155

Figura 3 – Níveis estáticos dos poços tubulares & teores de nitrato

Fonte: trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2019.

Partindo dessa premissa, pode-se afirmar, segundo o resultado da pesquisa, tendo como
referência os poços que tiveram os níveis estáticos menores que 5 metros, que os teores de
nitrato são maiores, com exceções do poço nº 16 cujo nível estático é menor que cinco metros
e a média de nitrato está abaixo de 5 mg/L e do poço nº 19 que o nível estático está maior que
5 metros, mas a média de nitrato nos períodos de cheia e vazante é de 16,7 mg/L.
Com o resultado apresentado, a partir dos dados coletados pela observação e aplicação
do método GOD, as informações extraídas de perfis relativos aos poços selecionados para o
estudo, de acordo com o mapa (Figura 4), foi possível representar a distribuição das duas clas-
ses de vulnerabilidade (média e alta) obtidas a partir da aplicação do método GOD, como limite
a área urbana da cidade de Parintins, utilizando-se o interpolador IDW (Interpolação ponde-
rada por distância) do software ArcGIS 10.5.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


156 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Figura 4 – Classe de vulnerabilidade do Aquífero Alter do Chão

Fonte: Trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2019.

A caracterização da vulnerabilidade a partir dos dados obtidos do Aquífero Alter do Chão


em relação aos poços tubulares pode ser ampliada. Porém, a interpolação dos dados sob o
método GOD indica que há uma distribuição variável da vulnerabilidade existente, o que de
acordo com a base cartográfica e localização dos poços tubulares, é passível de atenção.
Isso significa dizer que, quando a vulnerabilidade for média, o aquífero é vulnerável a
alguns poluentes, mas somente quando continuamente lançados ou lixiviados, e quando a vul-
nerabilidade for alta o aquífero é vulnerável a muitos poluentes, exceto aqueles pouco móveis
e pouco persistentes.
Como exemplo dessa vulnerabilidade pode-se citar a concentração de nitrato e alumínio,
que são mais acentuadas no Bombeamento I, localizado na Rua Rio Branco, Centro/Francesa e
bombeamento II na Rua Alcides Seixas.
Essas são as áreas, mas antropizadas da zona urbana de Parintins, que representam atual-
mente um potencial contaminante, principalmente por nitrato das águas subterrâneas. Os
poços localizados no Bombeamento I, por exemplo, estão próximos ás residências do beco
Submarino. Na ausência de tratamento de esgoto, fossas e sumidouros desses moradores

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 157

lançam grande carga de efluentes doméstico direto no canal superficial, além de receber con-
tinuamente uma grande carga de esgoto da rua Paraíba.
Assim como o Bombeamento I, os poços localizados no Bombeamento II, recebem água
que passa pelo braço principal do Lago do Macurany. Como boa parte desse braço encontra-se
ocupado por palafitas, cujos moradores despejam os seus dejetos domésticos diretamente nas
suas margens, é de se esperar que esse contaminante chegue às referidas estações (MARMOS;
AGUIAR, 2005).
O processo de degradação natural dos esgotos provoca a geração de nitrato que, pelas
características de persistência e mobilidade e o contínuo processo de infiltração, representa
atualmente um potencial contaminante das águas subterrâneas dos centros urbanos, como é
o caso da cidade de Parintins (ANA, 2018), (Figura 5).

Figura 5 – Concentração de nitrato nos poços tubulares

Fonte: Trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2019.

Segundo a funcionalidade da ferramenta do software SIG ArcGIS 10.5, o estimador da


krigagem ordinária, baseado no valor da variável de interesse em um ponto amostrado ou
não, é calculado em combinação esférica ou linear dos pontos de dados. Dessa forma, optou-
-se pela representação de um mapa de krigagem da concentração de nitrato a partir das

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


158 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

coordenadas geográficas dos 20 poços tubulares e suas referidas variações de concentração


de nitrato.
Objetivou-se assim, caracterizar o mapa para representar a concentração de nitrato,
tomando como referência os limites dos bairros, ou área urbana da cidade de Parintins, a partir
do valor da variação cada poço tubular. Porém, a abrangência de concentração de nitrato apre-
sentada no mapa, não significa o predomínio, mas indicativo de concentração de nitrato na
interpolação dos poços tubulares, ou seja, existe concentração de nitrato entre os poços, além
daqueles encontradas pontualmente.
Observa-se que a distribuição de alumínio segue a mesma disposição da distribuição de
nitrato, nas áreas onde encontram-se localizados os poços. Partindo dessa premissa, optou-se
pela representação de um mapa de krigagem da concentração de alumínio, levando em conta
as suas variações de concentração de alumínio (Figura 6).

Figura 6 – Concentração de alumínio nos poços tubulares

Fonte: Trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2018.

Objetivou-se, assim, especializar em formato circular e caracterizar o mapa para repre-


sentar a concentração de alumínio, tomando por referência os limites da base cartográfica de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 159

bairros, ou área urbana da cidade de Parintins, a partir das variações dos poços. Entretanto, a
abrangência de concentração de alumínio apresentada no mapa, não significa o predomínio,
mas o indicativo da concentração de alumínio da interpolação dos poços tubulares com os limi-
tes de bairros. Assim, existe a concentração de alumínio entre os poços, além daquelas encon-
tradas pontualmente. Mas, para configurar precisamente a abrangência, teríamos que dispor
da especificidade da rede de água abastecida pelos referidos poços tubulares.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho avaliou o índice de vulnerabilidade do aquífero, com objetivo de
contribuir com a gestão dos recursos hídricos subterrâneos na cidade de Parintins. Diante dos
resultados, foi possível concluir que as águas subterrâneas da cidade de Parintins, possuem
duas classes de vulnerabilidade, média e alta.
Um grande exemplo é a concentração de nitrato e alumínio que são maiores nas áreas de
captação de água do bombeamento I, localizado na Rua Rio Branco, Centro/Francesa e bom-
beamento II na Rua Alcides Seixas, Vitória Régia. Pode-se afirmar que essa vulnerabilidade está
associada á degradação antrópica constatada nessas áreas. Os mapas gerados mostraram as
áreas mais vulneráveis a contaminação as águas subterrâneas.

6 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUA – ANA. Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil. Informe 2018. Brasília, DF:
ANA, 74p. 2018.
ELTON, A. M. A Amazônia tem “Oceano Subterrâneo”. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/19541. Acesso
em: 20 ab. de 2019.
FOSTER, S. HIRATA, R. Groundwater pollution risk evaluation: the methodology using available. Lima: CEPIS/
PAHO/WHO, 78p. 1988.
FOSTER, S.; HIRATA, R.; GOMES, D.; D’ELIA, M.; PARIS, M. Proteção da qualidade da água subterrânea: um
guia para empresas de abastecimento de água, órgãos municipais e agências ambientais. Washington: Banco
Mundial, 104p. 2006.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2010. Censo Demográfico Populacional: Disponível em:
http://www.censo 2010. ibge.gov. Acesso em: 5 set. 2018.
BRASIL. Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de
dezembro de 1989.
MARMOS, J. L; AGUIAR, C. J. B. Avaliação do Nível de Contaminação dos Aquíferos da Cidade de Parintins
(AM): Primeiros Resultados. Serviço Geológico do Brasil-CPRM/Manaus, AM, 93p. 2005.
SAAE. Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Parintins, 2018.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


13. CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE
GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO
RIO CEARÁ – REGIÃO METROPOLITANA
DE FORTALEZA

FRANCISCA LARYSSA FEITOSA ARAUJO1


EDSON VICENTE DA SILVA2

Resumo: Os recursos hídricos estão entre os recursos naturais mais alterados pelas interferências
nas paisagens, por exploração de tais ou pela própria promoção de degradação dos sistemas natu-
rais. Pensando nisso, esse trabalho traz como tema os impactos ambientais sofridos no Baixo
Curso do Rio Ceará e por conseguinte busca-se promover uma discussão sobre a necessidade de
sua conservação e dos sistemas que o envolvem. Através de pesquisas bibliográficas foi possível
apropriar um maior conhecimento sobre a Bacia do Rio Ceará e os seus impactos oriundos, princi-
palmente, da expansão urbana em áreas que estão situadas na bacia. Para espacializar as discus-
sões foram elaborados mapas que representam a síntese dos ambientes urbanos que margeiam a
Área de Proteção Ambiental do Rio Ceará, além de cartografias de diferentes pesquisas que auxi-
liaram no desenvolvimento da compreensão e fragilidade ambiental da área de estudo. Pode-se
perceber que embora esteja inserido em uma àrea de proteção, o Baixo Curso do Rio Ceará vem
sofrendo degradações, seja pelo desmatamento da vegetação de várzea e de mangue, retirada de
areia das dunas, exploração dos recursos naturais, descarte indevido de resíduos ou os intensos
fluxos de automóveis, que se configuram como fatores de perturbação do equilíbrio ambiental
dos ecossistemas e da poluição.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; Bacia do Rio Ceará; Impactos Ambientais; Bacias Hidrográficas.
Abstract: The hydric resources are among the natural resources most altered by interference in
landscapes, by the exploitation of such or by the very promotion of degradation of natural sys-
tems. With this in mind, this work brings as its theme the environmental impacts suffered in the
Lower Course of the Ceará River and consequently seeks to promote a discussion about the need
for its conservation and the systems that surround it. Through bibliographical research it was pos-
sible to acquire more knowledge about the Ceará River Basin and its impacts, mainly from urban
expansion in areas that are located in the basin. In order to spatialize the discussions, maps were
elaborated that represent the synthesis of the urban environments that border the Environmental
Protection Area of Ceará River, in addition to cartographies of different researches that helped in

1 Universidade Federal do Ceará. E-mail: laryssaaraujogeo@gmail.com


2 Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com

[ 160 ]
CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 161

the development of the understanding and environmental fragility of the study area. It can be
seen that although it is inserted in a protected area, the lower course of the Ceará River has been
suffering degradation, either by the deforestation of the floodplain and mangrove vegetation,
removal of sand from the dunes, exploitation of natural resources, improper disposal of waste or
the intense flow of cars, which are configured as factors of disturbance of the environmental bal-
ance of ecosystems and pollution.
Keywords: Water Resources; Ceará River Basin; Environmental Impacts; Hydrographic Basins.

1 INTRODUÇÃO
Uma bacia hidrográfica corresponde ao recorte espacial da superfície coletora de águas
pluviais, que ocupa um sistema de drenagem composta por um rio principal e seus tributários.
Segundo dados da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH), o estado com-
porta em seu território 12 bacias hidrográficas, dentre elas está a Bacia Hidrográfica
Metropolitana que é composta por 31 municípios cearenses. Essa Bacia Metropolitana subdi-
vide-se em quinze sub bacias, dentre elas destaca-se a Bacia do Rio Ceará, que se encontra na
porção norte do estado do Ceará, abrangendo quatro municípios: Maranguape, Maracanaú,
Caucaia e Fortaleza com uma área de aproximadamente 77.370 hectares (GONÇALVES, 2016).
O rio Ceará possui uma enorme significância, tanto ambiental e ecológica, devido sua
biodiversidade e diversidade cultural, e por estar relacionado ao território indígena Tapeba e
ao crescimento urbano ao seu redor. Segundo Thiers, Meireles e Santos (2016), o setor mon-
tante do rio Ceará está localizado na vertente setentrional do maciço de Baturité e sua foz é o
próprio Oceano Atlântico. O rio Ceará apresenta um padrão de drenagem dendrítica, lem-
brando galhos de uma árvore, formando ângulos menores que 90º graus e possui como princi-
pal afluente o rio Maranguapinho, em sua margem direita.
O presente trabalho objetiva, primeiramente, realizar uma caracterização geral dos
aspectos geoambientais da Bacia Hidrográfica do Rio Ceará, para em seguida efetivar um
estudo mais detalhado sobre o Baixo Curso do Rio Ceará, analisando os impactos ambientais
presentes e trazer à tona a necessidade de se pensar medidas que possam mitigar suas conse-
quências socioambientais. A pesquisa apresenta uma breve discussão sobre os principais
impactos identificados nessa área, buscando uma reflexão sobre a riqueza ambiental e paisa-
gística desse sistema hídrico e a importância de sua gestão socioambiental, podendo também
contribuir para que a população venha conhecer a necessidade de se conservar os seus siste-
mas ambientais.

2 METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA


Foram realizados levantamentos bibliográficos sobre os aspectos geoambientais que
compõem a bacia do rio Ceará, tais como, geologia, pedologia e vegetação, levando em consi-
deração os usos e ocupação das margens do rio em seu baixo curso. Por não haver possibili-
dade de realizar atividades de campo no momento, a espacialização das informações é realizada
através de imagens de satélites e de mapas produzidos por outros autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


162 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Para os mapas autorais foram utilizados shapefiles, dados e imagens de órgãos públicos
como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Secretaria Estadual do Meio
Ambiente (SEMA), Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), do
Comitê de Bacias Hidrográficas da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) e
composições das bandas 2 e 3 do satélite Landsat 5, coletadas no portal do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE).

3 COMPARTIMENTAÇÃO GEOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO CEARÁ


A área de estudo está situada no domínio das caatingas brasileiras, que ocupam cerca de
10% a 12% do território nacional. É caracterizada por ser uma região de semiárido muito
quente, com suas drenagens abertas para o Oceano Atlântico, as quais podem estar sujeitas a
intermitências sazonais.
Em concordância com a hierarquização fluvial proposta por Strahler, a Bacia Hidrográfica
do rio Ceará é composta por rios tributários de primeira a quarta ordem, sendo o rio Ceará de
quinta ordem por ser o principal. Seu principal afluente, o rio Maranguapinho, possui caracte-
rização hierárquica de terceira ordem (Figura 1).
A Bacia Hidrográfica do Rio Ceará está compartimentada ambientalmente de suas nas-
centes para a foz, por serras úmidas, sertões pré-litorâneos, tabuleiros pré-litorâneos e planí-
cies litorâneas, como indica a Figura 2 – Constata-se que em seu baixo curso estão situadas as
três últimas unidades geoambientais citadas anteriormente.
Conforme descreve Meireles (2014, p.76) “A planície litorânea é formada por uma faixa
de terra que compreende morfologias, processos geológicos e ecossistemas originados pela
interação das ondas, marés e ventos, com os ambientes marinhos e continentais, podendo
estar associada às oscilações do nível relativo do mar durante o Quaternário”. Junto às planí-
cies litorâneas estão associados campos de dunas e ambientes estuarinos, como ocorre na foz
do rio Ceará, onde estão situadas as planícies fluviais marinhas, formadas por ações marinhas,
fluviais e pluviais. São nessas planícies que estão presentes os ambientes de manguezais, como
os do estuário do rio Ceará.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 163

Figura 1 – Hierarquização fluvial da Bacia do rio Ceará

Fonte: Acervo Pessoal (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


164 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Figura 2 – Compartimentação geoambiental da Bacia do Rio Ceará

Fonte: Acervo Pessoal (2021).

Os tabuleiros pré-litorâneos são formados por depósitos sedimentares datados do


Cenozoico e caracterizados pelo substrato geológico do Grupo Barreiras. Possuem altimetrias
de 30 a 50 metros, apresentando forma de relevo relativamente plana declinando suavemente
em direção ao oceano (CEARÁ, 2016).
As serras úmidas são maciços residuais que apresentam uma vegetação de mata úmida
e subúmida, em seu barlavento, como é o caso das serras do Maranguape e Aratanha. Conforme
Moro et.al. (2015, p.733) “As matas úmidas estão bastante ameaçadas pelo desmatamento
para produção agrícola e expansão urbana”. Os sertões pré-litorâneos são as regiões que pre-
dominam a vegetação do tipo caatinga arbórea e caatinga arbustiva densa.

3.1 Geologia
Segundo dados do IBGE, em relação às unidades geológicas, constatam-se depósitos sedi-
mentares compostos pelo Grupo Barreiras e embasamentos indiferenciados (Figura 3). Os depó-
sitos do Grupo Barreiras tem suas origens ainda no período Terciário Plio-Pleistoceno, sendo que
sua morfologia é caracterizada pelos tabuleiros pré-litorâneos. Segundo Ceará (2016, p.34) “Sua
litologia é composta por arenitos grossos com matriz caulinítica, com sedimentos mal a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 165

pobremente consolidados e mal selecionados, datados do período Tércio-quaternário, formados


por sedimentação detrítica, com textura areno-argilosa e coloração avermelhada, creme ou ama-
relada, muitas vezes apresentando aspecto mosqueado”. Já os embasamentos indiferenciados
são as demais feições em áreas sobre o embasamento cristalino.

Figura 3 – Hidrogeologia da Bacia do Rio Ceará

Fonte: Acervo Pessoal (2021).

3.2 Pedologia
As classes de solo encontradas ao longo da bacia do rio Ceará são caracterizadas por
Neossolos Litólicos, nas áreas de declive mais acentuado; Gleissolos Tiomórficos, solos com
presença de sais por influência de águas marítimas ou pela vegetação do mangue; Luvissolos,
presentes em regiões que apresentam vegetação de caatinga arbórea; Planossolos Solódicos,
que contam com a presença de sódio em sua formação; Argissolos, solos bastante intemperi-
zados, com acúmulo de argila no horizonte B; e Vertissolos, que apresentam 30% ou mais de
argila no perfil, variando de acordo com o teor de umidade (Figura 4).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


166 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Figura 4 – Classes de Solos da Bacia do Rio Ceará

Fonte: Acervo Pessoal (2021).

3.3. Vegetação
No que se refere aos tipos vegetacionais, as unidades fitoecológicas que compõem a paisa-
gem da bacia do rio Ceará são o Complexo Vegetacional da Zona Litorânea, composta de vegeta-
ção de restingas e matas de tabuleiros; a Floresta Perenifólia Paludosa Marítima, correspondente
ao ecossistema de manguezal, situada na área estuarina do rio Ceará, é caracterizada pela pre-
sença de Gleissolos Tiomórficos e recebe constantes interferências fluviomarinhas. Ceará (2016,
p.52) afirma ainda que “Pode ocorrer ao longo dos leitos de rios, canais naturais e margem de
lagunas até onde vai o fluxo de maré, normalmente em terrenos baixos, com declividade muito
baixa”. Cerradões pré-litorâneos podem encontrados junto aos terrenos de tabuleiros pré-litorâ-
neos, apresentando uma vegetação do tipo savânica, espécies arbóreas e arbustivas de pequeno
a médio porte; a Caatinga Arbustiva Densa, corresponde a uma vegetação com altura variando
entre 2 a 5 metros, de troncos ramificados, grossos, espinhentos e pontiagudos. Ocorrendo ainda
o mecanismo de caducifolía, que consiste na queda de sua folhagem nos períodos mais secos do
ano e a Floresta Caducifólia Espinhosa, ou Caatinga Arbórea, como é classificada pelo IPECE,
caracteriza-se por árvores altas de até 20 metros (Figura 5).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 167

Figura 5 – Mapa de Unidades Fitoecológicas da Bacia do Rio Ceará

Fonte: Acervo Pessoal (2021).

4 BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ


O Baixo Curso do Rio Ceará localiza-se entre os municípios de Fortaleza e Caucaia, com-
pondo parte da Área de Proteção Ambiental do Estuário do Rio Ceará (Figura 6) criada pelo
Decreto nº25.413, de 29 de março de 1999.
A região de Baixo Curso do Rio Ceará comporta ainda o ecossistema de manguezal, que
segundo Gomes (2020, p.12) “é um ecossistema de transição entre o ambiente marinho, fluvial
e terrestre”, caracterizados por apresentar um solo bastante úmido e argiloso, com baixa con-
centração de oxigênio, porém rico em nutrientes, um dos fatores que dá origem ao seu odor
característico resultante da decomposição de matéria orgânica. É considerado ainda como um
ecossistema de sobrevivência e berçário natural para um grande número de espécies de pei-
xes, crustáceos e aves, sejam elas nativas ou migratórias.
Embora esteja compondo uma Área de Proteção Ambiental, o baixo curso do Rio Ceará
ainda é alvo de constantes impactos ambientais, em sua maioria oriundos de ações antrópicas
e pela presença de aglomerados urbanos ao seu redor, onde de uma lado encontra-se a Barra
do Ceará, pertencente à Fortaleza e do outro o Parque Leblon, bairro do município de Caucaia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


168 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Conforme Gonçalves (2016, p.15): “O baixo curso do rio Ceará é um ambiente onde a
ação dos processos morfodinâmicos é intensa. A ocupação desse ambiente deve ser evitada ou
realizada levando em consideração suas características intrínsecas e sua dinâmica natural”, ou
seja, por se tratar de um ambiente mais suscetível a transformações, seja de ordem antrópica
ou até mesmo natural, observa-se a necessidade de uma maior preocupação para com a pre-
servação desse meio. Por estar concentrado entre grandes aglomerados urbanos, com concen-
tração maior no lado que diz respeito ao território de Fortaleza, é possível observar o
desequilíbrio entre preservação e impactos que vem se prolongando por anos e afetando
todos os ecossistemas presentes.

Figura 6 – Mapa do Baixo Curso do Rio Ceará

Fonte: Acervo pessoal (2021).

Por estar localizado em áreas composta por planícies fluviais e planícies fluviomarinhas,
características devidas sua baixa altitude ocorrem inundações de tempo em tempo. Além des-
sas, como supracitado, a região do baixo curso do rio Ceará também é composta por tabuleiros
pré-litorâneos, o qual não possui muitas variações com relação à altimetria. Com isso se
observa uma declividade pouco acentuada.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 169

5 GESTÃO AMBIENTAL E ANÁLISE DE IMPACTOS AMBIENTAIS NO


BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ.
As bacias hidrográficas brasileiras são caracterizadas como Unidades de Gestão dos
Recursos Hídricos e são assistidas pelos Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs), que possuem
como principal objetivo possibilitar o planejamento regional de modo que haja também um
controle do uso dos recursos hídricos a fim de conservar as bacias hidrográficas. No Ceará,
quem fica a cargo dessas atribuições é o Comitê de Bacias Hidrográficas vinculado ao Conselho
Estadual de Recursos Hídricos (CONERH) e desenvolvido pela (COGERH). Definido pela lei esta-
dual nº14.844 de 2010, os Comitês de Bacias Hidrográficas visam promover uma gestão inte-
grada dos recursos hídricos, contando com a participação da sociedade de forma a promover
o desenvolvimento sustentável da bacia.
Embora esteja inserido em uma Área de Proteção Ambiental, o baixo curso do rio Ceará
sofre constantes impactos ambientais, em sua maioria oriundos de ações antrópicas e pela
presença de aglomerados urbanos ao seu redor, onde de uma lado encontram-se bairros
pertencente à cidade de Fortaleza e do outro lado pertencentes ao município de Caucaia
(Figura 7).
.
Figura 7 – Caracterização socioambiental da paisagem do rio Ceará

Fonte: A.S. Reis-Neto (2013).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


170 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Os processos de expansão da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e a especulação


imobiliária têm contribuído em boa parte para a intensificação de danos ambientais dessas
áreas. Entre eles destacam-se a degradação da vegetação, principalmente da mata ciliar e da
ocupação de áreas da faixa de manguezal, como a instalação de atividades produtivas como as
salinas (THIERS et. al., 2016). O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) define impacto
ambiental como:
[...] toda alteração das propriedades naturais, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das ativida-
des humanas que, direta ou indiretamente afetam a saúde, o bem estar da popula-
ção e a qualidade do meio ambiente (BRASIL, 1986).

Segundo estudo realizado por De Paula e Souza (2011), as áreas mais vulneráveis da bacia
do rio Ceará estão localizadas na porção de baixo curso (Figura 8). Os impactos mais comuns
nessas áreas são oriundos, principalmente, de ações antrópicas e dos processos de expansão
urbana atrelada aos usos dos sistemas ambientais. Dentre os danos ambientais presentes ao
longo da bacia, estão o desmatamento do mangue, retirada de areia das dunas, exploração dos
recursos naturais e descarte indevido de resíduos e lixos, que acabam afetando diretamente a
fauna e a flora local. Há intensos fluxos de automóveis, que também se configuram como um
dos fatores de perturbação do equilíbrio ambiental dos ecossistemas e da poluição.

Figura 8 – Mapa da Vulnerabilidade Ambiental da Bacia do Rio Ceará-CE

Fonte:De Paula e Souza(2011).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 171

A bacia do rio Ceará é afetada principalmente pelos processos de urbanização intensifi-


cados nas áreas em que está situada. Conforme Reis Neto (2013), os impactos ambientais em
áreas mais vulneráveis são capazes de promover intensas modificações na dinâmica dos pro-
cessos naturais do ambiente, onde em muitas das vezes não é possível reverter essas altera-
ções, tamanha a degradação ocorrida. Assim o autor ressalta que “Os valores para recuperação
e mitigação dos impactos ambientais é muito maior que o custo de conservar o ecossistema
natural e usufruir dos benefícios de seus serviços ambientais, prestados a um custo financeiro
nulo” (REIS NETO, 2013. p.82).
Portanto, para se promover uma relação mais harmoniosa, de forma que sejam atendi-
das as necessidades tanto dos indivíduos quanto da natureza, visando sua conservação, os
estudos acerca da vulnerabilidade ambiental são indispensáveis para a promoção de uma
melhor reorganização do território, uma vez que através deles é que podemos compreender
quais os locais possíveis para determinadas instalações, respeitando os sistemas naturais locais
e contribuindo para o desenvolvimento sustentável (DE PAULA E SOUZA, 2011).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O levantamento dos impactos que afetam as bacias hidrográficas, são de extrema impor-
tância, uma vez que o recurso hídrico é considerado indispensável para a sobrevivência dos
organismos terrestres. Assim, ao observarmos como esses recursos vêm sendo constante-
mente afetados, nos induz a repensar seu valor e importância tanto para manutenção da vida,
quanto por sua riqueza natural, pois está intrinsecamente atrelado aos demais ecossistemas,
como o manguezal, como exposto ao longo do trabalho.
Através das pesquisas pode-se observar que os modos de uso e ocupação na região do
Baixo Curso do Rio Ceará, tem prejudicado bastante os sistemas naturais, tendo em vista seu
alto índice de vulnerabilidade por comportar planícies fluviomarinhas comportando mangue-
zais. Atenta-se ainda para as regiões dos tabuleiros, que mesmo apresentando uma vulnerabi-
lidade moderada, vê-se necessário um cuidado maior com relação às práticas de uso e
ocupação, a fim de colaborar para a conservação dos recursos naturais. Contudo conclui-se
que, mesmo havendo regulamentações que assegurem a conservação desses recursos, é
necessário ainda uma maior conscientização da população, através de práticas de educação
ambiental a fim de promover um novo olhar sobre os sistemas que os rodeiam e sua importân-
cia ambiental e social.

7 REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. V.; FREIRE, G. S. S.; MANSO, V. do A. V.; FREIRE, R. S.; PORTELA, J. P. Estudo de uso e ocupação da
APA do estuário do rio Ceará-CEará.
BRASIL. (1986). Resolução do CONAMA n° 001/1986. Brasília.
CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Reestruturação e atualização do mapeamento do
projeto Zoneamento Ecológico-Econômico do Ceará – zona costeira e unidades de conservação costeiras–

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


172 José Roberto Teixeira; Monica dos Santos; José de Souza

Relatório final de caracterização ambiental e dos mapeamentos/Superintendência Estadual do Meio


Ambiente; GEOAMBIENTE – Fortaleza: SEMACE, 2016. 475 p.
DE PAULA, E. M. S.; DE SOUZA, M. J. N. Sistemas de informações geográficas na análise da vulnerabilidade
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GOMES, B. A. A. C. (2021). Análise dos impactos ambientais ocorridos pela ocupação irregular no manguezal
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


14.
DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS
NA CIDADE DE BOA VISTA-RR

ANA CAROLINE DOS SANTOS NUNES1


ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO ARAÚJO JÚNIOR2

Resumo: A ocupação desordenada em áreas de risco ambiental e geológico, bem como de Área de
Preservação Permanente é um dos grandes problemas urbanos das capitais brasileiras atual-
mente. Em Boa Vista estas áreas estão circunscritas aos sete igarapés urbanos e suas bacias hidro-
gráficas. Entre os mais variados fatores desta ocupação desordenada está a ausência de políticas
públicas, como habitação e saneamento básico, além da omissão das autoridades no que tange a
fiscalização das referidas áreas ocupadas. Assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar
um levantamento dos principais pontos de alagamento e partir daí, circunscrever áreas com
potencial de inundação, tendo como um dos fatores relacionados o desencadeamento da expan-
são populacional na área urbana de Boa Vista sobre as bacias hidrográficas urbanas. As informa-
ções coletadas junto a Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Meio Ambiente foram
utilizadas na elaboração dos produtos deste trabalho, utilizando para isso a quantificação dos
dados por meio da densidade de Kernel, devendo com isso compor parte de um banco de dados
que possa auxiliar no reconhecimento da realidade hídrica das áreas de risco a alagamento de
inundação e avaliar medidas que possam minimizar este problema. Percebe-se como consequên-
cia do aumento no contingente populacional, que problemáticas ambientais foram desencadea-
dos, podendo estes serem observados por meio das alterações das paisagens naturais de Boa
Vista, principalmente no tocante ao surgimento de pontos de alagamento. Deste modo, os impac-
tos ocorridos tendem a se propagar por toda hidrografia, repercutindo a jusante, com a concen-
tração de pontos de alagamento.
Palavras-chave: Expansão Urbana; Hidrografia; Ocupação irregular.
Abstract: Disorderly occupation in areas of environmental and geological risks, as well as in
Permanent Preservation Areas, is one of the major urban problems in Brazilian capitals today. In
Boa Vista, these areas are limited to the seven urban streams and their basins. Among the most
varied factors of this disorderly occupation is the absence of public policies, such as housing and
basic sanitation, in addition to the omission of the authorities regarding the inspection of these

1 Universidade Federal de Roraima. E-mail: anacaroline.cgpterr@gmail.com


2 Universidade Federal de Roraima. E-mail: aj_geo@hotmail.com

[ 173 ]
174 Ana Caroline dos Santos Nunes; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

occupied areas. Thus, the present work aims to carry out a survey of the main flooding points and
from there to circumscribe areas with potential for flooding, having as one of the factors related
to the triggering of population expansion in the urban area of Boa Vista over urban watersheds.
The information collected from the Civil Defense, Fire Department and Environment Department
were used in the preparation of the products of this work, using in this matter the quantification
of data through Kernel density, and must therefore form part of a database that can help in the
recognition of the water reality of areas at risk of flooding and evaluate measures that can mini-
mize this problem. As a result of the increase in the population contingent, environmental pro-
blems were triggered, which can be observed through changes in the natural landscapes of Boa
Vista, especially with regard to the appearance of flooding points. Under these circumstances, the
impacts that occurred tend to propagate throughout the entire hydrography, reverberating
downstream, with the concentration of flooding points.
Keywords: Urban Expansion; Hydrography; Irregular occupation.

1 INTRODUÇÃO
A expansão física da cidade se dá inicialmente de forma horizontal, abrangendo uma
extensa porção de terra. Esse processo é considerado um dos componentes da expansão
urbana, necessária para alocar a população em ascensão, para tanto há necessidade de realizar
planejamentos para que não ocorra prejuízo, tanto ao meio ambiente, quanto à população que
depende da cidade para uso e ocupação.
A Amazônia vem sendo transformada devido avanço da urbanização, relacionado ao pro-
cesso de uso e ocupação do solo, envolvendo diferentes impactos negativos em áreas de risco
ambiental e geológico, bem como de Área de Preservação Permanente, sendo este um dos
grandes problemas urbanos das capitais brasileiras-amazônicas.
Para reforçar a exemplificação do quadro de expansão urbana e com o intuito de promo-
ver a segurança nacional, o governo do estado promoveu o crescimento socioespacial do
“Território de Roraima”, através de uma política urbana concentrada na capital, Boa Vista, rea-
lizando obras de infraestrutura físicas e socioeconômicas, construindo conjuntos habitacionais
e ampliando os serviços públicos. (MOSSATO, et al., 2011; VERAS, 2009; BATISTA; SILVA, 2018).
Em Boa Vista estas áreas estão relacionadas aos sete igarapés urbanos e suas bacias
hidrográficas. Entre os mais variados fatores desta ocupação desordenada está a ausência de
políticas públicas como habitação e saneamento básico, além da omissão das autoridades no
que tange a fiscalização das referidas áreas.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento dos principais
pontos de alagamento e partir daí circunscrever áreas com potencial de inundação, tendo
como um dos fatores relacionados o desencadeamento da expansão populacional na área
urbana de Boa Vista sobre as bacias hidrográficas urbanas.
Drenagem Urbana e Canalização
A água, além de ser fonte da vida e origem de fonte de energia limpa quando bem utili-
zada também tem potencial de desencadear fenômenos negativos. A mesma pode ser fonte de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS Na cidade de Boa Vista-RR 175

doenças, e também de cheias, alagamentos e inundações, muitas vezes como resposta direta
a impermeabilização do solo. Assim a drenagem urbana passa ser não apenas uma necessi-
dade, mais uma prioridade para os gestores públicos.
Deste modo se a drenagem for bem executada pode elevar a qualidade de vida da popu-
lação, diminuindo o risco de doenças e consequentemente elevando a qualidade de vida, no
entanto não podemos confundir drenagem urbana com canalizações de igarapés.
No Brasil cidades como São Paulo, Rio Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus,
Belém e outras capitais se deparam com os mesmos problemas. Nestas cidades os órgãos
públicos são incapazes de agir com eficiência no planejamento, controle e execução de medi-
das eficazes para alterar a situação atual, está particularmente relacionada ao saneamento
básico. Cabe salientar que o saneamento se encontra numa situação caótica relacionada prin-
cipalmente a coleta e tratamento de esgotos domésticos e a drenagem urbana.
Boa Vista se enquadra nesta situação por ter sua área urbana plana, com graves proble-
mas de alagamento no período chuvoso. A cidade possui sistema de coleta de esgoto domés-
tico insuficiente, com poucos bairros em que o serviço é disponibilizado. Assim, a cidade dispõe
de raras galerias de esgoto fluvial e cloacal, um descaso de saneamento básico.
Salienta-se que o sistema de drenagem de um núcleo habitacional é o mais destacado no
processo de expansão urbana, ou seja, o que mais facilmente comprova a sua ineficiência, ime-
diatamente após as precipitações significativas, trazendo transtornos à população quando
causa inundações e alagamentos.
Além desses problemas gerados, também propicia o aparecimento de doenças como a
leptospirose, diarreias, febre tifoide e a proliferação dos mosquitos anófeles, que podem disse-
minar a dengue. E, para isso, estas águas deverão ser drenadas e como medida preventiva ado-
tar-se um sistema de escoamento eficaz que possa sofrer adaptações, para atender à evolução
urbanística, que aparece no decorrer do tempo.
Um sistema geral de drenagem urbana é constituído pelos sistemas de micro drenagem
e macrodrenagem. A canalização, um dos objetos de estudo do presente trabalho se enquadra
na modalidade de macrodrenagem.
Nos últimos dois séculos, muitos dos cursos d’água que cortam grandes centros urbanos
tiveram seus leitos transformados em grandes canais revestidos por materiais resistentes,
como pedra e concreto (ANDRÉS; LISBOA, 1997).
A canalização foi feita em nome da adequação dos cursos d’água ao crescimento dos
municípios. Ao canalizá-los, era possível aumentar as vias de transporte e os loteamentos,
além de eliminar, supostamente, o problema das enchentes, do esgoto e do excesso de lixo.
Cobertos por grandes avenidas, muitos cursos d’água são lembrados somente ao transborda-
rem, quando o volume de água e lixo ultrapassa a capacidade de suas galerias.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


176 Ana Caroline dos Santos Nunes; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

Limpar e manter esses canais são procedimentos difíceis e perigosos, principalmente nos
fechados, pois o acesso é o maior complicador. A mais grave consequência da canalização é o
fato desta comprometer a relação entre homem e natureza. As áreas verdes das margens são
substituídas por concreto e asfalto. Atividades de lazer como nadar, pescar e navegar passam
a ser quase impraticáveis.
Infelizmente, observamos uma certa tendência político-administrativa favorável à cana-
lização dos córregos e cursos d’água urbanos ou rurais como solução rápida, fácil e definitiva
para se evitarem enchentes, mau-cheiro, desbarrancamentos, proliferação de insetos e doen-
ças, bem como outros efeitos da má conservação, proteção e preservação do meio ambiente
(rural ou urbano).
Nesse contexto, também é importante ressaltar que estão sendo multiplicadas no espaço
urbano de Boa Vista as fontes de risco relacionados aos recursos hídricos em geral.
As fontes de risco se multiplicaram com o avanço da urbanização. A principal fonte de risco
para os igarapés de Boa Vista, onde à ocupação desordenada do espaço urbano, a qual leva, por
exemplo, à canalização dos rios e a destruição de matas ciliares. O crescimento desordenado das
últimas décadas vem sendo determinante para a degradação dos recursos hídricos urbanos.
Segundo Ross (2003) os problemas com a drenagem urbana não são os únicos a serem
enfrentados pelas cidades brasileiras. O que se observa é que o crescimento rápido das cidades
não é acompanhado no mesmo ritmo pelo atendimento de infraestrutura para a melhoria da
qualidade de vida.
A deficiência de redes de água tratada, de coleta e tratamento de esgoto, de pavimentação
de ruas, de galerias de águas pluviais, de áreas de lazer, de áreas verdes, de núcleos de formação
educacional e profissional, de núcleos de atendimento médico-sanitário é comum na maioria das
cidades brasileiras. Outro ponto importante a ser destacado é a presença de poluição nas áreas
canalizadas, tanto por resíduos sólidos (lixo), quanto por resíduos líquidos (esgotos).
Quanto à questão do esgoto o que se pode observar durante as visitas de campo é que
existem algumas ligações diretas nos canais, provenientes das residências e estabelecimentos
comerciais que margeiam os mesmos. A presença de lixo jogado nos canais e em alguns tre-
chos, onde o despejo de esgoto sanitário ocasiona entupimentos de saídas de esgotamento de
águas pluviais, e isso consequentemente aumenta o risco de inundações e alagamentos.
A construção dos canais sobre os igarapés foi realizada para escoar águas pluviais e fazer
o escoamento do excesso no período chuvoso, onde ocorrem as enchentes. Na conclusão do
trabalho era necessário saber o grau do impacto gerado pela implementação das obras de
canalizações.
No entanto, a continuidade desse tipo de obra depende de diversos fatores da legislação
ambiental. Segundo informações do Anteprojeto de Lei do Plano Diretor Estratégico de Boa Vista,
são objetivos relativos à Política Ambiental voltada para os Recursos Hídricos PMBV (2006):

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS Na cidade de Boa Vista-RR 177

I – Proteger e recuperar os mananciais do município, superficiais e profundos, conside-


rando também o entorno das lagoas, rios e igarapés, sejam eles permanentes ou temporários;
II – Incentivar a adoção de hábitos, costumes, posturas, práticas sociais e econômicas
que visem à proteção e recuperação dos recursos hídricos do município;
III – Buscar a sensibilização das interações entre as atividades antrópicas e o meio hídrico
para que sejam articuladas de maneira sustentável.
Como é de conhecimento geral as legislações federal, estadual e municipal são impecá-
veis. O principal problema é que essa legislação não é cumprida, enquanto isso igarapés como
o Mirandinha sofrem com a degradação ambiental.

2 METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste estudo abrangeu as seguintes etapas: levantamento de
dados secundários envolvendo pesquisa documental, na qual foram consultados artigos, dis-
sertações, entre outros e informações de metadados coletados em bancos de dados públicos
georreferenciados (IBGE, Corpo de Bombeiros, Fundação Estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos etc.).
Os procedimentos básicos da metodologia incluíram, levantamento de informações e
dados para embasamento, para com isso elaborar mapas temáticos da área e através destes rea-
lizar estudos analíticos temáticos, integrando atributos do meio físico com auxílio de imagens
OpenStreetMap para localização do município, hidrografia e igarapés canalizados na escala
1:80.000 e de outros elementos necessários para a confecção da carta base da área de estudo.
Com dados referentes a última grande cheia do Rio Branco, ocorrida em 2011 , pode-se
aferir a área que sofreu grandes consequências com inundações, sendo confeccionado a partir
destes dados o mapa de representação das áreas alagadas na escala de 1:100.000.
Os procedimentos de vetorização foram efetuados através do uso do aplicativo compu-
tacional em ambiente SIG (software ArcGIS 10), onde houve processo de integração, análise,
interpretação e cruzamento dos dados para confecção dos mapas temáticos de canalização e
alagamentos, da área de estudo. Sendo que, as informações coletadas deverão compor parte
de um banco de dados que possa auxiliar no reconhecimento da realidade da população que
reside em áreas de risco e avaliar medidas que possam minimizar este problema.

2.1 Área de estudo


O município de Boa Vista se localiza na margem direita do Rio Branco, podendo ser aces-
sado pela BR-174. A área de pesquisa é representada pela área urbana, Figura 1, sendo cortada
por uma malha de igarapés, e boa parte destes se encontram fortemente influenciados pela
ação humana, os quais ao longo dos anos vêm passando por um processo de degradação, oca-
sionado principalmente pelo crescimento urbano desordenado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


178 Ana Caroline dos Santos Nunes; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

Figura 1 – Localização da cidade de Boa Vista-RR

Fonte: Araújo Júnior (2016).

A área de estudo está inserida na Bacia hidrográfica do Rio Branco. O regime hidrográfico
da bacia é definido por um período de cheia, nos meses de março a setembro, com a maior
elevação no mês de junho. No período seco (outubro a fevereiro) as águas baixam considera-
velmente, impossibilitando a navegação, segundo Veras e Souza (2010).
O relevo do Município é formado por uma extensa superfície de aplainamento, conse-
quência do alto estágio de erosão de rochas pré-cambrianas com guinaise do embasamento
cristalino. Nele, as altitudes variam de 80 a 160 metros, decaindo em direção à calha do Rio
Negro, no Amazonas.
Estas áreas de planície de inundação em Boa Vista têm sido intensamente ocupadas nos
últimos trinta anos. Como grande parte das cidades brasileiras em áreas propensas a enchentes,
inundações e alagamentos este problema só é sentido com a chegada do período de chuvas.
Neste período centenas de famílias são obrigadas a se retirarem de suas casas devido a
problemas de inundação e alagamentos. Estes fatos se intensificaram no ano de 2011, devido
o alto índice pluviométrico, tendo milhares de desabrigados e milhões de reais em prejuízos
tanto na capital quanto em cidades do interior de Roraima.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS Na cidade de Boa Vista-RR 179

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Enchentes/alagamentos na cidade de Boa Vista-RR
Faz-se importante mencionar que a cidade de Boa Vista conta com uma boa infraestru-
tura, no qual podemos destacar a pavimentação de várias avenidas e ruas da cidade. Estão
sendo investidos na canalização de valas e colocação de canalização para escoamento de águas
pluviais para evitar as cheias no período chuvoso.
Porém, o aterramento dos lagos associado ao aumento do nível do terreno nas quadras
e ruas resulta num rebaixamento do lençol freático e na perda da conectividade entre os cor-
pos lacustres e suas áreas inundáveis. A modificação da drenagem natural da área acarreta
uma redução na permeabilidade da superfície do solo, consequentemente um aumento no
escoamento superficial, o que poderá tornar-se agravante para a ocorrência de inundações.
A intervenção social de maior agressão é a canalização dos igarapés. Isso causa muitos
problemas, pois retira toda a mata ciliar e o igarapé vira um esgoto, pois retifica o canal e a
águas correm mais rápido. Isso prejudica a dinâmica fluvial do igarapé, extinguindo o habitat
dos peixes que estavam no igarapé. A canalização ainda acaba com a flora e a fauna. (figura 2).

Figura 2 – Mapas de localização de igarapés canalizados

Fonte: Autora (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


180 Ana Caroline dos Santos Nunes; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

Um exemplo da degradação foi registrado pelo jornal impresso Folha de Boa Vista (2011),
num trecho do igarapé do frasco, que teve parte da mata ciliar arrancada às margens da BR-174,
no bairro Cauamé, para duplicação da rodovia (SOUZA, 2011). Outra parte da margem do iga-
rapé do Frasco, no bairro Jardim Floresta, tem a mata ciliar preservada, com buritizal e lá sur-
gem vários animais, como tucanos, papagaios, curica, paca, jacaré, sucuri e muitos outros
animais que vão para lá se alimentar de frutas e de peixe.
Conforme Tucci (1997), as enchentes em áreas urbanas são consequências de dois pro-
cessos, que ocorrem isoladamente ou de forma integrada: 1 – Enchentes em áreas ribeirinhas
– as quais ocorrem, principalmente, pelo processo natural no qual o rio ocupa o seu leito maior,
de acordo com os eventos chuvosos extremos, em média com tempo de retorno superior a
dois anos.
Esse tipo de enchente, normalmente, ocorre em bacias grandes (1.000 km2) e é decor-
rência do processo natural. Os impactos sobre a população são causados, principalmente, pela
ocupação inadequada do espaço urbano.
Como, no Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidades brasileiras, não existe
nenhuma restrição quanto ao loteamento de áreas de risco de inundação, a sequência de anos
sem enchentes é razão suficiente para que empresários loteiem áreas inadequadas; invasão
(ocupação irregular) de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população de
baixa renda; ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com frequência menor, mas
que quando o são, sofrem prejuízos significativos.
2 – Urbanização – Com o desenvolvimento urbano, ocorre a impermeabilização do solo
através de telhados, ruas calçadas e pátios, entre outros. Dessa forma, a parcela da água que
infiltrava passa a escoar pelos condutos, aumentando o escoamento superficial. (KUNEN et al
apud TUCCI, 2013)
O volume que escoava lentamente pela superfície do solo e ficava retido pelas plantas,
com a urbanização, passa a escoar no canal, exigindo maior capacidade de escoamento das
seções. Todavia, isto pode desencadear a ocorrência de inundações localizadas, as quais podem
ser provocadas por: (MIRANDA; MATUTI, 2018)
• Estrangulamento da seção do rio devido a aterros e pilares de pontes, estradas, ater-
ros para aproveitamento da área, assoreamento do leito do rio e lixo;
• Remanso devido à macrodrenagem, rio principal, lago ou reservatório;
• Erros de execução e projeto de drenagem de rodovias e avenidas, entre outros.
Normalmente, esses problemas disseminam-se nas áreas urbanas, à medida que existe
pouco controle sobre as diferentes entidades que atuam na infraestrutura urbana. Adutoras,
pontes ou rodovias são, frequentemente, projetadas sem se considerar seu impacto sobre a
drenagem. Os três tipos de inundações, normalmente, ocorrem em diferentes pontos das cida-
des, isoladamente ou pela combinação dessas situações.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS Na cidade de Boa Vista-RR 181

Uma das principais consequências do desenvolvimento urbano, no meio ambiente dos


pequenos rios urbanos, tem sido a redução da vazão no período de estiagem. Com o aumento
do escoamento superficial devido à impermeabilização, os aquíferos não são abastecidos, e a
capacidade do rio é reduzida. O escoamento, muitas vezes, é devido a esgoto jogado in natura
ou a ligação clandestina de esgoto cloacal no pluvial.
Mesmo a cidade de Boa Vista dispondo de ampla rede de captação de águas pluviais e
esta tem sido ampliada para os bairros periféricos do município. Tem-se realizado obras de dre-
nagem na sede Municipal, o escoamento das águas pluviais é feito através das tubulações. No
entanto alguns Bairros enfrentam graves problemas de alagamento no período das chuvas
devido a ocupação. (figura 3).

Figura 3 – Mapas das áreas que apresentaram maiores riscos de inundação

Fonte: os autores (2021).

Em áreas de risco ambiental, ou seja, áreas alagáveis (sujeitas a inundação, enchentes e


alagamentos) o escoamento é realizado através das depressões laterais das ruas o que tem
sido um grande problema ambiental para a cidade, pois provoca acúmulo de águas por exten-
sos períodos de tempo.
Destaca-se também, que no período chuvoso, as lagoas sazonais se tornam abundantes
na área urbana, acirrando inundações e intensificando alagamentos. A área urbana teve alguns

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


182 Ana Caroline dos Santos Nunes; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

de seus igarapés canalizados por valas de concreto, ocasionando com isso a devastação da sua
mata ciliar, o que compromete a infiltração de água do solo, bem como se torna um foco de
proliferação de larvas de insetos.
As áreas de lagoa em Boa Vista são muitas, bem como os recursos hídricos que estão na
área urbana do município, sendo que estas sofrem com a ocupação desordenada da cidade. Nas
margens do Rio Cauamé foram verificadas áreas em que a mata ciliar foi retirada, favorecendo o
processo de erosão e assoreamento do rio. O Rio Branco igualmente vem sofrendo este processo
seja pela retirada das matas ciliares, ou pela ocupação do seu leito de inundação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Boa Vista devido às condições geológico-geomorfológicas (terrenos cristali-
nos e áreas de planícies) é caracterizada por uma rica rede hidrográfica. Contudo, as práticas
de proteção ambiental dessa malha hídrica ainda são incipientes se comparado com o uso
indiscriminado do solo, relacionado a ocupação desordenada motivada pela especulação imo-
biliária e a expansão urbana acelerada, atrelados a um protecionismo governamental.
A cidade tem crescido indiferente às características naturais do seu sitio, descaracterizando
e degradando ambientais flúvio-lacustres. As causas dessa degradação são oriundas de proble-
mas de desigualdade econômica e social, aprofundadas por políticas públicas voltadas para ocu-
pação de espaços ociosos na cidade, as quais precisam ser melhor compreendidas para que se
possa promover um desenvolvimento urbano socialmente justo e ecologicamente equilibrado.
Para que estas áreas sejam ocupadas se impõem as mesmas áreas retirada ampla da
cobertura vegetal, provocando profundas mudanças nas suas características primordiais, alte-
rando a dinâmica ambiental como um todo, para com isso, o processo de ocupação ser reali-
zado, porém com uma infraestrutura deficiente.
Este quadro demonstra a necessidade de se investir em políticas de preservação ambien-
tal e na recuperação dos recursos naturais, por meio de ações que minimizem os impactos
ambientais decorrentes principalmente das ações antrópicas.
Recuperar e preservar os lagos dentro do perímetro urbano de Boa Vista consiste em
um desafio. Os caminhos para estas conquistas requerem ações integradas no âmbito esta-
dual e municipal, tendo como um importante ingrediente à mobilização popular. Nesse sen-
tido, destacamos um maior rigor na fiscalização e cumprimento das leis ambientais e o
estabelecimento de uma política ambiental voltada para a preservação e conscientização da
sociedade como um todo.
As diferentes áreas com potencial de serem afetadas, degradadas e identificadas na
figura 4 devem prioritariamente ser preservadas, para que os lagos existentes na área de
estudo tenham também como foco esforços de recuperação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DRENAGEM URBANA E ALAGAMENTOS Na cidade de Boa Vista-RR 183

Neste sentido, quanto menor o estágio de degradação, maior as chances de sucesso de um


projeto de reabilitação das funções ecológicas de um dado ecossistema. No caso da área anali-
sada, os corpos lacustres apresentam uma importância fundamental para a manutenção do
regime de fluxo de diversos igarapés da região, por localizarem-se nas áreas de suas nascentes.
Os impactos ocorridos nos lagos tendem a se propagar por todo o sistema hídrico caso
não sejam realizadas obras de acordo com um planejamento urbanístico. Antes de criar um
novo local para moradias, recomenda-se que seja estruturado com a devida preocupação em
relação ao saneamento básico público, bem como com o escoamento superficial, de modo que
não haja transtornos após a inserção de morados no local.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


15.
ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE
Problemas de uma bacia hidrográfica urbana

REGINA CÉLIA MACÊDO DO NASCIMENTO1


FREDERICO YURI HANAI2
BETÂNIA CRISTINA GUILHERME3

Resumo: Os estuários são ambientes de conexão entre a terra e os oceanos. Devido à mistura de
águas e demais fatores hidrodinâmicos, essas regiões apresentam grande potencial de serviços ecos-
sistêmicos. Porém, devido ao aporte urbano acentuado, muitas dessas regiões sofrem pressões
externas que interferem na sua qualidade ambiental. Assim, investigações e monitoramentos cons-
tantes dessas regiões são fundamentais para se pensar em gerenciamento integrado. Sendo assim,
a pesquisa teve como objetivo elencar os principais impactos e interferências que afetam a quali-
dade da água estuarina do Rio Capibaribe, localizado em Recife – Pernambuco, identificando o grau
de seus efeitos ambientais, a fim de subsidiar melhor desenvolvimento do gerenciamento integrado
dessa região. Para tanto, foram realizadas 12 visitas ao estuário, de 2018 a 2020, com auxílio de
embarcação motorizada para a aplicação da metodologia de Avaliação de Impacto Ambiental, com
o auxílio de 9 indicadores para visualização e classificação dos impactos ambientais presentes na
região. Com as visitas, pôde-se verificar que a situação do estuário se encontra comprometida prin-
cipalmente devido ao grande aporte urbano, tendo como principais problemas a construção de
empreendimentos regulares ou não em suas margens, que tem provocada a supressão de vegetação
nativa e o lançamento de efluentes diretamente na água, interferindo sobremaneira nos serviços
ecossistêmicos da região. A identificação desses problemas é fundamental para o processo de geren-
ciamento integrado costeiro e elaboração de redes de monitoramento ambiental, corroborando
com as tomadas de decisões para o planejamento de bacias hidrográficas.
Palavras-chave: Aporte Urbano; Gestão Integrada; Monitoramento Ambiental.
Abstract: Estuaries are environments connecting land and oceans. Due to the mixture of water and
other hydrodynamic factors, these regions have great potential for ecosystem services. However,
due to the accentuated urban contribution, many of these regions suffer external pressures that
interfere with their environmental quality. Thus, constant investigations and monitoring of these
regions are essential for thinking about integrated management. Thus, the research aimed to list the

1 Universidade Federal de São Carlos. E-mail: nascimento.regina@live.com


2 Universidade Federal de São Carlos. E-mail: fredyuri@ufscar.br
3 Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: betaguilherme2@gmail.com

[ 185 ]
186 Regina Célia Macêdo do Nascimento; Frederico Yuri Hanai; Betânia Cristina Guilherme

main impacts and interferences that affect the quality of estuarine water of the Capibaribe River,
located in Recife – Pernambuco, identifying the degree of its environmental effects, to support bet-
ter development of the integrated management of this region. To this end, 12 visits were carried out
to the estuary, from 2018 to 2020, with the aid of a motorized vessel to apply the Environmental
Impact Assessment methodology, with the aid of 9 indicators for visualization and classification of
environmental impacts present in the region. With the visits, it could be seen that the situation of the
estuary is compromised mainly due to the large urban contribution, with the main problems being
the construction of regular or non-regular projects on its banks, which has caused the native vegeta-
tion suppression, and also the release of effluents into the water, greatly interfering in the region’s
ecosystem services. The identification of these problems is fundamental for the process of integra-
ted coastal management and the elaboration of environmental monitoring networks, corroborating
decision-making for the planning of hydrographic basins.
Keywords: Urban Contribution; Integrated management; Environmental monitoring.

1 INTRODUÇÃO
Os estuários são considerados ambientes de transição entre a terra e o mar (CAMERON;
PRITCHARD, 1963; SCHETTINI et al., 2016), que apresentam grande valor econômico devido ao
seu potencial de serviços ecossistêmicos (provisão de alimentos e abrigo, fonte de renda, prin-
cipalmente com a pesca e turismo, sequestro de carbono, berçário para diversas espécies mari-
nhas e de água doce, dentre outros) (BRANDER et al., 2012; SPANINKS; BEUKERING, 1997), bem
como a região na qual estão inseridos, denominadas de zonas costeiras, apresentam uma
maior disponibilidade de água favorecendo a expansão urbana, as especulações imobiliárias e
consequentemente um maior adensamento populacional (MEA, 2005; PIATTO; POLETTE, 2012;
NASCIMENTO et al., 2018).
Devido à intrusão de água salina nos rios e sua respectiva diluição pela água doce, as
regiões estuarinas contribuem para o estabelecimento de gradientes ambientais, que por sua
vez, auxiliam uma crescente diversificação de habitats e maior disponibilidade de nutrientes na
água (BARLETTA et al., 2019; NUNES; CAMARGO, 2018). Um dos fatores que interferem direta-
mente no funcionamento do estuário e seu respectivo equilíbrio é a presença da urbanização
em seu entorno (CHAPMAN; UNDERWOOD; BROWNE, 2018), que no que lhe concerne, modi-
fica relação entre o solo e o rio, e consequentemente, provoca alterações na hidrodinâmica do
estuário e nos serviços ecossistêmicos (WEINSTEIN, 2008; VAN NIERK et al., 2019).
Ao verificar a situação das regiões estuarinas no Brasil, de acordo com pesquisas do World
Resources Institute (2008), a situação permanece crítica. Ao observar o nordeste brasileiro, a
única região que é dominada por zona hipóxica, está localizada em Recife, Estado de Pernambuco
(Figura 1), a qual refere-se à bacia hidrográfica do Pina (composta pelos rios Tejipió, Pina, Jordão
e Capibaribe). Dentre os rios de maior expressividade que a compõe, está o Capibaribe, um dos
maiores do Estado (NASCIMENTO et al., 2020), com uma área de 7.454,88 km² correspondente a
7,58% de Pernambuco (LIMA et al., 2018), o qual seu estuário é considerado uma Zona Especial
de Proteção Ambiental (ZEPA) por meio do decreto nº 23.809 de 23 de julho de 2008.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE 187

A bacia hidrográfica do Rio Capibaribe sofre constantemente com as ações antrópicas no


que tange a agricultura, expansão urbana, especulações imobiliárias, esgotamento sanitário,
dentre outros (NASCIMENTO et al., 2020; XAVIER et al., 2017). Além disso, essa bacia e seu res-
pectivo estuário vivenciam problemáticas relacionadas ao seu gerenciamento integrado, prin-
cipalmente no que diz respeito à qualidade das águas estuarinas.

Figura 1 – Demonstrativo das áreas estuarinas com índices de hipóxia e eutrofização, com ênfase para a Bacia
do Pina, localizada em Recife – Pernambuco

Fonte: World Resources Institute (2008).

A exemplo das problemáticas quanto ao gerenciamento da região, o programa oficial do


Estado de monitoramento da qualidade das águas realizado pela Agência Pernambucana de
Meio Ambiente (CPRH), apresenta apenas 2 pontos de coleta em todo o estuário. Esse número
infelizmente está aquém do esperado, tendo em vista que o estuário do Capibaribe apresenta
19 km² de extensão (NASCIMENTO; DICTORO; HANAI, 2020). Desse modo, o presente trabalho
elencou os principais impactos e interferências que afetam a qualidade da água estuarina do
Rio Capibaribe, identificando o grau de seus efeitos ambientais, a fim de subsidiar melhor
desenvolvimento do gerenciamento integrado dessa região.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


188 Regina Célia Macêdo do Nascimento; Frederico Yuri Hanai; Betânia Cristina Guilherme

2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
A bacia hidrográfica do Rio Capibaribe é uma das mais importantes do estado de
Pernambuco, a qual abrange aproximadamente 1.330.000 habitantes. Sua região estuarina
(8°4’S – 34° 53’W), localizada na cidade do Recife, capital do estado, tem sido desenvolvida
desde a colonização há mais de 500 anos (BEZERRA et al., 2018; NASCIMENTO et al., 2020)
(Figura 2). Com um grande aporte urbano em suas margens, o estuário apresenta impactos
ambientais em grande intensidade, principalmente no que tange o desmatamento da vegeta-
ção nativa (mangues das espécies Rizhophora mangle L., Laguncularia racemosa L., Avicennia
germinans L. e Avicennia schaueriana Stap & Leechm), escoamento de efluentes domésticos
das construções imobiliárias, regulares ou não (XAVIER et al., 2017).

Figura 2 – Localização do estuário urbano do Rio Capibaribe, na cidade


de Recife – Pernambuco. Marcação em vermelha correspondente a
montante e amarela à jusante do estuário com desembocadura no
Oceano Atlântico

Fonte: Autores, 2021

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE 189

2.2 Aquisição e análise de dados


Foram realizadas 4 visitas técnicas anuais (uma em cada estação do ano) de 2018 a 2020
no estuário do Rio Capibaribe, totalizando 12 trabalhos de campo. Em todas elas, o trajeto total
do estuário foi percorrido com o auxílio de embarcação motorizada, permitindo visualizar deta-
lhadamente o estuário, dando-se ênfase às observações locais das condições ambientais, prin-
cipalmente de suas margens.
A fim de visualizar os impactos e ações antrópicas existentes no local, aplicou-se a meto-
dologia de Avaliação de Impacto Ambiental proposta por Tommasi (1994) e Sanchez (2013),
com devidas adaptações às condições da localidade. Para isso, foram utilizados os seguintes
indicadores: Expansão urbana; Terraplanagem; Aterros nos manguezais; Processos erosivos;
Deposição de resíduos sólidos; Degradação da vegetação; Emissão de efluentes domésticos
(estuário /mangue); Assoreamento (Rio/manguezal); Invasão de áreas públicas (rio/mangue).
Para cada indicador ambiental, foram atribuídos pesos dos efeitos das interferências,
que variavam de acordo com a seguinte escala: 1 (pequeno) – quando não se tem grande teor
de agressividade ao ambiente; 3 (moderado) – quando sua influência for pontual; 5 (extremo)
– quando interferir drasticamente no ambiente. Além disso, observou também os efeitos de
cada impacto apresentado ao ambiente, assim, eles foram classificados de acordo com sua
intensidade. Por se tratar de efeitos, as notas atribuídas foram negativas, conforme proposto
na metodologia (-1, -3 e -5).
Após o preenchimento das respectivas notas aos indicadores, pôde-se obter por meio da
multiplicação (peso do indicador versus nota do efeito), o índice geral de impacto do estuário
do Rio Capibaribe. Sendo eles classificados em: pequeno (valores –1 a -3); moderado (valores
–5 a -9) e extremo (valores –15 a –25).
Além da metodologia supracitada, informações quanto potenciais fontes de poluição
que viessem interferir na qualidade hídrica do estuário foram resgatadas por meio de uma
revisão de literatura com o auxílio das bases de dados do Scielo e Google Acadêmico. A escolha
dessas duas plataformas deve-se ao potencial dos seus artigos em português afim de conseguir
filtrar mais informações a respeito da área de estudo. Assim, realizaram-se buscas entre 2018
e 2021 com a combinação das palavras-chave: “estuário do Rio Capibaribe”, “qualidade da água
do estuário Rio Capibaribe”, “qualidade hídrica do estuário Rio Capibaribe”, “indicadores do
estuário do Rio Capibaribe”.
O resgate da literatura favoreceu uma melhor compreensão detalhada da área de estudo,
observando suas peculiaridades e necessidades para assim conseguir formular propostas que
venham a subsidiar um melhor gerenciamento integrado para a região estudada.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


190 Regina Célia Macêdo do Nascimento; Frederico Yuri Hanai; Betânia Cristina Guilherme

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Impactos ambientais no estuário
Após as 12 visitas ao estuário do Rio Capibaribe, pôde-se verificar que todos os indicado-
res adotados resultaram classificações dos efeitos como extremos (tabela 1). Assim, com o
monitoramento observou-se que mesmo com o passar do tempo, os estressores externos con-
tinuavam presentes no estuário e impactando negativamente esse ambiente. Estando eles
interligados com o indicador de expansão urbana. Ou seja, ela acabou influenciando direta-
mente o processo de terraplanagens para suas construções regulares, aterros dos manguezais
para dar lugar a grandes prédios e construções irregulares.

Tabela 1 – Exemplificação da metodologia utilizada com os indicadores, pesos, efeitos e respectivas classificações

Indicador Peso Efeito Classificação

Expansão urbana 5 -5 -25

Terraplanagem 5 -5 -25

Aterros nos manguezais 5 -5 -25

Processos erosivos 5 -5 -25

Deposição de resíduos sólidos 5 -5 -25

Degradação da vegetação 5 -5 -25

Emissão de efluentes 5 -5 -25

Assoreamento 5 -5 -25

Invasão de áreas publ. 5 -5 -25


Fonte: Tommasi (1994), Sanchez (2013) com adaptação dos autores

Para mais, o grande aporte urbano e imobiliário no estuário acabou influenciando dire-
tamente outros impactos, como o aumento expressivo dos processos erosivos na região, asso-
reamento e invasão de áreas públicas (em sua maioria por construção irregular). Essa última,
demonstra um problema que vai além da dimensão ambiental, pelo fato das construções e
edificações não terem estruturas mínimas para qualidade de vida humana (sistema de esgota-
mento sanitário), lançando todo seu efluente doméstico diretamente nas águas, comprome-
tendo a saúde social e ambiental do estuário.
No sentido a montante do estuário, a presença de construções irregulares em suas mar-
gens era ainda mais evidente por ter um maior quantitativo de comunidades vulneráveis (Figura
3). Porém, ressalta-se que, também das proximidades da desembocadura do estuário, pode-se
verificar a presença de uma comunidade expressiva, a Ilha de Joana Bezerra, que é constituída

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE 191

principalmente de construções precárias nas proximidades do rio (Figura 3C). Além das ques-
tões sociais que impactam diretamente na emissão dos efluentes domésticos, corroborando
com a presente problemática, Zanardi-Lamardo et al. (2016) verificaram a presença de 57
indústrias de médio e alto potencial de poluição no entorno do estuário. Ainda, os autores con-
seguiram detectar 150 pontos e fontes de contaminação por água residuárias que são lançados
diretamente no estuário.

Figura 3 – Construções irregulares no estuário urbano do Rio Capibaribe, na cidade de Recife –


Pernambuco. (A) Montante do estuário;(B) Supressão total da vegetação nativa e construções a
montante do estuário; (C) Comunidade vulnerável próximo a desembocadura do estuário

Fonte: Autores, 2018

O lançamento direto dos efluentes e águas residuais no corpo hídrico (estuário) contribi
para o aumento expressivo de nutrientes como Fósforo (P) e Nitrogênio Amoniacal (NH3), que
favorecem a perda de oxigenação na água, tornando pontos do estuário hipóxicos (baixa oxi-
genação nas águas – inferior a 2.0 mg L-1) ou anóxicos (ausência total de oxigênio) e consequen-
temente a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) alta, conforme comprovado com a literatura
(BRAYNER; MATVIENKO, 2003; FARRAPEIRA; MELO; TEIXEIRA, 2009; NASCIMENTO et al., 2020;
SCHETTINI et al., 2016; SILVA et al., 2016).
Em consonância às ações antrópicas, o estuário vem sofrendo com a deposição de resí-
duos sólidos em todo seu percurso, tendo maior acentuação em sua jusante ao se aproximar
da desembocadura no Oceano Atlântico. Com o acompanhamento da região durante os três
anos, pôde-se inferir que, a grande quantidade de resíduos dispostos sem tratamento está
associada à presença de intensa urbanização da cidade, assim como à falta de vegetação nativa
em suas margens, e ocupações urbanas indevidas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


192 Regina Célia Macêdo do Nascimento; Frederico Yuri Hanai; Betânia Cristina Guilherme

Corroborando com essa constatação, Nascimento, Cruz e Guilherme (2019) desenvolve-


ram uma pesquisa nessa localidade com enfoque na análise quali-quantitativa dos resíduos
sólidos, e verificaram que o grande volume da população favoreceu o descarte inadequado dos
resíduos sólidos urbanos. As autoras constataram um grande quantitativo de garrafas plásticas
e embalagens nas margens do estuário, além dos demais resíduos que vinham carreados pela
dinâmica da movimentação das marés no estuário.
Com a modificação da paisagem nos estuários urbanos, crescimento descontrolado da
urbanização, ocupações irregulares e desordenados em suas margens, deposição de resíduos
sólidos nos corpos hídricos, a qualidade e a drenagem de suas águas acabam se comprome-
tendo, tornando-se cada vez mais um ambiente poluído (MICHAEL et al., 2017; NASCIMENTO
et al., 2020).
A presença excessiva de nutrientes provenientes da ausência de instalações e tratamento
de esgotamento sanitário, de resíduos e das demais atividades antrópicas nas águas estuari-
nas, acarreta drásticos impactos a esse ecossistema, como exemplo a hipóxia e anóxia, perda
acentuada da biodiversidade, floração de algas e consequentemente diminuição da produção
primária, dentre outros (BRICKER et al. 2008; JUNG, 2020; NASCIMENTO et al., 2020). Com o
aumento desses nutrientes na água, verifica-se que as regiões estuarinas têm se tornado zonas
“mortas” com maior frequência em todo o mundo, de acordo com pesquisas devolvidas pelo
World Resources Institute (SELMAN et al., 2008), além do elevado nível de eutrofização nessas
áreas (JUNG, 2020).

3.2 Reflexões para um gerenciamento integrado


As regiões estuarinas, por serem ambientes transitórios da água doce para a salgada, por
muitas vezes os gerenciamentos de bacias hidrográficas e dos oceanos acabam não contem-
plando com grande enfoque essas regiões. Por outro lado, esforços crescentes de pesquisado-
res estão conseguindo transformar essa realidade, trazendo marcos como o GERCO
(Gerenciamento Costeiro), SIGERCO (Sistema de Gerenciamento Costeiro) e PNGC (Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro), que se constituem como algumas diretrizes norteadoras
para a gestão dessas regiões.
Dessa forma, a identificação dos principais impactos, problemáticas e interferências que
afetam a região do estuário do Rio Capibaribe, assim como a avaliação de seus efeitos na qua-
lidade da água, são componentes relevantes no processo de gerenciamento integrado costeiro
e para a programação de monitoramento ambiental da região, baseando-se em evidências fac-
tíveis para tomada de decisões assertivas no planejamento de bacias hidrográficas.
Com a atualização do Plano Estadual de Recursos Hídricos de Pernambuco (PERH-PE) em
2019, algumas adoções quanto a gestão integrada foi proposta, como melhorias no monitora-
mento da qualidade de água do Rio Capibaribe. Com as melhorias, espera-se que ações integra-
das dos planos de habitação e de saneamento básico sejam realizadas, já que, como constatado

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE 193

no presente estudo, o aporte urbano da cidade está influenciando diretamente a qualidade


ambiental do estuário e respectivamente de seus corpos hídricos e da vida da sociedade local.
Ações quanto a fiscalização e monitoramento da cobertura vegetal, recuperação das
áreas degradadas com a promoção da Educação Ambiental também estão previstas. Porém,
surgem reflexões de como essas ações serão efetivadas na região estuarina, já que, em muitos
locais há insuficiência de vegetação nativa para recuperação natural.
Diante do exposto, destaca-se a necessidade de investimento em ferramentas, instru-
mentos que favoreçam uma melhor análise ambiental, social e econômica nessas regiões, mas
que tenham interações e integrações entre si, favorecendo o gerenciamento integrado entre o
estuário e o restante da bacia hidrográfica, bem como no que tange a comunicação interna
entre os entes envolvidos na gestão das zonas costeiras e no planejamento de bacias
hidrográficas.
Asmus (2016) ressalta que, o sistema instituído na política ambiental atual do Brasil, vê
regiões costeiras e de bacia hidrográfica de maneira fragmentada. Para tanto, essa visão deve
dar lugar à abordagem sistêmica e holística, conforme recomendado na literatura (BARRAGÁN,
2014; CICIN-SAIN; KNECHT, 1998; ONETTI; SCHERER; BARRAGÁN, 2018).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As regiões estuarinas são locais de grande valor ecossistêmico, porém, por muitas vezes
são lugares negligenciados quanto a sua qualidade ambiental. O grande problema destacado
no Capibaribe relaciona-se ao crescimento acelerado da cidade do Recife, fazendo com que
cada vez mais a cidade tivesse seu crescimento em torno do rio. Com isso, após o monitora-
mento dos indicadores durante três anos da região, pôde-se inferir que os impactos voltados à
supressão de vegetação nativa (mangues), processos erosivos e assoreamento do rio, como
também invasão de áreas públicas por populações mais vulneráveis para construções de mora-
dias irregulares estão em uma classificação extrema. Assim dizendo, seus níveis encontram-se
altos, interferindo diretamente na saúde ambiental do rio e consequentemente na provisão de
seus serviços ecossistêmicos.
Se tratando da vulnerabilidade social, as edificações construídas nas margens do estuário
não apresentam sistemas de esgotamento sanitário, lançando diretamente seus efluentes no
corpo d’água, favorecendo o excesso de nutrientes como Fósforo e Nitrogênio Amoniacal na
água. O excesso desses nutrientes acarreta a baixa oxigenação, deixando a qualidade das águas
comprometida, e em alguns casos, considerada como zona hipóxica, conforme comprovado
em estudos anteriores.
Com o presente cenário, a continuidade de monitoramentos efetivos no estuário é fun-
damental para se identificar as necessidades e fragilidades da localidade, bem como, a formu-
lação de ferramentas e instrumentos que venham a contribuir para a tomada de decisão de
gestores locais, mas não somente isso. Destaca-se que é necessário articular um

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


194 Regina Célia Macêdo do Nascimento; Frederico Yuri Hanai; Betânia Cristina Guilherme

gerenciamento integrado que possa conversar entre a gestão de bacias hidrográficas e a de


oceanos (zonas costeiras como um todo), para que ações sejam desempenhadas de forma sis-
têmica e integrada, visando à melhoria das condições ambientais e sociais da região.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


16. EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA
MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO ANHANGABAÚ (SÃO PAULO-SP)
ENTRE OS ANOS DE 1930 E 2020

FERNANDO NADAL JUNQUEIRA VILLELA1


HENRIQUE FERREIRA SOUSA2

Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar como decorreu a urbanização da Bacia
Hidrográfica do Rio Anhangabaú (São Paulo-SP), tendo como hipótese que a interferência antró-
pica teria modificado os índices morfométricos da bacia favorecendo, por exemplo, o aumento da
ocorrência de inundações e alagamentos, além de que medidas governamentais foram tomadas a
fim de favorecer o uso e ocupação dos terrenos, demonstrando falta de planejamento no que se
refere à conservação dos corpos d’água da cidade. Com o objetivo de quantificar e comparar as
condições da bacia hidrográfica entre as décadas de 1930 e 2020, utilizaram-se índices morfomé-
tricos propostos por Horton (1945) e Strahler (1952), enquanto que para a análise do uso e ocupa-
ção do solo, os conceitos e metodologias fundamentados na antropogeomorfologia propostos
por Rodrigues (1997, 2005, 2010), Moroz-Caccia Gouveia (2010) e Luz (2014) foram fundamentais.
Após uma análise retrospectiva histórica, constatou-se que houve diversas obras de gestões que
tinham nos rios um obstáculo a ser superado, visando promover e melhorar a circulação de carros
na cidade. Verificou-se que os índices morfométricos apresentaram pouca alteração entre 1930 e
2020 mesmo utilizando-se de bases hidrográficas diferentes, demonstrando que, morfometrica-
mente, a bacia é pouco suscetível a inundações. Quanto ao uso e ocupação da terra, atualmente
observam-se altos graus de perturbação, juntamente com uma maior impermeabilização do solo
em detrimento de áreas com baixa cobertura vegetal, sendo registradas centenas de ocorrências
de inundação e alagamento nos últimos anos.
Palavras-chave: Morfometria; Urbanização; Antropogeomorfologia; Drenagem Urbana.
Abstract: This study aimed to analyze how the urbanization of the Anhangabaú River Basin (São
Paulo-SP) took place, with the hypothesis that anthropogenic interference would have modified
the basin’s morphometric indices, favoring, for example, the increase in the occurrence of fluvial
floods and surface water floods, in addition to the fact that government measures were taken in
order to favor the use and occupation of land, demonstrating a lack of planning with regard to the
conservation of the city’s water bodies. In order to quantify and compare the conditions of the

1 Universidade de São Paulo. E-mail: geovillela@usp.br


2 Universidade de São Paulo. E-mail: henrique.ferreira.sousa@usp.br

[ 196 ]
EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 197

watershed between the 1930s and 2020s, morphometric indices proposed by Horton (1945) and
Strahler (1952) were used, while for the analysis of land use and occupation, the concepts and
methodologies based on anthropogeomorphology proposed by Rodrigues (1997, 2005, 2010),
Moroz-Caccia Gouveia (2010) and Luz (2014) were fundamental. After a retrospective historical
analysis, it was verified that there were several management works that had in the rivers an obs-
tacle to be overcome, aiming to promote and improve the circulation of cars in the city. It was
found that the morphometric indices showed little change between 1930 and 2020, even using
different hydrographic bases, demonstrating that, morphometrically, the basin is not very suscep-
tible to fluvial floods. As for the use and occupation of the land, there are currently high degrees
of disturbance, together with greater soil sealing to the detriment of areas with low vegetation
cover, with hundreds of occurrences being recorded of fluvial floods and surface water floods in
recent years.
Keywords: Morphometry; Urbanization; Antropogeomorphology; Urban drainage.

1 INTRODUÇÃO
A questão da água em ambiente urbano é um dos principais pontos que levantam dis-
cussões atualmente, visto que ela é um elemento que sofre influência direta e indireta das
intervenções antrópicas. O fenômeno da urbanização altera significativamente as taxas de
infiltração e escoamento do solo, acarretando diversos problemas, como perdas humanas e
materiais, alagamentos, problemas de deslocamento, entre outros. Os valores referentes ao
ciclo hidrológico são alterados, a ponto de autores como Botelho (2011, p.72) afirmar que
“nas áreas urbanas toda essa diversidade de caminhos do sistema natural é reduzida ao binô-
mio escoamento e infiltração, com maior participação do primeiro”. Em uma bacia hidrográ-
fica urbana, como a do Rio Anhangabaú, localizada no centro da cidade de São Paulo, esses
problemas são constantes e suas consequências maximizadas aumentando os desafios refe-
rentes à sua gestão.
Este trabalho tem como objetivo analisar como decorreu a urbanização da Bacia
Hidrográfica do Rio Anhangabaú (Figura 1) e verificar se a mesma, por obras de engenharia
civil ligadas à essa urbanização, teve a sua morfometria modificada entre os anos de 1930 e
2020. Consideram-se como possíveis ações passíveis de alteração na morfometria da bacia:
cortes de talude, aterros, modificações do sistema de drenagem e impermeabilização da
superfície, além do desmatamento. A gestão de bacias hidrográficas urbanas envolve diver-
sas problemáticas, mas as altas taxas de impermeabilização, retirada de cobertura vegetal,
construção de avenidas, túneis e outras obras podem, em tese, modificar seu relevo original.
Assim, este trabalho testa essa hipótese a partir de levantamento morfométrico retrospec-
tivo no período considerado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


198 Fernando Nadal Junqueira Villela; Henrique Ferreira Sousa

Figura 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Anhangabaú

Fonte: elaborado pelo autor

2 METODOLOGIA
Visando quantificar e determinar algumas das modificações citadas, utilizaram-se índices
para determinar as principais características morfométricas e eliminar possíveis subjetividades
acerca da morfometria da bacia hidrográfica considerada. Os índices utilizados neste trabalho
foram propostos por Horton (1945) e Strahler (1952), cujas obras foram pioneiras permitindo
uma abordagem mais quantitativa. Já para compreender os conceitos envolvidos acerca da
antropogeomorfologia, utilizou-se as obras de Rodrigues (1997, 2005, 2010) nas quais são abor-
dadas as principais ideias da geomorfologia antropogênica, conceito relativamente recente na
geografia, mas que já possui diversos estudos de grande relevância. Por fim, as obras de Simões
Júnior (2004) e Rodrigues (2008) foram de fundamental importância para conseguir compreen-
der a evolução da região central de São Paulo, demonstrando como se deu o processo de urba-
nização da região, passando pelo uso e ocupação do solo e construção de algumas obras de
infraestrutura, como avenidas, túneis e obras de “melhoramento”.
Durante esta pesquisa, foram estudados dois principais pontos: a cartografia histórica da
bacia hidrográfica aliada ao estudo da evolução urbana e a obtenção dos principais índices
morfométricos para que fosse possível obter características acerca da bacia. Quanto ao

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 199

primeiro, foi realizada pesquisa bibliográfica que reuniu diversos documentos, como fotogra-
fias, mapas e cartas históricas da cidade. Com objetivo de realizar o estudo morfométrico para
o ano de 1930, foram georreferenciados em ambiente de Sistema de Informação Geográfica
(SIG) os principais mapas e cartas que permitissem visualizar os cursos d’água que ainda não
haviam sido canalizados e tamponados.
Já para obtenção dos índices morfométricos, primeiramente foram vetorizadas as curvas
de nível com equidistância de 5 metros presentes na carta topográfica da SARA BRASIL, refe-
rente ao ano de 1930 em escala 1:5.000 e, após a obtenção da hipsometria, foi realizada a deli-
mitação da bacia hidrográfica para o ano em questão. Para os cálculos morfométricos de 2020,
foram utilizados os dados retirados do mapeamento Laser/Lidar realizado pela prefeitura de
São Paulo, obtendo um Modelo Digital de Terreno (MDT). Este mapeamento consiste em uma
densa nuvem de pontos com precisão de 10 cm e densidade de pontos na média de 10 pontos/
m². A partir desses dados, foram obtidas as curvas de nível, com equidistância de 1 metro e,
logo em seguida, foi realizada a delimitação da bacia. Os seguintes índice morfométricos foram
utilizados, conforme são demonstrados em Christofoletti (1980):
• Hierarquia Fluvial: realizada com base em Strahler (1952);
• Análise Areal: Perímetro (P), Densidade de Rios (Dr), Densidade de Drenagem (Dd),
Coeficiente de Manutenção (Cm), Fator de Forma (Ff), Índice de Circularidade ou
Forma da Bacia (Ic) e Coeficiente de Compacidade (Kc);
• Análise Hipsométrica: Amplitude altimétrica máxima (Hm), Índice de Rugosidade (Ir) e
Razão de Relevo (Rr);
• Análise Linear: Comprimento do rio principal (L), Comprimento total dos canais (Lt),
Índice de Sinuosidade (Is) e Relação de Bifurcação (Rb).
Para análise do uso e ocupação do solo, foram utilizadas as fotografias aéreas de 1940,
ano em que a Bacia do Anhangabaú foi considerada como de perturbação ativa, ou seja, refe-
rente ao processo de urbanização e com categorias de uso do solo predominantes de nível
médio de perturbação (RODRIGUES, 2005). Já para 2020 foram usadas as ortofotos disponibili-
zadas gratuitamente pelo site GeoSampa, base cartográfica oficial da cidade. Para este ano, a
bacia já se encontra no estágio de pós-perturbação, isto é, com uma urbanização consolidada
e com seu uso do solo predominantemente formado por construções que promovem altos e
muito altos graus de perturbação. As categorias de cada uso para ambos os anos foram basea-
das nos trabalhos de Moroz-Caccia Gouveia (2010) e Luz (2014).
Por último, para a análise dos pontos de inundação e alagamento, primeiramente foi rea-
lizada a geocodificação dos mesmos através do software Google Earth com base nos dados for-
necidos pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), cujos dados vão de 04/11/2004
até 08/12/2020 e encontram-se disponíveis no site oficial: <https://www.cgesp.org/v3/alaga-
mentos.jsp>. Em seguida, foi elaborado um mapa de calor ou Mapa de Kernel com um raio de
influência de 200 metros para cada ocorrência, conforme sugere Santos (2013).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


200 Fernando Nadal Junqueira Villela; Henrique Ferreira Sousa

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A expansão e abertura de vias na cidade


Até o ano de 1910, o Vale do Anhangabaú ainda era considerado o “quintal dos fundos”
da colina central de São Paulo (SIMÕES JÚNIOR, 2004), já que a cidade tinha como seu lado
mais valorizado o setor leste da colina. A chegada da ferrovia, as construções do Viaduto do
Chá e do Teatro Municipal, juntamente com a consolidação de bairro elitizados, como o de
Campos Elíseos e Higienópolis, favoreceram para que a região central começasse a passar por
uma série de “melhoramentos”, desde a construção de um grande parque ajardinado, pas-
sando por obras de aterro e a canalização do Ribeirão Anhangabaú (SIMÕES JÚNIOR, 2004).
Quanto à abertura de novas vias, o Ribeirão Anhangabaú era uma pauta constante nas
discussões da Diretoria de Obras e ainda um desafio a ser enfrentado, pois ele “dividia” a
cidade ao meio e o problema de circulação na cidade já começava a tomar grandes proporções
para a época (RODRIGUES, 2008). Desse modo, seguindo a ideia do “traçado xadrez” (norma-
tiva da prefeitura), a Rua Anhangabaú (Figuras 2 e 3) é iniciada em 1902 e concluída entre 1905
e 1906 – já sobre o parcialmente canalizado Ribeirão Anhangabaú – materializando a primeira
ideia de construção do território paulistano através de seus ribeirões.

Figura 2 – Fragmento da carta de 1895 indicando Figura 2 – Fragmento da carta de 1895 indicando
o Ribeirão Anhangabaú antes de sua canalização o Ribeirão Anhangabaú antes de sua canalização
e tamponamento e tamponamento

Fonte: Carta Histórica de São Paulo de 1895 Fonte: Carta Histórica de São Paulo de 1895

3.2 A cidade e sua relação com as águas


Para que pudesse ocorrer a expansão da cidade, os problemas de enchentes e inunda-
ções tiveram que ser enfrentados, visto que a cidade já era acometida por esses eventos, prin-
cipalmente na região da Praça 14 Bis, onde ocorre o encontro das águas do Saracura, e também
na Praça da Bandeira, confluência das águas dos rios Saracura, Itororó e Bixiga. Desse modo,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 201

para que isso ocorresse, diversas obras e intervenções aconteceram, como no Córrego Saracura,
o primeiro curso d’água da cidade a ser totalmente tamponado, no ano de 1906 (JORGE, 2011).
A cidade foi proporcionando todo um processo de “apagamento” dos rios do cotidiano de
sua população, aliado ao próprio mau uso e gestão das águas. Além do Ribeirão Anhangabaú,
outros córregos também foram tamponados, agora para dar lugar a avenidas em fundos de vale,
como é o caso das avenidas 9 de Julho (sobre o Córrego Saracura) e 23 de Maio (sobre o Córrego
Itororó). Outro exemplo ligado à gestão e relação da cidade com suas águas pode ser verificado
na sub-bacia do Córrego Saracura, onde há a presença de diversos lava-rápidos concentrados em
um curto espaço no bairro do Bixiga, indicando que eles se utilizam das águas dos córregos para
captação e realização de seus serviços de lavagem de veículos (NUNES, 2018).
Para uma melhor visualização de tal prática, foram registrados e espacializados todos os
lava-rápidos presentes ao longo do curso d’água do Saracura (Figura 4). O resultado disso é que
em uma área de 75 m² estão presentes ao todo treze estabelecimentos desse tipo, localizados
principalmente nas ruas Rocha, Almirante Marquês de Leão e Cardeal Leme, sendo que muitos
deles encontram-se sempre lotados, cobrando preços mais baratos que a média da cidade e
com funcionamento 24 horas, conforme verificado em campo realizado no dia 20/02/2021.

Figura 4 – Lava-rápidos e áreas de nascentes da sub-bacia do Saracura

Fonte: elaborado pelo autor

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


202 Fernando Nadal Junqueira Villela; Henrique Ferreira Sousa

3.3 Índices Morfométricos


Para o ano de 1930, a bacia foi hierarquizada conforme a hidrografia presente na carta
topográfica da SARA BRASIL 1930 e também com base na drenagem de cartas históricas.
Quanto ao ano de 2020, foi utilizada a hidrografia presente no site do GeoSampa. O resultado
dessa hierarquização encontra-se apresentada na Figura 5, enquanto os índices estão apresen-
tados na tabela 1.

Figura 5 – Comparativos das hierarquias fluviais

Fonte: elaborado pelo autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 203

Tabela 1 – Índices utilizados

Ano
Tipo de Índice Índice
1930 2020
Área (A) 5,29 km² 5,34 km²

Comprimento da Bacia (L) 3,77 km 3,70 km

Perímetro (P) 12,62 km 12,62 km

Densidade de Rios (Dr) 2,83 canais/km² 0,93 canais/km²

Areal Densidade de Drenagem (Dd) 2,23 km/km² 2,00 km/km²

Coeficiente de Manutenção (Cm) 448,43 m²/m 500 m²/m

Fator de Forma (Ff) 0,37 0,39

Índice de Circularidade (Ic) 0,41 0,42

Coeficiente de Compacidade (Kc) 1,53 1,52

Amplitude altimétrica máxima (H) 96 m 99 m

Hipsométrico Índice de Rugosidade (Ir) 214,08 206

Razão de Relevo (Rr) 0,023 0,023

Comprimento do rio principal (L) 4,58 km 4,50 km

Linear Comprimento total dos canais (Lt) 11,83 km 10,70 km

Índice de Sinuosidade (Is) 1,18 1,16


Fonte: elaborado por autor.

Os índices morfométricos apontam, em sua maioria, que a bacia possui uma baixa ten-
dência natural à enchentes e inundações, como verificado na baixa densidade de rios, nos índi-
ces de sinuosidade, circularidade, rugosidade, fator de forma, razão de relevo e coeficiente de
compacidade. Dessa forma, utilizando como base somente a análise morfométrica, as ocorrên-
cias de inundação e alagamento estariam mais relacionadas com as ações e intervenções antró-
picas, como o uso do solo e deficiências na drenagem urbana. Ademais, foi possível verificar
que mesmo utilizando de bases de hidrografia e dados hipsométricos produzidos em escalas
diferentes, os resultados obtidos foram semelhantes.
Além disso, foram obtidos os perfis longitudinais do Córrego Anhangabaú a partir dos
principais córregos (Saracura e Itororó), para os anos de 1930 e 2020 (Figuras 6 e 7).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


204 Fernando Nadal Junqueira Villela; Henrique Ferreira Sousa

Figura 6 – Perfil longitudinal do Córrego Anhangabaú a partir do Córrego Saracura

Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 7 – Perfil longitudinal do Córrego Anhangabaú a partir do Córrego Itororó (rio principal)

Fonte: elaborado pelo autor.

Primeiramente, é possível interpretar um dos possíveis motivos de inundações na Praça


da Bandeira: além desta área estar localizada na confluência de três córregos (Saracura, Bixiga
e Itororó), ela é precedida de uma ruptura côncava, onde ocorre o predomínio de concentra-
ção e acumulação dos fluxos de escoamento superficial. Outra diferença observada entre os
perfis do Córrego Saracura para o Córrego Itororó é que, no primeiro, é possível perceber as
altas declividades que compõem a Córrego Saracura, inclusive com rupturas de declive ao
longo do curso d’água.

3.4 Uso e Ocupação do Solo


Após análise das imagens, foi elaborado um mapa comparativo do uso e ocupação do
solo para os anos 1940 e 2020 (Figura 8):

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 205

Figura 8 – Comparativo do uso e ocupação do solo entre os anos de 1940 e 2020

Fonte: elaborado pelo autor.

Ao longo dos últimos 80 anos, passou-se de uma ocupação majoritariamente composta


por residenciais térreos consolidados para residenciais verticalizados e, principalmente, para a
categoria comercial e residencial densa e altamente verticalizada, ou seja, a bacia passou de
graus de perturbação do nível médio para graus altos e muito altos, especialmente ligadas à ver-
ticalização. É possível também notar que, atualmente, praticamente todo o divisor topográfico
da bacia é composto pelas duas classes de maiores graus de perturbação, propiciando potencial-
mente o escoamento superficial concentrado para terrenos mais planos com maior volume e
velocidade, em virtude da impermeabilização do solo e disciplinamento das águas pluviais.
Nos dois mapeamentos é perceptível a baixa presença de classes de grau de perturbação
muito baixa, incluindo classes como “Cobertura Vegetal” e “Áreas Verdes”. O próprio Vale do
Anhangabaú é um exemplo dessa representação, pois em 1940 caracterizava-se como sendo
uma área verde, passando no último mapeamento a equipamento urbano em terreno imper-
meável, principalmente após as recentes obras de revitalização que ocorreram no ano de 2020.
Para o ano de 1940 é possível notar a presença concentrada da categoria de maior per-
turbação: na porção superior da bacia, no trecho pertencente a sub-bacia do Córrego Saracura,
são notáveis setores de movimentos de terra/solo exposto, principalmente próximos às cabe-
ceiras de drenagem de tal córrego, indicando retirada da cobertura vegetal e movimentos de
terra para obras de engenharia, nesse caso, para a construção da Avenida 9 de Julho. Essas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


206 Fernando Nadal Junqueira Villela; Henrique Ferreira Sousa

áreas de movimentos de solo/solo exposto podem indicar também a construção de futuras


moradias, como é o caso na região do Bixiga, bairro que começava a ter sua ocupação mais
acelerada, principalmente com a construção de cortiços que recebiam diversas famílias. Já no
mapeamento de 2020, a classe de “Movimentos de terra/Solo Exposto” está representada
apenas na esquina da Rua Jaceguai com a Rua Abolição onde hoje encontra-se um terreno
abandonado. Nesse local há uma disputa judicial entre os moradores do bairro e imobiliárias:
enquanto que os primeiros lutam para que ali seja construído o “Parque do Bixiga”, a outra
parte insiste que sejam construídas torres residenciais de alto padrão nesse local.

3.5 Pontos de inundação e alagamento


Utilizando-se dos dados do CGE, ao longo do período de 16 anos de monitoramento,
foram registradas 816 ocorrências na bacia hidrográfica (englobando inundação e alagamento),
o que corresponde, em média, a uma ocorrência a cada semana entre o período de novembro
de 2004 e dezembro de 2020, sendo o período entre dezembro e março marcado como aquele
de maior frequência de ocorrências. Durante a análise desses dados, foi observado um maior
número de ocorrências nos seguintes locais (Figura 9):
• Praça da Bandeira e Túnel João Paulo II – 430 registros, sendo 120 intransitáveis;
• Praça 14 Bis – 93 registros, sendo 53 intransitáveis;
• Cruzamento da Rua Cantareira com as avenidas Mercúrio e Senador Queirós – 54
registros, sendo 15 intransitáveis;
• Rua Maria Paula – 36 registros, sendo 3 intransitáveis;
• Passagem Subterrânea Tom Jobim – 29 registros, sendo 3 intransitáveis.
Correlacionando esses dados com os perfis longitudinais, foi possível constatar que o
Córrego Itororó percorre um terreno menos íngreme, o que, em teoria, proporcionaria um
maior tempo de concentração do fluxo de água e ocasionaria um maior número de ocorrências
de inundação na Avenida 23 de Maio, se comparada com a Avenida 9 de Julho, o que não
ocorre. Outros fatores que teoricamente contribuiriam para um menor número de ocorrências
na Avenida 23 de Maio podem ser a maior arborização desta via, além da própria galeria do
Córrego Moringuinho, canal de drenagem cujo objetivo é desviar parte do fluxo do Córrego
Itororó, buscando diminuir as ocorrências de inundação no Vale do Anhangabaú.
Analisando juntamente os pontos de alagamento e de inundação, foi possível verificar
que os principais locais de ocorrências se concentram nos trechos onde o sistema viário passa
sobre os rios, havendo cinco principais pontos de ocorrências, conforme demonstrado na
Figura 9. Também foi possível verificar um maior número de ocorrências na Avenida 9 de Julho
se comparada com a 23 de Maio, o que pode estar relacionado além do uso e ocupação, com
sistemas de drenagem urbana ineficientes e com a má manutenção dos mesmos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 207

Figura 9 – Pontos de inundação e alagamento na bacia

Fonte: elaborado pelo autor

Algumas limitações também foram verificadas ao longo da análise desses pontos. A pri-
meira foi a escassez de dados sobre inundações e alagamentos no começo do século XX, o que
proporcionaria uma melhor comparação entre as atuais ocorrências e aquelas das décadas de
1930 e 1940. Outra dificuldade foi a reunião de dados sobre drenagem urbana, como vazão de
galerias pluviais ou então índices pluviométricos mais antigos da região central, o que permiti-
ria, por exemplo, uma noção melhor sobre a capacidade de algumas galerias da bacia, já que
no meio urbano tais obras desempenham também o papel de canais de drenagem, questões
essas que são passíveis de futuros estudos e pesquisas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A influência antrópica proporciona consequências diretas e indiretas que foram possíveis
de serem percebidas ao longo deste trabalho. A utilização de índices morfométricos, correla-
cionando com uma cartografia retrospectiva, permitiu análises que serviram de base para
compreender melhor a dinâmica de bacia hidrográfica urbana. Foi possível constatar que,
embora os índices morfométricos indiquem que a bacia hidrográfica possui majoritariamente
valores morfométricos que apontem uma baixa suscetibilidade a inundações, as ocorrências
de alagamentos estão diretamente associadas às ações antrópicas, principalmente quanto ao

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


208 Fernando Nadal Junqueira Villela; Henrique Ferreira Sousa

uso e ocupação do solo. Entretanto, tais índices permaneceram semelhantes entre 1930 e
2020, mesmo utilizando-se de bases hidrográficas em escalas diferentes. Nesse sentido, a hipó-
tese inicialmente levantada no trabalho, em que as modificações antrópicas na bacia poderiam
alterar suas características morfométricas, não pôde ser confirmada, mesmo havendo o fato
da cartografia oficial da cidade não abranger muitos cursos tributários de primeira ordem, pois
este dado influi em alguns índices, mas não o suficiente para haver o apontamento dessa modi-
ficação adotada como premissa.
No entanto, é fato que a Bacia Hidrográfica do Anhangabaú sofreu com uma maior imper-
meabilização ao longo das últimas décadas, além de serem constatadas poucas obras de
melhoria da drenagem urbana. Também foi possível constatar que, realmente, diversas obras
e decisões foram tomadas com objetivo de “apagar” os rios da cidade. No caso contemplado,
é notório que o processo de urbanização da cidade propiciou uma ocupação dos terrenos de
maneira que os rios e córregos foram vistos como obstáculos a serem superados, o que traz
como uma de suas consequências, as diversas ocorrências de inundações e alagamentos.

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EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 209

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17. EXPANSÃO URBANA E DEGRADAÇÃO DA
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO
RIBEIRÃO ANICUNS, GOIÂNIA-GO

KAMILA ALMEIDA DOS SANTOS1


NADYELLE CURCINO DO CARMO2

Resumo: A expansão e ocupação urbana desordenada tem causado graves problemas para as
cidades, sendo possível verificar vários impactos socioambientais, além de impactos na infraestru-
tura das cidades. No ribeirão Anicuns desaguam os principais cursos d’água urbanos de Goiânia,
porém tanto o córrego quanto sua área de preservação permanente sofrem com o processo
desordenado de ocupação urbana. Nesse sentido, esse estudo se propõe a realizar uma análise
multitemporal dos usos e a ocupação do solo na área de preservação permanente do Ribeirão
Anicuns no município de Goiânia, Goiás, em espaço temporal de 2012, 2016 e 2021, avaliando os
reflexos da ocupação urbana no curso d’água. No intervalo analisado ocorreu um aumento da área
impermeável, deixando o canal sujeito à impactos ambientais. A análise foi realizada por meio de
imagens de sensoriamento remoto e geoprocessamento, ferramentas importantes para a fiscali-
zação e monitoramento ambiental.
Palavras-chave: geotecnologias, urbanização; recurso hídrico; uso e ocupação do solo.
Abstract: The expansion and disorderly urban occupation has caused serious problems for the
cities, being possible to verify several social and environmental impacts, in addition to impacts on
the infrastructure of cities. The major urban watercourses of Goiânia flow into the Anicuns stream,
but both the stream and its permanent preservation area suffer from the disorderly process of
urban occupation. In this sense, this study proposes to perform a multitemporal analysis of the
uses and land occupation in the permanent preservation area of Ribeirão Anicuns in the municipa-
lity of Goiânia, Goiás, in the time span of 2012, 2016 and 2021, evaluating the reflections of urban
occupation in the watercourse. In the analyzed interval occurred an increase in the impermeable
area, leaving the channel without the protection of riparian forest. The analysis was performed
using remote sensing and geoprocessing images, important tools for enforcement and environ-
mental monitoring.
Keywords: geotechnologies; urbanization; water resource; use of the soil.

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: kamilas.geo@gmail.com


2 IFB. E-mail: nadyellecarmo@gmail.com

[ 210 ]
EXPANSÃO URBANA E DEGRADAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RIBEIRÃO ANICUNS 211

1 INTRODUÇÃO
O processo de urbanização das capitais brasileiras ocorre, em sua grande maioria, de
forma desordenada, ocasiona diversos impactos, os quais estão relacionados diretamente com
a retirada da cobertura vegetal, a impermeabilização da superfície e o aumento do escoa-
mento superficial. Esses processos tendem a agravar ainda mais os problemas de alagamentos,
inundações, erosões, poluição hídrica, assoreamento, entre outros (DE LUCENA, et al, 2020).
A bacia hidrográfica do Ribeirão Anicuns possui 221,4 km² de dimensão e está total-
mente localizada na região metropolitana do município de Goiânia, com aproximadamente
80% de área urbanizada. Esta bacia abrange um total de 688 bairros que variam de baixa a alta
densidade urbana (RIBEIRO et al, 2018). Esse Ribeirão é um dos mananciais mais importantes
para a cidade de Goiânia, faz parte da bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte que é responsável
por 52% do abastecimento de água da Capital e de sua região metropolitana. Como quase todo
manancial que teve suas margens povoadas ele sofre com graves problemas ambientais. No
Anicuns não há captação de água para abastecimento, porém o manancial sofre com o lança-
mento clandestino de efluente bruto por moradias e empresas instaladas em suas margens
(WILK, 2018).
À época da construção de Goiânia não havia legislação ambiental local, por isso foram
permitidos loteamentos dentro das áreas que hoje são consideradas como Áreas de Preservação
Permanente (APP) e como consequência desse e de outros problemas, a bacia do Ribeirão
Anicuns apresenta um alto nível de degradação ambiental acumulando impactos como polui-
ção por lançamento de efluentes, pontos de erosões, assoreamento, inundações, APP alta-
mente desmatadas e ocupadas, dentre outros problemas ambientais (WILK, 2018).
O crescimento urbano desordenado tem causado graves problemas para as cidades, não
só em relação à questão socioeconômica, mas também no que diz respeito ao meio ambiente.
Diante desse cenário as áreas de proteção ambiental sofrem diversos problemas decorrentes
do processo de urbanização, contribuindo para a diminuição da qualidade ambiental local
(CARMO et al, 2012).
Nesse sentido, para monitorar, avaliar e registrar a evolução temporal de usos dos solos
em uma determinada região utilizam-se as análises multitemporais. Diversos estudos se
baseiam nessa técnica para realizar a análise da dinâmica do uso e cobertura do solo (SANTOS
et al, 2017; CÂMARA MACIEL e LIMA, 2014; LINS et al, 2021; PEREIRA et al, 2021; FLORES et al,
2012). Diante do exposto, este estudo tem por objetivo mapear os usos e ocupação do solo na
área de preservação permanente do Ribeirão Anicuns, nos anos de 2012, 2016 e 2021, através
de técnicas de sensoriamento remoto e ferramentas de geoprocessamento. Em seguida, veri-
ficar as alterações na vegetação através da quantificação dos conflitos de uso do solo na região.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


212 Kamila Almeida dos Santos; Nadyelle Curcino do Carmo

2 METODOLOGIA
A área de estudo é a APP do Ribeirão Anicuns que, de acordo com a Prefeitura de Goiânia,
é o mais poluído entre os 85 córregos urbanos que cortam a capital. Isso ocorre pois 70% da
drenagem do município pertence à bacia hidrográfica do Ribeirão Anicuns.
Para a elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo foram utilizadas imagens da pla-
taforma Google Earth®, datadas de 2012, 2016 e 2021. A metodologia é similar à aplicada por
Ayach e Da Cunha. (2012); Loffler e Loffler (2019), em suas respectivas áreas de estudo. As ima-
gens foram processadas e classificadas no software ENVI 5.2 por meio da classificação supervi-
sionada de máxima verossimilhança (MaxVer). No MaxVer considera que ocorre uma
distribuição normal das bandas assim é calculado qual a probabilidade de um determinado
pixel pertencer a uma classe específica (MENESES; ALMEIDA, 2012). Foram definidas as seguin-
tes classes de uso e cobertura do solo: impermeável que inclui construções e vias; vegetação
que considera a APP e a vegetação nativa; permeável que abrange pastagens e gramíneas em
geral; e solo que contempla o solo exposto.
Para a elaboração do mapeamento da área de preservação permanente da hidrografia,
foram selecionados critérios citados pelo Plano Diretor de Goiânia (lei nº 171/2007), o qual
estabeleceu critérios para delimitar suas Áreas de Preservação Permanente, de acordo com
seu parágrafo 1º do art.106, essas áreas correspondem às zonas de Preservação Permanente I
– ZPAI, que em relação ao Ribeirão Anicuns, determina: “as faixas bilaterais contíguas aos cur-
sos d’água temporários e permanentes com largura mínima de [...] 100m (cem metros) para [...]
o Ribeirão Anicuns [...] ”. Foi então gerado o mapa de proximidade, sendo criado um buffer de
100 metros a partir das margens do curso d’água. Na última etapa, os dados gerados foram
organizados a fim de se obter uma padronização deles. Foi considerada a projeção cartográfica
UTM, no fuso 22, hemisfério Sul, Datum WGS-84.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio da análise espaço-temporal, foi possível identificar as formas de uso e ocupa-
ção do solo na APP do Ribeirão Anicuns dos anos de 2012, 2016 e 2021, quantificadas na Tabela
1, que revela as alterações da paisagem nos três períodos analisados.

Tabela 1 – Usos do solo na APP do Ribeirão Anicuns

Classe de uso 2012 (ha) % 2016 (ha) % 2021 (ha) %

Impermeável 61,86 17,02 78,62 21,63 97,96 26,95


Vegetação 94,71 26,06 145,24 39,96 148,59 40,88
Permeável 119,36 32,84 124,52 34,26 99,39 27,35
Solo 87,52 24,08 15,08 4,15 17,53 4,82
Total 363,46 100% 363,46 100% 363,46 100%
Fonte: As autoras.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EXPANSÃO URBANA E DEGRADAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RIBEIRÃO ANICUNS 213

A classificação do uso e cobertura do solo aponta que o processo de ocupação que está
ocorrendo na APP do Ribeirão Anicuns com redução em área da classe impermeável e solo
exposto com consequente aumento das classes vegetação e permeável.
De acordo com os dados obtidos na análise da imagem de 2012 (figura 1), verificou-se
que aproximadamente 267,75 ha da APP se encontrava ocupada por outros usos que não a
vegetação, o que representa 73,87% da área de preservação permanente. Já a área ocupada
pela vegetação ocupava cerca de 94,71 ha, o que representa 26,13% da APP.

Figura 1 – Uso e ocupação do solo da APP do Ribeirão Anicuns – 2012

Fonte: Galeria das autoras.

Segundo os dados obtidos na análise da imagem de 2016 (figura 2), notou-se que aproxi-
madamente 217,02 ha da APP se encontrava ocupada por outros usos que não a vegetação, o
que representa 59,88% da área de preservação permanente. E a área ocupada pela vegetação
ocupava cerca de 145,44 ha, o que representa 39,96% da APP. Pode-se então observar uma
melhora significativa na preservação da APP entre os anos de 2012 e 2016, já que houve um
aumento de aproximadamente 14% de área com vegetação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


214 Kamila Almeida dos Santos; Nadyelle Curcino do Carmo

Figura 2 – Uso e ocupação do solo da APP do Ribeirão Anicuns – 2016.

Fonte: Galeria das autoras

De acordo com os dados obtidos na análise da imagem de 2021 (figura 3), averiguou-se
que aproximadamente 214,87 ha da APP se encontrava ocupada por outros usos que não a
vegetação, o que representa 59,12% da área de preservação permanente. E a área ocupada
pela vegetação ocupava cerca de 148,59 ha, o que representa 40,88% da APP. Em relação ao
período de 2016 a 2021 houve uma melhora menos expressiva, se comparado ao intervalo de
2012 a 2016, pois ocorreu um aumento de 0,76% da área de vegetação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EXPANSÃO URBANA E DEGRADAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RIBEIRÃO ANICUNS 215

Figura 3 – Uso e ocupação do solo da APP do Ribeirão Anicuns – 2021

Fonte: Galeria das autoras.

A análise espaço-temporal do uso e ocupação do solo (Figuras 1 a 3) indica aumento


expressivo das áreas impermeáveis em detrimento das áreas não-permeáveis (vegetação e
permeável).
As mudanças que ocorreram no intervalo analisado foram significativas e alarmantes,
houve aumento da área de vegetação nativa, assim como um considerável aumento da área
impermeável, que interferiu em todas as classes. Quando observamos a classe permeável,
plantações e pastagens foram substituídas por construções. Em estudos realizados por Hora et
al. (2016) os autores apontam a presença de dezenas de bairros residenciais dentro da faixa da
APP do Ribeirão Anicuns, assim como áreas de lazer (campos de futebol) e pontos industriais.
As matas ciliares são responsáveis por proteger os solos do escoamento superficial, redu-
zindo o impacto das águas escoadas. Quando a APP é totalmente retirada ocorre um aumento
expressivo na produção de sedimentos (FERREIRA; DIAS, 2004). Ao impermeabilizar uma área,
realizamos mudanças permanentes, impactando diretamente nos processos ambientais.
O crescimento urbano amplia as áreas impermeabilizadas, gerando um aumento do
escoamento superficial, com concentração de enxurradas e a frequência de inundações
(CHRISTOFOLETTI, 1993). O processo de impermeabilização também afeta o ciclo hidrológico
das cidades, um sistema que deveria estar em equilíbrio sofre alterações devido a interferência

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


216 Kamila Almeida dos Santos; Nadyelle Curcino do Carmo

antrópica. As mudanças que ocorrem no solo urbano, fazem parte de um processo em que for-
ças socioeconômicas e ambientais colidem, chamando a atenção para a necessidade de um
planejamento da ocupação urbana que minimize os impactos já existentes (SILVA, CAMELLO &
ALMEIDA, 2015).
Eventos de chuva passam a ser mais intensos e perigosos, ao mesmo tempo que as inun-
dações passam a ser mais frequentes. Além da impermeabilização, a retirada da vegetação
nativa associada ao solo exposto ocasionam alterações na morfologia da bacia, assim como
obras de engenharia e a deposição de resíduos ao longo das APPs. A somatória desses fatores
influencia nos processos erosivos, assoreamento, sedimentação, frequência de inundações e
outros fatores que aceleram a degradação ambiental das cidades (TUCCI; BERTONI, 2003;
FRITZEN; BINDA, 2011; BENINI; MEDIONDO; RODRIGUES; GOUVEIA, 2013)

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intersecção dos mapas de APP da hidrografia com o mapa de uso do solo possibilitou
quantificar o conflito de uso na área de estudo, assim como o nível de degradação na APP,
permitindo que se crie ferramentas para o entendimento da dinâmica territorial e socioam-
biental que se forma no entorno da área de proteção. As análises de uso e ocupação do solo
entre os períodos de 2012 e 2021 apontaram um aumento da impermeabilização, assim
como o aumento de vegetação nativa presente na área de preservação. Mesmo com o
aumento da vegetação nativa, ainda é expressivo o uso do solo destinado a áreas permeáveis
(gramíneas) e solo exposto, culminando em encostas desprotegidas e expondo o Ribeirão ao
crescente volume do escoamento superficial, ocasionando diversos problemas como o asso-
reamento e a erosão.
A identificação e delimitação das áreas de preservação permanente dos cursos
d’água utilizando dados de sensoriamento remoto pode ser uma ferramenta para gestão
dessas áreas, pois esses dados poderão ser utilizados para auxiliar na fiscalização, uma vez
que é possível detectar as áreas que necessitam de visita in loco ou não, podendo tornar o
trabalho mais eficaz de forma que os tomadores de decisão tenham uma atuação mais
rápidas e assertiva, realizando ações para planejamento e estudos de ordenamento muni-
cipal, pois o monitoramento de áreas por meio das geotecnologias é um trabalho de baixo
custo, em que as imagens, de diferentes resoluções espaciais, são disponibilizadas por
diversos organismos, como no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e na
plataforma Google Earth®.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


18. FRAGILIDADE AMBIENTAL
E ESPAÇO URBANO
A bacia hidrográfica do Córrego Prosa,
Campo Grande-MS

RAFAEL BASTAZINI1
RAFAEL BARTIMANN2

Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo analisar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do
Córrego Prosa em CAMPO GRANDE-MS apoiado na proposta de Ross (1994), bem como na análise
integrada dos processos e agentes envolvidos na produção do espaço urbano. Quando necessário,
os pesos atribuídos a cada variável foram relacionados à metodologia de Crepani et al. (2001). Os
resultados mostraram que a metodologia é eficaz para o monitoramento da fragilidade ambiental,
porém, deve-se atentar para os processos de degradação ambiental, que nem sempre ocorrerão em
áreas de alta fragilidade, como neste caso, no qual as áreas mais problemáticas ou geradoras de ero-
são e problemas de assoreamento de corpos d’água se localizam em zonas isoladas de média fragili-
dade. Concluiu-se, portanto, que o mapeamento da fragilidade ambiental pode contribuir para
estudos de planejamento ambiental de Campo Grande e que projetos de controle dos processos
erosivos estão sendo realizados pelo governo local, visando a recuperação do lago assoreado,
seguindo o atual Zoneamento Ecológico Econômico e o Plano diretor municipal.
Palavras-chave: erosão; urbanização; conservação ambiental.
Abstract: This research aimed to analyze an environmental fragility of the hydrographic basin of
the Prosa stream in CAMPO GRANDE-MS supported by Ross’s proposal (1994), as well as in the
integrated analysis of the processes and agents involved in the production of urban space. When
necessary, the weights calculated for each variable related to the Crepani et al. (2001). The results
induced that the methodology is effective for monitoring environmental fragility, however, atten-
tion should be paid to the processes of environmental degradation, which will not always occur in
areas of high fragility, as in this case, in which the most problematic areas or generators of erosion
and problems with silting up of water bodies are located in exam zones of medium fragility. It was
concluded, therefore, that the mapping of environmental fragility can contribute to environmen-
tal planning studies in Campo Grande and that erosive processes control projects are being carried
out by the local government, following the recovery of the silted lake, following the current
Ecological Economic Zoning and the City Master Plan.

1 PPGGEO/UNESP. Presidente Prudente-SP. E-mail: basta_pena@hotmail.com


2 PPGGEO/UFMS. Três Lagoas-MS. E-mail: rafael_barthimann@hotmail.com

[ 219 ]
220 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann

Keywords: erosion; urbanization; environmental conservation.

1 INTRODUÇÃO
A ocupação inadequada do espaço associada à falta de planejamento urbano resulta na
degradação ambiental de bacias hidrográficas. Análises integradas das variáveis ambientais
(solos, água, vegetação, clima etc.), são de fundamental importância para a avaliação das fra-
gilidades e das potencialidades destes espaços. Tricart (1977, p. 35) destaca que “[...] A ação
humana é exercida em uma natureza mutante, que evolui segundo leis próprias, das quais per-
cebe-se, de mais a mais, a complexidade.” Por isso, a dificuldade de compreender as dinâmicas
da natureza e mensurar o peso da ação humana na desestabilização e/ou degradação de siste-
mas ambientais, embora esteja claro que a interferência antrópica implica desequilíbrios e, via
de regra, impactos negativos que afetam toda a biosfera.
Neste estudo, busca-se avaliar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego
Prosa de forma integrada, considerando duas perspectivas: 1) a ocupação, o uso e a produção do
espaço urbano a partir da reprodução das lógicas capitalistas e 2) o diagnóstico da fragilidade
ambiental, tendo como referência as propostas de Ross (1994) e Crepani et al. (2001). Para atingir
este objetivo, este estudo foi dividido em quatro seções. Na primeira, caracteriza-se a área de
estudo levando em consideração os aspectos históricos uso e cobertura da terra e a importância
do córrego Prosa na expansão do tecido urbano de Campo Grande. O processo de canalização, as
características socioeconômicas e a valorização do preço da terra urbana também estão em evi-
dência, pois, estas variáveis podem influenciar nas tipologias das formas espaciais ali presentes.
Na segunda seção, são descritas as características gerais dos aspectos físicos da bacia do
Prosa, considerando a base geológica, os tipos de solos, a vegetação e os aspectos geomorfológicos
deste recorte espacial. Na sequência, os materiais e os procedimentos metodológicos adotados na
pesquisa são descritos de forma detalhada. Por fim, apresenta-se os resultados e as discussões pro-
venientes da pesquisa, assim como as considerações finais. Neste estudo, não se visa o esgota-
mento da temática abordada, pelo contrário, se constitui em um passo inicial para o levantamento
de informações que possam culminar na gestão adequada da bacia hidrográfica do córrego Prosa.

1.1 Localização e caracterização da área de estudo


A bacia hidrográfica do córrego Prosa tem área de 31,97km² e está totalmente inserida no
perímetro urbano do município de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul. Do
ponto de vista histórico, o centro da cidade foi a área na qual os assentamentos urbanos se fixa-
ram com maior intensidade na gênese da cidade. As primeiras moradias foram construídas na
porção mais elevada, influenciando os primeiros arruamentos da cidade (ARCA, 2009). Dessa
forma, os córregos ali presentes, dentre eles o Prosa, foram orientadores da expansão do tecido
urbano, visto que no início do século XX, devido à ausência de infraestruturas de saneamento ou
drenagem, a proximidade dos citadinos com os córregos era trivial para os afazeres da vida coti-
diana, sendo normatizado, inclusive, por horários de usos de acordo com o gênero.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO 221

Até a década de 1980, praticamente, a ocupação ocorria de maneira desordenada e irre-


gular apesar da elaboração de alguns planos de ordenamento urbano que não foram efetiva-
dos na prática3. A apropriação e ocupação das margens de córregos alterou a dinâmica local,
sobretudo pela retirada das matas ciliares e o consequente assoreamento dos canais. Nas áreas
mais centrais, a impermeabilização do solo (via calçadas e asfalto) influenciou na alteração da
velocidade das águas superficiais, fazendo com que estas chegassem mais rapidamente e com
maior intensidade aos canais de drenagem, causando históricas enchentes nas décadas de
1970 e 1980.
Neste período, a solução encontrada foi a canalização fechada, o que culminou na trans-
ferência do problema para outros locais menos adensados (córregos à jusante). Na figura 1
temos a localização da bacia hidrográfica e na figura 2 observa-se a canalização do córrego em
função dos problemas de inundação da avenida Fernando Corrêa da Costa.

Figura 1 – Mapa de localização da bacia hidrográfica do córrego Prosa

Elaboração: os autores.

3 Para compreender os aspectos históricos do planejamento urbano em Campo Grande, ver Arruda 2012.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


222 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann

Figura 2 – Av. Fernando Corrêa com a Av. Calógeras (década de 1980). Em A, o trecho antes da
canalização. Em B, o mesmo trecho com a obra parcial

Fonte: Arquivo Histórico de Campo Grande. Fotos de Rachid Waqued.

A partir da Constituição Federal de 1988, caracterizada pela maior autonomia dos esta-
dos e municípios, a administração da cidade se orienta a partir da Lei de Ordenamento de Uso
e Ocupação do Solo (1988), que visou, dentre outros aspectos, estabelecer um uso social para
as áreas públicas desocupadas, caracterizadas, historicamente, às margens dos córregos e ocu-
padas, em grande medida, por grupos socioeconômicos vulneráveis (DIAS, 2009).
Recentemente, uma solução encontrada pela administração municipal foi a criação de
parques lineares que contam com vegetação que visa proteger os corpos hídricos, porém, em
muitos casos, é possível observar que nessas áreas existem muitos resíduos provenientes do
descarte irregular. Em grande parte, a área da bacia do Prosa, no que diz respeito ao preço da
terra, é uma das mais valorizadas, sobretudo pela presença dos parques, shopping center e
grandes avenidas. Apesar de muito valorizada, a área apresenta pouca densidade construtiva
e grande quantidade de vazios urbanos (porção oriental), ou seja, áreas que não possuem
nenhum tipo de uso, normalmente aguardando valorização futura.
Em grande parte, essa dinâmica especulativa ocorreu com maior intensidade entre as
décadas de 1960 e 1980, período em que os agentes econômicos e políticos produziram con-
juntos habitacionais afastados do tecido urbano consolidado, influenciando assim, em uma das
características mais marcantes de Campo Grande, a sua baixa densidade populacional, levando
em consideração o seu perímetro urbano (ARRUDA, 2006).
Para compreender esse movimento, é necessário levar em consideração que a produção
e consumo do espaço urbano está inserido na lógica da reprodução das relações capitalistas.
Atualmente, como afirma Harvey (2005), é necessário considerar que a produção do espaço
urbano, vem paulatinamente sendo inserido na lógica financeira, por meio da compreensão,
por parte dos agentes, de que a produção do espaço urbano é uma forma de absorção de exce-
dente de capital.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO 223

1.2 Aspectos físicos da bacia hidrográfica do córrego Prosa


A base geológica da bacia é composta por rochas do grupo Caiuá, caracterizada por
Arenito Quartzoso à Subarcoseano, fino à médio, com lentes de Arenito Síltico-Argiloso, brecha
sedimentar, Arenito Conglomerático e Conglomerado. Nesta área, também estão registrados
Basalto e Basalto Andesito de filiação tholeiítica; Riolito e Riodacito. Intercala camadas de
Arenito, Litarenito e Arenito Vulcânico do grupo Serra Geral (CPRM, 2006). Ocorrem três tipos
de solos originais: o Latossolo Vermelho Distrófico com textura argilosa e muito argilosa; o
Latossolo Vermelho Distrófico com textura média e Neossolo Quartzarênico Órtico com tex-
tura arenosa (IBGE, 2018).
Os vestígios de vegetação nativa observados em campo associados ao registro cartográ-
fico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na escala 1:250.000,
indica o domínio da formação fisionômica do bioma Cerrado, com fisionomias de Savana
Arbórea Densa, Savana Arbórea Aberta, Savana Parque e Savana Gramíneo Lenhosa – Campo
Limpo (IBGE, 2018; BARBOSA; SILVA, 2015).
Nos aspectos geomorfológicos da bacia hidrográfica do Prosa, destaca-se a presença da
unidade Planalto de Campo Grande, caracterizada por relevo aplainado na porção superior e
relevo dissecado nas porções sul e central. Constituí uma extensa área homogênea relativa à
borda oeste da Bacia Sedimentar do Paraná, com cotas altimétricas variando de 520 m a 703
m. Exibe declividade geral para leste, acompanhando o mergulho das camadas geológicas
(BARBOSA; SILVA, 2015; IBGE, 2018).

2 MATERIAIS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


Esta pesquisa está essencialmente estruturada em duas etapas, sendo que a primeira
consistiu no levantamento de documentos de base para caracterização da bacia hidrográfica
do córrego Prosa, tais como mapas de geologia, geomorfologia e solos (IBGE), na escala
1:250.000. A partir das médias anuais de chuvas do período de 1976 a 2018, foi elaborado o
mapa de intensidade pluviométrica na escala 1:150.000. Estes dados foram coletados pela
estação meteorológica 02054014 e estão disponíveis no sistema Hidroweb, da Agência Nacional
das Águas. Para os mapas de hipsometria e declividade, foram utilizadas imagens de radar do
satélite Alos-Palsar, com resolução espacial de 12,5 metros (escala 1:60.000), disponível no
sítio eletrônico https://www.asf.alaska.edu/sar-data/palsar/. A declividade foi extraída a partir
do modelo tridimensional do relevo, tendo como referência para a definição dos intervalos, o
trabalho de Valle et al. (2016).
Para completar a primeira etapa, um mapa de uso e cobertura da terra foi produzido na
escala 1:75.000. Para isto, utilizou-se imagem fusionada do satélite Landsat-8, sensor OLI
(Operational Land Imager), composição colorida 4B5G6R + 8 pancromática, de 24 de junho de
2019, órbita 225, ponto 74, obtida no sítio eletrônico http://earthexplorer.usgs.gov/. Para alcan-
çar o objetivo proposto utilizou-se da técnica de realce (Fusão pelo método de transformação

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


224 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann

IHS) e da técnica de classificação por pixel, por meio do algoritmo Maxver– ICM (Interated
Conditional Modes). Esta técnica é capaz de considerar a dependência espacial na classificação
da imagem.
A segunda etapa consistiu no diagnóstico e mapeamento da fragilidade ambiental, com
base na proposta de Ross (1994). Os procedimentos metodológicos consideram os atributos do
espaço e, para isso, foi feita a sobreposição dos mapas de geologia, cobertura pedológica
(solos), intensidade pluviométrica e declividade, resultando no mapa de fragilidade potencial.
Como Ross (1994) não atribuiu peso de fragilidade a variável pluviosidade, foi necessária uma
adaptação metodológica, de acordo com Crepani et al. (2001). Inclusive, sempre que possível,
foi feita uma avaliação comparativa entre os valores definidos pelos autores que embasam
esta pesquisa, a fim de definir pesos mais coerentes com as características ambientais da bacia
hidrográfica do córrego Prosa. O mapa de fragilidade ambiental foi obtido a partir da sobrepo-
sição das informações do mapa de fragilidade potencial e com o mapa temático de uso e cober-
tura da terra.
Para obtenção dos mapas finais, os mapas temáticos foram reclassificados (ferramenta
Reclassify) e valores foram atribuídos às variáveis visando o cruzamento das informações sem-
pre que necessário. O banco de dados, constituído de arquivos vetoriais e matriciais, foi orga-
nizado no Sistema de Informações Geográficas ArcGIS® Desktop 10.6 (ESRI, 2019), no Laboratório
de Sensoriamento Remoto (La-Ser), na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, câmpus
de Três Lagoas. Todos os mapas utilizados foram reclassificados e rasterizados com pixels refe-
rentes a escala do mapa de uso e cobertura da terra, portanto, os produtos finais apresentam
resolução espacial de 15 metros e encontram-se na escala 1:75.000. A sobreposição das variá-
veis foi realizada por meio da ferramenta Weighted Overlay, considerando o mesmo peso nas
diferentes variáveis.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O entendimento da dinâmica de funcionamento do ambiente natural, com ou sem inter-
venções antrópicas, perpassa pelo conhecimento integrado do território. Logo, é necessário
associar as características naturais dos ambientes ao meio socioeconômico, considerando que
as ações humanas causam grandes alterações na paisagem natural e com um ritmo muito mais
intenso, se comparado com aquele que a natureza normalmente imprimiria (ROSS, 1994).
A geologia é uma variável importante em análises de fragilidade potencial, pois o con-
junto de características das rochas tem interferência direta no grau de resistência à denuda-
ção. Este processo natural depende da ação do intemperismo físico e químico que podem
influenciar o grau de erosão. Outro fator que justifica a utilização da geologia no mapeamento
da fragilidade potencial é o grau de coesão, ou seja, a intensidade da ligação entre os minerais
ou partículas constituintes (CREPANI et al., 2008). Os valores de fragilidade definidos para cada
classe da variável geologia estão dispostos na tabela 1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO 225

Tabela 1. Classes de geologia e valor de fragilidade atribuído para a variável

Classe pedológica Valor Área (km²) %

Grupo Caiuá 4 21,33 67%

Formação Serra Geral 2 10,64 33%

Total 31,97 100%


Fonte: Elaborado pelos autores com base em Ross, 1994; Crepani et al., 2008 e Valle et al., 2016.

A cobertura pedológica é outra variável relevante para o mapeamento de fragilidade


potencial, pois as propriedades do solo (textura, densidade, porosidade, teor de matéria orgâ-
nica, estabilidade dos agregados e pH) influenciam a erodibilidade. Na interpretação do mapa
pedológico, os valores de fragilidade foram definidos com base nos critérios propostos por
Crepani et al. (2001) e consideram o grau de resistência à erosão (Tabela 2).

Tabela 2. Classes de solos e valor de fragilidade atribuído para a variável

Classe pedológica Valor Área (km²) %

LVd – Latossolo Vermelho Distrófico 1 27,28 85,33%

RQo – Neossolo Quartzarênico Órtico 3 4,69 14,67%

Total 31,97 100%


Fonte: Elaborado pelos autores com base em Ross, 1994; Crepani et al., 2008 e Valle et al., 2016.

Segundo Valle et al. (2016, p. 298), a intensidade pluviométrica “têm ação direta sobre a
dinâmica de superfície, principalmente no que tange ao intemperismo de rochas e solos”. Por
isso deve ser considerada em mapeamentos de fragilidade. A intensidade pluviométrica foi
definida com base em Crepani et al. (2001), considerando a relação entre a precipitação média
anual (1976 a 2018) e o período chuvoso registrado. Os dados utilizados foram coletados pela
estação meteorológica 02054014 e estão disponíveis no sistema Hidroweb-ANA. A intensidade
pluviométrica calculada para a área é de 358,58 mm, o que corresponde ao valor 3 de fragili-
dade (ROSS, 2012), considerando que a área apresenta distribuição anual desigual das chuvas,
com períodos secos (entre 2 e 3 meses no inverno) e maior intensidade de chuvas no verão,
entre dezembro e março.
Outra variável importante para a elaboração do mapa de fragilidade potencial é a decli-
vidade, que indica a inclinação do relevo em relação ao horizonte. A declividade tem influência
direta nos processos que condicionam a velocidade de transformação da energia potencial das
águas pluviais em energia cinética e, por consequência, na intensidade dos processos erosivos.
O mapa de declividade foi gerado com a ferramenta Slope e as classes foram definidas com
base em Crepani et al. (2001) e Valle et al. (2016). Por fim, a figura 3 apresenta os mapas das

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


226 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann

variáveis utilizadas na elaboração do primeiro mapa síntese, que representa a fragilidade


potencial da bacia hidrográfica do córrego Prosa, a saber: geologia, solos, intensidade pluvio-
métrica e declividade.
Tabela 3. Classes de declividade e valor de fragilidade atribuído para a variável

Declividade (%) Descrição do relevo Valor Área (km²) %

0-3 Plano 1 10,41 33%

3-8 Suave ondulado 2 6,03 19%

8-20 Ondulado 3 14,06 44%

20-45 Forte ondulado 4 1,46 5%

> 45 Montanhoso e escarpado 5 0,01 0%

Total 31,97 100%


Fonte: Elaborado pelos autores com base em Ross, 1994; Crepani et al., 2008 e Valle et al., 2016.

Figura 3 – Mapas de variáveis usadas na identificação da fragilidade potencial

Elaboração: os autores.

Os procedimentos supramencionados possibilitaram caracterizar a bacia hidrográfica do


córrego Prosa em três graus de fragilidade potencial: baixa, média e alta (Tabela 4 e Figura 4).
Este mapa é muito importante para a análise de bacias hidrográficas pois permite indicar a sen-
sibilidade de ecossistemas às pressões que podem alterar a dinâmica deste ambiente.
Considerando que os sistemas ambientais respondem de maneiras distintas às intervenções
humanas e que as alterações na paisagem (relevo, clima, solo, vegetação, etc.) são reflexos des-
tas respostas, avaliar a fragilidade potencial permite definir áreas que exigem maior atenção e
planejamento para sua utilização (FRANCO et al., 2013). Nesta perspectiva, a bacia hidrográfica

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO 227

do córrego Prosa apresenta predomínio de áreas classificadas como zonas de baixa fragilidade
potencial (83%), sobretudo em função da associação de latossolos e áreas mais planas, que
permitem maior infiltração de água no solo e menor velocidade de escoamento superficial.

Tabela 4. Áreas das classes de fragilidade potencial

Fragilidade Potencial Valor Área (km²) %

Baixa 2 26,47 83%

Média 2 2,23 7%

Alta 4 3,27 10%

Total 31,97 100%


Elaboração: os autores.

Figura 4. Mapa de fragilidade potencial e mapa de uso e cobertura da terra

Elaboração: os autores.

Também foram identificadas áreas classificadas como média (7%) e alta (10%) fragilidade
potencial. Estes resultados se dão em função da associação entre áreas com presença de
Neossolo e áreas com declividade variando entre 8% e 45%, caracterizando um relevo ondu-
lado e/ou forte ondulado. Essa combinação contribui para o aumento da velocidade de escoa-
mento superficial e aumento nos processos de desagregação das partículas de solo, o que
pode resultar no assoreamento dos corpos d’água.
Contudo, é necessário, ainda, considerar que as atividades humanas se constituem como
fontes de energia para alteração dos sistemas ambientais e, por consequência, a paisagem

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


228 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann

pode ser drasticamente modificada. Isto justifica a necessidade de combinar os tipos de uso e
cobertura da terra na bacia hidrográfica do córrego Prosa com a fragilidade potencial desta
área, objetivando mapear zonas de fragilidade ambiental, que na teoria, representam áreas
mais vulneráveis à processos erosivos em função da ocupação antrópica. As classes mapeadas
e os respectivos valores de fragilidade para esta variável (Tabela 5) foram definidos com base
nos critérios propostos por Ross (1994), Crepani et al. (2001) e Valle et al. (2016), considerando
os critérios quanto à proteção contra erosão (ABRÃO; BACANI, 2018).
As áreas de vegetação natural receberam peso 1, pois oferecem proteção ao solo contra
erosão, e por constituir unidades de preservação, não estão sujeitas às fortes pressões antró-
pica em seu entorno, por exemplo, o desmatamento. As áreas com vegetação rasteira recebe-
ram peso 2, pois apresentam certo grau de proteção ao solo, mas ainda necessitam de
melhoramento no manejo. Para corpos d’água, também foi atribuído peso 2, pois apesar de
representar porções frágeis, encontram-se dentro das áreas de preservação permanente e
com monitoramento e manejo revisto periodicamente pelo poder público.
A área urbanizada apresenta distintos padrões de uso e cobertura da terra. A porção oci-
dental, próxima ao centro, é caracterizada pela ocupação antiga e consolidada, amplamente
impermeabilizada e bem servida de infraestruturas urbanas. Por outro lado, na porção ociden-
tal, próxima ao Parque dos Poderes, aumenta-se a quantidade de vazios urbanos e nota-se
uma quantidade significativa de chácaras e clubes de campo. Em grande parte, nesta última
porção, as vias não são pavimentadas, o abastecimento de água e esgoto é parcial e a cober-
tura vegetal varia entre gramíneas, arbustos e espécies arbóreas, com manchas isoladas de
solo exposto, predominando relevo plano e suave ondulado. Apesar dessas diferenças, a pre-
sença de infraestrutura adequada na porção ocidental e a maior presença de vegetação na
porção oriental, minimizam os processos erosivos, porém não impedem sua ocorrência. Em
função dessas características para área urbanizada foi atribuído peso 4. Por fim, para a classe
de solo exposto foi atribuído peso 5, considerando que nas pequenas porções onde ocorrem,
o solo encontra-se descoberto e com severas marcas de erosão.

Tabela 5. Classes de uso e cobertura da terra e valor de fragilidade atribuído para a variável

Classes Valor Área (km²) %


Vegetação Natural 1 5,18 16%
Vegetação Rasteira 2 3,05 10%
Corpos d’água 2 0,05 0%
Área Urbanizada 4 23,41 73%
Solo Exposto 5 0,28 1%
Total 31,97 100%
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Ross, 1994; Crepani et al., 2008 e Valle et al., 2016.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO 229

A tabela 6 e a figura 5 apresentam os resultados de fragilidade ambiental na bacia hidro-


gráfica do córrego Prosa, onde foram identificados quatro graus de fragilidade: baixa, média,
alta e muita alta, com distintas variações de área. Ao analisar o mapa de fragilidade ambiental
da bacia hidrográfica do córrego Prosa, fica nítido a influência das áreas urbanas na classifica-
ção das zonas de alta fragilidade, tendo nesta, a maior representatividade, 65%.

Tabela 6 – Áreas das classes de fragilidade ambiental

Fragilidade Ambiental Valor Área (km²) %

Baixa 2 7,66 24%

Média 2 0,78 2%

Alta 4 20,67 65%

Muito alta 5 2,86 9%

Total 31,97 100%


Elaboração: os autores.

Figura 5 – Mapa de fragilidade ambiental e imagens representativas

Elaboração: os autores.

As zonas de classe muito alta para fragilidade ambiental ocorrem em função das áreas de
média e alta fragilidade potencial associadas também às áreas de intenso uso e ocupação. Esta
classe representa 9% da bacia do Prosa.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


230 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann

As zonas de baixa fragilidade ambiental representam 24% da área estudada e resultam


da combinação de áreas de baixa fragilidade potencial com áreas de intensa conservação da
vegetação natural. Esta área do município de Campo Grande é bastante conhecida, pois abriga
o Parque do Prosa (unidade de conservação) e também o Parque dos Poderes. Nesta área tam-
bém se localizam importantes órgãos públicos como a Secretaria de Estado de Justiça e
Segurança Pública, Secretaria de Estado de Educação, Secretaria de Estado da Saúde, Tribunal
de Contas, etc. No entanto, o grande ponto a ser discutido nestes resultados são as zonas de
média fragilidade ambiental, que apesar de representarem apenas 2% da área estudada, extra-
pola as hipóteses deste mapeamento de que as zonas de maior fragilidade seriam as áreas que
exigiriam maior atenção.
As zonas classificadas como de média fragilidade ambiental traduzem processos erosivos
de grande interferência na qualidade hídrica do córrego Prosa. Este fato foi visto no popular-
mente conhecido lago do Parque das Nações Indígenas, cartão postal do município de Campo
Grande (Figura 4-A), que apresentou uma grande área assoreada (Figura 4-B). Este fato foi noti-
ciado em diversos veículos de comunicação (Figura 4-C). Para confirmar as análises, foi feita
uma saída de campo no dia 29 de agosto de 2019, explorando as áreas da nascente do córrego
Joaquim Português, o principal afluente do córrego Prosa (Figura 4-D), onde foi possível cons-
tatar uma imensa voçoroca com mais de 6 metros de altura (Figura 4-E e Figura 4-G). O agra-
vamento do processo erosivo se dá em função do direcionamento da tubulação da galeria de
coleta de água pluviais. Toda a água captada na cabeceira da bacia (Figura 4-F) está direcionada
via canalização para a área da nascente (Figura 4-E).
Outro fator que também contribui para o assoreamento do lago no Parque das Nações
Indígenas é a presença de uma barragem de contenção construída no alto curso do córrego
Prosa (Figura 4-H), que não apresenta vegetação ciliar em seu entorno (Figura 4-I). Isso contri-
bui para o carreamento de sedimentos para o curso d’água em períodos de chuva. No trabalho
de campo foi possível notar a atuação do poder público na recuperação do lago.
Em matéria vinculada no sítio eletrônico4 da Prefeitura de Campo Grande, o governo do
Estado de Mato Grosso do Sul em parceria com Prefeitura, apresentou no dia 23 de maio de
2019 medidas para a revitalização deste importante patrimônio histórico, cultural e ambiental
do município, sendo que algumas delas envolvem diretamente o problema aqui discutido.
Dentre estas ações mencionadas, destacam-se: 1) desassoreamento da cabeceira da
microbacia do córrego Prosa e lançamento da rede de drenagem da bacia do córrego Reveilleau
na área do Parque das Nações Indígenas e 2) desassoreamento e a recuperação dos lagos do
Parque das Nações Indígenas. Apesar das medidas anunciadas e implementadas para a recupe-
ração do córrego, as obras em relação ao problema da voçoroca verificado na nascente do cór-
rego Joaquim Português, encontram-se paralisadas devido aos trâmites de desapropriação,

4 Disponível em: http://www.campogrande.ms.gov.br/cgnoticias/noticias/prefeitura-e-estado-iniciam-em-junho-recu-


peracao-de-lago-do-parque-das-nacoes/

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


FRAGILIDADE AMBIENTAL E ESPAÇO URBANO 231

sem data para o reinício. Portanto, sem a resolução desse problema, o processo de assorea-
mento dos lagos não será resolvido permanentemente, implicando, mais cedo ou mais tarde,
na demanda de novas ações por parte do poder público.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa indicaram que a análise da fragilidade ambiental por meio
da sobreposição ponderada é uma alternativa eficaz nos estudos ambientais, no entanto, deve-
-se salientar que a relação das áreas de maior fragilidade nem sempre indicarão os processos
geradores de impacto ambiental. O caso da bacia hidrográfica do córrego Prosa é um exemplo
disto, pois o processo de assoreamento do lago no Parque das Nações Indígenas é proveniente
de uma área classificada como zona de média fragilidade.
A metodologia proposta reforça a ideia de que identificar e conhecer zonas de fragili-
dade ambiental auxilia na tomada de decisões e no planejamento territorial local, que é base
para o delineamento de diretrizes e ações de conservação do equilíbrio ambiental. Os dados
coletados em campo indicaram graves problemas de assoreamento do córrego do Prosa bem
como processos erosivos em seus afluentes (córregos Desbarrancado, Reveilleau e Joaquim
Português), contudo, o poder público tem investido em obras de recuperação dos cursos
d’água, bem como, na conservação dos recursos naturais dispostos na área urbana de Campo
Grande, apesar novas ações serem necessárias, sobretudo no que diz respeito à recuperação e
conservação da nascente do córrego Joaquim Português.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


19. IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES
DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SÃO JOSÉ-
ITUIUTABA-MG

TATIANE DIAS ALVES1


LEDA CORREIA PEDRO MIYAZAKI2

Resumo: A bacia hidrográfica é considerada por muitos pesquisadores como a unidade espacial
mais apropriada para se entender a dinâmica dos processos, sejam eles físicos/naturais e/ou
sociais, além dos efeitos e as respostas do ambiente diante as modificações promovidas pela
sociedade. Quando a bacia passa a ser ocupada os processos ditos naturais são acelerados, uma
vez que a maior parte da vegetação é removida, o relevo é esculturado, os canais fluviais passam
por modificações quanto a sua morfologia e o solo pode ser impermeabilizado. Refletindo sobre
essa questão o objetivo deste estudo é demonstrar como a forma de ocupação atual da bacia
hidrográfica do Córrego São José com a expansão da malha urbana provocou diferentes proble-
mas ambientais. Para isso, utilizou-se como metodologia o levantamento bibliográfico sobre a
temática, trabalhos de campo, analise de reportagens dos meios de comunicação sobre os proble-
mas ambientais e elaboração de cartas temáticas. Foi constado que a bacia apesar de possuir um
relevo suave ondulado, com baixa suscetibilidade erosiva e que favorece a infiltração da água no
solo, vem sofrendo com diversos problemas ambientais como alagamentos, erosão de encostas,
assoreamento dos canais fluviais, além do descarte irregular de resíduos sólidos e depósitos tec-
nogênicos. Neste sentido, os problemas ambientais encontrados são decorrentes da expansão da
malha urbana que rompe com o equilíbrio dinâmico dos processos naturais.
Palavras-chave: problemas; ambiente; ocupação; bacia; canais fluviais.
Abstract: The hydrographic basin is considered by many researchers as the most appropriate spa-
tial unit to understand the dynamics of processes, whether they are physical/natural and/or social,
in addition to the effects and responses of the environment, given the changes promoted by
Society. When the basin is occupied, the so-called natural processes are accelerated once most of
the vegetation is removed, the relief is carved, river channels undergo changes in their morphol-
ogy and the soil can be waterproofed. Reflecting on this issue, the objective of this study is to
demonstrate how the current form of occupation of the Córrego São José hydrographic basin with

1 Discente do Curso de Graduação em Geografia e bolsista do Programa de Educação Tutorial PET-GEO /Instituto de Ciên-
cias Humanas do PontalICHPO, Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: tatianediasa@gmail.com
2 Docente do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em GeografiaInstituto de Ciências Humanas do Pon-
talICHPO, Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: lecpgeo@ufu.br

[ 233 ]
234 Tatiane Dias Alves; Leda Correia Pedro Miyazaki

the expansion of the urban network caused different environmental problems. For this, the meth-
odology used was a bibliographic survey on the subject, field work, analysis of media reports on
environmental problems and the preparation of thematic letters. It was found that the basin,
despite having a smooth undulating relief, with low erosive susceptibility and favoring the infiltra-
tion of water into the soil, has been suffering from various environmental problems such as flood-
ing, slope erosion, siltation of river channels, in addition to irregular disposal of solid waste and
technogenic deposits. In this sense, the environmental problems found result from the expansion
of the urban fabric that breaks the dynamic balance of natural processes.
Keywords: problems; environment; occupation; basin; river channels.

1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica é considerada por muitos pesquisadores como a unidade espacial
mais apropriada para se entender a dinâmica dos processos, sejam eles físicos/naturais e/ou
sociais, além dos efeitos e as respostas do ambiente diante as modificações promovidas pela
sociedade. Quando a bacia passa a ser ocupada os processos ditos naturais são acelerados,
uma vez que a maior parte da vegetação é removida, o relevo é esculturado, os canais fluviais
passam por modificações quanto a sua morfologia e parte do solo é impermeabilizado. Isso
tem alterado o equilíbrio dinâmico dos processos naturais, como por exemplo o caso do ciclo
hidrológico, no que se refere a diminuição da infiltração das águas da chuva na área urbana e
o aumento do escoamento superficial.
A água é um agente modelador e modificador da paisagem, que ao longo do seu trajeto
passa por distintos estados e percursos que envolve o ciclo hidrológico. O comportamento da
água em uma área com vegetação exuberante na fase de precipitação das águas da chuva é
amortecida pelas copas das árvores, que em seguida é escoada tanto pelos troncos da vegeta-
ção, quanto pelo gotejamento por meio das folhas, um outro percurso que pode acontecer é o
atravessamento direto das águas pluviais pela vegetação, atingindo dessa maneira a superfície
do solo. As águas que atingem o solo com velocidade de impacto reduzida, passam a infiltrar e
percolar o solo mais do que escoar superficialmente, isso contribui para o umidecimento do
solo e o abastecimento dos aquíferos ou lençóis freáticos e nascentes dos canais fluviais. As
águas que escoam chegam os cursos d’águas e parte dela é evaporada para atmosfera
(BOTELHO, 2011).
Em áreas urbanas e/ou rurais as fases e processos apresentadas anteriormente são inten-
samente afetadas, uma vez que a ocupação modifica as características naturais de uma bacia
hidrográfica, na qual o escoamento superficial acaba sendo o processo mais expressivo quando
comparado com a infiltração.
A bacia hidrográfica que passa por um processo de urbanização tem o ciclo hidrológico
alterado (quando comparado a uma área com cobertura vegetal), pois os processos físicos/
naturais que se encontravam em um estado de biostasia (equilíbrio dinâmico) são modificados
passando para um estado de resistasia (desequilíbrio dinâmico), e assim, o processo de escoa-
mento nesta situação é intensificado (CASSETI, 1991).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA HIDROGRÁFICA 235

Quando o relevo é apropriado e ocupado no meio urbano, várias alterações são realiza-
das a fim de adequar o relevo aos projetos de loteamentos, por exemplo. O relevo é escultu-
rado passando pela retirada de qualquer cobertura vegetal, o solo é exposto e a topografia
precisa ser retificada por processos de terraplanagem e construção de taludes. Pedro e Nunes
(2012) dizem que o processo de produção do espaço urbano transforma as características
naturais da bacia hidrográfica, que acaba rompendo o equilíbrio dinâmico do local.
Venceslau e Pedro Miyazaki (2019, p. 76) exemplificam como ocorrem essa dinâmica:
“Por exemplo, os topos e as vertentes ao serem ocupados sofrem transformação
decorrente da construção de taludes nas vertentes e dos processos de terraplanagem.
Além dessas transformações, estes compartimentos geomorfológicos são impermea-
bilizados, provocando um desequilíbrio no ciclo hidrológico local. Outro tipo de inter-
venção ocorre quando são construídos os arruamentos, que acabam se transformando
em verdadeiros canais de escoamento artificiais, uma vez que o escoamento superfi-
cial, conhecido como enxurradas, adquire velocidade devido à ausência de resistência
ao longo da via pavimentada, dessa forma, sedimentos associados a resíduos sólidos
são transportados e depositados em áreas mais baixas do relevo”.

Deste modo, observa-se que a partir do momento em que uma bacia hidrográfica passa
por um processo intensivo de urbanização, todo seu equilíbrio dinâmico é modificado. Assim,
seu estudo é de extrema importância para o desenvolvimento de ações e medidas no âmbito
do planejamento e gerenciamento, para que se possa minimizar os impactos ambientais que
atingem determinada área.
Na área urbana da cidade de Ituiutaba é observada a existência de três cursos d’água,
sendo estes o córrego do Carmo, o Pirapitinga e o São José, que desaguam ao longo do rio Tijuco.
Grande parte da extensão da bacia hidrográfica do Córrego São José está situada no âmbito
urbano e uma pequena área se encontra na zona rural. Assim, ao longo de sua extensão na área
urbana, é possível observar uma série de problemas ambientais que comprometem a dinâmica
natural da bacia e afeta a qualidade de vida dos moradores. E qualidade ambiental da bacia.
Refletindo sobre essa questão, o objetivo deste texto é demonstrar como a forma de
ocupação atual da bacia hidrográfica do Córrego São José com a expansão da malha urbana
provocou diferentes problemas ambientais.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A bacia hidrográfica do córrego São José (figura 1), que está localizado no município de
Ituiutaba-MG, com as coordenadas 18º 58’ 08’’ Latitude S; 49º 27’ 54’’ Longitude W (IBGE,
2010), na porção oeste do Triângulo Mineiro, que envolve a região geográfica imediata de
Ituiutaba. Segundo IBGE, a população estimada do município de Ituiutaba para o ano de 2021
seria cerca de 105.818 pessoas. A extensão territorial do município é de 2.598,046 km² e conta
com uma densidade demográfica de 37,40 hab./km² (IBGE, 2010).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


236 Tatiane Dias Alves; Leda Correia Pedro Miyazaki

Figura 1 – Localização bacia hidrográfica do Córrego São José

Fonte: IBGE, 2019; elaborado pela autora, 2021.

A bacia hidrográfica do Córrego São José apresenta uma área de drenagem de 21,61 km²
e um perímetro de 35,6 km. A região está localizada na morfoescultura da bacia sedimentar do
Paraná, com predomínio das Formações Marília, Adamantina (Grupo Bauru) e Serra Geral
(Grupo São Bento). Tendo um relevo típico de colinas, circundado por relevos residuais e se
encontra nos “Domínios dos Chapadões Tropicais do Brasil Central”, que constitui a subuni-
dade do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná (AB’ SABER, 1971).

2.2 Procedimentos metodológicos


Para a elaboração deste trabalho se fez necessário realizar um levantamento bibliográ-
fico e cartográfico da temática e a localidade a ser estudada. Posteriormente, foram realizados
alguns trabalhos de campo na área de estudo, com o intuito de identificar os aspectos físicos
da bacia, impactos ambientais e coletar dados.
Após a coleta dos dados foram elaborados os mapas temáticos. Para isto, foi utilizado o
software QGIS 2.18 Las Palmas e, como base cartográfica imagens SRTM (Shuttle Radar
Topography Mission) com resolução espacial de 30 metros e escala de 1:250.000, disponíveis
gratuitamente no site do INPE. Com essa base foram elaborados os mapas de declividade,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA HIDROGRÁFICA 237

hipsometria e delimitação da bacia, em conjunto com a ferramenta TauDEM (Terrain Analysis


Using Digital Elevation Models).
A última etapa consistiu em um levantamento e análise de reportagens dos meios de
comunicação sobre os problemas ambientais que acometem a área urbana da bacia
hidrográfica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o crescente processo de urbanização que a bacia hidrográfica do Córrego São José
sofreu ao longo dos anos, são intensos os impactos em função da impermeabilização do solo,
desmatamento, esculturação do relevo e retificação e canalização de parte do canal fluvial
principal. Com isso, os processos naturais da dinâmica da bacia são cada vez mais acelerados,
causando diversos impactos ambientais negativos (erosões, assoreamento, danos a infraestru-
tura urbana etc.) que comprometem a qualidade ambiental.
As características físicas do relevo de uma bacia hidrográfica têm uma relação direta com
os aspectos meteorológicos e hidrológicos, pelo fato de que grande parte da velocidade do
escoamento superficial e a intensidade dos processos erosivos são determinados pela declivi-
dade do terreno. Diante disso, a bacia do Córrego São José apresenta altitudes que variam de
521 a 702 metros e amplitude altimétrica de 181 metros. Ao analisar o mapa hipsométrico
(figura 2) podemos observar que uma parte da significativa da bacia se encontra em altitudes
que variam de 600 a 650 metros mais próximo ao no topo das vertentes. Ao longo do rio prin-
cipal a altitude é de 550 a 600 metros. A parte com tom verde mais escuro as altitudes vão de
521 a 550 metros é área próxima à foz do rio e onde está localizada a Avenida José João Dib,
onde o canal principal é canalizado e retificado. As áreas mais elevadas se localizam próximas
as cabeceiras dos canais fluviais na porção mais ao sul da bacia, onde se encontra relevos resi-
duais do tipo tabuliforme, com altitudes acima de 650 metros.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


238 Tatiane Dias Alves; Leda Correia Pedro Miyazaki

Figura 2 – Mapa Hipsométrico da bacia hidrográfica do Córrego São José

Fonte: IBGE, 2019; elaborado pela autora, 2021.

Em relação a declividade do relevo (figura 3), na área da bacia predomina o relevo suave
ondulado que corresponde a 72,60% da área total, com intervalo de classes entre 3% a 8% de
inclinação. Há uma pequena área com relevo forte ondulado, variando entre 20% a 45% de
inclinação, local de relevo residual do tipo tabuliforme. O relevo ondulado predomina ao longo
da extensão dos canais fluviais, com intervalo de classe que variam de 8% a 20%. É possível
observar ainda pequenas porções com baixos declives, caracterizando uma região relativa-
mente plana, onde a inclinação é menor que 3%. Por esses valores, a declividade média da
bacia do Córrego São Jose é de 5,65%, indicando a predominância de um relevo suave ondu-
lado, que não apresenta muita suscetibilidade a erosão, possibilitando uma maior infiltração
da água no solo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA HIDROGRÁFICA 239

Figura 3 – Mapa de declividade da bacia hidrográfica do Córrego São José

Elaborado pela autora, 2021.

Segundo estudos climáticos o município de Ituiutaba-MG classifica-se, segundo a classi-


ficação de Koppen, como AW onde o clima é tropical marcado por um verão chuvoso, de outu-
bro a abril e um inverno seco de maio a setembro. A precipitação média do município entre os
anos de 1988 a 2019 foi de 1.387,3 mm anuais, onde 82% desse volume é referente ao período
mais chuvoso (COSTA; QUEIROZ, 2021).
Com a chegada do período chuvoso um dos impactos mais perceptíveis na bacia são os
alagamentos (figura 4), que ocorrem devido a impermeabilização das vertentes o que acelera
o escoamento superficial, fazendo com que as águas pluviais se concentrem na área de fundo
de vale, causando diversos transtornos à população residente as margens do córrego.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


240 Tatiane Dias Alves; Leda Correia Pedro Miyazaki

Figura 4 – Alagamento às margens do Córrego São José, Trecho da Av.


José João Dib

Fonte: Jornal Hoje, 2015.

São diversas as reportagens retratando os alagamentos que acometem a área de fundo


de vale do Córrego São José, no trecho urbano. Todos os anos são relatadas diversas problemá-
ticas em função dos constantes alagamentos na área, principalmente em decorrência da
entrada de água nas residências e comércios. Os alagamentos deixam os moradores e comer-
ciantes “ilhados”, além de causar prejuízos e estragos nos estabelecimentos, nas vias públicas,
nas residências e nos veículos que por vezes se encontram no local. Além dos alagamentos, no
ano de 2013, em decorrência do grande volume de chuva, parte do asfalto no cruzamento
entre as avenidas Minas Gerais e José João Dib (nas margens do Córrego São José) cedeu,
devido ao escoamento superficial concentrado, o que ocasionou grandes transtornos. Como
retratado na figura 4, no ano de 2015 ocorreu um grande alagamento na avenida Jose João Dib,
segundo constato pela reportagem do jornal Estado de Minas de 1 de novembro de 2015, após
uma chuva de 28 milímetros. Outra reportagem, datada no dia 14 de fevereiro de 2019, retrata
uma forte chuva na mesma localidade da figura 4, na reportagem feita pelo MGTV 1ª edição,
são apresentadas imagens do alagamento que ocorreu nas margens do Córrego São José, após
o registro de 60 milímetros de chuva na cidade.
Em razão da impermeabilização das vertentes a água da chuva não consegue infiltrar no
solo, o que intensifica o escoamento superficial. Quando o volume das águas pluviais é bas-
tante alto, a rede de drenagem urbana não consegue absorver fazendo com que a água se con-
centre na parte mais baixa.
No dia 01 de fevereiro de 2020 foi noticiado no Jornal online “Tudo em Dia: o conheci-
mento nos conecta” vários problemas após um temporal. O título da matéria diz “Temporal
provoca alagamento e destruição em Ituiutaba”, resultante da chuva ocorrida no dia 31 de
dezembro de 2019. Foi relatado que uma casa localizada na Avenida Sadala Jorge, no Bairro

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA HIDROGRÁFICA 241

Universitário, ficou completamente alagada devido a entrada da água oriunda do escoamento


superficial (enxurrada) e foi necessário a ajuda do Corpo de Bombeiros para drenar a água do
local, resultando em perdas materiais para os moradores (Figura 5).

Figura 5 – Alagamento registrado em uma residência localizada na


Avenida Salada Jorge, no Bairro

Fonte: G1. MG/Triangulo. Foto: Reprodução/TV Integração (2020).

Esse ocorrido também foi noticiado no jornal online G1-Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
com o seguinte título “Destelhamentos e vias alagadas são registrados durante chuva em
Ituiutaba” e Subtítulo: “Árvores e poste caíram, vias alagaram e água da chuva chegou a invadir
uma casa no Bairro Universitário”. É importante ressaltar que esse alagamento ocorreu em
uma área de média vertente do relevo de colina, cuja morfologia é suave ondulada, perten-
cente a bacia hidrográfica do córrego São José.
Outro motivo para que os alagamentos se concentrem em parte do córrego São José
decorre do fundo de vale ser canalizado. O canal principal do córrego contém 9,9km, contando
com aproximadamente 2,5 km de canal fluvial retificado, entre as avenidas Minas Gerais e
Arthur Junqueira de Almeida. O trecho retificado conta com áreas de canalização fechadas e
outras abertas, desencadeando problemas decorrentes de alagamentos em toda a área cana-
lizada, mas principalmente nas áreas onde a canalização é fechada.
Um outro impacto ambiental retratado na bacia do Córrego São José em função da ocu-
pação do relevo são os processos erosivos intensificados. A erosão é um processo natural, que
ocorre dentro do tempo geológico, que tem por finalidade o desgaste do solo e é um dos fato-
res responsáveis pela esculturação do relevo. Vários são os processos que podem acelerar a
erosão, sendo eles o clima, ações antrópicas, tipos de solo, o relevo, entre outros. Porém,
podemos observar que o ser humano (por meio de suas ações) vem sendo um dos principais
agentes causadores do aceleramento dos processos erosivos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


242 Tatiane Dias Alves; Leda Correia Pedro Miyazaki

É possível encontrar diversas erosões em formas de sulcos, ravinas e voçorocas em diver-


sos locais da bacia hidrográfica, principalmente próximos a loteamentos recém implantados.
Processos erosivos mais perceptíveis são encontrados no Parque do Goiabal e próximo ao
Conjunto Habitacional Nova Ituiutaba I, II, III e IV (figura 6), na porção sul da bacia.

Figura 6 – Processos erosivos ao longo da bacia do Córrego São José

Fonte: Alves, 2019 (Foto 1); Severino, 2021 (Foto 2).

Esses processos erosivos são decorrentes da expansão da malha urbana nessa área,
que gerou transformações significativas na paisagem urbana, impermeabilizando o solo,
diminuindo a infiltração da água no solo e rebaixando o nível do lençol freático (BRAGHIROLI,
2017). Segundo Silva e Miyazaki (2014) com a construção dos novos loteamentos habitacio-
nais Nova Ituiutaba II e IV sérios danos ambientais vêm sendo causados a bacia do Córrego
São José. Pouco se é relatado sobre as problemáticas dos processos erosivos entre os meios
de comunicação. Uma reportagem do G1 Triângulo e Alto Paranaíba no dia 28 de Julho de
2017, noticia que a Secretaria do Meio Ambiente de Ituiutaba iria realizar um mapeamento
das áreas da zona rural que apresentam voçorocas e erosões no solo devido a construção de
casas populares dos loteamentos Nova Ituiutaba I e Gerson Baduy, com o intuito de solucio-
nar o problema nas áreas críticas. Porém não foi encontrado nada sobre o encaminhamento
ou finalização do mapeamento.
Além dos alagamentos e erosões nas encostas, o crescente processo de urbanização e
impermeabilização das vertentes da bacia hidrográfica do Córrego São José provoca o assorea-
mento do canal fluvial. O assoreamento ocorre do acumulo de sedimentos advindos de áreas
do topo das vertentes onde houve remanejo do solo e, também de processos erosivos acelera-
dos em decorrência da ocupação do relevo, bem como a retirada da cobertura vegetal no
entorno dos canais fluviais. Todos esses processos fazem com que partículas de solo se des-
prendam e, com a ação da chuva, são carregadas e depositadas nos fundos de vale. Foram
encontradas algumas reportagens sobre essa temática a fim de conscientizar a população, não
apenas sobre o assoreamento dos rios, mas também em razão do descarte irregular de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OCUPAÇÃO DO RELEVO NA BACIA HIDROGRÁFICA 243

resíduos sólidos que contribuem para a formação de depósitos tecnogênicos e obstruem a


rede de drenagem urbana.
Como já mencionado, é perceptível o descarte irregular de resíduos sólidos ao longo das
margens do Córrego São José, o que agrava os alagamentos além de contribuir para poluição e
assoreamento dos canais fluviais. Além disso, há a existência de depósitos tecnogênicos, que
são depósitos provenientes da atividade humana, nas mediações dos loteamentos habitacio-
nais Nova Ituiutaba II e IV. Segundo Silva e Miyazaki (2014) este deposito é decorrente de uma
obra de construção para contenção das águas pluviais para minimizar o processo erosivo e
assoreamento do córrego, porém a obra não suportou a quantidade de água e sua estrutura
acabou se rompendo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este estudo foi possível notar que a bacia hidrográfica do córrego São José vem
sofrendo constantes impactos ambientais devido a expansão da malha urbana, que rompe
com o equilíbrio dinâmico natural da bacia. São grandes os impactos em função da impermea-
bilização do solo, retificação e canalização de parte do canal fluvial principal e ocupação das
vertentes que acaba modificando o relevo.
Esta dinâmica urbana da bacia faz com que ocorra o surgimento de alagamentos, erosões
dos solos, assoreamento dos rios e a ocorrência de depósitos tecnogênicos. Além disso, há o
descarte irregular de resíduos sólidos que colabora para o agravamento dos alagamentos e
assoreamento dos canais fluviais.
Neste sentido, é necessário um melhor planejamento e manejo da bacia da bacia do cór-
rego São José para buscar medidas que possam minimizar os impactos ambientais oriundos
das ações antrópicas e assim fornecer um melhor bem-estar a população.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


20. IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE
DOS RECURSOS HÍDRICOS
Uma análise sobre a Cachoeira Alta do Tarumã
(Manaus-AM)

BIANCA SILVA DE SOUZA1


FLAVIO WACHHOLZ2
ISABELA SOARES COLARES3

Resumo: Nas últimas décadas observaram-se mudanças significativas no meio natural do Corredor
Ecológico das Cachoeiras do Tarumã, que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã, localizada na
cidade de Manaus-AM. Um dos principais fatores responsáveis para tal acontecimento foi a cres-
cente expansão urbana para a zona oeste da cidade. Dado o exposto, analisou-se os impactos
ambientais e a qualidade dos recursos hídricos da Cachoeira Alta do Tarumã. O método utilizado
para o desenvolvimento da pesquisa foi do tipo empírico-analítico com o uso da técnica do tipo
quali-quantitativa. Com base nas imagens de satélite analisou-se a qualidade da água dos pontos
classificados como P1a, P1b e P2, que estão localizados à montante do P3 (Cachoeira Alta do
Tarumã). O processo de urbanização dos últimos anos acarretou na supressão da vegetação e no
uso intensivo do solo. Verificou-se que, os recursos hídricos analisados encontram-se com altera-
ções nos parâmetros de: turbidez, pH, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica e sólido dissolvi-
dos totais. Avaliou-se que as ações antrópicas estão relacionadas com a expansão da zona oeste
da cidade de Manaus-AM, que impactou de forma significativa a qualidade da água da cachoeira.
Portanto, é urgente a necessidade da efetivação de políticas públicas que são responsáveis pela
área da Bacia Hidrográfica, do Corredor Ecológico e da Cachoeira Alta do Tarumã, para fins de tra-
balhar meios de gerir os cursos d’água existentes na região de estudo.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu; Corredor ecológico; Cachoeira Alta do
Tarumã.
Abstract: In recent decades, significant changes have been observed in the natural environment
of the Ecological Corridor of the Waterfalls of Tarumã, which covers the Waterfall Alta do Tarumã,
located in the city of Manaus-AM. One of the main factors responsible for such an event was the
growing urban expansion to the west of the city. Given the above, the environmental impacts and
the quality of water resources in Cachoeira Alta do Tarumã were analyzed. The method used for
the development of the research was of the empirical-analytical type with the use of the
technique of the quali-quantitative type. Based on satellite images, the water quality of points

2 UEA. E-mail: fwachholz@uea.edu.br


3 UFAM. E-mail: isc.geo@uea.edu.br

[ 245 ]
246 Bianca Silva de Souza; Flavio Wachholz; Isabela Soares Colares

classified as P1a, P1b and P2 was analyzed, which are located upstream of P3 (Cachoeira Alta do
Tarumã). The urbanization process in recent years has resulted in the suppression of vegetation
and intensive use of the soil. It was found that the water resources analyzed are with changes in
the parameters of: turbidity, pH, dissolved oxygen, electrical conductivity, total dissolved solids. It
was evaluated that anthropic actions are related to the expansion of the western zone of the city
of Manaus-AM, which significantly impacted the quality of the waterfall’s water. Therefore, there
is an urgent need to implement public policies that are responsible for the area of ​​the Hydrographic
Basin, the Ecological Corridor and the Alta do Tarumã Waterfall, in order to work on ways to
manage the existing watercourses in the study region.
Keywords: River Basin of the Tarumã-Açu River; Ecological corridor; High Waterfall of Tarumã.

1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, nota-se a crescente discussão acerca da problemática dos recursos
hídricos no mundo. Com isso, percebe-se a importância do enfoque dessa discussão no Brasil.
Visto que, o país possui grande disponibilidade hídrica, abrigando cerca de 12% das reservas
mundiais de água doce. Desse total, a região hidrográfica amazônica cobre 63,88% do territó-
rio, compreendendo áreas pertencentes a sete Estados da Federação e ocupa, aproximada-
mente, 3,8 milhões de km² do território nacional (BRASIL, 2006a; MAIA, 2010).
Apesar disso, é notória a presença de situações contrastes de abundância e escassez de
água. Além, da má gestão de recursos hídricos, o que exige dos governos e da população cui-
dados especiais referentes a organização e planejamento. A região de Manaus possui a pre-
sença de dois Comitês de Bacias Hidrográficas – CBH, que são responsáveis por estudos em
duas grandes áreas da cidade. O primeiro, é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu,
instituído em 19 de outubro de 2009. O segundo, é o Comitê da Bacia Hidrográfica do
Puraquequara, que não está em funcionalidade (BRASIL, 2006b; DAMASCENO, 2018).
Os problemas ambientais oriundos da expansão urbana das últimas décadas são eminen-
tes na área de estudo. Localizada na zona oeste da cidade de Manaus-AM, conta com a pre-
sença do Corredor Ecológico das Cachoeiras do Tarumã, no qual está inserida a Cachoeira Alta
do Tarumã, que há algumas décadas foi um lugar de recreação e turismo, e hoje, encontra-se
em constantes transformações no que se refere a sua forma de uso, paisagem e qualidade da
sua água. Com isso, indaga-se a seguinte questão: Quais ações antrópicas relacionadas a expan-
são urbana da zona oeste da cidade de Manaus impactam a qualidade da água da Cachoeira
Alta do Tarumã?
Dessa forma, aponta-se, a necessidade de analisar e conhecer as diversas transforma-
ções ambientais que ocorreram no recorte espacial. Tendo em vista que, a área possui poucos
estudos publicados, e que serão de grande relevância para os futuros pesquisadores da área e
para os órgãos públicos, que precisam trabalhar meios de gerir os cursos d’água existentes na
cidade e na região de estudo.
O objetivo central da pesquisa é analisar os impactos ambientais e a qualidade dos recur-
sos hídricos na Cachoeira Alta do Tarumã. Especificamente, conhecer os impactos ambientais

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 247

no uso e cobertura da terra na qualidade dos recursos hídricos da Cachoeira Alta do Tarumã
com base em imagens de satélite (2011, 2014 e 2020) e verificar a qualidade da água a partir
das variáveis: condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, pH, sólidos dissolvidos totais, tempe-
ratura e turbidez (2021).

1.1 A bacia hidrográfica do Rio Tarumã-Açu


A bacia hidrográfica do Tarumã-Açu está contida integralmente no município de Manaus,
entre as coordenadas 02°31’54.36”S a 03°5’13.96”S e 60°11’44.78”O a 59°52’16.01”O.
Compreende uma área de 1.388,94 km², cerca de 12,18% do município. Os seus tributários são
13: o Igarapé Santo Antônio, Cabeça Branca, do São José, Igarapé do Leão, do Mariano, do
Branquinho, do Caniço, do Argola, do Tiú, do Panemão, da Bolívia, do Gigante e o Tarumãzinho
(COSTA; SILVA; SILVA, 2013; MAIA et al. 2019).

1.2 O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu – CBHTA


Os problemas ambientais e os conflitos ocasionados pela diversidade de usos no âmbito
da bacia do Tarumã-Açu motivaram os moradores a se organizar e criar a Associação de
Moradores do Tarumã-Açu para buscar soluções coletivas. Visto isso, foi criado o Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu – CBHTA, que se tornou um marco por ser o primeiro
comitê de bacia instalado na região hidrográfica amazônica, instituído em 19 de outubro de
2009 (FERREIRA, 2008; DAMASCENO, 2018).

1.3 Cachoeira Alta do Tarumã


A localização geográfica da área de estudo (figura 1) encontra-se respectivamente nas
coordenadas: 3°00’29.3’’S 60°03’20.9’’W. A cachoeira pertence ao Corredor Ecológico Urbano
das Cachoeiras do Tarumã, que totaliza 4.075.012,93 m² (quatro milhões e setenta e cinco mil,
doze metros e noventa e três metros, localizado na cidade de Manaus-AM. Cachoeira Alta do
Tarumã, bairro Tarumã, Manaus-AM (MANAUS, 2009).

Figura 1 – Mapa de localização do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã, Manaus-AM

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


248 Bianca Silva de Souza; Flavio Wachholz; Isabela Soares Colares

Fonte: IBGE (2019); GOOGLE EARTH (2019). Elaborado por: BARRETO, Lucileide Aguiar (2020).

O termo corredor ecológico relaciona-se com os ecossistemas naturais ou seminaturais.


Estes ecossistemas reforçam a conexão de forma continua ou não de áreas protegidas. À visto
disso, o Corredor Ecológico das Cachoeiras do Tarumã foi criado com o intuito de preservar as
margens ao longo de trechos dos bairros Tarumã e Tarumã-Açu. Margens que ocupam uma
faixa de aproximadamente trinta metros de largura, medidos a partir da cota de cheia máxima,
não levando em consideração os conjuntos habitacionais e as edificações existentes até 2009
(BRASIL, 2006c; MANAUS, 2009).

1.4 Impactos ambientais e qualidade da água


Define-se o conceito de impactos ambientais como as alterações, modificações, transfor-
mações, que ocorrem no meio ambiente de forma frequente. No entanto, é importante desta-
car que o conceito de impacto ambiental apesar de ser empregado de forma ampla para
destacar aspectos negativos decorrentes de atividades antrópicas, pode possuir conotação
positiva (DAGNINO; CARPI JUNIOR, 2007; MENEGUZZO; CHAICOUSKI, 2010).
O processo de ocupação e uso do solo por atividades antrópicas modificam os processos
biológicos, físicos e químicos dos recursos naturais. As modificações dentro de uma bacia
hidrográfica podem ser avaliadas a partir do monitoramento da qualidade água. Monitorar e
avaliar a qualidade das águas superficiais é primordial para a adequada gestão dos corpos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 249

hídricos, pois permite caracterizar e analisar as bacias hidrográficas (MERTEN; MINELLA, 2002;
ANA, 2004; VON SPERLING, 2005 apud FIGUR; REIS, 2017).

2 METODOLOGIA
O método utilizado para a pesquisa foi o empírico-analítico e o tipo de pesquisa desen-
volvida, assentou-se sobre o cunho quali-quantitativo. Os procedimentos adotados ao longo
da pesquisa foram do tipo; bibliográfico, campo, processamento digital de imagens e experi-
mental. O procedimento bibliográfico foi realizado de maneira minuciosa, a partir do uso de
buscadores acadêmicos como: Google Acadêmico e SciELO.
A técnica de pesquisa de campo foi utilizada para o reconhecimento da área e para a rea-
lização da coleta de dados das coordenadas geográficas do recorte espacial e para a experi-
mentação. O levantamento o processamento digital das imagens com sobreposição no QGIS,
foi realizado para o cumprimento da análise temporal dos pontos. A seleção de imagens de
satélite provenientes do Google Earth Pro contou com o critério de disponibilização de ima-
gens dos anos de 2011, 2014 e 2020, a qualidade das imagens e a sua gratuidade para aquisi-
ção. Visto que, algumas imagens disponibilizadas no Google Earth Pro encontravam-se com
cobertura de nuvens, impossibilitando a sua observação e análise.
A técnica de experimentação foi possibilitada a partir da definição de 4 (quatro) pontos
estratégicos com base na observação de campo e nas imagens de satélite. Todos os pontos
localizados ao longo do Igarapé Tarumã-Açu no bairro Tarumã, zona oeste de Manaus, sendo
um a Cachoeira Alta e 3 (três) pontos a montante desta. Os dois pontos iniciais foram nomea-
dos como P1a e P1b, seguidos dos pontos P2 e P3.
Os critérios para a nomeação dos 2 (dois) pontos iniciais assentaram-se sobre a proximi-
dade dos corpos hídricos, o mesmo posto de acesso para a coleta e a relação do aspecto visual
da água do igarapé e das suas margens. A nomeação do trecho P2 ocorreu por ser um curso
d’água localizado mais ao centro dos pontos, com maior proximidade ao P3, que é a Cachoeira
Alta do Tarumã (objeto da pesquisa).
Assim, foi realizado no dia 03 de junho de 2021 a análise físico-química da água, a partir
dos parâmetros preestabelecidos pela Resolução n°. 724/2011 da Agência Nacional de Águas
– ANA, que define o Guia Nacional de coleta e preservação de amostras de água, sedimento,
comunidades aquáticas e efluentes líquidos. Os equipamentos utilizados para essa verificação
foram: Termo-Higro-Anemômetro– Luxímetro Digital Portátil Mod. Thal-300, o turbdímetro –
Instrutherm TD-300 e a sonda multiparâmetro – Hanna HI98194.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


250 Bianca Silva de Souza; Flavio Wachholz; Isabela Soares Colares

3.1 Aspectos qualitativos da pesquisa


Os trechos P1a, P1b, P2 e P3 (figuras 2, 3 e 4) estão localizados respectivamente nas coor-
denadas geográficas: 03°01’02.4’’S 60°02’49.0’’W e 03°01’02.1’’S 60°02’48.6’’W,
03°00’39.42720’’S 60°02’54.45960’’W e 03°00’29.35080’’S 60°03’20.94480’’W. Tendo como
acesso a: Av. Flor Rita, Av. Praia da Ponta Negra e a Av. do Turismo. Todos os pontos são carac-
terizados por serem empreendimentos de pontes e por estarem sobre o Igarapé Tarumã Açu.

Figura 2 – Análise do uso e cobertura do solo nos pontos 1a e 1b do Igarapé Tarumã-Açu, Manaus-AM

Fonte: GOOGLE EARTH PRO (2021).

Figura 3 – Análise do uso e cobertura do solo do ponto 2 do Igarapé Tarumã-Açu, Manaus-AM

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 251

Fonte: GOOGLE EARTH PRO (2021).

Figura 4 – Análise do uso e cobertura do solo do ponto 3 do Igarapé Tarumã-Açu, Manaus-AM

Fonte – GOOGLE EARTH PRO (2021).

Considerando os cenários de 2011, 2014 e 2020 das imagens do satélite Google Earth Pro
nos pontos 1a e 1b, nota-se uma intensificação do uso da terra na região, na porção mais ao sul

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


252 Bianca Silva de Souza; Flavio Wachholz; Isabela Soares Colares

e nas proximidades da área que abrange dos pontos. Em relação ao canal principal denomi-
nado de P1b, destaca-se que, em novembro de 2011 ele apresenta um maior volume de água,
caracterizada pela sua coloração amarelada e turva, além, da sua riqueza em material argiloso
em suspensão. Este, é um indício de que em período anterior a aquisição da imagem pelo saté-
lite Google Earth Pro, o lugar apresentava índices pluviométricos significativos e atípicos para
esse período do ano.
Em contrapartida, em setembro de 2020 no período de vazante da região amazônica,
que geralmente é responsável pela mudança da cor dos recursos hídricos, observa-se que a
água possui aparência escura. Um dos principais fatores apontados para tal acontecimento é a
alta concentração de matéria orgânica e de óleos advindos do esgoto doméstico.
Ao se tratar da carta imagem do P2, percebeu-se em abril de 2014 a mudança na coloca-
ção do corpo hídrico influenciado pelo período de cheia. E ao analisar os anos de 2011 e 2020
nota-se a intensificação no âmbito da ocupação da Área de Proteção Permanente – APP por
construções diversas e assim, a retirada da cobertura vegetal da região e o uso do solo. A aná-
lise do mapa com recorte temporal de setembro de 2020 pode ser associada as construções de
edificações na APP observadas no campo do dia 03 de junho de 2021.
Sobre os cenários do P3, nota-se em 2011 modificações referentes ao uso do solo na
região, com alterações referentes ao uso da terra, com presença de solo exposto. Em contra-
partida, nos anos de 2014 e 2020, nota-se o crescimento de vegetação secundária que ocupa a
maior parte da área e modifica de forma significativa a sua paisagem. Um dos principais fatores
a serem destacados sobre a região da Cachoeira Alta do Tarumã (P3) é que em décadas passa-
das sofreu com problemas oriundos da extração mineral irregular, que impactou de forma sig-
nificativa os recursos hídricos da região (CARDOSO, 2008).

3.2 Características físico-químicas


As duas coletas iniciais foram realizadas às 8h30 nos pontos 1a 1b com condições do
tempo parcialmente nubladas, sem a presença de vento. As coletas seguintes foram realizadas
às 9h16 e 9h59 nos pontos 2 e 3 com as condições do tempo nubladas, também sem a pre-
sença de vento, todas em 03 de junho de 2021. Os parâmetros meteorológicos e do curso
d’água observados na hora de coleta, foram: a condição do tempo, a ocorrência de ventos e a
sua direção, a temperatura do ar, a luminosidade, a umidade do ar, a cor do curso d’água e a
rugosidade (tabela 1).

Tabela 1 – Parâmetros meteorológicos e do curso d’água nos pontos de coleta a montante da Cachoeira Alta do
Tarumã

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 253

Temperatura Umidade
Ponto Luminosidade Cor Rugosidade
do ar relativa do ar

1a 30,2 11.600 71,8 Transparente Corrente

1b 34,6 20.000 64 Amarelada e turva Lisa

2 32,7 20.000 70 Acinzentada Lisa

3 30,8 12.400 84 Amarelada e turva Corrente


Elaborada por: SOUZA, Bianca Silva de (2021).

A temperatura do ar e a umidade relativa do ar não sofreram grandes variações. Tendo


em vista que, são considerados normais para a região. A luminosidade dos pontos P1b e P2
foram maiores que 20.000, o máximo quantificado na ferramenta do luxímetro. A análise do
parâmetro da cor foi realizada de forma visual, no qual observou-se três denominações encon-
tradas: a cor transparente no trecho P1a, cor amarelada e turva com materiais argilosos em
suspensão nos trechos P1b e P3 e coloração acinzentada no curso d’água P2. A rugosidade dos
corpos hídricos foi avaliada também de forma visual, tendo como resultados os cursos P1b e P2
com rugosidades lisas, e os cursos P1a e P3 com rugosidades correntes.
Em consonância a análise físico-química, a tabela 2 apresenta os resultados dos parâme-
tros de transparência, turbidez, pH, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, sólidos totais,
temperatura da água e profundidade de cada ponto.

Tabela 2 – Resultado dos parâmetros da análise físico-química da água do Igarapé Tarumã-Açu, Manaus-AM

Transparência Turbidez OD CE TDS Profundidade


Ponto pH TA (°C)
SD (cm) (NTU) (mg/L) μS/cm (mg/L) total
Transp. até
1a fundo 5,71 5,61 3,4 94 47 27,15 30 cm

1b Turva 43,73 5,9 1,68 111 55 26,24 1m

2 Turva 18,17 6,74 1,26 314 157 27,74 30 cm

3 Turva 56 6,73 0,7 147 74 27,86 30 cm


Elaborada por: SOUZA, Bianca Silva de (2021).

Averiguou-se a transparência até o fundo no trecho P1a e os demais pontos P1b, P2 e P3


foram caracterizados como corpos hídricos com águas turvas. A turbidez foi discrepante entre
os pontos coletados. Aponta-se os valores de 5,71 NTU no trecho P1a, 43,73 NTU no trecho
P1b, 18,17 NTU no trecho P2 e 56 NTU no trecho P3. Essa variável pode ser atribuída principal-
mente às partículas sólidas em suspensão. Desse modo, é reduzido a transparência da água e
é diminuída a transmissão de luz no meio (FIGUR; REIS, 2007).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


254 Bianca Silva de Souza; Flavio Wachholz; Isabela Soares Colares

O pH não sofreu grandes alterações de um ponto para o outro, com resultados entre 5,9
e 6,74, demonstrando a distância das condições naturais dos cursos d’água. Um dos principais
fatores que propiciaram tais resultados é a elevada carga orgânica oriunda do lançamento de
resíduos domésticos e esgoto nos corpos hídricos P1a, P1b, P2 que estão a montante do P3 e
que influenciam de forma significativa esse ponto de estudo. O valor do pH da água segundo
observado em Brasil (2006d) varia de 0 a 14. Abaixo de 7 é considerada ácida e acima de 7, alca-
lina. Água com pH 7 é neutra. Quanto mais próxima de 0 maior é a acidez da água.
Ao se tratar do parâmetro do oxigênio dissolvido, aponta-se uma modificação significativa
na Cacheira Alta do Tarumã (P3). À visto disso, destaca-se que anterior a essa análise ocorreu pre-
cipitação, que pode ter influenciado na redução do oxigênio do corpo hídrico. Dessa forma, tem-
-se como resultados de 3,4 mg/L no trecho P1a, 1,68 mg/L no trecho P1b, 1,26 mg/L no trecho P2
e 0,7 mg/L no trecho P3. A condutividade elétrica dos pontos coletados variou de 94 μS/cm no
P1a até 314 μS/cm no P2, tendo o resultado de 111 μS/cm no P1a e 147 μS/cm no P3.
Os resultados obtidos na análise e averiguação dos sólidos dissolvidos totais, foram de 47
mg/L no P1a, 55 mg/L no P1b, 157 mg/L no P2 e 74 mg/L no P3. A temperatura não sofreu gran-
des variações, sendo anotadas e observadas as seguintes temperaturas: 27,15 °C no P1a, 26,24
°C no P1b, que apresenta mata ciliar preservada, 27,74 °C no P2 e 27,86 no P3. A temperatura
está relacionada com o aumento do consumo de água, com a fluoretação, com a solubilidade
e ionização das substâncias coagulantes, com a mudança do pH, com a desinfecção, etc.
(BRASIL, 2006d).
A profundidade de cada corpo hídrico analisado foi averiguada de forma visual e aponta-
-se que ela variou de 30 cm nos trechos P1a, P2 e P3 até 1 m no trecho P1b. Por isso, a partir
de todos os resultados obtidos compreende-se que, o monitoramento da qualidade da água é
uma sugestão para trabalhos futuros, de forma a contribuir com o levantamento dos múltiplos
usos da bacia (NEVES et al. 2020).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dado o exposto, analisou-se que, a área que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã situada
dentro do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã, encontra-se antropizada e
abandonada pelo poder público. Aponta-se como fatores principais para as transformações
ocorridas, o aumento significativo da população nas últimas décadas para a região oeste da
cidade de Manaus-AM e a ausência de tratamento de esgoto.
No entanto, é importante mencionar acerca das alterações decorrentes do marco histórico
de atividades de origem autóctone, a partir da extração ilegal de mineração na região da Cachoeira
Alta do Tarumã, que gerou o assoreamento no leito do curso d’água e intensificou processos ero-
sivos na área estudada, propiciando alterações na qualidade dos recursos hídricos.
Através dos parâmetros da qualidade da água que foram utilizados para a análise físico-
-química, foram verificou-se impactos ambientais negativos oriundos de ações alóctones,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 255

advindos dos trechos P1a, P1b e P2 (externos ao Corredor Ecológico), localizados à montante
do P3 – Cachoeira Alta do Tarumã. Os usos diversos de cunho residencial, comercial e de servi-
ços, ocasionaram na supressão da vegetação, que é substituída por vegetação secundária.
Além, da notória degradação e modificação nos recursos hídricos com o lançamento de
efluentes domésticos diretamente ao corpo hídrico dos pontos 1a, 1b e 2. Que alterou princi-
palmente os parâmetros de turbidez, pH da água, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica,
sólidos dissolvidos totais dos pontos analisados. As consequências dos referidos impactos
ambientais negativos associadas a falta de disciplinamento do uso e ocupação do solo e à falta
de gerenciamento do uso dos recursos hídricos têm interferido diretamente na sustentabili-
dade da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu e do Corredor Ecológico das Cachoeiras do Tarumã,
que são recortes amparados por lei. Observa-se a necessidade de incentivos à pesquisa e ao
estudo de áreas protegidas, que trabalhem ações para a proteção dos recursos ambientais, o
acompanhamento da qualidade ambiental, a recuperação de áreas degradadas, a educação
ambiental, como deveria ocorrer na prática, na área das Cachoeiras do Tarumã.
Portanto, analisa-se que são necessárias efetivações de políticas públicas e ambientais
com a realização de ações urgentes para minimizar os impactos negativos existentes nesta
região. Destaca-se ainda a necessidade de fiscalização e implementação de medidas que solu-
cionem problemáticas referentes ao uso do solo, e também, o planejamento e fiscalização do
uso dos recursos ambientais existentes no recorte espacial para que ocorra a proteção dos
ecossistemas e o controle e zoneamento das atividades poluidoras.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


21. IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE OS
RECURSOS HÍDRICOS
Uma análise da Cachoeira Alta e Cachoeira Baixa,
Rio Tarumã-Açu (Manaus-AM)

BIANCA SILVA DE SOUZA1


VILMA TEREZINHA DE ARAÚJO LIMA2
FLAVIO WACHHOLZ3

Resumo: Há algumas décadas a Cachoeira Alta do Tarumã e a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu


foram lugares de recreação e turismo. Localizadas na zona oeste da cidade de Manaus, fazem
parte do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã. Nos dias atuais encontram-se em
constante transformação. Dessa forma, objetivou-se conhecer o estado ambiental de dois trechos
da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, com recorte espacial da Cachoeira Alta e Cachoeira Baixa
com base em imagens de satélite (2009-2019). A pesquisa foi do tipo quantitativa, com procedi-
mentos do tipo: bibliográfico, de campo e processamento digital de imagens. Observou-se que, a
área em estudo sofreu um processo de ocupação intensificado com a perda de áreas verdes ao
longo de 2011-2019. Evidenciou-se que, na Cachoeira Alta do Tarumã, no ano de 2011, encontra-
va-se com 32,5 ha, em 2019 contou apenas com 24,2 ha de Floresta. Ao se tratar da Cachoeira
Baixa do Tarumã-Açu, no ano de 2011, possuía 35 ha, em 2019 esse número diminuiu para 15 ha
de Floresta. Sobre os recursos hídricos dos lugares, nota-se que na primeira Cachoeira, em 2011
atingiu 7 ha, em 2019 contou somente com 3,5 ha de água. Na segunda Cachoeira, em 2016 a água
ocupou 12,4 ha de área e em 2019, no mesmo período apenas 1,4 ha. Essas transformações modi-
ficaram de forma expressiva a cobertura vegetal, o curso hídrico e o tipo de uso dos lugares. Logo,
são necessárias efetivações de Políticas Públicas e Ambientais com ações urgentes para minimizar
os impactos negativos existentes nestas cachoeiras.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu; Corredor Ecológico;
Cachoeiras do Tarumã.
Abstract: A few decades ago, the Cachoeira Alta do Tarumã and the Cachoeira Baixa do Tarumã-
Açu were places of recreation and tourism. Located in the west zone of the city of Manaus, they
are part of the Urban Ecological Corridor of the Cachoeiras do Tarumã. Nowadays, they are in con-
stant transformation. Thus, the objective was to know the environmental status of two stretches
of the Tarumã-Açu Hydrographic Basin, with a spatial cut of the Cachoeira Alta and Cachoeira

1 UEA. E-mail: bss.geo17@uea.edu.br


2 UEA. E-mail: vtlima@uea.edu.br
3 UEA. E-mail: fwachholz@uea.edu.br

[ 257 ]
258 Bianca Silva de Souza; Vilma Terezinha de Araújo Lima; Flavio Wachholz

Baixa, based on satellite images (2009-2019). The research was quantitative, with procedures such
as: bibliographic, field and digital image processing. It was observed that the area under study
underwent an intensified occupation process with the loss of green areas throughout 2011-2019.
It was evident that in the Cachoeira Alta do Tarumã, in 2011, it had 32.5 ha, in 2019 it had only 24.2
ha of Forest. In the case of the Low Waterfall of Tarumã-Açu, in 2011, it had 35 ha, in 2019 this
number decreased to 15 ha of Forest. About the water resources of the places, it is noted that in
the first waterfall, in 2011 it reached 7 ha, in 2019 it only had 3.5 ha of water. In the second water-
fall, in 2016 the water occupied 12.4 ha of area and in 2019, in the same period, only 1.4 ha. These
transformations significantly changed the vegetation cover, the water course and the type of use
of places. Therefore, it is necessary to implement Public and Environmental Policies with urgent
actions to minimize the negatives impacts existing in these waterfalls.
Keywords: Water resources; River Basin of the Tarumã-Açu River; Ecological Corridor; High
Waterfall; Low Waterfall

1 INTRODUÇÃO
Compreende-se que, bacia hidrográfica é definida como um espaço geográfico que está
associada aos recursos hídricos. Esse conceito está previsto na legislação, que recomenda a
indução do planejamento sobre a delimitação territorial. Ao se tratar da região hidrográfica
amazônica, fomenta-se que, ela abrange uma área total de 3,87 milhões de km², equivalente a
45% da área do país. Essa região é reconhecida no âmbito mundial por sua disponibilidade
hídrica e pela diversidade dos ecossistemas (NASCIMENTO, 2009; ANA, 2012; MAIA et al. 2019).
Destaca-se ainda, que a cidade de Manaus está localizada à margem esquerda do rio
Negro e apresenta cinco bacias principais: São Raimundo; Puraquequara, que está situada na
zona urbana e rural de Manaus; Educandos; Colônia Antônio Aleixo e a bacia do Tarumã-Açu
(MAIA et al. 2019).
Atualmente, a região de Manaus conta com a presença de dois Comitês de Bacias
Hidrográficas, que são responsáveis por estudos em duas grandes áreas da cidade. O primeiro,
é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, instituído em 19 de outubro de 2009. O
segundo, é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Puraquequara, que, não se encontra em efetivo
funcionamento (DAMASCENO, 2018; MAIA et al. 2019).
No entanto, mesmo com a presença do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu,
notou-se nos últimos anos mudanças significativas ocorridas no meio natural do Corredor
Ecológico das Cachoeiras do Tarumã, que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã e a Cachoeira
Baixa do Tarumã-Açu. Um dos principais fatores responsáveis para tal acontecimento é a expan-
são urbana para a zona oeste da cidade de Manaus. Assim, indaga-se a seguinte questão: Qual o
atual estado ambiental da Cachoeira Alta do Tarumã e da Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu?
Dessa forma, o presente estudo é de grande relevância, para o conhecimento do estado
ambiental das Cachoeiras do Tarumã, tanto pela população, quanto pelo poder público. Para
que assim, sejam realizadas ações que possam amenizar alguns problemas ambientais existen-
tes nos recortes. Tendo em vista que, as duas Cachoeiras possuem raras pesquisas publicadas
e que os dados alcançados poderão auxiliar em ações e pesquisas futuras.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 259

Dado o exposto, objetiva-se conhecer o estado ambiental de dois trechos da Bacia


Hidrográfica do Tarumã-Açu, com recorte espacial da Cachoeira Alta e Cachoeira Baixa com
base em imagens de satélite (2009-2019). Especificamente, analisar o estado de conservação/
degradação da cobertura vegetal dos recortes espaciais com base em imagens de satélite
(2009-2019) e por fim, avaliar as ações antrópicas autóctones e alóctones sobre o corredor
ecológico com base em imagens de satélite (2009-2019).

1.1 Gestão dos recursos hídricos no Amazonas


No Amazonas, a Gestão de Recursos Hídricos foi estabelecida a partir da Política Estadual
de Recursos Hídricos, Lei n°. 2.712/2001, reestruturada pela Lei n°. 3.167/2007 e normalizada
pelo Decreto nº. 28.678/2009 (MELO; ROMANEL, 2018).
A região amazônica tem passado por grandes mudanças por conta de um desenvolvi-
mento que, muitas vezes, ocorre de forma desordenada, o que dificulta a implementação efe-
tiva de políticas públicas. Além, de demonstrar a fragilidade da sustentabilidade nesta região
(DAMASCENO, 2018).
É apontado dois fatores para tal problemática: diferenças administrativas das esferas de
governo e dificuldade de controlar o processo de ocupação urbana que segue mais rápido do
que sua capacidade de planejamento (MELO, 2017).
Tendo em vista os fatos apresentados, nota-se a importância dos Planos de Recursos
Hídricos, a partir da necessidade de planejar e orientar a sociedade, de forma particular, a
atuação de gestores. Principalmente, no que se refere ao uso, conservação, recuperação, pro-
teção e desenvolvimentos dos recursos hídricos (ANA, 2013).

1.2 A bacia hidrográfica do Tarumã-Açu


A bacia hidrográfica do Tarumã-Açu está contida integralmente no município de Manaus,
entre as coordenadas 02°31’54.36”S a 03°5’13.96”S e 60°11’44.78”O a 59°52’16.01”O e com-
preende uma área de 1.388,94 km², cerca de 12,18% do município (MAIA et al. 2019).
Os seus tributários são 13 (treze): o Igarapé Santo Antônio, Cabeça Branca, do São José,
Igarapé do Leão, do Mariano, do Branquinho, do Caniço, do Argola, do Tiú, do Panemão, da
Bolívia, do Gigante e o Tarumãzinho (VASCONCELOS; COSTA; OLIVEIRA, 2015).
A partir de dados do satélite Landsat-8 de 2016, observa-se que, cerca de 431,30 km²
(31,05%) encontram-se modificados por ações antrópicas, restando somente 932,06 km² da
cobertura florestal e 25,57 km² (1,8%) de água. Tendo em vista que, as formas de usos e ocu-
pações do solo tornaram-se mais significativas a partir da década de 1980, com a intensidade
de ocupação diretamente relacionada à abertura e expansão das rodovias BR-174 e AM-010
(BÜHRING, 2010; COLARES et al. 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


260 Bianca Silva de Souza; Vilma Terezinha de Araújo Lima; Flavio Wachholz

Salienta-se que, a população, utiliza a área da bacia intensamente em razão da presença


de marinas, loteamentos, hotéis de selva. Além, dos condomínios residenciais de alto padrão,
ocupações desordenadas, restaurantes, flutuantes domiciliares e comerciais, cujas ações
geram impactos ambientais, diretos e indiretos (COSTA et al. 2012; NASCIMENTO, 2009).
1.3 Cachoeiras do Tarumã
O estudo abrange a Cachoeira Alta do Tarumã e a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu. Estas,
se encontram dentro do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã e da Bacia
Hidrográfica do Tarumã em Manaus, Amazonas (MANAUS, 2009).
A localização da área de estudo encontra-se respectivamente nas coordenadas:
03º00’29.3” S 60º 03’20,9” W – Cachoeira Alta do Tarumã, e 02º 59’ 02.5” S 60º 03’ 03.6” W –
Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu (figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã, Manaus-AM

Fonte: IBGE (2019); GOOGLE EARTH (2019). Elaborado por: BARRETO, Lucileide Aguiar (2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 261

Destaca-se que, o Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã totaliza


4.075.012,93 m² (quatro milhões e setenta e cinco mil, doze metros e noventa e três metros).
Os corredores ecológicos são instituídos pela Lei Federal n.º 9.985/2000, e ainda, que eles são
reconhecidos como unidade de planejamento pelo Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC. É considerado um espaço geográfico que abrange todos os atributos da
natureza ali existentes. (BRASIL, 2000; MANAUS, 2009; BRITO, 2012).
Desse modo, fomenta-se que, durante as décadas de 60 e 70, as cachoeiras eram apre-
ciadas por moradores e por visitantes que se deslocavam até os lugares com a finalidade de
entretenimento e lazer (ALMEIDA, 2021).

2 METODOLOGIA
Para atingir os meus objetivos propostos foram utilizados os procedimentos metodológi-
cos do tipo; bibliográfico; de campo e de processamento digital de imagens. O procedimento
da pesquisa bibliográfica, foi o primeiro a ser utilizado, a partir do uso da ferramenta da inter-
net para a realização de levantamentos em buscadores acadêmicos, especialmente em revis-
tas, periódicos, entre outros, trabalhos relacionados a temática escolhida.
O procedimento de campo, consistiu na utilização de técnicas específicas, que objetivaram
o registro e, o recolhimento de dados sobre o objeto de estudo, como as coordenadas geográfi-
cas e fotografias, com a utilização caderneta de campo, sensor de GPS e sensor de câmera.
Em momento posterior, foi realizado o processamento digital das imagens (dados) e a
elaboração de mapas, a partir da sobreposição no QGIS, e a análise de dados. Essa etapa foi
possibilitada a partir da disposição de imagens gratuitas e com boas resoluções no Google
Earth entre os períodos de 2011 à 2019. Nos anos de 2009 e 2010 não houve a possibilidade de
utilização das imagens em decorrência da presença de nuvens nos recortes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das idas ao campo durante a pesquisa, do levantamento bibliográfico realizado e
dos mapas elaborados e analisados, observou-se que, ao decorrer dos anos de 2011 à 2019,
ocorreram significativas modificações nas áreas que abrangem as duas cachoeiras (figura 2).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


262 Bianca Silva de Souza; Vilma Terezinha de Araújo Lima; Flavio Wachholz

Figura 2 – Classificação Supervisionada da Cachoeira Alta do Tarumã

Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2019. Elaborado por: SILVA, Maria Yasmin, 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 263

Sobre a região da Cachoeira Alta do Tarumã, um dos principais fatores a serem destaca-
dos é que, há décadas o recorte sofreu com problemas oriundos da extração mineral irregular
na cidade de Manaus (CARDOSO, 2008).
À visto deste fato, observaram-se mudanças no uso e cobertura do solo na região da
Cachoeira Alta do Tarumã. No tocante, destaca-se a diminuição de vegetação nativa e no cres-
cimento de vegetação secundária. Além, das modificações no ciclo hidrológico ao decorrer dos
anos de 2011 à 2019.
Evidenciou-se que, no ano de 2011, o recorte espacial da cachoeira encontrava-se com
32,5 ha e em 2019 essa região possuía apenas 24,2 ha de Floresta Nativa, evidenciada no mapa
de classificação supervisionada na cor verde escuro. Os resultados obtidos do solo exposto da
cachoeira, foi de 9 ha em 2011 e 3,1 ha em 2019, na legenda do mapa esta classificação encon-
tra-se identificada na cor laranja. Demonstrando assim, a o crescimento de vegetação secun-
dária, evidenciada pela cor verde claro.
 Acerca das construções antrópicas destaca-se, 11,1 ha na Cachoeira Alta em 2011 e 13
ha em 2019, identificada na cor cinza, demonstrando os avanços nas construções dessa região
de estudo. Analisa-se nesse aspecto, que o mês de setembro de 2016 foi de grande elevação
no índice de construções antrópicas na região do corpo hídrico.
Ao analisar o período do mês de julho de 2011 e de 2019, observou-se que, o corpo
hídrico no ano de 2011 atingiu 7 ha e em 2019 contou somente com 3,5 ha de água, que foi
identificado com a cor azul. Demonstrando assim, menor índice na quantidade de chuva, no
período de análise.
Ao se tratar da análise do mapa de classificação supervisionada Cachoeira Baixa do
Tarumã-Açu, aponta-se que, essa região sofreu com o intenso processo de urbanização entre
os anos de 2011 e 2019 (figura 3)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


264 Bianca Silva de Souza; Vilma Terezinha de Araújo Lima; Flavio Wachholz

Figura 3 – Classificação Supervisionada da Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu

Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2019. Elaborado por: SILVA, Maria Yasmin, 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 265

A área que abrange a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu, sofreu entre 2011 à 2019 com
crescente ocupação na sua Área de Proteção Permanente – APP, por construções antrópicas,
que consequentemente, impulsionaram nas mudanças no recorte, com a retirada da cobertura
vegetal e a má utilização dos recursos hídricos.
Desse modo, notou-se que, no mês de novembro de 2011, a Cachoeira Baixa do Tarumã-
Açu, possuía 35 ha de vegetação primária (floresta) e 17,4 ha de vegetação secundária, identi-
ficadas na cor verde escuro e verde claro. Entretanto, no ano de 2019 esse número caiu para
15 ha de Floresta Nativa. Destaca-se neste ponto, que o ano com maior índice de vegetação
secundária foi o de 2019, com 28 ha demonstrando que, a perda da biodiversidade da floresta
primária, que antes existia com predominância no lugar.
O fator do solo exposto dessa região foi de 5,5 ha em 2011 e 8,5 ha em 2019. Em relação
a esse ponto, observa-se também, que nos anos de 2015, 2017, 2018 e 2019, foi crescente a
retirada da cobertura vegetal que causa o empobrecimento dos solos. Um dos principais fato-
res para tal acontecimento, foi a intensificação no processo de urbanização da área, com a
construção de edificações nas margens da cachoeira.
Ao se tratar do corpo hídrico, identificado com a cor azul no mapa, destaca-se que, em
julho de 2011, o curso d’água alcançava cerca de 2 ha e que no mesmo período de 2019, atingiu
apenas 1,4 ha de água na região. Demonstrando assim, um período de menor índice na ativi-
dade pluviométrica da região.
Observa-se que, o índice de construção antrópica ao decorrer dos anos possuiu um
aumento significativo na região de estudo. Tendo em vista que, a área da Cachoeira Baixa do
Tarumã-Açu, sofreu com intensa urbanização atrelada a ausência de políticas públicas, que
acarretou uma perda da biodiversidade e acometimento de grande parte da qualidade ambien-
tal dos rios e cachoeiras.
As condições encontradas nas duas cachoeiras, evidenciam a necessidade de atuação efi-
caz e efetiva do poder público e, a mobilização da população dos pontos analisados para erra-
dicar o problema e promover qualidade ambiental (QUEIROZ et al. 2020).
Entretanto, a falta da participação significativa dos usuários na materialização das ações
propostas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, que é responsável pela região,
associada à falta de apoio técnico, financeiro, administrativo e material para a execução dessas
ações, fizerem com que o comprometimento dos membros, constatado inicialmente pelo com-
parecimento as reuniões e às referidas ações, fossem reduzindo gradativamente no decorrer
dos anos (MELO, 2017).
Tendo em vista que, a minimização dos impactos ambientais em toda a bacia hidrográ-
fica do Tarumã-Açu está condicionada a critérios de planejamento e gestão ambiental. Estes
critérios devem estar contidos no Plano de Gestão da Bacia, documento que contribui para
o gerenciamento e conservação ambiental na bacia em questão (VASCONCELOS; COSTA;
OLIVEIRA, 2015).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


266 Bianca Silva de Souza; Vilma Terezinha de Araújo Lima; Flavio Wachholz

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A área que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã e a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu situa-
das dentro do Corredor Ecológico, sofreu com várias transformações ambientais nos últimos
anos. Essas transformações modificaram de forma expressiva a cobertura vegetal, o curso
hídrico e o tipo de uso dos lugares. O que antes era área de lazer para à população manauara,
atualmente poucos conhecem sua existência.
Como principais impactos ambientais negativos, que atingem as Cachoeiras do Tarumã,
apontam-se, o desmatamento da vegetação nativa, o uso do solo para a construção de edifica-
ções, a evidenciação da poluição dos cursos d’água, etc. Fomenta-se que, essas transforma-
ções no meio foram impulsionadas pelo interno processo de urbanização para a zona oeste da
cidade de Manaus. Com significativa contribuição da especulação imobiliária para essa região.
Ao se tratar do cenário ambiental da Cachoeira Alta, destaca-se que, ela possui alguns
projetos de revitalização, mas que não conseguiram mudar a real situação do lugar. No entanto,
é desconhecido quaisquer projetos existentes na Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu, localizada
nas proximidades com a foz.
Observou-se ao decorrer da pesquisa de campo, que a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu
se encontra com o leito assoreado, com a presença de resíduos no seu curso d’água. Além, da
existência de atividades comerciais de produtos alimentícios em uma de suas margens, e de
construções de moradias dentro da sua Área de Proteção Permanente (APP).
Dessa forma, notou-se a presença da ação antrópica na forma alóctone e autóctone na
região de estudo, o que afetou a dinâmica dos ecossistemas existentes no Corredor Ecológico
das Cachoeiras do Tarumã. Isto, através do assoreamento dos corpos hídricos, da retirada de
cobertura vegetal, do uso do solo, entre outros impactos ambientais negativos. Logo, são
necessárias efetivações de Políticas Públicas e Ambientais com ações urgentes para minimizar
os impactos negativos existentes nestas cachoeiras.

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IMPACTOS AMBIENTAIS E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 267

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


22. MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS
À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO
Identificação e análise morfométrica

MARCOS VINÍCIUS SANTOS DE FREITAS1


KARLA MARIA SILVA DE FARIA2
VICTOR ALVES SANTOS3

Resumo: O uso das geotecnologias como metodologias para análise geográfica é crescente e apre-
senta grande potencial de aplicação, como na identificação e parametrização de microbacias hidro-
gráficas. O objetivo deste trabalho foi adotar o aplicativo TauDEM como metodologia de identificação
de microbacias de drenagem de interesse à conversão urbana e suas caracterizações gerais através
de índices morfométricos, para isso selecionou-se a cidade de Britânia devido a sua relação direta
com os corpos hídricos próximos e pela carência de informações desta natureza. A metodologia con-
sistiu no uso de scripts para rodagem do aplicativo, visualização no software Qgis para construção
semiótica do mapa e tabulação dos resultados obtidos nas análises morfométricas. Verificou-se a
utilização satisfatória do aplicativo TauDEM para identificação hidrológica, entretanto seu uso em
escalas maiores necessita do emprego de imagens de alta resolução e de atividades de campo. A
maior parte das microbacias apresentaram-se favoráveis à ocupação urbana, apesar disso algumas
requerem maior atenção devido as suas capacidades erosivas e predisposição para inundações.
Sendo assim, a ocupação destas microbacias deve considerar o planejamento e gestão sustentáveis,
caso contrário pode-se colocar em risco os rios que abastecem a cidade.
Palavras-chave: Microbacias urbanas; TauDEM; Análise hidrológica; Britânia
Abstract: The use of geotechnologies as methodologies for geographic analysis is growing and
presents great potential for application, as in the identification and parameterization of microwa-
tersheds. The objective of this paper was to adopt the TauDEM application as a methodology for
the identification of micro-basins of interest for urban conversion and their general characteriza-
tion through morphometric indexes. For this, the city of Britânia was selected because of its direct
relationship with nearby water bodies and due to the lack of information of this nature. The
methodology consisted in the use of scripts to run the application, visualization in Qgis software
for semiotic construction of the map and tabulation of the results obtained in the morphometric
analyses. It has been verified the satisfactory use of the TauDEM application for hydrological

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: mar_freita.s@discente.ufg.br


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: karla_faria@ufg.br
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: victor.santosalves@hotmail.com

[ 268 ]
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO 269

identification, however its use in larger scales requires the utilization of high resolution images and
field activities. Most of the watersheds were favorable for urban occupation, although some
require more attention due to their erosive capacities and predisposition to flooding. Thus, the
occupation of these watersheds must consider sustainable planning and management, otherwise
the rivers that supply the city can be put at risk.
Keywords: Urban microbasins; TauDEM; Hydrologic analysis; Britânia

1 INTRODUÇÃO
O uso da bacia hidrográfica como objeto de análise geográfico, torna-se adequado devido
ao seu arranjo estrutural caracterizar-se num geossistema de fácil identificação. Para Coelho
Neto (2007), a bacia de drenagem é uma unidade física formada por uma área da superfície
terrestre e pelos canais que a drenam transportando água, materiais e sedimentos dissolvidos
para um exutório. Compreende-se neste trabalho a definição de microbacia como um subsis-
tema hidrológico integrante do geossistema compreendido pela bacia hidrográfica.
A partir das inovações tecnológicas e posteriormente da sua disponibilização à comuni-
dade civil, novas ferramentas foram integradas às metodologias da Geografia, as geotecnolo-
gias são o resultado deste processo. De acordo com Rosa (2005) as geotecnologias são o
conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com refe-
rência geográfica, desta forma o aplicativo TauDEM (TARBOTON, 2005), essência da metodolo-
gia empregada nesta pesquisa, caracteriza-se como exemplo de geotecnologia aplicada ao
estudo geográfico.
O cálculo dos parâmetros morfométricos e morfológicos, dados através de índices linea-
res e areais, torna-se capaz de revelar características das microbacias uma vez que distingue
suas dinâmicas internas (DIAS et al., 2016). Ao conhecer as relações existentes neste geossis-
tema é possível, não só gerir a microbacia, como também planejá-la a fim de favorecer uma
apropriação sustentável, por exemplo, nas áreas a serem convertidas em novos loteamentos
da cidade (OLIVEIRA et al., 2013).
O uso do aplicativo TauDEM na identificação de microbacias é de grande importância
devido a falta de estudos acerca de cidades pequenas e afastadas dos grandes centros como a
cidade de Britânia, área de estudo nesta pesquisa, reconhecendo-se as microbacias da região
pode-se aprofundar nos estudos de sua caracterização para subsidiar políticas de planeja-
mento que muitas vezes desconsideram estas informações
Portanto, o objetivo deste trabalho foi identificar e calcular os parâmetros morfométri-
cos de microbacias próximas às zonas de conversão urbana na cidade de Britânia, incialmente
através do aplicativo TauDEM e posteriormente pelo software Qgis. A escolha do município de
Britânia deu-se pela escassez de informações e pela necessidade de compreensão da dinâmica
hidrográfica da cidade, uma vez que esta localiza-se próxima de corpos hídricos de grande
importância para seu desenvolvimento.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


270 Marcos Vinícius Santos de Freitas; Karla Maria Silva de Faria; Victor Alves Santos

1.1 Área de estudo


A cidade de Britânia localiza-se na parte central e mais estreita de seu município homô-
nimo, pertence à região imediata de Goiás-Itapuranga e intermediária de Goiânia (IBGE, 2017)
na divisa noroeste do Estado de Goiás. Situa-se, próxima de dois corpos hídricos o Rio Água
Limpa, delimitando-a ao norte, e Córrego Boa Sorte à oeste, ambos tributários do Rio Vermelho
integrante da microrregião hidrológica do Alto Araguaia e afluente do Rio Araguaia que por sua
vez está inserido na macrorregião hidrológica Tocantis-Araguaia de acordo com a proposta de
classificação do IBGE (2021).
Compreendendo uma população estimada em 5.815 habitantes (IBGE, 2021), o municí-
pio de Britânia, tem sua economia baseada principalmente na agropecuária, apesar de possuir
atividades turísticas incipientes; em 2010 possuía um IDHM considerado médio (0,672)
(OLIVEIRA, 2012). Sua escolha nesta pesquisa deu-se pela falta de dados voltados ao entendi-
mento da dinâmica dos subsistemas hidrológicos que influenciam diretamente o funciona-
mento de sua cidade.
A visualização da área de estudo bem como o resultado da aplicação da metodologia uti-
lizada na identificação de microbacias hidrográficas encontram-se na figura 1.

Figura 1 – Mapa de localização das microbacias

Fonte: Autores

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO 271

2 METODOLOGIA
A pesquisa iniciou-se com a construção de banco de dados georreferenciadas sobre área
de análise, em seguida estruturou-se as linhas de comando para execução do aplicativo TauDEM,
por fim elaborou-se a tabela contendo os dados resultantes, derivado tanto dos índices utiliza-
dos, como do cálculo das feições a partir do software Qgis. Concomitantemente à execução da
metodologia revisou-se sistematicamente autores que dessem suporte a discussão, principal-
mente Christofoletti (1980), Machado e Torres (2012), Santos, J. (2021) e Santos, A. (2021).
Para melhor entendimento a metodologia utilizada foi separada em duas partes. O fluxo-
grama metodológico com todas as etapas do projeto pode ser observado na figura 2.

Figura 2 – Fluxograma Metodológico

Fonte: Autores.

2.1 Identificação
Adiante ocorreu a instalação e configuração dos diretórios do aplicativo TauDEM (Terrain
Analysis Using Digital Elevation Models), ferramenta utilizada para análises hidrológicas a partir
de modelos digitais de elevação (MDE). Para Santos, J. (2020) sua vantagem em relação a outros
dispositivos semelhantes é seu uso independente de um software SIG, este necessário apenas
como uma interface para visualização dos resultados.
Os modelos digitais de elevação da área de estudo foram obtidos junto o catálogo INPE-
TOPODATA (BRASIL, 2008), em seguida foram mesclados para uso da ferramenta gdal:fillno-
data (preencher dados) para valorização de pixels, por último houve recorte para área de
análise, estas etapas são referentes a fase de pré-processamento (SANTOS, A.,2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


272 Marcos Vinícius Santos de Freitas; Karla Maria Silva de Faria; Victor Alves Santos

O uso do TauDEM através das linhas de comando torna-se de fácil execução, uma vez que
dispensam o front-end visual e podem ser utilizados apenas scripts de comando anotados em
arquivos de extensão.txt, popularmente denominados ‘bloco de notas’.
Para a identificação das microbacias usa-se uma sequência de scripts interpretados atra-
vés do prompt de comando (CMD), ferramenta disponível na maioria dos sistemas operacionais
utilizada para execução de comandos para automatização de tarefas (SANTOS, J., 2020).
O comando Pit remove (remover depressão) é responsável pela detecção e remoção de
buracos, caracterizados por pixels com valores de elevação menores do que seus vizinhos,
no MDE (SANTOS, A., 2020). Usa-se o raster resultante para em seguida usar o comando D8
flow directions (direção de fluxo), a partir dele obtém-se dois rasters, o primeiro calcula o
deflúvio da água através da relação de declividade entre pixels vizinhos para decodificação
de cada uma das oito direções possíveis de escoamento, o segundo resulta da declividade da
área em porcentagem.
D8 Contributing Area (área de contribuição) é um script que identifica matematicamente
áreas de contribuição e consequentemente os divisores de água, a partir das direções do fluxo,
e exutórios. Por fim, o script Stream Definition by Threshold (definição de rede de drenagem
pelo limiar) permite a construção dos canais de drenagem reconhecendo-se a área drenada
(SANTOS, J., 2020). Ressalta-se que a identificação se dá ao longo de toda a área de forma ines-
pecífica sendo necessária a descriminação das microbacias de interesse.
Para seleção de microbacias de drenagem específicas torna-se necessário a criação de
shape específico para coleta de coordenadas implementadas da forma de ponto dentro de um
SIG, neste estudo o QGIS. Utilizou-se como referência o produto da última linha de comando
executada, para o refinamento desta etapa empregou-se imagens de alta resolução da área de
estudo. Logo após executou-se novamente os dois últimos scripts de forma a obter um raster
contendo as microbacias a serem posteriormente analisadas.
Finalmente, executa-se a linha de comando Stream Reach and Watershed (Rede de
Drenagem) desta forma cria-se o vetor da rede de drenagem e o raster contendo a delimitação
da área de contribuição relacionada a menor unidade de segmento do canal de drenagem
identificado, logo a divisão pode ser verificada a partir da escala das microbacias. Utilizou-se
ainda, a ferramenta polygonize (poligonizar) para transformar o dado raster para vetor viabili-
zando o cálculo das métricas.

2.2 Análises morfométricas


Para Alves e Carvalho (2009), o conhecimento das propriedades morfométricas das
bacias hidrográficas são essenciais, independentemente de qual será o objetivo da análise, seja
para gestão ou planejamento. Assim como nas microbacias os resultados alcançados podem
auxiliar nas tomadas de decisão acerca da apropriação de seus recursos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO 273

Em relação a classificação geral dos cursos d’água foram considerados sua periodicidade,
propriedade que demonstra a dinâmica entre o fluxo de base e os regimes pluviais (MACHADO
e TORRES, 2021), o tipo de drenagem, arranjo dos cursos influenciados pela substrato geomor-
fológico e a hierarquia fluvial, esta última empregando a metodologia de Strahler (1952) na
busca da compreensão da relação interna dos canais.
No que se refere a obtenção de dados mais detalhados, pode-se dividir as análises em
lineares, aquelas relacionadas à rede de drenagem, e areais que buscam informações sobre a
área drenada por estes canais (ALVES e CARVALHO, 2009)
Entre as lineares foram estudados o número total de canais, seu comprimento total e
médio, além do comprimento da bacia e seu perímetro. Em contrapartida, o índice de circula-
ridade (Ic), densidade de drenagem (Dd) e de rios (Dr) e por fim, coeficiente de manutenção
(Cm) fazem parte das métricas da área. A declividade também foi considerada tendo em vista
sua importância no entendimento do contexto ao qual insere-se as microbacias.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da identificação das microbacias e de suas respectivas drenagens gerou-se a
tabela 1, para inclusão dos resultados das características gerais e análises morfométricas. A
tabulação justifica-se no sentido de estruturar de forma objetiva e simples o volume de dados
e permitir a integração entre os índices e coeficientes empregados.

Tabela 1 – Resultados dos parâmetros lineares e areais


Ordem Análise linear Análise Areal Outros
Comp. t.
N° de Comp. m. dos Comp. Bacia Perímetro Área Bacia
Microbacias dos canais IC Dd Dr Cm Declividade
seg. canais (m) (m) Bacia (km) (km²)
(km)
B1_I 1 0,71 706,70 1064,35 4,20 0,36 0,26 1,96 2,78 0,51 5,71 Plano e suave Ondulado
B1_II 1 1,25 1248,80 1270,10 5,52 0,62 0,26 2,01 1,61 0,50 5,71 Plano e suave Ondulado
B1_III 1 0,08 84,90 1057,41 3,36 0,21 0,23 0,40 4,76 2,48 9,97 Ondulado
B1_IV 1 1,79 1791,00 1662,25 6,48 0,88 0,26 2,04 1,14 0,49 7,59 Plano e suave Ondulado
B1_V 1 0,89 297,00 1234,34 3,96 0,38 0,30 2,35 2,63 0,43 10,86 Ondulado
B1_VI 1 0,30 1761,00 1055,29 3,36 0,20 0,22 1,49 5,00 0,67 7,65 Plano e suave Ondulado
B1_VII 1 1,76 1545,80 1887,96 6,84 0,90 0,24 1,96 1,11 0,51 11,30 Ondulado
B1_VIII 1 1,55 1378,20 1857,90 6,12 0,60 0,20 2,58 1,67 0,39 5,71 Plano e suave Ondulado
B1_IX 1 1,38 891,80 1484,70 4,68 0,43 0,24 3,21 2,33 0,31 10,82 Ondulado
B1_X 1 0,68 678,80 1269,74 4,02 0,44 0,34 1,54 2,27 0,65 9,80 Ondulado
B1_XI 1 1,16 1156,70 1426,13 4,92 0,48 0,25 2,41 2,08 0,41 9,46 Ondulado
B1_XII 1 0,35 349,70 1012,09 3,30 0,35 0,40 1,00 2,86 1,00 14,93 Ondulado
B1_XIII 1 0,57 569,10 1244,62 4,14 0,31 0,23 1,84 3,23 0,54 5,71 Plano e suave Ondulado
B1_XIV 1 0,80 804,00 1186,62 4,68 0,42 0,24 1,91 2,38 0,52 13,13 Ondulado
B1_XV 1 0,99 553,20 1262,09 4,86 0,61 0,33 1,62 1,64 0,62 5,71 Plano e suave Ondulado
B1_XVI 1 0,55 981,80 881,35 3,18 0,27 0,33 2,05 3,70 0,49 5,71 Plano e suave Ondulado
B1_XVII 1 0,98 654,00 1652,16 5,16 0,52 0,25 1,89 1,92 0,53 9,46 Ondulado
B1_XVIII 1 0,65 379,70 1231,05 3,72 0,27 0,25 2,42 3,70 0,41 7,59 Plano e suave Ondulado
B1_XIX 1 0,38 989,10 1213,19 3,60 0,28 0,27 1,36 3,57 0,74 8,53 Ondulado
B1_XX 1 1,03 1031,50 1174,39 4,26 0,41 0,28 2,52 2,44 0,40 7,53 Plano e suave Ondulado
B2_I 4 3,13 782,28 2549,54 8,28 1,48 0,27 2,11 2,70 0,47 5,71 Plano e suave Ondulado
B2_II 3 1,30 432,17 1501,22 5,64 0,69 0,27 1,88 4,35 0,53 7,74 Plano e suave Ondulado
B2_III 4 2,68 671,23 2116,10 7,50 1,29 0,29 2,08 3,10 0,48 9,08 Ondulado
B2_IV 4 1,67 418,18 1686,64 6,36 1,08 0,34 1,55 3,70 0,65 7,82 Plano e suave Ondulado
B3_I 10 4,52 452,04 3471,69 13,51 3,67 0,25 1,23 2,72 0,81 9,46 Ondulado
B3_II 10 6,72 672,02 5177,61 18,25 4,56 0,17 1,47 2,19 0,68 13,13 Ondulado
Fonte: Autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


274 Marcos Vinícius Santos de Freitas; Karla Maria Silva de Faria; Victor Alves Santos

Como observado na figura 1 e tabela 1, a partir do aplicativo TauDEM foram identificadas


vinte e seis microbacias. As áreas de drenagem são resultantes da escolha dos exutórios na ali-
mentação do script, considerados após análise do comportamento de expansão da mancha
urbana entre anos de 1985-2021 através do Google Earth. Notou-se ainda a predisposição de
crescimento ao longo das rodovias adjacentes à cidade, fenômeno profundamente observado
em estudos urbanos como apontado por Polidoro et al. (2010).
Para Christofoletti (1980) devido a própria característica do terreno, superfícies pouco
declivosas funcionam como áreas de várzeas, por esse motivo algumas áreas no raster de con-
tribuição gerado pelo TauDEM não se configuravam como microbacias, neste sentido calhas de
grandes rios também podem confundir o aplicativo.
Além disso, a acurácia da identificação depende do limiar de refinamento selecionado
pelo analista e de seu conhecimento da área. A falta de compreensão da área dificulta a sele-
ção de exutórios utilizados na rodagem do programa.
Mediante o estudo de imagens de satélite de alta resolução provenientes do plugin
QuickMapServices no Qgis e levando em consideração a divisão hidrográfica nacional na escala
de microrregiões hidrológicas (IBGE, 2021) as microbacias estudadas caracterizam-se como tri-
butárias intermitentes do Ribeirão Água Limpa e Córrego Boa Sorte, ambos tributários do Rio
Vermelho inseridos na microrregião hidrológica do Alto Araguaia.
Por se configurarem microbacias seu arranjo de canais não chega a formar a estrutura
dendrítica, exceto as que possuem canais de ordem diferentes, neste caso seis microbacias, as
restantes apresentam apenas um único canal.
O sistema de classificação de Strahler (1952) busca o ordenamento dos canais de drena-
gem afim de compreender seu grau de ramificação, utilizando-se das confluências dos canais
entre si desta forma, da confluência de dois canais menores denominados de primeira ordem
origina-se um canal maior de segunda ordem e assim por diante.
Das microbacias identificadas vinte configuram-se de primeira ordem nomeadas na
tabela acima com o algarismo ‘1’ após a letra ‘B’, por conseguinte, classificou-se quatro micro-
bacias de segunda ordem e duas de terceira ordem. Para Machado e Torres (2012) bacias de
ordem maior geralmente drenadas de forma melhor.
Em relação a quantidade de canais destaca-se uma tendência, logicamente as microba-
cias de primeira ordem apresentarão apenas um segmento de canal, porém observou-se que
as de segunda ordem tiveram em média quatro segmentos e as de terceira dez segmentos. A
variabilidade nos comprimentos dos canais ficou bastante evidenciada, o menor canal de dre-
nagem reconhecido possui oitenta metros enquanto a maior bacia compreendia mais de seis
quilômetros de extensão, o mesmo ocorreu com o comprimento médio variando entre 84,90
até 1791 metros.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO 275

Ainda nos parâmetros lineares o comprimento e o perímetro da bacia são importantes


no sentido de fornecer numericamente a dimensão do tamanho da área drenada, ainda no que
diz respeito ao comprimento da microbacia, este permite a percepção geral do tempo de dre-
nagem uma vez que bacias mais alongadas tendem a alcançar a vazão máxima mais lenta-
mente desfavorecendo enchentes (GRANELL-PÉREZ, 2001).
Desta forma a ‘B1_XVI’ configura-se na microbacia com menor comprimento e, como
observado na figura 1, visivelmente a mais arredondada, por outro lado a microbacia mais
comprida é a ‘B3_II’, já os perímetros mantiveram-se medianos com as bacias de ordem maior
possuindo perímetros maiores àquelas de menor ordem. As variáveis anteriores, assim como o
comprimento médio dos canais, permitem a identificação mais geral do aporte e do arranjo
das microbacias analisadas.
O estudo da área de microbacia deve ser considerado pois seu formato, altamente
influenciável pela estrutura geológica do terreno, atua diretamente no tempo em que a água
percorrerá desde seus divisores até seus exutórios (MACHADO e TORRES, 2012).
Entre os índices considerados (tabela 1), calculou-se o Índice de circularidade (Ic) que
almeja quantificar a circularidade da bacia podendo ser entendido como a relação ente a área
de uma determinada bacia e a área de uma circunferência com mesmo perímetro
(CHIRSTOFOLETTI, 1980). O valor do Ic é adimensional, quando mais próximo de 1 mais circular
a microbacia.
Alves e Carvalho (2009) apontam que microbacias mais circulares são favoráveis à inun-
dações uma vez que seu deflúvio tende a escoar de forma simultânea entre os canais.
Observa-se que os índices de circularidade das bacias são considerados baixos, ou seja, nas
microbacias identificadas predomina-se o formato mais alongado com média de 0,27.
A densidade de drenagem (Dd) correlaciona o comprimento total dos canais com a área
da microbacia, ao estar intimamente ligado ao clima e ao substrato litológico, uma microbacia
bem drenada possui o relevo mais dissecado e canais mais volumosos com capacidade de ero-
são e transporte de sedimentos elevadas (DIAS et al., 2016).
Para Machado e Torres (2012) através deste índice pode-se inferir a susceptibilidade da
área à erosão dado o desenvolvimento de seus canais, além disso Grannel-Pérez (2001) afir-
mam que uma Dd alta se torna indicativo de uma área com rochas pouco resistentes, escassa
vegetação, solos com porosidade diminuída e relevo dissecado.
De acordo com Beltrame (1994) dentre as microbacias estudadas apenas uma possui Dd
baixa, quatorze possuem Dd mediana e onze encaixam-se na Dd considerada alta, sendo assim a
maior parte das microbacias são bem drenadas e possuem capacidade considerável de erodir.
Por outro lado a densidade de rios (Dr) configura-se como a razão entre o número de rios
e a área da microbacia, sua aplicabilidade está no fato do índice expressar a grandiosidade da
rede de drenagem ao apontar força erosiva dentro do subsistema (ALVES e CARVALHO, 2009),

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


276 Marcos Vinícius Santos de Freitas; Karla Maria Silva de Faria; Victor Alves Santos

por isso este índice comumente é analisada em conjunto com a Dd. Ao todo sete microbacias
apresentam valor de Dr elevado, são elas ‘B1_III’, ‘BI_VI’, ‘B1_XIII’, ‘B1_XVI’, ‘B1_XII’, ‘B1_XIX’,
‘B2_II’, ‘B2_III’ e ‘B2_IV’.
Ao considerar-se a classificação da Embrapa (2006), todas as microbacias possuem relevos
que vão de planos até ondulados, as ‘B_V’, ‘B1_VII’, ‘B1_IX’, ‘B1_XII’, ‘B1_XIV’ e ‘B3_II’ são as úni-
cas que ultrapassam10% de declividade, têm-se como média de declividade do conjunto 8,69%.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da execução desta pesquisa observou-se as vantagens das geotecnologias
enquanto metodologias voltadas à identificação e análise de subsistemas hidrológicos em esca-
las maiores.
O uso do aplicativo TauDEM para a identificação de microbacias em pequenas extensões
de área mostrou-se positivo, entretanto ressalta-se a necessidade de refinamento dos resulta-
dos a partir de atividades de campo e o uso de imagem de satélite de alta resolução.
Considerando o conjunto dos parâmetros morfológicos e morfométricos a maior parte
das microbacias são passíveis de urbanização sem maiores problemas, porém deve-se atentar
a capacidade erosiva de algumas como as ‘B1_V’, ‘B1_VI’, ‘B1_IX’, ‘B1_XI’, ‘B1_XIV’, ‘B1_XX’ e
‘B2_III’. A microbacia ‘ B1_XII’ configuram-se como a menos indicada para ocupação devido
sua probabilidade relativamente alta para inundação. Desta forma, deve-se considerar este
estudo alinhado de outros fatores para uma análise mais integrada das microbacias. Assim os
estudos hidrológicos necessitam ser vistos como parte do processo de tomada de decisão e
não como o fim.
Portanto, levando em consideração as características das microbacias identificadas, a
cidade de Britânia possui boa capacidade de expansão, desde que seja planejada para a prote-
ção destas bacias, principalmente suas nascentes, e prevenção de possíveis danos provenien-
tes de processos erosivos, para isso sua gestão é essencial. Espera-se que os resultados obtidos
através deste trabalho viabilizem a prática de políticas de planejamento e gestão posto que
aponta os arranjos, conexões e características gerais das microbacias que compõem a região.

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MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO 277

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


23.
POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS
Um estudo de caso na cidade de Assú-RN

JOSHUÁ DAVINCI NUNES ROCHA1


ANDREZA TACYANA FELIX CARVALHO2
JOSIEL DE ALENCAR GUEDES3

Resumo: A qualidade ambiental dos canais fluviais em áreas urbanas tem ganhado mais espaço
nas discussões e atraído atenção de pesquisadores, sociedade civil, organizações públicas e priva-
das, sejam essas discussões a nível regional, nacional ou mundial. Desta forma, compreendendo a
complexidade e importância desses rios enquanto sistemas ambientais, este trabalho visa com-
preender através da relação sociedade-natureza, a poluição em canais fluviais urbanos a partir de
um estudo de caso realizado na cidade do município de Assú-RN, localizado no interior do Rio
Grande do Norte. Para isto, a pesquisa fundamenta-se metodologicamente em três etapas, sendo
elas: (i) discussão bibliográfica, com autores que respaldem a discussão a respeito da urbanização;
poluição de canais fluviais em ambiente urbano e problemas socioambientais em áreas urbanas
devido ao descarte indevido de resíduos sólidos; (ii) pesquisa em campo (in loco) afim de identifi-
car e reconhecer os canais fluviais em estudo, para organização e sistematização do banco de
dados e, (iii) trabalho de gabinete para fins de aquisição de imagens de satélite e processamento
digital dessas imagens em SIG. Desse modo, foi possível compreender que o mau uso dos recursos
hídricos reflete de forma passiva ou ativa sobre a vida humana, sejam elas a curto, médio ou longo
prazo, uma vez que historicamente as áreas em torno de canais fluviais, em particular na área
urbana de Assú/RN, não têm sido utilizadas de maneira adequada por parte da população e nem
das organizações públicos.
Palavras-chave: Hidrografia; Geomorfologia fluvial; Área urbana; Sociedade; Poluição Hídrica.
Abstract: The environmental quality of river channels in urban areas has gained more space in dis-
cussions and attracted attention from researchers, civil society, public and private organizations,
whether these discussions are regional, national, or worldwide. Thus, understanding the complexity
and importance of these rivers as environmental systems, this paper aims to understand, through
the society-nature relationship, the pollution in urban river channels from a case study carried out in
the city of Assú-RN, located in the interior of Rio Grande do Norte. For this purpose, the research is

1 Aluno de Pós-Graduação – UERN – Campus Central. E-mail: joshuadavinci@hotmail.com.


2 UERN – Campus Avançado Pau dos Ferros. E-mail: andrezafelix@uern.br
3 UERN – Campus Avançado de Açú. E-mail: josielguedes@uern.br

[ 278 ]
POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS 279

methodologically based on three stages, namely: (i) bibliographic discussion, with authors that
support the discussion regarding urbanization, pollution of river channels in urban environment and
socio-environmental problems in urban areas due to improper disposal of solid waste; (ii) field
research (in loco) in order to identify and recognize the river channels under study, for organization
and systematization of the database and, (iii) office work for the acquisition of satellite images and
digital processing of these images in SIG. Thus, it was possible to understand that the misuse of water
resources reflects passively or actively on human life, whether in the short, medium or long term,
since historically the areas around river channels, particularly in the urban area of Assú/RN, have not
been properly used by the population and neither by public organizations.
Keywords: Hydrography; River Geomorphology; Urban Area; Society; Water Pollution.

1 INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos, cada vez mais tem ganhado espaço nas discussões e atraído aten-
ções nestes últimos anos, sejam elas à nível regional, nacional ou mundial. Dentre as várias
possibilidades de discussões envolvendo este tema, um tem tomado destaque especial, asso-
ciado ao desenvolvimento econômico, social e urbano, ocorrido de forma contínua e desigual
no mundo, que é a qualidade ambiental dos canais fluviais em áreas urbana.
No espaço urbano, as transformações propuseram e estabeleceram mudanças no regime
das águas, através do uso e ocupação dos solos e quanto aos usos desses recursos em ambien-
tes urbanos (GUEDES, 2020). Dentro desta perspectiva, numa ótica atual, torna-se cada vez
mais importante entender como essas alterações podem influenciar na dinâmica fluvial de
bacias hidrográficas, uma vez que o escoamento superficial destas áreas sofre alterações
devido ao uso e ocupação dos solos e com o uso dos recursos hídricos naquela região por parte
dos seres humanos.
Assim, entender a bacia hidrográfica como uma unidade geograficamente natural para o
planejamento, capaz de estabelecer uma correlação entre todos os componentes que se refe-
rem ao crescimento e desenvolvimento de uma sociedade, definindo-a através dos seus múlti-
plos usos quanto aos recursos hídricos (GUEDES,2020), torna-se instrumento fundamental no
contexto do planejamento territorial, inclusive, para os centros urbanos.
Deste modo, é necessário entender também o processo de urbanização, este enquanto
processo e a cidade como sua materialização, ambos marcando de forma significativa a socie-
dade contemporânea (SPOSITO,1997). Há assim, neste sentido, uma imbricação entre o pro-
cesso de crescimento da malha urbana e canais fluviais, uma interação direta entre
sociedade-natureza, capaz de alterar a dinâmica da paisagem presente em determinadas áreas,
agregando a essa ideia, um processo contínuo e de correlação entre ambas as partes, sendo
assim essa correlação, uma cadeia geossistêmica, na qual pode-se afirmar que todos os ele-
mentos que compõe a superfície terrestre estão interligados. Ressalta-se também que,
Embora o geossistema seja um fenômeno natural, todos os fatores econômicos e
sociais influenciam na sua estrutura, consistindo assim, além dos fatores naturais, os
fatores ligados a ação antrópica também são levados em consideração durante o
seu curso e suas descrições verbais ou temáticas. (MACIEL; LIMA, 2011, p.166)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


280 Joshuá Davinci Nunes Rocha; Andreza Tacyana Felix Carvalho; Josiel de Alencar Guedes

Mediante o exposto, parte-se então para a compreensão sobre os processos que com-
põe a cidade e suas complexidades quanto a sua organização e os problemas ambientais que
nela se apresenta (SPOSITO,1997), buscando entender o processo histórico, uma vez que o pro-
cesso de urbanização ocorre de forma variada sobre o espaço.
Dentro desse processo histórico, a urbanização, sucedida na segunda metade do século
XX, em algumas partes do Brasil, apresenta-se de forma não planejada, este processo é resul-
tado da transnacionalização da indústria ocidental, que agregou as áreas periféricos, causando
a partir desse movimento, a desorganização e apropriação dessas áreas (SPOSITO, 1997). Com
isso, houve um crescimento no fluxo populacional aos centros urbanos (TUCCI, 2007), ocasio-
nando como resultado, o surgimento das periferias das cidades. Esse novo processo de expan-
são urbana alterou e tem alterado a dinâmica ambiental e, por vez, social da maioria das cidades
brasileiras (TUCCI, 2007).
A partir desta ótica, devido ao crescimento populacional desordenado, houve uma cres-
cente ocupação em áreas com características naturais frágeis, como exemplo, os canais fluviais,
na qual o que se tem observado diversas alterações em leitos de canais fluviais, associado ao uso
e ocupação do solo que decorrente da urbanização. Atenta-se que, por vezes, os leitos de canais
fluviais são indevidamente ocupados, o que acaba interferindo na dinâmica fluvial alterando,
principalmente, as margens e contaminando as águas (QUEIROZ, FREITAS, GUEDES, 2018).
Deste modo, em uma região de características semiáridas, como as que compõe área de
abrangência do município de Assú, a sustentabilidade do uso da água é especialmente impor-
tante, devido a fatores limitantes para o desenvolvimento socioeconômico da população. Isso
ocorre, devido a períodos históricos prolongados de estiagem associados com eventos de
grande aporte hídrico, que provocam inundações nesta região, marcando profundamente a
convivência do homem com o território ocupado (ANA, 2014).
Nesta perspectiva, faz-se necessário entender e modificar a ideia equivocada de que a
água é um bem inesgotável e com grande presença no meio ambiente. Uma vez que, entender
esse aspecto tornará possível intervir no processo de poluição de rios que estão presentes nas
áreas urbanas, visando erradicar a escassez de recursos hídricos e problemas com inundações
durante períodos de grandes eventos chuvosos.
Logo, visando deste modo, contribuir na perspectiva da geografia física e ambiental, para o
entendimento da preservação e importância de canais fluviais urbanos, este trabalho visa com-
preender através da relação sociedade-natureza, a poluição em canais fluviais urbanos a partir de
um estudo de caso realizado na cidade de Assú-RN, na qual estão diretamente relacionados os
impactos ambientais negativos, ocasionado pelas modificações dos canais fluviais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS 281

2 METODOLOGIA
O município de Assú está localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte, na
porção oeste da capital do estado, distando desta cerca de 210 km. Ele está inserido na Bacia
do rio Piancó-Piranhas-Açu e encontra-se à margem esquerda do rio Piranhas-Açu (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização da cidade de Assú/RN

Fonte: Galeria do autor.

O município de Assú apresenta, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio


Grande do Norte S/A (EMPARN), média de chuvas anuais de 600 mm, favorecendo desta forma
a prevalência da vegetação caatinga hiperxerófila, de tipo mais seco, compostas majoritaria-
mente por cactáceas e plantas de baixo porte assentadas.
Desta forma, o referencial teórico metodológico a fim de atender o objetivo proposto,
fundamenta-se a partir de procedimentos divididos em três etapas, sendo elas: discussão
bibliográfica, pesquisa em campo (in loco) e trabalho de gabinete.
A discussão bibliográfica respaldou-se em autores que contribuem para o entendimento
e debate em relação a poluição em canais fluviais urbanos, problematizando o crescente pro-
cesso de ocupação e urbanização desordenada em bacias hidrográficas, em especial, Tucci (2007), Oliveira
e Vestena (2012) e Guedes (2020), visto que em seus trabalhos, os autores versam sobre o aumento

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


282 Joshuá Davinci Nunes Rocha; Andreza Tacyana Felix Carvalho; Josiel de Alencar Guedes

expressivo da população nas cidades e como a expansão da área urbana tem apresentado
casos de poluição em áreas próximas ou em dentro canais fluviais.
A pesquisa in loco dedicou-se à identificação e reconhecimento dos canais fluviais abor-
dados dentro desta pesquisa, a fim de organizar e sistematizar o banco de dados que compõe
as áreas pesquisadas. Tais como, descrição sumária dos trechos de canais em estudo, visto que
o protocolo de amostragem realizado levou em consideração as áreas mais densamente ocu-
padas e as menos densamente ocupadas, próximas à canais fluviais, assim como, a realização
de registro fotográfico destes pontos afim de apontar algum tipo de poluição na área próxima
ao canal fluvial ou em seu talvegue (TUCCI, 2007; MUCELIN, BELLINI, 2008).
Já com relação ao trabalho em gabinete, este teve por finalidade a aquisição de imagem
de satélite através do Google Earth Pro, a fim de gerar ortofotocartas da área urbana da cidade
com a presença dos canais fluviais estudados. Assim, após a aquisição das imagens, elas foram
trabalhadas em formato Raster em ambiente SIG, utilizando o Software livre QGis versão
3.16.05 with GRASSGIS (QGIS 3.16.05 Hannover), objetivando o georreferenciamento da ima-
gem obtida e mapeado os canais fluviais juntamente com a área urbana de Assú-RN. Neste
viés, baseada na proposta de Paranhos Filho et al. (2016), foi utilizada a fotointerpretação de
imagens de satélite como subsídio à análise dos impactos ambientais no meio geográfico.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em um contexto atual, alguns autores têm se debruçado sobre os estudos relacionados
a poluição em águas superficiais, tendo em vista o escopo relacionado as questões que buscam
a entender os problemas ligados a urbanização, uma vez que se torna cada vez mais visível os
problemas voltados quanto a poluição de rios urbanos. Tornando com isso, mais necessário
compreender algumas das complexas e variáveis relações entre impactos e meio ambiente,
deliberado pela ação da sociedade (COELHO, 2013, GUEDES, 2020).
Assim, compreender e analisar a área urbana a partir da ótica da Hidrogeografia (COSTA,
2001; PIMENTA, 2014) tem se tornado cada vez mais necessário devido ao constante aumento
dos agentes poluidores dos recursos hídricos superficiais, como por exemplo as residências e
comércios, que cada vez mais tem utilizado das áreas que compreendem os canais fluviais para
depósito de resíduos sólidos e líquidos (GUEDES, 2020). Porém, trabalhar com essas questões
exigem um conhecimento específico e metodologia adequada em Hidrologia, afim de diagnos-
ticar os cursos d’água presentes na área urbana, uma vez que, após sofrerem o processo de
urbanização, alguns são alterados ou soterrados por meio de construções civis sendo deste
modo necessário, por vezes, a utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG) para a par-
tir de modelos digitais de elevação (DEM), possam ser extraídos os canais fluviais presentes na
área urbana.
Dentro desta perspectiva, a Geomorfologia Fluvial e a Hidrogeografia apresentam-se
conjuntas, apontando metodologias específicas para análise e compreensão sobre os fatores

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS 283

da poluição em canais fluviais urbanos causados pela ação antrópica (STEVAUX, LATRUBESSE,
2017; TORRES; MACHADO, 2017).
Com isso, como apresenta-se em outras cidades do interior da região Nordeste, Assú
possui rios urbanos os quais, em grande parte do ano estão secos, escoando apenas durante o
período chuvoso e, em razão dessa dinâmica, áreas próximas aos canais fluviais passam a ser
utilizados para descarte de resíduos sólidos e líquidos. Isso ocorre devido ao crescimento da
malha urbana (Figura 2), durante esses períodos de estiagem, de forma desordenada, ocu-
pando essas áreas em torno de canais fluviais e utilizando-os para descarte de resíduos de
forma inadequada, em seus leitos e talvegues.

Figura 2 – Ortofotocarta dos canais fluviais estudados na área urbana de Assú/RN

Fonte: Galeria do autor.

Como observado na figura 2, de forma geral, os canais fluviais estudados na área urbana
apresentam caraterísticas semelhantes, isso ocorre devido ao processo de expansão da urba-
nização da cidade que vem se intensificando e aterrando diversos canais de drenagens existen-
tes no espaço urbano (FRUTUOSO, 2020) através da especulação imobiliária.
Assim, o ser humano devido a este crescimento da malha urbana, atrelado ao uso e ocu-
pação do solo em áreas próximas a canais fluviais, tem transformado essas áreas em depósito

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


284 Joshuá Davinci Nunes Rocha; Andreza Tacyana Felix Carvalho; Josiel de Alencar Guedes

de resíduos sólidos, criando verdadeiros lixões em meio a área urbana, desta forma gerando
poluição onde segundo o IBGE (2004), poluição pode ser entendido como
Degradação da qualidade ambiental resultante das atividades que direta ou indire-
tamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, criem con-
dições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a
biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, e lancem
materiais ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (IBGE,
2004, p. 251).

Sobre a imbricação entre sociedade-natureza e suas interferências na dinâmica dos


canais fluviais, Queiroz, Freitas e Guedes (2018) destacam que os canais fluviais têm sido alvo
de destino para descarte de resíduos sólidos, afluentes de residências e industrias dentre
outros usos e, desta forma, devido ao uso indevido há uma queda na qualidade do recurso
hídrico e por sua vez, um desequilíbrio do ambiente aquático.
Assim, desde o processo de surgimento da sociedade, os excrementos humanos, junta-
mente com os restos de alimentos e outros materiais, sempre foram descartados em canais
fluviais ou córregos, porém essa ação tem sido incrementada a partir de um uso maior dessas
áreas para a construção de residências e comércios próximos a esses locais.
Deste modo, observa-se uma agressão a natureza cada vez mais crescente, na qual coloca
a vida humana em risco, fazendo-se necessária uma união maior por parte do poder público da
cidade e a sociedade em geral, visando melhor a qualidade de vida e buscando um desenvolvi-
mento pleno e sustentável, sem abandonar as necessidades da sociedade (GUEDES, 2020).
Em vista disso, as fontes de poluição dos rios presentes na área urbana de Assú, tendem
a ser várias, como a deposição de resíduos e desmatamento nas margens dos canais (Figura 3),
esgotos domésticos (Figura 4), constituindo dessa forma, hábitos que interferem de forma
direta e indireta no ciclo hidrológico, na qualidade dos mananciais, na proteção ambiental e na
saúde da população daquela área, pois apresentam características físiográficas frágeis
(MUCELIN, BELLINI, 2008).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS 285

Figura 3 – Deposição de resíduos sólidos e desmatamento da vegetação

Fonte: Autores.

Figura 4 – Esgotos domésticos (Seta em vermelho) chegando no canal fluvial


(seta em preto)

Fonte: Autores.

Além disso, foi identificado também, escoamentos superficiais advindos de pequenos


sítios, onde é possível notar (Figura 5) a presença do uso e ocupação do solo relacionada a
cobertura vegetal de capim e algumas árvores frutíferas e mais ao fundo a presença de resi-
dências, sendo estas correlacionadas na literatura como fontes difusas de poluição (GUEDES,
2020), como o caso da presença de resíduos sólidos descartados dentro do canal (Figura 6). Tais
hábitos associados ao uso e ocupação do solo acabam por interferir na qualidade hídrica, na
saúde da população daquela área, atraindo roedores e ouros animais e insetos, que ajudam a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


286 Joshuá Davinci Nunes Rocha; Andreza Tacyana Felix Carvalho; Josiel de Alencar Guedes

aumentar a disseminação de doenças, acaba também influenciando no equilíbrio ambiental


das margens do canal fluvial, visto que são área com características frágeis e a ações antrópicas
tendem a acelerar os processos exógenos de transformação destas áreas (MUCELIN, BELLINI,
2008; STEVAUX, LATRUBESSE, 2017).

Figura 5 – Escoamento superficial difuso advindo da área de pequenos


sítios. Residência (Seta em Amarelo), árvores frutíferas (Seta em
Vermelho) e Capim alto (Seta em Preto)

Fonte: Autores.

Figura 6 – Resíduos sólidos descartados de forma inadequada no canal

Fonte: Autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS 287

Em alguns pontos da cidade, parte dos canais fluviais encontram-se canalizados, e por
vezes, de modo submersos (Figura 7). Estas intervenções costumam estar presentes em áreas
densamente urbanizadas, sendo implantadas baseadas no modelo higienista, visando o favoreci-
mento da redução de inundações e o mal odor advindo dos canais fluviais. Neste arranjo, o des-
carte de forma inadequada de resíduos sólidos ao longo da área urbana, acaba então, a contribuir
na obstrução desses canais e no comprometimento da realização de sua funcionalidade.

Figura 7 – Resíduos sólidos carreados durante o período de chuva para


os bueiros

Fonte: Galeria do autor.

Com as observações realizadas e as imagens apresentadas anteriormente referentes aos


canais fluviais presentes na área urbana de Assú, é possível observar alguns desafios quantos
aos seus usos, ocupação e preservação por parte da sociedade e do poder público, visto que
não há uma manutenção periódica dessas obras de engenharia hidráulica, para que seja reali-
zada de forma eficaz o trabalho de escoamento da água da chuva e nem uma conscientização
por parte da sociedade quanto ao descarte indevido de resíduos sólidos. Além disso, destaca-
-se ainda, de uma forma geral, a importância da devida coleta e tratamento de esgotos e
efluentes, bem como, o descarte adequado dos resíduos sólidos, para colaborar na qualidade
desses ambientes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa pesquisa foi possível notar que a poluição sobre os canais fluviais é um tema
importante para análises e estudos, uma vez que, o mau uso dos recursos hídricos reflete de
forma passiva ou ativa sobre a vida humana, sejam elas a curto, médio ou longo prazo. Esse fato
pode ser observado através de um processo de urbanização das cidades e da sociedade em si,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


288 Joshuá Davinci Nunes Rocha; Andreza Tacyana Felix Carvalho; Josiel de Alencar Guedes

visto que, historicamente os recursos naturais, e os hídricos em particular, não têm sido utilizados
de maneira adequada, muitas vezes vislumbrando apenas aos aspectos econômicos.
Logo, diferentes caminhos devem ser pensados, estruturados e tomados, a fim de avaliar
e mitigar os problemas advindos do mau uso dos recursos hídricos. Uma alternativa a ser
tomada, visa uma decisão entre sociedade e poder público, com intuito de pensar possíveis
saídas para um uso sustentável das áreas em torno dos canais fluviais, tornando possível de
fato um presente e futuro plausível para a cidade.

5 REFERÊNCIAS
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TUCCI, C. E. M. Inundações urbanas. Porto Alegre: ABRH, 2007.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


24.
PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS
NA REDE DE HIDROGRÁFICA DA BACIA DO
EDUCANDOS, MANAUS, AMAZONAS

ARMANDO BRITO DA FROTA FILHO1


CAMILA DE OLIVEIRA LOUZADA2

Resumo: As redes hidrográficas representam um importante papel na cidade de Manaus, por


fatores históricos e sociais. O PROSAMIM – Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus
foi um projeto do governo com intuito de revitalizar a rede hidrográfica da cidade de Manaus, con-
tudo no seu processo de atuação a geomorfologia original foi alterada. Assim o presente trabalho
tem como objetivo, caracterizar as principais intervenções na bacia hidrográfica do Educandos,
localizado na cidade de Manaus, no Amazonas. A metodologia consistiu da análise da evolução do
relevo, utilizando imagens do Google Earth dos anos 2001 a 2020. Além disso, foram realizados
levantamento bibliográfico e cartográfico e trabalhos de campo. Os principais resultados observa-
dos pelas obras de infraestrutura do PROSAMIM foram: a) retirada da vegetação e da população
das zonas riparias; b) impermeabilização dos leitos e margens canais, em especial a jusante áreas
de interferência do PROSAMIM e c) alteração da rede de esgoto jogada sem o devido tratamento
nos hídricos. Tais alterações nos aspectos naturais dos rios desencadeia novas dinâmicas no local,
entre elas a recorrência de enchentes e alagamentos, assim sendo importante salientar que as
maiores e mais impactantes alterações na rede hidrográfica são resultado das intervenções do
PROSAMIM.
Palavras-Chaves: Geomorfologia Urbana; Rios; Manaus; Google Earth; Prosamim.
Abstract: Hydrographic networks play an important role in the Manaus` municipality, due to his-
torical and social factors. PROSAMIM – Social and Environmental Program for Manaus` rives was a
government project meant to revitalize the hydrographic network of the Manaus, however in its
process the original geomorphology was altered. Thus, the present work aims to characterize the
main interventions in the Educandos hydrographic basin, located in the city of Manaus, Amazonas.
The methodology consisted of analyzing the evolution of the relief, using Google Earth images
from the years 2001 to 2020. In addition, a bibliographic and cartographic survey and fieldwork
were carried out. The main results observed by the PROSAMIM infrastructure works were: a)
removal of vegetation and population from riparian zones; b) waterproofing the beds and canal

1 Programa de Pós-graduação em Geografia, UFRJ e professor da SEMED/AM. E-mail: armando_geomorfo@outlook.com


2 Programa de Pós-graduação em Geografa da UFC e professora da SEDUC/AM. E-mail: profcamila.louzada@gmail.com

[ 289 ]
290 Armando Brito da Frota Filho; Camila de Oliveira Louzada

margins, especially downstream areas of interference by PROSAMIM; c) alteration of the sewage


system discarded without proper water treatment. Such changes in the natural aspects of the riv-
ers trigger new dynamics in the place, including the recurrence of floods and flooding, thus it is
important to emphasize that the biggest and most impactful changes in the hydrographic network
are the result of PROSAMIM interventions.
Keywords: Urban Geomorphology; Rivers; Manaus; Google Earth; Prosamim.

1 INTRODUÇÃO
O processo de ocupação da humanidade de forma geral estabelece-se próximo aos cur-
sos fluviais, como exemplo disso podem ser citadas as grandes civilizações como a Mesopotâmia
(do grego entre rios, no sistema fluvial Tigre e Eufrates), ou ainda o Egito (às margens do Nilo)
e Jericó na Palestina, as margens do rio Jordão, considerada a ocupação urbana mais antiga do
mundo, com aproximadamente 10 mil anos (LOUZADA, 2014).
Isso se reflete em várias culturas, em especial na cultura amazônida, na qual um exemplo
disso é descrito por Fraxe (2000) a qual explana que os ribeirinhos “estão perfeitamente equi-
librados e harmônicos no ecossistema amazônico (aquático e terrestre)”. Num ponto de vista
geomorfológico pode ser visto na obra de Hilgard O’Reilly Sternberg de 2000, “A água e o
homem na várzea do Careiro” na qual o autor faz uma relação entre a comunidade do Careiro
e seu modo de vida com base na dinâmica fluvial do rio Amazonas.
Ao se pensar no ambiente urbano, e como estas relações são estabelecidas dentro das
cidades e num sistema econômico e social completamente distinto e sem a mesma harmonia
supracitada pelos autores, os rios têm um tratamento diferente. Durante o processo de urba-
nização os cursos fluviais deixaram seu local e importância no imaginário e no dia a dia das pes-
soas, e passaram por processos de transformação variantes.
Em muitas cidades brasileiras, de diversos tamanhos, essas transformações foram inten-
sas nos cursos fluviais, a exemplo do rio Tietê na cidade de São Paulo, que no seu curso urbano,
tornou-se um esgoto a céu aberto, devido a seu estado extremamente contaminado. Na cidade
do Rio de Janeiro ocorreu o mesmo, tanto que esses cursos de água foram apelidados de
“valões” pela população local.
Na cidade de Manaus, houve um processo análogo a destas capitais, pois a grande malha
hídrica descrita por Ab’Saber em 1953 em seu trabalho “A cidade de Manaus: (primeiros estu-
dos)”, foi aos poucos sendo descaracterizada, seja por aterros como por retificações, cimenta-
ção de leito, alterações nas zonas riparias e outras alterações nas formas dos canais, ao longo
dos anos. A tal ponto que alguns igarapés (termo regional para curso de água), em especial os
localizados próximo ao centro histórico da cidade de Manaus apresentavam poucas condições
de sustentar a vida da fauna e flora local, e por causa da contaminação tornaram-se locais de
reprodução de doenças.
Isso decorre do processo histórico espacial da cidade de Manaus, a qual passou pelo
advento da expansão urbana nos anos 70 e 80, o crescimento foi intenso, rápido e sem o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS NA REDE DE HIDROGRÁFICA 291

planejamento necessário como aponta Oliveira (2003) em que este destaca que a ocupação
ocorreu de forma urbanisticamente desordenada, na qual não houve preocupações no que se
refere a impactos ambientais.
Como grande parte da população que migrou para a cidade de Manaus, vinha do interior
do estado, muitos não tiveram outra opção a não ser habitar as margens dos igarapés, uma vez
que eram áreas não habitadas e baratas.
Nesse sentido, o governo do Estado do Amazonas por meio de investimentos do Banco
Mundial em parceria com a Caixa Econômica Federal, além do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) a nível federal, possibilitou a implementação de um dos programas mais con-
troversos já realizados na cidade de Manaus, o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de
Manaus, conhecido amplamente pela sua sigla, PROSAMIM (FROTA FILHO e LOUZADA, 2018).
O Prosamim teve e tem como objetivo promover o saneamento, desassoreamento e uti-
lização racional do uso do solo às margens dos igarapés, associada tanto à manutenção do
desenvolvimento socialmente integrado quanto ao crescimento econômico ambientalmente
sustentável (PROSAMIM, 2004).
Contudo, este programa ainda que tivesse objetivos pertinentes no que concerne a recu-
peração dos rios, da qualidade da água, e tendo seu foco no saneamento básico, além de
melhorar a qualidade de vida da população ribeirinha do sítio urbano. Sendo a bacia do
Educandos a principal bacia a ser afetada pelo programa, devido as suas dimensões e localiza-
ção no integral no perímetro urbano de Manaus.
O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM) teve sua primeira
parte iniciada em 19/01/2006, encerrado em 16/09/2009, e sua segunda parte de 19/01/2006
a 21/03/2014.
A bacia hidrográfica do Educandos é localizada integralmente no perímetro urbano, onde
seu canal principal e seus afluentes foram diretamente afetados pelo processo de urbanização,
são alvos de despejos de esgoto e efluentes industriais, além de terem sofrido intervenção do
PROSAMIM.
Logo o presente trabalho tem como objetivo, caracterizar as principais intervenções na
bacia hidrográfica do Educandos no período de 2001 a 2020, localizado na cidade de Manaus
– Amazonas.

2 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está representada pela bacia do igarapé Educandos, com 45,12 km2,
incluída no perímetro urbano de Manaus, abrangendo parcial ou integralmente 26 bairros das
zonas sul, centro-sul e leste da cidade, conforme apresentado na Figura 1 – São eles: Raiz,
Cachoeirinha, São Francisco, Praça 14 de Janeiro, Coroado, Educandos, Santa Luzia, Betânia,
São Lázaro, Morro da Liberdade, Petrópolis, Centro, Nossa Senhora Aparecida, Colônia Oliveira

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


292 Armando Brito da Frota Filho; Camila de Oliveira Louzada

Machado, Vila Buriti, Mauzinho, Adrianópolis, Aleixo, Nossa Senhora Das Graças,Armando
Mendes, Crespo, Distrito Industrial I e II, Japiim, São José Do Operário, Gilberto Mestrinho
(Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização da bacia do Educandos, Manaus– AM

Fonte: Semmas, 2012. Org: Armando Brito da Frota Filho

Com destaque para APA (Área de Preservação Ambiental) da Universidade Federal do


Amazonas – UFAM. Esses bairros, conjuntamente, abrigam cerca de 25 % da população de
Manaus, sendo de grande relevância para o município (VILAÇA, 2012 apud CALVO, 2018).

3 METODOLOGIA
A metodologia foi calçada no uso da abordagem teórica escrita por Caccia-Gouveia
(2010) como cartográfica geomorfológica retrospectiva e evolutiva, a qual trata do levanta-
mento das bases cartográficas de constituem a área a ser estudada a fim de visualizar espacial-
mente as transformações no relevo.
Dessa forma, considerando a ausência de registros históricos cartográficos que possam
colaborar nessa análise, escolheu-se utilizar as imagens da séria histórica do Software Google

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS NA REDE DE HIDROGRÁFICA 293

Earth Pro, uma vez que possibilitam um exame das múltiplas mudanças ocorridas, além de
apresentar um nível de detalhe que é pertinente a pesquisa.
Essa forma de abordar a evolução do relevo por imagens do Google Earth vem sendo uti-
lizadas por diversos pesquisadores, entre eles John Boardman que em 2016 publicou um artigo
no qual usa a ferramenta para mapeamento de feições erosivas, nesse sentido o autor advoga
que cada vez mais o Google Earth tem sido usado em estudos de formas de relevo e em tenta-
tivas de inferir processos, sendo encarado como uma nova oportunidade na geomorfologia.
Logo, foi utilizada a ferramenta da serie histórica do Google Earth, eferente aos anos de
2001 a 2020, comtemplando assim o processo de maior impacto na geomorfologia recente da
bacia do Educandos, o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM) que
teve sua primeira parte entre 19/01/2006 e 16/09/2009, e sua segunda parte de 19/01/2006 a
21/03/2014. Além disso foram realizados trabalho de campo para verificação da das alterações
in situ assim como de outras alterações da rede hidrográfica.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Identificação das principais intervenções antrópicas na rede hidrográfica
da bacia do Educandos
Com base no aporte teórico tanto dos trabalhos de Caccia Gouveia (2010) com a retros-
pectiva histórica da paisagem, a qual foca na evolução da paisagem, e da abordagem metodo-
lógica defendida por Boardman (2018), que usa as imagens do Google Earth para monitoramento
geomorfológico, foi possível identificar e caracterizar as principais mudanças que ocorreram
na bacia do Educandos.
Como a bacia apresentar área de 45,12 Km2, o mapeamento de detalhe foi feito por
seções, as quais foram observadas mudanças mais drásticas no período de 19 anos, assim
foram analisadas em especial as alterações do baixo curso da bacia e no canal principal e seus
tributários, atingidos pelas obras do PROSAMIM.
Os igarapés do Mestre Chico e de Manaus foram dois dos canais mais afetados pela ação
humana, antes dos anos 2000 em detrimento da expansão urbana da cidade e pessoas que
moravam em suas margens. E atualmente as mudanças nas suas formas são relacionadas a
ações de infraestrutura do PROSAMIM.
É necessário reiterar que ainda em 2001 havia moradias nas margens, o que por sua vez
reduzia a qualidade da água, em especial pela ausência de saneamento na região. A Figura 2
mostra o processo de evolução desses dois canais, de 2001 a 2018, na qual a primeira imagem
apresenta o seu estado com ocupação humana. No processo nota-se que além da retirada das
mordias, há também a retirada a da vegetação, assim como processo retificação dos canais
(Figura 2).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


294 Armando Brito da Frota Filho; Camila de Oliveira Louzada

Figura 2 – Mosaico de Imagens do Software Google Earth Pro, da bacia do Educandos, Manaus -AM.
Referente aos anos de 2001, 2010 e 2018. Com escala de 1 Km. Em vermelho os limites da bacia. Em
preto igarapé mestre chico, em amarelo igarapé de Manaus

Org: Armando Brito da Frota Filho, 2019.

Na Figura 2, é possível observa que há mudança significativa em dois canais à margem


direita bacia, um em vermelho que tem sua mudança observada a partir de 2006, e outro, em
amarelo, mais a jusante (Igarapé do Mestre Chico), em 2010. Tais mudanças contemplam desde:
• Retirada da vegetação das zonas ripárias e das ocupações
• Alteração da forma original do rio / retificação
• Cimentação do leito do canal
• Alteração da rede de esgoto, jogada sem o devido tratamento nos córregos
Em nível mais detalhado, o Igarapé do Mestre Chico, que está sob a ponte de ferro da
Avenida Sete de Setembro, foi um dos tributários que mais sofreu os impactos, seja no
âmbito natural (geomorfológico) quanto social. Nessa fase do programa além da retirada de
diversos moradores que ali residiam há gerações, houve mudanças na morfologia do canal e
de suas margens.
Na imagem a seguir (Figura 3), é mostrado em detalhe as alterações ocorridas no Igarapé
do Mestre Chico, iniciando-se em 2005, tendo sua fase de maior alteração em 2006 e sua con-
clusão em 2010.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS NA REDE DE HIDROGRÁFICA 295

Figura 3 – Mosaico de Imagens do Software Google Earth Pro, Igarapé de Manaus, na bacia do
Educandos, Manaus-AM. Referente aos anos de 2001 e 2010. Com escala de 300 m. Em vermelho os
limites da bacia

Org: Armando Brito da Frota Filho, 2019.

O canal sofreu diversas alterações, desde a retirada da vegetação prévia, que por mais
que não fosse a original do conjunto florístico de vegetação primária local, era uma comuni-
dade vegetal e animal resistente e natural do local. Isso se nota na imagem na comparação
entre os anos de 2001 e 2005 com 2006, no qual o dossel das árvores for retirado, para o início
da mudança da morfologia do canal.
Nesse sentido, é válido ressaltar os impactos derivados dessa ação:
• Retirada da vegetação de grande porte causa redução das fases do ciclo da água
(TUCCI, 2008), reduzindo o sistema a infiltração e escoamento
• Solo exposto gera menor infiltração, maior escoamento, maior carga sedimentar car-
reada para o canal e maior chance de assoreamento.
• Gramíneas que são inseridas nas margens para evitar/reduzir o escoamento não são
tão efetivas quanto a vegetação de grande porte.
• Retificação do canal gera maior vazão do canal, além de reduzir o tempo da água. Uma
vez que rios sinuosos ou meandrantes tendem a ter a água por mais tempo.
• Cimentação do leito do canal gera maior velocidade devido a retirada da rugosidade,
logo aumentando a força e potencial erosivo.
Esses impactos foram todos observados e sentidos de forma intensa durante a cheia do rio
Negro em 2013 e na de 2021, que provocou o barramento hidráulico do curso principal da bacia
(Igarapé do Quarenta) e consequentemente de seus tributários. Como elenca a Figura 4, na qual
é possível observar a quantidade massa d’água retida no canal do Igarapé do Mestre Chico.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


296 Armando Brito da Frota Filho; Camila de Oliveira Louzada

Figura 1 – Igarapé do Mestre Chico e suas águas representadas no ano de 2013. Com escala de 300 m.
Em vermelho os limites da bacia

Fonte: Google Earth Pro. Org: Armando Brito da Frota Filho.

O mesmo processo que ocorreu nos igarapés do Quarenta e do Mestre Chico, ocorreu no
Igarapé de Manaus, retirada da vegetação de médio e grande porte, remoção da população,
margens temporariamente expostas, proteção das margens gramíneas, retificação e cimenta-
ção do canal (Figura 5).

Figura 5 – Igarapé do Quarenta, canal canalizado, com deposição de


sedimentos em ambas as margens; e destaque com seta vermelha
para as canaletas de água pluvial no Ponto 05

Fonte: Armando Brito da Frota Filho, 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS NA REDE DE HIDROGRÁFICA 297

O diferencial deste foi a criação de Parque Jefferson Péres, o qual não apresenta árvores
reais e no seu traçado paisagístico possui apenas representações de árvores (Figura 6).

Figura 6 – Imagens do Parque Jefferson Péres, às margens do igarapé


de Manaus

Fonte: Google Imagens. Org: Armando Brito da Frota Filho. 2019.

É de suma importância salientar que a iniciativa do PROSAMIM (Programa Social e


Ambiental dos Igarapés de Manaus) objetivava produzir uma ação para melhorar a qualidade
de vida da população que ali se encontrava “desassistida” pelo poder público, uma vez que
não recebiam de serviços básicos como saneamento básico e habitam em local insalubre foi
bem idealizada.
Contudo, na mesma medida é necessário que se compreenda que houve falta de estudos
de ordem ambiental para que se pudesse inferir quais os reais impactos das mudanças da mor-
fologia do canal, leito e margens no alto, médio e baixo curso da bacia, além de seus impactos
na fauna e flora local.
A cidade de Manaus, no rank de saneamento básico das cidades brasileiras nos anos
2019 e 2020 (TABELA 1), se encontra, encontra-se nas últimas colocações, indício de que as
condições de saneamento básico de forma geral, pouco evoluíram após a implementação do
PROSAMIM.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


298 Armando Brito da Frota Filho; Camila de Oliveira Louzada

Tabela 1 – Dados de saneamento pelo rank do Relatório do Instituto Trata Brasil

Colocação
Indicador de atendimento Indicador de esgototratado
Cidade
urbanode esgoto (%) por água consumida (%)
2019 2020

2º 1º Santos (SP) 100 97,64

16º 19º São Paulo (SP) 97,00 64,66

51º 52º Rio de Janeiro (RJ) 85,14 42,87

98º 96º Manaus (AM) 12,5 31,05

99º 100º Ananindeua (PA) 2,05 1,75


Fonte: Ranking do Saneamento 2020. Org: Armando Brito da Frota Filho, 2020.

Outro fator importante que gerou diversos conflitos socioespaciais se deu pela retirada dos
moradores que ali residiam há gerações, e trabalhavam no entorno, principalmente no centro da
cidade de Manaus, o que ocasionou impactos econômicos expressivos nas famílias retiradas.
De forma geral o resultado do PROSAMIM é contraditório visto que um de seus alicerces
era a questão de saneamento básico, a qual não foi atingida. Isso porque um dos objetivos do
projeto, era tratar a água utilizada nas residências, e devolvê-las totalmente potável ao Rio
Negro, o que de fato nunca ocorreu. Na prática o que de fato ocorreu, foi a revitalização dos
canais do ponto de vista urbanístico, e não ecologicamente equilibrado, visto que as alterações
no leito e nas margens dos canais fluviais, não trouxeram qualidade ambiental ao sistema flu-
vial, e ainda impactando na geomorfologia dessas áreas.
Considerações Finais
A cidade de Manaus, apresenta uma expressiva malha hídrica, todavia na segunda
metade do século XX, passou por um intenso processo de crescimento demográfico exacer-
bado, influenciado pela instalação da Zona Franca de Manaus, o que funcionou como atrativo,
para que pessoas oriundas do interior do estado, assim como de outros estados brasileiros,
migrassem em grande número para a cidade de Manaus, e passassem a ocupar áreas naturais
até então, como é o caso das margens e leitos dos igarapés.
Por décadas essas ocupações irregulares fizeram parte da paisagem da cidade de Manaus,
todavia com a implementação do PROSAMIM, essas áreas foram modificadas em grande inten-
sidade alterando aspectos naturais dos rios e igarapés que cortam a cidade. Que tiveram suas
áreas de vegetação nativa retirada; foram executadas retificações dos canais fluviais; cimenta-
ção dos leitos, e em alguns casos construção de galerias subterrâneas; e sendo colocado gra-
míneas as margens dos carnais em áreas de praças públicas; além dos conjuntos habitacionais
sobre essas áreas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRINCIPAIS INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS NA REDE DE HIDROGRÁFICA 299

O que por sua vez, acabou por influenciar a recorrência de enchentes e alagamentos nes-
sas áreas principalmente durante o período de enchente anual, isso porque o rio Negro, repre-
sado pelo rio Solimões e acaba por influenciar o nível dos igarapés que cortam a cidade de
Manaus, e principalmente os modificados pelas obras do PROSAMIM, sendo assim é impor-
tante salientar que as maiores e mais impactantes alterações na rede hidrográfica são resul-
tado das intervenções do PROSAMIM.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


25. PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA
RUSSAS/CE NO CONTEXTO DA BACIA
HIDROGRÁFICA DE ACARAÚ

GEORGE ÉMERSON PEREIRA FARIAS1


LARISSA LIMA MARQUES2
NÁJILA REJANNE ALENCAR JULIÃO CABRAL3
ADEILDO CABRAL DA SILVA4

Resumo: Os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário possuem relevância den-


tro da gestão dos recursos hídricos das bacias hidrográficas pois retiram água para o abasteci-
mento e devolvem esgoto em condições adequadas ao corpo receptor. Em regiões onde há
escassez de água esses sistemas constituem importantes equipamentos para o acesso a água de
qualidade e tratamento de esgoto, promovendo saúde para a população e preservando os manan-
ciais. O objetivo do trabalho foi analisar o atendimento de abastecimento de água e de esgota-
mento sanitário no município de Nova Russas/Ce que se localiza na bacia Hidrográfica do Rio
Acaraú com foco na universalização da prestação de serviços de saneamento. A pesquisa foi reali-
zada por meio de levantamento de dados nas plataformas governamentais de gestão de sanea-
mento básico referente ao período de 2010 a 2019 e se caracterizou como pesquisa descritiva. Foi
possível verificar que houve ampliação nos serviços de abastecimento de água e esgotamento
sanitário no período. Toda população urbana possui acesso a água encanada, enquanto o abaste-
cimento na zona rural precisa ser melhorado. A cobertura de coleta e tratamento de esgoto, ape-
sar dos avanços, está muito baixa necessitando de investimento robustos para ampliação desse
serviço.
Palavras-chave: Abastecimento de água; Esgoto sanitário; Eutrofização; Desenvolvimento susten-
tável; Manancial.
Abstract: Water and wastewater systems are significant for water resources management at
water basin, once they provide clean water for human supply and put off effluents in adequate
ways to environment. In areas where water is scarce, these systems are important for access to
clean water and sewage treatment, regarding heath to society and providing water spring protec-
tion. The purpose of this paper was analyze water supply and sewage services in the city of Nova
Russas/Ce, which is inside of Rio Acarau´s basin, with emphasis on sanitation services

1 IFCE. E-mail: emerson.farias@ifce.edu.br


2 IFCE. E-mail: larissa.lima.marques04@aluno.ifce.edu.br
3 IFCE. E-mail: najila@ifce.edu.br
4 IFCE. E-mail: cabral@ifce.edu.br

[ 300 ]
PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 301

universalization. The research was taken through data survey from governmental platforms for
basic sanitation management from 2010 to 2019 and it is a descriptive research. It was possible to
understand that there were an increase on water supply and sewage services. Urban population
has access to clean water while rural services supply needs to be improved. Sewage and treatment
coverage, despite advances, is much reduced, requiring robust investments to expand services.
Key words: Water supply, sewage, eutrofization, sustainable development, water spring

1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica é a parte de uma região em que é possível analisar e refletir sobre as
relações existentes entre sociedade e natureza, porém sem considerá-la isolada da globalidade
natural. Pode-se dizer também que é a área onde se realiza o balanço da entrada e saída da
água carregando a representação de todos as atividades decorrentes da forma de ocupação do
território (BORELLI, 2006, PORTO e PORTO, 2008).
Assim a água que entra na bacia hidrográfica é utilizada para as diversas atividades do ser
humano, depois retorna para o meio ambiente levando o histórico do seu uso em forma de
água servida. É nesse contexto que os sistemas de abastecimento de água e tratamento de
esgoto se inserem para contribuir com a sustentabilidade da água na bacia.
Os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário ganham relevância
pois retiram água da bacia hidrográfica para atender as necessidades da população e devolvem
esgoto em condições adequadas ao corpo receptor. Esses efluentes ao serem lançados de volta
na natureza devem ser tratados, isso porque o lançamento de esgoto bruto no meio ambiente
compromete a qualidade dos mananciais e o abastecimento humano, promovendo um círculo
vicioso (BORELLI, 2006).
No Brasil, em 2019, o índice médio de atendimento de água com rede foi de 83,7%,
para a coleta de esgoto o índice foi de 54,1% e 49,1% de todo esgoto produzido obteve tra-
tamento. Na região Nordeste em média 73,9% da população tem acesso a água encanada,
28,3% tem coleta de esgoto e 33,7% de todo efluente produzido foi tratado. O estado do
Ceará, em termos urbanos, apresenta um índice médio de atendimento de água encanada
entre 60 a 80% e de rede coletora de esgoto entre 20 e 40% (SNIS, 2019). Isso mostra que
existe uma quantidade relevante de esgoto sendo lançado sem tratamento no meio ambiente
e degradando os corpos hídricos.
O lançamento de esgoto sem tratamento causa a eutrofização do corpo hídrico devido à
elevação da quantidade de nutrientes como nitrogênio e fósforo na água. Isso dificulta a nave-
gação, mata os peixes, causa doenças, eleva os gastos com tratamento da água e pode chegar
a inviabilizar o consumo pelo homem e dos animais (ALECE, 2021).
Em regiões do semiárido o problema de eutrofização é mais grave, pois durante o período
de estiagem os reservatórios diminuem de volume mas continuam recebendo carga poluidora.
Promover a gestão sustentável da água nessas áreas minimiza os impactos causados nos lon-
gos períodos de seca (ALECE, 2021; FREITAS, 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


302 George Émerson Pereira Farias; Larissa Lima Marques; Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral; Adeildo Cabral da Silva

Os sistemas de abastecimento de água eficientes com baixos índices de perdas e desper-


dícios, e esgotamento sanitário que possibilitem a reutilização de água evita a sobrecarga dos
sistema hídricos das bacias, contribuindo para a sustentabilidade da água e diminuindo os con-
flitos pelo líquido (MORALES e TAPIA, 2019; ALLAM e ELTAHIR, 2019).
O acesso a água potável e ao esgotamento sanitário é essencial para a saúde, desde a
prevenção de infecções até a melhoria e manutenção do bem-estar mental e social do homem,
no entanto utilizar os mananciais de forma indiscriminada para dessedentação de animais,
recreação, descarte de lixo e esgoto compromete a qualidade do corpo hídrico (OMS, 2018;
OLIVEIRA et al., 2010; BRASIL, 2007).
Garantir o acesso a água e ao saneamento para todos de maneira sustentável é um dos
17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), fruto da Agenda 2030 firmada pelos paí-
ses membros das Nações Unidas (UN, 2018).
O objetivo desse trabalho foi analisar o atendimento de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário no município de Nova Russas/CE, que pertence a Bacia Hidrográfica do
Rio Acaraú, frente à universalização da prestação de serviços de saneamento.

2 METODOLOGIA
A pesquisa foi elaborada a respeito da situação do Sistema de Abastecimento de Água
(SAA) e Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) do município de Nova Russas/Ce por meio do
levantamento de dados disponibilizados nas plataformas governamentais de gestão do sanea-
mento básico. Assim, segundo GIL (2002) a pesquisa se caracteriza como descritiva com deli-
neamento de estudo de caso.
Os dados levantados sobre os SAA, SES e os respectivos investimentos, comtemplou o
período de 2020 a 2019, com ênfase nos anos de 2010, 2011, 2017 e 2019, sendo consultados
no sistema eletrônico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), no ano
de 2021. Os dados nesta base de informações estão consolidados apenas para os anos citados
e até o ano de 2019, justificando o período da pesquisa.
Os dados foram coletados e transcritos no presente estudo. Para construção de tabelas
e gráficos foi utilizado o software Microsoft Excel.

2.1 Área de Estudo


A cidade de Nova Russas, junto com mais 27 municípios, está inserida na Bacia Hidrográfica
do Rio Acaraú, ao norte do estado. Esta bacia ocupa cerca de 10% do território cearense e pos-
sui 14 açudes gerenciados pelo governo estadual (ALECE, 2020).
Com uma área de 742,7 km², uma população estimada pelo IBGE (2021) de 32.328 pes-
soas e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,614, Nova Russas se locali-
zada na microrregião de Crateús, mesorregião dos Sertões Cearenses, área de escassez hídrica,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 303

no semiárido nordestino. Segundo ALECE (2020) a cidade é abastecida pelo açude Farias de
Sousa, de domínio estadual e que estava com 55,45% de sua capacidade no ano de 2020.
A cidade não possui plano municipal de saneamento básico, o SAA e o SES da sede são
geridos pelo próprio município (SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto), as localidades e
distritos possuem acesso a água por meio de projetos alternativos como Projeto São José e
Água Para Todos, ou chafarizes, dessalinizadores, cisternas e barragens subterrâneas.
A Figura 1 mostra a localização do município Nova Russas e a Bacia Hidrográfica do Rio
Acaraú.

Figura 1 – Localização de Nova Russas-CE e da Bacia Hidrográfica do Rio Acaraú

Fonte: Adaptado pelos autores de COGERH (2009).

2.2 Demografia
Neste estudo foram considerados os dados do censo IBGE do ano de 2010 e estimativa
populacional do ano de 2019. Na Tabela 1 são apresentados os resultados da evolução popula-
cional e da quantidade de domicílios particulares na sede do município de Nova Russas.
Destaca-se que o IBGE fornece a população estimada para o ano de 2019 com base na taxa de
crescimento. Já a quantidade de domicílios particulares estimado para 2019 foi calculado por
meio da relação habitante/moradia de 3,33.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


304 George Émerson Pereira Farias; Larissa Lima Marques; Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral; Adeildo Cabral da Silva

Tabela 1 – Estimativa de evolução populacional de Nova Russas – 2010-2019

Domicilios
Domicilios
População População particulares
Quantidade de particulares
2010 estimada 2019 estimado
habitante/moradia 2010
(habitantes) (habitantes) 2019
(unidade)
(unidade)

30.965 32.328 3,33 9.285 9.694

Fonte: Autores com base em IBGE (2021).

2.3 Diagnóstico do Sistema de Abastecimento de Água e Esgotamento


Sanitário
O sistema de abastecimento de água da cidade de Nova Russas é gerido e operado pelo
Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). A água é captada no Açude Farias de Sousa, é tra-
tada e distribuída para 11.491 economias por meio de 280 km de rede de distribuição com uma
vazão de 34m³.dia-1 (ALECE, 2020; IBGE, 2021; SNIS, 2019).
O sistema de coleta e tratamento de esgoto do município também é gerenciado pelo
SAAE de Nova Russas. O sistema é composto por cerca de 2 km de rede coletora, que conduz
as água servidas de 1.768 economias para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) (ALECE,
2020; IBGE, 2021). A ETE possui uma vazão de 4,8l/s, utiliza filtro biológico seguido de lagoa
mista como forma de tratamento e apresenta uma eficiência no tratamento de 66%. Após o
passar pelo tratamento o efluente é lançando no Riacho do Curtume.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A respeito da evolução das taxas de abastecimento urbano de água, no período de 2010
a 2019, a Figura 2 apresenta o comparativo entre o crescimento da população e a extensão da
rede de distribuição de água operada pelo SAAE no período.
Verifica-se que na Figura 2 a população atendida cresce de 23,24 mil habitantes em 2010
para 24,27 mil habitantes em 2019, ao mesmo tempo que a rede de distribuição operada per-
manece 180 km nos dois primeiros anos, 2010 e 2011, decresce para 100 km em 2017, e cresce
para 280 km em 2019. Supõe-se que trechos da rede de distribuição tenham sido isoladas por
registros de manobras durante a seca que atingiu o município no período de 2016-2017, sub-
traindo-as do levantamento realizado em 2017.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 305

Figura 2 – População do município de Nova Russas e Extensão da Rede,


no período de 2010-2019

Fonte: Autores com base em SNIS (2021).

Na Tabela 2 são apresentados os dados de quantidade de economias residenciais ativas,


volume de água produzido e volume de água tratado no período.

Tabela 2 – Informações sobre Abastecimento de Água em Nova Russas – 2010-2019

Quantidade de economias Volume de água produzido Volume de água tratada em


Ano
residenciais ativas de água (m³) ETA (m³)

2010 7.098 1.200 600,0

2011 9.198 1.410 700,0

2017 12.300 980 880,0

2019 9.399 1.296 1.166,4


Fonte: Autores com dados do SNIS (2021).

Foi possível verificar que de 2010 até o ano de 2017 houve um aumento na quantidade
de economias ativas no SAA seguido por uma redução no ano de 2019. Admite-se que a estia-
gem de 2016-2017 contribuiu para o aumento de imóveis ligados a rede nesse período, isso
porque, sem fontes alternativas de abastecimento, a população passou a ter a água encanada
como única fonte.
Também foi possível verificar que entre 2010 e 2011 houve um acréscimo no volume de
água produzido, em 2017 aconteceu uma redução voltando novamente a subir em 2019. Essa

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


306 George Émerson Pereira Farias; Larissa Lima Marques; Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral; Adeildo Cabral da Silva

redução apresentada em 2017 pode ser associada também a estiagem ocorrida no período
impactando o acesso a captação de água pelo SAA.
Em relação ao volume de água tratado pela Estação de Tratamento de Água (ETA) pode-
-se constatar um crescimento entre os anos do período analisado. Isso pode ser atribuído a
investimentos na melhoria da tecnologia do tratamento de água de modo a permitir maiores
volumes produzidos pela estação.
Comparativamente o ano de 2019 apresentou aumento em todos os índices levantados
em relação ao ano de 2010 com destaque para a quantidade de água tratada pela ETA que teve
um incremento de 94,4%. Isso mostra maior capacidade do SAA de levar água encanada, tra-
tada e de qualidade para a população de Nova Russas.
A ampliação dos índices levantados para SAA no município de Nova Russas está alinhado
com a necessidade de universalização do acesso a água tratada e da promoção da saúde e
bem-estar da população (UN, 2018, BRASIL, 2007).
Este aumento nos índices viabilizou o atendimento de abastecimento de água potável
para 24. 270 habitantes de um total de 32.328 habitantes, em 2019, correspondendo a 75% da
população do município. Este percentual está abaixo da média nacional, mas acima da média
da região Nordeste e destro da faixa apresentada para o estado do Ceará (SNIS, 2019).
Quanto as perdas na rede de distribuição do sistema de abastecimento o município apre-
sentou um índice de 23,64%, frente aos valores médios de 39,2%, 45,7% e 24,2% para o Brasil,
região Nordeste e SAA operados pelos SAAE no Ceará (ALECE, 2021; SNIS,2019).
Segundo o Atlas de Água da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico),
atualizado em 2015, a cidade de Nova Russas tem como avaliação da oferta e demanda um
abastecimento satisfatório. Isso continuou sendo observado até 2019, então significa que o sis-
tema não apresenta criticidade no abastecimento, ou seja, nem o manancial nem a infraestru-
tura hídrica existente apresentam obstáculos ao atendimento das demandas de água atuais e
futuras. Essa constatação é salutar e adequada ao atendimento futuro da universalização na
prestação de serviço de abastecimento de água no território estudado.

3.1 Evolução das taxas de esgotamento sanitário urbano no período de 2010


a 2019
A Figura 3 apresenta o comparativo entre o crescimento da população atendida com
rede coletora de esgoto e a extensão da rede de coleta de esgoto operada pela prestadora do
serviço no período.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 307

Figura 3 – População do município de Nova Russas atendida com rede


coletora de esgoto e extensão da rede coletora, no período de
2010– 2019

Fonte: Autores com dados do SNIS (2021).

Verifica-se que na Figura 3 a população atendida cresce de 3,99 mil habitantes em 2010
para 7,92 mil habitantes em 2019, passando por um período de decréscimo de atendimento
em 2017, ao mesmo tempo que a rede de coleta operada permanece 38 km nos dois primeiros
anos, 2010 e 2011, decresce para 5 km em 2017, e cresce para 48 km em 2019. É importante
citar que a rede operada aqui é o trecho da rede onde se coleta e transporta o esgoto produ-
zido das casas que possuem ligações ativas, a qual se difere da rede de coleta disponível na
cidade. Supõe-se que os valores da rede de coleta operada tenham sido afetados fortemente
pela seca que atingiu o município no período de 2016-2017, limitando o acesso à água, assim
como também a produção de esgoto.
A população atendida por rede coletora de esgoto, em 2019, representa cerca de 24,49%
da população total do município, o que ainda é reduzido e muito abaixo da média nacional e do
Nordeste, apesar de estar dentro da faixa de atendimento do estado do Ceará. Esta ausência
de prestação de serviços de esgotamento sanitário amplia o risco de doenças para a população
e provoca a degradação dos recursos hídricos da bacia (BORELLI, 2006; SNIS, 2019; OMS, 2018;
BRASIL, 2007). O atual percentual está distante do que o BRASIL (2013) identifica como univer-
salização, que seria de 90% de população urbana atendida por rede coletora de esgoto.
Na Tabela 3 são apresentados os dados de quantidade de economias residenciais ativas,
volume de esgoto coletado e volume de esgoto tratado no período.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


308 George Émerson Pereira Farias; Larissa Lima Marques; Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral; Adeildo Cabral da Silva

Tabela 3 – Informações sobre esgoto coletado, tratado e economias ativas de esgotos em Nova Russas
– 2010-2019

Ano Quantidade de economias Volume de esgoto coletado Volume de esgoto tratado


residenciais ativas de esgotos (m³) (m³)
2010 1.993 125,60 32,00

2011 1.993 105,60 32,00

2017 1.065 50,00 50,00

2019 2.629 272,17 272,16


Fonte: Autores com dados do SNIS (2021).

Admite-se que a quantidade de economias ativas em 2017 tem um valor menor que nos
outros anos de comparativo por conta da limitação do acesso à água, e como consequência a
baixa produção de esgoto. Quanto ao volume de esgoto coletado, é notório que em 2017 o
volume foi reduzido em relação aos outros anos, e supõe-se que também seja consequência da
seca que atingiu o município no período. O volume de esgoto tratado seguiu uma linha de cres-
cimento no período estudado.
Observando-se os dados da Figura 3 e da Tabela 3 percebe-se que houve ampliação de
volume de esgoto tratado e coletado seguindo a ampliação da rede coletora de esgoto e a
ampliação do número populacional com acesso a esse tipo de prestação de serviço.
Os dados encontrados para o município de Nova Russas vão ao encontro do que LEONETI
et al (2011) afirmam a respeito de que os municípios brasileiros são marcados por déficit de
acesso à coleta e tratamento de esgoto.

3.2 Investimentos e gastos sobre Abastecimento de Água e Esgotamento


Sanitário
Na tabela 4 são apresentados os dados de investimentos realizados em abastecimento
de água, índice de perdas na distribuição e índice de atendimento urbano de água no período.
Os investimentos realizados nos anos de 2010, 2017 e 2019 totalizaram R$ 694.662,93
reais. O dado de investimento do ano de 2011 não foi possível obter, considerando não estar
disponível na base de dados. Os índices de perdas na distribuição decresceram de 2010 a 2019,
como consequência tem-se a melhora na eficiência do sistema. O índice de atendimento
urbano de água se manteve praticamente inalterado no período, indicando 100% da popula-
ção urbana da cidade atendida.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 309

Tabela 4 – Investimentos sobre Água no município de Nova Russas – 2010-2019

Investimento realizado em
Índice de perdas Índice de atendimento
Ano abastecimento de água pelo
na distribuição (%) urbano de água (%)
prestador de serviços (R$)

2010 269.856,00 50 100

2011 - 36,17 100

2017 340.000,00 23,64 99,8

2019 84.806,93 15,79 100


Fonte: Autores com dados do SNIS (2021).

Uma significativa informação da Tabela 4 é sobre a redução no índice de perdas na distri-


buição de águas, uma vez que a água é um recurso escasso na região semiárida, onde Nova
Russas está localizada. Esforços para redução em perdas na distribuição são importantes para
a utilização adequada do recurso hídrico e, também, na possibilidade de ampliação de oferta
para outras ligações ativas.
Os resultados desse estudo apontam evoluções com relação ao sistema de abasteci-
mento de água do município, sendo necessário a continuidade da gestão e do gerenciamento
do sistema para melhorar sua eficiência e continuar atendendo a população total do
município.
Na Tabela 5 são apresentados os dados de investimentos realizados em esgotamento
sanitário e índice de atendimento urbano de esgoto no período.

Tabela 5 – Investimentos sobre Esgoto no município de Nova Russas – 2010-2019

Investimento realizado em esgotamento


Ano Índice de atendimento urbano de esgoto (%)
sanitário pelo prestador de serviços (R$)

2010 123.654,00 17,15

2011 - 17,51

2017 0 9,98

2019 0 32,65
Fonte: Autores com dados do SNIS (2021).

Os investimentos realizados no ano de 2010 totalizaram R$ 123.654,00 reais. Os dados de


investimento dos anos de 2011, 2017 e 2019 não foram possíveis obter, pois a base de dados não
os disponibilizava de maneira consolidada. O índice de atendimento urbano de esgoto se man-
teve inalterado de 2010 a 2011, decresceu em 2017, retornando o crescimento em 2019. É suposto
que o decrescimento do índice de atendimento urbano de esgoto no ano de 2017 tenha relação

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


310 George Émerson Pereira Farias; Larissa Lima Marques; Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral; Adeildo Cabral da Silva

com a seca que atingiu a cidade no período, a qual ocasionou uma queda na oferta de água no
município, consequentemente diminuindo a produção de esgoto pela população.
Os dados apontam uma pequena extensão da rede coletora e um déficit no atendimento
da população com relação ao sistema de esgotamento sanitário, com um índice de atendi-
mento da população de 32,65% em 2019, o que pode significar que 67,35% da população utiliza
outras formas de disposição de esgoto no meio ambiente, podendo poluir e contaminar os
recursos hídricos onde são despejados. Como mostrado da Tabela 5, os investimentos dos
recursos financeiros não foram suficientes para alcançar a universalização do esgotamento
sanitário, dado que os valores aplicados são incertos ou inexistentes, segundo dados do SNIS
(2021). A ANA (2015) estima um investimento até o ano de 2035 de R$ 26.738.769,14, direcio-
nado à coleta e ao tratamento de esgoto, para que Nova Russas alcance a universalização do
serviço de esgotamento, atendendo 100% da população.
A avaliação e os resultados encontrados nessa pesquisa mostraram que o município de
Nova Russas obteve melhorias no abastecimento de água e no esgotamento sanitário. O abas-
tecimento de água em 2010 já atendia 100% da população da sede, praticamente permane-
cendo essa porcentagem até 2019. Já os índices de esgotamento sanitário evoluíram de 2010 a
2019, porém é necessário mais atenção e investimentos na infraestrutura do sistema para solu-
cionar problemas de coleta e tratamento de esgoto.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível verificar que o acesso a água potável no município de Nova Russas é bem
difundido principalmente na zona urbana com 100% da população tendo acesso a água enca-
nada. Porém é necessário melhorar a eficiência do sistema e garantir o acesso a água potável
na zona rural.
A respeito do acesso ao sistema de esgotamento sanitário o déficit é elevado com ape-
nas 24,49% da população sendo atendida. É importante direcionar esforços e recursos para
ampliar a coleta e o tratamento do esgoto afim de evitar o esgoto bruto e a degradação do
meio ambiente.
A continuidade do lançamento de esgoto de maneira indiscriminada nos mananciais
superficiais e no lençol freático da Bacia do Rio Acaraú causa prejuízos ambientais sem medida,
prejudicando as comunidade a jusante da região, podendo deixar as fontes de água
inconsumíveis.
O caminho para viabilizar a universalização do saneamento básico abrange esforços para
ampliar o acesso à água potável e ao esgotamento sanitário no município de Nova
Russas com aportes financeiros, gestão, tecnologia e educação ambiental. Por meio dos recur-
sos financeiros é possível desenvolver tecnologias para acesso à água e ao esgotamento sani-
tário destinados a áreas mais isoladas do semiárido, difundir a implantação desses sistemas por
meio de parcerias entre os entes federativos e sociedade local, fazer uma gestão sustentável

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 311

dos sistemas envolvendo as associações comunitárias ou ONGs e conscientizar as famílias para


se ligarem aos SAA e SES.

5 REFERÊNCIAIS
ALLAM, M. M.; ELTAHIR, E. A. B. Water-Energy-Food nexus sustainability in the Upper Blue Nile (UBN) basin.
Frontiers in environmental Science. v. 7, 2019.
ALECE – ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO CEARÁ. Caderno da Bacia Hidrográfica do Rio Acaraú: Informações
sobre saneamento básico. Ceará, 2020.
ALECE – ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO CEARÁ. Pacto pelo Saneamento Básico: Cenário atual do saneamento
básico no Ceará. Ceará, 2021.
ANA – AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Atlas esgotos 2015. Disponível em: https://www.snirh.gov.br/agua-
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BORELLI, E. Bacias hidrográficas e desenvolvimento sustentável na região metropolitana de São Paulo.
Estudos de sociologias. Pernambuco, v. 12, n. 2, p. 159-170, 2006.
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007– 2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 21 de
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BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Plano Nacional de
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


26. QUALIDADE DAS ÁGUAS
E BALNEABILIDADE
Uma análise das praias das proximidades
da Barra do Rio Jucu-ES

JULIANA NANCY GALVÃO DOMENCIANO1


GILNEI MACHADO2

Resumo: Este artigo busca avaliar a qualidade das águas das Praias da Barrinha, do Barrão e da
Concha, localizadas na região sul do município de Vila Velha (ES), nas proximidades da barra do Rio
jucu, durante o período de julho de 2020 à agosto de 2021, através de dados divulgados pela
Secretária do Meio Ambiente daquele município sobre a balneabilidade das referidas praias. As
análises foram realizadas com base na resolução 274/2000 do CONAMA, a qual estipula o uso do
parâmetro bacteriológico (Enterococos) para categorizar como “própria” e/ou “imprópria” a qua-
lidade das águas. Os resultados apontam que no período analisado a Praia da Barrinha se mostrou
100% “Imprópria” para a balneabilidade, devido aos números elevados de Enterococos; já a Praia
da Concha apresentou-se 72% do período como “Própria” para balneabilidade; e a Praia do Barrão,
em 82% do período como “Própria” para balneabilidade. Resultados estes, que indicam a péssima
qualidade das águas provenientes do Rio Jucu, bem como a influência do mesmo na balneabili-
dade das Praias localizadas nas proximidades de sua foz, que compromete a qualidade ambiental,
o ecoturismo e a economia local, demonstrando a necessidade de intervenção para o controle e
tratamento dos esgotos aí lançados.
Palavras-Chave: Contaminação; Rio Jucu; Balneabilidade; Turismo; Vila Velha.
Abstract: This article aims to evaluate the quality of the waters of the beaches of Barrinha, Barrão
and Concha, located in the southern region of the municipality of Vila Velha (ES), in the vicinity of
the Jucu River bar, during the period from July 2020 to August 2021, through data released by the
Secretary of the Environment of that municipality on the balneability of these beaches. The analy-
ses were performed based on CONAMA resolution 274/2000, which stipulates the use of the bac-
teriological parameter (Enterococci) to categorize water quality as “own” and/or “inappropriate”.
The results show that in the period analyzed Barrinha beach was 100% “Inappropriate” for balnea-
bility, due to the high numbers of Enterococci; Concha Beach presented 72% of the period as
“Own” for balneability; and Barrão beach, in 82% of the period as “Own” for balneability. These
results, which indicate the poor quality of the waters coming from the Jucu River, as well as its

1 Bacharel em Geografia 2019, Universidade Estadual de Londrina. E-mail: julianagalvaodomenciano@gmail.com


2 Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gilnei@uel.br

[ 313 ]
314 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado

influence on the balneability of the beaches located near its mouth, which compromises the envi-
ronmental quality, ecotourism, and the local economy, which demonstrates the need for interven-
tion for the control and treatment of sewage released there.
Keywords: Contamination; Jucu river; Balneability; Tourism; Vila Velha.

1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica do Rio Jucu (Figura 1), está localizada no estado do Espírito Santo e
possui uma área de aproximadamente 2.220 km². Este rio é um dos mais importantes do
estado, uma vez que é um dos responsáveis pelo abastecimento de água e pela geração de
energia para a Região Metropolitana da Grande Vitória (INGRID, 2012).
Esta bacia é subdividida em braço norte e braço sul, o braço sul nasce no Parque Estadual
da Pedra Azul, no município de Domingos Martins, e se estende até a confluência com o Jucu
braço norte, o qual segue até a foz, com a denominação de Rio Jucu (Figura 1).

Figura 1 – Bacia hidrográfica do Rio Jucu – Braço Norte e Braço Sul

(Fonte: TERRA, 2009).

O Rio Jucu Braço Norte é dividido em três trechos (Figura 2): alto Jucu, que corresponde
ao trecho entre as nascentes até as proximidades da localidade de São Rafael, em Domingos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE 315

Martins; o médio Jucu, que segue deste local até a confluência no córrego Pedra da Mulata; e
o baixo Jucu, que se estende até a foz no Oceano Atlântico, na chamada Praia da Barrinha
(INGRID, 2012).
A foz do Rio Jucu, pode ser encontrada dentro do Parque Natural Municipal de Jacarenema
(PNMJ), que é uma área de grande importância ecológica e turística do município de Vila Velha,
também denominada Reserva Estadual Ecológica de Jacarenema.
No entorno da Reserva Ecológica, pode-se notar uma crescente pressão de ocupações,
bairros como Santa Paula I e II, na porção oeste, vem avançando em direção à Reserva e na
porção norte, pressões de empreendimentos imobiliários vem reivindicando o parcelamento
de terras para expansão desta área (MUSSO; LIMA, 2002). Outras problemáticas são, os aterra-
mentos irregulares, loteamentos e construções clandestinas que são aí regularmente vistas.
Até meados dos anos de 1980 a área da foz do rio Jucu era coberta por vegetação de res-
tinga. A partir daquela década, as ações antrópicas realizadas na região, como extração mine-
ral de areia e argila, a retilinização do rio Jucu e dos rios Guaranhuns e do Congo provocaram
diversos impactos ambientais.
Outro problema encontrado na área é a destinação inadequada de resíduos sólidos que
ocorrem no geral em terrenos baldios localizados próximos a Rodovia do Sol e em áreas
alagadas.

Figura 2 – Unidades de Planejamento Região Hidrográfica do Rio Jucu

(Fonte: IEMA, 2016).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


316 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado

Com isso pode-se verificar, que os impactos ambientais estão regularmente presentes e
podem ser vistos e sentidos na paisagem, pois há muito tempo vem sofrendo com o intenso
desmatamento das suas APPs e construções em terrenos fragilizados, e na qualidade das águas
do Rio Jucu, que recebe grandes quantidades de efluentes domésticos in natura todos os dias.
A situação se agrava quando, nos períodos de chuva e de maré cheia, os níveis da água dos
canais transbordam, inundando os bairros da região, construídos sobre áreas aterradas e de
várzeas (terrenos brejosos com manguezais ou apenas inundáveis, Figura 3). Os lixos urbanos,
domésticos e outros, ao chegarem aos bueiros acabam por entupi-los, provocando alagamen-
tos frequentes na região.
Neste sentido a problemática que apresenta a pesquisa, reside no fato de que os impac-
tos gerados pela comunidade, o crescente loteamentos de imóveis, a falta de saneamento
básico, a má gestão pública e a falta avaliação de impactos de risco na região têm provocados
graves impactos ambientais e sociais, dos quais prejudica a saúde pública, o turismo – devido
à queda na qualidade da balneabilidade das praias no entorno na barra do Rio Jucu – e na eco-
nomia local, visto que em dias de alagamentos a região fica “ilhada” prejudicando o desloca-
mento da população para seus locais de trabalho.
Tendo isto por base, propõe-se neste artigo analisar a qualidade das águas nas áreas cor-
respondente às praias da Barrinha, do Barrão e da Concha, todas elas localizada na região da
foz/barra do Rio Jucu (Figura 3), tendo como objetivo apresentar as interferências humanas
ocorridas nesta região e como tais ações impactam diretamente no Rio Jucu, e consequente-
mente, na Balneabilidade das Praias no entorno, bem como apresentar as fragilidades do ecos-
sistema ali existente.
O levantamento bibliográfico sobre as características da região e os tipos de uso e ocu-
pação do solo se tornam necessárias para compreender a dinâmica espaço-temporal ocorri-
dos. Também a análise dos dados sobre o parâmetro bacteriológico (Enterococos), divulgado
pela Secretária do Meio Ambiente de Vila Velha, que contribuíram para averiguarmos a quali-
dade da balneabilidade das praias, tendo em vista que não há ou não são divulgadas as coletas
de amostra da qualidade das águas da área de foz do Rio Jucu e levando em consideração que
o mesmo impacta diretamente na qualidade das Praias no entorno.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE 317

Figura 3 – Mapeamento das Geofácies do PNMJ

(Fonte: PINHEIRO; VALE, 2017).

1.1 Conceitos Importantes


A palavra qualidade tem sido mal interpretada ao longo do tempo, dificultando o enten-
dimento do conceito utilizado em vários setores da sociedade. Por isso que, muitas vezes a
qualidade é estabelecida em função do grau de exigência do consumidor.
A qualidade para Battalha & Parlatore (1977) é composta por um conjunto de caracterís-
ticas denominadas “características de qualidade”, que diferenciam um objeto ou produto de
outro qualquer.
Para Mora (1998), a qualidade pode ser definida como uma “categoria”, é aquilo que pos-
sibilita que uma coisa, pessoa ou objeto possa ser diferenciado de um outro qualquer, possibi-
litando determinar-lhe a natureza a partir de uma escala de valores.
Machado (2002, p. 35) afirma que uma definição correta e universal de “qualidade da
água” é extremamente difícil de ser encontrada, pois não existe um único padrão de qualidade
para todas as águas, como também ela não se destina a apenas um único uso.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


318 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado

Segundo o autor, para a determinação da qualidade das águas tornou-se necessário o


estabelecimento de escalas de valores, que a enquadram em determinadas condições que o
homem acredita ser indispensável para sua utilização ou consumo. Sendo assim, para ser con-
siderada de qualidade, a água deve atender a padrões estipulados. Se ela não atender a estes
padrões deverá ser caracterizada como de “má qualidade”.
As águas de má qualidade são definidas como poluídas ou contaminadas. Cabe salientar
que estes conceitos não são sinônimos. O temos poluição, de acordo com Schaffer (1984, p.
387), provem do verbo latino “polluere”, que tem como significado “sujar, corromper, manchar,
macular, deslumbrar ou mesmo cometer ação infamante”.
A contaminação, por sua vez, é definida por Philippi Jr (1985, p.?) como “a introdução na
água, ou ambiente, de elementos que sejam diretamente nocivos à saúde do homem ou dos
animais, bem como de vegetais...”.
Esta pesquisa não tinha por objetivo realizar a análise dos elementos contaminantes da
área da bacia do Rio Jucu ou mesmo das praias de sua foz, uma vez que o estudo de parâmetros
químicos ou bacteriológicos prejudiciais demanda um custo significativamente maior. Como o
intuito do levantamento era determinar a balneabilidade das praias da Barrinha, do Barrão e
da Concha, levou-se em questão apenas um parâmetro bacteriológico, as bactérias do tipo
Enterococos, comumente presente nos esgotos domésticos.
De acordo com a Resolução CONAMA nº 274/2000 os Enterococos são

“bactérias do grupo dos estreptococos fecais, pertencentes ao gênero Enterococcus


(previamente considerado estreptococos do grupo D), o qual se caracteriza pela alta
tolerância às condições adversas de crescimento... A maioria das espécies dos
Enterococcus são de origem fecal humana, embora possam ser isolados de fezes de
animais”.

2 METODOLOGIA
Na busca pela compreensão da dinâmica do uso e ocupação do solo da área da Barra do
Rio Jucu, foram realizadas duas visitas nos locais, a primeira: visitou-se as Praias da Concha e
Praia do Barrão, onde pudemos observar as relações que a população estabelecia com as
praias, notamos que nestes locais a população tem demonstrado um cuidado com os resíduos
sólidos gerados, de modo que destinavam corretamente nos lixos concretados na faixa de
areia da praia; e a segunda, foi realizada uma caminha no entorno do Rio Jucu, área já urbani-
zada nas proximidades de sua foz, avistamos construções (restaurantes, hotéis e chácaras) as
margens da área de manguezal, e na Avenida Ana Penha Barcelos (principal avenida da região)
há um trecho de ponte, onde passa o Canal Congo, lá pudemos observar tubulações de esgoto
a céu aberto de casas construídas no entorno, o mal cheiro revela a situação do canal que logo
adiante deságua no Rio Jucu.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE 319

Para a avaliação da qualidade das águas das Praias da Barrinha, do Barrão e da Concha
localizadas nas proximidades da foz do Rio Jucu, foram analisados os dados divulgados pela
Secretária do Meio Ambiente do município de Vila Velha, que dizem respeito à balneabilidade
das referidas praias. Estes dados divulgados foram realizados conforme os parâmetros bacte-
riológicos, que identificam bactérias do tipo Enterococos (provenientes de esgotos domésti-
cos) estabelecidos conforme a Resolução da CONAMA nº274/2000. O período investigado
distribui-se entre o mês de julho de 2020 e agosto de 2021, correspondendo a 11 meses de
coleta, sendo representados em Quadros de 01 à 11.
Para chegar aos resultados de quantos por cento (%) a balneabilidade das Praias estavam
em boa qualidade, foi efetuado o calculo da regra de três simples, levando em consideração
que os 11 meses avaliados correspondem a 100% e a partir dos meses em que cada praia
esteve “Imprópria”, chegou-se ao resultado correspondente a suas porcentagens.
A adoção de tal procedimento permitiu obter uma noção do quanto às águas poluídas do
Rio Jucu influenciam na qualidade das águas das praias e em sua balneabilidade.
Resultados e Discussão
O Artigo 2 da Resolução 274/2000 do CONAMA esclarece que, as águas destinadas à bal-
neabilidade terão sua condição avaliada nas categorias “Própria” e “Imprópria”. Tendo por
base esta resolução, foram coletadas e analisadas pela Prefeitura Municipal de Vila Velha,
amostras de água na praia do Barrão, Praia da Barrinha e Praia da Concha, cujos resultados
encontram-se nos Quadros 01 a 11.

Quadro 1 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 06/07/2020.

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 2 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 03/08/2020

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Imprópria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Imprópria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


320 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado

Quadro 3 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 08/09/2020

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 4 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 05/10/2020.

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 5 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 08/02/2021

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 6 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 01/03/2021

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Imprópria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE 321

Quadro 7 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 13/04/2021

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 8 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 03/05/2021

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 9 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 07/06/2021

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Imprópria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

Quadro 10 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 05/07/2021.

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Imprópria

(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


322 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado

Quadro 11 – Balneabilidade das Praias da Foz do Rio Jucu em 02/08/2021

Ponto Local Resultado

1 Praia do Barrão – Barra do Jucu Própria

2 Praia da Barrinha – próximo à foz do Rio jucu Imprópria

3 Praia da Concha – Barra do jucu Própria


(Fonte: Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES).

A análise das informações referentes à Praia do Barrão (Figura 4) demonstra que esta
praia normalmente encontrou-se em condições “Próprias” para balneabilidade em 82% do
período analisado entre o mês de julho de 2020 e agosto de 2021, de modo que através do cál-
culo da regra de três, no período analisado esta praia esteve 18% do período “Imprópria” para
banho, estas informações podem ser encontradas no ponto 1 presente nos Quadros 01 e 11.
No que diz respeito à balneabilidade da Praia da Barrinha (Figura 5), localizada próxima a
foz do Rio Jucu, os dados apresentados nos quadros 01 a 11, no ponto 2, demonstram que em
100% do período analisado a mesma se apresentou em condições “Impróprias” para balneabi-
lidade, o que permite classificá-la como Sistematicamente “Imprópria”.

Figura 4 – Praia do Barrão, em Vila Velha

(Fonte: Camila Vargas/ PMVV).

No que concerne à Praia da Concha (Figura 6), identificado no ponto 3, os dados analisa-
dos permitiram verificar que durante o período julho de 2020 a agosto de 2021 ela esteve 73%
do tempo em condições “Próprias” de balneabilidade, de modo que através do cálculo da regra
de três simples 27% do período analisado esta praia se apresentou “Imprópria” para banho.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE 323

Figura 5 – Praia da Barrinha – Foz do Rio Jucu – Vila Velha-ES

(Fonte: Os autores, 2021).

Com isso foi possível averiguar que as águas da bacia hidrográfica do Rio Jucu têm influên-
cia direta na qualidade das águas das praias que estão localizadas nas proximidades da foz
desta bacia, sendo esta influência muito mais acentuada na Praia da Barrinha do que nas Praias
do Barrão e da Concha. Porém, algumas perguntas são levantadas, quanto à balneabilidade
destas praias. Quais foram os fatores e/ou influências que determinaram os dias com águas
“Impróprias”?

Figura 6 – Praia da Concha – Vila Velha-ES

(Fonte: Os autores, 2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


324 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado

No mês de outubro de 2021, a Secretaria do Meio Ambiente do Município de Vila Velha,


publicou os resultados da balneabilidade das praias e dos 17 pontos analisados, 10 se mostra-
ram “Impróprios” para banho. Segundo a referida Secretaria, estes resultados foram influen-
ciados pelo período de intensas chuvas na região (Fonte: PMVV, 2021.). Destaca-se, entretanto,
que chuvas não contaminam nem poluem as águas dos rios, e que se existem coliformes nelas,
os mesmos não derivam das águas das chuvas, mas sim de esgotos domésticos lançados clan-
destinamente ou “legalmente”.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica do Rio Jucu apresenta-se como uma das principais fontes de água e
energia para o município de Vila Velha, que pertence a Região Metropolitana de Vitória, no
Espírito Santo.
Esta bacia se caracteriza por apresentar o chamado Braço Norte e o Braço Sul, os quais pas-
sam por uma extensa área rural, se juntam e vem desaguar na Barra do Jucu em seu encontro
com o Oceano Atlântico, onde podem ser encontrado alguns bairros da cidade de Vila Velha.
A bacia, ao longo das últimas três décadas, passou por um processo intenso de degradação,
com a retirada mais intensa da cobertura vegetal, a extração de areia nas proximidades da foz, a
pressão das áreas urbanizadas próximas e o lançamento de efluentes sem tratamento no rio.
O lançamento de efluentes diretamente no rio tem contribuído para a redução da quali-
dade das águas, não somente ao longo dele, mas também nas praias localizadas nas proximi-
dades da foz, quais sejam: Praia da Barrinha, Praia do Barrão e Praia da Concha.
Este trabalho analisou os dados publicados pela Prefeitura Municipal de Vila Velha e con-
cluiu que, a influência negativa das águas do Rio Jucu na qualidade das águas das praias locali-
zadas é real, ou seja, sim o rio Jucu polui as águas das praias. Porém, essa influência ocorre com
muito mais propriedade na Praia da Barrinha, a qual é classificada como sistematicamente
“Imprópria” para usos de contato direto.
O trabalho concluiu que em 82% do período analisado a Praia do Barrão foi considerada
“Própria” e a da Concha em 72% do período, em contradição direta com a Barrinha em que
100% do tempo foi considerada “Imprópria” ou sistematicamente “Imprópria”.
Com isso, percebe-se a clara influência negativa da baixa qualidade das águas da bacia do
Rio Jucu e consequentemente, na qualidade das águas das praias próximas a foz desta bacia e
sugere-se que sejam tomadas ações para coibir a urbanização nas proximidades do rio e prin-
cipalmente, eficiência no controle e fiscalização dos efluentes domésticos e industriais, lança-
dos sem um tratamento adequado no Rio Jucu. Com isso espera-se que o rio tenha condições
de se autodepurar ao longo do tempo, deixando de influenciar negativamente a qualidade das
águas das praias analisadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE 325

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


27.
RISCOS AMBIENTAIS
NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO CÓRREGO JOSEFA GOMES

LAURA DE SOUZA SILVA1


AMOM CHRYSTIAN DE OLIVEIRA TEIXEIRA2
THIARA MESSIAS DE ALMEIDA TEIXEIRA3
ELTON SOUZA OLIVEIRA4

Resumo: O trabalho trata dos riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes,
localizada na zona urbana de Formosa-GO. A metodologia constou do levantamento de documen-
tos cartográficos já existentes e da catalogação e mapeamento dos riscos encontrados. Os resul-
tados mostraram a ocorrência de riscos geológicos (deslizamentos e erosão marginal), hidrológicos
(enchentes e alagamentos), meteorológicos (tempestades e granizo) e climatológicos (estiagem,
baixa umidade do ar, incêndios florestais). Como resultado, tem-se prejuízos materiais e financei-
ros para os moradores da área urbana de Formosa.
Palavras-chave: riscos; urbanização; deslizamento; inundação.
Abstract: The work deals with environmental hazards in the Córrego Josefa Gomes watershed,
located in the urban area of Formosa-GO. The methodology consists of surveying existing carto-
graphic documents and cataloging and mapping the risks found. The results showed the occur-
rence of geological hazards (landslides and marginal erosion), hydrological (floods and flooding),
meteorological (storms and hail), and climatological (drought, low air humidity, forest fires). As a
result, there are material and financial losses for the residents of the urban area of Formosa.
Keywords: hazard; urbanization; landslide; flooding

1 INTRODUÇÃO
O crescimento populacional e a ocupação desordenada das cidades e do campo brasi-
leiro têm elevado a exposição das populações aos riscos ambientais. Por riscos ambientais
entende-se uma categoria de análise associada a noções de incerteza, exposição ao perigo,
perda e prejuízos materiais e humanos, decorrentes tantos dos processos naturais quanto

1 Universidade Estadual de Goiás. E-mail: laurawwap@gmail.com


2 Universidade Estadual de Goiás. E-mail: amom.teixeira@ueg.br
3 Universidade Estadual de Goiás. E-mail: thiaramessias@gmail.com
4 Universidade de Brasília. E-mail: elton.gea@gmail.com

[ 327 ]
328 Laura de Souza Silva; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira; Thiara Messias de Almeida Teixeira; Elton Souza Oliveira

sociais (ALMEIDA, 2012). Ou seja, o risco ambiental está associado à possibilidade de ocorrên-
cia de eventos danosos ao ambiente e à sociedade (DAGNINO e CARPI JUNIOR, 2007). Os riscos
ocorrem em diferentes intensidades e manifestações e apresentam-se como quadros conjun-
turais, que podem ter origem nos processos atmosféricos, hidrológicos, sociais,políticos, entre
outros (CASTRO et al., 2005).
A Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes (BHCJG) está inserida, em sua maior parte,
na área urbana do município de Formosa, em Goiás, localizado a 80km de Brasília no Distrito
Federal. Sendo uma bacia hidrográfica (BH) principalmente urbana, apresenta um acentuado
processo de ocupação e remoção da vegetação original de cerrado. Tal processo, fruto das
marchas de urbanização nacionais e regionais, levou à ocupação de áreas com elevado nível de
vulnerabilidades que ampliou e expôs as populações a problemas como alagamentos, voçoro-
camentos, deslizamentos, entre outros.
De modo geral, os custos preventivos são frequentemente menores que os custos de
mitigação e enfrentamento dos riscos ambientais, tais como da realocação de moradores ou
a construção de obras de engenharia (TEIXEIRA et al., 2011). Apesar disso, em um contexto de
fraca fiscalização e pouco planejamento, desdobram-se a ocupação das áreas de risco, o cres-
cimento urbano, desconsiderando as características ambientais e a potencialização dos riscos
ambientais.
Além dos custos sociais e das perdas de infraestrutura, isso tem gerado outros custos
como os processos legais contra o município de Formosa (GOIÁS, 2018; 2021) e a necessidade
de construção de obras para mitigação dos efeitos dos processos já instalados.
Pelo contexto apresentado, percebe-se a importância de conhecer o funcionamento dos
sistemas ambientais, suas vulnerabilidades, fragilidades e limitações para evitar os impactos e
riscos às populações e ao ambiente. Tendo em vista o exposto, este trabalho identificou, cata-
logou e mapeou os riscos ambientais da Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes a partir
da bibliografia e dos documentos já existentes.

2 METODOLOGIA

2.1 Área de estudo


A Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes, tem área de 57,30 km² e é tributária da
BH do Rio Preto, que por sua vez é parte da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Considera-se
aqui como BHCJG toda a área de Formosa que contribui para a vazão do Canal Josefa Gomes e
Lagoa Feia (Figura 1). O Córrego Josefa Gomes (CJG), tem aproximadamente 13 km de exten-
são e formato semicircular, como resultado de uma antiga estrutura dômica decapitada
(MAURO et al., 1982). Toda a vazão do CJG corre para a Lagoa Feia, um ambiente lacustre, pro-
vavelmente originado de processos cársticos (MORAES, 2004).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO JOSEFA GOMES 329

Na BH, geologicamente, predominam as Coberturas Detrítico-lateríticas que recobrem


quase toda a área, exceto em pequenos trechos nas proximidades da foz da Lagoa Feia. Sobre
a geomorfologia, como parte de uma Superfície Regional de Aplainamento, o relevo da BH vai
das cotas de 870 m a 1010 m entre a Lagoa Feia e os divisores de águas nas proximidades da
cabeceira do córrego Josefa Gomes. As declividades são frequentemente inferiores a 10°, mas
áreas de maior declividade são encontradas tanto nos divisores de águas quanto nas áreas
recortadas pelas ações fluviais e pluviais.
A vegetação original da área era o cerrado, que foi em grande parte removido para dar
lugar à malha urbana. Pequenos fragmentos isolados da vegetação original são encontrados no
Parque Municipal Mata da Bica, nas bordas da área urbana e na área Militar do 6º Grupo de
Mísseis e Foguetes (Forte Santa Bárbara). O clima da região é o Aw com precipitações
anuaisde pouco mais de 1300 mm, inverno seco e chuvas concentradas na primavera e verão
(COUTINHO, 2002). Os solos predominantes são Latossolos, mas há ocorrências, de menor
expressão, de Cambissolos, Gleissolos e Plintossolos.

Figura 1 – Área de Estudo

Fonte: Elaborado a partir de Hollus (2014).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


330 Laura de Souza Silva; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira; Thiara Messias de Almeida Teixeira; Elton Souza Oliveira

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e descritivo. O método de pesquisa
pautou-se na compilação de dados secundários de bases oficiais e a partir de estudos ante-
riores e levantamentos cartográficos (HOLLUS, 2014; NORONHA, 2015; RAMALHO et al.,
2017; CPRM, 2019). Com vistas a identificar áreas adicionais de risco não registradas na lite-
ratura, foram realizadas visitas in loco, análise de imagens de satélite e fotografias aéreas de
alta resolução, disponibilizadas pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do
Distrito Federal, e realizada busca por notícias correlatas em meios de comunicação virtual,
sites de notícias.
Os dados cartográficos foram compilados e organizados em formato vetorial, utilizando
o software QGIS 3.20, versão Odense. Após a etapa de organização, os dados foram plotados
em mapa e, segundo a tipologia da Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
(COBRADE), os dados de registros de atividades erosivas e deslizamentos, foram reclassificados
para “Registros de riscos geológicos” e; os dados com registro de inundações ou alagamentos
reclassificados para “Registros de riscos hidrológicos”.
Os dados têm origem: nos pontos de erosão de Hollus (2014); pontos de voçoroca de
Noronha (2015); pontos de registro de alagamentos e inundações de Ramalho et al. (2017); nos
polígonos de inundação, deslizamento e erosão da CPRM (2019); áreas de deslizamento forne-
cidos pela Superintendência do Meio Ambiente de Formosa e; nas observações de campo. Já
os riscos meteorológicos e climáticos foram descritos a partir da análise dos dados climáticos
obtidos junto ao INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), ao sistema on line do Climate
Data (2021), na bibliografia correlata e em matérias publicadas em sites de notícias.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Descrição dos riscos hidrológicos


Embora os parâmetros morfométricos coloquem a BHCJG com baixas chances de ocor-
rência de grandes enchentes (TEIXEIRA, 2021), ao longo da história têm sido relatados eventos
hidrológicos recorrentes (SAAD, 2013, RAMALHO et al., 2015).
A partir de dados do Sistema Nacional de Informações e Saneamento e do Instituto Água
e Saneamento (2021) foi constatado que entre os anos de 2013 e 2018 houveram 17 eventos
de inundações e alagamentos e 23 residências de Formosa estavam em áreas sujeitas a inun-
dação. Já o Serviço Geológico do Brasil identificou 30 residências, com 120 pessoas, nessa
situação (CPRM, 2019). A CODEPLAN (2018) estimou que 20,18% dos domicílios, tenham alaga-
mentos em suas cercanias (6.638 domicílios), embora não necessariamente afetando direta-
mente os mesmos. A expansão urbana desorganizada, a especulação imobiliária, o surgimento
de loteamentos e as invasões de áreas mais próximas ao córrego tendem a aumentar esse
quantitativo nos próximos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO JOSEFA GOMES 331

Além da ocorrência de chuvas concentradas, o desenvolvimento destes riscos e os pre-


juízos decorrentes deles têm como causa à conjunção de características naturais como relevo
(declividade, confluência, hipsometria) (RAMALHO, et al., 2017) e antrópicas como a ocupação
de áreas impróprias (SAAD, 2013; HOLLUS, 2014; CPRM, 2013; 2019); as alterações no uso da
terra ligadas ao processo de urbanização e impermeabilização dos solos (HOLLUS, 2014;
RAMALHO, et al., 2017); as obras de engenharia, como canalizações (RAMALHO, 2017); e o lan-
çamento de detritos nas vias públicas e trechos canalizados (RAMALHO, et al., 2017).
Na BHCJG são encontradas duas tipologias de riscos hidrológicos: as inundações e os ala-
gamentos. Estes riscos ocorrem em grande parte da área urbanizada do córrego Josefa Gomes,
em especial nas áreas mais baixas do relevo, em bairros como Setor Central, Setor Ferroviário,
Setor Centro Nordeste, Setor Nordeste, Pampulha, Vila Santos, Vila Aurora, Parque Dom Bosco,
Bairro Rosa Maria, Vila Bela, Jardim Califórnia, Jardim Triângulo, Parque Vila-Verde, Vila Mutirão
e Parque Laguna (CPRM, 2013; 2019; RAMALHO, et al., 2017).
As inundações são parte do regime hidrológico natural do córrego, mas podem ser
ampliadas ou mesmo induzidas devido a alterações no pico de cheia. Afetam as áreas de ocu-
pação nas margens da rede fluvial, muitas das quais irregulares nas Áreas de Preservação
Permanente. Os riscos ocorrem principalmente nessas áreas, ocupadas por populações de
baixo poder aquisitivo e menor capacidade de exigir soluções para os problemas. Exemplos
ocorrem em bairros como o Parque Dom Bosco e o Vila Verde (CPRM, 2013; 2019), em áreas
edificadas na planície de inundação do córrego Josefa Gomes, onde o extravasamento do cór-
rego ocorre de forma recorrente e são agravados pela falta de drenagem pluvial nas ruas adja-
centes e, segundo alguns moradores, a partir de obras de contenção em um bairro subjacente,
fazendo com que a água chegue até 1 metro em algumas casas (CPRM, 2019). Nessas duas
áreas há um total de 22 imóveis e 88 pessoas em risco (CPRM, 2019). Extravasamentos deste
tipo também ocorrem em outras áreas da cidade, e mesmo nas proximidades do trecho do
canalizado, ou na Vila Aurora sob o efeito da confluência do Josefa Gomes com seus tributá-
rios, córregos Lifan e Abreu (RAMALHO, et al., 2017) ou mesmo no centro da cidade no trecho
canalizado da Av. Ivone Saad (Figura 2).
Os alagamentos são um acúmulo momentâneo de águas em partes do relevo, não
necessariamente às margens do canal fluvial, tendo como origem a deficiência da rede de
drenagem (natural e artificial), o acúmulo de detritos na rede de drenagem urbana, as carac-
terísticas do relevo, os usos dos solos, as obras de engenharia (canalização, retilinização),
dentre outros. Afetam várias áreas, inclusive importantes como a feira livre da cidade e seu
entorno (Figura 2). É necessário salientar que as áreas de alagamentos já foram mais amplas
e tiveram outras configurações, como indicado por Saad (2013) e Gontijo (2018), mas inúme-
ros desvios, drenagens e alterações nos canais fluviais fizeram com que as áreas dos brejos,
nascentes e afluentes do Josefa Gomes pouco a pouco dessem lugar à infraestrutura urbana
e a especulação imobiliária.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


332 Laura de Souza Silva; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira; Thiara Messias de Almeida Teixeira; Elton Souza Oliveira

Figura 2 – Registros de alagamentos e inundações na a) Av. Tancredo Neves; b) Av. Ivone Saad e; c) Feira

Fonte: Ramalho et al. (2017).

4.2 Descrição dos riscos geológicos


O Serviço Geológico do Brasil identificou duas tipologias principais de riscos geológicos
para a área de estudo: os deslizamentos planares e a erosão marginal (CPRM, 2019) (Figura 3).
Nas áreas dos divisores de águas, principalmente oeste nas proximidades da cabeceira do
Josefa Gomes (CPRM, 2019) e norte (segundo dados da Prefeitura Municipal de Formosa),
encontram-se áreas propícias aos deslizamentos planares e voçorocamento, em bairros como
o Vila Verde, Jardim das Oliveiras e setor Rosa Maria (CPRM, 2013; 2019) (Figura 4). Em campo
foram observados deslizamentos, associado a erosão do tipo voçoroca, em outras áreas da
bacia hidrográfica como nas proximidades da Lagoa Feia, de ambos os lados do corpo hídrico.

Figura 3 – Registros fotográficos de deslizamentos e erosão

Fonte – Autores.

O riscos de deslizamento e as voçorocas têm origem na complexa relação entre relevo


(bordas de chapadas com declividades ligeiramente mais acentuadas que o resto da bacia
hidrográfica), solos (predominando os Latossolos), geologia (coberturas detrito-lateríticascom
baixo grau de consolidação), precipitações concentradas em uma estação, cobertura do solo
(desmatamento do cerrado e loteamentos), obras de engenharia (construção de estradas e
aterros) e recursos hídricos superficiais e subsuperficiais que provocam o surgimento de sulcos
e ravinamentos do solo que por vezes evoluem para voçorocas, tanto na BHCJG como em
bacias hidrográficas vizinhas como as dos córregos Raizama e Bandeirinha.
Além de ameaçar a infraestrutura, como os trechos da BR 020 ameaçados pelo desen-
volvimento do avanço de uma voçoroca, esses movimentos de massa ameaçam 120 pessoas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO JOSEFA GOMES 333

e um total de 30 imóveis (CPRM, 2019). O número pode ser maior no futuro, já que conside-
rando os processos erosivos de maneira geral a CODEPLAN (2018) estima que 1.210 domicí-
lios (3,68% do total) tenham erosão em suas proximidades, embora atualmente não sejam
necessariamente afetados.
A segunda tipologia de risco geológico apresentada para a área de estudo é a de erosão
marginal que ocorre, principalmente no trecho médio do Josefa Gomes, vizinhando o canal
fluvial (Figura 4), tendo sido observadas tanto pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2019) no
bairro Alphaville quanto por Lopes (2015) no bairro Vila Verde. O processo de formação dessas
áreas de erosão tem relação com o regime de cheias e com a velocidade do escoamento pluvial
e fluvial sendo agravado pelo desmatamento das áreas de mata ciliar. A ocupação é realizada,
às vezes por invasão, por moradores de baixo poder aquisitivo que sem acesso a outras áreas
da cidade acabam ocupando os trechos de maior risco.

Figura 4 – Mapa de riscos da Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes

Fonte: Elaborado a paritr de Hollus (2014); Noronha (2015); Ramalho et al. (2017); CPRM (2019); Prefeitura de Formosa (2021).

Por último, deve-se considerar o fato do município de Formosa estar inserido em terre-
nos ricos em calcário e dessa forma não se pode excluir a possibilidade de lentes calcárias,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


334 Laura de Souza Silva; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira; Thiara Messias de Almeida Teixeira; Elton Souza Oliveira

potencial fontes de riscos cársticos, localizadas sob a área urbana ou nas áreas de cresci-
mento da cidade (CPRM, 2013). As confirmações destes riscos dependem de estudos em
subsuperfície para melhorar o conhecimento da estrutura geológica local.

4.3 Descrição dos riscos meteorológicos, climatológicos e eventos extremos


A pesquisa de notícias na imprensa constatou prejuízos, tais como o desabamento e des-
telhamento de muros, residências e propriedades comerciais, com origem meteorológica
(Figura 5), em fevereiro de 2021 (alagamentos), abril de 2021 (prejuízos decorrentes das chuvas
e dos ventos fortes no Setor Sul, no Centro e Parque Lago); março de 2020 (prejuízos decorren-
tes das chuvas e alagamentos); outubro de 2020 (prejuízos decorrentes do granizo, das chuvas,
dos alagamentos e dos ventos fortes); janeiro de 2019 (granizo); fevereiro de 2017(inundação e
alagamentos); dezembro de 2013 (alagamentos). Relatos de moradores (questionados em rede
social em outubro de 2021) indicam que a chuva de granizo também atingiu outros bairros tais
como Jardim Califórnia, Jardim Bela Vista, Parque da Colina, SetorRosa Maria e Setor Nordeste.

Figura 5 – prejuízos causados por eventos meteorológicos na área urbana de Formosa

Fonte: Braga (2021); Lopes (2020); Tomazini (2021).

Apesar dos prejuízos materiais, não foram encontrados na pesquisa, registros de feridos
ou mortos pelos eventos meteorológicos e hidrológicos. Mas, dada a recorrência e os efeitos
destes eventos (danificando e derrubando residências, muros, estabelecimentos comerciais,
telhados, etc.), se não houver ação, isso pode ocorrer em um futuro próximo.
Há de se considerar também, como potencial fonte de riscos ambientais, as variações
sazonais e plurianuais de temperaturas. As menores temperaturas ocorrem nos meses centrais
do ano, com temperaturas mínimas médias de 16,2°C no mês de julho e as maiores ocorrem
entre setembro e outubro quando as máximas médias são de 30,8°C (Tabela 1). Os eventos
mais extremos ocorreram em novembro de 1961 (39°C) e julho de 1975 (3,9°C) (DEUS, 2018).
As precipitações são de 1.247 mm anuais, com mensais variando de 1 mm em julho a 250
mm em dezembro (Tabela 1). O evento diário mais extremo ocorreu no primeiro dia de feve-
reiro de 1992 quando choveu 124,6 mm em 24 horas (DEUS, 2018).
As variações do balanço hidrológico também conduzem a riscos sazonais pela baixa umi-
dade do ar entre julho e outubro. As umidades médias mensais variam de 42% em agosto e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO JOSEFA GOMES 335

setembro a 77% em março (Tabela 1). O menor valor registrado ocorreu em 6 de setembro de
2011 quando a umidade do ar ficou em 17% (DEUS, 2018).

Tabela 1 – Resumo climático da área de estudo

JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Temperatura
23.6 23.6 23.3 23.1 22.3 21.5 21.4 22.9 25.1 25.5 23.5 23.5
média (°C)
Temperatura
20 19.8 19.6 19.2 17.8 16.6 16.2 17.4 19.7 20.7 20 20
mínima (°C)
Temperatura
27.9 28.1 27.7 27.6 27.3 26.7 26.8 28.7 30.8 30.8 28 27.8
máxima (°C)
Chuva (mm) 202 168 172 70 18 4 1 5 27 106 224 250

Umidade(%) 75 73 77 70 62 56 49 42 42 51 73 75

Dias chuvosos (d) 13 12 13 7 3 0 0 1 3 8 15 15

Horas de sol (h) 9.2 9.2 8.6 8.7 8.8 9.2 9.5 10.1 10.4 10.0 8.8 9.0
Fonte: CLIMATE DATA (2021).

A baixa umidade do ar e a carência de chuvas entre maio e setembro trazem consigo um


outro risco climatológico que é o dos incêndios florestais, que sazonalmente atingem o entorno
da área urbana de Formosa e às vezes a Mata da Bica (Figura 6), frequentemente induzidos pela
ação antrópica. Exemplo recente ocorreu em setembro de 2021, quando parte da cidade de
Formosa ficou alguns dias coberta pela fumaça decorrente de incêndios nas áreas de cerrado
circunvizinhas à Lagoa Feia e BR 020 (Figura 6).

Figura 6 – Incêndios na área da BHCJG, na Mata da Bica (a e b), na área do exército (c) e na BR 020 (d)

Fonte: Arnold (2021), Silva (2021) e Kunrath (2021).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo histórico de ocupação do município de Formosa levou à urbanização de
grande parte da Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes. Essa ocupação se deu, principal-
mente, nas proximidades dos cursos fluviais e se expandiu para o resto da bacia. Tal processo,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


336 Laura de Souza Silva; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira; Thiara Messias de Almeida Teixeira; Elton Souza Oliveira

ocorreu em sua maior parte, espontaneamente com pouco planejamento e fiscalização do


Estado. Isso gerou a exposição de parte da população a diversos tipos de riscosambientais.
A pesquisa mostrou que parte da população da BHCJG, especialmente camadas mais vul-
neráveis, está exposta a riscos de ordem geológica, hidrológica, meteorológica e climatológica,
trazendo prejuízos à população e ao Estado.
Os riscos geológicos ocorrem tanto nas áreas mais altas, nas bordas da bacia, onde se
desenvolvem processos de escorregamento e voçorocas, quanto nas proximidades da calha
fluvial onde os processos instalados são os de erosão das margens do Josefa Gomes. Os riscos
hidrológicos são os alagamentos nas áreas mais baixas do relevo e inundação das planícies flu-
viais. Em todos os casos os processos atingem, principalmente, extratos de menor poder aqui-
sitivo e com menor capacidade de reagir aos riscos e têm sido potencializados pela ação
antrópica (impermeabilização dos solos, obras de engenharia, etc.).
Os riscos climatológicos e meteorológicos relacionam-se nesta bacia hidrográfica com o
período chuvoso, com os ventos fortes, com as chuvas de granizo, com os extremos de tempe-
raturas, com a baixa umidade do ar e com incêndios florestais.
Salienta-se que em decorrência da fiscalização deficiente do poder público e da baixa
capacidade do Estado de sanar os problemas de moradia que afetam todo país, parte significa-
tiva da população exposta encontra-se instalada em áreas de preservação permanente (APP)
de rios e de encostas, por não ter acesso a outras áreas mais seguras da cidade.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


28. SANEAMENTO BÁSICO COMO
ELEMENTO ESSENCIAL PARA O
PLANEJAMENTO AMBIENTAL
DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS

CAMILA ESMERALDO BEZERRA1


FÁBIO SOARES GUERRA2
ANA CARLA OLIVEIRA DE BARROS3
EDSON VICENTE DA SILVA4

Resumo: O crescimento e a expansão do processo de urbanização têm provocado impactos signi-


ficativos sobre os recursos ambientais citadinos, em especial sobre os recursos hídricos que com-
põem o contexto das bacias hidrográficas urbanas. Desta feita, o presente estudo tem por objetivo
destacar o saneamento básico como elemento indispensável para o planejamento ambiental de
bacias hidrográficas urbanas, destacando soluções para a problemática em questão como subsídio
para gestão ambiental que preze pelos recursos hídricos. A metodologia adotada foi a pesquisa
bibliográfica de cunho exploratório/indutiva, sob a abordagem qualitativa. Como resultados e dis-
cussões verifica-se tecnologias alternativas para o desenvolvimento de práticas sustentáveis em
relação ao saneamento básico no âmbito das cidades, tais como: trincheiras de infiltração, bacias
de infiltração, valas ou valetas de infiltração. Por conclusão, verificou-se que é preciso fomentar o
debate acerca do saneamento básico sob as premissas da sustentabilidade, de maneira a funda-
mentar a gestão e o manejo do resíduo urbano para seu correto descarte, a implantação de técni-
cas de drenagem, a instalação de estações de tratamento de esgoto visando o trato e o destino
adequado dos efluentes domésticos e industriais, entre outros.
Palavras-chaves: Saneamento Básico; Estratégia de Gestão; Bacias Hidrográficas.
Abstract: The growth and expansion of the urbanization process have provoked procedures on
urban environmental resources, in particular on the water resources that make up the context of
urban watersheds. This time, this study aims to highlight basic sanitation as an indispensable ele-
ment for the environmental planning of urban watersheds, highlighting solutions for the problem
in question as a subsidy for environmental management that values ​​water resources. The adopted
methodology was an exploratory/inductive bibliographic research, under a qualitative approach.
As results and results, there are alternative technologies for the development of sustainable

1 Universidade Federal do Ceará. E-mail: camila.esmeraldo23@gmail.com


2 Universidade Federal do Ceará. E-mail: fabiosoaresguerra@hotmail.com
3 Universidade Federal do Ceará. E-mail: anacarla.oliveira@alu.ufc.br
4 Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com

[ 339 ]
340 Camila Esmeraldo Bezerra; Fábio Soares Guerra; Ana Carla Oliveira de Barros; Edson Vicente da Silva

practices in relation to basic sanitation within cities, such as: infiltration trenches, infiltration
basins, ditches or infiltration ditches. In conclusion, it was found that it is necessary to foster the
debate about basic sanitation under the premises of sustainability, in order to support the mana-
gement and handling of urban waste for its correct disposal, the implementation of drainage tech-
niques, the installation of stations specialized sewage treatment treatment and proper disposal of
domestic and industrial effluents, among others.
Keywords: Sanitation Basic; Management Strategy; Watersheds.

1 INTRODUÇÃO
A falta de saneamento básico afeta negativamente a população e isso passa a ser mais per-
ceptível quando eventos como a pandemia da Covid-19 ocorrem. Um momento em que lavar as
mãos e manter a higiene da casa passa a ser crucial, para combater o vírus. Entretanto, as desi-
gualdades tiveram grandes destaques, sejam elas de ordem social ou econômica. Para se ter uma
ideia, em termos de abastecimento de água, grande parte da população não tem acesso. A Rádio
Nacional (2021), divulgou dados do Instituto Trata Brasil em que 35 milhões de pessoas no Brasil
não têm acesso à água potável. Tendo em vista que o abastecimento de água é um dos compo-
nentes do saneamento básico, percebe-se o quanto ainda precisa de avanços.
Além disso, atividades antrópicas têm potencial de gerar degradação nos corpos hídri-
cos, causando sua poluição ou contaminação. Caso não haja uma gestão dessas atividades e o
correto tratamento dos produtos, como os efluentes e os resíduos sólidos gerados pelas
atividades da sociedade, a qualidade e quantidade de água estarão comprometidos.
Nesse sentido, o saneamento básico se faz fundamental, para garantir a integridade das
bacias hidrográficas e dessa forma a manutenção da vida. Para auxiliar nesse processo existem
leis que norteiam a respeito, como à Lei 11.445/2007, a qual estabelece diretrizes, para o
Saneamento Básico e deve estar integrada a Política Nacional de Recursos Hídricos, lei 9.433/97,
que versa a respeito dos fundamentos, objetivos, diretrizes, instrumentos entre outros ele-
mentos ligados aos recursos hídricos.
O Saneamento Básico de acordo com a Lei do Saneamento é o conjunto de serviços
públicos, infraestruturas e instalações operacionais dos componentes do abastecimento de
água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e gestão dos resíduos sólidos e drenagem
e manejo das águas pluviais urbanas (BRASIL, 2019).
Entretanto, o saneamento no Brasil enfrenta bastante dificuldades. De acordo com dados
presentes no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) (2019), observa-se
que o índice de tratamento de esgoto coletado de 732 municípios é inferior a 30% e que 1.634
municípios que responderam à pesquisa têm ausência de rede coletora de esgotos. Esse fato
reforça a necessidade de avanços e melhorias no saneamento, para evitar doenças da popula-
ção e a destinação inadequada dos esgotos em rios e mares.
A presente pesquisa objetiva averiguar as soluções provenientes do saneamento básico,
como estratégia da gestão ambiental, para evitar a poluição dos corpos hídricos. Ampliando,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 341

assim, a discussão e disseminação a respeito das medidas que podem ser utilizadas, provenien-
tes do saneamento, a fim de driblar ou solucionar os prejuízos acarretados pela urbanização e
que interferem diretamente na qualidade e quantidade dos recursos hídricos.

2 METODOLOGIA
O estudo teve como instrumento metodológico a pesquisa bibliográfica, que consistiu
em averiguar nos trabalhos científicos já publicados (reconhecidos e revestidos de importân-
cia) os debates sobre temática do saneamento básico. Assim, foi possível correlacionar o sanea-
mento básico com o planejamento ambiental em bacias hidrográficas urbanas, destacando-o
como elemento essencial dentro dessa conjuntura.
O levantamento bibliográfico seguiu as orientações delineadas por Marconi e Lakatos
(2003). Deste modo, foi estipulado o objetivo geral e, a partir daí a investigação prosseguiu com
a seleção de temas que o contemplassem. Então, em posse da literatura selecionada, foram
realizados o exame temático, a leitura interpretativa e a técnica do fichamento.
A abordagem de estudo empregada foi a qualitativa/indutiva de cunho exploratório.
Esse tipo de abordagem é importante, visto que permite a interpretação de dados e fenôme-
nos dentro da lógica da subjetividade. Ela permite revelar a dinâmica conjuntural para além do
aparente, algo que não seria possível por meio da análise numérica (KAUARK; MANHÃES;
MEDEIROS, 2010).
Logo, obteve-se a fundamentação teórica que embasou a discussão e os resultados apre-
sentados adiante.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Impactos nos Recursos Hídricos Advindos da Urbanização
Na contemporaneidade, as cidades têm assumido grande relevância em termos econô-
mico, político e sociocultural, tornando-se centros polarizadores de elevados contingentes
demográficos. Essa realidade resulta em grandes contrastes socioespaciais que implicam nega-
tivamente na qualidade de vida e na saúde ambiental dos espaços afetados pelo processo de
urbanização, principalmente nos países subdesenvolvidos, a exemplo dos países da América
Latina, da Ásia e da África (SILVA; et al, 2014).
A urbanização se expandiu de forma diferenciada entre as diversas populações. Nos países
centrais (desenvolvidos), de industrialização antiga, o crescimento e a expansão das cidades ocor-
reram de forma mais lenta, o que facilitou o planejamento e a estruturação dos centros urbanos
(o que não significa dizer que não existam problemas socioambientais nos países do centro). Já
nos países periféricos (subdesenvolvidos), de industrialização recente ou tardia), observa-se uma
explosão do urbano em curto espaço de tempo, favorecendo um crescimento desordenado e
marginal (o que não significa dizer que não existam potencialidades urbanas nos países da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


342 Camila Esmeraldo Bezerra; Fábio Soares Guerra; Ana Carla Oliveira de Barros; Edson Vicente da Silva

periferia). Dessa forma, é possível verificar que o crescimento urbano ocorreu de maneira hete-
rogênea (com implicações de toda ordem) pelo espaço geográfico (CARLOS, 2004).
A urbanização e a industrialização são processos que andam de mãos dadas, sendo uma
propiciadora das condições de existência da outra, e vice-versa. Tal quadro intensifica-se após
o Século XVIII com a ocorrência da Revolução Industrial, que primeiro se concentra na Europa
e posteriormente se espalha pelo globo (SPOSITO, 2002). Tanto a ampliação das cidades, bem
como o desenvolvimento da atividade industrial, traz em seu bojo impactos socioambientais
significativos que condicionam o modo de viver e sentir o urbano (SANTOS, 2008).
O texto em aferimento discute os impactos ambientais sobre os recursos hídricos advin-
dos da urbanização. Nesse ínterim, a gestão e o manejo do lixo urbano são de suma importân-
cia (SILVA, 2013). Infelizmente, ainda se observa em muitas cidades, principalmente em países
subdesenvolvidos e nos emergentes, o descarte inadequado do lixo em grandes áreas a céu
aberto, os chamados lixões. Neles a decomposição da matéria orgânica, juntamente com os
efluentes e outros contaminantes, atrelados à água das chuvas, produzem um líquido poluente
chamado chorume que percola o solo podendo atingir o lençol freático. Quando não direcio-
nados aos lixões, os resíduos são despejados em cursos d’água, como lagos e rios, comprome-
tendo a disponibilidade de água potável e os recursos pesqueiros, acarretando sérios problemas
econômicos e de saúde pública.
Todavia, como os sistemas ambientais estão interconectados, o que se observa nos
demais componentes geoambientais é um efeito negativo em cascata. Por exemplo, o descarte
incorreto do lixo sobre os recursos hídricos superficiais dificulta a evaporação. Por conseguinte,
a taxa de umidade relativa do ar diminui facilitando a formação de ilhas de calor, que resultam,
por sua vez, em desconforto térmico que pode agravar comorbidades, tais como: hipertensão,
pneumonia, estresse, ansiedade, entre outros.
Outro problema verificado pela expansão do processo de urbanização é a supressão da
cobertura vegetal, para instalação de equipamentos, implementação de ruas e avenidas, alo-
cação dos espaços da produção e do consumo, construção de moradias etc. Com a redução de
áreas verdes nos espaços urbanos, os rios, córregos e galerias pluviais ficam desprotegidos do
assoreamento, o que favorece o transbordamento dos corpos hídricos durante o período chu-
voso. O referido cenário, por certo, comprometerá a segurança e a saúde da população, além
de destruir as infraestruturas instaladas trazendo danos sociais e econômicos ao entorno
(GOMES; SOARES, 2003).
A impermeabilização do solo urbano, pelo concreto e pelo asfalto, resultará no escoa-
mento superficial das águas pluviais, uma vez que o processo de infiltração será dificultado ou
interrompido. Desta feita, a água da chuva, que deveria realimentar o lençol freático e os recur-
sos hídricos superficiais, provocará enchentes causando desequilíbrio socioambiental no
espaço urbano. Sem embargo, o ciclo hidrológico do espaço da cidade será alterado com con-
sequências para o microclima urbano.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 343

Como exemplo concreto dos impactos ambientais sobre os recursos hídricos advindos do
processo de urbanização, pode-se citar o caso do rio Granjeiro, localizado no município do Crato,
sul do estado do Ceará. O rio Granjeiro é parte integrante da sub-bacia hidrográfica do rio Salgado,
sendo uma afluente do rio Jaguaribe (COGERH, 1999). Com o crescimento e a expansão da cidade
do Crato, o rio Granjeiro passou a ter alterações significativas, a saber: redução de suas margens,
modificações nos parâmetros morfométricos, canalização do leito fluvial, transbordamentos,
poluição hídrica, entre outros. A maior parte dos problemas verificados ocorre em função do uso
e ocupação irregulares em função do crescimento da cidade. O estudo apresentado a seguir ser-
virá como fomento à reflexão e como parâmetro para estudos correlatos.
De acordo com Neto, et al, (2008), é possível constatar problemas ambientais expressi-
vos ao longo da microbacia hidrográfica do referido rio. Os autores supracitados constataram
que próximo a encosta da Chapada do Araripe (local da nascente do rio) observa-se a ocupação
irregular em área de preservação permanente. Na análise ambiental realizada, os pesquisado-
res constataram que o desmatamento nas encostas da Chapada do Araripe e a remoção da
cobertura vegetal ao longo da sub-bacia contribuíram para o deslizamento e assoreamento
dos corpos hídricos, o que altera a vazão do rio principal. Foi constatado também que a imper-
meabilização das áreas de interflúvios e da planície de inundação do rio Granjeiro aumenta o
escoamento superficial, visto que a infiltração hídrica fica comprometida, quadro este que
agrava os transbordamentos e as inundações durante o período chuvoso. Além disso, foi veri-
ficado que ocorre o lançamento de esgoto e de resíduos sólidos dentro do canal, que contribui
para a contaminação das águas, poluição visual e a formação de voçorocas. Os impactos veri-
ficados no rio Granjeiro podem ser sintetizados segundo a figura 1.
Neto, et al, (2008), apontam como causas da problemática ambiental averiguada no rio
Granjeiro as seguintes: incompatibilidade entre o plano diretor municipal com a hidrologia e os
aspectos hidráulicos da microbacia; crescente urbanização, falta de planejamento e ordena-
mento do uso e ocupação do solo urbano; obras de drenagem incapazes de conter os picos de
vazão extraordinária; falhas na gestão pública; falta de compromisso por parte da população;
falta de investimento público, de controle e fiscalização de obras irregulares e áreas indevida-
mente ocupadas.
Em função do que foi discutido até aqui, fica claro que o processo de urbanização quando
ocorre sem o devido planejamento torna-se fator de comprometimento dos recursos hídricos
e ambientais como um todo. É preciso planejar e gerir os recursos hídricos urbanos tendo em
vista as diretrizes do desenvolvimento sustentável, de modo a compatibilizar a expansão das
cidades com as bacias hidrográficas urbanas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


344 Camila Esmeraldo Bezerra; Fábio Soares Guerra; Ana Carla Oliveira de Barros; Edson Vicente da Silva

Figura 1 – Ocupação irregular nas áreas de preservação permanente (a),


impermeabilização dos interflúvios devido à urbanização crescente (b), rio Granjeiro
contido num canal de concreto estreito (c) e quadra chuvosa trágica (d)

Fonte: Neto, et al, (2008, p. 368).

3.2 Drenagem Urbana: Alternativas, Possibilidades e Perspectivas


De acordo com o Manual de Saneamento da Funasa (2019), a definição de drenagem urbana
representa um conjunto de serviços ou atividades, infraestrutura e instalações operacionais de
transporte, detenção ou retenção para minimizar os problemas de águas pluviais em áreas urbanas,
proporcionando tratamento de captação e disposição final das águas advindas de chuvas.
A drenagem urbana é dividida em dois tipos, segundo o Plano Diretor de Drenagem de
Curitiba (2002): drenagem urbana preventiva e drenagem corretiva. A drenagem urbana pre-
ventiva caracteriza-se sobre a situação de implementação de projeto urbanístico ser desenvol-
vido juntamente com a planificação de gestão de águas pluviais. Assim, a planificação visa um
conjunto de princípios que devem dar prioridade maior à avaliação de cada impacto e alterna-
tiva referente à drenagem, como: evitar a modificação ao máximo da drenagem natural, a con-
servação de faixas vegetadas ribeirinhas e a minimização das superfícies impermeáveis. Já a
drenagem urbana corretiva se apresenta como medida de controle corretivo a partir de solu-
ções técnicas modernas de projetos de drenagem urbana.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 345

Existem medidas de controle de inundações para a drenagem urbana que se configuram


a partir de medidas estruturais e não estruturais. O plano diretor de drenagem urbana é um
fator importante na construção dessas medidas, pois a partir dele é que ocorrerá a execução
da gestão da drenagem, com o intuito de controle do escoamento superficial.
A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 “[...] denominada Estatuto da Cidade, estabelece
normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol
do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambien-
tal” (BRASIL, 2001).
“Art. 4ª; II – planejamento municipal, em especial:

III– Plano diretor;

IV – Medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e à mitigação de impac-


tos de desastres. (BRASIL, 2001)”

Segundo o Manual de Saneamento da Funasa (2019), medidas estruturais são encarrega-


das pelo direcionamento e fiscalização do fluxo das águas pluviais, com a inserção de obras que
mudam o sistema natural transformando em retenção ou detenção do escoamento. Entre
essas obras estão a construção de reservatórios, diques, canalizações abertas e fechadas. As
não estruturais têm condição legal e institucional, com o intuito de ensinar a reduzir os proces-
sos de urbanização sobre o regime hídrico das bacias hidrográficas. Esta medida tenta ao
máximo não alterar a morfologia da bacia, promovendo a redução de impactos através de cri-
térios e conceitos para a redução do risco hidrológico e interposição devido às ações antrópi-
cas. As medidas não estruturais não focam somente nos problemas devido às enchentes, mas
refletem sobre o uso racional do espaço urbano, bem-estar, qualidade de vida, estéticas e prá-
ticas de utilização do meio ambiente urbano.
Devido aos diversos problemas existentes referentes aos impactos da urbanização sobre
o meio ambiente, esses impactos podem e devem ser minimizados através das tecnologias de
drenagem urbana, quando ocorre um manejo das águas pluviais corretamente o resultado é
satisfatório. Pode-se destacar: a redução do custo de manutenção das vias, estruturas, facili-
dade de tráfego de pessoas e veículos, benefício ao meio ambiente, dentre outros. Esses resul-
tados podem ser obtidos através de algumas tecnologias de drenagem (sustentável), já
utilizadas em diversas cidades e metrópoles, que são: trincheiras de infiltração, bacias de infil-
tração, valas ou valetas de infiltração.
Segundo Silva (2018), trincheiras de infiltração é uma técnica linear de sistema de infiltra-
ção de fácil implementação e adaptação ao ambiente, com dimensão superior à largura e à
profundidade, são traçadas a partir de superfícies impermeáveis com o intuito de armazenar as
águas superficiais. As trincheiras caracterizam-se como escavações rasas e preenchidas com
pedras com a intenção de armazenamento facilitando a infiltração das águas; podem ainda
serem implantadas em áreas verdes, estacionamentos, canteiros centrais de avenidas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


346 Camila Esmeraldo Bezerra; Fábio Soares Guerra; Ana Carla Oliveira de Barros; Edson Vicente da Silva

De acordo com o Instituto de Pesquisa Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande


do Sul – UFRGS e Departamento de Esgotos Pluviais de Porto Alegre (2005), bacias de infiltra-
ção são áreas de terrenos contornados em seu entorno por taludes que retêm e filtram as
águas da chuva através da base e seus lados. A adoção dessa tecnologia é de caráter emergen-
cial, pois a primeira vez que o volume for retido é exclusivamente liberado por infiltração.
Assim, recomenda-se primeiramente verificar a permeabilidade do solo e o nível do lençol
freático, com áreas de até vinte hectares (SILVA, 2018).
Segundo o Manual de Desenho Urbano e Obras Viária de São Paulo (2021), a instalação
de valas e valetas de infiltração são técnicas compensatórias lineares que captam e armazenam
águas pluviais, favorecendo ou não a infiltração da água da chuva no solo. Caracterizam-se
como uma pequena depressão escavada no solo e são aplicadas ao longo do sistema viário e
solos permeáveis.
O manejo das águas pluviais através dos sistemas de drenagem urbana sem dúvida é uma
solução para minimizar os alagamentos e enchentes, pois com o passar do tempo o processo
de urbanização, com a busca por uma maior eficácia para atividades e locomoções, provocou
a impermeabilização de áreas, resultando em impactos significativos na população e no meio
ambiente, prejudicando a qualidade de vida das pessoas, mais e maiores inundações, redução
da qualidade da água e aumento dos resíduos sólidos no escoamento pluvial, dentre outros. O
planejamento da drenagem urbana de bacias hidrográficas urbanas é de suma importância
pois através do delineamento de medidas, sejam estruturais ou não estruturais, com caráter
preventivo e corretivo, implicam em uma melhor administração das águas pluviais.

3.3 Tratamento de Efluentes e Gestão de Resíduos Sólidos


Um dos componentes do Saneamento é o tratamento dos efluentes. Existe a necessi-
dade de tratar tantos os de origem doméstica, quanto industrial antes de serem lançados nos
corpos hídricos. Sem essa intervenção o efluente despejará substâncias que acarretam em
poluição dos rios. Dessa forma, são necessárias estações de tratamento de esgotos nos muni-
cípios e/ou indústrias, soluções individuais, o uso de tecnologias de tratamento de efluentes e
atendimento das legislações pertinentes.
Apesar dessa necessidade, o saneamento enfrenta ainda muitas dificuldades ao longo do
tempo, devido alguns fatores como a falta de planejamento apropriado, pouco investimento,
deficiência na gestão das companhias de saneamento, pouca qualidade técnica dos projetos,
empecilhos na captação de recursos financeiros e licenças para execução de obras (CARNEIRO
et al., 2018).
O aumento da expansão urbana, principalmente com o início da Revolução Industrial
alterou o processo de produção e demanda por produtos, em um nível elevado e sem o desen-
volvimento de uma gestão adequada dos recursos naturais. O resultado disso foi a poluição e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 347

degradação dos rios, canalização do seu leito, despejo de esgotos in natura nos rios, alarga-
mento das cidades e a propagação de vetores de doenças (GOUVEIA; SELVA; CABRAL, 2021).
Além da poluição e contaminação hídrica causadas aos mananciais provenientes do uso
urbano, existem outros não menos preocupantes que devem ser tratados. São os efluentes indus-
triais, que Santos et al. (2015) destacam como problemas acarretados por lançamentos de
poluentes e captações, os quais alteram a qualidade dos mananciais. Destacam ainda, no uso
rural, a irrigação que contribui através do carreamento de sedimentos, a erosão de encostas e o
assoreamento dos cursos d’água, influenciando no estado da bacia e dos recursos hídricos.
Diante do exposto, o tratamento de efluente se mostra como procedimento essencial e
urgente, para qualidade de vida da população e ambiental. As variáveis saúde, saneamento e
meio ambiente estão intrinsecamente ligadas, de forma que o esgoto se configura como um dos
resíduos agentes da poluição, devendo ser controlado pelo saneamento a fim de evitar ou ate-
nuar os efeitos nocivos à saúde, o ambiente e desenvolvimento econômico e social. Dessa forma,
é essencial as precauções no afastamento assegurado no tratamento e na disposição final dos
esgotos, os quais envolvem aspectos sanitários, econômicos e ambientais (BRASIL, 2019).
Conforme abordado anteriormente, o tratamento dos efluentes domésticos e/ou indus-
triais são inerentes, para manter a qualidade da água das bacias hidrográficas. No entanto,
existe outro componente do saneamento também muito importante, que requer atenção e o
desempenho da gestão pública e sociedade como um todo, tendo em vista que, caso não seja
gerida de forma correta, causa impactos negativos à saúde e ao meio ambiente, que são os
resíduos sólidos.
Soluções para a problemática acarretada pelos resíduos sólidos estão presentes no seu
manejo e destinação final adequada. As atividades antrópicas geram consequências negativas,
as quais se refletem nos meios físicos, biológicos e socioeconômicos. Essas consequências são
perceptíveis nas águas, no ar, no solo e até mesmo nas ações antrópicas. A disposição final de
resíduos sólidos sem prévio tratamento, tem contribuído para vários desses impactos. O
correto manejo dos resíduos sólidos exige extrema responsabilidade, durante todo o processo
da produção à destinação final, o que requer a cooperação da população em todas essas eta-
pas (BRASIL, 2019).
Como alternativa têm-se a destinação dos rejeitos para o aterro sanitário, a coleta sele-
tiva nos municípios e a reciclagem. Desse modo, evita-se que os resíduos sejam direcionados a
rios e mares, tendo como consequência a poluição e causem outros transtornos como o entu-
pimento dos bueiros, que vão prejudicar a drenagem urbana.
Outro grande problema enfrentado na atualidade é a presença de plásticos nos mares,
que são o destino final de grande parte das bacias hidrográficas urbanas, gerando perturbação
aos ecossistemas marinhos e até a morte dos animais aquáticos. Para se ter uma ideia da mag-
nitude desse impasse, o site do periódico Galileu (2020), divulgou uma pesquisa realizada pela
a Agência Científica Australiana CSIRO’s Oceans and Atmosphere, a respeito de uma estimativa

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


348 Camila Esmeraldo Bezerra; Fábio Soares Guerra; Ana Carla Oliveira de Barros; Edson Vicente da Silva

universal do volume de plásticos presentes no fundo do oceano e o resultado foi de no mínimo


14 milhões de toneladas. Esse estudo mostra a urgência por ações, que busquem combater
esse sério problema ambiental, que é a poluição por plásticos nos oceanos.
Esse contexto, reforça a reciclagem como uma das alternativas para evitar esses proble-
mas de poluição dos recursos hídricos. Para Pereira, Curo e Alves (2013), a reciclagem é a opção
que mais agrada a população, devido principalmente aos benefícios ambientais. Os principais
ganhos ambientais da reciclagem dos materiais presentes no “lixo” (plásticos, papel, metal e
vidro) são: contensão de custos com matérias-primas não renováveis, economia de energia nos
sistemas produtivos e ampliação do tempo de operação dos aterros sanitários.
Diante da importância de manter a água com qualidade e quantidade adequadas, aliado
aos impactos causados pelas atividades antrópicas, as quais geram detritos passíveis de polui-
ção hídrica, como os efluentes e os resíduos sólidos, o saneamento é fundamental para garan-
tir a promoção da saúde e manter o equilíbrio ambiental e a segurança hídrica.
Com isso, percebe-se que é preciso organizar as atividades, com o intuito de articular
estratégias de controle da poluição da água, é essencial examinar a bacia hidrográfica em sua
totalidade, para que as atividades sejam desempenhadas de forma mais eficiente (BRASIL,
2004). Visando, dessa forma, a escolha das melhores técnicas, tecnologias e contribuição da
população a fim de garantir a integridade dos corpos hídricos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste artigo observou-se que o saneamento básico é um fator importante
para o planejamento de bacias hidrográficas urbanas. Quando se fala de planejamento ambien-
tal é possível argumentar que os impactos ambientais nos recursos hídricos devido à urbaniza-
ção prejudicam não só as águas superficiais e subterrâneas, mas também todo o meio ambiente,
desta forma, o saneamento através do desenvolvimento sustentável é fundamental.
Essa pesquisa explorou diversas soluções acerca do saneamento básico, como um cola-
borador da gestão ambiental para a conservação dos recursos hídricos, apontando: a gestão e
manejo do resíduo urbano para o seu descarte correto; a implantação de técnicas de drena-
gem para combater inundações nas cidades devido à impermeabilização do solo; o tratamento
dos efluentes domésticos e industriais por estações de tratamento de esgotos para não poluir
rios, propiciando a qualidade de vida da população e a qualidade das bacias hidrográficas.
A metodologia de pesquisa qualitativa/indutiva foi útil para investigar as discussões
sobre o saneamento básico, pois através da revisão bibliográfica obtém-se uma percepção e
abrangência maior sobre a temática, que foi fundamental para a construção deste artigo.
Esse estudo procurou trazer uma discussão prévia da necessidade do saneamento básico
como ferramenta essencial para o planejamento ambiental de bacias hidrográficas urbanas,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 349

causando assim uma reflexão sobre o desenvolvimento sustentável sob uma visão do urbano
e do meio ambiente.
Sugere-se que estudos posteriores possam se interessar por essa temática, introduzindo
o saneamento básico como elemento fundamental para um planejamento sustentável refe-
rente às melhores condições dos recursos hídricos em bacias hidrográficas perante os proces-
sos de urbanização.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


29.
SISTEMA DE DRENAGEM URBANA
Estudo de caso na bacia hidrográfica do rio Pirangi-RN

ESTEVAM EWERTH DE LIMA BEZERRA1


DIEGO HENRIQUE ANADÃO CAVALCANTE2
BRUNO CLAYTTON OLIVEIRA DA SILVA3

Resumo: A drenagem urbana tem como objetivo canalizar as águas pluviais para evitar danos cau-
sados, por exemplo, por cheias, alagamentos, enxurradas ou inundações. Dessa forma, a pesquisa
teve como objetivo analisar os impactos produzidos pela configuração da atual rede de drenagem
da Av. Dr. Luiz Antônio, bairro de Boa Esperança, Parnamirim-RN. Para isso, realizou-se uma pes-
quisa bibliográfica e documental, além de levantamentos de campo e aplicação de inquéritos
junto aos residentes do local. De posse dos dados e informações levantadas, entendeu-se que os
problemas gerados pela deficitária drenagem urbana local podem ser solucionados através de
ações públicas relacionadas à implementação de soluções técnicas adequadas à realidade e a des-
tinação de recursos financeiros devidos para tal, de modo a fazer cumprir os critérios amparados
legal e tecnicamente com vistas à resolução da problemática em tela.
Palavras-chaves: Impactos Ambientais; Alagamento; Percepção Ambiental.
Abstract: Urban drainage aims to channel rainwater to prevent damage caused, for example, by
flooding, overflows, mudslides, or flooding. Thus, the research aimed to analyze the impacts pro-
duced by the configuration of the current drainage network of Av. Dr. Luiz Antônio, Boa Esperança
neighborhood, Parnamirim-RN. To this end, a bibliographic and documental research was carried
out, in addition to field surveys and the application of surveys to local residents. With the data and
information collected, it was understood that the problems generated by the deficient local urban
drainage can be solved through public actions related to the implementation of technical solutions
appropriate to the reality and the allocation of financial resources due for such, in order to enforce
the legally and technically supported criteria with a view to solving the problem at hand.
Keywords: Environmental Impacts; Flooding; Environmental Perception.

1 Graduado do curso de Engenharia Ambiental. UNINASSAU/RN. E-mail: estevam_ewerth@hotmail.com


2 Graduado do curso de Engenharia Ambiental da UNINASSAU/RN. E-mail: ddiegoanadao@gmail.com
3 Docente da UNINASSAU/RN. E-mail: brunoclaytton@yahoo.com.br

[ 351 ]
352 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva

1 INTRODUÇÃO
Orzenn (2016) discute que a necessidade de um planejamento urbano relacionado, princi-
palmente, à drenagem urbana, somadas às alterações que o meio sofre em decorrência do uso
inadequado do solo, constituem ingredientes favoráveis à geração de problemas urbanos, muitas
vezes, de difíceis soluções e que, assim, que requerem medidas estruturais (obras) onerosas.
Ao mesmo tempo, Peixoto (2005) relata que a concentração da população brasileira nas
áreas urbanas, aliada às restrições econômicas que atingem a sociedade e às limitações das
administrações públicas em relação ao planejamento e ao controle do uso e ocupação do solo,
reforçam o caráter informal e aparentemente anárquico da urbanização brasileira.
Por conseguinte, seja em âmbito global ou nacional, a sociedade contemporânea tem
sofrido diversos impactos negativos gerados pelo crescimento urbano desordenado, dentre
eles as questões que envolvem a drenagem urbana.
No país, devido ao grande crescimento urbano houve o aumento da área impermeabili-
zada das bacias hidrográficas das cidades, predispondo-as, frequentemente, a eventos como
enchentes, inundações, alagamentos e/ou enxurradas, com ocorrência registrada, sobretudo,
durante os períodos chuvosos (ORZENN, 2016).
A impermeabilização do solo é a perda ou retirada de sua capacidade de absorver a água.
Isso acontece quando uma determinada região com vegetação natural dá lugar a construção
edificações diversas. Notadamente, embora essas tenham o objetivo de melhorar a qualidade
de vida da população local, caso elas não sejam bem planejadas podem ocasionar prejuízos
coletivos/sociais (PEIXOTO, 2005).
Por outro lado, com o intuito de controlar as inundações, os alagamentos e as enxurra-
das, os órgãos públicos responsáveis empregam, frequentemente, como solução técnica a
construção de lagoas de captação em locais estratégicos (TEIXEIRA, 2014).
Especificamente quanto a solução citada, o que tem se observado é, invariavelmente, a
ausência de manutenção (ou a sua realização de forma ineficiente) deste equipamento; que,
assim, tende a gerar uma série de impactos negativos à comunidade residente em seu entorno.
Deste modo, a presente pesquisa teve como objetivo analisar os impactos produzidos pela
configuração da atual rede de drenagem da Av. Dr. Luiz Antônio, bairro Centro, Parnamirim-RN.

2 DRENAGEM URBANA: UM BREVE CONCEITO


Neto (2005) relata que o termo drenagem indica a ação de escoamento das águas prove-
nientes de precipitações cujo curso natural é em direção às cotas mais baixas, podendo ser
alterado com a ajuda de bombas. Para tanto, seria ideal traçar o menor caminho entre a cap-
tação dessas águas e o seu destino final, favorecendo sempre o escoamento por gravidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SISTEMA DE DRENAGEM URBANA 353

Já de acordo com Teixeira (2014) a drenagem urbana tem como objetivo canalizar as águas
pluviais para evitar danos e enchentes. Para isso, em termos de planejamento e gestão ambiental
urbana, faz-se necessário que ela esteja articulada ao plano nacional de saneamento básico.
Tal plano figura como o instrumento regulador e constitui as estratégias que orientam
para: a identificação das áreas que serão preservadas (ou não), o estudo da bacia hidrográfica
de contribuição, a delimitação da várzea de inundação e a determinação dos períodos de
retorno; além de ser um referencial técnico e estratégico em âmbito, inclusive, municipal.
Em termos gerais, pode-se entender que a drenagem tem como objetivo escoar as águas
de terrenos encharcados, através de tubos, túneis, canais, valas e fossos, sendo factível recor-
rer a motores como auxílio ao escoamento.
Destaca-se que os mencionados canais podem ser naturais, como rios e córregos, ou
artificiais, como os de concreto armado ou simples ou até mesmo de gabiões.
Segundo Cardoso Neto (2014), os problemas gerados pela drenagem urbana podem ser
solucionados através de uma política factível de drenagem urbana, que determine a ocupação
de várzeas de inundação, recursos financeiros e soluções técnicas, além da seleção de uma
empresa qualificada e idônea para a execução da obra, além do emprego de instrumentos de
conscientização coletiva para a valorização sanitária e da natureza.
Ainda nesse contexto, outro aspecto importante a ser destacado é o papel da microdre-
nagem, que contribui para condução do deflúvio, à montante da bacia hidrográfica, até os
bueiros por meio das sarjetas. Por conseguinte, se os vários sistemas de microdrenagem dire-
cionam toda a água para um ponto, os de macrodrenagem têm como função conduzir todo o
escoamento para a jusante, que são os rios ou córregos (TEIXEIRA, 2014).
De acordo com Champs (2009), para o bom funcionamento de um sistema de drenagem
urbana é necessário saber se ele funcionará como um sistema auxiliar à drenagem natural e
terá seu funcionamento não contínuo, pois pode variar conforme a frequência de precipita-
ções. Logo, esse sistema deve ser dividido em micro e macrodrenagem, cujo produto a ser dre-
nado será formado por água e por sólidos a serem escoados em canais naturais (vazões de base
e vazões de cheia).
Deve-se ressaltar que todos esses elementos devem estar interligados e em bom funcio-
namento, evitando, assim, o risco de ocorrer falha no sistema de drenagem. Além desses ins-
trumentos, as características das bacias hidrográficas possuem papel primordial no processo
de drenagem.
Ademais, o sistema de drenagem é composto por dois tipos de intervenções ou medidas
complementares no ambiente: as estruturais e as não estruturais.
As estruturais seriam as chamadas obras hidráulicas necessárias para um bom escoa-
mento das águas pluviais. Já as não estruturais correspondem as propostas com objetivos de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


354 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva

minimizar os efeitos causados pelas águas pluviais, não implicando em grandes obras de enge-
nharia (PHILIPPI JR et al., 2005).
Para Almeida (2014) e Costa (2014) o gerenciamento dos sistemas de drenagem têm
como objetivos: a redução ao máximo dos prejuízos causados por possíveis alagamentos, orien-
tando a população quanto aos fatores que geram os problemas hidrológicos; a criação de cen-
tros de previsão e sistemas de informações de tempo; e o estabelecimento de programas de
prevenção, mapeamento de locais críticos e treinamento da população residente, principal-
mente, em lugares onde há significativo risco de ocorrência de evento adverso.
Todos esses aspectos políticos, de infraestrutura e de instalações operacionais, segundo
Almeida (2014, p.68), garantem:
Um adequado sistema de drenagem urbana proporcionará uma série de benefícios
às cidades como: desenvolvimento do sistema viário, redução de gastos com manu-
tenção das vias públicas, redução no gasto com doenças de vinculação hídrica,
escoamento rápido das águas superficiais, reduzindo os problemas do trânsito e da
mobilidade urbana por ocasião das precipitações, eliminação da presença de águas
estagnadas e lamaçais, recuperação de áreas alagadas ou alagáveis, proporcionando
sensação de segurança e conforto para a população.

Complementando os aspectos mencionados, Tucci (2003) relata que para implantar medi-
das sustentáveis na cidade faz-se necessário articular o Plano Diretor de Drenagem Urbana e o
Plano Diretor em termos gerais, que devem se basear nos seguintes princípios: 1. O planejamento
e o sistema de controle dos impactos existentes devem ser elaborados considerando a bacia
como um todo; 2. Os novos desenvolvimentos não podem elevar a vazão máxima de jusante; 3.
O planejamento deve ser integrado ao Plano Diretor da cidade; 4. O controle dos efluentes deve
ser avaliado de forma integrada com o esgotamento sanitário e os resíduos sólidos.
Finalmente, ressalta-se que o Plano Diretor deve ser desenvolvido utilizando medidas
não estruturais (principalmente a legislação) para os novos desenvolvimentos (loteamentos e
lotes) e medidas estruturais por sub-bacia urbana da cidade.

3 RESÍDUOS SÓLIDOS E DRENAGEM URBANA


A gestão de resíduos sólidos, de acordo com o artigo 11 da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), dispõe de um conjunto de ações que têm como objetivo a busca por soluções
para esse tipo de resíduo, levando em conta as dimensões ambientais, culturais, políticas, eco-
nômicas e sociais (BRASIL, 2010).
De acordo com a lei federal 12.305 de 2010, a qual institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, resíduo sólido é todo:
“[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades huma-
nas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, no estado sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SISTEMA DE DRENAGEM URBANA 355

rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas
ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”.

Não obstante, os resíduos podem ser produzidos nos estados sólido ou semissólido,
sendo originários de atividades industriais, domésticas, hospitalares, comerciais, agrícolas, de
serviços e de varrição. Além disso, ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos
sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle
à poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lan-
çamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas
e economicamente inviáveis em face de melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004).
Gazineu et al. (2007) alertam que os resíduos sólidos são considerados perigosos quanto
às suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas. Assim, o inadequado gerencia-
mento desses pode causar um grande impacto a saúde ambiental e humana, pois o processo
físico-químico de decomposição dos resíduos orgânicos, se não controlado de forma correta,
poderá produzir líquidos percolados (chorume), em sua maioria rica em metais pesados – como
o chumbo, níquel, cádmio... – que contaminam os veios hídricos e cursos d’água quando infil-
trados no solo.
A lei federal 12.305 de 2010, que institui a PNRS, vem estabelecer os princípios, objetivos
e instrumentos, bem como as diretrizes relativas à gestão integrada, o gerenciamento dos resí-
duos sólidos, as responsabilidades dos geradores e do poder público e os instrumentos econô-
micos aplicáveis. Ademais, a lei visa desenvolver, além da mudança comportamental da
sociedade, o engajamento do poder público frente a questão (RODRIGUES, 2015).
Por fim, a PNRS, além do mencionado, estabelece as metas e delega responsabilidades
aos geradores de resíduos sólidos, ao poder público e aos demais instrumentos econômicos
passíveis de geração de resíduos (BRASIL, 2010).

4 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está situada na bacia hidrográfica do Pirangi, que possui uma área de
458,90 km² e corresponde a cerca de 0,9% do território estadual.
Outro ponto primordial para entendimento do estudo de caso é a composição do solo,
que segundo o Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande Norte (IGARN, 2021), possui as
seguintes tipologias:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


356 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva

Quadro 1 – Tipos de Solo Bacia Pirangi

Área
Classes de Solos
Km2 %
Latossolo Amarelo Distrófico 235,3 51,2
Podzólico Vermelho-Amarelo
94,6 20,6
Eutrófico
Areias Quartzosas Marinhas
72,8 15,9
Distróficas
Solos Aluviais Eutróficos 32,5 7,1
Areias Quartzosas Distróficas 11,9 2,6
Lagoas/Açudes 11,8 2,6
Total 458,9 100,0
Fonte: Bacia Pirangi – IGARN (2021).

A seguir, na figura 1, é apresentada a localização da bacia do Pirangi:

Figura 1 – Bacia Hidrográfica – Pirangi

Fonte: SEMARH-RN.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SISTEMA DE DRENAGEM URBANA 357

Logo abaixo, na figura 2, expomos a localização da lagoa de captação Aderbal Antônio


Pontes, Parnamirim/RN:

Figura 2 – Localização da lagoa

Fonte: Google Earth

Vale destacar que a lagoa de captação Aderbal Antônio Pontes, localizada na avenida Dr.
Luiz Antônio, bairro Boa Esperança, Parnamirim/RN, foi projetada e construída no ano de 2001.

5 METODOLOGIA
De antemão, destaca-se que parte substancial da pesquisa foi realizada in loco na lagoa
de captação Aderbal Antônio Pontes, localizada na Avenida Doutor Luiz Antônio, no bairro de
Boa Esperança, na cidade de Parnamirim/RN.
Foram realizadas visitas técnicas no perímetro que abrange a lagoa, bem como em seu
entorno, nos meses de junho e julho de 2020, onde foram levantados dados de campo e entre-
vistados os moradores da área.
Notadamente, quanto ao processo de coleta de dados a partir dos inquéritos, destaca-se
que esses foram obtidos a partir de entrevistas realizadas junto aos 28 residentes da área.
De posse dos dados, esses foram analisados com vistas ao levantamento de informações
sobre os principais problemas socioambientais concernentes a atual realidade da drenagem
local e das condições de manutenção e uso da lagoa de captação Aderbal Antônio Pontes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


358 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção discute-se a respeito dos impactos negativos causados pela ineficiente dre-
nagem da Av. Dr. Luiz Antônio, bairro Centro, Parnamirim-RN.
A seguir, no quadro 2, são apresentados os questionamentos realizados junto aos entre-
vistados e os resultados obtidos:

Quadro 2 – Resultado dos Questionários

Resultados da entrevista aplicada


Questionamentos
junto população da área
14% dos entrevistados residem no local há 10 anos
Há quanto tempo reside no local? ou menos; 16% deles entre 11 e 20 anos; 30% entre
21 e 30 anos; e 40% a mais de 30 anos.
Há registro de roedores e insetos durante o período
92% responderam que sim e 8% que não.
chuvoso?
Há registro de doenças (de veiculação hídrica) 38% responderam que contraíram algum tipo de
relacionadas os alagamentos? doença.
Em qual(quais) momento(s) ocorre(m) a(s) 86% responderam que acontecem quando chuvas
alagamentos? rápidas com muito volume ocorrem.
Com as enchentes os moradores tiveram prejuízo
25% responderam que sim e 75% que não.
financeiro?
Houve necessidade de alteração da estrutura da
residência para combater consequências dos 87% responderam que sim e 13% que não.
alagamentos?
Quando ocorrem os alagamentos, algum órgão dá 12% responderam que os bombeiros, 15% a defesa
suporte aos moradores? Se sim, qual/quais? civil, 65% a prefeitura e 8% outros.
Algum projeto foi apresentado aos moradores para 8% responderam que existe um projeto de drena-
a solução da problemática? gem e 92% responderam que não existe.
84% responderam que tiveram acompanhamento
Para o caso de acometimento por doença, onde os
em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e 16% não
enfermos tratam-se?
responderam.
35% responderam que não; 55% responderam que
Há expectativa de que o problema seja resolvido? talvez em gestões futuras e 10% responderam que
somente em gestões futuras.
Fonte: autoria.

A seguir, nas figuras 2, é mostrada a estrutura atual da lagoa de captação Aderbal Antônio
Pontes:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SISTEMA DE DRENAGEM URBANA 359

Figura 2 – Estrutura da Lagoa

Fonte: Galeria do autor

Como pode ser observado, nota-se a presença de vegetação e significativa presença de


processos erosivos nos taludes da lagoa.
Abaixo, expomos a bomba utilizada na lagoa de captação Aderbal Antônio Pontes:

Figura 3 – Funcionamento da Bomba

Fonte: Galeria do autor.

Além das más condições da bomba acima exposta, outro agravamento observado é que
na lagoa não há um gerador para garantir o seu funcionamento na condição de interrupção do
fornecimento de energia elétrica pela concessionária local.
Até o final de 2019, de acordo com as informações de uma fonte entrevistada, a cidade
de Parnamirim-RN contava com apenas um gerador portátil e com duas bombas à diesel para

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


360 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva

atender as 17 lagoas de captação que possui. Deste modo, diante da falta de energia elétrica
na cidade, a preferência quanto ao uso do equipamento se dá por ordem de solicitação.
Abaixo, na figura 4, mostramos os alagamentos verificados nas imediações da lagoa:

Figura 4 – Alagamentos

Fonte: Galeria do autor.

A partir da figura acima pode-se notar, além das áreas alagadas, as adaptações improvi-
sadas construídas pelos moradores com vistas a não invasão das águas para o interior de suas
residências. Por fim, um outro problema identificado foi a inadequação, quanto ao dimensio-
namento, da manilha empregada no local; como ilustra a figura 5:

Figura 5 – Manilha

Fonte: galeria do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SISTEMA DE DRENAGEM URBANA 361

Uma sugestão técnica para tal é a implantação de manilhas com diâmetros suficientes
que possam, assim, receber o volume de água precipitada e disponível na superfície, fazendo
com que elas possam cumprir o seu papel no que tange a mitigação da concentração de água
no local e seu deslocamento para o afluente mais próximo.
Finalmente, indica-se também que o equipamento (manilha) possa ser acoplado a uma
peça em formato de “ípsilon” (Y). Tal medida possibilitará que duas bombas – com a potência
devida – possam trabalhar de forma síncrona, reduzindo o tempo para remoção da água do
local alagado e minimizando, assim, os seus impactos negativos provenientes.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa demonstrou a importância da drenagem urbana, onde se pôde perceber
diversos impactos negativos à população de uma dada área quando de sua inexistência pre-
sença de forma ineficiente.
Como destacado, especificamente em relação as lagoas de captação, existem diversas medi-
das/soluções para resolução/mitigação dos problemas aqui identificados, entre eles a: 1. Limpeza/
manutenção da área interna e externa da lagoa; 2. Disponibilização constante, durante o período
chuvoso, de geradores que atendam a demanda quando ocorrer interrupção do fornecimento de
energia; e 3. Instalação de manilhas e dispositivos que atendam a demanda hídrica local.

8 REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. São Paulo, 2004
ALMEIDA, D. S. A drenagem urbana das águas pluviais e sua relação com o meio ambiente e a saúde pública
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BRASIL. LEI Nº 12.305 – PNRS, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.
CARDOSO N. A. Sistemas Urbanos de Drenagem. 2014.
CHAMPS, J. R. B. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental Lei Nacional de
Saneamento Básico: perspectivas para as políticas e a gestão dos serviços públicos. Manejo de águas
pluviais urbanas: o desafio da integração e da sustentabilidade. Brasília: [s.n.], 2009.
GAZINEU, Maria Helena Paranhos; SALGUEIRO, Alexandra Amorim; SOARES, Liliane Gadelha da Costa.
Educação ambiental aplicada aos resíduos sólidos na cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso.
Centro de Ciências e Tecnologia, Universidade Católica de Pernambuco Rua do Príncipe, 526 – Boa Vista,
Recife, PE. Ano 1 • n. 1 • julho-dezembro 2007.
IGARN. Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em: www.igarn.rn.gov.br Acesso em: 27 set.
2021.
NETO, A. C. Sistemas urbanos de drenagem. p. 267-277, 2005.
ORZENN, H. M. M. Estudo do sistema de drenagem urbana localizado no cruzamento da rua Araruna com a
av. perimetral. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campo Mourão, 2016.
PEIXOTO, M. C. D. et al. Expansão urbana e proteção ambiental: um estudo a partir do caso de Nova Lima/
MG. In. XI Encontro Nacional as Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em planejamento
Urbano e Regional, Salvador, 2005.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


362 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva

PHILIPPI Jr. A, Saneamento, saúde e ambiente: Fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri,
SP: Manoele, 2005.
RODRIGUES, D. C. Proposição de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos para o centro integrado de
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em Engenharia Sanitária e Ambiental. 2015.
TEIXEIRA, S. N. Sistemas de drenagem urbana: estudo de caso para macrodrenagem do município de Arcos-
MG / Suzane Naiara Teixeira. – 2014.
TUCCI, C. E. M. Gerenciamento da drenagem Urbana. Ed. Abril; 2001. Revista Cienc. Cult. vol.55 no.4 São.
Paulo Oct. /Dec. 2003.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


30. SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO
SANITÁRIO EM BAIRROS DO MUNICÍPIO
DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA-PA E O
DESCARTE DE EFLUENTES EM
CORPO HÍDRICO

MARAIZA BEZERRA CASTRO1


LAIS DOS ANJOS SILVA2
FABYANO ALVARES CARDOSO LOPES3
MILTA MARIANE DA MATA MARTINS4

Resumo: Esgotamento sanitário no Brasil é uma grande problemática, sendo mais agravante em
algumas regiões do país, como a região Norte que possui os piores índices de coleta e tratamento
dos esgotos. O município de Conceição do Araguaia (PA) é uma dentre as diversas cidades com
carência em serviços de saneamento básico, diante disso, objetivou-se pesquisar qual a forma de
descarte dos esgotos produzidos, bem como a perspectiva da população sobre esgotamento sani-
tário. Para atingir os objetivos fora utilizado a técnica de observação direta extensiva com aplica-
ção de formulário com os moradores. Constatou-se que a atual situação de esgotamento sanitário
dos bairros estudados é inadequada, sendo o esgotamento do tipo individual fossa negra o mais
utilizado, apesar dos moradores afirmarem ser fossa séptica.
Palavras-chave: Esgotamento Sanitário; Poluição hídrica; Descarte de efluentes.
Abstract: Sanitation in Brazil is a major problem, being more aggravating in some regions of the cou-
ntry, such as the northern region, which has the worst sewage collection and treatment rates. The
municipality of Conceição do Araguaia (PA) is one of several cities with a lack of basic sanitation ser-
vices, so the objective was to research the form of disposal of sewage produced, as well as the popu-
lation’s perspective on sanitary sewage. To achieve the objectives, the extensive direct observation
technique was used with application of a form with the residents. It was found that the current situa-
tion of sanitary sewage in the neighborhoods studied is inadequate, with the individual type of
sewage system being the most used, despite the residents claiming to be a septic tank.
Keywords: Sanitary Sewage; Water pollution; Wastewater disposal.

1 Laboratório de Microbiologia, UFT. E-mail: maraiza.castro@uft.edu.br


2 Secretaria Municipal de Educação e Cultura, SEMEC. E-mail: laisdosanjospj@gmail.com
3 Laboratório de Microbiologia, UFT. E-mail: flopes@uft.edu.br
4 Ciências Naturais, UEPA -milta. E-mail: mariane@uepa.br

[ 363 ]
364 Maraiza Bezerra Castro; Lais dos Anjos Silva; Fabyano Alvares Cardoso Lopes; Milta Mariane da Mata Martins

1 INTRODUÇÃO
Saneamento básico é uma problemática mundial. Tendo em vista que mais de um bilhão
de pessoas, em todo o mundo, não tem acesso aos serviços fundamentais de saneamento. O
que implica em riscos para a saúde e para o meio ambiente. Sendo este, um problema maior
nos países pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, que sofrem com as mazelas causa-
das pela precariedade no serviço, principalmente no quesito esgotamento sanitário (BRASIL,
2007). Assim, investimento em saneamento básico é decisivo no desenvolvimento de qualquer
nação, pois as problemáticas sanitárias possuem influência direta e indireta na qualidade da
saúde pública, do meio ambiente, setor de produtividade, habitação, educação, turismo e na
economia de forma geral (ECONÔMICA, 2014).
A lei n° 11.445/2007 amplia o conceito de saneamento brasileiro ao estabelecer a Política
Nacional do Saneamento Básico (EUGENIO, 2018), um instrumento imprescindível para o
desenvolvimento do setor, pois institui as diretrizes e objetivos que orientam as ações do
governo federal, elucidando funções da União, dos Estados e dos municípios, pretendendo
influenciar na qualidade dos recursos hídricos brasileiros.
Apesar de o Brasil possuir uma lei específica que regulariza e estabelece as diretrizes do
setor de saneamento, o país ainda dá pouca atenção às problemáticas sanitárias, negligen-
ciando os direitos básicos de bilhões de brasileiros. Colocando em risco a saúde da população
que vive em condições insalubres, principalmente nas áreas periféricas das cidades e nas
regiões mais pobres do país, como a região norte e nordeste que possuem os piores índices em
saneamento básico e saúde, e os maiores índices de pobreza (AZEVEDO, 2016). O segundo
maior estado da região norte, Pará, é referência nacional em ausência ou má qualidade da
prestação do serviço de esgotamento sanitário à população. A coleta de esgoto é de apenas
2,03%, sendo que deste apenas 5,35% é tratado. Obtendo como reflexo, o maior índice nacio-
nal em doenças gastrointestinais, que são as principais doenças relacionadas à ausência de
esgotamento sanitário (BRASIL, 2017).
De acordo com TORRES (2004), a poluição do meio ambiente é de interesse público em
todo o mundo, uma vez que muitos países vêm sendo afetados por seus graves impactos, sendo
que um dos principais problemas ambientais é o uso dos rios como principal receptor de efluen-
tes de origem doméstica ou industrial. Os esgotos domiciliares são provenientes de residências,
instituições ou edificações com instalações de banheiros, cozinhas, etc., que utilizem a água para
fins domésticos. A falta de saneamento básico em zonas urbanas é um dos agravantes para a
degradação das águas, pois muito dos contaminantes das águas é em decorrência da falta de
saneamento, coleta e tratamento de esgoto. É importante proteger a vegetação do leito dos rios,
nas áreas urbanas, evitando assim, poluentes por meio da lixiviação para os rios (KALINE MELLO,
2021)relacionando-o com a degradação das águas”,”container-title”:”Jornal da USP”,”language”:”pt-
BR”,”note”:”section: Ambiente é o Meio”,”title”:”Falta de saneamento e uso inadequado dos
solos afetam qualidade dos rios”,”URL”:”https://jornal.usp.br/atualidades/falta-de-saneamento-
-e-uso-inadequado-dos-solos-afetam-qualidade-dos-rios/”,”author”:[{“literal”:”Kaline

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS DO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA-PA 365

Mello”}],”accessed”:{“date-parts”:[[“2021”,10,14]]},”issued”:{“date-parts”:[[“2021”,4,14]]}}}],”sche
ma”:”https://github.com/citation-style-language/schema/raw/master/csl-citation.json”}.
Quando analisado em escala municipal, o panorama se torna ainda mais impactante, pois
em muitos municípios o serviço de esgotamento sanitário é inexistente, ficando as soluções
para os esgotos de forma individualizada, como a utilização de fossas, valas e o descarte direto
nos corpos hídricos (AZEVEDO, 2016), que nesse caso, é o Rio Araguaia.
O Rio Araguaia tem a Serra do Caiapó como nascente, nas proximidades do Parque
Nacional das Emas (Sudoeste do Estado do Goiás), percorrendo cerca de 2115 km, onde, com-
preende parte dos Estados do Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. De acordo com ASSIS;
BAYER (2020), a bacia desse rio abrange uma área de 383.999 km². A cidade de Conceição loca-
liza-se as margens desse rio, na qual, o esgoto produzido pela população é despejado de forma
indiscriminada, poluindo suas águas.
Nessa perspectiva, o presente trabalho, teve como objetivo identificar as formas de des-
carte dos esgotos produzidos, além do conhecimento da população sobre esgotamento sanitá-
rio no município de Conceição do Araguaia (PA).

2 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no período de junho a outubro de 2016, no município de
Conceição do Araguaia, localizado no sudeste paraense, na divisa do estado do Pará com o
Tocantins (08º 15’ 28’’ S e 49º 15’ 53’’ W e altitude de 171 m), e com área territorial de 5.829,482
km² (Figura 1). Atualmente, o município de Conceição do Araguaia possui uma população esti-
mada em 48.115 habitantes (IBGE, 2021).
A amostragem foi realizada nos dois bairros mais populosos de Conceição do Araguaia,
sendo eles o bairro Centro, constituído por 2.356 domicílios, e a Vila Cruzeiro, com 1.175 domi-
cílios. O bairro Centro está estabelecido no plano diretor da cidade e é contemplado no “Projeto
Básico da Rede Coletora de Esgoto Sanitário”, fazendo parte da “Bacia 01 do Projeto de
Saneamento da Praia Sistema de Esgoto Sanitário”, enquanto a Vila Cruzeiro não é contemplada
com rede coletora.
A pesquisa em campo ocorreu por meio da observação direta extensiva com a aplicação
de formulários em 30% dos domicílios dos bairros supracitados, totalizando 1.058 formulários
aplicados, onde se obteve os dados sobre os métodos de descarte das águas servidas e a pers-
pectiva da população sobre esgotamento sanitário. No formulário, foi abordado questões
como: Qual era renda mensal da família, se a residência possuía rede coletora de esgoto, qual
era o destino do esgoto, se o esgotamento sanitário contribui para a qualidade de vida e para
a salubridade do meio ambiente.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


366 Maraiza Bezerra Castro; Lais dos Anjos Silva; Fabyano Alvares Cardoso Lopes; Milta Mariane da Mata Martins

Figura 1 – Localização do município de Conceição do Araguaia (PA)

Fonte: Castro, M. B. et al..

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Tipo de esgotamento e perspectiva dos moradores
O município de Conceição do Araguaia possui um projeto de sistema de esgoto sanitário
que contempla parte de quatro bairros da zona urbana, o bairro Universitário, Canudinho, Centro
e Capelinha. Todavia, a obra estava paralisada, não provendo o serviço de esgotamento sanitário
público em nenhuma área do município no momento em que foi realizada a pesquisa.
Como a cidade não dispõe de sistema de esgotamento sanitário coletivo, os domicílios
pesquisados possuem como principal forma de descarte das águas servidas o sistema de esgo-
tamento individual (ex. utilização de fossas). De acordo com o levantamento, a fossa séptica /
tanque séptico atende 96,60% do bairro Centro e 87,96% do bairro Vila Cruzeiro, totalizando
uma média de 91,90% de todos os domicílios pesquisados (Tabela 1).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS DO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA-PA 367

Tabela 1– Levantamento das formas de descarte das águas servidas nos bairros Centro e Vila Cruzeiro
no município de Conceição do Araguaia (PA) no ano de 2016. N – Número de entrevistados; % –
Porcentagem de entrevistados

Centro Vila Cruzeiro Total


Tipo de esgotamento
N % N % N %
Fossa séptica 621 96,60 307 87,21 928 91,90
Fossa seca 63 0,28 20 5,68 83 2,98
A céu aberto 1 0,14 19 5,39 20 2,76
Rede coletora 21 2,97 0 0,0 21 1,48
Não soube informar 0 0,0 6 1,70 6 0,85
Fonte: Castro, M. B. et al..

Apesar de 91,90% dos pesquisados afirmarem possuir fossa séptica, esse é um dado que
deve ser tratado com cautela, pois, muitas vezes a instalação do tanque séptico se dá de forma
inadequada, sendo construída pelos próprios moradores a partir de conhecimentos empíricos.
Assim, teve-se o cuidado de averiguar se a instalações sanitárias dos domicílios condiziam com
as afirmativas dos residentes.
A construção é realizada pelos próprios moradores ou por outra pessoa contratada que
também não possui qualificação necessária para a realização do serviço, acarretando uma ilu-
são de possuir esgotamento sanitário do tipo fossa séptica. No entanto, ao observar as instala-
ções sanitárias, percebe-se que, o que os moradores afirmam ser fossa séptica, não
correspondem às normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) para tanque
séptico, todavia são enquadradas na definição de fossa negra ou absorvente (Figura 2).

Figura 2 – Fossa sépticas que não se enquadram normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas
(ABNT), fossas “negras”. A) Fossa negra no bairro Centro. B) Fossa negra no bairro Vila Cruzeiro

Fonte: Castro, M. B. et al..

Os domiciliados optam pelo descarte do esgoto em fossa séptica por alegarem que são
de fácil construção e de baixo custo, sendo de total responsabilidade do morador a imple-
mentação, operação e manutenção. Porém, a construção dessas fossas são feitas de forma
inadequada, não atendendo aos requisitos ambientais, pois a população não dispõe de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


368 Maraiza Bezerra Castro; Lais dos Anjos Silva; Fabyano Alvares Cardoso Lopes; Milta Mariane da Mata Martins

conhecimentos técnicos que atendem os critérios estabelecidos pela ABNT na NBR n°


7.229/1997, que dispões de regras referentes ao projeto, construção e operação dos tanques
sépticos (PEREIRA et al., 2009).
Além da construção das fossas sépticas ser de forma inadequada, a manutenção também
não era realizada de forma correta. Quando o “tanque séptico” chegava a capacidade máxima,
o morador contrata o serviço terceirizado chamado de “Limpa Fossa”, que realizava o descarte
do material acumulado no lixão da cidade, assim, o lodo séptico era descartado sem trata-
mento. De acordo com ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES (2007), o lodo do tanque sép-
tico necessita de tecnologias adequadas para acondicionamento no meio ambiente, pois
mesmo tendo passado por tratamento primário, ainda contém concentrações significativas de
“nutrientes, matéria orgânica, poluentes inorgânicos e organismos patogênicos” que podem
contaminar o solo e os recursos hídricos, além da disseminação de doenças devido a criação de
ambientes favoráveis a proliferação de vetores.
Outro problema sanitário e ambiental que está correlacionado com a utilização de fossa
no município é que 56,82% dos domicílios pesquisados utilizam esse método apenas para des-
cartar as águas servidas oriundas de sanitário e as cinzas escuras que são provenientes da pia
da cozinha. Em alguns domicílios, verificou-se ainda que as águas cinza escuras também eram
despejadas sob o solo, o que além de contaminar o ambiente, gerava um odor desagradável
devido à decomposição da matéria orgânica presente nas águas residuária, atraindo animais
que podem ser vetores de doenças.
O segundo meio de descarte dos esgotos mais utilizado é a fossa seca (Figura 3), com
uma média de 2,98% dos domicílios pesquisados (Tabela 1). A fossa seca é apenas para a depo-
sição de excreta, diante disso, averiguou-se que os domicílios que contém esse tipo de alterna-
tiva, despejam as águas residuária no quintal ou em via pública.
Em relação ao despejo de esgoto gerado em domicílios a céu aberto, 5,39% dos morado-
res no bairro Vila Cruzeiro e 0,14% no bairro Centro realizam essa prática, totalizando uma
média de 2,76% dos domicílios pesquisados (Figura 4). Embora o Centro possua menor percen-
tual de despejo do esgoto a céu aberto, é visível o escoamento de águas servidas em vias públi-
cas, devido estas serem pavimentadas impossibilitando a permeabilidade do solo. O bairro Vila
Cruzeiro dispõe de poucas vias pavimentadas, o que facilita a infiltração no solo, atenuando o
acúmulo de esgoto.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS DO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA-PA 369

Figura 3 – Fossa seca construídas pelos moradores do bairro Centro e Vila Cruzeiro em Conceição do
Araguaia – PA. Fossa seca construída com madeira e lona (A – visão externa; B – visão interna) e
alvenaria (C – visão externa; D – visão interna)

Fonte: Castro, M. B. et al..

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


370 Maraiza Bezerra Castro; Lais dos Anjos Silva; Fabyano Alvares Cardoso Lopes; Milta Mariane da Mata Martins

Figura 4 – Despejo de esgoto gerado por domicílios a céu aberto do bairro


Centro (A) e Vila Cruzeiro (B) em Conceição do Araguaia – PA

Fonte: Castro, M. B. et al..

Esgoto a céu aberto é um grande fator de risco para as chamadas de Doenças Relacionadas
ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) (AZEVEDO, 2016), além de gerar outros trans-
tornos, como o bem estar da população, poluição visual e o mau cheiro. Assim, esses proble-
mas são pontos que atrapalham os comerciantes que trabalham com alimentação e o turismo
na época do veraneio nesses locais.
Apenas os moradores do Centro afirmam descartar seus esgotos em rede coletora, cons-
tituindo uma percentagem média de apenas 1,48% (Tabela 1). O bairro Vila Cruzeiro é isento de
rede coletora, assim, somente o Centro é contemplado no “Plano de Saneamento Básico e
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Conceição do Araguaia-Pará”. A rede coletora que o
bairro Centro dispõe não tem ligação com uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), sendo
assim, os esgotos despejados nessa rede não passam por nenhum tipo de tratamento e são
dispostos no meio ambiente de forma inadequada, ou seja, não pode ser considerado como
esgotamento sanitário público. Ter acesso à rede coletora, não é sinônimo de acesso ade-
quado, é necessário ter o tratamento desses esgotos antes da disposição final no meio
ambiente. É imprescindível saber pra onde vai o esgoto, para que não cause mais transtornos
ambientais (AZEVEDO, 2016).
Também foi observado alguns moradores próximos ao rio Araguaia com encanação irre-
gular que conduzem os esgotos de suas residências para o sistema de drenagem pluvial. Este
tipo de situação ocorre com frequência em locais carentes de infraestrutura hidráulica e sani-
tária, acarretando a contaminação dos corpos hídricos (AZEVEDO, 2016).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS DO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA-PA 371

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atual situação de esgotamento sanitário dos bairros pesquisados é imprópria, pois não
há sistema público de coleta e tratamento dos esgotos produzidos, ficando a solução para os
sistemas individuais. O que é inadequado, pois devido a densidade populacional a cidade deve-
ria dispor de rede coletora e estação de tratamento dos esgotos.
Nos dois bairros pesquisados o descarte em “fossa negra” é o principal método, apesar
de a população afirmar ser fossa séptica, o que ocorre devido não ter conhecimentos técnicos
sobre a construção e operação. A fossa negra ameniza os danos causados à saúde e ao meio
ambiente, porém, não é a solução mais adequada para os problemas gerados pelos esgotos,
pois ainda contamina o solo e o lençol freático.
Referente à perspectiva da população, nota-se que embora os moradores não possuam
abundante conhecimento sobre esgotamento sanitário público, reconhecem a importância do
mesmo, pois, alegam se levassem os esgotos para longe de suas residências, diminuiria o mau
cheiro e melhoraria a saúde.
Assim, os serviços de saneamento, como a coleta e tratamento dos esgotos, são medidas
preventivas na qualidade de vida da população, meio ambiente, transformando os seus recursos
hídricos em mais uma fonte de vida e menos transmissor de doenças.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
III

CONFLITOS PELO
USO DAS ÁGUAS
31.
A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA
SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE

DIEGO GADELHA DE ALMEIDA1


RONILSON DE MORAIS SOUSA2
JOSÉ CÉSAR MAIA FILHO3

Resumo: Nas duas últimas décadas, com a emergência no Brasil do regime de acumulação via
pilhagem ambiental, intensifica-se uma corrida por bens da natureza, com destaque para a terra e
a água. Com isso, no semiárido nordestino, os espaços de reserva com disponibilidade hídrica vira-
ram alvo do agronegócio, disparando disputas territoriais entre as frações de classe vinculadas à
questão agrária. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo analisar a territorialização do
agronegócio nos sistemas de aquíferos localizados no Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará, bem
como desvelar se os tipos de usos em curso são geradores de injustiça hídrica. A pesquisa adotou
um percurso metodológico organizado nas seguintes etapas: levantamento bibliográfico, elabora-
ção e análise de dados primários e secundários e trabalho de campo. Como síntese, podemos indi-
car que está em curso uma corrida do agronegócio em busca das fontes subterrâneas do Baixo
Jaguaribe, onde os corpos hídricos Jandaíra-Açu, Aluvião e Barreiras, em destaque, viraram um
recurso a serviço da reprodução do capital, conformando uma geografia desigual dos rejeitos e
proveitos em que as frações do agronegócio passaram a dominar as fontes hídricas subterrâneas
impondo, em consequência, a negação do direito à água para as comunidades rurais.
Palavras-Chave: Agronegócio; Aquíferos Sedimentares; Injustiça Hídrica.
Abstract: The race for natural goods has intensified in the last two decades. It has
occurred due to the emergence of the accumulation regime via environmental plun-
der in Brazil. Also, it has emphasis on land and water. As a result, natural reserve
spaces with water availability in the semi-arid region of the Northeast became a tar-
get for agribusiness. That triggered territorial disputes between class fractions con-
nected to the agrarian matter. According to the context presented, this paper displays an
analysis of the territorialization of agribusiness in the aquifer systems located in Baixo Jaguaribe,
in the State of Ceará. Besides, the objective here was to check whether these ongoing usages are
generators of water injustice. This research adopted a methodological sequence that is organized

1 Instituto Federal do Ceará – IFCE. E-mail: diegogadelha@ifce.edu.br


2 Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: sousa.ronilson789@gmail.com
3 Instituto Federal do Ceará – IFCE. E-mail: maiacesarmaia844@gmail.com

[ 373 ]
374 Diego Gadelha de Almeida; Ronilson de Morais Sousa; José César Maia Filho

in the following stages: bibliographical survey, elaboration and analysis of primary and secondary
data, and fieldwork. In fact, there is an indication that an agrobusiness race in underway. It is
occurring due to the search for the underground sources of Baixo Jaguaribe. In this scenario, the
water bodies Jandaíra-Açu, Aluvião and Barreiras, in particular, have become a resource for repro-
duction of capital. That shapes an unequal geography of tailings and profits in which agribusiness
fractions came to dominate the underground water sources. As its consequence, a denial of the
right for water was imposed.
Keywords: Agribusiness, Sedimentary Aquifer, Water Injustice.

1 INTRODUÇÃO
Observamos nas últimas décadas, no território nacional, um avanço da fronteira agrícola
em direção à três regiões brasileiras e seus respectivos “espaços de reserva” (SANTOS, 2004):
Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O debate público e as lentes geográficas, não obstante, têm
priorizado o olhar sobre as duas primeiras regiões – com destaque para as consequências
socioambientais que impactam os biomas e os povos do cerrado e da floresta amazônica, enco-
brindo na arena político-acadêmica o movimento nada silencioso e destrutivo de incorporação
do semiárido nordestino à divisão internacional do trabalho, com ênfase para a produção de
frutas tropicais.
Não estamos indicando, com isso, que inexistem pesquisas geográficas sobre a inserção
do semiárido na produção agropecuária sob égide da globalização neoliberal, o que seria uma
desfeita com os estudos de ANDRADE (2005), ARAÚJO (2000) e ELIAS (2002), para citar alguns
exemplos do amplo acervo bibliográfico existente. Não obstante, há complexidades e particu-
laridades desse processo que seguem invisibilizadas.
Um rápido levantamento bibliográfico sobre a difusão da “agricultura científica” (SANTOS,
2004) no semiárido nordestino, tendo como exemplo a produção de teses e dissertações dos
Programas de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da
Universidade Estadual do Ceará (UECE) evidenciará estudos vinculados à questão agrária nor-
destina que privilegiaram a relação entre agronegócio, açudagem, vales perenizados e períme-
tros irrigados federais.
Por outro lado, há uma escassez de pesquisas que busquem capturar a corrida do agro-
negócio para espaços de exceção hidrogeológica da região – os aquíferos sedimentares. Esses
bolsões de água subterrânea, verdadeiros pontos luminosos hídricos, passaram para o centro
da disputa territorial com difusão do “Consenso das Commodities” (SVAMPA, 2013), que se
espacializa no nordeste brasileiro, com a expansão da fronteira agrícola de grãos e frutas.
Assim, é através da articulação conceitual entre pilhagem ambiental, acumulação por
espoliação e território que objetivamos com este artigo analisar a territorialização do agrone-
gócio nos sistemas de aquíferos localizados no Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará, bem como
desvelar se os tipos de usos em curso são geradores de injustiça hídrica.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE 375

Indicamos que a chegada de empresas nacionais e internacionais no recorte espacial da


pesquisa guarda relação direta com a adoção, pelos governos do Brasil, do regime de acumu-
lação por pilhagem (ALTVATER, 1995). A captura da água subterrânea no Baixo Jaguaribe é um
exemplo concreto da subsunção real dos territórios vitais ao capital. Dessa forma, o uso corpo-
rativo do substrato material do território (SOUZA, 2019) dispara uma guerra por água (SHIVA,
2006), que se evidencia em concentração fundiária, explotação desenfreada, privatização e
poluição dos corpos hídricos.
Essa articulação de temas e processos tem a potencialidade de desvelar o desenvolvi-
mento de uma “geografia desigual dos rejeitos e proveitos” (PORTO-GONÇALVES, 2006), sem
perder de vista os gritos dos grupos sociais que insurgem para garantir uma reapropriação do
território e anunciar alternativas ao desenvolvimento.

2 METODOLOGIA
A presente pesquisa, um estudo de caso, adotou como recorte espacial os municípios
inseridos na sub-bacia do Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará, Aracati, Fortim, Icapuí, Itaiçaba,
Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Quixeré e Russas. No intuito de desvelar os usos, os usuários
e as injustiças ambientais resultantes da territorialização do capital na área de estudo, a pes-
quisa adotou procedimentos qualiquantitativos, com destaque para análise dos bancos de
dados, relatórios e planos da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), da Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos (COGERH), bem como da Agência Nacional de Águas (ANA).
Com base nos dados de outorga de uso da água disponibilizados pela SRH/COGERH, orga-
nizamos tabelas, gráficos, mapas e quadros, objetivando identificar e localizar os usuários, os
usos e o volume outorgado dos domínios hidrogeológicos existentes na sub-bacia do Baixo
Jaguaribe. Para esta atividade sistematizamos as outorgas concedidas e/ou vigentes no ano de
2019, possibilitando uma comparação de 10 anos ao cruzarmos com os dados disponíveis nos
estudos da ANA (2010) e COGERH (2009). Os dados foram interpretados à luz do referencial
teórico desenvolvimento pela Ecologia Política e Geografia Ambiental (SOUZA, 2019).
A pesquisa contou ainda com ampla revisão bibliográfica, bem como trabalho de campo
na área selecionada, objetivando apreender a paisagem e a dinâmica da dominação e uso da
água subterrânea. O trabalho de campo realizado para a presente pesquisa, na verdade, é fruto
da inserção, na última década, de um dos autores nos ativismos e movimentos sociais que
lutam por alternativas ao desenvolvimento capitalista na região do Baixo Jaguaribe.
Por fim, informamos que o presente estudo contou com financiamento do programa de
bolsas de iniciação científica do Instituto Federal do Ceará (PIBIC-IFCE) e compõe parte das
ações do Observatório da Questão Hídrica do Ceará (OQHICE), projeto de extensão cadastrado
na mesma instituição.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


376 Diego Gadelha de Almeida; Ronilson de Morais Sousa; José César Maia Filho

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Baixo Jaguaribe-CE: um hidroterritório de exceção no contexto do
semiárido cearense
No semiárido cearense as políticas hídricas se concentraram historicamente em torno das
águas superficiais. Obras de açudagem, transposições e perenizações artificiais dos rios estive-
ram no alvo das ações do Estado, bem como no centro das disputas entre as frações de classe.
Assim, privatizações de açudes públicos e/ou a construção de reservatórios em propriedades pri-
vadas, parasitando o fundo público; o cercamento de rios, lagos e lagoas e as transposições hídri-
cas marcaram parte da história conflituosa em torno da água no semiárido cearense.
No entanto, desde os anos cinquenta do século XX, segundo Silva et al. (2007), os reserva-
tórios subterrâneos ganharam um papel de destaque na ampliação da oferta hídrica para aten-
der a demanda das comunidades rurais e urbanas, mas também para saciar a sede das frações do
capital ligadas ao agronegócio, a mineração, as energias e as indústrias hidrointensivas.
Foi, contudo, com a emergência dos processos descritos por Svampa (2013) como
Consenso das Commodities, no século XXI, que a busca por água barata e em abundância se
intensificou, intensificando uma disputa em torno dos aquíferos sedimentares no território
brasileiro. Ou seja, na atual quadra histórica, as fontes subterrâneas viraram o novo alvo da
pilhagem por parte das frações hidrointensivas do capital.
O Estado do Ceará serve de exemplo para entendermos os desdobramentos socioam-
bientais da expansão e diversificação de práticas produtivas apoiadas por fontes subterrâneas.
Apresentando 75% do território dominado pelo embasamento cristalino, estrutura geológica
que condiciona a formação de aquíferos com baixo volume, vazão e qualidade de água, encon-
tramos, não obstante, no Ceará, algumas províncias hidrogeológicas conformadas por bacias
sedimentares. Estas regiões possibilitam o armazenamento de um maior volume hídrico no
subsolo e desempenham importante papel enquanto reversa estratégica no contexto estadual
(CALVACANTE et al, 2011).
Podemos indicar, na verdade, que as bacias sedimentares cearenses se configuram como
ambientes de exceção em virtude do grande volume de água armazenado. As principais se loca-
lizam nas fronteiras estatuais: ao sul, na divisa com Pernambuco, encontramos a Bacia Sedimentar
do Araripe; ao oeste, fronteira com o Piauí, localiza-se a Bacia do Parnaíba, ao norte (Oceano
Atlântico) se especializam a Formação Barreiras e os sedimentos dunares e, ao leste, na transição
entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, conforma-se a Bacia Potiguar (CEARÁ, 1992).
Essas regiões sedimentares – verdadeiros “pontos luminosos hídricos” – estão sendo cada
mais apropriadas pelo Estado e por frações do capital, já que apresentam, segundo Silva et al.
(2007), poços com boa profundidade, alta capacidade de vazão a ser retirada (Q) e alta produti-
vidade específica (Qe). Para fins de comparação, com base nos dados da Companhia de Pesquisa
de Recursos Naturais (CPRM), Silva et al (2007) sinalizam que a média de Q e Qe, respectiva-
mente, de poços localizados em rochas do cristalino é de 2,6 m³/h e 259 l/h.m, já na litologia

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE 377

sedimentar os mesmos dados apresentam o seguinte comportamento, 19,3 m³/h e 2.100 l/h.m,
indicando o maior potencial de exploração dos domínios hidrogeológicos sedimentares.
A região do Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará é um destaque estadual em fontes sub-
terrâneas, já que dispõe da Formação Barreiras e dos sedimentos dunares (municípios de
Fortim, Aracati, Icapuí em destaque); a formação Faceira (Limoeiro do Norte e Russas); planície
aluvião do rio Jaguaribe e seus afluentes e as formações Jandaíra-Açu. Em síntese, cinco siste-
mas de aquíferos sedimentares se especializam nessa região (Dunas, Barreiras, Faceira, Aluvião,
Jandaíra-Açu), como espacializado no mapa 1. Cabe destacar que na presente pesquisa enten-
demos os aquíferos Jandaíra e Açu como um sistema – o sistema aquíferos Jandaíra-Açu, em
razão da sua sobreposição de camadas sedimentares e conexão hidrológica.

Mapa 1 – Domínios Hidrogeológicos do Baixo Jaguaribe

Fonte: Elaboração dos autores

Essa configuração hidroterritorial, abundante em fontes subterrâneas, é um trunfo que


vem sendo cada vez mais disputado por empresas vinculadas ao agronegócio de fruticultura irri-
gada e de carcinicultura. Para entendermos o papel de cada sistema de aquíferos na divisão ter-
ritorial da produção do agronegócio adotamos como principal fonte de informações os relatórios

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378 Diego Gadelha de Almeida; Ronilson de Morais Sousa; José César Maia Filho

da COGERH (2009) e ANA (2010), bem como o banco de dados da Secretária de Recursos Hídricos
do Ceará (SRH), com foco para as outorgas concedidas e vigentes no ano de 2019.

3.2 A geografia da explotação dos aquíferos: pilhagem e injustiça hídrica


A análise dos dados oferecidos pela SRH indicava um total de 377 outorgas concedidas e
vigentes na região do Baixo Jaguaribe no ano de 2019. O Aluvião era o sistema com maior
número de outorgas, 218, representando 57,82% do total, seguido pelo Barreiras, 18,04% (68);
Jandaíra-Açu, 17,78% (67); Dunas, 5,31% (20); o Embasamento fraturado indiferenciado e a for-
mação Faceira, ambos, com 0,53% (2).
Quando consideramos a distribuição das outorgas por municípios, encontramos a
seguinte distribuição: Limoeiro do Norte com 108 das 377 outorgas, perfazendo 28,65%,
seguido por Aracati, com 19,89%; Quixeré, 15,12%; Russas, 14,85%; Jaguaruana, 13%; Icapuí,
4,24%; Itaiçaba, 3,18% e Fortim, 1,06%, conforme Figura 1.
Apesar de Limoeiro do Norte contar com o maior número de outorgas, gráfico 1, o muni-
cípio de Jaguaruana, no entanto, concentrava o maior volume outorgado 24.226.560,63 m³,
com 32,77% do total, como podemos observar no Figura 2 – Quixeré, Limoeiro do Norte,
Russas, Aracati, respectivamente, representavam 15,28%, 14,50%, 13,60%, 12,64%. Itaiçaba,
Icapuí e Fortim, por fim, são os municípios com menor volume outorgado, com 9, 64%% para
o primeiro, 1,26% para o segundo e 0,20% para o último.

Figura 1 – Número de outorgas de uso vigentes em 2019, por município

Fonte: SRH, elaboração dos autores.

A sobreposição entre a dinâmica de territorialização da produção agropecuária, tipo de


produção e padrão de localização dos sistemas de aquíferos parece condicionar a maior ou
menor demanda por água subterrânea. No município de Jaguaruana, por exemplo, os sistemas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE 379

Jandaíra-Açu e o Aluvião do Rio Jaguaribe eram as fontes mais explotadas, com destaque para
este último que fornecia 92,48% do volume municipal outorgado.

Figura 2 – Volume total outorgado (m³) em 2019, por município

Fonte: SRH, elaboração dos autores.

Em Limoeiro do Norte, quatro sistemas concentravam o volume outorgado, Jandaíra-Açu,


Aluvião, Faceira e Embasamento Fraturado Indiferenciado, com predominância dos dois primei-
ros, que representavam, respectivamente, 60,62% e 37,44% do volume municipal outorgado.
Quixeré seguia o mesmo comportamento de Limoeiro do Norte, concentrando o
volume outorgado no aquífero Jandaíra-Açu, 85,79%; enquanto no município de Russas, o
Aluvião figurava como o sistema subterrâneo mais demandando, com 99,65% do volume
autorizado, seguindo o padrão de Jaguaruana. Já Aracati e Icapuí, por sua conformação geo-
lógica, concentravam a explotação de água subterrânea no sistema Barreiras, 92,92% e
87,21%, respectivamente.
Quanto ao tipo de usos, considerando todos os aquíferos da região, indicamos que das
377 outorgas vigentes em 2019, a irrigação contabilizava 196, representando 51,99%; a aqui-
cultura detinha 19,63% (74) e o uso industrial 16,18% (61). Enquanto isso, as outorgas para fins
de abastecimento humano só representavam 2,92%, como sistematizado no Figura 3.
No que se refere ao volume outorgado por tipo de uso, ainda considerando todos os
aquíferos da região, a aquicultura ocupava a primeira posição, com 45,98%, seguida de perto
pela demanda para fins de irrigação, com 43,98%, Figura 4.

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380 Diego Gadelha de Almeida; Ronilson de Morais Sousa; José César Maia Filho

Figura 3 – Número de outorgas por tipo de uso, somatório aquíferos,


2019

Fonte: SRH, elaboração dos autores.

O abastecimento humano perfazia 7,07% do volume outorgado, indicando que os siste-


mas hídricos subterrâneos eram dominados pelo uso agropecuário. Em síntese: a agropecuária
– irrigação e aquicultura – concentrava 70,62% do número de outorgas e 89,96% do volume
total outorgado.

Figura 4 – Volume outorgado (m³) por tipo de uso, somatório aquíferos,


2019

Fonte: SRH, elaboração dos autores.

Os dados indicam, outrossim, um padrão diferenciado de uso dos sistemas de aquífero


por tipo de atividade produtiva. A aquicultura, Figura 5, tem sua sede por água satisfeita pelo
sistema Aluvião, de onde extraí 99,91% do volume necessário para sustentar a produção.

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A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE 381

Apesar da classificação oficial das outorgas expedidas indicarem a macro atividade aquicultura,
cabe consignar, a partir de informações coletadas durante o trabalho de campo, que é a pro-
dução de camarão em cativeiro (carcinicultura) a demandadora de água deste setor. Tal produ-
ção vem se especializando ao longo da planície fluvial do rio Jaguaribe, aproveitando a água
acumulada nos sedimentos aluviais.
Além de dominar um volume significativo de água, a territorialização da carcinicultura é
acompanhada pela supressão da mata ciliar, cercamentos dos caminhos que possibilitavam o
acesso ao rio Jaguaribe, bem como vem sendo associada à perda da qualidade da água em vir-
tude da emissão de efluentes no período de despesca, como observamos no decorrer do tra-
balho de campo realizado.

Figura 5 – Volume outorgado (m³) para aquicultura, segundo sistemas


aquíferos – ano de 2019

Fonte: SRH, elaboração dos autores.

Já a irrigação apresenta um padrão espacial diferenciado, desenvolvendo-se em cinco sis-


temas de aquíferos, com exceção do Dunas. Nesse tipo de uso, Figura 6, o Jandaíra-Açu figurava
como a fonte subterrânea mais pressionada, ofertando 56,29% da água para irrigar a produção
agrícola da região do Baixo Jaguaribe. As unidades geoambientais da Chapada do Apodi e dos
Tabuleiros pré-litorâneos, onde se localizam respectivamente os sistemas subterrâneos Jandaíra-
Açu e Barreiras, são os principais subespaços dominados pela fruticultura tropical.
A pesquisa de Cavalcante (2020) revela um cenário de latifundiarização em curso no
Baixo do Jaguaribe, indicando que os municípios de Quixeré, Limoeiro do Norte e Jaguaruana
(Chapada do Apodi), mas também Aracati e Icapuí (Tabuleiros pré-litorâneos) passam nas
últimas duas décadas por intenso processo de concentração fundiária e territorialização de
atividades produtivas hidrointensivas, a exemplo o cultivo de banana e melão, conformando
em nossa avaliação verdadeiros latifúndios hídricos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


382 Diego Gadelha de Almeida; Ronilson de Morais Sousa; José César Maia Filho

Figura 6 – Volume outorgado (m³) para irrigação, segundo unidades


aquíferas – ano de 2019

Fonte: SRH, elaboração dos autores.

Assim, podemos indicar uma divisão espacial no uso das águas subterrâneas no Baixo
Jaguaribe seguindo quatro padrões: 1) os usos produtivos localizados nos municípios de
Jaguaruana, Quixeré e Limoeiro do Norte como os principais demandantes de água; 2) a irriga-
ção e a aquicultura concentrando o volume explotado de água; 3) a demanda da aquicultura
sendo atendida pela água acumulada na planície fluvial do Jaguaribe e 4) a irrigação adota um
padrão mais difuso de localização, exercendo maior pressão sobre o sistema Jandaíra-Açu.
Esse modelo de desenvolvimento, sustentado pelo agronegócio de frutas e camarão,
demanda cerca de 66 milhões de metros cúbicos de água por ano. Para suavizarmos a abstra-
ção de tantos milhares e milhões de metros cúbicos, cabe uma comparação entre o somatório
do volume outorgado/ano para as tipologias irrigação e aquicultura (agropecuária) e o volume
armazenado nas cisternas de placas destinadas ao consumo humano (16 mil litros) – uma tec-
nologia de convivência com o semiárido. O volume outorgado à agropecuária equivale a
4.156.099 milhões de cisternas. Este quantitativo seria suficiente para instalar 14,46 cisternas
por habitante, considerando o somatório da população total de Aracati, Fortim, Icapuí, Itaiçaba,
Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Quixeré e Russas – 287.429 mil habitantes, segundo informa o
Censo 2010 do IBGE.
O volume outorgado, concentrado por frações de classe do agronegócio, contrasta com
a realidade das comunidades rurais que, nos últimos anos, em virtude do quadro de irregulari-
dade pluviométrica que atinge a região desde 2012, convivem com um cenário de negação do
direito à água. O tradicional carro pipa segue como única opção para agricultores e agricultoras
saciarem a sede da família de forma precária.
Conforme observamos nos trabalhos de campo, é comum perceber quintais e terras
secas nas propriedades familiares e, em contraponto, sistemas de captação e uso de água em
plena atividade nas empresas do agronegócio. A desigualdade social impõe uma capacidade
diferenciada no que diz respeito à perfuração e instalação de poços, à montagem de sistemas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE 383

de irrigação, ao custo de energia e ao acesso aos trâmites legais para concessão de outorgas.
Ou seja, a injustiça hídrica (ZWARTEVEEN et al, 2011) é o resultado do modelo de desenvolvi-
mento em vigor no Baixo Jaguaribe.
É preciso adicionar que está em curso um rebaixamento das reservas subterrâneas, como
no caso dos aquíferos Jandaíra-Açu, demandando poços cada vez mais profundos (200 a 400
metros). Avaliamos que o rebaixamento vem sendo produzido, sobretudo, pela soma de políti-
cas públicas que induzem a territorialização de atividades econômicas hidrointensivas e pela
desconsideração da capacidade de suporte dos sistemas aquíferos em um contexto global de
mudanças climáticas. O crescimento da demanda do agronegócio e a irregularidade pluviomé-
trica produzem “escassez” para alguns – as classes hegemonizadas – e segurança hídrica para
o agronegócio, sob a chancela do Estado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Materializa-se no Baixo Jaguaribe uma intensa demanda hídrica dos aportes subterrâ-
neos, indicando, de fato, um processo de injustiça hídrica na região, calcada na disparidade do
acesso à água entre as grandes empresas do agronegócio e a população rural local. Indicamos
também uma geografia desigual dos rejeitos e proveitos, uma pilhagem da água para fins de
reprodução em escala ampliada do capital. Surge na região pesquisada os “sem-água”, um
novo perfil social da questão agrária brasileira. Ou seja, há água, contudo cada vez mais con-
centrada nos latifúndios hídricos. Este bem da natureza foi convertido em mercadoria para
saciar a sede do agronegócio, restando apenas as políticas de assistência emergencial – carro
pipa, por exemplo – aos povos historicamente olvidados.
Ao final desta pesquisa, indicamos que reivindicar uma ação do Estado no sentido de
proteção dos aquíferos parece um pedido que não guarda coerência com a realidade das rela-
ções de poder em curso. A rede política formada pela parceria entre entes públicos e as frações
do agronegócio já decidiu para quem devem servir os aquíferos presentes no Baixo Jaguaribe.
Cabe agora uma revanche dos expropriados, despossuídos, “dos sem-água” com o objetivo de
superar os processos de injustiça, garantir uma reapropriação território, curar a destrutividade
ambiental deixada pelo agronegócio e salvaguardar os aquíferos como fonte de soberania ali-
mentar e reserva estratégica para os cenários de mudanças climáticas que anunciam mais ins-
tabilidade pluviométrica para o semiárido.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


32. APROXIMACIÓN AL ANÁLISIS
DE CONFLICTOS SOCIO-AMBIENTALES
EN CUENCAS HIDROGRÁFICAS
El caso de la cuenca del Río Ebro en España

MARIO BURGUI BURGUI1


EDSON VICENTE DA SILVA2

Resumo: Este trabalho inclui uma conceituação e caracterização dos conflitos socioambientais a
partir de estudos na área, para posteriormente exemplificar esse tipo de conflitos no caso da ges-
tão de bacias hidrográficas. Também é apresentado um método de análise de conflitos socioam-
bientais para abordar o caso da Bacia do Ebro, na Espanha. Por meio do exemplo proposto,
mostra-se a utilidade do método para lidar com a complexidade desses conflitos de forma objetiva
e em uma perspectiva aberta.
Palavras-chave: conflito socioambiental; bacias hidrográficas, recursos hídricos, sistemas fluviais.
Resumen: En este trabajo se recoge una conceptualización y caracterización de los conflictos
socio-ambientales a partir de estudios en la materia, para posteriormente ejemplificar este tipo
de conflictos en el caso de la gestión de cuencas hidrográficas. Se presenta además un método de
análisis de conflictos socio-ambientales para abordar el ejemplo de la Cuenca del Ebro, en España.
A través del ejemplo propuesto se muestra la utilidad del método para abordar la complejidad de
estos conflictos con objetividad y desde una perspectiva abierta.
Palabras-clave: conflicto socio-ambiental; cuenca hidrográfica; recursos hídricos; sistemas
fluviales.
Abstract: This work includes a conceptualization and characterization of socio-environmental
conflicts based on studies on the matter, to later exemplify this type of conflicts in the case of
watershed management. A method of analysis of socio-environmental conflicts is also presented
to address the case of the Ebro Basin, in Spain. Through the proposed example, the usefulness of
the method is shown to tackle the complexity of these conflicts objectively and from an open
perspective.
Keywords: socio-environmental conflict; watershed; water resources; river systems.

1 Universidad de Alcalá -Madrid, España. E-mail: marioburgui@yahoo.es


2 Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com

[ 385 ]
386 Mario Burgui Burgui; Edson Vicente da Silva

1 INTRODUCCIÓN
1.1 Concepto y características de los conflictos socio-ambientales
A juicio de algunos autores, la degradación ambiental que experimenta el planeta en
nuestros días es un hecho social. En primer lugar porque el origen de ese deterioro ambiental
es antrópico y, en segundo lugar, porque también son las sociedades quienes van a sufrir las
consecuencias del mismo (Duarte, 2006).
Aunque existen muchos acercamientos distintos al concepto de conflicto y también en lo
que tiene que ver con las dimensiones social y ambiental, en síntesis, según la definición de
Ruiz Salgado (2017), el término “conflictos socio-ambientales” se refiere a las desavenencias o
disputas de carácter social en cuyo centro subyace un componente ambiental.
Los conflictos socio-ambientales se caracterizan por su complejidad, así como por la exis-
tencia de múltiples y diversos intereses sobre la gestión de los recursos o la utilización del territo-
rio, que se muestran o se perciben incompatibles entre sí (Lerga, 2003). Es común que estos
conflictos se expandan allende los límites administrativos de una comarca, provincia o país; y que
en la multiplicidad de partes interesadas se encuentren sectores tan distintos como las adminis-
traciones públicas, ONG, asociaciones de vecinos y ciudadanos a título individual, empresas, etc.
(Muñiz, 2012). Además, otras características importantes de los conflictos socio-ambientales son:
el alto grado de incertidumbre científica, el desarrollo del conflicto en la esfera pública, los distin-
tos niveles de toma de decisiones (a veces contrapuestas), la asimetría entre las partes en cuanto
a su influencia y capacidad de acción (Ruiz Salgado, 2017). Un aspecto a tener en cuenta es que,
en muchas ocasiones, las administraciones públicas dominadas por intereses políticos son origen
del propio conflicto o de su agravamiento, en lugar de ser parte de su solución.

1.1 Causas de los conflictos


Los conflictos socio-ambientales, como otro tipo de conflictos en general, han sido objeto
de distintas clasificaciones. A continuación se presenta la propuesta por Moore en 1986 (citado
en Ruiz Salgado, 2017) en función de las causas que originan los conflictos:
• Información: el desacuerdo sobre las fuentes, el análisis o la interpretación de la infor-
mación de que se dispone puede ser origen de conflictos. Esto puede ocurrir cuando
las técnicas de recogida de información están puestas en entredicho aunque también
la mera falta de información sobre un hecho concreto puede ser causa de disputas.
• Relaciones: cuando existe un deterioro de la relación entre las partes que están invo-
lucradas o relacionadas con un hecho concreto (ya sea por desconfianza, falta de cre-
dibilidad o dudas sobre su integridad), pueden generarse conflictos.
• Intereses: es muy común que la existencia de intereses contrapuestos genere conflic-
tos, si bien no siempre se trata de motivaciones económicas, sino también de estatus,
poder, influencia, posiciones ideológicas, etc.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMACIÓN AL ANÁLISIS DE CONFLICTOS SOCIO-AMBIENTALES EN CUENCAS HIDROGRÁFICAS 387

• Estructurales: también es habitual que las propias estructuras gubernamentales,


administrativas y de gestión, dificulten la resolución de las necesidades de los distin-
tos actores de un modo sencillo y fluido, lo cual en última instancia puede ocasionar
conflictos. Las limitaciones de acción, los impedimentos formales y burocráticos, la
lentitud de los procesos y la cada vez mayor “despersonalización” de las relaciones
entre los ciudadanos y las administraciones públicas son elementos que influyen en
estos casos.
• Valores: por último, también las distintas percepciones culturales y sistemas de creen-
cias pueden influir en el origen de los conflictos. Estas diferentes cosmovisiones a
menudo se expresan en lenguajes de valoración diferentes (estético, moral, ambien-
tal, económico, social, cultural, etc.) que no suelen ser comparables.

1.2 El agua como objeto de conflictos


Los recursos hídricos, y los sistemas fluviales en general, han sido históricamente un foco
de conflictos ambientales, socioeconómicos o políticos, y previsiblemente lo seguirán siendo
en el futuro (Gleick, 1993). Por ello, no es de extrañar que en 1999 la UNESCO crease una sub-
comisión sobre la Ética del Agua, dedicada al estudio de las cuestiones éticas relativas al uso de
los recursos hídricos, debido a que se encuentran en el núcleo de los principales problemas
ambientales (Ten Have, 2010). Debe tenerse en cuenta que menos del 3% del total del agua del
planeta es agua dulce, y la mayor parte está retenida en los casquetes polares, quedando tan
solo una pequeña fracción en los ríos (0,002%) y lagos (0,125%) (Sabater y Elósegi, 2009). De ahí
que, ante una población y una demanda crecientes, la disponibilidad limitada de este recurso
estará cada vez más en disputa.
En la gestión de cuencas y sistemas fluviales, se han cometido errores a partir de la iden-
tificación del río con el cauce, ignorando que el sistema fluvial incluye una extensa llanura de
inundación, antiguos meandros, la zona hiporreica y la conexión con el acuífero, etc. (Sabater y
Elósegi, 2009). Esto puede provocar distintos problemas, como por ejemplo la contaminación
directa o indirecta, salinización, sobreexplotación de acuíferos, etc. (Llamas et al., 2000).
A su vez, una incorrecta planificación de los usos del suelo conlleva riesgos y aumenta la
probabilidad de que se produzcan graves daños económicos y humanos, como los sufridos en la
cuenca del Ebro en España, a comienzos de 2015. A la peligrosidad natural por la extraordinaria
crecida del caudal del río Ebro (debido a la conjunción de diversos factores, como las lluvias copio-
sas unidas al deshielo), se unió la vulnerabilidad humana a consecuencia de un poblamiento
demasiado cercano al cauce, junto con actividades económicas e infraestructuras de distinto tipo
que han venido ocupando la llanura de inundación a lo largo de varias décadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


388 Mario Burgui Burgui; Edson Vicente da Silva

Figura 1 – Cuenca del Ebro, al noreste del país, en color azul

Fuente: IGN, 2019.

El conflicto estaba servido. De una parte, había quien reclamaba agresivas actuaciones
en el cauce (principalmente dragados integrales del fondo del río), que sin duda afectarían al
ecosistema en su conjunto, así como a la propia dinámica fluvial, con consecuencias imprevisi-
bles. De otra parte, había quien indicaba que lo ocurrido es un hecho natural al que las socie-
dades humanas solo pueden adaptarse, modificando la ocupación del territorio para reducir
nuestra vulnerabilidad (para más información sobre el caso, cf. Burgui & Chuvieco, 2017).

Figura 2 – Efectos de las inundaciones en marzo de 2015 en la Cuenca del Ebro

Fuente: El Confidencial, 2015 (izquierda); El Mundo, 2015 (derecha).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMACIÓN AL ANÁLISIS DE CONFLICTOS SOCIO-AMBIENTALES EN CUENCAS HIDROGRÁFICAS 389

Se trata de un caso paradigmático, con intereses y visiones totalmente contrapuestas e


incompatibles, de difícil solución. Las partes implicadas van desde los habitantes de las poblaciones
inundadas, agricultores y ganaderos con fincas venidas a la ruina, grupos ecologistas, defensores
de los derechos de los animales, científicos e investigadores, administraciones públicas (por un
lado la regional y por otro la nacional), partidos políticos de distinto signo, etc. Utilizaremos este
caso como ejemplo de análisis en los siguientes epígrafes.

2 METODOLOGÍA
Se resume a continuación el método propuesto por Gampel (2005) en el campo de la
bioética que posteriormente ha sido utilizado en el análisis de conflictos ambientales (Keller,
2009; Keller, 2010), principalmente por su carácter comprehensivo y sistemático, así como por
la evidente cercanía entre los problemas bioéticos y ecoéticos. Como ventaja principal de este
método se puede resaltar la diversidad de perspectivas desde las que permite analizar un
dilema o conflicto socio-ambiental. Con ello, constituye un punto de partida idóneo para abor-
dar la complejidad inherente a este tipo de conflictos, reduciendo los posibles condicionamien-
tos y sesgos. El nombre del método lo constituye el acrónimo de los cinco componentes
analizados, que son los siguientes (Burgui; Chuvieco, 2017):
• Consecuencias (C: consequences): Consecuencias de las distintas alternativas posi-
bles, desde diversos puntos de vista (económico, social, ambiental…). Partiendo de la
ética utilitarista, en este punto se considerarán principios como el de No-Maleficencia
(no causar daños innecesarios), Beneficencia (promover beneficios positivos) y
Máxima-Utilidad (buscar la mayor utilidad para el conjunto, aunque haya perjuicios
individuales).
• Autonomía (A: autonomy). Se analiza qué acciones respetarán mejor la libertad y
autonomía de las personas afectadas. Partiendo del denominado en bioética y medi-
cina «consentimiento informado», se toma en consideración aquí el derecho de todas
las personas a participar en la toma de decisiones sobre los planes que afecten a ese
territorio, así como en las acciones de gestión, restauración, conservación... Se tendrá
en cuenta también si las distintas alternativas pueden limitar las actividades de los
afectados.
• Derechos (R: rights). Se debe velar por el respeto a los derechos de las personas y par-
tes involucradas en el conflicto, así como analizar de qué tipo de derechos se trata y el
grado en que se tienen en cuenta. Esto afecta tanto a los derechos reconocidos en la
legislación, como –si bien de forma secundaria– a los derechos morales. En este
segundo caso, puede tenerse presente tanto los derechos básicos de las personas
(integridad vital, alimentación, vivienda, trabajo… etc.) como los de los seres no huma-
nos (actualmente sin formulación jurídica pero con un creciente respaldo ético).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


390 Mario Burgui Burgui; Edson Vicente da Silva

• Virtudes (V: virtues). Cómo las diferentes acciones afectarán a la calidad moral de las
partes implicadas, ya sean personas o instituciones. Esto supone analizar en qué
medida las opciones planteadas suponen mejorar la honestidad, generosidad,
benevolencia, prudencia o integridad de las partes en conflicto. A nivel institucional,
se pueden añadir cuestiones como la transparencia en la información y la gestión por
parte de las administraciones públicas, etc.
• Equidad (E: equity). Este principio supone analizar si en el conflicto se trata a los dis-
tintos grupos humanos y a sus territorios con igual consideración y respeto, evitando
sesgos o tratos de favor en función de rasgos moralmente irrelevantes como la raza,
el sexo o el nivel de ingresos. También se podría tener en cuenta aquí si se han anali-
zado de igual forma casos similares o distintos aspectos dentro del mismo conflicto
(justicia espacial, justicia social, etc.).
En la Tabla 1 se pone de manifiesto la relación entre las distintas causas de los conflictos
mencionadas en el apartado anterior y las facetas del análisis propuesto en el método CARVE:

Tabla 1 – Causas de los conflictos (Moore, 1986) y principal relación con las fases del método CARVE
(Gampel, 2005)

Causas de los conflictos Relación con las fases del método CARVE

Información Autonomía, Derechos

Relaciones Autonomía, Equidad, Virtudes

Intereses Consecuencias, Autonomía, Derechos, Equidad

Estructuras Autonomía, Derechos, Equidad

Valores Autonomía, Virtudes, Equidad


Fuente: Autoría propia.

Utilizando como guía las fases de análisis del método CARVE, se trata de analizar las distin-
tas alternativas posibles, en este caso: 1) dragado integral del río, 2) desplazamiento de la pobla-
ción y actividades económicas, 3) dragado parcial y reordenamiento de algunos usos del suelo
(esta tercera opción se considera como opción intermedia entre las dos primeras). Para cada uno
de los puntos, se listan los pros y contras de cada alternativa, y se jerarquizan las razones con las
que se argumenta cada alternativa (para más información, cf. Burgui; Chuvieco, 2017).

3 RESULTADOS Y DISCUSIÓN
El caso de estudio planteado muestra unas características que lo hacen paradigmático en
el ámbito de los conflictos socio-ambientales. En la Tabla 2 se sintetiza la caracterización del
mismo, que servirá posteriormente para un análisis más profundo. En primer lugar, cabe

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMACIÓN AL ANÁLISIS DE CONFLICTOS SOCIO-AMBIENTALES EN CUENCAS HIDROGRÁFICAS 391

destacar que se vertieron informaciones contradictorias sobre las causas de las inundaciones.
El impacto mediático de la catástrofe supuso que hubiera declaraciones desde múltiples pun-
tos de vista, no siempre contrastadas con datos científicos. A ello hay que sumar la deficiente
comunicación entre las distintas partes implicadas, que atañe a todos los sectores sociales,
pero es especialmente patente en este caso entre la administración y los habitantes.
En segundo lugar, debe hacerse notar que los pobladores del lugar, los agricultores y
ganaderos, habían perdido la confianza en las administraciones públicas. Según declaraciones
recogidas en los distintos medios de comunicación, llevaban tiempo exigiendo a los poderes
públicos que pusieran una solución a las inundaciones (que se venían produciendo de forma
más o menos intermitente, aunque no con tanta magnitud como en 2015). Ante la inacción de
los gobiernos regionales y nacionales, la población experimentaba un grave descontento con la
gestión del problema. A esto hay que añadir que, en general, la participación pública en la pla-
nificación y gestión de cuencas hidrográficas en España es muy deficiente. Con esto, la ciuda-
danía percibe que desde los poderes públicos se lleva a cabo una gestión sin contar con los
intereses de los habitantes.

Tabla 2 – Causas de los conflictos (Moore, 1986), principal relación con las fases del método CARVE
(Gampel, 2005) y ejemplificación con el conflicto identificado en el caso de estudio

Causas de los
Relación con las fases del método CARVE Caso de estudio
conflictos
Deficiencia de comunicación entre las partes
Información Autonomía, Derechos
implicadas en el conflicto.
Los habitantes, agricultores y ganaderos no
Relaciones Autonomía, Equidad, Virtudes
confían en la administración.
Consecuencias, Autonomía, Derechos, Existen distintos intereses contrapuestos en
Intereses
Equidad las partes implicadas.
Las estructuras institucionales ralentizan la
Estructuras Autonomía, Derechos, Equidad
resolución del conflicto.
Las partes tienen distintas visiones sobre lo
Valores Autonomía, Virtudes, Equidad
que es o debe ser el territorio fluvial.
Fuente: Autoría propia.

En tercer lugar, y como uno de los núcleos del problema con muchas aristas que analizar,
se encuentra la coexistencia de múltiples y diversos intereses, mayoritariamente incompati-
bles, con respecto a la resolución del problema. La primera alternativa, exigida por los habitan-
tes, agricultores y ganaderos (el dragado integral) es considerada por ecologistas, técnicos y
científicos, como algo irrealizable tanto económica como técnicamente, además de que ten-
dría unas consecuencias difíciles de predecir, pero probablemente muy negativas. La segunda
alternativa (desplazar los poblamientos y usos del suelo actuales) se muestra también como
algo irrealizable hoy en día, además de que choca con los derechos de propiedad adquiridos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


392 Mario Burgui Burgui; Edson Vicente da Silva

durante décadas por los habitantes. Quizás la alternativa intermedia (alternativa nº 3) es la


única factible y, de hecho, es la que en cierto modo se ha puesto en marcha.
El cuarto punto pone de relieve cómo a veces la separación de responsabilidades puede
suponer una dificultad o retraso en la resolución de un conflicto. Y es que en este caso tanto el
gobierno regional (Comunidad Autónoma de Aragón) como el gobierno de España (a través de la
Confederación Hidrográfica del Ebro) tenían responsabilidades sobre la planificación y gestión de
las zonas objeto de conflicto. A su vez, hay que tener en cuenta la normativa europea de protec-
ción de espacios naturales, Red Natura 2000, que impedía realizar algunas de las actuaciones pro-
puestas. Por otro lado, y no menos importante, cabe apuntar que la escala y traslación de efectos
de las actuaciones a realizar también es importante. De hecho, en una cuenca hidrográfica cual-
quier actuación va a tener repercusiones aguas abajo (y en muchas ocasiones también aguas
arriba por erosión remontante, etc.). Este punto implica un plus de complejidad a la resolución
del conflicto que no se da en tal alto grado en otros sistemas ecológicos.
Finalmente, el último punto de nuestro análisis, que tiene mucha relación con el punto
tercero, habla de las distintas visiones y valores que afectan a nuestra relación con el entorno.
La visión más biocéntrica propugnará una adaptación de las sociedades humanas al funciona-
miento natural de los sistemas fluviales, con el fin tanto de favorecer la conservación de espe-
cies y ecosistemas, como de reducir la vulnerabilidad de las infraestructuras antrópicas y
actividades económicas. Por su parte, una visión más antropocéntrica o tecnocéntrica, confiará
en la capacidad del ser humano y la tecnología para dominar el complejo sistema fluvial, a fin
de adaptarlo a nuestras necesidades y requerimientos, modificándolo todo lo que sea preciso.
Como puede observarse, se enfrentan los valores de la naturaleza (especies y ecosistemas)
frente a los valores culturales, tradiciones y la autonomía de los habitantes.

4 CONSIDERACIONES FINALES
En este trabajo se ha expuesto una definición y caracterización de los conflictos socio-
-ambientales a partir de estudiosos de la materia, aplicándolas al caso concreto de las cuencas
hidrográficas y los sistemas fluviales. Como se ha podido comprobar, se trata de un ámbito
paradigmático respecto a la conflictividad que en ocasiones se da entre los subsistemas natu-
ral/social, y de una mayor complejidad que otros sistemas ecológicos. Esta complejidad exige
un acercamiento especial, multidisciplinar y exhaustivo. A partir de la definición y caracteriza-
ción de este tipo de conflictos, se ha propuesto la utilización de un método de análisis de dile-
mas y problemáticas ambientales adaptado desde el ámbito de la bioética, el cual permite
abordar un conflicto desde múltiples perspectivas, diferentes y a su vez complementarias, a fin
de tener una panorámica lo más objetiva posible. El caso de estudio analizado muestra la utili-
dad del método expuesto, tanto como ejercicio pedagógico como para realizar una primera
aproximación a un conflicto socio-ambiental, sin prejuicios y desde una perspectiva abierta.
Con este punto de partida, se puede profundizar en el análisis de las distintas alternativas y
soluciones posibles, teniendo en consideración los intereses de todas las partes implicadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMACIÓN AL ANÁLISIS DE CONFLICTOS SOCIO-AMBIENTALES EN CUENCAS HIDROGRÁFICAS 393

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


33. CONFLITO DE INTERESSES
A identidade cultural de um povo versos
a narrativa do progresso enraizada na construção de
pequenas centrais hidrelétricas

SABRINA CARLINDO1
MARGGIE VANESSA SERNA2
DIMAS MORAES PEIXINHO3
JOÃO PAULO DE PAULA SILVEIRA4

Resumo: Esse artigo apresenta alguns resultados alcançados a partir de pesquisas realizadas ao
longo de 2019 e 2020, as mesmas são oriundas de relatos de experiências de povos que viveram o
processo de construção da PCH Santo Antônio do Caiapó, localizada na bacia do rio Caiapó, região
oeste do estado de Goiás. O objetivo central do estudo é lançar “luz” as transformações sociais
ocasionadas aos povos que viviam nas imediações do rio Caiapó antes da construção da PCH Santo
Antônio. A problemática em si, não está em questionar o discurso econômico e desenvolvimen-
tista que energia elétrica assumiu na sociedade moderna, fato que é incontestável, mas, como já
relatado anteriormente, é lançar “luz” sobre as transformações ocasionados aos povos, dando
“voz” a esses que foram invisibilizados pelo marketing de desenvolvimento que está enraizado as
PCHs. A metodologia adotada na elaboração esse artigo se pauta inicialmente numa revisão biblio-
gráfica, com leituras de artigos, reportagens e dissertações, em relatos de experiências de vida de
povos que passaram pelo conflito da construção da PCH Santo Antônio do caiapó, e também em
resultados adquiridos em pesquisas anteriores já desenvolvidas na área. O resultado esperado a
partir dessa pesquisa está centrado, antes de mais nada, em retratar a desgastante realidade dos
povos atingidos pela construção da PCH Santo Antônio, e como é nítido o conflito de interesses
existentes entre as partes envolvidas nessas construções. Espera-se ainda que esse material se
torne referência para nortear futuras pesquisas sobre a temática.
Palavras-chave: Energia Elétrica; PCHs; Conflito.
Abstract: This article presents some results achieved from surveys carried out throughout 2019
and 2020, which come from reports of experiences of people who lived through the construction
process of the Santo Antônio do Caiapó SHP, located in the Caiapó river basin, western region of
Goiás. The main objective of the study is to shed light on the social transformations caused to the
peoples who lived in the vicinity of the river Caiapó before the construction of the Santo Antônio

1 Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Jataí. E-mail: sabrinacarlindoo@gmail.com


2 Mestranda em Geografia pela universidade Federal de Jataí. E-mail: marggie.serna@discente.ufg.br
3 Docente da Universidade Federal de Jataí. E-mail: dimas.peixinho@ufg.br
4 , docente da Universidade Estadual de Goiás. E-mail: jpsilveirahistoria@gmail.com

[ 394 ]
CONFLITO DE INTERESSES 395

SHP. The problem in itself is not to question the economic and developmental discourse that elec-
tricity has assumed indisputable, but, as previously reported, it is to shed “light” on the transfor-
mations caused to peoples, giving a “voice” to those who were made invisible by the development
marketing that is rooted in SHPs. The methodology adopted in preparing this article is initially
based on a bibliographic review, with readings reports of the life experiences of people who went
through the conflict of construction of the Santo Antônio do caiapó SHP, and also on results acqui-
red in previous research already carried out in the area. The expected result from this research is
centered, above all, on portraying the exhausting reality of the peoples affected by the construc-
tion of the Santo Antônio SHP, and how clear the conflict of interests existing between the parties
involved in these constructions. It is also hoped that this material will become a reference to guide
future research on the subject.
Keywords: Electric Power; PCHs; Conflict.

1 INTRODUÇÃO
O debate sobre as águas, seu potencial econômico, energético e sua gestão, é atravessado
por interesses diversos, alguns deles orientados por saberes acadêmicos que lançam “luz” sobre
a relação dos povos com a água. Esse debate interpela pesquisadores e pesquisadoras, em
especial, aqueles que se dedicam ao estudo da Geografia. Nesse âmbito, o trabalho proposto
é uma resposta a essa interpelação, balizando-se na Geografia Cultural.
A partir do diálogo com a Geografia Cultural (CLAVAL, 2007; TUAN, 2013; HALL, 1998), o
objeto de estudo proposto são os povos atingidos pela Pequena Central Hidrelétrica Santo
Antônio do Caiapó, localizada a oeste do estado de Goiás. Diferente de outra oportunidade,
procuramos aqui compreender a experiência humana do “desalojamento”, isto é, da saída de
um lugar representado como “lar” e que outrora atuava como referência espacial organiza-
dora de uma identidade. Em outras palavras, problematizamos as sensibilidades daqueles que
tiveram que se mover de suas moradias em nome da narrativa do progresso que é veiculada
pelas PCHs.
Inicialmente, a experiência e o conhecimento adquirido em outras pesquisas sobre as
PCHs nos motivaram a seguir adiante a partir da Geografia Cultural (CARLINDO, 20155 e 20176).
Através dessa lente interpretativa, interessamo-nos pela compreensão das experiências dos
sujeitos das classes trabalhadoras do campo com o lugar. Por essa razão, essa pesquisa se cons-
titui como uma iniciativa que, ao tratar do deslocamento provocado pelas PCHs, chama a aten-
ção para os impactos da narrativa de mundo moderno do progresso ou desenvolvimentista,
corporificada nas barragens, sobre a vida daqueles que foram desalojados.
A partir desse entendimento, essa pesquisa se justifica pelo nosso interesse em lançar
“luz” sobre as experiências de deslocamento provocado por empreendimento que socialmente
são percebidos como promotores do progresso. Assim, buscamos compreender a maneira

5 Territórios Alagados: efeitos socioespaciais da implantação da PCH Santo Antônio do Caiapó-Arenópolis/GO. Artigo de
conclusão de curso Graduação.
6 Legislação Ambiental e Construção de PCHs: uma crítica necessária. Artigo de conclusão apresentado no curso de Espe-
cialização Ordenamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


396 Sabrina Carlindo; Marggie Vanessa Serna; Dr. Dimas Moraes Peixinho; Dr. João Paulo de Paula Silveira

como os sujeitos encaram a experiência da desapropriação provocada pelas PCHs e, conse-


quentemente, o modo pelo qual esses povos conseguem reorganizarem suas vidas.

2 POVOS ATINGIDOS POR BARRAGENS


Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento – ANA (2021), a política Nacional de
Segurança de Barragens, instituída pela Lei nº 12.334/2010, cria regras para a acumulação de
água, de resíduos industriais e para a disposição final ou temporária de rejeitos. Essa política
estabelece ainda que é de incumbência da ANA organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional
de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB). Entre os principais intuitos desse sis-
tema estão a coordenação e a elaboração do relatório de Segurança de Barragens, e, ainda, o
recebimento de denúncias dos órgãos ou entidades fiscalizadoras.
Essa e outras leis criadas com focos similares asseguram a integridade das relações bási-
cas entre meio ambiente e sociedade, uma relação que demanda muita atenção e rigor. A não
eficácia da aplicabilidade e fiscalização implica em inúmeros transtornos e danos no âmbito
ambiental e social. Às vezes, essas/es transformações/transtornos são irreversíveis e social-
mente traumáticas/os.
Às fontes geradoras de energia elétrica, em especial aquelas que utilizam os recursos
hídricos como matéria prima7, aplica-se diretamente a Lei nº 12.334/2010. Segundo a China
Three Gorges Corporation Brasil (CTG, 2020), a diferença entre uma Usina Hidrelétrica (UHE) e
uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) está centrada basicamente em dois pontos: a potência
(capacidade instalada) e a área do reservatório de água. Uma UHE conta com mais de 30 MW
(megawatts) de potência instalada enquanto uma PCH tem entre 1,1MW e 30MW de potência.
Já com relação à dimensão dos reservatórios, as UHEs possuem reservatórios com área supe-
rior a 3km² e as PCHs atingem no máximo 3km².
O início da utilização dos recursos hídricos no Brasil voltados à geração de energia elé-
trica se deu no século XIX. Ao contrário do que geralmente se acredita, as barragens de dimen-
sões menores não são empreendimentos contemporâneos. Funchal (2008) afirma que os
registros da primeira construção de uma PCH no país datam de 1883, na cidade de Diamantina–
MG. Contudo, a primeira definição formal e legal sobre as PCHs só ocorreu em 24 de novembro
de 1982, instituída pela Portaria nº 109 do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
(DNAEE).
Ao longo do século XX, os novos rumos do capitalismo demandaram uma matriz energé-
tica capaz de suprir as necessidades produtivas, sobretudo, a partir da ampliação da malha
industrial e urbana. A partir de então, os recursos hídricos têm sido utilizados na geração de
energia elétrica (onde a demanda pela mesma é visivelmente constante dia após dia).

7 Nesse caso, as fontes geradoras de energia elétrica que usufruem dos recursos hídricos como matéria prima são as UHE
e as PCHs.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONFLITO DE INTERESSES 397

As PCHs, como mencionamos anteriormente, são empreendimentos com uma capacidade


de geração igual ou inferior a 30KL/h. Segundo os órgãos responsáveis pelo setor, as PCHs têm
como principal propósito o fomento da economia do país a partir do melhor aproveitamento de
recursos hídricos. Ao contrário das UHE, elas podem ser instaladas em rios de pequena vazão.
Apesar de produzirem em menores escalas, a construção de PCHs encontra-se em ascendência
em todo país. Notemos de antemão que esses empreendimentos estão intimamente vinculados
aos ideais de modernização e progresso econômico típicos do capitalismo.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2021), atualmente mais de 64% da matriz
elétrica do Brasil é proveniente das fontes hidráulicas (formas de se produzir energia utilizando
os recursos hídricos, exemplo, as UHE ou as PCHs). Desses 64%, 60,5% correspondem a Usinas
Hidrelétricas, 3% de PCHs e 0,05% são Pequenas Centrais Geradoras. Como demostra a figura 1.

Figura 1 – Matriz elétrica brasileira

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética– EPE (2021). Organização: Própria (2021)

Os dados contidos na figura 1 deixa explícito o quanto o Brasil é um país dependente dos
recursos hídricos para a geração de energia elétrica, fato que se torna um problema, já que
esses empreendimentos ficam à mercê das condições climáticas.
O ideal do progresso comumente é evocado pelo poder público, pelos empreendedores
e mesmo pelos meios de comunicação quando se trata do aproveitamento dos recursos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


398 Sabrina Carlindo; Marggie Vanessa Serna; Dr. Dimas Moraes Peixinho; Dr. João Paulo de Paula Silveira

hídricos enquanto matriz energética, ainda que exceções sejam possíveis8. Normalmente, esse
ideal, entendido aqui como uma ideologia do capitalismo, abrilhanta os supostos benefícios
econômicos e impede, muitas vezes, a discussão sobre os impactos ambientais e sociais dessas
iniciativas. Ainda que sua dimensão seja menor do que a das hidrelétricas, as PCHs também são
um tipo de empreendimento que procura corporificar o ideal do progresso. De natureza pri-
vada, essas iniciativas precisam do aval legal do poder público, mas também da opinião pública
de uma região particular que eventualmente precisará ser convencida de que se trata de um
empreendimento coletivamente promissor.
Dentre os pontos positivos das PCHs que são frequentemente salientados, podemos des-
tacar as seguintes ideias9: a) são empreendimentos totalmente renováveis; b) são empreendi-
mentos ecologicamente viáveis, não agridem o meio ambiente em virtude de sua proporção e
dos estudos preliminares que as viabilizam; c) alimentam cada dia mais o setor energético do
Brasil; e d) impactam na economia regional na medida em que geram emprego e novas possi-
bilidades de renda. Essas são algumas das notícias divulgadas com frequência pela mídia e
pelos meios de comunicação (internet, televisão, rádios e jornais). Contudo, ao que parece,
pouco se pensa, pelo menos no caso das PCHs, na experiência vivida por aqueles que tiveram
que se deslocar de suas moradias por conta desses empreendimentos.

2.1 O território como instrumento de identidade cultural


segundo Sauer (1998), a Geografia, em vertentes gerais, não se preocupa com energia,
costumes ou cresças dos seres humanos por si mesmos, mas sim com a marca que o homem
deixa na paisagem: “A geografia cultural se interessa, portanto, pelas obras humanas que se
inscrevem na superfície terrestre e imprimem uma expressão característica”. (SAUER, 2003, p.
22–23). A partir dessas definições apresentadas por Sauer, podemos estabelecer as relações
existentes entre espaço, território e identidade, tendo como alicerce os pressupostos da
Geografia Cultural.
A instalação das PCHs produz impactos ambientais e sociais diversos. Sobre esses últi-
mos, chama-nos a atenção a experiência do desalojamento, isto é, a saída forçada do lugar
onde se vive. Como entendemos, as identidades sociais dos indivíduos também estão vinculadas
ao lugar. Sabemos que a identidade, especialmente aquela dos povos sertanejos que vivem na
zona rural, está profundamente ligada ao lugar em que vivem com suas famílias; esse lugar
equivale ao “espaço poético” de que nos fala Bacherlard (1993): nele, os sujeitos se criaram,

8 Aqui podemos mencionar os trabalhos jornalísticos de Eliane Brum a respeito de Belo Monte, localizada no sudoeste do
estado do Pará, construída na bacia do rio Xingu. Em suas matérias, a jornalista destacou o impacto socioambiental e
étnico de um gigantesco empreendimento que se legitimava a partir da narrativa desenvolvimentista evocada p e l o
poder público. https://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/01/opinion/1417437633_930086.html.
9 https://www.oestegoiano.com.br/noticias/economia/bacia-do-caiapo-torna-se-exemplo-de-geracao-de-energia–
comenta-sevan

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONFLITO DE INTERESSES 399

descobriram a vida, constituíram família e, em alguns casos, sepultaram seus mortos. Com
efeito, as identidades sociais demandam espacialidades que se tornam lugares de referência.
Esses espaços são qualificados, isto é, revestidos de significados que fazem dele um lugar.
O autor Milton Santos possui várias obras que discutem as pejorativas variáveis do que venha
a ser esse “lugar”, e nos descreve e ensina a pensar que “cada lugar nada mais é do que sua
maneira no mundo, o seu lugar de coagir e também ser coagido”. Assim, o lugar é um espaço
culturalmente particularizado que se torna “familiar” e é frequentemente associado a casa e às
práticas e saberes particulares de cada ser ou grupo que o ocupa.
Nessa perspectiva, Stuart Hall (1996) define as identidades culturais da seguinte forma:
As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identifi-
cação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e história. Não uma essên-
cia, mas um posicionamento. Donde haver sempre uma política da identidade, uma
política de posição, que não conta com nenhuma garantia absoluta numa lei de ori-
gem sem problemas, transcendental (HALL, 1996 p. 70).

A Geografia Cultural, segundo Corrêa (2012), apresenta dois caminhos principais, quais
sejam: a Geografia Cultural saueriana10 e a Nova Geografia Cultural ou Geografia Cultural pós-
80. Assim, “a geografia cultural se interessa, portanto pelas obras humanas que se inscrevem
na superfície terrestre e imprimem uma expressão característica”. (SAUER, 2003, p. 22).
A dimensão cultural do espaço aparece em McDowell (1994) e aponta para o que ele
chama de “paisagens culturais”. Para esse autor, o elemento humano, produtor de cultura, con-
fere significado ao lugar, tornando-o paisagem:
Cultura é um conjunto de ideias, costumes e crenças que modulam as ações de um
povo e a produção de artefatos materiais. É definida e determinada socialmente em
relação ao poder. Certos grupos impõem sua cultura e outros grupos a contestam.
Cultura é uma visão do mundo que é usada por diferentes autores sociais para confe-
rir significado as localidades onde moram, criando, assim, uma variedade de paisa-
gens culturais (McDOWELL, 1994, p.148).

A paisagem cultural é espaço significado onde a identidade é elaborada por um grupo ou


por indivíduos. Essa identidade, para tomarmos novamente os conceitos de Stuart Hall, não é
essencial, mas relacional, isto é, implica o contato com a alteridade. Como entendemos, essa
alteridade também é o espaço, que, a despeito de ser diferente, pode se tornar familiar na
medida em que os sujeitos o tornam uma paisagem, uma espécie de pano de fundo que marca
profundamente aquilo que as pessoas pensam de si mesmas ou do grupo do qual fazem parte,
isto é, suas identidades. Ainda sobre a paisagem, Bonnemaison (2002) afirma que:

10 Na Geografia saueriana, a cultura é definida em termos amplos, abrangendo, entre outros, costumes crenças, hábi-
tos, habilidades, técnicas, leis, artes, linguagem, gestos e moral, mas especialmente as manifestações materiais. Já no
âmbito da Nova Geografia Cultural, o conceito de cultura é restrito a significados criados e recriados pelos diversos
grupos sociais a respeito das diferentes esferas da vida em suas específicas espacialidades.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


400 Sabrina Carlindo; Marggie Vanessa Serna; Dr. Dimas Moraes Peixinho; Dr. João Paulo de Paula Silveira

A paisagem é, ao mesmo tempo, o “prolongamento e o reflexo de uma sociedade e


um ponto de apoio oferecido aos indivíduos para se pensar na diferença com outras
paisagens e outras sociedades”. A correspondência entre o homem e os lugares,
entre uma sociedade e sua paisagem, está carregada de afetividade e exprime uma
relação cultural no sentido amplo da palavra.

As PCHs, mesmo sendo construções de pequeno porte, transformam as condições naturais


do meio e a vida daqueles que viveram nas regiões inundadas e/ou que vivem nas cercanias des-
ses empreendimentos. Os impactos no âmbito identitário dizem respeito à perda do vínculo com
a terra e ao sentimento de pertencimento ao lugar. A paisagem de natureza sertaneja, no sentido
que expusemos anteriormente, é, portanto, fraturada pela iniciativa do progresso.
Tendo em vista esses apontamentos da Geografia Cultural, compete-nos agora nos
debruçarmos sobre a experiência do desalojamento a partir da vivência daqueles que foram
afetados pela PCH Santo Antônio do Caiapó, localizada a 266 km da capital do Estado de Goiás. A
imagem 3 demostra o recorte espacial em questão: a PCH Santo Antônio, localizada na região
oeste do estado de Goiás.

Imagem 3 – Mapa de localização da Pequena Central Hidrelétrica Santo Antônio do Caiapó, instalada
na bacia Caiapó, na região oeste do estado de Goiás

Fonte: SIEG, 2012. Organização: Própria (2021)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONFLITO DE INTERESSES 401

3 A EXPERIÊNCIA DE VIDA DOS RIBEIRINHOS DO RIO CAIAPÓ


Nosso contato com os povos que foram desalojados ou afetados pela barragem nos per-
mitiu lançar luz sobre experiências que tendem a ser ofuscadas pelos discursos da moderniza-
ção e do progresso que os grandes investimentos capitalistas veiculam. A partir de breves
conversas com sujeitos que viveram essa experiência, pudemos compreender com mais pro-
fundidade a relação entre identidade, lugar e paisagem cultural. Foi a partir dessas conversas
que pudemos travar contato com as representações espaciais que organizam a experiência da
vida dos sujeitos, mas que agora foram relegadas ao âmbito da memória de uma época perdida
no “fundo do lago”, como sugere um dos entrevistados.
É muito difícil pensar que parte da sua história está no fundo desse lago, perdemos
tudo que demoramos uma vida inteira para construir, foi muito doloroso, perdemos
boa parte de nossas terras, as mais férteis, pois eram as que ficavam mais próximas
do rio, além disso perdemos também nossa casa, se tem uma perda pais dolorosa
que a outra, podemos dizer que perder a nossa casa foi a pior delas.

As palavras “Casa”, “perda” e “história” foram os relatos mais significantes dados pelo
entrevistado. Eles sugerem dor no sentido de que uma determinada paisagem cultural que
marcava aquela identidade sertaneja não existe mais. O “fundo do lago” é o contraponto à pai-
sagem cultural. Seu sentido é o da hostilidade, da força diluidora da história pessoal daquela
família que perdeu sua casa e sua identidade.
Bachelard (1993), ao falar sobre a casa, discorre sobre a sua importância enquanto ponto
de partida para habitarmos um determinado espaço. A casa seria, no entendimento do autor,
aquilo que produz o “enraizamento”:
É preciso dizer como habitamos o nosso espaço vital de acordo com todas as dialéti-
cas da vida, como nos enraizamos, dia a dia, num “canto do mundo”. Porque a casa
é o nosso canto do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. É
um verdadeiro cosmos. [...]. Os verdadeiros pontos de partida da imagem, se os
estudarmos fenomenologicamente, revelarão concretamente os valores do espaço
habitado, o não-eu que protege o eu. [...]. Todo espaço realmente habitado traz a
essência da noção de casa (BACHELARD, 1993, p. 23-25).

As palavras de Bachelard nos permitem entender a saída forçada da casa como processo
de desenraizamento operado pela força do lago. Nesse sentido, a representatividade da “casa”
vai muito além de moradia, de lar. A casa é vista como o nosso canto no mundo, o nosso pri-
meiro universo e a nossa história. De forma semelhante à primeira entrevista, ouvimos de uma
mulher o seguinte:
Sem dúvida o que mais sentimos falta é da nossa casa, criamos todos os nossos filhos
ali, aquela casa por mais simples e humilde, era tudo que tínhamos, nossas histórias,
nossas memorias, lembranças, tudo acabou, agora temos que começar tudo do
zero, como se tivesse apagado 30 anos da nossa vida.

O lago escuro e profundo não aparece de forma explícita, mas seu poder destrutivo se
expressa a partir da ideia de que três décadas de vida foram apagadas. A fala evoca a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


402 Sabrina Carlindo; Marggie Vanessa Serna; Dr. Dimas Moraes Peixinho; Dr. João Paulo de Paula Silveira

experiência familiar de criar filhos, tão cara ao significado da casa. O “apagamento” por ela
aludido expressa a sensação do desenraizamento da experiência família-casa que evoca logo
no início de sua fala.
A partir desse contato com as famílias que sofreram algum tipo de ação com a implantação
da PCH Santo Antônio, podemos identificar a ruptura com uma hereditariedade cultural. A cul-
tura é uma condição que permite à pessoa aprender e transmitir saberes, costumes e tradições
a um determinado grupo de pessoas. Corrêa (2001, p. 25) afirma que “A cultura se constitui de
um nível independente da realidade, externa ao indivíduo, explicável por si própria, dentro de
uma visão holística”. Tendo ciência da importância que esses saberes possuem na formação “cul-
tural e intelectual” das pessoas e essencialmente na formação psíquica de gerações futuras, a
ruptura com essa transmissão é uma das preocupações apontadas pelos entrevistados.
Sentimos muita falta da nossa antiga vida, que nunca mais será a mesma, mas uma
das coisas que mais mim entristece é saber que nossos netos nem iram conhecer
suas próprias origens, de onde vieram, nunca irão conhecer o rio que durante tanto
tempo conhecemos e nos serviram, as praias que tinham por aqui, eles iram conhe-
cer apenas esse lago escuro, e nada mais, é muito triste pensar isso, só quem passa
por isso sabe realmente o que estamos falando e estamos sentindo desde o dia que
começaram a construir essa “usina” aqui na região.

O “lago escuro” aparece como sinônimo de dissolução da linhagem familiar, do conheci-


mento das origens e da tradição. Possuidor de um significado mais forte do que o “fundo do
lago” do relato anterior, o “lago escuro” é acompanhado do “nada mais”, um sinal de que a
inundação é interpretada por aqueles sujeitos como aquilo que diluiu a riqueza da experiência
espacial que aquela família viveu – notemos o contraste entre as “praias”, sinônimo de vida
abundante, e o “lago escuro”, sinônimo de pobreza.
Claval (2002) mostra que a adaptação de um grupo humano sobre um determinado meio
consolidado depende de suas técnicas produtivas e suas modificações, originando novos meios,
técnicas de transportes e a capacidade de “intercambiar”, absorvendo e transmitindo saberes
e hábitos a outros grupos ou espaços. A dificuldade de adaptação é uma realidade identificada
entre os entrevistados:
Sinto falta de ser o que eu sempre fui, um trabalhador, sinto falta de levantar cedo e
tirar o meu leite, cuidar de meus porcos, sinto falta da minha casa, sinto falta tam-
bém do rio, dos pescados de antes, que agora também não são os mesmos.
Resumindo, sinto falta da vida que eu construí como muito esforço e dedicação para
mim e minha família.

A afirmação “sinto falta da vida que eu construí” sugere algum grau de anomia provocada
pelo desalojamento. Uma vida construída a partir do trabalho profundamente dependente das
condições oferecidas pelo espaço – aqui o trabalho converte o espaço em paisagem – foi dilace-
rada na medida em que a rotina laboral, cara à identidade daqueles que garantem seu sustento
a partir do trabalho com a terra, não existe mais. Sentimentos semelhantes que sugerem a difi-
culdade de adaptação foram percebidos em grande parte das entrevistas realizadas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONFLITO DE INTERESSES 403

Outra inquietação identificada também diz respeito à não valorização do patrimônio por
parte dos negociantes enviados para comprarem os imóveis atingidos pela área de inundação
formada pelo reservatório da PCH. Um dos entrevistados nos confidenciou o seguinte:
Nós não aceitamos a negociação, a proposta feita por eles, por que ninguém chegou
aqui disposto a negociar, simplesmente nos imporão um valor e disseram que seria
naquela determinada quantia que as nossas terras estavam validadas, valor bem a
baixo do mercado.

Ao colocarmos essa declaração em perspectiva e a encaixarmos às outras que levanta-


mos anteriormente, é possível afirmarmos que a sensação de ter perdido algo valioso nos
parece mais forte do que simplesmente algum tipo de reclamação diante de uma transação
malsucedida. Notemos que o entrevistado afirma “nós não aceitamos”, o que nos permite inferir
que o processo de desalojamento é interpretado por aquelas famílias como uma decisão que
ignorou seus interesses. O “valor foi imposto”, o que, em outras palavras, significa que aqueles
que partiram de seus lugares poéticos interpretam sua mudança como uma imposição de for-
ças maiores.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desse estudo, problematizamos a experiência do desenraizamento provocada
pelas PCHs. Nosso intuito foi chamar a atenção para nuances da vida cotidiana que comumente
são ignoradas pela grande narrativa do progresso, que é evocada por empreendimentos ener-
géticos que a cada dia ganham mais espaço e visibilidade na sociedade atual.
A energia elétrica é um insumo de extrema importância na construção e manutenção da
sociedade moderna, e contestar esse fato é uma falácia. O Brasil é um país de escala continental
que possui um território rico em biodiversidades naturais, muitas dessas riquezas podem ser
aproveitadas para a geração de energia. Porém o que vemos, é um país que por mais que hoje
possua uma matriz elétrica diversificada e seja autossuficiente, ela é frágil e exala incertezas.
O fato de um território ter uma matriz elétrica composta predominantemente por uma
fonte específica, aumenta consideravelmente a probabilidade de que mais cedo ou mais tarde
ele viva uma crise e/ou até mesmo um colapso elétrico. Já que havendo um problema no for-
necimento do recurso que propicia a geração de energia daquela fonte dominante, as outras
fontes da matriz elétrica não iram conseguir potencializar sua geração a nível de suprir o défice
da energia que provinha de a fonte em caus. Além das hidrelétricas serem uma fonte de gera-
ção de energia que fica à mercê das condições climáticas, ela ocasiona diversos impactos nega-
tivos aos povos que são diretamente atingidos por esses empreendimentos, o que poderia ser
minimizado se o Estado começasse uma política de incentivo voltada para a implantação de
outra fonte geradora, como a energia solar fotovoltaica.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


404 Sabrina Carlindo; Marggie Vanessa Serna; Dr. Dimas Moraes Peixinho; Dr. João Paulo de Paula Silveira

5 REFERÊNCIAS
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Acesso em: 19 Marc. 2021.
ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Banco de Informações de Geração.
Disponível em: <www.aneel.gov.br>. Acesso em: 11 Agost. 2021.
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CHAVEIRO, Eguimar Felício; CASTILHO, Denis. Cerrado: patrimônio genético, cultural e simbólico. In: Revista
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SAUER, O. C. A morfologia da Paisagem. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (org.)
Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003.
. A Morfologia da Paisagem. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (org). Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro:
EdUERJ, 1998.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


34. A GOVERNANÇA NAS BACIAS
HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA
EVITAR CONFLITOS
O caso do Rio Quaraí/Cuareím

ALINE ANDRESSA BERVIG1


ARMANDO GALLO YAHN FILHO2

Resumo: A demanda pela utilização de recursos hídricos é cada vez mais intensa para atender as
necessidades básicas e vitais da humanidade, bem como para a sua utilização econômica. Em
situações nas quais os recursos hídricos se encontram em uma bacia compartilhada por dois ou
mais países, eles se tornam internacionais. Em caso de conflitos nessas bacias, há a necessidade de
investigá-los buscando a sua mitigação, e até mesmo soluções definitivas para eles. Para buscar
esse entendimento nas bacias hidrográficas internacionais, é preciso utilizar o conceito de gover-
nança. Essa mesma governança pode ser aplicada em várias outras situações. A necessidade de
que este conceito esteja articulado à gestão dos recursos hídricos e de uma bacia hidrográfica
internacionais é tocante, uma vez que a solução dos conflitos possa surgir através do intenso diá-
logo entre diversos atores interessados. O objetivo principal deste trabalho é demonstrar a impor-
tância do diálogo entre os atores envolvidos no contexto da governança hídrica multinível, na
busca de conhecer e solucionar problemas ambientais que acometem a bacia hidrográfica inter-
nacional do Rio Quaraí/Cuareím. As metodologias aplicadas são a qualitativa e o estudo de caso.
Os resultados obtidos mostram que a necessidade de um fortalecimento do diálogo entre os ato-
res envolvidos na bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/Cuareím é uma realidade, visando
um maior sucesso na cooperação para sua gestão.
Palavras-chave: conflitos; governança; bacia hidrográfica internacional; Rio Quaraí/Cuareím
Abstract: The demand for the use of water resources is increasingly intense to meet the basic and
vital needs of humanity, as well as for their economic use. In situations where water resources are
in a basin shared by two or more countries, they become international. In case of conflicts in these
basins, there is a need to investigate them, seeking their mitigation, and even definitive solutions
for them. To seek this understanding in international river basins, it is necessary to use the concept
of governance. This can be applied in many other situations. The need for this concept to be linked

1 Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: alinebervig@gmail.


com
2 Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: agyahn@
gmail.com

[ 405 ]
406 Aline Andressa Bervig; Armando Gallo Yahn Filho

to the management of water resources and an international river basin is touching, since the reso-
lution of conflicts can arise through intense dialogue between various interested actors. The main
objective of this work is to demonstrate the importance of dialogue between the actors involved
in the context of multilevel water governance, in the quest to understand and solve environmental
problems that affect the international watershed of the Quaraí/Cuareim River. The methodologies
applied are qualitative and case study. The results obtained show that the need to strengthen the
dialogue between the actors involved in the international hydrographic basin of the Quaraí/
Cuareim River is a reality, aiming at greater success in cooperation for its management.
Keywords: conflicts; governance; international river basin; Quaraí/Cuareim River

1 INTRODUÇÃO
O ser humano possui várias possibilidades de comunicação, podendo ser: a escrita, os
símbolos, os códigos, a fala, entre outras. Quando se menciona a fala, leva-se em consideração
o poder do diálogo entre as pessoas. E isso é fundamental, principalmente atualmente, em que
ele se exerce nas mais diversas tomadas de decisões.
A necessidade de exercer uma boa governança é evidente. Envolver os vários atores, em
vários níveis, propicia um ambiente que leva, em alguns casos, à discussão e busca por soluções
de problemas que acometem o local. E o diálogo é peça-chave, pois muitas vezes é na troca de
ideias que os problemas são resolvidos ou amenizados dentro de uma bacia hidrográfica.
A bacia hidrográfica em si é definida através de vários olhares, desde o mais técnico até o
mais teórico. Indo no sentido do planejamento do território, ela é vista como um espaço básico
para se realizar análises, visando o desenvolvimento de ações e medidas estruturais e não estru-
turais com a ideia de integração entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental, indo
ao encontro de governança. E a governança é fundamental, principalmente, quando a bacia
hidrográfica é internacional, ou seja, aquela compartilhada por dois ou mais países. Atualmente,
aproximadamente 40% da população mundial vive nesse tipo de bacia. (MENEZES, 2004).
Nesse sentido, o presente trabalho se justifica, pois ao colocar em evidência a necessi-
dade de diálogo entre os atores envolvidos no cenário da governança, muitas vezes pode-se
evitar conflitos que possam acontecer em um curto ou médio prazos. Conhecer os problemas
ambientais que acometem uma bacia hidrográfica internacional auxilia, e vai no sentido da
sustentabilidade.
O objetivo principal deste trabalho é demonstrar a importância do diálogo entre os ato-
res envolvidos no contexto da governança hídrica multinível, na busca de conhecer e solucio-
nar problemas ambientais que acometem a bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/
Cuareím, na fronteira entre o estado brasileiro do Rio Grande Sul e o Uruguai.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A GOVERNANÇA NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA EVITAR CONFLITOS 407

2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
A bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/Cuareím é um afluente pela margem
esquerda do Rio Uruguai, integrando a bacia internacional do Rio da Prata. Ela possui uma
área de drenagem de cerca de 14.800 km², dos quais aproximadamente 6.700 km² (45%)
estão em território brasileiro e cerca de 8.100 km² (55%) no extremo Noroeste do Uruguai.
Esta é uma bacia internacional de águas compartilhadas entre Brasil e Uruguai, sendo a fron-
teira entre os dois países o curso principal do Rio Quaraí/Cuareím (DNH; IPH, 2005;
VILLANUEVA et al., 2002; JUNGES, 2013).

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/Cuareím


Uruguaiana

Barra do Quaraí Bella


Unión
Artigas Quaraí Santana do
Livramento

Rivera

Fonte: MALAGUTTI, V. et.al., 2018. Edição dos autores

O comprimento total da sua calha principal de drenagem é de 351 km. A diferença das
cotas altimétricas, da nascente até o exutório, é de 326 metros. E a altitude média da bacia é
de 200 metros. Situada entre os meridianos 55º35’W e 57º40’W e os paralelos 29º40’S e
30º55’S, a bacia apresenta, segundo a classificação climática de Köppen, um clima temperado
úmido, na variedade de clima subtropical do tipo “Cfa” (DNH; IPH, 2005). Além disso, os solos
são rasos, o que acaba provocando tanto inundações quanto secas.
A bacia hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím está localizada no Brasil, no Estado do Rio
Grande do Sul, pertencendo a ela os Municípios de Barra do Quaraí/RS, Quaraí/RS, Santana do

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


408 Aline Andressa Bervig; Armando Gallo Yahn Filho

Livramento/RS e Uruguaiana/RS. Já no Uruguai estão Artigas/UY, Bella Unión/UY, Rivera/UY, os


quais pertencem, respectivamente, aos Departamentos de Salto, Artigas e Rivera.

2.2 Sobre os métodos de estudo de caso


Trata-se de um estudo de caso baseado no método hipotético-dedutivo. Utilizou-se de
pesquisas bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos científicos) e documentais (análise
de leis, decretos, portarias, resoluções, estatutos, atas e projetos relacionados ao tema pro-
posto), a fim de se fazer uma análise da gestão da Bacia do Quaraí/Cuareím e das tendências de
cooperação para sua melhor gestão, a partir de uma governança multinível.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através do programa intitulado Transboundary Freshwater Dispute Database (TFDD) da
Oregon State University, juntamente com o Banco Mundial inserindo as mudanças climáticas nos
registros, o número foi atualizado para 276 (duzentos e setenta e seis) bacias internacionais.
Nesse último levantamento foi levada em consideração a porção espacial da bacia internacional
que se encontra dentro de cada países que dela compartilha (DE STEFANO et al., 2010).
Por exemplo, uma bacia internacional compartilhada por três países deixou de ser uma
única bacia e passou a ser contada como três bacias internacionais no mundo. Isso é impor-
tante, pois passa-se a considerar que qualquer fenômeno que esteja afetando a bacia interna-
cional em um determinado país poderá ter repercussão nos outros dois países. Assim sendo,
um país cuja parte do seu território pertence a uma bacia internacional deve estar ciente de
que suas ações podem causar ou sofrer efeitos do que estiver acontecendo em qualquer parte
daquela bacia.
O programa TFDD novamente atualizou os dados em 2016, com a contribuição do
Programa de Avaliação de Águas Transfronteiriças e do Relatório da Bacia Hidrográfica
Transfronteiriça (TWAP-RB) (UNEP-DHI, 2016). Esse relatório atualizou a lista de 286 bacias
internacionais, adicionando 10 bacias à atualização anterior. Os delineamentos espaciais no
relatório TWAP-RB são a base para a atualização discutida neste artigo, que agora inclui 310
bacias hidrográficas. (MCCRACKEN, M.; WOLF.A. 2019). Esse mapeamento atual pode ser visua-
lizado na Figura 2, na cor azul mais intensa.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A GOVERNANÇA NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA EVITAR CONFLITOS 409

Figura 2 – Bacias hidrográficas internacionais do mundo

Fonte: TRANSBOUNDARY FRESHWATER DISPUTE DATABASE (TFDD), 2018.

Como esse último mapeamento foi o primeiro a levar em consideração a área da bacia
hidrográfica internacional, é interessante demonstrar essa porcentagem no mundo. Esses
dados podem ser visualizados no Quadro 1.

Quadro 1 – Número de bacias hidrográficas internacionais e a área que ocupam na superfície terrestre

Registro do mapeamento Número de bacias Porcentagem de ocupação

Registro de 1978 214 47%

Atualização de 1999 261 45,3%

Atualização de 2010 276 46,1%

Estudo de dependência hidropolítica de 2014* 456 47,7%


(Beck, Bernauer, Siegfried,
& Böhmelt, 2014)
Atualização de 2016 (TWAP – UNEP-DHI) 286 46,2%

Situação atual 310 47,1%

*Esse dado é referente a um estudo isolado, realizado por esses autores mencionados, como forma de projeção, sem comprovação de mapeamentos ou
outras formas visuais.

Fonte: MCCRACKEN; WOLF, 2019, p. 3, tradução nossa.

A tecnologia de mapeamento melhora a qualidade dos dados. A inserção da área da


bacia nos países envolvidos é imprescindível, pois através dessa informação é possível visuali-
zar com maior precisão as bacias hidrográficas internacionais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


410 Aline Andressa Bervig; Armando Gallo Yahn Filho

Há uma complexidade na gestão de uma bacia hidrográfica convencional, ou seja, aquela


que não é internacional já se mostrou um tanto complexa. Se ela faz fronteira entre dois ou
mais países é ainda mais complexa, uma vez que envolve legislações específicas, interesses de
cada um dos países e várias outras questões já mencionadas. Para que haja uma boa gover-
nança, há a necessidade de que exista muito diálogo e negociações. Para isso, os atores de
várias escalas geográficas devem buscar entrar em acordo, visando uma boa gestão e gover-
nança multinível.
Segundo a definição de Marks (apud BACHE; FLINDERS, 2004, p. 3, tradução nossa),
governança multinível é “um sistema de contínua negociação entre governos ligados em diver-
sos níveis territoriais”, além de inseridos dentro de redes políticas que ultrapassam os limites
da esfera pública. Desta forma, o conceito de governança multinível contém tanto a dimensão
horizontal como a vertical. A palavra multinível se refere ao “aumento da interdependência de
governos operando em diferentes níveis territoriais”, enquanto governança “assinala o cresci-
mento da interdependência entre atores governamentais e não-governamentais em vários
níveis territoriais” (BACHE; FLINDERS, 2004, p. 3, tradução nossa).
Neste sentido, o conceito de governança multinível está vinculado à ideia de gestão de
bacias hidrográficas internacionais, pelo fato de que tal gestão não se faz apenas nas relações
interestatais entre os governos nacionais dos países que dela compartilham, mas também
entre todos os demais atores que nela se encontram. No caso da bacia do Rio Quaraí/Cuareím,
compartilhada por Brasil e Uruguai, sua gestão não envolve apenas os governos nacionais bra-
sileiro e uruguaio, mas também os governos subnacionais do estado do Rio Grande Sul (Brasil),
do Departamento de Artigas (Uruguai) e de todas as cidades presentes no território da bacia,
portanto, trata-se de uma gestão de bacia fundamentada no conceito de governança
multinível.
A bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/Cuareím possui uma característica
importante a ser ressaltada: ela é exemplo de cooperação por conta da atuação de diversos
atores em diversos níveis.
Nessa bacia internacional existe a Comissão Mista uruguaia-brasileira para o
Desenvolvimento da Bacia hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím, com a intensificação das rela-
ções transnacionais, ou seja, aquelas que não são feitas apenas entre os representantes dos
Estados-nação, mas também por diversos outros atores envolvidos nas relações
internacionais.
Uruguai e Brasil, que compartilham da Bacia do Rio da Prata e são signatários de tratados
e acordos sobre os usos dessas águas, têm afirmado e reiterado a necessidade de uma atuação
conjunta relacionada à utilização e gestão dos recursos hídricos, que beneficiará todos os cida-
dãos que vivem na bacia hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím. Na visão de Arcelus e Goldenfum
(2005, p. 3 e 4) as principais razões para a gestão coordenada da bacia internacional do Rio
Quaraí/Cuareím são:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A GOVERNANÇA NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA EVITAR CONFLITOS 411

• Aumento da concorrência para a utilização dos recursos hídricos;


• A expansão da ocupação da várzea por colonos e produtores das cidades e das zonas rurais;

• O aumento do número de usuários e de lotes de obras que utilizam as águas da bacia;

• A utilização dos cursos de água da bacia para receber descargas de resíduos e outros processos indus-
triais semelhantes, ocasionando a diminuição na oferta dela para a população;

• O aumento da severidade do impacto de fenômenos naturais extremos como secas e inundações,


com os fenômenos adicionais efetuar mudanças no clima global;

• As recomendações decorrentes das conferências e fóruns internacionais sobre água, incentivando os


países a estabelecer mecanismos e procedimentos para gestão partilhada das bacias internacionais.

A Comissão é composta conforme a Figura 3.

Figura 3 – Organograma referente a Comissão Mista da Bacia do Rio Quaraí (CRQ)

Fonte: CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH), 2020.

Em relação à bacia hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím existem grupos de trabalho bila-


teral (comissões mistas) com representantes definidos e designados, que têm a prerrogativa de
harmonizar os planos e ações propostas para adaptar-se às legislações nacionais de cada país,
que regulam as instituições de gestão já existentes em cada um deles.
Conforme Arcelus e Goldenfum (2005, p. 45):
Este é um excelente ponto de partida para harmonizar as ações de ambos os países
na gestão da bacia compartilhada e implementar essas políticas e legislações, desde
que o pedido esteja dentro dos interesses de cada Estado. O aspecto crucial da apli-
cação da legislação não tem sido suficientemente frequentado nem subestimou a
sua complexidade. As dificuldades em torno da gestão integrada da bacia

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


412 Aline Andressa Bervig; Armando Gallo Yahn Filho

hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím não são derivadas de deficiências legais ou ins-


titucionais, mas do fracasso na implementação dos mecanismos previstos.

Em relação às funções básicas da Comissão Mista uruguaio-brasileira para o desenvolvi-


mento da bacia hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím, pode-se mencionar, conforme Arcelus e
Goldenfum, 2005, p. 6:
Coordenação: Coordenar a gestão e uso da água; recomendar os planos de gestão
para recursos hídricos e usos múltiplos na bacia;
Gestão da água: Analisar, avaliar e informar sobre as aplicações existentes em rela-
ção aos usos de água do Rio Quaraí/Cuareím – Administrar os conflitos que são gera-
dos entre os usuários devidamente registrados – Mediar os conflitos entre
usuários;
Controle e monitoramento: Receber as queixas ou denúncias referentes à existên-
cia de obras de represamento ou descargas não autorizadas que afetam negativa-
mente os usuários devidamente registrados para o uso da água na bacia ou o
ambiente em geral – Recomendar ou relatar arquivos sobre as sanções violações, de
acordo com a legislação em vigor em cada país;
Dados e informações: Fazer as ligações com outras instituições envolvidas no forne-
cimento e recepcionar os dados e informações para identificar e promover ações de
interesse comum;– Gerenciar um “Sistema de Informações da Água na bacia hidro-
gráfica”, e mantê-lo acessível para a população em geral; – Gerar uma “Atualização
do Inventário da Recuperação da Água” e dos direitos para o uso e despejo na bacia;
– Planejar e desenvolver atividades que tendem a difusão de regulamentos sobre a
gestão dos recursos naturais;
Eventos extremos: Analisar, manter ou alterar os fluxos específicos que existem
para o curso principal na outorga de direitos de uso de água para o caso de secas e
inundações.

A estrutura da Comissão Mista está baseada em duas subcomissões, sendo elas: a


Comisión do Rio Cuareím (C.R.C) e a Agência de Águas da bacia hidrográfica do Rio Quaraí/
Cuareím (A.C.R.C.), e cada uma delas possui uma função específica. (BERVIG, 2015)
Tanto a Comissão quanto a Agência de Águas da bacia hidrográfica (BH) do Rio Quaraí/
Cuareím possuem atividades importantes para a gestão compartilhada da BH. Entre elas pode-
-se citar: gerenciar a documentação da bacia, as trocas de informações referentes a ela e o
monitoramento contínuo dela, entre outras.
Conforme High Level Panel on Water (2018, p. 30, tradução nossa): “O fortalecimento da
cooperação internacional pode ser a ferramenta mais poderosa para se atingir o desenvolvi-
mento sustentável”.
Todo esse cenário mencionado acima é uma realidade na bacia do Rio Quaraí/Cuareím.
Porém, desde o ano de 2020, provavelmente devido à pandemia do Coronavírus (Covid-19),
as reuniões corriqueiras que ocorriam por ambas as partes envolvidas, brasileira e uruguaia,
começaram a não ocorrer com tanta frequência. A falta de diálogo começou a se tornar uma
realidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A GOVERNANÇA NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA EVITAR CONFLITOS 413

Conforme a integrante da Comisión do Rio Cuareím no Uruguai, Laura Marcelino, mencio-


nou, em 24 de julho de 2020, no site Todo Artigas: “La Comisión del Rio Cuareím no funciona
porque tiene períodos de inoperância”, ou seja, “a Comissão do Rio Quaraí não está funcio-
nando por causa que tem períodos de inoperância” (MARCELINO, 2020, p. 1, tradução nossa).
Segundo a mesma autora:
Considera que muita gente não dá importância se essa Comissão tiver períodos de
inoperância. O pior é que a Comissão pode continuar funcionando, mas como insti-
tuição vinculada com gestores de Montevidéu, que são pessoas distantes da bacia
hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím e que não têm noção da realidade local.
(MARCELINO, 2020, p. 1, tradução nossa)

A expressão “governança” surge a partir de discussões promovidas pelo Banco Mundial


onde formulou-se o conceito de que governança é o modo como o governo exerce o poder
para administrar seus recursos sociais e financeiros e, com isso, promover o desenvolvimento
e implementar suas políticas governamentais. (WORLD BANK, 1992; STOCKER, 2002;
GONÇALVES, 2006; MATOS; DIAS, 2013; TEIXEIRA, 2015)
Assis (2006, p. 20) complementa a ideia mencionando que governança “significa um
novo modo de governo, ou seja, uma forma mais cooperativa de governar, diferente do velho
modelo hierárquico nos quais os estados autoritários exerciam controle externo sobre gru-
pos de cidadãos”.
Para Teixeira e Corralo (2015, p. 261):
Para ter-se uma governança eficiente é preciso ter-se consciência da importância da
construção da relação Estado/Sociedade. Assim, exige-se não só resultados da
administração pública como também transparência e diálogo com a sociedade,
disso decorre a importância dos Conselhos Municipais, pois ensina Gonçalves (2005,
p.1) que “A capacidade governativa não seria avaliada apenas pelos resultados das
políticas governamentais, e sim também pela forma pela qual o governo exerce o
seu poder”. Portanto, o essencial da governança é a participação pública em con-
junto com a sociedade civil organizada. Ou seja, não adianta somente atingir os
objetivos, o meio pelos quais se atingem tais objetivos também é considerado de
suma importância para uma boa governança pública, principalmente quando se fala
em questões ambientais, pois estas podem não só refletir no impacto local como
também global. (TEIXEIRA; CORRALO, 2015, p.261, grifo nosso)

A importância da Comissão Mista Brasileiro-Uruguaia da Bacia Hidrográfica do Rio


Quaraí/Cuareím é fundamental para se reconhecer os problemas locais e buscar solução para
eles. E o diálogo é imprescindível. A “inoperância” dela pode prejudicar o exemplo de coopera-
ção dessa bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


414 Aline Andressa Bervig; Armando Gallo Yahn Filho

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das análises realizadas neste trabalho, pode-se compreender a importância do
diálogo para a boa governança das bacias hidrográficas internacionais. Ainda mais nesses
recortes espaciais internacionais que, muitas vezes, tendem a ser palcos de intensos conflitos.
Na busca de amenizar ou liquidar de vez os conflitos, há a necessidade de constante diá-
logo por parte de todos os atores envolvidos. Sem diálogo entre todos não há uma verdadeira
governança.
No caso específico da Bacia do Rio Quaraí/Cuareím, ficou perceptível que, apesar de ela
ser considerada um exemplo de cooperação na busca de amenizar os problemas existentes e
não chegar a um conflito, atualmente, ela está tendendo à inoperância de diálogos. A falta de
constantes reuniões entre ambas as partes, brasileira e uruguaia, pode ocasionar uma piora da
cooperação.
Por fim, o trabalho conjunto de diversos atores é imprescindível para preservar os recur-
sos naturais que uma bacia hidrográfica internacional possa proporcionar a todos os seres
vivos, a fim de serem utilizados a médio e longo prazos, aprofundando, assim, a sustentabili-
dade. Na busca de usufruir deles, mas não deixando que as gerações futuras não possam utili-
zá-los, faz-se necessária uma governança cada vez maior.

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A GOVERNANÇA NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERNACIONAIS PARA EVITAR CONFLITOS 415

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2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


35.
USO DA ÁGUA E IMPACTOS
DO TURISMO NA SUB BACIADO
RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO

RAYMARA FERNANDA DUTRA MARTINS1


MARCELINO SILVA FARIAS FILHO2

Resumo: O Rio Una, no estado do Maranhão, apresenta características ambientais e socioculturais


que se tornaram grandes atrativos à visitação.  Contudo,  este rio vem sofrendo permanentes e
crescentes intervenções antrópicas,  em suas margens e em toda sua estrutura,  assim como as
comunidades localizadas na região, estando associadas aos reflexos da atividade turística e sua
exploração. Mediante pesquisa de campo com a aplicação de questionários, contatou-se que a
comunidade tem sido impactada pela qualidade da agua devido as atividades de turismo desen-
volvidas sem controle, o que tem resultado na descaracterização das áreas naturais sob influência
das atividades turísticas, gerando impactos como poluição hídrica, desrespeito a fauna e flora, e
principalmente alterações nos valores culturais das comunidades as margens do rio. Observou-se
um elo muito afetivo e de grande importância da existência da sub bacia com os moradores das
comunidades pesquisadas. Portanto, as contribuições abordadas demonstram que a análise das
percepções e atitudes dos residentes tem sido efetuada pela preocupação relacionada aos aspec-
tos negativos que o turismo pode desencadear nas localidades receptoras e pelos aspectos positi-
vos que podem ser potencializados, através da opinião da comunidade local.
Palavras-chave: Uso da água. Atividades turísticas. Comunidades tradicionais.
Resumen: El Río Una, en el estado de Maranhão, presenta características ambientales y sociocul-
turales que se tornaron grandes atractivos a la visitación. Sin embargo, este río viene sufriendo
permanentes y crecientes intervenciones antrópicas, en sus márgenes y en toda su estructura, así
como las comunidades localizadas en la región, estando asociadas a los reflejos de la actividad
turística y su explotación. Mediante investigación de campo con la aplicación de cuestionarios, se
contactó que la comunidad ha sido impactada por la calidad del agua debido a las actividades de
turismo desarrolladas sin control, lo que ha resultado en la descaracterización de las áreas natu-
rales bajo influencia de las actividades turísticas, generando impactos como contaminación
hídrica, falta de respeto a la fauna y flora, y principalmente alteraciones en los valores culturales
de las comunidades a orillas del río. Se observó un vínculo muy afectivo y de gran importancia de

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia – UFMA. E-mail: fernanda.raymara@gmail.com


2 Prof. do PPGGEO /UFMA. E-mail: marcelinobrasil@msn.com

[ 416 ]
USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 417

la existencia de la subcuenca con los habitantes de las comunidades investigadas. Por lo tanto, las
contribuciones abordadas demuestran que el análisis de las percepciones y actitudes de los resi-
dentes ha sido efectuado por la preocupación relacionada a los aspectos negativos que el turismo
puede desencadenar en las localidades receptoras y por los aspectos positivos que pueden ser
potenciados, a través de la opinión de la comunidad local.
Palabras Clave: Uso del agua. Actividades turísticas. Comunidades tradicionales.

1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento indispensável a vida. Água elemento vital, purificadora, recurso
natural renovável são alguns dos significados referidos em diferentes mitologias, religiões
povos e culturas, em todas as épocas. O termo “água” refere-se, regra geral ao elemento natu-
ral desvinculado de qualquer uso ou utilização. Por sua vez o termo “recurso hídrico” é a con-
sideração da água como bem econômico, possível de utilização com tal fim. Entretanto, deve-se
ressaltar que toda a água da terra, não é, necessariamente um recurso hídrico, na medida em
que seu uso ou utilização nem sempre tem viabilidade econômica (REBOUÇAS, 2015).
A Classificação mundial das aguas, feitas com base nas suas características naturais,
designa como “agua doce” aquela que apresenta teor de sólidos totais dissolvidos (STD) infe-
rior a mil mg/L. Vale ressaltar que a legislação ambiental vigente – resolução Conama (Conselho
Nacional do Meio Ambiente) nº 357/2004 – classifica as aguas do território brasileiro, de acordo
com a salinidade em “agua doce” (salinidade inferior ou igual a -0,5%), “salobra” (salinidade
entre 0,5% a 30%) e “salina” (superior a 30%) (BRASIL, 2002).
Desse modo, a agua é elemento essencial ao abastecimento do consumo humano e ao
desenvolvimento de suas atividades industriais e agrícolas e é de importância vital aos ecossis-
temas sendo divididas em dois grupos: usos consuntivos (usos que alteram consideravelmente
a quantidade de água disponível, como: irrigação, abastecimento humano e industrial, desse-
dentação) e usos não consuntivos (que não alteram a quantidade, contudo, alteram na quali-
dade, exemplo, geração de hidroelétrica, navegação, recreação, diluição dos efluentes e usos
paisagísticos) (OKAWA; POLETO, 2014).
Durante muito tempo acreditava-se que a água era um elemento natural inesgotá-
vel. Haja vista que a quantidade de água é a mesma ao longo do tempo, caso a qualidade seja
comprometida os custos de tratamento podem se tornar tão alto que o inviabilizem. Ou seja, a
água tende a se tornar escassa pelo fator qualidade e não pela quantidade disponível.
Com a finalidade de sanar a má utilização, se executa uma gestão baseada em princípios
legais, onde o Estado através da Lei Federal 9.433 de 08 de janeiro de 1997 iniciou o processo
de gestão das águas no Brasil, criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos. Apesar da PNRH ter sido promulgada desde 1997, poucos avanços têm sido alcança-
dos em muitas realidades brasileiras, especialmente em estados como o do Maranhão, que
possui imenso conjunto de recursos hídricos e que tem como atividades econômicas básicas a
agricultura de corte e queima, a pecuária extensiva, a mineração e a extração madeireira e que

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


418 Raymara Fernanda Dutra Martins; Marcelino Silva Farias Filho

vive um franco processo de urbanização sem que haja planejamento e infraestrutura


adequada.
A sub bacia do Rio Una localizada no Município de Morros, Maranhão, é frágil ambiental-
mente, pois apresenta solos com textura arenosa e elevada erodibilidade como enfatizado nos
estudos de Pompêo e Moschini-Carlos (2001). Com o aumento do número de visitantes e habi-
tantes nos últimos 20 anos decorrentes da construção de acesso rodoviário, houve cresci-
mento dos problemas ambientais e impactos em comunidades tradicionais da região
decorrentes do aumento da população, poluição sonora e aos efluentes despejados nos peque-
nos rios da região, do desmatamento, construção de bares, pousadas e chalés, em consequên-
cia do desenvolvimento do turismo no município.
Os problemas ambientais acima relatados, associados ao descarte inadequado de resí-
duos sólidos, contribuem para a proliferação de agentes patogênicos responsáveis pelo desen-
volvimento de diversas doenças, constituindo-se, portanto, em problema sanitário. É válido
ressaltar que estes problemas são agravados pela falta de planejamento e de fiscalização por
parte dos órgãos competentes nos âmbitos Municipal, Estadual e Federal.
Essa pesquisa tem por objetivo identificar os principais tipos de usos dos recursos hídricos
da sub bacia e diagnosticar os conflitos entre os usuários da sub bacia hidrográfica do Rio Una.

2 METODOLOGIA
O Rio Una que está localizada no município de Morros-Maranhão, situado na Mesorregião
Norte Maranhense e na Microrregião de Rosário, componente da Bacia Hidrográfica do Rio
Munim. A sub bacia do Rio Una localiza-se no Município de Morros, entre a Latitude 2º 45’ 31.
10” S e Longitude 44º 0’ 15. 27” O, Latitude 2º 50’ 8. 14” S e Longitude 44º 2’ 50. 52” O.
Origina-se em uma comunidade conhecida como Barato, abrigando oito comunidades,
incluindo a sede do município, estendendo-se por 35 km aproximadamente.
Tem como afluentes o rio Centro do Anajá, rio Contrato, rio Arruda, Igarapé São
Benedito (conhecido também como riacho Mato Grosso), riacho do Saara e una da Felipa, e são
classificados como perene. As comunidades de Mato Grosso e Una dos Moraes estão localiza-
das dentro da área da sub bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 419

Figura 1 – Mapa de Localização

Fonte: Galeria do autor.

O presente artigo é visa realizar um diagnóstico e análise ambiental da sub bacia do Rio
Una, apresentando os principais usos dos recursos hídricos nas duas comunidades e os confli-
tos quanto a cadeia do turismo implantada na região. Para adquirir essas informações foi rea-
lizada uma revisão bibliográfica sobre a temática, e os trabalhos de campo vem sendo feitos
pela desde 2016 assim como os acompanhamentos com as comunidades localizadas as mar-
gens do rio e na sede do município, o mais recente feito no início de fevereiro de 2020, assim
como acompanhamento nas comunidades no entorno da sub bacia. Foi aplicado questionários,
com questões abertas e fechadas, aos moradores do povoado, além disso, foi construído um
acervo fotográfico para futuras comparações ao longo do tempo em relação aos aspectos qua-
litativos do rio. Ao final foram sistematizados os dados e analisados através de percentagem.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Povoado Mato Grosso
O povoado de Mato Grosso é uma comunidade remanescente quilombola reconhecida
desde meados de julho de 2013 como comunidade quilombola pretos do São Benedito.
Localizado a 4 km do município de Morros-MA, o povoado foi fundado apenas com três famí-
lias, e hoje encontra-se com aproximadamente oitenta e sete famílias. Na comunidade encon-
trasse a fonte igarapé São Benedito localizada neste povoado que é um afluente, contribuinte
da bacia do rio Una. A comunidade apresenta modos de produção muito peculiar entre as
comunidades rurais quilombolas existentes e se utiliza do igarapé para a uma das fases das do
cultivo da mandioca “lavoura”, como mostrado na figura 2 abaixo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


420 Raymara Fernanda Dutra Martins; Marcelino Silva Farias Filho

Figura 2 – Tratamento da Mandioca no rio

Fonte: Galeria do autor.

Além de as donas de casa utilizarem para os afazeres domésticos como no cozimento de


alimentos, na lavagem de roupas, assim como na irrigação, a água do rio é utilizada também
para dessedentação animal respectivamente. Os animais são guiados até o rio para beberem
água, deixando marcas no caminho e seus excrementos no entorno dos rios. Questionou-se
sobre quais ações que cada um desenvolve no riacho, sendo que 36.6% responderam “lava-
gem, banho e lazer”, 23,3% “namorar”. Logo, para todos os entrevistados o rio é muito impor-
tante para a comunidade, sendo que 70% responderam que é de extrema importância.
Dessa forma, além, do rio prover os recursos necessários para realizarem as suas ativida-
des, também, é no rio que a população ribeirinha tem seus momentos de lazer e de comunhão
com os outros. Como mostrado na figura.

Figura 3 – Momento de recreação dos residentes

Fonte: Galeria do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 421

No espaço rural o rio também possui um atributo muito importante e bem característico
ao espaço, que é a questão cultural. A comunidade também usa o igarapé para manifestar sua
cultura / rituais como observa-se na figura.

Figura 4 – Rituais da comunidade

Fonte: Galeria do autor.

Nos últimos anos com o aumento da cadeia do turismo na região, a comunidade tem sido
alvo de constantes conflitos por compras de terras tendo como foco principal as proximidades
do Rio.

Figura 5 – área para ser vendida na comunidade

Fonte: Galeria do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


422 Raymara Fernanda Dutra Martins; Marcelino Silva Farias Filho

Dessa forma atualmente a comunidade precisa reordenar seus hábitos, pois segundo o
relato de um dos moradores é constante encontrar pessoas “estranhas” tomando banho. No
corrente século observa-se uma grande demanda por água, a partir dessa ocorrência países
exercitam a guerra na busca pela sobrevivência (FERNANDES et al, 2004).
Em entrevistas com os residentes, ao serem questionados de como era a visão do riacho
antes, para os entrevistados o riacho era “mais fundo” ou “mais cheio”, sendo percebido que
há uma diferença no nível de água para as condições atuais. Além disso, retratam outras carac-
terísticas que demonstram uma diferença visual de matas ciliares e desenvolvimento urbano
para à atualidade. De acordo com (FERNANDES et al, 2004) cada indivíduo percebe, reage e
responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifesta-
ções daí decorrentes são resultado das percepções (individuais e coletivas), dos processos cog-
nitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa.
Dentre as qualidades que o rio oferecia a “grande quantidade de peixes 43,3%” e “água
saudável” 28% se destacaram. A percepção dos entrevistados mostra uma série de valores e
atributos que o rio oferecia, sendo assim constata-se a relação entre o sentimento de insatis-
fação relacionada à falta de interesse expressada na relação estabelecida pelas pessoas com
seu ambiente. De acordo com os entrevistados os impactos atualmente observados no rio
foram “poluição” e “desmatamento”, assim como, “queimadas” e “diminuição da água”.
Em relação aos prejuízos causados aos moradores com a atual situação do riacho, a ques-
tão da “água poluída 58.3%” foi o maior prejuízo, seguido de “prejuízos a saúde”, “mortes dos
peixes” e “dificuldade de banhar”. Segundo Moraes e Jordão (2002, pág.372) observa-se na
atualidade que 80% das moléstias e mais de um terço dos óbitos dos países em desenvolvi-
mento sejam causados pelo consumo de água contaminada. Estes dados indicam que a maior
parte dos entrevistados se sentiriam prejudicados.
A falta do rio significaria mudanças no cotidiano, moldando e reconstruindo com a expe-
riência os hábitos instituídos na cultura do lugar. Acerca da geração de impactos ambientais no
rio, o principal motivo é a “ignorância”, seguido da “maldade” e “queimadas constantes”. O
teor das respostas indica que os entrevistados afirmam saber da ação geradora de impactos
ambientais no riacho, a falta de interesse, expressado pelas pessoas reafirma que uma parcela
da população indistinta, e o pouco envolvimento não contribuem para geração de mudanças.

3.2 Povoado Una dos Moraes


O povoado de Una dos Moraes é uma comunidade de pescadores e lavradores. Diferente
do povoado de Mato Grosso, Una dos Moraes já desenvolve atividades de visitação desde os
anos 1960, 1980 sendo o único ponto do rio que recebia visitação. Contudo nos últimos sofre
uma mudança significativa em sua estrutura, com aumento de residências e consequente-
mente da população do povoado que de acordo com a Prefeitura de Morros (2016) está rece-
bendo nos feriados e finais de semana cerca de 1.000 a 2.000 pessoas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 423

Em Una dos Moraes os moradores ainda mantêm as atividades de pesca como obser-
vado na figura abaixo que demonstra o barco de pesca, instrumento utilizado para esta ativi-
dade econômica.

Figura 6 – barco de pesca

Fonte: Galeria do autor.

Os mesmos barcos são usados para recreação dos visitantes como observado na figura 7
demonstrando-a.

Figura 7 – Barcos usados para recreação dos turistas

Fonte: Galeria do autor.

Os moradores disseram que cerca de 75% dos visitantes possuem residência no povoado.
Estes dados são importantes pois em Una dos Moraes o fenômeno da segunda residência oca-
sionou um “ordenamento” territorial imposto pela prática turística, pois onde antes

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


424 Raymara Fernanda Dutra Martins; Marcelino Silva Farias Filho

localizava-se as casas dos moradores, atualmente está a dos visitantes que em sua maioria
estão próximas as margens do rio, como mostra a figura como exemplo das casas.

Figura 8 – Residência de turistas

Fonte: Galeria do autor.

Logo, este fator desencadeia uma ruptura no ordenamento territorial criando uma lacuna
entre moradores menos abastados e visitantes que possuem um poder aquisitivo maior. Isso
induz pensar em um território móvel, ou seja, que não se estabelece um enraizamento com
lugar, ele pode ser instável e periódico, formado e dissolvido rapidamente (HAESBAERT, 2004).
Sobre essa problemática, as comunidades receptoras tenderiam a ver o turismo com descon-
fiança, porque em geral não têm a oportunidade de participar das tomadas de decisões sobre
a questão nessa área. Sentem-se, com isso, excluídas e acabam não desejando a presença de
turistas na sua localidade. Pior, em muitos casos o turista chega antes do turismo, ou seja, do
planejamento e organização da localidade para recebê-lo. A figura a seguir mostra como os
moradores estão colocando à venda suas casas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 425

Figura 9 – Casa para venda

Fonte: Galeria do autor.

Assim, para 32% dos entrevistados, a visitação possui “impacto negativo”, visto que os
visitantes incomodam os moradores e até mesmo a tranquilidade dos demais visitantes, dei-
xando a população alheia aos benefícios deixados pela renda gerada no processo de uso do rio
e seu entorno. Quando questionados sobre os aspectos da privacidade para uma parcela signi-
ficativa de 68.5% esses impactos são perceptíveis pelos moradores, “não é a mesma” e demons-
traram estarem insatisfeitos com estes impactos já visíveis por eles como podemos observar
nas falas mencionadas:
“Aqui não temos mais liberdade, o fundo de nossas casas agora é bares e pousadas,
quando descemos para o rio damos de cara com pessoas de outro lugar, é muita
zuada, muita gente que nem conhecemos, se quisermos descansar é durante a
semana, mas até na semana nesses períodos de férias complica”.

Dentre isso, o visitante e o nativo focalizam aspectos bem diferentes do meio ambiente.
Em uma sociedade tradicional estável os visitantes e as pessoas de passagem constituem uma
minoria da população total; suas visões do meio ambiente talvez não tenham tanta importân-
cia (RUSCHMANN, 1993). Do contrário, o nativo tem uma atitude complexa derivada da sua
imersão na totalidade do meio ambiente. Para Tuan (1980), do ponto de vista do visitante, por
ser simples é facilmente enunciado. Por outro lado, a atitude complexa do nativo somente
pode ser expressa com dificuldade e indiretamente através do comportamento, a tradição
local, conhecimento e mito.
Neste sentido sobre o uso de drogas no local, para os visitantes e moradores aumentou,
e ressaltaram que no povoado já existia o uso de drogas e a visitação só agravou a situação.
Quanto a prostituição e trabalho infantil, de acordo com 42.5% dos visitantes é existente e que
a abordagem da prostituição é feita no local, porém esta prática ainda é pequena. Para todos
os moradores não houve aumento do custo de vida pois eles relataram que a maioria dos nati-
vos são pescadores e que na falta do peixe praticam a lavoura. Sobre os aspectos ambientais,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


426 Raymara Fernanda Dutra Martins; Marcelino Silva Farias Filho

os moradores informam que a paisagem anterior do balneário era mais arborizada (30% dos
entrevistados), e o nível de água do rio era maior (27.5% das opiniões). Atualmente para eles a
paisagem possui “poucas arvores e mais lixo” 40%.
Os moradores percepcionam a “melhor infraestrutura 45% como uma das mudanças sig-
nificativas para o banho. Contudo, os moradores afirmam que os impactos são decorrentes de
“mais pessoas” visitando o local que interferem na redução da “qualidade da água”. Nesse con-
texto, de acordo os moradores os impactos no local são responsabilidade dos visitantes, tota-
lizando 40%, sendo que 27.5% alegam ser os donos de bares e pousadas.
Nesta perspectiva quando questionados sobre qual ação ajudaria na preservação do rio de
acordo com os moradores o isolamento do local seria a solução 52.5%. Sobre a qualidade da água
nos períodos de visitação para os moradores, 40% disseram que é “péssimo”, 35% disseram que
é “ruim”, além disso reclamaram que na água tem tudo o que não presta durante este período.
Diante do exposto, Forline (2007) enfatiza que naturalmente, os atores que mais percebem a pre-
sença de áreas transformadas são aqueles que residem nelas ou as suas proximidades.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As contribuições abordadas demonstram aos aspectos negativos que o turismo pode
desencadear nas localidades receptoras e pelos aspectos positivos que podem ser potenciali-
zados, através da opinião da comunidade local. A presença de visitantes nas comunidades,
também é um fenômeno generalizado e afeta os padrões de vida das pessoas, em especial nas
localidades turísticas.
As formas como os visitantes se portam e seus relacionamentos pessoais com cidadãos
da comunidade anfitriã costumam ter um efeito sobre o modo de vida e atitudes dos morado-
res locais. Para que o desenvolvimento turístico ocorra de maneira adequada, sua abordagem
precisa ser multidisciplinar, com profissionais de áreas distintas trabalhando em conjunto, tanto
na avaliação dos seus impactos, como no encaminhamento de soluções para o mesmo. Sob
este enfoque, a população quando integrada no planejamento turístico de sua localidade, pode
contribuir avaliando as insatisfações que esse desencadeia, assim como avaliar suas potencia-
lidades. Quando o turismo é considerado um rendimento financeiro essencial em uma escala
local e nacional, há um consenso na literatura da sustentação positiva das comunidades anfi-
triãs para o seu desenvolvimento ser bem-sucedido. O monitoramento sobre a opinião dos
moradores a respeito do turismo torna-se, então, indispensável para o planejamento ade-
quado em uma localidade turística.

5 REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. (2011) Resolução CONAMA nº. 431, de 24 de maio de 2011. Altera o art.
3º da Resolução no 307, de 5 de julho de 2002, do CONAMA, estabelecendo nova classificação para o gesso.
Diário Oficial da União. Brasília, DF: Imprensa Oficial.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 427

FORLINE, Louis. Áreas antrópicas: de onde vieram e para quem funcionam? In: Albuquerque Ulysses Paulino
de, Alves, Ângelo Giuseppe Chaves, Araújo, Thiago Antônio de Sousa (organizadores). Povos e paisagens:
etnobiologia, etnoecologia e biodiversidade no Brasil /– Recife: NUPEEA / UFRPE, 2007
FERNANDES, R. S. SOUZA, V. J. PELISSARI, V. B. FERNANDES, S. T. Uso da percepção ambiental como
instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. Disponível em: http://
www.redeceas.esalq.usp.br.Acesso em Janeiro de 2014.
HAESBAERT, R. Territórios alternativos / Rogério Haesbaert – 2. Ed. – São Paulo: contextos, 2006.
MORROS. Quantitativo turístico. Prefeitura Municipal de Morros. 2016.
OKAWA, C.M.P. POLETO, C. Gerenciamento de Recursos Hídricos. In:. POLETO, C.
(Org). Bacias Hidrográficas e Recursos Hídricos. Rio de Janeiro: Interciência, 2014.
POMPÊO, M. L. M. & MOSCHINI-CARLOS V. Características Gerais da Região do Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses, Maranhão, Brasil. 2001. Disponível em: http://ecologia.ib.usp.br/portal/index.
php?option=com_content&view=article&id=71&Itemid=410. Acesso em março de 2018.
PRUDENTE, S. R.O homem e o meio ambiente. Disponível em: http://revista.universo.edu.br. Acesso em Março
de 2014.
REBOUÇAS, A.C. Aguas doces no mundo e no Brasil. In: Benedito Braga, José Galizia Tundisi, Takako
Matsumura Tundise, Virginia S.T. Cimineli. Aguas Doces no Brasil. – 4 ed. – São Paulo: Escrituras Editora, 2015
RUSCHMANN. D. V. M. Impactos Ambientais do Turismo Ecológico no Brasil. V. 13, n. 1 mala: SEMA.
Secretaria do Meio Ambiente. S.d. Turismo em estações ecológicas. Brasília. SEMA. 1993
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: DIFEL, 1980.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
IV

EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NA GESTÃO DAS BACIAS
HIDROGRÁFICAS
36. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
E RECURSOS HÍDRICOS
Ações propositivas na bacia hidrográfica
do Rio Pitimbu/RN

JULIANA FELIPE FARIAS1


GABRIELLA CRISTINA ARAÚJO DE LIMA2
LARICIA GOMES SOARES3
THALES DE ALMEIDA XAVIER4

RESUMO: Muito se discute a respeito de Educação Ambiental, Recursos Hídricos e Bacias


Hidrográficas, mas pouco se põe em prática o alinhamento dessas três vertentes. No presente
artigo, tem-se por objetivo propor ações mitigadoras através da educação ambiental na Gestão de
uma Bacia Hidrográfica. Através da Geoecologia das Paisagens, identificamos as limitações, os
impactos ambientais, as potencialidades da área e propomos ações de Educação Ambiental palpá-
veis e efetivas.
Palavras chaves: Educação Ambiental, Recursos Hídricos e Bacias Hidrográficas.
ABSTRACT: Much is discussed about Environmental Education, Water Resources and Hydrographic
Basins, but little is put into practice the alignment of these three strands. In this article, the aim is to
propose mitigating actions through environmental education in the Management of a Hydrographic
Basin. Through Landscape Geoecology, we identify limitations, environmental impacts, the potential
of the area and we propose tangible and effective Environmental Education actions.
Keywords: Environmental education, water resources and river basins.

1 INTRODUÇÃO
A crescente preocupação em relação à quantidade e qualidade dos recursos hídricos tem
levado gestores e pesquisadores de várias áreas e nações a concentrarem esforços no estudo
e pesquisa sobre a melhor forma de uso e gestão dos recursos hídricos. Segundo Obara &
Kovalski (2016) um dos avanços em termos de gerenciamento da água foi a adoção da bacia

1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: julianafelipefarias@yahoo.com.br


2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: gabriella.lima.078@ufrn.edu.br
3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: laricia.gomes.121@ufrn.edu.br
4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: thalesax@gmail.com
430 Juliana Felipe Farias; Gabriella Cristina Araújo de Lima; Laricia Gomes Soares; Thales de Almeida Xavier

hidrográfica como unidade territorial adequada para estudo e gestão dos recursos hídricos.
Esta abordagem parte do pressuposto que somente a partir de uma análise integrada das
variáveis biogeofísicas, socioculturais e econômicas inerentes à bacia hidrográfica é que será
possível efetivar um processo de gestão dos recursos hídricos que concilie uso racional, prote-
ção ambiental e justiça social.
Sabe-se que desde a antiguidade, o ser humano interage com a natureza diretamente,
todavia, com a aceleração da produção e consumo acarretando maiores demandas, ampliou-se
a degradação dos recursos naturais. Assim, diante dessa problemática decorrente da exploração
desordenada dos recursos, fez-se necessário buscar alternativas para resolver ou amenizar essa
situação, buscando um melhor uso e gestão, nesse viés, ascende a Educação Ambiental (EA)
como um instrumento que pode acarretar diversas mudanças positivas na relação homem-meio,
além de se apresentar como campo de conhecimento rico e de grande abrangência.
A Educação ambiental, surge cada dia mais como campo de conhecimento em ascensão.
Verifica-se que em 1965 o termo Educação Ambiental foi adotado em um evento de educação
promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido. Mais adiante, em 1972, estabeleceu-se
o “Plano de Ação Mundial” e a “Declaração sobre o Ambiente Humano”, e foi nessa conferên-
cia que se definiu, pela primeira vez, a importância da ação educativa nas questões ambientais,
o que gerou o primeiro “Programa Internacional de Educação Ambiental”, consolidado em
1975 pela Conferência de Belgrado. (Brasil, 1998). Assim, a partir da década 70, vários eventos
se sucederam, cujos debates e documentos serviram de fundamentos para o estabelecimento
de ações e políticas voltadas à implantação da Educação Ambiental, em várias partes do mundo.
Ademais, a EA assume um papel relevante, no sentido de possibilitar, por meio de pro-
cessos educativos, formais (instituições de ensino) e não-formais (associações, comunidades,
empresas, entre outros), que os vários atores sociais tenham acesso aos conhecimentos, dis-
cussões, valores, leis e instrumentos de gestão dos recursos hídricos, na perspectiva de cons-
truírem uma visão mais crítica, ética e participativa em relação a gestão e melhoria da qualidade
da água que eles têm acesso.
É válido ressaltar ainda, que não temos um conceito único de EA, todavia, de acordo com
Loureiro (2004) a EA é vista como um elemento de transformação social inspirada no diálogo,
no exercício da cidadania, no fortalecimento dos sujeitos, na criação de espaços coletivos, na
superação das formas de dominação, na compreensão do mundo e da vida em sua totalidade.
Dias (2004) por sua vez, entende a EA como conjunto de conteúdos e práticas ambientais,
orientadas para a resolução dos problemas concretos do ambiente, através do enfoque interdis-
ciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da comunidade.
A Educação Ambiental é um fator preponderante para a construção do desenvolvi-
mento sustentável, influenciada por fatores econômicos e sociais, do ponto de vista
crítico transformadora é indispensável para a concepção de qualquer processo de
integração social, sendo exibida como um dos pilares estratégicos para assegurar
uma nova formação humana, de maneira a intervir na sociedade moderna. Essa

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS 431

educação deve ser contínua, multidisciplinar, integrada às diferenças e voltada para


os interesses da população. Andrade (2018, p.951)

Ademais, a lei 9795/1999, da Política Nacional de Educação Ambiental, aborda a Educação


Ambiental em seu artigo 1º como:

Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente, bem como de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade.

Dessa forma, o uso da EA pode ser considerado em diferentes âmbitos, dessa maneira, o
objetivo deste estudo é analisar o uso da Educação Ambiental como ferramenta auxiliar no
processo de Gestão de Bacias Hidrográficas, a exemplo da Bacia Hidrográfica do Rio Pitimbú
(Figura 1). Tendo em vista que, todas as formas de vida dependem do patrimônio natural, espe-
cialmente das águas, para sobreviver e a depredação desse patrimônio é uma grande ameaça
à biodiversidade e à vida. Em razão disso, fazer uso da EA de forma coletiva e interdisciplinar
como ferramenta, propondo melhorias nas ações concretas no contexto de gestão de bacias
hidrográficas é de grande valia.

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudos

Fonte: Lima (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


432 Juliana Felipe Farias; Gabriella Cristina Araújo de Lima; Laricia Gomes Soares; Thales de Almeida Xavier

A área de estudos em questão faz parte do conjunto de bacias menores que deságuam
no litoral oriental do Estado do Rio Grande do Norte, abrangendo os municípios de Natal,
Parnamirim, Macaíba, Nísia Floresta, São José de Mipibu e Vera Cruz, sendo os cinco primeiros
desta série pertencentes à Região Metropolitana de Natal (RMN). A Bacia do rio Pirangi, que se
caracteriza por uma extensão relativamente pequena, tem a rede hidrográfica formada pelos
rios Pitimbu, Taborda, Mendes, Pium, Água Vermelha e Pirangi.
A Bacia Hidrográfica do rio Pitimbu, na qual se constitui como objeto desta pesquisa, pos-
sui uma área de 132,46 km² e localiza-se nas coordenadas 5º 50’00’’, 5º 57’53’’ latitude Sul e
35º 11’08”, 35º 23’19” longitude Oeste, abarcando os municípios de Natal, Macaíba e
Parnamirim. Apresenta escoamento do tipo endorréico com drenagem dendrítica, desaguando
na Lagoa do Jiqui. Possui sua nascente localizada no município de Macaíba, sendo responsável
pelo abastecimento de água para uma grande área da RMN.
Por estar dentro de um perímetro cujo seus limites fazem parte do território municipal
de 3 diferentes localidades, a bacia hidrográfica por vezes encontra-se como palco de indeci-
sões no que diz respeito aos cuidados e manutenção dos recursos hídricos, acarretando pro-
blemas não apenas ao meio ambiente como também a qualidade de vida da população do
entorno da área, que é abastecida pelo manancial.
Assim, a Educação Ambiental se insere diante do contexto não apenas deixando nas
mãos do poder público a tomada de decisão, mas sim, no processo de instrumentalização das
sociedades, além de instigá-las para participar nas questões ambientais que as afetam direta
ou indiretamente e conscientizá-las de que todos fazem parte dos processos que interferem no
ambiente.

2 METODOLOGIA
Metodologicamente, para realização do estudo tivemos a pesquisa documental, tendo
em vista que de acordo com Santos e Costa (2013, p. 3 apud DUTRA e TERRAZAN 2012, p. 173):
A pesquisa documental é parte integrante de qualquer pesquisa sistemática e pre-
cede ou acompanha os trabalhos de campo. Ela pode ser um aspecto dominante em
trabalhos que visam a mostrar a situação atual de um determinado assunto ou que
tentam traçar a evolução histórica de um problema.

Dessa forma, como principais fontes temos grandes autores na área de Educação
Ambiental (EA) como: Loureiro (2004), Dias (2004), Andrade (2018), além da lei 9795/1999 que
trata da Política Nacional de Educação Ambiental, assim como de autores que trabalham com
a EA e a gestão de Bacias Hidrográficas como Obara & Kovalski (2016), Visto que a área estu-
dada se trata de recorte dentro de uma bacia hidrográfica vamos dar ênfase nessa unidade de
gestão e planejamento que é a bacia. Para tal feito, precisamos entender a importância de tal
unidade. No Brasil, a bacia hidrográfica é considerada como uma Unidade de Gestão dos
Recursos Hídricos, o espaço geográfico de atuação onde os comitês de bacias hidrográficas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS 433

(CBHs) buscam promover o planejamento regional, controlar os usos da água na região, prote-
ger e conservar as fontes de captação da bacia. Cada comitê deve evitar conflitos envolvendo
nos debates sobre a gestão da bacia os diferentes grupos de pessoas que estão nela.
A região hidrográfica, por sua vez, é composta por uma ou mais bacias hidrográficas con-
tíguas e pelas águas subterrâneas e costeiras associadas. Cada região hidrográfica representa
uma divisão administrativa e constitui a unidade principal de planejamento e gestão das águas,
que são responsabilidade do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
A bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água de precipitação que faz
convergir o escoamento para um único ponto de saída. A bacia hidrográfica com-
põe-se de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem for-
mada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu
exutório (TUCCI, 1997 p. 38).

A bacia hidrográfica representa uma unidade ideal de planejamento sobre o uso da terra
(BOTELHO, 2005). De acordo com a Lei Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. fica instituído no
Art 1: A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
I – a água é um bem de domínio público;
II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais;
IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas;
V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos;
VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a partici-
pação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Para alinhar toda nossa metodologia com uma visão sistêmica da análise ambiental pro-
posta, utilizamos a Geoecologia das Paisagens para buscarmos as seguintes abordagens:
(MATEO et al, 2004):
• Considerar a natureza como uma organização sistêmica, sendo essa, formada pela
interação dos diferentes componentes da natureza, possuindo sua própria dinâmica,
autonomia e suas respectivas lógicas de estruturação e funcionamento.
• Entender e aceitar que os processos humanos têm a capacidade de transformar, até
um certo ponto, os sistemas naturais, impondo uma estruturação e acionamento de
acordo com fatores como: política, economia, sociais e culturais. E tais fatores, são
variáveis de acordo com suas escalas temporais e espaciais.
Em resumo e objetivando, a análise da Geoecologia das Paisagens para esse estudo, visa
entender como a arquitetura da superfície da Terra, e sua dinâmica com os diferentes sistemas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


434 Juliana Felipe Farias; Gabriella Cristina Araújo de Lima; Laricia Gomes Soares; Thales de Almeida Xavier

humanos, partindo da alteração da natureza da epiderme do globo terrestre. Através da cate-


gorização de diferentes usos é que a Geoecologia das Paisagens pode contribuir para o enten-
dimento do compilado de informações da área desejada. No caso, foi o que desenvolvemos ao
longo do trabalho para esclarecer e mitigar as limitações encontradas.
Para uma interpretação e leitura geossistêmica, considerar as formações aqui tratadas
como totalidades, é o primeiro passo para analisar e pesquisar posteriormente as suas proprie-
dades sistêmicas, assim, poder interpretar os geossistemas nos seus diferentes graus de orga-
nização (RODRIGUEZ; SILVA, 2016). Como foi observado e colocado nos resultados para
esclarecer toda a sistemática de organização observada e desenvolvida para o estudo.
Para além de todo o levantamento bibliográfico realizado para a elaboração do presente
trabalho, também foi realizado um trabalho de ida a campo para a identificação da área, a fim
de compreender melhor as dinâmicas que ocorrem na Bacia. No campo, podemos identificar
as potencialidades, as limitações, os impactos e entender quais as medidas necessárias para
mitigar a problemática compreendida a partir desse breve estudo. Feito o campo para o levan-
tamento do material necessário, se estabelece a etapa de gabinete para a compilação e trata-
mento de todos os dados aqui presentes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados discutidos nas seções anteriores, fica explícita a importância da inte-
gração entre Educação Ambiental e gestão de Bacias Hidrográficas, uma vez que, a partir da
implementação de determinadas ações, situações que antes pudessem ser irreversíveis e pro-
blemas municipais, tornam-se reversíveis e consequentemente de responsabilidade coletiva
da sociedade, como se configura o ideal.
Para tanto, é necessário que antes da aplicação das ações de educação ambiental,
sejam conhecidos os problemas ambientais registrados na área de estudos, configurados
como impactos ambientais negativos, sendo eles nocivos para manutenção e revitalização
da bacia hidrográfica.

3.1 Problemas ambientais registrados na bacia hidrográfica


Levando em consideração os cursos da bacia hidrográfica (alto, médio e baixo) que por
consequência estão distribuídos dentro dos territórios da área de estudos, foi possível o regis-
tro de problemas ambientais causados pelo aumento das limitações de áreas da bacia onde
caso não haja uma intervenção positiva e de manutenção, tendem a ter seu aumento significa-
tivo, trazendo implicações negativas para o manancial.
Diante desse contexto, no alto curso da bacia hidrográfica foram registradas como pro-
blemas ambientais a utilização de técnicas de cuidado com o solo não propícias para o seu
desenvolvimento e fertilidade, agregados ao desmatamento da área. Por sua vez, o médio
curso apresentou como destaque na problemática ambiental a poluição dos recursos naturais

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS 435

e contaminação do lençol freático, ocasionado pela demasiada quantidade de fábricas e indús-


trias presentes nessa porção da área.
Por conseguinte, o baixo curso apresentou dois problemas ambientais predominantes: o
desmatamento da mata ciliar e o despejo de efluentes domésticos e sólidos em locais não des-
tinados para essa finalidade. Assim, é possível constatar que as problemáticas ambientais não
estão apenas relacionadas com a ação por si só e sim com um conjunto de ações contínuas que
com o passar do tempo vêm aumentando e acarretando alterações no sistema original da
bacia. O quadro 1 apresenta uma síntese dos principais problemas ambientais registrados,
acompanhados por imagens para verificação.

Quadro 1 – Síntese dos problemas ambientais da bacia hidrográfica por curso

Setores da bacia Problema ambiental Imagem

Técnicas de cuidado com o solo não propícias


Alto Curso
e desmatamento

Poluição dos recursos naturais e contamina-


Médio Curso
ção do lençol freático.

Desmatamento da mata ciliar e despejo de


Baixo Curso efluentes domésticos e sólidos em áreas não
destinadas a este fim

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Tendo em vista os problemas ambientais supracitados, indubitavelmente a inserção de


práticas de Educação Ambiental fazem-se de fundamental importância, não apenas como
forma de solucionar problemas, mas, principalmente como um instrumento de integração

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


436 Juliana Felipe Farias; Gabriella Cristina Araújo de Lima; Laricia Gomes Soares; Thales de Almeida Xavier

entre todas as esferas de poder e sociedade, através de práticas interdisciplinares que promo-
vam a conscientização e construam um novo panorama para a bacia hidrográfica.

3.2 Ações de Educação Ambiental para Bacia Hidrográfica do rio Pitimbu


Para que se possa operacionalizar as ações de Educação Ambiental para a área, é preciso
compreender que antes das práticas existe ainda um estágio de capacitação, no qual consiste
num conjunto de ações destinadas à formação de técnicos e educadores que atuam nos Órgãos
de Meio Ambiente e de Educação e ao apoio à participação, individual e coletiva no processo
de Educação Ambiental, como aborda Oliveira (2008).
Na Bacia Hidrográfica do rio Pitimbu registra-se a presença do Comitê de Bacia
Hidrográfica, o que de forma benéfica corrobora para o apoio no desenvolvimento não só das
práticas, mas também da capacitação de pessoas que possam nortear e servir de exemplos
durante o percurso formativo dos envolvidos no processo.
Dessa maneira, de forma integrada, observou-se a necessidade de relacionar as ativida-
des desenvolvidas no perímetro da bacia com os problemas aqui levantados, trazendo as ações
de Educação Ambiental para o palco central como intermediador. Logo, o quadro 2 apresenta
uma proposta de ações pautadas na Educação Ambiental para serem executadas na área de
estudos, levando-se em consideração os problemas ambientais e suas localizações.

Quadro 2 – Propostas de ações de Educação Ambiental para Bacia Hidrográfica do rio Pitimbu

Curso da bacia Problema ambiental Ações de educação ambiental

Oficinas e ciclo de palestras sobre ações de


reflorestamento;
Técnicas de cuidado com o solo não
Alto Curso
propícias e desmatamento Exposições e construção de perfis de solo
saudáveis, demonstrando a importância de
utilizar técnicas de manejo apropriadas.

Manutenção e conservação das áreas dos


recursos hídricos por meio de cercas e
Poluição dos recursos naturais e contami- sinalizações que indiquem presença dos
Médio Curso
nação do lençol freático recursos naturais;

Confecção e inserção de placas que


sinalizem a importância do manancial para
a população e o meio ambiente.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS 437

Curso da bacia Problema ambiental Ações de educação ambiental

Realização de palestras, reuniões com


líderes do bairro, propagandas que incenti-
vem à população a aderir práticas mais
sustentáveis que possam respeitar os
Desmatamento da mata ciliar e despejo de
limites dos recursos naturais;
Baixo Curso efluentes domésticos e sólidos em áreas
não destinadas a este fim
Visitas aos locais onde são registrados os
problemas ambientais para que os morado-
res tenham a oportunidade de verificar a
situação real do problema.

Fonte: Organizado pelos autores (2021).

As propostas de ações aqui elencadas, foram elaboradas a partir dos dados que foram
discutidos ao longo do trabalho, buscando a garantia da preservação dos recursos naturais e
uma ação conjunta entre sociedade e natureza constante intermediada pela Educação
Ambiental.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que a construção de uma nova racionalidade ambiental perpassa pela reflexão
da sociedade como um todo sobre os caminhos de sua relação com o meio ambiente. E, este
enfrentamento só será possível com uma educação (ambiental) que seja nitidamente crítica,
ética e aberta a novas formas de pensar e lidar com o mundo cada vez mais complexo e
pouco sustentável.
No estudo em questão tivemos como foco uma escala local, trabalhando uma bacia
hidrográfica que se encontra em três localidades diferentes, e dessa forma, por vezes encon-
tra-se como palco de indecisões no que diz respeito aos cuidados e manutenção dos recursos
hídricos, acarretando problemas ambientais e no tocante a qualidade de vida da população do
entorno da área e que é abastecida pelo manancial. Dessa forma, nota-se que ações de
Educação Ambiental teriam um grande impacto positivo se aplicadas a área estudada, e tam-
bém em outros níveis de escalas.
Tendo em vista que a EA pode ser vista como conjunto de práticas ambientais, orienta-
das para a resolução dos problemas concretos do ambiente, através do enfoque interdiscipli-
nar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da comunidade (Dias 2004),
o que acarretaria melhorias ambientais e também despertaria a comunidade a participar mais
ativamente de ações visando um melhor uso e gestão.
Pois, verifica-se ainda que grande parte dos cidadãos, sobretudo, a sociedade civil, não
tem conhecimentos básicos que os motivem a participar dos espaços de discussões e de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


438 Juliana Felipe Farias; Gabriella Cristina Araújo de Lima; Laricia Gomes Soares; Thales de Almeida Xavier

deliberações (fóruns, comitês de bacia etc.) ou que os habilitem a perceber ou identificar os


problemas existentes em uma bacia hidrográfica.
Para isso precisamos da ação conjunta, entre pesquisados, gestão e comunidade, pois
assim conseguiremos melhores condições ambientais, econômicas, culturais e políticas, tendo
em vista que um processo de tomada de decisões e construção democrática e participativa é
de fundamental importância.

5 REFERÊNCIAS
ANDRADE, V. A. de. Et al. Uma Análise da Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável. Anais do
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental e Sustentabilidade – Vol. 6: Congestas 2018.
BOTELHO, R. G. M. Planejamento ambiental em microbacia hidrográfica. In: Erosão e conservação dos solos
– conceitos, temas e aplicações. GUERRA, A. J. T., SILVA, A. S., BOTELHO, R. G. M. (orgs.) – 2ª ed. – Rio de
Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2005, p. 269– 300.
BRASIL. Lei nº 9433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal,
e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de
1989..Lex. Brasília, DF.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclo:
apresentação dos temas transversais – EA / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf Acesso em: 15 de dezembro de
2021.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2004.
OBARA, A. T.; KOVALSKI, M. L. Educação ambiental na gestão das bacias hidrográficas. Associação Brasileira
de Limnologia. Boletim ABLimno 42(1), 14-19, 2016. Disponível em: bol_42_1-4.pdf (ablimno.org.br) Acesso
em: 22 de outubro de 2021.
OLIVEIRA, V. M. B. O Papel da Educação Ambiental na Gestão dos Recursos Hídricos: O caso na bacia do
Lago Descoberto/DF. 2008. 141f. Dissertação (Mestrado em Gestão Ambiental e Territorial). Universidade de
Brasília. Brasília, 2008.
RODRIGUEZ, J.osé M.anuel M.ateo; SILVA, E.dson V.icente da. Planejamento e gestão ambiental: subsídios da
geoecologia das paisagens e da teoria geossistêmica. 2. ed. Fortaleza: Edições Ufc, 2016. 370 p.
SANTOS, T.Taís C.onceição dos; COSTA, M.arco A.ntonio F.erreira da. A Educação Ambiental nos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – IX ENPEC Águas
de Lindóia, SP – 10 a 14 de novembro de 2013. Disponível em: http://abrapecnet.org.br/atas_enpec/ixenpec/
atas/resumos/R0904-1.pdf Acesso em: 5 de janeiro de 2021.
TUCCI, C. E. M. (Org.). Hidrologia: ciência e aplicação São Paulo: EDUSP, 1997. p 35-51.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
V

IMPACTOS DO
AGRONEGÓCIO PARA AS
BACIAS HIDROGRÁFICAS
37. O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE
A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
TIMBURI, NA APA DO TIMBURI,
PRESIDENTE PRUDENTE-SP

THAIS HELENA GONÇALVES1


EMANUELA SANCHES MOREIRA2

Resumo: Este artigo apresenta uma discussão sobre os impactos do uso e ocupação da terra, mais
especificamente sobre o impacto da agricultura e da pecuária sobre os recursos hídricos, a fauna
e a flora, causando desequilíbrio ecológico e afetando os recursos naturais. A intensificação des-
sas atividades demanda, também, maior quantidade de água para irrigação e dessedentação de
animais, mas entende-se que, pelo uso intensivo e a falta de técnicas adequadas de manejo, os
recursos hídricos vêm sendo comprometidos. Essa problemática perpassa décadas e interfere no
desenvolvimento socioeconômico, conduzindo à escassez destes recursos, principalmente no que
se diz respeito ao funcionamento de uma bacia hidrográfica. Tendo em vista a necessidade de bus-
car a preservação e conservação dos recursos presentes em áreas prioritárias, o objetivo deste
trabalho consiste em realizar uma análise sobre o avanço do agronegócio e seus efeitos na Área de
Proteção Ambiental do Timburi, Presidente Prudente-SP. Para isso, foi realizado um levantamento
bibliográfico, além da utilização de geoprocessamento e análise do mapa de uso e cobertura da
terra, apresentando como as áreas foram degradadas pela substituição de vegetação nativa por
pastagens e culturas agrícolas. A análise permitiu compreender que o avanço das atividades explo-
ratórias está impactando os cursos d’água na extensão da bacia hidrográfica do Córrego Timburi.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Área de Preservação Permanente (APP); Área de Proteção
Ambiental do Timburi; Presidente Prudente (SP).
Abstract: This article presents a discussion on the impacts of land use and occupation, more spe-
cifically on the impact of agriculture and livestock on water resources, fauna and flora, causing
ecological imbalance and affecting natural resources. The increase in these activities also demands
a larger amount of water for irrigation and animal watering, but it is understood that due to the
intensive use and the lack of adequate management techniques, the water resources have been
compromised. This problem has been going on for decades and interfering in the socio-economic
development, leading to the scarcity of these resources, mainly with regard to the functioning of
a hydrographic basin. In view of the need to seek the preservation and conservation of the

1 FCT/UNESP. E-mail: thais.helena@unesp.br


2 FCT/UNESP. E-mail: emanuela.sanches@unesp.br

[ 440 ]
O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TIMBURI 441

resources present in priority areas, the objective of this work was to carry out an analysis on the
advance of agribusiness and its effects on the Timburi Environmental Protection Area, Presidente
Prudente-SP. For this, a bibliographical survey was carried out, in addition to the use of geopro-
cessing and analysis of the land use and land cover map, presenting how the areas have been
degraded by the substitution of native vegetation for pastures and agricultural crops. The analysis
allowed us to understand that the advance of the exploratory activities is impacting the water-
courses in the extension of the Timburi Creek watershed.
Keywords: Watershed; Permanent Preservation Area; Timburi Environmental Protection Area;
Presidente Prudente (SP).

1 INTRODUÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial, o consumo de carne aumentou ao redor do mundo e o
Brasil, desde então, investiu fortemente na pecuária (SCHLESINGER, 2009). Com a intensifica-
ção das atividades agropecuárias, surgiram impactos significativos ao meio ambiente, degra-
dando áreas de preservação permanente e, como consequência, os recursos hídricos.
Principalmente no interior do Brasil, a retirada da cobertura vegetal deu lugar a grandes
monoculturas agrícolas e pastagens para criação de animais, sobretudo o gado para corte e
leite, desconsiderando a conservação da vegetação e manejo adequado do solo (VARCACEL;
SILVA, 1997). Extensos hectares perderam suas características nativas, causando desequilíbrio
ecológico, afetando a fauna e a flora locais, em decorrência da falta de fiscalização e medidas
protetivas que contribuíssem para mitigar esses efeitos.
Também, o uso abusivo de agrotóxicos, levou a perda de fertilidade dos solos e tornaram
estes pobres e desprotegidos (MIRANDA; MELO; ARAÚJO, 2017), suscetíveis ao intemperismo
físico e ao aceleramento dos processos erosivos, juntamente com assoreamento dos cursos
d’água. Consequentemente, as nascentes comprometidas, começaram a manifestar vazões
irregulares ou desaparecerem, diminuindo a quantidade das águas em superfície disponíveis
para o uso humano e dessedentação animal.
Segundo Gomes (2019), a crescente do agronegócio no Brasil afasta-se de um modelo de
sustentabilidade que se preocupa com os recursos naturais. As atividades com manejo inten-
sivo e uso indiscriminado comprometem os sistemas hídricos, incluindo as águas subterrâneas,
nascentes e mananciais.
Tendo em vista o prejuízo ambiental causado pelas ações antrópicas, há indispensabili-
dade de intervenção através do diagnóstico das áreas afetadas. Fez-se necessária a criação de
leis que regulamentam e constituem decretos e resoluções que auxiliam a preservação ambien-
tal, como a Lei Federal nº 6.938, de 31, de agosto de 1981, (alterada pela Lei Federal nº 7.804,
de 18 de julho de 1989) na qual dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e constitui
o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, um conjunto das três esferas dos órgãos
públicos para a proteção dos recursos ambientais no país (BRASIL, 1989).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


442 Thais Helena Gonçalves; Emanuela Sanches Moreira

Quanto a gestão das águas, no âmbito estadual, o governo do Estado de São Paulo
instaurou a Lei de Águas Paulista, nº 7.663 de 1991 (SÃO PAULO, 1991), que previa uma
gestão descentralizada e participativa de forma sustentável, incentivando investimentos e
ações de políticas públicas e racionamento, bem como a cobrança para a utilização dos
recursos hídricos.
Já com a sanção da Lei Federal nº 9.433, do ano de 1997 (BRASIL, 1997), que instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
houve um avanço significativo sobre o planejamento em nosso território. Com a preocupação
crescente sobre a água como um recurso natural limitado e capaz de gerar problemas socioe-
conômicos por sua escassez, foi criado o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e,
posteriormente, a Agência Nacional de Águas (ANA).
Os Comitês de Bacias Hidrográficas destacam-se nesta temática como um dos órgãos
criados para atender aos conflitos de regulação e controle de uso dos recursos hídricos em
conformidade com a legislação. A composição de representantes tripartite e da sociedade civil
definem o seu próprio estatuto e deliberam sobre o plano de determinada bacia hidrográfica.
Esta articulação proporciona o uso múltiplo de modo consciente.
Neste contexto, foram criadas, também, as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), por
meio da Lei nº 6.902 (BRASIL, 1981) a qual dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e
Áreas de Proteção Ambiental, tendo a segunda categoria o objetivo de “assegurar o bem-estar
das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais” (Art. 8º).
Posteriormente, com a Lei Nº 9.985 (BRASIL, 2000) foi instituído o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza (SNUC), que regulamentou as Unidades de Conservação e as divi-
diu em dois grandes grupos: as de Uso Sustentável e as de Proteção Integral.
As APAs, foram classificadas no primeiro grupo, uma vez que nelas fica permitida a ocu-
pação humana, desde que sejam cumpridas as especificações dispostas por lei, contribuindo
para o desenvolvimento sustentável.
Em virtude disto, o presente trabalho pretende analisar o impacto das atividades agrope-
cuárias sobre as Áreas de Preservação Permanentes da Bacia Hidrográfica do Córrego Timburi,
localizada na Área de Proteção Ambiental do Timburi. A discussão aqui exposta pode contribuir
para o estudo do tema nesta área, bem como, com a elaboração de ações futuras quanto a
prevenção e proteção dos recursos hídricos.
O objeto de estudo deste trabalho é a Área de Proteção Ambiental do Timburi, localizada
no munícipio de Presidente Prudente, Oeste do estado de São Paulo, a qual foi tida como uma
conquista histórica da comunidade. Ela foi homologada pela Lei Complementar Municipal nº
235/2019, sendo a primeira APA do município. Seu quinto objetivo no Artigo 3º consiste em:
“proteger as sub-bacias hidrográficas do Rio do Peixe, contribuintes para o abastecimento de
água potável no município” (PRESIDENTE PRUDENTE, 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TIMBURI 443

Localizada no setor oeste do município de Presidente Prudente, com coordenadas geo-


gráficas aproximadas de 22°00’00”S e 51°22’00”O, a APA do Timburi possuí 4.608,2 hectares
de extensão e contempla dois bairros rurais: o Timburi e o Primeiro de Maio. Ambos os bairros
levam os nomes dos córregos que por eles passam, desaguando no Córrego da Onça, afluente
do Rio do Peixe. Este, por sua vez, é o principal corpo d’água da Bacia do Rio do Peixe, a qual é
a maior fonte de abastecimento de água potável no município em questão. Inúmeras nascen-
tes que compõem as sub-bacias do Rio do Peixe se encontram na APA do Timburi, assim como
a Bacia Hidrográfica do Córrego do Timburi (Figura 1). No total, a rede de drenagem da APA
apresenta 118, 89 km de extensão (NUNES, 2019) e grande parte das nascentes estão despro-
tegidas, carecendo de manejo e conservação.

Figura 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Córrego do Timburi, Presidente Prudente-SP

Elaboração: Autoral.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


444 Thais Helena Gonçalves; Emanuela Sanches Moreira

No que diz respeito a geologia, a APA do Timburi está inserida no contexto da morfoes-
trutura da Bacia Sedimentar do Paraná, com predomínio dos arenitos da Formação Adamantina,
pertencentes ao Grupo Bauru, constituída de arenitos finos ou muito finos (NUNES, 2019).
Sobre a sua geomorfologia, Moreira et al. (2021, p.173), embasados na classificação feita por
Nunes e Fushimi (2010), dividiram a APA em três compartimentos de relevo: topos suavemente
ondulados das colinas convexizadas; domínio das vertentes côncavas, convexas e retilíneas; e
planícies aluviais e alvéolos.
Segundo Gonçalves (2021), a APA está disposta sob um relevo de domínio de colinas dis-
secadas e morros baixos (R4a2), de amplitude topográfica variante, entre 30 a 80 metros. Este
tipo de relevo facilita o escoamento superficial e tem maior suscetibilidade a erosão linear e
laminar, dando origem a sulcos, ravinas e voçorocas. Apesar de ser um processo natural, a ero-
são é intensificada pelas mudanças ambientais advindas de atividades humanas.
Conforme Donaton (2013), a APA possui cerca de 82 propriedades e sua economia advém
da agropecuária, sendo destaque a pecuária de corte e leiteira, para comercialização em laticí-
nios e pequenos compradores. Também há produção de frutas, verduras e legumes para sub-
sistência e venda do excedente, sendo a batata doce a principal cultura do local. Ressalta-se,
ainda, o arrendamento de terras por parte dos donos, para o exercício destas atividades.
Em relação a cobertura e uso da terra, Nunes (2019) aponta que restaram apenas 127
fragmentos de matas residuais, o que corresponde a 11,24% da área total da APA. Moreira et
al. (2020) mostram que os processos históricos e econômicos da área fizeram com que a vege-
tação nativa fosse substituída por pastagens e cultivos agrícolas. Fushimi (2012) constata que
esse processo de substituição da vegetação nativa pelas atividades agropecuárias acarreta na
degradação do solo, dando origem aos processos erosivos.
Gonçalves (2021) salienta que a remoção da cobertura vegetal proporciona o escoa-
mento superficial mais intenso, principalmente em áreas de solo compactado pela ação do
pisoteio do gado (MOREIRA, 2021), uma vez que esses processos diminuem o poder de infiltra-
ção da água, dando origem a degradação do solo. Por isso se dá a necessidade de manter a
arborização, que favorece a diminuição da energia da água durante o escoamento e propicia o
armazenamento de água subterrânea (GONÇALVES, 2021).
Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1999), a erosão pode ser definida como um processo
natural de desprendimento dos sedimentos de rocha e solo, que são transportados e dispostos
de um lugar para o outro, de acordo com os agentes erosivos que podem ser naturais como os
rios, mares, ventos e chuvas, ou por atividades humanas, como o tombamento de terra para
plantio e mau uso do solo na pecuária (GUERRA; JORGE, 2013).
As ações diretas e indiretas destes agentes contribuem para a degradação, fazendo com
que mudanças na paisagem, as quais demoravam anos para ocorrer, fossem aceleradas com o
avanço do agronegócio. A exploração dos recursos naturais, desmatamento e a construção de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TIMBURI 445

estradas, comprometeram a camada superficial do solo e este, por sua vez, passou a se perder
rapidamente por falta de manejo adequado, demorando séculos para se recompor.
O que vai determinar o tempo de degradação do solo, além do intemperismo e das ações
antrópicas, são as fisionomias do relevo e os tipos de solo. Isso acontece porque as erosões
ocorrem de forma seletiva, carregando, primeiramente, as partículas responsáveis pelo trans-
porte de nutrientes para as plantas, reduzindo a fertilidade do solo (NUNES et al.,2006).
Nunes et al. (2006) ainda salientam que esse processo afeta a capacidade produtiva do
solo, a economia e a sociedade. Portanto, é indispensável estudar a vulnerabilidade da área,
compreendendo a dinâmica para uma boa atuação de prevenção e proteção, evitando este
problema nas áreas rurais.
Os recursos hídricos, por sua vez, são afetados por esse tipo de processo, pois os sedi-
mentos desprendidos das vertentes deslizam para partes mais baixas indo ao encontro dos
cursos d’água. Em virtude dos solos desprotegidos, os sedimentos causam o assoreamento dos
leitos dos rios que, a longo prazo, podem ter sua profundidade reduzida, resultando em perda
de diversidade biológica e até o ressecamento dos cursos d’água.
Ao analisar uma bacia hidrográfica para gerenciamento, deve-se, portanto, intentar ações
que possam mitigar esses impactos. Para evitar que este problema ambiental possa interferir nos
tipos de uso do elemento água, a gestão deve pautar também o assunto como uma questão
social e econômica, propondo políticas públicas e promovendo ações de sustentabilidade.
De acordo com Santos (2012), a gestão de recursos hídricos no Brasil foi, até o ano de 1980,
muito abrangente no que diz respeito aos tipos de uso e centralizada apenas no Estado como
poder decisório. Foi a partir da mudança na Constituição Federal Brasileira que começaram a
considerar aspectos por outra perspectiva que não só a utilitarista, com viés sustentável.
A partir disso, as tomadas de decisões passaram a ser de modo transversal e integrado,
para a utilização destes recursos. No estado de São Paulo foi criado o Plano Estadual de
Recursos Hídricos, através da Lei 9.034 de 1994 (SÃO PAULO, 1994), que dividiu a hidrografia
paulista em vinte e duas Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos, sendo essas geri-
das pelos Comitês de Bacias Hidrográficas, que visam garantir o uso sustentável e manutenção
dos recursos hídricos de interesse comum e coletivo (SIGRH, 2021).
Vilaça et al (2009) diz que a bacia hidrográfica, como unidade de planejamento, é impor-
tante para compreender as inter-relações que atuam em seu limite e caracterizam os proble-
mas ambientais. Diante do limite dessa área é que se pode avançar em planejar as disponibilidades
e demandas que se relacionam com o uso e ocupação em sua extensão.
Schiavetti e Camargo (2002) discorrem que os maiores impactos ocorridos em uma Bacia
Hidrográfica estão associados aos problemas de erosão, causando sedimentação e perda de
qualidade e quantidade da água. Estes impactos estão por vezes ligados a práticas não susten-
táveis de fins econômicos, sentidos pelas camadas mais vulneráveis da sociedade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


446 Thais Helena Gonçalves; Emanuela Sanches Moreira

2 METODOLOGIA
Para a viabilização do trabalho foram desenvolvidas etapas de levantamento bibliográfico
acerca das características da APA do Timburi e da Bacia Hidrográfica do Córrego Timburi, bem
como consultas às leis ambientais no Brasil, nas esferas de APAs, APPs e recursos hídricos.
Como parâmetro para o recorte de nossa área de estudo, optou-se pela delimitação
espacial da bacia hidrográfica do Córrego Timburi, iniciando pelo exutório e baseando-se nas
curvas de nível, em conformidade com os cursos d’água. Foi criado um shape e sobre esta base
cartográfica, realizamos a sobreposição de outras informações pertinentes a temática.
Além disso, foram analisados os mapas de caracterização da área de estudo publicados
por Gonçalves (2021) e Moreira (2021), sobretudo os mapas de cobertura e uso da terra, que
foram elaborados pelo método de classificação supervisionada, no software ArcGIS, utilizando
a máxima verossimilhança. Ademais, foi realizada a intersecção do mapa de Uso e Cobertura
da Terra do ano de 2020 e buffers de 50 metros para nascentes e 30 metros na extensão dos
cursos d’água para delimitação de APP. Gerou-se, então, o produto cartográfico para análise de
áreas instáveis e com maior vulnerabilidade a processos erosivos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Bacia Hidrográfica do Córrego Timburi compõe a Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos dos Rios Aguapeí e Peixe (UGRHI-21) e está localizada em um dos pontos
mais afetados da APA pelo uso e cobertura da terra. Ao analisarmos o mapa de uso e cobertura
da terra em áreas de preservação permanente (Figura 2), percebeu-se que há poucos fragmen-
tos de vegetação nativa ao redor dos cursos d’água.
Fica exposto que a quantidade de área sem cobertura vegetal é maior que a disposta no
novo Código Florestal Brasileiro, conforme a Lei nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012), que estabelece
a recuperação de um raio mínimo de 15 metros, independentemente do tamanho da proprie-
dade. As nascentes são as mais afetadas, pois estão parcialmente ou totalmente sem a pre-
sença de vegetação. Isso gera a perda da função ecológica dessa área e desequilibra o sistema
ecológico, diminuindo a quantidade de espécies de plantas e animais presentes.
Os diferentes usos do solo estabelecem relações com a disponibilidade hídrica local. O
desgaste do solo exposto favorece a intensificação de erosões e perda de solos as margens das
nascentes, levando resíduos para o curso d’água que vai sendo sedimentado, reduzindo a vazão
dos rios e afetando o ciclo hidrológico. A alteração no regime de chuvas, bem como a influência
de fatores bióticos e abióticos no solo, reduz a capacidade produtiva.
De acordo com Gonçalves (2021), na extensão da APA há predominância de solos rasos e
desenvolvidos, com associação de argissolos, que apresentam diversos pontos de erosão linear.
A Embrapa (2020) explica que esses solos, que aparecem entre 8 a 20% de declive, tem mode-
rada fragilidade ambiental e são associados a menor retenção de umidade, logo, são mais sus-
cetíveis a erosão.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TIMBURI 447

Figura 2 – Mapa de uso e cobertura da terra nas APPs da APA do Timburi

Elaboração: Autoral.

Este cenário mostra que em todo recorte da bacia hidrográfica, a ação antrópica provoca
contrariedade, visto que há uma alta demanda de recurso hídrico, mas que seu impacto gera
significativa diminuição do mesmo. É importante, neste sentido, trabalhar com políticas públi-
cas ambientais, como a educação ambiental para que os proprietários de terras possam coo-
perar com o desenvolvimento sustentável da APA.
As práticas conscientes devem melhorar a qualidade do ecossistema local e trazer bene-
fícios, como a reconstituição próxima a condição original e a garantia do aumento da biodiver-
sidade. As ações para mitigar os problemas em decorrência dos tipos de uso da terra, assim
como medidas preventivas sobre o uso sustentável na APA, manutenção e monitoramento
serão determinantes para o gerenciamento correto da bacia hidrográfica do Córrego Timburi.
Visando proteger e recuperar os mananciais, as técnicas de restauração ecológica con-
forme as potencialidades e fragilidades das áreas a serem restauradas, devem reduzir os efei-
tos da aceleração do escoamento superficial e das erosões no campo. Por consequência, haverá
redução do assoreamento nos cursos d’água.
Quanto aos processos de erosão que já existem, a técnica da paliçada de bambu como
contenção e o sistema de plantio direto para fixação de raízes, ambos para bloquear a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


448 Thais Helena Gonçalves; Emanuela Sanches Moreira

passagem de chuva e elementos que possam lavar os solos, são alternativas viáveis para evitar
o desenvolvimento de ravinas, sulcos e voçorocas.
Devem ser analisados os fatores de perturbação próximo às APPs para adequação
ambiental das propriedades rurais, catalogando espécies nativas e invasoras, formigas, piso-
teio e compactação por animais e máquinas, entre outros aspectos físicos e sociais que interfi-
ram na preservação dos recursos naturais.
Em consonância com a discussão aqui apresentada, e com a legislação ambiental vigente,
tem-se o desafio de buscar mecanismos para conter as implicações ambientais dos trabalhos
no campo. Mais especificamente, a resolução da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
32/2014 do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2014), pode garantir a melhoria da qualidade de
vida da população humana e integridade do equilíbrio ecológico de APP, RL e APA por meio da
restauração ecológica de áreas prioritárias.
A participação social no desenvolvimento de ações de planejamento e gestão dos recur-
sos hídricos realizadas pelos comitês de bacias hidrográficas, é fundamental para apresentar as
demandas e problemáticas em escala local. É pelo interesse público em conservar os recursos
naturais que podemos assegurar um bom desempenho de uma bacia hidrográfica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que, na APA do Timburi, pelas formas de uso e ocupação da terra, grande
parte se revela em situação de vulnerabilidade (MOREIRA, 2021). A falta de vegetação no
entorno das Áreas de Preservação Permanente, bem como a pequena quantidade de extensão
de vegetação nativa neste recorte, mostra como o avanço das atividades agrícolas contribuem
para a degradação ambiental.
Das atividades exploratórias de uso antrópico expostas ao longo deste artigo, podemos
ressaltar o pisoteio do gado de corte e leiteiro, assim como a falta de manejo do pasto e cerca-
mento das APPs como uma problemática visível dos impactos da expansão da pecuária.
Isto resulta também na diminuição de infiltração e escoamento superficial, que leva a
perda de solos e os deixam mais suscetíveis a erosão e ao acúmulo de sedimento nos cursos
d’água. Por conseguinte, há diminuição na quantidade de água subterrânea disponível, atin-
gindo afluentes e rios que estão situados na bacia hidrográfica do Córrego Timburi. Em todo o
recorte da APA do Timburi, percebeu-se a quantidade de nascentes disponíveis que foram afe-
tadas por estes tipos de atividade. Já a retirada da cobertura vegetal para o cultivo de frutas e
verduras, também contribuiu significativamente para o cenário atual.
É válido destacar que o Rio do Peixe, do qual o Córrego Timburi é afluente, é responsável
por parte da captação de água para o abastecimento do Município de Presidente Prudente-SP.
Desse modo, as ações antrópicas empregadas ao longo da Área de Proteção Ambiental, serão
responsáveis pelos agravos numa futura crise hídrica.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TIMBURI 449

À vista disso, a preocupação com a preservação dos recursos disponíveis, há necessidade


de instaurar projetos com os proprietários de terra visando trabalhar a educação ambiental e
a restauração ecológica de áreas prioritárias, mais afetadas até o momento. Assim, contri-
buindo para o equilíbrio ecológico e manutenção do ciclo hidrológico, assegurando qualidade
e quantidade de água na bacia hidrográfica do Córrego Timburi.

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BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nºs
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revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


38. ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO
DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM
EM SUB BACIA HIDROGRÁFICA GOIANA

MARIA GABRIELA DE SOUZA DAMACENO1


GABRIELLA SANTOS ARRUDA DE LIMA2
HUGO JOSÉ RIBEIRO3
KARLA ALCIONE DA SILVA CRUVINEL4

Resumo: A modificação da paisagem natural a partir da expansão de áreas urbanas e agrícolas,


ocasionam problemas relacionados a fragmentação da paisagem, como a perda dos serviços
ambientais e da biodiversidade, além de problemas relacionados aos recursos hídricos, devido a
elevada demanda de água por esses setores. Assim, o objetivo desse estudo foi realizar uma aná-
lise temporal da fragmentação da paisagem em sub bacia hidrográfica da UPGRH dos Afluentes
Goianos do Baixo Paranaíba, cuja região apresenta pressão do balanço hídrico e da qualidade da
água muito alta. Para tanto, obteve-se imagens de uso e cobertura do solo, disponibilizadas pela
plataforma MapBiomas, Coleção 6, para os anos de 1985, 2003 e 2020. Em seguida obteve-se as
métricas de paisagem (Área da Classe, Densidade de Borda, Número de Fragmentos, Densidade de
Fragmentos, Porcentagem da Paisagem e Índice de Forma Ponderado pela Área), por meio do
pacote Landscapemetrics implementado no software RStudio. Entre os anos analisados o uso e
cobertura do solo apresentou-se caracterizado pelo aumento de áreas de uso antropizado em
detrimento as áreas com vegetação remanescente. A Soja apresentou a maior expansão entre os
anos analisados, principalmente entre 1985 e 2003. Entretanto, a classe de Pastagem se destaca
com as maiores áreas em todos os anos analisados. As métricas da paisagem selecionadas no
estudo corroboraram com a análise de uso e cobertura do solo, indicando a maior fragmentação
da paisagem de cunho não antrópico com o aumento das áreas antrópicas.
Palavras-chave: Geoprocessamento; Métricas de paisagem; Uso do solo; Agropecuária.
Abstract: The modification of the natural landscape from the expansion of urban and agricultural
areas causes problems related to landscape fragmentation, such as the loss of environmental ser-
vices and biodiversity, in addition to problems related to water resources, due to the high demand
for water by these sectors. Thus, the aim of this study was to perform a temporal analysis of

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: gabriela775@discente.ufg.br


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: gabriella_arruda@discente.ufg.br
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: hugoppgema@ufg.br
4 Universidade Federal de Goiás. E-mail: karlaalcione.ufg@gmail.com

[ 451 ]
452 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel

landscape fragmentation in the UPGRH sub-watershed of the Affluents of Goiás do Baixo Paranaíba,
whose region presents very high-water balance and water quality pressure. For this purpose, land
use and land cover images were obtained, made available by the MapBiomas platform, Collection
6, for the years 1985, 2003 and 2020. Then, landscape metrics were obtained (Class Area, Edge
Density, Number of Fragments, Density of Fragments, Percentage of Landscape and Area-Weighted
Shape Index), through the Landscapemetrics package implemented in the RStudio software.
Between the years analyzed, land use and land cover were characterized by an increase in areas of
anthropic use to the detriment of areas with remnant vegetation. Soybeans showed the greatest
expansion among the years analyzed, mainly between 1985 and 2003. However, the Pasture class
stands out with the largest areas in all the years analyzed. The landscape metrics selected in the
study corroborated the analysis of land use and land cover, indicating a greater fragmentation of
the non-anthropic landscape with the increase in anthropogenic areas.

Keywords: Geoprocessing; Water management; Landscape metrics; Use of the soil; Farming.

1 INTRODUÇÃO
A fragmentação de uma área contínua em porções reduzidas e isoladas ocasionam a
perda dos serviços ambientais, da biodiversidade, erosões dos solos (MORAES et al., 2015).
Sendo que, para Cerqueira et al. (2003), a paisagem se configura como um sistema integrado
de componentes do meio ambiente e social. Ao se converter a cobertura vegetal natural, que,
segundo Santos (2020), desempenha processos ecológicos que influenciam o manejo e gestão
dos recursos naturais, para diferentes usos antrópicos ocorre a fragmentação da paisagem.
A modificação da paisagem natural a partir, por exemplo, da expansão de áreas urbanas
e agrícolas, ocasionam problemas relacionados a fragmentação da paisagem, além de proble-
mas relacionados aos recursos hídricos, devido a elevada demanda de água por esses setores.
Barros (2018), utilizou métricas de paisagem como ferramenta de avaliação dos efeitos da
urbanização, enquanto Cunha et al. (2014), utilizaram as métricas para avaliar a fragmentação
da vegetação em microbacia no estado do Mato Grosso.
Historicamente, a agricultura é o setor que mais consome água do mundo, seguidos por
usos industriais e urbanos, variando as taxas de acordo com a localidade (ANGELAKIS et al.,
2018). Assim, o planejamento dos recursos naturais, sobretudo em áreas com situações de
escassez hídrica, ganha relevância, na medida em que a expansão agrícola e urbana promove
pressão sobre os recursos hídricos, o que se mostra preocupante e requer uma melhor com-
preensão da sua dinâmica evolutiva.
Nesse contexto, a Unidade de Planejamento e Gerenciamento dos Recursos Hídricos
(UPGRH) dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba, localizado no sudoeste goiano, apresenta
crescente processo de expansão agrícola (DAMACENO et al., 2021 no prelo). Além de, conter
regiões com pressão do balanço hídrico e pressão da qualidade da água alta e muito alta,
segundo diagnóstico do Plano de Bacia (SEMAD, 2020). A pressão do balanço hídrico considera
as demandas de água e a disponibilidade hídrica superficial direta, em uma escala de 4 catego-
rias que vai de baixa a muito alta (SEMAD, 2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 453

Assim, o objetivo da pesquisa é realizar uma análise multitemporal da fragmentação da


paisagem em sub bacia hidrográfica da UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba, cuja
região apresenta pressão do balanço hídrico e da qualidade da água muito alta.

2 METODOLOGIA
A sub bacia está localizada na região sudoeste de Goiás e é caracterizada por apresentar
clima Aw, conforme a classificação de Koppen‐Geiger, ou seja, verão chuvoso e inverno seco,
com menores taxas de precipitação de abril a outubro, predomínio de Latossolos e baixa sus-
ceptibilidade erosiva, devido relevo plano (SEMAD, 2020).
A Figura 1 apresenta a área de estudo refere-se a sub bacia hidrográfica, onde estão inse-
ridos os municípios de Aparecida do Rio Doce, Caçu, Caiapônia, Cachoeira Alta, Jataí,
Paranaiguara, Perolândia, São Simão e oeste de Rio Verde, pertencentes a UPGRH dos Afluentes
Goianos do Baixo Paranaíba.
Esse recorte espacial foi selecionado, pois a região dos municípios inseridos na sub bacia
hidrográfica apresenta classificação da pressão sobre o balanço hídrico e pressão da qualidade
da água mais elevada em relação ao restante da UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo
Paranaíba (SEMAD, 2020).

Figura 1 – Localização da sub bacia hidrográfica Ottobacia Nível 5 e dos municípios integrantes

Fonte: Elaboração própria.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


454 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel

Para avaliar o padrão da paisagem na área de estudo realizou-se a aquisição de imagens


de uso e cobertura do solo, disponibilizadas pela plataforma MapBiomas, Coleção 6, para os
anos de 1985, 2003 e 2020. Os anos analisados referem-se aos períodos mais antigo e recente
com dados disponibilizados e um período intermediário.
Utilizou-se o complemento Estatística Zonal no software QGIS para se extrair as informa-
ções de classificação do uso e cobertura do solo do arquivo raster. Após o processamento das
imagens, obtém-se a identificação das classes e a área (km2), para cada ano analisado.
Em seguida obteve-se as métricas de paisagem (Área da Classe, Densidade de Borda,
Número de Fragmentos, Densidade de Fragmentos, Porcentagem da Paisagem e Índice de
Forma Ponderado pela Área, por meio do pacote landscapemetrics implementado no software
Rstudio v. 1.4.17 para a sub bacia hidrográfica no período de estudo selecionado. As métricas
são descritas a seguir, segundo Barros (2018):
Área da Classe, em inglês Class Area (CA), corresponde a área total de uma classe de frag-
mentos dentro da paisagem, em hectares (ha).
Densidade de Borda, em inglês Edge Density (ED), apresenta a relação entre o compri-
mento total da borda e a área do fragmento, em metros/hectare (m/ha).
Número de Fragmentos, em inglês Number of Patches (NP), corresponde ao número de
fragmentos de determinada classe, sendo adimensional.
Densidade de Fragmentos, em inglês Patch Density (PD), expressa a quantidade de frag-
mentos por unidade de área, em 10 -2/ha.
Porcentagem da Paisagem, em inglês Percentage of Landscape (PLAND), referente ao
percentual de fragmentos da mesma classe na paisagem, em porcentagem (%)
Índice de Forma Ponderado pela Área, em inglês Shape Index (SHAPE), apresenta o valor
médio do índice de forma dos fragmentos da classe, relacionado a irregularidade de uma
forma, sendo adimensional.
As métricas selecionadas foram analisadas segundo as classes de uso do solo, permitindo
a comparação quantitativa entre os comparativos de área, fragmento, borda e forma nos anos
abordados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba, se apresenta como uma unidade de
planejamento que conta com um grupo de bacias hidrográficas caracterizada pelos usos da
água e do solo majoritariamente voltados para agropecuária, com cerca de 72% da área da
UPGRH voltada para essas atividades (SEMAD, 2020).
No mapa de uso e cobertura do solo dos anos 1985, 2003 e 2020, é destaque o aumento
da mancha de soja dentro da área da sub bacia hidrográfica ao longo dos anos, bem como a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 455

área urbanizada, na qual a agricultura se desenvolve no entorno. Outro ponto notório visual-
mente, é a redução dos fragmentos de Formação Florestal (Figura 2).

Figura 2 – Uso e Cobertura do solo na sub bacia hidrográfica Ottobacia Nível 5 (Considere A-1985,
B-2003 e C-2020)

Fonte: Elaboração própria.

O uso e cobertura do solo varia conforme as características socioculturais da região.


Assim, o perfil voltado majoritariamente para agropecuária se manteve na sub bacia hidrográ-
fica analisada para os anos de 1985, 2003 e 2020, conforme apresentado na Tabela 1, cujo os
dados então em km2.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


456 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel

Tabela 1 – Variação temporal do Uso e Cobertura do solo na sub bacia hidrográfica Ottobacia Nível 5

Valor Absoluto de Uso e Cobertura do Solo (km2)

1985 2003 2020

Formação Florestal 2223,5 1637,5 1714,5

Formação Savânica 909,3 771,0 576,7

Formação Campestre 238,0 102,7 92,6

Área Pantanosa 337,5 294,6 278,3

Água 42,4 36,6 74,2

Mosaico Agricultura e Pastagem 2051,6 1456,2 1755,0

Pastagem 6673,7 6339,7 4268,3

Soja 801,1 2901,3 4084,0

Cana-de-açúcar 0,0 0,0 629,5

Café 16,2 6,1 4,0

Silvicultura 0,0 4,4 97,6

Outras Lavouras Temporárias 416,4 174,7 131,3

Outras Áreas não vegetadas 42,7 13,0 20,5

Área Urbanizada 15,8 30,7 42,0

Total 13768,4 13768,4 13768,4

Fonte: Elaboração própria.

A área apresentou catorze classes de uso do solo, cujos valores em porcentagem, encon-
tram-se ordenados na Figura 3.
Observa-se um declínio da vegetação remanescente, composta por Formação Florestal,
Savânica e Campestre, com o passar dos anos (Figura 3). Contudo, entre 2003 e 2020 houve um
leve acréscimo nas áreas com Formação Florestal, que pode ter ocorrido devido a promulga-
ção do da Lei 12.651, em 2012. O novo Código Florestal apresenta mais medidas de regulariza-
ção da Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (APP) do que o Código anterior,
como por exemplo a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
As áreas naturais, composta pelas classes Área Pantanosa e Água, apresentaram configu-
ração oposta. Na classe de Áreas Pantanosas houve declínio no uso e cobertura do solo com o
passar dos anos, enquanto as áreas com Água aumentaram de 0,3% do território, em 1985 e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 457

2003, para 0,5%, em 2020 (Figura 3). Nesse período, foram construídas barragens para a pro-
dução de energia elétrica nos principais rios da UPGRH (SEMAD, 2020).
De modo inverso, percebe-se um avanço entre 1885 e 2020 nas áreas de uso antrópico,
que contemplam as outras classes, inclusive as Áreas Urbanizadas. Classes como Mosaico entre
Agricultura e Pastagem; Lavouras temporárias; Café e Pastagem, cederam espaço para o cres-
cimento de áreas urbanas e culturas como soja e cana-de-açúcar (Tabela 1).
Soja foi a classe que apresentou maior expansão entre os anos analisados (23,8%), quase
se igualando com Pastagem em 2020. Entretanto, a classe de Pastagem se destaca, apresen-
tado predomínio em todos os anos analisados e quase 50% da bacia hidrográfica em 1985.
Os resultados corroboram Ponciano (2017), que apontou que a inserção da cana-de-açú-
car, em áreas anteriormente ocupadas por grãos e pastagem, vem impulsionando o avanço da
fronteira agrícola nas regiões Sul e Sudoeste de Goiás.

Figura 3 – Gráfico da variação temporal do Uso e Cobertura do solo na sub bacia hidrográfica Ottobacia
Nível 5 em porcentagem. (3 – Formação Florestal; 4 – Formação Savânica; 9 – Silvicultura; 11 – Área
Pantanosa; 12 – Formação Campestre; 15 – Pastagem; 20 – Cana-de-açúcar; 21 – Mosaico de Agricultura
e Pastagem; 24 – Área Urbanizada; 25 – Outras Áreas não Vegetadas; 33 – Água; 39 – Soja; 41 – Outras
Lavouras Temporárias; 46 Café.)

Fonte: Elaboração própria.

Com intuito de verificar se essas áreas intensificaram a fragmentação da paisagem na sub


bacia hidrográfica, utilizou-se métricas da paisagem. Para análise de área dos fragmentos da pai-
sagem, utilizou-se as métricas CA e PLAND e avaliou-se o número e densidade de fragmentos
com as métricas NP e PD, respectivamente. Para o efeito de borda a métrica de densidade da
borda ED e a forma dos fragmentos foram geradas com a métrica SHAPE, conforme Figura 4.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


458 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel

Figura 4 – Gráfico de métricas da paisagem por Uso e Cobertura do solo com evolução em 1985, 2003
e 2020. (3 – Formação Florestal; 4 – Formação Savânica; 9 – Silvicultura; 11 – Área Pantanosa; 12 –
Formação Campestre; 15 – Pastagem; 20 – Cana; 21 – Mosaico de Agricultura e Pastagem; 24 – Área
Urbanizada; 25 – Outras Áreas não Vegetadas; 33 – Água; 39 – Soja; 41 – Outras Lavouras Temporárias;
46 Café.)

Fonte: Elaboração própria.

A classe mais representativa da área, de cunho não antrópico, é a formação florestal


(classe 3). Nessa classe, a métrica Área da Classe (CA) apresentou redução de 26% de 1985 para
2003, e, entre 2003 e 2020, aumento de 4%. Indicando que, entre os primeiros anos analisados
a formação florestal possuía maior área. Essa redução nos anos seguintes é atribuída ao incre-
mento de outras classes, como a soja (classe 39) que teve sua área (CA) aumentada em mais de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 459

quatro vezes de 1985 para 2020. A métrica de Porcentagem da Paisagem (PLAND) é comple-
mentar à métrica CA, o que permitiu verificar que a classe de maior representatividade na pai-
sagem em todos os anos é Pastagem (classe 15).
O sudoeste goiano, onde insere-se a sub bacia hidrográfica em análise, a partir da década
de 1980 passou por um processo de modernização da agricultura, com incentivo de diversos pro-
gramas, com destaque para o PRODECER (Programa Nipo-Brasileiro de Desenvolvimento Agrícola
da Região dos Cerrados) (MATOS; PESSÔA, 2012). Nesse período houve a introdução da cultura
da soja na região. Logo, observa-se a relação de aumento das áreas destinadas à agropecuária na
região, e a redução de vegetação nativa, como expresso nas métricas de CA e PLAND.
Quando o número de fragmentos (NP) é reduzido em uma determinada classe pode indi-
car que houve redução da fragmentação, caso a área total daquela classe for aumentada, indi-
cando por exemplo, a interligação entre fragmentos. No entanto, se o número de fragmentos
for reduzido e a área da classe também reduziu indica que houve supressão daquela classe.
Neste estudo, o NP na classe formação savânica aumentou em 12% entre 1985 e 2003 e redu-
ziu 17% em 2020, em relação a 2003, no entanto a CA apenas reduziu entre os anos, expres-
sando a atual redução das formações savânicas e aumento da fragmentação nessa classe.
Metzger (1999), afirma que a riqueza de espécies é diretamente proporcional ao tamanho de
um fragmento florestal. Logo, a análise realizada indica que na área da sub bacia hidrográfica a
biodiversidade foi comprometida.
Na classe área urbanizada (classe 24), houve redução em 53% da métrica NP e o aumento
da CA entre 1985 e 2020. Esses valores apontam para o aumento das áreas urbanas com liga-
ção entre os bairros antes desconexos, ou seja, foram agrupados, uma tendência comum dessa
região do estado nesse período. Um exemplo, no município de Jataí, que apresenta área mais
representativa dentro da sub bacia hidrográfica, houve um intenso processo de urbanização
entre 1970 e 1991, onde a população urbana passa de 48% para 81,3% (GALINDO; SANTOS,
1995). De acordo com o último censo (IBGE, 2010), Jataí é o 12° município mais populoso do
estado de Goiás, com 88.006 habitantes.
Outra métrica de análise de fragmento é a Densidade de Fragmentos (PD), que mede a
densidade dos fragmentos calculados a partir do NP por cada 100ha. Áreas com alto PD são
mais fragmentadas, sendo uma métrica diretamente ligada a NP. Nesse caso, apresenta o grá-
fico com o mesmo comportamento do NP, com significativa redução da métrica PD nas áreas
de classes da paisagem não antropizadas, o que indica a extinção dos fragmentos nessas clas-
ses, reduzindo assim a densidade por cada 100ha. Tal inferência é possível devido a redução da
área dessas classes, caso as áreas não antropizadas sofressem um aumento entre os anos sig-
nificaria uma união desses fragmentos.
A análise da borda do fragmento é importante para definir as áreas que estão mais sujei-
tas a sofrerem alterações pela matriz da paisagem. Sendo adotado a métrica Densidade de
Borda (ED), na qual valores altos apontam para um maior efeito de borda. Em geral, as classes

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


460 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel

de cunho antrópico, principalmente, Pastagem (classe 15) e Mosaico de Agricultura e Pastagem


(classe 21), apresentam maior fragilidade na borda do fragmento, relacionado a maior quanti-
dade de fragmentos expostos a outros usos, o que indica uma ruptura abrupta do uso do solo.
Em estudo realizado por Lima et al., (2020), o cenário de reflorestamento na íntegra de
regiões de Área de Preservação Permanente (APP) dentro da Região Metropolitana de Goiânia
(RMG), representou uma melhora significativa na métrica do efeito de borda, sendo essas
áreas mais aproximadas a forma circular e menos vulneráveis ambientalmente. Assim, obser-
va-se a importância das APP no contexto de conservação da paisagem e redução da fragmen-
tação e fragilidade ambiental.
A métrica Índice de Forma Ponderado pela Área (SHAPE), indicou que as áreas não antropi-
zadas, como Formação Florestal (classe 3) e Formação Savânica (classe 4), não sofreram grandes
variações ao longo dos anos. Quanto menor o valor do Índice de Forma Ponderado pela Área
mais o fragmento tem uma forma simples, sendo benéfico para a conservação. Logo, as áreas
antropizadas com Soja (classe 39) e Silvicultura (classe 9) apresentaram os maiores valores, indi-
cando formas irregulares, já as demais classes permaneceram com o índice de forma SHAPE
baixo. Nesse contexto, de acordo com Valente e Vettorazzi (2005), a antropização de uma região
altera a forma dos fragmentos, podendo causar a extinção de fragmentos florestais, logo os
menores fragmentos são mais afetados devido à grande influência sofrida pela matriz.
As métricas de paisagem analisadas demonstraram uma crescente redução das áreas e
fragmentação da paisagem de áreas não antropizadas, como as formações florestais, savânicas
e campestre, o que associado a outros fatores ambientais, como desmatamento, fogo, ero-
sões, podem comprometer a disponibilidade e qualidade de recursos naturais. Situação que
prejudica ainda mais a pressão do balanço hídrico e pressão da qualidade da água que essas
regiões estão sujeitas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os anos analisados o uso e cobertura do solo na sub bacia hidrográfica inserida na
UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba apresentou-se caracterizado pelo aumento de
áreas de uso antropizado em detrimento as áreas com vegetação remanescente. A classe de Soja
apresentou a maior expansão entre os anos analisados, principalmente entre 1985 e 2003.
Entretanto, a classe de Pastagem se destaca com as maiores áreas em todos os anos analisados.
Acrescenta-se a esses resultados a análise da paisagem com o uso das métricas, que
revelou o aumento da fragmentação de áreas não antropizadas ao longo dos anos de 1985 e
2020, essa fragmentação está relacionada ao aumento das áreas de uso antropizado, como
descrito em cada uma das métricas realizadas na sub bacia hidrográfica.
O predomínio de áreas agrícolas e urbanas sobre áreas com vegetação natural configu-
ram uma crescente preocupação ambiental, em virtude das problemáticas envolvidas nesse

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 461

contexto. Assim, destaca-se a importância do estudo de uso e cobertura do solo, com vistas a
minimizar os danos ambientais decorrentes da fragmentação da vegetação nativa.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


462 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel

SIQUEIRA, M. P; FERREIRA, A. A.; BRITO, G. H. M.; BRANQUINHO, R. G. Avaliação Multitemporal do Uso e


Cobertura do Solo no Munícipio De Anápolis-GO. Ipê Agronomic Journal, v. 3, n. 2, p. 4-15, 2019. DOI: https://
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


39. ANÁLISE DOS IMPACTOS
DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA
SOBRE O USO DA ÀGUA NO VALLE
DEL CAUCA – COLÔMBIA

MARGGIE VANESSA SERNA F1


SABRINA CARLINDO SILVA2
CARLOS ANDRÉS CASTAÑEDA3
DIMAS MORAES PEIXINHO4

Resumo: A reconfiguração do território do Valle del Cauca envolveu mudanças radicais na utilização
água que passou ser usada na irrigação dos cultivos de cana, modificando as dinâmicas sociais, pois
impactou sobre o direito fundamental ao recurso hídrico para os habitantes, tanto das cidades,
como do campo. O objetivo é analisar os impactos que têm gerado expansão da fronteira agrícola
canavieira sobre o uso da água; a inequidade na distribuição desta fonte natural tem sido foco de
disputas entre a população atingida e as elites econômicas da região, pois foi impactada em um
direito primordial, o acesso à água. Isto gerou uma serie de contradições no modelo implantado
nesta área que é embalado pelo discurso do desenvolvimento para todos. Destaca-se a importância
de conhecer o processo de apropriação privada e exploração da natureza que compõe esse territó-
rio, especialmente as fontes hídricas da bacia do Rio Cauca, fortemente deterioradas pelo uso inten-
sivo. Tomando essa realidade como central, a análise aqui proposta está organizada a partir de
fontes documentais e dados secundários que nos permitiram fazer análise crítica das condições que
estão impactando o Valle. Como resultado evidencia-se que, a apropriação das fontes hídricas está
alterando a organização territorial das comunidades locais, pelas ações do agronegócio, composto
por parte dos agentes capitalistas que é beneficiado pelas políticas públicas, especialmente a elite do
setor canavieiro, que, em muitas situações, não cumprem as normas ambientais, apoiadas nas nar-
rativas de que a expansão da fronteira agrícola traz benefícios para a região.
Palavras-chave: agronegócio; fontes hídricas; cana de açúcar; reconfiguração da paisagem; bacia
hidrográfica.
Abstract: The reconfiguration of the territory of Valle del Cauca has involved radical changes in the
use of water for the irrigation of sugarcane crops, changing the social dynamics, since it has impac-
ted on the fundamental right to water resources for both urban and rural inhabitants. The objec-
tive is to analyze the impacts that have generated the expansion of the sugarcane agricultural

1 Mestranda do Curso de Geografia da Universidade Federal de Jataí. E-mail: marggie.serna@discente.ufg.br


2 Mestre em Geografia da Universidade Federal de Jataí. E-mail: sabrinacarlindoo@gmail.com
3 Curso de Geografía, Universidad del Valle castaneda. E-mail: carlos@correounivalle.edu.co
4 Docente da Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Jataí. E-mail: dimas.peixinho@ufg.br

[ 463 ]
464 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho

frontier on the use of water; the inequality in the distribution of this natural source has been the
focus of disputes between the affected population and the economic elites of the region, because
it impacted on a primordial right, the access to water. This has generated a series of contradictions
in the model implemented in this area that is packaged by the discourse of development for all.
The importance of knowing the process of private appropriation and exploitation of the nature
that makes up this territory stands out, especially the water sources of the Cauca River basin,
strongly deteriorated by intensive use. Taking this reality as central, the analysis proposed here is
organized from documentary sources and secondary data that have allowed us to make a critical
analysis of the conditions that are impacting the Valley. As a result, it is evident that the appropria-
tion of water sources is altering the territorial organization of local communities by the actions of
agribusiness, composed of part of the capitalist agents who are benefited by public policies, espe-
cially the elite of the sugarcane sector, which, in many situations, do not comply with environmen-
tal regulations, supported by the narratives that the expansion of the agricultural frontier brings
benefits to the region.
Keywords: agribusiness; water sources; sugarcane; landscape reconfiguration; watershed.

1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é analisar os impactos decorrentes da expansão da fronteira agrí-
cola canavieira sobre o uso da água no Valle del Cauca; a inequidade na distribuição desta fonte
natural tem sido foco de disputas entre os habitantes das cidades e o setor da agroindústria
dominado pelas elites econômicas que estão modificando radicalmente as dinâmicas naturais
dos ecossistemas naturais. Isto gerou uma série de contradições no modelo implantado nesta
área para o progresso e desenvolvimento de todos. Destaca-se a importância de conhecer o pro-
cesso de apropriação e exploração do médio natural deste território, especialmente as fontes
hídricas da bacia do Rio Cauca, fortemente deterioradas pelo aproveitamento intensivo.
O Valle del Cauca tem se destacado pelo conglomerado da cana de açúcar desde o
século XIX; vários fatores foram determinantes para a conformação deste monopólio. A
influência de elites econômicas, políticas e do Estado propiciaram o fortalecimento de um
modelo econômico de substituição de importações para logo passar ao modelo de liberação
econômica, mas especificamente com benefícios à elite do setor canavieiro, protegido e sub-
sidiado (DELGADILLO 2014).
O uso deste modelo neoliberal pelos governos da Colômbia é baseado no discurso da
apertura econômica e o modelo de desenvolvimento extrativista, o qual contribuem a consti-
tuição de “uma plataforma territorial de competividad capitalista atraente as indústrias y agro-
negócios”(BUITRAGO, 2016, p. 239). No cenário. territorial do Valle del Cauca apresentam-se
fortes contradições sociais, propiciadas pelas políticas capitalistas que sustentam o desenvol-
vimento econômico do país, fundamentado na com base na desapropriação da região das suas
riquezas naturais (BUITRAGO, 2016).
Esta região é caraterizada pela abundância das fontes hídricas não só superficiais tam-
bém subterrâneas. Embora, com a expansão da fronteira agrícola se foram levando a execução
obras que como consequência modificaram radicalmente as dinâmicas naturais dos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 465

ecossistemas. “Su aprovechamiento intensivo ha dado lugar a un significativo deterioro. Y este


deterioro fue producido porque, con la construcción de obras como embalses, canalizaciones
y estructuras para riego, se interfirió su dinámica natural y ecosistemita” (URIBE, 2018a, p. 13).
Estas obras foram executadas com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva da cana de
açúcar, mas também estavam destinadas para reconfigurar toda a região do vale do rio Cauca,
isto com o objetivo incluir os conceitos de progresso e prosperidade. O que levou a perda das
condições ecossistêmicas da região. Afeitando o rio Cauca, alagoas, lagunas, e o extermínio do
bosque seco tropical para que todas estas áreas fossem incorporadas á expansão da fronteira
agrícola canavieira (URIBE, 2017).
A reconfiguração do território envolveu mudanças radicais na utilização em abundância de
água para irrigação dos cultivos de cana de açúcar, modificando as dinâmicas sociais, sobre o
direito fundamental à fonte hídrica para os habitantes das cidades em torno do agronegócio.

1.1 Conformações do monopólio da agroindústria nacional açucareira del


Valle del Cauca
O Valle del Cauca tem se destacado pelo conglomerado da cana de açúcar desde o
século XIX; vários fatores foram determinantes para a conformação deste monopólio. A
influência de elites econômicas, políticas e do Estado propiciaram o fortalecimento de um
modelo econômico de substituição de importações para logo passar ao modelo de liberação
econômica, mas especificamente com benefícios à elite do setor canavieiro, protegido e sub-
sidiado (DELGADILLO, 2014).
Esta região desde o século XVI sofreu mudanças significativas com a chegada da indústria
capitalista. O processo de expansão da fronteira agrícola começou desde o século XIX como
reposta a diferentes fatores demográficos, políticos, econômicos, institucionais, tecnológicos,
sociais a escala internacional, nacional y local (DELGADILLO 2014). Estes processos de expansão
da agroindústria canavieira esta associada ao acelerado crescimento do uso de tecnologias,
infraestrutura e adequação do território para uso da monocultura da cana de açúcar como a
construção de canais para o controle e manejo do rio Cauca.
Estas obras foram executadas com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva da cana de
açúcar, mas também estavam destinadas para reconfigurar toda a região do vale do rio Cauca,
isto com o objetivo incluir os conceitos de progresso e prosperidade. O que levou a perda das
condições ecossistêmicas da região. Afeitando o rio Cauca, alagoas, lagunas, e o extermínio do
bosque seco tropical para que todas estas áreas fossem incorporadas á expansão da fronteira
agrícola canavieira (URIBE, 2017). Para isto, o setor contou com ajudas técnicas por meio da
Corporación Autónoma Regional del Valle del Cauca (CVC) criada pelo governo local influen-
ciada pelas indicações de missões estrangeiras com o objetivo de gerar energia elétrica, con-
trole de inundações e adequação de terras para uso de solo agrícola (DELGADILLO 2014).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


466 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho

O monopólio canavieiro se fortalece ainda mais no final do ano de 1920; (CABAL, 2015) a
proliferação de engenhos foi estabelecida e expandida por três grupos de família, as quais tive-
ram o controle dos meios de produção do açúcar. Os grupos eram o Eder, Cabal e Caicedo. É
aqui vai se conformando uma elite com interesses compartilhados. “Lo que señalaba un claro
derrotero comercial a los empresarios locales” (SÁNCHEZ; SANTOS, 2014, p. 202).
Cada grupo familiar había fundado uno de los primeros tres ingenios que hasta 1930
existían en el Valle del Cauca. El primero fue Manuelita de los Eder, después en 1926
aparece Central Azucarero del Valle S.A que desde 1954 es conocido como Ingenio
Providencia, fundado por Modesto Cabal Madriñan, finalmente, en el año 1928
Hernando Caicedo Caicedo inaugura Ingenio Riopaila S.A y se instala la fábrica de
azúcar en el corregimiento de La Paila (CABAL, 2015)

No mesmo sentido, Uribe (2018) expõe que nesta mesma década, a empresa capitalista
canavieira recebeu importantes incentivos tanto das políticas da reforma agraria como da Lei
361 de 1964 a qual deu poder para legitimar terrenos ao seu favor. As reconfigurações econó-
micas, sociais e rurais surgiram por iniciativas internacionais para promover o desenvolvimento
da agroindústria açucareira por meio da Missão Agrícola Porto-riquenha que, na direção de
Carlos Fernando Chardón, no ano de 1930, vislumbrando o futuro do negócio do açúcar na
região. (Uribe, 2018). Bem como, “paquetes tecnológicos promovidos por centros de investiga-
ción como el Centro Nacional de la Caña de Azúcar –CENICAÑA– y el Centro Internacional de la
Agricultura Tropical –CIAT-, préstamos del Banco Interamericano de Desarrollo y el Banco
Mundial”(URIBE, 2018, p. 72).
Esta tendência para o monopólio agrícola ao longo do século XX e até ao presente foi
possível graças a uma série de acontecimentos históricos, sociais, políticos e económicos que,
combinados, produziram as condições precisas para a descolagem agroindustrial da indústria
da cana de açúcar nesta região (URIBE, 2017). Só para dar uma ideia da escala desta edição, dos
440.000 ha que compõem o vale geográfico do rio Cauca, em 2016 havia pelo menos 238.204
ha plantados com culturas de cana de açúcar (ASOCAÑA, 2017)
Atualmente o setor canavieiro está conformado por 14 plantas produtoras de açúcar, 13
plantas geradoras de energia e 7 (sete) destilarias de bioetanol. Tem uma área de coleta de
207.083 hectares. Esta presente em 51 municípios, 6 (seis) estados (Valle del Cauca, Cauca,
Risaralda, Caldas, Quindio e Meta). Com uma produção de 13,3 toneladas de acuar por hectare
(TAH) e 119,61 toneladas de cana por hectare (TCH).
O conglomerado do açúcar no Valle del Cauca tinha afeitado diretamente a estrutura do
campesinato nesta região, não só no social, mas também daqui para frente esta elite, aproveitou
cada oportunidade, por médio de políticas neoliberais dos governos de turno para poder fazer
prosperar o agronegócio, chegando a alteração dos ecossistemas naturais que fazem parte do
Rio Cauca. Estas obras “se enfocaron en controlar estas aguas para la producción de energía a
partir de la construcción del Embalse La Salvajina, la canalización de las aguas, la construcción de
diques y la desecación de importantes lagunas y humedales”(URIBE, 2018, p. 71).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 467

1.2 Características biofísicas da bacia do Rio Cauca


O rio Cauca é a segunda massa de água mais importante da Colômbia, com um compri-
mento aproximado de 1300 km na parte ocidental do país, atravessa sete estados5, um deles, o
Valle del Cauca (ver Mapa 1), que tem o maior percurso de todo o seu desenvolvimento, 436 km
de comprimento; Ao longo deste percurso, a bacia do rio Cauca adquire uma importância espe-
cial para a economia nacional, uma vez que a maior parte da indústria açucareira colombiana e
uma boa parte da área de cultivo do café estão aqui localizadas, sendo também a fonte de água
para 25 municípios da região cuja economia se baseia em atividades agrícolas (CVC, 2001)

Mapa 1 – Bacía del Río Cauca Estado do Valle del Cauca

Fonte: Mapa elaborado pelos autores com dados retirados de (CVC, 2017). QR para mapa
de alta resolução

O mapa 1 mostra as bacias hidrográficas e as direções de drenagem para as bacias hidro-


gráficas que compõem esta secção da bacia do rio Cauca, que, durante o seu percurso pelo
departamento de Valle del Cauca, tem uma altura entre 900 e 1.000 m acima do nível do mar,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


468 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho

e é constituída por dois sistemas fluviais hidrográficos (ver quadro 1) classificados como rios
torrenciais de curta duração, com declives acentuados e ligados ao regime pluviométrico. Este
comportamento deve-se à proximidade do Oceano Pacífico ao departamento, que é influen-
ciado pela presença de fenómenos oceânicos atmosféricos periódicos que alteram os seus
padrões de circulação atmosférica, provocando uma diminuição e/ou aumento da precipitação
e, portanto, um aumento e/ou diminuição dos fluxos na área; destes fenómenos, o mais conhe-
cido e mais estudado é o Niño Oscilação do Sul (ENSO), fase quente e fase fria, este último
denominado La Niña (CVC, 2017).

Tabela 1 – Área e Caudais da Bacia do Rio Cauca Secção Valle del Cauca. Fonte – Elaborado por autores
com dados (CVC, 2018)

Caudal específico da bacia do rio Cauca no departamento de Valle del Cauca Secção Ano (2018)*

Margem Esquerda Margem direita

Q (m3/ Área Q (m3/


Río Área (Ha) Río
seg) (Ha) seg)
Desbaratado, Guachal
Timba, Claro, Jamundí-
(Fraile y Bolo),
Pance, “Lili-Meléndez-
Amaime, El Cerrito,
Cañaveralejo, (Canal
Sabaletas, Guabas,
Interceptor Sur)”, Cali,
Sonso, Guadalajara,
Arroyohondo, Yumbo,
357.115 69,80 San Pedro, Tuluá, 722.698 175,44
Mulaló, Vijes, Yotoco,
Morales,
Mediacanoa, Piedras,
Bugalagrande, La
RíoFrío, Pescador, RUT,
Paila, Las Cañas, Los
Chanco, Catarina,
Micos, Obando, La
Cañaveral
Vieja

Total 357.115 69,80 Total 722.698 175,44

Área tributária total da bacia (Ha) 1.079.813,00

Fluxo tributário total da bacia (m3/seg) 245,24

* Q= Fluxo corresponde a um cálculo da média mensal plurianual em períodos diferentes para cada bacia.

Os referidos sistemas hidrográficos são constituídos pela vertente ocidental da cordi-


lheira central6, com 17 rios diretos que têm origem em altitudes superiores a 4.100 metros

6 A cordilheira dos Andes ao passar pela Colômbia está dividida em três sistemas de cordilheira ocidental, central e orien-
tal no complexo montanhoso do maciço colombiano.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 469

acima do nível do mar, e pela vertente oriental da cordilheira ocidental7, com 18 rios diretos
que têm origem em altitudes próximas dos 4.000 metros acima do nível do mar8 (CVC, 2017).

Figura 1 – Esquema Transversal da Bacia do Rio Cauca no Estado de Valle del Cauca

Fonte: Mapa elaborado pelos autores com dados retirados de (CVC, 2017). Código QR para mapa de alta resolução.

Esta disposição geológica e a geo-localização regional9, permite que o departamento tenha


uma área plana de aproximadamente 320.000 Ha, uma área de alta insolação e brilho solar(<4,5
– 5. 0> KWh/m2/dia), que gera um clima seco tropical com temperaturas relativamente altas e
uniformes ao longo do ano, <24 e 28°C>, criando condições que favorecem a atividade agrícola e
especialmente a cana de açúcar (Saccharum), e a produção de açúcares de alta pureza, o que
requer temperaturas entre 26 e 30°C para um crescimento óptimo (MAG, 1991).
Na configuração regional a cana-de-açúcar assumiu o papel principal neste sector, sendo
um produto determinante na economia nacional, com uma área semeada neste departamento
de aproximadamente 220.000 Ha; mas a indústria açucareira tem necessidades importantes
no consumo de água, o que torna necessário conhecer a procura do recurso em comparação
com a oferta da região.
O Valle del Cauca, tem os seus nascimentos de água principalmente a partir de duas fon-
tes, superficiais, conformadas pelo rio Cauca e os seus afluentes através de chuvas que ofere-
cem entre 1.000 e 1.500 mm por ano, atingindo volumes próximos dos 2.500 mm (IDEAM, S.F.).
Por outro lado, o sistema aquífero subterrâneo do Valle del Cauca está distribuído em cama-
das, extraído aproximadamente em 1.452 poços profundos que bombeiam 98% desta

7 Ibídem 1
8 Os afluentes dos rios da margem direita da bacia do rio Cauca na secção do departamento do Valle del Cauca são
17: Desbaratado, Guachal Fraile e Bolo, Amaime, El Cerrito, Sabaletas, Guabas, Sonso, Guadalajara, San Pedro, Tuluá,
Morales, Bugalagrande, La Paila, Las Cañas, Los Micos, Obando e La Vieja,
Guadalajara, San Pedro, Tuluá, Morales, Bugalagrande, La Paila, Las Cañas, Los Micos, Obando e La Vieja, e na margem
esquerda são 18: Timba, Claro, Jamundí, LiliMeléndezCañaveralejo, Cali, Arroyohondo, Yumbo, Mulaló, Vijes, Yotoco,
Mediacanoa, Piedras, RíoFrío, Pescador, RUT, Chanco, Catarina e Cañaveral.
9 O território colombiano e especificamente o departamento de Valle del Cauca estão localizados na faixa tropical do
hemisfério norte, muito perto da linha equatorial entre 03° e 05° de latitude norte.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


470 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho

exploração, para o cultivo da cana-de-açúcar, seguido de abastecimento às indústrias e abas-


tecimento público (CVC, 2015).
Por outro lado, o consumo de água da cana de açúcar varia entre 1.200 e 1.500 mm por
ano de colheita (13 meses), mas a evapotranspiração deve ser tida em conta, que no vale geo-
gráfico do rio Cauca pode ser inferior a 7 mm/dia, o equivalente a aproximadamente 60%
(1.500 demanda/2.500 oferta) das águas superficiais da bacia.
A paisagem natural da zona plana do Valle del Cauca foi reconfigurada desde a época colo-
nial por conflitos territoriais indígenas e pelo uso produtivo da terra através do cultivo da cana-
-de-açúcar, o que tem sido um fator determinante nos aspectos socioeconômicos da região. As
mudanças mais notórias são a redução das árvores frutíferas e o “desaparecimento” das culturas
alimentares, que estavam associados a tradições culturais, costumes e crenças que deram iden-
tidade a diferentes territórios. Além disso, os ecossistemas também foram modificados pela
introdução de espécies não residentes e pela alteração e redução dos cursos da água; a conecti-
vidade regional por meio de estradas e trilhas foi interrompida pelas grandes unidades agrícolas
de cana-de-açúcar que hoje compõem uma paisagem de cana-de-açúcar que teve um impacto
na transformação progressiva dos microclimas, dos diferentes fatores físicos e hidrográficos, da
evolução do relevo e, sobretudo, da organização territorial (UNILIBRE, 2020).

1.3 Impactos da agroindústria canavieira sobre o uso da água no Valle del


Cauca
O Valle del Cauca tem sofrido transformações e reconfigurações por agentes do Estado
colombiano junto com setor da agroindústria da cana, gerando novas formas de organização
do território. Como indica (URIBE, 2018a) este setor tem sido reconhecido pela sua importân-
cia econômica na produção nacional, devido ao sua expansão no setor agrícola e agroindus-
trial. Embora, é importante indicar que este sucesso tem relação com as decisões executadas
pelas elites políticas e econômicas da região em direcionar a modificação do território aos inte-
resses particulares. Um dos resultados foi “efectos en la dinámica socioecosistemica y la pro-
ducción de conflictos ambientales” (URIBE, 2018a, p. 13)
Esta região como já se indicou no item anterior, é caraterizada pela abundância das fon-
tes hídricas não só superficiais também subterrâneas. Ainda, com a expansão da fronteira agrí-
cola se foram levando a execução obras que como consequência modificaram radicalmente as
dinâmicas naturais dos ecossistemas. “Su aprovechamiento intensivo ha dado lugar a un signi-
ficativo deterioro. Y este deterioro fue producido porque, con la construcción de obras como
embalses, canalizaciones y estructuras para riego, se interfirió su dinámica natural y ecosiste-
mita” (URIBE, 2018a, p. 13).
En la década del 50 existían 15.286 hectáreas de humedales lenticos en el departa-
mento del Valle del Cauca, a finales de los años sesenta, el 88% de ellos había desa-
parecido, principalmente por la adecuación del espacio para los monocultivos de la

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 471

caña de caña azúcar, desconociendo los atributos, productos y funciones que cum-
plen estos ecosistemas. (URIBE, 2018a, p. 13)

Neste sentido, o modelo neoliberal usado pelos governos da Colômbia é baseado no dis-
curso da apertura econômica e o modelo de desenvolvimento extrativista, o qual contribuem
a constituição de “uma plataforma territorial de competividad capitalista atrayente a indus-
trias y agronegócios”(BUITRAGO, 2016, p. 239). No escenario territorial do Valle del Cauca pre-
sentam-se fortes contradições sociais, propiciadas pelas políticas capitalistas que sustentam o
desenvolvimento econômico do país, fundamentado na com base na desapropriação da região
das suas riquezas naturais. (Buitrago, 2016).
O agronegócio da cana de açúcar foi capaz de alinhar os seus interesses com os do neo-
liberal Estado colombiano, convertido num estado neoliberal através da Constituição de 1991,
para territorializar e dominar a terra, a água e a terra, água e para aproveitar o excedente de
mão-de-obra despojada dos meios de produção. (Buitrago, 2016). Com isto a reconfiguração
do território envolveu mudanças radicais na utilização em abundância de água para irrigação
dos cultivos de cana de açúcar, modificando as dinâmicas sociais, sobre o direito fundamental
ao recurso hídrico para os habitantes das cidades em torno do agronegócio.

Habitantes de las pequeñas ciudades de la planicie de inundación del río Cauca


ven pasar la enorme cantidad de agua que este lleva, sin poder satisfacer sus nece-
sidades de líquido vital. muestra el comportamiento de los caudales del río a la
altura del Juanchito (municipio de Candelaria) en las proximidades de Cali.
(BUITRAGO, 2016, p. 245)

A anterior é uma das contradições do sistema capitalista; evidencia-se com as desigual-


dades no serviço mais básico para o ser humano, a água potável; afeitando aos habitantes de
alguns municípios do Valle del Cauca envoltos nesta dinâmica econômica predadora dos recur-
sos vitais. O modelo de desenvolvimento incentivado pelas elites do setor fica só no papel por-
que na realidade a contrariedade deste discurso de prosperidade para todos é só um discurso;
um exemplo indicado pelo professor (BUITRAGO, 2016) está no município de Candelaria onde
a agua é adquirida pelos habitantes através da compra por garrafas, porque a cidade não conta
com o subministro do liquido vital.

El servicio se suple a través de la compra del agua a vendedores ambulantes que lle-
van tanques plásticos de 1 m3 en pequeñas camionetas, quienes cobran, por un gar-
rafón de 5 galones (equivalente a 19 litros), entre $500 a $800 pesos colombianos2
(us $0,25 a us $0,4). Esto equivale a decir que un hogar puede llegar a pagar por
metro cúbico de agua entre $26.300 y $42.105 pesos colombianos (us$13,15 y
us$21,05), valores extremadamente superiores a los $1.300 (us$0,65) por m3 que
paga un usuario a la Empresa Municipal de Servicios Públicos de Cali (EMCALI).
(BUITRAGO, 2016, p. 247)

Embora isto pareça inconcebível, estudos realizados pelos professores (Pérez y Álvarez,
2013 apud Buitrago, 2016), indicam que, os grandes engenhos canavieiros pagam um valor

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


472 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho

inferior pela taxa de uso da água10. Para agua superficial de $24,6 por m3 (us$0,0123) y para a
água subterránea é de $0,82 por m3 (us$0,00043). (BUITRAGO, 2016, P. 247). Isto para os usu-
rários inscritos no cadastro da autoridade ambiental regional.11 cobrada en promedio para
todos los usuarios inscritos en el catastro de la autoridad ambiental regional4—, para água
superficial, es de $24,6 por m3 (us$0,0123) y, para el agua subterránea, de $0,82 por m3
(us$0,00043).(BUITRAGO, 2016, P. 247).
Neste sentido, pagam um valor inferior pelo consumo da água no município evidenciando
o poderio das elites económicas e ambientais, permanecendo os incentivos para a expansão
deste agronegócio “afianzando su territorialidad y ampliando sus territórios capitalistas. Cuando
un hogar pobre puede llegar a pagar 1.700 veces más por el agua que un rico cañicultor, existen
sobradas evidencias de que allí hay injusticia social” (BUITRAGO, 2016, p. 247).
O Rio Cauca fornece água a diferentes setores da economia e da população, cada um dos
quais utiliza certa porcentagem de seu fluxo. No quadro 1, pode-se observar que o setor agrí-
cola usa quase a totalidade na água superficial e subterrânea da bacia; o uso intensivo desta
fonte para irrigação alcança do 40% ao 60%, enquanto a percentagem restante se perde por
evaporação ou infiltração no solo. (PERAFAN, 2005)

Quadro 1 – Porcentaje de empleo de agua por diferentes sectores

Fonte: (CORPORACIÓN AUTONOMA REGIONAL DEL VALLE DEL CAUCA: Plano de ação de três anos 2001-2003. Plan de acción trienal 2001-2003:
Construyendo una cultura ambiental para el Valle del Cauca. Santiago de Cali: CVC. 2001. Pág. 70, 72, 74.apud PERAFAN, 2005, p. 14)

Ainda quando o sector canavieiro tem adquirido obrigatoriamente algumas responsabili-


dades ambientais, pelo uso intensivo e polução das bacias hidrográficas; assim como o finan-
ciamento de pesquisas para minimizar os impactos dos sistemas de irrigação, estas ações
continuam sendo ineficientes e não tem resultados positivos na pratica, pois não apontam ao
equilíbrio das fontes naturais que ainda estão disponíveis pode ser mantido em longo prazo
(PERAFAN, 2005).

10 Instrumento de gestão económica criado pela Lei 99 de 1993 para angariar fundos para a proteção e renovação dos
recursos hídricos. Pagamento pela utilização de uma concessão de água. Serve para financiar a conservação e a utiliza-
ção eficiente das bacias hidrográficas.
11 Corporação Autónoma Regional CVC é a autoridade ambiental regional encarregada pelo ministério de executar políti-
cas ambientais em relação ao ambiente e aos recursos naturais. No caso do departamento de Valle del Cauca, chama-se
CVC.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DO SOLO E FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM 473

As autoridades ambientais que na teoria deveriam proteger e ordenar rigidamente a fon-


tes hídricas trabalhando por priorizar seu uso para o consumo humano termina caindo na dinâ-
mica econômica para responder aos interesses do mercado, porém, ao contrário evadem as
responsabilidades e terminam com normativas laxas as quais não cumprem com o objetivo
pelas quais foram criadas.
En el caso del Valle del Cauca, la debilidad de la autoridad ambiental se evidencia en
la toma de decisiones y en el incumplimiento de su responsabilidad de proteger el
ambiente y los recursos naturales. La debilidad institucional crece en la medida en
que los cargos estratégicos de la Corporación son ocupados por personas aliadas al
gobierno neoliberal y los gremios de productores azucareros de la región: “El tipo va
metiendo sus personas claves allá en las diferentes instituciones y cada uno le sirve
a él, es una red obviamente más vertical, tal vez con dos escalones”. (BUITRAGO,
2014, p. 122)

Por conseguinte, pode-se evidenciar que o deterioro das fontes hídricas da bacia do Rio
Cauca gera problemáticas ambientais, sociais e econômicas na região, afeitando as comunidades
locais; isto envolve diferentes atores econômicos e políticos onde o Estado como agente de poder
gerou ações para proteger e incentivar a expansão da fronteira agrícola passando por alto as con-
sequências do crescimento econômico do setor agroindustrial da cana de açúcar. Entre algumas
das consequências, mas relevante é a distribuição desigual do uso da agua, demostrando que o
país tem uma normativa laxa na proteção e conservação das fontes naturais.

2 METODOLOGIA
Este trabalho é de revisão documental, como o fim de atingir o objetivo do artigo, foi rea-
lizada uma pesquisa intensiva de fontes secundárias de informação, tais como documentos e
pesquisa sobre questões temáticas enfocadas aos impactos ambientais e sociais que trouxe a
agroindústria canavieira no Valle Del Cauca. Foi revisada literatura especializada nacional a fim
de explorar as diferentes perspectivas dos investigadores que discutiram esta temática.
Analisaram-se as diferentes abordagens dos autores mais reconhecidos em investigações sobre
a reconfiguração da paisagem natural da região, os impactos dos usos da agua pelo setor cana-
vieiro e os impactos que a estimulação do Estado colombiano como mecanismo de poder
encorajou, estimulou e promoveu ao sector sucroenergético através de isenções ficais e outros
mecanismos como subsídios econômicos, licenças ambientais flexíveis e proteção da elite eco-
nômica da região com o objetivo da expansão acelerada da fronteira agrícola.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultado evidencia-se uma riqueza hídrica na região em todos seus componentes
geofísicos que contrasta com o despojo das fontes hídricas às comunidades locais das cidades
do agronegócio por parte dos agentes capitalistas do estado por meio de políticas públicas, eli-
tes do setor canavieiro e normas laxas das autoridades ambientais com o objetivo de expandir
a fronteira agrícola e o poderio sobre a região.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


474 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho

Uma das causas da reconfiguração da paisagem foram à flexibilidade da autoridade de


gestão ambiental com as elites do setor canavieiro, promovendo recursos, investigações e até
obras que ajudaram no controle das águas do rio Cauca para facilitar a exploração intensiva
das fontes hídricas. Deixando de lado a preservação de culturas tradicionais, despojo de terras
e a intensificação de problemáticas socioambientais nos municípios do agronegócio, incenti-
vando o crescimento de uma agricultura capitalista a escala industrial, excluindo a econômica
familiar e camponesa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso fomentar a criação de políticas encaminhadas para um melhor uso e distribui-
ção da água, onde seja priorizado o uso para consumo humano. Neste sentido, que às entida-
des de gestão ambiental no Valle del Cauca modifiquem a normativa sobre os valores da taxa
do uso da água para a agroindústria da cana de açúcar.
De forma paralela fornecer às entidades regionais instrumentos que permitam rigidez na
proteção das fontes naturais, especialmente as fontes hídricas. Além, projetar programas edu-
cativos por parte das instituições educativas de todo o departamento para fomentar o conhe-
cimento do uso sustentável destas fontes naturais respeito às monoculturas.

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ambiente y ciencia-. Ideação, v. 20, p. 69–86, 2018b.
URIBE. Transformaciones ambientales y acción colectiva en el Valle geográfico del rio Cauca frente a la
agroindustria cañera 1960-2015: tres estudios de casos. 2017. 2017.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


40.
EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO
MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL
EMBALSE CANELÓN GRANDE, URUGUAY

AGUSTINA ETCHISSURE ALFONSO1


AGUSTINA SISMANDE BARITÉ2
KAREN ACOSTA CARDOZO3
LUCAS VITURI SANTAROSA4

Resumen: El avance de las actividades antropogénicas y la disminución de la calidad del agua


superficial hace emerger la necesidad del uso de nuevas herramientas como fuente de informa-
ción para la gestión de los recursos hídricos, como el uso de las herramientas de cuantificación de
contaminación de embalses utilizando teledetección y geoprocesamiento. El presente estudio
tuvo como objetivo la recopilación bibliográfica y procesamiento de datos para evaluar la variabi-
lidad espacial y temporal del estado trófico en el embalse Canelón Grande ubicado dentro de la
cuenca de Santa Lucía, a través del análisis del contenido de clorofila-a y fósforo total monitoreado
por el Ministerio del Medio Ambiente. Estos datos colectados para el periodo de 2016 al 2020 fue-
ron comparados con la cuantificación remota del contenido de clorofila utilizando los productos
de geoprocesamiento de imágenes de Sentinel-2. Los resultados muestran gran similitud entre los
contenidos de clorofila y su respectiva correlación con la elevada demanda de fósforo. En el año
de 2017 el embalse de Canelón Grande presentó un estado hipertrófico en los análisis in situ e
imágenes satelitales y posterior disminución de la cantidad de clorofila y estado de eutrofización
en el año de 2020. Este tipo de metodología amplía la capacidad de monitoreo del ordenamiento
ambiental de cuencas para la mejor gestión de la calidad de los recursos hídricos afectada por
fuentes difusas provenientes de actividades agroindustriales.
Palabras-clave: eutrofización, calidad de agua, Sentinel-2, gestión de los recursos hídricos, Canelón
Grande

1 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: agustina.etchissure@estudiantes.utec.edu.uy
2 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: agustina.sismande@estudiantes.utec.edu.uy
3 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: karen.acosta@estudiantes.utec.edu.uy
4 Docente de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Durazno,
Uruguay. E-mail: lucas.vituri@utec.edu.uy

[ 476 ]
EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL EMBALSE CANELÓN GRANDE 477

Abstract: The advance of anthropogenic activities and the decrease in the quality of surface water
raises the need for the use of new tools as a source of information for the management of water
resources, such as the use of tools for quantifying contamination of reservoirs using remote sen-
sing and geoprocessing. The objective of this study was to compile a bibliography and data proces-
sing to evaluate the spatial and temporal variability of the trophic state in the Canelón Grande
reservoir located within the Santa Lucía basin, through the analysis of the content of chlorophyll-a
and total phosphorus, monitored by the Ministry of the Environment. These data collected for the
period from 2016 to 2020 were compared with the remote quantification of chlorophyll content
using Sentinel-2 image geoprocessing products. The results show great similarity between the
chlorophyll contents and their respective correlation with the high phosphorus demand. In 2017,
the Canelón Grande reservoir presented a hypertrophic state in the in situ analyzes and satellite
images and a subsequent decrease in the amount of chlorophyll and state of eutrophication in
2020. This type of methodology expands the monitoring capacity of the environmental manage-
ment of basins for better management of the quality of water resources affected by diffuse sour-
ces from agro-industrial activities.
Keywords: eutrophication, water quality, Sentinel-2, water resources management, Canelón
Grande

1 INTRODUCCIÓN
La calidad del agua juega un rol fundamental tanto en la salud de la población como en
las funciones ecosistémicas, significando una de las principales variables de desarrollo econó-
mico y social. La calidad del agua es mayormente afectada ante las actividades antropogénicas,
con la modificación de los parámetros fisicoquímicos (temperatura, pH, conductividad eléc-
trica, entre otros). Estas modificaciones son producto de fuentes de contaminación puntuales
o difusas, las cuales se caracterizan principalmente por la identificabilidad de la proveniencia
de las mismas (CASTRO et al., 2014).
Se reconoce en Uruguay una creciente preocupación debido a esa situación. Entre otros
informes se destacan los referidos a la cuenca hídrica del río Santa Lucía, con el fin de estudiar y
analizar la calidad de agua en una de las principales cuencas hidrográficas de nivel 1 del país.
Dispone de una red hidrológica particular que abastece de agua potable a un 60% de la población
aproximadamente. Se encuentra ubicada hacia el sur del país, dentro de las principales zonas
agropecuarias del mismo. En estos informes se han presentado los análisis pertinentes con res-
pecto a múltiples parámetros, asimismo el creciente desarrollo de las actividades agropecuarias
y el rol que juegan en la calidad del agua, ha generado que se lleven a tomar decisiones, dicho
esto en mayo de 2013, el Ministerio de Medio Ambiente propuso un plan de acción con el obje-
tivo de garantizar la calidad y cantidad de agua, además de ordenar el uso de este recurso, se
planteó un programa de monitoreo distribuidos en toda la cuenca (MVOTMA, 2017).
Las actividades agrícolas, ganaderas y forestales han aumentado en los últimos años en
el territorio uruguayo, como consecuencia han llevado a degradar los cursos de agua debido al
transporte de los contaminantes generados desde estas actividades contribuyendo con el
exceso de nutrientes en las aguas (AUBRIOT et al., 2017).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


478 Agustina Etchissure Alfonso; Agustina Sismande Barité; Karen Acosta Cardozo; Lucas Vituri Santarosa

En análisis de los parámetros fisicoquímicos relacionados con el control de la eutrofiza-


ción se hallan el fósforo y el nitrógeno. Estos son considerados como los nutrientes más preo-
cupantes a la hora de realizar una evaluación de la calidad del agua superficial, no obstante, la
producción primaria de aguas dulces está naturalmente más limitada por fósforo que por nitró-
geno. El enriquecimiento de nutrientes dentro de un ecosistema se relaciona directamente con
las actividades antropogénicas, esto provoca que puedan ser fácilmente eliminados en un
periodo corto de tiempo, es ahí donde comienza el proceso de eutrofización, lo cual conlleva a
un incremento excesivo de cianobacterias (MALCUORI, 2011). El crecimiento de la concentra-
ción de nutrientes en el sistema acuático, deriva de diversas fuentes que pueden clasificarse
como puntuales o difusas. Por la primera se tienen las industrias, ciudades y tambos, por la
segunda se vinculan a las actividades agrícola-ganadera las cuales aportan nutrientes por
escorrentía y erosión de suelo (MVOTMA, 2017). Sin embargo, este fenómeno no solo genera
consecuencias para los ecosistemas sino hasta para la población en general que consume o
hace uso de este recurso, produciendo daños graves en la salud o a las actividades socioeconó-
micas (AUBRIOT et al., 2017).
La gran disponibilidad de plataformas y productos satelitales actuales permiten seleccio-
nar las imágenes según ciertas características de interés para aplicar a un rol de investigación
muy diversificado. Entre ellos la evaluación del contenido de clorofila aplicando técnicas de
procesamiento de datos orbitales. Las imágenes de la misión Sentinel-2 producen datos de cali-
dad suficiente para estudios de la calidad del agua. Los datos generados presentan resolución
espacial de 10 metros, 13 bandas espectrales que abarcan desde el visible y el infrarrojo cer-
cano hasta el infrarrojo de onda corta y una resolución temporal de 5 días considerando la
cobertura de los satélites Sentinel-2A y Sentinel-2B (GATTI & BERTOLINI, 2013).
El presente estudio tuvo como objetivo la recopilación bibliográfica y procesamiento de
datos para evaluar la variabilidad espacial y temporal del estado trófico en el embalse Canelón
Grande ubicado dentro de la cuenca de Santa Lucía, a través del análisis del contenido de clo-
rofila-a y fósforo total monitoreado por el Ministerio del Medio Ambiente. Estos datos colecta-
dos para el periodo de 2016 al 2020 fueron comparados con la cuantificación por teledetección
del contenido de clorofila utilizando los productos de geoprocesamiento de imágenes de
Sentinel-2. Como objetivos específicos se plantea: (1) Evaluar la capacidad del geoprocesa-
miento para cuantificar el impacto por la eutrofización mediante la validación de datos obteni-
dos in situ y (2) brindar información para la gestión de los recursos hídricos.
Este estudio es un ensayo preliminar derivado de los informes de evaluación de impacto
ambiental generado en el curso de Ordenamiento Ambiental sumados a técnicas de geoproce-
samiento adquiridas en otros cursos de la carrera de Ingeniería Agroambiental de la Universidad
Tecnológica del Uruguay (UTEC – ITR CS).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL EMBALSE CANELÓN GRANDE 479

2 METODOLOGÍA
2.1 Área de estudio
El área de estudio se encuentra en el embalse Canelón Grande, construido en el año
1955. Tiene como principal cometido servir de reserva de agua para el sistema Metropolitano
(Montevideo y alrededores) para el abastecimiento de agua potable y sistemas de riego. Posee
un volumen de agua de 22.5 millones de m³ y un área de 8.38 km2. Se encuentra en el arroyo
Canelón Grande, es un curso fluvial uruguayo que nace en San Bautista y desemboca en el río
Santa Lucía atravesando todo el departamento de Canelones (Figura 1).

Figura 1 – Localización del área de estudio en el territorio uruguayo, mapa de altimetría del área del
Embalse Canelón Grande y localizaciones de las estaciones de monitoreo de calidad

2.2 Datos de calidad de agua y valores normativos


El conjunto de datos es del Observatorio Ambiental Nacional (OAN, 2021) del Ministerio
de Ambiente. Las estaciones de monitoreo seleccionadas corresponden a un sistema léntico de
Canelón Grande (CG01, CG03 y CG04, Figura 1) con fechas para los meses estivales correspon-
dientes al periodo de estudio 2016-2020. Los valores normativos de la calidad del agua referen-
tes a los parámetros físico-químicos son basados en el Decreto 253/79 considerando la Clase
1. Esta clase hace referencia a los cuerpos de agua con destino a proveer agua potable a los
residentes con tratamiento convencional, donde las concentraciones máximas permitidas para
la clorofila-a y fósforo total son 10 μg/L y 25 μg/L respectivamente.

2.3 Procesamiento de los datos


Los datos sobre calidad de agua fueron manipulados y analizados en el entorno de desar-
rollo integrado R (R CORE TEAM, 2021) y Rstudio (RSTUDIO TEAM, 2021), se realizó un análisis

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


480 Agustina Etchissure Alfonso; Agustina Sismande Barité; Karen Acosta Cardozo; Lucas Vituri Santarosa

temporal de los datos correspondientes a los muestreos en las tres estaciones de monitoreo.
En la visualización de los datos se trata de plasmar de manera eficiente el flujo y transformacio-
nes espacial y temporal. Adicionalmente se evaluó el contenido de clorofila aplicando técnicas
de procesamiento de datos orbitales, utilizando el indicador del estado trófico del embalse en
relación al vínculo entre la concentración de nutrientes, en particular el fósforo, y la produc-
ción de algas monitoreadas in situ.
Fueron utilizadas imágenes de la misión Sentinel-2, una constelación de dos satélites
idénticos e instrumentos multiespectrales de escoba (MSI) que se lanzaron el 24 de junio de
2015 (Sentinel-2A) y el 7 de marzo de 2017 (Sentinel-2B) por la Agencia Espacial Europea (ESA).
El sensor tiene una alta precisión principalmente para lo que es el estudio de la calidad del
agua, cuenta con 13 bandas espectrales que abarcan desde el visible y el infrarrojo cercano
hasta el infrarrojo de onda corta y juntos tienen una resolución de 5 días. (GATTI & BERTOLINI,
2013). Las imágenes fueron procesadas y analizadas en SNAP (Sentinel Application Platform).
Las imágenes de nivel 2a provienen sin corrección atmosférica, para procesar los datos
de Sentinel-2 se aplica el método semi empírico en el procesador C2RCC, éste además de rea-
lizar la corrección atmosférica, genera propiedades ópticas inherentes a la concentración de la
clorofila en distintas unidades (mg/m³), (g/m³) y (m/1). Este método se basa en tecnología de
red neuronal y ha sido entrenado en rangos extremos de dispersión y propiedades de absor-
ción, también brinda la posibilidad de agregar información de fondo adicional, como elevación
de la salinidad, la temperatura del ozono y la presión del aire, para mejorar aún más los resul-
tados. (SERCO ITALIA SPA, 2020).
Una vez analizado el comportamiento gráfico se evalúa como este parámetro se com-
porta en toda la serie temporal con el fin de adquirir datos provenientes de información sate-
lital en donde se pretende visualizar un momento específico del contenido de clorofila en el
embalse. Para detectar patrones de distribución de la clorofila-a en el embalse se realizó el
análisis de contenido de clorofila, basados en la concentración estimada contenida en cada
pixel que incluye un valor propio de concentración de clorofila-a.

3 RESULTADOS Y DISCUSIÓN
El análisis in situ en el periodo de 2016 a 2020 presentó un promedio de concentraciones
de clorofila-a de 10.21±4.8 μ/L en la estación CG01 y 15.38±29.48 μ/L en la estación CG03, reve-
lando una carga elevada de nutrientes que llegan al embalse (desde la entrada a la salida). Hecho
comprobado con las concentraciones de fósforo total que presenta, respectivamente para las
estaciones CG01, CG03 y CG04, 693.22±252.45 μ/L, 767.57±146.27 μ/L, 969.38±154.33 μ/L.
Analizando el comportamiento temporal para la estación CGO1 la clorofila-a presentó
concentraciones mínimas de 2.7 y máximas de 17 µg/L (Figura 2). Se observa que a partir del
año 2017 la concentración de clorofila-a en el embalse comienza a aumentar considerable-
mente hasta el año 2020, siendo este último donde se encuentra por encima del valor máximo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL EMBALSE CANELÓN GRANDE 481

permitido (10 μg/L). La estación CG03 presentó valores mínimos de concentración de 2.4 y
máximos de 75.5 µg/L, este se presenta en febrero del año 2017 que según MVOTMA (2018)
en ese periodo el arroyo Canelón Grande evidenció un estado hipertrófico (superiores a 70
µg/L). Para los demás años de estudio este parámetro se presenta por debajo del valor máximo
permitido (10 μg/L).
En base al fósforo total en todas las estaciones de muestreo se presentó de forma muy
variable, con concentraciones mínimas de 370 μg/L (CG01), 550 μg/L (CG03), 760 μg/L (CA04)
y concentraciones máximas de 1180 μg/L (CG01), 1040 μg/L (CG03) y 1200 μg/L (CA04). El fós-
foro total exhibió valores por encima de las concentraciones máximas (25 μg/L) en todo el
periodo de estudio y en todas las estaciones de muestreo. Se observó una relación entre las
altas concentraciones de clorofila-a y fósforo total en el año de 2017 y una posterior reducción
(Figura 3). Según MVOTMA (2018) existe una relación directa entre la clorofila-a y el fósforo
total, la cual es sustentada por diversos estudios.

Figura 2 – Variación temporal (2016-2020) de la concentración de Fósforo total y Clorofila-a en las


estaciones de muestreo de Canelón Grande

La variabilidad espacial de la concentración de clorofila para los años de 2017 y 2020


obtenidas por el análisis de las imágenes Sentinel-2 fueron, respectivamente, de 0.85±2.61,
1.34±3.31 μ/L (Figura 3). La distribución espacial del contenido de clorofila para el año 2017,
alcanza valores máximos de 21.76 μg/L. Para el año 2020 se marcan mayoritariamente zonas
relativamente bajas en cuanto al contenido de clorofila-a, donde en promedio los pixeles son
de 1.34 ± 2.61 μg/L, las concentraciones más altas de clorofila-a solo se presentan en los bor-
des del embalse, considerándose poco representativos. Los resultados son similares al com-
portamiento identificado en los datos obtenidos por el monitoreo in situ.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


482 Agustina Etchissure Alfonso; Agustina Sismande Barité; Karen Acosta Cardozo; Lucas Vituri Santarosa

Figura 3. Variación espacial de concentración de clorofila estimadas con las imágenes de Sentinel-2
para del Embalse Canelón Grande

La baja presencia de clorofila-a en embalses se relaciona a las temperaturas elevadas y


lluvias recurrentes, al generarse caudales altos los embalses vierten el fitoplancton al cauce del
río. Estas son transportadas aguas abajo donde van a continuar desarrollándose. Por otra parte,
serán transportadas por el viento, esto es posible ya que las cianobacterias gracias a las vesícu-
las de gas que contienen sus células pueden flotar, acumulándose en la superficie (BONILLA &
AUBRIOT, 2019).

4 CONSIDERACIONES FINALES
En la evaluación de la capacidad de las metodologías elegidas para cuantificar el impacto
por la eutrofización, las variaciones temporales y espaciales de la calidad del agua en el embalse
Canelón Grande para el periodo de 2016 al 2020, demuestran la gran capacidad de los datos
satelitales para percibir los cambios espaciales distribuidos a lo largo del embalse, aunque pre-
senta dificultades en cuanto a la evaluación de imágenes con un alto porcentaje de nubosidad.
Por otra parte, los datos tomados in situ solo evalúan medidas puntuales, es decir, no conside-
ran otras zonas del embalse.
Las metodologías utilizadas se complementan a la hora de brindar información relevante
para la elaboración de una propuesta de gestión de los recursos hídricos. Involucrando protec-
ción y prevención frente a la contaminación oriunda de las actividades agroindustriales y

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL EMBALSE CANELÓN GRANDE 483

urbanización de la cuenca Santa Lucía. El uso combinado de estas técnicas utilizadas aporta un
conjunto de informaciones con capacidad de análisis espacio-temporal del estado trófico,
como herramienta de gestión para mitigar y reducir los impactos y riesgos que se presenten en
el ambiente.

5 REFERENCIAS
AUBRIOT, L.; DELBENE, L.; HAAKONSSO, S.; SOMMA, A.; HIRSCH, F.; BONILLA, S. Evolución de la eutrofización
en el Río Santa Lucía: influencia de la intensificación productiva y perspectivas. Innotec, n. 14, p. 7-16, 2017.
BONILLA, S.; AUBRIOT, L. Las cianobacterias invaden las playas de nuestro país: ¿qué son estos organismos,
de dónde vienen y qué podemos hacer? UDELAR, Facultad de Ciencias, Montevideo, Uruguay. 2019.
CASTRO, M.; ALMEIDA, J.; FERRER, J., & DÍAZ, D; Indicadores de la calidad del agua. Ingeniería solidaria.
n.10(17), p. 111-124, 2014
GATTI, A.; BERTOLINI, A. Sentinel-2 products specification document. no, 14(5), p. 510, 2013.
MALCUORI BICO, M. A. Cianotoxinas y cianobacterias en peces de agua dulce. Tesis de doctorado,
Universidad de la República: Facultad de Veterinaria, Montevideo, Uruguay, 2011.
MVOTMA, Ministerio de Vivienda, Ordenamiento Territorial y Medio Ambiente. Monitoreo de Calidad de la
Cuenca Río Santa Lucía: Informe 2015. MVOTMA. Montevideo, Uruguay. 2017.
MVOTMA, Ministerio de Vivienda, Ordenamiento Territorial y Medio Ambiente. Monitoreo de Calidad de la
Cuenca Río Santa Lucía: Informe 2017. MVOTMA. Montevideo, Uruguay. 2018.
R CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical
Computing, Vienna, Austria. 2021. Disponible en: < https://www.R-project.org/>.
RSTUDIO TEAM. RStudio: Integrated Development for R. RStudio, Inc., Boston, MA. 2021. Disponible en:
<http://www.rstudio.com/>.
SERCO ITALIA SPA. Freshwater Quality Monitoring from Space – Lago Trasimeno, Italy. Version 1.1, 2020.
Retrieved from RUS Lectures at <https://rus-copernicus.eu/portal/the-rus-library/learn-byyourself/>
URUGUAY. Ley N° 273 Normativa para prevenir la contaminación ambiental a partir del control de las aguas.
1979. Disponible en: https://www.impo.com.uy/bases/decretos/253-1979/19 Acceso en: 26 oct. 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


41. METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN
DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO
EN SUBCUENCA DEL RÍO TACUAREMBÓ
CHICO, URUGUAY

FACUNDO NICOLAS ALMADA OSORES1


MARIA AGUSTINA AGUIAR MESA2
MARÍA EMILIA CHA VALDEZ3
LUCAS VITURI SANTAROSA4

Resumen: Los impactos ambientales son aquellas alteraciones del medio ambiente provocadas de
manera directa o indirectamente por las actividades antropogénicas o naturales. Las diferentes
actividades antropogénicas susceptibles a impactos ambientales en cualquiera de sus fases, deben
someterse a un sistema de Evaluación de Impacto Ambiental. Este tipo de evaluación es funda-
mental para protección de la calidad y sustentabilidad de los recursos naturales. En este estudio el
objetivo fue realizar la cuantificación del riesgo del impacto ambiental sobre el vertedero de la
ciudad de Tacuarembó en la cuenca del arroyo De la Piedra Sola, teniendo en cuenta los sitios pro-
pensos a mayor carga contaminante a partir de un enfoque cuantitativo de zonificación con el uso
de sobreposición de mapas. La metodología utiliza una base de datos georreferenciados y técnicas
de geoprocesamiento para evaluar la vulnerabilidad de los recursos hídricos superficiales en la
microcuenca donde se localiza el vertedero, como propuesta de monitoreo y gestión sostenible
del territorio para evaluar el riesgo a la contaminación de los recursos hídricos superficiales. La
metodología presentó gran capacidad de delimitar zonas de riesgo de contaminación de los recur-
sos hídricos, entretanto, no hace buena descripción de contaminación entre microcuencas. Pero
se puede usar este estudio previo como ejemplo de implementación de metodologías de geren-
ciamiento de riesgo. Mismo que no sea indicado para la contaminación del vertedero el índice uti-
lizado puede servir para evaluación de contaminaciones difusas de actividades agroindustriales o
riesgos de degradación del suelo por erosión.
Palabras-clave: impacto ambiental, vertedero, lixiviados, ordenamiento ambiental

1 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: facundo.almada@estudiantes.utec.edu.uy
2 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: maria.aguiar.m@estudiantes.utec.edu.uy
3 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: maria.cha@estudiantes.utec.edu.uy
4 Docente de la carrera de Ingeniaría Agroambiental Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Durazno,
Uruguay. E-mail: lucas.vituri@utec.edu.uy

[ 484 ]
METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO 485

Abstract: Environmental impacts are those alterations to the environment caused directly or indi-
rectly by anthropogenic or natural activities. The different anthropogenic activities susceptible to
environmental impacts in any of their phases, must be subjected to an Environmental Impact
Assessment system. This type of evaluation is essential for the protection of the quality and sus-
tainability of natural resources. In this study, the objective was to quantify the risk of the environ-
mental impact on the landfill of the city of Tacuarembó in the De la Piedra Sola stream basin,
taking into account the sites prone to higher pollutant load from a quantitative zoning approach.
with the use of map overlay. The methodology uses a georeferenced database and geoprocessing
techniques to assess the vulnerability of surface water resources in the micro-basin where the lan-
dfill is located, as a proposal for monitoring and sustainable management of the territory to assess
the risk of contamination of surface water resources. The methodology presented a great capacity
to delimit areas of risk of contamination of water resources, however, it does not make a good des-
cription of contamination between micro-basins. But this previous study can be used as an exam-
ple of the implementation of risk management methodologies. Even if it is not indicated for the
contamination of the landfill, the index used can be used to evaluate diffuse contamination from
agro-industrial activities or risks of soil degradation due to erosion.
Keywords: environmental impact, landfill, leachate, environmental management

1 INTRODUCCIÓN
Los impactos ambientales son aquellas alteraciones del medio ambiente provocadas de
manera directa o indirectamente por las actividades antropogénicas o naturales. Las diferentes
actividades antropogénicas susceptibles a impactos ambientales en cualquiera de sus fases,
deben someterse a un sistema de Evaluación de Impacto Ambiental (EIA). Es necesario evaluar
la magnitud de las actividades socioeconómicas para estimar el nivel cuantitativo y cualitativo,
la profundidad de los cambios, así como también el alcance espacial y temporal (ENSHASSI et
al. 2014, SANTOS, 2007). La finalidad de la evaluación de los impactos ambientales, es conside-
rarlos antes de tomar cualquier decisión que pueda implicar una significativa degradación de la
calidad del medio ambiente (SÁNCHEZ, 2015).
La EIA es un instrumento preventivo de gestión ambiental dónde se identifican y valoran
de manera anticipada las consecuencias de un proyecto para mitigar o compensar sus afecta-
ciones ambientales negativas (SANTOS, 2007, SÁNCHEZ, 2015). En Uruguay, el régimen de EIA
existe por la ley nº 16.466, del 19 de enero de 1994 y su decreto reglamentario 349/005 del 21
de setiembre de 2005, que actualmente regula las autorizaciones ambientales y que fuera ela-
borado en base a un proceso de revisión y participación realizado a través de la Comisión
Técnica Asesora de la Protección del Medio Ambiente (COTAMA), de manera multidisciplinaria
e interinstitucional según la Ley N°16466, 1994 (URUGUAY, 1994).
Existen diferentes actividades sociales y económicas en nuestro país que generan dife-
rentes impactos a nivel departamental o regional. Estos impactos se generan sobre diversos
factores ambientales tanto físicos, bióticos y antrópicos, ya sea en la fase de construcción, ope-
ración o abandono de los diferentes proyectos y/o actividades. El área de estudio se ubica en
la ciudad de Tacuarembó, capital departamental donde predomina la actividad minera y agroin-
dustrial (CÁMARA DE INDUSTRIAS DEL URUGUAY, 2017).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


486 Facundo Osores; Maria Mesa; María Valdez; Santarosa

De acuerdo al último censo uruguayo, Tacuarembó cuenta con más de 54.000 habitantes
(60% de la población total del departamento) colocándolo en el noveno lugar de la ciudad más
densamente poblada del país. El Instituto Nacional de Estadística estima que la población en
general crecerá en el entorno de 0.74% anual en los próximos 20 años. Esto trae consigo que
las diferentes actividades relacionadas al sector de servicios y las agroindustrias presentes en
el departamento se encuentren en crecimiento, así como también sus diversos impactos en el
ambiente (INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA, 2014).
Una de las mayores problemáticas es la generación de residuos sólidos, con la particula-
ridad de que Tacuarembó cuenta con un vertedero que recibe la mayoría de los residuos de
forma directa al suelo, y en contacto libre con el aire y la atmósfera. Se vierten por mes alrede-
dor de 1.200 toneladas de residuos al vertedero municipal, generalmente sin clasificación pre-
via (CÁMARA DE INDUSTRIAS DEL URUGUAY, 2017). Los vertederos a cielo abierto son aquellos
sitios en donde se vierten distintos residuos sólidos en forma indiscriminada, sin un control de
operación y con insuficientes medidas de protección ambiental (NAVARRO, 2021).
En este estudio el objetivo fue realizar la cuantificación del riesgo del impacto ambiental
sobre el vertedero de la ciudad de Tacuarembó en la cuenca del arroyo De la Piedra Sola,
teniendo en cuenta los sitios propensos a mayor carga contaminante a partir de un enfoque
cuantitativo de zonificación con el uso de sobreposición de mapas. La metodología utiliza una
base de datos georreferenciados y técnicas de geoprocesamiento para evaluar la vulnerabili-
dad de los recursos hídricos superficiales en la microcuenca donde se localiza el vertedero,
como propuesta de monitoreo y gestión sostenible del territorio para evaluar el riesgo a la con-
taminación de los recursos hídricos superficiales.
Este estudio es un ensayo preliminar derivado de los informes de evaluación de impacto
ambiental generado en el curso de Ordenamiento Ambiental sumados a técnicas de geoproce-
samiento adquiridas en otros cursos de la carrera de Ingeniaría Agroambiental de la Universidad
Tecnológica del Uruguay (UTEC – ITRSC).

2 METODOLOGÍA
2.1 Área de estudio
El área de estudio corresponde a la cuenca del arroyo De la Piedra Sola (CAPS) donde se
localiza el vertedero municipal de la ciudad de Tacuarembó (Figura 1), sus coordenadas cen-
trales geográficas corresponden a la latitud -31.695 y longitud -55.892. Ocupa un total de 21
km2; sus aguas son afluentes del arroyo tres esquinas, el cual a su vez es afluente del Arroyo
Tacuarembó Chico y este del Río Tacuarembó. La topografía se caracteriza por ser una penilla-
nura poco ondulada en la que afloran rocas sedimentarias, la zona aflorante de la fonación
sedimentaria Tacuarembó y Las Arenas (LOUREIRO; SÁNCHEZ-BETTUCCI, 2019) que coinciden
con la zona de afloramiento del acuífero Guaraní.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO 487

Figura 1 – Se presenta el área de estudio donde se realiza la evaluación ambiental yel área del vertedero
desde una vista satelital

El vertedero de la ciudad tiene una superficie estimada de 200 hectáreas, es propiedad


de la Intendencia Municipal de Tacuarembó y se localiza en la parte alta de la CAPS (Figura 2).
Se identifican áreas forestadas, canteras de enterramiento y un sistema de pequeñas lagunas
en la cuenca.
A diferencia de otros sitios de disposición y tratamiento de residuos, estos no cuentan
con medidas de seguridad por lo que puede encontrarse todo tipo de residuos, incluso patogé-
nicos y peligrosos. Tampoco cuentan con la impermeabilidad de los suelos donde se colocan, o
la distancia adecuada respecto de las napas freáticas, los cursos de aguas superficiales, los cen-
tros urbanos u otras áreas susceptibles de recibir los impactos derivados de estas instalaciones.
Debido al alto crecimiento demográfico y la poca disponibilidad en tierras, la disposición de
residuos sólidos pasó a ser una problemática constante, sumado el aumento de precipitaciones
instantáneas que contrae la variabilidad climática actual, combinado con que la deficiencia en
prácticas de captación de agua de escorrentía en rellenos sanitarios, provoca una mayor pro-
ducción de lixiviados en sitios de deposición. Estos diferentes tipos de lixiviados circundantes
se forman durante procesos de fermentación y descomposición de la materia orgánica, a con-
secuencia de la filtración de agua de lluvias que se percolan entre los residuos y arrastran así

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


488 Facundo Osores; Maria Mesa; María Valdez; Santarosa

diversos compuestos químicos y materiales biológicos. Son una fuente potencial en la contami-
nación de aguas superficiales y subterráneas, ya que estos se pueden infiltrar a través del suelo
provocando la contaminación. Son capaces de aumentar el DBO5 y DQO, generar el agota-
miento del oxígeno disuelto, fomentar la contaminación por virus y bacterias, incrementar el
contenido de minerales, metales pesados (Pb, Mn y Fe), la adición de compuestos orgánicos
complejos (pesticidas, hidrocarburos y productos químicos industriales) y generar acumulo de
nutrientes (nitrógeno y fósforo) responsables por la eutrofización (NAVARRO,2021).

2.2 Método para caracterización de la vulnerabilidad


La caracterización de la vulnerabilidad se desarrolló con el levantamiento de las caracte-
rísticas ambientales de bancos de datos georreferenciados (vector y raster) y su geoprocesa-
miento con el fin de conocer los parámetros de entrada para crear el mapa final de vulnerabilidad.
Se recopiló información cartográfica del área disponible en el portal de Infraestructura de
Datos Espaciales del Uruguay (IDE) y del Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria del
Uruguay (INIA). El procesamiento fue realizado en el software QGIS basado en operaciones
simples con capas vectoriales convertidas a ráster, álgebra de mapas y reclasificación de valo-
res. Utilizando un enfoque cuantitativo de zonificación con el uso de sobreposición de mapas
(SANTOS, 2007).
Se considera al vertedero con el mayor nivel jerárquico de ponderación, dado que de
este provienen los lixiviados que posteriormente discurrirán por la CAPS, y partiendo de que
el tratamiento que reciben los residuos, es el de ser enterrados. Cuanto menor sea la distan-
cia al vertedero mayor será la vulnerabilidad de las aguas superficiales de entrar en contacto
con los lixiviados.
La red hídrica (Figura 2c) fue calculada a partir del DEM del Instituto de Infraestructura
Espaciales del Uruguay (IDE) con resolución espacial de 2.5 metros. El criterio utilizado para
estimar la vulnerabilidad de la red hídrica fue teniendo en cuenta que, a menor distancia del
curso, mayor será la vulnerabilidad de estos a mantener contacto con lixiviados. Una vez
alcanzados los cursos de agua, los contaminantes pueden afectar otros cursos y sus paráme-
tros de calidad.
El uso que se le dé al suelo influirá en el transporte de los lixiviados sobre la superficie ya
que, en presencia de árboles, por ejemplo, el líquido encuentra más obstáculos. En cambio, en
zonas con poca o nula cobertura vegetal el lixiviado podrá transportarse a zonas más alejadas
del punto de origen (Figura 2b). En su parte alta se encuentra el vertedero y áreas de plantacio-
nes forestales, en la zona media (en mayor superficie) campo natural y en las zonas más bajas
y contra los arroyos, áreas de bañado y monte rivereño.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO 489

Figura 2 – Representación de los distintos criterios tenidos en cuenta – a) Pendiente, b) Usos de Suelo,
c) Red Hidrográfica, d) Porcentaje de arena

La pendiente fue calculada a partir del DEM del Instituto de Infraestructura Espaciales
del Uruguay (IDE) con resolución espacial de 2.5 metros expresada en porcentaje desde la clase
plana a escarpado (Figura 2a). Se consideró esta variable como un importante agente de trans-
porte de todas las sustancias líquidas sobre la cuenca, considerando que cuanto mayor sea el
porcentaje de la pendiente, mayor será la velocidad con la que los lixiviados que puedan trans-
portarse en la CAPS.
Para determinar el tipo de suelo de la CAPS (Figura 2d) se clasificó según lo dispuesto por
la Dirección General de Recursos Naturales Renovables y el Ministerio de Ganadería Agricultura
y Pesca (Molfino, J. y MGAP) como se muestra en el Cuadro 1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


490 Facundo Osores; Maria Mesa; María Valdez; Santarosa

Cuadro 1 – Se presentan los criterios de clasificación para la cobertura del suelo

Clasificación Textura (% arena, limo y arcilla

Luvisol Ócrico con textura compuesta 67.7% de arena – 21.19% de limo – 5.2% de arcilla

Abrúptico Acrisol Ocrico Típico 84% arena – 8.09% limo – 7.7 % arcilla

Planosol Dístrico Úmbrico 76.4 % arena – 13.2% limo – 10.4% arcilla

Planosol / Brunosol Lúvico 29.1% arena – 36.5 % limo – 34.4 % arcilla

Brunosol Subéutrico Típico 35.1 % arena – 46.4% limo – 22.1 % arcilla

De esta forma se dispuso que cuanto mayor es el porcentaje de arena en el suelo, los lixi-
viados podrán transportarse más velozmente por su vulnerabilidad natural a erosión o maior
capacidad de infiltración. Ofreciendo riesgo más elevado a los recursos hídricos superficiales y
subterráneos. A esta variable se le otorgó el menor valor de ponderación, necesitando de un
estudio complementar a respecto de las respuestas de lluvia y escorrentía, utilizando métodos
como el Racional o el SCS (COLLISCHONN; DORNELLES, 2016).
Para determinar esta vulnerabilidad se utiliza la Ecuación 1, la cual se realiza por medio
de una sumatoria de capas en ráster ponderados entre 0-1 entre porcentaje de arena, pen-
diente, distancia al vertedero, usos de suelo y la red hídrica. El ráster de vulnerabilidad reclasi-
ficado es multiplicado entre 1-4 para cada variable de entrada y así determinar la vulnerabilidad
total de la cuenca. Entonces, para un valor (1) se asigna un color verde representado menor
riesgo y a los rangos con mayor vulnerabilidad, el valor más alto (4) en color violeta.

Ecuación 1
Donde, Vt es la vulnerabilidad total, γ es el valor de ponderación, Rv es el ráster de vul-
nerabilidad reclasificado. La selección del valor de ponderación y su jerarquización queda a cri-
terio de los investigadores, anteriormente descrito, no siguiendo una metodología estandarizada.
Los valores de ponderación tomados para este análisis fueron de 0.2 para la distancia respecto
al vertedero, 0.3 en relación a los cursos de agua, 0.2 para los usos de suelo, seguido por 0,25
para la pendiente y 0.05 para el porcentaje de arena.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
En base a los resultados obtenidos tras la clasificación del área, se obtiene la vulnerabili-
dad de la misma (Figura 3). Puede apreciarse que la mayor debilidad a sufrir contaminaciones
desde diferentes puntos, se encuentra justamente dentro del área de influencia del vertedero.
Además de esto, la mayor parte de los cursos de agua encontrados en la zona de estudio se
encuentran en condiciones de vulnerabilidad moderadamente fuertes. Obviamente la

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO 491

contaminación del vertedero se restringe a la microcuenca en que está ubicado, con posibili-
dad de contaminación por movilización subsuperficial de los contaminantes. En este punto el
método es fallo, pero se puede interprétalo como zonas más vulnerables a la erosión y genera-
ción de contaminación por otros tipos de fuentes difusas como las actividades agrícolas (exceso
de nutrientes o pesticidas) en relación al proceso de escorrentía y lixiviación, asociados a las
mismas variables analizadas.
Siguiendo la caracterización de usos de suelo en la cuenca de estudio, se visualiza que
donde los usos son forestales, los valores de vulnerabilidad son menores, por lo que este uso
contribuye en la protección para lograr que la vulnerabilidad de contraer contaminación, sea
menor. De esta forma, la zona donde se encuentra el vertedero, tras estar cubierta de campo
natural en su mayor superficie, se encuentra en estado muy vulnerable. Principalmente si en
estas zonas la ganadería es practicada y aumenta la compactación del suelo.

Figura 3. Representación de la vulnerabilidad para la cuenca en estudio y el vertedero, obtenida tras


aplicar la ecuación de vulnerabilidad

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


492 Facundo Osores; Maria Mesa; María Valdez; Santarosa

4 CONSIDERACIONES FINALES
El tipo de metodología utilizada es muy útil para establecer áreas puntuales y realizar mane-
jos específicos según el nivel de vulnerabilidad; pudiendo gestionar de manera más eficiente y
desde una perspectiva holística tanto los recursos (económicos, materiales, humanos) como el
ambiente. Sin embargo, la metodología elegida no hace distinción entre las zonas y otras micro-
cuencas que tendrían impacto bajo por los divisores de agua de las microcuencas. Acaban clasifi-
cadas por sus características locales, a este aspecto el método deberá ser mejorado, todavía, la
zonificación de la vulnerabilidad fue cumplida. Con una finalidad más aplicable a fragilidad del
suelo y de los recursos hídricos en la cuenca frente a otros tipos de impactos potenciales.
Desde un ámbito social, se habla muy poco de que, sobre el vertedero y sus entornos, se
desarrollan determinadas actividades que involucran la vida y salud humana, partiendo desde
el punto que en las instalaciones del vertedero viven y habitan diferentes familias que fijan sus
trabajo y entrada de dinero, en el reciclaje y venta de residuos reclasificados que se encuentran
en él vertedero (SCAGLIOLA; RODRIGUEZ, 2013). Esto deja en cuestionamiento y el camino
abierto al ordenamiento ambiental y territorial, que debe de realizarse sobre el vertedero de
la ciudad de Tacuarembó.

5 REFERENCIAS
CÁMARA DE INDUSTRIAS DEL URUGUAY. El interior industrial: Tacuarembó, volumen 4. ERANCOR, 2017
COLLISCHONN, W.; DORNELLES, F. Hidrologia para engenharias e ciências ambientais. Oficina de Textos. São
Paulo, Brasil, 2016
ENSHASSI, A.; KOCHENDOERFER, B.; RIZQ, E. Evaluación de los impactos medioambientales de los proyectos
de construcción. Revista ingeniería de construcción, 29(3), 234-254, 2014
INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA, 2014. Estimaciones y proyecciones de la población de Uruguay:
metodología y resultados. Revisión 2013, INE, Montevideo. Acceso en: 18 oct 2021
LOUREIRO, J.; SÁNCHEZ-BETTUCCI, L. Texto Explicativo de la Carta Geológica del Uruguay, Revista
Investigaciones, Montevideo, 2(1):10-27, 2019
NAVARRO, B.; CARRASCO, F. Variación en los parámetros del sistema calcocarbónico del agua subterránea
por infiltración del lixiviado del vertedero de La Mina, Málaga. GEOGACETA. 1999.
SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. Ed. 2. Oficina de Textos, São Paulo,
Brasil, 2015.
SANTOS, R.F. dos, Planejamento ambiental: teoria e prática. Oficina de Textos, São Paulo, Brasil, 2007.
SCAGLIOLA, A.; RODRIGUEZ, M. Agenda Estratégica-Hacia un plan de desarrollo Social Tacuarembó. Vol. 1.
Presidencia de la República, Uruguay Social. 2013.
URUGUAY. Ley Nº 16.466 Ley de Evaluación de Impacto Ambiental. 1994. Disponible
en: <https://www.gub.uy/ministerio-industria-energia-mineria/institucional/normativa/
ley-n-16466-fecha-19011994-ley-evaluacion-del-impacto-ambiental>.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


42. PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA
INTENSIVA NA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO
CHAPADÃO DE SANTO DO RIO VERDE, EM
CATALÃO-GO

MYCHELLE PRISCILA DE MELO1


ANGÉLICA SILVÉRIO FREIRES2
SILAS PEREIRA TRINDADE3

Resumo: É objeto desta pesquisa a análise do uso e ocupação do solo, em 2010 e 2020, na região
hidrográfica do Chapadão de Santo do Rio Verde em Catalão-GO, considerando as transformações
da Paisagem do Cerrado, nas Bacias do São Bento, do Rio Verde e do Pirapitinga, por meio da pes-
quisa bibliográfica, documental e do geoprocessamento. Verificou-se, tanto em 2010, quanto em
2020, um padrão de ocupação na região, com avanço da fronteira agrícola pela agricultura inten-
siva. Em 2010 esta classe ocupava 62,87% da área pesquisada, pastagens 17,33%, áreas de pivôs
(2,66%), silvicultura 1,90%, barramentos 0,09% e a área urbana (Distrito de Santo Antônio do Rio
Verde (SARV)) 0,05%. Em 2020 a agricultura passou a ocupar 66,86%, as pastagens 12,47%, áreas
irrigadas 1,62%, silvicultura 2,58%, barramentos 0,21% e a área urbana de SARV 0,06%. As áreas
de vegetação nativa corresponderam a 15,10% e 16,20%, respectivamente, em 2010 e 2020.
Embora com pequeno acréscimo, esses quantitativos não representam sequer o mínimo estabe-
lecido pela Legislação Ambiental brasileira a ser preservado: 20% para Reserva Legal no Cerrado,
além da Área de Preservação Permanente (APP). Comprova-se que o Cerrado perde seu espaço à
medida que a agricultura intensiva se consolida em meio à pressões ambientais, avançando sobre
veredas, provocando erosão, assoreamento dos cursos d’água, perda de biodiversidade, compro-
metimento hídrico por contaminação e degradação pedológica nos Chapadões do SARV, no
Cerrado Goiano, em Catalão.
Palavras-chave: Bacias Hidrográficas; Cerrado; Catalão-GO; Chapadões de Santo Antônio do Rio
Verde; Uso e Ocupação do Solo.
Abstract: The object of this research is an analysis of land use and occupation, in 2010 and 2020,
in the hydrographic region of Chapadão de Santo do Rio Verde in Catalão-GO, considering the
transformations of the Cerrado landscape, in the basing, in the river São Bento, Rio Verde and
Pirapitinga, through bibliographic, documental research and geoprocessing, using images from
the SRTM /, Landsat 5 and Landsat 8 satellites and the Spring 5.5.6 and ArcMap 10.3 software.

1 Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: mychelle@ufu.br


2 Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: angelicafreires@gmail.com
3 Universidade Estadual de Goiás – UEG. E-mail: silaspereiratrindade@gmail.com

[ 493 ]
494 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade

There was, both in 2010 and in 2020, a pattern of occupation in the region, with the advance of
the agricultural frontier by intensive agriculture. In 2010 this class occupied 62.87% of the sur-
veyed area, pastures 17.33%, pivot areas (2.66%), forestry 1.90%, dams 0.09% and the urban
area (Distrito de Santo Antônio do Rio Verde (SARV)) 0.05%. In 2020, agriculture started to
occupy 66.86%, with pastures 12.47%, irrigated areas 1.62%, forestry 2.58%, dams 0.21% and
urban area of ​​SARV 0.06%. The areas of native vegetation corresponded to 15.10% and 16.20%,
respectively, in 2010 and 2020. Although with a small increase, these figures do not even repre-
sent the minimum established by the Brazilian Environmental Legislation to be preserved: 20%
for Legal Reserve in the Cerrado, in addition to the Permanent Preservation Area (APP). It is pro-
ven that the Cerrado loses its space as intensive agriculture is consolidated amidst environmen-
tal pressures, advancing on footpaths, causing erosion, siltation of watercourses, loss of
biodiversity, water compromise by contamination and pedological degradation in Chapadão of
the SARV in Cerrado Goiano, of Catalão.
Keywords: Watersheds; Cerrado; Catalão-GO; Chapadões de Santo Antônio do Rio Verde; Use and
Ocupation of the land.

1 INTRODUÇÃO
O Brasil é produtor e exportador global de commodities, dentre elas, soja, milho, carne,
açúcar e culturas florestais (celulose, palma). É nesse contexto, de produção agrícola e de flo-
restas plantadas, além da pecuária, que a expansão do agronegócio coloca em risco áreas nati-
vas em todo o Brasil, principalmente na Amazônia e no Cerrado. Nesse cenário intensifica-se o
uso dos bens naturais como solo, ar e água e promove-se a pressão sobre populações e modos
de vidas tradicionais, além de promover impactos que vão do local ao global, dentre eles, asso-
reamento de fontes hídricas, poluição nas suas distintas formas, solos degradados, desmata-
mento, fragmentação de biomas, destruição da biodiversidade e mudanças no microclima.
Catalão, município do interior do Sudeste de Goiás participa desta dinâmica, com a produção
em larga escala principalmente associada à Região Hidrográfica (Rio Verde, Rio São e Ribeirão
Pirapitinga) onde se localiza o Chapadão do Santo do Antônio do Rio Verde.
A transformação das paisagens do Cerrado tem ocorrido, com mais intensidade, a partir
da década de 1970, em função dos avanços tecnológicos e políticas governamentais expansio-
nistas e de interiorização do Brasil, imprimindo ao Domínio uma predisposição para produção
de grãos e de carne, como consequência, a exploração dos recursos naturais decorrente do uso
e ocupação das terras de forma insustentável, gerou diversos impactos ambientais.
Ameaças às veredas, drenagem de áreas úmidas, erosão, assoreamento dos cursos
d’água, perda de biodiversidade, construção de canais artificiais, comprometimento hídrico
por contaminação e abastecimento de pivôs centrais, são apenas alguns dos inúmeros proble-
mas detectados nas Bacias Hidrográficas que abrangem o Chapadão de Santo Antônio do Rio
Verde (SARV), em Catalão-GO. É emergencial a recuperação de áreas já degradadas, e a con-
servação/preservação das que ainda sobrevivem à invasão desmedida do agronegócio, exigin-
do-se planejamento adequado e práticas que revertam a real situação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA INTENSIVA 495

1.1 Caracterização da Área de Estudo


A região do Chapadão de Santo Antônio do Rio Verde está localizada no município de
Catalão, estado de Goiás, na porção mais a Nordeste do município, dividindo com os municí-
pios de Campo Alegre de Goiás, a Oeste, Ouvidor, ao Sul, e com o estado de Minas Gerais à
Leste. Nesta área, está localizado o distrito de Santo Antônio do Rio Verde, com aproximada-
mente 3.000 habitantes, numa região de predomínio geomorfológico de relevos de chapadas
de baixa dissecação, recobertas por Latossolos Vermelho e Vermelho-Amarelo, ocupando uma
área de aproximadamente 1.520,68 Km².
A região de SARV faz parte da bacia hidrográfica do Rio Paranaíba, sendo composta pelo
Rio São Bento, Rio Verde e pelo Ribeirão Pirapitinga (Figura 1). Estas bacias localizam-se em
região de Cerrado, sendo que o Rio São Bento ocupa uma área de 809,13 Km², o Rio Verde com
área de 507,83 Km² e o Ribeirão Pirapitinga uma área de 228,68 Km².

Figura 1 – Localização da Área de Estudo

Fonte: elaborado pelos autores.

A área de estudo é a região de maior concentração produtiva do agronegócio no municí-


pio de Catalão-GO. Segundo Prado, Miziara e Ferreira (2012), nas últimas cinco décadas a região
deste município onde se insere o distrito de Santo Antônio do Rio Verde, passou pelo processo
de modernização da agricultura por meio do avanço da Fronteira Agrícola.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


496 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade

O crescimento desta estrutura agrícola comercial ocorreu a partir dos fatores edafocli-
máticos associados às condições logísticas, sendo que as áreas de pastagens e de vegetação
nativa foram convertidas para áreas agrícolas num processo contínuo de mudanças de uso do
solo, como se discute nesse trabalho.

2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa foram desenvolvidas técnicas e procedimentos,
os quais englobam pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e uso do geoprocessamento.
A pesquisa bibliográfica envolveu principalmente o Cerrado e questões hídricas como eutro-
fização, contaminação hídrica por agrotóxico, subsistemas de Veredas, dentre outras variá-
veis. A coleta de dados da pesquisa documental abarcou dados de solo, clima, relevo,
população humana urbana e rural, hidrografia, uso, ocupação, aspectos econômicos, dentre
outros, sobre Catalão-GO.
Com relação ao geoprocessamento, o Sensoriamento Remoto foi utilizado para delimitar
as bacias hidrográficas e para construir cartas de uso e cobertura das terras em Santo Antônio
do Rio Verde. A identificação das unidades hidrográficas ocorreu a partir de imagens SRTM
(Shuttle Radar Topography), enquanto as cartas de uso do solo de 2010 e 2020 tiveram, respec-
tivamente, como referência imagens dos satélites Landsat 5 e Landsat 8, conforme o quadro 1.

Quadro 1 – Satélites SRTM e Série Landsat e suas resoluções espaciais, temporais, radiométicas e espectral

Imagem Órbita/Ponto Mês/ano Res. Espacial Bandas

SRTM/Topodata 17_48 - 30 metros -

Landsat 5 220/72, 220/73, 221/72 Junho/2010 30 metros 345

Landsat 8 220/72, 220/73, 221/72 Setembro/2020 30 metros 654


Fonte: organizado pelos autores.

Na demarcação das bacias utilizou-se imagens do sensor ativo SRTM, do INPE, que foram
trabalhadas no ArcMap 10.3. A partir destas imagens, estas áreas foram delimitadas automatica-
mente, a partir do conjunto de ferramentas Hydrology, contido no Spatial Analyst Tools. Para os
mapas de uso e cobertura das terras, após a escolha das cenas dos anos de 2010 e 2020, houve o
processamento digital que consistiu na correção geométrica e no processo de classificação não-
-supervisionada, selecionando as áreas de agricultura, barramentos, distritos, pastagens, pivôs,
silviculturas e de vegetação nativa, com uso dos softwares Spring 5.5.6 e do ArcMap 10.3. Tendo
em vista tais documentos cartográficos após o conhecimento teórico e empírico que envolvem a
pesquisa foi possível realizar discussões, tal qual se apresentam a partir de agora.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA INTENSIVA 497

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso e a cobertura das terras consistem na análise espacial da dinâmica das paisagens a
partir dos resultados observados diante dos múltiplos usos do solo, a partir do contexto atual
e das suas mudanças de usos. Segundo Soterroni et al. (2016) é um importante instrumento
para o planejamento de políticas públicas diante da análise dos possíveis impactos que estas
alterações podem promover nos ambientes naturais.
Nesta perspectiva, a região do Chapadão de SARV, promoveu na última década, a inten-
sificação do uso e cobertura das terras diante do aproveitamento agrícola das áreas de maior
aptidão localizadas nesta região. Por meio da figura 2 observa-se o uso e a cobertura das terras
na área de estudo destacando-se as classes da agricultura, barramentos, distritos, pastagens,
pivôs, silviculturas e de vegetação nativa.

Figura 2 – Uso do solo na região do Chapadão de SARV nos anos de 2010 e 2020

Fonte: elaborado pelos autores.

O percentual de área ocupada de cada classe de uso e cobertura das terras identificada
nesta pesquisa, referente aos anos de 2010 e 2020, podem ser observadas por meio da figura 3.
Em relação ao ano de 2010, a distribuição geográfica das classes de uso na região indica predomí-
nio da agricultura (62,87%), que é composta em maior parte por culturas anuais, seguida pelas
áreas de pastagens (17,33%), áreas de produção de gado, pelas áreas de vegetação (15,10%), que
são áreas naturais de cerrado, as áreas com a presença de pivôs (2,66%), as regiões cobertas pela
silvicultura (1,90%), com dominância de eucaliptos, e as áreas de barramentos (0,09%) e a área
urbana, compreendida como o Distrito de Santo Antônio do Rio Verde (0,05%).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


498 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade

Figura 3 – distribuição das classes de uso e cobertura da terra nos anos


de 2010 e 2020

Fonte: elaborado pelos autores.

O uso e ocupação do solo em 2020 manteve o mesmo padrão anterior de 2010, mas com
ampla presença da agricultura (66,86%), das pastagens (12,47%), seguidas pelas áreas de cer-
rado (16,20%), da silvicultura (2,58%) das áreas de irrigadas por pivôs (1,62%), dos barramentos
(0,21%) e a área urbana de SARV (0,06%).
É importante identificar que estas classes apresentaram diferenças espaciais dentro do
período analisado. Ocorreu aumento das áreas de agricultura, vegetação e silvicultura, barra-
mentos e a área do distrito de SARV. Este processo pode ser entendido pela viabilidade da
exploração das commodities agrícolas, que intensificou a produção das culturas anuais e pere-
nes, juntamente com a infraestrutura produtiva na região que inclui os processos migratórios
de mão-de-obra, associadas a uma maior intensificação da fiscalização ambiental. Por outro
lado, observou-se a redução das áreas de pastagens e de pivôs centrais, sendo que o primeiro
pode estar associado com a perda de áreas para a agricultura, enquanto o segundo pode ser
explicado pela diferença temporal das imagens de satélites usadas neste estudo, registrando
uma menor área devido ao período da entressafra.
As principais bacias hidrográficas da área de estudo são as bacias do Rio São Bento, Rio
Verde e do Ribeirão Pirapitinga. Diante do contexto da intensa utilização agrícola, estas bacias
são as principais fornecedoras hídricas da região, garantindo assim elevada importância para a
permanência das práticas econômicas identificadas na região de SARV, diante da segurança
produtiva que é fornecida por estes mananciais. As classes de usos identificadas nestas três
bacias hidrográficas podem ser observadas na tabela 1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA INTENSIVA 499

Tabela 1 – Uso e cobertura da terra nas bacias hidrográficas de SARV – 2010 e 2020

2010 2020
Bacia Hidrográfica Uso
(em %) (em %)
Agricultura 61,89 67,64
Barramento 0,15 0,28
Distrito 0,09 0,12
Rio São Bento Pastagem 17,50 9,67
Pivô 3,86 2,87
Silvicultura 3,11 4,33
Vegetação 13,40 15,10
Agricultura 60,02 62,73
Barramento 0,01 0,01
Distrito 0,00 0,00
Rio Verde Pastagem 20,29 17,99
Pivô 0,09 0,00
Silvicultura 0,75 0,99
Vegetação 18,83 18,28
Agricultura 72,54 73,28
Barramento 0,08 0,40
Distrito 0,00 0,01
Rib. Pirapitinga Pastagem 10,28 10,04
Pivô 4,15 0,88
Silvicultura 0,19 0,00
Vegetação 12,75 15,40
Fonte: elaborado pelos autores.

A tabela anterior apresenta que em todas as bacias ocorre o predomínio da agricultura,


e o seu eventual aumento, seguido pela redução das áreas de pastagens. Interessantemente,
observa-se o importante aumento das áreas de vegetação nativa sobretudo nas bacias do Rio
São Bento e no Rib. Pirapitinga, mantendo-se estática na região do Rio Verde. As áreas de bar-
ramentos e de silvicultura passaram por uma pequena ampliação, sendo que a região do
Ribeirão Pirapitinga teve maior elevação destes represamentos, correspondendo também às
maiores áreas de pivôs, e as regiões de eucalipto foram destaque no Rio São Bento.
Nas 3 bacias hidrográficas que compõem os Chapadões do SARV observa-se que a área
de vegetação nativa correspondente ao Cerrado ocupa menos de 20% em todas elas. Dentre

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


500 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade

eles, o Rio Verde é o que exerce menor pressão ambiental sobre o Bioma, com relação à pre-
servação, pois mantem ainda 18,8% de suas áreas nativas. Sequer cumpre-se o mínimo exigido
pela legislação ambiental para proteção da Reserva Legal (20% no Cerrado) e das Áreas de
Preservação Permanente (APP’s).
Como fator comum nessas bacias que contribuíram para remoção da vegetação nativa
está o processo agrícola de produção intensiva das últimas cinco décadas, que apresenta os
seus efeitos ambientais negativos, dos quais são referentes à impactos na biodiversidade e ao
meio físico. A intensificação periódica do uso do solo, que a região do distrito de SARV é sub-
metido, consiste no desenvolvimento de passivos ambientais dos quais estão relacionados a
uma elevada pressão ambiental aos recursos hídricos, aos solos, às florestas e à fauna, promo-
vendo assim um cenário de degradação ambiental das áreas de Cerrado no interior de Goiás,
como se discute a seguir.

3.1 Desmatamento e Degradação Pedológica


A região onde encontra-se a área de estudo, era recoberta pelo Cerrado, principalmente
do tipo Cerrado típico, recortado por veredas, circundando as nascentes e cursos d’água. As
Formações Típicas de Cerrado (FERREIRA, 2003), foram sendo tomadas indiscriminadamente
por pastagens e lavouras, afetando as veredas, feições de maior destaque na região, com os
buritis sendo a espécie que melhor as representa.
Os solos que compõem o Chapadão de Santo Antônio do Rio Verde, em Catalão-GO, reú-
nem, predominantemente, Latossolos, Cambissolos e Neossolos. Pela representatividade das
classes de solos encontradas, os Latossolos ocupam a maior parte, assim como constituem o
grupamento de maior expressão geográfica no território brasileiro. Este tipo de solo ocorre em
ambientes bem drenados, sendo mais profundos e uniformes em características de cor, tex-
tura e estrutura em profundidade. Por ser distrófico, é muito utilizado para a agropecuária,
mesmo apresentando limitações de ordem química em profundidade ao desenvolvimento do
sistema radicular (EMBRAPA, 2018).
Durante vários anos a mecanização da lavoura permitiu que a terra fosse revolvida pelo
gradeamento, aerando as camadas do solo, o que permite maior introdução de oxigênio e
expulsão de gás carbônico, além da matéria orgânica ser incorporada. Isto faz com que sua
decomposição ocorra de maneira mais adequada e após algum tempo o húmus gerado contri-
bui de forma significativa no crescimento, nutrição e desenvolvimento geral das plantas. Além
disso, o arado facilita a drenagem da água, porém dificulta a evaporação excessiva e pode pro-
porcionar maior umidade para as plantas.
O plantio direto, considerado como modalidade de cultivo mínimo, vem expandindo
cada vez mais, principalmente na região central do Brasil, com o intuito de contribuir para a
sustentabilidade de sistemas agrícolas, “[...] por manter o solo coberto por restos culturais ou
por plantas vivas o ano inteiro, minimizando os efeitos da erosão, e por manter o teor de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA INTENSIVA 501

matéria orgânica, o que leva a maior retenção de água.” (SILVEIRA; STONE; ALVES JÚNIOR;
SILVA, 2008, p. 53). Entretanto, nos Latossolos do Cerrado é comum a compactação superficial
do solo quando adotado este sistema de plantio de forma contínua, o que ocorre na maior
parte das áreas agricultáveis do distrito de Santo Antônio do Rio Verde.
Esta compactação é uma das principais causas de deterioração da estrutura do solo e do
decréscimo de produtividade das culturas, visto que os níveis de porosidade diminuem e os de
densidade aumentam (SILVEIRA; STONE; ALVES JÚNIOR; SILVA, 2008). Quando implantado o sis-
tema de rotação de culturas, o aumento de matéria orgânica na camada superficial do solo pode
contribuir com a diminuição da densidade ao longo dos anos, e até melhorar a estrutura do solo.
Os solos do Cerrado apresentam elevado potencial para a agricultura mecanizada inten-
siva, uma vez corrigidas as suas deficiências químicas, mostrando, sob vegetação natural, pro-
priedades físicas favoráveis. A baixa fertilidade química é corrigida com insumos, e os critérios
utilizados para recomendação de fertilização são vários. Esse processo de correção geralmente
inclui as etapas de calagem, gessagem, adubação de estabelecimento/plantio e adubação de
manutenção/produção.
Para fins agrícolas ou florestais, Drew (1994) menciona que a alteração da vegetação,
com a consequente mudança no microclima, leva inevitavelmente à modificação das proprie-
dades do solo, em face da estreita relação causal dos três aspectos. “A lavoura modifica consi-
deravelmente o solo, principalmente a sua química e a sua biologia, mas pouco a sua textura e
estrutura” (DREW, 1994, p. 45). Para o autor, as mudanças mais drásticas correspondem nor-
malmente às tentativas, bem-sucedidas ou não, de melhorar a produtividade da terra (fertili-
dade) – por exemplo, recorrendo a fertilizantes, irrigação ou drenagem.

3.2 Pressão nos Recursos Hídricos


Os usos desregrados e irracionais às paisagens do Cerrado, assim como em diversas
regiões do País, resultantes da consolidação do agronegócio, são mais intensas a partir da
década de 1980, pelo uso de pivôs centrais para abastecimento das monoculturas, principal-
mente de soja, colocando em risco a vida deste Domínio. Nas últimas décadas têm-se intensi-
ficado as preocupações com os recursos hídricos, no sentido da sua disponibilidade e qualidade
para abastecimento humano e para o desenvolvimento econômico.
Isso decorre do fato de ter-se percebido que a água é um bem finito, pois a constante
degradação e poluição tornam o seu uso inviável, e a sua recuperação dispendiosa. É necessá-
rio buscar formas de gerenciar o uso da água com vistas a um consumo consciente e preserva-
cionista. Como revela Martins (2017, p. 25), “[...] ainda são bastante escassos estudos científicos
que abordam temas relacionados ao pivô central, sua pressão sobre os recursos hídricos, alte-
ração no ciclo hidrológico e, principalmente, as alterações causadas no subsistema de Vereda”.
Juntamente com o adensamento da camada superficial do solo com o uso contínuo, sem
interrupção, do plantio direto nas regiões de Cerrado, como apresentado no tópico anterior, há

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


502 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade

a expansão das áreas irrigadas e a contaminação recorrente do solo e da água pelos usos de
insumos químicos. Cunha e Guerra (2017) expõem que o emprego de fertilizantes artificiais
acelera, pela mão humana, um processo natural que seria o de fornecimento de nutrientes às
plantas pela decomposição da rocha por intemperismo químico.
As tecnologias de sistemas de irrigação e extração de águas subterrâneas são altamente
desenvolvidas, e as modificações de grande porte nos ciclos hidrológicos afetam intensamente
o funcionamento do sistema como um todo. A irrigação, teoricamente, demanda cuidados e
técnicas especiais para o aproveitamento racional com o mínimo de desperdício, e não é isso
que vimos em algumas áreas do Distrito. Quando utilizada de forma incorreta, além de proble-
mas quantitativos, a irrigação pode afetar drasticamente tanto a qualidade dos solos quanto a
dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
Em algumas áreas foi possível detectar, por imagens de satélite, pivôs instalados por cima
de nascentes, que ao invés de serem preservadas, conforme manda a legislação, foram drena-
das para dar espaço à lavoura. Uma nascente, assim como cursos d’água e represas, embora
distintos entre si por várias particularidades quanto às estratégias de preservação, controlam
a erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção.
Neste caso, além de secar a água que emergia naturalmente no local, há a maximização
de contaminação química e biológica do solo, da água e dos usuários. Esse tipo de contamina-
ção que se estende por todo o distrito de Santo Antônio do Rio Verde, é perceptível pelas
lavouras que estão adentrando as margens dos córregos, ribeirões e rios, represas e veredas.

Figura 4 – Nascente drenada para expansão da área agrícola

Fonte: os autores.

Há, ainda, veredas sendo invadidas pela ação agrícola, onde o desmatamento, aliado ao
solo compactado, afetam a taxa de infiltração da água e implicam alterações no sistema hidro-
lógico, na manutenção da fauna e flora do Cerrado, além da contaminação química pelos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PRESSÕES AMBIENTAIS DA AGRICULTURA INTENSIVA 503

produtos no cultivo de soja, em maior escala, regular nesta área pelo plantio direto. Por isso, é
imprescindível uma fiscalização efetiva para que haja o manejo correto do uso da terra nestas
áreas que, em sua grande maioria, necessitam urgentemente de recomposição florestal, recu-
peração e conservação. Cunha e Guerra (2017) demonstram que a agricultura intensiva, a fim
de obter anualmente colheitas com o máximo de rendimento, devolve ao solo os nutrientes
subtraídos pelos vegetais. Os fertilizantes são empregados para formação de húmus e para
melhorar a consistência dos solos.
A eutrofização é um outro processo grave, causado pela descarga excessiva dos despejos
agrícolas não tratados, acelerando o processo de enriquecimento natural dos lagos, represas e
rios (TUNDISI, 2011). Alguns de seus principais efeitos estão relacionados à anoxia (ausência de
oxigênio na água), provocando a mortalidade de peixes e invertebrados, e liberando gases com
odor que pode ser tóxico; florescimento de algas e crescimento de macrófitas; altas concentra-
ções de matéria orgânica, que se forem tratadas com cloro, podem produzir substâncias carci-
nogênicas; efeitos na saúde humana, entre vários outros.
Além dos fertilizantes, há a aplicação de um arsenal de biocidas (inseticidas, fungicidas,
herbicidas), também conhecidos como defensivos agrícolas, para proteção geral das plantas
contra insetos, espécies vegetais invasoras e fungos. Os efeitos sobre o ambiente são os mes-
mos, contaminando as águas de corpos receptores pela ação de enxurradas, acúmulo no solo
e, ainda, introduz metais pesados aos alimentos de origem vegetal. Corre-se o risco, também,
de o homem ou os animais ingerirem ou absorverem estes produtos, caso não sejam aplicados
de forma segura.
Em 2016, Martins (2017) fez um levantamento de 30 municípios goianos com maior quan-
titativo de pivôs centrais, e Catalão-GO possuía 66, com aproximadamente 52,43 Km2. Em
2019, apenas no Chapadão de Santo Antônio do Rio Verde, existiam 48 pivôs, o que corres-
ponde a 72,72 % do quantitativo de todo o Município. Existe o uso consolidado desta técnica
de irrigação na região, mas é importante destacar as consequências deste uso da terra, pois se
trata de uma atividade que exige elevada demanda hídrica. Além disso, a utilização deles
remete inevitavelmente à discussão da vulnerabilidade e atual mau uso dos recursos hídricos
X importância da água do Cerrado, inclusive do Goiano, para todo o Brasil.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Incontáveis são os impactos causados pelo desmatamento que dá lugar às lavouras
mecanizadas, passando por alterações no ciclo hidrológico e na composição do solo, disponibi-
lidade e qualidade hídrica, perda de biodiversidade, comprometimento em sistemas de vere-
das, compactação do solo e erosão, assoreamento de córregos e rios, supressão de nascentes,
riscos à saúde humana e animal, e possível eutrofização, salinização e desertificação em deter-
minadas áreas, como o que vem ocorrendo Cerrado Goiano, no município de Catalão, na região
hidrográfica que abarca os Chapadões do Santo Antônio do Rio Verde. Até quando os ecossis-
temas suportarão tal pressão?

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


504 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade

Os custos socioambientais derivados de uma racionalidade produtiva fundada somente


no cálculo econômico, baseado na eficácia dos sistemas envolvidos e eficiência dos meios tec-
nológicos, comprovam a necessidade emergencial de se criar mecanismos para controle des-
ses impactos, avançando em qualidade ambiental.
Faz-se necessário planejamento para gestão inovadora almejando o equilíbrio para coe-
xistência dos diferentes usos da terra na área da pesquisa, garantido no mínimo a manutenção
das áreas nativas exigidas por lei ambiental vigente em reserva legal e APP. Ressalta-se a loca-
lização da área da pesquisa na porção Core do Cerrado, desse Bioma que possui função ecos-
sistêmica primordial na oferta de água para todo o Brasil. Ignorar este aspecto poderá
inviabilizar, em longo prazo, a própria agricultura intensiva que prevalece no lugar.

5 REFERÊNCIAS
CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. Avaliação e perícia ambiental. 16 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017.
284 p.
DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. 224 p.
EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. Humberto Gonçalves dos Santos… [et al.]. 5. ed.
Brasília: EMBRAPA, 2018. 356 p.
FERREIRA, I. M. O afogar das veredas: uma análise comparativa espacial e temporal das veredas do
Chapadão de Catalão-GO. Idelvone Mendes Ferreira. Rio Claro: UNESP, 2003. 242 p.
MARTINS, R. A. O agrohidronegócio do pivô central no estado de Goiás: expansão, espacialização, e a
consequente degradação do subsistema de Veredas. Renato Adriano Martins. Brasília: UNB, 2017. 222 p.
PRADO, L. DE A.; MIZIARA, F.; FERREIRA, M. E. Expansão da fronteira agrícola e mudanças no uso do solo na
região sul de Goiás: ação antrópica e características naturais do espaço. Boletim Goiano de Geografia, v. 32, n.
1, p. 151-165, 15 jun. 2012.
SOTERRONI, A. C. et al. Modelagem de mudanças de uso da terra no Brasil: 2000-2050. In: VIEIRA FILHO, J. E.
R.; GASQUES, J. G. Agricultura, transformação produtiva e sustentabilidade. Brasília: Ipea, 2016. cap. 11, p.
301-342
TUNDISI, J. G. Recursos hídricos no século XXI. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. 328 p.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
VI

MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
CRISES HÍDRICAS
E GESTÃO DAS ÁGUAS
43.
A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO
O clima na bacia hidrográfica do Alto Rio Paraguai

GIULIANO TOSTES NOVAIS1

Resumo: A bacia hidrográfica do Alto Paraguai, no Brasil, recebe as águas vindas dos seus planal-
tos e chapadas, águas que se acumulam na maior planície inundável do Planeta, formando o
Pantanal. Apesar dessa quantidade de água no Pantanal, de acordo com o sistema de classificação
climática de Novais (2019), o vale do rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul, é semiárido. Essa clas-
sificação possui 8 hierarquias, sendo que as apresentadas nesse estudo foram: (1ª) Zona Climática,
(2ª) Clima Zonal, (3ª) Domínio e (4ª) Subdomínio Climático. Os dados termo-pluviométricos men-
sais, foram adquiridos através da reanálise climática do CHELSA, com resolução espacial de 1 km,
entre os anos de 1979 e 2013. Pela classificação climática adotada, a região do Pantanal está
situada totalmente dentro da Zona Climática Quente (ao norte do Trópico de Capricórnio). Os
Climas Zonais são em número de dois, o Quente e o Moderado, com influência da temperatura
média do mês mais frio. Foram identificados três Domínios Climáticos na área de estudo: o Tropical,
o Tropical Ameno e o Semiárido. Esses Domínios são divididos em quatro Subdomínios Climáticos,
levando em conta a quantidade de meses secos (úmido, semiúmido, semisseco e seco). A metodo-
logia para determinação de mês seco consiste na diferença entre a precipitação pluviométrica e a
evapotranspiração potencial, um dos principais elementos do Balanço Hídrico Climatológico
Normal de Thornthwaite. O que faz surgir o Domínio Semiárido na bacia hidrográfica.
Palavras-Chave: Classificação climática de Novais, Temperatura média do mês mais frio,
Precipitação pluviométrica, Balanço hídrico climatológico, Domínio Climático Semiárido.
Abstract: The Upper Paraguay river basin, in Brazil, receives water from its plateaus and plateaus,
waters that accumulate in the largest floodplain on the planet, forming the Pantanal. Despite this
amount of water in the Pantanal, according to the Novais climate classification system (2019), the
Paraguay River valley, in Mato Grosso do Sul, is semi-arid. This classification has 8 hierarchies, and
those presented in this study were: (1st) Climatic Zone, (2nd) Zonal Climate, (3rd) Domain and (4th)
Climatic Subdomain. Monthly thermo-pluviometric data were acquired through the CHELSA cli-
mate reanalysis, with a spatial resolution of 1 km, between the years 1979 and 2013. According to
the adopted climate classification, the Pantanal region is located entirely within the Hot Climate
Zone (to the north of the Tropic of Capricorn). The Zonal Climates are two in number, the Hot and

1 Universidade Estadual de Goiás/Campus Nordeste. E-mail: giuliano.novais@ueg.br

[ 506 ]
A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 507

the Moderate, influenced by the average temperature of the coldest month. Three Climatic
Domains were identified in the study area: the Tropical, the Tropical Mild and the Semi-arid. These
Domains are divided into four Climate Subdomains, taking into account the number of dry months
(wet, semi-wet, semi-dry and dry). The methodology for determining the dry month consists of
the difference between rainfall and potential evapotranspiration, one of the main elements of the
Thornthwaite Normal Climatological Water Balance. What gives rise to the Semi-arid Domain in
the hydrographic basin.
Keywords: Novais climate classification, Average temperature of the coldest month, Rainfall, cli-
matological water balance, Semi-arid climate domain.

1 INTRODUÇÃO
O pantanal brasileiro é formado pela área alagadiça dos estados do Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul (principalmente). A água que se acumula no fundo da bacia hidrográfica
do rio Paraguai, no Brasil, advém das partes mais altas dessa bacia, ou seja, do Planalto
Serrano, das Chapadas dos Parecis e dos Guimarães, dos Chapadões de Goiás, e das serras de
Maracaju e da Bodoquena.
De acordo com Clarke et al. (2003), a área da bacia do rio Paraguai (Figura 1), até sua con-
fluência com o rio Paraná, é de 1095106 km², representando mais de 35% da área da bacia do
Prata. Abrange os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, além de regiões de
outros países, como a Bolívia, Paraguai e Argentina. No local onde se encontram os rios Paraguai
e Paraná, junto às cidades de Corrientes e Resistência, na Argentina, a vazão média do rio
Paraguai é de 2700 m³/s. O regime pluviométrico da bacia hidrográfica do Paraguai e da topo-
grafia extremamente plana do Pantanal, provoca uma grande evaporação, que é incrementada
em grandes áreas permanente ou temporariamente inundadas.

Figura 1 – Mapa da bacia hidrográfica do rio Paraguai no continente sul americano

Fonte: Galeria do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


508 Giuliano Tostes Novais

Segundo Adámoli (1995) o regime de inundações é o fator ecológico fundamental do


Pantanal, e determina os pulsos dos principais processos bióticos e abióticos, bem como as
composições especificas das unidades de paisagem. A compreensão deste sistema é impor-
tante, pois caso seja alterada a dinâmica de escoamento das águas, os canais naturais tendem
a perder sua capacidade hidráulica de transportar sedimentos trazidos em suspensão. Além
disso, pode haver deficiência de nutrientes no solo, com prejuízos para as pastagens nativas e
à pecuária, ou ainda a erosão dos solos com reflexos nas atividades econômicas regionais,
ameaçando o equilíbrio geral deste ecossistema (ALVARENGA et al., 1984).
Conforme Allasia et al (2004), o Pantanal é utilizado para a pecuária e apresenta também
uma grande importância do ponto de vista ecológico e turístico. A baixa densidade demográ-
fica aliada às extensas planícies inundáveis, aos lagos permanentes e temporários e à regulari-
dade dos pulsos de cheia, constitui um excelente refúgio para a fauna. Eventuais alterações da
qualidade da água e do regime hidrológico do Planalto podem ter impactos importantes na
região do Pantanal.
As alterações antrópicas sobre a vegetação natural da bacia hidrográfica do Alto Paraguai
também podem ter impactos hidrológicos. O Planalto, a partir da década de 1960, passou por
profundas modificações causadas pela ocupação humana, especialmente a substituição da
vegetação original por pastagens e por cultivos agrícolas. Estas alterações podem ter contri-
buído para a modificação do regime hidrológico e da produção de sedimentos nas bacias dos
rios que correm para o Pantanal (Bordas, 1996). Nestas últimas décadas, a região também
sofreu os impactos da variabilidade climática, passando por um período extremamente seco
durante a década de 60 e por um período extremamente úmido a partir do início da década de
1970 (Galdino et al., 1997; Collischonn et al., 2001).
Sendo o clima dependente de fatores ambientais (vegetação, precipitação, solo, tempera-
tura, umidade do ar, evapotranspiração) e fatores antrópicos, não se pode afirmar que os diver-
sos sistemas de classificação climática que buscam simplificar a compreensão do clima através da
entrada de dados discretos – sejam perfeitos e não apresentem falhas (CASSETARI, 2020).
A importância dos sistemas de classificações climáticas deve-se ao fato de que é possível
analisar e definir os climas de diferentes regiões levando em consideração elementos climáti-
cos diferentes ao mesmo tempo, otimizando a troca de informações e análises posteriores
para diferentes propósitos (NÓBREGA, 2010). Os sistemas de classificação climática utilizados
na atualidade, em sua maioria, utilizam os métodos de autores consolidados, mas do século
passado, e abordam o clima de forma generalizada.
A classificação climática de Novais (2019) foi criada e aplicada na área core do Cerrado
brasileiro, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, espaço ideal para uma demons-
tração da metodologia do sistema classificatório do clima. As unidades climáticas são diferen-
ciadas em níveis e hierarquias, indo desde a influência astronômica, até as de interferências
humanas na paisagem. Utilizando métodos analíticos e genéticos, Novais (2019) interpreta o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 509

clima de acordo com a escala adotada, do continental, passando pelo urbano ao local, utili-
zando o balanço hídrico climatológico como ferramenta essencial para a determinação das
menores unidades climáticas.
Para Cassetari (2020), a disponibilidade hídrica de uma região pode ser explicitada e
explicada pelo balanço hídrico considerando uma série de dados climatológicos e a classifica-
ção climática, utilizando-se desses mesmos dados, permite conhecer a unidade climática do
local além de fazer comparações com regiões semelhantes, tornando-se uma ferramenta de
gestão de recursos hídricos importante, pois permite a construção de cenários futuros e o pla-
nejamento de ações de intervenção. Quando isso é feito para uma bacia hidrográfica os resul-
tados permitem visualizar com mais detalhe o que ocorre naquele local, diferentemente do
que ocorre quando se utiliza de uma classificação mais ampla, para o território nacional ou
estadual, as quais perdem a sensibilidade dificultando o conhecimento e observação de micro-
climas regionais.
O objetivo principal desse trabalho consiste em mostrar que o Pantanal matogrossense,
de acordo com a classificação climática de Novais (2019), possui um clima mais seco do que se
pensava, chegando a semiaridez no leito do rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul; diferencian-
do-se do semiárido apresentado no sertão nordestino por estar localizado no Centro-Oeste
brasileiro, na fronteira com a Bolívia e Paraguai. A justificativa para adoção do método de
Novais, consiste em melhorar o entendimento da entrada de água no sistema solo-planta-at-
mosfera, mostrando vantagens em relação a outras classificações climáticas, que generalizam
mais o clima e afirmam que o Pantanal brasileiro é mais úmido, com uma quantidade de meses
secos menor do que o registrado por essa metodologia.

2 METODOLOGIA
Para coleta de dados de temperatura do ar e de precipitação pluviométrica, foram utiliza-
dos dados de reanálise climática do algoritmo Climatologies at high resolution for the earth’s land
surface áreas (CHELSA). Esse algoritmo é um conjunto de dados climáticos com resolução espa-
cial de 1 km, abrangendo grande parte da superfície terrestre (KARGER ET AL, 2017), principal-
mente onde não há cobertura de estações meteorológicas. Os valores foram extraídos da
Reanálise ERA-Interim, resultando em um ajuste de modelagem que recupera informações da
superfície terrestre e oceanos, obtidas através de navios, aviões, radiossondas e satélites. Inclui a
temperatura média mensal e padrões de precipitação para o período de tempo de 1979-2013. A
temperatura média diária deriva de dados sinóticos de seis em seis horas, melhorando substan-
cialmente o desempenho da previsão, especialmente no hemisfério sul (ROCHA et al, 2016).
Na Figura 2 temos os 20 pontos selecionados, na área adjacente do Pantanal brasileiro
(Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai – BAP). As informações dos pixels desses pontos, como a
temperatura do ar e a precipitação pluviométrica mensais, foram inseridas em uma planilha de
balanço hídrico climatológico, para se obter a evapotranspiração potencial (ETP), fundamental
na determinação de algumas unidades climáticas da classificação, como os Subdomínios, que

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


510 Giuliano Tostes Novais

dependem da quantidade de meses secos (mostrados em números em cada ponto da Figura


2). No restante da área de estudo, foram compiladas as informações do trabalho de Novais
(2019), onde o mesmo elaborou as unidades climáticas para a área do Cerrado.

Figura 2 – Mapa hipsométrico da Bacia do Alto Paraguai (BAP) e os


pontos climáticos selecionados, com suas respectivas quantidades de
meses secos

Fonte: Novais (2021).

A metodologia de classificação climática desse trabalho, baseada em Novais (2019), propõe


um sistema com contribuições dos modelos clássicos, mesclando o empírico e o genético, junta-
mente com a influência de outros atributos climáticos, como o controle astronômico, a
Temperatura Média do Mês Mais Frio (TMMMF) e a atuação de sistemas meteorológicos. A ação
das formas do relevo (altitude, orientação, declividade), também é um importante controle

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 511

climático no sistema classificatório. O modelo é uma associação de informações, gerando um


padrão que aborda os valores observados do tempo e do clima. A classificação climática de
Novais (2019) segue uma hierarquia que abrange todas as escalas do clima, desde a zonal, pas-
sando pela regional, subregional e local. A seguir são mostradas as primeiras hierarquias utiliza-
das nesse trabalho, e as Figuras 3, 4 e 5, exemplificam algumas unidades climáticas:
• Zona Climática – de controle astronômico, é determinado pela incidência dos raios
solares (ou ângulo zenital) durante o ano.
• Clima Zonal – regulado pela TMMMF, no território brasileiro pode ser: Tórrido
(TMMMF acima de 22,5°C), Quente (TMMMF entre 15° e 22,5°C), Moderado (TMMMF
entre 0° e 15°C). A alta temperatura em um mês mais frio do ano, aumenta a evapo-
transpiração potencial (ETP), o que resulta em um maior número de meses secos,
como visto nos Subdomínios (4ªhierarquia climática).

Figura 3 – Distribuição média dos Climas Zonais no Globo

Fonte: Novais (2017).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


512 Giuliano Tostes Novais

• Domínio Climático – controlado pela TMMMF, por Sistemas Atmosféricos, por atua-
ções de anticiclones, frentes frias e pela possibilidade de formação de geada. Como
exemplos no território brasileiro temos: o Equatorial (TMMMF acima de 22,5°C,
influência da Zona de Convergência Intertropical – ZCIT); o Tropical (TMMMF acima de
18°C, sem influência da ZCIT, mas com atuação da Zona de Convergência do Atlântico
Sul-ZCAS e do Anticiclone ou Alta Subtropical do Atlântico Sul – ASAS), o Tropical
Ameno (TMMMF entre 15° e 18°C, não tem influência da ZCIT, com atuação das ZCAS
e ASAS, áreas elevadas podem sofrer resfriamento adiabático do ar); o Subtropical
(TMMMF entre 10° e 15°C, influência do Anticiclone Polar, ASAS, também podendo
ter um resfriamento adiabático provocado pela altitude); o Semiárido e Árido (quanti-
dade de meses secos igual a 12), entre outros.
• Subdomínio Climático – determinado pela quantidade de meses secos (precipitação
menor que a evapotranspiração potencial – ETP). De acordo com Rolim (2020), um solo
nessas condições está potencialmente secando, o que mostra uma deficiência de água
no sistema solo-planta-atmosfera, gerando uma restrição no crescimento das plantas e
diminuindo a vazão da drenagem superficial e subsuperficial. Agora se a P-ETP for maior
que zero, o excesso de água no sistema vai gerar um escoamento superficial e uma dre-
nagem profunda para o lençol freático, favorecendo, por exemplo, um crescimento
máximo das plantas. Um Subdomínio pode ser: Úmido (0 a 3 meses secos); Semiúmido
(4 a 5 meses secos); Semisseco (6 a 7 meses secos); e Seco (8 a 11 meses secos). Na
Figura 4, podemos observar que na área de Cerrado, no entorno do Pantanal, os subdo-
mínios são mais secos, o que será mostrado ainda nesse trabalho.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 513

Figura 4 – Unidades climáticas da área core do Cerrado. Fonte – Novais (2019)

• Tipo Climático – mostra a localização dos Domínios e Subdomínios no continente sul


americano. São delimitados por unidades de relevo como planícies litorâneas e escar-
pas de planaltos e serras. Também coincidem com grandes áreas de vegetação, como
a Floresta Amazônica por exemplo. Podem ser influenciados por sistemas meteoroló-
gicos que ali atuam, modificando o tempo drasticamente (caso do Meridional que tem
influência na formação de geada).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


514 Giuliano Tostes Novais

Figura 5 – Tipos climáticos (ou localização dos Domínios e Subdominios) na América do Sul

Fonte: Galeria do autor.

O sistema classificatório do clima de Novais (2019), possui mais 3 categorias hierárquicas:


o Subtipo Climático, Mesoclima e Topoclima) que não foram contempladas nesse trabalho, pre-
cisando de estudos a nível de unidades geomorfológicas de pequenos táxons, o que pode ser
feito em outras publicações.
Para a determinação das unidades climáticas na Bacia do Alto Paraguai (BAP), em territó-
rio brasileiro, foram utilizados dados de reanálise climática adquiridas pelo algoritmo CHELSA,
de Karger et al (2013). Os valores de temperatura média do ar e da precipitação pluviométrica
mensais de 19 pontos da bacia hidrográfica (Figuras 6 e 7) foram transpostos para uma planilha
de balanço hídrico climatológico, de método Thornthwaite e Matter (1955). Após a análise da
ETP em cada mês, verificou-se a quantidade de meses secos, que foi espacializada no mapa de
acordo com o Mapa de unidades climáticas da área core do Cerrado (Figura 4), de Novais
(2019), sendo que o modo foi supervisionado (com delimitação manual, seguindo as unidades
de relevo mostradas em forma de hipsometria conforme Figura 2).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 515

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura média do mês mais frio (TMMMF) acontece em Julho e é a variável climá-
tica mais importante nas primeiras hierarquias (Zona Climática, Clima Zonal e Domínio
Climático). Os maiores valores, obtidos pelo CHELSA, estão no centro norte da bacia hidrográ-
fica, sobretudo nas áreas mais baixas do relevo, onde a TMMMF fica acima de 22,5°C, tornan-
do-se a área de Clima Zonal Tórrido. O restante da bacia está sob o Clima Zonal Quente, sendo
as menores temperaturas registradas na serra da Bodoquena e no planalto de Ponta Porã
(abaixo de 18°C), o que faz essas áreas serem de Domínio Tropical Ameno (Figura 6).

Figura 6 – Temperatura Média do Mês mais Frio (Julho), entre 1979-2013

Bacia Hidrográfica do rio Paraguai, no Brasil.Fonte: CHELSA

De acordo com os valores obtidos pelo CHELSA, a precipitação pluviométrica na área de


estudo varia de 900 à 1750 mm, sendo que a maior parte (Pantanal) está abaixo de 1500 mm
(Figura 7). Os menores valores estão na porção meridional, seguindo o curso do rio principal, e
os maiores valores estão localizados nas partes mais altas da bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


516 Giuliano Tostes Novais

Figura 7 – Precipitação pluviométrica média anual (1979-2013) para a


bacia do rio Paraguai, no Brasil

Fonte: CHELSA.

De acordo com os mapas de ETP, déficit e excedente hídricos de Novais (2019), a região
do entorno do Pantanal (Cerrado da BAP) possui todos os critérios de atenção em relação a
seca, pois registra os maiores valores de ETP e déficit hídrico da área core do Cerrado brasileiro
(Figura 8).

Figura 8 – ETP, Excedente e Déficit Hídricos da área core do Cerrado

Fonte: Novais (2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 517

A partir dos balanços hídricos climatológicos obtidos em 20 localidades foram gerados os


Domínios e Subdomínios Climáticos da bacia do Alto Rio Paraguai, no Brasil. A Figura 9, mostra
os valores do balanço hídrico em pontos selecionados, para ajudar na análise de cada unidade
climática. A ETP tem média anual acima de 1500 mm, o que faz os meses secos serem maiores
que os meses úmidos, pois a precipitação pluviométrica não consegue ser maior em grande
parte do ano.

Figura 9 – Balanços Hídricos Climatológicos de Cáceres (MT), Barão de Melgaço (MT), Corumbá (MS) e
Nhecolândia (Corumbá-MS)

Fonte: Galeria do autor.

A área de estudo pertence a Zona Climática Quente do Planeta, situada entre o Subtrópico
Meridional (11°43’30 Sul) e o Trópico Meridional (ou de Capricórnio). Possui dois Climas Zonais,
um Tórrido, com TMMMF em julho (entre 22,6°C e 23,9°C) na porção centro-norte, e outro
Quente (TMMMF entre 16,9°C e 22,5°C). Foram identificados 3 Domínios (3ª hierarquia da clas-
sificação climática): O Tropical, o Tropical Ameno e o Semiárido. Todos os Subdomínios foram
encontrados na área do Alto Paraguai, ou seja: Úmido (0 a 3 meses secos), Semiúmido (4 a 5
meses secos), Semisseco (6 a 7 meses secos) e Seco (8 a 11 meses secos). Para localizar os
Domínios e Subdomínios Climáticos no continente, é utilizada a 4ª hierarquia climática, os
Tipos (não mostrada nesse trabalho), o que diferencia o Semiárido achado aqui, do encontrado
no Nordeste Brasileiro, de maior déficit hídrico.
Analisando o mapa da Figura 10, de um modo geral podemos verificar a presença do
domínio Tropical, que se espalha na cor laranja pela área da bacia. Quanto mais claro o tom da
cor, maior a quantidade de meses secos, ou seja, a ETP mensal é maior que a precipitação plu-
viométrica mensal. A grande mancha laranja clara, representa o subdomínio climático Tropical
seco (de 8 a 11 meses secos), abrangendo todo o Pantanal (linha tracejada). Os tons mais escu-
ros do laranja indicam uma mudança nos subdomínios para mais úmido, onde a quantidade de
meses secos é menor, e seguem as linhas do relevo, onde a rugosidade do terreno regula a dis-
tribuição das precipitações (Figura 7). A altitude e a latitude controlam a temperatura (Figura

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


518 Giuliano Tostes Novais

6), o que faz aparecer as manchas verdes, que indicam outro domínio climático, o Tropical
Ameno, com TMMMF abaixo de 18°C.
O domínio Semiárido aparece em amarelo, e segue o vale principal do rio Paraguai, no
Mato Grosso do Sul. A partir da análise dos balanços hídricos, junto a calha do rio Paraguai
(Figuras 2 e 9), nos municípios de Corumbá (MS) e Porto Murtinho (MS), foi constatada uma
maior ETP em relação a precipitação pluviométrica em todos os meses do ano, o que torna o
seu domínio Semiárido (diferenciando do Árido por ter um acumulado anual de chuva superior
a 500 mm). Essa condição climática restringe o crescimento de plantas e possui um ambiente
favorável ao secamento de rios e poços artesianos.
A seguir serão mostrados todos os Domínios e Subdomínios Climáticos da BAP em terri-
tório brasileiro, de acordo com a Figura 10.

Figura 10 – Mapa das unidades climáticas da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, no Brasil

Fonte: Novais (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 519

3.1 Domínio Climático Tropical


O Domínio Climático Tropical, no Pantanal Brasileiro, é caracterizado pelo predomínio
das zonas de convergência de umidade na primavera-verão, alinhadas no sentido noroeste-su-
deste; e pelo avanço dos anticiclones do Atlântico Sul e Polar Sul, nas estações de outono-in-
verno. Tem influência da ZCAS nos meses mais úmidos (de outubro a março) e da ASAS no meio
do ano. Seus Subdomínios variam de acordo com a quantidade de meses secos (que abrange a
estação de inverno em todos os locais averiguados); do Úmido, no Planalto de Bela Vista e
Serra da Bodoquena; ao Seco, a medida que se avança para o fundo da bacia hidrográfica.
A TMMMF (julho) varia de 18° a 23,9°C. As temperaturas do ar ficam elevadas a partir do
mês de outubro, atingindo os 28,3°C em Barão de Melgaço no mês de janeiro.
A precipitação média anual fica acima de 2000 mm no Planalto dos Guimarães, mas decai
na medida que se avança para o fundo de vale, com valores abaixo de 1000 mm a sul de
Corumbá. Os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são os mais chuvosos.

3.2 Domínio Climático Tropical Ameno


O Tropical Ameno é um Domínio Climático caracterizado pelas suas temperaturas médias
mais baixas em relação ao Domínio Tropical. Ocupa a Serra da Bodoquena e o Planalto de
Maracaju, ao sul; e o ponto mais alto do estado do Mato Grosso, a Serra do Monte Cristo no
extremo noroeste da bacia hidrográfica. As ZCAS também predominam na primavera e princi-
palmente no verão, mas o avanço dos APS tem uma grande relevância na baixa da TMMMF,
com valores entre 16,9 e 17,9°C. Temperaturas mínimas absolutas abaixo de 3,5°C acontecem
quase anualmente na Serra de Maracaju, com possibilidade de formação de geada. A precipi-
tação média anual é de 1950 mm no Norte e 1850 mm no Sul.
Possui os Subdomínios úmido e semiúmido, sendo que o primeiro fica restrito a Serra de
Maracaju, na fronteira com o Paraguai.

3.3 Domínio Climático Semiárido


As margens do Rio Paraguai, de Corumbá a Porto Murtinho, apresentam um Domínio
Climático Semiárido, devido à grande ETP e da baixa precipitação pluviométrica, atingindo 12
meses secos. Os Subdomínios Climáticos são classificados pela quantidade de meses secos,
indo de zero (úmido) a 11 (seco). Os Domínios Semiárido e Árido não possuem Subdomínios,
pois a quantidade de meses secos chega a 12, ou seja, em todos os meses do ano a ETP é maior
que a quantidade de chuva. Esse Domínio Climático não é o mesmo que aparece no Sertão
Nordestino, pois seu tipo é Oriental, e a precipitação pluviométrica fica acima de 500 mm.
Tem a TMMMF (julho) entre 20,0 e 22,7°C, portanto apresentando 2 Climas Zonais Tórrido
(norte) e Quente (sul). O acumulado médio de chuva anual atinge os menores valores da área
de estudo 935mm no município de Corumbá.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


520 Giuliano Tostes Novais

4 CONCLUSÃO
Com novos recursos tecnológicos, como dados de reanálise por exemplo, podemos rea-
lizar estudos mais detalhados de elementos climáticos, modelando o espaço geográfico de
acordo com os resultados obtidos.
As classificações climáticas utilizadas anteriormente para determinar o clima da área de
estudo não indicavam a falta de água no sistema. Um exemplo é a classificação utilizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseada em Nimer (1989), onde o estado
do Mato Grosso do Sul aparece com uma quantidade de meses secos bem menor do que na
classificação de Novais (2019). A metodologia utilizada por Nimer vem de Gaussen e Bagnouls
(1953), sendo considerado mês seco aquele cuja precipitação pluviométrica é menor que duas
vezes o valor da temperatura média (Figura 11).

Figura 11 – Comparação dos mapas climáticos de Nimer e Novais, para


o estado do Mato Grosso do Sul

Fonte: Novais (2019).

A metodologia da classificação climática de Novais (2019), aplicada a BAP auxilia nas ati-
vidades de planejamento ambiental e regional, pois mostra a entrada e saída da água no sis-
tema solo-planta-atmosfera, além da duração de sistemas meteorológicos que modificam as
condições atmosféricas na área estudada. O detalhamento das unidades climáticas, até o nível
da sexta hierarquia, fornece mais elementos para o estudo do clima no local analisado.
O Domínio Semiárido mostra que a quantidade de precipitação que cai na superfície não é
suficiente para uma drenagem profunda para o lençol freático, um solo nessas condições está
potencialmente secando, o que mostra uma deficiência de água no sistema solo-planta-atmos-
fera, gerando uma restrição no crescimento das plantas e diminuindo a vazão da drenagem
superficial e subsuperficial. Em nenhum um mês do ano há excedente hídrico com contribuição
da precipitação, o que é acumulado no período de cheia do Pantanal são as águas advindas dos
planaltos no entorno do Pantanal, devido a pequena declividade da bacia hidrográfica.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 521

O estudo nos serve de alerta para uma proteção integral do bioma contra as ativida-
des agropecuárias, principal causadora das queimadas clandestinas desse sensível ecossis-
tema mundial.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


44. AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA
NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS DE
BALSAS-MA, FRENTE AOS CENÁRIOS DE
MUDANÇAS CLIMÁTICAS

FERNANDO JOSÉ PEREIRA FERREIRA1


SAMARA BONTEMPO ALVES SILVA2
KARLA KARLIANE PEREIRA SILVA3
RONALDO HAROLDO NASCIMENTO DE MENEZES4

Resumo: O método de estimativa do balanço hídrico climatológico (BHC) é uma ferramenta de


monitoramento de armazenamento de água no solo, largamente utilizada como instrumento de
planejamento estratégico agrícola no âmbito do gerenciamento dos recursos hídricos. Através da
estimativa do BHC é possível determinar o período de ocorrência de deficiência e excedente
hídrico, retirada e reposição de água do solo e da quantidade de água armazenada no mesmo. O
objetivo deste estudo foi avaliar a disponibilidade hídrica no solo para as culturas agrícolas consi-
derando os cenários de mudanças climáticas regionalizados para a região de Balsas em compara-
ção com a climatologia. Foram utilizados dados climáticos mensais das variáveis precipitação
pluvial e temperatura do ar, para o diagnóstico das condições climáticas para o período de 1981 a
2010, obtidos do acervo de dados do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Foi utilizado
uma versão aprimorada do modelo regional Eta, desenvolvido na Universidade de Belgrado, que
usa uma resolução espacial de 20 km. Foram efetuados os cálculos para determinar a deficiência,
o excedente, a retirada e a reposição hídrica ao longo do ano nos três cenários: a climatologia que
representa o padrão atual, o cenário mais otimista (4.5) e o pessimista (8.5), para a região de
Gerais de Balsas-MA. O cenário 8.5 se mostra sempre mais pessimista, tendo em vista ter médias
de temperaturas mais elevadas que o modelo da climatologia e o cenário 4.5, isso indica a pouca
disponibilidade hídrica na região analisada.
Palavras-chave: Deficiência hídrica; Evapotranspiração; Temperatura;
Abstract: The method of estimating the climatological water balance (BHC) is a soil water storage
monitoring tool, widely used as an agricultural strategic planning instrument in the context of water
resources management. Through the BHC estimate, it is possible to determine the period of occur-
rence of water deficiency and surplus, removal and replacement of water from the soil and the

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail: Fernando.ferreirafe@gmail.com


2 Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: samarabontempo@gmail.com
3 Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão. E-mail: karlakarliane.ps@gmail.com
4 Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: rhmenezes@yahoo.com.br

[ 522 ]
AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS DE BALSAS-MA 523

amount of water stored in it. The aim of this study was to evaluate soil water availability for agricul-
tural crops considering regionalized climate change scenarios for the Balsas region in comparison
with climatology. Monthly climatic data of the variables rainfall and air temperature were used for
the diagnosis of climatic conditions for the period 1981 to 2010, obtained from the data collection of
the National Institute of Meteorology – INMET. An improved version of the Eta regional model, deve-
loped at the University of Belgrade, which uses a spatial resolution of 20 km, was used. Calculations
were carried out to determine the deficiency, surplus, withdrawal and replacement of water
throughout the year in the three scenarios: the climatology that represents the current standard, the
most optimistic scenario (4.5) and the pessimistic scenario (8.5), for the region of Gerais de Balsas-MA.
Scenario 8.5 is always more pessimistic, in view of having higher average temperatures than the cli-
matology model and scenario 4.5, this indicates the low water availability in the analyzed region.
Keywords: Deficiência hídrica; Evapotranspiração; Temperatura

1 INTRODUÇÃO
O monitoramento da dinâmica agroclimática é crucial para a otimização da produção
agrícola, pois anomalias climáticas são as principais causadoras de baixas na produtividade
agrícola mundial. Segundo Castro (2012), a agricultura nordestina possui grande variabilidade,
tanto nas culturas exploradas, quanto na tecnologia empregada para a produção agrícola, o
que aliado à irregularidade climática, como os anos de secas e chuvas intensas que se alternam
de formas erráticas, dificulta o desenvolvimento, levando à deterioração do solo e da água.
Isso evidencia uma melhor compreensão do padrão climático das localidades do Nordeste. De
acordo com Blain (2009) o monitoramento climático é importante para o planejamento da
agricultura, pois é a base para o sucesso produtivo das culturas agrícolas, uma vez que deter-
mina a melhor época e as áreas mais promissoras ao plantio.
O método de estimativa do balanço hídrico climatológico (BHC) proposto por Thornthwaite
e Mather (1955) é uma ferramenta de monitoramento de armazenamento de água no solo, lar-
gamente utilizada como instrumento de planejamento estratégico agrícola no âmbito do geren-
ciamento dos recursos hídricos.
Santos et al. (2010) afirmam que o conhecimento das variáveis estimadas no BHC favo-
rece o planejamento agropecuário e as práticas de controle de produção, porque são infor-
mações que permitem aos produtores identificar as condições climáticas que fragilizam o
sistema produtivo.
De acordo com Matos et al. (2014) é de crucial importância a elaboração do BHC para
uma região, já que considera os aspectos relacionados ao solo, a profundidade efetiva do sis-
tema radicular das plantas e a dinâmica de água no solo durante o período avaliado. Através da
estimativa do BHC é possível determinar o período de ocorrência de deficiência e excedente
hídrico, retirada e reposição de água do solo e da quantidade de água armazenada no mesmo,
por meio dos elementos climáticos mensais, tidos como entrada do modelo, temperatura do
ar e precipitação pluvial (CARVALHO et al., 2011).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


524 Fernando Ferreira; Samara Silva; Karla Silva; Ronaldo de Menezes

O sistema de classificação climática de Thornthwaite (1948) permite caracterizar, de


forma eficaz, o clima de uma região, devido à metodologia ser sensível aos totais de chuva, e
temperatura, somada a informações geradas do BHC (ROLIM, 2007).
As mudanças climáticas e seus impactos têm sido uma grande preocupação de pesquisa-
dores e governantes. A análise dos seus impactos tem por finalidade a compreender o que
pode ser feito ou adaptado a essas mudanças nas diversas atividades humanas, sendo assim
estudos são direcionados para essas questões. Segundo o Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC), em seus relatórios são destacados que as principais causas do
aquecimento global são as emissões de gases de efeito estufa, o que afeta diretamente nas
mudanças climáticas que vem ocorrendo no mundo todo (IPCC, 2007).
Pinto et al., (2003) afirmam que com o aquecimento global é esperado que ocorra nos
próximos anos um cenário de extrema seca, inundações e ondas de calor ainda mais intensas.
Oscilações, como aumento na temperatura, deficiência hídrica, menos precipitação
podem ser explicadas pelas mudanças climáticas que vem ocorrendo a nível global, devido às
práticas antrópicas ao longo dos anos. Para detectar possíveis mudanças no clima, os estudos
de impactos futuros vêm sendo realizado e porventura, fazem uso de modelos de impactos cli-
máticos (BRAGA, 2015).
O Maranhão é uma região de transição entre os biomas da Amazônia e Cerrado, sendo
assim tem alta biodiversidade de ecossistemas. As mudanças climáticas podem afetar de
maneira trágica a biodiversidade da fauna e da flora, os ecossistemas e a vida humana. Silva et
al.,(2016) observaram que mudanças das variáveis climáticas vem ocorrendo de forma dife-
rente nas regiões do Estado, exemplo da temperatura que tem um comportamento homogê-
neo, com uma tendência de aumento de forma intensa. Logo, o objetivo desta pesquisa foi
avaliar a disponibilidade hídrica no solo para as culturas agrícolas considerando os cenários de
mudanças climáticas regionalizados para a região de Gerais de Balsas no estado do Maranhão
em comparação com a climatologia.

2 METODOLOGIA
A região de gerais de balsas localizada no sul do estado do Maranhão, Figura 1 – abran-
gendo área de 43.683,09 km²

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS DE BALSAS-MA 525

Figura 1 – Mapa de localização de Balsas-MA

Fonte: Ferreira, 2020.

2.1 Dados utilizados


2.1.1 Dados observados
Foram utilizados dados climáticos mensais das variáveis precipitação pluvial e tempera-
tura do ar, para o diagnóstico das condições climáticas para o período de 1981 a 2010, obtidos
do acervo de dados do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, através do site www.
inmet.gov.br.

2.1.2 Cenários de mudanças climáticas


Para avaliação climática futura foram utilizados dados das projeções de temperatura do
ar em dois cenários de mudanças climáticas, obtidas do modelo Inglês Eta-HadGEM2 ES apli-
cado pelo CPTEC/INPE (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) para previsão do tempo e estudos sobre cenários exploratórios de
mudanças climáticas futuras em diferentes escalas de tempo e resoluções espaciais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


526 Fernando Ferreira; Samara Silva; Karla Silva; Ronaldo de Menezes

2.2 Procedimento metodológicos


2.2.1 Cenários Climáticos
As avaliações de impactos regionais associados as mudanças climáticas foram geradas a
partir dos cenários obtidos do modelo global HadGEM2 ES, que utilizam resolução espacial de
100 a 200 km, o que é baixa para estudos de impactos e vulnerabilidades em escala regional.
Para estudos regionalizados, foi utilizado uma versão aprimorada do modelo regional Eta,
desenvolvido na Universidade de Belgrado, e é empregado operacionalmente pelo National
Centers for Environmental Prediction (NCEP), com resolução espacial de 20 km lat-lon e 38
níveis verticais, cobrindo a área da América do Sul, América Central e oceanos adjacentes, ava-
liando as simulações do clima presente e analisando suas projeções até o ano de 2100, consi-
derando dois cenários de emissão um intermediário o RCP 4.5 e outro pessimista, o RCP 8.5, a
partir de 2006 até 2100.

2.2.2 Balanço hídrico climatológico


Para avaliação da disponibilidade hídrica utilizando os dados da climatologia e dos cená-
rios de mudanças climáticas foi avaliado o regime hídrico dos solos, que é fundamental para o
perfeito funcionamento do sistema agrícola de uma região, refletindo consideravelmente nos
níveis de produtividade. O ganho de água pelo solo será obtido pela precipitação pluvial e as
perdas pela evapotranspiração potencial, determinada segundo a metodologia proposta por
THORNTHWAITE (1948). A partir da entrada destes elementos, e da capacidade de água dispo-
nível-CAD de 100 mm, será determinado o balanço hídrico climatológico, segundo método
proposto por THORNTHWAITE e MATTHER (1955).
Este método fornece estimativas da evapotranspiração real, deficiência hídrica, excesso
hídrico e armazenamento de água no solo. O balanço hídrico, portanto, representa uma ferra-
menta útil e muito prática para a avaliação da disponibilidade de água para as culturas, sendo
indispensável para a caracterização agroclimática de regiões agrícola. A estimativa da evapo-
transpiração potencial, bem como o balanço hídrico para Capacidade de Água Disponível (CAD)
de 100 mm, serão realizados utilizando-se o programa SEVAP – Sistema de Estimativa da
Evapotranspiração, desenvolvido no Departamento de Ciências Atmosféricas, do Centro de
Ciências e Tecnologia, da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nessa região, conforme apresentada na Figura 2, de acordo com a climatologia, observa-
-se que no mês de dezembro começa o período de reposição de água no solo, em decorrência
do início do período chuvoso, se estendendo até o mês de janeiro. O excedente de água no solo
começa em janeiro se estendendo até o mês de abril, de modo que a partir de maio já se nota
retirada de água do solo devida o final do período chuvoso, e subsequente deficiência hídrica
nos meses seguintes que se estende até novembro, tendo o aumento no mês de setembro.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS DE BALSAS-MA 527

Figura 2 – Balanço de água no solo para a Região Gerais de Balsas de


acordo com a climatologia (1981-2010)

Fonte: FERREIRA, 2020

De acordo com as projeções de temperatura do ar para o período de 2020 a 2049, consi-


derando o cenário de mudança climática intermediário denominado de RCP 4.5, conforme
Figura 3, nota-se uma alteração no padrão da disponibilidade hídrica em relação a climatologia
(Figura 2). A reposição de água no solo se encontra entre os meses de dezembro e fevereiro,
com redução considerada do período de excesso de água no solo, que neste caso, encontra-se
no mês de março e com período de retirada de água no solo, que começa em abril e com uma
deficiência que se estende de abril a novembro. Além das alterações observadas nos períodos
de ocorrência, principalmente do excesso, retirada e deficiência hídrica, observou-se redução
significada do volume hídrico associados a essas componentes.
Isso revela que as chuvas não são distribuídas de forma uniforme ao longo do estado,
apresentado uma variabilidade espacial, que segundo Menezes (2009), é o resultado da locali-
zação geográfica do estado, extensão territorial e atuação de diferentes sistemas produtores
de chuvas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


528 Fernando Ferreira; Samara Silva; Karla Silva; Ronaldo de Menezes

Figura 3 – Balanço de água no solo para a Região Gerais de Balsas de


acordo com a projeção futura (1981-2010)-CEnário 4.5

Fonte: FERREIRA. 2020.

Em um cenário mais pessimista, definido com RCP 8.5, Figura 3, a reposição hídrica se
estende de janeiro até março sem excedentes, o que já caracteriza um prognóstico para ativi-
dades de sequeiro. A deficiência hídrica se estende por quase todo o ano, de abril a dezembro.
Também se observa redução quantitativa da disponibilidade hídrica em relação a climatologia
e ao cenário 4.5 e aumento das perdas de água de forma quantitativa, com intensificação da
deficiência hídrica, principalmente nos meses de agosto e setembro.
Conforme relatado por vários autores, dentre eles, Chaves (1992); Martin & Ruiz Torres
(1992); Fontana et. al. (2001), não só os totais de deficiência hídrica, mas o tempo em que a
deficiência se prolonga, pode afetar processos importantes que determinam a taxa de cresci-
mento da cultura, fechamento dos estômatos, redução das perdas de vapor d´água e dos pro-
cessos fotossintéticos, condições que podem levar a perdas de produtividade. O que indica um
problema para a região, tendo em vista que a região de balsas, é uma das principais produtoras
de grãos do estado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS DE BALSAS-MA 529

Figura 4 – Balanço de água no solo para a Região Gerais de Balsas de


acordo com a projeção futura (1981-2010)-CEnário 8.5

Fonte: FERREIRA. 2020.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário 8.5 se mostra sempre mais pessimista, em relação aos demais cenários
Pouca disponibilidade hídrica para este modelo na região analisada, o que é uma grande
problemática em aspectos agronômicos e sociais.
O tema mudanças climáticas é de extrema importância a ser debatido, levando em con-
sideração os dados da pesquisa.
À medida que, aumenta a temperatura da região, diminui o intervalo de plantios na
mesma.
Além disso, isso mostra a importância em fazer análises sobre mudanças climáticas, o
quão é impactante em todas as esferas nacional e mundial.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


45.
INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS
BACIAS HIDROGRÁFICAS NO BRASIL
Um panorama

JOANA PAULA DE SOUZA CORNÉLIO1

Resumo: As mudanças climáticas e seus efeitos sobre os recursos hídricos têm sido tema abor-
dado por muitos pesquisadores e motivo de preocupação por parte de autoridades públicas. O
objetivo deste estudo foi verificar o panorama da influência das mudanças climáticas nas bacias
hidrográficas do Brasil, analisando métodos utilizados para realizar projeções, indicadores climáti-
cos, impactos e riscos futuros, através de uma revisão exploratória da literatura. Para isto foi rea-
lizado um levantamento bibliográfico dos últimos seis anos sobre o tema. O resultado da pesquisa
demonstra que a influência de mudanças no clima sobre as bacias hidrográficas está bem docu-
mentada. A vazão, precipitação, temperatura e evapotranspiração foram as variáveis mais utiliza-
das nas projeções. Os modelos utilizados para simular os impactos de mudanças climáticas nas
bacias hidrográficas se mostraram eficientes. As mudanças climáticas podem afetar a distribuição
espacial e temporal das variáveis hidrológicas principalmente precipitação e vazão, assim como a
intensidade e frequência de eventos extremos. Novas pesquisas com maior número de modelos
climáticos regionais são necessárias para englobar as especificidades das diferentes bacias hidro-
gráficas e entender os processos de mudanças climáticas a fim avaliar os impactos e mitigá-los.
Palavras-chave: Impactos; Mitigação; Mudança no clima; Projeção; Variáveis hidrológicas.
Abstract: Climate change and its effects on water resources have been a topic addressed by many
researchers and a matter of concern on the part of public authorities. The objective of this study
was to verify the panorama of the influence of climate change in the hydrographic basins of Brazil,
analyzing methods used to carry out projections, climate indicators, impacts and future risks
through an exploratory literature review. For this, a bibliographic survey of the last six years on the
subject was carried out. The research result demonstrates that the influence of climate changes
on the river basins is well documented. The flow, precipitation, temperature and evapotranspira-
tion were the most used variables in the projections. Models used to simulate the impacts of cli-
mate change on watersheds proved to be efficient. Climate change can affect the spatial and
temporal distribution of hydrological variables, mainly precipitation and flow, as well as the inten-
sity and frequency of extreme events. New researches with a greater number of regional climate

1 Universidade de Brasília, UNB. E-mail: joanapaula_aqui@hotmail.com.

[ 531 ]
532 Joana Paula de Souza Cornélio

models are needed to encompass the specificities of different river basins and understand the pro-
cesses of climate change in order to assess the impacts and mitigate them.
Keywords: mpacts; mitigation; climate change; projection; hydrological variables.

1 INTRODUÇÃO
As mudanças climáticas causadas por atividades humanas tornaram-se uma preocupa-
ção crescente em todo o mundo e essa preocupação está associada aos impactos das mesmas
sobre o meio ambiente e as diversas atividades humanas e, principalmente, aos efeitos dos
extremos climáticos. (SILVA et al., 2017).
Conforme Magerski (2020), o clima é composto por vários elementos que são interliga-
dos e através dos anos, relatos apontam mudanças significativas. Para entender tais mudanças,
é necessário o estudo aprofundado de algumas variáveis e que atualmente este ato vem sendo
realizado por diversos pesquisadores a fim de se aprofundarem em algumas particularidades
(MAGERSKI, 2020).
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima, promulgada pelo
Decreto nº 2.652 de 1998, define que a mudança do clima pode ocorrer de maneira a ser,
direta ou indiretamente, atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera
mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural (BRASIL, 1998).
Sheldon (2019) afirma que o aumento da emissão de CO2 na atmosfera está causando
aumento na temperatura da superfície terrestre, mudando o regime das chuvas e a frequência
de eventos climáticos extremos. Nesse contexto, o quinto relatório do IPCC (AR5), teve grande
repercussão pela projeção da temperatura média global apresentada, indicando que no pior
cenário de mudanças climáticas, a temperatura poderia variar de 2,6 °C a 4,8 °C até o fim do
século (IPCC, 2013).
O painel brasileiro de mudanças climáticas, ao realizar estudos nos mesmos moldes dos
apresentados pela organização internacional, chegou às mesmas conclusões para o Brasil, de
que essa alteração na temperatura pode provocar várias outras alterações no meio, diretas ou
não, como o aumento do nível e pH do mar, do ciclo e intensidade das precipitações e etc.
(PBMC, 2017). Marengo et al.(2011) relatam que no território brasileiro houve um aquecimento
de cerca de 0, 7° C nos últimos cinquenta anos e a tendência é que este aumento continue.
Silveira et al. (2016) afirmam que as mudanças climáticas devem produzir grandes impac-
tos sobre os recursos hídricos. O aquecimento observado nas últimas décadas pode causar
mudanças no ciclo hidrológico, por meio de modificações dos padrões de precipitação e eva-
potranspiração, o que pode impactar diretamente a umidade do solo, a reserva subterrânea,
geração do escoamento superficial assim como provocar chuvas intensas em algumas áreas e
em outras áreas poderá haver seco dificultado o cultivo de certas culturas agrícolas (IPCC,
2007(a); IPCC, 2013). Esses aspectos associados ao aumento da demanda por água projetada
para as próximas décadas (principalmente devido ao crescimento populacional e aumento da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NO BRASIL 533

riqueza, regionalmente) poderão exercer grande pressão nos hidrossistemas brasileiros, prin-
cipalmente nas bacias hidrográficas (PBMC, 2012; SALATI et al., 2008).
As bacias hidrográficas são locais de considerável relevância para o estudo da água, visto
que é nessa área que, além de ocorrer o desenvolvimento e o crescimento da população, tam-
bém ocorrem práticas para planejamento e gestão dos múltiplos usos dos recursos hídricos
(BIANCHI, 2013). Bacia hidrográfica é, portanto, uma área delimitada espacialmente por um
divisor de água, constituída por uma rede de drenagem interligada, cujo escoamento converge
para uma seção comum, denominada de seção de controle ou exutório da bacia (MELLO e
SILVA, 2013).
As mudanças no clima têm tornado a gestão dos recursos hídricos mais difícil uma vez
que as condições hidrológicas se alterarão de uma maneira altamente incerta no futuro, onde
se espera que a temperatura e a precipitação variem consideravelmente de região para região
e, consequentemente, a variabilidade nos padrões espaciais e temporais dessas variáveis
podem trazer mudanças significativas nos climas que, por sua vez, podem afetar a agricultura,
o desenvolvimento industrial e urbano (FAHAD et al., 2018).
A atenção e preocupação com o gerenciamento dos recursos hídricos tem se tornado
frequente, sobretudo nas áreas que são dependentes desse recurso para atender os usos múl-
tiplos (SOBRAL et al., 2018). Conforme Trenberth (2011), mudanças climáticas podem afetar a
distribuição espacial e temporal das variáveis hidrológicas (e.g. chuva e vazão), assim como a
intensidade e frequência de eventos extremos. Alterações no regime hidrológico de uma região
como aumento ou redução da vazão dos rios, podem produzir danos aos ecossistemas, afetar
a produção de alimentos, abastecimento de água, navegação e geração de energia
(CHRISTENSEN; LETTENMAIER, 2007).
Assim, o objetivo desse estudo foi apresentar um panorama teórico sobre a influência
das mudanças climáticas nas bacias hidrográficas no Brasil a partir de técnicas utilizadas para
realizar projeções, indicadores climáticos, impactos e riscos futuros. Estas informações pode-
rão proporcionar uma atualização sobre os fatores que levam a essas mudanças, que indicado-
res climáticos afetam cada bacia hidrográfica e como afetam, bem como os avanços nas
técnicas de projeções.

2 METODOLOGIA
A forma escolhida para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa foi um artigo de revi-
são, onde foram analisadas as literaturas e bibliografias nos últimos seis anos, dos principais
autores que discorrem sobre os temas englobados na abordagem da influência das mudanças
climáticas nas variáveis hidrológicas, como sendo necessárias ao entendimento de como tais
mudanças afetam as bacias hidrográficas e que estejam disponíveis para consulta. As buscas
foram realizadas nas bases de dados Periódicos Capes Scielo e Google Acadêmico, utilizando as
palavras-chave “mudança climática”, “bacias hidrográficas”, “impactos hidrológicos”,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


534 Joana Paula de Souza Cornélio

“projeção”. Dentre os principais referenciais teóricos analisados, destacam-se os livros e


manuais disponíveis para consulta em bibliotecas, os artigos científicos, trabalhos de conclusão
de curso, dissertações e teses de doutorado.
Assim, foram utilizados 11 artigos na revisão, conforme resumo apresentado no Quadro
1, por se tratar de pesquisas cujo tema estava relacionado a este estudo.

Quadro 1 – Artigos de pesquisa utilizados no estudo

Título Referência
Mudanças climáticas e vazões extremas na Bacia do Rio Paraná Adam et al. (2015)
Simulação dos Impactos das Mudanças Climáticas na Vazão da Bacia do Arroio Júnior e Mauad
Ribeirão do Feijão-SP (2015)
Mudanças climáticas na bacia do rio São Francisco: Uma análise para
Silveira et al.(2016)
precipitação e temperatura
Hydrological responses to climate changes in a headwater watershed Alvarenga et al. (2016)
Assessment of climate change impacts on water resources of the Purus
Dalagnol et al.(2017)
Basin in the southwestern Amazon
Tendências de mudanças climáticas na precipitação pluviométrica nas bacias
Silva et al. (2017)
hidrográficas do estado de Pernambuco
Impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos no submédio da
Sobral et al. (2018)
bacia hidrográfica do rio são Francisco – Brasil
Análise de índices climáticos para avaliação do efeito de mudanças
Almeida et al. (2020)
climáticas

Projeções hidrológicas em duas bacias hidrográficas a partir de cenários


futuros impactados por mudanças climáticas no século XXI
Magerski (2020)
Impacto das mudanças climáticas sobre as vazões em bacias hidrográficas
Steinmetz (2020)
do Pampa brasileiro
Simulação dos impactos das mudanças climáticas globais na evapotranspira-
Gomes et al.(2021)
ção de referência da bacia amazônica brasileira
Fonte: Autor.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Adam et al. (2015) avaliaram os possíveis impactos das mudanças climáticas sobre vazões
extremas na bacia do rio Paraná. Para isso analisaram as series de vazões máximas e mínimas
anuais em termos de magnitude e frequência de ocorrência. A modelagem dos impactos de
mudanças climáticas sob o regime de vazões foi realizada com o modelo hidrológico MGB/IPH
executado em três etapas principais: 1) calibração com dados observados; 2) simulação das
projeções climáticas do RCM ETA após remoção de viés.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NO BRASIL 535

A análise de vazões máximas foi realizada em termos de curvas de tempo de retorno.


Assim, a magnitude de vazões máximas de vários períodos de retorno (TR), simuladas para o
período atual (1961-1990) foi comparada com três intervalos de tempos futuros: 2011-2040
(FUT1), 2041-2070 (FUT2) e 2071-2099 (FUT3).
Os resultados revelaram que o uso do modelo climático regional ETA-CPTEC, com dados
climáticos diários, para avaliar vazões extremas no Brasil pode ser considerado uma inovação
em comparação com estudos anteriores sobre impactos de mudanças climáticas nesta área de
estudo. Além disso, mostraram que os impactos sobre as vazões são altamente dependentes
do membro do modelo utilizado para obter as projeções climáticas. Observaram ainda que os
impactos, ou seja, as diferenças de vazão entre o período atual e futuro tendem a serem maio-
res quanto mais distantes for o período de tempo simulado sugerindo que a incerteza aumenta
com a ampliação do horizonte de tempo analisado.
Arroio Junior e Mauad (2015) aplicaram o modelo SWAT para avaliar os impactos das
mudanças climáticas na vazão da bacia do Ribeirão do Feijão, localizada no interior do estado
de São Paulo. Os mesmos utilizaram o gerador climático estocástico LARS-WG para gerar séries
sintéticas diárias sob os cenários B1, A1B e A2 do IPCC. Tais séries foram inseridas no modelo
SWAT (calibrado) visando avaliar o comportamento da bacia nos períodos de 2050–2059 e
2090–2099.
Para a vazão mensal, as etapas de calibração e validação do SWAT geraram coeficientes
de Nash-Sutcliffe de 0,73 e 0,78, respectivamente, enquanto para a vazão diária os coeficientes
foram de 0,57 e 0,63. Nas simulações para a década de 2050 os autores observaram aumentos
na vazão em todos os cenários, com exceção do cenário A2 no período seco, onde se observou
uma redução de -1,5% a -3% durante os meses. Para a década de 2090 o cenário A1B apresen-
tou redução de vazão de março a outubro, enquanto no cenário A2 tal redução foi observada
entre fevereiro e outubro, chegando a um decréscimo de -10% quando comparado às vazões
atuais. Dessa forma, os resultados indicaram que a bacia do Ribeirão do Feijão é bastante vul-
nerável às potenciais alterações climáticas, estando sujeita a possíveis problemas de disponibi-
lidade hídrica no futuro.
Já Silveira et al. (2016) analisaram os impactos das mudanças no clima na bacia do Rio São
Francisco sobre as variáveis meteorológicas precipitação e temperatura para o período de
2011 a 2100 para os cenários RCP 4.5 e RCP 8.5., através das projeções dos modelos globais do
Coupled Model Intercomparison Project Phase 5 (CMIP5, utilizados no quinto relatório do
Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC-AR5).
Os modelos foram avaliados quanto à representação da climatologia da precipitação no
período de 1961 a 2000, utilizando os dados das estações do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET). Para a avaliação os autores se basearam em dois índices de desempenho: a correla-
ção e o erro quadrático médio. Enquanto para a análise das projeções, foram calculadas as ano-
malias das médias anuais divididas em períodos de 30 anos (2011 a 2040, 2041 a 2070 e 2071

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


536 Joana Paula de Souza Cornélio

a 2100). Para avaliação de tendências e variabilidade os autores utilizaram: a média móvel de


dez anos, regressão linear e o método de Mann-Kendall-Sen.
Os resultados demonstraram que aproximadamente 28% dos modelos analisados não
representaram adequadamente a sazonalidade da precipitação. Todos os modelos apresenta-
ram tendência positiva para a temperatura, e apesar da divergência na precipitação, os mes-
mos projetam anomalias entre -20% e 20% em cada período de 30 anos para essa variável.
Alvarenga et al. (2016) avaliaram os impactos das mudanças climáticas na vazão da bacia
hidrográfica de Lavrinha, localizada na Serra da Mantiqueira, Sudeste do Brasil, usando as
simulações DHSVM associadas ao cenário futuro do clima-RCP 8.5 (com forçamento radiativo
de 8,5 W m-2) projetado pelo modelo climático regional Eta, que por sua vez é baseado no
downscaling das projeções do modelo HadGEM2-ES. Estas simulações foram geradas pelo
modelo climático regional Eta acoplado ao Modelo Climático Global (MCG) HadGEM2-ES, nos
períodos de 2011–2040, 2041–2070 e 2071–2099.
Os resultados demostraram que a vazão é bastante sensível ao aumento da temperatura
e diminuição da precipitação, ambos projetados para o cenário RCP 8.5. A simulação hidroló-
gica projetou uma redução na vazão mensal entre 20 e 77% ao longo do século XXI (2011 a
2099), correspondendo a reduções drásticas no escoamento e, consequentemente, na capaci-
dade de produção de água da região.
Por outro lado, Dalagnol et al. (2017) avaliaram os impactos das mudanças climáticas no
regime hidrológico da Bacia do Purus no sudoeste da Amazônia ao longo do século 21 em rela-
ção ao cenário A1B-AR4 / IPCC, estimando a magnitude dos impactos das mudanças climáticas
na descarga do rio Purus e seus principais afluentes. Para isso, o balanço hídrico foi simulado
utilizando o modelo hidrológico distribuído (MHD-INPE). Ainda, as projeções climáticas futuras
foram simuladas pelo modelo regional ETA-INPE forçado por quatro membros do modelo glo-
bal HadCM3 sobre o cenário de emissões de gases de efeito estufa A1B-AR4/IPCC.
Conforme os autores o modelo MHD-INPE foi capaz de simular o regime hidrológico da
Bacia do Purus e prever uma redução geral de 27% na vazão até o final do século 21, com dife-
rentes padrões de estação seca e chuvosa, assim como mudanças nas tendências de sazonali-
dade. Como simulado pelo ETA-INPE/HadCM3, a resposta média dos 4 membros para o cenário
A1B representa uma redução de chuvas em até 11,1%, aumento de temperatura em até 4,4 °C,
e aumento da velocidade do vento em até 8,4% para a Bacia do Purus até o fim do século 21.
Sob essas condições, as projeções de descarga representam uma diminuição global de 27% na
Bacia do Purus, com diferentes padrões entre as estações seca e úmida, bem como mudanças
nas tendências sazonais.
Além disso, a mudança climática projetada na Bacia do Purus tem consequências graves
no balanço hídrico e provavelmente terá um grande impacto na manutenção do ecossistema e
na subsistência humana. Dessa forma, em um processo de adaptação às mudanças climáticas,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NO BRASIL 537

a preservação da cobertura florestal natural da Bacia do Purus pode ter grande importância na
retenção de água.
No estudo realizado por Silva et al. (2017) foi analisado as tendências climáticas de índi-
ces de precipitação pluviométrica nas principais bacias hidrográficas do estado de Pernambuco,
utilizando o software RClimDex, e a avaliação dessas tendências nas bacias hidrográficas. Para
isso, foram utilizados 75 postos pluviométricos distribuídos de forma uniforme pelo estado
com séries históricas variando de 1962 a 2011, com cerca de 50 anos de dados.
Os autores afirmam que foram observadas tendências em vários índices de detecção de
mudanças climáticas nas bacias dos rios Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, Una, Mundaú,
Ipanema, Moxotó, Terra Nova, Brígida, Garças e Pontal, concluindo que existem evidências de
mudanças no clima de algumas bacias hidrográficas principais e diagnosticaram indícios de
aceleração no processo de aridez das bacias dos rios Ipanema, Brígida e Garças, e tendência de
aumento dos eventos extremos máximos de precipitação para as bacias dos rios Mundaú,
Sirinhaém e Garças.
Sobral et al. (2018) avaliaram o impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos
no Submédio São Francisco e identificaram as mudanças no uso e ocupação do solo no entorno
do reservatório de Sobradinho, também localizado no Submédio. Para isso foi calculado o
índice de Anomalia de Chuva (IAC) para caracterizar os anos de extremos climáticos secos e
chuvosos e a intensidade desses eventos. Os autores utilizaram o software Spring-5.4.3 para a
classificação do uso e ocupação do solo no reservatório de Sobradinho e entorno.
Os resultados mostraram uma tendência de diminuição dos totais pluviométricos, que se
tornou mais frequente a partir da década de 1990, onde passaram a predominar os anos secos,
tanto em quantidade de ocorrência quanto em relação à intensidade desses eventos. As alte-
rações climáticas agregadas às constantes modificações no uso e ocupação do solo estão asso-
ciadas à disponibilidade hídrica, logo são de grande importância na mediação de conflitos. Os
autores constataram que o cálculo do IAC pode ser utilizado como uma ferramenta para auxi-
liar o acompanhamento climático e a variabilidade pluviométrica de uma determinada área,
que pode ser uma bacia hidrográfica, auxiliando no gerenciamento dos recursos hídricos e,
então empreender ações de adaptação e mitigação.
Já Almeida et al. (2020) analisaram as mudanças climáticas ocorridas no estado de
Pernambuco, observando os impactos no aspecto climático por meio de índices físicos, com
enfoque na região semiárida, caracterizada por problemas de escassez hídrica, a partir da ava-
liação da variabilidade temporal da precipitação em diversas bacias hidrográficas do Estado
empregando o índice de anomalia de chuva (IAC), assim como índice de aridez (IA); análise da
tendência das séries pluviométricas, e por fim identificação das áreas com vulnerabilidade à
desertificação, a partir de estudos realizados em séries temporais no período entre 2000 e
2018, com dados de 13 postos pluviométricos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


538 Joana Paula de Souza Cornélio

Os autores utilizaram testes estatísticos nas análises de tendências, por meio do soft-
ware Trend e pela regressão linear; para o cálculo do índice de anomalia de chuvas foi realiza-
dos o preenchimento de falhas pelo método do vetor regional e a consistência dos dados foi
realizada pelo método da dupla massa. Entre os postos analisados, apenas os seguintes postos
Belo Jardim, Caruaru, Serra Talhada, Betânia, Ibimirim, Recife, Abreu e Lima e Camaragibe,
apresentaram tendência. Todos apresentaram tendências de queda na precipitação. Em rela-
ção à vulnerabilidade ao processo de desertificação, observado por meio do índice de anoma-
lia de chuvas, foi observado que as mesorregiões do Sertão Pernambucano, e Agreste
Pernambucano apresentaram maiores quantidades de períodos secos ou muito secos.
Na pesquisa de Magerski (2020) foram realizadas projeções hidrológicas na Sub-bacia do
Baixo Rio Ivaí (SBRI) e na Sub-bacia do Alto Rio Tibagi (SART) no estado do Paraná, em períodos
sazonais e anual, com base em variáveis hidroclimatológicas, por meio de cenários futuros
impactados por mudanças climáticas no século XXI. Para condução do estudo foi aplicada a
técnica de krigagem ordinária, utilizando o modelo geoestatístico estável em dados pluviomé-
tricos do Instituto Águas Paraná, INMET e do IAPAR resultando em mapas gerados com os
dados observados apresentando falha contrapondo os dados preenchidos. Em paralelo, foi
desenvolvido um modelo híbrido determinístico-estocástico de chuva-vazão, utilizando regis-
tros hidroclimatológicas históricos das sub-bacias. Por fim, para geração das vazões, conside-
rando dois cenários de possíveis mudanças climáticas (C1 e C2), o software PGECLIMA_R foi
utilizado acoplado ao modelo chuva-vazão híbrido determinístico-estocástico e os resultados
de precipitação foram representados espacialmente empregando o modelo estável enquanto
que os de vazão foram representados pontualmente.
Em relação aos resultados da primeira análise, notaram-se valores relativamente baixos
de EMA e REQM, assim como valores expressivos dos índices r, d e NS, principalmente, na
SART, que apresentou um menor percentual de falhas. Os testes estatísticos aplicados nos
resultados do modelo chuva-vazão indicaram desempenho muito bom na projeção das vazões,
com resultados ótimos para o teste K-S. Para a última etapa, as projeções de vazões impacta-
das por mudanças climáticas previstas para o final do século, indicaram que possivelmente
haverá aumento no fluxo, principalmente dos períodos chuvosos. Assim, a pesquisa realizada
possibilitou estimar prováveis mudanças na precipitação e nas vazões, podendo ser usada
como ferramenta para estudos mais aprofundados, bem como ferramenta para embasar a
ação de tomadores de decisão futuramente.
Steinmetz (2020) avaliou o impacto das mudanças climáticas sobre as condições hidroló-
gicas das sub-bacias arroio Pelotas, arroio Fragata e rio Piratini, pertencentes a bacia hidrográ-
fica Mirim-São Gonçalo, onde utilizou o Soil and Water Assessment Tool (SWAT). Este foi
calibrado e validado para cada sub-bacia, considerando os dados meteorológicos e hidrológi-
cos observados e, posteriormente, esse modelo foi forçado com dados meteorológicos diários
simulados para o passado e projetados para o futuro. Essas projeções foram baseadas nos
Caminhos Representativos de Concentração (RCPs) 4.5 e 8.5 de quatro modelos climáticos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NO BRASIL 539

globais pelas projeções de downscaling do modelo ETA: Brazilian Earth System Model (BESM),
Canadian Earth System Model (CANESM2), Hadley Centre Global Environmental Model
(HADGEM2) e Interdisciplinary Research on Climate (MIROC5).
Os resultados apresentados no estudo projetam os efeitos das mudanças climáticas na
disponibilidade hídrica, onde é esperado um aumento de chuvas em períodos futuros para a
região, levando a um aumento nas vazões dos rios, gerando erosão hídrica e uma maior fre-
quência de eventos extremos. O desempenho do SWAT foi satisfatório na calibração e valida-
ção de todas as sub-bacias, bem como na representação dos indicadores hidrológicos analisados
neste estudo. Com relação às mudanças climáticas, os resultados indicaram aumento das
vazões médias anuais, máximas e mínimas, e as maiores variações foram obtidas para as pro-
jeções climáticas baseadas no RCP 4.5. Para a RCP 8.5, a maioria dos indicadores hidrológicos
apresentou um aumento menos acentuado no final do século XXI.
Gomes et al. (2021) simularam as alterações futuras na evapotranspiração de referên-
cia (ETo) na Bacia Amazônica Brasileira decorrentes de um contínuo aumento nas emissões
de GEE (cenário RCP 8.5). Para tal utilizaram a plataforma Dinamica EGO para implementar
um modelo espacialmente explícito baseado no método de PenmanMonteith padronizado
pela FAO. A validação foi realizada comparando estatisticamente os resultados entre as simu-
lações e as observações.
Segundo os autores a comparação entre os valores de ETo simulados e observados
demonstrou que o modelo EER-PM é adequado para simular a ETo de forma espacialmente
explícita na Bacia Amazônica Brasileira, por representar de forma próxima ao real, o processo
de evapotranspiração na região. As simulações indicaram o aumento da ETo durante a estação
seca (maio a setembro) e redução durante o período chuvoso (novembro a março). Os autores
verificaram um marcante padrão espacial da ETo com maiores valores na porção leste, se
estendendo no sentido norte-sul. Este gradiente acompanha a distribuição dos valores de tem-
peratura e do saldo de radiação e coincide com os padrões de desmatamento.
Observou-se na pesquisa que a partir de 2028, as mudanças climáticas projetadas pelo
modelo HadGem2-ES no cenário RCP 8.5 podem funcionar como fonte adicional de elevação
nos níveis de ETo devido ao aumento da temperatura, em associação com as modificações no
saldo de radiação e nos padrões de precipitação.
De acordo dos estudos relatados podemos inferir que nos últimos seis anos houve uma
preocupação e avanço nas pesquisas que tratam sobre a influência das mudanças climáticas
nas bacias hidrográficas no Brasil. A vazão foi a variável hidrológica mais utilizada nas proje-
ções, seguida das variáveis meteorológicas, temperatura, precipitação e evapotranspiração. Os
modelos utilizados para as simulações e projeções dos impactos de mudanças climáticas nas
bacias hidrográficas mostraram-se eficientes e demonstraram que tais mudanças no clima
podem afetar a distribuição espacial e temporal das variáveis hidrológicas principalmente pre-
cipitação e vazão, assim como a intensidade e frequência de eventos extremos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


540 Joana Paula de Souza Cornélio

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os modelos utilizados para simular os impactos de mudanças climáticas nas bacias hidro-
gráficas se mostraram eficientes. As variáveis hidrológicas mais utilizadas nas projeções foram
vazão, precipitação, temperatura e evapotranspiração foram. As mudanças no clima podem
afetar a distribuição espacial e temporal das variáveis hidrológicas principalmente precipitação
e vazão, além de afetar a intensidade e frequência de eventos extremos. Dessa forma, novos
estudos com maior número de modelos climáticos regionais são necessários para as especifici-
dades das diferentes bacias hidrográficas, bem como para entender os processos de mudanças
climáticas para avaliar os impactos e promover ações de mitigação.

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INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NO BRASIL 541

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
VII

PESQUISAS APLICADAS
EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
α

46.
ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE
CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO NO
MUNICÍPIO DE PORTO NACIONAL-TO

MARAIZA BEZERRA CASTRO1


KAMILA LOURRANE CARVALHO ALENCAR ROCHA2
KÁRITA CRISTINE RODRIGUES DOS SANTOS3
FABYANO ALVARES CARDOSO LOPES4

Resumo: A degradação dos ecossistemas aquáticos é uma realidade nos dias de hoje, ocasionada
pela antropização. O ribeirão São João é o principal manancial de abastecimento no município de
Porto Nacional– TO, abrangendo áreas urbanizadas e não-urbanizadas. Entretanto, esse manan-
cial atualmente se encontra em processo de degradação, devido aos diversos usos da água da
bacia, para agropecuária, desmatamento e despejos de efluentes, sendo que este último afeta
diretamente a vida aquática possibilitando a proliferação de cianobactérias. Diante disso, o obje-
tivo desse trabalho é caracterizar a concentração da variável biológica clorofila-α ao longo ribeirão
São João, Porto Nacional (TO). Foi realizada duas coletas de amostras de água, uma no início do
período de seca (julho de 2021), na região de Porto Nacional e a segunda coleta no auge da seca
(outubro de 2021), na região. As coletas nos sete pontos ao longo do ribeirão no sentido nascente
à foz, apenas nos trechos lóticos e levadas para análise no laboratório de microbiologia. Os dados
foram submetidos a estatística descritiva, análise de variância (ANOVA) e a comparação das
médias pelo Teste Scott Knott, a nível de 5% de probabilidade utilizando o software Sisvar®. Os
valores de concentração de clorofila-α encontrados para o ribeirão variaram de 0,026 μg/L a 0,160
μg/L (Coleta I), e 0,000 μg/L a 0,215 μg/L (Coleta II), não ultrapassando os valores permitidos pelo
CONAMA para águas superficiais classe II.
Palavras-chave: Antropização; Qualidade da água; Clorofila-α; Ribeirão São João.
Abstract: The degradation of aquatic ecosystems is a reality nowadays, caused by anthropization.
The São João stream is the main source of supply in the municipality of Porto Nacional-TO, cover-
ing both urbanized and non-urbanized areas. However, this source is currently in a process of deg-
radation, due to the various uses of water in the basin, for agriculture, deforestation and effluent
discharges, the latter directly affecting aquatic life, enabling the proliferation of cyanobacteria.
Therefore, the objective of this work is to characterize the concentration of the biological variable

1 Laboratório de Microbiologia, UFT. E-mail: maraiza.castro@uft.edu.br


2 Laboratório de Microbiologia, UFT. E-mail: kamilalourrane@uft.edu.br
3 Laboratório de Microbiologia, UFT. E-mail: karita.cristine@uft.edu.br
4 Laboratório de Microbiologia, UFT. E-mail: flopes@uft.edu.br

[ 543 ]
544 Maraiza Castro; Kamila Alencar Roch; Kárita dos Santos; Fabyano Lopes

chlorophyll-α along the São João stream, Porto Nacional (TO). Two collections of water samples
were carried out, one at the beginning of the dry season (July 2021), in the Porto Nacional region
and the second collection at the height of the drought (October 2021), in the region. The collec-
tions at the seven points along the stream from the east to the mouth, only in the lotic sections
and taken for analysis in the microbiology laboratory. Data were subjected to descriptive statis-
tics, analysis of variance (ANOVA) and comparison of means by the Scott Knott Test, at a 5% prob-
ability level using the Sisvar® software. The chlorophyll-α concentration values ​​found for the
stream ranged from 0.026 μg/L to 0.160 μg/L (Collection I), and 0.000 μg/L to 0.215 μg/L (Collection
II), not exceeding the values ​​allowed by CONAMA for class II surface water.
Keywords: Anthropization; Water quality; Chlorophyll-α; São João stream.

1 INTRODUÇÃO
O acelerado processo de degradação dos ecossistemas aquáticos é uma realidade cres-
cente no Brasil, com a antropização, as condições dos mananciais vão se agravando, causadas
pela demanda mundial e o avanço da poluição hídrica cada vez mais maior. Essa realidade nos
centros urbanos e rurais é ainda mais dependente, cujo, a busca por água vem crescendo nos últi-
mos tempos (VESTENA et al., 2012), acarretando impactos na qualidade da água do manancial.
No Brasil, a maioria dos ecossistemas aquáticos naturais são os rios, onde, os impactos
sofridos nesses ambientes, refletem na qualidade da água, a degradação dos habitats e criação
de barramentos, são causadores da fragmentação do ambiente aquático, e por consequência,
acabam impactando a comunidade aquática ali presente (GEIST, 2011).
A qualidade da água pode ser avaliada por vários parâmetros importantes na caracte-
rização da água, estando eles relacionados à verificação das características físicas, químicas
e biológicas (MACHADO, P. J. O; TORRES, F. T. P, 2013). Tais parâmetros são regidos pela reso-
lução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que norteia sobre os
requisitos mínimos de qualidade do corpo hídrico, em todo território nacional, visando
garantir água apropriada para consumo humano (BRASIL, 2005). Diversos critérios podem
ser indicadores da qualidade da água, temperatura, turbidez, potencial hidrogeniônico (pH)
e concentração de clorofila-α.
A preocupação com a qualidade da água se dá devido a facilidade com que as proprieda-
des podem ser alteradas, fatores endógenos e exógenos ao meio ambiente (VON SPERLING; DA
SILVA FERREIRA; GOMES, 2008), acarretam mudanças nos parâmetros de qualidade da água.
Entre os diversos problemas referentes a qualidade hídrica, a eutrofização das águas é uma
preocupação considerada importante a ser analisada. A eutrofização é um processo natural ou
artificial, na qual o enriquecimento por nutrientes (principalmente nitrogênio e fósforo) e
matéria orgânica, vem sendo um problema generalizado em ambientes aquáticos, pelas ativi-
dades antrópicas, tornando a água do manancial imprópria para a utilização da população e
risco para a vida no ecossistema aquático (LE MOAL et al., 2019).
A concentração de clorofila-α é considerada uma importante variável biológica indica-
dora do estado trófico do ecossistema aquático e uma ferramenta útil na avaliação de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO 545

impacto de contaminantes orgânicos e inorgânicos e indica, de modo indireto, a biomassa de


algas presente no corpo hídrico, com isso, informando a presença de matéria orgânica de
forma indireta (OLIVEIRA, 2010). Esses microrganismos são dependentes de carbono orgâ-
nico como fonte de nutrição e irão se multiplicar caso esse recurso estiver disponível
(LOUZADA; ESPINHEIRA; OLIVEIRA, 2019). A resolução nº 357/2005 do CONAMA estabelece
os padrões de qualidade para clorofila-α de águas doces, havendo, assim, limites legais para
a sua concentração nesses ambientes aquáticos, sendo o valor máximo permitido para este
parâmetro 30 μg/L (BRASIL, 2005).
Atualmente, um dos principais mananciais hídricos da cidade de Porto Nacional – TO, que
provê água para as atividades urbanas e rurais, é o ribeirão São João, situado na margem direita
do reservatório da Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães. Entretanto, esse manancial tem
sofrido crescente degradação, levando a crer na possibilidade da existência de poluentes nas
águas devido aos lançamentos irregulares no seu leito.
De acordo com RÖRIG et al., (2007), os rios localizados em áreas urbanas, ambientes lóti-
cos, sofrem modificações ao longo do tempo, utilizando a água para abastecimento humano e
como fonte de descarte de esgotos, o que com o tempo é um agravante para a saúde da pró-
pria população e comunidade aquática.
Sabendo-se que diversos usos são dados ao solo e à bacia, foi de suma importância a rea-
lização da análise da concentração da variável biológica clorofila-α, pois a bacia do ribeirão São
João sofre com a antropização, apresentando em seu curso problemas com desmatamento e
despejo de efluentes. Assim, o trabalho tem por objetivo caracterizar a concentração da variá-
vel biológica clorofila-α ao longo do ribeirão São João.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo e coleta de amostras de água
O estudo foi desenvolvido ao longo do ribeirão São João, no município de Porto Nacional,
Tocantins. Realizou-se duas coletas de amostras de água no período de julho de 2021 (início da
seca na região), Coleta I, e no período de outubro de 2021 (auge da seca na região), Coleta II.
Efetuou-se a demarcação de sete pontos fixos, distribuídos a cada 2 km ao longo do curso prin-
cipal, compreendendo apenas os trechos lóticos. Cada ponto integrou um trecho longitudinal
de 50 m no canal, onde foram coletadas amostras de água (Tabela 1).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


546 Maraiza Castro; Kamila Alencar Roch; Kárita dos Santos; Fabyano Lopes

Tabela 1 – Geolocalização dos pontos de coleta ao longo do ribeirão São João, Porto Nacional (TO)

Ponto Latitude Longitude

1 -10,7366005 -48,2924308
2 -10,7316221 -48,3195042
3 -10,7365355 -48,3355423
4 -10,7105001 -48,3752476
5 -10,7062244 -48,3815522
6 -10,699244 -48,3929432
7 -10,6985434 -48,4043304
Fonte: Castro, M. B et al..

Dentre os sete pontos do ribeirão São João, cinco pontos estão localizados na zona rural
de Porto Nacional – TO (1, 2, 3, 4 e 5) e dois pontos localizam-se dentro da zona urbana de
Porto Nacional – TO (6, e 7) (Figura 1).

Figura 1 – Pontos de coleta ao longo do ribeirão São João. Os pontos amostrados


estão situados na zona rural (ponto 1 (A), ponto 2 (B), ponto 3 (C), ponto 4 (D), ponto
5 (E) e na zona urbana (ponto 6 (F), ponto 7 (G) de Porto Nacional (TO)

Fonte: Castro, M. B et al..

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO 547

A coleta das amostras de água do ribeirão, se fez em potes (utilizando luvas) segurados pela
base. O pote foi mergulhado com a abertura do pote para baixo da superfície. Após o mergulho
do pote, ele foi levemente inclinado para cima, com a boca direcionada para a corrente.
Em cada ponto, as amostras de água foram coletadas em recipientes plásticos de 1 L e
em duplicata. As réplicas respeitaram o mínimo de 10 m de distância entre elas. Logo após a
coleta, as amostras foram acondicionadas em um recipiente com gelo e transportadas para o
Laboratório de Microbiologia – UFT, Campus Porto Nacional, onde foram processadas e arma-
zenadas (BAIRD et al., 2017).

2.2 Extração e quantificação de clorofila-α


A extração da clorofila-α foi realizada seguindo o protocolo de WOOD (1985), utilizando
clorofórmio-metanol (2:1), sendo que foi excedido o tempo de 24 h após a coleta para o pro-
cessamento das amostras. As amostras de água coletadas foram filtradas a vácuo, sendo que,
o volume de água filtrado variou entre 400 mL a 1000 mL da amostra devido a saturação do
filtro. Posteriormente a extração da clorofila-α as amostras foram levadas para a leitura no
espectrofotômetro e lidas a 665 nm e 750 nm. Para a quantificação da clorofila-α, foi utilizada
a seguinte equação: [Clorofila-α] (µg/L) = P x (A665 – A750) x 100 x V/S x PL, onde P = constante
de proporcionalidade derivada do coeficiente de extinção (13,2 mg.cm/L), V = volume do
extrato de reação do clorofórmio com o filtro (10 mL), S = volume da amostra filtrada (mL), PL
= comprimento óptico da cubeta (1 cm). Os dados obtidos foram analisados por estatística des-
critiva, análise de variância (ANOVA) e a comparação das médias pelo Teste Scott Knott, a nível
de 5% de probabilidade utilizando o software Sisvar®.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da variável clorofila-α das águas superficiais nos sete pontos de coleta do
ribeirão São João em julho de 2021, Coleta I, correspondente ao início da seca na região de
Porto Nacional – TO (Tabela 2).

Tabela 2 – Concentração de Clorofila-α dos pontos ao longo do ribeirão São João, Porto Nacional (TO).
Os dados foram submetidos a ANOVA e comparados pelo teste Scott Knott (α = 0,05) no programa
estatístico Sisvar®. Letras iguais significam que não houve diferença estatística

Pontos Concentração de clorofila– α (µg/L)

1 0,066 ± 0,00 a
2 0,033 ± 0,02 a
3 0,026 ± 0,02 a
4 0,132 ± 0,01 b

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


548 Maraiza Castro; Kamila Alencar Roch; Kárita dos Santos; Fabyano Lopes

Pontos Concentração de clorofila– α (µg/L)

5 0,115 ± 0,01 b
6 0,113 ± 0,05 b
7 0,160 ± 0,05 b
Fonte: Castro, M. B et al..

Pode-se verificar que os valores encontrados para clorofila-α nos pontos 1, 2, e 3 varia-
ram entre 0,026 μg/L a 0,066 μg/L, mostrando uma concentração inferior aos pontos 4, 5, 6 e
7, cujo variaram de 0,115 μg/L a 0,160 μg/L.
A clorofila-α é o pigmento fotossintético presente em todos os organismos fitoplanctôni-
cos eucarióticos (algas) e procarióticos (cianobactérias), sendo utilizado como parâmetro de
biomassa algal em vários trabalhos, tanto experimentais como na caracterização de ambientes
aquáticos e monitoramento da qualidade hídrica (KURODA et al., 2010).
Para os resultados da variável clorofila-α das águas superficiais nos sete pontos de coleta
do ribeirão São João em outubro de 2021, que corresponde ao auge da seca na região de Porto
Nacional – TO, Coleta II (Tabela 3).

Tabela 3 – Concentração de Clorofila-α dos pontos ao longo do ribeirão São João, Porto Nacional
(TO). Os dados foram submetidos a ANOVA e comparados pelo teste Scott Knott (α = 0,05) no programa
estatístico Sisvar®. Letras iguais significam que não houve diferença estatística

Pontos Concentração de clorofila– α (µg/L)


1 0,000 ± 0,00 a
2 0,011 ± 0,02 a
3 0,000 ± 0,00 a
4 0,215 ± 0,01 d
5 0,098 ± 0,04 b
6 0,011 ± 0,01 a
7 0,173 ± 0,02 c
Fonte – Castro, M. B et al..

Na tabela acima, pode-se observar que os valores encontrados para clorofila-α nos pon-
tos 1, 2, 3 e 6 variaram entre 0,000 μg/L a 0,011 μg/L, mostrando uma concentração inferior
aos pontos 4, 5, e 7, cujo variaram de 0,098 μg/L a 0,215 μg/L. O padrão estabelecido pelo
CONAMA é de até 30 μg/L para água doce classe II (destinadas para o abastecimento humano
após tratamento convencional, à proteção das comunidades aquáticas, à recreação de contato
primário, irrigação de hortaliças e plantas frutíferas e à criação natural e/ou intensiva (aquicul-
tura) de espécies destinadas à alimentação humana). A água do ribeirão abordado neste

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO 549

trabalho, é do tipo Classe II, pois é destinada para o abastecimento da população no município
de Porto Nacional -TO.
A presença de algas ou cianobactérias em águas destinadas para abastecimento humano,
como é o caso do ribeirão São João, pode ocasionar implicações direto na qualidade da água,
por exemplo, o aumento de matéria orgânica particulada, aumento de substâncias orgânicas
dissolvidas que podem conferir odor e sabor a água, apresentar toxicidade, incrementar a cor
da água, servir de substrato para o crescimento de bactérias na estação de tratamento (DI
BERNARDO, 1995).
Dentre os sete pontos de coleta, apenas o ponto 1, não foi possível coletar as amostras
de água, devido ao auge da seca na região (Coleta II), não tinha água, o que inviabilizou a coleta
neste ponto (Figura 2).

Figura 2 – Amostragem do ponto 1 no auge da seca do ribeirão São João. As imagens A e B correspondem
ao ponto 1, situado na zona rural de Porto Nacional (TO)

Fonte: Castro, M. B et al..

A oscilação da concentração de clorofila-α nos sete pontos de amostragem, nas Coletas


I e II, uma no início da seca, enquanto a segunda no auge da seca, se deve, a ocorrência de
folhas e vegetação seca que entram em decomposição ao longo do ribeirão, aumentando a
matéria orgânica e consequentemente colaborando para a mudança no estado trófico nestes
pontos (Figura 3).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


550 Maraiza Castro; Kamila Alencar Roch; Kárita dos Santos; Fabyano Lopes

Figura 3 – Concentração de Clorofila-α nos sete pontos ao longo do ribeirão São João. A coleta I (julho
de 2021) e coleta II (outubro de 2021), nas zonas rural e urbana de Porto Nacional (TO). Os dados foram
submetidos a ANOVA e comparados pelo teste Scott Knott (α = 0,05) no programa estatístico Sisvar®.
Letras iguais significam que não houve diferença estatística

Fonte: Castro, M. B et al..

Comparando as concentrações de Clorofila-α encontradas nas coletas I e II, foi obser-


vado que o ponto 7 (zona urbana) e ponto 4 (zona rural) apresentaram uma concentração
superior em relação aos demais pontos (Figura 3). Em seu perímetro, o ponto 7 apresentou
uma população de macrófitas da espécie Pontederia parviflora (Figura 1G) que pode ter consu-
mido os nutrientes solubilizados no ribeirão São João, assim, evitando a proliferação de ciano-
bactérias no dado local. Através da absorção, bem como a ação de substâncias com ação
inibidora e reprodução de microrganismos, as macrófitas aquáticas consomem os nutrientes
essenciais para seu desenvolvimento (DE MATOS; DA SILVA FREITAS; MONACO, 2009).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coleta das amostras no ribeirão São João foi realizada no período que corresponde ao
início da seca, sendo que a concentração de clorofila-α na coleta I variou de 0,026 μg/L (menor
concentração) no ponto 3 a 0,160 μg/L (maior concentração) no ponto 7. Enquanto que na
coleta II, auge da seca na região, a concentração de clorofila-α variou de 0,000 μg/L (menor
concentração) no ponto 3 a 0,215 μg/L (maior concentração) no ponto 7, sendo que o ponto 1,
devido à época, estava com ausência de água, o que tornou inviável a coleta. Assim, o ribeirão
São João apresentou valores de concentração de clorofila-α abaixo do padrão estipulado pelo
CONAMA (30 μg/L). A sazonalidade foi um fator determinante no que tange a oscilação na con-
centração de clorofila-α nas duas coletas.
Assim, é importante a realização de coletas em várias épocas do ano, para que se possa
averiguar as alterações nos níveis de concentração da clorofila-α no ribeirão São João, obtendo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO 551

assim, conhecimento acerca de como as modificações nas comunidades aquáticas vem ocor-
rendo, cujo, a ação antrópica está cada vez mais presente e alterando esses ambientes. Os sis-
temas aquáticos são responsáveis por manter a vida como um todo, plantas, animais, uma vez
que, a obtenção de água em quantidade e qualidade é um dos grandes desafios da atualidade.

5 REFERÊNCIAS
BAIRD, R. B. et al. Standard methods for the examination of water and wastewater. [s.l.] American Public
Health Association Washington, DC, 2017. v. 23
BRASIL. Resolução no 357, de 17 de março de 2005. Diário Oficial da União, v. 1, p. 58–63, 2005.
DE MATOS, A. T.; DA SILVA FREITAS, W.; MONACO, P. A. V. L. Capacidade extratora de diferentes espécies
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Ambiente & Água-An Interdisciplinary Journal of Applied Science, v. 4, n. 2, p. 31–45, 2009.
DI BERNARDO, L. Algas e suas influências na qualidade das águas e nas tecnolgias de tratamento. [s.l.] ABES-
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1995.
GEIST, J. Integrative freshwater ecology and biodiversity conservation. Ecological Indicators, v. 11, n. 6, p.
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LOUZADA, G.; ESPINHEIRA, I. H. L.; OLIVEIRA, L. F. R. D. CONTAGEM DE BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS NA ÁGUA
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MACHADO, P. J. O; TORRES, F. T. P. INTRODUÇÃO À HIDROGEOGRAFIA. [s.l: s.n.].
OLIVEIRA, L. L. D. DE. Estudo da estrutura da comunidade zooplanctônica e sua relação com as
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RÖRIG, L. R. et al. From a water resource to a point pollution source: the daily journey of a coastal urban
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VESTENA, L. R. et al. Vazão ecológica e disponibilidade hídrica na bacia das Pedras, Guarapuava-PR. Revista
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VON SPERLING, E.; DA SILVA FERREIRA, A. C.; GOMES, L. N. L. Comparative eutrophication development in two
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Sciences, v. 42, n. 1, p. 38–43, 1985.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


47. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-
TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO
NDVI NO ECOSSISTEMA MANGUEZAL NO
ESTUÁRIO DO RIO JAGUARIBE
Período de 1990 a 2020

MARLOS CESAR DO NASCIMENTO ALBUQUERQUE1


CARLOS HENRIQUE SOPCHAKI2

Resumo: Os ecossistemas manguezais desempenham diversos papéis importantes para o equilí-


brio ecológico, além de servirem como fonte de renda para comunidades tradicionais garantindo
sua segurança alimentar. Por possuírem alto valor de produtividade esses recursos vêm sendo
explorados ao longo do tempo gerando diversos impactos socioambientais nessas regiões. No
estuário do Rio Jaguaribe estão presentes os ecossistemas manguezais, os quais, no decorrer dos
anos, vem sofrendo impactos negativos de origens antrópicas. Em razão dessa situação, a pes-
quisa tem como objetivo identificar os principais agentes modificadores na região, através da aná-
lise de evolução espaço-temporal e revisão bibliográficas de livros, artigos e dos principais
dispositivos jurídicos atuantes no Brasil. Em conjunto com as técnicas de sensoriamento remoto,
foi possível o monitoramento da região nos anos de 1990, 2000, 2010 e 2020, com a aplicação de
índices de vegetação, a partir do qual foi possível identificar e constatar que os empreendimentos
de carcinicultura são os principais agentes modificadores do espaço na região. Além do que, as leis
ambientais que tem como objetivo resguardar os ecossistemas manguezais, vêm sendo descum-
pridas em prol do ganho econômico em detrimento às questões socioambientais acarretando
uma série de efeitos negativos na região estuarina do rio Jaguaribe.
Palavras-chave: Legislação ambiental; Sensoriamento Remoto; Índice de Vegetação.
Abstract: Mangrove ecosystems play several important roles for ecological balance, in addition to
serving as a source of income for traditional communities ensuring their food security. Because
they have a high productivity value, these resources have been exploited over time, generating
several social and environmental impacts in these regions. Mangrove ecosystems are present in
the Jaguaribe River estuary, which, over the years, have suffered negative impacts from anthropo-
genic origins. Due to this situation, the research aims to identify the main modifying agents in the
region, through the analysis of spatiotemporal evolution and bibliographic review of books, arti-
cles and the main legal devices operating in Brazil. In conjunction with remote sensing techniques,
it was possible to monitor the region in the years 1990, 2000, 2010 and 2020, with the application

1 UFC. E-mail: marloscesar.ti@gmail.com


2 UFC. E-mail: carlos.geografia@ufc.br

[ 552 ]
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI 553

of vegetation indices, from which it was possible to identify and verify that shrimp farming ven-
tures are the major space modifiers in the region. In addition, environmental laws that aim to pro-
tect mangrove ecosystems have been disregarded in favor of economic gain to the detriment of
socio-environmental issues, causing a series of negative effects in the estuarine region of the
Jaguaribe River.
Keywords: Environmental laws; Remote sensing; Vegetation Index.

1 INTRODUÇÃO
Os manguezais são ambientes de grande relevância ecossistêmica, desempenhando um
importante papel no equilíbrio ecológico. De acordo com Thiers, Meireles e Santos (2016), são
um dos ecossistemas mais produtivos por possuírem grande biodiversidade, servindo para ali-
mentação, reprodução e abrigo para diversas espécies.
Por conta da diversidade e disponibilidade de espécies, os manguezais são utilizados para
fins econômicos, e por esse motivo, no Brasil Colônia, no século XVIII, foram usados dispositi-
vos jurídicos para proibir a extração de madeira sem autorização da coroa, estabelecendo um
controle sobre essas áreas (TOGNELLA et al., 2019). Mas atualmente as leis que abrangem os
manguezais têm como objetivo a preservação e o equilíbrio desse ecossistema.
De acordo Soares (2007), o estuário do Rio Jaguaribe vem sofrendo ao longo dos anos os
efeitos da exploração descontrolada da derrubada de árvores, pesca predatória, atividades
salineiras e com a criação de camarão, tornando esses ambientes altamente vulneráveis aos
efeitos antrópicos.
Desta maneira o monitoramento por meio de Sensoriamento Remoto e do
Geoprocessamento de imagens dessas áreas é de suma importância para a preservação e o
aperfeiçoamento da gestão desse ambiente. Sendo possível a aplicação de índices de vegeta-
ção para o reconhecimento e a classificação da assinatura espectral das imagens.
De acordo com Menezes et al. (2012) o Índice de Vegetação da Diferença Normalizada
(Normalized Difference Vegetation Index – NDVI) é empregado em diversos trabalhos como
cobertura do solo, estimativas da radiação fotossinteticamente ativa, entre outros. Desta
maneira, pode ser usado nas áreas de mangues para mensurar os efeitos antrópicos que o
ecossistema vem sofrendo ao longo do tempo.
Sendo assim, esta pesquisa objetiva realizar uma análise das alterações ocorridas no
ecossistema manguezal do estuário do Rio Jaguaribe, Ceará. Buscar-se-á, através da análise de
evolução espaço-temporal e do NDVI, demonstrar como a legislação pode impactar no ecossis-
tema manguezal.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


554 Marlos Cesar do Nascimento Albuquerque; Carlos Henrique Sopchaki

1.1 Ecossistema Manguezal


No Brasil, de acordo com Alves (2001, p.10), “Os manguezais existem desde a foz do rio
Oiapoque, no Estado do Amapá (4º 30’ latitude Norte), até o Estado de Santa Catarina, tendo
como limite o sul do município de Laguna, latitude 28º 30’ S”.
Nos Manguezais é possível identificar feições distintas que possuem características e
dinâmicas específicas que mantêm o ecossistema em equilíbrio. A feição “Lavado”, de acordo
com a Schaeffer-Novelli (2018), corresponde às áreas que são expostas apenas nas marés bai-
xas, apresentando sedimento lodoso onde pode ser encontrado comunidades vegetais como
microalgas ou até mesmo gramíneas.
Meireles et al. (2008) definem a feição “Apicum” como um setor de transição, correspon-
dem a terrenos, areno-argilosas e argilosas, sem a presença de vegetação, ocorrendo nas
regiões mais elevadas do manguezal. Segundo Schaeffer-Novelli (2018), o Apicum pode ter
outras denominações como salgados ou superfícies hipersalinas. Por fim, a feição “Mangue” é
onde ocorre a presença de uma vegetação que possui adaptações únicas em decorrência das
dinâmicas ambientais que ocorrem nessas áreas.
De acordo com Lacerda et al. (2006), o ecossistema possui diversas ameaças ambientais
ao longo de toda costa brasileira, principalmente de origem antrópica como o desmatamento,
a especulação imobiliária e a criação de frutos do mar.

1.2 Legislação Acerca do Ecossistema Manguezal


Na jurisdição brasileira há instrumentos que são específicos para a proteção dos man-
guezais brasileiros. De acordo com Rosario e Abuchahla (2018 p.81), “a Lei 12.651/2012 consi-
derou o manguezal como APP em toda a sua extensão, tanto em zonas rurais como urbanas
(artigo 4º, inciso VII), mantendo o disposto no Código Florestal de 1965”.
Na Lei Federal 12.727, de 17 de outubro de 2012 (BRASIL, 2012b), o Artigo 11-A regula-
menta o uso e ocupação dos apicuns e salgados. Pesquisadores apontam a sua inconstitucio-
nalidade “já que a exploração dos apicuns e salgados acarretará uma violação dos manguezais
em toda a sua extensão, estes sim, considerados como Áreas de Preservação Permanente.”
(ALBUQUERQUE et al.,2015 p.149).
A Resolução nº 303 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 20 de março
de 2002, inclui no Art.3°, inciso X, o manguezal, em toda a sua extensão como APP. No Estado
do Ceará, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (COEMA) possui a Resolução 02, de 27 de
março de 2002, que determina sobre o licenciamento de cultivo de camarão e o estabeleci-
mento de normas para os empreendimentos de carcinicultura.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI 555

1.3 Monitoramento do Ecossistema Manguezal por meio do NDVI.


Uma das metodologias possíveis para o monitoramento da dinâmica espacial atrelada ao
ecossistema Manguezal se dá através dos índices de vegetação que “[...] foram criados no
intuito de ressaltar o comportamento espectral da vegetação em relação ao solo e a outros
alvos da superfície terrestre.” (MOREIRA, 2007, p.204). O Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI) adotado pela pesquisa, de acordo com Lobato et al. (2010), foi inicialmente
proposto por Rouse et al. (1973).
Pereira et al. (2015) destacam que para a geração do índice de vegetação da diferença
Normalizada (Normalized Difference Vegetation Index – NDVI) se utilizam duas bandas: a que
se refere ao espectro eletromagnético do vermelho e a que se refere ao infravermelho pró-
ximo, ressaltando as regiões onde possuem vegetação. De acordo com Moreira (2007), é o
indicador de vegetação mais utilizado para destacar a cobertura vegetal. Sendo realizado atra-
vés da expressão:

Sendo “IVP” a banda referente ao infravermelho próximo e o “Ver” a banda do verme-


lho. “Os valores de NDVI variam de -1 a 1, onde o limite inferior sugere total ausência de vege-
tação sadia, enquanto que o limite superior aponta para máxima densidade de biomassa
verde.” (FAGUNDES et al.; 2015).
O NDVI vem sendo amplamente utilizado em pesquisas que se referem a situações do
ecossistema manguezal brasileiro. Silva e Moreira (2011) apresentaram resultados que possibi-
litaram a análise e entendimento de diversos agentes que atuam na mudança de paisagem no
litoral de Pernambuco, destacando a ocupação de áreas naturais por zonas urbana no Porto de
Galinhas e Maracaípe além de um aumento das áreas ocupadas pela vegetação de mangue
pelas imagens de 2010.

2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
O Estuário do Rio Jaguaribe, de acordo com Paula, Morais e Pinheiro (2006) se localiza no
litoral leste do estado do Ceará percorrendo os municípios de Fortim, Aracati e Itaiçaba com a
extensão de 36 km. Esta pesquisa se limita a área do estuário que compreende os municípios
de Fortim e Aracati, conforme Figura 1 – Os estuários são áreas onde ocorrem o encontro do
fluxo de água doce dos rios com as águas salgadas do oceano (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016).
Conforme Brandão (2014), o estuário do Rio Jaguaribe se encontra na planície costeira,
apresentando relevo deposicionais de origem eólica, fluvial e marinha. Os estuários também
apresentam grande dinâmica de sedimento fluviomarinhos argilosos com fluxo de matéria
orgânica em decomposição, formando as planícies fluviomarinhas (SOARES et al., 2007).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


556 Marlos Cesar do Nascimento Albuquerque; Carlos Henrique Sopchaki

Segundo a SEMACE (2016), nestas áreas ocorre a presença de solos hidromórficos do tipo
Gleissolos com alto grau de salinidade, favorecendo a predominância da vegetação de mangue,
apicum e salgado.

Figura 1 – Mapa de localização do Estuário do Rio Jaguaribe

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

A partir dos anos 1990, essa área começou a passar por transformações significativas
provocadas pelas atividades econômicas, podendo destacar a carcinicultura, que possui grande
relevância econômica no estuário do Rio Jaguaribe, como citam Paula, Morais e Pinheiro (2006).

2.2 Materiais e métodos


Para a análise multitemporal foram utilizadas imagens dos satélites Landsat 5 TM e
Landsat 8 OLI/TIRS devido a série histórica do trabalho (1990; 2000; 2010; 2020), pois o Landsat
5 TM de acordo com o INPE encerrou sua missão em 22/11/2011. Dessa forma foi necessário
recorrer às imagens do Landsat 8 OLI/TIRS, todas as imagens foram obtidas gratuitamente
através do site do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
As imagens são derivadas da Collection 1 Level 2 (On-demand), possuindo correção
atmosférica, representando, portanto, a refletância de superfície, de acordo com USGS.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI 557

Inicialmente buscou-se imagens capturadas entre os meses de junho a agosto para man-
ter um padrão e buscar, na medida do possível, períodos fora da quadra chuvosa (logo após a
mesma), pois, conforme Hiera, Lima Junior e Zanella (2005) a mesma se concentra nos meses
de fevereiro a maio, atingindo precipitações máximas nesse período em decorrência da atua-
ção das zonas de convergência intertropical (ZCIT) no estado do Ceará, que são áreas de baixa
latitudes, onde ocorre o encontro dos ventos alísios do sudeste com os dos nordeste, criando
um aumento das massas de ar, geralmente úmidas (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Contudo para os anos de 1990 e 2010 as imagens são do mês de maio (Quadro 1), pois a utili-
zação de imagens de outros meses ficaram inviabilizadas, pela presença de nuvens.

Quadro 1 – Imagens de satélites utilizados para a análise

(UFC – carlos.geografia@ufc.br)
Resolução
Data Satélite Lançamento Situação Atual
Espacial
08/05/1990 Landsat 5 TM 30 m 01/03/1984 Inativo (22/11/2011)
23/08/2000 Landsat 5 TM 30 m 01/03/1984 Inativo (22/11/2011)
15/05/2010 Landsat 5 TM 30 m 01/03/1984 Inativo (22/11/2011)
12/07/2020 Landsat 8 OLI/TIRS 30 m 02/11/2013 Ativo
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Para a manipulação das imagens e a geração do NDVI foi utilizado o software livre de
código aberto denominado QGIS, na sua versão 3.16.9 ‘Hannover’. No QGIS as imagens do
Landsat 5 e Landsat 8 foram reprojetadas para o sistema de referência de coordenadas sirgas
2000/ UTM zone 24S. Em seguida as imagens foram recortadas para a área de estudo. Para os
cálculos do Índice de Vegetação, utilizou-se a calculadora Raster, do software QGIS, conforme
a equação explicitada anteriormente.
Após aplicação do NDVI nas imagens, foi realizada uma composição falsa-cor, categoriza-
dos em -1 a 1, porém numa classificação automática, normalmente realizada pelos softwares,
os valores são discretizados em quantis, inviabilizando uma comparação entre diferentes perío-
dos. Então se faz necessário utilizar a ferramenta r.recode, sendo gerado quatro escalas de
cores onde o vermelho representa a ausência de vegetação e outras matérias, amarelo são
referentes a solo exposto e vegetação não saudável, verde claro são plantas moderadamente
saudáveis e o verde escuro são áreas com vegetação saudável, tornando os dados obtidos mais
perceptível para a interpretação.
Para se obter dados comparacionais entre os anos da série histórica do artigo, foi utili-
zada a função r.report do QGIS para calcular a área em quilômetros quadrados de cada classi-
ficação e com o resultado foram gerados gráficos com a porcentagem ao longo dos anos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


558 Marlos Cesar do Nascimento Albuquerque; Carlos Henrique Sopchaki

Posteriormente, realizou-se um levantamento bibliográfico com o objetivo de identificar


as principais leis brasileiras que garantem a preservação e conservação do ecossistema man-
guezal, também uma revisão bibliográfica por meio de artigos e livros relacionados aos princi-
pais agentes antrópicos da região com o intuído de estabelecer relações, acerca dos
acontecimentos ocorridos na região estuarina do Rio Jaguaribe com vistas a identificar possí-
veis influências da legislação brasileira na preservação ou degradação do ambiente

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Estuário do Rio Jaguaribe foram realizadas análises por meio do NDVI, com o resul-
tado foi possível identificar as alterações na paisagem ocorridas ao longo dos anos. Como resul-
tado, observou-se que em áreas onde possuía a ocorrência do ecossistema manguezal foram
ocupadas por regiões com solo exposto e pelos empreendimentos de carcinicultura, com cres-
cimento expressivo nas regiões marginais do estuário (Fig. 2).

Figura 2 – Evolução espaço-temporal por NDVI do estuário do Rio Jaguaribe

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI 559

A partir da classificação de cada elemento da paisagem do estuário do Rio Jaguaribe


obteve-se a mensuração em quilômetros quadrados de cada classe predefinida no trabalho,
possibilitando uma análise em percentual para cada classe ao longo dos anos, demonstrada
através da figura 3.

Figura 3 – Evolução das classes no período de 1990 a 2020

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

A partir de 1990, de acordo com Araújo (2006), se deu início a instalação de empreendimen-
tos de carcinicultura no estado do Ceará. Possuindo uma pequena produção de início, mas com o
passar do tempo foi ganhando espaço juntamente com a fruticultura irrigada em detrimento de
outras atividades que ocorriam na região como agricultura de subsistência e a pecuária.
No ano de 2000 se teve um aumento considerável nas classes de vegetação moderada-
mente saudável e solo descoberto em comparação a 1990, porém essas diferenças provavel-
mente se devem a toda a dinâmica climática ocorrida na região, mas nota-se, que houve
aumento nos empreendimentos de carcinicultura pois, segundo Soares et al. (2007), se estima
que no estuário do rio Jaguaribe em 1990, havia 408,69 hectares de fazenda de camarão em
cativeiro passando para 909,32 hectares em 2002, e por fim no ano de 2005 se chegou a
1.676,78 hectares.
Porém no mesmo ano de 2005, Rodrigues e Kelting (2010) afirmam que a indústria carci-
nicultura enfrentou dificuldades em decorrência de diversos fatores, como a desvalorização
cambial do dólar em relação ao real, as leis antidumping necessárias para a exportação e a
mortandade de camarões pela mionecrose infecciosa, como consequência a produção em
Aracati entrou em declínio, resultando no abandono de alguns viveiros de criação de camarão,
permitindo restauração da vegetação de mangue.
Analisando o mapa, se observa uma grande expansão da indústria da carcinicultura, mas
se percebe muito solo descoberto onde se localizaria os tanques de criação, desta maneira se
pode notar uma queda de 4% em 2000 para 3% em 2010 na classe vermelha representada por
superfície de água.
Mas na imagem de 2020 na figura 2, pode se afirmar que houve um restabelecimento e
uma recuperação no setor da indústria de carcinicultura na região, além de um aumento na
classe vermelha de 3% em 2010 para os 5% apresentados em 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


560 Marlos Cesar do Nascimento Albuquerque; Carlos Henrique Sopchaki

Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), conforme os dados


apresentados no Censo da Carcinicultura do litoral sul do estado do Ceará e zonas Interioranas
Adjacentes (2017), apesar das adversidades enfrentadas, a produção nos municípios do litoral
leste, vem aumentando ao longo dos anos, pois no período de 2011 para 2015 ocorreu um
aumento no número de produtores de 245 para 536 e a área de ocupação cresceu de 3.490
para 6.519 hectares.
No Estuário do rio Jaguaribe, segundo Paula, Morais e Pinheiro (2006) podem ser identi-
ficados diversos agentes modificadores da paisagem de origem antrópica, tais como, esgoto
doméstico, deposição de resíduos sólidos, escoamento superficial de áreas agrícolas, que tem
como consequência o desequilíbrio de todo ecossistema estuarino.
Porém a partir das imagens de satélite analisadas constatou-se que o principal agente
modificador da paisagem no estuário do Rio Jaguaribe é a indústria carcinicultura, devido ao
desenvolvimento rápido, acarretando uma série de impactos socioambientais.
A Lei Federal 12.651/2012 (BRASIL, 2012a), tem como objetivo resguardar as regiões de
manguezais como APP’s, porém reconhece apenas as feições de mangue e segrega as demais
como os apicuns e salgados que são áreas onde são instaladas grande parte das fazendas de
carcinicultura. A Lei Federal 12.727, 17 de outubro de 2012 (BRASIL, 2012b) no Artigo 11-A,
regulamenta o uso e ocupação dos apicuns e salgados desta maneira provocando impactos
socioambientais negativos.
No que refere a Resolução do CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, define e garante
a proteção dos manguezais e toda sua extensão como APP’s. Santos e Furlan (2021), ressaltam
a necessidade da resolução no Conama n°303/2002, para a proteção dos ecossistemas man-
guezais, pois essa resolução tem força de lei e não permite a ocupação dos manguezais.
No nível estadual, mesmo com a Resolução 02, de 27 de março de 2002, do COEMA que
trata do licenciamento das fazendas de carcinicultura se constatou que no processo de licencia-
mento não foram realizados estudos relacionados com a definição do potencial de suporte e de
vulnerabilidade ambiental para a instalação desta indústria.” (MEIRELES; QUEIROZ, 2007, p.42).
De acordo com Araújo (2009), o uso e ocupação de APP ‘s nessa região evidencia o domí-
nio de interesses econômicos em detrimento às comunidades tradicionais que se sustentam a
partir dos recursos naturais do ecossistema manguezal. E o Estado por meio dos órgãos ambien-
tais, tem regularizado esses empreendimentos priorizando os interesses econômicos dos car-
cinicultores em grande parte dos casos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do sensoriamento remoto para o monitoramento das modificações da paisa-
gem dos manguezais do Estuário do Rio Jaguaribe se mostrou positiva, com a utilização do
NDVI para além das análises de áreas com vegetação, mas com as imagens dos satélites Landsat

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI 561

5 e 8, se mostrou eficaz nas observações do espaço-temporal que demonstrou a evolução do


empreendimento de carcinicultura como principal agente modificador do espaço.
Os empreendimentos de carcinicultura, devido ao rápido avanço de forma desordenada
na região, foram responsáveis por provocar uma série de impactos socioambientais negativos.
Além de falhas no licenciamento, monitoramento e na fiscalização, ocorrendo a falta dos com-
primentos dos dispositivos jurídicos por parte do Estado, desta maneira ajudaram a intensificar
o processo de desequilíbrio do ecossistema por se tratar de uma área sensível a ações de ori-
gem antrópica.
É de suma importância os enrijecimentos das leis ambientais no Brasil, além de um
planejamento técnico-científico para a elaboração das mesmas, para haver uma melhor gestão
do uso e ocupação promovendo a conservação dos ecossistemas manguezais aliados ao
desenvolvimento econômico.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


48.
ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO
DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO

RÚBIA RIANE DE SOUSA ARAÚJO1


DIEGO ALVES DE OLIVEIRA2
ELIZÊNE VELOSO RIBEIRO3

Resumo: O direito à água relaciona-se com o direito à vida, e dentro da sociedade os recursos
hídricos possuem múltiplos usos e são essenciais para as atividades humanas. Porém, o cenário
resultante das mudanças climáticas, gestão inadequada dos recursos hídricos e o impacto das ati-
vidades humanas tem gerado degradação da qualidade e diminuição da quantidade de água dis-
ponível, tornando esse recurso cada vez mais escasso para atender às demandas populacionais.
No Brasil, a gestão das águas é formada por um conjunto de instrumentos previstos na Lei Federal
9433 de 1997 (Política Nacional de Recursos Hídricos) que conta como um desses instrumentos a
outorga de direito de uso de recursos hídricos. O presente trabalho faz uma análise do uso da água
no alto curso da bacia do rio São Francisco a partir dos dados de outorga, relacionando as outorgas
por CBH, analisando a situação dos cadastros, vigência e os tipos de captações, os modos de uso e
a finalidade das outorgas além do tipo de consumo. Os resultados apresentam uma concentração
das outorgas nas bacias do rio Pará, Paraopeba e Velhas, o tipo de consumo é predominantemente
consuntivo e as captações são bem distribuídas entre superficial e subterrânea, e quanto à finali-
dade os processos de outorga são predominantemente destinado ao consumo humano e a desse-
dentação animal.
Palavras-chave: Recursos hídricos; bacia hidrográfica do rio São Francisco; outorga.
Abstract: Access to water is related to human rights. For society, water resources must be used
considering their multiple uses, prioritizing human supply. Considering the climate change scena-
rio, inadequate management of water resources, and the impact of human activities, there has
been a degradation of quality and a reduction in the quantity of available water. Thus, this resource
has become increasingly scarce to meet society’s demands. In Brazil, water management is based
on Federal Law 9433 of 1997 (National Water Resources Policy), which institutes the granting of
the right to use water resources as one of the water resources instruments. This work analyzes the
use of water in the upper course of the São Francisco river basin using grant data. Relationships

1 IFMG – Campus Ouro Preto. E-mail: rubia.rianedesa@gmail.com


2 IFMG – Campus Ouro Preto. E-mail: diego.oliveira@ifmg.edu.br
3 IFMG – Campus Ouro Preto. E-mail: elizene.ribeiro@ifmg.edu.br

[ 564 ]
ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO 565

are established between grants by CBH, the status of registrations, validity, and types of funding,
modes of use, and purpose of the grants, in addition to the type of consumption. The results show
a concentration of grants in the Pará, Paraopeba, and Velhas river basins. The type of consumption
is predominantly consumptive and the abstraction is well distributed between surface and under-
ground. As for the purpose, the granting processes are predominantly intended for human con-
sumption and animal watering.
Keywords: Water resources; São Francisco river basin; outorga.

1 INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos possuem usos múltiplos considerando a sociedade como a principal
usuária, com os usos voltados para o abastecimento humano e industrial, irrigação, pecuária,
aquicultura, pesca, mineração, dispersão de efluentes domésticos e industriais, entre outros.
Porém a degradação da qualidade e diminuição da quantidade da água pelo impacto negativo
das atividades humanas têm tornado esse recurso cada vez mais escasso para atender às
demandas populacionais de certas regiões (BRASIL, 1997; CAROLO, 2007).
A escassez de água afeta mais de 40% da população mundial, sendo que este valor tende
a aumentar como resultado das mudanças climáticas e gestão inadequada dos recursos hídri-
cos (BRASIL, 2021). O direito à água correlaciona-se ao direito fundamental à vida, este assegu-
rado pela Constituição de 1988, e é elemento necessário para quaisquer atividades humanas
(CAROLO, 2007).
A gestão da água é formada por um conjunto de instrumentos que estão previstos na
Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei nº 9433/1997 (BRASIL, 1997)
que estruturam e organizam as atividades para o controle e a regulamentação do uso da água
para a garantia efetiva da qualidade da água no presente e no futuro, trata-se do principal ins-
trumento jurídico para a gestão das águas no território brasileiro.
A PNRH tem como base que a água é recurso limitado, bem de domínio público, e tem a
bacia hidrográfica como unidade territorial para a implementação da PNRH e a atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), que coordena a gestão
integrada das águas e faz o planejamento, regulamentação e controle do uso dos recursos
hídricos, com vistas à preservação e recuperação das águas (BRASIL, 1997).
Os recursos hídricos, bem como os serviços ambientais a eles associados estão no centro
do desenvolvimento sustentável que engloba tanto as dimensões ambiental quanto a econô-
mica e social. No contexto do trabalho em busca do alcance das metas dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Agenda 2030 (BRASIL, 2021) propõe que os serviços
ambientais disponibilizados pela água colaboram para o alcance dos seguintes ODS: erradica-
ção da pobreza (ODS 1), crescimento econômico (ODS 8) e da sustentabilidade ambiental (ODS
15). O acesso à água implica ainda aspectos da dignidade humana, desde a segurança alimen-
tar e energética à saúde humana e ambiental (ODS 2, 6 e 7) (BRASIL, 2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


566 Rúbia Riane de Sousa Araújo; Diego Alves de Oliveira; Elizêne Veloso Ribeiro

Assegurar a disponibilidade de água em padrões de qualidade para os seus respectivos


usos para as atuais e futuras gerações são objetivos da Lei 9433/1997, com vistas a promover
a utilização racional e integrada dos recursos hídricos. Dentre os instrumentos desta lei para a
garantia do PNRH, está a outorga de direitos de uso de recursos hídricos.
O regime de outorga procura assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da
água, e é um documento/ato administrativo que garante ao usuário o direito de usufruir dos
recursos hídricos disponíveis. Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos se faz em
prazo determinado, o que não se traduz em um cenário de transferência parcial dos recursos
hídricos, que são inalienáveis, mas o simples direito de uso e o efetivo exercício dos direitos de
acesso à água (BRASIL, 1997).
As outorgas são necessárias quando o uso dos recursos hídricos alteram o regime, a
quantidade e/ou a qualidade da água existente em um corpo d’água, os usos em captações
e acumulações de água considerados insignificantes independem de outorga concedida pelo
poder público (BRASIL, 1997). A proposta deste trabalho é fazer uma análise do uso da água
no alto curso do rio São Francisco a partir dos dados de outorga de direitos de uso de recur-
sos hídricos.

2 METODOLOGIA
A área de estudo corresponde a área da mesorregião do alto curso do rio São Francisco
(MACRSF) definida a partir da divisão hidrográfica nacional estabelecida pelo Conselho Nacional
de Recursos Hídricos (CNRH). A divisão das bacias é feita a partir da metodologia proposta por
Otto Pfafstetter em 1989 e serviu de base para a Agência Nacional de Águas (ANA) construir a
Base Hidrográfica Ottocodificada (BHO) (IBGE, 2021).
Os dados da mesorregião do alto curso do rio São Francisco (MACRSF) foram baixados a
partir dos arquivos disponibilizados pelo IBGE (2021), no formato de arquivo.shp, compatível
para manipulação nos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Mas há também bancos de
dados em outros formatos com os mesmos campos de informação, como, por exemplo, em
formato.xls, onde os dados da tabela de atributos são dispostos em planilhas e podendo ser
exportadas para além do ambiente SIG.
Os dados que tratam da regularização ambiental foram obtidos a partir do portal de
Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(IDE-SISEMA), onde foram adquiridos os dados que tratam das outorgas de direito de uso dos
recursos hídricos do estado de Minas Gerais fornecidas e registradas pelo Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (IGAM) (SISEMA, 2021).
A camada de dados vetorial foi recortada para a área de estudo em ambiente SIG utili-
zando o software QGIS 3.16 versão “Hannover”. O banco de dados do shape resultante de atri-
butos das outorgas da região de estudo foi exportado para o formato.xls para a realização da
sumarização e apresentação gráfica das informações referentes ao uso da água.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO 567

Figura 1 – Mapa da localização do alto curso da bacia do rio São Francisco e sub-bacias

Fonte: Os autores.

Os atributos selecionados para análise neste trabalho foram: outorgas por Comitê de Bacias
Hidrográficas, a situação dos cadastros, os tipos de captação (se superficial ou subterrâneo), dos
modos de uso da água, a finalidade de uso das outorgas, o tipo de consumo, o status de vigência
das outorgas além da dispersão das outorgas concedidas por município na área de estudo.
Os dados foram exportados para o Excel onde foi feita a organização dos dados, reti-
rando os processos com outorgas que não estavam vigentes, os resultados obtidos foram dis-
postos em gráficos e quadros que auxiliam na compreensão do uso dos recursos hídricos
concedidas na MACRSF.
Para a elaboração dos mapas, foi utilizado como sistema de referências de coordenadas
o SIRGAS 2000, e para o mapa de densidade de kernel (mapa de densidade de calor) foi utili-
zado a projeção do Brasil Policônico e os parâmetros utilizados para a estimativa da densidade
de kernel foi a partir de um raio de busca de 15km.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Das 36.523 outorgas computadas na MACRSF, mais de 35.000 estão vigentes e outras
1429 estão em estado de renovação, como apresenta a figura 2.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


568 Rúbia Riane de Sousa Araújo; Diego Alves de Oliveira; Elizêne Veloso Ribeiro

Figura 2 – Gráfico da situação das outorgas no alto curso do rio São


Francisco – Outubro de 2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

As captações podem ser divididas em captações em águas superficiais ou em águas subter-


râneas, as águas subterrâneas ocorrem em volumes muito superiores se comparado ao disponí-
vel na superfície terrestre. As captações subterrâneas ocorrem nas zonas saturadas, seja pelo
preenchimento das fissuras das rochas ou entre os poros grânulos minerais, que se denominam
aquíferos, podendo ser captadas também no nível freático, mais próximo da superfície.
São reservatórios naturais subterrâneos capazes de armazenar e transmitir quantidades
significativas de água, e na área de estudo compreendem a maior parte das captações. Das
outorgas concedidas na área de estudo, 49,6% correspondem a outorgas de águas superficiais
enquanto, 50,4% são outorgas de águas subterrâneas (Figura 3).

Figura 3. Gráfico dos tipos de captação no alto curso do rio São


Francisco – Outubro de 2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO 569

Das outorgas na MACRSF, 14,3% estão sob supervisão da CBH Afluentes do Alto São
Francisco, como pode ser observado a partir do gráfico na Figura 4. A maior parte dos processos
de outorgas estão nos CBH do Rio Pará e do Rio Paraopeba, correspondendo a 29,5% e 20,8%,
respectivamente, e compreendendo mais da metade das outorgas na área. A CBH do Rio das
Velhas também é significativa, com 19,7% das outorgas, e em menor número estão as outorgas
nas áreas da CBH do Entorno de Três Marias (11,7%), CBH dos rios Jequitaí e Pacuí (3,9%). Todos
os processos de outorgas de uso de recursos hídricos das CBH citadas são de competência de
comitês estaduais. As demais CBHs possuem número pouco expressivo de outorgas.

Figura 4. Gráfico com a porcentagem de outorgas por CBH – Outubro de 2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

Quanto à regularização das outorgas na área de estudo, mais de 80,5% estão com o
cadastro efetivado, o que corresponde a mais de 29 mil outorgas, como mostra o gráfico da
figura 5. Do total 16% das outorgas estão deferidas e 3,2% com o status renovado, em menor
número (menos de 1%) estão as outorgas retificadas. A retificação das outorgas diz respeito a
casos de ordem técnica ou jurídica, onde pode haver alteração na condição de uso ou interven-
ção nos recursos hídricos ou mesmo alteração da titularidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


570 Rúbia Riane de Sousa Araújo; Diego Alves de Oliveira; Elizêne Veloso Ribeiro

Figura 5. Situação das outorgas no alto curso do rio São Francisco –


Outubro de 2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

A respeito dos usos da água, estes podem ser classificados em duas categorias, os usos
consuntivos e os não consuntivos. Os usos consuntivos são aqueles onde há a retirada da água
do corpo hídrico para a sua utilização, enquanto os usos não consuntivos utilizam da água sem
o seu consumo ou retirada. No alto curso do rio São Francisco mais de 85% do uso da água se
faz de modo consuntivo, ao passo que 13,9% são de usos não consuntivos, como apresentado
na figura 6.

Figura 6. Classificação dos usos da água no alto curso do rio São


Francisco – Outubro de 2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO 571

Na área de estudo podem ser entendidos como usos consuntivos a água destinada
para irrigação, abastecimento humano, consumo agroindustrial, dessedentação de animais
entre outros usos que retiram a água dos cursos d’água para a sua finalidade. Já os usos não
consuntivos na área, podem ser incluídos o uso da água para recreação, paisagismo e gera-
ção de energia.
Quanto à finalidade dos processos das outorgas concedidas, a maior parte dos processos
declaram que se destina ao consumo humano como pode ser observado a partir do gráfico na
figura 7, cerca de 33%, seguido pelo uso para dessedentação de animais (20,1%) e irrigação
(15,1%). O uso da água para paisagismo e consumo industrial também se fazem relevantes no
contexto do alto curso da bacia do rio São Francisco, com 7,3% e 4,9% de outorgas com esta
finalidade, respectivamente.
Em menor número de processos estão as outorgas concedidas para o abastecimento
público (3,1%), extração mineral (3,0%), agricultura (1,9%), lavagem de veículos (1,5%) e aqui-
cultura (1,0%). Além de haver outorgas onde a finalidade de uso não foi informada (3,2%). Os
valores referem-se a processos de outorga de uso de recursos hídricos, não sendo representa-
tivos da vazão (quantidade de água outorgada).

Figura 7. Finalidade de uso dos processos de outorgas no alto curso do rio São Francisco – Outubro de
2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

Os modos de uso da água na área de estudo são principalmente captações, barramento


e dragagem, como pode ser observado na figura 8. A captação de água subterrânea por meio
de poço manual, o sistema de cisterna, corresponde a maior parte dos usos dos recursos hídri-
cos, correspondendo a 28,3%, seguida pela captação em corpo d’água como rios e lagoas natu-
rais, com 28,1%, ambas os modos representam mais da metade do modo de uso da água no
alto curso do rio São Francisco.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


572 Rúbia Riane de Sousa Araújo; Diego Alves de Oliveira; Elizêne Veloso Ribeiro

Quanto às demais formas de captação, a captação de água subterrânea por meio de


poço tubular já existente representa 13,4%, a captação de água em surgência que são fontes
de água naturais como nascentes e olhos d’água representam 8,0%. As captações em barra-
mento correspondem a 7,4%, divididas em, sem regularização de vazão (5,9%), com regulariza-
ção de vazão em área máxima menor ou igual a 5,00 ha (1,5%).
As captações, que constituem as principais modalidades na mesorregião do alto curso do
rio São Francisco, são usos que alteram a quantidade da água em um corpo hídrico, enquanto
os usos que alteram o regime de um corpo d’água são os barramentos, as travessias, dragagens
e estruturas de transposição de nível, que alteram a seção dos leitos e velocidades das águas
produzindo alterações no seu escoamento natural e sazonal (MINAS GERAIS, 2010).

Figura 8. Quadro com as principais formas de uso da água declaradas nos processos
de outorga no alto curso do rio São Francisco – Outubro de 2021

Fonte: (IDE-SISEMA, 2021).

O mapa de densidade de kernel (figura 8) apresenta a dispersão dos processos de outorga


de uso de recursos hídricos na área de estudo e denota uma concentração dos pontos nas
microbacias do Alto São Francisco, Pará, Paraopeba e Velhas. Os pontos estão aglutinados prin-
cipalmente nas áreas de cabeceiras das respectivas microbacias, sendo Pará e Paraopeba as
principais bacias com o maior número de processos de outorgas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO 573

Figura 8. Mapa de densidade de kernel dos processos de outorga na área de estudo

Fonte: Os autores.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho representa os dados iniciais do projeto de pesquisa em andamento: Atlas
integrado do uso e gestão dos recursos hídricos do alto curso da bacia do rio São Francisco e já
indica que a maior concentração dos processos de outorga está nas bacias dos rios Pará,
Paraopeba e Velhas, sendo que as formas de captação da água estão bem distribuídas entre a
superficial e subterrânea. O maior uso da água é destinado ao uso consuntivo, o que indica a
importância de aprofundar os estudos e analisar a quantidade de água outorgada, no ano e por
mês, o que pode indicar que os maiores usos da água não são destinados a dessedentação
humana e animal.

5 AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Federal de Minas Gerais pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa apro-
vado no Edital de Pesquisa 15/2021 – Programa Institucional de Fomento à Bolsas de Pesquisa.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


574 Rúbia Riane de Sousa Araújo; Diego Alves de Oliveira; Elizêne Veloso Ribeiro

6 REFERÊNCIAS
ANA. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2020:
informe anual. Brasília: Ana, 2020. 118 p.
BRASIL. Lei Nº 9.433, de 8 de Janeiro de 1997.Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal,
e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de
1989. Brasília, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: 20 out.
2021.
BRASIL. Plataforma Agenda 2030. Disponível em: http://www.agenda2030.com.br/. Acesso em: 19 out. 2021.
CAROLO, Fabiana. Outorga de direito de uso de recursos hídricos: Instrumento para odesenvolvimento
sustentável? Estudo das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. 2007.203 f. Dissertação (Mestrado)
– Curso de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável,Departamento de Centro de Desenvolvimento
Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2007.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Bacias e Divisões Hidrográficas do Brasil. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/estudos-ambientais/31653-bacias-e-divisoes-
hidrograficas-do-brasil.html. Acesso em: 22 out. 2021.
MINAS GERAIS. MANUAL TÉCNICO E ADMINISTRATIVO DE OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS
HÍDRICOS NO ESTADO DE MINAS GERAIS. Belo Horizonte: IGAM, 2010. 105 p.
SISEMA. Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Belo
Horizonte: IDE-Sisema, 2021. Disponível em: https://idesisema.meioambiente.mg.gov.br/webgis. Acesso em: 22
out. 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


49.
ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO
TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔNIA
As implicações das terras caídas em Parintins-AM

JOÃO D’ANUZIO MENEZES DE AZEVEDO FILHO1


EDSON VICENTE DA SILVA2
BRENNO TAVARES JACAÚNA3

Resumo: Terras caídas é uma denominação regional atribuída em termos científicos ao processo de
erosão fluvial. Apesar de ocorrer em todos os rios da bacia hidrográfica amazônica, o fenômeno é
mais comum em rios de água branca, como o rio Amazonas. Apesar de ser um fenômeno ligado à
dinâmica fluvial, as terras caídas ocorrem em virtude de um complexo sistema de fatores que vão
desde os naturais, até fatores antropogênicos. O objetivo do trabalho é fazer uma caracterização do
fenômeno das terras caídas na comunidade São José do Paraná do Espírito Santo, no município de
Parintins-AM e as implicações para os moradores locais a partir de uma visão geossistêmica. A meto-
dologia consistiu em levantamento bibliográfico sobre o tema; visitas de campo para registrar as ter-
ras caídas na área; entrevistas com um total de 5 moradores antigos da área. Foi realizada a
batimetria, tanto do rio Amazonas como do paraná. Os resultados mostram que as terras caídas na
área de estudo, envolve o trabalho sistêmico de diferentes fatores que vão desde os de ordem natu-
ral, como a dinâmica do rio, o clima, o tipo de solo, até fatores antropogênicos, como os banzeiros
oriundos das embarcações e a retirada da vegetação das margens. As consequências para a popula-
ção são várias, implicando na perda do terreno e a migração para os centros urbanos.
Palavras-chave: erosão fluvial; terras caídas; impactos socioambientais.
Abstract: Fallen Lands is a regional name given in scientific terms to the fluvial erosion process.
Despite occurring in all rivers in the Amazon hydrographic basin, the phenomenon is more com-
mon in white water rivers, such as the Amazon River. Despite being a phenomenon linked to fluvial
dynamics, fallen lands occur due to a complex system of factors ranging from natural to anthropo-
genic factors. The objective of the work is to characterize the phenomenon of fallen land in the
community of São José do Paraná do Espírito Santo, in the municipality of Parintins-AM and the
implications for local residents from a geosystemic perspective. The methodology consisted of a
bibliographic survey on the subject; field visits to record landfall in the area; interviews with a total
of 5 former residents of the area. Bathymetry was performed on both the Amazon and Paraná

1 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: jdazevedogeo@gmail.com


2 Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com
3 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: brennojacauna@gmail.com

[ 575 ]
576 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna

rivers. The results show that the fallen land in the study area involves the systemic work of diffe-
rent factors ranging from natural factors, such as river dynamics, climate, soil type, to anthropo-
genic factors, such as the banyan trees from the vessels and the removal of vegetation from the
banks. The consequences for the population are several, implying the loss of land and migration to
urban centers.
Keywords: River erosion, fallean lands and social environmental impacts.

1 INTRODUÇÃO
A Amazônia na sua complexidade comporta uma diversidade de sistemas ambientais. As
áreas de várzeas são um importante sistema que abarca a própria formação sedimentar, a
constituição florística e a fauna. Ao mesmo tempo, a população ocupa suas margens para
morar e produzir. Todavia, ao mesmo tempo que modifica o espaço, os ribeirinhos estão sujei-
tos ao regime fluvial (enchente-vazante) e o de erosão das margens fluviais (terras caídas).
O município de Parintins, no Amazonas, comporta 70% de seu território em terras de vár-
zea. A comunidade São José do Paraná do Espírito Santo de Cima está inserida no complexo
sistema fluvial da planície Amazônica. Precisamente localizada na margem esquerda do rio
Amazonas na entrada do paraná do Espírito Santo (montante), a comunidade apresenta muitos
problemas devido às terras caídas (figura 1).

Figura 1 – Localização da área de estudo

Fonte: IBGE (2010); imagem Google Earth (2019) – CNES/Airbus. Organizadores: JD AZEVEDO FILHO; B T JACAÚNA (2019).

O fenômeno natural que existe antes mesmo da própria presença humana na região, ter-
ras caídas é um termo regionalizado que em termos científicos significa erosão lateral

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔNIA 577

(CARVALHO, 2006). Trata-se de um fenômeno que na região amazônica apresenta grande dina-
mismo e complexidade, alterando as paisagens ribeirinhas, que por vezes, traz sérias conse-
quências às populações locais que moram as margens dos rios.
Tal fenômeno erosivo apresenta maior poder de mudança da paisagem nas margens dos
rios de água branca, principalmente, o rio Amazonas. Aspecto este relevante, haja vista que a
área de estudo é banhada por esse rio.
As terras caídas ocorrem pela junção de vários fatores. Fatores esses que não são apenas
de ordem natural, como o clima e o tipo de material da margem. Mesmo que em proporção
pequena, a ação antropogênica também contribui para acelerar o fenômeno. Em seus estudos
sobre o fenômeno das terras caídas no rio Amazonas, Carvalho (2006), afirma que é multicau-
sal, complexo, inter-relacionado e promovido por fatores hidrodinâmicos, hidrostáticos, litoló-
gicos, climáticos, neotectônicos e antropogênicos, envolvendo desde processos simples a
altamente complexos.
Apesar de haver muitos estudos nas margens amazônicas, todos eles distinguem-se um
do outro, em extensão e nos reflexos às populações ribeirinhas. Assim, como explicar esse pro-
cesso na área de estudo? E quais seus reflexos para a população local? Nesse sentido, o pre-
sente trabalho teve como objetivo fazer uma caracterização dos fenômenos das terras caídas
na comunidade São José do Paraná do Espírito Santo de Cima no município de Parintins-AM e
avaliar os impactos à população da referida comunidade.
Para o estudo, além da base bibliográfica com os estudos de Carvalho (2006), Christofoletti
(1981), Marques (2017), foram realizados trabalhos de campo e levantamentos da margem e
do rio Amazonas e do paraná do Espírito Santos. Foram utilizados, lancha a motor, GPS,
Ecobatímetro, câmera fotográfica, na perspectiva de trabalho descritivo e analítico das condi-
ções ambientais e sociais da área de estudo. A análise dos dados e das condições socioambien-
tais deu-se levando em consideração a análise geossistêmica (SOCHAVA, 1977; BERTRAND,
1968, 2004; RODRIGUEZ e SILVA (2013, 2019).

2 GEOMORFOLOGIA E TERRAS CAÍDAS NA AMAZÔNIA


Antes mesmo dos primeiros estudos especializados sobre o fenômeno, muitas narrativas
de viajantes já faziam referência a respeito dessa força modeladora das margens dos rios ama-
zônicos. Dentro do contexto teórico atual, terra caída relaciona-se ao processo de erosão flu-
vial, ou seja, a íntima relação entre terra e água.
Tal fenômeno natural, pode se apresentar em diferentes proporções, desde as mais
acanhadas, quase imperceptíveis até as mais colossais. Não engloba apenas em mudanças
ambientais, por vezes, implica em impactos sociais, que em alguns casos podem ser trágicos
(MARQUES, 2017).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


578 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna

Dentro do arcabouço teórico o fenômeno das terras caídas engloba diferentes processos,
a saber: escorregamento, deslizamento, desmoronamento e desabamento (CARVALHO, 2006).
Um fato a enfatizar é que o fenômeno das terras caídas na região Amazônica é mais par-
ticular nos rios de água branca, como explica Carvalho:
Embora haja desbarrancamento nas margens dos rios de água preta e água clara,
apresentando forma de falésia fluvial, o termo terras caídas é mais utilizado para se
referir ao intenso processo erosivo que acontece nas margens dos rios de água
branca (CARVALHO, 2006, p. 55).

Tendo como principal representante o rio Amazonas, os rios de água branca possuem
suas nascentes localizadas em altitudes das elevações Andinas e imediações próximas a essa
unidade de relevo.
Em sua totalidade, as nascentes dos rios de água branca estão assentadas em regiões de
formação geológica recente. Tal característica implica em um intenso processo erosivo, motivo
pelo qual transportam grande quantidade de material em suspensão, os caracterizando com
uma tonalidade amarelada, barrenta, turva e com pH variando entre 6,5 e 7. Apesar da impor-
tância de todos os tipos de rios da bacia Amazônica “[...] os rios de água branca se revestem de
importância ainda maior, pois esses rios apresentam uma dinâmica fluvial superior aos demais
rios” (MARQUES, 2017, p. 57).
Tal aspecto explica o autor, é mais notório quando suas margens são formadas por mate-
rial holocênico que se formaram exatamente pela deposição fluvial. A junção dessa caracterís-
tica com o volume e a carga transportada, promove nesses rios intenso processo erosivo, logo,
significativa presença das terras caídas.
Guerra (2012) salientam que a ação erosiva provocada pelas águas correntes dos rios
acontece de três formas: corrosão, corrasão (ou abrasão) e cavitação.
No caso da erosão fluvial por corrosão, Carvalho (2006) menciona que esta resulta da
dissolução de material solúvel durante a percolação (infiltração e lavagem) da água no solo e
da reação que se realiza entre a água corrente e o material que se encontra nas margens do
canal. Nesse caso específico, o impacto da água do rio no solo que o margeia, provoca a sepa-
ração de material químico do local impactado.
No caso da erosão fluvial do tipo corrasão (ou abrasão), assim menciona Carvalho (2006,
p. 65): “A erosão do tipo corrasão ou abrasão é conceituada como sendo o desgaste provocado
pelo atrito mecânico das partículas entre si e com o material das margens, que ao se chocarem
provocam fragmentação das rochas”.
Esse aspecto segundo o autor é mais importante para a ocorrência das terras caídas, do
que o próprio volume de água.
Diferente das outras formas de erosão anteriormente mencionadas, a cavitação só
acontece quando o canal fluvial sofre aumento de declividade provocando aumento de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔNIA 579

velocidade e variação de pressão. A junção entre essas três características incide sobre as
paredes do canal de tal forma, que facilita a fragmentação das rochas (CARVALHO, 2006). Tal
fenômeno não ocorrem em toda a extensão do rio Amazonas, pois sua velocidade não com-
porta essa capacidade.

2 METODOLOGIA
Devido à complexidade dos processos erosivos nas encostas dos cursos d’águas na região,
bem como seu transporte e deposição, faz-se necessário fazer as observações numa aborda-
gem geossistêmica, ou seja, buscando compreender esses fenômenos a partir do entendi-
mento da interação entre vários elementos da paisagem atuando em conjunto (RODRIGUEZ et
al, 2013). Esses elementos incluem a dinâmica hidrográfica, o clima, a geomorfologia, a pedo-
logia e mesmo a ação humana.
A observação da paisagem da várzea amazônica é um passo importante para compreen-
são das relações entre os diversos elementos que compõem a referida paisagem. O trabalho
apresenta a análise da paisagem local procurando identificar as caracteristicas da formação
fluvial nas áreas de várzea, constituidas de sedimentos fluviais depositados ao longo do periodo
de cheia e vazante. Formação vegetal típica, adaptada as condições naturais, classificadas
como Pioneiras. Nas proximidades das habitações dispersas estão culturas frutíferas, peque-
nos roçados, além de desmatamento e ocupação natural por capim nativo para a criação de
gado, criado de forma extensiva.
Para compreender melhor as especificidades do processo erosivo da borda do rio
Amazonas foram realizados três trabalhos de campo em períodos diferentes no segundo
semestre de 2019. Foram realizadas batimetrias no rio Amazonas e no paraná do Espírito Santo.
Nessa atividade foi utilizado um ecobatímetro marca Garmin. Foi utilizado canoa de alumínio
motorizada para visita na área e as atividades de coleta de dados, levantamento fotográfico e
conversas informais com os moradores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No caso específico da Amazônia, as primeiras menções sobre erosão de margem (mesmo
que não utilizando o mencionado termo científico, mas o termo regional, terras caídas) são
encontradas em literaturas não especializadas, onde é possível, por vezes, encontrar explica-
ções do fenômeno ligadas a entidades mitológicas do fundo dos rios, como a cobra grande, que
povoam o imaginário dos ribeirinhos que moram nos “beiradões” (CARVALHO, 2006).
A vazante rápida do rio somada as chuvas pesadas comuns na região, tornam o material
presente nas margens pesados. No caso da vazante, em particular, há aumento da força da gra-
vidade, pois o solo pesado pela água infiltrada fica cada vez distante do nível do rio. Todos
esses fatores somados ocasionam em episódios de terras caídas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


580 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna

3.1 Fatores causadores das terras caídas


Apesar de parecer simples aos menos especializados no tema, a erosão de margem
envolve a junção de um complexo sistema de fatores.
Segundo Carvalho (2006), os fatores causadores das terras caídas são: pressão hidrodinâ-
mica, pressão hidrostática, neotectônica, fatores climáticos, composição do material de mar-
gem e fatores antropogênicos.
Numa perspectiva geossistêmica poderíamos simplificar os fenômenos do seguinte qua-
dro (figura 2):

Figura 2 – Organização geossistêmica do processo das terras caídas

Fonte: organizado pelo autor.

Na análise geossistêmica temos que considerar ainda a entrada (input) e a saída


(output) de energia, considerando o fenômeno das terras caídas como sistema aberto. A
saída de energia, não exposto no quadro anterior, está justamente na perda do solo e sua
dissolução na água que será carreada em forma de sedimentos. Esse processo resultará em
nova deposição e formação de novas formações na margem, possibilitando a ocorrência de
novos movimentos erosivos.
A pressão hidrodinâmica – Esse aspecto relaciona-se a velocidade, volume de água e
turbulência dentro do canal. Um fato a destacar é que velocidade e volume de água escoada
em um rio dependem de determinados fatores. No caso da velocidade, a declividade é o fator
a determiná-la.
No caso do volume de água escoada em um rio, o principal fator a influenciá-la é o tipo
de clima. Os rios amazônicos, por exemplo, são privilegiados por estarem assentados em uma
das regiões de maior pluviosidade do mundo, aspecto esse decorrente dos climas quentes e
úmidos predominantes nessa faixa latitudinal do globo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔNIA 581

Figura 3 – Batimetria do Rio Amazonas. Figura 4 – Batimetria do paraná do Espírito Santo

Fonte: JACAÚNA, B. T.; AZEVEDO FILHO, J.D. (2019).

A figura 3 mostra a batimetria realizada no rio Amazonas e no paraná do Espírito Santo


(figura 4). A forma do leito do rio Amazonas apresenta um fluxo maior do centro para a mar-
gem esquerda, justamente onde está a comunidade, área de estudo. Nota-se a formação de
uma barra lateral que surge quando as águas baixam, já observado por Marques (2017).
O aspecto no leito do paraná do Espírito Santo apresenta maior declividade na margem
direita, onde está a ilha do Espírito Santos, todavia o fenômeno das terras caídas são mais fre-
quentes na margem esquerda, devido ao fluxo que vem do rio amazonas e outros fatores como
a pressão hidrostática.
A pressão hidrostática – Segundo Carvalho (2006, p. 72), “pressão hidrostática é enten-
dida como a pressão da água no solo causado pelo peso e pela força de gravidade. Assim,
quanto maior for o volume de água no solo, maior é a pressão hidrostática e consequente-
mente maior é a capacidade de provocar escorregamento e deslizamento”.
O referido autor ainda menciona que no caso específico do rio Amazonas, a pressão
hidrostática desempenha um papel erosivo mais significativo em suas margens, devido a sua
imensa área de transbordamento, popularmente conhecida como várzea.
A vazante rápida do rio somada as chuvas pesadas comuns na região, tornam o material
presente nas margens, pesados. No caso da vazante, em particular, há aumento da força da
gravidade, pois o solo pesado pela água infiltrada fica cada vez distante do nível do rio. Todos
esses fatores somados ocasionam em episódios de terras caídas.
A neotectônica – Esse fator atua como controlador do processo de deposição e erosão.
Sobre a neotectônica, assim enfatiza Carvalho (2006, p. 75):
A atual rede de drenagem do rio Amazonas é caracterizada em seu conjunto como
sendo uma drenagem fortemente orientada pelos fatores estruturais e neotectôni-
cos. Anomalias de drenagem, capturas fluviais, lineamentos, tipos e formas de lagos,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


582 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna

irregularidades na sequência de sedimentos, entre outras anomalias, são atribuídos


a fatores neotectônicos.

Em outras palavras, as terras caídas também estão associadas à força sísmica enquanto
agente endógeno do relevo. Os cursos dos canais, muitas vezes obedecem a uma simetria pró-
pria das falhas e consequentemente interferem na dinâmica das correntes e o fluxo laminar
sobre as bordas dos rios, provocando instabilidade e desmoronamento.
Os fatores climáticos – Ventos, fortes chuvas e as mudanças de temperatura são os prin-
cipais elementos climáticos que ao manifestar-se sobre o pacote sedimentar não coeso, enfra-
quecem as margens dos rios contribuindo, assim, para episódios de terras caídas na Amazônia
(CARVALHO, 2006; MARQUES, 2017).
No caso dos ventos, atua no sentido de produzir banzeiros, tornando o rio, principal-
mente próximo às margens, turbulento. Essa turbulência produz ondas com tamanho e força
hidráulica capaz de solapar o solo na margem, contribuindo para as terras caídas.
Carvalho (2006) salienta que a ação dos ventos nos rios amazônicos é mais significativa
devido aos seguintes fatores:
Primeiro: os rios amazônicos, predominantemente são muito largos. Essa largura signi-
fica maior superfície de atrito aos ventos, logo, maior turbulência criada pelos banzeiros e, pos-
teriormente, maior solapamento nas margens, como é o caso do Rio Amazonas.
Segundo: tipo de solo existente nas margens.
Nos trechos aluviais, todavia, as marcas e as formas topográficas erosivas são facil-
mente obliteradas pela sedimentação posterior ou pela intensa movimentação den-
trítica[...]. Ao contrário, as marcas erosivas e as formas topográficas em leitos
rochosos são mais perenes, facilmente percebidas e criam a imagem falsa de que a
erosão só é atuante nesses trechos (CHISTOFOLETTI, 1981, p. 235-236).

Em áreas onde o solo é menos coeso, a ação erosiva dos banzeiros oriundos dos ventos
fica registrada por pouco tempo, quase imperceptível. Isso ocorre porque a sedimentação pos-
terior encobre esses registros. Já em trechos do rio onde o solo é mais coeso, o registro erosivo
dos banzeiros é mais perceptível durante algum tempo.
A composição do material das margens (litologia) – Como já mencionado anterior-
mente, o tipo de material que compõe o solo das margens, contribui no processo de erosão, ou
na competência maior ou menor de um rio retirar esse material. Quando comparado o poder
de retirada de material de suas margens entre cada tipo de rio da Bacia Amazônica, observa-se
que os rios de águas pretas e claras apresentam um mecanismo de retirada menor que os rios
de águas brancas, como é o caso do Rio Amazonas.
Os Fatores antropogênicos – Como observado a erosão de margem ocorre pela relação
de um conjugado grupo de fatores. Dependendo da área de estudo, alguns fatores podem se
sobrepor com relação a maior participação no processo de erosão.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔNIA 583

Aqui, a ação antrópica é um fator a contribuir com a erosão de margem, em particular,


no rio Amazonas pelo simples fato que homem e natureza mantêm relações mútuas, onde um
influencia o outro. Assim como muitos autores, é falho realizar estudos onde a ação antrópica
não seja considerada, como argumenta Corrêa (1997, p. 154):

[...] o meio ambiente não pode deixar de incluir o homem, mas um homem qualifi-
cado pelas suas relações sociais, sua cultura, seu ideário, mitos, símbolos, utopias e
conflitos. Afinal, toda conceituação que exclua o homem em sua complexa pleni-
tude é falha, incompleta, pois alija o agente que simultaneamente é produtor e
usuário do meio ambiente, mas também, por meio dele, algoz e vítima.

No geral, dois fatores antrópicos, mesmo que em escala mínima, contribuem no pro-
cesso de erosão de margem: a retirada da vegetação ciliar e os banzeiros provocados pelas
embarcações (CARVALHO, 2006):
Com relação às embarcações, todos os rios servem de via para o transporte regional,
porém nem todos recebem transporte de âmbito internacional. O rio Amazonas é via de trans-
porte tanto para embarcações regionais, como para embarcações internacionais de grande
porte, como os grandes cruzeiros turísticos e os grandes navios cargueiros. Isso implica em
banzeiros de tamanhos e intensidades diferentes que também contribuem para o fenômeno
das terras caídas.

3.2 Os diferentes processos de terras caídas


O movimento de massa das margens de um rio é classificado em três situações segundo
Carvalho (2006): escorregamento, desmoronamento e desabamento.
Vale ressaltar, que o movimento de massa de solo, ocorre também em áreas que não
estão localizadas próximas a rios, como é o caso, por exemplo, dos movimentos de massas que
ocorrem em áreas de morros na cidade do Rio de Janeiro e, que por vezes é responsável por
ceifar a vida de pessoas que moram nessas áreas de risco.
Apesar de o número de vidas ceifadas serem pouco expressivas, o fenômeno das terras
caídas também pode causar perdas humanas, como ocorreu no caso das terras caídas na comu-
nidade Costa da Águia, no município se Parintins. Naquele episódio, que ocorreu no ano de
2007, um morador da localidade morreu (IGREJA; CARVALHO e FRANZINELLI, 2015).
Retornando sobre os diferentes processos de terras caídas, serão abordados os movi-
mentos de massas próximas aos rios, pois são próximos a eles que a definição de terras caídas
é mais aceita.
Com relação ao escorregamento, Carvalho (2006) menciona que se trata de um movi-
mento de massa no qual o material se movimenta para baixo e para fora. Trata-se de um movi-
mento lento. A figura 5 exemplifica o conceito de escorregamento.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


584 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna

Como se observa na figura o escorregamento de terras ocorre em dois momentos segui-


dos: o movimento para baixo (indicado com a seta azul) e o movimento para fora (indicado
com a seta vermelha).

Figura 5 – Processo de Figura 6 – Processo de Figura 7 – Processo de


escorregamento na área de desmoronamento desabamento
estudo

Fonte: JACAÚNA, B. T. 2019.

O escorregamento não causa perdas humanas e materiais, devido aos sinais que podem
ser observados na área, indicando que o solo a qualquer momento pode se movimentar:
O escorregamento só não causa mais vítimas humanas ou outros danos materiais
aos moradores ribeirinhos porque o mesmo apresenta sinais durante a quebra do
equilíbrio, como rachaduras na margem e aumento de espumas no leito do rio, pre-
núncio de que a terra vai aluir (CARVALHO, 2006, p. 87).

Um ponto importante a destacar e que pode ser interpretada na figura anterior, é o fato
que o escorregamento pode ser mais impactante durante a vazante. Como se observa, a massa
de terra que sofreu escorregamento está muito próxima do nível do rio. Durante a vazante a
distância do nível do rio aumenta em relação a faixa de terra. É essa situação que faz o escor-
regamento ser mais intenso e perigoso.
Com relação ao processo de terras caídas do tipo desmoronamento, Carvalho (2006)
considera um tipo de avalanche de terras na margem de um rio. Trata-se de um movimento
onde o solo fica totalmente revirado (figura 6).
Esse tipo de terra caída é influenciado pela saturação do solo devido à infiltração da
água, tanto por via pluvial como fluvial. No caso da fluvial, isso só ocorre durante as cheias.
Durante a vazante, semelhante ao processo de escorregamento, o nível do rio fica distante do
nível da terra, aumentado com isso o papel da gravidade, pois o solo está pesado com a água
nele infiltrada.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA RELAÇÃO TERRA-ÁGUA-SOCIEDADE NA AMAZÔNIA 585

No caso das terras caídas do tipo desabamento, Carvalho (2006) corrobora dizendo que
se trata de um movimento de terra em queda livre, sem que haja uma superfície para que o
material deslize como se observa na figura 7.
Como mostra a figura, os blocos de terras que se desprendem do barranco caem em queda
livre, ou seja, não há a presença de superfície para que esses blocos deslizem. Esse tipo de movi-
mento de terra em queda livre ocorre devido aos banzeiros retirarem a base do barranco mate-
rial, processo chamado de solapamento. A retirada de material da base torna a parte superior do
barranco sem sustentação acarretando a queda livre de terra, ou seja, o desabamento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise geossistêmica para compreensão dos processos ambientais na Amazônia ganha
significado cada vez maior. O fenômeno das terras caídas, nessa perspectiva, envolve um com-
plexo sistema de fatores, que na comunidade São José do Paraná do Espírito Santo, implica em
inúmeros problemas.
Constatou-se que apesar de ser um fenômeno ocasionado pela relação sistêmica entre
vários fatores naturais, a ação antrópica, mesmo que em pequena proporção, também contri-
bui para acelerar o processo. Esse aspecto dentro de uma visão sistêmica, onde os fatores
antropogênicos também são considerados, permitiu compreender que o homem é algoz e
vítima do meio ambiente.
Pressupõem-se, em vista dos levantamentos e batimetria realizados, que um dos fatores
que ao longo do tempo vem contribuindo para acelerar os processos erosivos, as terras caídas,
no trecho da área pesquisada, é o fato de que no rio Amazonas está havendo um processo de
assoreamento, inclusive com o surgimento de uma barra lateral (STEVAUX e LATRUBESSE,
2017) que possivelmente pode ter influenciado no fluxo da corrente do rio em direção à mar-
gem esquerda, onde estão a ilha do paraná do Espírito Santo e o próprio paraná.
As entrevistas com moradores e as observações feitas na localidade permitiram consta-
tar que as terras caídas implicam em diferentes problemas. Esses problemas vão desde a perda
material como as casas e embarcações, até a possibilidade de risco de morte. Outro aspecto
relevante é o impacto sobre o modo de vida das pessoas, haja vista que ao migrar para a
cidade, há um impacto psicológico muito forte, para aqueles que se veem forçados a deixar o
lugar onde cresceram.
Esse aspecto também permite ressaltar os impactos econômicos que as terras caídas
podem causar, pois o terreno perdido significa a perda da propriedade de subsistência.
Por fim, esse trabalho é apenas um pequeno esboço na compreensão do fenômeno das
terras caídas na Amazônia, haja vista que se trata de um fenômeno complexo e sistêmico cau-
sando impactos ambientais e sociais, podendo abranger pequenas áreas, mediadas em metros
ou mesmo quilométricas. Todavia, faz parte da dinâmica dos rios amazônicos de água branca.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


586 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna

5 REFERÊNCIAS
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RODRIGUEZ, José M. M.; SILVA, Edson V. Teoria dos geossitemas: o legado de V.B. Sochava. Vol. 1
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RODRIGUEZ, José M. M.; SILVA, Edson V.; Cavalcanti, Agostinho P. B. Geoecologia da paisagens: uma visão
geossistêmica da análise ambiental. 4ª ed. Fortaleza: Edições UFC, 2013.
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STEVAUX, J. C.; LATRUBESSE, E. M. Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Oficina de Textos 2017.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


50. ANÁLISE TEMPORAL DO USO
E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE
Mudanças de uso e vulnerabilidade ambiental

KÁSSIO SAMAY RIBEIRO TAVARES1


JAQUELINE GOMES BATISTA2

Resumo: O Cerrado brasileiro tem sido alvo de desmatamento e conversão de seus remanescen-
tes vegetacionais para usos agropecuários, com subsídio de políticas públicas desenvolvimentis-
tas, especialmente desde a década de 1970. O acompanhamento dessas mudanças é fundamental,
diante da necessidade de estabelecer medidas de manejo conservacionistas e mitigadoras de
impactos, para manutenção de paisagens equilibradas, sendo o monitoramento via imagens de
satélite uma das principais ferramentas, que permite compreender como as alterações ocorrem
temporalmente na superfície terrestre, e auxilia na tomada de decisão sobre a gestão do territó-
rio. O principal objetivo da pesquisa foi analisar as mudanças de uso e cobertura do solo entre
1985 e 2020 na bacia hidrográfica do rio do Peixe, assim como sua vulnerabilidade ambiental. A
metodologia consistiu no download e tratamento dos dados do meio físico da região, como a clas-
sificação do uso e da cobertura da terra gerados pelo MapBiomas, além das caracterizações geo-
lógica, pedológica, geomorfológica e pluviométrica, para posterior processamento e obtenção do
mapa final de vulnerabilidade. Os resultados indicaram intensa conversão de áreas naturais, com
cobertura vegetal e recursos hídricos, para uso agropecuário, sendo que a pastagem predominou
até 2015, quando a agricultura teve maior avanço. Mais de 60% da área foi mapeada como media-
namente estável/vulnerável, e a expansão agropecuária não considerou as áreas mais vulneráveis,
o que pode induzir a processos erosivos na área, portanto considera-se fundamental o planeja-
mento adequado da bacia, de forma a criar estratégias de manejo e gestão adequadas.
Palavras-chave: Gestão de bacias hidrográficas; conversão de vegetação; desmatamento, Cerrado.
Abstract: The Brazilian Cerrado has been the target of deforestation and conversion of its vege-
tation remnants for agricultural uses, with the subsidy of developmental public policies, espe-
cially since the 1970s. The monitoring of these changes is essential, given the need to establish
conservationist management measures and impact mitigation, for the maintenance of balanced
landscapes, being the satellite monitoring images one of the main tools, which allows unders-
tanding how changes occur temporally on the land surface, and assists in decision making about

1 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. E-mail: kassiosamayribeiro@gmail.com


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: UFg jaquelinegmsb@gmail.com

[ 587 ]
588 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista

the management of the territory. The objective of the research was to analyze land use and land
cover changes between 1985 and 2020 in the Peixe River watershed, as well as its environmen-
tal vulnerability. The methodology consisted in downloading and treating the physical environ-
ment data of the region, such as the land use and land cover classification generated by
MapBiomas, as well as the geological, pedological, geomorphological and pluviometric charac-
terizations, for further processing and obtaining the final vulnerability map. The results indica-
ted intense conversion of natural areas, with vegetation cover and water resources, for
agricultural use, with pasture predominating until 2015, when agriculture had a greater advance.
More than 60% of the area was mapped as moderately stable/vulnerable, and the agricultural
and livestock expansion did not consider the most vulnerable areas, which can induce erosive
processes in the area, therefore it is considered essential to adequately plan the basin in order
to create appropriate management strategies.
Keywords: Watershed management; Vegetation conversion; deforestation, Cerrado,.

1 INTRODUÇÃO
O estudo do uso e cobertura das terras está relacionado ao entendimento das mudanças
que ocorrem em locais específicos ao longo do tempo, principalmente devido às constantes
perturbações antrópicas que levam a maiores pressões e impactos no meio ambiente (BRITO;
PRUDENTE, 2005; SILVA et al., 2009).
No contexto do domínio do Cerrado brasileiro, Carneiro (2012) elucida que os usos são
caracterizados pela crescente integração de novas áreas em sistemas de produção, a partir do
desmatamento e conversão de terras para usos agrícolas, e desenvolvimento público contínuo,
subsidiado por programas como o Polocentro-Cerrado, desde a década de 1930, mas com
maior intensidade a partir da década de 1970.
É de extrema importância o acompanhamento dessas mudanças, diante da necessidade
de conservação e desenvolvimento de medidas mitigadoras de impacto, para uso e manejo
mais sustentáveis, que priorizem o equilíbrio da paisagem e ecossistemas em geral. Uma das
medidas de acompanhamento é o monitoramento via imagens de satélite, que permite a aná-
lise de mudanças na superfície terrestre, por meio do uso de técnicas de sensoriamento remoto
e geoprocessamento ambientadas no sistema de informações geográficas (SIG), apresentando
resultados completos, com auxílio de processos matemáticos e estatísticos.
O principal objetivo desse monitoramento é o de compreender como as alterações ocor-
rem temporalmente, como subsídio à tomada de decisão sobre a gestão do território. Ao se
fazer uma análise das transformações ocorridas utilizando as imagens de satélites e mapea-
mentos digitais, além de ponderar as condições de obtenção das imagens adquiridas, pode-se
avaliar e monitorar quase em tempo real as mudanças que ocorrem sobre a superfície, consi-
derando a sua rápida detecção e aquisição de dados espectrais (CHANDER et al., 2010; AQUINO
et al., 2012; CUNHA et al., 2012).
Diante do exposto, e adotando a bacia hidrográfica como unidade de análise, bem como
uma unidade básica do planejamento ambiental e o local onde se observa a interação entre a
natureza e o homem, essas áreas se mostram como importantes espaços de levantamento

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA HIDROGRÁFICA 589

para a gestão de ações que envolvam o uso e proteção dos recursos naturais (PISSARA et al.,
2004). Portanto, estudar as mudanças em bacias hidrográficas reflete a forma como o homem
ocupa o espaço terrestre e como o usa ao longo do tempo.
O objetivo do presente artigo visa a análise temporal do uso e cobertura das terras na
bacia hidrográfica do rio do Peixe nos anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2020, bem como as
implicações das mudanças empregadas sobre ela no que tange à vulnerabilidade ambiental da
paisagem. O recorte espacial se dá pela importância da área para a conservação, tendo em
vista que ela faz parte de uma das regiões com maiores índices de conversão da vegetação
natural em agropecuária, expressos em trabalhos como de Barbalho (2002), Castro (2005),
Cabacinha (2008), Faria (2011) e Carneiro (2012).

2 METODOLOGIA
A metodologia está dividida em duas frentes, a primeira corresponde à realização da
análise temporal do uso e cobertura das terras para a bacia hidrográfica do rio do Peixe, tendo
como recorte temporal os anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2020. E a segunda, é o mapea-
mento da vulnerabilidade ambiental da paisagem para a referida bacia hidrográfica, bem como
a comparação dos resultados dessa análise, para identificação das áreas que sofreram maiores
conversões e pressões antrópicas.

2.1 Área de estudo


A bacia hidrográfica do rio do Peixe localiza-se na porção sudoeste do estado de Goiás,
conta com uma área de contribuição de aproximadamente 514.854 hectares e abrange os
municípios de Doverlândia, Baliza e Caiapônia, no Estado de Goiás. Em sua porção leste, limita
com a bacia hidrográfica do rio Caiapó (Figura 1).
Na bacia hidrográfica do rio do Peixe predomina a ocorrência de argissolos, em sua maio-
ria solos com boa aptidão agrícola, e o latossolo, de fácil correção para fins agropecuários, ape-
sar de sua elevada acidez. A área está próxima a municípios com tendência de uso agrícola
como Mineiros, Portelândia, entre outros, o que faz desta bacia um local interessante para a
prática monocultural (OLIVEIRA, REZENDE e NUNES, 2010).
Os compartimentos de relevo são caracterizados pela predominância de formas denuda-
cionais representadas, sobretudo, pelas superfícies regionais de aplainamento do estado de
Goiás (LATRUBESSE e CARVALHO, 2006), onde se destacam: SRAIIIC com MC (m)– Superfícies
Regionais de Aplainamento IIIC, com altitudes entre 550 e 750 m; SRAIVC 1 (m) – Superfície
Regional de Aplainamento IVC e altitudes mais baixas, entre 250 a 400m, com dissecação
média e SRAIIC (fr) – Superfície Regional de Aplainamento IIC mais elevadas, em formas bem
residuais com altitudes entre 750 a 1000m, com dissecação fraca e desenvolvida sobre rochas
paleozoicas na bacia do Paraná (CARNEIRO, 2012).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


590 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio do Peixe

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como subsídio para a análise temporal, utilizou-se dados de uso e cobertura da plata-
forma do Mapbiomas, especificamente da coleção 6, que é tida como atual e referência em
termos de refinamento e acurácia de mapeamento. A partir dos dados obtidos para os anos
propostos nesse artigo, o software Arcgis 10.7/ESRI foi usado para a manipulação, classificação
e quantificação das classes para a bacia hidrográfica, sendo determinadas cinco classes de uso
e ocupação: Vegetação (florestas, vegetação nativa, remanescentes vegetacionais), Agricultura,
Pastagem, outros usos antrópicos (como área urbana) e Corpos hídricos.
Como medida de quantificação de áreas para cada ano analisado, foi utilizado o software
Excel para a manipulação dos dados em hectares (ha) que posteriormente foram transforma-
dos em quilômetros quadrados (km²), e isso permitiu a criação de gráficos e tabelas para o
melhor entendimento da dinâmica e evolução das classes de uso.
Para comparação e correlação das mudanças do uso e cobertura com as áreas mais sus-
cetíveis da paisagem, foi realizado o mapeamento da vulnerabilidade ambiental, com base na
metodologia proposta por Crepani et al. (2001), em que os autores objetivam a análise

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA HIDROGRÁFICA 591

integrada dos aspectos morfogenéticos e pedogenéticos, seguindo as premissas de Tricart


(1977), por meio da junção de variáveis como o solo, intensidade pluviométrica, geologia,
aspectos geomorfológicos e uso e cobertura do solo. A partir dessas variáveis, os autores pro-
põem a aplicação de uma equação (Equação 1) em ambiente SIG, para obtenção dos valores de
vulnerabilidade ambiental da paisagem, que variam de 1,0 (estável) a 3,0 (vulnerável).
𝑉=(𝐺 +𝑅 + 𝑆 + U + 𝐶)/5
(1)
Onde:
V = Vulnerabilidade

G = vulnerabilidade para o tema Geologia

R = vulnerabilidade para o tema Geomorfologia

S = vulnerabilidade para o tema Solos

U = vulnerabilidade para o tema vegetação

C = vulnerabilidade para o tema Clima

Os dados utilizados foram adquiridos via informações disponíveis gratuita e digitalmente


por órgãos públicos, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, por meio da plata-
forma de Banco de dados de informações Ambientais (BDiA), que foram utilizados para o
mapeamento dos temas de solo, geologia e cobertura vegetal, todos em escala de 1:250.000.
Para os dados geomorfométricos foi utilizado o modelo digital de elevação e modelo
digital de terreno ALOS Palsar, com resolução de 12,5m, que geraram os dados de declividade,
amplitude altimétrica e dissecação horizontal do relevo. Os dados climatológicos foram subsi-
diados pela série temporal de 30 anos do banco de dados da Agência Nacional de Águas (ANA).
Cada variável do meio físico apresenta distintas classes, com índices de vulnerabilidade
que variam de 1,0 a 3,0 e indicam o grau de vulnerabilidade de seus atributos (Tabela1).
Para os aspectos geomorfológicos, áreas com maior suscetibilidade são representativas
pela ocorrência comum de maiores desníveis, grandes declives e altos índices de dissecação,
que correspondem a um relevo com densidade de drenagem maior, oriundos de processos
morfogenéticos, com predomínio de processos de erosão, em detrimento aos processos de
formação, e a dinâmica de origem denudacional caracterizada por relevos fortemente ondula-
dos e montanhosos.
O menor índice de suscetibilidade foi 1,6 e corresponde à maior área da bacia hidrográ-
fica, sendo que os valores de 2,5 a 3,0 foram relacionados a pequenos polígonos, localizados
nas porções Norte e Sul, sobre relevos mais ondulados e montanhosos, com maior energia
potencial da água. A partir da junção de todas essas variáveis, foi realizado o mapeamento de
vulnerabilidade ambiental para a bacia hidrográfica do rio do Peixe.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


592 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista

Tabela 1 – Índices de vulnerabilidade para as variáveis do meio físico da Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe

Classe Índice de vulnerabilidade

Basalto 1,5

Arenito 2,4

Conglomerados 2,5
Litologia

Diamicito 2,5

Argilito 2,7

Folhelhos 2,8

Depósitos de areia e cascalho 3,0

Latossolo vermelho 1,0

Neossolo Litólico 1,0

Latossolo vermelho amarelo 1,3


Solos

Argissolo vermelho amarelo 2,0

Cambissolo 2,5

Neossolo quartzarênico 3,0

Floresta estacional semidecidual aluvial 1,5


Uso e cobertura da terra

Savana florestada 1,5

Savana arborizada com e sem floresta de


1,6
galeria

Savana parque com e sem floresta de galeria 2,5

Pastagem 3,0

163,95 a 175 mm 1,5


(pluvio-
metria)
Clima

175 a 185,71 mm 1,6


Fonte: Organizado pelos autores, 2021.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados dividem-se em dois tópicos, análise temporal do uso e cobertura e a repre-
sentação final do mapeamento da vulnerabilidade ambiental, correlacionando as áreas mais
vulneráveis com as mudanças de uso e cobertura para o período estudado. A análise temporal
apresentará os resultados do mapeamento de uso para cada ano analisado, visando o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA HIDROGRÁFICA 593

entendimento de como e onde ocorreram as mudanças e conversões de uso e ocupação. Para


o tópico do mapeamento da vulnerabilidade ambiental, será apresentado o produto final da
integração das variáveis analisadas.

3.1 Análise temporal do uso e cobertura


Os mapas referentes aos mapeamentos de uso e cobertura da bacia hidrográfica do rio
do Peixe estão expressos na Figura 2 – A figura apresenta os mapas de 1985, 1995, 2005, 2015
e 2020, respectivamente.

Figura 2 – Série temporal de uso e cobertura (1985-2020)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

O mapa referente ao ano de 1985 mostra uma grande quantidade de vegetação em


quase toda a bacia hidrográfica, com cerca de 56% da área total (Tabela 2). Seguido de áreas de
pastagem, que correspondem a 26,99% da bacia hidrográfica, concentradas majoritariamente
na região central, nas proximidades do centro urbano de Doverlândia e alguns polígonos repre-
sentantes na região Sul. A área de agricultura correspondia a, aproximadamente, 16%, e estava
localizada em pequenas áreas da bacia, com ênfase nas regiões Norte, Sudeste e Sul.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


594 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista

Tabela 2 – Porcentagem de áreas de uso e cobertura – 1985-2020

1985 1995 2005 2015 2020


classes
% % % % %

Vegetação 56,64% 48,60% 39,56% 35,88% 33,98%

Pastagem 26,99% 44,31% 49,28% 51,59% 48,73%

Agricultura 16,12% 6,86% 10,98% 12,32% 17,09%

Corpos Hídricos 0,16% 0,15% 0,12% 0,11% 0,10%

Usos antrópicos 0,09% 0,08% 0,07% 0,10% 0,10%

Fonte: Organizado pelos autores, 2021.

Em 1995 a vegetação perdeu no total 8% de área, e a agricultura diminuiu cerca de 10%,


o que revela que, tanto vegetação, quanto agricultura foram convertidas em pastagem, a qual
cresceu em torno de 17, 30% e passou a ocupar áreas em toda a bacia, com concentração no
entorno do centro urbano de Doverlândia, porém com expansão para os extremos Norte e
Leste. A partir dos dados da tabela 1 também se observa que as classes de corpos hídricos e
usos antrópicos perderam áreas.
Em 2005, uma das classes que mais se destaca em crescimento de área é agricultura,
com aumento de cerca de 4%, desde 1995, principalmente nos extremos Sul, Norte, Leste e
algumas áreas do Centro-Norte, dividindo espaço com a pastagem, localizada nas proximida-
des da área urbana, que cresceu pouco mais de 4%, ocupando ainda mais regiões que antes
eram de vegetação.
Isso indica que o processo de fragmentação da vegetação na bacia hidrográfica do rio do
Peixe começou a se intensificar neste período, entre 1995 e 2005, quando a área perdeu quase
10% de remanescentes vegetacionais e teve redução nas áreas ocupadas por corpos hídricos.
O ano de 2015 manteve a dinâmica dos anos anteriores de análise, onde a vegetação foi
convertida para agricultura, pastagem e uso antrópico, que neste ano cresceu 0,02%, repre-
sentado pela expansão urbana do município de Doverlândia. A pastagem continuou fragmen-
tando ainda mais a vegetação e apresentou um total de 51,59% de toda a bacia hidrográfica.
A agricultura passou a abranger cerca de 13% do território, com aumento exponencial na
região Centro-Norte, às margens do exutório do rio do Peixe e também na Cuesta da Serra
Caiapó, no extremo Sul da bacia hidrográfica. Neste período, nota-se que ocorre também a
conversão de pastagem em agricultura, avistado nas proximidades da área urbana. A perda de
vegetação entre 1985 e 2015 já somava mais de 20%, e as maiores manchas de remanescentes
localizavam-se na região Norte e Noroeste, em proximidades do curso do rio do Peixe.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA HIDROGRÁFICA 595

A conversão de pastagem em agricultura é mais evidenciada no ano de 2020, em que


pela primeira vez nessa série histórica foi identificada a diminuição de área de pastagem, com
consequente aumento e nas áreas de agricultura. Esse aumento está localizado principalmente
no Sul e Centro-Norte da bacia hidrográfica, onde também é possível identificar perda de vege-
tação. Os usos antrópicos e os corpos hídricos mantiveram a dinâmica, com 0,10% de área
cada. Estes dados indicam que, entre 2015 e 2020, houve rápida intensificação do uso agrope-
cuário na bacia hidrográfica do rio do Peixe.
3.2. Vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do rio do Peixe
Como evidenciado anteriormente, foi realizado o mapeamento da vulnerabilidade
ambiental da bacia hidrográfica do rio do Peixe, contemplando aspectos de análise integrada
com as variáveis de solos, geomorfologia, intensidade pluviométrica, geologia e uso e cober-
tura das terras (Figura 3).

Figura 3 – Mapas das variáveis e do mapeamento de vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica


do rio do Peixe

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Como resultado, constatou-se que a bacia hidrográfica do rio do Peixe apresenta valores
que vão de 1,0 (estável) a 2,6 (moderadamente vulnerável). 66,82% da área de estudo é consi-
derada medianamente estável/vulnerável, representada por valores entre 1,8 e 2,2 (Tabela 3).
O grau denominado moderadamente estável, com valores entre 1,4 e 1,7, representou 27,97%,
seguido, em ordem decrescente, pela classe de grau moderadamente vulnerável,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


596 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista

representado pelos índices de 2,3 a 2,6, que em sua totalidade somam 4,56%. O grau estável
consistiu na menor área do mapeamento, com 0,62%, e varia entre 1,0 até 1,3.

Tabela 3 – Porcentagem de área para cada valor de vulnerabilidade da bacia hidrográfica do rio do
Peixe

Grau de vulnerabilidade Vulnerabilidade %

1,0 0,17%
1,1 0,10%
ESTÁVEL
1,2 0,21%
1,3 0,14%
1,4 1,03%
1,5 6,99%
MODERADAMENTE ESTÁVEL
1,6 18,15%
1,7 1,82%
1,8 10,42%
1,9 31,46%
MEDIANAMENTE ESTÁVEL/
2,0 15,00%
VULNERÁVEL
2,1 3,38%
2,2 6,56%
2,3 4,30%

MODERADAMENTE 2,4 0,26%


VULNERÁVEL 2,5 0,001%
2,6 0,000003%
Fonte: Organizado pelos autores, 2021.

As áreas com menores índices de vulnerabilidade (estável e moderadamente estável)


estão relacionadas com a maior estabilidade, levando em consideração os processos morfodi-
nâmicos que ali acontecem, normalmente caracterizados por locais com vegetação. A classe
medianamente estável/vulnerável expressa a maior parte da bacia, e corresponde, principal-
mente, a regiões com considerável atuação antrópica, como áreas agrícolas, pastagens e áreas
urbanas.
No contexto da bacia hidrográfica do rio do Peixe os maiores graus de vulnerabilidade
estão localizados predominantemente nas regiões central, leste e oeste, podendo ser associa-
dos à junção do relevo ondulado, presença de agradações, litologia composta basicamente de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DAS TERRAS DA BACIA HIDROGRÁFICA 597

arenitos e pedologia representada por neossolos quartzarênicos e cambissolos, classificadas


como áreas mais suscetíveis.
Em comparação aos resultados da análise de uso e cobertura dos anos de 1985 a 2020, é
possível observar que as áreas onde aconteceram maiores modificações são representativas
dos locais de maiores índices de vulnerabilidade. É notório que os processos de conversão de
vegetação remanescente em pastagem ou agricultura geram potenciais processos pedogené-
ticos, estes sob influência do manejo aplicado, o qual tem relações diretas no desenvolvimento
de erosões, devido à remoção inadequada da cobertura vegetal, que é a camada que protegia
o solo e impedia, ou minimizava o escoamento superficial de água pluvial e o efeito splash.
Para Carneiro et al. (2012) a região foi alvo de grandes investimentos agrícolas desde
1990, motivados pelo relevo plano, que facilita a mecanização. Desta forma, mapear a vulne-
rabilidade ambiental da área traz o conhecimento sobre suas potencialidades e fragilidades e
pode impedir que essa grande transformação continue acontecendo de maneira desenfreada
e errônea, com manejo inadequado, ou até mesmo a falta de manejo e gestão, o que, aliado às
configurações mais vulneráveis integrantes da paisagem, gera processos negativos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados quantitativos e qualitativos da série histórica do uso e cobertura
da bacia hidrográfica do rio do Peixe conclui-se que, dentre as classes analisadas no mapea-
mento, três se destacam em área, crescimento, distribuição, bem como suas conversões em
outras classes, que são a vegetação, pastagem e agricultura.
A pastagem cresceu exponencialmente em todo o território estudado, principalmente
por meio da conversão da vegetação natural em pasto, para a inserção do gado. Foi constatado
também que nos últimos 5 anos de análise (2015-2020) a classe de agricultura teve um salto
em ocupação de área, sendo que diversas manchas de pastagem se tornaram zonas de
agricultura.
Essas conversões acontecem de forma intensa desde 1985 até os dias presentes, e de
forma não conservacionista, o que é constatado pelo mapeamento da vulnerabilidade ambien-
tal da área de estudo, que indica fragilidade considerável em praticamente toda a bacia hidro-
gráfica do rio do Peixe, e constata poucos fragmentos de índices mais próximos da estabilidade,
correspondentes às áreas ainda conservadas, com presença de vegetação.
Essas afirmações corroboram para a análise de que o uso antrópico tem acontecido sem
a gestão e o manejo adequados, o que pode ocasionar o desenvolvimento de focos erosivos,
bem como outros processos pedogenéticos e morfogenéticos que alterem a qualidade do solo,
prejudicando assim o sustento das próprias atividades antrópicas.
Em resumo, a análise temporal permitiu identificar espacialmente as áreas de maior
transformação e as modificações de uso ocorridas temporalmente e, juntamente com o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


598 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista

mapeamento de vulnerabilidade ambiental, forneceu uma visão ampla dos processos e suas
implicações na paisagem, sendo útil para o planejamento e para traçar medidas de gestão, fis-
calização e manejo adequados do território da bacia.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


51. APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTATÍSTICA
MULTIVARIADA COMPONENTES
PRINCIPAIS NO ESTUDO DA QUALIDADE
DA ÁGUA DO CAPIM BRANCO-MG

ROGERIO GONÇALVES LACERDA DE GOUVEIA1

Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água e identificar os grupos de polui-
ção presentes por meio de técnica estatística multivariada de componentes principais na bacia do
Capim Branco/ MG. Os dados de qualidade da água foram obtidos no site do Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (IGAM) entre o período de 1997 até 2019. As variáveis analisadas foram 6 parâ-
metros químicos e 3 parâmetros biológicos, a saber: os coliformes termotolerantes, os coliformes
totais, a demanda biológica de oxigênio, a Escherichia Coli, o fósforo, o nitrato, o óleo e graxa, o
oxigênio dissolvido e o sulfato. Por meio da análise multivariada de componentes principais foi
possível identificar os parâmetros com maior contribuição na variabilidade dos dados em que
foram: Escherichia coli, o óleo, o sulfato, o nitrato, o coliforme total e o coliforme termotolerante
distribuído em quatro componentes, explicando 82,53% da variância total. Conclui-se que a aná-
lise de componentes principais permite relacionar os parâmetros de qualidade da água e a variân-
cia do total dos dados.
Palavras-chave: qualidade da água; análise de componentes principais; bacia hidrográfica.
Abstract: The objective of this study was to evaluate the quality of the water and to identify the
groups of pollution present through a multivariate statistical technique of principal components in
the basin of Capim Branco-MG. The water quality data were obtained from the website of the
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) from 1997 to 2019. The variables analyzed were 6
chemical parameters and 3 biological parameters, namely: thermotolerant coliforms, total coli-
forms, biological oxygen demand, Escherichia Coli, phosphorus, nitrate, oil and grease, dissolved
oxygen and sulfate. Through the multivariate analysis of principal components, it was possible to
identify the parameters with the greatest contribution to the variability of the data, which were:
Escherichia coli, oil, sulfate, nitrate, total coliform and thermotolerant coliform distributed into
four components, explaining 82.53% of the total variance. It is concluded that the analysis of prin-
cipal components allows relating the water quality parameters and the variance of the total data.
Keywords: water quality; principal component analysis; watershed.

1 Departamento de AgronomiaUEMGUnidade Frutal-MG. E-mail: rogerio.gouveia@uemg.br

[ 599 ]
600 Rogerio Gonçalves Lacerda de Gouveia

1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os desenvolvimentos na agricultura, indústria e atividades urbanas,
especialmente próximas aos rios, afetaram significativamente a qualidade e a quantidade des-
ses recursos hídricos (DEBELS et al., 2005). As mudanças na qualidade da água dos rios ocorrem
devido o lançamento de produtos químicos e nutrientes, ameaçando os ecossistemas aquáti-
cos e as condições ambientais (CHOWDHURY; HUSAIN, 2020).
Para avaliar a mudança na qualidade da água é fundamental o monitoramento das carac-
terísticas físico, química e biológicas durante o ano e o resultado será uma grande quantidade
de dados que para a interpretação mais assertiva recomenda-se realizar a análise estatística
(GUO et al., 2018).
Uma das opções estatísticas para análise de qualidade da água é o uso da análise multi-
variada, no caso a análise de componente principal (ACP), uma vez que irá proporcionar a redu-
ção do grande número de dados em duas componentes principais representadas de forma
gráfica (BERTOSSI et al., 2013).
Vários estudos sobre qualidade da água utilizaram a análise estatística multivariada de
componente principal em diferentes localizações de bacias hidrográficas (MAIA et al., 2019),
(SILVA et al., 2020a) e (LEITE et al., 2021).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água e identificar os gru-
pos de poluição presentes por meio de técnica estatística multivariada de componentes prin-
cipais na bacia do Capim Branco/ MG.
Foi aplicado a análise estatística multivariada de componentes principais na bacia do
Capim Branco/ MG em razão do uso da terra por atividades antrópicas e sua influência na qua-
lidade da água (SILVA; FONSECA, 2021).

2 METODOLOGIA
O estudo foi realizado na bacia hidrográfica do Capim Branco (Figura 1), localizado na
porção sudoeste do estado de Minas Gerais na Mesorregião do Triângulo Mineiro, entre as
coordenadas UTM 790000 N e 795000 E com área total de 117889 hectares. O clima é o tropi-
cal classificado como Aw de acordo com a Köppen, com temperatura média de 21.5 °C e preci-
pitação média anual de 1600 mm (ROSA et al., 1991).
A geologia predominante é representada pelos arenitos das formações Marília e Botucatu
e pelos basaltos da formação Serra Geral. A região está inserida na bacia sedimentar do Paraná,
e as principais litologias são de idade mesozoica (ROSOLEN et al., 2009).
A cobertura vegetal natural é formada por cerrados e penetrada por florestas-galeria ao
domínio dos chapadões (AB’SABER, 1971).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA 601

Para a delimitação da bacia hidrográfica, das sub-bacias de contribuição, assim como


para a extração das características topográficas, foi utilizado um modelo digital de elevação
(MDE) no SIG, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2010) com
resolução espacial de 30 m × 30 m.
O mapa de uso da terra para o ano de 2019, foi obtido pelo Projeto MapBiomas (2019),
em foi considerado sete classe de uso da terra, a saber: mata nativa, agricultura, pastagem,
infraestrutura, silvicultura, área sem vegetação e corpos de água.
O arquivo shapefile de uso da terra do MapBiomas foi recortado pela máscara da área da
bacia, na extensão shapefile no software QGIS v.3.10.
As amostras de água foram coletadas por meio de estações de monitoramento do
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM, 2019), referente ao ponto PB21. Nesse estudo
foi considerada as amostras do período chuvoso, isto é, entre os meses de outubro a abril de
cada ano. Foi considerada uma amostra para cada ano, entre os anos de 1997 até 2019 em que
foi considerado os valores médios anuais. O rio Araguari é classificado como água doce classe
2 de acordo com Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM, 2019).
Cada amostra consiste em seis parâmetros químicos e três parâmetros biológicos refe-
rente a qualidade da água, em que os parâmetros foram o Thermo colif – Coliformes termoto-
lerantes (NMP/100ml), Total colif– Coliformes Totais (NMP/100ml), BOD– Demanda Biológica
de Oxigênio, E.Coli– Escherichia Coli, P– fósforo, NO3– nitrato, Oil– óleo e graxa, OD– oxigênio
dissolvido e Sulf– sulfato (mg/L).
Com o objetivo de identificar os parâmetros químicos de qualidade em que ocasionou a
variabilidade dos dados no ponto amostragem PB 021, foi realizada a análise multivariada das
componentes principais (ACP) (Figura 2). Pelo fato de diferentes escalas presente nos parâme-
tros amostrados da qualidade da água foi realizado a padronização dos dados brutos.
Assim, foi evitado que o fator de escala influencie a análise componentes principais. A
padronização das variáveis foi feita dividindo-se os desvios em relação à média de cada variá-
vel (Xij – Xj) por seu desvio padrão S(Xj).
O software utilizado para a construção da ACP foi o Paleontological Statistics (PAST
v.4.03).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


602 Rogerio Gonçalves Lacerda de Gouveia

Figura 1 – Localização da bacia do Capim Branco

Fonte: O autor.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso da terra na bacia é mostrado na Tabela 1, com apresentação das classes de utiliza-
ção e a quantidade de área utilizada.
A maior classe de uso da terra na bacia foi a pastagem (Tabela 1). Devido a pastagem não
ser exigente nutricionalmente se comparado com a agricultura. A pastagem tem uma boa
adaptação em solo ácido do cerrado, dessa forma o produtor realiza um baixo investimento em
insumos e tecnologias na pecuária (BUSS et al., 2020).
A segunda maior área ocupada na bacia foi pela classe corpos de água. A explicação para
esse é fato é devido a presença do lago Capim Branco em que foi criado para atender a segu-
rança hídrica da cidade de Uberlândia e a geração de energia elétrica pela UHE Amador Aguiar.
O aumento da população resulta em um crescimento por demanda de água para a geração de
energia elétrica. Dessa forma, torna-se necessário a construção de reservatórios artificiais
(SIRQUEIRA et al., 2020).
A área ocupada por mata nativa está presente em terceiro lugar na bacia do Capim
Branco (Tabela 1). Com a expansão agrícola, o agronegócio possui papel fundamental na
economia brasileira, mas seu desenvolvimento é acompanhado por crescentes preocupações
com os impactos ambientais provocados pela agricultura e pecuária nos recursos naturais, que
podem repercutir na biodiversidade, na disponibilidade hídrica, na qualidade do ar e o solo e
na saúde humana (GOMES, 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA 603

A classe de uso da terra pela agricultura foi a quarta com maior ocupação entre as classes
de uso da terra na área em estudo (Tabela 1). O processo de desmatamento do Cerrado tornou
o território para a expansão da fronteira agrícola no Brasil a partir da década de 70. Até a
Segunda Guerra Mundial o cerrado era considerado um território dominado por solos ácidos e
que, no máximo, apropriado para pastagens, o impulso do Estado brasileiro e de empresas pri-
vadas em pesquisas sobre fertilidade dos solos transformou o Cerrado brasileiro em um “celeiro
de grãos” (SILVA et al., 2020b).

Tabela 1 – Uso da terra na bacia do Capim Branco

Classe de uso Área (ha) %

Mata nativa 22139,55 18,78

Agricultura 15042,63 12,76

Pastagem 39999,73 33,93

Infraestrutura 4491,57 3,81

Silvicultura 4951,33 4,20

Áreas sem vegetação 2628,96 2,23

Corpos de água 28635,23 24,29

Total 117889 100

Fonte: MapBiomas (2019), organizado pelo autor.

Na Tabela 2, é mostrado a concentração das variáveis da qualidade da água encontrado


na bacia do Capim Branco.
Destaca-se, a alta presença dos indicadores de lançamento de material orgânico na água
como os coliformes termotolerantes e coliformes totais (Tabela 2), pois estão acima do limite
estabelecido pela Resolução Conama nº 357/2005, de no máximo 1.000 NMP/100 ml de água,
o que pode indicar a influência do uso da terra na bacia pela pastagem (Tabela 1). Ao identificar
a qualidade da água destinada ao consumo humano no município gaúcho Taquari na bacia
hidrográfica do rio Taquari foi verificado a presença de coliformes totais e coliformes termoto-
lerantes em todas as amostras de água acima do padrão legal estipulado (KOCH et al., 2017).
Segundo a Portaria MS nº 2.914/2011, recomenda que haja ausência de Escherichia coli
em 100mL amostrado. Entretanto, a concentração de EC na água do rio Araguari foi 93,87 mg/L
(Tabela 2). Assim, o uso da terra pela classe infraestrutura, composta por habitações rurais,
sem o devido tratamento de esgoto pode indicar a presença de Escherichia coli na água da
bacia do Capim Branco.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


604 Rogerio Gonçalves Lacerda de Gouveia

Outro parâmetro encontrado em elevada concentração foi o óleo e graxa (Tabela 2),
em que pode afetar as características químicas e biológicas do ecossistema aquático. Em que
deve ser ausente a presença de óleo e graxa na água de acordo com pela Resolução Conama
nº 357/2005. Devido a presença da agricultura na bacia, onde é utilizado máquinas agrícolas
para o cultivo de lavouras, pode ter ocorrido a influência na presença de óleo e graxa na água
da bacia.

Tabela 2 – Parâmetros de qualidade na bacia do Capim Branco

Parâmetros Valores

Colif. Termo – NMP/100ml 10186,63

Colif. Totais – NMP/100ml 12102,48

DBO – mg/L 2,38

E.coli – mg/L 93,87

P – mg/L 0,06

NO3 – mg/L 0,36

Óleo – mg/L 5,73

OD – mg/L 6,49

Sulf – mg/L 2,96

Fonte: IGAM (2019), organizado pelo autor.

Foi realizado a decomposição da matriz de correlação da análise fatorial, a fim de reduzir


a dimensão dos parâmetros independentes da água selecionados em uma menor dimensão
menor. Com isso, foi gerado a componente principal.
A variância total dos dados de qualidade da água encontrada foi 82,53% em que foi com-
posta por quatro componentes principais (Tabela 3). Resultado semelhante foi encontrado por
Andrade et al. (2007) ao analisar a qualidade das águas da bacia do Baixo Acaraú/CE.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA 605

Tabela 3 – Matriz de peso fatorial dos parâmetros da qualidade de água nas quatro componentes
principais selecionadas

Parâmetros CP 1 CP 2 CP 3 CP 4

Thermo_colif 0,062452 0,57411 -0,15007 -0,063361

Total_colif 0,036348 0,6019 -0,15054 0,072614

DBO -0,23371 0,018448 0,77307 -0,0056876

EC 0,0082282 0,043989 -0,0039559 0,98651

P -0,13856 0,38774 0,51452 -0,0055934

NO3 0,57168 0,12147 0,16138 -0,03657

Oil 0,43496 -0,028154 0,061641 -0,037004

OD 0,32307 -0,35851 0,19809 0,11988

Sulf 0,54818 0,10685 0,15283 -0,019395

Autovalor 1,6126482 1,467843 1,5569651 1,011393

Variância explicada % 31,92 23,49 14,29 12,83

Variância acumulada % 31,92 55,41 69,7 82,53


Fonte: o autor.

A componente principal 1, explicou 31,92% da variabilidade total dos dados, teve uma
maior influência positiva pelo parâmetro de qualidade da água (Tabela 3). Entre os parâmetros
em que mais influenciaram na componente principal l temos o nitrato, o sulfato, o óleo, o OD
e o EC ao mesmo tempo a demanda bioquímica de oxigênio – DBO teve uma maior influência
negativa (Figura 2). Assim, os parâmetros indicativos de poluição da água como o EC, o óleo e
o nitrato explicam a maior variação da qualidade da água da bacia do Capim Branco em razão
do uso da terra por atividades antrópicas na bacia.
Ao estudar a contaminação da água por EC na água para consumo humano em um assen-
tamento rural no Paraná foi verificado fontes sujeitas à contaminação devido a sua baixa pro-
fundidade e proximidade com a superfície do solo, estando expostas ao escoamento de água
da chuva que carreiam impurezas. Onde aproximadamente 30% das amostras de água do
nosso trabalho foram coletadas durante o período de chuva, isto pode ter favorecido os altos
índices de contaminação nessas fontes de consumo, já que as condições climáticas favorecem
a propagação de patógenos (MACEDO et al., 2020).
A presença de óleo e graxa ocorre por ações antrópicas, de modo que os efluentes indus-
triais geralmente são constituídos de compostos orgânicos e inorgânicos incluindo óleos e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


606 Rogerio Gonçalves Lacerda de Gouveia

graxas. Ao identificar as possíveis fontes de contaminação da água por uma indústria no muni-
cípio de Joaçaba em Santa Catarina na microbacia do Rio do Peixe, foi constatado que o depó-
sito de resíduos sólido da empresa possa ser responsável pela contaminação da água. As
análises dos efluentes indicaram que o sistema de tratamento é inadequado e os parâmetros
de lançamento não atendem a legislação (CEMBRANEL et al., 2019).
Para evitar a interferência na qualidade da água pelo nitrato é de suma importância
informar aos produtores rurais, sobre as possibilidades de contaminação das águas pela pró-
pria propriedade rural, através de processos cotidianos como o despejo inadequado de esgoto
e o uso indiscriminado de fertilizantes e pesticidas em lavouras (PIRES et al., 2020).
Em relação a componente principal 2, responsável por 23,49% da variabilidade total dos
dados (Tabela 3). O coliforme total e o coliforme termotolerante foram as variáveis de quali-
dade da água que mais atuou de forma positiva (Figura 2), sendo parâmetros indicativos de
contaminação por material orgânico. Uma das fontes de contaminação da água por coliforme
total e o coliforme termotolerante vem de propriedades em que possuem criação de animais
(bovinos, aves) e estas se localizam na área da adjacentemente propiciando e facilitando uma
possível contaminação da fonte com dejetos (KOCH et al., 2017).
Além disso, o P também foi responsável pela variação dos dados de qualidade da água
(Figura 2), devido ao escoamento superficial das áreas agrícolas. Resultado semelhante foi
obtido por Pinheiro et al. (2013) ao quantificar, em área agrícola, as concentrações e cargas
transportadas de fosfato na bacia do ribeirão Concórdia, localizada no município de Lontras,
Santa Catarina.
Outra possível fonte de contaminação da água com P é o lançamento de efluentes das
cidades na água em que aumenta a concentração de fósforo juntamente com os coliformes
totais, o que resulta na eutrofização da água (QUEIROZ et al., 2020).
Ao mesmo tempo o oxigênio está localizado no lado negativo do eixo, o que indica uma
menor ação do oxigênio na variabilidade dos dados (Figura 2). Esse resultado indica que o
aumento da concentração de poluentes na água é associado a menor influência do oxigênio na
variabilidade dos dados. Os dados estão de acordo com Fiorese (2019) ao analisar o comporta-
mento do oxigênio dissolvido no rio Castelo e o uso do solo em torno de sua área de preserva-
ção permanente, onde os impactos que a água sofre em virtude das classes de uso da terra na
bacia. Outro estudo conduzido por Fonseca e Tibiriça (2021) mostrou que a análise de compo-
nentes principais indicou que a presença de P estava no eixo contrário do oxigênio na análise
da qualidade da água do rio São Domingos na cidade de Catanduva/ SP.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA 607

Figura 2 – Análise de componentes principais (ACP) da bacia do Capim


Branco

Fonte: O autor.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os parâmetros de qualidade da água da bacia do Capim Branco em que mais influenciou
na variância dos dados foram a Escherichia coli, o óleo, o sulfato, o nitrato, o coliforme total e
o coliforme termotolerante. Esses parâmetros estão associados aos indicadores de contamina-
ção da água.
A técnica estatística multivariada de análise de componentes principais permitiu seleção
de quatro componentes principais em que explicou 82,53% da variância total dos dados.

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52. APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE
CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS
PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRA DE
IGUAPE E LITORAL SUL-SP

CASSIANO GUSTAVO MESSIAS1


RAUL REIS AMORIM2

Resumo: Este artigo tem como objetivo realizar o mapeamento do uso da terra da Bacia
Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, localizada no estado de São Paulo, Brasil. Foram
empregadas técnicas de classificação orientada a objetos em Sistema de Informação Geográfica
(SIG), tais como segmentação e classificação de imagens do satélite Landsat 8 através do algoritmo
Support Vetor Machine (SVM). O mapa de uso da terra apresentou índice Kappa de 0,883 e de exa-
tidão global de 0,9121, o que comprovou a eficiência da metodologia empregada. O mapa de uso
da terra mostrou que mais de 80 % da bacia hidrográfica é constituída por fitofisionomias flores-
tais, tais como as matas e os mangues, o que a coloca como uma importante área de vegetação
nativa ainda preservada da Mata Atlântica, bioma brasileiro que está entre os mais ameaçados
pelo desmatamento. São também representativos os usos e coberturas relacionados com as ativi-
dades econômicas, tais como pastagem, silvicultura, solo exposto e os cultivos agrícolas. Em
menor superfície foram também identificadas as áreas urbanas, de restinga e água.
Palavras-chave: Máquina de vetores de suporte; Landsat; Chaves de interpretação; Mata Atlântica;
Litoral Sul de São Paulo.
Abstract: This paper aims to effect the land use mapping of the Ribeira de Iguape e Litoral Sul river
basin, located in the Southern coast of São Paulo state, Brazil. Techniques of object-oriented classifi-
cation in Geographic Information System (GIS) were employed, such as segmentation and classifica-
tion of Lansat 8 satellite’s images through the Support Vector Machine (SVM) algorithm. The land use
map showed Kappa index of 0.883 and global accuracy of 0.9121, which proves the efficiency of the
methodology employed. The land use map demonstrated that more than 80 % of the river basin is
constituted by forest phytophysiognomies, such as woods and mangrove, which position it as a key
native vegetation area, still preserved Atlantic Forest, Brazilian biome among those most threatened
by deforestation. Land uses and land covers related to economic activities are also representative,

1 Divisão de Observação da Terra e Geoinformática – DIOTG. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.
E-mail: cassiano.messias@inpe.br
2 Instituto de GeociênciasIGUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP. E-mail: raulreis@unicamp.br

[ 610 ]
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 611

such as pasture, forestry, exposed soil and agricultural cultivation. Urban areas, restinga vegetation
and water were also identified in the study area, yet in a lower surface.
Key-words: Support vector machine; Landsat; Interpretation keys; Atlantic Forest; Southern Coast
of São Paulo.

1 INTRODUÇÃO
A Geografia ao longo dos séculos captou os movimentos científicos voltados para o
conhecimento da Terra (IBGE, 2013). Neste sentido, o estudo do uso da terra, muito comum
entre os geógrafos, propõe-se a analisar a maneira em que a superfície tem sido usada pelos
homens. É um resultado de fatores naturais, socioeconômicos e a utilização da superfície pelo
homem no tempo e no espaço (RAWAT; KUMAR, 2015).
O manejo de bacias hidrográficas exige uma análise precisa do uso da terra, pois as suas
mudanças são determinantes na ocorrência dos processos hidrológicos e ecológicos nas bacias
(BUTT et al., 2015). O conhecimento das formas de uso da terra em bacias hidrográficas possi-
bilita o direcionamento de ações e práticas voltadas ao planejamento e manejo adequado des-
tas áreas, bem como dos recursos naturais nela presentes (BARGOS et al., 2017). Deste modo,
mapas precisos e atualizados de uso da terra são recursos importantes na tomada de decisões
e no planejamento (FORKUOR et al., 2017).
Um dos principais objetivos do Sensoriamento Remoto é distinguir e identificar os dife-
rentes materiais da superfície terrestre (CROSTA, 1992), e o avanço na obtenção de dados da
superfície através de imagens de teledetecção possibilita redução de extensivos trabalhos de
campo e permite-nos obter informações de locais de difícil acesso (ANDRADE et al., 2014). A
aplicação de técnicas de classificação orientada a objetos em Sistema de Informação Geográfica
(SIG) tem sido bastante eficiente para a geração de mapas de uso da terra (GAROFALO et al.,
2015; JUSTINO et al., 2017; MESSIAS; AYER, 2017).
Este trabalho tem como objetivo realizar o mapeamento do uso da terra na Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos n° 11 (UGRHI-11), que representa a Bacia Hidrográfica do
Ribeira de Iguape e Litoral Sul, localizada no estado de São Paulo, Brasil. Para isto, foram aplicadas
técnicas de classificação orientada a objetos em SIG, e empregadas imagens do satélite Landsat 8.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A UGRHI-11 compreende a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e outras bacias
que deságuam no Oceano Atlântico e canais estuarinos (DALMAS et al., 2014). Ela abrange o rio
Ribeira de Iguape e seus afluentes, tais como o Açungui, Capivari, Pardo, Turvo, Juquiá, São
Lourenço, Jacupiranga, Itapirapuã, Una da Aldeia e o Itariri (SIGRH, 2021). Está localizada no
litoral sul do estado de São Paulo, Brasil (Figura 1).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


612 Cassiano Gustavo Messias; Raul Reis Amorim

A área de estudo é composta por municípios como Apiaí, Barra do Chapéu, Barra do
Turvo, Cajatí, Cananéia, Eldorado, Iguape, Ilha Comprida, Iporanga, Itaóca, Itapirapuã Paulista,
Itarirí, Jacupiranga, Juquiá, Juquitiba, Miracatu, Pariquera-Açu, Pedro de Toledo, Registro,
Ribeira, São Lourenço da Serra, Sete Barras, Tapiraí (SIGRH, 2021).
A população em 2016 era constituída por 368.598 habitantes, sendo 73,5 % dela urbana.
A maior concentração de empregos e renda na região está associada com o setor de serviços,
ligado ao turismo e à pesca nos municípios litorâneos, seguido pela agropecuária, com as cul-
turas da banana, plantas ornamentais, silvicultura, pupunha e a criação de bovinos e bubalinos
(GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014).

Figura 1 – Mapa de localização da bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul-SP. A) Localização
em relação ao Brasil e ao estado de São Paulo; B) Visualização da bacia hidrográfica por meio de
composição colorida de imagem obtida pelo satélite Landsat 8

Fonte: os autores.

A área em que está localizada a Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul
representa um dos últimos redutos de remanescentes da Floresta Atlântica no país. Há grande
diversidade de fauna e flora, parte dela mantida em Unidades de Conservação de várias cate-
gorias (CHABARIBERY et al., 2004). As principais fitofisionomias da Mata Atlântica encontradas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 613

são a Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecídua,
assim como ecossistemas associados de Restinga e Manguezais, além de ecossistemas insula-
res e ambientes de cavernas (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014).

2.2. Material
O mapeamento do uso da terra na bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul foi
realizado por meio de imagens do sensor multiespectral Operation Land Imager (OLI), a bordo
no satélite Landsat 8. Este sensor apresenta nove bandas espectrais, resolução espacial de 30
m (exceto a pancromática, de 15 m), resolução temporal de 16 dias e resolução radiométrica
de 16 bits.
A área de estudo abrange duas diferentes cenas do satélite Landsat. Inicialmente foram
buscadas imagens de 2018, ano definido como o padrão do projeto em que este artigo está inse-
rido. Porém, devido à permanência de nuvens de forma recorrente ao longo do ano, não foi pos-
sível obter uma imagem de 2018 para a cena 219/77, e, por isto, foi empregada uma imagem de
2019. Para a cena 220/77 foram utilizadas duas imagens de datas diferentes do ano de 2018,
visando eliminar a presença de nuvens. As imagens foram adquiridas no Earth Explorer (https://
earthexplorer.usgs.gov/) e as informações referentes a elas estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Imagens Landsat empregadas no mapeamento do uso da terra

Órbita / ponto ID Data

219/77 LC08_L1TP_219077_20190614_20190620_01_T1 14/06/2019

220/77 LC08_L1TP_220077_20180720_20180731_01_T1 20/07/2018

220/77 LC08_L1TP_220077_20181211_20181226_01_T1 22/12/2018


Fonte: os autores.

Os procedimentos de classificação de imagens e geração de mapas temáticas foram rea-


lizados no ENVI 5.3 e no ArcGIS 10.5. Foi também empregado o Google Earth Pro para a visua-
lização de imagens em alta resolução espacial, e o BrOffice Calc foi empregado na construção
da matriz de confusão.

2.3 Metodologia
Embora os produtos do sensor OLI sejam constituídos por nove bandas espectrais, ape-
nas as sete primeiras foram utilizados na classificação. Estas imagens foram obtidas dotadas de
correção geométrica, correção atmosféricas (reflectância na superfície) e já reprojetadas para
o hemisfério Sul.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


614 Cassiano Gustavo Messias; Raul Reis Amorim

Após importadas as sete bandas de cada imagem no ENVI, foi realizado o empilhamento
delas. As áreas cobertas por nuvens foram excluídas da cena 220/77 em sua data principal, do dia
20/07/2018. As áreas que estavam cobertas por nuvens na imagem principal foram extraídas de
uma imagem secundária, do dia 22/12/2018. Foi criado um mosaico contendo os recortes da
imagem principal e secundária da cena 220/77 e a cena 219/77 e, na sequência, foi feito o recorte
a partir da delimitação da área de estudo. Foram geradas composições coloridas falsa-cor
(5R/4G/6B e 5R/6G/64) e cor-verdadeira (4R/3G/2B), nas quais foi feito um contraste linear 2%.
O mapeamento do uso da terra foi produzido por meio de técnicas de classificação orien-
tada a objetos em SIG. Estas técnicas apresentam robustez para imagens de média resolução
espacial, como os produtos da série Landsat, e é dividida em duas etapas iniciais: segmentação
das imagens e a construção de amostras de treinamento (GARÓFALO et al., 2015). A sequência
metodológica para a aplicação das técnicas de classificação orientada a objetos no software
ENVI foi baseada em Messias e Ayer (2017).
Na segmentação foram empregados o algoritmo Edge e o valor 20 em Segment Setting,
assim como o Full Lambda Schedule e o valor 80 no Merge Setting. Estes valores foram escolhi-
dos por tentativa e erro, por meio da avaliação visual de resultados prévios de segmentação
aplicando diferentes valores e comparando-os ao mosaico de imagens.
Foi realizada uma avaliação prévia do mosaico Landsat, visando identificar as classes de
uso da terra presentes na área de estudo. Foram também analisados estudos já realizados na
bacia hidrográfica, especialmente, os de uso da terra de autoria de Reis e Santiago (2003).
Foram definidas 9 principais classes de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do
Ribeira de Iguape e Litoral Sul. Porém, para que o classificador obtivesse um melhor desempe-
nho na separação das feições, foram criadas subclasses para a seleção de amostras de treina-
mento. O quadro 1 apresenta as chaves de interpretação empregadas na obtenção das amostras
para treinar o algoritmo classificador.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 615

Quadro 1 – Chaves de interpretação e classes identificadas no processo classificatório


Cor e Imagem
Classe Subclasse Textura Forma
tonalidade (5R/4G/6B)

Solo menos
Solo exposto Ciano claro Média Geométrica
úmido

Verde
Solo exposto Solo úmido Média Geométrica
escuro

Pastagem Pastagem Rosa claro Média Irregular

Cultivos
Cultivos 1 Rosa médio Lisa Geométrica
agrícolas

Rosa
Cultivos médio-es-
Cultivos 2 Lisa Geométrica
agrícolas curo
brilhante

Cultivos Geométrica
Cultivos 3 Rosa escuro Média
agrícolas ou irregular

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


616 Cassiano Gustavo Messias; Raul Reis Amorim

Cor e Imagem
Classe Subclasse Textura Forma
tonalidade (5R/4G/6B)

Vermelho
Mata Mata Rugosa Irregular
médio

Média
(localização
Vermelho Regular ou
Silvicultura Mata em relevos
brilhante irregular
muito
dissecados)

Vermelho
Mangue Mangue Rugosa Irregular
escuro

Misturas
entre
vermelho
Restinga Restinga escuro, Rugosa Irregular
ciano escuro
e verde
escuro

Água com
menor teor Verde
Água Lisa Irregular
de escuro
sedimentos

Água com
Verde
Água maior teor de Lisa Irregular
escuro
sedimentos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 617

Cor e Imagem
Classe Subclasse Textura Forma
tonalidade (5R/4G/6B)

Mistura de
cores e tons,
com Regular ou
Área urbana Área urbana Rugosa
predomi- irregular
nância de
ciano médio

Nuvem Nuvem Branco Lisa a média Irregular

Fonte: os autores.

A seleção das amostras de treinamento foi feita por meio da associação entre o arquivo
vetorial da imagem segmentada e as composições coloridas, e para cada subclasse foram selecio-
nadas entre 50 e 100 amostras, a depender da disponibilidade. A classificação foi feita por meio
do algoritmo Support Vector Machine (SVM). Este algoritmo apresentou resultados satisfatórios
quando aplicado em pesquisas desenvolvidas em bacias hidrográficas de diferentes biomas bra-
sileiros (GARÓFALO et al., 2015; MESSIAS; FERREIRA, 2019; SILVA et al., 2021). Contudo, o SVM
não teve um bom desempenho ao delimitar as áreas urbanas na área da bacia hidrográfica do
Ribeira de Iguape e Litoral Sul, e, por isto, não foram inseridas amostras desta classe.
O resultado da classificação foi exportado em formato vetorial e, na sequência, este
arquivo foi introduzido no ArcGIS 10.2. Por meio deste software foi feita uma avaliação visual
da classificação, buscando identificar polígonos classificados de maneira incorreta e editá-los.
Foram também delimitadas as áreas urbanas, de forma visual. Foi feita a mesclagem das sub-
classes em classes principais, por exemplo, solo exposto 1, solo exposto 2 e solo exposto 3
foram agrupadas em uma classe única de solo exposto.
Finalmente foi avaliada a acurácia da classificação. Foram selecionados, de maneira alea-
tória, 3 % dos polígonos gerados para cada classe, e foi considerado um valor mínimo de 5
amostras para classes pouco representativas. Estas amostras foram avaliadas com base em
imagens de alta resolução disponíveis no aplicativo Google Earth, nas próprias composições
coloridas e no conhecimento da área de estudo em campo. Foi construída uma matriz de con-
fusão pelo BrOffice Calc e foram gerados os índices Kappa e de exatidão global.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O mapa de uso da terra (Figura 2; Tabela 2) mostra que a classe mata corresponde à
cobertura predominante na bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, ocupando

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


618 Cassiano Gustavo Messias; Raul Reis Amorim

79,16 % da área. Este resultado comprova que esta bacia é extremamente relevante em rela-
ção à conservação de remanescentes de Mata Atlântica (CHABARIBERY et al., 2004), abrigando
fitofosionomias como Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional
Semidecídua. Parte desta vegetação está mantida no interior de 45 Unidades de Conservação,
sendo 16 delas de Proteção Integral e 29 de Uso Sustentável, o que garante o elevado grau de
conservação dos ecossistemas (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014).

Figura 2 – Mapa de uso da terra da bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul-SP

Fonte: os autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 619

Tabela 2 – Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra no ano de 2018 / 2019.

Classe Área (km²) Área (%)

Cultivos agrícolas (CA) 295,71 1,75

Mata (MA) 13.390,38 79,16

Água (AG) 151,61 0,90

Silvicultura (SI) 473,36 2,80

Solo exposto (SE) 366,37 2,17

Área urbana (AU) 76,04 0,45

Pastagem (PA) 1.218,78 7,20

Mangue (MG) 831,33 4,91

Restinga (RE) 112,48 0,66

Total 16.916,04 100,00

Os mangues também constituem áreas de vegetação nativa bem preservada. Correspondem


a 4,91 % da área da bacia hidrográfica e estão localizados nas zonas transitórias entre os ecossis-
temas terrestres e marinhos. Há uma série de restrições nestes locais, entre elas, a instalação de
edificações; porém, são permitidas atividades como a pesca a artesanal e amadora e a aquicul-
tura de espécies nativas (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014). Há também rema-
nescentes de vegetação nativa nas áreas de restingas, que representam 0,66 % e que muitas
vezes se encontram degradados devido à sua localização em áreas de ocupação antrópica.
O uso antrópico mais representativo são as pastagens (7,20 %), que estão bastante con-
centradas a oeste da bacia, mas ocorrem também em fundos de vale da porção central. Nestes
locais são também encontrados cultivos agrícolas (1,75 %) e áreas com solo exposto (2,17 %),
as quais, em sua maioria, estão sendo preparadas para o cultivo. O principal cultivo agrícola é
a banana, uma das mais importantes atividades econômicas na região. Estudos realizados por
Dalmas et al. (2015) mostraram que a área cultivada com banana em 1986 era de 61 km² e
aumentou para 192 km² em 1999 e para 327 km² em 2010. Há uma grande concentração de
áreas de silvicultura a noroeste e há também as áreas urbanas, que correspondem, respectiva-
mente, a 2,80 % e 0,45 % da bacia.
O processo de classificação orientada a objetos gerou um total de 17.934 polígonos. Para
a realização do cálculo da acurácia do mapa de uso da terra, 3 % destes polígonos foram ava-
liados, ou seja, 546 polígonos (Tabela 3).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


620 Cassiano Gustavo Messias; Raul Reis Amorim

Tabela 3 – Número absoluto de polígonos, percentual de polígonos e número de polígonos amostrados


por classe para a construção da matriz de confusão

Percentual de
Classe Número de polígonos Polígonos amostrados
polígonos
Cultivos agrícolas (CA) 1.120 6,25 34
Mata (MA) 3.699 20,63 111
Água (AG) 917 5,11 28
Silvicultura (SI) 387 2,16 12
Solo exposto (SE) 5.166 28,81 155
Área urbana (AU) 126 0,70 5
Pastagem (PA) 6.366 35,50 191
Mangue (MG) 121 0,67 5
Restinga (RE) 32 0,18 5
Total 17.934 100,00 546
Fonte: os autores.

A matriz de confusão (Quadro 2), gerada para avaliar a classificação da bacia hidrográfica
do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, apresentou índice de exatidão global de 0,9121, o que aponta
que 91,21 % dos polígonos amostradas foram classificadas corretamente. O valor do índice
Kappa foi de 0,883, considerado excelente por Congalton & Green (1999).

Quadro 2 – Matriz de confusão da classificação realizada pelo algoritmo SVM


Verificação em campo e por imagem de maior resolução

CA MA SI PA MG RE SE AG AU Total EC
CA 30 1 3 34 0,12
MA 4 105 2 111 0,05
SI
Imagem classificada

1 11 12 0,08
PA 10 3 175 3 191 0,08
MG 5 5 0,00
RE 5 5 0,00
SE 2 18 135 155 0,13
AG 1 27 28 0,04
AU 5 5 0,00
Total 46 110 13 196 5 5 139 27 5 546
EO 0,35 0,05 0,15 0,11 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00
Fonte: os autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 621

A maior quantidade de erros de comissão, ou seja, polígonos de outras classes que foram
erroneamente inseridos na classe de referência, foram de solo exposto, cultivos agrícolas, silvi-
cultura e de pastagem. Por outro lado, as classes com maior quantidade de erros de omissão,
ou seja, polígonos delas que foram inseridos em outras classes, foram cultivos agrícolas, silvi-
cultura e pastagem.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapa de uso da terra mostrou que mais de 80 % da bacia hidrográfica do Ribeira de
Iguape e Litoral Sul é constituída por fitofisionomias florestais, tais como matas e mangues.
Este resultado comprova que esta bacia hidrográfica é uma importante área de conservação
de remanescentes da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados no Brasil. O mapea-
mento apresentou uma elevada acuraria, comprovando a eficiência da aplicação de técnicas
de classificação orientada a objetos, do emprego do algoritmo Support Vector Machine e do
uso de imagens do sensor OLI / Landsat 8.

5 AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
financiamento do projeto nº. 2018/09401-1 e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do projeto “Monitoramento dos Biomas
Brasileiros por Satélite – Construção de novas capacidades” (Processo nº 444418/2018-0).

6 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


622 Cassiano Gustavo Messias; Raul Reis Amorim

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


53. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
Uma análise das nascentes da bacia
do Rio Piracanjuba (BHRP)

ROSANA DE OLIVEIRA LIMA1


HELLBIA SAMARA M. DE CARVALHO RODRIGUES2
KARLA MARIA DA SILVA FARIA3

Resumo: A água é um recurso essencial à vida, provém de uma relação de processos que envol-
vem variáveis como a precipitação, infiltração, relevo e tipos de solos além de interagir com os
processos antrópicos. A escassez de dados acerca da dinâmica da conservação e uso das áreas de
nascentes gera uma insegurança na sustentabilidade deste recurso. A legislação assegura prote-
ção de áreas de recarga para a preservação e qualidade da água que infiltra. Diante disso objeti-
vou-se neste trabalho gerar informações sobre a densidade drenagem e o modo de uso e ocupação
nos últimos 34 anos através de software e geodados: Os resultados mostram que as áreas de nas-
centes, passa por um processo de ocupação de áreas destinada a preservação permanente (APP),
apresenta perda significativa da vegetação original sendo essa substituída principalmente por pas-
tagens. Os estudos em bacias hidrográficas são importantes na identificação das potencialidades
dos usos empregada dentro de um sistema que se relaciona. As áreas de nascentes não são desti-
nadas ao uso, contudo os dados demostram a solidez da utilização dessas áreas, infringindo as
legislações atuais e antigas sobre o tema sendo assim, se faz necessário intervenções de fiscaliza-
ção por parte do poder público.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica, Densidade de Nascentes e área de preservação permanente
Abstract: Water is an essential resource for life, it comes from a list of processes that involve varia-
bles such as precipitation, infiltration, relief and soil types, in addition to interacting with human
processes. The scarcity of data on the dynamics of conservation and use of spring areas creates
uncertainty in the sustainability of this resource. The legislation ensures protection of recharge
areas for the preservation, quality and quantity of water that infiltrates. Therefore, the objective
of this work was to generate information about the drainage density and the mode of use and
occupation in the last 34 years through software and GIS. The results show that the spring areas
undergo an occupation process and as areas devoid of permanent preservation (APP), there is a
reduced loss of original vegetation, which is mainly replaced by pastures. Studies in watersheds

1 Universidade Federal de Goiás-UFG/CIMAB. E-mail: rosanalima@discente.ufg.br


2 Pontifícia Universidade Católica de Goiás-PUC. E-mail: hellbia.rodrigues@gmail.com
3 Universidade Federal de Goiás-UFG/CIMAB/PPGEO. E-mail: karla_faria@ufg.br

[ 623 ]
624 Rosana de Oliveira Lima; Hellbia Samara M. de Carvalho Rodrigues; Karla Maria da Silva Faria

are important in identifying the potential uses employed within a related system. Areas of water
infiltration are therefore not for use, however the data demonstrate the solidity of the use of
these areas, infringing current and old legislation on the subject, therefore, inspection interven-
tions by the government are necessary.
Keywords: Hydrographic Basin, Drainage Density and Permanent Preservation Area

1 INTRODUÇÃO
A água é um dos recursos naturais fundamentais com um papel significativo para a huma-
nidade na terra. A principal causa de desabastecimentos dos grandes rios é principalmente
devido a redução do número de nascentes, provocando a diminuição da vazão dos rios. Estudos
apontam que uma das principais causas na extinção de nascentes, estão associadas ao uso da
terra e ao desmatamento, reduzindo a função ecológica, hidrológica e a qualidade da água.
Nos últimos anos os desmatamentos e a crise hídrica são temas de diversos estudos,
como o risco da falta d’água em reservatórios e consequências como aquecimento global e o
impacto na produção de alimentos, redução da biodiversidade. Os usos múltiplos dos recursos
naturais são crescentes e o grande desafio da humanidade será conviver com a dinâmica de
acesso e escassez hídrica (OLIVEIRA, SILVA, MELO; 2020), que afeta o sistema.
Para Rodrigues et al., (2006), as nascentes podem perder sua capacidade qualitativa e
quantitativa quando são alteradas por atividades antrópicas. O uso e ocupação em seu
entorno afeta a recarga do lençol freático, provoca redução da disponibilidade hídrica, e a
qualidade da água que infiltra está diretamente relacionada a cobertura vegetal e ao uso dos
solos (MENEZES 2009).
As nascentes de acordo com a Lei 12.651 de 2012 novo Código Florestal (Brasil 2012)
devem ter vegetação natural em seu em torno e um raio mínimo de 50 m, qualquer que seja a
topografia, rural urbana e se constituem em áreas de preservação permanente (APPs). A mata
ciliar tem função fundamental na manutenção do solo e contribui para a qualidade e quanti-
dade de agua que infiltra.
A degradação das nascentes está associada a fatores como atividade tanto de agricultura
como pecuária (SILVA et al., 2020). Esses usos ocupação pela agricultura e pecuária, podem
promover degradação como a erosão de solo, compactação que promove a redução da capa-
cidade de infiltração e até mesmo a contaminação de nascentes. Contudo Yerli e Sahin (2021)
afirma que somente através de fatores que envolvem a gestão dos recursos hídricos será viável
para promover a sustentabilidade da produção agrícola.
Uma gestão adequada dos recursos hídricos inclui, portanto, a avaliação do estado de
conservação das nascentes (PINTO et al., 2004), sendo comum o uso de geotecnologias,
como o sensoriamento remoto e os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), para se obter
informações detalhadas da paisagem com baixo custo financeiro e tempo hábil (SOARES, et
al., 2019a).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 625

A bacia hidrográfica considerada como unidade de planejamento, permite a compreen-


são da dinâmica hídrica no ecossistema (BRASIL, 1997) essencial para o desenvolvimento
sustentável.
A bacia do rio Piracanjuba possui uma ampla e vasta área com diversificada atividade
econômica no transcorrer dos canais de drenagem que compõem a bacia, faltam dados que
apontem como estão as nascentes diante o intenso uso ocupação que remonta a década de
1970, assim considerando a importância das áreas de nascentes para garantir o equilíbrio e
manutenção da qualidade ambiental e a atual dinâmica de uso e cobertura da terra da área de
estudo, a presente a pesquisa tem por objetivo central a análise do status ambiental dessas
APPs de nascentes, no que tangem a cobertura vegetal mapeada.
O estudo justifica-se, pois na escassez de dados referente a bacia do rio Piracanjuba,
assim como na dinâmica de uso ocupação diversificada das áreas, fazendo-se fundamental a
análise para vias de proposição de ações que potencialize a preservação dessas áreas.

2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do estudo foi necessário o uso de aporte bibliográfico diante a
temática, em especial a legislação referente à proteção das áreas de preservação permanente,
para elucidar questões fundamentais de embasamento referente às métricas necessárias para
a preservação das nascentes.
As de dados utilizados na elaboração dos produtos cartográficos referente a bacia do rio
Piracanjuba, foram extraídos do IBGE, Shapefiles do recorte da bacia, rede de drenagem na
escala de 1:100.00, assim como os solos refinados para a escala de 1:100.00 por Oliveira (2013).
A avaliação da transição de uso e cobertura da terra utilizou-se como bases cartográficas
dados do projeto MapBiomas 5.0. Os dados foram integrados em ambiente SIG a partir da
construção de uma base de dados geográficos em formato Geodatabase no Software ArcGis
que possibilitou gerar a quantificação do uso e cobertura da terra no período de 1985 e 2019.
De acordo com (SOUZA et al., 2020), a Coleção 5 do MapBiomas resulta da classificação do his-
tórico de imagens multiespectrais de 30 metros de resolução espacial, captadas pelo satélite
Landsat, desde 1984 até a atualidade, processada até 2019. A RGB Color foi adotada para as
classes identificadas na área segundo a matiz adotada pelo MapBiomas 5.0.
O recorte temporal foi definido diante a disponibilidade dos dados na base do MapBiomas,
para os quais divididos em dois anos, o de 1985 período mais distante com dado mapeado dis-
ponível sendo o de 2019, no intuito de comparar o status de preservação das áreas de nascen-
tes da bacia hidrográfica do rio Piracanjuba identificar as mudanças nesse período de 34 anos.
Os recortes espaciais de estudo foram às áreas de nascentes da bacia hidrográfica do
rio Piracanjuba, selecionados diante a ausência de estudos para a área, que tragam dados
referentes à dinâmica da transformação da cobertura da terra.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


626 Rosana de Oliveira Lima; Hellbia Samara M. de Carvalho Rodrigues; Karla Maria da Silva Faria

Os dados cartográficos como Shapefile da área da bacia referente a drenagem foram


compilados do IBGE na escala de 1:100.000, e nessa rede de drenagem foram pontuadas as
áreas de nascentes e posterior a pontuação foi elaborado um Buffer de raio de 50 metros,
segundo especificações do Código Florestal Lei 12.651/2012, em que uma nascente necessita
de proteção em área equivalente a um raio de 50 metros. Diante os baffer de 50 metros elabo-
rado das nascentes foram sobrepostos ao uso ocupação e remanescentes e foram extraídos os
dados de 1985 e 2019 para as áreas de nascentes.
Para identificação das áreas de maior densidade de rede do número de nascentes, foi
elaborado um produto proveniente da geoestatística – a densidade de nascentes na área da
bacia. Este produto cartográfico gerado a partir do Software ARCGIZ, é fundamental para iden-
tificar as áreas de maior e menor densidade, por número de nascentes.

2.1 Caracterização da área


A área de estudo é a bacia hidrográfica do Rio Piracanjuba, localizado na região sul do
Estado de Goiás, abrangendo terras de oito municípios, faz parte da Unidade de Planejamento
e Gerenciamento dos Recursos Hídricos Corumbá Veríssimo e porção Goiana do São Marcos
(PHER,2019).
A Bacia do Rio Piracanjuba tem sua principal nascente localizada no município de Bela
Vista de Goiás na região Central do Estado, flui na direção sul e desagua no rio Corumbá impor-
tante afluente do rio Paranaíba. A área da bacia possui uma área de aproximada de 4.733,1
km². O sistema fluvial da área em questão está vinculado à bacia do rio Meia Ponte, fazendo
parte da bacia do rio Paranaíba e por consequência da bacia do Paraná, conforme Figura 1.
Vale ressaltar a importância econômica da região da Bacia com a concentração de indús-
tria e merecido destaque na produção agrícola e pecuária, com valores expressivos na produ-
ção de grãos e é responsável por cerca de 45% da produção leiteira do Estado (GOIÁS, 2021),
além do turismo aquático, com as maiores estâncias hidrotermais do Brasil.
Inserida no bioma Cerrado a bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba apresenta clima tropi-
cal quente e semiúmido, inverno seco e verão chuvoso de acordo com a classificação de
Köopen, para a região, as temperaturas médias em torno de 20°C e máximas podendo chegar
a 40°C.
Na geologia é possível identificar que o Grupo Araxá, predominada em grande proporção
de norte, centro e sudeste da bacia, deste é proveniente rochas metassedimentares. Navarro;
Zanardo; Conceição (2013) expõem que o Grupo Araxá ao longo de sua extensão é constituído
dominantemente por quartzito micáceos e xistos (calci-xistos, muscovita-quartzo xisto, musco-
vita-clorita xito, muscovita –clorita xisto), a região que difere é a de Caldas Novas, onde ocorre
as rochas metabásicas (rochas toleíticas com composições similares a basaltos intra-placas e a
basaltos de cadeias meso-oceânicas).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 627

Figura 1 – Localização da bacia do rio Piracanjuba

Fonte: As Autoras.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


628 Rosana de Oliveira Lima; Hellbia Samara M. de Carvalho Rodrigues; Karla Maria da Silva Faria

Quanto aos dados geomorfológicos é possível apontar o predomínio da Superfícies


Regional de Aplainamento, nas porções centro e norte da bacia. Seguido de ocorrência de Zona
de Erosão Recuante na porção sul e sudoeste exposto em mapeamento realizado por Carvalho
e Latrubesse (2006).
As classes de solos predominantes são as de Latossolos, segundo mapeamento realizado
por Oliveira (2013). Os latossolos estão situados sob Superfícies Regional de Aplainamento. Já
a porção sul e sudoeste predomina um mosaico de Argissolos e Cambissolos, localizados sob
Zona de Erosão recuante.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia do rio Piracanjuba possui aproximadamente 4.733,1 km² de extensão em área, e
com aproximadamente 1425 nascentes em sua extensão, pontuadas segundo os canais de dre-
nagem de primeira ordem, assim compondo uma área de elevado quantitativo de nascentes.
Áreas de densidade de nascentes, podem ser observadas na figura 2, estes dados reve-
lam que as áreas com maior densidade se encontram na porção central e na região sudoeste.

Figura 2 – Densidade de nascentes na BHRP

Fonte: As Autoras.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 629

A porção sudoeste da bacia do rio Piracanjuba possui maior densidade de nascentes, o


que a torna uma área mais sensível ao manejo no uso ocupação, assim como áreas na porção
central da bacia que também possuem moderada densidade de nascentes. As áreas de alta
densidade de nascentes na porção sul e sudoeste estão sob um mosaico de solos que variam
de Argissolos, Cambissolos e sob relevo classificado como Zona de Erosão Recuante, o que faz
da área uma área frágil, propensa a impactos ambientais negativos.
Martins, et. al., (2005) expõem que a administração do uso e gestão das águas superfi-
ciais é validamente assegurada em nível federal. Atualmente o Código Florestal Lei 12.651/2012
constitui-se como principal dispositivo jurídico que instrumentaliza a fiscalização e proteção
das áreas de nascentes, utilizado no estado de Goiás em sua completude e sem adaptações
específicas.
A área total de preservação permanente na bacia do rio Piracanjuba corresponde a apro-
ximadamente 11,09km², calculados diante o raio de 50 metros especificados no Código Florestal
Lei 12.651/2012. Em relação a área total da bacia que é de 4.733,1 km² as nascentes correspon-
dem a 0,23% da área. Esse dado exposto pode ser observado na tabela 1 e figura 3, 4 a seguir.

Tabela 1 – Áreas de nascentes e classes de uso e remanescentes que ocupam a área para os anos de
1985 e 2019

1985 2019
Classes
Km² % Km² %

Formação Campestre 0,04 0,36 0,05 0,45


Formação Florestal 3,29 29,66 2,86 25,81
Formação Savânica 1,19 10,73 0,98 8,84
Mosaico de Agricultura e Pastagem 0,2 1,80 0,35 3,15
Outras Áreas não Vegetadas 0,01 0,09 0 0
Outras Lavouras Temporárias 0,04 0,36 0,11 0,99
Cana - - 0,04 0,36
Soja - - 0,73 6,58
Pastagem 6,31 56,89 5,92 53,42
Infraestrutura Urbana - - 0,02 0,18
Rio, Lago 0,01 0,09 0,02 0,18
Total 11,09 100 11,08 100
Fonte: As Autoras.

Com base na análise da Tabela 1, constata-se as grandes diferenças entre os anos de


1985 e 2021, principalmente no aumento da ocupação pelas pastagens e a expressiva presença

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


630 Rosana de Oliveira Lima; Hellbia Samara M. de Carvalho Rodrigues; Karla Maria da Silva Faria

da cultura de soja, bem como a diminuição da área ocupada pelas formações florestais compa-
rado e o aumento mesmo que pequeno das áreas de transição, as formações savânicas.

Figura 3 – Densidade de nascentes da bacia do rio Piracanjuba

Fonte: As Autoras.

As áreas de nascentes com vegetação remanescente do Cerrado em 1985 representam a


aproximadamente 4,52km² (40,75%) e em 2019 passam a possuir 3,89km² (35,1%). Os compa-
rativos de 34 anos expõem que já havia baixa porcentagem das áreas destinadas a preservação
das nascentes com vegetação remanescente de Cerrado, assim como expõem que houve ainda
a redução de aproximadamente 5,65% de remanescentes de 1985 a 2019.
As áreas de preservação das nascentes possuem como classe de uso ocupação em desta-
que a pastagem que em 1985 possuía em área 6,31km² (56,89%), que reduziu discretamente para
5,92km² (53,42%). Silva et al., (2013) em estudos para o estado de Goiás aponta que a pastagem
corresponde uma atividade que teve intensificação da prática da agropecuária extensiva e des-
cuidadas, o que resultou em diversos impactos ambientais que podem comprometer a função
agrícola e consequentemente a econômica ao longo do tempo. O manejo inadequado do gado
pode convergir em impactos como erosão por ravina, além da compactação do solo da área pelo
pisoteio, impossibilitando a permeabilidade do solo (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2010).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 631

As demais classes de uso ocupação ocorrem em menor percentual, como pode ser obser-
vada as classes de Mosaico de Agricultura e Pastagem ocupa em 1985 0,2km² (1,80%), e em 2019
0,35km² (3,15%) possui uma evolução discreta em ocupação das áreas de app das nascentes.
As commodities, classes como cana e soja ganham espaço na economia do Estado e se
apresentam no mapeamento de 2019 ocupando áreas de apps de nascentes, em que a cana
ocupa 0,04km² (0,36%) e soja ocupa 0,73km² (6,58%). Assim como a área urbana que em 2019
possui dado de ocupação das apps de nascentes com 0,2km² (0,18%).
De acordo com Pinto, et. al., (2019) a redução hídrica nas bacias hidrográficas e aquífero,
são resultados de como se faz uso das áreas de abastecimento dos reservatórios. A vegetação
tem papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos e preservação das nascentes e na
regulação dos ecossistemas. A ocupação das áreas de nascentes na BHRP revela a necessidade
de buscar e garantir a harmonia entre o desenvolvimento econômico e manutenção dos recur-
sos hídricos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Á área de preservação das nascentes já passão por uso desde a década de 1985, ampliando
a diversidade de uso para o ano de 2019, nos quais nascentes ocupadas por remanescentes
correspondem apenas 35,1% da área total das nascentes. Um dado relevante no que diz res-
peito a necessidade de preservação para a sustentabilidade hídrica da região.
As áreas de APPs de nascentes não são destinadas a nenhum tipo de uso, as utilizações
destas áreas ocorrem por irregularidades e desrespeito à legislação vigente, o que se faz neces-
sário a intervenção do poder público mediante ações de fiscalização.
O estudo de bacias hidrográficas é importante para identificar suas potencialidades,
sobretudo diante o uso ocupação empregado. Os esforços de conservação das políticas públi-
cas estão no desenvolvimento de ações necessárias para salvar e proteger as nascentes de
água, estas que desempenham função hidrológica na manutenção da bacia hidrográfica.
Este estudo constitui-se em um esforço científico primário que necessita de campo para
levantamento, assim como ampliação dos recursos tecnológicos disponíveis como imagens e
satélite de alta resolução para detalhamento do status atual das nascentes, assim o intercruza-
mento de outras variáveis físicas para ampliar a possibilidade de conhecimento das áreas.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


632 Rosana de Oliveira Lima; Hellbia Samara M. de Carvalho Rodrigues; Karla Maria da Silva Faria

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


54. AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS
HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS
(MA) COM USO DE UM PROTOCOLO DE
AVALIAÇÃO RÁPIDA

LUCIANA AMORIM SOARES1


ADILSON MATHEUS BORGES MACHADO2
LEONARDO SILVA SOARES3
LEONARDO AZEVEDO SERRA4

Resumo: O aumento do contingente urbano tem afetado significativamente a paisagem e a dinâ-


mica natural do ambiente, principalmente nos grandes centros urbanos. Bacias hidrográficas são
cada vez mais impactadas pela constante expansão urbana, o que, por sua vez, influencia na qua-
lidade e disponibilidade dos recursos hídricos na região. Em vista disso, o presente trabalho visa
uma análise sobre a qualidade ambiental das bacias hidrográficas costeiras (Calhau, Pimenta e
Claro) do município de São Luís, estado do Maranhão, com base no Protocolo de Avaliação Rápida
da Diversidade de Habitats. A metodologia foi aplicada para nove pontos entre o alto, médio e
baixo curso das três bacias de estudo. Quanto aos resultados obtidos, todos os pontos foram qua-
lificados como impactados, com exceção de dois (baixo curso do rio Calhau e médio curso do rio
Claro), porém ainda considerados alterados. Com base no estudo, dentre as bacias trabalhadas, as
mais agredidas por esses processos são as do rio Claro e Pimenta. Ressalta-se ainda que as três
áreas de estudo ainda apresentam uma elevada ocupação urbana, com várias intervenções no
meio natural, como a canalização em muitos pontos dos rios e retirada da vegetação ciliar.
Palavras-chave: Gerenciamento; Protocolo de Callisto; Alterações ambientais.
Abstract: The increase in the urban population has significantly affected the landscape and the
natural dynamics of the environment, especially in large urban centers. Watersheds are increasin-
gly impacted by the constant urban expansion, which, in turn, influences the quality and availabi-
lity of water resources in the region. In view of this, the present work aims to conduct an analysis
of the environmental quality of the coastal watersheds (Calhau, Pimenta and Claro) of the munici-
pality of São Luís, state of Maranhão, based on the Rapid Assessment Protocol of Habitat Diversity.
The methodology was applied to nine points between the upper, middle and lower reaches of the

1 Oceanógrafa da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: lucianaamorimsoares@gmail.com


2 Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA. Universidade Federal do Ceará. E-mail: adilsonbor-
ges94@gmail.com
3 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio AmbienteUniversidade Federal do Maranhão. E-mail: leo-
nardo.soares@ufma.br
4 Graduando em Geografia da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: leonardo.serraa2@gmail.com.

[ 633 ]
634 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra

three study basins. As for the results obtained, all the points were qualified as impacted, with the
exception of two (the lower course of the Calhau River and the middle course of the Claro River),
but still considered altered. Based on the study, among the studied watersheds, the most affected
by these processes are the Claro and Pimenta rivers. It is also noteworthy that the three study
areas still have a high urban occupation, with several interventions in the natural environment,
such as canalization in many points of the rivers and removal of riparian vegetation.
Keywords: Management; Callisto Protocol; Environmental changes.

1 INTRODUÇÃO
As bacias hidrográficas são regiões formadas por um conjunto de canais fluviais, delimi-
tados por terrenos mais elevados, que formam uma rede de drenagem, desde as nascentes nas
regiões mais altas, até o canal principal, onde os rios tributários deságuam (CASTRO; CARVALHO,
2009). Os aspectos físicos e bióticos de uma bacia desempenham papel de grande importância
nos processos do ciclo hidrológico, onde exercem influência na infiltração, no escoamento,
superficial e subsuperficial, e na evapotranspiração (STIPP; CAMPOS; CAVIGLIONE, 2010).
Tendo em vista esses fatores, a interação ocorrente entre a rede fluvial com os elementos exis-
tentes dentro do território da bacia, oferece subsídio para caracterização do meio.
A evolução dos processos antrópicos resulta em diferentes formas de exploração dos
recursos ambientais e mudanças nas condições ecossistêmicas de uma região. Nota-se nas
grandes cidades o constante e desordenado espalhamento urbano, que vem impactando dire-
tamente nos recursos hídricos associados aos centros urbanos. Em virtude disso, a preservação
e manutenção da qualidade desses recursos se mostram um grande desafio para as comunida-
des, assim como para os responsáveis pelas tomadas de decisão, uma vez que o principal pro-
blema geralmente se encontra nos aspectos institucionais relacionados com o gerenciamento
dos sistemas fluviais e do ambiente urbano (RODRIGUES; MALAFAIA; CASTRO, 2008).
O crescimento urbano não ocorre de maneira uniforme em cidades onde não há plane-
jamento, com isso problemas de acesso à infraestrutura e problemas ambientais são iminen-
tes. Os aglomerados populacionais exigem uma grande quantidade de água para a produção
do espaço. Diante disso, torna-se um desafio manter os corpos d’água das cidades em condi-
ções adequadas para o uso (RIBEIRO, 2008).
A Ilha do Maranhão possui várias bacias que deságuam nas principais praias urbanas dos
municípios de São Luís e São José de Ribamar. Parte destas bacias, situam-se na porção norte
da ilha, onde correspondem à uma área de grande expansão urbana e interesse turístico.
Contudo, o crescimento urbano desordenado da ilha tem provocado a poluição hídrica dos cor-
pos d’água, levando a significativas alterações da qualidade ambiental e sanitária.
Com as crescentes pressões exercidas sobre o ambiente natural, têm-se cada vez mais
necessidade da realização de monitoramento das alterações na qualidade ambiental
(RODRIGUES; CASTRO, 2008). Como forma de caracterizar o ambiente, foram criados modelos
de análises rápidas, como o Protocolo de Avaliação Rápida (PAR), que tem como objetivo uma

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS (MA) 635

análise qualitativa do meio. Trata-se de uma importante ferramenta de gestão, pois pode ser
utilizada sem a necessidade de grandes investimentos, além de auxiliar no manejo e na elabo-
ração de estratégias para os ambientes de formas mais assertivas. A utilização do PAR oferece
a oportunidade de monitoramento ambiental das bacias hidrográficas, principalmente relacio-
nados aos impactos antrópicos sobre os recursos hídricos da região (CALLISTO et al., 2002).
Sobre o PAR:
São compostos por check lists que avaliam determinados parâmetros e permitem
obter uma pontuação do estado de conservação em que os rios se encontram. Em
algumas situações, os protocolos são adaptados uma vez que o ecossistema fluvial
estudado pode apresentar diferentes tipos de vegetação, clima, solo, relevo, dentre
outros aspectos (BIZZO et al., 2014, p. 7).

Com isso, diante da necessidade de caracterização da qualidade das bacias litorâneas do


município de São Luís, o presente trabalho objetiva realizar uma avaliação qualitativa com base
no Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats das bacias dos rios Calhau,
Pimenta e Claro, de forma a gerar subsídios para o planejamento e gestão ambiental deste
território.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
A área de estudo está situada na Ilha Upaon-Açu, no município de São Luís, capital do
estado do Maranhão. As bacias hidrográficas do Rio Calhau, Pimenta e Claro se encontram na
porção norte da Ilha, estando localizadas na região costeira e urbana da cidade. Devido às suas
localizações, todos os rios desaguam na Baía de São Marcos, no Oceano Atlântico (Figura 1).
Na região litorânea, é possível notar a presença de dunas (consolidadas e transversais),
recobertas pela vegetação característica, além da presença de vegetação de mangue nas pro-
ximidades das desembocaduras dos rios (MASULLO, 2016). O clima caracteriza-se pela ocor-
rência de duas estações bem definidas, sendo elas: chuvosa, nos meses de janeiro a julho e
estiagem, nos meses de agosto a dezembro.
A ilha do Maranhão encontra-se localizada no centro da planície flúvio-marinha do Golfão
Maranhense. A geologia local é formada por rochas sedimentares da Formação Itapecuru
(Cretáceo), Barreiras (Mesomioceno) e Açuí (Pleistoceno), recobertas por uma camada ferrugi-
nosa próxima a superfície. O relevo da região apresenta baixas altitudes, com grandes exten-
sões de manguezal entre as cotas de 0 e 5 m, suaves formações colinosas e tabuleiros esculpidos
nos sedimentos da Formação Barreiras e Itapecuru, apresentando cota máxima de 60 m
(PEREIRA; ZAINE, 2007).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


636 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra

Figura 1 – Localização das bacias dos rios Calhau, Pimenta e Claro

Fonte: Os autores.

3 MÉTODO
O diagnóstico foi feito com base no que foi proposto por Callisto et al. (2002) no Protocolo
de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats, adaptado dos protocolos desenvolvidos pela
Agência de Proteção Ambiental de Ohio, EUA (EPA, 1987), onde analisa o nível de degradação nas
bacias de acordo com os impactos antrópicos (Quadro 1); e Hannaford et al. (1997), que avalia o
estado e nível de conservação das condições naturais do ambiente estudado (Quadro 2).
O estudo foi desenvolvido com base nos dois quadros, onde o primeiro é pontuado de 0
a 4 e o segundo de 0 a 5. Cada valor é atribuído de acordo com as condições observadas nos
ambientes. O resultado final se dá pelo somatório de cada parâmetro independentemente,
com intuito de identificar as condições ecológicas observadas. Os pontos que se apresentam
com valores entre 0 e 40 são caracterizados como “impactado”, com valores entre 40 e 60,
como “alterado”, e os pontos com valores acima de 61, como ambientes “naturais”.
A seleção dos pontos para a aplicação do PAR foi realizada através de visitas a área e a
partir de uma análise prévia utilizando o Google Earth Pro. Foi considerado a distribuição da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS (MA) 637

rede hidrográfica, assim como os melhores locais para acesso. Foram avaliados 9 pontos (Figura
2), marcando o alto, médio e baixo curso das três bacias. A aplicação do Protocolo de Avaliação
Rápida da Diversidade de Habitats foi realizada durante duas visitas a região de estudo, ocorri-
das nos dias 11 de maio e 15 de junho de 2021.

Quadro 1 – Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas

Localização:
Data de coleta: Hora da coleta:
Tempo (Situação do dia):
Modo de coleta (Coletor):
Tipo de ambiente: Córrego () Rio ()
Largura:
Profundidade:
Temperatura da água:
Pontuação
Parâmetros
4 pontos 2 pontos 0 pontos
1. Tipos de ocupação das campos de pastagem/
Residencial/ Comercial/
margens do corpo d’água vegetação natural agricultura/monocul-
Industrial
(principal atividade) tura/ reflorestamento
2. Erosão próxima e/ou nas
margens do rio e assorea- Ausente Moderada Acentuada
mento em seu leito
Alterações de origem
industrial/ urbana (fábri-
Alterações de origem
3. Alterações antrópicas Ausente cas/siderúrgicas/ canaliza-
doméstica (esgoto/lixo)
ção/ reutilização do curso
do rio

4. Cobertura vegetal no leito Parcial Total Ausente

5. Odor da água Nenhum Esgoto (ovo podre) Óleo/industrial


6. Oleosidade da água Ausente Moderada Abundante
7. Transparência da água Transparente Turva/ cor de chá-forte Opaca/colorida

8. Odor do sedimento (fundo) Nenhum Esgoto (ovo podre) Óleo/industrial

9. Oleosidade do fundo Ausente Moderada Abundante


10. Tipo de fundo Pedras/cascalho Lama/areia Cimento/canalizado
Fonte: Callisto et al. (2002), modificado da Agencia de Proteção Ambiental de Ohio, EUA (EPA, 1987).

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638 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra

Quadro 2 – Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas


Pontuação
Parâmetros
5 pontos 3 pontos 2 pontos 0 pontos
Mais de 50% com 30 a 50% de habitats 10 a 30% de Menos que 10% de
habitats diversifica- diversificados/ habitats diversifica- habitats diversifica-
dos/ pedaços de habitats adequados dos/ disponibilidade dos;
11. Tipos de troncos submersos/ para a manutenção de habitats insufi- ausência de habitats
fundo cascalho ou outros das populações de cientes/ substratos óbvia; substrato
habitats estáveis. organismos frequentemente rochoso instável para
aquáticos. modificados. fixação dos
organismos.
Rápidos e Rápidos com a Trechos rápidos Rápidos ou corredei-
corredeiras bem largura igual à do rio, podem estar ras inexistentes.
desenvolvidas; mas com ausentes; rápidos
12. Extensão rápidos tão largos comprimento menor não tão largos
de rápidos quanto o rio e com que o dobro da quanto o rio e seu
o comprimento largura do rio. comprimento
igual ao dobro da menor que o dobro
largura do rio. da largura do rio.
Rápidos Rápidos não Rápidos ou corre- Geralmente com
relativamente frequentes; deiras ocasionais; lâmina d’água “lisa”
frequentes; distância entre habitats ou com rápidos
distância entre rápidos dividida pela formados pelos rasos; pobreza de
13. Frequência rápidos dividida largura do rio entre 7 habitats; distância
contornos do fundo;
de rápidos pela largura do rio e 15. entre rápidos
distância entre
entre 5 e 7. rápidos dividida pela dividida pela largura
largura do rio entre do rio maior que 25.
15 e 25.
Seixos abundantes Seixos abundantes; Fundo formado Fundo pedregoso;
(prevalecendo em cascalho comum. predominante- seixos ou lamoso
14. Tipos de nascentes). mente
substrato
por cascalho; alguns
seixos presentes.
Entre 0 e 25% do Entre 25 e 50% do Entre 50 e 75% do Mais de 75% do
15. Deposição fundo coberto por fundo coberto por fundo coberto por
fundo coberto por
de lama lama lama. lama.
lama.
Menos de 5% do Alguma evidência de Deposição mode- Grandes depósitos
fundo com deposi- modificação no rada de lama, maior
ção de lama; ausên- fundo, principal- de cascalho novo, desenvolvimento das
cia de deposição nos mente como areia ou lama nas margens; mais de
16. Depósitos remansos. aumento de casca- margens; entre 30 a 50% do fundo
sedimentares lho, areia ou lama; 5 50% do fundo modificado; reman-
a 30% do fundo afetado; deposição sos ausentes devido
afetado; suave moderada nos à significativa
deposição nos remansos. deposição de
remansos sedimentos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS (MA) 639

Pontuação
Parâmetros
5 pontos 3 pontos 2 pontos 0 pontos
Canalização Alguma canalização Alguma modificação Margens
(retificação) ou presente, presente nas duas modificadas; acima
dragagem ausente normalmente margens; 40 a 80% de 80% do rio
17. Alterações ou mínima; rio com próximo à constru- do rio modificado. modificado.
do canal do rio padrão normal. ção de pontes;
evidência
de modificações há
mais de 20 anos.
Fluxo relativamente Lâmina d’água acima Lâmina d’água entre Lâmina d’água
18. igual em toda a de 75% do canal do 25 e 75% do canal escassa e presente
Características largura do rio; rio; ou menos de do rio, e/ou maior apenas nos
do fluxo das mínima quantidade 25% do substrato parte do substrato remansos.
águas de substrato exposto nos “rápidos”
exposta. exposto.
Acima de 90% com Entre 70 e 90% com Entre 50 e 70% com Menos de 50% da
vegetação ripária vegetação ripária vegetação ripária mata ciliar nativa;
nativa, incluindo nativa; nativa; desfloresta- desflorestamento
árvores, arbustos desflorestamento mento muito acentuado.
ou macrófitas; evidente, mas não óbvio; trechos com
19. Presença mínima evidência de afetando o solo exposto ou
de mata ciliar desflorestamento; desenvolvimento da vegetação elimi-
todas as plantas vegetação; maioria nada; menos da
atingindo a altura das plantas atingindo metade das plantas
“normal”. a altura “normal”. atingindo
a altura “normal”.
Margens estáveis; Moderadamente Moderadamente Instável; muitas
evidência de estáveis; pequenas instável; entre 30 e áreas com erosão;
erosão mínima ou áreas de erosão 60% da margem frequentes áreas
20.
ausente; pequeno frequentes. Entre 5 e com erosão. Risco descobertas nas
Estabilidade
potencial para 30% da margem com elevado de erosão curvas do rio; erosão
das margens
problemas futuros. erosão. durante enchentes. óbvia entre 60 e
Menos de 5% da 100% da margem.
margem afetada.
Largura da vegetação Largura da vegetação Largura da vegeta- Largura da vegetação
ripária maior que 18 ripária entre 12 e 18 ção ripária ripária
21. Extensão m; sem influência de m; mínima influência entre 6 e 12 m; menor que 6 m;
de mata ciliar atividades antrópicas antrópica. influência antrópica vegetação restrita ou
(agropecuária, intensa. ausente devido à
estradas, etc.). atividade antrópica.
Pequenas macrófitas Macrófitas aquáticas Algas filamentosas Ausência de
aquáticas e/ou ou algas filamentosas ou macrófitas em vegetação aquática
22. Presença musgos distribuídos ou musgos distribuí- no leito do rio ou
poucas pedras ou
de plantas pelo leito. dos no rio, substrato grandes bancos
alguns remansos,
aquáticas com perifiton. macrófitas (p.ex.
perifiton abundante
e biofilme. aguapé).

Fonte: Callisto et al. (2002) modificado do protocolo de Hannaford et al. (1997).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


640 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação de um ambiente, caracterizando as principais zonas de impacto e pressões,
promove uma discussão acerca das forças e fragilidades presentes, possibilitando a criação de
estratégias que auxiliem no manejo adequado para recuperação e proteção do meio natural.
Com o Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats, foi possível realizar uma aná-
lise integral das condições físicas dos trechos e identificar as principais intervenções ocorren-
tes. O aumento da urbanização já evidenciado, é o principal causador das mudanças que
influenciaram nos parâmetros avaliados nas bacias.
Todos os pontos foram avaliados como impactados, com exceção de dois: um na foz da
bacia do Rio Calhau e outro no médio curso da bacia do Rio Claro. Contudo, os mesmos ainda
foram caracterizados como ambientes alterados (Tabela 1). A pouca diferença na avaliação se
dá devido as condições atuantes sobre os ecossistemas serem semelhantes para toda a região
de estudo. Ademais, vale ressaltar, que o tempo em ambos os dias de visitação se mostrava
nublado, e o período entre a aplicação do PAR se deu durante os meses da estação chuvosa,
oferecendo assim pouca interferência para os parâmetros analisados.

Tabela 1 – Resultado da aplicação do Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats para as


bacias litorâneas

Bacia do Rio Calhau Bacia do Rio Pimenta Bacia do Rio Claro


Parâmetros Médio Baixo Médio Baixo Médio Baixo
Alto Curso Alto Curso Alto Curso
Curso Curso Curso Curso Curso Curso
1 4 0 4 0 0 0 4 0 0
2 2 0 2 0 0 0 0 2 0
3 0 0 2 0 0 2 2 0 2
4 4 4 2 4 4 4 4 4 4
5 2 4 4 2 2 4 2 4 4
6 0 2 2 2 0 2 2 2 2
7 0 2 0 2 2 4 2 2 4
8 2 4 4 2 2 4 2 4 4
9 0 2 2 2 0 2 2 2 2
10 2 2 2 2 2 2 4 2 2
11 2 2 3 2 0 2 2 2 2
12 0 2 0 0 2 2 0 3 2
13 0 0 2 0 0 0 0 2 0
14 0 0 0 0 0 0 0 0 0

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS (MA) 641

Bacia do Rio Calhau Bacia do Rio Pimenta Bacia do Rio Claro


Parâmetros Médio Baixo Médio Baixo Médio Baixo
Alto Curso Alto Curso Alto Curso
Curso Curso Curso Curso Curso Curso
15 0 0 0 0 2 3 5 5 3
16 0 0 3 0 0 2 0 3 2
17 3 0 2 0 0 0 3 3 0
18 5 5 5 0 2 2 0 3 2
19 3 2 5 0 0 0 2 0 0
20 2 0 3 0 0 3 2 2 3
21 2 2 2 0 0 0 0 2 0
22 0 2 5 0 0 0 0 0 0
Pontuação 33 35 54 18 18 38 38 47 38
Avaliação Impactado Impactado Alterado Impactado Impactado Impactado Impactado Alterado Impactado
Fonte: Os autores.

No que tange a qualidade do recurso hídrico, a descarga de esgoto in natura na região, é


a principal forma de contaminação e poluição da água. O impacto produzido devido o despejo
de efluentes é cada vez mais visível nos rios e pequenos tributários, sendo causadas principal-
mente por tubulações que se encontram sem manutenção e em constante vazamento. Em vir-
tude disso, os rios se tornam reservatório para efluentes não tratados e um ambiente propício
para vetores de doenças.
No município de São Luís, de acordo com o estudo de Silva (2020), o sistema de esgota-
mento sanitário está dividido em 5 bacias, sendo elas: Anil, Bacanga, Paciência, Oceânica (onde
se enquadram as bacias dos rios Calhau, Pimenta e Claro) e Jeniparana. As mesmas sofrendo
com constante descarga de esgoto. Com base nos pontos e na avaliação do PAR, dentre as
bacias estudadas, a que apresentou os maiores impactos, decorrentes do despejo irregular de
esgoto, foi a do rio Pimenta (Figura 2).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


642 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra

Figura 2 – As imagens A e B demonstram vazamento de esgoto in natura na região


do médio curso do rio Pimenta

Fonte: Os autores.

Uma condição que se mostrou constante em todos os trechos avaliados, é a oleosidade


da água e do solo. Nas referidas bacias, é uma característica atribuída devido a carga de esgoto
doméstico existente. Segundo Faria e Serra (2020), a presença de óleos e graxas, oriundos
de produtos como o sabão, gorduras e óleos vegetais, pode acarretar em impactos diretos
ao ambiente, influenciando nos processos biológicos necessários para a manutenção do
ecossistema. Isso acontece porque eles atuam como uma película sobre o rio, dificultando a
entrada de luz e, consequentemente, a oxigenação da água. O desequilíbrio causado, pode
influenciar na eutrofização do ambiente aquático e impedir existência de animais e vegetais
na região, além da utilização do recurso pela população.

O descarte de lixo nas margens dos rios, corrobora para uma paisagem e um ambiente
ainda mais afetado. O despejo irregular dos resíduos sólidos, se mostra uma prática comum
nas grandes cidades e acaba por chegar de forma direta ou indireta aos rios. Portanto, o
manejo adequado para a manutenção dos resíduos sólidos é de grande importância, sendo
essencial para uma melhor qualidade ambiental e social da região. De acordo com o Plano de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana da Grande São Luís (PGIRS/
RMGSL), em 2019 a capital apresentava uma produção diária de resíduos sólidos de 901,44
t, possuindo, com base nos dados de coleta, um déficit de 111,44 t/dia, o que significa que
12% do lixo produzido não recebia uma destinação adequada. Todos os pontos de avaliação
mostravam presença de lixo e em sua maioria de origem plástica (Figura 3).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS (MA) 643

Figura 3 – Imagem A – Lixo no alto curso do rio calhau; Imagem B – Lixo nas
proximidades do rio no alto curso do rio Claro

Fonte: Os autores.

Ainda foi possível observar áreas com erosão, marcadas por estruturas de enrocamento,
como medidas para prevenir os deslizamentos das margens. O crescimento urbano desorde-
nado favorece esses processos principalmente em decorrência da retirada da vegetação para
limpeza em regiões próximas a moradias, ou para construções nos terrenos. A retirada da
vegetação e a erosão das margens do canal, favorecem o processo de assoreamento do leito
do rio, causado pelo acumulo de sedimentos no canal de drenagem, e provoca, em períodos
chuvosos alagamentos, enchentes e inundações, levando prejuízos para a região (Figura 4).

Figura 4 – Imagem A – Estrutura de enrocamento no médio curso do rio Calhau;


Imagem B – Influência da erosão das margens no médio curso do rio Claro

Fonte: Os autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


644 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra

A avaliação quanto a extensão e qualidade vegetação ciliar, demonstrou o resultado das


diferentes modificações ocorrentes nas proximidades do canal de drenagem das bacias, princi-
palmente no alto e médio curso, influenciada pela evolução da malha urbana. Mesmo em
regiões onde ainda era possível encontrar resquícios de uma vegetação mais densa e conser-
vada, a mesma era marcada pela presença de espécies invasoras, comuns na região.
Pinheiro (2019), mapeou as diferentes espécies que adentraram os ambientes no muni-
cípio de São Luís. Dentre as observadas na área do presente estudo, tem-se Calotropis procera
(Saco de Velho), Cuscuta racemosa (Fios de Ouro), Leucaena leucocephala (Leucena) e Terminalia
catappa (Amendoeira), sendo essa última a mais encontrada nos pontos de avaliação do PAR,
estando presente na extensão da mata ciliar dos pequenos cursos d’água. Ainda segundo o
autor, a presença de espécies invasoras evidencia a descaracterização dos ecossistemas,
podendo causar grandes danos a vegetação local devido seu potencial para modificação de
ambientes naturais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as três bacias analisadas, sofreram processos de retirada da vegetação, erosão,
ocupação indevida, assoreamento dos rios, poluição e contaminação. A retirada da vegetação
é a principal causa para os problemas enfrentados, juntamente com o despejo de lixo e esgoto
em trechos do rio.
A falta de saneamento nos bairros em que as bacias se estendem, ainda é um grande pro-
blema enfrentado, mesmo com alta expansão urbana da região, o processo de sistematização
para tratamento de esgoto não se mostra plenamente atuante. O despejo de esgoto in natura
causa problemas aos mananciais locais que sofrem com as consequências da contaminação.
Dentre as bacias trabalhadas, as mais agredidas por esses processos são as do rio Claro e
Pimenta. É importante destacar que as bacias apresentam áreas densamente urbanizadas em
toda sua extensão territorial, onde muitas intervenções ocorreram, como a canalização da
maioria de seus rios e retirada da vegetação ciliar. Esses impactos tendem a ser mais notáveis,
sendo evidenciados por inundações em eventos de forte precipitação em vários bairros da
cidade de São Luís.
Com base na presente pesquisa, as características observadas demonstram a necessi-
dade de atenção pelos órgãos responsáveis quanto a execução de estratégias de gestão terri-
torial, especialmente com ações para proteção das nascentes e dos pequenos córregos, sendo
os mesmos, os que apresentam os maiores riscos e impactos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO AMBIENTAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORÂNEAS DE SÃO LUÍS (MA) 645

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


55. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE
DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO
ALTER DO CHÃO NA CIDADE
DE PARINTINS-AMAZONAS

MÔNICA JACAÚNA DOS SANTOS1


ISRAEL HENRIQUE RIBEIRO RIOS2
JOSÉ ROBERTO DE SOUZA TEIXEIRA3
RAFAEL JOVITO SOUZA4

Resumo: Na Amazônia, dentre os meios de abastecimento de água para a população têm-se des-
tacado a captação através de poços tubulares. No contexto do abastecimento público de água na
cidade de Parintins-Amazonas, este ocorre exclusivamente por captação subterrânea do lençol
freático do aquífero Alter do Chão. Este estudo analisou a qualidade da água desse aquífero, atra-
vés dos parâmetros: temperatura, pH, condutividade elétrica, alumínio, amônia, OD, turbidez,
nitrato, sulfato, ferro, coliformes totais, coliformes termotolerantes, e outros. A localidade utiliza
para despejo de seus efluentes domésticos, predominantemente, as fossas sépticas, podendo
infiltrar e contaminar as águas subterrâneas, principalmente, o lençol freático, onde o nitrato apa-
rece como um importante indicador de contaminação fecal. O objetivo deste estudo é avaliar a
qualidade da água nos poços de abastecimento público de Parintins, subsidiando a gestão dos
recursos hídricos e ambientais. A metodologia utilizada incluiu revisão bibliográfica, documental,
coleta e análise das amostras de água dos poços, de acordo com procedimentos preconizados no
Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater (APHA, 2005), e parâmetros
estabelecidos na Portaria nº 5/2017 (Ministério da Saúde) e Resolução CONAMA nº 396/2008. O
diagnóstico de locais com contaminação de água é importante para o enquadramento das águas
do aquífero e para a tomada de decisão. Os resultados obtidos para alguns poços, mostraram
níveis acima dos padrões estabelecidos para o consumo humano. Com este estudo espera-se sub-
sidiar a gestão dos recursos hídricos subterrâneos, auxiliando a segurança hídrica e a mitigação de
possíveis contaminações do aquífero Alter do Chão.
Palavras-chave: Qualidade da água; Águas subterrâneas; Contaminação de aquíferos.
Abstract: In the Amazon, among the means of water supply for the population, the capture
through tubular wells has been highlighted. In the context of the public water supply in the city of

1 Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: monicajacauna9@hotmail.com


2 Universidade Federal da Bahia – UFBA. E-mail: israelhenriquerr@gmail.com
3 Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: jrteixeirapim@hotmail.com
4 Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: rjovito@uea.edu.br

[ 646 ]
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER 647

Parintins/Amazonas, this occurs exclusively by underground capture of the water table of the Alter
do Chão aquifer. This study analyzed the water quality of this aquifer through parameters: tem-
perature, pH, electrical conductivity, aluminum, ammonia, OD, turbidity, nitrate, sulfate, iron,
total coliforms, thermotolerant coliforms, and others. The locality uses septic sphesis to dump its
domestic effluents, predominantly, and can infiltrate and contaminate groundwater, mainly the
groundwater, where nitrate appears as an important indicator of fecal contamination. The aim of
this study is to evaluate the water quality in the public supply wells of Parintins, supporting the
management of water and environmental resources. The methodology used included, bib-
liographic review, documentary, collection and analysis of water samples from wells, according to
procedures recommended in the Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater
(APHA, 2005), and parameters established in Ordinance n° 5/2017 (Ministry of Health) and
CONAMA Resolution No. 396/2008. The diagnosis of sites with water contamination is important
for decision making and for the framing of aquifer waters. The results obtained for some wells
showed levels above the established standards for human consumption. With this study it is
expected to support the management of underground water resources, assisting water security
and mitigation of possible contamination of the Alter do Chão aquifer.
Keywords: Water quality; Groundwater; Aquifer contamination.

1 INTRODUÇÃO
As águas subterrâneas correspondem à parcela das águas que ficam armazenadas sob o
solo, sendo recarregadas pelas águas das chuvas. Elas são menos vulneráveis à poluição se
comparadas às águas superficiais já que o solo funciona como um filtro natural, limpando parte
das impurezas. Ainda assim, a poluição dos mananciais subterrâneos pode ocorrer, ainda que
de forma mais lenta. A poluição acontece principalmente devido a despejos de esgotos, cho-
rume gerado pelas acumulações de lixo, vazamento de combustíveis e substâncias químicas de
pesticidas e fertilizantes utilizados na agricultura.
A poluição está associada à má qualidade ou deterioração do corpo hídrico, sendo um dos
objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos.
Essa qualidade do recurso hídrico é condicionada às suas características físicas, químicas e bioló-
gicas – como turbidez, pH, agentes patogênicos e concentração de substâncias químicas.
Nesse contexto, a avaliação constante da qualidade da água dos aquíferos é imprescindí-
vel para a proteção e sustentabilidade dos recursos hídricos subterrâneos, na medida em que
mostra a situação atual para subsidiar metas e ações de melhoria da gestão desse recurso.
Assim, o objetivo fundamental deste estudo é avaliar os parâmetros de qualidade da
água subterrânea na cidade de Parintins – Amazonas, em sua porção superior, procedentes do
aquífero Alter do Chão utilizada no abastecimento público, para subsidiar a melhoria da gestão
das águas subterrâneas e o controle da poluição.
De acordo com a CETESB (2017), o monitoramento da qualidade da água subterrânea
é fundamental para o conhecimento da hidrogeoquímica e da condição dos parâmetros de
qualidade. A avaliação da qualidade da água se dá através do monitoramento de parâmetros
como temperatura, pH, condutividade elétrica, alumínio, amônia, oxigênio dissolvido,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


648 Mônica Jacaúna dos Santos; Israel Henrique Ribeiro Rio; José Roberto de Souza Teixeira; Rafael Jovito Souza

turbidez, ferro, nitrito, nitrato, sulfato, sulfeto, cobre, zinco, manganês, coliformes totais e
coliformes termotolerantes.
No Brasil, têm-se a Portaria de Consolidação nº 5/2017, anexo XX, que dispõe sobre os
procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade. Essa lei define as concentrações limites para cada substância em águas
para consumo humano, aplicando-se às águas provenientes de sistema e solução alternativa
de abastecimento de água. No contexto das águas subterrâneas, a resolução CONAMA nº
396/2008, dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento destas
águas (BRASIL, 2017; BRASIL,2008).
Especificamente, para Silva et. al (2019), a região Amazônica apresenta baixo índice de
saneamento básico, contribuindo na problematização ligada às doenças de veiculação hídrica,
principalmente em áreas remotas, onde a coleta de dejetos humanos é feito por meio de fos-
sas sépticas e negras, e se utilizam poços tubulares para o fornecimento de água sem nenhum
tipo de tratamento.
A discussão sobre os parâmetros envolvidos neste estudo é de grande importância para
a gestão dos recursos hídricos e ambientais. Com relação ao parâmetro nitrato, Braga et. al
(2018), coloca que a deposição de matéria orgânica no solo, como acontece quando se utiliza
fossas e sumidouros, aumenta drasticamente a quantidade de nitrogênio. Esse nitrogênio é
biotransformado e, por fim, se oxida na substância inorgânica denominada nitrato que possui
grande mobilidade no solo alcançando o manancial subterrâneo e ali se depositando. Águas
com índices elevados de contaminação por nitrato são indicativos de poluição mais remota,
por ser este o produto final de oxidação do nitrogênio. Já para Baird (2007), o nitrato em águas
subterrâneas origina-se principalmente de quatro fontes: aplicação de fertilizantes com nitro-
gênio, outros químicos inorgânicos e esterco animal, em plantações; cultivo do solo; esgoto
humano depositado em sistemas sépticos e deposição atmosférica.
Alaburda e Nishihara (1998), apontam que a amônia pode estar presente naturalmente
em águas superficiais ou subterrâneas, sendo que usualmente sua concentração é bastante
baixa devido à sua fácil adsorção por partículas do solo ou à oxidação a nitrito e nitrato.
Entretanto, a ocorrência de concentrações elevadas pode ser resultante de fontes de polui-
ção próximas, bem como da redução de nitrato por bactérias ou por íons ferrosos presentes
no solo.
Segundo Picanço et. al (2002), o ferro é encontrado em praticamente todas as águas,
entretanto, quando encontrado em teores superiores a 0,5 mg/L, a água tem sua cor, odor e
sabor alterados. Além disso, teores de ferro dessa ordem tendem a reduzir a aceitação da água
pelas pessoas, devido ao fato de causarem manchas em roupas e pisos, entre outros inconve-
nientes. Tem-se a questão ainda que a presença de ferro na água pode implicar na sua precipi-
tação nos filtros ou nos pré-filtros de poços, reduzindo a eficiência destes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER 649

De acordo com Corcovia e Celligoi apud Santos (1997), a concentração dos íons hidrogê-
nio, expresso pelo pH das águas subterrâneas, varia geralmente entre 5,5 e 8,5. A Portaria nº
5/2017 (MS), legislação vigente da qualidade da água para consumo humano, não estabelece
limites de valores para o pH, porém, recomenda que a faixa de pH fique entre 6,0 a 9,5, no sis-
tema de distribuição.
Conforme coloca Filho (2018), as concentrações de alumínio variam bastante nas águas
subterrâneas, dependendo diretamente de fatores geológicos e físico-químicos. De acordo
com a Portaria n° 5/2017, do Ministério da Saúde, o limite de potabilidade para o alumínio é de
até 0,2 mg/L, para as águas destinadas ao consumo humano.
Para Vasconcelos et. al (2019), a condutividade elétrica da água representa um parâme-
tro físico utilizado para obtenção das características de determinado meio líquido e, de um
modo geral, reflete a capacidade da água conduzir corrente elétrica. Esta propriedade pode ser
um parâmetro relativo para compará-la à quantidade de sais presentes. Águas subterrâneas
com condutividade elétrica elevada possuem também maiores quantidades de sais (cátions e
ânions). A condutividade elétrica não é normalmente utilizada como um parâmetro de potabi-
lidade, mas existe uma correlação empírica entre a condutividade elétrica-CE e os Sólidos
Totais Dissolvidos (STD).
A qualidade da água foi investigada em conjunto com a vulnerabilidade natural dos aquí-
feros, que é a propensão natural de um solo de receber uma certa carga contaminante – essa
propriedade depende da textura do solo (areia, argila, silte), da profundidade da água subter-
rânea e do grau de confinamento desta. Quanto maior essa vulnerabilidade, mais sensível à
poluição é o aquífero, devendo tomar-se medidas para a proteção desses locais.

2 METODOLOGIA
2.1 Características da área de estudo
Este estudo foi realizado na sede de Parintins, um arquipélago/ilha que se localiza à mar-
gem direita do rio Amazonas, com superfície de aproximadamente 45km² de perímetro urbano,
rodeada pelo rio Amazonas, por lagos e pequenas ilhas, com população estimada de 83.000
pessoas, representa o principal polo turístico do interior do Estado do Amazonas através do
Festival Folclórico de Parintins.
O abastecimento público de água na cidade de Parintins é feito exclusivamente por cap-
tação subterrânea do lençol freático, de procedência do Aquífero Alter do Chão, através de
poços tubulares tendo em média 91,7 metros de profundidade, estando sob responsabilidade
da autarquia de Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parintins – SAAE (SAAE, 2020).
Genericamente, a cidade foi dividida em área urbana e suburbana, sendo que na área
urbana localizam-se as quatro estações de bombeamento do Sistema de Abastecimento
Público, com 20 poços tubulares. Enquanto que, na área suburbana ficam 6 poços tubulares

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


650 Mônica Jacaúna dos Santos; Israel Henrique Ribeiro Rio; José Roberto de Souza Teixeira; Rafael Jovito Souza

que fazem a distribuição da água para as comunidades de Macurany, Aninga, Parananema e


Residencial Vila Cristina, perfazendo 26 poços tubulares objetos deste estudo (Figura 1).

Figura 1 – Localização dos poços tubulares locados na área urbana e suburbana de Parintins-AM

Fonte: SANTOS, 2021.

2.2 Análises físico, química e microbiológica de qualidade da água


A metodologia utilizada tem como base os procedimentos e interpretações descritas no
Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater (APHA, 2005). Os parâme-
tros foram estabelecidos de acordo com a Portaria de Consolidação nº 05/2017, anexo XX, do
Ministério da Saúde, e Resolução CONAMA nº 396/2008.
A coleta das amostras de água foi feita no período da cheia (maio) e vazante (outubro) de
2015 a 2019, em sacos coletores estéreis de 500ml, na torneira de saída dos poços tubulares,
após higienização com álcool 70%, e deixar a água escoar por dois a três minutos para eliminar
a água estagnada na tubulação. Foram coletadas três amostras de cada poço, para realizá-las
em triplicatas (SANTOS, 2021; TEIXEIRA, 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER 651

Em campo, foram analisados os parâmetros: temperatura, pH, e condutividade elétrica


com sonda multiparâmetro HANNA. Em seguida, transportadas em isopor com gelo três amos-
tras de cada poço para as análises realizadas no laboratório do SAAE. Os parâmetros foram alu-
mínio, amônia, oxigênio dissolvido, turbidez, ferro total, manganês, nitrato, nitrito, sulfato, sulfeto,
cobre e zinco, se utilizou a metodologia da DR/890 HACH Colorimeter, que usa kits de reagentes
(sachê) adicionados nas amostras de água e em seguida é aferido o parâmetro no equipamento.
A metodologia utilizada para as análises microbiológicas foram a do substrato enzimático
definido ONPG-MUG, técnica da Colilert, onde é adicionado nas amostras de água 500ml, o
reagente cromogênico, e detectado no período de 24 horas na estufa, em temperatura de 35
ºC, a presença/ausência de Coliformes Totais e Escherichia coli, respectivamente. A coloração
amarela, indica a presença de Coliformes Totais e a observância de fluorescência em lâmpada
Ultravioleta de 365 nm, indica a presença de E. coli. Os dados obtidos foram tabulados e siste-
matizados em tabelas dos softwares Word e Excel.
A metodologia comparativa (FACHIN, 2001) que permite comparar a análise de dados, no
qual as análises físico-químicas realizadas no período entre 2015 e 2018, e microbiológicas rea-
lizadas no período de 2018 a 2019, na área urbana da cidade, de dados obtidos por (TEIXEIRA,
2019) e de uma avaliação técnica do Sistema Público de Parintins (AM), por (SGB/ CPRM, 2019)
serviram para subsidiar nossa discussão para as maiores médias das concentrações de pH, alu-
mínio, amônia, nitrato, condutividade elétrica e ferro na região de estudo. Estes dados foram
coletados e analisados semestralmente e trimestralmente, cheia e vazante, utilizando a mesma
metodologia descrita neste trabalho.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No quadro 1, tem-se um comparativo dos resultados de pH, alumínio, amônia, nitrato,
condutividade elétrica e ferro, obtidos nos poços tubulares da cidade de Parintins, vazante do
rio Amazonas, considerando o período de maior variação de acordo com este estudo realizado
nos 26 poços tubulares.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


Quadro 1 – Resultados de parâmetros em poços tubulares de Parintins
652

pH Alumínio (mg/L) Amônia (mg/L) Nitrato (mg/L) C.E. µS/cm Ferro Total
Poços 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
01 - 4,4 4,6 - 0,27 0,220 - 0,04 0,01 - 10,6 6,6 - 65 67,2 - <0,01 0,053
02 - 3,7 4,5 - 1,56 0,380 - 0,03 0,04 - 34,7 4,2 - 240 87,2 - 0,03 0,054
03 - 3,6 4,1 - 2,27 1,640 - 2,36 0,03 - 50,8 12,4 - 339 204,1 - <0,01 0,087
04 - 3,7 4,0 - 1,54 2,276 - 2,38 2,11 - 37,9 6,6 - 284 247,8 - <0,01 0,078
05 - 4,0 4,2 - 0,08 1,583 - 0,04 1,70 - 4,74 4,2 - 37 222,2 - <0,01 0,060
06 - 4,1 4,8 - 0,40 0,058 - 0,25 0,02 - 25,6 12,4 - 122 34,9 - 0,10 0,042
07 - 3,8 4,3 - 0,74 0,454 - 0,39 0,14 - 29,9 6,6 - 151 161,4 - <0,01 0,274
08 - 3,6 4,0 - 2,21 1,675 - 0,36 2,38 - 70,8 4,2 - 303 237,6 - 0,04 0,047
09 - 3,9 4,0 - 1,80 1,411 - 1,71 0,58 - 47,3 12,4 - 301 227,6 - <0,01 0,055
10 - 3,8 4,3 - 0,75 0,632 - 0,59 0,21 - 22,9 6,6 - 167 173,3 - 0,05 0,149
11 - 3,9 4,3 - 1,71 0,906 - 0,69 0,31 - 45,2 4,2 - 269 205,3 - 0,15 0,125
12 - 3,8 4,7 - 0,07 0,035 - <0,013 0,04 - 6,30 12,4 - 35 33,5 - <0,01 0,047
13 - 4,0 4,4 - 0,73 0,465 - <0,013 0,02 - 27,8 6,6 - 132 90,7 - <0,01 0,066
14 - 4,1 4,4 - 0,29 0,161 - <0,013 0,02 - 12,3 4,2 - 74 62,8 - <0,01 0,070
15 - 3,8 4,6 - 0,11 0,061 - <0,013 0,02 - 4,08 12,4 - 42 36,6 - <0,01 0,062
16 - 3,9 4,6 - 0,13 0,065 - <0,013 0,03 - 5,08 6,6 - 39 43,5 - 0,02 0,133
17 - 3,8 4,4 - 0,08 0,065 - 0,06 0,05 - 6,10 4,2 - 50 37,5 - <0,01 0,057
18 - 3,8 4,6 - 0,04 0,025 - 0,13 0,04 - 3,30 12,4 - 27 37,4 - 0,01 0,080
19 - 3,7 3,9 - 2,53 2,161 - 0,80 0,59 - 86,7 6,6 - 373 236,4 - 0,06 0,095
20 - 3,7 4,4 - 0,78 0,460 - 0,24 0,05 - 43,1 4,2 - 192 84,4 - 0,31 0,365
Vila Cristina 4,9 4,5 - 0,030 0,03 - 0,000 <0,013 - 1,75 1,69 - 20 20 - 0,07 0,07 -
Paranapanema–
4,8 4,4 - 0,006 0,02 - 0,000 0,02 - 2,50 1,60 - 21 21 - 0,06 <0,01 -
São Miguel
Paranapanema–
4,8 4,0 - 0,001 0,03 - 0,000 <0,013 - 1,55 1,57 - 20 20 - 0,04 <0,01 -
São Pedro
Macurany-Santa
4,9 4,5 - 0,010 0,02 - 0,000 <0,013 - 1,10 1,51 - 20 20 - 0,12 <0,01 -
Luzia
Aninga-Santa
5,1 4,5 - 0,000 <0,01 - 0,110 <0,013 - 3,10 0,81 - 20 16 - 0,05 <0,01 -
Terezinha
Aninga-Ramal
4,9 4,4 - 0,003 0,02 - 0,100 <0,013 - 1,70 0,91 - 30 19 - 0,19 <0,01 -
dos Reis

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


Mônica Jacaúna dos Santos; Israel Henrique Ribeiro Rio; José Roberto de Souza Teixeira; Rafael Jovito Souza

VMP Portaria
05/2017/MS
6,0 a 9,5 0,2 mg/L 1,5 mg/L 10 mg/L N/A 0,3 mg/L

Fonte: Autor¹; SGB-CPRM (2019)²; TEIXEIRA (2019)³


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER 653

Considerando que as análises em 1 foram feitas por este trabalho e as análises 2 e 3 por
SGB-CPRM (2019) e TEIXEIRA (2019), respectivamente, os padrões de potabilidade foram mais
frequentemente ultrapassados nos parâmetros nitrato e alumínio. A amônia foi ultrapassada
em três pontos analisados e o padrão de ferro foi ultrapassado apenas no ponto 20.

Quadro 2 – Teor de nitrato em poços tubulares de Parintins

Poços Nível estático Profundidade Nitrato (mg/L) Nitrato (mg/L) Vulnerabilidade


Tubulares Nível estático cheia vazante

01 >5m 5,20 m a 8,80 m 8,2 6,6 Média


02 >5m 5,20 m a 8,80 m 5,9 4,2 Média
03 >5m 5,20 m a 8,80 m 7,2 12,4* Média
04 <5m 3,50 m a 4,90 m 15,0* 14,6* Alta
05 <5m 3,50 m a 4,90 m 15,1* 11,9* Alta
06 >5m 5,20 m a 8,80 m 4,6 2,5 Média
07 >5m 5,20 m a 8,80 m 6,2 14,7* Média
08 <5m 3,50 m a 4,90 m 9,1 15,6* Alta
09 <5m 3,50 m a 4,90 m 13,9* 20,9* Alta
10 <5m 3,50 m a 4,90 m 8,6 9,4 Alta
11 <5m 3,50 m a 4,90 m 12,9* 12,3* Alta
12 >5m 5,20 m a 8,80 m 3,3 5,1 Média
13 >5m 5,20 m a 8,80 m 6,1 9,9 Média
14 >5m 5,20 m a 8,80 m 3,1 6,6 Média
15 >5m 5,20 m a 8,80 m 3,9 4,5 Média
16 <5m 3,50 m a 4,90 m 5,1 4,6 Alta
17 >5m 5,20 m a 8,80 m 2,5 5,8 Média
18 >5m 5,20 m a 8,80 m 4,3 4,2 Média
19 >5m 5,20 m a 8,80 m 13,0* 20,4* Média
20 <5m 3,50 m a 4,90 m 5,8 13,9* Alta
21 >5m 5,20 m a 8,80 m 1,7 1,7 Média
22 >5m 5,20 m a 8,80 m 2,5 2,5 Média
23 >5m 5,20 m a 8,80 m 1,5 1,5 Média
24 >5m 5,20 m a 8,80 m 1,1 1,1 Média
25 >5m 5,20 m a 8,80 m 3,1 3,1 Média
26 >5m 5,20 m a 8,80 m 1,7 1,7 Média
VMP Portaria VMP Portaria 10 mg/L
05/2017/MS 05/2017/MS
* Análises que ultrapassaram o padrão de potabilidade. Fonte: Autor.

No período de vazante, em 9 localidades investigadas a concentração de nitrato ultrapas-


sou o limite padronizado pela Portaria 5/2017 (10 mg/L). Já no período de cheia, foram 5 localida-
des onde esse padrão foi ultrapassado, nesses pontos (04, 05, 09, 11 e 19) esse padrão foi alto

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


654 Mônica Jacaúna dos Santos; Israel Henrique Ribeiro Rio; José Roberto de Souza Teixeira; Rafael Jovito Souza

nos dois períodos, diagnosticando uma provável contaminação do aquífero nos intermédios des-
ses locais (fonte de poluição mais provável as fossas sépticas). Essa contaminação se torna ainda
mais grave devido à vulnerabilidade das águas subterrâneas ser alta em quatro (04,05,09,11) des-
tes cinco pontos. A vulnerabilidade ainda é alta em mais quatro locais (08,10,16 e 20).

Quadro 3 – Teor de alumínio


Poços Nível estático Profundidade Alumínio (mg/L) Alumínio (mg/L) Vulnerabilidade
Tubulares Nível estático cheia vazante
01 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,206 0,220 Média
02 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,298 0,380 Média
03 >5m 5,20 m a 8,80 m 1,193 1,640 Média
04 <5m 3,50 m a 4,90 m 2,408 2,276 Alta
05 <5m 3,50 m a 4,90 m 1,415 1,583 Alta
06 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,050 0,058 Média
07 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,531 0,454 Média
08 <5m 3,50 m a 4,90 m 1,659 1,675 Alta
09 <5m 3,50 m a 4,90 m 1,390 1,411 Alta
10 <5m 3,50 m a 4,90 m 0,670 0,632 Alta
11 <5m 3,50 m a 4,90 m 0,774 0,906 Alta
12 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,037 0,035 Média
13 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,325 0,465 Média
14 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,156 0,161 Média
15 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,075 0,061 Média
16 <5m 3,50 m a 4,90 m 0,076 0,065 Alta
17 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,084 0,065 Média
18 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,041 0,025 Média
19 >5m 5,20 m a 8,80 m 1,855 2,161 Média
20 <5m 3,50 m a 4,90 m 0,478 0,460 Alta
21 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,030 0,030 Média
22 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,006 0,006 Média
23 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,001 0,001 Média
24 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,010 0,010 Média
25 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,000 0,000 Média
26 >5m 5,20 m a 8,80 m 0,003 0,003 Média
Fonte: Autor.

Segundo a Portaria do MS nº 5/2017, do Ministério da Saúde, o padrão de Potabilidade


do alumínio é de 0,2 mg/L – sendo que este parâmetro faz parte das substâncias organolépti-
cas, valores maiores que essa concentração podem conferir gosto,cor ou odor na água no caso
da utilização direta dela para consumo humano. No período de cheia, 12 pontos analisados
ultrapassam esse padrão enquanto que no período de vazante 13 pontos ultrapassam.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER 655

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Aquífero Alter do Chão é uma importante reserva estratégica de água subterrânea
para a região amazônica, principalmente no que se refere ao abastecimento urbano, por ser
fonte de abastecimento para vários municípios da região. Vale ressaltar que na cidade de
Parintins o abastecimento urbano é feito, exclusivamente, por poços tubulares de captação
subterrânea do lençol freático do aquífero Alter do Chão.
Diante do exposto, destacamos a relevância do planejamento das atividades de uso e
ocupação do solo, no entorno dos poços tubulares de Parintins, para que os riscos de contami-
nação antrópica sejam mitigados.
Portanto, recomenda-se que sejam monitorados os poços de abastecimento e as zonas
de proteção desses poços, a fim de evitar maiores contaminações do aquífero Alter do Chão,
na região mais próxima à superfície, por estar mais suscetível à contaminação.
Que ocorra ainda, monitoramento de novos empreendimentos, próximos às estações e
poços de abastecimento, que apresentem riscos de contaminação para as águas subterrâneas,
e possam utilizar dados de vulnerabilidade, cargas e risco de contaminação como subsídios à
gestão dos recursos hídricos em Parintins no Amazonas.

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de 2008, Seção 1, páginas 64-68. Brasília, DF, 2008.
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656 Mônica Jacaúna dos Santos; Israel Henrique Ribeiro Rio; José Roberto de Souza Teixeira; Rafael Jovito Souza

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


56. AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO
E COBERTURA DA TERRA NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO MAPARI,
MARANHÃO, BRASIL

ADILSON MATHEUS BORGES MACHADO1


LUCIANA AMORIM SOARES2
LEONARDO SILVA SOARES3
EDSON VICENTE DA SILVA4

Resumo: As atividades antrópicas modernas são extremamente dependentes sistemas naturais


estáveis para a produção de industrial e agricultura. A distribuição espacial das mudanças de uso e
cobertura da terra e do índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) são importantes para
avaliar os impactos em diferentes categorias de terra. Assim, o objetivo deste estudo é identificar as
mudanças espaciais e temporais das classes de uso e cobertura da terra e NDVI de 1985 a 2020 e dis-
cutir de forma integrada as classes de uso e cobertura e as relações com o NDVI. Os resultados mos-
traram que houve maiores mudanças de 1985 para 2020 na classe pastagem (279,34% de aumento),
infraestrutura urbana (377,06% de aumento) e a classe outra área não vegetada (758,33% de
aumento). As maiores diminuições foram as classes Apicum e Rio, Lago e Oceano, apresentando os
valores de -61,87% e -10,09%, respectivamente. Os valores de NDVI de 1985 variam de –0,10 a 0,69,
em 2005 o valor mínimo foi de –0,10 e o máximo de 0,66, já para o ano de 2020 o valor mínimo foi
de –0,03 e o máximo foi de 0,60. Conclui-se que as classes de usos apresentaram alterações de 1985
a 2020 nas classes: pastagem, infraestrutura urbana e a classe outra área não vegetada. Os mapas
NDVI exibem boas condições da vegetação, embora o mapa de 2020 tenha aparentado uma diminui-
ção dessas áreas. Portanto, este trabalho aumenta a possibilidade de desenvolver estudos na área
da bacia hidrográfica do rio Mapari com a temática ambiental.
Palavras-chave: Índice de Vegetação; Geotecnologias; NDVI.

1 Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente– PRODEMA. Universidade Federal do Ceará. E-mail: adilsonbor-
ges94@gmail.com
2 Graduanda em Oceanografia, Departamento de Oceanografia e Limnologia, Laboratório de Ciências e Planejamento
Ambiental. Universidade Federal do Maranhão. E-mail: lucianaamorimsoares@gmail.com
3 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio AmbienteUniversidade Federal do Maranhão. E-mail: leo-
nardo.soares@ufma.br
4 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio AmbienteUniversidade Federal do Ceará. E-mail: cacau-
ceara@gmail.com

[ 657 ]
658 Adilson Matheus Borges Machado; luciana Amorim Soares; Leonardo Silva Soares; Edson Vicente da Silva

Abstract: Modern anthropic activities are extremely dependent on stable naturals systems for
industrial and agricultural production. The spatial distribution of land use and land cover changes
and the normalized difference vegetation index (NDVI) are important for assessing impacts on dif-
ferent land categories. Thus, the objective of this study is to identify the spatial and temporal
changes of land use and land cover classes and NDVI from 1985 to 2020 and to discuss the land use
and land cover classes and relationships with NDVI in an integrated way. The results showed that
there were the largest changes from 1985 to 2020 in the pasture class (279.34% increase), urban
infrastructure (377.06% increase), and the other non-vegetated area class (758.33% increase). The
largest decreases were in the Apicum and River, Lake and Ocean classes, showing the values of
-61.87% and -10.09%, respectively. The NDVI values for 1985 vary from -0.10 to 0.69, in 2005 the
minimum value was -0.10 and the maximum 0.66, for the year 2020 the minimum value was -0.03
and the maximum 0.60. We conclude that the land use classes presented changes from 1985 to
2020 in the classes: pasture, urban infrastructure and the class other non-vegetated area. The
NDVI maps show good vegetation conditions, although the 2020 map showed a decrease in these
areas. Therefore, this work increases the possibility of developing studies in the Mapari river basin
area with environmental themes.
Keywords: Vegetation Index; Geotechnologies; NDVI.

1 INTRODUÇÃO
As atividades antrópicas modernas são extremamente dependentes sistemas naturais
estáveis para a produção de alimentos e são dependentes dos recursos naturais, incluindo água,
madeira, fibra, minério e combustível, entre outros serviços e bens do ecossistema causando inú-
meros impactos nas últimas décadas e consequentemente mudanças nas paisagens naturais
(DEFRIES et al., 2004; SOUZA et al., 2020). A distribuição espacial das mudanças de uso e cober-
tura da terra são importantes para avaliar os impactos em diferentes categorias de terra, as
mudanças severas podem causar efeitos no ciclo hidrológico que consequentemente pode levar
a uma redução ecológica, diminuição da produção agrícola, crise alimentar e até a fome.
Para Soares et al. (2017) a avaliação integrada de bacias hidrográficas é necessária, pois
auxilia no gerenciamento da unidade territorial e sua implementação depende de um conjunto
de fatores interdisciplinares que objetiva uma avaliação sistêmica da dinâmica ambiental e ter-
ritorial da área estudada.
No contexto nacional, a base para a gestão dos recursos hídricos encontra-se na Lei
Federal nº 9.433, de 1997. Esta lei define a Política Nacional de Recursos Hídricos. Uma das
diretrizes de ação desta política é que a gestão das bacias hidrográficas. Esta política também
elabora instrumentos para uso na gestão de recursos hídricos (LOITZENBAUE; MENDES, 2012).
Existem dificuldades de efetivação das bacias hidrográficas costeiras do Litoral Oriental do
estado do Maranhão como unidades territoriais, por isso, estudos de avaliação de mudanças
na paisagem são uma ferramenta para auxiliar a tomada de decisão nessas unidades de alta
complexidade.
O Google Earth Engine (GEE) Application Program Interface (API) fornece acesso online à
cobertura mundial de imagens de satélite MODIS e Landsat, entre outros. Essa base também
fornece ferramentas de mineração de dados para a detecção de mudanças de uso e cobertura

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA 659

da terra, mapeamento de tendências e quantificação de diferenças na superfície da Terra (GEE,


2021). Entre esses dados estão os dados do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura
da Terra no Brasil (MapBiomas) que surgiu em 2015 com o objetivo de contribuir para o enten-
dimento da dinâmica do uso do solo no Brasil e em outros países tropicais, tendo como base:
desenvolvimento e implementação de uma metodologia rápida, confiável e de baixo custo
para gerar mapas anuais de cobertura e uso do solo do Brasil a partir de 1985 até os dias atuais
O índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) tem sido amplamente utilizado
para monitoramento de vegetação (MARKOGIANNI; DIMITRIOU, 2016; TEIXEIRA et al., 2020). A
vegetação influencia o equilíbrio dos ecossistemas locais, o NDVI indica a condição de cresci-
mento da cobertura vegetal enquanto atua como um índice eficaz para monitorar suas varia-
ções. Além disso, técnicas de sensoriamento remoto têm sido eficientes no monitoramento
das classes de usos da terra, com capacidade de compilação dados em várias escalas, sendo
utilizado também para obtenção de informações da cobertura florestal (TUCKER; TOWNSHEND;
GOFF, 1985; JIA et al., 2012; TOWNSHEND et al., 2012).
No momento, os padrões temporais e espaciais das mudanças de uso e cobertura da
terra e do NDVI não foram investigados para a bacia hidrográfica do rio Mapari no Litoral
Oriental do estado do Maranhão. Assim, os três objetivos desta pesquisa são: (1) identificar as
mudanças espaciais e temporais das classes de uso e cobertura da terra de 1985–2020; (2)
mapear as variações espaciais e temporais do índice de vegetação por diferença normalizada
(NDVI); e (3) discutir de forma integrada as classes de uso e cobertura e as relações com o NDVI.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A bacia hidrográfica do rio Mapari está localizada na porção nordeste do estado do
Maranhão, Brasil, compreendendo três municípios: Icatu, Humberto de Campos e Morros, a
região possui possuindo uma linha de costa subretilínea dominada pela ação das marés, recor-
tada por restingas, cordões de dunas fixas e móveis, manguezais, praias, baías, ilhas, enseadas
e sistemas deltáicos, estuarinos (Figura 1).
A bacia está inserida na interface dos biomas Amazônia-Cerrado próxima da Área de
Proteção Ambiental Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças e da Reserva Extrativista da Baía do
Tubarão. A temperatura média anual é de 26,7°C, a precipitação média é de 1900 mm por
ano sendo marcado por dois períodos distintos, o período chuvoso que ocorre normalmente
de janeiro a julho e a estação seca, entre agosto e dezembro (INMET, 2020), e a amplitude de
elevação é na ordem de 85 metros.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


660 Adilson Matheus Borges Machado; luciana Amorim Soares; Leonardo Silva Soares; Edson Vicente da Silva

Figura 1 – Localização das bacias hidrográficas dos rios Periá, Grande e Preguiças, no Litoral Oriental do
estado do Maranhão

Fonte: Galeria do autor.

A bacia do rio Mapari possui 2 tipos de paisagens que predominam: (1) um ecossistema
de restingas com muitas veredas e matas ciliares, decorrentes de sua localização que está na
transição entre os biomas amazônico e cerrado; (2) um ecossistema de manguezais, estando
inserida na maior área contínua de manguezais do mundo. Essas paisagens favorecem a agri-
cultura familiar, o extrativismo e a pesca artesanal, que são as principais atividades econômicas
da área de estudo (FUNO, 2008).
2.2. Classificação de uso e cobertura da terra
Definir um sistema de classificação continua sendo um desafio para sensoriamento
remoto e ecossistema terrestre estudos, especialmente para harmonizar diferentes produtos
de mapas (YANG, 2017; SOUZA, 2020). O acesso aberto do arquivo Landsat (PHIRI, 2017;
WULDER, 2016), aliado a plataforma de computação em nuvem chamada Google Earth Engine
(GEE) e os dados da rede Mapbiomas (https://mapbiomas.org/), incluem especialistas em sen-
soriamento remoto e computação, ciência de dados e biomas, essa base inclui as classificações
de uso e cobertura da terra com 30 m de resolução espacial entre 1985 e 2020 na coleção 6. O
Google Earth Engine (GEE) foi utilizado para obtenção dos dados. As etapas da metodologia
desta pesquisa estão apresentadas no modelo conceitual da Figura 2.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA 661

Figura 2 – Fluxograma metodológico do presente estudo

Fonte: Galeria do autor.

A base de dados do projeto Mapbiomas foi utilizada, o esquema de classificação do desta


base é um sistema hierárquico com uma combinação de classes de uso e cobertura da terra
compatível com os sistemas de classificação da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE,
2013; MACDICKEN, 2015). No Nível 1, existem seis classes: floresta (1), formação não florestal
(2), agricultura (3), área não vegetada (4), água (5) e não observada (6). A descrição de cada
classe pode ser encontrada no site do Mapbiomas (https://mapbiomas.org/
atbd---entenda-cada-etapa).

2.3 Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI)


O uso de imagens NDVI é importante no realce da vegetação em relação aos instrumen-
tos urbanos, água e ao solo exposto, sendo obtido pela razão entre a diferença da refletância
do infravermelho próximo (NIR) e a refletância do vermelho (R), dividida, respectivamente,
pela soma das mesmas, como mostra a equação 1:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


662 Adilson Matheus Borges Machado; luciana Amorim Soares; Leonardo Silva Soares; Edson Vicente da Silva

O NDVI foi calculado utilizando a plataforma GEE para os limites da bacia hidrográfica do
rio Mapari a partir de imagens de satélite Landsat de 1985 a 2020, que podem conter nuvens
e aerossóis que contaminam os pixels, foi aplicada uma filtração visando garantir a qualidade
dos dados. Neste estudo, dados Landsat 5 e 8 foram obtidos com correção atmosférica, ortor-
retificados, L1T (adequado para análise de séries temporais), topo da atmosfera (TOA) que o
GEE fornece. O conjunto de dados Landsat 5, sensor TM contém imagens de satélite de 1984-
1990 e 2003-2012, enquanto o conjunto de dados Landsat 8, sensor OLI varia de 2013-2020. Os
mapas foram confeccionados utilizando o software QGIS 3.16.9 LTR.
A plataforma GEE também foi utilizada para observação e obtenção das diferentes cenas
com os mosaicos de NDVI do sensor MODIS, composição 16 dias, durante os períodos chuvo-
sos, estiagem e transição de 2002 a 2020. O NDVI para o sensor MODIS é calculado para cada
cena, e variando em valor de -1,0 a 1,0 nas imagens georreferenciadas. Os valores de NDVI
estão entre -1 e +1. Quando os valores de NDVI se aproximam de +1 significa que a vegetação
saudável, a diminuição do NDVI indica a diminuição da vegetação. Os valores negativos repre-
sentam corpos d’água e ambientes úmidos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Classificação de uso e cobertura da terra
As áreas das classes da base de dados do Mapbiomas que ocorrem na bacia hidrográfica
do rio Mapari no Litoral Oriental do estado do Maranhão (Tabela 1). Os mapeamentos de pai-
sagens são mostrados nas Figuras 3 e 4. A classe de formação florestal e formação savânica
representou mais de 60% da área da bacia ao longo dos anos estudados. Os padrões espaciais
não apresentam grandes mudanças visuais, foi possível analisar as mudanças apenas com as
análises numéricas de 1985 a 2020.
Houve maiores mudanças na classe Pastagem (279,34% de aumento), Infraestrutura
urbana (377,06% de aumento) e a classe Outra Área não Vegetada (758,33% de aumento) de
1985 para 2020. As maiores diminuições foram as classes Apicum e Rio, Lago e Oceano, apre-
sentando os valores de -61,87% e -10,09%, respectivamente (Tabela 1).
As formações florestais e savânica tiveram uma diminuição de -1,81% e 0,51%, respecti-
vamente de 1985 para 2020. De acordo com o esquema de classificação do MapBiomas, outra
área de formação natural não florestal no bioma amazônico é representada por formações de
savana. A presença dessas manchas pode indicar uma classificação incorreta de MapBiomas,
pois as formações de savana são geralmente confundidas com pastagens ao usar imagens de
resolução média devido à sua sazonalidade e semelhanças espectrais e à sua heterogeneidade
espectral intraclasse (MÜLLER et al., 2015; ALENCAR et al., 2020; GUERRERO et al., 2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA 663

Figura 3 – Mapas de uso e cobertura da terra 1985, 2005 e 2020 – Bacia Hidrográfica do Rio Mapari-MA
a partir de dados do Mapbiomas

Fonte: Galeria do autor.

O avanço da agricultura no bioma Cerrado se deve a fatores ambientais da região, como


topografia plana e solos profundos (Latossolos), que permitem a mecanização, além da pre-
sença de diferentes fontes hídricas (chuvas, rios e águas subterrâneas) (OLIVEIRA et al., 2017;
FERNANDES et al., 2021).

Tabela 1 – Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra obtidas a partir da
classificação supervisionada LANDSAT Mapbiomas para os anos de 1985, 2005 e 2020

Mudança
1985 2005 2020
(1985 – 2020)
Classes
Área Área Área
(%) (%) (%) (%)
(km2) (km2) (km2)
2 – Formação Florestal 572,82 66,34 554,74 64,07 562,45 64,97 -1,81
4 – Formação Savânica 135,85 15,73 154,73 17,87 135,15 15,61 -0,51
5 – Mangue 29,08 3,37 28,96 3,34 29,36 3,39 0,95

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


664 Adilson Matheus Borges Machado; luciana Amorim Soares; Leonardo Silva Soares; Edson Vicente da Silva

Mudança
1985 2005 2020
(1985 – 2020)
Classes
Área Área Área
(%) (%) (%) (%)
(km2) (km2) (km2)
11 – Área Úmida não
0,06 0,01 0,11 0,01 0,06 0,01 0,00
Florestal
12 – Formação Campestre 117,57 13,62 117,54 13,57 128,82 14,88 9,57
15 – Pastagem 1,00 0,12 2,12 0,24 3,80 0,44 279,34
21 – Mosaico de
0,02 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00
Agricultura e Pastagem
24 – Infraestrutura
0,10 0,01 0,46 0,05 0,47 0,05 377,06
Urbana
25 – Outra Área não
0,04 0,01 0,06 0,00 0,37 0,04 758,33
Vegetada
32 – Apicum 1,76 0,20 1,14 0,13 0,67 0,08 -61,87
33 – Rio, Lago e Oceano 5,10 0,59 5,89 0,68 4,59 0,53 -10,09
Fonte: Autoria própria.

A avaliação dos índices da paisagem é apresentada nos gráficos da Figura 4. A análise das
mudanças no uso e cobertura do solo revelam que a vegetação natural do Cerrado perdeu
áreas principalmente para a agricultura, áreas de pastagem e infraestrutura urbana que tive-
ram os maiores aumentos. Sem o devido manejo das áreas, a dinâmica regional de uso e cober-
tura da terra afeta os serviços ecossistêmicos de regulação do clima e podem ser potencialmente
prejudiciais aos recursos hídricos da região (ARANTES et al., 2016; FERNANDES et al., 2021).

Figura 4 – Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra obtidas na base de dados
do Mapbiomas com uso do Google Earth Engine

Fonte: Galeria do autor.

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AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA 665

3.2 Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI)


Os mapeamentos de NDVI para a bacia hidrográfica do rio Mapari são mostrados na
Figura 5. As abordagens de série temporal normalizadas de NDVI (Figura 6) aplicadas na API
GEE foram usadas para detectar a perda de vegetação entre 1985 e 2020 para os satélites da
missão Landsat e entre 2002 a 2020 para o sensor MODIS.
Os valores de NDVI de 1985 variam de –0,10 a 0,69, no ano de 2005 o valor mínimo foi
de –0,10 e o máximo foi de 0,66, já para o ano de 2020 o valor mínimo foi de –0,03 e o máximo
foi de 0,60 (Figura 5). A partir dos resultados, nota-se que a vegetação de 1985 é mais saudável
em comparação com a vegetação de 2020, com uma pequena diferença, principalmente em
regiões que são dominadas por formações florestais (Figura 4).

Figura 5 – Mapeamento espacial Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para a bacia
hidrográfica do rio Mapari

Fonte: Galeria do autor.

Os valores de NDVI variam de -1 a 1, onde aqueles entre -1 e zero (0) são típicos de carac-
terísticas não-vegetação (por exemplo, água, nuvem e superfícies impermeáveis), e aqueles
entre zero e 1 são típicos de características vegetadas. Quanto maior o valor de NDVI, maior,
geralmente, a biomassa, a produtividade e o vigor da vegetação (SUN et al., 2016). Como os

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


666 Adilson Matheus Borges Machado; luciana Amorim Soares; Leonardo Silva Soares; Edson Vicente da Silva

valores de NDVI menores que zero (<0) são típicos de características não vegetais (por exem-
plo, água, nuvem, superfícies impermeáveis), estes foram filtrados de cada imagem NDVI deri-
vada de Landsat e MODIS na plataforma GEE.

Figura 6 – Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI). (a) LANDSAT e (b) MODIS
(a) LANDSAT (b) MODIS
0,80 0,8

0,70 0,7

0,60 0,6

NDVI
NDVI

0,50 0,5

0,40 0,4

0,30 0,3

0,20 0,2

jul-02
jul-03
jul-04
jul-05
jul-06
jul-07
jul-08
jul-09
jul-10
jul-11
jul-12
jul-13
jul-14
jul-15
jul-16
jul-17
jul-18
jul-19
jul-20
jul-21
Tempo Tempo

Fonte: Galeria do autor.

Fatores bióticos e abióticos não explicitamente tratados no presente estudo incluem a


competição e adaptação entre espécies, propriedades do solo, teor de umidade do solo, topo-
grafia, ocorrência de fogo, manejo de pastagem e urbanização, todos os quais podem ser
importantes para afetar a atividade da vegetação no nível específico do local (YANG et al. 1998;
TAN et al., 2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho demonstrou análises qualitativas e quantitativas utilizadas para estudar o
mapeamento de uso e cobertura terra e o índice de vegetação por diferença normalizada na
bacia hidrográfica do rio Mapari. As análises mostram que as classes de usos apresentaram
alterações de 1985 a 2020 nas classes: pastagem, infraestrutura urbana e a classe outra área
não vegetada.
Os mapas NDVI exibem boas condições da vegetação, embora o mapa de 2020 tenha
aparentado uma diminuição de áreas com boas condições, porém os gráficos plotados a partir
das médias de NDVI para a bacia hidrográfica mostraram que os valores possuem uma tendên-
cia crescente dos valores de NDVI com variação majoritariamente interanual, ou seja, que
variam de acordo com as condições climáticas da região que é marcada por dois períodos dis-
tintos, um período chuvoso e outro de estiagem.
Portanto, este trabalho aumenta a possibilidade de desenvolver estudos na área da bacia
hidrográfica do rio Mapari com a temática ambiental. Também, a importância de expor infor-
mações sobre uma área de estudo com pouco conhecimento científico, contribuindo para a
mudança de concepção, estimulando a produção de outras pesquisas para esta bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA 667

Como indicações para trabalhos futuros, estudos de uso e cobertura da terra aliado aos
índices de vegetação mostram resultados mais consolidados quando há a associação com
outros índices físicos que destaquem diferentes tipos de alvo, como por exemplo fatores climá-
ticos como valores de precipitação pluviométrica, Índice Normalizado de Diferença de áreas
construídas e Índice de Umidade – NDWI (destaque para conteúdo hídrico).

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


57. AVALIAÇÃO DE VANTAGENS,
DESVANTAGENS E DESAFIOS DA
RENATURALIZAÇÃO DO LAGO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS1

GUSTAVO EZEQUIEL DELFINO PINTO LUSTOSA2


SÉRGIO HENRIQUE VANNUCCHI LEME DE MATTOS3
SÍLVIA CLÁUDIA POVINELLI4

Resumo: Intervenções antrópicas em corpos hídricos podem trazer tanto impactos negativos
quanto positivos e gerar problemas ambientais complexos. Tal é o caso do “Lago da UFSCar”,
reservatório símbolo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) formado pelo represamento
do Córrego do Monjolinho no trecho que corta a universidade, mas que precisou ser drenado em
2019 por problemas de segurança em sua barragem. Desde então, estudam-se alternativas para o
problema, pois além dos altos custos com a reforma na barragem, também sua gestão se tornou
muito complexa em função da legislação de segurança de barragens vigente. Assim, a alternativa
de renaturalização do corpo hídrico e seu entorno nesse trecho tem sido cogitada como uma solu-
ção mais adequada. Sendo assim, o presente estudo tem o objetivo de analisar os desafios, vanta-
gens e desvantagens associadas à possível renaturalização do Lago da UFSCar em relação aos
serviços ecossistêmicos, impactos sociais, econômicos e ecológicos. Para tanto, realizou-se um
levantamento bibliográfico do histórico do Lago e foram entrevistados pesquisadores e gestores
que são especialistas nos temas abordados na pesquisa e/ou estiveram envolvidos no processo de
gestão do lago. Os resultados obtidos apontaram que, apesar do lago desempenhar serviços ecos-
sistêmicos culturais e abrigar uma nova biota adaptada, o represamento gerou impactos negativos
na sua biota original e na qualidade de sua água. Assim, a alternativa pela renaturalização é pro-
missora, pois não só seria menos custosa, mais segura e poderia reverter os impactos ambientais
gerados pelo barramento, como pode se tornar um novo símbolo para comunidade.
Palavras-chave: Barragem, Corpo Hídrico, Córrego do Monjolinho, Problema Ambiental Complexo,
Renaturalização.
ABSTRACT: Anthropogenic interventions in water bodies can cause both negative and positive
impacts and could generate environmental wicked problems’. This is the case of “Lago da UFSCar”,
a symbol reservoir of the São Carlos campus of the Federal University of São Carlos, which was

1 Este resumo conTÊm partes do Trabalho de Conclusão de Curso do 1º autor.


2 Universidade Federal de São Carlos. E-mail: gustavoezequiellustosa@yahoo.com.br
3 Universidade Federal de São Carlos. E-mail: sergiomattos@ufscar.br
4 Universidade Federal de São Carlos. E-mail: silvia.povinelli@ufscar.br

[ 669 ]
670 Gustavo Pinto Lustosa; Sérgio de Mattos; Sílvia Povinelli

formed by the damming of the Córrego do Monjolinho (located in the municipality of São Carlos
– São Paulo state – Brazil) in the section that crosses the University. The lake had to be drained in
2019 due to safety issues at its dam. Since then, alternatives to the problem have been studied, as
the costs of renovating the dam are high and its management has become very complex due to the
current dam safety legislation. Thus, the alternative of renaturalizing the water body and its sur-
roundings in this stretch has been considered as a more adequate solution. This study aims to
analyze the challenges, advantages and disadvantages associated with the possible renaturaliza-
tion of UFSCar lake in relation to ecosystem services, social, economic and ecological impacts.
Therefore, a bibliographic survey of the history of the lake was carried out and researchers and
managers who are specialists in the topics covered in the research and/or were involved in the
lake’s management process were interviewed. The results obtained showed that, despite the lake
performing cultural ecosystem services and shelter a new adapted biota, the damming generated
negative impacts on its original biota and on the quality of its water. Thus, the alternative for rena-
turalization is promising, as it would not only be less costly, safer and could reverse the negative
environmental impacts generated by the dam, as also could become a new symbol for the
community.
Keywords: Dam, Water Body, Monjolinho river, Wicked Environmental Problem, Renaturalization.

1 INTRODUÇÃO
1.1 Relações entre sociedade e cursos d’água: passado, presente e futuro
Os ecossistemas lóticos foram constantemente alterados ao longo do tempo por meio,
por exemplo, de represamentos ou canalizações, especialmente para atender à expansão
urbana (SILVA e PORTO, 2020). Em relação ao represamento, podemos destacar que ele tende
a alterar drasticamente características físicas, químicas e biológicas dos ecossistemas aquáti-
cos, sendo as principais alterações: assoreamento; inundações de áreas adjacentes; redução da
mata ciliar (a qual também, junto com outros fatores, aumenta a contaminação alterando pro-
priedades químicas e físicas da água); eutrofização; alteração na biodiversidade; redução da
velocidade de correnteza e as flutuações dos níveis da água (TUNDISI, 1993; THOMAZ, 1999).
Devido aos impactos causados pelas ações antrópicas, recentemente se busca uma abor-
dagem mais sistêmica dos corpos hídricos nas áreas urbanas, incluindo questões sociais e ambien-
tais, especialmente na requalificação dos cursos d’água. Segundo Silva e Porto (2020), esse
processo de requalificação pode se dar em três âmbitos: 1) Restauração ou renaturalização: que
busca restabelecer as relações entre a paisagem e os corpos hídricos o mais próximo possível da
condição natural; 2) Reabilitação ou recuperação: a qual objetiva restabelecer as condições físi-
cas, químicas e biológicas da água, de um ponto de vista sanitário; e 3) Revitalização: que visa
restabelecer as relações entre o corpo hídrico e a paisagem funcionalmente.
Vale destacar que a restauração ou revitalização de rios tem importância estratégica espe-
cialmente para o abastecimento de água para a população e devido a isso a legislação estadual
do estado de São Paulo já impõe que áreas de mananciais de rios que são utilizadas como fonte
de abastecimento deve ser preservadas ou recuperadas (APRM) como pela Lei nº 9866/1997
(SÃO PAULO, 1997), que por sua vez levou a origem da lei municipal no município de São Carlos,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DE VANTAGENS, DESVANTAGENS E DESAFIOS DA RENATURALIZAÇÃO DO LAGO DA UF-SÃO CARLOS 671

Lei nº 13944/2006, inserida ao Plano Diretor, que definiu como área de preservação e recupera-
ção a nascente do Rio Monjolinho que fica à montante do lago (SÃO CARLOS, 2006).
O município de São Carlos avança na preservação de bacias hidrográficas através de
Parques Florestais Urbanos (chamados de Parques Lineares) sendo que, por exemplo, foram
criados ou foi decretada a criação de oito parques nos últimos 4 anos, que são áreas verdes em
torno de rios dentro de zonas urbanas com o propósito não só ambiental, para preservação de
bacias hidrográficas e da biota local, como também para aproximar a população da natureza
sendo um espaço utilizado inclusive para educação ambiental e uma promissora alternativa de
renaturalização (LOPES, 2019).

1.2 O “lago da ufscar” (são carlos-sp) como um típico problema ambiental


complexo
O município de São Carlos (SP), delimitado pelas coordenadas 47º30´W e 48º30´W,
21º30´S e 22º30´S, seguiu essa tendência: foi povoado inicialmente às margens de seus cursos
d’água, especialmente as do Córrego Gregório (SÃO CARLOS, 2021). Em relação a recursos
hídricos, pode-se afirmar que o município é privilegiado, pois possui uma rica rede hídrica dis-
tribuída por todo o território, com cursos d’água pouco caudalosos (LIMA, 2018). Sendo locali-
zado no divisor entre duas bacias hidrográficas (Tietê-Jacaré e Mogi-Guaçu), a maior parte do
seu perímetro urbano está situada na sub-bacia do Córrego do Monjolinho (pertencente à
bacia Tietê-Jacaré), o qual nasce ao leste do município (coordenadas 22º01’40’’ S 47º50’21’’O)
seguindo a oeste, onde adentra na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) (coordenadas
21º59’9’’S 47º52’57’’O) segue a sudoeste e depois a oeste, onde deságua no rio Jacaré-Guaçu,
localizado nas coordenadas 22º3’23’’S 48º 5’55’’O (BARRENHA, 2015). Dentro do campus
UFSCar foi criada uma barragem no Córrego do Monjolinho, a qual, devido a esse represa-
mento, originou um lago artificial, um reservatório, conhecido popularmente como “Lago da
UFSCar” (UFSCAR, 1994) como pode ser visto na Figura 1.

Figura 1 – Área de estudo – Localização do Lago da UFSCAR analisado

Fonte: Alterado de FUSARI, 2006.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


672 Gustavo Pinto Lustosa; Sérgio de Mattos; Sílvia Povinelli

O campus São Carlos da UFSCar foi fundado em 23 de maio de 1968 pelo Decreto n.º
62.758, a partir da desapropriação da fazenda Trancham, sendo que já havia ocorrido um repre-
samento do Córrego do Monjolinho embora a barragem atual parecesse ter sido construída
entre 1970 a 1974 (POVINELLI, 2019). O campus também abriga uma reserva do Cerrado, tipo
de ecossistema considerado “hotspot de biodiversidade” (com alta biodiversidade, mas tam-
bém muito degradado e em risco) (KLINK e MACHADO, 2005).
O Lago da UFSCar se tornou um importante símbolo da Universidade, propiciando bem-es-
tar, identidade e sendo suas margens centro de vários eventos culturais, oferecendo, portanto,
um serviço social importante à comunidade (UFSCAR, 1994). Assim, o lago desempenha o que é
chamado de serviço ecossistêmico cultural, o qual, segundo Kumar (2010), é um tipo de serviço
ecossistêmico relacionado aos benefícios não materiais ligados ao desenvolvimento cognitivo,
enriquecimento espiritual, reflexão, recreação e experiência estética que um ecossistema propi-
cia à humanidade e que não podem ser valorados de maneira monetária (KUMAR, 2010).
Todavia, o Lago da UFSCar vem sendo profundamente impactado devido à poluição
hídrica, redução de sua zona ripária e por outras influências antrópicas, o que vem diminuindo
ou até impossibilitando seu uso recreativo e para outros serviços culturais (SANTOS, 2011). Em
relação à limitação do uso recreativo do lago, um dos casos recentes mais marcantes foi em
2018 quando a UFSCar emitiu um alerta desincentivando as pessoas a se aproximarem do lago
devido à presença de muitos carrapatos que são vetores da bactéria Rickettsia ricketts causa-
dora da febre maculosa (GLOBO, 2021).
Como já explicado, o represamento tende a causar uma série de impactos nos ecossiste-
mas aquáticos e, no caso do Lago da UFSCar, é possível destacar que seu volume se reduziu
devido ao assoreamento, e, nos últimos anos, inundava periodicamente, tanto que, em 13 de
janeiro de 2013, houve uma precipitação de 116 mm em 24 horas, o que fez o nível do lago ficar
até acima da barragem, episódio que levou a Divisão de Defesa Civil de São Carlos (DDC) a
monitorá-lo desde então (DEFESA CIVIL, 2019).
Em 2017, foi então feita uma vistoria pela Divisão de Defesa Civil de São Carlos (DDC) e
Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) de São Carlos, na qual foram constatados
sérios danos à estrutura da barragem devido à falta de manutenção ao longo dos anos e por
haver penetração de raízes de árvores na barragem. Tal situação levou a recomendações como
as de: ser declarada situação de emergência; efetuar medidas de mitigação; determinar plano
de segurança; e realizar estudo de classificação de dano potencial (DEFESA CIVIL, 2019).
O estudo foi feito e classificou a barragem em relação à segurança como sendo de risco
alto e de dano potencial associado alto, o que resultou em uma série de intervenções feitas
pela Universidade, como a abertura de uma das comportas da barragem, limpeza de canais,
entre outros (POVINELLI, 2019).
A renaturalização é aventada como uma solução viável porque alguns dos seus principais
benefícios corrigem boa parte dos problemas já citados: redução de alagamentos; redução no

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AVALIAÇÃO DE VANTAGENS, DESVANTAGENS E DESAFIOS DA RENATURALIZAÇÃO DO LAGO DA UF-SÃO CARLOS 673

processo de sedimentação e de erosão; melhora na qualidade da água; restauração da biota


local (BINDER, 2001). Isso porque o processo de renaturalização busca recuperar os cursos
d’água e a vegetação ciliar, regenerando-os para o mais próximo possível de sua biota natural,
porém não sendo necessariamente um retorno total à paisagem anterior às interferências
humanas, mas sim recuperando a capacidade do ecossistema de cumprir suas principais fun-
ções ecológicas (BINDER, 2001).
Todavia, a renaturalização tem seus desafios: é um processo que precisa ser feito em
várias etapas, sendo mais complexos que uma canalização, já que, por exemplo; 1) a área
necessária para zona ripária gerar condições propícias para vida aquática ou mesmo conserva-
ção da biodiversidade terrestre é de dezenas a centenas de metros; 2) há conflitos com leis de
propriedade privada; e 3) nem sempre é possível renaturalizar toda a bacia ou sub-bacia hidro-
gráfica tornando os efeitos da renaturalização de apenas uma região imprevisíveis (SILVA, 2003;
WEGNER, 2003).
Assim, no caso do lago da UFSCar deve se levar em consideração alguns aspectos:
• Qual seria a área necessária para a zona ripária cumprir suas funções ecológicas, como
gerar condições propícias para conservação da biodiversidade aquática e terrestre;
• A biota local (aquática e terrestre) pode estar muito adaptada às condições abióticas
geradas pelo represamento e, ao menos temporariamente, isso pode levar a um dis-
túrbio ecológico;
• O lago cumpre uma função social e a renaturalização poderia trazer comoção na
comunidade devido ao lago não estar mais presente na paisagem da universidade;
• Seria renaturalizado apenas parte do Córrego do Monjolinho, mas isso poderia gerar
efeitos em outras regiões, como por exemplo, aumento de inundações devido ao
aumento de vazão do rio, conforme alegado por alguns, apesar de não haver estudos
mais detalhados sobre isso;
•  O lago está próximo a duas rodovias e dentro do campus de uma universidade muito
movimentada e, portanto, alterações nele é uma questão de segurança não apenas
para a comunidade universitária, já que o fim do barramento poderia eventualmente
facilitar alagamentos dentro da Universidade e/ou nas rodovias e, assim, causar danos
físicos e materiais às pessoas. Como mencionado, cabe destacar que a avaliação da
possibilidade desse risco depende de uma modelagem hidráulica-hidrológica que
ainda não foi feita, uma vez que depende de um levantamento topográfico detalhado
da bacia hidrográfica do córrego do Monjolinho; e
• Será necessário o descomissionamento da barragem (ou seja, realizar todas as provi-
dências para desativar a barragem, seja para reformá-la, destruí-la ou substituí-la), o
que pode ser muito oneroso.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


674 Gustavo Pinto Lustosa; Sérgio de Mattos; Sílvia Povinelli

Todos esses aspectos estão interrelacionados e não podem ser buscadas soluções para
eles de forma isolada, mas sim considerando as complexidades geradas por essas interdepen-
dências. Dessa forma, a situação atual do Lago da UFSCar e a busca para resolver os seus pro-
blemas se encaixam perfeitamente naquilo que Rittel e Webber (1973) definem como “wicked
problem” (problema complexo, problema espinhoso ou problema travesso, segundo algumas
traduções): são problemas mal formulados; as informações disponíveis sobre eles são confu-
sas; envolvem muitos interesses e grupos decisores com valores conflitantes e suas ramifica-
ções em todo o sistema em que se encontram inseridas são confusas de tal forma que as
soluções podem ser piores que o problema original. Por isso, problemas desse tipo não devem
ser analisados ou intervir de maneira tradicional, ou seja, com planos rígidos e lineares e anali-
sando dados isoladamente (SANTOS, 2017).
Assim, esse estudo busca levantar dados sobre questões ecológicas, sociais e de segu-
rança envolvidas no caso do Lago da UFSCar a fim de subsidiar um futuro projeto de
renaturalização.

2 METODOLOGIA

2.1 Levantamentos de dados por fontes secundárias


Para realizar o presente estudo, foi feito inicialmente levantamento bibliográfico em arti-
gos, relatórios, mapas, fotos, documentos e outras fontes que fossem pertinentes ao estudo.
Muitos documentos sobre a barragem não se encontram digitalizados sendo, portanto, neces-
sário pedir às autoridades do município e aos servidores da universidade que tinham acesso a
eles que realizassem tal digitalização. Devido ao fechamento total ou parcial de setores da uni-
versidade (como a Biblioteca Comunitária e a Prefeitura do campus) e dos órgãos da Prefeitura
Municipal de São Carlos (SP) em virtude da pandemia de Covid-19, ocorrida durante o desen-
volvimento deste trabalho, não foi possível ter acesso a todos os documentos disponíveis sobre
o ‘Lago da UFSCar’.

4.3 Levantamentos de dados por fontes primárias


Para obter dados e informações adicionais sobre o ‘Lago da UFSCar’, também foram
entrevistadas 6 (seis) pessoas, contemplando técnicos, pesquisadores e gestores que são espe-
cialistas nos temas abordados no trabalho e/ou estiveram envolvidos no processo de drena-
gem do lago. Para a realização das entrevistas, foi utilizado o método de perguntas
semiestruturadas (também chamada “em profundidade”), que consiste em fazer perguntas
seguindo parcialmente um roteiro, mas tendo liberdade para criar outras perguntas específicas
para cada entrevistado(a) (GRAND, 1988). Esse método é muito utilizado nas Ciências Sociais,
mas vem sendo aplicado em outras áreas, como saúde (MORÉ, 2015).

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AVALIAÇÃO DE VANTAGENS, DESVANTAGENS E DESAFIOS DA RENATURALIZAÇÃO DO LAGO DA UF-SÃO CARLOS 675

A vantagem desse método é que ele permite ter um envolvimento mais profundo com o
entrevistado, possibilitando identificar a relação pessoal e sentimental do entrevistado com o
objetivo de estudo, bem como identificar pontos de vistas diferentes e conflitantes sobre o
mesmo tema (LALAND, 1988). Assim, ele é visto como ideal para problemas que envolvem
vários atores de instituições diferentes (SILVESTRE, 2014) e não precisa de muitos entrevista-
dos(as), uma vez que acima de 12 há saturação dos dados coletados, sendo que muitas vezes a
partir do sexto entrevistado começa a ocorrer isso (GUEST, 2006).
O roteiro de perguntas feitas para quase todos baseava-se na sequência descrita a seguir:
1) a relação do(a) entrevistado(a) com o Lago da UFSCar; 2) se tinha conhecimento sobre o his-
tórico da região onde está hoje o lago antes da apropriação da Fazenda Trancham pela
Universidade; 3) se tinha conhecimento de alguma intervenção ou construção de barragem na
década de 1970; 4) se considerava que houve algum conflito de interesses ou dificuldade de
relação entre a Universidade e outras instituições que se envolveram com o caso; 5) quais os
impactos do represamento na biota e paisagem locais; quais as grandes dificuldades para solu-
cionar esse problema; quais seriam os aspectos positivos e negativos para reconstruir a barra-
gem ou para retirá-la e renaturalizar; e 6) a posição do(a) entrevistado(a) sobre manter ou não
a barragem.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Podemos inferir que, provavelmente, o lago como é conhecido atualmente é um elemento
relativamente recente na paisagem onde está a UFSCar, existente desde 1970 e que passou por
inúmeras intervenções, todavia, antes dele também deveria existir alguma forma de represa-
mento da região, mas muito menor e com influências diferentes na paisagem e ecossistemas
locais, criada entre 1940 e 1960, como o Entrevistado 1 também afirmou e como pode ser cons-
tatado em uma planta da cidade de 1938 (PRÓ-MEMÓRIA,2014). Assim também podemos resu-
mir as intervenções na sub-bacia estudada em quatro momentos como visto no Quadro 1.

Quadro 1 – Datas prováveis ou certas e as respectivas intervenções no Lago

Data 1940-1960 1970-1974 1998 2002 2019


Intervenção Primeiro Construção da Desassorea- Esvaziamento Esvaziamento
represamento atual barragem mento
Fontes: Elaborado pelo autor baseado no Entrevistado 1, Mapas, Relatório da Divisão de Defesa Civil de São Carlos (DDC) (2017), Rantin (1978) e Toppa
(2003).

A redução da qualidade da água é corroborada pela literatura tanto ao longo do tempo,


como visto na Tabela 1, quanto espacialmente (SÉ, 1992; GUERESCHI, 1995; PELÁEZ-RODRIGUEZ,
2001). Assim, como conclui Santos (2011), o represamento (em concomitância com outras ati-
vidades antrópicas e chuvas) está degradando o córrego Monjolinho, causando a redução da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


676 Gustavo Pinto Lustosa; Sérgio de Mattos; Sílvia Povinelli

qualidade de sua água e sua eutrofização, quanto mais se afasta da nascente, especialmente no
Lago da UFSCar o que é confirmado pelas falas dos Entrevistados 1 e 2 (Quadro 2).

Tabela 1 – Comparação dos resultados dos trabalhos de Sé (1992), Guereschi (1995) e Peláez-Rodriguez
(2001)
Variável Ponto de Amostragem Sé (1992) Guereschi (1995) Peláez-Rodriguez (2001)

M1 46 29 210
Fósforo Total
M3 772 984 1230

M1 1465 718 2000


Nitrogênio Orgânico
M3 7458 6005 3200

M1 42 27 76
Amônia
M3 2975 2325 3100

M1 721 483 890


Nitrato
M3 574 294 780

M1 2 1 4
Nitrito
M3 47 3 7

Fonte: Peláez-Rodriguez (2001) modificada pelo autor. M1 são dados coletados na nascente e M3 a jusante do lago.

Quadro 2 – Resposta à pergunta – “Quais são os impactos que o represamento causa e quais já foram
notados no corpo hídrico em questão?”

Entrevistado(a) Resposta

“Até os 80 anos todo o dejeto de laboratórios era jogado no Lago[...] todo sistema do
esgoto da SAAE está destruído [...] Todo o esgoto está vazando para aquele Lago. [...]
Assoreamento [...] Todo reservatório em ambiente tropical tem a tendência a deixar de
1 ser um Lago porque começa a sucessão ecológica, invasão de macrófitas etc. Por isso
todo Lago precisa de intervenção a cada 5 anos[...]. Quando a gente fez o esvaziamento
do [...] reservatório [...] a grande maioria eram tilápias. São exóticas. [...]Eu coletei até
marisco marinho.”
“Primeira coisa que a gente tem é alteração da paisagem quando você tem a o represa-
mento de qualquer corpo hídrico né então se interfere no fluxo hidrológico então a disponi-
bilidade hídrica existente naquele local foi alterada já num passado distante. [...] por conta
da ocupação antrópica [...] acabou trazendo muitos resíduos do corpo hídrico então
Aumentou a concentração de sedimentos de poluentes e também a presença de muitos cia-
nobactérias né então a gente teve momentos que o Lago foi tomado por cianofíceas [...]
2 Aquele lago também teve um impacto de introdução de Espécie exóticas, de ictiofauna, [...]
mas ela estava confinada dentro naquele Lago a não sei quando as comportas eram abertas
né que essa ictiofauna percorria o resto dos corpos hídricos do Rio Monjolinho [...]professor
Antônio Mozeto né Hoje aposentado mas tem outro professor que atua na área eles têm
base de dados levantamento histórico da dos dados químicos da água da qualidade nesse
corpo hídrico que comprovam que com o adensamento urbano no município na bacia do rio
Monjolinho ele alterou completamente qualidade desse corpo hídrico”
Fonte: Elaborado pelos autores.

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AVALIAÇÃO DE VANTAGENS, DESVANTAGENS E DESAFIOS DA RENATURALIZAÇÃO DO LAGO DA UF-SÃO CARLOS 677

A análise de Povinelli (2019) também concluiu que a Categoria de Risco (CRI) e o Dano
Potencial Associado (DPA) relativo ao barramento do Lago da UFSCar são altos. Conforme
aponta a autora, a maioria das características que o tornam com Categoria de Risco poderia ser
solucionada por uma reforma e planos de segurança, o que, porém, é muito oneroso para a
universidade. Já em relação a Dano Potencial Associado não é possível mudar sua categoria,
porque envolvem características inerentes à posição geográfica da barragem e riscos a toda a
infraestrutura a sua jusante (como rodovias e área urbana).
Considerando a alternativa de renaturalização e baseado nos dados da Silva (2003), pode-
-se inferir que, na melhor das hipóteses, seriam necessários 60 metros de faixa vegetativa da
zona ripária em cada margem para todas as funções ecológicas voltarem a ser funcionais,
sendo provavelmente necessário a substituição das espécies exóticas presentes no Bosque de
Pinus por espécies nativas e revegetando a parte sul da atual represa, pois provavelmente o rio
em seu curso natural iria ocupar uma área menor que do lago atual e que a área não revege-
tada, como visto na Figura 2a. Todavia, caso o rio em seu curso natural tenha uma largura
maior, bastaria retirar plantas da parte sul do Bosque de Pinus e fazer outras intervenções para
permitir que o rio passe por essa região como mostrado na Figura 2b (que supõe, apenas como
exemplo, o curso do rio com 60 m de largura). Em ambos os cenários, com menos intervenções
necessárias para a restauração dos serviços ecossistêmicos na paisagem, não seria necessário
destruir ou modificar construções próximas além do barramento.

Figura 2 – Esboços da revegetação em caso de apenas 60 metros de vegetação ripária ser suficientes e
também em caso do rio em seu natural ter 60 metros de largura. Fonte – elaborado pelo autor por
Google Earth. Linhas vermelhas são representações de 60 metros de extensão, linha verde o limite
mínimo da revegetação necessária e linhas azuis as margens do rio

Assim, podemos resumir as principais conclusões do trabalho no Quadro 2, onde fica


claro que manter alguma forma de barramento (colocado no quadro como “Manter o Lago”)
ou acabar com barramento e renaturalizar tem pontos positivos e negativos em vários aspec-
tos. Entretanto, como já visto nas entrevistas e revisão da literatura, provavelmente a
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) não terá outra opção além de findar com o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


678 Gustavo Pinto Lustosa; Sérgio de Mattos; Sílvia Povinelli

barramento devido às limitações financeiras, administrativas e burocráticas para gerir uma


barragem e, portanto, a renaturalização acaba sendo uma promissora opção pelos motivos
expostos nesse estudo e outros que virão.

Quadro 3 – Resumo das conclusões do presente trabalho

Impactos

Sociais Ecológicos Econômicos

Positivos Negativos Positivos Negativos Positivos Negativos

Cumpri seu Serviço Ecossistê- Custos muito altos para


Ambiente propício para in-
mico Cultural e é útil para pes- construir nova barragem;
Não afeta negativamente as vasão e sucesso de espécies
Manter o quisas e ensino; Risco constante à segu- Não foram
espécies que já se aclimata- invasoras e assim redução
Lago rança identificados Cumprimento da legisla-
ram, como aves migratórias. (e até extinção) de espécies
Reduz as enchentes no muni- ção complexa e cara para
nativas
cípio; manutenção.

Fim do Serviço Ecossistê- Menores


Espécies nativas podem ser
Rena- Espécies aclimatadas com o custos de
mico Cultural que o Lago
A comunidade pode ter relação reintroduzidas e sua popula- Processo de renaturaliza-
desempenhava; lago podem não consegui- manutenção
turali- com um ambiente e paisagem ção e biodiversidade serem ção é mais complexo e de
rem se aclimatar ao novo e cumpri-
mais naturais; mais seguro restaurados aos valores longo prazo
Poderia aumentar en- ambiente mento da
zar naturais
chentes no município legislação,

Fonte: Elaborado pelo autor.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como levantado pelo presente estudo, o reservatório conhecido como “Lago da UFSCar” é
um ambiente criado antropicamente recentemente (últimos 50 anos), o qual gerou muitos efei-
tos negativos ecológicos na biota e na dinâmica do Córrego do Monjolinho, assim como devido
às limitações financeiras e complexidade da gestão de uma barragem pelas modificações legais
recentes é muito oneroso para a universidade manter a barragem. Por outro lado, o lago passou
a desempenhar serviços ecossistêmicos culturais e abrigar uma nova biota adaptada.
Portanto, a alternativa de renaturalização do Córrego do Monjolinho no trecho em que
ele corta a UFSCar é promissora, pois não só seria menos onerosa e mais segura em longo
prazo, como poderá reduzir os impactos ambientais gerados pelo barramento assim como cria-
ria um novo símbolo para comunidade. Essas conclusões são corroboradas tanto pelos aspec-
tos teóricos e exemplos nacionais e internacionais já realizados em outros rios, assim como
compartilhada por parte dos entrevistados neste trabalho. Contudo, este estudo ainda é intro-
dutório ao tema, sendo necessários outros estudos e pesquisas de campo para complementá-
-lo. Ainda assim, as informações aqui levantadas e sistematizadas podem ajudar a orientar a
tomada de decisões sobre o futuro do Lago da UFSCar.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DE VANTAGENS, DESVANTAGENS E DESAFIOS DA RENATURALIZAÇÃO DO LAGO DA UF-SÃO CARLOS 679

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


58.
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO
JOSEFA GOMES, FORMOSA-GO

ANAILTON CANDIDO DE ARAÚJO OLIVEIRA1


JAKELINE MARTINS DA SILVA2
ELTON SOUZA OLIVEIRA3
AMOM CHRYSTIAN DE OLIVEIRA TEIXEIRA4

Resumo: A água se trata de recurso natural primordial para todos os seres vivos. Partindo disso, é
de fundamental importância estudos que visam a análise da qualidade deste recurso. O objetivo do
presente trabalho foi identificar quais atividades antrópicas são responsáveis pela degradação
ambiental do Córrego Josefa Gomes, em Formosa-GO. Foram identificados diversos processos de
degradação, comoerosão, descarga de efluente no canal fluvial, descarte inadequado de resíduos
sólidos, assoreamento, entre outros, e ressalta-se que esses processos são resultados de ações
antrópicas como ocupação do leitodo Córrego e lançamento de efluentes não tratados e resíduos
sólidos dentro do canal. Diante todos essesfatores, é necessário que haja uma gestão pública que
possa inibir essas ações humanas que acarretam na degradação do Córrego, partindo de projetos
voltados à conscientização ambiental da população até políticas públicas de preservação que
sejam consistentes e rigorosas.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica; qualidade da água; conservação; planejamento ambiental.
Abstract: Water is a primordial natural resource for all living beings. Based on this, studies aimed
at analyzing the quality of this resource are of fundamental importance. The objective of this work
was to identify which anthropic activities are responsible for the environmental degradation of
Córrego Josefa Gomes, in Formosa-GO. Several degradation processes were identified, such as
erosion, effluent discharge into the river channel, inadequate disposal of solid waste, silting,
among others, and it should be noted that these processes are the resultof anthropic actions such
as occupation of the stream bed and effluent discharge untreated and solid waste withinthe chan-
nel. Given all these factors, it is necessary that there is a public management that can inhibit these
human actions that lead to the degradation of the Stream, from projects aimed at raising

1 Universidade Estadual de Goiás. E-mail: anailton.araujo04@gmail.com


2 Universidade Estadual de Goiás. E-mail: jakelinem71@gmail.com
3 Universidade de Brasília. E-mail: elton.gea@gmail.com
4 Universidade Estadual de Goiás. E-mail: amom.teixeira@ueg.br

[ 681 ]
682 Anailton Candido de Araújo; Jakeline Martins da Silva; Elton Souza Oliveira; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira

environmental awareness amongthe population to public policies for preservation that are consis-
tent and rigorous.
Keywords: Hydrographic basin; water quality; conservation; environmental planning.

1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento de extrema importância para a existência do homem, tanto para
questões sociais, ambientais, quanto econômicas. Assim, preocupações a respeito dos recur-
sos hídricos têm ganhado força nos últimos anos devido aos recorrentes casos de escassez
hídrica,como ocorrido em São Paulo (2014-2016) e Brasília (2017). Dessa forma, são de alta rele-
vância estudos voltados para a análise da degradação hídrica, buscando formas de manter e
conservartal recurso. No cenário atual observa-se que algumas regiões do Brasil vêm sofrendo
bastante em relação à falta de água, isso devido à má gestão dos recursos hídricos.
Recentemente, o Distrito Federal vem enfrentando uma grave crise hídrica que, inclusive, foi
classificada comoa pior da história do DF. No estado de Goiás, o mesmo se observa em municí-
pios como Goiânia,Aparecida de Goiânia e na cidade de Formosa.
Devido às peculiaridades das bacias urbanas, são necessários cada vez mais estudos para
compreender os impactos gerados devido à pressão das ações antrópicas sobre os recursos
hídricos. Segundo Tucci (1997), com a urbanização, a cobertura da bacia é alterada por
pavimentos impermeáveis e são introduzidos condutos para escoamento pluvial. Além disso,
modificações como desvios, alargamento e canalização feitos pelo homem, podem vir a agravar
alguns problemas, como as enchentes, mesmo tendo como objetivo preveni-los. As interven-
ções antrópicas nos recursos hídricos não são práticas recentes, no entanto somente foram
registradas recentemente as maiores intervenções (TAVARES et al., 2015). Porém, alémdas alte-
rações ‘planejadas’, a degradação dos rios e mananciais provém do comportamento inapro-
priado e indevido da população.
Conforme Tucci (2008), os principais problemas associados à infraestrutura da água no
meio urbano são: a falta de tratamento de esgoto, fazendo com que esses efluentes sejam lan-
çados diretamente nos rios; a ocupação dos leitos dos rios e a canalização eimpermeabilização
dos mesmos, acarretando em inundações; além da deterioração da qualidadeda água. Moraes
e Jordão (2002) citam também a localização inadequada das indústrias, o desmatamento, além
da destruição das bacias de captação. Com o lançamento de efluentes domésticos nos canais,
por exemplo, há um aumento de matéria orgânica na água, causando alterações no equilíbrio
do ambiente. Esse processo pode causar a morte de peixes e outras espécies, além da trans-
missão de doenças (MORAES; JORDÃO, 2002). Segundo pesquisa realizada pela fundação SOS
Mata Atlântica, nos anos de 2014 e 2015, o cenário hídrico do Brasil não é nada favorável: ape-
nas 15% dos rios e mananciais mostraram boa qualidade (sendoestes localizados em áreas pro-
tegidas e que contam com matas ciliares e matas de galeria preservadas), enquanto 21,6%
foram classificados como ruins e 1,7% como péssimos. Já os restantes, 61,8%, apresentaram
qualidade da água considerada regular.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO JOSEFA GOMES, FORMOSA-GO 683

Diante da problemática existente nos rios, principalmente os localizados em áreas urba-


nas, o presente trabalho busca identificar quais são as atividades antrópicas causadoras da
degradação do Córrego Josefa Gomes e quais consequências estão trazendo ao mesmo.

2 METODOLOGIA
2;1 Caracterização da área de estudo
A bacia do Córrego Josefa Gomes está inserida no Alto do Rio Preto, afluente do rio
Paracatu, um dos tributários do rio São Francisco. Localizada no município de Formosa-GO
(Figura 1), o córrego está completamente inserido na área urbana e tem extensão de cerca de
7,5 km, entre a nascente principal na Mata da Bica e o deságue na Lagoa Feia. Quanto às carac-
terísticas físicas, a bacia possui relevos planos a suave ondulados; amplas áreas de latos-
solos formadas sobre coberturas detrito lateríticas; clima do tipo Aw e; e resquícios do que
sobrou da vegetação original de cerrado.

Figura 1 – Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes

Fonte: Autores.

A pesquisa buscou identificar os impactos ambientais na bacia hidrográfica com base


na variação dos aspectos físico-químicos, pH e condutividade elétrica, das águas do córrego

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


684 Anailton Candido de Araújo; Jakeline Martins da Silva; Elton Souza Oliveira; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira

Josefa Gomes. As campanhas para análise de água foram realizadas em quatro períodos dis-
tintos, sendo eles: 25/11/2017; 14/06/2018; 29/09/2018 e; 11/11/2018. A distribuição dos
pontos de amostragem levou em consideração as possíveis áreas de influência e para evitar
interferências, em decorrência da possível degradação das amostras, as leituras foram reali-
zadas em campo (PARRON et al., 2011), utilizando um multiparâmetro portátil de marca
Instrutherm, modelo PH-1500. Ao todo foram utilizados cinco pontos para análise ao longo
do córrego Josefa Gomes, figura 2.
Para corroborar com o entendimento dos parâmetros também foram realizados levanta-
mentos de campo para identificação dos impactos ambientais nas proximidades do córrego
Josefa Gomes. As informações foram complementadas com base em estudos anteriormente rea-
lizados e os dados foram comparados com os estudos de Pires (2012), Pimenta (2013) e Pimenta
et al., (2015a; 2015b). Durante as campanhas para identificação de possíveis impactos as informa-
ções foram transcritas em caderneta de campo e os pontos foram marcados com GPS.

Figura 2 – Localização dos pontos de coletas na Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes

Fonte: elaborado a partir do imagens do Google Earth

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO JOSEFA GOMES, FORMOSA-GO 685

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Descrição da degradação do córrego Josefa Gomes
Os principais pontos de impactos ambientais são apresentados na figura 3.

Figura 3 – Degradação no Córrego Josefa Gomes

Fonte: visitas a campo.

Entre os problemas identificados tem-se o descarte inadequado de resíduos sólidos


oriundos dos loteamentos circunvizinhos. Durante o levantamento foram verificados onze
pontos com presença de resíduos sólidos, tanto domésticos quanto de construção civil,
depositadas às margens do córrego. Esse material ao ser carreado pode se acumular na calha do
rio, principalmente nas áreas onde a velocidade da água é menor e pontos que apresentem
maiorsinuosidade no canal (Figura 4).

Figura 4 – Degradação por despejo de resíduos sólidos doméstico e da construção civíl

Fonte: Lopes (2015); HOLLUS (2014); Souza (2014).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


686 Anailton Candido de Araújo; Jakeline Martins da Silva; Elton Souza Oliveira; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira

Problemas relativos a resíduos sólidos são agravados em áreas urbanas, devido a imper-
meabilização do solo. Isso acarreta no aumento do escoamento superficial e na elevação da
competência de transporte das águas pluviais, fazendo com que o material chegue ao córrego
Josefa Gomes. Esses aspectos mencionados atrelados a ausência de matas ciliares tornam o
canal fluvial mais sensível a possíveis impactos ambientais.
O aumento no escoamento superficial, também, acarreta em um maior transporte de
sedimentos. O que pode vir a ocasionar o assoreamento do canal, devido ao transporte de
material oriundo das áreas de solo exposto. Esse processo pode ocorrer principalmente em
áreas de expansão urbana, devido a implantação e/ou ampliação de novas áreas residenciais.
Esse tipo de situação foi observado nas áreas periféricas da mancha urbana da bacia, entre o
médio curso e o deságue na Lagoa Feia (Figura 3). Essas áreas possuem loteamentos destina-
dos a classes sociais variadas, são possuem vegetação e as áreas pavimentadas apresentam
processos erosivos, principalmente na estação chuvosa. Durante o levantamento de campo foi
identificado indícios de assoreamento em sete pontos ao longo do córrego, principalmente
entre os trechos de médio e baixo curso.
Tratando sobre processos erosivos, o estudo identificou doze pontos nas proximidades
do córrego Josefa Gomes. Alguns deles em áreas já ocupadas por habitações, o que coloca em
risco a população (CPRM, 2019) e outros em áreas de expansão de loteamentos. Isso evidencia
a magnitude do problema e da necessidade de se pensar em formas de resolução e/ou mitiga-
çãodo problema.
Problemas relativos à canalização do córrego Josefa Gomes, figura 5, obra realizada entre
os anos de 1983 e 1988 (PIRES, 2005), também foram constatadas. A obra retificou o canal e
trazendo consigo problemas como o aumento da velocidade das águas no trecho. Já a supressão
das matas ciliares facilitam a entrada de sedimentos no trecho canalizado. Sob o efeito das pre-
cipitações nos meses chuvosos, o trecho canalizado, pelas diferenças morfológicas e hidrodi-
nâmicas com o trecho seguinte, faz com que o mesmo sofra anualmente com o transbordamento
do canal e consequentemente com inundações.
Outro problema são os efluentes domésticos, que ao longo do histórico de crescimento
dacidade, foram descartados em fossas secas e no córrego Josefa Gomes, figura 6. Comoobser-
vado por Silva (2010) o crescimento da cidade ampliou o problema, em alguns casos fruto da
ausência de políticas públicas voltadas para a manutenção e preservação dos recursos hídri-
cos. Apesar de se ter observado uma melhoria nesse aspecto, o estudo observou que aindase
faz necessário uma maior atenção, uma vez que foram observados diversos pontos com indi-
cativos de aporte de esgoto doméstico devido a cor e o odor da água. Os levantamentos indi-
caram nove pontos em que esse tipo de degradação se tornava evidente. Além disso, aportes
adicionais chegam ao córrego por problemas na rede coletora de esgoto, devido a redes entu-
pidas que vazam superficialmente e chegam até o córrego.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO JOSEFA GOMES, FORMOSA-GO 687

Figura 5 – Início do trecho canalizado, Av. Lagoa Feia (A). Trecho


canalizado em frente ao Laguinho do Vovô, um dos contribuintes do
córrego (B). Trecho canalizado entre o Laguinho do Vovô e o seu
término (C). Términodo trecho canalizado, Av. Califórnia (D)

Fonte: Autores.

Figura 6 – Encanamento de efluente doméstico com lançamento


dentro do Parque Ecológico Mata da Bica (A).Encanamento de efluente
doméstico com lançamento dentro do Córrego Josefa Gomes, em
trecho canalizado (B)

Fonte: Autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


688 Anailton Candido de Araújo; Jakeline Martins da Silva; Elton Souza Oliveira; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira

3.2 Caracterização físico-química das águas o Josefa Gomes


Os dados de Condutividade Elétrica e pH, Figura 7, indicam que tanto o maior, 217 µS/cm,
quanto o menor valor, 74 µS/cm, de condutividade ocorreram em P1, ainda dentro da Mata da
Bica. Isso pode indicar que esse é um ponto especialmente sensível às mudanças sazonais e
que o mesmo tem sua condutividade alterada em decorrência da entrada de águas pluviais no
período chuvoso. Isso fica evidente uma vez que no período de estiagem o P1 apresenta o
menor valor de CE.

Figura 7 – Valores referentes à Condutividade Elétrica (μS/cm) E Ph das amostras de água superficial do
CórregoJosefa Gomes

Fonte: visitas a campo.

Concentrações de CE acima de 100 µS/cm, a depender da geologia da área, costumam


indicar impactos negativos em ambientes hídricos e valores elevados é um sinal de que a água
pode apresentar características corrosivas. Considerando os limites definidos pela CETESB
(2011) os valores elevados de CE na maior parte dos pontos de coleta podem estar indicando a
entrada de esgoto doméstico ou detergentes oriundos de atividades antrópicas.
Apesar do P1 ter apresentado um valor alto de CE, se comparado com os outros pontos,
estudos como os de Pires (2012) e Pimenta (2013) apontaram o aumento de CE a partir do P2,
figura 8. O maior valor de CE identificado por Pires (2012) foi em P4 (168 μS/cm) em coleta
realizada no mês de outubro de 2012, enquanto o menor valor foi em P1 (35 μS/cm), em junho
de 2012. Comparando com os dados obtidos durante esta pesquisa, pode-se observar que em P1
houve uma elevação de quase 56,8% da CE. Já nas análises realizadas por Pimenta et al. (2015b)
apresentadas na Figura 9, o maior valor foi em P2 (setembro de 2013) com 151,1 μS/cm, e o
menor valor em P1, também em setembro, com 41,1 μS/cm. Indicando um aumento em P1 de
44,6%, em análise feita no mesmo período. Já com relação ao P2 ocorreu uma queda de 21,19%.
O P2 apresentou o maior valor de pH, sendo 7,83 na última coleta (novembro de 2018),
já o P1 apresentou o menor valor, sendo 6,18 no período seco (junho de 2018). No geral, a água
do Córrego Josefa Gomes possui característica variando de neutra a levemente alcalina. Houve
pouca variação do pH em todos os pontos em relação aos períodos, destacando que no período
chuvoso a água apresentou-se como levemente alcalina, já no período seco levemente ácida.
Os pontos P3, P4 e P5 foram os que tiveram menor variação, com destaque para o último. Todos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO JOSEFA GOMES, FORMOSA-GO 689

os valores em P5 ficaram em uma faixa pouco superior de 7, apresentando características leve-


mente alcalinas. Nos dados de Pires (2012), Figura 8, o P3 apresentou o maior valor de pH(7,85)
em coleta realizada em outubro de 2012. Enquanto o menor valor foi detectado no P1 (5,81)
em junho de 2012. O P1 obteve um leve aumento do pH em 5,99%, com relação ao P4 houve
uma leve queda de 9,43%.

Figura 8 – Valores referentes à Condutividade Elétrica (μS/cm) das amostras de água superficial do
Córrego Josefa Gomes, em Pires (2012) e Pimenta (2013)

Fonte: adaptado de Pires (2012); Pimenta (2013).

Nas análises feitas por Pimenta et al. (2015), apresentados no Figura 9, o maior valor de
pH foi detectado em P4 em coleta realizada em setembro de 2013, com o valor de 7,48. Já o
menor valor foi identificado em P1, em coleta também realizada em setembro de 2013, com o
valor de 6,26. O P1 apresentou um aumento de 14,25% do pH, enquanto o P4 teve uma queda
de 4,95%. Comparando aos dados de Pires (2012) e Pimenta et al. (2015) pode-se perceber que
em P1 o pH vem subindo a cada ano, já em P4 esse parâmetro vem diminuindo. Observa-se
ainda que os maiores e menores valores de pH tanto em Pires (2012), quanto em Pimenta et al.
(2015) e nesta pesquisa ocorreram nos mesmos pontos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa proporcionou a identificação e caracterização das áreas com processos de
degradação no Córrego Josefa Gomes, em Formosa-GO. Os processos de degradação identifi-
cados no Córrego foram: processos erosivos (sulcos e erosão fluvial); indícios de assoreamento
do canal fluvial, mas que merecem estudo mais detalhado; acúmulo de resíduos sólidos; des-
carga de efluentes domésticos dentro do canal; solo exposto; e problema decorrentes da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


690 Anailton Candido de Araújo; Jakeline Martins da Silva; Elton Souza Oliveira; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira

canalização. Esses processos identificados são resultados de diversos fatores originados a par-
tir da ação humana. Foi observado, ainda, durante a pesquisa que até os trechos do córrego
próximos à nascente possui indícios de degradação, onde águas pluviais, resíduos sólidos e
efluentes domésticos são lançados no interior do Parque Ecológico Mata da Bica sem nenhum
tipo de preocupação.
Com relação aos resultados das análises de água do Josefa Gomes, pode-se observar que
o P1 apresentou melhores características por estar inserido no Parque Ecológico Mata da Bica,
porém, porém os estudos indicam que ao longo dos anos a área vem sofrendo impactos.
Apontando para a necessidade de um planejamento e uma gestão mais eficaz para mitigar o
processo de degradação. Por se tratar de uma bacia que sua gestão é de responsabilidade da
esfera municipal é necessário que o município aprimore seu planejamento ambiental. Destaca–
se, ainda, a necessidade da implantação do sistema de águas pluviais em toda a bacia, para
mitigar os impactos no canal fluvial.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


59. DINAMISMO GEOGRÁFICO
Análise multitemporal do uso e cobertura
da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão
das Pitangueiras, Barretos-SP*

SANDRA CARDOSO FERREIRA RECCO1


REINALDO CARDOSO ANACLETO2
CESAR CARDOSO FERREIRA3

Resumo: Na abordagem espacial da superfície terrestre considera-se a dimensão temporal, pois, a


representação do espaço geográfico compreende um momento do tempo no presente e no pas-
sado, assim, a dinâmica sócio espacial altera-se no tempo resultando em alterações paisagísticas. O
presente artigo tem como objetivo o entendimento e registro cartográfico das mudanças do uso e
cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras (BHRP), pois, nos últimos anos
foram evidenciadas alterações no ordenamento territorial devido principalmente as expansões agrí-
colas sucroalcooleiras, bem como, a criação de novos loteamentos urbanos nesta bacia hidrográfica.
Os procedimentos metodológicos foram organizados nas seguintes etapas: a) inventário/banco de
dados, b) diagnóstico/processamento digital e c) prognóstico/apresentação. Tais etapas foram reali-
zadas com base principalmente na interpretação de dados orbitais, expedições técnicas de campo e
mapeamento do uso e cobertura da terra da referida bacia com uso de sistemas de informação geo-
gráfica (SIG). Os resultados demostraram mudanças no uso e cobertura da terra principalmente nas
classes de culturas temporárias e solo exposto, além disso, foi registrada e expansão de loteamentos
urbanos próximos a áreas agrícolas e áreas de proteção permanente do Ribeirão das Pitangueiras.
Nesse sentido destaca-se a utilização dos procedimentos técnicos metodológicos, nos quais, revela-
ram-se eficazes para a elaboração de estudos ambientais, bem como, na interpretação das mudan-
ças paisagísticas com base em mapas multitemporais. Por fim, os estudos realizados demonstraram
a importância de se conhecer prévia e detalhadamente o meio físico das áreas estudadas para toma-
das de decisão visando o ordenamento territorial da BHRP.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica; Ribeirão das Pitangueiras; Uso e ocupação da terra;
Abstract: In the spatial approach to the earth’s surface, the temporal dimension is considered, as
the representation of geographic space comprises a moment of time in the present and in the
past, thus, the socio-spatial dynamics changes over time, resulting in landscape changes. This arti-
cle aims to understand and record the changes in land use and land cover in the Ribeirão das

1 Centro Universitário Faveni. E-mail: sandrarecco@hotmail.com


2 Universidade Federal de São Carlos. E-mail: reinaldo.anacleto@estudante.ufscar.br
3 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: cesar.ferreira@ufms.br

[ 692 ]
DINAMISMO GEOGRÁFICO 693

Pitangueiras watershed (RPW), since, in recent years, sugar and alcohol agricultural expansion has
been evidenced, as well as the creation of new subdivisions urban areas. The methodological pro-
cedures were organized in the following steps: a) inventory/database, b) diagnosis/digital process-
ing and c) prognosis/presentation. These steps were carried out based mainly on the interpretation
of orbital data, technical field expeditions and mapping of land use and coverage of the basin using
geographic information systems (GIS). The results showed changes in land use and land cover,
mainly in the classes of temporary crops and exposed soil, in addition, the expansion of urban sub-
divisions close to agricultural areas and permanent protection areas of Ribeirão das Pitangueiras
was registered. In this sense, the use of methodological technical procedures is highlighted, in
which they proved to be effective for the development of environmental studies, as well as for the
interpretation of landscape changes based on multitemporal maps. Finally, the studies carried out
demonstrated the importance of knowing in advance and in detail the physical environment of the
areas studied for decision-making aiming at the territorial planning of the RPW.
Keywords: Watershed; Ribeirão das Pitangueiras; Land use and occupation;

1 INTRODUÇÃO
Atualmente a ocupação desordenada em sistemas hidrográficos vem causando impactos
negativos diretos e indiretos nos recursos naturais, bem como, nos recursos hídricos. Por outro
lado, estudos com foco no ordenamento territorial em bacias hidrográficas na perspectiva geo-
gráfica é um tema apropriado e inerente para essa ciência. Nesse sentido, segundo Ferreira
(2011), a Bacia Hidrográfica compreendida como unidade de estudo, fica viável estabelecer
metas, diagnósticos e recomendações para o uso equilibrado da terra, pois, na bacia a integra-
ção e modificação dos sistemas geo-ecológicos são absorvidas por todos os ocupantes desta.
De acordo com Christofoletti (1980), a bacia hidrográfica pode ser definida como uma
área limitada por divisores de água, dentro da qual são drenados os recursos hídricos, através
de um curso de água, como um rio e seus afluentes. A área física, assim delimitada, constitui-se
em importante unidade de planejamento. Assim, a Bacia Hidrográfica é um sistema natural-
mente definido, onde seus elementos inter-relacionam dinamicamente entre os componentes
físicos, biológicos e socioeconômicos. Pela sua distribuição espacial, apresentam, na maioria
dos casos diferentes paisagens que, em geral, representam diferentes estágios de sua evolução
no sistema, subsistema e partes componentes (RODRIGUEZ, CARVALHO, 2005). Assim, a iden-
tificação cartográfica do uso e cobertura da terra constitui-se em um importante elemento em
estudos ligados à temática ambiental, pois, a atualização cartográfica de uma determinada
localidade auxiliará, dentre outros, identificar e localizar os agentes responsáveis pelas condi-
ções ambientais da área (FERREIRA, 2008). Segundo Martinelli (2005), as mudanças temporais
se dão de duas maneiras: estado e posição, nas quais, possuem dois componentes: a veloci-
dade da mudança e a forma como essa mudança se dá no tempo. Além disso, é importante
frisar que, a constituição Federal de 1988, no artigo 20, do cap. VI, da lei 8.171, sobre a política
agrícola, estabelece que: “as Bacias Hidrográficas constituem unidades básicas de planeja-
mento de uso da conservação e da recuperação dos recursos naturais” (BRASIL, 1991).
Diante disso, o presente estudo tem como o objetivo o entendimento e registro carto-
gráfico das mudanças do uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


694 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

Pitangueiras (BHRP) através das representações cartográficas. De acordo com Ferreira (2008),
a Bacia Hidrográfica do Ribeirão Pitangueiras está inserida nos limites municipais de Barretos-SP
afluente da margem esquerda do Rio Pardo, no qual, é afluente do Rio Grande. A Bacia ocupa
uma área de 274, 476 km², tendo um perímetro de aproximadamente 100 km (Figura 1). Além
disso, a lei 9034/94 com base no Plano Estadual de Recursos Hídricos sistematizou e determi-
nou 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) para o Estado de São Paulo.
A região de estudo se insere no Sistema do Baixo Pardo/Grande, UGRHI-12, onde os principais
municípios são: Barretos, Bebedouro, Orlândia, Morro Agudo, Colina, Viradouro, Colômbia,
Guaraci, Altair, Icem, Terra Roxa, Jaborandi e Guaíra.

Figura 1 – Localização da área de estudo

Fonte: Ferreira, 2008.

Em estudos realizados por Rocha (1954), Mota (1998), Relatório da UGRHI-12 (2000),
Ferreira et al (2006, 2007) e Ferreira (2008), apontam a importância da preservação e conser-
vação dos recursos hídricos no município de Barretos, devido principalmente a ocupação
desordenada causando impactos negativos evidenciados em descrições e representações do
uso e cobertura da terra de áreas no município supracitado. Nesse sentido, Mendonça (1997),
destaca a importância de se conhecer o uso e cobertura da terra de um sistema hidrográfico,
pois, consiste principalmente em fornecer subsídios aos planejadores para a ordenação do
espaço físico e a previsão dos elementos relativos às necessidades humanas, de modo a garan-
tir um meio ambiente que proporcione qualidade de vida a seus habitantes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINAMISMO GEOGRÁFICO 695

2 METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo proposto, baseou-se principalmente em três etapas: inventário,
diagnóstico e prognóstico.
A primeira etapa caracterizou-se pelo levantamento bibliográfico relativo a temática, na
qual, estudos de Ferreira et al (2006, 2007) e Ferreira (2008) foram a base comparativa da car-
tografia de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras.
A segunda etapa baseou-se principalmente no processamento digital de imagens. Nessa
etapa foram utilizadas imagens dos sensores orbitais passivos (Tabela 1) para o mapeamento
de uso e cobertura da terra, tais como: satélite LANDSAT 5 do sensor TM (Thematic Mapper)
bandas 3, 4 e 5, do ano de 2006 órbita 221 e ponto 074 e imagens do satélite LANDSAT 8 do
sensor OLI (Operational Terra Imager) bandas 4, 5 e 6, do ano de 2020 órbita 221 e ponto 074.
Para a escolha dos dados orbitais, foram considerados a disponibilidade, o percentual de
nuvens e episódios associados com registros da expansão das atividades agrícolas (Canasat –
DSR/INPE) e a expansão de loteamentos urbanos na BHRP.

Tabela 1 – Características das imagens orbitais passivas

Sensor Thematic Mapper


Banda Faixa Espectral (μm) Resolução Espacial (m) Área Imageada (km)

3 0,63 – 0,69 30 x 30

4 0,76 – 0,90 30 x 30 185

5 1,55 – 1,75 30 x 30

Sensor Operational Terra Imager

4 0.630 – 0.680 30 x 30

5 0.845 – 0.885 30 x 30 185

6 1.560 – 1.660 30 x 30
Fonte: Embrapa Territorial.

Para a delimitação topográfica da bacia hidrográfica estudada, foi utilizada a imagem do


sensor ativo SRTM (Shuttle Radar Topography) do ano de 2000 órbita 221 e ponto 074. Além
disso, utilizou um receptor de GPS (Sistema de Posicionamento Global) para demarcar pontos
de georreferenciamento e para auxílio na re-classificação das imagens dos sensores passivos,
câmera fotográfica digital para registros in loco e o software para SIG “SPRING”, desenvolvido
pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para processar as imagens orbitais. Ainda
nessa etapa, utilizaram-se como base cartográfica as cartas topográficas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística/IBGE Folha Barretos-SP – SF-22-X-B-V-2 e a Folha Jaborandi-SP

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


696 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

– SF-22-X-B-Vl-1, que estão na projeção UTM (Universal Transversa Mercator) e Datum Córrego
Alegre na escala de 1:50.000.
O processamento digital para o mapeamento de uso e cobertura da terra baseou-se em
plataforma destinada à aquisição, armazenamento, manipulação, análise e apresentação de
dados georreferenciados, ou seja, Sistema de Informação Geográfica desenvolvendo principal-
mente os seguintes procedimentos operacionais: criação de banco de dados, projeto, categoria
(modelos: imagem, cadastral, MNT e temático) e planos de informações (FERREIRA, 2008).
Além disso, para a classificação das imagens orbitais com o objetivo de gerar a cartografia
temática do mapeamento de uso e cobertura da terra, utilizou-se como base metodológica a
proposta do IBGE (2013), “Manual técnico de uso da terra”, no qual, auxiliou principalmente na
constituição da legenda do referido mapeamento e a proposta de interpretação de dados orbi-
tais de Florenzano (2002).
Para a classificação da imagem orbital do sensor TM, foram identificadas cinco classes de
uso e cobertura da terra: solo exposto, culturas temporárias, vegetação nativa, área urbana e
água. Deste modo, entende-se como “solo exposto” áreas sem cobertura vegetal ou pastagem
em um processo intenso de degradação. Já as “culturas temporárias” são áreas, nas quais,
caracterizam-se pelo ciclo vegetativo, ou seja, não excedem um ano, além disso, são ressemea-
das com intervalos que não ultrapassam cinco anos (IBGE, 2013). Conforme o sistema de clas-
sificação adotado (IBGE, 2013), as áreas consideradas como “mata” foram associadas a
vegetação natural, no qual, compreende-se como um conjunto de estruturas florestal e cam-
pestre, abrangendo desde florestas e campos originais (primários) e alterados até formações
florestais espontâneas secundárias, arbustivas, herbáceas e/ou gramíneo-lenhosas, em diver-
sos estágios sucessionais de desenvolvimento, distribuídos por diferentes ambientes e situa-
ções geográficas. Áreas construídas como aglomerações domiciliares foram interpretadas
como “área urbana” e a classe “água” são áreas identificadas como corpos d’águas, tais como:
rede de drenagem e lagoas (IBGE, 2013).
A terceira etapa foi definida com base no diagnóstico, ou seja, o prognóstico. Nessa fase
foi possível comparar as classes de uso e cobertura da terra em diferentes episódios temporais
(2006 e 2020) por meio do processo de extração de informação em imagens para reconhecer
padrões e objetos homogêneos nas mudanças multitemporais no uso e cobertura da terra na
bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras. Neste caso, foi utilizado o classificador por
regiões (Battacharya) onde a informação espacial envolve a relação entre os “pixels” e seus vizi-
nhos auxiliando ao reconhecer áreas homogêneas de imagens, baseados nas propriedades
espectrais e espaciais de imagens.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINAMISMO GEOGRÁFICO 697

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Uso e cobertura da terra – 2006
De acordo com Ferreira (2008), na imagem orbital do sensor TM no ano de 2006, notou-
-se grande distorção em seus pixels, devido a sua resolução e principalmente em sua re-visita
imageada na órbita ponto da área de estudo, ou seja, algumas falhas ocorreram no processo
de captação da imagem pelo sensor TM. Nesse sentido, o mesmo autor sugere que se aplicam
alguns processamentos nas imagens, dentre eles: eliminação de ruído e filtragem. Deste modo,
após a classificação supervisionada, predominou-se bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras no ano de 2006 a classe de uso e cobertura da terra solo exposto, em seguida de
culturas temporárias, mata, urbano e água (Tabela 2).

Tabela 2 – Quantificação do mapeamento de uso e cobertura da terra – BHRP

Uso e cobertura da terra – 2006


Classes (km²)
Solo Culturas
Satélite Mata Urbano Água Total
exposto temporárias
Landsat/TM 116,820 91,147 33,885 27,697 4,927 274,526
Fonte: Ferreira, 2008.

Com base nos dados de Ferreira (2008), observou-se que, as classes de cultura temporá-
ria e solo exposto somam 76% (Gráfico 1) da área total da bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras, ou seja, caracterizando a bacia como uma área predominantemente de ativida-
des agrícolas.

Gráfico 1 – Porcentagens do uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das


Pitangueiras, 2006

Fonte: Ferreira, 2008.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


698 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

As áreas de culturas temporárias foram representadas principalmente pela cana-de-açú-


car (Figuras 2 e 3) e pastagem. Nas áreas de solos expostos foram registradas principalmente
áreas que se caracterizam na entressafra e algumas áreas improdutivas associadas com pasta-
gens degradadas.

Figura 2 – Cana-de-açúcar Figura 3 – Solo exposto

Fonte: Ferreira, 2008. Fonte: Ferreira, 2008.

A vegetação nativa na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras registrou-se prin-


cipalmente no entorno da rede de drenagem, caracterizando como vegetação ciliar, além disso,
classificou-se uma área representativa com cobertura de cerrado na porção oeste da área de
estudo (Figuras 4 e 5).

Figura 4 – Fragmento de cerrado Figura 5 – Vegetação ciliar, Ribeirão das Pitangueiras

Fonte – Ferreira, 2008. Fonte – Ferreira, 2008.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINAMISMO GEOGRÁFICO 699

A classe água com menor representatividade, porém, não menos importante, justifica-se
sua não classificação em função da cobertura dos espelhos d’água devido as copas de árvores
no entorno da rede de drenagem.
Deste modo, espacialmente a distribuição geográfica do uso e cobertura da terra na BHRP
no ano de 2006 destacou-se principalmente pelas áreas de entressafra, bem como, pastagem
degradada distribuídas em toda área da bacia. A área urbana concentra-se na área central da
área estudada com presença de vegetação ciliar do córrego Campo Redondo e do próprio Ribeirão
das Pitangueiras. Outro aspecto importante são as culturas temporárias representadas principal-
mente pela cana-de-açúcar distribuída em toda área da bacia estudada (Figura 6).

Figura 6 – Uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras, 2006

Fonte: Ferreira, 2008.

3.2 Uso e cobertura da terra – 2020


Na classificação supervisionada do uso e cobertura da terra no ano de 2020 da BHRP pre-
dominaram-se as culturas temporárias. Além disso, as áreas consideradas como “mata”, con-
forme o mapeamento de Ferreira (2008) e IBGE (2013), foram associadas com cerrado e
vegetação ciliar. Para a classe “urbano” foram consideradas áreas construídas com aglomera-
ções domiciliares e industriais conforme proposto pelo IBGE (2013). Na classe “água” foram
classificados corpos d’águas, tais como: rede de drenagem, lagoas e açudes (Tabela 3).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


700 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

Tabela 3 – Quantificação do mapeamento de uso e cobertura da terra – BHRP

Uso e cobertura da terra – 2020


Classes (km²)

Satélite Solo exposto Culturas temporárias Mata Urbano Água Total

Landsat/OLI 30,765 178,110 32,352 29,033 4,266 274,526


Fonte: Landsat OLI, 2020.

Deste modo, observou-se que, as classes de cultura temporária e solo exposto conti-
nuam somando aproximadamente 76% da área total da bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras, seguido de Mata (12%) Urbano (11%) e Água com 1% (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Porcentagens do uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras,
2020

Fonte: Landsat OLI, 2020.

Sobre a classe “solo exposto” (Figura 7), verificou-se que sua maior representatividade
está associada com áreas sem cobertura vegetal no período de entressafra. Já as “culturas
temporárias” foram representadas principalmente pelas plantações de cana-de-açúcar
(Figura 8) destinadas para agroindústria sucroalcooleira regional voltadas para a produção
de etanol e açúcar.
A distribuição geográfica de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão
das Pitangueiras no ano de 2020 se deu principalmente pelas culturas temporárias distribuí-
das em toda área da bacia representada principalmente pela cana-de-açúcar. Assim como as
culturas temporárias, a classe “solo exposto” encontra-se distribuída em toda a área de
estudo, principalmente na porção centro-oeste da bacia. Outro aspecto relevante é a proxi-
midade das áreas agrícolas com as áreas urbanizadas (Figura 9), bem como, o avanço de
novos loteamentos urbanos no sentido das áreas de proteção permanente do Ribeirão das
Pitangueiras (Figura 10).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINAMISMO GEOGRÁFICO 701

Figura 7 – Solo exposto, 2020 Figura 8 – Cana-de-açúcar, zona rural, 2020

Fonte: Ferreira, 2008. Fonte: Ferreira, 2008.

Figura 9 – Cana-de-açúcar, próxima a área urbana, Figura 10 – APP e área urbanizada, 2020
2020

De acordo com Miranda (2009), os processos de planejamento e gestão urbanos com


base nos Planos Diretores poderão ser mais efetivos se estenderem, criativamente, às áreas de
transição rural-urbana, ou seja, ampliar a capacidade de regulação dos usos do solo e imple-
mentar efetivas instâncias de planejamento e gestão democrática.
A classe urbana concentra-se na área central da bacia estudada com destaque na pre-
sença de vegetação ciliar, bem como, novas áreas de expansão situada a sudeste da BHRP
(Figura 11). A classe água foi representada principalmente pelo Rio Pardo (foz do Ribeirão das
Pitangueiras) e por sistemas lênticos como lagoas, lagos e açudes (Figura 12), diferentemente
da rede de drenagem do Ribeirão das Pitangueiras, pois, apresenta-se quase que totalmente
coberto pela vegetação ciliar ou pela vegetação de galeria.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


702 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

Figura 11 – Loteamento residencial, 2020 Figura 12 – Sistema lêntico em área urbana, 2020

A vegetação natural na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras ocorre principal-


mente pela vegetação ciliar em praticamente toda a extensão das redes de drenagem (Figura
13), além disso, registrou-se uma porção representativa de cerrado na porção oeste da área e
reservas legais compostas principalmente por cerrado e campo sujo (Figura 14).

Figura 13 – Vegetação ciliar, 2020 Figura 14 – Vegetação natural – cerrado, 2020

A atualização da cartografia do uso da terra da BHRP (Figura 15) constitui-se em um


importante elemento para o entendimento da disposição geográfica de elementos e processos
na superfície terrestre, além disso, o dado mais atualizado sobre uma determinada área auxi-
liará, dentre outros, a identificar e localizar os agentes responsáveis pelas suas condições
ambientais, associados à produção agrícola (FERREIRA, 2008).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINAMISMO GEOGRÁFICO 703

Figura 15 – Uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras, 2020

Fonte: Landsat-OLI, 2020.

Por fim, entende-se que, o conhecimento sobre o uso da terra ganha relevo pela necessi-
dade de garantir a sua sustentabilidade diante das questões ambientais, sociais e econômicas a
ele relacionadas e trazidas à tona no debate sobre o desenvolvimento sustentável (IBGE, 2013).

3.3 Mudanças no uso e cobertura da terra


Sobre o dinamismo geográfico dado pela multitemporalidade do uso e cobertura da
terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras, teve-se destaque para a classe “cultu-
ras temporárias” com um aumento comparado com os dados de 2006 de 86,963 km². Essa
situação associa-se principalmente com a classe de “solo exposto”, ou seja, tal classe teve uma
diminuição em área comparada com 2006 de 86,055 km². Assim, entende-se que áreas de solo
exposto em 2006 representada por pastagens degradadas foram ocupadas no período de 14
anos por “culturas temporárias”, além disso, no mapeamento de uso e cobertura do solo em
2006, Ferreira (2008) já apontava áreas caracterizadas como entressafra (Gráfico 3).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


704 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

Gráfico 3 – Comparação do uso e cobertura da terra nos anos de 2006-


2020 (km²) BHRP

Fonte: Landsat OLI, 2020.

Outro aspecto relevante foi sobre a classe “urbano”, na qual, obteve um aumento na sua
área de 1,336 km², dado principalmente pelos novos loteamentos urbanos como: Mais Parque
Barretos, Pacaembu e Residencial Vida Nova. A classe “mata”, comparada com 2006 obteve uma
redução em área de 1,533 km². Acredita-se que tal área reduzida foi ocupada principalmente pela
classe “culturas temporárias” (novas frentes agrícolas) e “urbano” (novos loteamentos). A classe
“água” obteve uma redução em área de 0,661 km², tal redução pode ser entendida hipotetica-
mente devido a retirada de açudes artificias para atender a demanda pecuária no ano de 2006,
na qual, é menor em 2020 devido ao avanço territorial de culturas temporárias.
Por fim, o levantamento multitemporal do uso e cobertura da terra indicou o dinamismo
geográfico na distribuição tipológica superficial através das interpretações e classificações de
padrões homogêneos da cobertura terrestre identificados em imagens orbitais. Deste modo,
na representação do espaço geográfico estarão registradas, combinadamente, marcas do pas-
sado e transformações que vigem no presente, assim, o dinamismo geográfico não é estático e
imutável é produto das atividades da sociedade humana, sendo, portanto, histórico
(MARTINELLI, 2005).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises elaboradas e dos resultados obtidos, pode-se afirmar a importân-
cia de se conhecer prévia e detalhadamente o meio físico e antrópico das áreas da bacia hidro-
gráfica do Ribeirão das Pitangueiras, tendo em vista a otimização do espaço geográfico desta
área, levando em consideração a preservação e conservação dos recursos naturais. Cabe res-
saltar que, o presente estudo não teve objetivo de mensurar a viabilidade social e ambiental
das mudanças paisagísticas, mas, constatar o dinamismo geográfico por meio de suportes geo-
tecnológicos. Nesse sentido, associado a base teórica metodológica e o suporte tecnológico

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINAMISMO GEOGRÁFICO 705

com o sensoriamento remoto, geoprocessamento, SIG e a cartografia digital, evidenciou a efi-


cácia dos procedimentos metodológicos aplicados.
Por fim, indica-se ações visando o equilíbrio ambiental da bacia estuda com base no
ordenamento territorial, bem como, estudos e análises sobre vulnerabilidade ambiental para
subsidiar tomadas de decisão visando a estabilidade das unidades de paisagem desta bacia,
nas quais, entende-se como ações necessárias para inserir no Plano Diretor municipal de
Barretos. Além disso, tal estudo mostra sobre a perspectiva sistêmica análises espaço-tempo-
rais sustentadas na estrutura, funcionamento e dinâmica dos sistemas ambientais visando o
entendimento dos fenômenos naturais e sociais como um conjunto indissociável passando a
incorporar uma visão globalizante das interações e dinâmicas socioambientais. Assim, enten-
de-se que os produtos cartográficos são de suma importância para a renovação de políticas
públicas ambientais norteando gestões e programas que visam a qualidade ambiental no uso
e ocupação da terra considerando os aspectos sociais e econômicos.

5 REFERÊNCIAS
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Conservação dos Recursos Naturais” Art. 20. De 17 de janeiro de 1991.
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


706 Sandra Cardoso Ferreira Recco; Reinaldo Cardoso AnacletO; Cesar Cardoso Ferreira

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Geógrafos Brasileiros – Seção Niterói ano 1 ISSN 1980-9018– jul/dez de 2005.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


60.
DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE CLASSES DE
VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO ACARAÚ-CE

LUIZ HENRIQUE JOCA LEITE1


ISRAEL SALLES NOGUEIRA2
CARLOS HENRIQUE SOPCHAKI3

Resumo: A Bacia Hidrográfica do Acaraú apresenta grande relevância dentro do cenário de abas-
tecimento hídrico, dado que esta abarca em seu território o terceiro maior arranjo populacional
do estado do Ceará. Por conta disso, tornam-se cada vez mais relevantes as preocupações acerca
do uso e ocupação do solo ao longo da área da bacia. Sendo assim, o presente trabalho teve como
objetivo observar a vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica em questão, através da sus-
ceptibilidade natural aos processos erosivos. Os métodos utilizados na pesquisa seguiram a meto-
dologia proposta por Crepani (2001) junto de algumas adaptações. Consequentemente, foram
elaborados mapas de geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, clima e, através da metodo-
logia de álgebra de mapas, foi gerado o mapa de vulnerabilidade ambiental da bacia. A análise dos
dados apontou que 49.89% da bacia possui grau de vulnerabilidade moderadamente estável, ao
passo que 49.71% desta se apresenta como medianamente estável-vulnerável. A porcentagem
restante se concentrou nas classes moderadamente vulneráveis. Dessa forma, foi possível obser-
var que as regiões mais vulneráveis ocorrem em relação ao exutório do rio principal, às encostas
da Serra da Ibiapaba e às porções de maciços residuais a sudeste da bacia.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; Suscetibilidade a Erosão; Geotecnologias; ZEE.
Abstract: The Acaraú Watershed presents great relevance within the water supply scenario, as it
encompasses in its territory the third largest population arrangement in the state of Ceará.
Because of this, concerns about the use and occupation of land throughout the watershed area
become increasingly relevant. Thus, the present work aimed to observe the environmental vulne-
rability of the mentioned watershed, through the natural susceptibility to erosion processes. The
methods used in the research followed the methodology proposed by Crepani (2001) along with
some adaptations. Consequently, maps of geology, geomorphology, pedology, vegetation, climate
were prepared, and through the methodology of map algebra, the environmental vulnerability
map of the watershed was generated. Data analysis pointed out that 49.89% of the watershed has

1 Graduação em Geologia. Universidade Federal do Ceará. E-mail: luizjoca@alu.ufc.br


2 Graduação em Geologia. Universidade Federal do Ceará. E-mail: israelsallesnogueira53@gmail.com
3 Departamento de Geografia. Universidade Federal do Ceará. E-mail: carlos.geografia@ufc.br

[ 707 ]
708 Luiz Henrique Joca Leite; Israel Salles Nogueira; Carlos Henrique Sopchaki

a moderately stable degree of vulnerability, while 49.71% of it presents itself as moderately sta-
ble-vulnerable. The remaining percentage was concentrated in the moderately vulnerable catego-
ries. Therefore, it was possible to observe that the most vulnerable regions occur related to the
main river’s mouth, the slopes of Ibiapaba Plateau and the portions of residual massifs to the sou-
theast of the basin.
Keywords: Water Resources, Erosion Susceptibility, Geotechnologies, EEZ

1 INTRODUÇÃO
Estudos e modelos que visem compreender melhor as incertezas que envolvem o uso e
ocupação do solo, e a sua relação com as mudanças climáticas, têm sido cada vez mais explo-
rados em estudos ao redor do mundo (SHUKLA et al., 2019).
Em busca dessa melhor compreensão, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
estabelece o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) como um de seus instrumentos, conci-
liando desenvolvimento econômico-social e preservação da qualidade do meio ambiente e do
equilíbrio ecológico (ROVANI; VIERA, 2016). Dentre os diversos indicadores de fragilidade natu-
ral potencial levantados para elaboração do ZEE, destacam-se os “indicadores de vulnerabili-
dade natural à perda de solo”, sendo a síntese desses indicadores o mapa de vulnerabilidade
morfodinâmica natural.
Nesta síntese, portanto, reúnem-se os elementos do meio físico e biótico em cinco temas
(geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e clima) em função dos processos de morfogê-
nese e pedogênese. Atualmente esse tipo de análise é facilmente operada utilizando Sistemas
de Informação Geográfica (SIG), haja vista que esses permitem a integração e processamento
de múltiplos Planos de Informação (PIs) georreferenciados, tal como avaliação e estabeleci-
mento de relações sistemáticas entre estes (ROCKETT et al., 2014).
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo apresentar discussões iniciais
acerca da vulnerabilidade morfodinâmica natural a perda de solos da bacia hidrográfica do
Acaraú, com apoio de geotecnologias e técnicas de geoprocessamento, a partir da análise das
mais recentes bases de dados disponíveis para o estado. Sendo assim capaz de fornecer uma
base sintética para discussões acerca da gestão territorial da bacia hidrográfica estudada e do
estado do Ceará.

1.1 Área de Estudo


A bacia hidrográfica do Rio Acaraú está localizada na porção noroeste do Estado do
Ceará, conforme indicado na Figura 1, sendo composta por 28 municípios e com uma área cor-
responde a 10% do território do estado – 14.423,00 km². A bacia possui como drenagem prin-
cipal o rio Acaraú, que ocorre predominante no sentido sul-norte, com 315 km de extensão e
é controlado pelo regime pluviométrico dos primeiros meses do ano. Ainda assim possuem
importantes sub-bacias em seu interior, formadas pelos afluentes Groaíras, Jucurutu, Macacos
e Jaibaras (COGERH, 2009).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL 709

Na área de estudo está localizado o terceiro maior arranjo populacional do estado do


Ceará, referente a região que engloba o município de Sobral e os constituintes de seu entorno
(IBGE, 2016). Sob o aspecto de uso e ocupação da terra, a Bacia do Rio Acaraú tem como
suporte fundamental de sua economia atividades relacionadas ao setor primário. Dessa forma
o alto e médio curso do rio apresenta em diversas porções de seu território criação extensiva
de gado bovino, agro-extrativismo e/ou pequenas lavouras de subsistência (COGERH, 2009).

Figura 1 – Mapa de Localização para Bacia Hidrográfica do Acaraú

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

2 MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia aplicada neste trabalho baseou-se na proposta por Crepani et al. (2001),
fundamentada nos conceitos de Ecodinâmica de Tricart (1977), adaptada para utilização con-
junta ao Índice de Concentração de Rugosidade (ICR), proposto por Sampaio e Augustin (2014),
e das Formas de Vertentes Predominantes, adaptado de Cunico (2007). Ou seja, todos os dados
foram analisados em função dos processos de pedogênese, quando predominam os processos
formadores de solo, e de morfogênese, quando predominam os processos erosivos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


710 Luiz Henrique Joca Leite; Israel Salles Nogueira; Carlos Henrique Sopchaki

Os mapas de vulnerabilidade para os temas geologia, geomorfologia, pedologia, vegeta-


ção, clima e o mapa síntese de vulnerabilidade morfodinâmica natural à perda de solos, foram
todos elaborados em ambiente SIG, utilizando o software Qgis 3.16.11.
O mapa para o tema geologia foi elaborado utilizando como base de dados o Mapa
Geológico do Estado do Ceará (PINÉO et al., 2019), na escala de 1:500.000, disponibilizado na
forma de arquivos vetoriais pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM). Já os mapas para os
temas pedologia e vegetação foram elaborados a partir da base de dados do Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), nas escalas 1:600.000, disponibilizados tam-
bém na forma de arquivos vetoriais.
Para elaboração do mapa de vulnerabilidade das unidades geomorfológicas optou-se por
adaptar a metodologia proposta por Crepani et al. (2001). Dessa forma o mapa geomorfológico
resultou na média aritmética entre os atributos Índice de Concentração de Rugosidade (ICR),
proposto por Sampaio e Augustin (2014), e Formas de Vertentes Predominantes, adaptado de
Cunico (2007). Ambos foram obtidos através dos Modelos Digitais de Elevação (MDE) forneci-
dos pelo projeto TOPODATA (BRASIL, 2008) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
com resolução espacial de 30 metros, em escala 1:250.000.
O mapa de clima, por fim, foi elaborado utilizando a base de dados do aplicativo
‘Calendário das Chuvas’, desenvolvido pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (FUNCEME), para o cálculo da Intensidade Pluviométrica (IP). Nesse contexto foram
adquiridos os valores de precipitação média anual, no intervalo de 2000 a 2019, para cada
município. Esses valores foram então divididos pelo número de meses chuvosos, para este tra-
balho adotou-se o valor de quatro meses, correspondente ao período entre fevereiro e maio
(quadra chuvosa). Os valores resultantes foram então atribuídos aos limites municipais que
compõem a área de estudo.
Todos os mapas temáticos supracitados foram então convertidos para arquivos matri-
ciais com valores de pixel reclassificados conforme Crepani et al. (2001), ou seja, com valores
variando entre 1.0 (Estável – Pedogênese) e 3.0 (Vulnerável – Morfogênese). Esses produtos
foram utilizados para gerar o mapa de vulnerabilidade morfodinâmica natural à perda de solos,
através de um processo de álgebra de mapas, que consistiu na média aritmética entre os cinco
arquivos matriciais com vulnerabilidade para os temas: Geologia (G), Geomorfologia (R),
Pedologia (P), Vegetação (V) e Clima (C), conforme indicado na Equação 1.

Vulnerabilidade=(G+R+P+V+C)/5 (1)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL 711

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Planos de Informação de Vulnerabilidade Morfodinâmica Natural
Na análise da vulnerabilidade morfodinâmica natural, com base no fator geologia (Figura
2a), observa-se um predomínio de litotipos estáveis (69.25%) e moderadamente estáveis (13.61%).
Valores estes que encontram como seus principais representantes as rochas do embasamento
cristalino (migmatitos e gnaisses) e corpos dos maciços residuais (riolitos, granitos e dacitos). Já os
litotipos moderadamente vulneráveis (12.54%) e vulneráveis (4.03%) correspondem a porções de
rochas sedimentares do Grupo Jaibaras e do Grupo Barreiras, junto de depósitos de sedimentos
recentes depositados ao longo do leito do Rio Acaraú e seus tributários.
A vulnerabilidade para o tema geomorfologia (Figura 2b), obtida através da média arit-
mética dos arquivos matriciais de vulnerabilidade de ICR e de formas de vertentes predomi-
nantes, apresentou tendência às classes moderadamente estáveis, que recobrem quase 75%
da área de estudo. Tal valor se justifica devido às porções correspondentes à depressão serta-
neja e à planície litorânea, que tendem a apresentar valores mais estáveis e abrangem grande
parte da área de estudo. As porções medianamente estável-vulnerável, moderadamente vul-
nerável e vulnerável, que correspondem aos 25% restantes, ocorrem relacionadas às demais
unidades de relevo como os inselbergues e as Serras da Ibiapaba e Meruoca.
Já na avaliação da vulnerabilidade, com base no fator pedologia (Figura 2c), é possível
observar a predominância de solos medianamente estáveis-vulneráveis (68.92%), represen-
tados principalmente pelos argissolos e luvissolos. Os solos classificados como vulneráveis
correspondem a 29.58% da área de estudo e possuem como principal representante os neos-
solos, que ocorrem tanto em regiões próximas das encostas como no leito do baixo e médio
curso do rio principal.
A análise da vulnerabilidade para o tema vegetação (Figura 2d) torna evidente o alto grau
de vulnerabilidade da cobertura vegetal da bacia, no qual 79.84% da área da bacia corresponde
a classe vulnerável. Esses altos valores decorrem da grande ocorrência da Caatinga Arbustiva
Aberta e da Caatinga Arbórea. Os 20.16% restantes estão distribuídos entre vegetação mode-
radamente vulnerável, medianamente estável-vulnerável e moderadamente estável, relacio-
nados principalmente aos enclaves úmidos e a planície costeira.
Por fim, no que se refere à vulnerabilidade para o tema clima (Figura 2e) observa-se o
predomínio da classe moderadamente estável (77.26%) devido ao baixo índice pluviométrico
da bacia ao longo do baixo e médio curso. As porcentagens restantes estão distribuídas quase
que inteiramente na classe medianamente estável-vulnerável, ocorrendo próximo a região da
planície costeira e dos enclaves úmidos, ou seja, das Serras da Ibiapaba e Meruoca.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


712 Luiz Henrique Joca Leite; Israel Salles Nogueira; Carlos Henrique Sopchaki

Figura 2 – Vulnerabilidades para os temas Geologia, Geomorfologia, Pedologia, Vegetação e Clima da


Bacia Hidrográfica do Acaraú

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL 713

3.2 Vulnerabilidade Morfodinâmica Natural a Perda de Solos da Bacia


Hidrográfica do Acaraú
A partir da média aritmética dos arquivos matriciais referentes à vulnerabilidade para geo-
logia, geomorfologia, pedologia, vegetação e clima, supracitados obteve-se o mapa de vulnerabi-
lidade morfodinâmica natural a perda de solos da Bacia Hidrográfica do Acaraú (Figura 3).

Figura 3 – Vulnerabilidade morfodinâmica natural a perda de solos da Bacia


Hidrográfica do Acaraú-CE

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


714 Luiz Henrique Joca Leite; Israel Salles Nogueira; Carlos Henrique Sopchaki

Com base nos valores calculados observa-se um predomínio dos graus de vulnerabili-
dade moderadamente estável (49.89%) e medianamente estável-vulnerável (49.71%), que jun-
tos totalizam 99.6% da área de estudo. A porcentagem restante se distribui entre valores de
vulnerabilidade classificados como moderadamente vulnerável.
O predomínio na tendência de estabilidade da bacia, possivelmente, se dá devido à geo-
logia, que tem como composição majoritária litotipos estáveis e à geomorfologia, devido ao
predomínio de relevos planos, classificados como estáveis e moderadamente estáveis. A pedo-
logia e o clima também sugerem influência, embora menor, dentro deste cenário. Isso porque
há predomínio dos graus de vulnerabilidade moderadamente estável e medianamente estável-
-vulnerável, mas em proporções mais distribuídas em relação às demais classes.
A vegetação, por outro lado, possivelmente contribuiu na elevação dos graus de vulnera-
bilidade devido à sua composição majoritariamente vulnerável. Ainda assim a presença de uni-
dades fitoecológicas classificadas como medianamente estáveis, nas regiões da Serra da
Ibiapaba e da Serra da Meruoca, justificam em grande parte a redução do grau de vulnerabili-
dade dessas regiões, no qual as encostas presentes de forma clara em todos os temas, aqui se
tornam uniformes junto aos contextos adjacentes.
Já as porções classificadas como moderadamente vulneráveis estão associadas ao exutó-
rio do rio Acaraú, a uma fração da região dos inselbergues a sudeste da área e a porção corres-
pondente a Bacia do Jaibaras a sudoeste da área de estudo.
Na porção correspondente ao exutório do rio, se justifica o grau de vulnerabilidade acima
da média do restante da bacia, provavelmente, devido à presença de unidades geológicas,
pedológicas, fitoecológicas e climáticas tendendo a maior vulnerabilidade.
Já nas porções que correspondem aos inselbergues e a Bacia do Jaibaras a presença de
graus de vulnerabilidade moderadamente vulneráveis possivelmente teve o clima e a geologia
como seus principais atenuadores. Isso porque geomorfologia, pedologia e vegetação apresen-
tam graus de vulnerabilidade que tendem a aumentar o grau de vulnerabilidade dessas regiões.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos bancos de dados utilizados, identificou-se que o grau de vulnera-
bilidade morfodinâmica natural à perda de solos da bacia hidrográfica do rio Acaraú se mos-
trou pouco expressivo, dado o predomínio das classes moderadamente estável e medianamente
estável-vulnerável, que juntas correspondem a 99.6% da área de estudo.
Ademais foi possível observar através do mapa de vulnerabilidade morfodinâmica natu-
ral que as regiões do exutório do Rio Acaraú, e suas adjacências, junto da base da Serra da
Ibiapaba, na região corresponde a Bacia do Jaibaras, e alguns dos inselbergues presentes na
porção sudeste da área, são as porções mais suscetíveis a riscos ambientais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL 715

Nesse contexto, portanto, observa-se que a metodologia proposta por Crepani et al.
(2001), junto de pequenas adaptações em determinados parâmetros fornece uma boa análise
preliminar do conhecimento da morfodinâmica existente na área de estudo, fomentando dis-
cussões acerca das unidades de paisagem, úteis como subsídio no planejamento do ordena-
mento territorial da bacia hidrográfica.
Contudo, cabe destacar que a adoção de bases de dados em escalas distintas pode
influenciar os resultados, assim como a subjetividade imposta pela adoção dos pesos na meto-
dologia proposta por Crepani et. al (2001), conforme já demonstrado por Spörl e Ross (2004) e
Spörl, Castro e Luchiari (2011).
O resultado de metodologias como esta, identificando a vulnerabilidade, pode ser pri-
mordial no apoio ao planejamento e gestão territorial, contudo recomenda-se ainda estudos
mais aprofundados para a Bacia do Rio Acaraú, a partir da adoção de dados em outras escalas,
verificando a influência da multiescalaridade nos resultados, bem como a partir de outras
metodologias, como Ross (2011) e Rodriguez, Silva e Cavalvanti (2010).

5 REFERÊNCIAS
Brasil. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Topodata: banco de dados geomorfométricos do
Brasil. Variáveis geomorfométricas locais. São José dos Campos, 2008. <http://www.dsr.inpe.br/topodata/>
COGERH (Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Ceará). Caderno regional da Bacia do
Acaraú. INESP, Fortaleza, 2009.
CREPANI, Edison et al. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao zoneamento ecológico-
econômico e ao ordenamento territorial. São José dos Campos: Inpe, 2001.
CUNICO, C. Zoneamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Marumbi – PR: Perspectivas para a
Análise e Avaliação das Condições Sócio-Ambientais. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Geografia).
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007
IBGE. Arranjos populacionais e concentrações urbanas no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Coordenação de
Geografia, IBGE, 2016.
PINÉO, Tercyo Rinaldo Gonçalves et al. Projeto geologia e recursos minerais do Estado do Ceará: Mapa
Geológico do estado do Ceará: versão preliminar. Fortaleza: CPRM, 2019. Escala 1:500.000. 1 mapa, color.
ROCKETT, Gabriela Camboim et al. Geoprocessamento Aplicado À Análise Ambiental: Vulnerabilidade
Natural À Perda De Solo No Morro Do Osso, Porto Alegre/RS. Geografia, v. 39, n. 3, 2014.
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, EV da; CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito. Geoecologia das
Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza: Editora UFC, p. 27-30, 2004.
ROSS, J. L. S. Análise Empírica Da Fragilidade Dos Ambientes Naturais Antropizados. Revista do
Departamento de Geografia, v. 8, p. 63-74, 2011.
ROVANI, Franciele Francisca Marmentini; VIERA, Márcio. Vulnerabilidade natural do solo de Silveira Martins-
RS. Floresta e Ambiente, v. 23, p. 151-160, 2016.
SAMPAIO, Tony Vinicius Moreira; AUGUSTIN, Cristina Helena Ribeiro Rocha. Índice de concentração da
rugosidade: uma nova proposta metodológica para o mapeamento e quantificação da dissecação do relevo
como subsídio a cartografia geomorfológica. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 15, n. 1, 2014.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


716 Luiz Henrique Joca Leite; Israel Salles Nogueira; Carlos Henrique Sopchaki

SHUKLA, P. R. et al. IPCC, 2019: Climate Change and Land: an IPCC special report on climate change,
desertification, land degradation, sustainable land management, food security, and greenhouse gas fluxes
in terrestrial ecosystems. 2019.
SPÖRL, Christiane; CASTRO, Emiliano; LUCHIARI, Aílton. Aplicação de redes neurais artificiais na construção
de modelos de fragilidade ambiental. Revista do Departamento de Geografia, v. 21, p. 113-135, 2011.
SPÖRL, Christiane; ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Análise comparativa da fragilidade ambiental com
aplicação de três modelos. GEOUSP-Espaço e Tempo, v. 15, p. 39-49, 2004.
TRICART, Jean. Ecodinâmica. Secretaria de Planejamento da Presidência da República, Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria Técnica, Superintendência de Recursos Naturais e Meio
Ambiente, 1977.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


61. ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO
VAI-E-VOLTA A PARTIR DE PARÂMETROS
FÍSICO-QUÍMICOS DE QUALIDADE DA
ÁGUA E APLICAÇÃO DE PROTOCOLO DE
AVALIAÇÃO RÁPIDA

CARINA SANTOS BARBOSA1


THOMAZ ALVISI DE OLIVEIRA2

Resumo: Estudos ambientais desenvolvidos em bacias hidrográficas vislumbram alcançar resulta-


dos que possibilitem o entendimento do seu funcionamento sistêmico, onde os processos envol-
vidos são respostas aos ajustes derivados das interações existentes entre os elementos
contemplados nessa unidade. Esse trabalho é um exemplo de análise ambiental na bacia hidrográ-
fica do córrego do Vai-e-Volta, município de Poços de Caldas-MG, a partir de informações físico-
-químicas de qualidade da água e aplicação de protocolo de avaliação ambiental ao longo do canal
principal, conjugadas à caracterização morfométrica e de uso e ocupação da terra. Os resultados
deram conta de caracterizar as condições ambientais dos pontos estudados e aludir sobre as rela-
ções sistêmicas que se desdobram na bacia hidrográfica em foco.
Palavras-chave: Bacias hidrográficas; Qualidade da água; Avaliação ambiental; Ambiente urbano.
Abstract: Environmental studies carried out in hydrographic basins aim to achieve results that
enable the understanding of their systemic functioning, where the processes involved are respon-
ses to adjustments derived from the existing interactions between the elements covered in this
unit. This work is an example of environmental analysis in the hydrographic basin of the Vai-e-
Volta stream, municipality of Poços de Caldas-MG, based on physical-chemical information on
water quality and application of an environmental assessment protocol along the main channel,
combined with the morphometric characterization and the use and occupation of the land. The
results were able to characterize the environmental conditions of the points studied and allude to
the systemic relationships that unfold in the hydrographic basin in focus.
Keywords: Hydrographic basins; Water quality; Environmental assessment; Urban environment.

2 Instituto Federal do Sul de Minas Gerais. E-mail: thomaz.oliveira@ifsuldeminas.edu.br

[ 717 ]
718 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira

1 INTRODUÇÃO
Estudos em bacias hidrográficas possibilitam a visualização do funcionamento sistêmico
dado pela integração entre os elementos físico-naturais e os sociais. Sendo assim, dessa inte-
ração surgem ajustes nos sistemas ambientais como, por exemplo, aqueles relacionados à
mudança de parâmetros físico-químicos das águas.
Ao analisar esse conjunto, no intuito de compreender o meio como um corpo vivo que
responde aos estímulos derivados de processos que demandam reorganização de fluxos de
matéria e energia, coloca-se em prática a abordagem integrada de estudo das paisagens.
Em âmbito municipal, as secretarias de planejamento responsáveis pelo zoneamento do
espaço urbano possuem liberdade para definir as regras para o uso da terra nas suas mais
diversificadas formas, orientando essa utilização segundo os potenciais e as limitações que as
áreas apresentam. No entanto, nem sempre o planejamento das cidades atende a legislação
ambiental corrente, seja por restrições técnicas ou pelo assédio da expansão urbana financiada
pela especulação imobiliária. Assim, o enfoque sistêmico é uma possibilidade para o planeja-
mento e a gestão dos ambientes (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2007) e, utilizá-lo, implica
em conceber e entender as partes como um todo. Nesse contexto é importante destacar que
as bacias hidrográficas são unidades de área de excelência para o desenvolvimento de estudos
sistêmicos, inclusive constituindo-se como referência areal para estudos ambientais, tal como
reza a Lei 6.938/81 normatizada pela resolução do CONAMA 001/86.
O presente trabalho é um estudo ambiental desenvolvido na bacia hidrográfica do cór-
rego do Vai-e-Volta, inserida no contexto urbano do município de Poços de Caldas, estado de
Minas Gerais, com base na análise e interpretação de dados físico-químicos da água e aplica-
ção de protocolo de avaliação rápida no canal principal.
Trabalhos com pautas semelhantes denunciaram os impactos advindos do uso desorde-
nado da terra no âmbito das bacias hidrográficas, principalmente aqueles relacionados à pres-
são que a atividade urbana exerce sobre a rede de drenagem componente e seu entorno (LIMA
et al., 2020; REZENDE e LUCA, 2017; BELIZÁRIO, 2016).

2 METODOLOGIA
2.1 Levantamento bibliográfico, instrumental e organização dos materiais
A análise e organização do material bibliográfico, cartográfico e instrumental utilizados
foi etapa primeira. Uma cena ASTER Global DEM V3, disponibilizada no site do serviço geoló-
gico dos Estados Unidos da América <https://earthexplorer.usgs.gov/>, com dimensão geo-
gráfica de abrangência de 1 segundo de arco, resolução de 30 m x 30 m, foi utilizada para
extração das informações de hipsometria e declividade; uma imagem do satélite Sentinel-2,
com resolução espacial de 10 x 10 metros, de 21/01/2021, também adquirida na plataforma
supracitada, foi utilizada para a análise do uso da terra. Ambas foram trabalhadas no soft-
ware ArcMap 10.7.1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO VAI-E-VOLTA 719

Uma sonda multiparâmetros HANNA, modelo HI 9829, foi utilizada nas investigações de
parâmetros físico-químicos da água relacionados à temperatura da água em “0C”, pH, oxigênio
dissolvido em “mg/L”, condutividade elétrica em “µS/cm”, sólidos dissolvidos totais em “mg/L”,
salinidade em “PSU”, potencial de oxirredução em “mV” e turbidez em “NTU”. A turbidez foi
analisada por um turbidímetro de bancada microprocessado da marca Marconi, modelo
TB1000, com faixa de abrangência de 0 a 1000 NTU.
Um protocolo de avaliação rápida elaborado com base nas orientações apresentadas por
Callisto et al. (2002) foi utilizado para inferir a condição dos trechos analisados, informando se
os mesmos se aproximam mais ou menos da condição natural.

2.2 Aplicação de metodologias para aquisição de dados


Atividades de gabinete apoiaram-se na reorganização das informações cartográficas de
referência e na elaboração dos mapas temáticos correlatos à hipsometria, declividades e uso
da terra na bacia hidrográfica.
O mapa hipsométrico foi confeccionado a partir da reclassificação da cena ASTER com a
ferramenta classified, configurando uma legenda com nove classes de atitudes, a saber: <
1.200m; 1.200m I–1.220m; 1.220m I–1.260m; 1.260m I–1.300m; 1.300m I–1340m; 1.340m
I–1.380m; 1.380m I–1.420m e > 1.420m. As declividades foram configuradas visando atender
as orientações técnicas voltadas ao uso e parcelamento da terra (LEI N0 6766/79). A partir da
utilização da ferramenta slope, foram constituídas cinco classes: < 5%; 5% I–10%; 10% I–20%;
20% I– 30% e >30%.
O mapa de uso da terra e cobertura vegetacional foi elaborado com a ferramenta inte-
ractive supervised classification em composição falsa cor 8R4G3B (ENGESAT, 2021) resultando
nas classes: Floresta Estacional Semidecidual, Campos e Pastagens, Área Urbana e Solo exposto.
Em campo foram desenvolvidas investigações sobre a qualidade da água, em quatro pon-
tos do canal principal da bacia, com a sonda multiparâmetros. Os pontos foram também anali-
sados qualitativamente por meio da aplicação do protocolo de avaliação rápida proposto por
CALLISTO et al. (2002). O protocolo foi dividido em dois temas com pontuação para os parâme-
tros analisados, de forma que o somatório dos pontos definiu os ambientes em impactados (0
a 20 pontos), alterados (21 a 30 pontos) ou naturais (acima de 31 pontos).
O Quadro 1 é referente ao primeiro tema, e expõe os parâmetros relacionados ao nível
dos impactos ambientais decorrentes de atividades antrópicas. O Quadro 2, refere-se ao
segundo tema e representa as condições de hábitat e o nível de conservação das condições
naturais informando se o ponto analisado se aproxima mais ou menos da condição natural.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


720 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira

Quadro 1 – Avaliação do nível de impactos ambientais decorrentes de atividades antrópicas


Pontuação

Parâmetros 0 ponto
5 pontos 3 pontos
(severamente
(situação natural) (alteração leve)
alterada)
Campo de pastagem /
1. Tipo de ocupação das
Agricultura / Residencial /
margens do corpo d’água Vegetação natural
Monocultura / Comercial / Industrial
(principal atividade)
Reflorestamento
2. Erosão próxima e/ou nas
margens do rio e assoreamento Ausente Moderada Acentuada
em seu leito
Alterações de origem
Alterações de origem
3. Alterações antrópicas Ausente doméstica (esgoto,
industrial / urbana
lixo)

4. Cobertura vegetal no leito Parcial Total Ausente

5. Odor da água Nenhum Esgoto (ovo podre) Óleo / Industrial

6. Transparência da água Transparente Turva/cor de chá forte Opaca ou colorida

7. Tipo de fundo Pedras / Cascalho Lama / Areia Cimento / Canalizado


Fonte: Adaptado de Callisto et. al., 2002.

Quadro 2 – Avaliação das condições de hábitat e nível de conservação das condições naturais
Pontuação

Parâmetros 2 pontos 1 pontos 0 ponto


3 pontos
(levemente (levemente (severamente
(situação natural)
alterada) alterada) alterada)
Entre 50 e 70% com
Entre 70 e 90% com
vegetação ripária
Acima de 90% com vegetação ripária
nativa; defloresta-
vegetação ripária nativa; defloresta-
mento óbvio;
nativa; mínima mento evidente, Menos de 50% da
trechos com solo
8. Presença evidência de mas não afetando o mata ciliar nativa;
exposto ou vegeta-
de mata ciliar deflorestamento; desenvolvimento deflorestamento
ção eliminada;
todas as plantas da vegetação; muito acentuado.
menos da metade
atingindo a altura maioria das plantas
das plantas
“normal”. atingindo a altura
atingindo a altura
“normal”.
“normal”.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO VAI-E-VOLTA 721

Pontuação

Parâmetros 2 pontos 1 pontos 0 ponto


3 pontos
(levemente (levemente (severamente
(situação natural)
alterada) alterada) alterada)
Instável; muitas
Margens estáveis; Moderadamente
Moderadamente áreas com erosão;
erosão mínima ou estáveis; pequenas
instável; entre 30% frequentes áreas
9. ausente; pequeno áreas de erosão
e 60% da margem descobertas nas
Estabilidade potencial para frequentes. Entre
com erosão. Risco curvas do rio;
das margens problemas futuros. 5% e 30% da
elevado de erosão erosão óbvia entre
Menos de 5% da margem com
durante enchentes. 60% e 100% da
margem afetada. erosão.
margem.
Largura da vegeta- Largura da vegeta-
Largura da vegeta-
ção ripária maior Largura da vegeta- ção ripária inferior
ção ripária entre 12
10. Extensão que 18m; sem ção ripária entre 6 a 6m; vegetação
e 18m; mínima
de mata ciliar influência de e 12m; influência restrita ou ausente
influência
atividades antrópica. devido à atividade
antrópica.
antrópicas antrópica.
Alguma canalização
Canalização presente; normal- Alguma modifica-
11. Margens modifica-
(retificação) ou mente próximo à ção presente nas
Alterações das; acima de 80%
dragagem ausente construção de duas margens; 40 a
no canal do do trecho
ou mínima; rio com pontes; evidência 80% do trecho
rio modificado.
padrão normal. de modificações há modificado.
mais de 20 anos.
Fundo formado
predominante- Fundo pedregoso
12. Tipos de Seixos abundantes
Seixos abundantes mente por casca- e/ou seixos e/ou
substratos e cascalho comum
lho, alguns seixos lamoso
presentes
Fonte: Adaptado de Callisto et. al., 2002.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Poços de Caldas, Sul do estado de Minas Gerais, conta com uma popula-
ção de 168.641 habitantes, concentrada em uma área de 547,061 km² (IBGE, 2020), onde
mosaicos de campos nativos e floresta estacional semidecidual (IBGE, 1992; GRAEFF, 2015)
ocorrem ladeados por pastagens, polígonos de silvicultura de eucalipto, atividades minerárias
e cultivos agrícolas (MAPBIOMAS, 2020). Parte desse cenário caracteriza os terrenos da bacia
do córrego do Vai-e-Volta, unidade de área com aproximadamente 5 km2, inserida no contexto
urbano do município supracitado (Figura 1).
Alçada entre cotas que variam de 1.200 metros a pouco superiores a 1.420 metros, regis-
tra amplitude altimétrica considerável, tendo em vista a reduzida extensão do seu eixo axial,
de aproximadamente 4 km. As declividades, em geral, são superiores a 10%, mas valores acima

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


722 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira

dos 30% são comuns. Sobre esses terrenos instala-se um complexo urbano majoritariamente
residencial que impõe grande energia aos processos auxiliados pela atuação gravitacional, con-
ceituando o córrego do Vai-e-Volta, como um agente que atua com dinamismo junto à paisa-
gem da bacia hidrográfica da qual ele é drenagem de referência (Figura 2).

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do córrego do Vai-e-Volta e dos pontos selecionados para
análises e coletas de campo

Fonte: Autores

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO VAI-E-VOLTA 723

Figura 2 – Aspectos morfométricos e de uso e ocupação da terra e cobertura vegetacional

Fonte: Autores.

Nesse contexto, os fluxos derivados do escoamento pluvial nas vertentes, transporta sig-
nificativo volume de materiais para os canais de drenagem, podendo alterar as características
físico-químicas da água, já comprometidas pelo uso das margens como depósitos de resíduos
sólidos domésticos. Para verificar a qualidade da água e a saúde ambiental do entorno dos
pontos estudados, procedeu-se à investigação dos parâmetros físico-químicos da água com
aplicação do protocolo de avaliação rápida, que são apresentados e discutidos na sequência.

3.1 Ponto 1: 21° 48’ 39” de latitude S e 46° 34’ 22” de longitude W
Locado a 1.257 metros de altitude, com mata ciliar presente intercalada por pastagem e
equipamento urbano em vias de instalação. (Figura 3 A e B).

Figura 3 – A) Visão geral do ponto de amostragem 1. B) Panorama


paisagístico do entorno do ponto de amostragem 1

A B
Fonte:Autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


724 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira

A concentração de oxigênio dissolvido obtida atendeu ao limite estabelecido pelo


CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classe 3, aquelas que só podem ser destinadas
ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou avançado. A tem-
peratura da água foi a menor dentre os pontos amostrados. Isso deve-se ao fato do corpo
d’água, neste ponto, possuir maior profundidade, e a vegetação ciliar estar presente, apesar de
não atender a largura mínima de 30 metros estabelecida pela Lei nº 12.651/2012. A condutivi-
dade encontrada foi 15 µS/cm, revelando concentração simbólica de sais, ácidos e bases
(TUNDISI e TUNDISI, 2008). O valor encontrado para os sólidos dissolvidos totais está dentro do
padrão estabelecido pelo CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classes 1, 2 e 3, encon-
trando-se bem abaixo do valor máximo. O potencial de oxirredução revelou se tratar de um
meio oxidante (JARDIM, 2014). A turbidez registrada atende ao padrão estabelecido pelo
CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classe 1.
O protocolo de avaliação rápida indicou um ambiente classificado como natural. Isso
define que a alteração do ambiente pela pressão antrópica observada em campo, ainda não
deu conta de descaracterizar o “padrão natural” do ambiente.

3.2 Ponto 2: 21° 48’ 9” de latitude S e 46° 34’ 11” de longitude W


Situa-se a 1.240 metros de altitude, margeado por mata galeria restrita, intercalada por
vegetação herbácea, com presença de resíduos sólidos domésticos nas margens. Insere-se em
contexto urbano, com vias pavimentadas onde predomina o uso residencial (Figura 4 A; B e C).

Figura 4 – A) Visão geral do ponto de amostragem 2. B) Descarte de resíduos sólidos junto à margem
esquerda da drenagem. C) Panorama paisagístico do entorno do ponto de amostragem 2

A B C
Fonte: Autores.

A concentração de oxigênio dissolvido atendeu ao limite estabelecido pelo CONAMA


(2005) para corpos de água doce de Classe 4, ou seja, águas que só podem ser destinadas à
navegação e harmonia paisagística, no entanto, o valor encontrado ficou muito próximo do
padrão estabelecido para corpos de água doce de Classe 3. A temperatura registrada é um
pouco superior àquela obtida no Ponto 1 devido à maior exposição à incidência direta da radia-
ção. O valor encontrado para a condutividade aproximou-se do valor que caracteriza ambien-
tes impactados (CETESB, 2009), informando uma qualidade inferior da água, mas não

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO VAI-E-VOLTA 725

caracterizando, ainda, um ambiente impactado. O valor da salinidade denunciou maior pre-


sença de sais com relação ao Ponto 1. Tal fato pode estar vinculado ao desbaste da mata ciliar
e à deposição de resíduos sólidos no local. O parâmetro “sólidos dissolvidos totais” registrou
valor bem superior ao encontrado no Ponto 1, no entanto, ainda dentro do padrão estabele-
cido pelo CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classes 1, 2 e 3. O potencial de oxirre-
dução indica um meio oxidante, uma vez que valores positivos para este parâmetro demonstram
tal condição (JARDIM, 2014). A turbidez encontrada atende ao padrão para corpos de água
doce de Classe 1, segundo o CONAMA (2005).
Em geral o Ponto 2 apresentou qualidade da água inferior em relação ao Ponto 1, devido
principalmente à presença de resíduos sólidos nas margens e à inexistência de vegetação ciliar
composta. De acordo com o resultado do protocolo de avaliação rápida, o ambiente neste
ponto foi classificado como natural. No entanto, em observação à paisagem que se apresenta
ao entorno, as investidas antrópicas junto ao meio já trazem débitos ao ambiente local.

3.3 Ponto 3: 21°48’ 03” de latitude S e 46°34’ 13” de longitude W


Localiza-se a 1.233 metros de altitude, em área inicial da canalização do leito do córrego
do Vai-e-Volta. A pressão urbana no local é intensa, com vias pavimentadas e uso residencial e
recreativo no entorno (Figura 5 A e B).

Figura 5 – A) Visão geral do ponto de amostragem 3. B) Panorama


paisagístico do entorno

A B
Fonte: Autores.

A concentração de oxigênio dissolvido atendeu ao limite estabelecido pelo CONAMA (2005)


para corpos de água doce de Classe 3. A temperatura registrada foi superior à encontrada no
Ponto 2, uma vez que há ausência total de cobertura ciliar junto ao canal completamente canali-
zado. A condutividade indicou maior presença de sais na água, apesar de não ter ultrapassado o
valor de 100 µS/cm. A salinidade da água é superior àquela encontrada no Ponto 2, condição que
pode estar associada também à inexistência de vegetação ciliar. Os sólidos dissolvidos totais, vali-
daram o Ponto 3 no padrão estabelecido pelo CONAMA (2005) para corpos de água doce de
Classe 1. O valor encontrado para o potencial de oxirredução ficou bem distante daquele

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


726 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira

considerado como apropriado. A turbidez registrada é a mesma registrada para o Ponto 2, aten-
dendo as normas do CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classe 1.
De maneira geral, a qualidade da água no Ponto 3 assemelha-se àquela do Ponto 2, no
entanto, pode-se considerar o Ponto 3 mais deteriorado que o último ponto analisado.
Porém, devido às características assinaladas no protocolo de avaliação rápida, tais como
ausência total de vegetação ciliar, odor na água e leito totalmente canalizado, o ponto foi
classificado como “impactado”.

3.4 Ponto 4: 21° 47’ 25” de latitude S e 46° 34’ 8” de longitude W


Situado a 1.211 metros de altitude, onde o leito é “comprimido” por moradias. Há des-
pejo de efluentes domésticos in natura neste ponto. As vias do entorno são pavimentadas e o
uso é predominantemente residencial (Figura 6 A; B e C).

Figura 6 – A) Visão geral do ponto de amostragem 4, porção jusante. B) Visão geral do ponto de
amostragem 4, porção montante. C) Lançamento de efluentes domésticos in natura junto ao canal
principal

A B C
Fonte: Autores.

A concentração de oxigênio dissolvido está consonante à corpos de água doce de Classe


2, segundo o CONAMA (2005). A temperatura registrada é a maior entre todos os Pontos, fruto
das características locais do leito. A condutividade registrou um valor muito próximo àquele
que caracteriza ambientes impactados e a salinidade revelou que, além da ausência de mata
ciliar, o despejo de efluentes domésticos in natura bem próximo ao local de amostragem afeta
de forma concreta o ambiente límnico. O parâmetro “sólidos dissolvidos totais” apresentou o
maior valor dentre todos os pontos amostrados, no entanto, encontra-se ainda dentro do
padrão estabelecido pelo CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classe 1. O valor
encontrado para o potencial de oxirredução apontou para um meio oxidante. A turbidez, ape-
sar de haver despejo de esgoto e ausência de mata ciliar, apresentou-se com o menor valor
dentre os pontos de amostragem, atendendo ao padrão estabelecido pelo CONAMA (2005)
para corpos de água doce de Classe 1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO VAI-E-VOLTA 727

Na classificação do protocolo de avaliação rápida, o ponto foi enquadrado como “alte-


rado”, o que condiz com os resultados encontrados, já que se encontra em condições ambien-
tais mais deterioradas no entorno em relação ao Ponto 2, porém, com qualidade da água
superior ao Ponto 3, que foi classificado como impactado. Condutividade e potencial de oxirre-
dução foram os parâmetros com os piores resultados para este ponto, sendo que a primeira se
aproximou muito do valor estabelecido para ambientes impactados e o segundo ficou bem
abaixo do adequado. A qualidade da água neste ponto foi melhor que dos pontos 2 e 3 de
modo geral.
O pH em todos os Pontos teve valores muito próximos, caracterizando ambientes neu-
tros. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos para os parâmetros físico-químicos, bem como
a classe de enquadramento resultante da aplicação do protocolo de avaliação rápida.

Tabela 1 – Resultados dos parâmetros físico-químicos para todos os pontos, diagramados de acordo
com o padrão, e classes de enquadramento segundo o protocolo de avaliação rápida

Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

Enquadramento pelo protocolo de avaliação rápida


Parâmetros com pontuação. Padrão

Natural Natural Impactado Alterado


(35) (36) (16) (23)
>2,0 (Classe 4)
Oxigênio Dissolvido
4,58 3,97 3,97 5,41 ≥ 4,0 (Classe 3)
(ppm = mg/L)
≥ 5,0 (Classe 2)

pH 6,68 6,78 6,78 6,99 6,0 a 9,0 (Neutro)

Temperatura (°C) 18,21 19,29 19,29 20,40

Condutividade (µS/
15 72,33 72,33 97,67 < 100 µS/cm
cm)
Águas doces
Salinidade (PSU) 0,01 0,03 0,03 0,05
(salinidade igual ou
inferior a 0,5 ‰)
Sólidos dissolvidos < 500 mg/l para padrão
7,67 36 36 49
totais (mg/L) de classe 1
Potencial Redox ORP
8,2 5,07 5,07 7,23 250 mV
(mV)

Turbidez (NTU) 4,6 5,2 5,2 4,5 ≤ 40 (Classe 1)


Fonte: Autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


728 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do canal principal foi possível notar que, gradativamente, a degradação se acen-
tua em direção à jusante. De maneia inconteste a ocupação urbana processada na bacia con-
tribui para a alteração dos parâmetros físico-químicos de qualidade das águas, além de alterar
áreas que, por lei, deveriam estar isentas das pressões exercidas pelos processos imobiliários.
Nesse contexto de uso, algumas medidas poderiam mitigar os impactos diretos na rede
de drenagem, como a recomposição da vegetação junto às margens ainda não impermeabiliza-
das pelo equipamento imobiliário. A desocupação das margens também traria benefícios ao
ambiente, no entanto, o que tem sido feito é a adoção de medidas paliativas, como construção
de gabiões e muros de arrimo para conter a força das águas nos períodos de maiores vazões.
Projetos voltados à educação ambiental seriam bons mecanismos efetivos para o controle da
poluição junto às margens a médio e longo prazos.
O método escolhido para o desenvolvimento desse estudo esteve pautado em observa-
ções da paisagem urbana que se coloca à superfície, em escala de detalhamento inferior àquela
utilizada para o estudo dos parâmetros físico-químicos de qualidade da água, elementos que
denunciam o resultado dos fluxos de matéria e energia que circulam no sistema ambiental
abordado. Os resultados obtidos encorajam pesquisas mais aprofundadas, desenvolvidas no
âmbito da bacia hidrográfica em questão.
Agradecimentos são orientados ao IFSULDEMINAS pelo apoio via Programa de Incentivo
a Qualificação (PIQ).

5 REFERÊNCIAS
BELIZÁRIO, W. da S. Análise ambiental de bacias hidrográficas urbanas: um olhar a partir da avaliação físico-
química e microbiológica de águas superficiais. Revista Mirante, Anápolis, v. 9, n. 2, p. 87-115, dez. 2016.
Semestral. Disponível em: <https://www.revista.ueg.br/index.php/mirante/article/view/5686> Acessado em:
02/08/2021.
BRASIL. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, n. 053, 2005, p. 58-63.
BRASIL. Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes
gerais para a avaliação de impacto ambiental. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
1986, p. 2548-2549.
BRASIL. Lei nº 6.766 de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras
Providências. Brasília. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1979. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm> Acessado em: 12/07/2021
CALLISTO, M. et al. Aplicação de um protocolo de avaliação rápida da diversidade de habitats em atividades de
ensino e pesquisa (MG-RJ). Acta Limnológica Brasileira, v. 1, n. 14, p. 91-98, 2002.
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO-CETESB. Qualidade das águas interiores no estado de
São Paulo. São Paulo, 2009.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO VAI-E-VOLTA 729

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TUNDISI, J. G.; TUNDISI, T. M. Limnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


62. ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES
DA BACIA DO RIO NOVO, PRINCIPAL
MANANCIAL DE ABASTECIMENTO PÚBLICO
DE ÁGUA DE ORLEANS-SC, BRASIL

CHARLES COAN1
ROSE MARIA ADAMI2

Resumo: A intensa exploração dos recursos naturais e a supressão da vegetação nativa, no pro-
cesso deocupação do território brasileiro, desencadeou a degradação dos solos e das águas, prin-
cipalmente nas nascentes, fazendo que as empresas de abastecimento de água enfrentem
dificuldades em estabelecer áreas de captação, que atendam a demanda de água nos municípios.
O presente estudo teve como objetivo diagnosticar as nascentes perenes localizadas na bacia do
rio Novo, principal manancial de abastecimento público de água do município de Orleans, Sul de
Santa Catarina (Brasil), por meio de estudo de caso, apoiado na proposta e Pinto et al (2004), que
classifica o grau de conservação das nascentes a partir da cobertura vegetal no seu entorno, em
preservadas, perturbadas e degradadas. Os resultados alcançados mostram que do total de 36
nascentes estudadas, 28% delas foram classificadas nas categorias de conservação como preser-
vadas, 36% como perturbadas e 36% como degradadas. Identificou-se também que os principais
usos da terra para as atividades econômicas desenvolvidasnos entornos das nascentes perenes
são a agricultura e a pecuária de pequeno porte. Do total das nascentes estudadas, 69,5% delas
encontram-se a montante da captação da empresa de abastecimento público da água do municí-
pio. Os resultados obtidos podem subsidiar parcerias entre a empresa de abastecimento e os
moradores da bacia hidrográfica, a fim de realizar ações de preservação, conservação e recupera-
ção ambiental de determinadas nas nascentes estudadas.
Palavras-chave: Bacia do rio Novo; Conservação de nascentes; Abastecimento público.
Abstract: The intense exploitation of natural resources and the suppression of native vegetation,
in the process of Brazilian territory occupation, triggered the degradation of soil and water, espe-
cially in springs, causing water supply companies to face difficulties in establishing catchment
areas, that meet the demand for water in the cities. The present study aimed to diagnose the
perennial springs located in the Novo River basin, the main source of public water supply in the
city of Orleans, southern Santa Catarina (Brazil), through a case study, supported by the Pinto et
al (2004) proposal, which classifies the degree of springs conservation from the vegetation cover

1 Centro Universitário Barriga Verde – Unibave. E-mail: coancharles@gmail.com


2 Associação de Proteção da Bacia do Rio Araranguá – AGUAR. E-mail: roseadamia@gmail.com

[ 730 ]
ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO 731

in their surroundings, in preserved, disturbed and degraded. The results achieved show that from
the total of 36 springs studied, 28% of them were classified in the conservation categories as pre-
served, 36% as disturbed and 36% as degraded. It was also identified that the mainland uses for
economic activities developed in the surroundings of the perennial springs are agriculture and
small-scale livestock. Of the total number of springs studied, 69.5% of them are located upstream
from the catchment of the public water supply companies. The results obtained can support part-
nerships between the supply company and the inhabitants of the hydrographic basin, in order to
carryout actions for the preservation, conservation and environmental recovery of certain sources
in the studied springs.
Keywords: Novo River basin; Conservation of springs; Public supply

1 INTRODUÇÃO
A água é um recurso de fundamental importância para a manutenção da vida, seu
valor inestimável permite a sobrevivência da espécie humana, promove a conservação e o
equilíbrio da biodiversidade e das relações entre os seres vivos e os ambientes naturais.
Elemento natural que atribui influência direta na saúde e bem-estar da sociedade, a presença
ou ausência da água oferece condições às sociedades e às espécies animais e vegetais para
evoluírem ou seextinguirem, além de garantir a autossuficiência econômica das regiões e paí-
ses. No entanto, a intensa exploração dos recursos naturais e a supressão da vegetação nativa,
no processo de ocupação do território brasileiro, desencadeou a degradação dos solos e das
águas, principalmente nas nascentes.
As nascentes, principais fontes de água que contribuem na vazão dos rios de uma bacia
hidrográfica, são consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP) e protegidas
pela Lei Federal nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre a proteção da vegetação
nativa. Segundo o Art. 3º, inciso II desta lei, a Área de Preservação Permanente (APP) é definida
como a “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de pre-
servar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem– estar das populações huma-
nas” (BRASIL, 2012).
As áreas de entorno das nascentes quando forem avaliadas como perenes, são conside-
radas, no Art. 4º, inciso IV da Lei Federal nº 12.651/2012, como Área de Preservação Permanente,
em zonas rurais ou urbanas, “qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50
(cinquenta) metros” (BRASIL, 2012). A partir desse dispositivo a legislação proíbe qualquer ati-
vidade socioeconômica que promova o desequilíbrio deste elemento geográfico.
As nascentes estão susceptíveis às oscilações do nível do lençol freático que as caracte-
rizam pela sazonalidade, como nascentes perenes, intermitentes ou efêmeras (VALENTE;
GOMES, 2005). No entanto, essas classificações podem mudar, caso ocorramo uso e a ocupa-
ção das terras sem o devido planejamento, uma vez que a dinâmica das oscilações do lençol
freático está condicionada às recargas de águas subterrâneas que dependem dos regimes plu-
viométricos e do processo de infiltração da água no solo. No entanto, segundo Karman (2009),

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


732 Charles Coan; Rose Maria Adami

o volume e a velocidade do processo de infiltração dependem de fatores determinantes, como


a topografia, a precipitação, os tipos de solos, a cobertura vegetal e a ocupação das terras.
Além de interferir na quantidade de água, o uso e ocupação da terra em uma bacia hidro-
gráfica podem comprometer a qualidade de água das nascentes e dos rios, principalmente se
essas alterações ocorrerem em áreas de recarga do lençol freático. Isso porque influenciam no
armazenamento da água subterrânea e no regime da nascente e dos cursos d´água (PINTO et
al. 2004).
Nos últimos anos, em função das discussões ambientais das bacias hidrográficas como
unidades de planejamento de recursos hídricos e do uso das terras, alguns estudos
foramrealizados para analisar a situação das nascentes no quesito quantidade e qualidade das
águas superficiais e subterrâneas, entre eles Pinto et al. (2004) e França e Gomes (2014).
Pinto et al (2004), analisaram a caracterização de 177 nascentes perenes da bacia do
Ribeirão Santa Cruz, em Lavras (MG), área de recarga e usos conflitantes e classificou as nas-
centes em três categorias de conservação: preservadas, perturbadas e degradadas. O estudo
mostrou que o uso da terra na bacia, de forma conflitante, prejudica as áreas de recarga das
nascentes, pois as nascentes classificadas como perturbadas apresentaram maior valor per-
centual de usos conflitantes, seguidas das nascentes degradadas e das preservados.
França e Gomes (2014), em estudo realizado em uma nascente localizada na área urbana
de Garanhuns, Pernambuco, argumentam que as contaminações em Áreas de Preservação
Permanente podem ser minimizadas com o processo de planejamento e gestão ambiental. Os
autores utilizaram como instrumentos de análise da área estudada, a Política Nacional de Meio
Ambiente, as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e o Plano Diretor
Municipal que é definido como um instrumento de política municipal com o intuito de promo-
ver o planejamento do território, por meio de uma infraestrutura básica voltada às questões
ambientais e socioeconômicas vinculadas ao desenvolvimento sustentável do meio urbano e
rural do município.
Os estudos realizados por Pinto et al. (2004) e França e Gomes (2014) mostram que o uso
que se faz das terras de uma bacia hidrográfica, quando executadas sem planejamento e visão
sustentável, desrespeitando os requisitos de proteção ambiental, podem interferir na quali-
dade e quantidade de suas águas. Esses quesitos tornam-se ainda mais preocupantes quando
na bacia hidrográfica existem áreas de captação para abastecimento público.
No município de Orleans, localizado no Sul de Santa Catarina (Brasil), com uma popula-
ção de 21.393 habitantes (IBGE, 2010), percebeu-se um avanço do uso das terras com ativida-
des econômicas sobre as nascentes perenes que alimentam os mananciais para captação de
água. O município capta água do rio Novo, com uma área de 19,21 km2, localizado na zonarural,
pertencente à bacia do mesmo nome, para abastecimento público pela empresa de Serviço
Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SAMAE).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO 733

Diante disso, o presente artigo tem o objetivo de diagnosticar a conservação das nascen-
tes perenes localizadas na bacia do rio Novo, principal manancial de abastecimento público de
água do município de Orleans.

2 METODOLOGIA
O estudo da conservação das nascentes da bacia do rio Novo, principal manancial de
abastecimento público de água do município de Orleans, Sul de Santa Catarina, foi realizado
por meio do mapeamento, na escala 1:10.000, elaborado com base cartográfica matricial e
vetorial disponibilizados pelo Governo do Estado de Santa Catarina, desenvolvido pela
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), em 2010. Os dados
matriciais e vetoriais foram obtidos por meio do Levantamento Aerofotogramétrico e tratados
no Software Livre Quantum GIS (versão atualizada). Foram realizadas também visitas a campo
para localização e análise da situação atual das nascentes identificadas.
Na análise da situação atual das nascentes identificadas foi utilizada a metodologia de
Pinto et al. (2004), que visa avaliar o grau de conservação das nascentes a partir da cobertura
vegetal do entorno das nascentes e as classifica nas categorias de conservação, como “preser-
vadas”, quando as nascentes têm no seu entorno, 50 metros de vegetação natural; “perturba-
das”, quando as nascentes apresentavam em seu entorno menos de 50 metros de vegetação;
e “degradadas”, as nascentes que apresentavam pouca vegetação no seu entorno, solo com-
pactado, presença do gado e de erosão.

2.1 Descrição da área de estudo


A bacia do rio Novo localizada em Orleans, sul de Santa Catarina, possui uma área de
19,21 km2 e de acordo com o Plano Diretor Municipal, Lei nº 2.147/2007, (ORLEANS,2007),
está situada no zoneamento rural do município, com característica de zona de atividadecontro-
lada. Localizada na base da encosta da Serra Geral, apresenta altitudes que variam de 100 a
400 metros e amplitude altimétrica de 276,4 metros (Figura 1).
Segundo dados de Santa Catarina (1986 e 2014), a bacia hidrográfica apresenta clima classifi-
cado como Cfa, precipitação média anual de até 1600 mm, com temperaturas médias, variando de
18 a 200C. O clima úmido, com temperaturas elevadas e solos profundos, originados de rochas gra-
níticas, possibilitou a formação da Floresta Ombrófila Densa. Nos dias atuais, em função das ativi-
dades de agricultura e pecuária essa vegetação encontra-se apenas em áreas mais elevadas.
Quanto a geomorfologia fluvial, à hierarquia dos rios da bacia do rio Novo são de ordem
3ª ordem, com padrão de drenagem caracterizado pelo formato dendrítico, em função da
rocha que forma o substrato desta bacia ser homogênea, formada por rochas da Formação Rio
do Sul, assentados sobre granitos da Suíte Intrusiva Pedras Grandes (DNPM, 1986). Os tipos
de canais fluviais da rede de drenagem da bacia hidrográfica constituem-se de rios meândricos
que são abastecidos por pequenos segmentos de drenagens e/ou nascentes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


734 Charles Coan; Rose Maria Adami

A bacia do rio Novo é o principal manancial de captação da empresa de Serviço Autônomo


Municipal de Água e Esgoto (SAMAE) que realiza o abastecimento público da de Orleans, muni-
cípio de 21.393 habitantes (IBGE, 2010). A empresa foi criada por meio da lei municipal nº
336/1968 e é a responsável pela captação, tratamento, armazenamento e distribuição das
águas de abastecimento do município.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na bacia do rio Novo foram identificadas 36 nascentes perenes, conforme levantamento
realizado pela Secretaria do Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), que
contribuem com a vazão dos 21 afluentes (perenes) e drenam a áreade 19,21 km2 da bacia.
As nascentes perenes encontram-se em altitudes que variam de 100 a 400 metros. A
maior quantidade de nascentes perenes encontra-se nas altitudes de 240 metros, com nove
ocorrências e nas áreas mais elevadas da bacia, na faixa de 360 metros, com oito nascentes
(Figura 1).
Das 36 nascentes identificadas na bacia hidrográfica, 25 delas se encontram a montante
da área de captação de água da empresa de abastecimento público do município (SAMAE),
representando 69,5% das nascentes estudadas. Estas nascentes contribuem com a vazão de 13
afluentes (perenes) que passam pela pequena barragem de captação do Serviço Autônomo
Municipal de Água e Esgoto (SAMAE), principal manancial de abastecimento público da área
urbana de Orleans. A jusante da barragem, ainda são encontradas mais 11 nascentes perenes
que alimentam outros sete afluentes na bacia hidrográfica.
A partir da análise do mapa da conservação das nascentes perenes e as visitas a campo
da bacia do rio Novo foi possível identificar que as nascentes localizadas à montante da capta-
ção de água do município, apresentam grau de conservação bastante comprometido (Figura
1). Verificou-se que das 25, sete nascentes perenes localizadas entre as faixas altimétricas de
280 a 400 metros, identificadas com os números 7, 10, 11,12, 22, 24 e 27 encontram-se preser-
vadas (28%), ou seja, apresentaram pelo menos 50 metros de vegetação natural no seu entorno.
Nove nascentes (36%) foram classificadas como perturbadas, por não apresentaram 50 metros
de vegetação em seu entorno, identificadas com a numeração 06, 08, 13, 17, 18, 21, 25, 26,
28 e localizadas entre as faixas altimétricas de 280 a 400 metros. E, nove nascentes (36%),
localizadas entre as faixas altimétricas de 280 a 400 metros e identificadas com os números 5,
9, 14, 15, 16, 19, 20, 23, 29, encontram-se degradadas, pois não apresentam vegetação nos
seus entornos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO 735

Figura 1 – Mapa da conservação das nascentes perenes da bacia do rio Novo – Orleans-SC -Brasil

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


736 Charles Coan; Rose Maria Adami

Nas nascentes classificadas como perturbadas e degradadas, localizadas à montante da


captação de água, localizadas entre as faixas altimétricas de 280 a 400 metros, foram identifi-
cadas a agricultura e a pastagem com as atividades econômicas que fazem o uso da terra no
entorno destas nascentes. As pastagens foram observadas em seis nascentes identificadas
com a numeração 08, 14, 15, 19, 20 e 21, que equivalem a um total de 24% (Quadro 1). Estas
nascentes localizam-se em propriedades rurais utilizadas geralmente para a criação de gado,
com destaque para a pecuária leiteira, em pequena escala (Figura 2).

Figura 2 – Vista parcial do uso da terra para pecuária próximo das


nascentes, na bacia do rio Novo, Orleans/SC

Fonte: Galeria dos autores.

O uso da terra no entorno das nascentes utilizada para a agricultura foi encontrado em
12 nascentes de números 05, 06, 09, 13, 16, 17, 18, 23, 25, 26, 28 e 29, representando 48% da
área pesquisada. As atividades agrícolas, com evidência para o cultivo do fumo, cultura predo-
minante também pelo restante do interior do município (Figura 3). O manejo desta cultura
geralmente é realizado de forma tradicional, com a preparação do solo para o cultivo agrícola
e o emprego de fertilizante e agrotóxico. Estes fatos podem contribuir para contaminação da
qualidade da água e para processos erosivos, principalmente no período das precipitações
intensas que escoam para os rios sedimentos, elementos orgânicos e sintéticos presentes nas
áreas mais elevadas da bacia.
O remanescente de Mata Atlântica em estágio médio e inicial de regeneração secundária
se faz presente em sete nascentes perenes de números 07, 10, 11, 12, 22, 24 e 27, represen-
tando (28%), em relação do total da área de captação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO 737

Figura 3 – Vista parcial do uso da terra para agricultura próximo das


nascentes, na bacia do rio Novo, Orleans/SC

Fonte: Galeria dos autores.

As 11 nascentes perenes à jusante da barragem de captação de água da empresa de


abastecimento público do município (30,5%), quando aferidas o grau de conservação, três
delas (27,8%) identificadas pelos números 03, 32 e 35 e localizadas nas faixas altimétrica de 120
a 280 metros foram classificadas como preservadas; cinco delas identificadas com os números
01, 02, 04, 30 e 33 (45,5%) e localizadas nas faixas altimétrica de 160 a 400 metros
foram consideradas perturbadas; três delas (27,8%), identificadas com os números 31,
34, 36e localizadas nas faixas altimétrica de 120 a 360 metros foram classificadas como degra-
dadas. Nas atividades econômicas desenvolvidas à jusante da captação, o uso da terra para
pastagens, no entorno das nascentes foi observado em duas nascentes de números 01 e 04,
queequivalem a um total de 18,2%. Na agricultura, o uso da terra no entorno das nascentes
foiencontrado em seis nascentes, de números 02, 30, 31, 33, 34 e 36, representando 54,5%
daárea abaixo da captação do SAMAE. O remanescente de Mata Atlântica em estágio médio
einicial de regeneração secundária no entorno das nascentes foi identificado nos mananciais
de números 3, 32 e 35, representando 27,3%.
Todavia, quando o grau de conservação das nascentes das 36 nascentes perenes for ana-
lisado no âmbito da bacia hidrográfica como um todo, observa-se que a quantidade de nascen-
tes preservadas se eleva um pouco, passa de sete para 10, representando 27,8% do total das
nascentes. No entanto, as nascentes classificadas como perturbadas aumentaram, passam de
nove para 14 (38,9%) e as nascentes classificadas como degradadas aumentam de nove para
12 (33,3%), totalizando 72,2% das nascentes perenes da bacia hidrográfica.
Da mesma forma ocorre com relação ao uso da terra no entorno das nascentes perenes.
observa-se que as nascentes, com 50 metros de vegetação natural no seu entorno, aumen-
tam de sete para 10, representando 27,8% das nascentes estudadas. No tocante a agricultura,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


738 Charles Coan; Rose Maria Adami

as nascentes que possuem no seu entorno atividades agrícolas, passam de 12 para 19, repre-
sentando 53,8% das nascentes da área estudada. O uso das terras no entorno das nascentes
utilizado para as pastagens aumentou de 6 para 7, representando 19,4% das nascentes.

Quadro 1 – Categorias de conservação das nascentes perenes da bacia do rio Novo – Orleans-SC

Categorias de Uso da terra


Nºs das Altitude Grau de conservação das
Conservação deentorno das
nascentes (metros) nascentes
das nascentes nascentes

7 320-360
10, 12 e
280-320
22
Nascentes antes da captação de água da SAMAE

nascentes têm no seu entorno, 50 vegetação


Preservadas
11 e 24 360-400 metros de vegetação natural natural

27 240-280
6 240 agricultura
8 200-240 pastagem
13 240-280 agricultura

17 e 18 360-400 agricultura
nascentes apresentavam em seu
Perturbadas 21 360-400 entorno menos de 50 metros de pastagem
25 360 vegetação agricultura
26 320-360 agricultura
28 280 agricultura
5 e 23 240-280 agricultura
9 e 29 280-320 agricultura

14 e 20 360-400 pastagem
Degradadas
nascentes que não possuem
15 320-360 pastagem
vegetação, no entorno
16 320-360 agricultura
19 240-280 pastagem
3 120-160
Nascentes depois da captaçãode

32 240-280 nascentes têm no seu entorno, 50


metros de vegetação natural vegetação
Preservadas 35 160-200 natural
água da SAMAE

1 200-240 pastagem
2 e 33 240-280 agricultura
4 160-200 pastagem
nascentes apresentavam em seu
Perturbadas entorno menos de 50 metros de
30 360-400 vegetação agricultura

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO 739

Categorias de Uso da terra


Nºs das Altitude Grau de conservação das
Conservação deentorno das
nascentes (metros) nascentes
das nascentes nascentes
31 320-360
34 200-240

nascentes que não possuem


Degradadas
vegetação, no entorno
36 120-160 agricultura

Fonte: Autores.

De acordo com os resultados obtidos, verificou-se que os principais condicionantes de


alterações da conservação nas nascentes perenes se referem à retirada de vegetação das áreas
de preservação permanente para o cultivo agrícola e atividades vinculadas a pastagens, ou
seja, para a criação de gado, com destaque para a pecuária leiteira em pequena escala.
Diante destas diagnóstico é possível afirmar que, caso não ocorram medidas especificas
de preservação, conservação e recuperação nas nascentes perenes e entorno da bacia do
rio Novo, podem ocorrer o assoreamento e a contaminação do rio Novo e também a redução
de água na área de captação da SAMAE.
A conscientização da população, a aplicação da legislação ambiental no município ede
programas previstos no plano diretor, podem minimizar os efeitos das influências antrópicas
da bacia hidrográfica e beneficiar a todos com a captação, tratamento e distribuição de água
em quantidade e qualidade no município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização da metodologia proposta por Pinto el al. (2004) permitiu diagnosticar que
das 36 nascentes perenes da bacia do rio Novo, em Orleans-SC, Brasil, principal manancial de
abastecimento público de água do município, 27,8% delas encontram-se preservadas e 72%
foram classificadas como perturbadas e degradadas, pois não apresentaram pelo menos 50
metros de vegetação nativa no seu entorno.
As principais interferência do uso das terras no entorno das nascentes perenes estão vin-
culadas as atividades agrícolas, em 53,8%, principalmente com o plantio de fumo e de pasta-
gens, em 19,4%, para a pecuária leiteira em pequena escala.
Os resultados obtidos podem subsidiar parcerias entre a administração pública, aempresa
de abastecimento e os moradores da bacia hidrográfica, a fim de realizar medidas de preserva-
ção, conservação e recuperação ambiental das nascentes perenes na bacia ou à montante da
área de captação, para garantir água de qualidade e em quantidade ao município.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


740 Charles Coan; Rose Maria Adami

REFERÊNCIAS
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proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro
de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754,
de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agostode 2001; e dá outras providências.
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KARMAN, Ivo. Água: ciclo e ação geológica. In: TEIXEIRA, Wilson; FAIRCHILD, Thomas Rich;TOLEDO M. Cristina
Motta; TAIOLI, Fabio. (Orgs) – Decifrando a terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. p.186 – 209.
ORLEANS, Lei n.º 2.147 de 18de dezembro de 2007. Institui o plano diretor participativo domunicípio de
Orleans. Disponível no site: orleans.sc.gov.br/2013/index.php?option=com_content&view=article&id. Acesso:
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PINTO, L. V. A.; Botelho, S. A.; Davide, A. C.; Ferreira, E. Estudo das nascentes da bacia hidrográfica do Ribeirão
Santa Cruz, Lavras, MG. Scientia Florestalis, Piracicaba, v.65, p. 197-206,2004.
SANTA CATARINA. Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral. Atlas de Santa Catarina. Riode Janeiro:
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SANTA CATARINA. Secretaria de Estado do Planejamento. Diretoria de Estatística e Cartografia.
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VALENTE, O. F.; GOMES, M. A. Conservação de nascentes: produção de água em pequenas baciashidrográficas.
Viçosa (MG): Aprenda Fácil, 2011.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


63. INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA
SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS
ÁGUAS DOS RIOS DO PARQUE ESTADUAL DE
TERRA RONCA (PETER)

GUILHERME MARQUES DE LIMA1


MÁRCIO HENRIQUE DE CAMPOS ZANCOPÉ2
YAN DE MELLO ALEIXO3
LUIS FELIPE SOARES CHEREM4

Resumo: Os sistemas de cavernas do Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR), no nordeste goiano,
possuem recarga fluvial alóctone ácida, oriunda de terrenos a montante do carste, e são submetidos
a uma severa sazonalidade climática. Ao atravessar o PETeR, às águas de seus rios têm os parâmetros
físico-químicos alterados pela transição das características geológicas e geomorfológicas das bacias
hidrográficas. O objetivo deste artigo é demonstrar a influência da sazonalidade climática, da litolo-
gia regional, da declividade média relativa das bacias hidrográficas destes sistemas sobre os valores
do potencial hidrogeniônico, da carga dissolvida e da turbidez das águas dos rios o atravessam. Os
dados foram obtidos in situ nas seções transversais dos rios pré-carste e pós-carste do PETeR entre
2017 e 2018. Os resultados mostraram que os parâmetros analisados aumentaram das seções trans-
versais pré-carste para as seções pós-carste do PETeR, e do período de estiagem para o período chu-
voso. As tendências indicam a influência dominante da transição abrupta da litologia e do relevo
sobre os parâmetros abordados, enquanto a sazonalidade climática os influencia em menor propor-
ção. Porém, chuvas isoladas (abrangência restrita e intensidade alta) e frequentes nos períodos chu-
vosos da região provocam variações súbitas e intensas nestes parâmetros.
Palavras-chave: Carste de São Domingos; hidrogeoquímica; águas superficiais.
Abstract: The caves systems of the Terra Ronca State Park (PETeR), at northeastern of the Goiás
State has acidic allochthone river recharge, coming from terrain upstream of the karst and severe
humid tropical climatic seasonality. When crossing the PETeR, river waters have changed physico-
chemical parameters due to the transition of the geographical characteristics of the watersheds.
The objective of this paper is to present the variation of the physicochemical parameters of the
river waters (pH, TDS and turbidity) of the PETeR, relating to the climatic seasonality, the regional
lithology and the relative average declivity of its watersheds. Data were obtained from the

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: guilhermem.lima@ufjr.br


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: zancope@ufg.br
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: yanma.095@gmail.com
4 Universidade Federal de Goiás. E-mail: luischerem@ufg.br

[ 741 ]
742 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

cross-sections of the rivers upstream of the sinks and downstream of the PETeR resurgences,
between 2017 and 2018. Results showed positive correlations for the elevation of pH, turbidity
and TDS from upstream of the sinks to downstream of the resurgence, and from the dry period to
the rainy season. Trends indicate the dominant influence of the abrupt transition of the lithology
and of the relief of drainage basins on the physicochemical parameters of waters. Climatic season-
ality has a smaller influence. However, isolated rainfall (restricted range and high intensity), fre-
quent during the rainy periods of the region, causes sudden and intense changes in the
physicochemical parameters.
Keywords: São Domingos karst; hydrogeochemistry; surface water.

1 INTRODUÇÃO
O Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR), nos municípios de São Domingos e Guarani de
Goiás, protege parte do carste e da biodiversidade do nordeste goiano. As águas fluviais da
região exfiltram do Sistema Aquífero Urucuia (SAU), a montante do PETeR, e escoam sobre
afloramentos de arenitos do Grupo Urucuia (Cretácio Superior), as formações superficiais are-
no-quartzosas (Plioceno) e os granitos e gnaisses (Paleoproterozóico) do embasamento regio-
nal na borda ocidental do Cráton do São Francisco.
Portanto, adquirem teores ácidos antes de atingirem as rochas carbonáticas que formam
o carste PETeR (FONSECA et al., 2019), já que a geoquímica das águas fluviais reflete a compo-
sição das rochas drenadas a montante (LINTERN et al., 2017). Rochas quartzosas, por exemplo,
são menos solúveis que rochas calcíticas pela maior resistencia ao ataque de ácidos do quartzo
ante a calcita (KAUFMANN et al., 2016). Logo, as águas fluviais ácidas da região, ao atingirem o
carste, encontram as rochas carbonáticas do Grupo Bambuí (HASUI, 2012), que constitui o
substrato rochoso para a gênese e evolução deste relevo. O problema reverbera-se quando, a
partir dos modelos genéricos do equilíbrio químico CO2-H2O-CaCO3 do carste, os parâmetros
físico-químicos das águas afetam a espeleogênese e a dissolução das rochas.
Por outro lado, os parâmetros físico-químicos das águas fluviais também são influencia-
dos pela sazonalidade climática, pois esta condiciona flutuações no regime de chuvas e, por
conseguinte, nas taxas de erosão do solo e de dissolução das partículas minerais. Logo, influen-
ciam o transporte de sólidos, a lixiviação de elementos químicos as águas fluviais e a vazão dos
rios (WOHL et al., 2012). Certamente, tais influências afetam as águas dos rios do PETeR, pois
sua região é submetida aos contrastes sazonais do clima tropical sub-úmido (Aw), caracteri-
zado, pela alternância anual de um período chuvoso e um de estiagem (SALGADO et al., 2019).
Ainda, como a região tem os menores índices de precipitação média e os maiores de evapora-
ção de Goiás, o contraste climático é ainda maior.
Apesar disso, são raros os estudos sobre o comportamento geoquímico das águas flu-
viais. Guyot et al., (1996) constatou mudanças nos parâmetros físico-químicos dos rios que
penetram o carste do PETeR. Fonseca et al. (2019) estudaram a influência destes parâmetros
sobre algas bentônicas. Lima et al. (2018) compararam as diferenças dos parâmetros físico-quí-
micos das águas dos rios do PETeR espacialmente. Faquim et al. (2017) avaliaram a capacidade

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 743

de aporte sedimentar ao sistema subterrâneo do PETeR pelas redes de drenagem, enquanto


Aleixo et al. (2019) demonstraram a influência dos compartimentos geomorfológicos e das for-
mações geológicas nas características fluviais, ou seja, não analisaram a geoquímica das águas
e das cargas sedimentares, nem a influência da sazonalidade climática sobre as águas.
Como a distribuição espacial das rochas e a sazonalidade climática repercutem na com-
posição, na variabilidade da carga dissolvida e nos parâmetros físico-químicos das águas, esta
repercussão pode ser mais proeminente nas águas fluviais do PETeR pela configuração geográ-
fica da região. A variação espacial entre os afloramentos rochosos nas bacias destes rios pode
afetar os parâmetros físico-químicos de suas águas, enquanto a severa sazonalidade climática
regional, pode intensificar ainda mais a variabilidade destes parâmetros nestas águas.
Assim, este artigo tem como objetivo demonstrar as variações dos parâmetros físico-quí-
micos das águas fluviais que atravessam o carste do PETeR, em função da sazonalidade climá-
tica e da distribuição espacial das rochas a montante das seções transversais pré-carste e
pós-carste de dois sistemas de cavernas que integram esta unidade de conservação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A área de estudo é atravessada pela rede de drenagem do médio e alto curso dos rios
São Domingos e São Mateus, afluentes da margem direita do Rio Paranã e integrantes da bacia
do Rio Tocantins. A maioria das nascentes destes rios advém da Serra Geral de Goiás, limite
interestadual entre Goiás-Bahia e divisor hidrográfico entre as bacias dos rios São Francisco e
Tocantins, escoando para oeste até atingir o carste do PETeR (Figura 1).
O contexto geológico-geomorfológico é à porção oeste do Cráton de São Francisco
(HASUI, 2012). A Serra Geral de Goiás constitui a escarpa ocidental dos chapadões do oeste da
Bahia, composta por arenitos do Grupo Urucuia. No sopé da serra ocorre patamares aplaina-
dos e suave-ondulados formados por coberturas sedimentares inconsolidadas e depósitos
colúvio-eluviais, enquanto à oeste há o Grupo Bambuí, com calcários, dolomítos, margas, silti-
tos, argilitos, folhelhos e arcóseos, no carste do PETeR e na Serra do Calcário (Figura 1).
No contato entre os patamares aplainados e o carste, há drenagens subterrâneas (caver-
nas) que atravessam o PETeR na Serra do Calcário. Antes dos sumidouros, os leitos fluviais
apresentam granitos e gnaisses do Complexo Almas-Cavalcante, embasamento da Bacia
Sedimentar do Bambuí (Figura 1) (HASUI, 2012). Já as ressurgências reaparecem na fachada
ocidental da Serra do Calcário, drenando para oeste sob uma depressão ampla (> 560 m), de
relevo aplainado e entalhamento fluvial incipiente (GUYOT et al., 1996).

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744 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo. (1) = Seção transversal pré-carste do Ribeirão
Angélica; (2) = Seção transversal pré-carste do Córrego Bezerra; (3) = Seção transversal pré-carste do
Rio São Vicente; (4) = Seção transversal pré-carste do Rio São Mateus; (5) = Seção transversal pré-
carste do Rio da Lapa; (A) = Seção transversal pós-carste do Sistema São Vicente; (B) = Seção transversal
pós-carste do Sistema Terra Ronca

Fonte: Elaborado pelo autor.

O clima da região é do tipo tropical sub-úmido, com precipitações médias anuais de


1000 a 1200 mm, sendo as máximas no verão e as mínimas no inverno. O período chuvoso
é influenciado pela massa de ar Equatorial Continental (mEc), e o período seco pela massa
tropical atlântica (mTa) e por penetrações de Massas Polares (mPa) (SALGADO et al., 2019).

2.2 Metodologia
Os parâmetros físico-químicos (pH, carga dissolvida e turbidez) foram obtidos in situ com
um medidor multiparâmetros (HI9829 HANNA Instruments®), cedido pelo Laboratório de
Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física (Labogef) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Eles se associam à mineralização das águas, à perda geoquímica, à carga sedimentar, à influen-
cias litológicas e climáticas. As amostragens foram feitas nas seções pré-carste e pós-carste de
dois sistemas de cavernas do PETeR, em períodos distintos: maio de 2017 (transição período

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INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 745

chuvoso – estiagem), outubro de 2017 (transição período de estiagem – chuvoso), março de


2018 (final da estação chuvosa) e setembro de 2018 (final da estação seca).
A variação destes parâmetros foi correlacionada com as formações geológicas e às decli-
vidades médias relativas das bacias hidrográficas das seções transversais amostradas, permi-
tindo verificar o papel da litologia e dos compartimentos geomorfológicos sobre estes.
Sobre os compartimentos geomorfológicos, optou-se por analisar a declividade média
relativa das bacias associada às seções estudadas por esta caraterística ser uma variável primá-
ria normalizada (por unidade de área), ligada ao entalhamento fluvial ou aplainamento do
relevo. Sua obtenção foi via Modelo Digital de Elevação (MDE) do sistema orbital ALOS PALSAR,
e os dados geológicos via Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).

3 RESULTADOS
A tabela 1 mostra teores ácidos na maioria das seções e períodos amostrados. Somente as
seções pós-carste tiveram valores absolutos acima de 7, especialmente no período chuvoso.

Tabela 1 – Valores absolutos e médios de pH para cada período amostrado

OBS: (*) Seções transversais que sofreram um evento de chuva no período chuvoso em 2018 num período de 4 horas após a coleta dos dados contidos na
tabela. Rio da Lapa (5) = 6,3; Rio São Vicente (3) = 4,8; Córrego Bezerra (2) = 5,8.
Fonte: Elaborado pelo autor.

O deslocamento dos símbolos a esquerda e o agrupamento dos losangos acima e à direita


da Figura 2, mostram a superioridade do pH no período chuvoso e nas seções pós-carste.

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746 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

Figura 2 – Variação dos valores absolutos de pH entre os períodos


amostrados. OBS – Os círculos são as seções transversais pré-carste e
os losangos as seções transversais pós-carste

Fonte: Elaborado pelo autor.

A figura 3 mostra a correlação positiva dos valores médios do pH com as rochas do Grupo
Bambuí (r = 0,98) e negativa com as do Grupo Urucuia (r = -,051). Exceto as bacias das seções
pós-carste (losangos), esta correlação negativa aumenta significativamente (r = – 0,89).

Figura 3 – Valores médios do pH em função dos afloramentos de rochas do Grupo Bambuí e Urucuia.
OBS – As porcentagens correspondem à soma das áreas dos afloramentos rochosos em relação à área
total das bacias hidrográficas a montante das seções transversais amostradas

Fonte: Elaborado pelo autor.

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INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 747

Os dados indicam que os maiores valores ocorreram nas seções cujas bacias são ricas em
rochas do Grupo Bambuí, como nas seções pós-carste (losangos) (Figura 3). A bacia do Rio São
Vicente, com menor quantidade destas rochas, teve o menor valor médio (5,75). Porém, esta
bacia e à do Rio São Mateus, ricas em arenitos, apresentaram os menores valores.
Sobre à turbidez, houve o predomínio de águas cristalinas em ambas às estações
climáticas, já que os valores absolutos nestas estações variaram entre 0 e 15,5 FNU (Tabela 2).
A única exceção ocorreu na seção pós-carste do Sistema Terra Ronca, que apresentou valor de
97,9 FNU devido a ocorrência de uma chuva pouco antes da amostragem.

Tabela 2 – Valores absolutos e médios da turbidez para cada período amostrado

OBS: (*) Valor obtido durante um evento de chuva no período chuvoso em 2018 num período de 4 horas após a coleta dos dados contidos na tabela. Rio da
Lapa (5) = 743 FNU; Rio São Vicente (3) = 47,2 FNU; Córrego Bezerra (2) = 28,4 FNU.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Nota-se também a elevação dos valores de turbidez de montante para jusante, e do


período de estiagem para o período chuvoso. O deslocamento dos símbolos para a esquerda
(período chuvoso) e dos losangos (seções pós-carste) para porção superior da figura 4 eviden-
ciam tal comportamento.

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748 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

Figura 4 – Variação dos valores absolutos de turbidez entre os períodos


amostrados. OBS – Os círculos são as seções transversais pré-carste e
os losangos as seções pós-carste

Fonte: Elaborado pelo autor.

Houve forte correlação positiva dos valores médios de turbidez com o Grupo Bambuí (r
= 0,81), e negativa com o Grupo Urucuia (r = -0,32) (Figura 5). Considerando apenas o Sistema
Terra Ronca, esta correlação aumenta significativamente com este último (r = – 0,88).

Figura 5 – Valores médios de turbidez em função dos afloramentos rochosos do Grupo Bambuí e
Urucuia. OBS – As porcentagens correspondem à soma das áreas dos afloramentos rochosos em
relação à área total das bacias hidrográficas a montante das seções transversais amostradas

Fonte: Elaborado pelo autor.

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INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 749

A quantidade de carga dissolvia foi baixa, exceto nas seções pós-carste (tabela 3).

Tabela 3 – Valores absolutos e médios de carga dissolvida (mg/L) para cada período amostrado.

OBS: (*) Valor obtido durante um evento de chuva no período chuvoso em 2018 num período de 4 horas após a coleta dos dados contidos na tabela. Rio da
Lapa (5) = 6 mg/L; Rio São Vicente (3) = 3 mg/L; Córrego Bezerra (2) = 7 mg/L
Fonte: Elaborado pelo autor.

O deslocamento dos símbolos para a esquerda e dos losangos para a porção superior da
figura 6 evidencia a superioridade destes valores no período chuvoso e nas seções pós-carste.

Figura 6 – Variação dos valores absolutos de carga dissolvida (mg/L)


entre os períodos amostrados. OBS – Os círculos são as seções
transversais pré-carste e os losangos as seções transversais
pós-carste

Fonte: Elaborado pelo autor.

Este parâmetro teve correlação positiva com o Grupo Bambuí (r = 0,95), e negativa
com o Urucuia (r = – 0,42) (Figura 7). No último, a correlação aumenta considerando apenas o
Sistema Terra Ronca (r = – 0,91), e excluindo a seção pós-carste do outro sistema (r = – 0,99).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


750 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

Figura 7 – Valores médios de carga dissolvida (mg/L) em função dos afloramentos rochosos. OBS – As
porcentagens correspondem à soma das áreas dos afloramentos rochosos em relação à área total das
bacias hidrográficas a montante das seções transversais amostradas. Os círculos são as seções transversais
pré-carste e os losangos as seções transversais pós-carste dos sistemas de cavernas do PETeR.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As seções cujas bacias são ricas em rochas do Grupo Bambuí tiveram predominantemente
os maiores valores médios de carga dissolvida, enquanto pobres em rochas do Grupo Urucuia
apresentaram os menores valores médios deste parâmetro.

Também foi possível notar a influência dos compartimentos geomorfológicos nos


parâmetros físico-químicos. As propriedades do relevo seguem a sucessão paralela E-W das
rochas, onde as do Grupo Urucuia ocorrem em patamares aplainados no sopé da Serra Geral
de Goiás, e as do Grupo Bambuí sob a Serra do Calcário, em relevo fortemente ondulado.

Foi possível identificar que os maiores valores médios de pH, turbidez e carga dissolvida
se associaram predominantemente às seções cujas bacias contêm as maiores declividades
médias (%/km²), como nas bacias de ambas as seções pós-carste (Tabela 4).

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INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 751

Tabela 4 – Valores médios dos parâmetros físico-químicos e da declividade média relativa das bacias
hidrográficas associada a cada seção transversal amostrada

Fonte: Elaborado pelo autor.

A figura 8 demostra a influência do relevo sobre os parâmetros físico-químicos.

Figura 8 – Variação dos valores médios de pH, turbidez e carga dissolvida em função da declividade
média relativa das bacias hidrográficas a montante das seções amostradas. OBS – Os círculos são as
seções transversais pré-carste e os losangos as seções transversais pós-carste dos sistemas de cavernas
do PETeR

Fonte: Elaborado pelo autor.

Há uma correlação positiva entre a declividade e os valores médios de pH (r = 0,94), tur-


bidez (r = 0,68) e carga dissolvida (r= 0,91) (Figura 8). Os menores ocorreram nas seções pré-
-carste (círculos), cujas bacias têm declividade inferior a 14 %/km2 pelo predomínio de
patamares aplainados no sopé da Serra Geral. Já os maiores ocorreram nas seções pós-carste
(losangos), com declividade superior a 32 %/km2 pelo relevo ondulado da Serra do Calcário.

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752 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

4 DISCUSSÃO
4.1 Variação espacial dos parâmetros físico-químicos
A dispersão dos valores dos parâmetros refletiu à distribuição espacial das seções amos-
tradas, com a tendência de sua elevação para jusante em ambas estações.
As maiores áreas de contribuição das seções pós-carste acentua o aporte de sedimentos
e a turbidez das águas. O predomínio de rochas do Grupo Bambuí nestas bacias também cor-
robora com este comportamento, especialmente pelas rochas carbonáticas fornecerem sedi-
mentos finos que eleva a turbidez das águas (Figura 5).
O pH e a carga dissolvida aumentaram após as águas atravessarem a Serra do Calcário,
constituída pelas rochas do Grupo Bambuí. Este fato decorre (i) das rochas carbonáticas apre-
sentarem alta susceptibilidade à ácidos (KAUFMANN et al., 2016); (ii) da quantidade de mate-
rial dissolvido pela água depender da composição química das rochas (LINTERN et al., 2017); e
(iii) das águas das seções pré-carste advirem, em parte, do SAU, que por sua vez, têm águas
com elevada acidez e baixa quantidade de sólidos dissolvidos (FONSECA et al., 2019).
A interação desses fatores eleva a solubilidade das rochas carbonáticas, pois águas áci-
das intensificam a espeleogênese e liberam íons à rede de drenagem cárstica (KAUFMANN et
al., 2016), elevando a carga dissolvida e do pH nas seções pós-carste. Tal comportamento é
favorecido pelo tempo de residência das águas subsuperficiais no interior do carste do PETeR,
que ao se manterem em contato com estas rochas, elevam os parâmetros das águas fluviais.
Portanto, a interação água-rocha gera a correlação positiva entre a carga dissolvida e o
pH com as áreas de afloramentos do Grupo Bambuí, e negativa com as do Grupo Urucuia, já
que os maiores valores ocorreram nas seções que integram bacias ricas em rochas carbonáti-
cas e pobres arenitos, e os menores nas pobres em carbonatos e ricas em arenitos.
A carstificação das rochas carbonáticas afeta os valores de carga dissolvida e pH das
águas, já que nas áreas das rochas do Grupo Urucuia, a sílica dos arenitos é menos susceptível
a lixiviação que os carbonatos do Grupo Bambuí, fazendo com que sua contribuição na carga
dissolvida às águas das seções pré-carste seja baixa. Tais valores também podem advir das
vazões, que acentua a denudação química e os valores destes parâmetros rumo à jusante.
Sobre a correlação entre o pH, a turbidez e a carga dissolvida com a declividade, esta
última influencia a composição das águas superficiais pois afeta o tempo de contato água-ro-
cha (LINTERN et al., 2017). Bacias de drenagem com alta declividade favorece o runoff ante a
infiltração, diminuindo o tempo de residência e volume de água percolante. Logo, as reações
geoquímicas e a adição de solutos nas águas são reduzidas, gerando baixos valores nestes parâ-
metros. Porém, neste caso, deve-se considerar a natureza e distribuição espacial das rochas.
Os maiores valores predominaram nas bacias com declividades médias maiores. As bacias
das seções pré-carste têm declividades médias menores e são ricas em arenitos do Grupo
Urucuia. Logo, a acidez destas rochas e a solubilidade reduzida do quartzo geram baixos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 753

valores nestas seções. Porém, as bacias das seções pós-carste são mais íngremes e ricas em
rochas do Grupo Bambuí, favorecendo a carstificação, a espeleogênese, a circulação hídrica no
aquífero cárstico e o entalhamento do relevo.
Como a dissolução cárstica constitui a morfogênese do planalto dissecado na Serra do
Calcário, há aporte de carga dissolvida, que também eleva o pH e da turbidez nas águas nas
seções pós-carste. Logo, as correlações entre os parâmetros físico-químicos e as rochas corro-
boram com as correlações entre estes e as declividades médias das bacias das seções.

4.2 Variação temporal dos parâmetros físico-químicos


Os parâmetros físico-químicos também apresentaram variações temporais associadas à
sazonalidade climática, com a ocorrência dos maiores no período chuvoso.
No caso da turbidez, os valores foram maiores no período chuvoso devido as chuvas
aumentar a vazões dos rios e manter a carga de sedimentos em suspensão. Paralelamente, as
chuvas removem detritos nas vertentes que elevam a turbidez das águas. Já na estiagem, a
escassez de chuvas reduz a erosão nas bacias, que aliada aos débitos fluviais de vazante, reduz
a turbidez das águas (LINTERN et al., 2017).
Ainda, as rochas pelíticas do Grupo Bambuí no carste do PETeR, e a rede de drenagem
superficial sobre o planalto dissecado da Serra do Calcário, acentua o aporte de material fino em
suspensão às águas das seções pós-carste. A alta turbidez nas seções pós-carste também é favo-
recida pelo carreamento de sedimentos aos rios, que são mais intensas nas primeiras chuvas do
período chuvoso pela menor proteção da Floresta Estacional do PETeR (IGWE et al., 2017).
Essa dinâmica hidrossedimentar no período chuvoso é percebida com as chuvas isoladas
que ocorreram durante a amostragem em 2018. Tais chuvas elevaram em mais de 700% os
valores de turbidez num intervalo de quatro horas (tabela 2). A passagem das chuvas nas bacias
de drenagem das seções pré-carste elevou repentinamente a concentração de sedimentos
suspensos, tornando a produção e o transporte de sedimentos proporcionais ao volume de
precipitação pluviométrica nas bacias hidrográficas.
A alteração horária da turbidez pelas chuvas mostra que as variações foram altas no
período chuvoso, mas baixa entre as estações. O mesmo ocorreu com o pH e a carga dissol-
vida. Ainda, há uma alta variabilidade nestes valores visto a alta variação horária gerada pelas
chuvas em 2018. Essa variabilidade se dá pelas bacias estudadas serem pequenas, e a distribui-
ção das chuvas afetar a distribuição temporal do runoff nestas bacias (MEYBECK et al., 2003).
Apesar da baixa variação dos valores de carga dissolvida, os maiores ocorreram no
período chuvoso, evidenciando que as chuvas potencializam a denudação química do carste.
As águas fluviais são veículo para solventes agirem na denudação e no aporte de carga aos rios.
Estes valores também se associam com o arraste de sedimentos aos rios pela erosão, seme-
lhante à turbidez. Ainda, como a quantidade de CO2 na água afeta seu poder de dissolução, e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


754 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem

sua origem advêm da atmosfera e do solo (KAUFMANN et al., 2016), a ausência de chuvas e de
infiltração na estiagem reduz o aporte de carga aos rios.
A baixa variação do pH entre os períodos amostrados, com predomínio dos maiores valo-
res no período chuvoso, pode resultar dos mesmos fatores: água meteórica e a matéria orgâ-
nica no solo. As águas do Cerrado e da região do PETeR, por exemplo, são naturalmente ácidas,
como registrado nas seções amostradas neste estudo (tabela 1). Por outro lado, a água meteó-
rica, que também apresenta caráter ácido, pode ter contribuído para a redução durante as
chuvas isoladas em algumas bacias no período chuvoso de 2018.
Assim, (i) as águas mantiveram predominantemente caráter ácido em ambas as estações
climáticas, visto que atingiram no máximo valores neutros; (ii) houve uma variação pequena
em ambos os períodos climáticos, visto valores próximos de pH nas mesmas seções transver-
sais entre os períodos de estiagem e chuvoso, exceto nas seções que sofreram chuvas isoladas;
(iii) houve a tendência de elevação do pH da estiagem para o período chuvoso.
Essa elevação do pH no período chuvoso ocorre pelo tempo de permanência da água nas
bacias. A água percolante neste período tem tempo de permanência maior, dissolvendo os car-
bonatos. Ainda, o fluxo de base alimenta os rios com íons dissolvidos. Isso não aconteceu na
seção pré-carste do rio São Vicente (3) pela sua bacia ser pobre nestas rochas. Já as seções
cujas bacias foram atingidas pelas chuvas tiveram o pH reduzido devido a água meteórica
escoada em superfície ter pouco tempo de residência e reagir com a matéria orgânica do solo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os parâmetros variaram conforme a sazonalidade climática, as rochas e a compartimen-
tação geomorfológica regional.
A distribuição espacial das rochas faz com que as águas drenem uma formação geológica
e um compartimento geomorfológico por vez, ou seja, a cada posição na bacia a interação
água-rocha altera os parâmetros. A sazonalidade climática os afetou discretamente, com os
menores valores ocorrendo na estiagem.
Logo, os resultados permitem considerar que: (i) as águas dos rios são cristalinas, ácidas
e com poucos sólidos dissolvidos; (ii) os parâmetros se elevam consideravelmente devido aos
terrenos cársticos e discretamente pela sazonalidade climática; (iii) eventos de chuva elevam
os valores dos parâmetros físico-químicos, exceto para o pH; (iv) a distribuição litológica e geo-
morfológica regional causa variabilidade acentuada dos parâmetros, e (v) a sazonalidade climá-
tica causa variabilidade pequena entre as estações.
Os valores obtidos foram pontuais, revelando seu comportamento no período monito-
rado. Para confirmar tais correlações, recomendamos a instalação de estações meteorológicas
e fluviométricas no PETeR, e a continuidade do monitoramento.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


INFLUÊNCIA DA LITOLOGIA E DA SAZONALIDADE CLIMÁTICA SOBRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS 755

6 AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq pelo apoio ao projeto Compartimentação geomorfológica e
caracterização fluviocárstica do Parque Estadual Terra Ronca (processo 461869/2014-4) e à
SEMAD-GO e ao CECAV-ICMBio, por autorizar as pesquisas no interior da UC-PETeR.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


64. LEVANTAMENTO DE SOLOS
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI-
CE/PI – BRASIL

CAMILA DA SILVA CARNEIRO1


EDENILSON ANDRADE FERREIRA2
ERNANE CORTEZ LIMA3

Resumo: O presente trabalho constitui-se a partir do levantamento dos perfis de solos coletados
em campo na Bacia Hidrográfica do rio Poti, CE/PI – Brasil. O objetivo geral da pesquisa visa apre-
sentar os tipos de solos levantados a partir do trabalho de campo seguindo o percurso (montante
– jusante) do canal do rio Poti, com nascente no estado do Ceará (seu alto curso) e foz no estado
do Piauí (seus médio e baixo cursos). Com isso, utilizou-se dados do IBGE (2019) e EMBRAPA (2006;
2015) para mapeamento e descrição de suas características, bem como fundamentos teóricos e
metodológicos de Jacomine (1973; 1986), Lima (2012), Valladares e Aquino (2020), como basilares
para o desenvolver sistemático acerca de bacias hidrográficas, coletas de solos e suas classifica-
ções. Como resultados, tem-se a localização georreferenciada dos perfis colhidos, bem como
dados fotográficos, descrições e identificação dos solos em ambientes não mapeados.
Palavras-chave: Rio Poti; Solos; Ceará; Piauí; Bacia Hidrográfica.
Abstract: The present work is based on the survey of soil profiles collected in the field in the Poti
River Hydrographic Basin, CE/PI – Brazil. The general objective of the research aims to present the
types of soils raised from the field work following route (upstream – downstream) of the Poti river
channel, with source in the state of Ceará (its high course) and mouth in the state of Piauí (your
courses medium and low). This used data from IBGE (2019) and EMBRAPA (2006; 2015) to map and
describe its characteristics, as well as theoretical and methodological foundations of Jacomine
(1973;1986) Lima (2012), Valladares and Aquino (2020), as basic stooes for the systematic develop-
ment of watersheds, soil collections and their classifications. As results, we have the georefer-
enced location of the collected profiles, as well as photographic data, descriptions and soil
identification in unmapped environments.
Keywords: Poti River; Soils; Ceará; Piauí; Watershed.

1 Mestrado Acadêmico em Geografia, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: camila.carneiro1997@gmail.com
2 Mestrado Acadêmico em Geografia, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: edgeografia@outlook.com
3 Professor adjunto da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: ernanecortez@hotmail.com

[ 756 ]
LEVANTAMENTO DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI 757

1 INTRODUÇÃO
Ao analisarmos a paisagem torna-se nítido sua transformação de acordo com as adequa-
ções relacionadas às ações da sociedade, em suas distintas formas de uso e apropriação dos
recursos naturais, principalmente em áreas de bacias hidrográficas em decorrência das suas
múltiplas trocas de matéria e energia. A área a ser estudada enquadra-se nesse aspecto, visto
que com o decorrer das alterações, tanto naturais devido sua constituição físico, química e tec-
tônica, quanto sociais pela ocupação de seus espaços, suas condições são ainda mais passíveis
de verificação e comprovação.
Direcionando para o critério de estudo de bacias hidrográficas, cabe salientar a necessi-
dade do estudo e caracterização destes ambientes, uma vez que visa à aplicação de técnicas de
manejo e uso e ocupação do solo. As análises desenvolvidas no âmbito do estudo de bacias
hidrográficas estão diretamente associadas e em constante relação entre sociedade, natureza
e economia.
Vale ressaltar o exposto por Lima (2012) ao destacar que as bacias hidrográficas são tra-
tadas como unidade de planejamento e gerenciamento ambiental e que não é algo recente.
Tendo como apontamento as abordagens de um planejamento ambiental a ser aplicado as
bacias hidrográficas a partir do entendimento destas como uma unidade para estudo, análise,
gerenciamento e ordenamento de condicionantes ambientais, tais estes que se apresentam de
maneira integrada.
O trabalho em questão visa à apresentação dos tipos de solos levantados a partir do tra-
balho de campo seguindo o percurso (montante – jusante) do canal do rio Poti, com nascente
no estado do Ceará (seu alto curso) e foz no estado do Piauí (seus médio e baixo cursos)
A bacia Hidrográfica do rio Poti é uma das mais importantes do Ceará, pois drena uma
área de aproximadamente 12.330km², ou seja, cerca de 10% do território cearense. O rio Poti,
nasce na serra Grande, trata-se do Planalto Sedimentar da Ibiapaba, resultante da junção de
vários riachos como o Seco, o Corrente e o Olho d’Água que, reunidos, tomam a denominação
de Itaim. Com este nome, corre em sentido Sul-Norte, até receber o riacho do Meio; daí em
diante recebe a denominação de Poti, voltando-se para Noroeste e, depois, para Oeste. Os
principais afluentes pela margem direita são os riachos São José, Tourão, Pinheiros e pequenos
cursos d’água que recolhem as águas da porção Norte de Crateús. Pela margem esquerda des-
tacam-se o Carrapateira e o Flamengo.
Adentrando no estado do Piauí a partir do front da Ibiapaba e em área de terrenos
sedimentares da Bacia Sedimentar Paleo-Mesozóica do Piauí-Maranhão, o rio seccionando o
front a partir da configuração de cânion onde o rio Poti escavou um vale encaixado; rece-
bendo a contribuição hídrica de uma série de afluentes, tais como os rios Canudos, Coivaras,
Sambito e Berlengas.
A importância para compreensão dos tipos de solos presentes na área se dá em virtude
do solo servir como indicador que auxilia na compreensão das características geológicas,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


758 Camila da Silva Carneiro; Edenilson Andrade Ferreira; Ernane Cortez Lima

geomorfológicas, climáticas, de drenagem e fitogeográficas, além de possibilitar apontamen-


tos para suas formas de uso.

1.1 Localização da área estudada


Para localizar a área em estudo, vale destacar que ela se insere em dois estados do
Nordeste brasileiro, Ceará e Piauí, fazendo parte da bacia de drenagem do Rio Parnaíba, um
ambiente com amplitude maior e que possui características físico-ambientais ricas em sua geo-
diversidade, sendo o maior afluente do rio Parnaíba na sua margem direita (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização da Bacia hidrográfica do rio Poti-CE/PI – Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI 759

Possui cota altimétrica mínima de 75m em sua área de deposição na planície fluvial do
leito principal do rio Poti e máxima de 984m na Cuesta da Ibiapaba, sendo característico por
sua superposição no cânion, onde a bacia do rio Poti divide-se entre a superfície cristalina cea-
rense e a sedimentar do Piauí.
Nessa conjuntura, pode-se constatar que a bacia hidrográfica estudada apresenta diver-
sidade em sua dinâmica físico-estrutural, uma vez que seu curso principal possui nascente no
município de Quiterianópolis (Ceará) e sua desembocadura no rio Parnaíba no município de
Teresina (Piauí) onde recebe maior interferência relacionada à urbanização.

2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizou-se dados georreferenciados adquiridos
em sites específicos, como EMBRAPA (2015), COGERH (2008), DNIT (2011), IBGE (2019) e refe-
rências de autores voltados para o estudo de bacias hidrográficas e caracterização de solos,
bem como suas aplicabilidades, entre eles destacam-se Jacomine (1973; 1986), Lima (2012),
Valladares e Aquino (2020), e materiais disponibilizados por instituições e organizações compe-
tentes da área.
Para a elaboração do mapa de classificação pedológica, foram utilizados os dados do site
BDIA do IBGE (2019), visando a abrangência das classes pedológicas para ambos os estados,
ressaltando os pontos que possuem atrativos físico-geográficos.
A coleta dos perfis ocorreu em 05 dias e em 19 pontos de melhor acesso por considerar
o contexto atual e seguir orientações biossanitárias de proteção e prevenção a COVID-19. Para
tanto, levou-se em consideração uma melhor logística sem deixar de realizar o levantamento
dos tipos de solos através do estudo do meio realizado em campo.
Para a coleta de dados foram utilizados GPS, trena, martelo geológico, facão e cartas
topográficas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando os estudos realizados por Jacomine (1973;1986), SIBCS (2018), Valladares e
Aquino (2020) solo é uma composição trifásica, porosa e fragmentária, onde seus constituintes
agregam materiais sólidos, sendo estes minerais e matéria orgânica; líquidos, que pode ser
água com elementos dissolvidos; e gasosos com a presença de ar. Elementos naturais que
sobrepostos as variadas condições ambientais possibilitam uma variabilidade que justifique
uma classificação.
A classificação de solos para a área pesquisada deu-se a partir de análise de dados geor-
referenciados, sendo possível a delimitação dos 11 tipos distintos de solos da área (Figura 2),
esta feita a partir de informações da classificação de solos da EMBRAPA (2006), IBGE (2019) e
o SIBCS (2018) (Sistema Brasileiro de Classificação de Solos).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


760 Camila da Silva Carneiro; Edenilson Andrade Ferreira; Ernane Cortez Lima

Figura 2 – Mapa de Classificação de Solos da Bacia hidrográfica do rio Poti-CE/PI – Brasil

Fonte: Elaborado pelos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI 761

Com isso, foi possível o levantamento de 19 perfis de solos no percurso do leito principal

do rio Poti (Quadro 1), com o intuito de classificação e comprovação da diversidade pedológica

da área em estudo.

Quadro 1 – Perfis de solo da Bacia Hidrográfica do rio Poti, CE/PI – Brasil

Foto do perfil Características

Perfil de Luvissolos localizado na Barragem do Batalhão, no municí-


pio de Crateús.
Profundidade de cerca de 40cm.
Solo raso e com material orgânico.
Solo com constituição de material mineral com elevado gradiente
textural devido a presença de argila nos horizontes superficiais para
os subsuperficiais.

Perfil de Neossolo Litólico localizado na estrada de acesso à


Barragem do Batalhão.
Profundidade de cerca de 60cm.
Solo com baixo grau de intemperismo, caracterizado por ser rochoso
ou pedregoso e indicado para o uso de pastagem natural, devido ser
agricolamente inapto.

Perfil de Neossolos Litólico, próximo a nascente, no município de


Quiterianópolis-CE.
Característico por ser um solo rochoso ou pedregoso.
Sua localização neste ponto apresentou-se oposta a classificação
exposta pelo IBGE (2019), o qual caracterizava como sendo latossolo
Vermelho-amarelo.

Perfil de Argissolos Vermelho-amarelos, na estrada que dá acesso a


nascente do rio Poti, Quiterianópolis-CE.
Profundidade de cerca de 90cm.
Ocorrem em ambientes bem drenados, sendo muito profundos e
uniformes em características de cor, textura e estrutura em profun-
didade. Caracterizado por naturalmente ser suscetível à erosão
devido ao gradiente textural ser elevado.

Perfil de Planossolo na estrada de acesso a nascente do rio Poti,


Quiterianópolis-CE.
Profundidade de cerca de 15cm.
Característico por mudança textural abrupta entre os horizontes,
argiloso, possui dificuldade na drenagem da água, bem como o
desenvolvimento de plantas, apresentando acentuado processo de
erosão do solo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


762 Camila da Silva Carneiro; Edenilson Andrade Ferreira; Ernane Cortez Lima

Perfil de Neossolos Flúvicos no leito seco do rio Poti.


Profundidade superior a 2m.
Esse tipo de solo é pouco desenvolvido, tem a sua formação relacio-
nada a deposições fluviais recentes e que, geralmente, apresentam
apenas um horizonte A superficial, como o da imagem ao lado.

Perfil capeado por Neossolo Litólico sobreposto na CE-469, direção


à divisa interestadual.
Profundidade de cerca de 130cm.
Os Neossolos Litólicos apresentam uma frequência maior no estado
do Piauí, onde ocupando 44,5% das terras, visto a proximidade do
Piauí já é possível observar uma maior incidência desse tipo de solo.

Perfil de Planossolo na estrada que dá acesso ao distrito de Ibiapaba,


Crateús-CE.
Profundidade de cerca de 130cm.
O Planossolo é um solo mineral formado por horizonte A ou E, carac-
teriza-se por uma transição abrupta para o horizonte B, sendo este
plânico e devido a presença de argila tem uma ineficaz infiltração de
água, de textura média, argilosa ou muito argilosa, adensado, pouco
permeável.

Amostra de Vertissolo na estrada que dá acesso ao distrito de


Ibiapaba, Crateús-CE.
Este solo ainda é caracterizado por possuir fendas verticais no
período seco, com média de pelo menos 1 cm entre elas e podendo
apresentar 50 cm de profundidade quando este é profundo.
Apresentando gretas de contração.

Perfil de Neossolos Quartzarênicos entre o Glint da Ibiapaba e o


leito do rio Poti.
Profundidade de cerca de 90cm.
Característico por seu maior teor de quartzo.

Perfil de Latossolo Vermelho-Amarelo na estrada que dá acesso ao


distrito de Oiticica, Crateús-CE.
Profundidade de cerca de 130cm.
São solos bastante uniformes em termos de cor, textura e estrutura,
bem drenados, com predominância de textura argilosa e muito argi-
losa. Característico por ser muito profundo, solo de áreas úmidas,
pobre devido a lixiviação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI 763

Perfil de Neossolos Quartzarênicos no carrasco, na estrada que dá


acesso a Reserva Serra das Almas, próximo à divisa interestadual.
Profundidade de cerca de 50cm.
Característico por ser menos resistente ao intemperismo devido a
ausência de minerais primários alteráveis e possuir, em média, 95%
de quartzo na sua composição.

Perfil de Neossolo Litólico na estrada que dá acesso ao município de


São Miguel do Tapuio – PI.
Característico por possuir o horizonte A assente diretamente sobre
a rocha, no horizonte C ou em um material grosseiro, como casca-
lhos, calhaus e matacões.

Perfil de Neossolo Litólico na estrada que dá acesso ao Canion do rio


Poti, Buriti dos Montes – PI.
Solo com contato lítico com fragmentos dentro de 5cm na
superfície.

Perfil de Neossolos Litólico, leito do rio foleado na estrada de acesso


ao Cânion.
Com características por ser um solo rochoso e pedregoso e raso.
Neste ponto, torna-se perceptível a presença da rocha no leito do
riacho, vale ressaltar que se localiza no estado do Piauí.

Perfil de Neossolo Litólico com material concrecionado, material


detrítico tanto do cristalino quanto do sedimentar na Fazenda
Enjeitado, Buriti dos Montes – PI.
Características de dique marginal, perfil bastante diversificado.
Material capeado com o material argiloso, com granulometria
menor. Área de depósitos de material antropizado.

Perfil de argissolo Vermelho-amarelo + litólico, em Alto Longá – PI.


Caracteriza-se por sua transição entre estes solos, bem como a tran-
sição entre caatinga arbustiva e cerrado. Sendo um solo de cor, tex-
tura e estrutura uniformes, bem drenados, com predominância de
textura argilosa e muito argilosa, bem como a presença rochosa do
Neossolo litólico.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


764 Camila da Silva Carneiro; Edenilson Andrade Ferreira; Ernane Cortez Lima

Perfil de latossolo amarelo ao lado da Estrada da Alegria, zona rural


de Teresina-PI, na margem esquerda do rio Poti.
Corte no relevo realizado para o alargamento de pista, devido a
mesma ser em um ponto de material de mineração.
Solo profundo, poroso, friável, possuindo composição química que
possibilita uma baixa fertilidade, é responsável pela produção
agrícola do estado do Piauí devido as tecnologias aplicadas a ele.

Perfil de Latossolo amarelo no Rodoanel que interliga a BR-316 com


a BR-343, em Teresina– PI.
Exemplo dos diversos cortes no relevo que foram realizados para a
construção do Rodoanel, exibindo horizontes acima de camadas de
argilito e folhelho.
Possui a mesma característica em relação ao Latossolo Amarelo,
diferenciando na coloração avermelhada, em ambos a textura fica
entre média e argilosa. O perfil em questão possui característica
mais argilosa e com maior ação erosiva.
Fonte: Elaborado pelos autores.

A diversidade de solos aqui apresentadas somente é possível devido as variáveis ambien-


tais que o recorte espacial aqui realizado destaca. Consta-se que ambientalmente cada porção
da Bacia Hidrográfica do rio Poti (alto, médio e baixo) destaca possibilidades de elementos úni-
cos, as quais são responsáveis pelas características individuais de cada solo aqui apresentado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe em ambos os estados similaridades plausíveis em suas fronteiras, permitindo uma
gradual e implícita transição de solos entre os estados. Na porção cearense destacam-se as
amostras observada de luvissolos litólico, Argissolo Vermelho-amarelo, Neossolos Flúvicos,
Neossolo Litólico, Planossolo, Vertissolo, Neossolos Quartzarênicos e Latossolo Amarelo, já no
Piauí é observado a presença de perfil de seixos Rolados, Neossolo Litólico, argissolo Vermelho-
amarelo + litólico e latossolo amarelo.
Dentro das colocações aqui inseridas é possível destacar que as condições ambientais e
a sobreposição dos ambientes de determinadas porções geográficas determinam a composição
dos solos e o solo, enquanto elemento natural, pode interferir no interferir na composição da
paisagem. O recorte espacial aqui apresentado não busca apresentar uma unidade baseada no
contexto geral da Bacia Hidrográfica, mas possibilitou vislumbrar essa diversidade, sintetizando
aspectos geológicos, geomorfológicos, climáticos e de drenagem, uma vez que a área de estudo
se apresenta como detentora de rica diversidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI 765

Para as comprovações das condicionantes presentes no meio físico faz-se necessário o


levantamento em gabinete e sua verificação em campo. Com isso, pode-se compreender e
localizar as diferenciações no limite da Bacia Hidrográfica do rio Poti, o que auxiliará, inclusive,
ações de planejamento e gerenciamento ambiental no tocante aos tipos de solos, suas poten-
cialidades e limitações para os usos, além das inferências dos seus equilíbrios a exemplo dos
cortes de relevo o que evidentemente possibilitará aceleração do processo erosivo.

5 REFERÊNCIAS
DNIT. Manual de Gerência de Pavimentos. Disponível em: <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-manuais/manuais/
documentos/745_manual_de_gerencia_de_pavimentos.pdf>. Acesso em: 30 de dez. de 2018.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2 ed. Rio de
Janeiro: Embrapa Solos, 2006.
IBGE. Site BDIA. Dados de 2019. <https://bdiaweb.ibge.gov.br/#/consulta/solos>. Acesso em: 15 de mai. 2021.
JACOMINE, P. K. T. et al. Levantamento exploratório: reconhecimento de solos do estado do Piauí. Recife:
EMBRAPA/SNLCS, SUDENE/DRN, v. 1 e 2, Boletim de pesquisa nº 26 e nº 36, 1986.
JACOMINE, P. K. T.; ALMEIDA, J. C.; MEDEIROS, L. A. R. Levantamento exploratório – reconhecimento de solos
do estado do Ceará. Recife: SUDENE, 1973.
LIMA, E. C. Planejamento ambiental como subsídio para gestão ambiental da bacia de drenagem do Açude
Paulo Sarasate Varjota-CEará. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2012.
SIBCS – Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília, DF: Embrapa Produção de Informação; Rio de
Janeiro: Embrapa Solos, 2018.
VALLADARES, Gustavo Souza; AQUINO, Cláudia Maria Sabóia de. CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DO ESTADO
DO PIAUÍ, BRASIL. In: SOUZA, Elnatan Bezerra de; SOBRINHO, José Falcão; PEREIRA, Marizia (orgs.). Solos e
Vegetação no Ambiente Semiárido usos e potencialidades. Sobral-CE: Sertão Cult, 2020. p. 11-41.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


65. LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E
ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIACHO
JATOBÁ MUCAMBO-CE

NOÉLIA ANDRÉ DINIZ1


CLÉLIA FERREIRA RODRIGUES2
ERNANE CORTEZ LIMA3

Resumo: O presente artigo trata de um levantamento geoambiental da sub-bacia hidrográfica do


riacho Jatobá Mucambo-CE, no qual foi possível a coleta de dados a partir do trabalho de campo
e da análise cartográfica. Nesse sentido, tem-se como principal objetivo a descrição dos sistemas
ambientais. Desse modo, ressaltamos a importância de tal estudo, pois a sub-bacia encontra inse-
rida no contexto da semiaridez, que torna imprescindível o manejo adequado nesses ambientes.
Utilizou-se como base metodológica a análise sistêmica de Bertrand (1972) e a análise geoambien-
tal de Souza (2000), que realizam um estudo integrado da paisagem. Desta forma, podemos enfa-
tizar que a área apresenta uma rica diversidade paisagística, a qual resulta da variedade na
composição litológica, bem como dos diferentes tipos de solos que a compõe. O levantamento e
análise dos sistemas ambientais da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá Mucambo-CE, virão a
contribuir para o gerenciamento e planejamento ambiental, sendo utilizado para tomadas de deci-
sões públicas, que tenham como objetivo a gestão em bacias hidrográficas.
Palavras-chave: Análise Geoambiental; Bacias Hidrográficas; Riacho Jatobá.
Abstract: This article delas with a geoenvinmental survey of the hydrographic sub-basin of the
Jatobá Mucam-CE stream, in which it was possible to collect data from fieldwork and cartographic
analysis. In this sense, the main objective is the description of environmental systems. Thus, we
emphasize the importance of such a study, as the sub-basin is located in the context of semi-arid-
ity, which in turn becomes essential for proper management in these environments. It was used as
methodological basis the systemic analysis of Bertrand (1972) and the geonvironmental analysis of
Souza (2000), which carry out an integrated study of the landscape. Thus, we can emphasize that
the area has a rich landscape diversity, which results from the variety in the lithological composi-
tion, as well as the different types of soils that make it up. The survey and analysis of the environ-
mental systems of the hydrographic sub-basin of the Jatobá Mucambo-CE will contribute to

1 Graduanda em Geografia na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: noelia5dinniz@gmail.com


2 Graduanda em Geografia na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: cleliarodrigues2015@gmail.com
3 Professor doutor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: ernane_cortez@uvanet.br

[ 766 ]
LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 767

environmental management and planning, being used for public decision-making, with the objec-
tive of managing hydrographic basins.
Keywords: Geoenvironmental Analysis; Hydrographic Basins; Riacho Jatobá.

1 INTRODUÇÃO
A análise geoambiental de bacias hidrográficas é fundamental para o reconhecimento
das transformações decorrentes do processo histórico de uso e ocupação da terra (SOUZA,
2005). Os sistemas ambientais são integrados por variados elementos, mantendo relações
mútuas entre si, dotadas de potencialidades e limitações específicas (FUNCEME, 2009). Em
muitos locais, apresentam-se fortemente degradados devido ao uso desordenado dos recur-
sos naturais, principalmente a partir de práticas agrícolas.
Segundo Bertrand (1972), o geossistema é utilizado como fundamento para os estudos
ambientais, que resulta da combinação do potencial ecológico (clima – hidrologia – geomorfo-
logia), da exploração biológica (vegetação – solo – fauna) e da ação antrópica. Desse modo,
define a paisagem como “resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos
físicos, biológicos e antrópicos que reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da pai-
sagem um conjunto único e indissociável, em constante evolução” (BERTRAND, 1972, p.141).
Autores como Tricart (1977), Christofolletti (1980; 1999), Ross (1992), Souza (2000), desen-
volveram estudos integrados da paisagem, tendo como fundamentação a teoria dos sistemas,
direcionando-se para uma abordagem sistêmica. Rodriguez e Silva (2013, p.25), ressaltam que a
abordagem sistêmica constitui-se de um “[...] conjunto de ferramentas formais que recorre a grá-
ficos, matemática e informática, aplicados na ciência e engenharia para desenvolver modelos que
possam representar e tornar inteligíveis sistemas reais que a realidade oferece.”, seu uso apre-
senta algumas vantagens de natureza científica, como um aparato conceitual diverso, distinção
do objeto de estudo do meio circunjacente, criação de modelos para estudar um objeto.
Para Tricart (1977), o conceito de sistema é o melhor instrumento lógico que a Geografia
Física dispõe para realizar estudos ambientais. Embora a teoria sistêmica preveja sistemas iso-
lados, não isolados fechados e não isolados abertos, os sistemas que mais interessam ao geó-
grafo são os sistemas não isolados abertos.
Nesse contexto, ressalta-se o pensamento de Lima (2012), visto que com a inserção da
visão sistêmica na Geografia Física propiciou um melhor entendimento relacionado ao seu
objeto de estudo, empregando uma concepção integrada, dando a possibilidade de deixar de
lado a visão fragmentada dos elementos que compõem a natureza. Esta pesquisa propõe um
levantamento geoambiental e a análise dos sistemas ambientais da sub-bacia hidrográfica do
riacho Jatobá, situado no município de Mucambo-CE.
A Sub-bacia em estudo, tem uma complexa variação paisagística, que se apresenta de
forma latitudinal, cruzando 4 grandes sistemas ambientais, sendo eles, a Depressão Sertaneja
intercalada por agrupamentos de Inselbergs, planalto da Ibiapada e a planície fluvial. As

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


768 Noélia André Diniz; Clélia Ferreira Rodrigues; Ernane Cortez Lima

tipologias climáticas tropical quente semiárido brando, Tropical quente subúmido, Tropical
quente úmido, evidenciam-se na área em estudo, conforme FUNCEME (2009).
Esses tipos de climas, além de mudar as condições geoambientais, interfere também nos
tipos de uso e ocupação do solo, o que caracteriza diferentes aspectos socioeconômicos, que
promovidos sem o devido manejo ambiental, interferem diretamente na exploração dos recur-
sos naturais.
Portanto, à interpretação dos processos que atuam nas mais diversificadas unidades
geoambientais do semiárido podem facilitar a organização territorial. Observando isso, é de
suma importância a realização do levantamento geoambiental e análise dos sistemas ambien-
tais das bacias hidrográficas. A partir dessa pesquisa, pode-se produzir toda uma abordagem
de dados gerados da área em estudo e vir a contribuir com o gerenciamento e planejamento
ambiental, podendo ser utilizado para tomadas de decisões públicas, que tenham como obje-
tivo a gestão em bacias hidrográficas.
A sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, localiza-se no noroeste do estado do Ceará
compreende o município de Mucambo, e parte do município de Sobral e Ibiapina (figura 1).
Situa-se a uma distância de cerca de 245km da capital Fortaleza e tem uma área de 68.01 km².

Figura 1 – Mapa de Localização da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Jatobá-CE

Fonte: Galeria dos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 769

2 METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido através de estudos integrados tendo como base a
concepção sistêmica a qual tem encontrado na Geografia Física uma maior nitidez em seu
objeto de análise, assim como uma visão holística do meio natural, aproximando as pesquisas
nas interações homem-meio. Portanto, abandona-se os estudos excepcionalmente fragmenta-
dos dos componentes da natureza, e passa-se a trabalhar com as relações existentes entre os
componentes e as atividades humanas, como colocam em voga Sotchava (1977), Troppmair
(1989) e Bertrand (2004).
A incorporação da teoria sistêmica, “deu a esta ciência um enfoque interdisciplinar para
as questões ambientais, ao passo que traz uma abordagem integrada das atividades socioeco-
nômicas com os aspectos físicos do ambiente” (RODRIGUES, 2015, p.27). Desta forma, a análise
geoambiental Integrada através da Geografia Física deve ser analisada como o estudo unifi-
cado das ciências da terra, que contribui para a percepção geral do meio em que vive o homem,
como destaca Lima (2012).
Propõe-se à análise dos elementos que compõem a natureza não por si, mas também
por suas conexões visando à compreensão concomitante e integral dos elementos que repre-
sentem condições potencialmente positivas ou limitativas para a utilização dos recursos natu-
rais. Na identificação dos aspectos geológicos, utilizou-se como referência o mapa geológico
do estado do Ceará (2003) na escala de 1:500.000, tendo como base, os dados disponibilizados
pela CPRM (Serviço Geológico do Brasil) (2003).
Com os aspectos geomorfológicos utilizou-se a metodologia de Souza (2003) reafirmada
por Meireles (2005), o que possibilitou propor quatro compartimentações geomorfológicas para
área, a depressão sertaneja, o Planalto da Ibiapaba a planície fluvial do riacho Jatobá e o Inselbergs.
Para os tipos climáticos utilizou-se os dados fornecido pela Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos – FUNCEME. Na identificação dos tipos de solos predomi-
nantes na área, teve-se como base a segunda edição do Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos (SIBCS) elaborado pela EMBRAPA (2006). Os dados de unidades de vegetação, também
foram coletados junto a FUNCEME. Na identificação das unidades fitogeográficas, utilizou-se
como metodologia a classificação de Figueiredo (1997) que complementa a classificação de
Fernandes (1990).
A análise integrada dos ambientes envolve tanto as características estruturais geológicas,
como a organização morfológica do relevo, os aspectos climáticos (atual e pretérito), assim
como os pedológicos e biogeográficos. O geoprocessamento constitui-se de técnicas matemá-
ticas e computacionais voltadas para o tratamento de informações geográficas, que no pre-
sente trabalho deu-se por meio do Qgis (software livre) na versão 2.18.0. Diante de tais
premissas, através da elaboração dos mapas temáticos, pesquisa em gabinete e levantamento
em campo foi possível a realização do levantamento geoambiental da sub-bacia hidrográfica
do riacho Jatobá Mucambo-CE.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


770 Noélia André Diniz; Clélia Ferreira Rodrigues; Ernane Cortez Lima

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram obtidos a partir da metodologia abordada, na qual baseou-se no
levantamento geoambiental da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá. Deste modo, realizou-
-se uma caracterização dos sistemas ambientais, como geologia, geomorfologia, clima, solos e
vegetação, sendo que a caracterização e análise só foram possíveis após o levantamento geo-
cartográfico da área em estudo.

3.1 Resultados preliminares

3.1.1 Geologia
Segundo o mapa Digital de Geologia e Recursos Minerais do Ceará (CPRM, 2003), na
escala 1:500.000, constatou-se que a área da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá é for-
mada por significativa variedade litoestratigráfica, apresentando Serra grande, Suíte Granitóite
Meruoca, Termometamorfito, verificar Figura 2 – A classificação das Unidades Litoestratigráfica
da área em estudo está de acordo com sua composição e coloração, seguindo as informações
da CPRM (2003).

Figura 2 – Mapa de Geologia da Sub-Bacia Hidrográfica do Riacho Jatobá, na localidade de Mucambo-CE

Fonte: Arquivo dos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 771

Os Depósitos Cenozóicos são compostos por argilas, areias, quartzosas e quartzofeldspá-


ticas, conglomeráticas ou não, cascalhos e argilas orgânicas/fluvial, de granulação grosseira.
Tendo a nomenclatura Q2a, configuram-se em áreas onde a disponibilidade de energia é rela-
tivamente baixa para o transporte.
Serra Grande, datada da era Paleozóica no período Siluriano, de idade variando de 435 a
411 milhões de anos, apresenta uma litologia composta de conglomerados e arenitos em parte
felspátios, com intercalações de siltitos e folhelhos (fluvial entrelaçado, marinho raso e glacial),
possuindo uma declividade variando de fortemente ondulado a escarpado.
A Suíte Granitoide Meruoca, apresenta-se em tons avermelhados a cinzentos ou esbran-
quiçados, de nomenclatura £y4m, são encontrados ao topo da área, no médio curso. É com-
posta por monzonitos, granodioritos e sienitos (rara fase diorítica) com predomínio da fácies
equigranular, com granulação de média a grosseira, incluindo fácies porfiríticas.
Termometamorfito, apresenta uma litologia composta de quartzitos conglomeráticos,
arenitos grossos epimetamórfitos, mal classificados, meterenitos finos a médios, com matriz
siltico-argilosa.

3.1.2 Geomorfologia
Souza (1988; 2003) conforme afirmado por Meireles (2005), realizou a mais completa
classificação morfoestrutural do relevo cearense, onde “as subdivisões dos domínios morfoes-
truturais obedecem ao modo de arranjos das formas de relevo, que tem como traços comuns
quanto às características fisionômicas e genéticas.” (SOUZA, 2000, p.18).
O referido autor estabelece as seguintes Unidades Morfoestruturais: Domínio dos
Depósitos Sedimentares Cenozoicos (Planícies Fluviais, Formas Litorâneas e Tabuleiros);
Domínios das Bacias Paleomesozóicas (Chapada do Araripe, Chapada do Apodi e Planalto da
Ibiapaba); Domínios dos Escudos e Maciços Antigos (Planaltos Residuais e Depressão Sertaneja).
Com base em tal classificação para área da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá o
Domínio dos Escudos e Maciços Antigos (Depressão Sertaneja e os Inselbergs) e o Domínio dos
Depósitos Sedimentares Cenozoicos (Planícies Fluviais), e o Dominios das Bacias Paleomesozóica
(Planalto da Ibiapaba) ver na figura 3.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


772 Noélia André Diniz; Clélia Ferreira Rodrigues; Ernane Cortez Lima

Figura 3 – Mapa de geomorfologia da Sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, Mucambo-CE

Fonte: Arquivo dos autores.

Conforme Souza (2000), a unidade geoambiental da depressão sertaneja é caracterizada


como sendo uma superfície aplainada moderadamente dissecada, sendo um ambiente de
transição com tendência à instabilidade e vulnerabilidade moderada a alta. Na área de estudo
a depressão sertaneja corresponde a unidade geomorfológica predominante na área delimi-
tada da sub-bacia do riacho Jatobá.
O Planalto da Ibiapaba representa a borda oriental da Bacia Sedimentar do Parnaíba atra-
vés de um escarpamento abrupto e festonado no contato com a depressão sertaneja e um cai-
mento topográfico suave que coaduna para o eixo central da sinéclise, se configurando num
relevo cuestiforme. Verifica-se no Planalto da Ibiapaba a ocorrência de totais pluviométricos
que superam a média geral do Estado do Ceará.
A planície fluvial segundo Souza (2000) é ambiente de transição com tendência a instabi-
lidade e vulnerabilidade moderada, áreas propícias à prática de lavouras irrigadas, limitações
periódicas e sustentabilidade moderada a alta. Na sub-bacia em questão a planície fluvial vai
se encontrar nas imediações do riacho Jatobá.
A unidade geomorfológica Inselberg é apresentada por Souza (1979) como formas distri-
buídas em meio a depressão sertaneja erodidos ao longo da história geológica. São áreas que
geralmente não apresentam cobertura vegetal.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 773

3.1.3 Clima
A região semiárida brasileira possui características próprias que a distingue das demais
regiões por apresentar irregularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos, elevadas
temperaturas, presença de solos rasos, vegetação predominante de caatinga e rios intermiten-
tes (AB’SÁBER, 1999).
Nesse contexto, Lima (2012) destaca que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é
um dos sistemas atmosféricos mais atuantes nas condições climáticas do estado do Ceará. A
zona de convergência intertropical (ZCIT) é um fenômeno que se forma pela confluência dos
alísios de Nordeste e dos ventos alísios de Sudeste, que formam as nuvens cumulo nimbus,
principais “responsáveis por eventos pluviométricos no Nordeste do Brasil” (SOARES, 2015).
Na área da sub-bacia, foi classificado três tipos de climas, são eles: Tropical Quente
Semiárido Brando, Tropical Quente Subúmido, Tropical Quente Úmido, ver na Figura 4.

Figura 4 – Mapa de Clima da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho jatobá, Mucambo-CE

Fonte: Arquivo dos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


774 Noélia André Diniz; Clélia Ferreira Rodrigues; Ernane Cortez Lima

3.1.4 Solos
De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SIBCS) foram identificados
na área da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, quatro classes de solos são eles; Argissolos
Vermelho-Amarelo, Latossolos Vermelho-Amarelo, Neossolos Litólicos, Neossolos Flúvicos, ver
na figura 5.

Figura 5 – Mapa de Solos da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Jatobá, Mucambo-CE

Fonte: Galeria dos autores.

Argissolos Vermelho-Amarelo, são solos também desenvolvidos do Grupo Barreiras de


rochas cristalinas ou sob influência destas. Apresentam horizonte de acumulação de argila, B
textural (Bt), com cores vermelho-amareladas devido à presença da mistura dos óxidos de
ferro hematita e goethita.
Latossolos Vermelho-Amarelo, são identificados em extensas áreas dispersas em todo o
território nacional associados aos relevos, plano, suave ondulado ou ondulado. Ocorrem em
ambientes bem drenados, sendo muito profundos e uniformes em características de cor, tex-
tura e estrutura em profundidade.
Neossolos Litólicos, são solos poucos evoluídos sem o horizonte B, apresentando o hori-
zonte A seguindo pelo C ou R. Para Lourenço (2013), estes tipos de solos apresentam o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 775

horizonte A diretamente sobre a rocha – horizonte R, sendo comum encontrar superficial-


mente pedregosidade e/ou rochosidade, podendo ser vinculados aos afloramentos rochosos.
Os Neossolos Flúvicos, originam-se de sedimentação fluvial do holoceno, na área em
estudo compreende-se em toda a extensão do curso do riacho Jatobá, cuja classe é derivada
de sedimentos aluviais e que apresentam caráter Flúvicos. Apresentam sequência os horizon-
tes A e C, os quais os solos são poucos desenvolvidos.

3.1.5 Vegetação
Para a classificação da vegetação da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, optou-se
pelo sistema de classificação de Figueiredo (1997) que complementa a classificação de
Fernandes (1990), onde o conjunto vegetacional do Ceará é considerado sob dois aspectos: o
fisiográfico e o fitogeográfico. Com relação à classificação fitogeográfica eleclassifica a flora
brasileira em províncias, subprovíncias, setores e subsetores, estando à região semiárida do
nordeste brasileiro incluída na Província Nordestina ou das caatingas, no Setor dos Sertões.
Segundo Fernandes (1990), “A província das Caatingas ocupa grande espaço no Nordeste
semiárido, principalmente na depressão sertaneja”. A distribuição da vegetação na área da
pesquisa conforme a mapa da (Figura 6) possuí as seguintes feições:

Figura 6 – Vegetação da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Jatobá, na localidade de Mucambo-CE

Fonte: Galeria dos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


776 Noélia André Diniz; Clélia Ferreira Rodrigues; Ernane Cortez Lima

Caatinga Arbustiva Aberta, conforme Fernandes (1990), é formada de arbustivos distan-


ciados, atingindo cerca de 2 m de altura, quase sem árvores e cactáceas dispersas. Solo raso,
pedregoso e muito encharcado durante a estação das chuvas, naturalmente recoberto por
manto herbáceo.
De acordo com a FUNCEME (2006) a Caatinga Arbustiva Aberta apresenta uma ação
antrópica exacerbada, esta ação do ser humano começou com a grande exploração do algodão
ao longo dos anos. A caatinga arbustiva aberta está presente em áreas que sofreram desmata-
mento por uso agrícola e da pecuária, nas quais apresenta adaptações morfológicas e fisiológi-
cas no período de seca, é composto por espécies como marmeleiro (Croton sonderianos),
jurema preta (Mimosa tenuifolia), feijão bravo (Cynophalla flexuosa), dentre outras.
Caatinga Arbórea, Em relação à caatinga arbórea, apresenta um melhor estado de con-
servação, a caatinga arbórea só assume padrão fisionômico arbóreo onde as condições semiá-
ridas são moderadas e os solos possuem melhores condições de fertilidade (PEREIRA; SILVA,
2007). De acordo com Fernandes (1990), embora a caatinga arbórea seja própria das encostas
serranas, ainda podem ser encontradas em áreas da depressão sertaneja.
Mata Seca, Entre as principais características físicas e ambientais que distinguem a mata
seca das demais formações florestais tropicais, destaca-se a sua frequente ocorrência sob aflo-
ramentos calcários e, em virtude desta associação, a existência de solos rasos, porém com ele-
vada disponibilidade de nutrientes.
Mata Úmida, no que se refere à floresta subperenifólia tropical plúvio-nebular (mata
úmida), ocupa as áreas mais elevadas dos topos, encostas das serras úmidas e planaltos sedi-
mentares. De acordo com Pereira e Silva (2007), constitui-se como a unidade vegetacional que
apresenta uma das maiores biodiversidades do estado do Ceará, presente em determinadas
áreas do planalto da Ibiapaba.
Mata Ciliar com Carnaúba, em algumas áreas adjacentes ao riacho Jatobá caracteriza-se
por uma vegetação de porte maior, denominada vegetação ribeirinha a qual destaca-se a
Carnaubeira (Copernicia prunifera) e o Jucazeiro (Caesalpinia ferrea).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do levantamento geoambiental foi possível a identificação dos sistemas ambien-
tais da área como geologia, geomorfologia, clima, solos e vegetação. Nesse sentido, percebe-
-se a diversidade de feições geológicas e geomorfológicas importantes para a caracterização
das paisagens. Apesar de ser um estudo prévio, pode-se perceber que a bacia do riacho Jatobá
Mucambo-CE, apresenta uma grande diversidade ambiental, onde foi possível realizar esta
pesquisa devido ao foco geossistêmico, interligando os componentes ambientais nela pre-
sente. Evidenciou-se no trabalho de campo que diversas áreas da bacia encontra-se em níveis
diferenciados de degradação ambiental.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 777

Por esse ângulo, salientamos que a sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá apresenta
uma rica diversidade paisagística, mas que com o decorrer dos anos sofre alterações devido a
ação antrópica, com a retirada da vegetação para a agricultura de subsistência e utilização de
áreas para a pecuária, sendo necessário repensar as potencialidades ambientais para o manejo
adequado nesse ambiente.

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Paulo, 1979. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. p.187.
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


66. MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA
DE PROCESSOS EROSIVOS E DA
PREDISPOSIÇÃO DO RELEVO À
SUSCETIBILIDADE EROSIVA EM
BORDAS DE RESERVATÓRIOS DE USINAS
HIDRELÉTRICAS

VITÓRIA DE SOUZA TEIXEIRA PAULISTA1


DIEGO TARLEY FERREIRA NASCIMENTO2
PATRÍCIA DE ARAÚJO ROMÃO3
MARTA PEREIRA DA LUZ4

Resumo: De ocorrência frequente nas regiões intertropicais e associado naturalmente à ocorrên-


cia de chuvas intensas, o processo de erosão hídrica resulta na desagregação e transporte de sedi-
mentos, que pode ser intensificado pela ação antrópica, ocasionando impactos negativos em
âmbito tanto socioambiental quanto econômico, como é o caso do assoreamento e redução da
vida útil de reservatórios de usinas hidrelétricas. Mediante tal fato, o presente trabalho teve como
objetivo geral prover o mapeamento da ocorrência de processos erosivos e da predisposição do
relevo frente à suscetibilidade erosiva em bordas de reservatórios, tendo como estudo de caso as
Usinas Hidrelétricas de Batalha e Itumbiara, ambas administradas pela Eletrobras Furnas. Os pro-
cedimentos metodológicos envolveram o mapeamento de processos erosivos a partir da interpre-
tação de imagens de satélite disponíveis pelo Google Earth, e a modelagem e correspondente
análise das características do relevo que favorecem ou amenizam a deflagração de processos ero-
sivos, tendo como base o processamento digital de imagens SRTM para levantamento das infor-
mações de altitude, declividade e altura acima da drenagem mais próxima (HAND). Os resultados
mostraram que foi identificada quantidade significante de ocorrências de feições erosivas lamina-
res e lineares, concentradas principalmente nas bordas dos reservatórios. Além disso, evidencia-
ram também que associados a altas declividades em suas encostas, os topos de morro encontram-se

1 Acadêmica do curso de Ecologia e Análise Ambiental do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Goiás ICB/UFG e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
do Conselho Nacional de Pesquisa CNPq. E-mail: vitoriasouzatp@gmail.com
2 Doutor em Geografia, Professor do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás IESA/UFG
e Professor Permanente do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Goiás
PPGEO-UEG. E-mail: diego_nascimento@ufg.br
3 Doutora em Geotecnia, Professora do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás IESA/UFG
e Professora Permanente do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Goiás
PPGEO-UEG. E-mail: patrícia_romao@ufg.br
4 Doutora em Ciências Ambientais, Engenheira da Eletrobras Furnas, Professora da Pontifícia Universidade Católica de
Goiás PUC-GO e Professora Colaboradora do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Engenharia de Produção e
Sistemas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás MEPROS-PUC-GO. E-mail: martaluz@furnas.com.br

[ 779 ]
780 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz

a mais de 900 m de desnível, em ambos os reservatórios, o que pode ser inferido como maior
energia potencial para ocorrência de processos erosivos hídricos.
Palavras-chave: Erosão; SRTM; HAND; Itumbiara; Batalha.
Abstract: Frequently occurring in intertropical regions and naturally associated with the occur-
rence of heavy rains, the water erosion process results in the breakdown and transport of sedi-
ments, which can be intensified by anthropic action, causing negative impacts in both
socio-environmental and economic terms, as is the case siltation and reduction of the useful life
of hydroelectric power plant reservoirs. Given this fact, the present work had as general objective
to provide the mapping of the occurrence of erosive processes and the predisposition of the relief
against the erosive susceptibility in the edges of reservoirs, having as a case study the Batalha and
Itumbiara Hydroelectric Power Plants, both managed by Eletrobras Furnas. The methodological
procedures involved the mapping of erosive processes from the interpretation of satellite images
available by Google Earth, and the modeling and corresponding analysis of the relief characteris-
tics that favor or mitigate the deflagration of erosive processes, based on digital image processing
SRTM for lifting altitude, slope and height information above the nearest drainage (HAND). The
results showed that a significant amount of occurrences of laminar and linear erosive features
were identified, mainly concentrated on the edges of the reservoirs. In addition, they also showed
that associated with high slopes on their slopes, the tops of the hill are more than 900 m uneven
in both reservoirs, which can be inferred as greater potential energy for the occurrence of water
erosion processes.
Keywords: Erosion; SRTM; HAND; Itumbiara; Batalha.

1 INTRODUÇÃO
Os processos erosivos hídricos dizem respeito aos processos de desagregação e trans-
porte de partículas do solo (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2010). Os agentes naturais e ativos dos
processos erosivos, como aqueles associados ao clima, atuam de acordo com as características
do ambiente, como tipo de solo, de relevo, de declividade e do uso e ocupação do solo (GALETI,
1975). Portanto as características naturais do ambiente podem influenciar, em maior ou menor
proporção, na suscetibilidade do terreno aos processos erosivos, que podem ser intensificados
por meio de atividades antrópicas.
Nas regiões intertropicais do território brasileiro, a erosão hídrica de origem pluvial é o
principal agente de esculturação do relevo e de perdas do solo, tendo como atuação inicial a
ação das gotas de chuva na desagregação das partículas do solo e o posterior transporte a
partir de lâminas de escoamento superficial difuso e/ou concentrado ocasionado pela força
gravitacional e pelas formas do relevo, que culminam na deposição e na consolidação dos sedi-
mentos em mananciais hídricos adjacentes. Neste contexto, as ações antrópicas atuam no sen-
tido de potencializarem e acelerarem a deflagração dos processos erosivos, sobretudo no
tocante à forma de apropriação e de utilização do solo.
Neste contexto, chamamos a atenção para as bacias hidrográficas situadas junto aos
reservatórios de Usinas Hidrelétricas (UHE), nas quais se observam alterações intrínsecas na
cobertura e uso da terra, desde a fase de implantação dos reservatórios – por conta de seu
enchimento e conseguinte inundação, até após a conclusão dos empreendimentos, bem como

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE PROCESSOS EROSIVOS E DA PREDISPOSIÇÃO DO RELEVO 781

com a incorporação de atividades agropecuárias (lavouras e pastagens plantadas) ou com a


construção de infraestruturas (casas, sítios, estradas, entre outros) (CAMAPUM DE CARVALHO
et al. 2015).
O transporte de sedimentos para esses reservatórios e o consequente processo de asso-
reamento, que ocorrem naturalmente, podem ser intensificados e acelerados por tais infraes-
truturas antrópicas e atividades agropecuárias, quando não observadas as suscetibilidades à
erosão das bordas dos reservatórios e de suas áreas de influência direta. Como consequências
do aporte de sedimentos aos reservatórios de usinas hidrelétricas, são notórias a perda da
capacidade de armazenamento de água a decorrente diminuição de sua vida útil.
Assim, o presente trabalho ligado à iniciação tecnológica tem por objetivo geral prover o
mapeamento da ocorrência de processos erosivos e da predisposição do relevo frente à susce-
tibilidade à erosão hídrica em bordas de reservatórios de usinas hidrelétricas, tendo como
estudo de caso as UHE´s Batalha e Itumbiara.
Destaca-se que o trabalho está vinculado a um projeto de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico proposto pela Eletrobras Furnas, em Edital de P&D+I 2017 e que tem como execu-
tora a FUNAPE/UFG, intitulado “Modelagem em Diversas Escalas da Geração de Sedimentos
em Erosões e o Aporte em Reservatórios de UHE’s”, tendo por objetivo principal o desenvolvi-
mento de tecnologias e metodologias que permitam melhor compreender os processos de
geração, aporte e consolidação de sedimentos em reservatórios de usinas hidrelétricas.

2 METODOLOGIA
No presente trabalho, tomam-se como áreas de estudo as áreas de influência direta (AID)
dos reservatórios onde estão inseridas as usinas hidrelétricas Itumbiara e Batalha, ambas admi-
nistradas pela Eletrobras Furnas e localizadas na divisa do estado de Goiás com Minas Gerais.
A UHE Itumbiara opera no rio Paranaíba, e sua localização se dá entre os municípios de
Itumbiara-GO e de Araporã (MG), ao passo que seu reservatório banha o território de vários
outros municípios (Figura 1), sendo a maior usina constituinte do sistema Furnas, com 40 anos
de operação – tendo em vista sua inauguração em 1981 (ANEEL, 2020). Já a usina de Batalha se
localiza no rio São Marcos, no contexto dos municípios de Cristalina-GO e Paracatu (MG) (Figura
2), tendo sua operação iniciada em 2014 e constitui uma obra não só de importância nacional,
como também para as comunidades de pequenos agricultores dessa região por conta da con-
tribuição na irrigação de lavouras locais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


782 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz

Figura 1 – Localização da área de estudo da UHE – Itumbiara

Elaboração: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE PROCESSOS EROSIVOS E DA PREDISPOSIÇÃO DO RELEVO 783

Figura 2 – Localização da área de estudo da UHE-Batalha

Elaboração: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

Após levantamento e revisão bibliográfica, a primeira etapa do percurso metodológico


consistiu na identificação e geração de mapas atualizados da ocorrência de focos erosivos por
meio da utilização das imagens disponíveis no Google Earth Pro, sendo utilizados os preceitos
e as recomendações delineadas por Nascimento et al. (2015) para distinguir visualmente e
identificar feições erosivas dos tipos laminares e lineares, tendo como recorte especial a área
de influência direta e, com maior ênfase, as áreas das bordas dos reservatórios. A título de
exemplo, são demonstradas feições do tipo linear e laminar no entorno do reservatório da UHE
de Itumbiara (Figura 3 A e B, respectivamente).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


784 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz

Figura 3 – Exemplos de erosão linear (A) e laminar (B) em Itumbiara

Fonte: Google Earth Pro.

Em etapa posterior, foram gerados mapas de hipsometria, de declividade, e da altura


acima da drenagem mais próxima (do inglês Height Above the Nearest Drainage – HAND), sob
o aporte dos softwares ArcMap 10.3.1 e Terra View Hidro 0.4/INPE, este último para processa-
mento dos dados de HAND. Utilizou-se a base cartográfica do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2010), além do banco de dados do projeto de Pesquisa e Desenvolvimento
ao qual este trabalho se vincula. O sistema de referência cartográfica utilizado foi o SIRGAS
2000, em projeção UTM (Universal Transversa de Mercartor), fusos 23 para a UHE de Batalha
e 22 para a UHE de Itumbiara, ambos relacionados ao Hemisfério Sul. Os mapas, hipsométrico,
de declividade e o modelo HAND, foram produzidos a partir do processamento em ambiente
de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) das imagens radarmétricas do Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM), com resolução espacial de 30 m. O intervalo das classes do mapa
hipsométrico foi definido a partir de quebras naturais e aquele utilizado no mapa de declivi-
dade seguiu a definição da Embrapa (1979), ao passo que para a geração do modelo HAND,
seguiu-se a metodologia de Rennó et al. (2008), citada no trabalho de Silva et al. (2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na etapa que consistiu no cadastro dos focos erosivos, foi possível identificar feições de
erosões laminares e lineares concentradas principalmente ao longo das bordas dos reservató-
rios, o que gera preocupações quanto ao aporte e deposição de sedimentos nesses reservató-
rios, tendo em vista as possíveis consequências para a capacidade de armazenamento de água,
a vida útil das usinas hidrelétricas e a geração de energia elétrica.
O mapa hipsométrico da área de influência direta (AID) da UHE de Itumbiara (Figura 4)
demonstra que as altitudes partem de 505 m, junto ao reservatório, e alcançam altitudes em
torno de 980 m – com altitude média de 674 m e amplitude altimétrica da AID de 475 m, cuja
maior parte das altitudes varia de 505 a 758 m.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE PROCESSOS EROSIVOS E DA PREDISPOSIÇÃO DO RELEVO 785

No caso de Batalha (Figura 5), a altitude média da AID é de 907 m, apresentando valores
entre 773 e 1.256 m – amplitude de 483 m, e altitude predominante entre 773 e 973 m. Com
isso, observa-se que a área de influência direta da UHE de Batalha está situada em terrenos de
altitudes mais elevadas, com relação à UHE de Itumbiara.

Figura 4-A – Hipsometria da área de influência direta da UHE– Itumbiara

Organização: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


786 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz

Figura 5 – Hipsometria da área de influência direta da UHE-Batalha

Organização: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

Por meio dos mapeamentos da declividade se observa que o reservatório de Itumbiara


(Figura 6) se encontra numa condição de predomínio de relevo plano a ondulado, com presença
ainda de relevo forte ondulado em algumas porções e relevo principalmente escarpado na borda
entre áreas mais elevadas e mais planas. Na referida área, a declividade média é de 10%.
No caso de Batalha (Figura 7), onde a declividade média é menor, de 6%, percebe-se que
as classes de relevos montanhosos e escarpados ocorrem de modo difuso na área, contras-
tando com o relevo plano que predomina na região. Isto demonstra a considerável diversidade
altimétrica em Batalha, que mostra maior suscetibilidade ao processo erosivo, sobretudo pela
atuação da força gravitacional (energia potencial) e de provável ocorrência predominante de
escoamento superficial em maiores velocidades, no período chuvoso. Ao comparar a declivi-
dade com a altimetria, é possível correlacionar os relevos mais planos às altitudes mais baixas,
mais próximas ao reservatório, e os locais mais elevados observados se encontram associados
aos relevos fortemente ondulados e escarpados.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE PROCESSOS EROSIVOS E DA PREDISPOSIÇÃO DO RELEVO 787

Figura 6 – Declividade da área de influência direta da UHE-Itumbiara

Elaboração: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

Figura 7 – Declividade da área de influência direta da UHE-Batalha

Elaboração: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


788 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz

De acordo com a análise do modelo HAND de Itumbiara (Figura 8) verificou-se que a


maior parte da área se encontra com desníveis entre 15 e 50 m, com topos de morro situados
a mais de 900 m em desnível com as drenagens mais próximas. No caso de Batalha (Figura 9),
existem consideráveis desníveis, constatados por meio da existência de escarpas, em relevo
com desníveis expressivos denotados por topos de morro cuja altura acima da drenagem mais
próxima chega a 1.200m.

Figura 8 – HAND da área de influência direta da UHE-Itumbiara

Elaboração: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE PROCESSOS EROSIVOS E DA PREDISPOSIÇÃO DO RELEVO 789

Figura 9 – HAND da área de influência direta da UHE-Batalha

Elaboração: Vitória de Souza Teixeira Paulista (2021).

A existência de considerável proporção de área emm desnsiders de cuja altura acima da


drenagem mais pruerdo.s reservat desnível de mais de novecentos metros, em ambos os reser-
vatórios, indica que essas áreas têm energia potencial para que os processos erosivos ocorram
principalmente associados localmente a essa maior amplitude altimétrica.
Os resultados dos produtos cartográficos gerados demonstram a inequívoca relação
entre altitude, declividade e condição do relevo como pertinente modelagem geotécnica vol-
tada à avaliação da suscetibilidade de processos erosivos hídricos, uma vez que certas condi-
ções favorecem o escoamento superficial da água e a consequente desagregação e transporte
das partículas do solo – que tendem a ser direcionadas e depositadas nos mananciais, neste
caso, associado a reservatórios das UHEs.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As erosões são processos que resultam na perda de toneladas de solos, trazendo sérias
consequências ambientais que, com a ação antrópica, podem tomar proporções mais agravantes.
A supressão da vegetação é uma dessas ações que mais potencializa a erosão, considerando que
a presença de raízes no solo ajuda a manter o solo mais firme e que a vegetação atenua tanto o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


790 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz

impacto da água das chuvas quanto a velocidade da percolação da água na superfície do solo,
propiciando maior infiltração da mesma no solo. Além das consequências ambientais, o assorea-
mento de reservatórios causa impactos significativos para as hidrelétricas.
Considerando os resultados obtidos neste trabalho, vinculado à iniciação tecnológica,
pode-se destacar a relevância da geolocalização das ocorrências erosivas nas bordas e entor-
nos das UHE´s, sob o aporte de softwares gratuitos, tal como o Google Earth. Além disso, a par-
tir do processamento digital das imagens radarmétricas do Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM) realizado em ambiente de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), puderam ser
observadas as características do relevo que tornam esses locais suscetíveis a erosão e ao con-
sequente assoreamento.

5 AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Eletrobras Furnas e a ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica) pela coordenação técnica e financiamento, no âmbito do Projeto de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) intitulado “Modelagem em Diversas Escalas da Geração de Sedimentos
em Erosões e o Aporte em Reservatórios de UHEs”, P&D ANEEL Sedimentos, código ANEEL
PD.0394-1705/2017”.

6 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELETRÉTICA – ANEEL. Lista Geral de Usinas. Usina Itumbiara, 2020. Disponível
em: https://www.memoriadaeletricidade.com.br/acervo/32005/usina-hidreletrica-itumbiara. Acesso em 02 de
agosto de 2021.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do Solo. 4. ed. São Paulo: Ícone, 1999. 355p.
CAMAPUM DE CARVALHO, J.; LELIS, A. C.; SALES, M. M.; MASCARENHA, M. M. D. A.; ANGELIM, R. R.; PEREIRA,
L. M. Erosão de bordo de reservatório: cartilha do projeto de pesquisa “Monitoramento e estudo de técnicas
alternativas na estabilização de processos erosivos em reservatórios de UEHs”. GECOM/UFG, Goiânia-GO, vol.
1, 2015, 53p.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e
Conservação de Solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 1979. 83 p.
GALETI, P. A. Conservação do solo: reflorestamento – clima. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino
Agrícola, 1975.
NASCIMENTO, D. T. F.; ROMÃO, P. de A.; SILVA, S. B.; SALES, M. M.; VARGAS, C. A. L.; LUZ, M. P. Emprego do
Google Earth no cadastramento de processos erosivos lineares e laminares. In: ENCUENTRO DE GEÓGRAFOS
DE AMÉRICA LATINA, 2015, La Habana, Anais..., 2015.
RENNÓ, C. D.; NOBRE, A. D.; CUARTAS, L. A.; SOARES, J. V.; HODNETT, M. G.;
TOMASELLA, J. WATERLOO, M. J. HAND, a new terrain descriptor using SRTM-DEM: Mapping terra-firme
rainforest environments in Amazonia. Remote Sensing of Environment, v. 112, n. 9, p. 3469–3481, set. 2008.
SILVA, W. F.; MOLLERI, G. S. F.; PINTO, M. B. P.; JÚNIOR, G. J. L. A. Análise do modelo HAND para a indicação de
áreas suscetíveis a eventos críticos de cheias. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 16., Foz
do Iguaçu, Anais..., 2013

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


67. MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE
AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE, REGIÃO
OESTE DE GOIÁS

AMIEL ARAUJO SOARES SANTOS1


PATRÍCIA DE ARAÚJO ROMÃO2
ALINE DE JESUS BASTOS3
KÁSSIO SAMAY RIBEIRO TAVARES4

Resumo: O entendimento da distribuição espacial dos condicionantes das fragilidades e vulnera-


bilidades próprias de ambientes naturais, como o clima, o relevo, a litologia, o tipo de solo, e a
cobertura vegetal; bem como daqueles associados ao fator antrópico, uso do solo; permite (a) ava-
liar a ideia de causa e efeito entre os elementos; (b) o diagnóstico da relação entre os processos de
pedogênese e de morfogênese; e (c) a determinação de índices de vulnerabilidade natural e
ambiental à perda de solos. Além disso, a caracterização de atrativos naturais quanto à vulnerabi-
lidade ambiental de seu entorno pode auxiliar no planejamento turístico desses locais, possibili-
tando, por exemplo, o conhecimento do estágio de alteração antrópica e de condições que
poderiam ser intensificadas ainda mais, quanto aos processos que levam à perda de solos. A meto-
dologia proposta por Crepani et al. (2001) baseia-se no conceito de Ecodinâmica de Tricart (1977),
classificando o grau de vulnerabilidade de cada tema – Geomorfologia (R), Geologia (G), Pedologia
(S), Clima (C), Vegetação (Vg)/Uso e cobertura do solo – a partir de meios estáveis, meios intergra-
des e meios fortemente instáveis. Desse modo, o objetivo do trabalho foi analisar o grau de vulne-
rabilidade ambiental à perda de solos na bacia hidrográfica do rio do Peixe, bem como no entorno
dos atrativos turísticos situados principalmente a nordeste dessa área. Para ser alcançado tal obje-
tivo, foram realizadas operações de álgebra entre os mapas e realizadas as análises que resultaram
na delimitação da classe medianamente estável/vulnerável, com maior ocorrência, seguida pela
classe moderadamente vulnerável.
Palavras-chave: Índice de vulnerabilidade; bacia hidrográfica; Ecodinâmica; morfogênese;
pedogênese.
Abstract: The understanding of the spatial distribution of the conditioning factors of fragility and
vulnerability of natural environments, like as climate, relief, lithology, soil type, and vegetation cover;

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: amielaraujo@discente.ufg.br


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: patricia_romao@ufg.br
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: alinejbastos@gmail.com
4 Universidade Estadual de Campinas. E-mail: kassiosamayribeiro@gmail.com

[ 791 ]
792 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares

as well as those associated with the anthropic factor, land use; allows (a) to evaluate the idea of cause
and effect between the elements; (b) the diagnosis of the relationship between the processes of
pedogenesis and morphogenesis; and (c) the determination of indices of natural and environmental
vulnerability to soil loss. Furthermore, the characterization of natural attractions as to the environ-
mental vulnerability of their surroundings can help in the tourism planning of these sites, making it
possible, for example, to know the stage of anthropic alteration and the conditions that could be fur-
ther intensified, as to the processes that lead to soil loss. The methodology proposed by Crepani et
al. (2001) is based on Ecodynamics concept Tricart (1977), classifying the degree of vulnerability of
each theme – Geomorphology (R), Geology (G), Pedology (P), Climate (C), Vegetation (Vg)/Land Use
and Cover – from stable environments, intergraded environments and strongly unstable environ-
ments. Thus, the objective of the work was to analyze the degree of environmental vulnerability to
soil loss in river basin of Peixe, as well as in the surroundings of the tourist attractions located mainly
in the northeast of this area. To achieve this goal, algebraic operations were performed between the
maps and the analyses that resulted in the delimitation of the medially stable/vulnerable class, with
the highest occurrence, followed by the moderately vulnerable class.
Keywords: vulnerability index; watershed; ecodynamics; morphogenesis; pedogenesis.

1 INTRODUÇÃO
Ambientes naturais possuem vulnerabilidades próprias da sua formação e constituição
biótica e abiótica, mas em geral sofrem alterações quando ocorre uma mudança no equilíbrio
de suas características, quase sempre, por modificações antrópicas. Segundo Olímpio e Zanella
(2012), ocupar um espaço e não respeitar suas limitações, automaticamente coloca em perigo
tanto o local como a comunidade que o transforma. Colaborando para a análise dessas limita-
ções, o estudo da paisagem sobre enfoque integrado prioriza a compreensão de sua dinâmica
e facilita a representação cartográfica dos aspectos naturais e sociais (ROVANI et al., 2015).
Nesse sentido, de acordo com Crepani et al. (2001), conhecer os componentes físico-bió-
ticos serve de orientação para as atividades desenvolvidas no ambiente, de modo a evitar ou
minimizar os impactos das ações antrópicas. A metodologia proposta por esses autores baseia-
-se no conceito da Ecodinâmica de Tricart (1977), relacionando-o aos processos de morfogê-
nese/pedogênese e aos critérios dos meios estáveis, meios intergrades e meios fortemente
instáveis. Nesta metodologia, aplicam-se valores relativos e empíricos, para determinação da
estabilidade/vulnerabilidade dos temas: Geomorfologia (R), Geologia (G), Pedologia (S), Clima
(C) e Vegetação (Vg). Os valores de estabilidade/vulnerabilidade são divididos em 21 valores
(unidades da paisagem), que variam entre 1.0 (Estável – predomínio da pedogênese), 2.0
(Intermediariam. Estável/Medianamente Vulnerável – equilíbrio entre pedogênese/morfogê-
nese) e 3.0 (Instável/Vulnerável – predominância dos processos morfogenéticos).
A bacia hidrográfica do rio do Peixe, localizada no oeste do estado de Goiás, integra a
bacia do rio Araguaia, na região Oeste de Goiás. Uma bacia hidrográfica representa, como
aponta Mota et al. (2011), uma unidade espacial que permite a integração multicriterial de dis-
tintos sistemas, facilitando o manejo de diferentes dados ambientais (p. ex., perda de solos e
assoreamento de corpos d’águas), além de identificar os locais de acontecimentos quanto à
ação antrópica. Além desse fato, é reconhecida a importância regional dessa área para o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS 793

planejamento de diversas atividades no âmbito estadual, dentre elas, o turismo (GODINHO;


OLIVEIRA, 2017).
Considerando este contexto, o objetivo da pesquisa é analisar a vulnerabilidade ambien-
tal à perda de solos na bacia hidrográfica do rio do Peixe, por meio da verificação do estágio
atual do uso e cobertura da terra, bem como identificar os atrativos turísticos e avaliar a vulne-
rabilidade no seu entorno. A bacia hidrográfica do rio do Peixe (Figura 1) se localiza na porção
centro-sul da alta bacia do rio Araguaia (CARNEIRO, 2012), abrangendo os municípios de
Doverlândia, Caiapônia e Baliza, e totalizando uma área de aproximadamente 5.092 km2.

Figura 1 – Mapa de localização da bacia hidrográfica do rio do Peixe

Fonte: Elaborado pelos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


794 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares

2 METODOLOGIA
No desenvolvimento da pesquisa, diversos procedimentos metodológicos foram execu-
tados, iniciando-se pela pesquisa documental e pela revisão bibliográfica, as quais proporcio-
naram o entendimento dos principais temas, auxiliando na compreensão de conceitos e
influenciando no avanço das atividades computacionais.
Na aquisição e criação de um banco de dados (vetoriais e matriciais), foi utilizado o soft-
ware de geoprocessamento ArcGIS 10.3/ESRI. A aquisição dos arquivos vetoriais ocorreu a par-
tir da disponibilização dos arquivos, (a) Geomorfologia (SIC, 2004) e Geologia (SIC, 2014) – pelo
Sistema Estadual de Informações Geográficas (SIEG); (b) Pedologia – pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE); (c) Vegetação – por meio do Banco de Dados de Informações
Ambientais (BDIA); e Uso e Cobertura do Solo de 2019 – por meio do MapBiomas (2019). Para
o valor adotado em relação ao tema Clima, partiu-se de um valor de intensidade pluviométrica
para toda a área, sugerido por Tavares (2021).
A análise da imagem SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) da United States Geological
Survey (USGS sigla em inglês), com resolução espacial de aproximadamente 30 m, disponibili-
zada pela plataforma do SIEG, proporcionou a produção dos mapas morfométricos: declivi-
dade, modelo HAND (Height Above the Nearest – altura acima da drenagem mais próxima) e de
densidade de drenagem. O HAND (NOBRE et al., 2011; INPE, 2021) é um modelo capaz de evi-
denciar o desnível a partir de determinada superfície em relação à drenagem mais próxima e
foi utilizado em substituição à amplitude altimétrica, referente à dissecação vertical do ter-
reno, quanto ao tema Geomorfologia. Por meio da ferramenta Hydrological Tools do programa
TerraViewHidro 0.0.4, foi possível a construção do modelo. O modelo morfométrico, densidade
de drenagem, foi elaborado em substituição ao mapa de dissecação horizontal do relevo, tam-
bém em relação ao tema Geomorfologia, por meio da função “Densidade de Linha”, disponível
no programa ArcGIS 10.3/ESRI.
A utilização dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) tem sido corrente, principal-
mente pela facilidade em manipular e processar dados vetoriais e matriciais, em meio compu-
tacional. Essas tecnologias proporcionam análises ambientais e territoriais de fenômenos
espaciais, além da edição e armazenamento de informações geográficas, como afirmam
Nascimento et al. (2016).
Desse modo, o mapa do tema Geomorfologia, referente à sua vulnerabilidade, foi feito a
partir da compilação daqueles referentes aos índices morfométricos – declividade, HAND e
densidade de drenagem. O resultado para vulnerabilidade do tema Geomorfologia (R), foi pos-
sível por meio da Equação 1.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS 795

Equação 1.

Onde:
R = Vulnerabilidade da Geomorfologia;
G = Vulnerabilidade atribuída ao Grau de Dissecação Horizontal (adaptada pela utilização
do modelo de densidade de drenagem);
A = Vulnerabilidade atribuída à Amplitude Altimétrica (adaptada pela utilização do
modelo HAND);
D = Vulnerabilidade atribuída à Declividade.
Com a função “unir” (Geoprocessamento > Unir), executou-se a junção das informações
(tabela de atributos) de todos os temas, criando-se uma única tabela de atributos, ou seja, o
mapa de vulnerabilidade ambiental (substituindo o tema Vegetação pelo tema Uso e cobertura
do solo), aplicando-se a álgebra de mapas, baseada na equação proposta por Crepani et al.
(2001), segundo a Equação 2.

Equação 2.

Onde:
V = Vulnerabilidade;
G = Vulnerabilidade da Geologia;
R = Vulnerabilidade da Geomorfologia;
S = Vulnerabilidade dos Solos;
Vg = Vulnerabilidade da Vegetação (substituído pelo tema de Uso e cobertura do solo);
C = Vulnerabilidade do Clima.
De acordo com a Equação 2 descrita, efetua-se o cálculo da média dos valores referentes
aos temas, o que foi realizado pela “Calculadora de Campo”, tendo como resultado o mapa de
Vulnerabilidade Ambiental. Proposta por Crepani et al. (2021), as classes de vulnerabilidade
foram adotadas, tanto para representação do mapeamento final, quanto para padronização
dos mapas individuais referentes aos cinco temas. Os valores para cada classe de vulnerabili-
dade são descritos na Figura 2.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


796 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares

Figura 2 – Graus de Vulnerabilidade à perda de solos e escala de cores (RGB)

Fonte: Crepani et al. (2001).

Os valores de vulnerabilidade para as classes de cada tema foram adotados com base na
metodologia de Crepani et al. (2001), tendo sido realizadas adaptações referentes a valores de
vulnerabilidade para classes não constante na proposta original da metodologia, tendo tam-
bém sido adotado o que foi sugerido por Tavares (2021), para o caso do tema índice de disse-
cação horizontal. O tema referente ao uso e cobertura do solo foi adaptado conforme o
sugerido por Florenzano (2008).
Assim, no que tange à análise da vulnerabilidade ambiental à perda de solos, foram
sobrepostos os atrativos turísticos existentes na área. Os respectivos pontos foram identifica-
dos por meio da pesquisa em sites com a temática voltada ao turismo. Tais locais foram identi-
ficados e georreferenciados por meio do programa Google Earth, com validação e exportação
dos pontos para o ArcGIS 10.3, identificando quatro atrativos turísticos na área de estudo –
cachoeiras de Santa Helena, do Alvino, do Lajeado e Gratassul.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO
Como descrito no item anterior, a vulnerabilidade ambiental à perda de solos na bacia
hidrográfica do rio do Peixe foi analisada segundo a vulnerabilidade de cada tema, (geologia,
geomorfologia, tipos de solo, uso e cobertura do solo e clima) em específico.
Em observação ao mapa do tema Geologia (Figura 3a) e considerando o grau de vulnera-
bilidade relacionado ao tipo de rocha, o que foi indicado por Crepani et al. (2001) e os valores
adotados por Tavares (2021), ressalta-se que, (a) a Formação Serra Geral (Grupo São Bento),
que ocorre em pequenas partes da bacia, de natureza vulcânica, pode ser considerada mais

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS 797

resistente; (b) as rochas das formações Furnas (arenito) e Aquidauana (arenito, diamicito, folhe-
lho, siltito), apesar de consolidadas, podem apresentar um aspecto friável, quando exposta às
intempéries, e que as rochas inconsolidadas da Formação Cachoeirinha (areia, argilito, conglo-
merados), todas essas encontradas em porções significativas ao norte e ao centro-sul, têm
considerável vulnerabilidade; e (c) as rochas das formações Ponta Grossa (folhelho – arenito
fino, pelito), Vila Maria (argilito siltíco, folhelho), Irati (folhelho), e os Depósitos Aluvionares
(areia, argila, cascalho, siltito) podem ser considerados mais vulneráveis à perda de solos. A vul-
nerabilidade do tema Geologia apresentou o predomínio das classes: moderadamente vulne-
rável, moderadamente estável e vulnerável.
O grau de vulnerabilidade da Geomorfologia (Figura 3b) foi classificado como moderada-
mente estável para a maior parte da bacia, principalmente tendo em vista as declividades, as
densidades de drenagens e os desníveis. Conforme afirmam Santos et al. (2008), ter o conheci-
mento sobre aspectos geomorfológicos consiste em subsídios para entendimento e identifica-
ção das potencialidades e fragilidades naturais dos terrenos. Por isso, tendo em vista esse
parâmetro, considerou-se necessária a tentativa de se calcular os valores associados à disseca-
ção, tanto horizontal, quanto vertical.

Figura 3 – Mapa de Vulnerabilidade (a) da Geologia e (b) da Geomorfologia

Fonte: Elaborado pelos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


798 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares

Desse modo, em relação às declividades na bacia, destacou-se a ocorrência de áreas com


declividades entre 2 e 20%. Quanto ao modelo HAND (Height Above the Nearest Drainage –
altura acima da drenagem mais próxima), na maior parte da área, ocorrem desníveis em torno
de 10 m a valores próximos de 50 m. Para o caso do modelo gerado para as densidades de dre-
nagens, este apresentou, para toda a bacia, valores correspondentes à classe estável. Apesar
de parecerem de densidade considerável, as drenagens (mapeadas sistematicamente em
escala de 1:100.000), segundo a classificação adotada, que considera a densidade de drena-
gem sugerida por Florenzano (2008), gerou valores associados a baixos graus de vulnerabili-
dade. Assim, visualizando-se o modelo de densidade de drenagens, em específico, observou-se
que o parâmetro provavelmente foi subestimado em relação à realidade da área.
O grau de vulnerabilidade dos solos (Figura 4a) adotado para a área corresponde aos: (a)
solos encontrados em porções do norte e oeste da bacia, mais desenvolvidos, profundos e com
alta permeabilidade, do tipo Latossolo (1,0), classificado como estável; (b) solos do tipo Argissolo
(2,0), classificados em medianamente estável/vulnerável, por serem de profundidades inter-
mediárias e possuírem condições também intermediárias quanto à drenagem, tendo em vista
a vulnerabilidade à perda de solos; e (c) dos solos do tipo Cambissolo (2.5) e Neossolo Litólico
(3.0), que são solos rasos e pouco desenvolvidos, com destaque ao menor desenvolvimento
deste último, foram os correspondentes aos maiores graus de vulnerabilidade.
Já em relação ao uso e cobertura do solo do ano de 2019 (Figura 4b) analisou-se que
maior destaque, em proporção às classes, foi dado às áreas onde houve remoção e substitui-
ção da cobertura vegetal original por culturas temporárias (soja e cana), por floresta plantada,
por pastagens e por áreas urbanas, configurando o predomínio na área do grau 3,0 de vulnera-
bilidade. Para o tema clima (C), como descrito, a bacia toda foi classificada como moderada-
mente estável (TAVARES, 2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS 799

Figura 4 – Mapa de Vulnerabilidade (a) dos Solos e (b) do Uso e Cobertura do Solo de 2019

Fonte: Elaborado pelos autores.

Desse modo, o mapa de vulnerabilidade ambiental à perda de solos da bacia hidrográfica


do rio do Peixe (Figura 5), permite a observação de como ocorrem os respectivos graus de vul-
nerabilidade. Segundo Olímpio e Zanella (2012), a vulnerabilidade ambiental aponta o grau de
suscetibilidade do ambiente a situações de degradação ambiental. Assim, a bacia foi classifi-
cada como: moderadamente estável, medianamente estável/vulnerável e moderadamente
vulnerável, cujos tamanhos das áreas em porcentagem são apresentados na Tabela 1. As áreas
estáveis ou vulneráveis apresentaram-se, relativamente, em ínfimas porções. Além disso, a
intensidade pluviométrica das regiões intertropicais, na qual se encontra a bacia, pode ser pen-
sada como o agente ativo. Logo, uma vez que foi adotado um único valor, o grau de vulnerabi-
lidade foi acrescido desse valor para toda área.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


800 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares

Figura 5 – Mapa de Vulnerabilidade ambiental à perda de solos da bacia hidrográfica do rio do Peixe

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tabela 1 – Grau de Vulnerabilidade Ambiental na bacia do rio do Peixe

Grau de vulnerabilidade Média Área (km²) Área (%)

1.2 0,06
Estável 0,04
1.3 2,00

1.4 0,06

1.5 2,00
Moderadamente Estável 13,96
1.6 16,53

1.7 242,37

1.8 366,29

1.9 85,80
Medianamente Estável/Vulnerável 69,39
2.0 524,33

2.1 1616,79

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS 801

Grau de vulnerabilidade Média Área (km²) Área (%)

2.2 348,18

2.3 236,02

2.4 808,69
Moderadamente Vulnerável 16,61
2.5 770,34

2.6 70,62
Fonte: Adaptado de Crepani et al. (2001).

Desse modo, a classe moderadamente estável (1.4 – 1.5 – 1.6 – 1.7), encontrada em por-
ções do norte e sudoeste correspondeu (a) a relevos do tipo Planaltos e amplitudes altimétri-
cas entre 20 e 50 m; (b) à geologia classificada como moderadamente vulnerável, com rochas
da Formação Furnas (arenito); (c) aos solos do tipo Latossolo (1.0), classificados como tendo
grau estável; e (d) ao uso da terra, na maior parte, por pastagens e agricultura (3,0).
Destacam-se as áreas moderadamente vulneráveis (2.3 a 2.6), em porções do médio
noroeste, do leste, do sul e do sudoeste da bacia, com (a) relevo de baixa altitude (Domínios de
Colinas Amplas e Suaves com declividade baixa e amplitudes altimétricas de 20 a 50 m); (b) for-
mações geológicas do grupo Aquidauana (arenito, diamictito, folhelho, siltito) (2.5); Ponta
Grossa (folhelho, arenito fino, pelito) (2.7); e Serra Geral (basalto, andesito, riolito, riodacito)
(1.5); bem como, com (c) solos rasos do tipo Neossolo Litólico (3.0) e Cambissolo (2.5).
A classe observada com maior predomínio na bacia correspondeu ao grau de vulnerabi-
lidade, medianamente estável/vulnerável (1.8 a 2.2). Esse grau de vulnerabilidade foi devido:
(a) à maior parte do relevo aplainado, com amplitudes altimétricas baixas; (b) à geologia classi-
ficada como moderadamente vulnerável, por causa das rochas das Formações Furnas (arenito),
Aquidauana (arenito, diamictito, folhelho, siltito), Ponta Grossa (folhelho – arenito fino, pelito),
Serra Geral (basalto – andesito, riolito, riodacito) e Vila Maria (argilito síltico, folhelho); (c) aos
solos do tipo Latossolo (1.0) e Cambissolo (2.5); acrescentando-se a esses fatores, (d) um uso e
ocupação que alcançou valores de vulnerabilidade iguais a 3.0.
Nesta análise ressalta-se, assim, que como os atrativos turísticos se situaram, levando
em conta a classificação da vulnerabilidade à perda de solos, em ambientes medianamente
estável/vulnerável, estando por isso sujeitos à ação de agentes erosivos hídricos, os processos
podem ser intensificados, caso não seja observada essa condição. Destaca-se também que
esta análise realizada pode ainda ter a ocorrência em área de graus de vulnerabilidade mais
altos, tendo em vista que os valores de dissecação horizontal podem ter sido subestimados.
Além disso, o conhecimento das vulnerabilidades de um ambiente é de grande importância,
mas inicialmente é necessário um planejamento racional do uso adequado da terra, a partir de
seu potencial (MACHADO et al., 2017). Ademais, destaca-se igualmente a necessidade da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


802 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares

validação em campo dessas condições, o que não foi possível no atual contexto em que se
encontra o país, ainda em isolamento social.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica do rio do Peixe foi classificada como medianamente estável/vulne-
rável, tendo interferência direta da remoção e substituição da cobertura vegetal. A retirada da
vegetação original e sua substituição por coberturas antrópicas aumentou a exposição do solo
às gotas de chuva e ao escoamento superficial, reduziu a capacidade de infiltração dessa água
no solo e intensificando a ação do fluxo superficial laminar e ou concentrado. Como Crepani et
al. (2001) afirmam, cria-se um ambiente ideal entre disponibilidade de energia potencial e
capacidade erosiva (morfogênese). De certo, os fatores geomorfológicos e a intensidade plu-
viométrica, desempenham papel fundamental. Assim, sugere-se para a área, a realização de
procedimentos outros, por meio de modelagens, que resultem em classificações do grau de
vulnerabilidade, relativamente mais próximas à realidade.
Logo, do que foi aqui analisado, é evidente que práticas conservacionistas, precisam ser
adotadas, em áreas cujos graus de vulnerabilidade à perda de solos foram observados com
valores consideráveis. O conhecimento das vulnerabilidades da referida bacia mostrou a neces-
sidade de se ser realizado o planejamento do uso da terra, considerando as suas fragilidades, e
o seu potencial, de modo a prevenir e remediar futuros impactos ambientais negativos, tendo
em vista ainda a existência de atrativos turísticos em áreas classificadas como vulneráveis à
perda de solos por erosão hídrica. Esse grau de vulnerabilidade mostrou a possibilidade de
poderem ser ainda mais intensificados os processos, por causa da ação antrópica nesses locais,
relacionada às atividades turísticas, se não observadas tais condições.

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MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS 803

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


68.
MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO
DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO ANIL, SÃO LUÍS-MA

LUCIANA AMORIM SOARES1


ADILSON MATHEUS BORGES MACHADO2
LEONARDO SILVA SOARES3
WESLLEY LEANDRO MELO PEREIRA4

Resumo: O aumento da urbanização na Ilha de São Luís vem causando impactos cada vez mais evi-
dentes na dinâmica hidrográfica das bacias presentes no território. A bacia do rio Anil, em conse-
quência de sua localidade, se mostra fortemente alterada, principalmente em relação a retirada
vegetação ciliar. Os principais impactos decorrentes desse processo são: poluição e contaminação
dos mananciais, impermeabilização do solo, erosão, assoreamento, alagamentos e inundações.
Com base nisso, o presente estudo tem como objetivo compreender as mudanças nos padrões da
paisagem e a dinâmica no uso e cobertura do solo da bacia do rio Anil, durante os anos de 1999,
2010, 2020. Foram utilizadas imagens dos satélites Landsat 5, para os anos de 1999 e 2010, e
Landsat 7, para o ano de 2020. Posteriormente, as análises de uso e cobertura da terra foram feitas
utilizando o plugin Dzetsaka, algoritmo Learning no software QGIS, versão 3.16.5., para as seguin-
tes classes: água, área construída, mangue, vegetação densa e vegetação rasteira. Os resultados
obtidos demonstraram que a vegetação densa se mostrou fortemente impactada, demonstrando
os efeitos do constante espalhamento urbano, que se desenvolveu de forma descontrolada e sem
planejamento, as classes vegetação rasteira e áreas de mangue apresentaram um aumento
durante o período de análise e a área com presença de água demonstrou decréscimo, principal-
mente de 2010 para 2020. Isso posto, os resultados só afirmam a falta de monitoramento e plane-
jamento pelos órgãos responsáveis, que causam cada vez mais a degradação do meio natural.
Palavras-chave: Urbanização; Mangue; Sensoriamento Remoto; Dzetsaka
Abstract: The increase of urbanization in the Island of São Luís is causing increasingly evident
impacts on the hydrographic dynamics of the basins present in the territory. The basin of the Anil

1 Oceanógrafa da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: lucianaamorimsoares@gmail.com


2 Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA. Universidade Federal do Ceará. E-mail: adilsonbor-
ges94@gmail.com
3 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Universidade Federal do Maranhão. E-mail: leo-
nardo.soares@ufma.br
4 Graduando em Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: weslleyleandromelo@gmail.com

[ 804 ]
MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL 805

River, as a result of its location, is strongly altered, especially in relation to the removal of riparian
vegetation. The main impacts resulting from this process are: pollution and contamination of
springs, soil sealing, erosion, silting, flooding and inundation. Based on this, the present study aims
to understand the changes in landscape patterns and the dynamics of land use and land cover in
the Anil River basin during the years 1999, 2010, 2020. Images from Landsat 5 satellites were used
for the years 1999 and 2010, and Landsat 7 for the year 2020. Subsequently, land use and land
cover analyses were done using the Dzetsaka plugin, Learning algorithm in QGIS software, version
3.16.5, for the following classes: water, built-up area, mangrove, dense vegetation and understory
vegetation. The results obtained showed that the dense vegetation was strongly impacted,
demonstrating the effects of the constant urban sprawl, which developed in an uncontrolled and
unplanned way, the classes underbrush vegetation and mangrove areas showed an increase during
the period of analysis and the area with the presence of water showed a decrease, especially from
2010 to 2020. That said, the results only affirm the lack of monitoring and planning by the respon-
sible agencies, which increasingly cause the degradation of the natural environment.
Keywords: Urbanization; Mangrove; Remote sensing; Dzetsaka

1 INTRODUÇÃO
O processo de urbanização tem se tornado uma problemática ambiental cada vez mais
abordada devido aos impactos causados. Esse processo ocorre desde o início das grandes civi-
lizações, causando assim, diversas intervenções antrópicas na paisagem e na qualidade dos
recursos naturais, impactando diretamente na dinâmica dos ecossistemas existentes na região.
A falta de gestão e planejamento voltados para o uso e ocupação do solo é a maior causa da
deflagração desse processo, causando a intensificação das ações irregulares sobre o meio.
De acordo com Estêvez et al. (2011, p. 429), “ocorre a necessidade de planejamento para
que se compreenda a dinâmica e estrutura da paisagem, de forma a entender suas capacida-
des e limitações de acordo com a leitura integrada de variáveis físicas, biológicas e antrópicas”.
Além disso, a análise sobre as mudanças paisagísticas ajuda na compreensão de fatores políti-
cos, econômicos e sociais, já que os mesmos se apresentam como fatores que interagem dire-
tamente no processo de caracterização e dinâmica espacial da região (SILVA, 2015).
Com os impactos constantes no meio natural, observa-se o surgimento de problemas
envolvendo a dinâmica fluvial e pluvial, influenciando tanto a qualidade da água, quanto o
âmbito social e urbano. Bacias hidrográficas se veem cada vez mais afetadas pelo processo de
urbanização, principalmente em relação aos impactos referentes aos recursos hídricos, que
são influenciados diretamente pelos ecossistemas adjacentes. Diante disso, com a evolução da
malha urbana dentro de uma bacia, existem mais regiões com aumento de índices de áreas
degradadas, onde se pode ver a diminuição da cobertura vegetal, compactação do solo, regiões
impermeabilizadas, ou sofrendo processos erosivos causados pelo aumento do escoamento
superficial (VAEZA, 2010).
A cidade de São Luís, capital do estado Maranhão, vem sofrendo inúmeros processos
com o aumento do contingente demográfico urbano ao decorrer das décadas, fazendo com
que a mesma apresente problemas estruturais e ambientais cada vez mais expressivos. A

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


806 Luciana Amorim Soares; Adilson Matheus Borges Machado; Leonardo Silva Soares; Weslley Leandro Melo Pereira

bacia do rio Anil, em consequência de sua localidade, no centro urbano da cidade, se encon-
tra densamente ocupada. A mesma possui grandes Áreas de Preservação Permanente (APPs),
que devido à falta de monitoramento, sofrem com os impactos da ocupação indevida. (DA
CRUZ, 2020).
Bacias hidrográficas localizadas em grandes centros urbanos, tendem a sofrer ainda mais
com intervenções urbanas, dadas as necessidades populacionais da região. Como consequên-
cia do aumento da urbanização, tem-se cada vez mais áreas impermeabilizadas e mais riscos de
erosão e assoreamento do canal de drenagem. O solo é significativamente afetado, apresen-
tando problemas na infiltração e aumento no escoamento superficial, podendo causar enchen-
tes nas proximidades. A ocupação do solo influencia diretamente na qualidade dos recursos
hídricos da bacia.
Tendo em vista isso, uma abordagem que se faz necessária é o monitoramento através
de análises espaço-temporais, de forma a reconhecer as modificações causadas na paisagem,
as características e as limitações desse ambiente e seus recursos (COELHO, 2014).
Com a necessidade de estudos sobre a dinâmica de paisagem, a utilização de Sistemas de
Informação Geográficas (SIG) e de dados de Sensoriamento Remoto se tornaram importantes
ferramentas para a caracterização desses espaços, auxiliando na elaboração de mapas temáti-
cos sobre os diferentes tipos de usos e ocupação do solo, além de oferecer a possibilidade da
analises da evolução temporal da região (DUARTE; BRITO, 2005).
O presente trabalho tem como objetivo compreender a dinâmica do uso e cobertura do
solo da bacia hidrográfica do rio Anil, no período delimitado entre os anos de 1999, 2010 e
2020, de modo a detectar mudanças nos padrões da paisagem e gerar subsídios para o delinea-
mento de estratégias de planejamento ambiental.

2 METODOLOGIA

2.1 Área de Estudo


A bacia hidrográfica do rio Anil encontra-se localizada dentro dos limites do município de
São Luís, na porção noroeste da ilha Upaon-Açu, Maranhão. Faz fronteira ao Norte com as bacias
litorâneas, a Leste com a bacia do rio Paciência, ao Sul, com a bacia do rio Bacanga, e a Oeste com
a Baía de São Marcos, onde deságua (Figura 1). Conforme De Alcântara (2004, p. 162), “suas nas-
centes estão localizadas no bairro Aurora, onde descem ao nível do mar aproximadamente 9,5
km em linha reta, o eixo direcional orientando-se de SE para NW a partir da nascente”.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL 807

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio Anil

Fonte: Os autores

A região de estudo possui apenas duas estações bem definidas, sendo elas: chuvosa, nos
meses de janeiro a julho e estiagem, nos meses de agosto a dezembro. O clima caracterizado
como equatorial quente-úmido, tendo predominância de ventos NE com uma velocidade
média de 6 m/s, temperatura média de 28°C e uma média pluviométrica de 2900 mm/ano
(ARAÚJO, 2012). De acordo com as séries históricas (2003-2019) do Instituto Brasileiro de
Meteorologia, a região possui dois períodos bem definidos, o período chuvoso que vai de
janeiro a julho, e o período de estiagem vai de agosto a dezembro.
A geologia local é caracterizada por formações litoestratigráficas do grupo Barreiras e
formações de depósitos aluvionares e coluvionares, além de depósitos de mangues (PORTELA,
2017). A vegetação característica da Ilha do Maranhão é composta por florestas secundárias e
regiões de matas baixas com intrusões de babaçu. Apresenta também áreas de cerrados e for-
mações pioneiras, além de buritizais e juçarais compondo a mata ciliar nas proximidades dos
rios (REBÊLO et al., 1999).
Os principais agentes oceanográficos que influenciam a dinâmica sedimentar e de paisa-
gem são: as ondas, as correntes costeiras, as marés e os ventos, que exercem influência signi-
ficativa local e são responsáveis pelos principais aspectos morfológicos e características

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


808 Luciana Amorim Soares; Adilson Matheus Borges Machado; Leonardo Silva Soares; Weslley Leandro Melo Pereira

ambientais, como praias, dunas, falésias, planícies de maré, pântanos de água salgada e man-
guezais (SILVA et al., 2009; CASTRO et al., 2021).

2.2 Método
A primeira etapa metodológica realizada neste trabalho foi a aquisição dos dados car-
tográficos em formato digital pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que foram utilizados para levantamento dos
dados de base para vetorização do uso e cobertura do solo da região estudada e criação dos
mapas temáticos.
As imagens para a classificação supervisionada foram obtidas por meio do Serviço
Geológico dos Estados Unidos (USGS) no endereço: http://earthexplorer.usgs.gov (USGS, 2018)
dos satélites Landsat 5 para os anos de 1999 e 2010 e Landsat 7 e 8 de 2010 a 2020.
As análises de uso e cobertura da terra foram feitas utilizando a classificação supervisio-
nada com o auxílio o plugin Dzetsaka, algoritmo Learning no software QGIS versão 3.16.5 LTR.
A ferramenta é um projeto de código aberto para processamento de imagens de satélite, onde
este pacote de algoritmos pode processar imagens ópticas, multiespectrais e hiperespectrais
de alta resolução. Para a classificação dos pixels pelo plugin é necessário selecionar polígonos
de treinamento em uma camada vetorial que representem as regiões homogêneas utilizadas
para o mapeamento (GEDE et al., 2020) (Quadro 1).
Foram utilizadas as seguintes classes de uso e cobertura: água, área construída, mangue,
vegetação densa e vegetação rasteira. Os resultados de área (km2) do mapeamento foram con-
vertidos em porcentagem, com intenção de identificar os processos de mudanças da paisagem.

Quadro 1 – Classificação das Classes de Uso da Terra

Cor Forma, Tamanho e


Classe Amostra Localização/ Contexto
(RGB543) Textura

Textura lisa, com


Próximo a regiões de
Água Cinza claro a médio. forma e tamanho
mangue.
variados.

Textura lisa a
Dentro de quadras.
Variações de tons levemente rugosa,
Presença de telhados
Área Construída de vermelho, laranja forma retangular e
em aglomerados
e cinza.
urbanos.
tamanhos variados.

Próximo ao curso Textura rugosa, com


Mangue Verde escuro d’água e vegetações tamanho e forma
baixas. variados.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL 809

Cor Forma, Tamanho e


Classe Amostra Localização/ Contexto
(RGB543) Textura

Extensa área de Textura pouco


Vegetação Verde médio a vegetação com pouca rugosa, com tama-
Densa verde escuro. ou nenhuma presença nho e forma
de telhados próximos. variados.

Verde claro a verde Dentro de quadras ou Textura lisa a pouca


Vegetação
médio com tons de áreas preservadas atrás rugosa, forma e
Rasteira
marrom. dos mangues. tamanhos variados.

Fonte: Os autores.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se na Tabela 1 e na Figura 2, os resultados referentes à bacia do rio Anil e ao seu
desenvolvimento de acordo com a linha temporal analisada.

Tabela 1 – Área (km2) do uso/cobertura da terra da bacia hidrográfica do rio Anil em 1999, 2010 e
2020

Bacia Hidrográfica do Rio Anil (km2)


Classes
1999 % 2010 % 2020 %
Água 3,21 7,20 3,56 7,98 1,57 3,52
Área Construída 21,51 48,23 25,02 56,10 27,65 62,00
Mangue 4,38 9,82 4,28 9,60 7,79 17,47
Vegetação Densa 14,65 32,85 9,13 20,47 3,76 8,43
Vegetação Rasteira 0,84 1,90 2,6 5,83 3,83 8,59
Área Total 44,59 100 44,59 100 44,59 100
Fonte: Os autores.

No ano de 1999, a porcentagem referente a área urbana e vegetação densa foram as


maiores do período, ocupando em todo o território da bacia 48,23% (21,51 km2) e 32,85%
(14,65 km2) respectivamente, ainda apresentando menor porcentagem para a área de vegeta-
ção rasteira, com 1,90%. Para os anos seguintes, observa-se o constante espalhamento urbano
na região e a diminuição da classe de vegetação densa, que no ano de 2020, apresentou cober-
tura total de 8,43% (3,76 km2) do território. Ademais, a vegetação de mangue e rasteira apre-
sentam aumento durante o período de análise (Figura 2).
A evolução da malha urbana é fortemente influenciada pela localização da bacia, a
mesma possuindo grande parte do centro da cidade presente dentro dos limites, fazendo com

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


810 Luciana Amorim Soares; Adilson Matheus Borges Machado; Leonardo Silva Soares; Weslley Leandro Melo Pereira

que os bairros apresentem ótima localização e grande potencial econômico e turístico. De


acordo com Santos e Costa (2020), o aumento da ocupação urbana em São Luís começou a par-
tir do ano de 1950, com a chegada de migrantes do interior, porém, ainda apresentando cres-
cimento moderado até o ano de 1970. Contudo, com a construção da ponte em 1968, que liga
os bairros do Caratatiua e Ivar Saldanha, o espalhamento horizontal urbano se mostrou mais
evidente nos anos seguintes, favorecendo o surgimento de novos conjuntos habitacionais.
O constante crescimento urbano, no entanto, afeta diretamente os diferentes tipos de
vegetação. O decréscimo da área de vegetação densa é um reflexo característico do processo.
Durante os anos de estudo, ocorreu a ocupação de 24,42% (10,89 km2) da área pelos diferentes
tipos de uso, mas sobretudo em decorrência da urbanização, processo fortemente ocorrido na
região do alto e médio curso e na margem direita do rio.
Em virtude das alterações ocorridas na bacia, a composição original da paisagem come-
çou a ser modificada, tornando-se mais homogênea. O impacto causado pela retirada da vege-
tação, principalmente nas proximidades do corpo hídrico, traz prejuízos ambientais e sociais
diretos à região, como redução da qualidade da água, causada principalmente pela maior asso-
ciação da água com o sedimento, inundações, enchentes, alagamentos, assoreamento dos
canais de drenagem (FROTA; NAPPO, 2012), erosão e compactação do solo. Ocorre também a
diminuição do processo de evapotranspiração, que influencia na pluviosidade e consequente-
mente na disponibilidade hídrica da região. Com base nisso, observa-se que a área referente à
água na bacia, apresenta uma pequena diminuição no território total durante os anos de aná-
lise, de 3,68% (1,64 km2), sendo o resultado aparente da mudança e dos diferentes tipos de uso
do solo da região.
As áreas com presença de vegetação de mangue aumentaram 7,65% (3,41 km2) durante
o período de estudo, possuindo em 2020, uma área equivalente a 7,79 km2, ocupando 17, 47%
do território. O espalhamento dessa vegetação se deu próximo aos rios, constituindo a mata
ciliar predominante desse ecossistema.
Nota-se, contudo, que as regiões do alto e médio curso apresentam cada vez menos a
presença da mata ciliar, impactada pela alta da urbanização. Ressalta-se que matas de galeria
são protegidas por lei, sendo caracterizadas como Áreas de Preservação Permanente (APP). De
acordo com a Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012, presente no Código Florestal, Área de
Preservação Permanente (APP) é uma “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica
e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-
-estar das populações humanas”. Sobre a pena por danificar ou destruir esse tipo de ecossis-
tema, a Lei nº 9.605/98, institui “pena de detenção de um a três anos, ou multa, ou ambas as
penas cumulativamente. Elucida-se que se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade”.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL 811

Figura 2 – Mapa dos diferentes tipos de uso e cobertura da bacia hidrográfica do rio Anil

Fonte: Os autores.

A vegetação rasteira apresenta uma alta de 6,7% (2,98 km2) entre os anos de 1999 e
2020. Isso ocorre em decorrência das mudanças no uso do solo, geralmente ocorridas em regi-
ões onde antes prevaleciam vegetação densa ou de mangue que sofre a modificação em vir-
tude das construções urbanas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


812 Luciana Amorim Soares; Adilson Matheus Borges Machado; Leonardo Silva Soares; Weslley Leandro Melo Pereira

Ademais, ressalta-se que pode ocorrer confusão espectral devido a grande escala uti-
lizada no mapeamento, possibilitando a existência de erros suaves devido uma alteração nos
pixels da imagem, o que faz com que durante a classificação não sejam registradas pequenas
áreas ou que haja confusão com outras classes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o constante aumento da urbanização, a vegetação da região da bacia do rio Anil se
mostra impactada, em especial a arbustiva (densa), que sofreu uma diminuição considerável
durante os anos de análise, principalmente no alto e médio curso. A alteração dos diferentes
parâmetros apresenta ligação direta com a retirada da vegetação densa, como o aumento da
porcentagem de vegetação rasteira e mangue e a diminuição da área com presença de água,
que demonstram a alteração na paisagem pelos diferentes usos do solo.
Os resultados do mapeamento demonstram que o processo contínuo da urbanização na
região, vem deixando cada vez mais evidente a degradação do ambiente. O poder público
apresenta um trabalho ineficaz para o gerenciamento da bacia do rio Anil, assim como a pró-
pria população, que não demonstra conhecimento sobre os impactos ambientais causados na
ocupação irregular do território.
O presente trabalho, serve como subsídio para criação e implantação de políticas públi-
cas direcionadas a bacia hidrográfica do rio Anil. É necessária criação de medidas que visem a
mitigação dos impactos ocorrentes para controle dos processos de desmatamento, proteção
dos recursos hídricos e melhoria urbana, garantindo melhor qualidade social e ambiental.

5 REFERÊNCIAS
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MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL 813

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


69.
PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ
Revisão teórico-metodológica dos processos de
geomorfogênese e conectividade fluvial

ALISSON RODRIGUES SANTORI1


JOSÉ CÂNDIDO STEVAUX2

Resumo: O regime hidrológico no Alto Curso do Rio Paraná é intensamente controlado pela ope-
ração das barragens ao longo de seu curso principal e afluentes. A oferta de recargas das chuvas é
limitada à sazonalidade das regiões sudeste e centro-oeste. A vazão média para uma série de anos
na estação de Porto São José (PR) foi de 9.000 m³/s (1964 a 2012). A revisão discutida neste estudo
busca reflertir sobre parte da evolução e construção morfológica e da conectividade fluvial ao
longo de uma área de aproximadamente 100km² na planície aluvial na margem direita do Rio
Paraná, a partir da barragem de Porto Primavera (UHE Eng. Sérgio Motta) e em suas ilhas do canal
central até a confluência com o rio Ivaí. O objetivo desta revisão é determinar e compreender a
atuação das variáveis hidromorfológicas e o pulso de inundação, reproduzido dentro dos controles
que o sistema fluvial do Alto Paraná tem sofrido nas últimas décadas. As modificações no padrão
e dinâmica do canal principal produziram uma planície fluvial com variadas unidades morfológicas
e vegetais. A variabilidade anual do ciclo hidrológico e a inundação nesta área provocam uma
inter-relação entre elementos dependentes e o meio que ocorrem. Espera-se que este trabalho
ajude na compreensão da estrutura funcional da planície, da dinâmica de trocas de sedimentos
entre sistemas de canais e a planície, e nas relações de conectividade canal-planície na manuten-
ção de ambientes heterogêneos em diferentes épocas do ciclo hidrológico na área.
Palavras-chave: Geomorfologia Fluvial; Pulso de Inundação; Regime Fluvial.
Abstract: The hydrological regime is not the Upper Course of the Paraná River and is intensely con-
trolled by the operation of barragens over the course of its main course and tributaries. A supply
of recharges of rain is limited to the seasons of the southeast and central-west regions. Average
time for a series of years at the Porto São José (PR) station was 9,000 m³ / s (1964 to 2012). The
revision discussed in this study seeks to reflect on part of the evolution and morphological cons-
truction and of the fluvial connectivity over an area of ​​approximately 100km² in the alluvial plain
on the direct bank of the Paraná River, from the Porto Primavera barrage (UHE Eng. Sérgio Motta)
It is located in the central canal at the confluence of the Ivaí river. The objective of this review is to

1 CPTL/UFMS. E-mail: rodriguessantori@hotmail.com


2 CPTL/UFMS. E-mail: josecstevaux@gmail.com

[ 814 ]
PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ 815

determine and understand the hydromorphological variations and the flood pulse, reproduced
within two controls that the Alto Paraná river system has experienced in recent decades. As modi-
fications do not pattern and dynamics of the main channel produce a fluvial plain with various
morphological units and vegetation. The annual variability of the hydrological cycle and the floo-
ding in this area causes an inter-relationship between dependent elements and or less than that.
It is hoped that this work will contribute to the understanding of the functional structure of the
flat, the dynamics of sediment trailers between the canal systems and the plain, and the channel-
-plan connectivity relationships in the maintenance of heterogeneous environments at different
times of the hydrological cycle in the area.
Keywords: Fluvial Geomorphology; Flood Pulse; River Regime.

1 INTRODUÇÃO
Este estudo é uma contribuição para a análise do funcionamento da planície aluvial e da
dinâmica de interação deste ambiente com as mudanças do canal principal do Rio Paraná.
A proeminente planície aluvial presente na margem direita (Mato Grosso do Sul) e em
diferentes ilhas do canal, estabeleceu-se como recorte para análise da força de influência do
regime do rio e aos processos deste local, associado as características com maior adaptação
sazonal em períodos de cheia e vazante.
A abordagem deste estudo parte do princípio da conectividade. Busca a análise sobre as
respostas estruturais e funcionais do sistema rio-planície, e sobre as mudanças nas variáveis
que regulam as unidades. Justifica-se a análise deste recorte, pela existência de um ambiente
morfologicamente antigo e pela presente atuação de novos processos (STEVAUX, 1994; 2000;
SOUZA FILHO; STEVAUX, 1997; STEVAUX; SOUZA, 2004). A conectividade está relacionada a
forma de interação entre componentes dependentes, seu aumento é baseado na relação entre
as fases terrestre e aquática promovendo união entre corpos d’água e trocas de organismos
entre habitas. Esta ação promove ligações periódicas entre componentes e o processo de res-
posta das variáveis (JUNK et al., 1989; STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).
Partindo deste princípio, as mudanças no regime de rios de médio e grande porte, como
no caso do Rio Paraná, produzem determinadas formas de controle em variáveis no regime
hidrológico, e assimilam diferentes processos de interação da água, sedimentos e organismos
de acordo com graus de conectividade entre ambientes (MORAIS; AQUINO; LATRUBESSE, 2008;
STEVAUX; MARTINS; MEURER, 2009).
O trabalho apresentado oferta uma reflexão sobre a dinâmica e o padrão existente nas
várzeas do Alto Paraná. A existência da conectividade ocorre pela relação do pulso de inunda-
ção (ou regime) e as variáveis dependentes do sistema. As consequências desta relação são
produzidas em elementos da planície que são influenciados pela pulsação da descarga do rio,
tais como a vegetação ribeirinha, as lagoas e canais secundários (STEVAUX; CORRADINI;
AQUINO, 2013; MARCHETTI et al., 2013).
Os resultados apresentados são questões norteadoras para discutir as características dos
processos morfodinâmicos no Alto Rio Paraná. Aqui estão relacionados um conjunto de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


816 Alisson Rodrigues Santori; José Cândido Stevaux

relevantes trabalhos aplicados ao longo de 30 décadas sobre este escopo. Assim, é apresen-
tada uma revisão sobre a dinâmica do pulso de inundação e suas relações hidrossedimentares
e morfológicas na estruturação e funcionamento da planície de inundação do Alto Rio Paraná.

2. REVISÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
A área de estudo estende-se por cerca de 100km² em áreas de planície aluvial de mar-
gem e do canal, desde a UHE Eng. Sergio Motta – Porto Primavera (lat. 22° 46’ 45’’ – long. 52°
69’ 38’’ GMS, e lat. 75155100.0 – long. 300000.0 UTM) até à foz do rio Ivaí (lat. 23° 24’ 78’’ –
long. 53° 71’ 82’’ GMS, e lat. 7425100.0 – long. 225000.0 UTM) (Fig. 1).
Este artigo apresenta uma breve revisão baseada na literatura e em dados inéditos sobre
a relação entre os sistemas fluviais e os elementos de conectividade fluvial na área de estudo
e em outros recortes exemplares. São referenciados estudos sobre origem, forma e evolução
geomorfológica fluvial de planícies de inundação (STEVAUX, 2000; STEVAUX; SOUZA, 2004;
DUNNE & AALTO, 2013; STEVAUX; LATRUBESSE, 2017), estudos relativos a geomorfogênese,
geologia e sedimentologia (STEVAUX, 1994; SOUZA FILHO; STEVAUX, 1997; AMSLER; DRAGO;
PAIRA, 2007), a importância funcional do pulso de inundação e outros elementos de conectivi-
dade (JUNK et al., 1989; STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013), estudos relacionados aos regi-
mes hidrológicos e aspectos hidrodinâmicos (ROCHA, 2009; STEVAUX; MARTINS; MEURER,
2009). Estudos direcionados à determinação da relação entre as estruturas e a arquitetura geo-
morfológica com a diferenciação florística da planície (CORRADINI; STEVAUX; FACHINI, 2008;
MORAIS; AQUINO; LATRUBESSE, 2008; MARCHETTI et al., 2013). Nesta revisão buscou-se rela-
cionar os conceitos apresentados pelos vários autores consultados com a atual dinâmica e
regime fluvial do Alto Rio Paraná.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ 817

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo

Fonte: Elaborado pelos autores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


818 Alisson Rodrigues Santori; José Cândido Stevaux

2.1 Alto Rio Paraná: Processos morfológicos e geomorfogênese


O Alto Rio Paraná possui padrão de canais múltiplos (anabranching) separados por barras
e ilhas vegetadas. Segundo Souza e Stevaux (2004) a planície do Alto Paraná tem aspectos de
um sistema antigo, a construção deste ambiente remete a estudos de processos hidrológicos e
sedimentares relacionados a construção da várzea.
A margem esquerda do lado do Estado do Paraná é formada por paredões de 10 a 20 m
constituídos por arenitos da Formação Caiuá (CORRADINI; STEVAUX; FACHINI, 2008). A mar-
gem direta lado do Estado de Mato Grosso do Sul é formada por depósitos aluviais areno-argi-
losos da planície de inundação do rio que se estende por 4km a 10km de largura. O relevo
regional é formado por morros e colinas suaves constituídas pelos arenitos do Grupo Bauru,
recobertos por solos e coluvios arenosos (STEVAUX, 1994).
Os processos que envolvem a estruturação morfológica da planície são descritos por
Souza e Stevaux (2004) como oriundos das mudanças hidrológicas decorridas no final do
Pleistoceno, seguidas de adaptações de menor magnitude. A atual planície de inundação come-
çou a desenvolver uma nova condição hidrológica desencadeada ao início do Holoceno
(STEVAUX, 2000).
A geologia do trecho estudado é uma unidade de depósitos com sedimentos coluviais,
eólicos e aluviais quaternários (SOUZA; STEVAUX, 2004). As influências do antigo sistema que
atuou na área construíram paleoformas (paleocanais, paleodiques e paleoilhas) que indicam
um padrão antigo diferente para o Rio Paraná. Segundo Souza e Stevaux (2004) os principais
ambientes de planície são a planície do rio Baía, planície de inundação alta, planície do rio
Paraná e diques naturais.
Segundo o estudo de planícies de grandes rios de Dunne e Aalto (2013), as várzeas do
Holoceno implicam alguns fatores de complexidade estrutural. As planícies desenvolvidas
neste período possuem consideráveis intervalos na elevação da água e variação do processo
de inundação (cheias), padrões diferentes de reciclagem de sedimentos e na formação e fun-
cionamento do sistema rio-planície (DUNNE; AALTO, 2013). Uma planície de inundação extensa
precisa de um grande aporte nas quantidades de material fornecidos pela bacia hidrográfica,
as várzeas armazenam os sedimentos que são transportados pelo canal principal e afluentes
(DUNNE; AALTO, 2013).
Segundo Souza e Stevaux (2004) pouco mais da metade da área da planície aluvial do
Alto Paraná é ocupada com ambientes de recepção e acumulo ativo de sedimentos (lagoas,
pântanos, paleocanais). A dinâmica destas áreas está ligada ao volume de sedimentos nestes
depósitos e a taxa de sedimentação gerada nos eventos de cheia (SOUZA; STEVAUX, 2004).
A evolução climática quaternária do Alto Rio Paraná foi estudada com grande detalha-
mento por Stevaux (1994). O autor destaca uma conexão complexa envolvendo canais secun-
dários da várzea, definindo a área como uma típica planície aluvial sinuosa e anastomosada
(STEVAUX, 1994). A planície de inundação do Alto Rio Paraná está condicionada sob formas de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ 819

um sistema anastomosado antigo, redes de canais secundários ativos e inativos, lagoas de


variados tamanhos, áreas mais elevadas ou rebaixadas (baixios), pântanos com predominância
de água em longos períodos do ano e diques naturais mais elevados nas margens do canal prin-
cipal e de canais secundários ou paleocanais (STEVAUX, 1994).
Trata-se, portanto, de um ambiente relativamente plano com algumas variações topo-
gráficas e alguns ambientes distintos em morfologia e altimetria (SOUZA FILHO; STEVAUX,
1997). Segundo Stevaux (1994), os eventos de cheias normais transferem água de forma calma
e gradual para a planície pelo transbordamento dos canais abandonados e sobre o dique natu-
ral que se estende por vários quilômetros na margem direita. Os sedimentos e a sua quanti-
dade são alternados dentro do canal, através dos processos de erosão e deposição. No caso da
planície a deposição de sedimentos é feita em períodos de inundação acima da altura média do
rio (STEVAUX, 1994).
O sistema de ilhas fluviais no Alto Rio Paraná também está agregado ao conceito e a uni-
dade de planície de inundação. As ilhas do canal principal possuem estrutura e características
semelhantes aos compartimentos da planície (CORRADINI; STEVAUX; FACHINI, 2008). Na maior
parte dos casos, as ilhas existentes no canal são constituídas da movimentação do material do
leito em eventos de maior vazão, e produzem formas (barras, dunas, bancos e ondas de areia). As
barras podem fixar-se e se desenvolver com estágios pioneiros de vegetação em períodos de rio
mais baixo estas formas se agregam e são continuamente alteradas (STEVAUX, 1994; 1999).
Os canais são elementos de vital importância na dinâmica de trocas de energia e material
no sistema rio-planície (conectividade). Os canais secundários ativos (Baía, Curutuba e Ivinhema
– ver figura 1) e inativos funcionam como vias de transporte de sedimentos para a planície e
trabalham na deposição deste material em diferentes unidades morfo-vegetacionais (SOUZA
FILHO; STEVAUX, 1997; STEVAUX; SOUZA, 2004).
Em períodos de grande vazão, a carga de sedimentos avança pela várzea e ocupa pri-
meiro as áreas mais rebaixadas (lagos e canais abandonados). As diferenças de deposição entre
o material fino e grosso são afetadas pela dinâmica das áreas de sedimentação ativa dos
ambientes lênticos do Rio Paraná (AMSLER; DRAGO; PAIRA, 2013). Assim como no Alto Paraná,
as várzeas do Araguaia também abrigam sedimentos holocênicos, possuem ambientes lacus-
tre, áreas de pântanos, paleoformas, canais secundários, barras e ilhas em processo de acres-
ção e diferença entre ambientes ativos e inativos (MORAIS; AQUINO; LATRUBESSE, 2008).

2.2 Conectividade fluvial: Planície e pulso de inundação.


A planície aluvial é um ambiente complexo que possui diferentes comunidades bióticas e
unidades geomorfológicas. Segundo a dinâmica apontada por Junk et al. (1989) o rio e a planí-
cie possuem ligações inseparáveis entre água e sedimentos, transformando esses dependentes
em uma unidade, um sistema integrado e conectado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


820 Alisson Rodrigues Santori; José Cândido Stevaux

Neste recorte ocorre uma relação de trocas entre as características de ambientes lóticos
e lênticos. Segundo descrevem Stevaux e Latrubesse (2017) a conectividade é um estágio que
pode ser atingido pelo sistema rio-planície e os diferentes graus de dependência entre as variá-
veis é o fator que regula este estágio. A conectividade fluvial consiste em uma interação físico-
-química entre ambientes de várzea, pelo aumento da vazão da água do rio exercida ao longo
do regime hidrológico (pulso de inundação) e seus parâmetros (JUNK et al., 1989).
No sistema rio-planície a vazão ecológica é um processo de grande importância, os ecos-
sistemas sempre buscam um equilíbrio natural que obedeça ao regime de outras variáveis do
ambiente em questão. No caso específico da planície aluvial, o processo definido por Junk et al.
(1989) associa a esse ambiente uma grande capacidade de amortecimento hidrológico, com
formas suavizadas e taxa de aumento mais lenta.
O pulso de inundação consiste na força e energia que produz trocas periódicas, e movi-
menta este sistema através do transporte da água (e todo material associado) para outros
ambientes das áreas próximas ao canal principal (JUNK et al., 1989). Este processo define atri-
butos de inundação diferentes em tempos e níveis distintos. O equilíbrio e as alterações no
pulso de inundação podem ser sistematizados pela observação dos dados hidrológicos, princi-
palmente pelos valores de médias mensais e anuais.
Segundo Junk et al. (1989) uma planície regularmente inundada apresenta mudanças entre
as fases terrestre e aquática, principalmente em estruturas de diferentes habitats, produzindo
inclusive habitats aquáticos sazonais. Deste modo, a conectividade se baseia na associação de
uma série de eventos, especialmente em relação a pulsos de cheia, permanência (tempo que um
determinado nível permanece no sistema), magnitude (descarga), frequência (número de vezes
que determinado nível ocorre num intervalo de tempo) e intensidade (ou tensão, diferença entre
o nível mais baixo e o nível estudado) (STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013).
Na planície fluvial do Alto Rio Paraná estes eventos foram modificados e condicionados a
interferências humanas no regime, esta situação pode alterar a produtividade do pulso de
inundação da área. Deste modo, fica claro a importância desta relação capaz de produzir uma
forte dependência das feições geomorfológicas e da biota vegetal de várzea com a hidrologia
associada ao comportamento do sistema rio-planície (STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013).
Estudos do processo de conectividade na área em questão foram apresentados sempre
considerando a análise quantitativa da “assinatura” do rio, obtida dos dados diários de vazão
em estações fluviométricas. Infelizmente, como destacam Junk et al. (1989) as sociedades
modernas modificaram gradativamente o hidrograma do rio pela utilização de sua água. Tal
fato provoca, via de regra, mudanças na vazão ecológica, e consequentes efeitos na dinâmica
da várzea podem ser sentidos na redução da vazão média e das taxas de sedimentação.
No caso da planície aluvial do Alto Paraná os eventos relacionados à conectividade têm
ligação direta com o suprimento de material sólido e dissolvido, para os processos de acresção
de material na variedade topográfica da área. (ROCHA, 2009). Nesta área são notáveis algumas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ 821

variáveis como permanência e magnitude, associados a sazonalidade, e que indicam a existên-


cia e o grau de conexão hidrológica com as unidades morfológicas, seus padrões de vegetação
e sucessão ecológica associados (STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013).
Nesta revisão se considera a mudança provocada pelo barramento do fluxo regular do
Rio Paraná. A presença das unidades hidroelétricas no Alto Paraná influenciou no regime de
fluxo e nas características geomorfológicas e ecológicas do alcance a jusante (STEVAUX;
CORRADINI; AQUINO, 2013). “O reservatório no canal do rio produz uma série de alterações na
morfologia do leito no trecho a jusante, interferindo no suprimento de sedimentos, na veloci-
dade do fluxo e no regime de descarga” (STEVAUX; MARTINS; MEURER, 2009, p. 236).
Assim sendo, o pulso de inundação do sistema do Alto Paraná tem sido controlado, e
arroja condições diferentes e mais restritas de vazão no recorte em questão, além da alteração
em processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos, também visualizadas no atual
regime da área. Destaca-se que em períodos de grande vazão que por consequência inundam
a planície, em geral acarretam na interação direta entre a água, os sedimentos finos e grossos,
os arranjos das formas de relevo e a vegetação de cada ambiente (MARCHETTI et al., 2013).
Outra característica importante na planície do Alto Paraná é a existência de uma antiga
e complexa rede de canais ativos e inativos. Esta condição de conexão possibilita que boa parte
da área esteja alagada antes mesmo da ocorrência de cheia que ultrapasse os diques margi-
nais. Esta configuração faz com que determinadas unidades mantenham conexões com o rio
em diferentes períodos de tempo. Deste modo, a entrada de água por canais secundários em
níveis diferentes da planície induz a alimentação de energia no ambiente repondo umidade,
nutrientes e movimentando material (CORRADINI; STEVAUX; FACHINI, 2008).
Segundo relatam Stevaux, Corradini e Aquino (2013) a conectividade presente na planície
aluvial pode ser mais bem analisada, a partir do esquema de morfologias topográficas e tipos
de vegetação associados. O sistema rio-planície neste recorte depende inicialmente do com-
portamento de variáveis hidrológicas o rio funciona como a força impulsora que transporta
substâncias dissolvidas e sólidas (JUNK et al., 1989).
A força motriz que o pulso de inundação está exercendo na planície cria importantes e
periódicas interações, principalmente com dois ambientes da várzea, as lagoas conectadas ou
próximas a canais ativos e as áreas mais rebaixadas e pantanosas (baixios). Assim, este é um
exemplo do processo de forte conectividade entre a dinâmica do rio e a distribuição de carac-
terísticas de vegetação. O aumento da água nas unidades geomorfológicas de menor elevação
topográfica induz uma dinâmica muito ligada ao comportamento da variável permanência
(MARCHETTI et al., 2013).
Deste modo, se entende que o regime e comportamento hidrológico do Rio Paraná em
seu curso ainda livre produz um efeito na inundação das várzeas e controla o desenvolvimento
das comunidades de plantas e da estrutura morfológica.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


822 Alisson Rodrigues Santori; José Cândido Stevaux

3 DISCUSSÃO
Este estudo apresentou um breve relato dos conceitos e processos que envolvem a
construção da planície aluvial do Alto Rio Paraná. Nesta breve revisão, buscaram-se cami-
nhos para compreender parte da estrutura e funcionamento da planície de inundação de um
rio tropical, sob seus aspectos morfodinâmicos e hidrodinâmicos e as consequências de inte-
ração deste sistema.
A discussão apresentada obteve como resultado algumas questões norteadoras para for-
talecer a extensa base teórica, e para indicar aplicações práticas na representação do processo
de conectividade e suas relações com as caracteristicas da planície fluvial
A transformação do regime fluvial do Rio Paraná pelos barramentos está influenciando e
desequilibrando determinados atributos de inundação, o que implica em mudanças nas variá-
veis e no modo com que as unidades dependentes se desenvolvem.
Questões balizadoras fornecidas pela revisão teórico-metodológica:
• Qual a importância dos canais secundários para promoção da conectividade, deposi-
ção de sedimentos e equilíbrio hidrológico na planície?
• Em que medida o controle exercido pelo pulso de inundação está condicionando
ambientes em um processo hidrogeomórfico que produza variabilidade geomórfica
interna e complexidade na planície?
• Qual a melhor relação de variáveis e o melhor cruzamento de características para
construir e reproduzir um mapeamento das unidades morfológicas da planície, com
base em sua atividade hidrogeomorfólogica e conectividade fluvial?
Estas questões foram instigadas com base nos conceitos apresentados neste estudo, a
compreensão da relação contínua existente entre componentes do sistema em um ambiente
foi levada em consideração, e as reflexões obtidas nesta revisão devem usadas para reforçar e
dar suporte a hipótese apresentada inicialmente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os questionamentos obtidos nesta breve revisão colaboram para definir caminhos teóri-
cos-metodológicos e clarear conceitos, objetivando a avaliação da influência estrutural das pla-
nícies de inundação em rios de grande porte na América do Sul. O levantamento organizado
acerca dos processos hidrogeomorfológicos pretéritos e atuais do Alto Rio Paraná, expõe com
maiores detalhes diferentes atributos e variáveis do sistema rio-planície.
A conectividade fluvial existente neste recorte produz força motriz suficiente para possi-
bilitar trocas de sedimentos, gases, organismos e outros elementos entre ambientes de várzea.
O equilíbrio deste ambiente está regulado pelos barramentos do rio a montante o canal prin-
cipal mudou seu curso desde o período holocênico, deixando sob maior influência sazonal, e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ 823

ainda mais proeminente a atual planície de inundação com toda sua variedade topográfica,
espacial e biótica.

5 AGRADECIMENTOS
Apoio financeira da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior
(CAPES), da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado
de Mato Grosso do Sul (FUNDECT) e colaboração do Programa de Pós-graduação em Geografia
(PPGGEO) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (CPTL/UFMS).

6 REFERÊNCIAS
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STEVAUX, J. C.; LATRUBESSE, E. M. Geomorfologia fluvial. Oficina de Textos, 2017.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


70. POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM
DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA
Uma análise da poluição e contaminação das águas
superficiais

WELLINGTON ROOZEVELT DA SILVA FERREIRA1


MICHELLE MENDONÇA DE AGUIAR OLIVEIRA2
ALEXSANDRO ANDRADE DE OLIVEIRA3
MARIA DA GLÓRIA GONÇALVES DE MELO4

Resumo: O bairro do Puraquequara é um dos distritos mais antigos da cidade de Manaus. A área
do Puraquequara é fundamental para o estado do Amazonas, nela situa-se uma indústria que cola-
bora para o desenvolvimento econômico e social da região. Dessa forma, o objetivo do presente
trabalho foi analisar e identificar os impactos ambientais que estão ocorrendo no Rio Puraquequara
(a margem direita da Bacia do Puraquequara). Para tanto utilizou-se a coleta de dados in loco no
período de 2017 a 2020, bem como um levantamento sobre o uso, ocupação e contaminação da
água em distintos pontos ao longo da extensão da bacia do Puraquequara. A análise dos dados
permitiu detectar diferentes pontos que estão sendo degradados por uso das ocupações tanto
regulares como irregulares que estão espalhadas por toda a área da bacia. Dessa forma, uma
medida que pode ser desenvolvida na região para o controle da poluição e contaminação é se
aprofundar nas principais atividades que estão causando a degradação no meio ambiente, e nos
agentes poluidores, desenvolver palestras com a comunidade com o objetivo de educá-los para
que reflitam sobre as consequências, como exemplo, o aumento do impacto negativo no meio
ambiente do Puraquequara nas suas atividades do cotidiano.
Palavras-chave: Puraquequara; Economia; Degradação.
Abstract: The neighborhood of Puraquequara, one of the oldest districts of the city of Manaus.
The Puraquequara area is essential to the state of Amazonas, where there is an industry that con-
tributes to the economic and social development of the region. Thus, the objective of this work
was to analyze and identify the environmental impacts that are occurring in the Puraquequara
River (the right bank of the Puraquequara Basin). To this end, we used in loco data collection from
2017 to 2020, as well as a survey on the use, occupation, and contamination of the water at differ-
ent points along the length of the Puraquequara basin. The analysis of the data allowed the

1 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: wellington.roozevelt@gmail.com


2 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: mmdao.mgr21@uea.edu.br
3 Universidade Federal de Viçosa. E-mail: alexsandro.andrade@ufv.br
4 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: mgmelo@uea.edu.br

[ 824 ]
POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA 825

detection of different points that are being degraded by the use of both regular and irregular occu-
pations that are spread throughout the basin area. Thus, a measure that can be developed in the
region for the control of pollution and contamination is to delve into the main activities that are
causing environmental degradation, and the polluting agents, develop lectures with the commu-
nity with the aim of educating them to reflect on the consequences, as an example, the increase
of the negative impact on the environment of Puraquequara in their daily activities.
Keywords: Puraquequara; Economy; Degradation.

1 INTRODUÇÃO
O bairro Puraquequara, é um dos distritos mais antigos da cidade de Manaus, ocupado
por uma população de aproximadamente 10 mil habitantes residindo em 23 comunidades e na
vila, que leva o seu nome, onde podem ser encontrados diferentes tipos de empresas que
desenvolvem diversas atividades.
A área do Puraquequara é fundamental para o Estado do Amazonas, nela está uma indús-
tria que corrobora com o desenvolvimento econômico e social da região. Além disso, o local
oferece um diversificado recurso natural, que contribui no fomento de renda e parte da ali-
mentação dos munícipes.
Desde sua criação o Puraquequara atrai diversos investidores ao local, na área estão
inseridas fábricas do Distrito Industrial II, no qual possui como principal comércio os frigoríficos
e estaleiros que utilizam do acesso logístico aquífero, para o escoamento de sua produção e
recebimento de insumos.
Em consequência do Puraquequara ser uma região em expansão e possuir uma área
extensa, mais investidores estão sendo atraídos para o desenvolvimento de atividades econô-
micas. Com o resultado deste potencial cenário econômico, favoreceu o surgimento de empre-
sários atuantes em diferentes ramos a exemplo de hotelaria, produção de matéria prima,
eletrodomésticos e empresas de embalagens.
No decorrer do curso do rio é possível encontrar flutuantes e embarcações no qual são
atrativos para as pessoas na prática do lazer, oferecendo restaurantes, balneários, experiências
de esporte aquáticos dentre outras atividades que geram algum tipo de renda.
Segundo Miranda (2017, p. 53) “A cidade de Manaus apresenta características naturais
abundantes, é uma das cidades brasileiras que possuem recursos hídricos em larga escala, que
são utilizadas para atividades distintas”. Ainda segunda Miranda (2017), a realidade em que se
encontra a região não parece com a que é almejada, pois, os recursos hídricos estão sendo con-
taminados e perdendo sua finalidade adequada à sociedade.
De acordo com Leite et al (2011), o impacto ambiental negativo produzido por algumas
industrias são proporcionais a relação entre a intensidade com que a mesma é praticada e a
disponibilidade de recursos naturais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


826 Wellington Roozevelt da Silva Ferreira: Michelle Mendonça de Aguiar Oliveira; Alexsandro Andrade de Oliveira

Para que se possa ocorrer o desenvolvimento local e industrial é necessário conscientizar


os usuários sobre a conservação do meio ambiente oferecendo os meios e métodos para alcan-
çar a educação ambiental.
A Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos
e estabelece que a gestão dos recursos hídricos seja descentralizada e contar com a, participa-
ção do Poder Público, dos usuários de água e das comunidades, no qual esse gerenciamento
deve ser realizado por bacia hidrográfica, sendo essa a unidade territorial para implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
A gestão de bacias hidrográficas tem uma importante atribuição para garantir a todos os
usuários o acesso a água com a qualidade e quantidade necessária para suas necessidades,
tanto as atuais como as futuras. Isso será alcançado por meio de um gerenciamento deste
recurso, de forma que assegure o equilibro entre os inúmeros usos da água da bacia.
Promovendo a execução de distintos mecanismos de regulação, e instrumentos de gestão para
que possa ocorrer uma gestão na qual sua principal missão é a proteção das bacias Hidrográficas.
No Puraquequara mesmo o comitê de Bacia hidrográfica não estando em funcionamento
é notável a ação que os moradores realizam na área para a promoção de mutirões de limpeza
para recolher resíduos no local. Segundo Gonçalves, Zuffo e Goveia (2019), “grande parte dos
CBHs atualmente em funcionamento não tem sustentabilidade financeira, carecem de apoio polí-
tico e de capacitação para que seus membros possam efetivar sua representação a contento. ”
Neste mesmo contexto com as dificuldades técnicas, financeiras e sem a CBH do
Puraquequara, os moradores tomam atitudes para que a bacia não seja degrada e para que
possa manter sua preservação, contudo, sem o apoio necessário, o cenário para a bacia do
Puraquequara é como muitas outras na cidade de Manaus que foram degradas.
Portanto, o objetivo desse estudo foi analisar e identificar os impactos ambientais que
estão ocorrendo no Rio Puraquequara (a margem direita da Bacia do Puraquequara), identifi-
cando os principais agentes causadores desses impactos, e também os benefícios que estas
atividades estão originando para a região.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O estudo foi realizado na Bacia do Puraquequara, situada na Zona Leste, Manaus, locali-
zada à margem direita do Rio Negro. Considerada uma área de proteção ambiental, em pro-
cesso de estabelecimento pela Lei n° 671/2002 que instituiu o Plano Diretor Urbano e Ambiental
na cidade de Manaus que abrange toda a bacia, incluindo as áreas de transição (ESCOBAR,
2016). As margens do Lago Puraquequara apresentam grande atrativo turístico e industriário.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA 827

O tipo de clima predominante é quente e úmido, conforme classificação proposta por


Wladimir Köppen. As temperaturas médias anuais são elevadas, com média de 26ºC, permane-
cendo relativamente constante ao longo do ano e o índice pluviométrico médio anual é de
2.300 mm (ESCOBAR, 2016; MIRANDA, 2017).
A vegetação predominante na região é do tipo Floresta Ombrófila Densa, no seu estágio
inicial com sucessão secundária, área de Ecótono e Floresta de Campinarana, assim como
Florestas de Igapó. A cobertura vegetal é de floresta tropical, quase que totalmente preser-
vada, principalmente na margem esquerda onde a presença do exército impediu a ocorrência
de ações antrópicas, entretanto, a margem direita já conta com presença humana em sítios,
balneários e indústrias ao longo das drenagens (ESCOBAR, 2016; MIRANDA, 2017).
Os dados foram coletados no período de 2017 a 2020, a catalogação dos pontos foi
demarcada utilizando GPS e os dados compilados em planilha de campo. Durante as visitas
também foram coletadas informações com moradores e trabalhadores que utilizam a área da
bacia hidrográfica.
A identificação e o levantamento do uso, ocupação e contaminação das águas superfi-
ciais e degradação do meio ambiente, foram realizados por meio de levantamento de atividade
de campo, no qual foram feitos registros fotográficos de como são utilizadas as águas da área
de estudo, bem como, identificados sinais do processo de degradação relacionados às diferen-
tes atividades e ocupações que foram catalogados na região.
A pesquisa é qualitativa, pois, oferece abordagens que possibilitam realizar a pesquisa
como: pesquisa documental e de caso. De acordo com Godoy (p.20, 1995), “a pesquisa qualita-
tiva ocupa um reconhecido, lugar entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que
envolvem os, seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos
ambientes.”

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na margem direita do Rio Puraquequara é possível encontrar diferentes tipos de
empreendimentos que atuam no desenvolvimento de atividades econômicas. As margens dos
rios, geralmente, são utilizadas para gerar renda devido a facilidade na obtenção dos recursos
naturais, estabelecendo uma nova relação entre homem-natureza, onde está priorizado o
fator socioeconômico (CHUEH; SANTOS, 2005).
O quadro 01 mostra os diferentes tipos de ocupações que foram catalogadas e analisa-
das no qual utilizam de alguma maneira o leito do rio para o desenvolvimento de suas ativida-
des, tanto econômica ou para necessidades do dia-a-dia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


828 Wellington Roozevelt da Silva Ferreira: Michelle Mendonça de Aguiar Oliveira; Alexsandro Andrade de Oliveira

Quadro 1 – Atividades desenvolvidas na área

Atividades Quantidade

Frigorifico 2

Construção Naval 2

Escolas 2

Flutuantes 4

Agricultura 4

Comunidades 23

Centro espirita 1

Moradias Irregulares 71

Atividades Irregulares 2

Construção da estrada 1

Hotel 1

Criação de animais 8
Elaborado por: FERREIRA, Wellington. 2020.

Essas ocupações que foram encontradas na região do Puraquequara podem ser explica-
das pelo fato que a bacia do Bacia do Puraquequara oferece um diversificado recurso natural
favorável para diferentes práticas, que contribuem para implementação de diferentes ativida-
des socioeconômicas como, irrigação, lazer, navegação, uso doméstico, moradia, indústria, e
entre outros.
Albuquerque (2012, p. 204), menciona que “[...] a disponibilidade da água, enquanto
recurso propicia a ocupação da bacia hidrográfica praticamente por toda a extensão territorial,
fato que em geral, se define por taxas de densidade elevada”. As atividades que ocorrem na
margem direita do Puraquequara utilizam uma grande quantidade de recursos hídricos para o
seu desenvolvimento e no decorrer dos anos deterioraram o meio ambiente, e modificam a
paisagem local.
Determinadas ocupações nas margens do Lago Puraquequara geram algum tipo de risco
ao meio ambiente, visto que, degradam o solo, poluem as águas superficiais e a flora local. Este
problema no qual ocorre com o meio ambiente é por parte responsabilidade das atividades.
Ainda que a prática esteja sendo desenvolvida com todo o respaldo e cuidado. Apesar disso
ocorre uma negligencia em relação aos seus resíduos, pois é possível encontrar algum tipo de
resquícios em diferentes partes da bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA 829

Um exemplo de atividade econômica que é desenvolvida na margem do lago Puraquequara


é a construção naval, que embora seja uma atividade regulamentada pelos órgãos públicos, os
responsáveis deixam a desejar em relação a manutenção da área da produção das atividades,
como mostra a figura 1, no qual é possível observar acúmulos de lixo no local. Segundo Araújo,
Canezin e Santos (2013, p. 142), “[...] no momento em que são descartados no meio ambiente
de forma errada, são capazes de causar danos irreversíveis como a contaminação do solo e len-
çóis freáticos”.
Os materiais que os estaleiros utilizam na construção ou conserto das embarcações
podem ser encontrados em pontos das margens, por diferentes motivos, como o mau trata-
mento dos resíduos que deveriam ser descartados com maior segurança, as pessoas que cole-
tam os restos dos materiais para utilizarem nas suas residências ou venderem. No processo de
manuseio dos materiais os mesmos acabam caindo na água por descuido dos trabalhadores.

Figura 1 – Poluição por resíduos metálicos

Fonte: FERREIRA, Wellington, 2020.

Nas proximidades do local no qual se localiza os estaleiros, é possível observar óleo des-
pejado, no qual ocasiona na contaminação da água e tornando o seu uso inapropriado para
atividades domésticas ou atividades recreativas, pois, algumas famílias alojaram-se próximo ao
leito do rio, e utilizam de encanações clandestinas para a usufruir desta água, visto que as
moradias irregulares não possuem o tratamento ou saneamento básico, ou seja, utilizam dessa
água para suas necessidades básicas, colocando sua saúde em risco, assim sendo expostas as
doenças provenientes da contaminação das águas.
As moradias inseridas irregularmente nas margens da bacia estão se tornando um pro-
blema, devido ao seu crescimento desordenado os órgãos responsáveis não conseguem con-
trolar esse aumento e ocasiona na inexistência do saneamento básico. Provocando diferentes
situações como: a utilização da água contaminada, despejo dos resíduos doméstico na mata,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


830 Wellington Roozevelt da Silva Ferreira: Michelle Mendonça de Aguiar Oliveira; Alexsandro Andrade de Oliveira

despejo dos dejetos no rio. A figura 2 mostra uma área com lixo doméstico e industrial na
vegetação local.

Figura 2 – Poluição do solo

Fonte – FERREIRA, Wellington. 2020.

Em todos os pontos catalogados na pesquisa foram encontrados alguma forma de lixo e


eventualmente em período da cheia ou de chuvas intensas esses resíduos são levados para
bacia, assim contribuindo para a contaminação da água. Resíduos como garrafas pets, sacolas
plásticas são encontradas por todo o trecho da bacia, esses objetos como já estudados demo-
ram cerca de 450 anos para se decompor colocando o meio ambiente em risco.
O lago do Puraquequara atrai turistas para o lazer e pratica de esportes, um exemplo é a
pesca, uma atividade bastante rotineira no local, devido à diversidade de espécies de peixes
que podem ser encontrados na região. No entanto, os flutuantes possuem mais destaque, pois,
são estabelecimentos encontrados em todo o trajeto da bacia que ofertam alimentação, lazer,
entretenimento ou até mesmo hospedagem (figura 3), e são bastante procurados pelas pessoas
para se divertirem, porém, o retrato que os usuários deixam a desejar, pois, quando estão
aproveitando esse espaço não possuem o cuidado com os seus resíduos e deixam expostos por
toda área, contribuindo tanto para a poluição do solo quanto para a contaminação da água.
No período da seca, formam-se pequenas ilhas, no qual os usuários utilizam para suas
atividades de lazer, alguns usuários não tem a consciência de manter o local preservado, e fin-
dam descartando seus resíduos de forma errônea, contribuindo assim com a degradação do
meio ambiente.
Em conversa com os moradores, alguns grupos das comunidades realizam todo ano um
mutirão de limpeza para retirar do lago e de suas margens os resíduos que são deixados pelos
turistas, e tentam consciencializar os moradores e usuários para que não deixam nenhuma
espécie de resíduo, pois, prejudica tanto os moradores quanto aos turistas que frequentam o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA 831

local, e é nítido o cuidado que as comunidades possuem com o lago do Puraquequara, pois,
sabem que é dali que retiram parte de sua renda.

Figura 3 – Flutuante

Fonte – FERREIRA, Wellington. 2020.

Segundo Ferreira (2017), são encontrados também dois matadouros, o Frigorifico Alemão
e o Frigorifico Amazon Boi, que distribuem seus produtos para o Brasil e o mundo. Os frigorífi-
cos recebem o gado do Pará e retiram o coro do animal que é enviado para a Europa, sendo
que o principal meio desse animal chegar aos frigoríficos é por meio de embarcações, como
mostra a figura 4. Próximo onde ficam ancorados as embarcações, é possível notar que ocorre
o vazamento de óleo que está aumentando os riscos para a contaminação do recurso hídrico.
No local é possível sentir um odor muito forte de sangue de gado que são mortos para sua
carne e o coro possam ser utilizados para a venda. É possível encontrar próximo aos frigoríficos
restos dos animais que não foram devidamente descartados, os moradores relatam que é nor-
mal isso acontecer.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


832 Wellington Roozevelt da Silva Ferreira: Michelle Mendonça de Aguiar Oliveira; Alexsandro Andrade de Oliveira

Figura 4 – Embarcações

Fonte: FERREIRA, Wellington, 2017.

Segundo informações dos moradores há uns anos, em um dos frigoríficos deixou vazar
material químico no lago, material no qual é utilizado na limpeza do gado, alguns dias depois
muitos peixes morreram, afetando assim moradores que dependem da pesca para a sua renda.
Segundo o mesmo morador o frigorifico pagou uma multa para o órgão responsável pela fisca-
lização e prosseguiu com suas atividades.
Além de toda a indústria que atua na região e os flutuantes que oferecem lazer, outra
prática que está utilizando o recurso hídrico são as plantações de hortifrúti, segundo Ferreira
(2017, p.44) “os produtos que são plantados nessa área são bastante variados como, ceboli-
nhas, chicória, pimenta de cheiro, couve, cheiro verde e pimenta malagueta. É plantado tam-
bém mandioca para a produção da farinha, pois devido ao alto consumo da população gera
assim uma renda para os produtores”.
Segundo Schirmann e Osinski (2018, p.4) “A Agricultura sustentável é aquela em que o
produtor faz uso da terra, da água e insumos tirados do meio ambiente sem prejudicá-los ou,
se houver algum dano, este é reparado”. Muitas famílias fazem o uso da agricultura tanto para
sua alimentação quanto para retirar sua renda. Uma breve conversa com as famílias, muitos
não utilizam nenhum tipo de agrotóxico nas suas plantações, e como o consumidor está bus-
cando sempre produtos frescos e com melhor qualidade, as suas produções estão sendo bem
vendidas contribuindo assim na economia no bairro e das famílias, e ainda assim, sem a utiliza-
ção dos agrotóxicos eles estão preservando o solo e a água de eventuais problemas futuros.
Outros tipos de ocupações, ocorrem nessa região, como, hotel de selva que recebe turis-
tas de todos os locais para atividades na floresta e no lago. Há também escolas ribeirinhas que
atendem as crianças das comunidades e por fim é possível encontrar criações de animais, que
vai desde galinhas, gado e cavalo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA 833

A bacia do Puraquequara atrai diferentes tipos de atividades, que utilizam do recurso


hídrico para o desenvolvimento, podendo variar de uma simples plantação de hortifrútis até
uma indústria de construção naval responsável pelas construções de barcos de pequeno a
médio porte. Mas, infelizmente essas práticas não estão atentas aos resíduos gerados e findam
sendo despejados de forma inadequada no meio ambiente, essa poluição está ocorrendo afeta
a população, usuários e a fauna local.
Em comunicação pessoal, um dos moradores relata que antigamente não se encontrava
poluição no Puraquequara, mas que agora é possível observar pontos de poluição em diversos
trechos do lago. Os moradores têm medo que a poluição chegue em um grau tão elevado que
não seja possível reverter, como ocorreu em outros igarapés pela cidade de Manaus.
O risco da poluição ameaça à paz das famílias que tem medo que afete definitivamente
a sobrevivência de suas famílias no local, pois se essa área for degradada muitos não saberão
o que fazer, por isso eles estão lutando para que o Puraquequara seja mais conservado e tra-
tado, e que o governo olhe com mais atenção a região que abriga tantas famílias que necessi-
tam do local para seu sustento.
Neste contexto, destaca-se a importância dos Comitês de Bacia Hidrográficas, que
apresentam papel fundamental para garantir o acesso a água em quantidade e qualidade,
que possam atender às demandas no presente e para o futuro. As CBH’s possuem o papel de
evitar conflitos, gerenciar e organizar reuniões para que sejam debatidas ideias para preser-
vação das bacias.
De acordo com o Art. 39 da Lei 9.433, os CBHs devem ser compostos por representantes
da União, dos Estados e do Distrito Federal, cujos territórios se situem, ainda que parcialmente,
em suas respectivas áreas de atuação; dos municípios situados, no todo ou em parte, em sua
área de atuação; dos usuários das águas de sua área de atuação e das entidades civis de recur-
sos hídricos com atuação comprovada na bacia (BRASIL, 1997).
Preservar a água é obrigatório para a manutenção da vida em todas os seus moldes. Foi
nítido que nos últimos anos o crescimento populacional influenciou bastante no aumento do
uso do recurso hídrico. Diante deste cenário expôs-se necessário uma gestão especial sobre os
corpos hídricos, para sua conservação e regulação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os maiores impactos no rio Puraquequara, são promovidos por atividades industriais, fri-
goríficos e estaleiros localizados próximos à margem do rio. Além dos flutuantes, que não des-
cartam adequadamente os resíduos que são gerados por seus frequentadores, favorecendo a
poluição do recurso hídrico.
Os impactos ambientais que estão ocorrendo na área são expressivos, a poluição está
relacionada aos resíduos provenientes dos estaleiros, frigoríficos e flutuantes, pois, com o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


834 Wellington Roozevelt da Silva Ferreira: Michelle Mendonça de Aguiar Oliveira; Alexsandro Andrade de Oliveira

descaso desses usuários, os resíduos gerados estão espalhados por toda a área do Puraquequara,
aparentemente sem a preocupação do agente causador da ação. A falta de acompanhamento
e controle, por parte do poder público aumenta a poluição e contaminação da bacia. É
imprescindível uma fiscalização mais efetiva dos órgãos responsáveis, para que o processo de
poluição seja minimizado.
Uma das alternativas para o controle da poluição, é realizar um trabalho de educação
ambiental, além de proporcionar palestras com os usuários e a comunidade, para que possa
ocorrer uma reflexão sobre as consequências do aumento da degradação no meio ambiente
do Puraquequara.
Os usuários do Puraquequara, precisam ter consciência sobre a importância de dar um
destino adequado aos resíduos sólidos que ocasionam agressões ao meio ambiente, para tor-
narem-se fiscalizadores e responsáveis e deste modo, proporcionar um ambiente com mais
cuidados e benefícios para todos.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


71.
RISCO DE INCÊNDIOS PARA A BACIA DO
RIO PIRACICABA EM MINAS GERAIS

RAFAEL ALDIGHIERI MORAES1

Resumo: Atualmente os incêndios têm ganhado destaque no Brasil, principalmente por mudanças
no regime de chuvas, tanto no centro oeste como no sudeste, com destaque no inverno. Isso oca-
sionou grandes impactos em diversos biomas e na qualidade do ar. Nesse sentido, é de extrema
importância estudos para identificação de áreas susceptíveis a incêndios. O presente trabalho tem
como objetivo elaborar modelo de risco de incêndio na bacia do rio Piracicaba, em Minas gerais.
O mapeamento foi contemplado com as classes de risco alta, média ou baixa e foi obtido a partir
da álgebra de mapas, utilizando o mapa uso da terra, elevação, declividade, aspecto e proximidade
de vias e construções. Foram utilizadas imagens do projeto MAPBIOMAS para o ano de 2019, de
modo a obter o mapa uso da terra e locais com construções. Também foram utilizados o Modelo
Digital de Elevação fornecidos pelo Topodata e vetores de vias do Open Street Map. Os resultados
mostraram que a bacia apresentou grande parte da área com alto e médio risco (78,3% do total da
área da bacia, sendo 19,6% alto e 58,7% médio), coincidindo proporcionalmente com os focos de
incêndios identificados pelo Programa Queimadas do INPE (77% dos focos em áreas de alto e
médio risco sendo 20,8% em áreas de alto e 56,2% em médio). Assim a metodologia se mostrou
eficaz e o mapa final permite direcionar ações preventivas e soluções de combate.
Palavras-chave: Geoprocessamento; sensoriamento remoto; álgebra de mapas; INPE.
Abstract: Currently, fires have gained prominence in Brazil, mainly due to changes in the rainfall
regime, both in the Midwest and Southeast, especially in winter. This had major impacts on several
biomes and air quality. Studies to identify areas susceptible to fire are extremely important. This
work aims to generate a fire risk map in the basin of Piracicaba River, Minas Gerais. This map, divi-
ded into high, medium, or low classes and was generated from map algebra, using the map of land
use, elevation, slope, aspect and proximity to roads and buildings. Images from the MAPBIOMAS
project for the year 2019 were used to obtain the map of land use and construction sites. The
Digital Elevation Model provided by Topodata and road vectors from the Open Street Map were
also used. The results showed that the basin presented a large part of the area with high and
medium risk (78.3% of the total basin area, being 19.6% high and 58.7% medium), proportionally
coinciding with the fire outbreaks identified by INPE’s “Queimadas” Program (77% of the outbreaks

1 Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. Unidade João Monlevade. E-mail: rafael.moraes@uemg.br

[ 835 ]
836 Rafael Aldighieri Moraes

in high and medium risk areas, 20.8% in high and 56.2% on average). Thus, the methodology pro-
ved to be effective, and the final map allows directing preventive actions and combat solutions.
Keywords: Geo-processing; remote sensing; map algebra; INPE.

1 INTRODUÇÃO
Recentemente no Brasil houve um destaque da mídia em relação ao aumento na ocor-
rência dos incêndios. Em Minas Gerais, destacam-se tanto o aumento do número de focos de
incêndios (aumento de 35% de janeiro a agosto de 2021 em relação a 2020) e na região metro-
politana de Belo Horizonte esse aumento foi de 75%, segundo dados do INPE (GODINHO, 2021).
De acordo com MORAES e NASCIMENTO (2020), a bacia do rio Piracicaba, em Minas
Gerais, possui aproximadamente 30% da área ocupada por pastagens, em 2018, sendo destas
42,7% estão em locais de alta declividade (maior que 30%). Estas características, conforme
CHUVIECO e CONGALTON (1989), aumentam o potencial para o risco de incêndio.
A ocorrência de incêndios florestais, originados por fenômenos naturais e pela presença
humana, sobretudo em função da mudança de uso do solo, com aumento de áreas agricultá-
veis, cultivo florestal ou pecuária, facilita o início e propagação desses eventos (CAMARGO et
al., 2019).
Existem várias metodologias para a identificação do potencial de incêndios, sendo que a
grande maioria é feita pelo equacionamento do potencial de cada local considerando suas
características quanto ao uso da terra, relevo, histórico de incêndios, etc. Este equaciona-
mento, utilizando sistemas de informações geográficas (SIG) e dados espaciais, geram, com o
geoprocessamento, informações digitais para ações no mundo real.
A metodologia proposta por CHUVIECO & CONGALTON (1989) para mapeamento de
áreas de risco de incêndio, apesar de relativamente antiga, é amplamente utilizada, principal-
mente pela simplicidade e pelo potencial de hardware e software atual. Dentre os diversos tra-
balhos (VENTURI e ANTUNES, 2007; CÁCERES, 2011; AJIN et al., 2016; PEREIRA et al., 2017;
LOPES et al., 2018; CAMARGO et al., 2019), todos fazem o equacionamento de potencial de
incêndio para cada característica de um dado local, variando apenas na fonte de dados.
Considerando a importância da identificação das áreas com potencial de risco de incêndio,
juntamente com as classes de uso da terra e sua respectiva localização quanto a características
do relevo e atividade humana, é possível analisar qual o impacto das ações antropogênicas. Além
disso favorece o estudo e implementação de medidas de prevenção e combate a incêndios, pre-
servando tanto a saúde e bem-estar da população como o meio ambiente.
Assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar mapeamento do risco de incêndio na bacia
do rio Piracicaba, dividindo-a em risco alto, médio e baixo. Este foi baseado em álgebra de
mapas utilizando o mapa uso da terra, elevação, declividade, aspecto e proximidade de vias e
construções.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCO DE INCÊNDIOS PARA A BACIA DO RIO PIRACICABA EM MINAS GERAIS 837

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
Na figura 1 é apresentado a área de estudo, a bacia do rio Piracicaba, localizada a centro-
-leste do estado de Minas Gerais.

Figura 1 – Localização da área de estudo – bacia do Rio Piracicaba, Minas Gerais

Fonte: autor.

2.2 Fonte de dados


A elaboração do mapeamento de risco, foi realizado a partir da álgebra de mapas do uso
da terra, elevação, declividade, aspecto e proximidade de vias e construções. Para processa-
mento dos dados foi utilizado o software gratuito QGIS versão 3.16 (QGIS, 2021).
Para o mapa de uso da terra, foi utilizado imagem do projeto MAPBIOMAS para o ano de
2019. Este projeto envolve uma rede colaborativa com especialistas nos biomas, usos da terra,
sensoriamento remoto, SIG (Sistema de Informação Geográfica) e ciência da computação que
utiliza processamento em nuvem e classificadores automatizados desenvolvidos e operados a
partir da plataforma Google Earth Engine para gerar uma série histórica de mapas anuais de
cobertura e uso da terra do Brasil (MAPBIOMAS, 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


838 Rafael Aldighieri Moraes

As imagens da declividade, aspecto e elevação da superfície foram geradas a partir de


arquivos matriciais do modelo digital de superfície, disponibilizados pelo Topodata (BRASIL,
2008) na resolução espacial de 30 metros.
Os dados de vetores de vias na bacia, foram utilizados dados disponibilizados pelo
OPENSTREETMAP (2021). Este oferece dados de vias (tanto ruas como estradas) gratuitamente.
A partir desses vetores foi criado um buffer entre 50 e 400 metros. Para as construções, foi uti-
lizada a classe do MAPBIOMAS chamada de “Infraestrutura Urbana” onde foi transformada em
vetor, criados os buffers entre 500 e 3000 metros, e estes posteriormente transformados em
formato raster.
Foram utilizados também dados de focos de incêndio do Programa Queimadas do INPE
(INPE, 2021), que são obtidos por satélite, onde a partir da temperatura, é possível definir a
presença de fogo. Estes foram utilizados de modo a comparar a estimativa espacial do poten-
cial de incêndios dado pelo modelo com dados observados pelo programa.

2.3 Etapas do trabalho


Na figura 2 apresenta-se o fluxograma do trabalho; inicialmente foi feito o recorte da
imagem do MAPBIOMAS ano 2019 com o vetor da área de estudo. Os dados do modelo digital
do terreno foram recortados pela área de estudo e geo-processados de modo a gerar a decli-
vidade, aspecto e elevação do terreno. Da mesma maneira os vetores de vias, foram recorta-
dos, gerado os buffers e transformados em dados matriciais. Os dados de construções foram
extraídos do MAPBIOMAS, transformados em vetores para geração dos buffers e re-transfor-
mados em dado matricial.
Assim, para a elaboração do mapeamento de risco de incêndios (RI), conforme indicado
na figura 3 por “Álgebra de Mapas”, foi utilizada a equação 1 (CHUVIECO e CONGALTON,1989)
a seguir, para cada um dos pixels das imagens geradas:
RI = 1 + 100*lc + 30*s + 10*a + 5*r + 5*sm + 2*e (1)
Sendo:
RI = risco de incêndio (alto risco (0 – 100), médio (101 – 210) e baixo risco (maior que 211))
lc = mapa uso do solo
s = declividade
a = aspecto
r = buffer das vias
sm = buffer das construções
e = elevação

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCO DE INCÊNDIOS PARA A BACIA DO RIO PIRACICABA EM MINAS GERAIS 839

Cada termo da equação 1 está vinculada a uma tabela (Tabela 1) com intervalos variando
de risco muito alto até risco muito baixo, dependendo do fator. Assim, foram geradas novas
imagens, a partir da reclassificação dos pixels. A álgebra de mapas, dessa maneira, calcula o
valor de RI para cada pixel, respectivo a sua posição espacial para todos os produtos gerados.
Foi utilizada a função “Calculadora Raster” do software QGIS para calcular o RI.

Figura 2 – Fluxograma do trabalho

Fonte: autoria própria.

Tabela 1 – Indicação de classes, coeficientes e risco de incêndio

Classes Coeficiente Risco Classes Coeficiente Risco

Mapa uso – lc (peso 100) Distância Vias – r (peso 5)

Pastagem 0 Muito alto <50 0 Muito alto

Floresta 1 Alto 50 – 100 m 1 Muito alto

Agricultura 2 Médio 100 – 200 m 2 Alto

Área Urbana 3 Baixo 200 – 300 m 3 Médio

Solo exposto e água 4 Muito Baixo 300 – 400 m 4 Baixo

Declividade – s (peso 30) > 400 m 5 Muito Baixo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


840 Rafael Aldighieri Moraes

Classes Coeficiente Risco Classes Coeficiente Risco

Mapa uso – lc (peso 100) Distância Vias – r (peso 5)

> 35 % 0 Muito alto Distância construções – sm (peso 5)

35 – 25 % 1 Alto <500 m 0 Muito alto

25 – 10 % 2 Médio 500 – 1000m 1 Alto

10 – 5 % 3 Baixo 1000 – 2000 m 2 Alto

<5% 4 Muito Baixo 2000 – 3000 m 3 Médio

Aspecto – a (peso 10) > 3000 m 4 Baixo

Norte (N) 0 Alto Elevação – e (peso 2)

Noroeste (NO) 0 Alto > 1501 0 Muito alto

Nordeste (NE) 1 Médio 1001 – 1500 1 Alto

Leste (E) 1 Médio 501 – 1000 2 Médio

Sul (S) 2 Baixo < 500 3 Baixo

Sudeste (SE) 2 Baixo

Sudoeste (SO) 2 Baixo


Fonte: Autoria própria.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na figura 3 são apresentados os produtos para os dados iniciais, matriciais (6 imagens), uti-
lizados para a geração do risco de incêndio, conforme equação 1 apresentada anteriormente.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCO DE INCÊNDIOS PARA A BACIA DO RIO PIRACICABA EM MINAS GERAIS 841

Figura 3 – Dados espaciais gerados para uso na álgebra de mapas e obtenção do risco de incêndio

Fonte: autor.

O mapeamento de Risco de Incêndio (RI), final resultante é apresentado na figura 4. Em


vermelho indica-se as áreas de Alto Risco; em amarelo as de médio risco e as em verde, baixo
risco. Os pontos pretos no mapa representam a localização dos focos de incêndio identificados
pelo Programa Queimadas do INPE para o ano de 2019. Visualmente a bacia apresenta grandes
áreas de risco alto de incêndio, seguido por médio e baixo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


842 Rafael Aldighieri Moraes

Figura 4 – Localização do risco de incêndio na bacia do Rio Piracicaba, Minas Gerais, a partir da
metodologia utilizada

Fonte: autor.

Segundo os dados do programa de queimadas do INPE, no ano de 2019, houve 2934 focos
de incêndio na área da bacia. Na Tabela 2, apresenta-se a divisão da área dos locais de risco de
incêndio na bacia e dos focos. Na primeira coluna, os locais identificados pelo risco de incêndio
(RI) dado pelo modelo (Alto, Médio ou Baixo Risco) e sua respectiva área em quilômetros quadra-
dos (km²) na bacia e a porcentagem de cada classe em relação a área total. Nota-se que áreas de
alto e médio risco representam 78,3% do total da bacia, ou seja, a área é bastante vulnerável.

Tabela 2 – Resultados do risco de incêndio e focos identificados pelo INPE

Localização em Número de Pontos


Área na bacia % em relação a % dos Focos INPE
Risco de Incêndio Focos de Incêndio
(km²) área total em cada RI
(RI) INPE 2019

Alto Risco 1.059,8 19,6 611 20,8

Médio Risco 3.176,5 58,7 1650 56,2

Baixo Risco 1.175,0 21,7 673 22,9

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


RISCO DE INCÊNDIOS PARA A BACIA DO RIO PIRACICABA EM MINAS GERAIS 843

Ainda na tabela 2, a quarta e quinta coluna apresentam o número de focos de incêndios


fornecidos pelo INPE, dentro de cada classe de risco identificada pelo modelo. Observa-se que
os pontos estão distribuídos de forma semelhante em relação a área total ocupada por cada
área de risco na bacia. Porém grande maioria (77%) dos pontos dados como incêndios reais,
estão inseridos em locais identificados como médio e alto risco.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados indicam que o modelo testado apresenta uma boa representatividade dos
locais com potencial de incêndio, baseando-se em características potencializadoras. A bacia do
rio Piracicaba apresenta grande parte da área com médio a alto risco, indicando a necessidade
da criação de planos de combate, brigadas de incêndio e educação ambiental.
Vale destacar que os incêndios alteram a cobertura da terra, impactando o solo e a vege-
tação. Este, prejudica a fauna do solo e consequentemente a fertilidade e sua sustentabilidade,
tanto do bioma presente como na agropecuária, principalmente na queima de pastagens. Com
o enfraquecimento da vegetação na superfície, temos a diminuição da recarga hídrica do solo,
prejudicando as nascentes, potencializando a falta de água no período seco. Considerando que
na bacia o local mais populoso se encontra próximo do exutório, é de extrema importância
assim, o planejamento e desenvolvimento sustentável.

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Incêndios. 2020. Disponível em: http://www.inpe.br/queimadas Acesso em: novembro de 2020.
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


844 Rafael Aldighieri Moraes

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MAPBIOMAS. Projeto MapBiomas – Coleção 3.1 da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso de Solo do
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


72. USO DE GEOTECNOLOGIA NA
ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO DA PRATA EM
JUSCIMEIRA-MT

JOELSON DE SOUZA PASSOS1


JEPHERSON CORREIA SALES2
FERNANDA LUISA RAMALHO3
GABRIELLA SANTOS ARRUDA DE LIMA4

Resumo: O uso insustentável da natureza pelo homem vem ocasionando diversos problemas
ambientais tais como, alterações climáticas, escassez de água, crise energética, dentre outros. No
Brasil, a partir da década de 1960, com a ocupação do oeste brasileiro e o uso intenso da terra,
com a substituição da vegetação por áreas agrícolas e de pastagem, além de novos centros urba-
nos, demandando assim meios para produção de energia, assim criando uma demanda por cons-
trução de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). A Bacia Hidrográfica do Rio Prata (BHRP)5,
importante contribuinte do Pantanal mato-grossense, localizada na região dos municípios de
Jaciara, com 457.96 km², compõe uma das áreas afetadas pelo uso intensivo do solo para fins da
agropecuária apresentando problemas ambientais relativos ao uso não sustentável de sua área,
como perda de solo por erosões e voçorocas. Esta pesquisa vale de geotecnologias com intuito de
obter uma análise morfométrica da BHRP decorrente da construção da PCH-Zé Fernando, a partir
de variáveis geométricas, rede de drenagem e do relevo, como possibilidade para conhecimento
da dinâmica ambiental da referida bacia hidrográfica. Utilizou-se o Sistema de Informação
Geográfica (SIG) para analisar os parâmetros morfométricos. Conforme observa-se nos resulta-
dos, com a criação da PCH Zé Fernando, houve alteração na paisagem da BHRP, bem como mudança
do nível base do Rio Prata, afogamento de cursos hídricos da BHRP, alterando os padrões morfo-
métricos básicos da bacia. Assim a BHRP passa a apresentar outro comportamento hídrico, pois a
dinâmica da paisagem antes da PCH Zé Fernando foi alterada.
Palavras-chave: Análise Ambiental; Bacia hidrográfica; Análise Morfométrica; Geotecnologias.

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: joelson3000@gmail.com


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: jepherson.sales@gmail.com
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: ramalho_luisa@hotmail.com
4 Universidade Federal de Goiás. E-mail: gabriella.arruda.lima@gmail.com
5 Os dados desta pesquisa foram coletados na Dissertação de Jepherson Correia Sales, “Análise ambiental da bacia do Rio
Prata: uma contextualização sobre produção do espaço geográfico nos sistemas de drenagem para o Pantanal Mato-
-Grossense” no Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Mato Grosso, defendida em 2017.

[ 845 ]
846 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima

Abstract: The unsustainable use of nature by man has caused several environmental problems such
as climate change, water scarcity, energy crisis, among others. In Brazil, from the 1960s onwards,
with the occupation of western Brazil and the intense use of land, with the replacement of vegeta-
tion by agricultural and pasture areas, in addition to new urban centers, thus demanding means for
energy production, thus creating a demand for the construction of Small Hydropower Plants (SHP).
The Hydrographic Basin of the River Plate (HBRP), an important contributor to the Pantanal of Mato
Grosso, located in the region of the municipalities of Jaciara, with 457.96 km², composes one of the
areas affected by intensive land use for agricultural purposes, presenting environmental problems
related to the unsustainable use of its area, such as soil loss by erosion and gullies. This research is
worth geotechnologies in order to obtain a morphometric analysis of HBRP resulting from the cons-
truction of the Small hydropower plants Zé Fernando, from geometric variables, drainage network
and relief, as a possibility to know the environmental dynamics of this hydrographic basin. The
Geographic Information System (GIS) was used to analyze morphometric parameters. As observed in
the results, with the creation of the Zé Fernando SHP, there was a change in the HBRP landscape, as
well as a change in the base level of the River Plate, drowning of HBRP water courses, changing the
basic morphometric patterns of the basin. Thus, HBRP begins to present another water behavior,
because the landscape dynamics before the Zé Fernando SHP was altered.
Keywords: Environmental Analysis; Watershed; Morphometric Analysis; Geotechnologies.

1 INTRODUÇÃO
A intervenção do homem na natureza para a produção do espaço geográfico ocorre sem
a devida preocupação de encontrar um equilíbrio entre a utilização dos recursos e a dinâmica
da natureza. Nesse sentido, o contexto do uso e ocupação da terra a partir da década de 1960,
no Brasil e no estado de Mato Grosso, foi baseado na produção agrícola e na pecuária, fruto da
adoção de políticas econômicas voltadas para a ocupação da parte oeste do Brasil.
As características naturais do estado de Mato Grosso como: relevo, geologia, recursos
hídricos, solos e clima, junto a uma política de colonização foram os principais fatores que
garantiram a consolidação do cultivo de monocultura em grande escala para atender às deman-
das nacionais e internacionais vinculadas aos sistemas financeiros do agronegócio, a partir da
década de 1970.
Da mesma maneira, o setor de produção de energia foi beneficiado pelos mesmos pilares
a partir da década de 1990, o que aumentou o número de reservatórios de água para instala-
ções de Centrais Geradoras de Energia Elétrica (CGE), em especial as Pequenas Centrais
Hidrelétricas, conforme Perius (2012), o que interfere diretamente na dinâmica da paisagem da
bacia hidrográfica, inclusive com o afogamento de cursos hídricos decorrentes do barramento
para criação do reservatório.
Com isso, os problemas ambientais decorrentes da interferência humana na natureza
são diversos e interconectados, podendo acarretar prejuízos econômicos e sociais dentro da
Bacia hidrográfica. Os impactos ocasionados são, geralmente, erosão dos solos, sedimentação
dos canais, enchentes, redução da qualidade da água, devido ao aumento de matéria orgânica,
nutrientes, produtos tóxicos, dentre outros, além de aumentar do risco de extinção de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DE GEOTECNOLOGIA NA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA PRATA 847

elementos da fauna e flora da bacia hidrográfica, acarretando também na redução da biodiver-


sidade (PIRES et al., 2002).
Para Dias, Aquino e Santos (2020) a análise de parâmetros morfométricos são fundamen-
tais para identificar características/mudanças hidrológicas de uma bacia hidrográfica, compreen-
dendo o seu equilíbrio dinâmico e as vulnerabilidades naturais e potenciais com relação à ação
antrópica, pois qualquer modificação no sistema resultará em mudanças compensatórias.
Para isto o uso de geotecnologias constitui uma importante ferramenta de gerencia-
mento dos recursos hídricos por intermédio de varáveis espaciais que analisam os fenômenos
e impactos que ocorrem no meio ambiente (ENCINA et al., 2018; BELÉM & CABRAL, 2019).
Martins et al., (2018) ressaltam que a utilização dessas ferramentas contribui para a aná-
lise morfométrica de bacias hidrográficas, extraídos de forma semi-automática a partir de deri-
vações do Modelo Digital de Elevação (MDE) do terreno, que pode ser obtido por imagens
geradas pelo Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) ou outras fontes, em ambiente de
Sistema de Informações Geográficas (SIG).
Portanto, esta pesquisa vale de geotecnologias com intuito de obter uma análise morfo-
métrica da BHRP decorrente da construção da PCH-Zé Fernando, a partir de variáveis geomé-
tricas, rede de drenagem e do relevo, como possibilidade para conhecimento da dinâmica
ambiental da referida bacia.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
A Bacia Hidrográfica do Rio Prata (BHRP) possui áreas no Planalto dos Guimarães e carac-
terísticas físicas adequadas a produção de monocultura e criação de rebanho bovino. Assim, a
presente pesquisa entende que a área de estudo compõe uma das áreas afetadas pelo uso
intensivo do solo para fins do agronegócio, pois apresenta diversos problemas ambientais rela-
tivos ao uso insustentável dos seus componentes fisiográficos, como a perda de solo por ero-
sões laminares e mecânicas. Esse tipo de uso é favorecido devido ao relevo e solos da região.
A área de estudo fica localizada nos municípios de Jaciara 123,82 km² (27,03%), Juscimeira
192,64 km² (42,06%) e Santo Antônio do Leverger 141,50 km², (30,91%). Possui 457.96 km² e
está compreendida entre as coordenadas: latitude: 16°12’50.98”S, longitude: 55°23’1.76”O e
latitude: 16° 6’30.45”S, longitude: 54°56’27.51”O. A BHRP está inserida na mesorregião do
Sudeste Mato-grossense e microrregião de Rondonópolis do estado de Mato Grosso (Figura 1).
O Rio Prata compõe a rede hídrica do Rio São Lourenço um importante tributário do
Pantanal Mato-grossense, dessa maneira a ocorrência de danos ambientais ocorridos na BHRP
são conduzidos ao Pantanal por meio da rede de hidrográfica que caracterizada por uma “veia”
de interligação do contato entre planalto e a planície de inundação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


848 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima

Figura 1 – Localização e unidades de relevo (morfoesculturas) da Bacia Hidrográfica do Rio Prata (BHRP)

Fonte: Imagens de Satélite LANDSAT 5 – Bandas 543, de 15/05/2015. Elaboração: Sales, (2017).

As características climáticas da região correspondem ao tipo de Clima Tropical Continental


(alternando entre período úmido e seco). Sendo que é dividida em unidades climáticas, como
o setor de Planalto, com média de 1.650 mm e 2.100 mm, como mínima de 16.2ºC a máxima
de 30ºC, enquanto que na Depressão Interplanáltica de Rondonópolis varia entre 1.600 mm a
1.800 mm e temperatura com mínima de 17.1ºC e máxima de 31,8ºC (TARIFA, 2011).
Segundo Camargo (2011) o relevo é mantido pelos sedimentos do Grupo Rio Ivaí,
Formação Furnas, Formação Cachoeirinha e Aluviões Atuais. Estas são expressas de acordo
com o estado de desenvolvimento geomorfológico da região onde se localiza a bacia hidrográ-
fica em análise.
Os processos morfopedogenéticos atuante na superfície representam um conjunto de
fatores que, de maneira geral, formaram a configuração do solo atual na região do Planalto dos
Guimarães, sendo eles: os Latossolos Vermelhos, Vermelhos/Amarelo e Amarelo, e no setor da
Depressão Interplanáltica de Rondonópolis os Latossolos Concrecionários, Argissolos e
Neossolos Quartzarênicos (SALES, 2017).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DE GEOTECNOLOGIA NA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA PRATA 849

2.2 Parâmetros morfométricos de análise de bacia hidrográfica do Rio Prata


O emprego de cálculo dos índices morfométricos em bacias hidrográficas configura-se
como uma análise quantitativa das relações naturais da bacia (solo, relevo, litologia) e a sua
dinâmica hídrica. Com a análise desses parâmetros pode se obter bons indicadores da capaci-
dade de escoamento superficial. Alguns autores tratam desses indicadores quantitativos para
delimitação da paisagem como Teodoro et al., (2007) e Christofolleti (1981) que ressalta a
importância do emprego da morfométrica como subsídio para o entendimento da dinâmica
hídrica em uma bacia hidrográfica.
A aferição da alteração dos parâmetros morfométricos da BHRP foram calculados por
meio das ferramentas de geoprocessamento em ambiente de SIG. Nesta fase foram levanta-
dos os dados relativos a esses índices para antes e pós-construção da BHRP, tais como:
Comprimento canais (Cc), Comprimento do rio principal (Cp), Perímetro da bacia (P), Área da
bacia (A), Declividade do canal principal, Largura da bacia (L), Quantidade de cursos d’água (N),
Largura da bacia (Lb), Coeficiente de Compacidade (Kc), Fator de Forma (Kf), Densidade de rios
(Dr), Densidade de drenagem (Dd) e Sinuosidade dos Cursos d’Água (Sin).
O Coeficiente de compacidade (kc) é a relação entre o perímetro da bacia e a circunfe-
rência do círculo de área igual à da bacia constitui o índice de compacidade (GARCEZ & ALVAREZ,
1988). Quanto mais próxima da unidade, mais circular será a bacia, assim se os outros fatores
forem iguais, a tendência a enchentes será maior, pois maior será a possibilidade de toda a
área estar contribuindo de uma só vez.
O Fator de forma (kf) é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia
hidrográfica. É expresso por: Kf = A /L2, sendo L2, o comprimento do rio em km. Quanto menor
é o fator de forma mais alongada é a bacia. Uma bacia que apresenta fator de forma baixo é
menos sujeita as enchentes do que outra bacia com maior fator de forma. Isto é devido a menor
possibilidade de ocorrerem chuvas intensas em todos os pontos de uma bacia comprida e estreita.
Para obter a Densidade de Rios aplica-se a expressão Dr = N/A, onde Dr é a densidade de
rios; N é o número de canais; A é a área da bacia. Segundo Christofoletti (1980) a Dr representa o
comportamento hidrográfico de uma bacia quanto à capacidade de gerar novos cursos d’água.
A Densidade de drenagem (Dd): é resultado do comprimento total dos canais com a área
da bacia hidrográfica. Aplica-se a expressão Dd = Lt/A, onde Dd é a densidade de drenagem; Lt
o comprimento total dos canais e A a área da bacia. Christofoletti (Op. Cit.), (...) a densidade de
drenagem da rede de canais é uma das mais importantes variáveis na análise morfométrica das
bacias hidrográficas, representando o grau de dissecação topográfica em paisagens elaboradas
pela atuação fluvial ou expressando a quantidade disponível de canais de escoamento.
O índice de sinuosidade é a relação entre a distância da nascente a foz (L), medida em
linha reta (v), e o comprimento do canal principal (L). Dessa forma Sin=L/V. Valores próximos a
1,0 indicam que o canal tende a ser retilíneo. Já os valores superiores a 2,0 indicam canais

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


850 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima

tortuosos e controle geológico e os valores intermediários indicam formas transicionais, regu-


lares e irregulares

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Rio Prata constitui uma das cabeceiras na Bacia Hidrográfica do Rio São Lourenço e
tem como papel principal realizar o rebaixamento por erosão do Planalto dos Guimarães, neste
processo geomorfológico de rebaixamento a rede hidrográfica também realiza o transporte
dos seus sedimentos e materiais detríticos para o Pantanal Matogrossense. Esta dinâmica de
erosão e transporte sofreu interferência devido construção da barragem da Pequena Central
Hidroelétrica Zé Fernando localizada no Município de Juscimeira-MT no Rio São Lourenço, em
29/04/2008. Essa construção do reservatório alterou artificialmente o nível de base do Rio
Prata, conforme Figura 2.

Figura 2 – Desembocadura do Rio Prata no reservatório da PCH Zé Fernando, Rio São Lourenço,
Juscimeira – MT

A Figura 2 apresenta o reservatório da PCH Zé Fernando e a desembocadura do Rio


Prata, afogada pelo deslocamento do nível de base. Em decorrência deste fato ocorreu o ala-
gamento no interior da BHRP, esse extravasamento do reservatório alagou parte de seus cur-
sos d’água, uma parcela de área da bacia e alterou o nível de base do Rio Prata, deslocando a
sua desembocadura nos sentidos horizontal e vertical, conforme Figura 3.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DE GEOTECNOLOGIA NA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA PRATA 851

Figura 3 – BHRP antes e após a construção do reservatório da PCH Zé Fernando

Elaboração: Sales (2017).

A Figura 3 apresenta as alterações na rede hídrica provocadas pela instalação do reser-


vatório e expansão das águas da PCH Zé Fernando no interior da BHRP, além disso, aponta o
novo local de desembocadura do Rio Prata. Este ponto que foi identificado pela presença do
reservatório no interior da BHRP e pelo retorno do tamanho da calha normal do Rio Prata. O
ponto da nova desembocadura pode variar conforme o período da chuva e com o uso da água
do reservatório para geração de energia.
A partir do novo ponto de desague do Rio Prata no reservatório puderam ser verificadas
algumas alterações em parâmetros morfométricos básicos da BHRP, em especial destacamos:
a perda da área da bacia (12,38km²) e a perda do comprimento da rede de drenagem (9,36km),
essas novas características foram mensuradas por meio técnicas de geoprocessamento e ima-
gens do radar SRTM. Além desses fatores foram observadas duas novas bacias: a BHRP (pós-re-
servatório), em amarelo e a Bacia do Reservatório, em vermelho. A primeira é configurada
como a BHRP remanescente do alagamento, esta possui como novo nível de base o limite do
início do reservatório, já a segunda, Bacia do Reservatório, não mais integra a BHRP pelo fato
de que a sua rede de drenagem e área drenada não mais contribuir para o Rio Prata, passando
os seus tributários e área de drenagem contribuir diretamente para o reservatório da PCH Zé
Fernando, instalada no Rio São Lourenço.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


852 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima

Como resultado da alteração dos padrões morfométricos básicos acima mencionados é


provocado uma reação em cadeia em outros fatores da BHRP como: índice de conformidade,
índice de capacidade, densidade de drenagem, dentre outros. A partir desses novos índices, é
possível, que a BHRP passa a apresentar outro comportamento hídrico, pois a dinâmica da pai-
sagem antes da construção da PCH foi alterada. A tabela 1 apresenta algumas dessas variações
dos índices morfométricos para a BHRP, antes e pós-construção da PCH-Zé Fernando. Estes
resultados fornecem um aparo quantitativo para discussão das variações ocorridas e suas con-
sequências na paisagem, porém devido à complexidade do tema e as variáveis envolvidas
existe a necessidade de realizar medições em campo para aferir de forma segura a existência
da nova dinâmica da paisagem.

Tabela 1 – Parâmetros morfométricos BHRP antes e pós-construção da PCH

BHRP pós-cons-
Parâmetro Morfométrico Unidade BHRP ∆%
trução PCH

Comprimento canais (Cc) Km 280 262.77 6.56

Comprimento do rio principal (Cp) Km 72.31 68.41 5.70

Perímetro da bacia (P) Km 201.1 193.29 4.04

Área da bacia (A) km² 458 440.72 3.92

Declividade do canal principal (Hmax – Hmin) M 470 457 2.84

Largura da bacia (L) Km 51.56 49.17 4.86

Quantidade de cursos d’água (Qc) adimensional 100 93 7.53

Largura da bacia (Lb) Km 8.88 8.96 -0.90

Coeficiente de Compacidade (Kc) adimensional 2.63 2.58 2.06

Fator de Forma (Kf=A/L²) adimensional 0.17 0.18 -5.49

Densidade de rios (Dr) adimensional 0.22 0.21 3.47

Densidade de drenagem (Dd) km/km² 0.611 0.596 2.54

Sinuosidade dos Cursos d’Água (Sin) adimensional 1.47 1.46 0.52

Fonte: Sales (2017), conforme proposta de Christofoletti (1981).

Conforme a Tabela 1 são constatadas algumas alterações morfométricas na BHRP das


quais destacamos o coeficiente de capacidade, a densidade de rios, a densidade de drenagem
e a sinuosidade de cursos d’água, a seguir são apresentadas algumas possíveis interpretações
da nova dinâmica da BHRP pós-construção da PCH Zé Fernando no rio São Lourenço:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DE GEOTECNOLOGIA NA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA PRATA 853

Coeficiente de compacidade (kc): foi aferida uma diminuição de 2.63% neste indicador
revelando um pequeno aumento da capacidade de enchentes, sobretudo, nos compartimen-
tos de planície, locais com baixa declividade (0 a 3%). Garcez & Alvarez (1988) afirmam que
quanto mais parecida com um círculo for uma bacia, mais próximo do valor Kc = 1 ela será mais
propensa a enchentes. Mas, o valor alto da BHRP de 2,58 mostra que a bacia é irregular e alon-
gada e que a possibilidade de enchentes é baixa, o mesmo é observado por Lopes et al. (2018),
na bacia do rio Una em Ibiúna, um Kc=2,17 e ainda ressaltam que esse valor indica uma baixa
concentração do deflúvio em alta precipitação.
Densidade de rios (Dr): Christofoletti (1980) afirma que a Dr representa o comporta-
mento hidrográfico de uma área quanto a sua capacidade de gerar novos cursos d’água. Para
BHRP houve uma redução de 3.47% após a construção da PCH, dessa forma é possível interpre-
tar que essa alteração diminuiu essa capacidade, e, por conseguinte, podendo alterar o grau de
morfodinâmica de entalhe do relevo pelos cursos d’água da bacia. Esse fato afetaria direta-
mente os processos de erosão mecânica e laminar mapeados na BHRP.
Densidade de drenagem (Dd): o cálculo deste indicador revela uma redução de 2.54%.
Para Christofoletti (Op. Cit.) a Dd é fruto da relação granulométrica das rochas, onde as mais
finas propiciam o escoamento superficial e nas mais grossas prevalece a infiltração. Em decor-
rência disto, a redução deste parâmetro constatada na BHRP pode contribuir para a alteração
da infiltração/acumulo de água na bacia em comparação com os índices anteriores a constru-
ção do reservatório. Para Pirajá e Rezende Filho (2019), a BHRP é mal drenada devido à elevada
permeabilidade, que correspondem a 0,5≤Dd<3,5.
Sinuosidade dos cursos d’água (Sin): o índice de sinuosidade do rio principal está asso-
ciado ao processo de transporte de sedimentos, valores próximos de 1 indicam canais que ten-
dem a ser retilíneos e que permitam melhor transporte desses materiais (VALE & BORDALO,
2020). Na BHRP ocorreu uma pequena diminuição da sinuosidade, este fato aumenta a capaci-
dade de transporte do rio Prata, tornando mais eficiente o seu sistema de drenagem e escoa-
mento máximo.
No âmbito do interior do reservatório foi constatado um possível início de processo de
sedimentação observado por imagem de sensor remoto, conforme Figura 4. As imagens mos-
tram um possível acumulo de sedimentos na área do reservatório logo após a nova desembo-
cadura do Rio Prata.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


854 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima

Figura 4 – (A) Processo de sedimentação na desembocadura do Rio Prata. (B) 17/05/2006. (C)
09/02/2010. (D) 05/04/2014. (E) 27/03/2016. Fonte – Google Earth, acessado em 01/02/2017 e Sistema
de informações hidrológicas da Agência Nacional das Águas, acessado em 05/03/2017, estação
meteorológica 1555005, São José da Serra

Fonte; Sales (2017)

Nessa Figura 4 é possível verificar o processo de afogamento da desembocadura do rio


Prata e a sua nova delimitação. Neste ponto, o rio passa de um sistema lótico (correnteza) para
um sistema lêntico (semi-parada), reduzindo a velocidade de escoamento e fluxo das águas
(ZARPELON e AZEVEDO, 2018; GENTIL et al., 2021).
Para Araújo et al., (2020) o ciclo hidrossedimentológico ocorre paralelamente ao ciclo
hidrológico nas bacias hidrográficas e que envolve deslocamento, transporte (saltitação,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DE GEOTECNOLOGIA NA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA PRATA 855

arrasto, suspensão), depósito de partículas sólidas que é uma tendência natural, mas a cons-
trução de barragens altera essas características hidrológicas. Esse processo diminui o movi-
mento de partículas sólidas na direção do escoamento e pode ocasionar uma sedimentação
desse reservatório (ZARPELON & AZEVEDO, 2018).
A obtenção desses resultados parciais revela a importância da temática estudada, sendo
necessário um maior tempo de vigências dos novos parâmetros morfométricos destacados
acima. Para tanto Condé (2021), o material em suspensão é especialmente heterogêneo e uma
visão de sua concentração é muito difícil, no entanto, uma abordagem ideal é a vinculação do
sensoriamento remoto, medições in situ e modelagem de qualidade de água. Portanto, o moni-
toramento, alinhado com esses 3 fatores se torna fundamental para futuros estudos da nova
dinâmica hídrica da BHRP pós-construção da PCH-Zé Fernando.
Uma vez que as mudanças do uso e ocupação da região colaboram consideravelmente
para as mudanças na dinâmica de seus sedimentos e consequentemente implicam no funcio-
namento do sistema, como fluxos de material, ciclagem geoquímica, qualidade da água, mor-
fologia do canal, desenvolvimento do delta e ecossistemas aquáticos e habitats suportados
pelo rio (Li et al., 2020; DUNN et al., 2019).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção da PCH Zé Fernando ocasionou mudanças na paisagem da BHRP, bem como
alteração do nível base do Rio Prata, afogamento de cursos hídricos da BHRP, mudando os
padrões morfométricos básicos da bacia. Assim a BHRP passa a apresentar outro comporta-
mento hídrico, pois a dinâmica da paisagem antes da PCH Zé Fernando foi alterada.
Outro fato a ser observado é a alteração da desembocadura do Rio Prata proveniente
pela construção da PCH Zé Fernando, verifica-se uma necessidade de maior monitoramento
para o entendimento dos impactos causados pela construção da barragem no interior da BHRP.
Além de pesquisas de aferição da alteração do regime de erosão, transporte, deposição e pro-
cessos geomórficos neste setor da bacia.
Por fim, a metodologia utilizada no trabalho possibilita subsidiar ações de planejamento
ambiental e estratégias para conservação dos recursos hídricos, principalmente o monitora-
mento de bacias hidrográficas que sofreram modificações em seu sistema natural, principal-
mente em áreas que foram modificadas para a construção de PCH’s.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


856 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


73. USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA
CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO DA PORÇÃO
OESTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
GUARIBAS, PIAUÍ

FRANCISCO WELLINGTON DE ARAUJO SOUSA1


IRACILDE MARIA DE MOURA FÉ LIMA2

Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar os aspectos do relevo da porção oeste da bacia
hidrográfica do rio Guaribas, a partir da utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e
imagens SRTM. Com uma extensão territorial de aproximadamente 2.285,06 km2, a área de pes-
quisa está localizada na região sudeste do estado do Piauí, inserida na Região Geográfica Imediata
Picos. A pesquisa foi elaborada a partir de levantamento bibliográfico, técnicas de geoprocessa-
mento com o uso do ArcGis, seguida de inspeções à campo. Constatou-se a partir dos procedimen-
tos de mapeamento que a POBHG apresenta grandes altitudes, caracterizada por uma amplitude
altimétrica situada entre 170 a 720 metros, e uma declividade com predomínio de relevo plano e
suave ondulado. As técnicas de geoprocessamento constituíram ferramentas essenciais ao possi-
bilitar a compreensão das características do relevo da POBHG. Portanto, a análise dos aspectos
geomorfológicos compreende um processo de suma importância no entendimento de determi-
nado espaço geográfico, fornecendo desse modo, subsídios ao planejamento ambiental.
Palavras-chave: Planejamento Ambiental; Bacia hidrográfica; Geotecnologias
Abstract: This work aimed to analyze the relief aspects of the western portion of the Guaribas
river basin, using a Geographic Information System (GIS) and SRTM images. With a territorial
extension of approximately 2,285.06 km2, the research area is located in the southeast region of
the state of Piauí, fully inserted in the semi-arid northeast. The research was elaborated from a
bibliographic survey, geoprocessing techniques with the use of ArcGis, followed by field inspec-
tions. It was found from the mapping procedures that the POBHG has high altitudes, characterized
by an altimetric range between 170 and 720 meters, and a slope with a predominance of flat and
smooth undulating relief. Geoprocessing techniques were essential tools in enabling the under-
standing of the POBHG relief characteristics. Therefore, the analysis of geomorphological aspects
comprises a process of paramount importance in understanding a given geographic space, thus
providing subsidies for environmental planning.
Keywords: Environmental planning; Hydrographic basin; Geotechnologies

1 Instituto Federal do Piauí. E-mail: wellingtongeo@gmail.com


2 Universidade Federal do Piauí. E-mail: iracildemourafelima@gmail.com

[ 857 ]
858 Francisco Wellington de Araujo Sousa

1 INTRODUÇÃO
Os estudos ambientais na ciência geográfica são de grande relevância para o conheci-
mento dos aspectos físicos como também humanos, pois estas pesquisas que na maior parte
levam em consideração os aspectos socioeconômicos, ou seja, tratam da relação existente
entre sociedade/natureza, são extremamente necessárias para a compreensão do espaço
como um todo.
Desta maneira, as pesquisas baseadas na análise dos aspectos físicos, ao considerar o
estudo integrado dos componentes que constituem a paisagem, possibilitam compreender o
funcionamento e a dinâmica dos ambientes naturais e as alterações ocasionadas pelas ativida-
des antrópicas (SANTOS; SOUZA, 2014).
Marques (2007) salienta que a visão holística da paisagem e a necessidade da compreen-
são das relações entre a natureza e sociedade criaram visões e enfoques para as pesquisas
ambientais. Nesse bojo, os estudos em geografia física onde se considera a abordagem geo-
morfológica como caminho analítico primordial, possibilita o entendimento da dinâmica exis-
tente entre os aspectos físicos e as atividades desenvolvidas pela sociedade.
Conforme destaca Christofoletti (2007), os estudos sobre o relevo são essenciais na com-
preensão do ambiente natural, pois este elemento permite a integração com o clima, vegeta-
ção, água e solos, no contexto dos sistemas ambientais físicos, que se tornam o objeto de
estudo da geografia física.
Nessa discussão, Silva (2007) corrobora ao apontar que as pesquisas que têm como base
definir, classificar e analisar as formas de relevo, possibilitam o conhecimento sobre a forma e
a natureza do substrato físico onde se realizam as atividades humanas. Estas análises podem
ser utilizadas na organização do conhecimento ambiental, gerando informações relevantes
para o planejamento territorial.
Nesse contexto, torna-se de extrema importância o uso de técnicas de geoprocessa-
mento e sensoriamento remoto nas pesquisas ambientais, especialmente nos mapeamentos
geomorfológicos. Essas ferramentas denominadas geotecnologias, constituem instrumentos
que permitem uma análise precisa da superfície terrestre e os fenômenos e processos envolvi-
dos (CAVALCANTI, 2000).
Desse modo, as geotecnologias constituem atualmente elementos essenciais nos estu-
dos da geografia, pois auxiliam uma melhor interpretação e representação dos fenômenos que
se manifestam no espaço geográfico, constituindo-se, portanto, ferramentas fundamentais
para fins de ordenamento territorial, análise e monitoramento ambiental (ROSA, 2005; SILVA;
ROCHA; AQUINO, 2016).
Nessa conjuntura, o presente trabalho teve como objetivo analisar os aspectos do relevo
da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas, a partir da utilização de Sistema de
Informação Geográfica (SIG) e imagens SRTM. A importância da pesquisa está relacionada a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO 859

ampliação do conhecimento da área, auxiliando no processo de planejamento ambiental e


ordenamento do território.

2 METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido a partir dos seguintes procedimentos metodológicos: pes-
quisa bibliográfica, técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto em laboratório,
além de inspeções à campo. O levantamento bibliográfico foi baseado em leituras de livros e
artigos sobre a temática abordada, assim como foi realizado uma pesquisa em sites de órgãos
e outras fontes como suporte para a caracterização da área de estudo.
Para a realização e confecção do mapeamento temático foi utilizado um conjunto de
dados matriciais e vetoriais, a saber: arquivos raster da Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM), obtidos de forma gratuita no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
Brasil Topodata; shapefiles do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Agência
Nacional de Águas (ANA).
Para a confecção do mapa hipsométrico e de declividade, inicialmente foi realizado a
aquisição e tratamento dos dados SRTM, folhas 06S42_ZN, 06S405_ZN, 07S42_ZN e 07S405_
ZN, no formato geotiff, 32 bits, resolução de 30 metros. Foi feito um mosaico dessas cenas,
através das ferramentas ArcToolbox > Data Management Tools > Raster > Raster Dataset >
Mosaic To New Raster.
Posterior a esse procedimento, foi desenvolvido o recorte da área de pesquisa através da
ferramenta Spatial Analyst Tools, Extraction e opção Extract By Mask utilizando como arquivo
de entrada a imagem SRTM. O passo seguinte consistiu em reprojetar o arquivo para o sistema
Universal Transversal de Mercator (UTM) por meio da ferramenta “Data Management Tools >
projections and transformations > raster > Project raster”. Após esse procedimento foi reali-
zado a classificação dos valores de altitude, considerando o intervalo de 90 metros.
Com as informações do Modelo Digital de Elevação (MDE) delimitadas no software
ArcGis, foi desenvolvido em seguida a aplicação do relevo sombreado, através das ferramentas
“Spatial analyst tools > surface > hillshade” para uma melhor representação das classes de alti-
tude no mapa gerado.
O mapa de declividade foi desenvolvido a partir das ferramentas “Spatial Analyst Tools >
surface > slope”. Em seguida foi feito a delimitação de 5 classes que variam de plano a monta-
nhoso/escarpado, tendo como referência as classes definidas pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 1979).
Os mapas gerados tiveram como referencial geodésico o Sistema de Referência
Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), sendo este o Datum oficial adotado no Brasil.
Todo o mapeamento cartográfico foi realizado através do software ArcGis versão 10.2 (licença

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


860 Francisco Wellington de Araujo Sousa

disponível no laboratório de Cartografia Escolar e Geotecnologias da Universidade Federal do


Piauí – UFPI).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Localização Geográfica
A porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas (figura 1) está localizada entre as
coordenadas 06º30’ e 07º20 de latitude Sul; 41º40’ e 40º50’ de longitude Oeste, perfazendo
uma área de aproximadamente 2.285,06 km2. Situa-se na região sudeste do estado do Piauí, na
área da Região Geográfica Imediata Picos, inserida no Território de Desenvolvimento Vale do
Rio Guaribas (BRASIL, 2006).

Figura 1 – Mapa de localização da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas, Piauí

Fonte: ANA (2017); CPRM (2014); IBGE (2017). Organização: Os autores (2020).

A área de estudo engloba em parte doze municípios, a saber: Aroeiras do Itaim, Bocaina,
Paquetá, Picos, Pimenteiras, Pio IX, Santana do Piauí, Santo Antônio de Lisboa, São João da
Canabrava, São José do Piauí, São Luís do Piauí e Sussuapara. Todos são pertencentes ao estado
do Piauí e encontram-se inseridos na região semiárida do Nordeste brasileiro.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO 861

3.2 Caracterização Ambiental


No que se refere às características ambientais da POBHG, observa-se que esta encontra-
-se alicerçada num ambiente predominantemente de estrutura sedimentar, distinguidas nas
rochas da Bacia do Parnaíba (de idade Paleozoica) e os depósitos recentes da era Cenozoica. As
unidades geológicas constituintes da Bacia do Parnaíba correspondem à Formação Jaicós
(7,79%), Formação Pimenteiras (30%) e a Formação Cabeças (38,13%). Já as Coberturas Detrito-
lateríticas abrangem 24,08% da área de pesquisa (figura 2).

Figura 2 – Mapa da base geológica da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas, Piauí

Fonte: IBGE (2014), ANA (2017). Organização: Os autores (2020).

No que concerne ao clima da POBHG, toda sua extensão territorial encontra-se inserida
na região semiárida do Nordeste brasileiro, que apresenta como principais características: ele-
vadas médias anuais de temperatura (27°C) e uma evaporação em torno de 2.000 milímetros,
sendo as precipitações pluviométricas com média anual inferior a 800 milímetros, concentra-
das em até três a cinco meses e distribuídas de forma irregular (BRASIL, 2005).
Os aspectos hidrográficos da Porção Oeste da Bacia Hidrográfica do rio Guaribas se carac-
terizam por rios e riachos efêmeros ou temporários, influenciados pelo clima da região. Desse

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


862 Francisco Wellington de Araujo Sousa

modo, além do rio Guaribas, os principais canais fluviais da área pesquisada correspondem os
riachos Cana-Brava e dos Macacos pela margem direita, e o riacho Grotão pela margem esquerda.
Com relação às características pedológicas da POBHG, a partir do mapeamento realizado
pelo projeto RADAMBRASIL, e posterior atualização do IBGE, disponibilizado no portal eletrô-
nico da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE), pode-se constatar que na área de
pesquisa ocorrem os seguintes tipos de solos: Argissolo Vermelho Eutrófico (16,5%), Latossolo
Amarelo Distrófico (30,2%), Neossolo Flúvico Ta Eutrófico (4,1%), Neossolo Litólico Distrófico
(41,2%), Neossolo Quartzarênico Órtico (5%) e Plintossolo Pétrico Litoplíntico (3%), conforme
se observa na figura 3.

Figura 3 – Mapa de tipos de solos da Porção Oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas

Fonte: ANA (2017), IBGE (2014). Organização: Os autores (2020).

A vegetação da área de pesquisa se caracteriza pela predominância da caatinga, que


apresenta em grande parte da região um rarefeito revestimento das espécies vegetais, com
fisionomias compostas por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio, com cerca
de três a sete metros. As espécies encontradas são caducifólias, que conforme salienta Ab’
Saber (2003) se adaptaram ao clima semiárido através da perda da folhagem, como forma de
conter os efeitos da evapotranspiração muito intensa.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO 863

3.3 Aspectos do relevo da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas


O relevo da área de estudo apresenta altitudes variáveis (figura 4), caracterizado por
modelados de dissecação, acumulação e aplainamento. As menores altitudes (170 – 260 m),
correspondem a 2,7% da área de pesquisa, encontradas ao longo da planície do rio Guaribas,
principalmente no seu baixo curso. Compreendem, portanto, áreas com superfícies de acumu-
lação, de declives predominantemente planos, resultantes da acumulação fluvial, como se
observa na figura 5.

Figura 4 – Mapa hipsométrico da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas

Fonte: ANA (2017); Topodata/INPE (2019). Organização: Os autores (2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


864 Francisco Wellington de Araujo Sousa

Figura 5 – Fotografia da área de planície do Guaribas no município de


Picos, Piauí

Fonte: Sousa (dez. 2018).

As áreas com altitudes que variam de 260 a 440 metros (46,8% do total da POBHG), apre-
sentam terrenos aplainados por dissecação, que se encontram arrasados por processos erosi-
vos generalizados em diferentes formas de relevo. Os morros e as colinas compreendem
algumas das formas de relevo residuais que podem apresentar essas cotas altimétricas. Com
base na interpretação visual do relevo sombreado, apoiada nas inspeções de campo pode-se
identificar esse conjunto de formas predominantes, como se observa na figura 6.

Figura 6 – Painel de fotos que destacam formas de relevo residuais. Em – A – Colina; B – Morros

Fonte: Sousa (dez. 2019).

Os terrenos que apresentam altitudes entre 440 a 620 metros (44% do total da POBHG),
também se caracterizam por áreas com intensa dissecação. Observa-se um arrasamento dos ter-
renos com superfícies de aplainamento e a presença de relevos residuais, como as chapadas, os
planaltos rebaixados tabuliformes e as feições ruiniformes. É formada por topografias com decli-
ves planos, suave ondulados e em algumas áreas apresentam o aspecto forte ondulado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO 865

No que se refere às chapadas (Figura 7), estas formas de relevo consistem vastas super-
fícies planálticas, por vezes horizontais, com cotas que variam entre 400 e 700 metros. Estão
profundamente entalhados por uma rede de vales encaixados, constituídos em grande parte
por camadas de arenito. Ao ocorrer uma sucessão de chapadas denomina-se chapadão
(GUERRA; GUERRA, 2011).

Figura 7 – Fotografia destacando chapadas em São José do Piauí

Fonte: Sousa (jan. de 2020).

As altitudes mais elevadas com valores altimétricos entre 620 e acima de 700 m corres-
pondem a 6,5% da área de pesquisa, e são representadas pela formação Jaicós e pelos Depósitos
detrito-lateríticos. São encontradas na porção Nordeste da POBHG, o que corresponde ao
Planalto da Ibiapaba (Figura 8).

Figura 8 – Fotografia destacando Planalto da Ibiapaba em São Luís do


Piauí

Fonte: Sousa (dez. 2019).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


866 Francisco Wellington de Araujo Sousa

A declividade do relevo da área de pesquisa é caracterizada por apresentar uma predo-


minância de baixos índices de inclinação do terreno, que correspondem as áreas planas e suave
onduladas. Desse modo, 76,3 % da área possui relevo plano a suave ondulado, com 1.743,18
km2 e estando distribuída em toda a área da POBHG. Também distribuída em toda a extensão
da área de pesquisa, a classe ondulada (8 a 20% de declive) compreende 14,8%, equivalente a
337,41 km2. Já a classe forte ondulado e montanhoso possuem em conjunto uma área de 204,47
km2, o que corresponde a 7,3 % e 1,6 % respectivamente. A figura 9 apresenta o mapa clinográ-
fico da POBHG, com as respectivas classes divididas em porcentagem.

Figura 9 – Mapa clinográfico da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas

Fonte: ANA (2017); Topodata/INPE (2019). Organização: Os autores (2020).

Ao estabelecer uma relação das características do relevo da POBHG com os demais com-
ponentes do meio físico (solos e vegetação), alguns aspectos devem ser abordados. Verifica-se
que nas áreas ao longo da planície do rio Guaribas, onde se observa as menores altitudes,
especificamente no baixo curso, há o predomínio dos Neossolos Flúvicos Ta Eutróficos como
também ocorrem os Argissolos Vermelhos Eutróficos. A vegetação nas áreas de planície apre-
senta uma fisionomia mais densa, devido as características de umidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SIG E DE IMAGENS SRTM NA CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO 867

Destaca-se que, a POBHG é caracterizada pelo predomínio de áreas com relevo plano e
suaves ondulados, que em sua maior parte encontram-se bem dissecados. A forte dissecação
dos terrenos garante ao ambiente da região a existência de solos com grande vulnerabilidade
aos processos erosivos, principalmente os Neossolos Litólicos Distróficos. Esses solos estão em
sua maior parte revestidos por uma vegetação rarefeita, com fisionomias arbustivas e pre-
sença de cactáceas.
Nas áreas com relevo plano e altitudes que variam de 500 a 700 metros, verifica-se um
maior predomínio dos Latossolos Amarelo Distróficos. Esses solos são encontrados principal-
mente nos topos de chapadas, localizados na porção Oeste da área de pesquisa, assim como
nas áreas de planaltos (com altitudes acima dos 600 metros) na porção Nordeste da POBHG. A
vegetação dessas áreas que apresentam cotas altimétricas elevadas possui um porte mais
arbóreo, ou seja, uma fisionomia mais densa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos procedimentos realizados com base nas imagens SRTM e no geoprocessa-
mento, foi possível compreender algumas características do relevo da POBHG. Constatou-se
que a área de pesquisa apresenta grandes altitudes, caracterizada por uma amplitude altimé-
trica situada entre 170 a 720 metros, e uma declividade do terreno com predomínio de relevo
plano e suave ondulado, que se encontram em grande parte bem dissecados.
Portanto, as técnicas de geoprocessamento associado ao sensoriamento remoto consis-
tiram então ferramentas essenciais que permitiram entender as características geomorfológi-
cas, sendo, portanto, indispensáveis aos estudos ambientais, principalmente no que se refere
ao entendimento da paisagem como auxílio para o planejamento ambiental.

5 REFERÊNCIAS
AB’ SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial,
2003.
BRASIL. Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF). Plano de Ação
para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Parnaíba, PLANAP: síntese executiva: Território Vale do Rio
Guaribas. Brasília, DF: TDA Desenhos & Arte Ltda., 2006.
CAVALCANTI, A. P. B. Geoprocessamento. Teresina – PI: Edição do autor, 2000.
CHRISTOFOLETTI, A. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos projetos de planejamento. In:
GUERRA, A. J. T. CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7 ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2007, p. 415-440.
GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo Dicionário geológico-geomorfológico. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2011.
MARQUES, J. S. Ciência geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T. CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de
bases e conceitos. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 23-50.
ROSA, F. S. Geotecnologias na geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, n.16, p. 81-90, 2005.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


868 Francisco Wellington de Araujo Sousa

SANTOS, J. O.; SOUZA, M. J. N. Abordagem Geoambiental aplicada à análise da vulnerabilidade e dos riscos em
ambientes urbanos. Boletim Goiano Geografia. (Online). Goiânia, v. 34, n. 2, p. 215-232, maio/ago. 2014.
SILVA, J. X. Geomorfologia e Geoprocessamento. In: GUERRA, A. J. T. CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma
atualização de bases e conceitos. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 365-391.
SILVA, F. J. L. T.; ROCHA, D. F.; AQUINO, C. M. S. Geografia, Geotecnologias e as novas tendências da
geoinformação: indicação de estudos realizados na região Nordeste. InterEspaço, Grajaú/MA, v. 2, n. 6, p. 176-
197, mai./ago. 2016.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


74. VULNERABILIDADE NATURAL
E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS
DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO CLARO-GO

ANA ELISA DE LIMA OLIVEIRA1


PEDRO DAMASCENO MONTEIRO DA SILVA2
PÂMELA CAMILA ASSIS3
MAXIMILIANO BAYER4

Resumo: O estudo da vulnerabilidade deve ser incorporado ao planejamento ambiental de uma


bacia hidrográfica, de forma a produzir informações sobre os fatores físicos e a pré-disposição da
área frente aos processos de perda de solo, para que seja possível detectar as zonas mais suscetí-
veis, visando minimizar os impactos sobre o meio ambiente. Desta forma, o objetivo deste traba-
lho foi avaliar a vulnerabilidade natural e ambiental à perda de solo da bacia hidrográfica do Rio
Claro, um dos principais afluentes do Rio Araguaia. Para a obtenção das classes de vulnerabilidade,
foram avaliados os temas: geologia, solos, relevo e cobertura e uso do solo, seguindo a metodolo-
gia proposta por Crepani et al. (2001). Os resultados mostraram um equilíbrio entre a pedogênese
e a morfogênese, pois na maior parte da bacia predominam áreas medianamente vulneráveis, fato
que está relacionado à grande presença de rochas ígneas e metamórficas, relevos mais planos e
solos profundos/desenvolvidos, o que confere uma maior estabilidade em relação aos processos
de erosão, apesar de a região ser composta, majoritariamente, por áreas destinadas à pastagem e
agricultura. Além disso, também foi possível constatar a viabilidade da aplicação do método para
a elaboração de mapas de vulnerabilidade e a importância das geotecnologias para a construção
do trabalho.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Erosão; Rio Araguaia; Rio Claro; Vulnerabilidade.
Abstract: The study of vulnerabilities must be incorporated into the environmental planning of a
hydrographic basin, to produce information about the physical factors and the predisposition of
the area towards the soil loss processes, to make it possible to detect more susceptible zones,
aiming to decrease the impacts over the environment. This way, the mean goal of this work was to
assess the natural vulnerability and environmental to the soil loss of the Rio Claro hydrographic
basin, one of the most important tributaries of the Rio Araguaia. To get the vulnerability classes

1 Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: ana.elisa.lima@discente.ufg.br


2 Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: pedromasceno@discente.ufg.br
3 Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: pamela.assis1994@gmail.com
4 Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: maxbayer@ufg.br

[ 869 ]
870 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

was considered the themes: geology, soil, relief, and cover and use of the soil, according to the
methodology proposed by Crepani et al. (2001). The results show a balance between pedogenesis
and morphogenesis because most of the basin predominate moderately vulnerable areas, a fact
that is related to the great presence of igneous and metamorphic rocks, more flat relief, and deep/
developed soils. This gives more stability to the erosion process, despite the region being mostly
made of areas to pasture and agriculture. Furthermore, it is also possible to verify the feasibility of
applying the method for making maps of vulnerability and the importance of geotechnology to the
construction of the work.
Keywords: Hydrographic basin; Erosion; Rio Araguaia; Rio Claro; Vulnerability.

1 INTRODUÇÃO
A esculturação do modelo terrestre é fortemente influenciada pelas bacias hidrográficas
e suas redes de drenagem, uma vez que as direções dos fluxos superficiais da água definem os
mecanismos erosivo-deposicionais e são resultados da interação do tipo de solo, aspectos geo-
lógicos, relevo e cobertura vegetal (PINTO et al., 2014). Estes fatores, quando modificados
pelas atividades antrópicas, podem intensificar os processos hidrológicos, alterando a vazão
dos cursos d’água e/ou ampliando a quantidade de sedimentos a serem transportados
(MESQUITA; ASSIS; SOUZA, 2010).
Nas últimas décadas houve uma alteração significativa do volume de carga de sedimen-
tos transportados pelo sistema fluvial do rio Araguaia, o que acelerou a sedimentação em todo
o curso médio do rio, representando uma das maiores áreas de armazenagem de sedimentos
do Cerrado (BAYER, 2010). Este fato é resultado da degradação de suas bacias afluentes como,
por exemplo, a bacia hidrográfica do Rio Claro que, segundo Faria et al. (2012, p. 114) “encon-
tra-se altamente degradada, com predomínio de atividades antrópicas e fragmentos remanes-
centes dispersos”, o que acaba aumentando a ocorrência de processos erosivos, o assoreamento
de cursos d’água, a degradação do solo, a frequência de enchentes, além de afetar direta-
mente a fauna e a flora (PINTO et al., 2014).
Para Mota e Valladares (2011), o estudo da vulnerabilidade à erosão deve ser incorpo-
rado ao planejamento ambiental de uma bacia hidrográfica, para que seja possível detectar as
áreas mais suscetíveis à perda de solo, de forma a regular as atividades antrópicas sobre as
mesmas e minimizar os impactos sobre o meio ambiente. A vulnerabilidade pode ser natural
ou ambiental. A vulnerabilidade natural “corresponde ao grau de probabilidade que os atribu-
tos naturais têm em condicionar, induzir ou acelerar a ocorrência de um determinado perigo”
(ALMEIDA; BAYER; JÚNIOR, 2016, p. 84), enquanto a vulnerabilidade ambiental é a suscetibili-
dade de um ambiente a sofrer um impacto potencial provocado por atividades antrópicas
(TAGLIANI, 2003).
Simões et al. (1998, p. 4) salienta que “o conhecimento da vulnerabilidade natural é fun-
damental para prever o comportamento futuro dos sistemas naturais diante do processo de
ocupação e adensamento da atividade social”. Neste contexto, este trabalho buscou avaliar a
vulnerabilidade natural e ambiental à perda de solo da bacia hidrográfica do Rio Claro-GO,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CLARO-GO 871

através da análise integrada das variáveis declividade, solos, geologia e uso e cobertura do
solo, baseando-se na metodologia proposta por Crepani et al. (2001), a fim de apontar quais de
suas áreas são mais vulneráveis e fornecer subsídios para o planejamento ambiental nesta
bacia hidrográfica.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O Rio Claro caracteriza-se por ser um dos mais importantes afluentes do Rio Araguaia –
que abrange amplas áreas do bioma Cerrado, além de ser considerado um dos sistemas fluviais
mais importantes do Brasil (BAYER, 2010). A bacia hidrográfica do Rio Claro (Figura 1) está loca-
lizada na porção oeste de Goiás. Esta bacia compreende os municípios de Montes Claros de
Goiás, Jussara, Diorama, Jaupaci, Fazenda Nova, Iporá, Israelândia, Amorinópolis, Ivolândia,
Mioporá, Corrégo do Ouro, Buriti de Goiás, Cachoeira de Goiás, Aurilândia, São João do Paraúna,
Firminópolis, São Luís dos Montes Belos, Sanclerlândia e Mossâmedes, drenando uma área de,
aproximadamente, 10.245,16 km2.

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do Rio Claro-GO

Fonte: Galeria do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


872 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

2.2 Base de Dados e Procedimentos Metodológicos


A primeira etapa do trabalho destinou-se à obtenção da base de dados referente aos
tipos de solos da bacia (escala 1:150.000), que seguiu a metodologia proposta por Nunes
(2015). O dado de geologia (escala de 1:250.000), é referente ao Projeto RADAMBRASIL (IBGE,
2017). Já o dado de cobertura e uso do solo (escala de 30m x 30m), referente ao ano de 2020,
foi obtido na plataforma do Projeto MapBiomas – Coleção 6 (MAPBIOMAS, 2020). O Modelo
Digital de Elevação utilizado, com resolução espacial de 30 metros, é resultado do projeto
Shuttle Radar Topography Mission (SRTM/TOPODATA), produzido no Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – INPE (http://www.dsr.inpe.br/topodata). Todo o processamento de dados
foi realizado no software de SIG ArcGIS versão 10.3.
Seguindo a metodologia proposta por Crepani et al. (2001), elaborou-se as cartas de vul-
nerabilidade natural e ambiental à perda de solos para a bacia hidrográfica do Rio Claro. No
software ArcGIS, fez-se a reclassificação dos arquivos vetoriais (geologia, solos e cobertura do
solo), através da tabela de atributos, conferindo pesos às classes analisadas e, posteriormente,
os arquivos vetoriais foram convertidos em arquivos matriciais/raster. Após esta etapa e com
todas as variáveis no formato raster, foi possível realizar a álgebra de mapas, entendida como
um conjunto de procedimentos de análise espacial que aplicam operações matemáticas em
um ou mais mapas, tratando-os como variáveis individuais e realizando a intersecção entre
eles, de forma a gerar novos dados (BARBOSA et al., 1998). Para isto, utilizou-se a ferramenta
Raster Calculator.
Para analisar a vulnerabilidade natural à perda de solos da bacia do Rio Claro, fez-se o
cruzamento das variáveis declividade, solos e geologia (Equação 1). Posteriormente, a carta
resultante foi correlacionada aos dados de uso e cobertura do solo, gerando a carta de vulne-
rabilidade ambiental da área de estudo (Equação 2).
(1)
Onde:
VN = Vulnerabilidade Natural à Perda de Solos
R = Vulnerabilidade para o tema Declividade
G = Vulnerabilidade para o tema Geologia
S = Vulnerabilidade para o tema Solos
(2)
Onde:
VA = Vulnerabilidade Ambiental à Perda de Solos Considerando o Grau de Proteção da Terra
VN = Vulnerabilidade Natural à Perda de Solos
VG = Vulnerabilidade para o tema Uso e Cobertura do Solo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CLARO-GO 873

2.3 Atribuição de Pesos Para as Classes de Vulnerabilidade à Perda de Solos


Para cada classe analisada foi atribuído um peso, pois o resultado da média aritmética
entre os valores de cada um dos temas indicará a posição dos mesmos em uma escala de vul-
nerabilidade à perda de solos na bacia do Rio Claro (Quadro 1). Valores próximos a 1,0 indicam
uma situação estável e a predominância de processos pedogenéticos (formadores de solos);
valores próximos a 2,0 indicam o equilíbrio entre os processos de pedogênese e morfogênese;
e valores próximos a 3,0 revelam uma situação instável, com a prevalência dos processos mor-
fogenéticos (esculturação do relevo).

Quadro 1 – Escala de vulnerabilidade da morfodinâmica natural

Categoria Morfodinâmica Relação Pedogênese/Morfogênese Valor

Estável Prevalece a Pedogênese 1,0

Intermediária Equilíbrio Pedogênese/Morfogênese 2,0

Instável Prevalece a Morfogênese 3,0


Fonte: Crepani et al. (2001); Org.: Os autores (2021).

2.3.1 Vulnerabilidade para o tema Declividade


As classes de declividade da bacia hidrográfica do Rio Claro foram divididas em cinco, tal
qual como o apresentado por Crepani et al. (2001). Desta forma, foi possível atribuir diferentes
pesos para os ângulos de inclinação encontrados, como mostra o Quadro 2.
Quadro 2 – Classes e pesos atribuídos ao tema clinografia/declividade

Declividade (%) Classes Val. de Vulnerabilidade

< 8% Estável 1,0

8 – 15% Moderadamente Estável 1,5

15 – 25% Medianamente Vulnerável 2,0

25 – 40% Moderadamente Vulnerável 2,5

> 40% Vulnerável 3,0


Fonte: Crepani et al. (2001); Org.: Os autores (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


874 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

2.3.2 Vulnerabilidade para o tema Geologia

A vulnerabilidade para o tema geologia apresenta os pesos atribuídos às litologias encon-


tradas na bacia em estudo (Quadro 3), seguindo o proposto por Crepani et al. (2001), que con-
sidera o nível de coesão das rochas um fator determinante para indicar se nelas irão prevalecer
os processos erosivos ou os processos de intemperismo e/ou pedogenéticos.

Quadro 3 – Classes e pesos atribuídos ao tema geologia

Val. de
Unidades Geológicas Classes
Vulnerabilidade
Unidade Quartzito-Conglomerática – Serra
Estável 1,0
Dourada
Suíte Intrusiva – Serra Negra Estável 1,1
Granitos Tipo Rio Piracanjuba Estável 1,1
Granitos Tipo Aragoiânia Estável 1,1
Ortognaisse do Oeste de Goiás Estável 1,3
Complexo Uvá Estável 1,3
Unidade Metavulcano-Sedimentar – Jaupaci Moderadamente Estável 1,5
Sequência Metavulcano-Sedimentar
Moderadamente Estável 1,7
Anicuns-Itaberaí
Sequência Metavulcano-Sedimentar
Medianamente Vulnerável 1,8
Iporá-Amorinópolis
Morro do Engenho Medianamente Vulnerável 1,8
Suíte Máfico-Ultramáfica Tipo Americano do Brasil Medianamente Vulnerável 1,8
Stocks e Diques Máfico-Ultramáficos Medianamente Vulnerável 1,8
Formação Furnas Moderadamente Vulnerável 2,4
Formação Ponta Grossa Moderadamente Vulnerável 2,4
Formação Aquidauana Moderadamente Vulnerável 2,4
Formação Vale do Rio Do Peixe Moderadamente Vulnerável 2,4
Areias Quartzosas Moderadamente Vulnerável 2,4
Aluviões Holocênicos Vulnerável 3,0
Terraços Holocênicos Vulnerável 3,0
Cobertura Detrito-Laterítica Neo-Pleistocênica Vulnerável 3,0
Cobertura Detrito-Laterítica Neogênica Vulnerável 3,0
Fonte: Crepani et al. (2001); Org.: Os autores (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CLARO-GO 875

2.3.3 Vulnerabilidade para o tema Solos


O solo é o agente passivo da erosão, entretanto, são vários os fatores que irão determi-
nar se um solo é mais ou menos suscetível aos processos erosivos. Crepani et al. (2001) destaca
que os fatores mais importantes são a estrutura, permeabilidade e profundidade do solo; tipo
e quantidade das argilas, além da presença de camadas impermeáveis. Desta forma, este autor
define diferentes graus de vulnerabilidade para os tipos de solo existentes na literatura, levando
em consideração os fatores supracitados. As classes de solo da bacia, com seus respectivos
pesos, estão demonstrados no Quadro 4.

Quadro 4 – Classes e pesos atribuídos ao tema solos

Tipos de Solos Classes Val. de Vulnerabilidade

Latossolo Vermelho Estável 1,0

Latossolo Vermelho-Amarelo Estável 1,0

Argissolo Vermelho-Amarelo Medianamente Vulnerável 2,0

Argissolo Vermelho Medianamente Vulnerável 2,0

Cambissolo Háplico Moderadamente Vulnerável 2,5

Gleissolo Háplico Vulnerável 3,0

Neossolo Litólico Vulnerável 3,0


Fonte: Crepani et al. (2001); Org.: Os autores (2021).

2.3.4 Vulnerabilidade para o tema da Cobertura e Uso do Solo


A variável cobertura vegetal é um fator de proteção contra a erosão, pois solos descober-
tos são mais vulneráveis, enquanto solos com uma maior densidade vegetacional são mais
estáveis e menos suscetíveis aos processos morfogenéticos/erosivos. As classes e pesos atri-
buídos levaram em consideração a classificação proposta por Crepani et al. (2001) onde: para
as altas densidades de cobertura, os valores atribuídos na escala de vulnerabilidade se aproxi-
maram da estabilidade (1,0); para as densidades intermediárias, atribuiu-se valores interme-
diários (ao redor de 2,0); e para baixas densidades de cobertura vegetal, os valores dados se
aproximaram da vulnerabilidade (3,0). Os tipos de uso e cobertura do solo encontrados na área
de estudo, de acordo com os dados do MapBiomas (2020), estão apresentados no Quadro 5.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


876 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

Quadro 5 – Classes e pesos atribuídos ao tema cobertura e uso do solo

Tipos de Cobertura e Uso do Solo Classes Val. de Vulnerabilidade

Rio, Lago e Oceano Estável 1,0

Formação Florestal Moderadamente Estável 1,6

Campo Alagado e Área Pantanosa Moderadamente Estável 1,7

Formação Savânica Medianamente Vulnerável 2,0

Silvicultura Medianamente Vulnerável 2,0

Formação Campestre Moderadamente Vulnerável 2,5

Pastagem Vulnerável 2,8

Mosaico de Agricultura e Pastagem Vulnerável 2,9

Lavoura Perene – Café (beta) Vulnerável 2,9

Lavoura Temporária – Cana Vulnerável 3,0

Lavoura Temporária – Soja Vulnerável 3,0

Outras Lavouras Temporárias Vulnerável 3,0

Área Urbanizada Vulnerável 3,0


Fonte: Crepani et al. (2001); Org.: Os autores (2021).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Primeiramente serão expostas a vulnerabilidade de cada variável – geologia, solos, decli-
vidade e uso e cobertura (Figura 2), para posteriormente serem apresentadas as avaliações de
vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do Rio Claro.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CLARO-GO 877

Figura 2 – Cartas temáticas necessárias para a elaboração da carta de vulnerabilidade morfodinâmica


ambiental à perda de solos da bacia hidrográfica do Rio Claro-GO

Fonte: Galeria do autor.

A observação acerca da estabilidade geológica da região é compreendida através das


unidades que dão suporte para a área, em suma as rochas metamórficas, como o Ortognaisse
do Oeste de Goiás e a Sequência Metavulcano-Sedimentar Anicuns-Itaberaí, que dão a estabi-
lidade necessária para que a área em análise não seja majoritariamente vulnerável. Já as uni-
dades que conferem instabilidade para a região são os depósitos sedimentares como, por
exemplo, a Formação Aquidauana, Formação Furnas e Cobertura Detrito-Laterítica Neo-
Pleistocênica (Figura 2).
É importante ressaltar que a bacia do Rio Claro possui cerca de 60% da área classificada
como estável a moderadamente estável, e essas formações rochosas aparecem no sudeste e
no centro da bacia. Entretanto, 40% da bacia encontra-se classificada como moderadamente
vulnerável a vulnerável, sendo que essas formações possuem maior ocorrência na região
noroeste e sudoeste da região de estudo. A porção sul e sudoeste da bacia, é composta majo-
ritariamente pela Formação Aquidauana (sedimentar), apresentando alta vulnerabilidade.
Quanto a parte baixa da bacia, próximo a confluência com o rio Araguaia (porção noroeste),
por também apresentar rochas sedimentares como: Aluviões Holocênicos Cobertura Detrito-
Laterítica Neo-Pleistocênica e Formação Furnas com arenitos consolidados, a vulnerabilidade

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


878 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

segue alta, devido à capacidade de sofrer intemperismo e assim ocasionar o carreamento de


particulado para o leito do rio (Figura 2).
Os Latossolos, conforme definição do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS
(EMBRAPA, 2018), são solos intemperizados, bem desenvolvidos e profundos, possuindo ele-
vada porosidade e apresentando boa aptidão agrícola. Esses solos correspondem a cerca de
41% da área total da bacia e são classificados como estáveis. Já o mediamente vulnerável cor-
responde à classe de Argissolo, compreendendo cerca de 39% da área da bacia (Figura 2). Este
solo apresenta horizonte B textural, com acúmulo de argila em profundidade, e está relacio-
nado à declives acidentados e dissecados (EMBRAPA, 2018).
Os solos classificados como de alta vulnerabilidade são os Gleissolos e os Neossolos
Litólicos, representando 11% da região de estudo (Figura 2). Os Gleissolos que ocupam, princi-
palmente, a porção noroeste (baixa bacia) da área de estudo – confluente ao rio Araguaia,
estão sobre a unidade geológica Aluviões Holocênicos. São solos hidromórficos encontrados
em áreas úmidas próximas a rios e/ou em locais onde há elevação do lençol freático, possuindo
alta suscetibilidade à erosão. Já os Neossolos Litólicos, estão relacionados às áreas da bacia
que apresentam declividade acima de 40%, sendo encontrados, principalmente, na porção
central da área de estudo. São solos jovens e pouco desenvolvidos, encontrados em locais
declivosos e com afloramento rochoso. Além disso, mesmo com uma base de granitoide, eles
são facilmente degradados, já que são pouco coesos, e em caso de alteração da vegetação
nativa, são facilmente erodidos (EMBRAPA, 2018).
A análise da perda de solo baseia-se na cobertura que a vegetação e a atividade antró-
pica proporcionam ao solo. As áreas mais estáveis da bacia seriam as regiões de Campos
Alagados e Áreas Pantanosas, zonas úmidas que não possuem grande potencial de erosão,
assim como as regiões ocupadas por vegetação com espécies arbóreas e formação de dossel,
como as Formações Florestais, representando 12,31% da bacia, pois são vegetações que dimi-
nuem o escoamento superficial, aumentando a capacidade de infiltração da água no solo e evi-
tando problemas como a erosão.
Já as áreas classificadas como medianamente a moderadamente vulneráveis englobam
cerca de 12% da bacia e apresentam coberturas vegetais do tipo: Formações Savânicas,
Silviculturas e Formações Campestres, que compreendem vegetações arbustivas e herbáceas.
À medida que ocorre a diminuição da cobertura da superfície pelo dossel, aumenta o nível de
vulnerabilidade do solo. Neste sentido, esses tipos de cobertura vegetal correspondem às
zonas com potencial erosivo médio, devido à maior exposição do solo e, no caso da Silvicultura,
ao ciclo do manejo deste tipo de cultura.
A vegetação natural da área de estudo se encontra bastante fragmentada, devido ao ace-
lerado processo de uso e ocupação das terras na bacia do rio Claro, onde houve a substituição
de áreas naturais por aquelas destinadas à agricultura e pastagem, principalmente. Analisando
a carta de vulnerabilidade do uso e cobertura do solo (Figura 2), é possível observar que as

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CLARO-GO 879

classes de agricultura, juntamente com a pastagem, são as que se apresentam em maior pro-
porção na área (74,26%), conferindo-lhe alto grau de vulnerabilidade. As áreas de pastagem
ocupam, majoritariamente, toda a área da bacia, sendo regiões que sofrem com o pisoteio do
gado e, quando estão posicionadas em relevo mais movimentado – como na porção central da
bacia, atuam como aceleradores dos processos erosivos.
Na relação declividade-erosão, entende-se que quanto maior a declividade, maior será a
velocidade de escoamento e o volume de sedimentos carreados e, portanto, maior será a ero-
são. A bacia hidrográfica do rio Claro apresenta, em sua maioria, relevos mais planos (até 3%)
e suavemente ondulados (3-8%), distribuídos por toda a extensão da bacia, principalmente nas
porções sul, leste e noroeste (em seu exutório), sendo estes relevos mais estáveis e represen-
tando cerca de 80% da área de estudo. Já as áreas classificadas como medianamente vulnerá-
veis a vulneráveis, representam cerca de 19,62% da bacia, e se localizam na porção centro-sul
da mesma, estando relacionadas com a ocorrência de Neossolos Litólicos e a Formação
Aquidauana (Figura 2).
Após a definição da vulnerabilidade de cada um dos elementos analisados anterior-
mente, as cartas de todos esses elementos foram compiladas. A carta síntese corresponde a
vulnerabilidade morfodinâmica natural à perda de solos da bacia do Rio Claro, que quando
considerado o elemento de uso e cobertura da terra, obtém-se a vulnerabilidade morfodinâ-
mica ambiental à perda de solos de acordo com o grau de proteção da terra (Figura 3).
Analisando a carta síntese é possível observar que a classe considerada medianamente
vulnerável predomina na área de estudo, porque apesar de a região ser composta, majoritaria-
mente, por áreas destinadas à pastagem e agricultura, havendo diversos fragmentos florestais,
nela também se fazem presentes muitas áreas com rochas resistentes ao intemperismo, em
sua maioria rochas metamórficas, associadas com as extensas áreas de relevos aplainados e a
presença de solos das classes dos Latossolos e Argissolos, o que confere maior estabilidade à
área de estudo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


880 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

Figura 3 – Carta Síntese – Vulnerabilidade Ambiental da bacia hidrográfica do Rio Claro-GO

Fonte: Galeria do autor.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos de vulnerabilidade são essenciais para planejar e gerir o ambiente de forma
correta, considerando suas características e respeitando as limitações que ele apresenta. Desta
forma, a análise da vulnerabilidade natural e ambiental à erosão pode subsidiar o diagnóstico
ambiental, através do levantamento de informações sobre um determinado ambiente,
incluindo de suas possíveis fragilidades, o que permitirá a busca por possibilidades de minimi-
zar ou até de evitar um impacto.
Analisando cada um dos elementos considerados neste estudo foi possível perceber que
os fatores solo e relevo/declividade influenciam mais a vulnerabilidade natural da área do que
a variável geologia. Além disso, a análise da carta de vulnerabilidade morfodinâmica ambiental
à perda de solos da bacia do rio Claro mostrou que a classe considerada medianamente vulne-
rável predomina na área de estudo, havendo assim um equilíbrio entre a pedogênese e a mor-
fogênese. Apesar de a região ser composta, majoritariamente, por áreas destinadas à pastagem
e agricultura, havendo diversos fragmentos florestais, nela também se fazem presentes muitas
áreas com rochas resistentes ao intemperismo, em sua maioria rochas metamórficas,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


VULNERABILIDADE NATURAL E AMBIENTAL À PERDA DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CLARO-GO 881

associadas com as extensas áreas de relevos aplainados e a presença de solos das classes dos
Latossolos e Argissolos, o que confere maior estabilidade à área de estudo.
A análise de multicritério, que combinou as variáveis geologia, declividade, solo, e uso e
cobertura do solo, se mostrou eficiente no sentido de permitir elaborar o mapa síntese de vul-
nerabilidade ambiental, que posteriormente permitiu análises qualitativas e quantitativas da
tendência erosiva da bacia hidrográfica do Rio Claro, considerando aqui somente alguns aspec-
tos físicos. Além disso, também é importante ressaltar que todas as análises feitas através da
carta síntese de vulnerabilidade ambiental gerada, assim como a elaboração da mesma a partir
dos dados geograficamente referenciados, só foram possíveis graças ao uso de geotecnologias,
o que demonstra a eficiência e importância do geoprocessamento na área ambiental e no
estudo da paisagem como um todo.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


882 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer

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conclusão de curso (Geologia) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
2011. 117 p.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
VIII

PLANEJAMENTO E GESTÃO
DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
75.
A BACIA HIDROGRÁFICA COMO
INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E
GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

DAYANE SUELLEN CABRAL DE MEDEIROS1


JÚLIA RÉLENE DE FREITAS RODRIGUES2
LETÍCIA GABRIELE DA SILVA BEZERRA3
RODRIGO GUIMARÃES DE CARVALHO4

Resumo: A água é um recurso vital para a humanidade, no entanto encontra-se cercada por uma crise
devido, principalmente, a ausência de planejamento e gestão voltados a sustentabilidade do recurso.
Portanto, está pesquisa objetiva realizar uma análise teórica da utilização da Bacia Hidrográfica como
instrumento de planejamento e gestão dos recursos hídricos, visando discorrer sobre sua relevância
para a utilização mais adequada e sustentável da água. Para concretização da pesquisa se utilizou do
procedimento técnico bibliográfico, realizando-se buscas em relevantes plataformas de pesquisa, com
o propósito de apresentar referências sobre a Bacia Hidrográfica como instrumento de planejamento
e gestão dos recursos hídricos. Definir os principais marcos regulatórios e a capacidade de suporte de
cada bacia hidrográfica, é tarefa fundamental para atingir as necessidades dos diversos usuários e a
capacidade de oferta e de renovação das fontes naturais. Bem como, a bacia hidrográfica deve ser uti-
lizada como unidade de planejamento e gestão juntamente a outros fatores que estejam diretamente
relacionados aos recursos hídricos, como uso do solo.
Palavras-chave: Água; Crise Hídrica; Política Nacional dos Recursos Hídricos; Sustentabilidade.
Abstract: Water is a vital resource for humanity, however it is surrounded by a crisis due mainly to
the lack of planning and management aimed at the sustainability of the resource. Therefore, this
research aims to perform a theoretical analysis of the use of the Hydrographic Basin as an instru-
ment for planning and management of water resources, aiming to discuss its relevance for the
most adequate and sustainable use of water. To carry out the research, we used the technical bib-
liographic procedure, performing searches on relevant research platforms, with the purpose of
presenting references on the Hydrographic Basin as an instrument for planning and management
of water resources. Defining the main regulatory frameworks and the support capacity of each
watershed is a fundamental task to meet the needs of the various users and the ability to offer and

1 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: dayane.medeiros486@gmail.com


2 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: juliarelene@gmail.com
3 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: leticiagabrielesb@gmail.com
4 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: rodrigocarvalho@uern.br

[ 884 ]
A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 885

renew natural sources. As well as, the river basin should be used as a planning and management
unit along with other factors that are directly related to water resources, such as land use.
Keywords: Water; Water Crisis; National Water Resources Policy; Sustainability.

1 INTRODUÇÃO
A água é um recurso vital para tudo que existe na Terra. É um recurso natural renovável
advindo de um ciclo no qual se renova, porém, está sendo ameaçado devido ao grande cresci-
mento das populações e desenvolvimento insustentável. A poluição decorrente do processo
de urbanização e a falta de conscientização perante a este recurso prejudica o ciclo natural da
água e sua qualidade, pois os cursos d’água estão cada vez mais poluídos e difíceis de serem
revertidos (MÉSZAROS, 2002; ANJOS, 2019).
Vista como um bem natural comum e inalienável, a água, é dotada de valor econômico,
possui uma importância significativa como insumo produtivo na acumulação capitalista,
sendo considerada como valor de troca, como uma mercadoria, um recurso. A água, está no
foco do embate entre o modelo de produção capitalista, que implica no uso dos recursos e
a natureza apresentada como meio finito, que pode ser transacionada em um mercado alvo
de disputas em todo o planeta Terra (SANTOS, 2002; SANTOS; MORAES; ROSSI, 2013; FLORES;
MISOCZKY, 2015).
É dever do Estado garantir a disponibilidade de água a sua população, isso se constitui
como um direito humano, onde os usos dos recursos hídricos devem ter uma gestão e um con-
trole adequado para que seja acessível a todos. É nesse sentido que os reservatórios de água
são elementos essenciais para os seres vivos, principalmente, para os seres humanos. O Brasil
é um país muito abundante em água doce, porém, seus usos e distribuição nem sempre são
feitos corretamente para que todos possam ter acesso em quantidade e qualidade, (NOSCHANG;
SCHELEDER, 2018) resultando em uma crise hídrica.
Partindo desse pressuposto, atualmente a crise hídrica diz respeito a questão do acesso
a água e não a sua disponibilidade, portanto, não é suficiente falar sobre essa temática sem
exercer um plano de ação associado as políticas públicas para resolução desse problema
(BARROS, 2018). O Estado é o seu guardião universal, seu fiador perante toda a sociedade, seu
regulador natural (RIO; MOURA; SALES, 2004). A forma como a água é gerenciada também está
em crise, devido à falta de planejamentos sustentáveis que auxiliem na gestão hídrica, pois a
poluição e a degradação avançam e nem toda população tem acesso ao básico para sobreviver,
água potável e saneamento, como minimamente se espera (MORAIS; FADUL; CEQUEIRA, 2018).
A crise hídrica no mundo se faz presente de duas formas, uma que envolve a quan-
tidade suficiente de água doce, seja as superficiais contidas nas bacias hidrográficas,
ou as subterrâneas armazenadas nos aquíferos ou precipitadas na forma de chuva,
e a sua qualidade em relação aos desejáveis parâmetros físicos, químicos e bacterio-
lógicos, que permitam um potencial (oferta) disponibilidade hídrica para atenderem
as reais demandas atuais e futuras em relação às diferentes formas de uso, rural,
doméstico e industrial (BORDALO, 2017, p.17).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


886 Dayane de Medeiros; Júlia Rodrigues; Letícia Bezerra; Rodrigo Carvalho

Por outro lado, a escassez hídrica que afeta diretamente as populações em algumas par-
tes do mundo está diretamente ligada ao clima árido ou semiárido que contribui para a falta
d’água nesses ambientes, devido à baixa precipitação anual e a má gestão dos reservatórios
relacionados a distribuição, acesso, dentre outros usos (REBOUÇAS, 1997). A centralização e
concentração de atividades industriais e o uso indiscriminado dos recursos naturais, somados
à ausência de políticas públicas ambientais direcionadas à apropriação dos recursos hídricos
contribuem significativamente para a ocorrência de grandes desequilíbrios ambientais, com
notórios prejuízos à sociedade e ao bem comum (RODRIGUES; LEAL, 2019).
Em termos práticos, ocorre uma dependência dos sistemas de gestão por parte de medi-
das que possam ser criadas e aplicadas de maneira a alcançar às expectativas e as necessida-
des das comunidades, dentro dos limites impostos pela capacidade natural das bacias
hidrográficas, na medida certa requerida para a garantia da sustentabilidade, no médio e a
longo prazo (PORTO; PORTO, 2008). Nesse ínterim, está pesquisa objetiva realizar uma análise
teórica da utilização da Bacia Hidrográfica como instrumento de planejamento e gestão dos
recursos hídricos, visando discorrer sobre sua relevância para a utilização mais adequada e sus-
tentável da água.

2 METODOLOGIA
Para a realização deste estudo, optou-se por uma pesquisa descritiva, com abordagem
qualitativa e de procedimento técnico bibliográfico. A pesquisa bibliográfica foi de suma impor-
tância, sendo usada como procedimento técnico, pois somente assim para alcançar o objetivo
proposto. Foram realizadas buscas em relevantes plataformas de pesquisa como a Plataforma
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, Scielo e Google
Scholar, buscando trazer referências sobre a Bacia Hidrográfica como instrumento de planeja-
mento e gestão dos recursos hídricos.

3 A CRISE DOS RECURSOS HÍDRICOS


Os sistemas hídricos mundiais são detentores de usos múltiplos e conflitos, não somente
pela água, mas por outras interferências como uso do solo e das planícies de inundação, toda
e qualquer decisão de gestão implica em custos de oportunidade (PULIDO-VELAZQUEZ;
ALVAREZ-MENDIOLA; ANDREU, 2013). Esses custos são ainda mais relevantes quando os recur-
sos são escassos, Zhang et al. (2019) descrevem que a condição dos recursos hídricos causa
dependência no desenvolvimento social e econômico por possuir uma restrição na expansão
em determinadas regiões.
A crise hídrica no século XXI escoa-se pela falta de gerenciamento atrelada a uma crise
real de escassez e estresse hídrico. Agravados, ainda, por outros problemas relacionados à eco-
nomia e ao desenvolvimento social, sendo esses, decorrentes de problemas reais de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 887

disponibilidade e aumento da demanda, combinados com um processo de gestão setorizado,


sem atitude preditiva e abordagem sistêmica (FILARD; SOUZA, 2017).
Quanto a disponibilidade de água em quantidade e qualidade, Tundisi (2008) elenca na
Figura 1 os principais problemas globais que afetam os sistemas hídricos, e consequentemente
afetam também a saúde humana e pública, qualidade ambiental e de vida, e o desenvolvi-
mento social e econômico.

Figura 1 – Principais problemas globais afetando serviços dos


ecossistemas aquáticos e disponibilidade de água e a qualidade das
águas superficiais e subterrâneas

Fonte: Tundisi (2008).

Em cenário nacional, a década de 80 esteve marcada por conflitos entre os múltiplos


usuários da água após o expressivo aumento de construção de hidrelétricas e a poluição
hídrica causada pela ausência de saneamento básico no viés de tratamento dos esgotos
domiciliares e industriais, assim como o aumento das demandas por irrigação, as quais con-
duziram a pressões sociais pela gestão do setor por uma entidade autônoma e não usuária
do recurso (PIZELLA, 2015).
Nesse sentido, torna-se necessário buscar meios para quantificar os reais custos para
preservar os mananciais, ou seja, quanto será necessário para que os corpos hídricos se man-
tenham preservados de modo que não deixem de atender as necessidades da sociedade? Em
paralelo, as crescentes demandas urbanas pela água potencializam esta limitação, gerando
conflitos e inviabilizando o uso desses recursos (BELLADONA; MARQUES; VARGAS, 2019).
Na procura pela minimização ou gerenciamento de conflitos, Neumann et al. (2017) enfa-
tizam que uma melhor integração entre o planejamento do uso da água e do uso do solo é
necessária para propiciar aos sistemas urbanos sua existência enquanto os impactos aos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


888 Dayane de Medeiros; Júlia Rodrigues; Letícia Bezerra; Rodrigo Carvalho

recursos hídricos são minimizados. Em complemento, Tundisi (2008, p.13) destaca que “[...] a
interação entre disponibilidade/demanda de recursos hídricos com a população da bacia hidro-
gráfica e a atividade econômica e social, considerando-se o ciclo hidrosocial, é também funda-
mental e de grande alcance para o futuro”, essencialmente no Brasil em que há disparidades
de disponibilidade de água entre as regiões e problemas de saúde relacionadas a carência de
saneamento básico (TUNDISI, 2008).
Dentro deste contexto, é importante enfatizar o aparato legal para os recursos hídricos,
no Brasil, um de seus principais instrumentos é a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
Lei N°. 9433/97. Na referida Lei é citada a elaboração de Planos de Recursos Hídricos, definidos
como planos diretores que dão embasamento a implementação a esta política e seu gerencia-
mento. Essa elaboração pode ser feita por bacia hidrográfica, estado ou país (BRASIL, 1997).
Os planos de bacia hidrográfica possuem representantes em escalas municipais, federais,
união e usuários da bacia e estão presentes dentro dos Planos de Recursos Hídricos (BRASIL,
1997). Isso fortalece a ideia de que, a bacia hidrográfica é a mais adequada unidade de medida
para chegar ao êxito do seu gerenciamento, planejamento e de custo-benefício. Bem como, é
importante enfatizar a participação dos usuários nos planos de bacia hidrográfica, visto que
poderá “[...] melhorar e aprofundar a sustentabilidade da oferta e demanda e a segurança cole-
tiva da população em relação à disponibilidade e vulnerabilidade (TUNDISI, 2008, p.10, Grifo
do autor).
No Brasil, Pizella (2015) enfatiza que a planificação dos recursos hídricos se dá em âmbito
federal através do Ministério do Meio Ambiente (MMA), além das secretarias estaduais de
recursos hídricos em âmbito estadual e, por fim, em relação ao recorte geográfico das bacias
hidrográficas, pelos Comitês de Bacias Hidrográficas. Estes, conforme o autor:
São órgãos colegiados, com estrutura tripartite (onde participam representantes do
poder público, dos usuários dos recursos hídricos e da sociedade civil organizada)
que tomam decisões a respeito de atividades e políticas públicas que interfiram na
qualidade e quantidade das águas em seu espaço geográfico (PIZELLA, 2015, p. 637).

Assim sendo, segundo Carvalho (2020), para atingir o sucesso na aplicação, a utilização
dos recursos hídricos e as intervenções nos cursos d’água necessita serem efetuadas visando a
sustentabilidade, a fim de promover a gestão de recursos hídricos baseada em um conjunto de
ações destinadas a regular o uso, assim como o controle e a proteção desses recursos, por
meio da legislação e nas normas pertinentes.

4 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO E


GESTÃO
O conceito de bacia hidrográfica foi formulado por vários autores, possuindo semelhança
entre as definições. Neste sentido, essas definições estão associadas ao conceito dado por
Barrella et al. (2000), que a traz como um conjunto de terras drenadas por um rio principal e os

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 889

seus paralelos, ou seja, afluentes, que possuem formações de relevo mais altas, geralmente,
onde estão suas nascentes. Essas altitudes possibilitam o escoamento das águas superficiais,
que auxiliam na formação dos rios, ou até mesmo, para infiltração que contribui para formação
de nascentes e abastecimento do lençol freático.
Em complemento, Carvalho (2020) vem tratando sobre a delimitação deste território a
partir de divisores de águas, as quais permitem realizar análises de forma sistêmica, elementos,
fatores e relações ambientais, sociais e econômicas a partir de demandas e ofertas existentes
em sua área, mas também externamente. São sistemas abertos, que recebem e perdem ener-
gia por meio de processos ambientais, podendo ser consideradas como variáveis interdepen-
dentes e por mais que ocorra um processo de oscilação fora dos padrões, estão em constante
equilíbrio (LIMA; ZAKIA, 2000).
A bacia hidrográfica é considerada, por Carvalho (2020), como a melhor unidade territo-
rial para o planejamento e a gestão ambiental, uma vez que se trata de um sistema cujas ações
antrópicas e naturais ocorrem em seu espaço e refletem diretamente na qualidade e quanti-
dade da malha hídrica que nela se faz presente. Nela podem ocorrer diversos usos e ocupação
do solo, como atividades de lazer, navegação, energia, uso doméstico, moradia e outras. Por
esse lado, a disponibilidade da água, enquanto recurso, torna favorável a ocupação da bacia
hidrográfica praticamente por toda a extensão territorial, fato que em geral, se define por
taxas de densidade elevada (ALBUQUERQUE, 2012).
Todavia, esses usos e ocupações são distribuídos espacialmente e os impactos relaciona-
dos aos recursos naturais evoluem com o passar do tempo, eventualmente tem-se notado em
alguns estudos que, o uso da terra e a qualidade da água, tem uma relação direta com as
influências que existem as margens da bacia. Um dos principais processos na gestão dos recur-
sos hídricos é conhecer os impactos sobre os diferentes usos da terra nessa área da bacia
hidrográfica. Entender esses aspectos pode contribuir significativamente para melhorar a ges-
tão e proteger os recursos hídricos (HARKOT, 2019; MANOEL; AMERICO; CARVALHO, 2014).
A exemplo desses impactos, no sentido negativo, em Carvalho (2020) são citados como
efeitos indiretos, oriundos das ações antrópica por meio do acelerado processo de urbaniza-
ção, mudanças na capacidade do canal e nos processos fluviais, que acabam refletindo nos pro-
cessos de erosão, transporte e deposição, levando ao aumento do pico de descarga e ao
assoreamento, pois ocorre tanto o aumento de material sedimentar disponível, como também
a adição do lixo urbano, que acabam contribuindo para a majoração da recorrência de eventos
de enchentes, sendo esse um dos muitos exemplos de impactos que podem ocorrer.
Oliveira, Lima e Sousa (2016) discorrem que no estado do Ceará-CE é frequentemente a
contaminação dos recursos hídricos pelo desmatamento, impermeabilização do solo, aterra-
mento de áreas baixas ou alagadas e esgotamento a céu aberto. Além desse exemplo, Carvalho
(2020) cita os casos de instalação de barragens em cursos d’água para geração de energia e, em
seguida distribuídos para áreas externas à bacia hidrográfica de origem. Nesse tipo de obra, é

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


890 Dayane de Medeiros; Júlia Rodrigues; Letícia Bezerra; Rodrigo Carvalho

possível analisar diversos impactos sociais e econômicos positivos às populações promotoras e


atendidas pelo serviço. Todavia, quando não bem planejados e gerenciados, podem trazer
impactos negativos com relação à esfera ambiental de sua bacia hidrográfica, sendo passível
de acarretar prejuízos ao desenvolvimento de atividades à jusante como a pesca, a navegação
e a captação de água (CARVALHO, 2020).
As bacias hidrográficas não são definidas somente como um espaço dotado de uma
dimensão física, mas também social, como enfatizam Peres e Silva (2013), uma vez que a bacia
hidrográfica exerce uma influência sobre os usos do solo, não somente por estar presente na
maior parte dos municípios próximos ao seu território, mas cuja gestão excede naturalmente
as fronteiras político administrativas e, dessa forma, acometem diversos conflitos de objetivos
entre as unidades territoriais regional e municipal.
Por isso, foi imprescindível a criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH’s). Conforte
Peres e Chiquito (2012), a criação dos CBH’s tornaram possível aos estados brasileiros, abrirem
espaços institucionais, no tocante a perspectiva da integração regional de órgãos e entidades
governamentais e não governamentais que, antes de sua criação, atuavam de forma isolada,
sem comunicação entre as partes. Além disso, também possibilitou o surgimento de novos
agentes sociais participando do processo de decisões para os problemas hídricos de ordens
regionais e locais.
É dever dos CBH exercer um papel estratégico na Política Nacional de Recursos Hídricos,
pois são os órgãos que consolidam a descentralização da gestão, contam com a participação
governamental, dos usuários e da sociedade civil e têm a bacia hidrográfica como unidade de
gestão, além de serem propositores de políticas públicas. Sendo assim, o sucesso de seu fun-
cionamento em certa medida significa o êxito da própria política das águas. No entanto, a lite-
ratura vigente coloca em questão seu papel, uma vez que muitos CBH’s no Brasil ainda não
conseguem exercer nem sequer suas prerrogativas legais básicas (RIBEIRO, 2006; MADRUGA,
2007; PEREIRA; MEDEIROS, 2009; CARNEIRO et al., 2010; OLIVEIRA, 2011; MACHADO, 2012;
FRACALANZA; JACOB; EÇA, 2013; GAGG, 2014).
Nesta perspectiva Tundisi (2008) sugere metodologias para o desenvolvimento de pro-
gramas e recolhimento de informações em nível integrado da bacia hidrográfica, com o propó-
sito de melhorar o planejamento e a gestão dos recursos hídricos, podendo também ser
utilizado pelos CBH’s, que são:

Capacidade de monitoramento avançado com a elaboração de banco de dados e


produção de softwares adequados à gestão é outra metodologia de grande alcance
aplicado. E a capacitação de gestores deve ser avançada nesse sentido: gerencia-
mento integrado, preditivo e em nível de bacia hidrográfica é o que deve ser a base
dessa capacitação (TUNDISI, 2008, p.9, Grifo do autor).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 891

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preservação dos corpos hídricos e a garantia de acesso a quantidade e qualidade desses,
necessita que o planejamento e a gestão, em cenário nacional e local, sejam eficientes, haja de
maneira inter-regional e intertemporal da água. Por isso, definir os principais marcos regulatórios
e a capacidade de suporte de cada bacia, é tarefa fundamental para atingir as necessidades dos
diversos usuários e a capacidade de oferta e de renovação das fontes naturais.
A bacia hidrográfica é um importante instrumento para realizar-se-á um planejamento dos
recursos hídricos, independente do lugar que esteja inserida, porém é importante agregar a
outros sistemas no qual estão interligados. A literatura evidencia que a má gestão ou falta de
investimento nesse setor pode gerar problemas de escassez de recursos, principalmente, em
lugares onde o clima influencia para a falta d’água e a gestão juntamente com as políticas públi-
cas devem encontrar meios para dá suporte a quem depende do recurso hídrico atingido.
Frente a esses problemas, cresce a preocupação com as mudanças climáticas, em que os
recursos hídricos não estão isentos de seus efeitos. Extremos climáticos passarão a ser mais
intensos e frequentes, como as inundações e secas, gerando consequências na oferta e
demanda da água, reforçando também a necessidade do planejamento e gestão da água ade-
quados, em nível de bacia hidrográfica, bem como sustentável.
Não somente a bacia hidrográfica deve ser utilizada como unidade de planejamento e
gestão, têm quer ser inseridos outros fatores que estão diretamente relacionados aos recursos
hídricos, como uso do solo. Os estudos mostram que essa junção – recursos hídricos, solo e
interferências socioambientais – devem estar unidos, tendo em vista que a quebra de qualquer
um deles causam desequilíbrio e impactos, as vezes não reversíveis.
Por fim, destacam-se os Comitês de Bacias Hidrográficas, os quais devem assumir esse
papel fundamental, descentralizando o poder. Essa gestão participativa agrega valor econô-
mico, social e ambiental para o espaço em que se encontra inserido. Promovendo assim, inclu-
são, integração e, colaboração de atores sociais envolvidos na problemática em questão.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


76.
A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM
MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO
PARANAPANEMA-SP

RICHARDISON RUFINO DE CASTILHO1


MARIA CRISTINA RIZK2

Resumo: Os aterros destinados a disposição final de resíduos sólidos caracterizam-se como locais
de grande importância na manutenção das condições sanitárias adequadas dos municípios, para a
minimização de impactos ambientais e riscos associados à saúde das populações. Porém, quando
utilizados de maneira incorreta podem contribuir no agravo dos impactos ambientais e nas condi-
ções sanitárias. Dessa forma, o presente trabalho trata da questão dos aterros utilizados para dis-
posição final de resíduos sólidos urbanos nos munícipios da Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos -UGRHI 22, Pontal do Paranapanema, oeste do estado de São Paulo, a partir da
análise da evolução das notas obtidas no Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos (IQR), da CETESB,
nos anos de 2012 e 2020. Foram consideradas as notas individuais recebidas por cada município
para o levantamento da situação e a sua evolução no enquadramento do índice utilizado. Foram
ainda, consideradas as informações de vida útil de operação dos aterros para o detalhamento das
condições desses locais. A partir do estudo, observou-se que no período ocorreram melhorias nas
condições dos aterros para disposição de resíduos sólidos dos municípios da UGRHI 22 no desenvol-
vimento do gerenciamento dos resíduos sólidos. Porém, melhorias ainda precisam ser alcançadas.
A compreensão dessas informações é importante na perspectiva de avaliação da situação dos
locais utilizados para a disposição final de resíduos e na tomada de decisões e ações a serem rea-
lizadas por cada município de forma a minimizar impactos ambientais ocasionados pela disposição
dos resíduos urbanos, sobretudo no solo e nos recursos hídricos.
Palavras-chave: Aterros; Resíduos Sólidos Urbanos; Impacto ambiental.

1 INTRODUÇÃO
A agenda 2030, estabelecida pelos 193 Estados-membros da ONU caracteriza-se como
um compromisso global com medidas para a promoção do desenvolvimento sustentável. Esse
plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, e 169 metas que visam

1 Universidade Estadual Paulista – UNESP – campus de Presidente Prudente. E-mail: rufino.castilho@unesp.br


2 Universidade Estadual Paulista – UNESP – campus de Presidente Prudente. E-mail: mc.rizk@unesp.br

[ 894 ]
A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO PARANAPANEMA-SP 895

assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, tornar as cidades e os assen-
tamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, reduzir substancialmente a
geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso, reduzir a degradação
de habitats naturais e recursos hídricos, entre outros.
Dessa forma, os locais destinados para a disposição final de rejeitos, os aterros, visam
serem locais onde os rejeitos possam ser distribuídos ordenadamente de forma a evitar danos
ou riscos à saúde e minimizar impactos ambientais adversos colaborando assim com a concre-
tização dos objetivos e metas estabelecidos pela Agenda 2030. Em contrapartida, se esses
locais não possuírem características para que a disposição final de rejeitos seja realizada de
maneira adequada, irão gerar efeitos adversos como a degradação do solo, contaminação de
rios e lençóis freáticos, poluição atmosférica e ambientes propícios a proliferação de vetores
causadores de doenças.
Assim, como legado para gerações futuras faz-se necessário a promoção de políticas
públicas que sejam consistentes, participativas e exequíveis de modo a alcançar o atendimento
dos objetivos da Agenda 2030 por meio da melhoria da qualidade ambiental nas cidades resul-
tado no avanço da qualidade de vida das pessoas.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010 e regu-
lamentada pelo Decreto nº 7.404/2010, é responsável por estabelecer as diretrizes, responsa-
bilidades, princípios e objetivos que norteiam os diferentes participantes na implementação da
gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, sendo este um dos grandes desafios à gestão
ambiental urbana nos municípios brasileiros (BRASIL, 2010). O tema possui grande complexi-
dade, apresentando interconectividade com diversas outras áreas, tais como processos de pro-
dução e consumo, comportamentos e hábitos da sociedade e se insere no amplo contexto do
saneamento básico e recursos hídricos (MMA, 2020).
A disposição final é uma das alternativas de destinação final ambientalmente adequada
previstas na PNRS, desde que observadas as normas operacionais específicas de modo a evitar
danos ou riscos à saúde pública e à segurança minimizando os impactos ambientais adversos
(ABRELPE, 2020). Entretanto, vale ressaltar que a opção de disposição final ambientalmente
adequada, nos termos da PNRS, cabe apenas aos rejeitos, isto é, para os resíduos sólidos que,
depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação, não apresentem
outra possibilidade que não a disposição em aterro sanitário (BRASIL, 2020). Entretanto, no
Brasil, a maior parte dos RSU coletados segue para disposição em aterros sanitários, sendo
também preciso considerar a quantidade de resíduos que segue para unidades inadequadas
(lixões e aterros controlados) (ABRELPE, 2020). O lixão é a forma inadequada de dispor os resí-
duos sólidos urbanos sobre o solo, sem nenhuma impermeabilização, sem sistema de drena-
gem de lixiviados e de gases e sem cobertura diária do lixo, causando impactos à saúde pública
e ao meio ambiente, sendo comum encontrar nesses locais vetores de doenças e outros ani-
mais e a presença de pessoas, trabalhando como catadores, em condições precárias e insalu-
bres (VAN ELK, 2007).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


896 Richardison Rufino de Castilho; Maria Cristina Rizk

Nos aterros controlados, os resíduos são dispostos em valas e cobertos periodicamente


com uma camada de terra, entretanto, o solo não recebe qualquer tipo de impermeabilização
e nem sempre há a existência de drenagem dos líquidos percolados e captação de gases que
são formados no processo de decomposição dos resíduos sólidos. Dadas essas características,
a disposição final de resíduos sólidos em aterros controlados é também considerada inade-
quada devido ao potencial poluidor do lixiviado que não é controlado (BASSANI, 2010).
Por sua vez, o aterro sanitário é considerado uma das técnicas mais eficientes e seguras
de destinação final de resíduos sólidos, uma vez que permite um controle eficiente e seguro do
processo (VAN ELK, 2007).
No Estado de São Paulo existem políticas públicas que foram adotadas visando a melhoria
da gestão de resíduos sólidos, bem como, o auxílio e o assessoramento dos municípios de
modo a auxiliar a obtenção de melhorias na qualidade do saneamento ambiental nos municí-
pios. Das políticas existentes, salienta-se o Projeto Ambiental Estratégico Lixo Mínimo, cujo
objetivos são o de eliminar a disposição inadequada de resíduos domiciliares no Estado de São
Paulo, extinguir os lixões a céu aberto; aprimorar a gestão de resíduos domiciliares; e, fomen-
tar a reciclagem e a minimização da geração de resíduos. O Programa Município VERDEAZUL é
outra política pública que objetiva estimular a participação dos municípios na política ambien-
tal, com adesão ao Protocolo VERDEAZUL, além de certificar os municípios ambientalmente
corretos, dando prioridade no acesso aos recursos públicos. Cabe citar ainda o Programa de
Aterros Sanitários em Valas, o Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição – FECOP, o
Programa Estadual de Implementação de Projetos de Resíduos Sólidos, o Plano Plurianual –
PPA e o Índice de Efetividade da Gestão Municipal que são políticas públicas do Estado de São
Paulo que contribuem diretamente para a gestão adequada dos resíduos sólidos no Estado.
De acordo com o Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo de 2020,
para o ano de 2018, foram gerados uma média de 41.708,22 t/dia de resíduos sólidos urbanos
no estado (SÃO PAULO, 2020, p. 85).
Dessa forma, o presente trabalho objetivou diagnosticar a situação dos municípios da
UGRHI – 22 quanto ao IQR – Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos, da CETESB, no ano de
2020 considerando o tempo de vida útil operacional dos aterros de resíduos urbanos.
A Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema, UGRHI
– 22, localiza-se no extremo oeste do Estado de São Paulo nas coordenadas geográficas 21º45’
LS e 22º45’LS e 51ºLO e 53ºLO, ocupando uma área de 11.838 km² (CPTI, 1999). Está localizada
a sul da UGRHI 21 (Aquapeí e Peixe), e a leste da UGRHI 17 Médio Paranapanema). A oeste,
localiza-se o Estado do Mato Grosso do Sul e, ao sul, o estado do Paraná.
A publicação do Inventário Estadual de Resíduos Sólido Urbanos realizada anualmente pela
CETESB contempla os dados das notas obtidas no índice IQR pelos municípios do estado de São
Paulo entre outras informações. Para a UGRHI 22, constam as informações de 21 municípios,
sendo eles: 1 – Anhumas, 2 – Caiuá, 3 – Estrela do Norte, 4 – Euclides da Cunha Paulista, 5 – Iepê,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO PARANAPANEMA-SP 897

6 – Marabá Paulista, 7 – Mirante do Paranapanema, 8 – Nantes, 9 – Narandiba, 10 – Pirapozinho,


11 – Presidente Bernardes, 12 – Presidente Epitácio, 13 – Presidente Prudente, 14 – Presidente
Venceslau, 15 – Regente Feijó, 16 – Rosana, 17 – Sandovalina, 18 – Santo Anastácio, 19 – Taciba,
20 – Tarabai e 21 – Teodoro Sampaio.
A Figura 1 apresenta os limites e os 21 municípios da UGRHI 22.

Figura 1 – Localização da UGRHI 22 Pontal do Paranapanema, municípios e sedes municipais

Fonte: IBGE e ANA. Elaboração: Richardison Rufino de Castilho.

2 METODOLOGIA
Parte da pesquisa consistiu em uma pesquisa documental com levantamento de dados
secundários. A pesquisa documental é definida como o método que utiliza materiais que não
foram tratados analiticamente ou que podem ser reelaborados conforme os objetivos da pes-
quisa. Esta metodologia é embasada na exploração de documentos diversificados e dispersos,
dentre os quais: os arquivos de órgãos públicos e privados, cartas pessoais, diários, fotografias,
ofícios, boletins, entre outros (GIL, 1991).
A CETESB apresenta, anualmente, desde 1997, informações acerca das condições ambien-
tais e sanitárias de áreas utilizadas como locais de destinação final de resíduos sólidos urbanos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


898 Richardison Rufino de Castilho; Maria Cristina Rizk

nos municípios do estado de São Paulo. Nos relatórios emitidos pelo órgão são levantadas
informações das instalações de aterros em operação no estado de São Paulo, periodicamente
inspecionadas pelos técnicos da CETESB. As informações de cada local são processadas por
meio da aplicação de um questionário padronizado, subdividido quanto às características loca-
cionais, estruturais e operacionais e são expressas por meio de pontuações, que variam de 0 a
10. Os dados apurados são expressos por meio do Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos
– IQR, do Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos em Valas – IQR-Valas, do Índice de
Qualidade de Estações de Transbordo – IQT e do Índice de Qualidade de Usinas de Compostagem
– IQC, classificados em duas faixas de enquadramento: inadequada e adequada (CETESB, 2020).
O presente estudo avaliou os dados do IQR/IQR-Valas (Nova Proposta) para cada um dos
21 municípios da UGRHI 22, nos anos de 2012 (ano que passou a vigorar a nova categoria de
enquadramento do IQR) e 2020. A partir do ano de 2012 o enquadramento (IQR – Nova
Proposta) passou a ser expresso como: 0,0 a 7,0 – Condições Inadequadas (I); 7,1 a 10,0 –
Condições Adequadas (A), sendo que anteriormente a esse período era expresso como: 0,0 a
6,0 – Condições Inadequadas (I); 6,1 a 8,0 – Condições Controladas (C) e; 8,1 a 10,0 – Condições
Adequadas. Foram também levantados os dados acerca do tempo de vida útil de operação dos
aterros obtidos das planilhas de avaliação do IQR/IQR-Valas (Nova Proposta) para os anos de
2012 e 2020.
Os dados obtidos foram então representados por meio de mapas temáticos utilizando-se
softwares de geoprocessamento para a visualização e comparação da situação de cada muni-
cípio em relação ao enquadramento do IQR/IQR-Valas (Nova Proposta), e tempo de vida útil
dos aterros. Tais informações são importantes na perspectiva de avaliação da situação dos
locais utilizados para a disposição final de resíduos na tomada de decisões e ações a serem rea-
lizadas por cada município de forma a minimizar impactos ambientais, sobretudo no solo e nos
recursos hídricos, ocasionados pela disposição dos resíduos urbanos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As informações do enquadramento do Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos – IQR
nos municípios da UGRHI 22 para os anos de 2012 e 2020 podem ser observadas na Figura 2 –
Observa-se que no ano de 2020 houve uma diminuição na quantidade de municípios que tive-
ram seus aterros de resíduos enquadrados na condição inadequada. Esse número passou de 7
aterros no ano de 2012 (Mirante do Paranapanema, Pirapozinho, Presidente Epitácio, Presidente
Prudente, Presidente Venceslau, Sandovalina e Taciba), quando passou a vigorar a nova catego-
ria de enquadramento do IQR, para 4 aterros no ano de 2020 (Caiuá, Presidente Venceslau,
Regente Feijó e Rosana). A evolução na categoria de enquadramento de inadequada para ade-
quada ou de adequada para inadequada reflete na adequação ou não dos aspectos locacionais,
estruturais e operacionais que são apuradas por meio do índice IQR dos aterros sanitários.
Observa-se ainda, que dos municípios que tiveram aterro enquadrado como inadequado
no índice IQR em 2012 o aterro do município de Presidente Venceslau foi o único que se

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO PARANAPANEMA-SP 899

manteve nessa categoria de enquadramento no ano de 2020. Ainda, os aterros dos municípios
de Caiuá, Regente Feijó e Rosana haviam recebido enquadramento adequado no ano de 2012
e no ano de 2020 foram enquadrados como inadequado.

Figura 2 – Enquadramento do IQR de 2012 e 2020 nos municípios da UGRHI 22

Adaptado de: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo-CETESB. Elaboração: Richardison Rufino de Castilho (2021).

Em termos de quantidades de resíduos sólidos urbanos (%), tal enquadramento demons-


tra que, para o ano de 2012 somente 21,1% dos resíduos coletados pelos municípios da UGRHI
22 foram dispostos em aterros enquadrados como adequados. Enquanto, 78,9% dos resíduos
coletados foram dispostos em aterros enquadrados como inadequados (CETESB, 2012).
Nesse cenário, é importante destacar o município de Presidente Prudente pois trata-se do
maior gerador de resíduos sólidos urbanos no contexto da UGRHI 22 onde, para o ano de 2012,
estimou-se que foram coletadas 123,66 t/dia de resíduos, de acordo com o Inventário Estadual
de Resíduos Sólidos Urbanos (CETESB, 2012). Como o aterro do município no ano de 2012 foi
enquadrado na condição inadequada este contribuiu significativamente para a porcentagem ele-
vada de resíduos dispostos em aterros enquadrados como inadequados para aquele ano.
Para o ano de 2020 observa-se uma melhora no quadro do volume de resíduos dispostos
em aterros enquadrados como inadequados. 14,14% do total de resíduos coletados foram

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


900 Richardison Rufino de Castilho; Maria Cristina Rizk

dispostos em locais enquadrados como inadequado. Em termos de quantidade, esse valor


representa que na UGRHI 22, no ano de 2020, considerando os municípios de Caiuá, Presidente
Venceslau, Regente Feijó e Rosana que obtiveram enquadramento IQR Inadequado, 54,23
toneladas de resíduos sólidos/dia foram dispostas em locais enquadrados nessa categoria
(CETESB, 2020) o que representa que ainda há uma quantidade considerável de resíduos sóli-
dos sendo dispostos em aterros considerados como inadequados na UGRHI 22.
Assim, 85,85% dos resíduos coletados pelos municípios da UGRHI 22 no ano de 2020
foram dispostos em aterros enquadrados como adequados. Nessa perspectiva, também é
importante destacar o município de Presidente Prudente como o maior gerador de resíduos
urbanos. Para o ano de 2020, estimou-se uma quantidade de 203,10 t/dia de volume gerado
(CETESB, 2020). Assim, sendo o maior gerador de resíduos da UGRHI 22, o enquadramento
obtido pelo município de Presidente Prudente influencia no volume de resíduos dispostos em
local enquadrado como adequado.
É importante considerar que de 2012 a 2020, período inferior a uma década, a geração
de resíduos no município de Presidente Prudente aumentou em aproximadamente 80t/dia. No
ano de 2012 estima-se que a população do município era de aproximadamente 210.393 habi-
tantes e a geração de resíduos sólidos per capita de 1kg/hab./dia. Já para o ano de 2020 a esti-
mativa é de 230.371 habitantes, e a geração per capita de resíduos sólidos no ano de 2019 foi
de 1,19kg/hab./dia, um aumento populacional de aproximadamente 8,67% e 16% na geração
de resíduos sólidos per capita (SNIS, 2012; 2020). De acordo com Conceição et. Al (2020), é pos-
sível estabelecer uma correlação entre o crescimento populacional e o aumento na geração de
resíduos sólidos.
Por outro lado, é preciso considerar também o tempo de vida útil de operação dos locais
destinados a disposição final dos resíduos urbanos na UGRHI 22, conforme mostra a Figura 3
para os anos de 2012 e 2020. Observa-se que no ano de 2012 8 municípios apresentavam ater-
ros com vida útil de operação menor que 2 anos, 8 municípios apresentavam aterros com vida
útil maior que 2 anos, mas menor ou igual a 5 anos, 4 municípios apresentavam aterros com
vida útil maior que 5 anos e para 1 município não foi encontrada informação sobre o período
de vida útil do seu aterro.
Já no ano de 2020, observa-se uma evolução nesse quadro, sendo que 4 municípios apre-
sentavam aterros com vida útil menor que 2 anos, 6 municípios apresentavam aterros com
vida útil maior que 2 anos, mas menor ou igual a 5 anos e 11 municípios apresentavam aterros
com vida útil maior que 5 anos. Observa-se também, que no ano de 2020, 5 municípios dispu-
seram seus resíduos urbanos em um aterro privado no município de Quatá, na UGRHI 17, sendo
que destes, 3 municípios apresentavam, em 2012, aterros com menos de 2 anos de vida útil e
2 municípios apresentavam aterros com mais que 2 anos, mas menos ou até 5 anos de vida útil.
Também é possível perceber que 2 municípios se mantiveram na condição de aterro com
menos de 2 anos de vida útil de operação tanto em 2012 quanto em 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO PARANAPANEMA-SP 901

Figura 3. Vida Útil de Aterros de Resíduos Urbanos em 2012 e 2020 nos municípios da UGRHI 22

Adaptado de: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo-CETESB. Elaboração: Richardison Rufino de Castilho.

Segundo levantamento realizado por Machado (2020, p.95) na UGRHI 22 em 15 municí-


pios as prefeituras são as responsáveis pelo gerenciamento das áreas utilizadas para a disposi-
ção final dos resíduos sólidos: Anhumas, Caiuá, Euclides da Cunha Paulista, Iepê, Marabá
Paulista, Mirante do Paranapanema, Nantes, Presidente Epitácio, Presidente Venceslau,
Regente Feijó, Rosana, Santo Anastácio, Taciba, Tarabai e Teodoro Sampaio. No município de
Presidente Prudente, a empresa de economia mista PRUDENCO é a responsável pelo gerencia-
mento dos resíduos sólidos.
Já os municípios de Pirapozinho, Presidente Bernardes e Sandovalina, que em 2012 apre-
sentavam aterros com vida útil inferior a 2 anos e, Estrela do Norte e Narandiba, que em 2012
apresentavam aterros com vida útil maior que 2 anos, mas menor ou igual a 5 anos, adotaram
como alternativa o envio de seus resíduos sólidos para o aterro privado localizado no município
de Quatá na UGRHI 17.
O envio de resíduos sólidos a aterros de outros municípios apresenta-se como uma alter-
nativa para o gerenciamento desses materiais quando do esgotamento da vida útil de um
aterro. Porém é necessário considerar os impactos nos custos envolvidos ne operação que a
adoção desse tipo de alternativa pode causar sendo necessária a implantação de estações de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


902 Richardison Rufino de Castilho; Maria Cristina Rizk

transbordo para o acondicionamento desses materiais após a coleta e antes do transporte para
o local de disposição, disponibilidade de frota para o transporte, custos de deslocamento da
frota, entre outros.
Também se faz necessária a adoção de políticas públicas que objetivem a melhoria de ater-
ros em operação ou em fase de esgotamento da vida útil, sobretudo daqueles que utilizam o sis-
tema de valas somente com recobrimento dos resíduos, adotando sistemas para a redução dos
impactos ambientais que esses locais causam, sobretudo no solo e nos recursos hídricos. Ainda,
há de se considerar as políticas e ações de educação ambiental que visam a promoção da cons-
cientização acerca da temática dos resíduos sólidos em aproximação da sociedade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do IQR para avaliação das condições sanitárias e ambientais dos aterros repre-
senta um importante instrumento para a definição do planejamento de ações e políticas públicas
na diminuição dos impactos ambientais causados por esses locais, sobretudo no solo e nos recur-
sos hídricos, e consequentemente para a melhoria da qualidade de vida da população.
A evolução e o acompanhamento do IQR possibilitaram mensurar o resultado das ações
de controle de poluição ambiental desenvolvidas na UGRHI 22, bem como a eficácia dos pro-
gramas alinhados com as políticas públicas estabelecidas para o setor, possibilitando o aperfei-
çoamento dos mecanismos de gestão ambiental.
A partir das análises realizadas constatou-se que o número de municípios, que dispõe seus
resíduos urbanos de forma adequada aumentou no decorrer do período analisado, sendo que
em 20012 o total de municípios que dispunha seus resíduos em locais enquadrados como inade-
quados era de 7 municípios, passando para 4 no ano de 2020 além do aumento de aterros com
vida útil de operação superior a cinco anos. É possível perceber que nesse contexto a administra-
ção municipal possui importante papel na manutenção e promoção de maiores melhorias da
condição dos locais utilizados na destinação final de resíduos sólidos nos municípios.
O acompanhamento ressalta a necessidade de intensificação na busca de soluções que
se apresentem mais eficazes e modernas na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos. É
preciso buscar a implantação de novas tecnologias para o tratamento de resíduos e diminuição
dos impactos ambientais desses locais, e a implantação de soluções regionalizadas. Deve,
ainda, ser consideradas as ações presentes tanto no Plano Estadual de Resíduos Sólidos do
Estado de São Paulo quanto no Plano Nacional de Resíduos Sólidos que são voltadas a minimi-
zação, redução, reciclagem e tratamento de resíduos e proteção do meio ambiente, do solo e
dos recursos hídricos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO PARANAPANEMA-SP 903

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MACHADO, R. C. G. Panorama da Gestão da Fração Orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos dos Municípios
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SÃO PAULO. Coordenadoria de Planejamento Ambiental. Planos de Resíduos Sólidos. Disponível
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Brasília – DF: Ministério do Desenvolvimento Regional, 2019. Disponível em: <http://appsnis.mdr.gov.br/
indicadores/web/residuos_solidos/mapa-indicadores>. Acesso em: 21 de out. 2021

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


77. ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E
CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO RIO SÃO
MARCOS E SÃO BARTOLOMEU, GOIÁS

CARLOS EDUARDO FELIX DA SILVA1


KASSIO SAMAY RIBEIRO TAVARES2

Resumo: O uso do solo a partir da agricultura e pecuária, por exemplo, se torna um significativo
comprometedor da qualidade da água, dependendo da intensidade de seu deflúvio superficial.
Dessa forma é importante identificar se os usos estão comprometendo de alguma forma o balanço
hídrico das bacias hidrográficas. Para isso buscou-se neste trabalho detectar as condições de uso
e ocupação do solo na região do Município de Cristalina e consequentemente nas bacias do Rio
São Marcos e São Bartolomeu, associando à dados de vazão e precipitação hídrica. O município de
Cristalina está localizado abaixo do Distrito Federal e tem em sua área sete bacias hidrográficas e
dois principais rios que são o Rio São Bartolomeu e Rio São Marcos. Na elaboração do presente
estudo se fez necessário realizar levantamento bibliográfico preliminar objetivando reunir infor-
mações pertinentes à área de estudo. Toda a base de dados vetoriais e matriciais foi trabalhada no
datum SIRGAS 2000 com projeção UTM zona 23 Sul. Por meio dos mapas de uso e cobertura do
solo de 1986, 1996, 2006, 2016 e 2020, foi constatado que houve expansão das áreas relativas à
agricultura, representando para o ano de 2020 aproximadamente 72% do território municipal.
Apesar de neste trabalho não ter constatado uma relação direta entre o uso e ocupação do solo
relacionados aos dados hídricos de vazão e precipitação, ressalta-se o valor de terem estudos que
busquem identificar as modificações da disponibilidade hídrica e toda a dinâmica das bacias
hidrográficas.
Palavras-chave: Uso do Solo, Bacia Hidrográfica e Recurso Hídrico.
Abstract: The use of land from agriculture and livestock, for example, becomes a significant com-
promiser of water quality, depending on the intensity of its surface runoff. Thus, it is important to
identify whether the uses are in any way compromising the water balance of the hydrographic
basins. For this purpose, this work sought to detect the conditions of land use and occupation in
the region of the Municipality of Cristalina and consequently in the basins of the São Marcos and
São Bartolomeu Rivers, associating the flow and water precipitation data. The municipality of
Cristalina is located below the Federal District and has in its area seven hydrographic basins and

1 UFG. E-mail: carlos_eduardo93@discente.ufg.br


2 UNICAMP. E-mail: kassiosamayribeiro@gmail.com

[ 904 ]
ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 905

two main rivers which are the Rio São Bartolomeu and Rio São Marcos. In preparing this study, it
was necessary to carry out a preliminary bibliographic survey aiming to gather information rele-
vant to the study area. The entire vector and matrix database was worked on in the SIRGAS 2000
datum with a UTM zone 23 South projection. Through the land use and coverage maps of 1986,
1992, 2006 and 2016, 2020, it was found that there was an expansion of the relative areas to agri-
culture, representing for the year 2020 approximately 72% of the municipal territory. Although
this work did not find a direct relationship between land use and occupation related to water flow
and precipitation data, the value of having studies that seek to identify changes in water availabil-
ity and the entire dynamics of watersheds is highlighted.
Keywords: Land Use, Hydrographic Basin and Water Resource.

1 INTRODUÇÃO
Uma bacia hidrológica pode ser pensada como um sistema físico em que a entrada é a
quantidade de água depositada e a saída é a quantidade de água descarregada da bacia hidro-
lógica. De uma forma geral, fornece uma unidade física claramente definida para pesquisas
hidrológicas, com apenas uma forma de entrada (input), a saber, precipitação, e a saída é dada
pelo escoamento na saída da bacia, levando em consideração as perdas causadas pela evapo-
transpiração. Em uma escala macro, como grandes bacias hidrológicas, padrões de escoa-
mento, intensidade e sazonalidade podem ser controlados principalmente por influências
climáticas. Este padrão geral reflete a precipitação atmosférica e os padrões gerais de circula-
ção. No entanto, vários aspectos do ambiente físico e da cobertura da terra influenciam uns
aos outros para determinar os padrões naturais sazonais e espaciais das mudanças de escoa-
mento (PETTS & FOSTER, 1990).
Segundo Rocha e Santos (2018), o uso dos recursos hídricos permitiu que as sociedades
se desenvolvessem de diversas formas, seja através do abastecimento de alimentos ou por
meio da exportação de seu excedente pelas vias hídricas de transporte. O uso d’água para ati-
vidades antrópicas é uma história bastante antiga sendo uma consequência de um pensa-
mento de que o recurso é ilimitado.
Dessa forma o uso indiscriminado e inadequado d’água para seus diversos fins tem oca-
sionado sérios problemas ambientais e à saúde da população. A falta de planejamento em
infraestrutura de tratamento de esgotos, onde esses são dispensados diretamente em rios, ou
a privatização de cursos d’água sem nenhuma licença para o seu uso, se apresentam como
alguns dos vários problemas relacionados a diminuição da qualidade d’água e do potencial
hídrico natural das bacias hidrográficas, respectivamente (SILVA JUNIOR et al. 2003).
De acordo com Tundisi (1999), “As mudanças na quantidade, distribuição e qualidade dos
recursos hídricos ameaçam a sobrevivência do homem e de outras espécies na Terra. O desen-
volvimento econômico e social de vários países está baseado na disponibilidade e capacidade
de alta – Água de qualidade. Sua preservação e proteção. “
Dessa forma como as bacias hidrográficas se comportam como um meio natural de cap-
tação e distribuição d’água se torna fundamental o seu manejo adequado. Conforme Porto e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


906 Carlos Eduardo Felix Da Silva; Kassio Samay Ribeiro Tavares

Porto (2008), ocorrem em uma bacia hidrográfica vários processos como a urbanização e indus-
trialização. As consequências desses se tornam inerentes ao território no qual estão
inseridos.
A partir disso vê-se que é necessário que haja um equilíbrio entre os diversos usos que
podem conter em uma região hidrográfica, medindo seus impactos ao meio ambiente. O uso
do solo a partir da agricultura e pecuária, por exemplo, se torna um significativo compromete-
dor da qualidade da água, dependendo da intensidade de seu deflúvio superficial.
Geralmente os maiores impactos estão associados com a relação infiltração–escoa-
mento, em função de interferências na armazenagem da vegetação, do solo e nos fluxos flu-
viais (ROCHA & ANDRADE, 2012). A perda de cobertura arbórea, em curto prazo, reduz a perda
de água do solo por transpiração, pois as raízes profundas das árvores são arrancadas, assim
como provoca maior escoamento das águas na superfície do terreno, visto que a antiga vege-
tação e a manta amortecedora de folhas caídas foram substituídas pela terra nua ou por cultu-
ras com menor potencial de armazenagem. Assim, o mais provável é o aumento do fluxo direto
da água para os rios (DREW, 1994).
O conhecimento das condições hidrológicas dos rios constitui a informação básica para a
tomada de decisões nas mais diversas áreas do conhecimento, principalmente para estudiosos
interessados ​​no planejamento ambiental e na utilização dos recursos hídricos da bacia. Porém,
a dificuldade de obtenção desse conhecimento geralmente se deve à escassez de informações.
A falta de dados em toda a área de estudo e a necessidade de entendê-los muitas vezes impe-
dem a realização de planos compatíveis com as necessidades da área de interesse (ROCHA e
SANTOS, 2018).
Dessa forma é importante identificar se os usos estão comprometendo de alguma forma
o balanço hídrico das bacias hidrográficas. Para isso buscou-se neste trabalho detectar as con-
dições de uso e ocupação do solo na região do Município de Cristalina e consequentemente
nas bacias do Rio São Marcos e São Bartolomeu, associando à dados de vazão e precipitação
hídrica.
O município de Cristalina está localizado nos arredores e logo abaixo do Distrito Federal
e tendo em sua área sete bacias hidrográficas e dois principais rios, que são o Rio São Bartolomeu
e Rio São Marcos (Figura 1). Segundo Aquino (2012), a região formanda por essas localidades
tem o “título” de maior área agrícola irrigada da América Latina.
No que diz respeito as duas bacias hidrográficas de análise, ocorre o predomínio das
características de ocupação agrícola e apesar dos problemas de conflito que ocorrerem em
função da irrigação, do ponto de vista ambiental, a bacia é considerada preservada na porção
que pertence à área da bacia do Paranaíba (SILVA, 2015), discordantemente das outras áreas
de suas extensões.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 907

Figura 1 – Mapa de localização das Bacias Hidrográficas confrontantes do município de Cristalina

Fonte: Galeria do autor – 2021.t

2 METODOLOGIA
Na elaboração do presente estudo se fez necessário a realização de duas etapas. A pri-
meira pela realização de um levantamento bibliográfico acerca do objeto de estudo, bem como
informações sobre a área estudada e suas bacias contribuintes. A segunda etapa consiste em
dados geográficos e digitais, onde toda a base consistiu em dados vetoriais, e foi trabalhada no
DATUM SIRGAS 2000 com projeção UTM zona 23 Sul. Esse sistema de referência geodésico é
tido como oficial para o território brasileiro, desde fevereiro de 2005. Os dados vetoriais, res-
ponsáveis pelos produtos de localização e identificação das bacias hidrográficas utilizados
nesse estudo foram obtidos pelo banco de dados do Macrozoneamento Agroecológico e
Econômico do Estado de Goiás (MacroZAEE), com escala 1:100.000, disponível também para
download na plataforma do SIEG.
Também foram adquiridos dados de uso e cobertura referentes aos anos de 1986, 1996,
2006, 2016 e 2020 do MapBiomas (2021). Estes dados foram manipulados e tratados com o
auxílio do software de geoprocessamento ArcGis 10.7/ESRI, o qual possibilitou o recorte exclu-
sivo do uso e da cobertura para o município de Cristalina, bem como a classificação das classes
existentes para a localidade. Por meio destes dados, buscou-se comparar as mudanças de uso

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


908 Carlos Eduardo Felix Da Silva; Kassio Samay Ribeiro Tavares

e cobertura ao longo dos anos com dados hídricos adquiridos (precipitação e vazão) pela pla-
taforma da Agência Nacional de Águas (ANA).
Os dados hídricos foram adquiridos através da plataforma de dados digitais da ANA, e
foram selecionados especificamente as informações referentes aos rios São Marcos e São
Bartolomeu, iniciando no final da década de 1960 e indo até 2006. Os dados tabulares disponí-
veis pela plataforma Hidroweb desta agência, foram trabalhados de acordo com a média anual
de cada evento analisado (precipitação e vazão) utilizando o programa de planilhas eletrônicas
Excel, responsável pela geração de tabelas e compilação das informações numéricas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Meio Físico
O município de Cristalina possui área de 6.161,00 km², e em seu território inserem-se no
total sete (7) bacias hidrográficas, sendo elas: BH do Rib. Castelhano, BH do Rib. Das Lages, BH
do Rib. Samambaia, BH do Rio São Bartolomeu, BH do Rio Samambaia, BH do Rio Piracanjuba
e BH do Rio Preto. Com exceção das BH do Rio São Bartolomeu, Rio Preto e Rio Piracanjuba,
todas as bacias restantes fazem parte da bacia do Rio São Marcos.
Observando a declividade do município de Cristalina percebe-se o predomínio de decli-
vidades entre 3 e 8%, representando aproximadamente 50% do território municipal. Esta
característica por sua vez torna o terreno do município propício ao desenvolvimento de ativi-
dades ligadas à agricultura, sendo este uma das razões para o potencial do município nesta ati-
vidade (CESSA et al, 2020). Esse dado é corroborado também a partir do estudo realizado por
Cessa et al. (2020), em que foram mapeados para o município de Cristalina um total de 204
pivôs centrais instalados.
A avaliação hipsométrica aponta que no município há predomínio de altitudes situadas
no intervalo de 859 – 939 metros, com aproximadamente 45% do território municipal. As áreas
mais elevadas, com altitude superior a 1000 metros, são recorrentes nas porções centrais do
município, onde se encontra instalada sua área urbana. Também pode ser que a partir destas
áreas mais elevadas derivam várias nascentes que abastecem diferentes bacias hidrográficas
da região (CESSA et al, 2020).

3.2 Vazão e Precipitação


Analisando os dados do Rio São Marcos é notório os valores de vazão comparados aos do
Rio São Bartolomeu. A vazão do Rio São Marcos chega a seu pico nos anos de 1983 e 1993
onde a vazão registrada foi de aproximadamente 180 m³/s e sua menor vazão nos anos desde
1978 a 1980 e também em 1994 cuja vazão alcançou menos de 20 m³/s. Dados entre 1995 e
1999 não foram encontrados na base de dados da ANA.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 909

Os dados de precipitação tiveram pouca mudança significativa, onde o valor mais alto no
período de 1978 a 2006 foi de aproximadamente 200 mm que ocorreu no ano de 1983, e
menor precipitação no ano de 1990. Os dados analisados no período de 10 anos que apresen-
tam uma maior vazão sãoobservados nos anos de 1990-2000 e dados de precipitação se mos-
tra maior nos anos de 2000-2006.

Figura 2 – Gráfico de Vazão x Precipitação do Rio São Marcos

Fonte: ANA – 2021.

Para o Rio São Bartolomeu, os dados obtidos numa sequência anual de 1968 a 2011 apon-
tam que os picos de maior vazão do rio aconteceram nos anos de: 1979, 1982, 1983, 1992 e 2005.
É importante ressaltar uma diminuição da vazão a partir do ano de 1999, o qual diferen-
temente ao ano de 1970 os anos posteriores a 1999 não tiverem um aumento considerável na
sua vazão. No período analisado o ano com maior vazão registrada foi de 1983 onde alcançou
em média 230 m³/s. Já os dados de precipitação do Rio São Bartolomeu se mantiveram em
níveis próximos de quantidade de chuva, onde apenas em 1999 a precipitação caiu para menos
de 50 mm. Este dado também pode se comparar com a vazão apresentada acima, aonde che-
gou à média de 40 m³/s nesse mesmo ano.
Analisando dados em um intervalo de 10 anos nos dados trabalhados, o período com
melhor resultado foi entre os anos de 1980 e 1990 com médias de 117 mm de precipitação e
122 m³/s de vazão. Durante os períodos subsequentes este valor caiu chegando em 2010 com
média de 104 mm de precipitação e 91 m³/s de vazão.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


910 Carlos Eduardo Felix Da Silva; Kassio Samay Ribeiro Tavares

Figura 3 – Gráfico de Vazão x Precipitação do Rio São Bartolomeu

Fonte: ANA – 2021.

3.3 Análise Conjunta dos dados hídricos com informações de uso e cobertura
do solo
Segundo Cessa et al. (2020), o referido município de Cristalina tem 63% da sua área clas-
sificada segundo os autores como “produtoras”, isso levando em consideração a altitude e
declividade médias de 950 m e 5,78%, respectivamente. Os autores classificaram o município
em duas classes de ocupação do solo: complexos vegetativos, que incluem as florestas natu-
rais, plantadas e/ou vegetação ciliar; e áreas produtoras, que incluem qualquer tipo de ativi-
dade agrícola e/ou pecuária.
Por meio dos mapas de uso e cobertura do solo elaborados com os dados do Mapbiomas
(Coleção 6), dos anos de 1986, 1992, 2006 e 2016, 2020 (Figura 4), foi constatado que houve
expansão muito significativa das áreas relativas à agricultura, representando para o ano de
2020 aproximadamente 72% do território municipal.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 911

Figura 4 – Mapas de uso e cobertura do solo do município de cristalina no período de 1986 a 2020

Fonte: Galerias dos autores – 2021.

Já as áreas de pastagens reduziram aproximadamente 15%, quando analisados o inter-


valo de 1986 até 2020. Possivelmente, supõe-se que estas áreas representativas de pastagens
foram responsáveis pelas alterações pioneiras na região, e foi sendo substituída por cultivos ao
longo dos anos (Quadro 1).

Quadro 1 – Uso e cobertura em Cristalina ao longo da série temporal em Porcentagem (%)

%
Classe 1986 1996 2006 2016 2020
Vegetação 0,68 0,37 0,23 0,20 0,19
Pastagem 0,15 0,24 0,13 0,10 0,09
Agricultura 0,17 0,39 0,64 0,70 0,72
Outras coberturas naturais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
corpos hídricos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Outros usos antrópicos 0,04 0,08 0,08 0,03 0,01
Fonte: Adaptado pelos autores – 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


912 Carlos Eduardo Felix Da Silva; Kassio Samay Ribeiro Tavares

Os dados também apontam uma redução superior a 50% das áreas consideradas como
vegetação nativa no espaço temporal analisado. Esta substituição do uso e cobertura vista
pelos dados pode indicar a ocorrência de problemas ambientais no município como a acelera-
ção de processos erosivos, assoreamento dos cursos de água, demanda excessiva por água,
dentre outros problemas (Figura 5).

Figura 5 – Comparativo de uso e cobertura do solo de cristalina no


período de 1985 a 2020

Fonte: Galerias do autor – 2021.

Martins (2017) diz que, muitos municípios goianos em especial o de Cristalina têm serís-
simos problemas hídricos em suas bacias e sub-bacias hidrográficas, tais decorrentes da ele-
vada demanda de água para fins agropecuários, utilizados principalmente para a irrigação,
sendo esse comprometimento hídrico dado pela relação desiquilibrada entre a disponibilidade
hídrica e a demanda. O mesmo autor ainda reforça a preocupação com o avanço recorrente e
acelerado das conversões de vegetação e mal uso das terras, assim destacando também que a
prática agrícola também será prejudicada em algum momento, pois com o aumento da produ-
ção agropecuária, a demanda hídrica poderá ser maior que a disponibilidade desse recurso.
Analisando a vazão e precipitação do Rio São Marcos é observada que nos anos de 1978
até 1980 houve precipitação acima da média para a série temporal enquanto as vazões foram
as menores registradas. Esta bacia ocupa 78% da área municipal e isto pode ser atribuído, den-
tre várias razões, pelo início da intensificação das atividades agropecuárias na região principal-
mente quando se considera que no ano de 1986 aproximadamente 50% áreas municipal eram
agricultura e pastagem.
No ano de 1994 para este mesmo rio é observada outra vazão extremamente baixa para
a série histórica (> 20 m³/s) e com precipitação um pouco abaixo da média geral. No ano de
1992 os dados de uso e cobertura apontam aproximadamente 67% do município já se

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 913

encontravam entre agricultura e pastagem. Para 2006 é constatado que aproximadamente


70% do município estava com agricultura e/ou pastagem, e neste ano as médias de precipita-
ção e vazão estavam dentre as maiores da série histórica.
Para o Rio São Bartolomeu, bacia que ocupa 22% da área municipal, não é verificada a
mesma ocorrência do Rio São Marcos nos anos de 1978 a 1980. As vazões médias anuais nestes
anos (de 1978 a 1980) estão dentre as maiores registradas para a série histórica estudada para
esta bacia. Comparando os dados de vazão e precipitação dos rios analisados com o uso no
município é verificada que as duas bacias existentes na área de estudo passam por processos
de ocupação diferenciados, sendo que na bacia do Rio São Marcos há predomínio de ativida-
des agropecuárias e na bacia do Rio São Bartolomeu há predomínio de vegetação nativa.
Quanto ao Rio São Bartolomeu pode-se constatar que na década de 80 onde houve o
maior pico de vazão registrado, em relação à área de Cristalina contribuinte para o curso
hídrico, esteve em sua maior parte (47,65%) coberta por remanescentes de vegetação. Houve
uma queda desta classe de uso para 32,71% no ano de 1992, porém seguiu regenerando atin-
gindo 45,73% em 2016, o que não condiz com a queda sequencial da vazão. Em relação as
outras classes de uso mantiveram-se em alternância entre agricultura e pastagem.
Já para o Rio São Marcos em uma média geral das décadas observou-se uma estabilidade
quanto a sua vazão de 1980 até 2006, apesar de haver um aumento da agricultura em função
da queda da vegetação nativa e da pastagem. Destaca-se um aumento da área com presença
de água compreendendo cerca de 35 km² em 2006, alcançando 39,9 km², relacionando-se às
áreas de grandes represamentos. Esta estabilidade da vazão pode ser atribuída ao local de
coleta dos dados de vazão, por exemplo, estando a montante dos represamentos.
Sendo assim, não se pode afirmar que tanto a vazão quanto a precipitação foram influen-
ciados pelo uso e cobertura do solo no intervalo até 2006, visto que as médias anuais não
decrescem apenas oscilam. Como não há dados de 2006 a 2016, onde houve maior expansão
da agropecuária, não é possível deduzir o real impacto destas atividades nas taxas de vazões.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de neste trabalho não ter constatado uma relação direta entre o uso e ocupação
do solo relacionados aos dados hídricos de vazão e precipitação, ressalta-se o valor de terem
estudos que busquem identificar as modificações da disponibilidade hídrica e toda a dinâmica
das bacias hidrográficas.
Para isso é importante que haja um mínimo de conhecimento e articulação das pessoas
que desempenham algum tipo de atividade e ocupação nas bacias hidrográficas com a comu-
nidade científica e órgãos responsáveis por gerirem as questões ambientais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


914 Carlos Eduardo Felix Da Silva; Kassio Samay Ribeiro Tavares

Muitos pivôs utilizados nas atividades agrícolas, por exemplo, desperdiçam uma grande
quantidade de água por meio de vazamentos e são utilizados sem necessidade quando os solos
já se apresentam saturados.
Dessa forma vê-se a relevância que os comitês de bacias desempenham para a gestão
dos recursos hídricos, uma vez que possibilitam essas articulações entre os diferentes repre-
sentantes da sociedade. E assim, tentar equilibrar os diferentes usos e ocupações inseridos nas
bacias com práticas menos agressivas ao meio ambiente.

5 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Consultar Arquivos Download. 2018. Disponível http://www.snirh.gov.
br/hidroweb/publico/baixar_documento.jsf>
AQUINO, T. Irrigação e Sustentabilidade. Produtores irrigantes de Goiás garantem que sistema não é o vilão do
desperdício de água. Revista Campo, 1(205), 20-23. 2012.
CESSA, R. M. A., DE OLIVEIRA, H. F. E., LEITE, C. V., COMETTI, N. N., ZONTA, E., MESQUITA, M., & DE MOURA
CAMPOS, H. Identificação de Pivôs Centrais e Microbacias no Município de Cristalina, Goiás: Apontamentos às
Regras de Outorga do Uso de Água. Research, Society and Development, 9(11), e6769119935-e6769119935.
2020.
DONADIO, N. M. M; GALBIATTI, J. A; DE PAULA, R. C. Qualidade daágua de nascentes com diferentes usos do
solo na Bacia Hidrográfica do CórregoRico. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.25, n.1, p.115-125, jan/abr.
2005.
DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. Bertrand Brasil. 3a. ed. Rio de Janeiro, 1994.
MapBiomas 2021. Dados de Uso e Cobertura.2021. Disponível em:< http://mapbiomas.org/map#coverage>.
PETTS, G. & FOSTER, I. Rivers and Landscape. The Athenaeum Press, 3 ed., New Castle, Great Britain, 1990.
PORTO, M. FA; PORTO, R. L. L. Gestão de bacias hidrográficas. Estudos avançados, v. 22, n. 63, p. 43-60.
2008
ROCHA, P. C. & ANDRADE, L. F. O regime interanual de rios na região oeste de São Paulo (Brasil). In:
Universidade de Coimbra-PT. (Org.). Para conhecer a terra. 1ed. Coimbra, Portugal: ed da Univers Coimbra, v.
1, p. 351-358, 2012.
ROCHA, P. C., & SANTOS, A. A. D. Análise hidrológica em bacias hidrográficas. Mercator (Fortaleza), 17. 2018.
SILVA JÚNIOR, O. B.; BUENO, E. O.; TUCCI, C. E. M.; CASTRO, M. N. R. Extrapolação Espacial na Regionalização
da Vazão. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. v. 8 n.1 Jan/Mar, 21–37p, 2003.
SILVA, L. M. C. Conflito pelo uso da água na bacia hidrográfica do rio São Marcos: o estudo de caso da UHE
Batalha. Engevista, v. 17, n. 2, p. 166-174, 2015.]
TUNDISI, J.G. Limnologia do século XXI: perspectivas e desafios. São Carlos: Suprema Gráfica e Editora, IIE,
1999. 24 p.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


78. APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO
DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA (SDVI)
EN LA DEMARCACIÓN HIDROGRÁFICA
DEL SEGURA Y MANCOMUNIDAD DE LOS
CANALES DEL TAIBILLA (SURESTE DE
ESPAÑA)

VÍCTOR RUIZ ÁLVAREZ1


RUBÉN GIMÉNEZ GARCÍA2
RAMÓN GARCÍA MARÍN3

Resumen: En este trabajo se efectúa una evaluación preliminar de la vulnerabilidad de sequía en


el ámbito territorial de la Demarcación Hidrográfica del Segura y Mancomunidad de los Canales
del Taibilla, encuadrados en el sureste de España. Este territorio posee una marcada aridez con
una precipitación media anual de 375 mm y un notable déficit hídrico estructural. Para la evalua-
ción de la vulnerabilidad de sequía ha sido seleccionado el Índice Estandarizado de Vulnerabilidad
de Sequía (SDVI), que cuenta para su aplicación con un total de cinco componentes (SPI12, sumi-
nistro, demanda, infraestructura e impactos). Se han obtenido un total de tres categorías de vul-
nerabilidad: Vulnerabilidad Baja, Vulnerabilidad Media y Vulnerabilidad Alta. Las subzonas con
vulnerabilidad alta se encuadran en la franja costera y valles prelitorales. Estas zonas son las que
cuentan con una mayor presión humana y han experimentado una fuerte transformación de los
usos de suelo en las tres últimas décadas. El mapa de vulnerabilidad de sequía resultante puede
constituir una herramienta de ayuda en la gestión y la planificación del riesgo de sequía por parte
de los diferentes organismos públicos.
Palabras clave: vulnerabilidad, déficit, planificación, sureste de España, riesgo de sequía
Abstract: In this paper a preliminary assessment of drought vulnerability is carried out in the ter-
ritorial area of the Segura Hydrographic Demarcation and the Mancomunidad de los Canales del
Taibilla, located in southeast Spain. This territory has a marked aridity with an average annual rain-
fall of 375 mm and a notable structural water deficit. The Standardised Drought Vulnerability
Index (SDVI) was selected for the assessment of drought vulnerability, which has a total of five
components for its application (SPI12, supply, demand, infrastructure and impacts). A total of
three vulnerability categories have been obtained: Low Vulnerability, Medium Vulnerability and
High Vulnerability. The sub-zones with high vulnerability are located in the coastal strip and pre-
coastal valleys. These areas have the highest human pressure and have experienced a strong

1 Departamento de Geografía, Universidad de Murcia. E-mail: victor.ruiz1@um.es


2 Departamento de Geografía, Universidad de Murcia. E-mail: ruben.gimenez@um.es
3 -Departamento de Geografía, Universidad de Murcia. E-mail: ramongm@um.es

[ 915 ]
916 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García

transformation of land use in the last three decades. The resulting drought vulnerability map can
be used as a tool to assist in drought risk management and planning by different public bodies.
Key Words: vulnerability, deficit, planning, southeast Spain, drought risk

1 INTRODUCCIÓN
1.1 Justificación y objetivos
La sequía constituye el riesgo natural que mayor número de afectados y repercusiones
económicas genera en los territorios donde se desarrolla, como por ejemplo, el ámbito territo-
rial del sureste de España. Paradójicamente, entre el conjunto de fenómenos naturales extre-
mos que suponen un riesgo para la actividad humana, la sequía es el que menos atención
recibe en los estudios de riesgo, pese a producir numerosas pérdidas económicas, y en casos
extremos pérdidas humanas (GARCÍA, 2008). Esto es así, debido a que a diferencia de otros
riesgos naturales como inundaciones o terremotos que se manifiestan de forma repentina y
brusca, las sequías se desarrollan de forma lenta e imperceptible para la población, pudiendo
pasar inadvertidas durante un largo período temporal (TALLAKSEN; VAN LANEN, 2004).
No obstante, durante los últimos años se ha puesto en evidencia el efecto negativo de las
denominadas “sequías repentinas”, que son aquellos eventos que presentan un desarrollo muy
rápido (FORD et al., 2015; NOGUERA et al., 2020). El incremento esperado de este tipo de
sequías como consecuencia del cambio climático (HOFFMANN et al., 2021) puede llevar con-
sigo un aumento del riesgo de sequía, sobre todo por el incremento de los parámetros de vul-
nerabilidad y exposición, en sectores económicos como el agrícola (JIMÉNEZ et al., 2020;
NOGUERA et al., 2021).
De este modo, la falta de consecuencias tangibles a corto plazo, y el alivio temporal que
producen los episodios de lluvias torrenciales que suelen intercalarse durante los periodos
secos (OLCINA, 2001), provocan entre las administraciones y la población un desinterés que no
hace sino agravar los efectos del déficit hídrico consecuente (GARCÍA, 2008). En este sentido,
cabe destacar la estrecha relación existente entre la gestión de la sequía y la gestión de los
recursos hídricos. Si la integración de las estrategias de gestión del riesgo de sequía y de los
recursos hídricos resulta insatisfactoria, aumenta de forma considerable la vulnerabilidad de
sequía (VARGAS;PANEQUE, 2019).
En la Demarcación Hidrográfica del Segura, área de estudio del presente trabajo, la rela-
ción entre la gestión de las sequías y los recursos hídricos es si cabe más importante, debido a
la marcada aridez de gran parte de este ámbito territorial (precipitación media anual de 375
mm) y al notable déficit hídrico existente. El déficit total anual medio de la DHS es de 400 hm3/
año, correspondiendo la practica totalidad de este déficit a las demandas agrarias (394 hm3/
año) (Plan Hidrológico de la Demarcación del Segura 2015/21). En este sentido, el marco terri-
torial analizado es muy vulnerable frente a las sequías, de ahí la importancia de examinar la
situación actual del parámetro de vulnerabilidad de sequía. De este modo, el principal objetivo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA (SDVI) 917

de este trabajo es llevar a cabo una evaluación preliminar de la vulnerabilidad de sequía en el


marco territorial de la DHS y Mancomunidad de los Canales del Taibilla (MCT en adelante), loca-
lizado en el sureste de España. El mapa de vulnerabilidad de sequía resultante puede constituir
una herramienta de ayuda en la gestión y la planificación del riesgo de sequía por parte de las
administraciones públicas.

2 METODOLOGÍA
El parámetro de vulnerabilidad de sequía determina el grado de sensibilidad de un deter-
minado espacio geográfico a la escasez de precipitaciones. De este modo, la vulnerabilidad se
halla estrechamente relacionada con la estructura social y el desarrollo económico, y está fuer-
temente sometida a las variaciones y cambios que experimenten el tejido social y la estructura
económica (MARCOS,2001). Existen numerosos índices para la evaluación de la vulnerabilidad
de sequía. En la presente investigación, para la evaluación de este parámetro, ha sido seleccio-
nado el Índice Estandarizado de Vulnerabilidad de Sequía (en inglés Standardized Drought
Vulnerability Index– SDVI en adelante). El SDVI fue implementado en el año 2014 (KARAVITIS et
al., 2014), y su utilización tiene un amplio reconocimiento internacional (ABDI et al., 2018;
TSESMELIS et al., 2019).
En este trabajo se ha aplicado la metodología implementada y desarrollada en Tsesmelis
et al. (2019) para el cálculo del SDVI. Se trata de un índice que constituye un indicador com-
puesto por varias componentes que tiene como objetivo integrar las diversas manifestaciones
de las sequías (escalas meteorológica, agrícola, hidrológica y socioeconómica). El SDVI consta
de un total de cinco componentes: SPI12, suministro, demanda, infraestructura e impactos. El
valor del SPI12 se obtiene a nivel de las series meteorológicas, mientras que el resto de las
componentes se calculan en escalas más amplias, dependiendo de los datos disponibles. La
escala espacial seleccionada han sido las 36 subzonas hidráulicas del área de estudio (ver figura
5). En la figura 1, se exhibe la fórmula utilizada para la obtención del SDVI:

Figura 1 – Fórmula para la obtención del SDVI

Fuente: Adaptación a partir de Tsesmelis et al., 2019.

SPI hace referencia al índice de sequía “Standarized Precipitation Index” (SPI en adelante).
Es sin duda el índice de sequía más utilizado en el ámbito científico. El SPI se calcula a partir de la
conversión de datos de precipitación (se recomiendan más de 30 años de observación) a proba-
bilidades basadas en registros de precipitación acumulada. Dichas probabilidades componen
series normalizadas con un promedio de 0 y una desviación estándar de 1 (PEÑA et al., 2016).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


918 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García

La principal utilidad de este índice radica en que facilita el análisis de los impactos de las
sequías en distintas escalas temporales (1, 3, 6, 9, 12, 24 y 48 meses). Por lo tanto, permite la
identificación de los distintos tipos de sequía (meteorológica, agrícola, hidrológica y socioeco-
nómica) definidos por Wilhite y Glantz (1985), ya que los diferentes sistemas naturales y secto-
res económicos pueden responder a las condiciones de sequía en escalas temporales desiguales
(VICENTE et al., 2012). Un periodo inferior o igual a 3 meses permite la monitorización de las
sequías meteorológicas, por encima de 6 meses se pueden evaluar las sequías agrícolas, y por
último, el periodo de 12 meses es el ideal para evaluar las sequías hidrológicas. De este modo,
en este trabajo se ha seleccionado la escala temporal de 12 meses (SPI12 a partir de este
momento), debido a las repercusiones territoriales que tienen las sequías hidrológicas en el
sureste de la península ibérica, área que cuenta con un importante déficit hídrico estructural.
Los cinco componentes utilizados en la obtención del SDVI se clasifican en cuatro catego-
rías de vulnerabilidad (escala de 0 a 3: 0-menos vulnerable, 1-Vulnerable, 2-Vulnerabilidad Alta
y 3-Vulnerabilidad Extrema) de acuerdo con los criterios que se describen en la tabla 1. El valor
de vulnerabilidad final se obtiene mediante el registro promedio del sumatorio de los valores
de los cinco componentes. En función del valor promedio se obtienen un total de seis catego-
rías, organizadas de menor a mayor vulnerabilidad (tabla 2).

Tabla 1 – Criterios para la asignación de los valores de los cinco componentes del SDVI

Nivel de
Valor SPI Suministro Demanda Infraestructura Impactos
vulnerabilidad
Menos vulnerable 0 ≥ 1,50 Sin Déficit Sin Déficit Completa Sin pérdidas

Vulnerable 1 0 a 1,49 15% Déficit 15% Déficit 15% Deficiente 15% Pérdidas

Vulnerabilidad alta 0a 16-50% 16-50%


2 16-50% Déficit 16-50% pérdidas
-1,49 Déficit Deficiente
Vulnerabilidad
3 ≤ -1,50 >50% Déficit >50% Déficit >50% Deficiente >50% pérdidas
extrema
Fuente: Adaptación a partir de Tsesmelis et al., 2019.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA (SDVI) 919

Tabla 2 – Categorías de vulnerabilidad obtenidas a partir del SDVI

SDVI Categoría

0 y 0,49 Sin Vulnerabilidad

0,50 y 0,99 Vulnerabilidad Baja

1 y 1,49 Vulnerabilidad Media

1,5 y 1,99 Vulnerabilidad Alta

2 y 2,49 Vulnerabilidad Muy Alta

2,5 y 3 Vulnerabilidad Extrema


Fuente: Adaptación a partir de Tsesmelis et al., 2019.

3 ÁREA DE ESTUDIO
Esta investigación centra su análisis en los ámbitos territoriales de la Demarcación
Hidrográfica del Segura (DHS) y la Mancomunidad de los Canales del Taibilla (MCT), localizados
en el sureste de la península ibérica. Se ha seleccionado el marco espacial de estos organismos,
debido a que ambos son los responsables de la gestión y la planificación de los recursos hídri-
cos, y del abastecimiento de agua potable, respectivamente, de gran parte del cuadrante
sureste de España. El área de estudio alberga un cómputo poblacional de alrededor de
2.600.000 habitantes, localizándose la mayor parte en las aglomeraciones urbanas de Murcia
y Alicante-Elche (comarcas de la Huerta de Murcia, Bajo Vinalopó y Campo de Alicante), y en
las comarcas del Campo de Cartagena y Vega Baja del Segura. Estas áreas cuentan con una ele-
vada densidad de población.
En las figuras 2 y 3 se muestra respectivamente la distribución del relieve y de la precipi-
tación media anual en el área de estudio. Una de sus singularidades es la elevada variabilidad
orográfica que presenta. De este modo, se alternan sistemas montañosos que superan los
2000 metros de altitud en el sector occidental, con valles, depresiones y llanuras costeras, y
altiplanicies. La disposición del relieve juega un papel primordial en la elevada variabilidad cli-
mática existente en este territorio. Existe una clara relación entre la distribución espacial de la
precipitación media anual y el relieve, de modo que los máximos pluviométricos se registran en
los relieves noroccidentales, superándose puntualmente los 1000 mm/año. Desde el extremo
noroccidental, se produce un descenso gradual hasta el extremo suroccidental, donde los acu-
mulados medios anuales son inferiores a 200 mm. Esta zona constituye una de las áreas más
áridas de Europa. Como se observa en la figura 3 gran parte del territorio examinado posee una
precipitación media anual inferior a los 400 mm, lo que le confiere una marcada aridez. Además
cuenta con un notable déficit hídrico estructural.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


920 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García

Tradicionalmente, las condiciones climáticas óptimas (temperatura e insolación) han


favorecido el desarrollo de la agricultura en las vegas del Segura y en los valles de sus principa-
les afluentes como el Guadalentín. Este factor permitió el desarrollo de una agricultura muy
productiva a lo largo del S.XX, en comparación con otras regiones de Europa (COLINO et al.,
2014), lo que conlleva que el sector agrícola represente un porcentaje mayor en el PIB que en
el resto de España (CALVO, 2006).
No obstante, y debido a la aridez de la DHS, esta agricultura es muy dependiente del
regadío, y su expansión hacía zonas litorales y prelitorales de las provincias de Murcia, Almería
y Alicante, estuvo muy ligada a la llegada en 1979 de las aguas del Trasvase Tajo Segura
(HERNÁNDEZ y MORALES, 2008), así como a la sobreexplotación de acuíferos (GARCÍA et al.,
2014). La desalinización también está jugando un papel importante en los últimos años en la
agricultura (MOROTE; RICO, 2018). En definitiva, la conjunción de estos factores explica la ele-
vada concentración actual de superficie de regadío en la franja suroriental del área de estudio,
la cual se incrementado exponencialmente. Por último, en la figura 5 se exhiben las 36 subzo-
nas hidráulicas en las que está dividido el territorio. La división de estas áreas se realiza aten-
diendo a criterios hidrográficos, administrativos, socioeconómicos y medioambientales.

Figura 2 – Área de estudio. Relieve

Fuente: Elaboración propia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA (SDVI) 921

Figura 3 – Distribución espacial de la precipitación media anual

Fuente: Elaboración propia a partir de los datos de la Agencia Estatal de Meteorología (AEMET)– periodo de referencia 1981–2010

Figura 4 – Distribución espacial de las subzonas hidráulicas

Fuente: Elaboración propia a partir de la cartografía de la Confederación Hidrográfica del Segura

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


922 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García

4. RESULTADOS Y DISCUSIÓN
El periodo temporal seleccionado para evaluar la vulnerabilidad de sequía es 1993-2017.
Los valores asignados por componentes, así como el valor final de vulnerabilidad de las 36
zonas hidráulicas del área de estudio, se exhiben en la tabla 3. Se ha elegido este periodo
debido a que en este lapso temporal de 25 años se ha producido un incremento poblacional
muy notable, así como cambios drásticos en los usos del suelo (incremento usos urbano y
agrícola), que han originado variaciones al alza en los parámetros de vulnerabilidad de sequía.
Además durante este periodo se han manifestado cuatro secuencias pluviométricas secas de
gran severidad (1993-1996, 1998-2001, 2005-2006 y 2013-2016) (RUIZ et al., 2021), lo que per-
mite examinar los impactos producidos y evaluar si las infraestructuras hidráulicas fueron lo
suficientemente sólidas para garantizar el abastecimiento de agua.
Con respecto al componente del SPI12, la mayor parte de la subzonas presentan un valor
de vulnerabilidad alta en esta componente, ya que el valor promedio del SPI12 durante el
periodo 1993-2017 es inferior a 0, en la mayoría de las series. En referencia al resto de compo-
nentes, los valores del nivel de vulnerabilidad han sido asignados realizando una evaluación de
los condicionantes que rigen cada subzona hidráulica. A continuación se describen los valores
asignados a cada componente:
1) Suministro: Todas las subzonas han sido categorizadas con el nivel de vulnerable
pues en los últimos 25 años han tenido pequeños problemas de abastecimiento durante las
secuencias secas, excepto Yecla y Los Vélez que han sido calificados con vulnerabilidad alta
debido a que son zonas que se abastecen con recursos propios (no son abastecidas por la MCT),
y en los últimos años han tenido notables problemas de sobreexplotación de sus acuíferos que
han puesto en jaque el abastecimiento urbano de agua.
2) Demanda: Se ha asignado un valor de vulnerabilidad alta en aquellas subzonas de
la franja costera y valles prelitorales, donde la presión sobre los recursos hídricos ejercida
por las actividades humanas es muy elevada. En valles del interior donde se ha producido un
notable aumento de la superficie de regadío en los últimos 15 años se ha asignado el nivel
de vulnerable. Por su parte, en las subzonas situadas en la cabecera de la DHS, donde las
demandas de agua son muy exiguas, se ha asignado el nivel de 0 (menos vulnerable).
3) Infraestructura: En casi todas las subzonas se ha asignado un nivel de vulnerable,
sobre todo en las localizadas en la franja costera y valles prelitorales, ya que son las que han
sufrido un mayor crecimiento poblacional y de las actividades económicas. Durante los 25
años analizados, la MCT ha tenido que ir ejecutando nuevas infraestructuras, sobre todo a
raíz de las secuencias secas acaecidas para asegurar el abastecimiento de agua. Entre estas
infraestructuras destaca la construcción de las desaladoras y la consecuente ejecución de
conexiones con las propias estructuras de distribución de los recursos hídricos de la MCT.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA (SDVI) 923

Tabla 3 – Valores asignados por componentes y valor final de vulnerabilidad en cada una de las 36
zonas hidráulicas del área de estudio

Subzona SPI Suministro Demanda Infraestructura Impactos SDVI

IA-Madera 2 1 0 1 0 0,8
IB-Alto Segura 2 1 0 1 0 0,8
IC-Fuensanta 1 1 0 0 1 0,6
ID-Taibilla 2 1 0 0 1 0,8
IE-Cenajo 2 1 0 0 1 0,8
IIA-Riopar 2 1 0 0 0 0,6
IIB-Talave 2 1 0 0 0 0,6
IIC-Tobarra 1 1 1 1 1 1
IID-Hellín 1 1 1 1 1 1
III-Corral Rubio 2 1 1 1 1 1,2
IVA-Moratalla 2 1 1 0 1 1
IVB-Argos 1 1 1 0 1 0,8
IVC-Quípar 1 1 1 0 1 0,8
VA– La Cierva 1 1 2 0 1 1
VB– Huerta de Mula 2 1 2 0 1 1,2
VIA– Calasparra 2 1 1 0 1 1
VIB– Cieza 2 1 1 0 1 1
VIC– Molina 2 1 2 0 1 1,2
VIIA– Judío 2 1 1 1 1 1,2
VIIB– Moro 2 1 1 1 1 1,2
VIIC– Santomera 2 1 1 1 1 1,2
VIID– Chícamo 2 1 1 1 1 1,2
VIII– Yecla 2 2 1 1 1 1,4
IXA– Valdeinfierno 2 1 1 0 0 0,8
IXB– Los Vélez 2 2 1 1 1 1,4
IXC-Valle de Lorca 2 1 2 1 2 1,6
X– Levante Almeriense 2 1 2 1 2 1,6
XIA– Mazarrón 2 1 2 1 1 1,4
XIB– Águilas 2 1 2 1 1 1,4
XII– Vega Media 2 1 2 1 2 1,6
XIIIA– Campo de Cartagena 2 1 2 1 2 1,6
XIIIB-Cartagena 2 1 2 1 2 1,6
XIVA– Vega Baja 2 1 2 1 2 1,6
XIVB-Torrevieja 2 1 2 1 2 1,6
XIVC-RLMI 2 1 2 1 2 1,6
XV– Alacantí Vinalopó 2 1 2 1 2 1,6
Fuente: Adaptación a partir de Tsesmelis et al., 2019

4) Impactos: Los impactos originados por las sequías han sido más cuantiosos en las
subzonas situadas en la franja costera y valles prelitorales, que son aquellas que sufren una
presión humana más elevada. Las mismas cuentan con actividades muy expuestas ante las
secuencias pluviométricas secas, y por tanto se les ha asignado una vulnerabilidad alta en esta
componente. En la mayor parte del resto de subzonas hidráulicas ha sido establecido el nivel
de vulnerable. Tan sólo en ciertas zonas del interior (muy despobladas) se ha fijado el nivel 0.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


924 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García

Por último, en la figura 5 se expone la distribución espacial de las categorías de SDVI


resultantes del promedio de todas las componentes. De las seis categorías posibles, se
han obtenido un total de tres: Vulnerabilidad Baja, Vulnerabilidad Media y Vulnerabilidad
Alta. Las subzonas con vulnerabilidad baja se localizan en la cabecera de la DHS, y en áreas
pertenecientes a parte de las subcuencas de la margen derecha del río Segura. Por su parte, las
subzonas con vulnerabilidad media se encuadran fundamentalmente en áreas pertenecientes
a las subcuencas de la margen izquierda del río Segura. Estas subcuencas sufren una
sobreexplotación de acuíferos muy superior a la registrada en las subcuencas de la margen
derecha. Finalmente, las subzonas situadas en la franja costera y valles prelitorales poseen una
vulnerabilidad alta. Estas zonas son las que presentan una mayor demanda de agua.

Figura 5 – Mapa de vulnerabilidad de sequía por subzonas hidráulicas obtenido a partir de la aplicación
del SDVI

Fuente: Elaboración propia.

5 CONSIDERACIONES FINALES
Existen numerosos índices para la evaluación de la vulnerabilidad de sequía. En el presente
trabajo, para la evaluación de este parámetro, ha sido seleccionado el Índice Estandarizado de
Vulnerabilidad de Sequía (SDVI). Este índice es un indicador compuesto por varios componentes

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICACIÓN DEL ÍNDICE ESTANDARIZADO DE VULNERABILIDAD DE SEQUÍA (SDVI) 925

(SPI12, suministro, demanda, infraestructura e impactos), que tiene como objetivo integrar
las diversas manifestaciones de las sequías (escalas meteorológica, agrícola, hidrológica y
socioeconómica). La escala espacial seleccionada para la evaluación de la vulnerabilidad de
sequía han sido las 36 subzonas hidráulicas en las que se subdivide el área de estudio.
Los cinco componentes seleccionados se clasifican en cuatro categorías de
vulnerabilidad (escala de 0 a 3: 0-menos vulnerable, 1-Vulnerable, 2-Vulnerabilidad Alta y
3-Vulnerabilidad Extrema). El valor de vulnerabilidad final se obtiene mediante el registro
promedio del sumatorio de los valores de los cinco componentes. Se han obtenido un total de
tres categorías de vulnerabilidad: Vulnerabilidad Baja, Vulnerabilidad Media y Vulnerabilidad
Alta. Las subzonas con vulnerabilidad alta se encuadran en la franja costera y valles prelitorales,
que son las áreas que cuentan con una mayor presión humana, y por tanto son las que sufren
un mayor impacto territorial durante las secuencias pluviométricas secas.
En el territorio analizado la vulnerabilidad de sequía se ha incrementado de forma
considerable durante las últimas décadas, debido a la creciente demanda de agua originada por
el dinámico desarrollo económico (concentrado sobre todo en las actividades agropecuarias
y turísticas). Este estudio preliminar puede constituir un documento de apoyo en la toma de
decisiones y propuestas de mejora en la planificación urbanística y ordenación del territorio.
Desde las administraciones públicas se tiene que apostar por desarrollar una agricultura mucho
más sostenible ante las nuevas condiciones climáticas y ambientales, de modo que se minimicen
el valor de los parámetros de vulnerabilidad y exposición frente al riesgo de sequía. Asimismo,
se deben suprimir las miles de hectáreas de regadíos ilegales existentes en el área de estudio.
Como propuestas de líneas futuras de investigación se pretende implementar el SDVI
con una mayor resolución espacial con el objetivo de poder efectuar un mejor análisis y poder
delimitar de un modo preciso los espacios territoriales con mayor vulnerabilidad. Además
se tratarán evaluar otros índices e indicadores, tales como el índice de exposición, índice
de sensibilidad o índice de capacidad de adaptación. Con estos avances se conseguiría un
conocimiento más integral del riesgo de sequía en la DHS y MCT. Asimismo, sería de gran
ayuda la realización de un visor a escala de la DHS, a través del cual se pudiera seguir en
tiempo real la evolución de los diferentes indicadores.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


926 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


79.
APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS PRINCIPAIS
ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA NO
CONTINENTE AMERICANO

HELLEM VICTORIA RIBEIRO DOS SANTOS1


THAYNARA LORRAYNE DE OLIVEIRA2
DENILSON TEIXEIRA3

Resumo: Os índices de qualidade da água podem ser compreendidos como ferramentas de


comunicação de base científica, que convertem dados multivariáveis em uma única unidade
capaz de descrever a qualidade da água; no entanto, não existe um índice “universal”. Assim, o
objetivo principal desta pesquisa é caracterizar as aplicações e desafios dos principais índices de
qualidade de água, comumente utilizados por órgãos governamentais, no continente ameri-
cano. Para isso, realizou-se uma Pesquisa Bibliográfica Sistematizada associada ao sistema de
amostragem não probabilística “Bola de Neve”. Os índices estudados são compostos principal-
mente por variáveis físico-químicas, (variáveis instantâneas), seus resultados retratam o
momento e local de coleta. Poucos indicadores biológicos são utilizados na composição destes
índices. Dessa forma, possíveis interpretações das variações espaciais e temporais da qualidade
da água podem ficar comprometidas. Outro desafio a ser vencido no aprimoramento dos méto-
dos estudados é ampliar sua capacidade de comunicação dos resultados para um número maior
de usuários. Os índices de qualidade da água são a base técnica necessária para a tomada de
decisão no processo de Gestão de Recursos Hídricos.
Palavras-chaves: Qualidade da Água; Índices utilizados na América; Gestão integrada; Recursos
hídricos.
Abstract: Water quality indexes can be understood as scientific-based communication tools that
convert multivariate data into a single unit capable of describing water quality; however, there is
no “universal” index. Thus, the main objective of this research is to characterize as applications
and challenges of the main water quality indexes, commonly used by government agencies, in the
American continent. For this, a systematic bibliographic research was carried out associated with
the non-probabilistic sampling system “Snowball”. The studied indices are mainly composed of
physicochemical variables (instant variables), their results portray the time and place of collection.
Few biological indicators are used in the composition of these indexes. Thus, possible

1 Universidade Federal de Goiás. E-mail: hellemvsantos@gmail.com


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: thaynaralorrayne_@hotmail.com
3 Universidade Federal de Goiás. E-mail: dteixeira@ufg.br

[ 927 ]
928 Hellem Victoria Ribeiro dos Santos; Thaynara Lorrayne de Oliveira; Denilson Teixeira

interpretations of spatial and temporal variations in water quality may be compromised. Another
challenge to be overcome in improving the methods studied is to expand their ability to commu-
nicate results to a greater number of users. Water quality indices are the technical basis needed
for decision making in the Water Resources Management process.
Keywords: Water quality; Indexes used in America; Integrated management; Water resources.

1 INTRODUÇÃO
O levantamento de dados físico-químicos e biológicos tem função primordial no pro-
cesso de gestão de recursos hídricos. É a partir da caracterização e diagnóstico do sistema
ambiental que legisladores e gestores podem e devem embasar suas decisões. Os índices de
qualidade de água são instrumentos fundamentais para efetivação destas decisões.
Os índices de qualidade da água são modelos de comunicação, de base científica, que
convertem dados multivariáveis em uma única unidade que descreve a qualidade da água
(ABBASI; ABBASI, 2012; BANDA; KUMARASAMY, 2020); isto é, agregam diferentes informações
sob a forma de parâmetros, em um valor indicador geral, da qualidade da água analisada
(USEPA, 2010; POONAM; TANUSHREE; SUKALYAN, 2013), sendo capazes de “simplificar” relatos
técnicos e complexos (BANDA; KUMARASAMY, 2020).
Esses índices, por meio de uma comunicação consistente, objetiva e inclusiva podem
contribuir para compressão da qualidade de recursos hídricos por legisladores, técnicos e
mesmo do público em geral (ABBASI; ABBASI, 2011; POONAM; TANUSHREE; SUKALYAN, 2013;
LUZATI; JAUPAJ, 2016). Fornecem também informações, ao longo do espaço e do tempo, sobre
propriedades da água de vários recursos hídricos, que podem auxiliar na distribuição de inves-
timentos e esforços dos gestores (SARKAR; ABBASI, 2006; POONAM; TANUSHREE; SUKALYAN,
2013; ODEQ, 2015; CHEN et al., 2015).
Com isso, faz-se possível afirmar que esses índices podem ser entendidos como um ins-
trumento da Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH), que se fundamenta no diálogo
entre as partes interessadas e os tomadores de decisão, na integração do conhecimento de
diversas disciplinas e na consideração de que a bacia hidrográfica é a unidade para todas as
atividades de planejamento (ZALEWSKI, 2015).
Gestão Integrada de Recursos Hídricos é um processo baseado na promoção da gestão
coordenada e no desenvolvimento da água, da terra e dos recursos a eles relacionados, com o
intuito de elevar o bem-estar social e econômico de forma igualitária, sem colocar em risco a
manutenção dos ecossistemas vitais (GWP, 2000).
Portanto, o processo que envolve a GIRH depende da disponibilidade e credibilidade dos
dados e informações gerados pelos índices. Ao redor do mundo, existem variados índices de
qualidade da água, criados por diferentes entidades, considerando diferentes usos (CUDE,
2001) e condições ecológicas (USEPA, 2010).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS PRINCIPAIS ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA NO CONTINENTE AMERICANO 929

Inicialmente, os índices foram pensados para serem aplicados em sistemas aquáticos de


água doce (LUMB; SHARMA; BIBEAULT, 2011), no entanto, foram considerados aplicáveis tam-
bém para sistemas urbanos e rurais de abastecimento de água (FERREIRA; BONETTI; SEIFFERT,
2011; HURLEY; SADIQ; MAZUMDER, 2012), fontes de água potável (SANCHEZ et al., 2007), ria-
chos e rios localizados em zonas costeiras ou próximos a elas (GIORDANI; ZALDIVAR; VIAROLI,
2009; USEPA, 2010), bem como em áreas estuarinas (UJJANIA; DUBEY, 2015).
De modo geral, os índices são projetados para um determinado recorte espacial ou fina-
lidade específica. Assim, a seleção dos parâmetros a serem incorporados em um índice é regida
pelos usos propostos para ele, demarcando seus limites de aplicação (BANDA, 2015).
Tais parâmetros devem capturar as informações acerca das características da água, mini-
mizando redundâncias (CUDE, 2001), por esse motivo, partem da adoção de métodos físicos,
químicos e biológicos (BANDA; KUMARASAMY, 2020). Ademais, muitos índices baseados em
parâmetros físico-químicos negligenciam parâmetros biológicos (ABBASI; ABBASI, 2011).
Desse modo, o presente estudo possui o objetivo de caracterizar as aplicações e desafios
dos principais índices de qualidade de água, comumente utilizados, por órgãos governamentais
no continente americano.
Os índices de qualidade da água são capazes de subsidiar, de maneira relevante, a GIRH,
não só no que tange as decisões sobre ações e investimentos, mas tornando possível a partici-
pação de diferentes atores sociais. Rever os desafios que envolvem o desenvolvimento e apli-
cação destes índices é um primeiro passo nesta direção.

2 METODOLOGIA
Para realizar a investigação dos índices, a pesquisa baseou-se na consulta em relatórios
técnicos de agências governamentais, como da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(CETESB), na revisão de índices e indicados do Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
diretrizes do CCME, relatório acerca do índice de qualidade da água Oregon do ODEQ e em arti-
gos científicos, incluindo artigos de revisão, disponíveis nos idiomas português, inglês e espa-
nhol e publicados nas bases eletrônicas Scopus, Web of Science e Scielo.
Com isso, o estudo em questão caracteriza-se como exploratório; de abordagem qualita-
tiva, utilizando dados secundários advindos de uma Revisão Bibliográfica Sistematizada realizada
até o ano de 2021 e associada ao sistema de amostragem não probabilística “bola de neve”.
As buscas realizadas nos bancos de dados estão descritas na Tabela 1:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


930 Hellem Victoria Ribeiro dos Santos; Thaynara Lorrayne de Oliveira; Denilson Teixeira

Tabela 1 – Buscas em Diferentes Bancos de Dados

Banco de Dados Palavra-chave Período Resultante Estudos Relevantes

“integrated management”;
2019-2020 62
“water resources”

“water qualilty index” 2000-2021 2.676

Scopus “NSF water quality index” 2009-2020 9

“CCME water quality index 2005-2020 17

“Oregon water quality index” 1979-2020 8

“water quality index”; Argentina 1998-2019 28

Scielo “índice de calidad del agua”; Perú - 1

“NSF water quality index” 2011-2018 6

Web of Science “CCME water quality index” 2005-2020 17

“Oregon water quality index” 2011-2019 10


Fonte: próprios autores.

Tratando-se das limitações, pouco foi encontrado sobre os índices de qualidade da água
utilizados na América do Sul. Com a palavras-chave “water quality index”, as buscas são amplas
e açambarcam os índices de qualidade da água mais recorrentes; mas, ainda assim, não abran-
geu os índices empregados no continente sul-americano e, por esse motivo, as palavras-chave
“water quality index”, “índice de qualidade da água” e “índice de calidad del agua” também
foram associadas ao nome de cada país de América do Sul.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Inventário de Índices de Qualidade da Água Utilizados na América


Os índices de qualidade da água utilizados na América foram organizados em uma linha do
tempo (Figura 1), contendo ano, autor, objetivo e quantidade de parâmetro, quando citados.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS PRINCIPAIS ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA NO CONTINENTE AMERICANO 931

Figura 1 – Índices de Qualidade

Nota: os números contidos nos círculos são a quantidade de parâmetros dos índices aqui avaliados. Ressalta-se que, para o IQACCME, o número de parâmetros
deve ser de, no mínimo, 8 e, no máximo, 20.

Fonte: próprios autores.

Observa-se, na Figura 1, que a preocupação com a poluição dos corpos de água é


decorrente de muitos anos, assim como a necessidade de criar/aperfeiçoar modelos que auxi-
liem na avaliação dos corpos hídricos, a fim de comparar a qualidade dos mesmos e identificar
suas fontes de contaminação (FERREIRA et al., 2015; SÃO PAULO, 2017).
Sobretudo, os métodos para avaliar a qualidade da água foram desenvolvidos para
melhor atender a proteção da vida aquática, bem como toda a região de uma bacia hidrográ-
fica; além de auxiliarem nas políticas públicas, beneficiando os protagonistas dos usos da água
(WAGH et al., 2017).
Os índices de qualidade da água são estruturados a partir da parceria entre pesquisado-
res e entidades públicas, com o objetivo de avaliar as propriedades da água e suas fontes de
contribuição difusas e pontuais, a fim de adequá-la aos seus respectivos usos (FERREIRA et al.,
2015), assim como dar suporte à gestão de recursos hídricos (FANG et al., 2020).
A cada parâmetro que compõe os índices – sendo esse parâmetro físico, químico ou
biológico – são atribuídos pesos em cada curva média específica e, considerando os efeitos
alcançados, são propostas equações que são uma combinação linear dos pesos dos parâme-
tros (PNMA II, 2004) e que podem ser vistas na Tabela 2:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


932 Hellem Victoria Ribeiro dos Santos; Thaynara Lorrayne de Oliveira; Denilson Teixeira

Tabela 2 – Categorias e Equações Matemáticas Estabelecidas para Classificação de Corpos Hídricos


Faixa de Quantidade
Índice Equação
classificação de parâmetros
IQA NSF 0-100 9
0-1001
IQA CETESB 9
0-1002
IQA CCME 0-100 8 a 20

IQA OREGON 0-100 8


Fonte: adaptado PNMA II (2004); Ichwana, Syahrul e Nelly (2016); Tyagi et al. (2013); ANA (2010) e São Paulo (2017); WAGH et al. (2017); CCME (2017).

Para cada equação dos índices de qualidade da água, existem variáveis a serem determi-
nadas para obtenção dos resultados. Isto é, para a equação do IQANSF e IQACETESB, o Wi é o peso
relativo do i-ésimo parâmetro que varia de 0 a 1 e Ii é valor relativo ao i-ésimo parâmetro, um
número compreendido entre 0 e 100, obtido através da curva média de cada parâmetro (PNMA
II, 2004).
No IQACCME, F1 é o alcance em porcentagem, interpretado como uma parcela do número
total de amostrasque apresenta falha; F2é a frequência em porcentagem, ou seja, a parcela de
testes individuais que não atendem às especificações; F3 é a amplitude em porcentagem, que
representa a parcela de testes reprovados e o denominador, “1,732”, normaliza os valores
resultantes para um intervalo de 0 a 100 (CCME, 2017; HAIDER et al., 2019).
Por sua vez, no IQAOREGON, n é o número de parâmetros e SI, o subíndice do i-ésimo parâ-
metro (CUDE, 2001; HASSOUNA, et al., 2019).
Ressalta-se que o IQACCME é baseado na formulação do British Columbia Water Quality
Index (BCWQI) (CCME, 2001; BINLGIN, 2018) e apresenta uma abrangência de compostos e sus-
tâncias prioritárias que representam um impacto significativo no que tange à qualidade da
água (HAIDER et al., 2019), entretanto, não define parâmetros específicos para sua aplicabili-
dade, apenas a escolha de oito a vinte parâmetros (WAGH et al., 2017; CCME, 2017). Ademais,
pode ser moldado de acordo com o uso ao qual se destina o recurso hídrico (SILVA et al., 2017).
Outrossim, é o índice do estado do Oregon, que avalia a qualidade da água para uso
recreativo, como pesca e esportes aquáticos. Assim, os oito parâmetros que avaliam a quali-
dade de corpos hídricos foram definidos para alcançar satisfatoriedade nesse quesito, sendo
esses expressos em várias unidades de medida e transformados em subíndices (ZOTOU;
TSIHRINTZIS; GIKAS, 2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS PRINCIPAIS ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA NO CONTINENTE AMERICANO 933

3.2 Avaliação das Especificidades dos Índices, Vantagens e Desvantagens


Tratando-se de como o IQACETESB, IQANSF, IQACCME e IQAOregon classificam a água avaliada, as
categorias classificatórias foram reunidas, constituindo um intervalo que vai de 0 a 100, para a
avaliação da qualidade da água, onde 0 representa a “pior” e 100 representa a “melhor” qua-
lidade da água (PNMA II, 2004; TYAGI et al., 2013; ODEQ, 2015; CETESB, 2017; CCME, 2017).
Atentar-se à qualidade da água, com mais exigências em relação à mesma, reflete maior
preocupação por parte dos gestores e das companhias, no que diz respeito às características
dos recursos hídricos. Garantindo, de certa maneira, maior segurança à população e adequabi-
lidade a usos específicos da água.
O monitoramento dos recursos hídricos por meio desses índices possibilita avaliar a qua-
lidade da água e auxiliar na saúde pública, a fim de promover condições básicas de sanea-
mento, uma vez que possibilita avaliar a efetividade dos programas desenvolvidos, na busca
por melhorias e desenvolvimentos locais (LUMB; SHARMA; BIBEAULT, 2011).
É importante mencionar que nenhum índice tem a pretensão de ser empregado em
substituição a análises mais detalhadas ao averiguar a condição de um curso de água e, sim,
portam-se como simplificação estatística de dados multivariados complexos, fornecendo um
diagnóstico inteligível para diferentes esferas sociais.
Um fator limitante tanto da universalização de um IQA quanto da plena confiabilidade
dos mesmos para usos específicos é a escolha dos parâmetros que, em muitas ocasiões, não
incluem substâncias relevantes para uma avaliação mais cuidadosa da qualidade da água
(ABBASI; ABBASI, 2011; BANDA; KUMARASAMY, 2020).
Outro ponto sensível dos IQAs é a sua conformidade metodológica, pois, geralmente,
baseiam-se em outros índices ao serem desenvolvidos e esses índices não são projetados
visando uma ampla aplicação, sendo voltados para uma bacia hidrográfica ou região específica
e seleção de parâmetros torna-se bem característica (BANDA, 2015).
O próprio IQACCME, elaborado visando a proteção da vida aquática ao avaliar as águas
superficiais, foi utilizado para a avaliação da qualidade da água na Argentina, África do Sul,
Bélgica, Polônia, Suíça, Japão, República da Coréia, Marrocos, Federação Russa Índia e
Paquistão; além de ter sido adotado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
como Índice de Qualidade da Água Sanitária, Índice de Aceitabilidade da Qualidade da Água e
Índice Global de Qualidade da Água Potável (TYAGI et al., 2013; CCME, 2017; BANDA;
KUMARASAMY, 2020).
Ao refletir acerca da conformidade metodológica dos índices da CETESB, NSF, do estado
de Oregon e da CCME, assim como de outros índices, observa-se uma frequente negligência
aos parâmetros biológicos e uma confiança crescente em índices físico-químicos. A problemá-
tica envolvendo os índices físico-químicos é que sua interpretação se prende ao que foi real-
mente medido, isto é, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), fósforo, turbidez ou outros,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


934 Hellem Victoria Ribeiro dos Santos; Thaynara Lorrayne de Oliveira; Denilson Teixeira

podendo ignorar a presença de patógenos, contaminantes emergentes, metais pesados, pesti-


cidas etc. (ABBASI; ABBASI, 2011).
Ademais, como a água é conhecida como solvente universal, é extremamente difícil ava-
lia-la em toda a sua extensão e, justamente nesse quesito, a utilização de microrganismos
aquáticos como indicadores bióticos se destaca, pois esses são espelho da saúde do ecossis-
tema de um corpo hídrico e também da qualidade da água atual (ABBASI; ABBASI, 2011).
Sem dúvidas, os constituintes mais relevantes dos índices de qualidade da água são os
parâmetros, afinal, é partir deles o valor do índice é obtido. Dos índices aqui mencionados, o
IQ ANSF, IQACETESB e o IQAOregon partem de sistemas fixos, isto é, são condicionados a um conjunto
de parâmetros selecionados pelo desenvolvedor, considerados necessários para alcançar uma
avaliação adequada do curso d’água; enquanto isso, no IQACCME, cabe ao profissional a escolha
dos parâmetros, sendo esse um sistema aberto (EU, 1980; EFSA, 2012; SREBOTNJAK, 2012;
BANDA; KUMARASAMY, 2020).

3.3 Vantagens e desvantagens dos IQAs


Olhando para os índices de maneira mais específica, o IQACETESB, ao basear-se no IQANSF,
deixa de incluir em seus parâmetros algumas características naturais das águas dos biomas
nacionais, revelando a importância de uma revisão dos pesos destinados a cada parâmetro,
para que haja um alinhamento às peculiaridades de cada região como particularidades ambien-
tais, uso do solo, cobertura vegetal e singularidades das águas (AKKOYUNLU; AKINER, 2012;
FERREIRA et al., 2015; PASSOS; MUNIZ; OLIVEIRA FILHO, 2018).
No entanto, é preciso dizer que o IQACETESB, o principal índice utilizado no Brasil, pode ser
aplicado em quaisquer áreas, com o intuito de promover a água em condições adequada, bem
como o enfoque participativo das comunidades locais e regionais, tendo seu foco direcionado
a companhias reguladoras de saneamento, órgãos fiscalizadores e pesquisadores responsáveis
pela sua efetiva aplicabilidade.
Outra implicação para o IQACETESB e para o IQANSF é a sobreposição de funções de alguns
parâmetros, uma vez que, dependendo o caso, é possível compreender determinada situação
sem o emprego de dois parâmetros que podem ser redundantes, o que ocorre com o OD (oxi-
gênio dissolvido) e com a DBO (PASSOS; MUNIZ; OLIVEIRA FILHO, 2018).
O IQANSF, que apresenta um valor diretamente relacionado ao uso potencial da água, é
capaz de identificar a alteração de qualidade entre corpos hídricos; no entanto, está sujeito à
perda de informações durante o tratamento de dados. Outro demérito do IQANSF é, justamente,
representar a qualidade geral da água, sem atentar-se a usos específicos, considerando que o
ambiente e as atividades às quais o corpo hídrico está sujeito repercutem em sua qualidade
(WILLS; IRVINE, 1996; TYAGI et al., 2013; PASSOS; MUNIZ; OLIVEIRA FILHO, 2018).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS PRINCIPAIS ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA NO CONTINENTE AMERICANO 935

O IQAOregon, por outro lado, é fortemente influenciado pelo parâmetro mais precário em
qualidade, o que é possível em razão de equação de média quadrada harmônica não ponderada
e combinação de parâmetros. Esse índice também parte da compreensão de que um parâme-
tro pode apresentar significados diferentes, dependendo da qualidade da água e do local, além
de ser extremamente sensível às mudanças dessa qualidade (CUDE, 2001; HUBLER, 2009; TYAGI
et al., 2013; ODEQ, 2015).
Ademais, o IQAOregon impossibilita inferências acerca da situação de outros locais que não
sejam o local da amostra, isto é, não reflete as condições de qualidade de água de outros locais
da bacia nem do rio; não se estende a usos específicos e não pode oferecer informações defi-
nitivas no que diz respeito à qualidade da água, carecendo da consideração de outros parâme-
tros físicos, químicos e biológicos (CUDE, 2001; HUBLER, 2009; TYAGI et al., 2013; ODEQ, 2015).
Por sua vez, o IQACCME, por meio de sua estrutura matemática fácil de calcular – exigindo
um método automatizado para um amplo número de parâmetros – e certa tolerância com
dados ausentes, faz com que seja possível avaliar as condições ambientais de qualidade da
água, de acordo com diferentes diretrizes e usos da água, uma vez que é flexível quanto ao tipo
e número de parâmetros a serem testados, bem como ao tipo de corpo d’água e ao período de
aplicação, sendo todos esses dados de entrada definidos previamente pelo profissional
(TERRADO et al., 2010; ABBASI; ABBASI, 2012; TYAGI et al., 2013, CCME, 2017).
Os dados empregados no IQACCME, quando vêm de várias estações de monitoramentos
de cursos d’água, possibilitam conclusões mais gerais. Esse índice também permite a combi-
nação de dados de diferentes anos, apesar de que alguma variação de qualidade possa ser
perdida; o período de tempo escolhido depende sempre dos dados disponíveis. Ainda, no
que tange às escolhas do profissional, recomenda-se a seleção de, pelo menos, oito parâme-
tros para que o índice funcione de forma satisfatória, sem nunca exceder o limite de 20 parâ-
metros para que não haja covariância (TERRADO et al., 2010; ABBASI; ABBASI, 2012; TYAGI et
al., 2013, CCME, 2017).
Ainda assim, ao permitir uma flexibilidade na escolha dos parâmetros, o IQACCME facilita a
objetivação das informações técnicas e, consequentemente, a tomada de decisões por parte
dos gestores públicos, ressaltando também a sua aplicabilidade no que diz respeito ao alcance
das metas de enquadramento dos recursos hídricos (HAIDER et al., 2019), o que reforça a
importância da objetividade e das devidas considerações ao escolher os parâmetros.

4 CONCLUSÕES
Os índices estudados são compostos principalmente por variáveis físico-químicas, (variá-
veis instantâneas), seus resultados retratam o momento e local de coleta. Poucos indicadores
biológicos são utilizados na composição destes índices. Dessa forma, possíveis interpretações
das variações espaciais e temporais da qualidade da água podem ficar comprometidas. Outro
desafio a ser vencido no aprimoramento dos métodos estudados é ampliar sua capacidade de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


936 Hellem Victoria Ribeiro dos Santos; Thaynara Lorrayne de Oliveira; Denilson Teixeira

comunicação dos resultados para um número maior de usuários. Os índices de qualidade da


água são a base técnica necessária para a tomada de decisão no processo de Gestão de
Recursos Hídricos.
A partir do estudo dos índices percebe-se que algumas agências ambientais são mais cri-
teriosas quanto a escolha das faixas de classificação dos índices de qualidade de água monito-
rados. Tais critérios espelham, além da capacidade técnica e de infraestrutura da agência, uma
maior atenção com os riscos ambientais e de saúde da população.
Se estamos longe da proposta de um “Índice de Qualidade de Água Universal” a pro-
posta de organização de uma “Base de Dados Universal” parece o melhor caminho para a apro-
ximação da viabilização do processo de Gestão Integrada de Recursos Hídricos em uma escala
interfronteiriça.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


80. APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES
MORFOMÉTRICAS, COBERTURA
DA TERRA E USO DO SOLO NA BACIA
DO RIO BARRA GRANDE1

RAFAEL DE OLIVEIRA ARAÚJO2


LUIZ CARLOS ARAÚJO DOS SANTOS3
LUCILEA FERREIRA LOPES GONÇALVES4

Resumo: A bacia hidrográfica do Rio Barra Grande está localizada no Oeste maranhense na
Microrregião de Imperatriz, especificamente, no perímetro rural dos Municípios de Imperatriz,
João Lisboa e São Francisco do Brejão. O artigo tem como objetivo realizar uma análise morfomé-
trica do Rio Barra Grande, analisando os parâmetros areal, linear e hipsométricos e sua relação
com as principais coberturas da terra. Na metodologia usou-se o método de fotointerpretação e a
técnica de georreferenciamento para obtenção dados, e o geoprocessamento de imagem de saté-
lite do Google Earth Pro de 2014, a fim de identificar o tipo de uso/ocupação da terra como tam-
bém a rede de drenagem. Resultados apontam para a presença de pastagem com cerrado e
pastagem com babaçu com as informações morfométricas em especial com a hierarquia. Pode-se
afirmar que o ambiente da bacia encontrasse modificado no sentido da potencialização dos fluxos
superficiais hidrológicos. As conclusões indicam que a bacia tem 78% de sua área ainda preser-
vada devido está localizada em área afastada dos sítios urbanos, entretanto, percebe-se que nos
últimos anos, ocorreu um médio crescimento de desmatamento, por conta da silvicultura do
(eucalipto) que vem substituindo a cobertura florestal (pastagem do babaçu). Quanto ao uso do
solo, a mesma é praticada pela atividade de agricultura, horticultura e piscicultura.
Palavras-chave: Hidrografia, Aspectos fisiográficos, Imperatriz.
Abstract: The Rio Barra Grande hydrographic basin is located in the west of Maranhão, in the
Microregion of Imperatriz, specifically, in the rural perimeter of the Municipalities of Imperatriz,
João Lisboa and São Francisco do Brejão. The article aims to carry out a morphometric analysis of

1 Pesquisa fruto do relatório final da bolsa de pesquisa PIBIC, concedida pela FAPEMA em 2014. Texto adaptado para o
evento.
2 Mestrado em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço pela Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: rafa1593@
yahoo.com.br
3 Doutor em Geografia, Professor Adjunto III da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, Curso de Geografia. E-mail:
luizcarlos.uema@gmail.com
4 Doutora em Geografia, Professora Adjunta II da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL,
Curso de Geografia. E-mail: lucileaflg@gmail.com

[ 939 ]
940 Rafael de Oliveira Araújo; Luiz Carlos Araújo dos Santos; Lucilea Ferreira Lopes Gonçalves

the Rio Barra Grande, analyzing the areal, linear and hypsometric parameters and their relation-
ship with the main land cover. In the investigation, the method of photointerpretation and georef-
erencing technique to obtain data, and the geoprocessing of the 2014 Google Earth Pro satellite
image, in order to identify the type of land use/occupation as well as the drainage network, are
investigated. Results point to the presence of pasture with cerrado and pasture with babassu with
the morphometric information, especially with the hierarchy. It can be said that the basin’s envi-
ronment is modified in the sense of the potentialization of the hydrological surface flows. The
inscriptions indicate that the basin has 78% of its area still preserved because it is located in an
area far from urban sites, however, it is clear that over the years, there has been a medium growth
of deforestation, due to the silviculture of the (eucalyptus) that comes replacing forest cover. As
for land use, it is practiced by agriculture, horticulture and fish farming.
Keywords: Hydrography, Physiographic aspects, Imperatriz.

1 INTRODUÇÃO
Uma bacia hidrográfica e/ou bacia de drenagem de um curso d’água é o conjunto fluvial
de canais d’água de diferentes hierarquias (ordem) fluviais sobre terras que fazem a drenagem
d’águas das precipitações escoarem para um único canal de água. A formação da bacia hidro-
gráfica dá-se pelos desníveis dos terrenos que orientam os cursos d’águas. Essa área da bacia
que drena fluxos líquidos, sólidos e solúveis para uma saída comum pelo canal ou de uma rede
de canais forma o sistema hidrográfico (COELHO NETTO, 1995). Ainda sobre as bacias hidrográ-
ficas, Chorley (1975), afirma que as mesmas se constituem em unidade geomorfológica funda-
mental, que operam como um sistema aberto, quando os impulsos das chuvas acionam os
processos hidrológicos e erosivos, que regulam as transformações morfológicas e a evolução
interna da bacia. É um sistema fechado, quando a rede de drenagem é exposta em um sistema
de canalização de seus canais fluviais.
Ainda nessa direção Lima (1986), expõe que a bacia hidrográfica pode ser considerada
um sistema geomorfológico aberto e, como tal, ela se encontra, mesmo quando não pertur-
bada, em contínua flutuação, num estado de equilíbrio transacional ou dinâmico. Dessa
maneira, a adição de energia e a perda de energia do próprio sistema encontram-se sempre
em delicado balanço. Assim, a área da bacia hidrográfica tem influência sobre a quantidade de
água produzida como deflúvio.
Para Horton (1945) e Christofoletti (1970), as formas fisiográfica da bacia hidrográfica – o
relevo, a geologia e a geomorfologia, atuam sobre a taxa ou sobre o regime dessa produção
natural da formação das massas de água na superfície. Porém, o processo de elementos físicos,
biológicos e químicos, atuando como a taxa de sedimentação dos resíduos nos corpos d’água,
também, o caráter e a extensão dos canais (padrão de drenagem) afetam a disponibilidade de
sedimentos, bem como a taxa de formação do deflúvio. Muitas dessas características físicas da
bacia hidrográfica, por sua vez, são, em grande parte, controladas ou influenciadas pela sua
estrutura geológica.
A bacia do Rio Barra Grande tem cinco superclasses geral: argissolos, gleissolos, latosso-
los, neossolos e plintossolos. Os argissolos correspondem a uma área de 25,5%, o gleissolos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES MORFOMÉTRICAS, COBERTURA DA TERRA E USO DO SOLO 941

com uma área de 0,4%, latossolos com uma área de 46%, neossolos com uma área de 8,1%, e
plintossolos com uma área de 20%. Os solos da microrregião de Imperatriz são ricos em mine-
rais, assim, ao longo da bacia denota-se atividade de grande e pequeno porte para produção
agrícola no uso da bacia (ROSS, 1998).
A bacia hidrográfica do Rio Barra Grande possui uma área de 453 Km2, com extensão do
rio principal de 53,97 km e perímetro de 122 km, recebendo contribuições de vários córregos,
principalmente do Rio Murajuba que se forma a partir da junção do córrego Brejinho com o
córrego Murajuba, recebendo ainda contribuições do córrego Olho D’Água Azul antes de
desembocar no Rio Barra Grande. A micro-bacia do Murajuba possui uma área de 20.041,40 ha
(RIMA FERROVIA SUZANO, 2010).
A relação entre o índice do comprimento médio dos canais e o índice de bifurcação (Rib)
é um importante elemento na relação entre a composição da drenagem e o desenvolvimento
fisiográfico das bacias hidrográficas. Isso por que, se a relação entre o comprimento médio e
índice de bifurcação forem iguais, o tamanho médio dos canais crescerá ou diminuirá na mesma
proporção. Caso não sejam iguais, o que é mais comum, o tamanho dos canais poderá diminuir
ou aumentar progressivamente com a elevação da ordem dos canais, pois são os fatores hidro-
lógicos, morfológicos e geológicos que determinam o último grau do desenvolvimento da dre-
nagem em determinada bacia Christofoletti (1980).
A área da bacia do Rio Barra Grande encontrasse nos municípios de Imperatriz com
60,93%, para São Francisco do Brejão 1,10% e em João Lisboa 37,97%, está representada den-
tro do espaço social-natural da bacia. Portanto, o curso da lâmina d’água denominada entre
urbano/rural, da alta bacia, média bacia e baixa bacia ao longo de seus efluentes.
O espaço caracterizado neste ambiente é o predominante da região nordeste onde o
solo é bem seco e argiloso, além disto, a destacar o manuseio natural da formação deste
ambiente. Tem-se, identificados na bacia no Rio Barra Grande cinco feições geomorfológicas
predominantes – os patamares interfluviais 19,5 Km2, os topos de serras 20 Km2, a depressão
de imperatriz 327,2 Km2, os morros 2,9 Km2 e a planície fluvial 83,4 Km2.
Os canais de drenagem da bacia de 1° ordem são efêmeros, os de 2° são intermitentes e
a partir da 3° ordem são perenes. Estas características morfométricas permitem a utilização da
água pelos agricultores, pecuaristas, inclusive a Suzano Indústria de Papel Celulose Ltda fez uso
quando estava construindo o canal da ferrovia (ligando a indústria a Ferrovia Norte Sul). O
comprimento do canal principal é 53,97 km a malha ferroviária da área da bacia.
A bacia possui uma densidade de drenagem média, com valores próximos a 1,0 que
caracteriza uma boa drenagem, que é influenciada tanto pelos tipos de solos, predominando
latosso e latossolo amarelo, quanto pela topografia, pois caracteriza em sua parte alta como
uma cabeceira de nascente, em processo intenso de dissecação, atenuado pelo tipo de solo,
bem drenado com uma capacidade de infiltração (ROSS, 1998).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


942 Rafael de Oliveira Araújo; Luiz Carlos Araújo dos Santos; Lucilea Ferreira Lopes Gonçalves

A relação de relevo de 8,31 e o gradiente do canal principal de 8,31 representam o mode-


rado desnível topográfico da bacia em estudo, refletindo assim, a baixa capacidade energética
dos seus fluxos d’água no processo erosivo e no transporte de sedimentos.
O (Ir) índice de rugosidade revela que, quanto maior o índice, maior o escoamento devido
à declividade do terreno, e assim, a velocidade que a água corre pelo canal bem mais rápido da
nascente até a foz, aumentando assim nível fluvial deda bacia. A bacia não apresenta maior
tempo de concentração de águas da chuva pelo fato do índice de circularidade ser relativa-
mente baixos. Esses números indicam que na área pesquisada não possuem formato seme-
lhante ao de uma circunferência, correspondendo, portanto, bacia mais alongada.
A bacia apresenta uma hierarquia fluvial de 5º ordem, segundo a classificação de Horton
(1945), considerando seus tributários de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta ordem. O
comprimento total dos canais é de 427,6 km, distribuídos por 237 (duzentos e trinta e sete) cur-
sos d´água. Os cursos d´água de primeira ordem se destacam totalizando 180 canais, corres-
pondendo a 53,4% do comprimento dos canis da bacia, encontram-se especializados.
Segundo Pinhati (1998), as formas atuais de uso e cobertura da terra interferem, direta-
mente, tanto no aspecto quantitativo como qualitativo das águas, superficiais e subterrâneas.
Tucci et al (2006) reforçam essa preocupação quando expõem que uma das maiores preocupa-
ções em nível mundial é a deterioração do solo rural, devido ao uso intensivo e práticas agríco-
las que tendem a favorecer a perda da camada fértil do solo, com o consequente assoreamento
de rios e lagos.
Há que se considerar, que o conhecimento das características fluviais é importante não
somente no que concerne aos recursos hídricos, tanto do ponto de vista da hidráulica e do
controle da erosão, como também do ponto de vista sedimentológico, geomorfológico e do pla-
nejamento regional. Neste artigo tem-se como objetivo realizar uma análise morfométrica dos
principais parâmetros na bacia hidrográfica do Rio Barra Grande e realizar algumas aproximações
entre as classes de cobertura da terra e seus impactos no funcionamento hidrológico da bacia.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Na área de pesquisa foi realizada uma análise de gestão ambiental no Rio Barra Grande
e teve como base posterior o desenvolvimento de método de fotointerpretação, assim, utili-
zou-se imagem de satélite Google Earth Pro passagem em agosto/setembro de 2014 na área da
bacia. Portanto, assim obtiveram seis coletas sendo três no período chuvoso e mais três no
período seca de dados em diversões pontos na sua do canal principal, por meio de GPS e regis-
tro fotográficos.
Para Strahler (1952), o Rio Barra Grande tem um a dinâmica morfométrica natural carac-
terizado por bioma de floresta amazônia que apresenta estrutura hidrográfica composta por
– nascente, afluentes, leito principal, lençol freático, diviso de águas, foz e fundo de vale, assim

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES MORFOMÉTRICAS, COBERTURA DA TERRA E USO DO SOLO 943

formando a bacia. O Rio Barra Grande é efêmero com seus canais fluviais de 2ª ordem intermi-
tente e de 1ª ordem perene localizados nos pontos de maior elevação da bacia.
A rede de drenagem da bacia do Rio Barra Grande apresenta caraterística de 5ª ordem
segundo análise desenvolvida por Horton (1945) e Christofoletti (1980) com os seguintes parâ-
metros – areal, linear e hipsométrico, são apresentadas algumas variáveis: para a hipsometria
(altitude máxima 448 m, altitude média 261,5 m, altitude baixa 373 m, amplitude 373 m, rela-
ção de relevo 8,31, índice de rugosidade 396,80, gradiente dos canais 8,30%), observando um
relevo de planície fluvial, propício para as atividades no campo da agricultura, da pecuária, pis-
cicultura e extrativismo.
Ainda ara as análises areal a bacia apresentou os seguintes parâmetros (comprimento da
bacia 34,6 km, densidade de drenagem 0,94 km/km², densidade hidrográfica 0,54 canais/km²,
forma da bacia 3,71, coeficiente de compacidade 5,90, fator de forma 0,38), assim então,
observasse que com esses índices apresentado a bacia tem capacidade de gera nos novos
canais fluviais (CHORLEY, 1975).
Na (figura 1)5 observasse os pontos visitados dentro da bacia hidrográfica do Rio Barra
Grande, cujo tem seis povoados introduzido na área que tange os municípios de Imperatriz,
João Lisboa e São Francisco do Brejão. Portanto, o mosaico mostrar-se os tipos de paisagem
que compõe a bacia. Contudo, o uso da terra da bacia que esse modelo geossistêmica traz
método comparativo tem como sua principal forma de análise à comparação entre dados esta-
tísticos e avaliações históricas, de maneira simples, diferenciar cenários e evitar a generaliza-
ção. Subtendem-se três etapas no método comparativo – a construção do problema, a criação
de um campo de análise e a fase de experimentação, a própria análise da dinâmica múltiplos
cenários que compõe a bacia.

5 Conforme a figura 6 descreve várias facetas da paisagem na bacia do Rio Barra Grande. Portanto, o mosaico de imagens
aborda 10 dez paisagens distintas da situação que a bacia está sendo usa pelo antrópico, assim, nas paisagens A, D e J
é retratada pela rodovia BR-010, escoamento ferroviário e plantação de eucalipto na região da bacia, nas paisagens B,
E, G e H são retratadas pela ponte de madeira, mata ciliar e próprio leito do riacho que interligar os povoados Jiboia,
Água Boa entre outros na bacia, nas paisagens C e I balneário para atividades socioeconômicas ao leito do riacho, e na
paisagem F retrata da fazenda no povoado da bacia, cujo observar-se pastagens de babaçu com outras vegetações.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


944 Rafael de Oliveira Araújo; Luiz Carlos Araújo dos Santos; Lucilea Ferreira Lopes Gonçalves

Figura 1 – Mapa de Localização dos Pontos Visitados no Trabalho de Campo na Bacia do Rio Barra
Grande

Fonte: Galeria do autor, (2014).

Bertrand, (1972) traz a ideia do geossistemas, assim, a bacia do Rio Barra Grande apre-
senta uma abordagem geossistêmica de integrada do tipo de uso/ocupação identificada para
da dinâmica realizada no território. Todavia, obteve três tipos de usos-CErrado, pastagem (her-
bácea) e pastagem (babaçu), com aspecto relevante diz respeito ao grau de ocupação do solo
para realização de atividades do agronegócio para região tocantina.
Para Sotchava (1977) a região da bacia foi aplicada teoria de geossistema buscando iden-
tificada como ocorrem a dinâmica do corpo hídrico da bacia com relação com a superfície do
solo funciona como conjunto fisiográfico. De tal modo, tende-se a compreender que a condu-
ção de trocar de energia por meio do ciclo hidrológico da bacia. Observou uma forte relação
de compactação da paisagem referente ao uso/ocupação da bacia ao longo do rio principal e
seus afluentes. Contudo múltiplos cenários obedecia uma paisagem que variar do período chu-
voso para o período de estiagem da região. Foram escolhidos os locais da Jiboia, Água Boa, e a
rodovia BR-010, as rodovias intermunicipais das MA 125 e 122, e as estradas vicinais, como
pontos de análises de observação dos cenários com características de áreas rurais e periurba-
nas entre os sítios urbanos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES MORFOMÉTRICAS, COBERTURA DA TERRA E USO DO SOLO 945

Todavia para Tricart (1977) a bacia hidrográfica do Rio Barra Grande possui uma ecodinâ-
mica na textura do solo, propícia com classificação em três níveis uso estando assim – estáveis,
intergrades e fortemente instáveis. Portanto, a estáveis para composição da vegetação de cer-
rado, intergrades na composição de pastagem e fortemente instáveis com cobertura vegetal
da pastagem babaçu.
Todavia a pastagem na bacia do Riacho Barra Grande é constituída por três grupos: a
mosaica pastagem com babaçu e mosaico de pastagem e cerrado. Essas duas pastagens babaçu
e pastagem explorações é a base para o desenvolvimento da pecuária e agropecuária com
(quebradeira de coco babaçu) na área. O mosaico de pastagem com babaçu é constituído pela
presença de pasto plantado consorciado com o babaçu. Essa prática se expandiu a partir da
criação da Lei Estadual n° 4.734/86, no Art. 1° que estabelece: “fica expressamente proibido a
derrubada de palmeira de babaçu em todo o território do Estado”.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia hidrográfica do Rio Barra Grande é constituída por três municípios maranhenses
– Imperatriz, João Lisboa e São Francisco do Brejão, além de banhar os municípios citados,
foram identificados oito povoados localizados na bacia, podendo modificar a dinâmica morfo-
lógica da mesma. Essa região expõe que, uma parcela do território da Amazônia Legal tem seu
percurso na área implantada na bacia sedimentar do rio Tocantins, sendo suas integrações
litoestratigráficas aflorastes derivadas de rochas sedimentares e ígneas.
Foi verificado na bacia do Rio Barra Grande condições para a realização de diversas ativi-
dades agrícola e agrária, devido possuírem um corpo hídrico abundante d’água em suas terras
e também terem solos férteis em toda sua área correspondente a bacia. No que se refere à
temperatura superficial da área de estudo, a mesma tem sua variação de tempo entre 21ºC a
39ºC durante todo o ano para os municípios de Imperatriz, São Francisco do Brejão e João
Lisboa, que estão localizados na Microrregião de Imperatriz. No entanto, identifica-se o
ambiente mais quente e com focos de calor em área urbana, com índice mais alto da tempera-
tura em comparação as áreas mais rurais dos municípios estudados.
Com relação às características climáticas, a área apresenta temperaturas com média
anual variando entre 26ºC e 29ºC, umidade relativa com médias anuais variantes entre 73% a
76% e índice pluviométrico médio variando de 1.200 mm a 1.600 mm anuais. Há predominân-
cia do clima tropical úmido, com chuvas concentradas no período de verão e outono, tendo em
vista que o período chuvoso inicia em novembro e vai até abril, e o período de estiagem se
estende de maio até outubro.
As classes de declividades foram extraídas da metodologia de Santos (2004), o autor
defini os seguintes intervalos em cinco classes: com relevo plano (< 5%), relevo suavemente
ondulado (5% – 15%), ondulado (15% – 25%), abrupto (25% – 45%), e muito abrupto (> 45%).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


946 Rafael de Oliveira Araújo; Luiz Carlos Araújo dos Santos; Lucilea Ferreira Lopes Gonçalves

Na bacia Barra Grande pode-se caracterizar áreas naturalmente tendenciosas à erosão e


associá-las ao formato da vegetação existente, ou seja, com maior possibilidade de ação dos
agentes naturais externos de modificação do relevo. Essas áreas são observadas ao longo da
alta bacia, apresentando declividades < 35% indicando relevo abrupto. As áreas da parte cen-
tral da bacia referida a média bacia apresenta relevo ondulado com declividade < 10%, no
entanto, para a baixa bacia o relevo planície com declividade de < 3%; o relevo tende a ser mais
plano com sumamente ondulado, à medida que se aproxima da foz do rio.
Para Coelho Neto (1995) classifica hidrografia de bacia, portanto, essas são áreas onde se
encontrou com maior predominância, os processos antrópicos, tais como a substituição da
vegetação natural por padrões vegetais agricultáveis, pastagens, pastagem babaçu, cerrado e
o desmatamento identificado na bacia. É nessa região, que se encontram as grandes fazendas,
mais valorizadas da bacia.
No que diz respeito a curvatura vertical, a bacia possui áreas de curvatura – Côncava,
Convexa e Retilínea, terrenos côncavos são potencialmente favorecidos, a deposição tecnogê-
nico, enquanto terrenos convexos são fragilizados, tendo maior possibilidade de ação dos
agentes naturais de modificação do relevo e as áreas retilíneas são favoráveis ao escoamento
das águas por ser mais plana (TUCCI, 1945).
Ainda de acordo com Tucci (1945) a bacia Barra Grande vivencia um período de fragili-
dade, pelas condições atuais, em decorrência de situações passadas como, a violência do
rápido processo de uso/ocupação sofrido do antrópico ao espaço, a intensificação do uso da
terra, pela nova frente do capitalismo em implantar uma monocultura de “eucalipto e soja” e
indústrias, de maneira pouco cuidadosa a substituição das áreas de capoeira por agricultura e
áreas de pastagem, pastagem babaçu, pastagem de cerrado evidenciando a troca de interesses
e a especulação fundiária.
O relevo maranhense é constituído por uma geomorfologia bem extensa de superfícies
de aplainamento, por vezes, ligeiramente retocadas por uma rede de drenagem de baixa den-
sidade, mas, sem perder seu caráter aplainado. Conforme expõe Barbosa (2010), enfatizando
que o do Estado do Maranhão caracteriza-se “de forma esparsa, onde ocorrem baixos platôs,
ligeiramente ressaltados topograficamente”. O relevo da bacia do rio Barra Grande é composto
por quatro formações geológicas. Assim, são elas: domínio de morros e de serras baixas do ter-
ritório no alto da bacia ou nascente, domínios de colinas amplas e suaves na média bacia, pla-
nícies fluviais ou flúvio-lacustres, e superfícies aplainadas conservadas na baixa bacia ou foz
(PINHATTI, 1998).
O relevo expõe a situação ambiental atualmente em alguns pontos do relevo da bacia
que passa por fragilidade que deve ser observada com olhar atento e cuidadoso, conforme evi-
dencia no mapa de relevo. Em meio à situação da bacia, vale caracterizar e discutir a amplitude
da bacia referente aos seus elementos do meio físico, domínio de morros e de serras baixas
variam de 80 m a 200 m, planícies fluviais ou flúvio-lacustres zero metros, superfícies

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES MORFOMÉTRICAS, COBERTURA DA TERRA E USO DO SOLO 947

aplainadas conservadas variam de zero a 10 metros, e domínios de colinas amplas e suaves


variam de 20 m a 50 m.
Para Ross (1998) a bacia foi identificada sete classes de solos, a saber: argilossolo verme-
lho amarelo; argissolos; latossolo amarelo; latossolos; gleissolos; neossolos e plintossolos, con-
forme apresentado no mapa. Dessa maneira, inclui solos profundos até moderadamente
profundos, são solos em sua maioria de baixa fertilidade, muitas vezes com elevada saturação
por alguns metais alcalinos, segundo Barbosa (2010).
Durante as visitas técnicas observou-se diversas atividades econômicas tais como: pro-
dução de horticultura e piscicultura, além de área de lazer e “florestas de eucalipto” que são
cultivadas para retiradas das madeiras e comercializadas para o mercado de indústrias e fábri-
cas metalúrgicas da região tocantina. A bacia do Rio Barra Grande não apresenta maior tempo
de concentração de águas da chuva pelo fato dos índices de circularidade serem relativamente
baixos. Esses números indicam que nas áreas pesquisada não possuem formatos semelhantes
ao de uma circunferência, correspondendo, portanto, bacia mais alongada (TUCCI, 1945).
A pastagem na bacia do Rio Barra Grande é constituída por dois grupos: o mosaico pas-
tagem com babaçu e mosaico de pastagem. Eles constituem a base para o desenvolvimento da
pecuária na área estudada (TROVÃO, 2008).
Verifica-se 12,62% dos cursos d´água de 1ª ordem estão com presença de cobertura
vegetal (Cerrado), somado as de 1ª e 2ª chega a 22,43%. Essas informações levam em tese no
comprometimento da recarga dos aquíferos na bacia. Considerando todos os fragmentos de
cobertura vegetal é o equivalente a 40,02% da área estudada. Outro aspecto relevante diz res-
peito aos corpos d´água de 3ª a 5ª ordem, pois são perenes e estão sendo comprometidos pela
presença da pastagem. Ressalta-se, porém a importância da presença de babaçu nas áreas de
pastagem (23,28%).
Percebe-se que na bacia do Barra Grande a (tabela 14) é predominância de cerrado na
hierarquia de 1ª, 2ª, 3ª e 5ª ordem chegando a 37,87% de toda bacia hídrica, entretanto, deno-
ta-se que na de 4ª ordem chega a 6,23% predominância de pastagem (devido ao alto índice de
fazenda para criação de gado) e relação as outras vegetações da área.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem geossistêmica, como metodologia de pesquisa é eficiente, uma vez que os
parâmetros debatidos podem ser integrados, favorecendo análises multielementares, ao dis-
cutir sobre bacia hidrográfica, como instrumento de gestão e análise, assim foi-se interpretado
os parâmetros fisiográficos – geomorfológicos, pedológicos e geológicos da bacia hidrográfica
do Rio Barra Grande.
A pesquisa teve como objetivo o estudo de organizar uma análise morfométrica do Rio
Barra Grande, por meio do mapeamento e diagnóstico da área. Procurou-se organizar tal

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


948 Rafael de Oliveira Araújo; Luiz Carlos Araújo dos Santos; Lucilea Ferreira Lopes Gonçalves

análise com o uso dos Sistemas de Informação Geográficos – SIG, programas de computador
(softwares) designados à integração de diversos dados temáticos de uma mesma área de
estudo. Assim, os SIG’s permitem a criação de produtos cartográficos, para criação de banco de
dados geográficos, dentre outros.
Os estudos hidrográficos possibilitam compreender os ambientes, de modo geral, assim,
esta pesquisa contribuiu de maneira significativa na compreensão do funcionamento da bacia do
Rio Barra Grande, na vida das pessoas envolvidas no processo integração do homem-natureza.
Sendo que, ao longo de período a bacia passa por diversas transformações, perdendo a
permanência do meio natural. Dessa forma, é pertinente a necessidade de alguns padrões de
uso da terra para claramente compreender as identificáveis ações sofridas na bacia. Como a
redução da vegetação natural, o aumento da agricultura/piscicultura/floresta-de-eucalipto e
pastagem secundária. Percebemos que tais ações antrópicas ocorrem por ter essa bacia, uma
potência voltada para a aptidão agrícola e/ou pecuária do solo e favorecendo práticas como
desmatamentos e reflorestamento com vegetação alheia à original e que vem aumentando ao
longo do tempo.
Concluímos que áreas com altitudes elevadas tendem naturalmente a apresentar índices
menos elevados de temperatura em relação às áreas próximas ao nível do mar (área do litoral),
sendo que a bacia do Rio Barra Grande encontrasse a uma altitude média de 92 metros acima
do nível do mar, do litoral maranhense. A pressão atmosférica aumenta conforme aumenta a
altitude, bem como a velocidade dos ventos e o potencial erosivo das precipitações. Nesse
aspecto, a presença da à cobertura vegetal, não apenas nas áreas de altitude elevada, mas na
bacia como um todo, pois ela protege o solo de diversas formas de degradação do ambiente.
No contexto relação à hierarquia fluvial da bacia hidrográfica do Rio Barra Grande, a
ordem localizada foi de 5°; com predominância de canais de primeira ordem, ou seja, efême-
ros. Assim, foram notados 180 canais de primeira ordem, 40 canais de segunda ordem, 13 de
terceira, 03 de quarta e 1 pertencente à quinta ordem.
As informações sinalizam para favorecimento de infiltração e armazenamento de água
no solo, considerando o Coeficiente de compacidade (5,9), e as baixas Densidades de drena-
gem (0,94 km/km2), e a densidade hidrográfica (0,54 canais/km2).

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


APROXIMAÇÕES ENTRE ANÁLISES MORFOMÉTRICAS, COBERTURA DA TERRA E USO DO SOLO 949

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


81. AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA
DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO,
SUDESTE DO TOCANTINS

HELOÍSA RODRIGUES NASCIMENTO1


FERNANDO MORAIS2

Resumo: Estudos envolvendo o levantamento do uso e cobertura da terra são fundamentais para
o planejamento ambiental, principalmente quando a área compreende uma bacia hidrográfica
situada em ambiente cárstico. O presente trabalho tem por objetivo avaliar o uso e cobertura da
terra na bacia do rio Sobrado entre os anos de 1985 e 2019, utilizando dados do projeto MapBiomas.
Utilizou-se o software QGIS para quantificar e mapear as classes de uso da terra, e posteriormente,
analisar e comparar os dados. Elaboração do mapa de declividade, e reclassificação dos dados
sobre uso e cobertura da terra para duas classes, sendo 1-vegetação e 2-antrópico, para verificar
a dinâmica de uso entre 1985 e 2019. Além disso, foram inseridas a espacialização das cavernas
sobre as classes, para verificar se elas estão sob pressão dessas mudanças. A partir das classes do
mapeamento observou-se que a classe pastagem é predominante na bacia, representando um
aumento de 85%, e a classe agricultura demonstrou um acréscimo de 157,40%, comparando os
dados entre 1985 e 2019. Houve redução de 26,54% nas áreas de cobertura vegetal. Foi possível
observar que, as classes de declividade apontam a predominância de relevo variando de 0 a 12%.
Os dados sobre a dinâmica de uso, demonstraram manutenção da área de vegetação nativa cor-
respondente a 53,17%, para o período analisado. A sobreposição dos dados contendo a localiza-
ção das cavernas, mostrou que a maioria está em áreas com cobertura de vegetação nativa, porém
o incremento de áreas de pastagem, podem afetar o seu equilíbrio ecológico.
Palavras-chave: uso e cobertura da terra; planejamento ambiental; cavernas e bacia
hidrográfica.
Abstract: Studies involving the survey of land use and land cover are essential for environmental
planning, especially when the área comprises a watershed located in a karst environment. This
study aims to evaluate land use and land cover in the Sobrado river basin between 1985 and 2019,
using data from the MapBiomas project. The QGIS software was used to quantify and map the
land use classes, and later, compare and analyze the data. Preparation of the slope map, and
reclassification of data on land use and land cover into two classes, 1-vegetation and 2-anthropic,

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO. E-mail: heloisa@ifto.edu.br


2 Universidade Federal do Tocantins – UFT. E-mail: morais@mail.uft.edu.br

[ 950 ]
AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO, 951

to verify the dynamics of use between 1985 and 2019. In addition, the spatialization of caves over
classes, to see if they are under pressure from these changes. From the mapping classes it was
observed that the pasture class is predominant in the basin, representing an increase of 85%, and
the agriculture class showed an increase of 157.40%, comparing the data between 1985 and 2019.
There was a reduction of 26.54% in the vegetation cover areas. It was possible to observe that the
classes of declivity indicate the predominance of relief ranging from 0 to 12%. Data on the dynam-
ics of use showed maintenance of the area of ​​native vegetation corresponding to 53.17% for the
period analyzed. The overlapping of data containing the location of the caves showed that most
are in areas covered by native vegetation, but the increment of pasture areas can affect their eco-
logical balance.
Keywords: land use and land cover; environmental planning; caves and watershed.

1 INTRODUÇÃO
As alterações das paisagens naturais têm-se intensificado nos últimos anos, em função dos
padrões de uso e ocupação da terra, principalmente as atividades como agricultura e pecuária,
modificando estes ambientes de forma significativa. Essas transformações são originadas da rela-
ção social e econômica estabelecida no decorrer do tempo, e a sua intensidade varia em função
das características físicas e potencialidades de cada região (TREVISAN;MOSCHINI, 2015).
Nesse sentido, a organização do espaço é uma ação indispensável, pois busca compatibi-
lizar uso e ocupação da terra com o desenvolvimento social, cultural, ambiental e econômico.
A temática uso e ocupação da terra é relevante para o planejamento ambiental, uma vez que
explicita, através do uso de geotecnologias, como as atividades humanas estão pressionando
os elementos naturais, servindo de subsídio para o gerenciamento dos recursos naturais e aná-
lise das principais fontes de degradação do ambiente (SANTOS, 2004).
A adoção da bacia hidrográfica como unidade de estudo, planejamento e gestão é impor-
tante, pois constituem uma unidade espacial onde sociedade e natureza se integram, podendo
ser analisada por várias ciências, com abordagem tanto para os recursos hídricos formadores
do sistema, quanto pelos elementos físicos e antrópicos que a caracterizam (BARBOSA, FÉLIX e
NUNES, 2018; COSTA, SOUZA e SILVA, 2016).
Distribuídas pelo mundo, as áreas cársticas são responsáveis parcial ou totalmente pelo
abastecimento de água potável, para aproximadamente 25% da população mundial (FORD e
WLLIAMS, 2007). Bacias hidrográficas situadas em ambientes cársticos, em função das caracterís-
ticas físicas, apresentam elevado grau de fragilidade ambiental. Esses locais possuem recursos
hídricos subterrâneos, e uma das feições cársticas são as cavernas, que são cavidades naturais
subterrâneas, possuem variadas formas, contém importantes registros do passado e servem de
abrigo para diversos animais que habitam o meio subterrâneo (SOUZA e AULER, 2018).
Dessa forma, grandes modificações de uso e cobertura da terra em locais onde se tem a
presença de áreas cársticas, podem refletir em grandes prejuízos ao ecossistema cárstico e aos
recursos hídricos subterrâneos. Assim, o uso e ocupação dessas áreas chamam a atenção para

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


952 Heloísa Rodrigues Nascimento; Fernando Morais

a necessidade de planejamento, visando a conservação desses ambientes, pois os recursos e


serviços ecossistêmicos devem ser avaliados de forma integrada (PILÓ e AULER, 2019).
Na região Sudeste do Estado do Tocantins, localiza-se a bacia do rio Sobrado, que além
de ser uma importante fonte de recursos hídricos, possui a presença de áreas cársticas na sua
abrangência e grande potencial para a ocorrência de cavernas desenvolvidas em rochas carbo-
náticas (MORAIS, 2012).
Essa área foi indicada pelo CECAV (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de
Cavernas) como área prioritária para conservação do patrimônio espeleológico (CECAV, 2018).
Esses ambientes são caracterizados por uma diversidade de espécies da fauna e flora, com alta
taxa de endemismo, ocorrência de sítios arqueológicos e paleontológicos e fontes de água sub-
terrânea e nascentes (PILÓ e AULER, 2019)
Diante disso, o objetivo deste artigo é avaliar as modificações do uso e cobertura da terra
na bacia hidrográfica do rio Sobrado, no período entre 1985 e 2019, utilizando dados livres do
projeto MapBiomas.

1.1 Área de Estudo


A bacia do rio Sobrado está localizada na região Sudeste do Tocantins, e compõe a bacia
hidrográfica do rio Palma, que deságua no rio Paranã, seguindo com essa denominação até o
encontro com o rio Maranhão, integrando assim o Sistema Hidrográfico do rio Tocantins
(TOCANTINS, 2007; OLIVEIRA, 2015).
O rio Sobrado tem sua nascente na área compreendida entre os municípios de Luís
Eduardo Magalhães e São Desidério na Bahia, e segue pela região Sudeste do Tocantins abran-
gendo os municípios de Aurora do Tocantins e Taguatinga até desaguar no rio Palma. Possui
como divisor de águas a Serra Geral, localizada na divisa dos estados do Tocantins e Bahia. A
área da bacia do rio Sobrado é de 1.103,506 Km², o percentual de abrangência nos municípios
são Taguatinga (56,48%), Aurora do Tocantins (31,24%), Luís Eduardo Magalhães (8,94%) e São
Desidério (3,34%) (Figura 1).
Os municípios de Taguatinga e Aurora do Tocantins estão compreendidos no mapa de
áreas prioritárias para conservação do patrimônio espeleológico brasileiro. Juntos concentram
34,24% da ocorrência de cavernas no Estado do Tocantins. Na área de abrangência da bacia do
rio Sobrado tem-se a presença de 51 cavernas, sendo que 12 destas estão localizadas no muni-
cípio de Taguatinga, e 39 no município de Aurora do Tocantins (CECAV, 2021).
A bacia do rio Sobrado possui duas classes de precipitação média anual, sendo a mais
predominante entre 1300-1400mm, e a outra 1400-1500mm. A temperatura média anual é 25
°C (SEPLAN, 2012).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO, 953

Figura 1 – Mapa de localização da bacia do rio Sobrado

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do IBGE (2020a).

Em relação à geologia, a área de estudo está localizada na Bacia Sedimentar Sanfranciscana,


com a ocorrência das unidades geológicas do Complexo Almas-Cavalcante (Embasamento
Cristalino), Grupo Bambuí, Grupo Urucuia, Grupo Areado e Depósitos Aluvionares Recentes
(MORAIS, 2013). Quanto à geomorfologia está localizada no domínio de duas unidades geo-
morfológicas, sendo elas, o Chapadão Ocidental Baiano e Patamares do Chapadão Ocidental
Baiano (IBGE, 2020b).
Os tipos de solos presentes na bacia do rio Sobrado são: latossolo vermelho-amarelo, neos-
solo litólico, neossolo quartzarênico, afloramento de rochas, cambissolo háplico, nitossolo ver-
melho, gleissolo háplico (IBGE, 2020b). As classes de vegetação presentes são: savana arborizada,
savana parque, floresta estacional decidual e floresta estacional semidecidual (IBGE, 2020b).

2 METODOLOGIA
O desenvolvimento do trabalho está dividido em duas etapas. A primeira constituiu-se
de levantamento bibliográfico, utilizando como fonte de dados: artigos, periódicos, livros,
documentos em sites oficiais, direcionados para os principais assuntos abordados: bacia hidro-
gráfica, planejamento ambiental, uso e cobertura da terra, área cárstica.
A segunda etapa consistiu na pesquisa em banco de dados oficiais para obtenção de
dados cartográficos, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Portal MapBiomas
para obtenção dos dados sobre o uso e cobertura da terra, no período entre 1985 e 2019, e o
Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE) mantido pelo CECAV (2021) para
adquirir o shape com a espacialização das cavernas. Para a organização e processamento dos
dados foi utilizado o software livre QGIS 3.16 versão Hannover, o qual é Sistema de Informação
Geográfica (SIG) de código aberto.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


954 Heloísa Rodrigues Nascimento; Fernando Morais

Foram adquiridas as imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), resolução espa-
cial 30 m, modeladas pelo Projeto Topodata, no site do INPE, permitindo a obtenção do modelo
digital de elevação. As folhas utilizadas para caracterização da bacia do rio Sobrado são 12s48
e 12s465 (INPE, 2008).
A componente declividade foi obtida a partir das imagens SRTM, em que foi feito o
mosaico das duas folhas, e a reprojeção para o datum SIRGAS 2000, projeção UTM (Universal
Transversa de Mercator), zona 23 Sul. A seguir, aplicou-se a ferramenta do menu Raster à
Análise à Declive, no software Qgis, obteve-se a declividade da área em porcentagem. Este
produto posteriormente foi recortado de acordo com o limite da bacia do rio Sobrado. Em
seguida, realizou-se o processo de reclassificação das classes, considerando a classificação de
Ross (1994).
O Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas) é
uma iniciativa multi-institucional para gerar mapas de uso e cobertura da terra, a partir de pro-
cessos de classificação automática aplicada a imagens de satélite. Os dados utilizados nesse
trabalho são da coleção 5 (1985-2019) (Projeto MapBiomas, 2019).
Após serem inseridos no software QGIS 3.16, os dados sobre uso e cobertura da terra do
projeto Mapbiomas foram recortados, considerando o plano de informação vetorial “limite da
bacia do rio Sobrado”. Em seguida, realizou-se a reprojeção para o datum SIRGAS 2000, proje-
ção UTM, zona 23 Sul. Posteriormente, fez-se a conversão para o formato vetorial e a edição
da tabela de atributos para a obtenção do valor da área ocupada por cada classe.
Em seguida, realizou-se a reclassificação das imagens de uso e cobertura da terra, atri-
buindo classe 1 “vegetação” (agrupamento das classes formação florestal, formação savânica
e formação campestre) e classe 2 “antrópico” (agrupamento das classes pastagem, infraestru-
tura urbana, outras áreas não vegetadas, rio, lago e oceano, outras lavouras temporárias).
Após a obtenção das imagens reclassificadas, aplicou-se a metodologia proposta por
Farias e Nery (2018), utilizando a álgebra de mapas (Equação 1), em que foi atribuído peso 10
para as classes de uso e cobertura da terra (ano 1985), com intuito de dar mais peso a este, pois
é a data inicial na realização do cálculo, a fim de observar como se deu a dinâmica em um
período de 34 anos, sendo 1985 (t1) e 2019 (t2).

MUC = (10 * uso e cobertura_1985) + (uso e cobertura_2019) (Equação 1)

Sendo MUC= mudança de uso e cobertura da terra; uso e cobertura_1985= mapa de uso e
cobertura reclassificado para o ano de 1985; uso e cobertura_2019=mapa de uso e cobertura
reclassificado para o ano de 2019, o qual resultou em quatro classes, sendo elas, 11, 12, 21 e 22.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO, 955

Além disso, realizou-se a inserção do shape contendo a espacialização das cavernas sobre
os mapas elaborados para a área de estudo, com o objetivo de identificar se houve mudanças
do uso e cobertura da terra nas proximidades dessas feições cársticas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 1 apresenta os dados obtidos a partir do projeto MapBiomas para o ano de 1985
com as classes e áreas de ocupação na bacia do rio Sobrado, podendo-se notar que a maior
parte da área (77,44%) ainda se encontra coberta por vegetação nativa, e que as áreas antro-
pizadas ocupam 21,89% do território, tendo nas pastagens o seu representante mais expres-
sivo, onde 19,50% da área possui ocupação por essa classe (Figura 2).

Tabela 1 – Uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do rio Sobrado (anos 1985 e 2019)

Área (Km²) ano Percentual (%) Área (Km²) ano Percentual (%)
Classes
1985 Ano 1985 2019 Ano 2019
Formação Florestal 63,893 5,79 45,505 4,12

Formação Savânica 594,900 53,91 435,25 39,44

Formação Campestre 195,762 17,74 146,971 13,32

Pastagem 215,184 19,50 398,085 36,08

Infraestrutura Urbana 0,221 0,02 2,382 0,22

Outras áreas não vegetadas 4,745 0,43 5,888 0,53

Rio e Lago 2,428 0,22 1,538 0,14

Soja - - 41,468 3,76

Outras lavouras temporárias 26,374 2,39 26,419 2,39


Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do Projeto MapBiomas (2019).

Já em relação ao ano de 2019, observa-se na tabela 1, a redução da cobertura de vege-


tação nativa de: 13,13% para a classe formação florestal, 26,84% para a classe formação savâ-
nica e 24,92% para a classe formação campestre. Os resultados demonstram um decréscimo
de 26,54% da cobertura de vegetação nativa, no comparativo entre o ano de 1985 e 2019, ocu-
pando 56,88% de cobertura na área da bacia do rio Sobrado para o ano de 2019 (Figura 2).
A manutenção da cobertura vegetal é essencial, pois sua presença minimiza os efeitos da
chuva sobre o solo, evitando erosão, transporte de sedimentos e o assoreamento, além disso
protege o solo, e fornece condições para conservar a biodiversidade. Sua remoção implica em
desequilíbrios ambientais sobre os elementos físicos e bióticos de uma determinada paisagem,
resultando em prejuízos para o funcionamento e equilíbrio desta. (SILVA e SOUZA, 2014).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


956 Heloísa Rodrigues Nascimento; Fernando Morais

Figura 2 – Mapa de uso e cobertura da terra da bacia do rio Sobrado para o ano de 1985 e 2019

Fonte: Projeto MapBiomas (2019), CECAV (2021) e SEMARH (2015).

A pecuária é a principal atividade antrópica e vem crescendo sistematicamente. Em 1985,


a pastagem ocupava 215,184 Km², enquanto em 2019 chegou a ocupar 398,085 Km², demons-
trando um aumento de 85% em um período de 34 anos, ou seja, uma taxa de crescimento de
2,5% ao ano.
Em valores absolutos, a classe referente a agricultura, em 1985 ocupava 26,374 Km², e no
comparativo entre 1985 e 2019, apresentou um incremento de 0,17% na cobertura da área.
Porém, no ano de 2019, o projeto MapBiomas inseriu uma classe específica para a cultura da soja,
o que em termos de ocupação, somando as duas classes (outras lavouras temporárias e soja),
equivale a 67,887 Km², demonstrando um aumento de 157,40% em relação ao ano de 1985.
Percebe-se que a atividade da pecuária é bem desenvolvida na área da bacia do rio
Sobrado, representando a atividade antrópica com maior percentual de ocupação. Ao fazer
uma relação do mapa de uso e cobertura da terra com o relevo da área, visualiza-se no mapa
de declividade que existe uma predominância da classe 0-6%, representando 58,19% da área
da bacia hidrográfica, sendo consideradas áreas planas, seguida de terreno suave ondulado
(23,91%), o que favorece o desenvolvimento de atividades de pecuária e agricultura com o uso
de mecanização (Figura 3).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO, 957

Figura 3 – Mapa de declividade da bacia do rio Sobrado

Fonte: Imagens SRTM (INPE, 2008), CECAV (2021) e SEMARH (2015).

Ao sobrepor o shape com a localização das cavernas com o mapa de declividade foi pos-
sível observar que elas estão presentes nas classes 12-20%, 20-30% e maior que 30%, o que
dificulta atividades antrópicas como a pecuária e agricultura mecanizada.
Outro resultado importante foi o mapa da dinâmica da paisagem entre os anos de 1985
e 2019, apresentado na figura 4, no qual visualiza-se as modificações que ocorreram ao longo
do período analisado. A classe 11 representa a sobreposição da área de vegetação natural dos
anos de 1985 e 2019, e por isso essa espacialização mostra a área de vegetação mantida nas
duas datas. A classe 12 representa as áreas que eram de vegetação natural no ano de 1985, e
que em 2019 passou a ser de uso antrópico. A classe 21 representa a área regenerada, ou seja,
que era de uso antrópico em 1985 e em 2019 passou a ser de vegetação. E a classe 22 repre-
senta as áreas antrópicas mantidas para as duas datas. Na tabela 3, pode ser visualizada ao
percentual de ocupação de cada uma dessas classes de modificações ocorridas entre o ano de
1985 e 2019.
Ao inserir o shape com a localização das cavernas disponibilizado pelo CECAV (2021) com-
preendidas na área da bacia do rio Sobrado, tem-se que de um total de 51 cavernas, 32 delas
estão na classe 11, 03 estão na classe 12, 05 estão na classe 21 e 11 estão na classe 22.
Demonstrando que próximo as cavidades têm-se a presença de áreas com vegetação natural,
conforme figura 5. Entretanto, essas cavidades possuem ao seu redor área com influência das
atividades antrópicas, que nesse caso refere-se a classe pastagem.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


958 Heloísa Rodrigues Nascimento; Fernando Morais

Figura 4 – Mapa dinâmica da paisagem da bacia do rio Sobrado entre o ano de 1985 e 2019

Fonte: Reclassificação de dados do projeto MapBiomas (2019), CECAV (2021) e SEMARH (2015).

Tabela 2 – Classes do Mapa de dinâmica da paisagem da bacia do rio Sobrado entre o ano de 1985 e
2019

Classe Área (Km²) Percentual (%)

11 586,734 53,17

12 267,600 24,25

21 207,901 18,84

22 41,271 3,74
Fonte: Elaborado pela autora.

A remoção da vegetação em áreas próximas às cavernas, decorrente das atividades agro-


pecuárias, promove impactos negativos ao equilíbrio ambiental nos ambientes cavernícolas.
Diminuindo a quantidade e qualidade dos insumos orgânicos, alteração das condições climáti-
cas, e a redução das áreas de alimentação dos morcegos, tendo em vista que esses animais são
fundamentais na manutenção do equilíbrio ecológico em cavernas (FERREIRA, 2013). Além
disso, acelera os processos de degradação do solo e dos recursos hídricos, necessitando da
ampliação das áreas de preservação (SOUZA, MARTINS e DRUCIAKI, 2020).
Outros fatores podem ter contribuído para a redução na área de vegetação natural,
como a prática de queimadas. Por isso, obteve-se os dados sobre cicatrizes de queimadas na
área da bacia do rio Sobrado, para o ano de 2015 onde foram identificados 140 polígonos, e em
2019 foram identificados 105 polígonos (CERRADO DPAT, 2020b).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO, 959

Os dados sobre desmatamento foram obtidos na plataforma Cerrado DPAT, referente ao


período 2002 a 2019, demonstram a partir dos dados do gráfico 1, que as áreas desmatadas no
ano de 2002 foram de 155,551 Km², e que houve uma redução destes valores com o decorrer
do tempo, e para 2019, o valor da área desmatada foi equivalente a 1,818 Km².

Figura 5 – Área desmatada na bacia do rio Sobrado entre os anos de


2002 a 2019

Fonte: CERRADO DPAT (2020a)

É possível visualizar que, o desmatamento é constante nos municípios de Aurora do


Tocantins e Taguatinga, locais onde a área da bacia é maior. E nos municípios de Luís Eduardo
Magalhães e São Desidério, a área de agricultura já está consolidada, e por abranger uma
pequena área da bacia, as áreas desmatadas são menores ou não existentes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados disponibilizados pelo projeto MapBiomas, baseado na classificação de imagens
para monitoramento do uso e cobertura da terra se mostraram válidos para retratar as modi-
ficações ocorridas e seus principais fatores condicionantes.
Foi possível observar que a redução das áreas de vegetação ocorreu devido à conversão
para o uso da classe pastagem, sendo esta a principal atividade antrópica predominante na
área da bacia, seguida pela agricultura temporária. Portanto, a dinâmica das classes pecuária e
agricultura temporária demonstraram ser as principais variáveis na matriz econômica execu-
tada na bacia do rio Sobrado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


960 Heloísa Rodrigues Nascimento; Fernando Morais

A componente declividade apresenta que, em sua maior parte está presente a classe
com o percentual variando de 0 a 12%, indicando a possibilidade da implantação de atividades
com o uso de mecanização da agricultura e a prática da pecuária. Além disso, o mapa de dinâ-
mica da paisagem, indicou que 53,17% da cobertura vegetal foi mantida no período analisado.
Em relação as modificações nas proximidades das cavernas, foi possível verificar que existem
áreas de vegetação ao seu redor, porém encontram-se sujeitas às fortes pressões devido ao
incremento da classe pastagem. Sendo necessárias ações de planejamento ambiental nessa
área, visto abrigar uma variedade de espécies da fauna e flora, e a remoção da vegetação
nativa pode provocar muitos prejuízos a sua qualidade ambiental, serviços ecossistêmicos
prestados e recursos hídricos.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


82.
CARTOGRAFIA SOCIAL
E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
Discussões iniciais

SARAH LUANA MAIA DO NASCIMENTO1


MARIA ALICE ALVES ARAÚJO2
MARIA VITÓRIA LEMOS DE OLIVEIRA3
CARLOS HENRIQUE SOPCHAKI4

Resumo: Tendo em vista que a cartografia social é uma metodologia técnica de mapeamento, que
possibilita uma transformação social, ela é capaz de ser uma forma auxiliadora no desenvolvi-
mento sustentável com relação às bacias hidrográficas, que tem como principal função o abaste-
cimento e o consumo humano, pois ela ajuda a identificar conflitos na forma de uso de uma região
em questão. O artigo também trata sobre e a importância da Matriz FOFA (Força, Oportunidade,
Fraqueza e Ameaça) na cartografia social, sendo uma importante ferramenta, já que ela é capaz
de indicar forças e fraquezas, por exemplo, de determinado lugar a ser estudado, trabalhando em
conjunto com a cartografia social. Além disso, também é abordada a metodologia de aplicação da
cartografia social: o levantamento de dados do que irá ser estudado e observado com a popula-
ção, produção e digitalização dos mapas, validação final e correção dos mapas com a comunidade.
Por fim, este trabalho tem como objetivo relacionar a importância da cartografia social em con-
junto com as bacias hidrográficas e sua gestão dos recursos hídricos. Constatou-se que a utilização
da cartografia social na gestão e planejamento dos recursos hídricos, além de ser possível, traz
grandes potencialidades.
Palavras-Chave: Empoderamento; Mapeamento Participativo; Planejamento Ambiental
Abstract: Considering that social cartography is a technical mapping methodology that enables
social transformation, it is capable of being an aid to sustainable development in relation to river
basins, whose main function is supply and human consumption, as it helps to identify conflicts in
the use of a region in question. The article also deals with and the importance of the SWOT Matrix
(Strength, Opportunity, Weakness and Threat) in social cartography, being an important tool,
since it is able to point out weaknesses, for example, of a particular place to be studied, working
together with social cartography. In addition, the methodology for applying social cartography is

1 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: sarahmaia422@gmail.com


2 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: marialicetst@gmail.com
3 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: vitorialemos@alu.ufc.br
4 Professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: carlos.geografia@ufc.br

[ 962 ]
CARTOGRAFIA SOCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 963

also addressed: collecting data on what will be studied and observed with the population, produc-
tion and digitization of maps, final validation and correction of maps with the community. Finally,
this work aims to relate the importance of social cartography together with hydrographic basins
and their management of water resources. It was found that the use of social cartography in the
management and planning of water resources, in addition to being possible, brings great
potential.
Keywords: Empowerment; Participatory Mapping; Environmental Planning

1 INTRODUÇÃO
De acordo com o IBGE (2021), entende-se a Cartografia como sendo a representação
geométrica plana de determinados territórios, por meio de mapas, cartas ou plantas, tendo
como objetivo auxiliar na compreensão de assuntos ambientais, socioeconômicos, educacio-
nais, entre outros. Além disso, segundo Aparecida (2011), o mapa é uma representação feita
por símbolos da realidade geográfica, expondo características selecionadas, resultando na cria-
tividade e metodologia do autor, apresentando espacialmente a extensão territorial e favore-
cendo o entendimento.
A cartografia social é uma das linhas de pesquisa inseridas na cartografia, considerada
por Ascerald (2010), como sendo uma proposta conceitual e metodológica que permite cons-
truir conhecimento integral de um território, utilizando instrumentos técnicos e vivenciais.
Habegger e Mancila (2006) consideram a cartografia social como sendo a ciência que estuda os
procedimentos na obtenção de dados sobre o território, para posterior representação técnica
e artística, sendo os mapas seu sistema de comunicação predominante.
Segundo Gorayeb, Meireles e Silva (2015) a cartografia social demonstra de maneira prá-
tica a aplicação do mapeamento colaborativo dentro de comunidades de pescadores, de tribos
indígenas, quilombolas e em áreas urbanas. No primeiro esboço, que é feito pela população, é
possível localizar pontos importantes de organização, como igreja, cemitério, telefone público
e chafariz, entre outros.
Visto que a população de determinado território enfrenta diariamente os desafios do
lugar em que vive, é imprescindível a propriedade para enumerar as fraquezas presentes, atra-
vés da elaboração de mapas e da apresentação dos problemas e a partir deles, é possível esti-
pular pontos que necessitam de reformulação, ou seja, a implementação de políticas públicas.
Portanto, é de suma importância a colaboração da comunidade com os pesquisadores, pois a
organização do mapa e os diferentes pontos de vista abordados tem por finalidade englobar e
compreender o estudo de modo ainda mais detalhado.
É necessário que a comunidade seja o agente a apontar pontos importantes no mapa,
pois é ela que vive diariamente com a realidade do lugar que habita. Apesar disso, é necessário
que haja um pesquisador da área em conjunto com a população, para colaborar na construção
de um mapa científico para observação de um território.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


964 Sarah Luana Maia do Nascimento; Maria Alice Alves Araújo; Maria Vitória Lemos de Oliveira; Carlos Henrique Sopchaki

Entre os métodos utilizados para a execução do mapeamento, a matriz FOFA (conhecida


na literatura acadêmica pela sigla SWOT, acrônimo de Strength, Weakness, Opportunity, Threat,
traduzido para o português como Força, Oportunidade, Fraqueza e Ameaça) que tem por obje-
tivo a obtenção de dados que retratem as forças, oportunidades, fraquezas e ameaças dentro
das comunidades, pode ser uma grande possibilidade para a coleta de informações e opiniões
dos moradores sobre as problemáticas. A coleta de diferentes perspectivas a partir das mes-
mas situações acaba gerando uma pluralidade de ideias e a consequente produção de debates
mais aprofundados. Ao fim da digitalização do mapa com as informações já adquiridas há o
retorno à comunidade para a conferência de dados realizados e a obtenção de novas conside-
rações para a reformulação até a etapa final.
Isto posto, cabe destacar que o objetivo deste artigo é fazer uma discussão inicial sobre
cartografia social e da possibilidade de sua utilização na gestão dos recursos hídricos. Com
base na literatura sobre cartografia, cartografia social, desenvolvimento sustentável, bacias
hidrográficas, buscou-se neste texto apresentar sumariamente, as aproximações e potenciali-
dades desta metodologia aplicada à gestão e planejamento de recursos hídricos.

2 METODOLOGIA
O presente artigo teve como referência metodológica a pesquisa bibliográfica que para
Marconi e Lakatos (2003, p. 158) constitui “um apanhado geral sobre os principais trabalhos já
realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes
relacionados ao tema”.
A abordagem adotada foi a indutiva/qualitativa, considerando que “a interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa”
(KAUARK; MANHÃES; MEDEIROS, 2010, p. 26). Desta forma foi possível avançar no que tange
aos aspectos subjetivos das fontes coletadas.
Foram realizadas buscas na ferramenta Google Scholar, no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), bem como em repo-
sitórios de Instituições de Ensino Superior.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Cartografia Social
A Cartografia Social, segundo Gorayeb, Meireles e Silva (2015) é apresentada como uma
vertente da ciência cartográfica, que naturalmente possui um forte caráter de cunho social e
destina a participação social ativa e duradoura, que privilegia o conhecimento popular, simbó-
lico e cultural.
Nesse sentido, Herrera (2008) destaca as múltiplas possibilidades que se abrem a partir
da cartografia social, que permitem, por um lado, propor um instrumento a serviço da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA SOCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 965

cidadania e a serviço de grupos oprimidos a fim de visualizar conflitos, denunciar situações


injustas, produzir mudanças e melhorias; e por outro lado, conduzir à intervenção e orientar os
profissionais comprometidos com a transformação social.
Herrera (2008, p 3) admite que:
É uma proposta conceitual e metodológica que permite construir um conhecimento
abrangente de um território, utilizando instrumentos técnicos e vivenciais. É uma
ferramenta de planejamento e transformação social, que permite a construção do
conhecimento a partir da participação e do compromisso social, possibilitando sua
transformação.

Entretanto, a maioria dos autores destaca a cartografia social como sendo um instru-
mento de aprendizagem e comunicação entre os pesquisadores e a comunidade que está par-
ticipando do projeto. Desta forma a Cartografia Social “com uma metodologia técnica, busca
registrar relatos e as representações no processo de automapeamento, além de identificar
situações de conflitos na forma de uso do território em questão” (DA COSTA LIMA, 2012), de
modo a empoderar a população preservando a veracidade dos dados.
Acselrad et al. (2008), Almeida et al. (2019) e Gorayeb, Meireles e Silva (2015) apontam
conceitos sobre a abordagem metodológica da cartografia social, a qual age como ferramenta
de análise crítica e participativa, de forma a privilegiar a delimitação e caracterização espacial
de territórios em disputa, seja por interesses socioambientais, culturais e econômicos, com
vínculos simbólicos e ancestrais.
O processo metodológico consiste em cinco etapas (Figura 1) apresentadas a seguir: 1)
planejamento preliminar e mobilização das comunidades; 2) etapa de oficinas para levanta-
mento de dados; 3) digitalização e produção dos mapas; 4) validação dos mapas sociais; 5) cor-
reções finais e entrega do produto.
As atividades se iniciam com a produção de mapas base, em escala detalhada para
melhor visualização do local de trabalho, podendo ser desenvolvido a partir de imagens de
satélites em composição colorida (cor real) e levadas impressas para a etapa de oficinas.
A mobilização dos participantes deve ser divulgada com antecedência para a participa-
ção de todos, tendo uma agenda amplamente divulgada com a colaboração de diversas enti-
dades sociais. A divulgação é estabelecida em conjunto com lideranças e parceiros institucionais
e disseminada de várias formas, dentre as quais estão: redes sociais, com panfletos digitais;
sites oficiais das prefeituras, programação de rádios; panfletos impressos; avisos orais durante
reuniões de entidades. Na divulgação é explanada a metodologia da oficina e seus objetivos,
enfatizando sua importância para a comunidade, bem como o fato de não necessitarem de
pré-inscrições, e serem realizadas de forma gratuita e aberta.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


966 Sarah Luana Maia do Nascimento; Maria Alice Alves Araújo; Maria Vitória Lemos de Oliveira; Carlos Henrique Sopchaki

Figura 1 – Processo metodológico da Cartografia Social

Fonte: Elaboração dos autores a partir da compreensão do trabalho de Gorayeb et al. (2015)

Inicialmente, na oficina, é reservado um momento para explicação da atividade, bem


como da metodologia que seria utilizada e o objetivo da mesma. Em seguida são colocadas
perguntas norteadoras com intuito de gerar indagações e problematizações sobre o território.
Após a discussão os participantes são divididos em duas equipes que revezam entre contribuir
com a Matriz FOFA (Figura 2) e o mapeamento, que é produzido com caneta hidrocor, colas
coloridas e marcadores permanentes.
A respeito da matriz FOFA, de acordo com Azevedo e Costa (2010), a mesma começou a
ser aplicada na década de 1960, nos Estados Unidos da Américas, com o objetivo de elaborar
estratégias em empresas e organizações. Contudo, no Brasil, diversos pesquisadores e organi-
zações se apropriaram e adaptaram essa metodologia que vem sendo aplicada com êxito inclu-
sive em trabalhos de cartografia social e mapeamento participativo.
Durante as oficinas podem ser feitas capturas de imagens, vídeos, anotações em cader-
netas de campo, gravação de áudios (mediante permissão dos moradores) com posteriores
transcrições. Ao fim da oficina é feito registros fotográficos de todo o material construído na
oficina para proteger os dados e permitir que fossem armazenados em nuvem.
No trabalho de gabinete, as informações são digitalizadas, podendo ser utilizado um soft-
ware livre, como o QGIS. A partir da vetorização de feições com pontos, linhas e polígonos
sobre as imagens de satélite, os arquivos vetoriais criados podem possuir os seguintes atribu-
tos em sua tabela: id, nome, descrição e fonte.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA SOCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 967

Figura 2 – Exemplo Matriz FOFA

Fonte: acervo pessoal.

Na oficina de validação participam lideranças comunitárias e entidades sociais. Durante


todo o processo de digitalização a comunicação com os mobilizadores das comunidades é de
extrema necessidade para garantir que o auto mapeamento seja construído de forma que a
verificação dos dados seja correta. Os produtos finais são padronizados e disponibilizados à
comunidade em questão após a validação e averiguação dos líderes.
Metodologia utilizada para melhor compreensão do território para com a comunidade,
sendo assim considerada uma ação positiva para o reconhecimento de seu local de moradia,
para o fortalecimento dos laços de amizades e familiares.

3.2 Possibilidade de contribuição da cartografia social na gestão dos


recursos hídricos
A participação popular nas tomadas de decisões políticas é de extrema importância, pois
elas conhecem melhor a sua realidade e podem contribuir para a fiscalização das ações a serem
realizadas. O planejamento ambiental que de acordo com Rodriguez e Silva (2011) “é um pro-
cesso intelectual no qual são projetados os instrumentos de controle baseados em uma base
técnico-científica, instrumental e participativa, o que deve facilitar a implementação de um
conjunto de ações e processos de gestão e de desempenho”.
O planejamento ambiental é considerado como: I) um instrumento da política ambiental
em concordância com o modelo de desenvolvimento adotado; II) um suporte articulado ao
processo de tomada de decisão; III) um exercício técnico-intelectual voltado para traçar as
diretrizes e programar o uso do território, espaços, paisagens e características da gestão

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


968 Sarah Luana Maia do Nascimento; Maria Alice Alves Araújo; Maria Vitória Lemos de Oliveira; Carlos Henrique Sopchaki

ambiental; iv) um rumo para inter-relacionar as ações dos agentes econômicos e os sistemas
naturais (SILVA; RODRIGUEZ; LEAL, 2011).
A presença de comunidades tradicionais nas bacias hidrográficas é outro fator que permite
aproximar ainda mais a cartografia social da gestão dos recursos hídricos no Brasil. Nesse sentido,
a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, insti-
tuída pelo Decreto nº 6040, de 07 de fevereiro de 2007, afirma que povos e comunidades tradi-
cionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem
formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhe-
cimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
Para aprimorar a gestão de recursos hídricos no Brasil, em 1997 foi instituída a Política
Nacional de Recursos Hídricos através da Lei 9.433/97 (BRASIL, 1997), que foi popularmente
chamada de “Lei das Águas”. Conforme a lei, “a gestão dos recursos hídricos deve ser descen-
tralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades” e, ser
desenvolvida por órgãos colegiados, os denominados comitês de bacia hidrográfica. Estes são
momentos destinados para discussão e decisões sobre o uso da água, também para o planeja-
mento de ações para conservação da qualidade e quantidade desse recurso. O território de
gestão dos comitês é constituído de bacias hidrográficas, que conforme a lei devem ser “unida-
des básicas de planejamento do uso, da conservação e da recuperação dos recursos naturais”
(BRASIL, 1997).
A gestão das águas é dividida em Comitês das bacias, Planos de recursos hídricos, que
cabe ao comitê aprovar o Plano para assim acompanhar as execuções, sugerir providências
necessárias ao cumprimento de suas metas; o Enquadramento dos corpos em classe que não
obrigatoriamente busca saber a qualidade da água, mas prever estratégias de planejamento
para a mesma; Outorga pelo uso da água: assegura o controle qualitativo e quantitativo dos
usos da água; Cobrança pelo uso da água que estabelece critérios justos gerais para a cobrança
pelo uso dos recursos hídricos.
De acordo com o que está posto na Lei das Águas, que determina também que a gestão
dos recursos hídricos deve ser baseada em usos múltiplos e descentralizada, fica evidente que
os preceitos e metodologias adotadas pela cartografia social podem ser aplicadas para este
feito, pois ela busca compreender e atender as necessidades da população alvo de tal estudo,
sendo uma forma de maior aproximação entre pesquisador e atores sociais.
A Matriz FOFA pode ser de extremo benefício na elaboração de um mapa da cartografia
social, com ela é possível não apenas que a população aponte lugares que consideram fonte de
forças e oportunidades dentro da comunidade, mas também as fraquezas e ameaças existen-
tes na vivência e estruturação física dos locais que podem ser melhorados. Tendo em vista que
muitas comunidades vivem do auxílio da bacia hidrográfica como forma de sustento e de
sobrevivência, a cartografia social pode ser uma grande aliada em entender de modo prático o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARTOGRAFIA SOCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 969

funcionamento e a necessidade delas no município, além disso é uma forma de empodera-


mento dos moradores, com o intuito de obter opções de desenvolvimento e melhorar a gestão
não só governamental, com também a relação mais sustentável coletivamente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa reflexão acerca da aplicação da cartografia social em gestões de recursos
hídricos, e possíveis demandas para uma construção descentralizada, podemos perceber a
potencialidade desta metodologia, bem como chegou-se à conclusão que a mesma pode ser
um poderoso instrumento de conhecimento dos lugares e territórios tradicionais, a partir da
ótica dos próprios moradores.
Cabe destacar que, a priori, os moradores de comunidades tradicionais conhecem desde
crianças a estrutura e os modos de vida do seu lugar, e suas territorialidades, a bacia hidrográ-
fica que os mesmos vivem, portanto a cartografia social evidencia esses aspectos, permitindo
um mapeamento bottom-up.
A adoção de técnicas ligadas à cartografia social na gestão dos recursos hídricos permite
uma pesquisa de ação participativa, aproximando o pesquisador da problemática social, diag-
nosticando-a e buscando a maneira de formular uma proposta de mudança na realidade social,
envolvendo, em todos os momentos, a implicação das partes.
Por se tratar de uma atividade integrada que combina a pesquisa social, o trabalho edu-
cacional e a ação, a comunidade é participante da pesquisa, contribuindo com os seus conhe-
cimentos e experiências, ao mesmo tempo em que os recebe dos demais atores envolvidos, o
que demonstra mais uma vez o potencial de aplicação na gestão dos recursos hídricos.
Por fim, cabe destacar que não foi pretensão deste capítulo esgotar as discussões acerca
das possibilidades de uso da cartografia social na gestão de recursos hídricos, mas sim trazer
discussões iniciais sobre esta temática tão relevante na atualidade.

5 AGRADECIMENTOS
As três primeiras autoras agradecem à Pró-Reitoria de Extensão (PREX) da Universidade
Federal do Ceará (UFC) pelas bolsas concedidas através do Laboratório de Geoecologias das
Paisagens e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN), vinculado ao Departamento de Geografia.

6 REFERÊNCIAS
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(UFRJ), Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR, 2008. Coleção Território, ambiente
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ACSELRAD, H. Cartografia social e dinâmicas territoriais: marcos para o debate. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR,
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


83. DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE
FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO
NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA, RORAIMA

VÉRITHA NASCIMENTO PESSOA1


VLADIMIR DE SOUZA2
CARLOS EDUARDO LUCAS VIEIRA3

Resumo: As bacias hidrográficas são áreas de captação natural da água da precipitação que fazem
convergir os escoamentos em um único ponto de saída e são consideradas como uma unidade ter-
ritorial de planejamento. O presente artigo apresenta a descrição atualizada do ambiente flúvio
lacustre da bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato, no bioma de Savana, localizada na zona rural
do Município de Boa Vista, Roraima. Neste trabalho, busca-se caracterizar os aspectos físicos do
sistema fluviolacustre para se considerar a importância desse ecossistema para a sustentabilidade
ambiental da bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato, considerando-se a crescente preocupação
ecológica e socioeconômica com a capacidade de manutenção da bacia e dos ambientes aquáticos
a ela interligados, frente às novas atividades econômicas desenvolvidas em sua área de abrangên-
cia. Elaborou-se um mapa de localização, por meio do software ArcGis 10.6, na projeção UTM,
Zona 20N, datum WGS84, da área de estudo, destacando o ambiente flúvio-lacustre que compõe
a bacia. A nascente do igarapé surge no ambiente flúvio-lacustre, na parte superior da bacia, a
qual contém 54% dos lagos e baixadas, com 72% desses lagos apresentando regime hidrológico
perene e estão integrados ao curso de água principal da rede de drenagem. A natureza das ativi-
dades econômicas alocadas na bacia do Igarapé Carrapato pode comprometer a disponibilidade
desse recurso natural, além de trazer degradação e prejuízos socioambientais, causando impactos
na estrutura social local e na sustentabilidade da bacia hidrográfica.
Palavras-chave: Igarapé Carrapato; Sustentabilidade; Lençol freático.
Abstract: The hydrographic basins are natural catchment areas of precipitation water that make
the flow converge in a single outlet point and are considered as a territorial planning unit. The pre-
sent work presents a updated description of the fluvio-lacustrine environment of the Hydrographic
Basin of the Carrapato Stream in the Savanna biome of the rural zone of Boa Vista county, Roraima.
This work aims to characterize the physical aspects of the fluvio-lacustrine system in order to

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geociências Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: veritha.
pessoa@ifrr.edu.br
2 Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: vladimir.souza@ufrr.br
3 Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: carlos.vieira@ufrr.br

[ 971 ]
972 Véritha Nascimento Pessoa; Vladimir de Souza; Carlos Eduardo Lucas Vieira

determine the importance of this ecosystem to the environmental sustainability of the


Hydrographic Basin of the Carrapato Stream, considering the growing ecologic and socioeconomic
concern about the resilience of this basin and their connected aquatic environments in face of the
new economic activities developed in its catchment area. For the preparation of this study, a
extensive bibliographic review was carried out about this theme, in order to demonstrate the
importance of this fluvio-lacustrine environment to the basin sustainability. A location map was
prepared, using ArcGis 10.6 software, in the UTM projection, Zona 20N, datum WGS84, of the
study area, highlighting the fluvio-lacustrine environment that makes up the basin. The springs of
Carrapato Stream arise in a fluvio-lacustrine environment in the upper portion of the basin, which
encompasses 54% of the lakes and lowlands of the basin, 72% of which shows a perennial hydro-
logical regime and are integrated to the main watercourse of the drainage network. The nature of
the economic activities allocated in the Igarapé Carrapato basin can compromise the availability
of this natural resource, in addition to causing degradation and socio-environmental damage, cau-
sing impacts on the local social structure and on the sustainability of the hydrographic basin.
Keywords: Carrapato Stream; Sustainability; Groundwater.

1 INTRODUÇÃO
A região nordeste do estado de Roraima apresenta uma paisagem muito particular, a
“Savana Roraimense”. Boa Vista, município de Roraima, tem todo o seu limite territorial inse-
rido neste domínio fitogeográfico, localmente denominado de “Lavrado”, a ecorregião das
“Savanas das Guianas”. Essa ecorregião é uma unidade fitogeográfica da paisagem que per-
tence ao bioma Amazônico e que apresenta especificidades ecológica e florística muito adap-
tada às condições geográficas e climáticas da região.
No estado de Roraima, as áreas de savanas, totalizam aproximadamente 39.000 km2 for-
mando uma extensa superfície aplainada com mosaicos de suaves colônias e tabuleiros entre-
meados de depressões com buritizais e manchas esparsas de florestas com ilhas (VALE JÚNIOR;
SCHAEFER, 2010, p. 18).
A bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato é uma unidade ambiental e está presente
numa área que se apresenta bastante antropizada. As atividades econômicas e os tipos de
empreendimentos entorno dessa bacia são diversos, principalmente em face aos múltiplos
usos da água dessa bacia, como as culturas irrigadas, piscicultura em tanques escavados, mine-
ração (extração de piçarreira), pecuária extensiva, avicultura, termelétricas para produção de
energia, lazer/balneários em pequenas propriedades (sítios) e outras atividades econômicas
alocadas no entorno do Igarapé Carrapato. Todas essas atividades dependem dos recursos
naturais dessa bacia.
Uma das particularidades desse ambiente é a ocorrência de lagos orientados associados
a zonas de fraturas ou até mesmo ocupando fraturas em um mosaico poligonal, indicando um
controle tectônico destes, os quais são entendidos como originários de afloramento do nível
freático, sendo que alguns são perenes e outros temporários (COSTA, 2008, p. 93).
Todo este complexo de lagos naturais é um ecossistema aquático único e essencial para
manutenção e sustentabilidade da bacia e os ambientes ecológicos a ela integrados. Dadas as

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO 973

características das áreas de fundos de vale (amplas e planas), associado ao clima local, são fre-
quentes nestas regiões, inundações, além de apresentarem naturalmente forte variação espa-
cial no espelho d´água e afloramento do lençol freático local, tornando inadequada a utilização
das áreas do fundo de vale próximo do igarapé (SANDER, et al., 2012).
Diante do exposto, este trabalho busca realizar uma descrição dos aspectos físicos do
ecossistema flúvio-lacustre da bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato, com o intuito de reco-
nhecer e descrever os elementos ou forças que atuam e que interferem na sustentabilidade
dos recursos naturais da bacia. Para elaboração deste estudo realizou-se uma revisão biblio-
gráfica documental acerca do tema, objetivando-se demonstrar a relevância do ambiente flú-
vio-lacustre para a sustentabilidade da bacia do Igarapé Carrapato. E ao final elaborou-se um
mapa de localização, por meio do software ArcGis 10.6, na projeção UTM, Zona 20N, datum
WGS84, da área de estudo, destacando-se o ambiente flúvio-lacustre que compõe a bacia.

2 METODOLOGIA
Para realização deste estudo, foram feitas pesquisas acerca do tema, em capítulos de
livros, dissertações, artigos e revistas científicas, em plataformas de órgãos e instituições públi-
cas governamentais e não governamentais. Assim, foi possível elaborar o aporte da fundamen-
tação teórica. Em seguida, buscou-se o embasamento na literatura documental específica
relacionada ao ambiente flúvio-lacustre da bacia hidrográfica do igarapé Carrapato.
A partir de então, partiu-se para o processamento de imagens remotas em ambiente GIS,
elaborou-se um mapa de localização da área de estudo, destacando-se o ambiente flúvio-la-
custre que compõe a bacia. O mapa foi elaborado no software ArcGis 10.6, na projeção UTM,
Zona 20N, datum WGS84.

3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ECOSSISTEMA FLÚVIO-LACUSTRE DA


BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO
As bacias hidrográficas são elementos físicos da paisagem consideradas como uma uni-
dade territorial de planejamento. Sendo incorporadas pela Lei no 9.433, de 1997, a qual regula
a Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997). A bacia hidrográfica compõe-se basica-
mente de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem, formada por cur-
sos de água que confluem até resultar num leito único, o exutório (SILVEIRA, 2001).
As bacias hidrográficas presentes na paisagem são garantia para os diversos usos, desde
o abastecimento de água, lazer/balneários, transporte e produção de pescado e utilização na
irrigação dos cultivos. Esses diversos serviços ambientais proporcionados por ela possibilitam
o desenvolvimento econômico da região, portanto sua conservação e manejo adequado garan-
tem a sustentabilidade ecológica da bacia e a manutenção dos benefícios prestados por ela.
A interação dos fatores que atuam na paisagem é resultado de processos entre os ele-
mentos naturais, tais como o solo e o clima. Estes elementos determinam e regulam as ações

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


974 Véritha Nascimento Pessoa; Vladimir de Souza; Carlos Eduardo Lucas Vieira

antrópicas para o uso do solo e das bacias hidrográficas, os quais condicionam o manejo e a
rentabilidade socioeconômica da atividade ali empregada.
O nível de utilização das atividades antrópicas deve levar em conta a disponibilidade dos
recursos naturais e o nível de impacto que sofrerá o ecossistema, pois a sustentabilidade
garante a manutenção e o acesso aos recursos naturais, bem como a saúde ecológica dos
ambientes naturais.
A bacia hidrográfica do Rio Branco para onde fluem todas as águas que compõem a rede
de drenagem do município de Boa Vista, estado de Roraima, é composta por inúmeros igara-
pés, rios e lagos. Os lagos têm apresentado um importante papel na manutenção do equilíbrio
aquáticos da região, estando interconectados com outras redes de drenagem, e em alguns
casos, compartilhando nascentes.
Carvalho e Sander (2016) discutindo acerca do lavrado roraimense e a formação de lagos,
destacam que
Na maior parte da superfície regional de aplainamento do lavrado, predominam
colinas dissecadas, localmente conhecida como tesos, formas originadas pela disse-
cação de drenagem em torno dos sistemas lacustres interconectados por igarapés
inter-tesos, cuja declividade varia entre 0° -0 5° em relevo plano com baixa energia,
favorecendo o aporte de material sedimentar, basicamente arenoso, proveniente
das áreas adjacentes elevadas. A baixa energia do relevo na região central do lavrado
favorece a formação de um interessante sistema de lagos de formato predominante
circular, não fluviais. A formação destes lagos está associada às águas pluviais osci-
lação do lençol freático, são em sua maioria cabeceiras de canais de drenagem de
primeira ordem (CARVALHO e SANDER, 2016, p. 24).

A bacia do igarapé Carrapato é um afluente da margem esquerda do curso inferior do rio


Cauamé, este, por sua vez, é um afluente da margem direita do Rio Branco. Essa bacia é um
importante curso hídrico que tem sua foz no rio Cauamé, contribuindo assim com a vazão e
descarga hídrica que fluir neste rio. O clima da bacia é o mesmo do município de Boa Vista,
segundo a classificação de Köopen, caracterizado como tropical úmido do tipo A, subtipo Awi,
descrito com dois períodos bem definidos, com um verão chuvoso que ocorre entre os meses
de abril a setembro; e o período de estiagem, muito seco de outubro a março. Os índices plu-
viométricos oscilam em torno de 1.700mm e a temperatura média anual é de 27,4°C.
Meneses et al. (2007) também discutindo sobre o período chuvoso e a formação de
lagos, apontam que
São lagos pequenos e rasos, circulares e elípticos, colonizados por anéis de macrófi-
tas aquáticas emergentes que circundam uma pequena zona central mais profunda,
por onde se observa as surgências de águas freáticas na forma de olhos d’água.
Estes lagos se instalaram sobre os sedimentos arenosos da Formação Boa Vista, bas-
tante permeáveis, sobrepostos ao embasamento cristalino de natureza menos per-
meável (Complexo das Guianas). [...] No período chuvoso a infiltração das águas
pluviais provoca a súbita elevação do nível freático que intercepta as áreas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO 975

deprimidas do terreno ou aflora na superfície dando origem aos lagos e brejos


(MENESES et al., 2007, p. 478; 482).

A bacia hidrográfica do igarapé Carrapato é um corpo hídrico de forma alongada, de acordo


com o índice de circularidade de coeficiente de capacidade e fator de forma, sendo considerada
como de terceira ordem com pouca ramificação, retilínea e paralela. O comprimento total de
todos os canais é de 38,28 km, o comprimento do eixo da bacia (L), 17,28 km e o comprimento do
canal principal da bacia é de 18,63 km. A bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato drena uma área
total de 75,39 km², com perímetro de 46,65 km. (FARIA et al., 2017). Por sua grande área de dre-
nagem e por sua localização junto à área de expansão urbana do município de Boa Vista, vários
autores vêm aprofundando estudos acerca dos recursos hídricos, principalmente do ecossistema
de veredas com buritis buscando garantir sua conservação.
A área da bacia apresenta os recursos hídricos distribuídos na forma de lagos e baixadas
naturais no relevo. Os solos da região estão relacionados aos sedimentos argilo-arenosos da
Formação Boa Vista, datados do final do período Terciário e início do Quaternário (Plio-
pleistoceno), elaborados a partir de ciclos alternados de climas úmidos e secos. Estes estão
associados às mais variadas fitofisionomias de savana e relacionados com o nível de fertilidade,
matéria orgânica e drenagem (VALE JÚNIOR; SCHAEFER, 2010 p. 20).
Em termos socioambientais, a bacia do Igarapé do Carrapato tem passado por mudanças
perceptíveis em sua paisagem num curto espaço de tempo. O Igarapé Carrapato tem a sua nas-
cente numa área com muitos lagos abaciados, criando um ambiente úmido no entorno da
Rodovia Estadual RR-319 que liga a BR 174 – à Vila do Passarão, e segue sua drenagem no sen-
tido Norte – Sul, paralelo a BR – 174, drenando uma área de aproximadamente 95 km2 e desa-
guando no rio Cauamé, sendo um importante afluente da margem esquerda. O rio Cauamé
que corta a paisagem da cidade de Boa Vista, afluente do rio Branco, este é o maior, e principal
de Roraima e que também dá nome a maior bacia hidrográfica do Estado. Aparecem áreas aba-
ciadas, com lagoas, cujos fundos existem gleissolos háplicos e melânicos, distróficos, de textura
média, considerados restritos para lavouras, devendo-se preservar esse ecossistema para uti-
lização pela fauna silvestre (RORAIMA, 2002 p. 56).
A funcionalidade ecológica do ambiente flúvio-lacustre e sua expressividade dentro da
bacia do Igarapé Carrapato, faz dele um ambiente estratégico para garantir a sustentabilidade
do ecossistema aquático, a integridade das nascentes e águas superficiais associadas, bem da
recarga das águas subsuperficiais e subterrâneas. A água é um recurso que tem na sua dispo-
nibilidade e qualidade, a garantia do equilíbrio e do desenvolvimento dos processos naturais, e
socioeconômico com o seu uso e aplicações nos diversos fins, sendo essencial para manuten-
ção dos ecossistemas e da biodiversidade.
As atividades agrícolas de monocultura tecnificada têm crescido exponencialmente no
estado de Roraima e vêm se destacando nos últimos anos, frente às condições geográficas do
território, as quais são favoráveis dentre os aspectos físicos por apresentar solos agricultáveis,
relevo plano e grande disponibilidade de reservas hídricas e acessíveis.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


976 Véritha Nascimento Pessoa; Vladimir de Souza; Carlos Eduardo Lucas Vieira

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A paisagem da área da bacia é marcada por muitos recursos hídricos dispostos em sua
superfície na forma de lagos e baixadas que a compõem (Figura 1). Todo este ecossistema
aquático, em alguns pontos se conectam formando um integrado sistema denominado de pla-
nície flúvio – lacustre, formando a bacia hidrográfica do igarapé Carrapato.

Figura 1 – Lago natural em ambiente de savana graminosa em época


chuvosa. Neste lago encontra-se a nascente do Igarapé Carrapato,
localizado à margem direita da RR-319, na zona rural de Boa Vista.
Imagem captada através de drone

Foto: R. C. Calefe, 2021.

Toda esta paisagem natural se caracteriza pela presença de ambientes flúvio-lacustre de


diversas formas e tamanho, em que se integram à bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato. Esta
bacia localiza-se na zona rural do município de Boa Vista, cuja paisagem é caracterizada pelo aflo-
ramento em seus baixios do lençol freático, formando um rosário de lagos interconectados que
funcionam como nascentes compartilhadas dos cursos d’água deles derivados. Cerca de 54% da
bacia do Igarapé Carrapato é composta por este ecossistema, sendo o restante constituído por
cotas altimétricas também baixas, mas ligeiramente acima das de surgência do aquífero.
A Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato, localizada na zona rural do Município de Boa
Vista, Roraima, é representada na Figura 2 – Nesta figura é possível observar a área de estudo
com a identificação do ambiente flúvio-lacustre, a área da nascente do igarapé, e a área da
bacia onde drena o curso principal, o Igarapé Carrapato.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO 977

Figura 2 – Mapa de Localização do Igarapé Carrapato com a presença do Ambiente flúvio-lacustre que
compõe a Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato Boa Vista, Roraima

Fonte: Elaborado pelos autores.

A nascente está nas proximidades da Rodovia Estadual RR-319, e há a presença marcante


de vários lagos interligados no perímetro da bacia (Figura 3). Na figura 3 também é possível
observar o curso do Igarapé Carrapato, da montante até a sua foz no rio Cauamé, rio este que
corta a cidade de Boa Vista.
A planície flúvio-lacustre que marca a paisagem da bacia hidrográfica do igarapé
Carrapato apresenta especificidades e adaptações que são influenciadas pelas condições cli-
máticas locais. Estes corpos hídricos sofrem a influência do regime climático e dos índices plu-
viométricos da região. Na época da estiagem alguns desses lagos secam, mas preservam a
umidade no solo devido a sua relação com o lençol subterrâneo. Estes lagos quando cheios
mantêm-se conectados, constituindo assim um complexo e uniforme espelho da água.
Enquanto outros se apresentam perenes, o que contribuem para a formação de uma vegeta-
ção marginal, que vão se fixando e proporcionando condições para o surgimento de elementos
da floresta, tais como árvores, arbustos e palmeira e expressivamente o buriti (Mauritia fle-
xuosa), iniciando assim a formação e manutenção da mata ciliar.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


978 Véritha Nascimento Pessoa; Vladimir de Souza; Carlos Eduardo Lucas Vieira

Figura 3 – Lago natural em ambiente de savana graminosa em época


de chuvosa. Neste lago encontra-se a nascente do Igarapé Carrapato,
localizado à margem direita da RR-319, na zona rural de Boa Vista

Imagem captada através de drone. Foto: R. C. Calefe, 2021.

Os sistemas lacustres localizados junto às áreas de cabeceiras de drenagem. Partes


destes ambientes paludais são representados por ambientes que alimentam mais
de um igarapé (nascentes compartilhadas), quando os autores discutem e
reconhecem sobre este fenômeno no igarapé Carrapato. No município de Boa Vista
região os lagos representam ambientes naturais da paisagem que caracterizam a
savana roraimense aspecto principal desse ecossistema, são assim corpos d’água
que preenchem as depressões superficiais do relevo decorrente de um balanço
hidrológico favorável (SANDER et al., 2012, p.73).

O quadro a seguir apresenta as características físicas do ecossistema flúvio-lacustre que


compõem a bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato. A proporção da bacia em extensão terri-
torial é constituída por este ecossistema, que percebe a maior concentração na área em torno
da nascente, bem como descreve o tipo de regime hidrológico do ambiente flúvio-lacustre e
sua relação com vazão do curso principal de água do igarapé Carrapato.

Quadro 1 – Características físicas do ecossistema flúvio-lacustre que compõem a bacia hidrográfica do


Igarapé Carrapato

Aspectos físicos da bacia Aspectos físicos do ambiente


flúvio-lacustre da bacia
Área de drenagem da bacia 95 KM2
A Montante e a nascente do igarapé área de 54% do ambiente flúvio-lacustre de área da bacia
concentração do ambiente flúvio-lacustre
O regime hidrológico do ambiente flúvio-lacustre da 72% de perenidade apresenta os lagos da bacia
bacia
FONTE: Elaborado pelos autores com base nos resultados de SANDER et al. (2008).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO 979

O quadro acima demonstra o panorama geral de como se apresenta os aspectos físicos


do ambiente aquático da bacia. Cabe ressaltar como se comporta o regime hidrológico do
ecossistema flúvio-lacustre da bacia e a suas interações dependência hídrica para manutenção
da vazão do curso principal do Igarapé Carrapato que, depende da sua conexão com os lagos
para apresentar disponibilidade hídrica na superfície dos canais que integram a bacia.
A favorabilidade do relevo onde se encontram os lagos, em ambientes intertesos, nas
áreas rebaixadas do relevo, e estes têm relação direta com o volume das precipitações que
caem na região e que são represadas na baixadas e se acumulam no seu interior formando
assim os lagos. Alguns destes lagos possuem características intermitentes e outros, temporá-
rios. Entretanto, 72% são perenes, em sua imensa maioria são estes lagos que compõem a pla-
nície flúvio-lacustre da bacia, e ainda, cerca de 54% estão localizados na parte superior do
igarapé, ou seja, a montante.
Percebe-se que as condições de uso e ocupação do solo na bacia contribuem de forma
relevante para a manutenção da planície flúvio-lacustre da bacia. O fato de que a bacia se loca-
liza na zona rural, onde seu perímetro é composta por solo sem impermeabilização, ou seja,
não está coberta por camada de concreto ou de asfalto, contribui para a maior eficiência e
capacidade de infiltração das águas das chuvas no solo e assim, permite a recarga do lençol
subterrâneo, além de facilitar o fluxo de água para o canal principal. Infere-se também que
quando infiltrados, esses volumes pluviométricos afloram na forma de lagos, contribuindo
assim para o preenchimento dos reservatórios hídricos da superfície e que estão conectados
como o curso principal da bacia do Igarapé Carrapato.
Tendo em vista a previsível demanda por recursos hídricos, tanto para o consumo
humano quanto para outros usos, deve-se ter em vista exercitar os cuidados neces-
sários a preservação dos recursos hídricos nas bacias envolvidas, através de estudos
voltados a preservação dos mananciais hídricos superficiais e subterrâneos
(RORAIMA, 2002, p. 59).

É perceptível a mudança na paisagem que tem passado a bacia hidrográfica do igarapé


Carrapato. A implantação de empreendimentos que desenvolvem diversas atividades
econômicas relacionadas ao primeiro setor da economia como agropecuária e mineração e o
beneficiamento de produtos primários, demonstra que os recursos naturais da bacia estão
sendo largamente utilizados. Devido à natureza das atividades econômicas alocadas na bacia,
atividades estas que dependem dos recursos naturais disponíveis em seu uso, e acessíveis na
sua extração, toda esta demanda pode comprometer a disponibilidade e trazer degradação e
prejuízos socioambiental, causar impactos na estrutura social local e na sustentabilidade da
bacia hidrográfica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica é o ambiente natural para onde escoam todas as águas oriundas das
precipitações que por meio do escoamento superficial fluem impulsionadas pela força da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


980 Véritha Nascimento Pessoa; Vladimir de Souza; Carlos Eduardo Lucas Vieira

gravidade infiltram no solo e escoam para as áreas mais baixas do relevo em direção ao canal
principal até o seu exutório ou foz. Todo este caminho contribui para o aumento da vazão em
reservatórios naturais como um rio, ou igarapé, ou uma área de planície flúvio-lacustre de uma
bacia hidrográfica.
Os ecossistemas flúvio-lacustres são elementos geográficos da paisagem da Savana de
Roraima. Estes são ambientes aquáticos sensíveis e essenciais para a manutenção da rede
drenagem na região onde se situam, além de contribuir para a conservação da biodiversidade e
do endemismo local. Os lagos que ocorrem no Lavrado de Roraima são reservas hídricas essenciais
para a conservação da biodiversidade e contribuem para o desenvolvimento de atividades
econômicas. Compreender a complexidade e a integração dessa rede hidrográfica, nesta parte
da Amazônia brasileira, é extremamente relevante para a conservação da biodiversidade.
No Município de Boa Vista, onde se insere a Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato,
ocorre uma vasta e extensa área de planícies flúvio-lacustre. Esta mantém uma relação direta
com os índices pluviométricos, com o escoamento das bacias hidrográficas e flutuações do len-
çol freático da região. Os lagos de tamanhos e formas variadas que se espalham pelo território
se apresentam como reservas hidrológicas, e suas drenagens e os sistemas de recargas hídrica
ainda não estão claramente definidos. O que dessa forma se faz necessário realizar pesquisas
e estudos futuros para compreender toda a dinâmica hidroflúvio-lacustre da bacia hidrográfica
do Igarapé Carrapato.
Conhecer as particularidades do ecossistema flúvio-lacustre da bacia hidrográfica do iga-
rapé Carrapato é de fundamental importância para garantir a conservação da riqueza ecoló-
gica e hídrica da região, a sustentabilidade do ecossistema e dos ambientes ecológicos integrado
a ele que são outros igarapés. Além disso, garantirá o desenvolvimento socioeconômico e a
manutenção da estrutura social e produtiva da bacia, ao passo que somente através de estudo
e pesquisas futuras poderá de fato conhecer e estimar o nível de sustentabilidade que apre-
senta o ambiente flúvio-lacustre para com a bacia hidrográfica.
Nesse sentido de preservação, tanto dos recursos hídricos quanto da biodiversidade
regional, a pesquisa científica é uma aliada, pois seu ponto de vista técnico e o rigor de suas
análises contribuem para o monitoramento e a identificação dos impactos que as novas práti-
cas provocaram no ecossistema da bacia. Visto que o uso da Savana e dos ambientes flúvio-la-
custre que o integra deverá continuar a fazer parte de uma proposta pautada no desenvolvimento
sustentável para manutenção dos recursos naturais da região.

6 REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Disponível em:
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DESCRIÇÃO SOBRE O AMBIENTE FLÚVIO-LACUSTRE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CARRAPATO 981

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


84.
DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO
MUNICÍPIO DE SENADOR CANEDO-GOIÁS

ANA CAROLINE RODRIGUES CASSIANO DE SOUSA1


ALEXANDRE EDREIRA ALENCAR2
VIRGÍNIA DOS SANTOS MACEDO3
NILSMAR CÉSAR MARQUES4

Resumo: As transformações no uso e ocupação do solo nos centros urbanos, especialmente no


Cerrado brasileiro, resultam em degradações e impactos socioambientais que podem ser preveni-
dos e mitigados. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo diagnosticar o estado recente
do uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas do município de Senador Canedo, em Goiás. A
pesquisa iniciou com a delimitação automática das bacias hidrográficas, por meio do Modelo Digital
de Elevação (MDE) ALOS PALSAR e do software QGIS; em sequência, foi realizado o mapeamento e
análise comparativa das classes de uso do solo nestas bacias. Como resultado, foram delimitadas 35
bacias hidrográficas e microbacias de drenagem pluvial, considerando dois grupos: as grandes
bacias notáveis (identificadas nas bases de dados utilizadas) e as menores bacias ou microbacias,
não identificadas. A Bacia do Córrego Juventino, afluente do manancial de captação Bonsucesso
apresenta o estado mais crítico no município, com apenas 9% de vegetação nativa, seguido do
Córrego Vertente. Já os córregos Pari e Lajeado são o que apresentam mais da metade de suas áreas
com vegetação de Cerrado (florestal e savânica). Feições de vegetação nativa foram verificadas em
todas as bacias, mas em geral com pequenas áreas e mais relacionadas a APPs (que possuem pro-
teção mandatória). Por fim, o objetivo foi alcançado e ressalta a importância das ações de diagnós-
tico, monitoramento, fiscalização, licenciamento e preservação para a qualidade ambiental do
município.

Palavras-chave: Bacias hidrográficas; antropização; uso e ocupação do solo; município


Abstract: Land use and land cover changes in urban centers, especially in the Brazilian Cerrado,
can cause degradation and social and environmental impacts that can be prevented and miti-
gated. Therefore, this study aimed to diagnosticate the recent state of land use and land cover in
the watersheds of the municipality of Senador Canedo, in Goiás. The research began with the

1 Agência de Meio Ambiente de Senador Canedo. E-mail: caroline.r.c@hotmail.com


2 Universidade Federal de Goiás. E-mail: alexandre.edreira@gmail.com
3 Instituto Federal de Goiás. E-mail: virginia.macedo@estudantes.ifg.edu.br
4 Agência de Meio Ambiente de Senador Canedo. E-mail: nilgeoambiental@gmail.com

[ 982 ]
DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 983

automatic delimitation of watersheds, using the Digital Elevation Model (MDE) ALOS PALSAR and
the software QGIS; subsequently, the mapping and comparative analysis of land use classes in
these watersheds was accomplished. As a result, 35 watersheds and rainwater drainage microba-
sins were delimited, considering two groups: the large notable basins (identified in the databases
used) and the smaller, unidentified basins or microbasins. The Córrego Juventino’s watershed, a
tributary of the Bonsucesso catchment, is in the most critical condition in the municipality, with
only 9% of native vegetation, followed by Córrego Vertente’s. The watersheds of Pari and Lajeado
presents more than half of their areas with Cerrado vegetation (forest and savannah). Features of
native vegetation were verified in all watersheds, but in general with small areas and more related
to APPs (which have mandatory protection). Finally, the objective was achieved and highlights the
importance of diagnosis, monitoring, inspection, licensing and preservation actions for the envi-
ronmental quality of the municipality.
Keywords: Watersheds; anthropization; land use and land cover; municipality.

1 INTRODUÇÃO
As expressivas mudanças no uso e ocupação do solo ocasionadas pela vasta urbanização
e pela expansão da fronteira agrícola no Cerrado têm promovido nas últimas décadas a inten-
sificação e o aceleramento dos impactos socioambientais e da degradação ambiental.
No bioma Cerrado, a conversão da vegetação nativa em pastagens e de áreas de pastos
em áreas de culturas agrícolas são as mais proeminentes (SANO et al., 2019). Por sua vez, no
Estado de Goiás, o processo de ocupação territorial também é associado à expansão da fron-
teira agrícola, amplamente apoiada na modernização e viabilizando ampla produção agrícola
(MIZIARA; FERREIRA, 2008; SILVA et al., 2013).
Diante das mudanças no uso do solo, o meio natural apresenta uma vulnerabilidade
ambiental que responde as pressões das atividades antrópicas e se materializam em degrada-
ções que afetam a estabilidade ecológica (CUNHA et al., 2011).
Nesse contexto, as bacias hidrográficas são unidades básicas de planejamento e gestão
consagradas pela Lei nº 9.433 de 1997 (BRASIL, 1997), que as estabelecem como “unidade ter-
ritorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”.
As bacias hidrográficas são essenciais para o planejamento ambiental, sendo uma impor-
tante categoria de análise geográfica, escolhida como referencial desta pesquisa. Botelho
(1999) entende que a partir destas é possível reconhecer e estudar as inter-relações existentes
entre os diversos elementos ambientais e os processos que atuam na sua esculturação.
Em outras palavras, é no contexto da bacia hidrográfica que deve ser realizada a avalia-
ção dos impactos ambientais para as tomadas de decisão em nível nacional, estadual e munici-
pal. Diante disso, este trabalho objetiva diagnosticar o estado recente do uso e ocupação do
solo nas bacias hidrográficas do município de Senador Canedo-GO.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


984 Ana Caroline de Sousa; Alexandre Alencar; Virgínia Macedo; Nilsmar Marques

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
A área de estudo possui como recorte espacial o município de Senador Canedo, locali-
zado na Região Metropolitana de Goiânia, capital do estado de Goiás.
Com cerca de 247,01 km², o município possui algumas características de meio físico notá-
veis. Sua altimetria varia de 653 a 1033m, com maiores elevações ao norte e em uma faixa que
une essa região ao sudeste. As menores elevações são próximas a cursos d’água (Figura 1).
A declividade varia desde o relevo plano ao montanhoso; as áreas planas em geral se loca-
lizam nas drenagens de maior porte e as declividades suavemente onduladas se encontram dis-
tribuídas por todo o município, com um mosaico de relevo ondulado, fortemente ondulado e
montanhoso em algumas regiões como o Morro Santo Antônio (região próxima à central), a Serra
da Canastra (a Norte), a Serra do Pari (ao Sul) e outras áreas a Nordeste (Figura 1).
As unidades geomorfológicas, em macro escala, são as planícies e terraços fluviais, nas
proximidades do rio Meia Ponte; a Superfície de Goiânia; e as Serras e Superfícies Intermediárias
das Altas Bacias do Paranaíba (Figura 2). Já a pedologia de grande parte do município é carac-
terizada por latossolos, a porção sul apresenta solos mais frágeis (cambissolos e argissolos) e
há grandes feições de grupamento urbano (majoritariamente impermeabilizado).

Figura 1 – Aspectos ambientais do município de Senador Canedo-GO – elevação e declividade

Fonte: Autoral, 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 985

Figura 2 – Aspectos ambientais do município de Senador Canedo-GO – geomorfologia e pedologia

Fonte: Autoral, 2021.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O procedimento metodológico para realização deste estudo foi dividido em duas etapas:
delimitação automática das bacias hidrográficas e, em sequência, mapeamento e análise com-
parativa das classes de uso e ocupação do solo destas bacias.
Na primeira etapa foi utilizado o Modelo Digital de Elevação (MDE) do radar PALSAR, do
satélite japonês ALOS, com resolução espacial de 12,5m. Para a geração automática de bacias
hidrográficas foi utilizada na extensão SAGA GIS do software QGIS, a ferramenta “Channel net-
work and drainage basins”, que resultou na delimitação inicial das bacias.
A caracterização inicial das bacias deu-se a partir do mapeamento da hidrografia do
município, utilizando como bases os dados hidrográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), do Sistema de Geoinformação de Goiás (SIEG) e dos mapeamentos do último
Plano Diretor Municipal (Lei Complementar nº 2.314/2020).
As bacias hidrográficas foram então organizadas utilizando os seguintes critérios: a)
Devido à sua grande área, a bacia do ribeirão Bonsucesso foi dividida em quatro sub-bacias
menores (utilizando mesmo procedimento metodológico anterior), com o objetivo de possibi-
litar uma análise diagnóstica e comparativa mais detalhada; b) As bacias de drenagem próxi-
mas ao limite municipal e que não apresentam um curso d’água principal (apenas o escoamento
da drenagem pluvial) foram agrupadas e receberam a denominação de “microbacias de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


986 Ana Caroline de Sousa; Alexandre Alencar; Virgínia Macedo; Nilsmar Marques

drenagem” ou microbacias de afluentes dos respectivos cursos d’água principais; c) As bacias


com cursos d’água principais foram denominadas “bacias hidrográficas”; d) As bacias cujos cur-
sos d’água não possuíam nome identificado nas bases de dados utilizadas foram nomeadas
“bacias de afluentes”.
A segunda etapa teve início com a obtenção dos dados de uso e ocupação do solo produ-
zidos pelo Projeto MapBiomas, que realiza o mapeamento anual de todo o Brasil, para uma
escala de análise de até 1:100.000, por meio de algoritmos baseados em machine learning
(ALENCAR et al., 2020).
Foi utilizado o mapeamento da versão 6.0 do MapBiomas, referente ao ano de 2020, que
considerou para Senador Canedo 11 classes de uso do solo: Formação Florestal, Formação
Savânica, Formação Campestre, Área Úmida, Água, Pastagem, Soja, Lavoura Temporária,
Mosaico de Agricultura e Pastagem, Infraestrutura Urbana, e Outras Áreas Não Vegetadas.
Utilizando as ferramentas de processamento de vetores do QGIS, foi gerada uma tabela
de atributos contendo os valores totais de área de cada classe de uso do solo, para cada bacia
ou microbacia de drenagem delimitada anteriormente e, finalmente, procedeu-se com a aná-
lise diagnóstica comparativa por meio de mapas e gráficos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta metodológica aplicada resultou na delimitação de 35 bacias hidrográficas e
microbacias de drenagem pluvial, sendo algumas com característica mais antropizada, outras
com maior ênfase da agropecuária e outras mais preservadas, conforme é apresentado a seguir.

3.1 Mapeamento das bacias hidrográficas


Foram delimitadas no total 35 bacias hidrográficas e microbacias de drenagem (Figura 3),
sendo 19 bacias mais notáveis, cujos nomes dos cursos d’água principais foram identificados
nos bancos de dados acessados; 12 microbacias hidrográficas de córregos afluentes ao rio Meia
Ponte, ribeirão Sozinha e córrego Lajeado-Capoeirão, não identificados; e quatro grupos de
microbacias de drenagem pluvial, sem cursos d’água principais, que escoam para o Meia Ponte,
Sozinha, Lajeado-Capoeirão e para outro córrego externo ao município.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 987

Figura 3 – Bacias hidrográficas e microbacias de drenagem mapeadas para Senador Canedo-GO

Fonte: Autoral, 2021.

As bacias com as áreas mais expressivas no município (acima de 20 km²) são a Alta Bacia
do Ribeirão Bonsucesso e as bacias do Córrego Matinha, Vargem Bonita e Dois Irmãos, sendo
que duas entre as quatro citadas fazem parte da grande bacia do ribeirão Bonsucesso, principal
bacia de abastecimento público municipal.
Observa-se que estas bacias possuem maior densidade de drenagem e ramificações de
seus cursos d’água principais, o que já permite inferir uma maior necessidade de preservação
nessas regiões, considerando as Áreas de Preservação Permanente previstas no Código
Florestal (BRASIL, 2012). Por sua vez, as bacias com menores áreas (em torno de 1 a 3 km²) são
as de afluentes do Meia Ponte, Sozinha e Lajeado-Capoeirão, bem como as microbacias de dre-
nagem pluvial (individuais).

3.2 Diagnóstico do uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas


O mapeamento do uso do solo nas bacias hidrográficas e microbacias de drenagem do
município, para o ano de 2020, apresenta as 11 classes de uso do solo, sendo que cinco corres-
pondem de feições naturais (vegetação florestal, savânica, campestre, áreas úmidas e lâminas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


988 Ana Caroline de Sousa; Alexandre Alencar; Virgínia Macedo; Nilsmar Marques

d’água superficiais), quatro classes referentes ao setor agropecuário (pastagem, soja, lavouras
temporárias e mosaicos de agropecuária) e duas classes vinculadas à urbanização e suas infraes-
truturas (Figura 4).
Nas quatro maiores bacias do município, nota-se a presença expressiva da classe de pas-
tagem inclusive nas proximidades dos cursos d’água principais.
Considerando que o Ribeirão Bonsucesso é um manancial de abastecimento que fornece
água para a população do município, o Córrego Matinha possui captação de água que abastece
um dos maiores bairros do município (Jardim das Oliveiras), o Dois Irmãos é um dos principais
afluentes do Bonsucesso e o Vargem Bonita possui o maior barramento de água do município,
ressalta-se a importância da revitalização das áreas de preservação destes cursos d’água.
A maior concentração da área urbana municipal está situada nas proximidades dos divi-
sores de água de quatro bacias: Vargem Bonita, Juventino, Lajinha e Baixa Bacia do Bonsucesso,
apesar de outras concentrações urbanas que ligam Senador Canedo a Goiânia.
Observa-se quatro grandes feições de plantações de soja: uma em pivô que abrange uma
microbacia de drenagem de afluente do Rio Meia Ponte e mais uma parte da bacia do Tabatinga;
uma nas proximidades de um grande lago artificial na bacia do Vargem Bonita, utilizado para
abastecimento; uma próxima à nascente do Córrego Santo Antônio (bacia que abriga o histó-
rico Morro Santo Antônio, patrimônio cultural e ambiental do município); e uma que abrange
o entorno da APP do Córrego Matinha.
Fora do centro urbano, há áreas com urbanização esparsa, fazendo que haja vazios ocupa-
cionais entre as instalações de infraestrutura urbana, o que pode ocasionar inicialmente o des-
matamento, o aparecimento de pastagens e lavouras e posteriormente a efetiva urbanização.
As maiores porções de áreas verdes naturais estão situadas na região Sul do município,
local em que se encontram solos mais frágeis (cambissolos) e relevo movimentado. Há feições
de vegetação nativa em todas as bacias, mesmo que em geral apresentem áreas pequenas,
estando relacionadas principalmente aos cursos d’água (nascentes e leito dos córregos).
De modo geral, pode-se visualizar neste mapeamento em macro escala que grande parte
dos cursos d’água principais do município não apresentam as áreas de proteção idealizadas
pela legislação federal (30m), mesmo que no Código Municipal de Meio Ambiente (Lei nº
1.587/2011) as distâncias de APPs de cursos d’água e de nascentes sejam maiores do que o
estabelecido em nível federal, conforme segue.
“Art. 203. Considera-se de preservação permanente, para os efeitos desta Lei, as
florestas e demais formas de vegetação situados:
I. Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa
marginal, cuja largura mínima seja de 50,00m (cinquenta metros)
III. Nas áreas circundantes das nascentes permanentes com um raio mínimo de
100,00 (cem metros) metros, e para as nascentes temporárias, com raio mínimo de
50,00m (cinquenta metros)” (SENADOR CANEDO, 2011).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 989

Figura 4 – Mapa de uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas de Senador Canedo-GO em 2020

Fonte: Autoral, 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


990 Ana Caroline de Sousa; Alexandre Alencar; Virgínia Macedo; Nilsmar Marques

Diante disso, é ressaltada a importância do incentivo à revitalização das APPs municipais, da


fiscalização de desmatamentos ilegais e do disciplinamento da ocupação das bacias hidrográficas.
Para detalhamento e identificação dos usos do solo mais proeminentes nas bacias hidro-
gráficas e microbacias de drenagem do município, os percentuais de uso foram analisados gra-
ficamente tomando por base dois grandes grupos: as 19 bacias mais notáveis identificadas e as
16 bacias e microbacias de drenagem com nomes desconhecidos. Cabe citar que os rótulos dos
percentuais menores que 1,0 % foram ocultados nos gráficos para melhor visualização.
No grupo das bacias notáveis (Figura 5), observa-se que em geral os maiores percentuais
são da classe de pastagem, que chega a 73,1% na Bacia do Córrego Capoeira.

Figura 5 – Percentuais de uso e ocupação nas bacias hidrográficas notáveis de Senador Canedo em 2020

Fonte: Autoral, 2021.

As bacias dos Córrego Pari e Lajeado são uma exceção por somarem mais de metade de
sua área com presença de vegetação de Cerrado (florestal e savânica), sendo consideradas as
bacias com maiores percentuais de áreas preservadas do município. Nota-se ainda que estas
são as bacias notáveis com maiores percentuais de savanas (22,7% e 19,3%, respectivamente),
com Cerrado mais característico, seguidas pela bacia do Córrego Olaria/Açude/Odair (13,8%) e
a do Córrego Fundo (12,8%).
Por outro lado, a bacia do Córrego Juventino (afluente do manancial de captação
Bonsucesso) pode ser considerada a de estado mais crítico quanto à preservação ambiental,

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 991

tendo em vista que quase três quartos de sua área total são ocupados por área urbana, com
apenas 9% de vegetação nativa (florestal e savânica) e pouco menos de 1% de áreas úmidas.
Bacias como a do Córrego Vertente se encontram em situação semelhante de escassez
de vegetação nativa, com 6,8% de vegetação florestal e 1,4% savânica, com maior abundância
de pastagens, enquanto as bacias dos Córregos Matinha e Vargem Bonita apresentam pouco
mais de 10% de vegetação natural e maiores percentuais de pastagens, agropecuária e infraes-
trutura urbana.
Como em Senador Canedo, a problemática da urbanização intensiva é verificada em
grande parte dos centros urbanos no Brasil e pode contribuir com a redução do quantitativo de
água, da qualidade hídrica e da qualidade ambiental dos municípios (MESQUITA; SILVESTRE;
STEINKE, 2017), devendo ser aspecto considerado no planejamento municipal.
Cabe ressaltar a relevância das áreas verdes para a gestão municipal, posto existir uma
recomendação de quantitativo de espaço verde por habitante, com uma composição e estru-
tura da vegetação que corresponda às funções desejadas (BERTOLLO et al., 2005).
Passando às pequenas bacias e às microbacias de drenagem (Figura 6), ocorre que em
geral também há grandes percentuais de pastagens e agropecuária, com algumas exceções.

Figura 6 – Percentuais de uso e ocupação nas bacias hidrográficas não identificadas e nas microbacias
de drenagem pluvial de Senador Canedo em 2020

Fonte: Autoral, 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


992 Ana Caroline de Sousa; Alexandre Alencar; Virgínia Macedo; Nilsmar Marques

Podem ser destacadas as bacias do afluente do Ribeirão Sozinha (C) e do Meia Ponte (A),
que possuem o maior percentual de preservação, correspondendo a 74,8% e 62,1% de formação
florestal, respectivamente. Em ambas as bacias observamos que a preservação florestal advém
da localização e histórico, pois a bacia de afluente C do Ribeirão Sozinha está na área denominada
“Zona Rural”, conforme Plano Diretor Municipal, e a bacia de afluente A do Meia Ponte localiza-se
às margens do Rio Meia Ponte, que possui histórico de maior necessidade de preservação.
Em contraponto, temos nas bacias de afluentes e microbacias de drenagem a predomi-
nância de pastos e baixo percentual de vegetação nativa, vejamos a bacia de afluente do
Ribeirão Sozinha (A) com 68,3% de cobertura de pastagens.
Na microbacia de afluente do Lajeado-Capoeirão (drenagem), observa-se 68,3% de uso
para infraestrutura urbana, sendo algo esperado visto que não é uma bacia com presença de
cursos d’água, portanto sem conservação obrigatória.
Quanto a esse aspecto, Feltran-Barbieri et al. (2018) verificaram em uma região do
Cerrado goiano que as principais motivações dos donos de terras para a proteção da vegetação
nativa nas propriedades eram a aplicação do Código Florestal e o desuso de terras impróprias
para uso agrícola, o que pode remeter ao cenário de Senador Canedo, em que as principais
áreas verdes remanescentes são algumas APPs e a região sul do município, com solo frágil.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as bacias hidrográficas como unidades básicas de planejamento, gestão e
disciplinamento das realidades ambientais e como base para os projetos de ampla importância
no contexto municipal, este trabalho alcançou o objetivo de analisar o estado recente do uso e
ocupação do solo nas bacias hidrográficas de Senador Canedo.
As maiores bacias hidrográficas municipais são a Alta Bacia do Ribeirão Bonsucesso e dos
córregos Matinha, Vargem Bonita e Dois Irmãos, sendo que estes quatro cursos d’água pos-
suem especial necessidade de preservação, principalmente devido a funções como o abasteci-
mento público, reservação e recarga hídrica. Já as menores bacias são as dos afluentes do Rio
Meia Ponte, Ribeirão Sozinha e Córrego Lajeado-Capoeirão, e as pequenas microbacias.
Foi verificado que há grandes percentuais de pastagens nas bacias hidrográficas do muni-
cípio, chegando a 73,1% na bacia do Córrego Capoeira. As bacias com maior necessidade de
recuperação e monitoramento das áreas protegidas são: a) a bacia do Córrego Juventino, com
quase 75% de área urbana e menos de 10% de vegetação nativa e áreas úmidas; b) a bacia do
Córrego Vertente, com maior abundância de pastagens e cerca de 8,2% de Cerrado; c) e as
bacias do Córrego Matinha e Vargem bonita, com pouco mais de 10% de vegetação natural.
As feições de vegetação nativa estão presentes em todas as bacias do município, mas em
geral possuem áreas pequenas e relacionadas principalmente às APPs de cursos d’água, seja de
nascentes ou ciliares. As bacias consideradas mais preservadas, com maior potencial de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 993

implementação de Unidades de Conservação maiores, são as do Córrego Pari e Córrego


Lajeado, com mais da metade de sua área com vegetação de Cerrado (florestal ou savânica).
Portanto, este trabalho evidenciou a necessidade de contínuo disciplinamento do uso e
ocupação do solo em Senador Canedo, ressaltando a importância das seguintes ações: a) ava-
liar as efetivas ocupações feitas nas principais bacias do município; b) avaliar os impactos da
ocupação urbana sobre os processos hidrológicos e as cargas de poluição; c) enfocar nos con-
tínuos monitoramentos com fiscalização das áreas mais vulneráveis às degradações; d) enfocar
no efetivo processo de licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades potencial-
mente poluidores e utilizadores de recursos naturais no município; e) e incentivar a preserva-
ção das áreas protegidas, bem como das áreas de recarga dos principais mananciais de
abastecimento de água do município, permitindo o acesso aos recursos naturais em quanti-
dade e qualidade adequadas às demandas atuais e futuras da população e dos ecossistemas.

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


85.
DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO
JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019

PATRÍCIA ZIANI1
ELIANE MARIA FOLETO2

Resumo: Toda e qualquer paisagem por si só detém uma dinâmica própria e a partir dos elemen-
tos que a compõem se modifica com o passar do tempo. A presença humana tende a alterar e ace-
lerar essas transformações, desestabilizando, muitas vezes, o sistema que essa paisagem está
inserida. Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo analisar a dinâmica da paisagem da
Unidade de Planejamento e Gestão (UPG) Nascente do Jacuí/RS, avaliando a configuração da
estrutura da paisagem com base na análise do uso e cobertura do solo de 1985 e 2019 e suas rela-
ções com as mudanças da paisagem. Para tanto, realizou-se: levantamento bibliográfico, referente
tanto ao tema trabalhado quanto à área de estudo; trabalhos de campo; elaboração de mapas
temáticos; e análise e discussão dos dados gerados. Os resultados revelam intensa dinâmica de
cobertura e uso da terra ocorrida ao longo de 34 anos (1985-2019) na UPG Nascente do Jacuí,
apresentando mudança estrutural profunda na paisagem, vinculada principalmente: ao avanço da
monocultura da soja, que se tornou a matriz dominante dessa paisagem, comprometendo a diver-
sidade da paisagem; a diminuição da formação florestal, atrelado ao estreitamente e isolamentos
desses fragmentos florestais; ao aumento da formação plantada, associada a plantação de espé-
cies exóticas; e a diminuição das áreas de formação campestre, pastagem e mosaico de agricultura
e pastagem. Tais alterações configuram uma drástica alteração do metabolismo ecológico desta
paisagem, alertando para a necessidade de pesquisas mais aprofundadas para debater e elucidar
tais questões, buscando compreender as implicações dessa dinâmica da paisagem.
Palavras-chave: Uso e cobertura do solo; Recursos Hídricos; Bacia Hidrográfica; Áreas de
Preservação Permanente.
Abstract Any and all landscape by itself has its own dynamics and, according to the elements that
compose it, it changes over time. Human presence tends to alter and accelerate these transforma-
tions, often destabilizing the system in which this landscape is inserted. In this sense, this research
aims to analyze the landscape dynamics of the Planning and Management Unit (PMU) Nascente do
Jacuí/RS, evaluating the configuration of the landscape structure based on the analysis of land use

1 Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: pathyziani@gmail.com


2 Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: efoleto@gmail.com

[ 994 ]
DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 995

and cover in 1985 and 2019 and their relation to changes in the landscape. For this purpose, it was
carried out: bibliographic survey, referring both to the subject of this work and the area of study;
field work; elaboration of thematic maps; and analysis and discussion of the generated data.
Results revealed intense dynamics of land use and cover that took place over 34 years (1985-2019)
at PMU Nascente do Jacuí, presenting a profound structural change in the landscape, mainly linked
to: the advance of soybean monoculture, which became the dominant matrix of this landscape,
compromising its diversity; the decrease in forest formation, tied to the narrowing and isolation of
these forest fragments; the increase in planted formation, associated with the plantation of exotic
species; and the decrease in areas of grassland formation, pasture and agriculture and pasture
mosaic. Such changes configure a drastic alteration in the ecological metabolism of this landscape,
alerting to the need for further research to debate and elucidate such issues in order to under-
stand the implications of this landscape dynamics.
Keywords: Land use and coverage; water resources; watershed; Permanent Preservation Areas.

1 INTRODUÇÃO
Toda e qualquer paisagem por si só já detém uma dinâmica própria e a partir dos elemen-
tos que a compõem se modifica com o passar do tempo. A presença humana tende a alterar e
acelerar essas transformações, desestabilizando, muitas vezes, o sistema que essa paisagem
está inserida.
O nosso histórico ocupacional enquanto sociedade demonstra que a partir do momento
em que há um rompimento e um distanciamento expressivo da relação estabelecida entre
sociedade e natureza, há uma demanda cada vez mais intensa dos recursos naturais, em que a
sociedade que se beneficia desses processos de exploração da natureza, mas também sofre
mediante a exploração excessiva ou que não são bem manejadas. Esse histórico demonstra
que mediante explorações excessivas a sociedade responde, em curto e longo prazo, com
diversas problemáticas ambientais vinculadas ao comprometimento da capacidade de carga e
do próprio processo exploratório da natureza, que ocasionam diversos impactos ambientais e
prejuízos ao meio ambiente, desenvolvimento social e econômico.
O desafio é que essas intervenções não gerem desestabilizações do sistema funcional e
estrutural da paisagem, verificando o nível de interferência que cada uma pode ter de apro-
priação dos recursos naturais sem que ela se transforme num ambiente degradado.
Tais questões são objeto de constantes discussões na Ciência Geográfica, sendo ampa-
rada pela Geoecologia das Paisagens, que auxilia na compreensão e caracterização das paisa-
gens, por meio do embasamento teórico e metodológico. O viés geoecológico privilegia a
análise integrada da paisagem para a gestão do território, uma vez que aborda questões de
macroescala, tanto espaciais quanto temporais e, auxilia no planejamento de forma articulada
e integrada numa perspectiva social e econômica que promova o uso sustentável dos recursos
naturais (RODRIGUES; SILVA E CAVALCANTI, 2013).
Somado a isso, tem-se a ampla utilização das geotecnologias e dos Sistemas de
Informações Geográficas (SIGs), que viabilizam o cruzamento de dados e a construções de
modelos de análise da paisagem em diferentes escalas temporais e espaciais, bem como a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


996 Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

quantificação dos elementos que compõem a estrutura da paisagem por meio do uso de métri-
cas da paisagem, contribuindo substancialmente para a análise e interpretação do território e
das paisagens.
Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo analisar a dinâmica da paisagem da
Unidade de Planejamento e Gestão (UPG) Nascente do Jacuí/RS, integrante da bacia hidrográ-
fica do Alto Jacuí, avaliando a configuração da estrutura da paisagem com base na análise do
uso e cobertura do solo de 1985 e 2019 e suas relações com as mudanças da paisagem.
Entre as razões que justificam a escolha da área de estudo está o fato de que essa envolve
o alto curso do rio Jacuí, que é o principal rio de domínio do Estado do RS, sendo alvo de cons-
tantes dinâmicas na paisagem e contemplada para o desenvolvimento de estudos do projeto
Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD), edital CAPES 071/2013, do qual as
autoras fizeram parte e desenvolvem pesquisas.
Outro aspecto que corrobora para a utilização deste recorte espacial de análise é o fato
de que as bacias hidrográficas possibilitam uma visão integradora da paisagem. A utilização
dessas áreas como unidade de gestão ambiental tem sido utilizada, cada vez mais, por diversas
instituições governamentais, exigindo assim uma abordagem mais abrangente em estudos, nos
quais a complexidade e a análise sistêmica surgem, como necessidades epistemológicas no
momento de estruturar as bacias hidrográficas (RODRIGUEZ e SILVA, 2013).
Christofoletti (1981) coloca que a bacia hidrográfica se constitui como “uma área dre-
nada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, funcionando como um sistema aberto,
em que ocorre a entrada e saída de energia e matéria”. A Geoecologia das Paisagens fornece
subsídios fundamentais para o desenvolvimento de trabalhos relacionados com a dinâmica dos
sistemas naturais, como é o caso dos estudos de bacias hidrográficas, uma vez que é necessário
pensar a bacia hidrográfica como um sistema ambiental complexo que deve ser analisado por
uma concepção que articule e integre os momentos fundamentais de sua formação e organi-
zação (RODRÍGUEZ, SILVA e LEAL, 2011).
Deste modo, acredita-se que a bacia hidrográfica é o recorte espacial de análise mais
apropriado para atender os objetivos deste trabalho, pois compreender as bacias hidrográficas
dentro da perspectiva sistêmica de integração entre cada um dos componentes da paisagem
bem como a sua dinâmica da paisagem, que é resultantes do processo dialético e contínuo na
relação sociedade-natureza, é fundamental para o planejamento racional desta paisagem
tanto para minimizar os impactos atuais bem como antecipar futuros em áreas que ainda não
estão sujeitas a processos de ocupação.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 997

2 METODOLOGIA

2.1 Área de pesquisa


A UPG Nascente do Jacuí está situada na região norte do Estado do Rio Grande do Sul
(RS), possui com uma área estimada em 1.838,76km² e compreende a uma das cinco UPGs da
bacia hidrográfica do Alto Jacuí, que pertence a região hidrográfica do Guaíba, envolvendo o
principal rio de domínio do Estado do RS, o Rio Jacuí (Figura 1).

Figura 1 – Localização da UPG Nascente do Jacuí

Fonte: Autoral.

Localizada na região do Planaltos e Chapadas da Bacia sedimentar do Paraná (ROSS,


2011), a área de estudo apresenta uma amplitude altimétrica de aproximadamente 500m, com
as maiores altitudes localizadas nas regiões norte e sudeste. Tal condição associada as caracte-
rísticas geológicas, geomorfológicas e o clima subtropical úmido com variação longitudinal
com precipitações de 1700 – 1800 mm ao ano (ROSSATO, 2011), proporcionam densa rede de
drenagem e grande potencial hidrelétrico aos rios da área de estudo.
Como limites a UPG Nascente do Jacuí tem a sub-bacia do rio Jacuí das nascentes até a
Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Cotovelo do Jacuí, incluindo a Usina Hidrelétrica (UHE)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


998 Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Ernestina, tendo como principais cursos d’água os arroios Espraiado, Porongos, Estivinha, o
arroio Grande e o arroio Pinheiro Torto.
Quanto aos aspectos de vegetação, a UPG Nascente do Jacuí é composta, principalmente,
por Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária) e Floresta Estacional Decidual (Floresta
Tropical Caducifólia), típicas do Bioma Mata Atlântica, e campos abertos com Estepe com
matas de galeria, indicando a transição para o Bioma Pampa, já em menor extensão. Sobre a
Mata Atlântica, cabe salientar que é um dos biomas que mais sofrem supressão dos fragmen-
tos de vegetação no Brasil, desde a sua colonização, sendo categorizado como um hotspots.
Pertencem, parcialmente, a área de estudo os municípios de Passo Fundo, Mato
Castelhano, Ernestina, Marau, Ibirapuitã, Soledade, Mormaço, Victor Graeff e totalmente os
municípios de Nicolau Vergueiro e Tio Hugo. A maioria desses municípios são pequenos, com
menos de 5.000 habitantes, já, entre os municípios com maior população estão Passo Fundo
com 184.826 habitantes, Marau 36.364 e Soledade com 30.044 (IBGE, 2020).
No que tange à questão econômica, destaca-se, com base no PIB de 2017, que metade
dos municípios da área de estudo destinam-se ao setor econômico agropecuário e a outra
metade a prestação de serviços, que está diretamente vinculada a prestação de serviços de
fomento ao desenvolvimento da agricultura, sediando diversas empresas nacionais e interna-
cionais de suporte agrícola (IBGE, 2020). Diante desse panorama econômico pode-se afirmar
que a bacia hidrográfica do Alto Jacuí é uma área eminentemente agrícola.

2.2 Procedimentos metodológicos


A presente pesquisa esteve baseada no levantamento bibliográfico, referente tanto ao
tema trabalhado quanto à área de estudo, na realização de trabalhos de campo, na elaboração
de mapas temáticos e na análise e discussão dos dados gerados.
No levantamento bibliográfico buscou-se contemplar diversas fontes como, por exem-
plo, livros, dissertações, teses, revistas e artigos de periódicos acadêmicos, envolvendo tanto
temas relacionados à área de estudo quanto à temática de recursos hídricos, áreas protegidas
e demais legislações ambientais pertinentes.
Os trabalhos de campo foram de suma importância para melhor compreensão das carac-
terísticas e condições ambientais da área de estudo, além de validar os produtos cartográficos.
A realização dos trabalhos de campo vem ocorrendo nos últimos 6 anos, em diferentes perío-
dos e focos de análise, no âmbito geográfico, em parceria com os demais colegas e pesquisa-
dores do PROCAD, edital CAPES 071/2013. Nestas atividades, pode-se observar a constante
transformação da paisagem e apropriação dos recursos naturais vinculada a dinâmica do uso e
cobertura do solo na área de estudo.
Para a elaboração dos mapas temáticos utilizou-se o software ArcGIS 10.1(ESRI). O mapa
de localização da UPG Nascente do Jacuí teve como base cartográfica: as malhas territoriais

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 999

dos limites dos estados brasileiros e países da América Latina, disponíveis no Portal de Mapas
do IBGE, e a base cartográfica vetorial contínua do RS, na escala 1:50.000, disponibiliza pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), detendo os cursos d’água. O recorte espa-
cial da área de estudo foi obtido a partir do georreferenciado de uma imagem do Relatório sín-
tese de elaboração de serviço de consultoria relativo ao processo de planejamento dos usos da
água na Bacia Hidrográfica do Alto Jacuí – Etapas A e B, que contém os limites das UPGs. Já, a
localização da UHE de Ernestina e da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Cotovelo do Jacuí
esteve pautada as coordenadas geográficas disponibilizadas no Banco de Informações de
Geração (BIG) da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Tais bases cartográficas servi-
ram de suporte para a realização dos demais mapas.
Os mapas de uso e cobertura do solo na UPG Nascente do Jacuí de 1985 e 2019 foram
elaborados a partir da base de dados do MapBiomas – Coleção 5.0, que apresenta dados gra-
tuitos e de qualidade do uso e cobertura do solo de todo o Brasil, contendo 11 classes. Tais
dados foram obtidos no Google Earth Engine, que permite recortes territoriais e temporais
específicos, em formato raster (resolução de 30 metros, com escala 1:250.000), os quais foram
processados e gerados shapefiles.
A partir desses dados e buscando salientar os tipos de uso e cobertura do solo nas APPs
da área de estudo, utilizou-se a ferramenta “buffer” para de delimitação das APPs de curso
d’água, levando em consideração a legislação do Código Florestal Brasileiro vigente. Deste
modo, para as nascentes dos cursos d’água estabeleceu-se um “buffer” de 50m, para os cursos
d’água de menos 10m de largura criou-se um “buffer” de 30m, já para os cursos d’água de 10m
a 50m de largura definiu-se 50m de “buffer” e para o entorno do reservatório da UHE de
Ernestina estabeleceu-se um “buffer” de 100m. Por meio da ferramenta “merge” realizou-se a
junção desses arquivos vetoriais em um só, e em seguido utilizou-se o comando “dissolve” para
não haver sobreposição.
De posse destes dados, na tabela de atributos, por meio da ferramenta Calculate
Geometry calculou-se, em quilômetros quadrados (km²), a área de cada tipo de uso e cober-
tura do solo tanto referente a toda área de estudo quanto nas APPs, servindo de base para a
elaboração das tabelas 1 e 2. Por fim, realizou-se a análise e discussão dos dados gerados, per-
mitindo apresentar alguns apontamentos e considerações sobre os mesmos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os mapeamentos de cobertura de uso e cobertura do solo de 1985 e 2019 da UPG
Nascente do Jacuí, apresentados na figura 2 e sumarizados na tabela 1, revelam intensa dinâ-
mica, apresentando mudança estrutural profunda na paisagem, pautada no avanço da mono-
cultura da soja, por toda a área de estudo, tornando-se a matriz predominante desse território,
comprometendo a diversidade da paisagem.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1000 Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Figura 2 – Uso e Cobertura do Solo na UPG Nascente do Jacuí

Fonte: Autoral.

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DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 1001

Tabela 1 – Quantificação dos tipos de uso e cobertura do solo na UPG Nascente do Jacuí.

Classe 1985 2019


Área (km²) % Área (km²) %
Formação Florestal 391,47 21,29 326,56 17,76
Formação Plantada 0,99 0,05 8,53 0,46
Área Úmida Natural não Florestal 0,00 0,00 0,01 0,00
Formação Campestre 41,39 2,25 11,81 0,64
Pastagem 212,24 11,54 67,71 3,68
Mosaico de Agricultura ou Pastagem 272,84 14,84 128,38 6,98
Infraestrutura Urbana 9,35 0,51 29,59 1,61
Outra área não Vegetada 4,46 0,24 3,21 0,17
Rio, Lago e Oceano 38,55 2,10 40,34 2,19
Agricultura (soja) 0,00 0,00 1050,85 57,15
Agricultura (além de soja) 867,21 47,17 171,79 9,34
Total 1838,49 100,00 1838,76 100,00
Fonte: Autoral.

O aumento expressivo das áreas de agricultura de soja ocorreu em detrimento a incorpo-


ração das demais áreas de agricultura, pastagem e formação campestre, que apresentam notó-
ria supressão. Logo as funções ecológicas serão diferentes e desempenharam funções distintas
na configuração da estrutura da paisagem.
No ano de 1985 já se percebia a hegemonia agrícola na paisagem da área de estudo, no
entanto elas eram destinadas a produção de diversos cultivos como milho, trigo e arroz, sem a
presença da soja. Em 2019, essas áreas agrícolas destinadas para outros cultivos além de soja
se reduzem de 867,21 km², que representava quase metade da área de estudo (47,17%), para
171,79km², que equivale a 9,34%. Essas mudanças foram impulsionadas pelo contexto socioe-
conômico do final década de 80, em que a mecanização da agricultura e a revolução verde
vivida no Brasil naquele período, promovendo mudança significativa na configuração da estru-
tura da paisagem, por meio da introdução e incentivo do cultivo da soja.
O modelo de desenvolvimento vigente cria uma paisagem de potência econômica e, ao
mesmo tempo, cria uma paisagem mais homogenia, que acompanha taxas de desmatamento
e fragmentação.
Outro aspecto importante a ser destacado, diz respeito as áreas de pastagens, que antes
eram predominantes na região sudeste da área de estudo, regrediram significava de 212,21
km² para 67,71 km². Seguindo lógica semelhante, pôde-se observar redução das áreas de
mosaico de agricultura ou pastagem de 272,84 km² em 1985 para 128,38 km² em 2019, e o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1002 Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

declínio das áreas de formação campestre, que apresentaram redução de 29,58 km² dentro da
série histórica analisada. Esse padrão de alteração indica que o conflito pelo uso dos recursos
hídricos tende a aumentar, visto que aumenta a necessidade de retiradas de água para irriga-
ção, visto que aumenta a área irrigada.
De modo inverso, as áreas de infraestrutura urbana, apesar de não serem tão expressivas
na matriz paisagística, tiveram um aumento de 20,24 km², visto que em 1985 ocupavam ape-
nas 9,35km². Esse incremento está relacionado ao aumento do número de habitantes dos
municípios que integram a área de estudo, avançando sobretudo na região norte da área de
estudo no município de Passo Fundo, onde concentra-se a maior parte da população que reside
na UPG Nascente do Jacuí. Esse processo de mudança na paisagem subentende o aumento da
impermeabilização do solo nessas áreas e o aumento do esgotamento sanitário.
As áreas úmidas naturais não florestal, que em 1985 não foram identificadas, em 2019
envolvem 0,01 km², estando associada a área de banhado na região norte próximo as áreas de
nascente, exercendo funções ecológicas importantes na paisagem como na contribuição da
recarga de aquíferos e regulação do nível freático.
Os remanescentes de formação florestal tiveram diminuição de 391,47 km² para 326,56
km², atrelado ao estreitamente e isolamentos desses fragmentos florestais. Somado a isso,
verifica-se o aumento da floresta plantada de 0,99 km² em 1985 para 8,53km² em 2019. Apesar
de não ser tão expressiva, em termos de extensão, na configuração da paisagem, essa classe
tem ressalvas, pois durante os trabalhos de campo, verificou-se que esse aumento não está
associados a regeneração natural do Bioma Mata Atlântica, mas, a expansão de áreas de silvi-
cultura, com plantação de espécies exóticas, como de eucaliptos, destinadas tanto para a utili-
zação nas propriedades rurais, quanto para como para a comercialização.
Nos trabalhos de campo, ficou evidente que as formações florestais permanecem onde
não foi possível a incorporação de máquinas agrícolas e distribuem-se preferencial ao longo ou
próximo a cursos d’água e áreas declivosas, ou seja, as e nas APPs, que apesar de serem legal-
mente protegidas ainda assim não são totalmente respeitadas.
Quanto a dinâmica dos cursos d’água representados pela classe rio, lago e oceano, obser-
va-se que houve um incremento de 38,55 km² em 1985 para 40,34% para o ano de 2019, que
está vinculado principalmente ao alargamento de alguns cursos d´água e aumento ao espelho
d’água do reservatório da UHE Ernestina. Dada a relevância hídrica como elemento estrutura-
dor da paisagem da UPG Nascente do Jacuí, alerta-se que esse aumento pode estar associado
ao manejo inadequado de uso do solo, que acarreta no assoreamento destes corpos hídricos,
podendo gerar impactos negativos como: aumento a perda de água por evaporação e compro-
metimento da geração de energia elétrica.
Essa situação alerta para o comprometimento da disponibilidade e qualidade dos recur-
sos hídricos da área de estudo em especial do reservatório da UHE de Ernestina, que é a pri-
meira UHE de uma série de aproveitamentos hidrelétricos, de efeito cascata, no rio Jacuí, fazem

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 1003

parte do denominado sistema Jacuí de aproveitamentos hidrelétricos. Esse reservatório desem-


penha não só a função de produzir energia elétrica, mas também de assegurar a vazão do
mesmo em períodos extremos, seja de precipitação controlando as cheias, seja de seca man-
tendo o fluxo e a regularização para os aproveitamentos à jusante dessa barragem.
Frente a esse processo e dada a relevância que essas áreas tem na prestação de serviços
ecossistêmico, vinculadas principalmente aos corpos hídricos, tomou-se como fundamental,
nesta pesquisa, a análise do conflito de uso e cobertura do solo nas APPs de canais de drena-
gem, nascentes e do entorno do reservatório da UHE de Ernestina da área de estudo (Figura 3,
sumarizada na tabela 2).

Figura 3 – Uso e Cobertura do Solo na UPG Nascente do Jacuí

Fonte: Autoral.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1004 Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

Tabela 2 – Conflito de uso e cobertura do solo nas APPs da UPG Nascente do Jacuí

1985 2019
Classe
Área (km²) % Área (km²) %
Formação Florestal 31,48 32,97 29,43 30,82
Formação Plantada 0,01 0,02 0,47 0,49
Área Úmida Natural não Florestal 0,00 0,00 0,00 0,00
Formação Campestre 1,76 1,85 0,56 0,58
Pastagem 8,19 8,57 3,30 3,45
Mosaico de Agricultura ou Pastagem 21,07 22,06 11,60 12,15
Infraestrutura Urbana 0,03 0,03 0,54 0,57
Outra área não Vegetada 0,20 0,21 0,24 0,26
Rio, Lago e Oceano 1,53 1,60 2,18 2,28
Agricultura (soja) 0,00 0,00 35,60 37,28
Agricultura (além de soja) 31,21 32,69 11,58 12,12
Total 95,49 100,00 95,49 100,00
Fonte: Autoral.

Conforme os dados expostos acima, em ambos os períodos, constatou-se áreas destina-


das as APPs não são respeitadas, sendo destinadas basicamente para fins agrícolas, compro-
metendo substancialmente as funções ecológicas desta paisagem.
Esses resultados pressupõe a ocorrência de maior aporte de sedimentos para os cursos
de água, gerando o seu assoreamento, entalhamento e a diminuição da profundidade dos cur-
sos d’água e reservatórios, bem como a utilização excessivas de agrotóxicos, pesticidas e fun-
gicidas, que se não manejados e utilizados de maneira correta podem acabar comprometendo
quali-quantitativamente as águas.
Outra constatação foi que em vez de aumentar a área de formação florestal nas APPs,
em 2019 essas áreas diminuíram, agravando e comprometendo ainda mais a prestação dos
serviços ambientais prestados por essas áreas. Tais resultados indicam que não houve avanço
na conservação das APPs, alertando para a necessidade do cumprimento da legislação ambien-
tal vigente e da articulação entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão do uso e cobertura
do solo, visando evitar o comprometimento dos corpos hídricos e seus usos múltiplos.
Posto isso, reforça-se a atenção que deve ser dada para os desdobramentos desse
modelo de ocupação e dinâmica adotado pela área de estudo, visto que podem comprometer
o meio ambiente e o território como um todo, promovendo a perda da biodiversidade e
podendo inclusive estar associadas ao risco de pagão, que, atualmente, é um risco eminente
frente a crise hídrica que o Brasil se encontra.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 1005

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dinâmica de cobertura e uso da terra ocorrida ao longo de 34 anos (1985-201) na UPG
Nascente do Jacuí indica que houve uma mudança estrutural profunda nesta paisagem, vincu-
ladas principalmente ao avanço da monocultura do cultivo de soja, que se tornou a matriz
dominante dessa paisagem, comprometendo a diversidade da paisagem. Somado a isso houve
substancial redução da formação florestal, atrelado ao estreitamente e isolamentos desses
fragmentos florestais, o aumento da formação plantada associada a plantação de espécies
exóticas, e a diminuição das áreas de formação campestre, pastagem e mosaico de agricultura
e pastagem.
Tais alterações configuram uma drástica alteração do metabolismo ecológico desta pai-
sagem, principalmente associada a demanda dos recursos hídricos. Frente a esse processo, e a
relevância dos recursos hídricos no ordenamento e configuração deste território, alerta-se
para a necessidade pesquisas mais aprofundadas no intuito de debater e elucidar tais ques-
tões, a fim de compreender as implicações dessa dinâmica da paisagem, e corroborar para um
planejamento racional eficiente e uso mais sustentável desta paisagem.

5 AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio do Programa Nacional de Cooperação
Acadêmica (PROCAD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES/Brasil – Edital CAPES 071/2013 – Processo número 88881.068465/2014-01. Agradecemos
a CAPES pela concessão de bolsa de estudo.

6 REFERÊNCIAS
ANEEL. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Banco de Informações de Geração. 2018. Disponível em:
<www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/energiaassegurada.asp>. Acesso em 23 nov. 2018.
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HASENACK, H.; WEBER, E. (org.) Base cartográfica vetorial contínua do Rio Grande do Sul – escala 1:50.000.
Porto Alegre: UFRGS Centro de Ecologia. 2010. 1 DVD-ROM. (Série Geoprocessamento n.3). ISBN 978-85-
63483-00-5 (livreto) e ISBN 978-85-63843-01-2 (DVD).
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RODRÍGUEZ, J. M. M., SILVA, E. V., CAVALCANTI, A. P. B. Geoecologia das paisagens: Uma visão geossistêmica da
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RODRÍGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. da. Planejamento e Gestão Ambiental: Subsídios da Geoecologia das Paisagens e
da Teoria Geossistêmica. Fortaleza: Edições UFC, 2013.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1006 Patrícia Ziani; Eliane Maria Foleto

ROSSATO. M. S. Os climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia. 2011. 253 f. Tese (Doutorado
em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
SEMA RS. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE E INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Relatório
síntese de elaboração de serviço de consultoria relativo ao processo de planejamento dos usos da água na Bacia
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Landsat Archive and Earth Engine – Remote Sensing, Volume 12, Issue 17, 10.3390/rs12172735. 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


86.
GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO
Exemplos no Brasil e em Portugal

LÚCIO SOBRAL DA CUNHA1


CLÁUDIO ANTÔNIO DI MAURO2
JORGE MANUEL BATISTA ROQUE FAEL3

Resumo: A presente pesquisa trata a experiência em Saneamento Básico vivida no Município de


Rio Claro, Estado de São Paulo, Brasil e estabelece algumas relações com o movimento Água de
Todos que se desenvolve em Portugal, bem como com a experiência realizada na Região Central
de Portugal por via da Empresa Águas de Coimbra. Verifica-se que no Município de Rio Claro
houve um esforço para manter todo o serviço de saneamento básico no âmbito do ente estatal
Município por intermédio do Departamento de Águas e Esgotos – DAAE, oferecendo água potável
e de boa qualidade para praticamente 100% da população urbana. O procedimento na municipa-
lidade de Coimbra em Portugal a administração e gestão dos serviços são realizados pela Empresa
Pública Águas de Coimbra. O Conselheiro da Empresa ouvido em entrevista pessoal considera que
a ideia de que o Estado é mal gestor não se sustenta, na experiência de Coimbra na qual os traba-
lhadores são funcionários públicos. Há o entendimento de que o setor de saneamento básico não
deve ser destinado a concorrências com visão privada. Em Portugal houve um conjunto de priva-
tizações destes tipos de serviços. Constituiu-se um movimento denominado Água de Todos para
reverter os casos em que os serviços municipais foram privatizados e impedir que novas privatiza-
ções sejam realizadas. Entidades sindicais a exemplo do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da
Administração Local – STAL reconhecendo que seus sindicalizados têm interesses de cidadania
afetados por essas privatizações, passaram a apoiar esse movimento que ampliou sua atuação
pelo País. Muitas situações foram revertidas com a “remunicipalização” dos serviços, como foi o
caso da municipalidade de Mafra.
Palavras-chave: Saneamento Básico; Água de Todos; Privatização da Água; Água Pública.
Resumen: Esta investigación aborda la experiência em Saneamiento Básico vivida em el Município
de Rio Claro9, Estado de São Paulo, Brasil y estabelece algunas relaciones com el movimento Água
de Todos que desarolla em Portugal, así como com la experiência realizada em la Región Central
de Portugal a través de la Compañia Águas de Coimbra. Parece que em el Municipio de Rio Claro

1 Universidade de Coimbra, Portugal. E-mail: luciogeo@ci.uc.pt


2 Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: claudiodimauro@ufu.br
3 Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local. E-mail: jorgefael@stal.pt

[ 1007 ]
1008 Lúcio Sobral da Cunha; Cláudio Antônio Di Mauro; Jorge Manuel Batista Roque Fael

se hizo um esfuerzo por mantener todo el servicio de saneamento básico em el ámbito de la enti-
dade municipalidade estatal a través del Departamento de Água e Alcantarillo – DAAE, oferecendo
agua potável de buena calidad e prácticamente el 100% de la población urbano. El trámite em el
município de Coimbra em Portugal, la administración y gestión de los servicios la realiza la Empresa
Pública Águas de Coimbra. El Consejero da Empresa escuchado em entrevista personal, considera
que la idea de que el Estado está mal administrado no se sustenta em la experiência da Coimbra
em la que los trabajadores son funcionários. Se entende que el sector de saneamento básico no
debe estar destinado a competir com uma visión privada. En Portugal hubo una serie de privatiza-
ciones de este tipo de servicios. Se creó un movimiento denominado Água de Todos para revertir
los casos en que se privatizaron los servicios municipales y evitar que se llevaran a cabo más pri-
vatizaciones. Entidades sindicales, como el Sindicato Nacional de Trabajadores de la Administración
Local – STAL, reconociendo que sus sindicalistas tienen intereses de ciudadanía afectados por
estas privatizaciones, comenzaron a apoyar este movimiento que expandió sus operaciones por
todo el país. Muchas situaciones se revirtieron con la “remunicipalización” de servicios, como fue
el caso del municipio de Mafra.
Palavras clabe: Saneamiento Básico; Agua de todos; Privatización del agua: Agua Pública.

1 INTRODUÇÃO E METODOLOGIA DA PESQUISA


Neste texto é tratada a experiência em Saneamento Básico vivida no Município de Rio
Claro, Estado de São Paulo, Brasil e estabelece algumas relações com o movimento Água de
Todos que se desenvolve em Portugal, bem como com a experiência realizada na Região Central
de Portugal por via da Empresa Águas de Coimbra.
A abordagem é especialmente dedicada a compreender se são necessárias as privatiza-
ções ou concessões dos serviços de água e esgoto, que no caso brasileiro, com base na
Constituição Federal devem ser desenvolvidos pelos Municípios. O mesmo se dá em Portugal,
em relação aos Conselhos.
Em Rio Claro, Estado de São Paulo a experiência foi coletada a partir das gestões na
Prefeitura Municipal durante os anos de 1997 até 2004 onde um dos autores exerceu o cargo
de Prefeito Municipal, com a responsabilidade direta sobre a Autarquia Departamento de
Águas e Esgotos (DAAE).
As atividades foram completadas com as visitas ao Sindicato dos Trabalhadores das
Autarquias Locais (STAL) em Lisboa e à Empresa Águas de Coimbra, na municipalidade de
Coimbra com presenças destes autores. Em tais visitas foram entrevistados os dirigentes do
Sindicato e da Empresa referidos.
Torna-se indispensável que seja compreendido o Princípio da Subsidiariedade a partir da
afirmação de MONTORO (2002, p 59): “[...] tudo aquilo que pode ser feito pelos Municípios não
deve ser feito pelos Estados, bem como, tudo aquilo que pode ser feito pelos Estados não deve
ser feito pela União.”
Esse princípio reafirma e quando praticado fortalece o federalismo, com o devido res-
peito entre os entes federados, preservando suas identidades e atuação de maneira harmô-
nica. Os Municípios no caso brasileiro e os Conselhos no caso português são os titulares e

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO 1009

responsáveis pelo saneamento básico em seu âmbito e território devendo desenvolver compe-
tência técnica e financeira, configurando-se como gestores e agentes do saneamento básico.
Não deve haver respaldo para os costumeiros argumentos usados de que a iniciativa pri-
vada faz melhor e é mais competente do que o setor público. Como reconheceu ALVES (2008,
p 09): “[...] o problema, contudo, é impedir sejam tais mecanismos tornados reféns das forças
econômicas. Isso normalmente ocorre pelo predomínio do neoliberalismo nos dias de hoje.”
A visão de que tudo o que está nas mãos da iniciativa privada é melhor do que no serviço
público tem um caráter tendencioso e ideológico. Há excelentes exemplos de eficiência e efi-
cácia nos serviços públicos, bem como há exemplos bons (?) e ruins de empresas privadas. O
fato de ser pública ou privada não oferece garantias de que os serviços e bens serão destinados
aos interesses públicos.
É evidente que existem governos comprometidos com interesses que não são públicos,
sendo suas ações, muitas vezes, realizadas para atender aspirações pessoais ou de grupos pri-
vados. É comum a degradação dos serviços e equipamentos públicos do saneamento básico,
como estratégia para que se criem as condições e demandas da privatização. Essas práticas são
usuais em casos brasileiros. Há mesmo denúncias de corrupção praticadas por governos e
empresas privadas que assumiram serviços e equipamentos públicos.

2 A EXPERIÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO DO DEPARTAMENTO


AUTÔNOMO DE ÁGUA E ESGOTOS (DAAE) EM RIO CLARO, SÃO
PAULO, BRASIL
A experiência realizada no Município de Rio Claro (SP), quando o saneamento básico era
praticado diretamente pelo Município através da autarquia denominada Departamento
Autônomo de Água e Esgoto (DAAE) apresentava números bastante recomendáveis. É uma
demonstração de que os agentes públicos podem exercer suas funções com qualidade, eficiên-
cia e eficácia.

2.1 A Redução de Perdas no Sistema


Todo o sistema de abastecimento de água da cidade de Rio Claro, bem como o afasta-
mento e tratamento dos esgotos, até 2004 era realizado pelo (Departamento de Águas e
Esgotos) DAAE – autarquia municipal criada pela lei nº 1.144 de 05 de dezembro de 1969.
No ano de 1999, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo
(FEHIDRO)24 financiou a implantação de projetos piloto de controle de perdas, em cinco muni-
cípios da região, sendo Rio Claro um dos escolhidos. O trabalho contou com apoio e acompa-
nhamento do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
O programa piloto foi realizado em um bairro de Rio Claro, estudo que norteou as ações
do DAAE no sentido de controle de perdas, culminando com a implantação do PROGRAMA DE

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1010 Lúcio Sobral da Cunha; Cláudio Antônio Di Mauro; Jorge Manuel Batista Roque Fael

COMBATE ÀS PERDAS que passou a fazer parte do Plano Diretor de Água e Esgotos. O objetivo
era que no ano de 2010 as perdas não fossem superiores a 25%. As reduções das perdas se
deram nas Estações de Tratamento de Água (ETAs), nos Reservatórios, nas Redes de Distribuição
e Ligações, bem como as perdas de Faturamento e Receitas.
Com essas reduções de perdas foram aumentadas as reservas de água para as horas de
maior consumo, dando tranqüilidade aos moradores garantindo a auto-suficiência de
abastecimento.
Rio Claro, em 2004 contava com 35 reservatórios, 100% de abastecimento de água para
a população residente nas áreas urbanizadas, totalizando 670 Km de redes de distribuição e
57.000 ligações de água para um município que possuía na época 190 mil habitantes. Havia
23.000 m3 de água em reservas, índice superior ao que se preconiza nas normas brasileiras,
para 1/3 do dia de maior consumo.
O controle de qualidade da água tratada baseava-se na Portaria do Ministério da Saúde
1469/00, com análises e exames realizados em laboratórios próprios, havendo um sistema de
“contra-provas”, praticado pelo Instituto Adolfo Lutz.
Também eram realizadas análises periódicas de metais pesados na água bruta e tratada,
pela Universidade de São Paulo (USP/ São Carlos) e Laboratórios do CENA, ESALQ de Piracicaba.
Os mananciais eram monitorados periodicamente em Laboratório de Microbiologia do Instituto
de Biociências da UNESP – Rio Claro, no tocante a toxicidade.
Esses cuidados faziam com que o DAAE envasasse copos de água para serem servidas e
consumidas nas atividades apoiadas pela Prefeitura de Rio Claro. Nas Palestras, Conferências e
Reuniões, a água disponibilizada às mesas era exatamente a água envasada, a mesma que era
distribuída para a população. Era a mesma qualidade da água que chegava nas torneiras das
residências dos munícipes.
O DAAE trabalhava com visão de Planejamento e contava com o Projeto Global do
Sistema de Água indicando as diretrizes até o ano de 2011.

2.2 Afastamento e Tratamento de Esgotos


A rede de afastamento de esgoto de Rio Claro tinha extensão de 665 km, atendendo
99,5% da população, com exceção de alguns bairros e chácaras localizados em áreas ocupadas
por setores sociais de classe média alta. Tais bairros com características de Chácaras de dimen-
sões maiores do que 1000 m² até 10 000 m² foram instalados em locais distantes das redes
existentes. Embora a importância desse atendimento e o fato de a implantação das Chácaras
ter sido aprovada pelo Município, contudo os serviços de abastecimento de água e remoção de
esgotos exigidos da Autarquia ainda que não tinham se efetivado.
O município de Rio Claro possuía um Plano Diretor de Esgotos devidamente elaborado
com participação social e aprovação em Audiências Públicas. O Plano Diretor de Esgotos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO 1011

orientava as medidas de implantação do Sistema de Tratamento de Esgotos, importante fator


de preservação do meio ambiente e da melhoria da qualidade de vida da população. Deve-se
destacar que a prioridade para o tratamento de esgoto foi estabelecida e pactuada pela
Conferência da Cidade realizada no ano de 2003, tendo em vista que as coberturas com abas-
tecimento de água e o afastamento de esgotos estavam universalizados.
O Plano Diretor de Esgoto de Rio Claro estava dividido em duas etapas de implantação:
A primeira, de 2000 a 2010 com custo previsto para as obras da ordem de 25 milhões de
reais, correspondendo o tratamento dos esgotos para 100% da população urbana daqueles
momentos, ou seja, na segunda década do século XXI o Projeto previa que toda a população
urbana de Rio Claro seria atendida com afastamento e tratamento dos esgotos domésticos;
A segunda etapa, de 2011 a 2020, atenderia as populações futuras, e sua orientação
estava compatível com o crescimento populacional previsto para o município. Para essa última
etapa, eram estimados custos da ordem de 15 milhões de reais. Era evidente a eficiência e a
efetividade de funcionamento do Departamento Autônomo de Água e Esgoto (DAAE) de Rio
Claro, com tarifas cobradas muito inferiores, daquelas praticados pela Empresa do Estado de
São Paulo (SABESP). Mesmo assim havia a capacidade de investimentos da ordem de 15% de
seu faturamento anual. A administração pública de água e esgoto era de excelente qualidade,
com baixíssimos rumores e reclamações por parte da população.
Mesmo com essa realidade positiva, a administração Municipal que assumiu em 1° de
janeiro de 2005 decidiu por praticar a concessão em mãos da iniciativa privada. Houve a con-
cessão da administração e gestão dos esgotos, pelo período de 30 anos. O município paga para
a empresa privada gerir os esgotos e com isso, os valores referentes à gestão das águas ficam
reduzidos, dificultando a adequada expansão dos serviços de armazenamento e distribuição
para os consumidores.
A partir daí surgiram diversos conflitos que atualmente atingem os serviços praticados
em Rio Claro. A perspectiva para que esses serviços voltem a ser praticados pelo poder muni-
cipal ficam cada vez mais distantes. Há falta de interesses dos atuais governantes municipais.
Restará a necessária mobilização popular para concretizar essas exigências.
Constantemente, quando assumem governos municipais com visão neoliberal, volta a
discussão o tema sobre a concessão também da água. Por falta de investimentos, tem sido
continuas as reclamações dos moradores de Rio Claro, tendo em vista que caiu drasticamente
a qualidade da água que chega em suas torneiras. Há desconfiança que isso também tenha
intencionalidade.
Oferecer pela autarquia pública uma baixa qualidade nos serviços, levando a população
às reclamações que poderão impulsionar para a privatização ou mesmo concessão da gestão.
Contudo, é previsível que pelos benefícios financeiros que são auferidos pela empresa adminis-
tradora dos esgotos, se o mesmo diapasão for aplicado para a gestão das águas, ter-se-á imensa
elevação nos valores das contas para os consumidores.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1012 Lúcio Sobral da Cunha; Cláudio Antônio Di Mauro; Jorge Manuel Batista Roque Fael

3 UM POUCO DA EXPERIÊNCIA DE GESTÃO DO SANEAMENTO


BÁSICO EM PORTUGAL

3.1 A Empresa Águas de Coimbra


Foram realizadas entrevistas com o Professor Doutor José Gonçalves (2015), (Foto 2) e
com o engenheiro Luiz Costa, vinculados à Empresa Municipal Águas de Coimbra, de capital da
Câmara Municipal que é caracterizada como uma empresa pública, de direito privado. A
empresa tem autonomia jurídica e financeira, mas obedece às Diretivas do Acionista que é a
Câmara Municipal de Coimbra e o trabalho de gestão é desenvolvido pelo Conselho de
Administração de Águas.
A empresa é administrada pelo Conselho Águas de Coimbra que está submetido a ter
seus membros substituídos sempre que haja eleições dos governantes para a Câmara Municipal.
Ressalte-se que os membros do Conselho da Empresa têm mandato de 4 anos. Enquanto a
Câmara Municipal é composta de pessoas que formam o Governo, a Assembleia Municipal é
composta por um conjunto de pessoas que se reúnem por pelo menos cinco vezes ao ano, com
reuniões ordinárias e a tarefa é participar da Assembléia da Empresa.
No ano de 2003, a Câmara Municipal criou o serviço de água e saneamento com a Empresa
Águas de Coimbra. Em 2005 foi criada uma Empresa do Grupo Águas de Portugal, em que 51%
pertence ao Estado e 49% aos municípios da Região, atendidos pela Empresa, no que diz respeito
ao abastecimento de água e saneamento. A fonte prioritária para abastecimento de água de
Coimbra é o rio Mondego (Foto 1) que corta seu sítio urbano. A partir de 2007 a Câmara Municipal
atribuiu competências a respeito das águas pluviais, para a Águas de Coimbra.

Fotografia 1 – Cidade de Coimbra. Ao centro o rio Mondego, principal


fonte de captação de água para abastecimento urbano pela Empresa
Águas de Coimbra

Autor: Cláudio Antonio Di Mauro.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO 1013

Segundo o engenheiro Luis Costa, o sistema tarifário tem sido reconhecido como ade-
quado, sem apresentar reclamações, tendo acontecido até mesmo redução no preço cobrado
pela água de atendimento residencial. Eventualmente acontece a elevação desses preços, mas
as tarifas são equilibradas. Havia uma tendência de acompanhar a inflação, mas não é exata-
mente isso que tem ocorrido tendo em vista que se acompanha através de uma planilha de
custos. Na Empresa Águas de Coimbra há compreensão de que não se deve obter lucro com a
água, o que permite o controle de maneira equilibrada. Esse é o entendimento dos profissio-
nais que atuam na Empresa, segundo a explicação do professor José Gonçalves que se constitui
um dos Diretores da Águas de Coimbra: “Nós propomos a tarifa, mas a Câmara é que tem que
aprovar. Aqui, qualquer variação no tarifário seja para aumentar ou mesmo para abaixar, tem
que ir para a Câmara e depois passar pela Assembléia”.
Segundo a Empresa Águas de Coimbra, esse município é o que mais consome água em
média por habitantes no País. A qualidade da água permite que se beba diretamente na tor-
neira. A Empresa considera que 88% dos munícipes bebem água diretamente da torneira. Esse
é um sinal de que a água é boa e os serviços são bons.
Sobre as perdas, esta foi das primeiras empresas portuguesas que introduziu novas tec-
nologias para realizar tal inspeção. Os funcionários são habilitados para fazer esse tipo de iden-
tificação, análise e estabelecer o controle.

Fotografia 2 – Reunião com entrevista pessoal na Empresa Águas de


Coimbra com participação de Técnico e Conselheiro, além destes autores

Autor: Cláudio Antonio Di Mauro.

No entendimento do Diretor Professor José Gonçalves (2015): “Nós temos uma posição
de defesa das empresas Públicas e não pensamos em concessões privadas para nosso trabalho.
Temos que manter a água sob controle essa é nossa atividade. Os municípios que seguiram a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1014 Lúcio Sobral da Cunha; Cláudio Antônio Di Mauro; Jorge Manuel Batista Roque Fael

linha privatizante não têm os nossos resultados e a água normalmente é mais cara. Não se
visualizou vantagem nas concessões privadas.”
E continua o Professor: “Aquela ideia de que o Estado é mal gestor e que era um paqui-
derme, aqui mostra-se o contrário, os trabalhadores que aqui estão assumem realmente a
empresa pública. São funcionários públicos que trabalham bem. Se fosse privado não seria
melhor, seguramente. Nós não temos a lógica do lucro. Nós estamos trabalhando de maneira
equilibrada, pagamos as despesas. E é assim que atuamos. Não entendemos que este seja um
setor para concorrência.”.
Embora seja essa a concepção que prevalece na Empresa Águas de Coimbra, no entanto,
não tem sido assim na generalização em Portugal. Segundo FAEL (2015), em Portugal as con-
cessões tiveram início em 1993, com a produção de legislação que permitiu a entrada de ope-
radores privados no abastecimento e distribuição de água e saneamento em «baixa» sob a
forma de concessão. A primeira concessão ocorreu no Concelho de Mafra no ano de 1994,
entregue à empresa francesa Générale des Eaux, depois Veolia, que em 2013 vendeu todas as
concessões que detinha em Portugal aos chineses da Beijing Enterprises Water Group.
Atualmente são cerca de 29 concessões vigentes, sendo que a maior parte do abasteci-
mento de água aos municípios e o tratamento de esgoto está nas mãos da Empresa Pública
Águas de Portugal, cuja privatização que se pretendia, foi travada em 2015, com a derrota do
governo de direita PSD/CDS.
Para atrair as empresas privadas para o setor de saneamento básico é preciso que as con-
cessões sejam efetuadas em condições que favoreçam o capital. Daí os preços nas tarifas não
podem ser reduzidos, precisam garantir o lucro que viabilize a visão privada. Com isso, o preço
de mercado deve obedecer a lógica dos interesses privados.
A descapitalização das autarquias municipais, o sucateamento dos serviços, geraram a
insatisfação da população, ao mesmo tempo que abriram caminhos para as concessões que
prometiam resolver os problemas. Com a entrada das empresas privadas as taxas de retorno
eram muito elevadas o que levou a aumentos de 300% e 400% em tarifas. Os contratos assina-
dos têm aspecto unilateral na medida em que há exigência para o consumo mínimo que se não
for alcançado caberá ao município arcar com o pagamento para a concessionária. Não são con-
tratos de risco, tendo em vista que sempre há garantia do ganha/ganha para as concessioná-
rias. Esses motivos, comprovados pelas auditorias do Tribunal de Contas, foram levando ao
descrédito as privatizações e concessões, com fortes reações das populações, abaixo-assina-
dos e manifestações de ruas.
As entidades sindicais a exemplo do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da
Administração Local – (STAL) entenderam que muitos dos utentes (aqueles que são consumi-
dores desses serviços) também são sindicalizados. Assim é que se envolveram com a temática
reuniram outras forças sociais dos movimentos populares e prepararam em conjunto um
Manifesto que terminou por ser aprovado pelas entidades. Esse documento foi importante

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO 1015

para a preparação de uma peça, documento que serviu de base para a coleta de assinaturas
objetivando um Projeto de Lei por iniciativa Popular, que assim foi construído.
O STAL tem sua sede em Lisboa nas proximidades do Cais da Fóz do Rio Tejo. A partir
desse local há atividades de mobilização popular, pelas ruas da Capital e de outras cidades do
interior de Portugal onde o Movimento Água de Todos está se desenvolvendo e criando suas
raízes de ação. Assim são recolhidas as assinaturas de cidadãos e cidadãs que apoiam o
Manifesto objetivando a preparação do Projeto de Lei por iniciativa popular. Nessa primeira
fase o Projeto de Lei não foi aprovada poelo Congresso Nacional.

Fotografia 3 – Cais na Fóz do Rio Tejo em Lisboa. Nas proximidades se


localiza a sede do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da
Administração Local – (STAL), importante entidade que participa
ativamente do Movimento Águas de Todos

Autor: Cláudio Antonio Di Mauro.

Em Portugal seriam necessárias 35 mil assinaturas e foram coletadas mais de 44 mil para
que então fosse encaminhado ao Órgão Legislativo Superior (Assembléia da República). O pro-
jeto foi debatido no Parlamento, mas não foi aprovado, tendo em vista que o governo tinha
interesses em acelerar os processos de concessões e privatizações da água. Mas a luta do
movimento Água de Todos, derrotado naquele momento parlamentar, teve sua continuidade.
Neste momento não há nenhum processo de privatização/concessão. A última, apesar
da oposição da população e dos trabalhadores, foi em 2019, em Vila Real de Santo António, no
sul do País. Com efeito, os tempos não estão de feição aos ideólogos do “mercado”, embora os
interesses privados estejam sempre atuando e buscando alternativas para se implantar.
Perante o “falhanço” e as graves consequências das concessões/privatizações, houve a
primeira remunicipalização em 2019, justamente no município de Mafra, o primeiro que

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1016 Lúcio Sobral da Cunha; Cláudio Antônio Di Mauro; Jorge Manuel Batista Roque Fael

privatizou, e há outros municípios que anunciaram recentemente a intenção de recuperar os


serviços de água, casos de Paredes e Santo Tirso, no norte de Portugal. No entanto, na medida
em que todos estes casos envolvem o resgate dos contratos, os municípios são obrigados a
pagar elevadas indenizações aos privados. Ou seja, pagam por uma coisa que lhes pertence e
cuja gestão nunca devia ter saído da esfera pública.
Outro desenvolvimento tem sido a criação de parcerias para a gestão da água entre o
grupo Águas de Portugal e os municípios, que ficam em minoria no capital social, levando à
constituição de empresas intermunicipais. Para forçar este tipo de empresarialização, o governo
utiliza como “moeda de troca” os fundos da União Europeia.
No caso das parcerias, o primeiro contrato formalizado foi a parceria “público-pública”
da Águas do Alto Minho. Perante o aumento dos preços, os protestos das populações têm-se
feito sentir. No caso das empresas intermunicipais, apesar do capital social ser exclusivamente
público, os setores progressistas de Portugal têm preocupações quanto a esse modelo, na
medida em que os preços obedecem à lógica da recuperação integral dos custos, assistindo-se
à perda de controlo democrático e à degradação dos direitos laborais. Em dois destes casos, a
(APIN) – Empresa Intermunicipal do Pinha Interior, os protestos da população contra a subida
de preços obrigaram um dos municípios a abandonar a empresa. Na Empresa Intermunicipal
do Baixo rio Mondego e Gândara os problemas são idênticos.

4 CONSIDERAÇÕES
O Conceito da subsidiariedade ficou expresso no desenvolver das pesquisas e dos traba-
lhos de campo, considerados nas entrevistas.
O Departamento de Águas e Esgotos de Rio Claro tem todas as condições de se manter
como um componente do poder público de responsabilidade municipal. O mesmo se dá com a
visão expressa pelo Sindicato (STAL) e também na Empresa Águas de Coimbra.
É certo que o setor de saneamento básico precisa garantir a universalização dos serviços
de águas e esgotos, mas há o reconhecimento de que os serviços prestados atendem o inte-
resse público.
Águas de Portugal, continua pública, como já foi referido, mas a gestão, mais preocupada
com a obtenção de benefícios, é alvo de forte crítica. Um outro elemento, este positivo, é que
a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos –(ERSAR), já não pode impor preços
de água e saneamento aos serviços públicos de águas controlados por entidades públicas, o
que vem ao encontro do que defendem os movimentos populares que exigiam o respeito pela
autonomia nomeadamente do Poder Local.
Especialmente em relação à captação e distribuição de água para a população urbana a
concepção do Sindicato (STAL), com a qual concordamos é de que só pública a água é de todos!

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO 1017

5 REFERÊNCIAS
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dos Trabalhadores da Administração Local – STAL. É também ativista do Movimento Água de Todos. Dados
coletados por Cláudio Antonio Di Mauro.
GONÇALVES, J. Entrevista concedida em Coimbra no dia 16 de dezembro de 2015 na sede da Empresa Águas
de Coimbra. Entrevista realizada por Cláudio Antonio Di Mauro e Lúcio Sobra Cunha. 2015.
MATEO RODRIGUEZ. Los Conflitos por el Água Desde Uma Perspectiva Geopolítica – In: VI Workshop
Internacional sobre planejamento e desenvolvimento sustentável de bacias hidrográficas / Cláudio Antonio Di
Mauro; José Geraldo Mageste; Ernane Miranda Lemes, organizadores., página 1437. Timburi, SP: Cia do eBook,
2018.
MONTORO, A. F. Federalismo e o fortalecimento do Poder Local no Brasil e na Alemanha. Coleção Debates
da Fundação Konrad Adenauer. Rio de Janeiro, 2002. p. 59.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


87.
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA
DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE
Composição e dados básicos ecológicos da avifauna

JOSÉ EDUARDO DE MELO SOEIRO1


LUÍS GONZAGA SALES JUNIOR2
MARIANA ALEXANDRE DE OLIVEIRA3
EDSON VICENTE DA SILVA4

Resumo: A lagoa da Precabura corresponde ao maior ecossistema aquático metropolitano de


Fortaleza, no estado do Ceará e o seu espelho d’água é visitado por cerca de 1/3 da avifauna cea-
rense, que em termos de conservação, vem sendo prejudicada pela expansão urbana da cidade
que a rodeia. Corresponde a áreas de Fortaleza e Eusébio, e como medida mitigatória foi instituida
uma unidade de conservação estadual, bastante pleiteada e é defendida por pesquisadores e
moradores da área. Dessa forma, com o objetivo de apresentar dados coletados sobre a composi-
ção da avifauna, e a devida importância do local para esses animais, a pesquisa efetivou a identi-
ficação de 172 espécies, divididas em 52 famílias, por sua vez em 22 ordens, com a predominância
de aves sinantrópicas das ordens de Passeriformes e Charadriiformes. Estas aves dependem inti-
mamente do local para nidificação, na busca por alimentação e são impactadas direta ou indireta-
mente pela antropização. Além disso, foi possível constatar a presença de aves migratórias
recorrendo aos ecossistemas do parque como um habitat temporário durante seu processo de
migração. Em seu conjunto a pesquisa oferece dados relevantes sobre a composição e ecologia da
avifauna, além de apresentar elementos referentes às guildas tróficas das espécies verificadas,
que deverão ser utilizadas como dados-base em pesquisas futuras e ressalta a importância da efe-
tiva implementação de novas unidades de conservação no estado do Ceará, bem como sua devida
regulamentação e fiscalização, como medida preventiva a impactos causados pela evolução
urbana de regiões adjacentes.
Palavras-chave: Aves sinantrópicas; bacias hidrográficas do estado do Ceará; guildas tróficas.
Abstract: The Precabura lagoon corresponds to the largest metropolitan aquatic ecosystem in
Fortaleza, in the state of Ceará and its water mirror is visited by about 1/3 of the avifauna in Ceará,
which, in terms of conservation, has been harmed by the urban expansion of the city. that one

1 Universidade Federal do Ceará. E-mail: edumsoeiro@gmail.com


2 Universidade Estadual do Ceará. E-mail: lgsjce@yahoo.com.br
3 Universidade Federal do Ceará. E-mail: marianaalexandre.eng@gmail.com
4 Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com

[ 1018 ]
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE 1019

surrounds. It corresponds to the areas of Fortaleza and Eusébio, and as a mitigation measure, a
state conservation unit was instituted, which was much sought after and defended by researchers
and residents of the area. Thus, in order to present data collected on the composition of the avi-
fauna, and the due importance of places for these animals, it identified 172 species, divided into
52 families, in turn into 22 orders, with the predominance of synanthropic birds of the Passeriformes
and Charadriiformes orders. These birds depend closely on the site for nesting, in search of and
are directly or indirectly impacted by feeding by anthropization. In addition, it was possible to ver-
ify the presence of migratory birds using the park’s ecosystems as a temporary habitat during their
migration process. As a whole, the research offers relevant data on the composition and ecology
of the avifauna, in addition to presenting elements related to the trophic guilds of the species,
which should be used as base data in future research and emphasizes the importance of applying
new protected areas in the state of Ceará, as well as its due and inspection, as a preventive mea-
sure against impacts caused by the urban evolution of adjacent regions.
Keywords: synanthropic birds; watersheds in the state of Ceará; trophic guilds.

1 INTRODUÇÃO
A lagoa da Precabura está situada entre os municípios de Fortaleza e Eusébio, no estado
do Ceará, fazendo parte da bacia hidrográfica do rio Coaçu, de fluxo baixo a moderado e circu-
lação determinada pela ação dos ventos (FERNANDES, 2013). Se trata do maior corpo hídrico
da região metropolitana de Fortaleza, com rico ecossistema, sendo destacada suas áreas de
carnaúbas, suas dunas móveis e fixas e sua enorme biodiversidade.
Esse corpo hídrico é alvo do constante adensamento urbano das duas cidades que o
envolve, o seu manancial vem sofrendo as ações antrópicas ao longo dos anos, iniciando-se
pela perda do deságue de dois rios que anteriormente integravam o espelho d’água, os rios
Cocó e Pacoti (importantes para a hidrodinâmica do estado e igualmente ricos em sua biodi-
versidade). Constata-se que por volta dos anos 2000, os mesmos foram barrados, e seu con-
tato natural com a lagoa foi cortado, fato que ocasionou a perda de macro e microfauna local,
e como medida mitigatório está sendo encabeçado um projeto de lei para a criação de um par-
que estadual que abranja o local e proteja o habitat de espécies dos mais variados grupos
(AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, 2019).
Como fonte de serviços ecossistêmicos múltiplos, a lagoa da Precabura promove a provi-
são de pescado, água para o cultivo, fonte de frutos, fibras, madeira e recursos medicinais para
a comunidade localizada em sua proximidade, além também de prover regulação hidrológica e
climática, controle erosivo e tratamento de resíduos, polinização e manutenção da biodiversi-
dade (SILVA, 2019). Representa um importante polo cultural e ecológico, sem contar seu poten-
cial de lazer, recreação e pesquisas científicas proporcionando uma região rica em suas
qualidades, onde até mesmo pode servir de alvo para ações de educação ambiental.
Aproveitando-se então desses recursos naturais, além da população local, estão as aves
silvestres, onde são estimados que cerca de 1/3 da avifauna cearense passe pela da Lagoa da
Precabura (O POVO, 2021). O cenário paisagístico é constituído por imagens exuberantes para
as comunidades adjacentes, que podem desfrutar da paisagem enquanto as aves utilizam o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1020 José Eduardo de Melo Soeiro; Luís Gonzaga Sales Junior ; Mariana Alexandre de Oliveira; Edson Vicente da Silva

espaço como local de nidificação ou para encontrar alimento e até mesmo como parada de
descanso enquanto migram, que dependem total ou parcialmente do ambiente. Tal dependên-
cia pode levar para que essa parte da fauna seja utilizada como bioindicadores através do
conhecimento de suas exigências ecológicas, podendo, aquelas que possuem necessidades
específicas para sobreviverem, em plenitude total, reagirem de forma muito mais drástica a
alterações no ambiente, por se tornarem impróprios para essas (SCHERER et al., 2010).
Os ecossistemas aquáticos, campo de dunas e tabuleiros litorâneos, abrigam uma biodi-
versidade importante dentro do contexto espacial da região metropolitana que se inter-rela-
cionam com a diversidade de geossistemas, compostos pelo mar litorâneo, planície litorânea,
planície fluvial, depressão sertaneja e maciço residual (MORO, 2015; MORO, 2016). Nesse con-
texto ambiental regional, a avifauna tem utilizado os ecossistemas do parque como parte do
seu habitat, sendo elas possivelmente afetadas de forma direta ou indiretamente por mudan-
ças no ambiente local.
Assim, o presente trabalho tem por objetivo principal demonstrar os resultados de pes-
quisas realizadas, que mensuraram a composição e o número de espécies da avifauna encon-
tradas na lagoa da Precabura e que deverão ser utilizadas como base para estudos futuros.
Pretende-se futuramente avaliar os efeitos dos impactos antrópicos na avifauna local, sendo
ressaltada a necessidade de realização de estudos mais aprofundados sobre as guildas tróficas
das espécies encontradas e sua ocupação no território.
Para Root (1967), espécies de nichos ecológicos similares dentro de uma comunidade,
podem ser vistas como parte de uma mesma guilda, o que favorece estudos sobre interações
entre estas, uma vez que possibilita que a espécie seja tratada como uma unidade, indepen-
dentemente de sua classificação taxonômica (ODUM; BARRET, 2008). Dentre as várias funções
desempenhadas por organismos pertencentes a uma mesma guilda, uma das mais enfatizadas
é a função trófica ou guilda trófica, definida como um grupo de espécies que exploram recur-
sos alimentares semelhantes (SIMBERLOFF; DAYAN, 1991). Cabe salientar que a aves herbívoras
constituem espécies consumidoras primárias, preferindo ingerir vegetais e seus derivados,
como: frutos (frugívoros), sementes (granívoros), néctar (fitófago), enquanto as aves predado-
ras que têm por hábito caçar suas presas, optam, portanto por nutrir-se de outros animais,
como: insetos (insetívoros), moluscos (malacófagos), anelídeos (vermífagos), aves/mamíferos
(carnívoros), peixes (piscívoro), carniça (necrófagos) (MAJOR, 2004).

2 METODOLOGIA
Para a amostragem das espécies foi realizada uma busca ativa, onde foram determinados
quatro pontos localizados no entorno da lagoa da Precabura sendo realizadas uma coleta a cada
mês por ponto ao longo de quatro anos (durante os anos de 2011 e 2014). As coletas foram rea-
lizadas através de buffers, com pontos determinados e georreferenciados, e a partir dos pontos
foram determinadas áreas máximas de abrangências de 200m, e dentro dessa área foram percor-
ridas trilhas. Ao percorrer a trilha seis pontos (em cada uma das amostragens) foram escolhidas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE 1021

aleatoriamente e através de espera, as espécies avistadas e escutadas foram registradas ao longo


de 10 minutos (para cada ponto, totalizando 60 minutos de observação por amostragem).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Quadro 1, apresentado a seguir, demonstra os resultados encontrados, ao longo de
toda a atividade de campo:

Quadro 1 – Ordens, quantidade de famílias e quantidade de espécies encontrados nos quatro pontos
da Lagoa da Precabura

Ordem Famílias Número de espécies

Tinamiformes 1 1
Podipediciformes 1 2
Suliformes 1 1
Pelecaniformes 1 9
Cathartiformes 1 3
Anseriformes 1 7
Accipitriformes 1 5
Falconiformes 1 5
Gruiformes 1 8
Charadriiformes 8 32
Columbiformes 1 6
Psitaciformes 1 3
Cuculiformes 1 4
Strigiformes 1 3
Nyctibiiformes 1 1
Caprimulgiformes 1 3
Apodiformes 2 5
Trogoniformes 1 1
Coraciformes 1 3
Galbuliformes 1 1
Piciformes 1 4
Passeriformes 22 65
Total 55 172
Fonte: Autoria própria.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1022 José Eduardo de Melo Soeiro; Luís Gonzaga Sales Junior ; Mariana Alexandre de Oliveira; Edson Vicente da Silva

Dentre as espécies puderam ser observadas migratórias, limícolas – definidas como capa-
zes de colonizar corpos d’água permanentes ou temporários caso estes se tornem disponíveis
(OLMOS et al., 2005) – e lacustres, ou ribeirinhas, sendo caracterizada como encontradas em
ambientes de lago (ACCORDI, 2010; CINTRA; SANTOS; LEITE, 2007) caracterizando o local com
importância não apenas para aves locais.
Para as espécies mais recorrentes durante o levantamento, três apresentaram-se mais
significativas, destacando tanto em número de indivíduos, como em aparecimento nas amos-
tragens. Duas dessas espécies encontram-se na ordem Charadriiforme, enquanto a última se
trata de um Passeriforme, ambas ordens, assim como outras, os Columbiformes por exemplo,
são consideradas sinantrópicas, ou seja, convivem facilmente em zonas urbanas, colonizando-
-as ou seus arredores e retirando vantagens dessa interação. É válido ressaltar também o cres-
cente aumento de registros de espécies durante a pesquisa nos meses de outubro a janeiro,
motivados pelo verão no hemisfério sul, onde aves migratórias vindas da América do Norte
procuram o local como forma de evitar o frio do inverno.
Como resultante da pressão antrópica e da crescente urbanização na localidade, pôde
ser observado relativa alta densidade populacional, com uma predominância de Charadriiformes
e Passeriformes, porém, com reduzida variedade de espécies (com as ordens citadas anterior-
mente representando respectivamente 18,60 e 37,79 % do total de espécies registradas), resul-
tando em uma baixa biodiversidade.
A crescente urbanização tem provocado efeitos diretos e indiretos na avifauna, pois, à
medida que o planejamento urbano é modificado, também é alterado o habitat, disponibili-
dade de alimento, disponibilidade de locais para nidificação, diversidade de predadores, com-
petição (pelos mais variados recursos) e doenças, com esses fatores afetando de forma
significativa a estrutura e composição de aves urbanas (BLAND, 1998; CHAMBERLAIN, 2007;
SCOTT, 1993; MARZLUFF, 2001), ainda mais quando se trata de um ambiente de água doce,
onde a pressão de caça é maior para aves nesses locais se comparadas as demais aves aquáti-
cas (ACCORDI, 2010), e principalmente no local do estudo, por se tratar de uma lagoa inserida
entre duas cidades em acentuado crescimento urbano.
A urbanização também favorece algumas aves sinantrópicas, onde o convívio com a
espécie humana garante alimentação em abundância e locais para criação de ninho de forma
mais acessível (como teto de casas ou condensadores de ar-condicionado localizados em pré-
dios). Sendo essas aves encontradas mais facilmente em áreas suburbanas ou de alta densi-
dade urbana, e evitam áreas com baixa densidade ou áreas rurais (DI PIETRO, 2020). Aí também
é encontrada mais uma importância dos parques urbanos, uma vez que áreas verdes contínuas
se tornaram escassas e não mais suficientemente propiciam refúgio, as aves procuram pelos
parques urbanos como fonte de abrigo, alimentação e de local para postura dos ovos
(CHOUDHARY, 2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE 1023

No Quadro 2, estão disponibilizados dados levantados referente as disposições das espé-


cies levantadas em suas guildas tróficas:

Quadro 2 – Guildas tróficas relacionadas a número de espécies encontradas nos quatro pontos de
coleta da lagoa da Precabura

Guilda Trófica Número de espécies % da Dieta % Trófica

Fitófago 8,5 4,94% 17,31 %

Frugívoro 12,5 7,27 % 25,46 %

Granívoro 24,6 14,30 % 50,10 %

Nectarívoro 3,5 2,04 % 7,13 %

Total cumulativo de
49,1 28,55 % 100 %
herbívoros

Carnívoro 11,7 6,80 % 9,52 %

Insetívoro 75,1 43,66 % 61,11 %

Malacófago 8,7 5,06 % 7,08 %

Necrófago 3,2 1,86 % 2,60 %

Piscívoro 19,3 11,22 % 15,70 %

Vermífago 4,9 2,85 % 3,99 %

Total acumulativo de
122,9 71,45 % 100 %
carnívoros

Total 172 100 %


Fonte: Adaptado pelo autor.

É válido ressaltar que as guildas tróficas de fitófagos, frugívoros, granívoros e nectarívo-


ros correspondem a consumidores primários, em outras palavras, herbívoros, enquanto as
guildas tróficas de carnívoros, insetívoros, malacófagos, necrófagos, piscívoros e vermífagos
correspondem a predadores (MAJOR, 2004; BISPO; SCHERER-NETO, 2010). A coluna de % tró-
fica corresponde a % acumulativa referente a dieta dentro de sua respectiva guilda, logo her-
bívoros e predadores, já a coluna de % da dieta refere-se a % da dieta em relação as demais
guildas tróficas.
Com os dados supracitados é possível observar uma maioria de cerca de 71 % das aves
com hábitos principalmente carnívoros, acima dos herbívoros com pouco menos de 29 %. Não
foram levadas em consideração hábitos generalistas, porém, uma vez que se trata de um local
em processo gradativo de antropização, tais hábitos deverão ser levados em consideração para

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1024 José Eduardo de Melo Soeiro; Luís Gonzaga Sales Junior ; Mariana Alexandre de Oliveira; Edson Vicente da Silva

estudos futuros e mais precisos, com a finalidade de obter dados mais minuciosos referentes a
possíveis impactos na alimentação das espécies.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da relevante amostragem e do número de espécies encontrado ser substancial-
mente expressivo, dados mais específicos precisam ser levantados sobre os impactos trazidos
pela antropização no local, além de um número amostral bastante maior, a fim de garantir uma
curva de coleta de espécies estável. A lagoa da Precabura e seus distintos ambientes naturais,
demostraram ter um importante papel na preservação da avifauna, fator que com certeza é
repetido para os demais grupos da fauna.
O parque apresenta uma elevada importância ecológica e cultural para a cidade.
Ambientalmente, com intensas precipitações, o transporte de sedimentos finos em suspensão
é intensificado, e a deposição de material do interior da lagoa é deslocado para as margens,
garantindo um rico aporte de nutriente que pode ser utilizado por toda a biodiversidade. O
mosaico de paisagens naturais no interior e entorno da lagoa, favorece à proliferação de uma
rica e numerosa diversidade faunística.
Com a diminuição das áreas verdes na cidade, o local se torna um dos últimos redutos
naturais onde aves oriundas do hemisfério boreal podem descansar de suas longas migrações
intercontinentais. Dentre os objetivos do trabalho, está o de mostrar a importância da prote-
ção dos ecossistemas naturais no meio urbano, onde ainda prolifera dezenas de espécies, não
apenas da avifauna, mas também de outros grupos biológicos compondo uma extensa e impor-
tante rede trófica, dessa forma, se torna de suma importância a implantação e devida regula-
mentação de uma Unidade de Conservação estadual no local, já pleiteada e defendida por
pesquisadores atuantes na área.
Por meio da pesquisa científica realizada foi possível relacionar as espécies presentes
na lagoa da Precabura e seu entorno e que terminam por ser alvos constantes da ação antró-
pica, influenciando diretamente seus nichos ecológicos. Além de aportar uma base inicial
para o desenvolvimento de novos e mais amplos estudos, a pesquisa atualiza dados relevan-
tes à composição da biodiversidade e contribuindo na identificação científica de possíveis
espécies bioindicadoras.
Em nossas pesquisas, onde participaram estudantes e professores dos cursos de Biologia
e Geografia das Universidades Federal do Ceará (UFC) e Estadual do Ceará (UECE), constata-se
a importância da abordagem interdisciplinar nas pesquisas de caráter ecológico, e deve ser res-
saltado também a importância da participação do Laboratório de Ornitologia e Sistemática
Animal (LORNIS), da UECE, viabilizando e garantindo a execução da pesquisa, além do agrade-
cimento à entidade de fomento, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPQ, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e
Tecnológico – PIBIC e a bolsa PQ do CNPQ, órgãos tão importantes de incentivo ao

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE 1025

desenvolvimento científico. Conclui-se finalmente que a possibilidade de instituição de unida-


des de conservação, como os corredores ecológicos poderiam otimizar a proteção da biodiver-
sidade ao longo das bacias hidrográficas que interconectam os diferentes sistemas ambientais
presentes no estado do Ceará.

5 REFERÊNCIAS
SILVA, M. C. da. Serviços ecossistêmicos da lagoa da Precabura (Estado do Ceará) : 2019. 56 f. Monografia
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


88. MORFOMETRIAS E O MANEJO
SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Uma análise da bacia hidrográfica
do Rio Piracanjuba II, Goiás, Brasil

MATHEUS CALDEIRA ALVES MENDES1


PAULO HENRIQUE KINGMA ORLANDO2

Resumo: O objetivo deste trabalho foi discutir alguns dos cálculos morfométricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Piracanjuba II, além de ressaltar a importância desta apuração no manejo sus-
tentável de diferentes áreas. Os dados de morfometria adotados caracterizam especialmente a
rede de drenagem e seus interflúvios, relacionando ainda com alguns mapeamentos físicos da
região, que demonstraram o bom potencial hidráulico, baixas declividades em grande parte da
área, e a predominância de latossolos, que intensificaram o desejo em explorar a área. Neste sen-
tido, fatores físicos aliados aos cálculos morfométricos podem proporcionar um manejo sustentá-
vel tanto de bacias hidrográficas, quanto de áreas vetorizadas com características semelhantes,
podendo acarretar no manejo sustentável de diferentes regiões.
Palavras-chave: Cálculos morfométricos; Sustentabilidade; Bacias hidrográficas; Exploração
hidráulica.
Abstract: The objective of this work is to discuss some of the morphometric calculations of the
River Piracanjuba II Hydrographic Basin, besides emphasizing the importance of this calculation in
the sustainable management of different areas. The morphometric data adopted especially char-
acterize the drainage network and its interfluves, also relating to some physical mappings of the
region, which demonstrated the good hydraulic potential, low slopes in a large part of the area,
and the predominance of oxisols, which intensified the desire for explore the area. In this sense,
physical factors combined with morphometric calculations can provide a sustainable management
of both watersheds and vectored areas with similar characteristics, which can lead to the sustain-
able management of different regions.
Keywords: Morphometric calculations; Sustainability; Watersheds; Hydraulic Exploration.

1 UFCAT. E-mail: matheuscamendes@gmail.com


2 UFCAT. E-mail: paulo_orlando@ufg.br

[ 1027 ]
1028 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando

1 INTRODUÇÃO
O descaso com o manejo sustentável dos ambientes terrestres em detrimento à explora-
ção capitalista tem intensificado a urgência em elaborar pesquisas científicas que abordam tais
questões, especialmente no que se refere a bacias hidrográficas (BHs). Desta forma, conside-
rando o uso indiscriminado das áreas de Cerrado, a região da BH do Rio Piracanjuba II necessita
de atenção quanto a sua situação ambiental, a fim de conscientizar não só os interessados no
local, mas toda a sociedade que dependa do ambiente em equilíbrio para sobreviver.
Neste sentido, os cálculos morfométricos podem ser fundamentais na compreensão de
bacias hidrográficas, a fim de proporcionar o manejo sustentável do ambiente local, que é dire-
tamente influenciado por aspectos como os geológicos, geomorfológicos, climáticos e altera-
ções antrópicas.
Ab’Saber (2020) cita que o interesse dos capitalistas em aumentar a produção no menor
tempo possível intensifica a existência de impactos ambientais negativos sobre o meio. Assim,
as quantificações oferecidas pela morfometria permitem a obtenção de dados, de forma rápida
e eficiente acerca do local pesquisado, a fim de tentar minimizar tais degradações.
Tendo em vista que a conscientização social acerca da manutenção da vida sustentável
do planeta se inicia em grande parte nas pesquisas científicas, fica imprescindível estudar a
bacia em epígrafe e compreendê-la de maneira sistêmica, relacionando os processos sociais e
naturais. Nesse sentido, o interesse em pesquisar tal temática se justifica pelo notável pro-
cesso de antropização no local, despertando a necessidade científica e social de analisar algu-
mas das características da área, que servirão de complemento para a gestão do ambiente.
Este estudo foi desenvolvido com a finalidade de assegurar a dinâmica ambiental natural
da bacia e compreender algumas de suas características a partir de compreensões geométri-
cas, do relevo, e da rede de drenagem da região, fornecendo subsídios parciais para gerir as
utilizações da terra em BHs.
A morfometria auxilia no manejo sustentável do ambiente a partir do momento em que
é possível caracterizar a rede de drenagem e o relevo, especialmente em bacias hidrográficas,
podendo ser um complemento para compreender os limites de alterações antrópicas que a
área suporta. De acordo com Borelli (2006) a sustentabilidade potencializa a perspectiva de
que grande parte dos recursos naturais são esgotáveis, sendo necessário que a sociedade pre-
serve todos os recursos do meio para que se garanta a existência humana no planeta Terra.
Sendo assim, pode-se entender que bacias hidrográficas com características de áreas cir-
culares são mais propícias à ocorrência de inundações. Já a densidade de drenagem possibilita
caracterizar algumas das estruturas locais, pois, em solos com pequenas e médias dimensões
de granulometria, o escoamento superficial tende a ser menor devido a maior capacidade de
infiltração de água. Diante desta breve explicação, percebe-se o potencial que a morfometria
possui na gestão de BHs.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1029

Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar alguns cálculos morfométricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Piracanjuba II, tendo como finalidade discutir a importância da morfome-
tria no manejo sustentável de áreas. No entanto, para chegar a este propósito foi necessário
gerar dados morfométricos da bacia; analisar os motivos da região ser visada para a implemen-
tação de usinas hidrelétricas; e relacionar a importância da morfometria com a sustentabili-
dade ambiental.
Como as alterações no ambiente se tornaram paulatinamente mais intensas em pratica-
mente todo o território brasileiro, houve a necessidade de desenvolver estudos como este, que
visa a harmonia entre o natural e o social. Diante disso, ainda é reforçado na Constituição
Federal a necessidade em garantir a existência humana com qualidade de vida das presentes e
futuras gerações (BRASIL, 1988), e isto só será possível respeitando os limites e características
de cada local.
Assim como nas demais regiões de Cerrado, a área da Bacia Hidrográfica do Rio
Piracanjuba II está sendo utilizada sem o devido planejamento prévio, que culmina muitas das
vezes em danos ambientais, que acabam afetando toda sua dinâmica natural, incluindo a rede
hidrográfica, elementos mesoclimáticos, o solo, além da própria fauna e flora.
Nessa perspectiva, esta pesquisa foi focada em caracterizar alguns elementos da rede de
drenagem e do relevo da BH do Rio Piracanjuba II, fatores estes que justificam o interesse
hidráulico na área. Assim, para alcançar esta finalidade foi utilizado os procedimentos metodo-
lógicos dispostos a seguir.

2 MATERIAIS E MÉTODO
Os mecanismos utilizados na elaboração desta pesquisa estão pautados em pesquisas
bibliográficas e documentais, além de recorrerem a técnicas pautadas nos Sistemas de
Informação Geográfica (SIGs). A percepção sistêmica da bacia proporcionou uma discussão
mais realista e interligada dos fatores da BH, envolvendo desde análises da morfometria, até
mapeamentos, perfil topográfico e reflexões teóricas.
A princípio foi realizado a delimitação da BH do Rio Piracanjuba II utilizando o Modelo
Digital de Elevação (MDE) disposto pelo projeto Topodata e fornecidos gratuitamente pelo
INPE. Após este procedimento, foi gerado as redes de drenagem, cujo ponto cotado que mais
se aproximou à realidade da bacia em epígrafe foi de 1.200.
Para adquirir dados de alguns mapeamentos e cálculos morfométricos foram recorridos
ao software ArcGIS Pro, versão 2.6.2. Já para apresentar o perfil topográfico do Rio Piracanjuba
foi utilizado o ArcGIS Desktop versão 10.3. Outro ponto essencial em pesquisas científicas é a
fundamentação teórica da discussão, e este estudo foi embasada em autores como:
Christofoletti (1980), Ross e Del Prette (2011), e Leonel (2020), além de documentais como:
Brasil (1988), Brasil (1997) e Parh Corumbá (2013).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1030 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando

De posse dessas compreensões, será apresentado no tópico subsequente parte das dis-
cussões apresentadas por tais autores e documentos, servindo de alicerce para o desenvolvi-
mento da pesquisa.

3 REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Pires, Santos e Del Prette (2002), Krieger et al. (2008) e Moraes (2016), as
bacias hidrográficas são áreas definidas topograficamente, onde as áreas de maior altitude
delimitam a mesma, sendo assim, as BHs são responsáveis por direcionar toda a rede de dre-
nagem, seja ela pluvial ou fluvial, para um só leito, que escoa sempre em direção à zona de
menor altitude.
Ross e Del Prette (2011), e Strauch e Berwig (2017) complementam dizendo que as bacias
são sistemas naturais interligados por um conjunto de microbacias e sub-bacias, cujo seu dife-
rencial está baseado nos leitos fluviais naturais, conforme ilustrado na Figura 1 – Os autores
supracitados ainda destacam que a presença de aquíferos não interferem diretamente nesta
delimitação, não sendo considerados determinantes nessa definição.

Figura 1 – Modelo de Bacias Hidrográficas

Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/bacia-hidrografica.htm.

Na figura 1 é exemplificado o modelo de uma bacia hidrográfica, onde a mesma é defi-


nida pelo relevo e pelo próprio deslocamento das águas fluviais e pluviais. Christofoletti (1980)
destaca que apesar das bacias hidrográficas apresentarem um equilíbrio dinâmico, a mesma é
mutável, sendo mantida pela constante circulação de energia e matéria no sistema.
No Inciso V do Artigo 1° da Lei n° 9.433/97, está posto que as bacias hidrográficas se tor-
naram unidades territoriais fundamentais no gerenciamento hídrico a partir da promulgação
da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), sendo estas, passíveis da atuação do Sistema

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1031

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), que coordena a gestão integrada


da água no território brasileiro (BRASIL, 1997).
A PNRH confere ao Poder Público, aos usuários e à comunidade, a responsabilidade pela
manutenção das BHs, da gestão de suas áreas, e também pela conferência da dinâmica de uso
da terra local (BRASIL, 1997). Neste sentido, percebe-se a importância na insistência e cons-
cientização da população acerca do manejo sustentável destes locais.
A fim de aprofundar nos estudos de bacias hidrográficas, foram utilizados cálculos de
morfometria para caracterizar o local, neste sentido, tais dados matemáticos refletem parte
das singularidades da BH, dispondo de dados que indicam a possibilidade de desastres natu-
rais, o formato da bacia, as singularidades da drenagem e de seus interflúvios.
As análises que utilizam destes cálculos como meio de compreender estatisticamente as
características do relevo, das redes de drenagem, e das individualidades geométricas de determi-
nada localidade se intensificaram em meados do século XX. Este período foi marcado pela influên-
cia positivista físico/matemática nas ciências geográficas, na qual estimulou a mensuração das
características geomorfológicas e sistêmicas em bacias hidrográficas (CHRISTOFOLETTI, 1980).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A BH do Rio Piracanjuba II está localizada entre as coordenadas geográficas de Latitude
Sul 16° 24’ 21” a 16° 50’ 1”, e Longitude Oeste 48° 11’ 56” a 48° 47’ 18”. As águas que percorrem
esta região escoam em direção ao Rio Corumbá, que faz parte à unidade ictiogeográfica do
Complexo Paraná/Paraguai.
O local estudado está situado majoritariamente na região Sudeste do estado Goiano,
drenando parte dos municípios de Orizona, Pires do Rio, Vianópolis, Luziânia, Silvânia, Gameleira
de Goiás, Leopoldo de Bulhões e Anápolis, conforme demonstrado na figura 2.
Ressalta-se que nenhum dos municípios banhados pela BH do Rio Piracanjuba II é dre-
nado em sua totalidade pela mesma. A área possui aproximadamente 4.306,61 km², e está
localizada no Cerrado brasileiro, que paulatinamente vem perdendo parte de sua biodiversi-
dade original devido ao uso predatório da agropecuária (GOMES, 2008).
A drenagem da bacia apresenta um bom potencial hidráulico, variando de altitudes de
1.120 m nas regiões mais altas, à 656 m em sua foz. O local possui características de rios de
planalto e predominância de drenagens perenes com regime hídrico pluvial.
Tais singularidades são responsáveis por manter um curso com correntezas em alguns
trechos, o que auxiliaria na construção de hidrelétricas. No entanto, as secas cada vez mais
severas e a utilização indiscriminada da terra no local está culminando em períodos de estia-
gem mais rígidos, reduzindo a quantidade de água disponível nos córregos, ribeirões e conse-
quentemente no próprio Rio Piracanjuba.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1032 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando

Figura 2 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II-GO

Elaboração: Autoria própria.

Na figura 3 são ilustrados os dados altimétricos da bacia, retratando as áreas de menor e


maior altitudes da região.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1033

Figura 3 – Altimetria da Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II

Elaboração: Autoria própria

Esta variação hipsométrica ilustrada na figura 3 faz com que o Rio Piracanjuba II se torne
visado para a construção de usinas hidrelétricas, possuindo no decorrer de seu leito, cinco usi-
nas com projeto básico registrado (PARH CORUMBÁ, 2013), ou seja, é necessário a existência
de estudos acerca do potencial hidráulico, das características físicas do local, do dimensiona-
mento da barragem, além dos custos financeiros.
Há também outras sete hidrelétricas inventariadas (PARH CORUMBÁ, 2013), onde o
estudo deve ser mais detalhado e realizado após estar registrado. Salienta-se que esta é a prin-
cipal fonte de geração de energia elétrica do Brasil, despertando o interesse na construção das
mesmas no leito do rio supracitado. Na figura 4 é demostrada a distribuição destes estudos /
planejamentos na construção de usinas hidrelétricas no local.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1034 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando

Figura 4 – Aproveitamento Hidráulico da Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II

Elaboração: Autoria própria.

Para melhor demonstrar a topografia longitudinal do Rio Piracanjuba II, foi elaborado o
perfil topográfico do mesmo afim de melhor visualizar o motivo de tal interesse hidráulico na
área, e compreender a dinâmica do rio. Neste sentido, na figura 5 é esboçado o perfil longitu-
dinal da drenagem em epígrafe, onde no eixo das ordenadas (Y) está situado os índices altimé-
tricos, e no eixo das abscissas (X) a distância do curso da água em metros.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1035

Figura 5 – Perfil Topográfico do Rio Piracanjuba II

Elaboração: Autoria própria.

Como é ilustrado na figura 5, a parte superior da bacia possui áreas com maior desnível,
onde possivelmente a velocidade da água é maior. Já na parte média há uma menor declivi-
dade e a velocidade de deslocamento da água é reduzida nas proximidades do quilômetro 59
até meados do quilômetro 138 da drenagem. Após este trecho, o desnivelamento continua
sendo majoritariamente de pouca intensidade, intercalados com áreas de maior desnível, até
desaguar no Rio Corumbá.
As usinas hidrelétricas são as principais fontes geradoras de energia elétrica do Brasil,
e a presença das mesmas nos principais cursos d’água do país são comuns, principalmente
em áreas de planalto (LEONEL, 2020). Destaca-se que estas formas de produção energética
também acarretam diversos impactos socioambientais, justificando a discussão das mesmas
nesse artigo.
De acordo com Leonel (2020) os desmatamentos necessários para a construção destas
usinas podem reduzir a pluviosidade, já que com a redução das chuvas também diminuem o
volume hídrico, gerando debates contra elas. O autor ainda complementa aconselhando diver-
sificar a produção de energia, aumentando a produção energética solar, eólica e de biomassa
por exemplo.
Além disso, estima-se que cada vez que as águas encontram um represamento, há uma
perda de aproximadamente 60% dos sedimentos e nutrientes essenciais para seu equilíbrio
ecossistêmico, prejudicando inúmeras espécies bióticas dependentes do rio (LEONEL, 2020).
Prosseguindo na caracterização da bacia, evidencia-se que a mesma está localizada em
regiões de Cerrado brasileiro, cujo clima predominante é caracterizado especialmente por
duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa, com média de precipitação e tem-
peratura anual variando entre 1.200 a 1.800 mm, e entorno de 22 a 23 ºC respectivamente
(COUTINHO, 2000).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1036 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando

Assimilar tais dados são essenciais na compreensão dos cálculos morfométricos, sendo
assim, no próximo item será discutido as singularidades geométricas, do relevo e da drenagem
do Rio Piracanjuba II.

4.1 Características morfométricas


Já tendo abordado algumas das conceituações supracitadas, será exposto neste item as
caracterizações morfométricas da Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II, que, como mencio-
nado, favorecem o processo de gestão de áreas, resultando numa melhor possibilidade de
manejo sustentável do local.
Para discorrer sobre as morfometrias selecionadas, é necessário apresentar as siglas uti-
lizadas. Neste sentido, A = Área da bacia; P = Perímetro; Kc = Coeficiente de compacidade; Ic =
Índice de circularidade; Hmx = Altitude máxima; Hmn = Altitude mínima; Hm = Amplitude alti-
métrica máxima da bacia; Ir = Índice de rugosidade; S = Sinuosidade do curso d’água; Lp =
Comprimento da drenagem principal; Lt = Comprimento da telvague; N = Comprimento total
dos canais; Dr = Densidade de rios; e Nt = Quantidade de cursos d’água.
Na tabela 1 é apresentado as características geométricas, do relevo e da rede de drena-
gem da bacia, assim como os parâmetros morfométricos, suas respectivas fórmulas ou siglas,
os resultados e as devidas unidades de medidas.

Tabela 1 – Cálculos morfométricos da Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II

Unidades
Parâmetros Morfométricos Fórmulas / Siglas Resultados
de Medida
Área da bacia (A) 4.306,61 km²

Características Perímetro da bacia (P) 406,68 km


Geométricas Coeficiente de Compacidade (Kc = 0,28 ÷ √A) 1,73 km²
Índice de Circularidade (Ic = 12,57 × A ÷ P²) 0,33 --
Altitude Máxima (Hmx) 1.120 m
Altitude Mínima (Hmn) 656 m
Características Amplitude Altimétrica Máxima da
(Hm) 464 m
do Relevo Bacia
Índice de Rugosidade (Ir = Hm × Dd) 736,51 --
Sinuosidade do Curso D’água (S = Lp ÷ Lt) 1,51 m/m
Comprimento do Telvague (Lt) 123,66 km
Características
da Rede de Densidade de Rios (Dr = Nt ÷ A) 0,51 --
Drenagem
Comprimento do Canal Principal (Lp) 187,43 km

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1037

Unidades
Parâmetros Morfométricos Fórmulas / Siglas Resultados
de Medida
Ordem da Bacia (Classificação de
(Ordem) 6.ª --
Strahler)
Ext. dos Canais de 1.ª Ordem (Ordem) 1.336,41 km
Ext. dos Canais de 2.ª Ordem (Ordem) 633,88 km
Ext. dos Canais de 3.ª Ordem (Ordem) 352,14 km
Características
da Rede de Ext. dos Canais de 4.ª Ordem (Ordem) 219,78 km
Drenagem Ext. dos Canais de 5.ª Ordem (Ordem) 34,46 km
Ext. dos Canais de 6.ª Ordem (Ordem) 124,75 km
Comprimento Total dos canais (N) 2.701,42 km
Coeficiente de Manutenção (Cm = 1 ÷ Dd × 1000) 1.587,30 m²/m
Densidade de Drenagem (Dd = N ÷ A) 0,63 km/km²
Elaboração: Autoria própria.

Nesse sentido, como demonstrado na tabela 1, a dinâmica da bacia hidrográfica anali-


sada ocorre em uma área de 4.306,61 km², e possui um perímetro de 406,68 km de extensão,
contando ainda com uma rede de drenagem de 6.ª ordem a partir da classificação de Strahler
(1957).
Enfatiza-se que o leito principal contém 187,43 km de extensão, e em linha reta 123,66
km. Essa diferença indica que a telvague possui 65,98 % do tamanho real do Rio Piracanjuba II,
e de acordo com Lima (2006) a drenagem principal apresenta uma alta retilinearidade. Ainda
nesta perspectiva, a sinuosidade (S) local é de 1,51, onde valores próximos a um representam
canais retilíneos, e iguais ou superiores a dois indicam canais tortuosos, com padrão meândrico
(FREITAS, 1952 apud SANTOS et al., 2012).
Ainda de acordo com Lima (2006) a retilinearidade é diferente da sinuosidade, já que a
primeira representa a orientação retilínea dos canais, e o segundo indica as curvas delineadas
no decorrer da linha de drenagem principal.
O padrão de escoamento local ainda conta com uma densidade de drenagem (Dd) de
0,63. Este dado pode ser relacionado tanto às características do relevo (LIMA, 2006), quanto a
resistência das rochas sobre fenômenos intempéricos (CHRISTOFOLETTI, 1980). Neste sentido,
o mesmo indica que quanto menor este valor, menor é a frequência de canais na área, refle-
tindo num relevo com características mais resistentes a fenômenos intempéricos, e solos per-
meáveis devido às características da granulometria.
Ressalta-se que o coeficiente de manutenção da área é de 1.587,30 metros quadrados,
assim, são necessários este valor para manter perene um metro de drenagem na Bacia
Hidrográfica do Rio Piracanjuba II.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1038 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando

A extensão aproximada da drenagem local é de 2.701,42 km, espalhados em uma área de


4.306,61 km². Estes dados rechaçam que a bacia possui uma densidade de rios (Dr) de 0,51 km,
ou seja, possui esta quilometragem de cursos d’água por quilômetro quadrado.
Os dados altimétricos aliados à hidrografia são responsáveis por determinar o índice de
rugosidade (Ir) em 736,51, sendo que, de acordo com Silva et al. (2018) quanto maior este resul-
tado, mais provável será a ocorrência de desastres na área. Christofoletti (1980) complementa
citando que o mesmo representa o formato das vertentes, caracterizando seu desnível médio.
Outros dados essenciais e indispensáveis ao analisar as morfometrias de bacias hidrográ-
ficas são o índice de circularidade (Ic) e o coeficiente de compacidade (kc), que representam o
formato da bacia.
O primeiro (Ic) conta com um valor de 0,33, sendo que, quando estes dados são próximos
a zero, a bacia tende a possuir um formato mais alongado, no entanto, quando se aproxima de
um, o local apresenta características circulares (CARDOSO et al., 2006).
Por fim, o coeficiente de compacidade (kc) possui o valor de 1,73, e de acordo com Villela
e Mattos (1975) quanto mais este número for próximo a um, maior a circularidade da bacia, ou
seja, maior a probabilidade de enchentes. Entretanto, quanto maior, mais alongada será a
mesma e menos propensa será a ocorrência de enchentes.
Neste sentido, após apresentar alguns dos dados de morfometria da BH do Rio Piracanjuba
II, percebe-se que o local possui uma baixa propensão a desastres naturais, tais como enchen-
tes e inundações. O formato alongado, o baixo padrão de sinuosidade concomitante a alta reti-
linearidade, a amplitude altimétrica, as baixas declividades em grande parte da área, a baixa
densidade de drenagem e de rios, refletem em características como: boa infiltração de água
para o lençol freático, velocidade de escoamento alta em alguns trechos, distribuição homogê-
nea de água ao longo do leito principal, relevo resistente a fenômenos intempéricos, boa
potencialidade para utilização agropecuária e exploração hidráulica, além de auxiliar na com-
preensão das características geométricas.
Vale destacar que quando se estuda as características morfométricas de um determi-
nado local, é primordial compreender as singularidades físicas deste ambiente, tendo em vista
que nem sempre estes cálculos irão representar a realidade concreta. Reafirma-se que esta é
uma possibilidade complementar para se utilizar no planejamento e gestão sustentável de
bacias hidrográficas, a fim de compreender matematicamente as características do relevo e da
rede de drenagem.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a finalização deste artigo destaca-se a importância de compreender as característi-
cas físicas das áreas, a fim de melhor gerir o ambiente local. Para isso, a utilização dos cálculos
morfométricos podem ser essenciais para identificar os locais que necessitam de atenção

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MORFOMETRIAS E O MANEJO SUSTENTÁVEL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1039

devido às suas singularidades, especialmente ao desenvolve-los em regiões não muito exten-


sas e não tão generalizadas.
Teodoro et al. (2007) reforçam as perspectivas supracitadas ao dizerem que estes estu-
dos possibilitam elucidar as características e vulnerabilidades ambientais a partir de uma com-
binação de diferentes morfometrias, permitindo ser complemento ao manejo sustentável de
diferentes localidades.
Nota-se que a Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II possui um formato alongado e
uma variação altimétrica de 464 metros, sendo a área superior da bacia possuinte de um perfil
topográfico mais acentuado, o que proporciona uma maior velocidade no curso d’água. Nas
zonas centrais e baixas da bacia, esta variação segue em menor intensidade, entretanto, há
locais que a declividade é mais acentuada, chamando a atenção do local para a construção de
usinas hidrelétricas.
Ainda sobre os cálculos realizados na BH do Rio Piracanjuba II, verifica-se que a mesma
possui um coeficiente de manutenção de mais de 1,5 km² para manter perene um metro de
canal. Sendo assim, a densidade de rios indica que a bacia possui uma média de 0,51 km de
drenagem a cada 1 km². O rio principal possui um formato retilíneo segundo as definições de
Lima (2006), e este fator seria um dos principais atrativos do local quanto à construção de
hidrelétricas, já que não há tantas curvaturas para reduzir a velocidade da água.
De posse destas considerações, é possível citar que tal pesquisa atingiu seu objetivo de
reforçar a importância da utilização de cálculos matemáticos através das morfometrias, a fim
de indicar a utilização destes em BHs, afim de gerir o meio de forma mais detalhada e precisa.
Dito isso, espera-se com esse estudo estimular principalmente a utilização sustentável
do local e indicar a morfometria como um recurso eficaz para compreender as características
locais e gerir o ambiente em diversas escalas. Percebe-se então que as características da rede
de drenagem e do relevo local chamam a atenção à construção de hidrelétricas, o que pode
desestabilizar ainda mais a região que já está repleta de modificações antrópicas, que causam
prejuízos à sustentabilidade local.
Por fim, sugere-se para posteriores pesquisas, analisar as características de cada sub-ba-
cia ou microbacia inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Piracanjuba II, afim de aumentar o deta-
lhamento das características da região, e assim, gerir estes locais com maior precisão.

6 Referências
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89. MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA
MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL,
MUNICÍPIO DE PIRES DO RIO-GO
– 1985 A 2018

SILAS PEREIRA TRINDADE1


MATHEUS CALDEIRA ALVES MENDES2

Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar a dinâmica da evolução de uso do solo e a sucessão
direta destas mudanças na microbacia do Ribeirão Laranjal, bacia esta que fornece os recursos
hídricos necessários do município de Pires do Rio-GO, localizado em região de cerrado. A metodo-
logia utilizada foi pautada na revisão bibliográfica e na obtenção de dados via Sensoriamento
Remoto, adotando o seguinte roteiro: a) revisão da literatura; b) delimitação da área de estudo; c)
elaboração dos mapas de uso do solo dos anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2018. Os resultados
mostraram o predomínio das áreas de pastagens com uma intensa redução da vegetação nativa,
respectivamente ao avanço da agricultura em menor proporção. Nessa perspectiva, também foi
possível constatar que as classes de pastagens avançaram primordialmente sobre as áreas de
vegetação, numa sucessão direta que foi intercalada com a agricultura.
Palavras-chave: Geoprocessamento; Ordenamento Territorial; Bacia Hidrográfica; Cobertura da
Terra.
Abstract: This study analyses the dynamics of the evolution of land use in the Ribeirão Laranjal
micro-basin, which supplies water to the municipality of Pires do Rio-GO, located in the cerrado
region. The methodology employed was remote sensing, using the following procedures: a) the
delimitation of the study area, b) the elaboration of land use maps from 1985 to 2018. The results
show the predominance of pasture areas with an intense reduction of native vegetation, corre-
sponding to a lower proportion in the advance of agriculture. From this perspective, it is evident
that the category of pastures moved primarily into the vegetation areas in a direct succession that
was interspersed with agriculture.
Keywords: Geoprocessing; Land Use Planning; River Basin; Land Cover.

1 UEG. E-mail: silas.trindade@ueg.br


2 UFCAT. E-mail: matheuscamendes@gmail.com

[ 1042 ]
MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL 1043

1 INTRODUÇÃO
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, com uma área de ~2,4 milhões
de km2, presente nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal,
Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná e São Paulo, além de também estar
presente no Amapá, Roraima e Amazonas por meio dos encraves de vegetação (IBGE, 2019).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2007) o Cerrado e o Pantanal brasileiro encon-
tram-se dentro das áreas destinadas para a conservação, considerando a sua importância em
relação ao número de espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção. Segundo Siqueira e
Faria (2019), a região de Cerrado é um dos 34 hotspots de biodiversidade, estando exposta a
um grande nível de degradação ambiental proveniente das práticas econômicas e sociais atra-
sadas tecnologicamente.
As áreas de Cerrado brasileiro passaram a partir da década de 1970 pelo processo de
modernização da agricultura, caracterizado pelo avanço da fronteira agrícola (MARTINS, 1996;
KAGEYAMA, 1996; SILVA et al., 2013). Este processo promoveu alterações estruturais na dinâ-
mica do cenário agropecuário dessa região, transformando-a em um modelo agroexportador
de commodities com intenso envolvimento tecnológico e de pressões ambientais sobre os
ecossistemas naturais. Nas últimas cinco décadas o Cerrado tornou-se uma das maiores áreas
produtoras de grãos, algodão, carne, biocombustíveis do país, resultando na conversão de
áreas naturais em agroecossistemas (PREVADELLO; CARVALHO, 2006.
O avanço da agricultura e da pecuária nas áreas de Cerrado promove significativas
mudanças nas áreas de vegetação nativa. Desse modo, o uso do solo passa por mudanças na
sua dinâmica que causam diversas formas de degradação ambiental mediante a organização
do espaço (DUARTE; SILVA, 2019). As mudanças de uso do solo apresentam impactos associa-
dos com a expansão da fronteira agrícola diante das alterações estruturais que ocorrem com a
variação temporal da expansão agropecuária associada com a modernização da agricultura e
pecuária que apresentam as mudanças de usos dos solos (PIMENTEL et al., 2011).
A degradação ambiental no Cerrado é sentida diretamente nas áreas de bacias hidrográ-
ficas devido ao seu caráter sistêmico de integração entre os elementos antrópicos e físicos da
paisagem. Nessa perspectiva, Porto e Porto (2008) analisaram as bacias hidrográficas como
unidades delimitadas em que ocorre a entrada e saída de energia. Nesse sentido, a Política
Nacional de Recursos Hídricos, Lei 9.433 de 1997, caracteriza as bacias e sub-bacias hidrográfi-
cas como unidades de planejamento, visto que são áreas delimitadas fisicamente e interligadas
com outras bacias e sub-bacias que possibilitam o manejo integrado de modo conservacionista
(SANTANA, 2003).
Diante da degradação das áreas de vegetação natural, os efeitos sistêmicos são apresenta-
dos nos recursos hídricos por meio da degradação ambiental dirigida pela possibilidade da perda
de qualidade e da quantidade destes recursos. Nessa perspectiva, Setti et al. (2000) considera
que o ambiente de escassez e de degradação hídrica ocorre diante do exagerado crescimento das

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1044 Silas Pereira Trindade; Matheus Caldeira Alves Mendes

demandas localizadas e da degradação acelerada decorrentes de práticas desenvolvimentistas


através dos processos de urbanização, industrialização e da expansão agrícola.
À medida que o uso da água se torna mais intensificado, a busca pelo seu aproveita-
mento racional se torna emergencial, e a necessidade de controlar e gerir os regimes das águas
e das bacias hidrográficas tornam-se primordiais, uma vez que estes afetam o comportamento
hidrológico dos rios, em sua oferta, escassez e também a sua qualidade.
As mudanças de uso do solo, tendo como base as unidades de planejamento das bacias
hidrográficas, interligam os elementos físicos, como: recursos hídricos, solos, geologia, geomor-
fologia e vegetação com o meio social e econômico, diante das alternativas das mudanças da eco-
nomia tendo as alterações na dinâmica ambiental manifestadas dentro dos limites das áreas de
drenagens. Desse modo, conforme Mcdonnell et al. (1997), as compreensões dos processos
antrópicos sobre os sistemas naturais se baseiam nas mudanças dos padrões ecossistêmicos.
Para entender melhor estes processos das mudanças de uso do solo nas bacias hidrográ-
ficas, este estudo objetivou analisar a evolução desta dinâmica na microbacia do Ribeirão
Laranjal, bacia de fornecimento hídrico da cidade de Pires do Rio-GO, diante das mudanças de
usos dentro da perspectiva de sucessões diretas e convenções de usos. Nesse sentido, anali-
sou-se este fenômeno durante três décadas, enfocando nos anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e
2018, período mais evidente do avanço e consolidação da fronteira agrícola na região.

2 METODOLOGIA
O desenvolvimento desta pesquisa realizou-se em três partes: a primeira, consistiu na
revisão da literatura; a segunda na delimitação da área de estudo (delimitação da bacia de dre-
nagem); e na terceira fez-se o levantamento dos usos dos solos para os anos de 1985, 1995,
2005, 2015 e 2018 na área da bacia. Sendo assim, os principais procedimentos metodológicos
podem ser observados na figura 1.
O primeiro passo para o desenvolvimento desta pesquisa foi pautado na revisão biblio-
gráfica, sendo considerado um dos principais fatores ao elaborar uma pesquisa científica. Para
isto foi recorrido a autores como Kageyama (1996), Mcdonnell et al. (1997), Setti et al. (2000),
Miziara (2011), e Silva et al. (2013), para embasar teoricamente tal pesquisa.
A delimitação da área da bacia estudada e a definição do leito de drenagem foi desenvol-
vido no segundo passo. Nesta etapa, utilizou-se imagens de radar do Projeto Topodata (alti-
tude) e também imagens do Satélite Landsat 8 (L8), na composição RGB 456, do ano de 2018.
Por meio destas imagens realizou-se a vetorização para delimitar os canais de drenagem e tam-
bém a área de estudo dos quais foram considerados os divisores de água no Arcgis 10.3.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL 1045

Figura 1 – Procedimentos metodológicos da pesquisa

Fonte: os autores.

Os mapas de uso do solo foram desenvolvidos a partir da segmentação e classificação de


imagens dos satélites Landsat 5 e Landsat 8, em uma sucessão decenal entre os anos de 1985
e 2018. Estas imagens foram processadas no software Spring 5.4.3 utilizado o processamento
de segmentação e classificação supervisionada, realizada no Arcgis 10.3 que considerou as
classes referentes à agricultura, pastagens, vegetação e área urbana. Para constituir as infor-
mações sobre os usos dos solos da microbacia do Ribeirão Laranjal, numa perspectiva tempo-
ral, selecionou-se as classes de Pastagens, Agricultura, Vegetação e Área Urbana, por meio do
Arcgis 10.3. Estes dados foram tabulados e trabalhados no Excel gerando os quantitativos de
áreas em hectares (ha) de cada classe de uso por ano analisado.

3 RESULTADOS
3.1 Localização da Área de Estudo
A Microbacia do Ribeirão Laranjal localiza-se no município de Pires do Rio-GO, na Região de
Planejamento do Sudeste Goiano (Figura 2). Ela faz parte do Complexo da Bacia do Rio Corumbá,
pertencendo a Região Hidrográfica do Rio Paranaíba. O Ribeirão é a principal fonte de abasteci-
mento hídrico da área urbana do município que conta com uma população estimada de 31.151
pessoas (IBGE, 2017). A microbacia hidrográfica possui uma área total de ~5.024,21 ha.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1046 Silas Pereira Trindade; Matheus Caldeira Alves Mendes

Figura 2 – Mapa de localização da área de estudo

Organização: os autores.

3.2 Dinâmica dos Usos dos Solos na Microbacia do Ribeirão Laranjal


Os usos dos solos são as relações de ocupação das classes pedológicas pelos elementos
naturais e antrópicos dispostos em relações que variam regionalmente. Os diferentes usos
estão relacionados por múltiplas combinações, sendo que as principais são as áreas de vegeta-
ção nativa ou preservadas, as áreas de pastagens diversas, regiões de agricultura, áreas urba-
nas e outras.
O uso do solo é influenciado por diversos fatores sendo os principais deles as relações
naturais, os fatores econômicos e a dinâmica temporal. As condições naturais se relacionam
com o potencial produtivo de determinadas áreas, interligadas com os seus limites e condições
de aptidão agrícola. Os fatores econômicos garantem os diferentes níveis de produtividade,
relacionados aos vários níveis de investimentos tecnológicos.
A variável temporal está conectada com as possibilidades de mudanças dos distintos
tipos de uso dos solos, onde as modificações econômicas regionais interferem nas relações
naturais e antrópicas em relação aos diferentes ciclos econômicos.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL 1047

Para Almeida, Monteiro e Câmara (2005) o uso do solo varia pela utilização da terra por
populações locais, realizando o aproveitamento dos recursos naturais. Em compensação,
ocorre a geração de impactos diretamente relacionados com os usos intensivos. A importância
da determinação cronológica dos usos dos solos está ligada com as relações de degradação dos
sistemas naturais que demandam ações de planejamento e de ordenamento territorial. Esta
dinâmica interfere na qualidade dos sistemas naturais e dos retornos financeiros, interferindo
em ações para impedir a degradação ambiental (CAMPOS et al., 2010).
A caracterização dos usos dos solos na microbacia do Ribeirão Laranjal, bacia de capta-
ção e fornecimento hídrico do município de Pires do Rio-GO, expressa a quantificação das con-
dições das relações naturais e antrópicas diante das mudanças econômicas regionais. Este
fator ressalta a necessidade em criar condições para proteção dos recursos florestais, dos solos
e dos recursos hídricos perante o avanço da fronteira agrícola.
O modelo de análise da evolução do uso do solo adotado nesta pesquisa, pode ser obser-
vado na figura 3, que apresenta as alterações das progressões das classes de uso para os anos
de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2018.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1048 Silas Pereira Trindade; Matheus Caldeira Alves Mendes

Figura 3 – Modelo de evolução do uso do solo na bacia do Ribeirão Laranjal-1985 a 2018

.
Organização: os autores

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL 1049

Com base na figura anterior, que utilizou as classes de vegetação, pastagem, agricultura
e área urbana, foi possível analisar a dinâmica dos tipos de usos, em relação às suas áreas, con-
forme a tabela 1.

Tabela 1 – Áreas das classes de usos do solo na bacia do Ribeirão Laranjal – 1985 a 2018

Uso 1985 % 1995 % 2005 % 2015 % 2018 %

Vegetação 2369,37 47,16 1285,04 25,58 1387,11 27,61 1370,50 27,28 1138,54 22,66

Pastagem 2103,10 41,86 2659,04 52,92 2399,31 47,75 2323,20 46,24 2335,73 46,49

Agricultura 294,60 5,86 661,84 13,17 801,33 15,95 903,77 17,99 1102,79 21,95

Área Urbana 257,31 5,12 418,46 8,33 436,63 8,69 426,91 8,50 447,32 8,90

Total 5024,38 100,00 5024,38 100,00 5024,38 100,00 5024,38 100,00 5024,38 100
Organização: os autores.

No primeiro período analisado, o ano de 1985, apresentou predomínio das áreas de


vegetação nativa com ocupação de 47,16% da área total. Neste percentual, segue-se a segunda
classe de uso de maior grandeza, as pastagens, compreendidas como áreas de produção de
gado, ocupando 41,86% da Microbacia do Ribeirão Laranjal. Em menor proporção, registrou-se
a presença de agriculturas comerciais, prevalecendo a produção de grãos, ocupando cerca de
5,80% da área e também a presença de área urbana de parte da cidade de Pires do Rio-GO,
ocupando cerca de 5,10% da área da microbacia.
O ano de 1995, segundo decênio analisado, replicou o predomínio das áreas de pastagens
que chegaram a ocupar 52,92% da área de estudo. Em seguida, a classe de vegetação nativa ocu-
pou 25,58% do total, seguida pelas áreas agrícolas (13,17%) e áreas urbanas (8,33%). Neste decê-
nio foi possível notar uma alteração no padrão do uso do solo na Microbacia do Ribeirão Laranjal,
ocorrendo um elevado aumento das de uso antrópico, compreendidas pelas áreas de pastagens,
agricultura e área urbanas, e redução das áreas de vegetação nativa, destacando-se o intenso
aumento das áreas de pastagens que ultrapassou os demais tipos de uso do solo.
O ano de 2005 manteve o mesmo padrão do período anterior, com predomínio das pas-
tagens (47,75%), seguidos pela vegetação (27,61%), agricultura (15,95%) e a área urbana (8,69%).
Contudo, é importante salientar que apesar do mesmo padrão, ocorreu uma ligeira redução
das áreas de pastagens e aumento da ocupação por áreas de vegetação nativa, sugerindo uma
regeneração das áreas de cerrado nesta variação uma década. Este processo relacionado com
as maiores áreas de remanescentes de vegetação entra em acordo com que Santos et al. (2019)
salientam sobre o fortalecimento do código florestal brasileiro, mantendo medidas preserva-
cionistas das áreas naturais. As áreas agrícolas também apresentaram o padrão de aumento de
suas áreas acompanhadas pela ligeira ampliação das áreas urbanas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1050 Silas Pereira Trindade; Matheus Caldeira Alves Mendes

O período relacionado com o ano de 2015 predominou as áreas de pastagens, que pas-
sou por uma redução em relação ao decênio anterior, atingindo o percentual de 46,24% da
área de estudo. Nessa sequência, a classe da vegetação nativa apresentou-se ligeiramente
estável, com 27,28% da região. Os usos referentes à agricultura sofreram aumento, levando a
ocupar quase 18,00% da área da bacia do Ribeirão Laranjal. Por fim, neste período, as áreas
urbanas também apresentaram praticamente estáveis em relação ao período anterior com
uma ocupação de 8,50% da área.
O último período analisado, o ano de 2018, também repetiu os padrões dos períodos
apresentados. Neste ano, as classes das pastagens chegaram a 46,49%, seguidas pelas áreas de
vegetação nativa, com 22,66%, agricultura, com cerca de 22,00% e as áreas urbanas, com
8,90%. Porém, ocorreu alteração na dinâmica da ocupação do uso do solo em relação às gran-
dezas destas classes. Sobre o ano de 2015, as áreas de pastagens permanecem estabilizadas,
assim como as áreas urbanas. Nota-se que os dados analisados da tabela 1 apresentaram uma
rápida perda nas áreas de vegetação, acompanhada de um ligeiro aumento das áreas agrícolas
na microbacia estudada.
A dinâmica do uso do solo da microbacia do Ribeirão Laranjal, entre os anos de 1985 e
2018, mostrou uma permanente queda das áreas de vegetação nativa relacionadas com as
áreas de cerrado, sobretudo entre aos anos de 1985 a 1995. Neste período, também ocorreu o
maior avanço das áreas de pastagens que atingiram o seu auge de 53% da área de estudo na
década de 1990, e se iniciou o avanço das áreas agrícolas que apresentavam 5,8% de área ocu-
pada e chegaram aos 13,17% do total microbacia.
Diante destes dados é possível deduzir que a fronteira agrícola, por meio da frente pio-
neira, teve destaque até o período de 1985 e a frente de expansão teve maior intensidade a
partir do ano de 1995, com a implantação da agricultura moderna nas áreas aptas para tais ati-
vidades. Contudo, a classe de uso predominante identificada na microbacia do Ribeirão Laranjal
são as pastagens. A sua dinâmica na área de estudo mostrou que houve uma pequena redução
das suas áreas e um avanço ininterrupto da produção agrícola, sendo que a alteração destas
duas classes foi acompanhada pela a redução da vegetação nativa, apresentando o processo
de mudanças de uso do solo relacionado com a dinâmica da agropecuária, vegetação e das
áreas urbanas na microbacia do Ribeirão Laranjal.

4 CONCLUSÕES
A utilização de técnicas de Sensoriamento Remoto e de Geoprocessamento possibilitou
o entendimento das mudanças de uso do solo da microbacia analisada. O uso destas ferramen-
tas permitiu a caracterização temporal das alterações das classes selecionadas promovendo a
análise ambiental, a quantificação e a compreensão dos avanços em relação ao fenômeno das
conversões de uso.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL 1051

A análise temporal da área drenada pelo Ribeirão Laranjal mostrou a consolidação das
pastagens que saíram de 41,86% de ocupação chegou ao seu maior valor de 52,92% no ano de
1995, atingindo ao valor final de 46,49% no ano de 2018, último ano analisado. A segunda
classe de maior significância na região estudada foram as áreas de vegetação, apesar de ter
sofrido grande redução em 1985, apresentou uma taxa de 47,16% de ocupação da área da
microbacia, que reduziu para 22,66% no ano de 2018, sendo a que mais foi reduzida. As áreas
de agricultura, compreendidas com culturas anuais, apresentaram um intenso aumento
durante o período estudado em que saiu dos 5,86% no primeiro ano pesquisado e que chegou
aos 21,95% na última análise.
Na perspectiva das mudanças diretas de uso do solo a classe de uso que mais avançou
sobre as áreas de vegetação nativa foram as pastagens. As classes relacionadas com a agricul-
tura mantiveram um padrão de substituição das áreas diante da dualidade entre o avanço
sobre as áreas nativas e as áreas de pastagens. Contudo, a relação do avanço das pastagens e
agricultura indica que enquanto ocorre o avanço da primeira sobre as áreas de florestas, a
segunda ocorre primordialmente sobre as áreas de pastos, representando empiricamente o
contexto do avanço da fronteira agrícola por meio da frente pioneira e frente de expansão nas
áreas de Cerrado.
As áreas de vegetação também foram responsáveis pelas mudanças de uso do solo da
qual ocorreu sobre as áreas de pastagens em sua maioria. Esta conversão de uso pode ter ocor-
rido, apesar da redução das áreas de vegetação nativa, através da recuperação e/ou regenera-
ção natural dos remanescentes de vegetação nativa.
O estudo mostrou o desenvolvimento das atividades agropecuárias sobre as áreas de vege-
tação nativa. Este panorama chama a atenção para a demanda do planejamento ambiental nas
microbacias hidrográficas fornecedoras hídricas para os municípios das áreas de Cerrado. A
importância na preservação destas regiões está relacionada com a conservação dos recursos
hídricos. Desse modo, a redução das áreas de florestas naturais e a intensificação das práticas
agrícolas e pecuárias apresentam o cenário de degradação dos recursos naturais, demandando
assim sobre importância da seleção de áreas prioritárias para conservação referente ao remode-
lamento de sistemas produtivos voltados à importância de práticas de preservação ambiental.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


90. OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS
O caso do sistema hídrico
Papicu/Maceió, Fortaleza, Ceará

LUIS HENRIQUE DA SILVA UCHÔA1


GIOVANNA AZEVEDO DE MOURA VENÂNCIO2
LARISSA DE PINHO ARAGÃO3
LORAN HONÓRIO DA SILVA4

Resumo: O sistema hídrico Papicu/Maceió está localizado no município de Fortaleza, Ceará e


constitui parte integrante da Bacia da Vertente Marítima, incorporando a Lagoa do Papicu, riachos
Papicu e Maceió, com foz situada na Praia do Mucuripe. Apresenta grande relevância paisagística
e social para a população do entorno, agregando diversas funções ecológicas. Dessa forma, o obje-
tivo desse estudo foi sintetizar dados de trabalhos anteriores sobre o sistema hídrico Papicu/
Maceió, com ênfase na qualidade da água, discutindo como o processo de urbanização sem o
devido planejamento ambiental pode acarretar cenários de degradação ambiental em bacias
hidrográficas. Para tal, foi realizado um levantamento bibliográfico em artigos que reportavam
sobre a temática, verificando que o sistema hídrico analisado apresenta quadros de degradação
ambiental associados à contaminação das águas por esgotamento sanitário, poluição por resíduos
sólidos e processos de erosão e assoreamento, comprometendo as funções ecológicas associadas
às drenagens supracitadas.
Palavras-chave: gestão de recursos hídricos; planejamento ambiental; saneamento básico.
Abstract: The Papicu/Maceió water system is located in the municipality of Fortaleza, Ceará, and
is an integral part of the Vertente Marítima Basin, incorporating the Papicu Lagoon, Papicu and
Maceió streams, with an mouth situated at mucuripe beach. It has great landscape and social rele-
vance for the surrounding population, adding several ecological functions. Thus, the aim of this
study was to synthesize data from previous works on the Papicu/Maceió water system, with an
emphasis on water quality, discussing how the urbanization process without proper environmen-
tal planning can lead to scenarios of environmental degradation in watersheds. To this end, a
bibliographic survey was carried out on articles that reported on the theme, verifying that the
water system analyzed presents pictures of environmental degradation associated with water

1 Universidade Federal do Ceará. E-mail: silva.uchoa@alu.ufc.br


2 Universidade Federal do Ceará. E-mail: giovannaazevedo@alu.ufc.br
3 Universidade Federal do Ceará. E-mail: larissaaragao@gmail.com
4 Universidade Federal do Ceará. E-mail: loran10.0@hotmail.com

[ 1053 ]
1054 Luis Henrique da Silva Uchôa; Giovanna Azevedo de Moura Venâncio; Larissa de Pinho Aragão; Loran Honório da Silva

contamination by sewage, solid waste pollution and erosion and silting processes, compromising
the functions associated with the aforementioned drainages.
Keywords: water resources management; environmental planning; sanitation.

1 INTRODUÇÃO
A urbanização é um processo de ordem antrópica que ocorre de forma cada vez mais
intensa na modernidade, em que o processo de desenvolvimento econômico se apropria dos
espaços e os transformam em favorecimento da construção civil e industrial. Nesse sentido, os
diversos usos e ocupações urbanas são destinadas para fins comerciais, ocasionando o aumento
desmesurado da especulação imobiliária.
O uso do ambiente em benefício próprio acompanha o ser humano desde o início da civi-
lização, porém, com o processo de urbanização, a apropriação econômica dos espaços quase
sempre vem acompanhada de degradação dos sistemas naturais, como informa Jatobá (2011).
O autor destaca que a urbanização, por se tratar de concentração de pessoas e atividades pro-
dutivas, atua de forma intensa sobre determinado espaço restrito, gerando necessariamente,
um grande número de impactos degradadores ao meio ambiente circundante, com efeitos
sinérgicos e persistentes sobre a estabilidade socioambiental do entorno. Outrora, a necessi-
dade de recursos era agravada pela baixa tecnologia de transporte, o que limitava a mobili-
dade. A impossibilidade de obtenção imediata de água levou a humanidade a se assentar
próximos a rios e lagos, o que contribuiu para que atualmente as regiões costeiras tenham
maior densidade demográfica.
Situado no nordeste setentrional brasileiro, município de Fortaleza, o sistema hídrico
Papicu/Maceió é composto pela lagoa do Papicu e o riacho Maceió, fazendo parte da Bacia da
Vertente Marítima. A referida microbacia constitui um exemplo fidedigno de degradação
ambiental associada à ocupação desordenada do solo e do avanço da urbanização sem plane-
jamento prévio.
O sistema hídrico Papicu/Maceió representa um marco histórico na cidade de Fortaleza
e da enseada do Mucuripe, por onde também teve início o processo de ocupação territorial
municipal. Com relação à comunidade do Mucuripe, esta constituía inicialmente uma vila de
pescadores, com dois centros habitacionais na margem esquerda e direita do riacho Maceió. A
partir de 1950 o bairro expandiu-se e atualmente o Mucuripe é uma das áreas com a maior
valorização imobiliária no contexto geográfico e principalmente turístico de todo o conjunto
paisagístico do litoral cearense.
Com a modernização da cidade, amplia-se a necessidade de conviver próximo às fontes
de recursos naturais, que por sua vez diminuem progressivamente. O aumento populacional
faz com que a degradação do ambiente, que antes propiciara o desenvolvimento da região se
eleve drasticamente. Tal fato ocorre muitas vezes pela falta de educação ambiental e a urbani-
zação predatória. A concentração demográfica também fomenta a produção de resíduos, que

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS 1055

sem a infraestrutura adequada e somados com a falta de saneamento básico resultam na


degradação ambiental dos sistemas ambientais urbanos, ocorrendo predominantemente junto
às populações de baixa renda. Ao longo do sistema de drenagem do riacho Maceió, observa-se
o despejo de esgotos domésticos, que sem o tratamento adequado pode prejudicar direta-
mente as condições ambientais físicas e químicas dessas áreas.
O despejo do lixo diretamente no curso d’água gera problemas à saúde ambiental e agra-
vam os cenários de degradação ambiental já existentes no ecossistema fluvial e estuarino. Os
efluentes domésticos aportam resíduos orgânicos que causam a eutrofização dos mananciais,
desequilíbrio do pH e acabam por diminuir a biodiversidade naquele ecossistema. Para a ocupa-
ção adequada, considerando a necessidade minimizar os danos ao ambiente, faz-se mister um
processo de urbanização sustentável, demandando uma boa gestão do território a ser ocupado.
Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi sintetizar dados de trabalhos anteriores
sobre o sistema hídrico Papicu/Maceió, discutindo como o processo de urbanização dos gran-
des centros urbanos, sem o devido planejamento ambiental pode acarretar cenários de degra-
dação ambiental em bacias hidrográficas.

2 METODOLOGIA
A partir do levantamento bibliográfico realizado em artigos científicos que reportavam
sobre o sistema hídrico Papicu/Maceió, os resultados obtidos foram sistematizados, sobretudo
os relacionados à qualidade ambiental associada aos parâmetros físico-químicos da referida
microbacia.
As pesquisas feitas por SILVA et a.l (2011) foram realizadas com objetivos variados e
métodos diversificados. O Instituto de Ciências do Mar (Labomar) foi o principal polo de pes-
quisa, sendo a parte da Universidade Federal do Ceará que está direcionado aos estudos mari-
nhos e costeiros. Os dados obtidos foram comparados com os parâmetros ideais segundo as
entidades responsáveis pelo meio ambiente e saúde pública. Entre os métodos de coleta e aná-
lise, foram respectivos a cada fim, tempo por objetivo estabelecer por completo o que ocorre
na lagoa do Papicu e no riacho Maceió. Comparando o que hoje é observado com relatos de
moradores antigos da região, documentos históricos e artigos antigos que relatam como eram
a região antes da urbanização, como se deu o avanço e as OUC (operação urbana consorciada)
com a qualidade da água.
O trabalho de SILVA et a.l (2011) coletou amostras de 7 pontos ao longo do riacho Maceió
e da lagoa do Papicu (Tabela 1), respectivamente da lagoa até a foz, sendo o primeiro ponto de
coleta a lagoa e o último a 50 metros oeste da foz do riacho. A DBO5 (determinação da Demanda
Bioquímica de Oxigênio) foi realizada através do método de Winkler. A determinação do oxigênio
dissolvido (OD) foi realizada utilizando-se o método de Winkler com modificação da azida. A
determinação do potencial hidrogeniônico (pH) foi realizada através do método potenciométri-
co-eletrométrico. A colimetria das águas foi realizada empregando-se a técnica dos tubos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1056 Luis Henrique da Silva Uchôa; Giovanna Azevedo de Moura Venâncio; Larissa de Pinho Aragão; Loran Honório da Silva

múltiplos de acordo com Mehlman et al. A amônia total foi analisada pelo método da nessleriza-
ção direta. A determinação de nitrato foi realizada através do método espectrofotométrico UV, e
a análise de nitrito foi realizada utilizando-se o método espectrofotométrico/alfanaftilamina.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Localização e Histórico de ocupação do sistema hídrico Papicu/Maceió


A história humana está intimamente ligada a natureza, desde a origem das civilizações,
a  partir  da  sedentarização a humanidade buscou se assentar  próximos  de rios na busca de
água potável e terras mais férteis (Marcos 2011). É possível observar a predominância dos lei-
tos de rios na formação de antigos assentamentos humanos, tidos como as primeiras civiliza-
ções, o Rio Nilo no Egito, o Rito Tigre e o Rio Eufrates na Mesopotâmia.
Assim, as bacias hidrográficas tem um importante papel no desenvolvimento humano,
direta ou indiretamente, propiciando recursos, influenciando a distribuição demográfica e até
compondo a harmonia paisagística do ambiente, sendo fonte de vida e inspiração e não somente
como um recurso para a sobrevivência. No estado do Ceará os sistemas fluviais são bastante limi-
tados em seu potencial hídrico, sendo que apenas no setor litorâneo que há o predomínio de
uma drenagem perene, principalmente nos baixos cursos fluviais e fluviomarinhos.

Tabela 1 – Pontos de coleta de água no sistema hídrico Papicu/Maceió

Fonte: Adaptado de SILVA, 2011.

O estado do Ceará apresenta em seu território um total de 11 bacias hidrográficas, se


destacando as dos rios Timonha, Coreaú, Acaraú, Aracatiaçu/Aracati-mirim, Curu, Choró, Piranji
e Jaguaribe/Banabuiú como principais cursos d’água e algumas bacias hidrográficas menores
como as do litoral e a metropolitana. Dentre estas destacam-se em nossa pesquisa a Bacia de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS 1057

Vertente Marítima, que inclui os riachos Jacarecanga, Pajeú e Maceió, ocupando a parte cen-
tral e histórica do município de Fortaleza.
Objetivando efetivar uma análise pormenorizada quanto às condições de geoambientais
e socioeconômicas de uma bacia, optou-se pelo sistema fluviolacustre Papicu-Maceió. Esse sis-
tema se desenvolve o Parque Linear do Riacho Maceió, pertencente ao Sistema Municipal de
Áreas Verdes, formado por trechos do riacho homônimo e do sangradouro da Lagoa do Papicu,
somando aproximadamente 2.000 metros de extensão dos recursos hídricos.

Figura 1 – Mapa de Localização do Sistema Hídrico do riacho Papicu/Maceió

Fonte: Figura do autor.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1058 Luis Henrique da Silva Uchôa; Giovanna Azevedo de Moura Venâncio; Larissa de Pinho Aragão; Loran Honório da Silva

O Parque Linear do Riacho Maceió (Figura 1) pertence ao Sistema Municipal de Áreas


Verdes, formado por trechos do riacho de mesmo nome e do sangradouro da Lagoa do
Papicu, somando aproximadamente 2.000 metros de extensão dos recursos hídricos. O
Parque é delimitado por trechos de Zonas de Preservação Ambiental e, atualmente, ainda
não possui urbanização.

3.2 Qualidade Ambiental do Sistema Hídrico Papicu/Maceió


A paisagem que outrora constituía a região da foz do riacho Maceió, foi bastante modifi-
cada com o passar dos anos, a qual ecossistemas manguezais, entretanto, com a construção da
orla da praia do Mucuripe, todo o ecossistema foi sacrificado na busca de uma harmonia pai-
sagística artificial que mais agradasse aos turistas. As modificações na morfologia local afeta-
ram negativamente a pesca, que foi a atividade econômica que possibilitou a criação do bairro,
como relatam os próprios pescadores tradicionais.
As pesquisas realizadas quanto a qualidade da água para a biodiversidade local, mediu os
níveis de salinidade, PH, DBO, a concentração de nitrogênio na água e a Concentração de coli-
formes. Os resultados obtidos foram comparados com o que foi estabelecido pela Resolução
357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 17 de março de 2005, que
dispõe sobre a classificação dos corpos de água e as diretrizes ambientais para o seu enquadra-
mento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
O sistema hídrico Papicu/Maceió, é composto por águas enquadradas nas classes 1, 3 e
4 de acordo com a Resolução 357/2005 do CONAMA, sendo 1 águas doces: águas com salini-
dade igual ou inferior a 0,5 ‰; 3 águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30 ‰
e 4 ambientes lêntico: ambiente que se refere à água parada, com movimento lento ou estag-
nado. É classificado como água doce, podendo ser devido a recreação de contato primário,
proteção das comunidades aquáticas, aquicultura e produção de pescado e pela formação
natural de drenagem constituir o visual harmônico paisagístico.
Foi constatado que a salinidade é 0,026‰ nos pontos de coleta de 1 a 5, com exceção do
ponto de coleta 3 que corresponde a 0,022‰, sendo estes cinco primeiros pontos localizados
entre a lagoa do Papicu e o riacho Maceió. A salinidade nos pontos 6 e 7 oscila entre 32,2‰ e
35,56‰ localizados a 50 metros a leste e a 50 metros a oeste da foz do riacho Maceió. Sendo
uma variação significativa ente os pontos iniciais e finais da coleta.
O PH é um fator determinante para a preservação de espécies, influenciando direta-
mente na reprodução dos peixes, acreditasse que os pontos letais de acidez e alcalinidade são
de pH 4 e pH 11. Segundo BOYD (1990) as águas com valores que compreendem a faixa de 6,5
a 9,0, são as mais adequadas para reprodução de peixes. No sistema Hídrico Papicu/Maceió, a
média do PH nos 7 pontos de coleta é de 6,82, sendo o mais expressivo no ponto 6, correspon-
dendo a 7,64. Logo, as águas do córrego estão propícias a reprodução dos no que cabe a ques-
tão do PH.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS 1059

O oxigênio é um elemento essencial para a vida dos organismos aeróbios, e requer quan-
tidades significativas para um funcionamento adequado do ecossistema. Na resolução 357/2005
do CONAMA estabelece que o valor do OD (oxigênio dissolvido), em qualquer amostra deve ser
superior a 5,0 mgO2 /L para preservar a saúde do corpo d’água. Os pontos de coleta de 1 a 4
estão com valores a baixo do necessário, sendo o ponto mais crítico a lagoa do Papicu com 0,85
mgO2 /L. A média do OD no sistema hídrico é de 4,12 mgO2 /L.
A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é a determinação da quantidade de oxigênio
que é consumido na água por fatores bioquímicos, o que varia de acordo com a decomposição
de compostos orgânicos por processos biológicos. Segundo a Resolução 357/2005 do CONAMA,
o limite aceitável para essas águas é até 3,0 mg/L O2. sendo os valores de DBO5 obtidos nas
águas do complexo hídrico Papicu/Maceió, bem acima dos limites estabelecidos na legislação,
com exceção do ponto 2 (<1,0 mg/L O2).
A presença de Nitrogênio na lagoa do Papicu e no riacho Maceió é responsável pela
eutrofização, que de acordo com BARRETO et al. (2013) é reconhecida como um dos problemas
de qualidade da água de maior importância na atualidade. O nitrogênio está presente na água
em diferentes estados de oxidação, podendo ocasionar problemas além da eutrofização, afe-
tando diretamente a saúde. O nitrito e o nitrato estão associados a dois efeitos adversos à
saúde: a indução à metemoglobinemia e a formação potencial de nitrosaminas e nitrosamidas
carcinogênicas (ALABURDA & NISHIHARA, 1998).
Os valores de nitrito (NO2-) no sistema hídrico Papicu/Maceió, durante o período estu-
dado, variaram entre 0,004 mg/L no ponto de coleta 1 e 0,33 mg/L no ponto 7. Quanto as con-
centrações de nitrato (NO3-), foi constatado uma pequena variação, sendo o valor mínimo de
0,7 mg/L obtido no ponto de coleta 7, e o valor máximo de 4,9 mg/L, obtido no ponto de coleta
5, na foz do riacho Maceió. A concentração de amônia mais expressiva foi obtida no ponto de
coleta 5, localizado na foz do riacho Maceió, sendo o valor máximo (7,65 mg/L), o que pode ser
considerado bastante elevado, quando em comparação com os demais pontos de coleta. O
valor mínimo obtido foi de 0,03 mg/L, coletado no ponto de coleta 7.
O nitrogênio e o fósforo presentes nos rios e lagos são nutrientes de grande importância
à cadeia alimentar, entretanto, quando descarregados em altas concentrações em águas super-
ficiais e associados às boas condições de luminosidade provocam o enriquecimento do meio,
fenômeno este denominada eutrofização. (BARRETO et al, 2013)
As concentrações de coliformes totais, termotolerantes e Escherichia coli detectadas
excederam os valores estipulados pela Resolução 357/2005 do CONAMA em todas as amostras
analisadas para as classes no qual o sistema hídrico Papicu/Maceió se enquadram. De acordo
com a Resolução, o número de coliformes termotolerantes não deve exceder um limite de
1.000 coliformes por 100 mililitros em 80 % ou mais. Ao longo de um ano, foram colhidas
amostras dos 7 pontos de coleta de forma bimestral. De acordo com os dados presentes no
artigo original, todas as amostras apresentaram valores que excederam esse limite.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1060 Luis Henrique da Silva Uchôa; Giovanna Azevedo de Moura Venâncio; Larissa de Pinho Aragão; Loran Honório da Silva

Possivelmente, essa elevada concentração de coliformes e Escherichia coli, se deve ao esgoto


da região que é o principal efluente da lagoa do Papicu e do riacho Maceió.
O sistema hídrico Papicu/Maceió é vítima do crescimento acelerado do urbanismo e a
falta de planejamento ambiental. Foram constatados vários impactos na área, como por exem-
plo: contaminação das águas associados aos processos de erosão e assoreamento, bem como
a redução do espelho d’água da lagoa do Papicu. A fragilização da biodiversidade local é um
reflexo da degradação ambiental promovida pela falta de saneamento.
De acordo com as análises físico-químicas e bacteriológicas realizadas na área foi possível
observar que a lagoa do Papicu e o riacho Maceió é agredido de diversas fontes, desde o des-
pejo de efluentes residenciais, deposição de resíduos sólidos domésticos até a impermeabiliza-
ção do leito dos riachos. A Operação Urbana Consorciada de 2011, embora tenha reformado o
entorno da lagoa e do riacho, não realizou mudanças significativas que melhorassem a quali-
dade da água.
Quanto aos valores de oxigênio dissolvido na água, é visível a variação entre a lagoa do
Papicu, principal corpo hídrico desse sistema e o restante da bacia hidrográfica. Há uma redu-
ção significativa desse elemento devido ao grande aporte de efluentes domésticos para esse
manancial. O lançamento de esgotos domésticos provoca o aumento na concentração de
nutrientes, o que ocasiona um desequilíbrio no consumo de oxigênio.
De acordo com a Resolução nº 357/2005 do CONAMA, os valores da concentração de
Nitrito e Nitrato nas águas do sistema hídrico Papicu/ Maceió estão dentro do limite aceitável
estabelecidos na legislação.
Todo o sistema hídrico Papicu/Maceió apresenta sinais de poluição microbiológica por
coliformes. Todas as amostras que foram colhidas no período de um ano estão com os valores
maiores do que o aceitável segundo a Resolução 357/2005 do CONAMA. Os efluentes são os
responsáveis pelo valor elevado do NPM de coliformes, os esgotos domésticos e o deposito de
lixo na região são, portanto, prejudicais a saúde da comunidade local, que carece de um sanea-
mento básico digno.
É necessário um processo de saneamento moderno em paralelo as mudanças na infraes-
trutura da região. Os processos de reforma devem agir em conjunto com um planejamento
ambiental, de forma que as edificações e mudanças que ocorram na área atendam os requisi-
tos estabelecidos na Resolução 357/2005, visando a preservação do meio ambiente e a saúde
da comunidade. Preservar a lagoa do Papicu e o riacho Maceió como área de proteção, limi-
tando os empreendimentos de obras civis e industriais. Também seria interessante reestabele-
cer o contato da comunidade com o manancial, o que seria possível por meio de ações sociais
aplicadas em eventos que valorizem a cultura local, na perspectiva de fomentar a conscientiza-
ção ambiental nos moradores da região.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS 1061

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema hídrico Papicu/Maceió é vítima do crescimento acelerado do urbanismo e a
falta de planejamento ambiental. Foram constatados vários impactos na área, como por exem-
plo: contaminação das águas associados aos processos de erosão e assoreamento, bem como
a redução do espelho d’água da lagoa do Papicu. A fragilização da biodiversidade local é um
reflexo da degradação ambiental promovida pela falta de saneamento.
De acordo com as análises físico-químicas e bacteriológicas realizadas na área foi possível
observar que a lagoa do Papicu e o riacho Maceió é agredido de diversas fontes, desde o des-
pejo de efluentes residenciais, deposição de resíduos sólidos domésticos até a impermeabiliza-
ção do leito dos riachos. A Operação Urbana Consorciada de 2011, embora tenha reformado o
entorno da lagoa e do riacho, não realizou mudanças significativas que melhorassem a quali-
dade da água.
Quanto aos valores de oxigênio dissolvido na água, é visível a variação entre a lagoa do
Papicu, principal corpo hídrico desse sistema e o restante da bacia hidrográfica. Há uma redu-
ção significativa desse elemento devido ao grande aporte de efluentes domésticos para esse
manancial. O lançamento de esgotos domésticos provoca o aumento na concentração de
nutrientes, o que ocasiona um desequilíbrio no consumo de oxigênio.
De acordo com a Resolução 357/2005 do CONAMA, os valores da concentração de Nitrito
e Nitrato nas águas do sistema hídrico Papicu/ Maceió estão dentro do limite aceitável estabe-
lecidos na legislação.
Todo o sistema hídrico Papicu/Maceió apresenta sinais de poluição microbiológica por
coliformes. Todas as amostras que foram colhidas no período de um ano estão com os valores
maiores do que o aceitável segundo a Resolução 357/2005 do CONAMA. Os efluentes são os
responsáveis pelo valor elevado do NPM de coliformes, os esgotos domésticos e o deposito de
lixo na região são, portanto, prejudicais a saúde da comunidade local, que carece de um sanea-
mento básico digno.
É necessário um processo de saneamento moderno em paralelo as mudanças na infraes-
trutura da região. Os processos de reforma devem agir em conjunto com um planejamento
ambiental, de forma que as edificações e mudanças que ocorram na área atendam os requisi-
tos estabelecidos na Resolução 357/2005, visando a preservação do meio ambiente e a saúde
da comunidade. Preservar a lagoa do Papicu e o riacho Maceió como área de proteção, limi-
tando os empreendimentos de obras civis e industriais. Também seria interessante reestabele-
cer o contato da comunidade com o manancial, o que seria possível por meio de ações sociais
aplicadas em eventos que valorizem a cultura local, na perspectiva de fomentar a conscientiza-
ção ambiental nos moradores da região.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1062 Luis Henrique da Silva Uchôa; Giovanna Azevedo de Moura Venâncio; Larissa de Pinho Aragão; Loran Honório da Silva

5 REFERÊNCIAS
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


91. PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO
DO SANEAMENTO AMBIENTAL
DA BACIA DO RIO JACÚ-RN
estudo de caso no município de Goianinha-RN

HEBERSON SATURNINO DE VASCONCELOS1


BRUNO CLAYTTON OLIVEIRA DA SILVA2

Resumo: O Brasil apresenta grandes divergências tanto em relação à oferta quanto ao nível dos
serviços de saneamento básico que dispõe à sua população. Assim, objetivou-se analisar a reali-
dade do município de Goianinha (RN) quanto ao tema em tela. Para isso, abordou-se o problema
tanto numa perspectiva qualitativa quanto quantitativa, tendo sido realizados levantamentos lite-
rários e documentais, aplicadas entrevistas estruturadas in loco, técnicas estatísticas descritivas e
gráficas e a escala social de Likert. Além disso, destaca-se que os dados de campo foram obtidos a
partir de investigações no conjunto habitacional Nova Batalha, Goianinha-RN. Entre os resultados,
observou-se que no mencionado conjunto foram identificados vários problemas, tais como: a
ausência de um sistema de coleta de efluentes domésticos e de uma rede de drenagem de águas
pluviais, acarretando a contaminação do córrego que cruza o conjunto e tem por destino o rio
Jacú; principal rio da bacia hidrográfica do Jacú. Não obstante, a partir da avaliação da percepção
ambiental das comunidades, verificou-se que os residentes identificaram com “presente e satisfa-
tória” a oferta dos serviços de saneamento básico; diferentemente do que se observou a partir da
avaliação técnica realizada.
Palavras-Chave: Saneamento Ambiental; Percepção Ambiental; Diagnóstico Ambiental.
Abstract: Brazil presents great divergences both in relation to the supply and the level of basic
sanitation services available to its population. Thus, the objective was to analyze the reality of the
municipality of Goianinha (RN) regarding the theme in question. For this, the problem was approa-
ched both in a qualitative and quantitative perspective, having been carried out literary and docu-
mental surveys, applied structured interviews in loco, descriptive and graphic statistical techniques
and the Likert social scale. Furthermore, it is noteworthy that the field data were obtained from
investigations in the Nova Batalha housing complex, Goianinha-RN. Among the results, it was
observed that several problems were identified in the mentioned complex, such as: the absence
of a domestic wastewater collection system and of a rainwater drainage network, leading to the
contamination of the stream that crosses the complex and is destined for the Jacú River; the main

1 Graduando em Engenharia Ambiental,UNINASSAU, Brasil. E-mail: heberson.75@hotmail.com


2 Professor Doutor, UNINASSAU, Brasil. E-mail: brunoclaytton@yahoo.com.br

[ 1063 ]
1064 Heberson Saturnino de Vasconcelos; Bruno Claytton Oliveira da Silva

river of the Jacú watershed. Nevertheless, from the evaluation of the environmental perception of
the communities, it was found that the residents identified as “present and satisfactory” the
supply of basic sanitation services; differently from what was observed from the technical evalua-
tion performed.
Key Words: Environmental Sanitation; Environmental Perception; Environmental Diagnostic.

1 INTRODUÇÃO
O saneamento ambiental é um dos pilares fundamentais para a estrutura das cidades,
pois está diretamente relacionado ao bem-estar do ser humano. Assim, ele atua de maneira
direta ou indireta sobre a saúde pública e a preservação da natureza, além da melhoria da qua-
lidade de vida das pessoas, das condições econômicas e ambientais de uma cidade (GUIMARÃES,
CARVALHO E SILVA, 2007).
Como resultante do conjunto de aspectos relacionados ao saneamento ambiental, têm-
-se a promoção da saúde e do bem-estar social, que se notabilizam por intermédio do meio
limpo, coeso e seguro. Em face disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tornou a promo-
ção da saúde o principal objetivo do saneamento ambiental, visto que muitas doenças são sus-
cetíveis à proliferação devido a sua ausência (RIBEIRO E ROOKE, 2010).
Assim, tem-se que a saúde humana, seja coletiva ou individualmente, pode ser afetada,
direta ou indiretamente, a partir da oferta e nível de saneamento mantido em seu nicho e/ou
habitat (AYACH, 2012).
Conceitualmente, a definição de saneamento básico ou ambiental é abrangente e ampla.
Todavia, frequentemente, leva-se em consideração alguns dos seus aspectos principais, como:
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e limpeza pública – serviços
mais deficientes nas cidades brasileiras (HELLER, 1998).
A atual situação do Brasil em relação aos serviços de saneamento ainda está muito dis-
tante do ideal para um país que está entre as dez das maiores economias do mundo (TRATA
BRASIL, 2015).
Especificamente, no país, 83,62% da população possui abastecimento de água tratada,
estando ausente, ainda, para cerca de 35 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, apenas 53%
dos brasileiros têm acesso aos serviços de coleta de efluentes domésticos e somente 46% des-
ses é tratado – fato agravado na região Nordeste, onde 28,01% da população tem atendimento
a esse serviço (TRATA BRASIL, 2019).
De acordo com Tavares et al. (2019), o crescimento populacional das cidades brasileiras
não acompanha a oferta de saneamento da infraestrutura urbana, sendo assim, o atendimento
mínimo necessário não consegue ser distribuído a toda população. Dessa forma, a população
mais prejudicada, em um panorama geral, é aquela de baixa renda, uma vez que as ações
governamentais visam, de certa forma, mais o lucro e não o bem social (Ibidem).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO JACÚ-RN 1065

Diante disso, o trabalho teve como objetivo analisar de forma qualitativa e quantitativa a
oferta de serviços e o nível de satisfatoriedade do saneamento básico disponibilizado aos resi-
dentes do município de Goianinha (RN), a partir da percepção dos munícipes quanto a situa-
ção-quadro do saneamento básico no município de Goianinha-RN e de avaliações técnicas in
loco. Além disso, intentou-se evidenciar os possíveis impactos das ações antrópicas na micro-
bacia do rio Jacú e comparar a realidade apresenta àquela prevista nos diversos diplomas nor-
mativos vigentes, nos três níveis da administração pública, especialmente no municipal.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O município de Goianinha localiza-se no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Ele possui
uma área territorial de, aproximadamente, 192,279 km², com uma população estimada de
26.669 habitantes e densidade demográfica de 116,92 hab./km². Além disso, segundo dados
coletados em 2010, o esgotamento sanitário adequado dos municípios é de 42% (IBGE, 2017).
Goianinha (RN) localiza-se a cerca 57 km ao sul da cidade do Natal (RN) – capital do
estado do RN –, está localizado a 37m acima do nível médio do mar, possui a maior parte de
sua população habitando a zona urbana e tem sua economia fundada na(o): pecuária, agricul-
tura, indústria, comércio e turismo (GOIANINHA, 2017).

Figura 1 – Bacia Hidrográfica do rio Jacú, RN

Fonte: SEARH-RN (2005).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1066 Heberson Saturnino de Vasconcelos; Bruno Claytton Oliveira da Silva

A bacia hidrográfica do rio Jacú está localizada entre as coordenadas geográficas de 35º
46’54” e 36º 17’ 60” de longitude oeste de Greenwich e os paralelos de 06º 25’ 54” e 06º 50’
54’ de latitude sul (ARAÚJO, 2019).
O município de Goianinha-RN possui a maior parte de seu território inserido nos domí-
nios da bacia hidrográfica do Rio Jacú. Ele detém cerca de 28 poços cadastrados, pelo projeto
de cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea do RN, dos quais 80% são usa-
dos para consumo primário da população (BELTRÃO et al., 2005).

Figura 2 – Mapa de Poços de Abastecimento em Goianinha (RN)

Fonte: Beltrão et al. (2005).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO JACÚ-RN 1067

Na figura 2 é apresentado, destacado em pontos azuis na zona amarela, os poços de


abastecimento de água para a população que, em maior parte, são de natureza pública.

2.2 Método de Análise


A partir da classificação de Gerhardt e Silveira (2009), concebeu-se a pesquisa como
“Aplicada”, haja vista que se desejou gerar conhecimentos voltados à prática e dirigidos à solu-
ção de problemas e interesses específicos.
Ainda segundo os mesmos autores, agora em relação à abordagem, categorizou-se o tra-
balho tanto como Qualitativo quanto Quantitativo, já que foram empregadas técnicas, recur-
sos, instrumentos e variáveis Categóricas e Numéricas.
Quanto aos seus objetivos, a partir da classificação de Gil (2008), identificou-se a pes-
quisa como sendo Descritiva e Explicativa, pois ela se dedicou tanto à descrição das caracterís-
ticas do grupo amostral envolvido, e o estabelecimento de relações entre variáveis, quanto à
identificação dos fatores relativos ao problema de pesquisa.
Ainda segundo o último autor, em relação ao delineamento da pesquisa, assegura-se que
foram empregados o Bibliográfico, o Documental e o Levantamento de Campo.
Em relação aos tipos de dados, aqueles de natureza Qualitativa foram tidos como
Nominais e Ordinais e os de origem Quantitativa como Discretos (ROGERSON, 2012). Ademais,
os dados coletados são resultantes da aplicação de uma entrevista estruturada junto aos(as)
moradores(as) de diversas áreas do conjunto habitacional Nova Batalha.
No que tange aos levantamentos Bibliográfico, Documental e de Campo, eles foram rea-
lizados a partir de pesquisas a bibliotecas virtuais, bases de dados e trabalhos científicos (perió-
dicos CAPES, Google Acadêmico, SciELO...), websites institucionais e por meio da capturada de
imagens de pontos distintos de cada conjunto analisado.
As técnicas de amostragem utilizadas na pesquisa foram a Amostragem Não-Probabilísticas
Por Conveniência e Cotas, pois as entrevistas realizadas aconteceram a partir da disponibili-
dade dos moradores e levou-se em consideração um cômputo razoavelmente proporcional
entre as áreas entrevistadas (ANDRIOTTI, 2005).
No presente estudo, para a avaliação qualitativa e quantitativa do saneamento ambien-
tal da cidade de Goianinha (RN), foram indispensáveis as participações dos moradores dos res-
pectivos conjuntos avaliados, que, assim, contribuíram por meio de entrevistas – realizadas
com cerca de 20 respondentes no mês de março de 2020 – expondo suas percepções sobre a
problemática estudada.
Por fim, segundo Gil (2008), a escala de Likert é uma escala social simples de caráter ordi-
nal. Assim, ela foi utilizada para a análise das respostas psicométricas dos(as) respondentes
entrevistados.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1068 Heberson Saturnino de Vasconcelos; Bruno Claytton Oliveira da Silva

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos na pesquisa:

3.1 Conjunto Nova Batalha


O conjunto da Batalha é, aparentemente, uma das comunidades com a população mais
carente da cidade de Goianinha (RN). Todavia, tal característica tem se alterada pois, gradual-
mente, tem havido um processo de expansão comercial da área. Por conseguinte, por volta de
2010, houve uma forte mudança em toda a sua infraestrutura – extinguindo as “casas de taipa”
– em função da distribuição de residências populares pela prefeitura para as famílias carentes,
assim como as primeiras implementações de pavimentação e saneamento básico no conjunto.
Em uma primeira análise da área foi possível detectar os primeiros indícios da deficiência
no saneamento do conjunto; como é apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Deficiências no Saneamento do Conjunto Nova Batalha

Fonte: Próprio autor (2020).

Conforme imagens capturadas no local, é possível perceber, no canto superior esquerdo,


a presença de um dos entulhos de construções na rua que não foram coletados nos últimos
meses – segundo um dos moradores. Logo mais adiante, há um terreno abandonado onde
alguns moradores despejam resíduos sólidos e esgotos domiciliares, que são direcionados atra-
vés de uma vala até o córrego próximo.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO JACÚ-RN 1069

Segundo uma das entrevistadas, o conjunto possui uma natural predisposição para o
aparecimento de nascentes de água, facilitando o encharcamento e infiltrações em residência
pelo conjunto. Além disso, ele figura como, aparentemente, um dos pontos mais baixos de
toda a cidade e o direcionamento de todas as águas pluviais e de efluentes das proximidades
direcionam-se para o córrego que atravessa o conjunto.
O corpo d’água, não somente atravessa a comunidade como muitos outros conjuntos da
cidade, carreando consigo a poluição acumulada. Contudo, é possível que o conjunto da Nova
Batalha é a comunidade que descarta uma maior quantidade de resíduos e rejeitos devido a
condição atual do saneamento no local.
Vale destacar que ele segue de oeste para leste da cidade, levando com ele resíduos sóli-
dos, como: sacos plásticos, objetos eletrônicos, eletrodomésticos, pneus, sofás, animais... além
do próprio efluente doméstico – como pode ser observado na figura 4.
O córrego tem como destinação o rio Jacú, principal rio da bacia hidrográfica do Jacú, que
deságua na lagoa de Guaíra no qual faz conexão com o mar.

Figura 4 – Córrego Poluído

Fonte: Próprio autor (2020).

Segundo um dos moradores, muitos residentes descartam seus resíduos de maneira ina-
dequada no córrego. Além da poluição e ausência de coleta de efluentes, outro problema que
assola a comunidade é a frequência de enchentes.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1070 Heberson Saturnino de Vasconcelos; Bruno Claytton Oliveira da Silva

Na figura 5, abaixo, é possível identificar as tubulações da rede de efluentes emergindo


pela lateral do córrego, liberando o esgoto das ruas em que a captura do efluentes é subterrâ-
nea. Já em outras ruas, não há captura subterrânea de efluentes domésticos, o que o torna
exposto e o direciona ao córrego da mesma maneira.
Através das entrevistas com os moradores e de análises nos locais, foi observado que
todo o sistema de coleta de esgoto, que está presente apenas em parte do conjunto, é total-
mente destinado ao córrego. Além disso, as tubulações de capturas de efluentes presentes nas
residências de algumas ruas e cobertas pela rua calçada são direcionadas ao córrego de maneira
igual ao estado que se encontrava antes da pavimentação, tornando o corpo d’agua poluído e
tendo assim um impacto ambiental (negativo) seríssimo.
Ainda a partir da figura 5, especialmente da imagem à direita e canto inferior, percebe-se
que o esgoto perpassa por uma vala improvisada pelos moradores para comportar todo o
volume produzido; algo que faz com que a população mantenha contato direto e permanente
com ele.

Figura 5 – Tubulações e Esgotos Diretamente Lançados no Córrego

Fonte: Próprio autor (2020).

Para os moradores entrevistados nas ruas em que os efluentes domésticos estavam


expostos, houve ênfase no aspecto do mal cheiro emitido pelas águas residuárias.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO JACÚ-RN 1071

Notadamente na imagem inferior esquerda, é possível ver crianças brincando nas proxi-
midades do efluente. Além disso, na inferior direita, onde o efluente passa na frente das resi-
dências, os moradores utilizam o pouco espaço da calçada pública para atividades cotidianas e
recreativas, como se sentar e conversar.
A partir de tais observações, entende-se que a atual situação do saneamento ambiental
do conjunto é potencialmente prejudicial à saúde de sua população, onde eles têm, estatistica-
mente, uma elevada chance de contágio de doenças.
A contendente afirmação está amparada pelo estudo de Siqueira (2016), que apontou
que das 13.929 internações por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado
em Porto Alegre (RS), 93,7% relacionaram-se às doenças de transmissão feco-oral e 20,4%
foram de crianças de um a quatro anos de idade (28,1 internações/10 mil hab./ano). Entre
outras, tais doenças englobam diarreias, leptospirose, doença de Chagas, teníases e hepatite A.
Ainda vale salientar que, nas comunidades próximas, existem cerca de 27 poços tubula-
res, utilizados pela população para consumo humano e para uso geral, que, por sua vez, tem o
risco de terem suas águas contaminadas pelo córrego poluído – como destacado na figura 2 –
e, portanto, pondo em risco a saúde da população.
Abaixo, na figura 6, são apresentados os seus resultados psicométricos:

Figura 6 – Entrevistas sobre o Saneamento do Conjunto Nova Batalha

Fonte: Próprio autor (2020).

O abastecimento de água foi qualificado como “presente” no conjunto. Além disso, ele
foi muito bem avaliado pelos moradores, sendo apontado, em sua grande parte, como “satis-
fatório” ou “muito satisfatório”, e enfatizada a sua ótima qualidade, ausência de sabor, odor
ou turbidez.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1072 Heberson Saturnino de Vasconcelos; Bruno Claytton Oliveira da Silva

Já a coleta de esgoto foi qualificada como “ausente”. Ainda assim, contraditoriamente,


ela foi avaliada, em maior parte, como “satisfatório” e “muito satisfatório” – o que demonstra
significativa dificuldade de percepção da comunidade para certos problemas relevantes.
Como apontado, mesmo com a total ausência de uma coleta de efluentes devida, os
moradores não encontram problema ou não relataram incomodar-se de que seus efluentes
sejam redirecionados, diretamente, ao córrego há décadas no conjunto – segundo um mora-
dor que reside no conjunto, há mais de 60 anos.
Os demais que a classificaram como “insatisfatório” e “muito insatisfatório”, responde-
ram que foi devido ao esgoto está exposto em suas ruas e não encoberto como nas demais.
Deste modo, assim como os demais residentes, eles não demostraram ter a percepção dos pro-
blemas que ocorrem em sua comunidade.
A coleta de resíduos sólidos foi qualificada como “presente” e avaliada, majoritaria-
mente, como “satisfatória”, apesar do amontoamento frequente de resíduos.
Já a captação pluvial no conjunto foi apontada como “ausente e, apesar de sua inexistên-
cia, foi avaliada como “satisfatório” e “imparcial”. Além disso, as águas pluviais são redirecio-
nadas para as ruas (por gravidade) até o córrego, não existindo sistema de saneamento.
Ademais, os moradores demostraram-se “satisfeitos” por não haver enchentes ou alagamen-
tos em suas ruas – exceto os que moram próximos do córrego.
Notadamente, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020, lei n° 1.981 de 27 de
junho de 2019 (GOIANINHA, 2020), junto com a lei federal complementar nº 101/2000, em seu
capítulo primeiro, compreendem as metas e prioridades da administração pública do municí-
pio de Goianinha-RN, a estrutura e a organização para a elaboração da proposta orçamentária
para o exercício de 2020.
Destacando uma passagem da mencionada LDO que trata do saneamento básico no muni-
cípio, especificamente no proposto em seu anexo I (“Elenco de Ações de Custeio a Serem
Priorizadas”) e parágrafo 1.3 (“Nas Áreas de Meio Ambiente e Urbanismo”), se identificará as
prioridades da cidade em relação aos investimentos a serem direcionados ao meio ambiente e
urbanismo, tais como: implantação de redes de drenagem em áreas críticas; implantação de pro-
gramas de coleta e tratamento de esgotamento sanitário; implantação de programas de coleta e
tratamento de resíduos sólidos; intensificação da fiscalização urbanística e ambiental; fiscalização
do serviço de coleta de resíduos sólidos; desenvolver programas de educação ambiental...
Como apontado, mesmo sendo uma das prioridades orçamentárias do município, os
aspectos levantados no conjunto demonstram a ausência do emprego devido dos recursos
públicos na área de saneamento, segundo consta na própria legislação municipal.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


PERCEPÇÃO E DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO JACÚ-RN 1073

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em linha gerais, observou-se que as avaliações qualitativas dos residentes classificaram
como “presente” o saneamento básico e o nível dos seus serviços como “satisfatório”.
Entretanto, através do levantamento in loco, inerente a avaliação técnica de campo, foram evi-
denciados inúmeros problemas tanto em relação a oferta quanto ao seu nível de
satisfatoriedade.
Atrelado a tal constatação, acredita-se que o nível socioeconômico, especialmente edu-
cacional, de muitos moradores possa ter influenciado em suas avaliações – o que abre espaço
para novas investigações.
Comportamentalmente, notou-se que parte dos moradores não apresentaram capaci-
dade crítica, demostrando conformismo e indiferença para com a atual situação em seu
entorno; o que enseja preocupação caso esse seja o “padrão normal” dos demais residentes da
microbacia do rio Jacú.
Assim, apesar da localidade possuir claras ausências de saneamento ela obteve uma qua-
lificação, de modo geral, “satisfatória”; o que demonstra a importância e necessidade de inves-
timentos em senso crítico e em Educação Ambiental, como instrumentos para garantia efetiva
de direitos sociais e ambientais por parte de todos.
Dito isso, sem dúvida, figura como necessário, em âmbito municipal, um significativo
investimento na reformulação da infraestrutura de saneamento básico atual, visando a
implementação e correção das medidas previstas, tais como: a coleta e tratamento dos
efluentes municipais.
Por fim, é imprescindível, também, a inclusão de programas na área sociocultural, de
cidadania e Educação Ambiental – assim como consta no próprio plano de investimentos de
2020 – que estimulem a consciência e a sensibilização ambiental.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


92.
POTENCIAL EROSIVO NATURAL
DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO JACAREÍ

FRANCÍLIO DE AMORIM DOS SANTOS1

Resumo: A diversidade de paisagens do Nordeste do Brasil confere a essa região potencial erosivo
natural diferente, o que torna importante a realização de estudos integrados acerca dos aspectos
fisiográficos. A pesquisa teve como objetivo conhecer o potencial erosivo da Sub-bacia Hidrográfica
do rio Jacareí, considerando a declividade média, erosividade das chuvas e erodibilidade dos solos,
como forma de subsidiar a gestão e o planejamento ambiental. A pesquisa demandou aquisição de
arquivos alfanuméricos e vetoriais ligados às variáveis elencadas, para operacionalizar a constru-
ção do índice do potencial erosivo natural. Esses dados foram manuseados no ArcGIS, versão 10.9,
e QGIS, versão 3.10. A Sub-bacia está situada em área com presença de falhas geológicas e as
seguintes formações geológicas: Serra Grande, Pimenteiras, Cabeças, Sardinha e os Depósitos
Colúvio-Eluviais. No que tange aos aspectos climáticos a área em estudo encontra-se sob a influ-
ência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que responde pelas chuvas de fevereiro a
maio. Na área pesquisada foram identificadas as seguintes subordens de solos: Argissolo Amarelo,
Neossolo Litólico, Neossolo Quartzarênico, Planossolo Háplico e Plintossolo Pétrico. Esses solos
são recobertos por vegetação que varia do estrado herbáceo a catinga arbustiva e arbórea, ora
aberta ora densa. Os resultados indicam que predomina relevo plano, em 85,5% da Sub-bacia,
muito baixa de erosividade das chuvas, em 75,1%, erodibilidade muito alta, em 80,1%, e baixo
potencial erosivo natural, em 66,7% Sub-bacia. Evidencia-se a necessidade de observar a Sub-
bacia em sua integridade, pois danos causados em pontos específicos terão repercussões por toda
a Sub-bacia.
Palavras-chave: Sub-bacia do rio Jacareí; Declividade média; Erosividade das chuvas; Erodibilidade
dos solos; Álgebra de mapas.
Abstract: The diversity of landscapes in Northeast Brazil gives this region a different natural ero-
sive potential, which makes it important to carry out integrated studies on physiographic aspects.
The research aimed to know the erosive potential of the Jacareí River Hydrographic Sub-basin,
considering the average declivity, rainfall erosivity and soil erodibility, as a way to support man-
agement and environmental planning. The research required the acquisition of alphanumeric and
vector files linked to the variables listed, to operationalize the construction of the natural erosive

1 Instituto Federal do Piauí /Campus – Piripiri. E-mail: francilio.amorim@ifpi.edu.br

[ 1075 ]
1076 Francílio de Amorim dos Santos

potential index. These data were handled in ArcGIS, version 10.9, and QGIS, version 3.10. The Sub-
basin is located in an area with the presence of geological faults and the following geological for-
mations: Serra Grande, Pimenteiras, Cabeças, Sardinha and the Colluvium-Eluvial Deposits. With
regard to climatic aspects, the study area is under the influence of the Intertropical Convergence
Zone (ITCZ), which accounts for rainfall from February to May. The following soil suborders were
identified in the researched area: Yellow Ultisol, Litholic Neosol, Quartzrenic Neosol, Haplic
Planosol and Petric Plinthsol. These soils are covered by vegetation that varies from herbaceous
bed to shrubby and arboreal clumps, sometimes open and sometimes dense. The results indicate
that flat relief predominates in 85.5% of the Sub-basin, very low rainfall erosivity in 75.1%, very
high erodibility in 80.1% and low natural erosive potential in 66, 7% Sub-basin. The need to observe
a Sub-basin in its entirety is evident, as the damage caused in points must have repercussions
throughout the Sub-basin.
Keywords: Sub-basin of the Jacareí River; Average slope; Rain erosivity; Soil erodibility; Map
algebra.

1 INTRODUÇÃO
O Nordeste do Brasil (NEB) apresenta paisagens com diversificado potencial de erosão.
Logo, faz-se necessário a realização de estudos integrados para conhecimento dos aspectos
fisiográficos e, consequentemente, as áreas com maior potencial à erosão. No âmbito da abor-
dagem geossistêmica, cabe inserir discussão acerca da bacia hidrográfica, considerada recorte
espacial que integra os diversos aspectos biofísicos.
Para Christofoletti (1980), as bacias hidrográficas são consideradas sistemas não isolados
abertos, pois nelas predomina a troca contínua de matéria e energia, bem como perda e
recarga. Na visão legal, a bacia hidrográfica é considerada a unidade territorial que deve ser
tomada para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Nesse sentido, Frota e Nappo (2012) destacam que, no âmbito de estudo da Geografia, a
erosão do solo deve ser estudada a partir de das interrelações espaciais, dos fatores condicio-
nantes e dos fatores físicos do solo. Nesse sentido, Correa e Sanjos Pinto (2012) ressaltam que
as consequências da erosão no solo podem comprometer a sustentabilidade do sistema agrí-
cola, demandando altos investimentos para manter a produtividade das culturas.
Dessa forma, Sousa e Paula (2019) apontam que os problemas oriundos dos processos
erosivos são intensificados nas regiões semiáridas, seja por suas características morfoestrutu-
rais e pedológicas quanto pelo regime hidrológico e a consequente escassez hídrica. Por sua
vez, Morais e Silva (2020) apontam que quando o processo erosivo se processa de forma natu-
ral, dois agentes atuam na transformação da superfície, a saber: a água da chuva (erosão
hídrica) e o vento (erosão eólica).
Tomando como recorte espacial a Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, cujo rio principal
é tributário do rio Piracuruca (Figura 1), tornou-se relevante proceder ao estudo do potencial
erosivo natural dessa área, na perspectiva de conhecer as áreas mais frágeis a processos erosi-
vos. Nesse contexto, entenda-se erosão como um processo natural, cujos principais fatores

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAL EROSIVO NATURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACAREÍ 1077

estão ligados à erosividade das chuvas (R), erodibilidade dos solos (K), o relevo, entre outros
(SOUSA; PAULA, 2019).
Sobre essa temática, diversos estudos têm sido desenvolvidos, a exemplo dos seguintes:
Frota e Nappo (2012), que buscaram discutir a influência da cobertura vegetal nos processos
erosivos, na Bacia Hidrográfica do Açude Orós, estado do Ceará, cujos resultados apontam
para o uso não sustentável dos recursos naturais de forma geral; Correa e Sanjos Pinto (2012),
que avaliaram o potencial natural de erosão hídrica do solo da Bacia Hidrográfica do Córrego
Monjolo Grande, em Ipeúna-SP, cujo potencial natural de erosão indicou predomínio da classe
muito baixo e baixo; Sousa e Paula (2019) estimaram as perdas de solos da Bacia Hidrográfica
do rio Coreaú, via Equação Universal de Perda de Solo (USLE), cuja equação demonstrou que
que na bacia do rio Coreaú perde-se, em média, 15,80 t.ha-1.ano-1 de solos; Morais e Silva
(2020) estimaram o potencial natural de erosão dos solos da Bacia Hidrográfica do rio Longá,
norte do estado do Piauí, cujos resultados indicaram que bacia apresenta baixo potencial natu-
ral de erosão, com 72% de sua área com estimativa de erosão inferior a 200 t ha-¹ ano-¹.
Nesse cenário, Oliveira e Leite (2018) apontam que os principais problemas ligados à ero-
são dos solos causam perda em sua fertilidade, na produção e na produtividade agropecuária,
aumento no custo de produção, avanços das fronteiras agrícolas, desflorestamento, ineficiên-
cia na captação de carbono da atmosfera, volatilidade dos preços dos alimentos, assoreamento
dos rios, intensificação de enchentes e principalmente, o mais agravante, a escassez hídrica. O
estudo buscou conhecer o potencial erosivo da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, conside-
rando a declividade média, erosividade das chuvas e erodibilidade dos solos, como forma de
subsidiar a gestão e o planejamento ambiental.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1078 Francílio de Amorim dos Santos

Figura 1 – Localização da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, na divida dos estados do Ceará e do
Piauí

Fonte: IBGE (2018); Santos (2019).

2 METODOLOGIA
A pesquisa pode ser classificada como descritiva quanto ao seu objetivo, tendo em vista
que busca conhecer o potencial erosivo da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí. Inicialmente,
foi necessário realizar levantamento bibliográfico, para aprofundamento da temática, e carto-
gráfico, voltado à aquisição de arquivos alfanuméricos e vetoriais ligados à declividade, erosivi-
dade e erosibilidade, que foram integrados por meio do índice de erosão via SIG QGIS, versão
3.10, conforme está representado na equação 1.

Onde: IPE = Índice do potencial de erosão; Dm = Declividade média do relevo; R =


Erosividade das chuvas; K = Erodibilidade dos solos.
Para aquisição do produto das três variáveis, acima, foi utilizada a função calculadora ras-
ter do QGIS. Por sua vez, foi empregada a ferramenta Spatial Analyst Tools e função Reclassify
que pertencente ao SIG ArcGIS, versão 10.9, cuja licença foi adquirida pelo Instituto Federal do
Piauí (IFPI), em 2020. Dessa forma, foi possível delimitar 5 (cinco) classes de erosão (Tabela 1),
considerando o método intervalo igual.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAL EROSIVO NATURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACAREÍ 1079

Tabela 01 – Intervalos, classes atribuídas e notas para o índice do potencial de erosão da Sub-bacia
Hidrográfica do rio Jacareí.

Intervalos Classes atribuídas Notas

2a6 Muito alta 1

6,1 a 12 Alta 2

12,1 a 20 Média 3

20,1 a 30 Baixa 4

30,1 a 75 Muito baixa 5


Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Para conhecimento das classes de declividade média do relevo (Dm) foi adquirido arquivo
matricial ligado aos Modelos Digitais de Elevação (MDEs), da Missão Topográfica Radar Shuttle
(SRTM) (USGS, 2021). Para definir os intervalos para as classes de declividade basearam-se na
proposta apresentada no Manual Técnico de Geomorfologia (EMBRAPA, 2009), conforme pode
ser observado na Tabela 2.

Tabela 02 – Intervalos, classes atribuídas e notas de declividade média do relevo (Dm) da Sub-bacia
Hidrográfica do rio Jacareí

Intervalos de Dm (%) Classes atribuídas Notas

0a3 Plano 1

3a8 Suave Ondulado 2

8 a 20 Ondulado 3

20 a 45 Forte Ondulado 4

45 a 75 Montanhoso 5
Fonte: EMBRAPA (2009). Adaptado pelo autor (2021).

No que diz respeito à erosividade das chuvas (R) foi, inicialmente, necessário obter dados
de 14 (quatorze) postos pluviométricos, junto ao site da Agência Nacional de Águas (ANA,
2021), considerando-se série histórica de 32 anos (1985 a 2016). Posteriormente, foi executada
a correção das falhas da série histórica por meio da técnica de ponderação regional proposta
por Tucci (1993), via pacote de programas USUAIS, como sugerem Oliveira e Sales (2016), como
se pode observar na Figura 2.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1080 Francílio de Amorim dos Santos

Figura 2 – Rotinas executadas no pacote de programas USUAIS

Fonte: Oliveira e Sales (2016). Adaptado pelo autor (2021).

No estudo foi empregado método indireto para obtenção dos dados de erosividade das
chuvas (R), considerando a equação 2, que foi proposta por Lombardi Neto e Moldenhauer
(1992), que estima com relativa precisão os valores de R para longos períodos, baseando-se na
regressão linear entre o índice médio mensal de erosão e o coeficiente de chuva.

Onde: E = média mensal do índice de erosão (t/ha.mm/h); r = precipitação média mensal


em mm; P = precipitação média anual em mm.
Posteriormente, os valores resultantes foram organizados em planilhas eletrônicas e
espacializados por meio das ferramentas do QGIS, por meio do método de interpolação IDW
(peso pelo inverso da distância). Nesse mesmo SIG foi realizada a delimitação das classes para
o fator R, considerando-se a diferença entre o maior e o menor valor, resultando em 5 (cinco)
classes de intervalos de igual intervalo (Tabela 3).

Tabela 03 – Intervalos, classes atribuídas e notas de erosividade das chuvas (R) da Sub-bacia Hidrográfica
do rio Jacareí

Intervalos de R (MJ.mm/ Classes atribuídas Notas


ha.h.ano)
7548,3 a 7906,3 Muito Baixa 1

7906,3 a 8264,3 Baixa 2

8264,3 a 8622,4 Moderada 3

8622,4 a 8981,0 Alta 4

8981,0 a 9338,4 Muito Alta 5

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

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POTENCIAL EROSIVO NATURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACAREÍ 1081

No que diz respeito à erodibilidade dos solos (K) foi necessário obter o arquivo vetorial dos
solos da Folha SB.24 – Jaguaribe, via banco de dados da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais
(INDE, 2014). Em seguida, foi utilizada a proposta metodológica de Crepani et al. (2001), onde o
mesmo se baseia no nível de desenvolvimento ou maturidade dos solos para delimitar as classes
de erodibilidade. Tal fato possibilitou a definição de 4 (quatro) classes (Tabela 4).

Tabela 04 – Ordens de solos, classes atribuídas e notas de erodibilidade dos solos (K) da Sub-bacia
Hidrográfica do rio Jacareí

Ordens de solos Classes atribuídas Notas

Latossolos, Argissolos Baixa 2


Chernossolos, Planossolos Moderada 3
Gleissolos, Plintossolos e Alta 4
Vertissolos
Neossolos Muito Alta 5

Fonte: Crepani et al. (2001). Adaptado pelo autor (2021).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Sub-bacia do rio Jacareí está assentada sobre superfície submetida a processos de dis-
secação, oriunda dos rios consequentes que descem o Planalto da Ibiapaba rumo ao estado do
Piauí. O rio principal da bacia, o rio Jacareí, nasce no Planalto da Ibiapaba, a altura do município
de Viçosa do Ceará. O rio em sua extensão apresenta padrão dendrítico e é classificado como
temporário, como se pode observar na Figura 3.

Figura 3 – Canal fluvial do rio Jacareí, povoado Jacareí de Cima,


município de Piracuruca

Fonte – Arquivo pessoal (2017).

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1082 Francílio de Amorim dos Santos

A Sub-bacia do rio Jacareí configura-se como uma das mais importantes áreas de drena-
gem que compõem à Bacia Hidrográfica do rio Piracuruca. A Sub-bacia do rio Jacareí está situada
em área com presença de falhas geológicas, principalmente no sentido NE-SE, fato que resulta
em controle estrutural do rio principal da Sub-bacia, em especial no seu trecho cearense.
A Sub-bacia está assentada sobre as seguintes formações geológicas (CPRM, 2006a;
2006b), a saber: Serra Grande (Período Siluriano), Pimenteiras (Período Devoniano Inferior),
Cabeças (Período Devoniano Médio), Sardinha (Período Cretáceo, de natureza vulcânica) e os
Depósitos Colúvio-Eluviais (Período Neógeno). As referidas formações sofrem processos de
dissecação e de acumulação, cuja variação altimétrica do relevo vai de 825 m, no seu topo, a
25 m, na sua foz (USGS, 2020a).
Os principais aspectos climáticos da área em estudo sofrem influência, principalmente,
da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que responde pelas chuvas entre fevereiro a
maio, que atua conjuntamente com os fenômenos oceânicos El Niño Oscilação Sul (ENOS) e
Dipolo do Atlântico, que interagem com a ZCIT e geram anomalias pluviométricas interanuais.
Desse modo, conforme aponta o estudo de Santos (2019), a Sub-bacia do rio Jacareí exibe
média anual de precipitação concentrada entre 1.160 a 1.460 mm anuais, temperatura entre
21 a 27°C, 1 a 4 meses secos, evapotranspiração potencial situada entre 1.003 a 1.603 mm,
excedente hídrico de 400 a 900 mm e déficit hídrico que varia entre 30 a 430 mm.
Na Sub-bacia foram identificados 5 (cinco) subordens de solos (INDE, 2014), a saber:
Argissolo Amarelo, Neossolo Litólico, Neossolo Quartzarênico, Planossolo Háplico e Plintossolo
Pétrico. Esses solos quando associados a outros elementos da paisagem possibilitaram o desen-
volvimento de distintas formações vegetais, que variam do estrado herbáceo a catinga arbus-
tiva e arbórea, ora aberta ora densa (SANTOS, 2019).
Por meio da Figura 4 observa-se o predomino de relevo plano (0 a 3%), identificado em
85,5% da área, principalmente na parte Centro-Oeste. O relevo suave ondulado (3 a 8%)
estende-se por 10,8% da Sub-bacia em estudo, distribuído particularmente pela borda do
Planalto da Ibiapaba. O relevo ondulado (8 a 20%) e forte ondulado (20 a 45%) somam 3,8%
e situam-se na área de transição da borda do Planalto para as áreas mais rebaixadas, rumo
ao estado do Piauí.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POTENCIAL EROSIVO NATURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACAREÍ 1083

Figura 4 – Declividade média do relevo (Dm) da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Por sua vez, em relação à erosividade das chuvas pode-se identificar o predomínio da
classe muito baixa (Figura 5), em 75,1% da Sub-bacia estudada. A segunda classe mais repre-
sentativa foi a de baixa erosividade, que ocorre por 16,7% da Sub-bacia e está localizada no
trecho leste. As classes média (4,8%), alta (2,1) e muito alta (1,3%) estão distribuídas no setor
leste da Sub-bacia.

Figura 5 – Erosividade das chuvas (R) da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1084 Francílio de Amorim dos Santos

Os solos encontrados na área em estudo são considerados jovens, arenosos, pouco pro-
fundos e mal drenados, elementos que dificulta a retenção de água e, como tal, deixam o solo
ressecado na maior parte do ano. Como se observa na Figura 6, 80,1% dos solos da Sub-bacia
apresenta erodibilidade muito alta, localizados particularmente na área de transição do Planalto
para as áreas rebaixadas e, ainda, no baixo curso. Por outro lado, 19,9% da Sub-bacia apresenta
solos com erodibilidade baixa, que se situa principalmente na área central da Sub-bacia.

Figura 6 – Erodibilidade dos solos (K) da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Quando integradas as três variáveis elencadas foi possível inferir o potencial erosivo natural
da Sub-bacia do rio Jacareí, de tal modo, que se pode identificar o predomínio da classe muito
baixo, que se dispersa por da 66,7% Sub-bacia em estudo (Figura 7). Por sua vez, a classe de baixo
potencial erosivo foi identificada por 18,1% da Sub-bacia, com ocorrência no baixo e alto curso.
Ao passo que as classes média (10,8%), alta (3,0%) e muito alta (1,4%), têm ocorrência localizada
no trecho cearense da Sub-bacia, particularmente no topo do Planalto da Ibiapaba.

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POTENCIAL EROSIVO NATURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACAREÍ 1085

Figura 7 – Potencial Erosivo Natural da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Os resultados desse estudo foram semelhantes aos de Correa e Sanjos Pinto (2012), pois
os autores identificaram predomínio de potencial natural de erosão hídrica do solo classificado
como sendo muito baixo e baixo para a Bacia Hidrográfica do Córrego Monjolo Grande, em
Ipeúna-SP; os resultados se assemelham, ainda, ao estudo de Morais e Silva (2020), visto que o
potencial natural de erosão dos solos para Bacia Hidrográfica do rio Longá, apresentou predo-
mínio da classe baixa, em 72% de sua área.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia aplicada foi satisfatória, pois permitiu a inferência do potencial erosivo
natural da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, a partir do emprego de três variáveis associa-
das ao uso de Sistema de Informação Geográfica. Fato que possibilita afirmar que, com as devi-
das adaptações à proposta empregada, poderá ser aplicada em outros espaços geográficos.
Os resultados apontam para o fato de que a área pesquisada possui predomínio de:
relevo plano (0 a 3%), com ocorrência em 85,5%; classe muito baixa de erosividade das chuvas,
frequente em 75,1% da Sub-bacia; erodibilidade muito alta, distribuída por 80,1%; muito baixo
potencial erosivo natural, em 66,7% Sub-bacia.
Embora a Sub-bacia apresente preponderância de muito baixo potencial erosivo, é pre-
ciso atenção no que diz respeito à gestão de suas áreas potencialmente mais frágeis, ou seja,
aquelas com alto e muito alto potencial erosivo, que ocorre em 4,4% da Sub-bacia. Pois é
preciso ver a Sub-bacia em sua integridade, isto é, danos causados em pontos específicos
irão ter repercussões por toda a Sub-bacia, de tal modo, que irá atingir as atividades ao longo
de sua área.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1086 Francílio de Amorim dos Santos

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
IX

PRODUTOR DE ÁGUAS
E PAGAMENTO POR SERVIÇOS
AMBIENTAIS EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS
DE MANANCIAIS DE
ABASTECIMENTO URBANO
93. ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO
URBANO NA VERTENTE PAULISTA DA UGRH
PARANAPANEMA – BRASIL
Integrando ensino, pesquisa e extensão universitária

ANTONIO CEZAR LEAL1


RENATA RIBEIRO DE ARAÚJO2
MATHEUS NAOTO ARCHANGELO OKADO3
EDSON LUÍS PIROLI4

Resumo: A crise hídrica tem sido um problema recorrente nos últimos anos no Brasil. Por ser um
fenômeno multicausal, oriundo da alteração dos regimes de chuva, desmatamento, compactação
e impermeabilização do solo, dentre outros, seu enfrentamento exige a mobilização de amplos
setores da sociedade, bem como mudanças nos modos de produção, de consumo e de como se
ensina e se aprende. Nesse contexto, neste trabalho objetiva-se compartilhar experiências sobre
como a Universidade pode colaborar com estudos para a promoção de ações em parceria com
outros setores da sociedade, especialmente com comitês de bacias hidrográficas, em bacias hidro-
gráficas de mananciais de abastecimento urbano, com base em ações em andamento na Unidade
de Gestão dos Recursos Hídricos Paranapanema. A metodologia envolve a realização de estudos
integrados em disciplinas e pesquisas cientificas, análise de planos de recursos hídricos, definição
de temas e áreas para os estudos em parceria com comitês de bacias hidrográficas, e preparação
de propostas para subsidiar a execução de ações previstas nos planos, tais como projetos de res-
tauração ecológica de áreas de preservação permanente. Os principais resultados apontam que a
realização de ações de extensão universitária, articuladas ao ensino e à pesquisa, em consonância
com as necessidades da sociedade, possibilita à Universidade cumprir uma função integradora
nestes processos e, ao mesmo tempo, propicia a execução de ações do sistema de gestão das
águas, bem como a produção acadêmica de monografias, dissertações e teses.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; UGRH Paranapanema; Extensão Universitária.
Abstract: The water crisis has been a recurrent problem in Brazil in recent years. As a multi-causal
phenomenon, arising from changes in rainfall, deforestation, soil compaction and waterproofing,
among others, confronting it requires the mobilization of broad sectors of society, as well as chan-
ges in production and consumption patterns and ways to teaches and learns. In this context, this

1 Professor do Departamento de Geografia/FCT/Unesp. E-mail: Pesquisador PQ/CNPq. E-mail: cezar.leal@unesp.br


2 Professora do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente/FCT/Unesp. E-mail: renata.r.araujo@unesp.br
3 Mestrando em GeografiaMestrado Profissional/FCT-Unesp. E-mail: mna.okado@gmail.com
4 Professor da Unesp – campus de Ourinhos. E-mail: edson.piroli@unesp.br

[ 1088 ]
ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO URBANO NA VERTENTE PAULISTA 1089

work aims to share experiences on how the University can collaborate to promote actions in part-
nership with other sectors of society, especially with river basin committees, in urban water supply
watersheds, based on ongoing actions at the Paranapanema Water Resources Management Unit.
The methodology involves conducting integrated studies in scientific disciplines and researches,
analyzing water resources plans, defining themes and areas for studies in association with river
basin committees, and preparing proposals to support actions foreseen in the water resources
plan, such as ecological restoration projects for permanent preservation areas. The main results
show that carrying out community engagement actions articulated with teaching and research, in
line with the needs of society, enables the University to fulfill an integrative role in these processes
and, at the same time, enables the execution of system actions of water management, as well as
the academic production of monographs, dissertations and theses.
Keywords: Water Resources; UGRH Paranapanema; Community Engagement.

1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho são apresentadas ações que integram ensino, pesquisa e extensão uni-
versitária no estudo de bacias hidrográficas de mananciais de abastecimento urbano na ver-
tente paulista da Unidade de Gestão de Recursos Hídricos Paranapanema (UGRH Paranapanema).
Essas ações estão inseridas na parceria da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP), especialmente das Unidades Universitárias de Presidente Prudente e Ourinhos,
com os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) Paranapanema, Pontal do Paranapanema, Alto
Paranapanema e Médio Paranapanema.
Essa parceria tem propiciado aos envolvidos vivenciar o princípio constitucional da indis-
sociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão universitária e a responsabilidade social e
ambiental da universidade no enfrentamento de grandes desafios, notadamente diante das
crises hídricas, com suas graves consequências para a sociedade brasileira.
As crises hídricas que vem ocorrendo no pais (ANA, 2015 e 2020), impactam o abasteci-
mento de água, a produção de alimentos, a geração de energia elétrica, geram conflitos entre
usuários das águas, racionamento e aumento de preços de vários produtos, impactando a
população de forma mais ampla. Essas crises têm múltiplas causas, para além da redução das
chuvas (no tempo e no espaço), que geralmente é apontada como explicação central para os
problemas. Assim, incluem, dentre outras, o desmatamento, a compactação e a impermeabili-
zação do solo, o aumento da demanda por água, o desperdício etc.
Dessa forma, o enfrentamento das crises hídricas exige igualmente múltiplas ações, em
várias escalas, devendo ser mobilizados amplos setores da sociedade. Nesse processo, deve-se
questionar e rever o modo de viver, produzir e consumir de nossa sociedade. E há que se
mudar também o modo de ensinar e aprender. Para tanto, é fundamental realizar ações exten-
sionistas integradas ao ensino e à pesquisa, que envolvam professores e estudantes universitá-
rios com outros setores da sociedade, em um processo dialógico, de respeito aos diferentes
saberes, de enfrentamento coletivo de problemas e de construção conjunta da cidadania,
democracia e sustentabilidade.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1090 Antonio Cezar Leal; Renata Ribeiro de Araújo; Matheus Naoto Archangelo Okado; Edson Luís Piroli

Para tanto, adota-se a concepção de Extensão Universitária expressa na Política Nacional


de Extensão Universitária, como “um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e
político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da socie-
dade”, tendo como diretrizes a Interação Dialógica, Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade,
Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão, Impacto na Formação do Estudante e Impacto e
Transformação Social (FORPROEX, 2012).

Nessa perspectiva, vem sendo realizados estudos sobre temas relativos aos recursos
hídricos e bacias hidrográficas em disciplinas de cursos de graduação de Engenharia Ambiental
e de Geografia e nos Programas de Pós-graduação em Geografia – Mestrado/Doutorado e
Mestrado Profissional, na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Presidente Prudente, com participação
de docentes do campus de Ourinhos, bem como pesquisas em vários níveis (iniciação cientí-
fica, mestrado, doutorado, pós-doutorado etc.) integradas com ações de extensão universitá-
ria. Nesse processo tem-se contado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP), dos Comitês de Bacias Hidrográficas e da Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA), dentre outros.

O objetivo central tem sido desenvolver ações integradas entre a Universidade e os


Comitês de Bacias Hidrográficas que contribuam para: a) articulação de atividades de ensino,
pesquisa e extensão universitária; b) formação dos estudantes; c) geração de subsídios e pro-
postas para execução dos planos de recursos hídricos dos CBH parceiros; e d) recuperação e
proteção de mananciais de abastecimento urbano.

Os resultados desses estudos visam a subsidiar ações dos Comitês de Bacias Hidrográficas
parceiros, tais como na elaboração e execução dos planos de recursos hídricos em bacias hidro-
gráficas, de projetos de restauração ecológica de Áreas de Preservação Permanente (APP) em
bacias hidrográficas de mananciais de abastecimento urbano, de propostas para programa
produtor de água e de ações de Educação Ambiental, dentre outros.

Iniciados na bacia hidrográfica do manancial do alto curso do rio Santo Anastácio, que
abastece Presidente Prudente, esses estudos estão sendo expandidos para outras bacias hidro-
gráficas de mananciais de abastecimento urbano na vertente paulista da UGRH Paranapanema,
localizadas nas UGRHI Médio Paranapanema e Alto Paranapanema.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO URBANO NA VERTENTE PAULISTA 1091

1.1 Mananciais superficiais na vertente paulista da UGRH Paranapanema


A UGRH Paranapanema está localizada na Região Hidrográfica do Rio Paraná, abran-
gendo partes dos Estados de São Paulo e do Paraná, constituindo a área de atuação do CBH
Paranapanema (CBH Interestadual), bem como de seis CBH estaduais: Alto Paranapanema,
Médio Paranapanema e Pontal do Paranapanema, no Estado de São Paulo; e Norte Pioneiro,
Tibagi e Piraponema, no Estado do Paraná (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização e de Unidades de Gestão da UGRH Paranapanema

Fonte: CBH-Paranapanema, ANA, 2016.

De acordo com o Plano Integrado de Recursos Hídricos da UGRH Paranapenama (PIRH


Paranapanema), a UGRH Paranapanema possui 106,5 mil km² e cerca de 4,6 milhões de habi-
tantes, abrangendo, integral ou parcialmente, 247 municípios, sendo 115 municípios no estado
de São Paulo, com cerca de 1,7 milhões de habitantes, e 132 municípios, com 2,9 milhões de
habitantes, no Estado do Paraná. A maioria dos municípios está avaliada como de alto desen-
volvimento humano e as principais cidades são: Assis, Itapetininga, Ourinhos e Presidente
Prudente, na vertente paulista; e Londrina, Maringá e Ponta Grossa, na vertente paranaense.
Em relação ao uso e cobertura do solo, a UGRH Paranapanema apresenta pastagem (36,3%),

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1092 Antonio Cezar Leal; Renata Ribeiro de Araújo; Matheus Naoto Archangelo Okado; Edson Luís Piroli

cultura temporária – milho/soja (14,8%), floresta (13,9%), cultura temporária – cana (10,1%),
silvicultura (8,3%), cultura temporária não especificada (7,8%), e outras classes de uso que
somam menos de 10% da bacia. Aproximadamente 18% da UGRH Paranapanema possui rema-
nescentes da vegetação nativa, notadamente na Unidade de Gestão Alto Paranapanema. (CBH-
Paranapanema e ANA, 2016).
Em relação ao abastecimento urbano, a maioria dos sistemas de água é operada pelas
concessionárias estaduais – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP)
e Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR). O índice médio de cobertura do abasteci-
mento da população urbana na UGRH Paranapanema é de 98,3% e a média de consumo per
capita é de 233,7 L/hab/dia (incluídas as perdas) e de 156,3 L/hab/dia (descontadas as perdas
de água). O índice médio de perdas na bacia é de 33,1% (CBH Paranapanema e ANA, 2016).
Dentre os 222 municípios com sede na UGRH Paranapanema, 48 sedes são abastecidas
por mananciais superficiais (28 em São Paulo, a maioria na UGRHI Alto Paranapanema, e 20 no
Paraná), 127 por mananciais subterrâneos (61 em São Paulo e 66 no Paraná) e 47 por manan-
ciais mistos – água superficial e subterrânea (11 em São Paulo e 36 no Paraná). Todavia, mais
da metade da população urbana da UGRH Paranapanema (2,32 milhões de habitantes) é abas-
tecida por água superficial e subterrânea conjuntamente (com uma vazão de 7,9 m³/s). (CBH
Paranapanema e ANA, 2016 e ANA, 2014).
Ressalta-se a importância de ações para proteção, recuperação e restauração de bacias
hidrográficas de mananciais de abastecimento urbano, especialmente em áreas críticas, como
previsto no PIRH Paranapanema, para diminuir a pressão antrópica sobre os mananciais, espe-
cialmente em períodos de redução da disponibilidade hídrica.
Nesse contexto, apresenta-se ao VIII Workshop Internacional em Planejamento e
Desenvolvimento Sustentável de Bacias Hidrográficas este trabalho com estudos e ações que
vem sendo realizados na UGRH Paranapanema, na perspectiva de compartilhar essas experiên-
cias e promover a interlocução com os participantes.

2 METODOLOGIA
Os estudos que vem sendo realizados nas bacias hidrográficas dos mananciais de abaste-
cimento urbano da vertente paulista da UGRH Paranapanema estão integrados a disciplinas, a
pesquisas científicas dos docentes e de seus orientandos e a ações de extensão universitária.
Para a definição dos temas e conteúdos a serem abordados nos estudos, a estratégia tem sido
observar nos planos de recursos hídricos das bacias hidrográficas onde atuam os CBH parcei-
ros, como o PIRH Paranapanema, quais são as lacunas de conhecimento e os programas e
ações previstos, na perspectiva de identificar temas e áreas para os estudos. Nessa definição
considera-se a área de atuação e de formação dos professores e estudantes envolvidos, bem
como temas e áreas que possibilitem a efetiva contribuição da equipe da universidade na

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO URBANO NA VERTENTE PAULISTA 1093

produção de conhecimentos para e com os CBH e, ao mesmo tempo, possam subsidiar a exe-
cução dos planos e a gestão das águas por esses colegiados regionais.
Após a análise do plano, são promovidas reuniões dos professores e alunos com dirigen-
tes e membros dos CBH parceiros, para que possam apresentar suas demandas de estudos e
serem definidos os temas e áreas que serão objeto de estudos na universidade em disciplinas,
estágios ou trabalhos de conclusão de curso (monografias e/ou dissertações e teses).
Menciona-se, como exemplo, a solicitação feita pelo CBH Paranapanema à UNESP para: a) ela-
boração de estudos para definições de locais para instalação de estações de monitoramento;
e b) levantamento de estudos no estado de São Paulo para realização de inventário com vistas
a identificar as APP, Reservas Legais, Unidades de Conservação e áreas de recarga de aquíferos.
Dessa forma, a análise do PIRH Paranapanema e a demanda do CBH Paranapanema direciona-
ram vários estudos para o Programa de Conservação Ambiental, estabelecido no plano.
Para a realização dos estudos específicos na universidade, são realizados levantamento e
revisão bibliográfica e de documentos técnicos, trabalhos de campo e visitas técnicas, interpre-
tação de imagens de satélites e de fotografias aéreas, análise da legislação ambiental e de
recursos hídricos, dentre outros. Essas ações são articuladas com reuniões nas Câmaras
Técnicas dos CBH, nas quais participam profissionais dos órgãos gestores de meio ambiente e
de recursos hídricos, das Prefeituras Municipais e dos usuários de recursos hídricos, incluindo
produtores rurais de propriedades localizadas nas bacias hidrográficas dos mananciais.
Os estudos realizados são apresentados, em reuniões e/ou em seminários, aos CBH e
também aos proprietários rurais, tendo em vista que estes devem ser esclarecidos sobre os
estudos e, no caso de aprovação dos projetos, darem anuência para as intervenções em suas
propriedades. Após a aprovação, os estudos são encaminhados pelo CBH para órgãos ambien-
tais e de controle para embasar a elaboração de projetos técnicos executivos, visando à obten-
ção de recursos para sua execução, geralmente oriundos de Termos de Ajustamento de
Conduta (TAC) ou Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA).
Esses estudos também são retomados na universidade e, com as adequações e comple-
mentações necessárias, constituem a base para a produção de trabalhos de conclusão de cur-
sos de graduação e de pós-graduação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos inicialmente foram realizados na bacia hidrográfica do manancial do alto
curso do rio Santo Anastácio, com cerca de 200 km², que abastece cerca de 30% da população
de Presidente Prudente, polo regional com 231.953 pessoas (estimativa IBGE, 2021)5. Foram
realizados estudos sobre identificação e análise da situação das APP de cursos d’água e nas-
centes, de hierarquização de áreas para restauração ecológica, de proposição de pagamento

5 IBGEhttps://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/presidente-prudente/panorama. Acesso em 29/10/2021

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1094 Antonio Cezar Leal; Renata Ribeiro de Araújo; Matheus Naoto Archangelo Okado; Edson Luís Piroli

por serviços ambientais, de restauração ecológica de APP, tais como os estudos de Dibieso
(2007 e 2013), Viana e Soares (2009), Carpi Jr (2011), Garcia (2011), Gonçalves (2013), Leal et al
(2015), Freire (2017), Couto (2018) e Okado (2018). Tem-se utilizado o marco legal relativo ao
tema, tais como Brasil (2012), São Paulo (1997) e São Paulo/SMA (2014).
Na Figura 2 apresenta-se um dos mapas resultantes dos estudos com a situação das
áreas de preservação permanente no manancial e nas Figuras 3, 4, 5 e 6 apresentam-se etapas
dos estudos e sua apresentação aos parceiros.

Figura 2 – Mapa de Áreas de Preservação Permanente no Manancial do Alto Curso do Rio Santo
Anastácio – UGRHI Pontal do Paranapanema – São Paulo

Fonte: Leal et al. (2015).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO URBANO NA VERTENTE PAULISTA 1095

Figuras 3 e 4 – Trabalho de campo na bacia do manancial do rio Santo Anastácio para identificação e
delimitação de áreas de preservação permanente (27/06/2016) e reunião com representantes de CBH,
prefeitura municipal e associação de agricultores familares para articular a realização dos estudos nas
propriedades rurais (22/05/2017)

Fonte: Acervo dos autores.

Figuras 5 e 6 – Trabalho de campo na nascente do rio Santo Anastácio (25/03/2019) e Seminário de


apresentação de estudos sobre o manancial (01/07/2019)

Fonte: Acervo dos autores.

Esses estudos, após apresentação e análise em Câmara Técnica do CBH, foram encaminha-
dos para órgãos de gestão ambiental e de controle para destinação de recursos oriundos de TAC
ou de TCRA. Os projetos decorrentes têm sido executados em propriedades rurais, incluindo a
construção de cercas nas APP, o plantio de mudas nativas e sua manutenção, contribuindo para
recuperar essas áreas. Ressalta-se o estudo de professores e estudantes que embasou a proposi-
ção de projeto Produtor de Água pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, com apoio do
CBH Paranapanema, CBH Pontal do Paranapanema, Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA) e várias outras instituições e entidades parceiras (PMPP, 2019).
Com a experiência decorrente da realização desses estudos no manancial Santo Anastácio,
outros estudos vêm sendo realizados em bacias de mananciais superficiais da UGRH

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1096 Antonio Cezar Leal; Renata Ribeiro de Araújo; Matheus Naoto Archangelo Okado; Edson Luís Piroli

Paranapanema, tais como Silveira e Toniello (2018), Vilella (2019) e Freitas (2020), abordando
mananciais localizados na UGRHI Médio Paranapanema.
Nessa UGRHI destacam-se também os estudos de Piroli (2013) nas APP dos corpos d´á-
gua do rio Pardo, na microbacia do córrego Água da Veada, em Ourinhos (PIROLI e LEVYMAN,
2020), dentre outros. Na Figura 7, mostra-se exemplo de mapa do uso da terra nas APP dos
corpos d´água do rio Novo, afluente do rio Pardo, destacando as áreas com uso adequado (flo-
resta e campestre) e inadequados (demais usos). As áreas com usos inadequados são aquelas
que necessitam de ações para adequação, tanto ambiental quanto legalmente.

Figura 7 – Mapa de uso da terra adequado e inadequado das Áreas de Preservação Permanente da
bacia hidrográfica do rio Novo

Fonte: Piroli (2013)

Nesse contexto, e considerando a crise hídrica que vem atingindo a região hidrográfica
do Paraná, incluindo a UGRH Paranapanema, nas pesquisas em andamento na Universidade
foram identificados os municípios paulistas nesta UGRH que são abastecidos total ou parcial-
mente com água superficial e as respectivas bacias hidrográficas de seus mananciais, identifi-
cando-se as bacias hidrográficas dos rios e córregos que abastecem 34 municípios paulistas, a
maioria localizada no Alto Paranapanema.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO URBANO NA VERTENTE PAULISTA 1097

Em decorrência dos estudos, está em processo de articulação o desenvolvimento de


ações integradas com os Comitês de Bacias Hidrográficas e Prefeituras Municipais que atuam
nessas bacias hidrográficas, na perspectiva de realizar estudos específicos em cada manancial
de abastecimento urbano, envolvendo professores e estudantes de graduação e de pós-gra-
duação, visando a subsidiar projetos técnicos de restauração ecológica das APP e implantação
do programa produtor de água, bem como a captação de recursos para sua execução.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Universidades, diante da importância de seu papel social e ambiental, devem incenti-
var e apoiar ações que busquem produzir junto e compartilhar conhecimentos com a comuni-
dade onde está inserida. Neste contexto, o trabalho em parceria com os CBH tem trazido a
oportunidade de troca de conhecimentos significativos, com estudos e produções técnicas e
científicas que buscam o atendimento às prioridades e diretrizes dos planos de recursos hídri-
cos, bem como contribuem para a formação dos estudantes.
É de suma importância essa ação integradora, pois propicia estudos de fenômenos e pro-
cessos reais, voltados aos problemas prioritários da sociedade e da gestão dos recursos hídri-
cos, promovendo o fortalecimento da Universidade frente aos desafios da Humanidade. Além
disso, a interlocução de professores e estudantes com outros setores da sociedade promove
maior profundidade de seus conhecimentos, nas suas áreas de formação, voltadas ao desen-
volvimento de Ciência, tecnologia e pesquisa, solução de problemas sociais e ambientais, bus-
cando-se a transformação da sociedade.
Dessa forma, nos estudos apresentados tem-se buscado atingir os objetivos da Política
Nacional de Extensão Universitária, com a Universidade gerando conhecimentos de forma con-
junta com outros setores da sociedade, em consonância com suas demandas, e agindo em par-
ceria para a melhoria das condições ambientais para as atuais e as futuras gerações.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


UNIDADE
X

REVITALIZAÇÃO DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS
94.
DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO
BINDÁ, MANAUS-AM

CAMILA FUZIEL SILVA1


NELIANE DE SOUSA ALVES2
MARIA DA GLÓRIA GONÇALVES DE MELO3

Resumo: As florestas ripárias são caracterizadas como áreas de saturação hídrica de uma determi-
nada bacia hidrográfica. Elas estão situadas ao logo das margens e nas cabeceiras dos corpos hídri-
cos, contudo, podem ocorrer em áreas elevadas das encostas, dependendo do tipo de topografia
que o relevo apresenta, além das condições de transmissividade do solo. Considerando a impor-
tância da vegetação ripárias na dinâmica ambiental de bacias hidrográficas, principalmente em
áreas urbanas, no que tange os aspectos ecológicos, geomorfológicos e hidrológicos, o presente
estudo objetivou mapear as florestas riparias na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá,
Manaus-AM. O estudo foi realizado na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá, foram realizados
levantamentos e registros fotográficos das áreas que apresentam florestas ripárias ao longo de
canal principal da bacia. A presença dessa vegetação na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá se
mostra de suma importância para a conservação das águas, pois integrem diretamente com ciclo
hidrológico. Na cabeceira do Igarapé do Bindá e nas proximidades de sua foz, a vegetação ripária
é bastante intensa com especiais de grande, médio e pequeno porte, além da vegetação rasteira,
o que se mostra vantajoso para a conservação do corpo hídrico.
Palavras-chaves: Florestas Ripárias, Bacia Hidrográfica, Corpos Hídricos.
Abstract: Riparian forests are characterized as areas of water saturation in each hydrographic
basin. They are located along the banks and at the headwaters of water bodies, however, they can
occur in elevated areas of the slopes, depending on the type of topography that the relief pre-
sents, in addition to the conditions of soil transmissivity. Considering the importance of riparian
vegetation in the environmental dynamics of watersheds, especially in urban areas, about ecolo-
gical, geomorphological, and hydrological aspects, this study aimed to map riparian forests in the
Igarapé do Bindá Hydrographic Basin, Manaus-AM. The study was carried out in the Igarapé do
Bindá Hydrographic Basin, surveys, and photographic records of areas with riparian forests along

1 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: camilafuzielsilva@gmail.com


2 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: nsalves@uea.edu.br
3 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: mgmelo@uea.edu.br

[ 1100 ]
DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO BINDÁ 1101

the main channel of the basin were carried out. The presence of this vegetation in the Igarapé do
Bindá Hydrographic Basin is of paramount importance for water conservation, as it directly inte-
grates with the hydrological cycle. At the head of the Igarapé do Bindá and near its mouth, the
riparian vegetation is quite intense, with large, medium, and small specials, in addition to the
undergrowth, which proves to be advantageous for the conservation of the water body.
Keywords: Riparian Forests, Hydrographic Basin, Water Bodies

1 INTRODUÇÃO
O ordenamento territorial é um instrumento estratégico para alcançar o desenvolvi-
mento sustentável, no que diz respeito a gestão integrada de bacias hidrográficas, visa estabe-
lecer o diagnóstico geográfico do território indicando tendências e aferindo demandas e
potencialidades (RODRIGUEZ; SILVA, 2018).
A estabilidade dos sistemas existentes em um determinado território é garantida porque
todos os componentes estão regulares. As modificações dos parâmetros estabelecidos, podem
resultar em mudanças catastróficas, a exemplo dos sistemas naturais, o uso irracional dos solos
e a ocupação marginal de copos hídricos podem gerar prejuízos irreversíveis as funções ambien-
tais que se destinam (RODRIGUEZ, et. al., 2013).
É necessário compreender que a qualidade ambiental está relacionada as ações do
homem sobre o espaço e os elementos que o compõe. Os níveis de qualidades encontrados
variam no tempo e no espaço, pois são dependentes das demandas e do uso dos recursos
naturais pela sociedade. Embora, a qualidade ambiental devesse ser encarada como essencial
para a sadia qualidade de vida dos seres humanos (BOTELHO; SILVA, 2014).
Reconhecendo a bacia hidrográfica como como uma unidade espacial destinada para a
gestão de recursos naturais, sob a perspectiva da gestão hídrica, a qualidade das águas que
compõem uma determinada bacia hidrográfica está diretamente relacionada com o tipo de
uso e ocupação do solo. O crescimento populacional nos centros urbanos sem planejamento,
gestão e controle, provocou alterações na quantidade e principalmente na qualidade das
águas, poluindo-as e as contaminando (BOTELHO, 2011).
Pesquisas realizadas por Atannasio et al. (2006), deixam claro a importância da relação
entre vegetação e recursos hídricos. As bacias hidrográficas que possuem ambientes floresta-
dos, apresentam funcionamento muito diferente daquelas situadas em ambientes intensa-
mente antropizados, refletindo, portanto, a importância da vegetação ripária para a preservação
e conservação dos canais fluviais.
As florestas ripárias são caracterizadas como áreas de saturação hídrica de uma determi-
nada bacia hidrográfica. Elas estão situadas ao logo das margens e nas cabeceiras dos corpos
hídricos, contudo, podem ocorrer em áreas elevadas das encostas, dependendo do tipo de
topografia que o relevo apresenta, além das condições de transmissividade do solo. Portanto,
desempenham um papel fundamental do ponto de vista ecológico e hidrológico para a manu-
tenção e preservação das bacias hidrográficas (ATANNASIO et. al, 2012).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1102 Camila Fuziel Silva; Neliane de Sousa Alves; Maria da Glória Gonçalves de Melo

Considerando a importância desses organismos vivos na dinâmica ambiental de bacias


hidrográficas, principalmente em áreas urbanas, no que tange os aspectos ecológicos, geomor-
fológicos e hidrológicos, o presente estudo objetivou mapear as florestas riparias na Bacia
Hidrográfica do Igarapé do Bindá, Manaus-AM.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O estudo foi realizado na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá, que é uma bacia de 2ª
ordem, apresenta uma área de aproximadamente 10km² e o perímetro de 20km², seu canal
principal possui a extensão de 8, 40 km e sua rede de drenagem total apresenta 14km, seu
padrão de drenagem dendrítico possui poucas ramificações (SANTOS, 2014).
O Igarapé do Bindá se encontra na sua totalidade dentro da zona urbana de Manaus, per-
passando por três (3) bairros: Mundo Novo, Flores e Parque Dez de Novembro e duas zonas da
cidade: Zonas Norte e Centro-Sul.
Manaus apresenta altos níveis de precipitação pluviométrica, devido ao clima da região,
sendo caracterizado como equatorial quente e úmido, pelo fato de sofrer influência de grandes
bacias hidrográficas, da zona de convergência intertropical (ZCIT) e dos processos de evapo-
transpiração, emitindo grandes quantidades de úmida no ar, resultando num alto volume de
chuvas num período de aproximadamente seis (6) meses (MIGUEIS, 2011).
A cobertura vegetal predominante na região está intimamente ligada tanto às característi-
cas químicas do solo, quanto ao clima quente e úmido da Amazônia, devido à baixa amplitude
térmica, a diversidade de espécies de formação vegetal tende a ser maior. A vegetação se carac-
teriza pela floresta ombrófila densa, latifoliada, com folhas de tamanho avultado, largas e
achatadas.
A geomorfologia da área de estudo é composta pelas unidades morfoestruturais de rochas
sedimentares da Formação Alter chão, com sua formação durante o cretáceo e seguidamente no
terciário e quaternário. Nestas unidades estão os domínios morfológicos Planalto Dissecado do
Rio Trombetas e Rio Negro e Planície Amazônica que, de acordo com (ROSS, 2005).

2.2 Coleta de Dados


Foram realizados levantamentos e registros fotográficos das áreas que apresentam flo-
restas ripárias ao longo de canal principal da Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá, em pon-
tos específicos de sua extensão, mais precisamente na área de cabeceira, no médio curso do
canal, situado nas dependências da Universidade Nilton Lins e nas proximidades de sua foz, no
Parque dez de novembro, Conjunto Eldorado.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO BINDÁ 1103

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Florestas Ripárias: Aspectos Conceituais e Funcionais
As florestas ripárias podem ser definidas como as áreas adjacentes a bacia hidrográfica,
aquelas que situadas no entono dos canais fluviais, que possuem função filtro contra poluen-
tes, excesso de sedimentos, pode-se dizer, de uma zona de captação (BRAZ et. al, 2020).
No Brasil, a vegetação marginal dos corpos hídricos pode receber diversas nomenclatu-
ras, dentre as quais: florestas ripícola, florestas de condensação, mata aluvial, florestas de vár-
zea, florestas de brejo, formação ribeirinha, mata de galeria, mata ciliar, aqui classificada na
legislação brasileira, através do código florestal (Lei 12.651/2012) e zona ripária (MEDEIROS,
2013 apud BRAZ et. al, 2020).
“O ecossistema ripário, incluindo a dinâmica da zona ripária, sua vegetação e suas
interações, desempenha funções relacionadas à geração do escoamento direto em
microbacia, à contribuição ao aumento da capacidade de armazenamento da água,
à manutenção da qualidade da água na microbacia, através da filtragem superficial
de sedimentos, e à retenção, pelo sistema radicular da mata ripária, de nutrientes
liberados dos ecossistemas terrestres (efeito tampão), além de proporcionar estabi-
lidade das margens, equilíbrio térmico da água e formação de corredores ecológi-
cos.” (ATTANASIO et al., 2006).

As florestas ripárias podem ou não coincidirem com a planície de inundação, contudo,


isso não altera suas funções de manutenção e conservação dos ambientes fluviais, como a
estabilização das margens dos corpos hídricos, regulação dos fluxos de entrada de nutrientes,
além da retenção de sedimentos que poderiam chegar ao canal, causando assoreamento
(STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).

Figura 1 – Caracterização da zona ripária

Fonte: ALVES, 2016.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1104 Camila Fuziel Silva; Neliane de Sousa Alves; Maria da Glória Gonçalves de Melo

Florestas ripárias, são áreas de interação direta entre ambientes aquáticos e terrestres,
associadas as funções hidrológicas, geomorfologias e ecológicas para sustentabilidade em
bacias hidrográficas. Para Kobiyama (2003), estes espaços tridimensionais, que inclui em sua
complexidade a vegetação, o solo e o rio.
A vegetação ripária possui um importante papel sobrea a geomorfologia fluvial, pois
afeta a resistência ao fluxo, assim como na mecânica do solo em encostas íngremes, influen-
ciando na estabilidade do leito, no armazenamento de sedimentos. Ademais, a zona ripária
também modifica a eficiência geomorfológicas de eventos de inundação na bacia hidrográfica
(KOBIYAMA, 2003).

3.2 Florestas Ripárias: Aspectos Legais


O Novo Código Florestal brasileiro, estabelecido através da Lei 12.651/12 determina nor-
mas gerais para proteção da vegetação e define legalmente as faixas e Áreas de Preservação
Permanente – APP.
As Áreas de Preservação Permanente são definidas nos termos da Lei, como áreas prote-
gidas, que podem ou não ser cobertas por vegetação nativa. Além disso, a área de APP possui
função ambiental de preservação dos corpos hídricos, da paisagem e ainda, de estabilidade
geológica e da biodiversidade, facilitando o fluxo gênico de fauna e flora, a proteção do solo e
assegurando o bem-estar das populações humanas.

“Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas,


para os efeitos desta Lei:
I – as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima
de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cin-
quenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros;
II – As áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas”. (BRASIL, 2012).

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DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO BINDÁ 1105

A partir da definição legal se entende que toda APP pode ser caracterizada como vegeta-
ção ripária, contudo, nem toda vegetação ripária pode ser definida como APP nos termos da
Lei, em virtude das classificações e larguras definidas.
3.3 Florestas Ripárias na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá
A vegetação ripária, ocorre ao longo do canal principal da bacia, em pontos específicos
de sua extensão, mais precisamente na área de cabeceira, no médio curso do canal, situado
nas dependências da Universidade Nilton Lins e nas proximidades de sua foz, no Parque dez de
novembro, Conjunto Eldorado, como pode ser observado na Figura 2.

Figura 2 A e B – Vegetação ripárias na cabeceira do Igarapé do Bindá

A B
Fonte – FUZIEL SILVA, 2021.

A vegetação ripária do Bindá, não é composta apenas de espécies primárias, parte da


vegetação existente na área de cabeceira da Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá, situada no
Bairro Mundo Novo, são resultados da ação de plantios realizados pela própria comunidade.
Nesses plantios foram incluídas também espécies frutíferas às margens do Igarapé, o que vem
de encontro ao que está previsto no Novo Código Florestal, sobre restauração em Áreas de
Preservação Permanente – APPs. A área situada na região de cabeceira do canal principal apre-
senta uma densa zona ripária, com vegetação de grande, médio e pequeno porte, conforme as
Figuras 3 (A e B) e 4.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1106 Camila Fuziel Silva; Neliane de Sousa Alves; Maria da Glória Gonçalves de Melo

Figura 3 A e B – Densa vegetação ripária na cabeceira da bacia

A B
Fonte: FUZIEL SILVA, 2021.

Figura 4 – Vegetação ripária no alto curso do Igarapé do Bindá

Fonte: Google Earth, 2021.

A conscientização dos em relação a preservação da área, favorece a existência das flores-


tas ripárias em alguns pontos da Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá. Diferente de trechos
a jusante da que apresentam elevado grau de antropização, principalmente nas áreas retifica-
das, resultando na inexistência de zona ripária nesses pontos.
Um dos trechos do canal que apresenta vegetação ripária, está situado nas dependências
da Universidade Nilton Lins, no médio curso, onde o Igarapé perpassa por aproximadamente
500 m linear. Apesar da retificação do canal, a área apresenta vegetação no entorno do corpo
hídrico, caracterizada por espécies arbóreas frutíferas de médio e grande porte, além de vege-
tação rasteira, como gramíneas, conforme as Figuras 5 e 6 (A e B).

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DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO BINDÁ 1107

Figura 5 – Trecho do Igarapé do Bindá dentro da Universidade Nilton Lins

Fonte: Google Earth, 2021.

Figura 6 A, B – Trecho retificado com presença de vegetação ripária

A B
Fonte: FUZIEL SILVA, 2021

Dentre as áreas levantadas ao longo do Igarapé do Bindá que apresentam vegetação


ripária, salienta-se as proximidades a foz, situada no Conjunto Eldorado. O local possui um tre-
cho bem alargado do canal, resultado das intervenções de dragagem no leito do Igarapé, con-
tudo, o entorno exibe floresta ripária, caracterizada por espécies de pequeno, médio e grande
porte, conforme Figura 7 (A e B).
A presença dessa vegetação na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá se mostra de
suma importância para a conservação das águas, pois integrem diretamente com ciclo hidroló-
gico. Ao remover a vegetação ripária, os sistemas aquáticos, inclusive a qualidade das águas
dos corpos hídricos pode ser afetada de maneira adversa, são áreas com função de proteção

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1108 Camila Fuziel Silva; Neliane de Sousa Alves; Maria da Glória Gonçalves de Melo

para as águas, filtrando e retendo possíveis poluentes e contaminantes que poderiam chegar
ao canal através da lixiviação. (MELO, et al., 2018).

Figura 7 A, B – Vegetação ripária nas proximidades da foz do Igarapé do Bindá

A B
Fonte: FUZIEL SILVA, 2021.

6 CONCLUSÃO
A vegetação ripária no Igarapé do Bindá, ocorre em trechos alternados ao longo do canal
principal, de acordo com a ocupação e ação antrópica na área. No caso da Bacia Hidrográfica
do Igarapé do Bindá, o mapeamento foi realizado apenas ao longo do canal principal.
Na cabeceira do Igarapé do Bindá e nas proximidades de sua foz, a vegetação ripária é
bastante intensa com especiais de grande, médio e pequeno porte, além da vegetação ras-
teira, o que se mostra vantajoso para a conservação do corpo hídrico.
As atividades antrópicas são os principais motores da fragmentação das florestas ripá-
rias, o que contribui com a redução da umidade atmosférica, formação de nuvens e ocorrência
de chuvas. A restauração da cobertura vegetal dessas áreas é fundamental para a estabilização
do ciclo da água.

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ATTANASIO, Claudia Mira et al. Método para a identificação da zona ripária: microbacia hidrográfica do
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DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO BINDÁ 1109

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


95. O CICLO DA AGRICULTURA E A
DEGRADAÇÃO DAS MARGENS
DO PARANÁ DO RAMOS, NO MUNICÍPIO
DE PARINTINS-AM (BRASIL)

ANDREI TAVARES FERNANDES1


EDELSON GONÇALVES MARQUES2
MARIA DA GLORIA GONÇALVES DE MELO3

Resumo: O presente artigo faz uma breve análise de áreas degradadas em um trecho das margens
do Paraná do Ramos, município de Parintins, Amazonas (Brasil), resultado de vários processos de
uso e ocupação do solo, associadas às práticas agrícolas desde o final do século XIX, como o cultivo
do cacau (Theobroma cacao), passando pelo ciclo da juta (Corchurus capsularis), Pau rosa (Aniba
rosaeodora) e agropecuária. As práticas agrícolas em questão possuíam a forma neolítica de plan-
tio, como a “derruba” e a “queima”, como forma de limpeza e adubação do solo, sem preocupação
com áreas de preservação de matas ciliares e corpos hídricos. O objetivo desta pesquisa foi analisar
o processo de degradação na área citada, considerando tanto os aspectos ambientais da terra
firme como da várzea. Como processos metodológicos, foram realizados uma visita técnica na
localidade com registros fotográficos, pesquisa bibliográfica, usos de imagens do satélite indiano
ResourceSat-2, sensor LIS3, para a confecção do mapa da localidade por meio do software ArcGIS.
A pesquisa identificou in loco áreas degradadas em ambientes de terra firme e várzeas, com
processos de erosão marginal e sem a vegetação de mata ciliar, a prática da pecuária bovina nas
margens correspondente àsáreas de proteção permanente (APP). No Código Florestal brasileiro,
as APPs deveriam ser preservadas, o que não ocorre no trecho analisado. Além disso, coube indi-
car projetos desenvolvidos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) como o
Projeto Produtor de Água (PPA) e o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
Palavras-chave: Degradação; Paraná do Ramos; Agropecuária.
Abstract: This article makes a brief analysis of degraded areas in a stretch of the margins of Paraná
do Ramos, municipality of Parintins, Amazonas (Brazil), resulting from various processes of land
use and occupation, associated with agricultural practices since the end of the 19th century, such
as the cultivation of cocoa (Theobroma cacao), passing through the jute cycle (Corchurus capsu-
laris), Rosewood (Aniba rosaeodora) and farming. The agricultural practices in question had the

1 Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos PROFÁGUA, Universidade do Estado do Amazonas – UEA/Campus
Parintins . E-mail: atf.geo@uea.edu.br.
2 Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos PROFÁGUA, Universidade do Estado do Amazonas – UEA/Campus
Parintins. E-mail: edelson.goncalves23.com@outlook.com
3 Prof.ª. Dra. Escola Superior de Tecnologia, EST/PROFÁGUA/UEA. E-mail: gloriamelo@yahoo.com

[ 1110 ]
O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO RAMOS 1111

Neolithic form of planting, such as “cutting down” and “burning”, as a way of cleaning and fertiliz-
ing the soil, without concern for preservation areas of riparian forests and water bodies. The
objective of this research was to analyze the degradation process in the mentioned area, consid-
ering both the environmental aspects of the terra firme and the floodplain. As methodological
processes, a technical visit was carried out in the locality with photographic records, bibliographi-
cal research, uses of images from the Indian satellite ResourceSat-2, LIS3 sensor, for the prepara-
tion of the locality map using the ArcGIS software. The research identified in loco degraded areas
in terra firme environments and floodplains, with marginal erosion processes and without riparian
vegetation, the practice of cattle ranching on the margins corresponding to permanent protection
areas (APP). In the Brazilian Forest Code, APPs should be preserved, which does not occur in the
analyzed stretch. In addition, it was necessary to indicate projects developed by the National
Water and Basic Sanitation Agency (ANA) such as the Water Producer Project (PPA) and the
Degraded Area Recovery Plan (PRAD).
Keywords: Degradation; Paraná do Ramos; Agriculture.

1 INTRODUÇÃO
Os espaços urbanos e rurais no Brasil passam por vários processos de ocupação que
degradam e comprometem o ambiente. Segundo Hernani et al. (2015), a ocupação, o uso e o
manejo dos recursos naturais mais frágeis têm gerado, ao longo do tempo, diversos níveis de
deterioração ambiental. Uma das percepções disso é identificada na alteração da cobertura
vegetal e em especial, àquelas que margeiam os corpos d’água como rios e lagos, tanto aque-
les localizados nas cidades, como no campo.
Além disso, outros problemas relacionados as formas de uso e ocupação da terra podem
ser elencadas como a perda da biodiversidade, a alteração do ciclo hidrológico, a transmissão
de doenças por veiculação hídrica, acúmulo de lixo, contaminação do solo e da água, alteração
dos microclimas, aceleração do processo de erosão (THOMAZIELLO, 2007).
Na Amazônia, esses processos podem ser identificados, tanto no histórico de ocupação
do solo, como no modo atual de ocupação deste. A exemplo, o município de Parintins que é
formado por uma extensa área de várzea e de terra firme, além de muitos lagos, pequenas
ilhas e uma serra (Serra de Parintins). Nas áreas de várzea e terra-firme, de acordo com a his-
tória do município, ocorreram vários surtos econômicos, como o da juta e do pau-rosa, cultura
do cacau, pecuária e agricultura de ciclo curto (BERCKER; LIMA, 2013).
Legalmente, as várzeas fazem parte das denominadas Áreas de Proteção Permanente
(APP). A Lei Federal nº 12.651/2012, estabelece as normas gerais para a proteção da vegetação
que faz parte das faixas marginais de qualquer curso d’água, natural perene ou intermitente,
inclusive o entorno de áreas de nascentes e de olhos d’águas perenes, além das várzeas.
O objetivo desta pesquisa foi analisar o processo de degradação em um trecho do Paraná
do Ramos, braço do rio Amazonas no município de Parintins, estado do Amazonas, conside-
rando tanto os aspectos ambientais da terra firme como da várzea. Além disso, coube indicar
projetos desenvolvidos pela Agencia Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), na

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1112 Andrei Tavares Fernandes; Edelson Gonçalves Marques; Maria da Gloria Gonçalves de Me lo

recuperação de áreas degradadas, de forma a incentivar proprietários a implementarem pro-


jetos para recuperação de suas áreas.

2 METODOLOGIA

2.1 Área de Estudo


O município de Parintins está localizado na região leste do estado do Amazonas, na sub-
-região política do baixo Amazonas, limites ao norte com Nhamundá (AM), ao sul Barreirinha
(AM), a oeste Urucurituba (AM) e a Leste com Terra Santa e Juruti (PA) e ocupa uma área de
5.956,373 km², com população estimada de 116.439habitantes (IBGE, 2021).
Com base no último Censo Populacional (2010), cerca 68,5% da população vivia na área
urbana e o restante, 31,5%, na zona rural do município, distribuída em inúmeros núcleos popu-
lacionais, como aglomerados rurais e vilas como: Mocambo do Ararí, Vila Caburí, Vila do Zé Açu
e Vila Amazônia.
A área de estudo desta pesquisa (Figura 1) compreende a confluência do Paraná do
Ramos (água branca), próximo à Vila Amazônia (a leste da cidade de Parintins) até as proximi-
dades da foz do rio Mamurú (ao sul de Parintins).

Figura 1 – Mapa de localização do trecho do Paraná do Ramos em Parintins (AM)

Fonte: IBGE (2018), INPE (2018).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO RAMOS 1113

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foi realizado levantamento bibliográfico, do qual, consideraram-se textos que abordas-
sem a história de ocupação do município de Parintins, principalmente àquelas que destacam o
desenvolvimento da ocupação na Vila Amazônia, bem como outras formas de sobreposição
territoriais como a área do Distrito e Projeto de Assentamento de Vila Amazônia.
O trecho compreende da confluência do Paraná do Ramos com o Rio Amazonas (pró-
ximo à Vila Amazônia), até a foz do rio Mamurú. Para tal, foram feitos registros fotográficos,
registros da caracterização da paisagem observada, em caderno de anotações, além de
coleta de coordenadas geográficas para acurácia na construção do mapa de localização da
área de estudo.
Foram elaborados dois mapas, um referente à localização da área de estudo e outro com
trechos dela, escolhidos durante a etapa de trabalho de campo. Para o mapa de localização,
foram utilizados dados da Base Cartográficos do IBGE (BC250), versão 2019 (IBGE, 2019),
DATUM SIRGAS2000. Junto à base cartográfica foram usadas imagens do satélite indiano
ResourceSat-2, sensor LIS3, bandas 5, 4 e 3, com data de aquisição 07/10/2018, disponibilizadas
pelo Instituto Nacional Pesquisas Espaciais (INPE). Ambos os mapas foram elaborados no soft-
ware ArcGIS 10.8.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Parintins é formado por uma extensa área de várzea e de terra firme, além
de muito lagos, pequenas ilhas e uma serra (Serra de Parintins). Nessas áreas de várzea e terra-
-firme, apresentam histórico dos ciclos econômicos, como o da juta e do pau rosa, além de outros
ciclos econômicos longos, como o do cacau e da pecuária. Nesse contexto, o cacau em Parintins
é apontado como o primeiro surto econômico do município (BERCKER e LIMA, 2013).
A coleta do cacau (Theobroma cacao) pode ter tido início com as missões religiosas,
desde meados do século XVII e, posteriormente cultivado em áreas da atual cidade deParintins,
em terra firme, bem como na várzea local. A iniciativa do cultivo pode ter ocorrido através do
capitão de milícias José Pedro Cordovil, a partir de sua chegada na ilha Tupinambarana, área da
atual cidade de Parintins, em 1796 e com contribuição de seus escravos e agregados o que teria
dado ao local o aspecto de um povoado agroextrativista (SAUNIER, 2003).
O cultivo da juta (Corchurus capsularis) na Amazônia teve início em Parintins em 1934, a
partir dos experimentos de aclimatação da planta, que viera da Índia, nas várzeas do rio Andirá.
A iniciativa foi realizada pela colônia japonesa, tendo Ryota Oyama, como o colono responsável
pelo sucesso do cultivo que impulsionou a economia não somente do estado do Amazonas
como do estado do Pará, no período entre a pós-crise da borracha e antesda criação da Zona
Franca de Manaus (FERREIRA; HOMMA, 2017).
A pecuária bovina teve início no município a partir do final do século XIX, para atender a
demanda de imigrantes nordestinos atraídos para a Amazônia pelo surto econômico da

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1114 Andrei Tavares Fernandes; Edelson Gonçalves Marques; Maria da Gloria Gonçalves de Me lo

borracha. Os nordestinos não eram acostumados com a dieta da população local à base de
peixes e caças, logo, a criação bovina se tornou uma das principais atividades econômicas, pre-
sente em Parintins até a atualidade (SAUNIER, 2003). Desde então, o município é um dos maio-
res produtores de bovinos do Estado, e atualmente o sexto colocado de acordo com o censo
agropecuário de 2017 (IBGE, 2017).
Quanto ao pau-rosa (Aniba rosaeodora), o surto econômico se deu partir de 1930, com a
instalação das primeiras usinas no município. A primeira instalação ocorreu na localidade do
Varre-Vento, (hoje, próximo a comunidade ribeirinha Maranhão na foz do rio Mamurú) e em
seguida, a instalação das usinas de destilação de óleos vegetais, Paraná do Ramos e Andirá
(SAUNIER, 2003). No início do processo de extração de óleo do pau-rosa, utilizavam-se árvores
nativas, encontradas principalmente em matas de terras firme com boa distância dos cursos
d’água principais.
Com exceção do pau-rosa, extraído das matas de terras firme, o cacau, a juta, além da
pecuária bovina ocorriam principalmente nas várzeas do município de Parintins, conforme
Saunier (2003). Destes, a pecuária bovina é a que permanece na atualidade, ora nas várzeas,
no período da vazante, ora na terra firme devido a enchente.

3.1 Vila Amazônia e seus aspectos


A Vila Amazônia está localizada na margem direita do rio Amazonas, próximo a confluên-
cia com o Paraná do Ramos, a leste da cidade de Parintins (AM), nas coordenadas geográficas:
2°36’51.17’’ latitude sul e 56°39’49.75’’ longitude oeste. Apresenta-se comaspecto urbano em
uma área de cerca de 2 km², assentada em uma ponta de terra-firme ou de relevo de tabuleiro,
com altitude média em torno de 25 metros. Além disso, o local dá nome ao Projeto de
Assentamento (PA) Vila Amazônia, além do distrito de Vila Amazônia, no município de Parintins.
Para Silvan (2018), os principais eventos históricos podem ser elencados a partir da coloni-
zação Japonesa na Amazônia (1930-1942), dos empreendimentos empresariais da firma do por-
tuguês J. G. Araújo (1946-1970) e a criação do PA Vila Amazônia em 1988. Essas etapas podem ser
associadas às formas de uso e ocupação da terra na Vila Amazônia e na sua proximidade.
Em outubro de 1929, as terras da antiga Vila Batista, foram compradas pelo deputado
Tsukasa Uyetsuka. Em 1930, o local passou a ser denominada de Vila Amazônia e logo se tor-
nou também a sede da Companhia Industrial Amazônica CIA, segundo a Associação Pan–
Amazônica Nipo-Brasileira (APANB, 2001).
A juta, a partir da Vila Amazônia e das várzeas do município de Parintins, foi introduzida
pela Companhia Industrial Amazônica CIA e espalhou-se tanto pelo estado do Amazonas, como
pelo estado do Pará, conforme afirma Silvan (2018). Segundo o autor, esse processo de expan-
são da juta, se deu ao mesmo tempo da criação e estruturação da CIA japonesa e antes mesmo
da sua formalização em 1936.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO RAMOS 1115

O marco da saída dos japoneses da Vila Amazônia se deu a partir de 1942, quando a CIA
foi desfeita, e seu respectivo patrimônio, que incluía as terras da Vila, foi leiloado pelo Governo
Brasileiro, em 1946 (SILVAN, 2018). Depois disso, ainda na década de quarenta, o empresário
português J. G. Araújo marcou outro período na Vila Amazônia, ao comprar essas terras, para
empreender a manutenção da produção da juta, além da diversidade de atividades agropecuá-
rias e extrativistas na região (MEDEIROS, 2013).
Com a instalação da firma J. G. Araújo houve o fomento para a implantação de outras
culturas agrícolas e uma nova fase econômica no município de Parintins. Nesse contexto, des-
taca-se o incentivo à criação de bovinos, do qual, intensificou-se o desmatamento para a for-
mação de pastos, inclusive nas faixas de vegetação ciliares, assim como em áreas que atualmente
estão definidas pela Legislação Ambiental como Reserva Legal (BRASIL, 2012). Em suma, esse
fato propiciou o desenvolvimento da pecuária no município de Parintins, que chegou a ser um
dos maiores criadores de gado do baixo Estado do Amazonas.
O Projeto de Assentamento de Vila Amazônia abrange as várzeas e terras-firmes da mar-
gem direita do rio Amazonas, da divisa do Amazonas com o Pará, abrangendo trecho da mar-
gem direita do Paraná do Ramos até a margem direita da foz do rio Mamurú, no limite com o
estado do Pará.
Além do valor histórico para o município, a vila possui uma função de centralidade em
virtude da sua localização geográfica. O local é um ponto nodal que conecta as comunidades
agrícolas, formadas por famílias de assentados da PA Vila Amazônia, por estradas nãopavimen-
tadas e as comunidades ribeirinhas, como as localizadas na bacia hidrográfica do Zé Açu,
Tracajá, além das do rio Mamurú e Uaicurapá, por via fluvial.

3.2 O primeiro trecho: da Vila Amazônia à ilha Formosa


Partindo da Vila Amazônia, o trecho em questão, possuía pouca vegetação ciliar e o com
solo bastante exposto, e com alguns blocos de construções antigas, que possivelmente foram
deslizando com a dinâmica dos rios, nas enchentes e vazantes. É possível afirmar, que os frag-
mentos de construções são do início do século XX, possivelmente do período da colonização
japonesa, na Vila Amazônia.
Na margem esquerda do Paraná do Ramos, oposto a foz da bacia hidrográfica do Zé Açu,
foram identificados os seguintes aspectos: vegetação rasteira típica da várzea amazônica,com
extensa faixa de vegetação arbustiva e árvores de aproximadamente 10 metros de altura, ante-
cedido por um extrato de vegetação rasteira, com poucas árvores arbustivas e, com raras árvo-
res acima de 10 metros de altura, solo exposto e com a presença de algumas palafitas de
ribeirinhos, além de cercas de madeira, que caracterizam o uso para pecuária bovina.
Ainda no trecho, pela margem direita do Paraná do Ramos, foi possível identifica ruínas
de uma construção fabril de extração do pau-rosa, próximo a um plantio de castanheiras
(Bertholletia excelsa). Nesse trecho, foi encontrada vegetação fechada em uma pequena área

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1116 Andrei Tavares Fernandes; Edelson Gonçalves Marques; Maria da Gloria Gonçalves de Me lo

de terra firme com borda composta por várzea ou planície de inundação, com algumas cons-
truções de ribeirinhos, e com visíveis níveis de sucessão vegetal de várzea.
O predomínio no mesmo trecho observado é para as pioneiras, de acordo com o
aspecto da altura de suporte (WORBES et. al., 1992). Destacam-se dois grupos: espécies vege-
tais com altura entre 10 e 20 metros na área central e as gramíneas, na margem, a exemplo
capim Mori (Paspalum fasciculatum). A Figura 2 apresenta os aspectos sucessão vegetal (A) e
do uso e cobertura da terra (B), observados nas margens próximo à IlhaFormosa.

Figura 2 – Trecho do Paraná do Ramos. (A) margem direita, níveis de sucessão; (B)
margem esquerda, várzeasem mata ciliar

Fonte: Fotos tiradas durante a visita de campo, em outubro de 2018.

Em contraste com a margem direta, a margem esquerda (Figura 2B), apresenta-se bas-
tante alterada, com a ausência de vegetação ciliar e solo completamente exposto. Nas mar-
gens, a presença do ribeirinho pressupõe as formas de uso do solo nas margens no Paraná do
Ramos, com a agricultura de subsistência e pecuária.

3.3 Da ilha Formosa ao meandro: área degrada de terra firme


Áreas degradadas na margem direita do Paraná do Ramos ocorrem também em ambien-
tes de terra firme, cujo principal aspecto é o solo argilo-arenoso, frágil, comumente encon-
trado nos relevos dos Baixos Platôs e dos Tabuleiros da Amazônia, encontrados no baixo
Amazonas. Segundo Schaefer et al. (2017), as principais feições pedológicas são os latossolos
amarelos, com caráter distróficos, às vezes com a presença de alumínio, nas posições de topo
transacionando para plíntico no terço superior, e argissólico, nos sopés das encostas.

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O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO RAMOS 1117

Esse tipo de solo quando a vegetação é retirada, pode ficar vulnerável a acentuação
dos processos de erosão, percolação e lixiviação. A percolação superficial e a lixiviação das
águas pluviais tornam-se os elementos preponderantes para a degradação do solo, de forma
que, as margens sem proteção natural de mata ciliar, ficam sujeitas a erosões marginais, pro-
cesso conhecido como fenômeno de terras caídas. Como destaca a (Figura 3C) abaixo:

Figura 3 – Localização dos trechos analisados – (A) próximo à Vila Amazônia, (B)
próximo à Ilha Formosa e (C) apróximo um meandro de terra-firme

Fonte: Compilação do autor. Fotos tiradas durante visita de campo em outubro de 2018.

A erosão pluvial é facilitada pelo processo de desnudação do solo, e isso é o que acon-
tece em vários trechos da área estuda (Figura C). A mata ciliar não está de acordo com o que
exige em seus padrões de conservação, de acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei nº
12.651/2012), que estabelece as normas sobre a proteção da vegetação nativa.
Segundo Tavares et al. (2008), entre os processos de degradação, vários deles são induzi-
dos pelo homem, como compactação, erosão acelerada, desertificação, salinização,lixiviação e
acidificação. As atividades produtivas de subsistência praticadas pelas comunidades agrícolas
ou ribeirinhas em Parintins ocorrem em grande parte através das lavouras temporárias, como
indicou o Censo Agropecuário em 2017(IBGE, 2017). Nelas se utilizam de metodologias de plan-
tio tradicional, ainda realizado de forma manual, ondeprevalece a agricultura neolítica de “der-
ruba” e “queima”, como forma de limpeza e posterior adubação do terreno para o plantio.
Outro ponto a ser destacado é sobre a criação extensiva de bovinos. Esse tipo de pecuá-
ria necessita de uma área maior de terras com pastos para a criação de gado. Essa práticacausa

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1118 Andrei Tavares Fernandes; Edelson Gonçalves Marques; Maria da Gloria Gonçalves de Me lo

como consequência, a perda do equilíbrio natural da fauna e da flora, a degradação do solo


facilitado pela desnudação, o que torna o solo lixiviado e com processos acentuados em vir-
tude das chuvas com alta média mensal, cerca de 700 mm, entre fevereiro e setembro
(FERNANDES et al., 2019).
O ribeirinho em sua cultura, ainda oferece resistência à implantação dos Sistemas
Agroflorestais, que pode ser definido como: “sistema de manejo sustentável da terra que
busca aumentar a produção de forma geral, combinando culturas agrícolas com árvores e plan-
tas da floresta e/ ou animais” (MICCOLIS et al., 2016. p. 22).
Para a realidade encontrada nas margens do Paraná do Ramos, sugere-se a implementa-
ção de projetos que contemplem a recuperação das áreas degradadas. Um deles envolve o
Plano de Recuperação de Áreas Degradas (PRAD), do qual requer uma série de procedimentos,
que possibilitam desenvolvimento prático em várias etapas, que devem culminar com a recu-
peração do ambiente.
A recuperação de uma área degradada, no que se refere a mata ciliar, deve envolver todas
as pessoas ligadas à questão. Segundo Balieiro e Tavares (2008), as matas ciliares, matas ripárias
ou matas de galeria, são formações vegetais que acompanham os cursos d’água ou lagos, cum-
prindo importantes funções na manutenção do regime hídrico da bacia hidrográfica.
O novo Código Florestal Brasileiro estabelece que as faixas marginais de qualquer curso
d’água natural, perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do
leito regular e larguras mínimas, de acordo com o curso d’água (BRASIL, 2012). Assim, a lei
considera esses locais como Área de Preservação Permanente (APP), tanto em zonas rurais,
como urbanas.
O trecho do Paraná do Ramos analisado possui padrão médio de largura de 500 metros.
Com esse aspecto, a faixa de vegetação a ser mantida, segundo o Código Florestal deveria ser
de 200 metros, contados a partir do leito regular do canal. Apesar da especificação, a desnu-
dação do solo ainda acontece com frequência o contraria a Lei, quase sempre após a vazante
do rio Amazonas, quando as terras das várzeas ficam emersas.

3.4 Do programa Produtor de Água


A ANA criou vários projetos que podem ser inseridos na recuperação e conservaçãode
matas ciliares, como forma de incentivo aos produtores e usuários de águas difusos, comoé o
caso do Programa Produtor de Água (PPA) em 2001.O programa é uma forma defomentar o
desenvolvimento de iniciativas e estimular a conservação dos recursos hídricos, fundamen-
tado na Política Nacional de Recursos Hídricos, que dispõe, dentre suas diretrizes da gestão de
recursos hídricos com o uso adequado do solo (BRASIL, 2012).
O PPA visa à integração dos produtores rurais no manejo e conservação de suaproprie-
dade tornando-se prestadores de serviços ambientais, contribuindo e harmonizando a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO RAMOS 1119

produção como meio ambiente. Ele está baseado nos princípios “provedor recebedor” e“bene-
ficiário pagador” por meio do conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
Segundo Manfredini, Guandique e Morais (2014), uma das maiores vantagens de progra-
mas baseados em PSA refere-se na condição do produtor rural ser o principal agente durante
a aplicação no processo. Além disso, aponta-se o crescimento das parcerias desenvolvimento
com as Secretarias de Meio Ambiente, nos níveis de governo federal, estadual e municipal,
comitês de bacias, empresas de saneamento, além de órgãos ambientaise sociedade civil.
O programa utiliza a política de PSA em todos os projetos como forma de valorizar o tra-
balho dos produtores rurais envolvidos a garantir a adequada manutenção das práticas conser-
vacionistas executadas nas propriedades rurais (ANA, 2008).
Até o ano de 2020 o estado do Amazonas, onde está localizado a área de estudo deste
trabalho, não possuía adeptos ao PPA.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que há falta de planejamento sustentável efetivo e do manejo correto dos
recursos naturais, pois não se identificou projetos sendo implantados com esse aspecto na
área. Dessa forma, o solo, a vegetação e os corpos hídricos, sofrem as consequências da falta
de políticas públicas, capaz de sensibilizar os ribeirinhos no que tange à questão ambiental.
Os trechos de terras-firmes analisados apresentam processo de erosão elevado em vir-
tude do somatório de condições como o tipo de solo, geomorfologia, velocidade da corrente
d’água, alta precipitação média, retirada da vegetação marginal pela ação antrópica, oque ace-
lera a degradação local.
As áreas de várzeas apresentam acentuado processo de retirada e deposição de sedi-
mentos durante a dinâmica fluvial da enchente e vazante. A deposição favorece o processo de
resiliência natural, pois há grande acúmulo de nutrientes no solo, o que facilita a manutenção
da biota e a rápida regeneração vegetal de áreas desnudas. Além disso, as terras desse ambiente
são ótimas ao cultivo agrícola.
O Código Florestal brasileiro visa a recuperação de áreas degradadas com o Plano de
Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), a partir de projetos que envolvam os órgãos do
governo, sociedade privada e proprietários de terras.
A Intervenção nas áreas degradadas no Paraná do Ramos a partir do ProgramaProdutor
de Águas poderá ser feita a partir da delimitação do corpo hídrico ou do trecho dele,uma vez
que há dificuldades de se delimitar bacias hidrográficas na planície do rio Amazonas.Quanto à
gestão dos recursos hídricos em bacias hidrográficas, a Lei das Águas (Lei federal nº
9.433/1997) estabelece a criação de comitês de bacia ou de um ente que planeje as priorida-
des e aplicabilidade do PPA.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1120 Andrei Tavares Fernandes; Edelson Gonçalves Marques; Maria da Gloria Gonçalves de Me lo

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UNIDADE
XI

SEGURANÇA HÍDRICA E
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
96.
A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO
BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS

ISABELLE SOFIA ABLAS1

Resumo: O presente trabalho apresenta uma descrição acerca dos riscos ambientais atrelados a
exploração do gás de xisto em território brasileiro, com enfoque no comprometimento do aquífero
Guarani e em evidências de terremotos induzidos observados em locais onde há o exercício da
exploração, e sua contribuição para o aumento da temperatura terrestre. O principal objetivo do
artigo é instigar a reflexão acerca dos prejuízos ambientais que poderão decorrer da exploração de
uma fonte de energia fóssil. Para cumprir as finalidades da pesquisa, a metodologia empregada se
deu principalmente através da análise bibliográfica de livros e artigos científicos, com método de
abordagem dedutivo, chegando a conclusão de que a pesquisa e o desenvolvimento de energias fós-
seis se encaminha na contramão dos objetivos mundiais de mitigação das mudanças climáticas.
Palavras-chave: Gás de xisto; Direito Ambiental; Fracking; Gás não convencional.
Abstract: This work presents a description of the environmental risks associated with the explora-
tion of shale gas in Brazilian territory, with a focus without compromising the Guarani aquifer and
on evidence of induced earthquakes observed in places where exploration is carried out, and its
contribution to increase the Earth temperature. The main objective of the article is to encourage
reflection on the environmental damage that occurs from the exploration of a fossil energy source.
To reach the purposes of the research, the methodology used was mainly through bibliographic
analysis of books and scientific articles, with a deductive approach method that reaches the con-
clusion – research and development of fossil energies are at odds with the global objectives of
mitigating climate change.
Keywords: Shale gas; Environmental Law; fracking; Unconventional gas.

1 Mestranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - isabelle.ablas@gmail.com.

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1124 Isabelle Sofia Ablas

1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o gás de xisto (Gás de folhelho) revolucionou a matriz energética
mundial. Com sua exploração, os países tiveram sua oferta de matrizes energética expandida
em até 50%, como foi o caso dos Estados Unidos, pioneiro na exploração do gás não
convencional.
No Brasil, a exploração do gás de xisto ainda não é permitida, dada sua característica de
gás não convencional. Tal particularidade do gás de xisto traz à baila o embate entre entusias-
tas da exploração, que frisam os benefícios econômicos advindos da comercialização e, de
outro lado, ambientalistas que temem os danos ambientais irreversíveis envolvidos na técnica
de Fraturamento Hidráulico.
Apesar do Brasil possuir vasto arcabouço jurídico para a efetiva proteção do meio
ambiente, é evidente que a especulação da exploração do gás de xisto coloca em xeque a efe-
tividade desta positivação, cabendo ao Direito Ambiental negociar os recursos naturais com a
atual concepção de desenvolvimento, buscando, irremediavelmente, mecanismos que inviabi-
lizem o eminente caos ambiental.
Assim, enquanto o dilema prático permanece entre o desenvolvimento econômico que a
exploração de gás de folhelho poderia trazer ao Brasil e a possível inevitabilidade das conse-
quências ambientais negativas da prática, o presente trabalho pretende evidenciar alguns dos
riscos ambientais envolvidos no processo de exploração do gás.

1.1 Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento Sustentável


De acordo com Ulrich Beck, a sociedade ocidental moderna caracteriza-se como uma
sociedade de risco, que se ocupa não somente da problemática da distribuição de riquezas,
mas também da distribuição de riscos científico-tecnologicamente produzidos.
Para o autor, o processo de modernização caracterizou-se por um alto desenvolvimento
científico-tecnológico, com o objetivo maior de produzir cada vez mais riquezas, no seio de
uma sociedade caracterizada principalmente pela escassez e pela pobreza.
Em um determinado momento desse desenvolvimento científico-tecnológico, a socie-
dade moderna passa a ter de lidar com os riscos de demasiada intervenção humana no meio
ambiente, visto que o lastro principal para a produção de riquezas é a utilização dos recursos
naturais. Assim, “no processo de modernização, cada vez mais forças destrutivas também aca-
bam sendo desencadeadas, em tal medida que a imaginação humana fica desconcertada diante
delas” (BECK, 2011, p.25).
Na visão de Schumpeter, o desenvolvimento é um processo de mudanças endógenas da
vida econômica, que alteram o estado de equilíbrio previamente existente (SCHUMPETER,
1982). Assim, é possível chegar à conclusão de que os riscos decorrem de um processo refle-
xivo da própria modernidade. Se no passado o desenvolvimento econômico se deu com vistas

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS 1125

a satisfazer as necessidades humanas mais básicas, enfrentando, assim, uma situação de escas-
sez, atualmente, as forças produtivas e o desenvolvimento econômico não estão mais ampara-
dos nesse fim e, portanto, os riscos decorrentes da modernização são gestados dentro da
própria sociedade industrial, ou das necessidades criadas por essa sociedade.
Desse modo, é possível testemunhar a obrigatoriedade de crescimento econômico ano
após ano, consumindo progressivamente recursos naturais e energéticos, tendo como base
uma concepção de desenvolvimento que aproxima cada vez mais o colapso ambiental.
Faz-se necessário ressaltar que o crescimento econômico apenas constitui a condição
necessária para o desenvolvimento, tais conceitos não devem ser confundidos. É o que leciona
Édis Milaré, ao afirmar que “o avanço de uma sociedade, de um país ou de uma região não se
reduz às cifras da produção econômica, porém, deve ser um avanço constante e harmonizado,
em sintonia com as potencialidades e limitações da Terra” (MILARÉ, 2019, p.125).
Ressalta-se que o crescimento econômico em uma sociedade de livre mercado não visa
satisfazer as necessidades mais básicas da coletividade, e sim maximizar os seus lucros de
maneira individual. Em sua relação com a degradação do meio ambiente, é como se retirásse-
mos da natureza muito mais do que é necessário para a nossa satisfação básica, com o intuito
de acumular riquezas em forma de capital.
O debate do direito ambiental, portanto, não logrará o êxito necessário caso mante-
nha-se limitado a questões sobre níveis de tolerabilidade dos impactos ambientais. Os pro-
blemas ambientais não são apenas “problemas ambientais” em sentido estrito, como se
fosse um subsistema isolado do todo social. Os problemas ambientais são problemas da
sociabilidade humana, da forma como lidamos com o meio ambiente e as nossas necessida-
des. Não é sustentável lidar com o meio ambiente sempre através da remediação a degrada-
ção que lhe causamos.

2 O GÁS DE XISTO E A TÉCNICA DE FRACKING


O Gás de xisto, conhecido como shale gas em contexto internacional, é um hidrocarboneto
advindo de rochas sedimentares ricas em matéria orgânica, de granulação fina, que apresentam
baixos teores de minerais de argila com teores mais elevados de silicatos e carbonatos.
No site da ANP há a definição específica para o “xisto” no glossário elaborado para jorna-
listas, In verbis:
Gás não convencional ou “shale gas” – popularmente conhecido como gás de xisto,
é extraído a partir do fraturamento da rocha geradora (ou folhelho gerador).
Difere-se do “convencional” na forma de extração, pois este último é produzido a
partir da rocha reservatório, no entanto, o produto resultante é o gás natural em
ambos os casos (BRASIL,2021).

As rochas que possuem xisto são localizadas em camadas profundas de difícil extração, o
que demanda tecnologia avançada, pois a matéria orgânica não pode ser extraída por

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1126 Isabelle Sofia Ablas

solventes comuns. O xisto possui um grande potencial energético pois a partir dele podem ser
produzidos os mesmos derivados do petróleo de poço, como nafta, gasolina, óleo diesel, e o
gás liquefeito de petróleo (GLP).
A técnica de Fraturamento Hidraúlico (ou fracking), utilizada para extrair o gás de xisto é
considerada uma técnica não convencional que possibilita o acesso das rochas sedimentares
no subsolo.
Primeiramente, cabe esclarecer o termo não convencional, que está associado com as
peculiaridades do reservatório que tornam sua exploração onerosa ou até mesmo inviável,
resultando em um desenvolvimento mais complexo. Quando há tecnologia disponível e a pro-
dução é economicamente viável, o reservatório é visto como convencional, e quando apesar
da disponibilidade tecnológica, não há viabilidade econômica, o reservatório é visto como não
convencional. O mesmo se diz quando há necessidade de desenvolvimento de uma tecnologia
de exploração para um dado recurso.
A extração por meio do fracking comporta as seguintes etapas: (i) exploração com sís-
mica 3D; (ii) preparação do terreno; (iii) perfuração vertical e horizontal; (iv) fratura hidráulica;
(v) gestão de resíduos e (vi) produção propriamente dita, cujo processo foi descrito por Ilana
Zeitoune, e replicado a seguir:
Na etapa de exploração sísmica, as rochas são mapeadas por ondas sonoras e mode-
lagem 3D para identificar as dimensões das rochas, por meio de sua largura e pro-
fundidade. Após seu mapeamento, o terreno é nivelado e compactado para receber
os equipamentos utilizados na exploração, produção e transporte logístico de seus
produtos.
Em seguida, é dado início a perfuração vertical de poços. Perfura-se uma grande
quantidade de poços até chegar a rocha geradora. As paredes do poço são revesti-
das de camadas de aço e cimento para que, então, sejam perfuradas as seções hori-
zontais do poço em diferentes direções.
Por meio da tubulação instalada nessas perfurações, é injetada uma grande quanti-
dade de água em conjunto com solventes químicos comprimidos e areia. A grande
pressão gerada por essa água provoca explosões que fragmentam a rocha, permi-
tindo o fluxo do gás. A areia utilizada no processo é essencial para que o buraco não
se feche novamente, evitando que o terreno ceda e, ao mesmo tempo, permitindo
a migração do gás a ser extraído.
Com o término do processo de injeção, a pressão interna da formação faz com que
o fluido retorne à superfície através do poço. Esse efluente é conhecido como flo-
wback (fluido de retorno do fraturamento) e pode conter produtos químicos preju-
diciais ao meio ambiente e à saúde humana (ZEITOUNE, 2016, p. 81).

Dentre os impactos ambientais sofridos pelo solo nos locais onde a técnica de Fracking é
utilizada podemos citar a contaminação por substâncias químicas em excesso, as alterações
sofridas na paisagem; a oxidação de solos ricos em matéria orgânica; o corte e a remoção de
vegetação nativa existente. Além disso, o solo fica vulnerável a ocorrências de grandes danos,
como o retorno das águas residuais contendo material radioativo e geração de sismos

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS 1127

induzidos de pequena magnitude relacionados a grande pressão utilizada para injeção do fluido
de fraturamento e a reativação de falhas preexistentes.
Já os riscos ambientais corridos pelos recursos hídricos da região explorada são: a) con-
taminação de fontes superficiais e dos aquíferos subterrâneos, pelo gás metano, pela água de
refluxo, e pelo cascalho contaminado; b) Perda de grande quantidade de água utilizada durante
o fraturamento hidráulico, que pode variar entre 10 mil m³ à 25 mil m³ por poço; c) contamina-
ção das águas superficiais ocasionadas por acidentes com veículos transportadores de produ-
tos. d) contaminação proveniente de armazenamento inadequado de fluidos e efluentes; e)
impactos sobre hábitats e ecossistemas aquáticos.
Como os poços de exploração têm vida útil relativamente curta, em média de 5 a 6 anos,
logo a área será deixada e deverá ser perfurado novo poço, o que implica em nova limpeza e
remoção de vegetação, de forma contínua.
Existe também uma grande preocupação em relação aos produtos químicos que serão
utilizados durante o fraturamento hidráulico, uma vez que esses produtos adicionados à água
utilizada são desconhecidos.

3 LIMITES AMBIENTAIS
3.1 Terremotos Induzidos
Uma das maiores polêmicas envolvendo a técnica de Fracking diz respeito aos terremo-
tos induzidos, isto é, movimentações semelhantes ao movimento de terremoto, geradas por
ação antrópica a partir da injeção de água sob pressão próxima de falhas geológicas já existen-
tes nas rochas exploradas.
Estudo realizado no Estado de Oklahoma, nos EUA concluiu que ocorreram cerca de 116
terremotos induzidos, com magnitude de 0,6 a 2,9 na escala Richter durante o período de fra-
turamento hidráulico de poço, sendo que nenhum terremoto similar foi identificado antes ou
após o início das atividades (GIBBENS, 2017). O estudo refere-se ainda ao período em que as
atividades de fraturamento hidráulico foram interrompidas por cerca de dois dias devido ao
mau tempo, e consequentemente os abalos sísmicos também cessaram, tendo se reiniciado
após a volta das atividades.
Resultados semelhantes foram publicados por estudos realizados em Ohio, onde ocorre-
ram aproximadamente 77 terremotos induzidos durante a exploração que utiliza o método de
fraturamento hidráulico. Após o fim das atividades exploratórias no poço, a taxa de terremotos
decaiu (NAIK, 2014). Dessa forma, é possível concluir que houve contribuição da técnica de
Fracking para o aumento de abalos sísmicos em regiões com falhas e fraturas geológicas pré-
-existentes nos EUA.
De acordo com Westaway e Younger (2014), as prováveis causas estão ligadas à injeção
do fluido de fraturamento, que ao ser injetado sobre alta pressão no poço pode extravasar

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1128 Isabelle Sofia Ablas

para outras falhas pré-existentes, causando uma ruptura ou cisalhamento na formação rochosa
e por consequência um tremor de terra. Outra possível causa consiste na própria perfuração
do poço, seja vertical, até atingir a camada de xisto, ou na perfuração horizontal, já na forma-
ção rochosa. Nesse caso as fraturas seriam criadas diretamente pelas perfurações, originando
atividade sísmica tanto pela tensão quanto pela tração exercidas no solo. A magnitude desses
possíveis abalos tem sido questionada. Estudos apontam que estes seriam de níveis muito bai-
xos e somente em áreas muito próximas aos locais de perfuração. Outro contraponto é que
qualquer tipo de perfuração seja para exploração de óleo ou energia geotérmica pode causar
instabilidade no solo e não exclusivamente as provenientes da exploração do gás de xisto.
No Brasil existem poucos registros relacionados a abalos sísmicos, devido sua localização
no centro de uma placa tectônica, distante da zona de conversão. A extração de gás de xisto
ameaça tal estabilidade.

3.2 Poluição Hídrica e o Aquífero Guarani


A exploração do gás de xisto também acomete os recursos hídricos da região de explora-
ção, nesse momento daremos destaque a dois grandes impactos. O primeiro deles é a dema-
siada quantidade de água gasta no processo de extração, o que pode interferir na oferta de
água para o consumo da população.
O segundo diz respeito a contaminação de lençóis freáticos, advinda da técnica de fratu-
ramento hidráulico, considerando que um terço de tudo que está dentro do poço vem à tona
(incluindo a água utilizada, os solventes utilizados e os resíduos da extração), os lençóis freáti-
cos ficam desprotegidos e expostos à poluição de metais pesados, substâncias químicas resi-
duais e substâncias inflamáveis, como o gás metano.
Nos países onde há a exploração por meio do fraturamento hidráulico foi constatada a
degradação de lençóis freáticos e escoamento de metano (IBASE.2017). Exemplo disso são os
Estados Unidos da América, onde constatou-se que de 1.076 substâncias utilizadas no fratura-
mento hidráulico, apenas 8% possuíam valor de referência à exposição e, entre 39% a 75% da
quantidade injetada no volume de água contaminavam o solo, com possibilidade de se espa-
lhar pelas formações geológicas (U.S. EPA, 2016).
No Brasil, as maiores reservas de Gás de Xisto são encontradas na bacia sedimentar do
Paraná, região onde também se localiza uma das maiores reservas de água doce do mundo, o
Aquífero Guarani.
Diante do cenário exposto e das implicações ambientais que permeiam o debate sobre a
exploração e a regulação do gás de xisto no Brasil, é necessário entender a dinâmica interna-
cional aplicada ao Aquífero, cuja extensão ultrapassa o limite territorial brasileiro.
Por ser considerado um aquífero transfronteiriço, a possiblidade de que ocorram danos
ambientais aumenta consideravelmente, pois mais de um país detém soberania sobre a

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS 1129

extensão, a liberação e a fiscalização das atividades realizadas no aquífero. Assim, algumas


ações com potencial de agredir as águas subterrâneas podem ser negligenciadas ou estar em
descompasso com o entendimento do país vizinho.
No sistema pátrio brasileiro, as águas subterrâneas são consideradas bens públicos de
domínio dos Estados da Federação e do Distrito Federal (Art 26 CFB 88) e sua exploração deve
ocorrer mediante outorga. Ressalta-se que não são todos os Estados que possuem leis especí-
ficas sobre as águas subterrâneas, ou se possuem, são previsões genéricas, sem abordar ampla-
mente o assunto.
Dada a importância da conservação dos reservatórios de água doce do planeta, foi esta-
belecida pela ONU em 2009 a Resolução 63/124, intitulada “The law of transboundary aqui-
fer”(ONU, 2009), responsável pela regulamentação do uso e proteção dos recursos hídricos
subterrâneos que ultrapassam fronteiras, com foco na gestão compartilhada entre os Estados
que os possuam.
A Resolução prevê que os Estados que utilizam as águas subterrâneas de aquíferos trans-
fronteiriços são responsáveis pela gestão responsável dos recursos hídricos, priorizando sua
conservação, e em segundo momento um maior aproveitamento das águas. Para a ONU, cada
parte deverá tomar medidas preventivas para não causar prejuízos sociais e ambientais aos
demais envolvidos, considerando sempre a cooperação entre eles.
Ainda, a resolução reafirmou os princípios de direito internacional das águas doce e do
caráter intergeracional do Direito Ambiental, ressaltando o entendimento do uso equitativo e
razoável dos aquíferos a depender de sua capacidade de renovação.
Posteriormente, no ano de 2003, ocorreu o lançamento do Projeto Proteção Ambiental
e Gerenciamento Sustentável Integrado do Sistema Aquífero Guarani (PSAG), com o propósito
de apoiar os países detentores do Aquífero Guarani (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) na
elaboração e implementação de um marco comum institucional, legal e técnico para diligenciar
e preservar o SAG para as gerações atuais e futuras. O projeto foi coordenado pela Organização
dos Estados Americanos (OEA) com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente. No ano
de 2010, após grandes negociações referentes ao acordo entre os Países, durante a realização
da Cúpula do Mercosul, os quatro países firmaram o “Acordo sobre o Sistema Aquífero Guarani”
(BRASIL, 2010).
Referido acordo é composto por 22 artigos, sendo os primeiros relativos a soberania
sobre as respectivas porções do Aquífero, e o uso e proteção estarão em concordância com os
dispositivos constitucionais pátrios e com as normas de Direito Internacional.
Dentre as obrigações previstas no Acordo, as partes comprometem-se a não causar pre-
juízos ao meio ambiente, garantir o uso racional, equitativo e sustentável das águas -desta-
cando que as atividades ou obras de aproveitamento e exploração observem todas as diligências
necessárias a impedir que resultem em danos às outras partes signatárias do Acordo– e ao

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1130 Isabelle Sofia Ablas

meio ambiente, sempre observando o dever de transparência e a troca de informação entre as


partes.
Na medida em que cada Estado tenha avaliação de eventuais danos, por execução de
alguma atividade ou obras que envolva o Aquífero, cabe relatar documentalmente aos possí-
veis responsáveis pelos fatos dando início ao processo de solução de controvérsias, para que a
questão seja discutida e resolvida da melhor maneira possível e de comum acordo entre os
envolvidos, que se dará por meio de procedimento arbitral.
Para a vigência do Acordo é necessária sua aprovação pelo poder legislativo, bem como
pelo chefe do executivo de cada Estado parte. Atualmente, o Acordo foi ratificado pela
Argentina (Lei nº 26.780/2021) e pelo Uruguai (Lei nº 18.913/2012). No Brasil, foi aprovado pelo
Decreto Legislativo nº 52 de 03 de maio de 2017 e aguarda a promulgação, o Paraguai aprovou
o projeto no plenário do Senado e atualmente está pendente de avaliação pela Câmara dos
Deputados do país.
Nesse contexto, restou evidente que a utilização da técnica fracking nas reservas próxi-
mas ao aquífero Guarani implicariam graves danos ambientais. Além disso, sua exploração
ultrapassa os limites do Poder Legislativo brasileiro, devendo ser discutida em âmbito interna-
cional, vez que os danos resultantes serão absorvidos pelo aquífero como um todo e eventual
consequência advinda de poluição hídrica seria sentida por três nacionalidades.

3.3 Poluição Atmosférica e Mudanças do Clima


Ao longo do ciclo de vida da atividade do fracking, a qualidade do ar pode ser também
diretamente afetada, e podem ser citados os seguintes motivos: a) o intenso trânsito de cami-
nhões e maquinários que serão utilizados para a construção do poço, com impacto direto na
qualidade do ar da região; b) ocorrência de vazamento e emissão de CO2 e outros gases; c)
risco de vazamento de gás natural e outros poluentes a partir da água de retorno e da água
produzida; d) maior uso de motores a diesel e máquinas diversas para perfuração dos poços,
com consequente aumento de emissões; e) liberação de poeira decorrente de atividades de
terraplanagem, manuseio de materiais, movimentação da terra e preparação das bases dos
poços; f) emissões de gases de efeito estufa.
É importante destacar que a intensidade da atividade de fraturamento hidráulico para a
produção de recursos petrolíferos de jazidas não convencionais é muito maior do que para jazi-
das convencionais. Assim, quando a instalação de produção está próxima a uma área residen-
cial, a população pode ser ampla e diretamente impactada por poluentes atmosféricos.
Denota-se que os riscos ambientais que envolvem a técnica do fracking são bastante gra-
ves, e podem impactar diretamente a população do entorno dos poços de extração, conforme
explorado oportunamente.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS 1131

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo abordou a questão da exploração e produção de gás de xisto no Brasil,
introduzindo os conceitos de gás de xisto e da técnica de fraturamento hidráulico, ressaltando
os potenciais danos ambientais sofridos com a exploração do gás não convencional: A contami-
nação de corpos hídricos, a contribuição para o aumento da temperatura terrestre decorrente
da emissão de gases de efeito estufa, e a possibilidade de ocorrência de abalos sísmicos indu-
zidos, conforme verificado em território norte americano.
Contata-se que na atual sociedade de incertezas, o equilíbrio ecológico jamais será o
mesmo no planeta, pois o mundo já atingiu os limites mais ameaçadores da sua trajetória.
Essas ameaças decorrem do esgotamento dos recursos naturais não renováveis, da falta de
distribuição equitativa dos bens ambientais, da pobreza em grande escala e do surgimento de
novos processos tecnológicos excludentes.
A reflexão trazida diz respeito a importância de observar as externalidades negativas
atreladas à exploração e a produção de gás de xisto – já vividas por outras nações. Considerando
o vasto potencial brasileiro ao desenvolvimento de matrizes energéticas renováveis, não se faz
viável o investimento massivo para o desenvolvimento de técnicas de extração de gases não
convencionais, visto que os desdobramentos expostos demonstram o alto custo ambiental, cli-
mático e humano atrelado à exploração do gás.
Dessa forma, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas é necessária a descarboni-
zação da matriz energética mundial, sendo inviável que Estado brasileiro invista na exploração
de uma matriz energética não convencional, podendo, inclusive, gerar atritos internacionais
envolvendo o aquífero Guarani.

5 REFERÊNCIAS
BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2011.
BRASIL, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível., Glossário. Disponível em: <https://www.
gov.br/anp/pt-br/acesso-a-informacao/glossario > Acesso em 13 de março de 2021.
GIBBENS, Sarah. Estudo comprova que atividades humanas causam terremotos mortais. National Geographic
Brasil, 2017, disponível em < https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2017/10/estudo-
comprova-queatividades-humanas-causam-terremotos-mortais> Acesso em 03 abril 2021.
IBASE. Francking e exploração de recursos não convencionais no Brasil: riscos e ameaças, Rio de Janeiro:
2017.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 12a Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2019.
NAIK, Gautam. Cientistas relacionam alta no número de terremotos à extração de petróleo, 2014, The Wall
Street Journal, disponível em <https://www.wsj.com/articles/SB1000142405270230441860458001372404858
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ONU. Resolution 63/124 “The law of transboundary aquifers”. 2009. Disponível em: https://www.
internationalwaterlaw.org/documents/regionaldocs/Guarani_Aquifer_Agreement-Portuguese.pdf>. Acesso
em 03 maio 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1132 Isabelle Sofia Ablas

SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma investigação sobre lucros, capital,
crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 47.
SKOUMAL, Robert J; BRUDZINSKI, Michael R.; CURRIE, Brian S. Earthquakes Induced by Hydraulic Fracturing in
Poland Township, Ohio. Bulletin of the Seismological Society of America, fevereiro de 2015, Ed. 105, p. 189 –
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U.S. EPA. Hydraulic Fracturing for Oil and Gas: Impacts from the Hydraulic Fracturing Water Cycle on
Drinking Water Resources in the United States (Final Report). U.S. Environmental Protection Agency,
Washington, DC, EPA/600/R-16/236F, 2016.
WESTAWAY, R., and YOUNGER, P. L. Quantification of potential macroseismic effects of the induced seismicity
that might result from hydraulic fracturing for shale gas exploitation in the UK. 2014. p. 230.
ZEITOUNE, Ilana. Petróleo e Gás no Brasil – Regulação da Exploração e da Produção. Grupo GEN, 2016, São
Paulo, p. 85.

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97. CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE
PENTECOSTE-CEARÁ

NAGILA FERNANDA FURTADO TEIXEIRA1


PEDRO EDSON FACE MOURA 2
EDSON VICENTE DA SILVA3

Resumo: A água é um recurso vital que tem sido utilizada de maneira descontrolada no desenvol-
vimento de atividades antrópicas, o que ocasiona processos de degradação e ameaças à segu-
rança hídrica, principalmente nas áreas semiáridas do Nordeste brasileiro. Nessa perspectiva, o
presente trabalho discute as características dos recursos hídricos superficiais do município de
Pentecoste, Ceará, situado na área de entorno do Núcleo de Desertificação de Irauçuba. A pes-
quisa se dividiu em três etapas: organização e inventário, atividades de campo e pesquisa de gabi-
nete. Obteve-se como resultado a descrição e detalhamento dos aspectos ambientais dos
principais cursos de água, rios, riachos e reservatórios de grande porte presentes no município. Ao
analisar o volume dos reservatórios para a série histórica de 2004-2021 identifica-se que a oferta
hídrica diminuiu bastante com o período de seca iniciado em 2011, sendo a situação mais crítica
durante o ano de 2017, em que o açude Sítios Novos registrou um volume de 0,12% de água,
seguido pelo açude Pentecoste e Caxitoré com 0,14% e 3,61%, respectivamente. Quanto a quali-
dade da água dos três reservatórios do município, ao se analisar o estado trófico para o período
2008-2020, constatou-se como pior cenário o açude Sítios Novos classificado como hipertrófico,
enquanto os outros dois açudes se enquadram como eutróficos. Destaca-se que essas duas classes
representam açudes em processo de eutrofização, ou seja, são reservatórios que apresentam
águas com elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes que compromete a qualidade
do recurso hídrico para os usos múltiplos, principalmente o consumo humano e animal.
Palavras-chave: Reservatórios; Segurança Hídrica; Planejamento Ambiental.
Abstract: Water is a vital resource that has been used in an uncontrolled manner for the develop-
ment of human activities, which causes its degradation and threat to water security, especially in
the semi-arid areas of northeastern Brazil. From this perspective, this paper discusses the charac-
teristics of surface water resources in the municipality of Pentecoste, Ceará, located in the area

1 Universidade Federal do Ceará. E-mail: fernandaft92@gmail.com


2 Universidade Federal do Ceará. E-mail: pedroedson18@gmail.com
3 Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com

[ 1133 ]
1134 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva

surrounding the Desertification Center of Irauçuba. The research was divided into three stages:
organization and encouragement, field activities for the municipality and office research. The
result is the description and detailing of the environmental aspects of the main rivers, streams and
large reservoirs present in the municipality. By analyzing the volume of reservoirs for the 2004-
2021 historical series, we identified that a water supply decreased significantly with the drought
period that started in 2011, being more critical in 2017, when Sitios Novos obtained a volume of
only 0.12% of water, followed by the Pentecoste and Caxitoré reservoirs with 0.14% and 3.61%,
respectively. As for the water quality of these three reservoirs, when analyzing the trophic state
for the period 2008-2020, the worst scenario is the Sítios Novos reservoir classified as hypertro-
phic, while the other two reservoirs are classified as eutrophic. It is noteworthy that these two
classes represent dams undergoing eutrophication, that is, they present waters with sources of
organic matter and nutrients that compromise the quality of the water resource for multiple uses,
mainly human and animal consumption.
Keywords: Reservoirs; Water Security; Environmental planning.

1 INTRODUÇÃO
A água é um recurso essencial para todas as formas de vida na Terra, promovendo um
importante ciclo hidrológico, que corresponde a um dos principais agentes na esculturação da
paisagem, pois atua na evolução do relevo, através dos processos de erosão, transporte e
deposição. Caracterizado por ser renovável, mas esgotável, a água tem sido utilizada de maneira
descontrolada através das atividades antrópicas o que ocasiona sua degradação e ameaça à
segurança hídrica, principalmente em áreas semiáridas do Nordeste brasileiro.
Destaca-se ainda que a água se torna escassa não apenas em quantidade, mas também
em qualidade, pois mesmo que a quantidade seja o suficiente para toda a população, caso a
qualidade seja comprometida, esse recurso não poderá ser utilizado (POTELO, 2014). Somada
a essa característica, tem-se a crescente demanda pelo uso dos recursos hídricos, principal-
mente voltada ao abastecimento humano, dessedentação de animais, agricultura, aquicultura,
indústria, balneabilidade, lazer dentre outras que podem ocasionar conflitos por água decor-
rem da pouca disponibilidade desse recurso, devido ao seu uso intenso e a interesses conflitan-
tes (OKAWA; POTELO, 2014).
O estado do Ceará apresenta cerca de 92% de seu território, ou seja, aproximadamente
136.328 km² sob influência do clima semiárido. Dos 184 municípios que compõem o Ceará, 117
estão totalmente inseridos no domínio de semiaridez, marcado pela irregularidade climática,
com período chuvoso curto de cerca de 3 a 5 meses e um período seco prolongado, 7 a 9
meses. Caracterizado também, por altas temperaturas, médias superiores a 26°C, com elevada
evaporação hídrica e amplitude térmica diuturna (CEARÁ, 2010; SOUZA, 2000; ZANELLA, 2007).
O Ceará possui doze bacias hidrográficas: do rio Jaguaribe, dividida em Alto, Médio e
Baixo, do rio Banabuiú, do rio Acaraú, do rio Coreaú, do rio Curu, do rio Salgado, Metropolitana,
do Litoral, da Serra de Ibiapaba e do Sertão de Crateús (CEARÁ, 2016). Na região semiárida cea-
rense, o quadro geoambiental vulnerável e as ações antrópicas inadequadas de uso dos recur-
sos naturais agravam os problemas ambientais, com a redução da biodiversidade, o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE-CEARÁ 1135

aceleramento dos processos erosivos e a diminuição dos recursos hídricos, do solo e da vege-
tação (NASCIMENTO, 2011).
As características climáticas determinam, juntamente com as condições geológicas, o
regime dos recursos hídricos presente nas áreas semiáridas marcadas pela intermitência dos
rios que demandam estratégias de garantia da segurança hídrica da população como a cons-
trução de reservatórios que abastecerão e servirão de fonte hídrica para diversas finalidades,
principalmente nos municípios interioranos. Nessa perspectiva, o presente trabalho objetiva
analisar, detalhar e discutir os recursos hídricos superficiais presentes no município de
Pentecoste, Ceará, a partir de três etapas: organização e inventário, estudos de campo e pes-
quisa de gabinete. Para tanto, realizou-se uma descrição e detalhamento dos aspectos ambien-
tais dos principais cursos hídricos como rios, riachos e reservatórios de grande porte: Pentecoste,
Sítios Novos e Caxitoré presentes no município, com a análise do volume desses açudes para a
série histórica de 2004-2021 e estado trófico para o período 2008-2020.

1.1 Delimitação e aspectos geoambientais da área de estudo


O município de Pentecoste (Figura 1), localiza-se no setor norte do estado do Ceará, dis-
posto entre as coordenadas 3° 47’ 34” S e 39° 36’ 13” W, distante 88 km da cidade de Fortaleza,
compreende uma área de 1.378,3 km² que está dividida em quatro distritos municipais admi-
nistrativos: Pentecoste, Matias, Porfírio Sampaio e Sebastião de Abreu (IPECE, 2016). A área de
estudo situa-se na área de entorno do Núcleo de Desertificação de Irauçuba/Centro Norte,
sendo um município susceptível a desertificação e apresenta, na porção sul, áreas fortementes
degradadas em processo de desertificação.
No tocante à geologia, o município apresenta-se essencialmente constituído por rochas
do embasamento cristalino, representadas por gnaisses, xistos, quartzitos, calcários e granitos,
de idade Pré-Cambriana, além de sedimentos arenosos a areno-argilosos, inconsolidados que
constituem a cobertura aluvial cenozóica (CPRM, 2003).
Pentecoste está compartimentada geomorfologicamente em: Depressão Sertaneja,
Pequenos Maciços Residuais e Planícies Fluviais. A Depressão Sertaneja é marcada pela prima-
zia de topografias planas ou levemente onduladas com altitudes médias entre 130-150 m
representando os níveis rebaixados da depressão sertaneja, nos níveis mais elevados com alti-
tudes superiores a 300 m, a dissecação é evidente, isolando interflúvios de feições colinosas,
tabuliformes ou lombadas (SOUZA, 1988).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1136 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva

Figura 1 – Localização geográfica do município de Pentecoste

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os Pequenos Maciços Residuais, encontram-se dispersos na depressão sertaneja contri-


buindo para a diversidade fisiográfica e paisagística do sertão. São constituídos de rochas
cristalinas, muitas vezes por litologias metamórficas, dissecadas em feições convexas e
aguçadas com presença de solos litólicos e drenagemcom padrões dentríticos e subdendrítico,
representando as serras e serrotes (SOUZA, 200). As Planícies Fluviais representam os segmen-
tos mais baixos das bacias hidrográficas, constituindo-se nas zonas de sedimentação, as vár-
zeas. Constituídas por sedimentos aluvionares e destacam-se em meio a Depressão Sertaneja
como ambientes de exceção por apresentarem melhores condições de solo e disponibilidade
hídrica (GORAYEB, 2004).
De acordo com a classificação de Köppen (1931), o clima de Pentecoste é do tipo BSW’, ou
seja, quente e semiárido caracterizado por chuvas irregulares, com 7 a 8 meses secos. Durante
todo o ano as temperaturas oscilam alcançando médias entre 26° a 28°C, apresentando elevadas
taxas de evapotranspiração e uma precipitação média anual de 817 mm (IPECE, 2016).
Os solos predominantes em Pentecoste são os Neossolos Litólicos, Argissolos Vermelho-
Amarelos, Neossolos Flúvios, Luvissolos Crômicos e Planossolos Háplicos. Quanto à vegetação,
destaca-se a ocorrência de caatinga arbustiva densa, complexo vegetacional da zona litorânea
e mata ciliar. O município está inserido territorialmente nas bacias hidrográficas do Curu e
Metropolitana, apresentando como drenagens de expressão os rios Curu, Caxitoré e Capitão
Mor e o riacho Salgado, pertencentes a primeira bacia, bem como o rio do Meio e do riacho
Mocó, pertencentes a bacia Metropolitana (CPRM, 1998; IPECE, 2016).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa se dividiu em três etapas: organização e inventário, estudos de campo e pes-
quisa de gabinete. Na fase de organização e inventário efetivou-se o levantamento

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE-CEARÁ 1137

bibliográfica e cartográfico da área de estudo, dados secundários. Foram realizadas também


visitas de campo no município a fim de coletar dados primários da área. Na etapa de gabinete
ocorreu a interpretação dos dados, primários e secundários, obtidos em campo relacionando-
-os com as informações compiladas no levantamento bibliográfica.
Os dados sobre volume e estado trófico dos reservatórios foram retirados do Portal
Hidrológico do Ceará da Secretaria de Recursos Hídricos do estado, que divulga as informações
sobre os açudes monitorados pela Companhia e Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará
(COGERH). Sobre o tema foi analisado o volume de armazenamento de água dos açudes: Pereira
de Miranda, Sítios Novos e Caxitoré para a série (2004-2021), bem como o estado trófico des-
ses reservatórios para a série (2008 a 2020).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos sertões do semiárido com predominância de substrato cristalino, há grande ocorrên-
cia de rios e riachos com escoamento intermitente sazonal com drenagem exorréica. Zanella
(2007) salienta que a irregularidade pluviométrica, o caráter intermitente dos rios e as caracte-
rísticas litológicas repercutem na disponibilidade dos recursos hídricos no semiárido.
Os rios do Nordeste brasileiro, em determinadas épocas do ano, chegam ao mar, carac-
terística original dos sistemas hidrográficos e hidrológicos regionais, diferente de outras regiões
semiáridas do mundo, em que as drenagens convergem para depressões fechadas, os rios
dessa região vão para o oceano Atlântico (NASCIMENTO, 2011).
Os principais cursos hídricos superficiais do município de Pentecoste são os riachos
Croatá, Mocó, Cedro, Cachoeira, Volta, Salgado, Mel e Capitão Mór e, os rios Curu, e Canindé,
este último é importante afluente da margem direita da bacia hidrográfica do rio Curu.
A Bacia Hidrográfica do Rio Curu possui uma área de 8.750,75 km², equivalente a 6% do
território cearense e drena além de Pentecoste mais 14 municípios: Itatira, Canindé, Caridade,
Paramoti (no Alto Curu); General Sampaio, Apuiarés, Tejuçuoca, Itapajé, Irauçuba, Umirim, São
Luís do Curu (no Médio Curu); e São Gonçalo do Amarante, Paraipaba e Paracuru (no Baixo
Curu) (CEARÁ, 2009).
A bacia do rio Curu (Figura 2) apresenta suas nascentes nas serras do Céu, da Imburana e
do Lucas, no município de Canindé. Sua foz localiza-se na divisa dos municípios de Paracuru e
Paraipaba (BRANDÃO; FREITAS, 2014). O rio Canindé tem suas nascentes no Maciço de Baturité
e assume papel relevante no contexto da Bacia Hidrográfica do Rio Curu, pois é o principal
afluente da sua margem direita.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1138 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva

Figura 2 – Rio Curu no período seco, Pentecoste-CE

Fonte: Autores.

Segundo Soares (2006), a paisagem da Bacia Hidrográfica do Rio Curu foi transformada a
partir da intervenção antrópica por meio da retirada da vegetação natural e substituição pela
agricultura de subsistência e perenização de trechos dos rios, através da construção de reser-
vatórios de água superficial. Os reservatórios de água desempenham importante papel no con-
trole de inundações e na crescente demanda de água potável para seres humanos, para animais
de criação, aquacultura e agricultura (GUNKEL, 2019). A Bacia Hidrográfica do Rio Curu carac-
teriza-se pelo alto nível de açudagem, possuindo 818 reservatórios. Os açudes Pentecoste e
General Sampaio são responsáveis por aproximadamente 70% do volume de acumulação dessa
bacia (CEARÁ, 2009).
Assim, como na maioria dos municípios do Ceará, a limitação da disponibilidade hídrica é
um problema recorrente em Pentecoste, agravada pela seca iniciada em 2011. Como medida
de mitigação da seca está à construção de açudes e perfuração de poços. Segundo Dantas e
Rodrigues (2015) o processo de açudagem tem a intensão de proporcionar o desenvolvimento
da região nordeste através da disponibilidade hídrica para as atividades agrícolas, industriais e
serviços, além do abastecimento humano.
Os açudes do Ceará são divididos em pequeno, médio, grande e macro, sendo construí-
dos pelo governo, por particulares e em regimes de cooperação. A COGERH (2008) estabelece
uma classificação para os açudes de acordo com a capacidade volumétrica em: macro porte (>
que 750.000.000m³), grande porte (de 75.000.000 a 750.000.000m³), médio porte (de
7.5000.000 a 75.000.000m³) e pequeno porte (de 0,5 a 7.5000.000m³). Os açudes de pequeno
porte são geralmente construídos para abastecer a população rural dos municípios cearenses,
principalmente para o uso consumo humano e dessedentação animal.
Em Pentecoste, ressalta-se três açudes de grade porte, Pereira de Miranda, Caxitoré e
Sítios Novos. O açude Pereira de Miranda, denominado por alguns órgãos de Pentecoste, é o

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE-CEARÁ 1139

único totalmente inserido no município, foi construído pelo DNOCS em 1957 apresenta 2.840
km² de área de drenagem e a bacia hidráulica possui 5.700 ha com capacidade de armazena-
mento de 360.000.000 m³ (COGERH, 2021).
O açude Caxitoré encontra-se parcialmente inserido em Pentecoste, apresenta uma
área de drenagem de 1.430 km² e a bacia hidráulica possui 4.574 ha com capacidade de
armazenamento de 202.000.000 m³. O açude Sítios Novos também se encontra parcialmente
inseridos em Pentecoste, apresenta uma área de drenagem de 446 km² e a bacia hidráulica
possui 2.010 ha com capacidade de armazenamento de 126.000.000 m³, como indica o
Quadro 1 (COGERH, 2021).

Quadro 1 – Características técnicas dos principais açudes de Pentecoste-CE

Açude Município Capacidade Sistema Rio barrado

Pentecoste Pentecoste 360.000.000 m³ Curu Rio Canindé

Caxitoré Umirim-Pentecoste 202.000.000 m³ Curu Rio Caxitoré

Sítios Novos Caucaia- 126.000.000 m³ Metropolitana Rio São Gonçalo


Pentecoste
Fonte: COGERH (2021).

O açude Pentecoste é o principal reservatório de grande porte do município por ser o


único totalmente inserido em Pentecoste, e tratar-se da principal fonte de oferta hídrica
para as diversas atividades econômicas e consumo humano e dessedentação animal.
Segundo Oliveira (2009) o açude Pentecoste é responsável pelo controle das cheias do rio
Canindé e riacho Capitão-Mor, auxiliando na perenização do rio Curu pela irrigação das ter-
ras à jusante, bem como propicia o desenvolvimento da piscicultura e o aproveitamento das
culturas à montante.
Em função da grande variação do escoamento fluvial e do longo período de ausência de
lâmina d’água, a construção de açudes surge como uma alternativa para acumular água e
garantir o suprimento hídrico nos longos períodos de estiagens (FARIAS, 2015).
A oferta hídrica dos reservatórios do Ceará tem diminuído bastante em razão do período
de seca iniciado em 2011. No período de 2004 a 2021 (Figura 3), o açude Pentecoste diminuiu
consideravelmente seu volume, em 2010 obteve o maior armazenamento, 75,79% de sua capa-
cidade total. No período de 2014 a 2019 apresentou os menores valores, com destaque para o
ano de 2017 que obteve o menor volume, 0,14% de seu potencial de reserva hídrica. O açude
Caxitoré em 2010 obteve o maior volume de armazenamento, 80,89% de sua capacidade e, de
2015 a 2018, diminuiu drasticamente com valores de 5,53%, 5,48%, 3,61% e 6,68% de reservas
hídricas, respectivamente.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1140 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva

O açude Sítios Novos, em 2014, apresentou 89,11% do volume armazenado, maior valor
para a série analisada. De 2015 a 2019 obteve os menores valores, com destaque para o ano
de 2017 com 0,12% da capacidade de armazenamento. A redução dos volumes dos açudes do
município de Pentecoste tem agravado a situação da qualidade da água desses corpos hídricos,
como indica a Figura 3.

Figura 3 – Volume dos principais açudes do município de Pentecoste-CE (2004-2021)

Fonte: GOGERH (2021). Elaborado por Nagila Fernanda Furtado Teixeira.

A água utilizada para o abastecimento de Pentecoste advém principalmente do açude


Pereira de Miranda, numa demanda de 65 litros por segundo, sendo distribuída na zona urbana
do município pela empresa CAGECE (ANA, 2018). Na zona rural do município prevalece, como
meio de abastecimento do consumo humano, as águas das cisternas, poços e caminhões-pipa,
este último abastecendo a população local principalmente nos períodos de maior crise hídrica.
Tendo em vista, os usos múltiplos da água e a importância desse recurso para a segu-
rança hídrica e vida das populações, a COGERH realiza um monitoramento constante da quali-
dade da água dos reservatórios do Ceará e lançou um estudo com o resultado desse
acompanhamento nos últimos 12 anos (2008 a 2020), através de análises de amostras de água
coletadas nos açudes Pentecoste, Caxitoré e Sítios Novos. Os dados demonstram um processo
de eutrofização dos açudes que compromete a qualidade da água e demanda estratégias de
melhoria e recuperação desses recursos.
A eutrofização hídrica é ocasionada pelo acúmulo de uma carga de nutrientes destinada
aos açudes do NEB, especialmente de nitrogênio (N) e fósforo (P). As principais fontes de polui-
doras que causam a eutrofização dos reservatórios do Ceará são: a) as descargas de esgotos
domésticos e industriais; b) afluência de partículas de solos contendo nutrientes, em decorrência
de erosão hídrica; c) presença de gado, principalmente no entorno do reservatório; e d)
exploração de piscicultura intensiva no espelho d’água do açude (PAULINO; OLIVEIRA; AVELINO,
2013; COGERH, 2021).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE-CEARÁ 1141

Os efluentes domésticos contêm altas concentrações de matéria orgânica e nutrientes,


favorecendo o processo de eutrofização quando lançados “in natura” nos ecossistemas aquá-
ticos (JARVIE; WHITTON; NEAL, 1998). A eutrofização é um processo dinâmico que ocorre
geralmente em ambientes lênticos, ou seja, que apresentam águas paradas ou com movimento
lento ou estagnado. Esse processo altera a qualidade da água e provoca uma série de prejuízos
a biodiversidade aquática e aos seus usos múltiplos (LIMA; MONTEIRO, 2015).
A COGERH analisou os parâmetros Nitrogênio, Fósforo, Clorofila, Cianobactérias e
Transparência dos três açudes de grande porte de Pentecoste e classificou os reservatórios em
quatro classes: oligotrófica, mesotrófica, eutrófica e hipereutrófica (Quadro 2). Essa classifica-
ção, refere-se ao estado trófico que corresponde ao enriquecimento por nutrientes das águas
e seu efeito, relacionado ao crescimento excessivo das algas ou infestação de macrófitas aquá-
ticas (CEARÁ, 2009; COGERH, 2021).

Quadro 2 – Descrição do estado trófico dos açudes

Estado trófico Descrição

Possuem águas limpas, de baixa produtividade, em que não ocorrem interferências inde-
Oligotrófico
sejáveis sobre os usos da água, decorrentes da presença de nutrientes
São águas com profundidade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade
Mesotrófico
da água, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos.
São os corpos de água com alta produtividade, com redução da transferência em geral afe-
tados por atividades antrópicas, nos quais ocorrem alterações indesejáveis na qualidade
Eutrófico da água e interferência nos usos múltiplos
Águas afetadas significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e
nutrientes com comprometimento acentuado nos seus usos, associado a episódios de flo-
rações de algas ou mortandade de peixes, com comprometimento acentuado nos seus
Hipereutrófico
usos.
Fonte: COGERH (2021).

Ao analisar os dados de estado trófico dos três açudes de Pentecoste (Figura 4) na série
histórica (2008-2020) percebe-se que o estado mais crítico ocorre no açude Sítios Novos,
enquadrado como hipertrófico. Os açudes Pentecoste e Caxitoré estão classificados como
eutróficos. Destaca-se que essas duas classes representam açudes em processo de eutrofiza-
ção, ou seja, apresentam águas com elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes
que compromete a qualidade do recurso hídrico para os usos múltiplos, principalmente o con-
sumo humano e animal, e que pode provocar a mortandade das espécies de peixes, prejudi-
cando a piscicultura, importante atividade econômica do município de Pentecoste.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1142 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva

Figura 4 – Estado trófico dos principais açudes de Pentecoste-CE

Fonte: GOGERH (2021). Elaborado por Nagila Fernanda Furtado Teixeira.

Quanto à salinidade dos açudes do município de Pentecoste, Ceará (2009) destaca que os
reservatórios pertencentes a Bacia Hidrográfica do Rio Curu, apresentam concentrações de
cloretos inferiores a 250 mg/l, valor dentro do tolerado pelo Ministério da Saúde para con-
sumo humano, com exceção dos açudes Caracas e Salão. Levando-se em consideração as
características de salinidade para irrigação, as águas dos reservatórios se classificam de salini-
dade alta.
Outra importante forma de abastecimento de água nos sertões do NEB é o uso das cis-
ternas de placas construídas através do Programa de Formação e Mobilização Social para a
Convivência com o Semiárido: 1 Milhão de Cisternas Rurais-P1MC coordenado pela Articulação

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE PENTECOSTE-CEARÁ 1143

no Semiárido-ASA. Em Pentecoste as cisternas fazem parte da paisagem na zona rural, atual-


mente totalizam-se 1.350 cisternas de placa com capacidade de armazenar 16 mil litros de
água, cada uma, que permite o abastecimento doméstico da população (ASA, 2021). A constru-
ção de cisternas de placa no NEB para o armazenamento de água da chuva para consumo
humano é uma ferramenta de políticas de convivência com a seca através de uma tecnologia
simples e com custos reduzidos, o que melhora a qualidade de vida dos sertanejos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas regiões semiáridas do Nordeste brasileiro, o problema da disponibilidade hídrica é
mais acentuado do que no restante do país, ocasionada naturalmente por fatores climáticos e
condições litopedológicas particulares. Assim, os recursos hídricos superficiais no semiárido
demandam estudos e análises para o planejamento e gestão como forma de garantir a segu-
rança hídrica e a conservação desse recurso vital.
Os principais cursos hídricos superficiais do município, rio Curu e o Canindé, são impor-
tantes afluentes da margem esquerda da Bacia Hidrográfica do Rio Curu e juntamente diversos
reservatórios, de pequeno, médios e grande porte, são intensamente utilizados pela população
do município para o abastecimento humano, dessedentação de animais, lazer, irrigação da
agricultura de subsistência.
Os usos múltiplos nem sempre são acompanhados de um planejamento, sendo percep-
tíveis os impactos nesse ambiente, principalmente, a eutrofização, a poluição, as ocupações
irregulares e o assoreamento de cursos hídricos do município. A partir do exposto, a ampliação
dos estudos sobre os recursos hídricos superficiais, dentre eles as bacias hidrográficas e os
reservatórios do semiárido cearense é urgente, para garantir o uso racional, conservação e
manejo adequado dos recursos naturais e consequentemente, a melhoria da qualidade de vida
dos habitantes.

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1144 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva

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SOARES, F. M. Classificação das paisagens na bacia hidrográfica do rio Curu-CE. In: SILVA, J. B. da. et al (orgs.).
Ceará: um novo olhar geográfico. 2 ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2006.
SOUZA, M. J. N. de; Bases naturais e esboço do zoneamento geoambiental do estado do Ceará. In: LIMA, L.
C; SOUZA, M. J. N. de; MORAIS, J. O de. Compartimentação territorial e gestão regional do Ceará. Fortaleza:
FUNECE, 2000.
ZANELLA, M. E. As características climáticas e os recursos hídricos do Ceará. In: SILVA, J. B. da. et al (orgs.).
Ceará: um novo olhar geográfico. 2 ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


98. CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS
Método para lavagem de betoneira e reuso das águas
residuais em uma obra do programa social e ambiental
dos igarapés de Manaus – Prosamim

CAMILA FUZIEL SILVA1


SAMUELSON BUZAGLO PIMENTA2
ORLANDO FREIRE NETO3
JOSÉ HUMBERTO MICHILES JÚNIOR4

Resumo: O controle ambiental de obras se mostra um instrumento essencial para execução de


serviços da indústria da construção civil, para salvaguardar o meio ambiente, utilizando-se dos
pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. O controle ambiental de obras só é
possível a partir do planejamento e avaliação ambiental dos projetos a serem executados no can-
teiro de obras. Um dos projetos representativos da indústria da construção na cidade de Manaus
é o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM, concebido pelo Governo
do Estado do Amazonas, em parceria com o Banco Interamericano – BID, com objetivo de promo-
ver a recuperação ambiental e o ordenamento territorial das bacias hidrográficas interiores de
Manaus. Visando atender as legislações vigentes das três esferas governamentais: federal, esta-
dual e municipal, além das condicionantes ambientais do PROSAMIM, o presente trabalho tem por
objetivo apresentar o controle ambiental de obras por meio da utilização de método para lavagem
de betoneira e reuso das águas residuais em uma obra de construção civil. Este trabalho foi desen-
volvido na Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE, sediada na cidade de Manaus, respon-
sável pelo gerenciamento das obras do PROSAMIM. Onde foi desenvolvido a construção de um
sistema para lavagem de betoneira fixa e masseira conjugados, com a finalidade de atender as
legislações relativas ao Programa, proporcionando qualidade ambiental aos serviços executados
no canteiro de obras. Ao final das etapas executas, obteve-se um sistema que coleta as águas resi-
duais oriundas da lavagem da betoneira para reuso no próprio canteiro de obras.
Palavras-chave: Controle ambiental de obras, PROSAMIM, Reuso de águas residuais.
Abstract: The environmental control of works is an essential instrument for the execution of ser-
vices in the civil construction industry, to safeguard the environment, using the pillars of sustaina-
bility: environmental, social, and economic. The environmental control of works is only possible

1 Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: camilafuzielsilva@gmail.com


2 Centro Universitário do Norte. E-mail: samuelsonbuzaglo@hotmail.com
3 Universidade Federal do Amazonas. E-mail: orlandoneto2704@hotmail.com
4 Universidade Federal do Amazonas. E-mail: jr.michiles@gmail.com

[ 1145 ]
1146 Camila Fuziel Silva; Samuelson Buzaglo PimentA; Orlando Freire Neto; José Humberto Michiles Júnior

from the planning and environmental assessment of the projects to be executed at the construc-
tion site. One of the representative projects of the construction industry in the city of Manaus is
the Social and Environmental Program of Igarapés de Manaus – PROSAMIM, conceived by the
Government of the State of Amazonas, in partnership with the Interamerican Bank – IDB, with the
objective of promoting environmental recovery and the territorial planning of inland watersheds
in Manaus. Aiming to meet the current legislation of the three governmental spheres: federal,
state, and municipal, in addition to the environmental conditions of PROSAMIM, this work aims to
present the environmental control of works using a method for washing concrete mixers and
reuse of wastewater in a civil construction work. This work was developed at the Special Projects
Management Unit – UGPE, headquartered in the city of Manaus, responsible for managing the
PROSAMIM works. Where the construction of a system for washing fixed concrete mixers and
combined mixers was developed, to comply with the legislation relating to the Program, providing
environmental quality to the services performed at the construction site. At the end of the steps
carried out, a system was obtained that collects wastewater from washing the concrete mixer for
reuse at the construction site itself.
Keywords: Environmental control of works, PROSAMIM, Wastewater reuse

1 INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil é um dos setores importantes na economia brasileira, res-
ponsável pela geração de milhares de empregos em todo país. Mas é também, uma das ativi-
dades que provocam inúmeros impactos adversos ao meio ambiente (PIRES, 2014).
De acordo com a Resolução Nº 001 do Conselho Nacional Do Meio Ambiente – CONAMA
(1986), impacto ambiental é definido como qualquer alteração nas propriedades físicas, quími-
cas e biológicas do meio ambiente, resultante das atividades humanas, que de forma direta ou
indireta afetem a saúde e a segurança da população, atividades sociais, econômicas, a biota e
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente.
Isto posto, a Constituição da República Federativa do Brasil em seu artigo 225 prevê que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (BRASIL, 1988);

“...IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade” (BRASIL, 1988).

Neste sentido, o controle ambiental de obras se mostra um instrumento essencial para


execução de serviços da indústria da construção civil, para salvaguardar o meio ambiente, uti-
lizando-se dos pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. O controle ambien-
tal de obras só é possível a partir do planejamento e avaliação ambiental dos projetos a serem
executados no canteiro de obras.
O projeto, se trata de um objeto planejado e composto por um conjunto de atividades
relacionadas com fins específicos. Além do mais, os projetos devem garantir total qualidade

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS 1147

ambiental dos serviços prestados, por meio de medidas preventivas e mitigadoras de danos
ambientais, buscando sempre a melhoria contínua na execução das atividades no canteiro de
obras (RODRIGUEZ; SILVA, 2018).
Um dos projetos representativos da indústria da construção na cidade de Manaus é o
Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM, concebido pelo Governo
do Estado do Amazonas, em parceria com o Banco Interamericano – BID, com objetivo de pro-
mover a recuperação ambiental e o ordenamento territorial das bacias hidrográficas interiores
de Manaus.
Visando atender as legislações vigentes das três esferas governamentais: federal, esta-
dual e municipal, além das condicionantes ambientais do PROSAMIM, o presente trabalho tem
por objetivo apresentar o controle ambiental de obras por meio da utilização de método para
lavagem de betoneira e reuso das águas residuais em uma obra de construção civil nas depen-
dências da Unidade Gestora de Projetos Espaciais – UGPE.

1.1 Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE


A Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE é um órgão do Governo do Estado do
Amazonas, responsável pelas execuções, fiscalizações e acompanhamento do Programa Social
e Ambiental do Igarapés de Manaus – PROSAMIM.
A UGPE foi instituída através da Lei Delegada Nº 5, vinculada à Secretaria de Estado e
Infraestrutura e Região Metropolitana de Manaus – SEINFRA. A Unidade possui dentre outras
coisas, uma estrutura organizacional com coordenadoria executiva, além de autonomia nos
âmbitos administrativo e financeiro, com ações operacionais. A Unidade Gestora de Projetos
Especiais é um interlocutor no que diz respeito aos assuntos ligados do PROSAMIM entre o
Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, o qual é financiador de parte dos recursos
financeiros aplicados no Programa.
No desenvolvimento prático de suas ações frente as obras do PROSAMIM, a UGPE conta
com uma equipe técnica multidisciplinar, com profissionais atuantes nas mais diversas áreas
relacionadas a construção civil. Ademais, a Unidade atua no fortalecimento de ações institucio-
nais com entidades do Estado e Munícipio com o intuito de assegurar a conservação e a manu-
tenção dos espaços concebidos pelo Programa.

1.2 Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM


O Programa Social e Ambiental do Igarapés de Manaus – PROSAMIM foi concebido para
solucionar problemas ambientais, urbanísticos e sociais, causados pela ocupação dos igarapés
na cidade de Manaus, além de promover ordenamento territorial das bacias hidrográficas das
áreas de intervenção do Programa.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1148 Camila Fuziel Silva; Samuelson Buzaglo PimentA; Orlando Freire Neto; José Humberto Michiles Júnior

O Governo do Estado do Amazonas e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID


criaram o PROSAMIM. Classificando como um programa de obras múltiplas, que garantiu
melhorarias ambientais, urbanísticas, habitacionais, além do desenvolvimento comunitário,
através dos programas sociais de integração e fortalecimento de entidades públicas.

1.3 Águas Residuais de Lavagem de Betoneira


De acordo com Malaguti (2016), as águas oriundas da lavagem de betoneiras contêm
concentrações relevantes de sólidos. Logo, a ausência de controle e tratamento podem causar
danos ao meio ambiente e a saúde pública.
A realização de tratamento prévio pode mitigar os possíveis impactos adversos causados
pelo despejo de águas resíduas provenientes da lavagem de betoneira. Conforme previsto na
Resolução 430 do CONAMA (2011), efluentes de qualquer fonte poluidora só poderão ser lan-
çados nos corpos hídricos após tratamento prévio. Além disso, a Resolução 357 do CONAMA
(2005) define o controle de qualidade da água como o conjunto de medidas que visam a melho-
ria e conservação da qualidade da água.
As obras do PROSAMIM são regidas pelas legislações vigentes, além daquelas de fins
específicos relativas ao Programa, com o objetivo de assegurar a qualidade ambiental aos ser-
viços executados no canteiro de obras, o Controle Ambiental de Obra da Unidade Gestora
Projetos Espaciais – UGPE, determina as ações a serem tomadas durante a execução de obras,
visando a eliminação ou redução dos impactos ambientais, garantindo o cumprimento das
metas de a qualidade do Programa (P.O 03, 2015).
Estabelece ainda, procedimentos de controle específicos de acordo com cada atividade
executada nas frentes de obras do PROSAMIM, mencionado possíveis situações que podem
gerar impactos, e, propondo medidas mitigadoras por meio da utilização de técnicas de enge-
nharia e obra. Portanto, as etapas para execução dos trabalhos de engenharia, se deram a par-
tir da análise, estudo e estabelecimento prévio de medidas de controle ambiental para a
prevenção de danos ao meio físico e a natureza no canteiro de obras.

Quadro 1 – Procedimentos de controle ambiental para operação do canteiro e implantação das obras
Situações que podem gerar impactos Procedimentos de Controle
A lavagem, limpeza e manutenção de veículos e 1 – Definir locais para a lavagem dos veículos e
equipamentos em terreno natural contaminam o equipamentos, equipados com canaletas de drena-
solo e geram resíduos contaminados. gem e caixa separadora de óleos e graxas;

2 – Definir locais para manutenção e limpeza de


veículos e equipamentos;

3 – Definir locais de destino adequado para óleos e


graxas, areia, solo e serragem contaminados.
Elaboração: Unidade Gestora de Projetos Espaciais – UGPE.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS 1149

Essas medidas de controle buscam evitar acidentes ambientais capazes de causar conta-
minação ao solo e aos recursos hídricos, com soluções e alternativas simples, porém, impor-
tantes na prevenção ambiental nas áreas de intervenção do Programa Social e Ambiental dos
Igarapés de Manaus.
Pesquisas realizadas por Malaguti (2016), apontam que alternativas simples, de baixo
custo para implementação e manutenção, podem refletir na redução dos níveis de contamina-
ção e poluição das águas, que podem ser medidos através dos parâmetros previstos nas legis-
lações aplicáveis, como o CONAMA 430 que prevê as condições e padrões para lançamentos
de efluentes.
O uso de técnica e métodos para tratamento, reaproveitamento e controle de água e dos
resíduos gerados na lavagem das betoneiras, além de diminuir os possíveis impactos negativos
causados ao meio, reduz também a quantidade de água potável consumida nos processos liga-
dos a fabricação de argamassa no canteiro de obras.
No caso aqui apresentado, parte da água residual, após passar pelos devidos processos
prévios de tratamento (decantação), é reutilizada para higienizar os equipamentos usados no
canteiro, para auxiliar nas atividades relacionadas aos serviços de concretagem, por exemplo,
lavem de enxadas, pás, picaretas, dentre outros.
Ainda que os resíduos gerados nas frentes de obras sejam gerados em baixa escala, é
possível aplicar estratégias para reduzir mais ainda a quantidade das água potável utilizada
nas frentes de obras através da eliminação ou atenuação de danos ao meio ambiente e aos
recursos hídricos, especificamente. Indicando tendências futuras de sustentabilidade e
ecodesenvolvimentistas.
O ecodesenvolvimento surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar
os processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos
ecossistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. O eco-
desenvolvimento apresentava-se como excessivamente alternativo para que as cor-
relações de forças dentro do sistema dominante lhe permitissem extrapolar
princípios aceitáveis, desde os níveis locais/ microrregionais até a escala global, em
que se explicitam atualmente os problemas do meio ambiente, do desenvolvimento
e da ordem mundial (HERRERO, 1997 apud JACOB, 2003).

Embora pareçam pequenas, mas somadas a todos os canteiros de obras existes, resul-
tantes das frentes de obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus –
PROSAMIM. O aproveitamento de águas resíduas quando possível pode inferir na economia
financeira pela diminuição do consumo de recursos hídricos das concessionárias, eliminar ou
mitigar impactos aos corpos receptores das águas geradas nos processos.
O uso de métodos como este, evitam que as águas drenadas cheguem as bacias hidrográ-
ficas e cause a poluição e contaminação dos recursos hídricos. O ordenamento territorial é um
instrumento estratégico para alcançar o desenvolvimento sustentável, no que diz respeito a
gestão integrada de bacias hidrográficas (RODRIGUEZ; SILVA, 2018).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1150 Camila Fuziel Silva; Samuelson Buzaglo PimentA; Orlando Freire Neto; José Humberto Michiles Júnior

Além do exposto, também podem ser feitas análise das águas previamente tratadas pelo
sistema de decantação no canteiro de obras. Neste trabalho, não foi realizado tal procedi-
mento, contudo, fica sugerido para aplicações posteriores do método apresentado.

2 METODOLOGIA UTILIZADA
Este trabalho foi realizado na Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE, sediada
na cidade de Manaus, responsável pelo gerenciamento das obras do PROSAMIM. Onde foi
desenvolvido a construção de um sistema para lavagem de betoneira fixa e masseira conju-
gados (Figura 1).

Figura 1 – Canteiro situado nas dependências da UGPE

Fonte: MENDONÇA, 2020.

O método criado pela Empresa Construtora para realização da lavagem do equipamento


(betoneira fixa) procura mitigar os possíveis impactos causados pela indústria na construção
civil, obedecendo às seguintes etapas:
Construção de masseira fixa, com piso impermeável para confecção de argamassa de
cimento e areia (Figura 2)

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS 1151

Figura 2 – Masseira fixa impermeável

Fonte: FUZIEL SILVA, 2020.

Confecção de superfície impermeável (piso) para fixação da betoneira com contenção


lateral em tijolo, para que durante a lavagem do equipamento o material não permeie direta-
mente o solo;

Figura 3 – Confecção de área para fixação da betoneira

Fonte – FUZIEL SILVA, 2020.t

Construção de canaleta de drenagem e colocação tanque com capacidade para 200L,


parcialmente enterrado ao solo com uma abertura para recebimento das águas resíduas resul-
tantes da lavagem da betoneira;

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1152 Camila Fuziel Silva; Samuelson Buzaglo PimentA; Orlando Freire Neto; José Humberto Michiles Júnior

Figura 4 – Sistema para coleta de águas residuais

Fonte: FUZIEL SILVA, 2020.

Colocação de adaptador roscável aproximadamente 15cm abaixo da abertura de recebi-


mento da água resultante da lavagem da betoneira. Com conexão para uma tubulação que
direciona o excedente de água para um sistema de drenagem de águas pluviais existente.

Figura 5 – Adaptador roscável e tubulação para direcionamento da água

Fonte: FUZIEL SILVA, 2020.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS 1153

Figura 6 – Saída da tubulação direto na canaleta de águas pluviais

Fonte: FUZIEL SILVA, 2020.

Instalação da betoneira e construção de abrigo para proteção do equipamento e partes


elétricas.

Figura 7 – Abrigo para proteção da betoneira

Fonte: FUZIEL SILVA, 2020.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao final das etapas executas, obteve-se um sistema que coleta as águas residuais oriun-
das da lavagem da betoneira (Figura 8), nos seguintes processos: parte de água coletada pela
canaleta, que faz o direcionamento até o tanque de decantação é despejada pela rede de dre-
nagem. Contudo, o material sólido é depositado ao fundo do tanque, resultando no processo

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1154 Camila Fuziel Silva; Samuelson Buzaglo PimentA; Orlando Freire Neto; José Humberto Michiles Júnior

de decantação, e, às águas residuais dentro do tanque, são posteriormente utilizadas para


lavagens de equipamentos usados na obra, como pás, enxadas, picaretas etc.

Figura 8 – Sistema que coleta as águas residuais oriundas da lavagem da betoneira

Elaboração: Samuelson Buzaglo Pimenta

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa, são provenientes das obras de otimização do espaço físico
da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE, em atendimento as legislações pertinentes
e as especificações do Programa, com base nas exigências do Banco Interamericano financia-
dor do PROSAMIM.
O sistema para coleta de águas resíduas e decantação de partículas sólidas é relativamente
simples para executar e adequar a realidade de obras de construção civil, possibilitando apli-
cabilidade prática do sistema.
A utilização deste pequeno sistema é recomenda para que danos ambientais não sejam
causados, bem como, poluição, contaminação e assoreamento de corpos hídricos por meio da
deposição de partículas sujeitas aos processos de sedimentação.

5 REFERÊNCIAS
BRASIL, Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Avaliação de Impacto Ambiental como um dos
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Publicado no D.O.U de 17 de fevereiro de 1986.
BRASIL, Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Classificação dos Corpos de Água e Diretrizes
Ambientais para o seu Enquadramento, Condições e Padrões de Lançamento de Efluentes. Publicado no
D.O.U de 18 de março de 2005.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


CONTROLE AMBIENTAL DE OBRAS 1155

BRASIL, Resolução CONAMA nº 430, de 13 de maio de 2011. Parâmetros, Padrões e Diretrizes para Gestão do
Lançamento de Efluentes em Corpos de Água Receptores. Publicado no D.O.U de 16 de maio de 2011.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_26.06.2019/art_225_.asp.
Acesso em: 15/03/2020.
JACOB, Pedro. Meio Ambiente e Sustentabilidade. In.: Desenvolvimento e Meio Ambiente. 2003. Disponível
em: http://michelonengenharia.com.br/downloads/Sutentabilidade.pdf. Acesso: 22/11/2021.
MALAGUTI, Vilmar dos Santos. Reuso de Água e Resíduos Gerados pela Lavagem de Caminhões Betoneiras:
Análise do Efeito na Resistência à Compressão de Concreto Usinado – PR. 2016. 129f. Dissertação (Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Civil– PPGEC). Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016.
PIRES, Daniel Lopes. Aplicação De Técnicas De Controle E Planejamento Em Edificações. Monografia. Escola
de Engenharia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2014.
Procedimento de Engenharia e Obra, Manaus. Unidade Gestora de Projetos Especiais, 2015.
Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus. Disponível em: http://prosamim.am.gov.br/. Acesso:
23/11/2021.
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. Planejamento e Gestão Ambiental: Subsídios de
Geoecologia das Paisagens e da Teoria Geossistêmica. 3º ed. Fortaleza: Edições UFC, 2018.
Unidade Gestora de Projetos Especiais. Disponível em: http://www.ugpe.am.gov.br/. Acesso em: 23/11/2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


99.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
E SEGURANÇA HÍDRICA
NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR

FABÍOLA DE SOUZA WICKERT1


ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO ARAÚJO JÚNIOR2

Resumo: No presente trabalho, discute-se a instalação de dois empreendimentos destinados à


geração de energia elétrica na zona rural de Boa Vista-RR, considerando que a adequação das prá-
ticas durante os processos construtivos e operação, apoia para a manutenção da segurança hídrica
no local, uma vez que dentre as condições estabelecidas, consta a execução de programas ambien-
tais de gestão de resíduos sólidos e efluentes, monitoramento da qualidade da água e atendi-
mento de emergências. Assim, tem-se como objetivo analisar como o licenciamento ambiental
corrobora para ditar práticas que tenham reflexo no uso seguro dos recursos hídricos na bacia
hidrográfica Carrapato (BHCarr). Como metodologia foi realizada revisão bibliográfica e documen-
tal, está última, principalmente relacionada a legislação pertinente a licenciamento ambiental de
empreendimentos de geração de energia elétrica. A realização desses programas de execução de
licenciamento ambiental de empreendimentos com potencial de comprometer recursos hídricos,
visando sua consequente conservação dos mesmos, tende a refletir na garantia de acesso à água
aos moradores do entorno das usinas, que se caracteriza como um direito da pessoa humana,
imprescindível à sua vida e dignidade.
Palavras-chave: Uso da água; Energia; Dignidade da pessoa humana.
Abstract: In this paper, the installation of two projects for the generation of electricity in the rural
area of ​​Boa Vista-RR is discussed, considering that the adequacy of practices during the construc-
tion and operation processes, contributes to the maintenance of water security at the site, once
the established conditions include the execution of environmental programs for the management
of solid waste and effluents, monitoring of water quality and emergency response. Thus, the
objective is to analyze how environmental licensing corroborates to dictate practices that reflect
the safe use of water resources in the Carrapato hydrographic basin (BHCarr). As a methodology,
a bibliographical and documental review was carried out, the last one, mainly related to legislation
pertaining to the environmental licensing of electric energy generation projects. The carrying out
of these programs for the execution of environmental licensing of projects with the potential to

1 Universidade Federal de Roraima. E-mail: fabiola.wickert@gmail.com


2 Universidade Federal de Roraima. E-mail: aj_geo@hotmail.com

[ 1156 ]
LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURAÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR 1157

compromise water resources, aiming at their consequent conservation, tends to reflect on the
guarantee of access to water for the inhabitants of the surroundings of the plants, which is char-
acterized as a human right, essential to your life and dignity.
Keywords: Use of water; Energy; Dignity of human person.

1 INTRODUÇÃO
A Constituição brasileira consagra o direito ao meio ambiente saudável e ao progresso sus-
tentado, bem como a dignidade da pessoa humana. As ações dos agentes públicos que atuam no
licenciamento e fiscalização ambiental, devem dar efetividade a esses direitos, bem como ao
direito à segurança hídrica, considerando-se que o acesso à água configura um direito humano.
Segurança Hídrica compreende o acesso à água de qualidade, em quantidade suficiente
para atender às necessidades humanas assegurando a vida, a saúde e a realização de ativida-
des econômicas, mediante a conservação dos ecossistemas, considerando o acesso e aprovei-
tamento da água como recurso, e a gestão de riscos associados à água, incluindo inundações,
secas e acidentes ambientais (ANA, 2019).
De acordo com a conceituação da Organização das Nações Unidas – ONU, no Brief
Analítico sobre Segurança Hídrica e a Agenda Global da Água, o direito humano à água consi-
dera que todas as pessoas devem ter acesso à água limpa e segura, em quantidade suficiente
para suas necessidades pessoais e domésticas, apresentando o conceito de segurança hídrica.
(UN WATER, 2013).
A necessidade de geração de energia elétrica em Roraima, que se caracteriza como um
sistema isolado, quanto à integração com o sistema nacional de abastecimento de energia elé-
trica, resultou na implantação de duas usinas termoelétricas na BHCarr (na zona rural de Boa
Vista, capital do estado), considerada essencial para o fornecimento de água a diversas pes-
soas. Embora, já seja possível observar inúmeras outras atividades nas imediações, a implanta-
ção desses empreendimentos merece atenção.
Verificando-se a existência de normas específicas dispostas nas Resoluções Conama nº
01/86 e 237/97, que dispõem sobre a implantação de empreendimentos considerados de maior
potencial poluidor, a discussão da relevância do adequado processo de licenciamento, para
segurança hídrica e consequente efetividade do direito à água, caracterizam-se como questões
norteadoras do presente estudo.
O licenciamento ambiental figura como instrumento de planejamento e gestão ambien-
tal, disposto pela Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6938/1981), para assegu-
rar o exame dos impactos ambientais de projetos a serem implantados e das possíveis
alternativas quanto à tecnologia empregada e localização, confrontando-as com a hipótese de
sua não execução.
A inserção de dois empreendimentos para geração de energia, no contexto da expansão
urbana sem organização e infraestrutura adequada, em um local com evidente formação de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1158 Fabíola de Souza Wickert; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

lagos/nascentes e a uma pequena distância de corpos hídricos superficiais (formações flúvio-


-lacustres) com poucas barreiras em relação a qualquer tipo de contaminação, justifica a rele-
vância da análise de ações e atividades que podem pôr em risco a segurança hídrica.
Logo, o presente estudo volta-se para a discussão dos possíveis impactos da implantação
de duas usinas termoelétricas em terrenos inseridos na bacia hidrográfica Carrapato (BHCarr),
na Zona Rural de Boa Vista, tendo como objetivo analisar como o licenciamento ambiental cor-
robora para ditar práticas que tenham reflexo no uso seguro dos recursos hídricos na bacia
hidrográfica Carrapato (BHCarr).

1.1 A legislação brasileira e as atividades licenciamento ambiental


Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo– se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações e exigindo-se na forma
da lei, estudo prévio de impacto ambiental, para a instalação de obra ou atividade, potencial-
mente causadora de significativa degradação do meio ambiente (BRASIL, 1988).
Assim, a Resolução nº 01/86 do Conama, em seu artigo 1º apresenta como conceito de
impacto ambiental, qualquer alteração das propriedades químicas, físicas e biológicas do meio
ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades huma-
nas, que direta ou indiretamente afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as
atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente
e a qualidade dos recursos ambientais.
O mesmo diploma legal dispõe que prescinde de apresentação de Estudo de Impacto
Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), o licenciamento de usinas de geração
de eletricidade, acima de 10MW, qualquer que seja a fonte de energia primária, e define o con-
teúdo mínimo a ser apresentado, que inclui o diagnóstico ambiental da área de influência do
projeto, completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como exis-
tem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,
considerando os meios físicos, biótico e socioeconômico.
O licenciamento ambiental é o principal instrumento da política nacional de Meio
Ambiente, conduzido por um único ente federativo, sem prejuízo da competência comum
quanto à proteção ambiental, sendo o procedimento ordinário dividido em três etapas acordo
com a Resolução 237/97 do Conama, que compreendem a Licença Prévia (atestando a viabili-
dade ambiental do empreendimento proposto), a Licença de Instalação (que autoriza a cons-
trução) e a Licença de Operação (que permite o funcionamento da atividade).
A área de influência de um empreendimento contempla o espaço sujeito aos efeitos dire-
tos e indiretos da implantação de empreendimentos, incluindo a fase de operação, verifican-
do-se a sistemática de análise dos impactos nos recursos hídricos superficiais, dispostas na Lei

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LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURAÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR 1159

Federal nº 9.433/1997, e na Lei Estadual nº 547/2006 que definem a bacia hidrográfica como
unidade físico-territorial que orienta a gestão dos recursos hídricos (JIMENEZ et al., 2020).
Verifica-se que a legislação brasileira dispõe sobre a implantação de empreendimentos e
atividades que utilizem recursos hídricos e/ou com potencial de causar danos ao meio ambiente,
notadamente a estes recursos naturais, essenciais à própria existência humana. Deste modo, o
licenciamento de atividades potencialmente poluidoras exige a devida cautela em relação ao
cumprimento adequado dos procedimentos estabelecidos, além da observância de todas as
normas voltadas para assegurar às pessoas, a qualidade ambiental e a segurança hídrica.

2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da bacia hidrográfica Carrapato (BHCarr)
A cidade de Boa Vista encontra-se em área com clima tropical quente úmido, ou Tropical
Savana (Aw), de acordo com a classificação de Köppen, com período de chuvas entre abril e
outubro (JIMENEZ et al., 2020). No período chuvoso, há concentração de chuvas no período
junho-agosto, o que influencia diretamente na subida do lençol freático e aos efeitos retenti-
vos e estagnantes das águas superficiais e subsuperficiais, os quais podem impactar direta-
mente ocupações humanas e/ou empreendimentos, caso não sejam tomadas as devidas
precauções para contenção de riscos hidrológicos.
Considerando-se um raio de 10 km no entorno da Usina Termoelétrica (UTE) Forte de São
Joaquim, no qual se insere a UTE Jaguatirica II, são verificados três conjuntos de águas
subterrâneas: o Aquífero Boa Vista, o Aquífero Depósito Aluvionar e o Aquífero Embasamento
Indiferenciado, importantes fontes de água para toda região. Os empreendimentos se localizam
no domínio do sistema aquífero Boa Vista, composto por rochas sedimentares, e embora
pouco conhecido, sabe-se, poroso (JIMÉNEZ et al., 2020), o que facilita a infiltração das águas
superficiais, e que também pode facilitar a subida do lençol freático, pois tratam-se de terre-
nos pouco profundos, com formação flúvio-lacustre e forte presença de lagos intermitentes e
perenes/nascentes, das quais muitas são compartilhadas.
Considerando-se o mesmo raio de análise, em relação aos aspectos geomorfológicos,
ocorrem duas unidades morfoesculturais, a Unidade Depressão Boa Vista e a Unidade
Sedimentos Recentes, com relevo constituído pela unidade Depressão de Boa Vista, caracteri-
zada por uma associação de relevos mais planos, verificando-se alguns pontos sujeitos à inun-
dação, morros e áreas com presença de rios e igarapés (JIMÉNEZ et al., 2020).
O Rio Cauamé é um afluente da margem direita do alto Rio Branco, com área de 3.159
km², que drena os municípios de Boa Vista e Alto Alegre. A bacia hidrográfica do Rio Cauamé
(BHC), exibe elementos típicos da paisagem de savana de Roraima, com ilhas de vegetação
intensa (mata), veredas (buritizais) e sistemas lacustres desconexos de planície (OLIVEIRA;
CARVALHO, 2014).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1160 Fabíola de Souza Wickert; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

A BHC, em seu baixo curso é o ponto de desembocadura do igarapé Carrapato, principal


drenagem da BHCarr, devendo-se ter especial atenção no período chuvoso da região, pois o
baixo curso da BHC, devido a subida do nível do Rio Branco e por consequência do Rio Cauamé,
pode atuar como barreira hídrica para escoamento das águas da BHCarr, podendo afetar nega-
tivamente usos e ocupações solo.
No período de formação do estado, houve uma intensa colonização da BHC, que atual-
mente é pressionada em razão da expansão da área urbana, resultado do crescimento da
cidade Boa Vista no seu extremo sudeste e na zona rural com a implantação de projetos agrí-
colas e com uso intenso de locais de lazer (NETO; COSTA, 2010).
O Igarapé Carrapato é um tributário da margem esquerda do Rio Cauamé, alcançando
uma área de 56,37 km², cuja drenagem incide numa área rural ao sudeste do município de Boa
Vista, onde o uso e ocupação do solo caracteriza-se pela produção grãos, atividade agropecuá-
ria, fruticultura e piscicultura, com a predominância de pequenos produtores familiares
(JIMÉNEZ, et al. 2020).
Apesar de Sistema Aquífero Boa Vista (SABV) ser essencial para o abastecimento de parte
da população, há carência de informações acerca da recarga, vulnerabilidade à contaminação,
relação das águas superficiais e subterrâneas e identificação de locais com maior risco de con-
taminação, importantes para uma adequada gestão hídrica. Em razão da permeabilidade do
solo e do fato de SABV possuir área de recarga por toda a extensão da superfície, a falta de
saneamento básico em muitos bairros, representa riscos de contaminação (WANKLER, 2012).
Em regra, a recarga das águas no subsolo ocorre com a infiltração da água de chuva no
solo, de modo que as atividades socioeconômicas empreendidas no solo, podem interferir na
qualidade da água subterrânea, a partir do descarte da carga contaminante (resultado de ati-
vidades antrópicas) sem controle adequado, o que causa a contaminação de aquíferos (RIBEIRO
et al., 2007).

2.2 Método de abordagem e sistematização analítica


Foi empreendida abordagem sistêmica para uma análise que considerou a integração
das variáveis biofísicas e antrópicas e suas relações, para compreensão da problemática pro-
posta. A pesquisa foi realizada a partir de revisão bibliográfica sobre o tema, analisando aspec-
tos legais para o licenciamento ambiental, como instrumentos para garantir a segurança hídrica
no município de Boa Vista, no caso da implantação de duas usinas termoelétricas na zona rural
da localidade.
A pesquisa aborda a legislação que disciplina as relações do homem com o ambiente, con-
siderando a efetividade dos instrumentos preconizados, como fatores para garantia da segu-
rança hídrica, diante da implantação de empreendimentos destinados à geração de energia,
tendo como base, levantamento bibliográfico e principalmente documental, como a legislação
ambiental vigente e relatórios de impacto ambiental das duas UTE a serem implantadas.

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LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURAÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR 1161

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 O licenciamento ambiental de empreendimentos destinados à geração


de energia elétrica em área inserida na bacia hidrográfica Carrapato
(BHCarr)
O licenciamento ambiental de empreendimentos destinados à geração de energia elé-
trica, conforme disposto no artigo 2º da Resolução Conama nº 01/86, quando resultar em pro-
dução superior a 10MW, submete-se aos procedimentos previstos na Resolução 237/97 do
mesmo Conselho, que por serem considerados empreendimentos de maior potencial poluidor,
apresentam o Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório.
Nesse contexto, as usinas termoelétricas Jaguatirica II (com capacidade instalada de
126,29 MW, cuja operação adota uso de gás natural), e Forte de São Joaquim (com potência de
56,217MW e operada com óleo de soja e de palma) serão implantadas na BHCarr, cujas adja-
cências compreendem várias propriedades utilizadas como locais de lazer e descanso, além de
inúmeros pequenos produtores rurais.
Os empreendimentos se situam em uma área da formação Boa Vista, cuja litologia é sedi-
mentar, com maior porosidade do solo, o que favorece o afloramento do lençol freático (inte-
grado ao aquífero Boa Vista) no período de chuvas, o que exige adequada gestão de resíduos
e efluentes para evitar a contaminação dos recursos hídricos.
Tais características do local onde serão implantadas as usinas, podem configurar um
aumento da vulnerabilidade do lençol freático, que somado ao aumento da expansão urbana
no Sudoeste da cidade de Boa Vista, e à falta de políticas públicas de saneamento básico, evi-
denciam a necessidade de adequação de todos os processos relativos à instalação e operação
dos empreendimentos, quanto à manutenção da qualidade da água.
Como é possível verificar na figura 1, os terrenos das usinas são bastante próximos, sendo
a UTE Jaguatirica II implantada em local com várias formações de lagos/nascentes, em razão do
afloramento do aquífero, e o terreno onde será instalada a UTE Forte de São Joaquim, está
pouco mais de 200 metros distante do Igarapé Carrapato, ambos na bacia hidrográfica do iga-
rapé em questão.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1162 Fabíola de Souza Wickert; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

Figura 1 – Altimetria da Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato e localização das UTEs Jaguattirica II e
Forte de São Joaquim

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

No Relatório de Impacto Ambiental apresentado nas audiências públicas da UTE


Jaguatirica II (FONSECA, 2019), com LI Nº 091/19/DLA válida até setembro/2021, consta como
um dos fatores de decisão da instalação do empreendimento, a “disponibilidade de recursos
hídricos subterrâneos necessários para suprimento da UTE”.
O direito ao uso de recursos hídricos para o empreendimento, foi outorgado pelas
Portarias Nº 154/2019 e a 160/2019 – Femarh/ Fundação Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, para vazão máxima de 8m3 /h, com volume anual de 16.128 m3 com vali-
dade até dezembro de 2026, para dois poços, como informa o Parecer independente de
segunda opinião: Título de transição da Eneva (SITAWI, 2020).
Outros fatores indicados são a proximidade de cursos d’água, para menor estrutura de
adução de água e descarte de efluente; e localização à jusante de pontos de captação presen-
tes na bacia hidrográfica, para evitar conflitos de disponibilidade hídrica, além de analisar a não
susceptibilidade do terreno a inundações sazonais, evitando a execução de aterros.
No caso da UTE Forte de São Joaquim, com Licença de Instalação concedida em
24/11/2020, embora não tenha sido apresentada a questão hídrica como fator de decisão do

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURAÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR 1163

local de instalação, há previsão de consumo de 600l/dia durante a fase de operação, não tendo
sido informado o consumo previsto para a fase de instalação. Será feita a captação de água por
meio de poço artesiano, cuja outorga para captação de água foi concedida em 19/02/2021.
Considerando o uso da água necessário à instalação e operação dos empreendimentos e
a interferência na bacia de drenagem, durante os estudos de impacto ambiental, foram reali-
zados levantamentos para caracterizar a hidrologia, em relação à quantidade e qualidade da
água do Igarapé Carrapato, a fim de embasar a avaliação dos possíveis impactos sobre a dispo-
nibilidade hídrica da bacia.
A legislação objetiva a regular as relações sociais, definindo normas para garantir seu
equilíbrio, de modo que as normas em abstrato (enquanto norteadoras de hipóteses que
podem ocorrer), impactam na concretude das ações humanas, que resultam em transforma-
ções no ambiente físico, alcançando a dimensão das relações sociais estabelecidas no local, o
que deve ocorrer de forma sustentável.
Para tanto, é indispensável que os processos de licenciamento e fiscalização ambiental
atendam aos propósitos estabelecidos nos instrumentos legais, evitando que a implantação de
empreendimentos de maior potencial poluidor, comprometa a segurança hídrica em razão de
atividades construtivas, gestão inadequada de resíduos e efluentes ou ainda, acidentes.
As medidas para prevenir ou mitigar possíveis danos ambientais, sobretudo a conta-
minação dos recursos hídricos, devem ser apresentadas nos estudos de impacto ambien-
tal, conforme se verifica no caso das usinas em estudo. Tendo sido identificados riscos de
aumento da vulnerabilidade do lençol freático, foram indicadas medidas específicas a
serem implementadas.
Ocorre que o cumprimento das etapas do licenciamento, bem como a definição de ações
e monitoramentos no EIA/RIMA, não são suficientes para garantir efetivamente, a prevenção
e mitigação dos impactos ambientais que podem ser provocados pela instalação de um ou
outro empreendimento, capazes de afetar a qualidade da água. Tal fato, exige que esses pro-
cessos de licenciamento, ocorram em total conformidade com as normas técnicas aplicáveis
aos processos construtivos, e com as normas ambientais.
No Quadro 1, são apresentados os principais impactos constantes dos relatórios de
impacto ambiental apresentados pelos responsáveis pela implantação das duas usinas.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1164 Fabíola de Souza Wickert; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

Quadro 1 – Impactos apresentados nos Relatórios de Impacto Ambiental das Usinas Termoelétricas
Jaguatirica II e Forte de São Joaquim

Impactos apresentados RIMA UTE


Impactos apresentados RIMA UTE Jaguatirica II
Híbrido Forte de São Joaquim
Alteração na qualidade das águas superficiais e Vulnerabilidade de possível contaminação do solo e/
subterrâneas ou lençol freático

Alteração das características químicas do solo Diminuição da taxa de infiltração

Alterações dos Níveis de Ruído Incremento no nível de ruídos

Alteração da paisagem natural Alteração da paisagem e uso do solo

Alteração da qualidade do ar Alteração da qualidade do ar

Aceleração de processos erosivos ou de


Alterações no uso e ocupação do solo
assoreamento

Alteração dos ecossistemas Intervenção nas assembleias de fauna locais

Mortalidade / atropelamento da fauna

Alteração na dinâmica cotidiana da população local Interferência no cotidiano da população

Segurança e estabilidade no fornecimento de


Aumento da geração e oferta de energia elétrica
energia
Fonte: Adaptado dos Relatórios de Impacto Ambiental das UTEs Jaguatirica II e Forte de São Joaquim.

Dentre os possíveis impactos apresentados, destaca-se o risco de alteração na qualidade


das águas superficiais e subterrâneas, verificando-se a necessidade do cuidado em relação aos
recursos hídricos superficiais, e subterrâneos, expostos a diferentes riscos de contaminação
em razão da implantação dos empreendimentos, da expansão urbana e das atividades agrope-
cuárias empreendidas nas propriedades situadas na bacia hidrográfica em análise.
Apesar de não constar nos relatórios de impacto ambiental, a previsão de lançamento de
efluentes no igarapé, foi prevista a possibilidade de alteração da qualidade das águas superfi-
ciais e subterrâneas, o que pode ocorrer durante as fases de instalação e operação (caso não
se tenha uma adequada gestão de resíduos sólidos e efluentes em ambas as fases, ou como
resultado de possíveis acidentes durante a operação).
No caso da UTE Jaguatirica II, foram realizadas duas audiências públicas, e um dos princi-
pais questionamentos feitos pelos moradores e proprietários de lotes nas imediações do ter-
reno destinado à instalação da UTE, foi exatamente sobre a possibilidade de captação de água
ou lançamento de efluentes no igarapé, evidenciando a preocupação com a possível interfe-
rência do empreendimento na disponibilidade de água na região.
Considerando os possíveis impactos identificados em ambos os relatórios apresentados,
bem como a recarga do aquífero, verifica-se imprescindível, a atuação dos agentes públicos do

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURAÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR 1165

órgão ambiental licenciador, para assegurar o cumprimento das medidas mitigadoras e pre-
ventivas propostas pelos empreendedores, para evitar danos ambientais, especialmente em
relação aos recursos hídricos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A regulamentação dos lotes rurais é um fator que afeta a definição de locais para a
implantação de empreendimentos (de qualquer tipo) no estado, uma vez que muitos lotes
carecem de adequada regularização, o que é indispensável para atividades submetidas a uma
maior rigidez no controle normativo, tendo tal situação corroborado para a configuração do
cenário de instalação de duas UTEs em local de maior vulnerabilidade de recursos hídricos.
Nesse contexto e diante da importância do Igarapé Carrapato para as famílias estabele-
cidas em sua bacia hidrográfica, evidente a necessidade de uma adequada atuação de todos os
envolvidos nos processos de licenciamento ambiental, para garantia da segurança hídrica às
famílias ali assentadas.
A exploração de atividades econômicas deve ocorrer de modo a preservar os recursos
hídricos, observando-se a necessidade de uma atuação adequada a este propósito, por agen-
tes públicos, empreendedores e populares. Nos casos em que o empreendedor age em des-
conformidade com a proteção dos recursos naturais, cabe aos agentes do poder público usar
de seu poder de polícia, adotando medidas e sanções para adequação das práticas realizadas.
Com efeito, a realização adequada dos monitoramentos ambientais previstos, configuram
importante meio para resguardar a segurança hídrica, bem como, a atuação dos técnicos da
Femarh, que devem exercer um efetivo controle das ações desenvolvidas pelos empreendedores
e seus contratados, para que se mantenha a qualidade da água no Igarapé Carrapato e no SABV.
A população (afetada por empreendimentos) pode e deve, ao verificar riscos à segurança
hídrica, informar aos órgãos ambientais ou ainda, prestar informações ao Ministério Público,
que tem o dever de proteger direitos coletivos e difusos, e pode acionar tanto o órgão ambien-
tal responsável pelo licenciamento, como o próprio empreendedor, e caso se verifique a ocor-
rência de crime ambiental, oferecer denúncia ao Poder Judiciário.
Considerando a importância do Igarapé Carrapato e dos recursos hídricos subterrâneos
para a população de Boa Vista, verifica-se a importância das ações voltadas para prevenção de
modificações na qualidade da água, o que inclui a obrigação dos empreendedores quanto às
medidas dispostas para concessão de licenças ambientais.
Embora não sejam o único fator capaz de afetar a segurança hídrica na BHCarr, tendo apre-
sentado programas ambientais com ações para evitar a contaminação dos recursos hídricos, é
indispensável que tais ações sejam corretamente implementadas, devendo o órgão licenciador,
fiscalizar o cumprimento das condições para obtenção e manutenção das licenças ambientais.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1166 Fabíola de Souza Wickert; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior

Tendo sido identificado que o fluxo subsuperficial da área onde serão implantados os
empreendimentos, segue para o Igarapé Carrapato, que é a drenagem mais próxima e principal
da BHCarr, evidente a importância dos processos de licenciamento ambiental (incluindo os
monitoramentos ambientais), que sob essa perspectiva, configuram instrumentos de segu-
rança hídrica no município de Boa Vista, e todas as medidas preventivas no concernente a
degradação e poluição devem ser adotadas.

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https://revista.ufrr.br/actageo/article/view/731> Acesso em 10 jun 2021.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


100.
POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS
HÍDRICOS DO PARÁ
Uma revisão acerca dos instrumentos de gestão

RICHARD COELHO DE PAULO1


FRANÇOAN DE OLIVEIRA DIAS2

Resumo: O estado do Pará instituiu sua Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) e criou o
Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos por meio da promulgação da Lei Estadual
6.381/01, tendo como parâmetro a Política Nacional de Recursos Hídricos. Buscou-se, portanto,
neste artigo analisar os instrumentos de gestão da Política Estadual de Recursos Hídricos do Pará,
conforme pressupostos da Lei nº 6.381, de 25 de julho de 2001. É uma pesquisa bibliográfica, por
meio de uma revisão de literatura, baseada na análise de textos publicados na forma de legisla-
ções – que envolvam a temática, livros, artigos e literatura cinzenta, tais como, teses, dissertações,
trabalhos apresentados em congressos, relatórios etc. Por meio desta Lei, foi possível estabelecer
diretrizes e políticas públicas no estado do Pará voltadas para a melhoria da oferta de água, em
quantidade e qualidade, além de gerenciar as demandas. Para o alcance dos objetivos, estabele-
ceu-se, conforme art. 4º da PERH, sete instrumentos com a finalidade de estimular o uso racional
da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação das bacias
hidrográficas. Por fim, os instrumentos da Lei Estadual 6.381/01 representam uma normatização
do planejamento da gestão de recursos hídricos do estado do Pará para o alcance de metas e obje-
tivos estabelecidos.
Palavras-chave: Gestão Hídrica do Pará; Planejamento dos Recursos Hídricos; Instrumentos para
a Gestão.
Abstract: The state of Pará instituted its State Water Resources Policy (PERH) and created the
State Water Resources Management System through the enactment of State Law 6,381/01, having
as a parameter the National Water Resources Policy. Therefore, this article seeks to analyze the
management instruments of the State Water Resources Policy of Pará, according to the presuppo-
sitions of Law nº 6381, of July 25, 2001. It is a bibliographical research, through a literature review,
based on in the analysis of texts published in the form of legislation – involving the theme, books,

1 Graduando em Gestão Ambiental na Universidade Estácio de SáUNESA/Faculdade Estácio do Amazonas. E-mail: bio.
richardcoelho@gmail.com
2 Doutorando em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia na Universidade Federal do Pará –
UFPA/Núcleo de Meio Ambiente – NUMA . E-mail: francoan.dias@gmail.com

[ 1168 ]
POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1169

articles and gray literature, such as theses, dissertations, papers presented at congresses, reports
etc. Through this Law, it was possible to establish guidelines and public policies in the state of Pará
aimed at improving the supply of water, in quantity and quality, in addition to managing demands.
To achieve the objectives, it was established, according to art. 4 of PERH, seven instruments with
the purpose of stimulating the rational use of water and generating financial resources for invest-
ments in the recovery and preservation of hydrographic basins. Finally, the instruments of State
Law 6,381/01 represent a standardization of water resources management planning in the state of
Pará to achieve established goals and objectives.
Keywords: Pará Water Management; Water Resources Planning; Management Tools.

1 INTRODUÇÃO
Em termos globais, o Brasil possui cerca de 12% da disponibilidade de água doce do pla-
neta, contudo a distribuição natural desse recurso não é equilibrada. A região Norte, por exem-
plo, concentra aproximadamente 80% da quantidade de água disponível, mas representa
apenas 5% da população brasileira. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado para que não
prejudique nenhum dos diferentes usos que a mesma tem para a vida humana (ANA, 2019).
Neste cenário, previu-se na Constituição Federal de 1988 (CF/88), que compete à União,
conforme inciso XIX do art. 21, instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídri-
cos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso. Observa-se que dentre as alterações
relativas às águas inseridas pela CF/88, destaca-se a exclusão do domínio privado. A partir
deste marco legal, o duplo domínio é consolidado. É importante esclarecer que esse duplo
domínio da água, que envolve União e Estados, os limites administrativos não coincidem com
os das bacias hidrográficas. Outro novo conceito que aparece na CF/88 é relativo ao termo –
recursos hídricos. As constituições anteriores somente traziam a palavra – água (ANA, 2014).
Com a finalidade de regulamentar este o inciso XIX, art. 21, da CF/88, promulgou-se a Lei
n° 9.433/97, também intitulada Lei das Águas, que institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos – PNRH e estabelece o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
SINGREH (BRASIL, 1988).
Deste modo, é possível estabelecer as diretrizes e os princípios básicos para os recursos
hídricos, como um recurso limitado e um bem público com valor econômico, a ser gerido em
nível de bacias hidrográficas, envolvendo as jurisdições federais e estaduais. Posteriormente, a
Lei n.º 9.984/00, cria a Agência Nacional de Águas (ANA), entidade federal encarregada da
implementação dessa Política e da coordenação desse Sistema (BRASIL, 2000).
À vista disso, surge um novo panorama da gestão dos recursos hídricos no país, que deve
proporcionar os usos múltiplos das águas, de forma descentralizada e participativa, contando
com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Um dos fundamentos
da Política prevê que, em situações de escassez, o uso prioritário da água é para o consumo
humano e dessedentação de animais. Tendo em vista a importância desse bem público e a pos-
sibilidade de escassez, a Política Nacional de Recursos Hídricos deve ser formulada, executada

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1170 Richard Coelho de Paulo; Françoan de Oliveira Dias

e avaliada por meio de gestão democrática, que conte com ampla participação social (AITH &
ROTHBARTH, 2015).
Considerando as mesmas prerrogativas da PNRH e do SINGREH, os Estados e Distrito
Federal passaram a instituir suas próprias Políticas Estaduais e/ou Distrital de Recursos Hídricos
e criaram seus Sistemas Estaduais e/ou Distrital de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Salienta-se que estes sistemas trouxeram grandes avanços institucionais para a melhoria da
gestão das águas no país. Contudo, necessitam de uma melhor operacionalização, onde alguns
de seus elementos como o processo participativo, a descentralização e a coordenação intergo-
vernamental ainda são frágeis, tendo em vista as peculiaridades regionais.
Para implementar estas políticas nacional, distrital e estaduais, instituíram-se instrumen-
tos para a gestão de recursos hídricos, tendo como base o art. 5º da Lei das Águas. Os princi-
pais são: (I) os Planos de Recursos Hídricos; (II) o enquadramento dos corpos de água em classes,
segundo os usos preponderantes da água; (III) a outorga dos direitos de uso de recursos hídri-
cos; (IV) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; e (V) o Sistema de Informações sobre
Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Neste cenário, o estado do Pará instituiu sua PERH e criou o Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH) por meio da promulgação da Lei Estadual
6.381/01, tendo como parâmetro a Política Nacional de Recursos Hídricos (PARÁ, 2001).
Sendo assim, foi possível estabelecer as diretrizes e os princípios básicos para os recursos
hídricos do estado do Pará, como um recurso limitado e um bem público com valor econômico,
a ser gerido em nível de bacias hidrográficas, envolvendo as jurisdições estaduais.
Buscou-se, portanto, neste artigo analisar os instrumentos de gestão da PERH do Pará,
conforme pressupostos da Lei nº 6.381, de 25 de julho de 2001.
É uma pesquisa bibliográfica, por meio de uma revisão de literatura, baseada na análise de
textos publicados na forma de legislações – que envolvam a temática, livros, artigos e literatura
cinzenta, tais como, teses, dissertações, trabalhos apresentados em congressos, relatórios etc.
A seguir serão discutidas as seguintes abordagens, em conformidade com o objetivo pro-
posto: a PNRH; a PERH do Pará; e os instrumentos de gestão da PERH do Pará.

2 A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS


De acordo com a ANA (2011), a Gestão de Recursos Hídricos no Brasil baseou-se no
modelo francês, que reconhece a bacia hidrográfica como unidade de gestão hidrográfica,
atualmente o Brasil possui oito comitês em bacias interestaduais e 169 em bacias estaduais,
apresentando-se como um exemplo de gestão ambiental democrática e participativa.
Representantes do Poder Público, da sociedade civil organizada e dos usuários de água têm
cadeira nesses colegiados e formam um “parlamento das águas”. Já as agências de água são
instaladas para funcionar como secretarias executivas de um ou mais comitês de bacia.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1171

Para que fosse possível a idealização desse cenário foi promulgada a Lei Federal n.º
9.433/97, também conhecida como Lei das Águas, atendendo o inciso XIX do Art. 21 da CF/88,
instituiu a PNRH, onde foi possível estabelecer instrumentos para a Gestão de Recursos Hídricos
de domínio federal, além de criar o SINGREH (BRASIL, 1997; 1988).
Para Wolkmer e Pimmel (2013), este arcabouço legal passa a reconhecer a água como
um bem escasso, dotado de valor econômico. Neste sentido, transita-se da percepção d’água
como bem em abundância na natureza, para a percepção da sua finitude.
Consequentemente, esta lei passa a ter um caráter descentralizador, por criar um sis-
tema nacional que integra União e Estados, e participativo, por inovar com a instalação de
Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs), que une poderes públicos nas três instâncias, usuários
e sociedade civil na gestão de recursos hídricos, a PNRH é considerada uma lei moderna que
criou condições para identificar conflitos pelo uso das águas, por meio dos planos de recursos
hídricos das bacias hidrográficas, e arbitrar conflitos no âmbito administrativo (CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DE MUNICÍPIOS, 2018).
Importante salientar que esta lei deu maior abrangência ao Código das Águas – Decreto
n.º 24.643, de 10 de julho de 1934, que centralizava as decisões sobre gestão de recursos hídri-
cos no setor elétrico. Deste modo, ao estabelecer como fundamento o respeito aos usos múl-
tiplos e como prioridade o abastecimento humano e dessedentação animal em casos de
escassez, a Lei das Águas deu outro passo importante tornando a gestão dos recursos hídricos
democrática (BRASIL, 1934).
Sendo assim, destaca-se também o acompanhamento da evolução da gestão de recursos
hídricos em escala nacional que é realizado pela ANA por meio do Relatório de Conjuntura dos
Recursos Hídricos, atendendo a Resolução n.º 58, de 30 de janeiro de 2006, do Conselho
Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, que a cada quatro anos faz um balanço da implementa-
ção dos instrumentos de gestão, dos avanços institucionais do sistema e da conjuntura dos
recursos hídricos no país.
Para a execução da PNRH e implementação do SINGREH faz-se necessário a implementa-
ção dos instrumentos voltados para a Gestão de Recursos Hídricos, especificados no art. 5º da
Lei n.º 9.433/97, detalhados a seguir: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento
dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; (iii) a outorga dos
direitos de uso de recursos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compen-
sação a municípios; e (vi) o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).

3 A POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ


A Constituição do Estado do Pará, de 5 de outubro de 1989, traz elementos para a geren-
ciamento dos Recursos Hídricos no âmbito estadual. O inciso VIII do art. 245 evidencia essa
nova conjuntura: a “gestão conjunta e coordenada das águas de superfície e subterrâneas, res-
peitados os regimes naturais como parte integrante do ciclo hidrológico, considerados para

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1172 Richard Coelho de Paulo; Françoan de Oliveira Dias

tanto recursos hídricos utilitários”. Salienta ainda que por meio do § 3° do art. 267 “compete
aos órgãos estaduais de controle ambiental e de administração de recursos hídricos a outorga
de direito que possa influir na qualidade ou quantidade das águas estaduais” (PARÁ, 1989).
Neste cenário, com base nas diretrizes da PNRH, instituiu-se a PERH do Pará, mediante a
promulgação da Lei Estadual 6.381/01. Esta lei, a partir de então, definiu instrumentos volta-
dos para a gestão dos recursos hídricos, além de conceber o Conselho Estadual de Recursos
Hídricos-CERH, como órgão consultivo e deliberativo (PARÁ, 2001).
Por meio desta Lei, foi possível estabelecer diretrizes e políticas públicas no estado do
Pará voltadas para a melhoria da oferta de água, em quantidade e qualidade, além de geren-
ciar as demandas. Salienta-se ainda que para o alcance dos objetivos, estabeleceu-se, con-
forme art. 4º da PERH, sete instrumentos com a finalidade de estimular o uso racional da água
e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação das bacias hidro-
gráficas, sendo: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de água em
classes, segundo os usos preponderantes; (iii) a outorga dos direitos de uso de recursos hídri-
cos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compensação aos Municípios; (vi) o
Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos; e (vii) a capacitação, desenvolvi-
mento tecnológico e educação ambiental (PARÁ, 2001).
Em relação ao SEGRH-PA, integrado ao SINGREH, é o conjunto de órgãos e colegiados
que concebe e implementa a PERH, compondo-se pelo(a): (i) o CERH; (ii) o órgão gestor dos
recursos hídricos, instituído na forma da lei; (iii) os CBHs; (iv) as Agências de Bacias; e (v) os
órgãos dos Poderes Públicos estaduais e municipais, cujas competências se relacionam com a
gestão de Recursos Hídricos (PARÁ, 2001).
A integração dos órgãos e colegiados do SEGRH-PA têm como finalidade promover a
PERH, para que assim possa haver fortalecimento da mesma, visto que sua estrutura é capaz
de abarcar toda a complexidade da questão hídrica por meio de ações compartilhadas entre os
usuários de água, sociedade civil e governos das esferas federal, estadual e municipal, que se
encontram inseridos nos componentes do mesmo.
No que diz respeito ao CERH/PA, foi instituído por meio do art. 42 da Lei Estadual nº
6.381/01, que trata da composição do SEGRH no estado (ANA, 2019b). A Resolução CERH nº
17/2018, publicada no DOE nº 33.760, de 14 de dezembro de 2018, define o Regimento Interno
do conselho.
Salienta-se que o CERH-PA é o órgão colegiado, consultivo, deliberativo e normativo vin-
culado ao Órgão Gestor da PERH do Pará, integrante do Sistema Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos – SISEMA (SEMAS, 2018).
Outro ponto de destaque, é que a partir da vigência da Lei Estadual nº 7.026/07, a
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM), criada pela Lei no
5.457/88, e reorganizada pela Lei nº 5.752/93, é transformada em Secretaria de Estado de
Meio Ambiente (SEMA) e com a assinatura do Decreto nº 746, no dia 27 de dezembro do

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1173

mesmo ano, a gestão recursos hídricos ganhou maior importância, pois na ocasião criou-se a
Diretoria de Recursos Hídricos como parte integrante da estrutura organizacional da então
Secretaria de Estado de Meio Ambiente (RELATÓRIO PROGESTÃO NO PARÁ, 2019).
Posteriormente, em 1º janeiro de 2015, o Governo do Estado do Pará adotou uma nova
estrutura administrativa e, entre as mudanças expressas na Lei Estadual n° 8.096, a referida
Diretoria passou a ser denominada Diretoria de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos
(DIREH), vinculada à Secretaria Adjunta de Gestão de Recursos Hídricos.
A DIREH é composta atualmente por duas coordenações: a Coordenadoria de Regulação
(COR), que abrange a Gerência de Cadastro e Cobrança (GECAD) e a Gerência de Outorga
(GEOUT); e a Coordenadoria de Planejamento e Apoio à Gestão de Recursos Hídricos (CIP), com
três gerências: Gerência de Apoio e Gestão Participativa (GEAP), Gerência do Sistema de
Informações sobre Recursos Hídricos (GESIR) e Gerência de Planos e Enquadramento (GEPLEN).
Sendo assim, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) é o órgão gestor, exe-
cutivo e fiscalizador da PERH do Pará (SEMAS, 2021).
Quanto aos CBHs, o estado do Pará instituiu o primeiro CBH do rio Marapanim, conforme
Decreto nº 288/19. A área de atuação do CBH-RM no estado compreende os limites geográfi-
cos da bacia hidrográfica do rio Marapanim, com abrangência de 12 municípios, todos localiza-
dos na Unidade Hidrográfica da Costa Atlântica Nordeste (SEMAS, 2019). Atualmente, em
setembro de 15 de setembro de 2021, ocorreu a posse da primeira diretoria do CBH do Rio
Marapanim para o biênio 2021/2023 (UFPA, 2021).
Importante salientar também que o Pará está dividido em 26 Unidades Estaduais de Gestão
de Recursos Hídricos (UEGRHs). Para Ferreira (2008), essas unidades estaduais têm como princi-
pal finalidade a definição de modelos institucionais para implementação dos instrumentos de
gestão de recursos hídricos visando ações de gestão e gerenciamento por bacias hidrográficas.
Por fim, a partir desse cenário, conclui-se que a PERH-PA representa uma normatização
de planejamento de recursos hídricos, dotado de fundamentos e instrumentos para o alcance
de metas e objetivos estabelecidos.

4 OS INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO HÍDRICA DO ESTADO DO PARÁ


Para implementar as políticas nacional, distrital e estaduais de recursos hídricos, instituí-
ram-se instrumentos para a gestão de recursos hídricos, tendo como base o art. 5º da Lei das
Águas. Os principais são: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de
água em classes, segundo os usos preponderantes da água; (iii) a outorga dos direitos de uso
de recursos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compensação a muni-
cípios; e (vi) o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
Com relação a Compensação a Municípios, este instrumento foi vetado da Lei das Águas,
considerando que na redação original da lei, previa que a compensação fosse a municípios:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1174 Richard Coelho de Paulo; Françoan de Oliveira Dias

“poderão receber compensação financeira ou de outro tipo os municípios que tenham áreas
inundadas por reservatórios, ou sujeitas a restrições de uso do solo com finalidade de proteção
de recursos hídricos” (BRASIL, 1997).
Deste modo, em relação ao veto, o mecanismo compensatório aos municípios não encon-
tra apoio na CF/88. Contudo, a compensação continua sendo um instrumento da Lei das Águas,
mas não pode ser efetivado enquanto não forem desbancados os motivos do veto.
Destaca-se que na no art. 29 da Lei Estadual 6.381/01, poderão ser estabelecidos meca-
nismos compensatórios aos municípios, mediante lei específica (PARÁ, 2001).
A Lei Estadual 6.381/01 além de estabelecer instrumentos para a gestão de recursos
hídricos já previstos na Lei das Águas, instituiu ainda a Capacitação, Desenvolvimento
Tecnológico e Educação Ambiental.
A seguir detalhar-se-á os instrumentos para a gestão hídrica no Estado do Pará.

4.1 Os Planos de Recursos Hídricos


Previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos, os Planos de Recursos Hídricos são
documentos que definem a agenda dos recursos hídricos de uma região, incluindo informações
sobre ações de gestão, projetos, obras e investimentos prioritários. Além disso, fornecem
dados atualizados que contribuem para o enriquecimento das bases de dados da Agência
Nacional de Águas (BRASIL, 1997).
A partir de uma visão integrada dos diferentes usos diferentes usos da água, os planos
são elaborados em três níveis: bacia hidrográfica, nacional e estadual. Contam também com o
envolvimento de órgãos governamentais, da sociedade civil, dos usuários e de diversas institui-
ções que participam do gerenciamento dos recursos hídricos (ANA, s.d.).
Com relação à PERH do Pará, os Planos de Recursos Hídricos são Planos Diretores elabo-
rados por bacia hidrográfica e para o estado, que visam fundamentar e orientar a implementa-
ção da PERH e o gerenciamento dos recursos hídricos (PARÁ, 2001).
Estes planos são documentos programáticos do Governo do estado para definir ações de
planejamento a longo prazo, com horizonte de execução compatível com o período de imple-
mentação de seus programas e projetos, além de considerar o direcionamento para o ordena-
mento do uso dos recursos hídricos, devendo conter no mínimo diagnósticos e prognósticos,
alternativas de compatibilização, metas, estratégias, programas e projetos, contemplando os
recursos hídricos superficiais e subterrâneos (SEMAS, 2012)
O planejamento dos recursos hídricos, por meio de Planos de Recursos Hídricos, será ela-
borado por bacias hidrográficas localizadas no estado, que integram o Plano Estadual de
Recursos Hídricos (PARÁ, 2001).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1175

Quanto às escalas e competências, os Planos de Recursos Hídricos deverão ser elabora-


dos em três níveis: (a) Plano Nacional de Recursos Hídricos: abrange todo o território nacional
e deve ter cunho eminentemente estratégico. Deve conter metas, diretrizes e programas
gerais; (b) Plano Estadual (Distrital) de Recursos Hídricos: plano estratégico de abrangência
estadual, ou do Distrito Federal, com ênfase nos sistemas estaduais de gerenciamento de
recursos hídricos; e (c) Plano de Bacia Hidrográfica: também denominado de plano diretor de
recursos hídricos, é o documento programático para a bacia, contendo as diretrizes de usos
dos recursos hídricos e as medidas correlatas. Em outras palavras, é a agenda de recursos hídri-
cos da bacia (ANA, s.d.).
Em nível estadual, o Pará possui o Plano Estadual de Recursos Hídricos, aprovado por
meio da Resolução CERH n.º 24, de 27 de maio de 2021, que apresenta a seguinte estrutura: (i)
diagnóstico dos recursos hídricos no estado do Pará; (ii) prognóstico e cenário do PERH/PA; e
(iii) propostas de diretrizes, programas e metas do PERH/PA. Salienta-se que a revisão perió-
dica do PERH, deverá ocorrer no máximo a cada quatro anos (SEMA, 2021).
Neste cenário, cabe aos órgãos gestores de recursos hídricos o papel de elaborar, além
de ser mais um dos inúmeros atores responsáveis pela implementação dos planos. Cabe tam-
bém aos CERHs e aos CBHs acompanharem e apoiarem a implementação dos planos.

4.2 O enquadramento dos corpos de água em classes


Com relação aos aspectos conceituais e legais, o enquadramento dos corpos de água,
segundo os usos preponderantes da água, da mesma forma que o Plano de Recursos Hídricos,
é um instrumento previsto na Lei das Águas e que se caracteriza pela sua função de planeja-
mento (ANA, 2011).
O enquadramento dos corpos de água representa o estabelecimento da meta de quali-
dade da água a ser alcançada, ou mantida, em um segmento de corpo de água, de acordo com
os usos pretendidos (ANA, 2013). Sendo assim, o enquadramento é realizado na forma de clas-
ses, atendendo o que determina a Resolução CONAMA n.º 357, de 17 de março de 2005, que
expressa o conjunto de parâmetros e valores limitantes para determinados usos da água.
Sendo assim, são definidos cinco grupos conforme a exigência do uso, a saber: classe especial;
classe 1; classe 2; classe 3; e classe 4 (BRASIL, 2005).
A classe especial representa os usos mais exigentes, ou seja, aqueles que requerem uma
melhor qualidade da água, como a proteção e preservação da vida aquática, destacando as
áreas de endemismo da ictiofauna e unidades de conservação. O outro extremo, a classe 4,
expressa os usos menos exigentes, como a navegação e a harmonia paisagística, que não
requerem uma boa qualidade hídrica (ANA, 2011).
Nessa perspectiva, a finalidade do enquadramento dos corpos d’água é estabelecer o
nível de qualidade a ser mantido ou alcançado em um segmento de curso hídrico ao longo do

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1176 Richard Coelho de Paulo; Françoan de Oliveira Dias

tempo. A análise deve considerar três aspectos principais: o rio que temos; o rio que queremos;
e o rio que podemos ter.
Na PERH do Pará, o enquadramento é um dos instrumentos, cujo detalhamento se dá
pelo art. 9º. O parágrafo único desta seção salienta que as propostas de classificação e enqua-
dramento devem considerar as peculiaridades e especificidades dos ambientes amazônicos
(PARÁ, 2001).
Para Costa et al. (2020) o estado do Pará não possui nenhum rio enquadrado, sendo
desta forma todas as águas enquadradas como classe 2, conforme orientações da Resolução
CONAMA n.º 357/05.

4.3 A outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos


Conforme a PERH do Pará, o regime de outorga de critérios de direitos de uso de recur-
sos hídricos tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos corpos
hídricos e o efetivo exercício do direito de acesso à água (PARÁ, 2001).
De acordo com o art. 12 da Lei Estadual n.º 6.381/01, estão sujeitos à outorga pelo Poder
Público os direitos dos seguintes usos dos recursos hídricos:
I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para o
consumo final, inclusive abastecimento público ou insumo de processo produtivo;
II – extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de pro-
cesso produtivo;
III – lançamento de esgotos e demais resíduos, tratados ou não, em corpo de água,
com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV – aproveitamento de potenciais hidrelétricos;
V – utilização das hidrovias para o transporte;
VI – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água exis-
tente em um corpo de água [...] (PARÁ, 2001).

Conforme exposto, dos sete instrumentos que estão dispostos na PERH do Pará, a
Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos é o único instrumento implantado, por meio
da Resolução do CERH nº 003, de 03 de setembro de 2008. No território paraense existem rios
de domínio do Estado do Pará e rios de domínio da União. Para os rios de domínio do estado
do Pará, bem como para as águas subterrâneas, a outorga é emitida pela SEMAS e nos rios de
domínio da União as outorgas são emitidas pela ANA (COSTA et al., 2020).

4.4 A cobrança pelo uso dos recursos hídricos


De acordo com o Art. 1º, inciso II da PNRH, a água é um recurso natural limitado, dotado
de valor econômico, permitindo assim que se estabeleçam os mecanismos de cobrança pelo
uso. A Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos, um de seus instrumentos, têm como objetivos:

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1177

(I) reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;
(II) incentivar a racionalização do uso da água; e (III) obter recursos financeiros para o financia-
mento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
Dessa forma, poderão ser cobrados os usos sujeitos à Outorga de Direito de Uso de
Recursos Hídricos, com isso, instituiu-se no Brasil a vinculação formal entre o instrumento eco-
nômico (Cobrança pelo Uso) e o instrumento de regulação ou de comando (outorga), além da
integração desses com os Planos de Recursos Hídricos, responsáveis por definirem as priorida-
des de uso e o enquadramento dos corpos d’água em classes relativas aos usos preponderan-
tes (ANA, 2014).
Para Costa et al. (2020), a cobrança pelo uso dos recursos hídricos enquanto instrumento
da Lei Estadual n.º 6.381/01 ainda não foi implementada no estado do Pará. Para a SEMAS
(2012), a cobrança seria uma alternativa para reverter aos municípios, em benefícios, os ônus
gerados por empreendimentos que impactam diretamente sobre os recursos hídricos, consi-
derando que a legislação prevê que os recursos arrecadados devem ser inseridos prioritaria-
mente na bacia hidrográfica onde foi gerado.
Importante destacar que por meio da Lei Estadual n.º 8.091/14, instituiu-se a Taxa de
Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Exploração e Aproveitamento de
Recursos Hídricos – TFRH (PARÁ, 2014). Contudo, há distinção entre esta taxa e a cobrança ins-
tituída na Lei Estadual n.º 6.381/01.
A taxa não é um instrumento correspondente à cobrança pelo uso dos recursos hídricos,
e a taxa não garante necessariamente que os valores arrecadados voltem para a gestão de
recursos hídricos, o que se prevê no instrumento da cobrança é que o recurso retorne prefe-
rencialmente para a bacia hidrográfica onde ele foi gerado (COSTA et al., 2020).

4.5 O Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos


De acordo com a PERH do Pará, o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos
Hídricos (SEIRH-PA) tem por finalidade a coleta, o tratamento, o armazenamento e a dissemi-
nação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão, devendo
ser compatibilizado com o Sistema Nacional de Informação sobre Recursos Hídricos, de acordo
com o previsto na Lei Federal nº 9.433/97 (PARÁ, 2001). Destaca-se que sua regulamentação se
deu por meio da Resolução nº 12/2010, do CERH.
Quanto aos objetivos do SEIRH-PA, são detalhados no art. 32 da PERH-PA.
I – reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação quali-
tativa e quantitativa dos recursos hídricos do estado;
II – atualizar, permanentemente, as informações sobre disponibilidade e demanda
de recursos hídricos em todo território do estado;
III – fornecer subsídios para a elaboração de planos diretores de recursos hídricos;

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1178 Richard Coelho de Paulo; Françoan de Oliveira Dias

IV – informar os resultados da utilização e aplicação dos investimentos e do funcio-


namento do SEIRH;
V – divulgar o relatório bianual sobre a situação dos recursos hídricos do Estado do
Pará [...] (PARÁ, 2001).

O SEIRH-PA disponibiliza as informações sobre os recursos hídricos estaduais em oito


seções de temas comuns: (i) Regulação; (ii) Planejamento; (iii) Institucional; (iv) Base Hidrográfica
Estadual; (v) Balanço Hídrico, Qualidade e Usos da água; (vi) Hidrometeorologia e Climatologia;
(vii) Programa Progestão; e (viii) Publicações Especiais. Este Sistema é destinado aos entes do
SEGRH-PA, aos usuários de recursos hídricos, à comunidade científica e à sociedade em geral.

4.6 A capacitação, desenvolvimento tecnológico e educação ambiental


Por fim, o último instrumento da PERH do Pará, refere-se à capacitação, desenvolvimento
tecnológico e educação ambiental (PARÁ, 2001).
De acordo com esta Política, este instrumento visa criar condições de conhecimento téc-
nico e científico sobre a gestão de recursos hídricos. Nesta perspectiva, a implementação das ati-
vidades necessárias deverá ser organizada em programas para o Estado e por bacias
hidrográficas.
Os programas de educação ambiental deverão ser focados na gestão de recursos hídri-
cos, além de visar à criação de condições de apoio da sociedade e entidades públicas nas
mudanças sócio-político-culturais para a implementação de recursos hídricos (PARÁ, 2001).
Ainda com relação a este instrumento, para que façam a promoção das melhorias no
SEGRH do Pará, o CERH criou uma Câmara Técnica de Capacitação e Educação Ambiental em
Recursos Hídricos (CTCERH), onde se delibera sobre o Plano de Capacitação em Recursos
Hídricos para os segmentos que precisam de capacitação (SEMAS, 2019).
Além desta câmara técnica, a SEMAS possui uma Gerência de Apoio à Gestão Participativa
(GEAP), que atua na promoção de capacitação de gestores e agentes multiplicadores em edu-
cação ambiental para a gestão integrada de recursos hídricos, assim como, na instituição e
apoio à realização de programas de estímulo à conservação e à racionalização do uso de águas
(SEMAS, s.d.).
No âmbito dos colegiados de recursos hídricos, a GEAP pode propor estratégias e meca-
nismos para apoio à criação, à instalação e ao funcionamento de CBHs e de Agências de Água,
bem como, prestar assistência às atividades do CERH, bem como de suas Câmaras Técnicas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da PNRH surge um novo panorama da gestão dos recursos hídricos no país, pro-
porcionando usos múltiplos das águas, de forma descentralizada e participativa, contando com
a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1179

Nas mesmas prerrogativas da PNRH, o estado do Pará instituiu sua PERH e criou o SEGRH,
sendo possível estabelecer as diretrizes e os princípios básicos para os recursos hídricos de
domínio estadual, como um recurso limitado e um bem público com valor econômico, a ser
gerido em nível de bacias hidrográficas, envolvendo as jurisdições estaduais.
Para implementar essa política estadual, instituíram-se instrumentos para a gestão de
recursos hídricos, sendo: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de
água em classes, segundo os usos preponderantes; (iii) a outorga dos direitos de uso de recur-
sos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compensação aos Municípios;
(vi) o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos; e (vii) a capacitação, desenvol-
vimento tecnológico e educação ambiental.
Estes instrumentos de gestão garantem a aplicação concreta da PERH do Pará, considerando
que não há como planejar a proteção do meio ambiente, sobretudo a proteção dos recursos hídri-
cos, se não for de forma integrada e com a cooperação e participação dos seus usuários.
Ao decorrer do estudo é possível identificar as lacunas e dificuldades encontradas na
implementação destes instrumentos de gestão hídrica da PERH-PA, considerando os percalços
institucionais e políticos do estado do Pará. Este cenário faz com que careça com mais discus-
sões que visem subsidiar outras pesquisas e que sirvam de base para a compreensão da imple-
mentação dessa política, relativamente nova, para o entendimento das demandas existentes,
cujo intuito e fortalecer os CBHs do estado.

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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1181

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA. Núcleo de Meio Ambiente – NUMA. Primeira diretoria do Comitê
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


101.
USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS
MANGUES, PORTO SEGURO, BAHIA

CAROLINE COUTINHO DE OLIVEIRA1


ALLISON GONÇALVES SILVA2
ELFANY REIS DO NASCIMENTO LOPES3

Resumo: O trabalho objetivou analisar a bacia hidrográfica do Rio dos Mangues, localizada no
município de Porto Seguro – Bahia, no que se refere aos usos da terra e suas ocupações em áreas
naturais e antrópicas entre os anos de 1990 e 2018, correlacionando-as com a legislação ambien-
tal pertinente. Foi utilizado o banco de dados de mapeamento do Fórum Florestal da Bahia, dispo-
nibilizado gratuitamente em formato vetorial. Os mapeamentos foram segmentados para a área
de estudo e padronizados quanto as categoriais existentes e analisados de forma quantitativa para
cada ano, além de enquadrá-los com legislações que dispõem sobre preservação, recuperação,
conservação e regularização ambiental. Os resultados demonstram um crescimento da expansão
urbana sobre áreas florestais, a inserção de áreas de agricultura e eucalipto em substituição às
áreas de pastagem. As taxas de áreas antrópicas são superiores às áreas naturais tanto em 1990
quanto em 2018. As atividades realizadas no interior da bacia devem observar a inserção de legis-
lações para regularização dos imóveis rurais, manutenção de áreas de preservação permanente,
reserva legal e licenciamento ambiental, visando a gestão eficiente dos recursos hídricos.
Palavras-chave: Gestão Hídrica; Uso do Solo; Mata Atlântica, Ações Antrópicas; Legislação
Ambiental.
Abstract: This study evaluates the river basin of Rio dos Mangues, located in the Porto Seguro city
– Bahia, the relations the landuse and its occupations in natural and anthropic areas between 1990
and 2018, correlating them as relevant environmental legislation. It was used the mapping data
from the Forum Florestal da Bahia, available free of charge in vector format. The maps its was seg-
mented for the study area and standardized as existing categories and quantitatively analyzed for
each year. In addition its was analyzed regulations that provide for preservation, recovery, conser-
vation and environmental regularization. The results demonstrate a growth of urban expansion
over forest areas, the insertion of areas of agriculture and eucalyptus in substitution of areas of

1 Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB – Campus Sosígenes Costa – Porto Seguro. E-mail: carollufsb2016@gmailcom
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA Campus – Porto Seguro. E-mail: allisongoncalves@
ifba.edu.br
3 Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB – Campus Sosígenes Costa – Porto Seguro. E-mail: elfany@csc.ufsb.edu.br

[ 1182 ]
USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS MANGUES 1183

pasture. The of anthropic areas are superior to natural areas both in 1990 and in 2018. Activities
carried must observe the insertion of legislation for the regularization of rural areas, maintenance
of permanent preservation areas, legal reserve and environmental license, endorsing efficient
management of water resources.
Keywords: Water Management; Landuse; Atlantic Forest, Anthrophic Actions; Environmental
Legislation.

1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas as discussões sobre a preocupação ambiental a nível nacional e
internacional vem crescendo e conquistando espaços de relevante interesse político e social.
Crises de abastecimento de água apontam para a escassez e a poluição dos recursos hídricos,
sendo este um dos problemas a desafiar os gestores no enfrentamento e busca por soluções.
Em uma sociedade onde a procura e demanda pela água está sempre em crescimento, o resul-
tado são conflitos entre setores e usuários, e as suas mais diversas formas de uso.
A Constituição da República Federativa do Brasil, apresenta no artigo 225 que, “Todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Assim, são
necessárias a garantia do atendimento dos múltiplos usos desse recurso, de forma segura e
adequada, com condições a suprir as necessidades das atuais e futuras gerações.
A água é um recurso natural considerado um indicador de qualidade ambiental, suas
alterações variam de acordo com as características de sua bacia hidrográfica (FOLETO, 2018).
Na Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e na Política Nacional dos Recursos Hídricos
(PNRH) se efetiva a integração de instrumentos de ordenamento territorial e recursos hídricos.
Porém, para que haja eficácia nas políticas nacionais, se faz necessário a eficiência em políticas
estaduais e municipais, que completam e especificam quais as melhores políticas de uso dos
recursos hídricos e planejamento e gestão da bacia hidrográfica (PEIXOTO; SILVEIRA, 2017).
Uma bacia hidrográfica é uma área em determinado território que apresenta vários
afluentes, com drenagem para um rio principal. Sua formação ocorre nas áreas de maior relevo
por divisores de água, por onde as águas das chuvas escoam por sua superfície, formando os
rios e riachos ou armazenadas no subsolo formando nascentes e compondo lençóis freáticos e
aquíferos. Essas águas terão um mesmo destino de descarga, chamada de foz ou exutório, que
estão localizadas na parte mais baixa da região (ANA, 2011).
Diante deste contexto, uma gestão efetiva é necessário integrar e considerar os aspectos
ecológicos, geográficos, físicos, sociais e econômicos que estão envolvidos na área da bacia
hidrográfica. Porém, percebe-se que mesmo compreendendo a importância da conservação
dos recursos hídricos, ações antrópicas comprometem e cooperam para alterações de cursos
d’água, interferem em sua disponibilidade e qualidade, fazendo com que o cenário de degrada-
ção torne-se ainda mais preocupante (SILVA, 2003; CARVALHO, 2020).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1184 Caroline Coutinho de Oliveira; Allison Gonçalves Silva; Elfany Reis do Nascimento Lopes

Diversos estudos de degradação de bacias hidrográficas têm crescido e integrado a qua-


lidade da água com os riscos ambientais, e com a utilização de ferramentas de geoprocessa-
mento e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) tornam-se mais precisas as representações
da dinâmica da bacia hidrográfica, permitindo avaliar as consequências de diferentes interfe-
rências e contribuir na implementação dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos
(PEIXOTO; SILVEIRA, 2017; MENDES, 2018).
A partir desse contexto, o trabalho analisa o uso da terra entre os anos de 1990 e 2018, na
bacia hidrográfica do Rio dos Mangues, localizada na cidade de Porto Seguro – Bahia, buscando
investigar o histórico de alteração no uso do solo ocorrido nesta região e sua relação com as nor-
mativas jurídicas aplicáveis na conservação de áreas de relevante interesse ambiental.

2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A bacia Hidrográfica do Rio dos Mangues-BHRM possui uma área total de 3511,76 ha e
está localizada no município de Porto Seguro, no Sul do Estado da Bahia, no nordeste brasileiro
(figura 1), com coordenadas 16º22’37” de latitude Sul e 39º9’36” de longitude Oeste, com sua
nascente do canal principal e foz dentro dos limites territoriais do próprio município.

Figura 1 – Mapa de localização da Bacia

Fonte: Autoria.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS MANGUES 1185

A bacia hidrográfica do Rio dos Mangues encontra-se inserida no bioma Mata Atlântica,
que possui condições de hotspot em biodiversidade, com nascente dentro de uma unidade de
conservação, área da Reserva Particular do Patrimônio Natural – Estação Veracel.
Porto Seguro limita-se ao norte com o município de Santa Cruz Cabrália, ao oeste com os
municípios de Eunápolis e Itabela, ao sul com o município de Itamaraju e a leste com o Oceano
Atlântico. Com uma distância de 701 Km da capital, cidade de Salvador, o município está inse-
rido no território de identidade Costa do Descobrimento. A cidade possui uma área de 2.408,50
Km², com uma população estimada em 152.529 habitantes, com densidade geográfica de 52,70
(IBGE, 2021; SEI, 2014). Por estar localizada em uma região litorânea, a cidade de Porto Seguro
tem como sua principal atividade econômica o turismo, com forte para agricultura, pecuária,
pesca, silvicultura e comércio de artesanato.

2.2 Análise do uso do solo


Foi construído um banco de dados dos mapeamentos do uso do solo e cobertura vegetal,
em formato vetorial, distribuído gratuitamente nas plataformas online de gerenciamento de
dados Fórum Florestal da Bahia, considerando neste estudo os anos de 1990 e 2018. Os mapea-
mentos utilizam o método de classificação supervisionada e validação em campo e consti-
tuem-se como a base de dados em escala de detalhe 1:25000, de elevada acurácia e escala
cartográfica, sendo o monitoramento mais recente da região.
Por meio do banco de dados gerado, os mapeamentos foram segmentados para a área
da bacia hidrográfica em estudo. Após o recorte, as classes apresentadas foram padroniza-
das para organizar as diferentes nomenclaturas das categorias aplicadas aos mapeamentos.
Após padronização foram desenvolvidas análises quantitativas das categorias, por ano, em
hectares (ha) e percentuais (%). Com os resultados, foram realizadas as quantificações das
áreas antrópicas, que possuem interferência humana, e áreas naturais, que apresentam
maiores recursos ecológicos.

2.3 Enquadramento com legislações


A paisagem e ocupação da bacia hidrográfica foram analisadas à luz das legislações per-
tinentes no âmbito federal, estadual e municipal. O enquadramento das atividades de agricul-
tura, pecuária, silvicultura, mineração e ocupação urbana, que ocorrem no interior da bacia
foram analisados conforme a perspectiva das legislações que envolvem preservação, recupe-
ração, conservação e regularização ambiental. As análises e resultados encontrados nesse
estudo utilizaram como base as legislações abaixo, conforme suas aplicações cabíveis.
Considerando a dimensão da localização da bacia hidrográfica no bioma Mata Atlântica,
a Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. – Lei da Mata Atlântica, foi utilizada para com-
preender sobre os limites de utilização e proteção da vegetação nativa do bioma. O Código
Florestal Brasileiro, Lei nº12.651, de 25 de Maio de 2012, que apresenta as normas sobre as

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1186 Caroline Coutinho de Oliveira; Allison Gonçalves Silva; Elfany Reis do Nascimento Lopes

Áreas de Preservação Permanente (APP), de Reserva Legal (RL) e trata sobre o Cadastro
Ambiental Rural (CAR). As Resoluções CONAMA nº01/86 e nº237/97 que norteiam sobre a ava-
liação de impacto ambiental e licenciamentos das atividades potencialmente poluidoras, sendo
também instrumento de gestão da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Por fim, tam-
bém se considerou uma análise em função da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que orienta a gestão das águas no Brasil, para a constru-
ção de um amplo processo de mobilização e participação social como forma de gestão.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 2 e na Tabela 1 encontram-se a distribuição espacial e quantitativa de uso e
ocupação do solo da área em estudo para o ano de 1990. A matriz da paisagem é a pastagem
com uma ocupação de 50,2%. Devido a região apresentar grandes características rurais, com
criações de animais, em sua maioria criação bovina utilizado de forma extensiva, sem controle
dos dejetos que são gerados, o que contribui significativamente para impactos ambientais.

Figura 2 – Uso do solo e cobertura vegetal da Bacia Hidrográfica do Rio dos Mangues, em 1990

Fonte: Autoria própria.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS MANGUES 1187

Tabela 1 – Quantificação das classes de uso da terra e cobertura vegetal, em 1990

Classe de uso Área (ha) %

Área Degradada 174,07 5,0

Área Florestal 1528,17 43,5

Área Urbana 18,36 0,5

Mineração 23,25 0,7

Pastagem 1761,48 50,2

Silvicultura 6,43 0,2

Total 3511,76 100

Fonte: Autoria própria.

A bacia hidrográfica possui, em função das ações antrópicas, um total de 56,5% do total
das áreas, restando 43,5% de áreas naturais, representada exclusivamente pela classe “área
florestal”. As atividades antrópicas são caracterizadas pelas classes de área degradada, com
5,0%, reflexo de locais com solo exposto, abandonada ou em processo de desmatamento. A
classe mineração corresponde a um total de 0,7% da área total da bacia. A área urbana possui
baixa densidade, equivalente 0,5%, reforçando a característica de que a bacia é predominante-
mente rural. Por fim, a classe silvicultura ocupou a menor taxa de área antrópica, equivalente
a 0,2% e representa uma das formas de manejo produtivo do solo.
No ano de 2018 a área total da bacia do Rio dos Mangues apresenta o incremento de
duas novas categorias, reflexo do desenvolvimento regional e das modificações de uso da pai-
sagem ao longo do tempo. Na Figura 3 e a Tabela 2 encontra-se a distribuição espacial e quan-
titativa das classes de uso e ocupação do solo da área em estudo para o referido ano.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1188 Caroline Coutinho de Oliveira; Allison Gonçalves Silva; Elfany Reis do Nascimento Lopes

Figura 3 – Uso do solo e cobertura vegetal da Bacia Hidrográfica do Rio dos Mangues, em 2018

Fonte: Autoria própria.

Tabela 2 – Quantificação das classes de uso da terra e cobertura vegetal, em 2018

Classe de uso Área (ha) %

Agricultura 193,69 5,5

Águas Continentais 19,07 0,5

Área Degradada 103,03 2,9

Área Florestal 1384,3 39,4

Área Urbana 501,98 14,3

Pastagem 1295,27 36,9

Silvicultura 14,45 0,4

Total 3511,79 100

Fonte: Autoria própria

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS MANGUES 1189

Neste mapeamento, observou-se que as áreas com ações antrópicas permanecem em


destaque, correspondendo a 60,0% do total da área, restando 40,0% do total da área natural.
A matriz da paisagem passou a ser a área florestal com 39,4%, apesar do quantitativo de pas-
tagem ainda ser elevado.
O aumento da área florestal pode ser reflexo das políticas setoriais de conservação, inci-
dência da regularização de Áreas de Preservação Permanente e definição de Reserva Legal em
propriedades rurais por meio do Cadastro Ambiental Rural. Ainda assim, há atuação de diver-
sas instituições para o desenvolvimento de programas de recuperação ambiental que desen-
volvem projetos de monitoramento e recuperação em áreas rurais. Observou-se que as áreas
florestais que aumentaram substituíram áreas de pastagem, são contíguas às áreas limítrofes
da Bacia e se estendem em áreas naturais que auxiliam na conservação indireta dos atributos
ambientais na região.
Em uma análise temporal, houve crescimento significativo da área urbana, aumentando
de 0,5%, em 1990, para 14,3% em 2018. Essas áreas substituíram áreas de pastagem, áreas
degradadas, áreas florestais e de mineração, evidenciando que a paisagem na bacia sofreu
transformações intensas e tornou-se mais complexa e heterogênea com modificações desor-
denadas em áreas com orientação para serem conservadas ou preservadas. A classe agricul-
tura apresentou 193,69 ha de área de ocupação, tendo sua inserção na bacia a partir do ano de
1996, promovendo o manejo de culturas agrícolas e intensificação de uso e compactação do
solo e do recurso hídrico para a irrigação.
A silvicultura apresentou o dobro da expansão de sua área e aumento de 8 ha de área
territorial, fato motivado pela expressão do setor florestal na região e da substituição de outras
atividades econômicas como a mineração e, em partes, a cultura agrícola e criação de gado em
determinados imóveis rurais. Dessa forma, o reflexo das mudanças nos interesses da economia
regional, favorecem a mudança da paisagem ao longo do tempo, conforme as demandas eco-
nômicas regionais.

3.1 Relações espaciais e legislação ambiental


O município de Porto Seguro apresenta elevada pressão sobre a vegetação nativa de
Mata Atlântica, consequência do crescimento em ocupação urbana, atividade agrícola e pasta-
gens. Historicamente, a Mata Atlântica é o bioma com maiores índices de exploração e ocupa-
ção abrigando, aproximadamente, cerca de 70% da população brasileira. A ausência de
planejamento nos territórios contribui para que a gestão de recursos seja ineficiente, trazendo
como consequências o aumento nos índices de supressão vegetal, perda hídrica e degradação
do solo, apontando assim a necessidades de os gestores compreenderem a situação atual para
tomadas de decisão que visem a conservação do território (SOS MATA ATLÂNTICA, 2020).
Em relação com a Lei da Mata Atlântica, percebe-se que sua aplicação eficaz permitirá
que os usuários e sociedade reconheçam seus deveres, a fim de conscientizar e considerar

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1190 Caroline Coutinho de Oliveira; Allison Gonçalves Silva; Elfany Reis do Nascimento Lopes

quais ações devem ser aplicadas para uso dos recursos, sem prejuízos aos ecossistemas desta
floresta. Uma das ações que norteiam a aplicação da Lei da Mata Atlântica é o desenvolvi-
mento do Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), que
no município de Porto Seguro teve o seu último exemplar desenvolvido no ano de 2014 onde
consta as ações prioritárias a serem tomadas, e aponta quais áreas estão destinadas para a
conservação e recuperação da vegetação nativa e da biodiversidade da Mata Atlântica
(BRASIL, 2006).
Segundo o PMMA, o município possuía em 2014 cerca de 40% de todo o seu território
coberto por Mata Atlântica, alcançando o percentual de 46% quando incluídos as áreas de
manguezais, restinga e comunidades aluviais. Cerca de 1 ⁄ 3 dessas áreas apresentam um bom
estado de conservação das florestas primárias ou possuem um estágio avançado de regenera-
ção, estando essas áreas em quase sua totalidade protegida por parques nacionais de conser-
vação. Além disso, o Plano aponta que o município possui um enorme crescimento em expansão
urbana e de atividades agropecuárias, causando assim uma pressão sobre a vegetação nativa,
pressionando os remanescentes de Mata Atlântica, mesmo essa sendo uma prática proibida
pela Lei da Mata Atlântica, em desmatar áreas de florestas primárias e em estágio médio e
avançado de regeneração.
Como consequência da expansão urbana e atividades agropecuárias, um ponto percep-
tível observado na bacia aponta que houve um crescimento de áreas com ocupação urbana e
pastagem sob áreas antes ocupadas por florestas nativas entre os anos de 1990 e 2018,
demonstrando uma falha no cumprimento pelo proposto na Lei da Mata Atlântica. Esse con-
flito entre o crescimento urbano e áreas naturais, alerta sobre os impactos que podem ser
agravados em danos já existentes na bacia, como a deposição incorreta de resíduos domésti-
cos, presença de materiais de construção e novas moradias em áreas recém-desmatadas.
Com relação ao Código Florestal Brasileiro, o fato da bacia hidrográfica apresentar-se em
área rural, a existência dos imóveis exige a regularização conforme os preceitos do Cadastro
Ambiental Rural (CAR) para que se tenha o conhecimento e a garantia da conservação dos
recursos em áreas privadas. De igual forma, a mesma Lei ainda prevê a manutenção e regula-
rização das Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). Dados do ano de
2020 apontam que, o município apresentava 116.247,14 ha de área total de Mata Atlântica,
com 2.950,84 ha de remanescentes florestais em área de preservação permanente (APP) e
226,77 ha de remanescentes florestais em reserva legal (RL) (SOS MATA ATLÂNTICA, 2020).
Analisando o mapa de uso da terra observa-se que a drenagem da bacia está associada
com atividades antrópicas desenvolvidas. O desenvolvimento de atividades de agricultura e
pecuária contribuem diretamente em impactos ambientais danosos com severas consequên-
cias. O mau uso dos recursos naturais podem influenciar diretamente na disponibilidade desse
bem, como por exemplo a água e, sendo a bacia hidrográfica do Rio dos Mangues um compar-
timento hídrico, a adequação das propriedades que possuem cursos d’água, incluindo os prin-
cipais afluentes é essencial para a gestão ambiental efetiva (BRASIL, 2012).

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS MANGUES 1191

A utilização adequada e a observância da vazão mínima e máxima para a extração de


água são requisitos mínimos necessários a serem observados, considerando a outorga de uso
da água prevista na Política Nacional de Recursos Hídricos. Assim, a respeito da bacia hidrográ-
fica é importante a realização de análises de vazão desde a nascente, criando um parâmetro
para caracterizar o seu regime hidrológico, e observar seu comportamento irá determinar
quais as influências pelo índice pluviométrico, por sua localização e pela ação do homem sobre
as condições naturais da região.
Quanto às ações antrópicas, vale ressaltar que impactos como a exposição do solo por
abertura de áreas para plantio ou uso animal são outros exemplos que podem acarretar a com-
pactação, aumento nos riscos de lixiviação e erosão, contaminação de alimentos, escoamento
de sedimentos, além de trazer riscos à saúde pública. Fato recente foi a construção do anel viá-
rio, interceptando a bacia, podendo acelerar o processo de expansão urbana, novas oportuni-
dades de ocupação urbana e densidade de transporte.
A atividade de mineração deve ser fiscalizada e monitorada à luz das políticas de avalia-
ção de impacto e licenciamento ambiental, observando os dispositivos das resoluções CONAMA
nº01/86 e 237/97 que apontam a necessidade dessas se adequarem às normas ambientais em
escala nacional, federal e municipal, buscando conciliar o desenvolvimento econômico-social
da região, com equilíbrio e conservação da biodiversidade. A ocorrência de exploração da
mineração também pode comprometer o sistema hídrico, com contaminação do solo e da
água com metais pesados, aumento da turbidez e variação da qualidade da água, alterações da
paisagem, do solo, além de comprometer a fauna e a flora.
A identificação dos danos e impactos causados na área por toda e qualquer atividade
antrópica, colaboram na prevenção e precaução de impactos negativos, reduzindo os riscos
ambientais e propondo alternativas que venham a mitigar, eliminar ou compensar esses danos,
já que, a bacia do Rio dos Mangues é uma das principais responsáveis pelo abastecimento
urbano do município, produzindo diariamente 9.703 m³ (PMMA, 2014). O enquadramento dos
corpos d’água, previsto na Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, estabelece a qualidade da água
a ser alcançada e mantida, servindo também como um instrumento de planejamento previsto
pelo Estado da Bahia na Lei nº 11.612/09 de 08 de outubro de 2009, e conforme a Resolução
CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005.
A tomada de consciência da população como participantes as questões ambientais refle-
tem o amadurecimento político em compreender que, a sociedade tem o poder de colaborar
por meio jurídico e de iniciativas populares para formação do direito ambiental. A Constituição
apresenta Artigo 5º nos incisos LXX, LXXI e LXXVIII meios jurídicos de participação do cidadão,
sendo esses o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção e ação popular, respec-
tivamente (GONÇALVES et al., 2017).
Deste modo, visualiza-se que a bacia hidrográfica como uma unidade de planejamento
necessita de uma gestão sistemática adequada, onde considera todos os fatores de

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS


1192 Caroline Coutinho de Oliveira; Allison Gonçalves Silva; Elfany Reis do Nascimento Lopes

diversidade ecológica, geográfica, física, econômica, social e cultural, com articulações de


ações dos diferenciados setores e usuários, com âmbitos de planejamento em nível regional,
estadual e nacional, compreendendo e atendendo a demandas, que considera a água como
um elemento para a implementação das políticas setoriais, com foco no desenvolvimento sus-
tentável e da inclusão social” (MMA, 2021).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados alcançados compreende-se que o território da bacia hidrográfica é
predominantemente antrópica, com aumento significativo em área com ocupação urbana, sal-
tando de 0,5% para 14,3%. Já em áreas de pastagem houve uma queda de 50,2% para 36,9,
cedendo lugar para áreas de agricultura e silvicultura. A descentralização administrativa e o
desenvolvimento de instrumentos de aplicação de impacto local reforçam a importância de
considerar a atuação de órgãos de planejamento e gestão ambiental, e a ação dos Comitês de
Bacias Hidrográficas, buscando promover a inclusão, integração e colaboração dos indivíduos
sociais a compreender em dimensão de território as questões que envolvem as bacias e seus
recursos hídricos em diferentes escalas de planejamento.

5 AGRADECIMENTOS
Registramos nossos agradecimentos a Suzano S.A. por sua colaboração e fomento finan-
ceiro de bolsa de iniciação científica, a fim de contribuir para com o conhecimento social e
científico.

6 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (BRASIL). MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. O Comitê de Bacia Hidrográfica: o
que é e o que faz? Cadernos de capacitação em Recursos Hídricos. Volume 1. Agência Nacional de Águas. -–
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SOBRE O LIVRO
Formato: 21x28 cm
Tipologia: Calibri
Corpo: 12
Número de Páginas: 1195

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