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Pré-projeto pós-doc
Fernando Augusto dos Santos neto
RESUMO
Introdução
https://issuu.com/fernandosantosneto/docs/amazonia_desenhos
https://www.udesc.br/arquivos/ceart/id_cpmenu/7177/
Artigo_4___LEITURA_DE_PAISAGEM_15591512456404_7177.pdf
https://ybakatu.com/a-paisagem-como-politica-exposicao-individual-de-fernando-augusto/
Paisagens Amazônicas
Artista viajante é aquele que sai para ver, conhecer, desenhar, pintar, registrar o que viu,
criar imagens de uma geografia distante, desconhecida, imaginada e cuja produção, de
cunho documental, comunica deslocamentos no espaço, descobertas de paisagens e
tipos humanos. Ao embarcar eu me perguntava: como desenhar paisagem hoje? Que
sentido tem na contemporaneidade, ir até a natureza, aos lugares mais diversos para
desenhar? Quais os pontos de contato entre esta viagem e a dos artistas viajantes que
passaram por estas terras? Que possibilidades tem o desenho hoje, nesta senda que ele
próprio ajudou a construir, de registrar e criar paisagens, face à fotografia e às novas
tecnologias? Estas perguntas se desdobravam em outras, às quais fui tentando responder
desenhando.
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São navios de operações e de assistência médica, odontológica e hospitalar da Marinha Brasileira,
baseados na Flotilha do Amazonas. Eles navegam pelos diversos rios do interior da Amazônia e do
Pantanal, prestando ajuda às comunidades que se localizam nas margens dos rios. Realizam palestras
sobre prevenção de doenças, cuidados com higiene pessoal e com o preparo de alimentos e, devido a estes
serviços são conhecidos pelos ribeirinhos como Navios da Esperança.
No navio tudo era novo para mim, assim como era para os marinheiros, um artista a
bordo. Volta e meia um deles me perguntava qual o objetivo do meu trabalho: para que
eu desenhava? A resposta era difícil porque não eu trabalhava para uma revista ou um
jornal, não estava ligado a nenhuma reportagem ou documentário como eles
esperavam. Eu respondia que desenhava porque gostava de ver as coisas em desenho e
que o meu objetivo era simplesmente desenhar paisagens da Amazônia. Essa resposta
para eles parecia não justificar, ficava alguma coisa no ar. Contudo esta era a explicação
verdadeira, sincera, eu não tinha um fim definido para os desenhos, nem sabia que tipo
de desenho faria ou aconteceria.
PAISAGENS DO ESPÍRITO
O Espírito Santo como lugar é espaço vasto. Por isso é necessário delimitar um espaço.
Tenho recorrido à leituras sobre a história, a geografia e a paisagem do estado assim
como realizado viagens e caminhadas ao interior interior e nos arredores de Vitória:
cito alguns lugres: Venda Nova do Imigrante, Santa tereza, região do Caparaó, reservas
florestais (Mata Atlância no Mosteiro zen de Ibiraçu) e visitas a lugares característicos
da cidade como Convento da Pednha, Praças e parques. Sendo a intenção, definir
lugares para vê-los pelo desenho, esta cartografia é uma experiência da cidade e de
algumas regiões do estado, buscando sentir, imprimir no corpo o lugar. Trata-se de estar
nos lugares, de desenhar (em caderno de bordo), seus espaços, suas vegetações, suas
árvores ou vistas paisagística a partir do referido lugar. Mas trata-se também de
usufruir, como cidadão do lugar. O projeto é portanto, estético e político, o desenho um
caminho.
3- O Grande formato
O desenho mural intitulado “Paisagem atlântica” realizado em parceiria com a artista
paranaense Dulce Osinski no Mosteiro Zen de Ibiraçu-Es abriu caminho para olhar a
natureza ao redor, pensar a paisagem em o grande formato e em módulos. Neste projeto
decidimos desenhar uma paisagem em escala real – neste caso um detalhe da Mata
Atlântica em suas verdadeiras dimensões. Como central d a Estação cultural tem um pé
direito de 4,50 metros por 7 metros de largura, a paisagem ‘transportada’ para esta
superfícia teria também esta medida na escala 1x1m. Estamos acostumados a ver
paisagens em escalas reduzidas, de acordo como nossos espaços conviviais e também
nosso corpo. As escalas dos desenhos e das pinturas são diminutas face às àrvores, face
à natureza. Como apresentar essas dimensões reais em um desenho? O que esta escala
pode nos dizer? Difícil chegar a uma conclusão, mas ao colocarmos a questão,
pensamos poder dizer algo da grandeza do mundo, do nosso olhar e também percepção.
A verdade é que, mesmo criando paisagens em grandes dimensões, não damos conta
dela e o estar diante de um desenho de paisagem de 24 metros quadrado que é um
detalhe em tamanho real da natureza é uma sensação admirável, é uma maneira entrar
na natureza.
04 – Materiais e apresentação
Como lembra Amilcar de Castro, ‘pintura é uma coisa que se faz por dentro, é cor,
desenho se faz por fora, é contorno, é limite.’ Mas lidar com linha, contorno não
significa não lidar com massa, com cor. O projeto Paisagem do Espirito buscar expandir
cirando zonas entre esses opostos ativando tanto os instrumentos, como os suportes e os
modos de apresentação dos trabalhos.
ARTISTAS
A obra de Patinir interessa a este projeto por duas vias, a) uma superposição de imagens
que cria uma narrativa sem interrupção temporal, b) a paisagem imaginária, mas com
espécies vegetais identificáveis botanicamente
https://www.youtube.com/watch?v=nqp0f3BioGM
Anselm Kiefer
Em 1987 Kiefer participou da 19ª. Bienal de São Paulo. Lembro-me como foi
impactante ver suas paisagens cinzas, ocres, carregadas de materiais, medindo cerca de
três por sete metros. Eu era estudante de arte na UFMG e, desde aquela época me
interessei pelo trabalho desse artista, chegando a estudar alemão e ter ganho uma bolsa
cultural do Goethe institut que me possibilitou uma estadia de três meses na Alemanha.
Minha identificação com o novo expressionismo alemão era total (Karl Schmidt
Rottluff, A.R. Penk, Baselitz, Jiri Georg Dokoupil), mas sem contudo me propor a
trabalhar paisagem. Nesse meio tempo viajei pelas cidades históricas mineiras
(participando dos Festivais de Inverno da UFMG) e fui tocado pelas paisagens das
cidades históricas e pelas montanhas de minas. Viajei também pelo nordeste brasileiro
Bahia, (terra dos meus pais), Ceará, Pernanbuco, ficando mais tempo em Recife, onde
cheguei a realizar residência no atelier do artista e amigo Marcelo Silveira. Em Gravatá
e Toritama, interior de Pernambuco vi paisagens secas que remetiam às paisagens de
Kiefer. Na ocasião cheguei a fazer alguns desenhos, esboços tendo suas pinturas como
referências. Hoje a obra deste artista volta a me interessar, evocando de um lado, aquele
sentimento pungente juvenil embevecido por suas perspectivas renascentistas e pela
materialidade intensa de suas telas, de outro, interessado no papel do grande formato
para falar da paisagem brasileira. A questão dos materiais, a ideia de peso, contra
balançando com a leveza, e a utilização possível de textos oferecem referências para o
projeto Paisagens do espírito.
Francisco Faria
Faria (1956) é um artista plástico brasileiro que se destaca por seus desenhos
paisagísticos à grafite e também por projetos de criação em arte visual e poesia, com a
participação de poetas brasileiros e estrangeiros. Seus desenhos freque,ntemente em
grandes dimensões, versam sobre estratégias gráficas e pictóricas da paisagem brasileira
e da América Meridional. Para a representação da paisagem, ele considera que a
natureza pode produzir sugestões plásticas que mesclam tempos diversos, história e
memória afetiva e diversidade de espaços. O artista escolheu a paisagem como um
tropo do pensamento visual e trabalha um estilo que podemos chamar clássico: um
desenho virtuoso que viaja com erudição entre diferentes formas de abordar a Natureza,
retratando, desconstruindo, inventando. Sua opção por desenhar paisagem brasileira de
maneira realista, possibilita identificar plantas e lugares e, carrega uma atitude política.
Quem está mais próximo e pode falar de nossa terra senão nós? Que terras, que plantas
são essas? Retratando-as, deixamos sinais de que estivemos aqui. Faria assume um
ponto de vista contemplativo, parecendo dizer que a atitude contemplativa é bem válida
em nosso tempo e que precisamos dela profundamente, desde o estar nela através da
observação direta ou da observação de obras que falam dela. Escreve o próprio artista:
“É assim que natureza comanda todas as correlações culturais presentes em meu
trabalho, expressas pela observação direta, pela experiência psicogeográfica de deriva
por locais que se deixam descobrir ao longo dos caminhos, e que então me sugerem,
concretamente, a convivência de diversas referências culturais, a possibilidade de uma
civilização mais plástica e de uma cultura do êxtase, da beleza e da inclusão.”
William Kentridge
Considerações finais
Assim nasceu a ideia deste projeto “Paisagens do Espírito. Uma denominação aberta o
suficiente, para ser capaz de apontar tanto uma geografia, como um estado de espírito,
uma sensibilide e a emoção pessoal do artista. Paisagens criadas a partir do visto, da
observação de plantas, árvores, arbustos, parques, praças a serem retratadas de maneira
indicial e icônica. De um lado elas buscam estabelecer uma conexão com o lugar, do
outro, seriam de todos os lugares, abrangendo o pensar e sentir humano.
BIBLIOGRAFIA
FLUSSER, Vilém. Natural: mente: vários acessos ao significado de natureza. São Paulo:
Annablume, 2011.
GOMBRICH, E. H. Norma e Forma. Madrid, Alianza Editorial, 1984
KENTRIDGE, William. Six Drawing Lessons. Cambridge Massachusets, Harvard University
Press. 2014
KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. Revista Gávea 1, Rio de Janeiro, 1984.
KRAUSS, Rosalind. Caminhos da Escultura Moderna. Tradução Julio Fischer. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
PERNIOLA, Mario. Do sentir. Lisboa: Ed. Presença, 1993.
SALGUEIRO, Heliana Angotti, Paisagem e arte – a invenção da natureza, a evolução do
olhar, São Paulo-SP, Comitê Basileiro de Histótia da Arte, ECA-USP, 1999.
THOREAU, Henry David. Andar a Pé. Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc., 2003. E-book.
_______. Walden, Porto Alegre-RS, 2012
WOHLLEBEN, Peter. A Vida secreta das Árvores.Rio de Janeiro-RJ, Sextante, 2017.
Sites
BARBA, Eduardo. Patinir botânico – Las plantas del paraiso y del inferno.
https://www.youtube.com/results?search_query=patinir+botanico.
OBRAS.
Diário de bordo – livro de artista . Viagem à Amazonia, grafite sobre papel, 35x50 aberto, 80 pags. 2012.
Diário de bordo – livro de artista . Viagem à Amazonia grafite sobre papel, 35x50 aberto, 80 pags. 2012.
Paisagem Amazônica, 70x100cm. 2013. Coleção particular
FA e Dulce Osinski. Paisagem atlântica. Mosteiro zen budista de Ibiraçu-ES, carvão e pastel sobre papel.
400x600cm. 2017
Paisagem atlântica, carvão e pastel sobre papel, 160x100cm. 2018