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http://www.outraspalavras.net/2011/03/02/os-ventos-da-mudanca/
Outras Palavras
Comunicação compartilhada e Pós-capitalismo – EM MUDANÇAS!
“Os ventos da mudança estão soprando neste continente, e o crescimento da consciência nacional é
um fato político, queiramos ou não. Precisamos enxergá-lo assim, e nossas políticas nacionais não
podem ignorá-lo”.
O primeiro-ministro da África do Sul, Hendrik Verwoerd, não gostou da fala e rejeitou suas
premissas e conselhos. 1960 tornou-se conhecido como “O ano da África”, porque dezesseis
colônias tornaram-se independentes. O discurso de Macillan tinha como alvo, na verdade, os
Estados do Sul da África que tinham grupos expressivos de colonizadores brancos (e, quase sempre,
enormes riquezas minerais) e resistiam à simples ideia do sufrágio universal – porque os negros
constituiriam a esmagadora maioria dos eleitores.
Macmillan não era um radical. Seu argumento incluía-se na estratégia de atrair as populações
asiáticas e africanas para o lado do Ocidente, na Guerra Fria. Seu discurso era um sinal de que os
líderes da Grã-Bretanha (e, em seguida, os dos Estados Unidos) viam o controle das eleições pelos
brancos, nos Sul da África, como uma causa perdida, que poderia comprometer o Ocidente. O vento
seguiu soprando, e num país após o outro as maiorias negras impuseram-se eleitoralmente, até que,
em 1994, a própria África do Sul sucumbiu ao voto universal e elegeu Nelson Mandela presidente.
Neste processo, porém, os interesses econômicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos foram de
algum modo preservados.
Há duas lições que podemos aprender do episódio. Primeira: os ventos da mudança são muito fortes
e provavelmente irresistíveis. Segunda: quando os ventos varrem os símbolos da tirania, não se sabe
o que virá a seguir. Quando os símbolos caem, todos os denunciam. Mas todos querem preservar
seus próprios interesses, nas novas estruturas que emergem.
A segunda revolta árabe, que começou na Tunísia e no Egito, está contagiando mais países. Não há
dúvida de que alguns baluartes da tirania cairão, ou aceitarão grandes modificações em suas
estruturas estatais. Mas quem, então, ocupará o poder? Na Tunísia e Egito, os novos primeiros-
ministros haviam sido figuras-chaves, nos regimes derrubados. E o exército, em ambos países,
parece estar dizendo às multidões para encerrarem os protestos. Nos dois países, há exilados que
retornam, assumem postos e procuram manter – ou mesmo expandir – os laços com os mesmos
países da Europa e América do Norte que sustentavam as ditaduras. É claro que as forças populares
resistem: enquanto escrevo este artigo, acabam de forçar a renúncia do primeiro-ministro tunisiano.
Algumas coisas são diferentes, hoje. Os ventos da mudança são verdadeiramente planetários. Por
enquanto, o epicentro é o Mundo Árabe, e os ventos sopram ferozes por lá. Ninguém duvide: a
geopolítica da região nunca será a mesma. Os pontos-chaves a observar são Arábia Saudita e
Palestina. Se a monarquia saudita for seriamente desafiada – e parece ao menos possível que isso
ocorra – nenhum regime do Mundo árabe poderá sentir-se seguro. E se os ventos da mudança
levarem as duas maiores forças políticas da Palestina a dar as mãos, até mesmo Israel sentirá que é
preciso adaptar-se às novas realidades e levar em conta a consciência nacional palestina. Queira ou
não queira, para parafrasear Harold Macmillan.
Não é necessário dizer que os Estados Unidos e a Europa Ocidentel estão fazendo tudo o que está
em seu alcance para enquadrar, limitar e redirecionar os ventos da mudança. Mas seu poder já não é
o mesmo. E os ventos da mudança estão soprando em seu próprio terreiro. É o jeito de ser dos
ventos. Sua direção e intensidade não são constantes nem, portanto, previsíveis. Desta vez eles são
muito fortes. Já não será fácil enquadrá-los, limitá-los ou redirecioná-los.
Há bons textos sobre a vida e obra do sociólogo Immanuel Wallerstein na Wikipedia (português,
inglês)