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PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS
C OL ETÂ N E A I
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Karla Maria Silva de Faria
Silas Pereira Trindade
PROJETO GRÁFICO
Leonardo Huscc
Natã Silva de Carvalho
REVISÃO
Matheus Caldeira Alves Mendes Mychelle Priscila de Melo
Angélica Silvério Freires Karla Maria Silva de Faria
Ana Karolyna Nunes Amaral Silas Pereira Trindade
Marcos Antônio Bonifácio da Silva
COMISSÃO CIENTÍFICA
Adalto Moreira Braz Ingrid Graziele Reis do Nascimento
Adriano Luis Heck Simon Jaqueline Gomes Batista
Aichely Rodrigues da Silva Jefferson Castilho
Alecio Perini Martins Juliana Felipe Farias
Ana Caroline Rodrigues Cassiano de Sousa Kalyna Ynanhia Silva de Faria
Ana Karolyna Nunes Amaral dos Santos Kamila Almeida dos Santos
Ana Novais Karla Maria Silva de Faria
Antônio Cezar Leal Kássio Samay Ribeiro Tavares
Daniel Araújo Ramos dos Santos Marcio H. Campos Zancopé
Denilson Teixeira Mariana Nascimento Siqueira
Denise Oliveira Maxmiliano Bayer
Elizon Dias Nunes Mirtes Tatiane Neisse Boldrin
Flávia Darre Barbosa Rafael Rodrigues
Franciele Fath Rodrigo Lima Santos
Gervásio Soares Barbosa Neto Silas Pereira Trindade
Guilherme Marques de Lima
REALIZAÇÃO:
APOIO:
Karla Maria Silva de Faria
Silas Pereira Trindade
[ Organização ]
PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS
GOIÂNIA | 2021
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Karla M S Faria
Coordenação Geral do Evento
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Unidade I
BACIA HIDROGRÁFICA NO ENSINO DE GEOGRÁFIA
1 CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS E
SUA ASSOCIAÇÃO COM OS COMPONENTES FÍSICO-NATURAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Unidade II
BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS
4 A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS: O CASO DO CANAL DO
PARACURI EM BELÉM-PA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
26 QUALIDADE DAS ÁGUAS E BALNEABILIDADE: UMA ANÁLISE DAS PRAIAS DAS PRO-
XIMIDADES DA BARRA DO RIO JUCU-ES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313
Unidade III
CONFLITOS PELO USO DAS ÁGUAS
31 A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE . . . 373
Unidade IV
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NA GESTÃO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS
36 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS: AÇÕES PROPOSITIVAS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO PITIMBU/RN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 429
Unidade V
IMPACTOS DO AGRONEGÓCIO
PARA AS BACIAS HIDROGRÁFICAS
37 O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
TIMBURI, NA APA DO TIMBURI, PRESIDENTE PRUDENTE-SP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 440
Unidade VI
MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CRISES HÍDRICAS
E GESTÃO DAS ÁGUAS
43 A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO: O CLIMA NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO ALTO RIO PARAGUAI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 506
Unidade VII
PESQUISAS APLICADAS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
46 ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO NO
MUNICÍPIO DE PORTO NACIONAL-TO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 543
48 ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO. . . 564
Unidade VIII
PLANEJAMENTO E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
75 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GES-
TÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 884
Unidade IX
PRODUTOR DE ÁGUAS E PAGAMENTO POR SERVIÇOS
AMBIENTAIS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS
DE ABASTECIMENTO URBANO
93 ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO
URBANO NA VERTENTE PAULISTA DA UGRH PARANAPANEMA – BRASIL: INTE-
GRANDO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1088
Unidade X
REVITALIZAÇÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
94 DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ
DO BINDÁ, MANAUS-AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1100
BACIA HIDROGRÁFICA
NO ENSINO
DE GEOGRÁFIA
1. CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES
SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS E SUA
ASSOCIAÇÃO COM OS COMPONENTES
FÍSICO-NATURAIS
Resumo: A presente pesquisa versa sobre os conhecimentos dos professores iniciantes de geogra-
fia sobre bacias hidrográficas e suas associações com os componentes físico-naturais, e da abor-
dagem da unidade enquanto conteúdo na geografia escolar. O ensino dos componentes
físico-naturais é uma dificuldade comum em muitos professores de geografia da educação básica,
como atestam outras investigações e obras da linha de ensino de geografia. Dessa forma, com-
preendemos a bacia hidrográfica, como unidade físico-natural e territorial que facilita a com-
preensão integrada das dinâmicas físicas e sociais do espaço. A presente investigação teve,
portanto, o objetivo de analisar os conhecimentos geográficos dos professores iniciantes de geo-
grafia sobre bacias hidrográficas e sua vinculação com os componentes físico-naturais.
Palavras-chave: Ensino de geografia; Componentes físico-naturais; Bacias hidrográficas.
Abstract: This research deals with the knowledge of beginning geography teachers about water-
sheds and their associations with the physical-natural components, and the approach of the unit
as a content in school geography. The teaching of physical-natural components is a common diffi-
culty for many geography teachers in basic education, as evidenced by other investigations and
works in the area of geography teaching. In this way, we understand the watersheds unit, as a unit
physical-natural and territorial that facilitates an integrated understanding of the physical and
social dynamics of the space. The present investigation therefore had of aims to analyze the geo-
graphic knowledge of beginners teachers of geography about watersheds and their association
with the physical-natural components.
Keywords: Geography teaching; Physical-natural components; Watersheds.
[ 16 ]
CONCEPÇÕES E DIFICULDADES DOCENTES SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS 17
1 INTRODUÇÃO
A presente investigação surgiu de uma inquietação, relacionada ao ensino dos compo-
nentes físico-naturais na geografia escolar. Visto que, compreendemos que o ensino desses
componentes, muitas vezes ainda é pautado nas descrições, memorização e abordado de
forma fragmentada, como afirma Rodrigues (2001).
Na intenção de compreender o contexto do problema, identificamos que muitos profes-
sores apresentam dificuldades, relacionadas ao conhecimento específico dos componentes
físico-naturais, e consequentemente, encontram entraves na abordagem pedagógica destes
em sala de aula (CAVALCANTI, 2010).
À vista disso, com a finalidade de compreender as primícias e consequências dessas
dificuldades docentes, e contribuir para as discussões e pesquisas acerca de ensino de geografia
e componentes físico-naturais, elegemos a unidade territorial bacia hidrográfica e seu ensino
enquanto conteúdo na geografia escolar, como foco desta investigação. Com ênfase no com-
ponente relevo e fenômenos socioambientais, como as erosões urbanas e enchentes.
A pesquisa justifica-se pela intenção de contribuir com as discussões acerca do ensino de
geografia com recorte nos componentes físico-naturais, e unidade bacia hidrográfica. Também
parte de uma vontade de pensar em formas de contribuir com as discussões de ensino de geo-
grafia e formação de professores.
Isto posto, o objetivo geral desta pesquisa é analisar os conhecimentos geográficos dos
professores iniciantes de geografia sobre bacia hidrográfica e sua vinculação com os compo-
nentes físico-naturais. Para alcançá-lo, foi necessário atingir os objetivos específicos, sendo
eles: (i) Identificar as percepções docentes acerca das bacias hidrográficas e as associações por
eles realizadas em relação aos componentes físico-naturais e sociais com a unidade; (ii)
Mobilizar conceitos e conhecimentos geográficos atrelados ao componente físico natural
relevo, o processo de erosão urbana e o fenômeno das enchentes na unidade da bacia hidro-
gráfica; (iii) Abordar o raciocínio geográfico escalar micro, atrelado a questões socioambientais
urbanas na unidade da bacia hidrográfica.
2 METODOLOGIA
A investigação está amparada na vertente metodológica de pesquisa qualitativa em edu-
cação (BOGDAN e BIKLEN, 1994), dentre os tipos de pesquisa qualitativa, a pesquisa partici-
pante, (DEMO, 1995).
Huberman (1995) ao versar sobre as fases do profissional docente, afirma que professo-
res iniciantes vivem fases de sobrevivência e descoberta. Segundo o autor, o que ocorre é um
choque com o real, em que perpassam pelo profissional. Paralelo a isso, os professores inician-
tes vivem a empolgação do primeiro contato com a vida profissional e as responsabilidades da
sala de aula, sendo apontada pelo autor como o que os mantém na profissão.
Consideramos pertinente dessa forma, que os sujeitos da presente investigação fos-
sem professores iniciantes. Visto que, o recente contato dos mesmos com o ensino de geo-
grafia e a prática docente, revela efetivamente as dificuldades por eles encontradas no
processo de ensino-aprendizagem, no que diz respeito ao conhecimento pedagógico e o
conhecimento específico.
Desta forma, os critérios para seleção dos sujeitos da pesquisa foram: (a) que fossem pro-
fessores iniciantes (com até 6 anos de experiência), (b) que atuassem nos anos finais do ensino
fundamental, (c) que esses sujeitos não houvessem realizado pesquisas referentes ao ensino
do componentes físico-naturais, visto que o conhecimento adquirido na pesquisa poderia
influenciar as respostas, (d) que atuassem em escolas da Região Metropolitana de Goiânia.
Como técnica de investigação, serão utilizadas as entrevistas remotas (LUDKE E ANDRÉ,
1986). Selecionamos cinco professores, dois atuantes da rede de ensino privada, dois da rede
de ensino pública estadual, e um da rede municipal de Goiânia. Dessa forma pudemos abran-
ger a perspectiva de professores situados em diferentes realidades escolares, a partir de suas
práticas e experiências nas esferas escolares em que estão situados.
Aos sujeitos da pesquisa, foram atribuídos nomes que fazem referências às grandes
bacias hidrográficas presentes na região Centro-Oeste. Dessa forma, foram denominados aos
cinco sujeitos, cinco bacias, sendo elas: Bacia Hidrográfica Paraná, Araguaia/Tocantins, Platina,
São Francisco e Amazônica.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao realizar as entrevistas, nossa primeira diligência foi identificar a percepção dos profes-
sores em relação aos componentes físico-naturais. Em se tratando das dificuldades de conhe-
cimento específico acerca dos componentes físico-naturais, solicitamos durante a entrevista
que os sujeitos identificassem em quais componentes têm mais dificuldades, e classificassem o
nível da dificuldade de 1 a 3, sendo 1 razoável e três dificuldade alta.
O componente solo foi apresentado por quatro professores, com dificuldade nível 3,
somente o professor São Francisco não disse ter dificuldade com o componente, concentrando
seus maiores obstáculos nos conteúdos de estrutura interna da terra (3) e bacias hidrográficas
(2). Os professores Araguaia/Tocantins e Amazônica, relataram enfrentar adversidades com
todos os componentes, apesar do destaque para o componente solo.
Isto posto, solicitamos que os professores justificassem suas dificuldades, de forma a
indicar a que eles a atribuíam. Os principais fatores por eles apresentados foram a formação, a
abordagem metodológica em sala de aula, e a forma que o professor conduziu a disciplina na
graduação. O professor Paraná ao justificar sua dificuldade proferiu a seguinte colocação:
“[...] Na minha formação eu não tive muito contato também, eu tive as disciplinas de
por exemplo pedologia, mas não foram tão voltadas para parte prática da escola,
então talvez um pouco disso ficou meio defasado e por isso minha dificuldade”.
(PROFESSOR PARANÁ, 2021, grifos nossos)
experiências dos colegas de profissão, o que demonstra que mesmo com menos tempo de prá-
tica docente, eles buscam da fonte 4 (sabedoria que deriva da própria prática) nas vivências
dos colegas que estão a mais tempo em sala de aula.
faz importante, visto que alguns deles recorriam a associações com bacias de outras regiões,
para abordar o conteúdo, a exemplo do professor Amazônica que relatou realizar exemplifica-
ções a partir do Rio São Francisco.
Outro elemento suscitado pela questão é a interferência e integração humana com as
bacias hidrográficas. Haja vista que, os professores apresentavam relações sociais com as
bacias hidrográficas, partindo de uma concepção externalizada da natureza (CASSETI, 2002),
ou seja, associado ao uso dos recursos naturais para produção de energia ou outras demandas,
mas sem compreender o ser humano como elemento que integra a bacia hidrográfica e faz
parte de sua dinâmica, como identificado em suas respostas ao longo da entrevista.
A segunda questão iconográfica, número 12 da entrevista, sob a perspectiva da estraté-
gia soluções de problemas, ao considerar as mesmas imagens da questão 11, solicita que os
docentes apontassem ações a serem realizadas pelos órgãos municipais cabíveis, para solucio-
nar ou reduzir o fenômeno das enchentes na marginal Botafogo.
Um aspecto a ser destacado acerca dessa questão, foi a relutância dos professores, por
considerarem as enchentes da marginal Botafogo como sendo uma questão sem solução. No
entanto, após insistir, ações muito válidas e interessantes foram propostas por eles. Como
demonstrado no trecho:
[...] repensar a canalização, repensar e estrutura que tá em volta, são coisas que
eles não vão pensar de forma alguma, até porque ele veem esse canal como um
problema que eles queriam extingui-lo, isso sim. (PROFESSOR PARANÁ, 2021, gri-
fos nossos)
Ao conduzir os professores a uma reflexão acerca das soluções para minimizar o impacto
das enchentes, a questão 12, mobilizou conhecimentos acerca de um raciocínio integrado dos
componentes físico-naturais e sociais. Já que, foi preciso que fossem por eles levantadas hipó-
teses de natureza física e social para pensar ações eficazes na solução do problema.
Na questão de número 13 da entrevista, foi apresentada aos professores a situação de
moradias localizadas em de fundos de vale, com recorte para o córrego Capim Puba, na cidade
de GOIÂNIA-GO. Foi solicitado que fossem identificados os possíveis problemas que poderiam
ocorrer no local, partindo de uma análise integrada dos componentes físico-naturais e sociais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conseguimos identificar através das respostas dos professores, que apesar da autonomia
de pesquisa, há uma carência de fundamentação teórico-prática sobre bacias hidrográficas.
Essa carência reflete na abordagem teórico-metodológica da unidade enquanto conteúdo, em
sala de aula, que por vezes passam a se utilizar apenas dos livros didáticos enquanto fonte,
como relatado por alguns deles, da reprodução de sensos comuns, por vezes equivocados, e de
uma abordagem tradicional, por meio de descrições, e exemplificações distantes das vivências
dos escolares, fundamentadas em uma concepção externalizada da natureza.
Durante as entrevistas, foi possível perceber que os professores têm consciência da
importância da abordagem integrada dos componentes físico-naturais e sociais. No entanto,
essa dificuldade identificada, acerca da fundamentação teórica sobre bacias hidrográficas,
leva-os a tratar somente o componente água, a rede hidrográfica e o ciclo hidrológico de forma
isolada dos demais componentes com a interação humana. Outra reflexão possível, foi acerca
de uma maior facilidade dos professores para tratar de aspectos sociais em detrimento dos
fenômenos e componentes físico-naturais.
Quando questionados acerca dos componentes físico-naturais, muitos relataram ter uma
dificuldade de forma geral, com os conteúdos por eles denominados de “geografia física”. Essas
colocações, refletem a ainda presente dicotomia da geografia, que apesar das tentativas para
ser superada, ainda assombra a ciência geográfica e reflete na formação dos geógrafos e pro-
fessores de geografia.
Alguns professores participantes, destacaram a abordagem de fenômenos socioam-
bientais urbanos em microescala, abordados nas respostas às questões iconográficas, como
importante contribuição e refletiram a ideia em seus sistemas conceituais. Consideramos um
avanço relevante, essa percepção por parte dos professores, visto que, quando explorados
aspectos da vivência dos escolares a aprendizagem se faz significativa e a apreensão do
conhecimento é potencializada.
Torna-se evidente, o potencial da unidade para realização de uma abordagem integrada
dos componentes físico-naturais, em diferentes escalas, e com diferentes focos nas relações
entre os componentes. Aspectos sociais e socioambientais, de natureza econômica, política,
dentre outras, também são possibilidades a serem exploradas ao trabalhar o conteúdo em sala
de aula e relacionados às dinâmicas naturais que nela se apresentam.
Diante do exposto, concluímos que apesar dos avanços teóricos e práticos na formação
docente, ainda há resquícios de uma concepção externalizada da natureza na abordagem prá-
tica dos professores ao tratar o conteúdo de bacias hidrográficas. Consequência da insuficiên-
cia identificado em suas fundamentações teóricas, não somente sobre as bacias hidrográficas,
como também acerca dos demais componentes.
Portanto, existe a necessidade de serem pensadas maneiras de superar, a ainda presente
dicotomia da geografia na formação docente e pautar as disciplinas de forma integrada, e rela-
cionando-as com a prática docente, de maneira que a abordagem pedagógica do conheci-
mento, se torne eixo obrigatório nas disciplinas de caráter específico. Visto que, é papel da
formação inicial, fornece as bases para a construção profissional e formação de professores
intelectuais e com autonomia teórico-metodológica.
5 REFERÊNCIAS
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TOMITA, Luiza Mitiko Saito; TORRES, Eloiza Cristiane; FONSECA, Ricardo Lopes Fonseca. O uso de mapas
conceituais como facilitadores da aprendizagem significativa: a bacia hidrográfica em foco. Boletim Paulista de
Geografia, v.94, p. 47-64, 2016.
Resumo: O trabalho discute a relevância da maquete geográfica para a abordagem da bacia hidro-
gráfica como conteúdo no ensino de Geografia Escolar, considerando que nesse espaço não há um
encaminhamento na perspectiva do escolar, conhecê-la e analisá-la em sua realidade. Dessa forma,
a pesquisa tem como objetivo geral propor a elaboração da maquete geográfica para representar e
analisar a bacia hidrográfica urbana numa perspectiva integrada com os demais componentes físico-
-naturais e sociais. A pesquisa é do tipo qualitativa em educação e foi dividida nas seguintes etapas:
revisão bibliográfica que versam sobre a temática, aquisição de materiais de baixo custo, elaboração
da maquete geográfica. A abordagem da bacia hidrográfica, por meio da maquete geográfica possi-
bilita os escolares conhecerem suas características físicas naturais e sociais; os impactos ambientais
decorrentes das atividades humanas e também desenvolver projetos de recuperação desse recorte
espacial. Portanto, esse recurso didático é um dos caminhos para tornar os conteúdos geográficos
relevantes para formação dos escolares.
Palavras-chave: Maquete Geográfica; Bacia Hidrográfica; Ensino de Geografia.
Abstract: The work discusses the relevance of the geographic model for the approach of the water-
shed as content in the teaching of School Geography, considering that in this space there is no
referral from the perspective of the student, knowing it and analyzing it in its reality. In this way,
the research has as general objective to propose the elaboration of the geographic model to rep-
resent and analyze the urban watershed in an integrated perspective with the other physical-nat-
ural and social components. The research is of a qualitative type in education and was divided into
the following stages: bibliographical review that deal with the theme, acquisition of low-cost
materials, elaboration of the geographic model. The approach of the hydrographic basin, through
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Goiás – IESA. E-mail: ricardogeo-
silva@gmail.com
2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Goiás – IESA. E-mail: adrianaolivia@
ufg.br
3 Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Goiás – IESA. E-mail: adrianaolivia@
ufg.br
[ 28 ]
MAQUETE GEOGRÁFICA 29
the geographic model, allows the students to know their natural and social physical characteris-
tics; the environmental impacts resulting from human activities and develop projects to recover
this space. Therefore, this didactic resource is one of the ways to make geographic content rele-
vant for the education of students.
Keywords: Geographical Model; Hydrographic Basin; Geography Teaching
1 INTRODUÇÃO
O trabalho discuti a relevância da maquete geográfica para a abordagem da bacia hidro-
gráfica na Geografia Escolar como possibilidade de investigá-la, numa perspectiva integrada
entre os componentes físico-naturais e sociais do espaço geográfico. A utilização desse recurso
didático no ensino de geografia para abordagem da bacia hidrográfica deve-se ao fato desse
recorte espacial ser pouco explorado considerando, o contexto dos escolares, isto, é prioriza o
estudo das grandes bacias hidrográfica, o que pouco contribui para sua realidade se tornar um
objeto de estudo.
O trabalho tem como objetivo principal propor a elaboração da maquete geográfica para
a abordagem da bacia hidrográfica na escala local no ensino e aprendizagem em geografia no
ambiente escolar. Diante disso, desenvolve-se a seguinte problemática: De que maneira a
maquete geográfica pode contribuir para a abordagem significativa da bacia hidrográfica com
intuito de atribuir significado aos conteúdos geográficos?
O caminho metodológico para o desenvolvimento do trabalho consistiu em revisão
bibliográfica que versam sobre a temática ora apresentada, aquisição de materiais de baixo
custo, elaboração e análise da maquete geográfica da bacia hidrográfica do Córrego do Rola
localizada no município de Aragarças-GO. O trabalho divide-se em duas seções, a primeira des-
taca o ensino de geografia e a bacia hidrográfica apoiando se em pesquisadores como Machado
e Torres (2012), Botelho (2011), Guimarães (1999), Cavalcanti (2019) e Callai (2010). O segundo
trata-se da relevância da maquete geográfica no ensino de geografia tem-se como referência
os estudos de Simielli et al. (1991) e Pitano e Roqué (2015).
Acredita-se que o uso da linguagem cartográfica e geomorfológica, para trabalhar com a
bacia hidrográfica do local de vivência dos escolares no ensino e aprendizagem em geografia
possibilita torná-la um objeto a ser mais explorado e conhecido nas aulas de geografia tor-
nando os conteúdos geográficos interessantes.
Biologia. Assim, esse recorte espacial passou a ser alvo de discussão no cenário político inter-
nacional, nacional, regional, local nos meios de comunicação. Por outro lado, é preciso que
essa discussão adentre na Geografia Escolar para que os escolares em diferentes níveis de
ensino conheçam, participam e intervenham em sua realidade. Nessa concepção Callai (2010)
faz as seguintes considerações:
As coisas que acontecem no cotidiano da vida das pessoas precisam ser entendidas
e a escola tem um papel fundamental nesse processo. O mundo da vida precisa
entrar na escola, para que ela seja viva, para que consiga acolher os alunos e dar-
-lhes condições de realizarem sua formação, desenvolverem um crítico e ampliarem
suas visões de mundo (CALLAI, 2010, p. 33).
Para tanto, considera-se, o docente deve se apropriar de estratégias de ensino que bus-
que associar os conteúdos geográficos com os fatos, assuntos que motivam os escolares a
conhecerem seu cotidiano. Investigar a bacia hidrográfica do seu espaço de vivência para
entender a problemática ambiental que a envolve, significa aprender a analisar os resultados
das práticas espaciais materializada no espaço geográfico.
Muito tem-se se escrito sobre estratégias de ensino para abordagem significativa de con-
teúdos geográficos. Nesse conjunto, inclui-se a maquete geográfica de um determinado espaço
geográfico, porém em muitos casos, explora-se a maquete de maneira estática, como possibi-
lidade de ser abordar somente um recorte temático, ora o relevo, vegetação, curva de nível, a
cidade, solo, isto é, o tratamento é dado de forma isolada.
Neste trabalho, visualiza-se a construção e o uso da maquete geográfica como possibili-
dade de abordar uma gama de conteúdos tais como urbanização, processos erosivos, poluição
do solo e dos recursos hídricos, desmatamento, ocupação de áreas de preservação permanen-
tes. Nessa perspectiva, a bacia hidrográfica é considerada um recorte espacial importantíssimo
a ser representado e analisada na Geografia Escolar.
[...] o trabalho com maquetes não é apenas a sua confecção, mas a possibilidade de
utilização de uma ferramenta para a correlação. Quando se trabalha com a maquete,
se torna mais fácil o entendimento de correlações entre espaço físico, as ações
antrópicas e a própria dinâmica da paisagem, além dos conceitos cartográficos apli-
cados a um plano tridimensional. (SIMIELLI et al., 1991, p. 89).
Em outras palavras, a maquete não pode ser considerada uma representação estática do
espaço geográfico. Há de se considerar a relação entre os componentes físico-naturais – relevo,
solo, água, vegetação – e sociais, e o resultado dessa interação em diferentes recortes espa-
ciais. Além de possibilitar fazer correlações entre os componentes espaciais, a maquete geo-
gráfica permite investigar o espaço de vivência dos escolares conforme destacam Pitano e
Roqué (2015):
Portanto, não resta dúvida da relevância do estudo da bacia hidrográfica na escala local,
por meio da maquete geográfica, por permitir um envolvimento maior dos escolares no pro-
cesso de ensino e aprendizagem.
2 METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido em cinco etapas. A primeira fase realizou-se revisão biblio-
gráfica de teses, dissertações, artigos e livros que versam sobre a temática. Na segunda fase
elaborou-se um mapa hipsométrico (figura 1) da área em estudo.
D
C A
O recorte de cada curva de nível foi realizado da seguinte forma: fixou as extremidades
do mapa hipsométrico com palitos de palitar dentes na placa de isopor; em seguida perfurou
cada curva de nível com palito de palitar dentes; logo após com a lixa de metal flex começou a
recortar cada curva de nível. Na figura 2 cada letra corresponde a um intervalo de altitude
entre as curvas de nível: A (menor ou igual a 30 m); B (300-320 m); C (320-340 m); D (340-360
m); e E (maior que 360 m).
A quinta etapa montou-se a maquete (figura 3) iniciando pela placa de menor até a de
maior altitude. Para montagem da maquete, utilizou-se cola de isopor escolar 90 gramas em
cada placa de isopor.
Nessa etapa após colagem e montagem da maquete é importante fixar suas extremida-
des com palitos de palitar dentes para obter uma melhor fixação entre as placas. É importante
deixá-la em descanso por 12 horas. Após esse período as placas não se desprenderem uma da
outra. Logo após lixou-se as bordas de cada placa de isopor suavizando o máximo os saltos arti-
ficias do relevo dando uma forma mais natural.
Na sexta etapa, utilizando de pincel, aplicou-se massa corrida PVA com água em toda
superfície da maquete suavizando as variações de altura de cada folha de isopor, isto é, na rea-
lidade não há patamares abruptos em relação ao limite entres as curvas de nível conforme a
figura (4). Após a secagem da massa corrida, lixou novamente a maquete corrigindo as
imperfeições.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As representações cartográficas de um determinado espaço geográfico possibilitam
investigá-lo de maneira significativa de acordo com o interesse, o propósito do pesquisador, e
do conhecimento docente sobre o objeto geográfico a ser analisado. Por isso, é importante
que o docente saiba planejar suas aulas com a finalidade de explorar o máximo da representa-
ção a ser utilizada. Neste caso, a maquete geográfica da bacia hidrográfica permite aos docen-
tes investigar esse recorte espacial numa perspectiva de ensino e aprendizagem relevante para
os escolares por permiti abordar temáticas relevantes, no que diz respeito ao seu uso e ocupa-
ção, e os resultados dessa relação.
A maquete geográfica (figura 5) representa a bacia hidrográfica do córrego do Rola loca-
lizada no perímetro urbano na cidade de Aragarças-GO. Observa-se que esta é marcada por
um conjunto de intervenções antrópicas que tem provocado impactos ambientais relevantes
conforme se verifica na legenda.
Por meio dessa linguagem, o professor pode explorar incialmente tema como contamina-
ção do solo e dos recursos hídricos por descarte de esgoto e resíduos sólidos. Essa temática mui-
tas das vezes na Geografia Escolar têm como referência de estudo as regiões metropolitanas, isto
é, distante de sua realidade. Sabe-se que é uma problemática que está presente na realidade do
escolar, porém a ausência de uma abordagem local e de materiais didáticos impossibilita os esco-
lares, a conhecerem e interferirem em sua realidade enquanto cidadãos críticos.
Outra temática interessante a ser investigada, trata-se da falta de planejamento urbano,
no que diz respeito ao processo de uso e ocupação das áreas de preservação permanentes, e/
ou consideradas instáveis ao assentamento humano. Analisando atentamente a maquete,
visualiza-se impactos ambientais – processos erosivos, assoreamentos – decorrentes do uso
das vertentes e fundo de vales. Nesse sentido, a maquete geográfica, por se tratar de uma
representação reduzida, possibilita pensar em: projetos de educação ambiental; ações de pla-
nejamento e reflexão da atuação política sobre esse espaço; e projetos de recuperação dessa
bacia hidrográfica.
As unidades do relevo são classificadas de acordo com a escala de análise em macro (pla-
naltos, depressões e planícies), meso (topos, vertentes, vales) e micro (sulcos, ravinas, voçoro-
cas) formas. No ensino de geografia na Educação Básica, muitas vezes, o docente prioriza o
estudo das grandes formas do relevo que estão distantes de sua realidade, portanto, pouco
contribuirá com sua formação. Nesse sentido, as meso (topos, vertentes, fundos de vale) e as
micro (sulcos, ravinas, voçorocas) formas do relevo tornam-se conteúdos concreto e visíveis ao
serem abordados pela maquete por ser tratar de uma representação tridimensional facilita seu
entendimento. Em outras palavras, são feições do relevo que estão presentes no seu espaço de
vivência. Por outro lado, é importante a adoção de uma escala cartográfica que permita visua-
lizar essas feições, caso o docente adote, por exemplo, a escala (1:100000) provavelmente não
seria possível visualizar as microfomas do relevo.
O processo de urbanização desordenado tem gerado diversos problemas ambientais,
sobretudo no que diz respeito a remoção da vegetação, o que tem ocasionado a supressão de
nascentes, desvio dos cursos hídricos e diminuição do volume d’água dos principais afluentes
da bacia hidrográfica do córrego do Rola. Pensar a bacia hidrográfica local na Geografia escolar
significa conscientizar os escolares sobre a ocupação desordenada desse recorte espacial, no
sentido de a sociedade enfrentar num futuro próximo, em alguns casos no momento atual,
uma crise hídrica.
Além da problemática ambiental, pode-se trabalhar com os principais elementos da
bacia hidrográfica, divisor topográfico, rede drenagem, nascente, rio principal, afluentes, mar-
gens direita e esquerda, montante, jusante. O uso da maquete possibilita compreender o con-
ceito de bacia hidrográfica, fundos de vale, vertentes, topos, curvas de nível que muitas vezes
se tornam abstrato.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É comum ouvir no meio da comunidade acadêmica de pesquisadores da linha de ensino
e aprendizagem em Geografia a necessidade de tornar o processo de ensino e aprendizagem
em geografia interessante e significativo aos escolares. Por outro, considera-se necessário pro-
por caminhos para tal objetivo. Neste trabalho considerou-se a maquete geográfica como um
recurso didático com grande potencial para mobilizar conhecimentos geográficos no contexto
das bacias hidrográficas urbanas. Por se tratar de um recorte espacial ainda pouco explorado
na escala local de vivência dos escolares, espera-se que esta pesquisa incentive e contribua
com o trabalho docente, no sentido de tornar a realidade dos escolares objetos de análise na
Geografia Escolar.
5 REFERÊNCIAS
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Geomorfologia urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 71-115p.
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CAVALCANTI, Lana de Souza. Pensar pela geografia: ensino e relevância social. Goiânia: C&A Alfa
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segundo licenciandos em Geografia. Educação Unisinos. 273-282, maio/agosto 2015
SIMIELLI, Maria Helena. et al. Do Plano Tridimensional: a Maquete como Recurso Didático. Boletim Paulista de
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MACHADO, Pedro José de Oliveira; TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira. Introdução a hidrogeografia. São Paulo:
Cengage Learning, 2012.
[ 41 ]
42 Eliana de Morais; Patrícia Romão; Domitila Radtke; Camylla Otto
1 INTRODUÇÃO
Se realizarmos uma pequena busca pela internet, identificamos uma enorme gama de
informações relativas às bacias hidrográficas. Nela estão presentes diferentes tipos de ima-
gens, que evidenciam, dentre outros, os elementos de uma bacia, com destaque para os cursos
d’água e seus divisores, bem como as localizadas no território nacional. No caso dos textos
apresentados, o destaque é direcionado às definições associadas a essa unidade de análise.
Embora haja outras referências sobre esse tema, quando direcionamos a busca para sites
específicos, a exemplo do Google Acadêmico, ou sobre recortes temáticos também específicos,
como bacias hidrográficas e ensino de Geografia, nosso intuito neste texto é o diálogo inicial com
as informações com as quais a maioria dos estudantes da Educação Básica tem acesso ao realizar
pesquisas, pois, a internet tem-se configurado como um dos recursos mais utilizados.
Nesse sentido, a construção de conhecimentos tem sido mediada por informações par-
ciais acerca da concepção e dos elementos que compõem essa unidade de análise. Poucas dife-
renças têm sido apresentadas para a relação entre rede e bacia hidrográfica, bem como tem
tido supremacia a visão bidimensional, furtando-se desse debate os elementos em subsuperfí-
cie que a compõem. Para além desses, o trabalho com esse tema tem utilizado especialmente
o recorte do território nacional, distanciando-se de uma abordagem que leve em conta o coti-
diano dos estudantes, numa perspectiva de diálogo entre as diferentes escalaridades.
Isto posto, desejamos no presente artigo defender a concepção de que o papel da escola
e, em especial, do professor de Geografia, é o de mediar a construção de conhecimentos pelos
estudantes, o que nos leva a fortalecer a ideia de que eles sejam sujeitos de sua aprendizagem.
Assim sendo, questionamos: Como construir conhecimentos, com os estudantes, em torno do
tema bacias hidrográficas? Como mobilizar o cotidiano deles nessa construção? Quais ideias
são nucleares para a formação dos sistemas conceituais de bacias hidrográficas? Em que
medida a construção do pensamento geográfico, a partir dessa temática, dialoga com as ações
cotidianas? Quais pistas podem ser indicadas aos professores para potencializar a construção
de conhecimentos no ensino de Geografia?
Apresentar reflexões, ainda que parciais, sobre esses questionamentos e encaminhar o
processo de ensino e aprendizagem para além do que tem sido apresentado na internet, colo-
ca-nos em contato direto com a construção de conhecimentos, dando outro sentido para a
profissão docente.
Destarte, o intento, ao término deste trabalho, é o de apresentar a necessidade de con-
frontar conhecimento cotidiano e conhecimento científico para a formação de conceitos, na
Educação Básica, que ao serem internalizados possibilitem o desenvolvimento do pensamento
geográfico, considerando para isso os processos espaço-temporais que ocorrem em bacias
hidrográficas, tendo em vista a escala e a perspectiva tridimensional.
2 METODOLOGIA
Tendo em vista o que foi aqui apresentado, em uma concepção teórico-metodológica
que atendesse à perspectiva de contribuição para o processo de ensino e aprendizagem, este
trabalho seguiu etapas que abrangeram alguns procedimentos. Estes envolveram atividades
de planejamento, de elaboração, de utilização e, no atual estágio, de revisão de um material
didático, denominado de fascículo, sobre temática associada à unidade bacia hidrográfica, cuja
área de estudos se referiu à Região Metropolitana de Goiânia – RMG (MORAIS; ROMÃO, 2009).
A perspectiva proposta no fascículo para a construção de conhecimentos, assentada em
diferentes etapas de problematização, sistematização e síntese (CAVALCANTI, 2014), objetiva
superar a exposição tradicional, na qual o acesso ao conhecimento veiculado em materiais
didático se daria mediante o contato passivo com os conteúdos.
Com essa metodologia é possível problematizar e fazer com que os estudantes compreen-
dam e se sintam inseridos no diálogo a partir de sua realidade, instigando-os, com a ajuda do
material, a mobilizarem suas concepções prévias e realizarem a sistematização do conhecimento
científico, assim como elaborarem uma síntese, na qual construirão sua própria narrativa.
Logo, a partir da realização de debates em torno da estruturação do fascículo, seguiram-se
reflexões acerca dos conceitos abordados, de modo a construir um texto originado a partir do
envolvimento de diferentes segmentos da sociedade, ligados à Educação, não perdendo de vista a
ideia de que isso redundaria em aproximação com a vivência do próprio estudante do ensino básico.
Nessa direção, a utilização do fascículo no ensino gerou experiências diversificadas para
educadores e estudantes do ensino básico; estudantes de graduação e de pós-graduação em
Geografia; e para professores da educação superior, também do curso de Geografia. Estas
foram conhecidas, por meio da realização de oficinas, de Grupo Focal, da utilização do material
didático em sala de aula, e, inclusive por meio de pesquisas e atividades de extensão.
Desta forma, o fascículo foi desenvolvido de modo colaborativo, com o objetivo de con-
tribuir com uma abordagem crítica dos conteúdos que envolvem o tema bacias hidrográficas,
principalmente, no que se refere à necessidade de integrar componentes físico-naturais e
sociais, no espaço geográfico.
Portanto, por meio das diferentes partes que compõem cada uma das sessões do fascí-
culo, situam-se os fundamentos teórico-metodológicos e pedagógico-didáticos, que apresen-
tamos no presente trabalho. A estrutura do fascículo se baseou em quatro seções independentes
que, por sua vez, contém tópicos que norteiam como cada tema será abordado e quais as ati-
vidades estão previstas na seção.
O fascículo está dividido em quatro seções e cada uma delas em cinco subseções. As
seções são: (i) E agora Joaquim?, (ii) Onde o rio faz a curva, (iii) Brincando com água e (iv) A
culpa não é da chuva. A primeira subseção, denominada Converse Comigo, é iniciada com uma
situação-problema, mediante o uso de diferentes linguagens. A ideia é que esta situação-pro-
blema leve o estudante a questionar o que ocorre em seu cotidiano. Já na subseção Traços e
Retratos são apresentadas atividades que os auxiliem a relacionar o conteúdo abordado com a
sua realidade. A subseção Mergulhando no Tema aprofunda essa discussão, trazendo um con-
junto de informações que favorece, junto àquelas já realizadas, a construção de conceitos. Na
subseção O que foi que eu aprendi mesmo? é realizada uma síntese, evidenciando os principais
conceitos e temas tratados nessa seção do fascículo. Na última subseção, intitulada Antenado
com a realidade, são apresentadas diferentes fontes de informação, como sites, filmes, textos,
músicas, jogos entre outros materiais disponíveis, de fácil acesso.
Ao longo do fascículo, objetivou-se que conteúdos e conceitos geográficos fossem desen-
volvidos, utilizando diferentes linguagens e procedimentos metodológicos, em prol da forma-
ção do pensamento geográfico. Desse modo, o presente texto segue a perspectiva de
externalizar conteúdos e conceitos mobilizados durante o planejamento, elaboração e reelabo-
ração do fascículo “Bacias hidrográficas da Região Metropolitana de Goiânia”, possibilitando,
de igual modo, a compreensão de outras realidades.
Figura 1 – Mapas com destaques nas bacias hidrográficas, dos rios (a) Paranaíba e (b) Meia Ponte, (c)
do ribeirão Anicuns e (d) dos córregos Cascavel e Vaca Brava
A análise das bacias hidrográficas apresentadas na Figura 1 (a dos rios Paranaíba e Meia
Ponte, a do ribeirão Anicuns e a dos córregos Cascavel e Vaca Brava) indica que a localidade
onde ocorrem os processos situados no cotidiano do estudante é contemplada, também, no
contexto de bacias hidrográficas de diferentes dimensões. Esse fator nos permite compreen-
der que, ao tratarmos de processos relativos a bacias hidrográficas situadas no cotidiano dos
estudantes, estamos auxiliando-os ao mesmo tempo a entender a sua realidade, bem como
formando conceitos que os possibilitem analisar processos em escalas espaciais distintas do
seu contexto imediato. Isso posto, evidenciamos que os processos são contínuos no tempo e
no espaço, gerando novas formas, tanto em referência a um segmento da vertente, a uma
bacia de contribuição ou a uma bacia hidrográfica (dimensões no espaço), quanto em relação,
por exemplo, à deflagração de uma erosão linear e ao entalhamento de um curso d’água
(embora tenham sua expressão espacial, seus processos associam-se a diferentes dimensões
no tempo). Esse conjunto de componentes confere a cada bacia, uma especificidade, sendo
necessário compreender a sua integração e dinamicidade, dialogando com as dinâmicas sociais.
É na compreensão do espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia que situa-
mos a importância de questionar como tem sido realizada a produção do espaço nessa uni-
dade de análise. Para que esse questionamento faça sentido aos estudantes e contribua para
o desenvolvimento do pensamento geográfico, é importante que a análise em torno da espa-
cialidade de fatos, fenômenos e objetos, esteja assentada em questionamentos sobre o que,
onde e porque nessa localidade, possibilitando o diálogo entre natureza e sociedade, e entre o
local e o global. Portanto, a fundamentação teórico-metodológica aqui apresentada terá sen-
tido para os estudantes, se considerarmos em que medida ela auxilia a compreender a reali-
dade na qual estão inseridos e consequentemente a entender outras realidades, a partir do
diálogo entre totalidade e particularidade.
Se considerarmos que esses conhecimentos, conforme apresentado no início desse item,
são importantes para os estudantes, como podemos mediar essa construção junto a eles?
Conceber os estudantes como sujeitos desse processo; extrapolar os conceitos ora apresenta-
dos a partir da problematização em torno do espaço geográfico; considerar a dinamicidade da
realidade; e entender que a apropriação do espaço se dá de forma desigual; tornam-se ele-
mentos centrais para a fundamentação do diálogo estabelecido entre professores e estudan-
tes na Educação Básica.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi elencado ao longo deste trabalho, ressaltamos que a discussão
metodológica não é específica da escola e/ou do professor, mas perpassa todo sistema educa-
cional. Existem diferentes formas de organizar o conhecimento. Na perspectiva tecnicista, o
professor repassa aos estudantes, de forma meramente expositiva, os conteúdos temáticos,
numa hierarquização professor-aluno, não sendo instigados a correlacionar as informações
com as situações cotidianas nem a desenvolver pensamentos críticos, sendo passivos ao ensino.
É preciso considerar que a metodologia tecnicista tem seus moldes na concepção tradi-
cional de educação, com raízes assentadas na concepção clássica ou escolástica, como aponta
Vasconcellos (1997). Há alguns pontos que reforçam o refletir sobre essa metodologia, em prol
de uma perspectiva mais significativa. Vejamos alguns deles: (i) o aluno possui necessidades e
interesses próprios, cujo percurso não se faz linearmente, necessitando de significação e res-
significação nos processos de aprendizagem; e, (ii) o professor não se configura como o único
sujeito do processo de ensino e aprendizagem, sendo necessário envolver o aluno, mobilizando
seus conhecimentos, motivando-os em direção ao desenvolvimento do pensamento. Dessa
forma, para potencializar a aprendizagem, é importante que sejam utilizadas, em sala de aula,
diferentes metodologias, tendo alunos e professores como sujeitos desse processo.
A mera reprodução de um conteúdo, não se caracteriza como aprendizagem, tratando-
-se de uma atividade mecânica. A escola é um lugar de construção de conhecimentos e não de
repasse de informações, sendo fundamental para o alcance dos objetivos postos a ela, a arti-
culação entre teoria e prática, e entre conhecimentos científicos e cotidianos. Ensinar Geografia
na sala de aula requer que os estudantes reconheçam a sua identidade e pertencimento no
mundo, enquanto sujeitos sociais, entendendo a espacialidade dos fenômenos a partir de fer-
ramentas intelectuais aportadas pelo desenvolvimento do pensamento geográfico. Dessa
forma, assentamo-nos numa perspectiva crítica de ensino, concebendo a escola como lugar da
construção de conhecimentos.
Assim, consideramos que deve perpassar pelas aulas de Geografia, a nossa visão de
mundo, a concepção de Geografia e de aprendizagem, pois ao buscar atingir um objetivo, sele-
cionar um tema ou mobilizar um procedimento para encaminhar o processo de ensino e apren-
dizagem, o que estamos fazendo é explicitar em qual sociedade acreditamos e como podemos
contribuir, a partir da educação dos estudantes, para uma sociedade mais justa e igualitária.
Nesse sentido, podemos utilizar a imaginação para construir uma história inventada e a
partir dela introduzir problemáticas que contribuam para a construção de conceitos geográfi-
cos ligados à bacia hidrográfica, de forma significativa. Visando apresentar possibilidades de
construir conceitos, como os expostos, acreditamos que o uso de filmes, documentários, músi-
cas, fotografias, literatura, teatro, charges, tirinhas, mapas, croquis, desenhos, entrevistas,
maquetes, trabalhos de campo, pesquisas, trabalhos em grupo, entre outros, favorece o desen-
volvimento da aprendizagem.
Portanto, nosso sistema conceitual de bacia hidrográfica deve dialogar com os conheci-
mentos que queremos construir, mobilizando para essa construção, diferentes procedimentos,
que favoreçam o desenvolvimento do pensamento geográfico e, consequentemente, a forma-
ção cidadã dos sujeitos envolvidos nesse processo.
5 REFERÊNCIAS
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MORAIS, E. M. B. de. As temáticas físico-naturais na Geografia escolar. Tese (doutorado). Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Geografia da USP, 2011.
MORAIS, E. M. B. de; ROMÃO, P. A. Bacias hidrográficas da Região Metropolitana de Goiânia. 1. ed. Goiânia:
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SHULMAN, L. S. Conocimiento y enseñanza: fundamentos de La nueva reforma. Profesorado: Revista de
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VASCONCELLOS, C. S. Construção do Conhecimento em sala de aula. 6. Ed. São Paulo: Libertad, 1997.
BACIAS HIDROGRÁFICAS
URBANAS
4.
A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL
DOS RIOS URBANOS
O caso do canal do paracuri em Belém-PA
[ 54 ]
A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DOS RIOS URBANOS 55
the Paracuri channel and the management model designed for the basin in which it is inserted. The
methodological procedures were carried out through the collection of bibliographic data, docu-
ments (available by public agencies), field work and analyzes in the Geographic Information System
– GIS environment. From the data obtained, it was possible to verify that there are planning and
management instruments for the hydrographic basins of the State of Pará, but they are not imple-
mented in their entirety; the macro-drainage works in the Belém hydrographic basins did not
reduce the socio-environmental impacts due to the permanence of flooding and flooding sites, as
well as the increase in subnormal agglomerates in areas of permanent protection. However, in the
study area, the macro-drainage works were stopped and, added to the absence of environmental
public policies, reproduce the effects of the other basins in the municipality.
Keywords: Social and Environmental; urban rivers; Paracuri Channel; Management
1 INTRODUÇÃO
O debate acerca dos recursos hídricos no espaço urbano é imprescindível para uma
melhor gestão das suas bacias hidrográficas, educação ambiental e conscientização da socie-
dade. Pois, é partir de análises das intervenções político-econômico e sociais no processo de
ocupação da bacia hidrográfica que se pode compreender os principais impactos vigentes bem
como possiblidades que busquem minimizar seus efeitos.
Vários aspectos podem ser afetados na bacia hidrográfica quando não há um correto
ordenamento territorial fato que pode ser observado em cidades onde a urbanização ocorreu
de forma acelerada. Nesse contexto, destaca-se a questão hídrica na Amazônia onde a densi-
dade urbana passou a modificar o ciclo hidrológico com a ocupação intensiva e inadequada
gestão gerando conflitos pela água pois, mesmo havendo disponibilidade hídrica na região, há
uma crise decorrente da má gestão dos recursos hídricos, assim como o baixo investimento
financeiro e tecnológico para a ampliação e melhoria dos serviços de abastecimento de água
(BORDALO, 2017).
Os recursos hídricos são diretamente afetados pelo uso e ocupação5 do solo não plane-
jados sem a adequada implementação da gestão na bacia hidrográfica. Tais características
podem ser observadas em Belém/PA principalmente quando se analisa o processo de ocupa-
ção e produção do seu espaço relacionados a influência na e da água pois, historicamente ado-
tou-se em Belém um “modelo de urbanização que transformou cursos d’água em elementos
da drenagem urbana, que sem um sistema de tratamento de esgoto funcionando perfeita-
mente, gerou degradação e poluição ambiental” (MONIQUE, VICTÓRIA E SÂMYA, p. 5, 2020).
Em Belém-Pará a canalização e retificação dos rios ocorreram sem considerar as condi-
ções ecossistêmicas da bacia hidrográfica influenciando nos alagamentos e enchentes. Além
disso, as adversidades vigentes na cidade estão relacionadas ao saneamento básico, às habita-
ções, violência, déficits nos serviços públicos devido, entre outros, à desigualdade socioespa-
cial (GUSMÃO; SOARES, 2018 Apud COSTA et al, 2019), assim como, a perda de áreas verdes e
5 A expressão “uso e ocupação solo” refere-se a densificação, regime de atividades, edificações e parcelamento do solo
que configuram o regime urbanístico
2 METODOLOGIA
Inquietações acerca da questão hídrica na Amazônia deu início à presente pesquisa por
meio de levantamento de dados bibliográficos relacionados à gestão de recursos hídricos no
espaço urbano e a interação da sociedade-natureza sob a análise socioambiental tendo como
recorte espacial e temporal: o canal do Paracuri a partir de 2007 quando houve o projeto de
urbanização pelo Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e de Macrodrenagem.
Relacionando o canal ao contexto das bacias hidrográficas de Belém e o problema de gestão
dos seus rios.
Para isso, também se utilizou dados disponíveis em sites governamentais (Prefeitura de
Belém, IBGE, ANA e SESAN) como notícias e documentos referentes ao projeto de macrodre-
nagem, assim como bases cartográficas para confecção de mapas de localização e temáticos
no software QGIS 3.12.2. Foram utilizadas imagens de satélite por meio de Google Earth e
mapa da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém –
CODEM (2010) sobre bacias hidrográficas de Belém para vetorização. Já o registro do alaga-
mento na Travessa Berredos foi obtido através de verificação em campo no mês de setembro
de 2021, assim como, na figura 7 (Rua Dois de Dezembro), no mês de novembro de 2021.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 A análise socioambiental na Geografia
De acordo com Veiga (2007 apud PINTO, 2015), o emprego do termo socioambiental evi-
dencia a necessidade de buscar compatibilizar as atividades humanas com a manutenção do
ecossistema entendendo que a relação humana com o resto da natureza não pode ser sepa-
rada. Portanto, a geografia busca interpretar a relação sociedade/natureza trazendo uma
abordagem multi e interdisciplinar. Nessa perspectiva, traz uma contribuição muito impor-
tante para a análise da problemática socioambiental, sobretudo, nos espaços urbanos onde a
relação do homem com seu meio ocorre de forma mais intensa.
hidrográfica como unidade de estudo e gestão ambiental visa planejar e executar melhores
formas de apropriação e exploração dos recursos ambientais.
O município de Belém abrange 14 bacias hidrográficas na área continental (Figura 1), de
acordo com a CODEM (2014): a) Reduto; b) Tamandaré; c) Estrada Nova; d) Tucunduba; e) Una;
f) Murucutum; g) Aurá; h) Val-de-cães; i) Mata Fome; j) Ariri; k) Anani); l) Cajé; m) Paracuri; e, n)
Outeiro. O uso e ocupação do solo ocorreram de forma diferente nessas bacias considerando
que a região sul e oeste possui a planície de inundação dos rios e canais mais ocupada em com-
paração com a região norte e leste (COSTA, et al, 2021, p. 10). Portanto, a questão da intensifi-
cação do uso do solo pelo crescimento urbano pode ser observada na forma de ocupação nas
bacias hidrográficas de Belém.
Os aglomerados subnormais surgiram ao norte da Bacia onde estão localizados parte dos
bairros do distrito de Icoaraci enquanto ao Sul se delinearam a partir da malha dos conjuntos
habitacionais o que gerou diversas modificações no curso natural de drenagem devido ao pro-
cesso de aterramento das áreas de várzeas que somado à impermeabilização do solo acarre-
tam problemas relacionados aos alagamentos (BARROS, BRITO e XIMENES, 2016).
As áreas de cumes e zonas intermediárias foram alvos do mercado imobiliário o que con-
solidou os aglomerados subnormais nas áreas de várzea e de preservação permanente. Ainda
assim, o processo de adensamento na bacia vem se intensificando produzindo um espaço
urbano desfavorável para o meio ambiente, modificando a dinâmica do escoamento devido à
remoção da vegetação, como as matas ciliares, e consequentemente comprometendo a quali-
dade da água. Na figura 3, identificam-se aglomerados subnormais na área continental de
Belém e sua concentração nos bairros da bacia hidrográfica do Paracuri.
Nesse contexto, há a problemática da implementação dos instrumentos de planejamento
e gestão dos recursos hídricos em Belém por meio da Lei Estadual n° 6.381de 25 de julho de
2001, que institui a Política Estadual de Recursos Hídricos e regulamenta a gestão do uso da
água (MARTINS, et al, 2020), pois na referida lei destaca-se o princípio de que se deve adotar a
bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão visando os usos múltiplos de forma
sustentável, a descentralização, as interações do ciclo hidrológico e os aspectos socioeconômi-
cos e ambientais da água do território do Pará (SEMA, 2010).
pelo uso dos recursos hídricos; Capacitação, educação ambiental e desenvolvimento tecnoló-
gico; Sistema de informações sobre recursos hídricos e Compensação aos municípios das quais
encontram-se implementadas apenas a outorga pelo uso dos recursos hídrico, a capacitação,
desenvolvimento tecnológico e educação ambiental e o sistema de informações sobre os recur-
sos hídricos (MARTINS, et al, 2020, p. 2437).
Sendo assim, parte desses instrumentos são considerados não implementados ou em pla-
nejamento, situação essa que se reflete nas bacias hidrográficas do município de Belém, pois há
significativa redução da qualidade das suas águas como é o caso da bacia hidrográfica do Paracuri.
De acordo com Costa (et al, 2021), os problemas socioambientais da cidade de Belém mais rele-
vantes estão relacionados à gestão das bacias hidrográficas urbanas. Nesse sentido, a bacia hidro-
gráfica do Paracuri carece de uma boa gestão de seu território, pois apresenta adversidades
sociais e ambientais derivadas da falta do adequado planejamento de uso e ocupação do solo,
bem como a falta implementação integral dos instrumentos de planejamento e gestão.
Além da impermeabilização do solo, há o problema com o controle da poluição e dos ser-
viços de saneamento básico o que compromete a qualidade dos cursos d’água. Assim, é possí-
vel deparar-se com os afluentes dos rios Livramento e Paracuri, sobretudo os que estão mais
adensados pela ocupação urbana e aglomerados subnormais, assoreados e tornando-se em
muitos casos valas e depósitos de lixo.
6 O PAC, criado em 2007 pelo governo federal, visa impulsionar a urbanização, modernização tecnológica e desenvol-
vimento através de grandes projetos e obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética como as obras de
macrodrenagem BRASIL, 2012.
Conforme a SEURB (2009 apud Correa; Silva e Silva 2014), 640 famílias do bairro do
Paracuri foram envolvidas diretamente no PAC e 3735 indiretamente, porém apenas um
pequeno número de famílias em situação de risco foi retirada da bacia e passaram a viver em
casas alugadas e outros foram indenizados pela prefeitura e, através do PAC, em outubro de
2011 a prefeitura municipal juntou-se à Caixa Econômica Federal visando iniciar obra de urba-
nização na bacia do Paracuri.
A macrodrenagem teve como objetivo melhorar as condições de moradia de cerca de
150 mil pessoas que vivem em áreas de invasão de Icoaraci, beneficiar pessoas que sofrem
com problemas de abastecimento e saneamento. Na figura 6, identifica-se o início das obras de
urbanização pela PAC onde houve a construção do conjunto habitacional para o remaneja-
mento das famílias.
Embora algumas das obras existam, como a pavimentação da Rua Dois de dezembro e
habitações que foram criadas no intuito de retirar a população que estava nas várzeas do iga-
rapé, as demais não foram concluídas gerando ocupações irregulares, sobretudo em torno do
canal do Paracuri como se pode observar na figura 7 da situação atual desta área.
Atualmente, o canal vem sofrendo com as práticas da comunidade que residem no con-
junto habitacional como despejo de lixo e esgoto doméstico gerando o assoreamento do rio e
consequentemente influenciando na ocorrência de alagamentos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa permitiu entender que há um modelo de gestão projetado para as bacias
hidrográficas e que está previsto na Política Nacional e Estadual de recursos hídricos onde
determina que deve ocorrer de forma integrada – considerando as fases do ciclo hidrológico,
ecossistema, os usos múltiplos e o desenvolvimento econômico e ambiental -, descentralizada
e participativa. Dentro dessa política existem os instrumentos de planejamento e gestão pen-
sados para o Estado do Pará pela lei 6.381 de 25 de julho de 2001, mas que não estão sendo
integralmente implementados.
Além disso, no modelo de gestão para os rios urbanos belenenses foram criados obras e
projetos de micro e macrodrenagem que não conseguiram sanar os problemas sociais e
ambientais como observou-se com a sua implementação na porção sul da cidade onde, nas
bacias hidrográficas, permaneceram a situação de precariedade, uso intensivo do solo com
adensamento e sua impermeabilização o que se refletiu no alagamento e inundações enquanto
que nas bacias da porção norte essas obras não ocorreram intensivamente, mas que também
apresentam significativas mudanças devido a periferização de suas áreas caracterizada pelos
aglomerados subnormais em locais de várzea.
Os projetos de micro e macrodrenagem envolvem a canalização e retificação dos rios
urbanos que, no caso de Belém, possuem muitas deficiências tendo em vista que não se con-
segue conciliar a qualidade de vida da população com a qualidade do corpo hídrico como pôde
ser observado para o modelo de gestão pensado para a bacia hidrográfica do Paracuri.
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Resumo: A cidade de Montes Claros-MG caracteriza-se como uma cidade média que, principal-
mente a partir da década de 1990, apresentou alto índice de crescimento urbano, se configurando
como um grande e importante polo de referência regional. Este crescimento rápido ocasionou a
ocupação indevida de áreas próximas aos canais fluviais, acarretando um alto índice de exposição
da população aos fenômenos hidrológicos. Sendo assim, o objetivo deste trabalho consiste em
discutir a correlação entre os parâmetros morfométricos obtidos na bacia do rio Vieira com o pro-
cesso de inundação na cidade de Montes Claros-MG. As etapas de execução do trabalho foram
organizadas em três eixos de desenvolvimento: o eixo i) delimitação da bacia hidrográfica e mapea-
mento da rede hidrológica; eixo ii) extração dos parâmetros morfométricos e eixo iii) análise da
correlação dos dados morfométricos com o processo de inundação. A extração e análise das variá-
veis morfométricas indicaram, em geral, baixo grau de correlação entre a morfometria da bacia
com os eventos de inundações. Através desta informação pode-se inferir que outras variáveis de
análise podem estar relacionadas as causas do processo de inundação.
Palavras-chave: Inundação; Bacia Hidrográfica; Morfometria.
Abstract: The city of Montes Claros-MG is characterized as a medium-sized city that, mainly from
the 1990s onwards, presented a high rate of urban growth, configuring itself as a large and impor-
tant center of regional reference. This rapid growth caused the undue occupation of areas close to
river channels, resulting in a high rate of exposure of this population to hydrological phenomena.
Therefore, the objective of this work is to discuss the correlation between the morphometric para-
meters obtained from the Vieira River basin with the flooding process in the city of Montes
Claros-MG. The stages of execution of the work were organized into three development axes: axis
i) delimitation of the hydrographic basin and mapping of the hydrological network; axis ii) extrac-
tion of morphometric parameters and axis iii) analysis of the correlation of morphometric data
with the flooding process. The extraction and analysis of the morphometric variables indicated, in
general, a low degree of correlation between the morphometry of the basin and the flood events.
[ 67 ]
68 João Vitor Ferreira Fernandes
Through this information, it can be inferred that other analysis variables may be related to the cau-
ses of the flooding process.
Keywords: Inundation. Hydrographic basin. Morphometry.
1 INTRODUÇÃO
A partir das décadas de 1980 e 1990 tem se um processo de grande crescimento das cida-
des médias, que passaram a atrair grandes parques industriais, aumentando o potencial de gera-
ção de emprego destas cidades. Esse processo desencadeou uma série de transformações destas
cidades, que ficaram marcadas, principalmente, pelo rápido e, muitas vezes, desordenado cresci-
mento urbano, se notabilizando como novos polos de referência regional, com o aumento da
oferta principalmente de serviços relacionados a saúde, educação e comércio, mas também o
desenvolvimento industrial, contribuindo para o aumento da oferta de empregos.
Montes Claros se encaixa dentre essas cidades, que a partir das décadas de 1980 e 1990
passaram por um rápido processo de urbanização que, assim como outras cidades, não tive-
ram um planejamento na expansão da malha urbana. Sendo assim, ocasionou-se a ocupação
de áreas propícias a ocorrência de eventos como inundações, alagamentos e enchentes. Os
trabalhos de Leite e Pereira (2008) corroboram com esta afirmação, ao passo que destacam
que o crescimento de Montes Claros ocorreu de forma rápida e intensa, com ênfase nas regiões
adjacentes ao distrito industrial.
Neste contexto, o rio Vieira e seus afluentes estão intrinsicamente associados ao desen-
volvimento do centro urbano de Montes Claros, ao passo que nos primórdios da cidade a pro-
ximidade aos cursos fluviais compunha a base econômica local, muito associada a dinâmica
agropecuária. Contudo, observa-se hodiernamente, que as áreas próximas ao rio Vieira repre-
sentam regiões de alto poder aquisitivo e com índice de valorização do solo urbano, dentre as
quais podemos destacar os bairros Morada do Sol, Ibituruna, Melo, Todos os Santos, Jardim
São Luiz, Vila Mauricéia e Centro, em conformidade com Costa e França (2019).
Tal processo ocasionou, dentre outros fatores, o processo de canalização dos rios, bem
como o aumento da impermeabilidade do solo que, junto com a canalização e retificação dos
cursos d’água que passam pelo perímetro urbano de Montes Claros, podem aumentar a sus-
ceptibilidade à formação de inundações nas proximidades dos canais. Devido ao aumento
populacional da cidade nas últimas décadas, o número de habitantes que podem ser atingidos
por esses eventos também aumenta, configurando um risco para a população.
Christofoletti (1980) enfatiza a importância da bacia hidrográfica enquanto unidade
funcional, sendo que seu comportamento é regido pela integração das características fisio-
gráficas (topografia, geologia, geomorfologia, pedologia, dinâmica climática e disposição
vegetacional). O autor salienta ainda que a bacia hidrográfica pode ser entendida como uma
unidade de análise ambiental em razão de possibilitar uma visão integrada a respeito de seus
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
Montes Claros situa-se na mesorregião do Norte de Minas, entre as coordenadas 16º 04’
57” e 17º 08’ 41” de longitude sul e 43º 41’ 56” e 44º 13’ 01” de longitude oeste, conforme
exemplificado na Figura 1 – Do ponto de vista climático, o município compreende o tipo climá-
tico Tropical Subúmido úmido, mais próximo ao limite do Subúmido seco, caracterizado essen-
cialmente pelos períodos de chuvas concentradas entre os meses de outubro a março, enquanto
que o período de estiagem compreende o intervalo dos meses de junho a agosto. A precipita-
ção média anual está em volta dos 1.080 mm, enquanto a temperatura média anual é de
24,2°C. (NIMER; BRANDÃO, 1989).
A bacia do rio Vieira encontra-se totalmente inserida dentro do município de Montes
Claros, sendo um importante afluente da margem esquerda do rio Verde Grande, que por sua
vez é afluente da margem direita do rio São Francisco. O autor destaca ainda que a nascente
do rio se situa a oito quilômetros do perímetro da cidade, na Fazenda Vieira, nas coordenadas
43°56’04” Oeste de longitude e 16°47’22” Sul de latitude, conforme destacado na Figura 1.
Para a extração e mapeamento dos canais fluviais foi utilizado o processo de vetorização
dos canais fluviais com base nas imagens obtidas através do programa Google Earth. Em
seguida os dados obtidos foram comparados e validados com o mapeamento elaborado por
Leite e Rocha (2016).
O eixo ii por sua vez, foi responsável pela extração dos parâmetros morfométricos. O pri-
meiro parâmetro a ser extraído foi a Hierarquia Fluvial (Hf), com base na classificação apresen-
tada por Strahler (1952), definindo os canais de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem. Posteriormente foi
extraída a Densidade de Drenagem (DD), Fator de Forma ( kf), Índice de Circularidade (IC),
Índice de Sinuosidade (IS), Área (A), Amplitude Altimétrica(∆A), Relação de Relevo (RR),
Declividade (D), Índice de Rugosidade (IR) e a Relação entre os gradientes dos canais (Rgc).
O eixo iii: destinou se a compreensão das variáveis morfométricas da bacia do rio Vieira e
sua correlação com o processo de inundação, com base na referência metodológica utilizada.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre 2005 e 2018 foram contabilizadas um total de 587 ocorrências, englobando enxur-
radas, inundações e alagamentos. Com base nos dados observados por Rodrigues (2020) os
anos de 2006, 2008, 2012 e 2013 apresentaram maior incidência de eventos, sendo que o
último contabilizou 167 ocorrências. A pesquisa supracitada destacou que a ocorrência desses
eventos está intrinsicamente ligada aos altos índices pluviométricos, sendo que os anos com
maior quantidade de chuva tem-se maior ocorrência destes fenômenos.
Acerca da hipsometria da bacia do rio Vieira observa– se que ela possui uma amplitude
altimétrica (∆A) de 474 metros, sendo que o ponto de menor altitude situa-se a 564 metros de
altitude, ao passo que o ponto mais elevado está situado a 1038 metros. Através da análise do
mapa hipsométrico destacado na Figura 2 – Mapa de Declividade e Hipsometria da bacia do rio
Vieira/ Montes Claros-MG -, observa-se que as áreas na proximidade do curso principal são as
que possuem as altitudes com menor índice de elevação. Os trabalhos de Leite e Rocha (2016)
enfatizam que cerca de 83% da bacia situa-se entre as classes de 600 a 900 metros.
Através da análise dos indicadores de declividade (G) observados na figura 2, foi possível
observar que cerca de 90% da bacia do rio Vieira possui percentual de declividade inferior a
20%, representando assim características de relevo predominantemente plano, suave ondu-
lado e ondulado, em consonância com a tabela 1, disponibilizada pela Embrapa (2009).
A relação de relevo (Rr) indicou um índice de 14,11 m/km, para a extração deste índice
tem-se por base o relevo da bacia e o seu comprimento. Juntamente com a declividade e ampli-
tude altimétrica fornecem importantes informações acerca da dinâmica do relevo, que influem
diretamente na dinâmica hidrológica, possibilitando maior ou menor volume de água no canal.
A densidade de drenagem (Dd) foi inicialmente apresentada por Horton (1945) e expressa
a relação entre o comprimento total dos cursos d’água de uma bacia e sua área total. Sendo
assim, conforme Barros et al. (2014) maiores índices de densidade de drenagem indicam que o
escoamento superficial originado pela água da chuva chegará mais rapidamente ao exutório da
bacia, podendo gerar altos picos de vazão o que favorece os fenômenos de enchente e inunda-
ção. A Tabela 2 – Classes da densidade de drenagem – explana as classes de densidade de dre-
nagem, podendo organizar as classes que indicam maior densidade de drenagem e sua relação
com o processo de inundação.
Classes Caracterização
5,0 km/km² Baixa
5,0 – 13,5 km/km² Média
13,5 – 155,5 km/km² Alta
> 155,5 km/km² Muito alta
Fonte: Silva (2012).
A densidade de drenagem observada foi de 0,5 km/km², o que assinala que área da bacia
pode ser considerada uma área pouco drenada. Como destacado anteriormente os valores de
densidade de drenagem mais elevados caracterizam bacias com tendência a maior ocorrência de
inundações. Logo com base no dado obtido pode-se inferir um baixo grau de correlação entre o
parâmetro da densidade de drenagem com a ocorrência de inundação na bacia do rio Vieira.
No que tange a área (A) da bacia, foi constatado uma área de 582,3 km², este parâmetro
indica a medida de toda a região drenada da bacia. Brubacher et al. (2011) enfatiza que quanto
maior a área, maior volume de água passará pelo exutório, incrementando o efeito a jusante
da bacia e ao mesmo tempo diminuindo a possibilidade de cheias no interior da bacia. Este
parâmetro, por influir diretamente no ponto de ocorrência do evento possui baixa correlação
com o processo de inundação na cidade, ao passo que o perímetro urbano da área de estudo
concentra-se na parte central da bacia, sofrendo assim pouca influência deste fator.
O fator forma (Kf) compreende a relação entre a área da bacia e o quadrado de seu com-
primento axial. Mede-se o comprimento axial da bacia (L) quando se segue o curso d’água mais
longo desde a foz até a cabeceira mais distante. Sendo assim este parâmetro utiliza-se do for-
mato da bacia para entender a sua dinâmica e desenvolvimento.
O fator forma (Kf) observado na bacia do rio Vieira foi de 0,52 (vide Tabela 3), podendo
ser encaixado com susceptibilidade mediana ou baixa. Esta variável indica que o perfil da bacia
é mais alongado o que faz com que em períodos de alta pluviosidade o escoamento superficial
seja potencializado e a maior concentração de água não ocorra no interior da bacia, mas sim
nas áreas próximas ao ponto de menor altitude da bacia.
O índice de circularidade (Ic) Proposto por Miller (1953) e citado por Strahler (1957) apre-
senta a relação entre a área total da bacia e a área do círculo de mesmo perímetro. O valor
máximo encontrado é 1,0, quando o perímetro da bacia corresponder ao perímetro do círculo.
A tabela 4 apresenta as classes de análise do (Ic) com o potencial de escoamento superficial.
O índice de circularidade obtido para a bacia foi de 0,35, sendo assim quanto mais circu-
lar for a bacia maior a capacidade de retenção de água aumentando a possibilidade de enchen-
tes no interior da bacia e diminuindo os efeitos a jusante (ALVES; CASTRO, 2003). Deste modo,
o baixo índice de circularidade obtido compactua com os dados obtidos para o fator forma, em
O valor referente ao Is do canal principal da bacia do rio Vieira foi de 1,6, sendo assim
encaixado como canais sinuosos. Logo, entende-se que a sinuosidade dos canais possibilita
maior concentração de água no interior da bacia, ao passo que diminuem o potencial de escoa-
mento superficial.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na bibliografia analisada foi possível compreender que os fenômenos de cunho
hidrológico que atingem a cidade de Montes Claros não são estritamente de inundações, mas
sim contemplam outros eventos como os alagamentos, enxurradas e cheias. Com a obtenção
dos dados gerais sobre a dinâmica populacional e urbanização da área de estudo, fica evidente
o alto índice de periculosidade que tais eventos podem representar para a população, necessi-
tando serem estudados em suas raízes para mais bem tomada de decisão no que tange a miti-
gação dos danos provocados.
O padrão de urbanização observado na cidade de Montes Claros condiz com a dinâmica
observada em outras cidades médias, as quais a partir da década de 1990 passaram por um
rápido e desordenado processo de urbanização, fruto do processo de descentralização das
grandes metrópoles e constituição de subcentros regionais que passaram a ofertar um grande
leque de serviços. Este fator propiciou o rápido processo de urbanização e consequente aden-
samento populacional, resultando na ocupação inadequada de áreas susceptíveis á inunda-
ções, assim como as enxurradas e alagamentos.
A extração e análise das variáveis morfométricas indicaram. em geral, baixo grau de cor-
relação entre a morfometria da bacia com os eventos de inundações. Através desta informação
pode-se inferir que outras variáveis de análise podem estar relacionadas as causas do processo
de inundação. Dentre estas variáveis podemos destacar a ocupação inadequada das planícies
de inundação, áreas que naturalmente são expostas a inundações nos períodos de alto índice
de pluviosidade, assim como as obras públicas de canalização e retificação dos canais fluviais
discutidos por Cajazeiro (2011), que influem diretamente na dinâmica natural do curso fluvial
impactando essencialmente a análise acerca do índice de sinuosidade.
As variáveis analisadas neste trabalho podem servir de embasamento para futuros estu-
dos sobre este processo na área ou em outros locais, oferecendo suporte para a gestão e
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Resumo: A cobertura da terra urbana especialmente nos grandes centros constitui-se um ele-
mento complexo e que interfere diretamente no funcionamento hidrológico da bacia hidrográfica
analisada. Um dos exemplos mais claros dessas interferências são as taxas de escoamento super-
ficial da água, que continuamente se veem ampliadas, ocasionando assim, diversos problemas nos
grandes centros. O objetivo desse trabalho é acompanhar temporalmente a cobertura da terra na
bacia hidrográfica considerando seus reflexos no escoamento superficial. Assim, foram utilizados
dados de sensoriamento remoto e técnicas de classificação de imagens, conjugados com metodo-
logias de obtenção dos fluxos superficiais por meio de modelos digitais de elevação e equações
conhecidas no meio hidrológico. Os resultados apontam que a cobertura da terra se antropiza,
sendo convertida fortemente em classes como, áreas edificadas e superfícies pavimentadas e o
tempo de concentração do escoamento superficial se reduz além de setores específicos da bacia
hidrográfica apresentarem um aumento dos fluxos de escoamento superficial.
Palavras-chave: Hidrologia de superfície; Bacia hidrográfica urbana; Coeficiente de escoamento
superficial.
Abstract: The urban land cover, especially in large centers, constitutes a complex element that
directly interferes with the hydrological functioning of the analyzed hydrographic basin. One of the
clearest examples of these interferences are the water runoff rates, which are continuously increased,
thus causing several problems in large centers. The objective of this work is to temporally monitor
the land cover in the hydrographic basin considering its effects on surface runoff. Thus, remote sens-
ing data and image classification techniques were used, combined with methodologies for obtaining
surface flows through digital elevation models and equations known in the hydrological environ-
ment. The results show that the land cover is anthropized, being strongly converted into classes such
as built-up areas and paved surfaces and the time of concentration of runoff is reduced, in addition
to specific sectors of the watershed presenting an increase in runoff flows.
[ 79 ]
80 Rodrigo Lima Santos; Joelson de Souza Passos; Fabrizia Gioppo Nunes
1 INTRODUÇÃO
De modo geral as cidades, nas últimas décadas experimentaram um grande crescimento.
Esse fenômeno se intensificou bastante especialmente nas regiões metropolitanas e suas adja-
cências, como no caso de Goiânia (NASCIMENTO e OLIVEIRA, 2015). Pressionada por uma
demanda crescente, a terra urbana, especialmente a partir dos anos 2000, passa a ser um ativo
importante no equacionamento dos problemas ambientais, notadamente aqueles que envol-
vem diretamente as bacias hidrográficas e seu funcionamento hidrológico. O presente traba-
lho, é um recorte da tese de doutorado do primeiro autor, a ser defendida no programa de
pós-graduação em geografia do IESA-UFG, ainda em 2021, portanto torna-se indispensável a
consulta ao trabalho completo, para entender de maneira mais ampla, aspectos da metodolo-
gia utilizada.
Dentre os problemas mais comuns, em Goiânia, ocorrem anualmente os alagamentos e
não muito raras as inundações e enxurradas, como pontuada Guerra e Zacharias (2015) estes,
são problemas decorrentes de processo antrópicos como a permeabilização da terra, do rápido
escoamento superficial e da ineficiência dos equipamentos de drenagem urbana. O presente
trabalho justifica sua importância pela tentativa de contribuir com a espacialização da capaci-
dade de escoamento superficial de uma bacia urbana do município de Goiânia. Uma vez que,
desenvolvendo temporalmente essa avaliação da capacidade de escoamento superficial, estão
postos os parâmetros necessários para uma melhor gestão do espaço e abertas as possibilida-
des de intervenção para mitigação dos potenciais impactos.
No âmbito das pesquisas em modelagem hidrológica e aspectos correlatos, alguns estu-
dos têm sido realizados em GOIÂNIA-GO e região metropolitana, sob diversas subáreas da
hidrologia e, em diferentes perspectivas (ALMEIDA DE OLIVEIRA et al., 2016; ALVES et al., 2011a,
2011b; ARGOLO; DELLA GIUSTINA, 2016; CARVALHO, 2008; LINO, 2013; NASCIMENTO, 2019;
NAYDA, 2013; OLIVEIRA et al., 2012; OLIVEIRA; VESPUCCI, 2015; PEREIRA, 2015; REGO, 2015;
REGO; BARROS, 2014; SANTOS, 2015, 2010, 2012; SANTOS; LEMES; SANTOS; ROMÃO, 2009,
2010; SEIBT, 2013; SOUZA; CRISPIM; FORMIGA, 2012).
Especificamente sobre a hidrologia de superfície e considerando o escoamento superfi-
cial como parâmetros, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos, dentre eles encontram-se
aqueles realizados por Nunes (2012) onde a autora avalia a capacidade permeável do solo
urbano da bacia hidrográfica do Ribeirão Anicuns e o estudo de Nunes e Borba (2018) por meio
do qual os autores avaliam os efeitos do adensamento urbano na dinâmica hidrológica da bacia
do Córrego Tamanduá, no município de Aparecida de Goiânia. Em seguida, pode-se apreciar
alguns aspectos sobre a bacia hidrográfica, seguidos pelo procedimento metodológico e resul-
tados do trabalho.
Silva et al., (2019) avaliam que suas áreas de recarga ainda conseguem desempenhar um
papel hidrológico satisfatório, quando consideradas a presença de áreas de infiltração. Sua
urbanização é predominantemente horizontal, porém ocorre a presença de espaços com pre-
sença de vegetação, que variam de gramíneas até vegetação arbórea. Seus solos são compos-
tos predominantemente por áreas de latossolo vermelho, especialmente no topo das vertentes
e cambissolos nas médias vertentes, além dos neossolos flúvicos em associação com gleissolos
em seus canais de drenagem. Sua hipsometria varia entre 775 m e 887 m de atitude, sendo
composta por declividades em suas rampas que variam no máximo até 27,6 %, com especial
predominâncias das áreas de declividade até 4,3%.
2 METODOLOGIA
2.1 Mapeamento de cobertura da terra
O procedimento de classificação foi executado a partir das fotografias aéreas reamostra-
das para 1 metro de resolução espacial, para os anos de 2002, 2006, 2011 e 2016. O ano de
2020, foi mapeado por meio de imagens do Google Earth Pro, baixadas e reamostradas para a
resolução compatível. Posteriormente utilizou-se o algoritmo Segment Mean Shift, presente na
versão 10.6.1 do ArcMap, sob licença estudantil, com a finalidade de reduzir/homogeneizar os
detalhes espectrais internos das classes.
As tipologias das classes de cobertura da terra, foram definidas tendo em mente dois
aspectos fundamentais, a finalidade da classificação e a resolução disponíveis. Portanto, pensar
o aspecto hidrológica da classe dentro do funcionamento do sistema ambiental que é a bacia
hidrográfica e se a resolução disponível permitia realizar essa distinção, foram duas preocupa-
ções eminentes, de modo que foram selecionadas 9 classes, espacializadas na Figura 2 – De posse
das imagens e da chave de classificação, foram gerados os arquivos de assinaturas espectrais,
estas foram separadas de modo automático em um total de 30 classes diferentes, podendo estas
serem consideradas amostras de treinamento coletadas de modo automático pelo SIG.
Em seguida, de posse das assinaturas espectrais foi aplicado o método de classifica-
ção Maximum Likelihood Classification, neste o classificador assume que a imagem é com-
posta por pixels distribuídos e calcula a probabilidade de um determinado pixel pertencer
a uma das classes delimitadas. Posteriormente as classes geradas passaram por processo
de enquadramento na chave de classificação estabelecida, eliminação de ruídos e inspe-
ção visual, respectivamente.
Anos mapeados
Bacia Acurácia média
2002 2006 2011 2016 2020
Bacia do Alto
córrego 0.86 0.76 0.72 0.88 0.85 0.81
Macambira
Fonte: Produzido e organizado pelo autor (2020).
Equação (10)
Onde:
C = coeficiente de escoamento superficial, adimensional.
P = precipitação considerada, em mm
S = coeficiente de infiltração, em mm
relação com a figura anterior, nota-se uma intencionalidade em recobrir as áreas de recarga
das nascentes, fato corroborado hoje, pelo atual estágio de implantação de diversos empreen-
dimentos de habitação vertical na alta bacia e terrenos já preparados com essa finalidade.
Outro ponto característico da cobertura diz respeito as gramíneas compactadas, inclusive cor-
roborando com os argumentos anteriores, pois essas sofrem uma redução.
As Figuras 6 (a) e (b), revelam respectivamente aspectos das áreas permeáveis na região
das cabeçeiras da bacia hidrográfica. Neste caso, tratando-se especificamente da área de pre-
servação do Parque Linear do Córrego Macambira, projeto de revitalização executado pela
prefeitura de Goiânia e que tem servido como elemento indutor de uma estratégia de ocupa-
ção e valoração imobiliária da região (SILVA et. al. 2019).
Figura 6 – Aspectos naturais na bacia. (a) área próxima à nascente do Córrego Macambira; (b) formações
florestais e savânicas de cerrado na APP do Córrego Macambira
Figura 7 – Conversão de classes de cobertura permeáveis para classes com permeabilidade reduzida.
a) período 2002/2011; b) período 2011/2020
É notório o aumento das áreas com predisposição à amplificação dos fluxos superficiais,
essas áreas localizam-se especialmente na bacia e média bacia, fato que contribui para a redu-
ção do tempo de concentração na bacia. As regiões menos susceptíveis ao escoamento super-
ficial, embora já não tenham mais sua plena capacidade realizar infiltração da água, uma vez
que os lotes/quarteirões, localizados na alta bacia e áreas de recarga, não estejam construídos
ou recoberto por coberturas urbanas, estes encontram-se compactados e na sua maioria
expostos, fato que eleva a carga de sedimentos, agravando potencialmente problemas de
inundações e alagamentos urbanos.
Os valores de áreas do fatiamento de classes realizado, pelo método das quebras natu-
rais da bacia, exibem os valores mais elevados concentrados a partir das maiores faixas de
escoamento superficial, 0,23 a 0,58 até 0,94. As faixas 1 e 2 exibem os menores valores de refe-
rência em todos os anos e ambas com tendências de queda. As faixas 3 e 4, concentram os
maiores valores percentuais em área, 65, 46 e 54% do total de área da bacia, respectivamente
nos anos de 2002, 2011 e 202l além disso são tendências diametralmente opostas, uma repre-
sentando acessão e outra, com os valores mais elevados mostrando recessão.
A faixa 5, representada por valores entre 079 – 0,94, apresentam valores com tendência
de elevação em relação ao ano de 2002. Em 2020, o valor do coeficiente de escoamento super-
ficial cai, mas no geral se mantem no patamar alto, podendo ampliar-se nos próximos anos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cobertura da terra se antropiza, pois é convertida fortemente em classes como, áreas
edificadas e superfícies pavimentadas, classes de cobertura sempre lembradas como de pri-
meira ordem no que diz respeito a alterações no funcionamento hidrológico da paisagem.
Seguindo a tendência as áreas com capacidade permeável reduzida ampliam-se bastante no
período analisado, esses dois fatores desencadeiam um cenário bastante propício para o
aumento dos fluxos de escoamento superficial e problemas advindos, como carreamento de
sedimentos, alagamentos, enchentes e enxurradas urbanas. O tempo de concentração do
escoamento superficial é outro parâmetro que inegavelmente se reduz, nesse sentido a água
vai levar um tempo menor para atingir o exutório da bacia, que por sua vez irá receber volumes
cada vez mais expressivos de água.
O projeto do Parque Linear Macambira Anicuns é um elemento importante para a paisa-
gem, pois desempenha um importante papel de amortecimento dos fluxos no canal principal
e manutenção das áreas de preservação permanente. No entanto, estudo mais aprofundados
necessitam ser realizados a respeito da efetividade do ponto de visto hidrológico dessas áreas
e até que ponto elas conseguem desempenhar sua função perante a pressão hidrológica cau-
sada pela ampliação das coberturas urbanas adjacentes, incluindo as urbanizações verticais.
O reconhecimento e análise da cobertura da terra urbana pode ser um parâmetro para
melhoria da gestão dos fluxos superficiais e mitigação dos desastres urbanos, na medida em
que possibilita a realização de modelagens e intervenções a fim de recuperar a capacidade per-
meável da bacia nos pontos mais críticos. Análises mais acuradas em precisam ser realizadas
em todos os pontos acima ressaltados, pois este ensaio tem o objetivo de ser uma aproxima-
ção da temática.
5 REFERÊNCIAS
ALMEIDA DE OLIVEIRA, F. et al. Determinação do Limite da Faixa de Inundação com Uso do Hec-Ras Para o
Parque Linear do Córrego Macambira em Goiânia, Goiás. Revista Eletrônica de Engenharia Civil, v. 11, n. 1, p.
57–66, 2016.
ALVES, P. R. et al. Avaliação da Impermeabilização do Solo na Área Urbana em Goiânia. XV Simpósio Brasileiro
de Sensoriamento Remoto, p. 4752–4759, 2011a.
ALVES, P. R. et al. Avaliação de imagens orbitais para o mapeamento de áreas urbanas impermeabilizadas.
Anais do XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, p. 1–21, 2011b.
ARGOLO, E. D.; DELLA GIUSTINA, C. C. Simulações e Modelagem Hidrológica de Microbacia Urbana para
Previsão de Inundações: o caso do rio das Antas na cidade de Anápolis-GO. Fronteiras: Journal of Social,
Technological and Environmental Science, v. 5, n. 3, p. 252, 2016.
Resumo: Localizada na região central do Rio Grande do Sul, ao extremo sul do Brasil, Santa Maria
é um município de porte médio, que sofreu com sua colonização baseada no conceito antinatura-
lista. Como consequência, a rede de drenagem inserida no perímetro urbano experienciou gran-
des alterações e o uso e cobertura do solo nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) hídricas
não está de acordo com a legislação federal, estadual ou municipal. A falta de cobertura vegetal e
ocupação destas APPs preconiza a formação de áreas de risco, potencializando a formação de
eventos de deslizamentos de terra ou enchentes. Deste modo, o objetivo deste estudo é verificar
a situação de APPs de recursos hídricos urbanos em Santa Maria. Para isso, foi realizado o mapea-
mento do uso e cobertura do solo nas APPs dos principais cursos d’água. Notou-se que um terço
das APPs hídricas urbanas municipais contém formações florestais nativas, no entanto uma área
de, aproximadamente, 550 campos de futebol já foi impermeabilizada por estruturas urbanas nas
APPs, sendo este, um quadro irreversível da paisagem. Sugere-se ao poder público que possa
atuar junto aos pesquisadores das universidades do município para a realização do mapeamento
de áreas prioritárias à conservação hídrica e implementação de um planejamento para a recupe-
ração das APPs, bem como possam inserir esta pauta nas mídias sociais e televisivas locais, como
ferramenta educativa informal.
Palavras-chave: Uso e cobertura do solo; Mata Atlântica; Área urbana, Rede de drenagem.
Abstract: In the central region of Rio Grande do Sul, in the extreme south of Brazil, is located Santa
Maria, a medium-sized city, which suffered with its colonization based on the anti-naturalist con-
cept. As a consequence, the drainage network of the city has undergone major changes, as well as
the land use and coverage in the Permanent Preservation Areas (APPs) for hydrographic resources
is not in accordance with federal, state or municipal legislation. The lack of vegetation cover and
occupation of these APPs profess the formation of risk areas, boosting the formation of landslide
or flood events. Thus, the present study objective is to verify the situation of hydrographic urban
APPs in Santa Maria. For this purpose, the mapping of land use and coverage was executed in the
[ 92 ]
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COMO JUSTIFICATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 93
APPs of the main watercourses. It was noticed that one third of the municipal urban hydrographic
APPs contains native forest formations, however an area of approximately 550 soccer fields has
already been impermeable by urban structures in the APPs, which is an irreversible landscape pic-
ture. It is suggested that the government can work with researchers from the city universities to
map priority areas for water conservation and implement planning for the recovery of APPs, as
well as inserting this agenda in local social media and television, as an informal educational tool.
Keywords: Land use and coverage; Atlantic Forest; Urban area; Drainage network.
1 INTRODUÇÃO
Localizada no “coração” do Rio Grande do Sul, estado ao extremo sul do Brasil, a cidade
de Santa Maria traz consigo um problema ambiental originado na sua colonização. Os primei-
ros citadinos se apropriaram da ideia de natureza associada ao antinaturalismo pós Revolução
Industrial, ou seja, a ideia de natureza presente é a natureza racionalizada e construída. Esta
concepção ocasionou uma devastação de vegetação dos Biomas Pampa e Mata Atlântica na
área onde, atualmente, é localizado o Distrito Sede municipal, gerando carência de cobertura
vegetal e desrespeito à hidrografia nesta localidade, o que influencia na construção do pensa-
mento ambientalista dos cidadãos.
Dentro da paisagem urbana, os conflitos entre homem e natureza se mostram agravados
e expostos. Consegue-se evidenciar mudanças na dinâmica da paisagem, associadas a dinâmi-
cas territoriais, incidindo em consequências para a própria natureza (MORERA et al., 2007) e
para o ser humano, como problemas de alagamentos, deslizamentos, mudanças no micro-
clima, qualidade e quantidade de água potável, ou seja, perda da qualidade de vida.
Santa Maria sempre exaltou suas belezas naturais e seus músicos sempre citam os mor-
ros em seu entorno, ao comporem músicas sobre o município. Estes morros situam-se predo-
minantemente ao Norte municipal e fazem parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
(RBMA), selo da UNESCO, que teve sua última fase de implantação em 2018 (Fase VII), sendo
abrangida por áreas de Zona Núcleo, de Transição e Amortecimento. Neste mesmo ano, o
último Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental vigente de Santa Maria, é san-
cionado, que reconhece o município como o “Portal Sul da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica”, e prevendo um Programa de Desenvolvimento Ecoturístico e de Educação Ambiental,
que visam implementar um Circuito Turístico da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um
Trem Turístico, capacitar a população para empreendimentos turísticos e sensibilizá-la quanto
à importância da Educação Ambiental (SANTA MARIA, 2018a).
O Plano Diretor traça objetivos e diretrizes da Política de manejo de recursos hídricos
municipal, sendo relevante destacar alguns como: a reutilização de água para fins não potáveis,
a busca da sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental das Bacias Hidrográficas
Vacacaí, Vacacaí-Mirim e Ibicuí, mananciais, que abastecem o Município, através da participa-
ção nos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica, aprimorar a gestão integrada dos
recursos hídricos; difundir políticas de conservação do uso da água e de proteção das matas
ciliares, recuperar áreas degradadas, principalmente de nascentes para melhoria quali-quanti-
tativa dos recursos hídricos, entre outros igualmente relevantes.
Do mesmo modo, há valorização no planejamento quanto ao patrimônio ambiental
municipal na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Santa Maria (LUOS) (SANTA MARIA, 2018b), que
delimita as Áreas Especiais Naturais municipais. Estas, são divididas em “Áreas de Conservação
Natural” e em “Áreas de Preservação Permanente”. Neste estudo, o enfoque é dado às APPs
segundo o conceito do Código Florestal Brasileiro, que inclui ambas as classificações de Áreas
Especiais Naturais de Santa Maria da LUOS.
Estes cursos d’água são protegidos pela LUOS (SANTA MARIA, 2009) e pelo Código
Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012) que prevê a destinação de 30 metros em cada lado da
margem para APP em cursos d’água de até 10 metros de largura – que é o caso dos rios que
atravessam a cidade – e o raio de 50 metros nas nascentes destes. A LUOS divide duas classes
de conservação de recursos naturais municipais: as APPs e as Áreas de Conservação Natural.
As APPs, conforme a LUOS, são áreas com inclinação igual ou superior a 45º, topos de mor-
ros, cursos d’água e suas margens contendo ou não matas de galeria, áreas vegetadas ou não no
entorno de nascentes, como forma de proteger a água, o solo e toda ou qualquer cobertura vege-
tal com características originais da paisagem. Todos os mananciais hídricos constituídos por suas
margens e matas ciliares e qualquer tipo de vegetação natural se incluem nesta categoria, sendo
que esta segue a legislação ambiental vigente, no caso, o Código Florestal Brasileiro.
A APP hídrica exclusiva da LUOS é a Barragem do Vacacaí-Mirim, uma área que com-
preende um dos reservatórios artificiais de água que abastece Santa Maria e sua respectiva
margem com largura mínima de 30 metros (trinta metros), em projeção horizontal, no entorno
do reservatório, medida a partir do nível máximo normal e conforme legislação vigente espe-
cífica. Neste mesmo reservatório, há uma faixa extra de 70 metros de Área de Conservação
Natural com uso sustentável, somando 100 metros de área de proteção em seu entorno.
As Áreas de Conservação Natural em Santa Maria são aquelas onde o homem e os ecos-
sistemas podem conviver sem causar grandes impactos ambientais, destinadas ao turismo eco-
lógico, atividades culturais, recreativas, educacionais e podem-se estabelecer-se loteamentos,
desde que respeitem os recursos naturais listados na lei. Nestas, incluem-se as áreas contíguas
às margens dos Arroios Ferreira, Cadena, Área de Recarga do Aquífero Arenito Basal Santa
Maria, localizada no oeste da área urbana, Área da Sub-bacia do Rio Vacacaí Mirim, Área
Produtiva do Rio Vacacaí Mirim, além de áreas relevantes como as cotas acima de 100 metros
de altitude pertencentes à RBMA e as já citadas da Barragem DNOS.
No entorno desta barragem, se encontra a única Unidade de Conservação municipal:
o Parque Natural Municipal dos Morros (PNMM), com seus 151,6 hectares, instituído em
2016, através de Decreto Municipal (SANTA MARIA, 2016). Assim, a barragem se encontra
dentro da Zona de Amortecimento do PNMM. Este Parque urbano com abundância em
cobertura de Mata Atlântica, tem como objetivos básicos preservar os remanescentes do
Bioma, bem como os recursos hídricos e de beleza cênica, sendo um excelente instru-
mento à recreação em contato com a natureza, a contemplação paisagística da cidade de
Santa Maria, o desenvolvimento de atividades de educação, a realização de pesquisas
científicas e a interpretação ambiental.
Como uma constante em diversos municípios brasileiros, a ocupação antrópica de APPs
em Santa Maria preconiza a formação de áreas de risco, através de sua deterioração, imper-
meabilização, assoreamento dos cursos d’água, potencializando a formação de eventos de des-
lizamentos de terra ou enchentes. Deste modo, o objetivo deste estudo é verificar a situação
de APPs de recursos hídricos urbanos em Santa Maria, tendo como objetivos específicos reali-
zar o mapeamento do uso e cobertura do solo nos principais cursos d’água e discutir soluções
viáveis à gestão municipal.
2 METODOLOGIA
Com o auxílio do software ArcGIS 10.1(ESRI), foi possível gerar o mapa de localização da
área de estudo e o mapa das APPs de cursos d’água do perímetro urbano de Santa Maria/RS.
Para tanto, fez-se necessário a utilização das seguintes bases: malhas territoriais dos limites dos
estados brasileiros e países da América Latina, disponíveis no Portal de Mapas do IBGE (2021);
um conjunto de dados geoespaciais referentes a cartografia do município de Santa Maria, que
dispõem da hidrografia e dos limites municipais, disponibilizados pelo Instituto de Planejamento
de Santa Maria (IPLAN); e a base de dados disponibilizados pela Coleção 5.0 do MapBiomas
(SOUZA et al., 2020), que apresenta os dados de uso e cobertura do solo de todo o Brasil, do
ano de 2019. Estes dados foram obtidos no Google Earth Engine, que permite recortes territo-
riais e temporais específicos, em formato raster (resolução de 30 metros, com escala 1:250.000),
os quais foram processados e gerados shapefiles.
Levando em consideração o Código Florestal Brasileiro e a LUOS, delimitaram-se as APPs
de curso d’água do perímetro urbano de Santa Maria/RS, por meio do uso da ferramenta buf-
fer. Para os rios, estabeleceu-se um buffer de 30 metros, às nascentes, 50 metros e, para a
Barragem DNOS, 100 metros. Em seguida utilizou-se a ferramenta merge para fazer a junção
desses três arquivos vetoriais em um só, e o comando dissolve para não haver sobreposição.
Diante da delimitação das APPs de curso d’água da área de estudo e os dados de uso e
cobertura do solo do MapBiomas, por meio da ferramenta “clip”, realizou-se o cruzamento
dessas informações, destacando os tipos de uso e cobertura do solo presentes apenas nas
APPs de cursos d’água do perímetro urbano de Santa Maria/RS. A diferenciação entre Florestas
Plantadas (exóticas) e Formação Florestal (nativas), foi realizada através da vetorização manual
com a ferramenta “polígono” no software Google Earth Pro₢, a uma escala de aproximada-
mente 1: 2.000, com imagem do satélite Digital Globe₢. Na tabela de atributos, por meio da
ferramenta Calculate Geometry foi possível obter, em quilômetros quadrados (km²), a área de
cada tipo de uso e cobertura do solo da área de estudo, os quais foram exportados para uma
planilha eletrônica Excel, onde foi elaborada uma tabela e um gráfico com seus respectivos
valores, visando a interpretação destes resultados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Devido à geomorfologia da porção norte de Santa Maria, muitos cursos d’água possuem
comportamento de montanha, com nascentes em cotas elevadas, descidas íngremes para
então alcançar as regiões mais planas. Porém, apesar de os Rios Ibicuí-Mirim e Vacacaí-Mirim
possuírem uma pequena parte do curso no Rebordo do Planalto, devido a suas grandes
extensões, não possuem um comportamento torrencial de montanha (SUTILI et. al., 2009).
Deste modo, conforme a Figura 1, a maioria dos cursos d’água que integram o município se
comportam como típicos cursos de planície, podendo citar como mais relevantes em extensão
municipal, os Arroios Cadena, Cancela, Wolf, Passo das Tropas e Sanga Lagoão do Ouro, além
do Rio Vacacaí-Mirim, já supracitado.
Muitas intervenções urbanas prejudiciais à rede hidrográfica santa-mariense já ocorre-
ram nestes cursos d’água. É o caso de partes do Arroio Cadena, a Centro-Oeste e Arroio
Cancela, ao Centro-Sul, que se encontram canalizadas a fim de regularizar a vazão e moldar a
rede de drenagem ao processo de urbanização do Distrito Sede de Santa Maria (ibidem).
Figura 2 – À esquerda, trecho da Sanga do Hospital, afluente do Arroio Cadena, em obra sendo
canalizado e, à direita, margens de trecho do mesmo curso d’água
Figura 3 – Mapa de Áreas de Preservação Permanente de Cursos D’água do perímetro urbano de Santa
Maria/RS
Assim, medidas como cerceamento de acesso aos animais de pastagens também deveriam ser
tomadas para a garantia da qualidade da água.
Outro objetivo a ser enfatizado do PNMM, é a efetivação das ações que possibilitem a
ligação da comunidade com a área do parque, para que este não se torne uma ilha. Há dois
anos, é exatamente isso que tem acontecido no parque: ficou ilhado. Devido à falta de infraes-
trutura, o local é mantido fechado para visitação e sujeito à multa, enquanto estão em pro-
cesso de elaboração do plano de manejo. No final de 2019, foi disponibilizada a possibilidade
para cadastro de esportistas e outras pessoas que possam vir a utilizar o parque com autoriza-
ção municipal, mas desde 2020 esse cadastro não está aberto, sendo que o esportista ou qual-
quer outro cidadão que adentre ao parque está sujeito a multa, em qualquer dia da semana. A
lei visa o “reconhecimento, respeito e apoio das comunidades do entorno”, no entanto, este
empecilho limita os citadinos a ingressar no único espaço verde urbano da cidade com rema-
nescentes de mata atlântica preservados por uma Unidade de Conservação.
Para as outras regiões administrativas municipais, o risco tanto social como ambiental
são existentes, porém de modos diferentes. Ao descaracterizar os cursos d’água urbanos, na
região Central, devido à impermeabilização do solo, pouca presença de áreas verdes urbanas e
canalização dos rios, a probabilidade de enchentes se torna muito grande. A própria geomor-
fologia do centro não auxilia no escoamento, pois há variação entre cotas altas e baixas em
curtos espaços, gerando um problema social, sanitário e de mobilidade urbana.
Em rios não canalizados, como é o caso de todas outras regiões municipais com exceção
da Central e Nordeste, percebe-se que a predominância do uso do solo das APPs é por vegeta-
ções campestres. Isso se explica devido ao fato de Santa Maria se encontrar em uma região
ecótone entre os Biomas Mata Atlântica e Pampa. No entanto, sabe-se que nas margens de
sangas nesta região, a vegetação subarbustiva e arbustiva é predominante, portanto, é provável
que estas margens de rios já tenham sofrido intervenção humana direta ou indireta em algum
momento de suas histórias.
Como características de rios de planície, os arroios como o Cancela e Passo das Tropas,
ao Sul, Ferreira a oeste e Sanga Lagoão do Ouro, a Leste, ao sofrerem processo de desmata-
mento, degradação ou ocupação indevida de APPs, têm maior potencial de ocasionar cheias e
enchentes. Isso ocorre devido à perda da proteção da vegetação ciliar, que facilita o carrea-
mento de sedimento ao o leito dos rios, ocasionando seu assoreamento e, consequentemente,
ficam mais rasos e a água extravasa de seus limites superiores mais facilmente.
Conforme observado no mapa, nota-se que as Formações Florestais nativas são a classe
dominante da ocupação de APPs ripárias urbanas de Santa Maria, com cerca de 34% do uso do
solo em relação ao total de APPs hidrográficas do Distrito Sede de Santa Maria (Figura 4). Este
fato ocorre devido aos remanescentes de Mata Atlântica ainda presentes ao Norte, no entorno
do Vacacaí-Mirim, ao Sul, nas margens do Arroio Passo das Tropas e no Arroio Ferreira, em sua
extensão no limite Oeste do Distrito Sede.
Figura 4 – Gráfico demonstrativo do uso do solo nas APPs hidrográficas urbanas de Santa
Maria, RS, Brasil
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Santa Maria ainda possui cerca de um terço de suas áreas de preservação permanentes
hidrográficas urbanas conservadas, sendo cobertas por floresta nativa da Mata Atlântica, dado
este que é digno de consideração, devido à cultura da cidade-máquina e ruralista em que se
situa. No entanto, estes outros dois terços de APPs ocupadas por infraestrutura urbana, campos,
pastagens e lavouras, carece de atenção do poder público, sendo necessário um planejamento da
conservação dos recursos hídricos municipais. Antes disso, o investimento em educação informal
através das mídias é fundamental, a fim de conscientização de todas as faixas etárias sobre a
importância da proteção das margens ripárias para o desenvolvimento sustentável.
5 REFERÊNCIAS
ALVES, D. B.; FIGUEIRÓ, A. S. Olhares e reflexões acerca da perda de cobertura vegetal na paisagem urbana
de Santa Maria. In: FOLETO, E. M.; NASCIMENTO, D. B (org). Áreas Protegidas: Discussões e desafios a partir da
Região Central do Rio Grande do Sul. Santa Maria: Editora UFSM, 2014. p. 120-137.
BRASIL. Lei nº 12.651, 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos
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revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no
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79-92, 2009.
Resumo: A definição da qualidade físico-química das águas subterrâneas está atrelada a análise
química laboratorial para confirmar ou refutar a contaminação das águas por agentes poluidores.
Quando se trata da água para consumo humano, a temática se torna mais sensível, uma vez que
estão sendo utilizadas por usuários que não possuem saneamento básico, ou até mesmo, condi-
ções financeiras para realizar análise laboratorial dos indicadores de qualidade da água. Visto isso,
o objetivo desse trabalho preliminar é avaliar a qualidade da água dos poços artesianos no aquí-
fero Alter do Chão na comunidade agrícola Nova Esperança localizada na zona leste da cidade de
Manaus-AM, através da análise de parâmetros físico-químicos de amostras de água coletadas,
relacionando com atividades antrópicas e fontes potenciais de contaminação. Com isso, estão
sendo apresentados três indicadores de qualidade da água: potencial hidrogeniônico, condutivi-
dade elétrica (µS/cm) e sólidos totais dissolvidos (mg/l). Foram identificados valores anormais de
pH que deveriam ter valores ácidos de acordo com a geologia da região amazônica; o valor elevado
de condutividade elétrica em relação aos aspectos naturais sugere um aporte de sais dissolvidos
na água. Neste contexto, um poço destacou– se por apresentar valores de condutividade elétrica
de 283 µS/cm e 142 mg/l de sólidos totais dissolvidos. Portanto, nesta análise preliminar, detecta-
ram– se alterações na qualidade da água nos poços de captação de água na Comunidade Agrícola
Nova Esperança, em relação ao pH, condutividade e sólidos totais dissolvidos. A baixa profundi-
dade e inexistência de atendimento às normas técnicas para construção e operação desses poços.
Palavras-chave: Águas subterrâneas. Potenciais de contaminação. Consumo humano.
1 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: sam.mgr21@uea.edu.br
2 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: ftc.mgr21@uea.edu.br;
3 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: jcdqn.mgr21@uea.edu.br
4 Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos ProfÁgua da Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. E-mail: rvb.mgr21@uea.edu.br
[ 104 ]
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS POÇOS DO AQUÍFERO ALTER DO CHÃO 105
Abstract: The definition of the physicochemical quality of groundwater is linked to laboratory che-
mical analysis to confirm or refute water contamination by polluting agents. When it comes to
water for human consumption, the issue becomes more sensitive, since it is being used by agents
who do not have basic sanitation, or even financial conditions to carry out laboratory analysis of
water quality indicators. Therefore, the objective of this preliminary work is to evaluate the water
quality of artesian wells in the Alter do Chão aquifer in the Nova Esperance agricultural community
located in the eastern zone of the city of Manaus-AM, through the analysis of physical-chemical
parameters of water samples collected, relating to human activities and potential sources of con-
tamination. Thus, three water quality indicators are being presented: hydrogen potential, electri-
cal conductivity (µS/cm) and total dissolved solids (mg/l). Abnormal pH values were identified that
should have acidic values according to the geology of the Amazon region; the high value of electri-
cal conductivity in relation to natural aspects suggests a contribution of dissolved salts in the
water. In this context, one well stood out for presenting electrical conductivity values of 283 µS/
cm and 142 mg/l of total dissolved solids. Therefore, in this preliminary analysis, changes in water
quality were detected in the water catchment wells in the Nova Esperance Agricultural Community,
in relation to pH, conductivity and total dissolved solids. The low depth and lack of compliance
with technical standards for construction and operation of these wells require more.
Keywords – Ground water. Water quality. Contamination potentials. Human consumption.
1 INTRODUÇÃO
As águas subterrâneas são essenciais para o abastecimento público, possuem boa quali-
dade e menor custo financeiro para se tornarem disponíveis ao consumo humano, passando
apenas pela desinfecção com cloro e adição de flúor. Porém, diante da má utilização das terras
e a falta de planejamento da gestão pública tem-se observado um aumento da contaminação
dessas águas nas últimas décadas (MANZIONE, 2015). Para ANA (2007) as principais fontes de
contaminação das águas subterrâneas estão relacionadas com a construção dos poços, sem
levar em consideração as normas técnicas, o esgotamento sanitário pela falta de saneamento,
os resíduos sólidos dispostos em locais inadequados. O chorume resultante desses resíduos
que penetram nas camadas profundas do solo e podem alcançar o lençol freático, práticas ado-
tadas na agricultura, como, por exemplo, a adição de fertilizantes nas plantações.
O crescimento populacional na cidade Manaus tem contribuído para o aumento do con-
sumo da água subterrânea; a frágil política de expansão da rede de serviço e a falta de fiscali-
zação, têm ocasionado a abertura irregulares, sem nenhum estudo técnico para implantação
do poço em áreas suscetíveis à contaminação. Isto resulta no possível comprometimento da
qualidade da água para uso e consumo e tem por consequência da contaminação dos lençóis
freáticos, podendo comprometer a qualidade da água para uso e consumo e contribuir para a
contaminação dos lençóis freáticos.
Perante o exposto, os estudos prévios de análise e qualidade das águas e identificação de
fatores de contaminação da água são necessários para avaliar a situação atual e investir na melho-
ria de políticas públicas de conservação e controle das águas subterrâneas (COSTA et al., 2004). A
demanda por água em casa, nesse momento de pandemia da Covid-19 provocada pelo novo
coronavírus, pode ter agravado o problema dado este a ser explorado em outros trabalhos.
Uma das formas de analisar a qualidade das águas subterrâneas é por meio de parâme-
tros físicos e químicos. Dentre estes, pode-se citar parâmetros que podem ser obtidos facil-
mente in situ através de sondas multiparâmetros. Esses equipamentos podem mensurar
diversos parâmetros, como a condutividade elétrica, os sólidos totais dissolvidos, temperatura,
oxigênio dissolvido e o potencial hidrogeniônico (LAUREANO et al., 2020).
A instalação da população em áreas que não possuem um controle do uso e ocupação do
espaço urbano, nem infraestrutura instalada, como o saneamento básico, traz como conse-
quências a proliferação de diversos problemas, uma vez que os moradores vão recorrer a
meios alternativos para suprir a falta desses conjuntos de serviços, principalmente, se tratando
de água para consumo humano.
A abertura de poços tanto para consumo humano quanto para o uso na irrigação das
lavouras pode estar contaminada por esgoto doméstico e produtos químicos utilizados nas
plantações agrícolas que estão localizada no entorno dessas fontes de captação de água.
Alterando os índices de qualidade das águas do lençol freático e consequentemente gerando
complicações, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública. Portanto, fez-se neces-
sário levantamento preliminar das condições ambientais e físico-químico das águas que abas-
tecem as residências da Comunidade Agrícola Nova Esperança.
Neste contexto, o objetivo desse trabalho foi identificar possíveis alterações na quali-
dade da água dos poços no aquífero Alter do Chão na comunidade agrícola Nova Esperança,
localizada na zona leste da cidade de Manaus-AM, através da análise de parâmetros físico-quí-
micos de amostras de água, relacionando com atividades antrópicas e fontes potenciais de
contaminação.
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
A área de estudo está situada na zona leste da cidade de Manaus no bairro Jorge Teixeira
IV etapa, na Comunidade Agrícola Nova Esperança, inserida na bacia hidrográfica do Mindu,
microbacia Nova Esperança (Figura 1), segundo os dados do (AMAZONAS, 2009) a população
estimada do ano de 2009 dessa área é de 426 famílias, sendo apenas 98 que trabalham com
agricultura familiar urbana. “O clima da região é tropical úmido” (ALVES et al. p.2, 2019). O
aquífero predominante – Alter do Chão formado por rochas sedimentares das formações
superficiais cenozóicas, com boa capacidade de armazenamento e fornecimento de água,
devido a porosidade primária e alta permeabilidade dos terrenos arenosos (BRASIL, 2012).
A espacialização dos pontos amostrais na área de cultivo agrícola foi de acordo com os
setores: superior, médio e inferior do igarapé (figura 1). Os cinco poços foram escolhidos de
acordo com essa distribuição para demonstrar uma análise preliminar de como está a quali-
dade da água da comunidade agrícola Nova Esperança.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ocorrência de poços artesianos na cidade de Manaus com profundidades abaixo de 30
metros não é novidade e, no geral, são utilizados para abastecimento doméstico. Por serem
considerados poços rasos, estão sujeitos a contaminação por esgotos, fossas das residências e
outras fontes poluidoras. A população recorre a essas fontes de abastecimento individual pelo
fato de não serem atendidas pela rede de distribuição de água encanada e de tratamento de
esgoto. A maioria desses poços não possuem análises de qualidade da água e são construídos
sem seguir as normas técnicas brasileiras para perfuração de poços (COSTA et al., 2004).
Os valores de pH obtidos variaram de 4,36, no poço 5, sendo considerado ácido, a 7,42,
no poço 2, classificado como de caráter básico. Em relação à hidroquímica da região de estudo,
espera –se que as águas coletadas sejam ácidas, com valores de pH menores que 6. Foi o que
constatou Silva e Silva (2007) quando analisaram o perfil da qualidade das águas subterrâneas
de Manaus através de análises físicas e químicas, em 14 poços tubulares com profundidades
variando entre 66 m e 228 m. O menor e o maior valor de pH relatado foi de 3,3 e 5,7 respec-
tivamente. O baixo valor de pH foi associado à pobreza química do solo e recarga rápida do
aquífero Alter do chão. Logo, os valores obtidos nos poços 1, 2 e 3 estão em desacordo com o
que se espera para a região (Figura 3).
A condutividade das águas dos poços analisados oscilou de 16,9 µS/cm a 283 µS/cm. O
maior valor de condutividade obtido nesta pesquisa ocorreu no poço 5 e apresenta um valor
bem acima do encontrado nos demais poços (Figura3. Em condições naturais, as águas do
Aquífero Alter do Chão são consideradas “moles”, com baixas concentrações de cátions e
ânions e apresentam baixos valores de condutividade elétrica, conforme encontrado nos poços
1, 2, 3 e 4 (SILVA e SILVA, 2007). Gonzales e Miranda (2015) corroboram com essa constatação
de que as águas do Aquífero Alter do Chão são pouco mineralizadas ao relatarem em seus estu-
dos, valores de condutividade que variaram de 9,39 µS/cm à 22,36 µS/cm.
A alta condutividade encontrada no poço 5 coincide também com o menor valor de pH
obtido neste estudo. Esta observação também é similar ao encontrado em um poço analisado
por Silva e Silva (2007) em Manaus, onde o valor de pH foi o menor relatado (3,3) e o de con-
dutividade maior do que nos demais outros poços na cidade (116,7 µS/cm), o que foi conside-
rado como anômulo pelos autores.
Os valores dos sólidos totais dissolvidos (Figura 5) variaram de 8,28 mg/l, no poço 3, a
142 mg/l no poço 5. Novamente o poço 5 foi o que apresentou valor alterado em relação aos
demais pontos analisados. A portaria do Ministério da Saúde n° 2.914, de 12 de dezembro de
2011, que “dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade” estabelece o valor máximo permitido de
1.000 mg/l de sólidos totais dissolvidos. Logo, em nenhum poço foram identificados valores
iguais ou superiores ao da portaria do Ministério da Saúde.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho realizou análise preliminar da qualidade da água dos poços de cap-
tação no aquífero Alter do Chão, na comunidade agrícola Nova Esperança, através de três
variáveis físico-químicas. Com os valores obtidos do potencial hidrogeniônico (pH) variaram
desde ácido a básico, levando em consideração que o pH acima de sete não condiz com as con-
dições naturais do Aquífero Alter do chão.
Na maioria dos poços o valor da condutividade elétrica estava dentro do aceitável para
águas com baixa concentração de cátion e aníons. Isso foi observado em relação aos sólidos
totais dissolvidos. Com exceção de um poço que apresentou resultados anômalos.
Esses resultados indicam possível contaminação da qualidade das águas nesses em
alguns poços de captação, uma vez que foram constatadas alterações de parâmetros analisa-
dos, logo, mas ainda são necessários estudos mais aprofundados e com mais indicadores de
qualidade da água para contribuir com as pesquisas sobre a temática agricultura urbana e cap-
tação de água subterrânea.
Considera-se que esse trabalho é essencial para a gestão das águas subterrâneas, forne-
cendo resultados que contribuem com as tomadas de decisão pelos gestores de recursos hídri-
cos locais, além de refletir sobre vulnerabilidade social desses comunitários que não possuem
conhecimento técnico da potabilidade para o consumo humano e segurança alimentar, uma
vez que utilizam essas águas para irrigação das culturas.
AGRADECIMENTOS
À Agência Nacional de Águas (ANA) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior -CAPES. Ao Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão e Regulação
em Recursos Hídricos (ProfÁgua). À Universidade do Estado do Amazonas– UEA. À Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, a qual disponibiliza recursos financeiros
aos discentes do programa. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia– INPA cujo foi o
responsável pelos recursos materiais e humano para a realização dessa pesquisa.
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Resumo: A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati está localizada na região norte da área urbana de
Londrina/PR e possui registros de ocupação desde 1930, inicialmente com utilização para a agri-
cultura com as plantações de café e posteriormente com atividades urbanas. A pesquisa ora con-
cluída se propôs a realizar o levantamento da situação ambiental das nascentes 1 e 2 da referida
bacia. Através do software ArcMap 10.5 conseguiu-se delimitar as áreas de preservação perma-
nente no entorno das nascentes, a partir das quais foi possível determinar os usos que atualmente
encontramos nestas áreas. O mesmo software tornou possível a elaboração de um mapa de NDVI
ou de Índice de Vegetação, bem como a elaboração de uma composição colorida falsa-cor com as
bandas 4 (R), 3 (G) e 1 (B) do satélite CBERS – 4A, de alta resolução, que facilitou identificar os usos
existentes na área. Os dados gerados demonstraram que a nascente 1 está em condições ruins de
preservação, enquanto a nascente 2 se apresenta em condições Razoáveis. Com isso foi possível
perceber que a situação das nascentes não está de acordo com o estabelecido na Lei 12.251/2012,
que determina a proteção e o uso sustentável da vegetação nativa em Áreas de APP. Recomenda-se
que as nascentes da bacia do Ribeirão Quati recebam mais atenção por parte dos Gestores Públicos
e da população próxima, no sentido de recuperar sua cobertura vegetal e preservá-las.
Palavras-Chave: Nascentes; bacias hidrográficas urbanas; degradação ambiental.
Abstract: The Ribeirão Quati Hydrographic Basin is located in the northern region of the urban area
of Londrina/PR and has been occupated since 1930, initially with coffee plantations and later with
urban activities. The research now concluded was intended to carry out a survey of the environmen-
tal situation of springs 1 and 2 of the referred basin. Through the ArcMap 10.5 software it was possi-
ble to delimit the permanent preservation areas around the springs, from which it was possible to
determine the uses that we currently find in these areas. The same software made possible the ela-
boration of an NDVI or Vegetation Index map, as well as the elaboration of a false-color color com-
position with bands 4 (R), 3 (G) and 1 (B) of the CBERS satellite – 4A, high resolution, which facilitated
the identification of existing uses in the area. The data generated showed that spring 1 is in poor
[ 113 ]
114 Vitória Alves de Morais; Gilnei Machado
conditions of preservation, while spring 2 is in reasonable conditions. With this, it was possible to see
that the situation of the springs is not in accordance with what is established in law 12.251/2012,
which determines the protection of native vegetation in APP areas. It is recommended that the sour-
ces of the Ribeirão Quati basin receive more attention from Public Managers and the surrounding
population, in order to recover their vegetation cover and preserve them.
Keywords: Spring; urban hydrographic basins; ambiental degradation.
1 INTRODUÇÃO
As nascentes podem ser classificadas, segundo Castro e Gomes (2001), em três diferen-
tes tipos: efêmeras (permanecem com um grande fluxo de água durante as chuvas, mas desa-
parecem em horas ou dias), perenes (possuem água em todas as estações) e temporárias
(grande fluxo de água em períodos de chuva).
De acordo com o Caderno de Mata Ciliar (2009, p.04), publicado pelo Governo do Estado
de São Paulo, nascente corresponde a todo e qualquer afloramento do lençol freático na super-
fície do solo, que dá origem a uma fonte de água ou à cursos d’água (regatos, ribeirões, córre-
gos e rios). Portanto, é um bem natural que, pela sua importância, para a preservação da fauna
e da flora, para a manutenção da qualidade de vida das populações, para a manutenção da
quantidade e da qualidade de água e dos ecossistemas a elas associados, necessita de cons-
tante cuidado, manutenção e preservação.
Localizada quase sempre nas partes mais altas do terreno, as nascentes têm suas águas
derivadas dos aquíferos ou lençóis subterrâneos que, por sua vez, alimentarão córregos, ria-
chos ou lagos, sustentando assim, o contínuo fluxo hídrico das bacias hidrográficas.
A vegetação existente ao redor dos cursos d’água e nascentes são consideradas Áreas de
Preservação Permanente (APP), pela Lei Federal nº 12.651/2012, que institui o Código Florestal
Brasileiro (BRASIL, 2012), sendo 30 metros para os rios de menor porte e 50 metros de raio no
entorno das nascentes (BRASIL, 2012).
Considerando os aspectos apresentados, a presente pesquisa buscou estudar as condi-
ções ambientais das nascentes 1 e 2 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati, localizada na área
urbana de Londrina, no estado do Paraná (PR) (Figura 1).
A ocupação da área de estudo começou a ocorrer entre as décadas de 1920 e 1930 devido
as lavouras de café. Entre os anos de 1960 e 1980 iniciou-se o processo de urbanização do espaço,
fato que acarretou mudanças significativas em sua vegetação natural e na qualidade da água do
local (MACHADO; SILVA, 2016). Dos anos 1990 aos dias atuais esse processo de urbanização se
intensificou (SILVA, 2017), o que certamente, provocou maior pressão sobre as nascentes.
Entre os anos de 1990 a 1995 oito loteamentos foram criados. De acordo com o IPPUL
(Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), entre 1995 e 2008, treze lotea-
mentos foram criados na área da bacia, sendo em maioria, originados a partir de iniciativas pri-
vadas (SILVA, 2017).
As transformações do uso da terra na bacia do ribeirão Quati entre 1974 a 2017 foram
mapeadas por Silva (2017), utilizando critérios de classificação em quatro categorias: residen-
cial, agropastoril, solo exposto e vegetação florestal, como apresentado na Figura 2.
Pode-se observar que a partir de 2002 ocorre uma recuperação da vegetação marginal,
porém sua funcionalidade é apenas aparente, pois não abrange a margem de 30 metros exigida na
legislação brasileira (Lei Federal Nº 12.651, de 25 de maio de 2012) para cursos de água com até 10
metros de largura. Com isso, percebe-se apropriações do espaço que deveria ser destinado às APPs,
inclusive das áreas de nascente sendo a fina cobertura vegetal utilizada como camuflagem para
usos inadequados pela população e indústrias que em suas margens se localizam.
Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é realizar a caracterização da situação ambiental
atual das áreas das nascentes 1 e 2 da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, através da identifica-
ção dos tipos de uso e cobertura do solo, e a comparação de seus Índice de Cobertura Vegetal.
A bacia do Ribeirão Quati é uma pequena bacia cujo rio principal tem cerca de 8,5 kms
de extensão e que corre no sentido oeste-leste da área urbana de Londrina, desde o Bairro
Leonor até o Bairro Mister Thomas. Ela possui apenas um afluente de destaque que é o Córrego
Bom Retiro, que possui um subafluente na área conhecida como “Buracão”, na Vila Recreio.
Desta forma a bacia apresente um rio principal, dois afluentes e um subafluente, perfazendo
um total de quatro nascentes.
2 METODOLOGIA
Para a realização deste estudo sobre a bacia hidrográfica do Ribeirão Quati foi inicial-
mente, necessário fazer o levantamento das nascentes existentes nesta bacia. Para tanto, foi
utilizado o software ARCMap® 10.5, e sua ferramenta Feature to Point, a partir da qual fez-se a
criação de um arquivo shape de pontos (Figura 1) a se localizarem nas extremidades das linhas
correspondentes aos córregos existentes na área.
Com a utilização da ferramenta Feature to Point foi possível identificar a existência de 4
nascentes na bacia estudada, sendo 1 do rio principal, 2 em seus afluentes e 1 em um dos suba-
fluentes. Estas nascentes foram divididas em nascentes 1 e 2 e nascentes 3 e 4, sendo que para
esta pesquisa nos debruçaremos sobre as de número 1 e 2 (Figura 1).
Após a identificação e catalogação das nascentes, foi realizado o mapeamento das áreas
de preservação permanentes (APP’s) ao redor delas, através da Ferramenta Buffer do ARCMap®
10.5. Com essa ferramenta foi criado um buffer de 50 metros de raio ao redor das nascentes,
que por sua vez, corresponde às Áreas de Preservação Permanente.
Com o arquivo shape criado por este Buffer, foi realizado o recorte da imagem de satélite
CBERS – 4, na sua composição colorida falsa cor nas bandas 4 (R), 3 (G) e 1 (B), a qual possibili-
tou identificar os usos da terra existentes em cada nascente (Figura 2).
Com as bandas Vermelho e Infravermelho desta mesma imagem de satélite, foi elabo-
rado o mapa de NDVI da área de estudo (Figura 3). O Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI) expõe ou não a presença de vegetação viva, sendo assim, uma importante
ferramenta de análise ambiental.
Para a identificação dos tipos de uso e cobertura do solo nas áreas das nascentes foram
estabelecidas duas classes: o uso arbóreo e os outros usos (Figura 4), já que o Grau de
Preservação foi estabelecido com base na porcentagem de cobertura arbórea.
Esta classificação foi realizada com base na ferramenta Iso Cluster Unsupervised
Classification do ARCMap 10.5. Este recorte gerou um arquivo raster (imagem) com todas as
nascentes, que foi transformado em polígonos a partir da ferramenta Raster to Polygon do
ARCMap® 10.5.
Este Grau de Preservação foi estabelecido tendo por base a adaptação da metodologia
de Gomes et al., (2005) os quais propõem as classes A, B, C, D e E e os Graus de Preservação
Ótimo, Bom, Razoável, Ruim e Péssimo embasado em pontuações dadas às nascentes.
Nesta pesquisa não serão utilizadas as pontuações, como proposto pelos autores, porém,
será trabalhado o percentual de cobertura vegetal, o que nos proporcionará chegar ao Grau de
Preservação das nascentes em estudo, como pode ser visto no Quadro 1.
Para determinarmos a situação ambiental e o Grau de Preservação das nascentes da
bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, foi levada em consideração a área total ocupada pela nas-
cente e sua área de preservação permanente, ou seja, a área de 50 metros (Figura 4) no entorno
da mesma e seu tipo de uso e cobertura de solo (vegetação arbórea ou outro).
A 100 – 81 Ótimo
B 80 – 61 Bom
C 60 – 41 Razoável
D 40 – 21 Ruim
E 20 – 0 Péssimo
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Área Total
7833,33 100%
Buffer (50 m)
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
Esta nascente está localizada em uma área fechada, onde o acesso é feito por meio de uma
porteira, o que ajuda a evitar que a comunidade lance entulhos no local e resíduos sólidos.
A Figura 5, anteriormente apresentada, destaca os usos existentes na área da nascente
2, assim como os dados do Quadro 3, que por sua vez, permite verificar que cerca de 52,04%
de cobertura arbórea e 47,96% de outros usos na APP desta nascente. Tais valores, portanto,
permititiram classificá-la na classe Razoável.
Com os dados analisados pode-se afirmar que a ocupação urbana também contribuiu
para a degradação das áreas de APPs das nascentes 1 e 2 da bacia hidrográfica do Ribeirão
Quati, uma vez que se encontra nas proximidades da nascente 1 a Comunidade BRATAC e pró-
ximo à nascente 2 a Comunidade Pantanal, cujos moradores usam a área destas nascentes
como pastagem ou como local de descarte de materiais diversos.
No caso das nascentes estudadas, sugere-se a aplicação de medidas de proteção como,
por exemplo, identificação de espécies, limpeza e replantio de espécies nativas. Logo, percebe-
-se a importância de projetos de revitalização e recomposição de tais ecossistemas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante os resultados obtidos por meio desta pesquisa, pode-se afirmar que as nascen-
tes do Ribeirão Quati estão consideravelmente degradadas e as ações antrópicas contribuem
efetivamente para tal, especialmente pelo fato destas ações serem realizadas desde 1960 com
a utilização do local para atividades agrícolas e urbanas.
De acordo com os dados obtidos pôde-se evidenciar que a nascente 1 não possui sua
área de preservação permanente mínima, considerando que a cobertura vegetal arbórea cor-
responde à apenas 28,75% da área, o que a classifica em uma situação RUIM. Já a nascente 2,
se apresenta um pouco mais preservada, mas isso em função de uma série de obras que foram
realizadas entre os anos de 2016 e 2019 em função de processos erosivos que ali ocorreram
devido às chuvas de 2015. Com a recuperação desta área, a nascente 2 foi classificada em
RAZOÁVEL, devido à sua área apresentar 52,04% de cobertura vegetal arbórea.
Após a análise realizada nesta pesquisa, entende-se como premente a recuperação e a
conservação do espaço das nascentes 1 e 2 para adequação das mesmas aos padrões ambien-
tais estabelecidos pela Lei 12.651, de 25 de maio de 2012.
Os principais problemas ambientais identificados nestas áreas são: erosão dos solos,
assoreamento dos cursos d’água, descarte irregular de resíduos sólidos, cortes de árvores,
usos não autorizados, lançamento de efluentes domésticos, presença de animais (cavalo, vaca),
a diminuição das áreas permeáveis, poluição das águas e até mesmo o escoamento superficial
das chuvas.
Sugere-se a proteção e recuperação das nascentes 1 e 2 do Ribeirão Quati, por meio da
criação de projetos e destinação de verbas públicas ou privadas para esta finalidade, a fim de
assegurar a qualidade delas para as atuais e futuras gerações.
5 REFERÊNCIAS
BARROS, M. V. F.; SCOMPARIM, A.; KISH, C. S.; CAVIGLIONE, J. H.; ARANTES, M. R. L.; NAKASHIMA, S. Y.; REIS,
T. E. S. Identificação das ocupações irregulares nos fundos de vale da cidade de Londrina-PR, por meio de
imagem Landsat 7. RA’EGA, n. 7, Curitiba: UFPR, p. 47-54, 2003.
BRASIL – LEI Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras
providências.
CADERNOS DA MATA CILIAR / Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Departamento de Proteção da
Biodiversidade. – N 1 (2009) – São Paulo: SMA, 2009.
CASTRO. P.S; GOMES, M.A. Técnicas de conservação de nascente. Ação Ambiental, Viçosa, V.4, n.20, p.24-26,
2001.
IAPAR – INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ. Monitoramento de Médias Históricas. Disponível em:
Acesso em: 01 de junho de 2015.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Manual de Recuperação
de áreas degradadas pela mineração. Brasília: IBAMA, 1990.
Resumo: A bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati, vem desde a década de 1930 e, mais particularmente
a partir da década de 1960 passando por um processo de degradação ambiental, inicialmente com a
retirada da cobertura vegetal para o plantio de café e criação de gado e posteriormente para a ocupa-
ção urbana. Nesta pesquisa analisamos a situação ambiental das nascentes 3 e 4 desta bacia hidrográ-
fica, localizadas no afluente Córrego Bom Retiro. Usando técnicas de geoprocessamento foram
delimitadas as APPs e os usos da terra nelas presentes e percebeu-se que estas nascentes apresentam
problemas relacionados à ausência de áreas de preservação permanente e à qualidade da água.
Também se percebeu que as nascentes reais foram tubuladas, enterradas e completamente urbaniza-
das e que as nascentes visuais, ou seja, onde as nascentes afloram atualmente, foi transformada em
parque urbano e que elas apresentam cobertura vegetal arbórea esparsa. Sugere-se, a partir desta
pesquisa, que a área das nascentes estudadas seja recuperada com a utilização de espécies nativas.
Destaca-se que a participação popular é importante para o sucesso deste empreendimento.
Palavras-chave: Córrego Bom Retiro; Nascentes; Bacia Hidrográfica; Área de Preservação.
Abstract: The Ribeirão Quati Hydrographic Basin has been used since the 1930s and more partic-
ularly since the 1960s, undergoing a process of environmental degradation, initially with the
removal of vegetation cover for coffee planting and cattle raising and later for urban occupation.
In this research we analyze the environmental situation of springs 3 and 4 of this hydrographic
basin, located in the tributary Córrego Bom Retiro. Using geoprocessing techniques, the APPs and
land uses present in them were delimited and it was noticed that these springs present problems
related to the absence of permanent preservation areas and water quality. It was also noticed that
the real springs were piped, buried and completely urbanized and that the visual springs, that is,
where the springs currently surface, was transformed into an urban park and that they have sparse
tree vegetation cover. It is suggested, from this research, that the area of the studied springs be
recovered with the use of native species. It is noteworthy that popular participation is important
for the success of this venture.
[ 125 ]
126 Gabriel Vargas Oliveira; Gilnei Machado
1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica funciona como um sistema aberto, em que os elementos presentes
nele estão intrinsecamente relacionados entre si, e tudo que ocorre em uma determinada área
da bacia, repercute direta ou indiretamente nos rios e na qualidade das águas (LEAL, 1995,
apud LEAL, 2003).
O uso da água pela população e a devolução dos efluentes, sem tratamento, para os rios
gera uma situação de poluição que inviabiliza, geralmente, a utilização do recurso nos canais
fluviais dos centros urbanos (TUCCI, 1997).
Esta situação é bem visualizada na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati (Figura 1), locali-
zada na área urbana de Londrina. Este Ribeirão tem suas nascentes localizadas na zona oeste de
Londrina, no Bairro Leonor, e sua foz no ribeirão Lindóia, na Zona Leste, no Bairro Mister Thomas.
A bacia em estudo foi marcada por processos de degradação ambiental ao longo de sua
ocupação, que até hoje podem ser observados, na forma de ravinamento, voçoracamento e
poluição hídrica. No passado, muitos destes impactos eram causados pelas atividades agrope-
cuárias, porém na atualidade, é a urbanização que gera os mesmos.
A urbanização ocorrida na área, desde a década de 1960, tem gerado o aumento das
áreas impermeáveis e, por conseguinte, da velocidade do escoamento superficial, gerando
ravinas e voçorocas, bem como a produção de sedimentos que escoam para a drenagem
(TUCCI, 1997), causando muitas vezes o recuo a jusante das nascentes, como identificado na
área das nascentes 3 e 4.
Por esta razão que as nascentes em estudo foram divididas em real e visual, real, sendo
onde ocorre o brotamento da água, que foi resultado de observações visuais na região e dados
obtidos no SIGLON, e a visual o resultado da canalização dos brotamentos da região das nas-
centes, como apresentado na (Figura 1).
O volume de chuvas abundantes na região Norte do Paraná, entre os meses de outubro
a março, contribui para a ocorrência destes processos erosivos na bacia hidrográfica do Ribeirão
Quati (SILVA, 2017). Pode-se destacar também os usos inadequados das nascentes, como é o
caso da presença de pastagens ou mesmo de estruturas urbanas.
De acordo com a Lei Federal nº Lei 12.651, de 25 de maio 2012, toda e qualquer área de
nascente, em um raio de 50 metros, deveria ser considerada como Área de Preservação
Permanente, não cabendo aí qualquer tipo de uso que não seja o vegetativo arbóreo.
Desta maneira, esta pesquisa tem por objetivo analisar a situação ambiental atual das
nascentes 3 e 4 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Quati, localizadas na área urbana de Londrina,
as quais deveriam estar na situação de área de preservação permanente, mas que apresentam
outros usos que não o vegetativo arbóreo.
Fonte: Os Autores(2021).
2 METODOLOGIA
Nesta pesquisa foram utilizados os seguintes materiais:
• Imagens do satélite CBERS® 4A;
• Fotografias obtidas em trabalho de campo;
• Imagens do Google Earth®;
• Imagens tipo Basemap disponibilizadas pela Maxar Technologies®;
• Software ARCMap® 10.5 produzido e distribuído pela ESRI;
• Arquivos Shape de hidrografia, curvas de níveis e arruamento disponíveis no site do
SIGLON da Prefeitura Municipal de Londrina
Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados os seguintes Procedimentos
Metodológicos:
• As Imagens de satélite foram baixadas a partir do site do INPE e classificadas de forma
supervisionada no software ARCMap® 10.5 para a elaboração do mapa de uso do solo.
Estas imagens foram úteis também para a identificação da localização das nascentes
da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati;
• Durante a pesquisa foi realizado um trabalho de campo com o objetivo de reconheci-
mento da área de estudo e tomada de fotografias das nascentes. As tomadas fotográ-
ficas tiveram como objetivo a identificação e comprovação das condições ambientais
atuais das mesmas;
• Imagens tipo Basemap disponibilizadas pela Maxar Technologies, utilizadas como
meio de comparação com as imagens CBERS®, em função de sua resolução, para con-
ferência dos resultados obtidos naquelas imagens. Essa imagem data de 27/04/2020;
• O Software ARCMap®, produzido e distribuído pela ESRI®, foi utilizado como ferra-
menta para a confecção dos mapas de localização, de identificação das nascentes,
delimitação da área de estudo e de uso do solo, por meio de sobreposição de dados
shape, vetorização e manipulação de imagens;
• Por meio dos arquivos shape de hidrografia foi confeccionado o mapa de hidrografia
ou rede de drenagem da bacia em estudo. As curvas de nível permitiram a delimitação
da área de pesquisa e arruamento a identificação da área urbana nela existente. Todos
estes shapes estão disponíveis no site do SIGLON da Prefeitura Municipal de Londrina;
• Foram criados buffers, de 50 metros seguindo as APPs, e pontos identificando os
padrões das regiões das nascentes 3 e 4, que foram divididas em nascente real e nas-
cente visual, sendo a nascente real a localização verdadeira da nascente do ribeirão,
enquanto a visual é onde ela se encontra atualmente;
• Foi feita a classificação visual da região, dividida em 3 temas, gramínea, urbano e
vegetação arbórea esparsa, dentro de um buffer de 50 metros ao redor das nascen-
tes. A partir daí cada uso foi recortado separadamente para obter-se a área de cada
um deles;
• Dentro do Arcmap, usando a tabela de atributos gerada na criação das classificações,
foi calculada a área de cada um dos temas dentro de cada opção de nascente, esses
dados foram transferidos para o Microsoft Excel onde foi calculada a proporção de
cada parte.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Bacia do Ribeirão Quati apresenta quatro nascentes, as mais importantes são denomi-
nadas de 1 e 2 e se apresentam mais bem conservadas, em relação às nascentes 3 e 4, isso
quando se leva em consideração a presença de cobertura arbórea. Porém, quando se leva em
conta a presença de resíduos sólidos, lançamento de efluentes e a presença de processos ero-
sivos (ravinas e voçorocas) as nascentes 3 e 4 estão em melhores condições, mas ainda assim
em uma situação delicada, por apresentarem cobertura vegetal esparsa.
Com a análise realizada foi possível perceber que as nascentes 3 e 4 da bacia hidrográfica
do Ribeirão Quati estão fora dos padrões esperados paras as áreas de APPs. Quando conside-
ramos as nascentes Reais percebemos que o Grau de Degradação destas é maior, quando com-
paradas às nascentes Visuais, não que estas estejam em melhores condições que as anteriores,
como é possível verificar na Figuras 11 e 12.
3.3 Soluções
Pesquisas realizadas por Calheiros et al. (2004), Paula et al. (2009), Baggio et al. (2013)
e Neves et al. (2014) concordam em relação às etapas de recuperação das nascentes. Os
mesmos destacam que, primeiramente, é necessário que a ação de degradação seja inter-
rompida e a área isolada, para que o processo de recuperação ecológica possa ocorrer e que
a área se recupere naturalmente, sem interferências externas. O objetivo deste procedi-
mento é que o ambiente se regenere e se recupere, especialmente no tocante à sua mata
ciliar (NEVES et al., 2014).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos a partir desta pesquisa foi possível identificarmos que há uma
divisão das nascentes estudadas, isto é, as nascentes 3 e 4 mudaram a sua localização no decor-
rer do tempo e atualmente podemos identificar as que chamamos de reais, onde elas se loca-
lizavam originalmente e, visuais, onde elas afloram atualmente.
O mapeamento realizado permitiu identificar que as nascentes reais se apresentam com-
pletamente urbanizadas, impermeabilizadas, enterradas e tubuladas e com pouquíssima cober-
tura vegetal. Já as nascentes visuais estão localizadas em um parque urbano, onde há predomínio
de gramínea e cobertura arbórea esparsa.
A nascente 4 visual apresenta 97,5% de cobertura arbórea esparsa, sem a presença de
arbustos. Por outro lado, a nascente 3 visual apresenta 41,33% de cobertura por gramínea e
58,66% de cobertura arbórea esparsa
Nestas áreas as nascentes apresentam-se tubuladas e o ribeirão canalizado e retilinizado,
o que demostra a necessidade de intervenção e recuperação destas áreas.
Finalizamos esta pesquisa afirmando que há a necessidade de intervenção, por parte do
poder público e da população local na área, a fim de promover a recuperação da mata ciliar e
da qualidade das nascentes.
Uma opção mais radical, envolveria fechar toda a região e trabalhar para reestabelecer
uma condição mais próxima do natural/ideal possível, replantando espécies nativas e com o
tempo buscando a condição original.
Em uma opção mais leve, seria envolver a população local neste processo de recupera-
ção e/ou transformar a região mais ainda em um parque ecológico, mantendo o acesso e as
condições para as atividades que já eram praticadas.
5 REFERÊNCIAS
BAGGIO, A. J., et al. Recuperação e Proteção das nascentes em propriedades rurais de Machadinho, RS.
Brasília-DF: EMBRAPA, 26 p. 2013.
BRASIL – LEI Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras
providências.
CALHEIROS, R. D. O., et al. Preservação e Recuperação das Nascentes (de água e de vida). Piracicaba: Comitê
das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ, 40p. 2004.
GOMES, Priscila Moreira; MELO, Celine de; VALE Vagner Santiago do. Avaliação dos impactos ambientais em
nascentes da cidade de Uberlândia– MG: análise macroscópica. In: Sociedade e Natureza, Ano 17, Número 32,
p. 103-120, 2005.
LEAL, A. L. Gestão Urbana e regional em bacias hidrográficas: interfaces com o gerenciamento de recursos
hídricos. In: BRAGA, Roberto. Recursos Hídricos e planejamento urbano e regional. Rio Claro: Laboratório de
Planejamento Municipal da UNESP, 2003. P.65-85.
NEVES, L. S., et al. Nascentes, áreas de preservação permanentes e restauração florestal: histórico da
degradação e conservação no Brasil. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.7, n.3, p. 747-760, set./dez.
2014.
PAULA, A. E. A de., et al. Água: conservação, uso racional e reuso. Associação Novo Encanto de
Desenvolvimento Ecológico. Brasília: MMA, 2009.73p
SILVA, Edmiler José da. A formação de depósitos tecnogênicos entre o médio-baixo curso do Ribeirão Quati
– LONDRINA-PR. 2017. P, 103. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2017.
TUCCI, Carlos E. M. Água no meio urbano. In: Água Doce. 1997.
GILNEI MACHADO1
JOSÉ VINÍCIUS DOS SANTOS PIRES2
WILLIAM FERNANDES DE SOUZA3
[ 137 ]
138 Gilnei Machado; José Vinícius Pires; William de Souza
of this basin. For a better identification of the vegetation cover of the basin, we divided into five
stretches, with this were identified several particularities of the density of vegetation around the
banks of the watercourse. Among the results obtained are the degradation of the vegetation
cover, the irregular occupation of the valley bottom, the solid residues released irregularly, causing
impacts, and the existence of erosive processes such as ravines and gullies. All this contributes to
the plant cover of the PPA of the bottom of the valley of the Ribeirão Quati is irregular, while pre-
senting the footage required by law, now not, with deforested areas that are very close to the bank
of the river and that allow us to conclude that the action of the public power for the recovery of
these stretches is pressing.
Keywords: Urban Environment; Deforestation; Urban Sprawl; Degradation; PPA.
1 INTRODUÇÃO
O objeto de estudo desta pesquisa é a vegetação da área de preservação permanente do
fundo de vale da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, localizada na área urbana do município
de Londrina, PR, porém antes de adentrarmos na análise dos resultados obtidos por meio deste
trabalho, importante se torna, definir o que são os fundos de vale.
Para Christofoletti (1981, p. 287), “o fundo de vale pode ser entendido como uma desig-
nação dada às formas de relevo entalhadas como corredor ou depressão longitudinal, de tama-
nho e aspectos, variados, e ocupados pelos cursos de água”.
Guerra (1993, p. 446) define os fundos de vale como “formas topográficas constituídas
por talvegues e duas vertentes, com dois sistemas de declives convergentes”. O que nos possi-
bilita entender os fundos de vale como sendo compostos pelo leito dos rios e as baixas encos-
tas localizadas à margem esquerda e direita deste, sendo caracterizados por uma depressão
distribuída ao longo do rio.
Geomorfologicamente falando, os vales fluviais se desenvolvem a partir do escavamento
do rio, pelo aprofundamento do talvegue e pelo alargamento das vertentes (CHRISTOFOLETTI,
1981, p. 287). É por isso que os fundos de vale podem ser interpretados como as áreas da
superfície do terreno que apresentam cotas mais baixas em relação às suas áreas próximas
(TUCCI, 1997; CRISTIANO et al., 2011).
As áreas de fundo de vale, apresentam uma importância ambiental significativa, pois a
cobertura vegetal, que normalmente é aí encontrada, auxilia na proteção dos rios, funcionando
como filtro das impurezas físicas e químicas que chegam nessa área por gravidade ou que aí
são lançadas.
Devido à importância ambiental que apresentam, os fundos de vale são legalmente con-
siderados Áreas de Preservação Permanente (APPs) e sua proteção visa evitar ou atenuar o
surgimento de processos erosivos, formar faixas de proteção ao longo dos rios e assegurar o
bem-estar público. Desta forma, as áreas que margeiam os cursos d’água, suas nascentes e as
encostas próximas devem ser entendidas como APPs.
As APPs foram criadas para proteger os rios, o que significa dizer que não podem ser ocu-
padas ou alteradas, devendo estar cobertas com vegetação natural. A importância das APPs
está no fato de elas serem imprescindíveis para a manutenção da fauna e da flora, bem como
para atenuar os processos erosivos, garantir a regularização do fluxo hídrico, e reduzir o asso-
reamento dos rios.
As APPs são áreas onde, por imposição da lei, a vegetação deve ser mantida inalterada
ou intocada, admitida, excepcionalmente, a supressão dela se for do interesse público ou
social, conforme previsto em lei (LEI FEDERAL n. 12.651, de 25 de maio de 2012).
Apesar de ser protegido por lei desde o ano de 1965, com o sancionamento da lei 4.771,
de 15 de setembro de 1965, na prática não vemos a proteção integral dessas áreas, particular-
mente nos meios urbanizados.
Ao longo do século XX, vimos muitas cidades brasileiras serem formadas e crescerem
sem as estruturas básicas de saneamento ou mesmo sem o controle necessário, o que causou
uma série de impactos na cobertura vegetal e na qualidade das águas, com a ocupação de fun-
dos de vale e o desmatamento deles.
O êxodo rural, ocorrido no Brasil, principalmente, a partir dos anos 1960, contribuiu para o
quadro citado, pois foi o grande responsável pelo crescimento acelerado das cidades que não
tinham sido planejadas para receber este grande contingente populacional. Existem cidades em
que a ocupação dos fundos de vales é uma das principais causas da degradação destes ambientes.
No município de Londrina as leis de parcelamento do solo para fins de uso, ocupação e
expansão urbana datadas do ano de 1998 definem as áreas de fundo de vale como “Áreas
Especiais de Fundo de Vale e de Preservação Ambiental”, devendo ser respeitadas as que esti-
verem ao longo das margens dos corpos d’água, numa largura mínima de 30 metros de cada
lado, em conformidade com o Código Florestal de 1965 e com o novo Código Florestal 12.651,
de 25 de maio de 2012.
Infelizmente, apesar de existir uma legislação que visa a proteção das áreas de fundo de
vale e sua vegetação, ela permanece inaplicada, causando inúmeros impactos ambientais nes-
sas áreas devido à degradação da qualidade ambiental.
Sendo assim, o objetivo principal desta pesquisa é caracterizar as condições da cobertura
vegetal da área de APP do fundo de vale do Ribeirão Quati, localizado na área urbana de
Londrina (Figura 1), Paraná.
A bacia do Ribeirão Quati é uma pequena bacia cujo rio principal tem cerca de 8,5 kms
de extensão e que corre no sentido oeste-leste da área urbana de Londrina, desde o Bairro
Leonor até o Bairro Mister Thomas. Ela possui apenas um afluente de destaque que é o Córrego
Bom Retiro, que possui um subafluente na área conhecida como “Buracão”, na Vila Recreio.
Desta forma a bacia apresente um rio principal, dois afluentes e um subafluente, perfazendo
um total de quatro nascentes.
2 METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa sobre as condições da cobertura vegetal da área de APP
dos fundos de vale da bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, localizado em Londrina, PR, foi ini-
cialmente, necessário fazer o levantamento da rede hidrográfica existente na referida bacia.
Para tanto, foi utilizado o software ARCMap® 10.5, no qual foi inserida a rede de drenagem dis-
ponibilizada pelo Instituto Águas Paraná em formato Shape.
possibilitou identificar os usos da terra existentes. Com isso, elaborou-se um Mapa de Uso da
Terra, a fim de compreender qual a utilização que se tem feito das áreas de APPs.
Para a identificação dos usos da terra nas áreas das nascentes e fundos de vale foram
estabelecidas duas classes: o uso arbóreo e os outros usos, uma vez que, o Grau de preserva-
ção foi estabelecido com base na porcentagem de cobertura arbórea. Tal classificação foi rea-
lizada com base na ferramenta Iso Cluster Unsupervised Classification do ARCMap® 10.5.
Este recorte gerou um arquivo raster (imagem) que foi transformado em polígonos a par-
tir da ferramenta Raster to Polygon do ARCMap® 10.5. Uma vez separados manualmente os
polígonos correspondentes a cada uso, pode-se chegar ao estabelecimento do grau de cober-
tura arbórea ou ao grau de preservação das APPs. Para tanto o ribeirão Quati e seus afluentes
foram divididos em cinco trechos, a saber:
• Trecho 1: das Nascentes principais até a Av. Wiston Churchil;
• Trecho 2: Da Av. Wiston Churchil até a Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana;
• Trecho 3: das nascentes a foz do Córrego Bom Retiro (afluente);
• Trecho 4: da Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana até a Av. Angelina Ricci Vezozzo;
• Trecho 5: da Av. Angelina Ricci Vezozzo até a foz no Bairro Mister Thomaz.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como visto na parte que trata da metodologia empregada nesta pesquisa, as áreas de
APP encontradas na bacia hidrográfica do Ribeirão Quati foram divididas em cinco trechos para
serem mais bem estudadas e compreendidas. Na parte que segue será realizada a análise dos
resultados obtidos para cada um destes trechos.
Figura 3 – Trecho 2 – Da Avenida Wiston Churchil até a Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana
No meio do trecho, onde está a rua Emerlino Leão, a vegetação da APP é rarefeita. Já nas
proximidades da foz do Córrego Bom Retiro a mesma se intensifica, e observa-se uma área
bem preservada.
As nascentes 3 e 4 (Figura 5) estão fora dos padrões esperados paras as áreas de APPs
(Quadros 3 e 4) de nascentes, que deve ter raio de 50 metros ao redor de cada nascente. Essa
região passou por um processo de urbanização que mudou sua paisagem, para uma situação
de parque urbano, que apesar de estar fora das condições das áreas de preservação perma-
nente, é coberta por vegetação arbórea esparsa, em cuja base pode ser encontrada gramínea,
mas nenhuma vegetação arbustiva.
A presença desta cobertura vegetal (Quadros 3 e 4) arbórea esparsa com gramíneas não
anula a possibilidade de haver erosão na área, como já está acontecendo com a região da nas-
cente 3, onde água erode a margem direita do ribeirão, o qual foi canalizado (Figura 6), a fim
de aumentar a velocidade do fluxo da água e evitar enchentes e inundações.
Figura 5 – Trecho 4 – Da Av. Lúcia Helena Gonçalves Viana até a Av. Angelina Ricci Vezozzo
Norte Shopping
Figura 6 – Trecho 5 – Da Av. Angelina Ricci Vezozzo até a Foz no Bairro Mister Thomas
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a pesquisa realizada sobre as condições da cobertura vegetal da área de APP da
bacia hidrográfica do Ribeirão Quati, localizado na área urbana de Londrina, no estado do
Paraná, foi possível concluir que a vegetação da APP apresenta inúmeras falhas ocasionadas
pela passagem de ruas e avenidas sobre ela.
Percebeu-se também muitos pontos de pressão da urbanização sobre a APP, onde o uso
urbano ocasiona a redução da área que deveria estar preservada, ou seja, ao andar pelo fundo
de vale verifica-se que muitos moradores transformaram a APP no “jardim” ou na “pracinha”
de sua casa, muitas vezes desmatando a área e cultivando plantas de seu interesse ou simples-
mente plantando gramíneas e colocando uma infraestrutura para seu uso.
A partir dos dados obtidos com esta pesquisa é possível afirmar que as Apps das nascentes
da bacia do Ribeirão Quati precisam de intervenção e recuperação de sua cobertura vegetal e a
proibição de descarte de resíduos sólidos e de outros usos que não sejam o vegetal arbóreo.
Tal fato cabe para a APP de fundo de vale cuja cobertura vegetal, além de não apresentar
os 30 metros de cada lado, também apresentam falhas em muitos pontos. O que demanda
intervenção e recuperação.
5 REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal nº. 12.651, de 25 de maio de 2012, dispõe sobre as áreas de preservação permanentes.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia Fluvial. Rio Claro: Edgard Blucher, 1981.
CRISTIANO, C. C.; ARAÚJO, M. I. de; CORINO, H. L. Considerações gerais sobre as áreas de fundos de vale na
cidade de Maringá – PR. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.4, n.2, p. 291-304, maio/ago. 2011.
GUERRA, A. T. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.
TUCCI, Carlos E. M. Água no meio urbano. In: Água Doce. 1997.
[ 148 ]
CARACTERIZAR A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO SUBSÍDIOS 149
GOD methodology, were analysed three basic parameters: aquifer type, lithological characteristics
of the unsaturated zone and depth of the static level of the wells. The presented result shows two
classes of medium and high vulnerability. From the analysis of these parameters maps were elabo-
rated to identify the areas of vulnerability to contamination of the subterranean waters, using ArcGIS
10.5 software through raster and kriging, with distance inverse weighting (IDW) interpolation. It’s
hoped that the result of this study become relevant to auxiliate in the management of the subterra-
nean hydric resources of the city of Parintins, and subside other works bound to this study.
Keywords: Subterranean water; Public Supply; Vulnerability Index.
1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento fundamental para a manutenção de todas as formas de vida no
planeta. Dessa forma, faz-se necessário a gestão sustentável dos recursos hídricos, a infraes-
trutura hídrica e o acesso ao abastecimento seguro, confiável e regular de água, bem como
serviços adequados de saneamento, que melhoram os padrões de vida da população.
Para garantir uma gestão sustentável dos Recursos Hidricos, a Lei 9.433/97 instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos que define no Art. 5º seus instrumentos de gestão: I – os
Planos de Recursos Hídricos; II – o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os
usos preponderantes da água; III – a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; IV – a
cobrança pelo uso de recursos hídricos e o sistema de informações de recursos hídricos.
Os poços tubulares têm sido preferencialmente utilizados para o abastecimento público,
devido à importância e disponibilidade dos corpos de água subterrânea, assim como sua pro-
dutividade. No entanto, os aquíferos não têm sido protegidos de forma eficiente e raramente
há uma boa gestão nesse processo de exploração.
No Estado do Amazonas, 71%, dos 62 municípios, utilizam água subterrânea como prin-
cipal fonte de abastecimento público (ELTON, 2019). Todo o fornecimento de água para con-
sumo humano na área urbana na cidade de Parintins provém de captação subterrânea, por
meio de 20 (vinte) poços tubulares, distribuídos em 06 (seis) áreas de captação (SAAE, 2018).
Dentre as principais ameaças às águas subterrâneas destacam-se a exploração intensiva
ou descontrolada de água e as fontes potenciais de poluição provenientes das atividades antró-
picas. É também comum a falta de cuidados na proteção dos poços tubulares, gerando riscos
de contaminação das águas.
Diante desse contexto, decidiu-se por realizar um estudo do índice de vulnerabilidade do
aquífero, como subsídios para a gestão, dos corpos de águas subterrâneas utilizadas no abas-
tecimento púbico na cidade de Parintins/Amazonas.
Fonte: Trabalho de campo (2018), IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2018.
3 METODOLOGIA
O método utilizado para definição dos índices de vulnerabilidade de cada área de estudo foi o
GOD, proposto por Foster e Hirata (1988) que leva em consideração a avaliação de três parâmetros.
O parâmetro G representa o tipo de aquífero (livre, semi-confinado ou confinado) em
que os valores são obtidos dentro de um intervalo de 0 a 1,0.
O parâmetro O representa as características litológicas da zona não saturada do aquí-
fero, no qual é condicionado o tempo de deslocamento de contaminantes, ou seja, cada tipo
de solo tem sua capacidade de atenuação e se encontra numa escala de 0,4 a 1,0.
O parâmetro D refere-se à profundidade do nível estático e equivale a distância que o
contaminante terá que percorrer para alcançar a zona saturada do aquífero. As profundidades
foram medidas no mês de maio, época da cheia. Esses parâmetros, tem valores que podem
variar de 0,6 a 1,0.
Para determinação do primeiro parâmetro, tipo de aquífero, por tratar-se de uma uni-
dade geológica de origem fluvial, não deve apresentar camadas argilosas ou argilo-arenosas de
grande continuidade que possam dividir hidraulicamente o aquífero em subunidades, assim, o
Aquífero Alter do Chão deve ser considerado como livre.
Enquanto o segundo parâmetro, características litológicas, conforme a formação do
aquífero ser constituído de camadas arenosas e argilosas, foi atribuído o valor de 0,6. Essas
informações foram obtidas, a partir de um estudo realizado no ano de 2005, sobre o nível de
contaminação do Aquífero na cidade de Parintins (MARMOS; AGUIAR, 2005).
O terceiro parâmetro, nível estático, foi obtido direto em campo com equipamento des-
tinado a medição dos níveis estático dos poços tubulares, já citado na Figura 9.
O índice de vulnerabilidade foi determinado com a multiplicação dos valores obtidos em
cada fator, e pode ser considerado insignificante (valores de 0 a 0,1), baixa (0,1 a 0,3), média
(0,3 a 0,5) alta (0,5 a 0,7) e extrema (0,7 a 1,0) (FOSTER; HIRATA, 1988) como mostra a Figura 2.
O parâmetro G foi considerado que o aquifero é livre atribuindo o valor 1,0, o parâmetro
O tem como caracetristicas 65% de arenito e 35% de argelito, foi definido o índice 0,6, enquanto
o parâmetro D as variações enconrada foram de 3,50 m a 4,90 m e foi atribuido o valor de 0,9
e 5,20 m a 8,80 m atribuindo o valor 0,8. Os valores dos índices encontrados foram organizados
através de Tabela.
Após os valores dos índices já definidos em tabelas, foram gerados mapas de vulnerabi-
lidade do Aquífero Alter do Chão, por meio de raster que é uma forma de imagem que contém
informações relativas à imagem ou pixel. De tal modo, na plataforma ArcGIS 10.5, foram usa-
das em combinação as interpolações e modelagens para definir as ações da espacialização rela-
tivas aos bairros que determinavam o limite de ação dos poços tubulares. Em termos práticos,
raster se refere a utilização de imagem combinada com dados geográficos, ou seja, pontos,
linhas polígonos em que são definidos ações para cálculo de distância e área interpoladas com
a imagem.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado encontrado do índice de vulnerabilidade do Aquífero utilizando a metodolo-
gia GOD, conforme características de cada parâmetro estão descritas na (Tabela 1).
O parâmetro (G), grau de confinamento do Aquífero, foi definido com índice 1,0, con-
forme o Aquífero Alter do Chão que predomina na cidade de Parintins, ser considerado livre.
O segundo parâmetro (O), característico da zona não saturada, de acordo com as infor-
mações construtivas dos poços tubulares a litologia tem uma formação repetitiva de camadas
arenosas e argilosas, ou seja, de 65% de arenitos e 35% de argilitos, para esta condição foi defi-
nido o índice 0,6.
O terceiro parâmetro (D), se relaciona a profundidade do nível estático dos poços. Dos 20
poços selecionados, as profundidades encontradas de 08 poços variaram de 3,50 a 4,90 m
abaixo de 5 metros, atribuindo assim o valor de 0,9. Enquanto de 12 poços restantes as profun-
didades encontradas variaram de 5,20 a 8,80 m, atribuído o valor de 0,8.
O resultado apresentado, através de mapas de vulnerabilidade, pelo método GOD mos-
tra os níveis estáticos, as classes, a predominância do nitrato e a concentração de alumínio nos
poços tubulares, como referência os limites dos bairros ou a área urbana da cidade Parintins.
A partir da coleta de dados sobre os níveis estáticos dos poços tubulares, na área urbana
de Parintins, foi possível especializá-los a partir da utilização da ferramenta buffer no software
ArcGIS 10.5. Isto se deu em função da interpolação da representação nos bairros de Parintins,
por meio de raster e dos pontos coletados usados como referência pra aplicação da técnica de
distância inversa ponderada (IDW). Dessa forma foi possível obter as relações de hierarquias
dos grupos de níveis estáticos dos poços tubulares, bem como relacioná-los ao status de nitrato
presente nos poços (Figura 3).
O método GOD estabelece que, quanto maior a distância da superfície do terreno até o
lençol subterrâneo, maior a proteção do aquífero, fato que sob a ótica do tempo de trânsito de
percolação descendente de um contaminante, em meio não saturado, está correto. Assim, são
estabelecidas áreas de maior ou de menor vulnerabilidade, influenciadas respectivamente
pelos níveis de água profundos ou rasos. Nas áreas de níveis mais profundos de águas subter-
râneas admite-se menor vulnerabilidade dos aquíferos (ANA, 2018).
Fonte: trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2019.
Partindo dessa premissa, pode-se afirmar, segundo o resultado da pesquisa, tendo como
referência os poços que tiveram os níveis estáticos menores que 5 metros, que os teores de
nitrato são maiores, com exceções do poço nº 16 cujo nível estático é menor que cinco metros
e a média de nitrato está abaixo de 5 mg/L e do poço nº 19 que o nível estático está maior que
5 metros, mas a média de nitrato nos períodos de cheia e vazante é de 16,7 mg/L.
Com o resultado apresentado, a partir dos dados coletados pela observação e aplicação
do método GOD, as informações extraídas de perfis relativos aos poços selecionados para o
estudo, de acordo com o mapa (Figura 4), foi possível representar a distribuição das duas clas-
ses de vulnerabilidade (média e alta) obtidas a partir da aplicação do método GOD, como limite
a área urbana da cidade de Parintins, utilizando-se o interpolador IDW (Interpolação ponde-
rada por distância) do software ArcGIS 10.5.
Fonte: Trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2019.
lançam grande carga de efluentes doméstico direto no canal superficial, além de receber con-
tinuamente uma grande carga de esgoto da rua Paraíba.
Assim como o Bombeamento I, os poços localizados no Bombeamento II, recebem água
que passa pelo braço principal do Lago do Macurany. Como boa parte desse braço encontra-se
ocupado por palafitas, cujos moradores despejam os seus dejetos domésticos diretamente nas
suas margens, é de se esperar que esse contaminante chegue às referidas estações (MARMOS;
AGUIAR, 2005).
O processo de degradação natural dos esgotos provoca a geração de nitrato que, pelas
características de persistência e mobilidade e o contínuo processo de infiltração, representa
atualmente um potencial contaminante das águas subterrâneas dos centros urbanos, como é
o caso da cidade de Parintins (ANA, 2018), (Figura 5).
Fonte: Trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2019.
Fonte: Trabalho de campo. Elaborado por Luiz Augusto. IBGE (INDE), Imagem ArcGIS online 2018.
bairros, ou área urbana da cidade de Parintins, a partir das variações dos poços. Entretanto, a
abrangência de concentração de alumínio apresentada no mapa, não significa o predomínio,
mas o indicativo da concentração de alumínio da interpolação dos poços tubulares com os limi-
tes de bairros. Assim, existe a concentração de alumínio entre os poços, além daquelas encon-
tradas pontualmente. Mas, para configurar precisamente a abrangência, teríamos que dispor
da especificidade da rede de água abastecida pelos referidos poços tubulares.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho avaliou o índice de vulnerabilidade do aquífero, com objetivo de
contribuir com a gestão dos recursos hídricos subterrâneos na cidade de Parintins. Diante dos
resultados, foi possível concluir que as águas subterrâneas da cidade de Parintins, possuem
duas classes de vulnerabilidade, média e alta.
Um grande exemplo é a concentração de nitrato e alumínio que são maiores nas áreas de
captação de água do bombeamento I, localizado na Rua Rio Branco, Centro/Francesa e bom-
beamento II na Rua Alcides Seixas, Vitória Régia. Pode-se afirmar que essa vulnerabilidade está
associada á degradação antrópica constatada nessas áreas. Os mapas gerados mostraram as
áreas mais vulneráveis a contaminação as águas subterrâneas.
6 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUA – ANA. Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil. Informe 2018. Brasília, DF:
ANA, 74p. 2018.
ELTON, A. M. A Amazônia tem “Oceano Subterrâneo”. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/19541. Acesso
em: 20 ab. de 2019.
FOSTER, S. HIRATA, R. Groundwater pollution risk evaluation: the methodology using available. Lima: CEPIS/
PAHO/WHO, 78p. 1988.
FOSTER, S.; HIRATA, R.; GOMES, D.; D’ELIA, M.; PARIS, M. Proteção da qualidade da água subterrânea: um
guia para empresas de abastecimento de água, órgãos municipais e agências ambientais. Washington: Banco
Mundial, 104p. 2006.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2010. Censo Demográfico Populacional: Disponível em:
http://www.censo 2010. ibge.gov. Acesso em: 5 set. 2018.
BRASIL. Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de
dezembro de 1989.
MARMOS, J. L; AGUIAR, C. J. B. Avaliação do Nível de Contaminação dos Aquíferos da Cidade de Parintins
(AM): Primeiros Resultados. Serviço Geológico do Brasil-CPRM/Manaus, AM, 93p. 2005.
SAAE. Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Parintins, 2018.
Resumo: Os recursos hídricos estão entre os recursos naturais mais alterados pelas interferências
nas paisagens, por exploração de tais ou pela própria promoção de degradação dos sistemas natu-
rais. Pensando nisso, esse trabalho traz como tema os impactos ambientais sofridos no Baixo
Curso do Rio Ceará e por conseguinte busca-se promover uma discussão sobre a necessidade de
sua conservação e dos sistemas que o envolvem. Através de pesquisas bibliográficas foi possível
apropriar um maior conhecimento sobre a Bacia do Rio Ceará e os seus impactos oriundos, princi-
palmente, da expansão urbana em áreas que estão situadas na bacia. Para espacializar as discus-
sões foram elaborados mapas que representam a síntese dos ambientes urbanos que margeiam a
Área de Proteção Ambiental do Rio Ceará, além de cartografias de diferentes pesquisas que auxi-
liaram no desenvolvimento da compreensão e fragilidade ambiental da área de estudo. Pode-se
perceber que embora esteja inserido em uma àrea de proteção, o Baixo Curso do Rio Ceará vem
sofrendo degradações, seja pelo desmatamento da vegetação de várzea e de mangue, retirada de
areia das dunas, exploração dos recursos naturais, descarte indevido de resíduos ou os intensos
fluxos de automóveis, que se configuram como fatores de perturbação do equilíbrio ambiental
dos ecossistemas e da poluição.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; Bacia do Rio Ceará; Impactos Ambientais; Bacias Hidrográficas.
Abstract: The hydric resources are among the natural resources most altered by interference in
landscapes, by the exploitation of such or by the very promotion of degradation of natural sys-
tems. With this in mind, this work brings as its theme the environmental impacts suffered in the
Lower Course of the Ceará River and consequently seeks to promote a discussion about the need
for its conservation and the systems that surround it. Through bibliographical research it was pos-
sible to acquire more knowledge about the Ceará River Basin and its impacts, mainly from urban
expansion in areas that are located in the basin. In order to spatialize the discussions, maps were
elaborated that represent the synthesis of the urban environments that border the Environmental
Protection Area of Ceará River, in addition to cartographies of different researches that helped in
[ 160 ]
CARTOGRAFIA APLICADA À ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO BAIXO CURSO DO RIO CEARÁ 161
the development of the understanding and environmental fragility of the study area. It can be
seen that although it is inserted in a protected area, the lower course of the Ceará River has been
suffering degradation, either by the deforestation of the floodplain and mangrove vegetation,
removal of sand from the dunes, exploitation of natural resources, improper disposal of waste or
the intense flow of cars, which are configured as factors of disturbance of the environmental bal-
ance of ecosystems and pollution.
Keywords: Water Resources; Ceará River Basin; Environmental Impacts; Hydrographic Basins.
1 INTRODUÇÃO
Uma bacia hidrográfica corresponde ao recorte espacial da superfície coletora de águas
pluviais, que ocupa um sistema de drenagem composta por um rio principal e seus tributários.
Segundo dados da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH), o estado com-
porta em seu território 12 bacias hidrográficas, dentre elas está a Bacia Hidrográfica
Metropolitana que é composta por 31 municípios cearenses. Essa Bacia Metropolitana subdi-
vide-se em quinze sub bacias, dentre elas destaca-se a Bacia do Rio Ceará, que se encontra na
porção norte do estado do Ceará, abrangendo quatro municípios: Maranguape, Maracanaú,
Caucaia e Fortaleza com uma área de aproximadamente 77.370 hectares (GONÇALVES, 2016).
O rio Ceará possui uma enorme significância, tanto ambiental e ecológica, devido sua
biodiversidade e diversidade cultural, e por estar relacionado ao território indígena Tapeba e
ao crescimento urbano ao seu redor. Segundo Thiers, Meireles e Santos (2016), o setor mon-
tante do rio Ceará está localizado na vertente setentrional do maciço de Baturité e sua foz é o
próprio Oceano Atlântico. O rio Ceará apresenta um padrão de drenagem dendrítica, lem-
brando galhos de uma árvore, formando ângulos menores que 90º graus e possui como princi-
pal afluente o rio Maranguapinho, em sua margem direita.
O presente trabalho objetiva, primeiramente, realizar uma caracterização geral dos
aspectos geoambientais da Bacia Hidrográfica do Rio Ceará, para em seguida efetivar um
estudo mais detalhado sobre o Baixo Curso do Rio Ceará, analisando os impactos ambientais
presentes e trazer à tona a necessidade de se pensar medidas que possam mitigar suas conse-
quências socioambientais. A pesquisa apresenta uma breve discussão sobre os principais
impactos identificados nessa área, buscando uma reflexão sobre a riqueza ambiental e paisa-
gística desse sistema hídrico e a importância de sua gestão socioambiental, podendo também
contribuir para que a população venha conhecer a necessidade de se conservar os seus siste-
mas ambientais.
Para os mapas autorais foram utilizados shapefiles, dados e imagens de órgãos públicos
como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Secretaria Estadual do Meio
Ambiente (SEMA), Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), do
Comitê de Bacias Hidrográficas da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) e
composições das bandas 2 e 3 do satélite Landsat 5, coletadas no portal do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE).
3.1 Geologia
Segundo dados do IBGE, em relação às unidades geológicas, constatam-se depósitos sedi-
mentares compostos pelo Grupo Barreiras e embasamentos indiferenciados (Figura 3). Os depó-
sitos do Grupo Barreiras tem suas origens ainda no período Terciário Plio-Pleistoceno, sendo que
sua morfologia é caracterizada pelos tabuleiros pré-litorâneos. Segundo Ceará (2016, p.34) “Sua
litologia é composta por arenitos grossos com matriz caulinítica, com sedimentos mal a
3.2 Pedologia
As classes de solo encontradas ao longo da bacia do rio Ceará são caracterizadas por
Neossolos Litólicos, nas áreas de declive mais acentuado; Gleissolos Tiomórficos, solos com
presença de sais por influência de águas marítimas ou pela vegetação do mangue; Luvissolos,
presentes em regiões que apresentam vegetação de caatinga arbórea; Planossolos Solódicos,
que contam com a presença de sódio em sua formação; Argissolos, solos bastante intemperi-
zados, com acúmulo de argila no horizonte B; e Vertissolos, que apresentam 30% ou mais de
argila no perfil, variando de acordo com o teor de umidade (Figura 4).
3.3. Vegetação
No que se refere aos tipos vegetacionais, as unidades fitoecológicas que compõem a paisa-
gem da bacia do rio Ceará são o Complexo Vegetacional da Zona Litorânea, composta de vegeta-
ção de restingas e matas de tabuleiros; a Floresta Perenifólia Paludosa Marítima, correspondente
ao ecossistema de manguezal, situada na área estuarina do rio Ceará, é caracterizada pela pre-
sença de Gleissolos Tiomórficos e recebe constantes interferências fluviomarinhas. Ceará (2016,
p.52) afirma ainda que “Pode ocorrer ao longo dos leitos de rios, canais naturais e margem de
lagunas até onde vai o fluxo de maré, normalmente em terrenos baixos, com declividade muito
baixa”. Cerradões pré-litorâneos podem encontrados junto aos terrenos de tabuleiros pré-litorâ-
neos, apresentando uma vegetação do tipo savânica, espécies arbóreas e arbustivas de pequeno
a médio porte; a Caatinga Arbustiva Densa, corresponde a uma vegetação com altura variando
entre 2 a 5 metros, de troncos ramificados, grossos, espinhentos e pontiagudos. Ocorrendo ainda
o mecanismo de caducifolía, que consiste na queda de sua folhagem nos períodos mais secos do
ano e a Floresta Caducifólia Espinhosa, ou Caatinga Arbórea, como é classificada pelo IPECE,
caracteriza-se por árvores altas de até 20 metros (Figura 5).
Conforme Gonçalves (2016, p.15): “O baixo curso do rio Ceará é um ambiente onde a
ação dos processos morfodinâmicos é intensa. A ocupação desse ambiente deve ser evitada ou
realizada levando em consideração suas características intrínsecas e sua dinâmica natural”, ou
seja, por se tratar de um ambiente mais suscetível a transformações, seja de ordem antrópica
ou até mesmo natural, observa-se a necessidade de uma maior preocupação para com a pre-
servação desse meio. Por estar concentrado entre grandes aglomerados urbanos, com concen-
tração maior no lado que diz respeito ao território de Fortaleza, é possível observar o
desequilíbrio entre preservação e impactos que vem se prolongando por anos e afetando
todos os ecossistemas presentes.
Por estar localizado em áreas composta por planícies fluviais e planícies fluviomarinhas,
características devidas sua baixa altitude ocorrem inundações de tempo em tempo. Além des-
sas, como supracitado, a região do baixo curso do rio Ceará também é composta por tabuleiros
pré-litorâneos, o qual não possui muitas variações com relação à altimetria. Com isso se
observa uma declividade pouco acentuada.
Segundo estudo realizado por De Paula e Souza (2011), as áreas mais vulneráveis da bacia
do rio Ceará estão localizadas na porção de baixo curso (Figura 8). Os impactos mais comuns
nessas áreas são oriundos, principalmente, de ações antrópicas e dos processos de expansão
urbana atrelada aos usos dos sistemas ambientais. Dentre os danos ambientais presentes ao
longo da bacia, estão o desmatamento do mangue, retirada de areia das dunas, exploração dos
recursos naturais e descarte indevido de resíduos e lixos, que acabam afetando diretamente a
fauna e a flora local. Há intensos fluxos de automóveis, que também se configuram como um
dos fatores de perturbação do equilíbrio ambiental dos ecossistemas e da poluição.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O levantamento dos impactos que afetam as bacias hidrográficas, são de extrema impor-
tância, uma vez que o recurso hídrico é considerado indispensável para a sobrevivência dos
organismos terrestres. Assim, ao observarmos como esses recursos vêm sendo constante-
mente afetados, nos induz a repensar seu valor e importância tanto para manutenção da vida,
quanto por sua riqueza natural, pois está intrinsecamente atrelado aos demais ecossistemas,
como o manguezal, como exposto ao longo do trabalho.
Através das pesquisas pode-se observar que os modos de uso e ocupação na região do
Baixo Curso do Rio Ceará, tem prejudicado bastante os sistemas naturais, tendo em vista seu
alto índice de vulnerabilidade por comportar planícies fluviomarinhas comportando mangue-
zais. Atenta-se ainda para as regiões dos tabuleiros, que mesmo apresentando uma vulnerabi-
lidade moderada, vê-se necessário um cuidado maior com relação às práticas de uso e
ocupação, a fim de colaborar para a conservação dos recursos naturais. Contudo conclui-se
que, mesmo havendo regulamentações que assegurem a conservação desses recursos, é
necessário ainda uma maior conscientização da população, através de práticas de educação
ambiental a fim de promover um novo olhar sobre os sistemas que os rodeiam e sua importân-
cia ambiental e social.
7 REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. V.; FREIRE, G. S. S.; MANSO, V. do A. V.; FREIRE, R. S.; PORTELA, J. P. Estudo de uso e ocupação da
APA do estuário do rio Ceará-CEará.
BRASIL. (1986). Resolução do CONAMA n° 001/1986. Brasília.
CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Reestruturação e atualização do mapeamento do
projeto Zoneamento Ecológico-Econômico do Ceará – zona costeira e unidades de conservação costeiras–
Resumo: A ocupação desordenada em áreas de risco ambiental e geológico, bem como de Área de
Preservação Permanente é um dos grandes problemas urbanos das capitais brasileiras atual-
mente. Em Boa Vista estas áreas estão circunscritas aos sete igarapés urbanos e suas bacias hidro-
gráficas. Entre os mais variados fatores desta ocupação desordenada está a ausência de políticas
públicas, como habitação e saneamento básico, além da omissão das autoridades no que tange a
fiscalização das referidas áreas ocupadas. Assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar
um levantamento dos principais pontos de alagamento e partir daí, circunscrever áreas com
potencial de inundação, tendo como um dos fatores relacionados o desencadeamento da expan-
são populacional na área urbana de Boa Vista sobre as bacias hidrográficas urbanas. As informa-
ções coletadas junto a Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Meio Ambiente foram
utilizadas na elaboração dos produtos deste trabalho, utilizando para isso a quantificação dos
dados por meio da densidade de Kernel, devendo com isso compor parte de um banco de dados
que possa auxiliar no reconhecimento da realidade hídrica das áreas de risco a alagamento de
inundação e avaliar medidas que possam minimizar este problema. Percebe-se como consequên-
cia do aumento no contingente populacional, que problemáticas ambientais foram desencadea-
dos, podendo estes serem observados por meio das alterações das paisagens naturais de Boa
Vista, principalmente no tocante ao surgimento de pontos de alagamento. Deste modo, os impac-
tos ocorridos tendem a se propagar por toda hidrografia, repercutindo a jusante, com a concen-
tração de pontos de alagamento.
Palavras-chave: Expansão Urbana; Hidrografia; Ocupação irregular.
Abstract: Disorderly occupation in areas of environmental and geological risks, as well as in
Permanent Preservation Areas, is one of the major urban problems in Brazilian capitals today. In
Boa Vista, these areas are limited to the seven urban streams and their basins. Among the most
varied factors of this disorderly occupation is the absence of public policies, such as housing and
basic sanitation, in addition to the omission of the authorities regarding the inspection of these
[ 173 ]
174 Ana Caroline dos Santos Nunes; Antônio Carlos Ribeiro Araújo Júnior
occupied areas. Thus, the present work aims to carry out a survey of the main flooding points and
from there to circumscribe areas with potential for flooding, having as one of the factors related
to the triggering of population expansion in the urban area of Boa Vista over urban watersheds.
The information collected from the Civil Defense, Fire Department and Environment Department
were used in the preparation of the products of this work, using in this matter the quantification
of data through Kernel density, and must therefore form part of a database that can help in the
recognition of the water reality of areas at risk of flooding and evaluate measures that can mini-
mize this problem. As a result of the increase in the population contingent, environmental pro-
blems were triggered, which can be observed through changes in the natural landscapes of Boa
Vista, especially with regard to the appearance of flooding points. Under these circumstances, the
impacts that occurred tend to propagate throughout the entire hydrography, reverberating
downstream, with the concentration of flooding points.
Keywords: Urban Expansion; Hydrography; Irregular occupation.
1 INTRODUÇÃO
A expansão física da cidade se dá inicialmente de forma horizontal, abrangendo uma
extensa porção de terra. Esse processo é considerado um dos componentes da expansão
urbana, necessária para alocar a população em ascensão, para tanto há necessidade de realizar
planejamentos para que não ocorra prejuízo, tanto ao meio ambiente, quanto à população que
depende da cidade para uso e ocupação.
A Amazônia vem sendo transformada devido avanço da urbanização, relacionado ao pro-
cesso de uso e ocupação do solo, envolvendo diferentes impactos negativos em áreas de risco
ambiental e geológico, bem como de Área de Preservação Permanente, sendo este um dos
grandes problemas urbanos das capitais brasileiras-amazônicas.
Para reforçar a exemplificação do quadro de expansão urbana e com o intuito de promo-
ver a segurança nacional, o governo do estado promoveu o crescimento socioespacial do
“Território de Roraima”, através de uma política urbana concentrada na capital, Boa Vista, rea-
lizando obras de infraestrutura físicas e socioeconômicas, construindo conjuntos habitacionais
e ampliando os serviços públicos. (MOSSATO, et al., 2011; VERAS, 2009; BATISTA; SILVA, 2018).
Em Boa Vista estas áreas estão relacionadas aos sete igarapés urbanos e suas bacias
hidrográficas. Entre os mais variados fatores desta ocupação desordenada está a ausência de
políticas públicas como habitação e saneamento básico, além da omissão das autoridades no
que tange a fiscalização das referidas áreas.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento dos principais
pontos de alagamento e partir daí circunscrever áreas com potencial de inundação, tendo
como um dos fatores relacionados o desencadeamento da expansão populacional na área
urbana de Boa Vista sobre as bacias hidrográficas urbanas.
Drenagem Urbana e Canalização
A água, além de ser fonte da vida e origem de fonte de energia limpa quando bem utili-
zada também tem potencial de desencadear fenômenos negativos. A mesma pode ser fonte de
doenças, e também de cheias, alagamentos e inundações, muitas vezes como resposta direta
a impermeabilização do solo. Assim a drenagem urbana passa ser não apenas uma necessi-
dade, mais uma prioridade para os gestores públicos.
Deste modo se a drenagem for bem executada pode elevar a qualidade de vida da popu-
lação, diminuindo o risco de doenças e consequentemente elevando a qualidade de vida, no
entanto não podemos confundir drenagem urbana com canalizações de igarapés.
No Brasil cidades como São Paulo, Rio Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus,
Belém e outras capitais se deparam com os mesmos problemas. Nestas cidades os órgãos
públicos são incapazes de agir com eficiência no planejamento, controle e execução de medi-
das eficazes para alterar a situação atual, está particularmente relacionada ao saneamento
básico. Cabe salientar que o saneamento se encontra numa situação caótica relacionada prin-
cipalmente a coleta e tratamento de esgotos domésticos e a drenagem urbana.
Boa Vista se enquadra nesta situação por ter sua área urbana plana, com graves proble-
mas de alagamento no período chuvoso. A cidade possui sistema de coleta de esgoto domés-
tico insuficiente, com poucos bairros em que o serviço é disponibilizado. Assim, a cidade dispõe
de raras galerias de esgoto fluvial e cloacal, um descaso de saneamento básico.
Salienta-se que o sistema de drenagem de um núcleo habitacional é o mais destacado no
processo de expansão urbana, ou seja, o que mais facilmente comprova a sua ineficiência, ime-
diatamente após as precipitações significativas, trazendo transtornos à população quando
causa inundações e alagamentos.
Além desses problemas gerados, também propicia o aparecimento de doenças como a
leptospirose, diarreias, febre tifoide e a proliferação dos mosquitos anófeles, que podem disse-
minar a dengue. E, para isso, estas águas deverão ser drenadas e como medida preventiva ado-
tar-se um sistema de escoamento eficaz que possa sofrer adaptações, para atender à evolução
urbanística, que aparece no decorrer do tempo.
Um sistema geral de drenagem urbana é constituído pelos sistemas de micro drenagem
e macrodrenagem. A canalização, um dos objetos de estudo do presente trabalho se enquadra
na modalidade de macrodrenagem.
Nos últimos dois séculos, muitos dos cursos d’água que cortam grandes centros urbanos
tiveram seus leitos transformados em grandes canais revestidos por materiais resistentes,
como pedra e concreto (ANDRÉS; LISBOA, 1997).
A canalização foi feita em nome da adequação dos cursos d’água ao crescimento dos
municípios. Ao canalizá-los, era possível aumentar as vias de transporte e os loteamentos,
além de eliminar, supostamente, o problema das enchentes, do esgoto e do excesso de lixo.
Cobertos por grandes avenidas, muitos cursos d’água são lembrados somente ao transborda-
rem, quando o volume de água e lixo ultrapassa a capacidade de suas galerias.
Limpar e manter esses canais são procedimentos difíceis e perigosos, principalmente nos
fechados, pois o acesso é o maior complicador. A mais grave consequência da canalização é o
fato desta comprometer a relação entre homem e natureza. As áreas verdes das margens são
substituídas por concreto e asfalto. Atividades de lazer como nadar, pescar e navegar passam
a ser quase impraticáveis.
Infelizmente, observamos uma certa tendência político-administrativa favorável à cana-
lização dos córregos e cursos d’água urbanos ou rurais como solução rápida, fácil e definitiva
para se evitarem enchentes, mau-cheiro, desbarrancamentos, proliferação de insetos e doen-
ças, bem como outros efeitos da má conservação, proteção e preservação do meio ambiente
(rural ou urbano).
Nesse contexto, também é importante ressaltar que estão sendo multiplicadas no espaço
urbano de Boa Vista as fontes de risco relacionados aos recursos hídricos em geral.
As fontes de risco se multiplicaram com o avanço da urbanização. A principal fonte de risco
para os igarapés de Boa Vista, onde à ocupação desordenada do espaço urbano, a qual leva, por
exemplo, à canalização dos rios e a destruição de matas ciliares. O crescimento desordenado das
últimas décadas vem sendo determinante para a degradação dos recursos hídricos urbanos.
Segundo Ross (2003) os problemas com a drenagem urbana não são os únicos a serem
enfrentados pelas cidades brasileiras. O que se observa é que o crescimento rápido das cidades
não é acompanhado no mesmo ritmo pelo atendimento de infraestrutura para a melhoria da
qualidade de vida.
A deficiência de redes de água tratada, de coleta e tratamento de esgoto, de pavimentação
de ruas, de galerias de águas pluviais, de áreas de lazer, de áreas verdes, de núcleos de formação
educacional e profissional, de núcleos de atendimento médico-sanitário é comum na maioria das
cidades brasileiras. Outro ponto importante a ser destacado é a presença de poluição nas áreas
canalizadas, tanto por resíduos sólidos (lixo), quanto por resíduos líquidos (esgotos).
Quanto à questão do esgoto o que se pode observar durante as visitas de campo é que
existem algumas ligações diretas nos canais, provenientes das residências e estabelecimentos
comerciais que margeiam os mesmos. A presença de lixo jogado nos canais e em alguns tre-
chos, onde o despejo de esgoto sanitário ocasiona entupimentos de saídas de esgotamento de
águas pluviais, e isso consequentemente aumenta o risco de inundações e alagamentos.
A construção dos canais sobre os igarapés foi realizada para escoar águas pluviais e fazer
o escoamento do excesso no período chuvoso, onde ocorrem as enchentes. Na conclusão do
trabalho era necessário saber o grau do impacto gerado pela implementação das obras de
canalizações.
No entanto, a continuidade desse tipo de obra depende de diversos fatores da legislação
ambiental. Segundo informações do Anteprojeto de Lei do Plano Diretor Estratégico de Boa Vista,
são objetivos relativos à Política Ambiental voltada para os Recursos Hídricos PMBV (2006):
2 METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste estudo abrangeu as seguintes etapas: levantamento de
dados secundários envolvendo pesquisa documental, na qual foram consultados artigos, dis-
sertações, entre outros e informações de metadados coletados em bancos de dados públicos
georreferenciados (IBGE, Corpo de Bombeiros, Fundação Estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos etc.).
Os procedimentos básicos da metodologia incluíram, levantamento de informações e
dados para embasamento, para com isso elaborar mapas temáticos da área e através destes rea-
lizar estudos analíticos temáticos, integrando atributos do meio físico com auxílio de imagens
OpenStreetMap para localização do município, hidrografia e igarapés canalizados na escala
1:80.000 e de outros elementos necessários para a confecção da carta base da área de estudo.
Com dados referentes a última grande cheia do Rio Branco, ocorrida em 2011 , pode-se
aferir a área que sofreu grandes consequências com inundações, sendo confeccionado a partir
destes dados o mapa de representação das áreas alagadas na escala de 1:100.000.
Os procedimentos de vetorização foram efetuados através do uso do aplicativo compu-
tacional em ambiente SIG (software ArcGIS 10), onde houve processo de integração, análise,
interpretação e cruzamento dos dados para confecção dos mapas temáticos de canalização e
alagamentos, da área de estudo. Sendo que, as informações coletadas deverão compor parte
de um banco de dados que possa auxiliar no reconhecimento da realidade da população que
reside em áreas de risco e avaliar medidas que possam minimizar este problema.
A área de estudo está inserida na Bacia hidrográfica do Rio Branco. O regime hidrográfico
da bacia é definido por um período de cheia, nos meses de março a setembro, com a maior
elevação no mês de junho. No período seco (outubro a fevereiro) as águas baixam considera-
velmente, impossibilitando a navegação, segundo Veras e Souza (2010).
O relevo do Município é formado por uma extensa superfície de aplainamento, conse-
quência do alto estágio de erosão de rochas pré-cambrianas com guinaise do embasamento
cristalino. Nele, as altitudes variam de 80 a 160 metros, decaindo em direção à calha do Rio
Negro, no Amazonas.
Estas áreas de planície de inundação em Boa Vista têm sido intensamente ocupadas nos
últimos trinta anos. Como grande parte das cidades brasileiras em áreas propensas a enchentes,
inundações e alagamentos este problema só é sentido com a chegada do período de chuvas.
Neste período centenas de famílias são obrigadas a se retirarem de suas casas devido a
problemas de inundação e alagamentos. Estes fatos se intensificaram no ano de 2011, devido
o alto índice pluviométrico, tendo milhares de desabrigados e milhões de reais em prejuízos
tanto na capital quanto em cidades do interior de Roraima.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Enchentes/alagamentos na cidade de Boa Vista-RR
Faz-se importante mencionar que a cidade de Boa Vista conta com uma boa infraestru-
tura, no qual podemos destacar a pavimentação de várias avenidas e ruas da cidade. Estão
sendo investidos na canalização de valas e colocação de canalização para escoamento de águas
pluviais para evitar as cheias no período chuvoso.
Porém, o aterramento dos lagos associado ao aumento do nível do terreno nas quadras
e ruas resulta num rebaixamento do lençol freático e na perda da conectividade entre os cor-
pos lacustres e suas áreas inundáveis. A modificação da drenagem natural da área acarreta
uma redução na permeabilidade da superfície do solo, consequentemente um aumento no
escoamento superficial, o que poderá tornar-se agravante para a ocorrência de inundações.
A intervenção social de maior agressão é a canalização dos igarapés. Isso causa muitos
problemas, pois retira toda a mata ciliar e o igarapé vira um esgoto, pois retifica o canal e a
águas correm mais rápido. Isso prejudica a dinâmica fluvial do igarapé, extinguindo o habitat
dos peixes que estavam no igarapé. A canalização ainda acaba com a flora e a fauna. (figura 2).
Um exemplo da degradação foi registrado pelo jornal impresso Folha de Boa Vista (2011),
num trecho do igarapé do frasco, que teve parte da mata ciliar arrancada às margens da BR-174,
no bairro Cauamé, para duplicação da rodovia (SOUZA, 2011). Outra parte da margem do iga-
rapé do Frasco, no bairro Jardim Floresta, tem a mata ciliar preservada, com buritizal e lá sur-
gem vários animais, como tucanos, papagaios, curica, paca, jacaré, sucuri e muitos outros
animais que vão para lá se alimentar de frutas e de peixe.
Conforme Tucci (1997), as enchentes em áreas urbanas são consequências de dois pro-
cessos, que ocorrem isoladamente ou de forma integrada: 1 – Enchentes em áreas ribeirinhas
– as quais ocorrem, principalmente, pelo processo natural no qual o rio ocupa o seu leito maior,
de acordo com os eventos chuvosos extremos, em média com tempo de retorno superior a
dois anos.
Esse tipo de enchente, normalmente, ocorre em bacias grandes (1.000 km2) e é decor-
rência do processo natural. Os impactos sobre a população são causados, principalmente, pela
ocupação inadequada do espaço urbano.
Como, no Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidades brasileiras, não existe
nenhuma restrição quanto ao loteamento de áreas de risco de inundação, a sequência de anos
sem enchentes é razão suficiente para que empresários loteiem áreas inadequadas; invasão
(ocupação irregular) de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população de
baixa renda; ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com frequência menor, mas
que quando o são, sofrem prejuízos significativos.
2 – Urbanização – Com o desenvolvimento urbano, ocorre a impermeabilização do solo
através de telhados, ruas calçadas e pátios, entre outros. Dessa forma, a parcela da água que
infiltrava passa a escoar pelos condutos, aumentando o escoamento superficial. (KUNEN et al
apud TUCCI, 2013)
O volume que escoava lentamente pela superfície do solo e ficava retido pelas plantas,
com a urbanização, passa a escoar no canal, exigindo maior capacidade de escoamento das
seções. Todavia, isto pode desencadear a ocorrência de inundações localizadas, as quais podem
ser provocadas por: (MIRANDA; MATUTI, 2018)
• Estrangulamento da seção do rio devido a aterros e pilares de pontes, estradas, ater-
ros para aproveitamento da área, assoreamento do leito do rio e lixo;
• Remanso devido à macrodrenagem, rio principal, lago ou reservatório;
• Erros de execução e projeto de drenagem de rodovias e avenidas, entre outros.
Normalmente, esses problemas disseminam-se nas áreas urbanas, à medida que existe
pouco controle sobre as diferentes entidades que atuam na infraestrutura urbana. Adutoras,
pontes ou rodovias são, frequentemente, projetadas sem se considerar seu impacto sobre a
drenagem. Os três tipos de inundações, normalmente, ocorrem em diferentes pontos das cida-
des, isoladamente ou pela combinação dessas situações.
de seus igarapés canalizados por valas de concreto, ocasionando com isso a devastação da sua
mata ciliar, o que compromete a infiltração de água do solo, bem como se torna um foco de
proliferação de larvas de insetos.
As áreas de lagoa em Boa Vista são muitas, bem como os recursos hídricos que estão na
área urbana do município, sendo que estas sofrem com a ocupação desordenada da cidade. Nas
margens do Rio Cauamé foram verificadas áreas em que a mata ciliar foi retirada, favorecendo o
processo de erosão e assoreamento do rio. O Rio Branco igualmente vem sofrendo este processo
seja pela retirada das matas ciliares, ou pela ocupação do seu leito de inundação.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Boa Vista devido às condições geológico-geomorfológicas (terrenos cristali-
nos e áreas de planícies) é caracterizada por uma rica rede hidrográfica. Contudo, as práticas
de proteção ambiental dessa malha hídrica ainda são incipientes se comparado com o uso
indiscriminado do solo, relacionado a ocupação desordenada motivada pela especulação imo-
biliária e a expansão urbana acelerada, atrelados a um protecionismo governamental.
A cidade tem crescido indiferente às características naturais do seu sitio, descaracterizando
e degradando ambientais flúvio-lacustres. As causas dessa degradação são oriundas de proble-
mas de desigualdade econômica e social, aprofundadas por políticas públicas voltadas para ocu-
pação de espaços ociosos na cidade, as quais precisam ser melhor compreendidas para que se
possa promover um desenvolvimento urbano socialmente justo e ecologicamente equilibrado.
Para que estas áreas sejam ocupadas se impõem as mesmas áreas retirada ampla da
cobertura vegetal, provocando profundas mudanças nas suas características primordiais, alte-
rando a dinâmica ambiental como um todo, para com isso, o processo de ocupação ser reali-
zado, porém com uma infraestrutura deficiente.
Este quadro demonstra a necessidade de se investir em políticas de preservação ambien-
tal e na recuperação dos recursos naturais, por meio de ações que minimizem os impactos
ambientais decorrentes principalmente das ações antrópicas.
Recuperar e preservar os lagos dentro do perímetro urbano de Boa Vista consiste em
um desafio. Os caminhos para estas conquistas requerem ações integradas no âmbito esta-
dual e municipal, tendo como um importante ingrediente à mobilização popular. Nesse sen-
tido, destacamos um maior rigor na fiscalização e cumprimento das leis ambientais e o
estabelecimento de uma política ambiental voltada para a preservação e conscientização da
sociedade como um todo.
As diferentes áreas com potencial de serem afetadas, degradadas e identificadas na
figura 4 devem prioritariamente ser preservadas, para que os lagos existentes na área de
estudo tenham também como foco esforços de recuperação.
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Resumo: Os estuários são ambientes de conexão entre a terra e os oceanos. Devido à mistura de
águas e demais fatores hidrodinâmicos, essas regiões apresentam grande potencial de serviços ecos-
sistêmicos. Porém, devido ao aporte urbano acentuado, muitas dessas regiões sofrem pressões
externas que interferem na sua qualidade ambiental. Assim, investigações e monitoramentos cons-
tantes dessas regiões são fundamentais para se pensar em gerenciamento integrado. Sendo assim,
a pesquisa teve como objetivo elencar os principais impactos e interferências que afetam a quali-
dade da água estuarina do Rio Capibaribe, localizado em Recife – Pernambuco, identificando o grau
de seus efeitos ambientais, a fim de subsidiar melhor desenvolvimento do gerenciamento integrado
dessa região. Para tanto, foram realizadas 12 visitas ao estuário, de 2018 a 2020, com auxílio de
embarcação motorizada para a aplicação da metodologia de Avaliação de Impacto Ambiental, com
o auxílio de 9 indicadores para visualização e classificação dos impactos ambientais presentes na
região. Com as visitas, pôde-se verificar que a situação do estuário se encontra comprometida prin-
cipalmente devido ao grande aporte urbano, tendo como principais problemas a construção de
empreendimentos regulares ou não em suas margens, que tem provocada a supressão de vegetação
nativa e o lançamento de efluentes diretamente na água, interferindo sobremaneira nos serviços
ecossistêmicos da região. A identificação desses problemas é fundamental para o processo de geren-
ciamento integrado costeiro e elaboração de redes de monitoramento ambiental, corroborando
com as tomadas de decisões para o planejamento de bacias hidrográficas.
Palavras-chave: Aporte Urbano; Gestão Integrada; Monitoramento Ambiental.
Abstract: Estuaries are environments connecting land and oceans. Due to the mixture of water and
other hydrodynamic factors, these regions have great potential for ecosystem services. However,
due to the accentuated urban contribution, many of these regions suffer external pressures that
interfere with their environmental quality. Thus, constant investigations and monitoring of these
regions are essential for thinking about integrated management. Thus, the research aimed to list the
[ 185 ]
186 Regina Célia Macêdo do Nascimento; Frederico Yuri Hanai; Betânia Cristina Guilherme
main impacts and interferences that affect the quality of estuarine water of the Capibaribe River,
located in Recife – Pernambuco, identifying the degree of its environmental effects, to support bet-
ter development of the integrated management of this region. To this end, 12 visits were carried out
to the estuary, from 2018 to 2020, with the aid of a motorized vessel to apply the Environmental
Impact Assessment methodology, with the aid of 9 indicators for visualization and classification of
environmental impacts present in the region. With the visits, it could be seen that the situation of the
estuary is compromised mainly due to the large urban contribution, with the main problems being
the construction of regular or non-regular projects on its banks, which has caused the native vegeta-
tion suppression, and also the release of effluents into the water, greatly interfering in the region’s
ecosystem services. The identification of these problems is fundamental for the process of integra-
ted coastal management and the elaboration of environmental monitoring networks, corroborating
decision-making for the planning of hydrographic basins.
Keywords: Urban Contribution; Integrated management; Environmental monitoring.
1 INTRODUÇÃO
Os estuários são considerados ambientes de transição entre a terra e o mar (CAMERON;
PRITCHARD, 1963; SCHETTINI et al., 2016), que apresentam grande valor econômico devido ao
seu potencial de serviços ecossistêmicos (provisão de alimentos e abrigo, fonte de renda, prin-
cipalmente com a pesca e turismo, sequestro de carbono, berçário para diversas espécies mari-
nhas e de água doce, dentre outros) (BRANDER et al., 2012; SPANINKS; BEUKERING, 1997), bem
como a região na qual estão inseridos, denominadas de zonas costeiras, apresentam uma
maior disponibilidade de água favorecendo a expansão urbana, as especulações imobiliárias e
consequentemente um maior adensamento populacional (MEA, 2005; PIATTO; POLETTE, 2012;
NASCIMENTO et al., 2018).
Devido à intrusão de água salina nos rios e sua respectiva diluição pela água doce, as
regiões estuarinas contribuem para o estabelecimento de gradientes ambientais, que por sua
vez, auxiliam uma crescente diversificação de habitats e maior disponibilidade de nutrientes na
água (BARLETTA et al., 2019; NUNES; CAMARGO, 2018). Um dos fatores que interferem direta-
mente no funcionamento do estuário e seu respectivo equilíbrio é a presença da urbanização
em seu entorno (CHAPMAN; UNDERWOOD; BROWNE, 2018), que no que lhe concerne, modi-
fica relação entre o solo e o rio, e consequentemente, provoca alterações na hidrodinâmica do
estuário e nos serviços ecossistêmicos (WEINSTEIN, 2008; VAN NIERK et al., 2019).
Ao verificar a situação das regiões estuarinas no Brasil, de acordo com pesquisas do World
Resources Institute (2008), a situação permanece crítica. Ao observar o nordeste brasileiro, a
única região que é dominada por zona hipóxica, está localizada em Recife, Estado de Pernambuco
(Figura 1), a qual refere-se à bacia hidrográfica do Pina (composta pelos rios Tejipió, Pina, Jordão
e Capibaribe). Dentre os rios de maior expressividade que a compõe, está o Capibaribe, um dos
maiores do Estado (NASCIMENTO et al., 2020), com uma área de 7.454,88 km² correspondente a
7,58% de Pernambuco (LIMA et al., 2018), o qual seu estuário é considerado uma Zona Especial
de Proteção Ambiental (ZEPA) por meio do decreto nº 23.809 de 23 de julho de 2008.
Figura 1 – Demonstrativo das áreas estuarinas com índices de hipóxia e eutrofização, com ênfase para a Bacia
do Pina, localizada em Recife – Pernambuco
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
A bacia hidrográfica do Rio Capibaribe é uma das mais importantes do estado de
Pernambuco, a qual abrange aproximadamente 1.330.000 habitantes. Sua região estuarina
(8°4’S – 34° 53’W), localizada na cidade do Recife, capital do estado, tem sido desenvolvida
desde a colonização há mais de 500 anos (BEZERRA et al., 2018; NASCIMENTO et al., 2020)
(Figura 2). Com um grande aporte urbano em suas margens, o estuário apresenta impactos
ambientais em grande intensidade, principalmente no que tange o desmatamento da vegeta-
ção nativa (mangues das espécies Rizhophora mangle L., Laguncularia racemosa L., Avicennia
germinans L. e Avicennia schaueriana Stap & Leechm), escoamento de efluentes domésticos
das construções imobiliárias, regulares ou não (XAVIER et al., 2017).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Impactos ambientais no estuário
Após as 12 visitas ao estuário do Rio Capibaribe, pôde-se verificar que todos os indicado-
res adotados resultaram classificações dos efeitos como extremos (tabela 1). Assim, com o
monitoramento observou-se que mesmo com o passar do tempo, os estressores externos con-
tinuavam presentes no estuário e impactando negativamente esse ambiente. Estando eles
interligados com o indicador de expansão urbana. Ou seja, ela acabou influenciando direta-
mente o processo de terraplanagens para suas construções regulares, aterros dos manguezais
para dar lugar a grandes prédios e construções irregulares.
Tabela 1 – Exemplificação da metodologia utilizada com os indicadores, pesos, efeitos e respectivas classificações
Terraplanagem 5 -5 -25
Assoreamento 5 -5 -25
Para mais, o grande aporte urbano e imobiliário no estuário acabou influenciando dire-
tamente outros impactos, como o aumento expressivo dos processos erosivos na região, asso-
reamento e invasão de áreas públicas (em sua maioria por construção irregular). Essa última,
demonstra um problema que vai além da dimensão ambiental, pelo fato das construções e
edificações não terem estruturas mínimas para qualidade de vida humana (sistema de esgota-
mento sanitário), lançando todo seu efluente doméstico diretamente nas águas, comprome-
tendo a saúde social e ambiental do estuário.
No sentido a montante do estuário, a presença de construções irregulares em suas mar-
gens era ainda mais evidente por ter um maior quantitativo de comunidades vulneráveis (Figura
3). Porém, ressalta-se que, também das proximidades da desembocadura do estuário, pode-se
verificar a presença de uma comunidade expressiva, a Ilha de Joana Bezerra, que é constituída
principalmente de construções precárias nas proximidades do rio (Figura 3C). Além das ques-
tões sociais que impactam diretamente na emissão dos efluentes domésticos, corroborando
com a presente problemática, Zanardi-Lamardo et al. (2016) verificaram a presença de 57
indústrias de médio e alto potencial de poluição no entorno do estuário. Ainda, os autores con-
seguiram detectar 150 pontos e fontes de contaminação por água residuárias que são lançados
diretamente no estuário.
O lançamento direto dos efluentes e águas residuais no corpo hídrico (estuário) contribi
para o aumento expressivo de nutrientes como Fósforo (P) e Nitrogênio Amoniacal (NH3), que
favorecem a perda de oxigenação na água, tornando pontos do estuário hipóxicos (baixa oxi-
genação nas águas – inferior a 2.0 mg L-1) ou anóxicos (ausência total de oxigênio) e consequen-
temente a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) alta, conforme comprovado com a literatura
(BRAYNER; MATVIENKO, 2003; FARRAPEIRA; MELO; TEIXEIRA, 2009; NASCIMENTO et al., 2020;
SCHETTINI et al., 2016; SILVA et al., 2016).
Em consonância às ações antrópicas, o estuário vem sofrendo com a deposição de resí-
duos sólidos em todo seu percurso, tendo maior acentuação em sua jusante ao se aproximar
da desembocadura no Oceano Atlântico. Com o acompanhamento da região durante os três
anos, pôde-se inferir que, a grande quantidade de resíduos dispostos sem tratamento está
associada à presença de intensa urbanização da cidade, assim como à falta de vegetação nativa
em suas margens, e ocupações urbanas indevidas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As regiões estuarinas são locais de grande valor ecossistêmico, porém, por muitas vezes
são lugares negligenciados quanto a sua qualidade ambiental. O grande problema destacado
no Capibaribe relaciona-se ao crescimento acelerado da cidade do Recife, fazendo com que
cada vez mais a cidade tivesse seu crescimento em torno do rio. Com isso, após o monitora-
mento dos indicadores durante três anos da região, pôde-se inferir que os impactos voltados à
supressão de vegetação nativa (mangues), processos erosivos e assoreamento do rio, como
também invasão de áreas públicas por populações mais vulneráveis para construções de mora-
dias irregulares estão em uma classificação extrema. Assim dizendo, seus níveis encontram-se
altos, interferindo diretamente na saúde ambiental do rio e consequentemente na provisão de
seus serviços ecossistêmicos.
Se tratando da vulnerabilidade social, as edificações construídas nas margens do estuário
não apresentam sistemas de esgotamento sanitário, lançando diretamente seus efluentes no
corpo d’água, favorecendo o excesso de nutrientes como Fósforo e Nitrogênio Amoniacal na
água. O excesso desses nutrientes acarreta a baixa oxigenação, deixando a qualidade das águas
comprometida, e em alguns casos, considerada como zona hipóxica, conforme comprovado
em estudos anteriores.
Com o presente cenário, a continuidade de monitoramentos efetivos no estuário é fun-
damental para se identificar as necessidades e fragilidades da localidade, bem como, a formu-
lação de ferramentas e instrumentos que venham a contribuir para a tomada de decisão de
gestores locais, mas não somente isso. Destaca-se que é necessário articular um
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Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar como decorreu a urbanização da Bacia
Hidrográfica do Rio Anhangabaú (São Paulo-SP), tendo como hipótese que a interferência antró-
pica teria modificado os índices morfométricos da bacia favorecendo, por exemplo, o aumento da
ocorrência de inundações e alagamentos, além de que medidas governamentais foram tomadas a
fim de favorecer o uso e ocupação dos terrenos, demonstrando falta de planejamento no que se
refere à conservação dos corpos d’água da cidade. Com o objetivo de quantificar e comparar as
condições da bacia hidrográfica entre as décadas de 1930 e 2020, utilizaram-se índices morfomé-
tricos propostos por Horton (1945) e Strahler (1952), enquanto que para a análise do uso e ocupa-
ção do solo, os conceitos e metodologias fundamentados na antropogeomorfologia propostos
por Rodrigues (1997, 2005, 2010), Moroz-Caccia Gouveia (2010) e Luz (2014) foram fundamentais.
Após uma análise retrospectiva histórica, constatou-se que houve diversas obras de gestões que
tinham nos rios um obstáculo a ser superado, visando promover e melhorar a circulação de carros
na cidade. Verificou-se que os índices morfométricos apresentaram pouca alteração entre 1930 e
2020 mesmo utilizando-se de bases hidrográficas diferentes, demonstrando que, morfometrica-
mente, a bacia é pouco suscetível a inundações. Quanto ao uso e ocupação da terra, atualmente
observam-se altos graus de perturbação, juntamente com uma maior impermeabilização do solo
em detrimento de áreas com baixa cobertura vegetal, sendo registradas centenas de ocorrências
de inundação e alagamento nos últimos anos.
Palavras-chave: Morfometria; Urbanização; Antropogeomorfologia; Drenagem Urbana.
Abstract: This study aimed to analyze how the urbanization of the Anhangabaú River Basin (São
Paulo-SP) took place, with the hypothesis that anthropogenic interference would have modified
the basin’s morphometric indices, favoring, for example, the increase in the occurrence of fluvial
floods and surface water floods, in addition to the fact that government measures were taken in
order to favor the use and occupation of land, demonstrating a lack of planning with regard to the
conservation of the city’s water bodies. In order to quantify and compare the conditions of the
[ 196 ]
EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E DA MORFOMETRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANHANGABAÚ 197
watershed between the 1930s and 2020s, morphometric indices proposed by Horton (1945) and
Strahler (1952) were used, while for the analysis of land use and occupation, the concepts and
methodologies based on anthropogeomorphology proposed by Rodrigues (1997, 2005, 2010),
Moroz-Caccia Gouveia (2010) and Luz (2014) were fundamental. After a retrospective historical
analysis, it was verified that there were several management works that had in the rivers an obs-
tacle to be overcome, aiming to promote and improve the circulation of cars in the city. It was
found that the morphometric indices showed little change between 1930 and 2020, even using
different hydrographic bases, demonstrating that, morphometrically, the basin is not very suscep-
tible to fluvial floods. As for the use and occupation of the land, there are currently high degrees
of disturbance, together with greater soil sealing to the detriment of areas with low vegetation
cover, with hundreds of occurrences being recorded of fluvial floods and surface water floods in
recent years.
Keywords: Morphometry; Urbanization; Antropogeomorphology; Urban drainage.
1 INTRODUÇÃO
A questão da água em ambiente urbano é um dos principais pontos que levantam dis-
cussões atualmente, visto que ela é um elemento que sofre influência direta e indireta das
intervenções antrópicas. O fenômeno da urbanização altera significativamente as taxas de
infiltração e escoamento do solo, acarretando diversos problemas, como perdas humanas e
materiais, alagamentos, problemas de deslocamento, entre outros. Os valores referentes ao
ciclo hidrológico são alterados, a ponto de autores como Botelho (2011, p.72) afirmar que
“nas áreas urbanas toda essa diversidade de caminhos do sistema natural é reduzida ao binô-
mio escoamento e infiltração, com maior participação do primeiro”. Em uma bacia hidrográ-
fica urbana, como a do Rio Anhangabaú, localizada no centro da cidade de São Paulo, esses
problemas são constantes e suas consequências maximizadas aumentando os desafios refe-
rentes à sua gestão.
Este trabalho tem como objetivo analisar como decorreu a urbanização da Bacia
Hidrográfica do Rio Anhangabaú (Figura 1) e verificar se a mesma, por obras de engenharia
civil ligadas à essa urbanização, teve a sua morfometria modificada entre os anos de 1930 e
2020. Consideram-se como possíveis ações passíveis de alteração na morfometria da bacia:
cortes de talude, aterros, modificações do sistema de drenagem e impermeabilização da
superfície, além do desmatamento. A gestão de bacias hidrográficas urbanas envolve diver-
sas problemáticas, mas as altas taxas de impermeabilização, retirada de cobertura vegetal,
construção de avenidas, túneis e outras obras podem, em tese, modificar seu relevo original.
Assim, este trabalho testa essa hipótese a partir de levantamento morfométrico retrospec-
tivo no período considerado.
2 METODOLOGIA
Visando quantificar e determinar algumas das modificações citadas, utilizaram-se índices
para determinar as principais características morfométricas e eliminar possíveis subjetividades
acerca da morfometria da bacia hidrográfica considerada. Os índices utilizados neste trabalho
foram propostos por Horton (1945) e Strahler (1952), cujas obras foram pioneiras permitindo
uma abordagem mais quantitativa. Já para compreender os conceitos envolvidos acerca da
antropogeomorfologia, utilizou-se as obras de Rodrigues (1997, 2005, 2010) nas quais são abor-
dadas as principais ideias da geomorfologia antropogênica, conceito relativamente recente na
geografia, mas que já possui diversos estudos de grande relevância. Por fim, as obras de Simões
Júnior (2004) e Rodrigues (2008) foram de fundamental importância para conseguir compreen-
der a evolução da região central de São Paulo, demonstrando como se deu o processo de urba-
nização da região, passando pelo uso e ocupação do solo e construção de algumas obras de
infraestrutura, como avenidas, túneis e obras de “melhoramento”.
Durante esta pesquisa, foram estudados dois principais pontos: a cartografia histórica da
bacia hidrográfica aliada ao estudo da evolução urbana e a obtenção dos principais índices
morfométricos para que fosse possível obter características acerca da bacia. Quanto ao
primeiro, foi realizada pesquisa bibliográfica que reuniu diversos documentos, como fotogra-
fias, mapas e cartas históricas da cidade. Com objetivo de realizar o estudo morfométrico para
o ano de 1930, foram georreferenciados em ambiente de Sistema de Informação Geográfica
(SIG) os principais mapas e cartas que permitissem visualizar os cursos d’água que ainda não
haviam sido canalizados e tamponados.
Já para obtenção dos índices morfométricos, primeiramente foram vetorizadas as curvas
de nível com equidistância de 5 metros presentes na carta topográfica da SARA BRASIL, refe-
rente ao ano de 1930 em escala 1:5.000 e, após a obtenção da hipsometria, foi realizada a deli-
mitação da bacia hidrográfica para o ano em questão. Para os cálculos morfométricos de 2020,
foram utilizados os dados retirados do mapeamento Laser/Lidar realizado pela prefeitura de
São Paulo, obtendo um Modelo Digital de Terreno (MDT). Este mapeamento consiste em uma
densa nuvem de pontos com precisão de 10 cm e densidade de pontos na média de 10 pontos/
m². A partir desses dados, foram obtidas as curvas de nível, com equidistância de 1 metro e,
logo em seguida, foi realizada a delimitação da bacia. Os seguintes índice morfométricos foram
utilizados, conforme são demonstrados em Christofoletti (1980):
• Hierarquia Fluvial: realizada com base em Strahler (1952);
• Análise Areal: Perímetro (P), Densidade de Rios (Dr), Densidade de Drenagem (Dd),
Coeficiente de Manutenção (Cm), Fator de Forma (Ff), Índice de Circularidade ou
Forma da Bacia (Ic) e Coeficiente de Compacidade (Kc);
• Análise Hipsométrica: Amplitude altimétrica máxima (Hm), Índice de Rugosidade (Ir) e
Razão de Relevo (Rr);
• Análise Linear: Comprimento do rio principal (L), Comprimento total dos canais (Lt),
Índice de Sinuosidade (Is) e Relação de Bifurcação (Rb).
Para análise do uso e ocupação do solo, foram utilizadas as fotografias aéreas de 1940,
ano em que a Bacia do Anhangabaú foi considerada como de perturbação ativa, ou seja, refe-
rente ao processo de urbanização e com categorias de uso do solo predominantes de nível
médio de perturbação (RODRIGUES, 2005). Já para 2020 foram usadas as ortofotos disponibili-
zadas gratuitamente pelo site GeoSampa, base cartográfica oficial da cidade. Para este ano, a
bacia já se encontra no estágio de pós-perturbação, isto é, com uma urbanização consolidada
e com seu uso do solo predominantemente formado por construções que promovem altos e
muito altos graus de perturbação. As categorias de cada uso para ambos os anos foram basea-
das nos trabalhos de Moroz-Caccia Gouveia (2010) e Luz (2014).
Por último, para a análise dos pontos de inundação e alagamento, primeiramente foi rea-
lizada a geocodificação dos mesmos através do software Google Earth com base nos dados for-
necidos pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), cujos dados vão de 04/11/2004
até 08/12/2020 e encontram-se disponíveis no site oficial: <https://www.cgesp.org/v3/alaga-
mentos.jsp>. Em seguida, foi elaborado um mapa de calor ou Mapa de Kernel com um raio de
influência de 200 metros para cada ocorrência, conforme sugere Santos (2013).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2 – Fragmento da carta de 1895 indicando Figura 2 – Fragmento da carta de 1895 indicando
o Ribeirão Anhangabaú antes de sua canalização o Ribeirão Anhangabaú antes de sua canalização
e tamponamento e tamponamento
Fonte: Carta Histórica de São Paulo de 1895 Fonte: Carta Histórica de São Paulo de 1895
para que isso ocorresse, diversas obras e intervenções aconteceram, como no Córrego Saracura,
o primeiro curso d’água da cidade a ser totalmente tamponado, no ano de 1906 (JORGE, 2011).
A cidade foi proporcionando todo um processo de “apagamento” dos rios do cotidiano de
sua população, aliado ao próprio mau uso e gestão das águas. Além do Ribeirão Anhangabaú,
outros córregos também foram tamponados, agora para dar lugar a avenidas em fundos de vale,
como é o caso das avenidas 9 de Julho (sobre o Córrego Saracura) e 23 de Maio (sobre o Córrego
Itororó). Outro exemplo ligado à gestão e relação da cidade com suas águas pode ser verificado
na sub-bacia do Córrego Saracura, onde há a presença de diversos lava-rápidos concentrados em
um curto espaço no bairro do Bixiga, indicando que eles se utilizam das águas dos córregos para
captação e realização de seus serviços de lavagem de veículos (NUNES, 2018).
Para uma melhor visualização de tal prática, foram registrados e espacializados todos os
lava-rápidos presentes ao longo do curso d’água do Saracura (Figura 4). O resultado disso é que
em uma área de 75 m² estão presentes ao todo treze estabelecimentos desse tipo, localizados
principalmente nas ruas Rocha, Almirante Marquês de Leão e Cardeal Leme, sendo que muitos
deles encontram-se sempre lotados, cobrando preços mais baratos que a média da cidade e
com funcionamento 24 horas, conforme verificado em campo realizado no dia 20/02/2021.
Ano
Tipo de Índice Índice
1930 2020
Área (A) 5,29 km² 5,34 km²
Os índices morfométricos apontam, em sua maioria, que a bacia possui uma baixa ten-
dência natural à enchentes e inundações, como verificado na baixa densidade de rios, nos índi-
ces de sinuosidade, circularidade, rugosidade, fator de forma, razão de relevo e coeficiente de
compacidade. Dessa forma, utilizando como base somente a análise morfométrica, as ocorrên-
cias de inundação e alagamento estariam mais relacionadas com as ações e intervenções antró-
picas, como o uso do solo e deficiências na drenagem urbana. Ademais, foi possível verificar
que mesmo utilizando de bases de hidrografia e dados hipsométricos produzidos em escalas
diferentes, os resultados obtidos foram semelhantes.
Além disso, foram obtidos os perfis longitudinais do Córrego Anhangabaú a partir dos
principais córregos (Saracura e Itororó), para os anos de 1930 e 2020 (Figuras 6 e 7).
Figura 7 – Perfil longitudinal do Córrego Anhangabaú a partir do Córrego Itororó (rio principal)
Algumas limitações também foram verificadas ao longo da análise desses pontos. A pri-
meira foi a escassez de dados sobre inundações e alagamentos no começo do século XX, o que
proporcionaria uma melhor comparação entre as atuais ocorrências e aquelas das décadas de
1930 e 1940. Outra dificuldade foi a reunião de dados sobre drenagem urbana, como vazão de
galerias pluviais ou então índices pluviométricos mais antigos da região central, o que permiti-
ria, por exemplo, uma noção melhor sobre a capacidade de algumas galerias da bacia, já que
no meio urbano tais obras desempenham também o papel de canais de drenagem, questões
essas que são passíveis de futuros estudos e pesquisas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A influência antrópica proporciona consequências diretas e indiretas que foram possíveis
de serem percebidas ao longo deste trabalho. A utilização de índices morfométricos, correla-
cionando com uma cartografia retrospectiva, permitiu análises que serviram de base para
compreender melhor a dinâmica de bacia hidrográfica urbana. Foi possível constatar que,
embora os índices morfométricos indiquem que a bacia hidrográfica possui majoritariamente
valores morfométricos que apontem uma baixa suscetibilidade a inundações, as ocorrências
de alagamentos estão diretamente associadas às ações antrópicas, principalmente quanto ao
uso e ocupação do solo. Entretanto, tais índices permaneceram semelhantes entre 1930 e
2020, mesmo utilizando-se de bases hidrográficas em escalas diferentes. Nesse sentido, a hipó-
tese inicialmente levantada no trabalho, em que as modificações antrópicas na bacia poderiam
alterar suas características morfométricas, não pôde ser confirmada, mesmo havendo o fato
da cartografia oficial da cidade não abranger muitos cursos tributários de primeira ordem, pois
este dado influi em alguns índices, mas não o suficiente para haver o apontamento dessa modi-
ficação adotada como premissa.
No entanto, é fato que a Bacia Hidrográfica do Anhangabaú sofreu com uma maior imper-
meabilização ao longo das últimas décadas, além de serem constatadas poucas obras de
melhoria da drenagem urbana. Também foi possível constatar que, realmente, diversas obras
e decisões foram tomadas com objetivo de “apagar” os rios da cidade. No caso contemplado,
é notório que o processo de urbanização da cidade propiciou uma ocupação dos terrenos de
maneira que os rios e córregos foram vistos como obstáculos a serem superados, o que traz
como uma de suas consequências, as diversas ocorrências de inundações e alagamentos.
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Resumo: A expansão e ocupação urbana desordenada tem causado graves problemas para as
cidades, sendo possível verificar vários impactos socioambientais, além de impactos na infraestru-
tura das cidades. No ribeirão Anicuns desaguam os principais cursos d’água urbanos de Goiânia,
porém tanto o córrego quanto sua área de preservação permanente sofrem com o processo
desordenado de ocupação urbana. Nesse sentido, esse estudo se propõe a realizar uma análise
multitemporal dos usos e a ocupação do solo na área de preservação permanente do Ribeirão
Anicuns no município de Goiânia, Goiás, em espaço temporal de 2012, 2016 e 2021, avaliando os
reflexos da ocupação urbana no curso d’água. No intervalo analisado ocorreu um aumento da área
impermeável, deixando o canal sujeito à impactos ambientais. A análise foi realizada por meio de
imagens de sensoriamento remoto e geoprocessamento, ferramentas importantes para a fiscali-
zação e monitoramento ambiental.
Palavras-chave: geotecnologias, urbanização; recurso hídrico; uso e ocupação do solo.
Abstract: The expansion and disorderly urban occupation has caused serious problems for the
cities, being possible to verify several social and environmental impacts, in addition to impacts on
the infrastructure of cities. The major urban watercourses of Goiânia flow into the Anicuns stream,
but both the stream and its permanent preservation area suffer from the disorderly process of
urban occupation. In this sense, this study proposes to perform a multitemporal analysis of the
uses and land occupation in the permanent preservation area of Ribeirão Anicuns in the municipa-
lity of Goiânia, Goiás, in the time span of 2012, 2016 and 2021, evaluating the reflections of urban
occupation in the watercourse. In the analyzed interval occurred an increase in the impermeable
area, leaving the channel without the protection of riparian forest. The analysis was performed
using remote sensing and geoprocessing images, important tools for enforcement and environ-
mental monitoring.
Keywords: geotechnologies; urbanization; water resource; use of the soil.
[ 210 ]
EXPANSÃO URBANA E DEGRADAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RIBEIRÃO ANICUNS 211
1 INTRODUÇÃO
O processo de urbanização das capitais brasileiras ocorre, em sua grande maioria, de
forma desordenada, ocasiona diversos impactos, os quais estão relacionados diretamente com
a retirada da cobertura vegetal, a impermeabilização da superfície e o aumento do escoa-
mento superficial. Esses processos tendem a agravar ainda mais os problemas de alagamentos,
inundações, erosões, poluição hídrica, assoreamento, entre outros (DE LUCENA, et al, 2020).
A bacia hidrográfica do Ribeirão Anicuns possui 221,4 km² de dimensão e está total-
mente localizada na região metropolitana do município de Goiânia, com aproximadamente
80% de área urbanizada. Esta bacia abrange um total de 688 bairros que variam de baixa a alta
densidade urbana (RIBEIRO et al, 2018). Esse Ribeirão é um dos mananciais mais importantes
para a cidade de Goiânia, faz parte da bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte que é responsável
por 52% do abastecimento de água da Capital e de sua região metropolitana. Como quase todo
manancial que teve suas margens povoadas ele sofre com graves problemas ambientais. No
Anicuns não há captação de água para abastecimento, porém o manancial sofre com o lança-
mento clandestino de efluente bruto por moradias e empresas instaladas em suas margens
(WILK, 2018).
À época da construção de Goiânia não havia legislação ambiental local, por isso foram
permitidos loteamentos dentro das áreas que hoje são consideradas como Áreas de Preservação
Permanente (APP) e como consequência desse e de outros problemas, a bacia do Ribeirão
Anicuns apresenta um alto nível de degradação ambiental acumulando impactos como polui-
ção por lançamento de efluentes, pontos de erosões, assoreamento, inundações, APP alta-
mente desmatadas e ocupadas, dentre outros problemas ambientais (WILK, 2018).
O crescimento urbano desordenado tem causado graves problemas para as cidades, não
só em relação à questão socioeconômica, mas também no que diz respeito ao meio ambiente.
Diante desse cenário as áreas de proteção ambiental sofrem diversos problemas decorrentes
do processo de urbanização, contribuindo para a diminuição da qualidade ambiental local
(CARMO et al, 2012).
Nesse sentido, para monitorar, avaliar e registrar a evolução temporal de usos dos solos
em uma determinada região utilizam-se as análises multitemporais. Diversos estudos se
baseiam nessa técnica para realizar a análise da dinâmica do uso e cobertura do solo (SANTOS
et al, 2017; CÂMARA MACIEL e LIMA, 2014; LINS et al, 2021; PEREIRA et al, 2021; FLORES et al,
2012). Diante do exposto, este estudo tem por objetivo mapear os usos e ocupação do solo na
área de preservação permanente do Ribeirão Anicuns, nos anos de 2012, 2016 e 2021, através
de técnicas de sensoriamento remoto e ferramentas de geoprocessamento. Em seguida, veri-
ficar as alterações na vegetação através da quantificação dos conflitos de uso do solo na região.
2 METODOLOGIA
A área de estudo é a APP do Ribeirão Anicuns que, de acordo com a Prefeitura de Goiânia,
é o mais poluído entre os 85 córregos urbanos que cortam a capital. Isso ocorre pois 70% da
drenagem do município pertence à bacia hidrográfica do Ribeirão Anicuns.
Para a elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo foram utilizadas imagens da pla-
taforma Google Earth®, datadas de 2012, 2016 e 2021. A metodologia é similar à aplicada por
Ayach e Da Cunha. (2012); Loffler e Loffler (2019), em suas respectivas áreas de estudo. As ima-
gens foram processadas e classificadas no software ENVI 5.2 por meio da classificação supervi-
sionada de máxima verossimilhança (MaxVer). No MaxVer considera que ocorre uma
distribuição normal das bandas assim é calculado qual a probabilidade de um determinado
pixel pertencer a uma classe específica (MENESES; ALMEIDA, 2012). Foram definidas as seguin-
tes classes de uso e cobertura do solo: impermeável que inclui construções e vias; vegetação
que considera a APP e a vegetação nativa; permeável que abrange pastagens e gramíneas em
geral; e solo que contempla o solo exposto.
Para a elaboração do mapeamento da área de preservação permanente da hidrografia,
foram selecionados critérios citados pelo Plano Diretor de Goiânia (lei nº 171/2007), o qual
estabeleceu critérios para delimitar suas Áreas de Preservação Permanente, de acordo com
seu parágrafo 1º do art.106, essas áreas correspondem às zonas de Preservação Permanente I
– ZPAI, que em relação ao Ribeirão Anicuns, determina: “as faixas bilaterais contíguas aos cur-
sos d’água temporários e permanentes com largura mínima de [...] 100m (cem metros) para [...]
o Ribeirão Anicuns [...] ”. Foi então gerado o mapa de proximidade, sendo criado um buffer de
100 metros a partir das margens do curso d’água. Na última etapa, os dados gerados foram
organizados a fim de se obter uma padronização deles. Foi considerada a projeção cartográfica
UTM, no fuso 22, hemisfério Sul, Datum WGS-84.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio da análise espaço-temporal, foi possível identificar as formas de uso e ocupa-
ção do solo na APP do Ribeirão Anicuns dos anos de 2012, 2016 e 2021, quantificadas na Tabela
1, que revela as alterações da paisagem nos três períodos analisados.
A classificação do uso e cobertura do solo aponta que o processo de ocupação que está
ocorrendo na APP do Ribeirão Anicuns com redução em área da classe impermeável e solo
exposto com consequente aumento das classes vegetação e permeável.
De acordo com os dados obtidos na análise da imagem de 2012 (figura 1), verificou-se
que aproximadamente 267,75 ha da APP se encontrava ocupada por outros usos que não a
vegetação, o que representa 73,87% da área de preservação permanente. Já a área ocupada
pela vegetação ocupava cerca de 94,71 ha, o que representa 26,13% da APP.
Segundo os dados obtidos na análise da imagem de 2016 (figura 2), notou-se que aproxi-
madamente 217,02 ha da APP se encontrava ocupada por outros usos que não a vegetação, o
que representa 59,88% da área de preservação permanente. E a área ocupada pela vegetação
ocupava cerca de 145,44 ha, o que representa 39,96% da APP. Pode-se então observar uma
melhora significativa na preservação da APP entre os anos de 2012 e 2016, já que houve um
aumento de aproximadamente 14% de área com vegetação.
De acordo com os dados obtidos na análise da imagem de 2021 (figura 3), averiguou-se
que aproximadamente 214,87 ha da APP se encontrava ocupada por outros usos que não a
vegetação, o que representa 59,12% da área de preservação permanente. E a área ocupada
pela vegetação ocupava cerca de 148,59 ha, o que representa 40,88% da APP. Em relação ao
período de 2016 a 2021 houve uma melhora menos expressiva, se comparado ao intervalo de
2012 a 2016, pois ocorreu um aumento de 0,76% da área de vegetação.
antrópica. As mudanças que ocorrem no solo urbano, fazem parte de um processo em que for-
ças socioeconômicas e ambientais colidem, chamando a atenção para a necessidade de um
planejamento da ocupação urbana que minimize os impactos já existentes (SILVA, CAMELLO &
ALMEIDA, 2015).
Eventos de chuva passam a ser mais intensos e perigosos, ao mesmo tempo que as inun-
dações passam a ser mais frequentes. Além da impermeabilização, a retirada da vegetação
nativa associada ao solo exposto ocasionam alterações na morfologia da bacia, assim como
obras de engenharia e a deposição de resíduos ao longo das APPs. A somatória desses fatores
influencia nos processos erosivos, assoreamento, sedimentação, frequência de inundações e
outros fatores que aceleram a degradação ambiental das cidades (TUCCI; BERTONI, 2003;
FRITZEN; BINDA, 2011; BENINI; MEDIONDO; RODRIGUES; GOUVEIA, 2013)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intersecção dos mapas de APP da hidrografia com o mapa de uso do solo possibilitou
quantificar o conflito de uso na área de estudo, assim como o nível de degradação na APP,
permitindo que se crie ferramentas para o entendimento da dinâmica territorial e socioam-
biental que se forma no entorno da área de proteção. As análises de uso e ocupação do solo
entre os períodos de 2012 e 2021 apontaram um aumento da impermeabilização, assim
como o aumento de vegetação nativa presente na área de preservação. Mesmo com o
aumento da vegetação nativa, ainda é expressivo o uso do solo destinado a áreas permeáveis
(gramíneas) e solo exposto, culminando em encostas desprotegidas e expondo o Ribeirão ao
crescente volume do escoamento superficial, ocasionando diversos problemas como o asso-
reamento e a erosão.
A identificação e delimitação das áreas de preservação permanente dos cursos
d’água utilizando dados de sensoriamento remoto pode ser uma ferramenta para gestão
dessas áreas, pois esses dados poderão ser utilizados para auxiliar na fiscalização, uma vez
que é possível detectar as áreas que necessitam de visita in loco ou não, podendo tornar o
trabalho mais eficaz de forma que os tomadores de decisão tenham uma atuação mais
rápidas e assertiva, realizando ações para planejamento e estudos de ordenamento muni-
cipal, pois o monitoramento de áreas por meio das geotecnologias é um trabalho de baixo
custo, em que as imagens, de diferentes resoluções espaciais, são disponibilizadas por
diversos organismos, como no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e na
plataforma Google Earth®.
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RAFAEL BASTAZINI1
RAFAEL BARTIMANN2
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo analisar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do
Córrego Prosa em CAMPO GRANDE-MS apoiado na proposta de Ross (1994), bem como na análise
integrada dos processos e agentes envolvidos na produção do espaço urbano. Quando necessário,
os pesos atribuídos a cada variável foram relacionados à metodologia de Crepani et al. (2001). Os
resultados mostraram que a metodologia é eficaz para o monitoramento da fragilidade ambiental,
porém, deve-se atentar para os processos de degradação ambiental, que nem sempre ocorrerão em
áreas de alta fragilidade, como neste caso, no qual as áreas mais problemáticas ou geradoras de ero-
são e problemas de assoreamento de corpos d’água se localizam em zonas isoladas de média fragili-
dade. Concluiu-se, portanto, que o mapeamento da fragilidade ambiental pode contribuir para
estudos de planejamento ambiental de Campo Grande e que projetos de controle dos processos
erosivos estão sendo realizados pelo governo local, visando a recuperação do lago assoreado,
seguindo o atual Zoneamento Ecológico Econômico e o Plano diretor municipal.
Palavras-chave: erosão; urbanização; conservação ambiental.
Abstract: This research aimed to analyze an environmental fragility of the hydrographic basin of
the Prosa stream in CAMPO GRANDE-MS supported by Ross’s proposal (1994), as well as in the
integrated analysis of the processes and agents involved in the production of urban space. When
necessary, the weights calculated for each variable related to the Crepani et al. (2001). The results
induced that the methodology is effective for monitoring environmental fragility, however, atten-
tion should be paid to the processes of environmental degradation, which will not always occur in
areas of high fragility, as in this case, in which the most problematic areas or generators of erosion
and problems with silting up of water bodies are located in exam zones of medium fragility. It was
concluded, therefore, that the mapping of environmental fragility can contribute to environmen-
tal planning studies in Campo Grande and that erosive processes control projects are being carried
out by the local government, following the recovery of the silted lake, following the current
Ecological Economic Zoning and the City Master Plan.
[ 219 ]
220 Rafael Bastazini; Rafael Bartimann
1 INTRODUÇÃO
A ocupação inadequada do espaço associada à falta de planejamento urbano resulta na
degradação ambiental de bacias hidrográficas. Análises integradas das variáveis ambientais
(solos, água, vegetação, clima etc.), são de fundamental importância para a avaliação das fra-
gilidades e das potencialidades destes espaços. Tricart (1977, p. 35) destaca que “[...] A ação
humana é exercida em uma natureza mutante, que evolui segundo leis próprias, das quais per-
cebe-se, de mais a mais, a complexidade.” Por isso, a dificuldade de compreender as dinâmicas
da natureza e mensurar o peso da ação humana na desestabilização e/ou degradação de siste-
mas ambientais, embora esteja claro que a interferência antrópica implica desequilíbrios e, via
de regra, impactos negativos que afetam toda a biosfera.
Neste estudo, busca-se avaliar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego
Prosa de forma integrada, considerando duas perspectivas: 1) a ocupação, o uso e a produção do
espaço urbano a partir da reprodução das lógicas capitalistas e 2) o diagnóstico da fragilidade
ambiental, tendo como referência as propostas de Ross (1994) e Crepani et al. (2001). Para atingir
este objetivo, este estudo foi dividido em quatro seções. Na primeira, caracteriza-se a área de
estudo levando em consideração os aspectos históricos uso e cobertura da terra e a importância
do córrego Prosa na expansão do tecido urbano de Campo Grande. O processo de canalização, as
características socioeconômicas e a valorização do preço da terra urbana também estão em evi-
dência, pois, estas variáveis podem influenciar nas tipologias das formas espaciais ali presentes.
Na segunda seção, são descritas as características gerais dos aspectos físicos da bacia do
Prosa, considerando a base geológica, os tipos de solos, a vegetação e os aspectos geomorfológicos
deste recorte espacial. Na sequência, os materiais e os procedimentos metodológicos adotados na
pesquisa são descritos de forma detalhada. Por fim, apresenta-se os resultados e as discussões pro-
venientes da pesquisa, assim como as considerações finais. Neste estudo, não se visa o esgota-
mento da temática abordada, pelo contrário, se constitui em um passo inicial para o levantamento
de informações que possam culminar na gestão adequada da bacia hidrográfica do córrego Prosa.
Elaboração: os autores.
3 Para compreender os aspectos históricos do planejamento urbano em Campo Grande, ver Arruda 2012.
Figura 2 – Av. Fernando Corrêa com a Av. Calógeras (década de 1980). Em A, o trecho antes da
canalização. Em B, o mesmo trecho com a obra parcial
A partir da Constituição Federal de 1988, caracterizada pela maior autonomia dos esta-
dos e municípios, a administração da cidade se orienta a partir da Lei de Ordenamento de Uso
e Ocupação do Solo (1988), que visou, dentre outros aspectos, estabelecer um uso social para
as áreas públicas desocupadas, caracterizadas, historicamente, às margens dos córregos e ocu-
padas, em grande medida, por grupos socioeconômicos vulneráveis (DIAS, 2009).
Recentemente, uma solução encontrada pela administração municipal foi a criação de
parques lineares que contam com vegetação que visa proteger os corpos hídricos, porém, em
muitos casos, é possível observar que nessas áreas existem muitos resíduos provenientes do
descarte irregular. Em grande parte, a área da bacia do Prosa, no que diz respeito ao preço da
terra, é uma das mais valorizadas, sobretudo pela presença dos parques, shopping center e
grandes avenidas. Apesar de muito valorizada, a área apresenta pouca densidade construtiva
e grande quantidade de vazios urbanos (porção oriental), ou seja, áreas que não possuem
nenhum tipo de uso, normalmente aguardando valorização futura.
Em grande parte, essa dinâmica especulativa ocorreu com maior intensidade entre as
décadas de 1960 e 1980, período em que os agentes econômicos e políticos produziram con-
juntos habitacionais afastados do tecido urbano consolidado, influenciando assim, em uma das
características mais marcantes de Campo Grande, a sua baixa densidade populacional, levando
em consideração o seu perímetro urbano (ARRUDA, 2006).
Para compreender esse movimento, é necessário levar em consideração que a produção
e consumo do espaço urbano está inserido na lógica da reprodução das relações capitalistas.
Atualmente, como afirma Harvey (2005), é necessário considerar que a produção do espaço
urbano, vem paulatinamente sendo inserido na lógica financeira, por meio da compreensão,
por parte dos agentes, de que a produção do espaço urbano é uma forma de absorção de exce-
dente de capital.
IHS) e da técnica de classificação por pixel, por meio do algoritmo Maxver– ICM (Interated
Conditional Modes). Esta técnica é capaz de considerar a dependência espacial na classificação
da imagem.
A segunda etapa consistiu no diagnóstico e mapeamento da fragilidade ambiental, com
base na proposta de Ross (1994). Os procedimentos metodológicos consideram os atributos do
espaço e, para isso, foi feita a sobreposição dos mapas de geologia, cobertura pedológica
(solos), intensidade pluviométrica e declividade, resultando no mapa de fragilidade potencial.
Como Ross (1994) não atribuiu peso de fragilidade a variável pluviosidade, foi necessária uma
adaptação metodológica, de acordo com Crepani et al. (2001). Inclusive, sempre que possível,
foi feita uma avaliação comparativa entre os valores definidos pelos autores que embasam
esta pesquisa, a fim de definir pesos mais coerentes com as características ambientais da bacia
hidrográfica do córrego Prosa. O mapa de fragilidade ambiental foi obtido a partir da sobrepo-
sição das informações do mapa de fragilidade potencial e com o mapa temático de uso e cober-
tura da terra.
Para obtenção dos mapas finais, os mapas temáticos foram reclassificados (ferramenta
Reclassify) e valores foram atribuídos às variáveis visando o cruzamento das informações sem-
pre que necessário. O banco de dados, constituído de arquivos vetoriais e matriciais, foi orga-
nizado no Sistema de Informações Geográficas ArcGIS® Desktop 10.6 (ESRI, 2019), no Laboratório
de Sensoriamento Remoto (La-Ser), na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, câmpus
de Três Lagoas. Todos os mapas utilizados foram reclassificados e rasterizados com pixels refe-
rentes a escala do mapa de uso e cobertura da terra, portanto, os produtos finais apresentam
resolução espacial de 15 metros e encontram-se na escala 1:75.000. A sobreposição das variá-
veis foi realizada por meio da ferramenta Weighted Overlay, considerando o mesmo peso nas
diferentes variáveis.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O entendimento da dinâmica de funcionamento do ambiente natural, com ou sem inter-
venções antrópicas, perpassa pelo conhecimento integrado do território. Logo, é necessário
associar as características naturais dos ambientes ao meio socioeconômico, considerando que
as ações humanas causam grandes alterações na paisagem natural e com um ritmo muito mais
intenso, se comparado com aquele que a natureza normalmente imprimiria (ROSS, 1994).
A geologia é uma variável importante em análises de fragilidade potencial, pois o con-
junto de características das rochas tem interferência direta no grau de resistência à denuda-
ção. Este processo natural depende da ação do intemperismo físico e químico que podem
influenciar o grau de erosão. Outro fator que justifica a utilização da geologia no mapeamento
da fragilidade potencial é o grau de coesão, ou seja, a intensidade da ligação entre os minerais
ou partículas constituintes (CREPANI et al., 2008). Os valores de fragilidade definidos para cada
classe da variável geologia estão dispostos na tabela 1.
Segundo Valle et al. (2016, p. 298), a intensidade pluviométrica “têm ação direta sobre a
dinâmica de superfície, principalmente no que tange ao intemperismo de rochas e solos”. Por
isso deve ser considerada em mapeamentos de fragilidade. A intensidade pluviométrica foi
definida com base em Crepani et al. (2001), considerando a relação entre a precipitação média
anual (1976 a 2018) e o período chuvoso registrado. Os dados utilizados foram coletados pela
estação meteorológica 02054014 e estão disponíveis no sistema Hidroweb-ANA. A intensidade
pluviométrica calculada para a área é de 358,58 mm, o que corresponde ao valor 3 de fragili-
dade (ROSS, 2012), considerando que a área apresenta distribuição anual desigual das chuvas,
com períodos secos (entre 2 e 3 meses no inverno) e maior intensidade de chuvas no verão,
entre dezembro e março.
Outra variável importante para a elaboração do mapa de fragilidade potencial é a decli-
vidade, que indica a inclinação do relevo em relação ao horizonte. A declividade tem influência
direta nos processos que condicionam a velocidade de transformação da energia potencial das
águas pluviais em energia cinética e, por consequência, na intensidade dos processos erosivos.
O mapa de declividade foi gerado com a ferramenta Slope e as classes foram definidas com
base em Crepani et al. (2001) e Valle et al. (2016). Por fim, a figura 3 apresenta os mapas das
Elaboração: os autores.
do córrego Prosa apresenta predomínio de áreas classificadas como zonas de baixa fragilidade
potencial (83%), sobretudo em função da associação de latossolos e áreas mais planas, que
permitem maior infiltração de água no solo e menor velocidade de escoamento superficial.
Média 2 2,23 7%
Elaboração: os autores.
Também foram identificadas áreas classificadas como média (7%) e alta (10%) fragilidade
potencial. Estes resultados se dão em função da associação entre áreas com presença de
Neossolo e áreas com declividade variando entre 8% e 45%, caracterizando um relevo ondu-
lado e/ou forte ondulado. Essa combinação contribui para o aumento da velocidade de escoa-
mento superficial e aumento nos processos de desagregação das partículas de solo, o que
pode resultar no assoreamento dos corpos d’água.
Contudo, é necessário, ainda, considerar que as atividades humanas se constituem como
fontes de energia para alteração dos sistemas ambientais e, por consequência, a paisagem
pode ser drasticamente modificada. Isto justifica a necessidade de combinar os tipos de uso e
cobertura da terra na bacia hidrográfica do córrego Prosa com a fragilidade potencial desta
área, objetivando mapear zonas de fragilidade ambiental, que na teoria, representam áreas
mais vulneráveis à processos erosivos em função da ocupação antrópica. As classes mapeadas
e os respectivos valores de fragilidade para esta variável (Tabela 5) foram definidos com base
nos critérios propostos por Ross (1994), Crepani et al. (2001) e Valle et al. (2016), considerando
os critérios quanto à proteção contra erosão (ABRÃO; BACANI, 2018).
As áreas de vegetação natural receberam peso 1, pois oferecem proteção ao solo contra
erosão, e por constituir unidades de preservação, não estão sujeitas às fortes pressões antró-
pica em seu entorno, por exemplo, o desmatamento. As áreas com vegetação rasteira recebe-
ram peso 2, pois apresentam certo grau de proteção ao solo, mas ainda necessitam de
melhoramento no manejo. Para corpos d’água, também foi atribuído peso 2, pois apesar de
representar porções frágeis, encontram-se dentro das áreas de preservação permanente e
com monitoramento e manejo revisto periodicamente pelo poder público.
A área urbanizada apresenta distintos padrões de uso e cobertura da terra. A porção oci-
dental, próxima ao centro, é caracterizada pela ocupação antiga e consolidada, amplamente
impermeabilizada e bem servida de infraestruturas urbanas. Por outro lado, na porção ociden-
tal, próxima ao Parque dos Poderes, aumenta-se a quantidade de vazios urbanos e nota-se
uma quantidade significativa de chácaras e clubes de campo. Em grande parte, nesta última
porção, as vias não são pavimentadas, o abastecimento de água e esgoto é parcial e a cober-
tura vegetal varia entre gramíneas, arbustos e espécies arbóreas, com manchas isoladas de
solo exposto, predominando relevo plano e suave ondulado. Apesar dessas diferenças, a pre-
sença de infraestrutura adequada na porção ocidental e a maior presença de vegetação na
porção oriental, minimizam os processos erosivos, porém não impedem sua ocorrência. Em
função dessas características para área urbanizada foi atribuído peso 4. Por fim, para a classe
de solo exposto foi atribuído peso 5, considerando que nas pequenas porções onde ocorrem,
o solo encontra-se descoberto e com severas marcas de erosão.
Tabela 5. Classes de uso e cobertura da terra e valor de fragilidade atribuído para a variável
Média 2 0,78 2%
Elaboração: os autores.
As zonas de classe muito alta para fragilidade ambiental ocorrem em função das áreas de
média e alta fragilidade potencial associadas também às áreas de intenso uso e ocupação. Esta
classe representa 9% da bacia do Prosa.
sem data para o reinício. Portanto, sem a resolução desse problema, o processo de assorea-
mento dos lagos não será resolvido permanentemente, implicando, mais cedo ou mais tarde,
na demanda de novas ações por parte do poder público.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa indicaram que a análise da fragilidade ambiental por meio
da sobreposição ponderada é uma alternativa eficaz nos estudos ambientais, no entanto, deve-
-se salientar que a relação das áreas de maior fragilidade nem sempre indicarão os processos
geradores de impacto ambiental. O caso da bacia hidrográfica do córrego Prosa é um exemplo
disto, pois o processo de assoreamento do lago no Parque das Nações Indígenas é proveniente
de uma área classificada como zona de média fragilidade.
A metodologia proposta reforça a ideia de que identificar e conhecer zonas de fragili-
dade ambiental auxilia na tomada de decisões e no planejamento territorial local, que é base
para o delineamento de diretrizes e ações de conservação do equilíbrio ambiental. Os dados
coletados em campo indicaram graves problemas de assoreamento do córrego do Prosa bem
como processos erosivos em seus afluentes (córregos Desbarrancado, Reveilleau e Joaquim
Português), contudo, o poder público tem investido em obras de recuperação dos cursos
d’água, bem como, na conservação dos recursos naturais dispostos na área urbana de Campo
Grande, apesar novas ações serem necessárias, sobretudo no que diz respeito à recuperação e
conservação da nascente do córrego Joaquim Português.
5 REFERÊNCIAS
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Resumo: A bacia hidrográfica é considerada por muitos pesquisadores como a unidade espacial
mais apropriada para se entender a dinâmica dos processos, sejam eles físicos/naturais e/ou
sociais, além dos efeitos e as respostas do ambiente diante as modificações promovidas pela
sociedade. Quando a bacia passa a ser ocupada os processos ditos naturais são acelerados, uma
vez que a maior parte da vegetação é removida, o relevo é esculturado, os canais fluviais passam
por modificações quanto a sua morfologia e o solo pode ser impermeabilizado. Refletindo sobre
essa questão o objetivo deste estudo é demonstrar como a forma de ocupação atual da bacia
hidrográfica do Córrego São José com a expansão da malha urbana provocou diferentes proble-
mas ambientais. Para isso, utilizou-se como metodologia o levantamento bibliográfico sobre a
temática, trabalhos de campo, analise de reportagens dos meios de comunicação sobre os proble-
mas ambientais e elaboração de cartas temáticas. Foi constado que a bacia apesar de possuir um
relevo suave ondulado, com baixa suscetibilidade erosiva e que favorece a infiltração da água no
solo, vem sofrendo com diversos problemas ambientais como alagamentos, erosão de encostas,
assoreamento dos canais fluviais, além do descarte irregular de resíduos sólidos e depósitos tec-
nogênicos. Neste sentido, os problemas ambientais encontrados são decorrentes da expansão da
malha urbana que rompe com o equilíbrio dinâmico dos processos naturais.
Palavras-chave: problemas; ambiente; ocupação; bacia; canais fluviais.
Abstract: The hydrographic basin is considered by many researchers as the most appropriate spa-
tial unit to understand the dynamics of processes, whether they are physical/natural and/or social,
in addition to the effects and responses of the environment, given the changes promoted by
Society. When the basin is occupied, the so-called natural processes are accelerated once most of
the vegetation is removed, the relief is carved, river channels undergo changes in their morphol-
ogy and the soil can be waterproofed. Reflecting on this issue, the objective of this study is to
demonstrate how the current form of occupation of the Córrego São José hydrographic basin with
1 Discente do Curso de Graduação em Geografia e bolsista do Programa de Educação Tutorial PET-GEO /Instituto de Ciên-
cias Humanas do PontalICHPO, Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: tatianediasa@gmail.com
2 Docente do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em GeografiaInstituto de Ciências Humanas do Pon-
talICHPO, Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: lecpgeo@ufu.br
[ 233 ]
234 Tatiane Dias Alves; Leda Correia Pedro Miyazaki
the expansion of the urban network caused different environmental problems. For this, the meth-
odology used was a bibliographic survey on the subject, field work, analysis of media reports on
environmental problems and the preparation of thematic letters. It was found that the basin,
despite having a smooth undulating relief, with low erosive susceptibility and favoring the infiltra-
tion of water into the soil, has been suffering from various environmental problems such as flood-
ing, slope erosion, siltation of river channels, in addition to irregular disposal of solid waste and
technogenic deposits. In this sense, the environmental problems found result from the expansion
of the urban fabric that breaks the dynamic balance of natural processes.
Keywords: problems; environment; occupation; basin; river channels.
1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica é considerada por muitos pesquisadores como a unidade espacial
mais apropriada para se entender a dinâmica dos processos, sejam eles físicos/naturais e/ou
sociais, além dos efeitos e as respostas do ambiente diante as modificações promovidas pela
sociedade. Quando a bacia passa a ser ocupada os processos ditos naturais são acelerados,
uma vez que a maior parte da vegetação é removida, o relevo é esculturado, os canais fluviais
passam por modificações quanto a sua morfologia e parte do solo é impermeabilizado. Isso
tem alterado o equilíbrio dinâmico dos processos naturais, como por exemplo o caso do ciclo
hidrológico, no que se refere a diminuição da infiltração das águas da chuva na área urbana e
o aumento do escoamento superficial.
A água é um agente modelador e modificador da paisagem, que ao longo do seu trajeto
passa por distintos estados e percursos que envolve o ciclo hidrológico. O comportamento da
água em uma área com vegetação exuberante na fase de precipitação das águas da chuva é
amortecida pelas copas das árvores, que em seguida é escoada tanto pelos troncos da vegeta-
ção, quanto pelo gotejamento por meio das folhas, um outro percurso que pode acontecer é o
atravessamento direto das águas pluviais pela vegetação, atingindo dessa maneira a superfície
do solo. As águas que atingem o solo com velocidade de impacto reduzida, passam a infiltrar e
percolar o solo mais do que escoar superficialmente, isso contribui para o umidecimento do
solo e o abastecimento dos aquíferos ou lençóis freáticos e nascentes dos canais fluviais. As
águas que escoam chegam os cursos d’águas e parte dela é evaporada para atmosfera
(BOTELHO, 2011).
Em áreas urbanas e/ou rurais as fases e processos apresentadas anteriormente são inten-
samente afetadas, uma vez que a ocupação modifica as características naturais de uma bacia
hidrográfica, na qual o escoamento superficial acaba sendo o processo mais expressivo quando
comparado com a infiltração.
A bacia hidrográfica que passa por um processo de urbanização tem o ciclo hidrológico
alterado (quando comparado a uma área com cobertura vegetal), pois os processos físicos/
naturais que se encontravam em um estado de biostasia (equilíbrio dinâmico) são modificados
passando para um estado de resistasia (desequilíbrio dinâmico), e assim, o processo de escoa-
mento nesta situação é intensificado (CASSETI, 1991).
Quando o relevo é apropriado e ocupado no meio urbano, várias alterações são realiza-
das a fim de adequar o relevo aos projetos de loteamentos, por exemplo. O relevo é escultu-
rado passando pela retirada de qualquer cobertura vegetal, o solo é exposto e a topografia
precisa ser retificada por processos de terraplanagem e construção de taludes. Pedro e Nunes
(2012) dizem que o processo de produção do espaço urbano transforma as características
naturais da bacia hidrográfica, que acaba rompendo o equilíbrio dinâmico do local.
Venceslau e Pedro Miyazaki (2019, p. 76) exemplificam como ocorrem essa dinâmica:
“Por exemplo, os topos e as vertentes ao serem ocupados sofrem transformação
decorrente da construção de taludes nas vertentes e dos processos de terraplanagem.
Além dessas transformações, estes compartimentos geomorfológicos são impermea-
bilizados, provocando um desequilíbrio no ciclo hidrológico local. Outro tipo de inter-
venção ocorre quando são construídos os arruamentos, que acabam se transformando
em verdadeiros canais de escoamento artificiais, uma vez que o escoamento superfi-
cial, conhecido como enxurradas, adquire velocidade devido à ausência de resistência
ao longo da via pavimentada, dessa forma, sedimentos associados a resíduos sólidos
são transportados e depositados em áreas mais baixas do relevo”.
Deste modo, observa-se que a partir do momento em que uma bacia hidrográfica passa
por um processo intensivo de urbanização, todo seu equilíbrio dinâmico é modificado. Assim,
seu estudo é de extrema importância para o desenvolvimento de ações e medidas no âmbito
do planejamento e gerenciamento, para que se possa minimizar os impactos ambientais que
atingem determinada área.
Na área urbana da cidade de Ituiutaba é observada a existência de três cursos d’água,
sendo estes o córrego do Carmo, o Pirapitinga e o São José, que desaguam ao longo do rio Tijuco.
Grande parte da extensão da bacia hidrográfica do Córrego São José está situada no âmbito
urbano e uma pequena área se encontra na zona rural. Assim, ao longo de sua extensão na área
urbana, é possível observar uma série de problemas ambientais que comprometem a dinâmica
natural da bacia e afeta a qualidade de vida dos moradores. E qualidade ambiental da bacia.
Refletindo sobre essa questão, o objetivo deste texto é demonstrar como a forma de
ocupação atual da bacia hidrográfica do Córrego São José com a expansão da malha urbana
provocou diferentes problemas ambientais.
2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A bacia hidrográfica do córrego São José (figura 1), que está localizado no município de
Ituiutaba-MG, com as coordenadas 18º 58’ 08’’ Latitude S; 49º 27’ 54’’ Longitude W (IBGE,
2010), na porção oeste do Triângulo Mineiro, que envolve a região geográfica imediata de
Ituiutaba. Segundo IBGE, a população estimada do município de Ituiutaba para o ano de 2021
seria cerca de 105.818 pessoas. A extensão territorial do município é de 2.598,046 km² e conta
com uma densidade demográfica de 37,40 hab./km² (IBGE, 2010).
A bacia hidrográfica do Córrego São José apresenta uma área de drenagem de 21,61 km²
e um perímetro de 35,6 km. A região está localizada na morfoescultura da bacia sedimentar do
Paraná, com predomínio das Formações Marília, Adamantina (Grupo Bauru) e Serra Geral
(Grupo São Bento). Tendo um relevo típico de colinas, circundado por relevos residuais e se
encontra nos “Domínios dos Chapadões Tropicais do Brasil Central”, que constitui a subuni-
dade do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná (AB’ SABER, 1971).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o crescente processo de urbanização que a bacia hidrográfica do Córrego São José
sofreu ao longo dos anos, são intensos os impactos em função da impermeabilização do solo,
desmatamento, esculturação do relevo e retificação e canalização de parte do canal fluvial
principal. Com isso, os processos naturais da dinâmica da bacia são cada vez mais acelerados,
causando diversos impactos ambientais negativos (erosões, assoreamento, danos a infraestru-
tura urbana etc.) que comprometem a qualidade ambiental.
As características físicas do relevo de uma bacia hidrográfica têm uma relação direta com
os aspectos meteorológicos e hidrológicos, pelo fato de que grande parte da velocidade do
escoamento superficial e a intensidade dos processos erosivos são determinados pela declivi-
dade do terreno. Diante disso, a bacia do Córrego São José apresenta altitudes que variam de
521 a 702 metros e amplitude altimétrica de 181 metros. Ao analisar o mapa hipsométrico
(figura 2) podemos observar que uma parte da significativa da bacia se encontra em altitudes
que variam de 600 a 650 metros mais próximo ao no topo das vertentes. Ao longo do rio prin-
cipal a altitude é de 550 a 600 metros. A parte com tom verde mais escuro as altitudes vão de
521 a 550 metros é área próxima à foz do rio e onde está localizada a Avenida José João Dib,
onde o canal principal é canalizado e retificado. As áreas mais elevadas se localizam próximas
as cabeceiras dos canais fluviais na porção mais ao sul da bacia, onde se encontra relevos resi-
duais do tipo tabuliforme, com altitudes acima de 650 metros.
Em relação a declividade do relevo (figura 3), na área da bacia predomina o relevo suave
ondulado que corresponde a 72,60% da área total, com intervalo de classes entre 3% a 8% de
inclinação. Há uma pequena área com relevo forte ondulado, variando entre 20% a 45% de
inclinação, local de relevo residual do tipo tabuliforme. O relevo ondulado predomina ao longo
da extensão dos canais fluviais, com intervalo de classe que variam de 8% a 20%. É possível
observar ainda pequenas porções com baixos declives, caracterizando uma região relativa-
mente plana, onde a inclinação é menor que 3%. Por esses valores, a declividade média da
bacia do Córrego São Jose é de 5,65%, indicando a predominância de um relevo suave ondu-
lado, que não apresenta muita suscetibilidade a erosão, possibilitando uma maior infiltração
da água no solo.
Esse ocorrido também foi noticiado no jornal online G1-Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
com o seguinte título “Destelhamentos e vias alagadas são registrados durante chuva em
Ituiutaba” e Subtítulo: “Árvores e poste caíram, vias alagaram e água da chuva chegou a invadir
uma casa no Bairro Universitário”. É importante ressaltar que esse alagamento ocorreu em
uma área de média vertente do relevo de colina, cuja morfologia é suave ondulada, perten-
cente a bacia hidrográfica do córrego São José.
Outro motivo para que os alagamentos se concentrem em parte do córrego São José
decorre do fundo de vale ser canalizado. O canal principal do córrego contém 9,9km, contando
com aproximadamente 2,5 km de canal fluvial retificado, entre as avenidas Minas Gerais e
Arthur Junqueira de Almeida. O trecho retificado conta com áreas de canalização fechadas e
outras abertas, desencadeando problemas decorrentes de alagamentos em toda a área cana-
lizada, mas principalmente nas áreas onde a canalização é fechada.
Um outro impacto ambiental retratado na bacia do Córrego São José em função da ocu-
pação do relevo são os processos erosivos intensificados. A erosão é um processo natural, que
ocorre dentro do tempo geológico, que tem por finalidade o desgaste do solo e é um dos fato-
res responsáveis pela esculturação do relevo. Vários são os processos que podem acelerar a
erosão, sendo eles o clima, ações antrópicas, tipos de solo, o relevo, entre outros. Porém,
podemos observar que o ser humano (por meio de suas ações) vem sendo um dos principais
agentes causadores do aceleramento dos processos erosivos.
Esses processos erosivos são decorrentes da expansão da malha urbana nessa área,
que gerou transformações significativas na paisagem urbana, impermeabilizando o solo,
diminuindo a infiltração da água no solo e rebaixando o nível do lençol freático (BRAGHIROLI,
2017). Segundo Silva e Miyazaki (2014) com a construção dos novos loteamentos habitacio-
nais Nova Ituiutaba II e IV sérios danos ambientais vêm sendo causados a bacia do Córrego
São José. Pouco se é relatado sobre as problemáticas dos processos erosivos entre os meios
de comunicação. Uma reportagem do G1 Triângulo e Alto Paranaíba no dia 28 de Julho de
2017, noticia que a Secretaria do Meio Ambiente de Ituiutaba iria realizar um mapeamento
das áreas da zona rural que apresentam voçorocas e erosões no solo devido a construção de
casas populares dos loteamentos Nova Ituiutaba I e Gerson Baduy, com o intuito de solucio-
nar o problema nas áreas críticas. Porém não foi encontrado nada sobre o encaminhamento
ou finalização do mapeamento.
Além dos alagamentos e erosões nas encostas, o crescente processo de urbanização e
impermeabilização das vertentes da bacia hidrográfica do Córrego São José provoca o assorea-
mento do canal fluvial. O assoreamento ocorre do acumulo de sedimentos advindos de áreas
do topo das vertentes onde houve remanejo do solo e, também de processos erosivos acelera-
dos em decorrência da ocupação do relevo, bem como a retirada da cobertura vegetal no
entorno dos canais fluviais. Todos esses processos fazem com que partículas de solo se des-
prendam e, com a ação da chuva, são carregadas e depositadas nos fundos de vale. Foram
encontradas algumas reportagens sobre essa temática a fim de conscientizar a população, não
apenas sobre o assoreamento dos rios, mas também em razão do descarte irregular de
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este estudo foi possível notar que a bacia hidrográfica do córrego São José vem
sofrendo constantes impactos ambientais devido a expansão da malha urbana, que rompe
com o equilíbrio dinâmico natural da bacia. São grandes os impactos em função da impermea-
bilização do solo, retificação e canalização de parte do canal fluvial principal e ocupação das
vertentes que acaba modificando o relevo.
Esta dinâmica urbana da bacia faz com que ocorra o surgimento de alagamentos, erosões
dos solos, assoreamento dos rios e a ocorrência de depósitos tecnogênicos. Além disso, há o
descarte irregular de resíduos sólidos que colabora para o agravamento dos alagamentos e
assoreamento dos canais fluviais.
Neste sentido, é necessário um melhor planejamento e manejo da bacia da bacia do cór-
rego São José para buscar medidas que possam minimizar os impactos ambientais oriundos
das ações antrópicas e assim fornecer um melhor bem-estar a população.
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Resumo: Nas últimas décadas observaram-se mudanças significativas no meio natural do Corredor
Ecológico das Cachoeiras do Tarumã, que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã, localizada na
cidade de Manaus-AM. Um dos principais fatores responsáveis para tal acontecimento foi a cres-
cente expansão urbana para a zona oeste da cidade. Dado o exposto, analisou-se os impactos
ambientais e a qualidade dos recursos hídricos da Cachoeira Alta do Tarumã. O método utilizado
para o desenvolvimento da pesquisa foi do tipo empírico-analítico com o uso da técnica do tipo
quali-quantitativa. Com base nas imagens de satélite analisou-se a qualidade da água dos pontos
classificados como P1a, P1b e P2, que estão localizados à montante do P3 (Cachoeira Alta do
Tarumã). O processo de urbanização dos últimos anos acarretou na supressão da vegetação e no
uso intensivo do solo. Verificou-se que, os recursos hídricos analisados encontram-se com altera-
ções nos parâmetros de: turbidez, pH, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica e sólido dissolvi-
dos totais. Avaliou-se que as ações antrópicas estão relacionadas com a expansão da zona oeste
da cidade de Manaus-AM, que impactou de forma significativa a qualidade da água da cachoeira.
Portanto, é urgente a necessidade da efetivação de políticas públicas que são responsáveis pela
área da Bacia Hidrográfica, do Corredor Ecológico e da Cachoeira Alta do Tarumã, para fins de tra-
balhar meios de gerir os cursos d’água existentes na região de estudo.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu; Corredor ecológico; Cachoeira Alta do
Tarumã.
Abstract: In recent decades, significant changes have been observed in the natural environment
of the Ecological Corridor of the Waterfalls of Tarumã, which covers the Waterfall Alta do Tarumã,
located in the city of Manaus-AM. One of the main factors responsible for such an event was the
growing urban expansion to the west of the city. Given the above, the environmental impacts and
the quality of water resources in Cachoeira Alta do Tarumã were analyzed. The method used for
the development of the research was of the empirical-analytical type with the use of the
technique of the quali-quantitative type. Based on satellite images, the water quality of points
[ 245 ]
246 Bianca Silva de Souza; Flavio Wachholz; Isabela Soares Colares
classified as P1a, P1b and P2 was analyzed, which are located upstream of P3 (Cachoeira Alta do
Tarumã). The urbanization process in recent years has resulted in the suppression of vegetation
and intensive use of the soil. It was found that the water resources analyzed are with changes in
the parameters of: turbidity, pH, dissolved oxygen, electrical conductivity, total dissolved solids. It
was evaluated that anthropic actions are related to the expansion of the western zone of the city
of Manaus-AM, which significantly impacted the quality of the waterfall’s water. Therefore, there
is an urgent need to implement public policies that are responsible for the area of the Hydrographic
Basin, the Ecological Corridor and the Alta do Tarumã Waterfall, in order to work on ways to
manage the existing watercourses in the study region.
Keywords: River Basin of the Tarumã-Açu River; Ecological corridor; High Waterfall of Tarumã.
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, nota-se a crescente discussão acerca da problemática dos recursos
hídricos no mundo. Com isso, percebe-se a importância do enfoque dessa discussão no Brasil.
Visto que, o país possui grande disponibilidade hídrica, abrigando cerca de 12% das reservas
mundiais de água doce. Desse total, a região hidrográfica amazônica cobre 63,88% do territó-
rio, compreendendo áreas pertencentes a sete Estados da Federação e ocupa, aproximada-
mente, 3,8 milhões de km² do território nacional (BRASIL, 2006a; MAIA, 2010).
Apesar disso, é notória a presença de situações contrastes de abundância e escassez de
água. Além, da má gestão de recursos hídricos, o que exige dos governos e da população cui-
dados especiais referentes a organização e planejamento. A região de Manaus possui a pre-
sença de dois Comitês de Bacias Hidrográficas – CBH, que são responsáveis por estudos em
duas grandes áreas da cidade. O primeiro, é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu,
instituído em 19 de outubro de 2009. O segundo, é o Comitê da Bacia Hidrográfica do
Puraquequara, que não está em funcionalidade (BRASIL, 2006b; DAMASCENO, 2018).
Os problemas ambientais oriundos da expansão urbana das últimas décadas são eminen-
tes na área de estudo. Localizada na zona oeste da cidade de Manaus-AM, conta com a pre-
sença do Corredor Ecológico das Cachoeiras do Tarumã, no qual está inserida a Cachoeira Alta
do Tarumã, que há algumas décadas foi um lugar de recreação e turismo, e hoje, encontra-se
em constantes transformações no que se refere a sua forma de uso, paisagem e qualidade da
sua água. Com isso, indaga-se a seguinte questão: Quais ações antrópicas relacionadas a expan-
são urbana da zona oeste da cidade de Manaus impactam a qualidade da água da Cachoeira
Alta do Tarumã?
Dessa forma, aponta-se, a necessidade de analisar e conhecer as diversas transforma-
ções ambientais que ocorreram no recorte espacial. Tendo em vista que, a área possui poucos
estudos publicados, e que serão de grande relevância para os futuros pesquisadores da área e
para os órgãos públicos, que precisam trabalhar meios de gerir os cursos d’água existentes na
cidade e na região de estudo.
O objetivo central da pesquisa é analisar os impactos ambientais e a qualidade dos recur-
sos hídricos na Cachoeira Alta do Tarumã. Especificamente, conhecer os impactos ambientais
no uso e cobertura da terra na qualidade dos recursos hídricos da Cachoeira Alta do Tarumã
com base em imagens de satélite (2011, 2014 e 2020) e verificar a qualidade da água a partir
das variáveis: condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, pH, sólidos dissolvidos totais, tempe-
ratura e turbidez (2021).
Figura 1 – Mapa de localização do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã, Manaus-AM
Fonte: IBGE (2019); GOOGLE EARTH (2019). Elaborado por: BARRETO, Lucileide Aguiar (2020).
hídricos, pois permite caracterizar e analisar as bacias hidrográficas (MERTEN; MINELLA, 2002;
ANA, 2004; VON SPERLING, 2005 apud FIGUR; REIS, 2017).
2 METODOLOGIA
O método utilizado para a pesquisa foi o empírico-analítico e o tipo de pesquisa desen-
volvida, assentou-se sobre o cunho quali-quantitativo. Os procedimentos adotados ao longo
da pesquisa foram do tipo; bibliográfico, campo, processamento digital de imagens e experi-
mental. O procedimento bibliográfico foi realizado de maneira minuciosa, a partir do uso de
buscadores acadêmicos como: Google Acadêmico e SciELO.
A técnica de pesquisa de campo foi utilizada para o reconhecimento da área e para a rea-
lização da coleta de dados das coordenadas geográficas do recorte espacial e para a experi-
mentação. O levantamento o processamento digital das imagens com sobreposição no QGIS,
foi realizado para o cumprimento da análise temporal dos pontos. A seleção de imagens de
satélite provenientes do Google Earth Pro contou com o critério de disponibilização de ima-
gens dos anos de 2011, 2014 e 2020, a qualidade das imagens e a sua gratuidade para aquisi-
ção. Visto que, algumas imagens disponibilizadas no Google Earth Pro encontravam-se com
cobertura de nuvens, impossibilitando a sua observação e análise.
A técnica de experimentação foi possibilitada a partir da definição de 4 (quatro) pontos
estratégicos com base na observação de campo e nas imagens de satélite. Todos os pontos
localizados ao longo do Igarapé Tarumã-Açu no bairro Tarumã, zona oeste de Manaus, sendo
um a Cachoeira Alta e 3 (três) pontos a montante desta. Os dois pontos iniciais foram nomea-
dos como P1a e P1b, seguidos dos pontos P2 e P3.
Os critérios para a nomeação dos 2 (dois) pontos iniciais assentaram-se sobre a proximi-
dade dos corpos hídricos, o mesmo posto de acesso para a coleta e a relação do aspecto visual
da água do igarapé e das suas margens. A nomeação do trecho P2 ocorreu por ser um curso
d’água localizado mais ao centro dos pontos, com maior proximidade ao P3, que é a Cachoeira
Alta do Tarumã (objeto da pesquisa).
Assim, foi realizado no dia 03 de junho de 2021 a análise físico-química da água, a partir
dos parâmetros preestabelecidos pela Resolução n°. 724/2011 da Agência Nacional de Águas
– ANA, que define o Guia Nacional de coleta e preservação de amostras de água, sedimento,
comunidades aquáticas e efluentes líquidos. Os equipamentos utilizados para essa verificação
foram: Termo-Higro-Anemômetro– Luxímetro Digital Portátil Mod. Thal-300, o turbdímetro –
Instrutherm TD-300 e a sonda multiparâmetro – Hanna HI98194.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2 – Análise do uso e cobertura do solo nos pontos 1a e 1b do Igarapé Tarumã-Açu, Manaus-AM
Considerando os cenários de 2011, 2014 e 2020 das imagens do satélite Google Earth Pro
nos pontos 1a e 1b, nota-se uma intensificação do uso da terra na região, na porção mais ao sul
e nas proximidades da área que abrange dos pontos. Em relação ao canal principal denomi-
nado de P1b, destaca-se que, em novembro de 2011 ele apresenta um maior volume de água,
caracterizada pela sua coloração amarelada e turva, além, da sua riqueza em material argiloso
em suspensão. Este, é um indício de que em período anterior a aquisição da imagem pelo saté-
lite Google Earth Pro, o lugar apresentava índices pluviométricos significativos e atípicos para
esse período do ano.
Em contrapartida, em setembro de 2020 no período de vazante da região amazônica,
que geralmente é responsável pela mudança da cor dos recursos hídricos, observa-se que a
água possui aparência escura. Um dos principais fatores apontados para tal acontecimento é a
alta concentração de matéria orgânica e de óleos advindos do esgoto doméstico.
Ao se tratar da carta imagem do P2, percebeu-se em abril de 2014 a mudança na coloca-
ção do corpo hídrico influenciado pelo período de cheia. E ao analisar os anos de 2011 e 2020
nota-se a intensificação no âmbito da ocupação da Área de Proteção Permanente – APP por
construções diversas e assim, a retirada da cobertura vegetal da região e o uso do solo. A aná-
lise do mapa com recorte temporal de setembro de 2020 pode ser associada as construções de
edificações na APP observadas no campo do dia 03 de junho de 2021.
Sobre os cenários do P3, nota-se em 2011 modificações referentes ao uso do solo na
região, com alterações referentes ao uso da terra, com presença de solo exposto. Em contra-
partida, nos anos de 2014 e 2020, nota-se o crescimento de vegetação secundária que ocupa a
maior parte da área e modifica de forma significativa a sua paisagem. Um dos principais fatores
a serem destacados sobre a região da Cachoeira Alta do Tarumã (P3) é que em décadas passa-
das sofreu com problemas oriundos da extração mineral irregular, que impactou de forma sig-
nificativa os recursos hídricos da região (CARDOSO, 2008).
Tabela 1 – Parâmetros meteorológicos e do curso d’água nos pontos de coleta a montante da Cachoeira Alta do
Tarumã
Temperatura Umidade
Ponto Luminosidade Cor Rugosidade
do ar relativa do ar
Tabela 2 – Resultado dos parâmetros da análise físico-química da água do Igarapé Tarumã-Açu, Manaus-AM
O pH não sofreu grandes alterações de um ponto para o outro, com resultados entre 5,9
e 6,74, demonstrando a distância das condições naturais dos cursos d’água. Um dos principais
fatores que propiciaram tais resultados é a elevada carga orgânica oriunda do lançamento de
resíduos domésticos e esgoto nos corpos hídricos P1a, P1b, P2 que estão a montante do P3 e
que influenciam de forma significativa esse ponto de estudo. O valor do pH da água segundo
observado em Brasil (2006d) varia de 0 a 14. Abaixo de 7 é considerada ácida e acima de 7, alca-
lina. Água com pH 7 é neutra. Quanto mais próxima de 0 maior é a acidez da água.
Ao se tratar do parâmetro do oxigênio dissolvido, aponta-se uma modificação significativa
na Cacheira Alta do Tarumã (P3). À visto disso, destaca-se que anterior a essa análise ocorreu pre-
cipitação, que pode ter influenciado na redução do oxigênio do corpo hídrico. Dessa forma, tem-
-se como resultados de 3,4 mg/L no trecho P1a, 1,68 mg/L no trecho P1b, 1,26 mg/L no trecho P2
e 0,7 mg/L no trecho P3. A condutividade elétrica dos pontos coletados variou de 94 μS/cm no
P1a até 314 μS/cm no P2, tendo o resultado de 111 μS/cm no P1a e 147 μS/cm no P3.
Os resultados obtidos na análise e averiguação dos sólidos dissolvidos totais, foram de 47
mg/L no P1a, 55 mg/L no P1b, 157 mg/L no P2 e 74 mg/L no P3. A temperatura não sofreu gran-
des variações, sendo anotadas e observadas as seguintes temperaturas: 27,15 °C no P1a, 26,24
°C no P1b, que apresenta mata ciliar preservada, 27,74 °C no P2 e 27,86 no P3. A temperatura
está relacionada com o aumento do consumo de água, com a fluoretação, com a solubilidade
e ionização das substâncias coagulantes, com a mudança do pH, com a desinfecção, etc.
(BRASIL, 2006d).
A profundidade de cada corpo hídrico analisado foi averiguada de forma visual e aponta-
-se que ela variou de 30 cm nos trechos P1a, P2 e P3 até 1 m no trecho P1b. Por isso, a partir
de todos os resultados obtidos compreende-se que, o monitoramento da qualidade da água é
uma sugestão para trabalhos futuros, de forma a contribuir com o levantamento dos múltiplos
usos da bacia (NEVES et al. 2020).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dado o exposto, analisou-se que, a área que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã situada
dentro do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã, encontra-se antropizada e
abandonada pelo poder público. Aponta-se como fatores principais para as transformações
ocorridas, o aumento significativo da população nas últimas décadas para a região oeste da
cidade de Manaus-AM e a ausência de tratamento de esgoto.
No entanto, é importante mencionar acerca das alterações decorrentes do marco histórico
de atividades de origem autóctone, a partir da extração ilegal de mineração na região da Cachoeira
Alta do Tarumã, que gerou o assoreamento no leito do curso d’água e intensificou processos ero-
sivos na área estudada, propiciando alterações na qualidade dos recursos hídricos.
Através dos parâmetros da qualidade da água que foram utilizados para a análise físico-
-química, foram verificou-se impactos ambientais negativos oriundos de ações alóctones,
advindos dos trechos P1a, P1b e P2 (externos ao Corredor Ecológico), localizados à montante
do P3 – Cachoeira Alta do Tarumã. Os usos diversos de cunho residencial, comercial e de servi-
ços, ocasionaram na supressão da vegetação, que é substituída por vegetação secundária.
Além, da notória degradação e modificação nos recursos hídricos com o lançamento de
efluentes domésticos diretamente ao corpo hídrico dos pontos 1a, 1b e 2. Que alterou princi-
palmente os parâmetros de turbidez, pH da água, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica,
sólidos dissolvidos totais dos pontos analisados. As consequências dos referidos impactos
ambientais negativos associadas a falta de disciplinamento do uso e ocupação do solo e à falta
de gerenciamento do uso dos recursos hídricos têm interferido diretamente na sustentabili-
dade da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu e do Corredor Ecológico das Cachoeiras do Tarumã,
que são recortes amparados por lei. Observa-se a necessidade de incentivos à pesquisa e ao
estudo de áreas protegidas, que trabalhem ações para a proteção dos recursos ambientais, o
acompanhamento da qualidade ambiental, a recuperação de áreas degradadas, a educação
ambiental, como deveria ocorrer na prática, na área das Cachoeiras do Tarumã.
Portanto, analisa-se que são necessárias efetivações de políticas públicas e ambientais
com a realização de ações urgentes para minimizar os impactos negativos existentes nesta
região. Destaca-se ainda a necessidade de fiscalização e implementação de medidas que solu-
cionem problemáticas referentes ao uso do solo, e também, o planejamento e fiscalização do
uso dos recursos ambientais existentes no recorte espacial para que ocorra a proteção dos
ecossistemas e o controle e zoneamento das atividades poluidoras.
5 REFERÊNCIAS
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[ 257 ]
258 Bianca Silva de Souza; Vilma Terezinha de Araújo Lima; Flavio Wachholz
Baixa, based on satellite images (2009-2019). The research was quantitative, with procedures such
as: bibliographic, field and digital image processing. It was observed that the area under study
underwent an intensified occupation process with the loss of green areas throughout 2011-2019.
It was evident that in the Cachoeira Alta do Tarumã, in 2011, it had 32.5 ha, in 2019 it had only 24.2
ha of Forest. In the case of the Low Waterfall of Tarumã-Açu, in 2011, it had 35 ha, in 2019 this
number decreased to 15 ha of Forest. About the water resources of the places, it is noted that in
the first waterfall, in 2011 it reached 7 ha, in 2019 it only had 3.5 ha of water. In the second water-
fall, in 2016 the water occupied 12.4 ha of area and in 2019, in the same period, only 1.4 ha. These
transformations significantly changed the vegetation cover, the water course and the type of use
of places. Therefore, it is necessary to implement Public and Environmental Policies with urgent
actions to minimize the negatives impacts existing in these waterfalls.
Keywords: Water resources; River Basin of the Tarumã-Açu River; Ecological Corridor; High
Waterfall; Low Waterfall
1 INTRODUÇÃO
Compreende-se que, bacia hidrográfica é definida como um espaço geográfico que está
associada aos recursos hídricos. Esse conceito está previsto na legislação, que recomenda a
indução do planejamento sobre a delimitação territorial. Ao se tratar da região hidrográfica
amazônica, fomenta-se que, ela abrange uma área total de 3,87 milhões de km², equivalente a
45% da área do país. Essa região é reconhecida no âmbito mundial por sua disponibilidade
hídrica e pela diversidade dos ecossistemas (NASCIMENTO, 2009; ANA, 2012; MAIA et al. 2019).
Destaca-se ainda, que a cidade de Manaus está localizada à margem esquerda do rio
Negro e apresenta cinco bacias principais: São Raimundo; Puraquequara, que está situada na
zona urbana e rural de Manaus; Educandos; Colônia Antônio Aleixo e a bacia do Tarumã-Açu
(MAIA et al. 2019).
Atualmente, a região de Manaus conta com a presença de dois Comitês de Bacias
Hidrográficas, que são responsáveis por estudos em duas grandes áreas da cidade. O primeiro,
é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, instituído em 19 de outubro de 2009. O
segundo, é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Puraquequara, que, não se encontra em efetivo
funcionamento (DAMASCENO, 2018; MAIA et al. 2019).
No entanto, mesmo com a presença do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu,
notou-se nos últimos anos mudanças significativas ocorridas no meio natural do Corredor
Ecológico das Cachoeiras do Tarumã, que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã e a Cachoeira
Baixa do Tarumã-Açu. Um dos principais fatores responsáveis para tal acontecimento é a expan-
são urbana para a zona oeste da cidade de Manaus. Assim, indaga-se a seguinte questão: Qual o
atual estado ambiental da Cachoeira Alta do Tarumã e da Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu?
Dessa forma, o presente estudo é de grande relevância, para o conhecimento do estado
ambiental das Cachoeiras do Tarumã, tanto pela população, quanto pelo poder público. Para
que assim, sejam realizadas ações que possam amenizar alguns problemas ambientais existen-
tes nos recortes. Tendo em vista que, as duas Cachoeiras possuem raras pesquisas publicadas
e que os dados alcançados poderão auxiliar em ações e pesquisas futuras.
Figura 1 – Mapa de localização do Corredor Ecológico Urbano das Cachoeiras do Tarumã, Manaus-AM
Fonte: IBGE (2019); GOOGLE EARTH (2019). Elaborado por: BARRETO, Lucileide Aguiar (2020).
2 METODOLOGIA
Para atingir os meus objetivos propostos foram utilizados os procedimentos metodológi-
cos do tipo; bibliográfico; de campo e de processamento digital de imagens. O procedimento
da pesquisa bibliográfica, foi o primeiro a ser utilizado, a partir do uso da ferramenta da inter-
net para a realização de levantamentos em buscadores acadêmicos, especialmente em revis-
tas, periódicos, entre outros, trabalhos relacionados a temática escolhida.
O procedimento de campo, consistiu na utilização de técnicas específicas, que objetivaram
o registro e, o recolhimento de dados sobre o objeto de estudo, como as coordenadas geográfi-
cas e fotografias, com a utilização caderneta de campo, sensor de GPS e sensor de câmera.
Em momento posterior, foi realizado o processamento digital das imagens (dados) e a
elaboração de mapas, a partir da sobreposição no QGIS, e a análise de dados. Essa etapa foi
possibilitada a partir da disposição de imagens gratuitas e com boas resoluções no Google
Earth entre os períodos de 2011 à 2019. Nos anos de 2009 e 2010 não houve a possibilidade de
utilização das imagens em decorrência da presença de nuvens nos recortes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das idas ao campo durante a pesquisa, do levantamento bibliográfico realizado e
dos mapas elaborados e analisados, observou-se que, ao decorrer dos anos de 2011 à 2019,
ocorreram significativas modificações nas áreas que abrangem as duas cachoeiras (figura 2).
Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2019. Elaborado por: SILVA, Maria Yasmin, 2020.
Sobre a região da Cachoeira Alta do Tarumã, um dos principais fatores a serem destaca-
dos é que, há décadas o recorte sofreu com problemas oriundos da extração mineral irregular
na cidade de Manaus (CARDOSO, 2008).
À visto deste fato, observaram-se mudanças no uso e cobertura do solo na região da
Cachoeira Alta do Tarumã. No tocante, destaca-se a diminuição de vegetação nativa e no cres-
cimento de vegetação secundária. Além, das modificações no ciclo hidrológico ao decorrer dos
anos de 2011 à 2019.
Evidenciou-se que, no ano de 2011, o recorte espacial da cachoeira encontrava-se com
32,5 ha e em 2019 essa região possuía apenas 24,2 ha de Floresta Nativa, evidenciada no mapa
de classificação supervisionada na cor verde escuro. Os resultados obtidos do solo exposto da
cachoeira, foi de 9 ha em 2011 e 3,1 ha em 2019, na legenda do mapa esta classificação encon-
tra-se identificada na cor laranja. Demonstrando assim, a o crescimento de vegetação secun-
dária, evidenciada pela cor verde claro.
Acerca das construções antrópicas destaca-se, 11,1 ha na Cachoeira Alta em 2011 e 13
ha em 2019, identificada na cor cinza, demonstrando os avanços nas construções dessa região
de estudo. Analisa-se nesse aspecto, que o mês de setembro de 2016 foi de grande elevação
no índice de construções antrópicas na região do corpo hídrico.
Ao analisar o período do mês de julho de 2011 e de 2019, observou-se que, o corpo
hídrico no ano de 2011 atingiu 7 ha e em 2019 contou somente com 3,5 ha de água, que foi
identificado com a cor azul. Demonstrando assim, menor índice na quantidade de chuva, no
período de análise.
Ao se tratar da análise do mapa de classificação supervisionada Cachoeira Baixa do
Tarumã-Açu, aponta-se que, essa região sofreu com o intenso processo de urbanização entre
os anos de 2011 e 2019 (figura 3)
Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2019. Elaborado por: SILVA, Maria Yasmin, 2020.
A área que abrange a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu, sofreu entre 2011 à 2019 com
crescente ocupação na sua Área de Proteção Permanente – APP, por construções antrópicas,
que consequentemente, impulsionaram nas mudanças no recorte, com a retirada da cobertura
vegetal e a má utilização dos recursos hídricos.
Desse modo, notou-se que, no mês de novembro de 2011, a Cachoeira Baixa do Tarumã-
Açu, possuía 35 ha de vegetação primária (floresta) e 17,4 ha de vegetação secundária, identi-
ficadas na cor verde escuro e verde claro. Entretanto, no ano de 2019 esse número caiu para
15 ha de Floresta Nativa. Destaca-se neste ponto, que o ano com maior índice de vegetação
secundária foi o de 2019, com 28 ha demonstrando que, a perda da biodiversidade da floresta
primária, que antes existia com predominância no lugar.
O fator do solo exposto dessa região foi de 5,5 ha em 2011 e 8,5 ha em 2019. Em relação
a esse ponto, observa-se também, que nos anos de 2015, 2017, 2018 e 2019, foi crescente a
retirada da cobertura vegetal que causa o empobrecimento dos solos. Um dos principais fato-
res para tal acontecimento, foi a intensificação no processo de urbanização da área, com a
construção de edificações nas margens da cachoeira.
Ao se tratar do corpo hídrico, identificado com a cor azul no mapa, destaca-se que, em
julho de 2011, o curso d’água alcançava cerca de 2 ha e que no mesmo período de 2019, atingiu
apenas 1,4 ha de água na região. Demonstrando assim, um período de menor índice na ativi-
dade pluviométrica da região.
Observa-se que, o índice de construção antrópica ao decorrer dos anos possuiu um
aumento significativo na região de estudo. Tendo em vista que, a área da Cachoeira Baixa do
Tarumã-Açu, sofreu com intensa urbanização atrelada a ausência de políticas públicas, que
acarretou uma perda da biodiversidade e acometimento de grande parte da qualidade ambien-
tal dos rios e cachoeiras.
As condições encontradas nas duas cachoeiras, evidenciam a necessidade de atuação efi-
caz e efetiva do poder público e, a mobilização da população dos pontos analisados para erra-
dicar o problema e promover qualidade ambiental (QUEIROZ et al. 2020).
Entretanto, a falta da participação significativa dos usuários na materialização das ações
propostas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, que é responsável pela região,
associada à falta de apoio técnico, financeiro, administrativo e material para a execução dessas
ações, fizerem com que o comprometimento dos membros, constatado inicialmente pelo com-
parecimento as reuniões e às referidas ações, fossem reduzindo gradativamente no decorrer
dos anos (MELO, 2017).
Tendo em vista que, a minimização dos impactos ambientais em toda a bacia hidrográ-
fica do Tarumã-Açu está condicionada a critérios de planejamento e gestão ambiental. Estes
critérios devem estar contidos no Plano de Gestão da Bacia, documento que contribui para
o gerenciamento e conservação ambiental na bacia em questão (VASCONCELOS; COSTA;
OLIVEIRA, 2015).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A área que abrange a Cachoeira Alta do Tarumã e a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu situa-
das dentro do Corredor Ecológico, sofreu com várias transformações ambientais nos últimos
anos. Essas transformações modificaram de forma expressiva a cobertura vegetal, o curso
hídrico e o tipo de uso dos lugares. O que antes era área de lazer para à população manauara,
atualmente poucos conhecem sua existência.
Como principais impactos ambientais negativos, que atingem as Cachoeiras do Tarumã,
apontam-se, o desmatamento da vegetação nativa, o uso do solo para a construção de edifica-
ções, a evidenciação da poluição dos cursos d’água, etc. Fomenta-se que, essas transforma-
ções no meio foram impulsionadas pelo interno processo de urbanização para a zona oeste da
cidade de Manaus. Com significativa contribuição da especulação imobiliária para essa região.
Ao se tratar do cenário ambiental da Cachoeira Alta, destaca-se que, ela possui alguns
projetos de revitalização, mas que não conseguiram mudar a real situação do lugar. No entanto,
é desconhecido quaisquer projetos existentes na Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu, localizada
nas proximidades com a foz.
Observou-se ao decorrer da pesquisa de campo, que a Cachoeira Baixa do Tarumã-Açu
se encontra com o leito assoreado, com a presença de resíduos no seu curso d’água. Além, da
existência de atividades comerciais de produtos alimentícios em uma de suas margens, e de
construções de moradias dentro da sua Área de Proteção Permanente (APP).
Dessa forma, notou-se a presença da ação antrópica na forma alóctone e autóctone na
região de estudo, o que afetou a dinâmica dos ecossistemas existentes no Corredor Ecológico
das Cachoeiras do Tarumã. Isto, através do assoreamento dos corpos hídricos, da retirada de
cobertura vegetal, do uso do solo, entre outros impactos ambientais negativos. Logo, são
necessárias efetivações de Políticas Públicas e Ambientais com ações urgentes para minimizar
os impactos negativos existentes nestas cachoeiras.
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Resumo: O uso das geotecnologias como metodologias para análise geográfica é crescente e apre-
senta grande potencial de aplicação, como na identificação e parametrização de microbacias hidro-
gráficas. O objetivo deste trabalho foi adotar o aplicativo TauDEM como metodologia de identificação
de microbacias de drenagem de interesse à conversão urbana e suas caracterizações gerais através
de índices morfométricos, para isso selecionou-se a cidade de Britânia devido a sua relação direta
com os corpos hídricos próximos e pela carência de informações desta natureza. A metodologia con-
sistiu no uso de scripts para rodagem do aplicativo, visualização no software Qgis para construção
semiótica do mapa e tabulação dos resultados obtidos nas análises morfométricas. Verificou-se a
utilização satisfatória do aplicativo TauDEM para identificação hidrológica, entretanto seu uso em
escalas maiores necessita do emprego de imagens de alta resolução e de atividades de campo. A
maior parte das microbacias apresentaram-se favoráveis à ocupação urbana, apesar disso algumas
requerem maior atenção devido as suas capacidades erosivas e predisposição para inundações.
Sendo assim, a ocupação destas microbacias deve considerar o planejamento e gestão sustentáveis,
caso contrário pode-se colocar em risco os rios que abastecem a cidade.
Palavras-chave: Microbacias urbanas; TauDEM; Análise hidrológica; Britânia
Abstract: The use of geotechnologies as methodologies for geographic analysis is growing and
presents great potential for application, as in the identification and parameterization of microwa-
tersheds. The objective of this paper was to adopt the TauDEM application as a methodology for
the identification of micro-basins of interest for urban conversion and their general characteriza-
tion through morphometric indexes. For this, the city of Britânia was selected because of its direct
relationship with nearby water bodies and due to the lack of information of this nature. The
methodology consisted in the use of scripts to run the application, visualization in Qgis software
for semiotic construction of the map and tabulation of the results obtained in the morphometric
analyses. It has been verified the satisfactory use of the TauDEM application for hydrological
[ 268 ]
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS SUJEITAS À URBANIZAÇÃO EM BRITÂNIA-GO 269
identification, however its use in larger scales requires the utilization of high resolution images and
field activities. Most of the watersheds were favorable for urban occupation, although some
require more attention due to their erosive capacities and predisposition to flooding. Thus, the
occupation of these watersheds must consider sustainable planning and management, otherwise
the rivers that supply the city can be put at risk.
Keywords: Urban microbasins; TauDEM; Hydrologic analysis; Britânia
1 INTRODUÇÃO
O uso da bacia hidrográfica como objeto de análise geográfico, torna-se adequado devido
ao seu arranjo estrutural caracterizar-se num geossistema de fácil identificação. Para Coelho
Neto (2007), a bacia de drenagem é uma unidade física formada por uma área da superfície
terrestre e pelos canais que a drenam transportando água, materiais e sedimentos dissolvidos
para um exutório. Compreende-se neste trabalho a definição de microbacia como um subsis-
tema hidrológico integrante do geossistema compreendido pela bacia hidrográfica.
A partir das inovações tecnológicas e posteriormente da sua disponibilização à comuni-
dade civil, novas ferramentas foram integradas às metodologias da Geografia, as geotecnolo-
gias são o resultado deste processo. De acordo com Rosa (2005) as geotecnologias são o
conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com refe-
rência geográfica, desta forma o aplicativo TauDEM (TARBOTON, 2005), essência da metodolo-
gia empregada nesta pesquisa, caracteriza-se como exemplo de geotecnologia aplicada ao
estudo geográfico.
O cálculo dos parâmetros morfométricos e morfológicos, dados através de índices linea-
res e areais, torna-se capaz de revelar características das microbacias uma vez que distingue
suas dinâmicas internas (DIAS et al., 2016). Ao conhecer as relações existentes neste geossis-
tema é possível, não só gerir a microbacia, como também planejá-la a fim de favorecer uma
apropriação sustentável, por exemplo, nas áreas a serem convertidas em novos loteamentos
da cidade (OLIVEIRA et al., 2013).
O uso do aplicativo TauDEM na identificação de microbacias é de grande importância
devido a falta de estudos acerca de cidades pequenas e afastadas dos grandes centros como a
cidade de Britânia, área de estudo nesta pesquisa, reconhecendo-se as microbacias da região
pode-se aprofundar nos estudos de sua caracterização para subsidiar políticas de planeja-
mento que muitas vezes desconsideram estas informações
Portanto, o objetivo deste trabalho foi identificar e calcular os parâmetros morfométri-
cos de microbacias próximas às zonas de conversão urbana na cidade de Britânia, incialmente
através do aplicativo TauDEM e posteriormente pelo software Qgis. A escolha do município de
Britânia deu-se pela escassez de informações e pela necessidade de compreensão da dinâmica
hidrográfica da cidade, uma vez que esta localiza-se próxima de corpos hídricos de grande
importância para seu desenvolvimento.
Fonte: Autores
2 METODOLOGIA
A pesquisa iniciou-se com a construção de banco de dados georreferenciadas sobre área
de análise, em seguida estruturou-se as linhas de comando para execução do aplicativo TauDEM,
por fim elaborou-se a tabela contendo os dados resultantes, derivado tanto dos índices utiliza-
dos, como do cálculo das feições a partir do software Qgis. Concomitantemente à execução da
metodologia revisou-se sistematicamente autores que dessem suporte a discussão, principal-
mente Christofoletti (1980), Machado e Torres (2012), Santos, J. (2021) e Santos, A. (2021).
Para melhor entendimento a metodologia utilizada foi separada em duas partes. O fluxo-
grama metodológico com todas as etapas do projeto pode ser observado na figura 2.
Fonte: Autores.
2.1 Identificação
Adiante ocorreu a instalação e configuração dos diretórios do aplicativo TauDEM (Terrain
Analysis Using Digital Elevation Models), ferramenta utilizada para análises hidrológicas a partir
de modelos digitais de elevação (MDE). Para Santos, J. (2020) sua vantagem em relação a outros
dispositivos semelhantes é seu uso independente de um software SIG, este necessário apenas
como uma interface para visualização dos resultados.
Os modelos digitais de elevação da área de estudo foram obtidos junto o catálogo INPE-
TOPODATA (BRASIL, 2008), em seguida foram mesclados para uso da ferramenta gdal:fillno-
data (preencher dados) para valorização de pixels, por último houve recorte para área de
análise, estas etapas são referentes a fase de pré-processamento (SANTOS, A.,2020).
O uso do TauDEM através das linhas de comando torna-se de fácil execução, uma vez que
dispensam o front-end visual e podem ser utilizados apenas scripts de comando anotados em
arquivos de extensão.txt, popularmente denominados ‘bloco de notas’.
Para a identificação das microbacias usa-se uma sequência de scripts interpretados atra-
vés do prompt de comando (CMD), ferramenta disponível na maioria dos sistemas operacionais
utilizada para execução de comandos para automatização de tarefas (SANTOS, J., 2020).
O comando Pit remove (remover depressão) é responsável pela detecção e remoção de
buracos, caracterizados por pixels com valores de elevação menores do que seus vizinhos,
no MDE (SANTOS, A., 2020). Usa-se o raster resultante para em seguida usar o comando D8
flow directions (direção de fluxo), a partir dele obtém-se dois rasters, o primeiro calcula o
deflúvio da água através da relação de declividade entre pixels vizinhos para decodificação
de cada uma das oito direções possíveis de escoamento, o segundo resulta da declividade da
área em porcentagem.
D8 Contributing Area (área de contribuição) é um script que identifica matematicamente
áreas de contribuição e consequentemente os divisores de água, a partir das direções do fluxo,
e exutórios. Por fim, o script Stream Definition by Threshold (definição de rede de drenagem
pelo limiar) permite a construção dos canais de drenagem reconhecendo-se a área drenada
(SANTOS, J., 2020). Ressalta-se que a identificação se dá ao longo de toda a área de forma ines-
pecífica sendo necessária a descriminação das microbacias de interesse.
Para seleção de microbacias de drenagem específicas torna-se necessário a criação de
shape específico para coleta de coordenadas implementadas da forma de ponto dentro de um
SIG, neste estudo o QGIS. Utilizou-se como referência o produto da última linha de comando
executada, para o refinamento desta etapa empregou-se imagens de alta resolução da área de
estudo. Logo após executou-se novamente os dois últimos scripts de forma a obter um raster
contendo as microbacias a serem posteriormente analisadas.
Finalmente, executa-se a linha de comando Stream Reach and Watershed (Rede de
Drenagem) desta forma cria-se o vetor da rede de drenagem e o raster contendo a delimitação
da área de contribuição relacionada a menor unidade de segmento do canal de drenagem
identificado, logo a divisão pode ser verificada a partir da escala das microbacias. Utilizou-se
ainda, a ferramenta polygonize (poligonizar) para transformar o dado raster para vetor viabili-
zando o cálculo das métricas.
Em relação a classificação geral dos cursos d’água foram considerados sua periodicidade,
propriedade que demonstra a dinâmica entre o fluxo de base e os regimes pluviais (MACHADO
e TORRES, 2021), o tipo de drenagem, arranjo dos cursos influenciados pela substrato geomor-
fológico e a hierarquia fluvial, esta última empregando a metodologia de Strahler (1952) na
busca da compreensão da relação interna dos canais.
No que se refere a obtenção de dados mais detalhados, pode-se dividir as análises em
lineares, aquelas relacionadas à rede de drenagem, e areais que buscam informações sobre a
área drenada por estes canais (ALVES e CARVALHO, 2009)
Entre as lineares foram estudados o número total de canais, seu comprimento total e
médio, além do comprimento da bacia e seu perímetro. Em contrapartida, o índice de circula-
ridade (Ic), densidade de drenagem (Dd) e de rios (Dr) e por fim, coeficiente de manutenção
(Cm) fazem parte das métricas da área. A declividade também foi considerada tendo em vista
sua importância no entendimento do contexto ao qual insere-se as microbacias.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da identificação das microbacias e de suas respectivas drenagens gerou-se a
tabela 1, para inclusão dos resultados das características gerais e análises morfométricas. A
tabulação justifica-se no sentido de estruturar de forma objetiva e simples o volume de dados
e permitir a integração entre os índices e coeficientes empregados.
por isso este índice comumente é analisada em conjunto com a Dd. Ao todo sete microbacias
apresentam valor de Dr elevado, são elas ‘B1_III’, ‘BI_VI’, ‘B1_XIII’, ‘B1_XVI’, ‘B1_XII’, ‘B1_XIX’,
‘B2_II’, ‘B2_III’ e ‘B2_IV’.
Ao considerar-se a classificação da Embrapa (2006), todas as microbacias possuem relevos
que vão de planos até ondulados, as ‘B_V’, ‘B1_VII’, ‘B1_IX’, ‘B1_XII’, ‘B1_XIV’ e ‘B3_II’ são as úni-
cas que ultrapassam10% de declividade, têm-se como média de declividade do conjunto 8,69%.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da execução desta pesquisa observou-se as vantagens das geotecnologias
enquanto metodologias voltadas à identificação e análise de subsistemas hidrológicos em esca-
las maiores.
O uso do aplicativo TauDEM para a identificação de microbacias em pequenas extensões
de área mostrou-se positivo, entretanto ressalta-se a necessidade de refinamento dos resulta-
dos a partir de atividades de campo e o uso de imagem de satélite de alta resolução.
Considerando o conjunto dos parâmetros morfológicos e morfométricos a maior parte
das microbacias são passíveis de urbanização sem maiores problemas, porém deve-se atentar
a capacidade erosiva de algumas como as ‘B1_V’, ‘B1_VI’, ‘B1_IX’, ‘B1_XI’, ‘B1_XIV’, ‘B1_XX’ e
‘B2_III’. A microbacia ‘ B1_XII’ configuram-se como a menos indicada para ocupação devido
sua probabilidade relativamente alta para inundação. Desta forma, deve-se considerar este
estudo alinhado de outros fatores para uma análise mais integrada das microbacias. Assim os
estudos hidrológicos necessitam ser vistos como parte do processo de tomada de decisão e
não como o fim.
Portanto, levando em consideração as características das microbacias identificadas, a
cidade de Britânia possui boa capacidade de expansão, desde que seja planejada para a prote-
ção destas bacias, principalmente suas nascentes, e prevenção de possíveis danos provenien-
tes de processos erosivos, para isso sua gestão é essencial. Espera-se que os resultados obtidos
através deste trabalho viabilizem a prática de políticas de planejamento e gestão posto que
aponta os arranjos, conexões e características gerais das microbacias que compõem a região.
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Resumo: A qualidade ambiental dos canais fluviais em áreas urbanas tem ganhado mais espaço
nas discussões e atraído atenção de pesquisadores, sociedade civil, organizações públicas e priva-
das, sejam essas discussões a nível regional, nacional ou mundial. Desta forma, compreendendo a
complexidade e importância desses rios enquanto sistemas ambientais, este trabalho visa com-
preender através da relação sociedade-natureza, a poluição em canais fluviais urbanos a partir de
um estudo de caso realizado na cidade do município de Assú-RN, localizado no interior do Rio
Grande do Norte. Para isto, a pesquisa fundamenta-se metodologicamente em três etapas, sendo
elas: (i) discussão bibliográfica, com autores que respaldem a discussão a respeito da urbanização;
poluição de canais fluviais em ambiente urbano e problemas socioambientais em áreas urbanas
devido ao descarte indevido de resíduos sólidos; (ii) pesquisa em campo (in loco) afim de identifi-
car e reconhecer os canais fluviais em estudo, para organização e sistematização do banco de
dados e, (iii) trabalho de gabinete para fins de aquisição de imagens de satélite e processamento
digital dessas imagens em SIG. Desse modo, foi possível compreender que o mau uso dos recursos
hídricos reflete de forma passiva ou ativa sobre a vida humana, sejam elas a curto, médio ou longo
prazo, uma vez que historicamente as áreas em torno de canais fluviais, em particular na área
urbana de Assú/RN, não têm sido utilizadas de maneira adequada por parte da população e nem
das organizações públicos.
Palavras-chave: Hidrografia; Geomorfologia fluvial; Área urbana; Sociedade; Poluição Hídrica.
Abstract: The environmental quality of river channels in urban areas has gained more space in dis-
cussions and attracted attention from researchers, civil society, public and private organizations,
whether these discussions are regional, national, or worldwide. Thus, understanding the complexity
and importance of these rivers as environmental systems, this paper aims to understand, through
the society-nature relationship, the pollution in urban river channels from a case study carried out in
the city of Assú-RN, located in the interior of Rio Grande do Norte. For this purpose, the research is
[ 278 ]
POLUIÇÃO EM CANAIS FLUVIAIS URBANOS 279
methodologically based on three stages, namely: (i) bibliographic discussion, with authors that
support the discussion regarding urbanization, pollution of river channels in urban environment and
socio-environmental problems in urban areas due to improper disposal of solid waste; (ii) field
research (in loco) in order to identify and recognize the river channels under study, for organization
and systematization of the database and, (iii) office work for the acquisition of satellite images and
digital processing of these images in SIG. Thus, it was possible to understand that the misuse of water
resources reflects passively or actively on human life, whether in the short, medium or long term,
since historically the areas around river channels, particularly in the urban area of Assú/RN, have not
been properly used by the population and neither by public organizations.
Keywords: Hydrography; River Geomorphology; Urban Area; Society; Water Pollution.
1 INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos, cada vez mais tem ganhado espaço nas discussões e atraído aten-
ções nestes últimos anos, sejam elas à nível regional, nacional ou mundial. Dentre as várias
possibilidades de discussões envolvendo este tema, um tem tomado destaque especial, asso-
ciado ao desenvolvimento econômico, social e urbano, ocorrido de forma contínua e desigual
no mundo, que é a qualidade ambiental dos canais fluviais em áreas urbana.
No espaço urbano, as transformações propuseram e estabeleceram mudanças no regime
das águas, através do uso e ocupação dos solos e quanto aos usos desses recursos em ambien-
tes urbanos (GUEDES, 2020). Dentro desta perspectiva, numa ótica atual, torna-se cada vez
mais importante entender como essas alterações podem influenciar na dinâmica fluvial de
bacias hidrográficas, uma vez que o escoamento superficial destas áreas sofre alterações
devido ao uso e ocupação dos solos e com o uso dos recursos hídricos naquela região por parte
dos seres humanos.
Assim, entender a bacia hidrográfica como uma unidade geograficamente natural para o
planejamento, capaz de estabelecer uma correlação entre todos os componentes que se refe-
rem ao crescimento e desenvolvimento de uma sociedade, definindo-a através dos seus múlti-
plos usos quanto aos recursos hídricos (GUEDES,2020), torna-se instrumento fundamental no
contexto do planejamento territorial, inclusive, para os centros urbanos.
Deste modo, é necessário entender também o processo de urbanização, este enquanto
processo e a cidade como sua materialização, ambos marcando de forma significativa a socie-
dade contemporânea (SPOSITO,1997). Há assim, neste sentido, uma imbricação entre o pro-
cesso de crescimento da malha urbana e canais fluviais, uma interação direta entre
sociedade-natureza, capaz de alterar a dinâmica da paisagem presente em determinadas áreas,
agregando a essa ideia, um processo contínuo e de correlação entre ambas as partes, sendo
assim essa correlação, uma cadeia geossistêmica, na qual pode-se afirmar que todos os ele-
mentos que compõe a superfície terrestre estão interligados. Ressalta-se também que,
Embora o geossistema seja um fenômeno natural, todos os fatores econômicos e
sociais influenciam na sua estrutura, consistindo assim, além dos fatores naturais, os
fatores ligados a ação antrópica também são levados em consideração durante o
seu curso e suas descrições verbais ou temáticas. (MACIEL; LIMA, 2011, p.166)
Mediante o exposto, parte-se então para a compreensão sobre os processos que com-
põe a cidade e suas complexidades quanto a sua organização e os problemas ambientais que
nela se apresenta (SPOSITO,1997), buscando entender o processo histórico, uma vez que o pro-
cesso de urbanização ocorre de forma variada sobre o espaço.
Dentro desse processo histórico, a urbanização, sucedida na segunda metade do século
XX, em algumas partes do Brasil, apresenta-se de forma não planejada, este processo é resul-
tado da transnacionalização da indústria ocidental, que agregou as áreas periféricos, causando
a partir desse movimento, a desorganização e apropriação dessas áreas (SPOSITO, 1997). Com
isso, houve um crescimento no fluxo populacional aos centros urbanos (TUCCI, 2007), ocasio-
nando como resultado, o surgimento das periferias das cidades. Esse novo processo de expan-
são urbana alterou e tem alterado a dinâmica ambiental e, por vez, social da maioria das cidades
brasileiras (TUCCI, 2007).
A partir desta ótica, devido ao crescimento populacional desordenado, houve uma cres-
cente ocupação em áreas com características naturais frágeis, como exemplo, os canais fluviais,
na qual o que se tem observado diversas alterações em leitos de canais fluviais, associado ao uso
e ocupação do solo que decorrente da urbanização. Atenta-se que, por vezes, os leitos de canais
fluviais são indevidamente ocupados, o que acaba interferindo na dinâmica fluvial alterando,
principalmente, as margens e contaminando as águas (QUEIROZ, FREITAS, GUEDES, 2018).
Deste modo, em uma região de características semiáridas, como as que compõe área de
abrangência do município de Assú, a sustentabilidade do uso da água é especialmente impor-
tante, devido a fatores limitantes para o desenvolvimento socioeconômico da população. Isso
ocorre, devido a períodos históricos prolongados de estiagem associados com eventos de
grande aporte hídrico, que provocam inundações nesta região, marcando profundamente a
convivência do homem com o território ocupado (ANA, 2014).
Nesta perspectiva, faz-se necessário entender e modificar a ideia equivocada de que a
água é um bem inesgotável e com grande presença no meio ambiente. Uma vez que, entender
esse aspecto tornará possível intervir no processo de poluição de rios que estão presentes nas
áreas urbanas, visando erradicar a escassez de recursos hídricos e problemas com inundações
durante períodos de grandes eventos chuvosos.
Logo, visando deste modo, contribuir na perspectiva da geografia física e ambiental, para o
entendimento da preservação e importância de canais fluviais urbanos, este trabalho visa com-
preender através da relação sociedade-natureza, a poluição em canais fluviais urbanos a partir de
um estudo de caso realizado na cidade de Assú-RN, na qual estão diretamente relacionados os
impactos ambientais negativos, ocasionado pelas modificações dos canais fluviais.
2 METODOLOGIA
O município de Assú está localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte, na
porção oeste da capital do estado, distando desta cerca de 210 km. Ele está inserido na Bacia
do rio Piancó-Piranhas-Açu e encontra-se à margem esquerda do rio Piranhas-Açu (Figura 1).
expressivo da população nas cidades e como a expansão da área urbana tem apresentado
casos de poluição em áreas próximas ou em dentro canais fluviais.
A pesquisa in loco dedicou-se à identificação e reconhecimento dos canais fluviais abor-
dados dentro desta pesquisa, a fim de organizar e sistematizar o banco de dados que compõe
as áreas pesquisadas. Tais como, descrição sumária dos trechos de canais em estudo, visto que
o protocolo de amostragem realizado levou em consideração as áreas mais densamente ocu-
padas e as menos densamente ocupadas, próximas à canais fluviais, assim como, a realização
de registro fotográfico destes pontos afim de apontar algum tipo de poluição na área próxima
ao canal fluvial ou em seu talvegue (TUCCI, 2007; MUCELIN, BELLINI, 2008).
Já com relação ao trabalho em gabinete, este teve por finalidade a aquisição de imagem
de satélite através do Google Earth Pro, a fim de gerar ortofotocartas da área urbana da cidade
com a presença dos canais fluviais estudados. Assim, após a aquisição das imagens, elas foram
trabalhadas em formato Raster em ambiente SIG, utilizando o Software livre QGis versão
3.16.05 with GRASSGIS (QGIS 3.16.05 Hannover), objetivando o georreferenciamento da ima-
gem obtida e mapeado os canais fluviais juntamente com a área urbana de Assú-RN. Neste
viés, baseada na proposta de Paranhos Filho et al. (2016), foi utilizada a fotointerpretação de
imagens de satélite como subsídio à análise dos impactos ambientais no meio geográfico.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em um contexto atual, alguns autores têm se debruçado sobre os estudos relacionados
a poluição em águas superficiais, tendo em vista o escopo relacionado as questões que buscam
a entender os problemas ligados a urbanização, uma vez que se torna cada vez mais visível os
problemas voltados quanto a poluição de rios urbanos. Tornando com isso, mais necessário
compreender algumas das complexas e variáveis relações entre impactos e meio ambiente,
deliberado pela ação da sociedade (COELHO, 2013, GUEDES, 2020).
Assim, compreender e analisar a área urbana a partir da ótica da Hidrogeografia (COSTA,
2001; PIMENTA, 2014) tem se tornado cada vez mais necessário devido ao constante aumento
dos agentes poluidores dos recursos hídricos superficiais, como por exemplo as residências e
comércios, que cada vez mais tem utilizado das áreas que compreendem os canais fluviais para
depósito de resíduos sólidos e líquidos (GUEDES, 2020). Porém, trabalhar com essas questões
exigem um conhecimento específico e metodologia adequada em Hidrologia, afim de diagnos-
ticar os cursos d’água presentes na área urbana, uma vez que, após sofrerem o processo de
urbanização, alguns são alterados ou soterrados por meio de construções civis sendo deste
modo necessário, por vezes, a utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG) para a par-
tir de modelos digitais de elevação (DEM), possam ser extraídos os canais fluviais presentes na
área urbana.
Dentro desta perspectiva, a Geomorfologia Fluvial e a Hidrogeografia apresentam-se
conjuntas, apontando metodologias específicas para análise e compreensão sobre os fatores
da poluição em canais fluviais urbanos causados pela ação antrópica (STEVAUX, LATRUBESSE,
2017; TORRES; MACHADO, 2017).
Com isso, como apresenta-se em outras cidades do interior da região Nordeste, Assú
possui rios urbanos os quais, em grande parte do ano estão secos, escoando apenas durante o
período chuvoso e, em razão dessa dinâmica, áreas próximas aos canais fluviais passam a ser
utilizados para descarte de resíduos sólidos e líquidos. Isso ocorre devido ao crescimento da
malha urbana (Figura 2), durante esses períodos de estiagem, de forma desordenada, ocu-
pando essas áreas em torno de canais fluviais e utilizando-os para descarte de resíduos de
forma inadequada, em seus leitos e talvegues.
Como observado na figura 2, de forma geral, os canais fluviais estudados na área urbana
apresentam caraterísticas semelhantes, isso ocorre devido ao processo de expansão da urba-
nização da cidade que vem se intensificando e aterrando diversos canais de drenagens existen-
tes no espaço urbano (FRUTUOSO, 2020) através da especulação imobiliária.
Assim, o ser humano devido a este crescimento da malha urbana, atrelado ao uso e ocu-
pação do solo em áreas próximas a canais fluviais, tem transformado essas áreas em depósito
de resíduos sólidos, criando verdadeiros lixões em meio a área urbana, desta forma gerando
poluição onde segundo o IBGE (2004), poluição pode ser entendido como
Degradação da qualidade ambiental resultante das atividades que direta ou indire-
tamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, criem con-
dições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a
biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, e lancem
materiais ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (IBGE,
2004, p. 251).
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
Em alguns pontos da cidade, parte dos canais fluviais encontram-se canalizados, e por
vezes, de modo submersos (Figura 7). Estas intervenções costumam estar presentes em áreas
densamente urbanizadas, sendo implantadas baseadas no modelo higienista, visando o favoreci-
mento da redução de inundações e o mal odor advindo dos canais fluviais. Neste arranjo, o des-
carte de forma inadequada de resíduos sólidos ao longo da área urbana, acaba então, a contribuir
na obstrução desses canais e no comprometimento da realização de sua funcionalidade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa pesquisa foi possível notar que a poluição sobre os canais fluviais é um tema
importante para análises e estudos, uma vez que, o mau uso dos recursos hídricos reflete de
forma passiva ou ativa sobre a vida humana, sejam elas a curto, médio ou longo prazo. Esse fato
pode ser observado através de um processo de urbanização das cidades e da sociedade em si,
visto que, historicamente os recursos naturais, e os hídricos em particular, não têm sido utilizados
de maneira adequada, muitas vezes vislumbrando apenas aos aspectos econômicos.
Logo, diferentes caminhos devem ser pensados, estruturados e tomados, a fim de avaliar
e mitigar os problemas advindos do mau uso dos recursos hídricos. Uma alternativa a ser
tomada, visa uma decisão entre sociedade e poder público, com intuito de pensar possíveis
saídas para um uso sustentável das áreas em torno dos canais fluviais, tornando possível de
fato um presente e futuro plausível para a cidade.
5 REFERÊNCIAS
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emparn.rn.gov.br:8181/monitoramento/2020/graficos/q205.htm. Acesso em: 20/09/2020.
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TUCCI, C. E. M. Inundações urbanas. Porto Alegre: ABRH, 2007.
[ 289 ]
290 Armando Brito da Frota Filho; Camila de Oliveira Louzada
1 INTRODUÇÃO
O processo de ocupação da humanidade de forma geral estabelece-se próximo aos cur-
sos fluviais, como exemplo disso podem ser citadas as grandes civilizações como a Mesopotâmia
(do grego entre rios, no sistema fluvial Tigre e Eufrates), ou ainda o Egito (às margens do Nilo)
e Jericó na Palestina, as margens do rio Jordão, considerada a ocupação urbana mais antiga do
mundo, com aproximadamente 10 mil anos (LOUZADA, 2014).
Isso se reflete em várias culturas, em especial na cultura amazônida, na qual um exemplo
disso é descrito por Fraxe (2000) a qual explana que os ribeirinhos “estão perfeitamente equi-
librados e harmônicos no ecossistema amazônico (aquático e terrestre)”. Num ponto de vista
geomorfológico pode ser visto na obra de Hilgard O’Reilly Sternberg de 2000, “A água e o
homem na várzea do Careiro” na qual o autor faz uma relação entre a comunidade do Careiro
e seu modo de vida com base na dinâmica fluvial do rio Amazonas.
Ao se pensar no ambiente urbano, e como estas relações são estabelecidas dentro das
cidades e num sistema econômico e social completamente distinto e sem a mesma harmonia
supracitada pelos autores, os rios têm um tratamento diferente. Durante o processo de urba-
nização os cursos fluviais deixaram seu local e importância no imaginário e no dia a dia das pes-
soas, e passaram por processos de transformação variantes.
Em muitas cidades brasileiras, de diversos tamanhos, essas transformações foram inten-
sas nos cursos fluviais, a exemplo do rio Tietê na cidade de São Paulo, que no seu curso urbano,
tornou-se um esgoto a céu aberto, devido a seu estado extremamente contaminado. Na cidade
do Rio de Janeiro ocorreu o mesmo, tanto que esses cursos de água foram apelidados de
“valões” pela população local.
Na cidade de Manaus, houve um processo análogo a destas capitais, pois a grande malha
hídrica descrita por Ab’Saber em 1953 em seu trabalho “A cidade de Manaus: (primeiros estu-
dos)”, foi aos poucos sendo descaracterizada, seja por aterros como por retificações, cimenta-
ção de leito, alterações nas zonas riparias e outras alterações nas formas dos canais, ao longo
dos anos. A tal ponto que alguns igarapés (termo regional para curso de água), em especial os
localizados próximo ao centro histórico da cidade de Manaus apresentavam poucas condições
de sustentar a vida da fauna e flora local, e por causa da contaminação tornaram-se locais de
reprodução de doenças.
Isso decorre do processo histórico espacial da cidade de Manaus, a qual passou pelo
advento da expansão urbana nos anos 70 e 80, o crescimento foi intenso, rápido e sem o
planejamento necessário como aponta Oliveira (2003) em que este destaca que a ocupação
ocorreu de forma urbanisticamente desordenada, na qual não houve preocupações no que se
refere a impactos ambientais.
Como grande parte da população que migrou para a cidade de Manaus, vinha do interior
do estado, muitos não tiveram outra opção a não ser habitar as margens dos igarapés, uma vez
que eram áreas não habitadas e baratas.
Nesse sentido, o governo do Estado do Amazonas por meio de investimentos do Banco
Mundial em parceria com a Caixa Econômica Federal, além do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) a nível federal, possibilitou a implementação de um dos programas mais con-
troversos já realizados na cidade de Manaus, o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de
Manaus, conhecido amplamente pela sua sigla, PROSAMIM (FROTA FILHO e LOUZADA, 2018).
O Prosamim teve e tem como objetivo promover o saneamento, desassoreamento e uti-
lização racional do uso do solo às margens dos igarapés, associada tanto à manutenção do
desenvolvimento socialmente integrado quanto ao crescimento econômico ambientalmente
sustentável (PROSAMIM, 2004).
Contudo, este programa ainda que tivesse objetivos pertinentes no que concerne a recu-
peração dos rios, da qualidade da água, e tendo seu foco no saneamento básico, além de
melhorar a qualidade de vida da população ribeirinha do sítio urbano. Sendo a bacia do
Educandos a principal bacia a ser afetada pelo programa, devido as suas dimensões e localiza-
ção no integral no perímetro urbano de Manaus.
O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM) teve sua primeira
parte iniciada em 19/01/2006, encerrado em 16/09/2009, e sua segunda parte de 19/01/2006
a 21/03/2014.
A bacia hidrográfica do Educandos é localizada integralmente no perímetro urbano, onde
seu canal principal e seus afluentes foram diretamente afetados pelo processo de urbanização,
são alvos de despejos de esgoto e efluentes industriais, além de terem sofrido intervenção do
PROSAMIM.
Logo o presente trabalho tem como objetivo, caracterizar as principais intervenções na
bacia hidrográfica do Educandos no período de 2001 a 2020, localizado na cidade de Manaus
– Amazonas.
2 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está representada pela bacia do igarapé Educandos, com 45,12 km2,
incluída no perímetro urbano de Manaus, abrangendo parcial ou integralmente 26 bairros das
zonas sul, centro-sul e leste da cidade, conforme apresentado na Figura 1 – São eles: Raiz,
Cachoeirinha, São Francisco, Praça 14 de Janeiro, Coroado, Educandos, Santa Luzia, Betânia,
São Lázaro, Morro da Liberdade, Petrópolis, Centro, Nossa Senhora Aparecida, Colônia Oliveira
Machado, Vila Buriti, Mauzinho, Adrianópolis, Aleixo, Nossa Senhora Das Graças,Armando
Mendes, Crespo, Distrito Industrial I e II, Japiim, São José Do Operário, Gilberto Mestrinho
(Figura 1).
3 METODOLOGIA
A metodologia foi calçada no uso da abordagem teórica escrita por Caccia-Gouveia
(2010) como cartográfica geomorfológica retrospectiva e evolutiva, a qual trata do levanta-
mento das bases cartográficas de constituem a área a ser estudada a fim de visualizar espacial-
mente as transformações no relevo.
Dessa forma, considerando a ausência de registros históricos cartográficos que possam
colaborar nessa análise, escolheu-se utilizar as imagens da séria histórica do Software Google
Earth Pro, uma vez que possibilitam um exame das múltiplas mudanças ocorridas, além de
apresentar um nível de detalhe que é pertinente a pesquisa.
Essa forma de abordar a evolução do relevo por imagens do Google Earth vem sendo uti-
lizadas por diversos pesquisadores, entre eles John Boardman que em 2016 publicou um artigo
no qual usa a ferramenta para mapeamento de feições erosivas, nesse sentido o autor advoga
que cada vez mais o Google Earth tem sido usado em estudos de formas de relevo e em tenta-
tivas de inferir processos, sendo encarado como uma nova oportunidade na geomorfologia.
Logo, foi utilizada a ferramenta da serie histórica do Google Earth, eferente aos anos de
2001 a 2020, comtemplando assim o processo de maior impacto na geomorfologia recente da
bacia do Educandos, o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM) que
teve sua primeira parte entre 19/01/2006 e 16/09/2009, e sua segunda parte de 19/01/2006 a
21/03/2014. Além disso foram realizados trabalho de campo para verificação da das alterações
in situ assim como de outras alterações da rede hidrográfica.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Identificação das principais intervenções antrópicas na rede hidrográfica
da bacia do Educandos
Com base no aporte teórico tanto dos trabalhos de Caccia Gouveia (2010) com a retros-
pectiva histórica da paisagem, a qual foca na evolução da paisagem, e da abordagem metodo-
lógica defendida por Boardman (2018), que usa as imagens do Google Earth para monitoramento
geomorfológico, foi possível identificar e caracterizar as principais mudanças que ocorreram
na bacia do Educandos.
Como a bacia apresentar área de 45,12 Km2, o mapeamento de detalhe foi feito por
seções, as quais foram observadas mudanças mais drásticas no período de 19 anos, assim
foram analisadas em especial as alterações do baixo curso da bacia e no canal principal e seus
tributários, atingidos pelas obras do PROSAMIM.
Os igarapés do Mestre Chico e de Manaus foram dois dos canais mais afetados pela ação
humana, antes dos anos 2000 em detrimento da expansão urbana da cidade e pessoas que
moravam em suas margens. E atualmente as mudanças nas suas formas são relacionadas a
ações de infraestrutura do PROSAMIM.
É necessário reiterar que ainda em 2001 havia moradias nas margens, o que por sua vez
reduzia a qualidade da água, em especial pela ausência de saneamento na região. A Figura 2
mostra o processo de evolução desses dois canais, de 2001 a 2018, na qual a primeira imagem
apresenta o seu estado com ocupação humana. No processo nota-se que além da retirada das
mordias, há também a retirada a da vegetação, assim como processo retificação dos canais
(Figura 2).
Figura 2 – Mosaico de Imagens do Software Google Earth Pro, da bacia do Educandos, Manaus -AM.
Referente aos anos de 2001, 2010 e 2018. Com escala de 1 Km. Em vermelho os limites da bacia. Em
preto igarapé mestre chico, em amarelo igarapé de Manaus
Figura 3 – Mosaico de Imagens do Software Google Earth Pro, Igarapé de Manaus, na bacia do
Educandos, Manaus-AM. Referente aos anos de 2001 e 2010. Com escala de 300 m. Em vermelho os
limites da bacia
O canal sofreu diversas alterações, desde a retirada da vegetação prévia, que por mais
que não fosse a original do conjunto florístico de vegetação primária local, era uma comuni-
dade vegetal e animal resistente e natural do local. Isso se nota na imagem na comparação
entre os anos de 2001 e 2005 com 2006, no qual o dossel das árvores for retirado, para o início
da mudança da morfologia do canal.
Nesse sentido, é válido ressaltar os impactos derivados dessa ação:
• Retirada da vegetação de grande porte causa redução das fases do ciclo da água
(TUCCI, 2008), reduzindo o sistema a infiltração e escoamento
• Solo exposto gera menor infiltração, maior escoamento, maior carga sedimentar car-
reada para o canal e maior chance de assoreamento.
• Gramíneas que são inseridas nas margens para evitar/reduzir o escoamento não são
tão efetivas quanto a vegetação de grande porte.
• Retificação do canal gera maior vazão do canal, além de reduzir o tempo da água. Uma
vez que rios sinuosos ou meandrantes tendem a ter a água por mais tempo.
• Cimentação do leito do canal gera maior velocidade devido a retirada da rugosidade,
logo aumentando a força e potencial erosivo.
Esses impactos foram todos observados e sentidos de forma intensa durante a cheia do rio
Negro em 2013 e na de 2021, que provocou o barramento hidráulico do curso principal da bacia
(Igarapé do Quarenta) e consequentemente de seus tributários. Como elenca a Figura 4, na qual
é possível observar a quantidade massa d’água retida no canal do Igarapé do Mestre Chico.
Figura 1 – Igarapé do Mestre Chico e suas águas representadas no ano de 2013. Com escala de 300 m.
Em vermelho os limites da bacia
O mesmo processo que ocorreu nos igarapés do Quarenta e do Mestre Chico, ocorreu no
Igarapé de Manaus, retirada da vegetação de médio e grande porte, remoção da população,
margens temporariamente expostas, proteção das margens gramíneas, retificação e cimenta-
ção do canal (Figura 5).
O diferencial deste foi a criação de Parque Jefferson Péres, o qual não apresenta árvores
reais e no seu traçado paisagístico possui apenas representações de árvores (Figura 6).
Colocação
Indicador de atendimento Indicador de esgototratado
Cidade
urbanode esgoto (%) por água consumida (%)
2019 2020
Outro fator importante que gerou diversos conflitos socioespaciais se deu pela retirada dos
moradores que ali residiam há gerações, e trabalhavam no entorno, principalmente no centro da
cidade de Manaus, o que ocasionou impactos econômicos expressivos nas famílias retiradas.
De forma geral o resultado do PROSAMIM é contraditório visto que um de seus alicerces
era a questão de saneamento básico, a qual não foi atingida. Isso porque um dos objetivos do
projeto, era tratar a água utilizada nas residências, e devolvê-las totalmente potável ao Rio
Negro, o que de fato nunca ocorreu. Na prática o que de fato ocorreu, foi a revitalização dos
canais do ponto de vista urbanístico, e não ecologicamente equilibrado, visto que as alterações
no leito e nas margens dos canais fluviais, não trouxeram qualidade ambiental ao sistema flu-
vial, e ainda impactando na geomorfologia dessas áreas.
Considerações Finais
A cidade de Manaus, apresenta uma expressiva malha hídrica, todavia na segunda
metade do século XX, passou por um intenso processo de crescimento demográfico exacer-
bado, influenciado pela instalação da Zona Franca de Manaus, o que funcionou como atrativo,
para que pessoas oriundas do interior do estado, assim como de outros estados brasileiros,
migrassem em grande número para a cidade de Manaus, e passassem a ocupar áreas naturais
até então, como é o caso das margens e leitos dos igarapés.
Por décadas essas ocupações irregulares fizeram parte da paisagem da cidade de Manaus,
todavia com a implementação do PROSAMIM, essas áreas foram modificadas em grande inten-
sidade alterando aspectos naturais dos rios e igarapés que cortam a cidade. Que tiveram suas
áreas de vegetação nativa retirada; foram executadas retificações dos canais fluviais; cimenta-
ção dos leitos, e em alguns casos construção de galerias subterrâneas; e sendo colocado gra-
míneas as margens dos carnais em áreas de praças públicas; além dos conjuntos habitacionais
sobre essas áreas.
O que por sua vez, acabou por influenciar a recorrência de enchentes e alagamentos nes-
sas áreas principalmente durante o período de enchente anual, isso porque o rio Negro, repre-
sado pelo rio Solimões e acaba por influenciar o nível dos igarapés que cortam a cidade de
Manaus, e principalmente os modificados pelas obras do PROSAMIM, sendo assim é impor-
tante salientar que as maiores e mais impactantes alterações na rede hidrográfica são resul-
tado das intervenções do PROSAMIM.
5 REFERÊNCIAS
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[ 300 ]
PROBLEMAS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO EM NOVA RUSSAS/CE 301
universalization. The research was taken through data survey from governmental platforms for
basic sanitation management from 2010 to 2019 and it is a descriptive research. It was possible to
understand that there were an increase on water supply and sewage services. Urban population
has access to clean water while rural services supply needs to be improved. Sewage and treatment
coverage, despite advances, is much reduced, requiring robust investments to expand services.
Key words: Water supply, sewage, eutrofization, sustainable development, water spring
1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica é a parte de uma região em que é possível analisar e refletir sobre as
relações existentes entre sociedade e natureza, porém sem considerá-la isolada da globalidade
natural. Pode-se dizer também que é a área onde se realiza o balanço da entrada e saída da
água carregando a representação de todos as atividades decorrentes da forma de ocupação do
território (BORELLI, 2006, PORTO e PORTO, 2008).
Assim a água que entra na bacia hidrográfica é utilizada para as diversas atividades do ser
humano, depois retorna para o meio ambiente levando o histórico do seu uso em forma de
água servida. É nesse contexto que os sistemas de abastecimento de água e tratamento de
esgoto se inserem para contribuir com a sustentabilidade da água na bacia.
Os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário ganham relevância
pois retiram água da bacia hidrográfica para atender as necessidades da população e devolvem
esgoto em condições adequadas ao corpo receptor. Esses efluentes ao serem lançados de volta
na natureza devem ser tratados, isso porque o lançamento de esgoto bruto no meio ambiente
compromete a qualidade dos mananciais e o abastecimento humano, promovendo um círculo
vicioso (BORELLI, 2006).
No Brasil, em 2019, o índice médio de atendimento de água com rede foi de 83,7%,
para a coleta de esgoto o índice foi de 54,1% e 49,1% de todo esgoto produzido obteve tra-
tamento. Na região Nordeste em média 73,9% da população tem acesso a água encanada,
28,3% tem coleta de esgoto e 33,7% de todo efluente produzido foi tratado. O estado do
Ceará, em termos urbanos, apresenta um índice médio de atendimento de água encanada
entre 60 a 80% e de rede coletora de esgoto entre 20 e 40% (SNIS, 2019). Isso mostra que
existe uma quantidade relevante de esgoto sendo lançado sem tratamento no meio ambiente
e degradando os corpos hídricos.
O lançamento de esgoto sem tratamento causa a eutrofização do corpo hídrico devido à
elevação da quantidade de nutrientes como nitrogênio e fósforo na água. Isso dificulta a nave-
gação, mata os peixes, causa doenças, eleva os gastos com tratamento da água e pode chegar
a inviabilizar o consumo pelo homem e dos animais (ALECE, 2021).
Em regiões do semiárido o problema de eutrofização é mais grave, pois durante o período
de estiagem os reservatórios diminuem de volume mas continuam recebendo carga poluidora.
Promover a gestão sustentável da água nessas áreas minimiza os impactos causados nos lon-
gos períodos de seca (ALECE, 2021; FREITAS, 2019).
2 METODOLOGIA
A pesquisa foi elaborada a respeito da situação do Sistema de Abastecimento de Água
(SAA) e Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) do município de Nova Russas/Ce por meio do
levantamento de dados disponibilizados nas plataformas governamentais de gestão do sanea-
mento básico. Assim, segundo GIL (2002) a pesquisa se caracteriza como descritiva com deli-
neamento de estudo de caso.
Os dados levantados sobre os SAA, SES e os respectivos investimentos, comtemplou o
período de 2020 a 2019, com ênfase nos anos de 2010, 2011, 2017 e 2019, sendo consultados
no sistema eletrônico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), no ano
de 2021. Os dados nesta base de informações estão consolidados apenas para os anos citados
e até o ano de 2019, justificando o período da pesquisa.
Os dados foram coletados e transcritos no presente estudo. Para construção de tabelas
e gráficos foi utilizado o software Microsoft Excel.
no semiárido nordestino. Segundo ALECE (2020) a cidade é abastecida pelo açude Farias de
Sousa, de domínio estadual e que estava com 55,45% de sua capacidade no ano de 2020.
A cidade não possui plano municipal de saneamento básico, o SAA e o SES da sede são
geridos pelo próprio município (SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto), as localidades e
distritos possuem acesso a água por meio de projetos alternativos como Projeto São José e
Água Para Todos, ou chafarizes, dessalinizadores, cisternas e barragens subterrâneas.
A Figura 1 mostra a localização do município Nova Russas e a Bacia Hidrográfica do Rio
Acaraú.
2.2 Demografia
Neste estudo foram considerados os dados do censo IBGE do ano de 2010 e estimativa
populacional do ano de 2019. Na Tabela 1 são apresentados os resultados da evolução popula-
cional e da quantidade de domicílios particulares na sede do município de Nova Russas.
Destaca-se que o IBGE fornece a população estimada para o ano de 2019 com base na taxa de
crescimento. Já a quantidade de domicílios particulares estimado para 2019 foi calculado por
meio da relação habitante/moradia de 3,33.
Domicilios
Domicilios
População População particulares
Quantidade de particulares
2010 estimada 2019 estimado
habitante/moradia 2010
(habitantes) (habitantes) 2019
(unidade)
(unidade)
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A respeito da evolução das taxas de abastecimento urbano de água, no período de 2010
a 2019, a Figura 2 apresenta o comparativo entre o crescimento da população e a extensão da
rede de distribuição de água operada pelo SAAE no período.
Verifica-se que na Figura 2 a população atendida cresce de 23,24 mil habitantes em 2010
para 24,27 mil habitantes em 2019, ao mesmo tempo que a rede de distribuição operada per-
manece 180 km nos dois primeiros anos, 2010 e 2011, decresce para 100 km em 2017, e cresce
para 280 km em 2019. Supõe-se que trechos da rede de distribuição tenham sido isoladas por
registros de manobras durante a seca que atingiu o município no período de 2016-2017, sub-
traindo-as do levantamento realizado em 2017.
Foi possível verificar que de 2010 até o ano de 2017 houve um aumento na quantidade
de economias ativas no SAA seguido por uma redução no ano de 2019. Admite-se que a estia-
gem de 2016-2017 contribuiu para o aumento de imóveis ligados a rede nesse período, isso
porque, sem fontes alternativas de abastecimento, a população passou a ter a água encanada
como única fonte.
Também foi possível verificar que entre 2010 e 2011 houve um acréscimo no volume de
água produzido, em 2017 aconteceu uma redução voltando novamente a subir em 2019. Essa
redução apresentada em 2017 pode ser associada também a estiagem ocorrida no período
impactando o acesso a captação de água pelo SAA.
Em relação ao volume de água tratado pela Estação de Tratamento de Água (ETA) pode-
-se constatar um crescimento entre os anos do período analisado. Isso pode ser atribuído a
investimentos na melhoria da tecnologia do tratamento de água de modo a permitir maiores
volumes produzidos pela estação.
Comparativamente o ano de 2019 apresentou aumento em todos os índices levantados
em relação ao ano de 2010 com destaque para a quantidade de água tratada pela ETA que teve
um incremento de 94,4%. Isso mostra maior capacidade do SAA de levar água encanada, tra-
tada e de qualidade para a população de Nova Russas.
A ampliação dos índices levantados para SAA no município de Nova Russas está alinhado
com a necessidade de universalização do acesso a água tratada e da promoção da saúde e
bem-estar da população (UN, 2018, BRASIL, 2007).
Este aumento nos índices viabilizou o atendimento de abastecimento de água potável
para 24. 270 habitantes de um total de 32.328 habitantes, em 2019, correspondendo a 75% da
população do município. Este percentual está abaixo da média nacional, mas acima da média
da região Nordeste e destro da faixa apresentada para o estado do Ceará (SNIS, 2019).
Quanto as perdas na rede de distribuição do sistema de abastecimento o município apre-
sentou um índice de 23,64%, frente aos valores médios de 39,2%, 45,7% e 24,2% para o Brasil,
região Nordeste e SAA operados pelos SAAE no Ceará (ALECE, 2021; SNIS,2019).
Segundo o Atlas de Água da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico),
atualizado em 2015, a cidade de Nova Russas tem como avaliação da oferta e demanda um
abastecimento satisfatório. Isso continuou sendo observado até 2019, então significa que o sis-
tema não apresenta criticidade no abastecimento, ou seja, nem o manancial nem a infraestru-
tura hídrica existente apresentam obstáculos ao atendimento das demandas de água atuais e
futuras. Essa constatação é salutar e adequada ao atendimento futuro da universalização na
prestação de serviço de abastecimento de água no território estudado.
Verifica-se que na Figura 3 a população atendida cresce de 3,99 mil habitantes em 2010
para 7,92 mil habitantes em 2019, passando por um período de decréscimo de atendimento
em 2017, ao mesmo tempo que a rede de coleta operada permanece 38 km nos dois primeiros
anos, 2010 e 2011, decresce para 5 km em 2017, e cresce para 48 km em 2019. É importante
citar que a rede operada aqui é o trecho da rede onde se coleta e transporta o esgoto produ-
zido das casas que possuem ligações ativas, a qual se difere da rede de coleta disponível na
cidade. Supõe-se que os valores da rede de coleta operada tenham sido afetados fortemente
pela seca que atingiu o município no período de 2016-2017, limitando o acesso à água, assim
como também a produção de esgoto.
A população atendida por rede coletora de esgoto, em 2019, representa cerca de 24,49%
da população total do município, o que ainda é reduzido e muito abaixo da média nacional e do
Nordeste, apesar de estar dentro da faixa de atendimento do estado do Ceará. Esta ausência
de prestação de serviços de esgotamento sanitário amplia o risco de doenças para a população
e provoca a degradação dos recursos hídricos da bacia (BORELLI, 2006; SNIS, 2019; OMS, 2018;
BRASIL, 2007). O atual percentual está distante do que o BRASIL (2013) identifica como univer-
salização, que seria de 90% de população urbana atendida por rede coletora de esgoto.
Na Tabela 3 são apresentados os dados de quantidade de economias residenciais ativas,
volume de esgoto coletado e volume de esgoto tratado no período.
Tabela 3 – Informações sobre esgoto coletado, tratado e economias ativas de esgotos em Nova Russas
– 2010-2019
Admite-se que a quantidade de economias ativas em 2017 tem um valor menor que nos
outros anos de comparativo por conta da limitação do acesso à água, e como consequência a
baixa produção de esgoto. Quanto ao volume de esgoto coletado, é notório que em 2017 o
volume foi reduzido em relação aos outros anos, e supõe-se que também seja consequência da
seca que atingiu o município no período. O volume de esgoto tratado seguiu uma linha de cres-
cimento no período estudado.
Observando-se os dados da Figura 3 e da Tabela 3 percebe-se que houve ampliação de
volume de esgoto tratado e coletado seguindo a ampliação da rede coletora de esgoto e a
ampliação do número populacional com acesso a esse tipo de prestação de serviço.
Os dados encontrados para o município de Nova Russas vão ao encontro do que LEONETI
et al (2011) afirmam a respeito de que os municípios brasileiros são marcados por déficit de
acesso à coleta e tratamento de esgoto.
Investimento realizado em
Índice de perdas Índice de atendimento
Ano abastecimento de água pelo
na distribuição (%) urbano de água (%)
prestador de serviços (R$)
2011 - 17,51
2017 0 9,98
2019 0 32,65
Fonte: Autores com dados do SNIS (2021).
com a seca que atingiu a cidade no período, a qual ocasionou uma queda na oferta de água no
município, consequentemente diminuindo a produção de esgoto pela população.
Os dados apontam uma pequena extensão da rede coletora e um déficit no atendimento
da população com relação ao sistema de esgotamento sanitário, com um índice de atendi-
mento da população de 32,65% em 2019, o que pode significar que 67,35% da população utiliza
outras formas de disposição de esgoto no meio ambiente, podendo poluir e contaminar os
recursos hídricos onde são despejados. Como mostrado da Tabela 5, os investimentos dos
recursos financeiros não foram suficientes para alcançar a universalização do esgotamento
sanitário, dado que os valores aplicados são incertos ou inexistentes, segundo dados do SNIS
(2021). A ANA (2015) estima um investimento até o ano de 2035 de R$ 26.738.769,14, direcio-
nado à coleta e ao tratamento de esgoto, para que Nova Russas alcance a universalização do
serviço de esgotamento, atendendo 100% da população.
A avaliação e os resultados encontrados nessa pesquisa mostraram que o município de
Nova Russas obteve melhorias no abastecimento de água e no esgotamento sanitário. O abas-
tecimento de água em 2010 já atendia 100% da população da sede, praticamente permane-
cendo essa porcentagem até 2019. Já os índices de esgotamento sanitário evoluíram de 2010 a
2019, porém é necessário mais atenção e investimentos na infraestrutura do sistema para solu-
cionar problemas de coleta e tratamento de esgoto.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível verificar que o acesso a água potável no município de Nova Russas é bem
difundido principalmente na zona urbana com 100% da população tendo acesso a água enca-
nada. Porém é necessário melhorar a eficiência do sistema e garantir o acesso a água potável
na zona rural.
A respeito do acesso ao sistema de esgotamento sanitário o déficit é elevado com ape-
nas 24,49% da população sendo atendida. É importante direcionar esforços e recursos para
ampliar a coleta e o tratamento do esgoto afim de evitar o esgoto bruto e a degradação do
meio ambiente.
A continuidade do lançamento de esgoto de maneira indiscriminada nos mananciais
superficiais e no lençol freático da Bacia do Rio Acaraú causa prejuízos ambientais sem medida,
prejudicando as comunidade a jusante da região, podendo deixar as fontes de água
inconsumíveis.
O caminho para viabilizar a universalização do saneamento básico abrange esforços para
ampliar o acesso à água potável e ao esgotamento sanitário no município de Nova
Russas com aportes financeiros, gestão, tecnologia e educação ambiental. Por meio dos recur-
sos financeiros é possível desenvolver tecnologias para acesso à água e ao esgotamento sani-
tário destinados a áreas mais isoladas do semiárido, difundir a implantação desses sistemas por
meio de parcerias entre os entes federativos e sociedade local, fazer uma gestão sustentável
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Resumo: Este artigo busca avaliar a qualidade das águas das Praias da Barrinha, do Barrão e da
Concha, localizadas na região sul do município de Vila Velha (ES), nas proximidades da barra do Rio
jucu, durante o período de julho de 2020 à agosto de 2021, através de dados divulgados pela
Secretária do Meio Ambiente daquele município sobre a balneabilidade das referidas praias. As
análises foram realizadas com base na resolução 274/2000 do CONAMA, a qual estipula o uso do
parâmetro bacteriológico (Enterococos) para categorizar como “própria” e/ou “imprópria” a qua-
lidade das águas. Os resultados apontam que no período analisado a Praia da Barrinha se mostrou
100% “Imprópria” para a balneabilidade, devido aos números elevados de Enterococos; já a Praia
da Concha apresentou-se 72% do período como “Própria” para balneabilidade; e a Praia do Barrão,
em 82% do período como “Própria” para balneabilidade. Resultados estes, que indicam a péssima
qualidade das águas provenientes do Rio Jucu, bem como a influência do mesmo na balneabili-
dade das Praias localizadas nas proximidades de sua foz, que compromete a qualidade ambiental,
o ecoturismo e a economia local, demonstrando a necessidade de intervenção para o controle e
tratamento dos esgotos aí lançados.
Palavras-Chave: Contaminação; Rio Jucu; Balneabilidade; Turismo; Vila Velha.
Abstract: This article aims to evaluate the quality of the waters of the beaches of Barrinha, Barrão
and Concha, located in the southern region of the municipality of Vila Velha (ES), in the vicinity of
the Jucu River bar, during the period from July 2020 to August 2021, through data released by the
Secretary of the Environment of that municipality on the balneability of these beaches. The analy-
ses were performed based on CONAMA resolution 274/2000, which stipulates the use of the bac-
teriological parameter (Enterococci) to categorize water quality as “own” and/or “inappropriate”.
The results show that in the period analyzed Barrinha beach was 100% “Inappropriate” for balnea-
bility, due to the high numbers of Enterococci; Concha Beach presented 72% of the period as
“Own” for balneability; and Barrão beach, in 82% of the period as “Own” for balneability. These
results, which indicate the poor quality of the waters coming from the Jucu River, as well as its
[ 313 ]
314 Juliana Nancy Galvão Domenciano; Gilnei Machado
influence on the balneability of the beaches located near its mouth, which compromises the envi-
ronmental quality, ecotourism, and the local economy, which demonstrates the need for interven-
tion for the control and treatment of sewage released there.
Keywords: Contamination; Jucu river; Balneability; Tourism; Vila Velha.
1 INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica do Rio Jucu (Figura 1), está localizada no estado do Espírito Santo e
possui uma área de aproximadamente 2.220 km². Este rio é um dos mais importantes do
estado, uma vez que é um dos responsáveis pelo abastecimento de água e pela geração de
energia para a Região Metropolitana da Grande Vitória (INGRID, 2012).
Esta bacia é subdividida em braço norte e braço sul, o braço sul nasce no Parque Estadual
da Pedra Azul, no município de Domingos Martins, e se estende até a confluência com o Jucu
braço norte, o qual segue até a foz, com a denominação de Rio Jucu (Figura 1).
O Rio Jucu Braço Norte é dividido em três trechos (Figura 2): alto Jucu, que corresponde
ao trecho entre as nascentes até as proximidades da localidade de São Rafael, em Domingos
Martins; o médio Jucu, que segue deste local até a confluência no córrego Pedra da Mulata; e
o baixo Jucu, que se estende até a foz no Oceano Atlântico, na chamada Praia da Barrinha
(INGRID, 2012).
A foz do Rio Jucu, pode ser encontrada dentro do Parque Natural Municipal de Jacarenema
(PNMJ), que é uma área de grande importância ecológica e turística do município de Vila Velha,
também denominada Reserva Estadual Ecológica de Jacarenema.
No entorno da Reserva Ecológica, pode-se notar uma crescente pressão de ocupações,
bairros como Santa Paula I e II, na porção oeste, vem avançando em direção à Reserva e na
porção norte, pressões de empreendimentos imobiliários vem reivindicando o parcelamento
de terras para expansão desta área (MUSSO; LIMA, 2002). Outras problemáticas são, os aterra-
mentos irregulares, loteamentos e construções clandestinas que são aí regularmente vistas.
Até meados dos anos de 1980 a área da foz do rio Jucu era coberta por vegetação de res-
tinga. A partir daquela década, as ações antrópicas realizadas na região, como extração mine-
ral de areia e argila, a retilinização do rio Jucu e dos rios Guaranhuns e do Congo provocaram
diversos impactos ambientais.
Outro problema encontrado na área é a destinação inadequada de resíduos sólidos que
ocorrem no geral em terrenos baldios localizados próximos a Rodovia do Sol e em áreas
alagadas.
Com isso pode-se verificar, que os impactos ambientais estão regularmente presentes e
podem ser vistos e sentidos na paisagem, pois há muito tempo vem sofrendo com o intenso
desmatamento das suas APPs e construções em terrenos fragilizados, e na qualidade das águas
do Rio Jucu, que recebe grandes quantidades de efluentes domésticos in natura todos os dias.
A situação se agrava quando, nos períodos de chuva e de maré cheia, os níveis da água dos
canais transbordam, inundando os bairros da região, construídos sobre áreas aterradas e de
várzeas (terrenos brejosos com manguezais ou apenas inundáveis, Figura 3). Os lixos urbanos,
domésticos e outros, ao chegarem aos bueiros acabam por entupi-los, provocando alagamen-
tos frequentes na região.
Neste sentido a problemática que apresenta a pesquisa, reside no fato de que os impac-
tos gerados pela comunidade, o crescente loteamentos de imóveis, a falta de saneamento
básico, a má gestão pública e a falta avaliação de impactos de risco na região têm provocados
graves impactos ambientais e sociais, dos quais prejudica a saúde pública, o turismo – devido
à queda na qualidade da balneabilidade das praias no entorno na barra do Rio Jucu – e na eco-
nomia local, visto que em dias de alagamentos a região fica “ilhada” prejudicando o desloca-
mento da população para seus locais de trabalho.
Tendo isto por base, propõe-se neste artigo analisar a qualidade das águas nas áreas cor-
respondente às praias da Barrinha, do Barrão e da Concha, todas elas localizada na região da
foz/barra do Rio Jucu (Figura 3), tendo como objetivo apresentar as interferências humanas
ocorridas nesta região e como tais ações impactam diretamente no Rio Jucu, e consequente-
mente, na Balneabilidade das Praias no entorno, bem como apresentar as fragilidades do ecos-
sistema ali existente.
O levantamento bibliográfico sobre as características da região e os tipos de uso e ocu-
pação do solo se tornam necessárias para compreender a dinâmica espaço-temporal ocorri-
dos. Também a análise dos dados sobre o parâmetro bacteriológico (Enterococos), divulgado
pela Secretária do Meio Ambiente de Vila Velha, que contribuíram para averiguarmos a quali-
dade da balneabilidade das praias, tendo em vista que não há ou não são divulgadas as coletas
de amostra da qualidade das águas da área de foz do Rio Jucu e levando em consideração que
o mesmo impacta diretamente na qualidade das Praias no entorno.
2 METODOLOGIA
Na busca pela compreensão da dinâmica do uso e ocupação do solo da área da Barra do
Rio Jucu, foram realizadas duas visitas nos locais, a primeira: visitou-se as Praias da Concha e
Praia do Barrão, onde pudemos observar as relações que a população estabelecia com as
praias, notamos que nestes locais a população tem demonstrado um cuidado com os resíduos
sólidos gerados, de modo que destinavam corretamente nos lixos concretados na faixa de
areia da praia; e a segunda, foi realizada uma caminha no entorno do Rio Jucu, área já urbani-
zada nas proximidades de sua foz, avistamos construções (restaurantes, hotéis e chácaras) as
margens da área de manguezal, e na Avenida Ana Penha Barcelos (principal avenida da região)
há um trecho de ponte, onde passa o Canal Congo, lá pudemos observar tubulações de esgoto
a céu aberto de casas construídas no entorno, o mal cheiro revela a situação do canal que logo
adiante deságua no Rio Jucu.
Para a avaliação da qualidade das águas das Praias da Barrinha, do Barrão e da Concha
localizadas nas proximidades da foz do Rio Jucu, foram analisados os dados divulgados pela
Secretária do Meio Ambiente do município de Vila Velha, que dizem respeito à balneabilidade
das referidas praias. Estes dados divulgados foram realizados conforme os parâmetros bacte-
riológicos, que identificam bactérias do tipo Enterococos (provenientes de esgotos domésti-
cos) estabelecidos conforme a Resolução da CONAMA nº274/2000. O período investigado
distribui-se entre o mês de julho de 2020 e agosto de 2021, correspondendo a 11 meses de
coleta, sendo representados em Quadros de 01 à 11.
Para chegar aos resultados de quantos por cento (%) a balneabilidade das Praias estavam
em boa qualidade, foi efetuado o calculo da regra de três simples, levando em consideração
que os 11 meses avaliados correspondem a 100% e a partir dos meses em que cada praia
esteve “Imprópria”, chegou-se ao resultado correspondente a suas porcentagens.
A adoção de tal procedimento permitiu obter uma noção do quanto às águas poluídas do
Rio Jucu influenciam na qualidade das águas das praias e em sua balneabilidade.
Resultados e Discussão
O Artigo 2 da Resolução 274/2000 do CONAMA esclarece que, as águas destinadas à bal-
neabilidade terão sua condição avaliada nas categorias “Própria” e “Imprópria”. Tendo por
base esta resolução, foram coletadas e analisadas pela Prefeitura Municipal de Vila Velha,
amostras de água na praia do Barrão, Praia da Barrinha e Praia da Concha, cujos resultados
encontram-se nos Quadros 01 a 11.
A análise das informações referentes à Praia do Barrão (Figura 4) demonstra que esta
praia normalmente encontrou-se em condições “Próprias” para balneabilidade em 82% do
período analisado entre o mês de julho de 2020 e agosto de 2021, de modo que através do cál-
culo da regra de três, no período analisado esta praia esteve 18% do período “Imprópria” para
banho, estas informações podem ser encontradas no ponto 1 presente nos Quadros 01 e 11.
No que diz respeito à balneabilidade da Praia da Barrinha (Figura 5), localizada próxima a
foz do Rio Jucu, os dados apresentados nos quadros 01 a 11, no ponto 2, demonstram que em
100% do período analisado a mesma se apresentou em condições “Impróprias” para balneabi-
lidade, o que permite classificá-la como Sistematicamente “Imprópria”.
No que concerne à Praia da Concha (Figura 6), identificado no ponto 3, os dados analisa-
dos permitiram verificar que durante o período julho de 2020 a agosto de 2021 ela esteve 73%
do tempo em condições “Próprias” de balneabilidade, de modo que através do cálculo da regra
de três simples 27% do período analisado esta praia se apresentou “Imprópria” para banho.
Com isso foi possível averiguar que as águas da bacia hidrográfica do Rio Jucu têm influên-
cia direta na qualidade das águas das praias que estão localizadas nas proximidades da foz
desta bacia, sendo esta influência muito mais acentuada na Praia da Barrinha do que nas Praias
do Barrão e da Concha. Porém, algumas perguntas são levantadas, quanto à balneabilidade
destas praias. Quais foram os fatores e/ou influências que determinaram os dias com águas
“Impróprias”?
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica do Rio Jucu apresenta-se como uma das principais fontes de água e
energia para o município de Vila Velha, que pertence a Região Metropolitana de Vitória, no
Espírito Santo.
Esta bacia se caracteriza por apresentar o chamado Braço Norte e o Braço Sul, os quais pas-
sam por uma extensa área rural, se juntam e vem desaguar na Barra do Jucu em seu encontro
com o Oceano Atlântico, onde podem ser encontrado alguns bairros da cidade de Vila Velha.
A bacia, ao longo das últimas três décadas, passou por um processo intenso de degradação,
com a retirada mais intensa da cobertura vegetal, a extração de areia nas proximidades da foz, a
pressão das áreas urbanizadas próximas e o lançamento de efluentes sem tratamento no rio.
O lançamento de efluentes diretamente no rio tem contribuído para a redução da quali-
dade das águas, não somente ao longo dele, mas também nas praias localizadas nas proximi-
dades da foz, quais sejam: Praia da Barrinha, Praia do Barrão e Praia da Concha.
Este trabalho analisou os dados publicados pela Prefeitura Municipal de Vila Velha e con-
cluiu que, a influência negativa das águas do Rio Jucu na qualidade das águas das praias locali-
zadas é real, ou seja, sim o rio Jucu polui as águas das praias. Porém, essa influência ocorre com
muito mais propriedade na Praia da Barrinha, a qual é classificada como sistematicamente
“Imprópria” para usos de contato direto.
O trabalho concluiu que em 82% do período analisado a Praia do Barrão foi considerada
“Própria” e a da Concha em 72% do período, em contradição direta com a Barrinha em que
100% do tempo foi considerada “Imprópria” ou sistematicamente “Imprópria”.
Com isso, percebe-se a clara influência negativa da baixa qualidade das águas da bacia do
Rio Jucu e consequentemente, na qualidade das águas das praias próximas a foz desta bacia e
sugere-se que sejam tomadas ações para coibir a urbanização nas proximidades do rio e prin-
cipalmente, eficiência no controle e fiscalização dos efluentes domésticos e industriais, lança-
dos sem um tratamento adequado no Rio Jucu. Com isso espera-se que o rio tenha condições
de se autodepurar ao longo do tempo, deixando de influenciar negativamente a qualidade das
águas das praias analisadas.
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das-praias-no-periodo-das-chuvas-36788. Acesso em: 27 out. 2021.
Resumo: O trabalho trata dos riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes,
localizada na zona urbana de Formosa-GO. A metodologia constou do levantamento de documen-
tos cartográficos já existentes e da catalogação e mapeamento dos riscos encontrados. Os resul-
tados mostraram a ocorrência de riscos geológicos (deslizamentos e erosão marginal), hidrológicos
(enchentes e alagamentos), meteorológicos (tempestades e granizo) e climatológicos (estiagem,
baixa umidade do ar, incêndios florestais). Como resultado, tem-se prejuízos materiais e financei-
ros para os moradores da área urbana de Formosa.
Palavras-chave: riscos; urbanização; deslizamento; inundação.
Abstract: The work deals with environmental hazards in the Córrego Josefa Gomes watershed,
located in the urban area of Formosa-GO. The methodology consists of surveying existing carto-
graphic documents and cataloging and mapping the risks found. The results showed the occur-
rence of geological hazards (landslides and marginal erosion), hydrological (floods and flooding),
meteorological (storms and hail), and climatological (drought, low air humidity, forest fires). As a
result, there are material and financial losses for the residents of the urban area of Formosa.
Keywords: hazard; urbanization; landslide; flooding
1 INTRODUÇÃO
O crescimento populacional e a ocupação desordenada das cidades e do campo brasi-
leiro têm elevado a exposição das populações aos riscos ambientais. Por riscos ambientais
entende-se uma categoria de análise associada a noções de incerteza, exposição ao perigo,
perda e prejuízos materiais e humanos, decorrentes tantos dos processos naturais quanto
[ 327 ]
328 Laura de Souza Silva; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira; Thiara Messias de Almeida Teixeira; Elton Souza Oliveira
sociais (ALMEIDA, 2012). Ou seja, o risco ambiental está associado à possibilidade de ocorrên-
cia de eventos danosos ao ambiente e à sociedade (DAGNINO e CARPI JUNIOR, 2007). Os riscos
ocorrem em diferentes intensidades e manifestações e apresentam-se como quadros conjun-
turais, que podem ter origem nos processos atmosféricos, hidrológicos, sociais,políticos, entre
outros (CASTRO et al., 2005).
A Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes (BHCJG) está inserida, em sua maior parte,
na área urbana do município de Formosa, em Goiás, localizado a 80km de Brasília no Distrito
Federal. Sendo uma bacia hidrográfica (BH) principalmente urbana, apresenta um acentuado
processo de ocupação e remoção da vegetação original de cerrado. Tal processo, fruto das
marchas de urbanização nacionais e regionais, levou à ocupação de áreas com elevado nível de
vulnerabilidades que ampliou e expôs as populações a problemas como alagamentos, voçoro-
camentos, deslizamentos, entre outros.
De modo geral, os custos preventivos são frequentemente menores que os custos de
mitigação e enfrentamento dos riscos ambientais, tais como da realocação de moradores ou
a construção de obras de engenharia (TEIXEIRA et al., 2011). Apesar disso, em um contexto de
fraca fiscalização e pouco planejamento, desdobram-se a ocupação das áreas de risco, o cres-
cimento urbano, desconsiderando as características ambientais e a potencialização dos riscos
ambientais.
Além dos custos sociais e das perdas de infraestrutura, isso tem gerado outros custos
como os processos legais contra o município de Formosa (GOIÁS, 2018; 2021) e a necessidade
de construção de obras para mitigação dos efeitos dos processos já instalados.
Pelo contexto apresentado, percebe-se a importância de conhecer o funcionamento dos
sistemas ambientais, suas vulnerabilidades, fragilidades e limitações para evitar os impactos e
riscos às populações e ao ambiente. Tendo em vista o exposto, este trabalho identificou, cata-
logou e mapeou os riscos ambientais da Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes a partir
da bibliografia e dos documentos já existentes.
2 METODOLOGIA
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e descritivo. O método de pesquisa
pautou-se na compilação de dados secundários de bases oficiais e a partir de estudos ante-
riores e levantamentos cartográficos (HOLLUS, 2014; NORONHA, 2015; RAMALHO et al.,
2017; CPRM, 2019). Com vistas a identificar áreas adicionais de risco não registradas na lite-
ratura, foram realizadas visitas in loco, análise de imagens de satélite e fotografias aéreas de
alta resolução, disponibilizadas pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do
Distrito Federal, e realizada busca por notícias correlatas em meios de comunicação virtual,
sites de notícias.
Os dados cartográficos foram compilados e organizados em formato vetorial, utilizando
o software QGIS 3.20, versão Odense. Após a etapa de organização, os dados foram plotados
em mapa e, segundo a tipologia da Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
(COBRADE), os dados de registros de atividades erosivas e deslizamentos, foram reclassificados
para “Registros de riscos geológicos” e; os dados com registro de inundações ou alagamentos
reclassificados para “Registros de riscos hidrológicos”.
Os dados têm origem: nos pontos de erosão de Hollus (2014); pontos de voçoroca de
Noronha (2015); pontos de registro de alagamentos e inundações de Ramalho et al. (2017); nos
polígonos de inundação, deslizamento e erosão da CPRM (2019); áreas de deslizamento forne-
cidos pela Superintendência do Meio Ambiente de Formosa e; nas observações de campo. Já
os riscos meteorológicos e climáticos foram descritos a partir da análise dos dados climáticos
obtidos junto ao INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), ao sistema on line do Climate
Data (2021), na bibliografia correlata e em matérias publicadas em sites de notícias.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2 – Registros de alagamentos e inundações na a) Av. Tancredo Neves; b) Av. Ivone Saad e; c) Feira
Fonte – Autores.
e um total de 30 imóveis (CPRM, 2019). O número pode ser maior no futuro, já que conside-
rando os processos erosivos de maneira geral a CODEPLAN (2018) estima que 1.210 domicí-
lios (3,68% do total) tenham erosão em suas proximidades, embora atualmente não sejam
necessariamente afetados.
A segunda tipologia de risco geológico apresentada para a área de estudo é a de erosão
marginal que ocorre, principalmente no trecho médio do Josefa Gomes, vizinhando o canal
fluvial (Figura 4), tendo sido observadas tanto pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2019) no
bairro Alphaville quanto por Lopes (2015) no bairro Vila Verde. O processo de formação dessas
áreas de erosão tem relação com o regime de cheias e com a velocidade do escoamento pluvial
e fluvial sendo agravado pelo desmatamento das áreas de mata ciliar. A ocupação é realizada,
às vezes por invasão, por moradores de baixo poder aquisitivo que sem acesso a outras áreas
da cidade acabam ocupando os trechos de maior risco.
Fonte: Elaborado a paritr de Hollus (2014); Noronha (2015); Ramalho et al. (2017); CPRM (2019); Prefeitura de Formosa (2021).
Por último, deve-se considerar o fato do município de Formosa estar inserido em terre-
nos ricos em calcário e dessa forma não se pode excluir a possibilidade de lentes calcárias,
potencial fontes de riscos cársticos, localizadas sob a área urbana ou nas áreas de cresci-
mento da cidade (CPRM, 2013). As confirmações destes riscos dependem de estudos em
subsuperfície para melhorar o conhecimento da estrutura geológica local.
Apesar dos prejuízos materiais, não foram encontrados na pesquisa, registros de feridos
ou mortos pelos eventos meteorológicos e hidrológicos. Mas, dada a recorrência e os efeitos
destes eventos (danificando e derrubando residências, muros, estabelecimentos comerciais,
telhados, etc.), se não houver ação, isso pode ocorrer em um futuro próximo.
Há de se considerar também, como potencial fonte de riscos ambientais, as variações
sazonais e plurianuais de temperaturas. As menores temperaturas ocorrem nos meses centrais
do ano, com temperaturas mínimas médias de 16,2°C no mês de julho e as maiores ocorrem
entre setembro e outubro quando as máximas médias são de 30,8°C (Tabela 1). Os eventos
mais extremos ocorreram em novembro de 1961 (39°C) e julho de 1975 (3,9°C) (DEUS, 2018).
As precipitações são de 1.247 mm anuais, com mensais variando de 1 mm em julho a 250
mm em dezembro (Tabela 1). O evento diário mais extremo ocorreu no primeiro dia de feve-
reiro de 1992 quando choveu 124,6 mm em 24 horas (DEUS, 2018).
As variações do balanço hidrológico também conduzem a riscos sazonais pela baixa umi-
dade do ar entre julho e outubro. As umidades médias mensais variam de 42% em agosto e
setembro a 77% em março (Tabela 1). O menor valor registrado ocorreu em 6 de setembro de
2011 quando a umidade do ar ficou em 17% (DEUS, 2018).
JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Temperatura
23.6 23.6 23.3 23.1 22.3 21.5 21.4 22.9 25.1 25.5 23.5 23.5
média (°C)
Temperatura
20 19.8 19.6 19.2 17.8 16.6 16.2 17.4 19.7 20.7 20 20
mínima (°C)
Temperatura
27.9 28.1 27.7 27.6 27.3 26.7 26.8 28.7 30.8 30.8 28 27.8
máxima (°C)
Chuva (mm) 202 168 172 70 18 4 1 5 27 106 224 250
Umidade(%) 75 73 77 70 62 56 49 42 42 51 73 75
Horas de sol (h) 9.2 9.2 8.6 8.7 8.8 9.2 9.5 10.1 10.4 10.0 8.8 9.0
Fonte: CLIMATE DATA (2021).
Figura 6 – Incêndios na área da BHCJG, na Mata da Bica (a e b), na área do exército (c) e na BR 020 (d)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo histórico de ocupação do município de Formosa levou à urbanização de
grande parte da Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes. Essa ocupação se deu, principal-
mente, nas proximidades dos cursos fluviais e se expandiu para o resto da bacia. Tal processo,
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[ 339 ]
340 Camila Esmeraldo Bezerra; Fábio Soares Guerra; Ana Carla Oliveira de Barros; Edson Vicente da Silva
practices in relation to basic sanitation within cities, such as: infiltration trenches, infiltration
basins, ditches or infiltration ditches. In conclusion, it was found that it is necessary to foster the
debate about basic sanitation under the premises of sustainability, in order to support the mana-
gement and handling of urban waste for its correct disposal, the implementation of drainage tech-
niques, the installation of stations specialized sewage treatment treatment and proper disposal of
domestic and industrial effluents, among others.
Keywords: Sanitation Basic; Management Strategy; Watersheds.
1 INTRODUÇÃO
A falta de saneamento básico afeta negativamente a população e isso passa a ser mais per-
ceptível quando eventos como a pandemia da Covid-19 ocorrem. Um momento em que lavar as
mãos e manter a higiene da casa passa a ser crucial, para combater o vírus. Entretanto, as desi-
gualdades tiveram grandes destaques, sejam elas de ordem social ou econômica. Para se ter uma
ideia, em termos de abastecimento de água, grande parte da população não tem acesso. A Rádio
Nacional (2021), divulgou dados do Instituto Trata Brasil em que 35 milhões de pessoas no Brasil
não têm acesso à água potável. Tendo em vista que o abastecimento de água é um dos compo-
nentes do saneamento básico, percebe-se o quanto ainda precisa de avanços.
Além disso, atividades antrópicas têm potencial de gerar degradação nos corpos hídri-
cos, causando sua poluição ou contaminação. Caso não haja uma gestão dessas atividades e o
correto tratamento dos produtos, como os efluentes e os resíduos sólidos gerados pelas
atividades da sociedade, a qualidade e quantidade de água estarão comprometidos.
Nesse sentido, o saneamento básico se faz fundamental, para garantir a integridade das
bacias hidrográficas e dessa forma a manutenção da vida. Para auxiliar nesse processo existem
leis que norteiam a respeito, como à Lei 11.445/2007, a qual estabelece diretrizes, para o
Saneamento Básico e deve estar integrada a Política Nacional de Recursos Hídricos, lei 9.433/97,
que versa a respeito dos fundamentos, objetivos, diretrizes, instrumentos entre outros ele-
mentos ligados aos recursos hídricos.
O Saneamento Básico de acordo com a Lei do Saneamento é o conjunto de serviços
públicos, infraestruturas e instalações operacionais dos componentes do abastecimento de
água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e gestão dos resíduos sólidos e drenagem
e manejo das águas pluviais urbanas (BRASIL, 2019).
Entretanto, o saneamento no Brasil enfrenta bastante dificuldades. De acordo com dados
presentes no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) (2019), observa-se
que o índice de tratamento de esgoto coletado de 732 municípios é inferior a 30% e que 1.634
municípios que responderam à pesquisa têm ausência de rede coletora de esgotos. Esse fato
reforça a necessidade de avanços e melhorias no saneamento, para evitar doenças da popula-
ção e a destinação inadequada dos esgotos em rios e mares.
A presente pesquisa objetiva averiguar as soluções provenientes do saneamento básico,
como estratégia da gestão ambiental, para evitar a poluição dos corpos hídricos. Ampliando,
assim, a discussão e disseminação a respeito das medidas que podem ser utilizadas, provenien-
tes do saneamento, a fim de driblar ou solucionar os prejuízos acarretados pela urbanização e
que interferem diretamente na qualidade e quantidade dos recursos hídricos.
2 METODOLOGIA
O estudo teve como instrumento metodológico a pesquisa bibliográfica, que consistiu
em averiguar nos trabalhos científicos já publicados (reconhecidos e revestidos de importân-
cia) os debates sobre temática do saneamento básico. Assim, foi possível correlacionar o sanea-
mento básico com o planejamento ambiental em bacias hidrográficas urbanas, destacando-o
como elemento essencial dentro dessa conjuntura.
O levantamento bibliográfico seguiu as orientações delineadas por Marconi e Lakatos
(2003). Deste modo, foi estipulado o objetivo geral e, a partir daí a investigação prosseguiu com
a seleção de temas que o contemplassem. Então, em posse da literatura selecionada, foram
realizados o exame temático, a leitura interpretativa e a técnica do fichamento.
A abordagem de estudo empregada foi a qualitativa/indutiva de cunho exploratório.
Esse tipo de abordagem é importante, visto que permite a interpretação de dados e fenôme-
nos dentro da lógica da subjetividade. Ela permite revelar a dinâmica conjuntural para além do
aparente, algo que não seria possível por meio da análise numérica (KAUARK; MANHÃES;
MEDEIROS, 2010).
Logo, obteve-se a fundamentação teórica que embasou a discussão e os resultados apre-
sentados adiante.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Impactos nos Recursos Hídricos Advindos da Urbanização
Na contemporaneidade, as cidades têm assumido grande relevância em termos econô-
mico, político e sociocultural, tornando-se centros polarizadores de elevados contingentes
demográficos. Essa realidade resulta em grandes contrastes socioespaciais que implicam nega-
tivamente na qualidade de vida e na saúde ambiental dos espaços afetados pelo processo de
urbanização, principalmente nos países subdesenvolvidos, a exemplo dos países da América
Latina, da Ásia e da África (SILVA; et al, 2014).
A urbanização se expandiu de forma diferenciada entre as diversas populações. Nos países
centrais (desenvolvidos), de industrialização antiga, o crescimento e a expansão das cidades ocor-
reram de forma mais lenta, o que facilitou o planejamento e a estruturação dos centros urbanos
(o que não significa dizer que não existam problemas socioambientais nos países do centro). Já
nos países periféricos (subdesenvolvidos), de industrialização recente ou tardia), observa-se uma
explosão do urbano em curto espaço de tempo, favorecendo um crescimento desordenado e
marginal (o que não significa dizer que não existam potencialidades urbanas nos países da
periferia). Dessa forma, é possível verificar que o crescimento urbano ocorreu de maneira hete-
rogênea (com implicações de toda ordem) pelo espaço geográfico (CARLOS, 2004).
A urbanização e a industrialização são processos que andam de mãos dadas, sendo uma
propiciadora das condições de existência da outra, e vice-versa. Tal quadro intensifica-se após
o Século XVIII com a ocorrência da Revolução Industrial, que primeiro se concentra na Europa
e posteriormente se espalha pelo globo (SPOSITO, 2002). Tanto a ampliação das cidades, bem
como o desenvolvimento da atividade industrial, traz em seu bojo impactos socioambientais
significativos que condicionam o modo de viver e sentir o urbano (SANTOS, 2008).
O texto em aferimento discute os impactos ambientais sobre os recursos hídricos advin-
dos da urbanização. Nesse ínterim, a gestão e o manejo do lixo urbano são de suma importân-
cia (SILVA, 2013). Infelizmente, ainda se observa em muitas cidades, principalmente em países
subdesenvolvidos e nos emergentes, o descarte inadequado do lixo em grandes áreas a céu
aberto, os chamados lixões. Neles a decomposição da matéria orgânica, juntamente com os
efluentes e outros contaminantes, atrelados à água das chuvas, produzem um líquido poluente
chamado chorume que percola o solo podendo atingir o lençol freático. Quando não direcio-
nados aos lixões, os resíduos são despejados em cursos d’água, como lagos e rios, comprome-
tendo a disponibilidade de água potável e os recursos pesqueiros, acarretando sérios problemas
econômicos e de saúde pública.
Todavia, como os sistemas ambientais estão interconectados, o que se observa nos
demais componentes geoambientais é um efeito negativo em cascata. Por exemplo, o descarte
incorreto do lixo sobre os recursos hídricos superficiais dificulta a evaporação. Por conseguinte,
a taxa de umidade relativa do ar diminui facilitando a formação de ilhas de calor, que resultam,
por sua vez, em desconforto térmico que pode agravar comorbidades, tais como: hipertensão,
pneumonia, estresse, ansiedade, entre outros.
Outro problema verificado pela expansão do processo de urbanização é a supressão da
cobertura vegetal, para instalação de equipamentos, implementação de ruas e avenidas, alo-
cação dos espaços da produção e do consumo, construção de moradias etc. Com a redução de
áreas verdes nos espaços urbanos, os rios, córregos e galerias pluviais ficam desprotegidos do
assoreamento, o que favorece o transbordamento dos corpos hídricos durante o período chu-
voso. O referido cenário, por certo, comprometerá a segurança e a saúde da população, além
de destruir as infraestruturas instaladas trazendo danos sociais e econômicos ao entorno
(GOMES; SOARES, 2003).
A impermeabilização do solo urbano, pelo concreto e pelo asfalto, resultará no escoa-
mento superficial das águas pluviais, uma vez que o processo de infiltração será dificultado ou
interrompido. Desta feita, a água da chuva, que deveria realimentar o lençol freático e os recur-
sos hídricos superficiais, provocará enchentes causando desequilíbrio socioambiental no
espaço urbano. Sem embargo, o ciclo hidrológico do espaço da cidade será alterado com con-
sequências para o microclima urbano.
Como exemplo concreto dos impactos ambientais sobre os recursos hídricos advindos do
processo de urbanização, pode-se citar o caso do rio Granjeiro, localizado no município do Crato,
sul do estado do Ceará. O rio Granjeiro é parte integrante da sub-bacia hidrográfica do rio Salgado,
sendo uma afluente do rio Jaguaribe (COGERH, 1999). Com o crescimento e a expansão da cidade
do Crato, o rio Granjeiro passou a ter alterações significativas, a saber: redução de suas margens,
modificações nos parâmetros morfométricos, canalização do leito fluvial, transbordamentos,
poluição hídrica, entre outros. A maior parte dos problemas verificados ocorre em função do uso
e ocupação irregulares em função do crescimento da cidade. O estudo apresentado a seguir ser-
virá como fomento à reflexão e como parâmetro para estudos correlatos.
De acordo com Neto, et al, (2008), é possível constatar problemas ambientais expressi-
vos ao longo da microbacia hidrográfica do referido rio. Os autores supracitados constataram
que próximo a encosta da Chapada do Araripe (local da nascente do rio) observa-se a ocupação
irregular em área de preservação permanente. Na análise ambiental realizada, os pesquisado-
res constataram que o desmatamento nas encostas da Chapada do Araripe e a remoção da
cobertura vegetal ao longo da sub-bacia contribuíram para o deslizamento e assoreamento
dos corpos hídricos, o que altera a vazão do rio principal. Foi constatado também que a imper-
meabilização das áreas de interflúvios e da planície de inundação do rio Granjeiro aumenta o
escoamento superficial, visto que a infiltração hídrica fica comprometida, quadro este que
agrava os transbordamentos e as inundações durante o período chuvoso. Além disso, foi veri-
ficado que ocorre o lançamento de esgoto e de resíduos sólidos dentro do canal, que contribui
para a contaminação das águas, poluição visual e a formação de voçorocas. Os impactos veri-
ficados no rio Granjeiro podem ser sintetizados segundo a figura 1.
Neto, et al, (2008), apontam como causas da problemática ambiental averiguada no rio
Granjeiro as seguintes: incompatibilidade entre o plano diretor municipal com a hidrologia e os
aspectos hidráulicos da microbacia; crescente urbanização, falta de planejamento e ordena-
mento do uso e ocupação do solo urbano; obras de drenagem incapazes de conter os picos de
vazão extraordinária; falhas na gestão pública; falta de compromisso por parte da população;
falta de investimento público, de controle e fiscalização de obras irregulares e áreas indevida-
mente ocupadas.
Em função do que foi discutido até aqui, fica claro que o processo de urbanização quando
ocorre sem o devido planejamento torna-se fator de comprometimento dos recursos hídricos
e ambientais como um todo. É preciso planejar e gerir os recursos hídricos urbanos tendo em
vista as diretrizes do desenvolvimento sustentável, de modo a compatibilizar a expansão das
cidades com as bacias hidrográficas urbanas.
degradação dos rios, canalização do seu leito, despejo de esgotos in natura nos rios, alarga-
mento das cidades e a propagação de vetores de doenças (GOUVEIA; SELVA; CABRAL, 2021).
Além da poluição e contaminação hídrica causadas aos mananciais provenientes do uso
urbano, existem outros não menos preocupantes que devem ser tratados. São os efluentes indus-
triais, que Santos et al. (2015) destacam como problemas acarretados por lançamentos de
poluentes e captações, os quais alteram a qualidade dos mananciais. Destacam ainda, no uso
rural, a irrigação que contribui através do carreamento de sedimentos, a erosão de encostas e o
assoreamento dos cursos d’água, influenciando no estado da bacia e dos recursos hídricos.
Diante do exposto, o tratamento de efluente se mostra como procedimento essencial e
urgente, para qualidade de vida da população e ambiental. As variáveis saúde, saneamento e
meio ambiente estão intrinsecamente ligadas, de forma que o esgoto se configura como um dos
resíduos agentes da poluição, devendo ser controlado pelo saneamento a fim de evitar ou ate-
nuar os efeitos nocivos à saúde, o ambiente e desenvolvimento econômico e social. Dessa forma,
é essencial as precauções no afastamento assegurado no tratamento e na disposição final dos
esgotos, os quais envolvem aspectos sanitários, econômicos e ambientais (BRASIL, 2019).
Conforme abordado anteriormente, o tratamento dos efluentes domésticos e/ou indus-
triais são inerentes, para manter a qualidade da água das bacias hidrográficas. No entanto,
existe outro componente do saneamento também muito importante, que requer atenção e o
desempenho da gestão pública e sociedade como um todo, tendo em vista que, caso não seja
gerida de forma correta, causa impactos negativos à saúde e ao meio ambiente, que são os
resíduos sólidos.
Soluções para a problemática acarretada pelos resíduos sólidos estão presentes no seu
manejo e destinação final adequada. As atividades antrópicas geram consequências negativas,
as quais se refletem nos meios físicos, biológicos e socioeconômicos. Essas consequências são
perceptíveis nas águas, no ar, no solo e até mesmo nas ações antrópicas. A disposição final de
resíduos sólidos sem prévio tratamento, tem contribuído para vários desses impactos. O
correto manejo dos resíduos sólidos exige extrema responsabilidade, durante todo o processo
da produção à destinação final, o que requer a cooperação da população em todas essas eta-
pas (BRASIL, 2019).
Como alternativa têm-se a destinação dos rejeitos para o aterro sanitário, a coleta sele-
tiva nos municípios e a reciclagem. Desse modo, evita-se que os resíduos sejam direcionados a
rios e mares, tendo como consequência a poluição e causem outros transtornos como o entu-
pimento dos bueiros, que vão prejudicar a drenagem urbana.
Outro grande problema enfrentado na atualidade é a presença de plásticos nos mares,
que são o destino final de grande parte das bacias hidrográficas urbanas, gerando perturbação
aos ecossistemas marinhos e até a morte dos animais aquáticos. Para se ter uma ideia da mag-
nitude desse impasse, o site do periódico Galileu (2020), divulgou uma pesquisa realizada pela
a Agência Científica Australiana CSIRO’s Oceans and Atmosphere, a respeito de uma estimativa
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste artigo observou-se que o saneamento básico é um fator importante
para o planejamento de bacias hidrográficas urbanas. Quando se fala de planejamento ambien-
tal é possível argumentar que os impactos ambientais nos recursos hídricos devido à urbaniza-
ção prejudicam não só as águas superficiais e subterrâneas, mas também todo o meio ambiente,
desta forma, o saneamento através do desenvolvimento sustentável é fundamental.
Essa pesquisa explorou diversas soluções acerca do saneamento básico, como um cola-
borador da gestão ambiental para a conservação dos recursos hídricos, apontando: a gestão e
manejo do resíduo urbano para o seu descarte correto; a implantação de técnicas de drena-
gem para combater inundações nas cidades devido à impermeabilização do solo; o tratamento
dos efluentes domésticos e industriais por estações de tratamento de esgotos para não poluir
rios, propiciando a qualidade de vida da população e a qualidade das bacias hidrográficas.
A metodologia de pesquisa qualitativa/indutiva foi útil para investigar as discussões
sobre o saneamento básico, pois através da revisão bibliográfica obtém-se uma percepção e
abrangência maior sobre a temática, que foi fundamental para a construção deste artigo.
Esse estudo procurou trazer uma discussão prévia da necessidade do saneamento básico
como ferramenta essencial para o planejamento ambiental de bacias hidrográficas urbanas,
causando assim uma reflexão sobre o desenvolvimento sustentável sob uma visão do urbano
e do meio ambiente.
Sugere-se que estudos posteriores possam se interessar por essa temática, introduzindo
o saneamento básico como elemento fundamental para um planejamento sustentável refe-
rente às melhores condições dos recursos hídricos em bacias hidrográficas perante os proces-
sos de urbanização.
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Resumo: A drenagem urbana tem como objetivo canalizar as águas pluviais para evitar danos cau-
sados, por exemplo, por cheias, alagamentos, enxurradas ou inundações. Dessa forma, a pesquisa
teve como objetivo analisar os impactos produzidos pela configuração da atual rede de drenagem
da Av. Dr. Luiz Antônio, bairro de Boa Esperança, Parnamirim-RN. Para isso, realizou-se uma pes-
quisa bibliográfica e documental, além de levantamentos de campo e aplicação de inquéritos
junto aos residentes do local. De posse dos dados e informações levantadas, entendeu-se que os
problemas gerados pela deficitária drenagem urbana local podem ser solucionados através de
ações públicas relacionadas à implementação de soluções técnicas adequadas à realidade e a des-
tinação de recursos financeiros devidos para tal, de modo a fazer cumprir os critérios amparados
legal e tecnicamente com vistas à resolução da problemática em tela.
Palavras-chaves: Impactos Ambientais; Alagamento; Percepção Ambiental.
Abstract: Urban drainage aims to channel rainwater to prevent damage caused, for example, by
flooding, overflows, mudslides, or flooding. Thus, the research aimed to analyze the impacts pro-
duced by the configuration of the current drainage network of Av. Dr. Luiz Antônio, Boa Esperança
neighborhood, Parnamirim-RN. To this end, a bibliographic and documental research was carried
out, in addition to field surveys and the application of surveys to local residents. With the data and
information collected, it was understood that the problems generated by the deficient local urban
drainage can be solved through public actions related to the implementation of technical solutions
appropriate to the reality and the allocation of financial resources due for such, in order to enforce
the legally and technically supported criteria with a view to solving the problem at hand.
Keywords: Environmental Impacts; Flooding; Environmental Perception.
[ 351 ]
352 Estevam Ewerth de Lima Bezerra; Diego Henrique Anadão Cavalcante; Bruno Claytton Oliveira da Silva
1 INTRODUÇÃO
Orzenn (2016) discute que a necessidade de um planejamento urbano relacionado, princi-
palmente, à drenagem urbana, somadas às alterações que o meio sofre em decorrência do uso
inadequado do solo, constituem ingredientes favoráveis à geração de problemas urbanos, muitas
vezes, de difíceis soluções e que, assim, que requerem medidas estruturais (obras) onerosas.
Ao mesmo tempo, Peixoto (2005) relata que a concentração da população brasileira nas
áreas urbanas, aliada às restrições econômicas que atingem a sociedade e às limitações das
administrações públicas em relação ao planejamento e ao controle do uso e ocupação do solo,
reforçam o caráter informal e aparentemente anárquico da urbanização brasileira.
Por conseguinte, seja em âmbito global ou nacional, a sociedade contemporânea tem
sofrido diversos impactos negativos gerados pelo crescimento urbano desordenado, dentre
eles as questões que envolvem a drenagem urbana.
No país, devido ao grande crescimento urbano houve o aumento da área impermeabili-
zada das bacias hidrográficas das cidades, predispondo-as, frequentemente, a eventos como
enchentes, inundações, alagamentos e/ou enxurradas, com ocorrência registrada, sobretudo,
durante os períodos chuvosos (ORZENN, 2016).
A impermeabilização do solo é a perda ou retirada de sua capacidade de absorver a água.
Isso acontece quando uma determinada região com vegetação natural dá lugar a construção
edificações diversas. Notadamente, embora essas tenham o objetivo de melhorar a qualidade
de vida da população local, caso elas não sejam bem planejadas podem ocasionar prejuízos
coletivos/sociais (PEIXOTO, 2005).
Por outro lado, com o intuito de controlar as inundações, os alagamentos e as enxurra-
das, os órgãos públicos responsáveis empregam, frequentemente, como solução técnica a
construção de lagoas de captação em locais estratégicos (TEIXEIRA, 2014).
Especificamente quanto a solução citada, o que tem se observado é, invariavelmente, a
ausência de manutenção (ou a sua realização de forma ineficiente) deste equipamento; que,
assim, tende a gerar uma série de impactos negativos à comunidade residente em seu entorno.
Deste modo, a presente pesquisa teve como objetivo analisar os impactos produzidos pela
configuração da atual rede de drenagem da Av. Dr. Luiz Antônio, bairro Centro, Parnamirim-RN.
Já de acordo com Teixeira (2014) a drenagem urbana tem como objetivo canalizar as águas
pluviais para evitar danos e enchentes. Para isso, em termos de planejamento e gestão ambiental
urbana, faz-se necessário que ela esteja articulada ao plano nacional de saneamento básico.
Tal plano figura como o instrumento regulador e constitui as estratégias que orientam
para: a identificação das áreas que serão preservadas (ou não), o estudo da bacia hidrográfica
de contribuição, a delimitação da várzea de inundação e a determinação dos períodos de
retorno; além de ser um referencial técnico e estratégico em âmbito, inclusive, municipal.
Em termos gerais, pode-se entender que a drenagem tem como objetivo escoar as águas
de terrenos encharcados, através de tubos, túneis, canais, valas e fossos, sendo factível recor-
rer a motores como auxílio ao escoamento.
Destaca-se que os mencionados canais podem ser naturais, como rios e córregos, ou
artificiais, como os de concreto armado ou simples ou até mesmo de gabiões.
Segundo Cardoso Neto (2014), os problemas gerados pela drenagem urbana podem ser
solucionados através de uma política factível de drenagem urbana, que determine a ocupação
de várzeas de inundação, recursos financeiros e soluções técnicas, além da seleção de uma
empresa qualificada e idônea para a execução da obra, além do emprego de instrumentos de
conscientização coletiva para a valorização sanitária e da natureza.
Ainda nesse contexto, outro aspecto importante a ser destacado é o papel da microdre-
nagem, que contribui para condução do deflúvio, à montante da bacia hidrográfica, até os
bueiros por meio das sarjetas. Por conseguinte, se os vários sistemas de microdrenagem dire-
cionam toda a água para um ponto, os de macrodrenagem têm como função conduzir todo o
escoamento para a jusante, que são os rios ou córregos (TEIXEIRA, 2014).
De acordo com Champs (2009), para o bom funcionamento de um sistema de drenagem
urbana é necessário saber se ele funcionará como um sistema auxiliar à drenagem natural e
terá seu funcionamento não contínuo, pois pode variar conforme a frequência de precipita-
ções. Logo, esse sistema deve ser dividido em micro e macrodrenagem, cujo produto a ser dre-
nado será formado por água e por sólidos a serem escoados em canais naturais (vazões de base
e vazões de cheia).
Deve-se ressaltar que todos esses elementos devem estar interligados e em bom funcio-
namento, evitando, assim, o risco de ocorrer falha no sistema de drenagem. Além desses ins-
trumentos, as características das bacias hidrográficas possuem papel primordial no processo
de drenagem.
Ademais, o sistema de drenagem é composto por dois tipos de intervenções ou medidas
complementares no ambiente: as estruturais e as não estruturais.
As estruturais seriam as chamadas obras hidráulicas necessárias para um bom escoa-
mento das águas pluviais. Já as não estruturais correspondem as propostas com objetivos de
minimizar os efeitos causados pelas águas pluviais, não implicando em grandes obras de enge-
nharia (PHILIPPI JR et al., 2005).
Para Almeida (2014) e Costa (2014) o gerenciamento dos sistemas de drenagem têm
como objetivos: a redução ao máximo dos prejuízos causados por possíveis alagamentos, orien-
tando a população quanto aos fatores que geram os problemas hidrológicos; a criação de cen-
tros de previsão e sistemas de informações de tempo; e o estabelecimento de programas de
prevenção, mapeamento de locais críticos e treinamento da população residente, principal-
mente, em lugares onde há significativo risco de ocorrência de evento adverso.
Todos esses aspectos políticos, de infraestrutura e de instalações operacionais, segundo
Almeida (2014, p.68), garantem:
Um adequado sistema de drenagem urbana proporcionará uma série de benefícios
às cidades como: desenvolvimento do sistema viário, redução de gastos com manu-
tenção das vias públicas, redução no gasto com doenças de vinculação hídrica,
escoamento rápido das águas superficiais, reduzindo os problemas do trânsito e da
mobilidade urbana por ocasião das precipitações, eliminação da presença de águas
estagnadas e lamaçais, recuperação de áreas alagadas ou alagáveis, proporcionando
sensação de segurança e conforto para a população.
Complementando os aspectos mencionados, Tucci (2003) relata que para implantar medi-
das sustentáveis na cidade faz-se necessário articular o Plano Diretor de Drenagem Urbana e o
Plano Diretor em termos gerais, que devem se basear nos seguintes princípios: 1. O planejamento
e o sistema de controle dos impactos existentes devem ser elaborados considerando a bacia
como um todo; 2. Os novos desenvolvimentos não podem elevar a vazão máxima de jusante; 3.
O planejamento deve ser integrado ao Plano Diretor da cidade; 4. O controle dos efluentes deve
ser avaliado de forma integrada com o esgotamento sanitário e os resíduos sólidos.
Finalmente, ressalta-se que o Plano Diretor deve ser desenvolvido utilizando medidas
não estruturais (principalmente a legislação) para os novos desenvolvimentos (loteamentos e
lotes) e medidas estruturais por sub-bacia urbana da cidade.
rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas
ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”.
Não obstante, os resíduos podem ser produzidos nos estados sólido ou semissólido,
sendo originários de atividades industriais, domésticas, hospitalares, comerciais, agrícolas, de
serviços e de varrição. Além disso, ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos
sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle
à poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lan-
çamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas
e economicamente inviáveis em face de melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004).
Gazineu et al. (2007) alertam que os resíduos sólidos são considerados perigosos quanto
às suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas. Assim, o inadequado gerencia-
mento desses pode causar um grande impacto a saúde ambiental e humana, pois o processo
físico-químico de decomposição dos resíduos orgânicos, se não controlado de forma correta,
poderá produzir líquidos percolados (chorume), em sua maioria rica em metais pesados – como
o chumbo, níquel, cádmio... – que contaminam os veios hídricos e cursos d’água quando infil-
trados no solo.
A lei federal 12.305 de 2010, que institui a PNRS, vem estabelecer os princípios, objetivos
e instrumentos, bem como as diretrizes relativas à gestão integrada, o gerenciamento dos resí-
duos sólidos, as responsabilidades dos geradores e do poder público e os instrumentos econô-
micos aplicáveis. Ademais, a lei visa desenvolver, além da mudança comportamental da
sociedade, o engajamento do poder público frente a questão (RODRIGUES, 2015).
Por fim, a PNRS, além do mencionado, estabelece as metas e delega responsabilidades
aos geradores de resíduos sólidos, ao poder público e aos demais instrumentos econômicos
passíveis de geração de resíduos (BRASIL, 2010).
4 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está situada na bacia hidrográfica do Pirangi, que possui uma área de
458,90 km² e corresponde a cerca de 0,9% do território estadual.
Outro ponto primordial para entendimento do estudo de caso é a composição do solo,
que segundo o Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande Norte (IGARN, 2021), possui as
seguintes tipologias:
Área
Classes de Solos
Km2 %
Latossolo Amarelo Distrófico 235,3 51,2
Podzólico Vermelho-Amarelo
94,6 20,6
Eutrófico
Areias Quartzosas Marinhas
72,8 15,9
Distróficas
Solos Aluviais Eutróficos 32,5 7,1
Areias Quartzosas Distróficas 11,9 2,6
Lagoas/Açudes 11,8 2,6
Total 458,9 100,0
Fonte: Bacia Pirangi – IGARN (2021).
Fonte: SEMARH-RN.
Vale destacar que a lagoa de captação Aderbal Antônio Pontes, localizada na avenida Dr.
Luiz Antônio, bairro Boa Esperança, Parnamirim/RN, foi projetada e construída no ano de 2001.
5 METODOLOGIA
De antemão, destaca-se que parte substancial da pesquisa foi realizada in loco na lagoa
de captação Aderbal Antônio Pontes, localizada na Avenida Doutor Luiz Antônio, no bairro de
Boa Esperança, na cidade de Parnamirim/RN.
Foram realizadas visitas técnicas no perímetro que abrange a lagoa, bem como em seu
entorno, nos meses de junho e julho de 2020, onde foram levantados dados de campo e entre-
vistados os moradores da área.
Notadamente, quanto ao processo de coleta de dados a partir dos inquéritos, destaca-se
que esses foram obtidos a partir de entrevistas realizadas junto aos 28 residentes da área.
De posse dos dados, esses foram analisados com vistas ao levantamento de informações
sobre os principais problemas socioambientais concernentes a atual realidade da drenagem
local e das condições de manutenção e uso da lagoa de captação Aderbal Antônio Pontes.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção discute-se a respeito dos impactos negativos causados pela ineficiente dre-
nagem da Av. Dr. Luiz Antônio, bairro Centro, Parnamirim-RN.
A seguir, no quadro 2, são apresentados os questionamentos realizados junto aos entre-
vistados e os resultados obtidos:
A seguir, nas figuras 2, é mostrada a estrutura atual da lagoa de captação Aderbal Antônio
Pontes:
Além das más condições da bomba acima exposta, outro agravamento observado é que
na lagoa não há um gerador para garantir o seu funcionamento na condição de interrupção do
fornecimento de energia elétrica pela concessionária local.
Até o final de 2019, de acordo com as informações de uma fonte entrevistada, a cidade
de Parnamirim-RN contava com apenas um gerador portátil e com duas bombas à diesel para
atender as 17 lagoas de captação que possui. Deste modo, diante da falta de energia elétrica
na cidade, a preferência quanto ao uso do equipamento se dá por ordem de solicitação.
Abaixo, na figura 4, mostramos os alagamentos verificados nas imediações da lagoa:
Figura 4 – Alagamentos
A partir da figura acima pode-se notar, além das áreas alagadas, as adaptações improvi-
sadas construídas pelos moradores com vistas a não invasão das águas para o interior de suas
residências. Por fim, um outro problema identificado foi a inadequação, quanto ao dimensio-
namento, da manilha empregada no local; como ilustra a figura 5:
Figura 5 – Manilha
Uma sugestão técnica para tal é a implantação de manilhas com diâmetros suficientes
que possam, assim, receber o volume de água precipitada e disponível na superfície, fazendo
com que elas possam cumprir o seu papel no que tange a mitigação da concentração de água
no local e seu deslocamento para o afluente mais próximo.
Finalmente, indica-se também que o equipamento (manilha) possa ser acoplado a uma
peça em formato de “ípsilon” (Y). Tal medida possibilitará que duas bombas – com a potência
devida – possam trabalhar de forma síncrona, reduzindo o tempo para remoção da água do
local alagado e minimizando, assim, os seus impactos negativos provenientes.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa demonstrou a importância da drenagem urbana, onde se pôde perceber
diversos impactos negativos à população de uma dada área quando de sua inexistência pre-
sença de forma ineficiente.
Como destacado, especificamente em relação as lagoas de captação, existem diversas medi-
das/soluções para resolução/mitigação dos problemas aqui identificados, entre eles a: 1. Limpeza/
manutenção da área interna e externa da lagoa; 2. Disponibilização constante, durante o período
chuvoso, de geradores que atendam a demanda quando ocorrer interrupção do fornecimento de
energia; e 3. Instalação de manilhas e dispositivos que atendam a demanda hídrica local.
8 REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. São Paulo, 2004
ALMEIDA, D. S. A drenagem urbana das águas pluviais e sua relação com o meio ambiente e a saúde pública
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BRASIL. LEI Nº 12.305 – PNRS, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.
CARDOSO N. A. Sistemas Urbanos de Drenagem. 2014.
CHAMPS, J. R. B. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental Lei Nacional de
Saneamento Básico: perspectivas para as políticas e a gestão dos serviços públicos. Manejo de águas
pluviais urbanas: o desafio da integração e da sustentabilidade. Brasília: [s.n.], 2009.
GAZINEU, Maria Helena Paranhos; SALGUEIRO, Alexandra Amorim; SOARES, Liliane Gadelha da Costa.
Educação ambiental aplicada aos resíduos sólidos na cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso.
Centro de Ciências e Tecnologia, Universidade Católica de Pernambuco Rua do Príncipe, 526 – Boa Vista,
Recife, PE. Ano 1 • n. 1 • julho-dezembro 2007.
IGARN. Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em: www.igarn.rn.gov.br Acesso em: 27 set.
2021.
NETO, A. C. Sistemas urbanos de drenagem. p. 267-277, 2005.
ORZENN, H. M. M. Estudo do sistema de drenagem urbana localizado no cruzamento da rua Araruna com a
av. perimetral. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campo Mourão, 2016.
PEIXOTO, M. C. D. et al. Expansão urbana e proteção ambiental: um estudo a partir do caso de Nova Lima/
MG. In. XI Encontro Nacional as Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em planejamento
Urbano e Regional, Salvador, 2005.
PHILIPPI Jr. A, Saneamento, saúde e ambiente: Fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri,
SP: Manoele, 2005.
RODRIGUES, D. C. Proposição de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos para o centro integrado de
operação e manutenção da casan (CIOM).Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Curso de Graduação
em Engenharia Sanitária e Ambiental. 2015.
TEIXEIRA, S. N. Sistemas de drenagem urbana: estudo de caso para macrodrenagem do município de Arcos-
MG / Suzane Naiara Teixeira. – 2014.
TUCCI, C. E. M. Gerenciamento da drenagem Urbana. Ed. Abril; 2001. Revista Cienc. Cult. vol.55 no.4 São.
Paulo Oct. /Dec. 2003.
Resumo: Esgotamento sanitário no Brasil é uma grande problemática, sendo mais agravante em
algumas regiões do país, como a região Norte que possui os piores índices de coleta e tratamento
dos esgotos. O município de Conceição do Araguaia (PA) é uma dentre as diversas cidades com
carência em serviços de saneamento básico, diante disso, objetivou-se pesquisar qual a forma de
descarte dos esgotos produzidos, bem como a perspectiva da população sobre esgotamento sani-
tário. Para atingir os objetivos fora utilizado a técnica de observação direta extensiva com aplica-
ção de formulário com os moradores. Constatou-se que a atual situação de esgotamento sanitário
dos bairros estudados é inadequada, sendo o esgotamento do tipo individual fossa negra o mais
utilizado, apesar dos moradores afirmarem ser fossa séptica.
Palavras-chave: Esgotamento Sanitário; Poluição hídrica; Descarte de efluentes.
Abstract: Sanitation in Brazil is a major problem, being more aggravating in some regions of the cou-
ntry, such as the northern region, which has the worst sewage collection and treatment rates. The
municipality of Conceição do Araguaia (PA) is one of several cities with a lack of basic sanitation ser-
vices, so the objective was to research the form of disposal of sewage produced, as well as the popu-
lation’s perspective on sanitary sewage. To achieve the objectives, the extensive direct observation
technique was used with application of a form with the residents. It was found that the current situa-
tion of sanitary sewage in the neighborhoods studied is inadequate, with the individual type of
sewage system being the most used, despite the residents claiming to be a septic tank.
Keywords: Sanitary Sewage; Water pollution; Wastewater disposal.
[ 363 ]
364 Maraiza Bezerra Castro; Lais dos Anjos Silva; Fabyano Alvares Cardoso Lopes; Milta Mariane da Mata Martins
1 INTRODUÇÃO
Saneamento básico é uma problemática mundial. Tendo em vista que mais de um bilhão
de pessoas, em todo o mundo, não tem acesso aos serviços fundamentais de saneamento. O
que implica em riscos para a saúde e para o meio ambiente. Sendo este, um problema maior
nos países pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, que sofrem com as mazelas causa-
das pela precariedade no serviço, principalmente no quesito esgotamento sanitário (BRASIL,
2007). Assim, investimento em saneamento básico é decisivo no desenvolvimento de qualquer
nação, pois as problemáticas sanitárias possuem influência direta e indireta na qualidade da
saúde pública, do meio ambiente, setor de produtividade, habitação, educação, turismo e na
economia de forma geral (ECONÔMICA, 2014).
A lei n° 11.445/2007 amplia o conceito de saneamento brasileiro ao estabelecer a Política
Nacional do Saneamento Básico (EUGENIO, 2018), um instrumento imprescindível para o
desenvolvimento do setor, pois institui as diretrizes e objetivos que orientam as ações do
governo federal, elucidando funções da União, dos Estados e dos municípios, pretendendo
influenciar na qualidade dos recursos hídricos brasileiros.
Apesar de o Brasil possuir uma lei específica que regulariza e estabelece as diretrizes do
setor de saneamento, o país ainda dá pouca atenção às problemáticas sanitárias, negligen-
ciando os direitos básicos de bilhões de brasileiros. Colocando em risco a saúde da população
que vive em condições insalubres, principalmente nas áreas periféricas das cidades e nas
regiões mais pobres do país, como a região norte e nordeste que possuem os piores índices em
saneamento básico e saúde, e os maiores índices de pobreza (AZEVEDO, 2016). O segundo
maior estado da região norte, Pará, é referência nacional em ausência ou má qualidade da
prestação do serviço de esgotamento sanitário à população. A coleta de esgoto é de apenas
2,03%, sendo que deste apenas 5,35% é tratado. Obtendo como reflexo, o maior índice nacio-
nal em doenças gastrointestinais, que são as principais doenças relacionadas à ausência de
esgotamento sanitário (BRASIL, 2017).
De acordo com TORRES (2004), a poluição do meio ambiente é de interesse público em
todo o mundo, uma vez que muitos países vêm sendo afetados por seus graves impactos, sendo
que um dos principais problemas ambientais é o uso dos rios como principal receptor de efluen-
tes de origem doméstica ou industrial. Os esgotos domiciliares são provenientes de residências,
instituições ou edificações com instalações de banheiros, cozinhas, etc., que utilizem a água para
fins domésticos. A falta de saneamento básico em zonas urbanas é um dos agravantes para a
degradação das águas, pois muito dos contaminantes das águas é em decorrência da falta de
saneamento, coleta e tratamento de esgoto. É importante proteger a vegetação do leito dos rios,
nas áreas urbanas, evitando assim, poluentes por meio da lixiviação para os rios (KALINE MELLO,
2021)relacionando-o com a degradação das águas”,”container-title”:”Jornal da USP”,”language”:”pt-
BR”,”note”:”section: Ambiente é o Meio”,”title”:”Falta de saneamento e uso inadequado dos
solos afetam qualidade dos rios”,”URL”:”https://jornal.usp.br/atualidades/falta-de-saneamento-
-e-uso-inadequado-dos-solos-afetam-qualidade-dos-rios/”,”author”:[{“literal”:”Kaline
Mello”}],”accessed”:{“date-parts”:[[“2021”,10,14]]},”issued”:{“date-parts”:[[“2021”,4,14]]}}}],”sche
ma”:”https://github.com/citation-style-language/schema/raw/master/csl-citation.json”}.
Quando analisado em escala municipal, o panorama se torna ainda mais impactante, pois
em muitos municípios o serviço de esgotamento sanitário é inexistente, ficando as soluções
para os esgotos de forma individualizada, como a utilização de fossas, valas e o descarte direto
nos corpos hídricos (AZEVEDO, 2016), que nesse caso, é o Rio Araguaia.
O Rio Araguaia tem a Serra do Caiapó como nascente, nas proximidades do Parque
Nacional das Emas (Sudoeste do Estado do Goiás), percorrendo cerca de 2115 km, onde, com-
preende parte dos Estados do Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. De acordo com ASSIS;
BAYER (2020), a bacia desse rio abrange uma área de 383.999 km². A cidade de Conceição loca-
liza-se as margens desse rio, na qual, o esgoto produzido pela população é despejado de forma
indiscriminada, poluindo suas águas.
Nessa perspectiva, o presente trabalho, teve como objetivo identificar as formas de des-
carte dos esgotos produzidos, além do conhecimento da população sobre esgotamento sanitá-
rio no município de Conceição do Araguaia (PA).
2 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no período de junho a outubro de 2016, no município de
Conceição do Araguaia, localizado no sudeste paraense, na divisa do estado do Pará com o
Tocantins (08º 15’ 28’’ S e 49º 15’ 53’’ W e altitude de 171 m), e com área territorial de 5.829,482
km² (Figura 1). Atualmente, o município de Conceição do Araguaia possui uma população esti-
mada em 48.115 habitantes (IBGE, 2021).
A amostragem foi realizada nos dois bairros mais populosos de Conceição do Araguaia,
sendo eles o bairro Centro, constituído por 2.356 domicílios, e a Vila Cruzeiro, com 1.175 domi-
cílios. O bairro Centro está estabelecido no plano diretor da cidade e é contemplado no “Projeto
Básico da Rede Coletora de Esgoto Sanitário”, fazendo parte da “Bacia 01 do Projeto de
Saneamento da Praia Sistema de Esgoto Sanitário”, enquanto a Vila Cruzeiro não é contemplada
com rede coletora.
A pesquisa em campo ocorreu por meio da observação direta extensiva com a aplicação
de formulários em 30% dos domicílios dos bairros supracitados, totalizando 1.058 formulários
aplicados, onde se obteve os dados sobre os métodos de descarte das águas servidas e a pers-
pectiva da população sobre esgotamento sanitário. No formulário, foi abordado questões
como: Qual era renda mensal da família, se a residência possuía rede coletora de esgoto, qual
era o destino do esgoto, se o esgotamento sanitário contribui para a qualidade de vida e para
a salubridade do meio ambiente.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Tipo de esgotamento e perspectiva dos moradores
O município de Conceição do Araguaia possui um projeto de sistema de esgoto sanitário
que contempla parte de quatro bairros da zona urbana, o bairro Universitário, Canudinho, Centro
e Capelinha. Todavia, a obra estava paralisada, não provendo o serviço de esgotamento sanitário
público em nenhuma área do município no momento em que foi realizada a pesquisa.
Como a cidade não dispõe de sistema de esgotamento sanitário coletivo, os domicílios
pesquisados possuem como principal forma de descarte das águas servidas o sistema de esgo-
tamento individual (ex. utilização de fossas). De acordo com o levantamento, a fossa séptica /
tanque séptico atende 96,60% do bairro Centro e 87,96% do bairro Vila Cruzeiro, totalizando
uma média de 91,90% de todos os domicílios pesquisados (Tabela 1).
Tabela 1– Levantamento das formas de descarte das águas servidas nos bairros Centro e Vila Cruzeiro
no município de Conceição do Araguaia (PA) no ano de 2016. N – Número de entrevistados; % –
Porcentagem de entrevistados
Apesar de 91,90% dos pesquisados afirmarem possuir fossa séptica, esse é um dado que
deve ser tratado com cautela, pois, muitas vezes a instalação do tanque séptico se dá de forma
inadequada, sendo construída pelos próprios moradores a partir de conhecimentos empíricos.
Assim, teve-se o cuidado de averiguar se a instalações sanitárias dos domicílios condiziam com
as afirmativas dos residentes.
A construção é realizada pelos próprios moradores ou por outra pessoa contratada que
também não possui qualificação necessária para a realização do serviço, acarretando uma ilu-
são de possuir esgotamento sanitário do tipo fossa séptica. No entanto, ao observar as instala-
ções sanitárias, percebe-se que, o que os moradores afirmam ser fossa séptica, não
correspondem às normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) para tanque
séptico, todavia são enquadradas na definição de fossa negra ou absorvente (Figura 2).
Figura 2 – Fossa sépticas que não se enquadram normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas
(ABNT), fossas “negras”. A) Fossa negra no bairro Centro. B) Fossa negra no bairro Vila Cruzeiro
Os domiciliados optam pelo descarte do esgoto em fossa séptica por alegarem que são
de fácil construção e de baixo custo, sendo de total responsabilidade do morador a imple-
mentação, operação e manutenção. Porém, a construção dessas fossas são feitas de forma
inadequada, não atendendo aos requisitos ambientais, pois a população não dispõe de
Figura 3 – Fossa seca construídas pelos moradores do bairro Centro e Vila Cruzeiro em Conceição do
Araguaia – PA. Fossa seca construída com madeira e lona (A – visão externa; B – visão interna) e
alvenaria (C – visão externa; D – visão interna)
Esgoto a céu aberto é um grande fator de risco para as chamadas de Doenças Relacionadas
ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) (AZEVEDO, 2016), além de gerar outros trans-
tornos, como o bem estar da população, poluição visual e o mau cheiro. Assim, esses proble-
mas são pontos que atrapalham os comerciantes que trabalham com alimentação e o turismo
na época do veraneio nesses locais.
Apenas os moradores do Centro afirmam descartar seus esgotos em rede coletora, cons-
tituindo uma percentagem média de apenas 1,48% (Tabela 1). O bairro Vila Cruzeiro é isento de
rede coletora, assim, somente o Centro é contemplado no “Plano de Saneamento Básico e
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Conceição do Araguaia-Pará”. A rede coletora que o
bairro Centro dispõe não tem ligação com uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), sendo
assim, os esgotos despejados nessa rede não passam por nenhum tipo de tratamento e são
dispostos no meio ambiente de forma inadequada, ou seja, não pode ser considerado como
esgotamento sanitário público. Ter acesso à rede coletora, não é sinônimo de acesso ade-
quado, é necessário ter o tratamento desses esgotos antes da disposição final no meio
ambiente. É imprescindível saber pra onde vai o esgoto, para que não cause mais transtornos
ambientais (AZEVEDO, 2016).
Também foi observado alguns moradores próximos ao rio Araguaia com encanação irre-
gular que conduzem os esgotos de suas residências para o sistema de drenagem pluvial. Este
tipo de situação ocorre com frequência em locais carentes de infraestrutura hidráulica e sani-
tária, acarretando a contaminação dos corpos hídricos (AZEVEDO, 2016).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atual situação de esgotamento sanitário dos bairros pesquisados é imprópria, pois não
há sistema público de coleta e tratamento dos esgotos produzidos, ficando a solução para os
sistemas individuais. O que é inadequado, pois devido a densidade populacional a cidade deve-
ria dispor de rede coletora e estação de tratamento dos esgotos.
Nos dois bairros pesquisados o descarte em “fossa negra” é o principal método, apesar
de a população afirmar ser fossa séptica, o que ocorre devido não ter conhecimentos técnicos
sobre a construção e operação. A fossa negra ameniza os danos causados à saúde e ao meio
ambiente, porém, não é a solução mais adequada para os problemas gerados pelos esgotos,
pois ainda contamina o solo e o lençol freático.
Referente à perspectiva da população, nota-se que embora os moradores não possuam
abundante conhecimento sobre esgotamento sanitário público, reconhecem a importância do
mesmo, pois, alegam se levassem os esgotos para longe de suas residências, diminuiria o mau
cheiro e melhoraria a saúde.
Assim, os serviços de saneamento, como a coleta e tratamento dos esgotos, são medidas
preventivas na qualidade de vida da população, meio ambiente, transformando os seus recursos
hídricos em mais uma fonte de vida e menos transmissor de doenças.
5 REFERÊNCIAS
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AZEVEDO, O. S. DE. A reforma sanitária no Brasil: um estudo do Proposta-Jornal da Reforma Sanitária/
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ECONÔMICA, E. C. Benefícios econômicos da expansão do saneamento. Relatório de pesquisa produzido para
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KALINE MELLO. Falta de saneamento e uso inadequado dos solos afetam qualidade dos riosJornal da USP,
14 abr. 2021. Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/falta-de-saneamento-e-uso-inadequado-dos-
solos-afetam-qualidade-dos-rios/>. Acesso em: 14 out. 2021
PEREIRA, J. A. R. et al. Gestão do lodo de fossa: tanque séptico. Lodo de fossa e tanque séptico:
caracterização, tecnologias de tratamento, gerenciamento e destino final, 2009.
TORRES, D. P. C. Aspectos do tratamento biológico de esgotos domésticos. Rev. Cient. IMAPES, p. 68–70, 2004.
CONFLITOS PELO
USO DAS ÁGUAS
31.
A SEDE DO AGRONEGÓCIO POR ÁGUA
SUBTERRÂNEA NO BAIXO JAGUARIBE-CE
Resumo: Nas duas últimas décadas, com a emergência no Brasil do regime de acumulação via
pilhagem ambiental, intensifica-se uma corrida por bens da natureza, com destaque para a terra e
a água. Com isso, no semiárido nordestino, os espaços de reserva com disponibilidade hídrica vira-
ram alvo do agronegócio, disparando disputas territoriais entre as frações de classe vinculadas à
questão agrária. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo analisar a territorialização do
agronegócio nos sistemas de aquíferos localizados no Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará, bem
como desvelar se os tipos de usos em curso são geradores de injustiça hídrica. A pesquisa adotou
um percurso metodológico organizado nas seguintes etapas: levantamento bibliográfico, elabora-
ção e análise de dados primários e secundários e trabalho de campo. Como síntese, podemos indi-
car que está em curso uma corrida do agronegócio em busca das fontes subterrâneas do Baixo
Jaguaribe, onde os corpos hídricos Jandaíra-Açu, Aluvião e Barreiras, em destaque, viraram um
recurso a serviço da reprodução do capital, conformando uma geografia desigual dos rejeitos e
proveitos em que as frações do agronegócio passaram a dominar as fontes hídricas subterrâneas
impondo, em consequência, a negação do direito à água para as comunidades rurais.
Palavras-Chave: Agronegócio; Aquíferos Sedimentares; Injustiça Hídrica.
Abstract: The race for natural goods has intensified in the last two decades. It has
occurred due to the emergence of the accumulation regime via environmental plun-
der in Brazil. Also, it has emphasis on land and water. As a result, natural reserve
spaces with water availability in the semi-arid region of the Northeast became a tar-
get for agribusiness. That triggered territorial disputes between class fractions con-
nected to the agrarian matter. According to the context presented, this paper displays an
analysis of the territorialization of agribusiness in the aquifer systems located in Baixo Jaguaribe,
in the State of Ceará. Besides, the objective here was to check whether these ongoing usages are
generators of water injustice. This research adopted a methodological sequence that is organized
[ 373 ]
374 Diego Gadelha de Almeida; Ronilson de Morais Sousa; José César Maia Filho
in the following stages: bibliographical survey, elaboration and analysis of primary and secondary
data, and fieldwork. In fact, there is an indication that an agrobusiness race in underway. It is
occurring due to the search for the underground sources of Baixo Jaguaribe. In this scenario, the
water bodies Jandaíra-Açu, Aluvião and Barreiras, in particular, have become a resource for repro-
duction of capital. That shapes an unequal geography of tailings and profits in which agribusiness
fractions came to dominate the underground water sources. As its consequence, a denial of the
right for water was imposed.
Keywords: Agribusiness, Sedimentary Aquifer, Water Injustice.
1 INTRODUÇÃO
Observamos nas últimas décadas, no território nacional, um avanço da fronteira agrícola
em direção à três regiões brasileiras e seus respectivos “espaços de reserva” (SANTOS, 2004):
Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O debate público e as lentes geográficas, não obstante, têm
priorizado o olhar sobre as duas primeiras regiões – com destaque para as consequências
socioambientais que impactam os biomas e os povos do cerrado e da floresta amazônica, enco-
brindo na arena político-acadêmica o movimento nada silencioso e destrutivo de incorporação
do semiárido nordestino à divisão internacional do trabalho, com ênfase para a produção de
frutas tropicais.
Não estamos indicando, com isso, que inexistem pesquisas geográficas sobre a inserção
do semiárido na produção agropecuária sob égide da globalização neoliberal, o que seria uma
desfeita com os estudos de ANDRADE (2005), ARAÚJO (2000) e ELIAS (2002), para citar alguns
exemplos do amplo acervo bibliográfico existente. Não obstante, há complexidades e particu-
laridades desse processo que seguem invisibilizadas.
Um rápido levantamento bibliográfico sobre a difusão da “agricultura científica” (SANTOS,
2004) no semiárido nordestino, tendo como exemplo a produção de teses e dissertações dos
Programas de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da
Universidade Estadual do Ceará (UECE) evidenciará estudos vinculados à questão agrária nor-
destina que privilegiaram a relação entre agronegócio, açudagem, vales perenizados e períme-
tros irrigados federais.
Por outro lado, há uma escassez de pesquisas que busquem capturar a corrida do agro-
negócio para espaços de exceção hidrogeológica da região – os aquíferos sedimentares. Esses
bolsões de água subterrânea, verdadeiros pontos luminosos hídricos, passaram para o centro
da disputa territorial com difusão do “Consenso das Commodities” (SVAMPA, 2013), que se
espacializa no nordeste brasileiro, com a expansão da fronteira agrícola de grãos e frutas.
Assim, é através da articulação conceitual entre pilhagem ambiental, acumulação por
espoliação e território que objetivamos com este artigo analisar a territorialização do agrone-
gócio nos sistemas de aquíferos localizados no Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará, bem como
desvelar se os tipos de usos em curso são geradores de injustiça hídrica.
2 METODOLOGIA
A presente pesquisa, um estudo de caso, adotou como recorte espacial os municípios
inseridos na sub-bacia do Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará, Aracati, Fortim, Icapuí, Itaiçaba,
Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Quixeré e Russas. No intuito de desvelar os usos, os usuários
e as injustiças ambientais resultantes da territorialização do capital na área de estudo, a pes-
quisa adotou procedimentos qualiquantitativos, com destaque para análise dos bancos de
dados, relatórios e planos da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), da Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos (COGERH), bem como da Agência Nacional de Águas (ANA).
Com base nos dados de outorga de uso da água disponibilizados pela SRH/COGERH, orga-
nizamos tabelas, gráficos, mapas e quadros, objetivando identificar e localizar os usuários, os
usos e o volume outorgado dos domínios hidrogeológicos existentes na sub-bacia do Baixo
Jaguaribe. Para esta atividade sistematizamos as outorgas concedidas e/ou vigentes no ano de
2019, possibilitando uma comparação de 10 anos ao cruzarmos com os dados disponíveis nos
estudos da ANA (2010) e COGERH (2009). Os dados foram interpretados à luz do referencial
teórico desenvolvimento pela Ecologia Política e Geografia Ambiental (SOUZA, 2019).
A pesquisa contou ainda com ampla revisão bibliográfica, bem como trabalho de campo
na área selecionada, objetivando apreender a paisagem e a dinâmica da dominação e uso da
água subterrânea. O trabalho de campo realizado para a presente pesquisa, na verdade, é fruto
da inserção, na última década, de um dos autores nos ativismos e movimentos sociais que
lutam por alternativas ao desenvolvimento capitalista na região do Baixo Jaguaribe.
Por fim, informamos que o presente estudo contou com financiamento do programa de
bolsas de iniciação científica do Instituto Federal do Ceará (PIBIC-IFCE) e compõe parte das
ações do Observatório da Questão Hídrica do Ceará (OQHICE), projeto de extensão cadastrado
na mesma instituição.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Baixo Jaguaribe-CE: um hidroterritório de exceção no contexto do
semiárido cearense
No semiárido cearense as políticas hídricas se concentraram historicamente em torno das
águas superficiais. Obras de açudagem, transposições e perenizações artificiais dos rios estive-
ram no alvo das ações do Estado, bem como no centro das disputas entre as frações de classe.
Assim, privatizações de açudes públicos e/ou a construção de reservatórios em propriedades pri-
vadas, parasitando o fundo público; o cercamento de rios, lagos e lagoas e as transposições hídri-
cas marcaram parte da história conflituosa em torno da água no semiárido cearense.
No entanto, desde os anos cinquenta do século XX, segundo Silva et al. (2007), os reserva-
tórios subterrâneos ganharam um papel de destaque na ampliação da oferta hídrica para aten-
der a demanda das comunidades rurais e urbanas, mas também para saciar a sede das frações do
capital ligadas ao agronegócio, a mineração, as energias e as indústrias hidrointensivas.
Foi, contudo, com a emergência dos processos descritos por Svampa (2013) como
Consenso das Commodities, no século XXI, que a busca por água barata e em abundância se
intensificou, intensificando uma disputa em torno dos aquíferos sedimentares no território
brasileiro. Ou seja, na atual quadra histórica, as fontes subterrâneas viraram o novo alvo da
pilhagem por parte das frações hidrointensivas do capital.
O Estado do Ceará serve de exemplo para entendermos os desdobramentos socioam-
bientais da expansão e diversificação de práticas produtivas apoiadas por fontes subterrâneas.
Apresentando 75% do território dominado pelo embasamento cristalino, estrutura geológica
que condiciona a formação de aquíferos com baixo volume, vazão e qualidade de água, encon-
tramos, não obstante, no Ceará, algumas províncias hidrogeológicas conformadas por bacias
sedimentares. Estas regiões possibilitam o armazenamento de um maior volume hídrico no
subsolo e desempenham importante papel enquanto reversa estratégica no contexto estadual
(CALVACANTE et al, 2011).
Podemos indicar, na verdade, que as bacias sedimentares cearenses se configuram como
ambientes de exceção em virtude do grande volume de água armazenado. As principais se loca-
lizam nas fronteiras estatuais: ao sul, na divisa com Pernambuco, encontramos a Bacia Sedimentar
do Araripe; ao oeste, fronteira com o Piauí, localiza-se a Bacia do Parnaíba, ao norte (Oceano
Atlântico) se especializam a Formação Barreiras e os sedimentos dunares e, ao leste, na transição
entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, conforma-se a Bacia Potiguar (CEARÁ, 1992).
Essas regiões sedimentares – verdadeiros “pontos luminosos hídricos” – estão sendo cada
mais apropriadas pelo Estado e por frações do capital, já que apresentam, segundo Silva et al.
(2007), poços com boa profundidade, alta capacidade de vazão a ser retirada (Q) e alta produti-
vidade específica (Qe). Para fins de comparação, com base nos dados da Companhia de Pesquisa
de Recursos Naturais (CPRM), Silva et al (2007) sinalizam que a média de Q e Qe, respectiva-
mente, de poços localizados em rochas do cristalino é de 2,6 m³/h e 259 l/h.m, já na litologia
sedimentar os mesmos dados apresentam o seguinte comportamento, 19,3 m³/h e 2.100 l/h.m,
indicando o maior potencial de exploração dos domínios hidrogeológicos sedimentares.
A região do Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará é um destaque estadual em fontes sub-
terrâneas, já que dispõe da Formação Barreiras e dos sedimentos dunares (municípios de
Fortim, Aracati, Icapuí em destaque); a formação Faceira (Limoeiro do Norte e Russas); planície
aluvião do rio Jaguaribe e seus afluentes e as formações Jandaíra-Açu. Em síntese, cinco siste-
mas de aquíferos sedimentares se especializam nessa região (Dunas, Barreiras, Faceira, Aluvião,
Jandaíra-Açu), como espacializado no mapa 1. Cabe destacar que na presente pesquisa enten-
demos os aquíferos Jandaíra e Açu como um sistema – o sistema aquíferos Jandaíra-Açu, em
razão da sua sobreposição de camadas sedimentares e conexão hidrológica.
da COGERH (2009) e ANA (2010), bem como o banco de dados da Secretária de Recursos Hídricos
do Ceará (SRH), com foco para as outorgas concedidas e vigentes no ano de 2019.
Jandaíra-Açu e o Aluvião do Rio Jaguaribe eram as fontes mais explotadas, com destaque para
este último que fornecia 92,48% do volume municipal outorgado.
Apesar da classificação oficial das outorgas expedidas indicarem a macro atividade aquicultura,
cabe consignar, a partir de informações coletadas durante o trabalho de campo, que é a pro-
dução de camarão em cativeiro (carcinicultura) a demandadora de água deste setor. Tal produ-
ção vem se especializando ao longo da planície fluvial do rio Jaguaribe, aproveitando a água
acumulada nos sedimentos aluviais.
Além de dominar um volume significativo de água, a territorialização da carcinicultura é
acompanhada pela supressão da mata ciliar, cercamentos dos caminhos que possibilitavam o
acesso ao rio Jaguaribe, bem como vem sendo associada à perda da qualidade da água em vir-
tude da emissão de efluentes no período de despesca, como observamos no decorrer do tra-
balho de campo realizado.
Assim, podemos indicar uma divisão espacial no uso das águas subterrâneas no Baixo
Jaguaribe seguindo quatro padrões: 1) os usos produtivos localizados nos municípios de
Jaguaruana, Quixeré e Limoeiro do Norte como os principais demandantes de água; 2) a irriga-
ção e a aquicultura concentrando o volume explotado de água; 3) a demanda da aquicultura
sendo atendida pela água acumulada na planície fluvial do Jaguaribe e 4) a irrigação adota um
padrão mais difuso de localização, exercendo maior pressão sobre o sistema Jandaíra-Açu.
Esse modelo de desenvolvimento, sustentado pelo agronegócio de frutas e camarão,
demanda cerca de 66 milhões de metros cúbicos de água por ano. Para suavizarmos a abstra-
ção de tantos milhares e milhões de metros cúbicos, cabe uma comparação entre o somatório
do volume outorgado/ano para as tipologias irrigação e aquicultura (agropecuária) e o volume
armazenado nas cisternas de placas destinadas ao consumo humano (16 mil litros) – uma tec-
nologia de convivência com o semiárido. O volume outorgado à agropecuária equivale a
4.156.099 milhões de cisternas. Este quantitativo seria suficiente para instalar 14,46 cisternas
por habitante, considerando o somatório da população total de Aracati, Fortim, Icapuí, Itaiçaba,
Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Quixeré e Russas – 287.429 mil habitantes, segundo informa o
Censo 2010 do IBGE.
O volume outorgado, concentrado por frações de classe do agronegócio, contrasta com
a realidade das comunidades rurais que, nos últimos anos, em virtude do quadro de irregulari-
dade pluviométrica que atinge a região desde 2012, convivem com um cenário de negação do
direito à água. O tradicional carro pipa segue como única opção para agricultores e agricultoras
saciarem a sede da família de forma precária.
Conforme observamos nos trabalhos de campo, é comum perceber quintais e terras
secas nas propriedades familiares e, em contraponto, sistemas de captação e uso de água em
plena atividade nas empresas do agronegócio. A desigualdade social impõe uma capacidade
diferenciada no que diz respeito à perfuração e instalação de poços, à montagem de sistemas
de irrigação, ao custo de energia e ao acesso aos trâmites legais para concessão de outorgas.
Ou seja, a injustiça hídrica (ZWARTEVEEN et al, 2011) é o resultado do modelo de desenvolvi-
mento em vigor no Baixo Jaguaribe.
É preciso adicionar que está em curso um rebaixamento das reservas subterrâneas, como
no caso dos aquíferos Jandaíra-Açu, demandando poços cada vez mais profundos (200 a 400
metros). Avaliamos que o rebaixamento vem sendo produzido, sobretudo, pela soma de políti-
cas públicas que induzem a territorialização de atividades econômicas hidrointensivas e pela
desconsideração da capacidade de suporte dos sistemas aquíferos em um contexto global de
mudanças climáticas. O crescimento da demanda do agronegócio e a irregularidade pluviomé-
trica produzem “escassez” para alguns – as classes hegemonizadas – e segurança hídrica para
o agronegócio, sob a chancela do Estado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Materializa-se no Baixo Jaguaribe uma intensa demanda hídrica dos aportes subterrâ-
neos, indicando, de fato, um processo de injustiça hídrica na região, calcada na disparidade do
acesso à água entre as grandes empresas do agronegócio e a população rural local. Indicamos
também uma geografia desigual dos rejeitos e proveitos, uma pilhagem da água para fins de
reprodução em escala ampliada do capital. Surge na região pesquisada os “sem-água”, um
novo perfil social da questão agrária brasileira. Ou seja, há água, contudo cada vez mais con-
centrada nos latifúndios hídricos. Este bem da natureza foi convertido em mercadoria para
saciar a sede do agronegócio, restando apenas as políticas de assistência emergencial – carro
pipa, por exemplo – aos povos historicamente olvidados.
Ao final desta pesquisa, indicamos que reivindicar uma ação do Estado no sentido de
proteção dos aquíferos parece um pedido que não guarda coerência com a realidade das rela-
ções de poder em curso. A rede política formada pela parceria entre entes públicos e as frações
do agronegócio já decidiu para quem devem servir os aquíferos presentes no Baixo Jaguaribe.
Cabe agora uma revanche dos expropriados, despossuídos, “dos sem-água” com o objetivo de
superar os processos de injustiça, garantir uma reapropriação território, curar a destrutividade
ambiental deixada pelo agronegócio e salvaguardar os aquíferos como fonte de soberania ali-
mentar e reserva estratégica para os cenários de mudanças climáticas que anunciam mais ins-
tabilidade pluviométrica para o semiárido.
5 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Avaliação dos Recursos Hídricos Subterrâneos e Proposição de
Modelo de Gestão Compartilhada para os Aquíferos da Chapada do Apodi, entre os Estados do Rio Grande
do Norte e Ceará, Vol. I, II, III, IV, V. Brasília: ANA, SIP, 2010.
ALTVATER, E. O preço da riqueza: pilhagem ambiental e a nova (des)ordem mundial. São Paulo: Ed. UNESP,
1995.
Resumo: Este trabalho inclui uma conceituação e caracterização dos conflitos socioambientais a
partir de estudos na área, para posteriormente exemplificar esse tipo de conflitos no caso da ges-
tão de bacias hidrográficas. Também é apresentado um método de análise de conflitos socioam-
bientais para abordar o caso da Bacia do Ebro, na Espanha. Por meio do exemplo proposto,
mostra-se a utilidade do método para lidar com a complexidade desses conflitos de forma objetiva
e em uma perspectiva aberta.
Palavras-chave: conflito socioambiental; bacias hidrográficas, recursos hídricos, sistemas fluviais.
Resumen: En este trabajo se recoge una conceptualización y caracterización de los conflictos
socio-ambientales a partir de estudios en la materia, para posteriormente ejemplificar este tipo
de conflictos en el caso de la gestión de cuencas hidrográficas. Se presenta además un método de
análisis de conflictos socio-ambientales para abordar el ejemplo de la Cuenca del Ebro, en España.
A través del ejemplo propuesto se muestra la utilidad del método para abordar la complejidad de
estos conflictos con objetividad y desde una perspectiva abierta.
Palabras-clave: conflicto socio-ambiental; cuenca hidrográfica; recursos hídricos; sistemas
fluviales.
Abstract: This work includes a conceptualization and characterization of socio-environmental
conflicts based on studies on the matter, to later exemplify this type of conflicts in the case of
watershed management. A method of analysis of socio-environmental conflicts is also presented
to address the case of the Ebro Basin, in Spain. Through the proposed example, the usefulness of
the method is shown to tackle the complexity of these conflicts objectively and from an open
perspective.
Keywords: socio-environmental conflict; watershed; water resources; river systems.
[ 385 ]
386 Mario Burgui Burgui; Edson Vicente da Silva
1 INTRODUCCIÓN
1.1 Concepto y características de los conflictos socio-ambientales
A juicio de algunos autores, la degradación ambiental que experimenta el planeta en
nuestros días es un hecho social. En primer lugar porque el origen de ese deterioro ambiental
es antrópico y, en segundo lugar, porque también son las sociedades quienes van a sufrir las
consecuencias del mismo (Duarte, 2006).
Aunque existen muchos acercamientos distintos al concepto de conflicto y también en lo
que tiene que ver con las dimensiones social y ambiental, en síntesis, según la definición de
Ruiz Salgado (2017), el término “conflictos socio-ambientales” se refiere a las desavenencias o
disputas de carácter social en cuyo centro subyace un componente ambiental.
Los conflictos socio-ambientales se caracterizan por su complejidad, así como por la exis-
tencia de múltiples y diversos intereses sobre la gestión de los recursos o la utilización del territo-
rio, que se muestran o se perciben incompatibles entre sí (Lerga, 2003). Es común que estos
conflictos se expandan allende los límites administrativos de una comarca, provincia o país; y que
en la multiplicidad de partes interesadas se encuentren sectores tan distintos como las adminis-
traciones públicas, ONG, asociaciones de vecinos y ciudadanos a título individual, empresas, etc.
(Muñiz, 2012). Además, otras características importantes de los conflictos socio-ambientales son:
el alto grado de incertidumbre científica, el desarrollo del conflicto en la esfera pública, los distin-
tos niveles de toma de decisiones (a veces contrapuestas), la asimetría entre las partes en cuanto
a su influencia y capacidad de acción (Ruiz Salgado, 2017). Un aspecto a tener en cuenta es que,
en muchas ocasiones, las administraciones públicas dominadas por intereses políticos son origen
del propio conflicto o de su agravamiento, en lugar de ser parte de su solución.
El conflicto estaba servido. De una parte, había quien reclamaba agresivas actuaciones
en el cauce (principalmente dragados integrales del fondo del río), que sin duda afectarían al
ecosistema en su conjunto, así como a la propia dinámica fluvial, con consecuencias imprevisi-
bles. De otra parte, había quien indicaba que lo ocurrido es un hecho natural al que las socie-
dades humanas solo pueden adaptarse, modificando la ocupación del territorio para reducir
nuestra vulnerabilidad (para más información sobre el caso, cf. Burgui & Chuvieco, 2017).
2 METODOLOGÍA
Se resume a continuación el método propuesto por Gampel (2005) en el campo de la
bioética que posteriormente ha sido utilizado en el análisis de conflictos ambientales (Keller,
2009; Keller, 2010), principalmente por su carácter comprehensivo y sistemático, así como por
la evidente cercanía entre los problemas bioéticos y ecoéticos. Como ventaja principal de este
método se puede resaltar la diversidad de perspectivas desde las que permite analizar un
dilema o conflicto socio-ambiental. Con ello, constituye un punto de partida idóneo para abor-
dar la complejidad inherente a este tipo de conflictos, reduciendo los posibles condicionamien-
tos y sesgos. El nombre del método lo constituye el acrónimo de los cinco componentes
analizados, que son los siguientes (Burgui; Chuvieco, 2017):
• Consecuencias (C: consequences): Consecuencias de las distintas alternativas posi-
bles, desde diversos puntos de vista (económico, social, ambiental…). Partiendo de la
ética utilitarista, en este punto se considerarán principios como el de No-Maleficencia
(no causar daños innecesarios), Beneficencia (promover beneficios positivos) y
Máxima-Utilidad (buscar la mayor utilidad para el conjunto, aunque haya perjuicios
individuales).
• Autonomía (A: autonomy). Se analiza qué acciones respetarán mejor la libertad y
autonomía de las personas afectadas. Partiendo del denominado en bioética y medi-
cina «consentimiento informado», se toma en consideración aquí el derecho de todas
las personas a participar en la toma de decisiones sobre los planes que afecten a ese
territorio, así como en las acciones de gestión, restauración, conservación... Se tendrá
en cuenta también si las distintas alternativas pueden limitar las actividades de los
afectados.
• Derechos (R: rights). Se debe velar por el respeto a los derechos de las personas y par-
tes involucradas en el conflicto, así como analizar de qué tipo de derechos se trata y el
grado en que se tienen en cuenta. Esto afecta tanto a los derechos reconocidos en la
legislación, como –si bien de forma secundaria– a los derechos morales. En este
segundo caso, puede tenerse presente tanto los derechos básicos de las personas
(integridad vital, alimentación, vivienda, trabajo… etc.) como los de los seres no huma-
nos (actualmente sin formulación jurídica pero con un creciente respaldo ético).
• Virtudes (V: virtues). Cómo las diferentes acciones afectarán a la calidad moral de las
partes implicadas, ya sean personas o instituciones. Esto supone analizar en qué
medida las opciones planteadas suponen mejorar la honestidad, generosidad,
benevolencia, prudencia o integridad de las partes en conflicto. A nivel institucional,
se pueden añadir cuestiones como la transparencia en la información y la gestión por
parte de las administraciones públicas, etc.
• Equidad (E: equity). Este principio supone analizar si en el conflicto se trata a los dis-
tintos grupos humanos y a sus territorios con igual consideración y respeto, evitando
sesgos o tratos de favor en función de rasgos moralmente irrelevantes como la raza,
el sexo o el nivel de ingresos. También se podría tener en cuenta aquí si se han anali-
zado de igual forma casos similares o distintos aspectos dentro del mismo conflicto
(justicia espacial, justicia social, etc.).
En la Tabla 1 se pone de manifiesto la relación entre las distintas causas de los conflictos
mencionadas en el apartado anterior y las facetas del análisis propuesto en el método CARVE:
Tabla 1 – Causas de los conflictos (Moore, 1986) y principal relación con las fases del método CARVE
(Gampel, 2005)
Causas de los conflictos Relación con las fases del método CARVE
Utilizando como guía las fases de análisis del método CARVE, se trata de analizar las distin-
tas alternativas posibles, en este caso: 1) dragado integral del río, 2) desplazamiento de la pobla-
ción y actividades económicas, 3) dragado parcial y reordenamiento de algunos usos del suelo
(esta tercera opción se considera como opción intermedia entre las dos primeras). Para cada uno
de los puntos, se listan los pros y contras de cada alternativa, y se jerarquizan las razones con las
que se argumenta cada alternativa (para más información, cf. Burgui; Chuvieco, 2017).
3 RESULTADOS Y DISCUSIÓN
El caso de estudio planteado muestra unas características que lo hacen paradigmático en
el ámbito de los conflictos socio-ambientales. En la Tabla 2 se sintetiza la caracterización del
mismo, que servirá posteriormente para un análisis más profundo. En primer lugar, cabe
destacar que se vertieron informaciones contradictorias sobre las causas de las inundaciones.
El impacto mediático de la catástrofe supuso que hubiera declaraciones desde múltiples pun-
tos de vista, no siempre contrastadas con datos científicos. A ello hay que sumar la deficiente
comunicación entre las distintas partes implicadas, que atañe a todos los sectores sociales,
pero es especialmente patente en este caso entre la administración y los habitantes.
En segundo lugar, debe hacerse notar que los pobladores del lugar, los agricultores y
ganaderos, habían perdido la confianza en las administraciones públicas. Según declaraciones
recogidas en los distintos medios de comunicación, llevaban tiempo exigiendo a los poderes
públicos que pusieran una solución a las inundaciones (que se venían produciendo de forma
más o menos intermitente, aunque no con tanta magnitud como en 2015). Ante la inacción de
los gobiernos regionales y nacionales, la población experimentaba un grave descontento con la
gestión del problema. A esto hay que añadir que, en general, la participación pública en la pla-
nificación y gestión de cuencas hidrográficas en España es muy deficiente. Con esto, la ciuda-
danía percibe que desde los poderes públicos se lleva a cabo una gestión sin contar con los
intereses de los habitantes.
Tabla 2 – Causas de los conflictos (Moore, 1986), principal relación con las fases del método CARVE
(Gampel, 2005) y ejemplificación con el conflicto identificado en el caso de estudio
Causas de los
Relación con las fases del método CARVE Caso de estudio
conflictos
Deficiencia de comunicación entre las partes
Información Autonomía, Derechos
implicadas en el conflicto.
Los habitantes, agricultores y ganaderos no
Relaciones Autonomía, Equidad, Virtudes
confían en la administración.
Consecuencias, Autonomía, Derechos, Existen distintos intereses contrapuestos en
Intereses
Equidad las partes implicadas.
Las estructuras institucionales ralentizan la
Estructuras Autonomía, Derechos, Equidad
resolución del conflicto.
Las partes tienen distintas visiones sobre lo
Valores Autonomía, Virtudes, Equidad
que es o debe ser el territorio fluvial.
Fuente: Autoría propia.
En tercer lugar, y como uno de los núcleos del problema con muchas aristas que analizar,
se encuentra la coexistencia de múltiples y diversos intereses, mayoritariamente incompati-
bles, con respecto a la resolución del problema. La primera alternativa, exigida por los habitan-
tes, agricultores y ganaderos (el dragado integral) es considerada por ecologistas, técnicos y
científicos, como algo irrealizable tanto económica como técnicamente, además de que ten-
dría unas consecuencias difíciles de predecir, pero probablemente muy negativas. La segunda
alternativa (desplazar los poblamientos y usos del suelo actuales) se muestra también como
algo irrealizable hoy en día, además de que choca con los derechos de propiedad adquiridos
4 CONSIDERACIONES FINALES
En este trabajo se ha expuesto una definición y caracterización de los conflictos socio-
-ambientales a partir de estudiosos de la materia, aplicándolas al caso concreto de las cuencas
hidrográficas y los sistemas fluviales. Como se ha podido comprobar, se trata de un ámbito
paradigmático respecto a la conflictividad que en ocasiones se da entre los subsistemas natu-
ral/social, y de una mayor complejidad que otros sistemas ecológicos. Esta complejidad exige
un acercamiento especial, multidisciplinar y exhaustivo. A partir de la definición y caracteriza-
ción de este tipo de conflictos, se ha propuesto la utilización de un método de análisis de dile-
mas y problemáticas ambientales adaptado desde el ámbito de la bioética, el cual permite
abordar un conflicto desde múltiples perspectivas, diferentes y a su vez complementarias, a fin
de tener una panorámica lo más objetiva posible. El caso de estudio analizado muestra la utili-
dad del método expuesto, tanto como ejercicio pedagógico como para realizar una primera
aproximación a un conflicto socio-ambiental, sin prejuicios y desde una perspectiva abierta.
Con este punto de partida, se puede profundizar en el análisis de las distintas alternativas y
soluciones posibles, teniendo en consideración los intereses de todas las partes implicadas.
5 REFERENCIAS
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políticas internacionales, París: UNESCO, pp. 11-23, 2010.
SABRINA CARLINDO1
MARGGIE VANESSA SERNA2
DIMAS MORAES PEIXINHO3
JOÃO PAULO DE PAULA SILVEIRA4
Resumo: Esse artigo apresenta alguns resultados alcançados a partir de pesquisas realizadas ao
longo de 2019 e 2020, as mesmas são oriundas de relatos de experiências de povos que viveram o
processo de construção da PCH Santo Antônio do Caiapó, localizada na bacia do rio Caiapó, região
oeste do estado de Goiás. O objetivo central do estudo é lançar “luz” as transformações sociais
ocasionadas aos povos que viviam nas imediações do rio Caiapó antes da construção da PCH Santo
Antônio. A problemática em si, não está em questionar o discurso econômico e desenvolvimen-
tista que energia elétrica assumiu na sociedade moderna, fato que é incontestável, mas, como já
relatado anteriormente, é lançar “luz” sobre as transformações ocasionados aos povos, dando
“voz” a esses que foram invisibilizados pelo marketing de desenvolvimento que está enraizado as
PCHs. A metodologia adotada na elaboração esse artigo se pauta inicialmente numa revisão biblio-
gráfica, com leituras de artigos, reportagens e dissertações, em relatos de experiências de vida de
povos que passaram pelo conflito da construção da PCH Santo Antônio do caiapó, e também em
resultados adquiridos em pesquisas anteriores já desenvolvidas na área. O resultado esperado a
partir dessa pesquisa está centrado, antes de mais nada, em retratar a desgastante realidade dos
povos atingidos pela construção da PCH Santo Antônio, e como é nítido o conflito de interesses
existentes entre as partes envolvidas nessas construções. Espera-se ainda que esse material se
torne referência para nortear futuras pesquisas sobre a temática.
Palavras-chave: Energia Elétrica; PCHs; Conflito.
Abstract: This article presents some results achieved from surveys carried out throughout 2019
and 2020, which come from reports of experiences of people who lived through the construction
process of the Santo Antônio do Caiapó SHP, located in the Caiapó river basin, western region of
Goiás. The main objective of the study is to shed light on the social transformations caused to the
peoples who lived in the vicinity of the river Caiapó before the construction of the Santo Antônio
[ 394 ]
CONFLITO DE INTERESSES 395
SHP. The problem in itself is not to question the economic and developmental discourse that elec-
tricity has assumed indisputable, but, as previously reported, it is to shed “light” on the transfor-
mations caused to peoples, giving a “voice” to those who were made invisible by the development
marketing that is rooted in SHPs. The methodology adopted in preparing this article is initially
based on a bibliographic review, with readings reports of the life experiences of people who went
through the conflict of construction of the Santo Antônio do caiapó SHP, and also on results acqui-
red in previous research already carried out in the area. The expected result from this research is
centered, above all, on portraying the exhausting reality of the peoples affected by the construc-
tion of the Santo Antônio SHP, and how clear the conflict of interests existing between the parties
involved in these constructions. It is also hoped that this material will become a reference to guide
future research on the subject.
Keywords: Electric Power; PCHs; Conflict.
1 INTRODUÇÃO
O debate sobre as águas, seu potencial econômico, energético e sua gestão, é atravessado
por interesses diversos, alguns deles orientados por saberes acadêmicos que lançam “luz” sobre
a relação dos povos com a água. Esse debate interpela pesquisadores e pesquisadoras, em
especial, aqueles que se dedicam ao estudo da Geografia. Nesse âmbito, o trabalho proposto
é uma resposta a essa interpelação, balizando-se na Geografia Cultural.
A partir do diálogo com a Geografia Cultural (CLAVAL, 2007; TUAN, 2013; HALL, 1998), o
objeto de estudo proposto são os povos atingidos pela Pequena Central Hidrelétrica Santo
Antônio do Caiapó, localizada a oeste do estado de Goiás. Diferente de outra oportunidade,
procuramos aqui compreender a experiência humana do “desalojamento”, isto é, da saída de
um lugar representado como “lar” e que outrora atuava como referência espacial organiza-
dora de uma identidade. Em outras palavras, problematizamos as sensibilidades daqueles que
tiveram que se mover de suas moradias em nome da narrativa do progresso que é veiculada
pelas PCHs.
Inicialmente, a experiência e o conhecimento adquirido em outras pesquisas sobre as
PCHs nos motivaram a seguir adiante a partir da Geografia Cultural (CARLINDO, 20155 e 20176).
Através dessa lente interpretativa, interessamo-nos pela compreensão das experiências dos
sujeitos das classes trabalhadoras do campo com o lugar. Por essa razão, essa pesquisa se cons-
titui como uma iniciativa que, ao tratar do deslocamento provocado pelas PCHs, chama a aten-
ção para os impactos da narrativa de mundo moderno do progresso ou desenvolvimentista,
corporificada nas barragens, sobre a vida daqueles que foram desalojados.
A partir desse entendimento, essa pesquisa se justifica pelo nosso interesse em lançar
“luz” sobre as experiências de deslocamento provocado por empreendimento que socialmente
são percebidos como promotores do progresso. Assim, buscamos compreender a maneira
5 Territórios Alagados: efeitos socioespaciais da implantação da PCH Santo Antônio do Caiapó-Arenópolis/GO. Artigo de
conclusão de curso Graduação.
6 Legislação Ambiental e Construção de PCHs: uma crítica necessária. Artigo de conclusão apresentado no curso de Espe-
cialização Ordenamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
7 Nesse caso, as fontes geradoras de energia elétrica que usufruem dos recursos hídricos como matéria prima são as UHE
e as PCHs.
Os dados contidos na figura 1 deixa explícito o quanto o Brasil é um país dependente dos
recursos hídricos para a geração de energia elétrica, fato que se torna um problema, já que
esses empreendimentos ficam à mercê das condições climáticas.
O ideal do progresso comumente é evocado pelo poder público, pelos empreendedores
e mesmo pelos meios de comunicação quando se trata do aproveitamento dos recursos
hídricos enquanto matriz energética, ainda que exceções sejam possíveis8. Normalmente, esse
ideal, entendido aqui como uma ideologia do capitalismo, abrilhanta os supostos benefícios
econômicos e impede, muitas vezes, a discussão sobre os impactos ambientais e sociais dessas
iniciativas. Ainda que sua dimensão seja menor do que a das hidrelétricas, as PCHs também são
um tipo de empreendimento que procura corporificar o ideal do progresso. De natureza pri-
vada, essas iniciativas precisam do aval legal do poder público, mas também da opinião pública
de uma região particular que eventualmente precisará ser convencida de que se trata de um
empreendimento coletivamente promissor.
Dentre os pontos positivos das PCHs que são frequentemente salientados, podemos des-
tacar as seguintes ideias9: a) são empreendimentos totalmente renováveis; b) são empreendi-
mentos ecologicamente viáveis, não agridem o meio ambiente em virtude de sua proporção e
dos estudos preliminares que as viabilizam; c) alimentam cada dia mais o setor energético do
Brasil; e d) impactam na economia regional na medida em que geram emprego e novas possi-
bilidades de renda. Essas são algumas das notícias divulgadas com frequência pela mídia e
pelos meios de comunicação (internet, televisão, rádios e jornais). Contudo, ao que parece,
pouco se pensa, pelo menos no caso das PCHs, na experiência vivida por aqueles que tiveram
que se deslocar de suas moradias por conta desses empreendimentos.
8 Aqui podemos mencionar os trabalhos jornalísticos de Eliane Brum a respeito de Belo Monte, localizada no sudoeste do
estado do Pará, construída na bacia do rio Xingu. Em suas matérias, a jornalista destacou o impacto socioambiental e
étnico de um gigantesco empreendimento que se legitimava a partir da narrativa desenvolvimentista evocada p e l o
poder público. https://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/01/opinion/1417437633_930086.html.
9 https://www.oestegoiano.com.br/noticias/economia/bacia-do-caiapo-torna-se-exemplo-de-geracao-de-energia–
comenta-sevan
descobriram a vida, constituíram família e, em alguns casos, sepultaram seus mortos. Com
efeito, as identidades sociais demandam espacialidades que se tornam lugares de referência.
Esses espaços são qualificados, isto é, revestidos de significados que fazem dele um lugar.
O autor Milton Santos possui várias obras que discutem as pejorativas variáveis do que venha
a ser esse “lugar”, e nos descreve e ensina a pensar que “cada lugar nada mais é do que sua
maneira no mundo, o seu lugar de coagir e também ser coagido”. Assim, o lugar é um espaço
culturalmente particularizado que se torna “familiar” e é frequentemente associado a casa e às
práticas e saberes particulares de cada ser ou grupo que o ocupa.
Nessa perspectiva, Stuart Hall (1996) define as identidades culturais da seguinte forma:
As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identifi-
cação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e história. Não uma essên-
cia, mas um posicionamento. Donde haver sempre uma política da identidade, uma
política de posição, que não conta com nenhuma garantia absoluta numa lei de ori-
gem sem problemas, transcendental (HALL, 1996 p. 70).
A Geografia Cultural, segundo Corrêa (2012), apresenta dois caminhos principais, quais
sejam: a Geografia Cultural saueriana10 e a Nova Geografia Cultural ou Geografia Cultural pós-
80. Assim, “a geografia cultural se interessa, portanto pelas obras humanas que se inscrevem
na superfície terrestre e imprimem uma expressão característica”. (SAUER, 2003, p. 22).
A dimensão cultural do espaço aparece em McDowell (1994) e aponta para o que ele
chama de “paisagens culturais”. Para esse autor, o elemento humano, produtor de cultura, con-
fere significado ao lugar, tornando-o paisagem:
Cultura é um conjunto de ideias, costumes e crenças que modulam as ações de um
povo e a produção de artefatos materiais. É definida e determinada socialmente em
relação ao poder. Certos grupos impõem sua cultura e outros grupos a contestam.
Cultura é uma visão do mundo que é usada por diferentes autores sociais para confe-
rir significado as localidades onde moram, criando, assim, uma variedade de paisa-
gens culturais (McDOWELL, 1994, p.148).
10 Na Geografia saueriana, a cultura é definida em termos amplos, abrangendo, entre outros, costumes crenças, hábi-
tos, habilidades, técnicas, leis, artes, linguagem, gestos e moral, mas especialmente as manifestações materiais. Já no
âmbito da Nova Geografia Cultural, o conceito de cultura é restrito a significados criados e recriados pelos diversos
grupos sociais a respeito das diferentes esferas da vida em suas específicas espacialidades.
Imagem 3 – Mapa de localização da Pequena Central Hidrelétrica Santo Antônio do Caiapó, instalada
na bacia Caiapó, na região oeste do estado de Goiás
As palavras “Casa”, “perda” e “história” foram os relatos mais significantes dados pelo
entrevistado. Eles sugerem dor no sentido de que uma determinada paisagem cultural que
marcava aquela identidade sertaneja não existe mais. O “fundo do lago” é o contraponto à pai-
sagem cultural. Seu sentido é o da hostilidade, da força diluidora da história pessoal daquela
família que perdeu sua casa e sua identidade.
Bachelard (1993), ao falar sobre a casa, discorre sobre a sua importância enquanto ponto
de partida para habitarmos um determinado espaço. A casa seria, no entendimento do autor,
aquilo que produz o “enraizamento”:
É preciso dizer como habitamos o nosso espaço vital de acordo com todas as dialéti-
cas da vida, como nos enraizamos, dia a dia, num “canto do mundo”. Porque a casa
é o nosso canto do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. É
um verdadeiro cosmos. [...]. Os verdadeiros pontos de partida da imagem, se os
estudarmos fenomenologicamente, revelarão concretamente os valores do espaço
habitado, o não-eu que protege o eu. [...]. Todo espaço realmente habitado traz a
essência da noção de casa (BACHELARD, 1993, p. 23-25).
As palavras de Bachelard nos permitem entender a saída forçada da casa como processo
de desenraizamento operado pela força do lago. Nesse sentido, a representatividade da “casa”
vai muito além de moradia, de lar. A casa é vista como o nosso canto no mundo, o nosso pri-
meiro universo e a nossa história. De forma semelhante à primeira entrevista, ouvimos de uma
mulher o seguinte:
Sem dúvida o que mais sentimos falta é da nossa casa, criamos todos os nossos filhos
ali, aquela casa por mais simples e humilde, era tudo que tínhamos, nossas histórias,
nossas memorias, lembranças, tudo acabou, agora temos que começar tudo do
zero, como se tivesse apagado 30 anos da nossa vida.
O lago escuro e profundo não aparece de forma explícita, mas seu poder destrutivo se
expressa a partir da ideia de que três décadas de vida foram apagadas. A fala evoca a
experiência familiar de criar filhos, tão cara ao significado da casa. O “apagamento” por ela
aludido expressa a sensação do desenraizamento da experiência família-casa que evoca logo
no início de sua fala.
A partir desse contato com as famílias que sofreram algum tipo de ação com a implantação
da PCH Santo Antônio, podemos identificar a ruptura com uma hereditariedade cultural. A cul-
tura é uma condição que permite à pessoa aprender e transmitir saberes, costumes e tradições
a um determinado grupo de pessoas. Corrêa (2001, p. 25) afirma que “A cultura se constitui de
um nível independente da realidade, externa ao indivíduo, explicável por si própria, dentro de
uma visão holística”. Tendo ciência da importância que esses saberes possuem na formação “cul-
tural e intelectual” das pessoas e essencialmente na formação psíquica de gerações futuras, a
ruptura com essa transmissão é uma das preocupações apontadas pelos entrevistados.
Sentimos muita falta da nossa antiga vida, que nunca mais será a mesma, mas uma
das coisas que mais mim entristece é saber que nossos netos nem iram conhecer
suas próprias origens, de onde vieram, nunca irão conhecer o rio que durante tanto
tempo conhecemos e nos serviram, as praias que tinham por aqui, eles iram conhe-
cer apenas esse lago escuro, e nada mais, é muito triste pensar isso, só quem passa
por isso sabe realmente o que estamos falando e estamos sentindo desde o dia que
começaram a construir essa “usina” aqui na região.
A afirmação “sinto falta da vida que eu construí” sugere algum grau de anomia provocada
pelo desalojamento. Uma vida construída a partir do trabalho profundamente dependente das
condições oferecidas pelo espaço – aqui o trabalho converte o espaço em paisagem – foi dilace-
rada na medida em que a rotina laboral, cara à identidade daqueles que garantem seu sustento
a partir do trabalho com a terra, não existe mais. Sentimentos semelhantes que sugerem a difi-
culdade de adaptação foram percebidos em grande parte das entrevistas realizadas.
Outra inquietação identificada também diz respeito à não valorização do patrimônio por
parte dos negociantes enviados para comprarem os imóveis atingidos pela área de inundação
formada pelo reservatório da PCH. Um dos entrevistados nos confidenciou o seguinte:
Nós não aceitamos a negociação, a proposta feita por eles, por que ninguém chegou
aqui disposto a negociar, simplesmente nos imporão um valor e disseram que seria
naquela determinada quantia que as nossas terras estavam validadas, valor bem a
baixo do mercado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desse estudo, problematizamos a experiência do desenraizamento provocada
pelas PCHs. Nosso intuito foi chamar a atenção para nuances da vida cotidiana que comumente
são ignoradas pela grande narrativa do progresso, que é evocada por empreendimentos ener-
géticos que a cada dia ganham mais espaço e visibilidade na sociedade atual.
A energia elétrica é um insumo de extrema importância na construção e manutenção da
sociedade moderna, e contestar esse fato é uma falácia. O Brasil é um país de escala continental
que possui um território rico em biodiversidades naturais, muitas dessas riquezas podem ser
aproveitadas para a geração de energia. Porém o que vemos, é um país que por mais que hoje
possua uma matriz elétrica diversificada e seja autossuficiente, ela é frágil e exala incertezas.
O fato de um território ter uma matriz elétrica composta predominantemente por uma
fonte específica, aumenta consideravelmente a probabilidade de que mais cedo ou mais tarde
ele viva uma crise e/ou até mesmo um colapso elétrico. Já que havendo um problema no for-
necimento do recurso que propicia a geração de energia daquela fonte dominante, as outras
fontes da matriz elétrica não iram conseguir potencializar sua geração a nível de suprir o défice
da energia que provinha de a fonte em caus. Além das hidrelétricas serem uma fonte de gera-
ção de energia que fica à mercê das condições climáticas, ela ocasiona diversos impactos nega-
tivos aos povos que são diretamente atingidos por esses empreendimentos, o que poderia ser
minimizado se o Estado começasse uma política de incentivo voltada para a implantação de
outra fonte geradora, como a energia solar fotovoltaica.
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EdUERJ, 1998.
Resumo: A demanda pela utilização de recursos hídricos é cada vez mais intensa para atender as
necessidades básicas e vitais da humanidade, bem como para a sua utilização econômica. Em
situações nas quais os recursos hídricos se encontram em uma bacia compartilhada por dois ou
mais países, eles se tornam internacionais. Em caso de conflitos nessas bacias, há a necessidade de
investigá-los buscando a sua mitigação, e até mesmo soluções definitivas para eles. Para buscar
esse entendimento nas bacias hidrográficas internacionais, é preciso utilizar o conceito de gover-
nança. Essa mesma governança pode ser aplicada em várias outras situações. A necessidade de
que este conceito esteja articulado à gestão dos recursos hídricos e de uma bacia hidrográfica
internacionais é tocante, uma vez que a solução dos conflitos possa surgir através do intenso diá-
logo entre diversos atores interessados. O objetivo principal deste trabalho é demonstrar a impor-
tância do diálogo entre os atores envolvidos no contexto da governança hídrica multinível, na
busca de conhecer e solucionar problemas ambientais que acometem a bacia hidrográfica inter-
nacional do Rio Quaraí/Cuareím. As metodologias aplicadas são a qualitativa e o estudo de caso.
Os resultados obtidos mostram que a necessidade de um fortalecimento do diálogo entre os ato-
res envolvidos na bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/Cuareím é uma realidade, visando
um maior sucesso na cooperação para sua gestão.
Palavras-chave: conflitos; governança; bacia hidrográfica internacional; Rio Quaraí/Cuareím
Abstract: The demand for the use of water resources is increasingly intense to meet the basic and
vital needs of humanity, as well as for their economic use. In situations where water resources are
in a basin shared by two or more countries, they become international. In case of conflicts in these
basins, there is a need to investigate them, seeking their mitigation, and even definitive solutions
for them. To seek this understanding in international river basins, it is necessary to use the concept
of governance. This can be applied in many other situations. The need for this concept to be linked
[ 405 ]
406 Aline Andressa Bervig; Armando Gallo Yahn Filho
to the management of water resources and an international river basin is touching, since the reso-
lution of conflicts can arise through intense dialogue between various interested actors. The main
objective of this work is to demonstrate the importance of dialogue between the actors involved
in the context of multilevel water governance, in the quest to understand and solve environmental
problems that affect the international watershed of the Quaraí/Cuareim River. The methodologies
applied are qualitative and case study. The results obtained show that the need to strengthen the
dialogue between the actors involved in the international hydrographic basin of the Quaraí/
Cuareim River is a reality, aiming at greater success in cooperation for its management.
Keywords: conflicts; governance; international river basin; Quaraí/Cuareim River
1 INTRODUÇÃO
O ser humano possui várias possibilidades de comunicação, podendo ser: a escrita, os
símbolos, os códigos, a fala, entre outras. Quando se menciona a fala, leva-se em consideração
o poder do diálogo entre as pessoas. E isso é fundamental, principalmente atualmente, em que
ele se exerce nas mais diversas tomadas de decisões.
A necessidade de exercer uma boa governança é evidente. Envolver os vários atores, em
vários níveis, propicia um ambiente que leva, em alguns casos, à discussão e busca por soluções
de problemas que acometem o local. E o diálogo é peça-chave, pois muitas vezes é na troca de
ideias que os problemas são resolvidos ou amenizados dentro de uma bacia hidrográfica.
A bacia hidrográfica em si é definida através de vários olhares, desde o mais técnico até o
mais teórico. Indo no sentido do planejamento do território, ela é vista como um espaço básico
para se realizar análises, visando o desenvolvimento de ações e medidas estruturais e não estru-
turais com a ideia de integração entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental, indo
ao encontro de governança. E a governança é fundamental, principalmente, quando a bacia
hidrográfica é internacional, ou seja, aquela compartilhada por dois ou mais países. Atualmente,
aproximadamente 40% da população mundial vive nesse tipo de bacia. (MENEZES, 2004).
Nesse sentido, o presente trabalho se justifica, pois ao colocar em evidência a necessi-
dade de diálogo entre os atores envolvidos no cenário da governança, muitas vezes pode-se
evitar conflitos que possam acontecer em um curto ou médio prazos. Conhecer os problemas
ambientais que acometem uma bacia hidrográfica internacional auxilia, e vai no sentido da
sustentabilidade.
O objetivo principal deste trabalho é demonstrar a importância do diálogo entre os ato-
res envolvidos no contexto da governança hídrica multinível, na busca de conhecer e solucio-
nar problemas ambientais que acometem a bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/
Cuareím, na fronteira entre o estado brasileiro do Rio Grande Sul e o Uruguai.
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
A bacia hidrográfica internacional do Rio Quaraí/Cuareím é um afluente pela margem
esquerda do Rio Uruguai, integrando a bacia internacional do Rio da Prata. Ela possui uma
área de drenagem de cerca de 14.800 km², dos quais aproximadamente 6.700 km² (45%)
estão em território brasileiro e cerca de 8.100 km² (55%) no extremo Noroeste do Uruguai.
Esta é uma bacia internacional de águas compartilhadas entre Brasil e Uruguai, sendo a fron-
teira entre os dois países o curso principal do Rio Quaraí/Cuareím (DNH; IPH, 2005;
VILLANUEVA et al., 2002; JUNGES, 2013).
Rivera
O comprimento total da sua calha principal de drenagem é de 351 km. A diferença das
cotas altimétricas, da nascente até o exutório, é de 326 metros. E a altitude média da bacia é
de 200 metros. Situada entre os meridianos 55º35’W e 57º40’W e os paralelos 29º40’S e
30º55’S, a bacia apresenta, segundo a classificação climática de Köppen, um clima temperado
úmido, na variedade de clima subtropical do tipo “Cfa” (DNH; IPH, 2005). Além disso, os solos
são rasos, o que acaba provocando tanto inundações quanto secas.
A bacia hidrográfica do Rio Quaraí/Cuareím está localizada no Brasil, no Estado do Rio
Grande do Sul, pertencendo a ela os Municípios de Barra do Quaraí/RS, Quaraí/RS, Santana do
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através do programa intitulado Transboundary Freshwater Dispute Database (TFDD) da
Oregon State University, juntamente com o Banco Mundial inserindo as mudanças climáticas nos
registros, o número foi atualizado para 276 (duzentos e setenta e seis) bacias internacionais.
Nesse último levantamento foi levada em consideração a porção espacial da bacia internacional
que se encontra dentro de cada países que dela compartilha (DE STEFANO et al., 2010).
Por exemplo, uma bacia internacional compartilhada por três países deixou de ser uma
única bacia e passou a ser contada como três bacias internacionais no mundo. Isso é impor-
tante, pois passa-se a considerar que qualquer fenômeno que esteja afetando a bacia interna-
cional em um determinado país poderá ter repercussão nos outros dois países. Assim sendo,
um país cuja parte do seu território pertence a uma bacia internacional deve estar ciente de
que suas ações podem causar ou sofrer efeitos do que estiver acontecendo em qualquer parte
daquela bacia.
O programa TFDD novamente atualizou os dados em 2016, com a contribuição do
Programa de Avaliação de Águas Transfronteiriças e do Relatório da Bacia Hidrográfica
Transfronteiriça (TWAP-RB) (UNEP-DHI, 2016). Esse relatório atualizou a lista de 286 bacias
internacionais, adicionando 10 bacias à atualização anterior. Os delineamentos espaciais no
relatório TWAP-RB são a base para a atualização discutida neste artigo, que agora inclui 310
bacias hidrográficas. (MCCRACKEN, M.; WOLF.A. 2019). Esse mapeamento atual pode ser visua-
lizado na Figura 2, na cor azul mais intensa.
Como esse último mapeamento foi o primeiro a levar em consideração a área da bacia
hidrográfica internacional, é interessante demonstrar essa porcentagem no mundo. Esses
dados podem ser visualizados no Quadro 1.
Quadro 1 – Número de bacias hidrográficas internacionais e a área que ocupam na superfície terrestre
*Esse dado é referente a um estudo isolado, realizado por esses autores mencionados, como forma de projeção, sem comprovação de mapeamentos ou
outras formas visuais.
• A utilização dos cursos de água da bacia para receber descargas de resíduos e outros processos indus-
triais semelhantes, ocasionando a diminuição na oferta dela para a população;
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das análises realizadas neste trabalho, pode-se compreender a importância do
diálogo para a boa governança das bacias hidrográficas internacionais. Ainda mais nesses
recortes espaciais internacionais que, muitas vezes, tendem a ser palcos de intensos conflitos.
Na busca de amenizar ou liquidar de vez os conflitos, há a necessidade de constante diá-
logo por parte de todos os atores envolvidos. Sem diálogo entre todos não há uma verdadeira
governança.
No caso específico da Bacia do Rio Quaraí/Cuareím, ficou perceptível que, apesar de ela
ser considerada um exemplo de cooperação na busca de amenizar os problemas existentes e
não chegar a um conflito, atualmente, ela está tendendo à inoperância de diálogos. A falta de
constantes reuniões entre ambas as partes, brasileira e uruguaia, pode ocasionar uma piora da
cooperação.
Por fim, o trabalho conjunto de diversos atores é imprescindível para preservar os recur-
sos naturais que uma bacia hidrográfica internacional possa proporcionar a todos os seres
vivos, a fim de serem utilizados a médio e longo prazos, aprofundando, assim, a sustentabili-
dade. Na busca de usufruir deles, mas não deixando que as gerações futuras não possam utili-
zá-los, faz-se necessária uma governança cada vez maior.
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[ 416 ]
USO DA ÁGUA E IMPACTOS DO TURISMO NA SUB BACIA DO RIO UNA EM MORROS, MARANHÃO 417
la existencia de la subcuenca con los habitantes de las comunidades investigadas. Por lo tanto, las
contribuciones abordadas demuestran que el análisis de las percepciones y actitudes de los resi-
dentes ha sido efectuado por la preocupación relacionada a los aspectos negativos que el turismo
puede desencadenar en las localidades receptoras y por los aspectos positivos que pueden ser
potenciados, a través de la opinión de la comunidad local.
Palabras Clave: Uso del agua. Actividades turísticas. Comunidades tradicionales.
1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento indispensável a vida. Água elemento vital, purificadora, recurso
natural renovável são alguns dos significados referidos em diferentes mitologias, religiões
povos e culturas, em todas as épocas. O termo “água” refere-se, regra geral ao elemento natu-
ral desvinculado de qualquer uso ou utilização. Por sua vez o termo “recurso hídrico” é a con-
sideração da água como bem econômico, possível de utilização com tal fim. Entretanto, deve-se
ressaltar que toda a água da terra, não é, necessariamente um recurso hídrico, na medida em
que seu uso ou utilização nem sempre tem viabilidade econômica (REBOUÇAS, 2015).
A Classificação mundial das aguas, feitas com base nas suas características naturais,
designa como “agua doce” aquela que apresenta teor de sólidos totais dissolvidos (STD) infe-
rior a mil mg/L. Vale ressaltar que a legislação ambiental vigente – resolução Conama (Conselho
Nacional do Meio Ambiente) nº 357/2004 – classifica as aguas do território brasileiro, de acordo
com a salinidade em “agua doce” (salinidade inferior ou igual a -0,5%), “salobra” (salinidade
entre 0,5% a 30%) e “salina” (superior a 30%) (BRASIL, 2002).
Desse modo, a agua é elemento essencial ao abastecimento do consumo humano e ao
desenvolvimento de suas atividades industriais e agrícolas e é de importância vital aos ecossis-
temas sendo divididas em dois grupos: usos consuntivos (usos que alteram consideravelmente
a quantidade de água disponível, como: irrigação, abastecimento humano e industrial, desse-
dentação) e usos não consuntivos (que não alteram a quantidade, contudo, alteram na quali-
dade, exemplo, geração de hidroelétrica, navegação, recreação, diluição dos efluentes e usos
paisagísticos) (OKAWA; POLETO, 2014).
Durante muito tempo acreditava-se que a água era um elemento natural inesgotá-
vel. Haja vista que a quantidade de água é a mesma ao longo do tempo, caso a qualidade seja
comprometida os custos de tratamento podem se tornar tão alto que o inviabilizem. Ou seja, a
água tende a se tornar escassa pelo fator qualidade e não pela quantidade disponível.
Com a finalidade de sanar a má utilização, se executa uma gestão baseada em princípios
legais, onde o Estado através da Lei Federal 9.433 de 08 de janeiro de 1997 iniciou o processo
de gestão das águas no Brasil, criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos. Apesar da PNRH ter sido promulgada desde 1997, poucos avanços têm sido alcança-
dos em muitas realidades brasileiras, especialmente em estados como o do Maranhão, que
possui imenso conjunto de recursos hídricos e que tem como atividades econômicas básicas a
agricultura de corte e queima, a pecuária extensiva, a mineração e a extração madeireira e que
2 METODOLOGIA
O Rio Una que está localizada no município de Morros-Maranhão, situado na Mesorregião
Norte Maranhense e na Microrregião de Rosário, componente da Bacia Hidrográfica do Rio
Munim. A sub bacia do Rio Una localiza-se no Município de Morros, entre a Latitude 2º 45’ 31.
10” S e Longitude 44º 0’ 15. 27” O, Latitude 2º 50’ 8. 14” S e Longitude 44º 2’ 50. 52” O.
Origina-se em uma comunidade conhecida como Barato, abrigando oito comunidades,
incluindo a sede do município, estendendo-se por 35 km aproximadamente.
Tem como afluentes o rio Centro do Anajá, rio Contrato, rio Arruda, Igarapé São
Benedito (conhecido também como riacho Mato Grosso), riacho do Saara e una da Felipa, e são
classificados como perene. As comunidades de Mato Grosso e Una dos Moraes estão localiza-
das dentro da área da sub bacia.
O presente artigo é visa realizar um diagnóstico e análise ambiental da sub bacia do Rio
Una, apresentando os principais usos dos recursos hídricos nas duas comunidades e os confli-
tos quanto a cadeia do turismo implantada na região. Para adquirir essas informações foi rea-
lizada uma revisão bibliográfica sobre a temática, e os trabalhos de campo vem sendo feitos
pela desde 2016 assim como os acompanhamentos com as comunidades localizadas as mar-
gens do rio e na sede do município, o mais recente feito no início de fevereiro de 2020, assim
como acompanhamento nas comunidades no entorno da sub bacia. Foi aplicado questionários,
com questões abertas e fechadas, aos moradores do povoado, além disso, foi construído um
acervo fotográfico para futuras comparações ao longo do tempo em relação aos aspectos qua-
litativos do rio. Ao final foram sistematizados os dados e analisados através de percentagem.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Povoado Mato Grosso
O povoado de Mato Grosso é uma comunidade remanescente quilombola reconhecida
desde meados de julho de 2013 como comunidade quilombola pretos do São Benedito.
Localizado a 4 km do município de Morros-MA, o povoado foi fundado apenas com três famí-
lias, e hoje encontra-se com aproximadamente oitenta e sete famílias. Na comunidade encon-
trasse a fonte igarapé São Benedito localizada neste povoado que é um afluente, contribuinte
da bacia do rio Una. A comunidade apresenta modos de produção muito peculiar entre as
comunidades rurais quilombolas existentes e se utiliza do igarapé para a uma das fases das do
cultivo da mandioca “lavoura”, como mostrado na figura 2 abaixo.
No espaço rural o rio também possui um atributo muito importante e bem característico
ao espaço, que é a questão cultural. A comunidade também usa o igarapé para manifestar sua
cultura / rituais como observa-se na figura.
Nos últimos anos com o aumento da cadeia do turismo na região, a comunidade tem sido
alvo de constantes conflitos por compras de terras tendo como foco principal as proximidades
do Rio.
Dessa forma atualmente a comunidade precisa reordenar seus hábitos, pois segundo o
relato de um dos moradores é constante encontrar pessoas “estranhas” tomando banho. No
corrente século observa-se uma grande demanda por água, a partir dessa ocorrência países
exercitam a guerra na busca pela sobrevivência (FERNANDES et al, 2004).
Em entrevistas com os residentes, ao serem questionados de como era a visão do riacho
antes, para os entrevistados o riacho era “mais fundo” ou “mais cheio”, sendo percebido que
há uma diferença no nível de água para as condições atuais. Além disso, retratam outras carac-
terísticas que demonstram uma diferença visual de matas ciliares e desenvolvimento urbano
para à atualidade. De acordo com (FERNANDES et al, 2004) cada indivíduo percebe, reage e
responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifesta-
ções daí decorrentes são resultado das percepções (individuais e coletivas), dos processos cog-
nitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa.
Dentre as qualidades que o rio oferecia a “grande quantidade de peixes 43,3%” e “água
saudável” 28% se destacaram. A percepção dos entrevistados mostra uma série de valores e
atributos que o rio oferecia, sendo assim constata-se a relação entre o sentimento de insatis-
fação relacionada à falta de interesse expressada na relação estabelecida pelas pessoas com
seu ambiente. De acordo com os entrevistados os impactos atualmente observados no rio
foram “poluição” e “desmatamento”, assim como, “queimadas” e “diminuição da água”.
Em relação aos prejuízos causados aos moradores com a atual situação do riacho, a ques-
tão da “água poluída 58.3%” foi o maior prejuízo, seguido de “prejuízos a saúde”, “mortes dos
peixes” e “dificuldade de banhar”. Segundo Moraes e Jordão (2002, pág.372) observa-se na
atualidade que 80% das moléstias e mais de um terço dos óbitos dos países em desenvolvi-
mento sejam causados pelo consumo de água contaminada. Estes dados indicam que a maior
parte dos entrevistados se sentiriam prejudicados.
A falta do rio significaria mudanças no cotidiano, moldando e reconstruindo com a expe-
riência os hábitos instituídos na cultura do lugar. Acerca da geração de impactos ambientais no
rio, o principal motivo é a “ignorância”, seguido da “maldade” e “queimadas constantes”. O
teor das respostas indica que os entrevistados afirmam saber da ação geradora de impactos
ambientais no riacho, a falta de interesse, expressado pelas pessoas reafirma que uma parcela
da população indistinta, e o pouco envolvimento não contribuem para geração de mudanças.
Em Una dos Moraes os moradores ainda mantêm as atividades de pesca como obser-
vado na figura abaixo que demonstra o barco de pesca, instrumento utilizado para esta ativi-
dade econômica.
Os mesmos barcos são usados para recreação dos visitantes como observado na figura 7
demonstrando-a.
Os moradores disseram que cerca de 75% dos visitantes possuem residência no povoado.
Estes dados são importantes pois em Una dos Moraes o fenômeno da segunda residência oca-
sionou um “ordenamento” territorial imposto pela prática turística, pois onde antes
localizava-se as casas dos moradores, atualmente está a dos visitantes que em sua maioria
estão próximas as margens do rio, como mostra a figura como exemplo das casas.
Logo, este fator desencadeia uma ruptura no ordenamento territorial criando uma lacuna
entre moradores menos abastados e visitantes que possuem um poder aquisitivo maior. Isso
induz pensar em um território móvel, ou seja, que não se estabelece um enraizamento com
lugar, ele pode ser instável e periódico, formado e dissolvido rapidamente (HAESBAERT, 2004).
Sobre essa problemática, as comunidades receptoras tenderiam a ver o turismo com descon-
fiança, porque em geral não têm a oportunidade de participar das tomadas de decisões sobre
a questão nessa área. Sentem-se, com isso, excluídas e acabam não desejando a presença de
turistas na sua localidade. Pior, em muitos casos o turista chega antes do turismo, ou seja, do
planejamento e organização da localidade para recebê-lo. A figura a seguir mostra como os
moradores estão colocando à venda suas casas.
Assim, para 32% dos entrevistados, a visitação possui “impacto negativo”, visto que os
visitantes incomodam os moradores e até mesmo a tranquilidade dos demais visitantes, dei-
xando a população alheia aos benefícios deixados pela renda gerada no processo de uso do rio
e seu entorno. Quando questionados sobre os aspectos da privacidade para uma parcela signi-
ficativa de 68.5% esses impactos são perceptíveis pelos moradores, “não é a mesma” e demons-
traram estarem insatisfeitos com estes impactos já visíveis por eles como podemos observar
nas falas mencionadas:
“Aqui não temos mais liberdade, o fundo de nossas casas agora é bares e pousadas,
quando descemos para o rio damos de cara com pessoas de outro lugar, é muita
zuada, muita gente que nem conhecemos, se quisermos descansar é durante a
semana, mas até na semana nesses períodos de férias complica”.
Dentre isso, o visitante e o nativo focalizam aspectos bem diferentes do meio ambiente.
Em uma sociedade tradicional estável os visitantes e as pessoas de passagem constituem uma
minoria da população total; suas visões do meio ambiente talvez não tenham tanta importân-
cia (RUSCHMANN, 1993). Do contrário, o nativo tem uma atitude complexa derivada da sua
imersão na totalidade do meio ambiente. Para Tuan (1980), do ponto de vista do visitante, por
ser simples é facilmente enunciado. Por outro lado, a atitude complexa do nativo somente
pode ser expressa com dificuldade e indiretamente através do comportamento, a tradição
local, conhecimento e mito.
Neste sentido sobre o uso de drogas no local, para os visitantes e moradores aumentou,
e ressaltaram que no povoado já existia o uso de drogas e a visitação só agravou a situação.
Quanto a prostituição e trabalho infantil, de acordo com 42.5% dos visitantes é existente e que
a abordagem da prostituição é feita no local, porém esta prática ainda é pequena. Para todos
os moradores não houve aumento do custo de vida pois eles relataram que a maioria dos nati-
vos são pescadores e que na falta do peixe praticam a lavoura. Sobre os aspectos ambientais,
os moradores informam que a paisagem anterior do balneário era mais arborizada (30% dos
entrevistados), e o nível de água do rio era maior (27.5% das opiniões). Atualmente para eles a
paisagem possui “poucas arvores e mais lixo” 40%.
Os moradores percepcionam a “melhor infraestrutura 45% como uma das mudanças sig-
nificativas para o banho. Contudo, os moradores afirmam que os impactos são decorrentes de
“mais pessoas” visitando o local que interferem na redução da “qualidade da água”. Nesse con-
texto, de acordo os moradores os impactos no local são responsabilidade dos visitantes, tota-
lizando 40%, sendo que 27.5% alegam ser os donos de bares e pousadas.
Nesta perspectiva quando questionados sobre qual ação ajudaria na preservação do rio de
acordo com os moradores o isolamento do local seria a solução 52.5%. Sobre a qualidade da água
nos períodos de visitação para os moradores, 40% disseram que é “péssimo”, 35% disseram que
é “ruim”, além disso reclamaram que na água tem tudo o que não presta durante este período.
Diante do exposto, Forline (2007) enfatiza que naturalmente, os atores que mais percebem a pre-
sença de áreas transformadas são aqueles que residem nelas ou as suas proximidades.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As contribuições abordadas demonstram aos aspectos negativos que o turismo pode
desencadear nas localidades receptoras e pelos aspectos positivos que podem ser potenciali-
zados, através da opinião da comunidade local. A presença de visitantes nas comunidades,
também é um fenômeno generalizado e afeta os padrões de vida das pessoas, em especial nas
localidades turísticas.
As formas como os visitantes se portam e seus relacionamentos pessoais com cidadãos
da comunidade anfitriã costumam ter um efeito sobre o modo de vida e atitudes dos morado-
res locais. Para que o desenvolvimento turístico ocorra de maneira adequada, sua abordagem
precisa ser multidisciplinar, com profissionais de áreas distintas trabalhando em conjunto, tanto
na avaliação dos seus impactos, como no encaminhamento de soluções para o mesmo. Sob
este enfoque, a população quando integrada no planejamento turístico de sua localidade, pode
contribuir avaliando as insatisfações que esse desencadeia, assim como avaliar suas potencia-
lidades. Quando o turismo é considerado um rendimento financeiro essencial em uma escala
local e nacional, há um consenso na literatura da sustentação positiva das comunidades anfi-
triãs para o seu desenvolvimento ser bem-sucedido. O monitoramento sobre a opinião dos
moradores a respeito do turismo torna-se, então, indispensável para o planejamento ade-
quado em uma localidade turística.
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NA GESTÃO DAS BACIAS
HIDROGRÁFICAS
36. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
E RECURSOS HÍDRICOS
Ações propositivas na bacia hidrográfica
do Rio Pitimbu/RN
1 INTRODUÇÃO
A crescente preocupação em relação à quantidade e qualidade dos recursos hídricos tem
levado gestores e pesquisadores de várias áreas e nações a concentrarem esforços no estudo
e pesquisa sobre a melhor forma de uso e gestão dos recursos hídricos. Segundo Obara &
Kovalski (2016) um dos avanços em termos de gerenciamento da água foi a adoção da bacia
hidrográfica como unidade territorial adequada para estudo e gestão dos recursos hídricos.
Esta abordagem parte do pressuposto que somente a partir de uma análise integrada das
variáveis biogeofísicas, socioculturais e econômicas inerentes à bacia hidrográfica é que será
possível efetivar um processo de gestão dos recursos hídricos que concilie uso racional, prote-
ção ambiental e justiça social.
Sabe-se que desde a antiguidade, o ser humano interage com a natureza diretamente,
todavia, com a aceleração da produção e consumo acarretando maiores demandas, ampliou-se
a degradação dos recursos naturais. Assim, diante dessa problemática decorrente da exploração
desordenada dos recursos, fez-se necessário buscar alternativas para resolver ou amenizar essa
situação, buscando um melhor uso e gestão, nesse viés, ascende a Educação Ambiental (EA)
como um instrumento que pode acarretar diversas mudanças positivas na relação homem-meio,
além de se apresentar como campo de conhecimento rico e de grande abrangência.
A Educação ambiental, surge cada dia mais como campo de conhecimento em ascensão.
Verifica-se que em 1965 o termo Educação Ambiental foi adotado em um evento de educação
promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido. Mais adiante, em 1972, estabeleceu-se
o “Plano de Ação Mundial” e a “Declaração sobre o Ambiente Humano”, e foi nessa conferên-
cia que se definiu, pela primeira vez, a importância da ação educativa nas questões ambientais,
o que gerou o primeiro “Programa Internacional de Educação Ambiental”, consolidado em
1975 pela Conferência de Belgrado. (Brasil, 1998). Assim, a partir da década 70, vários eventos
se sucederam, cujos debates e documentos serviram de fundamentos para o estabelecimento
de ações e políticas voltadas à implantação da Educação Ambiental, em várias partes do mundo.
Ademais, a EA assume um papel relevante, no sentido de possibilitar, por meio de pro-
cessos educativos, formais (instituições de ensino) e não-formais (associações, comunidades,
empresas, entre outros), que os vários atores sociais tenham acesso aos conhecimentos, dis-
cussões, valores, leis e instrumentos de gestão dos recursos hídricos, na perspectiva de cons-
truírem uma visão mais crítica, ética e participativa em relação a gestão e melhoria da qualidade
da água que eles têm acesso.
É válido ressaltar ainda, que não temos um conceito único de EA, todavia, de acordo com
Loureiro (2004) a EA é vista como um elemento de transformação social inspirada no diálogo,
no exercício da cidadania, no fortalecimento dos sujeitos, na criação de espaços coletivos, na
superação das formas de dominação, na compreensão do mundo e da vida em sua totalidade.
Dias (2004) por sua vez, entende a EA como conjunto de conteúdos e práticas ambientais,
orientadas para a resolução dos problemas concretos do ambiente, através do enfoque interdis-
ciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da comunidade.
A Educação Ambiental é um fator preponderante para a construção do desenvolvi-
mento sustentável, influenciada por fatores econômicos e sociais, do ponto de vista
crítico transformadora é indispensável para a concepção de qualquer processo de
integração social, sendo exibida como um dos pilares estratégicos para assegurar
uma nova formação humana, de maneira a intervir na sociedade moderna. Essa
Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente, bem como de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade.
Dessa forma, o uso da EA pode ser considerado em diferentes âmbitos, dessa maneira, o
objetivo deste estudo é analisar o uso da Educação Ambiental como ferramenta auxiliar no
processo de Gestão de Bacias Hidrográficas, a exemplo da Bacia Hidrográfica do Rio Pitimbú
(Figura 1). Tendo em vista que, todas as formas de vida dependem do patrimônio natural, espe-
cialmente das águas, para sobreviver e a depredação desse patrimônio é uma grande ameaça
à biodiversidade e à vida. Em razão disso, fazer uso da EA de forma coletiva e interdisciplinar
como ferramenta, propondo melhorias nas ações concretas no contexto de gestão de bacias
hidrográficas é de grande valia.
A área de estudos em questão faz parte do conjunto de bacias menores que deságuam
no litoral oriental do Estado do Rio Grande do Norte, abrangendo os municípios de Natal,
Parnamirim, Macaíba, Nísia Floresta, São José de Mipibu e Vera Cruz, sendo os cinco primeiros
desta série pertencentes à Região Metropolitana de Natal (RMN). A Bacia do rio Pirangi, que se
caracteriza por uma extensão relativamente pequena, tem a rede hidrográfica formada pelos
rios Pitimbu, Taborda, Mendes, Pium, Água Vermelha e Pirangi.
A Bacia Hidrográfica do rio Pitimbu, na qual se constitui como objeto desta pesquisa, pos-
sui uma área de 132,46 km² e localiza-se nas coordenadas 5º 50’00’’, 5º 57’53’’ latitude Sul e
35º 11’08”, 35º 23’19” longitude Oeste, abarcando os municípios de Natal, Macaíba e
Parnamirim. Apresenta escoamento do tipo endorréico com drenagem dendrítica, desaguando
na Lagoa do Jiqui. Possui sua nascente localizada no município de Macaíba, sendo responsável
pelo abastecimento de água para uma grande área da RMN.
Por estar dentro de um perímetro cujo seus limites fazem parte do território municipal
de 3 diferentes localidades, a bacia hidrográfica por vezes encontra-se como palco de indeci-
sões no que diz respeito aos cuidados e manutenção dos recursos hídricos, acarretando pro-
blemas não apenas ao meio ambiente como também a qualidade de vida da população do
entorno da área, que é abastecida pelo manancial.
Assim, a Educação Ambiental se insere diante do contexto não apenas deixando nas
mãos do poder público a tomada de decisão, mas sim, no processo de instrumentalização das
sociedades, além de instigá-las para participar nas questões ambientais que as afetam direta
ou indiretamente e conscientizá-las de que todos fazem parte dos processos que interferem no
ambiente.
2 METODOLOGIA
Metodologicamente, para realização do estudo tivemos a pesquisa documental, tendo
em vista que de acordo com Santos e Costa (2013, p. 3 apud DUTRA e TERRAZAN 2012, p. 173):
A pesquisa documental é parte integrante de qualquer pesquisa sistemática e pre-
cede ou acompanha os trabalhos de campo. Ela pode ser um aspecto dominante em
trabalhos que visam a mostrar a situação atual de um determinado assunto ou que
tentam traçar a evolução histórica de um problema.
Dessa forma, como principais fontes temos grandes autores na área de Educação
Ambiental (EA) como: Loureiro (2004), Dias (2004), Andrade (2018), além da lei 9795/1999 que
trata da Política Nacional de Educação Ambiental, assim como de autores que trabalham com
a EA e a gestão de Bacias Hidrográficas como Obara & Kovalski (2016), Visto que a área estu-
dada se trata de recorte dentro de uma bacia hidrográfica vamos dar ênfase nessa unidade de
gestão e planejamento que é a bacia. Para tal feito, precisamos entender a importância de tal
unidade. No Brasil, a bacia hidrográfica é considerada como uma Unidade de Gestão dos
Recursos Hídricos, o espaço geográfico de atuação onde os comitês de bacias hidrográficas
(CBHs) buscam promover o planejamento regional, controlar os usos da água na região, prote-
ger e conservar as fontes de captação da bacia. Cada comitê deve evitar conflitos envolvendo
nos debates sobre a gestão da bacia os diferentes grupos de pessoas que estão nela.
A região hidrográfica, por sua vez, é composta por uma ou mais bacias hidrográficas con-
tíguas e pelas águas subterrâneas e costeiras associadas. Cada região hidrográfica representa
uma divisão administrativa e constitui a unidade principal de planejamento e gestão das águas,
que são responsabilidade do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
A bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água de precipitação que faz
convergir o escoamento para um único ponto de saída. A bacia hidrográfica com-
põe-se de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem for-
mada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu
exutório (TUCCI, 1997 p. 38).
A bacia hidrográfica representa uma unidade ideal de planejamento sobre o uso da terra
(BOTELHO, 2005). De acordo com a Lei Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. fica instituído no
Art 1: A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
I – a água é um bem de domínio público;
II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais;
IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas;
V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos;
VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a partici-
pação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
Para alinhar toda nossa metodologia com uma visão sistêmica da análise ambiental pro-
posta, utilizamos a Geoecologia das Paisagens para buscarmos as seguintes abordagens:
(MATEO et al, 2004):
• Considerar a natureza como uma organização sistêmica, sendo essa, formada pela
interação dos diferentes componentes da natureza, possuindo sua própria dinâmica,
autonomia e suas respectivas lógicas de estruturação e funcionamento.
• Entender e aceitar que os processos humanos têm a capacidade de transformar, até
um certo ponto, os sistemas naturais, impondo uma estruturação e acionamento de
acordo com fatores como: política, economia, sociais e culturais. E tais fatores, são
variáveis de acordo com suas escalas temporais e espaciais.
Em resumo e objetivando, a análise da Geoecologia das Paisagens para esse estudo, visa
entender como a arquitetura da superfície da Terra, e sua dinâmica com os diferentes sistemas
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados discutidos nas seções anteriores, fica explícita a importância da inte-
gração entre Educação Ambiental e gestão de Bacias Hidrográficas, uma vez que, a partir da
implementação de determinadas ações, situações que antes pudessem ser irreversíveis e pro-
blemas municipais, tornam-se reversíveis e consequentemente de responsabilidade coletiva
da sociedade, como se configura o ideal.
Para tanto, é necessário que antes da aplicação das ações de educação ambiental,
sejam conhecidos os problemas ambientais registrados na área de estudos, configurados
como impactos ambientais negativos, sendo eles nocivos para manutenção e revitalização
da bacia hidrográfica.
entre todas as esferas de poder e sociedade, através de práticas interdisciplinares que promo-
vam a conscientização e construam um novo panorama para a bacia hidrográfica.
Quadro 2 – Propostas de ações de Educação Ambiental para Bacia Hidrográfica do rio Pitimbu
As propostas de ações aqui elencadas, foram elaboradas a partir dos dados que foram
discutidos ao longo do trabalho, buscando a garantia da preservação dos recursos naturais e
uma ação conjunta entre sociedade e natureza constante intermediada pela Educação
Ambiental.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que a construção de uma nova racionalidade ambiental perpassa pela reflexão
da sociedade como um todo sobre os caminhos de sua relação com o meio ambiente. E, este
enfrentamento só será possível com uma educação (ambiental) que seja nitidamente crítica,
ética e aberta a novas formas de pensar e lidar com o mundo cada vez mais complexo e
pouco sustentável.
No estudo em questão tivemos como foco uma escala local, trabalhando uma bacia
hidrográfica que se encontra em três localidades diferentes, e dessa forma, por vezes encon-
tra-se como palco de indecisões no que diz respeito aos cuidados e manutenção dos recursos
hídricos, acarretando problemas ambientais e no tocante a qualidade de vida da população do
entorno da área e que é abastecida pelo manancial. Dessa forma, nota-se que ações de
Educação Ambiental teriam um grande impacto positivo se aplicadas a área estudada, e tam-
bém em outros níveis de escalas.
Tendo em vista que a EA pode ser vista como conjunto de práticas ambientais, orienta-
das para a resolução dos problemas concretos do ambiente, através do enfoque interdiscipli-
nar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da comunidade (Dias 2004),
o que acarretaria melhorias ambientais e também despertaria a comunidade a participar mais
ativamente de ações visando um melhor uso e gestão.
Pois, verifica-se ainda que grande parte dos cidadãos, sobretudo, a sociedade civil, não
tem conhecimentos básicos que os motivem a participar dos espaços de discussões e de
5 REFERÊNCIAS
ANDRADE, V. A. de. Et al. Uma Análise da Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável. Anais do
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental e Sustentabilidade – Vol. 6: Congestas 2018.
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e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de
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IMPACTOS DO
AGRONEGÓCIO PARA AS
BACIAS HIDROGRÁFICAS
37. O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE
A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
TIMBURI, NA APA DO TIMBURI,
PRESIDENTE PRUDENTE-SP
Resumo: Este artigo apresenta uma discussão sobre os impactos do uso e ocupação da terra, mais
especificamente sobre o impacto da agricultura e da pecuária sobre os recursos hídricos, a fauna
e a flora, causando desequilíbrio ecológico e afetando os recursos naturais. A intensificação des-
sas atividades demanda, também, maior quantidade de água para irrigação e dessedentação de
animais, mas entende-se que, pelo uso intensivo e a falta de técnicas adequadas de manejo, os
recursos hídricos vêm sendo comprometidos. Essa problemática perpassa décadas e interfere no
desenvolvimento socioeconômico, conduzindo à escassez destes recursos, principalmente no que
se diz respeito ao funcionamento de uma bacia hidrográfica. Tendo em vista a necessidade de bus-
car a preservação e conservação dos recursos presentes em áreas prioritárias, o objetivo deste
trabalho consiste em realizar uma análise sobre o avanço do agronegócio e seus efeitos na Área de
Proteção Ambiental do Timburi, Presidente Prudente-SP. Para isso, foi realizado um levantamento
bibliográfico, além da utilização de geoprocessamento e análise do mapa de uso e cobertura da
terra, apresentando como as áreas foram degradadas pela substituição de vegetação nativa por
pastagens e culturas agrícolas. A análise permitiu compreender que o avanço das atividades explo-
ratórias está impactando os cursos d’água na extensão da bacia hidrográfica do Córrego Timburi.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Área de Preservação Permanente (APP); Área de Proteção
Ambiental do Timburi; Presidente Prudente (SP).
Abstract: This article presents a discussion on the impacts of land use and occupation, more spe-
cifically on the impact of agriculture and livestock on water resources, fauna and flora, causing
ecological imbalance and affecting natural resources. The increase in these activities also demands
a larger amount of water for irrigation and animal watering, but it is understood that due to the
intensive use and the lack of adequate management techniques, the water resources have been
compromised. This problem has been going on for decades and interfering in the socio-economic
development, leading to the scarcity of these resources, mainly with regard to the functioning of
a hydrographic basin. In view of the need to seek the preservation and conservation of the
[ 440 ]
O IMPACTO DA AGROPECUÁRIA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TIMBURI 441
resources present in priority areas, the objective of this work was to carry out an analysis on the
advance of agribusiness and its effects on the Timburi Environmental Protection Area, Presidente
Prudente-SP. For this, a bibliographical survey was carried out, in addition to the use of geopro-
cessing and analysis of the land use and land cover map, presenting how the areas have been
degraded by the substitution of native vegetation for pastures and agricultural crops. The analysis
allowed us to understand that the advance of the exploratory activities is impacting the water-
courses in the extension of the Timburi Creek watershed.
Keywords: Watershed; Permanent Preservation Area; Timburi Environmental Protection Area;
Presidente Prudente (SP).
1 INTRODUÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial, o consumo de carne aumentou ao redor do mundo e o
Brasil, desde então, investiu fortemente na pecuária (SCHLESINGER, 2009). Com a intensifica-
ção das atividades agropecuárias, surgiram impactos significativos ao meio ambiente, degra-
dando áreas de preservação permanente e, como consequência, os recursos hídricos.
Principalmente no interior do Brasil, a retirada da cobertura vegetal deu lugar a grandes
monoculturas agrícolas e pastagens para criação de animais, sobretudo o gado para corte e
leite, desconsiderando a conservação da vegetação e manejo adequado do solo (VARCACEL;
SILVA, 1997). Extensos hectares perderam suas características nativas, causando desequilíbrio
ecológico, afetando a fauna e a flora locais, em decorrência da falta de fiscalização e medidas
protetivas que contribuíssem para mitigar esses efeitos.
Também, o uso abusivo de agrotóxicos, levou a perda de fertilidade dos solos e tornaram
estes pobres e desprotegidos (MIRANDA; MELO; ARAÚJO, 2017), suscetíveis ao intemperismo
físico e ao aceleramento dos processos erosivos, juntamente com assoreamento dos cursos
d’água. Consequentemente, as nascentes comprometidas, começaram a manifestar vazões
irregulares ou desaparecerem, diminuindo a quantidade das águas em superfície disponíveis
para o uso humano e dessedentação animal.
Segundo Gomes (2019), a crescente do agronegócio no Brasil afasta-se de um modelo de
sustentabilidade que se preocupa com os recursos naturais. As atividades com manejo inten-
sivo e uso indiscriminado comprometem os sistemas hídricos, incluindo as águas subterrâneas,
nascentes e mananciais.
Tendo em vista o prejuízo ambiental causado pelas ações antrópicas, há indispensabili-
dade de intervenção através do diagnóstico das áreas afetadas. Fez-se necessária a criação de
leis que regulamentam e constituem decretos e resoluções que auxiliam a preservação ambien-
tal, como a Lei Federal nº 6.938, de 31, de agosto de 1981, (alterada pela Lei Federal nº 7.804,
de 18 de julho de 1989) na qual dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e constitui
o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, um conjunto das três esferas dos órgãos
públicos para a proteção dos recursos ambientais no país (BRASIL, 1989).
Quanto a gestão das águas, no âmbito estadual, o governo do Estado de São Paulo
instaurou a Lei de Águas Paulista, nº 7.663 de 1991 (SÃO PAULO, 1991), que previa uma
gestão descentralizada e participativa de forma sustentável, incentivando investimentos e
ações de políticas públicas e racionamento, bem como a cobrança para a utilização dos
recursos hídricos.
Já com a sanção da Lei Federal nº 9.433, do ano de 1997 (BRASIL, 1997), que instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
houve um avanço significativo sobre o planejamento em nosso território. Com a preocupação
crescente sobre a água como um recurso natural limitado e capaz de gerar problemas socioe-
conômicos por sua escassez, foi criado o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e,
posteriormente, a Agência Nacional de Águas (ANA).
Os Comitês de Bacias Hidrográficas destacam-se nesta temática como um dos órgãos
criados para atender aos conflitos de regulação e controle de uso dos recursos hídricos em
conformidade com a legislação. A composição de representantes tripartite e da sociedade civil
definem o seu próprio estatuto e deliberam sobre o plano de determinada bacia hidrográfica.
Esta articulação proporciona o uso múltiplo de modo consciente.
Neste contexto, foram criadas, também, as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), por
meio da Lei nº 6.902 (BRASIL, 1981) a qual dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e
Áreas de Proteção Ambiental, tendo a segunda categoria o objetivo de “assegurar o bem-estar
das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais” (Art. 8º).
Posteriormente, com a Lei Nº 9.985 (BRASIL, 2000) foi instituído o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza (SNUC), que regulamentou as Unidades de Conservação e as divi-
diu em dois grandes grupos: as de Uso Sustentável e as de Proteção Integral.
As APAs, foram classificadas no primeiro grupo, uma vez que nelas fica permitida a ocu-
pação humana, desde que sejam cumpridas as especificações dispostas por lei, contribuindo
para o desenvolvimento sustentável.
Em virtude disto, o presente trabalho pretende analisar o impacto das atividades agrope-
cuárias sobre as Áreas de Preservação Permanentes da Bacia Hidrográfica do Córrego Timburi,
localizada na Área de Proteção Ambiental do Timburi. A discussão aqui exposta pode contribuir
para o estudo do tema nesta área, bem como, com a elaboração de ações futuras quanto a
prevenção e proteção dos recursos hídricos.
O objeto de estudo deste trabalho é a Área de Proteção Ambiental do Timburi, localizada
no munícipio de Presidente Prudente, Oeste do estado de São Paulo, a qual foi tida como uma
conquista histórica da comunidade. Ela foi homologada pela Lei Complementar Municipal nº
235/2019, sendo a primeira APA do município. Seu quinto objetivo no Artigo 3º consiste em:
“proteger as sub-bacias hidrográficas do Rio do Peixe, contribuintes para o abastecimento de
água potável no município” (PRESIDENTE PRUDENTE, 2019).
Elaboração: Autoral.
No que diz respeito a geologia, a APA do Timburi está inserida no contexto da morfoes-
trutura da Bacia Sedimentar do Paraná, com predomínio dos arenitos da Formação Adamantina,
pertencentes ao Grupo Bauru, constituída de arenitos finos ou muito finos (NUNES, 2019).
Sobre a sua geomorfologia, Moreira et al. (2021, p.173), embasados na classificação feita por
Nunes e Fushimi (2010), dividiram a APA em três compartimentos de relevo: topos suavemente
ondulados das colinas convexizadas; domínio das vertentes côncavas, convexas e retilíneas; e
planícies aluviais e alvéolos.
Segundo Gonçalves (2021), a APA está disposta sob um relevo de domínio de colinas dis-
secadas e morros baixos (R4a2), de amplitude topográfica variante, entre 30 a 80 metros. Este
tipo de relevo facilita o escoamento superficial e tem maior suscetibilidade a erosão linear e
laminar, dando origem a sulcos, ravinas e voçorocas. Apesar de ser um processo natural, a ero-
são é intensificada pelas mudanças ambientais advindas de atividades humanas.
Conforme Donaton (2013), a APA possui cerca de 82 propriedades e sua economia advém
da agropecuária, sendo destaque a pecuária de corte e leiteira, para comercialização em laticí-
nios e pequenos compradores. Também há produção de frutas, verduras e legumes para sub-
sistência e venda do excedente, sendo a batata doce a principal cultura do local. Ressalta-se,
ainda, o arrendamento de terras por parte dos donos, para o exercício destas atividades.
Em relação a cobertura e uso da terra, Nunes (2019) aponta que restaram apenas 127
fragmentos de matas residuais, o que corresponde a 11,24% da área total da APA. Moreira et
al. (2020) mostram que os processos históricos e econômicos da área fizeram com que a vege-
tação nativa fosse substituída por pastagens e cultivos agrícolas. Fushimi (2012) constata que
esse processo de substituição da vegetação nativa pelas atividades agropecuárias acarreta na
degradação do solo, dando origem aos processos erosivos.
Gonçalves (2021) salienta que a remoção da cobertura vegetal proporciona o escoa-
mento superficial mais intenso, principalmente em áreas de solo compactado pela ação do
pisoteio do gado (MOREIRA, 2021), uma vez que esses processos diminuem o poder de infiltra-
ção da água, dando origem a degradação do solo. Por isso se dá a necessidade de manter a
arborização, que favorece a diminuição da energia da água durante o escoamento e propicia o
armazenamento de água subterrânea (GONÇALVES, 2021).
Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1999), a erosão pode ser definida como um processo
natural de desprendimento dos sedimentos de rocha e solo, que são transportados e dispostos
de um lugar para o outro, de acordo com os agentes erosivos que podem ser naturais como os
rios, mares, ventos e chuvas, ou por atividades humanas, como o tombamento de terra para
plantio e mau uso do solo na pecuária (GUERRA; JORGE, 2013).
As ações diretas e indiretas destes agentes contribuem para a degradação, fazendo com
que mudanças na paisagem, as quais demoravam anos para ocorrer, fossem aceleradas com o
avanço do agronegócio. A exploração dos recursos naturais, desmatamento e a construção de
estradas, comprometeram a camada superficial do solo e este, por sua vez, passou a se perder
rapidamente por falta de manejo adequado, demorando séculos para se recompor.
O que vai determinar o tempo de degradação do solo, além do intemperismo e das ações
antrópicas, são as fisionomias do relevo e os tipos de solo. Isso acontece porque as erosões
ocorrem de forma seletiva, carregando, primeiramente, as partículas responsáveis pelo trans-
porte de nutrientes para as plantas, reduzindo a fertilidade do solo (NUNES et al.,2006).
Nunes et al. (2006) ainda salientam que esse processo afeta a capacidade produtiva do
solo, a economia e a sociedade. Portanto, é indispensável estudar a vulnerabilidade da área,
compreendendo a dinâmica para uma boa atuação de prevenção e proteção, evitando este
problema nas áreas rurais.
Os recursos hídricos, por sua vez, são afetados por esse tipo de processo, pois os sedi-
mentos desprendidos das vertentes deslizam para partes mais baixas indo ao encontro dos
cursos d’água. Em virtude dos solos desprotegidos, os sedimentos causam o assoreamento dos
leitos dos rios que, a longo prazo, podem ter sua profundidade reduzida, resultando em perda
de diversidade biológica e até o ressecamento dos cursos d’água.
Ao analisar uma bacia hidrográfica para gerenciamento, deve-se, portanto, intentar ações
que possam mitigar esses impactos. Para evitar que este problema ambiental possa interferir nos
tipos de uso do elemento água, a gestão deve pautar também o assunto como uma questão
social e econômica, propondo políticas públicas e promovendo ações de sustentabilidade.
De acordo com Santos (2012), a gestão de recursos hídricos no Brasil foi, até o ano de 1980,
muito abrangente no que diz respeito aos tipos de uso e centralizada apenas no Estado como
poder decisório. Foi a partir da mudança na Constituição Federal Brasileira que começaram a
considerar aspectos por outra perspectiva que não só a utilitarista, com viés sustentável.
A partir disso, as tomadas de decisões passaram a ser de modo transversal e integrado,
para a utilização destes recursos. No estado de São Paulo foi criado o Plano Estadual de
Recursos Hídricos, através da Lei 9.034 de 1994 (SÃO PAULO, 1994), que dividiu a hidrografia
paulista em vinte e duas Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos, sendo essas geri-
das pelos Comitês de Bacias Hidrográficas, que visam garantir o uso sustentável e manutenção
dos recursos hídricos de interesse comum e coletivo (SIGRH, 2021).
Vilaça et al (2009) diz que a bacia hidrográfica, como unidade de planejamento, é impor-
tante para compreender as inter-relações que atuam em seu limite e caracterizam os proble-
mas ambientais. Diante do limite dessa área é que se pode avançar em planejar as disponibilidades
e demandas que se relacionam com o uso e ocupação em sua extensão.
Schiavetti e Camargo (2002) discorrem que os maiores impactos ocorridos em uma Bacia
Hidrográfica estão associados aos problemas de erosão, causando sedimentação e perda de
qualidade e quantidade da água. Estes impactos estão por vezes ligados a práticas não susten-
táveis de fins econômicos, sentidos pelas camadas mais vulneráveis da sociedade.
2 METODOLOGIA
Para a viabilização do trabalho foram desenvolvidas etapas de levantamento bibliográfico
acerca das características da APA do Timburi e da Bacia Hidrográfica do Córrego Timburi, bem
como consultas às leis ambientais no Brasil, nas esferas de APAs, APPs e recursos hídricos.
Como parâmetro para o recorte de nossa área de estudo, optou-se pela delimitação
espacial da bacia hidrográfica do Córrego Timburi, iniciando pelo exutório e baseando-se nas
curvas de nível, em conformidade com os cursos d’água. Foi criado um shape e sobre esta base
cartográfica, realizamos a sobreposição de outras informações pertinentes a temática.
Além disso, foram analisados os mapas de caracterização da área de estudo publicados
por Gonçalves (2021) e Moreira (2021), sobretudo os mapas de cobertura e uso da terra, que
foram elaborados pelo método de classificação supervisionada, no software ArcGIS, utilizando
a máxima verossimilhança. Ademais, foi realizada a intersecção do mapa de Uso e Cobertura
da Terra do ano de 2020 e buffers de 50 metros para nascentes e 30 metros na extensão dos
cursos d’água para delimitação de APP. Gerou-se, então, o produto cartográfico para análise de
áreas instáveis e com maior vulnerabilidade a processos erosivos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Bacia Hidrográfica do Córrego Timburi compõe a Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos dos Rios Aguapeí e Peixe (UGRHI-21) e está localizada em um dos pontos
mais afetados da APA pelo uso e cobertura da terra. Ao analisarmos o mapa de uso e cobertura
da terra em áreas de preservação permanente (Figura 2), percebeu-se que há poucos fragmen-
tos de vegetação nativa ao redor dos cursos d’água.
Fica exposto que a quantidade de área sem cobertura vegetal é maior que a disposta no
novo Código Florestal Brasileiro, conforme a Lei nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012), que estabelece
a recuperação de um raio mínimo de 15 metros, independentemente do tamanho da proprie-
dade. As nascentes são as mais afetadas, pois estão parcialmente ou totalmente sem a pre-
sença de vegetação. Isso gera a perda da função ecológica dessa área e desequilibra o sistema
ecológico, diminuindo a quantidade de espécies de plantas e animais presentes.
Os diferentes usos do solo estabelecem relações com a disponibilidade hídrica local. O
desgaste do solo exposto favorece a intensificação de erosões e perda de solos as margens das
nascentes, levando resíduos para o curso d’água que vai sendo sedimentado, reduzindo a vazão
dos rios e afetando o ciclo hidrológico. A alteração no regime de chuvas, bem como a influência
de fatores bióticos e abióticos no solo, reduz a capacidade produtiva.
De acordo com Gonçalves (2021), na extensão da APA há predominância de solos rasos e
desenvolvidos, com associação de argissolos, que apresentam diversos pontos de erosão linear.
A Embrapa (2020) explica que esses solos, que aparecem entre 8 a 20% de declive, tem mode-
rada fragilidade ambiental e são associados a menor retenção de umidade, logo, são mais sus-
cetíveis a erosão.
Elaboração: Autoral.
Este cenário mostra que em todo recorte da bacia hidrográfica, a ação antrópica provoca
contrariedade, visto que há uma alta demanda de recurso hídrico, mas que seu impacto gera
significativa diminuição do mesmo. É importante, neste sentido, trabalhar com políticas públi-
cas ambientais, como a educação ambiental para que os proprietários de terras possam coo-
perar com o desenvolvimento sustentável da APA.
As práticas conscientes devem melhorar a qualidade do ecossistema local e trazer bene-
fícios, como a reconstituição próxima a condição original e a garantia do aumento da biodiver-
sidade. As ações para mitigar os problemas em decorrência dos tipos de uso da terra, assim
como medidas preventivas sobre o uso sustentável na APA, manutenção e monitoramento
serão determinantes para o gerenciamento correto da bacia hidrográfica do Córrego Timburi.
Visando proteger e recuperar os mananciais, as técnicas de restauração ecológica con-
forme as potencialidades e fragilidades das áreas a serem restauradas, devem reduzir os efei-
tos da aceleração do escoamento superficial e das erosões no campo. Por consequência, haverá
redução do assoreamento nos cursos d’água.
Quanto aos processos de erosão que já existem, a técnica da paliçada de bambu como
contenção e o sistema de plantio direto para fixação de raízes, ambos para bloquear a
passagem de chuva e elementos que possam lavar os solos, são alternativas viáveis para evitar
o desenvolvimento de ravinas, sulcos e voçorocas.
Devem ser analisados os fatores de perturbação próximo às APPs para adequação
ambiental das propriedades rurais, catalogando espécies nativas e invasoras, formigas, piso-
teio e compactação por animais e máquinas, entre outros aspectos físicos e sociais que interfi-
ram na preservação dos recursos naturais.
Em consonância com a discussão aqui apresentada, e com a legislação ambiental vigente,
tem-se o desafio de buscar mecanismos para conter as implicações ambientais dos trabalhos
no campo. Mais especificamente, a resolução da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
32/2014 do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2014), pode garantir a melhoria da qualidade de
vida da população humana e integridade do equilíbrio ecológico de APP, RL e APA por meio da
restauração ecológica de áreas prioritárias.
A participação social no desenvolvimento de ações de planejamento e gestão dos recur-
sos hídricos realizadas pelos comitês de bacias hidrográficas, é fundamental para apresentar as
demandas e problemáticas em escala local. É pelo interesse público em conservar os recursos
naturais que podemos assegurar um bom desempenho de uma bacia hidrográfica.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que, na APA do Timburi, pelas formas de uso e ocupação da terra, grande
parte se revela em situação de vulnerabilidade (MOREIRA, 2021). A falta de vegetação no
entorno das Áreas de Preservação Permanente, bem como a pequena quantidade de extensão
de vegetação nativa neste recorte, mostra como o avanço das atividades agrícolas contribuem
para a degradação ambiental.
Das atividades exploratórias de uso antrópico expostas ao longo deste artigo, podemos
ressaltar o pisoteio do gado de corte e leiteiro, assim como a falta de manejo do pasto e cerca-
mento das APPs como uma problemática visível dos impactos da expansão da pecuária.
Isto resulta também na diminuição de infiltração e escoamento superficial, que leva a
perda de solos e os deixam mais suscetíveis a erosão e ao acúmulo de sedimento nos cursos
d’água. Por conseguinte, há diminuição na quantidade de água subterrânea disponível, atin-
gindo afluentes e rios que estão situados na bacia hidrográfica do Córrego Timburi. Em todo o
recorte da APA do Timburi, percebeu-se a quantidade de nascentes disponíveis que foram afe-
tadas por estes tipos de atividade. Já a retirada da cobertura vegetal para o cultivo de frutas e
verduras, também contribuiu significativamente para o cenário atual.
É válido destacar que o Rio do Peixe, do qual o Córrego Timburi é afluente, é responsável
por parte da captação de água para o abastecimento do Município de Presidente Prudente-SP.
Desse modo, as ações antrópicas empregadas ao longo da Área de Proteção Ambiental, serão
responsáveis pelos agravos numa futura crise hídrica.
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[ 451 ]
452 Maria Gabriela Damaceno; Gabriella de Lim; Ribeiro; Karla Cruvinel
landscape fragmentation in the UPGRH sub-watershed of the Affluents of Goiás do Baixo Paranaíba,
whose region presents very high-water balance and water quality pressure. For this purpose, land
use and land cover images were obtained, made available by the MapBiomas platform, Collection
6, for the years 1985, 2003 and 2020. Then, landscape metrics were obtained (Class Area, Edge
Density, Number of Fragments, Density of Fragments, Percentage of Landscape and Area-Weighted
Shape Index), through the Landscapemetrics package implemented in the RStudio software.
Between the years analyzed, land use and land cover were characterized by an increase in areas of
anthropic use to the detriment of areas with remnant vegetation. Soybeans showed the greatest
expansion among the years analyzed, mainly between 1985 and 2003. However, the Pasture class
stands out with the largest areas in all the years analyzed. The landscape metrics selected in the
study corroborated the analysis of land use and land cover, indicating a greater fragmentation of
the non-anthropic landscape with the increase in anthropogenic areas.
Keywords: Geoprocessing; Water management; Landscape metrics; Use of the soil; Farming.
1 INTRODUÇÃO
A fragmentação de uma área contínua em porções reduzidas e isoladas ocasionam a
perda dos serviços ambientais, da biodiversidade, erosões dos solos (MORAES et al., 2015).
Sendo que, para Cerqueira et al. (2003), a paisagem se configura como um sistema integrado
de componentes do meio ambiente e social. Ao se converter a cobertura vegetal natural, que,
segundo Santos (2020), desempenha processos ecológicos que influenciam o manejo e gestão
dos recursos naturais, para diferentes usos antrópicos ocorre a fragmentação da paisagem.
A modificação da paisagem natural a partir, por exemplo, da expansão de áreas urbanas
e agrícolas, ocasionam problemas relacionados a fragmentação da paisagem, além de proble-
mas relacionados aos recursos hídricos, devido a elevada demanda de água por esses setores.
Barros (2018), utilizou métricas de paisagem como ferramenta de avaliação dos efeitos da
urbanização, enquanto Cunha et al. (2014), utilizaram as métricas para avaliar a fragmentação
da vegetação em microbacia no estado do Mato Grosso.
Historicamente, a agricultura é o setor que mais consome água do mundo, seguidos por
usos industriais e urbanos, variando as taxas de acordo com a localidade (ANGELAKIS et al.,
2018). Assim, o planejamento dos recursos naturais, sobretudo em áreas com situações de
escassez hídrica, ganha relevância, na medida em que a expansão agrícola e urbana promove
pressão sobre os recursos hídricos, o que se mostra preocupante e requer uma melhor com-
preensão da sua dinâmica evolutiva.
Nesse contexto, a Unidade de Planejamento e Gerenciamento dos Recursos Hídricos
(UPGRH) dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba, localizado no sudoeste goiano, apresenta
crescente processo de expansão agrícola (DAMACENO et al., 2021 no prelo). Além de, conter
regiões com pressão do balanço hídrico e pressão da qualidade da água alta e muito alta,
segundo diagnóstico do Plano de Bacia (SEMAD, 2020). A pressão do balanço hídrico considera
as demandas de água e a disponibilidade hídrica superficial direta, em uma escala de 4 catego-
rias que vai de baixa a muito alta (SEMAD, 2020).
2 METODOLOGIA
A sub bacia está localizada na região sudoeste de Goiás e é caracterizada por apresentar
clima Aw, conforme a classificação de Koppen‐Geiger, ou seja, verão chuvoso e inverno seco,
com menores taxas de precipitação de abril a outubro, predomínio de Latossolos e baixa sus-
ceptibilidade erosiva, devido relevo plano (SEMAD, 2020).
A Figura 1 apresenta a área de estudo refere-se a sub bacia hidrográfica, onde estão inse-
ridos os municípios de Aparecida do Rio Doce, Caçu, Caiapônia, Cachoeira Alta, Jataí,
Paranaiguara, Perolândia, São Simão e oeste de Rio Verde, pertencentes a UPGRH dos Afluentes
Goianos do Baixo Paranaíba.
Esse recorte espacial foi selecionado, pois a região dos municípios inseridos na sub bacia
hidrográfica apresenta classificação da pressão sobre o balanço hídrico e pressão da qualidade
da água mais elevada em relação ao restante da UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo
Paranaíba (SEMAD, 2020).
Figura 1 – Localização da sub bacia hidrográfica Ottobacia Nível 5 e dos municípios integrantes
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba, se apresenta como uma unidade de
planejamento que conta com um grupo de bacias hidrográficas caracterizada pelos usos da
água e do solo majoritariamente voltados para agropecuária, com cerca de 72% da área da
UPGRH voltada para essas atividades (SEMAD, 2020).
No mapa de uso e cobertura do solo dos anos 1985, 2003 e 2020, é destaque o aumento
da mancha de soja dentro da área da sub bacia hidrográfica ao longo dos anos, bem como a
área urbanizada, na qual a agricultura se desenvolve no entorno. Outro ponto notório visual-
mente, é a redução dos fragmentos de Formação Florestal (Figura 2).
Figura 2 – Uso e Cobertura do solo na sub bacia hidrográfica Ottobacia Nível 5 (Considere A-1985,
B-2003 e C-2020)
Tabela 1 – Variação temporal do Uso e Cobertura do solo na sub bacia hidrográfica Ottobacia Nível 5
A área apresentou catorze classes de uso do solo, cujos valores em porcentagem, encon-
tram-se ordenados na Figura 3.
Observa-se um declínio da vegetação remanescente, composta por Formação Florestal,
Savânica e Campestre, com o passar dos anos (Figura 3). Contudo, entre 2003 e 2020 houve um
leve acréscimo nas áreas com Formação Florestal, que pode ter ocorrido devido a promulga-
ção do da Lei 12.651, em 2012. O novo Código Florestal apresenta mais medidas de regulariza-
ção da Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (APP) do que o Código anterior,
como por exemplo a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
As áreas naturais, composta pelas classes Área Pantanosa e Água, apresentaram configu-
ração oposta. Na classe de Áreas Pantanosas houve declínio no uso e cobertura do solo com o
passar dos anos, enquanto as áreas com Água aumentaram de 0,3% do território, em 1985 e
2003, para 0,5%, em 2020 (Figura 3). Nesse período, foram construídas barragens para a pro-
dução de energia elétrica nos principais rios da UPGRH (SEMAD, 2020).
De modo inverso, percebe-se um avanço entre 1885 e 2020 nas áreas de uso antrópico,
que contemplam as outras classes, inclusive as Áreas Urbanizadas. Classes como Mosaico entre
Agricultura e Pastagem; Lavouras temporárias; Café e Pastagem, cederam espaço para o cres-
cimento de áreas urbanas e culturas como soja e cana-de-açúcar (Tabela 1).
Soja foi a classe que apresentou maior expansão entre os anos analisados (23,8%), quase
se igualando com Pastagem em 2020. Entretanto, a classe de Pastagem se destaca, apresen-
tado predomínio em todos os anos analisados e quase 50% da bacia hidrográfica em 1985.
Os resultados corroboram Ponciano (2017), que apontou que a inserção da cana-de-açú-
car, em áreas anteriormente ocupadas por grãos e pastagem, vem impulsionando o avanço da
fronteira agrícola nas regiões Sul e Sudoeste de Goiás.
Figura 3 – Gráfico da variação temporal do Uso e Cobertura do solo na sub bacia hidrográfica Ottobacia
Nível 5 em porcentagem. (3 – Formação Florestal; 4 – Formação Savânica; 9 – Silvicultura; 11 – Área
Pantanosa; 12 – Formação Campestre; 15 – Pastagem; 20 – Cana-de-açúcar; 21 – Mosaico de Agricultura
e Pastagem; 24 – Área Urbanizada; 25 – Outras Áreas não Vegetadas; 33 – Água; 39 – Soja; 41 – Outras
Lavouras Temporárias; 46 Café.)
Figura 4 – Gráfico de métricas da paisagem por Uso e Cobertura do solo com evolução em 1985, 2003
e 2020. (3 – Formação Florestal; 4 – Formação Savânica; 9 – Silvicultura; 11 – Área Pantanosa; 12 –
Formação Campestre; 15 – Pastagem; 20 – Cana; 21 – Mosaico de Agricultura e Pastagem; 24 – Área
Urbanizada; 25 – Outras Áreas não Vegetadas; 33 – Água; 39 – Soja; 41 – Outras Lavouras Temporárias;
46 Café.)
quatro vezes de 1985 para 2020. A métrica de Porcentagem da Paisagem (PLAND) é comple-
mentar à métrica CA, o que permitiu verificar que a classe de maior representatividade na pai-
sagem em todos os anos é Pastagem (classe 15).
O sudoeste goiano, onde insere-se a sub bacia hidrográfica em análise, a partir da década
de 1980 passou por um processo de modernização da agricultura, com incentivo de diversos pro-
gramas, com destaque para o PRODECER (Programa Nipo-Brasileiro de Desenvolvimento Agrícola
da Região dos Cerrados) (MATOS; PESSÔA, 2012). Nesse período houve a introdução da cultura
da soja na região. Logo, observa-se a relação de aumento das áreas destinadas à agropecuária na
região, e a redução de vegetação nativa, como expresso nas métricas de CA e PLAND.
Quando o número de fragmentos (NP) é reduzido em uma determinada classe pode indi-
car que houve redução da fragmentação, caso a área total daquela classe for aumentada, indi-
cando por exemplo, a interligação entre fragmentos. No entanto, se o número de fragmentos
for reduzido e a área da classe também reduziu indica que houve supressão daquela classe.
Neste estudo, o NP na classe formação savânica aumentou em 12% entre 1985 e 2003 e redu-
ziu 17% em 2020, em relação a 2003, no entanto a CA apenas reduziu entre os anos, expres-
sando a atual redução das formações savânicas e aumento da fragmentação nessa classe.
Metzger (1999), afirma que a riqueza de espécies é diretamente proporcional ao tamanho de
um fragmento florestal. Logo, a análise realizada indica que na área da sub bacia hidrográfica a
biodiversidade foi comprometida.
Na classe área urbanizada (classe 24), houve redução em 53% da métrica NP e o aumento
da CA entre 1985 e 2020. Esses valores apontam para o aumento das áreas urbanas com liga-
ção entre os bairros antes desconexos, ou seja, foram agrupados, uma tendência comum dessa
região do estado nesse período. Um exemplo, no município de Jataí, que apresenta área mais
representativa dentro da sub bacia hidrográfica, houve um intenso processo de urbanização
entre 1970 e 1991, onde a população urbana passa de 48% para 81,3% (GALINDO; SANTOS,
1995). De acordo com o último censo (IBGE, 2010), Jataí é o 12° município mais populoso do
estado de Goiás, com 88.006 habitantes.
Outra métrica de análise de fragmento é a Densidade de Fragmentos (PD), que mede a
densidade dos fragmentos calculados a partir do NP por cada 100ha. Áreas com alto PD são
mais fragmentadas, sendo uma métrica diretamente ligada a NP. Nesse caso, apresenta o grá-
fico com o mesmo comportamento do NP, com significativa redução da métrica PD nas áreas
de classes da paisagem não antropizadas, o que indica a extinção dos fragmentos nessas clas-
ses, reduzindo assim a densidade por cada 100ha. Tal inferência é possível devido a redução da
área dessas classes, caso as áreas não antropizadas sofressem um aumento entre os anos sig-
nificaria uma união desses fragmentos.
A análise da borda do fragmento é importante para definir as áreas que estão mais sujei-
tas a sofrerem alterações pela matriz da paisagem. Sendo adotado a métrica Densidade de
Borda (ED), na qual valores altos apontam para um maior efeito de borda. Em geral, as classes
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os anos analisados o uso e cobertura do solo na sub bacia hidrográfica inserida na
UPGRH dos Afluentes Goianos do Baixo Paranaíba apresentou-se caracterizado pelo aumento de
áreas de uso antropizado em detrimento as áreas com vegetação remanescente. A classe de Soja
apresentou a maior expansão entre os anos analisados, principalmente entre 1985 e 2003.
Entretanto, a classe de Pastagem se destaca com as maiores áreas em todos os anos analisados.
Acrescenta-se a esses resultados a análise da paisagem com o uso das métricas, que
revelou o aumento da fragmentação de áreas não antropizadas ao longo dos anos de 1985 e
2020, essa fragmentação está relacionada ao aumento das áreas de uso antropizado, como
descrito em cada uma das métricas realizadas na sub bacia hidrográfica.
O predomínio de áreas agrícolas e urbanas sobre áreas com vegetação natural configu-
ram uma crescente preocupação ambiental, em virtude das problemáticas envolvidas nesse
contexto. Assim, destaca-se a importância do estudo de uso e cobertura do solo, com vistas a
minimizar os danos ambientais decorrentes da fragmentação da vegetação nativa.
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Resumo: A reconfiguração do território do Valle del Cauca envolveu mudanças radicais na utilização
água que passou ser usada na irrigação dos cultivos de cana, modificando as dinâmicas sociais, pois
impactou sobre o direito fundamental ao recurso hídrico para os habitantes, tanto das cidades,
como do campo. O objetivo é analisar os impactos que têm gerado expansão da fronteira agrícola
canavieira sobre o uso da água; a inequidade na distribuição desta fonte natural tem sido foco de
disputas entre a população atingida e as elites econômicas da região, pois foi impactada em um
direito primordial, o acesso à água. Isto gerou uma serie de contradições no modelo implantado
nesta área que é embalado pelo discurso do desenvolvimento para todos. Destaca-se a importância
de conhecer o processo de apropriação privada e exploração da natureza que compõe esse territó-
rio, especialmente as fontes hídricas da bacia do Rio Cauca, fortemente deterioradas pelo uso inten-
sivo. Tomando essa realidade como central, a análise aqui proposta está organizada a partir de
fontes documentais e dados secundários que nos permitiram fazer análise crítica das condições que
estão impactando o Valle. Como resultado evidencia-se que, a apropriação das fontes hídricas está
alterando a organização territorial das comunidades locais, pelas ações do agronegócio, composto
por parte dos agentes capitalistas que é beneficiado pelas políticas públicas, especialmente a elite do
setor canavieiro, que, em muitas situações, não cumprem as normas ambientais, apoiadas nas nar-
rativas de que a expansão da fronteira agrícola traz benefícios para a região.
Palavras-chave: agronegócio; fontes hídricas; cana de açúcar; reconfiguração da paisagem; bacia
hidrográfica.
Abstract: The reconfiguration of the territory of Valle del Cauca has involved radical changes in the
use of water for the irrigation of sugarcane crops, changing the social dynamics, since it has impac-
ted on the fundamental right to water resources for both urban and rural inhabitants. The objec-
tive is to analyze the impacts that have generated the expansion of the sugarcane agricultural
[ 463 ]
464 Marggie Vanessa Serna F; Sabrina Carlindo Silva; Carlos Andrés Castañeda; Dimas Moraes Peixinho
frontier on the use of water; the inequality in the distribution of this natural source has been the
focus of disputes between the affected population and the economic elites of the region, because
it impacted on a primordial right, the access to water. This has generated a series of contradictions
in the model implemented in this area that is packaged by the discourse of development for all.
The importance of knowing the process of private appropriation and exploitation of the nature
that makes up this territory stands out, especially the water sources of the Cauca River basin,
strongly deteriorated by intensive use. Taking this reality as central, the analysis proposed here is
organized from documentary sources and secondary data that have allowed us to make a critical
analysis of the conditions that are impacting the Valley. As a result, it is evident that the appropria-
tion of water sources is altering the territorial organization of local communities by the actions of
agribusiness, composed of part of the capitalist agents who are benefited by public policies, espe-
cially the elite of the sugarcane sector, which, in many situations, do not comply with environmen-
tal regulations, supported by the narratives that the expansion of the agricultural frontier brings
benefits to the region.
Keywords: agribusiness; water sources; sugarcane; landscape reconfiguration; watershed.
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é analisar os impactos decorrentes da expansão da fronteira agrí-
cola canavieira sobre o uso da água no Valle del Cauca; a inequidade na distribuição desta fonte
natural tem sido foco de disputas entre os habitantes das cidades e o setor da agroindústria
dominado pelas elites econômicas que estão modificando radicalmente as dinâmicas naturais
dos ecossistemas naturais. Isto gerou uma série de contradições no modelo implantado nesta
área para o progresso e desenvolvimento de todos. Destaca-se a importância de conhecer o pro-
cesso de apropriação e exploração do médio natural deste território, especialmente as fontes
hídricas da bacia do Rio Cauca, fortemente deterioradas pelo aproveitamento intensivo.
O Valle del Cauca tem se destacado pelo conglomerado da cana de açúcar desde o
século XIX; vários fatores foram determinantes para a conformação deste monopólio. A
influência de elites econômicas, políticas e do Estado propiciaram o fortalecimento de um
modelo econômico de substituição de importações para logo passar ao modelo de liberação
econômica, mas especificamente com benefícios à elite do setor canavieiro, protegido e sub-
sidiado (DELGADILLO 2014).
O uso deste modelo neoliberal pelos governos da Colômbia é baseado no discurso da
apertura econômica e o modelo de desenvolvimento extrativista, o qual contribuem a consti-
tuição de “uma plataforma territorial de competividad capitalista atraente as indústrias y agro-
negócios”(BUITRAGO, 2016, p. 239). No cenário. territorial do Valle del Cauca apresentam-se
fortes contradições sociais, propiciadas pelas políticas capitalistas que sustentam o desenvol-
vimento econômico do país, fundamentado na com base na desapropriação da região das suas
riquezas naturais (BUITRAGO, 2016).
Esta região é caraterizada pela abundância das fontes hídricas não só superficiais tam-
bém subterrâneas. Embora, com a expansão da fronteira agrícola se foram levando a execução
obras que como consequência modificaram radicalmente as dinâmicas naturais dos
O monopólio canavieiro se fortalece ainda mais no final do ano de 1920; (CABAL, 2015) a
proliferação de engenhos foi estabelecida e expandida por três grupos de família, as quais tive-
ram o controle dos meios de produção do açúcar. Os grupos eram o Eder, Cabal e Caicedo. É
aqui vai se conformando uma elite com interesses compartilhados. “Lo que señalaba un claro
derrotero comercial a los empresarios locales” (SÁNCHEZ; SANTOS, 2014, p. 202).
Cada grupo familiar había fundado uno de los primeros tres ingenios que hasta 1930
existían en el Valle del Cauca. El primero fue Manuelita de los Eder, después en 1926
aparece Central Azucarero del Valle S.A que desde 1954 es conocido como Ingenio
Providencia, fundado por Modesto Cabal Madriñan, finalmente, en el año 1928
Hernando Caicedo Caicedo inaugura Ingenio Riopaila S.A y se instala la fábrica de
azúcar en el corregimiento de La Paila (CABAL, 2015)
No mesmo sentido, Uribe (2018) expõe que nesta mesma década, a empresa capitalista
canavieira recebeu importantes incentivos tanto das políticas da reforma agraria como da Lei
361 de 1964 a qual deu poder para legitimar terrenos ao seu favor. As reconfigurações econó-
micas, sociais e rurais surgiram por iniciativas internacionais para promover o desenvolvimento
da agroindústria açucareira por meio da Missão Agrícola Porto-riquenha que, na direção de
Carlos Fernando Chardón, no ano de 1930, vislumbrando o futuro do negócio do açúcar na
região. (Uribe, 2018). Bem como, “paquetes tecnológicos promovidos por centros de investiga-
ción como el Centro Nacional de la Caña de Azúcar –CENICAÑA– y el Centro Internacional de la
Agricultura Tropical –CIAT-, préstamos del Banco Interamericano de Desarrollo y el Banco
Mundial”(URIBE, 2018, p. 72).
Esta tendência para o monopólio agrícola ao longo do século XX e até ao presente foi
possível graças a uma série de acontecimentos históricos, sociais, políticos e económicos que,
combinados, produziram as condições precisas para a descolagem agroindustrial da indústria
da cana de açúcar nesta região (URIBE, 2017). Só para dar uma ideia da escala desta edição, dos
440.000 ha que compõem o vale geográfico do rio Cauca, em 2016 havia pelo menos 238.204
ha plantados com culturas de cana de açúcar (ASOCAÑA, 2017)
Atualmente o setor canavieiro está conformado por 14 plantas produtoras de açúcar, 13
plantas geradoras de energia e 7 (sete) destilarias de bioetanol. Tem uma área de coleta de
207.083 hectares. Esta presente em 51 municípios, 6 (seis) estados (Valle del Cauca, Cauca,
Risaralda, Caldas, Quindio e Meta). Com uma produção de 13,3 toneladas de acuar por hectare
(TAH) e 119,61 toneladas de cana por hectare (TCH).
O conglomerado do açúcar no Valle del Cauca tinha afeitado diretamente a estrutura do
campesinato nesta região, não só no social, mas também daqui para frente esta elite, aproveitou
cada oportunidade, por médio de políticas neoliberais dos governos de turno para poder fazer
prosperar o agronegócio, chegando a alteração dos ecossistemas naturais que fazem parte do
Rio Cauca. Estas obras “se enfocaron en controlar estas aguas para la producción de energía a
partir de la construcción del Embalse La Salvajina, la canalización de las aguas, la construcción de
diques y la desecación de importantes lagunas y humedales”(URIBE, 2018, p. 71).
Fonte: Mapa elaborado pelos autores com dados retirados de (CVC, 2017). QR para mapa
de alta resolução
e é constituída por dois sistemas fluviais hidrográficos (ver quadro 1) classificados como rios
torrenciais de curta duração, com declives acentuados e ligados ao regime pluviométrico. Este
comportamento deve-se à proximidade do Oceano Pacífico ao departamento, que é influen-
ciado pela presença de fenómenos oceânicos atmosféricos periódicos que alteram os seus
padrões de circulação atmosférica, provocando uma diminuição e/ou aumento da precipitação
e, portanto, um aumento e/ou diminuição dos fluxos na área; destes fenómenos, o mais conhe-
cido e mais estudado é o Niño Oscilação do Sul (ENSO), fase quente e fase fria, este último
denominado La Niña (CVC, 2017).
Tabela 1 – Área e Caudais da Bacia do Rio Cauca Secção Valle del Cauca. Fonte – Elaborado por autores
com dados (CVC, 2018)
Caudal específico da bacia do rio Cauca no departamento de Valle del Cauca Secção Ano (2018)*
* Q= Fluxo corresponde a um cálculo da média mensal plurianual em períodos diferentes para cada bacia.
6 A cordilheira dos Andes ao passar pela Colômbia está dividida em três sistemas de cordilheira ocidental, central e orien-
tal no complexo montanhoso do maciço colombiano.
acima do nível do mar, e pela vertente oriental da cordilheira ocidental7, com 18 rios diretos
que têm origem em altitudes próximas dos 4.000 metros acima do nível do mar8 (CVC, 2017).
Figura 1 – Esquema Transversal da Bacia do Rio Cauca no Estado de Valle del Cauca
Fonte: Mapa elaborado pelos autores com dados retirados de (CVC, 2017). Código QR para mapa de alta resolução.
7 Ibídem 1
8 Os afluentes dos rios da margem direita da bacia do rio Cauca na secção do departamento do Valle del Cauca são
17: Desbaratado, Guachal Fraile e Bolo, Amaime, El Cerrito, Sabaletas, Guabas, Sonso, Guadalajara, San Pedro, Tuluá,
Morales, Bugalagrande, La Paila, Las Cañas, Los Micos, Obando e La Vieja,
Guadalajara, San Pedro, Tuluá, Morales, Bugalagrande, La Paila, Las Cañas, Los Micos, Obando e La Vieja, e na margem
esquerda são 18: Timba, Claro, Jamundí, LiliMeléndezCañaveralejo, Cali, Arroyohondo, Yumbo, Mulaló, Vijes, Yotoco,
Mediacanoa, Piedras, RíoFrío, Pescador, RUT, Chanco, Catarina e Cañaveral.
9 O território colombiano e especificamente o departamento de Valle del Cauca estão localizados na faixa tropical do
hemisfério norte, muito perto da linha equatorial entre 03° e 05° de latitude norte.
caña de caña azúcar, desconociendo los atributos, productos y funciones que cum-
plen estos ecosistemas. (URIBE, 2018a, p. 13)
Neste sentido, o modelo neoliberal usado pelos governos da Colômbia é baseado no dis-
curso da apertura econômica e o modelo de desenvolvimento extrativista, o qual contribuem
a constituição de “uma plataforma territorial de competividad capitalista atrayente a indus-
trias y agronegócios”(BUITRAGO, 2016, p. 239). No escenario territorial do Valle del Cauca pre-
sentam-se fortes contradições sociais, propiciadas pelas políticas capitalistas que sustentam o
desenvolvimento econômico do país, fundamentado na com base na desapropriação da região
das suas riquezas naturais. (Buitrago, 2016).
O agronegócio da cana de açúcar foi capaz de alinhar os seus interesses com os do neo-
liberal Estado colombiano, convertido num estado neoliberal através da Constituição de 1991,
para territorializar e dominar a terra, a água e a terra, água e para aproveitar o excedente de
mão-de-obra despojada dos meios de produção. (Buitrago, 2016). Com isto a reconfiguração
do território envolveu mudanças radicais na utilização em abundância de água para irrigação
dos cultivos de cana de açúcar, modificando as dinâmicas sociais, sobre o direito fundamental
ao recurso hídrico para os habitantes das cidades em torno do agronegócio.
El servicio se suple a través de la compra del agua a vendedores ambulantes que lle-
van tanques plásticos de 1 m3 en pequeñas camionetas, quienes cobran, por un gar-
rafón de 5 galones (equivalente a 19 litros), entre $500 a $800 pesos colombianos2
(us $0,25 a us $0,4). Esto equivale a decir que un hogar puede llegar a pagar por
metro cúbico de agua entre $26.300 y $42.105 pesos colombianos (us$13,15 y
us$21,05), valores extremadamente superiores a los $1.300 (us$0,65) por m3 que
paga un usuario a la Empresa Municipal de Servicios Públicos de Cali (EMCALI).
(BUITRAGO, 2016, p. 247)
Embora isto pareça inconcebível, estudos realizados pelos professores (Pérez y Álvarez,
2013 apud Buitrago, 2016), indicam que, os grandes engenhos canavieiros pagam um valor
inferior pela taxa de uso da água10. Para agua superficial de $24,6 por m3 (us$0,0123) y para a
água subterránea é de $0,82 por m3 (us$0,00043). (BUITRAGO, 2016, P. 247). Isto para os usu-
rários inscritos no cadastro da autoridade ambiental regional.11 cobrada en promedio para
todos los usuarios inscritos en el catastro de la autoridad ambiental regional4—, para água
superficial, es de $24,6 por m3 (us$0,0123) y, para el agua subterránea, de $0,82 por m3
(us$0,00043).(BUITRAGO, 2016, P. 247).
Neste sentido, pagam um valor inferior pelo consumo da água no município evidenciando
o poderio das elites económicas e ambientais, permanecendo os incentivos para a expansão
deste agronegócio “afianzando su territorialidad y ampliando sus territórios capitalistas. Cuando
un hogar pobre puede llegar a pagar 1.700 veces más por el agua que un rico cañicultor, existen
sobradas evidencias de que allí hay injusticia social” (BUITRAGO, 2016, p. 247).
O Rio Cauca fornece água a diferentes setores da economia e da população, cada um dos
quais utiliza certa porcentagem de seu fluxo. No quadro 1, pode-se observar que o setor agrí-
cola usa quase a totalidade na água superficial e subterrânea da bacia; o uso intensivo desta
fonte para irrigação alcança do 40% ao 60%, enquanto a percentagem restante se perde por
evaporação ou infiltração no solo. (PERAFAN, 2005)
Fonte: (CORPORACIÓN AUTONOMA REGIONAL DEL VALLE DEL CAUCA: Plano de ação de três anos 2001-2003. Plan de acción trienal 2001-2003:
Construyendo una cultura ambiental para el Valle del Cauca. Santiago de Cali: CVC. 2001. Pág. 70, 72, 74.apud PERAFAN, 2005, p. 14)
10 Instrumento de gestão económica criado pela Lei 99 de 1993 para angariar fundos para a proteção e renovação dos
recursos hídricos. Pagamento pela utilização de uma concessão de água. Serve para financiar a conservação e a utiliza-
ção eficiente das bacias hidrográficas.
11 Corporação Autónoma Regional CVC é a autoridade ambiental regional encarregada pelo ministério de executar políti-
cas ambientais em relação ao ambiente e aos recursos naturais. No caso do departamento de Valle del Cauca, chama-se
CVC.
Por conseguinte, pode-se evidenciar que o deterioro das fontes hídricas da bacia do Rio
Cauca gera problemáticas ambientais, sociais e econômicas na região, afeitando as comunidades
locais; isto envolve diferentes atores econômicos e políticos onde o Estado como agente de poder
gerou ações para proteger e incentivar a expansão da fronteira agrícola passando por alto as con-
sequências do crescimento econômico do setor agroindustrial da cana de açúcar. Entre algumas
das consequências, mas relevante é a distribuição desigual do uso da agua, demostrando que o
país tem uma normativa laxa na proteção e conservação das fontes naturais.
2 METODOLOGIA
Este trabalho é de revisão documental, como o fim de atingir o objetivo do artigo, foi rea-
lizada uma pesquisa intensiva de fontes secundárias de informação, tais como documentos e
pesquisa sobre questões temáticas enfocadas aos impactos ambientais e sociais que trouxe a
agroindústria canavieira no Valle Del Cauca. Foi revisada literatura especializada nacional a fim
de explorar as diferentes perspectivas dos investigadores que discutiram esta temática.
Analisaram-se as diferentes abordagens dos autores mais reconhecidos em investigações sobre
a reconfiguração da paisagem natural da região, os impactos dos usos da agua pelo setor cana-
vieiro e os impactos que a estimulação do Estado colombiano como mecanismo de poder
encorajou, estimulou e promoveu ao sector sucroenergético através de isenções ficais e outros
mecanismos como subsídios econômicos, licenças ambientais flexíveis e proteção da elite eco-
nômica da região com o objetivo da expansão acelerada da fronteira agrícola.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultado evidencia-se uma riqueza hídrica na região em todos seus componentes
geofísicos que contrasta com o despojo das fontes hídricas às comunidades locais das cidades
do agronegócio por parte dos agentes capitalistas do estado por meio de políticas públicas, eli-
tes do setor canavieiro e normas laxas das autoridades ambientais com o objetivo de expandir
a fronteira agrícola e o poderio sobre a região.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso fomentar a criação de políticas encaminhadas para um melhor uso e distribui-
ção da água, onde seja priorizado o uso para consumo humano. Neste sentido, que às entida-
des de gestão ambiental no Valle del Cauca modifiquem a normativa sobre os valores da taxa
do uso da água para a agroindústria da cana de açúcar.
De forma paralela fornecer às entidades regionais instrumentos que permitam rigidez na
proteção das fontes naturais, especialmente as fontes hídricas. Além, projetar programas edu-
cativos por parte das instituições educativas de todo o departamento para fomentar o conhe-
cimento do uso sustentável destas fontes naturais respeito às monoculturas.
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1 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: agustina.etchissure@estudiantes.utec.edu.uy
2 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: agustina.sismande@estudiantes.utec.edu.uy
3 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: karen.acosta@estudiantes.utec.edu.uy
4 Docente de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Durazno,
Uruguay. E-mail: lucas.vituri@utec.edu.uy
[ 476 ]
EVALUACIÓN DEL ESTADO TRÓFICO MEDIANTE USO DE TELEDETECCIÓN EN EL EMBALSE CANELÓN GRANDE 477
Abstract: The advance of anthropogenic activities and the decrease in the quality of surface water
raises the need for the use of new tools as a source of information for the management of water
resources, such as the use of tools for quantifying contamination of reservoirs using remote sen-
sing and geoprocessing. The objective of this study was to compile a bibliography and data proces-
sing to evaluate the spatial and temporal variability of the trophic state in the Canelón Grande
reservoir located within the Santa Lucía basin, through the analysis of the content of chlorophyll-a
and total phosphorus, monitored by the Ministry of the Environment. These data collected for the
period from 2016 to 2020 were compared with the remote quantification of chlorophyll content
using Sentinel-2 image geoprocessing products. The results show great similarity between the
chlorophyll contents and their respective correlation with the high phosphorus demand. In 2017,
the Canelón Grande reservoir presented a hypertrophic state in the in situ analyzes and satellite
images and a subsequent decrease in the amount of chlorophyll and state of eutrophication in
2020. This type of methodology expands the monitoring capacity of the environmental manage-
ment of basins for better management of the quality of water resources affected by diffuse sour-
ces from agro-industrial activities.
Keywords: eutrophication, water quality, Sentinel-2, water resources management, Canelón
Grande
1 INTRODUCCIÓN
La calidad del agua juega un rol fundamental tanto en la salud de la población como en
las funciones ecosistémicas, significando una de las principales variables de desarrollo econó-
mico y social. La calidad del agua es mayormente afectada ante las actividades antropogénicas,
con la modificación de los parámetros fisicoquímicos (temperatura, pH, conductividad eléc-
trica, entre otros). Estas modificaciones son producto de fuentes de contaminación puntuales
o difusas, las cuales se caracterizan principalmente por la identificabilidad de la proveniencia
de las mismas (CASTRO et al., 2014).
Se reconoce en Uruguay una creciente preocupación debido a esa situación. Entre otros
informes se destacan los referidos a la cuenca hídrica del río Santa Lucía, con el fin de estudiar y
analizar la calidad de agua en una de las principales cuencas hidrográficas de nivel 1 del país.
Dispone de una red hidrológica particular que abastece de agua potable a un 60% de la población
aproximadamente. Se encuentra ubicada hacia el sur del país, dentro de las principales zonas
agropecuarias del mismo. En estos informes se han presentado los análisis pertinentes con res-
pecto a múltiples parámetros, asimismo el creciente desarrollo de las actividades agropecuarias
y el rol que juegan en la calidad del agua, ha generado que se lleven a tomar decisiones, dicho
esto en mayo de 2013, el Ministerio de Medio Ambiente propuso un plan de acción con el obje-
tivo de garantizar la calidad y cantidad de agua, además de ordenar el uso de este recurso, se
planteó un programa de monitoreo distribuidos en toda la cuenca (MVOTMA, 2017).
Las actividades agrícolas, ganaderas y forestales han aumentado en los últimos años en
el territorio uruguayo, como consecuencia han llevado a degradar los cursos de agua debido al
transporte de los contaminantes generados desde estas actividades contribuyendo con el
exceso de nutrientes en las aguas (AUBRIOT et al., 2017).
2 METODOLOGÍA
2.1 Área de estudio
El área de estudio se encuentra en el embalse Canelón Grande, construido en el año
1955. Tiene como principal cometido servir de reserva de agua para el sistema Metropolitano
(Montevideo y alrededores) para el abastecimiento de agua potable y sistemas de riego. Posee
un volumen de agua de 22.5 millones de m³ y un área de 8.38 km2. Se encuentra en el arroyo
Canelón Grande, es un curso fluvial uruguayo que nace en San Bautista y desemboca en el río
Santa Lucía atravesando todo el departamento de Canelones (Figura 1).
Figura 1 – Localización del área de estudio en el territorio uruguayo, mapa de altimetría del área del
Embalse Canelón Grande y localizaciones de las estaciones de monitoreo de calidad
temporal de los datos correspondientes a los muestreos en las tres estaciones de monitoreo.
En la visualización de los datos se trata de plasmar de manera eficiente el flujo y transformacio-
nes espacial y temporal. Adicionalmente se evaluó el contenido de clorofila aplicando técnicas
de procesamiento de datos orbitales, utilizando el indicador del estado trófico del embalse en
relación al vínculo entre la concentración de nutrientes, en particular el fósforo, y la produc-
ción de algas monitoreadas in situ.
Fueron utilizadas imágenes de la misión Sentinel-2, una constelación de dos satélites
idénticos e instrumentos multiespectrales de escoba (MSI) que se lanzaron el 24 de junio de
2015 (Sentinel-2A) y el 7 de marzo de 2017 (Sentinel-2B) por la Agencia Espacial Europea (ESA).
El sensor tiene una alta precisión principalmente para lo que es el estudio de la calidad del
agua, cuenta con 13 bandas espectrales que abarcan desde el visible y el infrarrojo cercano
hasta el infrarrojo de onda corta y juntos tienen una resolución de 5 días. (GATTI & BERTOLINI,
2013). Las imágenes fueron procesadas y analizadas en SNAP (Sentinel Application Platform).
Las imágenes de nivel 2a provienen sin corrección atmosférica, para procesar los datos
de Sentinel-2 se aplica el método semi empírico en el procesador C2RCC, éste además de rea-
lizar la corrección atmosférica, genera propiedades ópticas inherentes a la concentración de la
clorofila en distintas unidades (mg/m³), (g/m³) y (m/1). Este método se basa en tecnología de
red neuronal y ha sido entrenado en rangos extremos de dispersión y propiedades de absor-
ción, también brinda la posibilidad de agregar información de fondo adicional, como elevación
de la salinidad, la temperatura del ozono y la presión del aire, para mejorar aún más los resul-
tados. (SERCO ITALIA SPA, 2020).
Una vez analizado el comportamiento gráfico se evalúa como este parámetro se com-
porta en toda la serie temporal con el fin de adquirir datos provenientes de información sate-
lital en donde se pretende visualizar un momento específico del contenido de clorofila en el
embalse. Para detectar patrones de distribución de la clorofila-a en el embalse se realizó el
análisis de contenido de clorofila, basados en la concentración estimada contenida en cada
pixel que incluye un valor propio de concentración de clorofila-a.
3 RESULTADOS Y DISCUSIÓN
El análisis in situ en el periodo de 2016 a 2020 presentó un promedio de concentraciones
de clorofila-a de 10.21±4.8 μ/L en la estación CG01 y 15.38±29.48 μ/L en la estación CG03, reve-
lando una carga elevada de nutrientes que llegan al embalse (desde la entrada a la salida). Hecho
comprobado con las concentraciones de fósforo total que presenta, respectivamente para las
estaciones CG01, CG03 y CG04, 693.22±252.45 μ/L, 767.57±146.27 μ/L, 969.38±154.33 μ/L.
Analizando el comportamiento temporal para la estación CGO1 la clorofila-a presentó
concentraciones mínimas de 2.7 y máximas de 17 µg/L (Figura 2). Se observa que a partir del
año 2017 la concentración de clorofila-a en el embalse comienza a aumentar considerable-
mente hasta el año 2020, siendo este último donde se encuentra por encima del valor máximo
permitido (10 μg/L). La estación CG03 presentó valores mínimos de concentración de 2.4 y
máximos de 75.5 µg/L, este se presenta en febrero del año 2017 que según MVOTMA (2018)
en ese periodo el arroyo Canelón Grande evidenció un estado hipertrófico (superiores a 70
µg/L). Para los demás años de estudio este parámetro se presenta por debajo del valor máximo
permitido (10 μg/L).
En base al fósforo total en todas las estaciones de muestreo se presentó de forma muy
variable, con concentraciones mínimas de 370 μg/L (CG01), 550 μg/L (CG03), 760 μg/L (CA04)
y concentraciones máximas de 1180 μg/L (CG01), 1040 μg/L (CG03) y 1200 μg/L (CA04). El fós-
foro total exhibió valores por encima de las concentraciones máximas (25 μg/L) en todo el
periodo de estudio y en todas las estaciones de muestreo. Se observó una relación entre las
altas concentraciones de clorofila-a y fósforo total en el año de 2017 y una posterior reducción
(Figura 3). Según MVOTMA (2018) existe una relación directa entre la clorofila-a y el fósforo
total, la cual es sustentada por diversos estudios.
Figura 3. Variación espacial de concentración de clorofila estimadas con las imágenes de Sentinel-2
para del Embalse Canelón Grande
4 CONSIDERACIONES FINALES
En la evaluación de la capacidad de las metodologías elegidas para cuantificar el impacto
por la eutrofización, las variaciones temporales y espaciales de la calidad del agua en el embalse
Canelón Grande para el periodo de 2016 al 2020, demuestran la gran capacidad de los datos
satelitales para percibir los cambios espaciales distribuidos a lo largo del embalse, aunque pre-
senta dificultades en cuanto a la evaluación de imágenes con un alto porcentaje de nubosidad.
Por otra parte, los datos tomados in situ solo evalúan medidas puntuales, es decir, no conside-
ran otras zonas del embalse.
Las metodologías utilizadas se complementan a la hora de brindar información relevante
para la elaboración de una propuesta de gestión de los recursos hídricos. Involucrando protec-
ción y prevención frente a la contaminación oriunda de las actividades agroindustriales y
urbanización de la cuenca Santa Lucía. El uso combinado de estas técnicas utilizadas aporta un
conjunto de informaciones con capacidad de análisis espacio-temporal del estado trófico,
como herramienta de gestión para mitigar y reducir los impactos y riesgos que se presenten en
el ambiente.
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Resumen: Los impactos ambientales son aquellas alteraciones del medio ambiente provocadas de
manera directa o indirectamente por las actividades antropogénicas o naturales. Las diferentes
actividades antropogénicas susceptibles a impactos ambientales en cualquiera de sus fases, deben
someterse a un sistema de Evaluación de Impacto Ambiental. Este tipo de evaluación es funda-
mental para protección de la calidad y sustentabilidad de los recursos naturales. En este estudio el
objetivo fue realizar la cuantificación del riesgo del impacto ambiental sobre el vertedero de la
ciudad de Tacuarembó en la cuenca del arroyo De la Piedra Sola, teniendo en cuenta los sitios pro-
pensos a mayor carga contaminante a partir de un enfoque cuantitativo de zonificación con el uso
de sobreposición de mapas. La metodología utiliza una base de datos georreferenciados y técnicas
de geoprocesamiento para evaluar la vulnerabilidad de los recursos hídricos superficiales en la
microcuenca donde se localiza el vertedero, como propuesta de monitoreo y gestión sostenible
del territorio para evaluar el riesgo a la contaminación de los recursos hídricos superficiales. La
metodología presentó gran capacidad de delimitar zonas de riesgo de contaminación de los recur-
sos hídricos, entretanto, no hace buena descripción de contaminación entre microcuencas. Pero
se puede usar este estudio previo como ejemplo de implementación de metodologías de geren-
ciamiento de riesgo. Mismo que no sea indicado para la contaminación del vertedero el índice uti-
lizado puede servir para evaluación de contaminaciones difusas de actividades agroindustriales o
riesgos de degradación del suelo por erosión.
Palabras-clave: impacto ambiental, vertedero, lixiviados, ordenamiento ambiental
1 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: facundo.almada@estudiantes.utec.edu.uy
2 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: maria.aguiar.m@estudiantes.utec.edu.uy
3 Estudiante de la carrera de Ingeniaría Agroambiental. Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC ITR Centro Sur, Dura-
zno, Uruguay. E-mail: maria.cha@estudiantes.utec.edu.uy
4 Docente de la carrera de Ingeniaría Agroambiental Universidad Tecnológica del Uruguay UTEC. ITR Centro Sur, Durazno,
Uruguay. E-mail: lucas.vituri@utec.edu.uy
[ 484 ]
METODOLOGÍA PARA EVALUACIÓN DE IMPACTO AMBIENTAL DE VERTEDERO 485
Abstract: Environmental impacts are those alterations to the environment caused directly or indi-
rectly by anthropogenic or natural activities. The different anthropogenic activities susceptible to
environmental impacts in any of their phases, must be subjected to an Environmental Impact
Assessment system. This type of evaluation is essential for the protection of the quality and sus-
tainability of natural resources. In this study, the objective was to quantify the risk of the environ-
mental impact on the landfill of the city of Tacuarembó in the De la Piedra Sola stream basin,
taking into account the sites prone to higher pollutant load from a quantitative zoning approach.
with the use of map overlay. The methodology uses a georeferenced database and geoprocessing
techniques to assess the vulnerability of surface water resources in the micro-basin where the lan-
dfill is located, as a proposal for monitoring and sustainable management of the territory to assess
the risk of contamination of surface water resources. The methodology presented a great capacity
to delimit areas of risk of contamination of water resources, however, it does not make a good des-
cription of contamination between micro-basins. But this previous study can be used as an exam-
ple of the implementation of risk management methodologies. Even if it is not indicated for the
contamination of the landfill, the index used can be used to evaluate diffuse contamination from
agro-industrial activities or risks of soil degradation due to erosion.
Keywords: environmental impact, landfill, leachate, environmental management
1 INTRODUCCIÓN
Los impactos ambientales son aquellas alteraciones del medio ambiente provocadas de
manera directa o indirectamente por las actividades antropogénicas o naturales. Las diferentes
actividades antropogénicas susceptibles a impactos ambientales en cualquiera de sus fases,
deben someterse a un sistema de Evaluación de Impacto Ambiental (EIA). Es necesario evaluar
la magnitud de las actividades socioeconómicas para estimar el nivel cuantitativo y cualitativo,
la profundidad de los cambios, así como también el alcance espacial y temporal (ENSHASSI et
al. 2014, SANTOS, 2007). La finalidad de la evaluación de los impactos ambientales, es conside-
rarlos antes de tomar cualquier decisión que pueda implicar una significativa degradación de la
calidad del medio ambiente (SÁNCHEZ, 2015).
La EIA es un instrumento preventivo de gestión ambiental dónde se identifican y valoran
de manera anticipada las consecuencias de un proyecto para mitigar o compensar sus afecta-
ciones ambientales negativas (SANTOS, 2007, SÁNCHEZ, 2015). En Uruguay, el régimen de EIA
existe por la ley nº 16.466, del 19 de enero de 1994 y su decreto reglamentario 349/005 del 21
de setiembre de 2005, que actualmente regula las autorizaciones ambientales y que fuera ela-
borado en base a un proceso de revisión y participación realizado a través de la Comisión
Técnica Asesora de la Protección del Medio Ambiente (COTAMA), de manera multidisciplinaria
e interinstitucional según la Ley N°16466, 1994 (URUGUAY, 1994).
Existen diferentes actividades sociales y económicas en nuestro país que generan dife-
rentes impactos a nivel departamental o regional. Estos impactos se generan sobre diversos
factores ambientales tanto físicos, bióticos y antrópicos, ya sea en la fase de construcción, ope-
ración o abandono de los diferentes proyectos y/o actividades. El área de estudio se ubica en
la ciudad de Tacuarembó, capital departamental donde predomina la actividad minera y agroin-
dustrial (CÁMARA DE INDUSTRIAS DEL URUGUAY, 2017).
De acuerdo al último censo uruguayo, Tacuarembó cuenta con más de 54.000 habitantes
(60% de la población total del departamento) colocándolo en el noveno lugar de la ciudad más
densamente poblada del país. El Instituto Nacional de Estadística estima que la población en
general crecerá en el entorno de 0.74% anual en los próximos 20 años. Esto trae consigo que
las diferentes actividades relacionadas al sector de servicios y las agroindustrias presentes en
el departamento se encuentren en crecimiento, así como también sus diversos impactos en el
ambiente (INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA, 2014).
Una de las mayores problemáticas es la generación de residuos sólidos, con la particula-
ridad de que Tacuarembó cuenta con un vertedero que recibe la mayoría de los residuos de
forma directa al suelo, y en contacto libre con el aire y la atmósfera. Se vierten por mes alrede-
dor de 1.200 toneladas de residuos al vertedero municipal, generalmente sin clasificación pre-
via (CÁMARA DE INDUSTRIAS DEL URUGUAY, 2017). Los vertederos a cielo abierto son aquellos
sitios en donde se vierten distintos residuos sólidos en forma indiscriminada, sin un control de
operación y con insuficientes medidas de protección ambiental (NAVARRO, 2021).
En este estudio el objetivo fue realizar la cuantificación del riesgo del impacto ambiental
sobre el vertedero de la ciudad de Tacuarembó en la cuenca del arroyo De la Piedra Sola,
teniendo en cuenta los sitios propensos a mayor carga contaminante a partir de un enfoque
cuantitativo de zonificación con el uso de sobreposición de mapas. La metodología utiliza una
base de datos georreferenciados y técnicas de geoprocesamiento para evaluar la vulnerabili-
dad de los recursos hídricos superficiales en la microcuenca donde se localiza el vertedero,
como propuesta de monitoreo y gestión sostenible del territorio para evaluar el riesgo a la con-
taminación de los recursos hídricos superficiales.
Este estudio es un ensayo preliminar derivado de los informes de evaluación de impacto
ambiental generado en el curso de Ordenamiento Ambiental sumados a técnicas de geoproce-
samiento adquiridas en otros cursos de la carrera de Ingeniaría Agroambiental de la Universidad
Tecnológica del Uruguay (UTEC – ITRSC).
2 METODOLOGÍA
2.1 Área de estudio
El área de estudio corresponde a la cuenca del arroyo De la Piedra Sola (CAPS) donde se
localiza el vertedero municipal de la ciudad de Tacuarembó (Figura 1), sus coordenadas cen-
trales geográficas corresponden a la latitud -31.695 y longitud -55.892. Ocupa un total de 21
km2; sus aguas son afluentes del arroyo tres esquinas, el cual a su vez es afluente del Arroyo
Tacuarembó Chico y este del Río Tacuarembó. La topografía se caracteriza por ser una penilla-
nura poco ondulada en la que afloran rocas sedimentarias, la zona aflorante de la fonación
sedimentaria Tacuarembó y Las Arenas (LOUREIRO; SÁNCHEZ-BETTUCCI, 2019) que coinciden
con la zona de afloramiento del acuífero Guaraní.
Figura 1 – Se presenta el área de estudio donde se realiza la evaluación ambiental yel área del vertedero
desde una vista satelital
diversos compuestos químicos y materiales biológicos. Son una fuente potencial en la contami-
nación de aguas superficiales y subterráneas, ya que estos se pueden infiltrar a través del suelo
provocando la contaminación. Son capaces de aumentar el DBO5 y DQO, generar el agota-
miento del oxígeno disuelto, fomentar la contaminación por virus y bacterias, incrementar el
contenido de minerales, metales pesados (Pb, Mn y Fe), la adición de compuestos orgánicos
complejos (pesticidas, hidrocarburos y productos químicos industriales) y generar acumulo de
nutrientes (nitrógeno y fósforo) responsables por la eutrofización (NAVARRO,2021).
Figura 2 – Representación de los distintos criterios tenidos en cuenta – a) Pendiente, b) Usos de Suelo,
c) Red Hidrográfica, d) Porcentaje de arena
La pendiente fue calculada a partir del DEM del Instituto de Infraestructura Espaciales
del Uruguay (IDE) con resolución espacial de 2.5 metros expresada en porcentaje desde la clase
plana a escarpado (Figura 2a). Se consideró esta variable como un importante agente de trans-
porte de todas las sustancias líquidas sobre la cuenca, considerando que cuanto mayor sea el
porcentaje de la pendiente, mayor será la velocidad con la que los lixiviados que puedan trans-
portarse en la CAPS.
Para determinar el tipo de suelo de la CAPS (Figura 2d) se clasificó según lo dispuesto por
la Dirección General de Recursos Naturales Renovables y el Ministerio de Ganadería Agricultura
y Pesca (Molfino, J. y MGAP) como se muestra en el Cuadro 1.
Luvisol Ócrico con textura compuesta 67.7% de arena – 21.19% de limo – 5.2% de arcilla
Abrúptico Acrisol Ocrico Típico 84% arena – 8.09% limo – 7.7 % arcilla
De esta forma se dispuso que cuanto mayor es el porcentaje de arena en el suelo, los lixi-
viados podrán transportarse más velozmente por su vulnerabilidad natural a erosión o maior
capacidad de infiltración. Ofreciendo riesgo más elevado a los recursos hídricos superficiales y
subterráneos. A esta variable se le otorgó el menor valor de ponderación, necesitando de un
estudio complementar a respecto de las respuestas de lluvia y escorrentía, utilizando métodos
como el Racional o el SCS (COLLISCHONN; DORNELLES, 2016).
Para determinar esta vulnerabilidad se utiliza la Ecuación 1, la cual se realiza por medio
de una sumatoria de capas en ráster ponderados entre 0-1 entre porcentaje de arena, pen-
diente, distancia al vertedero, usos de suelo y la red hídrica. El ráster de vulnerabilidad reclasi-
ficado es multiplicado entre 1-4 para cada variable de entrada y así determinar la vulnerabilidad
total de la cuenca. Entonces, para un valor (1) se asigna un color verde representado menor
riesgo y a los rangos con mayor vulnerabilidad, el valor más alto (4) en color violeta.
Ecuación 1
Donde, Vt es la vulnerabilidad total, γ es el valor de ponderación, Rv es el ráster de vul-
nerabilidad reclasificado. La selección del valor de ponderación y su jerarquización queda a cri-
terio de los investigadores, anteriormente descrito, no siguiendo una metodología estandarizada.
Los valores de ponderación tomados para este análisis fueron de 0.2 para la distancia respecto
al vertedero, 0.3 en relación a los cursos de agua, 0.2 para los usos de suelo, seguido por 0,25
para la pendiente y 0.05 para el porcentaje de arena.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
En base a los resultados obtenidos tras la clasificación del área, se obtiene la vulnerabili-
dad de la misma (Figura 3). Puede apreciarse que la mayor debilidad a sufrir contaminaciones
desde diferentes puntos, se encuentra justamente dentro del área de influencia del vertedero.
Además de esto, la mayor parte de los cursos de agua encontrados en la zona de estudio se
encuentran en condiciones de vulnerabilidad moderadamente fuertes. Obviamente la
contaminación del vertedero se restringe a la microcuenca en que está ubicado, con posibili-
dad de contaminación por movilización subsuperficial de los contaminantes. En este punto el
método es fallo, pero se puede interprétalo como zonas más vulnerables a la erosión y genera-
ción de contaminación por otros tipos de fuentes difusas como las actividades agrícolas (exceso
de nutrientes o pesticidas) en relación al proceso de escorrentía y lixiviación, asociados a las
mismas variables analizadas.
Siguiendo la caracterización de usos de suelo en la cuenca de estudio, se visualiza que
donde los usos son forestales, los valores de vulnerabilidad son menores, por lo que este uso
contribuye en la protección para lograr que la vulnerabilidad de contraer contaminación, sea
menor. De esta forma, la zona donde se encuentra el vertedero, tras estar cubierta de campo
natural en su mayor superficie, se encuentra en estado muy vulnerable. Principalmente si en
estas zonas la ganadería es practicada y aumenta la compactación del suelo.
4 CONSIDERACIONES FINALES
El tipo de metodología utilizada es muy útil para establecer áreas puntuales y realizar mane-
jos específicos según el nivel de vulnerabilidad; pudiendo gestionar de manera más eficiente y
desde una perspectiva holística tanto los recursos (económicos, materiales, humanos) como el
ambiente. Sin embargo, la metodología elegida no hace distinción entre las zonas y otras micro-
cuencas que tendrían impacto bajo por los divisores de agua de las microcuencas. Acaban clasifi-
cadas por sus características locales, a este aspecto el método deberá ser mejorado, todavía, la
zonificación de la vulnerabilidad fue cumplida. Con una finalidad más aplicable a fragilidad del
suelo y de los recursos hídricos en la cuenca frente a otros tipos de impactos potenciales.
Desde un ámbito social, se habla muy poco de que, sobre el vertedero y sus entornos, se
desarrollan determinadas actividades que involucran la vida y salud humana, partiendo desde
el punto que en las instalaciones del vertedero viven y habitan diferentes familias que fijan sus
trabajo y entrada de dinero, en el reciclaje y venta de residuos reclasificados que se encuentran
en él vertedero (SCAGLIOLA; RODRIGUEZ, 2013). Esto deja en cuestionamiento y el camino
abierto al ordenamiento ambiental y territorial, que debe de realizarse sobre el vertedero de
la ciudad de Tacuarembó.
5 REFERENCIAS
CÁMARA DE INDUSTRIAS DEL URUGUAY. El interior industrial: Tacuarembó, volumen 4. ERANCOR, 2017
COLLISCHONN, W.; DORNELLES, F. Hidrologia para engenharias e ciências ambientais. Oficina de Textos. São
Paulo, Brasil, 2016
ENSHASSI, A.; KOCHENDOERFER, B.; RIZQ, E. Evaluación de los impactos medioambientales de los proyectos
de construcción. Revista ingeniería de construcción, 29(3), 234-254, 2014
INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA, 2014. Estimaciones y proyecciones de la población de Uruguay:
metodología y resultados. Revisión 2013, INE, Montevideo. Acceso en: 18 oct 2021
LOUREIRO, J.; SÁNCHEZ-BETTUCCI, L. Texto Explicativo de la Carta Geológica del Uruguay, Revista
Investigaciones, Montevideo, 2(1):10-27, 2019
NAVARRO, B.; CARRASCO, F. Variación en los parámetros del sistema calcocarbónico del agua subterránea
por infiltración del lixiviado del vertedero de La Mina, Málaga. GEOGACETA. 1999.
SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. Ed. 2. Oficina de Textos, São Paulo,
Brasil, 2015.
SANTOS, R.F. dos, Planejamento ambiental: teoria e prática. Oficina de Textos, São Paulo, Brasil, 2007.
SCAGLIOLA, A.; RODRIGUEZ, M. Agenda Estratégica-Hacia un plan de desarrollo Social Tacuarembó. Vol. 1.
Presidencia de la República, Uruguay Social. 2013.
URUGUAY. Ley Nº 16.466 Ley de Evaluación de Impacto Ambiental. 1994. Disponible
en: <https://www.gub.uy/ministerio-industria-energia-mineria/institucional/normativa/
ley-n-16466-fecha-19011994-ley-evaluacion-del-impacto-ambiental>.
Resumo: É objeto desta pesquisa a análise do uso e ocupação do solo, em 2010 e 2020, na região
hidrográfica do Chapadão de Santo do Rio Verde em Catalão-GO, considerando as transformações
da Paisagem do Cerrado, nas Bacias do São Bento, do Rio Verde e do Pirapitinga, por meio da pes-
quisa bibliográfica, documental e do geoprocessamento. Verificou-se, tanto em 2010, quanto em
2020, um padrão de ocupação na região, com avanço da fronteira agrícola pela agricultura inten-
siva. Em 2010 esta classe ocupava 62,87% da área pesquisada, pastagens 17,33%, áreas de pivôs
(2,66%), silvicultura 1,90%, barramentos 0,09% e a área urbana (Distrito de Santo Antônio do Rio
Verde (SARV)) 0,05%. Em 2020 a agricultura passou a ocupar 66,86%, as pastagens 12,47%, áreas
irrigadas 1,62%, silvicultura 2,58%, barramentos 0,21% e a área urbana de SARV 0,06%. As áreas
de vegetação nativa corresponderam a 15,10% e 16,20%, respectivamente, em 2010 e 2020.
Embora com pequeno acréscimo, esses quantitativos não representam sequer o mínimo estabe-
lecido pela Legislação Ambiental brasileira a ser preservado: 20% para Reserva Legal no Cerrado,
além da Área de Preservação Permanente (APP). Comprova-se que o Cerrado perde seu espaço à
medida que a agricultura intensiva se consolida em meio à pressões ambientais, avançando sobre
veredas, provocando erosão, assoreamento dos cursos d’água, perda de biodiversidade, compro-
metimento hídrico por contaminação e degradação pedológica nos Chapadões do SARV, no
Cerrado Goiano, em Catalão.
Palavras-chave: Bacias Hidrográficas; Cerrado; Catalão-GO; Chapadões de Santo Antônio do Rio
Verde; Uso e Ocupação do Solo.
Abstract: The object of this research is an analysis of land use and occupation, in 2010 and 2020,
in the hydrographic region of Chapadão de Santo do Rio Verde in Catalão-GO, considering the
transformations of the Cerrado landscape, in the basing, in the river São Bento, Rio Verde and
Pirapitinga, through bibliographic, documental research and geoprocessing, using images from
the SRTM /, Landsat 5 and Landsat 8 satellites and the Spring 5.5.6 and ArcMap 10.3 software.
[ 493 ]
494 Mychelle Priscila de Melo; Angélica Silvério Freires; Silas Pereira Trindade
There was, both in 2010 and in 2020, a pattern of occupation in the region, with the advance of
the agricultural frontier by intensive agriculture. In 2010 this class occupied 62.87% of the sur-
veyed area, pastures 17.33%, pivot areas (2.66%), forestry 1.90%, dams 0.09% and the urban
area (Distrito de Santo Antônio do Rio Verde (SARV)) 0.05%. In 2020, agriculture started to
occupy 66.86%, with pastures 12.47%, irrigated areas 1.62%, forestry 2.58%, dams 0.21% and
urban area of SARV 0.06%. The areas of native vegetation corresponded to 15.10% and 16.20%,
respectively, in 2010 and 2020. Although with a small increase, these figures do not even repre-
sent the minimum established by the Brazilian Environmental Legislation to be preserved: 20%
for Legal Reserve in the Cerrado, in addition to the Permanent Preservation Area (APP). It is pro-
ven that the Cerrado loses its space as intensive agriculture is consolidated amidst environmen-
tal pressures, advancing on footpaths, causing erosion, siltation of watercourses, loss of
biodiversity, water compromise by contamination and pedological degradation in Chapadão of
the SARV in Cerrado Goiano, of Catalão.
Keywords: Watersheds; Cerrado; Catalão-GO; Chapadões de Santo Antônio do Rio Verde; Use and
Ocupation of the land.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é produtor e exportador global de commodities, dentre elas, soja, milho, carne,
açúcar e culturas florestais (celulose, palma). É nesse contexto, de produção agrícola e de flo-
restas plantadas, além da pecuária, que a expansão do agronegócio coloca em risco áreas nati-
vas em todo o Brasil, principalmente na Amazônia e no Cerrado. Nesse cenário intensifica-se o
uso dos bens naturais como solo, ar e água e promove-se a pressão sobre populações e modos
de vidas tradicionais, além de promover impactos que vão do local ao global, dentre eles, asso-
reamento de fontes hídricas, poluição nas suas distintas formas, solos degradados, desmata-
mento, fragmentação de biomas, destruição da biodiversidade e mudanças no microclima.
Catalão, município do interior do Sudeste de Goiás participa desta dinâmica, com a produção
em larga escala principalmente associada à Região Hidrográfica (Rio Verde, Rio São e Ribeirão
Pirapitinga) onde se localiza o Chapadão do Santo do Antônio do Rio Verde.
A transformação das paisagens do Cerrado tem ocorrido, com mais intensidade, a partir
da década de 1970, em função dos avanços tecnológicos e políticas governamentais expansio-
nistas e de interiorização do Brasil, imprimindo ao Domínio uma predisposição para produção
de grãos e de carne, como consequência, a exploração dos recursos naturais decorrente do uso
e ocupação das terras de forma insustentável, gerou diversos impactos ambientais.
Ameaças às veredas, drenagem de áreas úmidas, erosão, assoreamento dos cursos
d’água, perda de biodiversidade, construção de canais artificiais, comprometimento hídrico
por contaminação e abastecimento de pivôs centrais, são apenas alguns dos inúmeros proble-
mas detectados nas Bacias Hidrográficas que abrangem o Chapadão de Santo Antônio do Rio
Verde (SARV), em Catalão-GO. É emergencial a recuperação de áreas já degradadas, e a con-
servação/preservação das que ainda sobrevivem à invasão desmedida do agronegócio, exigin-
do-se planejamento adequado e práticas que revertam a real situação.
O crescimento desta estrutura agrícola comercial ocorreu a partir dos fatores edafocli-
máticos associados às condições logísticas, sendo que as áreas de pastagens e de vegetação
nativa foram convertidas para áreas agrícolas num processo contínuo de mudanças de uso do
solo, como se discute nesse trabalho.
2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa foram desenvolvidas técnicas e procedimentos,
os quais englobam pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e uso do geoprocessamento.
A pesquisa bibliográfica envolveu principalmente o Cerrado e questões hídricas como eutro-
fização, contaminação hídrica por agrotóxico, subsistemas de Veredas, dentre outras variá-
veis. A coleta de dados da pesquisa documental abarcou dados de solo, clima, relevo,
população humana urbana e rural, hidrografia, uso, ocupação, aspectos econômicos, dentre
outros, sobre Catalão-GO.
Com relação ao geoprocessamento, o Sensoriamento Remoto foi utilizado para delimitar
as bacias hidrográficas e para construir cartas de uso e cobertura das terras em Santo Antônio
do Rio Verde. A identificação das unidades hidrográficas ocorreu a partir de imagens SRTM
(Shuttle Radar Topography), enquanto as cartas de uso do solo de 2010 e 2020 tiveram, respec-
tivamente, como referência imagens dos satélites Landsat 5 e Landsat 8, conforme o quadro 1.
Quadro 1 – Satélites SRTM e Série Landsat e suas resoluções espaciais, temporais, radiométicas e espectral
Na demarcação das bacias utilizou-se imagens do sensor ativo SRTM, do INPE, que foram
trabalhadas no ArcMap 10.3. A partir destas imagens, estas áreas foram delimitadas automatica-
mente, a partir do conjunto de ferramentas Hydrology, contido no Spatial Analyst Tools. Para os
mapas de uso e cobertura das terras, após a escolha das cenas dos anos de 2010 e 2020, houve o
processamento digital que consistiu na correção geométrica e no processo de classificação não-
-supervisionada, selecionando as áreas de agricultura, barramentos, distritos, pastagens, pivôs,
silviculturas e de vegetação nativa, com uso dos softwares Spring 5.5.6 e do ArcMap 10.3. Tendo
em vista tais documentos cartográficos após o conhecimento teórico e empírico que envolvem a
pesquisa foi possível realizar discussões, tal qual se apresentam a partir de agora.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso e a cobertura das terras consistem na análise espacial da dinâmica das paisagens a
partir dos resultados observados diante dos múltiplos usos do solo, a partir do contexto atual
e das suas mudanças de usos. Segundo Soterroni et al. (2016) é um importante instrumento
para o planejamento de políticas públicas diante da análise dos possíveis impactos que estas
alterações podem promover nos ambientes naturais.
Nesta perspectiva, a região do Chapadão de SARV, promoveu na última década, a inten-
sificação do uso e cobertura das terras diante do aproveitamento agrícola das áreas de maior
aptidão localizadas nesta região. Por meio da figura 2 observa-se o uso e a cobertura das terras
na área de estudo destacando-se as classes da agricultura, barramentos, distritos, pastagens,
pivôs, silviculturas e de vegetação nativa.
Figura 2 – Uso do solo na região do Chapadão de SARV nos anos de 2010 e 2020
O percentual de área ocupada de cada classe de uso e cobertura das terras identificada
nesta pesquisa, referente aos anos de 2010 e 2020, podem ser observadas por meio da figura 3.
Em relação ao ano de 2010, a distribuição geográfica das classes de uso na região indica predomí-
nio da agricultura (62,87%), que é composta em maior parte por culturas anuais, seguida pelas
áreas de pastagens (17,33%), áreas de produção de gado, pelas áreas de vegetação (15,10%), que
são áreas naturais de cerrado, as áreas com a presença de pivôs (2,66%), as regiões cobertas pela
silvicultura (1,90%), com dominância de eucaliptos, e as áreas de barramentos (0,09%) e a área
urbana, compreendida como o Distrito de Santo Antônio do Rio Verde (0,05%).
O uso e ocupação do solo em 2020 manteve o mesmo padrão anterior de 2010, mas com
ampla presença da agricultura (66,86%), das pastagens (12,47%), seguidas pelas áreas de cer-
rado (16,20%), da silvicultura (2,58%) das áreas de irrigadas por pivôs (1,62%), dos barramentos
(0,21%) e a área urbana de SARV (0,06%).
É importante identificar que estas classes apresentaram diferenças espaciais dentro do
período analisado. Ocorreu aumento das áreas de agricultura, vegetação e silvicultura, barra-
mentos e a área do distrito de SARV. Este processo pode ser entendido pela viabilidade da
exploração das commodities agrícolas, que intensificou a produção das culturas anuais e pere-
nes, juntamente com a infraestrutura produtiva na região que inclui os processos migratórios
de mão-de-obra, associadas a uma maior intensificação da fiscalização ambiental. Por outro
lado, observou-se a redução das áreas de pastagens e de pivôs centrais, sendo que o primeiro
pode estar associado com a perda de áreas para a agricultura, enquanto o segundo pode ser
explicado pela diferença temporal das imagens de satélites usadas neste estudo, registrando
uma menor área devido ao período da entressafra.
As principais bacias hidrográficas da área de estudo são as bacias do Rio São Bento, Rio
Verde e do Ribeirão Pirapitinga. Diante do contexto da intensa utilização agrícola, estas bacias
são as principais fornecedoras hídricas da região, garantindo assim elevada importância para a
permanência das práticas econômicas identificadas na região de SARV, diante da segurança
produtiva que é fornecida por estes mananciais. As classes de usos identificadas nestas três
bacias hidrográficas podem ser observadas na tabela 1.
Tabela 1 – Uso e cobertura da terra nas bacias hidrográficas de SARV – 2010 e 2020
2010 2020
Bacia Hidrográfica Uso
(em %) (em %)
Agricultura 61,89 67,64
Barramento 0,15 0,28
Distrito 0,09 0,12
Rio São Bento Pastagem 17,50 9,67
Pivô 3,86 2,87
Silvicultura 3,11 4,33
Vegetação 13,40 15,10
Agricultura 60,02 62,73
Barramento 0,01 0,01
Distrito 0,00 0,00
Rio Verde Pastagem 20,29 17,99
Pivô 0,09 0,00
Silvicultura 0,75 0,99
Vegetação 18,83 18,28
Agricultura 72,54 73,28
Barramento 0,08 0,40
Distrito 0,00 0,01
Rib. Pirapitinga Pastagem 10,28 10,04
Pivô 4,15 0,88
Silvicultura 0,19 0,00
Vegetação 12,75 15,40
Fonte: elaborado pelos autores.
eles, o Rio Verde é o que exerce menor pressão ambiental sobre o Bioma, com relação à pre-
servação, pois mantem ainda 18,8% de suas áreas nativas. Sequer cumpre-se o mínimo exigido
pela legislação ambiental para proteção da Reserva Legal (20% no Cerrado) e das Áreas de
Preservação Permanente (APP’s).
Como fator comum nessas bacias que contribuíram para remoção da vegetação nativa
está o processo agrícola de produção intensiva das últimas cinco décadas, que apresenta os
seus efeitos ambientais negativos, dos quais são referentes à impactos na biodiversidade e ao
meio físico. A intensificação periódica do uso do solo, que a região do distrito de SARV é sub-
metido, consiste no desenvolvimento de passivos ambientais dos quais estão relacionados a
uma elevada pressão ambiental aos recursos hídricos, aos solos, às florestas e à fauna, promo-
vendo assim um cenário de degradação ambiental das áreas de Cerrado no interior de Goiás,
como se discute a seguir.
matéria orgânica, o que leva a maior retenção de água.” (SILVEIRA; STONE; ALVES JÚNIOR;
SILVA, 2008, p. 53). Entretanto, nos Latossolos do Cerrado é comum a compactação superficial
do solo quando adotado este sistema de plantio de forma contínua, o que ocorre na maior
parte das áreas agricultáveis do distrito de Santo Antônio do Rio Verde.
Esta compactação é uma das principais causas de deterioração da estrutura do solo e do
decréscimo de produtividade das culturas, visto que os níveis de porosidade diminuem e os de
densidade aumentam (SILVEIRA; STONE; ALVES JÚNIOR; SILVA, 2008). Quando implantado o sis-
tema de rotação de culturas, o aumento de matéria orgânica na camada superficial do solo pode
contribuir com a diminuição da densidade ao longo dos anos, e até melhorar a estrutura do solo.
Os solos do Cerrado apresentam elevado potencial para a agricultura mecanizada inten-
siva, uma vez corrigidas as suas deficiências químicas, mostrando, sob vegetação natural, pro-
priedades físicas favoráveis. A baixa fertilidade química é corrigida com insumos, e os critérios
utilizados para recomendação de fertilização são vários. Esse processo de correção geralmente
inclui as etapas de calagem, gessagem, adubação de estabelecimento/plantio e adubação de
manutenção/produção.
Para fins agrícolas ou florestais, Drew (1994) menciona que a alteração da vegetação,
com a consequente mudança no microclima, leva inevitavelmente à modificação das proprie-
dades do solo, em face da estreita relação causal dos três aspectos. “A lavoura modifica consi-
deravelmente o solo, principalmente a sua química e a sua biologia, mas pouco a sua textura e
estrutura” (DREW, 1994, p. 45). Para o autor, as mudanças mais drásticas correspondem nor-
malmente às tentativas, bem-sucedidas ou não, de melhorar a produtividade da terra (fertili-
dade) – por exemplo, recorrendo a fertilizantes, irrigação ou drenagem.
a expansão das áreas irrigadas e a contaminação recorrente do solo e da água pelos usos de
insumos químicos. Cunha e Guerra (2017) expõem que o emprego de fertilizantes artificiais
acelera, pela mão humana, um processo natural que seria o de fornecimento de nutrientes às
plantas pela decomposição da rocha por intemperismo químico.
As tecnologias de sistemas de irrigação e extração de águas subterrâneas são altamente
desenvolvidas, e as modificações de grande porte nos ciclos hidrológicos afetam intensamente
o funcionamento do sistema como um todo. A irrigação, teoricamente, demanda cuidados e
técnicas especiais para o aproveitamento racional com o mínimo de desperdício, e não é isso
que vimos em algumas áreas do Distrito. Quando utilizada de forma incorreta, além de proble-
mas quantitativos, a irrigação pode afetar drasticamente tanto a qualidade dos solos quanto a
dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
Em algumas áreas foi possível detectar, por imagens de satélite, pivôs instalados por cima
de nascentes, que ao invés de serem preservadas, conforme manda a legislação, foram drena-
das para dar espaço à lavoura. Uma nascente, assim como cursos d’água e represas, embora
distintos entre si por várias particularidades quanto às estratégias de preservação, controlam
a erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção.
Neste caso, além de secar a água que emergia naturalmente no local, há a maximização
de contaminação química e biológica do solo, da água e dos usuários. Esse tipo de contamina-
ção que se estende por todo o distrito de Santo Antônio do Rio Verde, é perceptível pelas
lavouras que estão adentrando as margens dos córregos, ribeirões e rios, represas e veredas.
Fonte: os autores.
Há, ainda, veredas sendo invadidas pela ação agrícola, onde o desmatamento, aliado ao
solo compactado, afetam a taxa de infiltração da água e implicam alterações no sistema hidro-
lógico, na manutenção da fauna e flora do Cerrado, além da contaminação química pelos
produtos no cultivo de soja, em maior escala, regular nesta área pelo plantio direto. Por isso, é
imprescindível uma fiscalização efetiva para que haja o manejo correto do uso da terra nestas
áreas que, em sua grande maioria, necessitam urgentemente de recomposição florestal, recu-
peração e conservação. Cunha e Guerra (2017) demonstram que a agricultura intensiva, a fim
de obter anualmente colheitas com o máximo de rendimento, devolve ao solo os nutrientes
subtraídos pelos vegetais. Os fertilizantes são empregados para formação de húmus e para
melhorar a consistência dos solos.
A eutrofização é um outro processo grave, causado pela descarga excessiva dos despejos
agrícolas não tratados, acelerando o processo de enriquecimento natural dos lagos, represas e
rios (TUNDISI, 2011). Alguns de seus principais efeitos estão relacionados à anoxia (ausência de
oxigênio na água), provocando a mortalidade de peixes e invertebrados, e liberando gases com
odor que pode ser tóxico; florescimento de algas e crescimento de macrófitas; altas concentra-
ções de matéria orgânica, que se forem tratadas com cloro, podem produzir substâncias carci-
nogênicas; efeitos na saúde humana, entre vários outros.
Além dos fertilizantes, há a aplicação de um arsenal de biocidas (inseticidas, fungicidas,
herbicidas), também conhecidos como defensivos agrícolas, para proteção geral das plantas
contra insetos, espécies vegetais invasoras e fungos. Os efeitos sobre o ambiente são os mes-
mos, contaminando as águas de corpos receptores pela ação de enxurradas, acúmulo no solo
e, ainda, introduz metais pesados aos alimentos de origem vegetal. Corre-se o risco, também,
de o homem ou os animais ingerirem ou absorverem estes produtos, caso não sejam aplicados
de forma segura.
Em 2016, Martins (2017) fez um levantamento de 30 municípios goianos com maior quan-
titativo de pivôs centrais, e Catalão-GO possuía 66, com aproximadamente 52,43 Km2. Em
2019, apenas no Chapadão de Santo Antônio do Rio Verde, existiam 48 pivôs, o que corres-
ponde a 72,72 % do quantitativo de todo o Município. Existe o uso consolidado desta técnica
de irrigação na região, mas é importante destacar as consequências deste uso da terra, pois se
trata de uma atividade que exige elevada demanda hídrica. Além disso, a utilização deles
remete inevitavelmente à discussão da vulnerabilidade e atual mau uso dos recursos hídricos
X importância da água do Cerrado, inclusive do Goiano, para todo o Brasil.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Incontáveis são os impactos causados pelo desmatamento que dá lugar às lavouras
mecanizadas, passando por alterações no ciclo hidrológico e na composição do solo, disponibi-
lidade e qualidade hídrica, perda de biodiversidade, comprometimento em sistemas de vere-
das, compactação do solo e erosão, assoreamento de córregos e rios, supressão de nascentes,
riscos à saúde humana e animal, e possível eutrofização, salinização e desertificação em deter-
minadas áreas, como o que vem ocorrendo Cerrado Goiano, no município de Catalão, na região
hidrográfica que abarca os Chapadões do Santo Antônio do Rio Verde. Até quando os ecossis-
temas suportarão tal pressão?
5 REFERÊNCIAS
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
CRISES HÍDRICAS
E GESTÃO DAS ÁGUAS
43.
A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO
O clima na bacia hidrográfica do Alto Rio Paraguai
Resumo: A bacia hidrográfica do Alto Paraguai, no Brasil, recebe as águas vindas dos seus planal-
tos e chapadas, águas que se acumulam na maior planície inundável do Planeta, formando o
Pantanal. Apesar dessa quantidade de água no Pantanal, de acordo com o sistema de classificação
climática de Novais (2019), o vale do rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul, é semiárido. Essa clas-
sificação possui 8 hierarquias, sendo que as apresentadas nesse estudo foram: (1ª) Zona Climática,
(2ª) Clima Zonal, (3ª) Domínio e (4ª) Subdomínio Climático. Os dados termo-pluviométricos men-
sais, foram adquiridos através da reanálise climática do CHELSA, com resolução espacial de 1 km,
entre os anos de 1979 e 2013. Pela classificação climática adotada, a região do Pantanal está
situada totalmente dentro da Zona Climática Quente (ao norte do Trópico de Capricórnio). Os
Climas Zonais são em número de dois, o Quente e o Moderado, com influência da temperatura
média do mês mais frio. Foram identificados três Domínios Climáticos na área de estudo: o Tropical,
o Tropical Ameno e o Semiárido. Esses Domínios são divididos em quatro Subdomínios Climáticos,
levando em conta a quantidade de meses secos (úmido, semiúmido, semisseco e seco). A metodo-
logia para determinação de mês seco consiste na diferença entre a precipitação pluviométrica e a
evapotranspiração potencial, um dos principais elementos do Balanço Hídrico Climatológico
Normal de Thornthwaite. O que faz surgir o Domínio Semiárido na bacia hidrográfica.
Palavras-Chave: Classificação climática de Novais, Temperatura média do mês mais frio,
Precipitação pluviométrica, Balanço hídrico climatológico, Domínio Climático Semiárido.
Abstract: The Upper Paraguay river basin, in Brazil, receives water from its plateaus and plateaus,
waters that accumulate in the largest floodplain on the planet, forming the Pantanal. Despite this
amount of water in the Pantanal, according to the Novais climate classification system (2019), the
Paraguay River valley, in Mato Grosso do Sul, is semi-arid. This classification has 8 hierarchies, and
those presented in this study were: (1st) Climatic Zone, (2nd) Zonal Climate, (3rd) Domain and (4th)
Climatic Subdomain. Monthly thermo-pluviometric data were acquired through the CHELSA cli-
mate reanalysis, with a spatial resolution of 1 km, between the years 1979 and 2013. According to
the adopted climate classification, the Pantanal region is located entirely within the Hot Climate
Zone (to the north of the Tropic of Capricorn). The Zonal Climates are two in number, the Hot and
[ 506 ]
A SEMIARIDEZ DO PANTANAL BRASILEIRO 507
the Moderate, influenced by the average temperature of the coldest month. Three Climatic
Domains were identified in the study area: the Tropical, the Tropical Mild and the Semi-arid. These
Domains are divided into four Climate Subdomains, taking into account the number of dry months
(wet, semi-wet, semi-dry and dry). The methodology for determining the dry month consists of
the difference between rainfall and potential evapotranspiration, one of the main elements of the
Thornthwaite Normal Climatological Water Balance. What gives rise to the Semi-arid Domain in
the hydrographic basin.
Keywords: Novais climate classification, Average temperature of the coldest month, Rainfall, cli-
matological water balance, Semi-arid climate domain.
1 INTRODUÇÃO
O pantanal brasileiro é formado pela área alagadiça dos estados do Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul (principalmente). A água que se acumula no fundo da bacia hidrográfica
do rio Paraguai, no Brasil, advém das partes mais altas dessa bacia, ou seja, do Planalto
Serrano, das Chapadas dos Parecis e dos Guimarães, dos Chapadões de Goiás, e das serras de
Maracaju e da Bodoquena.
De acordo com Clarke et al. (2003), a área da bacia do rio Paraguai (Figura 1), até sua con-
fluência com o rio Paraná, é de 1095106 km², representando mais de 35% da área da bacia do
Prata. Abrange os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, além de regiões de
outros países, como a Bolívia, Paraguai e Argentina. No local onde se encontram os rios Paraguai
e Paraná, junto às cidades de Corrientes e Resistência, na Argentina, a vazão média do rio
Paraguai é de 2700 m³/s. O regime pluviométrico da bacia hidrográfica do Paraguai e da topo-
grafia extremamente plana do Pantanal, provoca uma grande evaporação, que é incrementada
em grandes áreas permanente ou temporariamente inundadas.
clima de acordo com a escala adotada, do continental, passando pelo urbano ao local, utili-
zando o balanço hídrico climatológico como ferramenta essencial para a determinação das
menores unidades climáticas.
Para Cassetari (2020), a disponibilidade hídrica de uma região pode ser explicitada e
explicada pelo balanço hídrico considerando uma série de dados climatológicos e a classifica-
ção climática, utilizando-se desses mesmos dados, permite conhecer a unidade climática do
local além de fazer comparações com regiões semelhantes, tornando-se uma ferramenta de
gestão de recursos hídricos importante, pois permite a construção de cenários futuros e o pla-
nejamento de ações de intervenção. Quando isso é feito para uma bacia hidrográfica os resul-
tados permitem visualizar com mais detalhe o que ocorre naquele local, diferentemente do
que ocorre quando se utiliza de uma classificação mais ampla, para o território nacional ou
estadual, as quais perdem a sensibilidade dificultando o conhecimento e observação de micro-
climas regionais.
O objetivo principal desse trabalho consiste em mostrar que o Pantanal matogrossense,
de acordo com a classificação climática de Novais (2019), possui um clima mais seco do que se
pensava, chegando a semiaridez no leito do rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul; diferencian-
do-se do semiárido apresentado no sertão nordestino por estar localizado no Centro-Oeste
brasileiro, na fronteira com a Bolívia e Paraguai. A justificativa para adoção do método de
Novais, consiste em melhorar o entendimento da entrada de água no sistema solo-planta-at-
mosfera, mostrando vantagens em relação a outras classificações climáticas, que generalizam
mais o clima e afirmam que o Pantanal brasileiro é mais úmido, com uma quantidade de meses
secos menor do que o registrado por essa metodologia.
2 METODOLOGIA
Para coleta de dados de temperatura do ar e de precipitação pluviométrica, foram utiliza-
dos dados de reanálise climática do algoritmo Climatologies at high resolution for the earth’s land
surface áreas (CHELSA). Esse algoritmo é um conjunto de dados climáticos com resolução espa-
cial de 1 km, abrangendo grande parte da superfície terrestre (KARGER ET AL, 2017), principal-
mente onde não há cobertura de estações meteorológicas. Os valores foram extraídos da
Reanálise ERA-Interim, resultando em um ajuste de modelagem que recupera informações da
superfície terrestre e oceanos, obtidas através de navios, aviões, radiossondas e satélites. Inclui a
temperatura média mensal e padrões de precipitação para o período de tempo de 1979-2013. A
temperatura média diária deriva de dados sinóticos de seis em seis horas, melhorando substan-
cialmente o desempenho da previsão, especialmente no hemisfério sul (ROCHA et al, 2016).
Na Figura 2 temos os 20 pontos selecionados, na área adjacente do Pantanal brasileiro
(Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai – BAP). As informações dos pixels desses pontos, como a
temperatura do ar e a precipitação pluviométrica mensais, foram inseridas em uma planilha de
balanço hídrico climatológico, para se obter a evapotranspiração potencial (ETP), fundamental
na determinação de algumas unidades climáticas da classificação, como os Subdomínios, que
• Domínio Climático – controlado pela TMMMF, por Sistemas Atmosféricos, por atua-
ções de anticiclones, frentes frias e pela possibilidade de formação de geada. Como
exemplos no território brasileiro temos: o Equatorial (TMMMF acima de 22,5°C,
influência da Zona de Convergência Intertropical – ZCIT); o Tropical (TMMMF acima de
18°C, sem influência da ZCIT, mas com atuação da Zona de Convergência do Atlântico
Sul-ZCAS e do Anticiclone ou Alta Subtropical do Atlântico Sul – ASAS), o Tropical
Ameno (TMMMF entre 15° e 18°C, não tem influência da ZCIT, com atuação das ZCAS
e ASAS, áreas elevadas podem sofrer resfriamento adiabático do ar); o Subtropical
(TMMMF entre 10° e 15°C, influência do Anticiclone Polar, ASAS, também podendo
ter um resfriamento adiabático provocado pela altitude); o Semiárido e Árido (quanti-
dade de meses secos igual a 12), entre outros.
• Subdomínio Climático – determinado pela quantidade de meses secos (precipitação
menor que a evapotranspiração potencial – ETP). De acordo com Rolim (2020), um solo
nessas condições está potencialmente secando, o que mostra uma deficiência de água
no sistema solo-planta-atmosfera, gerando uma restrição no crescimento das plantas e
diminuindo a vazão da drenagem superficial e subsuperficial. Agora se a P-ETP for maior
que zero, o excesso de água no sistema vai gerar um escoamento superficial e uma dre-
nagem profunda para o lençol freático, favorecendo, por exemplo, um crescimento
máximo das plantas. Um Subdomínio pode ser: Úmido (0 a 3 meses secos); Semiúmido
(4 a 5 meses secos); Semisseco (6 a 7 meses secos); e Seco (8 a 11 meses secos). Na
Figura 4, podemos observar que na área de Cerrado, no entorno do Pantanal, os subdo-
mínios são mais secos, o que será mostrado ainda nesse trabalho.
Figura 5 – Tipos climáticos (ou localização dos Domínios e Subdominios) na América do Sul
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura média do mês mais frio (TMMMF) acontece em Julho e é a variável climá-
tica mais importante nas primeiras hierarquias (Zona Climática, Clima Zonal e Domínio
Climático). Os maiores valores, obtidos pelo CHELSA, estão no centro norte da bacia hidrográ-
fica, sobretudo nas áreas mais baixas do relevo, onde a TMMMF fica acima de 22,5°C, tornan-
do-se a área de Clima Zonal Tórrido. O restante da bacia está sob o Clima Zonal Quente, sendo
as menores temperaturas registradas na serra da Bodoquena e no planalto de Ponta Porã
(abaixo de 18°C), o que faz essas áreas serem de Domínio Tropical Ameno (Figura 6).
Fonte: CHELSA.
De acordo com os mapas de ETP, déficit e excedente hídricos de Novais (2019), a região
do entorno do Pantanal (Cerrado da BAP) possui todos os critérios de atenção em relação a
seca, pois registra os maiores valores de ETP e déficit hídrico da área core do Cerrado brasileiro
(Figura 8).
Figura 9 – Balanços Hídricos Climatológicos de Cáceres (MT), Barão de Melgaço (MT), Corumbá (MS) e
Nhecolândia (Corumbá-MS)
A área de estudo pertence a Zona Climática Quente do Planeta, situada entre o Subtrópico
Meridional (11°43’30 Sul) e o Trópico Meridional (ou de Capricórnio). Possui dois Climas Zonais,
um Tórrido, com TMMMF em julho (entre 22,6°C e 23,9°C) na porção centro-norte, e outro
Quente (TMMMF entre 16,9°C e 22,5°C). Foram identificados 3 Domínios (3ª hierarquia da clas-
sificação climática): O Tropical, o Tropical Ameno e o Semiárido. Todos os Subdomínios foram
encontrados na área do Alto Paraguai, ou seja: Úmido (0 a 3 meses secos), Semiúmido (4 a 5
meses secos), Semisseco (6 a 7 meses secos) e Seco (8 a 11 meses secos). Para localizar os
Domínios e Subdomínios Climáticos no continente, é utilizada a 4ª hierarquia climática, os
Tipos (não mostrada nesse trabalho), o que diferencia o Semiárido achado aqui, do encontrado
no Nordeste Brasileiro, de maior déficit hídrico.
Analisando o mapa da Figura 10, de um modo geral podemos verificar a presença do
domínio Tropical, que se espalha na cor laranja pela área da bacia. Quanto mais claro o tom da
cor, maior a quantidade de meses secos, ou seja, a ETP mensal é maior que a precipitação plu-
viométrica mensal. A grande mancha laranja clara, representa o subdomínio climático Tropical
seco (de 8 a 11 meses secos), abrangendo todo o Pantanal (linha tracejada). Os tons mais escu-
ros do laranja indicam uma mudança nos subdomínios para mais úmido, onde a quantidade de
meses secos é menor, e seguem as linhas do relevo, onde a rugosidade do terreno regula a dis-
tribuição das precipitações (Figura 7). A altitude e a latitude controlam a temperatura (Figura
6), o que faz aparecer as manchas verdes, que indicam outro domínio climático, o Tropical
Ameno, com TMMMF abaixo de 18°C.
O domínio Semiárido aparece em amarelo, e segue o vale principal do rio Paraguai, no
Mato Grosso do Sul. A partir da análise dos balanços hídricos, junto a calha do rio Paraguai
(Figuras 2 e 9), nos municípios de Corumbá (MS) e Porto Murtinho (MS), foi constatada uma
maior ETP em relação a precipitação pluviométrica em todos os meses do ano, o que torna o
seu domínio Semiárido (diferenciando do Árido por ter um acumulado anual de chuva superior
a 500 mm). Essa condição climática restringe o crescimento de plantas e possui um ambiente
favorável ao secamento de rios e poços artesianos.
A seguir serão mostrados todos os Domínios e Subdomínios Climáticos da BAP em terri-
tório brasileiro, de acordo com a Figura 10.
Figura 10 – Mapa das unidades climáticas da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, no Brasil
4 CONCLUSÃO
Com novos recursos tecnológicos, como dados de reanálise por exemplo, podemos rea-
lizar estudos mais detalhados de elementos climáticos, modelando o espaço geográfico de
acordo com os resultados obtidos.
As classificações climáticas utilizadas anteriormente para determinar o clima da área de
estudo não indicavam a falta de água no sistema. Um exemplo é a classificação utilizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseada em Nimer (1989), onde o estado
do Mato Grosso do Sul aparece com uma quantidade de meses secos bem menor do que na
classificação de Novais (2019). A metodologia utilizada por Nimer vem de Gaussen e Bagnouls
(1953), sendo considerado mês seco aquele cuja precipitação pluviométrica é menor que duas
vezes o valor da temperatura média (Figura 11).
A metodologia da classificação climática de Novais (2019), aplicada a BAP auxilia nas ati-
vidades de planejamento ambiental e regional, pois mostra a entrada e saída da água no sis-
tema solo-planta-atmosfera, além da duração de sistemas meteorológicos que modificam as
condições atmosféricas na área estudada. O detalhamento das unidades climáticas, até o nível
da sexta hierarquia, fornece mais elementos para o estudo do clima no local analisado.
O Domínio Semiárido mostra que a quantidade de precipitação que cai na superfície não é
suficiente para uma drenagem profunda para o lençol freático, um solo nessas condições está
potencialmente secando, o que mostra uma deficiência de água no sistema solo-planta-atmos-
fera, gerando uma restrição no crescimento das plantas e diminuindo a vazão da drenagem
superficial e subsuperficial. Em nenhum um mês do ano há excedente hídrico com contribuição
da precipitação, o que é acumulado no período de cheia do Pantanal são as águas advindas dos
planaltos no entorno do Pantanal, devido a pequena declividade da bacia hidrográfica.
O estudo nos serve de alerta para uma proteção integral do bioma contra as ativida-
des agropecuárias, principal causadora das queimadas clandestinas desse sensível ecossis-
tema mundial.
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[ 522 ]
AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO SOLO PARA A REGIÃO DE GERAIS DE BALSAS-MA 523
amount of water stored in it. The aim of this study was to evaluate soil water availability for agricul-
tural crops considering regionalized climate change scenarios for the Balsas region in comparison
with climatology. Monthly climatic data of the variables rainfall and air temperature were used for
the diagnosis of climatic conditions for the period 1981 to 2010, obtained from the data collection of
the National Institute of Meteorology – INMET. An improved version of the Eta regional model, deve-
loped at the University of Belgrade, which uses a spatial resolution of 20 km, was used. Calculations
were carried out to determine the deficiency, surplus, withdrawal and replacement of water
throughout the year in the three scenarios: the climatology that represents the current standard, the
most optimistic scenario (4.5) and the pessimistic scenario (8.5), for the region of Gerais de Balsas-MA.
Scenario 8.5 is always more pessimistic, in view of having higher average temperatures than the cli-
matology model and scenario 4.5, this indicates the low water availability in the analyzed region.
Keywords: Deficiência hídrica; Evapotranspiração; Temperatura
1 INTRODUÇÃO
O monitoramento da dinâmica agroclimática é crucial para a otimização da produção
agrícola, pois anomalias climáticas são as principais causadoras de baixas na produtividade
agrícola mundial. Segundo Castro (2012), a agricultura nordestina possui grande variabilidade,
tanto nas culturas exploradas, quanto na tecnologia empregada para a produção agrícola, o
que aliado à irregularidade climática, como os anos de secas e chuvas intensas que se alternam
de formas erráticas, dificulta o desenvolvimento, levando à deterioração do solo e da água.
Isso evidencia uma melhor compreensão do padrão climático das localidades do Nordeste. De
acordo com Blain (2009) o monitoramento climático é importante para o planejamento da
agricultura, pois é a base para o sucesso produtivo das culturas agrícolas, uma vez que deter-
mina a melhor época e as áreas mais promissoras ao plantio.
O método de estimativa do balanço hídrico climatológico (BHC) proposto por Thornthwaite
e Mather (1955) é uma ferramenta de monitoramento de armazenamento de água no solo, lar-
gamente utilizada como instrumento de planejamento estratégico agrícola no âmbito do geren-
ciamento dos recursos hídricos.
Santos et al. (2010) afirmam que o conhecimento das variáveis estimadas no BHC favo-
rece o planejamento agropecuário e as práticas de controle de produção, porque são infor-
mações que permitem aos produtores identificar as condições climáticas que fragilizam o
sistema produtivo.
De acordo com Matos et al. (2014) é de crucial importância a elaboração do BHC para
uma região, já que considera os aspectos relacionados ao solo, a profundidade efetiva do sis-
tema radicular das plantas e a dinâmica de água no solo durante o período avaliado. Através da
estimativa do BHC é possível determinar o período de ocorrência de deficiência e excedente
hídrico, retirada e reposição de água do solo e da quantidade de água armazenada no mesmo,
por meio dos elementos climáticos mensais, tidos como entrada do modelo, temperatura do
ar e precipitação pluvial (CARVALHO et al., 2011).
2 METODOLOGIA
A região de gerais de balsas localizada no sul do estado do Maranhão, Figura 1 – abran-
gendo área de 43.683,09 km²
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nessa região, conforme apresentada na Figura 2, de acordo com a climatologia, observa-
-se que no mês de dezembro começa o período de reposição de água no solo, em decorrência
do início do período chuvoso, se estendendo até o mês de janeiro. O excedente de água no solo
começa em janeiro se estendendo até o mês de abril, de modo que a partir de maio já se nota
retirada de água do solo devida o final do período chuvoso, e subsequente deficiência hídrica
nos meses seguintes que se estende até novembro, tendo o aumento no mês de setembro.
Em um cenário mais pessimista, definido com RCP 8.5, Figura 3, a reposição hídrica se
estende de janeiro até março sem excedentes, o que já caracteriza um prognóstico para ativi-
dades de sequeiro. A deficiência hídrica se estende por quase todo o ano, de abril a dezembro.
Também se observa redução quantitativa da disponibilidade hídrica em relação a climatologia
e ao cenário 4.5 e aumento das perdas de água de forma quantitativa, com intensificação da
deficiência hídrica, principalmente nos meses de agosto e setembro.
Conforme relatado por vários autores, dentre eles, Chaves (1992); Martin & Ruiz Torres
(1992); Fontana et. al. (2001), não só os totais de deficiência hídrica, mas o tempo em que a
deficiência se prolonga, pode afetar processos importantes que determinam a taxa de cresci-
mento da cultura, fechamento dos estômatos, redução das perdas de vapor d´água e dos pro-
cessos fotossintéticos, condições que podem levar a perdas de produtividade. O que indica um
problema para a região, tendo em vista que a região de balsas, é uma das principais produtoras
de grãos do estado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário 8.5 se mostra sempre mais pessimista, em relação aos demais cenários
Pouca disponibilidade hídrica para este modelo na região analisada, o que é uma grande
problemática em aspectos agronômicos e sociais.
O tema mudanças climáticas é de extrema importância a ser debatido, levando em con-
sideração os dados da pesquisa.
À medida que, aumenta a temperatura da região, diminui o intervalo de plantios na
mesma.
Além disso, isso mostra a importância em fazer análises sobre mudanças climáticas, o
quão é impactante em todas as esferas nacional e mundial.
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Resumo: As mudanças climáticas e seus efeitos sobre os recursos hídricos têm sido tema abor-
dado por muitos pesquisadores e motivo de preocupação por parte de autoridades públicas. O
objetivo deste estudo foi verificar o panorama da influência das mudanças climáticas nas bacias
hidrográficas do Brasil, analisando métodos utilizados para realizar projeções, indicadores climáti-
cos, impactos e riscos futuros, através de uma revisão exploratória da literatura. Para isto foi rea-
lizado um levantamento bibliográfico dos últimos seis anos sobre o tema. O resultado da pesquisa
demonstra que a influência de mudanças no clima sobre as bacias hidrográficas está bem docu-
mentada. A vazão, precipitação, temperatura e evapotranspiração foram as variáveis mais utiliza-
das nas projeções. Os modelos utilizados para simular os impactos de mudanças climáticas nas
bacias hidrográficas se mostraram eficientes. As mudanças climáticas podem afetar a distribuição
espacial e temporal das variáveis hidrológicas principalmente precipitação e vazão, assim como a
intensidade e frequência de eventos extremos. Novas pesquisas com maior número de modelos
climáticos regionais são necessárias para englobar as especificidades das diferentes bacias hidro-
gráficas e entender os processos de mudanças climáticas a fim avaliar os impactos e mitigá-los.
Palavras-chave: Impactos; Mitigação; Mudança no clima; Projeção; Variáveis hidrológicas.
Abstract: Climate change and its effects on water resources have been a topic addressed by many
researchers and a matter of concern on the part of public authorities. The objective of this study
was to verify the panorama of the influence of climate change in the hydrographic basins of Brazil,
analyzing methods used to carry out projections, climate indicators, impacts and future risks
through an exploratory literature review. For this, a bibliographic survey of the last six years on the
subject was carried out. The research result demonstrates that the influence of climate changes
on the river basins is well documented. The flow, precipitation, temperature and evapotranspira-
tion were the most used variables in the projections. Models used to simulate the impacts of cli-
mate change on watersheds proved to be efficient. Climate change can affect the spatial and
temporal distribution of hydrological variables, mainly precipitation and flow, as well as the inten-
sity and frequency of extreme events. New researches with a greater number of regional climate
[ 531 ]
532 Joana Paula de Souza Cornélio
models are needed to encompass the specificities of different river basins and understand the pro-
cesses of climate change in order to assess the impacts and mitigate them.
Keywords: mpacts; mitigation; climate change; projection; hydrological variables.
1 INTRODUÇÃO
As mudanças climáticas causadas por atividades humanas tornaram-se uma preocupa-
ção crescente em todo o mundo e essa preocupação está associada aos impactos das mesmas
sobre o meio ambiente e as diversas atividades humanas e, principalmente, aos efeitos dos
extremos climáticos. (SILVA et al., 2017).
Conforme Magerski (2020), o clima é composto por vários elementos que são interliga-
dos e através dos anos, relatos apontam mudanças significativas. Para entender tais mudanças,
é necessário o estudo aprofundado de algumas variáveis e que atualmente este ato vem sendo
realizado por diversos pesquisadores a fim de se aprofundarem em algumas particularidades
(MAGERSKI, 2020).
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima, promulgada pelo
Decreto nº 2.652 de 1998, define que a mudança do clima pode ocorrer de maneira a ser,
direta ou indiretamente, atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera
mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural (BRASIL, 1998).
Sheldon (2019) afirma que o aumento da emissão de CO2 na atmosfera está causando
aumento na temperatura da superfície terrestre, mudando o regime das chuvas e a frequência
de eventos climáticos extremos. Nesse contexto, o quinto relatório do IPCC (AR5), teve grande
repercussão pela projeção da temperatura média global apresentada, indicando que no pior
cenário de mudanças climáticas, a temperatura poderia variar de 2,6 °C a 4,8 °C até o fim do
século (IPCC, 2013).
O painel brasileiro de mudanças climáticas, ao realizar estudos nos mesmos moldes dos
apresentados pela organização internacional, chegou às mesmas conclusões para o Brasil, de
que essa alteração na temperatura pode provocar várias outras alterações no meio, diretas ou
não, como o aumento do nível e pH do mar, do ciclo e intensidade das precipitações e etc.
(PBMC, 2017). Marengo et al.(2011) relatam que no território brasileiro houve um aquecimento
de cerca de 0, 7° C nos últimos cinquenta anos e a tendência é que este aumento continue.
Silveira et al. (2016) afirmam que as mudanças climáticas devem produzir grandes impac-
tos sobre os recursos hídricos. O aquecimento observado nas últimas décadas pode causar
mudanças no ciclo hidrológico, por meio de modificações dos padrões de precipitação e eva-
potranspiração, o que pode impactar diretamente a umidade do solo, a reserva subterrânea,
geração do escoamento superficial assim como provocar chuvas intensas em algumas áreas e
em outras áreas poderá haver seco dificultado o cultivo de certas culturas agrícolas (IPCC,
2007(a); IPCC, 2013). Esses aspectos associados ao aumento da demanda por água projetada
para as próximas décadas (principalmente devido ao crescimento populacional e aumento da
riqueza, regionalmente) poderão exercer grande pressão nos hidrossistemas brasileiros, prin-
cipalmente nas bacias hidrográficas (PBMC, 2012; SALATI et al., 2008).
As bacias hidrográficas são locais de considerável relevância para o estudo da água, visto
que é nessa área que, além de ocorrer o desenvolvimento e o crescimento da população, tam-
bém ocorrem práticas para planejamento e gestão dos múltiplos usos dos recursos hídricos
(BIANCHI, 2013). Bacia hidrográfica é, portanto, uma área delimitada espacialmente por um
divisor de água, constituída por uma rede de drenagem interligada, cujo escoamento converge
para uma seção comum, denominada de seção de controle ou exutório da bacia (MELLO e
SILVA, 2013).
As mudanças no clima têm tornado a gestão dos recursos hídricos mais difícil uma vez
que as condições hidrológicas se alterarão de uma maneira altamente incerta no futuro, onde
se espera que a temperatura e a precipitação variem consideravelmente de região para região
e, consequentemente, a variabilidade nos padrões espaciais e temporais dessas variáveis
podem trazer mudanças significativas nos climas que, por sua vez, podem afetar a agricultura,
o desenvolvimento industrial e urbano (FAHAD et al., 2018).
A atenção e preocupação com o gerenciamento dos recursos hídricos tem se tornado
frequente, sobretudo nas áreas que são dependentes desse recurso para atender os usos múl-
tiplos (SOBRAL et al., 2018). Conforme Trenberth (2011), mudanças climáticas podem afetar a
distribuição espacial e temporal das variáveis hidrológicas (e.g. chuva e vazão), assim como a
intensidade e frequência de eventos extremos. Alterações no regime hidrológico de uma região
como aumento ou redução da vazão dos rios, podem produzir danos aos ecossistemas, afetar
a produção de alimentos, abastecimento de água, navegação e geração de energia
(CHRISTENSEN; LETTENMAIER, 2007).
Assim, o objetivo desse estudo foi apresentar um panorama teórico sobre a influência
das mudanças climáticas nas bacias hidrográficas no Brasil a partir de técnicas utilizadas para
realizar projeções, indicadores climáticos, impactos e riscos futuros. Estas informações pode-
rão proporcionar uma atualização sobre os fatores que levam a essas mudanças, que indicado-
res climáticos afetam cada bacia hidrográfica e como afetam, bem como os avanços nas
técnicas de projeções.
2 METODOLOGIA
A forma escolhida para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa foi um artigo de revi-
são, onde foram analisadas as literaturas e bibliografias nos últimos seis anos, dos principais
autores que discorrem sobre os temas englobados na abordagem da influência das mudanças
climáticas nas variáveis hidrológicas, como sendo necessárias ao entendimento de como tais
mudanças afetam as bacias hidrográficas e que estejam disponíveis para consulta. As buscas
foram realizadas nas bases de dados Periódicos Capes Scielo e Google Acadêmico, utilizando as
palavras-chave “mudança climática”, “bacias hidrográficas”, “impactos hidrológicos”,
Título Referência
Mudanças climáticas e vazões extremas na Bacia do Rio Paraná Adam et al. (2015)
Simulação dos Impactos das Mudanças Climáticas na Vazão da Bacia do Arroio Júnior e Mauad
Ribeirão do Feijão-SP (2015)
Mudanças climáticas na bacia do rio São Francisco: Uma análise para
Silveira et al.(2016)
precipitação e temperatura
Hydrological responses to climate changes in a headwater watershed Alvarenga et al. (2016)
Assessment of climate change impacts on water resources of the Purus
Dalagnol et al.(2017)
Basin in the southwestern Amazon
Tendências de mudanças climáticas na precipitação pluviométrica nas bacias
Silva et al. (2017)
hidrográficas do estado de Pernambuco
Impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos no submédio da
Sobral et al. (2018)
bacia hidrográfica do rio são Francisco – Brasil
Análise de índices climáticos para avaliação do efeito de mudanças
Almeida et al. (2020)
climáticas
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Adam et al. (2015) avaliaram os possíveis impactos das mudanças climáticas sobre vazões
extremas na bacia do rio Paraná. Para isso analisaram as series de vazões máximas e mínimas
anuais em termos de magnitude e frequência de ocorrência. A modelagem dos impactos de
mudanças climáticas sob o regime de vazões foi realizada com o modelo hidrológico MGB/IPH
executado em três etapas principais: 1) calibração com dados observados; 2) simulação das
projeções climáticas do RCM ETA após remoção de viés.
a preservação da cobertura florestal natural da Bacia do Purus pode ter grande importância na
retenção de água.
No estudo realizado por Silva et al. (2017) foi analisado as tendências climáticas de índi-
ces de precipitação pluviométrica nas principais bacias hidrográficas do estado de Pernambuco,
utilizando o software RClimDex, e a avaliação dessas tendências nas bacias hidrográficas. Para
isso, foram utilizados 75 postos pluviométricos distribuídos de forma uniforme pelo estado
com séries históricas variando de 1962 a 2011, com cerca de 50 anos de dados.
Os autores afirmam que foram observadas tendências em vários índices de detecção de
mudanças climáticas nas bacias dos rios Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, Una, Mundaú,
Ipanema, Moxotó, Terra Nova, Brígida, Garças e Pontal, concluindo que existem evidências de
mudanças no clima de algumas bacias hidrográficas principais e diagnosticaram indícios de
aceleração no processo de aridez das bacias dos rios Ipanema, Brígida e Garças, e tendência de
aumento dos eventos extremos máximos de precipitação para as bacias dos rios Mundaú,
Sirinhaém e Garças.
Sobral et al. (2018) avaliaram o impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos
no Submédio São Francisco e identificaram as mudanças no uso e ocupação do solo no entorno
do reservatório de Sobradinho, também localizado no Submédio. Para isso foi calculado o
índice de Anomalia de Chuva (IAC) para caracterizar os anos de extremos climáticos secos e
chuvosos e a intensidade desses eventos. Os autores utilizaram o software Spring-5.4.3 para a
classificação do uso e ocupação do solo no reservatório de Sobradinho e entorno.
Os resultados mostraram uma tendência de diminuição dos totais pluviométricos, que se
tornou mais frequente a partir da década de 1990, onde passaram a predominar os anos secos,
tanto em quantidade de ocorrência quanto em relação à intensidade desses eventos. As alte-
rações climáticas agregadas às constantes modificações no uso e ocupação do solo estão asso-
ciadas à disponibilidade hídrica, logo são de grande importância na mediação de conflitos. Os
autores constataram que o cálculo do IAC pode ser utilizado como uma ferramenta para auxi-
liar o acompanhamento climático e a variabilidade pluviométrica de uma determinada área,
que pode ser uma bacia hidrográfica, auxiliando no gerenciamento dos recursos hídricos e,
então empreender ações de adaptação e mitigação.
Já Almeida et al. (2020) analisaram as mudanças climáticas ocorridas no estado de
Pernambuco, observando os impactos no aspecto climático por meio de índices físicos, com
enfoque na região semiárida, caracterizada por problemas de escassez hídrica, a partir da ava-
liação da variabilidade temporal da precipitação em diversas bacias hidrográficas do Estado
empregando o índice de anomalia de chuva (IAC), assim como índice de aridez (IA); análise da
tendência das séries pluviométricas, e por fim identificação das áreas com vulnerabilidade à
desertificação, a partir de estudos realizados em séries temporais no período entre 2000 e
2018, com dados de 13 postos pluviométricos.
Os autores utilizaram testes estatísticos nas análises de tendências, por meio do soft-
ware Trend e pela regressão linear; para o cálculo do índice de anomalia de chuvas foi realiza-
dos o preenchimento de falhas pelo método do vetor regional e a consistência dos dados foi
realizada pelo método da dupla massa. Entre os postos analisados, apenas os seguintes postos
Belo Jardim, Caruaru, Serra Talhada, Betânia, Ibimirim, Recife, Abreu e Lima e Camaragibe,
apresentaram tendência. Todos apresentaram tendências de queda na precipitação. Em rela-
ção à vulnerabilidade ao processo de desertificação, observado por meio do índice de anoma-
lia de chuvas, foi observado que as mesorregiões do Sertão Pernambucano, e Agreste
Pernambucano apresentaram maiores quantidades de períodos secos ou muito secos.
Na pesquisa de Magerski (2020) foram realizadas projeções hidrológicas na Sub-bacia do
Baixo Rio Ivaí (SBRI) e na Sub-bacia do Alto Rio Tibagi (SART) no estado do Paraná, em períodos
sazonais e anual, com base em variáveis hidroclimatológicas, por meio de cenários futuros
impactados por mudanças climáticas no século XXI. Para condução do estudo foi aplicada a
técnica de krigagem ordinária, utilizando o modelo geoestatístico estável em dados pluviomé-
tricos do Instituto Águas Paraná, INMET e do IAPAR resultando em mapas gerados com os
dados observados apresentando falha contrapondo os dados preenchidos. Em paralelo, foi
desenvolvido um modelo híbrido determinístico-estocástico de chuva-vazão, utilizando regis-
tros hidroclimatológicas históricos das sub-bacias. Por fim, para geração das vazões, conside-
rando dois cenários de possíveis mudanças climáticas (C1 e C2), o software PGECLIMA_R foi
utilizado acoplado ao modelo chuva-vazão híbrido determinístico-estocástico e os resultados
de precipitação foram representados espacialmente empregando o modelo estável enquanto
que os de vazão foram representados pontualmente.
Em relação aos resultados da primeira análise, notaram-se valores relativamente baixos
de EMA e REQM, assim como valores expressivos dos índices r, d e NS, principalmente, na
SART, que apresentou um menor percentual de falhas. Os testes estatísticos aplicados nos
resultados do modelo chuva-vazão indicaram desempenho muito bom na projeção das vazões,
com resultados ótimos para o teste K-S. Para a última etapa, as projeções de vazões impacta-
das por mudanças climáticas previstas para o final do século, indicaram que possivelmente
haverá aumento no fluxo, principalmente dos períodos chuvosos. Assim, a pesquisa realizada
possibilitou estimar prováveis mudanças na precipitação e nas vazões, podendo ser usada
como ferramenta para estudos mais aprofundados, bem como ferramenta para embasar a
ação de tomadores de decisão futuramente.
Steinmetz (2020) avaliou o impacto das mudanças climáticas sobre as condições hidroló-
gicas das sub-bacias arroio Pelotas, arroio Fragata e rio Piratini, pertencentes a bacia hidrográ-
fica Mirim-São Gonçalo, onde utilizou o Soil and Water Assessment Tool (SWAT). Este foi
calibrado e validado para cada sub-bacia, considerando os dados meteorológicos e hidrológi-
cos observados e, posteriormente, esse modelo foi forçado com dados meteorológicos diários
simulados para o passado e projetados para o futuro. Essas projeções foram baseadas nos
Caminhos Representativos de Concentração (RCPs) 4.5 e 8.5 de quatro modelos climáticos
globais pelas projeções de downscaling do modelo ETA: Brazilian Earth System Model (BESM),
Canadian Earth System Model (CANESM2), Hadley Centre Global Environmental Model
(HADGEM2) e Interdisciplinary Research on Climate (MIROC5).
Os resultados apresentados no estudo projetam os efeitos das mudanças climáticas na
disponibilidade hídrica, onde é esperado um aumento de chuvas em períodos futuros para a
região, levando a um aumento nas vazões dos rios, gerando erosão hídrica e uma maior fre-
quência de eventos extremos. O desempenho do SWAT foi satisfatório na calibração e valida-
ção de todas as sub-bacias, bem como na representação dos indicadores hidrológicos analisados
neste estudo. Com relação às mudanças climáticas, os resultados indicaram aumento das
vazões médias anuais, máximas e mínimas, e as maiores variações foram obtidas para as pro-
jeções climáticas baseadas no RCP 4.5. Para a RCP 8.5, a maioria dos indicadores hidrológicos
apresentou um aumento menos acentuado no final do século XXI.
Gomes et al. (2021) simularam as alterações futuras na evapotranspiração de referên-
cia (ETo) na Bacia Amazônica Brasileira decorrentes de um contínuo aumento nas emissões
de GEE (cenário RCP 8.5). Para tal utilizaram a plataforma Dinamica EGO para implementar
um modelo espacialmente explícito baseado no método de PenmanMonteith padronizado
pela FAO. A validação foi realizada comparando estatisticamente os resultados entre as simu-
lações e as observações.
Segundo os autores a comparação entre os valores de ETo simulados e observados
demonstrou que o modelo EER-PM é adequado para simular a ETo de forma espacialmente
explícita na Bacia Amazônica Brasileira, por representar de forma próxima ao real, o processo
de evapotranspiração na região. As simulações indicaram o aumento da ETo durante a estação
seca (maio a setembro) e redução durante o período chuvoso (novembro a março). Os autores
verificaram um marcante padrão espacial da ETo com maiores valores na porção leste, se
estendendo no sentido norte-sul. Este gradiente acompanha a distribuição dos valores de tem-
peratura e do saldo de radiação e coincide com os padrões de desmatamento.
Observou-se na pesquisa que a partir de 2028, as mudanças climáticas projetadas pelo
modelo HadGem2-ES no cenário RCP 8.5 podem funcionar como fonte adicional de elevação
nos níveis de ETo devido ao aumento da temperatura, em associação com as modificações no
saldo de radiação e nos padrões de precipitação.
De acordo dos estudos relatados podemos inferir que nos últimos seis anos houve uma
preocupação e avanço nas pesquisas que tratam sobre a influência das mudanças climáticas
nas bacias hidrográficas no Brasil. A vazão foi a variável hidrológica mais utilizada nas proje-
ções, seguida das variáveis meteorológicas, temperatura, precipitação e evapotranspiração. Os
modelos utilizados para as simulações e projeções dos impactos de mudanças climáticas nas
bacias hidrográficas mostraram-se eficientes e demonstraram que tais mudanças no clima
podem afetar a distribuição espacial e temporal das variáveis hidrológicas principalmente pre-
cipitação e vazão, assim como a intensidade e frequência de eventos extremos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os modelos utilizados para simular os impactos de mudanças climáticas nas bacias hidro-
gráficas se mostraram eficientes. As variáveis hidrológicas mais utilizadas nas projeções foram
vazão, precipitação, temperatura e evapotranspiração foram. As mudanças no clima podem
afetar a distribuição espacial e temporal das variáveis hidrológicas principalmente precipitação
e vazão, além de afetar a intensidade e frequência de eventos extremos. Dessa forma, novos
estudos com maior número de modelos climáticos regionais são necessários para as especifici-
dades das diferentes bacias hidrográficas, bem como para entender os processos de mudanças
climáticas para avaliar os impactos e promover ações de mitigação.
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PESQUISAS APLICADAS
EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
α
46.
ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE
CLOROFILA-α DO RIBEIRÃO SÃO JOÃO NO
MUNICÍPIO DE PORTO NACIONAL-TO
Resumo: A degradação dos ecossistemas aquáticos é uma realidade nos dias de hoje, ocasionada
pela antropização. O ribeirão São João é o principal manancial de abastecimento no município de
Porto Nacional– TO, abrangendo áreas urbanizadas e não-urbanizadas. Entretanto, esse manan-
cial atualmente se encontra em processo de degradação, devido aos diversos usos da água da
bacia, para agropecuária, desmatamento e despejos de efluentes, sendo que este último afeta
diretamente a vida aquática possibilitando a proliferação de cianobactérias. Diante disso, o obje-
tivo desse trabalho é caracterizar a concentração da variável biológica clorofila-α ao longo ribeirão
São João, Porto Nacional (TO). Foi realizada duas coletas de amostras de água, uma no início do
período de seca (julho de 2021), na região de Porto Nacional e a segunda coleta no auge da seca
(outubro de 2021), na região. As coletas nos sete pontos ao longo do ribeirão no sentido nascente
à foz, apenas nos trechos lóticos e levadas para análise no laboratório de microbiologia. Os dados
foram submetidos a estatística descritiva, análise de variância (ANOVA) e a comparação das
médias pelo Teste Scott Knott, a nível de 5% de probabilidade utilizando o software Sisvar®. Os
valores de concentração de clorofila-α encontrados para o ribeirão variaram de 0,026 μg/L a 0,160
μg/L (Coleta I), e 0,000 μg/L a 0,215 μg/L (Coleta II), não ultrapassando os valores permitidos pelo
CONAMA para águas superficiais classe II.
Palavras-chave: Antropização; Qualidade da água; Clorofila-α; Ribeirão São João.
Abstract: The degradation of aquatic ecosystems is a reality nowadays, caused by anthropization.
The São João stream is the main source of supply in the municipality of Porto Nacional-TO, cover-
ing both urbanized and non-urbanized areas. However, this source is currently in a process of deg-
radation, due to the various uses of water in the basin, for agriculture, deforestation and effluent
discharges, the latter directly affecting aquatic life, enabling the proliferation of cyanobacteria.
Therefore, the objective of this work is to characterize the concentration of the biological variable
[ 543 ]
544 Maraiza Castro; Kamila Alencar Roch; Kárita dos Santos; Fabyano Lopes
chlorophyll-α along the São João stream, Porto Nacional (TO). Two collections of water samples
were carried out, one at the beginning of the dry season (July 2021), in the Porto Nacional region
and the second collection at the height of the drought (October 2021), in the region. The collec-
tions at the seven points along the stream from the east to the mouth, only in the lotic sections
and taken for analysis in the microbiology laboratory. Data were subjected to descriptive statis-
tics, analysis of variance (ANOVA) and comparison of means by the Scott Knott Test, at a 5% prob-
ability level using the Sisvar® software. The chlorophyll-α concentration values found for the
stream ranged from 0.026 μg/L to 0.160 μg/L (Collection I), and 0.000 μg/L to 0.215 μg/L (Collection
II), not exceeding the values allowed by CONAMA for class II surface water.
Keywords: Anthropization; Water quality; Chlorophyll-α; São João stream.
1 INTRODUÇÃO
O acelerado processo de degradação dos ecossistemas aquáticos é uma realidade cres-
cente no Brasil, com a antropização, as condições dos mananciais vão se agravando, causadas
pela demanda mundial e o avanço da poluição hídrica cada vez mais maior. Essa realidade nos
centros urbanos e rurais é ainda mais dependente, cujo, a busca por água vem crescendo nos últi-
mos tempos (VESTENA et al., 2012), acarretando impactos na qualidade da água do manancial.
No Brasil, a maioria dos ecossistemas aquáticos naturais são os rios, onde, os impactos
sofridos nesses ambientes, refletem na qualidade da água, a degradação dos habitats e criação
de barramentos, são causadores da fragmentação do ambiente aquático, e por consequência,
acabam impactando a comunidade aquática ali presente (GEIST, 2011).
A qualidade da água pode ser avaliada por vários parâmetros importantes na caracte-
rização da água, estando eles relacionados à verificação das características físicas, químicas
e biológicas (MACHADO, P. J. O; TORRES, F. T. P, 2013). Tais parâmetros são regidos pela reso-
lução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que norteia sobre os
requisitos mínimos de qualidade do corpo hídrico, em todo território nacional, visando
garantir água apropriada para consumo humano (BRASIL, 2005). Diversos critérios podem
ser indicadores da qualidade da água, temperatura, turbidez, potencial hidrogeniônico (pH)
e concentração de clorofila-α.
A preocupação com a qualidade da água se dá devido a facilidade com que as proprieda-
des podem ser alteradas, fatores endógenos e exógenos ao meio ambiente (VON SPERLING; DA
SILVA FERREIRA; GOMES, 2008), acarretam mudanças nos parâmetros de qualidade da água.
Entre os diversos problemas referentes a qualidade hídrica, a eutrofização das águas é uma
preocupação considerada importante a ser analisada. A eutrofização é um processo natural ou
artificial, na qual o enriquecimento por nutrientes (principalmente nitrogênio e fósforo) e
matéria orgânica, vem sendo um problema generalizado em ambientes aquáticos, pelas ativi-
dades antrópicas, tornando a água do manancial imprópria para a utilização da população e
risco para a vida no ecossistema aquático (LE MOAL et al., 2019).
A concentração de clorofila-α é considerada uma importante variável biológica indica-
dora do estado trófico do ecossistema aquático e uma ferramenta útil na avaliação de
2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo e coleta de amostras de água
O estudo foi desenvolvido ao longo do ribeirão São João, no município de Porto Nacional,
Tocantins. Realizou-se duas coletas de amostras de água no período de julho de 2021 (início da
seca na região), Coleta I, e no período de outubro de 2021 (auge da seca na região), Coleta II.
Efetuou-se a demarcação de sete pontos fixos, distribuídos a cada 2 km ao longo do curso prin-
cipal, compreendendo apenas os trechos lóticos. Cada ponto integrou um trecho longitudinal
de 50 m no canal, onde foram coletadas amostras de água (Tabela 1).
Tabela 1 – Geolocalização dos pontos de coleta ao longo do ribeirão São João, Porto Nacional (TO)
1 -10,7366005 -48,2924308
2 -10,7316221 -48,3195042
3 -10,7365355 -48,3355423
4 -10,7105001 -48,3752476
5 -10,7062244 -48,3815522
6 -10,699244 -48,3929432
7 -10,6985434 -48,4043304
Fonte: Castro, M. B et al..
Dentre os sete pontos do ribeirão São João, cinco pontos estão localizados na zona rural
de Porto Nacional – TO (1, 2, 3, 4 e 5) e dois pontos localizam-se dentro da zona urbana de
Porto Nacional – TO (6, e 7) (Figura 1).
A coleta das amostras de água do ribeirão, se fez em potes (utilizando luvas) segurados pela
base. O pote foi mergulhado com a abertura do pote para baixo da superfície. Após o mergulho
do pote, ele foi levemente inclinado para cima, com a boca direcionada para a corrente.
Em cada ponto, as amostras de água foram coletadas em recipientes plásticos de 1 L e
em duplicata. As réplicas respeitaram o mínimo de 10 m de distância entre elas. Logo após a
coleta, as amostras foram acondicionadas em um recipiente com gelo e transportadas para o
Laboratório de Microbiologia – UFT, Campus Porto Nacional, onde foram processadas e arma-
zenadas (BAIRD et al., 2017).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da variável clorofila-α das águas superficiais nos sete pontos de coleta do
ribeirão São João em julho de 2021, Coleta I, correspondente ao início da seca na região de
Porto Nacional – TO (Tabela 2).
Tabela 2 – Concentração de Clorofila-α dos pontos ao longo do ribeirão São João, Porto Nacional (TO).
Os dados foram submetidos a ANOVA e comparados pelo teste Scott Knott (α = 0,05) no programa
estatístico Sisvar®. Letras iguais significam que não houve diferença estatística
1 0,066 ± 0,00 a
2 0,033 ± 0,02 a
3 0,026 ± 0,02 a
4 0,132 ± 0,01 b
5 0,115 ± 0,01 b
6 0,113 ± 0,05 b
7 0,160 ± 0,05 b
Fonte: Castro, M. B et al..
Pode-se verificar que os valores encontrados para clorofila-α nos pontos 1, 2, e 3 varia-
ram entre 0,026 μg/L a 0,066 μg/L, mostrando uma concentração inferior aos pontos 4, 5, 6 e
7, cujo variaram de 0,115 μg/L a 0,160 μg/L.
A clorofila-α é o pigmento fotossintético presente em todos os organismos fitoplanctôni-
cos eucarióticos (algas) e procarióticos (cianobactérias), sendo utilizado como parâmetro de
biomassa algal em vários trabalhos, tanto experimentais como na caracterização de ambientes
aquáticos e monitoramento da qualidade hídrica (KURODA et al., 2010).
Para os resultados da variável clorofila-α das águas superficiais nos sete pontos de coleta
do ribeirão São João em outubro de 2021, que corresponde ao auge da seca na região de Porto
Nacional – TO, Coleta II (Tabela 3).
Tabela 3 – Concentração de Clorofila-α dos pontos ao longo do ribeirão São João, Porto Nacional
(TO). Os dados foram submetidos a ANOVA e comparados pelo teste Scott Knott (α = 0,05) no programa
estatístico Sisvar®. Letras iguais significam que não houve diferença estatística
Na tabela acima, pode-se observar que os valores encontrados para clorofila-α nos pon-
tos 1, 2, 3 e 6 variaram entre 0,000 μg/L a 0,011 μg/L, mostrando uma concentração inferior
aos pontos 4, 5, e 7, cujo variaram de 0,098 μg/L a 0,215 μg/L. O padrão estabelecido pelo
CONAMA é de até 30 μg/L para água doce classe II (destinadas para o abastecimento humano
após tratamento convencional, à proteção das comunidades aquáticas, à recreação de contato
primário, irrigação de hortaliças e plantas frutíferas e à criação natural e/ou intensiva (aquicul-
tura) de espécies destinadas à alimentação humana). A água do ribeirão abordado neste
trabalho, é do tipo Classe II, pois é destinada para o abastecimento da população no município
de Porto Nacional -TO.
A presença de algas ou cianobactérias em águas destinadas para abastecimento humano,
como é o caso do ribeirão São João, pode ocasionar implicações direto na qualidade da água,
por exemplo, o aumento de matéria orgânica particulada, aumento de substâncias orgânicas
dissolvidas que podem conferir odor e sabor a água, apresentar toxicidade, incrementar a cor
da água, servir de substrato para o crescimento de bactérias na estação de tratamento (DI
BERNARDO, 1995).
Dentre os sete pontos de coleta, apenas o ponto 1, não foi possível coletar as amostras
de água, devido ao auge da seca na região (Coleta II), não tinha água, o que inviabilizou a coleta
neste ponto (Figura 2).
Figura 2 – Amostragem do ponto 1 no auge da seca do ribeirão São João. As imagens A e B correspondem
ao ponto 1, situado na zona rural de Porto Nacional (TO)
Figura 3 – Concentração de Clorofila-α nos sete pontos ao longo do ribeirão São João. A coleta I (julho
de 2021) e coleta II (outubro de 2021), nas zonas rural e urbana de Porto Nacional (TO). Os dados foram
submetidos a ANOVA e comparados pelo teste Scott Knott (α = 0,05) no programa estatístico Sisvar®.
Letras iguais significam que não houve diferença estatística
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coleta das amostras no ribeirão São João foi realizada no período que corresponde ao
início da seca, sendo que a concentração de clorofila-α na coleta I variou de 0,026 μg/L (menor
concentração) no ponto 3 a 0,160 μg/L (maior concentração) no ponto 7. Enquanto que na
coleta II, auge da seca na região, a concentração de clorofila-α variou de 0,000 μg/L (menor
concentração) no ponto 3 a 0,215 μg/L (maior concentração) no ponto 7, sendo que o ponto 1,
devido à época, estava com ausência de água, o que tornou inviável a coleta. Assim, o ribeirão
São João apresentou valores de concentração de clorofila-α abaixo do padrão estipulado pelo
CONAMA (30 μg/L). A sazonalidade foi um fator determinante no que tange a oscilação na con-
centração de clorofila-α nas duas coletas.
Assim, é importante a realização de coletas em várias épocas do ano, para que se possa
averiguar as alterações nos níveis de concentração da clorofila-α no ribeirão São João, obtendo
assim, conhecimento acerca de como as modificações nas comunidades aquáticas vem ocor-
rendo, cujo, a ação antrópica está cada vez mais presente e alterando esses ambientes. Os sis-
temas aquáticos são responsáveis por manter a vida como um todo, plantas, animais, uma vez
que, a obtenção de água em quantidade e qualidade é um dos grandes desafios da atualidade.
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[ 552 ]
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL POR MEIO DA APLICAÇÃO DO NDVI 553
of vegetation indices, from which it was possible to identify and verify that shrimp farming ven-
tures are the major space modifiers in the region. In addition, environmental laws that aim to pro-
tect mangrove ecosystems have been disregarded in favor of economic gain to the detriment of
socio-environmental issues, causing a series of negative effects in the estuarine region of the
Jaguaribe River.
Keywords: Environmental laws; Remote sensing; Vegetation Index.
1 INTRODUÇÃO
Os manguezais são ambientes de grande relevância ecossistêmica, desempenhando um
importante papel no equilíbrio ecológico. De acordo com Thiers, Meireles e Santos (2016), são
um dos ecossistemas mais produtivos por possuírem grande biodiversidade, servindo para ali-
mentação, reprodução e abrigo para diversas espécies.
Por conta da diversidade e disponibilidade de espécies, os manguezais são utilizados para
fins econômicos, e por esse motivo, no Brasil Colônia, no século XVIII, foram usados dispositi-
vos jurídicos para proibir a extração de madeira sem autorização da coroa, estabelecendo um
controle sobre essas áreas (TOGNELLA et al., 2019). Mas atualmente as leis que abrangem os
manguezais têm como objetivo a preservação e o equilíbrio desse ecossistema.
De acordo Soares (2007), o estuário do Rio Jaguaribe vem sofrendo ao longo dos anos os
efeitos da exploração descontrolada da derrubada de árvores, pesca predatória, atividades
salineiras e com a criação de camarão, tornando esses ambientes altamente vulneráveis aos
efeitos antrópicos.
Desta maneira o monitoramento por meio de Sensoriamento Remoto e do
Geoprocessamento de imagens dessas áreas é de suma importância para a preservação e o
aperfeiçoamento da gestão desse ambiente. Sendo possível a aplicação de índices de vegeta-
ção para o reconhecimento e a classificação da assinatura espectral das imagens.
De acordo com Menezes et al. (2012) o Índice de Vegetação da Diferença Normalizada
(Normalized Difference Vegetation Index – NDVI) é empregado em diversos trabalhos como
cobertura do solo, estimativas da radiação fotossinteticamente ativa, entre outros. Desta
maneira, pode ser usado nas áreas de mangues para mensurar os efeitos antrópicos que o
ecossistema vem sofrendo ao longo do tempo.
Sendo assim, esta pesquisa objetiva realizar uma análise das alterações ocorridas no
ecossistema manguezal do estuário do Rio Jaguaribe, Ceará. Buscar-se-á, através da análise de
evolução espaço-temporal e do NDVI, demonstrar como a legislação pode impactar no ecossis-
tema manguezal.
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área de estudo
O Estuário do Rio Jaguaribe, de acordo com Paula, Morais e Pinheiro (2006) se localiza no
litoral leste do estado do Ceará percorrendo os municípios de Fortim, Aracati e Itaiçaba com a
extensão de 36 km. Esta pesquisa se limita a área do estuário que compreende os municípios
de Fortim e Aracati, conforme Figura 1 – Os estuários são áreas onde ocorrem o encontro do
fluxo de água doce dos rios com as águas salgadas do oceano (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016).
Conforme Brandão (2014), o estuário do Rio Jaguaribe se encontra na planície costeira,
apresentando relevo deposicionais de origem eólica, fluvial e marinha. Os estuários também
apresentam grande dinâmica de sedimento fluviomarinhos argilosos com fluxo de matéria
orgânica em decomposição, formando as planícies fluviomarinhas (SOARES et al., 2007).
Segundo a SEMACE (2016), nestas áreas ocorre a presença de solos hidromórficos do tipo
Gleissolos com alto grau de salinidade, favorecendo a predominância da vegetação de mangue,
apicum e salgado.
A partir dos anos 1990, essa área começou a passar por transformações significativas
provocadas pelas atividades econômicas, podendo destacar a carcinicultura, que possui grande
relevância econômica no estuário do Rio Jaguaribe, como citam Paula, Morais e Pinheiro (2006).
Inicialmente buscou-se imagens capturadas entre os meses de junho a agosto para man-
ter um padrão e buscar, na medida do possível, períodos fora da quadra chuvosa (logo após a
mesma), pois, conforme Hiera, Lima Junior e Zanella (2005) a mesma se concentra nos meses
de fevereiro a maio, atingindo precipitações máximas nesse período em decorrência da atua-
ção das zonas de convergência intertropical (ZCIT) no estado do Ceará, que são áreas de baixa
latitudes, onde ocorre o encontro dos ventos alísios do sudeste com os dos nordeste, criando
um aumento das massas de ar, geralmente úmidas (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Contudo para os anos de 1990 e 2010 as imagens são do mês de maio (Quadro 1), pois a utili-
zação de imagens de outros meses ficaram inviabilizadas, pela presença de nuvens.
(UFC – carlos.geografia@ufc.br)
Resolução
Data Satélite Lançamento Situação Atual
Espacial
08/05/1990 Landsat 5 TM 30 m 01/03/1984 Inativo (22/11/2011)
23/08/2000 Landsat 5 TM 30 m 01/03/1984 Inativo (22/11/2011)
15/05/2010 Landsat 5 TM 30 m 01/03/1984 Inativo (22/11/2011)
12/07/2020 Landsat 8 OLI/TIRS 30 m 02/11/2013 Ativo
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
Para a manipulação das imagens e a geração do NDVI foi utilizado o software livre de
código aberto denominado QGIS, na sua versão 3.16.9 ‘Hannover’. No QGIS as imagens do
Landsat 5 e Landsat 8 foram reprojetadas para o sistema de referência de coordenadas sirgas
2000/ UTM zone 24S. Em seguida as imagens foram recortadas para a área de estudo. Para os
cálculos do Índice de Vegetação, utilizou-se a calculadora Raster, do software QGIS, conforme
a equação explicitada anteriormente.
Após aplicação do NDVI nas imagens, foi realizada uma composição falsa-cor, categoriza-
dos em -1 a 1, porém numa classificação automática, normalmente realizada pelos softwares,
os valores são discretizados em quantis, inviabilizando uma comparação entre diferentes perío-
dos. Então se faz necessário utilizar a ferramenta r.recode, sendo gerado quatro escalas de
cores onde o vermelho representa a ausência de vegetação e outras matérias, amarelo são
referentes a solo exposto e vegetação não saudável, verde claro são plantas moderadamente
saudáveis e o verde escuro são áreas com vegetação saudável, tornando os dados obtidos mais
perceptível para a interpretação.
Para se obter dados comparacionais entre os anos da série histórica do artigo, foi utili-
zada a função r.report do QGIS para calcular a área em quilômetros quadrados de cada classi-
ficação e com o resultado foram gerados gráficos com a porcentagem ao longo dos anos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Estuário do Rio Jaguaribe foram realizadas análises por meio do NDVI, com o resul-
tado foi possível identificar as alterações na paisagem ocorridas ao longo dos anos. Como resul-
tado, observou-se que em áreas onde possuía a ocorrência do ecossistema manguezal foram
ocupadas por regiões com solo exposto e pelos empreendimentos de carcinicultura, com cres-
cimento expressivo nas regiões marginais do estuário (Fig. 2).
A partir de 1990, de acordo com Araújo (2006), se deu início a instalação de empreendimen-
tos de carcinicultura no estado do Ceará. Possuindo uma pequena produção de início, mas com o
passar do tempo foi ganhando espaço juntamente com a fruticultura irrigada em detrimento de
outras atividades que ocorriam na região como agricultura de subsistência e a pecuária.
No ano de 2000 se teve um aumento considerável nas classes de vegetação moderada-
mente saudável e solo descoberto em comparação a 1990, porém essas diferenças provavel-
mente se devem a toda a dinâmica climática ocorrida na região, mas nota-se, que houve
aumento nos empreendimentos de carcinicultura pois, segundo Soares et al. (2007), se estima
que no estuário do rio Jaguaribe em 1990, havia 408,69 hectares de fazenda de camarão em
cativeiro passando para 909,32 hectares em 2002, e por fim no ano de 2005 se chegou a
1.676,78 hectares.
Porém no mesmo ano de 2005, Rodrigues e Kelting (2010) afirmam que a indústria carci-
nicultura enfrentou dificuldades em decorrência de diversos fatores, como a desvalorização
cambial do dólar em relação ao real, as leis antidumping necessárias para a exportação e a
mortandade de camarões pela mionecrose infecciosa, como consequência a produção em
Aracati entrou em declínio, resultando no abandono de alguns viveiros de criação de camarão,
permitindo restauração da vegetação de mangue.
Analisando o mapa, se observa uma grande expansão da indústria da carcinicultura, mas
se percebe muito solo descoberto onde se localizaria os tanques de criação, desta maneira se
pode notar uma queda de 4% em 2000 para 3% em 2010 na classe vermelha representada por
superfície de água.
Mas na imagem de 2020 na figura 2, pode se afirmar que houve um restabelecimento e
uma recuperação no setor da indústria de carcinicultura na região, além de um aumento na
classe vermelha de 3% em 2010 para os 5% apresentados em 2020.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do sensoriamento remoto para o monitoramento das modificações da paisa-
gem dos manguezais do Estuário do Rio Jaguaribe se mostrou positiva, com a utilização do
NDVI para além das análises de áreas com vegetação, mas com as imagens dos satélites Landsat
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ago. 2021.
Resumo: O direito à água relaciona-se com o direito à vida, e dentro da sociedade os recursos
hídricos possuem múltiplos usos e são essenciais para as atividades humanas. Porém, o cenário
resultante das mudanças climáticas, gestão inadequada dos recursos hídricos e o impacto das ati-
vidades humanas tem gerado degradação da qualidade e diminuição da quantidade de água dis-
ponível, tornando esse recurso cada vez mais escasso para atender às demandas populacionais.
No Brasil, a gestão das águas é formada por um conjunto de instrumentos previstos na Lei Federal
9433 de 1997 (Política Nacional de Recursos Hídricos) que conta como um desses instrumentos a
outorga de direito de uso de recursos hídricos. O presente trabalho faz uma análise do uso da água
no alto curso da bacia do rio São Francisco a partir dos dados de outorga, relacionando as outorgas
por CBH, analisando a situação dos cadastros, vigência e os tipos de captações, os modos de uso e
a finalidade das outorgas além do tipo de consumo. Os resultados apresentam uma concentração
das outorgas nas bacias do rio Pará, Paraopeba e Velhas, o tipo de consumo é predominantemente
consuntivo e as captações são bem distribuídas entre superficial e subterrânea, e quanto à finali-
dade os processos de outorga são predominantemente destinado ao consumo humano e a desse-
dentação animal.
Palavras-chave: Recursos hídricos; bacia hidrográfica do rio São Francisco; outorga.
Abstract: Access to water is related to human rights. For society, water resources must be used
considering their multiple uses, prioritizing human supply. Considering the climate change scena-
rio, inadequate management of water resources, and the impact of human activities, there has
been a degradation of quality and a reduction in the quantity of available water. Thus, this resource
has become increasingly scarce to meet society’s demands. In Brazil, water management is based
on Federal Law 9433 of 1997 (National Water Resources Policy), which institutes the granting of
the right to use water resources as one of the water resources instruments. This work analyzes the
use of water in the upper course of the São Francisco river basin using grant data. Relationships
[ 564 ]
ANÁLISE DO USO DA ÁGUA NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO 565
are established between grants by CBH, the status of registrations, validity, and types of funding,
modes of use, and purpose of the grants, in addition to the type of consumption. The results show
a concentration of grants in the Pará, Paraopeba, and Velhas river basins. The type of consumption
is predominantly consumptive and the abstraction is well distributed between surface and under-
ground. As for the purpose, the granting processes are predominantly intended for human con-
sumption and animal watering.
Keywords: Water resources; São Francisco river basin; outorga.
1 INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos possuem usos múltiplos considerando a sociedade como a principal
usuária, com os usos voltados para o abastecimento humano e industrial, irrigação, pecuária,
aquicultura, pesca, mineração, dispersão de efluentes domésticos e industriais, entre outros.
Porém a degradação da qualidade e diminuição da quantidade da água pelo impacto negativo
das atividades humanas têm tornado esse recurso cada vez mais escasso para atender às
demandas populacionais de certas regiões (BRASIL, 1997; CAROLO, 2007).
A escassez de água afeta mais de 40% da população mundial, sendo que este valor tende
a aumentar como resultado das mudanças climáticas e gestão inadequada dos recursos hídri-
cos (BRASIL, 2021). O direito à água correlaciona-se ao direito fundamental à vida, este assegu-
rado pela Constituição de 1988, e é elemento necessário para quaisquer atividades humanas
(CAROLO, 2007).
A gestão da água é formada por um conjunto de instrumentos que estão previstos na
Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei nº 9433/1997 (BRASIL, 1997)
que estruturam e organizam as atividades para o controle e a regulamentação do uso da água
para a garantia efetiva da qualidade da água no presente e no futuro, trata-se do principal ins-
trumento jurídico para a gestão das águas no território brasileiro.
A PNRH tem como base que a água é recurso limitado, bem de domínio público, e tem a
bacia hidrográfica como unidade territorial para a implementação da PNRH e a atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), que coordena a gestão
integrada das águas e faz o planejamento, regulamentação e controle do uso dos recursos
hídricos, com vistas à preservação e recuperação das águas (BRASIL, 1997).
Os recursos hídricos, bem como os serviços ambientais a eles associados estão no centro
do desenvolvimento sustentável que engloba tanto as dimensões ambiental quanto a econô-
mica e social. No contexto do trabalho em busca do alcance das metas dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Agenda 2030 (BRASIL, 2021) propõe que os serviços
ambientais disponibilizados pela água colaboram para o alcance dos seguintes ODS: erradica-
ção da pobreza (ODS 1), crescimento econômico (ODS 8) e da sustentabilidade ambiental (ODS
15). O acesso à água implica ainda aspectos da dignidade humana, desde a segurança alimen-
tar e energética à saúde humana e ambiental (ODS 2, 6 e 7) (BRASIL, 2021).
2 METODOLOGIA
A área de estudo corresponde a área da mesorregião do alto curso do rio São Francisco
(MACRSF) definida a partir da divisão hidrográfica nacional estabelecida pelo Conselho Nacional
de Recursos Hídricos (CNRH). A divisão das bacias é feita a partir da metodologia proposta por
Otto Pfafstetter em 1989 e serviu de base para a Agência Nacional de Águas (ANA) construir a
Base Hidrográfica Ottocodificada (BHO) (IBGE, 2021).
Os dados da mesorregião do alto curso do rio São Francisco (MACRSF) foram baixados a
partir dos arquivos disponibilizados pelo IBGE (2021), no formato de arquivo.shp, compatível
para manipulação nos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Mas há também bancos de
dados em outros formatos com os mesmos campos de informação, como, por exemplo, em
formato.xls, onde os dados da tabela de atributos são dispostos em planilhas e podendo ser
exportadas para além do ambiente SIG.
Os dados que tratam da regularização ambiental foram obtidos a partir do portal de
Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(IDE-SISEMA), onde foram adquiridos os dados que tratam das outorgas de direito de uso dos
recursos hídricos do estado de Minas Gerais fornecidas e registradas pelo Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (IGAM) (SISEMA, 2021).
A camada de dados vetorial foi recortada para a área de estudo em ambiente SIG utili-
zando o software QGIS 3.16 versão “Hannover”. O banco de dados do shape resultante de atri-
butos das outorgas da região de estudo foi exportado para o formato.xls para a realização da
sumarização e apresentação gráfica das informações referentes ao uso da água.
Figura 1 – Mapa da localização do alto curso da bacia do rio São Francisco e sub-bacias
Fonte: Os autores.
Os atributos selecionados para análise neste trabalho foram: outorgas por Comitê de Bacias
Hidrográficas, a situação dos cadastros, os tipos de captação (se superficial ou subterrâneo), dos
modos de uso da água, a finalidade de uso das outorgas, o tipo de consumo, o status de vigência
das outorgas além da dispersão das outorgas concedidas por município na área de estudo.
Os dados foram exportados para o Excel onde foi feita a organização dos dados, reti-
rando os processos com outorgas que não estavam vigentes, os resultados obtidos foram dis-
postos em gráficos e quadros que auxiliam na compreensão do uso dos recursos hídricos
concedidas na MACRSF.
Para a elaboração dos mapas, foi utilizado como sistema de referências de coordenadas
o SIRGAS 2000, e para o mapa de densidade de kernel (mapa de densidade de calor) foi utili-
zado a projeção do Brasil Policônico e os parâmetros utilizados para a estimativa da densidade
de kernel foi a partir de um raio de busca de 15km.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Das 36.523 outorgas computadas na MACRSF, mais de 35.000 estão vigentes e outras
1429 estão em estado de renovação, como apresenta a figura 2.
Das outorgas na MACRSF, 14,3% estão sob supervisão da CBH Afluentes do Alto São
Francisco, como pode ser observado a partir do gráfico na Figura 4. A maior parte dos processos
de outorgas estão nos CBH do Rio Pará e do Rio Paraopeba, correspondendo a 29,5% e 20,8%,
respectivamente, e compreendendo mais da metade das outorgas na área. A CBH do Rio das
Velhas também é significativa, com 19,7% das outorgas, e em menor número estão as outorgas
nas áreas da CBH do Entorno de Três Marias (11,7%), CBH dos rios Jequitaí e Pacuí (3,9%). Todos
os processos de outorgas de uso de recursos hídricos das CBH citadas são de competência de
comitês estaduais. As demais CBHs possuem número pouco expressivo de outorgas.
Quanto à regularização das outorgas na área de estudo, mais de 80,5% estão com o
cadastro efetivado, o que corresponde a mais de 29 mil outorgas, como mostra o gráfico da
figura 5. Do total 16% das outorgas estão deferidas e 3,2% com o status renovado, em menor
número (menos de 1%) estão as outorgas retificadas. A retificação das outorgas diz respeito a
casos de ordem técnica ou jurídica, onde pode haver alteração na condição de uso ou interven-
ção nos recursos hídricos ou mesmo alteração da titularidade.
A respeito dos usos da água, estes podem ser classificados em duas categorias, os usos
consuntivos e os não consuntivos. Os usos consuntivos são aqueles onde há a retirada da água
do corpo hídrico para a sua utilização, enquanto os usos não consuntivos utilizam da água sem
o seu consumo ou retirada. No alto curso do rio São Francisco mais de 85% do uso da água se
faz de modo consuntivo, ao passo que 13,9% são de usos não consuntivos, como apresentado
na figura 6.
Na área de estudo podem ser entendidos como usos consuntivos a água destinada
para irrigação, abastecimento humano, consumo agroindustrial, dessedentação de animais
entre outros usos que retiram a água dos cursos d’água para a sua finalidade. Já os usos não
consuntivos na área, podem ser incluídos o uso da água para recreação, paisagismo e gera-
ção de energia.
Quanto à finalidade dos processos das outorgas concedidas, a maior parte dos processos
declaram que se destina ao consumo humano como pode ser observado a partir do gráfico na
figura 7, cerca de 33%, seguido pelo uso para dessedentação de animais (20,1%) e irrigação
(15,1%). O uso da água para paisagismo e consumo industrial também se fazem relevantes no
contexto do alto curso da bacia do rio São Francisco, com 7,3% e 4,9% de outorgas com esta
finalidade, respectivamente.
Em menor número de processos estão as outorgas concedidas para o abastecimento
público (3,1%), extração mineral (3,0%), agricultura (1,9%), lavagem de veículos (1,5%) e aqui-
cultura (1,0%). Além de haver outorgas onde a finalidade de uso não foi informada (3,2%). Os
valores referem-se a processos de outorga de uso de recursos hídricos, não sendo representa-
tivos da vazão (quantidade de água outorgada).
Figura 7. Finalidade de uso dos processos de outorgas no alto curso do rio São Francisco – Outubro de
2021
Figura 8. Quadro com as principais formas de uso da água declaradas nos processos
de outorga no alto curso do rio São Francisco – Outubro de 2021
Fonte: Os autores.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho representa os dados iniciais do projeto de pesquisa em andamento: Atlas
integrado do uso e gestão dos recursos hídricos do alto curso da bacia do rio São Francisco e já
indica que a maior concentração dos processos de outorga está nas bacias dos rios Pará,
Paraopeba e Velhas, sendo que as formas de captação da água estão bem distribuídas entre a
superficial e subterrânea. O maior uso da água é destinado ao uso consuntivo, o que indica a
importância de aprofundar os estudos e analisar a quantidade de água outorgada, no ano e por
mês, o que pode indicar que os maiores usos da água não são destinados a dessedentação
humana e animal.
5 AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Federal de Minas Gerais pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa apro-
vado no Edital de Pesquisa 15/2021 – Programa Institucional de Fomento à Bolsas de Pesquisa.
6 REFERÊNCIAS
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Horizonte: IDE-Sisema, 2021. Disponível em: https://idesisema.meioambiente.mg.gov.br/webgis. Acesso em: 22
out. 2021.
Resumo: Terras caídas é uma denominação regional atribuída em termos científicos ao processo de
erosão fluvial. Apesar de ocorrer em todos os rios da bacia hidrográfica amazônica, o fenômeno é
mais comum em rios de água branca, como o rio Amazonas. Apesar de ser um fenômeno ligado à
dinâmica fluvial, as terras caídas ocorrem em virtude de um complexo sistema de fatores que vão
desde os naturais, até fatores antropogênicos. O objetivo do trabalho é fazer uma caracterização do
fenômeno das terras caídas na comunidade São José do Paraná do Espírito Santo, no município de
Parintins-AM e as implicações para os moradores locais a partir de uma visão geossistêmica. A meto-
dologia consistiu em levantamento bibliográfico sobre o tema; visitas de campo para registrar as ter-
ras caídas na área; entrevistas com um total de 5 moradores antigos da área. Foi realizada a
batimetria, tanto do rio Amazonas como do paraná. Os resultados mostram que as terras caídas na
área de estudo, envolve o trabalho sistêmico de diferentes fatores que vão desde os de ordem natu-
ral, como a dinâmica do rio, o clima, o tipo de solo, até fatores antropogênicos, como os banzeiros
oriundos das embarcações e a retirada da vegetação das margens. As consequências para a popula-
ção são várias, implicando na perda do terreno e a migração para os centros urbanos.
Palavras-chave: erosão fluvial; terras caídas; impactos socioambientais.
Abstract: Fallen Lands is a regional name given in scientific terms to the fluvial erosion process.
Despite occurring in all rivers in the Amazon hydrographic basin, the phenomenon is more com-
mon in white water rivers, such as the Amazon River. Despite being a phenomenon linked to fluvial
dynamics, fallen lands occur due to a complex system of factors ranging from natural to anthropo-
genic factors. The objective of the work is to characterize the phenomenon of fallen land in the
community of São José do Paraná do Espírito Santo, in the municipality of Parintins-AM and the
implications for local residents from a geosystemic perspective. The methodology consisted of a
bibliographic survey on the subject; field visits to record landfall in the area; interviews with a total
of 5 former residents of the area. Bathymetry was performed on both the Amazon and Paraná
[ 575 ]
576 João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho; Edson Vicente da Silva; Brenno Tavares Jacaúna
rivers. The results show that the fallen land in the study area involves the systemic work of diffe-
rent factors ranging from natural factors, such as river dynamics, climate, soil type, to anthropo-
genic factors, such as the banyan trees from the vessels and the removal of vegetation from the
banks. The consequences for the population are several, implying the loss of land and migration to
urban centers.
Keywords: River erosion, fallean lands and social environmental impacts.
1 INTRODUÇÃO
A Amazônia na sua complexidade comporta uma diversidade de sistemas ambientais. As
áreas de várzeas são um importante sistema que abarca a própria formação sedimentar, a
constituição florística e a fauna. Ao mesmo tempo, a população ocupa suas margens para
morar e produzir. Todavia, ao mesmo tempo que modifica o espaço, os ribeirinhos estão sujei-
tos ao regime fluvial (enchente-vazante) e o de erosão das margens fluviais (terras caídas).
O município de Parintins, no Amazonas, comporta 70% de seu território em terras de vár-
zea. A comunidade São José do Paraná do Espírito Santo de Cima está inserida no complexo
sistema fluvial da planície Amazônica. Precisamente localizada na margem esquerda do rio
Amazonas na entrada do paraná do Espírito Santo (montante), a comunidade apresenta muitos
problemas devido às terras caídas (figura 1).
Fonte: IBGE (2010); imagem Google Earth (2019) – CNES/Airbus. Organizadores: JD AZEVEDO FILHO; B T JACAÚNA (2019).
O fenômeno natural que existe antes mesmo da própria presença humana na região, ter-
ras caídas é um termo regionalizado que em termos científicos significa erosão lateral
(CARVALHO, 2006). Trata-se de um fenômeno que na região amazônica apresenta grande dina-
mismo e complexidade, alterando as paisagens ribeirinhas, que por vezes, traz sérias conse-
quências às populações locais que moram as margens dos rios.
Tal fenômeno erosivo apresenta maior poder de mudança da paisagem nas margens dos
rios de água branca, principalmente, o rio Amazonas. Aspecto este relevante, haja vista que a
área de estudo é banhada por esse rio.
As terras caídas ocorrem pela junção de vários fatores. Fatores esses que não são apenas
de ordem natural, como o clima e o tipo de material da margem. Mesmo que em proporção
pequena, a ação antropogênica também contribui para acelerar o fenômeno. Em seus estudos
sobre o fenômeno das terras caídas no rio Amazonas, Carvalho (2006), afirma que é multicau-
sal, complexo, inter-relacionado e promovido por fatores hidrodinâmicos, hidrostáticos, litoló-
gicos, climáticos, neotectônicos e antropogênicos, envolvendo desde processos simples a
altamente complexos.
Apesar de haver muitos estudos nas margens amazônicas, todos eles distinguem-se um
do outro, em extensão e nos reflexos às populações ribeirinhas. Assim, como explicar esse pro-
cesso na área de estudo? E quais seus reflexos para a população local? Nesse sentido, o pre-
sente trabalho teve como objetivo fazer uma caracterização dos fenômenos das terras caídas
na comunidade São José do Paraná do Espírito Santo de Cima no município de Parintins-AM e
avaliar os impactos à população da referida comunidade.
Para o estudo, além da base bibliográfica com os estudos de Carvalho (2006), Christofoletti
(1981), Marques (2017), foram realizados trabalhos de campo e levantamentos da margem e
do rio Amazonas e do paraná do Espírito Santos. Foram utilizados, lancha a motor, GPS,
Ecobatímetro, câmera fotográfica, na perspectiva de trabalho descritivo e analítico das condi-
ções ambientais e sociais da área de estudo. A análise dos dados e das condições socioambien-
tais deu-se levando em consideração a análise geossistêmica (SOCHAVA, 1977; BERTRAND,
1968, 2004; RODRIGUEZ e SILVA (2013, 2019).
Dentro do arcabouço teórico o fenômeno das terras caídas engloba diferentes processos,
a saber: escorregamento, deslizamento, desmoronamento e desabamento (CARVALHO, 2006).
Um fato a enfatizar é que o fenômeno das terras caídas na região Amazônica é mais par-
ticular nos rios de água branca, como explica Carvalho:
Embora haja desbarrancamento nas margens dos rios de água preta e água clara,
apresentando forma de falésia fluvial, o termo terras caídas é mais utilizado para se
referir ao intenso processo erosivo que acontece nas margens dos rios de água
branca (CARVALHO, 2006, p. 55).
Tendo como principal representante o rio Amazonas, os rios de água branca possuem
suas nascentes localizadas em altitudes das elevações Andinas e imediações próximas a essa
unidade de relevo.
Em sua totalidade, as nascentes dos rios de água branca estão assentadas em regiões de
formação geológica recente. Tal característica implica em um intenso processo erosivo, motivo
pelo qual transportam grande quantidade de material em suspensão, os caracterizando com
uma tonalidade amarelada, barrenta, turva e com pH variando entre 6,5 e 7. Apesar da impor-
tância de todos os tipos de rios da bacia Amazônica “[...] os rios de água branca se revestem de
importância ainda maior, pois esses rios apresentam uma dinâmica fluvial superior aos demais
rios” (MARQUES, 2017, p. 57).
Tal aspecto explica o autor, é mais notório quando suas margens são formadas por mate-
rial holocênico que se formaram exatamente pela deposição fluvial. A junção dessa caracterís-
tica com o volume e a carga transportada, promove nesses rios intenso processo erosivo, logo,
significativa presença das terras caídas.
Guerra (2012) salientam que a ação erosiva provocada pelas águas correntes dos rios
acontece de três formas: corrosão, corrasão (ou abrasão) e cavitação.
No caso da erosão fluvial por corrosão, Carvalho (2006) menciona que esta resulta da
dissolução de material solúvel durante a percolação (infiltração e lavagem) da água no solo e
da reação que se realiza entre a água corrente e o material que se encontra nas margens do
canal. Nesse caso específico, o impacto da água do rio no solo que o margeia, provoca a sepa-
ração de material químico do local impactado.
No caso da erosão fluvial do tipo corrasão (ou abrasão), assim menciona Carvalho (2006,
p. 65): “A erosão do tipo corrasão ou abrasão é conceituada como sendo o desgaste provocado
pelo atrito mecânico das partículas entre si e com o material das margens, que ao se chocarem
provocam fragmentação das rochas”.
Esse aspecto segundo o autor é mais importante para a ocorrência das terras caídas, do
que o próprio volume de água.
Diferente das outras formas de erosão anteriormente mencionadas, a cavitação só
acontece quando o canal fluvial sofre aumento de declividade provocando aumento de
velocidade e variação de pressão. A junção entre essas três características incide sobre as
paredes do canal de tal forma, que facilita a fragmentação das rochas (CARVALHO, 2006). Tal
fenômeno não ocorrem em toda a extensão do rio Amazonas, pois sua velocidade não com-
porta essa capacidade.
2 METODOLOGIA
Devido à complexidade dos processos erosivos nas encostas dos cursos d’águas na região,
bem como seu transporte e deposição, faz-se necessário fazer as observações numa aborda-
gem geossistêmica, ou seja, buscando compreender esses fenômenos a partir do entendi-
mento da interação entre vários elementos da paisagem atuando em conjunto (RODRIGUEZ et
al, 2013). Esses elementos incluem a dinâmica hidrográfica, o clima, a geomorfologia, a pedo-
logia e mesmo a ação humana.
A observação da paisagem da várzea amazônica é um passo importante para compreen-
são das relações entre os diversos elementos que compõem a referida paisagem. O trabalho
apresenta a análise da paisagem local procurando identificar as caracteristicas da formação
fluvial nas áreas de várzea, constituidas de sedimentos fluviais depositados ao longo do periodo
de cheia e vazante. Formação vegetal típica, adaptada as condições naturais, classificadas
como Pioneiras. Nas proximidades das habitações dispersas estão culturas frutíferas, peque-
nos roçados, além de desmatamento e ocupação natural por capim nativo para a criação de
gado, criado de forma extensiva.
Para compreender melhor as especificidades do processo erosivo da borda do rio
Amazonas foram realizados três trabalhos de campo em períodos diferentes no segundo
semestre de 2019. Foram realizadas batimetrias no rio Amazonas e no paraná do Espírito Santo.
Nessa atividade foi utilizado um ecobatímetro marca Garmin. Foi utilizado canoa de alumínio
motorizada para visita na área e as atividades de coleta de dados, levantamento fotográfico e
conversas informais com os moradores.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No caso específico da Amazônia, as primeiras menções sobre erosão de margem (mesmo
que não utilizando o mencionado termo científico, mas o termo regional, terras caídas) são
encontradas em literaturas não especializadas, onde é possível, por vezes, encontrar explica-
ções do fenômeno ligadas a entidades mitológicas do fundo dos rios, como a cobra grande, que
povoam o imaginário dos ribeirinhos que moram nos “beiradões” (CARVALHO, 2006).
A vazante rápida do rio somada as chuvas pesadas comuns na região, tornam o material
presente nas margens pesados. No caso da vazante, em particular, há aumento da força da gra-
vidade, pois o solo pesado pela água infiltrada fica cada vez distante do nível do rio. Todos
esses fatores somados ocasionam em episódios de terras caídas.
Em outras palavras, as terras caídas também estão associadas à força sísmica enquanto
agente endógeno do relevo. Os cursos dos canais, muitas vezes obedecem a uma simetria pró-
pria das falhas e consequentemente interferem na dinâmica das correntes e o fluxo laminar
sobre as bordas dos rios, provocando instabilidade e desmoronamento.
Os fatores climáticos – Ventos, fortes chuvas e as mudanças de temperatura são os prin-
cipais elementos climáticos que ao manifestar-se sobre o pacote sedimentar não coeso, enfra-
quecem as margens dos rios contribuindo, assim, para episódios de terras caídas na Amazônia
(CARVALHO, 2006; MARQUES, 2017).
No caso dos ventos, atua no sentido de produzir banzeiros, tornando o rio, principal-
mente próximo às margens, turbulento. Essa turbulência produz ondas com tamanho e força
hidráulica capaz de solapar o solo na margem, contribuindo para as terras caídas.
Carvalho (2006) salienta que a ação dos ventos nos rios amazônicos é mais significativa
devido aos seguintes fatores:
Primeiro: os rios amazônicos, predominantemente são muito largos. Essa largura signi-
fica maior superfície de atrito aos ventos, logo, maior turbulência criada pelos banzeiros e, pos-
teriormente, maior solapamento nas margens, como é o caso do Rio Amazonas.
Segundo: tipo de solo existente nas margens.
Nos trechos aluviais, todavia, as marcas e as formas topográficas erosivas são facil-
mente obliteradas pela sedimentação posterior ou pela intensa movimentação den-
trítica[...]. Ao contrário, as marcas erosivas e as formas topográficas em leitos
rochosos são mais perenes, facilmente percebidas e criam a imagem falsa de que a
erosão só é atuante nesses trechos (CHISTOFOLETTI, 1981, p. 235-236).
Em áreas onde o solo é menos coeso, a ação erosiva dos banzeiros oriundos dos ventos
fica registrada por pouco tempo, quase imperceptível. Isso ocorre porque a sedimentação pos-
terior encobre esses registros. Já em trechos do rio onde o solo é mais coeso, o registro erosivo
dos banzeiros é mais perceptível durante algum tempo.
A composição do material das margens (litologia) – Como já mencionado anterior-
mente, o tipo de material que compõe o solo das margens, contribui no processo de erosão, ou
na competência maior ou menor de um rio retirar esse material. Quando comparado o poder
de retirada de material de suas margens entre cada tipo de rio da Bacia Amazônica, observa-se
que os rios de águas pretas e claras apresentam um mecanismo de retirada menor que os rios
de águas brancas, como é o caso do Rio Amazonas.
Os Fatores antropogênicos – Como observado a erosão de margem ocorre pela relação
de um conjugado grupo de fatores. Dependendo da área de estudo, alguns fatores podem se
sobrepor com relação a maior participação no processo de erosão.
[...] o meio ambiente não pode deixar de incluir o homem, mas um homem qualifi-
cado pelas suas relações sociais, sua cultura, seu ideário, mitos, símbolos, utopias e
conflitos. Afinal, toda conceituação que exclua o homem em sua complexa pleni-
tude é falha, incompleta, pois alija o agente que simultaneamente é produtor e
usuário do meio ambiente, mas também, por meio dele, algoz e vítima.
No geral, dois fatores antrópicos, mesmo que em escala mínima, contribuem no pro-
cesso de erosão de margem: a retirada da vegetação ciliar e os banzeiros provocados pelas
embarcações (CARVALHO, 2006):
Com relação às embarcações, todos os rios servem de via para o transporte regional,
porém nem todos recebem transporte de âmbito internacional. O rio Amazonas é via de trans-
porte tanto para embarcações regionais, como para embarcações internacionais de grande
porte, como os grandes cruzeiros turísticos e os grandes navios cargueiros. Isso implica em
banzeiros de tamanhos e intensidades diferentes que também contribuem para o fenômeno
das terras caídas.
O escorregamento não causa perdas humanas e materiais, devido aos sinais que podem
ser observados na área, indicando que o solo a qualquer momento pode se movimentar:
O escorregamento só não causa mais vítimas humanas ou outros danos materiais
aos moradores ribeirinhos porque o mesmo apresenta sinais durante a quebra do
equilíbrio, como rachaduras na margem e aumento de espumas no leito do rio, pre-
núncio de que a terra vai aluir (CARVALHO, 2006, p. 87).
Um ponto importante a destacar e que pode ser interpretada na figura anterior, é o fato
que o escorregamento pode ser mais impactante durante a vazante. Como se observa, a massa
de terra que sofreu escorregamento está muito próxima do nível do rio. Durante a vazante a
distância do nível do rio aumenta em relação a faixa de terra. É essa situação que faz o escor-
regamento ser mais intenso e perigoso.
Com relação ao processo de terras caídas do tipo desmoronamento, Carvalho (2006)
considera um tipo de avalanche de terras na margem de um rio. Trata-se de um movimento
onde o solo fica totalmente revirado (figura 6).
Esse tipo de terra caída é influenciado pela saturação do solo devido à infiltração da
água, tanto por via pluvial como fluvial. No caso da fluvial, isso só ocorre durante as cheias.
Durante a vazante, semelhante ao processo de escorregamento, o nível do rio fica distante do
nível da terra, aumentado com isso o papel da gravidade, pois o solo está pesado com a água
nele infiltrada.
No caso das terras caídas do tipo desabamento, Carvalho (2006) corrobora dizendo que
se trata de um movimento de terra em queda livre, sem que haja uma superfície para que o
material deslize como se observa na figura 7.
Como mostra a figura, os blocos de terras que se desprendem do barranco caem em queda
livre, ou seja, não há a presença de superfície para que esses blocos deslizem. Esse tipo de movi-
mento de terra em queda livre ocorre devido aos banzeiros retirarem a base do barranco mate-
rial, processo chamado de solapamento. A retirada de material da base torna a parte superior do
barranco sem sustentação acarretando a queda livre de terra, ou seja, o desabamento.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise geossistêmica para compreensão dos processos ambientais na Amazônia ganha
significado cada vez maior. O fenômeno das terras caídas, nessa perspectiva, envolve um com-
plexo sistema de fatores, que na comunidade São José do Paraná do Espírito Santo, implica em
inúmeros problemas.
Constatou-se que apesar de ser um fenômeno ocasionado pela relação sistêmica entre
vários fatores naturais, a ação antrópica, mesmo que em pequena proporção, também contri-
bui para acelerar o processo. Esse aspecto dentro de uma visão sistêmica, onde os fatores
antropogênicos também são considerados, permitiu compreender que o homem é algoz e
vítima do meio ambiente.
Pressupõem-se, em vista dos levantamentos e batimetria realizados, que um dos fatores
que ao longo do tempo vem contribuindo para acelerar os processos erosivos, as terras caídas,
no trecho da área pesquisada, é o fato de que no rio Amazonas está havendo um processo de
assoreamento, inclusive com o surgimento de uma barra lateral (STEVAUX e LATRUBESSE,
2017) que possivelmente pode ter influenciado no fluxo da corrente do rio em direção à mar-
gem esquerda, onde estão a ilha do paraná do Espírito Santo e o próprio paraná.
As entrevistas com moradores e as observações feitas na localidade permitiram consta-
tar que as terras caídas implicam em diferentes problemas. Esses problemas vão desde a perda
material como as casas e embarcações, até a possibilidade de risco de morte. Outro aspecto
relevante é o impacto sobre o modo de vida das pessoas, haja vista que ao migrar para a
cidade, há um impacto psicológico muito forte, para aqueles que se veem forçados a deixar o
lugar onde cresceram.
Esse aspecto também permite ressaltar os impactos econômicos que as terras caídas
podem causar, pois o terreno perdido significa a perda da propriedade de subsistência.
Por fim, esse trabalho é apenas um pequeno esboço na compreensão do fenômeno das
terras caídas na Amazônia, haja vista que se trata de um fenômeno complexo e sistêmico cau-
sando impactos ambientais e sociais, podendo abranger pequenas áreas, mediadas em metros
ou mesmo quilométricas. Todavia, faz parte da dinâmica dos rios amazônicos de água branca.
5 REFERÊNCIAS
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STEVAUX, J. C.; LATRUBESSE, E. M. Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Oficina de Textos 2017.
Resumo: O Cerrado brasileiro tem sido alvo de desmatamento e conversão de seus remanescen-
tes vegetacionais para usos agropecuários, com subsídio de políticas públicas desenvolvimentis-
tas, especialmente desde a década de 1970. O acompanhamento dessas mudanças é fundamental,
diante da necessidade de estabelecer medidas de manejo conservacionistas e mitigadoras de
impactos, para manutenção de paisagens equilibradas, sendo o monitoramento via imagens de
satélite uma das principais ferramentas, que permite compreender como as alterações ocorrem
temporalmente na superfície terrestre, e auxilia na tomada de decisão sobre a gestão do territó-
rio. O principal objetivo da pesquisa foi analisar as mudanças de uso e cobertura do solo entre
1985 e 2020 na bacia hidrográfica do rio do Peixe, assim como sua vulnerabilidade ambiental. A
metodologia consistiu no download e tratamento dos dados do meio físico da região, como a clas-
sificação do uso e da cobertura da terra gerados pelo MapBiomas, além das caracterizações geo-
lógica, pedológica, geomorfológica e pluviométrica, para posterior processamento e obtenção do
mapa final de vulnerabilidade. Os resultados indicaram intensa conversão de áreas naturais, com
cobertura vegetal e recursos hídricos, para uso agropecuário, sendo que a pastagem predominou
até 2015, quando a agricultura teve maior avanço. Mais de 60% da área foi mapeada como media-
namente estável/vulnerável, e a expansão agropecuária não considerou as áreas mais vulneráveis,
o que pode induzir a processos erosivos na área, portanto considera-se fundamental o planeja-
mento adequado da bacia, de forma a criar estratégias de manejo e gestão adequadas.
Palavras-chave: Gestão de bacias hidrográficas; conversão de vegetação; desmatamento, Cerrado.
Abstract: The Brazilian Cerrado has been the target of deforestation and conversion of its vege-
tation remnants for agricultural uses, with the subsidy of developmental public policies, espe-
cially since the 1970s. The monitoring of these changes is essential, given the need to establish
conservationist management measures and impact mitigation, for the maintenance of balanced
landscapes, being the satellite monitoring images one of the main tools, which allows unders-
tanding how changes occur temporally on the land surface, and assists in decision making about
[ 587 ]
588 Kássio Samay Ribeiro Tavares; Jaqueline Gomes Batista
the management of the territory. The objective of the research was to analyze land use and land
cover changes between 1985 and 2020 in the Peixe River watershed, as well as its environmen-
tal vulnerability. The methodology consisted in downloading and treating the physical environ-
ment data of the region, such as the land use and land cover classification generated by
MapBiomas, as well as the geological, pedological, geomorphological and pluviometric charac-
terizations, for further processing and obtaining the final vulnerability map. The results indica-
ted intense conversion of natural areas, with vegetation cover and water resources, for
agricultural use, with pasture predominating until 2015, when agriculture had a greater advance.
More than 60% of the area was mapped as moderately stable/vulnerable, and the agricultural
and livestock expansion did not consider the most vulnerable areas, which can induce erosive
processes in the area, therefore it is considered essential to adequately plan the basin in order
to create appropriate management strategies.
Keywords: Watershed management; Vegetation conversion; deforestation, Cerrado,.
1 INTRODUÇÃO
O estudo do uso e cobertura das terras está relacionado ao entendimento das mudanças
que ocorrem em locais específicos ao longo do tempo, principalmente devido às constantes
perturbações antrópicas que levam a maiores pressões e impactos no meio ambiente (BRITO;
PRUDENTE, 2005; SILVA et al., 2009).
No contexto do domínio do Cerrado brasileiro, Carneiro (2012) elucida que os usos são
caracterizados pela crescente integração de novas áreas em sistemas de produção, a partir do
desmatamento e conversão de terras para usos agrícolas, e desenvolvimento público contínuo,
subsidiado por programas como o Polocentro-Cerrado, desde a década de 1930, mas com
maior intensidade a partir da década de 1970.
É de extrema importância o acompanhamento dessas mudanças, diante da necessidade
de conservação e desenvolvimento de medidas mitigadoras de impacto, para uso e manejo
mais sustentáveis, que priorizem o equilíbrio da paisagem e ecossistemas em geral. Uma das
medidas de acompanhamento é o monitoramento via imagens de satélite, que permite a aná-
lise de mudanças na superfície terrestre, por meio do uso de técnicas de sensoriamento remoto
e geoprocessamento ambientadas no sistema de informações geográficas (SIG), apresentando
resultados completos, com auxílio de processos matemáticos e estatísticos.
O principal objetivo desse monitoramento é o de compreender como as alterações ocor-
rem temporalmente, como subsídio à tomada de decisão sobre a gestão do território. Ao se
fazer uma análise das transformações ocorridas utilizando as imagens de satélites e mapea-
mentos digitais, além de ponderar as condições de obtenção das imagens adquiridas, pode-se
avaliar e monitorar quase em tempo real as mudanças que ocorrem sobre a superfície, consi-
derando a sua rápida detecção e aquisição de dados espectrais (CHANDER et al., 2010; AQUINO
et al., 2012; CUNHA et al., 2012).
Diante do exposto, e adotando a bacia hidrográfica como unidade de análise, bem como
uma unidade básica do planejamento ambiental e o local onde se observa a interação entre a
natureza e o homem, essas áreas se mostram como importantes espaços de levantamento
para a gestão de ações que envolvam o uso e proteção dos recursos naturais (PISSARA et al.,
2004). Portanto, estudar as mudanças em bacias hidrográficas reflete a forma como o homem
ocupa o espaço terrestre e como o usa ao longo do tempo.
O objetivo do presente artigo visa a análise temporal do uso e cobertura das terras na
bacia hidrográfica do rio do Peixe nos anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2020, bem como as
implicações das mudanças empregadas sobre ela no que tange à vulnerabilidade ambiental da
paisagem. O recorte espacial se dá pela importância da área para a conservação, tendo em
vista que ela faz parte de uma das regiões com maiores índices de conversão da vegetação
natural em agropecuária, expressos em trabalhos como de Barbalho (2002), Castro (2005),
Cabacinha (2008), Faria (2011) e Carneiro (2012).
2 METODOLOGIA
A metodologia está dividida em duas frentes, a primeira corresponde à realização da
análise temporal do uso e cobertura das terras para a bacia hidrográfica do rio do Peixe, tendo
como recorte temporal os anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2020. E a segunda, é o mapea-
mento da vulnerabilidade ambiental da paisagem para a referida bacia hidrográfica, bem como
a comparação dos resultados dessa análise, para identificação das áreas que sofreram maiores
conversões e pressões antrópicas.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como subsídio para a análise temporal, utilizou-se dados de uso e cobertura da plata-
forma do Mapbiomas, especificamente da coleção 6, que é tida como atual e referência em
termos de refinamento e acurácia de mapeamento. A partir dos dados obtidos para os anos
propostos nesse artigo, o software Arcgis 10.7/ESRI foi usado para a manipulação, classificação
e quantificação das classes para a bacia hidrográfica, sendo determinadas cinco classes de uso
e ocupação: Vegetação (florestas, vegetação nativa, remanescentes vegetacionais), Agricultura,
Pastagem, outros usos antrópicos (como área urbana) e Corpos hídricos.
Como medida de quantificação de áreas para cada ano analisado, foi utilizado o software
Excel para a manipulação dos dados em hectares (ha) que posteriormente foram transforma-
dos em quilômetros quadrados (km²), e isso permitiu a criação de gráficos e tabelas para o
melhor entendimento da dinâmica e evolução das classes de uso.
Para comparação e correlação das mudanças do uso e cobertura com as áreas mais sus-
cetíveis da paisagem, foi realizado o mapeamento da vulnerabilidade ambiental, com base na
metodologia proposta por Crepani et al. (2001), em que os autores objetivam a análise
Tabela 1 – Índices de vulnerabilidade para as variáveis do meio físico da Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe
Basalto 1,5
Arenito 2,4
Conglomerados 2,5
Litologia
Diamicito 2,5
Argilito 2,7
Folhelhos 2,8
Cambissolo 2,5
Pastagem 3,0
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados dividem-se em dois tópicos, análise temporal do uso e cobertura e a repre-
sentação final do mapeamento da vulnerabilidade ambiental, correlacionando as áreas mais
vulneráveis com as mudanças de uso e cobertura para o período estudado. A análise temporal
apresentará os resultados do mapeamento de uso para cada ano analisado, visando o
Como resultado, constatou-se que a bacia hidrográfica do rio do Peixe apresenta valores
que vão de 1,0 (estável) a 2,6 (moderadamente vulnerável). 66,82% da área de estudo é consi-
derada medianamente estável/vulnerável, representada por valores entre 1,8 e 2,2 (Tabela 3).
O grau denominado moderadamente estável, com valores entre 1,4 e 1,7, representou 27,97%,
seguido, em ordem decrescente, pela classe de grau moderadamente vulnerável,
representado pelos índices de 2,3 a 2,6, que em sua totalidade somam 4,56%. O grau estável
consistiu na menor área do mapeamento, com 0,62%, e varia entre 1,0 até 1,3.
Tabela 3 – Porcentagem de área para cada valor de vulnerabilidade da bacia hidrográfica do rio do
Peixe
1,0 0,17%
1,1 0,10%
ESTÁVEL
1,2 0,21%
1,3 0,14%
1,4 1,03%
1,5 6,99%
MODERADAMENTE ESTÁVEL
1,6 18,15%
1,7 1,82%
1,8 10,42%
1,9 31,46%
MEDIANAMENTE ESTÁVEL/
2,0 15,00%
VULNERÁVEL
2,1 3,38%
2,2 6,56%
2,3 4,30%
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados quantitativos e qualitativos da série histórica do uso e cobertura
da bacia hidrográfica do rio do Peixe conclui-se que, dentre as classes analisadas no mapea-
mento, três se destacam em área, crescimento, distribuição, bem como suas conversões em
outras classes, que são a vegetação, pastagem e agricultura.
A pastagem cresceu exponencialmente em todo o território estudado, principalmente
por meio da conversão da vegetação natural em pasto, para a inserção do gado. Foi constatado
também que nos últimos 5 anos de análise (2015-2020) a classe de agricultura teve um salto
em ocupação de área, sendo que diversas manchas de pastagem se tornaram zonas de
agricultura.
Essas conversões acontecem de forma intensa desde 1985 até os dias presentes, e de
forma não conservacionista, o que é constatado pelo mapeamento da vulnerabilidade ambien-
tal da área de estudo, que indica fragilidade considerável em praticamente toda a bacia hidro-
gráfica do rio do Peixe, e constata poucos fragmentos de índices mais próximos da estabilidade,
correspondentes às áreas ainda conservadas, com presença de vegetação.
Essas afirmações corroboram para a análise de que o uso antrópico tem acontecido sem
a gestão e o manejo adequados, o que pode ocasionar o desenvolvimento de focos erosivos,
bem como outros processos pedogenéticos e morfogenéticos que alterem a qualidade do solo,
prejudicando assim o sustento das próprias atividades antrópicas.
Em resumo, a análise temporal permitiu identificar espacialmente as áreas de maior
transformação e as modificações de uso ocorridas temporalmente e, juntamente com o
mapeamento de vulnerabilidade ambiental, forneceu uma visão ampla dos processos e suas
implicações na paisagem, sendo útil para o planejamento e para traçar medidas de gestão, fis-
calização e manejo adequados do território da bacia.
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Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água e identificar os grupos de polui-
ção presentes por meio de técnica estatística multivariada de componentes principais na bacia do
Capim Branco/ MG. Os dados de qualidade da água foram obtidos no site do Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (IGAM) entre o período de 1997 até 2019. As variáveis analisadas foram 6 parâ-
metros químicos e 3 parâmetros biológicos, a saber: os coliformes termotolerantes, os coliformes
totais, a demanda biológica de oxigênio, a Escherichia Coli, o fósforo, o nitrato, o óleo e graxa, o
oxigênio dissolvido e o sulfato. Por meio da análise multivariada de componentes principais foi
possível identificar os parâmetros com maior contribuição na variabilidade dos dados em que
foram: Escherichia coli, o óleo, o sulfato, o nitrato, o coliforme total e o coliforme termotolerante
distribuído em quatro componentes, explicando 82,53% da variância total. Conclui-se que a aná-
lise de componentes principais permite relacionar os parâmetros de qualidade da água e a variân-
cia do total dos dados.
Palavras-chave: qualidade da água; análise de componentes principais; bacia hidrográfica.
Abstract: The objective of this study was to evaluate the quality of the water and to identify the
groups of pollution present through a multivariate statistical technique of principal components in
the basin of Capim Branco-MG. The water quality data were obtained from the website of the
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) from 1997 to 2019. The variables analyzed were 6
chemical parameters and 3 biological parameters, namely: thermotolerant coliforms, total coli-
forms, biological oxygen demand, Escherichia Coli, phosphorus, nitrate, oil and grease, dissolved
oxygen and sulfate. Through the multivariate analysis of principal components, it was possible to
identify the parameters with the greatest contribution to the variability of the data, which were:
Escherichia coli, oil, sulfate, nitrate, total coliform and thermotolerant coliform distributed into
four components, explaining 82.53% of the total variance. It is concluded that the analysis of prin-
cipal components allows relating the water quality parameters and the variance of the total data.
Keywords: water quality; principal component analysis; watershed.
[ 599 ]
600 Rogerio Gonçalves Lacerda de Gouveia
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os desenvolvimentos na agricultura, indústria e atividades urbanas,
especialmente próximas aos rios, afetaram significativamente a qualidade e a quantidade des-
ses recursos hídricos (DEBELS et al., 2005). As mudanças na qualidade da água dos rios ocorrem
devido o lançamento de produtos químicos e nutrientes, ameaçando os ecossistemas aquáti-
cos e as condições ambientais (CHOWDHURY; HUSAIN, 2020).
Para avaliar a mudança na qualidade da água é fundamental o monitoramento das carac-
terísticas físico, química e biológicas durante o ano e o resultado será uma grande quantidade
de dados que para a interpretação mais assertiva recomenda-se realizar a análise estatística
(GUO et al., 2018).
Uma das opções estatísticas para análise de qualidade da água é o uso da análise multi-
variada, no caso a análise de componente principal (ACP), uma vez que irá proporcionar a redu-
ção do grande número de dados em duas componentes principais representadas de forma
gráfica (BERTOSSI et al., 2013).
Vários estudos sobre qualidade da água utilizaram a análise estatística multivariada de
componente principal em diferentes localizações de bacias hidrográficas (MAIA et al., 2019),
(SILVA et al., 2020a) e (LEITE et al., 2021).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água e identificar os gru-
pos de poluição presentes por meio de técnica estatística multivariada de componentes prin-
cipais na bacia do Capim Branco/ MG.
Foi aplicado a análise estatística multivariada de componentes principais na bacia do
Capim Branco/ MG em razão do uso da terra por atividades antrópicas e sua influência na qua-
lidade da água (SILVA; FONSECA, 2021).
2 METODOLOGIA
O estudo foi realizado na bacia hidrográfica do Capim Branco (Figura 1), localizado na
porção sudoeste do estado de Minas Gerais na Mesorregião do Triângulo Mineiro, entre as
coordenadas UTM 790000 N e 795000 E com área total de 117889 hectares. O clima é o tropi-
cal classificado como Aw de acordo com a Köppen, com temperatura média de 21.5 °C e preci-
pitação média anual de 1600 mm (ROSA et al., 1991).
A geologia predominante é representada pelos arenitos das formações Marília e Botucatu
e pelos basaltos da formação Serra Geral. A região está inserida na bacia sedimentar do Paraná,
e as principais litologias são de idade mesozoica (ROSOLEN et al., 2009).
A cobertura vegetal natural é formada por cerrados e penetrada por florestas-galeria ao
domínio dos chapadões (AB’SABER, 1971).
Fonte: O autor.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso da terra na bacia é mostrado na Tabela 1, com apresentação das classes de utiliza-
ção e a quantidade de área utilizada.
A maior classe de uso da terra na bacia foi a pastagem (Tabela 1). Devido a pastagem não
ser exigente nutricionalmente se comparado com a agricultura. A pastagem tem uma boa
adaptação em solo ácido do cerrado, dessa forma o produtor realiza um baixo investimento em
insumos e tecnologias na pecuária (BUSS et al., 2020).
A segunda maior área ocupada na bacia foi pela classe corpos de água. A explicação para
esse é fato é devido a presença do lago Capim Branco em que foi criado para atender a segu-
rança hídrica da cidade de Uberlândia e a geração de energia elétrica pela UHE Amador Aguiar.
O aumento da população resulta em um crescimento por demanda de água para a geração de
energia elétrica. Dessa forma, torna-se necessário a construção de reservatórios artificiais
(SIRQUEIRA et al., 2020).
A área ocupada por mata nativa está presente em terceiro lugar na bacia do Capim
Branco (Tabela 1). Com a expansão agrícola, o agronegócio possui papel fundamental na
economia brasileira, mas seu desenvolvimento é acompanhado por crescentes preocupações
com os impactos ambientais provocados pela agricultura e pecuária nos recursos naturais, que
podem repercutir na biodiversidade, na disponibilidade hídrica, na qualidade do ar e o solo e
na saúde humana (GOMES, 2019).
A classe de uso da terra pela agricultura foi a quarta com maior ocupação entre as classes
de uso da terra na área em estudo (Tabela 1). O processo de desmatamento do Cerrado tornou
o território para a expansão da fronteira agrícola no Brasil a partir da década de 70. Até a
Segunda Guerra Mundial o cerrado era considerado um território dominado por solos ácidos e
que, no máximo, apropriado para pastagens, o impulso do Estado brasileiro e de empresas pri-
vadas em pesquisas sobre fertilidade dos solos transformou o Cerrado brasileiro em um “celeiro
de grãos” (SILVA et al., 2020b).
Outro parâmetro encontrado em elevada concentração foi o óleo e graxa (Tabela 2),
em que pode afetar as características químicas e biológicas do ecossistema aquático. Em que
deve ser ausente a presença de óleo e graxa na água de acordo com pela Resolução Conama
nº 357/2005. Devido a presença da agricultura na bacia, onde é utilizado máquinas agrícolas
para o cultivo de lavouras, pode ter ocorrido a influência na presença de óleo e graxa na água
da bacia.
Parâmetros Valores
P – mg/L 0,06
OD – mg/L 6,49
Tabela 3 – Matriz de peso fatorial dos parâmetros da qualidade de água nas quatro componentes
principais selecionadas
Parâmetros CP 1 CP 2 CP 3 CP 4
A componente principal 1, explicou 31,92% da variabilidade total dos dados, teve uma
maior influência positiva pelo parâmetro de qualidade da água (Tabela 3). Entre os parâmetros
em que mais influenciaram na componente principal l temos o nitrato, o sulfato, o óleo, o OD
e o EC ao mesmo tempo a demanda bioquímica de oxigênio – DBO teve uma maior influência
negativa (Figura 2). Assim, os parâmetros indicativos de poluição da água como o EC, o óleo e
o nitrato explicam a maior variação da qualidade da água da bacia do Capim Branco em razão
do uso da terra por atividades antrópicas na bacia.
Ao estudar a contaminação da água por EC na água para consumo humano em um assen-
tamento rural no Paraná foi verificado fontes sujeitas à contaminação devido a sua baixa pro-
fundidade e proximidade com a superfície do solo, estando expostas ao escoamento de água
da chuva que carreiam impurezas. Onde aproximadamente 30% das amostras de água do
nosso trabalho foram coletadas durante o período de chuva, isto pode ter favorecido os altos
índices de contaminação nessas fontes de consumo, já que as condições climáticas favorecem
a propagação de patógenos (MACEDO et al., 2020).
A presença de óleo e graxa ocorre por ações antrópicas, de modo que os efluentes indus-
triais geralmente são constituídos de compostos orgânicos e inorgânicos incluindo óleos e
graxas. Ao identificar as possíveis fontes de contaminação da água por uma indústria no muni-
cípio de Joaçaba em Santa Catarina na microbacia do Rio do Peixe, foi constatado que o depó-
sito de resíduos sólido da empresa possa ser responsável pela contaminação da água. As
análises dos efluentes indicaram que o sistema de tratamento é inadequado e os parâmetros
de lançamento não atendem a legislação (CEMBRANEL et al., 2019).
Para evitar a interferência na qualidade da água pelo nitrato é de suma importância
informar aos produtores rurais, sobre as possibilidades de contaminação das águas pela pró-
pria propriedade rural, através de processos cotidianos como o despejo inadequado de esgoto
e o uso indiscriminado de fertilizantes e pesticidas em lavouras (PIRES et al., 2020).
Em relação a componente principal 2, responsável por 23,49% da variabilidade total dos
dados (Tabela 3). O coliforme total e o coliforme termotolerante foram as variáveis de quali-
dade da água que mais atuou de forma positiva (Figura 2), sendo parâmetros indicativos de
contaminação por material orgânico. Uma das fontes de contaminação da água por coliforme
total e o coliforme termotolerante vem de propriedades em que possuem criação de animais
(bovinos, aves) e estas se localizam na área da adjacentemente propiciando e facilitando uma
possível contaminação da fonte com dejetos (KOCH et al., 2017).
Além disso, o P também foi responsável pela variação dos dados de qualidade da água
(Figura 2), devido ao escoamento superficial das áreas agrícolas. Resultado semelhante foi
obtido por Pinheiro et al. (2013) ao quantificar, em área agrícola, as concentrações e cargas
transportadas de fosfato na bacia do ribeirão Concórdia, localizada no município de Lontras,
Santa Catarina.
Outra possível fonte de contaminação da água com P é o lançamento de efluentes das
cidades na água em que aumenta a concentração de fósforo juntamente com os coliformes
totais, o que resulta na eutrofização da água (QUEIROZ et al., 2020).
Ao mesmo tempo o oxigênio está localizado no lado negativo do eixo, o que indica uma
menor ação do oxigênio na variabilidade dos dados (Figura 2). Esse resultado indica que o
aumento da concentração de poluentes na água é associado a menor influência do oxigênio na
variabilidade dos dados. Os dados estão de acordo com Fiorese (2019) ao analisar o comporta-
mento do oxigênio dissolvido no rio Castelo e o uso do solo em torno de sua área de preserva-
ção permanente, onde os impactos que a água sofre em virtude das classes de uso da terra na
bacia. Outro estudo conduzido por Fonseca e Tibiriça (2021) mostrou que a análise de compo-
nentes principais indicou que a presença de P estava no eixo contrário do oxigênio na análise
da qualidade da água do rio São Domingos na cidade de Catanduva/ SP.
Fonte: O autor.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os parâmetros de qualidade da água da bacia do Capim Branco em que mais influenciou
na variância dos dados foram a Escherichia coli, o óleo, o sulfato, o nitrato, o coliforme total e
o coliforme termotolerante. Esses parâmetros estão associados aos indicadores de contamina-
ção da água.
A técnica estatística multivariada de análise de componentes principais permitiu seleção
de quatro componentes principais em que explicou 82,53% da variância total dos dados.
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p. 375 -395, 2020.
Resumo: Este artigo tem como objetivo realizar o mapeamento do uso da terra da Bacia
Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, localizada no estado de São Paulo, Brasil. Foram
empregadas técnicas de classificação orientada a objetos em Sistema de Informação Geográfica
(SIG), tais como segmentação e classificação de imagens do satélite Landsat 8 através do algoritmo
Support Vetor Machine (SVM). O mapa de uso da terra apresentou índice Kappa de 0,883 e de exa-
tidão global de 0,9121, o que comprovou a eficiência da metodologia empregada. O mapa de uso
da terra mostrou que mais de 80 % da bacia hidrográfica é constituída por fitofisionomias flores-
tais, tais como as matas e os mangues, o que a coloca como uma importante área de vegetação
nativa ainda preservada da Mata Atlântica, bioma brasileiro que está entre os mais ameaçados
pelo desmatamento. São também representativos os usos e coberturas relacionados com as ativi-
dades econômicas, tais como pastagem, silvicultura, solo exposto e os cultivos agrícolas. Em
menor superfície foram também identificadas as áreas urbanas, de restinga e água.
Palavras-chave: Máquina de vetores de suporte; Landsat; Chaves de interpretação; Mata Atlântica;
Litoral Sul de São Paulo.
Abstract: This paper aims to effect the land use mapping of the Ribeira de Iguape e Litoral Sul river
basin, located in the Southern coast of São Paulo state, Brazil. Techniques of object-oriented classifi-
cation in Geographic Information System (GIS) were employed, such as segmentation and classifica-
tion of Lansat 8 satellite’s images through the Support Vector Machine (SVM) algorithm. The land use
map showed Kappa index of 0.883 and global accuracy of 0.9121, which proves the efficiency of the
methodology employed. The land use map demonstrated that more than 80 % of the river basin is
constituted by forest phytophysiognomies, such as woods and mangrove, which position it as a key
native vegetation area, still preserved Atlantic Forest, Brazilian biome among those most threatened
by deforestation. Land uses and land covers related to economic activities are also representative,
1 Divisão de Observação da Terra e Geoinformática – DIOTG. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.
E-mail: cassiano.messias@inpe.br
2 Instituto de GeociênciasIGUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP. E-mail: raulreis@unicamp.br
[ 610 ]
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO ORIENTADA A OBJETOS PARA O MAPEAMENTO DO USO DA TERRA 611
such as pasture, forestry, exposed soil and agricultural cultivation. Urban areas, restinga vegetation
and water were also identified in the study area, yet in a lower surface.
Key-words: Support vector machine; Landsat; Interpretation keys; Atlantic Forest; Southern Coast
of São Paulo.
1 INTRODUÇÃO
A Geografia ao longo dos séculos captou os movimentos científicos voltados para o
conhecimento da Terra (IBGE, 2013). Neste sentido, o estudo do uso da terra, muito comum
entre os geógrafos, propõe-se a analisar a maneira em que a superfície tem sido usada pelos
homens. É um resultado de fatores naturais, socioeconômicos e a utilização da superfície pelo
homem no tempo e no espaço (RAWAT; KUMAR, 2015).
O manejo de bacias hidrográficas exige uma análise precisa do uso da terra, pois as suas
mudanças são determinantes na ocorrência dos processos hidrológicos e ecológicos nas bacias
(BUTT et al., 2015). O conhecimento das formas de uso da terra em bacias hidrográficas possi-
bilita o direcionamento de ações e práticas voltadas ao planejamento e manejo adequado des-
tas áreas, bem como dos recursos naturais nela presentes (BARGOS et al., 2017). Deste modo,
mapas precisos e atualizados de uso da terra são recursos importantes na tomada de decisões
e no planejamento (FORKUOR et al., 2017).
Um dos principais objetivos do Sensoriamento Remoto é distinguir e identificar os dife-
rentes materiais da superfície terrestre (CROSTA, 1992), e o avanço na obtenção de dados da
superfície através de imagens de teledetecção possibilita redução de extensivos trabalhos de
campo e permite-nos obter informações de locais de difícil acesso (ANDRADE et al., 2014). A
aplicação de técnicas de classificação orientada a objetos em Sistema de Informação Geográfica
(SIG) tem sido bastante eficiente para a geração de mapas de uso da terra (GAROFALO et al.,
2015; JUSTINO et al., 2017; MESSIAS; AYER, 2017).
Este trabalho tem como objetivo realizar o mapeamento do uso da terra na Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos n° 11 (UGRHI-11), que representa a Bacia Hidrográfica do
Ribeira de Iguape e Litoral Sul, localizada no estado de São Paulo, Brasil. Para isto, foram aplicadas
técnicas de classificação orientada a objetos em SIG, e empregadas imagens do satélite Landsat 8.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A UGRHI-11 compreende a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e outras bacias
que deságuam no Oceano Atlântico e canais estuarinos (DALMAS et al., 2014). Ela abrange o rio
Ribeira de Iguape e seus afluentes, tais como o Açungui, Capivari, Pardo, Turvo, Juquiá, São
Lourenço, Jacupiranga, Itapirapuã, Una da Aldeia e o Itariri (SIGRH, 2021). Está localizada no
litoral sul do estado de São Paulo, Brasil (Figura 1).
A área de estudo é composta por municípios como Apiaí, Barra do Chapéu, Barra do
Turvo, Cajatí, Cananéia, Eldorado, Iguape, Ilha Comprida, Iporanga, Itaóca, Itapirapuã Paulista,
Itarirí, Jacupiranga, Juquiá, Juquitiba, Miracatu, Pariquera-Açu, Pedro de Toledo, Registro,
Ribeira, São Lourenço da Serra, Sete Barras, Tapiraí (SIGRH, 2021).
A população em 2016 era constituída por 368.598 habitantes, sendo 73,5 % dela urbana.
A maior concentração de empregos e renda na região está associada com o setor de serviços,
ligado ao turismo e à pesca nos municípios litorâneos, seguido pela agropecuária, com as cul-
turas da banana, plantas ornamentais, silvicultura, pupunha e a criação de bovinos e bubalinos
(GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014).
Figura 1 – Mapa de localização da bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul-SP. A) Localização
em relação ao Brasil e ao estado de São Paulo; B) Visualização da bacia hidrográfica por meio de
composição colorida de imagem obtida pelo satélite Landsat 8
Fonte: os autores.
A área em que está localizada a Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul
representa um dos últimos redutos de remanescentes da Floresta Atlântica no país. Há grande
diversidade de fauna e flora, parte dela mantida em Unidades de Conservação de várias cate-
gorias (CHABARIBERY et al., 2004). As principais fitofisionomias da Mata Atlântica encontradas
são a Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecídua,
assim como ecossistemas associados de Restinga e Manguezais, além de ecossistemas insula-
res e ambientes de cavernas (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014).
2.2. Material
O mapeamento do uso da terra na bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul foi
realizado por meio de imagens do sensor multiespectral Operation Land Imager (OLI), a bordo
no satélite Landsat 8. Este sensor apresenta nove bandas espectrais, resolução espacial de 30
m (exceto a pancromática, de 15 m), resolução temporal de 16 dias e resolução radiométrica
de 16 bits.
A área de estudo abrange duas diferentes cenas do satélite Landsat. Inicialmente foram
buscadas imagens de 2018, ano definido como o padrão do projeto em que este artigo está inse-
rido. Porém, devido à permanência de nuvens de forma recorrente ao longo do ano, não foi pos-
sível obter uma imagem de 2018 para a cena 219/77, e, por isto, foi empregada uma imagem de
2019. Para a cena 220/77 foram utilizadas duas imagens de datas diferentes do ano de 2018,
visando eliminar a presença de nuvens. As imagens foram adquiridas no Earth Explorer (https://
earthexplorer.usgs.gov/) e as informações referentes a elas estão apresentadas na Tabela 1.
2.3 Metodologia
Embora os produtos do sensor OLI sejam constituídos por nove bandas espectrais, ape-
nas as sete primeiras foram utilizados na classificação. Estas imagens foram obtidas dotadas de
correção geométrica, correção atmosféricas (reflectância na superfície) e já reprojetadas para
o hemisfério Sul.
Após importadas as sete bandas de cada imagem no ENVI, foi realizado o empilhamento
delas. As áreas cobertas por nuvens foram excluídas da cena 220/77 em sua data principal, do dia
20/07/2018. As áreas que estavam cobertas por nuvens na imagem principal foram extraídas de
uma imagem secundária, do dia 22/12/2018. Foi criado um mosaico contendo os recortes da
imagem principal e secundária da cena 220/77 e a cena 219/77 e, na sequência, foi feito o recorte
a partir da delimitação da área de estudo. Foram geradas composições coloridas falsa-cor
(5R/4G/6B e 5R/6G/64) e cor-verdadeira (4R/3G/2B), nas quais foi feito um contraste linear 2%.
O mapeamento do uso da terra foi produzido por meio de técnicas de classificação orien-
tada a objetos em SIG. Estas técnicas apresentam robustez para imagens de média resolução
espacial, como os produtos da série Landsat, e é dividida em duas etapas iniciais: segmentação
das imagens e a construção de amostras de treinamento (GARÓFALO et al., 2015). A sequência
metodológica para a aplicação das técnicas de classificação orientada a objetos no software
ENVI foi baseada em Messias e Ayer (2017).
Na segmentação foram empregados o algoritmo Edge e o valor 20 em Segment Setting,
assim como o Full Lambda Schedule e o valor 80 no Merge Setting. Estes valores foram escolhi-
dos por tentativa e erro, por meio da avaliação visual de resultados prévios de segmentação
aplicando diferentes valores e comparando-os ao mosaico de imagens.
Foi realizada uma avaliação prévia do mosaico Landsat, visando identificar as classes de
uso da terra presentes na área de estudo. Foram também analisados estudos já realizados na
bacia hidrográfica, especialmente, os de uso da terra de autoria de Reis e Santiago (2003).
Foram definidas 9 principais classes de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do
Ribeira de Iguape e Litoral Sul. Porém, para que o classificador obtivesse um melhor desempe-
nho na separação das feições, foram criadas subclasses para a seleção de amostras de treina-
mento. O quadro 1 apresenta as chaves de interpretação empregadas na obtenção das amostras
para treinar o algoritmo classificador.
Solo menos
Solo exposto Ciano claro Média Geométrica
úmido
Verde
Solo exposto Solo úmido Média Geométrica
escuro
Cultivos
Cultivos 1 Rosa médio Lisa Geométrica
agrícolas
Rosa
Cultivos médio-es-
Cultivos 2 Lisa Geométrica
agrícolas curo
brilhante
Cultivos Geométrica
Cultivos 3 Rosa escuro Média
agrícolas ou irregular
Cor e Imagem
Classe Subclasse Textura Forma
tonalidade (5R/4G/6B)
Vermelho
Mata Mata Rugosa Irregular
médio
Média
(localização
Vermelho Regular ou
Silvicultura Mata em relevos
brilhante irregular
muito
dissecados)
Vermelho
Mangue Mangue Rugosa Irregular
escuro
Misturas
entre
vermelho
Restinga Restinga escuro, Rugosa Irregular
ciano escuro
e verde
escuro
Água com
menor teor Verde
Água Lisa Irregular
de escuro
sedimentos
Água com
Verde
Água maior teor de Lisa Irregular
escuro
sedimentos
Cor e Imagem
Classe Subclasse Textura Forma
tonalidade (5R/4G/6B)
Mistura de
cores e tons,
com Regular ou
Área urbana Área urbana Rugosa
predomi- irregular
nância de
ciano médio
Fonte: os autores.
A seleção das amostras de treinamento foi feita por meio da associação entre o arquivo
vetorial da imagem segmentada e as composições coloridas, e para cada subclasse foram selecio-
nadas entre 50 e 100 amostras, a depender da disponibilidade. A classificação foi feita por meio
do algoritmo Support Vector Machine (SVM). Este algoritmo apresentou resultados satisfatórios
quando aplicado em pesquisas desenvolvidas em bacias hidrográficas de diferentes biomas bra-
sileiros (GARÓFALO et al., 2015; MESSIAS; FERREIRA, 2019; SILVA et al., 2021). Contudo, o SVM
não teve um bom desempenho ao delimitar as áreas urbanas na área da bacia hidrográfica do
Ribeira de Iguape e Litoral Sul, e, por isto, não foram inseridas amostras desta classe.
O resultado da classificação foi exportado em formato vetorial e, na sequência, este
arquivo foi introduzido no ArcGIS 10.2. Por meio deste software foi feita uma avaliação visual
da classificação, buscando identificar polígonos classificados de maneira incorreta e editá-los.
Foram também delimitadas as áreas urbanas, de forma visual. Foi feita a mesclagem das sub-
classes em classes principais, por exemplo, solo exposto 1, solo exposto 2 e solo exposto 3
foram agrupadas em uma classe única de solo exposto.
Finalmente foi avaliada a acurácia da classificação. Foram selecionados, de maneira alea-
tória, 3 % dos polígonos gerados para cada classe, e foi considerado um valor mínimo de 5
amostras para classes pouco representativas. Estas amostras foram avaliadas com base em
imagens de alta resolução disponíveis no aplicativo Google Earth, nas próprias composições
coloridas e no conhecimento da área de estudo em campo. Foi construída uma matriz de con-
fusão pelo BrOffice Calc e foram gerados os índices Kappa e de exatidão global.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O mapa de uso da terra (Figura 2; Tabela 2) mostra que a classe mata corresponde à
cobertura predominante na bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, ocupando
79,16 % da área. Este resultado comprova que esta bacia é extremamente relevante em rela-
ção à conservação de remanescentes de Mata Atlântica (CHABARIBERY et al., 2004), abrigando
fitofosionomias como Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional
Semidecídua. Parte desta vegetação está mantida no interior de 45 Unidades de Conservação,
sendo 16 delas de Proteção Integral e 29 de Uso Sustentável, o que garante o elevado grau de
conservação dos ecossistemas (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2014).
Figura 2 – Mapa de uso da terra da bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul-SP
Fonte: os autores.
Tabela 2 – Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra no ano de 2018 / 2019.
Percentual de
Classe Número de polígonos Polígonos amostrados
polígonos
Cultivos agrícolas (CA) 1.120 6,25 34
Mata (MA) 3.699 20,63 111
Água (AG) 917 5,11 28
Silvicultura (SI) 387 2,16 12
Solo exposto (SE) 5.166 28,81 155
Área urbana (AU) 126 0,70 5
Pastagem (PA) 6.366 35,50 191
Mangue (MG) 121 0,67 5
Restinga (RE) 32 0,18 5
Total 17.934 100,00 546
Fonte: os autores.
A matriz de confusão (Quadro 2), gerada para avaliar a classificação da bacia hidrográfica
do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, apresentou índice de exatidão global de 0,9121, o que aponta
que 91,21 % dos polígonos amostradas foram classificadas corretamente. O valor do índice
Kappa foi de 0,883, considerado excelente por Congalton & Green (1999).
CA MA SI PA MG RE SE AG AU Total EC
CA 30 1 3 34 0,12
MA 4 105 2 111 0,05
SI
Imagem classificada
1 11 12 0,08
PA 10 3 175 3 191 0,08
MG 5 5 0,00
RE 5 5 0,00
SE 2 18 135 155 0,13
AG 1 27 28 0,04
AU 5 5 0,00
Total 46 110 13 196 5 5 139 27 5 546
EO 0,35 0,05 0,15 0,11 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00
Fonte: os autores.
A maior quantidade de erros de comissão, ou seja, polígonos de outras classes que foram
erroneamente inseridos na classe de referência, foram de solo exposto, cultivos agrícolas, silvi-
cultura e de pastagem. Por outro lado, as classes com maior quantidade de erros de omissão,
ou seja, polígonos delas que foram inseridos em outras classes, foram cultivos agrícolas, silvi-
cultura e pastagem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapa de uso da terra mostrou que mais de 80 % da bacia hidrográfica do Ribeira de
Iguape e Litoral Sul é constituída por fitofisionomias florestais, tais como matas e mangues.
Este resultado comprova que esta bacia hidrográfica é uma importante área de conservação
de remanescentes da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados no Brasil. O mapea-
mento apresentou uma elevada acuraria, comprovando a eficiência da aplicação de técnicas
de classificação orientada a objetos, do emprego do algoritmo Support Vector Machine e do
uso de imagens do sensor OLI / Landsat 8.
5 AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
financiamento do projeto nº. 2018/09401-1 e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do projeto “Monitoramento dos Biomas
Brasileiros por Satélite – Construção de novas capacidades” (Processo nº 444418/2018-0).
6 REFERÊNCIAS
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Resumo: A água é um recurso essencial à vida, provém de uma relação de processos que envol-
vem variáveis como a precipitação, infiltração, relevo e tipos de solos além de interagir com os
processos antrópicos. A escassez de dados acerca da dinâmica da conservação e uso das áreas de
nascentes gera uma insegurança na sustentabilidade deste recurso. A legislação assegura prote-
ção de áreas de recarga para a preservação e qualidade da água que infiltra. Diante disso objeti-
vou-se neste trabalho gerar informações sobre a densidade drenagem e o modo de uso e ocupação
nos últimos 34 anos através de software e geodados: Os resultados mostram que as áreas de nas-
centes, passa por um processo de ocupação de áreas destinada a preservação permanente (APP),
apresenta perda significativa da vegetação original sendo essa substituída principalmente por pas-
tagens. Os estudos em bacias hidrográficas são importantes na identificação das potencialidades
dos usos empregada dentro de um sistema que se relaciona. As áreas de nascentes não são desti-
nadas ao uso, contudo os dados demostram a solidez da utilização dessas áreas, infringindo as
legislações atuais e antigas sobre o tema sendo assim, se faz necessário intervenções de fiscaliza-
ção por parte do poder público.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica, Densidade de Nascentes e área de preservação permanente
Abstract: Water is an essential resource for life, it comes from a list of processes that involve varia-
bles such as precipitation, infiltration, relief and soil types, in addition to interacting with human
processes. The scarcity of data on the dynamics of conservation and use of spring areas creates
uncertainty in the sustainability of this resource. The legislation ensures protection of recharge
areas for the preservation, quality and quantity of water that infiltrates. Therefore, the objective
of this work was to generate information about the drainage density and the mode of use and
occupation in the last 34 years through software and GIS. The results show that the spring areas
undergo an occupation process and as areas devoid of permanent preservation (APP), there is a
reduced loss of original vegetation, which is mainly replaced by pastures. Studies in watersheds
[ 623 ]
624 Rosana de Oliveira Lima; Hellbia Samara M. de Carvalho Rodrigues; Karla Maria da Silva Faria
are important in identifying the potential uses employed within a related system. Areas of water
infiltration are therefore not for use, however the data demonstrate the solidity of the use of
these areas, infringing current and old legislation on the subject, therefore, inspection interven-
tions by the government are necessary.
Keywords: Hydrographic Basin, Drainage Density and Permanent Preservation Area
1 INTRODUÇÃO
A água é um dos recursos naturais fundamentais com um papel significativo para a huma-
nidade na terra. A principal causa de desabastecimentos dos grandes rios é principalmente
devido a redução do número de nascentes, provocando a diminuição da vazão dos rios. Estudos
apontam que uma das principais causas na extinção de nascentes, estão associadas ao uso da
terra e ao desmatamento, reduzindo a função ecológica, hidrológica e a qualidade da água.
Nos últimos anos os desmatamentos e a crise hídrica são temas de diversos estudos,
como o risco da falta d’água em reservatórios e consequências como aquecimento global e o
impacto na produção de alimentos, redução da biodiversidade. Os usos múltiplos dos recursos
naturais são crescentes e o grande desafio da humanidade será conviver com a dinâmica de
acesso e escassez hídrica (OLIVEIRA, SILVA, MELO; 2020), que afeta o sistema.
Para Rodrigues et al., (2006), as nascentes podem perder sua capacidade qualitativa e
quantitativa quando são alteradas por atividades antrópicas. O uso e ocupação em seu
entorno afeta a recarga do lençol freático, provoca redução da disponibilidade hídrica, e a
qualidade da água que infiltra está diretamente relacionada a cobertura vegetal e ao uso dos
solos (MENEZES 2009).
As nascentes de acordo com a Lei 12.651 de 2012 novo Código Florestal (Brasil 2012)
devem ter vegetação natural em seu em torno e um raio mínimo de 50 m, qualquer que seja a
topografia, rural urbana e se constituem em áreas de preservação permanente (APPs). A mata
ciliar tem função fundamental na manutenção do solo e contribui para a qualidade e quanti-
dade de agua que infiltra.
A degradação das nascentes está associada a fatores como atividade tanto de agricultura
como pecuária (SILVA et al., 2020). Esses usos ocupação pela agricultura e pecuária, podem
promover degradação como a erosão de solo, compactação que promove a redução da capa-
cidade de infiltração e até mesmo a contaminação de nascentes. Contudo Yerli e Sahin (2021)
afirma que somente através de fatores que envolvem a gestão dos recursos hídricos será viável
para promover a sustentabilidade da produção agrícola.
Uma gestão adequada dos recursos hídricos inclui, portanto, a avaliação do estado de
conservação das nascentes (PINTO et al., 2004), sendo comum o uso de geotecnologias,
como o sensoriamento remoto e os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), para se obter
informações detalhadas da paisagem com baixo custo financeiro e tempo hábil (SOARES, et
al., 2019a).
2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do estudo foi necessário o uso de aporte bibliográfico diante a
temática, em especial a legislação referente à proteção das áreas de preservação permanente,
para elucidar questões fundamentais de embasamento referente às métricas necessárias para
a preservação das nascentes.
As de dados utilizados na elaboração dos produtos cartográficos referente a bacia do rio
Piracanjuba, foram extraídos do IBGE, Shapefiles do recorte da bacia, rede de drenagem na
escala de 1:100.00, assim como os solos refinados para a escala de 1:100.00 por Oliveira (2013).
A avaliação da transição de uso e cobertura da terra utilizou-se como bases cartográficas
dados do projeto MapBiomas 5.0. Os dados foram integrados em ambiente SIG a partir da
construção de uma base de dados geográficos em formato Geodatabase no Software ArcGis
que possibilitou gerar a quantificação do uso e cobertura da terra no período de 1985 e 2019.
De acordo com (SOUZA et al., 2020), a Coleção 5 do MapBiomas resulta da classificação do his-
tórico de imagens multiespectrais de 30 metros de resolução espacial, captadas pelo satélite
Landsat, desde 1984 até a atualidade, processada até 2019. A RGB Color foi adotada para as
classes identificadas na área segundo a matiz adotada pelo MapBiomas 5.0.
O recorte temporal foi definido diante a disponibilidade dos dados na base do MapBiomas,
para os quais divididos em dois anos, o de 1985 período mais distante com dado mapeado dis-
ponível sendo o de 2019, no intuito de comparar o status de preservação das áreas de nascen-
tes da bacia hidrográfica do rio Piracanjuba identificar as mudanças nesse período de 34 anos.
Os recortes espaciais de estudo foram às áreas de nascentes da bacia hidrográfica do
rio Piracanjuba, selecionados diante a ausência de estudos para a área, que tragam dados
referentes à dinâmica da transformação da cobertura da terra.
Fonte: As Autoras.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia do rio Piracanjuba possui aproximadamente 4.733,1 km² de extensão em área, e
com aproximadamente 1425 nascentes em sua extensão, pontuadas segundo os canais de dre-
nagem de primeira ordem, assim compondo uma área de elevado quantitativo de nascentes.
Áreas de densidade de nascentes, podem ser observadas na figura 2, estes dados reve-
lam que as áreas com maior densidade se encontram na porção central e na região sudoeste.
Fonte: As Autoras.
Tabela 1 – Áreas de nascentes e classes de uso e remanescentes que ocupam a área para os anos de
1985 e 2019
1985 2019
Classes
Km² % Km² %
da cultura de soja, bem como a diminuição da área ocupada pelas formações florestais compa-
rado e o aumento mesmo que pequeno das áreas de transição, as formações savânicas.
Fonte: As Autoras.
As demais classes de uso ocupação ocorrem em menor percentual, como pode ser obser-
vada as classes de Mosaico de Agricultura e Pastagem ocupa em 1985 0,2km² (1,80%), e em 2019
0,35km² (3,15%) possui uma evolução discreta em ocupação das áreas de app das nascentes.
As commodities, classes como cana e soja ganham espaço na economia do Estado e se
apresentam no mapeamento de 2019 ocupando áreas de apps de nascentes, em que a cana
ocupa 0,04km² (0,36%) e soja ocupa 0,73km² (6,58%). Assim como a área urbana que em 2019
possui dado de ocupação das apps de nascentes com 0,2km² (0,18%).
De acordo com Pinto, et. al., (2019) a redução hídrica nas bacias hidrográficas e aquífero,
são resultados de como se faz uso das áreas de abastecimento dos reservatórios. A vegetação
tem papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos e preservação das nascentes e na
regulação dos ecossistemas. A ocupação das áreas de nascentes na BHRP revela a necessidade
de buscar e garantir a harmonia entre o desenvolvimento econômico e manutenção dos recur-
sos hídricos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Á área de preservação das nascentes já passão por uso desde a década de 1985, ampliando
a diversidade de uso para o ano de 2019, nos quais nascentes ocupadas por remanescentes
correspondem apenas 35,1% da área total das nascentes. Um dado relevante no que diz res-
peito a necessidade de preservação para a sustentabilidade hídrica da região.
As áreas de APPs de nascentes não são destinadas a nenhum tipo de uso, as utilizações
destas áreas ocorrem por irregularidades e desrespeito à legislação vigente, o que se faz neces-
sário a intervenção do poder público mediante ações de fiscalização.
O estudo de bacias hidrográficas é importante para identificar suas potencialidades,
sobretudo diante o uso ocupação empregado. Os esforços de conservação das políticas públi-
cas estão no desenvolvimento de ações necessárias para salvar e proteger as nascentes de
água, estas que desempenham função hidrológica na manutenção da bacia hidrográfica.
Este estudo constitui-se em um esforço científico primário que necessita de campo para
levantamento, assim como ampliação dos recursos tecnológicos disponíveis como imagens e
satélite de alta resolução para detalhamento do status atual das nascentes, assim o intercruza-
mento de outras variáveis físicas para ampliar a possibilidade de conhecimento das áreas.
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[ 633 ]
634 Luciana Soares; Adilson Machado; Leonardo Soares; Leonardo Serra
three study basins. As for the results obtained, all the points were qualified as impacted, with the
exception of two (the lower course of the Calhau River and the middle course of the Claro River),
but still considered altered. Based on the study, among the studied watersheds, the most affected
by these processes are the Claro and Pimenta rivers. It is also noteworthy that the three study
areas still have a high urban occupation, with several interventions in the natural environment,
such as canalization in many points of the rivers and removal of riparian vegetation.
Keywords: Management; Callisto Protocol; Environmental changes.
1 INTRODUÇÃO
As bacias hidrográficas são regiões formadas por um conjunto de canais fluviais, delimi-
tados por terrenos mais elevados, que formam uma rede de drenagem, desde as nascentes nas
regiões mais altas, até o canal principal, onde os rios tributários deságuam (CASTRO; CARVALHO,
2009). Os aspectos físicos e bióticos de uma bacia desempenham papel de grande importância
nos processos do ciclo hidrológico, onde exercem influência na infiltração, no escoamento,
superficial e subsuperficial, e na evapotranspiração (STIPP; CAMPOS; CAVIGLIONE, 2010).
Tendo em vista esses fatores, a interação ocorrente entre a rede fluvial com os elementos exis-
tentes dentro do território da bacia, oferece subsídio para caracterização do meio.
A evolução dos processos antrópicos resulta em diferentes formas de exploração dos
recursos ambientais e mudanças nas condições ecossistêmicas de uma região. Nota-se nas
grandes cidades o constante e desordenado espalhamento urbano, que vem impactando dire-
tamente nos recursos hídricos associados aos centros urbanos. Em virtude disso, a preservação
e manutenção da qualidade desses recursos se mostram um grande desafio para as comunida-
des, assim como para os responsáveis pelas tomadas de decisão, uma vez que o principal pro-
blema geralmente se encontra nos aspectos institucionais relacionados com o gerenciamento
dos sistemas fluviais e do ambiente urbano (RODRIGUES; MALAFAIA; CASTRO, 2008).
O crescimento urbano não ocorre de maneira uniforme em cidades onde não há plane-
jamento, com isso problemas de acesso à infraestrutura e problemas ambientais são iminen-
tes. Os aglomerados populacionais exigem uma grande quantidade de água para a produção
do espaço. Diante disso, torna-se um desafio manter os corpos d’água das cidades em condi-
ções adequadas para o uso (RIBEIRO, 2008).
A Ilha do Maranhão possui várias bacias que deságuam nas principais praias urbanas dos
municípios de São Luís e São José de Ribamar. Parte destas bacias, situam-se na porção norte
da ilha, onde correspondem à uma área de grande expansão urbana e interesse turístico.
Contudo, o crescimento urbano desordenado da ilha tem provocado a poluição hídrica dos cor-
pos d’água, levando a significativas alterações da qualidade ambiental e sanitária.
Com as crescentes pressões exercidas sobre o ambiente natural, têm-se cada vez mais
necessidade da realização de monitoramento das alterações na qualidade ambiental
(RODRIGUES; CASTRO, 2008). Como forma de caracterizar o ambiente, foram criados modelos
de análises rápidas, como o Protocolo de Avaliação Rápida (PAR), que tem como objetivo uma
análise qualitativa do meio. Trata-se de uma importante ferramenta de gestão, pois pode ser
utilizada sem a necessidade de grandes investimentos, além de auxiliar no manejo e na elabo-
ração de estratégias para os ambientes de formas mais assertivas. A utilização do PAR oferece
a oportunidade de monitoramento ambiental das bacias hidrográficas, principalmente relacio-
nados aos impactos antrópicos sobre os recursos hídricos da região (CALLISTO et al., 2002).
Sobre o PAR:
São compostos por check lists que avaliam determinados parâmetros e permitem
obter uma pontuação do estado de conservação em que os rios se encontram. Em
algumas situações, os protocolos são adaptados uma vez que o ecossistema fluvial
estudado pode apresentar diferentes tipos de vegetação, clima, solo, relevo, dentre
outros aspectos (BIZZO et al., 2014, p. 7).
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
A área de estudo está situada na Ilha Upaon-Açu, no município de São Luís, capital do
estado do Maranhão. As bacias hidrográficas do Rio Calhau, Pimenta e Claro se encontram na
porção norte da Ilha, estando localizadas na região costeira e urbana da cidade. Devido às suas
localizações, todos os rios desaguam na Baía de São Marcos, no Oceano Atlântico (Figura 1).
Na região litorânea, é possível notar a presença de dunas (consolidadas e transversais),
recobertas pela vegetação característica, além da presença de vegetação de mangue nas pro-
ximidades das desembocaduras dos rios (MASULLO, 2016). O clima caracteriza-se pela ocor-
rência de duas estações bem definidas, sendo elas: chuvosa, nos meses de janeiro a julho e
estiagem, nos meses de agosto a dezembro.
A ilha do Maranhão encontra-se localizada no centro da planície flúvio-marinha do Golfão
Maranhense. A geologia local é formada por rochas sedimentares da Formação Itapecuru
(Cretáceo), Barreiras (Mesomioceno) e Açuí (Pleistoceno), recobertas por uma camada ferrugi-
nosa próxima a superfície. O relevo da região apresenta baixas altitudes, com grandes exten-
sões de manguezal entre as cotas de 0 e 5 m, suaves formações colinosas e tabuleiros esculpidos
nos sedimentos da Formação Barreiras e Itapecuru, apresentando cota máxima de 60 m
(PEREIRA; ZAINE, 2007).
Fonte: Os autores.
3 MÉTODO
O diagnóstico foi feito com base no que foi proposto por Callisto et al. (2002) no Protocolo
de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats, adaptado dos protocolos desenvolvidos pela
Agência de Proteção Ambiental de Ohio, EUA (EPA, 1987), onde analisa o nível de degradação nas
bacias de acordo com os impactos antrópicos (Quadro 1); e Hannaford et al. (1997), que avalia o
estado e nível de conservação das condições naturais do ambiente estudado (Quadro 2).
O estudo foi desenvolvido com base nos dois quadros, onde o primeiro é pontuado de 0
a 4 e o segundo de 0 a 5. Cada valor é atribuído de acordo com as condições observadas nos
ambientes. O resultado final se dá pelo somatório de cada parâmetro independentemente,
com intuito de identificar as condições ecológicas observadas. Os pontos que se apresentam
com valores entre 0 e 40 são caracterizados como “impactado”, com valores entre 40 e 60,
como “alterado”, e os pontos com valores acima de 61, como ambientes “naturais”.
A seleção dos pontos para a aplicação do PAR foi realizada através de visitas a área e a
partir de uma análise prévia utilizando o Google Earth Pro. Foi considerado a distribuição da
rede hidrográfica, assim como os melhores locais para acesso. Foram avaliados 9 pontos (Figura
2), marcando o alto, médio e baixo curso das três bacias. A aplicação do Protocolo de Avaliação
Rápida da Diversidade de Habitats foi realizada durante duas visitas a região de estudo, ocorri-
das nos dias 11 de maio e 15 de junho de 2021.
Localização:
Data de coleta: Hora da coleta:
Tempo (Situação do dia):
Modo de coleta (Coletor):
Tipo de ambiente: Córrego () Rio ()
Largura:
Profundidade:
Temperatura da água:
Pontuação
Parâmetros
4 pontos 2 pontos 0 pontos
1. Tipos de ocupação das campos de pastagem/
Residencial/ Comercial/
margens do corpo d’água vegetação natural agricultura/monocul-
Industrial
(principal atividade) tura/ reflorestamento
2. Erosão próxima e/ou nas
margens do rio e assorea- Ausente Moderada Acentuada
mento em seu leito
Alterações de origem
industrial/ urbana (fábri-
Alterações de origem
3. Alterações antrópicas Ausente cas/siderúrgicas/ canaliza-
doméstica (esgoto/lixo)
ção/ reutilização do curso
do rio
Pontuação
Parâmetros
5 pontos 3 pontos 2 pontos 0 pontos
Canalização Alguma canalização Alguma modificação Margens
(retificação) ou presente, presente nas duas modificadas; acima
dragagem ausente normalmente margens; 40 a 80% de 80% do rio
17. Alterações ou mínima; rio com próximo à constru- do rio modificado. modificado.
do canal do rio padrão normal. ção de pontes;
evidência
de modificações há
mais de 20 anos.
Fluxo relativamente Lâmina d’água acima Lâmina d’água entre Lâmina d’água
18. igual em toda a de 75% do canal do 25 e 75% do canal escassa e presente
Características largura do rio; rio; ou menos de do rio, e/ou maior apenas nos
do fluxo das mínima quantidade 25% do substrato parte do substrato remansos.
águas de substrato exposto nos “rápidos”
exposta. exposto.
Acima de 90% com Entre 70 e 90% com Entre 50 e 70% com Menos de 50% da
vegetação ripária vegetação ripária vegetação ripária mata ciliar nativa;
nativa, incluindo nativa; nativa; desfloresta- desflorestamento
árvores, arbustos desflorestamento mento muito acentuado.
ou macrófitas; evidente, mas não óbvio; trechos com
19. Presença mínima evidência de afetando o solo exposto ou
de mata ciliar desflorestamento; desenvolvimento da vegetação elimi-
todas as plantas vegetação; maioria nada; menos da
atingindo a altura das plantas atingindo metade das plantas
“normal”. a altura “normal”. atingindo
a altura “normal”.
Margens estáveis; Moderadamente Moderadamente Instável; muitas
evidência de estáveis; pequenas instável; entre 30 e áreas com erosão;
erosão mínima ou áreas de erosão 60% da margem frequentes áreas
20.
ausente; pequeno frequentes. Entre 5 e com erosão. Risco descobertas nas
Estabilidade
potencial para 30% da margem com elevado de erosão curvas do rio; erosão
das margens
problemas futuros. erosão. durante enchentes. óbvia entre 60 e
Menos de 5% da 100% da margem.
margem afetada.
Largura da vegetação Largura da vegetação Largura da vegeta- Largura da vegetação
ripária maior que 18 ripária entre 12 e 18 ção ripária ripária
21. Extensão m; sem influência de m; mínima influência entre 6 e 12 m; menor que 6 m;
de mata ciliar atividades antrópicas antrópica. influência antrópica vegetação restrita ou
(agropecuária, intensa. ausente devido à
estradas, etc.). atividade antrópica.
Pequenas macrófitas Macrófitas aquáticas Algas filamentosas Ausência de
aquáticas e/ou ou algas filamentosas ou macrófitas em vegetação aquática
22. Presença musgos distribuídos ou musgos distribuí- no leito do rio ou
poucas pedras ou
de plantas pelo leito. dos no rio, substrato grandes bancos
alguns remansos,
aquáticas com perifiton. macrófitas (p.ex.
perifiton abundante
e biofilme. aguapé).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação de um ambiente, caracterizando as principais zonas de impacto e pressões,
promove uma discussão acerca das forças e fragilidades presentes, possibilitando a criação de
estratégias que auxiliem no manejo adequado para recuperação e proteção do meio natural.
Com o Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats, foi possível realizar uma aná-
lise integral das condições físicas dos trechos e identificar as principais intervenções ocorren-
tes. O aumento da urbanização já evidenciado, é o principal causador das mudanças que
influenciaram nos parâmetros avaliados nas bacias.
Todos os pontos foram avaliados como impactados, com exceção de dois: um na foz da
bacia do Rio Calhau e outro no médio curso da bacia do Rio Claro. Contudo, os mesmos ainda
foram caracterizados como ambientes alterados (Tabela 1). A pouca diferença na avaliação se
dá devido as condições atuantes sobre os ecossistemas serem semelhantes para toda a região
de estudo. Ademais, vale ressaltar, que o tempo em ambos os dias de visitação se mostrava
nublado, e o período entre a aplicação do PAR se deu durante os meses da estação chuvosa,
oferecendo assim pouca interferência para os parâmetros analisados.
Fonte: Os autores.
O descarte de lixo nas margens dos rios, corrobora para uma paisagem e um ambiente
ainda mais afetado. O despejo irregular dos resíduos sólidos, se mostra uma prática comum
nas grandes cidades e acaba por chegar de forma direta ou indireta aos rios. Portanto, o
manejo adequado para a manutenção dos resíduos sólidos é de grande importância, sendo
essencial para uma melhor qualidade ambiental e social da região. De acordo com o Plano de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana da Grande São Luís (PGIRS/
RMGSL), em 2019 a capital apresentava uma produção diária de resíduos sólidos de 901,44
t, possuindo, com base nos dados de coleta, um déficit de 111,44 t/dia, o que significa que
12% do lixo produzido não recebia uma destinação adequada. Todos os pontos de avaliação
mostravam presença de lixo e em sua maioria de origem plástica (Figura 3).
Figura 3 – Imagem A – Lixo no alto curso do rio calhau; Imagem B – Lixo nas
proximidades do rio no alto curso do rio Claro
Fonte: Os autores.
Ainda foi possível observar áreas com erosão, marcadas por estruturas de enrocamento,
como medidas para prevenir os deslizamentos das margens. O crescimento urbano desorde-
nado favorece esses processos principalmente em decorrência da retirada da vegetação para
limpeza em regiões próximas a moradias, ou para construções nos terrenos. A retirada da
vegetação e a erosão das margens do canal, favorecem o processo de assoreamento do leito
do rio, causado pelo acumulo de sedimentos no canal de drenagem, e provoca, em períodos
chuvosos alagamentos, enchentes e inundações, levando prejuízos para a região (Figura 4).
Fonte: Os autores.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as três bacias analisadas, sofreram processos de retirada da vegetação, erosão,
ocupação indevida, assoreamento dos rios, poluição e contaminação. A retirada da vegetação
é a principal causa para os problemas enfrentados, juntamente com o despejo de lixo e esgoto
em trechos do rio.
A falta de saneamento nos bairros em que as bacias se estendem, ainda é um grande pro-
blema enfrentado, mesmo com alta expansão urbana da região, o processo de sistematização
para tratamento de esgoto não se mostra plenamente atuante. O despejo de esgoto in natura
causa problemas aos mananciais locais que sofrem com as consequências da contaminação.
Dentre as bacias trabalhadas, as mais agredidas por esses processos são as do rio Claro e
Pimenta. É importante destacar que as bacias apresentam áreas densamente urbanizadas em
toda sua extensão territorial, onde muitas intervenções ocorreram, como a canalização da
maioria de seus rios e retirada da vegetação ciliar. Esses impactos tendem a ser mais notáveis,
sendo evidenciados por inundações em eventos de forte precipitação em vários bairros da
cidade de São Luís.
Com base na presente pesquisa, as características observadas demonstram a necessi-
dade de atenção pelos órgãos responsáveis quanto a execução de estratégias de gestão terri-
torial, especialmente com ações para proteção das nascentes e dos pequenos córregos, sendo
os mesmos, os que apresentam os maiores riscos e impactos.
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Uma contribuição para o estudo das ciências ambientais. Portal de Cartografia das Geociências, v. 3, n. 1, p.
105-124. 2010.
Resumo: Na Amazônia, dentre os meios de abastecimento de água para a população têm-se des-
tacado a captação através de poços tubulares. No contexto do abastecimento público de água na
cidade de Parintins-Amazonas, este ocorre exclusivamente por captação subterrânea do lençol
freático do aquífero Alter do Chão. Este estudo analisou a qualidade da água desse aquífero, atra-
vés dos parâmetros: temperatura, pH, condutividade elétrica, alumínio, amônia, OD, turbidez,
nitrato, sulfato, ferro, coliformes totais, coliformes termotolerantes, e outros. A localidade utiliza
para despejo de seus efluentes domésticos, predominantemente, as fossas sépticas, podendo
infiltrar e contaminar as águas subterrâneas, principalmente, o lençol freático, onde o nitrato apa-
rece como um importante indicador de contaminação fecal. O objetivo deste estudo é avaliar a
qualidade da água nos poços de abastecimento público de Parintins, subsidiando a gestão dos
recursos hídricos e ambientais. A metodologia utilizada incluiu revisão bibliográfica, documental,
coleta e análise das amostras de água dos poços, de acordo com procedimentos preconizados no
Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater (APHA, 2005), e parâmetros
estabelecidos na Portaria nº 5/2017 (Ministério da Saúde) e Resolução CONAMA nº 396/2008. O
diagnóstico de locais com contaminação de água é importante para o enquadramento das águas
do aquífero e para a tomada de decisão. Os resultados obtidos para alguns poços, mostraram
níveis acima dos padrões estabelecidos para o consumo humano. Com este estudo espera-se sub-
sidiar a gestão dos recursos hídricos subterrâneos, auxiliando a segurança hídrica e a mitigação de
possíveis contaminações do aquífero Alter do Chão.
Palavras-chave: Qualidade da água; Águas subterrâneas; Contaminação de aquíferos.
Abstract: In the Amazon, among the means of water supply for the population, the capture
through tubular wells has been highlighted. In the context of the public water supply in the city of
[ 646 ]
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DO AQUÍFERO ALTER 647
Parintins/Amazonas, this occurs exclusively by underground capture of the water table of the Alter
do Chão aquifer. This study analyzed the water quality of this aquifer through parameters: tem-
perature, pH, electrical conductivity, aluminum, ammonia, OD, turbidity, nitrate, sulfate, iron,
total coliforms, thermotolerant coliforms, and others. The locality uses septic sphesis to dump its
domestic effluents, predominantly, and can infiltrate and contaminate groundwater, mainly the
groundwater, where nitrate appears as an important indicator of fecal contamination. The aim of
this study is to evaluate the water quality in the public supply wells of Parintins, supporting the
management of water and environmental resources. The methodology used included, bib-
liographic review, documentary, collection and analysis of water samples from wells, according to
procedures recommended in the Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater
(APHA, 2005), and parameters established in Ordinance n° 5/2017 (Ministry of Health) and
CONAMA Resolution No. 396/2008. The diagnosis of sites with water contamination is important
for decision making and for the framing of aquifer waters. The results obtained for some wells
showed levels above the established standards for human consumption. With this study it is
expected to support the management of underground water resources, assisting water security
and mitigation of possible contamination of the Alter do Chão aquifer.
Keywords: Water quality; Groundwater; Aquifer contamination.
1 INTRODUÇÃO
As águas subterrâneas correspondem à parcela das águas que ficam armazenadas sob o
solo, sendo recarregadas pelas águas das chuvas. Elas são menos vulneráveis à poluição se
comparadas às águas superficiais já que o solo funciona como um filtro natural, limpando parte
das impurezas. Ainda assim, a poluição dos mananciais subterrâneos pode ocorrer, ainda que
de forma mais lenta. A poluição acontece principalmente devido a despejos de esgotos, cho-
rume gerado pelas acumulações de lixo, vazamento de combustíveis e substâncias químicas de
pesticidas e fertilizantes utilizados na agricultura.
A poluição está associada à má qualidade ou deterioração do corpo hídrico, sendo um dos
objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos.
Essa qualidade do recurso hídrico é condicionada às suas características físicas, químicas e bioló-
gicas – como turbidez, pH, agentes patogênicos e concentração de substâncias químicas.
Nesse contexto, a avaliação constante da qualidade da água dos aquíferos é imprescindí-
vel para a proteção e sustentabilidade dos recursos hídricos subterrâneos, na medida em que
mostra a situação atual para subsidiar metas e ações de melhoria da gestão desse recurso.
Assim, o objetivo fundamental deste estudo é avaliar os parâmetros de qualidade da
água subterrânea na cidade de Parintins – Amazonas, em sua porção superior, procedentes do
aquífero Alter do Chão utilizada no abastecimento público, para subsidiar a melhoria da gestão
das águas subterrâneas e o controle da poluição.
De acordo com a CETESB (2017), o monitoramento da qualidade da água subterrânea
é fundamental para o conhecimento da hidrogeoquímica e da condição dos parâmetros de
qualidade. A avaliação da qualidade da água se dá através do monitoramento de parâmetros
como temperatura, pH, condutividade elétrica, alumínio, amônia, oxigênio dissolvido,
turbidez, ferro, nitrito, nitrato, sulfato, sulfeto, cobre, zinco, manganês, coliformes totais e
coliformes termotolerantes.
No Brasil, têm-se a Portaria de Consolidação nº 5/2017, anexo XX, que dispõe sobre os
procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade. Essa lei define as concentrações limites para cada substância em águas
para consumo humano, aplicando-se às águas provenientes de sistema e solução alternativa
de abastecimento de água. No contexto das águas subterrâneas, a resolução CONAMA nº
396/2008, dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento destas
águas (BRASIL, 2017; BRASIL,2008).
Especificamente, para Silva et. al (2019), a região Amazônica apresenta baixo índice de
saneamento básico, contribuindo na problematização ligada às doenças de veiculação hídrica,
principalmente em áreas remotas, onde a coleta de dejetos humanos é feito por meio de fos-
sas sépticas e negras, e se utilizam poços tubulares para o fornecimento de água sem nenhum
tipo de tratamento.
A discussão sobre os parâmetros envolvidos neste estudo é de grande importância para
a gestão dos recursos hídricos e ambientais. Com relação ao parâmetro nitrato, Braga et. al
(2018), coloca que a deposição de matéria orgânica no solo, como acontece quando se utiliza
fossas e sumidouros, aumenta drasticamente a quantidade de nitrogênio. Esse nitrogênio é
biotransformado e, por fim, se oxida na substância inorgânica denominada nitrato que possui
grande mobilidade no solo alcançando o manancial subterrâneo e ali se depositando. Águas
com índices elevados de contaminação por nitrato são indicativos de poluição mais remota,
por ser este o produto final de oxidação do nitrogênio. Já para Baird (2007), o nitrato em águas
subterrâneas origina-se principalmente de quatro fontes: aplicação de fertilizantes com nitro-
gênio, outros químicos inorgânicos e esterco animal, em plantações; cultivo do solo; esgoto
humano depositado em sistemas sépticos e deposição atmosférica.
Alaburda e Nishihara (1998), apontam que a amônia pode estar presente naturalmente
em águas superficiais ou subterrâneas, sendo que usualmente sua concentração é bastante
baixa devido à sua fácil adsorção por partículas do solo ou à oxidação a nitrito e nitrato.
Entretanto, a ocorrência de concentrações elevadas pode ser resultante de fontes de polui-
ção próximas, bem como da redução de nitrato por bactérias ou por íons ferrosos presentes
no solo.
Segundo Picanço et. al (2002), o ferro é encontrado em praticamente todas as águas,
entretanto, quando encontrado em teores superiores a 0,5 mg/L, a água tem sua cor, odor e
sabor alterados. Além disso, teores de ferro dessa ordem tendem a reduzir a aceitação da água
pelas pessoas, devido ao fato de causarem manchas em roupas e pisos, entre outros inconve-
nientes. Tem-se a questão ainda que a presença de ferro na água pode implicar na sua precipi-
tação nos filtros ou nos pré-filtros de poços, reduzindo a eficiência destes.
De acordo com Corcovia e Celligoi apud Santos (1997), a concentração dos íons hidrogê-
nio, expresso pelo pH das águas subterrâneas, varia geralmente entre 5,5 e 8,5. A Portaria nº
5/2017 (MS), legislação vigente da qualidade da água para consumo humano, não estabelece
limites de valores para o pH, porém, recomenda que a faixa de pH fique entre 6,0 a 9,5, no sis-
tema de distribuição.
Conforme coloca Filho (2018), as concentrações de alumínio variam bastante nas águas
subterrâneas, dependendo diretamente de fatores geológicos e físico-químicos. De acordo
com a Portaria n° 5/2017, do Ministério da Saúde, o limite de potabilidade para o alumínio é de
até 0,2 mg/L, para as águas destinadas ao consumo humano.
Para Vasconcelos et. al (2019), a condutividade elétrica da água representa um parâme-
tro físico utilizado para obtenção das características de determinado meio líquido e, de um
modo geral, reflete a capacidade da água conduzir corrente elétrica. Esta propriedade pode ser
um parâmetro relativo para compará-la à quantidade de sais presentes. Águas subterrâneas
com condutividade elétrica elevada possuem também maiores quantidades de sais (cátions e
ânions). A condutividade elétrica não é normalmente utilizada como um parâmetro de potabi-
lidade, mas existe uma correlação empírica entre a condutividade elétrica-CE e os Sólidos
Totais Dissolvidos (STD).
A qualidade da água foi investigada em conjunto com a vulnerabilidade natural dos aquí-
feros, que é a propensão natural de um solo de receber uma certa carga contaminante – essa
propriedade depende da textura do solo (areia, argila, silte), da profundidade da água subter-
rânea e do grau de confinamento desta. Quanto maior essa vulnerabilidade, mais sensível à
poluição é o aquífero, devendo tomar-se medidas para a proteção desses locais.
2 METODOLOGIA
2.1 Características da área de estudo
Este estudo foi realizado na sede de Parintins, um arquipélago/ilha que se localiza à mar-
gem direita do rio Amazonas, com superfície de aproximadamente 45km² de perímetro urbano,
rodeada pelo rio Amazonas, por lagos e pequenas ilhas, com população estimada de 83.000
pessoas, representa o principal polo turístico do interior do Estado do Amazonas através do
Festival Folclórico de Parintins.
O abastecimento público de água na cidade de Parintins é feito exclusivamente por cap-
tação subterrânea do lençol freático, de procedência do Aquífero Alter do Chão, através de
poços tubulares tendo em média 91,7 metros de profundidade, estando sob responsabilidade
da autarquia de Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parintins – SAAE (SAAE, 2020).
Genericamente, a cidade foi dividida em área urbana e suburbana, sendo que na área
urbana localizam-se as quatro estações de bombeamento do Sistema de Abastecimento
Público, com 20 poços tubulares. Enquanto que, na área suburbana ficam 6 poços tubulares
Figura 1 – Localização dos poços tubulares locados na área urbana e suburbana de Parintins-AM
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No quadro 1, tem-se um comparativo dos resultados de pH, alumínio, amônia, nitrato,
condutividade elétrica e ferro, obtidos nos poços tubulares da cidade de Parintins, vazante do
rio Amazonas, considerando o período de maior variação de acordo com este estudo realizado
nos 26 poços tubulares.
pH Alumínio (mg/L) Amônia (mg/L) Nitrato (mg/L) C.E. µS/cm Ferro Total
Poços 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
01 - 4,4 4,6 - 0,27 0,220 - 0,04 0,01 - 10,6 6,6 - 65 67,2 - <0,01 0,053
02 - 3,7 4,5 - 1,56 0,380 - 0,03 0,04 - 34,7 4,2 - 240 87,2 - 0,03 0,054
03 - 3,6 4,1 - 2,27 1,640 - 2,36 0,03 - 50,8 12,4 - 339 204,1 - <0,01 0,087
04 - 3,7 4,0 - 1,54 2,276 - 2,38 2,11 - 37,9 6,6 - 284 247,8 - <0,01 0,078
05 - 4,0 4,2 - 0,08 1,583 - 0,04 1,70 - 4,74 4,2 - 37 222,2 - <0,01 0,060
06 - 4,1 4,8 - 0,40 0,058 - 0,25 0,02 - 25,6 12,4 - 122 34,9 - 0,10 0,042
07 - 3,8 4,3 - 0,74 0,454 - 0,39 0,14 - 29,9 6,6 - 151 161,4 - <0,01 0,274
08 - 3,6 4,0 - 2,21 1,675 - 0,36 2,38 - 70,8 4,2 - 303 237,6 - 0,04 0,047
09 - 3,9 4,0 - 1,80 1,411 - 1,71 0,58 - 47,3 12,4 - 301 227,6 - <0,01 0,055
10 - 3,8 4,3 - 0,75 0,632 - 0,59 0,21 - 22,9 6,6 - 167 173,3 - 0,05 0,149
11 - 3,9 4,3 - 1,71 0,906 - 0,69 0,31 - 45,2 4,2 - 269 205,3 - 0,15 0,125
12 - 3,8 4,7 - 0,07 0,035 - <0,013 0,04 - 6,30 12,4 - 35 33,5 - <0,01 0,047
13 - 4,0 4,4 - 0,73 0,465 - <0,013 0,02 - 27,8 6,6 - 132 90,7 - <0,01 0,066
14 - 4,1 4,4 - 0,29 0,161 - <0,013 0,02 - 12,3 4,2 - 74 62,8 - <0,01 0,070
15 - 3,8 4,6 - 0,11 0,061 - <0,013 0,02 - 4,08 12,4 - 42 36,6 - <0,01 0,062
16 - 3,9 4,6 - 0,13 0,065 - <0,013 0,03 - 5,08 6,6 - 39 43,5 - 0,02 0,133
17 - 3,8 4,4 - 0,08 0,065 - 0,06 0,05 - 6,10 4,2 - 50 37,5 - <0,01 0,057
18 - 3,8 4,6 - 0,04 0,025 - 0,13 0,04 - 3,30 12,4 - 27 37,4 - 0,01 0,080
19 - 3,7 3,9 - 2,53 2,161 - 0,80 0,59 - 86,7 6,6 - 373 236,4 - 0,06 0,095
20 - 3,7 4,4 - 0,78 0,460 - 0,24 0,05 - 43,1 4,2 - 192 84,4 - 0,31 0,365
Vila Cristina 4,9 4,5 - 0,030 0,03 - 0,000 <0,013 - 1,75 1,69 - 20 20 - 0,07 0,07 -
Paranapanema–
4,8 4,4 - 0,006 0,02 - 0,000 0,02 - 2,50 1,60 - 21 21 - 0,06 <0,01 -
São Miguel
Paranapanema–
4,8 4,0 - 0,001 0,03 - 0,000 <0,013 - 1,55 1,57 - 20 20 - 0,04 <0,01 -
São Pedro
Macurany-Santa
4,9 4,5 - 0,010 0,02 - 0,000 <0,013 - 1,10 1,51 - 20 20 - 0,12 <0,01 -
Luzia
Aninga-Santa
5,1 4,5 - 0,000 <0,01 - 0,110 <0,013 - 3,10 0,81 - 20 16 - 0,05 <0,01 -
Terezinha
Aninga-Ramal
4,9 4,4 - 0,003 0,02 - 0,100 <0,013 - 1,70 0,91 - 30 19 - 0,19 <0,01 -
dos Reis
VMP Portaria
05/2017/MS
6,0 a 9,5 0,2 mg/L 1,5 mg/L 10 mg/L N/A 0,3 mg/L
Considerando que as análises em 1 foram feitas por este trabalho e as análises 2 e 3 por
SGB-CPRM (2019) e TEIXEIRA (2019), respectivamente, os padrões de potabilidade foram mais
frequentemente ultrapassados nos parâmetros nitrato e alumínio. A amônia foi ultrapassada
em três pontos analisados e o padrão de ferro foi ultrapassado apenas no ponto 20.
nos dois períodos, diagnosticando uma provável contaminação do aquífero nos intermédios des-
ses locais (fonte de poluição mais provável as fossas sépticas). Essa contaminação se torna ainda
mais grave devido à vulnerabilidade das águas subterrâneas ser alta em quatro (04,05,09,11) des-
tes cinco pontos. A vulnerabilidade ainda é alta em mais quatro locais (08,10,16 e 20).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Aquífero Alter do Chão é uma importante reserva estratégica de água subterrânea
para a região amazônica, principalmente no que se refere ao abastecimento urbano, por ser
fonte de abastecimento para vários municípios da região. Vale ressaltar que na cidade de
Parintins o abastecimento urbano é feito, exclusivamente, por poços tubulares de captação
subterrânea do lençol freático do aquífero Alter do Chão.
Diante do exposto, destacamos a relevância do planejamento das atividades de uso e
ocupação do solo, no entorno dos poços tubulares de Parintins, para que os riscos de contami-
nação antrópica sejam mitigados.
Portanto, recomenda-se que sejam monitorados os poços de abastecimento e as zonas
de proteção desses poços, a fim de evitar maiores contaminações do aquífero Alter do Chão,
na região mais próxima à superfície, por estar mais suscetível à contaminação.
Que ocorra ainda, monitoramento de novos empreendimentos, próximos às estações e
poços de abastecimento, que apresentem riscos de contaminação para as águas subterrâneas,
e possam utilizar dados de vulnerabilidade, cargas e risco de contaminação como subsídios à
gestão dos recursos hídricos em Parintins no Amazonas.
5 REFERÊNCIAS
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1 Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente– PRODEMA. Universidade Federal do Ceará. E-mail: adilsonbor-
ges94@gmail.com
2 Graduanda em Oceanografia, Departamento de Oceanografia e Limnologia, Laboratório de Ciências e Planejamento
Ambiental. Universidade Federal do Maranhão. E-mail: lucianaamorimsoares@gmail.com
3 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio AmbienteUniversidade Federal do Maranhão. E-mail: leo-
nardo.soares@ufma.br
4 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio AmbienteUniversidade Federal do Ceará. E-mail: cacau-
ceara@gmail.com
[ 657 ]
658 Adilson Matheus Borges Machado; luciana Amorim Soares; Leonardo Silva Soares; Edson Vicente da Silva
Abstract: Modern anthropic activities are extremely dependent on stable naturals systems for
industrial and agricultural production. The spatial distribution of land use and land cover changes
and the normalized difference vegetation index (NDVI) are important for assessing impacts on dif-
ferent land categories. Thus, the objective of this study is to identify the spatial and temporal
changes of land use and land cover classes and NDVI from 1985 to 2020 and to discuss the land use
and land cover classes and relationships with NDVI in an integrated way. The results showed that
there were the largest changes from 1985 to 2020 in the pasture class (279.34% increase), urban
infrastructure (377.06% increase), and the other non-vegetated area class (758.33% increase). The
largest decreases were in the Apicum and River, Lake and Ocean classes, showing the values of
-61.87% and -10.09%, respectively. The NDVI values for 1985 vary from -0.10 to 0.69, in 2005 the
minimum value was -0.10 and the maximum 0.66, for the year 2020 the minimum value was -0.03
and the maximum 0.60. We conclude that the land use classes presented changes from 1985 to
2020 in the classes: pasture, urban infrastructure and the class other non-vegetated area. The
NDVI maps show good vegetation conditions, although the 2020 map showed a decrease in these
areas. Therefore, this work increases the possibility of developing studies in the Mapari river basin
area with environmental themes.
Keywords: Vegetation Index; Geotechnologies; NDVI.
1 INTRODUÇÃO
As atividades antrópicas modernas são extremamente dependentes sistemas naturais
estáveis para a produção de alimentos e são dependentes dos recursos naturais, incluindo água,
madeira, fibra, minério e combustível, entre outros serviços e bens do ecossistema causando inú-
meros impactos nas últimas décadas e consequentemente mudanças nas paisagens naturais
(DEFRIES et al., 2004; SOUZA et al., 2020). A distribuição espacial das mudanças de uso e cober-
tura da terra são importantes para avaliar os impactos em diferentes categorias de terra, as
mudanças severas podem causar efeitos no ciclo hidrológico que consequentemente pode levar
a uma redução ecológica, diminuição da produção agrícola, crise alimentar e até a fome.
Para Soares et al. (2017) a avaliação integrada de bacias hidrográficas é necessária, pois
auxilia no gerenciamento da unidade territorial e sua implementação depende de um conjunto
de fatores interdisciplinares que objetiva uma avaliação sistêmica da dinâmica ambiental e ter-
ritorial da área estudada.
No contexto nacional, a base para a gestão dos recursos hídricos encontra-se na Lei
Federal nº 9.433, de 1997. Esta lei define a Política Nacional de Recursos Hídricos. Uma das
diretrizes de ação desta política é que a gestão das bacias hidrográficas. Esta política também
elabora instrumentos para uso na gestão de recursos hídricos (LOITZENBAUE; MENDES, 2012).
Existem dificuldades de efetivação das bacias hidrográficas costeiras do Litoral Oriental do
estado do Maranhão como unidades territoriais, por isso, estudos de avaliação de mudanças
na paisagem são uma ferramenta para auxiliar a tomada de decisão nessas unidades de alta
complexidade.
O Google Earth Engine (GEE) Application Program Interface (API) fornece acesso online à
cobertura mundial de imagens de satélite MODIS e Landsat, entre outros. Essa base também
fornece ferramentas de mineração de dados para a detecção de mudanças de uso e cobertura
2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A bacia hidrográfica do rio Mapari está localizada na porção nordeste do estado do
Maranhão, Brasil, compreendendo três municípios: Icatu, Humberto de Campos e Morros, a
região possui possuindo uma linha de costa subretilínea dominada pela ação das marés, recor-
tada por restingas, cordões de dunas fixas e móveis, manguezais, praias, baías, ilhas, enseadas
e sistemas deltáicos, estuarinos (Figura 1).
A bacia está inserida na interface dos biomas Amazônia-Cerrado próxima da Área de
Proteção Ambiental Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças e da Reserva Extrativista da Baía do
Tubarão. A temperatura média anual é de 26,7°C, a precipitação média é de 1900 mm por
ano sendo marcado por dois períodos distintos, o período chuvoso que ocorre normalmente
de janeiro a julho e a estação seca, entre agosto e dezembro (INMET, 2020), e a amplitude de
elevação é na ordem de 85 metros.
Figura 1 – Localização das bacias hidrográficas dos rios Periá, Grande e Preguiças, no Litoral Oriental do
estado do Maranhão
A bacia do rio Mapari possui 2 tipos de paisagens que predominam: (1) um ecossistema
de restingas com muitas veredas e matas ciliares, decorrentes de sua localização que está na
transição entre os biomas amazônico e cerrado; (2) um ecossistema de manguezais, estando
inserida na maior área contínua de manguezais do mundo. Essas paisagens favorecem a agri-
cultura familiar, o extrativismo e a pesca artesanal, que são as principais atividades econômicas
da área de estudo (FUNO, 2008).
2.2. Classificação de uso e cobertura da terra
Definir um sistema de classificação continua sendo um desafio para sensoriamento
remoto e ecossistema terrestre estudos, especialmente para harmonizar diferentes produtos
de mapas (YANG, 2017; SOUZA, 2020). O acesso aberto do arquivo Landsat (PHIRI, 2017;
WULDER, 2016), aliado a plataforma de computação em nuvem chamada Google Earth Engine
(GEE) e os dados da rede Mapbiomas (https://mapbiomas.org/), incluem especialistas em sen-
soriamento remoto e computação, ciência de dados e biomas, essa base inclui as classificações
de uso e cobertura da terra com 30 m de resolução espacial entre 1985 e 2020 na coleção 6. O
Google Earth Engine (GEE) foi utilizado para obtenção dos dados. As etapas da metodologia
desta pesquisa estão apresentadas no modelo conceitual da Figura 2.
O NDVI foi calculado utilizando a plataforma GEE para os limites da bacia hidrográfica do
rio Mapari a partir de imagens de satélite Landsat de 1985 a 2020, que podem conter nuvens
e aerossóis que contaminam os pixels, foi aplicada uma filtração visando garantir a qualidade
dos dados. Neste estudo, dados Landsat 5 e 8 foram obtidos com correção atmosférica, ortor-
retificados, L1T (adequado para análise de séries temporais), topo da atmosfera (TOA) que o
GEE fornece. O conjunto de dados Landsat 5, sensor TM contém imagens de satélite de 1984-
1990 e 2003-2012, enquanto o conjunto de dados Landsat 8, sensor OLI varia de 2013-2020. Os
mapas foram confeccionados utilizando o software QGIS 3.16.9 LTR.
A plataforma GEE também foi utilizada para observação e obtenção das diferentes cenas
com os mosaicos de NDVI do sensor MODIS, composição 16 dias, durante os períodos chuvo-
sos, estiagem e transição de 2002 a 2020. O NDVI para o sensor MODIS é calculado para cada
cena, e variando em valor de -1,0 a 1,0 nas imagens georreferenciadas. Os valores de NDVI
estão entre -1 e +1. Quando os valores de NDVI se aproximam de +1 significa que a vegetação
saudável, a diminuição do NDVI indica a diminuição da vegetação. Os valores negativos repre-
sentam corpos d’água e ambientes úmidos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Classificação de uso e cobertura da terra
As áreas das classes da base de dados do Mapbiomas que ocorrem na bacia hidrográfica
do rio Mapari no Litoral Oriental do estado do Maranhão (Tabela 1). Os mapeamentos de pai-
sagens são mostrados nas Figuras 3 e 4. A classe de formação florestal e formação savânica
representou mais de 60% da área da bacia ao longo dos anos estudados. Os padrões espaciais
não apresentam grandes mudanças visuais, foi possível analisar as mudanças apenas com as
análises numéricas de 1985 a 2020.
Houve maiores mudanças na classe Pastagem (279,34% de aumento), Infraestrutura
urbana (377,06% de aumento) e a classe Outra Área não Vegetada (758,33% de aumento) de
1985 para 2020. As maiores diminuições foram as classes Apicum e Rio, Lago e Oceano, apre-
sentando os valores de -61,87% e -10,09%, respectivamente (Tabela 1).
As formações florestais e savânica tiveram uma diminuição de -1,81% e 0,51%, respecti-
vamente de 1985 para 2020. De acordo com o esquema de classificação do MapBiomas, outra
área de formação natural não florestal no bioma amazônico é representada por formações de
savana. A presença dessas manchas pode indicar uma classificação incorreta de MapBiomas,
pois as formações de savana são geralmente confundidas com pastagens ao usar imagens de
resolução média devido à sua sazonalidade e semelhanças espectrais e à sua heterogeneidade
espectral intraclasse (MÜLLER et al., 2015; ALENCAR et al., 2020; GUERRERO et al., 2020).
Figura 3 – Mapas de uso e cobertura da terra 1985, 2005 e 2020 – Bacia Hidrográfica do Rio Mapari-MA
a partir de dados do Mapbiomas
Tabela 1 – Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra obtidas a partir da
classificação supervisionada LANDSAT Mapbiomas para os anos de 1985, 2005 e 2020
Mudança
1985 2005 2020
(1985 – 2020)
Classes
Área Área Área
(%) (%) (%) (%)
(km2) (km2) (km2)
2 – Formação Florestal 572,82 66,34 554,74 64,07 562,45 64,97 -1,81
4 – Formação Savânica 135,85 15,73 154,73 17,87 135,15 15,61 -0,51
5 – Mangue 29,08 3,37 28,96 3,34 29,36 3,39 0,95
Mudança
1985 2005 2020
(1985 – 2020)
Classes
Área Área Área
(%) (%) (%) (%)
(km2) (km2) (km2)
11 – Área Úmida não
0,06 0,01 0,11 0,01 0,06 0,01 0,00
Florestal
12 – Formação Campestre 117,57 13,62 117,54 13,57 128,82 14,88 9,57
15 – Pastagem 1,00 0,12 2,12 0,24 3,80 0,44 279,34
21 – Mosaico de
0,02 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00
Agricultura e Pastagem
24 – Infraestrutura
0,10 0,01 0,46 0,05 0,47 0,05 377,06
Urbana
25 – Outra Área não
0,04 0,01 0,06 0,00 0,37 0,04 758,33
Vegetada
32 – Apicum 1,76 0,20 1,14 0,13 0,67 0,08 -61,87
33 – Rio, Lago e Oceano 5,10 0,59 5,89 0,68 4,59 0,53 -10,09
Fonte: Autoria própria.
A avaliação dos índices da paisagem é apresentada nos gráficos da Figura 4. A análise das
mudanças no uso e cobertura do solo revelam que a vegetação natural do Cerrado perdeu
áreas principalmente para a agricultura, áreas de pastagem e infraestrutura urbana que tive-
ram os maiores aumentos. Sem o devido manejo das áreas, a dinâmica regional de uso e cober-
tura da terra afeta os serviços ecossistêmicos de regulação do clima e podem ser potencialmente
prejudiciais aos recursos hídricos da região (ARANTES et al., 2016; FERNANDES et al., 2021).
Figura 4 – Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra obtidas na base de dados
do Mapbiomas com uso do Google Earth Engine
Figura 5 – Mapeamento espacial Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para a bacia
hidrográfica do rio Mapari
Os valores de NDVI variam de -1 a 1, onde aqueles entre -1 e zero (0) são típicos de carac-
terísticas não-vegetação (por exemplo, água, nuvem e superfícies impermeáveis), e aqueles
entre zero e 1 são típicos de características vegetadas. Quanto maior o valor de NDVI, maior,
geralmente, a biomassa, a produtividade e o vigor da vegetação (SUN et al., 2016). Como os
valores de NDVI menores que zero (<0) são típicos de características não vegetais (por exem-
plo, água, nuvem, superfícies impermeáveis), estes foram filtrados de cada imagem NDVI deri-
vada de Landsat e MODIS na plataforma GEE.
Figura 6 – Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI). (a) LANDSAT e (b) MODIS
(a) LANDSAT (b) MODIS
0,80 0,8
0,70 0,7
0,60 0,6
NDVI
NDVI
0,50 0,5
0,40 0,4
0,30 0,3
0,20 0,2
jul-02
jul-03
jul-04
jul-05
jul-06
jul-07
jul-08
jul-09
jul-10
jul-11
jul-12
jul-13
jul-14
jul-15
jul-16
jul-17
jul-18
jul-19
jul-20
jul-21
Tempo Tempo
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho demonstrou análises qualitativas e quantitativas utilizadas para estudar o
mapeamento de uso e cobertura terra e o índice de vegetação por diferença normalizada na
bacia hidrográfica do rio Mapari. As análises mostram que as classes de usos apresentaram
alterações de 1985 a 2020 nas classes: pastagem, infraestrutura urbana e a classe outra área
não vegetada.
Os mapas NDVI exibem boas condições da vegetação, embora o mapa de 2020 tenha
aparentado uma diminuição de áreas com boas condições, porém os gráficos plotados a partir
das médias de NDVI para a bacia hidrográfica mostraram que os valores possuem uma tendên-
cia crescente dos valores de NDVI com variação majoritariamente interanual, ou seja, que
variam de acordo com as condições climáticas da região que é marcada por dois períodos dis-
tintos, um período chuvoso e outro de estiagem.
Portanto, este trabalho aumenta a possibilidade de desenvolver estudos na área da bacia
hidrográfica do rio Mapari com a temática ambiental. Também, a importância de expor infor-
mações sobre uma área de estudo com pouco conhecimento científico, contribuindo para a
mudança de concepção, estimulando a produção de outras pesquisas para esta bacia.
Como indicações para trabalhos futuros, estudos de uso e cobertura da terra aliado aos
índices de vegetação mostram resultados mais consolidados quando há a associação com
outros índices físicos que destaquem diferentes tipos de alvo, como por exemplo fatores climá-
ticos como valores de precipitação pluviométrica, Índice Normalizado de Diferença de áreas
construídas e Índice de Umidade – NDWI (destaque para conteúdo hídrico).
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Resumo: Intervenções antrópicas em corpos hídricos podem trazer tanto impactos negativos
quanto positivos e gerar problemas ambientais complexos. Tal é o caso do “Lago da UFSCar”,
reservatório símbolo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) formado pelo represamento
do Córrego do Monjolinho no trecho que corta a universidade, mas que precisou ser drenado em
2019 por problemas de segurança em sua barragem. Desde então, estudam-se alternativas para o
problema, pois além dos altos custos com a reforma na barragem, também sua gestão se tornou
muito complexa em função da legislação de segurança de barragens vigente. Assim, a alternativa
de renaturalização do corpo hídrico e seu entorno nesse trecho tem sido cogitada como uma solu-
ção mais adequada. Sendo assim, o presente estudo tem o objetivo de analisar os desafios, vanta-
gens e desvantagens associadas à possível renaturalização do Lago da UFSCar em relação aos
serviços ecossistêmicos, impactos sociais, econômicos e ecológicos. Para tanto, realizou-se um
levantamento bibliográfico do histórico do Lago e foram entrevistados pesquisadores e gestores
que são especialistas nos temas abordados na pesquisa e/ou estiveram envolvidos no processo de
gestão do lago. Os resultados obtidos apontaram que, apesar do lago desempenhar serviços ecos-
sistêmicos culturais e abrigar uma nova biota adaptada, o represamento gerou impactos negativos
na sua biota original e na qualidade de sua água. Assim, a alternativa pela renaturalização é pro-
missora, pois não só seria menos custosa, mais segura e poderia reverter os impactos ambientais
gerados pelo barramento, como pode se tornar um novo símbolo para comunidade.
Palavras-chave: Barragem, Corpo Hídrico, Córrego do Monjolinho, Problema Ambiental Complexo,
Renaturalização.
ABSTRACT: Anthropogenic interventions in water bodies can cause both negative and positive
impacts and could generate environmental wicked problems’. This is the case of “Lago da UFSCar”,
a symbol reservoir of the São Carlos campus of the Federal University of São Carlos, which was
[ 669 ]
670 Gustavo Pinto Lustosa; Sérgio de Mattos; Sílvia Povinelli
formed by the damming of the Córrego do Monjolinho (located in the municipality of São Carlos
– São Paulo state – Brazil) in the section that crosses the University. The lake had to be drained in
2019 due to safety issues at its dam. Since then, alternatives to the problem have been studied, as
the costs of renovating the dam are high and its management has become very complex due to the
current dam safety legislation. Thus, the alternative of renaturalizing the water body and its sur-
roundings in this stretch has been considered as a more adequate solution. This study aims to
analyze the challenges, advantages and disadvantages associated with the possible renaturaliza-
tion of UFSCar lake in relation to ecosystem services, social, economic and ecological impacts.
Therefore, a bibliographic survey of the history of the lake was carried out and researchers and
managers who are specialists in the topics covered in the research and/or were involved in the
lake’s management process were interviewed. The results obtained showed that, despite the lake
performing cultural ecosystem services and shelter a new adapted biota, the damming generated
negative impacts on its original biota and on the quality of its water. Thus, the alternative for rena-
turalization is promising, as it would not only be less costly, safer and could reverse the negative
environmental impacts generated by the dam, as also could become a new symbol for the
community.
Keywords: Dam, Water Body, Monjolinho river, Wicked Environmental Problem, Renaturalization.
1 INTRODUÇÃO
1.1 Relações entre sociedade e cursos d’água: passado, presente e futuro
Os ecossistemas lóticos foram constantemente alterados ao longo do tempo por meio,
por exemplo, de represamentos ou canalizações, especialmente para atender à expansão
urbana (SILVA e PORTO, 2020). Em relação ao represamento, podemos destacar que ele tende
a alterar drasticamente características físicas, químicas e biológicas dos ecossistemas aquáti-
cos, sendo as principais alterações: assoreamento; inundações de áreas adjacentes; redução da
mata ciliar (a qual também, junto com outros fatores, aumenta a contaminação alterando pro-
priedades químicas e físicas da água); eutrofização; alteração na biodiversidade; redução da
velocidade de correnteza e as flutuações dos níveis da água (TUNDISI, 1993; THOMAZ, 1999).
Devido aos impactos causados pelas ações antrópicas, recentemente se busca uma abor-
dagem mais sistêmica dos corpos hídricos nas áreas urbanas, incluindo questões sociais e ambien-
tais, especialmente na requalificação dos cursos d’água. Segundo Silva e Porto (2020), esse
processo de requalificação pode se dar em três âmbitos: 1) Restauração ou renaturalização: que
busca restabelecer as relações entre a paisagem e os corpos hídricos o mais próximo possível da
condição natural; 2) Reabilitação ou recuperação: a qual objetiva restabelecer as condições físi-
cas, químicas e biológicas da água, de um ponto de vista sanitário; e 3) Revitalização: que visa
restabelecer as relações entre o corpo hídrico e a paisagem funcionalmente.
Vale destacar que a restauração ou revitalização de rios tem importância estratégica espe-
cialmente para o abastecimento de água para a população e devido a isso a legislação estadual
do estado de São Paulo já impõe que áreas de mananciais de rios que são utilizadas como fonte
de abastecimento deve ser preservadas ou recuperadas (APRM) como pela Lei nº 9866/1997
(SÃO PAULO, 1997), que por sua vez levou a origem da lei municipal no município de São Carlos,
Lei nº 13944/2006, inserida ao Plano Diretor, que definiu como área de preservação e recupera-
ção a nascente do Rio Monjolinho que fica à montante do lago (SÃO CARLOS, 2006).
O município de São Carlos avança na preservação de bacias hidrográficas através de
Parques Florestais Urbanos (chamados de Parques Lineares) sendo que, por exemplo, foram
criados ou foi decretada a criação de oito parques nos últimos 4 anos, que são áreas verdes em
torno de rios dentro de zonas urbanas com o propósito não só ambiental, para preservação de
bacias hidrográficas e da biota local, como também para aproximar a população da natureza
sendo um espaço utilizado inclusive para educação ambiental e uma promissora alternativa de
renaturalização (LOPES, 2019).
O campus São Carlos da UFSCar foi fundado em 23 de maio de 1968 pelo Decreto n.º
62.758, a partir da desapropriação da fazenda Trancham, sendo que já havia ocorrido um repre-
samento do Córrego do Monjolinho embora a barragem atual parecesse ter sido construída
entre 1970 a 1974 (POVINELLI, 2019). O campus também abriga uma reserva do Cerrado, tipo
de ecossistema considerado “hotspot de biodiversidade” (com alta biodiversidade, mas tam-
bém muito degradado e em risco) (KLINK e MACHADO, 2005).
O Lago da UFSCar se tornou um importante símbolo da Universidade, propiciando bem-es-
tar, identidade e sendo suas margens centro de vários eventos culturais, oferecendo, portanto,
um serviço social importante à comunidade (UFSCAR, 1994). Assim, o lago desempenha o que é
chamado de serviço ecossistêmico cultural, o qual, segundo Kumar (2010), é um tipo de serviço
ecossistêmico relacionado aos benefícios não materiais ligados ao desenvolvimento cognitivo,
enriquecimento espiritual, reflexão, recreação e experiência estética que um ecossistema propi-
cia à humanidade e que não podem ser valorados de maneira monetária (KUMAR, 2010).
Todavia, o Lago da UFSCar vem sendo profundamente impactado devido à poluição
hídrica, redução de sua zona ripária e por outras influências antrópicas, o que vem diminuindo
ou até impossibilitando seu uso recreativo e para outros serviços culturais (SANTOS, 2011). Em
relação à limitação do uso recreativo do lago, um dos casos recentes mais marcantes foi em
2018 quando a UFSCar emitiu um alerta desincentivando as pessoas a se aproximarem do lago
devido à presença de muitos carrapatos que são vetores da bactéria Rickettsia ricketts causa-
dora da febre maculosa (GLOBO, 2021).
Como já explicado, o represamento tende a causar uma série de impactos nos ecossiste-
mas aquáticos e, no caso do Lago da UFSCar, é possível destacar que seu volume se reduziu
devido ao assoreamento, e, nos últimos anos, inundava periodicamente, tanto que, em 13 de
janeiro de 2013, houve uma precipitação de 116 mm em 24 horas, o que fez o nível do lago ficar
até acima da barragem, episódio que levou a Divisão de Defesa Civil de São Carlos (DDC) a
monitorá-lo desde então (DEFESA CIVIL, 2019).
Em 2017, foi então feita uma vistoria pela Divisão de Defesa Civil de São Carlos (DDC) e
Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) de São Carlos, na qual foram constatados
sérios danos à estrutura da barragem devido à falta de manutenção ao longo dos anos e por
haver penetração de raízes de árvores na barragem. Tal situação levou a recomendações como
as de: ser declarada situação de emergência; efetuar medidas de mitigação; determinar plano
de segurança; e realizar estudo de classificação de dano potencial (DEFESA CIVIL, 2019).
O estudo foi feito e classificou a barragem em relação à segurança como sendo de risco
alto e de dano potencial associado alto, o que resultou em uma série de intervenções feitas
pela Universidade, como a abertura de uma das comportas da barragem, limpeza de canais,
entre outros (POVINELLI, 2019).
A renaturalização é aventada como uma solução viável porque alguns dos seus principais
benefícios corrigem boa parte dos problemas já citados: redução de alagamentos; redução no
Todos esses aspectos estão interrelacionados e não podem ser buscadas soluções para
eles de forma isolada, mas sim considerando as complexidades geradas por essas interdepen-
dências. Dessa forma, a situação atual do Lago da UFSCar e a busca para resolver os seus pro-
blemas se encaixam perfeitamente naquilo que Rittel e Webber (1973) definem como “wicked
problem” (problema complexo, problema espinhoso ou problema travesso, segundo algumas
traduções): são problemas mal formulados; as informações disponíveis sobre eles são confu-
sas; envolvem muitos interesses e grupos decisores com valores conflitantes e suas ramifica-
ções em todo o sistema em que se encontram inseridas são confusas de tal forma que as
soluções podem ser piores que o problema original. Por isso, problemas desse tipo não devem
ser analisados ou intervir de maneira tradicional, ou seja, com planos rígidos e lineares e anali-
sando dados isoladamente (SANTOS, 2017).
Assim, esse estudo busca levantar dados sobre questões ecológicas, sociais e de segu-
rança envolvidas no caso do Lago da UFSCar a fim de subsidiar um futuro projeto de
renaturalização.
2 METODOLOGIA
A vantagem desse método é que ele permite ter um envolvimento mais profundo com o
entrevistado, possibilitando identificar a relação pessoal e sentimental do entrevistado com o
objetivo de estudo, bem como identificar pontos de vistas diferentes e conflitantes sobre o
mesmo tema (LALAND, 1988). Assim, ele é visto como ideal para problemas que envolvem
vários atores de instituições diferentes (SILVESTRE, 2014) e não precisa de muitos entrevista-
dos(as), uma vez que acima de 12 há saturação dos dados coletados, sendo que muitas vezes a
partir do sexto entrevistado começa a ocorrer isso (GUEST, 2006).
O roteiro de perguntas feitas para quase todos baseava-se na sequência descrita a seguir:
1) a relação do(a) entrevistado(a) com o Lago da UFSCar; 2) se tinha conhecimento sobre o his-
tórico da região onde está hoje o lago antes da apropriação da Fazenda Trancham pela
Universidade; 3) se tinha conhecimento de alguma intervenção ou construção de barragem na
década de 1970; 4) se considerava que houve algum conflito de interesses ou dificuldade de
relação entre a Universidade e outras instituições que se envolveram com o caso; 5) quais os
impactos do represamento na biota e paisagem locais; quais as grandes dificuldades para solu-
cionar esse problema; quais seriam os aspectos positivos e negativos para reconstruir a barra-
gem ou para retirá-la e renaturalizar; e 6) a posição do(a) entrevistado(a) sobre manter ou não
a barragem.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Podemos inferir que, provavelmente, o lago como é conhecido atualmente é um elemento
relativamente recente na paisagem onde está a UFSCar, existente desde 1970 e que passou por
inúmeras intervenções, todavia, antes dele também deveria existir alguma forma de represa-
mento da região, mas muito menor e com influências diferentes na paisagem e ecossistemas
locais, criada entre 1940 e 1960, como o Entrevistado 1 também afirmou e como pode ser cons-
tatado em uma planta da cidade de 1938 (PRÓ-MEMÓRIA,2014). Assim também podemos resu-
mir as intervenções na sub-bacia estudada em quatro momentos como visto no Quadro 1.
qualidade de sua água e sua eutrofização, quanto mais se afasta da nascente, especialmente no
Lago da UFSCar o que é confirmado pelas falas dos Entrevistados 1 e 2 (Quadro 2).
Tabela 1 – Comparação dos resultados dos trabalhos de Sé (1992), Guereschi (1995) e Peláez-Rodriguez
(2001)
Variável Ponto de Amostragem Sé (1992) Guereschi (1995) Peláez-Rodriguez (2001)
M1 46 29 210
Fósforo Total
M3 772 984 1230
M1 42 27 76
Amônia
M3 2975 2325 3100
M1 2 1 4
Nitrito
M3 47 3 7
Fonte: Peláez-Rodriguez (2001) modificada pelo autor. M1 são dados coletados na nascente e M3 a jusante do lago.
Quadro 2 – Resposta à pergunta – “Quais são os impactos que o represamento causa e quais já foram
notados no corpo hídrico em questão?”
Entrevistado(a) Resposta
“Até os 80 anos todo o dejeto de laboratórios era jogado no Lago[...] todo sistema do
esgoto da SAAE está destruído [...] Todo o esgoto está vazando para aquele Lago. [...]
Assoreamento [...] Todo reservatório em ambiente tropical tem a tendência a deixar de
1 ser um Lago porque começa a sucessão ecológica, invasão de macrófitas etc. Por isso
todo Lago precisa de intervenção a cada 5 anos[...]. Quando a gente fez o esvaziamento
do [...] reservatório [...] a grande maioria eram tilápias. São exóticas. [...]Eu coletei até
marisco marinho.”
“Primeira coisa que a gente tem é alteração da paisagem quando você tem a o represa-
mento de qualquer corpo hídrico né então se interfere no fluxo hidrológico então a disponi-
bilidade hídrica existente naquele local foi alterada já num passado distante. [...] por conta
da ocupação antrópica [...] acabou trazendo muitos resíduos do corpo hídrico então
Aumentou a concentração de sedimentos de poluentes e também a presença de muitos cia-
nobactérias né então a gente teve momentos que o Lago foi tomado por cianofíceas [...]
2 Aquele lago também teve um impacto de introdução de Espécie exóticas, de ictiofauna, [...]
mas ela estava confinada dentro naquele Lago a não sei quando as comportas eram abertas
né que essa ictiofauna percorria o resto dos corpos hídricos do Rio Monjolinho [...]professor
Antônio Mozeto né Hoje aposentado mas tem outro professor que atua na área eles têm
base de dados levantamento histórico da dos dados químicos da água da qualidade nesse
corpo hídrico que comprovam que com o adensamento urbano no município na bacia do rio
Monjolinho ele alterou completamente qualidade desse corpo hídrico”
Fonte: Elaborado pelos autores.
A análise de Povinelli (2019) também concluiu que a Categoria de Risco (CRI) e o Dano
Potencial Associado (DPA) relativo ao barramento do Lago da UFSCar são altos. Conforme
aponta a autora, a maioria das características que o tornam com Categoria de Risco poderia ser
solucionada por uma reforma e planos de segurança, o que, porém, é muito oneroso para a
universidade. Já em relação a Dano Potencial Associado não é possível mudar sua categoria,
porque envolvem características inerentes à posição geográfica da barragem e riscos a toda a
infraestrutura a sua jusante (como rodovias e área urbana).
Considerando a alternativa de renaturalização e baseado nos dados da Silva (2003), pode-
-se inferir que, na melhor das hipóteses, seriam necessários 60 metros de faixa vegetativa da
zona ripária em cada margem para todas as funções ecológicas voltarem a ser funcionais,
sendo provavelmente necessário a substituição das espécies exóticas presentes no Bosque de
Pinus por espécies nativas e revegetando a parte sul da atual represa, pois provavelmente o rio
em seu curso natural iria ocupar uma área menor que do lago atual e que a área não revege-
tada, como visto na Figura 2a. Todavia, caso o rio em seu curso natural tenha uma largura
maior, bastaria retirar plantas da parte sul do Bosque de Pinus e fazer outras intervenções para
permitir que o rio passe por essa região como mostrado na Figura 2b (que supõe, apenas como
exemplo, o curso do rio com 60 m de largura). Em ambos os cenários, com menos intervenções
necessárias para a restauração dos serviços ecossistêmicos na paisagem, não seria necessário
destruir ou modificar construções próximas além do barramento.
Figura 2 – Esboços da revegetação em caso de apenas 60 metros de vegetação ripária ser suficientes e
também em caso do rio em seu natural ter 60 metros de largura. Fonte – elaborado pelo autor por
Google Earth. Linhas vermelhas são representações de 60 metros de extensão, linha verde o limite
mínimo da revegetação necessária e linhas azuis as margens do rio
Impactos
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como levantado pelo presente estudo, o reservatório conhecido como “Lago da UFSCar” é
um ambiente criado antropicamente recentemente (últimos 50 anos), o qual gerou muitos efei-
tos negativos ecológicos na biota e na dinâmica do Córrego do Monjolinho, assim como devido
às limitações financeiras e complexidade da gestão de uma barragem pelas modificações legais
recentes é muito oneroso para a universidade manter a barragem. Por outro lado, o lago passou
a desempenhar serviços ecossistêmicos culturais e abrigar uma nova biota adaptada.
Portanto, a alternativa de renaturalização do Córrego do Monjolinho no trecho em que
ele corta a UFSCar é promissora, pois não só seria menos onerosa e mais segura em longo
prazo, como poderá reduzir os impactos ambientais gerados pelo barramento assim como cria-
ria um novo símbolo para comunidade. Essas conclusões são corroboradas tanto pelos aspec-
tos teóricos e exemplos nacionais e internacionais já realizados em outros rios, assim como
compartilhada por parte dos entrevistados neste trabalho. Contudo, este estudo ainda é intro-
dutório ao tema, sendo necessários outros estudos e pesquisas de campo para complementá-
-lo. Ainda assim, as informações aqui levantadas e sistematizadas podem ajudar a orientar a
tomada de decisões sobre o futuro do Lago da UFSCar.
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Resumo: A água se trata de recurso natural primordial para todos os seres vivos. Partindo disso, é
de fundamental importância estudos que visam a análise da qualidade deste recurso. O objetivo do
presente trabalho foi identificar quais atividades antrópicas são responsáveis pela degradação
ambiental do Córrego Josefa Gomes, em Formosa-GO. Foram identificados diversos processos de
degradação, comoerosão, descarga de efluente no canal fluvial, descarte inadequado de resíduos
sólidos, assoreamento, entre outros, e ressalta-se que esses processos são resultados de ações
antrópicas como ocupação do leitodo Córrego e lançamento de efluentes não tratados e resíduos
sólidos dentro do canal. Diante todos essesfatores, é necessário que haja uma gestão pública que
possa inibir essas ações humanas que acarretam na degradação do Córrego, partindo de projetos
voltados à conscientização ambiental da população até políticas públicas de preservação que
sejam consistentes e rigorosas.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica; qualidade da água; conservação; planejamento ambiental.
Abstract: Water is a primordial natural resource for all living beings. Based on this, studies aimed
at analyzing the quality of this resource are of fundamental importance. The objective of this work
was to identify which anthropic activities are responsible for the environmental degradation of
Córrego Josefa Gomes, in Formosa-GO. Several degradation processes were identified, such as
erosion, effluent discharge into the river channel, inadequate disposal of solid waste, silting,
among others, and it should be noted that these processes are the resultof anthropic actions such
as occupation of the stream bed and effluent discharge untreated and solid waste withinthe chan-
nel. Given all these factors, it is necessary that there is a public management that can inhibit these
human actions that lead to the degradation of the Stream, from projects aimed at raising
[ 681 ]
682 Anailton Candido de Araújo; Jakeline Martins da Silva; Elton Souza Oliveira; Amom Chrystian de Oliveira Teixeira
environmental awareness amongthe population to public policies for preservation that are consis-
tent and rigorous.
Keywords: Hydrographic basin; water quality; conservation; environmental planning.
1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento de extrema importância para a existência do homem, tanto para
questões sociais, ambientais, quanto econômicas. Assim, preocupações a respeito dos recur-
sos hídricos têm ganhado força nos últimos anos devido aos recorrentes casos de escassez
hídrica,como ocorrido em São Paulo (2014-2016) e Brasília (2017). Dessa forma, são de alta rele-
vância estudos voltados para a análise da degradação hídrica, buscando formas de manter e
conservartal recurso. No cenário atual observa-se que algumas regiões do Brasil vêm sofrendo
bastante em relação à falta de água, isso devido à má gestão dos recursos hídricos.
Recentemente, o Distrito Federal vem enfrentando uma grave crise hídrica que, inclusive, foi
classificada comoa pior da história do DF. No estado de Goiás, o mesmo se observa em municí-
pios como Goiânia,Aparecida de Goiânia e na cidade de Formosa.
Devido às peculiaridades das bacias urbanas, são necessários cada vez mais estudos para
compreender os impactos gerados devido à pressão das ações antrópicas sobre os recursos
hídricos. Segundo Tucci (1997), com a urbanização, a cobertura da bacia é alterada por
pavimentos impermeáveis e são introduzidos condutos para escoamento pluvial. Além disso,
modificações como desvios, alargamento e canalização feitos pelo homem, podem vir a agravar
alguns problemas, como as enchentes, mesmo tendo como objetivo preveni-los. As interven-
ções antrópicas nos recursos hídricos não são práticas recentes, no entanto somente foram
registradas recentemente as maiores intervenções (TAVARES et al., 2015). Porém, alémdas alte-
rações ‘planejadas’, a degradação dos rios e mananciais provém do comportamento inapro-
priado e indevido da população.
Conforme Tucci (2008), os principais problemas associados à infraestrutura da água no
meio urbano são: a falta de tratamento de esgoto, fazendo com que esses efluentes sejam lan-
çados diretamente nos rios; a ocupação dos leitos dos rios e a canalização eimpermeabilização
dos mesmos, acarretando em inundações; além da deterioração da qualidadeda água. Moraes
e Jordão (2002) citam também a localização inadequada das indústrias, o desmatamento, além
da destruição das bacias de captação. Com o lançamento de efluentes domésticos nos canais,
por exemplo, há um aumento de matéria orgânica na água, causando alterações no equilíbrio
do ambiente. Esse processo pode causar a morte de peixes e outras espécies, além da trans-
missão de doenças (MORAES; JORDÃO, 2002). Segundo pesquisa realizada pela fundação SOS
Mata Atlântica, nos anos de 2014 e 2015, o cenário hídrico do Brasil não é nada favorável: ape-
nas 15% dos rios e mananciais mostraram boa qualidade (sendoestes localizados em áreas pro-
tegidas e que contam com matas ciliares e matas de galeria preservadas), enquanto 21,6%
foram classificados como ruins e 1,7% como péssimos. Já os restantes, 61,8%, apresentaram
qualidade da água considerada regular.
2 METODOLOGIA
2;1 Caracterização da área de estudo
A bacia do Córrego Josefa Gomes está inserida no Alto do Rio Preto, afluente do rio
Paracatu, um dos tributários do rio São Francisco. Localizada no município de Formosa-GO
(Figura 1), o córrego está completamente inserido na área urbana e tem extensão de cerca de
7,5 km, entre a nascente principal na Mata da Bica e o deságue na Lagoa Feia. Quanto às carac-
terísticas físicas, a bacia possui relevos planos a suave ondulados; amplas áreas de latos-
solos formadas sobre coberturas detrito lateríticas; clima do tipo Aw e; e resquícios do que
sobrou da vegetação original de cerrado.
Fonte: Autores.
Josefa Gomes. As campanhas para análise de água foram realizadas em quatro períodos dis-
tintos, sendo eles: 25/11/2017; 14/06/2018; 29/09/2018 e; 11/11/2018. A distribuição dos
pontos de amostragem levou em consideração as possíveis áreas de influência e para evitar
interferências, em decorrência da possível degradação das amostras, as leituras foram reali-
zadas em campo (PARRON et al., 2011), utilizando um multiparâmetro portátil de marca
Instrutherm, modelo PH-1500. Ao todo foram utilizados cinco pontos para análise ao longo
do córrego Josefa Gomes, figura 2.
Para corroborar com o entendimento dos parâmetros também foram realizados levanta-
mentos de campo para identificação dos impactos ambientais nas proximidades do córrego
Josefa Gomes. As informações foram complementadas com base em estudos anteriormente rea-
lizados e os dados foram comparados com os estudos de Pires (2012), Pimenta (2013) e Pimenta
et al., (2015a; 2015b). Durante as campanhas para identificação de possíveis impactos as informa-
ções foram transcritas em caderneta de campo e os pontos foram marcados com GPS.
Figura 2 – Localização dos pontos de coletas na Bacia Hidrográfica do Córrego Josefa Gomes
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Descrição da degradação do córrego Josefa Gomes
Os principais pontos de impactos ambientais são apresentados na figura 3.
Problemas relativos a resíduos sólidos são agravados em áreas urbanas, devido a imper-
meabilização do solo. Isso acarreta no aumento do escoamento superficial e na elevação da
competência de transporte das águas pluviais, fazendo com que o material chegue ao córrego
Josefa Gomes. Esses aspectos mencionados atrelados a ausência de matas ciliares tornam o
canal fluvial mais sensível a possíveis impactos ambientais.
O aumento no escoamento superficial, também, acarreta em um maior transporte de
sedimentos. O que pode vir a ocasionar o assoreamento do canal, devido ao transporte de
material oriundo das áreas de solo exposto. Esse processo pode ocorrer principalmente em
áreas de expansão urbana, devido a implantação e/ou ampliação de novas áreas residenciais.
Esse tipo de situação foi observado nas áreas periféricas da mancha urbana da bacia, entre o
médio curso e o deságue na Lagoa Feia (Figura 3). Essas áreas possuem loteamentos destina-
dos a classes sociais variadas, são possuem vegetação e as áreas pavimentadas apresentam
processos erosivos, principalmente na estação chuvosa. Durante o levantamento de campo foi
identificado indícios de assoreamento em sete pontos ao longo do córrego, principalmente
entre os trechos de médio e baixo curso.
Tratando sobre processos erosivos, o estudo identificou doze pontos nas proximidades
do córrego Josefa Gomes. Alguns deles em áreas já ocupadas por habitações, o que coloca em
risco a população (CPRM, 2019) e outros em áreas de expansão de loteamentos. Isso evidencia
a magnitude do problema e da necessidade de se pensar em formas de resolução e/ou mitiga-
çãodo problema.
Problemas relativos à canalização do córrego Josefa Gomes, figura 5, obra realizada entre
os anos de 1983 e 1988 (PIRES, 2005), também foram constatadas. A obra retificou o canal e
trazendo consigo problemas como o aumento da velocidade das águas no trecho. Já a supressão
das matas ciliares facilitam a entrada de sedimentos no trecho canalizado. Sob o efeito das pre-
cipitações nos meses chuvosos, o trecho canalizado, pelas diferenças morfológicas e hidrodi-
nâmicas com o trecho seguinte, faz com que o mesmo sofra anualmente com o transbordamento
do canal e consequentemente com inundações.
Outro problema são os efluentes domésticos, que ao longo do histórico de crescimento
dacidade, foram descartados em fossas secas e no córrego Josefa Gomes, figura 6. Comoobser-
vado por Silva (2010) o crescimento da cidade ampliou o problema, em alguns casos fruto da
ausência de políticas públicas voltadas para a manutenção e preservação dos recursos hídri-
cos. Apesar de se ter observado uma melhoria nesse aspecto, o estudo observou que aindase
faz necessário uma maior atenção, uma vez que foram observados diversos pontos com indi-
cativos de aporte de esgoto doméstico devido a cor e o odor da água. Os levantamentos indi-
caram nove pontos em que esse tipo de degradação se tornava evidente. Além disso, aportes
adicionais chegam ao córrego por problemas na rede coletora de esgoto, devido a redes entu-
pidas que vazam superficialmente e chegam até o córrego.
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
Figura 7 – Valores referentes à Condutividade Elétrica (μS/cm) E Ph das amostras de água superficial do
CórregoJosefa Gomes
Figura 8 – Valores referentes à Condutividade Elétrica (μS/cm) das amostras de água superficial do
Córrego Josefa Gomes, em Pires (2012) e Pimenta (2013)
Nas análises feitas por Pimenta et al. (2015), apresentados no Figura 9, o maior valor de
pH foi detectado em P4 em coleta realizada em setembro de 2013, com o valor de 7,48. Já o
menor valor foi identificado em P1, em coleta também realizada em setembro de 2013, com o
valor de 6,26. O P1 apresentou um aumento de 14,25% do pH, enquanto o P4 teve uma queda
de 4,95%. Comparando aos dados de Pires (2012) e Pimenta et al. (2015) pode-se perceber que
em P1 o pH vem subindo a cada ano, já em P4 esse parâmetro vem diminuindo. Observa-se
ainda que os maiores e menores valores de pH tanto em Pires (2012), quanto em Pimenta et al.
(2015) e nesta pesquisa ocorreram nos mesmos pontos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa proporcionou a identificação e caracterização das áreas com processos de
degradação no Córrego Josefa Gomes, em Formosa-GO. Os processos de degradação identifi-
cados no Córrego foram: processos erosivos (sulcos e erosão fluvial); indícios de assoreamento
do canal fluvial, mas que merecem estudo mais detalhado; acúmulo de resíduos sólidos; des-
carga de efluentes domésticos dentro do canal; solo exposto; e problema decorrentes da
canalização. Esses processos identificados são resultados de diversos fatores originados a par-
tir da ação humana. Foi observado, ainda, durante a pesquisa que até os trechos do córrego
próximos à nascente possui indícios de degradação, onde águas pluviais, resíduos sólidos e
efluentes domésticos são lançados no interior do Parque Ecológico Mata da Bica sem nenhum
tipo de preocupação.
Com relação aos resultados das análises de água do Josefa Gomes, pode-se observar que
o P1 apresentou melhores características por estar inserido no Parque Ecológico Mata da Bica,
porém, porém os estudos indicam que ao longo dos anos a área vem sofrendo impactos.
Apontando para a necessidade de um planejamento e uma gestão mais eficaz para mitigar o
processo de degradação. Por se tratar de uma bacia que sua gestão é de responsabilidade da
esfera municipal é necessário que o município aprimore seu planejamento ambiental. Destaca–
se, ainda, a necessidade da implantação do sistema de águas pluviais em toda a bacia, para
mitigar os impactos no canal fluvial.
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SOUZA, J. D. (Coord.). Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo: Folha SD 23 Brasília. Brasília: CPRM, 2004.
[ 692 ]
DINAMISMO GEOGRÁFICO 693
Pitangueiras watershed (RPW), since, in recent years, sugar and alcohol agricultural expansion has
been evidenced, as well as the creation of new subdivisions urban areas. The methodological pro-
cedures were organized in the following steps: a) inventory/database, b) diagnosis/digital process-
ing and c) prognosis/presentation. These steps were carried out based mainly on the interpretation
of orbital data, technical field expeditions and mapping of land use and coverage of the basin using
geographic information systems (GIS). The results showed changes in land use and land cover,
mainly in the classes of temporary crops and exposed soil, in addition, the expansion of urban sub-
divisions close to agricultural areas and permanent protection areas of Ribeirão das Pitangueiras
was registered. In this sense, the use of methodological technical procedures is highlighted, in
which they proved to be effective for the development of environmental studies, as well as for the
interpretation of landscape changes based on multitemporal maps. Finally, the studies carried out
demonstrated the importance of knowing in advance and in detail the physical environment of the
areas studied for decision-making aiming at the territorial planning of the RPW.
Keywords: Watershed; Ribeirão das Pitangueiras; Land use and occupation;
1 INTRODUÇÃO
Atualmente a ocupação desordenada em sistemas hidrográficos vem causando impactos
negativos diretos e indiretos nos recursos naturais, bem como, nos recursos hídricos. Por outro
lado, estudos com foco no ordenamento territorial em bacias hidrográficas na perspectiva geo-
gráfica é um tema apropriado e inerente para essa ciência. Nesse sentido, segundo Ferreira
(2011), a Bacia Hidrográfica compreendida como unidade de estudo, fica viável estabelecer
metas, diagnósticos e recomendações para o uso equilibrado da terra, pois, na bacia a integra-
ção e modificação dos sistemas geo-ecológicos são absorvidas por todos os ocupantes desta.
De acordo com Christofoletti (1980), a bacia hidrográfica pode ser definida como uma
área limitada por divisores de água, dentro da qual são drenados os recursos hídricos, através
de um curso de água, como um rio e seus afluentes. A área física, assim delimitada, constitui-se
em importante unidade de planejamento. Assim, a Bacia Hidrográfica é um sistema natural-
mente definido, onde seus elementos inter-relacionam dinamicamente entre os componentes
físicos, biológicos e socioeconômicos. Pela sua distribuição espacial, apresentam, na maioria
dos casos diferentes paisagens que, em geral, representam diferentes estágios de sua evolução
no sistema, subsistema e partes componentes (RODRIGUEZ, CARVALHO, 2005). Assim, a iden-
tificação cartográfica do uso e cobertura da terra constitui-se em um importante elemento em
estudos ligados à temática ambiental, pois, a atualização cartográfica de uma determinada
localidade auxiliará, dentre outros, identificar e localizar os agentes responsáveis pelas condi-
ções ambientais da área (FERREIRA, 2008). Segundo Martinelli (2005), as mudanças temporais
se dão de duas maneiras: estado e posição, nas quais, possuem dois componentes: a veloci-
dade da mudança e a forma como essa mudança se dá no tempo. Além disso, é importante
frisar que, a constituição Federal de 1988, no artigo 20, do cap. VI, da lei 8.171, sobre a política
agrícola, estabelece que: “as Bacias Hidrográficas constituem unidades básicas de planeja-
mento de uso da conservação e da recuperação dos recursos naturais” (BRASIL, 1991).
Diante disso, o presente estudo tem como o objetivo o entendimento e registro carto-
gráfico das mudanças do uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras (BHRP) através das representações cartográficas. De acordo com Ferreira (2008),
a Bacia Hidrográfica do Ribeirão Pitangueiras está inserida nos limites municipais de Barretos-SP
afluente da margem esquerda do Rio Pardo, no qual, é afluente do Rio Grande. A Bacia ocupa
uma área de 274, 476 km², tendo um perímetro de aproximadamente 100 km (Figura 1). Além
disso, a lei 9034/94 com base no Plano Estadual de Recursos Hídricos sistematizou e determi-
nou 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) para o Estado de São Paulo.
A região de estudo se insere no Sistema do Baixo Pardo/Grande, UGRHI-12, onde os principais
municípios são: Barretos, Bebedouro, Orlândia, Morro Agudo, Colina, Viradouro, Colômbia,
Guaraci, Altair, Icem, Terra Roxa, Jaborandi e Guaíra.
Em estudos realizados por Rocha (1954), Mota (1998), Relatório da UGRHI-12 (2000),
Ferreira et al (2006, 2007) e Ferreira (2008), apontam a importância da preservação e conser-
vação dos recursos hídricos no município de Barretos, devido principalmente a ocupação
desordenada causando impactos negativos evidenciados em descrições e representações do
uso e cobertura da terra de áreas no município supracitado. Nesse sentido, Mendonça (1997),
destaca a importância de se conhecer o uso e cobertura da terra de um sistema hidrográfico,
pois, consiste principalmente em fornecer subsídios aos planejadores para a ordenação do
espaço físico e a previsão dos elementos relativos às necessidades humanas, de modo a garan-
tir um meio ambiente que proporcione qualidade de vida a seus habitantes.
2 METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo proposto, baseou-se principalmente em três etapas: inventário,
diagnóstico e prognóstico.
A primeira etapa caracterizou-se pelo levantamento bibliográfico relativo a temática, na
qual, estudos de Ferreira et al (2006, 2007) e Ferreira (2008) foram a base comparativa da car-
tografia de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras.
A segunda etapa baseou-se principalmente no processamento digital de imagens. Nessa
etapa foram utilizadas imagens dos sensores orbitais passivos (Tabela 1) para o mapeamento
de uso e cobertura da terra, tais como: satélite LANDSAT 5 do sensor TM (Thematic Mapper)
bandas 3, 4 e 5, do ano de 2006 órbita 221 e ponto 074 e imagens do satélite LANDSAT 8 do
sensor OLI (Operational Terra Imager) bandas 4, 5 e 6, do ano de 2020 órbita 221 e ponto 074.
Para a escolha dos dados orbitais, foram considerados a disponibilidade, o percentual de
nuvens e episódios associados com registros da expansão das atividades agrícolas (Canasat –
DSR/INPE) e a expansão de loteamentos urbanos na BHRP.
3 0,63 – 0,69 30 x 30
5 1,55 – 1,75 30 x 30
4 0.630 – 0.680 30 x 30
6 1.560 – 1.660 30 x 30
Fonte: Embrapa Territorial.
– SF-22-X-B-Vl-1, que estão na projeção UTM (Universal Transversa Mercator) e Datum Córrego
Alegre na escala de 1:50.000.
O processamento digital para o mapeamento de uso e cobertura da terra baseou-se em
plataforma destinada à aquisição, armazenamento, manipulação, análise e apresentação de
dados georreferenciados, ou seja, Sistema de Informação Geográfica desenvolvendo principal-
mente os seguintes procedimentos operacionais: criação de banco de dados, projeto, categoria
(modelos: imagem, cadastral, MNT e temático) e planos de informações (FERREIRA, 2008).
Além disso, para a classificação das imagens orbitais com o objetivo de gerar a cartografia
temática do mapeamento de uso e cobertura da terra, utilizou-se como base metodológica a
proposta do IBGE (2013), “Manual técnico de uso da terra”, no qual, auxiliou principalmente na
constituição da legenda do referido mapeamento e a proposta de interpretação de dados orbi-
tais de Florenzano (2002).
Para a classificação da imagem orbital do sensor TM, foram identificadas cinco classes de
uso e cobertura da terra: solo exposto, culturas temporárias, vegetação nativa, área urbana e
água. Deste modo, entende-se como “solo exposto” áreas sem cobertura vegetal ou pastagem
em um processo intenso de degradação. Já as “culturas temporárias” são áreas, nas quais,
caracterizam-se pelo ciclo vegetativo, ou seja, não excedem um ano, além disso, são ressemea-
das com intervalos que não ultrapassam cinco anos (IBGE, 2013). Conforme o sistema de clas-
sificação adotado (IBGE, 2013), as áreas consideradas como “mata” foram associadas a
vegetação natural, no qual, compreende-se como um conjunto de estruturas florestal e cam-
pestre, abrangendo desde florestas e campos originais (primários) e alterados até formações
florestais espontâneas secundárias, arbustivas, herbáceas e/ou gramíneo-lenhosas, em diver-
sos estágios sucessionais de desenvolvimento, distribuídos por diferentes ambientes e situa-
ções geográficas. Áreas construídas como aglomerações domiciliares foram interpretadas
como “área urbana” e a classe “água” são áreas identificadas como corpos d’águas, tais como:
rede de drenagem e lagoas (IBGE, 2013).
A terceira etapa foi definida com base no diagnóstico, ou seja, o prognóstico. Nessa fase
foi possível comparar as classes de uso e cobertura da terra em diferentes episódios temporais
(2006 e 2020) por meio do processo de extração de informação em imagens para reconhecer
padrões e objetos homogêneos nas mudanças multitemporais no uso e cobertura da terra na
bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras. Neste caso, foi utilizado o classificador por
regiões (Battacharya) onde a informação espacial envolve a relação entre os “pixels” e seus vizi-
nhos auxiliando ao reconhecer áreas homogêneas de imagens, baseados nas propriedades
espectrais e espaciais de imagens.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Uso e cobertura da terra – 2006
De acordo com Ferreira (2008), na imagem orbital do sensor TM no ano de 2006, notou-
-se grande distorção em seus pixels, devido a sua resolução e principalmente em sua re-visita
imageada na órbita ponto da área de estudo, ou seja, algumas falhas ocorreram no processo
de captação da imagem pelo sensor TM. Nesse sentido, o mesmo autor sugere que se aplicam
alguns processamentos nas imagens, dentre eles: eliminação de ruído e filtragem. Deste modo,
após a classificação supervisionada, predominou-se bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras no ano de 2006 a classe de uso e cobertura da terra solo exposto, em seguida de
culturas temporárias, mata, urbano e água (Tabela 2).
Com base nos dados de Ferreira (2008), observou-se que, as classes de cultura temporá-
ria e solo exposto somam 76% (Gráfico 1) da área total da bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras, ou seja, caracterizando a bacia como uma área predominantemente de ativida-
des agrícolas.
A classe água com menor representatividade, porém, não menos importante, justifica-se
sua não classificação em função da cobertura dos espelhos d’água devido as copas de árvores
no entorno da rede de drenagem.
Deste modo, espacialmente a distribuição geográfica do uso e cobertura da terra na BHRP
no ano de 2006 destacou-se principalmente pelas áreas de entressafra, bem como, pastagem
degradada distribuídas em toda área da bacia. A área urbana concentra-se na área central da
área estudada com presença de vegetação ciliar do córrego Campo Redondo e do próprio Ribeirão
das Pitangueiras. Outro aspecto importante são as culturas temporárias representadas principal-
mente pela cana-de-açúcar distribuída em toda área da bacia estudada (Figura 6).
Figura 6 – Uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras, 2006
Deste modo, observou-se que, as classes de cultura temporária e solo exposto conti-
nuam somando aproximadamente 76% da área total da bacia hidrográfica do Ribeirão das
Pitangueiras, seguido de Mata (12%) Urbano (11%) e Água com 1% (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Porcentagens do uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras,
2020
Sobre a classe “solo exposto” (Figura 7), verificou-se que sua maior representatividade
está associada com áreas sem cobertura vegetal no período de entressafra. Já as “culturas
temporárias” foram representadas principalmente pelas plantações de cana-de-açúcar
(Figura 8) destinadas para agroindústria sucroalcooleira regional voltadas para a produção
de etanol e açúcar.
A distribuição geográfica de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão
das Pitangueiras no ano de 2020 se deu principalmente pelas culturas temporárias distribuí-
das em toda área da bacia representada principalmente pela cana-de-açúcar. Assim como as
culturas temporárias, a classe “solo exposto” encontra-se distribuída em toda a área de
estudo, principalmente na porção centro-oeste da bacia. Outro aspecto relevante é a proxi-
midade das áreas agrícolas com as áreas urbanizadas (Figura 9), bem como, o avanço de
novos loteamentos urbanos no sentido das áreas de proteção permanente do Ribeirão das
Pitangueiras (Figura 10).
Figura 9 – Cana-de-açúcar, próxima a área urbana, Figura 10 – APP e área urbanizada, 2020
2020
Figura 11 – Loteamento residencial, 2020 Figura 12 – Sistema lêntico em área urbana, 2020
Figura 15 – Uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do Ribeirão das Pitangueiras, 2020
Por fim, entende-se que, o conhecimento sobre o uso da terra ganha relevo pela necessi-
dade de garantir a sua sustentabilidade diante das questões ambientais, sociais e econômicas a
ele relacionadas e trazidas à tona no debate sobre o desenvolvimento sustentável (IBGE, 2013).
Outro aspecto relevante foi sobre a classe “urbano”, na qual, obteve um aumento na sua
área de 1,336 km², dado principalmente pelos novos loteamentos urbanos como: Mais Parque
Barretos, Pacaembu e Residencial Vida Nova. A classe “mata”, comparada com 2006 obteve uma
redução em área de 1,533 km². Acredita-se que tal área reduzida foi ocupada principalmente pela
classe “culturas temporárias” (novas frentes agrícolas) e “urbano” (novos loteamentos). A classe
“água” obteve uma redução em área de 0,661 km², tal redução pode ser entendida hipotetica-
mente devido a retirada de açudes artificias para atender a demanda pecuária no ano de 2006,
na qual, é menor em 2020 devido ao avanço territorial de culturas temporárias.
Por fim, o levantamento multitemporal do uso e cobertura da terra indicou o dinamismo
geográfico na distribuição tipológica superficial através das interpretações e classificações de
padrões homogêneos da cobertura terrestre identificados em imagens orbitais. Deste modo,
na representação do espaço geográfico estarão registradas, combinadamente, marcas do pas-
sado e transformações que vigem no presente, assim, o dinamismo geográfico não é estático e
imutável é produto das atividades da sociedade humana, sendo, portanto, histórico
(MARTINELLI, 2005).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises elaboradas e dos resultados obtidos, pode-se afirmar a importân-
cia de se conhecer prévia e detalhadamente o meio físico e antrópico das áreas da bacia hidro-
gráfica do Ribeirão das Pitangueiras, tendo em vista a otimização do espaço geográfico desta
área, levando em consideração a preservação e conservação dos recursos naturais. Cabe res-
saltar que, o presente estudo não teve objetivo de mensurar a viabilidade social e ambiental
das mudanças paisagísticas, mas, constatar o dinamismo geográfico por meio de suportes geo-
tecnológicos. Nesse sentido, associado a base teórica metodológica e o suporte tecnológico
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Resumo: A Bacia Hidrográfica do Acaraú apresenta grande relevância dentro do cenário de abas-
tecimento hídrico, dado que esta abarca em seu território o terceiro maior arranjo populacional
do estado do Ceará. Por conta disso, tornam-se cada vez mais relevantes as preocupações acerca
do uso e ocupação do solo ao longo da área da bacia. Sendo assim, o presente trabalho teve como
objetivo observar a vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica em questão, através da sus-
ceptibilidade natural aos processos erosivos. Os métodos utilizados na pesquisa seguiram a meto-
dologia proposta por Crepani (2001) junto de algumas adaptações. Consequentemente, foram
elaborados mapas de geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, clima e, através da metodo-
logia de álgebra de mapas, foi gerado o mapa de vulnerabilidade ambiental da bacia. A análise dos
dados apontou que 49.89% da bacia possui grau de vulnerabilidade moderadamente estável, ao
passo que 49.71% desta se apresenta como medianamente estável-vulnerável. A porcentagem
restante se concentrou nas classes moderadamente vulneráveis. Dessa forma, foi possível obser-
var que as regiões mais vulneráveis ocorrem em relação ao exutório do rio principal, às encostas
da Serra da Ibiapaba e às porções de maciços residuais a sudeste da bacia.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; Suscetibilidade a Erosão; Geotecnologias; ZEE.
Abstract: The Acaraú Watershed presents great relevance within the water supply scenario, as it
encompasses in its territory the third largest population arrangement in the state of Ceará.
Because of this, concerns about the use and occupation of land throughout the watershed area
become increasingly relevant. Thus, the present work aimed to observe the environmental vulne-
rability of the mentioned watershed, through the natural susceptibility to erosion processes. The
methods used in the research followed the methodology proposed by Crepani (2001) along with
some adaptations. Consequently, maps of geology, geomorphology, pedology, vegetation, climate
were prepared, and through the methodology of map algebra, the environmental vulnerability
map of the watershed was generated. Data analysis pointed out that 49.89% of the watershed has
[ 707 ]
708 Luiz Henrique Joca Leite; Israel Salles Nogueira; Carlos Henrique Sopchaki
a moderately stable degree of vulnerability, while 49.71% of it presents itself as moderately sta-
ble-vulnerable. The remaining percentage was concentrated in the moderately vulnerable catego-
ries. Therefore, it was possible to observe that the most vulnerable regions occur related to the
main river’s mouth, the slopes of Ibiapaba Plateau and the portions of residual massifs to the sou-
theast of the basin.
Keywords: Water Resources, Erosion Susceptibility, Geotechnologies, EEZ
1 INTRODUÇÃO
Estudos e modelos que visem compreender melhor as incertezas que envolvem o uso e
ocupação do solo, e a sua relação com as mudanças climáticas, têm sido cada vez mais explo-
rados em estudos ao redor do mundo (SHUKLA et al., 2019).
Em busca dessa melhor compreensão, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
estabelece o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) como um de seus instrumentos, conci-
liando desenvolvimento econômico-social e preservação da qualidade do meio ambiente e do
equilíbrio ecológico (ROVANI; VIERA, 2016). Dentre os diversos indicadores de fragilidade natu-
ral potencial levantados para elaboração do ZEE, destacam-se os “indicadores de vulnerabili-
dade natural à perda de solo”, sendo a síntese desses indicadores o mapa de vulnerabilidade
morfodinâmica natural.
Nesta síntese, portanto, reúnem-se os elementos do meio físico e biótico em cinco temas
(geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e clima) em função dos processos de morfogê-
nese e pedogênese. Atualmente esse tipo de análise é facilmente operada utilizando Sistemas
de Informação Geográfica (SIG), haja vista que esses permitem a integração e processamento
de múltiplos Planos de Informação (PIs) georreferenciados, tal como avaliação e estabeleci-
mento de relações sistemáticas entre estes (ROCKETT et al., 2014).
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo apresentar discussões iniciais
acerca da vulnerabilidade morfodinâmica natural a perda de solos da bacia hidrográfica do
Acaraú, com apoio de geotecnologias e técnicas de geoprocessamento, a partir da análise das
mais recentes bases de dados disponíveis para o estado. Sendo assim capaz de fornecer uma
base sintética para discussões acerca da gestão territorial da bacia hidrográfica estudada e do
estado do Ceará.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia aplicada neste trabalho baseou-se na proposta por Crepani et al. (2001),
fundamentada nos conceitos de Ecodinâmica de Tricart (1977), adaptada para utilização con-
junta ao Índice de Concentração de Rugosidade (ICR), proposto por Sampaio e Augustin (2014),
e das Formas de Vertentes Predominantes, adaptado de Cunico (2007). Ou seja, todos os dados
foram analisados em função dos processos de pedogênese, quando predominam os processos
formadores de solo, e de morfogênese, quando predominam os processos erosivos.
Vulnerabilidade=(G+R+P+V+C)/5 (1)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Planos de Informação de Vulnerabilidade Morfodinâmica Natural
Na análise da vulnerabilidade morfodinâmica natural, com base no fator geologia (Figura
2a), observa-se um predomínio de litotipos estáveis (69.25%) e moderadamente estáveis (13.61%).
Valores estes que encontram como seus principais representantes as rochas do embasamento
cristalino (migmatitos e gnaisses) e corpos dos maciços residuais (riolitos, granitos e dacitos). Já os
litotipos moderadamente vulneráveis (12.54%) e vulneráveis (4.03%) correspondem a porções de
rochas sedimentares do Grupo Jaibaras e do Grupo Barreiras, junto de depósitos de sedimentos
recentes depositados ao longo do leito do Rio Acaraú e seus tributários.
A vulnerabilidade para o tema geomorfologia (Figura 2b), obtida através da média arit-
mética dos arquivos matriciais de vulnerabilidade de ICR e de formas de vertentes predomi-
nantes, apresentou tendência às classes moderadamente estáveis, que recobrem quase 75%
da área de estudo. Tal valor se justifica devido às porções correspondentes à depressão serta-
neja e à planície litorânea, que tendem a apresentar valores mais estáveis e abrangem grande
parte da área de estudo. As porções medianamente estável-vulnerável, moderadamente vul-
nerável e vulnerável, que correspondem aos 25% restantes, ocorrem relacionadas às demais
unidades de relevo como os inselbergues e as Serras da Ibiapaba e Meruoca.
Já na avaliação da vulnerabilidade, com base no fator pedologia (Figura 2c), é possível
observar a predominância de solos medianamente estáveis-vulneráveis (68.92%), represen-
tados principalmente pelos argissolos e luvissolos. Os solos classificados como vulneráveis
correspondem a 29.58% da área de estudo e possuem como principal representante os neos-
solos, que ocorrem tanto em regiões próximas das encostas como no leito do baixo e médio
curso do rio principal.
A análise da vulnerabilidade para o tema vegetação (Figura 2d) torna evidente o alto grau
de vulnerabilidade da cobertura vegetal da bacia, no qual 79.84% da área da bacia corresponde
a classe vulnerável. Esses altos valores decorrem da grande ocorrência da Caatinga Arbustiva
Aberta e da Caatinga Arbórea. Os 20.16% restantes estão distribuídos entre vegetação mode-
radamente vulnerável, medianamente estável-vulnerável e moderadamente estável, relacio-
nados principalmente aos enclaves úmidos e a planície costeira.
Por fim, no que se refere à vulnerabilidade para o tema clima (Figura 2e) observa-se o
predomínio da classe moderadamente estável (77.26%) devido ao baixo índice pluviométrico
da bacia ao longo do baixo e médio curso. As porcentagens restantes estão distribuídas quase
que inteiramente na classe medianamente estável-vulnerável, ocorrendo próximo a região da
planície costeira e dos enclaves úmidos, ou seja, das Serras da Ibiapaba e Meruoca.
Com base nos valores calculados observa-se um predomínio dos graus de vulnerabili-
dade moderadamente estável (49.89%) e medianamente estável-vulnerável (49.71%), que jun-
tos totalizam 99.6% da área de estudo. A porcentagem restante se distribui entre valores de
vulnerabilidade classificados como moderadamente vulnerável.
O predomínio na tendência de estabilidade da bacia, possivelmente, se dá devido à geo-
logia, que tem como composição majoritária litotipos estáveis e à geomorfologia, devido ao
predomínio de relevos planos, classificados como estáveis e moderadamente estáveis. A pedo-
logia e o clima também sugerem influência, embora menor, dentro deste cenário. Isso porque
há predomínio dos graus de vulnerabilidade moderadamente estável e medianamente estável-
-vulnerável, mas em proporções mais distribuídas em relação às demais classes.
A vegetação, por outro lado, possivelmente contribuiu na elevação dos graus de vulnera-
bilidade devido à sua composição majoritariamente vulnerável. Ainda assim a presença de uni-
dades fitoecológicas classificadas como medianamente estáveis, nas regiões da Serra da
Ibiapaba e da Serra da Meruoca, justificam em grande parte a redução do grau de vulnerabili-
dade dessas regiões, no qual as encostas presentes de forma clara em todos os temas, aqui se
tornam uniformes junto aos contextos adjacentes.
Já as porções classificadas como moderadamente vulneráveis estão associadas ao exutó-
rio do rio Acaraú, a uma fração da região dos inselbergues a sudeste da área e a porção corres-
pondente a Bacia do Jaibaras a sudoeste da área de estudo.
Na porção correspondente ao exutório do rio, se justifica o grau de vulnerabilidade acima
da média do restante da bacia, provavelmente, devido à presença de unidades geológicas,
pedológicas, fitoecológicas e climáticas tendendo a maior vulnerabilidade.
Já nas porções que correspondem aos inselbergues e a Bacia do Jaibaras a presença de
graus de vulnerabilidade moderadamente vulneráveis possivelmente teve o clima e a geologia
como seus principais atenuadores. Isso porque geomorfologia, pedologia e vegetação apresen-
tam graus de vulnerabilidade que tendem a aumentar o grau de vulnerabilidade dessas regiões.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos bancos de dados utilizados, identificou-se que o grau de vulnera-
bilidade morfodinâmica natural à perda de solos da bacia hidrográfica do rio Acaraú se mos-
trou pouco expressivo, dado o predomínio das classes moderadamente estável e medianamente
estável-vulnerável, que juntas correspondem a 99.6% da área de estudo.
Ademais foi possível observar através do mapa de vulnerabilidade morfodinâmica natu-
ral que as regiões do exutório do Rio Acaraú, e suas adjacências, junto da base da Serra da
Ibiapaba, na região corresponde a Bacia do Jaibaras, e alguns dos inselbergues presentes na
porção sudeste da área, são as porções mais suscetíveis a riscos ambientais.
Nesse contexto, portanto, observa-se que a metodologia proposta por Crepani et al.
(2001), junto de pequenas adaptações em determinados parâmetros fornece uma boa análise
preliminar do conhecimento da morfodinâmica existente na área de estudo, fomentando dis-
cussões acerca das unidades de paisagem, úteis como subsídio no planejamento do ordena-
mento territorial da bacia hidrográfica.
Contudo, cabe destacar que a adoção de bases de dados em escalas distintas pode
influenciar os resultados, assim como a subjetividade imposta pela adoção dos pesos na meto-
dologia proposta por Crepani et. al (2001), conforme já demonstrado por Spörl e Ross (2004) e
Spörl, Castro e Luchiari (2011).
O resultado de metodologias como esta, identificando a vulnerabilidade, pode ser pri-
mordial no apoio ao planejamento e gestão territorial, contudo recomenda-se ainda estudos
mais aprofundados para a Bacia do Rio Acaraú, a partir da adoção de dados em outras escalas,
verificando a influência da multiescalaridade nos resultados, bem como a partir de outras
metodologias, como Ross (2011) e Rodriguez, Silva e Cavalvanti (2010).
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[ 717 ]
718 Carina Santos Barbosa; Thomaz Alvisi de Oliveira
1 INTRODUÇÃO
Estudos em bacias hidrográficas possibilitam a visualização do funcionamento sistêmico
dado pela integração entre os elementos físico-naturais e os sociais. Sendo assim, dessa inte-
ração surgem ajustes nos sistemas ambientais como, por exemplo, aqueles relacionados à
mudança de parâmetros físico-químicos das águas.
Ao analisar esse conjunto, no intuito de compreender o meio como um corpo vivo que
responde aos estímulos derivados de processos que demandam reorganização de fluxos de
matéria e energia, coloca-se em prática a abordagem integrada de estudo das paisagens.
Em âmbito municipal, as secretarias de planejamento responsáveis pelo zoneamento do
espaço urbano possuem liberdade para definir as regras para o uso da terra nas suas mais
diversificadas formas, orientando essa utilização segundo os potenciais e as limitações que as
áreas apresentam. No entanto, nem sempre o planejamento das cidades atende a legislação
ambiental corrente, seja por restrições técnicas ou pelo assédio da expansão urbana financiada
pela especulação imobiliária. Assim, o enfoque sistêmico é uma possibilidade para o planeja-
mento e a gestão dos ambientes (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2007) e, utilizá-lo, implica
em conceber e entender as partes como um todo. Nesse contexto é importante destacar que
as bacias hidrográficas são unidades de área de excelência para o desenvolvimento de estudos
sistêmicos, inclusive constituindo-se como referência areal para estudos ambientais, tal como
reza a Lei 6.938/81 normatizada pela resolução do CONAMA 001/86.
O presente trabalho é um estudo ambiental desenvolvido na bacia hidrográfica do cór-
rego do Vai-e-Volta, inserida no contexto urbano do município de Poços de Caldas, estado de
Minas Gerais, com base na análise e interpretação de dados físico-químicos da água e aplica-
ção de protocolo de avaliação rápida no canal principal.
Trabalhos com pautas semelhantes denunciaram os impactos advindos do uso desorde-
nado da terra no âmbito das bacias hidrográficas, principalmente aqueles relacionados à pres-
são que a atividade urbana exerce sobre a rede de drenagem componente e seu entorno (LIMA
et al., 2020; REZENDE e LUCA, 2017; BELIZÁRIO, 2016).
2 METODOLOGIA
2.1 Levantamento bibliográfico, instrumental e organização dos materiais
A análise e organização do material bibliográfico, cartográfico e instrumental utilizados
foi etapa primeira. Uma cena ASTER Global DEM V3, disponibilizada no site do serviço geoló-
gico dos Estados Unidos da América <https://earthexplorer.usgs.gov/>, com dimensão geo-
gráfica de abrangência de 1 segundo de arco, resolução de 30 m x 30 m, foi utilizada para
extração das informações de hipsometria e declividade; uma imagem do satélite Sentinel-2,
com resolução espacial de 10 x 10 metros, de 21/01/2021, também adquirida na plataforma
supracitada, foi utilizada para a análise do uso da terra. Ambas foram trabalhadas no soft-
ware ArcMap 10.7.1.
Uma sonda multiparâmetros HANNA, modelo HI 9829, foi utilizada nas investigações de
parâmetros físico-químicos da água relacionados à temperatura da água em “0C”, pH, oxigênio
dissolvido em “mg/L”, condutividade elétrica em “µS/cm”, sólidos dissolvidos totais em “mg/L”,
salinidade em “PSU”, potencial de oxirredução em “mV” e turbidez em “NTU”. A turbidez foi
analisada por um turbidímetro de bancada microprocessado da marca Marconi, modelo
TB1000, com faixa de abrangência de 0 a 1000 NTU.
Um protocolo de avaliação rápida elaborado com base nas orientações apresentadas por
Callisto et al. (2002) foi utilizado para inferir a condição dos trechos analisados, informando se
os mesmos se aproximam mais ou menos da condição natural.
Parâmetros 0 ponto
5 pontos 3 pontos
(severamente
(situação natural) (alteração leve)
alterada)
Campo de pastagem /
1. Tipo de ocupação das
Agricultura / Residencial /
margens do corpo d’água Vegetação natural
Monocultura / Comercial / Industrial
(principal atividade)
Reflorestamento
2. Erosão próxima e/ou nas
margens do rio e assoreamento Ausente Moderada Acentuada
em seu leito
Alterações de origem
Alterações de origem
3. Alterações antrópicas Ausente doméstica (esgoto,
industrial / urbana
lixo)
Quadro 2 – Avaliação das condições de hábitat e nível de conservação das condições naturais
Pontuação
Pontuação
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Poços de Caldas, Sul do estado de Minas Gerais, conta com uma popula-
ção de 168.641 habitantes, concentrada em uma área de 547,061 km² (IBGE, 2020), onde
mosaicos de campos nativos e floresta estacional semidecidual (IBGE, 1992; GRAEFF, 2015)
ocorrem ladeados por pastagens, polígonos de silvicultura de eucalipto, atividades minerárias
e cultivos agrícolas (MAPBIOMAS, 2020). Parte desse cenário caracteriza os terrenos da bacia
do córrego do Vai-e-Volta, unidade de área com aproximadamente 5 km2, inserida no contexto
urbano do município supracitado (Figura 1).
Alçada entre cotas que variam de 1.200 metros a pouco superiores a 1.420 metros, regis-
tra amplitude altimétrica considerável, tendo em vista a reduzida extensão do seu eixo axial,
de aproximadamente 4 km. As declividades, em geral, são superiores a 10%, mas valores acima
dos 30% são comuns. Sobre esses terrenos instala-se um complexo urbano majoritariamente
residencial que impõe grande energia aos processos auxiliados pela atuação gravitacional, con-
ceituando o córrego do Vai-e-Volta, como um agente que atua com dinamismo junto à paisa-
gem da bacia hidrográfica da qual ele é drenagem de referência (Figura 2).
Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do córrego do Vai-e-Volta e dos pontos selecionados para
análises e coletas de campo
Fonte: Autores
Fonte: Autores.
Nesse contexto, os fluxos derivados do escoamento pluvial nas vertentes, transporta sig-
nificativo volume de materiais para os canais de drenagem, podendo alterar as características
físico-químicas da água, já comprometidas pelo uso das margens como depósitos de resíduos
sólidos domésticos. Para verificar a qualidade da água e a saúde ambiental do entorno dos
pontos estudados, procedeu-se à investigação dos parâmetros físico-químicos da água com
aplicação do protocolo de avaliação rápida, que são apresentados e discutidos na sequência.
3.1 Ponto 1: 21° 48’ 39” de latitude S e 46° 34’ 22” de longitude W
Locado a 1.257 metros de altitude, com mata ciliar presente intercalada por pastagem e
equipamento urbano em vias de instalação. (Figura 3 A e B).
A B
Fonte:Autores.
Figura 4 – A) Visão geral do ponto de amostragem 2. B) Descarte de resíduos sólidos junto à margem
esquerda da drenagem. C) Panorama paisagístico do entorno do ponto de amostragem 2
A B C
Fonte: Autores.
A B
Fonte: Autores.
considerado como apropriado. A turbidez registrada é a mesma registrada para o Ponto 2, aten-
dendo as normas do CONAMA (2005) para corpos de água doce de Classe 1.
De maneira geral, a qualidade da água no Ponto 3 assemelha-se àquela do Ponto 2, no
entanto, pode-se considerar o Ponto 3 mais deteriorado que o último ponto analisado.
Porém, devido às características assinaladas no protocolo de avaliação rápida, tais como
ausência total de vegetação ciliar, odor na água e leito totalmente canalizado, o ponto foi
classificado como “impactado”.
Figura 6 – A) Visão geral do ponto de amostragem 4, porção jusante. B) Visão geral do ponto de
amostragem 4, porção montante. C) Lançamento de efluentes domésticos in natura junto ao canal
principal
A B C
Fonte: Autores.
Tabela 1 – Resultados dos parâmetros físico-químicos para todos os pontos, diagramados de acordo
com o padrão, e classes de enquadramento segundo o protocolo de avaliação rápida
Condutividade (µS/
15 72,33 72,33 97,67 < 100 µS/cm
cm)
Águas doces
Salinidade (PSU) 0,01 0,03 0,03 0,05
(salinidade igual ou
inferior a 0,5 ‰)
Sólidos dissolvidos < 500 mg/l para padrão
7,67 36 36 49
totais (mg/L) de classe 1
Potencial Redox ORP
8,2 5,07 5,07 7,23 250 mV
(mV)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do canal principal foi possível notar que, gradativamente, a degradação se acen-
tua em direção à jusante. De maneia inconteste a ocupação urbana processada na bacia con-
tribui para a alteração dos parâmetros físico-químicos de qualidade das águas, além de alterar
áreas que, por lei, deveriam estar isentas das pressões exercidas pelos processos imobiliários.
Nesse contexto de uso, algumas medidas poderiam mitigar os impactos diretos na rede
de drenagem, como a recomposição da vegetação junto às margens ainda não impermeabiliza-
das pelo equipamento imobiliário. A desocupação das margens também traria benefícios ao
ambiente, no entanto, o que tem sido feito é a adoção de medidas paliativas, como construção
de gabiões e muros de arrimo para conter a força das águas nos períodos de maiores vazões.
Projetos voltados à educação ambiental seriam bons mecanismos efetivos para o controle da
poluição junto às margens a médio e longo prazos.
O método escolhido para o desenvolvimento desse estudo esteve pautado em observa-
ções da paisagem urbana que se coloca à superfície, em escala de detalhamento inferior àquela
utilizada para o estudo dos parâmetros físico-químicos de qualidade da água, elementos que
denunciam o resultado dos fluxos de matéria e energia que circulam no sistema ambiental
abordado. Os resultados obtidos encorajam pesquisas mais aprofundadas, desenvolvidas no
âmbito da bacia hidrográfica em questão.
Agradecimentos são orientados ao IFSULDEMINAS pelo apoio via Programa de Incentivo
a Qualificação (PIQ).
5 REFERÊNCIAS
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São Paulo. São Paulo, 2009.
CHARLES COAN1
ROSE MARIA ADAMI2
Resumo: A intensa exploração dos recursos naturais e a supressão da vegetação nativa, no pro-
cesso deocupação do território brasileiro, desencadeou a degradação dos solos e das águas, prin-
cipalmente nas nascentes, fazendo que as empresas de abastecimento de água enfrentem
dificuldades em estabelecer áreas de captação, que atendam a demanda de água nos municípios.
O presente estudo teve como objetivo diagnosticar as nascentes perenes localizadas na bacia do
rio Novo, principal manancial de abastecimento público de água do município de Orleans, Sul de
Santa Catarina (Brasil), por meio de estudo de caso, apoiado na proposta e Pinto et al (2004), que
classifica o grau de conservação das nascentes a partir da cobertura vegetal no seu entorno, em
preservadas, perturbadas e degradadas. Os resultados alcançados mostram que do total de 36
nascentes estudadas, 28% delas foram classificadas nas categorias de conservação como preser-
vadas, 36% como perturbadas e 36% como degradadas. Identificou-se também que os principais
usos da terra para as atividades econômicas desenvolvidasnos entornos das nascentes perenes
são a agricultura e a pecuária de pequeno porte. Do total das nascentes estudadas, 69,5% delas
encontram-se a montante da captação da empresa de abastecimento público da água do municí-
pio. Os resultados obtidos podem subsidiar parcerias entre a empresa de abastecimento e os
moradores da bacia hidrográfica, a fim de realizar ações de preservação, conservação e recupera-
ção ambiental de determinadas nas nascentes estudadas.
Palavras-chave: Bacia do rio Novo; Conservação de nascentes; Abastecimento público.
Abstract: The intense exploitation of natural resources and the suppression of native vegetation,
in the process of Brazilian territory occupation, triggered the degradation of soil and water, espe-
cially in springs, causing water supply companies to face difficulties in establishing catchment
areas, that meet the demand for water in the cities. The present study aimed to diagnose the
perennial springs located in the Novo River basin, the main source of public water supply in the
city of Orleans, southern Santa Catarina (Brazil), through a case study, supported by the Pinto et
al (2004) proposal, which classifies the degree of springs conservation from the vegetation cover
[ 730 ]
ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA BACIA DO RIO NOVO 731
in their surroundings, in preserved, disturbed and degraded. The results achieved show that from
the total of 36 springs studied, 28% of them were classified in the conservation categories as pre-
served, 36% as disturbed and 36% as degraded. It was also identified that the mainland uses for
economic activities developed in the surroundings of the perennial springs are agriculture and
small-scale livestock. Of the total number of springs studied, 69.5% of them are located upstream
from the catchment of the public water supply companies. The results obtained can support part-
nerships between the supply company and the inhabitants of the hydrographic basin, in order to
carryout actions for the preservation, conservation and environmental recovery of certain sources
in the studied springs.
Keywords: Novo River basin; Conservation of springs; Public supply
1 INTRODUÇÃO
A água é um recurso de fundamental importância para a manutenção da vida, seu
valor inestimável permite a sobrevivência da espécie humana, promove a conservação e o
equilíbrio da biodiversidade e das relações entre os seres vivos e os ambientes naturais.
Elemento natural que atribui influência direta na saúde e bem-estar da sociedade, a presença
ou ausência da água oferece condições às sociedades e às espécies animais e vegetais para
evoluírem ou seextinguirem, além de garantir a autossuficiência econômica das regiões e paí-
ses. No entanto, a intensa exploração dos recursos naturais e a supressão da vegetação nativa,
no processo de ocupação do território brasileiro, desencadeou a degradação dos solos e das
águas, principalmente nas nascentes.
As nascentes, principais fontes de água que contribuem na vazão dos rios de uma bacia
hidrográfica, são consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP) e protegidas
pela Lei Federal nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre a proteção da vegetação
nativa. Segundo o Art. 3º, inciso II desta lei, a Área de Preservação Permanente (APP) é definida
como a “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de pre-
servar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem– estar das populações huma-
nas” (BRASIL, 2012).
As áreas de entorno das nascentes quando forem avaliadas como perenes, são conside-
radas, no Art. 4º, inciso IV da Lei Federal nº 12.651/2012, como Área de Preservação Permanente,
em zonas rurais ou urbanas, “qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50
(cinquenta) metros” (BRASIL, 2012). A partir desse dispositivo a legislação proíbe qualquer ati-
vidade socioeconômica que promova o desequilíbrio deste elemento geográfico.
As nascentes estão susceptíveis às oscilações do nível do lençol freático que as caracte-
rizam pela sazonalidade, como nascentes perenes, intermitentes ou efêmeras (VALENTE;
GOMES, 2005). No entanto, essas classificações podem mudar, caso ocorramo uso e a ocupa-
ção das terras sem o devido planejamento, uma vez que a dinâmica das oscilações do lençol
freático está condicionada às recargas de águas subterrâneas que dependem dos regimes plu-
viométricos e do processo de infiltração da água no solo. No entanto, segundo Karman (2009),
Diante disso, o presente artigo tem o objetivo de diagnosticar a conservação das nascen-
tes perenes localizadas na bacia do rio Novo, principal manancial de abastecimento público de
água do município de Orleans.
2 METODOLOGIA
O estudo da conservação das nascentes da bacia do rio Novo, principal manancial de
abastecimento público de água do município de Orleans, Sul de Santa Catarina, foi realizado
por meio do mapeamento, na escala 1:10.000, elaborado com base cartográfica matricial e
vetorial disponibilizados pelo Governo do Estado de Santa Catarina, desenvolvido pela
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), em 2010. Os dados
matriciais e vetoriais foram obtidos por meio do Levantamento Aerofotogramétrico e tratados
no Software Livre Quantum GIS (versão atualizada). Foram realizadas também visitas a campo
para localização e análise da situação atual das nascentes identificadas.
Na análise da situação atual das nascentes identificadas foi utilizada a metodologia de
Pinto et al. (2004), que visa avaliar o grau de conservação das nascentes a partir da cobertura
vegetal do entorno das nascentes e as classifica nas categorias de conservação, como “preser-
vadas”, quando as nascentes têm no seu entorno, 50 metros de vegetação natural; “perturba-
das”, quando as nascentes apresentavam em seu entorno menos de 50 metros de vegetação;
e “degradadas”, as nascentes que apresentavam pouca vegetação no seu entorno, solo com-
pactado, presença do gado e de erosão.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na bacia do rio Novo foram identificadas 36 nascentes perenes, conforme levantamento
realizado pela Secretaria do Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), que
contribuem com a vazão dos 21 afluentes (perenes) e drenam a áreade 19,21 km2 da bacia.
As nascentes perenes encontram-se em altitudes que variam de 100 a 400 metros. A
maior quantidade de nascentes perenes encontra-se nas altitudes de 240 metros, com nove
ocorrências e nas áreas mais elevadas da bacia, na faixa de 360 metros, com oito nascentes
(Figura 1).
Das 36 nascentes identificadas na bacia hidrográfica, 25 delas se encontram a montante
da área de captação de água da empresa de abastecimento público do município (SAMAE),
representando 69,5% das nascentes estudadas. Estas nascentes contribuem com a vazão de 13
afluentes (perenes) que passam pela pequena barragem de captação do Serviço Autônomo
Municipal de Água e Esgoto (SAMAE), principal manancial de abastecimento público da área
urbana de Orleans. A jusante da barragem, ainda são encontradas mais 11 nascentes perenes
que alimentam outros sete afluentes na bacia hidrográfica.
A partir da análise do mapa da conservação das nascentes perenes e as visitas a campo
da bacia do rio Novo foi possível identificar que as nascentes localizadas à montante da capta-
ção de água do município, apresentam grau de conservação bastante comprometido (Figura
1). Verificou-se que das 25, sete nascentes perenes localizadas entre as faixas altimétricas de
280 a 400 metros, identificadas com os números 7, 10, 11,12, 22, 24 e 27 encontram-se preser-
vadas (28%), ou seja, apresentaram pelo menos 50 metros de vegetação natural no seu entorno.
Nove nascentes (36%) foram classificadas como perturbadas, por não apresentaram 50 metros
de vegetação em seu entorno, identificadas com a numeração 06, 08, 13, 17, 18, 21, 25, 26,
28 e localizadas entre as faixas altimétricas de 280 a 400 metros. E, nove nascentes (36%),
localizadas entre as faixas altimétricas de 280 a 400 metros e identificadas com os números 5,
9, 14, 15, 16, 19, 20, 23, 29, encontram-se degradadas, pois não apresentam vegetação nos
seus entornos.
Figura 1 – Mapa da conservação das nascentes perenes da bacia do rio Novo – Orleans-SC -Brasil
O uso da terra no entorno das nascentes utilizada para a agricultura foi encontrado em
12 nascentes de números 05, 06, 09, 13, 16, 17, 18, 23, 25, 26, 28 e 29, representando 48% da
área pesquisada. As atividades agrícolas, com evidência para o cultivo do fumo, cultura predo-
minante também pelo restante do interior do município (Figura 3). O manejo desta cultura
geralmente é realizado de forma tradicional, com a preparação do solo para o cultivo agrícola
e o emprego de fertilizante e agrotóxico. Estes fatos podem contribuir para contaminação da
qualidade da água e para processos erosivos, principalmente no período das precipitações
intensas que escoam para os rios sedimentos, elementos orgânicos e sintéticos presentes nas
áreas mais elevadas da bacia.
O remanescente de Mata Atlântica em estágio médio e inicial de regeneração secundária
se faz presente em sete nascentes perenes de números 07, 10, 11, 12, 22, 24 e 27, represen-
tando (28%), em relação do total da área de captação.
as nascentes que possuem no seu entorno atividades agrícolas, passam de 12 para 19, repre-
sentando 53,8% das nascentes da área estudada. O uso das terras no entorno das nascentes
utilizado para as pastagens aumentou de 6 para 7, representando 19,4% das nascentes.
Quadro 1 – Categorias de conservação das nascentes perenes da bacia do rio Novo – Orleans-SC
7 320-360
10, 12 e
280-320
22
Nascentes antes da captação de água da SAMAE
27 240-280
6 240 agricultura
8 200-240 pastagem
13 240-280 agricultura
17 e 18 360-400 agricultura
nascentes apresentavam em seu
Perturbadas 21 360-400 entorno menos de 50 metros de pastagem
25 360 vegetação agricultura
26 320-360 agricultura
28 280 agricultura
5 e 23 240-280 agricultura
9 e 29 280-320 agricultura
14 e 20 360-400 pastagem
Degradadas
nascentes que não possuem
15 320-360 pastagem
vegetação, no entorno
16 320-360 agricultura
19 240-280 pastagem
3 120-160
Nascentes depois da captaçãode
1 200-240 pastagem
2 e 33 240-280 agricultura
4 160-200 pastagem
nascentes apresentavam em seu
Perturbadas entorno menos de 50 metros de
30 360-400 vegetação agricultura
Fonte: Autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização da metodologia proposta por Pinto el al. (2004) permitiu diagnosticar que
das 36 nascentes perenes da bacia do rio Novo, em Orleans-SC, Brasil, principal manancial de
abastecimento público de água do município, 27,8% delas encontram-se preservadas e 72%
foram classificadas como perturbadas e degradadas, pois não apresentaram pelo menos 50
metros de vegetação nativa no seu entorno.
As principais interferência do uso das terras no entorno das nascentes perenes estão vin-
culadas as atividades agrícolas, em 53,8%, principalmente com o plantio de fumo e de pasta-
gens, em 19,4%, para a pecuária leiteira em pequena escala.
Os resultados obtidos podem subsidiar parcerias entre a administração pública, aempresa
de abastecimento e os moradores da bacia hidrográfica, a fim de realizar medidas de preserva-
ção, conservação e recuperação ambiental das nascentes perenes na bacia ou à montante da
área de captação, para garantir água de qualidade e em quantidade ao município.
REFERÊNCIAS
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proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro
de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754,
de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agostode 2001; e dá outras providências.
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VALENTE, O. F.; GOMES, M. A. Conservação de nascentes: produção de água em pequenas baciashidrográficas.
Viçosa (MG): Aprenda Fácil, 2011.
Resumo: Os sistemas de cavernas do Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR), no nordeste goiano,
possuem recarga fluvial alóctone ácida, oriunda de terrenos a montante do carste, e são submetidos
a uma severa sazonalidade climática. Ao atravessar o PETeR, às águas de seus rios têm os parâmetros
físico-químicos alterados pela transição das características geológicas e geomorfológicas das bacias
hidrográficas. O objetivo deste artigo é demonstrar a influência da sazonalidade climática, da litolo-
gia regional, da declividade média relativa das bacias hidrográficas destes sistemas sobre os valores
do potencial hidrogeniônico, da carga dissolvida e da turbidez das águas dos rios o atravessam. Os
dados foram obtidos in situ nas seções transversais dos rios pré-carste e pós-carste do PETeR entre
2017 e 2018. Os resultados mostraram que os parâmetros analisados aumentaram das seções trans-
versais pré-carste para as seções pós-carste do PETeR, e do período de estiagem para o período chu-
voso. As tendências indicam a influência dominante da transição abrupta da litologia e do relevo
sobre os parâmetros abordados, enquanto a sazonalidade climática os influencia em menor propor-
ção. Porém, chuvas isoladas (abrangência restrita e intensidade alta) e frequentes nos períodos chu-
vosos da região provocam variações súbitas e intensas nestes parâmetros.
Palavras-chave: Carste de São Domingos; hidrogeoquímica; águas superficiais.
Abstract: The caves systems of the Terra Ronca State Park (PETeR), at northeastern of the Goiás
State has acidic allochthone river recharge, coming from terrain upstream of the karst and severe
humid tropical climatic seasonality. When crossing the PETeR, river waters have changed physico-
chemical parameters due to the transition of the geographical characteristics of the watersheds.
The objective of this paper is to present the variation of the physicochemical parameters of the
river waters (pH, TDS and turbidity) of the PETeR, relating to the climatic seasonality, the regional
lithology and the relative average declivity of its watersheds. Data were obtained from the
[ 741 ]
742 Guilherme Marques de Lima; Márcio Henrique de Campos Zancopé; Yan de Mello Aleixo; Luis Felipe Soares Cherem
cross-sections of the rivers upstream of the sinks and downstream of the PETeR resurgences,
between 2017 and 2018. Results showed positive correlations for the elevation of pH, turbidity
and TDS from upstream of the sinks to downstream of the resurgence, and from the dry period to
the rainy season. Trends indicate the dominant influence of the abrupt transition of the lithology
and of the relief of drainage basins on the physicochemical parameters of waters. Climatic season-
ality has a smaller influence. However, isolated rainfall (restricted range and high intensity), fre-
quent during the rainy periods of the region, causes sudden and intense changes in the
physicochemical parameters.
Keywords: São Domingos karst; hydrogeochemistry; surface water.
1 INTRODUÇÃO
O Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR), nos municípios de São Domingos e Guarani de
Goiás, protege parte do carste e da biodiversidade do nordeste goiano. As águas fluviais da
região exfiltram do Sistema Aquífero Urucuia (SAU), a montante do PETeR, e escoam sobre
afloramentos de arenitos do Grupo Urucuia (Cretácio Superior), as formações superficiais are-
no-quartzosas (Plioceno) e os granitos e gnaisses (Paleoproterozóico) do embasamento regio-
nal na borda ocidental do Cráton do São Francisco.
Portanto, adquirem teores ácidos antes de atingirem as rochas carbonáticas que formam
o carste PETeR (FONSECA et al., 2019), já que a geoquímica das águas fluviais reflete a compo-
sição das rochas drenadas a montante (LINTERN et al., 2017). Rochas quartzosas, por exemplo,
são menos solúveis que rochas calcíticas pela maior resistencia ao ataque de ácidos do quartzo
ante a calcita (KAUFMANN et al., 2016). Logo, as águas fluviais ácidas da região, ao atingirem o
carste, encontram as rochas carbonáticas do Grupo Bambuí (HASUI, 2012), que constitui o
substrato rochoso para a gênese e evolução deste relevo. O problema reverbera-se quando, a
partir dos modelos genéricos do equilíbrio químico CO2-H2O-CaCO3 do carste, os parâmetros
físico-químicos das águas afetam a espeleogênese e a dissolução das rochas.
Por outro lado, os parâmetros físico-químicos das águas fluviais também são influencia-
dos pela sazonalidade climática, pois esta condiciona flutuações no regime de chuvas e, por
conseguinte, nas taxas de erosão do solo e de dissolução das partículas minerais. Logo, influen-
ciam o transporte de sólidos, a lixiviação de elementos químicos as águas fluviais e a vazão dos
rios (WOHL et al., 2012). Certamente, tais influências afetam as águas dos rios do PETeR, pois
sua região é submetida aos contrastes sazonais do clima tropical sub-úmido (Aw), caracteri-
zado, pela alternância anual de um período chuvoso e um de estiagem (SALGADO et al., 2019).
Ainda, como a região tem os menores índices de precipitação média e os maiores de evapora-
ção de Goiás, o contraste climático é ainda maior.
Apesar disso, são raros os estudos sobre o comportamento geoquímico das águas flu-
viais. Guyot et al., (1996) constatou mudanças nos parâmetros físico-químicos dos rios que
penetram o carste do PETeR. Fonseca et al. (2019) estudaram a influência destes parâmetros
sobre algas bentônicas. Lima et al. (2018) compararam as diferenças dos parâmetros físico-quí-
micos das águas dos rios do PETeR espacialmente. Faquim et al. (2017) avaliaram a capacidade
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A área de estudo é atravessada pela rede de drenagem do médio e alto curso dos rios
São Domingos e São Mateus, afluentes da margem direita do Rio Paranã e integrantes da bacia
do Rio Tocantins. A maioria das nascentes destes rios advém da Serra Geral de Goiás, limite
interestadual entre Goiás-Bahia e divisor hidrográfico entre as bacias dos rios São Francisco e
Tocantins, escoando para oeste até atingir o carste do PETeR (Figura 1).
O contexto geológico-geomorfológico é à porção oeste do Cráton de São Francisco
(HASUI, 2012). A Serra Geral de Goiás constitui a escarpa ocidental dos chapadões do oeste da
Bahia, composta por arenitos do Grupo Urucuia. No sopé da serra ocorre patamares aplaina-
dos e suave-ondulados formados por coberturas sedimentares inconsolidadas e depósitos
colúvio-eluviais, enquanto à oeste há o Grupo Bambuí, com calcários, dolomítos, margas, silti-
tos, argilitos, folhelhos e arcóseos, no carste do PETeR e na Serra do Calcário (Figura 1).
No contato entre os patamares aplainados e o carste, há drenagens subterrâneas (caver-
nas) que atravessam o PETeR na Serra do Calcário. Antes dos sumidouros, os leitos fluviais
apresentam granitos e gnaisses do Complexo Almas-Cavalcante, embasamento da Bacia
Sedimentar do Bambuí (Figura 1) (HASUI, 2012). Já as ressurgências reaparecem na fachada
ocidental da Serra do Calcário, drenando para oeste sob uma depressão ampla (> 560 m), de
relevo aplainado e entalhamento fluvial incipiente (GUYOT et al., 1996).
Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo. (1) = Seção transversal pré-carste do Ribeirão
Angélica; (2) = Seção transversal pré-carste do Córrego Bezerra; (3) = Seção transversal pré-carste do
Rio São Vicente; (4) = Seção transversal pré-carste do Rio São Mateus; (5) = Seção transversal pré-
carste do Rio da Lapa; (A) = Seção transversal pós-carste do Sistema São Vicente; (B) = Seção transversal
pós-carste do Sistema Terra Ronca
2.2 Metodologia
Os parâmetros físico-químicos (pH, carga dissolvida e turbidez) foram obtidos in situ com
um medidor multiparâmetros (HI9829 HANNA Instruments®), cedido pelo Laboratório de
Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física (Labogef) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Eles se associam à mineralização das águas, à perda geoquímica, à carga sedimentar, à influen-
cias litológicas e climáticas. As amostragens foram feitas nas seções pré-carste e pós-carste de
dois sistemas de cavernas do PETeR, em períodos distintos: maio de 2017 (transição período
3 RESULTADOS
A tabela 1 mostra teores ácidos na maioria das seções e períodos amostrados. Somente as
seções pós-carste tiveram valores absolutos acima de 7, especialmente no período chuvoso.
OBS: (*) Seções transversais que sofreram um evento de chuva no período chuvoso em 2018 num período de 4 horas após a coleta dos dados contidos na
tabela. Rio da Lapa (5) = 6,3; Rio São Vicente (3) = 4,8; Córrego Bezerra (2) = 5,8.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A figura 3 mostra a correlação positiva dos valores médios do pH com as rochas do Grupo
Bambuí (r = 0,98) e negativa com as do Grupo Urucuia (r = -,051). Exceto as bacias das seções
pós-carste (losangos), esta correlação negativa aumenta significativamente (r = – 0,89).
Figura 3 – Valores médios do pH em função dos afloramentos de rochas do Grupo Bambuí e Urucuia.
OBS – As porcentagens correspondem à soma das áreas dos afloramentos rochosos em relação à área
total das bacias hidrográficas a montante das seções transversais amostradas
Os dados indicam que os maiores valores ocorreram nas seções cujas bacias são ricas em
rochas do Grupo Bambuí, como nas seções pós-carste (losangos) (Figura 3). A bacia do Rio São
Vicente, com menor quantidade destas rochas, teve o menor valor médio (5,75). Porém, esta
bacia e à do Rio São Mateus, ricas em arenitos, apresentaram os menores valores.
Sobre à turbidez, houve o predomínio de águas cristalinas em ambas às estações
climáticas, já que os valores absolutos nestas estações variaram entre 0 e 15,5 FNU (Tabela 2).
A única exceção ocorreu na seção pós-carste do Sistema Terra Ronca, que apresentou valor de
97,9 FNU devido a ocorrência de uma chuva pouco antes da amostragem.
OBS: (*) Valor obtido durante um evento de chuva no período chuvoso em 2018 num período de 4 horas após a coleta dos dados contidos na tabela. Rio da
Lapa (5) = 743 FNU; Rio São Vicente (3) = 47,2 FNU; Córrego Bezerra (2) = 28,4 FNU.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Houve forte correlação positiva dos valores médios de turbidez com o Grupo Bambuí (r
= 0,81), e negativa com o Grupo Urucuia (r = -0,32) (Figura 5). Considerando apenas o Sistema
Terra Ronca, esta correlação aumenta significativamente com este último (r = – 0,88).
Figura 5 – Valores médios de turbidez em função dos afloramentos rochosos do Grupo Bambuí e
Urucuia. OBS – As porcentagens correspondem à soma das áreas dos afloramentos rochosos em
relação à área total das bacias hidrográficas a montante das seções transversais amostradas
A quantidade de carga dissolvia foi baixa, exceto nas seções pós-carste (tabela 3).
Tabela 3 – Valores absolutos e médios de carga dissolvida (mg/L) para cada período amostrado.
OBS: (*) Valor obtido durante um evento de chuva no período chuvoso em 2018 num período de 4 horas após a coleta dos dados contidos na tabela. Rio da
Lapa (5) = 6 mg/L; Rio São Vicente (3) = 3 mg/L; Córrego Bezerra (2) = 7 mg/L
Fonte: Elaborado pelo autor.
O deslocamento dos símbolos para a esquerda e dos losangos para a porção superior da
figura 6 evidencia a superioridade destes valores no período chuvoso e nas seções pós-carste.
Este parâmetro teve correlação positiva com o Grupo Bambuí (r = 0,95), e negativa
com o Urucuia (r = – 0,42) (Figura 7). No último, a correlação aumenta considerando apenas o
Sistema Terra Ronca (r = – 0,91), e excluindo a seção pós-carste do outro sistema (r = – 0,99).
Figura 7 – Valores médios de carga dissolvida (mg/L) em função dos afloramentos rochosos. OBS – As
porcentagens correspondem à soma das áreas dos afloramentos rochosos em relação à área total das
bacias hidrográficas a montante das seções transversais amostradas. Os círculos são as seções transversais
pré-carste e os losangos as seções transversais pós-carste dos sistemas de cavernas do PETeR.
As seções cujas bacias são ricas em rochas do Grupo Bambuí tiveram predominantemente
os maiores valores médios de carga dissolvida, enquanto pobres em rochas do Grupo Urucuia
apresentaram os menores valores médios deste parâmetro.
Foi possível identificar que os maiores valores médios de pH, turbidez e carga dissolvida
se associaram predominantemente às seções cujas bacias contêm as maiores declividades
médias (%/km²), como nas bacias de ambas as seções pós-carste (Tabela 4).
Tabela 4 – Valores médios dos parâmetros físico-químicos e da declividade média relativa das bacias
hidrográficas associada a cada seção transversal amostrada
Figura 8 – Variação dos valores médios de pH, turbidez e carga dissolvida em função da declividade
média relativa das bacias hidrográficas a montante das seções amostradas. OBS – Os círculos são as
seções transversais pré-carste e os losangos as seções transversais pós-carste dos sistemas de cavernas
do PETeR
4 DISCUSSÃO
4.1 Variação espacial dos parâmetros físico-químicos
A dispersão dos valores dos parâmetros refletiu à distribuição espacial das seções amos-
tradas, com a tendência de sua elevação para jusante em ambas estações.
As maiores áreas de contribuição das seções pós-carste acentua o aporte de sedimentos
e a turbidez das águas. O predomínio de rochas do Grupo Bambuí nestas bacias também cor-
robora com este comportamento, especialmente pelas rochas carbonáticas fornecerem sedi-
mentos finos que eleva a turbidez das águas (Figura 5).
O pH e a carga dissolvida aumentaram após as águas atravessarem a Serra do Calcário,
constituída pelas rochas do Grupo Bambuí. Este fato decorre (i) das rochas carbonáticas apre-
sentarem alta susceptibilidade à ácidos (KAUFMANN et al., 2016); (ii) da quantidade de mate-
rial dissolvido pela água depender da composição química das rochas (LINTERN et al., 2017); e
(iii) das águas das seções pré-carste advirem, em parte, do SAU, que por sua vez, têm águas
com elevada acidez e baixa quantidade de sólidos dissolvidos (FONSECA et al., 2019).
A interação desses fatores eleva a solubilidade das rochas carbonáticas, pois águas áci-
das intensificam a espeleogênese e liberam íons à rede de drenagem cárstica (KAUFMANN et
al., 2016), elevando a carga dissolvida e do pH nas seções pós-carste. Tal comportamento é
favorecido pelo tempo de residência das águas subsuperficiais no interior do carste do PETeR,
que ao se manterem em contato com estas rochas, elevam os parâmetros das águas fluviais.
Portanto, a interação água-rocha gera a correlação positiva entre a carga dissolvida e o
pH com as áreas de afloramentos do Grupo Bambuí, e negativa com as do Grupo Urucuia, já
que os maiores valores ocorreram nas seções que integram bacias ricas em rochas carbonáti-
cas e pobres arenitos, e os menores nas pobres em carbonatos e ricas em arenitos.
A carstificação das rochas carbonáticas afeta os valores de carga dissolvida e pH das
águas, já que nas áreas das rochas do Grupo Urucuia, a sílica dos arenitos é menos susceptível
a lixiviação que os carbonatos do Grupo Bambuí, fazendo com que sua contribuição na carga
dissolvida às águas das seções pré-carste seja baixa. Tais valores também podem advir das
vazões, que acentua a denudação química e os valores destes parâmetros rumo à jusante.
Sobre a correlação entre o pH, a turbidez e a carga dissolvida com a declividade, esta
última influencia a composição das águas superficiais pois afeta o tempo de contato água-ro-
cha (LINTERN et al., 2017). Bacias de drenagem com alta declividade favorece o runoff ante a
infiltração, diminuindo o tempo de residência e volume de água percolante. Logo, as reações
geoquímicas e a adição de solutos nas águas são reduzidas, gerando baixos valores nestes parâ-
metros. Porém, neste caso, deve-se considerar a natureza e distribuição espacial das rochas.
Os maiores valores predominaram nas bacias com declividades médias maiores. As bacias
das seções pré-carste têm declividades médias menores e são ricas em arenitos do Grupo
Urucuia. Logo, a acidez destas rochas e a solubilidade reduzida do quartzo geram baixos
valores nestas seções. Porém, as bacias das seções pós-carste são mais íngremes e ricas em
rochas do Grupo Bambuí, favorecendo a carstificação, a espeleogênese, a circulação hídrica no
aquífero cárstico e o entalhamento do relevo.
Como a dissolução cárstica constitui a morfogênese do planalto dissecado na Serra do
Calcário, há aporte de carga dissolvida, que também eleva o pH e da turbidez nas águas nas
seções pós-carste. Logo, as correlações entre os parâmetros físico-químicos e as rochas corro-
boram com as correlações entre estes e as declividades médias das bacias das seções.
sua origem advêm da atmosfera e do solo (KAUFMANN et al., 2016), a ausência de chuvas e de
infiltração na estiagem reduz o aporte de carga aos rios.
A baixa variação do pH entre os períodos amostrados, com predomínio dos maiores valo-
res no período chuvoso, pode resultar dos mesmos fatores: água meteórica e a matéria orgâ-
nica no solo. As águas do Cerrado e da região do PETeR, por exemplo, são naturalmente ácidas,
como registrado nas seções amostradas neste estudo (tabela 1). Por outro lado, a água meteó-
rica, que também apresenta caráter ácido, pode ter contribuído para a redução durante as
chuvas isoladas em algumas bacias no período chuvoso de 2018.
Assim, (i) as águas mantiveram predominantemente caráter ácido em ambas as estações
climáticas, visto que atingiram no máximo valores neutros; (ii) houve uma variação pequena
em ambos os períodos climáticos, visto valores próximos de pH nas mesmas seções transver-
sais entre os períodos de estiagem e chuvoso, exceto nas seções que sofreram chuvas isoladas;
(iii) houve a tendência de elevação do pH da estiagem para o período chuvoso.
Essa elevação do pH no período chuvoso ocorre pelo tempo de permanência da água nas
bacias. A água percolante neste período tem tempo de permanência maior, dissolvendo os car-
bonatos. Ainda, o fluxo de base alimenta os rios com íons dissolvidos. Isso não aconteceu na
seção pré-carste do rio São Vicente (3) pela sua bacia ser pobre nestas rochas. Já as seções
cujas bacias foram atingidas pelas chuvas tiveram o pH reduzido devido a água meteórica
escoada em superfície ter pouco tempo de residência e reagir com a matéria orgânica do solo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os parâmetros variaram conforme a sazonalidade climática, as rochas e a compartimen-
tação geomorfológica regional.
A distribuição espacial das rochas faz com que as águas drenem uma formação geológica
e um compartimento geomorfológico por vez, ou seja, a cada posição na bacia a interação
água-rocha altera os parâmetros. A sazonalidade climática os afetou discretamente, com os
menores valores ocorrendo na estiagem.
Logo, os resultados permitem considerar que: (i) as águas dos rios são cristalinas, ácidas
e com poucos sólidos dissolvidos; (ii) os parâmetros se elevam consideravelmente devido aos
terrenos cársticos e discretamente pela sazonalidade climática; (iii) eventos de chuva elevam
os valores dos parâmetros físico-químicos, exceto para o pH; (iv) a distribuição litológica e geo-
morfológica regional causa variabilidade acentuada dos parâmetros, e (v) a sazonalidade climá-
tica causa variabilidade pequena entre as estações.
Os valores obtidos foram pontuais, revelando seu comportamento no período monito-
rado. Para confirmar tais correlações, recomendamos a instalação de estações meteorológicas
e fluviométricas no PETeR, e a continuidade do monitoramento.
6 AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq pelo apoio ao projeto Compartimentação geomorfológica e
caracterização fluviocárstica do Parque Estadual Terra Ronca (processo 461869/2014-4) e à
SEMAD-GO e ao CECAV-ICMBio, por autorizar as pesquisas no interior da UC-PETeR.
5 REFERÊNCIAS
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Climate Change, [s.l.], v. 2, n. 9, p.655-662, 2012.
Resumo: O presente trabalho constitui-se a partir do levantamento dos perfis de solos coletados
em campo na Bacia Hidrográfica do rio Poti, CE/PI – Brasil. O objetivo geral da pesquisa visa apre-
sentar os tipos de solos levantados a partir do trabalho de campo seguindo o percurso (montante
– jusante) do canal do rio Poti, com nascente no estado do Ceará (seu alto curso) e foz no estado
do Piauí (seus médio e baixo cursos). Com isso, utilizou-se dados do IBGE (2019) e EMBRAPA (2006;
2015) para mapeamento e descrição de suas características, bem como fundamentos teóricos e
metodológicos de Jacomine (1973; 1986), Lima (2012), Valladares e Aquino (2020), como basilares
para o desenvolver sistemático acerca de bacias hidrográficas, coletas de solos e suas classifica-
ções. Como resultados, tem-se a localização georreferenciada dos perfis colhidos, bem como
dados fotográficos, descrições e identificação dos solos em ambientes não mapeados.
Palavras-chave: Rio Poti; Solos; Ceará; Piauí; Bacia Hidrográfica.
Abstract: The present work is based on the survey of soil profiles collected in the field in the Poti
River Hydrographic Basin, CE/PI – Brazil. The general objective of the research aims to present the
types of soils raised from the field work following route (upstream – downstream) of the Poti river
channel, with source in the state of Ceará (its high course) and mouth in the state of Piauí (your
courses medium and low). This used data from IBGE (2019) and EMBRAPA (2006; 2015) to map and
describe its characteristics, as well as theoretical and methodological foundations of Jacomine
(1973;1986) Lima (2012), Valladares and Aquino (2020), as basic stooes for the systematic develop-
ment of watersheds, soil collections and their classifications. As results, we have the georefer-
enced location of the collected profiles, as well as photographic data, descriptions and soil
identification in unmapped environments.
Keywords: Poti River; Soils; Ceará; Piauí; Watershed.
1 Mestrado Acadêmico em Geografia, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: camila.carneiro1997@gmail.com
2 Mestrado Acadêmico em Geografia, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: edgeografia@outlook.com
3 Professor adjunto da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: ernanecortez@hotmail.com
[ 756 ]
LEVANTAMENTO DE SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI 757
1 INTRODUÇÃO
Ao analisarmos a paisagem torna-se nítido sua transformação de acordo com as adequa-
ções relacionadas às ações da sociedade, em suas distintas formas de uso e apropriação dos
recursos naturais, principalmente em áreas de bacias hidrográficas em decorrência das suas
múltiplas trocas de matéria e energia. A área a ser estudada enquadra-se nesse aspecto, visto
que com o decorrer das alterações, tanto naturais devido sua constituição físico, química e tec-
tônica, quanto sociais pela ocupação de seus espaços, suas condições são ainda mais passíveis
de verificação e comprovação.
Direcionando para o critério de estudo de bacias hidrográficas, cabe salientar a necessi-
dade do estudo e caracterização destes ambientes, uma vez que visa à aplicação de técnicas de
manejo e uso e ocupação do solo. As análises desenvolvidas no âmbito do estudo de bacias
hidrográficas estão diretamente associadas e em constante relação entre sociedade, natureza
e economia.
Vale ressaltar o exposto por Lima (2012) ao destacar que as bacias hidrográficas são tra-
tadas como unidade de planejamento e gerenciamento ambiental e que não é algo recente.
Tendo como apontamento as abordagens de um planejamento ambiental a ser aplicado as
bacias hidrográficas a partir do entendimento destas como uma unidade para estudo, análise,
gerenciamento e ordenamento de condicionantes ambientais, tais estes que se apresentam de
maneira integrada.
O trabalho em questão visa à apresentação dos tipos de solos levantados a partir do tra-
balho de campo seguindo o percurso (montante – jusante) do canal do rio Poti, com nascente
no estado do Ceará (seu alto curso) e foz no estado do Piauí (seus médio e baixo cursos)
A bacia Hidrográfica do rio Poti é uma das mais importantes do Ceará, pois drena uma
área de aproximadamente 12.330km², ou seja, cerca de 10% do território cearense. O rio Poti,
nasce na serra Grande, trata-se do Planalto Sedimentar da Ibiapaba, resultante da junção de
vários riachos como o Seco, o Corrente e o Olho d’Água que, reunidos, tomam a denominação
de Itaim. Com este nome, corre em sentido Sul-Norte, até receber o riacho do Meio; daí em
diante recebe a denominação de Poti, voltando-se para Noroeste e, depois, para Oeste. Os
principais afluentes pela margem direita são os riachos São José, Tourão, Pinheiros e pequenos
cursos d’água que recolhem as águas da porção Norte de Crateús. Pela margem esquerda des-
tacam-se o Carrapateira e o Flamengo.
Adentrando no estado do Piauí a partir do front da Ibiapaba e em área de terrenos
sedimentares da Bacia Sedimentar Paleo-Mesozóica do Piauí-Maranhão, o rio seccionando o
front a partir da configuração de cânion onde o rio Poti escavou um vale encaixado; rece-
bendo a contribuição hídrica de uma série de afluentes, tais como os rios Canudos, Coivaras,
Sambito e Berlengas.
A importância para compreensão dos tipos de solos presentes na área se dá em virtude
do solo servir como indicador que auxilia na compreensão das características geológicas,
Possui cota altimétrica mínima de 75m em sua área de deposição na planície fluvial do
leito principal do rio Poti e máxima de 984m na Cuesta da Ibiapaba, sendo característico por
sua superposição no cânion, onde a bacia do rio Poti divide-se entre a superfície cristalina cea-
rense e a sedimentar do Piauí.
Nessa conjuntura, pode-se constatar que a bacia hidrográfica estudada apresenta diver-
sidade em sua dinâmica físico-estrutural, uma vez que seu curso principal possui nascente no
município de Quiterianópolis (Ceará) e sua desembocadura no rio Parnaíba no município de
Teresina (Piauí) onde recebe maior interferência relacionada à urbanização.
2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizou-se dados georreferenciados adquiridos
em sites específicos, como EMBRAPA (2015), COGERH (2008), DNIT (2011), IBGE (2019) e refe-
rências de autores voltados para o estudo de bacias hidrográficas e caracterização de solos,
bem como suas aplicabilidades, entre eles destacam-se Jacomine (1973; 1986), Lima (2012),
Valladares e Aquino (2020), e materiais disponibilizados por instituições e organizações compe-
tentes da área.
Para a elaboração do mapa de classificação pedológica, foram utilizados os dados do site
BDIA do IBGE (2019), visando a abrangência das classes pedológicas para ambos os estados,
ressaltando os pontos que possuem atrativos físico-geográficos.
A coleta dos perfis ocorreu em 05 dias e em 19 pontos de melhor acesso por considerar
o contexto atual e seguir orientações biossanitárias de proteção e prevenção a COVID-19. Para
tanto, levou-se em consideração uma melhor logística sem deixar de realizar o levantamento
dos tipos de solos através do estudo do meio realizado em campo.
Para a coleta de dados foram utilizados GPS, trena, martelo geológico, facão e cartas
topográficas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando os estudos realizados por Jacomine (1973;1986), SIBCS (2018), Valladares e
Aquino (2020) solo é uma composição trifásica, porosa e fragmentária, onde seus constituintes
agregam materiais sólidos, sendo estes minerais e matéria orgânica; líquidos, que pode ser
água com elementos dissolvidos; e gasosos com a presença de ar. Elementos naturais que
sobrepostos as variadas condições ambientais possibilitam uma variabilidade que justifique
uma classificação.
A classificação de solos para a área pesquisada deu-se a partir de análise de dados geor-
referenciados, sendo possível a delimitação dos 11 tipos distintos de solos da área (Figura 2),
esta feita a partir de informações da classificação de solos da EMBRAPA (2006), IBGE (2019) e
o SIBCS (2018) (Sistema Brasileiro de Classificação de Solos).
Com isso, foi possível o levantamento de 19 perfis de solos no percurso do leito principal
do rio Poti (Quadro 1), com o intuito de classificação e comprovação da diversidade pedológica
da área em estudo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe em ambos os estados similaridades plausíveis em suas fronteiras, permitindo uma
gradual e implícita transição de solos entre os estados. Na porção cearense destacam-se as
amostras observada de luvissolos litólico, Argissolo Vermelho-amarelo, Neossolos Flúvicos,
Neossolo Litólico, Planossolo, Vertissolo, Neossolos Quartzarênicos e Latossolo Amarelo, já no
Piauí é observado a presença de perfil de seixos Rolados, Neossolo Litólico, argissolo Vermelho-
amarelo + litólico e latossolo amarelo.
Dentro das colocações aqui inseridas é possível destacar que as condições ambientais e
a sobreposição dos ambientes de determinadas porções geográficas determinam a composição
dos solos e o solo, enquanto elemento natural, pode interferir no interferir na composição da
paisagem. O recorte espacial aqui apresentado não busca apresentar uma unidade baseada no
contexto geral da Bacia Hidrográfica, mas possibilitou vislumbrar essa diversidade, sintetizando
aspectos geológicos, geomorfológicos, climáticos e de drenagem, uma vez que a área de estudo
se apresenta como detentora de rica diversidade.
5 REFERÊNCIAS
DNIT. Manual de Gerência de Pavimentos. Disponível em: <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-manuais/manuais/
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[ 766 ]
LEVANTAMENTO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA 767
environmental management and planning, being used for public decision-making, with the objec-
tive of managing hydrographic basins.
Keywords: Geoenvironmental Analysis; Hydrographic Basins; Riacho Jatobá.
1 INTRODUÇÃO
A análise geoambiental de bacias hidrográficas é fundamental para o reconhecimento
das transformações decorrentes do processo histórico de uso e ocupação da terra (SOUZA,
2005). Os sistemas ambientais são integrados por variados elementos, mantendo relações
mútuas entre si, dotadas de potencialidades e limitações específicas (FUNCEME, 2009). Em
muitos locais, apresentam-se fortemente degradados devido ao uso desordenado dos recur-
sos naturais, principalmente a partir de práticas agrícolas.
Segundo Bertrand (1972), o geossistema é utilizado como fundamento para os estudos
ambientais, que resulta da combinação do potencial ecológico (clima – hidrologia – geomorfo-
logia), da exploração biológica (vegetação – solo – fauna) e da ação antrópica. Desse modo,
define a paisagem como “resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos
físicos, biológicos e antrópicos que reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da pai-
sagem um conjunto único e indissociável, em constante evolução” (BERTRAND, 1972, p.141).
Autores como Tricart (1977), Christofolletti (1980; 1999), Ross (1992), Souza (2000), desen-
volveram estudos integrados da paisagem, tendo como fundamentação a teoria dos sistemas,
direcionando-se para uma abordagem sistêmica. Rodriguez e Silva (2013, p.25), ressaltam que a
abordagem sistêmica constitui-se de um “[...] conjunto de ferramentas formais que recorre a grá-
ficos, matemática e informática, aplicados na ciência e engenharia para desenvolver modelos que
possam representar e tornar inteligíveis sistemas reais que a realidade oferece.”, seu uso apre-
senta algumas vantagens de natureza científica, como um aparato conceitual diverso, distinção
do objeto de estudo do meio circunjacente, criação de modelos para estudar um objeto.
Para Tricart (1977), o conceito de sistema é o melhor instrumento lógico que a Geografia
Física dispõe para realizar estudos ambientais. Embora a teoria sistêmica preveja sistemas iso-
lados, não isolados fechados e não isolados abertos, os sistemas que mais interessam ao geó-
grafo são os sistemas não isolados abertos.
Nesse contexto, ressalta-se o pensamento de Lima (2012), visto que com a inserção da
visão sistêmica na Geografia Física propiciou um melhor entendimento relacionado ao seu
objeto de estudo, empregando uma concepção integrada, dando a possibilidade de deixar de
lado a visão fragmentada dos elementos que compõem a natureza. Esta pesquisa propõe um
levantamento geoambiental e a análise dos sistemas ambientais da sub-bacia hidrográfica do
riacho Jatobá, situado no município de Mucambo-CE.
A Sub-bacia em estudo, tem uma complexa variação paisagística, que se apresenta de
forma latitudinal, cruzando 4 grandes sistemas ambientais, sendo eles, a Depressão Sertaneja
intercalada por agrupamentos de Inselbergs, planalto da Ibiapada e a planície fluvial. As
tipologias climáticas tropical quente semiárido brando, Tropical quente subúmido, Tropical
quente úmido, evidenciam-se na área em estudo, conforme FUNCEME (2009).
Esses tipos de climas, além de mudar as condições geoambientais, interfere também nos
tipos de uso e ocupação do solo, o que caracteriza diferentes aspectos socioeconômicos, que
promovidos sem o devido manejo ambiental, interferem diretamente na exploração dos recur-
sos naturais.
Portanto, à interpretação dos processos que atuam nas mais diversificadas unidades
geoambientais do semiárido podem facilitar a organização territorial. Observando isso, é de
suma importância a realização do levantamento geoambiental e análise dos sistemas ambien-
tais das bacias hidrográficas. A partir dessa pesquisa, pode-se produzir toda uma abordagem
de dados gerados da área em estudo e vir a contribuir com o gerenciamento e planejamento
ambiental, podendo ser utilizado para tomadas de decisões públicas, que tenham como obje-
tivo a gestão em bacias hidrográficas.
A sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, localiza-se no noroeste do estado do Ceará
compreende o município de Mucambo, e parte do município de Sobral e Ibiapina (figura 1).
Situa-se a uma distância de cerca de 245km da capital Fortaleza e tem uma área de 68.01 km².
2 METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido através de estudos integrados tendo como base a
concepção sistêmica a qual tem encontrado na Geografia Física uma maior nitidez em seu
objeto de análise, assim como uma visão holística do meio natural, aproximando as pesquisas
nas interações homem-meio. Portanto, abandona-se os estudos excepcionalmente fragmenta-
dos dos componentes da natureza, e passa-se a trabalhar com as relações existentes entre os
componentes e as atividades humanas, como colocam em voga Sotchava (1977), Troppmair
(1989) e Bertrand (2004).
A incorporação da teoria sistêmica, “deu a esta ciência um enfoque interdisciplinar para
as questões ambientais, ao passo que traz uma abordagem integrada das atividades socioeco-
nômicas com os aspectos físicos do ambiente” (RODRIGUES, 2015, p.27). Desta forma, a análise
geoambiental Integrada através da Geografia Física deve ser analisada como o estudo unifi-
cado das ciências da terra, que contribui para a percepção geral do meio em que vive o homem,
como destaca Lima (2012).
Propõe-se à análise dos elementos que compõem a natureza não por si, mas também
por suas conexões visando à compreensão concomitante e integral dos elementos que repre-
sentem condições potencialmente positivas ou limitativas para a utilização dos recursos natu-
rais. Na identificação dos aspectos geológicos, utilizou-se como referência o mapa geológico
do estado do Ceará (2003) na escala de 1:500.000, tendo como base, os dados disponibilizados
pela CPRM (Serviço Geológico do Brasil) (2003).
Com os aspectos geomorfológicos utilizou-se a metodologia de Souza (2003) reafirmada
por Meireles (2005), o que possibilitou propor quatro compartimentações geomorfológicas para
área, a depressão sertaneja, o Planalto da Ibiapaba a planície fluvial do riacho Jatobá e o Inselbergs.
Para os tipos climáticos utilizou-se os dados fornecido pela Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos – FUNCEME. Na identificação dos tipos de solos predomi-
nantes na área, teve-se como base a segunda edição do Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos (SIBCS) elaborado pela EMBRAPA (2006). Os dados de unidades de vegetação, também
foram coletados junto a FUNCEME. Na identificação das unidades fitogeográficas, utilizou-se
como metodologia a classificação de Figueiredo (1997) que complementa a classificação de
Fernandes (1990).
A análise integrada dos ambientes envolve tanto as características estruturais geológicas,
como a organização morfológica do relevo, os aspectos climáticos (atual e pretérito), assim
como os pedológicos e biogeográficos. O geoprocessamento constitui-se de técnicas matemá-
ticas e computacionais voltadas para o tratamento de informações geográficas, que no pre-
sente trabalho deu-se por meio do Qgis (software livre) na versão 2.18.0. Diante de tais
premissas, através da elaboração dos mapas temáticos, pesquisa em gabinete e levantamento
em campo foi possível a realização do levantamento geoambiental da sub-bacia hidrográfica
do riacho Jatobá Mucambo-CE.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram obtidos a partir da metodologia abordada, na qual baseou-se no
levantamento geoambiental da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá. Deste modo, realizou-
-se uma caracterização dos sistemas ambientais, como geologia, geomorfologia, clima, solos e
vegetação, sendo que a caracterização e análise só foram possíveis após o levantamento geo-
cartográfico da área em estudo.
3.1.1 Geologia
Segundo o mapa Digital de Geologia e Recursos Minerais do Ceará (CPRM, 2003), na
escala 1:500.000, constatou-se que a área da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá é for-
mada por significativa variedade litoestratigráfica, apresentando Serra grande, Suíte Granitóite
Meruoca, Termometamorfito, verificar Figura 2 – A classificação das Unidades Litoestratigráfica
da área em estudo está de acordo com sua composição e coloração, seguindo as informações
da CPRM (2003).
3.1.2 Geomorfologia
Souza (1988; 2003) conforme afirmado por Meireles (2005), realizou a mais completa
classificação morfoestrutural do relevo cearense, onde “as subdivisões dos domínios morfoes-
truturais obedecem ao modo de arranjos das formas de relevo, que tem como traços comuns
quanto às características fisionômicas e genéticas.” (SOUZA, 2000, p.18).
O referido autor estabelece as seguintes Unidades Morfoestruturais: Domínio dos
Depósitos Sedimentares Cenozoicos (Planícies Fluviais, Formas Litorâneas e Tabuleiros);
Domínios das Bacias Paleomesozóicas (Chapada do Araripe, Chapada do Apodi e Planalto da
Ibiapaba); Domínios dos Escudos e Maciços Antigos (Planaltos Residuais e Depressão Sertaneja).
Com base em tal classificação para área da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá o
Domínio dos Escudos e Maciços Antigos (Depressão Sertaneja e os Inselbergs) e o Domínio dos
Depósitos Sedimentares Cenozoicos (Planícies Fluviais), e o Dominios das Bacias Paleomesozóica
(Planalto da Ibiapaba) ver na figura 3.
3.1.3 Clima
A região semiárida brasileira possui características próprias que a distingue das demais
regiões por apresentar irregularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos, elevadas
temperaturas, presença de solos rasos, vegetação predominante de caatinga e rios intermiten-
tes (AB’SÁBER, 1999).
Nesse contexto, Lima (2012) destaca que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é
um dos sistemas atmosféricos mais atuantes nas condições climáticas do estado do Ceará. A
zona de convergência intertropical (ZCIT) é um fenômeno que se forma pela confluência dos
alísios de Nordeste e dos ventos alísios de Sudeste, que formam as nuvens cumulo nimbus,
principais “responsáveis por eventos pluviométricos no Nordeste do Brasil” (SOARES, 2015).
Na área da sub-bacia, foi classificado três tipos de climas, são eles: Tropical Quente
Semiárido Brando, Tropical Quente Subúmido, Tropical Quente Úmido, ver na Figura 4.
3.1.4 Solos
De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SIBCS) foram identificados
na área da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, quatro classes de solos são eles; Argissolos
Vermelho-Amarelo, Latossolos Vermelho-Amarelo, Neossolos Litólicos, Neossolos Flúvicos, ver
na figura 5.
3.1.5 Vegetação
Para a classificação da vegetação da sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá, optou-se
pelo sistema de classificação de Figueiredo (1997) que complementa a classificação de
Fernandes (1990), onde o conjunto vegetacional do Ceará é considerado sob dois aspectos: o
fisiográfico e o fitogeográfico. Com relação à classificação fitogeográfica eleclassifica a flora
brasileira em províncias, subprovíncias, setores e subsetores, estando à região semiárida do
nordeste brasileiro incluída na Província Nordestina ou das caatingas, no Setor dos Sertões.
Segundo Fernandes (1990), “A província das Caatingas ocupa grande espaço no Nordeste
semiárido, principalmente na depressão sertaneja”. A distribuição da vegetação na área da
pesquisa conforme a mapa da (Figura 6) possuí as seguintes feições:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do levantamento geoambiental foi possível a identificação dos sistemas ambien-
tais da área como geologia, geomorfologia, clima, solos e vegetação. Nesse sentido, percebe-
-se a diversidade de feições geológicas e geomorfológicas importantes para a caracterização
das paisagens. Apesar de ser um estudo prévio, pode-se perceber que a bacia do riacho Jatobá
Mucambo-CE, apresenta uma grande diversidade ambiental, onde foi possível realizar esta
pesquisa devido ao foco geossistêmico, interligando os componentes ambientais nela pre-
sente. Evidenciou-se no trabalho de campo que diversas áreas da bacia encontra-se em níveis
diferenciados de degradação ambiental.
Por esse ângulo, salientamos que a sub-bacia hidrográfica do riacho Jatobá apresenta
uma rica diversidade paisagística, mas que com o decorrer dos anos sofre alterações devido a
ação antrópica, com a retirada da vegetação para a agricultura de subsistência e utilização de
áreas para a pecuária, sendo necessário repensar as potencialidades ambientais para o manejo
adequado nesse ambiente.
5 REFERÊNCIAS
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Paulo, 1979. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. p.187.
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Estado do Ceará, IPLANCE: Fortaleza. 1997.
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(Programa de Pós-Graduação em Geografia) – Universidade Federal do Ceará, UFC.
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W. C; SILVA, José Borzacchielo da. Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,
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UVA, 2015.
RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. Planejamento e gestão ambiental: subsídios da
1 Acadêmica do curso de Ecologia e Análise Ambiental do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Goiás ICB/UFG e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
do Conselho Nacional de Pesquisa CNPq. E-mail: vitoriasouzatp@gmail.com
2 Doutor em Geografia, Professor do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás IESA/UFG
e Professor Permanente do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Goiás
PPGEO-UEG. E-mail: diego_nascimento@ufg.br
3 Doutora em Geotecnia, Professora do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás IESA/UFG
e Professora Permanente do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Goiás
PPGEO-UEG. E-mail: patrícia_romao@ufg.br
4 Doutora em Ciências Ambientais, Engenheira da Eletrobras Furnas, Professora da Pontifícia Universidade Católica de
Goiás PUC-GO e Professora Colaboradora do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Engenharia de Produção e
Sistemas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás MEPROS-PUC-GO. E-mail: martaluz@furnas.com.br
[ 779 ]
780 Vitória Paulista; Diego Tarley Nascimento; Patrícia Romão; Marta da Luz
a mais de 900 m de desnível, em ambos os reservatórios, o que pode ser inferido como maior
energia potencial para ocorrência de processos erosivos hídricos.
Palavras-chave: Erosão; SRTM; HAND; Itumbiara; Batalha.
Abstract: Frequently occurring in intertropical regions and naturally associated with the occur-
rence of heavy rains, the water erosion process results in the breakdown and transport of sedi-
ments, which can be intensified by anthropic action, causing negative impacts in both
socio-environmental and economic terms, as is the case siltation and reduction of the useful life
of hydroelectric power plant reservoirs. Given this fact, the present work had as general objective
to provide the mapping of the occurrence of erosive processes and the predisposition of the relief
against the erosive susceptibility in the edges of reservoirs, having as a case study the Batalha and
Itumbiara Hydroelectric Power Plants, both managed by Eletrobras Furnas. The methodological
procedures involved the mapping of erosive processes from the interpretation of satellite images
available by Google Earth, and the modeling and corresponding analysis of the relief characteris-
tics that favor or mitigate the deflagration of erosive processes, based on digital image processing
SRTM for lifting altitude, slope and height information above the nearest drainage (HAND). The
results showed that a significant amount of occurrences of laminar and linear erosive features
were identified, mainly concentrated on the edges of the reservoirs. In addition, they also showed
that associated with high slopes on their slopes, the tops of the hill are more than 900 m uneven
in both reservoirs, which can be inferred as greater potential energy for the occurrence of water
erosion processes.
Keywords: Erosion; SRTM; HAND; Itumbiara; Batalha.
1 INTRODUÇÃO
Os processos erosivos hídricos dizem respeito aos processos de desagregação e trans-
porte de partículas do solo (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2010). Os agentes naturais e ativos dos
processos erosivos, como aqueles associados ao clima, atuam de acordo com as características
do ambiente, como tipo de solo, de relevo, de declividade e do uso e ocupação do solo (GALETI,
1975). Portanto as características naturais do ambiente podem influenciar, em maior ou menor
proporção, na suscetibilidade do terreno aos processos erosivos, que podem ser intensificados
por meio de atividades antrópicas.
Nas regiões intertropicais do território brasileiro, a erosão hídrica de origem pluvial é o
principal agente de esculturação do relevo e de perdas do solo, tendo como atuação inicial a
ação das gotas de chuva na desagregação das partículas do solo e o posterior transporte a
partir de lâminas de escoamento superficial difuso e/ou concentrado ocasionado pela força
gravitacional e pelas formas do relevo, que culminam na deposição e na consolidação dos sedi-
mentos em mananciais hídricos adjacentes. Neste contexto, as ações antrópicas atuam no sen-
tido de potencializarem e acelerarem a deflagração dos processos erosivos, sobretudo no
tocante à forma de apropriação e de utilização do solo.
Neste contexto, chamamos a atenção para as bacias hidrográficas situadas junto aos
reservatórios de Usinas Hidrelétricas (UHE), nas quais se observam alterações intrínsecas na
cobertura e uso da terra, desde a fase de implantação dos reservatórios – por conta de seu
enchimento e conseguinte inundação, até após a conclusão dos empreendimentos, bem como
2 METODOLOGIA
No presente trabalho, tomam-se como áreas de estudo as áreas de influência direta (AID)
dos reservatórios onde estão inseridas as usinas hidrelétricas Itumbiara e Batalha, ambas admi-
nistradas pela Eletrobras Furnas e localizadas na divisa do estado de Goiás com Minas Gerais.
A UHE Itumbiara opera no rio Paranaíba, e sua localização se dá entre os municípios de
Itumbiara-GO e de Araporã (MG), ao passo que seu reservatório banha o território de vários
outros municípios (Figura 1), sendo a maior usina constituinte do sistema Furnas, com 40 anos
de operação – tendo em vista sua inauguração em 1981 (ANEEL, 2020). Já a usina de Batalha se
localiza no rio São Marcos, no contexto dos municípios de Cristalina-GO e Paracatu (MG) (Figura
2), tendo sua operação iniciada em 2014 e constitui uma obra não só de importância nacional,
como também para as comunidades de pequenos agricultores dessa região por conta da con-
tribuição na irrigação de lavouras locais.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na etapa que consistiu no cadastro dos focos erosivos, foi possível identificar feições de
erosões laminares e lineares concentradas principalmente ao longo das bordas dos reservató-
rios, o que gera preocupações quanto ao aporte e deposição de sedimentos nesses reservató-
rios, tendo em vista as possíveis consequências para a capacidade de armazenamento de água,
a vida útil das usinas hidrelétricas e a geração de energia elétrica.
O mapa hipsométrico da área de influência direta (AID) da UHE de Itumbiara (Figura 4)
demonstra que as altitudes partem de 505 m, junto ao reservatório, e alcançam altitudes em
torno de 980 m – com altitude média de 674 m e amplitude altimétrica da AID de 475 m, cuja
maior parte das altitudes varia de 505 a 758 m.
No caso de Batalha (Figura 5), a altitude média da AID é de 907 m, apresentando valores
entre 773 e 1.256 m – amplitude de 483 m, e altitude predominante entre 773 e 973 m. Com
isso, observa-se que a área de influência direta da UHE de Batalha está situada em terrenos de
altitudes mais elevadas, com relação à UHE de Itumbiara.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As erosões são processos que resultam na perda de toneladas de solos, trazendo sérias
consequências ambientais que, com a ação antrópica, podem tomar proporções mais agravantes.
A supressão da vegetação é uma dessas ações que mais potencializa a erosão, considerando que
a presença de raízes no solo ajuda a manter o solo mais firme e que a vegetação atenua tanto o
impacto da água das chuvas quanto a velocidade da percolação da água na superfície do solo,
propiciando maior infiltração da mesma no solo. Além das consequências ambientais, o assorea-
mento de reservatórios causa impactos significativos para as hidrelétricas.
Considerando os resultados obtidos neste trabalho, vinculado à iniciação tecnológica,
pode-se destacar a relevância da geolocalização das ocorrências erosivas nas bordas e entor-
nos das UHE´s, sob o aporte de softwares gratuitos, tal como o Google Earth. Além disso, a par-
tir do processamento digital das imagens radarmétricas do Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM) realizado em ambiente de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), puderam ser
observadas as características do relevo que tornam esses locais suscetíveis a erosão e ao con-
sequente assoreamento.
5 AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Eletrobras Furnas e a ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica) pela coordenação técnica e financiamento, no âmbito do Projeto de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) intitulado “Modelagem em Diversas Escalas da Geração de Sedimentos
em Erosões e o Aporte em Reservatórios de UHEs”, P&D ANEEL Sedimentos, código ANEEL
PD.0394-1705/2017”.
6 REFERÊNCIAS
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do Iguaçu, Anais..., 2013
[ 791 ]
792 Amiel Araujo Soares Santos; Patrícia de Araújo Romão; Aline de Jesus Bastos; Kássio Samay Ribeiro Tavares
as well as those associated with the anthropic factor, land use; allows (a) to evaluate the idea of cause
and effect between the elements; (b) the diagnosis of the relationship between the processes of
pedogenesis and morphogenesis; and (c) the determination of indices of natural and environmental
vulnerability to soil loss. Furthermore, the characterization of natural attractions as to the environ-
mental vulnerability of their surroundings can help in the tourism planning of these sites, making it
possible, for example, to know the stage of anthropic alteration and the conditions that could be fur-
ther intensified, as to the processes that lead to soil loss. The methodology proposed by Crepani et
al. (2001) is based on Ecodynamics concept Tricart (1977), classifying the degree of vulnerability of
each theme – Geomorphology (R), Geology (G), Pedology (P), Climate (C), Vegetation (Vg)/Land Use
and Cover – from stable environments, intergraded environments and strongly unstable environ-
ments. Thus, the objective of the work was to analyze the degree of environmental vulnerability to
soil loss in river basin of Peixe, as well as in the surroundings of the tourist attractions located mainly
in the northeast of this area. To achieve this goal, algebraic operations were performed between the
maps and the analyses that resulted in the delimitation of the medially stable/vulnerable class, with
the highest occurrence, followed by the moderately vulnerable class.
Keywords: vulnerability index; watershed; ecodynamics; morphogenesis; pedogenesis.
1 INTRODUÇÃO
Ambientes naturais possuem vulnerabilidades próprias da sua formação e constituição
biótica e abiótica, mas em geral sofrem alterações quando ocorre uma mudança no equilíbrio
de suas características, quase sempre, por modificações antrópicas. Segundo Olímpio e Zanella
(2012), ocupar um espaço e não respeitar suas limitações, automaticamente coloca em perigo
tanto o local como a comunidade que o transforma. Colaborando para a análise dessas limita-
ções, o estudo da paisagem sobre enfoque integrado prioriza a compreensão de sua dinâmica
e facilita a representação cartográfica dos aspectos naturais e sociais (ROVANI et al., 2015).
Nesse sentido, de acordo com Crepani et al. (2001), conhecer os componentes físico-bió-
ticos serve de orientação para as atividades desenvolvidas no ambiente, de modo a evitar ou
minimizar os impactos das ações antrópicas. A metodologia proposta por esses autores baseia-
-se no conceito da Ecodinâmica de Tricart (1977), relacionando-o aos processos de morfogê-
nese/pedogênese e aos critérios dos meios estáveis, meios intergrades e meios fortemente
instáveis. Nesta metodologia, aplicam-se valores relativos e empíricos, para determinação da
estabilidade/vulnerabilidade dos temas: Geomorfologia (R), Geologia (G), Pedologia (S), Clima
(C) e Vegetação (Vg). Os valores de estabilidade/vulnerabilidade são divididos em 21 valores
(unidades da paisagem), que variam entre 1.0 (Estável – predomínio da pedogênese), 2.0
(Intermediariam. Estável/Medianamente Vulnerável – equilíbrio entre pedogênese/morfogê-
nese) e 3.0 (Instável/Vulnerável – predominância dos processos morfogenéticos).
A bacia hidrográfica do rio do Peixe, localizada no oeste do estado de Goiás, integra a
bacia do rio Araguaia, na região Oeste de Goiás. Uma bacia hidrográfica representa, como
aponta Mota et al. (2011), uma unidade espacial que permite a integração multicriterial de dis-
tintos sistemas, facilitando o manejo de diferentes dados ambientais (p. ex., perda de solos e
assoreamento de corpos d’águas), além de identificar os locais de acontecimentos quanto à
ação antrópica. Além desse fato, é reconhecida a importância regional dessa área para o
2 METODOLOGIA
No desenvolvimento da pesquisa, diversos procedimentos metodológicos foram execu-
tados, iniciando-se pela pesquisa documental e pela revisão bibliográfica, as quais proporcio-
naram o entendimento dos principais temas, auxiliando na compreensão de conceitos e
influenciando no avanço das atividades computacionais.
Na aquisição e criação de um banco de dados (vetoriais e matriciais), foi utilizado o soft-
ware de geoprocessamento ArcGIS 10.3/ESRI. A aquisição dos arquivos vetoriais ocorreu a par-
tir da disponibilização dos arquivos, (a) Geomorfologia (SIC, 2004) e Geologia (SIC, 2014) – pelo
Sistema Estadual de Informações Geográficas (SIEG); (b) Pedologia – pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE); (c) Vegetação – por meio do Banco de Dados de Informações
Ambientais (BDIA); e Uso e Cobertura do Solo de 2019 – por meio do MapBiomas (2019). Para
o valor adotado em relação ao tema Clima, partiu-se de um valor de intensidade pluviométrica
para toda a área, sugerido por Tavares (2021).
A análise da imagem SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) da United States Geological
Survey (USGS sigla em inglês), com resolução espacial de aproximadamente 30 m, disponibili-
zada pela plataforma do SIEG, proporcionou a produção dos mapas morfométricos: declivi-
dade, modelo HAND (Height Above the Nearest – altura acima da drenagem mais próxima) e de
densidade de drenagem. O HAND (NOBRE et al., 2011; INPE, 2021) é um modelo capaz de evi-
denciar o desnível a partir de determinada superfície em relação à drenagem mais próxima e
foi utilizado em substituição à amplitude altimétrica, referente à dissecação vertical do ter-
reno, quanto ao tema Geomorfologia. Por meio da ferramenta Hydrological Tools do programa
TerraViewHidro 0.0.4, foi possível a construção do modelo. O modelo morfométrico, densidade
de drenagem, foi elaborado em substituição ao mapa de dissecação horizontal do relevo, tam-
bém em relação ao tema Geomorfologia, por meio da função “Densidade de Linha”, disponível
no programa ArcGIS 10.3/ESRI.
A utilização dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) tem sido corrente, principal-
mente pela facilidade em manipular e processar dados vetoriais e matriciais, em meio compu-
tacional. Essas tecnologias proporcionam análises ambientais e territoriais de fenômenos
espaciais, além da edição e armazenamento de informações geográficas, como afirmam
Nascimento et al. (2016).
Desse modo, o mapa do tema Geomorfologia, referente à sua vulnerabilidade, foi feito a
partir da compilação daqueles referentes aos índices morfométricos – declividade, HAND e
densidade de drenagem. O resultado para vulnerabilidade do tema Geomorfologia (R), foi pos-
sível por meio da Equação 1.
Equação 1.
Onde:
R = Vulnerabilidade da Geomorfologia;
G = Vulnerabilidade atribuída ao Grau de Dissecação Horizontal (adaptada pela utilização
do modelo de densidade de drenagem);
A = Vulnerabilidade atribuída à Amplitude Altimétrica (adaptada pela utilização do
modelo HAND);
D = Vulnerabilidade atribuída à Declividade.
Com a função “unir” (Geoprocessamento > Unir), executou-se a junção das informações
(tabela de atributos) de todos os temas, criando-se uma única tabela de atributos, ou seja, o
mapa de vulnerabilidade ambiental (substituindo o tema Vegetação pelo tema Uso e cobertura
do solo), aplicando-se a álgebra de mapas, baseada na equação proposta por Crepani et al.
(2001), segundo a Equação 2.
Equação 2.
Onde:
V = Vulnerabilidade;
G = Vulnerabilidade da Geologia;
R = Vulnerabilidade da Geomorfologia;
S = Vulnerabilidade dos Solos;
Vg = Vulnerabilidade da Vegetação (substituído pelo tema de Uso e cobertura do solo);
C = Vulnerabilidade do Clima.
De acordo com a Equação 2 descrita, efetua-se o cálculo da média dos valores referentes
aos temas, o que foi realizado pela “Calculadora de Campo”, tendo como resultado o mapa de
Vulnerabilidade Ambiental. Proposta por Crepani et al. (2021), as classes de vulnerabilidade
foram adotadas, tanto para representação do mapeamento final, quanto para padronização
dos mapas individuais referentes aos cinco temas. Os valores para cada classe de vulnerabili-
dade são descritos na Figura 2.
Os valores de vulnerabilidade para as classes de cada tema foram adotados com base na
metodologia de Crepani et al. (2001), tendo sido realizadas adaptações referentes a valores de
vulnerabilidade para classes não constante na proposta original da metodologia, tendo tam-
bém sido adotado o que foi sugerido por Tavares (2021), para o caso do tema índice de disse-
cação horizontal. O tema referente ao uso e cobertura do solo foi adaptado conforme o
sugerido por Florenzano (2008).
Assim, no que tange à análise da vulnerabilidade ambiental à perda de solos, foram
sobrepostos os atrativos turísticos existentes na área. Os respectivos pontos foram identifica-
dos por meio da pesquisa em sites com a temática voltada ao turismo. Tais locais foram identi-
ficados e georreferenciados por meio do programa Google Earth, com validação e exportação
dos pontos para o ArcGIS 10.3, identificando quatro atrativos turísticos na área de estudo –
cachoeiras de Santa Helena, do Alvino, do Lajeado e Gratassul.
3 RESULTADO E DISCUSSÃO
Como descrito no item anterior, a vulnerabilidade ambiental à perda de solos na bacia
hidrográfica do rio do Peixe foi analisada segundo a vulnerabilidade de cada tema, (geologia,
geomorfologia, tipos de solo, uso e cobertura do solo e clima) em específico.
Em observação ao mapa do tema Geologia (Figura 3a) e considerando o grau de vulnera-
bilidade relacionado ao tipo de rocha, o que foi indicado por Crepani et al. (2001) e os valores
adotados por Tavares (2021), ressalta-se que, (a) a Formação Serra Geral (Grupo São Bento),
que ocorre em pequenas partes da bacia, de natureza vulcânica, pode ser considerada mais
resistente; (b) as rochas das formações Furnas (arenito) e Aquidauana (arenito, diamicito, folhe-
lho, siltito), apesar de consolidadas, podem apresentar um aspecto friável, quando exposta às
intempéries, e que as rochas inconsolidadas da Formação Cachoeirinha (areia, argilito, conglo-
merados), todas essas encontradas em porções significativas ao norte e ao centro-sul, têm
considerável vulnerabilidade; e (c) as rochas das formações Ponta Grossa (folhelho – arenito
fino, pelito), Vila Maria (argilito siltíco, folhelho), Irati (folhelho), e os Depósitos Aluvionares
(areia, argila, cascalho, siltito) podem ser considerados mais vulneráveis à perda de solos. A vul-
nerabilidade do tema Geologia apresentou o predomínio das classes: moderadamente vulne-
rável, moderadamente estável e vulnerável.
O grau de vulnerabilidade da Geomorfologia (Figura 3b) foi classificado como moderada-
mente estável para a maior parte da bacia, principalmente tendo em vista as declividades, as
densidades de drenagens e os desníveis. Conforme afirmam Santos et al. (2008), ter o conheci-
mento sobre aspectos geomorfológicos consiste em subsídios para entendimento e identifica-
ção das potencialidades e fragilidades naturais dos terrenos. Por isso, tendo em vista esse
parâmetro, considerou-se necessária a tentativa de se calcular os valores associados à disseca-
ção, tanto horizontal, quanto vertical.
Figura 4 – Mapa de Vulnerabilidade (a) dos Solos e (b) do Uso e Cobertura do Solo de 2019
Figura 5 – Mapa de Vulnerabilidade ambiental à perda de solos da bacia hidrográfica do rio do Peixe
1.2 0,06
Estável 0,04
1.3 2,00
1.4 0,06
1.5 2,00
Moderadamente Estável 13,96
1.6 16,53
1.7 242,37
1.8 366,29
1.9 85,80
Medianamente Estável/Vulnerável 69,39
2.0 524,33
2.1 1616,79
2.2 348,18
2.3 236,02
2.4 808,69
Moderadamente Vulnerável 16,61
2.5 770,34
2.6 70,62
Fonte: Adaptado de Crepani et al. (2001).
Desse modo, a classe moderadamente estável (1.4 – 1.5 – 1.6 – 1.7), encontrada em por-
ções do norte e sudoeste correspondeu (a) a relevos do tipo Planaltos e amplitudes altimétri-
cas entre 20 e 50 m; (b) à geologia classificada como moderadamente vulnerável, com rochas
da Formação Furnas (arenito); (c) aos solos do tipo Latossolo (1.0), classificados como tendo
grau estável; e (d) ao uso da terra, na maior parte, por pastagens e agricultura (3,0).
Destacam-se as áreas moderadamente vulneráveis (2.3 a 2.6), em porções do médio
noroeste, do leste, do sul e do sudoeste da bacia, com (a) relevo de baixa altitude (Domínios de
Colinas Amplas e Suaves com declividade baixa e amplitudes altimétricas de 20 a 50 m); (b) for-
mações geológicas do grupo Aquidauana (arenito, diamictito, folhelho, siltito) (2.5); Ponta
Grossa (folhelho, arenito fino, pelito) (2.7); e Serra Geral (basalto, andesito, riolito, riodacito)
(1.5); bem como, com (c) solos rasos do tipo Neossolo Litólico (3.0) e Cambissolo (2.5).
A classe observada com maior predomínio na bacia correspondeu ao grau de vulnerabi-
lidade, medianamente estável/vulnerável (1.8 a 2.2). Esse grau de vulnerabilidade foi devido:
(a) à maior parte do relevo aplainado, com amplitudes altimétricas baixas; (b) à geologia classi-
ficada como moderadamente vulnerável, por causa das rochas das Formações Furnas (arenito),
Aquidauana (arenito, diamictito, folhelho, siltito), Ponta Grossa (folhelho – arenito fino, pelito),
Serra Geral (basalto – andesito, riolito, riodacito) e Vila Maria (argilito síltico, folhelho); (c) aos
solos do tipo Latossolo (1.0) e Cambissolo (2.5); acrescentando-se a esses fatores, (d) um uso e
ocupação que alcançou valores de vulnerabilidade iguais a 3.0.
Nesta análise ressalta-se, assim, que como os atrativos turísticos se situaram, levando
em conta a classificação da vulnerabilidade à perda de solos, em ambientes medianamente
estável/vulnerável, estando por isso sujeitos à ação de agentes erosivos hídricos, os processos
podem ser intensificados, caso não seja observada essa condição. Destaca-se também que
esta análise realizada pode ainda ter a ocorrência em área de graus de vulnerabilidade mais
altos, tendo em vista que os valores de dissecação horizontal podem ter sido subestimados.
Além disso, o conhecimento das vulnerabilidades de um ambiente é de grande importância,
mas inicialmente é necessário um planejamento racional do uso adequado da terra, a partir de
seu potencial (MACHADO et al., 2017). Ademais, destaca-se igualmente a necessidade da
validação em campo dessas condições, o que não foi possível no atual contexto em que se
encontra o país, ainda em isolamento social.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica do rio do Peixe foi classificada como medianamente estável/vulne-
rável, tendo interferência direta da remoção e substituição da cobertura vegetal. A retirada da
vegetação original e sua substituição por coberturas antrópicas aumentou a exposição do solo
às gotas de chuva e ao escoamento superficial, reduziu a capacidade de infiltração dessa água
no solo e intensificando a ação do fluxo superficial laminar e ou concentrado. Como Crepani et
al. (2001) afirmam, cria-se um ambiente ideal entre disponibilidade de energia potencial e
capacidade erosiva (morfogênese). De certo, os fatores geomorfológicos e a intensidade plu-
viométrica, desempenham papel fundamental. Assim, sugere-se para a área, a realização de
procedimentos outros, por meio de modelagens, que resultem em classificações do grau de
vulnerabilidade, relativamente mais próximas à realidade.
Logo, do que foi aqui analisado, é evidente que práticas conservacionistas, precisam ser
adotadas, em áreas cujos graus de vulnerabilidade à perda de solos foram observados com
valores consideráveis. O conhecimento das vulnerabilidades da referida bacia mostrou a neces-
sidade de se ser realizado o planejamento do uso da terra, considerando as suas fragilidades, e
o seu potencial, de modo a prevenir e remediar futuros impactos ambientais negativos, tendo
em vista ainda a existência de atrativos turísticos em áreas classificadas como vulneráveis à
perda de solos por erosão hídrica. Esse grau de vulnerabilidade mostrou a possibilidade de
poderem ser ainda mais intensificados os processos, por causa da ação antrópica nesses locais,
relacionada às atividades turísticas, se não observadas tais condições.
5 REFERÊNCIAS
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ecológica da paisagem da bacia do rio dos Peixes-GO. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais) – Instituto de
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Tricart, J., 1977. Ecodinâmica. Recursos Naturais e meio ambiente. Rio de Janeiro. IBGE, Diretoria Técnica,
SUPREN, 1.
Resumo: O aumento da urbanização na Ilha de São Luís vem causando impactos cada vez mais evi-
dentes na dinâmica hidrográfica das bacias presentes no território. A bacia do rio Anil, em conse-
quência de sua localidade, se mostra fortemente alterada, principalmente em relação a retirada
vegetação ciliar. Os principais impactos decorrentes desse processo são: poluição e contaminação
dos mananciais, impermeabilização do solo, erosão, assoreamento, alagamentos e inundações.
Com base nisso, o presente estudo tem como objetivo compreender as mudanças nos padrões da
paisagem e a dinâmica no uso e cobertura do solo da bacia do rio Anil, durante os anos de 1999,
2010, 2020. Foram utilizadas imagens dos satélites Landsat 5, para os anos de 1999 e 2010, e
Landsat 7, para o ano de 2020. Posteriormente, as análises de uso e cobertura da terra foram feitas
utilizando o plugin Dzetsaka, algoritmo Learning no software QGIS, versão 3.16.5., para as seguin-
tes classes: água, área construída, mangue, vegetação densa e vegetação rasteira. Os resultados
obtidos demonstraram que a vegetação densa se mostrou fortemente impactada, demonstrando
os efeitos do constante espalhamento urbano, que se desenvolveu de forma descontrolada e sem
planejamento, as classes vegetação rasteira e áreas de mangue apresentaram um aumento
durante o período de análise e a área com presença de água demonstrou decréscimo, principal-
mente de 2010 para 2020. Isso posto, os resultados só afirmam a falta de monitoramento e plane-
jamento pelos órgãos responsáveis, que causam cada vez mais a degradação do meio natural.
Palavras-chave: Urbanização; Mangue; Sensoriamento Remoto; Dzetsaka
Abstract: The increase of urbanization in the Island of São Luís is causing increasingly evident
impacts on the hydrographic dynamics of the basins present in the territory. The basin of the Anil
[ 804 ]
MUDANÇAS NO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL 805
River, as a result of its location, is strongly altered, especially in relation to the removal of riparian
vegetation. The main impacts resulting from this process are: pollution and contamination of
springs, soil sealing, erosion, silting, flooding and inundation. Based on this, the present study aims
to understand the changes in landscape patterns and the dynamics of land use and land cover in
the Anil River basin during the years 1999, 2010, 2020. Images from Landsat 5 satellites were used
for the years 1999 and 2010, and Landsat 7 for the year 2020. Subsequently, land use and land
cover analyses were done using the Dzetsaka plugin, Learning algorithm in QGIS software, version
3.16.5, for the following classes: water, built-up area, mangrove, dense vegetation and understory
vegetation. The results obtained showed that the dense vegetation was strongly impacted,
demonstrating the effects of the constant urban sprawl, which developed in an uncontrolled and
unplanned way, the classes underbrush vegetation and mangrove areas showed an increase during
the period of analysis and the area with the presence of water showed a decrease, especially from
2010 to 2020. That said, the results only affirm the lack of monitoring and planning by the respon-
sible agencies, which increasingly cause the degradation of the natural environment.
Keywords: Urbanization; Mangrove; Remote sensing; Dzetsaka
1 INTRODUÇÃO
O processo de urbanização tem se tornado uma problemática ambiental cada vez mais
abordada devido aos impactos causados. Esse processo ocorre desde o início das grandes civi-
lizações, causando assim, diversas intervenções antrópicas na paisagem e na qualidade dos
recursos naturais, impactando diretamente na dinâmica dos ecossistemas existentes na região.
A falta de gestão e planejamento voltados para o uso e ocupação do solo é a maior causa da
deflagração desse processo, causando a intensificação das ações irregulares sobre o meio.
De acordo com Estêvez et al. (2011, p. 429), “ocorre a necessidade de planejamento para
que se compreenda a dinâmica e estrutura da paisagem, de forma a entender suas capacida-
des e limitações de acordo com a leitura integrada de variáveis físicas, biológicas e antrópicas”.
Além disso, a análise sobre as mudanças paisagísticas ajuda na compreensão de fatores políti-
cos, econômicos e sociais, já que os mesmos se apresentam como fatores que interagem dire-
tamente no processo de caracterização e dinâmica espacial da região (SILVA, 2015).
Com os impactos constantes no meio natural, observa-se o surgimento de problemas
envolvendo a dinâmica fluvial e pluvial, influenciando tanto a qualidade da água, quanto o
âmbito social e urbano. Bacias hidrográficas se veem cada vez mais afetadas pelo processo de
urbanização, principalmente em relação aos impactos referentes aos recursos hídricos, que
são influenciados diretamente pelos ecossistemas adjacentes. Diante disso, com a evolução da
malha urbana dentro de uma bacia, existem mais regiões com aumento de índices de áreas
degradadas, onde se pode ver a diminuição da cobertura vegetal, compactação do solo, regiões
impermeabilizadas, ou sofrendo processos erosivos causados pelo aumento do escoamento
superficial (VAEZA, 2010).
A cidade de São Luís, capital do estado Maranhão, vem sofrendo inúmeros processos
com o aumento do contingente demográfico urbano ao decorrer das décadas, fazendo com
que a mesma apresente problemas estruturais e ambientais cada vez mais expressivos. A
bacia do rio Anil, em consequência de sua localidade, no centro urbano da cidade, se encon-
tra densamente ocupada. A mesma possui grandes Áreas de Preservação Permanente (APPs),
que devido à falta de monitoramento, sofrem com os impactos da ocupação indevida. (DA
CRUZ, 2020).
Bacias hidrográficas localizadas em grandes centros urbanos, tendem a sofrer ainda mais
com intervenções urbanas, dadas as necessidades populacionais da região. Como consequên-
cia do aumento da urbanização, tem-se cada vez mais áreas impermeabilizadas e mais riscos de
erosão e assoreamento do canal de drenagem. O solo é significativamente afetado, apresen-
tando problemas na infiltração e aumento no escoamento superficial, podendo causar enchen-
tes nas proximidades. A ocupação do solo influencia diretamente na qualidade dos recursos
hídricos da bacia.
Tendo em vista isso, uma abordagem que se faz necessária é o monitoramento através
de análises espaço-temporais, de forma a reconhecer as modificações causadas na paisagem,
as características e as limitações desse ambiente e seus recursos (COELHO, 2014).
Com a necessidade de estudos sobre a dinâmica de paisagem, a utilização de Sistemas de
Informação Geográficas (SIG) e de dados de Sensoriamento Remoto se tornaram importantes
ferramentas para a caracterização desses espaços, auxiliando na elaboração de mapas temáti-
cos sobre os diferentes tipos de usos e ocupação do solo, além de oferecer a possibilidade da
analises da evolução temporal da região (DUARTE; BRITO, 2005).
O presente trabalho tem como objetivo compreender a dinâmica do uso e cobertura do
solo da bacia hidrográfica do rio Anil, no período delimitado entre os anos de 1999, 2010 e
2020, de modo a detectar mudanças nos padrões da paisagem e gerar subsídios para o delinea-
mento de estratégias de planejamento ambiental.
2 METODOLOGIA
Fonte: Os autores
A região de estudo possui apenas duas estações bem definidas, sendo elas: chuvosa, nos
meses de janeiro a julho e estiagem, nos meses de agosto a dezembro. O clima caracterizado
como equatorial quente-úmido, tendo predominância de ventos NE com uma velocidade
média de 6 m/s, temperatura média de 28°C e uma média pluviométrica de 2900 mm/ano
(ARAÚJO, 2012). De acordo com as séries históricas (2003-2019) do Instituto Brasileiro de
Meteorologia, a região possui dois períodos bem definidos, o período chuvoso que vai de
janeiro a julho, e o período de estiagem vai de agosto a dezembro.
A geologia local é caracterizada por formações litoestratigráficas do grupo Barreiras e
formações de depósitos aluvionares e coluvionares, além de depósitos de mangues (PORTELA,
2017). A vegetação característica da Ilha do Maranhão é composta por florestas secundárias e
regiões de matas baixas com intrusões de babaçu. Apresenta também áreas de cerrados e for-
mações pioneiras, além de buritizais e juçarais compondo a mata ciliar nas proximidades dos
rios (REBÊLO et al., 1999).
Os principais agentes oceanográficos que influenciam a dinâmica sedimentar e de paisa-
gem são: as ondas, as correntes costeiras, as marés e os ventos, que exercem influência signi-
ficativa local e são responsáveis pelos principais aspectos morfológicos e características
ambientais, como praias, dunas, falésias, planícies de maré, pântanos de água salgada e man-
guezais (SILVA et al., 2009; CASTRO et al., 2021).
2.2 Método
A primeira etapa metodológica realizada neste trabalho foi a aquisição dos dados car-
tográficos em formato digital pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que foram utilizados para levantamento dos
dados de base para vetorização do uso e cobertura do solo da região estudada e criação dos
mapas temáticos.
As imagens para a classificação supervisionada foram obtidas por meio do Serviço
Geológico dos Estados Unidos (USGS) no endereço: http://earthexplorer.usgs.gov (USGS, 2018)
dos satélites Landsat 5 para os anos de 1999 e 2010 e Landsat 7 e 8 de 2010 a 2020.
As análises de uso e cobertura da terra foram feitas utilizando a classificação supervisio-
nada com o auxílio o plugin Dzetsaka, algoritmo Learning no software QGIS versão 3.16.5 LTR.
A ferramenta é um projeto de código aberto para processamento de imagens de satélite, onde
este pacote de algoritmos pode processar imagens ópticas, multiespectrais e hiperespectrais
de alta resolução. Para a classificação dos pixels pelo plugin é necessário selecionar polígonos
de treinamento em uma camada vetorial que representem as regiões homogêneas utilizadas
para o mapeamento (GEDE et al., 2020) (Quadro 1).
Foram utilizadas as seguintes classes de uso e cobertura: água, área construída, mangue,
vegetação densa e vegetação rasteira. Os resultados de área (km2) do mapeamento foram con-
vertidos em porcentagem, com intenção de identificar os processos de mudanças da paisagem.
Textura lisa a
Dentro de quadras.
Variações de tons levemente rugosa,
Presença de telhados
Área Construída de vermelho, laranja forma retangular e
em aglomerados
e cinza.
urbanos.
tamanhos variados.
Fonte: Os autores.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se na Tabela 1 e na Figura 2, os resultados referentes à bacia do rio Anil e ao seu
desenvolvimento de acordo com a linha temporal analisada.
Tabela 1 – Área (km2) do uso/cobertura da terra da bacia hidrográfica do rio Anil em 1999, 2010 e
2020
Figura 2 – Mapa dos diferentes tipos de uso e cobertura da bacia hidrográfica do rio Anil
Fonte: Os autores.
A vegetação rasteira apresenta uma alta de 6,7% (2,98 km2) entre os anos de 1999 e
2020. Isso ocorre em decorrência das mudanças no uso do solo, geralmente ocorridas em regi-
ões onde antes prevaleciam vegetação densa ou de mangue que sofre a modificação em vir-
tude das construções urbanas.
Ademais, ressalta-se que pode ocorrer confusão espectral devido a grande escala uti-
lizada no mapeamento, possibilitando a existência de erros suaves devido uma alteração nos
pixels da imagem, o que faz com que durante a classificação não sejam registradas pequenas
áreas ou que haja confusão com outras classes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o constante aumento da urbanização, a vegetação da região da bacia do rio Anil se
mostra impactada, em especial a arbustiva (densa), que sofreu uma diminuição considerável
durante os anos de análise, principalmente no alto e médio curso. A alteração dos diferentes
parâmetros apresenta ligação direta com a retirada da vegetação densa, como o aumento da
porcentagem de vegetação rasteira e mangue e a diminuição da área com presença de água,
que demonstram a alteração na paisagem pelos diferentes usos do solo.
Os resultados do mapeamento demonstram que o processo contínuo da urbanização na
região, vem deixando cada vez mais evidente a degradação do ambiente. O poder público
apresenta um trabalho ineficaz para o gerenciamento da bacia do rio Anil, assim como a pró-
pria população, que não demonstra conhecimento sobre os impactos ambientais causados na
ocupação irregular do território.
O presente trabalho, serve como subsídio para criação e implantação de políticas públi-
cas direcionadas a bacia hidrográfica do rio Anil. É necessária criação de medidas que visem a
mitigação dos impactos ocorrentes para controle dos processos de desmatamento, proteção
dos recursos hídricos e melhoria urbana, garantindo melhor qualidade social e ambiental.
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Remoto, XII., 2005, Goiânia. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, p. 2965-2972.
Resumo: O regime hidrológico no Alto Curso do Rio Paraná é intensamente controlado pela ope-
ração das barragens ao longo de seu curso principal e afluentes. A oferta de recargas das chuvas é
limitada à sazonalidade das regiões sudeste e centro-oeste. A vazão média para uma série de anos
na estação de Porto São José (PR) foi de 9.000 m³/s (1964 a 2012). A revisão discutida neste estudo
busca reflertir sobre parte da evolução e construção morfológica e da conectividade fluvial ao
longo de uma área de aproximadamente 100km² na planície aluvial na margem direita do Rio
Paraná, a partir da barragem de Porto Primavera (UHE Eng. Sérgio Motta) e em suas ilhas do canal
central até a confluência com o rio Ivaí. O objetivo desta revisão é determinar e compreender a
atuação das variáveis hidromorfológicas e o pulso de inundação, reproduzido dentro dos controles
que o sistema fluvial do Alto Paraná tem sofrido nas últimas décadas. As modificações no padrão
e dinâmica do canal principal produziram uma planície fluvial com variadas unidades morfológicas
e vegetais. A variabilidade anual do ciclo hidrológico e a inundação nesta área provocam uma
inter-relação entre elementos dependentes e o meio que ocorrem. Espera-se que este trabalho
ajude na compreensão da estrutura funcional da planície, da dinâmica de trocas de sedimentos
entre sistemas de canais e a planície, e nas relações de conectividade canal-planície na manuten-
ção de ambientes heterogêneos em diferentes épocas do ciclo hidrológico na área.
Palavras-chave: Geomorfologia Fluvial; Pulso de Inundação; Regime Fluvial.
Abstract: The hydrological regime is not the Upper Course of the Paraná River and is intensely con-
trolled by the operation of barragens over the course of its main course and tributaries. A supply
of recharges of rain is limited to the seasons of the southeast and central-west regions. Average
time for a series of years at the Porto São José (PR) station was 9,000 m³ / s (1964 to 2012). The
revision discussed in this study seeks to reflect on part of the evolution and morphological cons-
truction and of the fluvial connectivity over an area of approximately 100km² in the alluvial plain
on the direct bank of the Paraná River, from the Porto Primavera barrage (UHE Eng. Sérgio Motta)
It is located in the central canal at the confluence of the Ivaí river. The objective of this review is to
[ 814 ]
PLANÍCIE ALUVIAL DO ALTO RIO PARANÁ 815
determine and understand the hydromorphological variations and the flood pulse, reproduced
within two controls that the Alto Paraná river system has experienced in recent decades. As modi-
fications do not pattern and dynamics of the main channel produce a fluvial plain with various
morphological units and vegetation. The annual variability of the hydrological cycle and the floo-
ding in this area causes an inter-relationship between dependent elements and or less than that.
It is hoped that this work will contribute to the understanding of the functional structure of the
flat, the dynamics of sediment trailers between the canal systems and the plain, and the channel-
-plan connectivity relationships in the maintenance of heterogeneous environments at different
times of the hydrological cycle in the area.
Keywords: Fluvial Geomorphology; Flood Pulse; River Regime.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo é uma contribuição para a análise do funcionamento da planície aluvial e da
dinâmica de interação deste ambiente com as mudanças do canal principal do Rio Paraná.
A proeminente planície aluvial presente na margem direita (Mato Grosso do Sul) e em
diferentes ilhas do canal, estabeleceu-se como recorte para análise da força de influência do
regime do rio e aos processos deste local, associado as características com maior adaptação
sazonal em períodos de cheia e vazante.
A abordagem deste estudo parte do princípio da conectividade. Busca a análise sobre as
respostas estruturais e funcionais do sistema rio-planície, e sobre as mudanças nas variáveis
que regulam as unidades. Justifica-se a análise deste recorte, pela existência de um ambiente
morfologicamente antigo e pela presente atuação de novos processos (STEVAUX, 1994; 2000;
SOUZA FILHO; STEVAUX, 1997; STEVAUX; SOUZA, 2004). A conectividade está relacionada a
forma de interação entre componentes dependentes, seu aumento é baseado na relação entre
as fases terrestre e aquática promovendo união entre corpos d’água e trocas de organismos
entre habitas. Esta ação promove ligações periódicas entre componentes e o processo de res-
posta das variáveis (JUNK et al., 1989; STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).
Partindo deste princípio, as mudanças no regime de rios de médio e grande porte, como
no caso do Rio Paraná, produzem determinadas formas de controle em variáveis no regime
hidrológico, e assimilam diferentes processos de interação da água, sedimentos e organismos
de acordo com graus de conectividade entre ambientes (MORAIS; AQUINO; LATRUBESSE, 2008;
STEVAUX; MARTINS; MEURER, 2009).
O trabalho apresentado oferta uma reflexão sobre a dinâmica e o padrão existente nas
várzeas do Alto Paraná. A existência da conectividade ocorre pela relação do pulso de inunda-
ção (ou regime) e as variáveis dependentes do sistema. As consequências desta relação são
produzidas em elementos da planície que são influenciados pela pulsação da descarga do rio,
tais como a vegetação ribeirinha, as lagoas e canais secundários (STEVAUX; CORRADINI;
AQUINO, 2013; MARCHETTI et al., 2013).
Os resultados apresentados são questões norteadoras para discutir as características dos
processos morfodinâmicos no Alto Rio Paraná. Aqui estão relacionados um conjunto de
relevantes trabalhos aplicados ao longo de 30 décadas sobre este escopo. Assim, é apresen-
tada uma revisão sobre a dinâmica do pulso de inundação e suas relações hidrossedimentares
e morfológicas na estruturação e funcionamento da planície de inundação do Alto Rio Paraná.
2. REVISÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
A área de estudo estende-se por cerca de 100km² em áreas de planície aluvial de mar-
gem e do canal, desde a UHE Eng. Sergio Motta – Porto Primavera (lat. 22° 46’ 45’’ – long. 52°
69’ 38’’ GMS, e lat. 75155100.0 – long. 300000.0 UTM) até à foz do rio Ivaí (lat. 23° 24’ 78’’ –
long. 53° 71’ 82’’ GMS, e lat. 7425100.0 – long. 225000.0 UTM) (Fig. 1).
Este artigo apresenta uma breve revisão baseada na literatura e em dados inéditos sobre
a relação entre os sistemas fluviais e os elementos de conectividade fluvial na área de estudo
e em outros recortes exemplares. São referenciados estudos sobre origem, forma e evolução
geomorfológica fluvial de planícies de inundação (STEVAUX, 2000; STEVAUX; SOUZA, 2004;
DUNNE & AALTO, 2013; STEVAUX; LATRUBESSE, 2017), estudos relativos a geomorfogênese,
geologia e sedimentologia (STEVAUX, 1994; SOUZA FILHO; STEVAUX, 1997; AMSLER; DRAGO;
PAIRA, 2007), a importância funcional do pulso de inundação e outros elementos de conectivi-
dade (JUNK et al., 1989; STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013), estudos relacionados aos regi-
mes hidrológicos e aspectos hidrodinâmicos (ROCHA, 2009; STEVAUX; MARTINS; MEURER,
2009). Estudos direcionados à determinação da relação entre as estruturas e a arquitetura geo-
morfológica com a diferenciação florística da planície (CORRADINI; STEVAUX; FACHINI, 2008;
MORAIS; AQUINO; LATRUBESSE, 2008; MARCHETTI et al., 2013). Nesta revisão buscou-se rela-
cionar os conceitos apresentados pelos vários autores consultados com a atual dinâmica e
regime fluvial do Alto Rio Paraná.
Neste recorte ocorre uma relação de trocas entre as características de ambientes lóticos
e lênticos. Segundo descrevem Stevaux e Latrubesse (2017) a conectividade é um estágio que
pode ser atingido pelo sistema rio-planície e os diferentes graus de dependência entre as variá-
veis é o fator que regula este estágio. A conectividade fluvial consiste em uma interação físico-
-química entre ambientes de várzea, pelo aumento da vazão da água do rio exercida ao longo
do regime hidrológico (pulso de inundação) e seus parâmetros (JUNK et al., 1989).
No sistema rio-planície a vazão ecológica é um processo de grande importância, os ecos-
sistemas sempre buscam um equilíbrio natural que obedeça ao regime de outras variáveis do
ambiente em questão. No caso específico da planície aluvial, o processo definido por Junk et al.
(1989) associa a esse ambiente uma grande capacidade de amortecimento hidrológico, com
formas suavizadas e taxa de aumento mais lenta.
O pulso de inundação consiste na força e energia que produz trocas periódicas, e movi-
menta este sistema através do transporte da água (e todo material associado) para outros
ambientes das áreas próximas ao canal principal (JUNK et al., 1989). Este processo define atri-
butos de inundação diferentes em tempos e níveis distintos. O equilíbrio e as alterações no
pulso de inundação podem ser sistematizados pela observação dos dados hidrológicos, princi-
palmente pelos valores de médias mensais e anuais.
Segundo Junk et al. (1989) uma planície regularmente inundada apresenta mudanças entre
as fases terrestre e aquática, principalmente em estruturas de diferentes habitats, produzindo
inclusive habitats aquáticos sazonais. Deste modo, a conectividade se baseia na associação de
uma série de eventos, especialmente em relação a pulsos de cheia, permanência (tempo que um
determinado nível permanece no sistema), magnitude (descarga), frequência (número de vezes
que determinado nível ocorre num intervalo de tempo) e intensidade (ou tensão, diferença entre
o nível mais baixo e o nível estudado) (STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013).
Na planície fluvial do Alto Rio Paraná estes eventos foram modificados e condicionados a
interferências humanas no regime, esta situação pode alterar a produtividade do pulso de
inundação da área. Deste modo, fica claro a importância desta relação capaz de produzir uma
forte dependência das feições geomorfológicas e da biota vegetal de várzea com a hidrologia
associada ao comportamento do sistema rio-planície (STEVAUX; CORRADINI; AQUINO, 2013).
Estudos do processo de conectividade na área em questão foram apresentados sempre
considerando a análise quantitativa da “assinatura” do rio, obtida dos dados diários de vazão
em estações fluviométricas. Infelizmente, como destacam Junk et al. (1989) as sociedades
modernas modificaram gradativamente o hidrograma do rio pela utilização de sua água. Tal
fato provoca, via de regra, mudanças na vazão ecológica, e consequentes efeitos na dinâmica
da várzea podem ser sentidos na redução da vazão média e das taxas de sedimentação.
No caso da planície aluvial do Alto Paraná os eventos relacionados à conectividade têm
ligação direta com o suprimento de material sólido e dissolvido, para os processos de acresção
de material na variedade topográfica da área. (ROCHA, 2009). Nesta área são notáveis algumas
3 DISCUSSÃO
Este estudo apresentou um breve relato dos conceitos e processos que envolvem a
construção da planície aluvial do Alto Rio Paraná. Nesta breve revisão, buscaram-se cami-
nhos para compreender parte da estrutura e funcionamento da planície de inundação de um
rio tropical, sob seus aspectos morfodinâmicos e hidrodinâmicos e as consequências de inte-
ração deste sistema.
A discussão apresentada obteve como resultado algumas questões norteadoras para for-
talecer a extensa base teórica, e para indicar aplicações práticas na representação do processo
de conectividade e suas relações com as caracteristicas da planície fluvial
A transformação do regime fluvial do Rio Paraná pelos barramentos está influenciando e
desequilibrando determinados atributos de inundação, o que implica em mudanças nas variá-
veis e no modo com que as unidades dependentes se desenvolvem.
Questões balizadoras fornecidas pela revisão teórico-metodológica:
• Qual a importância dos canais secundários para promoção da conectividade, deposi-
ção de sedimentos e equilíbrio hidrológico na planície?
• Em que medida o controle exercido pelo pulso de inundação está condicionando
ambientes em um processo hidrogeomórfico que produza variabilidade geomórfica
interna e complexidade na planície?
• Qual a melhor relação de variáveis e o melhor cruzamento de características para
construir e reproduzir um mapeamento das unidades morfológicas da planície, com
base em sua atividade hidrogeomorfólogica e conectividade fluvial?
Estas questões foram instigadas com base nos conceitos apresentados neste estudo, a
compreensão da relação contínua existente entre componentes do sistema em um ambiente
foi levada em consideração, e as reflexões obtidas nesta revisão devem usadas para reforçar e
dar suporte a hipótese apresentada inicialmente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os questionamentos obtidos nesta breve revisão colaboram para definir caminhos teóri-
cos-metodológicos e clarear conceitos, objetivando a avaliação da influência estrutural das pla-
nícies de inundação em rios de grande porte na América do Sul. O levantamento organizado
acerca dos processos hidrogeomorfológicos pretéritos e atuais do Alto Rio Paraná, expõe com
maiores detalhes diferentes atributos e variáveis do sistema rio-planície.
A conectividade fluvial existente neste recorte produz força motriz suficiente para possi-
bilitar trocas de sedimentos, gases, organismos e outros elementos entre ambientes de várzea.
O equilíbrio deste ambiente está regulado pelos barramentos do rio a montante o canal prin-
cipal mudou seu curso desde o período holocênico, deixando sob maior influência sazonal, e
ainda mais proeminente a atual planície de inundação com toda sua variedade topográfica,
espacial e biótica.
5 AGRADECIMENTOS
Apoio financeira da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior
(CAPES), da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado
de Mato Grosso do Sul (FUNDECT) e colaboração do Programa de Pós-graduação em Geografia
(PPGGEO) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (CPTL/UFMS).
6 REFERÊNCIAS
AMSLER, M. L.; DRAGO, E. C.; PAIRA, A. R. Fluvial sediments: main channel and floodplain interrelationships. In:
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CORRADINI, F. A.; STEVAUX, J. C.; FACHINI, M. P. Geomorfologia e distribuição da vegetação ripária na Ilha
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Paraná River, Brazil. Journal of South American Earth Sciences, v. 46, p. 113-121, 2013.
STEVAUX, J. C.; LATRUBESSE, E. M. Geomorfologia fluvial. Oficina de Textos, 2017.
Resumo: O bairro do Puraquequara é um dos distritos mais antigos da cidade de Manaus. A área
do Puraquequara é fundamental para o estado do Amazonas, nela situa-se uma indústria que cola-
bora para o desenvolvimento econômico e social da região. Dessa forma, o objetivo do presente
trabalho foi analisar e identificar os impactos ambientais que estão ocorrendo no Rio Puraquequara
(a margem direita da Bacia do Puraquequara). Para tanto utilizou-se a coleta de dados in loco no
período de 2017 a 2020, bem como um levantamento sobre o uso, ocupação e contaminação da
água em distintos pontos ao longo da extensão da bacia do Puraquequara. A análise dos dados
permitiu detectar diferentes pontos que estão sendo degradados por uso das ocupações tanto
regulares como irregulares que estão espalhadas por toda a área da bacia. Dessa forma, uma
medida que pode ser desenvolvida na região para o controle da poluição e contaminação é se
aprofundar nas principais atividades que estão causando a degradação no meio ambiente, e nos
agentes poluidores, desenvolver palestras com a comunidade com o objetivo de educá-los para
que reflitam sobre as consequências, como exemplo, o aumento do impacto negativo no meio
ambiente do Puraquequara nas suas atividades do cotidiano.
Palavras-chave: Puraquequara; Economia; Degradação.
Abstract: The neighborhood of Puraquequara, one of the oldest districts of the city of Manaus.
The Puraquequara area is essential to the state of Amazonas, where there is an industry that con-
tributes to the economic and social development of the region. Thus, the objective of this work
was to analyze and identify the environmental impacts that are occurring in the Puraquequara
River (the right bank of the Puraquequara Basin). To this end, we used in loco data collection from
2017 to 2020, as well as a survey on the use, occupation, and contamination of the water at differ-
ent points along the length of the Puraquequara basin. The analysis of the data allowed the
[ 824 ]
POTENCIAIS IMPACTOS NA MARGEM DIREITA DO RIO PURAQUEQUARA 825
detection of different points that are being degraded by the use of both regular and irregular occu-
pations that are spread throughout the basin area. Thus, a measure that can be developed in the
region for the control of pollution and contamination is to delve into the main activities that are
causing environmental degradation, and the polluting agents, develop lectures with the commu-
nity with the aim of educating them to reflect on the consequences, as an example, the increase
of the negative impact on the environment of Puraquequara in their daily activities.
Keywords: Puraquequara; Economy; Degradation.
1 INTRODUÇÃO
O bairro Puraquequara, é um dos distritos mais antigos da cidade de Manaus, ocupado
por uma população de aproximadamente 10 mil habitantes residindo em 23 comunidades e na
vila, que leva o seu nome, onde podem ser encontrados diferentes tipos de empresas que
desenvolvem diversas atividades.
A área do Puraquequara é fundamental para o Estado do Amazonas, nela está uma indús-
tria que corrobora com o desenvolvimento econômico e social da região. Além disso, o local
oferece um diversificado recurso natural, que contribui no fomento de renda e parte da ali-
mentação dos munícipes.
Desde sua criação o Puraquequara atrai diversos investidores ao local, na área estão
inseridas fábricas do Distrito Industrial II, no qual possui como principal comércio os frigoríficos
e estaleiros que utilizam do acesso logístico aquífero, para o escoamento de sua produção e
recebimento de insumos.
Em consequência do Puraquequara ser uma região em expansão e possuir uma área
extensa, mais investidores estão sendo atraídos para o desenvolvimento de atividades econô-
micas. Com o resultado deste potencial cenário econômico, favoreceu o surgimento de empre-
sários atuantes em diferentes ramos a exemplo de hotelaria, produção de matéria prima,
eletrodomésticos e empresas de embalagens.
No decorrer do curso do rio é possível encontrar flutuantes e embarcações no qual são
atrativos para as pessoas na prática do lazer, oferecendo restaurantes, balneários, experiências
de esporte aquáticos dentre outras atividades que geram algum tipo de renda.
Segundo Miranda (2017, p. 53) “A cidade de Manaus apresenta características naturais
abundantes, é uma das cidades brasileiras que possuem recursos hídricos em larga escala, que
são utilizadas para atividades distintas”. Ainda segunda Miranda (2017), a realidade em que se
encontra a região não parece com a que é almejada, pois, os recursos hídricos estão sendo con-
taminados e perdendo sua finalidade adequada à sociedade.
De acordo com Leite et al (2011), o impacto ambiental negativo produzido por algumas
industrias são proporcionais a relação entre a intensidade com que a mesma é praticada e a
disponibilidade de recursos naturais.
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O estudo foi realizado na Bacia do Puraquequara, situada na Zona Leste, Manaus, locali-
zada à margem direita do Rio Negro. Considerada uma área de proteção ambiental, em pro-
cesso de estabelecimento pela Lei n° 671/2002 que instituiu o Plano Diretor Urbano e Ambiental
na cidade de Manaus que abrange toda a bacia, incluindo as áreas de transição (ESCOBAR,
2016). As margens do Lago Puraquequara apresentam grande atrativo turístico e industriário.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na margem direita do Rio Puraquequara é possível encontrar diferentes tipos de
empreendimentos que atuam no desenvolvimento de atividades econômicas. As margens dos
rios, geralmente, são utilizadas para gerar renda devido a facilidade na obtenção dos recursos
naturais, estabelecendo uma nova relação entre homem-natureza, onde está priorizado o
fator socioeconômico (CHUEH; SANTOS, 2005).
O quadro 01 mostra os diferentes tipos de ocupações que foram catalogadas e analisa-
das no qual utilizam de alguma maneira o leito do rio para o desenvolvimento de suas ativida-
des, tanto econômica ou para necessidades do dia-a-dia.
Atividades Quantidade
Frigorifico 2
Construção Naval 2
Escolas 2
Flutuantes 4
Agricultura 4
Comunidades 23
Centro espirita 1
Moradias Irregulares 71
Atividades Irregulares 2
Construção da estrada 1
Hotel 1
Criação de animais 8
Elaborado por: FERREIRA, Wellington. 2020.
Essas ocupações que foram encontradas na região do Puraquequara podem ser explica-
das pelo fato que a bacia do Bacia do Puraquequara oferece um diversificado recurso natural
favorável para diferentes práticas, que contribuem para implementação de diferentes ativida-
des socioeconômicas como, irrigação, lazer, navegação, uso doméstico, moradia, indústria, e
entre outros.
Albuquerque (2012, p. 204), menciona que “[...] a disponibilidade da água, enquanto
recurso propicia a ocupação da bacia hidrográfica praticamente por toda a extensão territorial,
fato que em geral, se define por taxas de densidade elevada”. As atividades que ocorrem na
margem direita do Puraquequara utilizam uma grande quantidade de recursos hídricos para o
seu desenvolvimento e no decorrer dos anos deterioraram o meio ambiente, e modificam a
paisagem local.
Determinadas ocupações nas margens do Lago Puraquequara geram algum tipo de risco
ao meio ambiente, visto que, degradam o solo, poluem as águas superficiais e a flora local. Este
problema no qual ocorre com o meio ambiente é por parte responsabilidade das atividades.
Ainda que a prática esteja sendo desenvolvida com todo o respaldo e cuidado. Apesar disso
ocorre uma negligencia em relação aos seus resíduos, pois é possível encontrar algum tipo de
resquícios em diferentes partes da bacia.
Nas proximidades do local no qual se localiza os estaleiros, é possível observar óleo des-
pejado, no qual ocasiona na contaminação da água e tornando o seu uso inapropriado para
atividades domésticas ou atividades recreativas, pois, algumas famílias alojaram-se próximo ao
leito do rio, e utilizam de encanações clandestinas para a usufruir desta água, visto que as
moradias irregulares não possuem o tratamento ou saneamento básico, ou seja, utilizam dessa
água para suas necessidades básicas, colocando sua saúde em risco, assim sendo expostas as
doenças provenientes da contaminação das águas.
As moradias inseridas irregularmente nas margens da bacia estão se tornando um pro-
blema, devido ao seu crescimento desordenado os órgãos responsáveis não conseguem con-
trolar esse aumento e ocasiona na inexistência do saneamento básico. Provocando diferentes
situações como: a utilização da água contaminada, despejo dos resíduos doméstico na mata,
despejo dos dejetos no rio. A figura 2 mostra uma área com lixo doméstico e industrial na
vegetação local.
local, e é nítido o cuidado que as comunidades possuem com o lago do Puraquequara, pois,
sabem que é dali que retiram parte de sua renda.
Figura 3 – Flutuante
Segundo Ferreira (2017), são encontrados também dois matadouros, o Frigorifico Alemão
e o Frigorifico Amazon Boi, que distribuem seus produtos para o Brasil e o mundo. Os frigorífi-
cos recebem o gado do Pará e retiram o coro do animal que é enviado para a Europa, sendo
que o principal meio desse animal chegar aos frigoríficos é por meio de embarcações, como
mostra a figura 4. Próximo onde ficam ancorados as embarcações, é possível notar que ocorre
o vazamento de óleo que está aumentando os riscos para a contaminação do recurso hídrico.
No local é possível sentir um odor muito forte de sangue de gado que são mortos para sua
carne e o coro possam ser utilizados para a venda. É possível encontrar próximo aos frigoríficos
restos dos animais que não foram devidamente descartados, os moradores relatam que é nor-
mal isso acontecer.
Figura 4 – Embarcações
Segundo informações dos moradores há uns anos, em um dos frigoríficos deixou vazar
material químico no lago, material no qual é utilizado na limpeza do gado, alguns dias depois
muitos peixes morreram, afetando assim moradores que dependem da pesca para a sua renda.
Segundo o mesmo morador o frigorifico pagou uma multa para o órgão responsável pela fisca-
lização e prosseguiu com suas atividades.
Além de toda a indústria que atua na região e os flutuantes que oferecem lazer, outra
prática que está utilizando o recurso hídrico são as plantações de hortifrúti, segundo Ferreira
(2017, p.44) “os produtos que são plantados nessa área são bastante variados como, ceboli-
nhas, chicória, pimenta de cheiro, couve, cheiro verde e pimenta malagueta. É plantado tam-
bém mandioca para a produção da farinha, pois devido ao alto consumo da população gera
assim uma renda para os produtores”.
Segundo Schirmann e Osinski (2018, p.4) “A Agricultura sustentável é aquela em que o
produtor faz uso da terra, da água e insumos tirados do meio ambiente sem prejudicá-los ou,
se houver algum dano, este é reparado”. Muitas famílias fazem o uso da agricultura tanto para
sua alimentação quanto para retirar sua renda. Uma breve conversa com as famílias, muitos
não utilizam nenhum tipo de agrotóxico nas suas plantações, e como o consumidor está bus-
cando sempre produtos frescos e com melhor qualidade, as suas produções estão sendo bem
vendidas contribuindo assim na economia no bairro e das famílias, e ainda assim, sem a utiliza-
ção dos agrotóxicos eles estão preservando o solo e a água de eventuais problemas futuros.
Outros tipos de ocupações, ocorrem nessa região, como, hotel de selva que recebe turis-
tas de todos os locais para atividades na floresta e no lago. Há também escolas ribeirinhas que
atendem as crianças das comunidades e por fim é possível encontrar criações de animais, que
vai desde galinhas, gado e cavalo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os maiores impactos no rio Puraquequara, são promovidos por atividades industriais, fri-
goríficos e estaleiros localizados próximos à margem do rio. Além dos flutuantes, que não des-
cartam adequadamente os resíduos que são gerados por seus frequentadores, favorecendo a
poluição do recurso hídrico.
Os impactos ambientais que estão ocorrendo na área são expressivos, a poluição está
relacionada aos resíduos provenientes dos estaleiros, frigoríficos e flutuantes, pois, com o
descaso desses usuários, os resíduos gerados estão espalhados por toda a área do Puraquequara,
aparentemente sem a preocupação do agente causador da ação. A falta de acompanhamento
e controle, por parte do poder público aumenta a poluição e contaminação da bacia. É
imprescindível uma fiscalização mais efetiva dos órgãos responsáveis, para que o processo de
poluição seja minimizado.
Uma das alternativas para o controle da poluição, é realizar um trabalho de educação
ambiental, além de proporcionar palestras com os usuários e a comunidade, para que possa
ocorrer uma reflexão sobre as consequências do aumento da degradação no meio ambiente
do Puraquequara.
Os usuários do Puraquequara, precisam ter consciência sobre a importância de dar um
destino adequado aos resíduos sólidos que ocasionam agressões ao meio ambiente, para tor-
narem-se fiscalizadores e responsáveis e deste modo, proporcionar um ambiente com mais
cuidados e benefícios para todos.
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GODOY, A. S. Pesquisa Qualitativa tipos fundamentais. Revista de Administração de empresas, V.35, N°.3,
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LEITE, S., P.; SILVA, C.R.; HENRIQUES, L., C. Impactos ambientais ocasionados pela agropecuária no Complexo
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MIRANDA, M. J. O. O uso de geotecnologias na análise temporal do processo de expansão urbana sobre
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SCHIRMANN, C. B.; OSISNKI, C. R. A; Desenvolvimento na agricultura familiar através da produção orgânica:
geração de renda aliada a sustentabilidade. VII SIMPOSIO IBEROAMERICANO EM COMERCIO INTERNACIONAL.
Ed. VI. Lisboa, Portugal, 2018.
Resumo: Atualmente os incêndios têm ganhado destaque no Brasil, principalmente por mudanças
no regime de chuvas, tanto no centro oeste como no sudeste, com destaque no inverno. Isso oca-
sionou grandes impactos em diversos biomas e na qualidade do ar. Nesse sentido, é de extrema
importância estudos para identificação de áreas susceptíveis a incêndios. O presente trabalho tem
como objetivo elaborar modelo de risco de incêndio na bacia do rio Piracicaba, em Minas gerais.
O mapeamento foi contemplado com as classes de risco alta, média ou baixa e foi obtido a partir
da álgebra de mapas, utilizando o mapa uso da terra, elevação, declividade, aspecto e proximidade
de vias e construções. Foram utilizadas imagens do projeto MAPBIOMAS para o ano de 2019, de
modo a obter o mapa uso da terra e locais com construções. Também foram utilizados o Modelo
Digital de Elevação fornecidos pelo Topodata e vetores de vias do Open Street Map. Os resultados
mostraram que a bacia apresentou grande parte da área com alto e médio risco (78,3% do total da
área da bacia, sendo 19,6% alto e 58,7% médio), coincidindo proporcionalmente com os focos de
incêndios identificados pelo Programa Queimadas do INPE (77% dos focos em áreas de alto e
médio risco sendo 20,8% em áreas de alto e 56,2% em médio). Assim a metodologia se mostrou
eficaz e o mapa final permite direcionar ações preventivas e soluções de combate.
Palavras-chave: Geoprocessamento; sensoriamento remoto; álgebra de mapas; INPE.
Abstract: Currently, fires have gained prominence in Brazil, mainly due to changes in the rainfall
regime, both in the Midwest and Southeast, especially in winter. This had major impacts on several
biomes and air quality. Studies to identify areas susceptible to fire are extremely important. This
work aims to generate a fire risk map in the basin of Piracicaba River, Minas Gerais. This map, divi-
ded into high, medium, or low classes and was generated from map algebra, using the map of land
use, elevation, slope, aspect and proximity to roads and buildings. Images from the MAPBIOMAS
project for the year 2019 were used to obtain the map of land use and construction sites. The
Digital Elevation Model provided by Topodata and road vectors from the Open Street Map were
also used. The results showed that the basin presented a large part of the area with high and
medium risk (78.3% of the total basin area, being 19.6% high and 58.7% medium), proportionally
coinciding with the fire outbreaks identified by INPE’s “Queimadas” Program (77% of the outbreaks
1 Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. Unidade João Monlevade. E-mail: rafael.moraes@uemg.br
[ 835 ]
836 Rafael Aldighieri Moraes
in high and medium risk areas, 20.8% in high and 56.2% on average). Thus, the methodology pro-
ved to be effective, and the final map allows directing preventive actions and combat solutions.
Keywords: Geo-processing; remote sensing; map algebra; INPE.
1 INTRODUÇÃO
Recentemente no Brasil houve um destaque da mídia em relação ao aumento na ocor-
rência dos incêndios. Em Minas Gerais, destacam-se tanto o aumento do número de focos de
incêndios (aumento de 35% de janeiro a agosto de 2021 em relação a 2020) e na região metro-
politana de Belo Horizonte esse aumento foi de 75%, segundo dados do INPE (GODINHO, 2021).
De acordo com MORAES e NASCIMENTO (2020), a bacia do rio Piracicaba, em Minas
Gerais, possui aproximadamente 30% da área ocupada por pastagens, em 2018, sendo destas
42,7% estão em locais de alta declividade (maior que 30%). Estas características, conforme
CHUVIECO e CONGALTON (1989), aumentam o potencial para o risco de incêndio.
A ocorrência de incêndios florestais, originados por fenômenos naturais e pela presença
humana, sobretudo em função da mudança de uso do solo, com aumento de áreas agricultá-
veis, cultivo florestal ou pecuária, facilita o início e propagação desses eventos (CAMARGO et
al., 2019).
Existem várias metodologias para a identificação do potencial de incêndios, sendo que a
grande maioria é feita pelo equacionamento do potencial de cada local considerando suas
características quanto ao uso da terra, relevo, histórico de incêndios, etc. Este equaciona-
mento, utilizando sistemas de informações geográficas (SIG) e dados espaciais, geram, com o
geoprocessamento, informações digitais para ações no mundo real.
A metodologia proposta por CHUVIECO & CONGALTON (1989) para mapeamento de
áreas de risco de incêndio, apesar de relativamente antiga, é amplamente utilizada, principal-
mente pela simplicidade e pelo potencial de hardware e software atual. Dentre os diversos tra-
balhos (VENTURI e ANTUNES, 2007; CÁCERES, 2011; AJIN et al., 2016; PEREIRA et al., 2017;
LOPES et al., 2018; CAMARGO et al., 2019), todos fazem o equacionamento de potencial de
incêndio para cada característica de um dado local, variando apenas na fonte de dados.
Considerando a importância da identificação das áreas com potencial de risco de incêndio,
juntamente com as classes de uso da terra e sua respectiva localização quanto a características
do relevo e atividade humana, é possível analisar qual o impacto das ações antropogênicas. Além
disso favorece o estudo e implementação de medidas de prevenção e combate a incêndios, pre-
servando tanto a saúde e bem-estar da população como o meio ambiente.
Assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar mapeamento do risco de incêndio na bacia
do rio Piracicaba, dividindo-a em risco alto, médio e baixo. Este foi baseado em álgebra de
mapas utilizando o mapa uso da terra, elevação, declividade, aspecto e proximidade de vias e
construções.
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
Na figura 1 é apresentado a área de estudo, a bacia do rio Piracicaba, localizada a centro-
-leste do estado de Minas Gerais.
Fonte: autor.
Cada termo da equação 1 está vinculada a uma tabela (Tabela 1) com intervalos variando
de risco muito alto até risco muito baixo, dependendo do fator. Assim, foram geradas novas
imagens, a partir da reclassificação dos pixels. A álgebra de mapas, dessa maneira, calcula o
valor de RI para cada pixel, respectivo a sua posição espacial para todos os produtos gerados.
Foi utilizada a função “Calculadora Raster” do software QGIS para calcular o RI.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na figura 3 são apresentados os produtos para os dados iniciais, matriciais (6 imagens), uti-
lizados para a geração do risco de incêndio, conforme equação 1 apresentada anteriormente.
Figura 3 – Dados espaciais gerados para uso na álgebra de mapas e obtenção do risco de incêndio
Fonte: autor.
Figura 4 – Localização do risco de incêndio na bacia do Rio Piracicaba, Minas Gerais, a partir da
metodologia utilizada
Fonte: autor.
Segundo os dados do programa de queimadas do INPE, no ano de 2019, houve 2934 focos
de incêndio na área da bacia. Na Tabela 2, apresenta-se a divisão da área dos locais de risco de
incêndio na bacia e dos focos. Na primeira coluna, os locais identificados pelo risco de incêndio
(RI) dado pelo modelo (Alto, Médio ou Baixo Risco) e sua respectiva área em quilômetros quadra-
dos (km²) na bacia e a porcentagem de cada classe em relação a área total. Nota-se que áreas de
alto e médio risco representam 78,3% do total da bacia, ou seja, a área é bastante vulnerável.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados indicam que o modelo testado apresenta uma boa representatividade dos
locais com potencial de incêndio, baseando-se em características potencializadoras. A bacia do
rio Piracicaba apresenta grande parte da área com médio a alto risco, indicando a necessidade
da criação de planos de combate, brigadas de incêndio e educação ambiental.
Vale destacar que os incêndios alteram a cobertura da terra, impactando o solo e a vege-
tação. Este, prejudica a fauna do solo e consequentemente a fertilidade e sua sustentabilidade,
tanto do bioma presente como na agropecuária, principalmente na queima de pastagens. Com
o enfraquecimento da vegetação na superfície, temos a diminuição da recarga hídrica do solo,
prejudicando as nascentes, potencializando a falta de água no período seco. Considerando que
na bacia o local mais populoso se encontra próximo do exutório, é de extrema importância
assim, o planejamento e desenvolvimento sustentável.
5 REFERÊNCIAS
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Floresta, 37(2): 159-173. 2007.
Resumo: O uso insustentável da natureza pelo homem vem ocasionando diversos problemas
ambientais tais como, alterações climáticas, escassez de água, crise energética, dentre outros. No
Brasil, a partir da década de 1960, com a ocupação do oeste brasileiro e o uso intenso da terra,
com a substituição da vegetação por áreas agrícolas e de pastagem, além de novos centros urba-
nos, demandando assim meios para produção de energia, assim criando uma demanda por cons-
trução de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). A Bacia Hidrográfica do Rio Prata (BHRP)5,
importante contribuinte do Pantanal mato-grossense, localizada na região dos municípios de
Jaciara, com 457.96 km², compõe uma das áreas afetadas pelo uso intensivo do solo para fins da
agropecuária apresentando problemas ambientais relativos ao uso não sustentável de sua área,
como perda de solo por erosões e voçorocas. Esta pesquisa vale de geotecnologias com intuito de
obter uma análise morfométrica da BHRP decorrente da construção da PCH-Zé Fernando, a partir
de variáveis geométricas, rede de drenagem e do relevo, como possibilidade para conhecimento
da dinâmica ambiental da referida bacia hidrográfica. Utilizou-se o Sistema de Informação
Geográfica (SIG) para analisar os parâmetros morfométricos. Conforme observa-se nos resulta-
dos, com a criação da PCH Zé Fernando, houve alteração na paisagem da BHRP, bem como mudança
do nível base do Rio Prata, afogamento de cursos hídricos da BHRP, alterando os padrões morfo-
métricos básicos da bacia. Assim a BHRP passa a apresentar outro comportamento hídrico, pois a
dinâmica da paisagem antes da PCH Zé Fernando foi alterada.
Palavras-chave: Análise Ambiental; Bacia hidrográfica; Análise Morfométrica; Geotecnologias.
[ 845 ]
846 Joelson de Souza Passos; Jepherson Correia Sales; Fernanda Luisa Ramalho; Gabriella Santos Arruda de Lima
Abstract: The unsustainable use of nature by man has caused several environmental problems such
as climate change, water scarcity, energy crisis, among others. In Brazil, from the 1960s onwards,
with the occupation of western Brazil and the intense use of land, with the replacement of vegeta-
tion by agricultural and pasture areas, in addition to new urban centers, thus demanding means for
energy production, thus creating a demand for the construction of Small Hydropower Plants (SHP).
The Hydrographic Basin of the River Plate (HBRP), an important contributor to the Pantanal of Mato
Grosso, located in the region of the municipalities of Jaciara, with 457.96 km², composes one of the
areas affected by intensive land use for agricultural purposes, presenting environmental problems
related to the unsustainable use of its area, such as soil loss by erosion and gullies. This research is
worth geotechnologies in order to obtain a morphometric analysis of HBRP resulting from the cons-
truction of the Small hydropower plants Zé Fernando, from geometric variables, drainage network
and relief, as a possibility to know the environmental dynamics of this hydrographic basin. The
Geographic Information System (GIS) was used to analyze morphometric parameters. As observed in
the results, with the creation of the Zé Fernando SHP, there was a change in the HBRP landscape, as
well as a change in the base level of the River Plate, drowning of HBRP water courses, changing the
basic morphometric patterns of the basin. Thus, HBRP begins to present another water behavior,
because the landscape dynamics before the Zé Fernando SHP was altered.
Keywords: Environmental Analysis; Watershed; Morphometric Analysis; Geotechnologies.
1 INTRODUÇÃO
A intervenção do homem na natureza para a produção do espaço geográfico ocorre sem
a devida preocupação de encontrar um equilíbrio entre a utilização dos recursos e a dinâmica
da natureza. Nesse sentido, o contexto do uso e ocupação da terra a partir da década de 1960,
no Brasil e no estado de Mato Grosso, foi baseado na produção agrícola e na pecuária, fruto da
adoção de políticas econômicas voltadas para a ocupação da parte oeste do Brasil.
As características naturais do estado de Mato Grosso como: relevo, geologia, recursos
hídricos, solos e clima, junto a uma política de colonização foram os principais fatores que
garantiram a consolidação do cultivo de monocultura em grande escala para atender às deman-
das nacionais e internacionais vinculadas aos sistemas financeiros do agronegócio, a partir da
década de 1970.
Da mesma maneira, o setor de produção de energia foi beneficiado pelos mesmos pilares
a partir da década de 1990, o que aumentou o número de reservatórios de água para instala-
ções de Centrais Geradoras de Energia Elétrica (CGE), em especial as Pequenas Centrais
Hidrelétricas, conforme Perius (2012), o que interfere diretamente na dinâmica da paisagem da
bacia hidrográfica, inclusive com o afogamento de cursos hídricos decorrentes do barramento
para criação do reservatório.
Com isso, os problemas ambientais decorrentes da interferência humana na natureza
são diversos e interconectados, podendo acarretar prejuízos econômicos e sociais dentro da
Bacia hidrográfica. Os impactos ocasionados são, geralmente, erosão dos solos, sedimentação
dos canais, enchentes, redução da qualidade da água, devido ao aumento de matéria orgânica,
nutrientes, produtos tóxicos, dentre outros, além de aumentar do risco de extinção de
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
A Bacia Hidrográfica do Rio Prata (BHRP) possui áreas no Planalto dos Guimarães e carac-
terísticas físicas adequadas a produção de monocultura e criação de rebanho bovino. Assim, a
presente pesquisa entende que a área de estudo compõe uma das áreas afetadas pelo uso
intensivo do solo para fins do agronegócio, pois apresenta diversos problemas ambientais rela-
tivos ao uso insustentável dos seus componentes fisiográficos, como a perda de solo por ero-
sões laminares e mecânicas. Esse tipo de uso é favorecido devido ao relevo e solos da região.
A área de estudo fica localizada nos municípios de Jaciara 123,82 km² (27,03%), Juscimeira
192,64 km² (42,06%) e Santo Antônio do Leverger 141,50 km², (30,91%). Possui 457.96 km² e
está compreendida entre as coordenadas: latitude: 16°12’50.98”S, longitude: 55°23’1.76”O e
latitude: 16° 6’30.45”S, longitude: 54°56’27.51”O. A BHRP está inserida na mesorregião do
Sudeste Mato-grossense e microrregião de Rondonópolis do estado de Mato Grosso (Figura 1).
O Rio Prata compõe a rede hídrica do Rio São Lourenço um importante tributário do
Pantanal Mato-grossense, dessa maneira a ocorrência de danos ambientais ocorridos na BHRP
são conduzidos ao Pantanal por meio da rede de hidrográfica que caracterizada por uma “veia”
de interligação do contato entre planalto e a planície de inundação.
Figura 1 – Localização e unidades de relevo (morfoesculturas) da Bacia Hidrográfica do Rio Prata (BHRP)
Fonte: Imagens de Satélite LANDSAT 5 – Bandas 543, de 15/05/2015. Elaboração: Sales, (2017).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Rio Prata constitui uma das cabeceiras na Bacia Hidrográfica do Rio São Lourenço e
tem como papel principal realizar o rebaixamento por erosão do Planalto dos Guimarães, neste
processo geomorfológico de rebaixamento a rede hidrográfica também realiza o transporte
dos seus sedimentos e materiais detríticos para o Pantanal Matogrossense. Esta dinâmica de
erosão e transporte sofreu interferência devido construção da barragem da Pequena Central
Hidroelétrica Zé Fernando localizada no Município de Juscimeira-MT no Rio São Lourenço, em
29/04/2008. Essa construção do reservatório alterou artificialmente o nível de base do Rio
Prata, conforme Figura 2.
Figura 2 – Desembocadura do Rio Prata no reservatório da PCH Zé Fernando, Rio São Lourenço,
Juscimeira – MT
BHRP pós-cons-
Parâmetro Morfométrico Unidade BHRP ∆%
trução PCH
Coeficiente de compacidade (kc): foi aferida uma diminuição de 2.63% neste indicador
revelando um pequeno aumento da capacidade de enchentes, sobretudo, nos compartimen-
tos de planície, locais com baixa declividade (0 a 3%). Garcez & Alvarez (1988) afirmam que
quanto mais parecida com um círculo for uma bacia, mais próximo do valor Kc = 1 ela será mais
propensa a enchentes. Mas, o valor alto da BHRP de 2,58 mostra que a bacia é irregular e alon-
gada e que a possibilidade de enchentes é baixa, o mesmo é observado por Lopes et al. (2018),
na bacia do rio Una em Ibiúna, um Kc=2,17 e ainda ressaltam que esse valor indica uma baixa
concentração do deflúvio em alta precipitação.
Densidade de rios (Dr): Christofoletti (1980) afirma que a Dr representa o comporta-
mento hidrográfico de uma área quanto a sua capacidade de gerar novos cursos d’água. Para
BHRP houve uma redução de 3.47% após a construção da PCH, dessa forma é possível interpre-
tar que essa alteração diminuiu essa capacidade, e, por conseguinte, podendo alterar o grau de
morfodinâmica de entalhe do relevo pelos cursos d’água da bacia. Esse fato afetaria direta-
mente os processos de erosão mecânica e laminar mapeados na BHRP.
Densidade de drenagem (Dd): o cálculo deste indicador revela uma redução de 2.54%.
Para Christofoletti (Op. Cit.) a Dd é fruto da relação granulométrica das rochas, onde as mais
finas propiciam o escoamento superficial e nas mais grossas prevalece a infiltração. Em decor-
rência disto, a redução deste parâmetro constatada na BHRP pode contribuir para a alteração
da infiltração/acumulo de água na bacia em comparação com os índices anteriores a constru-
ção do reservatório. Para Pirajá e Rezende Filho (2019), a BHRP é mal drenada devido à elevada
permeabilidade, que correspondem a 0,5≤Dd<3,5.
Sinuosidade dos cursos d’água (Sin): o índice de sinuosidade do rio principal está asso-
ciado ao processo de transporte de sedimentos, valores próximos de 1 indicam canais que ten-
dem a ser retilíneos e que permitam melhor transporte desses materiais (VALE & BORDALO,
2020). Na BHRP ocorreu uma pequena diminuição da sinuosidade, este fato aumenta a capaci-
dade de transporte do rio Prata, tornando mais eficiente o seu sistema de drenagem e escoa-
mento máximo.
No âmbito do interior do reservatório foi constatado um possível início de processo de
sedimentação observado por imagem de sensor remoto, conforme Figura 4. As imagens mos-
tram um possível acumulo de sedimentos na área do reservatório logo após a nova desembo-
cadura do Rio Prata.
Figura 4 – (A) Processo de sedimentação na desembocadura do Rio Prata. (B) 17/05/2006. (C)
09/02/2010. (D) 05/04/2014. (E) 27/03/2016. Fonte – Google Earth, acessado em 01/02/2017 e Sistema
de informações hidrológicas da Agência Nacional das Águas, acessado em 05/03/2017, estação
meteorológica 1555005, São José da Serra
arrasto, suspensão), depósito de partículas sólidas que é uma tendência natural, mas a cons-
trução de barragens altera essas características hidrológicas. Esse processo diminui o movi-
mento de partículas sólidas na direção do escoamento e pode ocasionar uma sedimentação
desse reservatório (ZARPELON & AZEVEDO, 2018).
A obtenção desses resultados parciais revela a importância da temática estudada, sendo
necessário um maior tempo de vigências dos novos parâmetros morfométricos destacados
acima. Para tanto Condé (2021), o material em suspensão é especialmente heterogêneo e uma
visão de sua concentração é muito difícil, no entanto, uma abordagem ideal é a vinculação do
sensoriamento remoto, medições in situ e modelagem de qualidade de água. Portanto, o moni-
toramento, alinhado com esses 3 fatores se torna fundamental para futuros estudos da nova
dinâmica hídrica da BHRP pós-construção da PCH-Zé Fernando.
Uma vez que as mudanças do uso e ocupação da região colaboram consideravelmente
para as mudanças na dinâmica de seus sedimentos e consequentemente implicam no funcio-
namento do sistema, como fluxos de material, ciclagem geoquímica, qualidade da água, mor-
fologia do canal, desenvolvimento do delta e ecossistemas aquáticos e habitats suportados
pelo rio (Li et al., 2020; DUNN et al., 2019).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção da PCH Zé Fernando ocasionou mudanças na paisagem da BHRP, bem como
alteração do nível base do Rio Prata, afogamento de cursos hídricos da BHRP, mudando os
padrões morfométricos básicos da bacia. Assim a BHRP passa a apresentar outro comporta-
mento hídrico, pois a dinâmica da paisagem antes da PCH Zé Fernando foi alterada.
Outro fato a ser observado é a alteração da desembocadura do Rio Prata proveniente
pela construção da PCH Zé Fernando, verifica-se uma necessidade de maior monitoramento
para o entendimento dos impactos causados pela construção da barragem no interior da BHRP.
Além de pesquisas de aferição da alteração do regime de erosão, transporte, deposição e pro-
cessos geomórficos neste setor da bacia.
Por fim, a metodologia utilizada no trabalho possibilita subsidiar ações de planejamento
ambiental e estratégias para conservação dos recursos hídricos, principalmente o monitora-
mento de bacias hidrográficas que sofreram modificações em seu sistema natural, principal-
mente em áreas que foram modificadas para a construção de PCH’s.
5 REFERÊNCIAS
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Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar os aspectos do relevo da porção oeste da bacia
hidrográfica do rio Guaribas, a partir da utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e
imagens SRTM. Com uma extensão territorial de aproximadamente 2.285,06 km2, a área de pes-
quisa está localizada na região sudeste do estado do Piauí, inserida na Região Geográfica Imediata
Picos. A pesquisa foi elaborada a partir de levantamento bibliográfico, técnicas de geoprocessa-
mento com o uso do ArcGis, seguida de inspeções à campo. Constatou-se a partir dos procedimen-
tos de mapeamento que a POBHG apresenta grandes altitudes, caracterizada por uma amplitude
altimétrica situada entre 170 a 720 metros, e uma declividade com predomínio de relevo plano e
suave ondulado. As técnicas de geoprocessamento constituíram ferramentas essenciais ao possi-
bilitar a compreensão das características do relevo da POBHG. Portanto, a análise dos aspectos
geomorfológicos compreende um processo de suma importância no entendimento de determi-
nado espaço geográfico, fornecendo desse modo, subsídios ao planejamento ambiental.
Palavras-chave: Planejamento Ambiental; Bacia hidrográfica; Geotecnologias
Abstract: This work aimed to analyze the relief aspects of the western portion of the Guaribas
river basin, using a Geographic Information System (GIS) and SRTM images. With a territorial
extension of approximately 2,285.06 km2, the research area is located in the southeast region of
the state of Piauí, fully inserted in the semi-arid northeast. The research was elaborated from a
bibliographic survey, geoprocessing techniques with the use of ArcGis, followed by field inspec-
tions. It was found from the mapping procedures that the POBHG has high altitudes, characterized
by an altimetric range between 170 and 720 meters, and a slope with a predominance of flat and
smooth undulating relief. Geoprocessing techniques were essential tools in enabling the under-
standing of the POBHG relief characteristics. Therefore, the analysis of geomorphological aspects
comprises a process of paramount importance in understanding a given geographic space, thus
providing subsidies for environmental planning.
Keywords: Environmental planning; Hydrographic basin; Geotechnologies
[ 857 ]
858 Francisco Wellington de Araujo Sousa
1 INTRODUÇÃO
Os estudos ambientais na ciência geográfica são de grande relevância para o conheci-
mento dos aspectos físicos como também humanos, pois estas pesquisas que na maior parte
levam em consideração os aspectos socioeconômicos, ou seja, tratam da relação existente
entre sociedade/natureza, são extremamente necessárias para a compreensão do espaço
como um todo.
Desta maneira, as pesquisas baseadas na análise dos aspectos físicos, ao considerar o
estudo integrado dos componentes que constituem a paisagem, possibilitam compreender o
funcionamento e a dinâmica dos ambientes naturais e as alterações ocasionadas pelas ativida-
des antrópicas (SANTOS; SOUZA, 2014).
Marques (2007) salienta que a visão holística da paisagem e a necessidade da compreen-
são das relações entre a natureza e sociedade criaram visões e enfoques para as pesquisas
ambientais. Nesse bojo, os estudos em geografia física onde se considera a abordagem geo-
morfológica como caminho analítico primordial, possibilita o entendimento da dinâmica exis-
tente entre os aspectos físicos e as atividades desenvolvidas pela sociedade.
Conforme destaca Christofoletti (2007), os estudos sobre o relevo são essenciais na com-
preensão do ambiente natural, pois este elemento permite a integração com o clima, vegeta-
ção, água e solos, no contexto dos sistemas ambientais físicos, que se tornam o objeto de
estudo da geografia física.
Nessa discussão, Silva (2007) corrobora ao apontar que as pesquisas que têm como base
definir, classificar e analisar as formas de relevo, possibilitam o conhecimento sobre a forma e
a natureza do substrato físico onde se realizam as atividades humanas. Estas análises podem
ser utilizadas na organização do conhecimento ambiental, gerando informações relevantes
para o planejamento territorial.
Nesse contexto, torna-se de extrema importância o uso de técnicas de geoprocessa-
mento e sensoriamento remoto nas pesquisas ambientais, especialmente nos mapeamentos
geomorfológicos. Essas ferramentas denominadas geotecnologias, constituem instrumentos
que permitem uma análise precisa da superfície terrestre e os fenômenos e processos envolvi-
dos (CAVALCANTI, 2000).
Desse modo, as geotecnologias constituem atualmente elementos essenciais nos estu-
dos da geografia, pois auxiliam uma melhor interpretação e representação dos fenômenos que
se manifestam no espaço geográfico, constituindo-se, portanto, ferramentas fundamentais
para fins de ordenamento territorial, análise e monitoramento ambiental (ROSA, 2005; SILVA;
ROCHA; AQUINO, 2016).
Nessa conjuntura, o presente trabalho teve como objetivo analisar os aspectos do relevo
da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas, a partir da utilização de Sistema de
Informação Geográfica (SIG) e imagens SRTM. A importância da pesquisa está relacionada a
2 METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido a partir dos seguintes procedimentos metodológicos: pes-
quisa bibliográfica, técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto em laboratório,
além de inspeções à campo. O levantamento bibliográfico foi baseado em leituras de livros e
artigos sobre a temática abordada, assim como foi realizado uma pesquisa em sites de órgãos
e outras fontes como suporte para a caracterização da área de estudo.
Para a realização e confecção do mapeamento temático foi utilizado um conjunto de
dados matriciais e vetoriais, a saber: arquivos raster da Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM), obtidos de forma gratuita no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
Brasil Topodata; shapefiles do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Agência
Nacional de Águas (ANA).
Para a confecção do mapa hipsométrico e de declividade, inicialmente foi realizado a
aquisição e tratamento dos dados SRTM, folhas 06S42_ZN, 06S405_ZN, 07S42_ZN e 07S405_
ZN, no formato geotiff, 32 bits, resolução de 30 metros. Foi feito um mosaico dessas cenas,
através das ferramentas ArcToolbox > Data Management Tools > Raster > Raster Dataset >
Mosaic To New Raster.
Posterior a esse procedimento, foi desenvolvido o recorte da área de pesquisa através da
ferramenta Spatial Analyst Tools, Extraction e opção Extract By Mask utilizando como arquivo
de entrada a imagem SRTM. O passo seguinte consistiu em reprojetar o arquivo para o sistema
Universal Transversal de Mercator (UTM) por meio da ferramenta “Data Management Tools >
projections and transformations > raster > Project raster”. Após esse procedimento foi reali-
zado a classificação dos valores de altitude, considerando o intervalo de 90 metros.
Com as informações do Modelo Digital de Elevação (MDE) delimitadas no software
ArcGis, foi desenvolvido em seguida a aplicação do relevo sombreado, através das ferramentas
“Spatial analyst tools > surface > hillshade” para uma melhor representação das classes de alti-
tude no mapa gerado.
O mapa de declividade foi desenvolvido a partir das ferramentas “Spatial Analyst Tools >
surface > slope”. Em seguida foi feito a delimitação de 5 classes que variam de plano a monta-
nhoso/escarpado, tendo como referência as classes definidas pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 1979).
Os mapas gerados tiveram como referencial geodésico o Sistema de Referência
Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), sendo este o Datum oficial adotado no Brasil.
Todo o mapeamento cartográfico foi realizado através do software ArcGis versão 10.2 (licença
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Localização Geográfica
A porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas (figura 1) está localizada entre as
coordenadas 06º30’ e 07º20 de latitude Sul; 41º40’ e 40º50’ de longitude Oeste, perfazendo
uma área de aproximadamente 2.285,06 km2. Situa-se na região sudeste do estado do Piauí, na
área da Região Geográfica Imediata Picos, inserida no Território de Desenvolvimento Vale do
Rio Guaribas (BRASIL, 2006).
Figura 1 – Mapa de localização da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas, Piauí
Fonte: ANA (2017); CPRM (2014); IBGE (2017). Organização: Os autores (2020).
A área de estudo engloba em parte doze municípios, a saber: Aroeiras do Itaim, Bocaina,
Paquetá, Picos, Pimenteiras, Pio IX, Santana do Piauí, Santo Antônio de Lisboa, São João da
Canabrava, São José do Piauí, São Luís do Piauí e Sussuapara. Todos são pertencentes ao estado
do Piauí e encontram-se inseridos na região semiárida do Nordeste brasileiro.
Figura 2 – Mapa da base geológica da porção oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas, Piauí
No que concerne ao clima da POBHG, toda sua extensão territorial encontra-se inserida
na região semiárida do Nordeste brasileiro, que apresenta como principais características: ele-
vadas médias anuais de temperatura (27°C) e uma evaporação em torno de 2.000 milímetros,
sendo as precipitações pluviométricas com média anual inferior a 800 milímetros, concentra-
das em até três a cinco meses e distribuídas de forma irregular (BRASIL, 2005).
Os aspectos hidrográficos da Porção Oeste da Bacia Hidrográfica do rio Guaribas se carac-
terizam por rios e riachos efêmeros ou temporários, influenciados pelo clima da região. Desse
modo, além do rio Guaribas, os principais canais fluviais da área pesquisada correspondem os
riachos Cana-Brava e dos Macacos pela margem direita, e o riacho Grotão pela margem esquerda.
Com relação às características pedológicas da POBHG, a partir do mapeamento realizado
pelo projeto RADAMBRASIL, e posterior atualização do IBGE, disponibilizado no portal eletrô-
nico da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE), pode-se constatar que na área de
pesquisa ocorrem os seguintes tipos de solos: Argissolo Vermelho Eutrófico (16,5%), Latossolo
Amarelo Distrófico (30,2%), Neossolo Flúvico Ta Eutrófico (4,1%), Neossolo Litólico Distrófico
(41,2%), Neossolo Quartzarênico Órtico (5%) e Plintossolo Pétrico Litoplíntico (3%), conforme
se observa na figura 3.
Figura 3 – Mapa de tipos de solos da Porção Oeste da bacia hidrográfica do rio Guaribas
As áreas com altitudes que variam de 260 a 440 metros (46,8% do total da POBHG), apre-
sentam terrenos aplainados por dissecação, que se encontram arrasados por processos erosi-
vos generalizados em diferentes formas de relevo. Os morros e as colinas compreendem
algumas das formas de relevo residuais que podem apresentar essas cotas altimétricas. Com
base na interpretação visual do relevo sombreado, apoiada nas inspeções de campo pode-se
identificar esse conjunto de formas predominantes, como se observa na figura 6.
Figura 6 – Painel de fotos que destacam formas de relevo residuais. Em – A – Colina; B – Morros
Os terrenos que apresentam altitudes entre 440 a 620 metros (44% do total da POBHG),
também se caracterizam por áreas com intensa dissecação. Observa-se um arrasamento dos ter-
renos com superfícies de aplainamento e a presença de relevos residuais, como as chapadas, os
planaltos rebaixados tabuliformes e as feições ruiniformes. É formada por topografias com decli-
ves planos, suave ondulados e em algumas áreas apresentam o aspecto forte ondulado.
No que se refere às chapadas (Figura 7), estas formas de relevo consistem vastas super-
fícies planálticas, por vezes horizontais, com cotas que variam entre 400 e 700 metros. Estão
profundamente entalhados por uma rede de vales encaixados, constituídos em grande parte
por camadas de arenito. Ao ocorrer uma sucessão de chapadas denomina-se chapadão
(GUERRA; GUERRA, 2011).
As altitudes mais elevadas com valores altimétricos entre 620 e acima de 700 m corres-
pondem a 6,5% da área de pesquisa, e são representadas pela formação Jaicós e pelos Depósitos
detrito-lateríticos. São encontradas na porção Nordeste da POBHG, o que corresponde ao
Planalto da Ibiapaba (Figura 8).
Ao estabelecer uma relação das características do relevo da POBHG com os demais com-
ponentes do meio físico (solos e vegetação), alguns aspectos devem ser abordados. Verifica-se
que nas áreas ao longo da planície do rio Guaribas, onde se observa as menores altitudes,
especificamente no baixo curso, há o predomínio dos Neossolos Flúvicos Ta Eutróficos como
também ocorrem os Argissolos Vermelhos Eutróficos. A vegetação nas áreas de planície apre-
senta uma fisionomia mais densa, devido as características de umidade.
Destaca-se que, a POBHG é caracterizada pelo predomínio de áreas com relevo plano e
suaves ondulados, que em sua maior parte encontram-se bem dissecados. A forte dissecação
dos terrenos garante ao ambiente da região a existência de solos com grande vulnerabilidade
aos processos erosivos, principalmente os Neossolos Litólicos Distróficos. Esses solos estão em
sua maior parte revestidos por uma vegetação rarefeita, com fisionomias arbustivas e pre-
sença de cactáceas.
Nas áreas com relevo plano e altitudes que variam de 500 a 700 metros, verifica-se um
maior predomínio dos Latossolos Amarelo Distróficos. Esses solos são encontrados principal-
mente nos topos de chapadas, localizados na porção Oeste da área de pesquisa, assim como
nas áreas de planaltos (com altitudes acima dos 600 metros) na porção Nordeste da POBHG. A
vegetação dessas áreas que apresentam cotas altimétricas elevadas possui um porte mais
arbóreo, ou seja, uma fisionomia mais densa.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos procedimentos realizados com base nas imagens SRTM e no geoprocessa-
mento, foi possível compreender algumas características do relevo da POBHG. Constatou-se
que a área de pesquisa apresenta grandes altitudes, caracterizada por uma amplitude altimé-
trica situada entre 170 a 720 metros, e uma declividade do terreno com predomínio de relevo
plano e suave ondulado, que se encontram em grande parte bem dissecados.
Portanto, as técnicas de geoprocessamento associado ao sensoriamento remoto consis-
tiram então ferramentas essenciais que permitiram entender as características geomorfológi-
cas, sendo, portanto, indispensáveis aos estudos ambientais, principalmente no que se refere
ao entendimento da paisagem como auxílio para o planejamento ambiental.
5 REFERÊNCIAS
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2003.
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197, mai./ago. 2016.
[ 869 ]
870 Ana Elisa de Lima Oliveira; Pedro Damasceno Monteiro da Silva; Pâmela Camila Assis; Maximiliano Bayer
was considered the themes: geology, soil, relief, and cover and use of the soil, according to the
methodology proposed by Crepani et al. (2001). The results show a balance between pedogenesis
and morphogenesis because most of the basin predominate moderately vulnerable areas, a fact
that is related to the great presence of igneous and metamorphic rocks, more flat relief, and deep/
developed soils. This gives more stability to the erosion process, despite the region being mostly
made of areas to pasture and agriculture. Furthermore, it is also possible to verify the feasibility of
applying the method for making maps of vulnerability and the importance of geotechnology to the
construction of the work.
Keywords: Hydrographic basin; Erosion; Rio Araguaia; Rio Claro; Vulnerability.
1 INTRODUÇÃO
A esculturação do modelo terrestre é fortemente influenciada pelas bacias hidrográficas
e suas redes de drenagem, uma vez que as direções dos fluxos superficiais da água definem os
mecanismos erosivo-deposicionais e são resultados da interação do tipo de solo, aspectos geo-
lógicos, relevo e cobertura vegetal (PINTO et al., 2014). Estes fatores, quando modificados
pelas atividades antrópicas, podem intensificar os processos hidrológicos, alterando a vazão
dos cursos d’água e/ou ampliando a quantidade de sedimentos a serem transportados
(MESQUITA; ASSIS; SOUZA, 2010).
Nas últimas décadas houve uma alteração significativa do volume de carga de sedimen-
tos transportados pelo sistema fluvial do rio Araguaia, o que acelerou a sedimentação em todo
o curso médio do rio, representando uma das maiores áreas de armazenagem de sedimentos
do Cerrado (BAYER, 2010). Este fato é resultado da degradação de suas bacias afluentes como,
por exemplo, a bacia hidrográfica do Rio Claro que, segundo Faria et al. (2012, p. 114) “encon-
tra-se altamente degradada, com predomínio de atividades antrópicas e fragmentos remanes-
centes dispersos”, o que acaba aumentando a ocorrência de processos erosivos, o assoreamento
de cursos d’água, a degradação do solo, a frequência de enchentes, além de afetar direta-
mente a fauna e a flora (PINTO et al., 2014).
Para Mota e Valladares (2011), o estudo da vulnerabilidade à erosão deve ser incorpo-
rado ao planejamento ambiental de uma bacia hidrográfica, para que seja possível detectar as
áreas mais suscetíveis à perda de solo, de forma a regular as atividades antrópicas sobre as
mesmas e minimizar os impactos sobre o meio ambiente. A vulnerabilidade pode ser natural
ou ambiental. A vulnerabilidade natural “corresponde ao grau de probabilidade que os atribu-
tos naturais têm em condicionar, induzir ou acelerar a ocorrência de um determinado perigo”
(ALMEIDA; BAYER; JÚNIOR, 2016, p. 84), enquanto a vulnerabilidade ambiental é a suscetibili-
dade de um ambiente a sofrer um impacto potencial provocado por atividades antrópicas
(TAGLIANI, 2003).
Simões et al. (1998, p. 4) salienta que “o conhecimento da vulnerabilidade natural é fun-
damental para prever o comportamento futuro dos sistemas naturais diante do processo de
ocupação e adensamento da atividade social”. Neste contexto, este trabalho buscou avaliar a
vulnerabilidade natural e ambiental à perda de solo da bacia hidrográfica do Rio Claro-GO,
através da análise integrada das variáveis declividade, solos, geologia e uso e cobertura do
solo, baseando-se na metodologia proposta por Crepani et al. (2001), a fim de apontar quais de
suas áreas são mais vulneráveis e fornecer subsídios para o planejamento ambiental nesta
bacia hidrográfica.
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O Rio Claro caracteriza-se por ser um dos mais importantes afluentes do Rio Araguaia –
que abrange amplas áreas do bioma Cerrado, além de ser considerado um dos sistemas fluviais
mais importantes do Brasil (BAYER, 2010). A bacia hidrográfica do Rio Claro (Figura 1) está loca-
lizada na porção oeste de Goiás. Esta bacia compreende os municípios de Montes Claros de
Goiás, Jussara, Diorama, Jaupaci, Fazenda Nova, Iporá, Israelândia, Amorinópolis, Ivolândia,
Mioporá, Corrégo do Ouro, Buriti de Goiás, Cachoeira de Goiás, Aurilândia, São João do Paraúna,
Firminópolis, São Luís dos Montes Belos, Sanclerlândia e Mossâmedes, drenando uma área de,
aproximadamente, 10.245,16 km2.
Val. de
Unidades Geológicas Classes
Vulnerabilidade
Unidade Quartzito-Conglomerática – Serra
Estável 1,0
Dourada
Suíte Intrusiva – Serra Negra Estável 1,1
Granitos Tipo Rio Piracanjuba Estável 1,1
Granitos Tipo Aragoiânia Estável 1,1
Ortognaisse do Oeste de Goiás Estável 1,3
Complexo Uvá Estável 1,3
Unidade Metavulcano-Sedimentar – Jaupaci Moderadamente Estável 1,5
Sequência Metavulcano-Sedimentar
Moderadamente Estável 1,7
Anicuns-Itaberaí
Sequência Metavulcano-Sedimentar
Medianamente Vulnerável 1,8
Iporá-Amorinópolis
Morro do Engenho Medianamente Vulnerável 1,8
Suíte Máfico-Ultramáfica Tipo Americano do Brasil Medianamente Vulnerável 1,8
Stocks e Diques Máfico-Ultramáficos Medianamente Vulnerável 1,8
Formação Furnas Moderadamente Vulnerável 2,4
Formação Ponta Grossa Moderadamente Vulnerável 2,4
Formação Aquidauana Moderadamente Vulnerável 2,4
Formação Vale do Rio Do Peixe Moderadamente Vulnerável 2,4
Areias Quartzosas Moderadamente Vulnerável 2,4
Aluviões Holocênicos Vulnerável 3,0
Terraços Holocênicos Vulnerável 3,0
Cobertura Detrito-Laterítica Neo-Pleistocênica Vulnerável 3,0
Cobertura Detrito-Laterítica Neogênica Vulnerável 3,0
Fonte: Crepani et al. (2001); Org.: Os autores (2021).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Primeiramente serão expostas a vulnerabilidade de cada variável – geologia, solos, decli-
vidade e uso e cobertura (Figura 2), para posteriormente serem apresentadas as avaliações de
vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do Rio Claro.
classes de agricultura, juntamente com a pastagem, são as que se apresentam em maior pro-
porção na área (74,26%), conferindo-lhe alto grau de vulnerabilidade. As áreas de pastagem
ocupam, majoritariamente, toda a área da bacia, sendo regiões que sofrem com o pisoteio do
gado e, quando estão posicionadas em relevo mais movimentado – como na porção central da
bacia, atuam como aceleradores dos processos erosivos.
Na relação declividade-erosão, entende-se que quanto maior a declividade, maior será a
velocidade de escoamento e o volume de sedimentos carreados e, portanto, maior será a ero-
são. A bacia hidrográfica do rio Claro apresenta, em sua maioria, relevos mais planos (até 3%)
e suavemente ondulados (3-8%), distribuídos por toda a extensão da bacia, principalmente nas
porções sul, leste e noroeste (em seu exutório), sendo estes relevos mais estáveis e represen-
tando cerca de 80% da área de estudo. Já as áreas classificadas como medianamente vulnerá-
veis a vulneráveis, representam cerca de 19,62% da bacia, e se localizam na porção centro-sul
da mesma, estando relacionadas com a ocorrência de Neossolos Litólicos e a Formação
Aquidauana (Figura 2).
Após a definição da vulnerabilidade de cada um dos elementos analisados anterior-
mente, as cartas de todos esses elementos foram compiladas. A carta síntese corresponde a
vulnerabilidade morfodinâmica natural à perda de solos da bacia do Rio Claro, que quando
considerado o elemento de uso e cobertura da terra, obtém-se a vulnerabilidade morfodinâ-
mica ambiental à perda de solos de acordo com o grau de proteção da terra (Figura 3).
Analisando a carta síntese é possível observar que a classe considerada medianamente
vulnerável predomina na área de estudo, porque apesar de a região ser composta, majoritaria-
mente, por áreas destinadas à pastagem e agricultura, havendo diversos fragmentos florestais,
nela também se fazem presentes muitas áreas com rochas resistentes ao intemperismo, em
sua maioria rochas metamórficas, associadas com as extensas áreas de relevos aplainados e a
presença de solos das classes dos Latossolos e Argissolos, o que confere maior estabilidade à
área de estudo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos de vulnerabilidade são essenciais para planejar e gerir o ambiente de forma
correta, considerando suas características e respeitando as limitações que ele apresenta. Desta
forma, a análise da vulnerabilidade natural e ambiental à erosão pode subsidiar o diagnóstico
ambiental, através do levantamento de informações sobre um determinado ambiente,
incluindo de suas possíveis fragilidades, o que permitirá a busca por possibilidades de minimi-
zar ou até de evitar um impacto.
Analisando cada um dos elementos considerados neste estudo foi possível perceber que
os fatores solo e relevo/declividade influenciam mais a vulnerabilidade natural da área do que
a variável geologia. Além disso, a análise da carta de vulnerabilidade morfodinâmica ambiental
à perda de solos da bacia do rio Claro mostrou que a classe considerada medianamente vulne-
rável predomina na área de estudo, havendo assim um equilíbrio entre a pedogênese e a mor-
fogênese. Apesar de a região ser composta, majoritariamente, por áreas destinadas à pastagem
e agricultura, havendo diversos fragmentos florestais, nela também se fazem presentes muitas
áreas com rochas resistentes ao intemperismo, em sua maioria rochas metamórficas,
associadas com as extensas áreas de relevos aplainados e a presença de solos das classes dos
Latossolos e Argissolos, o que confere maior estabilidade à área de estudo.
A análise de multicritério, que combinou as variáveis geologia, declividade, solo, e uso e
cobertura do solo, se mostrou eficiente no sentido de permitir elaborar o mapa síntese de vul-
nerabilidade ambiental, que posteriormente permitiu análises qualitativas e quantitativas da
tendência erosiva da bacia hidrográfica do Rio Claro, considerando aqui somente alguns aspec-
tos físicos. Além disso, também é importante ressaltar que todas as análises feitas através da
carta síntese de vulnerabilidade ambiental gerada, assim como a elaboração da mesma a partir
dos dados geograficamente referenciados, só foram possíveis graças ao uso de geotecnologias,
o que demonstra a eficiência e importância do geoprocessamento na área ambiental e no
estudo da paisagem como um todo.
5 REFERÊNCIAS
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Subsídio a Análise de Fragilidade Ambiental. Revista Mercator: Fortaleza-CE, v. 15, n. 4, p. 83-94, out./dez.,
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econômico. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 9, 1998, Santos. Anais... São José dos Campos:
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Graduação em Geografia. GOIÂNIA-GO, 2015, 163p.
PLANEJAMENTO E GESTÃO
DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
75.
A BACIA HIDROGRÁFICA COMO
INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E
GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Resumo: A água é um recurso vital para a humanidade, no entanto encontra-se cercada por uma crise
devido, principalmente, a ausência de planejamento e gestão voltados a sustentabilidade do recurso.
Portanto, está pesquisa objetiva realizar uma análise teórica da utilização da Bacia Hidrográfica como
instrumento de planejamento e gestão dos recursos hídricos, visando discorrer sobre sua relevância
para a utilização mais adequada e sustentável da água. Para concretização da pesquisa se utilizou do
procedimento técnico bibliográfico, realizando-se buscas em relevantes plataformas de pesquisa, com
o propósito de apresentar referências sobre a Bacia Hidrográfica como instrumento de planejamento
e gestão dos recursos hídricos. Definir os principais marcos regulatórios e a capacidade de suporte de
cada bacia hidrográfica, é tarefa fundamental para atingir as necessidades dos diversos usuários e a
capacidade de oferta e de renovação das fontes naturais. Bem como, a bacia hidrográfica deve ser uti-
lizada como unidade de planejamento e gestão juntamente a outros fatores que estejam diretamente
relacionados aos recursos hídricos, como uso do solo.
Palavras-chave: Água; Crise Hídrica; Política Nacional dos Recursos Hídricos; Sustentabilidade.
Abstract: Water is a vital resource for humanity, however it is surrounded by a crisis due mainly to
the lack of planning and management aimed at the sustainability of the resource. Therefore, this
research aims to perform a theoretical analysis of the use of the Hydrographic Basin as an instru-
ment for planning and management of water resources, aiming to discuss its relevance for the
most adequate and sustainable use of water. To carry out the research, we used the technical bib-
liographic procedure, performing searches on relevant research platforms, with the purpose of
presenting references on the Hydrographic Basin as an instrument for planning and management
of water resources. Defining the main regulatory frameworks and the support capacity of each
watershed is a fundamental task to meet the needs of the various users and the ability to offer and
[ 884 ]
A BACIA HIDROGRÁFICA COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 885
renew natural sources. As well as, the river basin should be used as a planning and management
unit along with other factors that are directly related to water resources, such as land use.
Keywords: Water; Water Crisis; National Water Resources Policy; Sustainability.
1 INTRODUÇÃO
A água é um recurso vital para tudo que existe na Terra. É um recurso natural renovável
advindo de um ciclo no qual se renova, porém, está sendo ameaçado devido ao grande cresci-
mento das populações e desenvolvimento insustentável. A poluição decorrente do processo
de urbanização e a falta de conscientização perante a este recurso prejudica o ciclo natural da
água e sua qualidade, pois os cursos d’água estão cada vez mais poluídos e difíceis de serem
revertidos (MÉSZAROS, 2002; ANJOS, 2019).
Vista como um bem natural comum e inalienável, a água, é dotada de valor econômico,
possui uma importância significativa como insumo produtivo na acumulação capitalista,
sendo considerada como valor de troca, como uma mercadoria, um recurso. A água, está no
foco do embate entre o modelo de produção capitalista, que implica no uso dos recursos e
a natureza apresentada como meio finito, que pode ser transacionada em um mercado alvo
de disputas em todo o planeta Terra (SANTOS, 2002; SANTOS; MORAES; ROSSI, 2013; FLORES;
MISOCZKY, 2015).
É dever do Estado garantir a disponibilidade de água a sua população, isso se constitui
como um direito humano, onde os usos dos recursos hídricos devem ter uma gestão e um con-
trole adequado para que seja acessível a todos. É nesse sentido que os reservatórios de água
são elementos essenciais para os seres vivos, principalmente, para os seres humanos. O Brasil
é um país muito abundante em água doce, porém, seus usos e distribuição nem sempre são
feitos corretamente para que todos possam ter acesso em quantidade e qualidade, (NOSCHANG;
SCHELEDER, 2018) resultando em uma crise hídrica.
Partindo desse pressuposto, atualmente a crise hídrica diz respeito a questão do acesso
a água e não a sua disponibilidade, portanto, não é suficiente falar sobre essa temática sem
exercer um plano de ação associado as políticas públicas para resolução desse problema
(BARROS, 2018). O Estado é o seu guardião universal, seu fiador perante toda a sociedade, seu
regulador natural (RIO; MOURA; SALES, 2004). A forma como a água é gerenciada também está
em crise, devido à falta de planejamentos sustentáveis que auxiliem na gestão hídrica, pois a
poluição e a degradação avançam e nem toda população tem acesso ao básico para sobreviver,
água potável e saneamento, como minimamente se espera (MORAIS; FADUL; CEQUEIRA, 2018).
A crise hídrica no mundo se faz presente de duas formas, uma que envolve a quan-
tidade suficiente de água doce, seja as superficiais contidas nas bacias hidrográficas,
ou as subterrâneas armazenadas nos aquíferos ou precipitadas na forma de chuva,
e a sua qualidade em relação aos desejáveis parâmetros físicos, químicos e bacterio-
lógicos, que permitam um potencial (oferta) disponibilidade hídrica para atenderem
as reais demandas atuais e futuras em relação às diferentes formas de uso, rural,
doméstico e industrial (BORDALO, 2017, p.17).
Por outro lado, a escassez hídrica que afeta diretamente as populações em algumas par-
tes do mundo está diretamente ligada ao clima árido ou semiárido que contribui para a falta
d’água nesses ambientes, devido à baixa precipitação anual e a má gestão dos reservatórios
relacionados a distribuição, acesso, dentre outros usos (REBOUÇAS, 1997). A centralização e
concentração de atividades industriais e o uso indiscriminado dos recursos naturais, somados
à ausência de políticas públicas ambientais direcionadas à apropriação dos recursos hídricos
contribuem significativamente para a ocorrência de grandes desequilíbrios ambientais, com
notórios prejuízos à sociedade e ao bem comum (RODRIGUES; LEAL, 2019).
Em termos práticos, ocorre uma dependência dos sistemas de gestão por parte de medi-
das que possam ser criadas e aplicadas de maneira a alcançar às expectativas e as necessida-
des das comunidades, dentro dos limites impostos pela capacidade natural das bacias
hidrográficas, na medida certa requerida para a garantia da sustentabilidade, no médio e a
longo prazo (PORTO; PORTO, 2008). Nesse ínterim, está pesquisa objetiva realizar uma análise
teórica da utilização da Bacia Hidrográfica como instrumento de planejamento e gestão dos
recursos hídricos, visando discorrer sobre sua relevância para a utilização mais adequada e sus-
tentável da água.
2 METODOLOGIA
Para a realização deste estudo, optou-se por uma pesquisa descritiva, com abordagem
qualitativa e de procedimento técnico bibliográfico. A pesquisa bibliográfica foi de suma impor-
tância, sendo usada como procedimento técnico, pois somente assim para alcançar o objetivo
proposto. Foram realizadas buscas em relevantes plataformas de pesquisa como a Plataforma
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, Scielo e Google
Scholar, buscando trazer referências sobre a Bacia Hidrográfica como instrumento de planeja-
mento e gestão dos recursos hídricos.
recursos hídricos são minimizados. Em complemento, Tundisi (2008, p.13) destaca que “[...] a
interação entre disponibilidade/demanda de recursos hídricos com a população da bacia hidro-
gráfica e a atividade econômica e social, considerando-se o ciclo hidrosocial, é também funda-
mental e de grande alcance para o futuro”, essencialmente no Brasil em que há disparidades
de disponibilidade de água entre as regiões e problemas de saúde relacionadas a carência de
saneamento básico (TUNDISI, 2008).
Dentro deste contexto, é importante enfatizar o aparato legal para os recursos hídricos,
no Brasil, um de seus principais instrumentos é a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
Lei N°. 9433/97. Na referida Lei é citada a elaboração de Planos de Recursos Hídricos, definidos
como planos diretores que dão embasamento a implementação a esta política e seu gerencia-
mento. Essa elaboração pode ser feita por bacia hidrográfica, estado ou país (BRASIL, 1997).
Os planos de bacia hidrográfica possuem representantes em escalas municipais, federais,
união e usuários da bacia e estão presentes dentro dos Planos de Recursos Hídricos (BRASIL,
1997). Isso fortalece a ideia de que, a bacia hidrográfica é a mais adequada unidade de medida
para chegar ao êxito do seu gerenciamento, planejamento e de custo-benefício. Bem como, é
importante enfatizar a participação dos usuários nos planos de bacia hidrográfica, visto que
poderá “[...] melhorar e aprofundar a sustentabilidade da oferta e demanda e a segurança cole-
tiva da população em relação à disponibilidade e vulnerabilidade (TUNDISI, 2008, p.10, Grifo
do autor).
No Brasil, Pizella (2015) enfatiza que a planificação dos recursos hídricos se dá em âmbito
federal através do Ministério do Meio Ambiente (MMA), além das secretarias estaduais de
recursos hídricos em âmbito estadual e, por fim, em relação ao recorte geográfico das bacias
hidrográficas, pelos Comitês de Bacias Hidrográficas. Estes, conforme o autor:
São órgãos colegiados, com estrutura tripartite (onde participam representantes do
poder público, dos usuários dos recursos hídricos e da sociedade civil organizada)
que tomam decisões a respeito de atividades e políticas públicas que interfiram na
qualidade e quantidade das águas em seu espaço geográfico (PIZELLA, 2015, p. 637).
Assim sendo, segundo Carvalho (2020), para atingir o sucesso na aplicação, a utilização
dos recursos hídricos e as intervenções nos cursos d’água necessita serem efetuadas visando a
sustentabilidade, a fim de promover a gestão de recursos hídricos baseada em um conjunto de
ações destinadas a regular o uso, assim como o controle e a proteção desses recursos, por
meio da legislação e nas normas pertinentes.
seus paralelos, ou seja, afluentes, que possuem formações de relevo mais altas, geralmente,
onde estão suas nascentes. Essas altitudes possibilitam o escoamento das águas superficiais,
que auxiliam na formação dos rios, ou até mesmo, para infiltração que contribui para formação
de nascentes e abastecimento do lençol freático.
Em complemento, Carvalho (2020) vem tratando sobre a delimitação deste território a
partir de divisores de águas, as quais permitem realizar análises de forma sistêmica, elementos,
fatores e relações ambientais, sociais e econômicas a partir de demandas e ofertas existentes
em sua área, mas também externamente. São sistemas abertos, que recebem e perdem ener-
gia por meio de processos ambientais, podendo ser consideradas como variáveis interdepen-
dentes e por mais que ocorra um processo de oscilação fora dos padrões, estão em constante
equilíbrio (LIMA; ZAKIA, 2000).
A bacia hidrográfica é considerada, por Carvalho (2020), como a melhor unidade territo-
rial para o planejamento e a gestão ambiental, uma vez que se trata de um sistema cujas ações
antrópicas e naturais ocorrem em seu espaço e refletem diretamente na qualidade e quanti-
dade da malha hídrica que nela se faz presente. Nela podem ocorrer diversos usos e ocupação
do solo, como atividades de lazer, navegação, energia, uso doméstico, moradia e outras. Por
esse lado, a disponibilidade da água, enquanto recurso, torna favorável a ocupação da bacia
hidrográfica praticamente por toda a extensão territorial, fato que em geral, se define por
taxas de densidade elevada (ALBUQUERQUE, 2012).
Todavia, esses usos e ocupações são distribuídos espacialmente e os impactos relaciona-
dos aos recursos naturais evoluem com o passar do tempo, eventualmente tem-se notado em
alguns estudos que, o uso da terra e a qualidade da água, tem uma relação direta com as
influências que existem as margens da bacia. Um dos principais processos na gestão dos recur-
sos hídricos é conhecer os impactos sobre os diferentes usos da terra nessa área da bacia
hidrográfica. Entender esses aspectos pode contribuir significativamente para melhorar a ges-
tão e proteger os recursos hídricos (HARKOT, 2019; MANOEL; AMERICO; CARVALHO, 2014).
A exemplo desses impactos, no sentido negativo, em Carvalho (2020) são citados como
efeitos indiretos, oriundos das ações antrópica por meio do acelerado processo de urbaniza-
ção, mudanças na capacidade do canal e nos processos fluviais, que acabam refletindo nos pro-
cessos de erosão, transporte e deposição, levando ao aumento do pico de descarga e ao
assoreamento, pois ocorre tanto o aumento de material sedimentar disponível, como também
a adição do lixo urbano, que acabam contribuindo para a majoração da recorrência de eventos
de enchentes, sendo esse um dos muitos exemplos de impactos que podem ocorrer.
Oliveira, Lima e Sousa (2016) discorrem que no estado do Ceará-CE é frequentemente a
contaminação dos recursos hídricos pelo desmatamento, impermeabilização do solo, aterra-
mento de áreas baixas ou alagadas e esgotamento a céu aberto. Além desse exemplo, Carvalho
(2020) cita os casos de instalação de barragens em cursos d’água para geração de energia e, em
seguida distribuídos para áreas externas à bacia hidrográfica de origem. Nesse tipo de obra, é
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preservação dos corpos hídricos e a garantia de acesso a quantidade e qualidade desses,
necessita que o planejamento e a gestão, em cenário nacional e local, sejam eficientes, haja de
maneira inter-regional e intertemporal da água. Por isso, definir os principais marcos regulatórios
e a capacidade de suporte de cada bacia, é tarefa fundamental para atingir as necessidades dos
diversos usuários e a capacidade de oferta e de renovação das fontes naturais.
A bacia hidrográfica é um importante instrumento para realizar-se-á um planejamento dos
recursos hídricos, independente do lugar que esteja inserida, porém é importante agregar a
outros sistemas no qual estão interligados. A literatura evidencia que a má gestão ou falta de
investimento nesse setor pode gerar problemas de escassez de recursos, principalmente, em
lugares onde o clima influencia para a falta d’água e a gestão juntamente com as políticas públi-
cas devem encontrar meios para dá suporte a quem depende do recurso hídrico atingido.
Frente a esses problemas, cresce a preocupação com as mudanças climáticas, em que os
recursos hídricos não estão isentos de seus efeitos. Extremos climáticos passarão a ser mais
intensos e frequentes, como as inundações e secas, gerando consequências na oferta e
demanda da água, reforçando também a necessidade do planejamento e gestão da água ade-
quados, em nível de bacia hidrográfica, bem como sustentável.
Não somente a bacia hidrográfica deve ser utilizada como unidade de planejamento e
gestão, têm quer ser inseridos outros fatores que estão diretamente relacionados aos recursos
hídricos, como uso do solo. Os estudos mostram que essa junção – recursos hídricos, solo e
interferências socioambientais – devem estar unidos, tendo em vista que a quebra de qualquer
um deles causam desequilíbrio e impactos, as vezes não reversíveis.
Por fim, destacam-se os Comitês de Bacias Hidrográficas, os quais devem assumir esse
papel fundamental, descentralizando o poder. Essa gestão participativa agrega valor econô-
mico, social e ambiental para o espaço em que se encontra inserido. Promovendo assim, inclu-
são, integração e, colaboração de atores sociais envolvidos na problemática em questão.
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Resumo: Os aterros destinados a disposição final de resíduos sólidos caracterizam-se como locais
de grande importância na manutenção das condições sanitárias adequadas dos municípios, para a
minimização de impactos ambientais e riscos associados à saúde das populações. Porém, quando
utilizados de maneira incorreta podem contribuir no agravo dos impactos ambientais e nas condi-
ções sanitárias. Dessa forma, o presente trabalho trata da questão dos aterros utilizados para dis-
posição final de resíduos sólidos urbanos nos munícipios da Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos -UGRHI 22, Pontal do Paranapanema, oeste do estado de São Paulo, a partir da
análise da evolução das notas obtidas no Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos (IQR), da CETESB,
nos anos de 2012 e 2020. Foram consideradas as notas individuais recebidas por cada município
para o levantamento da situação e a sua evolução no enquadramento do índice utilizado. Foram
ainda, consideradas as informações de vida útil de operação dos aterros para o detalhamento das
condições desses locais. A partir do estudo, observou-se que no período ocorreram melhorias nas
condições dos aterros para disposição de resíduos sólidos dos municípios da UGRHI 22 no desenvol-
vimento do gerenciamento dos resíduos sólidos. Porém, melhorias ainda precisam ser alcançadas.
A compreensão dessas informações é importante na perspectiva de avaliação da situação dos
locais utilizados para a disposição final de resíduos e na tomada de decisões e ações a serem rea-
lizadas por cada município de forma a minimizar impactos ambientais ocasionados pela disposição
dos resíduos urbanos, sobretudo no solo e nos recursos hídricos.
Palavras-chave: Aterros; Resíduos Sólidos Urbanos; Impacto ambiental.
1 INTRODUÇÃO
A agenda 2030, estabelecida pelos 193 Estados-membros da ONU caracteriza-se como
um compromisso global com medidas para a promoção do desenvolvimento sustentável. Esse
plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, e 169 metas que visam
[ 894 ]
A SITUAÇÃO DOS ATERROS DE RSU EM MUNICÍPIOS DA UGRHI 22 – PONTAL DO PARANAPANEMA-SP 895
assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, tornar as cidades e os assen-
tamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, reduzir substancialmente a
geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso, reduzir a degradação
de habitats naturais e recursos hídricos, entre outros.
Dessa forma, os locais destinados para a disposição final de rejeitos, os aterros, visam
serem locais onde os rejeitos possam ser distribuídos ordenadamente de forma a evitar danos
ou riscos à saúde e minimizar impactos ambientais adversos colaborando assim com a concre-
tização dos objetivos e metas estabelecidos pela Agenda 2030. Em contrapartida, se esses
locais não possuírem características para que a disposição final de rejeitos seja realizada de
maneira adequada, irão gerar efeitos adversos como a degradação do solo, contaminação de
rios e lençóis freáticos, poluição atmosférica e ambientes propícios a proliferação de vetores
causadores de doenças.
Assim, como legado para gerações futuras faz-se necessário a promoção de políticas
públicas que sejam consistentes, participativas e exequíveis de modo a alcançar o atendimento
dos objetivos da Agenda 2030 por meio da melhoria da qualidade ambiental nas cidades resul-
tado no avanço da qualidade de vida das pessoas.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010 e regu-
lamentada pelo Decreto nº 7.404/2010, é responsável por estabelecer as diretrizes, responsa-
bilidades, princípios e objetivos que norteiam os diferentes participantes na implementação da
gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, sendo este um dos grandes desafios à gestão
ambiental urbana nos municípios brasileiros (BRASIL, 2010). O tema possui grande complexi-
dade, apresentando interconectividade com diversas outras áreas, tais como processos de pro-
dução e consumo, comportamentos e hábitos da sociedade e se insere no amplo contexto do
saneamento básico e recursos hídricos (MMA, 2020).
A disposição final é uma das alternativas de destinação final ambientalmente adequada
previstas na PNRS, desde que observadas as normas operacionais específicas de modo a evitar
danos ou riscos à saúde pública e à segurança minimizando os impactos ambientais adversos
(ABRELPE, 2020). Entretanto, vale ressaltar que a opção de disposição final ambientalmente
adequada, nos termos da PNRS, cabe apenas aos rejeitos, isto é, para os resíduos sólidos que,
depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação, não apresentem
outra possibilidade que não a disposição em aterro sanitário (BRASIL, 2020). Entretanto, no
Brasil, a maior parte dos RSU coletados segue para disposição em aterros sanitários, sendo
também preciso considerar a quantidade de resíduos que segue para unidades inadequadas
(lixões e aterros controlados) (ABRELPE, 2020). O lixão é a forma inadequada de dispor os resí-
duos sólidos urbanos sobre o solo, sem nenhuma impermeabilização, sem sistema de drena-
gem de lixiviados e de gases e sem cobertura diária do lixo, causando impactos à saúde pública
e ao meio ambiente, sendo comum encontrar nesses locais vetores de doenças e outros ani-
mais e a presença de pessoas, trabalhando como catadores, em condições precárias e insalu-
bres (VAN ELK, 2007).
2 METODOLOGIA
Parte da pesquisa consistiu em uma pesquisa documental com levantamento de dados
secundários. A pesquisa documental é definida como o método que utiliza materiais que não
foram tratados analiticamente ou que podem ser reelaborados conforme os objetivos da pes-
quisa. Esta metodologia é embasada na exploração de documentos diversificados e dispersos,
dentre os quais: os arquivos de órgãos públicos e privados, cartas pessoais, diários, fotografias,
ofícios, boletins, entre outros (GIL, 1991).
A CETESB apresenta, anualmente, desde 1997, informações acerca das condições ambien-
tais e sanitárias de áreas utilizadas como locais de destinação final de resíduos sólidos urbanos
nos municípios do estado de São Paulo. Nos relatórios emitidos pelo órgão são levantadas
informações das instalações de aterros em operação no estado de São Paulo, periodicamente
inspecionadas pelos técnicos da CETESB. As informações de cada local são processadas por
meio da aplicação de um questionário padronizado, subdividido quanto às características loca-
cionais, estruturais e operacionais e são expressas por meio de pontuações, que variam de 0 a
10. Os dados apurados são expressos por meio do Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos
– IQR, do Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos em Valas – IQR-Valas, do Índice de
Qualidade de Estações de Transbordo – IQT e do Índice de Qualidade de Usinas de Compostagem
– IQC, classificados em duas faixas de enquadramento: inadequada e adequada (CETESB, 2020).
O presente estudo avaliou os dados do IQR/IQR-Valas (Nova Proposta) para cada um dos
21 municípios da UGRHI 22, nos anos de 2012 (ano que passou a vigorar a nova categoria de
enquadramento do IQR) e 2020. A partir do ano de 2012 o enquadramento (IQR – Nova
Proposta) passou a ser expresso como: 0,0 a 7,0 – Condições Inadequadas (I); 7,1 a 10,0 –
Condições Adequadas (A), sendo que anteriormente a esse período era expresso como: 0,0 a
6,0 – Condições Inadequadas (I); 6,1 a 8,0 – Condições Controladas (C) e; 8,1 a 10,0 – Condições
Adequadas. Foram também levantados os dados acerca do tempo de vida útil de operação dos
aterros obtidos das planilhas de avaliação do IQR/IQR-Valas (Nova Proposta) para os anos de
2012 e 2020.
Os dados obtidos foram então representados por meio de mapas temáticos utilizando-se
softwares de geoprocessamento para a visualização e comparação da situação de cada muni-
cípio em relação ao enquadramento do IQR/IQR-Valas (Nova Proposta), e tempo de vida útil
dos aterros. Tais informações são importantes na perspectiva de avaliação da situação dos
locais utilizados para a disposição final de resíduos na tomada de decisões e ações a serem rea-
lizadas por cada município de forma a minimizar impactos ambientais, sobretudo no solo e nos
recursos hídricos, ocasionados pela disposição dos resíduos urbanos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As informações do enquadramento do Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos – IQR
nos municípios da UGRHI 22 para os anos de 2012 e 2020 podem ser observadas na Figura 2 –
Observa-se que no ano de 2020 houve uma diminuição na quantidade de municípios que tive-
ram seus aterros de resíduos enquadrados na condição inadequada. Esse número passou de 7
aterros no ano de 2012 (Mirante do Paranapanema, Pirapozinho, Presidente Epitácio, Presidente
Prudente, Presidente Venceslau, Sandovalina e Taciba), quando passou a vigorar a nova catego-
ria de enquadramento do IQR, para 4 aterros no ano de 2020 (Caiuá, Presidente Venceslau,
Regente Feijó e Rosana). A evolução na categoria de enquadramento de inadequada para ade-
quada ou de adequada para inadequada reflete na adequação ou não dos aspectos locacionais,
estruturais e operacionais que são apuradas por meio do índice IQR dos aterros sanitários.
Observa-se ainda, que dos municípios que tiveram aterro enquadrado como inadequado
no índice IQR em 2012 o aterro do município de Presidente Venceslau foi o único que se
manteve nessa categoria de enquadramento no ano de 2020. Ainda, os aterros dos municípios
de Caiuá, Regente Feijó e Rosana haviam recebido enquadramento adequado no ano de 2012
e no ano de 2020 foram enquadrados como inadequado.
Adaptado de: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo-CETESB. Elaboração: Richardison Rufino de Castilho (2021).
Figura 3. Vida Útil de Aterros de Resíduos Urbanos em 2012 e 2020 nos municípios da UGRHI 22
Adaptado de: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo-CETESB. Elaboração: Richardison Rufino de Castilho.
transbordo para o acondicionamento desses materiais após a coleta e antes do transporte para
o local de disposição, disponibilidade de frota para o transporte, custos de deslocamento da
frota, entre outros.
Também se faz necessária a adoção de políticas públicas que objetivem a melhoria de ater-
ros em operação ou em fase de esgotamento da vida útil, sobretudo daqueles que utilizam o sis-
tema de valas somente com recobrimento dos resíduos, adotando sistemas para a redução dos
impactos ambientais que esses locais causam, sobretudo no solo e nos recursos hídricos. Ainda,
há de se considerar as políticas e ações de educação ambiental que visam a promoção da cons-
cientização acerca da temática dos resíduos sólidos em aproximação da sociedade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do IQR para avaliação das condições sanitárias e ambientais dos aterros repre-
senta um importante instrumento para a definição do planejamento de ações e políticas públicas
na diminuição dos impactos ambientais causados por esses locais, sobretudo no solo e nos recur-
sos hídricos, e consequentemente para a melhoria da qualidade de vida da população.
A evolução e o acompanhamento do IQR possibilitaram mensurar o resultado das ações
de controle de poluição ambiental desenvolvidas na UGRHI 22, bem como a eficácia dos pro-
gramas alinhados com as políticas públicas estabelecidas para o setor, possibilitando o aperfei-
çoamento dos mecanismos de gestão ambiental.
A partir das análises realizadas constatou-se que o número de municípios, que dispõe seus
resíduos urbanos de forma adequada aumentou no decorrer do período analisado, sendo que
em 20012 o total de municípios que dispunha seus resíduos em locais enquadrados como inade-
quados era de 7 municípios, passando para 4 no ano de 2020 além do aumento de aterros com
vida útil de operação superior a cinco anos. É possível perceber que nesse contexto a administra-
ção municipal possui importante papel na manutenção e promoção de maiores melhorias da
condição dos locais utilizados na destinação final de resíduos sólidos nos municípios.
O acompanhamento ressalta a necessidade de intensificação na busca de soluções que
se apresentem mais eficazes e modernas na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos. É
preciso buscar a implantação de novas tecnologias para o tratamento de resíduos e diminuição
dos impactos ambientais desses locais, e a implantação de soluções regionalizadas. Deve,
ainda, ser consideradas as ações presentes tanto no Plano Estadual de Resíduos Sólidos do
Estado de São Paulo quanto no Plano Nacional de Resíduos Sólidos que são voltadas a minimi-
zação, redução, reciclagem e tratamento de resíduos e proteção do meio ambiente, do solo e
dos recursos hídricos.
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indicadores/web/residuos_solidos/mapa-indicadores>. Acesso em: 21 de out. 2021
Resumo: O uso do solo a partir da agricultura e pecuária, por exemplo, se torna um significativo
comprometedor da qualidade da água, dependendo da intensidade de seu deflúvio superficial.
Dessa forma é importante identificar se os usos estão comprometendo de alguma forma o balanço
hídrico das bacias hidrográficas. Para isso buscou-se neste trabalho detectar as condições de uso
e ocupação do solo na região do Município de Cristalina e consequentemente nas bacias do Rio
São Marcos e São Bartolomeu, associando à dados de vazão e precipitação hídrica. O município de
Cristalina está localizado abaixo do Distrito Federal e tem em sua área sete bacias hidrográficas e
dois principais rios que são o Rio São Bartolomeu e Rio São Marcos. Na elaboração do presente
estudo se fez necessário realizar levantamento bibliográfico preliminar objetivando reunir infor-
mações pertinentes à área de estudo. Toda a base de dados vetoriais e matriciais foi trabalhada no
datum SIRGAS 2000 com projeção UTM zona 23 Sul. Por meio dos mapas de uso e cobertura do
solo de 1986, 1996, 2006, 2016 e 2020, foi constatado que houve expansão das áreas relativas à
agricultura, representando para o ano de 2020 aproximadamente 72% do território municipal.
Apesar de neste trabalho não ter constatado uma relação direta entre o uso e ocupação do solo
relacionados aos dados hídricos de vazão e precipitação, ressalta-se o valor de terem estudos que
busquem identificar as modificações da disponibilidade hídrica e toda a dinâmica das bacias
hidrográficas.
Palavras-chave: Uso do Solo, Bacia Hidrográfica e Recurso Hídrico.
Abstract: The use of land from agriculture and livestock, for example, becomes a significant com-
promiser of water quality, depending on the intensity of its surface runoff. Thus, it is important to
identify whether the uses are in any way compromising the water balance of the hydrographic
basins. For this purpose, this work sought to detect the conditions of land use and occupation in
the region of the Municipality of Cristalina and consequently in the basins of the São Marcos and
São Bartolomeu Rivers, associating the flow and water precipitation data. The municipality of
Cristalina is located below the Federal District and has in its area seven hydrographic basins and
[ 904 ]
ANÁLISE DE DADOS HÍDRICOS E CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 905
two main rivers which are the Rio São Bartolomeu and Rio São Marcos. In preparing this study, it
was necessary to carry out a preliminary bibliographic survey aiming to gather information rele-
vant to the study area. The entire vector and matrix database was worked on in the SIRGAS 2000
datum with a UTM zone 23 South projection. Through the land use and coverage maps of 1986,
1992, 2006 and 2016, 2020, it was found that there was an expansion of the relative areas to agri-
culture, representing for the year 2020 approximately 72% of the municipal territory. Although
this work did not find a direct relationship between land use and occupation related to water flow
and precipitation data, the value of having studies that seek to identify changes in water availabil-
ity and the entire dynamics of watersheds is highlighted.
Keywords: Land Use, Hydrographic Basin and Water Resource.
1 INTRODUÇÃO
Uma bacia hidrológica pode ser pensada como um sistema físico em que a entrada é a
quantidade de água depositada e a saída é a quantidade de água descarregada da bacia hidro-
lógica. De uma forma geral, fornece uma unidade física claramente definida para pesquisas
hidrológicas, com apenas uma forma de entrada (input), a saber, precipitação, e a saída é dada
pelo escoamento na saída da bacia, levando em consideração as perdas causadas pela evapo-
transpiração. Em uma escala macro, como grandes bacias hidrológicas, padrões de escoa-
mento, intensidade e sazonalidade podem ser controlados principalmente por influências
climáticas. Este padrão geral reflete a precipitação atmosférica e os padrões gerais de circula-
ção. No entanto, vários aspectos do ambiente físico e da cobertura da terra influenciam uns
aos outros para determinar os padrões naturais sazonais e espaciais das mudanças de escoa-
mento (PETTS & FOSTER, 1990).
Segundo Rocha e Santos (2018), o uso dos recursos hídricos permitiu que as sociedades
se desenvolvessem de diversas formas, seja através do abastecimento de alimentos ou por
meio da exportação de seu excedente pelas vias hídricas de transporte. O uso d’água para ati-
vidades antrópicas é uma história bastante antiga sendo uma consequência de um pensa-
mento de que o recurso é ilimitado.
Dessa forma o uso indiscriminado e inadequado d’água para seus diversos fins tem oca-
sionado sérios problemas ambientais e à saúde da população. A falta de planejamento em
infraestrutura de tratamento de esgotos, onde esses são dispensados diretamente em rios, ou
a privatização de cursos d’água sem nenhuma licença para o seu uso, se apresentam como
alguns dos vários problemas relacionados a diminuição da qualidade d’água e do potencial
hídrico natural das bacias hidrográficas, respectivamente (SILVA JUNIOR et al. 2003).
De acordo com Tundisi (1999), “As mudanças na quantidade, distribuição e qualidade dos
recursos hídricos ameaçam a sobrevivência do homem e de outras espécies na Terra. O desen-
volvimento econômico e social de vários países está baseado na disponibilidade e capacidade
de alta – Água de qualidade. Sua preservação e proteção. “
Dessa forma como as bacias hidrográficas se comportam como um meio natural de cap-
tação e distribuição d’água se torna fundamental o seu manejo adequado. Conforme Porto e
Porto (2008), ocorrem em uma bacia hidrográfica vários processos como a urbanização e indus-
trialização. As consequências desses se tornam inerentes ao território no qual estão
inseridos.
A partir disso vê-se que é necessário que haja um equilíbrio entre os diversos usos que
podem conter em uma região hidrográfica, medindo seus impactos ao meio ambiente. O uso
do solo a partir da agricultura e pecuária, por exemplo, se torna um significativo compromete-
dor da qualidade da água, dependendo da intensidade de seu deflúvio superficial.
Geralmente os maiores impactos estão associados com a relação infiltração–escoa-
mento, em função de interferências na armazenagem da vegetação, do solo e nos fluxos flu-
viais (ROCHA & ANDRADE, 2012). A perda de cobertura arbórea, em curto prazo, reduz a perda
de água do solo por transpiração, pois as raízes profundas das árvores são arrancadas, assim
como provoca maior escoamento das águas na superfície do terreno, visto que a antiga vege-
tação e a manta amortecedora de folhas caídas foram substituídas pela terra nua ou por cultu-
ras com menor potencial de armazenagem. Assim, o mais provável é o aumento do fluxo direto
da água para os rios (DREW, 1994).
O conhecimento das condições hidrológicas dos rios constitui a informação básica para a
tomada de decisões nas mais diversas áreas do conhecimento, principalmente para estudiosos
interessados no planejamento ambiental e na utilização dos recursos hídricos da bacia. Porém,
a dificuldade de obtenção desse conhecimento geralmente se deve à escassez de informações.
A falta de dados em toda a área de estudo e a necessidade de entendê-los muitas vezes impe-
dem a realização de planos compatíveis com as necessidades da área de interesse (ROCHA e
SANTOS, 2018).
Dessa forma é importante identificar se os usos estão comprometendo de alguma forma
o balanço hídrico das bacias hidrográficas. Para isso buscou-se neste trabalho detectar as con-
dições de uso e ocupação do solo na região do Município de Cristalina e consequentemente
nas bacias do Rio São Marcos e São Bartolomeu, associando à dados de vazão e precipitação
hídrica.
O município de Cristalina está localizado nos arredores e logo abaixo do Distrito Federal
e tendo em sua área sete bacias hidrográficas e dois principais rios, que são o Rio São Bartolomeu
e Rio São Marcos (Figura 1). Segundo Aquino (2012), a região formanda por essas localidades
tem o “título” de maior área agrícola irrigada da América Latina.
No que diz respeito as duas bacias hidrográficas de análise, ocorre o predomínio das
características de ocupação agrícola e apesar dos problemas de conflito que ocorrerem em
função da irrigação, do ponto de vista ambiental, a bacia é considerada preservada na porção
que pertence à área da bacia do Paranaíba (SILVA, 2015), discordantemente das outras áreas
de suas extensões.
2 METODOLOGIA
Na elaboração do presente estudo se fez necessário a realização de duas etapas. A pri-
meira pela realização de um levantamento bibliográfico acerca do objeto de estudo, bem como
informações sobre a área estudada e suas bacias contribuintes. A segunda etapa consiste em
dados geográficos e digitais, onde toda a base consistiu em dados vetoriais, e foi trabalhada no
DATUM SIRGAS 2000 com projeção UTM zona 23 Sul. Esse sistema de referência geodésico é
tido como oficial para o território brasileiro, desde fevereiro de 2005. Os dados vetoriais, res-
ponsáveis pelos produtos de localização e identificação das bacias hidrográficas utilizados
nesse estudo foram obtidos pelo banco de dados do Macrozoneamento Agroecológico e
Econômico do Estado de Goiás (MacroZAEE), com escala 1:100.000, disponível também para
download na plataforma do SIEG.
Também foram adquiridos dados de uso e cobertura referentes aos anos de 1986, 1996,
2006, 2016 e 2020 do MapBiomas (2021). Estes dados foram manipulados e tratados com o
auxílio do software de geoprocessamento ArcGis 10.7/ESRI, o qual possibilitou o recorte exclu-
sivo do uso e da cobertura para o município de Cristalina, bem como a classificação das classes
existentes para a localidade. Por meio destes dados, buscou-se comparar as mudanças de uso
e cobertura ao longo dos anos com dados hídricos adquiridos (precipitação e vazão) pela pla-
taforma da Agência Nacional de Águas (ANA).
Os dados hídricos foram adquiridos através da plataforma de dados digitais da ANA, e
foram selecionados especificamente as informações referentes aos rios São Marcos e São
Bartolomeu, iniciando no final da década de 1960 e indo até 2006. Os dados tabulares disponí-
veis pela plataforma Hidroweb desta agência, foram trabalhados de acordo com a média anual
de cada evento analisado (precipitação e vazão) utilizando o programa de planilhas eletrônicas
Excel, responsável pela geração de tabelas e compilação das informações numéricas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Meio Físico
O município de Cristalina possui área de 6.161,00 km², e em seu território inserem-se no
total sete (7) bacias hidrográficas, sendo elas: BH do Rib. Castelhano, BH do Rib. Das Lages, BH
do Rib. Samambaia, BH do Rio São Bartolomeu, BH do Rio Samambaia, BH do Rio Piracanjuba
e BH do Rio Preto. Com exceção das BH do Rio São Bartolomeu, Rio Preto e Rio Piracanjuba,
todas as bacias restantes fazem parte da bacia do Rio São Marcos.
Observando a declividade do município de Cristalina percebe-se o predomínio de decli-
vidades entre 3 e 8%, representando aproximadamente 50% do território municipal. Esta
característica por sua vez torna o terreno do município propício ao desenvolvimento de ativi-
dades ligadas à agricultura, sendo este uma das razões para o potencial do município nesta ati-
vidade (CESSA et al, 2020). Esse dado é corroborado também a partir do estudo realizado por
Cessa et al. (2020), em que foram mapeados para o município de Cristalina um total de 204
pivôs centrais instalados.
A avaliação hipsométrica aponta que no município há predomínio de altitudes situadas
no intervalo de 859 – 939 metros, com aproximadamente 45% do território municipal. As áreas
mais elevadas, com altitude superior a 1000 metros, são recorrentes nas porções centrais do
município, onde se encontra instalada sua área urbana. Também pode ser que a partir destas
áreas mais elevadas derivam várias nascentes que abastecem diferentes bacias hidrográficas
da região (CESSA et al, 2020).
Os dados de precipitação tiveram pouca mudança significativa, onde o valor mais alto no
período de 1978 a 2006 foi de aproximadamente 200 mm que ocorreu no ano de 1983, e
menor precipitação no ano de 1990. Os dados analisados no período de 10 anos que apresen-
tam uma maior vazão sãoobservados nos anos de 1990-2000 e dados de precipitação se mos-
tra maior nos anos de 2000-2006.
Para o Rio São Bartolomeu, os dados obtidos numa sequência anual de 1968 a 2011 apon-
tam que os picos de maior vazão do rio aconteceram nos anos de: 1979, 1982, 1983, 1992 e 2005.
É importante ressaltar uma diminuição da vazão a partir do ano de 1999, o qual diferen-
temente ao ano de 1970 os anos posteriores a 1999 não tiverem um aumento considerável na
sua vazão. No período analisado o ano com maior vazão registrada foi de 1983 onde alcançou
em média 230 m³/s. Já os dados de precipitação do Rio São Bartolomeu se mantiveram em
níveis próximos de quantidade de chuva, onde apenas em 1999 a precipitação caiu para menos
de 50 mm. Este dado também pode se comparar com a vazão apresentada acima, aonde che-
gou à média de 40 m³/s nesse mesmo ano.
Analisando dados em um intervalo de 10 anos nos dados trabalhados, o período com
melhor resultado foi entre os anos de 1980 e 1990 com médias de 117 mm de precipitação e
122 m³/s de vazão. Durante os períodos subsequentes este valor caiu chegando em 2010 com
média de 104 mm de precipitação e 91 m³/s de vazão.
3.3 Análise Conjunta dos dados hídricos com informações de uso e cobertura
do solo
Segundo Cessa et al. (2020), o referido município de Cristalina tem 63% da sua área clas-
sificada segundo os autores como “produtoras”, isso levando em consideração a altitude e
declividade médias de 950 m e 5,78%, respectivamente. Os autores classificaram o município
em duas classes de ocupação do solo: complexos vegetativos, que incluem as florestas natu-
rais, plantadas e/ou vegetação ciliar; e áreas produtoras, que incluem qualquer tipo de ativi-
dade agrícola e/ou pecuária.
Por meio dos mapas de uso e cobertura do solo elaborados com os dados do Mapbiomas
(Coleção 6), dos anos de 1986, 1992, 2006 e 2016, 2020 (Figura 4), foi constatado que houve
expansão muito significativa das áreas relativas à agricultura, representando para o ano de
2020 aproximadamente 72% do território municipal.
Figura 4 – Mapas de uso e cobertura do solo do município de cristalina no período de 1986 a 2020
%
Classe 1986 1996 2006 2016 2020
Vegetação 0,68 0,37 0,23 0,20 0,19
Pastagem 0,15 0,24 0,13 0,10 0,09
Agricultura 0,17 0,39 0,64 0,70 0,72
Outras coberturas naturais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
corpos hídricos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Outros usos antrópicos 0,04 0,08 0,08 0,03 0,01
Fonte: Adaptado pelos autores – 2021.
Os dados também apontam uma redução superior a 50% das áreas consideradas como
vegetação nativa no espaço temporal analisado. Esta substituição do uso e cobertura vista
pelos dados pode indicar a ocorrência de problemas ambientais no município como a acelera-
ção de processos erosivos, assoreamento dos cursos de água, demanda excessiva por água,
dentre outros problemas (Figura 5).
Martins (2017) diz que, muitos municípios goianos em especial o de Cristalina têm serís-
simos problemas hídricos em suas bacias e sub-bacias hidrográficas, tais decorrentes da ele-
vada demanda de água para fins agropecuários, utilizados principalmente para a irrigação,
sendo esse comprometimento hídrico dado pela relação desiquilibrada entre a disponibilidade
hídrica e a demanda. O mesmo autor ainda reforça a preocupação com o avanço recorrente e
acelerado das conversões de vegetação e mal uso das terras, assim destacando também que a
prática agrícola também será prejudicada em algum momento, pois com o aumento da produ-
ção agropecuária, a demanda hídrica poderá ser maior que a disponibilidade desse recurso.
Analisando a vazão e precipitação do Rio São Marcos é observada que nos anos de 1978
até 1980 houve precipitação acima da média para a série temporal enquanto as vazões foram
as menores registradas. Esta bacia ocupa 78% da área municipal e isto pode ser atribuído, den-
tre várias razões, pelo início da intensificação das atividades agropecuárias na região principal-
mente quando se considera que no ano de 1986 aproximadamente 50% áreas municipal eram
agricultura e pastagem.
No ano de 1994 para este mesmo rio é observada outra vazão extremamente baixa para
a série histórica (> 20 m³/s) e com precipitação um pouco abaixo da média geral. No ano de
1992 os dados de uso e cobertura apontam aproximadamente 67% do município já se
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de neste trabalho não ter constatado uma relação direta entre o uso e ocupação
do solo relacionados aos dados hídricos de vazão e precipitação, ressalta-se o valor de terem
estudos que busquem identificar as modificações da disponibilidade hídrica e toda a dinâmica
das bacias hidrográficas.
Para isso é importante que haja um mínimo de conhecimento e articulação das pessoas
que desempenham algum tipo de atividade e ocupação nas bacias hidrográficas com a comu-
nidade científica e órgãos responsáveis por gerirem as questões ambientais.
Muitos pivôs utilizados nas atividades agrícolas, por exemplo, desperdiçam uma grande
quantidade de água por meio de vazamentos e são utilizados sem necessidade quando os solos
já se apresentam saturados.
Dessa forma vê-se a relevância que os comitês de bacias desempenham para a gestão
dos recursos hídricos, uma vez que possibilitam essas articulações entre os diferentes repre-
sentantes da sociedade. E assim, tentar equilibrar os diferentes usos e ocupações inseridos nas
bacias com práticas menos agressivas ao meio ambiente.
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[ 915 ]
916 Víctor Ruiz Álvarez; Rubén Giménez García
transformation of land use in the last three decades. The resulting drought vulnerability map can
be used as a tool to assist in drought risk management and planning by different public bodies.
Key Words: vulnerability, deficit, planning, southeast Spain, drought risk
1 INTRODUCCIÓN
1.1 Justificación y objetivos
La sequía constituye el riesgo natural que mayor número de afectados y repercusiones
económicas genera en los territorios donde se desarrolla, como por ejemplo, el ámbito territo-
rial del sureste de España. Paradójicamente, entre el conjunto de fenómenos naturales extre-
mos que suponen un riesgo para la actividad humana, la sequía es el que menos atención
recibe en los estudios de riesgo, pese a producir numerosas pérdidas económicas, y en casos
extremos pérdidas humanas (GARCÍA, 2008). Esto es así, debido a que a diferencia de otros
riesgos naturales como inundaciones o terremotos que se manifiestan de forma repentina y
brusca, las sequías se desarrollan de forma lenta e imperceptible para la población, pudiendo
pasar inadvertidas durante un largo período temporal (TALLAKSEN; VAN LANEN, 2004).
No obstante, durante los últimos años se ha puesto en evidencia el efecto negativo de las
denominadas “sequías repentinas”, que son aquellos eventos que presentan un desarrollo muy
rápido (FORD et al., 2015; NOGUERA et al., 2020). El incremento esperado de este tipo de
sequías como consecuencia del cambio climático (HOFFMANN et al., 2021) puede llevar con-
sigo un aumento del riesgo de sequía, sobre todo por el incremento de los parámetros de vul-
nerabilidad y exposición, en sectores económicos como el agrícola (JIMÉNEZ et al., 2020;
NOGUERA et al., 2021).
De este modo, la falta de consecuencias tangibles a corto plazo, y el alivio temporal que
producen los episodios de lluvias torrenciales que suelen intercalarse durante los periodos
secos (OLCINA, 2001), provocan entre las administraciones y la población un desinterés que no
hace sino agravar los efectos del déficit hídrico consecuente (GARCÍA, 2008). En este sentido,
cabe destacar la estrecha relación existente entre la gestión de la sequía y la gestión de los
recursos hídricos. Si la integración de las estrategias de gestión del riesgo de sequía y de los
recursos hídricos resulta insatisfactoria, aumenta de forma considerable la vulnerabilidad de
sequía (VARGAS;PANEQUE, 2019).
En la Demarcación Hidrográfica del Segura, área de estudio del presente trabajo, la rela-
ción entre la gestión de las sequías y los recursos hídricos es si cabe más importante, debido a
la marcada aridez de gran parte de este ámbito territorial (precipitación media anual de 375
mm) y al notable déficit hídrico existente. El déficit total anual medio de la DHS es de 400 hm3/
año, correspondiendo la practica totalidad de este déficit a las demandas agrarias (394 hm3/
año) (Plan Hidrológico de la Demarcación del Segura 2015/21). En este sentido, el marco terri-
torial analizado es muy vulnerable frente a las sequías, de ahí la importancia de examinar la
situación actual del parámetro de vulnerabilidad de sequía. De este modo, el principal objetivo
2 METODOLOGÍA
El parámetro de vulnerabilidad de sequía determina el grado de sensibilidad de un deter-
minado espacio geográfico a la escasez de precipitaciones. De este modo, la vulnerabilidad se
halla estrechamente relacionada con la estructura social y el desarrollo económico, y está fuer-
temente sometida a las variaciones y cambios que experimenten el tejido social y la estructura
económica (MARCOS,2001). Existen numerosos índices para la evaluación de la vulnerabilidad
de sequía. En la presente investigación, para la evaluación de este parámetro, ha sido seleccio-
nado el Índice Estandarizado de Vulnerabilidad de Sequía (en inglés Standardized Drought
Vulnerability Index– SDVI en adelante). El SDVI fue implementado en el año 2014 (KARAVITIS et
al., 2014), y su utilización tiene un amplio reconocimiento internacional (ABDI et al., 2018;
TSESMELIS et al., 2019).
En este trabajo se ha aplicado la metodología implementada y desarrollada en Tsesmelis
et al. (2019) para el cálculo del SDVI. Se trata de un índice que constituye un indicador com-
puesto por varias componentes que tiene como objetivo integrar las diversas manifestaciones
de las sequías (escalas meteorológica, agrícola, hidrológica y socioeconómica). El SDVI consta
de un total de cinco componentes: SPI12, suministro, demanda, infraestructura e impactos. El
valor del SPI12 se obtiene a nivel de las series meteorológicas, mientras que el resto de las
componentes se calculan en escalas más amplias, dependiendo de los datos disponibles. La
escala espacial seleccionada han sido las 36 subzonas hidráulicas del área de estudio (ver figura
5). En la figura 1, se exhibe la fórmula utilizada para la obtención del SDVI:
SPI hace referencia al índice de sequía “Standarized Precipitation Index” (SPI en adelante).
Es sin duda el índice de sequía más utilizado en el ámbito científico. El SPI se calcula a partir de la
conversión de datos de precipitación (se recomiendan más de 30 años de observación) a proba-
bilidades basadas en registros de precipitación acumulada. Dichas probabilidades componen
series normalizadas con un promedio de 0 y una desviación estándar de 1 (PEÑA et al., 2016).
La principal utilidad de este índice radica en que facilita el análisis de los impactos de las
sequías en distintas escalas temporales (1, 3, 6, 9, 12, 24 y 48 meses). Por lo tanto, permite la
identificación de los distintos tipos de sequía (meteorológica, agrícola, hidrológica y socioeco-
nómica) definidos por Wilhite y Glantz (1985), ya que los diferentes sistemas naturales y secto-
res económicos pueden responder a las condiciones de sequía en escalas temporales desiguales
(VICENTE et al., 2012). Un periodo inferior o igual a 3 meses permite la monitorización de las
sequías meteorológicas, por encima de 6 meses se pueden evaluar las sequías agrícolas, y por
último, el periodo de 12 meses es el ideal para evaluar las sequías hidrológicas. De este modo,
en este trabajo se ha seleccionado la escala temporal de 12 meses (SPI12 a partir de este
momento), debido a las repercusiones territoriales que tienen las sequías hidrológicas en el
sureste de la península ibérica, área que cuenta con un importante déficit hídrico estructural.
Los cinco componentes utilizados en la obtención del SDVI se clasifican en cuatro catego-
rías de vulnerabilidad (escala de 0 a 3: 0-menos vulnerable, 1-Vulnerable, 2-Vulnerabilidad Alta
y 3-Vulnerabilidad Extrema) de acuerdo con los criterios que se describen en la tabla 1. El valor
de vulnerabilidad final se obtiene mediante el registro promedio del sumatorio de los valores
de los cinco componentes. En función del valor promedio se obtienen un total de seis catego-
rías, organizadas de menor a mayor vulnerabilidad (tabla 2).
Tabla 1 – Criterios para la asignación de los valores de los cinco componentes del SDVI
Nivel de
Valor SPI Suministro Demanda Infraestructura Impactos
vulnerabilidad
Menos vulnerable 0 ≥ 1,50 Sin Déficit Sin Déficit Completa Sin pérdidas
Vulnerable 1 0 a 1,49 15% Déficit 15% Déficit 15% Deficiente 15% Pérdidas
SDVI Categoría
3 ÁREA DE ESTUDIO
Esta investigación centra su análisis en los ámbitos territoriales de la Demarcación
Hidrográfica del Segura (DHS) y la Mancomunidad de los Canales del Taibilla (MCT), localizados
en el sureste de la península ibérica. Se ha seleccionado el marco espacial de estos organismos,
debido a que ambos son los responsables de la gestión y la planificación de los recursos hídri-
cos, y del abastecimiento de agua potable, respectivamente, de gran parte del cuadrante
sureste de España. El área de estudio alberga un cómputo poblacional de alrededor de
2.600.000 habitantes, localizándose la mayor parte en las aglomeraciones urbanas de Murcia
y Alicante-Elche (comarcas de la Huerta de Murcia, Bajo Vinalopó y Campo de Alicante), y en
las comarcas del Campo de Cartagena y Vega Baja del Segura. Estas áreas cuentan con una ele-
vada densidad de población.
En las figuras 2 y 3 se muestra respectivamente la distribución del relieve y de la precipi-
tación media anual en el área de estudio. Una de sus singularidades es la elevada variabilidad
orográfica que presenta. De este modo, se alternan sistemas montañosos que superan los
2000 metros de altitud en el sector occidental, con valles, depresiones y llanuras costeras, y
altiplanicies. La disposición del relieve juega un papel primordial en la elevada variabilidad cli-
mática existente en este territorio. Existe una clara relación entre la distribución espacial de la
precipitación media anual y el relieve, de modo que los máximos pluviométricos se registran en
los relieves noroccidentales, superándose puntualmente los 1000 mm/año. Desde el extremo
noroccidental, se produce un descenso gradual hasta el extremo suroccidental, donde los acu-
mulados medios anuales son inferiores a 200 mm. Esta zona constituye una de las áreas más
áridas de Europa. Como se observa en la figura 3 gran parte del territorio examinado posee una
precipitación media anual inferior a los 400 mm, lo que le confiere una marcada aridez. Además
cuenta con un notable déficit hídrico estructural.
Fuente: Elaboración propia a partir de los datos de la Agencia Estatal de Meteorología (AEMET)– periodo de referencia 1981–2010
4. RESULTADOS Y DISCUSIÓN
El periodo temporal seleccionado para evaluar la vulnerabilidad de sequía es 1993-2017.
Los valores asignados por componentes, así como el valor final de vulnerabilidad de las 36
zonas hidráulicas del área de estudio, se exhiben en la tabla 3. Se ha elegido este periodo
debido a que en este lapso temporal de 25 años se ha producido un incremento poblacional
muy notable, así como cambios drásticos en los usos del suelo (incremento usos urbano y
agrícola), que han originado variaciones al alza en los parámetros de vulnerabilidad de sequía.
Además durante este periodo se han manifestado cuatro secuencias pluviométricas secas de
gran severidad (1993-1996, 1998-2001, 2005-2006 y 2013-2016) (RUIZ et al., 2021), lo que per-
mite examinar los impactos producidos y evaluar si las infraestructuras hidráulicas fueron lo
suficientemente sólidas para garantizar el abastecimiento de agua.
Con respecto al componente del SPI12, la mayor parte de la subzonas presentan un valor
de vulnerabilidad alta en esta componente, ya que el valor promedio del SPI12 durante el
periodo 1993-2017 es inferior a 0, en la mayoría de las series. En referencia al resto de compo-
nentes, los valores del nivel de vulnerabilidad han sido asignados realizando una evaluación de
los condicionantes que rigen cada subzona hidráulica. A continuación se describen los valores
asignados a cada componente:
1) Suministro: Todas las subzonas han sido categorizadas con el nivel de vulnerable
pues en los últimos 25 años han tenido pequeños problemas de abastecimiento durante las
secuencias secas, excepto Yecla y Los Vélez que han sido calificados con vulnerabilidad alta
debido a que son zonas que se abastecen con recursos propios (no son abastecidas por la MCT),
y en los últimos años han tenido notables problemas de sobreexplotación de sus acuíferos que
han puesto en jaque el abastecimiento urbano de agua.
2) Demanda: Se ha asignado un valor de vulnerabilidad alta en aquellas subzonas de
la franja costera y valles prelitorales, donde la presión sobre los recursos hídricos ejercida
por las actividades humanas es muy elevada. En valles del interior donde se ha producido un
notable aumento de la superficie de regadío en los últimos 15 años se ha asignado el nivel
de vulnerable. Por su parte, en las subzonas situadas en la cabecera de la DHS, donde las
demandas de agua son muy exiguas, se ha asignado el nivel de 0 (menos vulnerable).
3) Infraestructura: En casi todas las subzonas se ha asignado un nivel de vulnerable,
sobre todo en las localizadas en la franja costera y valles prelitorales, ya que son las que han
sufrido un mayor crecimiento poblacional y de las actividades económicas. Durante los 25
años analizados, la MCT ha tenido que ir ejecutando nuevas infraestructuras, sobre todo a
raíz de las secuencias secas acaecidas para asegurar el abastecimiento de agua. Entre estas
infraestructuras destaca la construcción de las desaladoras y la consecuente ejecución de
conexiones con las propias estructuras de distribución de los recursos hídricos de la MCT.
Tabla 3 – Valores asignados por componentes y valor final de vulnerabilidad en cada una de las 36
zonas hidráulicas del área de estudio
IA-Madera 2 1 0 1 0 0,8
IB-Alto Segura 2 1 0 1 0 0,8
IC-Fuensanta 1 1 0 0 1 0,6
ID-Taibilla 2 1 0 0 1 0,8
IE-Cenajo 2 1 0 0 1 0,8
IIA-Riopar 2 1 0 0 0 0,6
IIB-Talave 2 1 0 0 0 0,6
IIC-Tobarra 1 1 1 1 1 1
IID-Hellín 1 1 1 1 1 1
III-Corral Rubio 2 1 1 1 1 1,2
IVA-Moratalla 2 1 1 0 1 1
IVB-Argos 1 1 1 0 1 0,8
IVC-Quípar 1 1 1 0 1 0,8
VA– La Cierva 1 1 2 0 1 1
VB– Huerta de Mula 2 1 2 0 1 1,2
VIA– Calasparra 2 1 1 0 1 1
VIB– Cieza 2 1 1 0 1 1
VIC– Molina 2 1 2 0 1 1,2
VIIA– Judío 2 1 1 1 1 1,2
VIIB– Moro 2 1 1 1 1 1,2
VIIC– Santomera 2 1 1 1 1 1,2
VIID– Chícamo 2 1 1 1 1 1,2
VIII– Yecla 2 2 1 1 1 1,4
IXA– Valdeinfierno 2 1 1 0 0 0,8
IXB– Los Vélez 2 2 1 1 1 1,4
IXC-Valle de Lorca 2 1 2 1 2 1,6
X– Levante Almeriense 2 1 2 1 2 1,6
XIA– Mazarrón 2 1 2 1 1 1,4
XIB– Águilas 2 1 2 1 1 1,4
XII– Vega Media 2 1 2 1 2 1,6
XIIIA– Campo de Cartagena 2 1 2 1 2 1,6
XIIIB-Cartagena 2 1 2 1 2 1,6
XIVA– Vega Baja 2 1 2 1 2 1,6
XIVB-Torrevieja 2 1 2 1 2 1,6
XIVC-RLMI 2 1 2 1 2 1,6
XV– Alacantí Vinalopó 2 1 2 1 2 1,6
Fuente: Adaptación a partir de Tsesmelis et al., 2019
4) Impactos: Los impactos originados por las sequías han sido más cuantiosos en las
subzonas situadas en la franja costera y valles prelitorales, que son aquellas que sufren una
presión humana más elevada. Las mismas cuentan con actividades muy expuestas ante las
secuencias pluviométricas secas, y por tanto se les ha asignado una vulnerabilidad alta en esta
componente. En la mayor parte del resto de subzonas hidráulicas ha sido establecido el nivel
de vulnerable. Tan sólo en ciertas zonas del interior (muy despobladas) se ha fijado el nivel 0.
Figura 5 – Mapa de vulnerabilidad de sequía por subzonas hidráulicas obtenido a partir de la aplicación
del SDVI
5 CONSIDERACIONES FINALES
Existen numerosos índices para la evaluación de la vulnerabilidad de sequía. En el presente
trabajo, para la evaluación de este parámetro, ha sido seleccionado el Índice Estandarizado de
Vulnerabilidad de Sequía (SDVI). Este índice es un indicador compuesto por varios componentes
(SPI12, suministro, demanda, infraestructura e impactos), que tiene como objetivo integrar
las diversas manifestaciones de las sequías (escalas meteorológica, agrícola, hidrológica y
socioeconómica). La escala espacial seleccionada para la evaluación de la vulnerabilidad de
sequía han sido las 36 subzonas hidráulicas en las que se subdivide el área de estudio.
Los cinco componentes seleccionados se clasifican en cuatro categorías de
vulnerabilidad (escala de 0 a 3: 0-menos vulnerable, 1-Vulnerable, 2-Vulnerabilidad Alta y
3-Vulnerabilidad Extrema). El valor de vulnerabilidad final se obtiene mediante el registro
promedio del sumatorio de los valores de los cinco componentes. Se han obtenido un total de
tres categorías de vulnerabilidad: Vulnerabilidad Baja, Vulnerabilidad Media y Vulnerabilidad
Alta. Las subzonas con vulnerabilidad alta se encuadran en la franja costera y valles prelitorales,
que son las áreas que cuentan con una mayor presión humana, y por tanto son las que sufren
un mayor impacto territorial durante las secuencias pluviométricas secas.
En el territorio analizado la vulnerabilidad de sequía se ha incrementado de forma
considerable durante las últimas décadas, debido a la creciente demanda de agua originada por
el dinámico desarrollo económico (concentrado sobre todo en las actividades agropecuarias
y turísticas). Este estudio preliminar puede constituir un documento de apoyo en la toma de
decisiones y propuestas de mejora en la planificación urbanística y ordenación del territorio.
Desde las administraciones públicas se tiene que apostar por desarrollar una agricultura mucho
más sostenible ante las nuevas condiciones climáticas y ambientales, de modo que se minimicen
el valor de los parámetros de vulnerabilidad y exposición frente al riesgo de sequía. Asimismo,
se deben suprimir las miles de hectáreas de regadíos ilegales existentes en el área de estudio.
Como propuestas de líneas futuras de investigación se pretende implementar el SDVI
con una mayor resolución espacial con el objetivo de poder efectuar un mejor análisis y poder
delimitar de un modo preciso los espacios territoriales con mayor vulnerabilidad. Además
se tratarán evaluar otros índices e indicadores, tales como el índice de exposición, índice
de sensibilidad o índice de capacidad de adaptación. Con estos avances se conseguiría un
conocimiento más integral del riesgo de sequía en la DHS y MCT. Asimismo, sería de gran
ayuda la realización de un visor a escala de la DHS, a través del cual se pudiera seguir en
tiempo real la evolución de los diferentes indicadores.
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[ 927 ]
928 Hellem Victoria Ribeiro dos Santos; Thaynara Lorrayne de Oliveira; Denilson Teixeira
interpretations of spatial and temporal variations in water quality may be compromised. Another
challenge to be overcome in improving the methods studied is to expand their ability to commu-
nicate results to a greater number of users. Water quality indices are the technical basis needed
for decision making in the Water Resources Management process.
Keywords: Water quality; Indexes used in America; Integrated management; Water resources.
1 INTRODUÇÃO
O levantamento de dados físico-químicos e biológicos tem função primordial no pro-
cesso de gestão de recursos hídricos. É a partir da caracterização e diagnóstico do sistema
ambiental que legisladores e gestores podem e devem embasar suas decisões. Os índices de
qualidade de água são instrumentos fundamentais para efetivação destas decisões.
Os índices de qualidade da água são modelos de comunicação, de base científica, que
convertem dados multivariáveis em uma única unidade que descreve a qualidade da água
(ABBASI; ABBASI, 2012; BANDA; KUMARASAMY, 2020); isto é, agregam diferentes informações
sob a forma de parâmetros, em um valor indicador geral, da qualidade da água analisada
(USEPA, 2010; POONAM; TANUSHREE; SUKALYAN, 2013), sendo capazes de “simplificar” relatos
técnicos e complexos (BANDA; KUMARASAMY, 2020).
Esses índices, por meio de uma comunicação consistente, objetiva e inclusiva podem
contribuir para compressão da qualidade de recursos hídricos por legisladores, técnicos e
mesmo do público em geral (ABBASI; ABBASI, 2011; POONAM; TANUSHREE; SUKALYAN, 2013;
LUZATI; JAUPAJ, 2016). Fornecem também informações, ao longo do espaço e do tempo, sobre
propriedades da água de vários recursos hídricos, que podem auxiliar na distribuição de inves-
timentos e esforços dos gestores (SARKAR; ABBASI, 2006; POONAM; TANUSHREE; SUKALYAN,
2013; ODEQ, 2015; CHEN et al., 2015).
Com isso, faz-se possível afirmar que esses índices podem ser entendidos como um ins-
trumento da Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH), que se fundamenta no diálogo
entre as partes interessadas e os tomadores de decisão, na integração do conhecimento de
diversas disciplinas e na consideração de que a bacia hidrográfica é a unidade para todas as
atividades de planejamento (ZALEWSKI, 2015).
Gestão Integrada de Recursos Hídricos é um processo baseado na promoção da gestão
coordenada e no desenvolvimento da água, da terra e dos recursos a eles relacionados, com o
intuito de elevar o bem-estar social e econômico de forma igualitária, sem colocar em risco a
manutenção dos ecossistemas vitais (GWP, 2000).
Portanto, o processo que envolve a GIRH depende da disponibilidade e credibilidade dos
dados e informações gerados pelos índices. Ao redor do mundo, existem variados índices de
qualidade da água, criados por diferentes entidades, considerando diferentes usos (CUDE,
2001) e condições ecológicas (USEPA, 2010).
2 METODOLOGIA
Para realizar a investigação dos índices, a pesquisa baseou-se na consulta em relatórios
técnicos de agências governamentais, como da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(CETESB), na revisão de índices e indicados do Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
diretrizes do CCME, relatório acerca do índice de qualidade da água Oregon do ODEQ e em arti-
gos científicos, incluindo artigos de revisão, disponíveis nos idiomas português, inglês e espa-
nhol e publicados nas bases eletrônicas Scopus, Web of Science e Scielo.
Com isso, o estudo em questão caracteriza-se como exploratório; de abordagem qualita-
tiva, utilizando dados secundários advindos de uma Revisão Bibliográfica Sistematizada realizada
até o ano de 2021 e associada ao sistema de amostragem não probabilística “bola de neve”.
As buscas realizadas nos bancos de dados estão descritas na Tabela 1:
“integrated management”;
2019-2020 62
“water resources”
Tratando-se das limitações, pouco foi encontrado sobre os índices de qualidade da água
utilizados na América do Sul. Com a palavras-chave “water quality index”, as buscas são amplas
e açambarcam os índices de qualidade da água mais recorrentes; mas, ainda assim, não abran-
geu os índices empregados no continente sul-americano e, por esse motivo, as palavras-chave
“water quality index”, “índice de qualidade da água” e “índice de calidad del agua” também
foram associadas ao nome de cada país de América do Sul.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nota: os números contidos nos círculos são a quantidade de parâmetros dos índices aqui avaliados. Ressalta-se que, para o IQACCME, o número de parâmetros
deve ser de, no mínimo, 8 e, no máximo, 20.
Para cada equação dos índices de qualidade da água, existem variáveis a serem determi-
nadas para obtenção dos resultados. Isto é, para a equação do IQANSF e IQACETESB, o Wi é o peso
relativo do i-ésimo parâmetro que varia de 0 a 1 e Ii é valor relativo ao i-ésimo parâmetro, um
número compreendido entre 0 e 100, obtido através da curva média de cada parâmetro (PNMA
II, 2004).
No IQACCME, F1 é o alcance em porcentagem, interpretado como uma parcela do número
total de amostrasque apresenta falha; F2é a frequência em porcentagem, ou seja, a parcela de
testes individuais que não atendem às especificações; F3 é a amplitude em porcentagem, que
representa a parcela de testes reprovados e o denominador, “1,732”, normaliza os valores
resultantes para um intervalo de 0 a 100 (CCME, 2017; HAIDER et al., 2019).
Por sua vez, no IQAOREGON, n é o número de parâmetros e SI, o subíndice do i-ésimo parâ-
metro (CUDE, 2001; HASSOUNA, et al., 2019).
Ressalta-se que o IQACCME é baseado na formulação do British Columbia Water Quality
Index (BCWQI) (CCME, 2001; BINLGIN, 2018) e apresenta uma abrangência de compostos e sus-
tâncias prioritárias que representam um impacto significativo no que tange à qualidade da
água (HAIDER et al., 2019), entretanto, não define parâmetros específicos para sua aplicabili-
dade, apenas a escolha de oito a vinte parâmetros (WAGH et al., 2017; CCME, 2017). Ademais,
pode ser moldado de acordo com o uso ao qual se destina o recurso hídrico (SILVA et al., 2017).
Outrossim, é o índice do estado do Oregon, que avalia a qualidade da água para uso
recreativo, como pesca e esportes aquáticos. Assim, os oito parâmetros que avaliam a quali-
dade de corpos hídricos foram definidos para alcançar satisfatoriedade nesse quesito, sendo
esses expressos em várias unidades de medida e transformados em subíndices (ZOTOU;
TSIHRINTZIS; GIKAS, 2020).
O IQAOregon, por outro lado, é fortemente influenciado pelo parâmetro mais precário em
qualidade, o que é possível em razão de equação de média quadrada harmônica não ponderada
e combinação de parâmetros. Esse índice também parte da compreensão de que um parâme-
tro pode apresentar significados diferentes, dependendo da qualidade da água e do local, além
de ser extremamente sensível às mudanças dessa qualidade (CUDE, 2001; HUBLER, 2009; TYAGI
et al., 2013; ODEQ, 2015).
Ademais, o IQAOregon impossibilita inferências acerca da situação de outros locais que não
sejam o local da amostra, isto é, não reflete as condições de qualidade de água de outros locais
da bacia nem do rio; não se estende a usos específicos e não pode oferecer informações defi-
nitivas no que diz respeito à qualidade da água, carecendo da consideração de outros parâme-
tros físicos, químicos e biológicos (CUDE, 2001; HUBLER, 2009; TYAGI et al., 2013; ODEQ, 2015).
Por sua vez, o IQACCME, por meio de sua estrutura matemática fácil de calcular – exigindo
um método automatizado para um amplo número de parâmetros – e certa tolerância com
dados ausentes, faz com que seja possível avaliar as condições ambientais de qualidade da
água, de acordo com diferentes diretrizes e usos da água, uma vez que é flexível quanto ao tipo
e número de parâmetros a serem testados, bem como ao tipo de corpo d’água e ao período de
aplicação, sendo todos esses dados de entrada definidos previamente pelo profissional
(TERRADO et al., 2010; ABBASI; ABBASI, 2012; TYAGI et al., 2013, CCME, 2017).
Os dados empregados no IQACCME, quando vêm de várias estações de monitoramentos
de cursos d’água, possibilitam conclusões mais gerais. Esse índice também permite a combi-
nação de dados de diferentes anos, apesar de que alguma variação de qualidade possa ser
perdida; o período de tempo escolhido depende sempre dos dados disponíveis. Ainda, no
que tange às escolhas do profissional, recomenda-se a seleção de, pelo menos, oito parâme-
tros para que o índice funcione de forma satisfatória, sem nunca exceder o limite de 20 parâ-
metros para que não haja covariância (TERRADO et al., 2010; ABBASI; ABBASI, 2012; TYAGI et
al., 2013, CCME, 2017).
Ainda assim, ao permitir uma flexibilidade na escolha dos parâmetros, o IQACCME facilita a
objetivação das informações técnicas e, consequentemente, a tomada de decisões por parte
dos gestores públicos, ressaltando também a sua aplicabilidade no que diz respeito ao alcance
das metas de enquadramento dos recursos hídricos (HAIDER et al., 2019), o que reforça a
importância da objetividade e das devidas considerações ao escolher os parâmetros.
4 CONCLUSÕES
Os índices estudados são compostos principalmente por variáveis físico-químicas, (variá-
veis instantâneas), seus resultados retratam o momento e local de coleta. Poucos indicadores
biológicos são utilizados na composição destes índices. Dessa forma, possíveis interpretações
das variações espaciais e temporais da qualidade da água podem ficar comprometidas. Outro
desafio a ser vencido no aprimoramento dos métodos estudados é ampliar sua capacidade de
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Resumo: A bacia hidrográfica do Rio Barra Grande está localizada no Oeste maranhense na
Microrregião de Imperatriz, especificamente, no perímetro rural dos Municípios de Imperatriz,
João Lisboa e São Francisco do Brejão. O artigo tem como objetivo realizar uma análise morfomé-
trica do Rio Barra Grande, analisando os parâmetros areal, linear e hipsométricos e sua relação
com as principais coberturas da terra. Na metodologia usou-se o método de fotointerpretação e a
técnica de georreferenciamento para obtenção dados, e o geoprocessamento de imagem de saté-
lite do Google Earth Pro de 2014, a fim de identificar o tipo de uso/ocupação da terra como tam-
bém a rede de drenagem. Resultados apontam para a presença de pastagem com cerrado e
pastagem com babaçu com as informações morfométricas em especial com a hierarquia. Pode-se
afirmar que o ambiente da bacia encontrasse modificado no sentido da potencialização dos fluxos
superficiais hidrológicos. As conclusões indicam que a bacia tem 78% de sua área ainda preser-
vada devido está localizada em área afastada dos sítios urbanos, entretanto, percebe-se que nos
últimos anos, ocorreu um médio crescimento de desmatamento, por conta da silvicultura do
(eucalipto) que vem substituindo a cobertura florestal (pastagem do babaçu). Quanto ao uso do
solo, a mesma é praticada pela atividade de agricultura, horticultura e piscicultura.
Palavras-chave: Hidrografia, Aspectos fisiográficos, Imperatriz.
Abstract: The Rio Barra Grande hydrographic basin is located in the west of Maranhão, in the
Microregion of Imperatriz, specifically, in the rural perimeter of the Municipalities of Imperatriz,
João Lisboa and São Francisco do Brejão. The article aims to carry out a morphometric analysis of
1 Pesquisa fruto do relatório final da bolsa de pesquisa PIBIC, concedida pela FAPEMA em 2014. Texto adaptado para o
evento.
2 Mestrado em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço pela Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: rafa1593@
yahoo.com.br
3 Doutor em Geografia, Professor Adjunto III da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, Curso de Geografia. E-mail:
luizcarlos.uema@gmail.com
4 Doutora em Geografia, Professora Adjunta II da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL,
Curso de Geografia. E-mail: lucileaflg@gmail.com
[ 939 ]
940 Rafael de Oliveira Araújo; Luiz Carlos Araújo dos Santos; Lucilea Ferreira Lopes Gonçalves
the Rio Barra Grande, analyzing the areal, linear and hypsometric parameters and their relation-
ship with the main land cover. In the investigation, the method of photointerpretation and georef-
erencing technique to obtain data, and the geoprocessing of the 2014 Google Earth Pro satellite
image, in order to identify the type of land use/occupation as well as the drainage network, are
investigated. Results point to the presence of pasture with cerrado and pasture with babassu with
the morphometric information, especially with the hierarchy. It can be said that the basin’s envi-
ronment is modified in the sense of the potentialization of the hydrological surface flows. The
inscriptions indicate that the basin has 78% of its area still preserved because it is located in an
area far from urban sites, however, it is clear that over the years, there has been a medium growth
of deforestation, due to the silviculture of the (eucalyptus) that comes replacing forest cover. As
for land use, it is practiced by agriculture, horticulture and fish farming.
Keywords: Hydrography, Physiographic aspects, Imperatriz.
1 INTRODUÇÃO
Uma bacia hidrográfica e/ou bacia de drenagem de um curso d’água é o conjunto fluvial
de canais d’água de diferentes hierarquias (ordem) fluviais sobre terras que fazem a drenagem
d’águas das precipitações escoarem para um único canal de água. A formação da bacia hidro-
gráfica dá-se pelos desníveis dos terrenos que orientam os cursos d’águas. Essa área da bacia
que drena fluxos líquidos, sólidos e solúveis para uma saída comum pelo canal ou de uma rede
de canais forma o sistema hidrográfico (COELHO NETTO, 1995). Ainda sobre as bacias hidrográ-
ficas, Chorley (1975), afirma que as mesmas se constituem em unidade geomorfológica funda-
mental, que operam como um sistema aberto, quando os impulsos das chuvas acionam os
processos hidrológicos e erosivos, que regulam as transformações morfológicas e a evolução
interna da bacia. É um sistema fechado, quando a rede de drenagem é exposta em um sistema
de canalização de seus canais fluviais.
Ainda nessa direção Lima (1986), expõe que a bacia hidrográfica pode ser considerada
um sistema geomorfológico aberto e, como tal, ela se encontra, mesmo quando não pertur-
bada, em contínua flutuação, num estado de equilíbrio transacional ou dinâmico. Dessa
maneira, a adição de energia e a perda de energia do próprio sistema encontram-se sempre
em delicado balanço. Assim, a área da bacia hidrográfica tem influência sobre a quantidade de
água produzida como deflúvio.
Para Horton (1945) e Christofoletti (1970), as formas fisiográfica da bacia hidrográfica – o
relevo, a geologia e a geomorfologia, atuam sobre a taxa ou sobre o regime dessa produção
natural da formação das massas de água na superfície. Porém, o processo de elementos físicos,
biológicos e químicos, atuando como a taxa de sedimentação dos resíduos nos corpos d’água,
também, o caráter e a extensão dos canais (padrão de drenagem) afetam a disponibilidade de
sedimentos, bem como a taxa de formação do deflúvio. Muitas dessas características físicas da
bacia hidrográfica, por sua vez, são, em grande parte, controladas ou influenciadas pela sua
estrutura geológica.
A bacia do Rio Barra Grande tem cinco superclasses geral: argissolos, gleissolos, latosso-
los, neossolos e plintossolos. Os argissolos correspondem a uma área de 25,5%, o gleissolos
com uma área de 0,4%, latossolos com uma área de 46%, neossolos com uma área de 8,1%, e
plintossolos com uma área de 20%. Os solos da microrregião de Imperatriz são ricos em mine-
rais, assim, ao longo da bacia denota-se atividade de grande e pequeno porte para produção
agrícola no uso da bacia (ROSS, 1998).
A bacia hidrográfica do Rio Barra Grande possui uma área de 453 Km2, com extensão do
rio principal de 53,97 km e perímetro de 122 km, recebendo contribuições de vários córregos,
principalmente do Rio Murajuba que se forma a partir da junção do córrego Brejinho com o
córrego Murajuba, recebendo ainda contribuições do córrego Olho D’Água Azul antes de
desembocar no Rio Barra Grande. A micro-bacia do Murajuba possui uma área de 20.041,40 ha
(RIMA FERROVIA SUZANO, 2010).
A relação entre o índice do comprimento médio dos canais e o índice de bifurcação (Rib)
é um importante elemento na relação entre a composição da drenagem e o desenvolvimento
fisiográfico das bacias hidrográficas. Isso por que, se a relação entre o comprimento médio e
índice de bifurcação forem iguais, o tamanho médio dos canais crescerá ou diminuirá na mesma
proporção. Caso não sejam iguais, o que é mais comum, o tamanho dos canais poderá diminuir
ou aumentar progressivamente com a elevação da ordem dos canais, pois são os fatores hidro-
lógicos, morfológicos e geológicos que determinam o último grau do desenvolvimento da dre-
nagem em determinada bacia Christofoletti (1980).
A área da bacia do Rio Barra Grande encontrasse nos municípios de Imperatriz com
60,93%, para São Francisco do Brejão 1,10% e em João Lisboa 37,97%, está representada den-
tro do espaço social-natural da bacia. Portanto, o curso da lâmina d’água denominada entre
urbano/rural, da alta bacia, média bacia e baixa bacia ao longo de seus efluentes.
O espaço caracterizado neste ambiente é o predominante da região nordeste onde o
solo é bem seco e argiloso, além disto, a destacar o manuseio natural da formação deste
ambiente. Tem-se, identificados na bacia no Rio Barra Grande cinco feições geomorfológicas
predominantes – os patamares interfluviais 19,5 Km2, os topos de serras 20 Km2, a depressão
de imperatriz 327,2 Km2, os morros 2,9 Km2 e a planície fluvial 83,4 Km2.
Os canais de drenagem da bacia de 1° ordem são efêmeros, os de 2° são intermitentes e
a partir da 3° ordem são perenes. Estas características morfométricas permitem a utilização da
água pelos agricultores, pecuaristas, inclusive a Suzano Indústria de Papel Celulose Ltda fez uso
quando estava construindo o canal da ferrovia (ligando a indústria a Ferrovia Norte Sul). O
comprimento do canal principal é 53,97 km a malha ferroviária da área da bacia.
A bacia possui uma densidade de drenagem média, com valores próximos a 1,0 que
caracteriza uma boa drenagem, que é influenciada tanto pelos tipos de solos, predominando
latosso e latossolo amarelo, quanto pela topografia, pois caracteriza em sua parte alta como
uma cabeceira de nascente, em processo intenso de dissecação, atenuado pelo tipo de solo,
bem drenado com uma capacidade de infiltração (ROSS, 1998).
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Na área de pesquisa foi realizada uma análise de gestão ambiental no Rio Barra Grande
e teve como base posterior o desenvolvimento de método de fotointerpretação, assim, utili-
zou-se imagem de satélite Google Earth Pro passagem em agosto/setembro de 2014 na área da
bacia. Portanto, assim obtiveram seis coletas sendo três no período chuvoso e mais três no
período seca de dados em diversões pontos na sua do canal principal, por meio de GPS e regis-
tro fotográficos.
Para Strahler (1952), o Rio Barra Grande tem um a dinâmica morfométrica natural carac-
terizado por bioma de floresta amazônia que apresenta estrutura hidrográfica composta por
– nascente, afluentes, leito principal, lençol freático, diviso de águas, foz e fundo de vale, assim
formando a bacia. O Rio Barra Grande é efêmero com seus canais fluviais de 2ª ordem intermi-
tente e de 1ª ordem perene localizados nos pontos de maior elevação da bacia.
A rede de drenagem da bacia do Rio Barra Grande apresenta caraterística de 5ª ordem
segundo análise desenvolvida por Horton (1945) e Christofoletti (1980) com os seguintes parâ-
metros – areal, linear e hipsométrico, são apresentadas algumas variáveis: para a hipsometria
(altitude máxima 448 m, altitude média 261,5 m, altitude baixa 373 m, amplitude 373 m, rela-
ção de relevo 8,31, índice de rugosidade 396,80, gradiente dos canais 8,30%), observando um
relevo de planície fluvial, propício para as atividades no campo da agricultura, da pecuária, pis-
cicultura e extrativismo.
Ainda ara as análises areal a bacia apresentou os seguintes parâmetros (comprimento da
bacia 34,6 km, densidade de drenagem 0,94 km/km², densidade hidrográfica 0,54 canais/km²,
forma da bacia 3,71, coeficiente de compacidade 5,90, fator de forma 0,38), assim então,
observasse que com esses índices apresentado a bacia tem capacidade de gera nos novos
canais fluviais (CHORLEY, 1975).
Na (figura 1)5 observasse os pontos visitados dentro da bacia hidrográfica do Rio Barra
Grande, cujo tem seis povoados introduzido na área que tange os municípios de Imperatriz,
João Lisboa e São Francisco do Brejão. Portanto, o mosaico mostrar-se os tipos de paisagem
que compõe a bacia. Contudo, o uso da terra da bacia que esse modelo geossistêmica traz
método comparativo tem como sua principal forma de análise à comparação entre dados esta-
tísticos e avaliações históricas, de maneira simples, diferenciar cenários e evitar a generaliza-
ção. Subtendem-se três etapas no método comparativo – a construção do problema, a criação
de um campo de análise e a fase de experimentação, a própria análise da dinâmica múltiplos
cenários que compõe a bacia.
5 Conforme a figura 6 descreve várias facetas da paisagem na bacia do Rio Barra Grande. Portanto, o mosaico de imagens
aborda 10 dez paisagens distintas da situação que a bacia está sendo usa pelo antrópico, assim, nas paisagens A, D e J
é retratada pela rodovia BR-010, escoamento ferroviário e plantação de eucalipto na região da bacia, nas paisagens B,
E, G e H são retratadas pela ponte de madeira, mata ciliar e próprio leito do riacho que interligar os povoados Jiboia,
Água Boa entre outros na bacia, nas paisagens C e I balneário para atividades socioeconômicas ao leito do riacho, e na
paisagem F retrata da fazenda no povoado da bacia, cujo observar-se pastagens de babaçu com outras vegetações.
Figura 1 – Mapa de Localização dos Pontos Visitados no Trabalho de Campo na Bacia do Rio Barra
Grande
Bertrand, (1972) traz a ideia do geossistemas, assim, a bacia do Rio Barra Grande apre-
senta uma abordagem geossistêmica de integrada do tipo de uso/ocupação identificada para
da dinâmica realizada no território. Todavia, obteve três tipos de usos-CErrado, pastagem (her-
bácea) e pastagem (babaçu), com aspecto relevante diz respeito ao grau de ocupação do solo
para realização de atividades do agronegócio para região tocantina.
Para Sotchava (1977) a região da bacia foi aplicada teoria de geossistema buscando iden-
tificada como ocorrem a dinâmica do corpo hídrico da bacia com relação com a superfície do
solo funciona como conjunto fisiográfico. De tal modo, tende-se a compreender que a condu-
ção de trocar de energia por meio do ciclo hidrológico da bacia. Observou uma forte relação
de compactação da paisagem referente ao uso/ocupação da bacia ao longo do rio principal e
seus afluentes. Contudo múltiplos cenários obedecia uma paisagem que variar do período chu-
voso para o período de estiagem da região. Foram escolhidos os locais da Jiboia, Água Boa, e a
rodovia BR-010, as rodovias intermunicipais das MA 125 e 122, e as estradas vicinais, como
pontos de análises de observação dos cenários com características de áreas rurais e periurba-
nas entre os sítios urbanos.
Todavia para Tricart (1977) a bacia hidrográfica do Rio Barra Grande possui uma ecodinâ-
mica na textura do solo, propícia com classificação em três níveis uso estando assim – estáveis,
intergrades e fortemente instáveis. Portanto, a estáveis para composição da vegetação de cer-
rado, intergrades na composição de pastagem e fortemente instáveis com cobertura vegetal
da pastagem babaçu.
Todavia a pastagem na bacia do Riacho Barra Grande é constituída por três grupos: a
mosaica pastagem com babaçu e mosaico de pastagem e cerrado. Essas duas pastagens babaçu
e pastagem explorações é a base para o desenvolvimento da pecuária e agropecuária com
(quebradeira de coco babaçu) na área. O mosaico de pastagem com babaçu é constituído pela
presença de pasto plantado consorciado com o babaçu. Essa prática se expandiu a partir da
criação da Lei Estadual n° 4.734/86, no Art. 1° que estabelece: “fica expressamente proibido a
derrubada de palmeira de babaçu em todo o território do Estado”.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia hidrográfica do Rio Barra Grande é constituída por três municípios maranhenses
– Imperatriz, João Lisboa e São Francisco do Brejão, além de banhar os municípios citados,
foram identificados oito povoados localizados na bacia, podendo modificar a dinâmica morfo-
lógica da mesma. Essa região expõe que, uma parcela do território da Amazônia Legal tem seu
percurso na área implantada na bacia sedimentar do rio Tocantins, sendo suas integrações
litoestratigráficas aflorastes derivadas de rochas sedimentares e ígneas.
Foi verificado na bacia do Rio Barra Grande condições para a realização de diversas ativi-
dades agrícola e agrária, devido possuírem um corpo hídrico abundante d’água em suas terras
e também terem solos férteis em toda sua área correspondente a bacia. No que se refere à
temperatura superficial da área de estudo, a mesma tem sua variação de tempo entre 21ºC a
39ºC durante todo o ano para os municípios de Imperatriz, São Francisco do Brejão e João
Lisboa, que estão localizados na Microrregião de Imperatriz. No entanto, identifica-se o
ambiente mais quente e com focos de calor em área urbana, com índice mais alto da tempera-
tura em comparação as áreas mais rurais dos municípios estudados.
Com relação às características climáticas, a área apresenta temperaturas com média
anual variando entre 26ºC e 29ºC, umidade relativa com médias anuais variantes entre 73% a
76% e índice pluviométrico médio variando de 1.200 mm a 1.600 mm anuais. Há predominân-
cia do clima tropical úmido, com chuvas concentradas no período de verão e outono, tendo em
vista que o período chuvoso inicia em novembro e vai até abril, e o período de estiagem se
estende de maio até outubro.
As classes de declividades foram extraídas da metodologia de Santos (2004), o autor
defini os seguintes intervalos em cinco classes: com relevo plano (< 5%), relevo suavemente
ondulado (5% – 15%), ondulado (15% – 25%), abrupto (25% – 45%), e muito abrupto (> 45%).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem geossistêmica, como metodologia de pesquisa é eficiente, uma vez que os
parâmetros debatidos podem ser integrados, favorecendo análises multielementares, ao dis-
cutir sobre bacia hidrográfica, como instrumento de gestão e análise, assim foi-se interpretado
os parâmetros fisiográficos – geomorfológicos, pedológicos e geológicos da bacia hidrográfica
do Rio Barra Grande.
A pesquisa teve como objetivo o estudo de organizar uma análise morfométrica do Rio
Barra Grande, por meio do mapeamento e diagnóstico da área. Procurou-se organizar tal
análise com o uso dos Sistemas de Informação Geográficos – SIG, programas de computador
(softwares) designados à integração de diversos dados temáticos de uma mesma área de
estudo. Assim, os SIG’s permitem a criação de produtos cartográficos, para criação de banco de
dados geográficos, dentre outros.
Os estudos hidrográficos possibilitam compreender os ambientes, de modo geral, assim,
esta pesquisa contribuiu de maneira significativa na compreensão do funcionamento da bacia do
Rio Barra Grande, na vida das pessoas envolvidas no processo integração do homem-natureza.
Sendo que, ao longo de período a bacia passa por diversas transformações, perdendo a
permanência do meio natural. Dessa forma, é pertinente a necessidade de alguns padrões de
uso da terra para claramente compreender as identificáveis ações sofridas na bacia. Como a
redução da vegetação natural, o aumento da agricultura/piscicultura/floresta-de-eucalipto e
pastagem secundária. Percebemos que tais ações antrópicas ocorrem por ter essa bacia, uma
potência voltada para a aptidão agrícola e/ou pecuária do solo e favorecendo práticas como
desmatamentos e reflorestamento com vegetação alheia à original e que vem aumentando ao
longo do tempo.
Concluímos que áreas com altitudes elevadas tendem naturalmente a apresentar índices
menos elevados de temperatura em relação às áreas próximas ao nível do mar (área do litoral),
sendo que a bacia do Rio Barra Grande encontrasse a uma altitude média de 92 metros acima
do nível do mar, do litoral maranhense. A pressão atmosférica aumenta conforme aumenta a
altitude, bem como a velocidade dos ventos e o potencial erosivo das precipitações. Nesse
aspecto, a presença da à cobertura vegetal, não apenas nas áreas de altitude elevada, mas na
bacia como um todo, pois ela protege o solo de diversas formas de degradação do ambiente.
No contexto relação à hierarquia fluvial da bacia hidrográfica do Rio Barra Grande, a
ordem localizada foi de 5°; com predominância de canais de primeira ordem, ou seja, efême-
ros. Assim, foram notados 180 canais de primeira ordem, 40 canais de segunda ordem, 13 de
terceira, 03 de quarta e 1 pertencente à quinta ordem.
As informações sinalizam para favorecimento de infiltração e armazenamento de água
no solo, considerando o Coeficiente de compacidade (5,9), e as baixas Densidades de drena-
gem (0,94 km/km2), e a densidade hidrográfica (0,54 canais/km2).
5 REFERÊNCIAS
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Resumo: Estudos envolvendo o levantamento do uso e cobertura da terra são fundamentais para
o planejamento ambiental, principalmente quando a área compreende uma bacia hidrográfica
situada em ambiente cárstico. O presente trabalho tem por objetivo avaliar o uso e cobertura da
terra na bacia do rio Sobrado entre os anos de 1985 e 2019, utilizando dados do projeto MapBiomas.
Utilizou-se o software QGIS para quantificar e mapear as classes de uso da terra, e posteriormente,
analisar e comparar os dados. Elaboração do mapa de declividade, e reclassificação dos dados
sobre uso e cobertura da terra para duas classes, sendo 1-vegetação e 2-antrópico, para verificar
a dinâmica de uso entre 1985 e 2019. Além disso, foram inseridas a espacialização das cavernas
sobre as classes, para verificar se elas estão sob pressão dessas mudanças. A partir das classes do
mapeamento observou-se que a classe pastagem é predominante na bacia, representando um
aumento de 85%, e a classe agricultura demonstrou um acréscimo de 157,40%, comparando os
dados entre 1985 e 2019. Houve redução de 26,54% nas áreas de cobertura vegetal. Foi possível
observar que, as classes de declividade apontam a predominância de relevo variando de 0 a 12%.
Os dados sobre a dinâmica de uso, demonstraram manutenção da área de vegetação nativa cor-
respondente a 53,17%, para o período analisado. A sobreposição dos dados contendo a localiza-
ção das cavernas, mostrou que a maioria está em áreas com cobertura de vegetação nativa, porém
o incremento de áreas de pastagem, podem afetar o seu equilíbrio ecológico.
Palavras-chave: uso e cobertura da terra; planejamento ambiental; cavernas e bacia
hidrográfica.
Abstract: Studies involving the survey of land use and land cover are essential for environmental
planning, especially when the área comprises a watershed located in a karst environment. This
study aims to evaluate land use and land cover in the Sobrado river basin between 1985 and 2019,
using data from the MapBiomas project. The QGIS software was used to quantify and map the
land use classes, and later, compare and analyze the data. Preparation of the slope map, and
reclassification of data on land use and land cover into two classes, 1-vegetation and 2-anthropic,
[ 950 ]
AVALIAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO SOBRADO, 951
to verify the dynamics of use between 1985 and 2019. In addition, the spatialization of caves over
classes, to see if they are under pressure from these changes. From the mapping classes it was
observed that the pasture class is predominant in the basin, representing an increase of 85%, and
the agriculture class showed an increase of 157.40%, comparing the data between 1985 and 2019.
There was a reduction of 26.54% in the vegetation cover areas. It was possible to observe that the
classes of declivity indicate the predominance of relief ranging from 0 to 12%. Data on the dynam-
ics of use showed maintenance of the area of native vegetation corresponding to 53.17% for the
period analyzed. The overlapping of data containing the location of the caves showed that most
are in areas covered by native vegetation, but the increment of pasture areas can affect their eco-
logical balance.
Keywords: land use and land cover; environmental planning; caves and watershed.
1 INTRODUÇÃO
As alterações das paisagens naturais têm-se intensificado nos últimos anos, em função dos
padrões de uso e ocupação da terra, principalmente as atividades como agricultura e pecuária,
modificando estes ambientes de forma significativa. Essas transformações são originadas da rela-
ção social e econômica estabelecida no decorrer do tempo, e a sua intensidade varia em função
das características físicas e potencialidades de cada região (TREVISAN;MOSCHINI, 2015).
Nesse sentido, a organização do espaço é uma ação indispensável, pois busca compatibi-
lizar uso e ocupação da terra com o desenvolvimento social, cultural, ambiental e econômico.
A temática uso e ocupação da terra é relevante para o planejamento ambiental, uma vez que
explicita, através do uso de geotecnologias, como as atividades humanas estão pressionando
os elementos naturais, servindo de subsídio para o gerenciamento dos recursos naturais e aná-
lise das principais fontes de degradação do ambiente (SANTOS, 2004).
A adoção da bacia hidrográfica como unidade de estudo, planejamento e gestão é impor-
tante, pois constituem uma unidade espacial onde sociedade e natureza se integram, podendo
ser analisada por várias ciências, com abordagem tanto para os recursos hídricos formadores
do sistema, quanto pelos elementos físicos e antrópicos que a caracterizam (BARBOSA, FÉLIX e
NUNES, 2018; COSTA, SOUZA e SILVA, 2016).
Distribuídas pelo mundo, as áreas cársticas são responsáveis parcial ou totalmente pelo
abastecimento de água potável, para aproximadamente 25% da população mundial (FORD e
WLLIAMS, 2007). Bacias hidrográficas situadas em ambientes cársticos, em função das caracterís-
ticas físicas, apresentam elevado grau de fragilidade ambiental. Esses locais possuem recursos
hídricos subterrâneos, e uma das feições cársticas são as cavernas, que são cavidades naturais
subterrâneas, possuem variadas formas, contém importantes registros do passado e servem de
abrigo para diversos animais que habitam o meio subterrâneo (SOUZA e AULER, 2018).
Dessa forma, grandes modificações de uso e cobertura da terra em locais onde se tem a
presença de áreas cársticas, podem refletir em grandes prejuízos ao ecossistema cárstico e aos
recursos hídricos subterrâneos. Assim, o uso e ocupação dessas áreas chamam a atenção para
2 METODOLOGIA
O desenvolvimento do trabalho está dividido em duas etapas. A primeira constituiu-se
de levantamento bibliográfico, utilizando como fonte de dados: artigos, periódicos, livros,
documentos em sites oficiais, direcionados para os principais assuntos abordados: bacia hidro-
gráfica, planejamento ambiental, uso e cobertura da terra, área cárstica.
A segunda etapa consistiu na pesquisa em banco de dados oficiais para obtenção de
dados cartográficos, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Portal MapBiomas
para obtenção dos dados sobre o uso e cobertura da terra, no período entre 1985 e 2019, e o
Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE) mantido pelo CECAV (2021) para
adquirir o shape com a espacialização das cavernas. Para a organização e processamento dos
dados foi utilizado o software livre QGIS 3.16 versão Hannover, o qual é Sistema de Informação
Geográfica (SIG) de código aberto.
Foram adquiridas as imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), resolução espa-
cial 30 m, modeladas pelo Projeto Topodata, no site do INPE, permitindo a obtenção do modelo
digital de elevação. As folhas utilizadas para caracterização da bacia do rio Sobrado são 12s48
e 12s465 (INPE, 2008).
A componente declividade foi obtida a partir das imagens SRTM, em que foi feito o
mosaico das duas folhas, e a reprojeção para o datum SIRGAS 2000, projeção UTM (Universal
Transversa de Mercator), zona 23 Sul. A seguir, aplicou-se a ferramenta do menu Raster à
Análise à Declive, no software Qgis, obteve-se a declividade da área em porcentagem. Este
produto posteriormente foi recortado de acordo com o limite da bacia do rio Sobrado. Em
seguida, realizou-se o processo de reclassificação das classes, considerando a classificação de
Ross (1994).
O Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas) é
uma iniciativa multi-institucional para gerar mapas de uso e cobertura da terra, a partir de pro-
cessos de classificação automática aplicada a imagens de satélite. Os dados utilizados nesse
trabalho são da coleção 5 (1985-2019) (Projeto MapBiomas, 2019).
Após serem inseridos no software QGIS 3.16, os dados sobre uso e cobertura da terra do
projeto Mapbiomas foram recortados, considerando o plano de informação vetorial “limite da
bacia do rio Sobrado”. Em seguida, realizou-se a reprojeção para o datum SIRGAS 2000, proje-
ção UTM, zona 23 Sul. Posteriormente, fez-se a conversão para o formato vetorial e a edição
da tabela de atributos para a obtenção do valor da área ocupada por cada classe.
Em seguida, realizou-se a reclassificação das imagens de uso e cobertura da terra, atri-
buindo classe 1 “vegetação” (agrupamento das classes formação florestal, formação savânica
e formação campestre) e classe 2 “antrópico” (agrupamento das classes pastagem, infraestru-
tura urbana, outras áreas não vegetadas, rio, lago e oceano, outras lavouras temporárias).
Após a obtenção das imagens reclassificadas, aplicou-se a metodologia proposta por
Farias e Nery (2018), utilizando a álgebra de mapas (Equação 1), em que foi atribuído peso 10
para as classes de uso e cobertura da terra (ano 1985), com intuito de dar mais peso a este, pois
é a data inicial na realização do cálculo, a fim de observar como se deu a dinâmica em um
período de 34 anos, sendo 1985 (t1) e 2019 (t2).
Sendo MUC= mudança de uso e cobertura da terra; uso e cobertura_1985= mapa de uso e
cobertura reclassificado para o ano de 1985; uso e cobertura_2019=mapa de uso e cobertura
reclassificado para o ano de 2019, o qual resultou em quatro classes, sendo elas, 11, 12, 21 e 22.
Além disso, realizou-se a inserção do shape contendo a espacialização das cavernas sobre
os mapas elaborados para a área de estudo, com o objetivo de identificar se houve mudanças
do uso e cobertura da terra nas proximidades dessas feições cársticas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 1 apresenta os dados obtidos a partir do projeto MapBiomas para o ano de 1985
com as classes e áreas de ocupação na bacia do rio Sobrado, podendo-se notar que a maior
parte da área (77,44%) ainda se encontra coberta por vegetação nativa, e que as áreas antro-
pizadas ocupam 21,89% do território, tendo nas pastagens o seu representante mais expres-
sivo, onde 19,50% da área possui ocupação por essa classe (Figura 2).
Tabela 1 – Uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do rio Sobrado (anos 1985 e 2019)
Área (Km²) ano Percentual (%) Área (Km²) ano Percentual (%)
Classes
1985 Ano 1985 2019 Ano 2019
Formação Florestal 63,893 5,79 45,505 4,12
Figura 2 – Mapa de uso e cobertura da terra da bacia do rio Sobrado para o ano de 1985 e 2019
Ao sobrepor o shape com a localização das cavernas com o mapa de declividade foi pos-
sível observar que elas estão presentes nas classes 12-20%, 20-30% e maior que 30%, o que
dificulta atividades antrópicas como a pecuária e agricultura mecanizada.
Outro resultado importante foi o mapa da dinâmica da paisagem entre os anos de 1985
e 2019, apresentado na figura 4, no qual visualiza-se as modificações que ocorreram ao longo
do período analisado. A classe 11 representa a sobreposição da área de vegetação natural dos
anos de 1985 e 2019, e por isso essa espacialização mostra a área de vegetação mantida nas
duas datas. A classe 12 representa as áreas que eram de vegetação natural no ano de 1985, e
que em 2019 passou a ser de uso antrópico. A classe 21 representa a área regenerada, ou seja,
que era de uso antrópico em 1985 e em 2019 passou a ser de vegetação. E a classe 22 repre-
senta as áreas antrópicas mantidas para as duas datas. Na tabela 3, pode ser visualizada ao
percentual de ocupação de cada uma dessas classes de modificações ocorridas entre o ano de
1985 e 2019.
Ao inserir o shape com a localização das cavernas disponibilizado pelo CECAV (2021) com-
preendidas na área da bacia do rio Sobrado, tem-se que de um total de 51 cavernas, 32 delas
estão na classe 11, 03 estão na classe 12, 05 estão na classe 21 e 11 estão na classe 22.
Demonstrando que próximo as cavidades têm-se a presença de áreas com vegetação natural,
conforme figura 5. Entretanto, essas cavidades possuem ao seu redor área com influência das
atividades antrópicas, que nesse caso refere-se a classe pastagem.
Figura 4 – Mapa dinâmica da paisagem da bacia do rio Sobrado entre o ano de 1985 e 2019
Fonte: Reclassificação de dados do projeto MapBiomas (2019), CECAV (2021) e SEMARH (2015).
Tabela 2 – Classes do Mapa de dinâmica da paisagem da bacia do rio Sobrado entre o ano de 1985 e
2019
11 586,734 53,17
12 267,600 24,25
21 207,901 18,84
22 41,271 3,74
Fonte: Elaborado pela autora.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados disponibilizados pelo projeto MapBiomas, baseado na classificação de imagens
para monitoramento do uso e cobertura da terra se mostraram válidos para retratar as modi-
ficações ocorridas e seus principais fatores condicionantes.
Foi possível observar que a redução das áreas de vegetação ocorreu devido à conversão
para o uso da classe pastagem, sendo esta a principal atividade antrópica predominante na
área da bacia, seguida pela agricultura temporária. Portanto, a dinâmica das classes pecuária e
agricultura temporária demonstraram ser as principais variáveis na matriz econômica execu-
tada na bacia do rio Sobrado.
A componente declividade apresenta que, em sua maior parte está presente a classe
com o percentual variando de 0 a 12%, indicando a possibilidade da implantação de atividades
com o uso de mecanização da agricultura e a prática da pecuária. Além disso, o mapa de dinâ-
mica da paisagem, indicou que 53,17% da cobertura vegetal foi mantida no período analisado.
Em relação as modificações nas proximidades das cavernas, foi possível verificar que existem
áreas de vegetação ao seu redor, porém encontram-se sujeitas às fortes pressões devido ao
incremento da classe pastagem. Sendo necessárias ações de planejamento ambiental nessa
área, visto abrigar uma variedade de espécies da fauna e flora, e a remoção da vegetação
nativa pode provocar muitos prejuízos a sua qualidade ambiental, serviços ecossistêmicos
prestados e recursos hídricos.
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Resumo: Tendo em vista que a cartografia social é uma metodologia técnica de mapeamento, que
possibilita uma transformação social, ela é capaz de ser uma forma auxiliadora no desenvolvi-
mento sustentável com relação às bacias hidrográficas, que tem como principal função o abaste-
cimento e o consumo humano, pois ela ajuda a identificar conflitos na forma de uso de uma região
em questão. O artigo também trata sobre e a importância da Matriz FOFA (Força, Oportunidade,
Fraqueza e Ameaça) na cartografia social, sendo uma importante ferramenta, já que ela é capaz
de indicar forças e fraquezas, por exemplo, de determinado lugar a ser estudado, trabalhando em
conjunto com a cartografia social. Além disso, também é abordada a metodologia de aplicação da
cartografia social: o levantamento de dados do que irá ser estudado e observado com a popula-
ção, produção e digitalização dos mapas, validação final e correção dos mapas com a comunidade.
Por fim, este trabalho tem como objetivo relacionar a importância da cartografia social em con-
junto com as bacias hidrográficas e sua gestão dos recursos hídricos. Constatou-se que a utilização
da cartografia social na gestão e planejamento dos recursos hídricos, além de ser possível, traz
grandes potencialidades.
Palavras-Chave: Empoderamento; Mapeamento Participativo; Planejamento Ambiental
Abstract: Considering that social cartography is a technical mapping methodology that enables
social transformation, it is capable of being an aid to sustainable development in relation to river
basins, whose main function is supply and human consumption, as it helps to identify conflicts in
the use of a region in question. The article also deals with and the importance of the SWOT Matrix
(Strength, Opportunity, Weakness and Threat) in social cartography, being an important tool,
since it is able to point out weaknesses, for example, of a particular place to be studied, working
together with social cartography. In addition, the methodology for applying social cartography is
[ 962 ]
CARTOGRAFIA SOCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 963
also addressed: collecting data on what will be studied and observed with the population, produc-
tion and digitization of maps, final validation and correction of maps with the community. Finally,
this work aims to relate the importance of social cartography together with hydrographic basins
and their management of water resources. It was found that the use of social cartography in the
management and planning of water resources, in addition to being possible, brings great
potential.
Keywords: Empowerment; Participatory Mapping; Environmental Planning
1 INTRODUÇÃO
De acordo com o IBGE (2021), entende-se a Cartografia como sendo a representação
geométrica plana de determinados territórios, por meio de mapas, cartas ou plantas, tendo
como objetivo auxiliar na compreensão de assuntos ambientais, socioeconômicos, educacio-
nais, entre outros. Além disso, segundo Aparecida (2011), o mapa é uma representação feita
por símbolos da realidade geográfica, expondo características selecionadas, resultando na cria-
tividade e metodologia do autor, apresentando espacialmente a extensão territorial e favore-
cendo o entendimento.
A cartografia social é uma das linhas de pesquisa inseridas na cartografia, considerada
por Ascerald (2010), como sendo uma proposta conceitual e metodológica que permite cons-
truir conhecimento integral de um território, utilizando instrumentos técnicos e vivenciais.
Habegger e Mancila (2006) consideram a cartografia social como sendo a ciência que estuda os
procedimentos na obtenção de dados sobre o território, para posterior representação técnica
e artística, sendo os mapas seu sistema de comunicação predominante.
Segundo Gorayeb, Meireles e Silva (2015) a cartografia social demonstra de maneira prá-
tica a aplicação do mapeamento colaborativo dentro de comunidades de pescadores, de tribos
indígenas, quilombolas e em áreas urbanas. No primeiro esboço, que é feito pela população, é
possível localizar pontos importantes de organização, como igreja, cemitério, telefone público
e chafariz, entre outros.
Visto que a população de determinado território enfrenta diariamente os desafios do
lugar em que vive, é imprescindível a propriedade para enumerar as fraquezas presentes, atra-
vés da elaboração de mapas e da apresentação dos problemas e a partir deles, é possível esti-
pular pontos que necessitam de reformulação, ou seja, a implementação de políticas públicas.
Portanto, é de suma importância a colaboração da comunidade com os pesquisadores, pois a
organização do mapa e os diferentes pontos de vista abordados tem por finalidade englobar e
compreender o estudo de modo ainda mais detalhado.
É necessário que a comunidade seja o agente a apontar pontos importantes no mapa,
pois é ela que vive diariamente com a realidade do lugar que habita. Apesar disso, é necessário
que haja um pesquisador da área em conjunto com a população, para colaborar na construção
de um mapa científico para observação de um território.
2 METODOLOGIA
O presente artigo teve como referência metodológica a pesquisa bibliográfica que para
Marconi e Lakatos (2003, p. 158) constitui “um apanhado geral sobre os principais trabalhos já
realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes
relacionados ao tema”.
A abordagem adotada foi a indutiva/qualitativa, considerando que “a interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa”
(KAUARK; MANHÃES; MEDEIROS, 2010, p. 26). Desta forma foi possível avançar no que tange
aos aspectos subjetivos das fontes coletadas.
Foram realizadas buscas na ferramenta Google Scholar, no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), bem como em repo-
sitórios de Instituições de Ensino Superior.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Cartografia Social
A Cartografia Social, segundo Gorayeb, Meireles e Silva (2015) é apresentada como uma
vertente da ciência cartográfica, que naturalmente possui um forte caráter de cunho social e
destina a participação social ativa e duradoura, que privilegia o conhecimento popular, simbó-
lico e cultural.
Nesse sentido, Herrera (2008) destaca as múltiplas possibilidades que se abrem a partir
da cartografia social, que permitem, por um lado, propor um instrumento a serviço da
Entretanto, a maioria dos autores destaca a cartografia social como sendo um instru-
mento de aprendizagem e comunicação entre os pesquisadores e a comunidade que está par-
ticipando do projeto. Desta forma a Cartografia Social “com uma metodologia técnica, busca
registrar relatos e as representações no processo de automapeamento, além de identificar
situações de conflitos na forma de uso do território em questão” (DA COSTA LIMA, 2012), de
modo a empoderar a população preservando a veracidade dos dados.
Acselrad et al. (2008), Almeida et al. (2019) e Gorayeb, Meireles e Silva (2015) apontam
conceitos sobre a abordagem metodológica da cartografia social, a qual age como ferramenta
de análise crítica e participativa, de forma a privilegiar a delimitação e caracterização espacial
de territórios em disputa, seja por interesses socioambientais, culturais e econômicos, com
vínculos simbólicos e ancestrais.
O processo metodológico consiste em cinco etapas (Figura 1) apresentadas a seguir: 1)
planejamento preliminar e mobilização das comunidades; 2) etapa de oficinas para levanta-
mento de dados; 3) digitalização e produção dos mapas; 4) validação dos mapas sociais; 5) cor-
reções finais e entrega do produto.
As atividades se iniciam com a produção de mapas base, em escala detalhada para
melhor visualização do local de trabalho, podendo ser desenvolvido a partir de imagens de
satélites em composição colorida (cor real) e levadas impressas para a etapa de oficinas.
A mobilização dos participantes deve ser divulgada com antecedência para a participa-
ção de todos, tendo uma agenda amplamente divulgada com a colaboração de diversas enti-
dades sociais. A divulgação é estabelecida em conjunto com lideranças e parceiros institucionais
e disseminada de várias formas, dentre as quais estão: redes sociais, com panfletos digitais;
sites oficiais das prefeituras, programação de rádios; panfletos impressos; avisos orais durante
reuniões de entidades. Na divulgação é explanada a metodologia da oficina e seus objetivos,
enfatizando sua importância para a comunidade, bem como o fato de não necessitarem de
pré-inscrições, e serem realizadas de forma gratuita e aberta.
Fonte: Elaboração dos autores a partir da compreensão do trabalho de Gorayeb et al. (2015)
ambiental; iv) um rumo para inter-relacionar as ações dos agentes econômicos e os sistemas
naturais (SILVA; RODRIGUEZ; LEAL, 2011).
A presença de comunidades tradicionais nas bacias hidrográficas é outro fator que permite
aproximar ainda mais a cartografia social da gestão dos recursos hídricos no Brasil. Nesse sentido,
a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, insti-
tuída pelo Decreto nº 6040, de 07 de fevereiro de 2007, afirma que povos e comunidades tradi-
cionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem
formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhe-
cimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
Para aprimorar a gestão de recursos hídricos no Brasil, em 1997 foi instituída a Política
Nacional de Recursos Hídricos através da Lei 9.433/97 (BRASIL, 1997), que foi popularmente
chamada de “Lei das Águas”. Conforme a lei, “a gestão dos recursos hídricos deve ser descen-
tralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades” e, ser
desenvolvida por órgãos colegiados, os denominados comitês de bacia hidrográfica. Estes são
momentos destinados para discussão e decisões sobre o uso da água, também para o planeja-
mento de ações para conservação da qualidade e quantidade desse recurso. O território de
gestão dos comitês é constituído de bacias hidrográficas, que conforme a lei devem ser “unida-
des básicas de planejamento do uso, da conservação e da recuperação dos recursos naturais”
(BRASIL, 1997).
A gestão das águas é dividida em Comitês das bacias, Planos de recursos hídricos, que
cabe ao comitê aprovar o Plano para assim acompanhar as execuções, sugerir providências
necessárias ao cumprimento de suas metas; o Enquadramento dos corpos em classe que não
obrigatoriamente busca saber a qualidade da água, mas prever estratégias de planejamento
para a mesma; Outorga pelo uso da água: assegura o controle qualitativo e quantitativo dos
usos da água; Cobrança pelo uso da água que estabelece critérios justos gerais para a cobrança
pelo uso dos recursos hídricos.
De acordo com o que está posto na Lei das Águas, que determina também que a gestão
dos recursos hídricos deve ser baseada em usos múltiplos e descentralizada, fica evidente que
os preceitos e metodologias adotadas pela cartografia social podem ser aplicadas para este
feito, pois ela busca compreender e atender as necessidades da população alvo de tal estudo,
sendo uma forma de maior aproximação entre pesquisador e atores sociais.
A Matriz FOFA pode ser de extremo benefício na elaboração de um mapa da cartografia
social, com ela é possível não apenas que a população aponte lugares que consideram fonte de
forças e oportunidades dentro da comunidade, mas também as fraquezas e ameaças existen-
tes na vivência e estruturação física dos locais que podem ser melhorados. Tendo em vista que
muitas comunidades vivem do auxílio da bacia hidrográfica como forma de sustento e de
sobrevivência, a cartografia social pode ser uma grande aliada em entender de modo prático o
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa reflexão acerca da aplicação da cartografia social em gestões de recursos
hídricos, e possíveis demandas para uma construção descentralizada, podemos perceber a
potencialidade desta metodologia, bem como chegou-se à conclusão que a mesma pode ser
um poderoso instrumento de conhecimento dos lugares e territórios tradicionais, a partir da
ótica dos próprios moradores.
Cabe destacar que, a priori, os moradores de comunidades tradicionais conhecem desde
crianças a estrutura e os modos de vida do seu lugar, e suas territorialidades, a bacia hidrográ-
fica que os mesmos vivem, portanto a cartografia social evidencia esses aspectos, permitindo
um mapeamento bottom-up.
A adoção de técnicas ligadas à cartografia social na gestão dos recursos hídricos permite
uma pesquisa de ação participativa, aproximando o pesquisador da problemática social, diag-
nosticando-a e buscando a maneira de formular uma proposta de mudança na realidade social,
envolvendo, em todos os momentos, a implicação das partes.
Por se tratar de uma atividade integrada que combina a pesquisa social, o trabalho edu-
cacional e a ação, a comunidade é participante da pesquisa, contribuindo com os seus conhe-
cimentos e experiências, ao mesmo tempo em que os recebe dos demais atores envolvidos, o
que demonstra mais uma vez o potencial de aplicação na gestão dos recursos hídricos.
Por fim, cabe destacar que não foi pretensão deste capítulo esgotar as discussões acerca
das possibilidades de uso da cartografia social na gestão de recursos hídricos, mas sim trazer
discussões iniciais sobre esta temática tão relevante na atualidade.
5 AGRADECIMENTOS
As três primeiras autoras agradecem à Pró-Reitoria de Extensão (PREX) da Universidade
Federal do Ceará (UFC) pelas bolsas concedidas através do Laboratório de Geoecologias das
Paisagens e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN), vinculado ao Departamento de Geografia.
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Fortaleza: Edições UFC, 2011
Resumo: As bacias hidrográficas são áreas de captação natural da água da precipitação que fazem
convergir os escoamentos em um único ponto de saída e são consideradas como uma unidade ter-
ritorial de planejamento. O presente artigo apresenta a descrição atualizada do ambiente flúvio
lacustre da bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato, no bioma de Savana, localizada na zona rural
do Município de Boa Vista, Roraima. Neste trabalho, busca-se caracterizar os aspectos físicos do
sistema fluviolacustre para se considerar a importância desse ecossistema para a sustentabilidade
ambiental da bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato, considerando-se a crescente preocupação
ecológica e socioeconômica com a capacidade de manutenção da bacia e dos ambientes aquáticos
a ela interligados, frente às novas atividades econômicas desenvolvidas em sua área de abrangên-
cia. Elaborou-se um mapa de localização, por meio do software ArcGis 10.6, na projeção UTM,
Zona 20N, datum WGS84, da área de estudo, destacando o ambiente flúvio-lacustre que compõe
a bacia. A nascente do igarapé surge no ambiente flúvio-lacustre, na parte superior da bacia, a
qual contém 54% dos lagos e baixadas, com 72% desses lagos apresentando regime hidrológico
perene e estão integrados ao curso de água principal da rede de drenagem. A natureza das ativi-
dades econômicas alocadas na bacia do Igarapé Carrapato pode comprometer a disponibilidade
desse recurso natural, além de trazer degradação e prejuízos socioambientais, causando impactos
na estrutura social local e na sustentabilidade da bacia hidrográfica.
Palavras-chave: Igarapé Carrapato; Sustentabilidade; Lençol freático.
Abstract: The hydrographic basins are natural catchment areas of precipitation water that make
the flow converge in a single outlet point and are considered as a territorial planning unit. The pre-
sent work presents a updated description of the fluvio-lacustrine environment of the Hydrographic
Basin of the Carrapato Stream in the Savanna biome of the rural zone of Boa Vista county, Roraima.
This work aims to characterize the physical aspects of the fluvio-lacustrine system in order to
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geociências Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: veritha.
pessoa@ifrr.edu.br
2 Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: vladimir.souza@ufrr.br
3 Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: carlos.vieira@ufrr.br
[ 971 ]
972 Véritha Nascimento Pessoa; Vladimir de Souza; Carlos Eduardo Lucas Vieira
1 INTRODUÇÃO
A região nordeste do estado de Roraima apresenta uma paisagem muito particular, a
“Savana Roraimense”. Boa Vista, município de Roraima, tem todo o seu limite territorial inse-
rido neste domínio fitogeográfico, localmente denominado de “Lavrado”, a ecorregião das
“Savanas das Guianas”. Essa ecorregião é uma unidade fitogeográfica da paisagem que per-
tence ao bioma Amazônico e que apresenta especificidades ecológica e florística muito adap-
tada às condições geográficas e climáticas da região.
No estado de Roraima, as áreas de savanas, totalizam aproximadamente 39.000 km2 for-
mando uma extensa superfície aplainada com mosaicos de suaves colônias e tabuleiros entre-
meados de depressões com buritizais e manchas esparsas de florestas com ilhas (VALE JÚNIOR;
SCHAEFER, 2010, p. 18).
A bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato é uma unidade ambiental e está presente
numa área que se apresenta bastante antropizada. As atividades econômicas e os tipos de
empreendimentos entorno dessa bacia são diversos, principalmente em face aos múltiplos
usos da água dessa bacia, como as culturas irrigadas, piscicultura em tanques escavados, mine-
ração (extração de piçarreira), pecuária extensiva, avicultura, termelétricas para produção de
energia, lazer/balneários em pequenas propriedades (sítios) e outras atividades econômicas
alocadas no entorno do Igarapé Carrapato. Todas essas atividades dependem dos recursos
naturais dessa bacia.
Uma das particularidades desse ambiente é a ocorrência de lagos orientados associados
a zonas de fraturas ou até mesmo ocupando fraturas em um mosaico poligonal, indicando um
controle tectônico destes, os quais são entendidos como originários de afloramento do nível
freático, sendo que alguns são perenes e outros temporários (COSTA, 2008, p. 93).
Todo este complexo de lagos naturais é um ecossistema aquático único e essencial para
manutenção e sustentabilidade da bacia e os ambientes ecológicos a ela integrados. Dadas as
características das áreas de fundos de vale (amplas e planas), associado ao clima local, são fre-
quentes nestas regiões, inundações, além de apresentarem naturalmente forte variação espa-
cial no espelho d´água e afloramento do lençol freático local, tornando inadequada a utilização
das áreas do fundo de vale próximo do igarapé (SANDER, et al., 2012).
Diante do exposto, este trabalho busca realizar uma descrição dos aspectos físicos do
ecossistema flúvio-lacustre da bacia hidrográfica do Igarapé Carrapato, com o intuito de reco-
nhecer e descrever os elementos ou forças que atuam e que interferem na sustentabilidade
dos recursos naturais da bacia. Para elaboração deste estudo realizou-se uma revisão biblio-
gráfica documental acerca do tema, objetivando-se demonstrar a relevância do ambiente flú-
vio-lacustre para a sustentabilidade da bacia do Igarapé Carrapato. E ao final elaborou-se um
mapa de localização, por meio do software ArcGis 10.6, na projeção UTM, Zona 20N, datum
WGS84, da área de estudo, destacando-se o ambiente flúvio-lacustre que compõe a bacia.
2 METODOLOGIA
Para realização deste estudo, foram feitas pesquisas acerca do tema, em capítulos de
livros, dissertações, artigos e revistas científicas, em plataformas de órgãos e instituições públi-
cas governamentais e não governamentais. Assim, foi possível elaborar o aporte da fundamen-
tação teórica. Em seguida, buscou-se o embasamento na literatura documental específica
relacionada ao ambiente flúvio-lacustre da bacia hidrográfica do igarapé Carrapato.
A partir de então, partiu-se para o processamento de imagens remotas em ambiente GIS,
elaborou-se um mapa de localização da área de estudo, destacando-se o ambiente flúvio-la-
custre que compõe a bacia. O mapa foi elaborado no software ArcGis 10.6, na projeção UTM,
Zona 20N, datum WGS84.
antrópicas para o uso do solo e das bacias hidrográficas, os quais condicionam o manejo e a
rentabilidade socioeconômica da atividade ali empregada.
O nível de utilização das atividades antrópicas deve levar em conta a disponibilidade dos
recursos naturais e o nível de impacto que sofrerá o ecossistema, pois a sustentabilidade
garante a manutenção e o acesso aos recursos naturais, bem como a saúde ecológica dos
ambientes naturais.
A bacia hidrográfica do Rio Branco para onde fluem todas as águas que compõem a rede
de drenagem do município de Boa Vista, estado de Roraima, é composta por inúmeros igara-
pés, rios e lagos. Os lagos têm apresentado um importante papel na manutenção do equilíbrio
aquáticos da região, estando interconectados com outras redes de drenagem, e em alguns
casos, compartilhando nascentes.
Carvalho e Sander (2016) discutindo acerca do lavrado roraimense e a formação de lagos,
destacam que
Na maior parte da superfície regional de aplainamento do lavrado, predominam
colinas dissecadas, localmente conhecida como tesos, formas originadas pela disse-
cação de drenagem em torno dos sistemas lacustres interconectados por igarapés
inter-tesos, cuja declividade varia entre 0° -0 5° em relevo plano com baixa energia,
favorecendo o aporte de material sedimentar, basicamente arenoso, proveniente
das áreas adjacentes elevadas. A baixa energia do relevo na região central do lavrado
favorece a formação de um interessante sistema de lagos de formato predominante
circular, não fluviais. A formação destes lagos está associada às águas pluviais osci-
lação do lençol freático, são em sua maioria cabeceiras de canais de drenagem de
primeira ordem (CARVALHO e SANDER, 2016, p. 24).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A paisagem da área da bacia é marcada por muitos recursos hídricos dispostos em sua
superfície na forma de lagos e baixadas que a compõem (Figura 1). Todo este ecossistema
aquático, em alguns pontos se conectam formando um integrado sistema denominado de pla-
nície flúvio – lacustre, formando a bacia hidrográfica do igarapé Carrapato.
Figura 2 – Mapa de Localização do Igarapé Carrapato com a presença do Ambiente flúvio-lacustre que
compõe a Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato Boa Vista, Roraima
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica é o ambiente natural para onde escoam todas as águas oriundas das
precipitações que por meio do escoamento superficial fluem impulsionadas pela força da
gravidade infiltram no solo e escoam para as áreas mais baixas do relevo em direção ao canal
principal até o seu exutório ou foz. Todo este caminho contribui para o aumento da vazão em
reservatórios naturais como um rio, ou igarapé, ou uma área de planície flúvio-lacustre de uma
bacia hidrográfica.
Os ecossistemas flúvio-lacustres são elementos geográficos da paisagem da Savana de
Roraima. Estes são ambientes aquáticos sensíveis e essenciais para a manutenção da rede
drenagem na região onde se situam, além de contribuir para a conservação da biodiversidade e
do endemismo local. Os lagos que ocorrem no Lavrado de Roraima são reservas hídricas essenciais
para a conservação da biodiversidade e contribuem para o desenvolvimento de atividades
econômicas. Compreender a complexidade e a integração dessa rede hidrográfica, nesta parte
da Amazônia brasileira, é extremamente relevante para a conservação da biodiversidade.
No Município de Boa Vista, onde se insere a Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato,
ocorre uma vasta e extensa área de planícies flúvio-lacustre. Esta mantém uma relação direta
com os índices pluviométricos, com o escoamento das bacias hidrográficas e flutuações do len-
çol freático da região. Os lagos de tamanhos e formas variadas que se espalham pelo território
se apresentam como reservas hidrológicas, e suas drenagens e os sistemas de recargas hídrica
ainda não estão claramente definidos. O que dessa forma se faz necessário realizar pesquisas
e estudos futuros para compreender toda a dinâmica hidroflúvio-lacustre da bacia hidrográfica
do Igarapé Carrapato.
Conhecer as particularidades do ecossistema flúvio-lacustre da bacia hidrográfica do iga-
rapé Carrapato é de fundamental importância para garantir a conservação da riqueza ecoló-
gica e hídrica da região, a sustentabilidade do ecossistema e dos ambientes ecológicos integrado
a ele que são outros igarapés. Além disso, garantirá o desenvolvimento socioeconômico e a
manutenção da estrutura social e produtiva da bacia, ao passo que somente através de estudo
e pesquisas futuras poderá de fato conhecer e estimar o nível de sustentabilidade que apre-
senta o ambiente flúvio-lacustre para com a bacia hidrográfica.
Nesse sentido de preservação, tanto dos recursos hídricos quanto da biodiversidade
regional, a pesquisa científica é uma aliada, pois seu ponto de vista técnico e o rigor de suas
análises contribuem para o monitoramento e a identificação dos impactos que as novas práti-
cas provocaram no ecossistema da bacia. Visto que o uso da Savana e dos ambientes flúvio-la-
custre que o integra deverá continuar a fazer parte de uma proposta pautada no desenvolvimento
sustentável para manutenção dos recursos naturais da região.
6 REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Disponível em:
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(orgs.). Boa Vista: Editora da UFRR, 2016. p. 13-38.
[ 982 ]
DIAGNÓSTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS 983
automatic delimitation of watersheds, using the Digital Elevation Model (MDE) ALOS PALSAR and
the software QGIS; subsequently, the mapping and comparative analysis of land use classes in
these watersheds was accomplished. As a result, 35 watersheds and rainwater drainage microba-
sins were delimited, considering two groups: the large notable basins (identified in the databases
used) and the smaller, unidentified basins or microbasins. The Córrego Juventino’s watershed, a
tributary of the Bonsucesso catchment, is in the most critical condition in the municipality, with
only 9% of native vegetation, followed by Córrego Vertente’s. The watersheds of Pari and Lajeado
presents more than half of their areas with Cerrado vegetation (forest and savannah). Features of
native vegetation were verified in all watersheds, but in general with small areas and more related
to APPs (which have mandatory protection). Finally, the objective was achieved and highlights the
importance of diagnosis, monitoring, inspection, licensing and preservation actions for the envi-
ronmental quality of the municipality.
Keywords: Watersheds; anthropization; land use and land cover; municipality.
1 INTRODUÇÃO
As expressivas mudanças no uso e ocupação do solo ocasionadas pela vasta urbanização
e pela expansão da fronteira agrícola no Cerrado têm promovido nas últimas décadas a inten-
sificação e o aceleramento dos impactos socioambientais e da degradação ambiental.
No bioma Cerrado, a conversão da vegetação nativa em pastagens e de áreas de pastos
em áreas de culturas agrícolas são as mais proeminentes (SANO et al., 2019). Por sua vez, no
Estado de Goiás, o processo de ocupação territorial também é associado à expansão da fron-
teira agrícola, amplamente apoiada na modernização e viabilizando ampla produção agrícola
(MIZIARA; FERREIRA, 2008; SILVA et al., 2013).
Diante das mudanças no uso do solo, o meio natural apresenta uma vulnerabilidade
ambiental que responde as pressões das atividades antrópicas e se materializam em degrada-
ções que afetam a estabilidade ecológica (CUNHA et al., 2011).
Nesse contexto, as bacias hidrográficas são unidades básicas de planejamento e gestão
consagradas pela Lei nº 9.433 de 1997 (BRASIL, 1997), que as estabelecem como “unidade ter-
ritorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”.
As bacias hidrográficas são essenciais para o planejamento ambiental, sendo uma impor-
tante categoria de análise geográfica, escolhida como referencial desta pesquisa. Botelho
(1999) entende que a partir destas é possível reconhecer e estudar as inter-relações existentes
entre os diversos elementos ambientais e os processos que atuam na sua esculturação.
Em outras palavras, é no contexto da bacia hidrográfica que deve ser realizada a avalia-
ção dos impactos ambientais para as tomadas de decisão em nível nacional, estadual e munici-
pal. Diante disso, este trabalho objetiva diagnosticar o estado recente do uso e ocupação do
solo nas bacias hidrográficas do município de Senador Canedo-GO.
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
A área de estudo possui como recorte espacial o município de Senador Canedo, locali-
zado na Região Metropolitana de Goiânia, capital do estado de Goiás.
Com cerca de 247,01 km², o município possui algumas características de meio físico notá-
veis. Sua altimetria varia de 653 a 1033m, com maiores elevações ao norte e em uma faixa que
une essa região ao sudeste. As menores elevações são próximas a cursos d’água (Figura 1).
A declividade varia desde o relevo plano ao montanhoso; as áreas planas em geral se loca-
lizam nas drenagens de maior porte e as declividades suavemente onduladas se encontram dis-
tribuídas por todo o município, com um mosaico de relevo ondulado, fortemente ondulado e
montanhoso em algumas regiões como o Morro Santo Antônio (região próxima à central), a Serra
da Canastra (a Norte), a Serra do Pari (ao Sul) e outras áreas a Nordeste (Figura 1).
As unidades geomorfológicas, em macro escala, são as planícies e terraços fluviais, nas
proximidades do rio Meia Ponte; a Superfície de Goiânia; e as Serras e Superfícies Intermediárias
das Altas Bacias do Paranaíba (Figura 2). Já a pedologia de grande parte do município é carac-
terizada por latossolos, a porção sul apresenta solos mais frágeis (cambissolos e argissolos) e
há grandes feições de grupamento urbano (majoritariamente impermeabilizado).
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O procedimento metodológico para realização deste estudo foi dividido em duas etapas:
delimitação automática das bacias hidrográficas e, em sequência, mapeamento e análise com-
parativa das classes de uso e ocupação do solo destas bacias.
Na primeira etapa foi utilizado o Modelo Digital de Elevação (MDE) do radar PALSAR, do
satélite japonês ALOS, com resolução espacial de 12,5m. Para a geração automática de bacias
hidrográficas foi utilizada na extensão SAGA GIS do software QGIS, a ferramenta “Channel net-
work and drainage basins”, que resultou na delimitação inicial das bacias.
A caracterização inicial das bacias deu-se a partir do mapeamento da hidrografia do
município, utilizando como bases os dados hidrográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), do Sistema de Geoinformação de Goiás (SIEG) e dos mapeamentos do último
Plano Diretor Municipal (Lei Complementar nº 2.314/2020).
As bacias hidrográficas foram então organizadas utilizando os seguintes critérios: a)
Devido à sua grande área, a bacia do ribeirão Bonsucesso foi dividida em quatro sub-bacias
menores (utilizando mesmo procedimento metodológico anterior), com o objetivo de possibi-
litar uma análise diagnóstica e comparativa mais detalhada; b) As bacias de drenagem próxi-
mas ao limite municipal e que não apresentam um curso d’água principal (apenas o escoamento
da drenagem pluvial) foram agrupadas e receberam a denominação de “microbacias de
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta metodológica aplicada resultou na delimitação de 35 bacias hidrográficas e
microbacias de drenagem pluvial, sendo algumas com característica mais antropizada, outras
com maior ênfase da agropecuária e outras mais preservadas, conforme é apresentado a seguir.
As bacias com as áreas mais expressivas no município (acima de 20 km²) são a Alta Bacia
do Ribeirão Bonsucesso e as bacias do Córrego Matinha, Vargem Bonita e Dois Irmãos, sendo
que duas entre as quatro citadas fazem parte da grande bacia do ribeirão Bonsucesso, principal
bacia de abastecimento público municipal.
Observa-se que estas bacias possuem maior densidade de drenagem e ramificações de
seus cursos d’água principais, o que já permite inferir uma maior necessidade de preservação
nessas regiões, considerando as Áreas de Preservação Permanente previstas no Código
Florestal (BRASIL, 2012). Por sua vez, as bacias com menores áreas (em torno de 1 a 3 km²) são
as de afluentes do Meia Ponte, Sozinha e Lajeado-Capoeirão, bem como as microbacias de dre-
nagem pluvial (individuais).
d’água superficiais), quatro classes referentes ao setor agropecuário (pastagem, soja, lavouras
temporárias e mosaicos de agropecuária) e duas classes vinculadas à urbanização e suas infraes-
truturas (Figura 4).
Nas quatro maiores bacias do município, nota-se a presença expressiva da classe de pas-
tagem inclusive nas proximidades dos cursos d’água principais.
Considerando que o Ribeirão Bonsucesso é um manancial de abastecimento que fornece
água para a população do município, o Córrego Matinha possui captação de água que abastece
um dos maiores bairros do município (Jardim das Oliveiras), o Dois Irmãos é um dos principais
afluentes do Bonsucesso e o Vargem Bonita possui o maior barramento de água do município,
ressalta-se a importância da revitalização das áreas de preservação destes cursos d’água.
A maior concentração da área urbana municipal está situada nas proximidades dos divi-
sores de água de quatro bacias: Vargem Bonita, Juventino, Lajinha e Baixa Bacia do Bonsucesso,
apesar de outras concentrações urbanas que ligam Senador Canedo a Goiânia.
Observa-se quatro grandes feições de plantações de soja: uma em pivô que abrange uma
microbacia de drenagem de afluente do Rio Meia Ponte e mais uma parte da bacia do Tabatinga;
uma nas proximidades de um grande lago artificial na bacia do Vargem Bonita, utilizado para
abastecimento; uma próxima à nascente do Córrego Santo Antônio (bacia que abriga o histó-
rico Morro Santo Antônio, patrimônio cultural e ambiental do município); e uma que abrange
o entorno da APP do Córrego Matinha.
Fora do centro urbano, há áreas com urbanização esparsa, fazendo que haja vazios ocupa-
cionais entre as instalações de infraestrutura urbana, o que pode ocasionar inicialmente o des-
matamento, o aparecimento de pastagens e lavouras e posteriormente a efetiva urbanização.
As maiores porções de áreas verdes naturais estão situadas na região Sul do município,
local em que se encontram solos mais frágeis (cambissolos) e relevo movimentado. Há feições
de vegetação nativa em todas as bacias, mesmo que em geral apresentem áreas pequenas,
estando relacionadas principalmente aos cursos d’água (nascentes e leito dos córregos).
De modo geral, pode-se visualizar neste mapeamento em macro escala que grande parte
dos cursos d’água principais do município não apresentam as áreas de proteção idealizadas
pela legislação federal (30m), mesmo que no Código Municipal de Meio Ambiente (Lei nº
1.587/2011) as distâncias de APPs de cursos d’água e de nascentes sejam maiores do que o
estabelecido em nível federal, conforme segue.
“Art. 203. Considera-se de preservação permanente, para os efeitos desta Lei, as
florestas e demais formas de vegetação situados:
I. Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa
marginal, cuja largura mínima seja de 50,00m (cinquenta metros)
III. Nas áreas circundantes das nascentes permanentes com um raio mínimo de
100,00 (cem metros) metros, e para as nascentes temporárias, com raio mínimo de
50,00m (cinquenta metros)” (SENADOR CANEDO, 2011).
Figura 4 – Mapa de uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas de Senador Canedo-GO em 2020
Figura 5 – Percentuais de uso e ocupação nas bacias hidrográficas notáveis de Senador Canedo em 2020
As bacias dos Córrego Pari e Lajeado são uma exceção por somarem mais de metade de
sua área com presença de vegetação de Cerrado (florestal e savânica), sendo consideradas as
bacias com maiores percentuais de áreas preservadas do município. Nota-se ainda que estas
são as bacias notáveis com maiores percentuais de savanas (22,7% e 19,3%, respectivamente),
com Cerrado mais característico, seguidas pela bacia do Córrego Olaria/Açude/Odair (13,8%) e
a do Córrego Fundo (12,8%).
Por outro lado, a bacia do Córrego Juventino (afluente do manancial de captação
Bonsucesso) pode ser considerada a de estado mais crítico quanto à preservação ambiental,
tendo em vista que quase três quartos de sua área total são ocupados por área urbana, com
apenas 9% de vegetação nativa (florestal e savânica) e pouco menos de 1% de áreas úmidas.
Bacias como a do Córrego Vertente se encontram em situação semelhante de escassez
de vegetação nativa, com 6,8% de vegetação florestal e 1,4% savânica, com maior abundância
de pastagens, enquanto as bacias dos Córregos Matinha e Vargem Bonita apresentam pouco
mais de 10% de vegetação natural e maiores percentuais de pastagens, agropecuária e infraes-
trutura urbana.
Como em Senador Canedo, a problemática da urbanização intensiva é verificada em
grande parte dos centros urbanos no Brasil e pode contribuir com a redução do quantitativo de
água, da qualidade hídrica e da qualidade ambiental dos municípios (MESQUITA; SILVESTRE;
STEINKE, 2017), devendo ser aspecto considerado no planejamento municipal.
Cabe ressaltar a relevância das áreas verdes para a gestão municipal, posto existir uma
recomendação de quantitativo de espaço verde por habitante, com uma composição e estru-
tura da vegetação que corresponda às funções desejadas (BERTOLLO et al., 2005).
Passando às pequenas bacias e às microbacias de drenagem (Figura 6), ocorre que em
geral também há grandes percentuais de pastagens e agropecuária, com algumas exceções.
Figura 6 – Percentuais de uso e ocupação nas bacias hidrográficas não identificadas e nas microbacias
de drenagem pluvial de Senador Canedo em 2020
Podem ser destacadas as bacias do afluente do Ribeirão Sozinha (C) e do Meia Ponte (A),
que possuem o maior percentual de preservação, correspondendo a 74,8% e 62,1% de formação
florestal, respectivamente. Em ambas as bacias observamos que a preservação florestal advém
da localização e histórico, pois a bacia de afluente C do Ribeirão Sozinha está na área denominada
“Zona Rural”, conforme Plano Diretor Municipal, e a bacia de afluente A do Meia Ponte localiza-se
às margens do Rio Meia Ponte, que possui histórico de maior necessidade de preservação.
Em contraponto, temos nas bacias de afluentes e microbacias de drenagem a predomi-
nância de pastos e baixo percentual de vegetação nativa, vejamos a bacia de afluente do
Ribeirão Sozinha (A) com 68,3% de cobertura de pastagens.
Na microbacia de afluente do Lajeado-Capoeirão (drenagem), observa-se 68,3% de uso
para infraestrutura urbana, sendo algo esperado visto que não é uma bacia com presença de
cursos d’água, portanto sem conservação obrigatória.
Quanto a esse aspecto, Feltran-Barbieri et al. (2018) verificaram em uma região do
Cerrado goiano que as principais motivações dos donos de terras para a proteção da vegetação
nativa nas propriedades eram a aplicação do Código Florestal e o desuso de terras impróprias
para uso agrícola, o que pode remeter ao cenário de Senador Canedo, em que as principais
áreas verdes remanescentes são algumas APPs e a região sul do município, com solo frágil.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as bacias hidrográficas como unidades básicas de planejamento, gestão e
disciplinamento das realidades ambientais e como base para os projetos de ampla importância
no contexto municipal, este trabalho alcançou o objetivo de analisar o estado recente do uso e
ocupação do solo nas bacias hidrográficas de Senador Canedo.
As maiores bacias hidrográficas municipais são a Alta Bacia do Ribeirão Bonsucesso e dos
córregos Matinha, Vargem Bonita e Dois Irmãos, sendo que estes quatro cursos d’água pos-
suem especial necessidade de preservação, principalmente devido a funções como o abasteci-
mento público, reservação e recarga hídrica. Já as menores bacias são as dos afluentes do Rio
Meia Ponte, Ribeirão Sozinha e Córrego Lajeado-Capoeirão, e as pequenas microbacias.
Foi verificado que há grandes percentuais de pastagens nas bacias hidrográficas do muni-
cípio, chegando a 73,1% na bacia do Córrego Capoeira. As bacias com maior necessidade de
recuperação e monitoramento das áreas protegidas são: a) a bacia do Córrego Juventino, com
quase 75% de área urbana e menos de 10% de vegetação nativa e áreas úmidas; b) a bacia do
Córrego Vertente, com maior abundância de pastagens e cerca de 8,2% de Cerrado; c) e as
bacias do Córrego Matinha e Vargem bonita, com pouco mais de 10% de vegetação natural.
As feições de vegetação nativa estão presentes em todas as bacias do município, mas em
geral possuem áreas pequenas e relacionadas principalmente às APPs de cursos d’água, seja de
nascentes ou ciliares. As bacias consideradas mais preservadas, com maior potencial de
5 REFERÊNCIAS
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município de Senador Canedo e dá outras providências. Senador Canedo, Goiás, 2011.
PATRÍCIA ZIANI1
ELIANE MARIA FOLETO2
Resumo: Toda e qualquer paisagem por si só detém uma dinâmica própria e a partir dos elemen-
tos que a compõem se modifica com o passar do tempo. A presença humana tende a alterar e ace-
lerar essas transformações, desestabilizando, muitas vezes, o sistema que essa paisagem está
inserida. Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo analisar a dinâmica da paisagem da
Unidade de Planejamento e Gestão (UPG) Nascente do Jacuí/RS, avaliando a configuração da
estrutura da paisagem com base na análise do uso e cobertura do solo de 1985 e 2019 e suas rela-
ções com as mudanças da paisagem. Para tanto, realizou-se: levantamento bibliográfico, referente
tanto ao tema trabalhado quanto à área de estudo; trabalhos de campo; elaboração de mapas
temáticos; e análise e discussão dos dados gerados. Os resultados revelam intensa dinâmica de
cobertura e uso da terra ocorrida ao longo de 34 anos (1985-2019) na UPG Nascente do Jacuí,
apresentando mudança estrutural profunda na paisagem, vinculada principalmente: ao avanço da
monocultura da soja, que se tornou a matriz dominante dessa paisagem, comprometendo a diver-
sidade da paisagem; a diminuição da formação florestal, atrelado ao estreitamente e isolamentos
desses fragmentos florestais; ao aumento da formação plantada, associada a plantação de espé-
cies exóticas; e a diminuição das áreas de formação campestre, pastagem e mosaico de agricultura
e pastagem. Tais alterações configuram uma drástica alteração do metabolismo ecológico desta
paisagem, alertando para a necessidade de pesquisas mais aprofundadas para debater e elucidar
tais questões, buscando compreender as implicações dessa dinâmica da paisagem.
Palavras-chave: Uso e cobertura do solo; Recursos Hídricos; Bacia Hidrográfica; Áreas de
Preservação Permanente.
Abstract Any and all landscape by itself has its own dynamics and, according to the elements that
compose it, it changes over time. Human presence tends to alter and accelerate these transforma-
tions, often destabilizing the system in which this landscape is inserted. In this sense, this research
aims to analyze the landscape dynamics of the Planning and Management Unit (PMU) Nascente do
Jacuí/RS, evaluating the configuration of the landscape structure based on the analysis of land use
[ 994 ]
DINÂMICA DA PAISAGEM NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NASCENTE DO JACUÍ/RS ENTRE 1985 E 2019 995
and cover in 1985 and 2019 and their relation to changes in the landscape. For this purpose, it was
carried out: bibliographic survey, referring both to the subject of this work and the area of study;
field work; elaboration of thematic maps; and analysis and discussion of the generated data.
Results revealed intense dynamics of land use and cover that took place over 34 years (1985-2019)
at PMU Nascente do Jacuí, presenting a profound structural change in the landscape, mainly linked
to: the advance of soybean monoculture, which became the dominant matrix of this landscape,
compromising its diversity; the decrease in forest formation, tied to the narrowing and isolation of
these forest fragments; the increase in planted formation, associated with the plantation of exotic
species; and the decrease in areas of grassland formation, pasture and agriculture and pasture
mosaic. Such changes configure a drastic alteration in the ecological metabolism of this landscape,
alerting to the need for further research to debate and elucidate such issues in order to under-
stand the implications of this landscape dynamics.
Keywords: Land use and coverage; water resources; watershed; Permanent Preservation Areas.
1 INTRODUÇÃO
Toda e qualquer paisagem por si só já detém uma dinâmica própria e a partir dos elemen-
tos que a compõem se modifica com o passar do tempo. A presença humana tende a alterar e
acelerar essas transformações, desestabilizando, muitas vezes, o sistema que essa paisagem
está inserida.
O nosso histórico ocupacional enquanto sociedade demonstra que a partir do momento
em que há um rompimento e um distanciamento expressivo da relação estabelecida entre
sociedade e natureza, há uma demanda cada vez mais intensa dos recursos naturais, em que a
sociedade que se beneficia desses processos de exploração da natureza, mas também sofre
mediante a exploração excessiva ou que não são bem manejadas. Esse histórico demonstra
que mediante explorações excessivas a sociedade responde, em curto e longo prazo, com
diversas problemáticas ambientais vinculadas ao comprometimento da capacidade de carga e
do próprio processo exploratório da natureza, que ocasionam diversos impactos ambientais e
prejuízos ao meio ambiente, desenvolvimento social e econômico.
O desafio é que essas intervenções não gerem desestabilizações do sistema funcional e
estrutural da paisagem, verificando o nível de interferência que cada uma pode ter de apro-
priação dos recursos naturais sem que ela se transforme num ambiente degradado.
Tais questões são objeto de constantes discussões na Ciência Geográfica, sendo ampa-
rada pela Geoecologia das Paisagens, que auxilia na compreensão e caracterização das paisa-
gens, por meio do embasamento teórico e metodológico. O viés geoecológico privilegia a
análise integrada da paisagem para a gestão do território, uma vez que aborda questões de
macroescala, tanto espaciais quanto temporais e, auxilia no planejamento de forma articulada
e integrada numa perspectiva social e econômica que promova o uso sustentável dos recursos
naturais (RODRIGUES; SILVA E CAVALCANTI, 2013).
Somado a isso, tem-se a ampla utilização das geotecnologias e dos Sistemas de
Informações Geográficas (SIGs), que viabilizam o cruzamento de dados e a construções de
modelos de análise da paisagem em diferentes escalas temporais e espaciais, bem como a
quantificação dos elementos que compõem a estrutura da paisagem por meio do uso de métri-
cas da paisagem, contribuindo substancialmente para a análise e interpretação do território e
das paisagens.
Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo analisar a dinâmica da paisagem da
Unidade de Planejamento e Gestão (UPG) Nascente do Jacuí/RS, integrante da bacia hidrográ-
fica do Alto Jacuí, avaliando a configuração da estrutura da paisagem com base na análise do
uso e cobertura do solo de 1985 e 2019 e suas relações com as mudanças da paisagem.
Entre as razões que justificam a escolha da área de estudo está o fato de que essa envolve
o alto curso do rio Jacuí, que é o principal rio de domínio do Estado do RS, sendo alvo de cons-
tantes dinâmicas na paisagem e contemplada para o desenvolvimento de estudos do projeto
Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD), edital CAPES 071/2013, do qual as
autoras fizeram parte e desenvolvem pesquisas.
Outro aspecto que corrobora para a utilização deste recorte espacial de análise é o fato
de que as bacias hidrográficas possibilitam uma visão integradora da paisagem. A utilização
dessas áreas como unidade de gestão ambiental tem sido utilizada, cada vez mais, por diversas
instituições governamentais, exigindo assim uma abordagem mais abrangente em estudos, nos
quais a complexidade e a análise sistêmica surgem, como necessidades epistemológicas no
momento de estruturar as bacias hidrográficas (RODRIGUEZ e SILVA, 2013).
Christofoletti (1981) coloca que a bacia hidrográfica se constitui como “uma área dre-
nada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, funcionando como um sistema aberto,
em que ocorre a entrada e saída de energia e matéria”. A Geoecologia das Paisagens fornece
subsídios fundamentais para o desenvolvimento de trabalhos relacionados com a dinâmica dos
sistemas naturais, como é o caso dos estudos de bacias hidrográficas, uma vez que é necessário
pensar a bacia hidrográfica como um sistema ambiental complexo que deve ser analisado por
uma concepção que articule e integre os momentos fundamentais de sua formação e organi-
zação (RODRÍGUEZ, SILVA e LEAL, 2011).
Deste modo, acredita-se que a bacia hidrográfica é o recorte espacial de análise mais
apropriado para atender os objetivos deste trabalho, pois compreender as bacias hidrográficas
dentro da perspectiva sistêmica de integração entre cada um dos componentes da paisagem
bem como a sua dinâmica da paisagem, que é resultantes do processo dialético e contínuo na
relação sociedade-natureza, é fundamental para o planejamento racional desta paisagem
tanto para minimizar os impactos atuais bem como antecipar futuros em áreas que ainda não
estão sujeitas a processos de ocupação.
2 METODOLOGIA
Fonte: Autoral.
Ernestina, tendo como principais cursos d’água os arroios Espraiado, Porongos, Estivinha, o
arroio Grande e o arroio Pinheiro Torto.
Quanto aos aspectos de vegetação, a UPG Nascente do Jacuí é composta, principalmente,
por Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária) e Floresta Estacional Decidual (Floresta
Tropical Caducifólia), típicas do Bioma Mata Atlântica, e campos abertos com Estepe com
matas de galeria, indicando a transição para o Bioma Pampa, já em menor extensão. Sobre a
Mata Atlântica, cabe salientar que é um dos biomas que mais sofrem supressão dos fragmen-
tos de vegetação no Brasil, desde a sua colonização, sendo categorizado como um hotspots.
Pertencem, parcialmente, a área de estudo os municípios de Passo Fundo, Mato
Castelhano, Ernestina, Marau, Ibirapuitã, Soledade, Mormaço, Victor Graeff e totalmente os
municípios de Nicolau Vergueiro e Tio Hugo. A maioria desses municípios são pequenos, com
menos de 5.000 habitantes, já, entre os municípios com maior população estão Passo Fundo
com 184.826 habitantes, Marau 36.364 e Soledade com 30.044 (IBGE, 2020).
No que tange à questão econômica, destaca-se, com base no PIB de 2017, que metade
dos municípios da área de estudo destinam-se ao setor econômico agropecuário e a outra
metade a prestação de serviços, que está diretamente vinculada a prestação de serviços de
fomento ao desenvolvimento da agricultura, sediando diversas empresas nacionais e interna-
cionais de suporte agrícola (IBGE, 2020). Diante desse panorama econômico pode-se afirmar
que a bacia hidrográfica do Alto Jacuí é uma área eminentemente agrícola.
dos limites dos estados brasileiros e países da América Latina, disponíveis no Portal de Mapas
do IBGE, e a base cartográfica vetorial contínua do RS, na escala 1:50.000, disponibiliza pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), detendo os cursos d’água. O recorte espa-
cial da área de estudo foi obtido a partir do georreferenciado de uma imagem do Relatório sín-
tese de elaboração de serviço de consultoria relativo ao processo de planejamento dos usos da
água na Bacia Hidrográfica do Alto Jacuí – Etapas A e B, que contém os limites das UPGs. Já, a
localização da UHE de Ernestina e da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Cotovelo do Jacuí
esteve pautada as coordenadas geográficas disponibilizadas no Banco de Informações de
Geração (BIG) da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Tais bases cartográficas servi-
ram de suporte para a realização dos demais mapas.
Os mapas de uso e cobertura do solo na UPG Nascente do Jacuí de 1985 e 2019 foram
elaborados a partir da base de dados do MapBiomas – Coleção 5.0, que apresenta dados gra-
tuitos e de qualidade do uso e cobertura do solo de todo o Brasil, contendo 11 classes. Tais
dados foram obtidos no Google Earth Engine, que permite recortes territoriais e temporais
específicos, em formato raster (resolução de 30 metros, com escala 1:250.000), os quais foram
processados e gerados shapefiles.
A partir desses dados e buscando salientar os tipos de uso e cobertura do solo nas APPs
da área de estudo, utilizou-se a ferramenta “buffer” para de delimitação das APPs de curso
d’água, levando em consideração a legislação do Código Florestal Brasileiro vigente. Deste
modo, para as nascentes dos cursos d’água estabeleceu-se um “buffer” de 50m, para os cursos
d’água de menos 10m de largura criou-se um “buffer” de 30m, já para os cursos d’água de 10m
a 50m de largura definiu-se 50m de “buffer” e para o entorno do reservatório da UHE de
Ernestina estabeleceu-se um “buffer” de 100m. Por meio da ferramenta “merge” realizou-se a
junção desses arquivos vetoriais em um só, e em seguido utilizou-se o comando “dissolve” para
não haver sobreposição.
De posse destes dados, na tabela de atributos, por meio da ferramenta Calculate
Geometry calculou-se, em quilômetros quadrados (km²), a área de cada tipo de uso e cober-
tura do solo tanto referente a toda área de estudo quanto nas APPs, servindo de base para a
elaboração das tabelas 1 e 2. Por fim, realizou-se a análise e discussão dos dados gerados, per-
mitindo apresentar alguns apontamentos e considerações sobre os mesmos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os mapeamentos de cobertura de uso e cobertura do solo de 1985 e 2019 da UPG
Nascente do Jacuí, apresentados na figura 2 e sumarizados na tabela 1, revelam intensa dinâ-
mica, apresentando mudança estrutural profunda na paisagem, pautada no avanço da mono-
cultura da soja, por toda a área de estudo, tornando-se a matriz predominante desse território,
comprometendo a diversidade da paisagem.
Fonte: Autoral.
Tabela 1 – Quantificação dos tipos de uso e cobertura do solo na UPG Nascente do Jacuí.
declínio das áreas de formação campestre, que apresentaram redução de 29,58 km² dentro da
série histórica analisada. Esse padrão de alteração indica que o conflito pelo uso dos recursos
hídricos tende a aumentar, visto que aumenta a necessidade de retiradas de água para irriga-
ção, visto que aumenta a área irrigada.
De modo inverso, as áreas de infraestrutura urbana, apesar de não serem tão expressivas
na matriz paisagística, tiveram um aumento de 20,24 km², visto que em 1985 ocupavam ape-
nas 9,35km². Esse incremento está relacionado ao aumento do número de habitantes dos
municípios que integram a área de estudo, avançando sobretudo na região norte da área de
estudo no município de Passo Fundo, onde concentra-se a maior parte da população que reside
na UPG Nascente do Jacuí. Esse processo de mudança na paisagem subentende o aumento da
impermeabilização do solo nessas áreas e o aumento do esgotamento sanitário.
As áreas úmidas naturais não florestal, que em 1985 não foram identificadas, em 2019
envolvem 0,01 km², estando associada a área de banhado na região norte próximo as áreas de
nascente, exercendo funções ecológicas importantes na paisagem como na contribuição da
recarga de aquíferos e regulação do nível freático.
Os remanescentes de formação florestal tiveram diminuição de 391,47 km² para 326,56
km², atrelado ao estreitamente e isolamentos desses fragmentos florestais. Somado a isso,
verifica-se o aumento da floresta plantada de 0,99 km² em 1985 para 8,53km² em 2019. Apesar
de não ser tão expressiva, em termos de extensão, na configuração da paisagem, essa classe
tem ressalvas, pois durante os trabalhos de campo, verificou-se que esse aumento não está
associados a regeneração natural do Bioma Mata Atlântica, mas, a expansão de áreas de silvi-
cultura, com plantação de espécies exóticas, como de eucaliptos, destinadas tanto para a utili-
zação nas propriedades rurais, quanto para como para a comercialização.
Nos trabalhos de campo, ficou evidente que as formações florestais permanecem onde
não foi possível a incorporação de máquinas agrícolas e distribuem-se preferencial ao longo ou
próximo a cursos d’água e áreas declivosas, ou seja, as e nas APPs, que apesar de serem legal-
mente protegidas ainda assim não são totalmente respeitadas.
Quanto a dinâmica dos cursos d’água representados pela classe rio, lago e oceano, obser-
va-se que houve um incremento de 38,55 km² em 1985 para 40,34% para o ano de 2019, que
está vinculado principalmente ao alargamento de alguns cursos d´água e aumento ao espelho
d’água do reservatório da UHE Ernestina. Dada a relevância hídrica como elemento estrutura-
dor da paisagem da UPG Nascente do Jacuí, alerta-se que esse aumento pode estar associado
ao manejo inadequado de uso do solo, que acarreta no assoreamento destes corpos hídricos,
podendo gerar impactos negativos como: aumento a perda de água por evaporação e compro-
metimento da geração de energia elétrica.
Essa situação alerta para o comprometimento da disponibilidade e qualidade dos recur-
sos hídricos da área de estudo em especial do reservatório da UHE de Ernestina, que é a pri-
meira UHE de uma série de aproveitamentos hidrelétricos, de efeito cascata, no rio Jacuí, fazem
Fonte: Autoral.
Tabela 2 – Conflito de uso e cobertura do solo nas APPs da UPG Nascente do Jacuí
1985 2019
Classe
Área (km²) % Área (km²) %
Formação Florestal 31,48 32,97 29,43 30,82
Formação Plantada 0,01 0,02 0,47 0,49
Área Úmida Natural não Florestal 0,00 0,00 0,00 0,00
Formação Campestre 1,76 1,85 0,56 0,58
Pastagem 8,19 8,57 3,30 3,45
Mosaico de Agricultura ou Pastagem 21,07 22,06 11,60 12,15
Infraestrutura Urbana 0,03 0,03 0,54 0,57
Outra área não Vegetada 0,20 0,21 0,24 0,26
Rio, Lago e Oceano 1,53 1,60 2,18 2,28
Agricultura (soja) 0,00 0,00 35,60 37,28
Agricultura (além de soja) 31,21 32,69 11,58 12,12
Total 95,49 100,00 95,49 100,00
Fonte: Autoral.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dinâmica de cobertura e uso da terra ocorrida ao longo de 34 anos (1985-201) na UPG
Nascente do Jacuí indica que houve uma mudança estrutural profunda nesta paisagem, vincu-
ladas principalmente ao avanço da monocultura do cultivo de soja, que se tornou a matriz
dominante dessa paisagem, comprometendo a diversidade da paisagem. Somado a isso houve
substancial redução da formação florestal, atrelado ao estreitamente e isolamentos desses
fragmentos florestais, o aumento da formação plantada associada a plantação de espécies
exóticas, e a diminuição das áreas de formação campestre, pastagem e mosaico de agricultura
e pastagem.
Tais alterações configuram uma drástica alteração do metabolismo ecológico desta pai-
sagem, principalmente associada a demanda dos recursos hídricos. Frente a esse processo, e a
relevância dos recursos hídricos no ordenamento e configuração deste território, alerta-se
para a necessidade pesquisas mais aprofundadas no intuito de debater e elucidar tais ques-
tões, a fim de compreender as implicações dessa dinâmica da paisagem, e corroborar para um
planejamento racional eficiente e uso mais sustentável desta paisagem.
5 AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio do Programa Nacional de Cooperação
Acadêmica (PROCAD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES/Brasil – Edital CAPES 071/2013 – Processo número 88881.068465/2014-01. Agradecemos
a CAPES pela concessão de bolsa de estudo.
6 REFERÊNCIAS
ANEEL. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Banco de Informações de Geração. 2018. Disponível em:
<www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/energiaassegurada.asp>. Acesso em 23 nov. 2018.
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HASENACK, H.; WEBER, E. (org.) Base cartográfica vetorial contínua do Rio Grande do Sul – escala 1:50.000.
Porto Alegre: UFRGS Centro de Ecologia. 2010. 1 DVD-ROM. (Série Geoprocessamento n.3). ISBN 978-85-
63483-00-5 (livreto) e ISBN 978-85-63843-01-2 (DVD).
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Cidades. Disponível em: <https://cidades.ibge.
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RODRÍGUEZ, J. M. M., SILVA, E. V., CAVALCANTI, A. P. B. Geoecologia das paisagens: Uma visão geossistêmica da
análise ambiental. 4º ed. Fortaleza: Editora UFC, 2013.
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RODRÍGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. da. Planejamento e Gestão Ambiental: Subsídios da Geoecologia das Paisagens e
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ROSSATO. M. S. Os climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia. 2011. 253 f. Tese (Doutorado
em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
SEMA RS. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE E INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Relatório
síntese de elaboração de serviço de consultoria relativo ao processo de planejamento dos usos da água na Bacia
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____. Cartografia: RS lança primeira cartografia oficial do Estado. 2018. Disponível em: https://www.sema.rs.gov.
br/cartografia. Acesso em: 04 fev. 2021.
SOUZA et al. Reconstructing Three Decades of Land Use and Land Cover Changes in Brazilian Biomes with
Landsat Archive and Earth Engine – Remote Sensing, Volume 12, Issue 17, 10.3390/rs12172735. 2020.
[ 1007 ]
1008 Lúcio Sobral da Cunha; Cláudio Antônio Di Mauro; Jorge Manuel Batista Roque Fael
se hizo um esfuerzo por mantener todo el servicio de saneamento básico em el ámbito de la enti-
dade municipalidade estatal a través del Departamento de Água e Alcantarillo – DAAE, oferecendo
agua potável de buena calidad e prácticamente el 100% de la población urbano. El trámite em el
município de Coimbra em Portugal, la administración y gestión de los servicios la realiza la Empresa
Pública Águas de Coimbra. El Consejero da Empresa escuchado em entrevista personal, considera
que la idea de que el Estado está mal administrado no se sustenta em la experiência da Coimbra
em la que los trabajadores son funcionários. Se entende que el sector de saneamento básico no
debe estar destinado a competir com uma visión privada. En Portugal hubo una serie de privatiza-
ciones de este tipo de servicios. Se creó un movimiento denominado Água de Todos para revertir
los casos en que se privatizaron los servicios municipales y evitar que se llevaran a cabo más pri-
vatizaciones. Entidades sindicales, como el Sindicato Nacional de Trabajadores de la Administración
Local – STAL, reconociendo que sus sindicalistas tienen intereses de ciudadanía afectados por
estas privatizaciones, comenzaron a apoyar este movimiento que expandió sus operaciones por
todo el país. Muchas situaciones se revirtieron con la “remunicipalización” de servicios, como fue
el caso del municipio de Mafra.
Palavras clabe: Saneamiento Básico; Agua de todos; Privatización del agua: Agua Pública.
responsáveis pelo saneamento básico em seu âmbito e território devendo desenvolver compe-
tência técnica e financeira, configurando-se como gestores e agentes do saneamento básico.
Não deve haver respaldo para os costumeiros argumentos usados de que a iniciativa pri-
vada faz melhor e é mais competente do que o setor público. Como reconheceu ALVES (2008,
p 09): “[...] o problema, contudo, é impedir sejam tais mecanismos tornados reféns das forças
econômicas. Isso normalmente ocorre pelo predomínio do neoliberalismo nos dias de hoje.”
A visão de que tudo o que está nas mãos da iniciativa privada é melhor do que no serviço
público tem um caráter tendencioso e ideológico. Há excelentes exemplos de eficiência e efi-
cácia nos serviços públicos, bem como há exemplos bons (?) e ruins de empresas privadas. O
fato de ser pública ou privada não oferece garantias de que os serviços e bens serão destinados
aos interesses públicos.
É evidente que existem governos comprometidos com interesses que não são públicos,
sendo suas ações, muitas vezes, realizadas para atender aspirações pessoais ou de grupos pri-
vados. É comum a degradação dos serviços e equipamentos públicos do saneamento básico,
como estratégia para que se criem as condições e demandas da privatização. Essas práticas são
usuais em casos brasileiros. Há mesmo denúncias de corrupção praticadas por governos e
empresas privadas que assumiram serviços e equipamentos públicos.
COMBATE ÀS PERDAS que passou a fazer parte do Plano Diretor de Água e Esgotos. O objetivo
era que no ano de 2010 as perdas não fossem superiores a 25%. As reduções das perdas se
deram nas Estações de Tratamento de Água (ETAs), nos Reservatórios, nas Redes de Distribuição
e Ligações, bem como as perdas de Faturamento e Receitas.
Com essas reduções de perdas foram aumentadas as reservas de água para as horas de
maior consumo, dando tranqüilidade aos moradores garantindo a auto-suficiência de
abastecimento.
Rio Claro, em 2004 contava com 35 reservatórios, 100% de abastecimento de água para
a população residente nas áreas urbanizadas, totalizando 670 Km de redes de distribuição e
57.000 ligações de água para um município que possuía na época 190 mil habitantes. Havia
23.000 m3 de água em reservas, índice superior ao que se preconiza nas normas brasileiras,
para 1/3 do dia de maior consumo.
O controle de qualidade da água tratada baseava-se na Portaria do Ministério da Saúde
1469/00, com análises e exames realizados em laboratórios próprios, havendo um sistema de
“contra-provas”, praticado pelo Instituto Adolfo Lutz.
Também eram realizadas análises periódicas de metais pesados na água bruta e tratada,
pela Universidade de São Paulo (USP/ São Carlos) e Laboratórios do CENA, ESALQ de Piracicaba.
Os mananciais eram monitorados periodicamente em Laboratório de Microbiologia do Instituto
de Biociências da UNESP – Rio Claro, no tocante a toxicidade.
Esses cuidados faziam com que o DAAE envasasse copos de água para serem servidas e
consumidas nas atividades apoiadas pela Prefeitura de Rio Claro. Nas Palestras, Conferências e
Reuniões, a água disponibilizada às mesas era exatamente a água envasada, a mesma que era
distribuída para a população. Era a mesma qualidade da água que chegava nas torneiras das
residências dos munícipes.
O DAAE trabalhava com visão de Planejamento e contava com o Projeto Global do
Sistema de Água indicando as diretrizes até o ano de 2011.
Segundo o engenheiro Luis Costa, o sistema tarifário tem sido reconhecido como ade-
quado, sem apresentar reclamações, tendo acontecido até mesmo redução no preço cobrado
pela água de atendimento residencial. Eventualmente acontece a elevação desses preços, mas
as tarifas são equilibradas. Havia uma tendência de acompanhar a inflação, mas não é exata-
mente isso que tem ocorrido tendo em vista que se acompanha através de uma planilha de
custos. Na Empresa Águas de Coimbra há compreensão de que não se deve obter lucro com a
água, o que permite o controle de maneira equilibrada. Esse é o entendimento dos profissio-
nais que atuam na Empresa, segundo a explicação do professor José Gonçalves que se constitui
um dos Diretores da Águas de Coimbra: “Nós propomos a tarifa, mas a Câmara é que tem que
aprovar. Aqui, qualquer variação no tarifário seja para aumentar ou mesmo para abaixar, tem
que ir para a Câmara e depois passar pela Assembléia”.
Segundo a Empresa Águas de Coimbra, esse município é o que mais consome água em
média por habitantes no País. A qualidade da água permite que se beba diretamente na tor-
neira. A Empresa considera que 88% dos munícipes bebem água diretamente da torneira. Esse
é um sinal de que a água é boa e os serviços são bons.
Sobre as perdas, esta foi das primeiras empresas portuguesas que introduziu novas tec-
nologias para realizar tal inspeção. Os funcionários são habilitados para fazer esse tipo de iden-
tificação, análise e estabelecer o controle.
No entendimento do Diretor Professor José Gonçalves (2015): “Nós temos uma posição
de defesa das empresas Públicas e não pensamos em concessões privadas para nosso trabalho.
Temos que manter a água sob controle essa é nossa atividade. Os municípios que seguiram a
linha privatizante não têm os nossos resultados e a água normalmente é mais cara. Não se
visualizou vantagem nas concessões privadas.”
E continua o Professor: “Aquela ideia de que o Estado é mal gestor e que era um paqui-
derme, aqui mostra-se o contrário, os trabalhadores que aqui estão assumem realmente a
empresa pública. São funcionários públicos que trabalham bem. Se fosse privado não seria
melhor, seguramente. Nós não temos a lógica do lucro. Nós estamos trabalhando de maneira
equilibrada, pagamos as despesas. E é assim que atuamos. Não entendemos que este seja um
setor para concorrência.”.
Embora seja essa a concepção que prevalece na Empresa Águas de Coimbra, no entanto,
não tem sido assim na generalização em Portugal. Segundo FAEL (2015), em Portugal as con-
cessões tiveram início em 1993, com a produção de legislação que permitiu a entrada de ope-
radores privados no abastecimento e distribuição de água e saneamento em «baixa» sob a
forma de concessão. A primeira concessão ocorreu no Concelho de Mafra no ano de 1994,
entregue à empresa francesa Générale des Eaux, depois Veolia, que em 2013 vendeu todas as
concessões que detinha em Portugal aos chineses da Beijing Enterprises Water Group.
Atualmente são cerca de 29 concessões vigentes, sendo que a maior parte do abasteci-
mento de água aos municípios e o tratamento de esgoto está nas mãos da Empresa Pública
Águas de Portugal, cuja privatização que se pretendia, foi travada em 2015, com a derrota do
governo de direita PSD/CDS.
Para atrair as empresas privadas para o setor de saneamento básico é preciso que as con-
cessões sejam efetuadas em condições que favoreçam o capital. Daí os preços nas tarifas não
podem ser reduzidos, precisam garantir o lucro que viabilize a visão privada. Com isso, o preço
de mercado deve obedecer a lógica dos interesses privados.
A descapitalização das autarquias municipais, o sucateamento dos serviços, geraram a
insatisfação da população, ao mesmo tempo que abriram caminhos para as concessões que
prometiam resolver os problemas. Com a entrada das empresas privadas as taxas de retorno
eram muito elevadas o que levou a aumentos de 300% e 400% em tarifas. Os contratos assina-
dos têm aspecto unilateral na medida em que há exigência para o consumo mínimo que se não
for alcançado caberá ao município arcar com o pagamento para a concessionária. Não são con-
tratos de risco, tendo em vista que sempre há garantia do ganha/ganha para as concessioná-
rias. Esses motivos, comprovados pelas auditorias do Tribunal de Contas, foram levando ao
descrédito as privatizações e concessões, com fortes reações das populações, abaixo-assina-
dos e manifestações de ruas.
As entidades sindicais a exemplo do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da
Administração Local – (STAL) entenderam que muitos dos utentes (aqueles que são consumi-
dores desses serviços) também são sindicalizados. Assim é que se envolveram com a temática
reuniram outras forças sociais dos movimentos populares e prepararam em conjunto um
Manifesto que terminou por ser aprovado pelas entidades. Esse documento foi importante
para a preparação de uma peça, documento que serviu de base para a coleta de assinaturas
objetivando um Projeto de Lei por iniciativa Popular, que assim foi construído.
O STAL tem sua sede em Lisboa nas proximidades do Cais da Fóz do Rio Tejo. A partir
desse local há atividades de mobilização popular, pelas ruas da Capital e de outras cidades do
interior de Portugal onde o Movimento Água de Todos está se desenvolvendo e criando suas
raízes de ação. Assim são recolhidas as assinaturas de cidadãos e cidadãs que apoiam o
Manifesto objetivando a preparação do Projeto de Lei por iniciativa popular. Nessa primeira
fase o Projeto de Lei não foi aprovada poelo Congresso Nacional.
Em Portugal seriam necessárias 35 mil assinaturas e foram coletadas mais de 44 mil para
que então fosse encaminhado ao Órgão Legislativo Superior (Assembléia da República). O pro-
jeto foi debatido no Parlamento, mas não foi aprovado, tendo em vista que o governo tinha
interesses em acelerar os processos de concessões e privatizações da água. Mas a luta do
movimento Água de Todos, derrotado naquele momento parlamentar, teve sua continuidade.
Neste momento não há nenhum processo de privatização/concessão. A última, apesar
da oposição da população e dos trabalhadores, foi em 2019, em Vila Real de Santo António, no
sul do País. Com efeito, os tempos não estão de feição aos ideólogos do “mercado”, embora os
interesses privados estejam sempre atuando e buscando alternativas para se implantar.
Perante o “falhanço” e as graves consequências das concessões/privatizações, houve a
primeira remunicipalização em 2019, justamente no município de Mafra, o primeiro que
4 CONSIDERAÇÕES
O Conceito da subsidiariedade ficou expresso no desenvolver das pesquisas e dos traba-
lhos de campo, considerados nas entrevistas.
O Departamento de Águas e Esgotos de Rio Claro tem todas as condições de se manter
como um componente do poder público de responsabilidade municipal. O mesmo se dá com a
visão expressa pelo Sindicato (STAL) e também na Empresa Águas de Coimbra.
É certo que o setor de saneamento básico precisa garantir a universalização dos serviços
de águas e esgotos, mas há o reconhecimento de que os serviços prestados atendem o inte-
resse público.
Águas de Portugal, continua pública, como já foi referido, mas a gestão, mais preocupada
com a obtenção de benefícios, é alvo de forte crítica. Um outro elemento, este positivo, é que
a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos –(ERSAR), já não pode impor preços
de água e saneamento aos serviços públicos de águas controlados por entidades públicas, o
que vem ao encontro do que defendem os movimentos populares que exigiam o respeito pela
autonomia nomeadamente do Poder Local.
Especialmente em relação à captação e distribuição de água para a população urbana a
concepção do Sindicato (STAL), com a qual concordamos é de que só pública a água é de todos!
5 REFERÊNCIAS
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FAEL, J. M. R. B. Entrevista concedida em Lisboa em 14 de dezembro de 2015, na sede do Sindicato Nacional
dos Trabalhadores da Administração Local – STAL. É também ativista do Movimento Água de Todos. Dados
coletados por Cláudio Antonio Di Mauro.
GONÇALVES, J. Entrevista concedida em Coimbra no dia 16 de dezembro de 2015 na sede da Empresa Águas
de Coimbra. Entrevista realizada por Cláudio Antonio Di Mauro e Lúcio Sobra Cunha. 2015.
MATEO RODRIGUEZ. Los Conflitos por el Água Desde Uma Perspectiva Geopolítica – In: VI Workshop
Internacional sobre planejamento e desenvolvimento sustentável de bacias hidrográficas / Cláudio Antonio Di
Mauro; José Geraldo Mageste; Ernane Miranda Lemes, organizadores., página 1437. Timburi, SP: Cia do eBook,
2018.
MONTORO, A. F. Federalismo e o fortalecimento do Poder Local no Brasil e na Alemanha. Coleção Debates
da Fundação Konrad Adenauer. Rio de Janeiro, 2002. p. 59.
[ 1018 ]
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA LAGOA DA PRECABURA, EM EUSÉBIO/CE 1019
surrounds. It corresponds to the areas of Fortaleza and Eusébio, and as a mitigation measure, a
state conservation unit was instituted, which was much sought after and defended by researchers
and residents of the area. Thus, in order to present data collected on the composition of the avi-
fauna, and the due importance of places for these animals, it identified 172 species, divided into
52 families, in turn into 22 orders, with the predominance of synanthropic birds of the Passeriformes
and Charadriiformes orders. These birds depend closely on the site for nesting, in search of and
are directly or indirectly impacted by feeding by anthropization. In addition, it was possible to ver-
ify the presence of migratory birds using the park’s ecosystems as a temporary habitat during their
migration process. As a whole, the research offers relevant data on the composition and ecology
of the avifauna, in addition to presenting elements related to the trophic guilds of the species,
which should be used as base data in future research and emphasizes the importance of applying
new protected areas in the state of Ceará, as well as its due and inspection, as a preventive mea-
sure against impacts caused by the urban evolution of adjacent regions.
Keywords: synanthropic birds; watersheds in the state of Ceará; trophic guilds.
1 INTRODUÇÃO
A lagoa da Precabura está situada entre os municípios de Fortaleza e Eusébio, no estado
do Ceará, fazendo parte da bacia hidrográfica do rio Coaçu, de fluxo baixo a moderado e circu-
lação determinada pela ação dos ventos (FERNANDES, 2013). Se trata do maior corpo hídrico
da região metropolitana de Fortaleza, com rico ecossistema, sendo destacada suas áreas de
carnaúbas, suas dunas móveis e fixas e sua enorme biodiversidade.
Esse corpo hídrico é alvo do constante adensamento urbano das duas cidades que o
envolve, o seu manancial vem sofrendo as ações antrópicas ao longo dos anos, iniciando-se
pela perda do deságue de dois rios que anteriormente integravam o espelho d’água, os rios
Cocó e Pacoti (importantes para a hidrodinâmica do estado e igualmente ricos em sua biodi-
versidade). Constata-se que por volta dos anos 2000, os mesmos foram barrados, e seu con-
tato natural com a lagoa foi cortado, fato que ocasionou a perda de macro e microfauna local,
e como medida mitigatório está sendo encabeçado um projeto de lei para a criação de um par-
que estadual que abranja o local e proteja o habitat de espécies dos mais variados grupos
(AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, 2019).
Como fonte de serviços ecossistêmicos múltiplos, a lagoa da Precabura promove a provi-
são de pescado, água para o cultivo, fonte de frutos, fibras, madeira e recursos medicinais para
a comunidade localizada em sua proximidade, além também de prover regulação hidrológica e
climática, controle erosivo e tratamento de resíduos, polinização e manutenção da biodiversi-
dade (SILVA, 2019). Representa um importante polo cultural e ecológico, sem contar seu poten-
cial de lazer, recreação e pesquisas científicas proporcionando uma região rica em suas
qualidades, onde até mesmo pode servir de alvo para ações de educação ambiental.
Aproveitando-se então desses recursos naturais, além da população local, estão as aves
silvestres, onde são estimados que cerca de 1/3 da avifauna cearense passe pela da Lagoa da
Precabura (O POVO, 2021). O cenário paisagístico é constituído por imagens exuberantes para
as comunidades adjacentes, que podem desfrutar da paisagem enquanto as aves utilizam o
espaço como local de nidificação ou para encontrar alimento e até mesmo como parada de
descanso enquanto migram, que dependem total ou parcialmente do ambiente. Tal dependên-
cia pode levar para que essa parte da fauna seja utilizada como bioindicadores através do
conhecimento de suas exigências ecológicas, podendo, aquelas que possuem necessidades
específicas para sobreviverem, em plenitude total, reagirem de forma muito mais drástica a
alterações no ambiente, por se tornarem impróprios para essas (SCHERER et al., 2010).
Os ecossistemas aquáticos, campo de dunas e tabuleiros litorâneos, abrigam uma biodi-
versidade importante dentro do contexto espacial da região metropolitana que se inter-rela-
cionam com a diversidade de geossistemas, compostos pelo mar litorâneo, planície litorânea,
planície fluvial, depressão sertaneja e maciço residual (MORO, 2015; MORO, 2016). Nesse con-
texto ambiental regional, a avifauna tem utilizado os ecossistemas do parque como parte do
seu habitat, sendo elas possivelmente afetadas de forma direta ou indiretamente por mudan-
ças no ambiente local.
Assim, o presente trabalho tem por objetivo principal demonstrar os resultados de pes-
quisas realizadas, que mensuraram a composição e o número de espécies da avifauna encon-
tradas na lagoa da Precabura e que deverão ser utilizadas como base para estudos futuros.
Pretende-se futuramente avaliar os efeitos dos impactos antrópicos na avifauna local, sendo
ressaltada a necessidade de realização de estudos mais aprofundados sobre as guildas tróficas
das espécies encontradas e sua ocupação no território.
Para Root (1967), espécies de nichos ecológicos similares dentro de uma comunidade,
podem ser vistas como parte de uma mesma guilda, o que favorece estudos sobre interações
entre estas, uma vez que possibilita que a espécie seja tratada como uma unidade, indepen-
dentemente de sua classificação taxonômica (ODUM; BARRET, 2008). Dentre as várias funções
desempenhadas por organismos pertencentes a uma mesma guilda, uma das mais enfatizadas
é a função trófica ou guilda trófica, definida como um grupo de espécies que exploram recur-
sos alimentares semelhantes (SIMBERLOFF; DAYAN, 1991). Cabe salientar que a aves herbívoras
constituem espécies consumidoras primárias, preferindo ingerir vegetais e seus derivados,
como: frutos (frugívoros), sementes (granívoros), néctar (fitófago), enquanto as aves predado-
ras que têm por hábito caçar suas presas, optam, portanto por nutrir-se de outros animais,
como: insetos (insetívoros), moluscos (malacófagos), anelídeos (vermífagos), aves/mamíferos
(carnívoros), peixes (piscívoro), carniça (necrófagos) (MAJOR, 2004).
2 METODOLOGIA
Para a amostragem das espécies foi realizada uma busca ativa, onde foram determinados
quatro pontos localizados no entorno da lagoa da Precabura sendo realizadas uma coleta a cada
mês por ponto ao longo de quatro anos (durante os anos de 2011 e 2014). As coletas foram rea-
lizadas através de buffers, com pontos determinados e georreferenciados, e a partir dos pontos
foram determinadas áreas máximas de abrangências de 200m, e dentro dessa área foram percor-
ridas trilhas. Ao percorrer a trilha seis pontos (em cada uma das amostragens) foram escolhidas
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Quadro 1, apresentado a seguir, demonstra os resultados encontrados, ao longo de
toda a atividade de campo:
Quadro 1 – Ordens, quantidade de famílias e quantidade de espécies encontrados nos quatro pontos
da Lagoa da Precabura
Tinamiformes 1 1
Podipediciformes 1 2
Suliformes 1 1
Pelecaniformes 1 9
Cathartiformes 1 3
Anseriformes 1 7
Accipitriformes 1 5
Falconiformes 1 5
Gruiformes 1 8
Charadriiformes 8 32
Columbiformes 1 6
Psitaciformes 1 3
Cuculiformes 1 4
Strigiformes 1 3
Nyctibiiformes 1 1
Caprimulgiformes 1 3
Apodiformes 2 5
Trogoniformes 1 1
Coraciformes 1 3
Galbuliformes 1 1
Piciformes 1 4
Passeriformes 22 65
Total 55 172
Fonte: Autoria própria.
Dentre as espécies puderam ser observadas migratórias, limícolas – definidas como capa-
zes de colonizar corpos d’água permanentes ou temporários caso estes se tornem disponíveis
(OLMOS et al., 2005) – e lacustres, ou ribeirinhas, sendo caracterizada como encontradas em
ambientes de lago (ACCORDI, 2010; CINTRA; SANTOS; LEITE, 2007) caracterizando o local com
importância não apenas para aves locais.
Para as espécies mais recorrentes durante o levantamento, três apresentaram-se mais
significativas, destacando tanto em número de indivíduos, como em aparecimento nas amos-
tragens. Duas dessas espécies encontram-se na ordem Charadriiforme, enquanto a última se
trata de um Passeriforme, ambas ordens, assim como outras, os Columbiformes por exemplo,
são consideradas sinantrópicas, ou seja, convivem facilmente em zonas urbanas, colonizando-
-as ou seus arredores e retirando vantagens dessa interação. É válido ressaltar também o cres-
cente aumento de registros de espécies durante a pesquisa nos meses de outubro a janeiro,
motivados pelo verão no hemisfério sul, onde aves migratórias vindas da América do Norte
procuram o local como forma de evitar o frio do inverno.
Como resultante da pressão antrópica e da crescente urbanização na localidade, pôde
ser observado relativa alta densidade populacional, com uma predominância de Charadriiformes
e Passeriformes, porém, com reduzida variedade de espécies (com as ordens citadas anterior-
mente representando respectivamente 18,60 e 37,79 % do total de espécies registradas), resul-
tando em uma baixa biodiversidade.
A crescente urbanização tem provocado efeitos diretos e indiretos na avifauna, pois, à
medida que o planejamento urbano é modificado, também é alterado o habitat, disponibili-
dade de alimento, disponibilidade de locais para nidificação, diversidade de predadores, com-
petição (pelos mais variados recursos) e doenças, com esses fatores afetando de forma
significativa a estrutura e composição de aves urbanas (BLAND, 1998; CHAMBERLAIN, 2007;
SCOTT, 1993; MARZLUFF, 2001), ainda mais quando se trata de um ambiente de água doce,
onde a pressão de caça é maior para aves nesses locais se comparadas as demais aves aquáti-
cas (ACCORDI, 2010), e principalmente no local do estudo, por se tratar de uma lagoa inserida
entre duas cidades em acentuado crescimento urbano.
A urbanização também favorece algumas aves sinantrópicas, onde o convívio com a
espécie humana garante alimentação em abundância e locais para criação de ninho de forma
mais acessível (como teto de casas ou condensadores de ar-condicionado localizados em pré-
dios). Sendo essas aves encontradas mais facilmente em áreas suburbanas ou de alta densi-
dade urbana, e evitam áreas com baixa densidade ou áreas rurais (DI PIETRO, 2020). Aí também
é encontrada mais uma importância dos parques urbanos, uma vez que áreas verdes contínuas
se tornaram escassas e não mais suficientemente propiciam refúgio, as aves procuram pelos
parques urbanos como fonte de abrigo, alimentação e de local para postura dos ovos
(CHOUDHARY, 2020).
Quadro 2 – Guildas tróficas relacionadas a número de espécies encontradas nos quatro pontos de
coleta da lagoa da Precabura
Total cumulativo de
49,1 28,55 % 100 %
herbívoros
Total acumulativo de
122,9 71,45 % 100 %
carnívoros
estudos futuros e mais precisos, com a finalidade de obter dados mais minuciosos referentes a
possíveis impactos na alimentação das espécies.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da relevante amostragem e do número de espécies encontrado ser substancial-
mente expressivo, dados mais específicos precisam ser levantados sobre os impactos trazidos
pela antropização no local, além de um número amostral bastante maior, a fim de garantir uma
curva de coleta de espécies estável. A lagoa da Precabura e seus distintos ambientes naturais,
demostraram ter um importante papel na preservação da avifauna, fator que com certeza é
repetido para os demais grupos da fauna.
O parque apresenta uma elevada importância ecológica e cultural para a cidade.
Ambientalmente, com intensas precipitações, o transporte de sedimentos finos em suspensão
é intensificado, e a deposição de material do interior da lagoa é deslocado para as margens,
garantindo um rico aporte de nutriente que pode ser utilizado por toda a biodiversidade. O
mosaico de paisagens naturais no interior e entorno da lagoa, favorece à proliferação de uma
rica e numerosa diversidade faunística.
Com a diminuição das áreas verdes na cidade, o local se torna um dos últimos redutos
naturais onde aves oriundas do hemisfério boreal podem descansar de suas longas migrações
intercontinentais. Dentre os objetivos do trabalho, está o de mostrar a importância da prote-
ção dos ecossistemas naturais no meio urbano, onde ainda prolifera dezenas de espécies, não
apenas da avifauna, mas também de outros grupos biológicos compondo uma extensa e impor-
tante rede trófica, dessa forma, se torna de suma importância a implantação e devida regula-
mentação de uma Unidade de Conservação estadual no local, já pleiteada e defendida por
pesquisadores atuantes na área.
Por meio da pesquisa científica realizada foi possível relacionar as espécies presentes
na lagoa da Precabura e seu entorno e que terminam por ser alvos constantes da ação antró-
pica, influenciando diretamente seus nichos ecológicos. Além de aportar uma base inicial
para o desenvolvimento de novos e mais amplos estudos, a pesquisa atualiza dados relevan-
tes à composição da biodiversidade e contribuindo na identificação científica de possíveis
espécies bioindicadoras.
Em nossas pesquisas, onde participaram estudantes e professores dos cursos de Biologia
e Geografia das Universidades Federal do Ceará (UFC) e Estadual do Ceará (UECE), constata-se
a importância da abordagem interdisciplinar nas pesquisas de caráter ecológico, e deve ser res-
saltado também a importância da participação do Laboratório de Ornitologia e Sistemática
Animal (LORNIS), da UECE, viabilizando e garantindo a execução da pesquisa, além do agrade-
cimento à entidade de fomento, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPQ, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e
Tecnológico – PIBIC e a bolsa PQ do CNPQ, órgãos tão importantes de incentivo ao
5 REFERÊNCIAS
SILVA, M. C. da. Serviços ecossistêmicos da lagoa da Precabura (Estado do Ceará) : 2019. 56 f. Monografia
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AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA. Conservação da Lagoa da Precabura é defendida em
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Resumo: O objetivo deste trabalho foi discutir alguns dos cálculos morfométricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Piracanjuba II, além de ressaltar a importância desta apuração no manejo sus-
tentável de diferentes áreas. Os dados de morfometria adotados caracterizam especialmente a
rede de drenagem e seus interflúvios, relacionando ainda com alguns mapeamentos físicos da
região, que demonstraram o bom potencial hidráulico, baixas declividades em grande parte da
área, e a predominância de latossolos, que intensificaram o desejo em explorar a área. Neste sen-
tido, fatores físicos aliados aos cálculos morfométricos podem proporcionar um manejo sustentá-
vel tanto de bacias hidrográficas, quanto de áreas vetorizadas com características semelhantes,
podendo acarretar no manejo sustentável de diferentes regiões.
Palavras-chave: Cálculos morfométricos; Sustentabilidade; Bacias hidrográficas; Exploração
hidráulica.
Abstract: The objective of this work is to discuss some of the morphometric calculations of the
River Piracanjuba II Hydrographic Basin, besides emphasizing the importance of this calculation in
the sustainable management of different areas. The morphometric data adopted especially char-
acterize the drainage network and its interfluves, also relating to some physical mappings of the
region, which demonstrated the good hydraulic potential, low slopes in a large part of the area,
and the predominance of oxisols, which intensified the desire for explore the area. In this sense,
physical factors combined with morphometric calculations can provide a sustainable management
of both watersheds and vectored areas with similar characteristics, which can lead to the sustain-
able management of different regions.
Keywords: Morphometric calculations; Sustainability; Watersheds; Hydraulic Exploration.
[ 1027 ]
1028 Matheus Caldeira Alves Mendes; Paulo Henrique Kingma Orlando
1 INTRODUÇÃO
O descaso com o manejo sustentável dos ambientes terrestres em detrimento à explora-
ção capitalista tem intensificado a urgência em elaborar pesquisas científicas que abordam tais
questões, especialmente no que se refere a bacias hidrográficas (BHs). Desta forma, conside-
rando o uso indiscriminado das áreas de Cerrado, a região da BH do Rio Piracanjuba II necessita
de atenção quanto a sua situação ambiental, a fim de conscientizar não só os interessados no
local, mas toda a sociedade que dependa do ambiente em equilíbrio para sobreviver.
Neste sentido, os cálculos morfométricos podem ser fundamentais na compreensão de
bacias hidrográficas, a fim de proporcionar o manejo sustentável do ambiente local, que é dire-
tamente influenciado por aspectos como os geológicos, geomorfológicos, climáticos e altera-
ções antrópicas.
Ab’Saber (2020) cita que o interesse dos capitalistas em aumentar a produção no menor
tempo possível intensifica a existência de impactos ambientais negativos sobre o meio. Assim,
as quantificações oferecidas pela morfometria permitem a obtenção de dados, de forma rápida
e eficiente acerca do local pesquisado, a fim de tentar minimizar tais degradações.
Tendo em vista que a conscientização social acerca da manutenção da vida sustentável
do planeta se inicia em grande parte nas pesquisas científicas, fica imprescindível estudar a
bacia em epígrafe e compreendê-la de maneira sistêmica, relacionando os processos sociais e
naturais. Nesse sentido, o interesse em pesquisar tal temática se justifica pelo notável pro-
cesso de antropização no local, despertando a necessidade científica e social de analisar algu-
mas das características da área, que servirão de complemento para a gestão do ambiente.
Este estudo foi desenvolvido com a finalidade de assegurar a dinâmica ambiental natural
da bacia e compreender algumas de suas características a partir de compreensões geométri-
cas, do relevo, e da rede de drenagem da região, fornecendo subsídios parciais para gerir as
utilizações da terra em BHs.
A morfometria auxilia no manejo sustentável do ambiente a partir do momento em que
é possível caracterizar a rede de drenagem e o relevo, especialmente em bacias hidrográficas,
podendo ser um complemento para compreender os limites de alterações antrópicas que a
área suporta. De acordo com Borelli (2006) a sustentabilidade potencializa a perspectiva de
que grande parte dos recursos naturais são esgotáveis, sendo necessário que a sociedade pre-
serve todos os recursos do meio para que se garanta a existência humana no planeta Terra.
Sendo assim, pode-se entender que bacias hidrográficas com características de áreas cir-
culares são mais propícias à ocorrência de inundações. Já a densidade de drenagem possibilita
caracterizar algumas das estruturas locais, pois, em solos com pequenas e médias dimensões
de granulometria, o escoamento superficial tende a ser menor devido a maior capacidade de
infiltração de água. Diante desta breve explicação, percebe-se o potencial que a morfometria
possui na gestão de BHs.
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar alguns cálculos morfométricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Piracanjuba II, tendo como finalidade discutir a importância da morfome-
tria no manejo sustentável de áreas. No entanto, para chegar a este propósito foi necessário
gerar dados morfométricos da bacia; analisar os motivos da região ser visada para a implemen-
tação de usinas hidrelétricas; e relacionar a importância da morfometria com a sustentabili-
dade ambiental.
Como as alterações no ambiente se tornaram paulatinamente mais intensas em pratica-
mente todo o território brasileiro, houve a necessidade de desenvolver estudos como este, que
visa a harmonia entre o natural e o social. Diante disso, ainda é reforçado na Constituição
Federal a necessidade em garantir a existência humana com qualidade de vida das presentes e
futuras gerações (BRASIL, 1988), e isto só será possível respeitando os limites e características
de cada local.
Assim como nas demais regiões de Cerrado, a área da Bacia Hidrográfica do Rio
Piracanjuba II está sendo utilizada sem o devido planejamento prévio, que culmina muitas das
vezes em danos ambientais, que acabam afetando toda sua dinâmica natural, incluindo a rede
hidrográfica, elementos mesoclimáticos, o solo, além da própria fauna e flora.
Nessa perspectiva, esta pesquisa foi focada em caracterizar alguns elementos da rede de
drenagem e do relevo da BH do Rio Piracanjuba II, fatores estes que justificam o interesse
hidráulico na área. Assim, para alcançar esta finalidade foi utilizado os procedimentos metodo-
lógicos dispostos a seguir.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Os mecanismos utilizados na elaboração desta pesquisa estão pautados em pesquisas
bibliográficas e documentais, além de recorrerem a técnicas pautadas nos Sistemas de
Informação Geográfica (SIGs). A percepção sistêmica da bacia proporcionou uma discussão
mais realista e interligada dos fatores da BH, envolvendo desde análises da morfometria, até
mapeamentos, perfil topográfico e reflexões teóricas.
A princípio foi realizado a delimitação da BH do Rio Piracanjuba II utilizando o Modelo
Digital de Elevação (MDE) disposto pelo projeto Topodata e fornecidos gratuitamente pelo
INPE. Após este procedimento, foi gerado as redes de drenagem, cujo ponto cotado que mais
se aproximou à realidade da bacia em epígrafe foi de 1.200.
Para adquirir dados de alguns mapeamentos e cálculos morfométricos foram recorridos
ao software ArcGIS Pro, versão 2.6.2. Já para apresentar o perfil topográfico do Rio Piracanjuba
foi utilizado o ArcGIS Desktop versão 10.3. Outro ponto essencial em pesquisas científicas é a
fundamentação teórica da discussão, e este estudo foi embasada em autores como:
Christofoletti (1980), Ross e Del Prette (2011), e Leonel (2020), além de documentais como:
Brasil (1988), Brasil (1997) e Parh Corumbá (2013).
De posse dessas compreensões, será apresentado no tópico subsequente parte das dis-
cussões apresentadas por tais autores e documentos, servindo de alicerce para o desenvolvi-
mento da pesquisa.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Pires, Santos e Del Prette (2002), Krieger et al. (2008) e Moraes (2016), as
bacias hidrográficas são áreas definidas topograficamente, onde as áreas de maior altitude
delimitam a mesma, sendo assim, as BHs são responsáveis por direcionar toda a rede de dre-
nagem, seja ela pluvial ou fluvial, para um só leito, que escoa sempre em direção à zona de
menor altitude.
Ross e Del Prette (2011), e Strauch e Berwig (2017) complementam dizendo que as bacias
são sistemas naturais interligados por um conjunto de microbacias e sub-bacias, cujo seu dife-
rencial está baseado nos leitos fluviais naturais, conforme ilustrado na Figura 1 – Os autores
supracitados ainda destacam que a presença de aquíferos não interferem diretamente nesta
delimitação, não sendo considerados determinantes nessa definição.
Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/bacia-hidrografica.htm.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A BH do Rio Piracanjuba II está localizada entre as coordenadas geográficas de Latitude
Sul 16° 24’ 21” a 16° 50’ 1”, e Longitude Oeste 48° 11’ 56” a 48° 47’ 18”. As águas que percorrem
esta região escoam em direção ao Rio Corumbá, que faz parte à unidade ictiogeográfica do
Complexo Paraná/Paraguai.
O local estudado está situado majoritariamente na região Sudeste do estado Goiano,
drenando parte dos municípios de Orizona, Pires do Rio, Vianópolis, Luziânia, Silvânia, Gameleira
de Goiás, Leopoldo de Bulhões e Anápolis, conforme demonstrado na figura 2.
Ressalta-se que nenhum dos municípios banhados pela BH do Rio Piracanjuba II é dre-
nado em sua totalidade pela mesma. A área possui aproximadamente 4.306,61 km², e está
localizada no Cerrado brasileiro, que paulatinamente vem perdendo parte de sua biodiversi-
dade original devido ao uso predatório da agropecuária (GOMES, 2008).
A drenagem da bacia apresenta um bom potencial hidráulico, variando de altitudes de
1.120 m nas regiões mais altas, à 656 m em sua foz. O local possui características de rios de
planalto e predominância de drenagens perenes com regime hídrico pluvial.
Tais singularidades são responsáveis por manter um curso com correntezas em alguns
trechos, o que auxiliaria na construção de hidrelétricas. No entanto, as secas cada vez mais
severas e a utilização indiscriminada da terra no local está culminando em períodos de estia-
gem mais rígidos, reduzindo a quantidade de água disponível nos córregos, ribeirões e conse-
quentemente no próprio Rio Piracanjuba.
Esta variação hipsométrica ilustrada na figura 3 faz com que o Rio Piracanjuba II se torne
visado para a construção de usinas hidrelétricas, possuindo no decorrer de seu leito, cinco usi-
nas com projeto básico registrado (PARH CORUMBÁ, 2013), ou seja, é necessário a existência
de estudos acerca do potencial hidráulico, das características físicas do local, do dimensiona-
mento da barragem, além dos custos financeiros.
Há também outras sete hidrelétricas inventariadas (PARH CORUMBÁ, 2013), onde o
estudo deve ser mais detalhado e realizado após estar registrado. Salienta-se que esta é a prin-
cipal fonte de geração de energia elétrica do Brasil, despertando o interesse na construção das
mesmas no leito do rio supracitado. Na figura 4 é demostrada a distribuição destes estudos /
planejamentos na construção de usinas hidrelétricas no local.
Para melhor demonstrar a topografia longitudinal do Rio Piracanjuba II, foi elaborado o
perfil topográfico do mesmo afim de melhor visualizar o motivo de tal interesse hidráulico na
área, e compreender a dinâmica do rio. Neste sentido, na figura 5 é esboçado o perfil longitu-
dinal da drenagem em epígrafe, onde no eixo das ordenadas (Y) está situado os índices altimé-
tricos, e no eixo das abscissas (X) a distância do curso da água em metros.
Como é ilustrado na figura 5, a parte superior da bacia possui áreas com maior desnível,
onde possivelmente a velocidade da água é maior. Já na parte média há uma menor declivi-
dade e a velocidade de deslocamento da água é reduzida nas proximidades do quilômetro 59
até meados do quilômetro 138 da drenagem. Após este trecho, o desnivelamento continua
sendo majoritariamente de pouca intensidade, intercalados com áreas de maior desnível, até
desaguar no Rio Corumbá.
As usinas hidrelétricas são as principais fontes geradoras de energia elétrica do Brasil,
e a presença das mesmas nos principais cursos d’água do país são comuns, principalmente
em áreas de planalto (LEONEL, 2020). Destaca-se que estas formas de produção energética
também acarretam diversos impactos socioambientais, justificando a discussão das mesmas
nesse artigo.
De acordo com Leonel (2020) os desmatamentos necessários para a construção destas
usinas podem reduzir a pluviosidade, já que com a redução das chuvas também diminuem o
volume hídrico, gerando debates contra elas. O autor ainda complementa aconselhando diver-
sificar a produção de energia, aumentando a produção energética solar, eólica e de biomassa
por exemplo.
Além disso, estima-se que cada vez que as águas encontram um represamento, há uma
perda de aproximadamente 60% dos sedimentos e nutrientes essenciais para seu equilíbrio
ecossistêmico, prejudicando inúmeras espécies bióticas dependentes do rio (LEONEL, 2020).
Prosseguindo na caracterização da bacia, evidencia-se que a mesma está localizada em
regiões de Cerrado brasileiro, cujo clima predominante é caracterizado especialmente por
duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa, com média de precipitação e tem-
peratura anual variando entre 1.200 a 1.800 mm, e entorno de 22 a 23 ºC respectivamente
(COUTINHO, 2000).
Assimilar tais dados são essenciais na compreensão dos cálculos morfométricos, sendo
assim, no próximo item será discutido as singularidades geométricas, do relevo e da drenagem
do Rio Piracanjuba II.
Unidades
Parâmetros Morfométricos Fórmulas / Siglas Resultados
de Medida
Área da bacia (A) 4.306,61 km²
Unidades
Parâmetros Morfométricos Fórmulas / Siglas Resultados
de Medida
Ordem da Bacia (Classificação de
(Ordem) 6.ª --
Strahler)
Ext. dos Canais de 1.ª Ordem (Ordem) 1.336,41 km
Ext. dos Canais de 2.ª Ordem (Ordem) 633,88 km
Ext. dos Canais de 3.ª Ordem (Ordem) 352,14 km
Características
da Rede de Ext. dos Canais de 4.ª Ordem (Ordem) 219,78 km
Drenagem Ext. dos Canais de 5.ª Ordem (Ordem) 34,46 km
Ext. dos Canais de 6.ª Ordem (Ordem) 124,75 km
Comprimento Total dos canais (N) 2.701,42 km
Coeficiente de Manutenção (Cm = 1 ÷ Dd × 1000) 1.587,30 m²/m
Densidade de Drenagem (Dd = N ÷ A) 0,63 km/km²
Elaboração: Autoria própria.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a finalização deste artigo destaca-se a importância de compreender as característi-
cas físicas das áreas, a fim de melhor gerir o ambiente local. Para isso, a utilização dos cálculos
morfométricos podem ser essenciais para identificar os locais que necessitam de atenção
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VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.
Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar a dinâmica da evolução de uso do solo e a sucessão
direta destas mudanças na microbacia do Ribeirão Laranjal, bacia esta que fornece os recursos
hídricos necessários do município de Pires do Rio-GO, localizado em região de cerrado. A metodo-
logia utilizada foi pautada na revisão bibliográfica e na obtenção de dados via Sensoriamento
Remoto, adotando o seguinte roteiro: a) revisão da literatura; b) delimitação da área de estudo; c)
elaboração dos mapas de uso do solo dos anos de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2018. Os resultados
mostraram o predomínio das áreas de pastagens com uma intensa redução da vegetação nativa,
respectivamente ao avanço da agricultura em menor proporção. Nessa perspectiva, também foi
possível constatar que as classes de pastagens avançaram primordialmente sobre as áreas de
vegetação, numa sucessão direta que foi intercalada com a agricultura.
Palavras-chave: Geoprocessamento; Ordenamento Territorial; Bacia Hidrográfica; Cobertura da
Terra.
Abstract: This study analyses the dynamics of the evolution of land use in the Ribeirão Laranjal
micro-basin, which supplies water to the municipality of Pires do Rio-GO, located in the cerrado
region. The methodology employed was remote sensing, using the following procedures: a) the
delimitation of the study area, b) the elaboration of land use maps from 1985 to 2018. The results
show the predominance of pasture areas with an intense reduction of native vegetation, corre-
sponding to a lower proportion in the advance of agriculture. From this perspective, it is evident
that the category of pastures moved primarily into the vegetation areas in a direct succession that
was interspersed with agriculture.
Keywords: Geoprocessing; Land Use Planning; River Basin; Land Cover.
[ 1042 ]
MUDANÇAS DE USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO LARANJAL 1043
1 INTRODUÇÃO
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, com uma área de ~2,4 milhões
de km2, presente nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal,
Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná e São Paulo, além de também estar
presente no Amapá, Roraima e Amazonas por meio dos encraves de vegetação (IBGE, 2019).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2007) o Cerrado e o Pantanal brasileiro encon-
tram-se dentro das áreas destinadas para a conservação, considerando a sua importância em
relação ao número de espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção. Segundo Siqueira e
Faria (2019), a região de Cerrado é um dos 34 hotspots de biodiversidade, estando exposta a
um grande nível de degradação ambiental proveniente das práticas econômicas e sociais atra-
sadas tecnologicamente.
As áreas de Cerrado brasileiro passaram a partir da década de 1970 pelo processo de
modernização da agricultura, caracterizado pelo avanço da fronteira agrícola (MARTINS, 1996;
KAGEYAMA, 1996; SILVA et al., 2013). Este processo promoveu alterações estruturais na dinâ-
mica do cenário agropecuário dessa região, transformando-a em um modelo agroexportador
de commodities com intenso envolvimento tecnológico e de pressões ambientais sobre os
ecossistemas naturais. Nas últimas cinco décadas o Cerrado tornou-se uma das maiores áreas
produtoras de grãos, algodão, carne, biocombustíveis do país, resultando na conversão de
áreas naturais em agroecossistemas (PREVADELLO; CARVALHO, 2006.
O avanço da agricultura e da pecuária nas áreas de Cerrado promove significativas
mudanças nas áreas de vegetação nativa. Desse modo, o uso do solo passa por mudanças na
sua dinâmica que causam diversas formas de degradação ambiental mediante a organização
do espaço (DUARTE; SILVA, 2019). As mudanças de uso do solo apresentam impactos associa-
dos com a expansão da fronteira agrícola diante das alterações estruturais que ocorrem com a
variação temporal da expansão agropecuária associada com a modernização da agricultura e
pecuária que apresentam as mudanças de usos dos solos (PIMENTEL et al., 2011).
A degradação ambiental no Cerrado é sentida diretamente nas áreas de bacias hidrográ-
ficas devido ao seu caráter sistêmico de integração entre os elementos antrópicos e físicos da
paisagem. Nessa perspectiva, Porto e Porto (2008) analisaram as bacias hidrográficas como
unidades delimitadas em que ocorre a entrada e saída de energia. Nesse sentido, a Política
Nacional de Recursos Hídricos, Lei 9.433 de 1997, caracteriza as bacias e sub-bacias hidrográfi-
cas como unidades de planejamento, visto que são áreas delimitadas fisicamente e interligadas
com outras bacias e sub-bacias que possibilitam o manejo integrado de modo conservacionista
(SANTANA, 2003).
Diante da degradação das áreas de vegetação natural, os efeitos sistêmicos são apresenta-
dos nos recursos hídricos por meio da degradação ambiental dirigida pela possibilidade da perda
de qualidade e da quantidade destes recursos. Nessa perspectiva, Setti et al. (2000) considera
que o ambiente de escassez e de degradação hídrica ocorre diante do exagerado crescimento das
2 METODOLOGIA
O desenvolvimento desta pesquisa realizou-se em três partes: a primeira, consistiu na
revisão da literatura; a segunda na delimitação da área de estudo (delimitação da bacia de dre-
nagem); e na terceira fez-se o levantamento dos usos dos solos para os anos de 1985, 1995,
2005, 2015 e 2018 na área da bacia. Sendo assim, os principais procedimentos metodológicos
podem ser observados na figura 1.
O primeiro passo para o desenvolvimento desta pesquisa foi pautado na revisão biblio-
gráfica, sendo considerado um dos principais fatores ao elaborar uma pesquisa científica. Para
isto foi recorrido a autores como Kageyama (1996), Mcdonnell et al. (1997), Setti et al. (2000),
Miziara (2011), e Silva et al. (2013), para embasar teoricamente tal pesquisa.
A delimitação da área da bacia estudada e a definição do leito de drenagem foi desenvol-
vido no segundo passo. Nesta etapa, utilizou-se imagens de radar do Projeto Topodata (alti-
tude) e também imagens do Satélite Landsat 8 (L8), na composição RGB 456, do ano de 2018.
Por meio destas imagens realizou-se a vetorização para delimitar os canais de drenagem e tam-
bém a área de estudo dos quais foram considerados os divisores de água no Arcgis 10.3.
Fonte: os autores.
3 RESULTADOS
3.1 Localização da Área de Estudo
A Microbacia do Ribeirão Laranjal localiza-se no município de Pires do Rio-GO, na Região de
Planejamento do Sudeste Goiano (Figura 2). Ela faz parte do Complexo da Bacia do Rio Corumbá,
pertencendo a Região Hidrográfica do Rio Paranaíba. O Ribeirão é a principal fonte de abasteci-
mento hídrico da área urbana do município que conta com uma população estimada de 31.151
pessoas (IBGE, 2017). A microbacia hidrográfica possui uma área total de ~5.024,21 ha.
Organização: os autores.
Para Almeida, Monteiro e Câmara (2005) o uso do solo varia pela utilização da terra por
populações locais, realizando o aproveitamento dos recursos naturais. Em compensação,
ocorre a geração de impactos diretamente relacionados com os usos intensivos. A importância
da determinação cronológica dos usos dos solos está ligada com as relações de degradação dos
sistemas naturais que demandam ações de planejamento e de ordenamento territorial. Esta
dinâmica interfere na qualidade dos sistemas naturais e dos retornos financeiros, interferindo
em ações para impedir a degradação ambiental (CAMPOS et al., 2010).
A caracterização dos usos dos solos na microbacia do Ribeirão Laranjal, bacia de capta-
ção e fornecimento hídrico do município de Pires do Rio-GO, expressa a quantificação das con-
dições das relações naturais e antrópicas diante das mudanças econômicas regionais. Este
fator ressalta a necessidade em criar condições para proteção dos recursos florestais, dos solos
e dos recursos hídricos perante o avanço da fronteira agrícola.
O modelo de análise da evolução do uso do solo adotado nesta pesquisa, pode ser obser-
vado na figura 3, que apresenta as alterações das progressões das classes de uso para os anos
de 1985, 1995, 2005, 2015 e 2018.
.
Organização: os autores
Com base na figura anterior, que utilizou as classes de vegetação, pastagem, agricultura
e área urbana, foi possível analisar a dinâmica dos tipos de usos, em relação às suas áreas, con-
forme a tabela 1.
Tabela 1 – Áreas das classes de usos do solo na bacia do Ribeirão Laranjal – 1985 a 2018
Vegetação 2369,37 47,16 1285,04 25,58 1387,11 27,61 1370,50 27,28 1138,54 22,66
Pastagem 2103,10 41,86 2659,04 52,92 2399,31 47,75 2323,20 46,24 2335,73 46,49
Agricultura 294,60 5,86 661,84 13,17 801,33 15,95 903,77 17,99 1102,79 21,95
Área Urbana 257,31 5,12 418,46 8,33 436,63 8,69 426,91 8,50 447,32 8,90
Total 5024,38 100,00 5024,38 100,00 5024,38 100,00 5024,38 100,00 5024,38 100
Organização: os autores.
O período relacionado com o ano de 2015 predominou as áreas de pastagens, que pas-
sou por uma redução em relação ao decênio anterior, atingindo o percentual de 46,24% da
área de estudo. Nessa sequência, a classe da vegetação nativa apresentou-se ligeiramente
estável, com 27,28% da região. Os usos referentes à agricultura sofreram aumento, levando a
ocupar quase 18,00% da área da bacia do Ribeirão Laranjal. Por fim, neste período, as áreas
urbanas também apresentaram praticamente estáveis em relação ao período anterior com
uma ocupação de 8,50% da área.
O último período analisado, o ano de 2018, também repetiu os padrões dos períodos
apresentados. Neste ano, as classes das pastagens chegaram a 46,49%, seguidas pelas áreas de
vegetação nativa, com 22,66%, agricultura, com cerca de 22,00% e as áreas urbanas, com
8,90%. Porém, ocorreu alteração na dinâmica da ocupação do uso do solo em relação às gran-
dezas destas classes. Sobre o ano de 2015, as áreas de pastagens permanecem estabilizadas,
assim como as áreas urbanas. Nota-se que os dados analisados da tabela 1 apresentaram uma
rápida perda nas áreas de vegetação, acompanhada de um ligeiro aumento das áreas agrícolas
na microbacia estudada.
A dinâmica do uso do solo da microbacia do Ribeirão Laranjal, entre os anos de 1985 e
2018, mostrou uma permanente queda das áreas de vegetação nativa relacionadas com as
áreas de cerrado, sobretudo entre aos anos de 1985 a 1995. Neste período, também ocorreu o
maior avanço das áreas de pastagens que atingiram o seu auge de 53% da área de estudo na
década de 1990, e se iniciou o avanço das áreas agrícolas que apresentavam 5,8% de área ocu-
pada e chegaram aos 13,17% do total microbacia.
Diante destes dados é possível deduzir que a fronteira agrícola, por meio da frente pio-
neira, teve destaque até o período de 1985 e a frente de expansão teve maior intensidade a
partir do ano de 1995, com a implantação da agricultura moderna nas áreas aptas para tais ati-
vidades. Contudo, a classe de uso predominante identificada na microbacia do Ribeirão Laranjal
são as pastagens. A sua dinâmica na área de estudo mostrou que houve uma pequena redução
das suas áreas e um avanço ininterrupto da produção agrícola, sendo que a alteração destas
duas classes foi acompanhada pela a redução da vegetação nativa, apresentando o processo
de mudanças de uso do solo relacionado com a dinâmica da agropecuária, vegetação e das
áreas urbanas na microbacia do Ribeirão Laranjal.
4 CONCLUSÕES
A utilização de técnicas de Sensoriamento Remoto e de Geoprocessamento possibilitou
o entendimento das mudanças de uso do solo da microbacia analisada. O uso destas ferramen-
tas permitiu a caracterização temporal das alterações das classes selecionadas promovendo a
análise ambiental, a quantificação e a compreensão dos avanços em relação ao fenômeno das
conversões de uso.
A análise temporal da área drenada pelo Ribeirão Laranjal mostrou a consolidação das
pastagens que saíram de 41,86% de ocupação chegou ao seu maior valor de 52,92% no ano de
1995, atingindo ao valor final de 46,49% no ano de 2018, último ano analisado. A segunda
classe de maior significância na região estudada foram as áreas de vegetação, apesar de ter
sofrido grande redução em 1985, apresentou uma taxa de 47,16% de ocupação da área da
microbacia, que reduziu para 22,66% no ano de 2018, sendo a que mais foi reduzida. As áreas
de agricultura, compreendidas com culturas anuais, apresentaram um intenso aumento
durante o período estudado em que saiu dos 5,86% no primeiro ano pesquisado e que chegou
aos 21,95% na última análise.
Na perspectiva das mudanças diretas de uso do solo a classe de uso que mais avançou
sobre as áreas de vegetação nativa foram as pastagens. As classes relacionadas com a agricul-
tura mantiveram um padrão de substituição das áreas diante da dualidade entre o avanço
sobre as áreas nativas e as áreas de pastagens. Contudo, a relação do avanço das pastagens e
agricultura indica que enquanto ocorre o avanço da primeira sobre as áreas de florestas, a
segunda ocorre primordialmente sobre as áreas de pastos, representando empiricamente o
contexto do avanço da fronteira agrícola por meio da frente pioneira e frente de expansão nas
áreas de Cerrado.
As áreas de vegetação também foram responsáveis pelas mudanças de uso do solo da
qual ocorreu sobre as áreas de pastagens em sua maioria. Esta conversão de uso pode ter ocor-
rido, apesar da redução das áreas de vegetação nativa, através da recuperação e/ou regenera-
ção natural dos remanescentes de vegetação nativa.
O estudo mostrou o desenvolvimento das atividades agropecuárias sobre as áreas de vege-
tação nativa. Este panorama chama a atenção para a demanda do planejamento ambiental nas
microbacias hidrográficas fornecedoras hídricas para os municípios das áreas de Cerrado. A
importância na preservação destas regiões está relacionada com a conservação dos recursos
hídricos. Desse modo, a redução das áreas de florestas naturais e a intensificação das práticas
agrícolas e pecuárias apresentam o cenário de degradação dos recursos naturais, demandando
assim sobre importância da seleção de áreas prioritárias para conservação referente ao remode-
lamento de sistemas produtivos voltados à importância de práticas de preservação ambiental.
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outubro de 2019.
[ 1053 ]
1054 Luis Henrique da Silva Uchôa; Giovanna Azevedo de Moura Venâncio; Larissa de Pinho Aragão; Loran Honório da Silva
contamination by sewage, solid waste pollution and erosion and silting processes, compromising
the functions associated with the aforementioned drainages.
Keywords: water resources management; environmental planning; sanitation.
1 INTRODUÇÃO
A urbanização é um processo de ordem antrópica que ocorre de forma cada vez mais
intensa na modernidade, em que o processo de desenvolvimento econômico se apropria dos
espaços e os transformam em favorecimento da construção civil e industrial. Nesse sentido, os
diversos usos e ocupações urbanas são destinadas para fins comerciais, ocasionando o aumento
desmesurado da especulação imobiliária.
O uso do ambiente em benefício próprio acompanha o ser humano desde o início da civi-
lização, porém, com o processo de urbanização, a apropriação econômica dos espaços quase
sempre vem acompanhada de degradação dos sistemas naturais, como informa Jatobá (2011).
O autor destaca que a urbanização, por se tratar de concentração de pessoas e atividades pro-
dutivas, atua de forma intensa sobre determinado espaço restrito, gerando necessariamente,
um grande número de impactos degradadores ao meio ambiente circundante, com efeitos
sinérgicos e persistentes sobre a estabilidade socioambiental do entorno. Outrora, a necessi-
dade de recursos era agravada pela baixa tecnologia de transporte, o que limitava a mobili-
dade. A impossibilidade de obtenção imediata de água levou a humanidade a se assentar
próximos a rios e lagos, o que contribuiu para que atualmente as regiões costeiras tenham
maior densidade demográfica.
Situado no nordeste setentrional brasileiro, município de Fortaleza, o sistema hídrico
Papicu/Maceió é composto pela lagoa do Papicu e o riacho Maceió, fazendo parte da Bacia da
Vertente Marítima. A referida microbacia constitui um exemplo fidedigno de degradação
ambiental associada à ocupação desordenada do solo e do avanço da urbanização sem plane-
jamento prévio.
O sistema hídrico Papicu/Maceió representa um marco histórico na cidade de Fortaleza
e da enseada do Mucuripe, por onde também teve início o processo de ocupação territorial
municipal. Com relação à comunidade do Mucuripe, esta constituía inicialmente uma vila de
pescadores, com dois centros habitacionais na margem esquerda e direita do riacho Maceió. A
partir de 1950 o bairro expandiu-se e atualmente o Mucuripe é uma das áreas com a maior
valorização imobiliária no contexto geográfico e principalmente turístico de todo o conjunto
paisagístico do litoral cearense.
Com a modernização da cidade, amplia-se a necessidade de conviver próximo às fontes
de recursos naturais, que por sua vez diminuem progressivamente. O aumento populacional
faz com que a degradação do ambiente, que antes propiciara o desenvolvimento da região se
eleve drasticamente. Tal fato ocorre muitas vezes pela falta de educação ambiental e a urbani-
zação predatória. A concentração demográfica também fomenta a produção de resíduos, que
2 METODOLOGIA
A partir do levantamento bibliográfico realizado em artigos científicos que reportavam
sobre o sistema hídrico Papicu/Maceió, os resultados obtidos foram sistematizados, sobretudo
os relacionados à qualidade ambiental associada aos parâmetros físico-químicos da referida
microbacia.
As pesquisas feitas por SILVA et a.l (2011) foram realizadas com objetivos variados e
métodos diversificados. O Instituto de Ciências do Mar (Labomar) foi o principal polo de pes-
quisa, sendo a parte da Universidade Federal do Ceará que está direcionado aos estudos mari-
nhos e costeiros. Os dados obtidos foram comparados com os parâmetros ideais segundo as
entidades responsáveis pelo meio ambiente e saúde pública. Entre os métodos de coleta e aná-
lise, foram respectivos a cada fim, tempo por objetivo estabelecer por completo o que ocorre
na lagoa do Papicu e no riacho Maceió. Comparando o que hoje é observado com relatos de
moradores antigos da região, documentos históricos e artigos antigos que relatam como eram
a região antes da urbanização, como se deu o avanço e as OUC (operação urbana consorciada)
com a qualidade da água.
O trabalho de SILVA et a.l (2011) coletou amostras de 7 pontos ao longo do riacho Maceió
e da lagoa do Papicu (Tabela 1), respectivamente da lagoa até a foz, sendo o primeiro ponto de
coleta a lagoa e o último a 50 metros oeste da foz do riacho. A DBO5 (determinação da Demanda
Bioquímica de Oxigênio) foi realizada através do método de Winkler. A determinação do oxigênio
dissolvido (OD) foi realizada utilizando-se o método de Winkler com modificação da azida. A
determinação do potencial hidrogeniônico (pH) foi realizada através do método potenciométri-
co-eletrométrico. A colimetria das águas foi realizada empregando-se a técnica dos tubos
múltiplos de acordo com Mehlman et al. A amônia total foi analisada pelo método da nessleriza-
ção direta. A determinação de nitrato foi realizada através do método espectrofotométrico UV, e
a análise de nitrito foi realizada utilizando-se o método espectrofotométrico/alfanaftilamina.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Vertente Marítima, que inclui os riachos Jacarecanga, Pajeú e Maceió, ocupando a parte cen-
tral e histórica do município de Fortaleza.
Objetivando efetivar uma análise pormenorizada quanto às condições de geoambientais
e socioeconômicas de uma bacia, optou-se pelo sistema fluviolacustre Papicu-Maceió. Esse sis-
tema se desenvolve o Parque Linear do Riacho Maceió, pertencente ao Sistema Municipal de
Áreas Verdes, formado por trechos do riacho homônimo e do sangradouro da Lagoa do Papicu,
somando aproximadamente 2.000 metros de extensão dos recursos hídricos.
O oxigênio é um elemento essencial para a vida dos organismos aeróbios, e requer quan-
tidades significativas para um funcionamento adequado do ecossistema. Na resolução 357/2005
do CONAMA estabelece que o valor do OD (oxigênio dissolvido), em qualquer amostra deve ser
superior a 5,0 mgO2 /L para preservar a saúde do corpo d’água. Os pontos de coleta de 1 a 4
estão com valores a baixo do necessário, sendo o ponto mais crítico a lagoa do Papicu com 0,85
mgO2 /L. A média do OD no sistema hídrico é de 4,12 mgO2 /L.
A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é a determinação da quantidade de oxigênio
que é consumido na água por fatores bioquímicos, o que varia de acordo com a decomposição
de compostos orgânicos por processos biológicos. Segundo a Resolução 357/2005 do CONAMA,
o limite aceitável para essas águas é até 3,0 mg/L O2. sendo os valores de DBO5 obtidos nas
águas do complexo hídrico Papicu/Maceió, bem acima dos limites estabelecidos na legislação,
com exceção do ponto 2 (<1,0 mg/L O2).
A presença de Nitrogênio na lagoa do Papicu e no riacho Maceió é responsável pela
eutrofização, que de acordo com BARRETO et al. (2013) é reconhecida como um dos problemas
de qualidade da água de maior importância na atualidade. O nitrogênio está presente na água
em diferentes estados de oxidação, podendo ocasionar problemas além da eutrofização, afe-
tando diretamente a saúde. O nitrito e o nitrato estão associados a dois efeitos adversos à
saúde: a indução à metemoglobinemia e a formação potencial de nitrosaminas e nitrosamidas
carcinogênicas (ALABURDA & NISHIHARA, 1998).
Os valores de nitrito (NO2-) no sistema hídrico Papicu/Maceió, durante o período estu-
dado, variaram entre 0,004 mg/L no ponto de coleta 1 e 0,33 mg/L no ponto 7. Quanto as con-
centrações de nitrato (NO3-), foi constatado uma pequena variação, sendo o valor mínimo de
0,7 mg/L obtido no ponto de coleta 7, e o valor máximo de 4,9 mg/L, obtido no ponto de coleta
5, na foz do riacho Maceió. A concentração de amônia mais expressiva foi obtida no ponto de
coleta 5, localizado na foz do riacho Maceió, sendo o valor máximo (7,65 mg/L), o que pode ser
considerado bastante elevado, quando em comparação com os demais pontos de coleta. O
valor mínimo obtido foi de 0,03 mg/L, coletado no ponto de coleta 7.
O nitrogênio e o fósforo presentes nos rios e lagos são nutrientes de grande importância
à cadeia alimentar, entretanto, quando descarregados em altas concentrações em águas super-
ficiais e associados às boas condições de luminosidade provocam o enriquecimento do meio,
fenômeno este denominada eutrofização. (BARRETO et al, 2013)
As concentrações de coliformes totais, termotolerantes e Escherichia coli detectadas
excederam os valores estipulados pela Resolução 357/2005 do CONAMA em todas as amostras
analisadas para as classes no qual o sistema hídrico Papicu/Maceió se enquadram. De acordo
com a Resolução, o número de coliformes termotolerantes não deve exceder um limite de
1.000 coliformes por 100 mililitros em 80 % ou mais. Ao longo de um ano, foram colhidas
amostras dos 7 pontos de coleta de forma bimestral. De acordo com os dados presentes no
artigo original, todas as amostras apresentaram valores que excederam esse limite.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema hídrico Papicu/Maceió é vítima do crescimento acelerado do urbanismo e a
falta de planejamento ambiental. Foram constatados vários impactos na área, como por exem-
plo: contaminação das águas associados aos processos de erosão e assoreamento, bem como
a redução do espelho d’água da lagoa do Papicu. A fragilização da biodiversidade local é um
reflexo da degradação ambiental promovida pela falta de saneamento.
De acordo com as análises físico-químicas e bacteriológicas realizadas na área foi possível
observar que a lagoa do Papicu e o riacho Maceió é agredido de diversas fontes, desde o des-
pejo de efluentes residenciais, deposição de resíduos sólidos domésticos até a impermeabiliza-
ção do leito dos riachos. A Operação Urbana Consorciada de 2011, embora tenha reformado o
entorno da lagoa e do riacho, não realizou mudanças significativas que melhorassem a quali-
dade da água.
Quanto aos valores de oxigênio dissolvido na água, é visível a variação entre a lagoa do
Papicu, principal corpo hídrico desse sistema e o restante da bacia hidrográfica. Há uma redu-
ção significativa desse elemento devido ao grande aporte de efluentes domésticos para esse
manancial. O lançamento de esgotos domésticos provoca o aumento na concentração de
nutrientes, o que ocasiona um desequilíbrio no consumo de oxigênio.
De acordo com a Resolução 357/2005 do CONAMA, os valores da concentração de Nitrito
e Nitrato nas águas do sistema hídrico Papicu/ Maceió estão dentro do limite aceitável estabe-
lecidos na legislação.
Todo o sistema hídrico Papicu/Maceió apresenta sinais de poluição microbiológica por
coliformes. Todas as amostras que foram colhidas no período de um ano estão com os valores
maiores do que o aceitável segundo a Resolução 357/2005 do CONAMA. Os efluentes são os
responsáveis pelo valor elevado do NPM de coliformes, os esgotos domésticos e o deposito de
lixo na região são, portanto, prejudicais a saúde da comunidade local, que carece de um sanea-
mento básico digno.
É necessário um processo de saneamento moderno em paralelo as mudanças na infraes-
trutura da região. Os processos de reforma devem agir em conjunto com um planejamento
ambiental, de forma que as edificações e mudanças que ocorram na área atendam os requisi-
tos estabelecidos na Resolução 357/2005, visando a preservação do meio ambiente e a saúde
da comunidade. Preservar a lagoa do Papicu e o riacho Maceió como área de proteção, limi-
tando os empreendimentos de obras civis e industriais. Também seria interessante reestabele-
cer o contato da comunidade com o manancial, o que seria possível por meio de ações sociais
aplicadas em eventos que valorizem a cultura local, na perspectiva de fomentar a conscientiza-
ção ambiental nos moradores da região.
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Resumo: O Brasil apresenta grandes divergências tanto em relação à oferta quanto ao nível dos
serviços de saneamento básico que dispõe à sua população. Assim, objetivou-se analisar a reali-
dade do município de Goianinha (RN) quanto ao tema em tela. Para isso, abordou-se o problema
tanto numa perspectiva qualitativa quanto quantitativa, tendo sido realizados levantamentos lite-
rários e documentais, aplicadas entrevistas estruturadas in loco, técnicas estatísticas descritivas e
gráficas e a escala social de Likert. Além disso, destaca-se que os dados de campo foram obtidos a
partir de investigações no conjunto habitacional Nova Batalha, Goianinha-RN. Entre os resultados,
observou-se que no mencionado conjunto foram identificados vários problemas, tais como: a
ausência de um sistema de coleta de efluentes domésticos e de uma rede de drenagem de águas
pluviais, acarretando a contaminação do córrego que cruza o conjunto e tem por destino o rio
Jacú; principal rio da bacia hidrográfica do Jacú. Não obstante, a partir da avaliação da percepção
ambiental das comunidades, verificou-se que os residentes identificaram com “presente e satisfa-
tória” a oferta dos serviços de saneamento básico; diferentemente do que se observou a partir da
avaliação técnica realizada.
Palavras-Chave: Saneamento Ambiental; Percepção Ambiental; Diagnóstico Ambiental.
Abstract: Brazil presents great divergences both in relation to the supply and the level of basic
sanitation services available to its population. Thus, the objective was to analyze the reality of the
municipality of Goianinha (RN) regarding the theme in question. For this, the problem was approa-
ched both in a qualitative and quantitative perspective, having been carried out literary and docu-
mental surveys, applied structured interviews in loco, descriptive and graphic statistical techniques
and the Likert social scale. Furthermore, it is noteworthy that the field data were obtained from
investigations in the Nova Batalha housing complex, Goianinha-RN. Among the results, it was
observed that several problems were identified in the mentioned complex, such as: the absence
of a domestic wastewater collection system and of a rainwater drainage network, leading to the
contamination of the stream that crosses the complex and is destined for the Jacú River; the main
[ 1063 ]
1064 Heberson Saturnino de Vasconcelos; Bruno Claytton Oliveira da Silva
river of the Jacú watershed. Nevertheless, from the evaluation of the environmental perception of
the communities, it was found that the residents identified as “present and satisfactory” the
supply of basic sanitation services; differently from what was observed from the technical evalua-
tion performed.
Key Words: Environmental Sanitation; Environmental Perception; Environmental Diagnostic.
1 INTRODUÇÃO
O saneamento ambiental é um dos pilares fundamentais para a estrutura das cidades,
pois está diretamente relacionado ao bem-estar do ser humano. Assim, ele atua de maneira
direta ou indireta sobre a saúde pública e a preservação da natureza, além da melhoria da qua-
lidade de vida das pessoas, das condições econômicas e ambientais de uma cidade (GUIMARÃES,
CARVALHO E SILVA, 2007).
Como resultante do conjunto de aspectos relacionados ao saneamento ambiental, têm-
-se a promoção da saúde e do bem-estar social, que se notabilizam por intermédio do meio
limpo, coeso e seguro. Em face disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tornou a promo-
ção da saúde o principal objetivo do saneamento ambiental, visto que muitas doenças são sus-
cetíveis à proliferação devido a sua ausência (RIBEIRO E ROOKE, 2010).
Assim, tem-se que a saúde humana, seja coletiva ou individualmente, pode ser afetada,
direta ou indiretamente, a partir da oferta e nível de saneamento mantido em seu nicho e/ou
habitat (AYACH, 2012).
Conceitualmente, a definição de saneamento básico ou ambiental é abrangente e ampla.
Todavia, frequentemente, leva-se em consideração alguns dos seus aspectos principais, como:
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e limpeza pública – serviços
mais deficientes nas cidades brasileiras (HELLER, 1998).
A atual situação do Brasil em relação aos serviços de saneamento ainda está muito dis-
tante do ideal para um país que está entre as dez das maiores economias do mundo (TRATA
BRASIL, 2015).
Especificamente, no país, 83,62% da população possui abastecimento de água tratada,
estando ausente, ainda, para cerca de 35 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, apenas 53%
dos brasileiros têm acesso aos serviços de coleta de efluentes domésticos e somente 46% des-
ses é tratado – fato agravado na região Nordeste, onde 28,01% da população tem atendimento
a esse serviço (TRATA BRASIL, 2019).
De acordo com Tavares et al. (2019), o crescimento populacional das cidades brasileiras
não acompanha a oferta de saneamento da infraestrutura urbana, sendo assim, o atendimento
mínimo necessário não consegue ser distribuído a toda população. Dessa forma, a população
mais prejudicada, em um panorama geral, é aquela de baixa renda, uma vez que as ações
governamentais visam, de certa forma, mais o lucro e não o bem social (Ibidem).
Diante disso, o trabalho teve como objetivo analisar de forma qualitativa e quantitativa a
oferta de serviços e o nível de satisfatoriedade do saneamento básico disponibilizado aos resi-
dentes do município de Goianinha (RN), a partir da percepção dos munícipes quanto a situa-
ção-quadro do saneamento básico no município de Goianinha-RN e de avaliações técnicas in
loco. Além disso, intentou-se evidenciar os possíveis impactos das ações antrópicas na micro-
bacia do rio Jacú e comparar a realidade apresenta àquela prevista nos diversos diplomas nor-
mativos vigentes, nos três níveis da administração pública, especialmente no municipal.
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O município de Goianinha localiza-se no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Ele possui
uma área territorial de, aproximadamente, 192,279 km², com uma população estimada de
26.669 habitantes e densidade demográfica de 116,92 hab./km². Além disso, segundo dados
coletados em 2010, o esgotamento sanitário adequado dos municípios é de 42% (IBGE, 2017).
Goianinha (RN) localiza-se a cerca 57 km ao sul da cidade do Natal (RN) – capital do
estado do RN –, está localizado a 37m acima do nível médio do mar, possui a maior parte de
sua população habitando a zona urbana e tem sua economia fundada na(o): pecuária, agricul-
tura, indústria, comércio e turismo (GOIANINHA, 2017).
A bacia hidrográfica do rio Jacú está localizada entre as coordenadas geográficas de 35º
46’54” e 36º 17’ 60” de longitude oeste de Greenwich e os paralelos de 06º 25’ 54” e 06º 50’
54’ de latitude sul (ARAÚJO, 2019).
O município de Goianinha-RN possui a maior parte de seu território inserido nos domí-
nios da bacia hidrográfica do Rio Jacú. Ele detém cerca de 28 poços cadastrados, pelo projeto
de cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea do RN, dos quais 80% são usa-
dos para consumo primário da população (BELTRÃO et al., 2005).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos na pesquisa:
Segundo uma das entrevistadas, o conjunto possui uma natural predisposição para o
aparecimento de nascentes de água, facilitando o encharcamento e infiltrações em residência
pelo conjunto. Além disso, ele figura como, aparentemente, um dos pontos mais baixos de
toda a cidade e o direcionamento de todas as águas pluviais e de efluentes das proximidades
direcionam-se para o córrego que atravessa o conjunto.
O corpo d’água, não somente atravessa a comunidade como muitos outros conjuntos da
cidade, carreando consigo a poluição acumulada. Contudo, é possível que o conjunto da Nova
Batalha é a comunidade que descarta uma maior quantidade de resíduos e rejeitos devido a
condição atual do saneamento no local.
Vale destacar que ele segue de oeste para leste da cidade, levando com ele resíduos sóli-
dos, como: sacos plásticos, objetos eletrônicos, eletrodomésticos, pneus, sofás, animais... além
do próprio efluente doméstico – como pode ser observado na figura 4.
O córrego tem como destinação o rio Jacú, principal rio da bacia hidrográfica do Jacú, que
deságua na lagoa de Guaíra no qual faz conexão com o mar.
Segundo um dos moradores, muitos residentes descartam seus resíduos de maneira ina-
dequada no córrego. Além da poluição e ausência de coleta de efluentes, outro problema que
assola a comunidade é a frequência de enchentes.
Notadamente na imagem inferior esquerda, é possível ver crianças brincando nas proxi-
midades do efluente. Além disso, na inferior direita, onde o efluente passa na frente das resi-
dências, os moradores utilizam o pouco espaço da calçada pública para atividades cotidianas e
recreativas, como se sentar e conversar.
A partir de tais observações, entende-se que a atual situação do saneamento ambiental
do conjunto é potencialmente prejudicial à saúde de sua população, onde eles têm, estatistica-
mente, uma elevada chance de contágio de doenças.
A contendente afirmação está amparada pelo estudo de Siqueira (2016), que apontou
que das 13.929 internações por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado
em Porto Alegre (RS), 93,7% relacionaram-se às doenças de transmissão feco-oral e 20,4%
foram de crianças de um a quatro anos de idade (28,1 internações/10 mil hab./ano). Entre
outras, tais doenças englobam diarreias, leptospirose, doença de Chagas, teníases e hepatite A.
Ainda vale salientar que, nas comunidades próximas, existem cerca de 27 poços tubula-
res, utilizados pela população para consumo humano e para uso geral, que, por sua vez, tem o
risco de terem suas águas contaminadas pelo córrego poluído – como destacado na figura 2 –
e, portanto, pondo em risco a saúde da população.
Abaixo, na figura 6, são apresentados os seus resultados psicométricos:
O abastecimento de água foi qualificado como “presente” no conjunto. Além disso, ele
foi muito bem avaliado pelos moradores, sendo apontado, em sua grande parte, como “satis-
fatório” ou “muito satisfatório”, e enfatizada a sua ótima qualidade, ausência de sabor, odor
ou turbidez.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em linha gerais, observou-se que as avaliações qualitativas dos residentes classificaram
como “presente” o saneamento básico e o nível dos seus serviços como “satisfatório”.
Entretanto, através do levantamento in loco, inerente a avaliação técnica de campo, foram evi-
denciados inúmeros problemas tanto em relação a oferta quanto ao seu nível de
satisfatoriedade.
Atrelado a tal constatação, acredita-se que o nível socioeconômico, especialmente edu-
cacional, de muitos moradores possa ter influenciado em suas avaliações – o que abre espaço
para novas investigações.
Comportamentalmente, notou-se que parte dos moradores não apresentaram capaci-
dade crítica, demostrando conformismo e indiferença para com a atual situação em seu
entorno; o que enseja preocupação caso esse seja o “padrão normal” dos demais residentes da
microbacia do rio Jacú.
Assim, apesar da localidade possuir claras ausências de saneamento ela obteve uma qua-
lificação, de modo geral, “satisfatória”; o que demonstra a importância e necessidade de inves-
timentos em senso crítico e em Educação Ambiental, como instrumentos para garantia efetiva
de direitos sociais e ambientais por parte de todos.
Dito isso, sem dúvida, figura como necessário, em âmbito municipal, um significativo
investimento na reformulação da infraestrutura de saneamento básico atual, visando a
implementação e correção das medidas previstas, tais como: a coleta e tratamento dos
efluentes municipais.
Por fim, é imprescindível, também, a inclusão de programas na área sociocultural, de
cidadania e Educação Ambiental – assim como consta no próprio plano de investimentos de
2020 – que estimulem a consciência e a sensibilização ambiental.
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Resumo: A diversidade de paisagens do Nordeste do Brasil confere a essa região potencial erosivo
natural diferente, o que torna importante a realização de estudos integrados acerca dos aspectos
fisiográficos. A pesquisa teve como objetivo conhecer o potencial erosivo da Sub-bacia Hidrográfica
do rio Jacareí, considerando a declividade média, erosividade das chuvas e erodibilidade dos solos,
como forma de subsidiar a gestão e o planejamento ambiental. A pesquisa demandou aquisição de
arquivos alfanuméricos e vetoriais ligados às variáveis elencadas, para operacionalizar a constru-
ção do índice do potencial erosivo natural. Esses dados foram manuseados no ArcGIS, versão 10.9,
e QGIS, versão 3.10. A Sub-bacia está situada em área com presença de falhas geológicas e as
seguintes formações geológicas: Serra Grande, Pimenteiras, Cabeças, Sardinha e os Depósitos
Colúvio-Eluviais. No que tange aos aspectos climáticos a área em estudo encontra-se sob a influ-
ência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que responde pelas chuvas de fevereiro a
maio. Na área pesquisada foram identificadas as seguintes subordens de solos: Argissolo Amarelo,
Neossolo Litólico, Neossolo Quartzarênico, Planossolo Háplico e Plintossolo Pétrico. Esses solos
são recobertos por vegetação que varia do estrado herbáceo a catinga arbustiva e arbórea, ora
aberta ora densa. Os resultados indicam que predomina relevo plano, em 85,5% da Sub-bacia,
muito baixa de erosividade das chuvas, em 75,1%, erodibilidade muito alta, em 80,1%, e baixo
potencial erosivo natural, em 66,7% Sub-bacia. Evidencia-se a necessidade de observar a Sub-
bacia em sua integridade, pois danos causados em pontos específicos terão repercussões por toda
a Sub-bacia.
Palavras-chave: Sub-bacia do rio Jacareí; Declividade média; Erosividade das chuvas; Erodibilidade
dos solos; Álgebra de mapas.
Abstract: The diversity of landscapes in Northeast Brazil gives this region a different natural ero-
sive potential, which makes it important to carry out integrated studies on physiographic aspects.
The research aimed to know the erosive potential of the Jacareí River Hydrographic Sub-basin,
considering the average declivity, rainfall erosivity and soil erodibility, as a way to support man-
agement and environmental planning. The research required the acquisition of alphanumeric and
vector files linked to the variables listed, to operationalize the construction of the natural erosive
[ 1075 ]
1076 Francílio de Amorim dos Santos
potential index. These data were handled in ArcGIS, version 10.9, and QGIS, version 3.10. The Sub-
basin is located in an area with the presence of geological faults and the following geological for-
mations: Serra Grande, Pimenteiras, Cabeças, Sardinha and the Colluvium-Eluvial Deposits. With
regard to climatic aspects, the study area is under the influence of the Intertropical Convergence
Zone (ITCZ), which accounts for rainfall from February to May. The following soil suborders were
identified in the researched area: Yellow Ultisol, Litholic Neosol, Quartzrenic Neosol, Haplic
Planosol and Petric Plinthsol. These soils are covered by vegetation that varies from herbaceous
bed to shrubby and arboreal clumps, sometimes open and sometimes dense. The results indicate
that flat relief predominates in 85.5% of the Sub-basin, very low rainfall erosivity in 75.1%, very
high erodibility in 80.1% and low natural erosive potential in 66, 7% Sub-basin. The need to observe
a Sub-basin in its entirety is evident, as the damage caused in points must have repercussions
throughout the Sub-basin.
Keywords: Sub-basin of the Jacareí River; Average slope; Rain erosivity; Soil erodibility; Map
algebra.
1 INTRODUÇÃO
O Nordeste do Brasil (NEB) apresenta paisagens com diversificado potencial de erosão.
Logo, faz-se necessário a realização de estudos integrados para conhecimento dos aspectos
fisiográficos e, consequentemente, as áreas com maior potencial à erosão. No âmbito da abor-
dagem geossistêmica, cabe inserir discussão acerca da bacia hidrográfica, considerada recorte
espacial que integra os diversos aspectos biofísicos.
Para Christofoletti (1980), as bacias hidrográficas são consideradas sistemas não isolados
abertos, pois nelas predomina a troca contínua de matéria e energia, bem como perda e
recarga. Na visão legal, a bacia hidrográfica é considerada a unidade territorial que deve ser
tomada para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Nesse sentido, Frota e Nappo (2012) destacam que, no âmbito de estudo da Geografia, a
erosão do solo deve ser estudada a partir de das interrelações espaciais, dos fatores condicio-
nantes e dos fatores físicos do solo. Nesse sentido, Correa e Sanjos Pinto (2012) ressaltam que
as consequências da erosão no solo podem comprometer a sustentabilidade do sistema agrí-
cola, demandando altos investimentos para manter a produtividade das culturas.
Dessa forma, Sousa e Paula (2019) apontam que os problemas oriundos dos processos
erosivos são intensificados nas regiões semiáridas, seja por suas características morfoestrutu-
rais e pedológicas quanto pelo regime hidrológico e a consequente escassez hídrica. Por sua
vez, Morais e Silva (2020) apontam que quando o processo erosivo se processa de forma natu-
ral, dois agentes atuam na transformação da superfície, a saber: a água da chuva (erosão
hídrica) e o vento (erosão eólica).
Tomando como recorte espacial a Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, cujo rio principal
é tributário do rio Piracuruca (Figura 1), tornou-se relevante proceder ao estudo do potencial
erosivo natural dessa área, na perspectiva de conhecer as áreas mais frágeis a processos erosi-
vos. Nesse contexto, entenda-se erosão como um processo natural, cujos principais fatores
estão ligados à erosividade das chuvas (R), erodibilidade dos solos (K), o relevo, entre outros
(SOUSA; PAULA, 2019).
Sobre essa temática, diversos estudos têm sido desenvolvidos, a exemplo dos seguintes:
Frota e Nappo (2012), que buscaram discutir a influência da cobertura vegetal nos processos
erosivos, na Bacia Hidrográfica do Açude Orós, estado do Ceará, cujos resultados apontam
para o uso não sustentável dos recursos naturais de forma geral; Correa e Sanjos Pinto (2012),
que avaliaram o potencial natural de erosão hídrica do solo da Bacia Hidrográfica do Córrego
Monjolo Grande, em Ipeúna-SP, cujo potencial natural de erosão indicou predomínio da classe
muito baixo e baixo; Sousa e Paula (2019) estimaram as perdas de solos da Bacia Hidrográfica
do rio Coreaú, via Equação Universal de Perda de Solo (USLE), cuja equação demonstrou que
que na bacia do rio Coreaú perde-se, em média, 15,80 t.ha-1.ano-1 de solos; Morais e Silva
(2020) estimaram o potencial natural de erosão dos solos da Bacia Hidrográfica do rio Longá,
norte do estado do Piauí, cujos resultados indicaram que bacia apresenta baixo potencial natu-
ral de erosão, com 72% de sua área com estimativa de erosão inferior a 200 t ha-¹ ano-¹.
Nesse cenário, Oliveira e Leite (2018) apontam que os principais problemas ligados à ero-
são dos solos causam perda em sua fertilidade, na produção e na produtividade agropecuária,
aumento no custo de produção, avanços das fronteiras agrícolas, desflorestamento, ineficiên-
cia na captação de carbono da atmosfera, volatilidade dos preços dos alimentos, assoreamento
dos rios, intensificação de enchentes e principalmente, o mais agravante, a escassez hídrica. O
estudo buscou conhecer o potencial erosivo da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, conside-
rando a declividade média, erosividade das chuvas e erodibilidade dos solos, como forma de
subsidiar a gestão e o planejamento ambiental.
Figura 1 – Localização da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, na divida dos estados do Ceará e do
Piauí
2 METODOLOGIA
A pesquisa pode ser classificada como descritiva quanto ao seu objetivo, tendo em vista
que busca conhecer o potencial erosivo da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí. Inicialmente,
foi necessário realizar levantamento bibliográfico, para aprofundamento da temática, e carto-
gráfico, voltado à aquisição de arquivos alfanuméricos e vetoriais ligados à declividade, erosivi-
dade e erosibilidade, que foram integrados por meio do índice de erosão via SIG QGIS, versão
3.10, conforme está representado na equação 1.
Tabela 01 – Intervalos, classes atribuídas e notas para o índice do potencial de erosão da Sub-bacia
Hidrográfica do rio Jacareí.
6,1 a 12 Alta 2
12,1 a 20 Média 3
20,1 a 30 Baixa 4
Para conhecimento das classes de declividade média do relevo (Dm) foi adquirido arquivo
matricial ligado aos Modelos Digitais de Elevação (MDEs), da Missão Topográfica Radar Shuttle
(SRTM) (USGS, 2021). Para definir os intervalos para as classes de declividade basearam-se na
proposta apresentada no Manual Técnico de Geomorfologia (EMBRAPA, 2009), conforme pode
ser observado na Tabela 2.
Tabela 02 – Intervalos, classes atribuídas e notas de declividade média do relevo (Dm) da Sub-bacia
Hidrográfica do rio Jacareí
0a3 Plano 1
8 a 20 Ondulado 3
20 a 45 Forte Ondulado 4
45 a 75 Montanhoso 5
Fonte: EMBRAPA (2009). Adaptado pelo autor (2021).
No que diz respeito à erosividade das chuvas (R) foi, inicialmente, necessário obter dados
de 14 (quatorze) postos pluviométricos, junto ao site da Agência Nacional de Águas (ANA,
2021), considerando-se série histórica de 32 anos (1985 a 2016). Posteriormente, foi executada
a correção das falhas da série histórica por meio da técnica de ponderação regional proposta
por Tucci (1993), via pacote de programas USUAIS, como sugerem Oliveira e Sales (2016), como
se pode observar na Figura 2.
No estudo foi empregado método indireto para obtenção dos dados de erosividade das
chuvas (R), considerando a equação 2, que foi proposta por Lombardi Neto e Moldenhauer
(1992), que estima com relativa precisão os valores de R para longos períodos, baseando-se na
regressão linear entre o índice médio mensal de erosão e o coeficiente de chuva.
Tabela 03 – Intervalos, classes atribuídas e notas de erosividade das chuvas (R) da Sub-bacia Hidrográfica
do rio Jacareí
No que diz respeito à erodibilidade dos solos (K) foi necessário obter o arquivo vetorial dos
solos da Folha SB.24 – Jaguaribe, via banco de dados da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais
(INDE, 2014). Em seguida, foi utilizada a proposta metodológica de Crepani et al. (2001), onde o
mesmo se baseia no nível de desenvolvimento ou maturidade dos solos para delimitar as classes
de erodibilidade. Tal fato possibilitou a definição de 4 (quatro) classes (Tabela 4).
Tabela 04 – Ordens de solos, classes atribuídas e notas de erodibilidade dos solos (K) da Sub-bacia
Hidrográfica do rio Jacareí
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Sub-bacia do rio Jacareí está assentada sobre superfície submetida a processos de dis-
secação, oriunda dos rios consequentes que descem o Planalto da Ibiapaba rumo ao estado do
Piauí. O rio principal da bacia, o rio Jacareí, nasce no Planalto da Ibiapaba, a altura do município
de Viçosa do Ceará. O rio em sua extensão apresenta padrão dendrítico e é classificado como
temporário, como se pode observar na Figura 3.
A Sub-bacia do rio Jacareí configura-se como uma das mais importantes áreas de drena-
gem que compõem à Bacia Hidrográfica do rio Piracuruca. A Sub-bacia do rio Jacareí está situada
em área com presença de falhas geológicas, principalmente no sentido NE-SE, fato que resulta
em controle estrutural do rio principal da Sub-bacia, em especial no seu trecho cearense.
A Sub-bacia está assentada sobre as seguintes formações geológicas (CPRM, 2006a;
2006b), a saber: Serra Grande (Período Siluriano), Pimenteiras (Período Devoniano Inferior),
Cabeças (Período Devoniano Médio), Sardinha (Período Cretáceo, de natureza vulcânica) e os
Depósitos Colúvio-Eluviais (Período Neógeno). As referidas formações sofrem processos de
dissecação e de acumulação, cuja variação altimétrica do relevo vai de 825 m, no seu topo, a
25 m, na sua foz (USGS, 2020a).
Os principais aspectos climáticos da área em estudo sofrem influência, principalmente,
da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que responde pelas chuvas entre fevereiro a
maio, que atua conjuntamente com os fenômenos oceânicos El Niño Oscilação Sul (ENOS) e
Dipolo do Atlântico, que interagem com a ZCIT e geram anomalias pluviométricas interanuais.
Desse modo, conforme aponta o estudo de Santos (2019), a Sub-bacia do rio Jacareí exibe
média anual de precipitação concentrada entre 1.160 a 1.460 mm anuais, temperatura entre
21 a 27°C, 1 a 4 meses secos, evapotranspiração potencial situada entre 1.003 a 1.603 mm,
excedente hídrico de 400 a 900 mm e déficit hídrico que varia entre 30 a 430 mm.
Na Sub-bacia foram identificados 5 (cinco) subordens de solos (INDE, 2014), a saber:
Argissolo Amarelo, Neossolo Litólico, Neossolo Quartzarênico, Planossolo Háplico e Plintossolo
Pétrico. Esses solos quando associados a outros elementos da paisagem possibilitaram o desen-
volvimento de distintas formações vegetais, que variam do estrado herbáceo a catinga arbus-
tiva e arbórea, ora aberta ora densa (SANTOS, 2019).
Por meio da Figura 4 observa-se o predomino de relevo plano (0 a 3%), identificado em
85,5% da área, principalmente na parte Centro-Oeste. O relevo suave ondulado (3 a 8%)
estende-se por 10,8% da Sub-bacia em estudo, distribuído particularmente pela borda do
Planalto da Ibiapaba. O relevo ondulado (8 a 20%) e forte ondulado (20 a 45%) somam 3,8%
e situam-se na área de transição da borda do Planalto para as áreas mais rebaixadas, rumo
ao estado do Piauí.
Por sua vez, em relação à erosividade das chuvas pode-se identificar o predomínio da
classe muito baixa (Figura 5), em 75,1% da Sub-bacia estudada. A segunda classe mais repre-
sentativa foi a de baixa erosividade, que ocorre por 16,7% da Sub-bacia e está localizada no
trecho leste. As classes média (4,8%), alta (2,1) e muito alta (1,3%) estão distribuídas no setor
leste da Sub-bacia.
Os solos encontrados na área em estudo são considerados jovens, arenosos, pouco pro-
fundos e mal drenados, elementos que dificulta a retenção de água e, como tal, deixam o solo
ressecado na maior parte do ano. Como se observa na Figura 6, 80,1% dos solos da Sub-bacia
apresenta erodibilidade muito alta, localizados particularmente na área de transição do Planalto
para as áreas rebaixadas e, ainda, no baixo curso. Por outro lado, 19,9% da Sub-bacia apresenta
solos com erodibilidade baixa, que se situa principalmente na área central da Sub-bacia.
Quando integradas as três variáveis elencadas foi possível inferir o potencial erosivo natural
da Sub-bacia do rio Jacareí, de tal modo, que se pode identificar o predomínio da classe muito
baixo, que se dispersa por da 66,7% Sub-bacia em estudo (Figura 7). Por sua vez, a classe de baixo
potencial erosivo foi identificada por 18,1% da Sub-bacia, com ocorrência no baixo e alto curso.
Ao passo que as classes média (10,8%), alta (3,0%) e muito alta (1,4%), têm ocorrência localizada
no trecho cearense da Sub-bacia, particularmente no topo do Planalto da Ibiapaba.
Os resultados desse estudo foram semelhantes aos de Correa e Sanjos Pinto (2012), pois
os autores identificaram predomínio de potencial natural de erosão hídrica do solo classificado
como sendo muito baixo e baixo para a Bacia Hidrográfica do Córrego Monjolo Grande, em
Ipeúna-SP; os resultados se assemelham, ainda, ao estudo de Morais e Silva (2020), visto que o
potencial natural de erosão dos solos para Bacia Hidrográfica do rio Longá, apresentou predo-
mínio da classe baixa, em 72% de sua área.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia aplicada foi satisfatória, pois permitiu a inferência do potencial erosivo
natural da Sub-bacia Hidrográfica do rio Jacareí, a partir do emprego de três variáveis associa-
das ao uso de Sistema de Informação Geográfica. Fato que possibilita afirmar que, com as devi-
das adaptações à proposta empregada, poderá ser aplicada em outros espaços geográficos.
Os resultados apontam para o fato de que a área pesquisada possui predomínio de:
relevo plano (0 a 3%), com ocorrência em 85,5%; classe muito baixa de erosividade das chuvas,
frequente em 75,1% da Sub-bacia; erodibilidade muito alta, distribuída por 80,1%; muito baixo
potencial erosivo natural, em 66,7% Sub-bacia.
Embora a Sub-bacia apresente preponderância de muito baixo potencial erosivo, é pre-
ciso atenção no que diz respeito à gestão de suas áreas potencialmente mais frágeis, ou seja,
aquelas com alto e muito alto potencial erosivo, que ocorre em 4,4% da Sub-bacia. Pois é
preciso ver a Sub-bacia em sua integridade, isto é, danos causados em pontos específicos
irão ter repercussões por toda a Sub-bacia, de tal modo, que irá atingir as atividades ao longo
de sua área.
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PRODUTOR DE ÁGUAS
E PAGAMENTO POR SERVIÇOS
AMBIENTAIS EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS
DE MANANCIAIS DE
ABASTECIMENTO URBANO
93. ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO
URBANO NA VERTENTE PAULISTA DA UGRH
PARANAPANEMA – BRASIL
Integrando ensino, pesquisa e extensão universitária
Resumo: A crise hídrica tem sido um problema recorrente nos últimos anos no Brasil. Por ser um
fenômeno multicausal, oriundo da alteração dos regimes de chuva, desmatamento, compactação
e impermeabilização do solo, dentre outros, seu enfrentamento exige a mobilização de amplos
setores da sociedade, bem como mudanças nos modos de produção, de consumo e de como se
ensina e se aprende. Nesse contexto, neste trabalho objetiva-se compartilhar experiências sobre
como a Universidade pode colaborar com estudos para a promoção de ações em parceria com
outros setores da sociedade, especialmente com comitês de bacias hidrográficas, em bacias hidro-
gráficas de mananciais de abastecimento urbano, com base em ações em andamento na Unidade
de Gestão dos Recursos Hídricos Paranapanema. A metodologia envolve a realização de estudos
integrados em disciplinas e pesquisas cientificas, análise de planos de recursos hídricos, definição
de temas e áreas para os estudos em parceria com comitês de bacias hidrográficas, e preparação
de propostas para subsidiar a execução de ações previstas nos planos, tais como projetos de res-
tauração ecológica de áreas de preservação permanente. Os principais resultados apontam que a
realização de ações de extensão universitária, articuladas ao ensino e à pesquisa, em consonância
com as necessidades da sociedade, possibilita à Universidade cumprir uma função integradora
nestes processos e, ao mesmo tempo, propicia a execução de ações do sistema de gestão das
águas, bem como a produção acadêmica de monografias, dissertações e teses.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; UGRH Paranapanema; Extensão Universitária.
Abstract: The water crisis has been a recurrent problem in Brazil in recent years. As a multi-causal
phenomenon, arising from changes in rainfall, deforestation, soil compaction and waterproofing,
among others, confronting it requires the mobilization of broad sectors of society, as well as chan-
ges in production and consumption patterns and ways to teaches and learns. In this context, this
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ESTUDOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO URBANO NA VERTENTE PAULISTA 1089
work aims to share experiences on how the University can collaborate to promote actions in part-
nership with other sectors of society, especially with river basin committees, in urban water supply
watersheds, based on ongoing actions at the Paranapanema Water Resources Management Unit.
The methodology involves conducting integrated studies in scientific disciplines and researches,
analyzing water resources plans, defining themes and areas for studies in association with river
basin committees, and preparing proposals to support actions foreseen in the water resources
plan, such as ecological restoration projects for permanent preservation areas. The main results
show that carrying out community engagement actions articulated with teaching and research, in
line with the needs of society, enables the University to fulfill an integrative role in these processes
and, at the same time, enables the execution of system actions of water management, as well as
the academic production of monographs, dissertations and theses.
Keywords: Water Resources; UGRH Paranapanema; Community Engagement.
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho são apresentadas ações que integram ensino, pesquisa e extensão uni-
versitária no estudo de bacias hidrográficas de mananciais de abastecimento urbano na ver-
tente paulista da Unidade de Gestão de Recursos Hídricos Paranapanema (UGRH Paranapanema).
Essas ações estão inseridas na parceria da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP), especialmente das Unidades Universitárias de Presidente Prudente e Ourinhos,
com os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) Paranapanema, Pontal do Paranapanema, Alto
Paranapanema e Médio Paranapanema.
Essa parceria tem propiciado aos envolvidos vivenciar o princípio constitucional da indis-
sociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão universitária e a responsabilidade social e
ambiental da universidade no enfrentamento de grandes desafios, notadamente diante das
crises hídricas, com suas graves consequências para a sociedade brasileira.
As crises hídricas que vem ocorrendo no pais (ANA, 2015 e 2020), impactam o abasteci-
mento de água, a produção de alimentos, a geração de energia elétrica, geram conflitos entre
usuários das águas, racionamento e aumento de preços de vários produtos, impactando a
população de forma mais ampla. Essas crises têm múltiplas causas, para além da redução das
chuvas (no tempo e no espaço), que geralmente é apontada como explicação central para os
problemas. Assim, incluem, dentre outras, o desmatamento, a compactação e a impermeabili-
zação do solo, o aumento da demanda por água, o desperdício etc.
Dessa forma, o enfrentamento das crises hídricas exige igualmente múltiplas ações, em
várias escalas, devendo ser mobilizados amplos setores da sociedade. Nesse processo, deve-se
questionar e rever o modo de viver, produzir e consumir de nossa sociedade. E há que se
mudar também o modo de ensinar e aprender. Para tanto, é fundamental realizar ações exten-
sionistas integradas ao ensino e à pesquisa, que envolvam professores e estudantes universitá-
rios com outros setores da sociedade, em um processo dialógico, de respeito aos diferentes
saberes, de enfrentamento coletivo de problemas e de construção conjunta da cidadania,
democracia e sustentabilidade.
Nessa perspectiva, vem sendo realizados estudos sobre temas relativos aos recursos
hídricos e bacias hidrográficas em disciplinas de cursos de graduação de Engenharia Ambiental
e de Geografia e nos Programas de Pós-graduação em Geografia – Mestrado/Doutorado e
Mestrado Profissional, na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Presidente Prudente, com participação
de docentes do campus de Ourinhos, bem como pesquisas em vários níveis (iniciação cientí-
fica, mestrado, doutorado, pós-doutorado etc.) integradas com ações de extensão universitá-
ria. Nesse processo tem-se contado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP), dos Comitês de Bacias Hidrográficas e da Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA), dentre outros.
Os resultados desses estudos visam a subsidiar ações dos Comitês de Bacias Hidrográficas
parceiros, tais como na elaboração e execução dos planos de recursos hídricos em bacias hidro-
gráficas, de projetos de restauração ecológica de Áreas de Preservação Permanente (APP) em
bacias hidrográficas de mananciais de abastecimento urbano, de propostas para programa
produtor de água e de ações de Educação Ambiental, dentre outros.
Iniciados na bacia hidrográfica do manancial do alto curso do rio Santo Anastácio, que
abastece Presidente Prudente, esses estudos estão sendo expandidos para outras bacias hidro-
gráficas de mananciais de abastecimento urbano na vertente paulista da UGRH Paranapanema,
localizadas nas UGRHI Médio Paranapanema e Alto Paranapanema.
cultura temporária – milho/soja (14,8%), floresta (13,9%), cultura temporária – cana (10,1%),
silvicultura (8,3%), cultura temporária não especificada (7,8%), e outras classes de uso que
somam menos de 10% da bacia. Aproximadamente 18% da UGRH Paranapanema possui rema-
nescentes da vegetação nativa, notadamente na Unidade de Gestão Alto Paranapanema. (CBH-
Paranapanema e ANA, 2016).
Em relação ao abastecimento urbano, a maioria dos sistemas de água é operada pelas
concessionárias estaduais – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP)
e Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR). O índice médio de cobertura do abasteci-
mento da população urbana na UGRH Paranapanema é de 98,3% e a média de consumo per
capita é de 233,7 L/hab/dia (incluídas as perdas) e de 156,3 L/hab/dia (descontadas as perdas
de água). O índice médio de perdas na bacia é de 33,1% (CBH Paranapanema e ANA, 2016).
Dentre os 222 municípios com sede na UGRH Paranapanema, 48 sedes são abastecidas
por mananciais superficiais (28 em São Paulo, a maioria na UGRHI Alto Paranapanema, e 20 no
Paraná), 127 por mananciais subterrâneos (61 em São Paulo e 66 no Paraná) e 47 por manan-
ciais mistos – água superficial e subterrânea (11 em São Paulo e 36 no Paraná). Todavia, mais
da metade da população urbana da UGRH Paranapanema (2,32 milhões de habitantes) é abas-
tecida por água superficial e subterrânea conjuntamente (com uma vazão de 7,9 m³/s). (CBH
Paranapanema e ANA, 2016 e ANA, 2014).
Ressalta-se a importância de ações para proteção, recuperação e restauração de bacias
hidrográficas de mananciais de abastecimento urbano, especialmente em áreas críticas, como
previsto no PIRH Paranapanema, para diminuir a pressão antrópica sobre os mananciais, espe-
cialmente em períodos de redução da disponibilidade hídrica.
Nesse contexto, apresenta-se ao VIII Workshop Internacional em Planejamento e
Desenvolvimento Sustentável de Bacias Hidrográficas este trabalho com estudos e ações que
vem sendo realizados na UGRH Paranapanema, na perspectiva de compartilhar essas experiên-
cias e promover a interlocução com os participantes.
2 METODOLOGIA
Os estudos que vem sendo realizados nas bacias hidrográficas dos mananciais de abaste-
cimento urbano da vertente paulista da UGRH Paranapanema estão integrados a disciplinas, a
pesquisas científicas dos docentes e de seus orientandos e a ações de extensão universitária.
Para a definição dos temas e conteúdos a serem abordados nos estudos, a estratégia tem sido
observar nos planos de recursos hídricos das bacias hidrográficas onde atuam os CBH parcei-
ros, como o PIRH Paranapanema, quais são as lacunas de conhecimento e os programas e
ações previstos, na perspectiva de identificar temas e áreas para os estudos. Nessa definição
considera-se a área de atuação e de formação dos professores e estudantes envolvidos, bem
como temas e áreas que possibilitem a efetiva contribuição da equipe da universidade na
produção de conhecimentos para e com os CBH e, ao mesmo tempo, possam subsidiar a exe-
cução dos planos e a gestão das águas por esses colegiados regionais.
Após a análise do plano, são promovidas reuniões dos professores e alunos com dirigen-
tes e membros dos CBH parceiros, para que possam apresentar suas demandas de estudos e
serem definidos os temas e áreas que serão objeto de estudos na universidade em disciplinas,
estágios ou trabalhos de conclusão de curso (monografias e/ou dissertações e teses).
Menciona-se, como exemplo, a solicitação feita pelo CBH Paranapanema à UNESP para: a) ela-
boração de estudos para definições de locais para instalação de estações de monitoramento;
e b) levantamento de estudos no estado de São Paulo para realização de inventário com vistas
a identificar as APP, Reservas Legais, Unidades de Conservação e áreas de recarga de aquíferos.
Dessa forma, a análise do PIRH Paranapanema e a demanda do CBH Paranapanema direciona-
ram vários estudos para o Programa de Conservação Ambiental, estabelecido no plano.
Para a realização dos estudos específicos na universidade, são realizados levantamento e
revisão bibliográfica e de documentos técnicos, trabalhos de campo e visitas técnicas, interpre-
tação de imagens de satélites e de fotografias aéreas, análise da legislação ambiental e de
recursos hídricos, dentre outros. Essas ações são articuladas com reuniões nas Câmaras
Técnicas dos CBH, nas quais participam profissionais dos órgãos gestores de meio ambiente e
de recursos hídricos, das Prefeituras Municipais e dos usuários de recursos hídricos, incluindo
produtores rurais de propriedades localizadas nas bacias hidrográficas dos mananciais.
Os estudos realizados são apresentados, em reuniões e/ou em seminários, aos CBH e
também aos proprietários rurais, tendo em vista que estes devem ser esclarecidos sobre os
estudos e, no caso de aprovação dos projetos, darem anuência para as intervenções em suas
propriedades. Após a aprovação, os estudos são encaminhados pelo CBH para órgãos ambien-
tais e de controle para embasar a elaboração de projetos técnicos executivos, visando à obten-
ção de recursos para sua execução, geralmente oriundos de Termos de Ajustamento de
Conduta (TAC) ou Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA).
Esses estudos também são retomados na universidade e, com as adequações e comple-
mentações necessárias, constituem a base para a produção de trabalhos de conclusão de cur-
sos de graduação e de pós-graduação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos inicialmente foram realizados na bacia hidrográfica do manancial do alto
curso do rio Santo Anastácio, com cerca de 200 km², que abastece cerca de 30% da população
de Presidente Prudente, polo regional com 231.953 pessoas (estimativa IBGE, 2021)5. Foram
realizados estudos sobre identificação e análise da situação das APP de cursos d’água e nas-
centes, de hierarquização de áreas para restauração ecológica, de proposição de pagamento
por serviços ambientais, de restauração ecológica de APP, tais como os estudos de Dibieso
(2007 e 2013), Viana e Soares (2009), Carpi Jr (2011), Garcia (2011), Gonçalves (2013), Leal et al
(2015), Freire (2017), Couto (2018) e Okado (2018). Tem-se utilizado o marco legal relativo ao
tema, tais como Brasil (2012), São Paulo (1997) e São Paulo/SMA (2014).
Na Figura 2 apresenta-se um dos mapas resultantes dos estudos com a situação das
áreas de preservação permanente no manancial e nas Figuras 3, 4, 5 e 6 apresentam-se etapas
dos estudos e sua apresentação aos parceiros.
Figura 2 – Mapa de Áreas de Preservação Permanente no Manancial do Alto Curso do Rio Santo
Anastácio – UGRHI Pontal do Paranapanema – São Paulo
Figuras 3 e 4 – Trabalho de campo na bacia do manancial do rio Santo Anastácio para identificação e
delimitação de áreas de preservação permanente (27/06/2016) e reunião com representantes de CBH,
prefeitura municipal e associação de agricultores familares para articular a realização dos estudos nas
propriedades rurais (22/05/2017)
Esses estudos, após apresentação e análise em Câmara Técnica do CBH, foram encaminha-
dos para órgãos de gestão ambiental e de controle para destinação de recursos oriundos de TAC
ou de TCRA. Os projetos decorrentes têm sido executados em propriedades rurais, incluindo a
construção de cercas nas APP, o plantio de mudas nativas e sua manutenção, contribuindo para
recuperar essas áreas. Ressalta-se o estudo de professores e estudantes que embasou a proposi-
ção de projeto Produtor de Água pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, com apoio do
CBH Paranapanema, CBH Pontal do Paranapanema, Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA) e várias outras instituições e entidades parceiras (PMPP, 2019).
Com a experiência decorrente da realização desses estudos no manancial Santo Anastácio,
outros estudos vêm sendo realizados em bacias de mananciais superficiais da UGRH
Paranapanema, tais como Silveira e Toniello (2018), Vilella (2019) e Freitas (2020), abordando
mananciais localizados na UGRHI Médio Paranapanema.
Nessa UGRHI destacam-se também os estudos de Piroli (2013) nas APP dos corpos d´á-
gua do rio Pardo, na microbacia do córrego Água da Veada, em Ourinhos (PIROLI e LEVYMAN,
2020), dentre outros. Na Figura 7, mostra-se exemplo de mapa do uso da terra nas APP dos
corpos d´água do rio Novo, afluente do rio Pardo, destacando as áreas com uso adequado (flo-
resta e campestre) e inadequados (demais usos). As áreas com usos inadequados são aquelas
que necessitam de ações para adequação, tanto ambiental quanto legalmente.
Figura 7 – Mapa de uso da terra adequado e inadequado das Áreas de Preservação Permanente da
bacia hidrográfica do rio Novo
Nesse contexto, e considerando a crise hídrica que vem atingindo a região hidrográfica
do Paraná, incluindo a UGRH Paranapanema, nas pesquisas em andamento na Universidade
foram identificados os municípios paulistas nesta UGRH que são abastecidos total ou parcial-
mente com água superficial e as respectivas bacias hidrográficas de seus mananciais, identifi-
cando-se as bacias hidrográficas dos rios e córregos que abastecem 34 municípios paulistas, a
maioria localizada no Alto Paranapanema.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Universidades, diante da importância de seu papel social e ambiental, devem incenti-
var e apoiar ações que busquem produzir junto e compartilhar conhecimentos com a comuni-
dade onde está inserida. Neste contexto, o trabalho em parceria com os CBH tem trazido a
oportunidade de troca de conhecimentos significativos, com estudos e produções técnicas e
científicas que buscam o atendimento às prioridades e diretrizes dos planos de recursos hídri-
cos, bem como contribuem para a formação dos estudantes.
É de suma importância essa ação integradora, pois propicia estudos de fenômenos e pro-
cessos reais, voltados aos problemas prioritários da sociedade e da gestão dos recursos hídri-
cos, promovendo o fortalecimento da Universidade frente aos desafios da Humanidade. Além
disso, a interlocução de professores e estudantes com outros setores da sociedade promove
maior profundidade de seus conhecimentos, nas suas áreas de formação, voltadas ao desen-
volvimento de Ciência, tecnologia e pesquisa, solução de problemas sociais e ambientais, bus-
cando-se a transformação da sociedade.
Dessa forma, nos estudos apresentados tem-se buscado atingir os objetivos da Política
Nacional de Extensão Universitária, com a Universidade gerando conhecimentos de forma con-
junta com outros setores da sociedade, em consonância com suas demandas, e agindo em par-
ceria para a melhoria das condições ambientais para as atuais e as futuras gerações.
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2020: informe anual. Brasília: ANA, 2020
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FREIRE, R.B. Priorização de Áreas para restauração ecológica na UGRHI 22 – Pontal do Paranapanema, São
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LEAL, A.C., BEZERRA, J.P.P., GONÇALVES, D.L., RAMOS, A.P.M. e OSCO, L.P. Áreas de Preservação Permanente
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abastecimento urbano de Paraguaçu Paulista – São Paulo – Brasil. TCC, FCT/Unesp, 2019.
REVITALIZAÇÃO DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS
94.
DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO
BINDÁ, MANAUS-AM
Resumo: As florestas ripárias são caracterizadas como áreas de saturação hídrica de uma determi-
nada bacia hidrográfica. Elas estão situadas ao logo das margens e nas cabeceiras dos corpos hídri-
cos, contudo, podem ocorrer em áreas elevadas das encostas, dependendo do tipo de topografia
que o relevo apresenta, além das condições de transmissividade do solo. Considerando a impor-
tância da vegetação ripárias na dinâmica ambiental de bacias hidrográficas, principalmente em
áreas urbanas, no que tange os aspectos ecológicos, geomorfológicos e hidrológicos, o presente
estudo objetivou mapear as florestas riparias na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá,
Manaus-AM. O estudo foi realizado na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá, foram realizados
levantamentos e registros fotográficos das áreas que apresentam florestas ripárias ao longo de
canal principal da bacia. A presença dessa vegetação na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá se
mostra de suma importância para a conservação das águas, pois integrem diretamente com ciclo
hidrológico. Na cabeceira do Igarapé do Bindá e nas proximidades de sua foz, a vegetação ripária
é bastante intensa com especiais de grande, médio e pequeno porte, além da vegetação rasteira,
o que se mostra vantajoso para a conservação do corpo hídrico.
Palavras-chaves: Florestas Ripárias, Bacia Hidrográfica, Corpos Hídricos.
Abstract: Riparian forests are characterized as areas of water saturation in each hydrographic
basin. They are located along the banks and at the headwaters of water bodies, however, they can
occur in elevated areas of the slopes, depending on the type of topography that the relief pre-
sents, in addition to the conditions of soil transmissivity. Considering the importance of riparian
vegetation in the environmental dynamics of watersheds, especially in urban areas, about ecolo-
gical, geomorphological, and hydrological aspects, this study aimed to map riparian forests in the
Igarapé do Bindá Hydrographic Basin, Manaus-AM. The study was carried out in the Igarapé do
Bindá Hydrographic Basin, surveys, and photographic records of areas with riparian forests along
[ 1100 ]
DIAGNÓSTICO DAS FLORESTAS RIPÁRIAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ DO BINDÁ 1101
the main channel of the basin were carried out. The presence of this vegetation in the Igarapé do
Bindá Hydrographic Basin is of paramount importance for water conservation, as it directly inte-
grates with the hydrological cycle. At the head of the Igarapé do Bindá and near its mouth, the
riparian vegetation is quite intense, with large, medium, and small specials, in addition to the
undergrowth, which proves to be advantageous for the conservation of the water body.
Keywords: Riparian Forests, Hydrographic Basin, Water Bodies
1 INTRODUÇÃO
O ordenamento territorial é um instrumento estratégico para alcançar o desenvolvi-
mento sustentável, no que diz respeito a gestão integrada de bacias hidrográficas, visa estabe-
lecer o diagnóstico geográfico do território indicando tendências e aferindo demandas e
potencialidades (RODRIGUEZ; SILVA, 2018).
A estabilidade dos sistemas existentes em um determinado território é garantida porque
todos os componentes estão regulares. As modificações dos parâmetros estabelecidos, podem
resultar em mudanças catastróficas, a exemplo dos sistemas naturais, o uso irracional dos solos
e a ocupação marginal de copos hídricos podem gerar prejuízos irreversíveis as funções ambien-
tais que se destinam (RODRIGUEZ, et. al., 2013).
É necessário compreender que a qualidade ambiental está relacionada as ações do
homem sobre o espaço e os elementos que o compõe. Os níveis de qualidades encontrados
variam no tempo e no espaço, pois são dependentes das demandas e do uso dos recursos
naturais pela sociedade. Embora, a qualidade ambiental devesse ser encarada como essencial
para a sadia qualidade de vida dos seres humanos (BOTELHO; SILVA, 2014).
Reconhecendo a bacia hidrográfica como como uma unidade espacial destinada para a
gestão de recursos naturais, sob a perspectiva da gestão hídrica, a qualidade das águas que
compõem uma determinada bacia hidrográfica está diretamente relacionada com o tipo de
uso e ocupação do solo. O crescimento populacional nos centros urbanos sem planejamento,
gestão e controle, provocou alterações na quantidade e principalmente na qualidade das
águas, poluindo-as e as contaminando (BOTELHO, 2011).
Pesquisas realizadas por Atannasio et al. (2006), deixam claro a importância da relação
entre vegetação e recursos hídricos. As bacias hidrográficas que possuem ambientes floresta-
dos, apresentam funcionamento muito diferente daquelas situadas em ambientes intensa-
mente antropizados, refletindo, portanto, a importância da vegetação ripária para a preservação
e conservação dos canais fluviais.
As florestas ripárias são caracterizadas como áreas de saturação hídrica de uma determi-
nada bacia hidrográfica. Elas estão situadas ao logo das margens e nas cabeceiras dos corpos
hídricos, contudo, podem ocorrer em áreas elevadas das encostas, dependendo do tipo de
topografia que o relevo apresenta, além das condições de transmissividade do solo. Portanto,
desempenham um papel fundamental do ponto de vista ecológico e hidrológico para a manu-
tenção e preservação das bacias hidrográficas (ATANNASIO et. al, 2012).
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
O estudo foi realizado na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá, que é uma bacia de 2ª
ordem, apresenta uma área de aproximadamente 10km² e o perímetro de 20km², seu canal
principal possui a extensão de 8, 40 km e sua rede de drenagem total apresenta 14km, seu
padrão de drenagem dendrítico possui poucas ramificações (SANTOS, 2014).
O Igarapé do Bindá se encontra na sua totalidade dentro da zona urbana de Manaus, per-
passando por três (3) bairros: Mundo Novo, Flores e Parque Dez de Novembro e duas zonas da
cidade: Zonas Norte e Centro-Sul.
Manaus apresenta altos níveis de precipitação pluviométrica, devido ao clima da região,
sendo caracterizado como equatorial quente e úmido, pelo fato de sofrer influência de grandes
bacias hidrográficas, da zona de convergência intertropical (ZCIT) e dos processos de evapo-
transpiração, emitindo grandes quantidades de úmida no ar, resultando num alto volume de
chuvas num período de aproximadamente seis (6) meses (MIGUEIS, 2011).
A cobertura vegetal predominante na região está intimamente ligada tanto às característi-
cas químicas do solo, quanto ao clima quente e úmido da Amazônia, devido à baixa amplitude
térmica, a diversidade de espécies de formação vegetal tende a ser maior. A vegetação se carac-
teriza pela floresta ombrófila densa, latifoliada, com folhas de tamanho avultado, largas e
achatadas.
A geomorfologia da área de estudo é composta pelas unidades morfoestruturais de rochas
sedimentares da Formação Alter chão, com sua formação durante o cretáceo e seguidamente no
terciário e quaternário. Nestas unidades estão os domínios morfológicos Planalto Dissecado do
Rio Trombetas e Rio Negro e Planície Amazônica que, de acordo com (ROSS, 2005).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Florestas Ripárias: Aspectos Conceituais e Funcionais
As florestas ripárias podem ser definidas como as áreas adjacentes a bacia hidrográfica,
aquelas que situadas no entono dos canais fluviais, que possuem função filtro contra poluen-
tes, excesso de sedimentos, pode-se dizer, de uma zona de captação (BRAZ et. al, 2020).
No Brasil, a vegetação marginal dos corpos hídricos pode receber diversas nomenclatu-
ras, dentre as quais: florestas ripícola, florestas de condensação, mata aluvial, florestas de vár-
zea, florestas de brejo, formação ribeirinha, mata de galeria, mata ciliar, aqui classificada na
legislação brasileira, através do código florestal (Lei 12.651/2012) e zona ripária (MEDEIROS,
2013 apud BRAZ et. al, 2020).
“O ecossistema ripário, incluindo a dinâmica da zona ripária, sua vegetação e suas
interações, desempenha funções relacionadas à geração do escoamento direto em
microbacia, à contribuição ao aumento da capacidade de armazenamento da água,
à manutenção da qualidade da água na microbacia, através da filtragem superficial
de sedimentos, e à retenção, pelo sistema radicular da mata ripária, de nutrientes
liberados dos ecossistemas terrestres (efeito tampão), além de proporcionar estabi-
lidade das margens, equilíbrio térmico da água e formação de corredores ecológi-
cos.” (ATTANASIO et al., 2006).
Florestas ripárias, são áreas de interação direta entre ambientes aquáticos e terrestres,
associadas as funções hidrológicas, geomorfologias e ecológicas para sustentabilidade em
bacias hidrográficas. Para Kobiyama (2003), estes espaços tridimensionais, que inclui em sua
complexidade a vegetação, o solo e o rio.
A vegetação ripária possui um importante papel sobrea a geomorfologia fluvial, pois
afeta a resistência ao fluxo, assim como na mecânica do solo em encostas íngremes, influen-
ciando na estabilidade do leito, no armazenamento de sedimentos. Ademais, a zona ripária
também modifica a eficiência geomorfológicas de eventos de inundação na bacia hidrográfica
(KOBIYAMA, 2003).
A partir da definição legal se entende que toda APP pode ser caracterizada como vegeta-
ção ripária, contudo, nem toda vegetação ripária pode ser definida como APP nos termos da
Lei, em virtude das classificações e larguras definidas.
3.3 Florestas Ripárias na Bacia Hidrográfica do Igarapé do Bindá
A vegetação ripária, ocorre ao longo do canal principal da bacia, em pontos específicos
de sua extensão, mais precisamente na área de cabeceira, no médio curso do canal, situado
nas dependências da Universidade Nilton Lins e nas proximidades de sua foz, no Parque dez de
novembro, Conjunto Eldorado, como pode ser observado na Figura 2.
A B
Fonte – FUZIEL SILVA, 2021.
A B
Fonte: FUZIEL SILVA, 2021.
A B
Fonte: FUZIEL SILVA, 2021
para as águas, filtrando e retendo possíveis poluentes e contaminantes que poderiam chegar
ao canal através da lixiviação. (MELO, et al., 2018).
A B
Fonte: FUZIEL SILVA, 2021.
6 CONCLUSÃO
A vegetação ripária no Igarapé do Bindá, ocorre em trechos alternados ao longo do canal
principal, de acordo com a ocupação e ação antrópica na área. No caso da Bacia Hidrográfica
do Igarapé do Bindá, o mapeamento foi realizado apenas ao longo do canal principal.
Na cabeceira do Igarapé do Bindá e nas proximidades de sua foz, a vegetação ripária é
bastante intensa com especiais de grande, médio e pequeno porte, além da vegetação ras-
teira, o que se mostra vantajoso para a conservação do corpo hídrico.
As atividades antrópicas são os principais motores da fragmentação das florestas ripá-
rias, o que contribui com a redução da umidade atmosférica, formação de nuvens e ocorrência
de chuvas. A restauração da cobertura vegetal dessas áreas é fundamental para a estabilização
do ciclo da água.
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Resumo: O presente artigo faz uma breve análise de áreas degradadas em um trecho das margens
do Paraná do Ramos, município de Parintins, Amazonas (Brasil), resultado de vários processos de
uso e ocupação do solo, associadas às práticas agrícolas desde o final do século XIX, como o cultivo
do cacau (Theobroma cacao), passando pelo ciclo da juta (Corchurus capsularis), Pau rosa (Aniba
rosaeodora) e agropecuária. As práticas agrícolas em questão possuíam a forma neolítica de plan-
tio, como a “derruba” e a “queima”, como forma de limpeza e adubação do solo, sem preocupação
com áreas de preservação de matas ciliares e corpos hídricos. O objetivo desta pesquisa foi analisar
o processo de degradação na área citada, considerando tanto os aspectos ambientais da terra
firme como da várzea. Como processos metodológicos, foram realizados uma visita técnica na
localidade com registros fotográficos, pesquisa bibliográfica, usos de imagens do satélite indiano
ResourceSat-2, sensor LIS3, para a confecção do mapa da localidade por meio do software ArcGIS.
A pesquisa identificou in loco áreas degradadas em ambientes de terra firme e várzeas, com
processos de erosão marginal e sem a vegetação de mata ciliar, a prática da pecuária bovina nas
margens correspondente àsáreas de proteção permanente (APP). No Código Florestal brasileiro,
as APPs deveriam ser preservadas, o que não ocorre no trecho analisado. Além disso, coube indi-
car projetos desenvolvidos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) como o
Projeto Produtor de Água (PPA) e o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
Palavras-chave: Degradação; Paraná do Ramos; Agropecuária.
Abstract: This article makes a brief analysis of degraded areas in a stretch of the margins of Paraná
do Ramos, municipality of Parintins, Amazonas (Brazil), resulting from various processes of land
use and occupation, associated with agricultural practices since the end of the 19th century, such
as the cultivation of cocoa (Theobroma cacao), passing through the jute cycle (Corchurus capsu-
laris), Rosewood (Aniba rosaeodora) and farming. The agricultural practices in question had the
1 Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos PROFÁGUA, Universidade do Estado do Amazonas – UEA/Campus
Parintins . E-mail: atf.geo@uea.edu.br.
2 Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos PROFÁGUA, Universidade do Estado do Amazonas – UEA/Campus
Parintins. E-mail: edelson.goncalves23.com@outlook.com
3 Prof.ª. Dra. Escola Superior de Tecnologia, EST/PROFÁGUA/UEA. E-mail: gloriamelo@yahoo.com
[ 1110 ]
O CICLO DA AGRICULTURA E A DEGRADAÇÃO DAS MARGENS DO PARANÁ DO RAMOS 1111
Neolithic form of planting, such as “cutting down” and “burning”, as a way of cleaning and fertiliz-
ing the soil, without concern for preservation areas of riparian forests and water bodies. The
objective of this research was to analyze the degradation process in the mentioned area, consid-
ering both the environmental aspects of the terra firme and the floodplain. As methodological
processes, a technical visit was carried out in the locality with photographic records, bibliographi-
cal research, uses of images from the Indian satellite ResourceSat-2, LIS3 sensor, for the prepara-
tion of the locality map using the ArcGIS software. The research identified in loco degraded areas
in terra firme environments and floodplains, with marginal erosion processes and without riparian
vegetation, the practice of cattle ranching on the margins corresponding to permanent protection
areas (APP). In the Brazilian Forest Code, APPs should be preserved, which does not occur in the
analyzed stretch. In addition, it was necessary to indicate projects developed by the National
Water and Basic Sanitation Agency (ANA) such as the Water Producer Project (PPA) and the
Degraded Area Recovery Plan (PRAD).
Keywords: Degradation; Paraná do Ramos; Agriculture.
1 INTRODUÇÃO
Os espaços urbanos e rurais no Brasil passam por vários processos de ocupação que
degradam e comprometem o ambiente. Segundo Hernani et al. (2015), a ocupação, o uso e o
manejo dos recursos naturais mais frágeis têm gerado, ao longo do tempo, diversos níveis de
deterioração ambiental. Uma das percepções disso é identificada na alteração da cobertura
vegetal e em especial, àquelas que margeiam os corpos d’água como rios e lagos, tanto aque-
les localizados nas cidades, como no campo.
Além disso, outros problemas relacionados as formas de uso e ocupação da terra podem
ser elencadas como a perda da biodiversidade, a alteração do ciclo hidrológico, a transmissão
de doenças por veiculação hídrica, acúmulo de lixo, contaminação do solo e da água, alteração
dos microclimas, aceleração do processo de erosão (THOMAZIELLO, 2007).
Na Amazônia, esses processos podem ser identificados, tanto no histórico de ocupação
do solo, como no modo atual de ocupação deste. A exemplo, o município de Parintins que é
formado por uma extensa área de várzea e de terra firme, além de muitos lagos, pequenas
ilhas e uma serra (Serra de Parintins). Nas áreas de várzea e terra-firme, de acordo com a his-
tória do município, ocorreram vários surtos econômicos, como o da juta e do pau-rosa, cultura
do cacau, pecuária e agricultura de ciclo curto (BERCKER; LIMA, 2013).
Legalmente, as várzeas fazem parte das denominadas Áreas de Proteção Permanente
(APP). A Lei Federal nº 12.651/2012, estabelece as normas gerais para a proteção da vegetação
que faz parte das faixas marginais de qualquer curso d’água, natural perene ou intermitente,
inclusive o entorno de áreas de nascentes e de olhos d’águas perenes, além das várzeas.
O objetivo desta pesquisa foi analisar o processo de degradação em um trecho do Paraná
do Ramos, braço do rio Amazonas no município de Parintins, estado do Amazonas, conside-
rando tanto os aspectos ambientais da terra firme como da várzea. Além disso, coube indicar
projetos desenvolvidos pela Agencia Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), na
2 METODOLOGIA
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foi realizado levantamento bibliográfico, do qual, consideraram-se textos que abordas-
sem a história de ocupação do município de Parintins, principalmente àquelas que destacam o
desenvolvimento da ocupação na Vila Amazônia, bem como outras formas de sobreposição
territoriais como a área do Distrito e Projeto de Assentamento de Vila Amazônia.
O trecho compreende da confluência do Paraná do Ramos com o Rio Amazonas (pró-
ximo à Vila Amazônia), até a foz do rio Mamurú. Para tal, foram feitos registros fotográficos,
registros da caracterização da paisagem observada, em caderno de anotações, além de
coleta de coordenadas geográficas para acurácia na construção do mapa de localização da
área de estudo.
Foram elaborados dois mapas, um referente à localização da área de estudo e outro com
trechos dela, escolhidos durante a etapa de trabalho de campo. Para o mapa de localização,
foram utilizados dados da Base Cartográficos do IBGE (BC250), versão 2019 (IBGE, 2019),
DATUM SIRGAS2000. Junto à base cartográfica foram usadas imagens do satélite indiano
ResourceSat-2, sensor LIS3, bandas 5, 4 e 3, com data de aquisição 07/10/2018, disponibilizadas
pelo Instituto Nacional Pesquisas Espaciais (INPE). Ambos os mapas foram elaborados no soft-
ware ArcGIS 10.8.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Parintins é formado por uma extensa área de várzea e de terra firme, além
de muito lagos, pequenas ilhas e uma serra (Serra de Parintins). Nessas áreas de várzea e terra-
-firme, apresentam histórico dos ciclos econômicos, como o da juta e do pau rosa, além de outros
ciclos econômicos longos, como o do cacau e da pecuária. Nesse contexto, o cacau em Parintins
é apontado como o primeiro surto econômico do município (BERCKER e LIMA, 2013).
A coleta do cacau (Theobroma cacao) pode ter tido início com as missões religiosas,
desde meados do século XVII e, posteriormente cultivado em áreas da atual cidade deParintins,
em terra firme, bem como na várzea local. A iniciativa do cultivo pode ter ocorrido através do
capitão de milícias José Pedro Cordovil, a partir de sua chegada na ilha Tupinambarana, área da
atual cidade de Parintins, em 1796 e com contribuição de seus escravos e agregados o que teria
dado ao local o aspecto de um povoado agroextrativista (SAUNIER, 2003).
O cultivo da juta (Corchurus capsularis) na Amazônia teve início em Parintins em 1934, a
partir dos experimentos de aclimatação da planta, que viera da Índia, nas várzeas do rio Andirá.
A iniciativa foi realizada pela colônia japonesa, tendo Ryota Oyama, como o colono responsável
pelo sucesso do cultivo que impulsionou a economia não somente do estado do Amazonas
como do estado do Pará, no período entre a pós-crise da borracha e antesda criação da Zona
Franca de Manaus (FERREIRA; HOMMA, 2017).
A pecuária bovina teve início no município a partir do final do século XIX, para atender a
demanda de imigrantes nordestinos atraídos para a Amazônia pelo surto econômico da
borracha. Os nordestinos não eram acostumados com a dieta da população local à base de
peixes e caças, logo, a criação bovina se tornou uma das principais atividades econômicas, pre-
sente em Parintins até a atualidade (SAUNIER, 2003). Desde então, o município é um dos maio-
res produtores de bovinos do Estado, e atualmente o sexto colocado de acordo com o censo
agropecuário de 2017 (IBGE, 2017).
Quanto ao pau-rosa (Aniba rosaeodora), o surto econômico se deu partir de 1930, com a
instalação das primeiras usinas no município. A primeira instalação ocorreu na localidade do
Varre-Vento, (hoje, próximo a comunidade ribeirinha Maranhão na foz do rio Mamurú) e em
seguida, a instalação das usinas de destilação de óleos vegetais, Paraná do Ramos e Andirá
(SAUNIER, 2003). No início do processo de extração de óleo do pau-rosa, utilizavam-se árvores
nativas, encontradas principalmente em matas de terras firme com boa distância dos cursos
d’água principais.
Com exceção do pau-rosa, extraído das matas de terras firme, o cacau, a juta, além da
pecuária bovina ocorriam principalmente nas várzeas do município de Parintins, conforme
Saunier (2003). Destes, a pecuária bovina é a que permanece na atualidade, ora nas várzeas,
no período da vazante, ora na terra firme devido a enchente.
O marco da saída dos japoneses da Vila Amazônia se deu a partir de 1942, quando a CIA
foi desfeita, e seu respectivo patrimônio, que incluía as terras da Vila, foi leiloado pelo Governo
Brasileiro, em 1946 (SILVAN, 2018). Depois disso, ainda na década de quarenta, o empresário
português J. G. Araújo marcou outro período na Vila Amazônia, ao comprar essas terras, para
empreender a manutenção da produção da juta, além da diversidade de atividades agropecuá-
rias e extrativistas na região (MEDEIROS, 2013).
Com a instalação da firma J. G. Araújo houve o fomento para a implantação de outras
culturas agrícolas e uma nova fase econômica no município de Parintins. Nesse contexto, des-
taca-se o incentivo à criação de bovinos, do qual, intensificou-se o desmatamento para a for-
mação de pastos, inclusive nas faixas de vegetação ciliares, assim como em áreas que atualmente
estão definidas pela Legislação Ambiental como Reserva Legal (BRASIL, 2012). Em suma, esse
fato propiciou o desenvolvimento da pecuária no município de Parintins, que chegou a ser um
dos maiores criadores de gado do baixo Estado do Amazonas.
O Projeto de Assentamento de Vila Amazônia abrange as várzeas e terras-firmes da mar-
gem direita do rio Amazonas, da divisa do Amazonas com o Pará, abrangendo trecho da mar-
gem direita do Paraná do Ramos até a margem direita da foz do rio Mamurú, no limite com o
estado do Pará.
Além do valor histórico para o município, a vila possui uma função de centralidade em
virtude da sua localização geográfica. O local é um ponto nodal que conecta as comunidades
agrícolas, formadas por famílias de assentados da PA Vila Amazônia, por estradas nãopavimen-
tadas e as comunidades ribeirinhas, como as localizadas na bacia hidrográfica do Zé Açu,
Tracajá, além das do rio Mamurú e Uaicurapá, por via fluvial.
de terra firme com borda composta por várzea ou planície de inundação, com algumas cons-
truções de ribeirinhos, e com visíveis níveis de sucessão vegetal de várzea.
O predomínio no mesmo trecho observado é para as pioneiras, de acordo com o
aspecto da altura de suporte (WORBES et. al., 1992). Destacam-se dois grupos: espécies vege-
tais com altura entre 10 e 20 metros na área central e as gramíneas, na margem, a exemplo
capim Mori (Paspalum fasciculatum). A Figura 2 apresenta os aspectos sucessão vegetal (A) e
do uso e cobertura da terra (B), observados nas margens próximo à IlhaFormosa.
Figura 2 – Trecho do Paraná do Ramos. (A) margem direita, níveis de sucessão; (B)
margem esquerda, várzeasem mata ciliar
Em contraste com a margem direta, a margem esquerda (Figura 2B), apresenta-se bas-
tante alterada, com a ausência de vegetação ciliar e solo completamente exposto. Nas mar-
gens, a presença do ribeirinho pressupõe as formas de uso do solo nas margens no Paraná do
Ramos, com a agricultura de subsistência e pecuária.
Esse tipo de solo quando a vegetação é retirada, pode ficar vulnerável a acentuação
dos processos de erosão, percolação e lixiviação. A percolação superficial e a lixiviação das
águas pluviais tornam-se os elementos preponderantes para a degradação do solo, de forma
que, as margens sem proteção natural de mata ciliar, ficam sujeitas a erosões marginais, pro-
cesso conhecido como fenômeno de terras caídas. Como destaca a (Figura 3C) abaixo:
Figura 3 – Localização dos trechos analisados – (A) próximo à Vila Amazônia, (B)
próximo à Ilha Formosa e (C) apróximo um meandro de terra-firme
Fonte: Compilação do autor. Fotos tiradas durante visita de campo em outubro de 2018.
A erosão pluvial é facilitada pelo processo de desnudação do solo, e isso é o que acon-
tece em vários trechos da área estuda (Figura C). A mata ciliar não está de acordo com o que
exige em seus padrões de conservação, de acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei nº
12.651/2012), que estabelece as normas sobre a proteção da vegetação nativa.
Segundo Tavares et al. (2008), entre os processos de degradação, vários deles são induzi-
dos pelo homem, como compactação, erosão acelerada, desertificação, salinização,lixiviação e
acidificação. As atividades produtivas de subsistência praticadas pelas comunidades agrícolas
ou ribeirinhas em Parintins ocorrem em grande parte através das lavouras temporárias, como
indicou o Censo Agropecuário em 2017(IBGE, 2017). Nelas se utilizam de metodologias de plan-
tio tradicional, ainda realizado de forma manual, ondeprevalece a agricultura neolítica de “der-
ruba” e “queima”, como forma de limpeza e posterior adubação do terreno para o plantio.
Outro ponto a ser destacado é sobre a criação extensiva de bovinos. Esse tipo de pecuá-
ria necessita de uma área maior de terras com pastos para a criação de gado. Essa práticacausa
produção como meio ambiente. Ele está baseado nos princípios “provedor recebedor” e“bene-
ficiário pagador” por meio do conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
Segundo Manfredini, Guandique e Morais (2014), uma das maiores vantagens de progra-
mas baseados em PSA refere-se na condição do produtor rural ser o principal agente durante
a aplicação no processo. Além disso, aponta-se o crescimento das parcerias desenvolvimento
com as Secretarias de Meio Ambiente, nos níveis de governo federal, estadual e municipal,
comitês de bacias, empresas de saneamento, além de órgãos ambientaise sociedade civil.
O programa utiliza a política de PSA em todos os projetos como forma de valorizar o tra-
balho dos produtores rurais envolvidos a garantir a adequada manutenção das práticas conser-
vacionistas executadas nas propriedades rurais (ANA, 2008).
Até o ano de 2020 o estado do Amazonas, onde está localizado a área de estudo deste
trabalho, não possuía adeptos ao PPA.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que há falta de planejamento sustentável efetivo e do manejo correto dos
recursos naturais, pois não se identificou projetos sendo implantados com esse aspecto na
área. Dessa forma, o solo, a vegetação e os corpos hídricos, sofrem as consequências da falta
de políticas públicas, capaz de sensibilizar os ribeirinhos no que tange à questão ambiental.
Os trechos de terras-firmes analisados apresentam processo de erosão elevado em vir-
tude do somatório de condições como o tipo de solo, geomorfologia, velocidade da corrente
d’água, alta precipitação média, retirada da vegetação marginal pela ação antrópica, oque ace-
lera a degradação local.
As áreas de várzeas apresentam acentuado processo de retirada e deposição de sedi-
mentos durante a dinâmica fluvial da enchente e vazante. A deposição favorece o processo de
resiliência natural, pois há grande acúmulo de nutrientes no solo, o que facilita a manutenção
da biota e a rápida regeneração vegetal de áreas desnudas. Além disso, as terras desse ambiente
são ótimas ao cultivo agrícola.
O Código Florestal brasileiro visa a recuperação de áreas degradadas com o Plano de
Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), a partir de projetos que envolvam os órgãos do
governo, sociedade privada e proprietários de terras.
A Intervenção nas áreas degradadas no Paraná do Ramos a partir do ProgramaProdutor
de Águas poderá ser feita a partir da delimitação do corpo hídrico ou do trecho dele,uma vez
que há dificuldades de se delimitar bacias hidrográficas na planície do rio Amazonas.Quanto à
gestão dos recursos hídricos em bacias hidrográficas, a Lei das Águas (Lei federal nº
9.433/1997) estabelece a criação de comitês de bacia ou de um ente que planeje as priorida-
des e aplicabilidade do PPA.
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SEGURANÇA HÍDRICA E
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
96.
A EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO
BRASIL E SEUS LIMITES AMBIENTAIS
Resumo: O presente trabalho apresenta uma descrição acerca dos riscos ambientais atrelados a
exploração do gás de xisto em território brasileiro, com enfoque no comprometimento do aquífero
Guarani e em evidências de terremotos induzidos observados em locais onde há o exercício da
exploração, e sua contribuição para o aumento da temperatura terrestre. O principal objetivo do
artigo é instigar a reflexão acerca dos prejuízos ambientais que poderão decorrer da exploração de
uma fonte de energia fóssil. Para cumprir as finalidades da pesquisa, a metodologia empregada se
deu principalmente através da análise bibliográfica de livros e artigos científicos, com método de
abordagem dedutivo, chegando a conclusão de que a pesquisa e o desenvolvimento de energias fós-
seis se encaminha na contramão dos objetivos mundiais de mitigação das mudanças climáticas.
Palavras-chave: Gás de xisto; Direito Ambiental; Fracking; Gás não convencional.
Abstract: This work presents a description of the environmental risks associated with the explora-
tion of shale gas in Brazilian territory, with a focus without compromising the Guarani aquifer and
on evidence of induced earthquakes observed in places where exploration is carried out, and its
contribution to increase the Earth temperature. The main objective of the article is to encourage
reflection on the environmental damage that occurs from the exploration of a fossil energy source.
To reach the purposes of the research, the methodology used was mainly through bibliographic
analysis of books and scientific articles, with a deductive approach method that reaches the con-
clusion – research and development of fossil energies are at odds with the global objectives of
mitigating climate change.
Keywords: Shale gas; Environmental Law; fracking; Unconventional gas.
[ 1123 ]
1124 Isabelle Sofia Ablas
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o gás de xisto (Gás de folhelho) revolucionou a matriz energética
mundial. Com sua exploração, os países tiveram sua oferta de matrizes energética expandida
em até 50%, como foi o caso dos Estados Unidos, pioneiro na exploração do gás não
convencional.
No Brasil, a exploração do gás de xisto ainda não é permitida, dada sua característica de
gás não convencional. Tal particularidade do gás de xisto traz à baila o embate entre entusias-
tas da exploração, que frisam os benefícios econômicos advindos da comercialização e, de
outro lado, ambientalistas que temem os danos ambientais irreversíveis envolvidos na técnica
de Fraturamento Hidráulico.
Apesar do Brasil possuir vasto arcabouço jurídico para a efetiva proteção do meio
ambiente, é evidente que a especulação da exploração do gás de xisto coloca em xeque a efe-
tividade desta positivação, cabendo ao Direito Ambiental negociar os recursos naturais com a
atual concepção de desenvolvimento, buscando, irremediavelmente, mecanismos que inviabi-
lizem o eminente caos ambiental.
Assim, enquanto o dilema prático permanece entre o desenvolvimento econômico que a
exploração de gás de folhelho poderia trazer ao Brasil e a possível inevitabilidade das conse-
quências ambientais negativas da prática, o presente trabalho pretende evidenciar alguns dos
riscos ambientais envolvidos no processo de exploração do gás.
a satisfazer as necessidades humanas mais básicas, enfrentando, assim, uma situação de escas-
sez, atualmente, as forças produtivas e o desenvolvimento econômico não estão mais ampara-
dos nesse fim e, portanto, os riscos decorrentes da modernização são gestados dentro da
própria sociedade industrial, ou das necessidades criadas por essa sociedade.
Desse modo, é possível testemunhar a obrigatoriedade de crescimento econômico ano
após ano, consumindo progressivamente recursos naturais e energéticos, tendo como base
uma concepção de desenvolvimento que aproxima cada vez mais o colapso ambiental.
Faz-se necessário ressaltar que o crescimento econômico apenas constitui a condição
necessária para o desenvolvimento, tais conceitos não devem ser confundidos. É o que leciona
Édis Milaré, ao afirmar que “o avanço de uma sociedade, de um país ou de uma região não se
reduz às cifras da produção econômica, porém, deve ser um avanço constante e harmonizado,
em sintonia com as potencialidades e limitações da Terra” (MILARÉ, 2019, p.125).
Ressalta-se que o crescimento econômico em uma sociedade de livre mercado não visa
satisfazer as necessidades mais básicas da coletividade, e sim maximizar os seus lucros de
maneira individual. Em sua relação com a degradação do meio ambiente, é como se retirásse-
mos da natureza muito mais do que é necessário para a nossa satisfação básica, com o intuito
de acumular riquezas em forma de capital.
O debate do direito ambiental, portanto, não logrará o êxito necessário caso mante-
nha-se limitado a questões sobre níveis de tolerabilidade dos impactos ambientais. Os pro-
blemas ambientais não são apenas “problemas ambientais” em sentido estrito, como se
fosse um subsistema isolado do todo social. Os problemas ambientais são problemas da
sociabilidade humana, da forma como lidamos com o meio ambiente e as nossas necessida-
des. Não é sustentável lidar com o meio ambiente sempre através da remediação a degrada-
ção que lhe causamos.
As rochas que possuem xisto são localizadas em camadas profundas de difícil extração, o
que demanda tecnologia avançada, pois a matéria orgânica não pode ser extraída por
solventes comuns. O xisto possui um grande potencial energético pois a partir dele podem ser
produzidos os mesmos derivados do petróleo de poço, como nafta, gasolina, óleo diesel, e o
gás liquefeito de petróleo (GLP).
A técnica de Fraturamento Hidraúlico (ou fracking), utilizada para extrair o gás de xisto é
considerada uma técnica não convencional que possibilita o acesso das rochas sedimentares
no subsolo.
Primeiramente, cabe esclarecer o termo não convencional, que está associado com as
peculiaridades do reservatório que tornam sua exploração onerosa ou até mesmo inviável,
resultando em um desenvolvimento mais complexo. Quando há tecnologia disponível e a pro-
dução é economicamente viável, o reservatório é visto como convencional, e quando apesar
da disponibilidade tecnológica, não há viabilidade econômica, o reservatório é visto como não
convencional. O mesmo se diz quando há necessidade de desenvolvimento de uma tecnologia
de exploração para um dado recurso.
A extração por meio do fracking comporta as seguintes etapas: (i) exploração com sís-
mica 3D; (ii) preparação do terreno; (iii) perfuração vertical e horizontal; (iv) fratura hidráulica;
(v) gestão de resíduos e (vi) produção propriamente dita, cujo processo foi descrito por Ilana
Zeitoune, e replicado a seguir:
Na etapa de exploração sísmica, as rochas são mapeadas por ondas sonoras e mode-
lagem 3D para identificar as dimensões das rochas, por meio de sua largura e pro-
fundidade. Após seu mapeamento, o terreno é nivelado e compactado para receber
os equipamentos utilizados na exploração, produção e transporte logístico de seus
produtos.
Em seguida, é dado início a perfuração vertical de poços. Perfura-se uma grande
quantidade de poços até chegar a rocha geradora. As paredes do poço são revesti-
das de camadas de aço e cimento para que, então, sejam perfuradas as seções hori-
zontais do poço em diferentes direções.
Por meio da tubulação instalada nessas perfurações, é injetada uma grande quanti-
dade de água em conjunto com solventes químicos comprimidos e areia. A grande
pressão gerada por essa água provoca explosões que fragmentam a rocha, permi-
tindo o fluxo do gás. A areia utilizada no processo é essencial para que o buraco não
se feche novamente, evitando que o terreno ceda e, ao mesmo tempo, permitindo
a migração do gás a ser extraído.
Com o término do processo de injeção, a pressão interna da formação faz com que
o fluido retorne à superfície através do poço. Esse efluente é conhecido como flo-
wback (fluido de retorno do fraturamento) e pode conter produtos químicos preju-
diciais ao meio ambiente e à saúde humana (ZEITOUNE, 2016, p. 81).
Dentre os impactos ambientais sofridos pelo solo nos locais onde a técnica de Fracking é
utilizada podemos citar a contaminação por substâncias químicas em excesso, as alterações
sofridas na paisagem; a oxidação de solos ricos em matéria orgânica; o corte e a remoção de
vegetação nativa existente. Além disso, o solo fica vulnerável a ocorrências de grandes danos,
como o retorno das águas residuais contendo material radioativo e geração de sismos
induzidos de pequena magnitude relacionados a grande pressão utilizada para injeção do fluido
de fraturamento e a reativação de falhas preexistentes.
Já os riscos ambientais corridos pelos recursos hídricos da região explorada são: a) con-
taminação de fontes superficiais e dos aquíferos subterrâneos, pelo gás metano, pela água de
refluxo, e pelo cascalho contaminado; b) Perda de grande quantidade de água utilizada durante
o fraturamento hidráulico, que pode variar entre 10 mil m³ à 25 mil m³ por poço; c) contamina-
ção das águas superficiais ocasionadas por acidentes com veículos transportadores de produ-
tos. d) contaminação proveniente de armazenamento inadequado de fluidos e efluentes; e)
impactos sobre hábitats e ecossistemas aquáticos.
Como os poços de exploração têm vida útil relativamente curta, em média de 5 a 6 anos,
logo a área será deixada e deverá ser perfurado novo poço, o que implica em nova limpeza e
remoção de vegetação, de forma contínua.
Existe também uma grande preocupação em relação aos produtos químicos que serão
utilizados durante o fraturamento hidráulico, uma vez que esses produtos adicionados à água
utilizada são desconhecidos.
3 LIMITES AMBIENTAIS
3.1 Terremotos Induzidos
Uma das maiores polêmicas envolvendo a técnica de Fracking diz respeito aos terremo-
tos induzidos, isto é, movimentações semelhantes ao movimento de terremoto, geradas por
ação antrópica a partir da injeção de água sob pressão próxima de falhas geológicas já existen-
tes nas rochas exploradas.
Estudo realizado no Estado de Oklahoma, nos EUA concluiu que ocorreram cerca de 116
terremotos induzidos, com magnitude de 0,6 a 2,9 na escala Richter durante o período de fra-
turamento hidráulico de poço, sendo que nenhum terremoto similar foi identificado antes ou
após o início das atividades (GIBBENS, 2017). O estudo refere-se ainda ao período em que as
atividades de fraturamento hidráulico foram interrompidas por cerca de dois dias devido ao
mau tempo, e consequentemente os abalos sísmicos também cessaram, tendo se reiniciado
após a volta das atividades.
Resultados semelhantes foram publicados por estudos realizados em Ohio, onde ocorre-
ram aproximadamente 77 terremotos induzidos durante a exploração que utiliza o método de
fraturamento hidráulico. Após o fim das atividades exploratórias no poço, a taxa de terremotos
decaiu (NAIK, 2014). Dessa forma, é possível concluir que houve contribuição da técnica de
Fracking para o aumento de abalos sísmicos em regiões com falhas e fraturas geológicas pré-
-existentes nos EUA.
De acordo com Westaway e Younger (2014), as prováveis causas estão ligadas à injeção
do fluido de fraturamento, que ao ser injetado sobre alta pressão no poço pode extravasar
para outras falhas pré-existentes, causando uma ruptura ou cisalhamento na formação rochosa
e por consequência um tremor de terra. Outra possível causa consiste na própria perfuração
do poço, seja vertical, até atingir a camada de xisto, ou na perfuração horizontal, já na forma-
ção rochosa. Nesse caso as fraturas seriam criadas diretamente pelas perfurações, originando
atividade sísmica tanto pela tensão quanto pela tração exercidas no solo. A magnitude desses
possíveis abalos tem sido questionada. Estudos apontam que estes seriam de níveis muito bai-
xos e somente em áreas muito próximas aos locais de perfuração. Outro contraponto é que
qualquer tipo de perfuração seja para exploração de óleo ou energia geotérmica pode causar
instabilidade no solo e não exclusivamente as provenientes da exploração do gás de xisto.
No Brasil existem poucos registros relacionados a abalos sísmicos, devido sua localização
no centro de uma placa tectônica, distante da zona de conversão. A extração de gás de xisto
ameaça tal estabilidade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo abordou a questão da exploração e produção de gás de xisto no Brasil,
introduzindo os conceitos de gás de xisto e da técnica de fraturamento hidráulico, ressaltando
os potenciais danos ambientais sofridos com a exploração do gás não convencional: A contami-
nação de corpos hídricos, a contribuição para o aumento da temperatura terrestre decorrente
da emissão de gases de efeito estufa, e a possibilidade de ocorrência de abalos sísmicos indu-
zidos, conforme verificado em território norte americano.
Contata-se que na atual sociedade de incertezas, o equilíbrio ecológico jamais será o
mesmo no planeta, pois o mundo já atingiu os limites mais ameaçadores da sua trajetória.
Essas ameaças decorrem do esgotamento dos recursos naturais não renováveis, da falta de
distribuição equitativa dos bens ambientais, da pobreza em grande escala e do surgimento de
novos processos tecnológicos excludentes.
A reflexão trazida diz respeito a importância de observar as externalidades negativas
atreladas à exploração e a produção de gás de xisto – já vividas por outras nações. Considerando
o vasto potencial brasileiro ao desenvolvimento de matrizes energéticas renováveis, não se faz
viável o investimento massivo para o desenvolvimento de técnicas de extração de gases não
convencionais, visto que os desdobramentos expostos demonstram o alto custo ambiental, cli-
mático e humano atrelado à exploração do gás.
Dessa forma, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas é necessária a descarboni-
zação da matriz energética mundial, sendo inviável que Estado brasileiro invista na exploração
de uma matriz energética não convencional, podendo, inclusive, gerar atritos internacionais
envolvendo o aquífero Guarani.
5 REFERÊNCIAS
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gov.br/anp/pt-br/acesso-a-informacao/glossario > Acesso em 13 de março de 2021.
GIBBENS, Sarah. Estudo comprova que atividades humanas causam terremotos mortais. National Geographic
Brasil, 2017, disponível em < https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2017/10/estudo-
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2017.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 12a Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2019.
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SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma investigação sobre lucros, capital,
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SKOUMAL, Robert J; BRUDZINSKI, Michael R.; CURRIE, Brian S. Earthquakes Induced by Hydraulic Fracturing in
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WESTAWAY, R., and YOUNGER, P. L. Quantification of potential macroseismic effects of the induced seismicity
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ZEITOUNE, Ilana. Petróleo e Gás no Brasil – Regulação da Exploração e da Produção. Grupo GEN, 2016, São
Paulo, p. 85.
Resumo: A água é um recurso vital que tem sido utilizada de maneira descontrolada no desenvol-
vimento de atividades antrópicas, o que ocasiona processos de degradação e ameaças à segu-
rança hídrica, principalmente nas áreas semiáridas do Nordeste brasileiro. Nessa perspectiva, o
presente trabalho discute as características dos recursos hídricos superficiais do município de
Pentecoste, Ceará, situado na área de entorno do Núcleo de Desertificação de Irauçuba. A pes-
quisa se dividiu em três etapas: organização e inventário, atividades de campo e pesquisa de gabi-
nete. Obteve-se como resultado a descrição e detalhamento dos aspectos ambientais dos
principais cursos de água, rios, riachos e reservatórios de grande porte presentes no município. Ao
analisar o volume dos reservatórios para a série histórica de 2004-2021 identifica-se que a oferta
hídrica diminuiu bastante com o período de seca iniciado em 2011, sendo a situação mais crítica
durante o ano de 2017, em que o açude Sítios Novos registrou um volume de 0,12% de água,
seguido pelo açude Pentecoste e Caxitoré com 0,14% e 3,61%, respectivamente. Quanto a quali-
dade da água dos três reservatórios do município, ao se analisar o estado trófico para o período
2008-2020, constatou-se como pior cenário o açude Sítios Novos classificado como hipertrófico,
enquanto os outros dois açudes se enquadram como eutróficos. Destaca-se que essas duas classes
representam açudes em processo de eutrofização, ou seja, são reservatórios que apresentam
águas com elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes que compromete a qualidade
do recurso hídrico para os usos múltiplos, principalmente o consumo humano e animal.
Palavras-chave: Reservatórios; Segurança Hídrica; Planejamento Ambiental.
Abstract: Water is a vital resource that has been used in an uncontrolled manner for the develop-
ment of human activities, which causes its degradation and threat to water security, especially in
the semi-arid areas of northeastern Brazil. From this perspective, this paper discusses the charac-
teristics of surface water resources in the municipality of Pentecoste, Ceará, located in the area
[ 1133 ]
1134 Nagila Fernanda Furtado Teixeira; Pedro Edson Face Moura; Edson Vicente da Silva
surrounding the Desertification Center of Irauçuba. The research was divided into three stages:
organization and encouragement, field activities for the municipality and office research. The
result is the description and detailing of the environmental aspects of the main rivers, streams and
large reservoirs present in the municipality. By analyzing the volume of reservoirs for the 2004-
2021 historical series, we identified that a water supply decreased significantly with the drought
period that started in 2011, being more critical in 2017, when Sitios Novos obtained a volume of
only 0.12% of water, followed by the Pentecoste and Caxitoré reservoirs with 0.14% and 3.61%,
respectively. As for the water quality of these three reservoirs, when analyzing the trophic state
for the period 2008-2020, the worst scenario is the Sítios Novos reservoir classified as hypertro-
phic, while the other two reservoirs are classified as eutrophic. It is noteworthy that these two
classes represent dams undergoing eutrophication, that is, they present waters with sources of
organic matter and nutrients that compromise the quality of the water resource for multiple uses,
mainly human and animal consumption.
Keywords: Reservoirs; Water Security; Environmental planning.
1 INTRODUÇÃO
A água é um recurso essencial para todas as formas de vida na Terra, promovendo um
importante ciclo hidrológico, que corresponde a um dos principais agentes na esculturação da
paisagem, pois atua na evolução do relevo, através dos processos de erosão, transporte e
deposição. Caracterizado por ser renovável, mas esgotável, a água tem sido utilizada de maneira
descontrolada através das atividades antrópicas o que ocasiona sua degradação e ameaça à
segurança hídrica, principalmente em áreas semiáridas do Nordeste brasileiro.
Destaca-se ainda que a água se torna escassa não apenas em quantidade, mas também
em qualidade, pois mesmo que a quantidade seja o suficiente para toda a população, caso a
qualidade seja comprometida, esse recurso não poderá ser utilizado (POTELO, 2014). Somada
a essa característica, tem-se a crescente demanda pelo uso dos recursos hídricos, principal-
mente voltada ao abastecimento humano, dessedentação de animais, agricultura, aquicultura,
indústria, balneabilidade, lazer dentre outras que podem ocasionar conflitos por água decor-
rem da pouca disponibilidade desse recurso, devido ao seu uso intenso e a interesses conflitan-
tes (OKAWA; POTELO, 2014).
O estado do Ceará apresenta cerca de 92% de seu território, ou seja, aproximadamente
136.328 km² sob influência do clima semiárido. Dos 184 municípios que compõem o Ceará, 117
estão totalmente inseridos no domínio de semiaridez, marcado pela irregularidade climática,
com período chuvoso curto de cerca de 3 a 5 meses e um período seco prolongado, 7 a 9
meses. Caracterizado também, por altas temperaturas, médias superiores a 26°C, com elevada
evaporação hídrica e amplitude térmica diuturna (CEARÁ, 2010; SOUZA, 2000; ZANELLA, 2007).
O Ceará possui doze bacias hidrográficas: do rio Jaguaribe, dividida em Alto, Médio e
Baixo, do rio Banabuiú, do rio Acaraú, do rio Coreaú, do rio Curu, do rio Salgado, Metropolitana,
do Litoral, da Serra de Ibiapaba e do Sertão de Crateús (CEARÁ, 2016). Na região semiárida cea-
rense, o quadro geoambiental vulnerável e as ações antrópicas inadequadas de uso dos recur-
sos naturais agravam os problemas ambientais, com a redução da biodiversidade, o
aceleramento dos processos erosivos e a diminuição dos recursos hídricos, do solo e da vege-
tação (NASCIMENTO, 2011).
As características climáticas determinam, juntamente com as condições geológicas, o
regime dos recursos hídricos presente nas áreas semiáridas marcadas pela intermitência dos
rios que demandam estratégias de garantia da segurança hídrica da população como a cons-
trução de reservatórios que abastecerão e servirão de fonte hídrica para diversas finalidades,
principalmente nos municípios interioranos. Nessa perspectiva, o presente trabalho objetiva
analisar, detalhar e discutir os recursos hídricos superficiais presentes no município de
Pentecoste, Ceará, a partir de três etapas: organização e inventário, estudos de campo e pes-
quisa de gabinete. Para tanto, realizou-se uma descrição e detalhamento dos aspectos ambien-
tais dos principais cursos hídricos como rios, riachos e reservatórios de grande porte: Pentecoste,
Sítios Novos e Caxitoré presentes no município, com a análise do volume desses açudes para a
série histórica de 2004-2021 e estado trófico para o período 2008-2020.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa se dividiu em três etapas: organização e inventário, estudos de campo e pes-
quisa de gabinete. Na fase de organização e inventário efetivou-se o levantamento
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos sertões do semiárido com predominância de substrato cristalino, há grande ocorrên-
cia de rios e riachos com escoamento intermitente sazonal com drenagem exorréica. Zanella
(2007) salienta que a irregularidade pluviométrica, o caráter intermitente dos rios e as caracte-
rísticas litológicas repercutem na disponibilidade dos recursos hídricos no semiárido.
Os rios do Nordeste brasileiro, em determinadas épocas do ano, chegam ao mar, carac-
terística original dos sistemas hidrográficos e hidrológicos regionais, diferente de outras regiões
semiáridas do mundo, em que as drenagens convergem para depressões fechadas, os rios
dessa região vão para o oceano Atlântico (NASCIMENTO, 2011).
Os principais cursos hídricos superficiais do município de Pentecoste são os riachos
Croatá, Mocó, Cedro, Cachoeira, Volta, Salgado, Mel e Capitão Mór e, os rios Curu, e Canindé,
este último é importante afluente da margem direita da bacia hidrográfica do rio Curu.
A Bacia Hidrográfica do Rio Curu possui uma área de 8.750,75 km², equivalente a 6% do
território cearense e drena além de Pentecoste mais 14 municípios: Itatira, Canindé, Caridade,
Paramoti (no Alto Curu); General Sampaio, Apuiarés, Tejuçuoca, Itapajé, Irauçuba, Umirim, São
Luís do Curu (no Médio Curu); e São Gonçalo do Amarante, Paraipaba e Paracuru (no Baixo
Curu) (CEARÁ, 2009).
A bacia do rio Curu (Figura 2) apresenta suas nascentes nas serras do Céu, da Imburana e
do Lucas, no município de Canindé. Sua foz localiza-se na divisa dos municípios de Paracuru e
Paraipaba (BRANDÃO; FREITAS, 2014). O rio Canindé tem suas nascentes no Maciço de Baturité
e assume papel relevante no contexto da Bacia Hidrográfica do Rio Curu, pois é o principal
afluente da sua margem direita.
Fonte: Autores.
Segundo Soares (2006), a paisagem da Bacia Hidrográfica do Rio Curu foi transformada a
partir da intervenção antrópica por meio da retirada da vegetação natural e substituição pela
agricultura de subsistência e perenização de trechos dos rios, através da construção de reser-
vatórios de água superficial. Os reservatórios de água desempenham importante papel no con-
trole de inundações e na crescente demanda de água potável para seres humanos, para animais
de criação, aquacultura e agricultura (GUNKEL, 2019). A Bacia Hidrográfica do Rio Curu carac-
teriza-se pelo alto nível de açudagem, possuindo 818 reservatórios. Os açudes Pentecoste e
General Sampaio são responsáveis por aproximadamente 70% do volume de acumulação dessa
bacia (CEARÁ, 2009).
Assim, como na maioria dos municípios do Ceará, a limitação da disponibilidade hídrica é
um problema recorrente em Pentecoste, agravada pela seca iniciada em 2011. Como medida
de mitigação da seca está à construção de açudes e perfuração de poços. Segundo Dantas e
Rodrigues (2015) o processo de açudagem tem a intensão de proporcionar o desenvolvimento
da região nordeste através da disponibilidade hídrica para as atividades agrícolas, industriais e
serviços, além do abastecimento humano.
Os açudes do Ceará são divididos em pequeno, médio, grande e macro, sendo construí-
dos pelo governo, por particulares e em regimes de cooperação. A COGERH (2008) estabelece
uma classificação para os açudes de acordo com a capacidade volumétrica em: macro porte (>
que 750.000.000m³), grande porte (de 75.000.000 a 750.000.000m³), médio porte (de
7.5000.000 a 75.000.000m³) e pequeno porte (de 0,5 a 7.5000.000m³). Os açudes de pequeno
porte são geralmente construídos para abastecer a população rural dos municípios cearenses,
principalmente para o uso consumo humano e dessedentação animal.
Em Pentecoste, ressalta-se três açudes de grade porte, Pereira de Miranda, Caxitoré e
Sítios Novos. O açude Pereira de Miranda, denominado por alguns órgãos de Pentecoste, é o
único totalmente inserido no município, foi construído pelo DNOCS em 1957 apresenta 2.840
km² de área de drenagem e a bacia hidráulica possui 5.700 ha com capacidade de armazena-
mento de 360.000.000 m³ (COGERH, 2021).
O açude Caxitoré encontra-se parcialmente inserido em Pentecoste, apresenta uma
área de drenagem de 1.430 km² e a bacia hidráulica possui 4.574 ha com capacidade de
armazenamento de 202.000.000 m³. O açude Sítios Novos também se encontra parcialmente
inseridos em Pentecoste, apresenta uma área de drenagem de 446 km² e a bacia hidráulica
possui 2.010 ha com capacidade de armazenamento de 126.000.000 m³, como indica o
Quadro 1 (COGERH, 2021).
O açude Sítios Novos, em 2014, apresentou 89,11% do volume armazenado, maior valor
para a série analisada. De 2015 a 2019 obteve os menores valores, com destaque para o ano
de 2017 com 0,12% da capacidade de armazenamento. A redução dos volumes dos açudes do
município de Pentecoste tem agravado a situação da qualidade da água desses corpos hídricos,
como indica a Figura 3.
Possuem águas limpas, de baixa produtividade, em que não ocorrem interferências inde-
Oligotrófico
sejáveis sobre os usos da água, decorrentes da presença de nutrientes
São águas com profundidade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade
Mesotrófico
da água, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos.
São os corpos de água com alta produtividade, com redução da transferência em geral afe-
tados por atividades antrópicas, nos quais ocorrem alterações indesejáveis na qualidade
Eutrófico da água e interferência nos usos múltiplos
Águas afetadas significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e
nutrientes com comprometimento acentuado nos seus usos, associado a episódios de flo-
rações de algas ou mortandade de peixes, com comprometimento acentuado nos seus
Hipereutrófico
usos.
Fonte: COGERH (2021).
Ao analisar os dados de estado trófico dos três açudes de Pentecoste (Figura 4) na série
histórica (2008-2020) percebe-se que o estado mais crítico ocorre no açude Sítios Novos,
enquadrado como hipertrófico. Os açudes Pentecoste e Caxitoré estão classificados como
eutróficos. Destaca-se que essas duas classes representam açudes em processo de eutrofiza-
ção, ou seja, apresentam águas com elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes
que compromete a qualidade do recurso hídrico para os usos múltiplos, principalmente o con-
sumo humano e animal, e que pode provocar a mortandade das espécies de peixes, prejudi-
cando a piscicultura, importante atividade econômica do município de Pentecoste.
Quanto à salinidade dos açudes do município de Pentecoste, Ceará (2009) destaca que os
reservatórios pertencentes a Bacia Hidrográfica do Rio Curu, apresentam concentrações de
cloretos inferiores a 250 mg/l, valor dentro do tolerado pelo Ministério da Saúde para con-
sumo humano, com exceção dos açudes Caracas e Salão. Levando-se em consideração as
características de salinidade para irrigação, as águas dos reservatórios se classificam de salini-
dade alta.
Outra importante forma de abastecimento de água nos sertões do NEB é o uso das cis-
ternas de placas construídas através do Programa de Formação e Mobilização Social para a
Convivência com o Semiárido: 1 Milhão de Cisternas Rurais-P1MC coordenado pela Articulação
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas regiões semiáridas do Nordeste brasileiro, o problema da disponibilidade hídrica é
mais acentuado do que no restante do país, ocasionada naturalmente por fatores climáticos e
condições litopedológicas particulares. Assim, os recursos hídricos superficiais no semiárido
demandam estudos e análises para o planejamento e gestão como forma de garantir a segu-
rança hídrica e a conservação desse recurso vital.
Os principais cursos hídricos superficiais do município, rio Curu e o Canindé, são impor-
tantes afluentes da margem esquerda da Bacia Hidrográfica do Rio Curu e juntamente diversos
reservatórios, de pequeno, médios e grande porte, são intensamente utilizados pela população
do município para o abastecimento humano, dessedentação de animais, lazer, irrigação da
agricultura de subsistência.
Os usos múltiplos nem sempre são acompanhados de um planejamento, sendo percep-
tíveis os impactos nesse ambiente, principalmente, a eutrofização, a poluição, as ocupações
irregulares e o assoreamento de cursos hídricos do município. A partir do exposto, a ampliação
dos estudos sobre os recursos hídricos superficiais, dentre eles as bacias hidrográficas e os
reservatórios do semiárido cearense é urgente, para garantir o uso racional, conservação e
manejo adequado dos recursos naturais e consequentemente, a melhoria da qualidade de vida
dos habitantes.
5 REFERÊNCIAS
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[ 1145 ]
1146 Camila Fuziel Silva; Samuelson Buzaglo PimentA; Orlando Freire Neto; José Humberto Michiles Júnior
from the planning and environmental assessment of the projects to be executed at the construc-
tion site. One of the representative projects of the construction industry in the city of Manaus is
the Social and Environmental Program of Igarapés de Manaus – PROSAMIM, conceived by the
Government of the State of Amazonas, in partnership with the Interamerican Bank – IDB, with the
objective of promoting environmental recovery and the territorial planning of inland watersheds
in Manaus. Aiming to meet the current legislation of the three governmental spheres: federal,
state, and municipal, in addition to the environmental conditions of PROSAMIM, this work aims to
present the environmental control of works using a method for washing concrete mixers and
reuse of wastewater in a civil construction work. This work was developed at the Special Projects
Management Unit – UGPE, headquartered in the city of Manaus, responsible for managing the
PROSAMIM works. Where the construction of a system for washing fixed concrete mixers and
combined mixers was developed, to comply with the legislation relating to the Program, providing
environmental quality to the services performed at the construction site. At the end of the steps
carried out, a system was obtained that collects wastewater from washing the concrete mixer for
reuse at the construction site itself.
Keywords: Environmental control of works, PROSAMIM, Wastewater reuse
1 INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil é um dos setores importantes na economia brasileira, res-
ponsável pela geração de milhares de empregos em todo país. Mas é também, uma das ativi-
dades que provocam inúmeros impactos adversos ao meio ambiente (PIRES, 2014).
De acordo com a Resolução Nº 001 do Conselho Nacional Do Meio Ambiente – CONAMA
(1986), impacto ambiental é definido como qualquer alteração nas propriedades físicas, quími-
cas e biológicas do meio ambiente, resultante das atividades humanas, que de forma direta ou
indireta afetem a saúde e a segurança da população, atividades sociais, econômicas, a biota e
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente.
Isto posto, a Constituição da República Federativa do Brasil em seu artigo 225 prevê que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (BRASIL, 1988);
ambiental dos serviços prestados, por meio de medidas preventivas e mitigadoras de danos
ambientais, buscando sempre a melhoria contínua na execução das atividades no canteiro de
obras (RODRIGUEZ; SILVA, 2018).
Um dos projetos representativos da indústria da construção na cidade de Manaus é o
Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM, concebido pelo Governo
do Estado do Amazonas, em parceria com o Banco Interamericano – BID, com objetivo de pro-
mover a recuperação ambiental e o ordenamento territorial das bacias hidrográficas interiores
de Manaus.
Visando atender as legislações vigentes das três esferas governamentais: federal, esta-
dual e municipal, além das condicionantes ambientais do PROSAMIM, o presente trabalho tem
por objetivo apresentar o controle ambiental de obras por meio da utilização de método para
lavagem de betoneira e reuso das águas residuais em uma obra de construção civil nas depen-
dências da Unidade Gestora de Projetos Espaciais – UGPE.
Quadro 1 – Procedimentos de controle ambiental para operação do canteiro e implantação das obras
Situações que podem gerar impactos Procedimentos de Controle
A lavagem, limpeza e manutenção de veículos e 1 – Definir locais para a lavagem dos veículos e
equipamentos em terreno natural contaminam o equipamentos, equipados com canaletas de drena-
solo e geram resíduos contaminados. gem e caixa separadora de óleos e graxas;
Essas medidas de controle buscam evitar acidentes ambientais capazes de causar conta-
minação ao solo e aos recursos hídricos, com soluções e alternativas simples, porém, impor-
tantes na prevenção ambiental nas áreas de intervenção do Programa Social e Ambiental dos
Igarapés de Manaus.
Pesquisas realizadas por Malaguti (2016), apontam que alternativas simples, de baixo
custo para implementação e manutenção, podem refletir na redução dos níveis de contamina-
ção e poluição das águas, que podem ser medidos através dos parâmetros previstos nas legis-
lações aplicáveis, como o CONAMA 430 que prevê as condições e padrões para lançamentos
de efluentes.
O uso de técnica e métodos para tratamento, reaproveitamento e controle de água e dos
resíduos gerados na lavagem das betoneiras, além de diminuir os possíveis impactos negativos
causados ao meio, reduz também a quantidade de água potável consumida nos processos liga-
dos a fabricação de argamassa no canteiro de obras.
No caso aqui apresentado, parte da água residual, após passar pelos devidos processos
prévios de tratamento (decantação), é reutilizada para higienizar os equipamentos usados no
canteiro, para auxiliar nas atividades relacionadas aos serviços de concretagem, por exemplo,
lavem de enxadas, pás, picaretas, dentre outros.
Ainda que os resíduos gerados nas frentes de obras sejam gerados em baixa escala, é
possível aplicar estratégias para reduzir mais ainda a quantidade das água potável utilizada
nas frentes de obras através da eliminação ou atenuação de danos ao meio ambiente e aos
recursos hídricos, especificamente. Indicando tendências futuras de sustentabilidade e
ecodesenvolvimentistas.
O ecodesenvolvimento surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar
os processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos
ecossistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. O eco-
desenvolvimento apresentava-se como excessivamente alternativo para que as cor-
relações de forças dentro do sistema dominante lhe permitissem extrapolar
princípios aceitáveis, desde os níveis locais/ microrregionais até a escala global, em
que se explicitam atualmente os problemas do meio ambiente, do desenvolvimento
e da ordem mundial (HERRERO, 1997 apud JACOB, 2003).
Embora pareçam pequenas, mas somadas a todos os canteiros de obras existes, resul-
tantes das frentes de obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus –
PROSAMIM. O aproveitamento de águas resíduas quando possível pode inferir na economia
financeira pela diminuição do consumo de recursos hídricos das concessionárias, eliminar ou
mitigar impactos aos corpos receptores das águas geradas nos processos.
O uso de métodos como este, evitam que as águas drenadas cheguem as bacias hidrográ-
ficas e cause a poluição e contaminação dos recursos hídricos. O ordenamento territorial é um
instrumento estratégico para alcançar o desenvolvimento sustentável, no que diz respeito a
gestão integrada de bacias hidrográficas (RODRIGUEZ; SILVA, 2018).
Além do exposto, também podem ser feitas análise das águas previamente tratadas pelo
sistema de decantação no canteiro de obras. Neste trabalho, não foi realizado tal procedi-
mento, contudo, fica sugerido para aplicações posteriores do método apresentado.
2 METODOLOGIA UTILIZADA
Este trabalho foi realizado na Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE, sediada
na cidade de Manaus, responsável pelo gerenciamento das obras do PROSAMIM. Onde foi
desenvolvido a construção de um sistema para lavagem de betoneira fixa e masseira conju-
gados (Figura 1).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao final das etapas executas, obteve-se um sistema que coleta as águas residuais oriun-
das da lavagem da betoneira (Figura 8), nos seguintes processos: parte de água coletada pela
canaleta, que faz o direcionamento até o tanque de decantação é despejada pela rede de dre-
nagem. Contudo, o material sólido é depositado ao fundo do tanque, resultando no processo
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa, são provenientes das obras de otimização do espaço físico
da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE, em atendimento as legislações pertinentes
e as especificações do Programa, com base nas exigências do Banco Interamericano financia-
dor do PROSAMIM.
O sistema para coleta de águas resíduas e decantação de partículas sólidas é relativamente
simples para executar e adequar a realidade de obras de construção civil, possibilitando apli-
cabilidade prática do sistema.
A utilização deste pequeno sistema é recomenda para que danos ambientais não sejam
causados, bem como, poluição, contaminação e assoreamento de corpos hídricos por meio da
deposição de partículas sujeitas aos processos de sedimentação.
5 REFERÊNCIAS
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instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Publicado no D.O.U de 17 de fevereiro de 1986.
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D.O.U de 18 de março de 2005.
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[ 1156 ]
LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEGURAÇA HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BOA VISTA-RR 1157
compromise water resources, aiming at their consequent conservation, tends to reflect on the
guarantee of access to water for the inhabitants of the surroundings of the plants, which is char-
acterized as a human right, essential to your life and dignity.
Keywords: Use of water; Energy; Dignity of human person.
1 INTRODUÇÃO
A Constituição brasileira consagra o direito ao meio ambiente saudável e ao progresso sus-
tentado, bem como a dignidade da pessoa humana. As ações dos agentes públicos que atuam no
licenciamento e fiscalização ambiental, devem dar efetividade a esses direitos, bem como ao
direito à segurança hídrica, considerando-se que o acesso à água configura um direito humano.
Segurança Hídrica compreende o acesso à água de qualidade, em quantidade suficiente
para atender às necessidades humanas assegurando a vida, a saúde e a realização de ativida-
des econômicas, mediante a conservação dos ecossistemas, considerando o acesso e aprovei-
tamento da água como recurso, e a gestão de riscos associados à água, incluindo inundações,
secas e acidentes ambientais (ANA, 2019).
De acordo com a conceituação da Organização das Nações Unidas – ONU, no Brief
Analítico sobre Segurança Hídrica e a Agenda Global da Água, o direito humano à água consi-
dera que todas as pessoas devem ter acesso à água limpa e segura, em quantidade suficiente
para suas necessidades pessoais e domésticas, apresentando o conceito de segurança hídrica.
(UN WATER, 2013).
A necessidade de geração de energia elétrica em Roraima, que se caracteriza como um
sistema isolado, quanto à integração com o sistema nacional de abastecimento de energia elé-
trica, resultou na implantação de duas usinas termoelétricas na BHCarr (na zona rural de Boa
Vista, capital do estado), considerada essencial para o fornecimento de água a diversas pes-
soas. Embora, já seja possível observar inúmeras outras atividades nas imediações, a implanta-
ção desses empreendimentos merece atenção.
Verificando-se a existência de normas específicas dispostas nas Resoluções Conama nº
01/86 e 237/97, que dispõem sobre a implantação de empreendimentos considerados de maior
potencial poluidor, a discussão da relevância do adequado processo de licenciamento, para
segurança hídrica e consequente efetividade do direito à água, caracterizam-se como questões
norteadoras do presente estudo.
O licenciamento ambiental figura como instrumento de planejamento e gestão ambien-
tal, disposto pela Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6938/1981), para assegu-
rar o exame dos impactos ambientais de projetos a serem implantados e das possíveis
alternativas quanto à tecnologia empregada e localização, confrontando-as com a hipótese de
sua não execução.
A inserção de dois empreendimentos para geração de energia, no contexto da expansão
urbana sem organização e infraestrutura adequada, em um local com evidente formação de
Federal nº 9.433/1997, e na Lei Estadual nº 547/2006 que definem a bacia hidrográfica como
unidade físico-territorial que orienta a gestão dos recursos hídricos (JIMENEZ et al., 2020).
Verifica-se que a legislação brasileira dispõe sobre a implantação de empreendimentos e
atividades que utilizem recursos hídricos e/ou com potencial de causar danos ao meio ambiente,
notadamente a estes recursos naturais, essenciais à própria existência humana. Deste modo, o
licenciamento de atividades potencialmente poluidoras exige a devida cautela em relação ao
cumprimento adequado dos procedimentos estabelecidos, além da observância de todas as
normas voltadas para assegurar às pessoas, a qualidade ambiental e a segurança hídrica.
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização da bacia hidrográfica Carrapato (BHCarr)
A cidade de Boa Vista encontra-se em área com clima tropical quente úmido, ou Tropical
Savana (Aw), de acordo com a classificação de Köppen, com período de chuvas entre abril e
outubro (JIMENEZ et al., 2020). No período chuvoso, há concentração de chuvas no período
junho-agosto, o que influencia diretamente na subida do lençol freático e aos efeitos retenti-
vos e estagnantes das águas superficiais e subsuperficiais, os quais podem impactar direta-
mente ocupações humanas e/ou empreendimentos, caso não sejam tomadas as devidas
precauções para contenção de riscos hidrológicos.
Considerando-se um raio de 10 km no entorno da Usina Termoelétrica (UTE) Forte de São
Joaquim, no qual se insere a UTE Jaguatirica II, são verificados três conjuntos de águas
subterrâneas: o Aquífero Boa Vista, o Aquífero Depósito Aluvionar e o Aquífero Embasamento
Indiferenciado, importantes fontes de água para toda região. Os empreendimentos se localizam
no domínio do sistema aquífero Boa Vista, composto por rochas sedimentares, e embora
pouco conhecido, sabe-se, poroso (JIMÉNEZ et al., 2020), o que facilita a infiltração das águas
superficiais, e que também pode facilitar a subida do lençol freático, pois tratam-se de terre-
nos pouco profundos, com formação flúvio-lacustre e forte presença de lagos intermitentes e
perenes/nascentes, das quais muitas são compartilhadas.
Considerando-se o mesmo raio de análise, em relação aos aspectos geomorfológicos,
ocorrem duas unidades morfoesculturais, a Unidade Depressão Boa Vista e a Unidade
Sedimentos Recentes, com relevo constituído pela unidade Depressão de Boa Vista, caracteri-
zada por uma associação de relevos mais planos, verificando-se alguns pontos sujeitos à inun-
dação, morros e áreas com presença de rios e igarapés (JIMÉNEZ et al., 2020).
O Rio Cauamé é um afluente da margem direita do alto Rio Branco, com área de 3.159
km², que drena os municípios de Boa Vista e Alto Alegre. A bacia hidrográfica do Rio Cauamé
(BHC), exibe elementos típicos da paisagem de savana de Roraima, com ilhas de vegetação
intensa (mata), veredas (buritizais) e sistemas lacustres desconexos de planície (OLIVEIRA;
CARVALHO, 2014).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1 – Altimetria da Bacia Hidrográfica do Igarapé Carrapato e localização das UTEs Jaguattirica II e
Forte de São Joaquim
local de instalação, há previsão de consumo de 600l/dia durante a fase de operação, não tendo
sido informado o consumo previsto para a fase de instalação. Será feita a captação de água por
meio de poço artesiano, cuja outorga para captação de água foi concedida em 19/02/2021.
Considerando o uso da água necessário à instalação e operação dos empreendimentos e
a interferência na bacia de drenagem, durante os estudos de impacto ambiental, foram reali-
zados levantamentos para caracterizar a hidrologia, em relação à quantidade e qualidade da
água do Igarapé Carrapato, a fim de embasar a avaliação dos possíveis impactos sobre a dispo-
nibilidade hídrica da bacia.
A legislação objetiva a regular as relações sociais, definindo normas para garantir seu
equilíbrio, de modo que as normas em abstrato (enquanto norteadoras de hipóteses que
podem ocorrer), impactam na concretude das ações humanas, que resultam em transforma-
ções no ambiente físico, alcançando a dimensão das relações sociais estabelecidas no local, o
que deve ocorrer de forma sustentável.
Para tanto, é indispensável que os processos de licenciamento e fiscalização ambiental
atendam aos propósitos estabelecidos nos instrumentos legais, evitando que a implantação de
empreendimentos de maior potencial poluidor, comprometa a segurança hídrica em razão de
atividades construtivas, gestão inadequada de resíduos e efluentes ou ainda, acidentes.
As medidas para prevenir ou mitigar possíveis danos ambientais, sobretudo a conta-
minação dos recursos hídricos, devem ser apresentadas nos estudos de impacto ambien-
tal, conforme se verifica no caso das usinas em estudo. Tendo sido identificados riscos de
aumento da vulnerabilidade do lençol freático, foram indicadas medidas específicas a
serem implementadas.
Ocorre que o cumprimento das etapas do licenciamento, bem como a definição de ações
e monitoramentos no EIA/RIMA, não são suficientes para garantir efetivamente, a prevenção
e mitigação dos impactos ambientais que podem ser provocados pela instalação de um ou
outro empreendimento, capazes de afetar a qualidade da água. Tal fato, exige que esses pro-
cessos de licenciamento, ocorram em total conformidade com as normas técnicas aplicáveis
aos processos construtivos, e com as normas ambientais.
No Quadro 1, são apresentados os principais impactos constantes dos relatórios de
impacto ambiental apresentados pelos responsáveis pela implantação das duas usinas.
Quadro 1 – Impactos apresentados nos Relatórios de Impacto Ambiental das Usinas Termoelétricas
Jaguatirica II e Forte de São Joaquim
órgão ambiental licenciador, para assegurar o cumprimento das medidas mitigadoras e pre-
ventivas propostas pelos empreendedores, para evitar danos ambientais, especialmente em
relação aos recursos hídricos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A regulamentação dos lotes rurais é um fator que afeta a definição de locais para a
implantação de empreendimentos (de qualquer tipo) no estado, uma vez que muitos lotes
carecem de adequada regularização, o que é indispensável para atividades submetidas a uma
maior rigidez no controle normativo, tendo tal situação corroborado para a configuração do
cenário de instalação de duas UTEs em local de maior vulnerabilidade de recursos hídricos.
Nesse contexto e diante da importância do Igarapé Carrapato para as famílias estabele-
cidas em sua bacia hidrográfica, evidente a necessidade de uma adequada atuação de todos os
envolvidos nos processos de licenciamento ambiental, para garantia da segurança hídrica às
famílias ali assentadas.
A exploração de atividades econômicas deve ocorrer de modo a preservar os recursos
hídricos, observando-se a necessidade de uma atuação adequada a este propósito, por agen-
tes públicos, empreendedores e populares. Nos casos em que o empreendedor age em des-
conformidade com a proteção dos recursos naturais, cabe aos agentes do poder público usar
de seu poder de polícia, adotando medidas e sanções para adequação das práticas realizadas.
Com efeito, a realização adequada dos monitoramentos ambientais previstos, configuram
importante meio para resguardar a segurança hídrica, bem como, a atuação dos técnicos da
Femarh, que devem exercer um efetivo controle das ações desenvolvidas pelos empreendedores
e seus contratados, para que se mantenha a qualidade da água no Igarapé Carrapato e no SABV.
A população (afetada por empreendimentos) pode e deve, ao verificar riscos à segurança
hídrica, informar aos órgãos ambientais ou ainda, prestar informações ao Ministério Público,
que tem o dever de proteger direitos coletivos e difusos, e pode acionar tanto o órgão ambien-
tal responsável pelo licenciamento, como o próprio empreendedor, e caso se verifique a ocor-
rência de crime ambiental, oferecer denúncia ao Poder Judiciário.
Considerando a importância do Igarapé Carrapato e dos recursos hídricos subterrâneos
para a população de Boa Vista, verifica-se a importância das ações voltadas para prevenção de
modificações na qualidade da água, o que inclui a obrigação dos empreendedores quanto às
medidas dispostas para concessão de licenças ambientais.
Embora não sejam o único fator capaz de afetar a segurança hídrica na BHCarr, tendo apre-
sentado programas ambientais com ações para evitar a contaminação dos recursos hídricos, é
indispensável que tais ações sejam corretamente implementadas, devendo o órgão licenciador,
fiscalizar o cumprimento das condições para obtenção e manutenção das licenças ambientais.
Tendo sido identificado que o fluxo subsuperficial da área onde serão implantados os
empreendimentos, segue para o Igarapé Carrapato, que é a drenagem mais próxima e principal
da BHCarr, evidente a importância dos processos de licenciamento ambiental (incluindo os
monitoramentos ambientais), que sob essa perspectiva, configuram instrumentos de segu-
rança hídrica no município de Boa Vista, e todas as medidas preventivas no concernente a
degradação e poluição devem ser adotadas.
5 REFERÊNCIAS
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Resumo: O estado do Pará instituiu sua Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) e criou o
Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos por meio da promulgação da Lei Estadual
6.381/01, tendo como parâmetro a Política Nacional de Recursos Hídricos. Buscou-se, portanto,
neste artigo analisar os instrumentos de gestão da Política Estadual de Recursos Hídricos do Pará,
conforme pressupostos da Lei nº 6.381, de 25 de julho de 2001. É uma pesquisa bibliográfica, por
meio de uma revisão de literatura, baseada na análise de textos publicados na forma de legisla-
ções – que envolvam a temática, livros, artigos e literatura cinzenta, tais como, teses, dissertações,
trabalhos apresentados em congressos, relatórios etc. Por meio desta Lei, foi possível estabelecer
diretrizes e políticas públicas no estado do Pará voltadas para a melhoria da oferta de água, em
quantidade e qualidade, além de gerenciar as demandas. Para o alcance dos objetivos, estabele-
ceu-se, conforme art. 4º da PERH, sete instrumentos com a finalidade de estimular o uso racional
da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação das bacias
hidrográficas. Por fim, os instrumentos da Lei Estadual 6.381/01 representam uma normatização
do planejamento da gestão de recursos hídricos do estado do Pará para o alcance de metas e obje-
tivos estabelecidos.
Palavras-chave: Gestão Hídrica do Pará; Planejamento dos Recursos Hídricos; Instrumentos para
a Gestão.
Abstract: The state of Pará instituted its State Water Resources Policy (PERH) and created the
State Water Resources Management System through the enactment of State Law 6,381/01, having
as a parameter the National Water Resources Policy. Therefore, this article seeks to analyze the
management instruments of the State Water Resources Policy of Pará, according to the presuppo-
sitions of Law nº 6381, of July 25, 2001. It is a bibliographical research, through a literature review,
based on in the analysis of texts published in the form of legislation – involving the theme, books,
1 Graduando em Gestão Ambiental na Universidade Estácio de SáUNESA/Faculdade Estácio do Amazonas. E-mail: bio.
richardcoelho@gmail.com
2 Doutorando em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia na Universidade Federal do Pará –
UFPA/Núcleo de Meio Ambiente – NUMA . E-mail: francoan.dias@gmail.com
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POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO PARÁ 1169
articles and gray literature, such as theses, dissertations, papers presented at congresses, reports
etc. Through this Law, it was possible to establish guidelines and public policies in the state of Pará
aimed at improving the supply of water, in quantity and quality, in addition to managing demands.
To achieve the objectives, it was established, according to art. 4 of PERH, seven instruments with
the purpose of stimulating the rational use of water and generating financial resources for invest-
ments in the recovery and preservation of hydrographic basins. Finally, the instruments of State
Law 6,381/01 represent a standardization of water resources management planning in the state of
Pará to achieve established goals and objectives.
Keywords: Pará Water Management; Water Resources Planning; Management Tools.
1 INTRODUÇÃO
Em termos globais, o Brasil possui cerca de 12% da disponibilidade de água doce do pla-
neta, contudo a distribuição natural desse recurso não é equilibrada. A região Norte, por exem-
plo, concentra aproximadamente 80% da quantidade de água disponível, mas representa
apenas 5% da população brasileira. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado para que não
prejudique nenhum dos diferentes usos que a mesma tem para a vida humana (ANA, 2019).
Neste cenário, previu-se na Constituição Federal de 1988 (CF/88), que compete à União,
conforme inciso XIX do art. 21, instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídri-
cos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso. Observa-se que dentre as alterações
relativas às águas inseridas pela CF/88, destaca-se a exclusão do domínio privado. A partir
deste marco legal, o duplo domínio é consolidado. É importante esclarecer que esse duplo
domínio da água, que envolve União e Estados, os limites administrativos não coincidem com
os das bacias hidrográficas. Outro novo conceito que aparece na CF/88 é relativo ao termo –
recursos hídricos. As constituições anteriores somente traziam a palavra – água (ANA, 2014).
Com a finalidade de regulamentar este o inciso XIX, art. 21, da CF/88, promulgou-se a Lei
n° 9.433/97, também intitulada Lei das Águas, que institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos – PNRH e estabelece o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
SINGREH (BRASIL, 1988).
Deste modo, é possível estabelecer as diretrizes e os princípios básicos para os recursos
hídricos, como um recurso limitado e um bem público com valor econômico, a ser gerido em
nível de bacias hidrográficas, envolvendo as jurisdições federais e estaduais. Posteriormente, a
Lei n.º 9.984/00, cria a Agência Nacional de Águas (ANA), entidade federal encarregada da
implementação dessa Política e da coordenação desse Sistema (BRASIL, 2000).
À vista disso, surge um novo panorama da gestão dos recursos hídricos no país, que deve
proporcionar os usos múltiplos das águas, de forma descentralizada e participativa, contando
com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Um dos fundamentos
da Política prevê que, em situações de escassez, o uso prioritário da água é para o consumo
humano e dessedentação de animais. Tendo em vista a importância desse bem público e a pos-
sibilidade de escassez, a Política Nacional de Recursos Hídricos deve ser formulada, executada
e avaliada por meio de gestão democrática, que conte com ampla participação social (AITH &
ROTHBARTH, 2015).
Considerando as mesmas prerrogativas da PNRH e do SINGREH, os Estados e Distrito
Federal passaram a instituir suas próprias Políticas Estaduais e/ou Distrital de Recursos Hídricos
e criaram seus Sistemas Estaduais e/ou Distrital de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Salienta-se que estes sistemas trouxeram grandes avanços institucionais para a melhoria da
gestão das águas no país. Contudo, necessitam de uma melhor operacionalização, onde alguns
de seus elementos como o processo participativo, a descentralização e a coordenação intergo-
vernamental ainda são frágeis, tendo em vista as peculiaridades regionais.
Para implementar estas políticas nacional, distrital e estaduais, instituíram-se instrumen-
tos para a gestão de recursos hídricos, tendo como base o art. 5º da Lei das Águas. Os princi-
pais são: (I) os Planos de Recursos Hídricos; (II) o enquadramento dos corpos de água em classes,
segundo os usos preponderantes da água; (III) a outorga dos direitos de uso de recursos hídri-
cos; (IV) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; e (V) o Sistema de Informações sobre
Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Neste cenário, o estado do Pará instituiu sua PERH e criou o Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH) por meio da promulgação da Lei Estadual
6.381/01, tendo como parâmetro a Política Nacional de Recursos Hídricos (PARÁ, 2001).
Sendo assim, foi possível estabelecer as diretrizes e os princípios básicos para os recursos
hídricos do estado do Pará, como um recurso limitado e um bem público com valor econômico,
a ser gerido em nível de bacias hidrográficas, envolvendo as jurisdições estaduais.
Buscou-se, portanto, neste artigo analisar os instrumentos de gestão da PERH do Pará,
conforme pressupostos da Lei nº 6.381, de 25 de julho de 2001.
É uma pesquisa bibliográfica, por meio de uma revisão de literatura, baseada na análise de
textos publicados na forma de legislações – que envolvam a temática, livros, artigos e literatura
cinzenta, tais como, teses, dissertações, trabalhos apresentados em congressos, relatórios etc.
A seguir serão discutidas as seguintes abordagens, em conformidade com o objetivo pro-
posto: a PNRH; a PERH do Pará; e os instrumentos de gestão da PERH do Pará.
Para que fosse possível a idealização desse cenário foi promulgada a Lei Federal n.º
9.433/97, também conhecida como Lei das Águas, atendendo o inciso XIX do Art. 21 da CF/88,
instituiu a PNRH, onde foi possível estabelecer instrumentos para a Gestão de Recursos Hídricos
de domínio federal, além de criar o SINGREH (BRASIL, 1997; 1988).
Para Wolkmer e Pimmel (2013), este arcabouço legal passa a reconhecer a água como
um bem escasso, dotado de valor econômico. Neste sentido, transita-se da percepção d’água
como bem em abundância na natureza, para a percepção da sua finitude.
Consequentemente, esta lei passa a ter um caráter descentralizador, por criar um sis-
tema nacional que integra União e Estados, e participativo, por inovar com a instalação de
Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs), que une poderes públicos nas três instâncias, usuários
e sociedade civil na gestão de recursos hídricos, a PNRH é considerada uma lei moderna que
criou condições para identificar conflitos pelo uso das águas, por meio dos planos de recursos
hídricos das bacias hidrográficas, e arbitrar conflitos no âmbito administrativo (CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DE MUNICÍPIOS, 2018).
Importante salientar que esta lei deu maior abrangência ao Código das Águas – Decreto
n.º 24.643, de 10 de julho de 1934, que centralizava as decisões sobre gestão de recursos hídri-
cos no setor elétrico. Deste modo, ao estabelecer como fundamento o respeito aos usos múl-
tiplos e como prioridade o abastecimento humano e dessedentação animal em casos de
escassez, a Lei das Águas deu outro passo importante tornando a gestão dos recursos hídricos
democrática (BRASIL, 1934).
Sendo assim, destaca-se também o acompanhamento da evolução da gestão de recursos
hídricos em escala nacional que é realizado pela ANA por meio do Relatório de Conjuntura dos
Recursos Hídricos, atendendo a Resolução n.º 58, de 30 de janeiro de 2006, do Conselho
Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, que a cada quatro anos faz um balanço da implementa-
ção dos instrumentos de gestão, dos avanços institucionais do sistema e da conjuntura dos
recursos hídricos no país.
Para a execução da PNRH e implementação do SINGREH faz-se necessário a implementa-
ção dos instrumentos voltados para a Gestão de Recursos Hídricos, especificados no art. 5º da
Lei n.º 9.433/97, detalhados a seguir: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento
dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; (iii) a outorga dos
direitos de uso de recursos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compen-
sação a municípios; e (vi) o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
tanto recursos hídricos utilitários”. Salienta ainda que por meio do § 3° do art. 267 “compete
aos órgãos estaduais de controle ambiental e de administração de recursos hídricos a outorga
de direito que possa influir na qualidade ou quantidade das águas estaduais” (PARÁ, 1989).
Neste cenário, com base nas diretrizes da PNRH, instituiu-se a PERH do Pará, mediante a
promulgação da Lei Estadual 6.381/01. Esta lei, a partir de então, definiu instrumentos volta-
dos para a gestão dos recursos hídricos, além de conceber o Conselho Estadual de Recursos
Hídricos-CERH, como órgão consultivo e deliberativo (PARÁ, 2001).
Por meio desta Lei, foi possível estabelecer diretrizes e políticas públicas no estado do
Pará voltadas para a melhoria da oferta de água, em quantidade e qualidade, além de geren-
ciar as demandas. Salienta-se ainda que para o alcance dos objetivos, estabeleceu-se, con-
forme art. 4º da PERH, sete instrumentos com a finalidade de estimular o uso racional da água
e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação das bacias hidro-
gráficas, sendo: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de água em
classes, segundo os usos preponderantes; (iii) a outorga dos direitos de uso de recursos hídri-
cos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compensação aos Municípios; (vi) o
Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos; e (vii) a capacitação, desenvolvi-
mento tecnológico e educação ambiental (PARÁ, 2001).
Em relação ao SEGRH-PA, integrado ao SINGREH, é o conjunto de órgãos e colegiados
que concebe e implementa a PERH, compondo-se pelo(a): (i) o CERH; (ii) o órgão gestor dos
recursos hídricos, instituído na forma da lei; (iii) os CBHs; (iv) as Agências de Bacias; e (v) os
órgãos dos Poderes Públicos estaduais e municipais, cujas competências se relacionam com a
gestão de Recursos Hídricos (PARÁ, 2001).
A integração dos órgãos e colegiados do SEGRH-PA têm como finalidade promover a
PERH, para que assim possa haver fortalecimento da mesma, visto que sua estrutura é capaz
de abarcar toda a complexidade da questão hídrica por meio de ações compartilhadas entre os
usuários de água, sociedade civil e governos das esferas federal, estadual e municipal, que se
encontram inseridos nos componentes do mesmo.
No que diz respeito ao CERH/PA, foi instituído por meio do art. 42 da Lei Estadual nº
6.381/01, que trata da composição do SEGRH no estado (ANA, 2019b). A Resolução CERH nº
17/2018, publicada no DOE nº 33.760, de 14 de dezembro de 2018, define o Regimento Interno
do conselho.
Salienta-se que o CERH-PA é o órgão colegiado, consultivo, deliberativo e normativo vin-
culado ao Órgão Gestor da PERH do Pará, integrante do Sistema Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos – SISEMA (SEMAS, 2018).
Outro ponto de destaque, é que a partir da vigência da Lei Estadual nº 7.026/07, a
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM), criada pela Lei no
5.457/88, e reorganizada pela Lei nº 5.752/93, é transformada em Secretaria de Estado de
Meio Ambiente (SEMA) e com a assinatura do Decreto nº 746, no dia 27 de dezembro do
mesmo ano, a gestão recursos hídricos ganhou maior importância, pois na ocasião criou-se a
Diretoria de Recursos Hídricos como parte integrante da estrutura organizacional da então
Secretaria de Estado de Meio Ambiente (RELATÓRIO PROGESTÃO NO PARÁ, 2019).
Posteriormente, em 1º janeiro de 2015, o Governo do Estado do Pará adotou uma nova
estrutura administrativa e, entre as mudanças expressas na Lei Estadual n° 8.096, a referida
Diretoria passou a ser denominada Diretoria de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos
(DIREH), vinculada à Secretaria Adjunta de Gestão de Recursos Hídricos.
A DIREH é composta atualmente por duas coordenações: a Coordenadoria de Regulação
(COR), que abrange a Gerência de Cadastro e Cobrança (GECAD) e a Gerência de Outorga
(GEOUT); e a Coordenadoria de Planejamento e Apoio à Gestão de Recursos Hídricos (CIP), com
três gerências: Gerência de Apoio e Gestão Participativa (GEAP), Gerência do Sistema de
Informações sobre Recursos Hídricos (GESIR) e Gerência de Planos e Enquadramento (GEPLEN).
Sendo assim, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) é o órgão gestor, exe-
cutivo e fiscalizador da PERH do Pará (SEMAS, 2021).
Quanto aos CBHs, o estado do Pará instituiu o primeiro CBH do rio Marapanim, conforme
Decreto nº 288/19. A área de atuação do CBH-RM no estado compreende os limites geográfi-
cos da bacia hidrográfica do rio Marapanim, com abrangência de 12 municípios, todos localiza-
dos na Unidade Hidrográfica da Costa Atlântica Nordeste (SEMAS, 2019). Atualmente, em
setembro de 15 de setembro de 2021, ocorreu a posse da primeira diretoria do CBH do Rio
Marapanim para o biênio 2021/2023 (UFPA, 2021).
Importante salientar também que o Pará está dividido em 26 Unidades Estaduais de Gestão
de Recursos Hídricos (UEGRHs). Para Ferreira (2008), essas unidades estaduais têm como princi-
pal finalidade a definição de modelos institucionais para implementação dos instrumentos de
gestão de recursos hídricos visando ações de gestão e gerenciamento por bacias hidrográficas.
Por fim, a partir desse cenário, conclui-se que a PERH-PA representa uma normatização
de planejamento de recursos hídricos, dotado de fundamentos e instrumentos para o alcance
de metas e objetivos estabelecidos.
“poderão receber compensação financeira ou de outro tipo os municípios que tenham áreas
inundadas por reservatórios, ou sujeitas a restrições de uso do solo com finalidade de proteção
de recursos hídricos” (BRASIL, 1997).
Deste modo, em relação ao veto, o mecanismo compensatório aos municípios não encon-
tra apoio na CF/88. Contudo, a compensação continua sendo um instrumento da Lei das Águas,
mas não pode ser efetivado enquanto não forem desbancados os motivos do veto.
Destaca-se que na no art. 29 da Lei Estadual 6.381/01, poderão ser estabelecidos meca-
nismos compensatórios aos municípios, mediante lei específica (PARÁ, 2001).
A Lei Estadual 6.381/01 além de estabelecer instrumentos para a gestão de recursos
hídricos já previstos na Lei das Águas, instituiu ainda a Capacitação, Desenvolvimento
Tecnológico e Educação Ambiental.
A seguir detalhar-se-á os instrumentos para a gestão hídrica no Estado do Pará.
tempo. A análise deve considerar três aspectos principais: o rio que temos; o rio que queremos;
e o rio que podemos ter.
Na PERH do Pará, o enquadramento é um dos instrumentos, cujo detalhamento se dá
pelo art. 9º. O parágrafo único desta seção salienta que as propostas de classificação e enqua-
dramento devem considerar as peculiaridades e especificidades dos ambientes amazônicos
(PARÁ, 2001).
Para Costa et al. (2020) o estado do Pará não possui nenhum rio enquadrado, sendo
desta forma todas as águas enquadradas como classe 2, conforme orientações da Resolução
CONAMA n.º 357/05.
Conforme exposto, dos sete instrumentos que estão dispostos na PERH do Pará, a
Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos é o único instrumento implantado, por meio
da Resolução do CERH nº 003, de 03 de setembro de 2008. No território paraense existem rios
de domínio do Estado do Pará e rios de domínio da União. Para os rios de domínio do estado
do Pará, bem como para as águas subterrâneas, a outorga é emitida pela SEMAS e nos rios de
domínio da União as outorgas são emitidas pela ANA (COSTA et al., 2020).
(I) reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;
(II) incentivar a racionalização do uso da água; e (III) obter recursos financeiros para o financia-
mento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
Dessa forma, poderão ser cobrados os usos sujeitos à Outorga de Direito de Uso de
Recursos Hídricos, com isso, instituiu-se no Brasil a vinculação formal entre o instrumento eco-
nômico (Cobrança pelo Uso) e o instrumento de regulação ou de comando (outorga), além da
integração desses com os Planos de Recursos Hídricos, responsáveis por definirem as priorida-
des de uso e o enquadramento dos corpos d’água em classes relativas aos usos preponderan-
tes (ANA, 2014).
Para Costa et al. (2020), a cobrança pelo uso dos recursos hídricos enquanto instrumento
da Lei Estadual n.º 6.381/01 ainda não foi implementada no estado do Pará. Para a SEMAS
(2012), a cobrança seria uma alternativa para reverter aos municípios, em benefícios, os ônus
gerados por empreendimentos que impactam diretamente sobre os recursos hídricos, consi-
derando que a legislação prevê que os recursos arrecadados devem ser inseridos prioritaria-
mente na bacia hidrográfica onde foi gerado.
Importante destacar que por meio da Lei Estadual n.º 8.091/14, instituiu-se a Taxa de
Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Exploração e Aproveitamento de
Recursos Hídricos – TFRH (PARÁ, 2014). Contudo, há distinção entre esta taxa e a cobrança ins-
tituída na Lei Estadual n.º 6.381/01.
A taxa não é um instrumento correspondente à cobrança pelo uso dos recursos hídricos,
e a taxa não garante necessariamente que os valores arrecadados voltem para a gestão de
recursos hídricos, o que se prevê no instrumento da cobrança é que o recurso retorne prefe-
rencialmente para a bacia hidrográfica onde ele foi gerado (COSTA et al., 2020).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da PNRH surge um novo panorama da gestão dos recursos hídricos no país, pro-
porcionando usos múltiplos das águas, de forma descentralizada e participativa, contando com
a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
Nas mesmas prerrogativas da PNRH, o estado do Pará instituiu sua PERH e criou o SEGRH,
sendo possível estabelecer as diretrizes e os princípios básicos para os recursos hídricos de
domínio estadual, como um recurso limitado e um bem público com valor econômico, a ser
gerido em nível de bacias hidrográficas, envolvendo as jurisdições estaduais.
Para implementar essa política estadual, instituíram-se instrumentos para a gestão de
recursos hídricos, sendo: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de
água em classes, segundo os usos preponderantes; (iii) a outorga dos direitos de uso de recur-
sos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) a compensação aos Municípios;
(vi) o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos; e (vii) a capacitação, desenvol-
vimento tecnológico e educação ambiental.
Estes instrumentos de gestão garantem a aplicação concreta da PERH do Pará, considerando
que não há como planejar a proteção do meio ambiente, sobretudo a proteção dos recursos hídri-
cos, se não for de forma integrada e com a cooperação e participação dos seus usuários.
Ao decorrer do estudo é possível identificar as lacunas e dificuldades encontradas na
implementação destes instrumentos de gestão hídrica da PERH-PA, considerando os percalços
institucionais e políticos do estado do Pará. Este cenário faz com que careça com mais discus-
sões que visem subsidiar outras pesquisas e que sirvam de base para a compreensão da imple-
mentação dessa política, relativamente nova, para o entendimento das demandas existentes,
cujo intuito e fortalecer os CBHs do estado.
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2021. Disponível em: https://bit.ly/3o1tdgC. Acesso em: 13 de setembro de 2021.
______. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS. Gestão das águas: por um
futuro sem sede. Belém: SEMA, 2010. 26p.
______. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS. Lei Estadual nº 5.752, de
26 de julho de 1993 (alterada pelas Leis Estaduais: lei nº 7.026, de 2007, Lei nº 8.096, de 2015 e Lei nº
8.633, de 2018). Dispõe sobre a reorganização e cria cargos na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Sustentabilidade – SEMAS e dá outras providências. 2019a. Disponível em: https://bit.ly/32TbzQx. Acesso em:
22 de setembro de 2021.
______. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS. Pará institui o primeiro Comitê
de Bacia Hidrográfica. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3ewqcOZ. Acesso em: 17 de abril de 2021.
Resumo: O trabalho objetivou analisar a bacia hidrográfica do Rio dos Mangues, localizada no
município de Porto Seguro – Bahia, no que se refere aos usos da terra e suas ocupações em áreas
naturais e antrópicas entre os anos de 1990 e 2018, correlacionando-as com a legislação ambien-
tal pertinente. Foi utilizado o banco de dados de mapeamento do Fórum Florestal da Bahia, dispo-
nibilizado gratuitamente em formato vetorial. Os mapeamentos foram segmentados para a área
de estudo e padronizados quanto as categoriais existentes e analisados de forma quantitativa para
cada ano, além de enquadrá-los com legislações que dispõem sobre preservação, recuperação,
conservação e regularização ambiental. Os resultados demonstram um crescimento da expansão
urbana sobre áreas florestais, a inserção de áreas de agricultura e eucalipto em substituição às
áreas de pastagem. As taxas de áreas antrópicas são superiores às áreas naturais tanto em 1990
quanto em 2018. As atividades realizadas no interior da bacia devem observar a inserção de legis-
lações para regularização dos imóveis rurais, manutenção de áreas de preservação permanente,
reserva legal e licenciamento ambiental, visando a gestão eficiente dos recursos hídricos.
Palavras-chave: Gestão Hídrica; Uso do Solo; Mata Atlântica, Ações Antrópicas; Legislação
Ambiental.
Abstract: This study evaluates the river basin of Rio dos Mangues, located in the Porto Seguro city
– Bahia, the relations the landuse and its occupations in natural and anthropic areas between 1990
and 2018, correlating them as relevant environmental legislation. It was used the mapping data
from the Forum Florestal da Bahia, available free of charge in vector format. The maps its was seg-
mented for the study area and standardized as existing categories and quantitatively analyzed for
each year. In addition its was analyzed regulations that provide for preservation, recovery, conser-
vation and environmental regularization. The results demonstrate a growth of urban expansion
over forest areas, the insertion of areas of agriculture and eucalyptus in substitution of areas of
1 Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB – Campus Sosígenes Costa – Porto Seguro. E-mail: carollufsb2016@gmailcom
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA Campus – Porto Seguro. E-mail: allisongoncalves@
ifba.edu.br
3 Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB – Campus Sosígenes Costa – Porto Seguro. E-mail: elfany@csc.ufsb.edu.br
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USO DO SOLO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS MANGUES 1183
pasture. The of anthropic areas are superior to natural areas both in 1990 and in 2018. Activities
carried must observe the insertion of legislation for the regularization of rural areas, maintenance
of permanent preservation areas, legal reserve and environmental license, endorsing efficient
management of water resources.
Keywords: Water Management; Landuse; Atlantic Forest, Anthrophic Actions; Environmental
Legislation.
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas as discussões sobre a preocupação ambiental a nível nacional e
internacional vem crescendo e conquistando espaços de relevante interesse político e social.
Crises de abastecimento de água apontam para a escassez e a poluição dos recursos hídricos,
sendo este um dos problemas a desafiar os gestores no enfrentamento e busca por soluções.
Em uma sociedade onde a procura e demanda pela água está sempre em crescimento, o resul-
tado são conflitos entre setores e usuários, e as suas mais diversas formas de uso.
A Constituição da República Federativa do Brasil, apresenta no artigo 225 que, “Todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Assim, são
necessárias a garantia do atendimento dos múltiplos usos desse recurso, de forma segura e
adequada, com condições a suprir as necessidades das atuais e futuras gerações.
A água é um recurso natural considerado um indicador de qualidade ambiental, suas
alterações variam de acordo com as características de sua bacia hidrográfica (FOLETO, 2018).
Na Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e na Política Nacional dos Recursos Hídricos
(PNRH) se efetiva a integração de instrumentos de ordenamento territorial e recursos hídricos.
Porém, para que haja eficácia nas políticas nacionais, se faz necessário a eficiência em políticas
estaduais e municipais, que completam e especificam quais as melhores políticas de uso dos
recursos hídricos e planejamento e gestão da bacia hidrográfica (PEIXOTO; SILVEIRA, 2017).
Uma bacia hidrográfica é uma área em determinado território que apresenta vários
afluentes, com drenagem para um rio principal. Sua formação ocorre nas áreas de maior relevo
por divisores de água, por onde as águas das chuvas escoam por sua superfície, formando os
rios e riachos ou armazenadas no subsolo formando nascentes e compondo lençóis freáticos e
aquíferos. Essas águas terão um mesmo destino de descarga, chamada de foz ou exutório, que
estão localizadas na parte mais baixa da região (ANA, 2011).
Diante deste contexto, uma gestão efetiva é necessário integrar e considerar os aspectos
ecológicos, geográficos, físicos, sociais e econômicos que estão envolvidos na área da bacia
hidrográfica. Porém, percebe-se que mesmo compreendendo a importância da conservação
dos recursos hídricos, ações antrópicas comprometem e cooperam para alterações de cursos
d’água, interferem em sua disponibilidade e qualidade, fazendo com que o cenário de degrada-
ção torne-se ainda mais preocupante (SILVA, 2003; CARVALHO, 2020).
2 METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A bacia Hidrográfica do Rio dos Mangues-BHRM possui uma área total de 3511,76 ha e
está localizada no município de Porto Seguro, no Sul do Estado da Bahia, no nordeste brasileiro
(figura 1), com coordenadas 16º22’37” de latitude Sul e 39º9’36” de longitude Oeste, com sua
nascente do canal principal e foz dentro dos limites territoriais do próprio município.
Fonte: Autoria.
A bacia hidrográfica do Rio dos Mangues encontra-se inserida no bioma Mata Atlântica,
que possui condições de hotspot em biodiversidade, com nascente dentro de uma unidade de
conservação, área da Reserva Particular do Patrimônio Natural – Estação Veracel.
Porto Seguro limita-se ao norte com o município de Santa Cruz Cabrália, ao oeste com os
municípios de Eunápolis e Itabela, ao sul com o município de Itamaraju e a leste com o Oceano
Atlântico. Com uma distância de 701 Km da capital, cidade de Salvador, o município está inse-
rido no território de identidade Costa do Descobrimento. A cidade possui uma área de 2.408,50
Km², com uma população estimada em 152.529 habitantes, com densidade geográfica de 52,70
(IBGE, 2021; SEI, 2014). Por estar localizada em uma região litorânea, a cidade de Porto Seguro
tem como sua principal atividade econômica o turismo, com forte para agricultura, pecuária,
pesca, silvicultura e comércio de artesanato.
Áreas de Preservação Permanente (APP), de Reserva Legal (RL) e trata sobre o Cadastro
Ambiental Rural (CAR). As Resoluções CONAMA nº01/86 e nº237/97 que norteiam sobre a ava-
liação de impacto ambiental e licenciamentos das atividades potencialmente poluidoras, sendo
também instrumento de gestão da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Por fim, tam-
bém se considerou uma análise em função da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que orienta a gestão das águas no Brasil, para a constru-
ção de um amplo processo de mobilização e participação social como forma de gestão.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 2 e na Tabela 1 encontram-se a distribuição espacial e quantitativa de uso e
ocupação do solo da área em estudo para o ano de 1990. A matriz da paisagem é a pastagem
com uma ocupação de 50,2%. Devido a região apresentar grandes características rurais, com
criações de animais, em sua maioria criação bovina utilizado de forma extensiva, sem controle
dos dejetos que são gerados, o que contribui significativamente para impactos ambientais.
Figura 2 – Uso do solo e cobertura vegetal da Bacia Hidrográfica do Rio dos Mangues, em 1990
A bacia hidrográfica possui, em função das ações antrópicas, um total de 56,5% do total
das áreas, restando 43,5% de áreas naturais, representada exclusivamente pela classe “área
florestal”. As atividades antrópicas são caracterizadas pelas classes de área degradada, com
5,0%, reflexo de locais com solo exposto, abandonada ou em processo de desmatamento. A
classe mineração corresponde a um total de 0,7% da área total da bacia. A área urbana possui
baixa densidade, equivalente 0,5%, reforçando a característica de que a bacia é predominante-
mente rural. Por fim, a classe silvicultura ocupou a menor taxa de área antrópica, equivalente
a 0,2% e representa uma das formas de manejo produtivo do solo.
No ano de 2018 a área total da bacia do Rio dos Mangues apresenta o incremento de
duas novas categorias, reflexo do desenvolvimento regional e das modificações de uso da pai-
sagem ao longo do tempo. Na Figura 3 e a Tabela 2 encontra-se a distribuição espacial e quan-
titativa das classes de uso e ocupação do solo da área em estudo para o referido ano.
Figura 3 – Uso do solo e cobertura vegetal da Bacia Hidrográfica do Rio dos Mangues, em 2018
quais ações devem ser aplicadas para uso dos recursos, sem prejuízos aos ecossistemas desta
floresta. Uma das ações que norteiam a aplicação da Lei da Mata Atlântica é o desenvolvi-
mento do Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), que
no município de Porto Seguro teve o seu último exemplar desenvolvido no ano de 2014 onde
consta as ações prioritárias a serem tomadas, e aponta quais áreas estão destinadas para a
conservação e recuperação da vegetação nativa e da biodiversidade da Mata Atlântica
(BRASIL, 2006).
Segundo o PMMA, o município possuía em 2014 cerca de 40% de todo o seu território
coberto por Mata Atlântica, alcançando o percentual de 46% quando incluídos as áreas de
manguezais, restinga e comunidades aluviais. Cerca de 1 ⁄ 3 dessas áreas apresentam um bom
estado de conservação das florestas primárias ou possuem um estágio avançado de regenera-
ção, estando essas áreas em quase sua totalidade protegida por parques nacionais de conser-
vação. Além disso, o Plano aponta que o município possui um enorme crescimento em expansão
urbana e de atividades agropecuárias, causando assim uma pressão sobre a vegetação nativa,
pressionando os remanescentes de Mata Atlântica, mesmo essa sendo uma prática proibida
pela Lei da Mata Atlântica, em desmatar áreas de florestas primárias e em estágio médio e
avançado de regeneração.
Como consequência da expansão urbana e atividades agropecuárias, um ponto percep-
tível observado na bacia aponta que houve um crescimento de áreas com ocupação urbana e
pastagem sob áreas antes ocupadas por florestas nativas entre os anos de 1990 e 2018,
demonstrando uma falha no cumprimento pelo proposto na Lei da Mata Atlântica. Esse con-
flito entre o crescimento urbano e áreas naturais, alerta sobre os impactos que podem ser
agravados em danos já existentes na bacia, como a deposição incorreta de resíduos domésti-
cos, presença de materiais de construção e novas moradias em áreas recém-desmatadas.
Com relação ao Código Florestal Brasileiro, o fato da bacia hidrográfica apresentar-se em
área rural, a existência dos imóveis exige a regularização conforme os preceitos do Cadastro
Ambiental Rural (CAR) para que se tenha o conhecimento e a garantia da conservação dos
recursos em áreas privadas. De igual forma, a mesma Lei ainda prevê a manutenção e regula-
rização das Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). Dados do ano de
2020 apontam que, o município apresentava 116.247,14 ha de área total de Mata Atlântica,
com 2.950,84 ha de remanescentes florestais em área de preservação permanente (APP) e
226,77 ha de remanescentes florestais em reserva legal (RL) (SOS MATA ATLÂNTICA, 2020).
Analisando o mapa de uso da terra observa-se que a drenagem da bacia está associada
com atividades antrópicas desenvolvidas. O desenvolvimento de atividades de agricultura e
pecuária contribuem diretamente em impactos ambientais danosos com severas consequên-
cias. O mau uso dos recursos naturais podem influenciar diretamente na disponibilidade desse
bem, como por exemplo a água e, sendo a bacia hidrográfica do Rio dos Mangues um compar-
timento hídrico, a adequação das propriedades que possuem cursos d’água, incluindo os prin-
cipais afluentes é essencial para a gestão ambiental efetiva (BRASIL, 2012).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados alcançados compreende-se que o território da bacia hidrográfica é
predominantemente antrópica, com aumento significativo em área com ocupação urbana, sal-
tando de 0,5% para 14,3%. Já em áreas de pastagem houve uma queda de 50,2% para 36,9,
cedendo lugar para áreas de agricultura e silvicultura. A descentralização administrativa e o
desenvolvimento de instrumentos de aplicação de impacto local reforçam a importância de
considerar a atuação de órgãos de planejamento e gestão ambiental, e a ação dos Comitês de
Bacias Hidrográficas, buscando promover a inclusão, integração e colaboração dos indivíduos
sociais a compreender em dimensão de território as questões que envolvem as bacias e seus
recursos hídricos em diferentes escalas de planejamento.
5 AGRADECIMENTOS
Registramos nossos agradecimentos a Suzano S.A. por sua colaboração e fomento finan-
ceiro de bolsa de iniciação científica, a fim de contribuir para com o conhecimento social e
científico.
6 REFERÊNCIAS
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