Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AVALIAÇÃO SISTÊMICA
RESUMO
As mudanças ocorridas no Brasil com a abertura comercial favoreceram o processo de
modernização e a reorganização das atividades econômicas brasileiras, reforçando a
necessidade de minimizar custos, gerar economias externas, e uma série de fatores para
maximizar eficiência e competitividade, exigindo, assim, maior qualificação de setores como
o agronegócio, que expandiu no mercado mundial depois de iniciadas essas transformações.
Por ser de extrema importância para mercado mundial de commodities e, visto que
desempenha papel relevante no processo de geração de divisas no balanço de pagamentos
brasileiro, o complexo soja exige uma constante avaliação em nível nacional e em relação ao
mercado externo. Nesse trabalho, avaliou-se a competitividade da cadeia produtiva da soja
mensurando o potencial de ampliação da participação do Brasil no mercado externo de soja e
derivados, através de indicadores de desempenho selecionados. Aliada à análise quantitativa
via indicadores optou-se por avaliar qualitativamente a competitividade do setor verificando,
também, a contribuição de cada segmento para o sucesso da cadeia produtiva da soja, através
dos direcionadores de eficiência, através de um levantamento primário realizado via contato
com produtores, federações e sindicatos ligados ao setor sojícola. A observação de diferentes
elementos constitutivos da cadeia agroindustrial da soja nos principais estados produtores
evidenciou a existência de um importante conjunto de fatores que influem positiva ou
negativamente, em variados graus, na eficiência do setor. A análise dos direcionadores
descritos na metodologia foi realizada com o intuito de verificar a contribuição de cada
segmento para a cadeia produtiva da soja. Os dados obtidos nas entrevistas foram tabulados e
analisados graficamente.
PALAVRAS - CHAVE: Competitividade, indicadores e direcionadores de eficiência.
1. INTRODUÇÃO
Em fins da década de 80 e início da de 90, o Brasil sofreu diversas mudanças de
ordem econômica, destacando-se, dentre elas, a abertura comercial, quando o governo adotou
um processo de liberalização do comércio, limitando as tarifas, eliminando ou reduzindo as
restrições quantitativas e removendo / retraindo taxas às exportações. Essa abertura da
economia nacional à competição internacional favoreceu o processo de modernização,
levando à reorganização das atividades econômicas brasileiras, de modo que apenas as que
fossem comercialmente competitivas continuassem no mercado. Fez-se necessária, então, a
minimização dos custos, maior acesso aos mercados, geração de economias externas, e uma
série de fatores para maximizar eficiência e a competitividade.
Atualmente, os mercados agroindustriais possuem uma das estruturas mais
competitivas da economia nacional. De acordo com o Instituto de Economia Agrícola IEA, o
agronegócio brasileiro responde, atualmente por cerca de 28% do Produto Interno Bruto e
34% das exportações nacionais, sendo, portanto, um dos elementos base para a sustentação da
economia do país.
O mercado internacional de soja e derivados é um dos mais expressivos no contexto
do agronegócio mundial. Segundo dados explicitados na tabela abaixo, tomando-se por base a
balança comercial do agronegócio, a contribuição do complexo soja1 para as exportações
representa cerca de 23,27% na média do período de 1997 a 2001. Portanto, quase um quarto
das exportações do complexo das cadeias agropecuárias deve-se à exportação do grão soja e
seus derivados. A combinação de competitividade externa, aliada à situação interna, exige a
1
Embora existam distinções conceituais importantes entre os termos, nesta pesquisa, “complexo soja” e “cadeia
produtiva da soja e derivados” serão utilizados como definições aproximadas.
1
crescente busca de vantagens comparativas por parte dos setores e empresas participantes da
cadeia da soja, e de políticas que garantam suporte e incentivo para sua capacitação produtiva.
Tabela 1 - Valor das Exportações do Complexo Soja - Produtos Agropecuários e total no Brasil –
US$ Milhões (FOB)
Participação média
País 1997/98 1998/99 1999/00 2000/011 2001/022 Média (%)
Estados Unidos 73,18 74,60 72,22 75,06 78,67 74,75 46,30
Brasil 32,50 31,30 34,20 39,00 43,50 36,10 20,56
Argentina 19,50 20,00 21,20 27,80 29,50 23,60 12,34
China 14,73 15,15 15,40 15,40 15,45 15,43 9,32
Outros 18,16 18,77 16,88 17,84 16,72 17,67 11,49
Total 158,07 159,82 159,90 175,10 183,84 167,35 100,00
1
Dados Preliminares
2
Estimativa de Junho de 2002
Fonte: OILSEEDS (1998/2002)
Passados seis anos, na safra de 2001/02, as exportações globais passaram a 55,96
milhões de toneladas, um crescimento de 73%. Os Estados Unidos, ainda o maior país
produtor, tiveram significativa redução em sua participação no mercado, passando a responder
por 51,8% do total exportado mundialmente. A fatia de mercado perdida pelos Estados
Unidos foi conquistada pelos seus dois principais concorrentes, Brasil e Argentina. O Brasil
passou a ter participação de 27,3% e a Argentina, de 11,8%, nas exportações mundiais.
Ambos mais do que dobraram sua presença naquele curto intervalo. Esses dados mostram que
na busca de maior inserção internacional, o Brasil seguido pela Argentina, está rapidamente
conquistando parte do mercado à medida que expandem suas áreas de produção e
desenvolvem uma eficiente tecnologia de produção.
2
A China, quarto maior produtor mundial, não aparece no ranking de exportações. O
país não só consome toda a produção como também aparece em posição de destaque entre os
países importadores.
No âmbito das importações, o destaque fica com a União Européia (UE), que responde
me média, por 37,34% do total de 48,38 milhões de toneladas importadas em nível mundial.
Os principais compradores da soja brasileira são Holanda, China, Alemanha e a Espanha. Este
bloco utiliza a soja para a produção de ração animal, uma vez que é um dos principais
produtores de suínos, aves e bovinos em termos mundiais. Os chineses desde a origem da
soja, que é uma das culturas mais antigas, consideram-na muito importante na dieta alimentar
e no passado, segundo a tradição chinesa, a consideravam um grão sagrado cultuado pela
população.
Impulsionada pela expansão da demanda, principalmente internacional, a lavoura de
soja brasileira começou a se expandir mais nos fins da década de 70, concentrando-se a
princípio na região Centro-Sul, onde a cultura encontrou efetivas condições de para se
desenvolver e expandir, dadas as semelhanças climáticas com o sul dos Estados Unidos, para
onde a soja migrara antes no início do século passado. Um dos fatores que colaborou com a
vinda da soja para o Rio Grande do Sul foi a frustração da safra de grãos da Rússia e da
China, assim como da pesca de anchova no Peru, cuja farinha era utilizada como componente
protéico na fabricação de rações para animais onde os fabricantes do produto passaram a
utilizar o farelo de soja.
Apesar da primeira crise do petróleo em 1973, como o Brasil ainda estava sob o efeito
do “milagre econômico”, o governo mudou as bases da política industrial brasileira, ao
mesmo tempo em que enfatizava a necessidade de modernização do setor agrícola e a abertura
de novas fronteiras.
A soja, portanto, que já tinha potencial no mercado internacional, passou a receber
mais crédito, mais pesquisas e infra-estrutura. E através de políticas do governo, o país que
até então era dependente do trigo, tornou-se auto-suficiente nesse cereal, beneficiando mais
uma vez a soja, que, no verão, era freqüentemente utilizada como cultura de rotação com o
trigo, usufruindo a mesma área, do mesmo maquinário e a mão-de-obra além da estrutura
corporativista montada em torno daquele cereal.
A soja tem sido destaque da pauta brasileira de exportações globais nos últimos anos.
Dados do Agrianual (2003) mostram que em 2001, as exportações do complexo soja
responderam por 9,1% das exportações totais de US$58,22 bilhões e por 41,1% das vendas
externas do agronegócio, que somaram US$23,958 bilhões.
Os destinos do complexo soja brasileiro são os mesmos dos países concorrentes: são
principalmente a Europa e países asiáticos, como mostra os dados da Tabela 3.
3
18
15
12
9
6
3
0
97/98 98/99 99/00 00/01 001/02
2
Maiores informações podem ser encontradas junto a SEBRAE, 2000.
3
Essa foi a opção da pesquisa. A base da escala (direcionadores e subfatores) foi escolhida tendo por referência
trabalhos já publicados para as cadeias agroindustriais desenvolvidos pelo SEBRAE Nacional.
4
Conforme ressaltado por SILVA e BATALHA (1999), “..a rigor, o uso de escalas como a aqui adotada,
permite, tão somente, o ordenamento e classificação relativa da intensidade dos subfatores analisados, não
sendo totalmente apropriado o tratamento quantitativo dos valores atribuídos. No entanto...é prática usual nas
Ciências Sociais a suposição que medidas ordinais, como a aqui proposta, são aproximações de intervalos
iguais de medição”. Os mesmos autores citam trabalhos que dão suporte conceitual e empregam procedimentos
similares ao seguido nesta avaliação.
9
n
Y = ∑ ZiWi (1)
i =1
Em que:
Y= avaliação final do direcionador;
Zi= avaliação dada ao subfator i;
Wi= peso atribuído ao subfator i;
n = número de subfatores constituintes do direcionador;
X
I 1
=
W
(1)
em que:
X = exportações totais da atividade;
W = faturamento total atividade.
Pi
I3 = (3)
Dj
em que:
Pi = produção da região/município analisado;
Dj = demanda interna total.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1. Tecnologia
11
acessível a todos que se interessam por fazer uso da mesma. De acordo com a pesquisa
realizada, cerca de 20% dos produtores não a utilizam por motivos diversos.
3.2. Insumos
Grande parte dos insumos é obtida na região Sudeste, sendo os demais oriundos do
Centro-Oeste, exterior e da região Sul (Figura 2) e cerca de 90% são adquiridos diretamente
do fornecedor. A proximidade dos fornecedores com as regiões produtoras e a favorável
disponibilidade dos insumos, favorece a competitividade da soja no mercado nacional e
internacional, ao reduzir custos, pelo menos nessa fase da produção. Esse fato, de redução de
custos, não se verifica quando se analisa a questão da logística de suprimentos e transporte,
onde se constata a debilidade do país tanto avaliando os dados primários como os
secundários, sendo esta considerada regular por 70% dos entrevistados.
10% Sudeste
40% 60%
Centro Oeste
Sul
Exterior
30%
40% Outra
10%
Mais de 5 anos
20%
Entre 3 e 5 Anos
12
De acordo com as informações obtidas através da pesquisa direta, a estrutura de gestão
predominante no setor é a semifamiliar (cerca de 50%), seguida da familiar e da estrutura
Sociedade Ltda.
30 dias
30% 40% A diantado
C onsignação
C rédito rural
30% P lano S afra
20%
10% 10% O utro
3.5. Gestão
10% MP
20%
LP
60% CP
20% Não planeja
Quase a totalidade dos entrevistados não agrega valor ao produto e a metade deles
tenta priorizar a um sistema integrado de informações, em contrapartida, a criação de uma
rede informatizada entre as filiais, por exemplo, não é considerada prioridade por 70%.
Benefícios Prejuízos
Facilita a tomada de decisões Onera a produção
Padroniza a produção Burocracia exacerbada prejudica o setor
Regras claras de funcionamento Incompatível com a realidade do campo
Fonte: Dados da Pesquisa
14
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1992 1994 1996 1998 2000 2002
9 Market share doméstico, que consiste na parcela do faturamento total do setor pertencente
a cada região e no caso dessa pesquisa, foi considerado cada estado grande produtor de
soja.
Em 1990, o Rio Grande do Sul era o estado mais representativo, sendo seu
faturamento responsável por cerca de 33% do faturamento total da atividade, conforme retrata
a Figura 7. Com o avanço da soja para a região Centro Oeste, que oferecia boas condições de
plantio e comercialização, a participação do Rio Grande do Sul caiu cerca de 44%. Observou-
se, ainda, uma ascendência, embora modesta, na participação dos outros estados analisados, e
o Paraná manteve sua representatividade numa média de 25%. Em termos nacionais, a perda
de participação do Rio Grande do Sul tem sido compensada pelo expressivo avanço da soja no
Mato Grosso e pela manutenção da participação do Paraná.
Sendo assim, a sojicultura ainda representa uma alta rentabilidade, sendo responsável
por grande parte da geração de divisas para os estados considerados e para o Brasil.
0,4
0,3
MT
0,2 PR
GO
0,1 RS
15
0,5 MS
0,4
MT
PR
0,3 SP
0,2 GO
MG
0,1
BA
0 RS
O atendimento à demanda interna, numa análise mais geral, tem apresentado uma
escala ascendente e considerável, visto que a elevada taxa de auto-suprimento do setor aliado
à maior preocupação dos Sindicatos e Federações com pesquisas, qualificação da mão-de-
obra e investimento em tecnologia são práticas comuns em praticamente todos os estados.
INSUMOS
Disponibilidade de insumos oriundos da região X MF 0,3
Disponibilidade de insumos oriundos de outras regiões X F 0,2
Classificação/Padronização do insumo X MF 0,3
Outros (Embalagens, herbicidas, fertilizantes, etc) X D 0,2
ESTRUTURA DE MERCADO
Localização e tempo de atuação X F 0,55
Porte das firmas X F 0,45
RELAÇÕES DE MERCADO
Formação de preços via Sindicatos X MD 0,25
Formação de parcerias e alianças com fornecedores X D 0,15
Eficiência do Sistema de Pagamentos X F 0,1
Coordenação eletrônica X D 0,1
Aquisição de insumos X MF 0,15
Contratos X X MF 0,25
GESTÃO
Recursos de marketing X MD 0,15
Sistema de informação X N 0,15
Gestão de estoques e logística X D 0,25
Mão de Obra X F 0,2
Planejamento de investimentos X MF 0,25
AMBIENTE INSTITUCIONAL
Sistema de Padronização X X F 0,1
Sistema de Crédito X X F 0,2
Sistema Tributário X MD 0,2
Fiscalização sobre os proprietários X F 0,2
Sistema de Regulamentação X MD 0,3
Muito favorável
1,2
1
Favorável 0,65
0,15 0,15
Neutro
ional
ado
os
ologia
ão
d
Insum
erca
Gest
merc
stituc
Tecn
Desfavorável -0,5
de m
ra de
nte in
ções
tu
ie
Estru
Amb
Rela
Muito Desfavorável
Figura 9: Contribuição dos direcionadores de eficiência
Fonte: Dados da Pesquisa
17
Para todos os indicadores, controláveis ou não, percebeu-se a presença de elementos
capazes de contribuir para a manutenção de um patamar satisfatório de eficiência produtiva.
A tecnologia foi considerada favorável obtendo 0,65 numa escala de -2 a 2, e seu
único subfator considerado desfavorável foi a tecnologia de conservação da soja no transporte
e manuseio, fato que pode ser comprovado se analisarmos a estrutura de logística existente no
Brasil e a questão das técnicas de estocagem / armazenagem.
O quesito insumo obteve um indicador muito favorável, uma vez que se constatou a
facilidade de adquiri-los na própria região. A partir da análise dos indicadores conclui-se que
o item insumo é o mais representativo direcionador da eficiência do setor sojícola e que sua
disponibilidade próxima às regiões produtoras reduz custos e favorece o deslocamento dos
recursos para áreas que deles necessitam. No entanto, problemas com relação a fertilizantes,
qualidade dos herbicidas, cultivo de sementes sem técnicas e análises necessárias, carecem de
resolução.
A estrutura de mercado obteve 1 na escala, sendo, portanto, um indicador favorável.
Constatou-se que a maioria das empresas tem um porte de mais de 5000 sacas e estão no
mercado a mais de 5 anos. A estrutura de 80% dos entrevistados varia entre familiar e
semifamiliar.
Nas relações de mercado, os itens mais desfavoráveis se referem à formação de preços
e de parcerias, o que necessita de maior detalhamento para se chegar a uma conclusão
definitiva, enquanto a utilização de contratos possui um peso positivo na construção desse
indicador. Os direcionadores relações de mercado e gestão ficaram quase neutros. A
constatação de relativa neutralidade desses direcionadores não permite inferir que o conjunto
dos subfatores analisados não seja representativo na definição do grau de eficiência do setor;
para o caso analisado, as vantagens e desvantagens são quase compensatórias.
A relativa tranqüilidade em relação aos demais indicadores não acontece quando se
analisa o ambiente institucional em que esse setor está inserido. Constatou-se que este é
desfavorável e os principais subfatores que contribuem para esse resultado são o sistema de
regulamentação e a carga tributária que recai sobre os produtores e que onera muito a
produção, visto que o imposto não é cobrado sobre o valor adicionado, e que ao possuir uma
estrutura burocrática reduz a competitividade da soja brasileira frente ao mercado
internacional. Dentre os subitens analisados no ambiente institucional, o sistema de
padronização demonstrou não ser um problema, pois a soja é um produto voltado para
exportação e precisa estar em conformidade com certas exigências e o sistema de crédito que
tem atendido com relativa satisfação os produtores de soja dos estados analisados.
4. CONCLUSÕES
18
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA
19