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Alberto Sebastião

Fausto Carlos da Silva Mussa

Noções, Limites e Origem de direito de águas


(Licenciatura em Direito)

Universidade Rovuma
Extensão de Niassa
2021
Alberto Sebastião

Fausto Carlos da Silva Mussa

Noções, Limites e Origem do direito de águas

(Licenciatura em Direito)

Trabalho de Investigação Científica, a ser entregue


no Departamento de Direito, Universidade Rovuma,
no curso de Licenciatura em Direito, para efeitos de
avaliação, na cadeira de Direito de Águas
leccionada pelo Dr. Egídio Sairesse.

Universidade Rovuma

Extensão de Niassa

2021
Índice
1. Introdução....................................................................................................................................3

1.1. Objectivos.................................................................................................................................3

1.2. Metodologia..............................................................................................................................3

2. Noções, Limites e origem do direito de águas.............................................................................4

2.1. Noções do direito de águas.......................................................................................................4

2.2. Natureza jurídica do direito de águas.......................................................................................4

2.2.1 Natureza pública por força da lei........................................................................................5

2.2.2. Natureza mista....................................................................................................................7

2.3 Solucionando a divergência...................................................................................................8

3. Limites do direito de águas..........................................................................................................9

4. Origem de direito das águas.....................................................................................................9

5. Historial de direito das águas.....................................................................................................11

5.1. Água é vida e da água surgiu a vida, de cursos de água nasceram civilizações.................12

6. Água para o desenvolvimento sócio-económico.......................................................................14

Conclusão......................................................................................................................................15
3

1. Introdução
O presente trabalho e referente a cadeira de direito de aguas, com o tema magro, Noções, Limites
e Origem de direito de águas, o estudo ora em apreço, seguiu um trajecto metodológico jurídico
interdisciplinar demandando assim dialogar com a história e, para tanto, utilizou-se do método
hermenêutico-normativo que permite ao pesquisador assimilar os sentidos jurídicos das diversas
formas de convenções internacionais como a de Estocolmo e do rio de Janeiro, pelo víeis
interdisciplinar, compreender o caminhar dos recursos hídricos no ordenamento dos diferentes
países do mundo. O que consta de declarações, resoluções, planos de acção e demais
instrumentos que foram consagrados pelas iniciativas referidas abrange, no tocante à água e
saneamento, não só as questões de acesso das pessoas a qualidade e quantidade apropriadas mas,
também, de preservação das respectivas origens, de partilha das águas internacionais e
transfronteiriças, de interacções com o ambiente; no que, muito em especial, se centra no direito
à água (de cada pessoa a água potável e na quantidade adequada.

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Compreender sobre Noções, Limites e Origem do direito de águas.
1.1.2. Específicos
 Conceituar o direito de águas.
 Analisar o direito da água no tange a sua origem no âmbito internacional;
 Desenvolver a origem historial sob varias vertentes;

1.2. Metodologia
A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho, baseou-se na recolha da informação
bibliográfica literária que trata da matéria do direito das águas no âmbito internacional bem
como foram feitas buscas em websites à procura de informações, com intuito de encontrar dados
e temas semelhantes que permitiram compilar uma estrutura coerente do trabalho a partir de uma
literatura adequada. Salientar que as buscas feitas na recolha de dados não foram satisfatórias
devido ao défice de material doutrinário que trata de assuntos de carácter do tema em questão.
4
5

2. Noções, Limites e origem do direito de águas

2.1. Noções do direito de águas


O Direito de Águas consiste em um conjunto normativo de cunho civil, ambiental e
administrativo que estabelece as regras de domínio, uso e protecção da água, com o objectivo de
garantir a melhoria da qualidade e da quantidade disponível desse recurso, para as actuais e as
futuras gerações.
O homem, assim como todos os seres vivos, dependem da água, recurso finito, cuja quantidade
encontrada hoje na Terra é a mesma existente quando surgiu a primeira bactéria.
As primeiras civilizações nasceram e floresceram nas margens dos rios. Hoje, a localização das
aglomerações humanas nem sempre coincide com a ocorrência de água. Nesse cenário, a
tecnologia “traz” a água até o homem. Mas muitas vezes esquece-se de que não bastam as
grandes obras: é preciso conservar de modo sustentável a água, mantendo condições ambientais
para isso, como a cobertura vegetal nas nascentes e o cuidado com o uso da terra para evitar a
poluição e o assoreamento dos rios, de modo que a água não se torne um bem escasso.
Além disso, é preciso considerar que a quantidade da água depende de sua qualidade. As águas
poluídas de um rio não podem ser utilizadas para usos mais nobres, como o abastecimento
humano, além dos problemas sanitários que apresentam e do impacto na paisagem, sobretudo a
urbana.

2.2. Natureza jurídica do direito de águas


A água é um recurso natural integrante do meio ambiente natural. Trata-se de um bem
imprescindível e insubstituível, essencial às funções vitais do ser humano, ao desenvolvimento
económico, à preservação dos seres vivos.
A água é um bem corpóreo integrante do meio ambiente. Trata-se de
elemento (natural) finito e essencial às funções vitais do ser humano, à
própria preservação e existência dos seres vivos, ao desenvolvimento
económico de um país. Devemos, portanto, atentar-nos por sua
preservação já que a escassez hídrica tem potencial de interferir directa e
indirectamente no equilíbrio dinâmico dos ecossistemas, prejudicando,
6

assim, a biota a funcionar à base da complementaridade e na


interdependência

Diante desta nova natureza jurídica dada à água, podemos afirmar que este recurso natural tem
natureza jurídica de bem difuso, de uso comum do povo. Trata-se de um bem que se apresenta
como um direito transindividual, de natureza indivisível, cuja titularidade é indeterminada e
interligada por circunstâncias de fato. A água, portanto, pertence a todos, mas, ao mesmo tempo,
não é de ninguém em específico, dada sua transindividualidade. A partir daí, verifica-se que a
água não integra o património do Poder Público, este é apenas o seu gestor no interesse de todos.

Os recursos hídricos possuem protecção específica por meio da Lei que se baseia nos seguintes
fundamentos, a saber: a água é um bem de domínio público, limitado e dotado de valor
económico; a gestão deve ser descentralizada e participativa (Poder Público, sectores usuários,
sociedade civil) que garanta o uso múltiplo dos recursos hídricos; prioridade de uso, em caso de
escassez, para o consumo humano e a dessedentação de animais; a bacia hidrográfica como
unidade territorial de planeamento e gestão das águas1.

A esse propósito, a água é um bem dotado de inalienabilidade, considerada “bem de uso comum
do povo”. Logo, a água é de todos, mas ao mesmo tempo não é de ninguém em específico. Trata-
se de bem de domínio público, e não de bem dominical. Esta última modalidade de bem se refere
àquele que integra o património privado do Poder Público, o que não ocorre com a água.
Assegura que a dominialidade pública, na verdade, não transforma o Poder Público Estadual em
proprietário da água, apenas torna o
Gestor desse bem, no interesse da colectividade.

2.2.1 Natureza pública por força da lei


Retoma-se aqui o raciocínio estanque em momentos anteriores. A lei das águas, ao tratar sobre
propriedade das águas, pertence aos Estados:

1
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2005, pp.662-664.
7

Ao que concerne ao n.º 1 do art. 1 da lei das águas, as águas interiores, as superficiais, e os
respectivos leitos, as subterrâneas, quer brotem naturalmente ou não, são propriedade do estado,
constituindo domínio público hídrico.

Nos moldes do n.º 2 do dispositivo acima, constituem ainda domínio público hídrico, as obras,
equipamentos hidráulicos e suas dependências realizadas pelo estado ou por sua conta com o
objectivo de utilidade pública2.

Sendo assim, torna-se necessário definir o significado da classificação da água como bem
público, especialmente no que se refere à sua destinação. Esclareça-se, ao dizer que a água é um
bem público a lei não está afirmando, necessariamente, que o Estado é dono da água: “A
dominialidade pública da água, afirmada na Lei , não transforma o Poder Público federal e
estadual em proprietário da água, mas torna-o gestor desse bem, no interesse de todos.”

Conforme apontado, a água constitui bem de uso comum do povo. Assim classificando impede-
se que a água seja apropriada por terceiros ou pela própria administração pública. É justamente a
necessidade do uso múltiplo da água, a sua essencialidade para a sobrevivência dos seres vivos,
bem como outras características já delineadas, que esta classificação protege o próprio bem,
assim como protege o legítimo interesse de todos que dele dependem.

A publicitação dos recursos hídricos no Mundo foi objecto de


preocupação do, ao estabelecer que todas as águas são públicas, do
domínio da União ou dos Estados, incluindo, por extensão, conforme sua
localização. Ao caracterizar a água como “bem de domínio3.

Desta forma, o raciocínio de Antunes segue uma lógica sistemática bastante coerente. Ou seja, de
uma forma ou de outra, a Constituição apresenta a água como bem público. Seguidamente,
considerando uma ordem cronológica, a lei que disciplina a Política Nacional de Recursos
Hídricos reafirma esta definição e expressamente menciona que a água é bem público.

2
Lei n.º 16/91, de 3 de Agosto, lei das águas
3
Nunes, Antônio de Pádua. Nascentes e águas comuns. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1969, p.1960.
8

E este posicionamento não é isolado. No mesmo sentido, Nunes (1969), entende que a água é
bem público, insusceptível de apropriação privada. Para ele, alguns autores só persistem na
classificação em águas particulares, porque, sabidamente, algumas águas estão situadas ou
passam em propriedades privadas, e, neste ínterim, estão sujeitas ao uso que lhe dá o proprietário
de seu recipiente. No entanto, não é porque a água está situada em propriedade privada, ou
mesmo porque a água cai em propriedade privada, que passará a ser bem particular. Pelo
contrário, demonstra Machado “ as águas correntes que transitam em uma propriedade privada,
mesmo quando sejam daquelas tidas como de domínio particular, deverão seguir seu leito,
porque não podem ser retidas em definitivo no poder do particular como coisa de sua
propriedade”. Com base na sucinta a precisa observação do autor, concluí-se que, por ser de uso
comum, a água que está na propriedade privada pode ser devidamente por este utilizada, mas o
uso não lhe confere, sob nenhuma circunstância, a titularidade do bem.

2.2.2. Natureza mista


Não obstante os argumentos defendidos, alguns autores de grande relevância na doutrina
nacional entendem que ainda podem existir águas particulares no ordenamento jurídico
Moçambicano. Para eles, prevalece a dualidade de domínio sobre a água, tanto o público quanto
o particular. Dito isto, retoma-se a ideia, de que as águas pluviais pertencem ao titular da
propriedade onde caírem.

Ao dizer quais águas são bens públicos, diz que “Esse recurso natural
abrange a água superficial ou subterrânea, excepto a água pluvial.

As águas formadas em áreas privadas – tanques, pequenos açudes e lagos, locais de


armazenamento de águas da chuva – são bens privados, ainda que eventualmente tenham sido
captados de águas públicas. Por conseguinte, concordamos em que as águas, em sua maioria,
sejam bens públicos, mas isto não afasta a possibilidade da existência de águas privadas.4

No mais, o autor conclui seu argumento dizendo que, mesmo se captadas de águas públicas, as
águas que estiverem em propriedade privada serão águas particulares. Com este argumento não

4
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 21 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris
Editora, 2009, pp.1146-1148.
9

se pode concordar, tendo em vista que os bens públicos de uso comum não são sujeitos à
apropriação privada

O regime jurídico aplicável aos recursos hídricos é, provavelmente, aquele que melhor
demonstra as peculiaridades do Direito Ambiental.   As águas podem estar submetidas a regimes
jurídicos de Direito Privado ou de Direito Público; podem ser de propriedade pública ou privada
e, qualquer que seja o regime jurídico ao qual estejam submetidas, são merecedoras de tutela
jurídica especial. (ANTUNES; 2005: 667)

Desta forma, é fácil perceber que existem argumentos diversificados para definir a natureza
jurídica da água. Sendo certo, apenas, que existem águas que são bens públicos, inegavelmente.
No mais, a divergência é absoluta, tanto nos posicionamentos quanto nos argumentos utilizados
para defender cada posição.

2.3 Solucionando a divergência


Segundo MACHADO, (2009:445), A água é um dos bens mais valiosos do planeta. Seu valor
económico acresce geometricamente, à medida que diminui sua disponibilidade. Tendo em vista
sua importância para a vida, como um todo, interessa ao direito, com urgência, definir sua
natureza jurídica. Definir, hoje, o regime que se aplica à água é antecipar a tutela jurídica deste
bem, de modo global, uma vez já previstas as dificuldades que sua escassez poderá provocar, e,
em algumas regiões, já tem provocado.

A tutela jurídica da água inclui normas antigas e normas relativamente


recentes. A grande divergência paira sobre a vigência destas normas, o
que torna dificultoso a tarefa de tomar parte em uma das correntes
apontadas. Desta forma, inevitavelmente, dizer a natureza jurídica da
água, seja como bem público, unicamente, ou como bem público em regra,
admitindo pequena margem como bens particulares, é o mesmo que
apontar qual norma está vigente.

Quanto às águas que transitam em propriedades privadas, não podem ser ali retidas, devendo
seguir seu curso natural. Ora, sendo assim, violaria o direito de propriedade dizer que o titular de
um bem tenha a obrigação de deixá-lo escapar de seu domínio, passando, imediatamente, ao
domínio do proprietário do próximo terreno. Logo, dizer que a água é privada, mas ao seu
10

proprietário obriga-se deixá-la fluir, é o mesmo que dizer que a água é particular mas não
pertence ao titular de seu domínio pois ele não detém os direitos inerentes à propriedade.

De facto, dado que a água é um bem público de livre apropriação, os grandes usuários de
recursos hídricos, apropriam-se das águas para as suas finalidades privadas, auferindo lucro com
elas e, no entanto, tal circunstancia não lhes custa um único centavo. A degradação da qualidade
e a diminuição da quantidade das águas é suportada pela sociedade. O estabelecimento de um
preço pela utilização das águas serve de parâmetro para impedir que toda a sociedade arque com
os seus benefícios que são, claramente, identificáveis. (ANTUNES; 2005: 667)

Por fim, pode-se encerrar toda a exposição afirmando, sem hesitar, que a água é bem público. Tal
posicionamento surge da interpretação das normas pertinentes ao tema e transcende o universo
jurídico, pois, admitir a água como bem público é admitir sua importância para a vida, como o
faz Santos Cravalho, servindo também para melhor se posicionar o Estado brasileiro no cenário
mundial.

3. Limites do direito de águas


A Constituição da República de Moçambique reconhece o direito de águas para a sociedade,
apesar dela não ser clara quanto a isso, mais reconhece um ambiente equilibrado para todos
cidadão, nos termos do art.90ᵒCRM.

Ainda o mesmo Estado advoga que as águas são propriedade do Estado, estão no domínio do
Estado, é ele que garante a sua protecção e todos os seus limites no seu uso, art.98ᵒ CRM.

4. Origem de direito das águas


Para ALVES (2000, P.79) salientou que na Europa, os originários do direito de águas romano,
que são os povos que habitam o continente e os tratados durante o século XVII e inicio do século
XVIII eram os dispersos e regulamentavam situações específicas vivenciadas pelos Estados
banhados pelos rios internacionais. A origem de o direito de águas, intitulado de direito
emergente, é um ramo do direito público que vem erguendo-se rumo ao processo de autonomia
didáctica, legislativa e jurídica. Nas últimas décadas do século XX, atingiu musculatura com a
nova Política Nacional de recursos hídricos (PNRH).
11

Diante da importância despontada pelo novato ramo jurídico, objectiva-se traçar um panorama
reflexivo do direito de águas de Moçambicano em suas relações com o recente arranjo jurídico-
institucional implementado, permeado por articulações políticas, visando ao alcance de uma
gestão sustentável. Podemos entender, portanto que, existe a compreensão clara e objectiva de
que a água é um bem público e recurso natural limitado, dotada de valia económica, mas que
deve periodizar o consumo dos humanos e de animais, em especial em situações de escassez.

A água deve ser gerida de forma a proporcionar usos múltiplos (abastecimento, energia,
irrigação, indústria) e sustentáveis, e esta gestão deve se dar de forma descentralizada, com
participação de usuários, da sociedade civil e do governo. A utilização de água para satisfazer as
necessidades básicas da vida, ou melhor, desencantação, higiene e cozimento dos alimentos
também são isentas de pagamento, desde que, a pessoa vá abastecer directo na fonte.

A Água, como se sabe é um recurso ambiental essencial para a qualidade de vida da população;
possui funções múltiplas, pois serve de insumo à produção, é recurso estratégico para o
desenvolvimento econômico, é indispensável para a manutenção dos ciclos biológicos,
geológicos e químicos que mantêm em equilíbrio os ecossistemas; além de funcionar como
referência cultural.

O interesse em estabelecer normas relacionadas à qualidade de água para abastecimento tem a


ver com a estreita ligação do homem com a água. O acesso à água é condição de sobrevivência
do homem, daí vem a necessidade de estabelecer regras para o uso e consumo deste recurso,
tendo em vista a grande proliferação de actividades relacionadas com a exploração hídrica e a
actual consideração científica de que a água é um recurso natural limitado. Ainda quanto a
regulamentação e desenvolvimento de um regime jurídico dos usos dos rios internacionais
distintos da navegação, uma grande influência pode ser atribuída as conferências de Estocolmo
(1976) e do rio de Janeiro (1992) do meio ambiente, que dentre outros princípios apontaram o do
desenvolvimento sustentável.

A regulamentação dos recursos hídricos, de uma maneira geral, é


realizada por inúmeras normas que compõem as Políticas de Recursos
Hídricos. No presente artigo, será feita uma introdução e contextualização
das principais normas ligadas à protecção dos recursos hídricos, com um
enfoque direccionado para o controle e vigilância da qualidade da água
12

para consumo humano e seu padrão de potabilidad, (Granziera, 2001,


P.103)

Por ser fundamental à existência do homem, torna-se um tema actual e político, sendo foco da
atenção da sociedade civil organizada, dos governos nos diferentes níveis através de seus
programas e projetos, de organismos internacionais, da iniciativa privada em escala global,
dentre outros. A Água guarda em si um paradoxo, pois ao tempo que é considerada fator de
desenvolvimento, com setenta por cento da superfície do planeta coberta por água, somente 1%
de todo esse enorme reservatório é próprio para o consumo do homem. É um bem ambiental que
é finito e que está mal repartido no planeta.

Esta situação, inclusive tem levado a se falar na “crise da água”, ocasionando conflitos entre os
povos. Nesse sentido, já recebeu prognósticos de que “As guerras do próximo século girarão em
torno da água.” Esses factores associados ao aumento da demanda por água, à degradação do
ambiente e mananciais superficiais e subterrâneos, tem gerado sérios conflitos de uso da água no
país. Assim, impõe-se de todos nós, um olhar mais crítico, humano e consciente em torno do
tema, notadamente por que sendo vital ao homem para que tenha uma sadia qualidade de vida, se
transmuta em um direito inalienável do ser humano.

Decidir se o direito à agua é um direito humano ou um direito fundamental do homem tem sido o
ponto nevrálgico de discussões em nível global, sendo que até o presente momento ainda não se
chegou a um consenso sobre o tema quanto ao tratamento da matéria. Dado a importância do
tema, a sua actualidade e a relevância no âmbito das diferentes áreas do direito, notadamente do
Direito Internacional Público, é objetivo deste estudo, buscar uma primeira aproximação sobre o
que se estabelece no plano do ordenamento pátrio face ao leque de documentos no plano
internacional.

5. Historial de direito das águas


Segundo LAGO (2007, P.47) diz que apesar da evidência da água ser imprescindível à vida e ao
desenvolvimento, só nos meados do século XX a questão do direito à água e saneamento
começou a ser formulada e debatida no contexto das nações, de forma mais ou menos explícita,
tendo prosseguido, até à actualidade, num extenso conjunto de realizações como por exemplo as
Nações Unidas lançaram de 1981 a 1990 a década internacional do abastecimento de água
13

potável e do Saneamento com o objectivo, que não foi atingido, de, em 1990, se garantir a cada
pessoa o acesso à água de boa qualidade e em quantidade adequada, a par de instalações
sanitárias básicas.

As residências construídas na antiguidade, inclusive as classes nobres e ricas não possuíam


sanitários. Nas cidades e no campo, era comum as pessoas evacuarem directamente no solo. A
camada mais rica da população usava recipientes para fazer suas necessidades fisiológicas e, em
seguida, descarregavam-nas em local próximo às moradias. Quando chovia, as fezes eram
levadas pelas enxurradas até os rios, contaminando a água e disseminando doenças. Para tornar a
água limpa antes de ser utilizada nas actividades domésticas, certos povos (como por exemplo,
os egípcios e japoneses) filtravam o líquido em vasos de porcelana.

5.1. Água é vida e da água surgiu a vida, de cursos de água nasceram civilizações
Constitui uma velha máxima a afirmação de que a água é condição de existência de vida, em
particular da vida humana; as sociedades primitivas estabeleceram-se, preferencialmente, junto
de cursos de água e as mais avançadas da antiguidade floresceram tirando partido de grandes rios
como, entre outros, o Amarelo, o Indo, o Tigre, o Eufrates e o Nilo porque, para além do
aprazimento da sede de pessoas e animais e da asseio e confecção de alimentos, a prática do
cultivo das terras implicava o recurso a água doce (não salobra e, muito menos, salgada).

Desde a Independência que têm sido feitos grandes esforços nesta direcção. Em 1991 e 1995
com aprovação da Lei de Águas e da Política Nacional de Águas, respectivamente, foram
alcançados progressos significativos tanto em termos de desenvolvimento de infra-estruturas
como no quadro institucional e legal para melhorar a provisão de serviços de água. Contudo, o
País está ainda longínquo duma situação em que estes serviços básicos sejam fornecidos à
maioria da população Moçambicana. O abastecimento de água será considerado de forma
integrada com a provisão de meios de asseio, civilidade, sanitária e conservação ambiental.

A Declaração Universal dos Direitos da Água, divulgada a 22 de Março de 1992 pela


Organização das Nações Unidas, no mesmo dia em que foi por ela criado o Dia Mundial da
Água, a ser celebrado no dia 22 de Março de cada ano, no art.2 dos dez que a integram, dispõe-
se: A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal,
animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a
14

vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser


humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do art.3 da Declaração dos Direitos do Homem.

De acordo com o princípio 21 da declaração de Estocolmo descrê como “os Estados têm o direito
soberano de explorar seus próprios recursos em aplicação de sua própria política ambiental e a
obrigação de assegurar-se de que as actividades que se levem a cabo, dentro de sua jurisdição, ou
sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros Estados ou de zonas situadas fora
de toda jurisdição nacional”.

O pensamento jurídico-ambiental pátrio iniciou-se num período colonial


em que pouco se debatia sobre a questão ambiental, seguindo um
raciocínio de exploração econômica dos recursos naturais. Contudo, num
processo lento e com o surgimento de uma consciência ecológica, foi
possível a construção de um posicionamento jurídico voltado para a
preservação, conservação e protecção da água de acordo com
(MACHADO, 2001)

A lei das águas, que a lei nº16/91 de 3 de Agosto, foi a primeira norma legal que disciplinou, em
linhas gerais, o aproveitamento industrial das águas e, de modo especial, o aproveitamento e
exploração da energia hidráulica. Trata-se de um texto legal muito antigo, mas ainda vigente,
embora, “estruturalmente, a lei das águas é dividido em duas partes. A primeira trata das águas
em geral e de seu domínio. A segunda trata do aproveitamento dos potenciais hidráulicos e
estabelece uma disciplina legal para geração, transmissão e distribuição de energia eléctrica.

Deste modo, os instrumentos concebidos pela lei das águas são essenciais para assegurar o
conhecimento sobre as águas e a sua efectiva gestão. No período transcorrido desde a
promulgação da referida lei, registaram-se avanços significativos. Esses avanços podem ser
observados na elaboração dos Planos de Recursos Hídricos, em seus diferentes níveis; na
disseminação dos Comités de Bacia por todo o país; na outorgação dos direitos de uso de
recursos hídricos; na cobrança pelo uso da água; e no Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos, entre outros.

Em 2000, de 6 a 9 de Setembro, a Cimeira do Milénio tinha como objectivo de garantir a


sustentabilidade ambiental, cuja meta 10 preconizou que até 2015 fossem reduzidas para metade
15

as percentagens das populações sem acesso a água potável, e que o saneamento fosse integrado
nas estratégias de gestão de recursos hídricos.

Em 2002, de 26 de Agosto a 4 de Setembro, em Joanesburgo, a Cimeira Mundial do


Desenvolvimento Sustentável (CMDS), na qual se reforçavam os objectivos do Milénio
pertinentes à água e incluiu o saneamento como parte dos ODM. Em 2003, a Organização das
Nações Unidas declarou esse ano como o ano internacional da água potável. Em 2008, a
Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas declarou esse ano como o ano
internacional do saneamento. Em 2010, a ONU confirma que os direitos à água e ao saneamento
fazem parte do direito internacional existente, a década 2005 a 2015, foi decretada como a
década internacional da acção “água para a vida”, que definiu a agenda global com maior
enfoque nas questões relacionadas com a água.

6. Água para o desenvolvimento sócio-económico

Para REZEK (2000 P.273) defende que a água é um recurso importante para o desenvolvimento
sócio-económico duma região ou país. A segurança na disponibilidade de água em termos de
quantidade e qualidade é necessária para desenvolver a irrigação, que é fundamental para
permitir a intensificação da agricultura como base do desenvolvimento de Moçambique e para
promover o desenvolvimento rural. Outras utilizações potenciais e indispensável em
Moçambique são a energia hidroeléctrica, a indústria, as pescas, o turismo, a florestação e a
pecuária. Ao longo dos séculos, dominando diferentes formas de uso das águas, no decorrer dos
séculos, o homem aprendeu a encontrar, armazenar, tratar e distribuir a água para seu consumo
próprio.

O primeiro sistema de distribuição de água sobreveio há cerca de 4.500 anos, o crescimento das
necessidades de água para diversos fins é uma fonte potencial de disputa e o Estado tem a dever
de os predizer e descrever soluções justas e apropriadas. O homem também assimilou que a
água, quando inapropriada, podia causar doenças, a inquietação com a água imprópria, potencial
transmissora de enfermidades, levou os egípcios, em 2.000 a.C., a utilizarem o sulfato de
alumínio no esclarecimento da água.
16

Conclusão

Como recurso ambiental público, limitado e de fundamental importância para a sobrevivência


humana, as águas necessitam da mais ampla protecção, baseando a existência de várias
convenções e legislações a respeito. Dai a fundamental assertiva de que o desenvolvimento
sustentável fica impossível de se vencer as aparentes incompatibilidade entre as visões da água
como bem social, económica e ambiental, a Cimeira do Milénio tinha como objectivo de garantir
a sustentabilidade ambiental, cuja meta 10 aconselhou que até 2015 Na mesma se deveria aclara
que todos os seres humanos possuem como direito inerente o de ter um acesso ao recurso da
água numa quantidade e qualidade necessária, para que passam cobrir-se as necessidades básicas.
No concerne a água e sua importância para manutenção da vida não há preceitos absolutos e
estanques, que devem ser vistos de forma ampla e global para a consecução fim dos seres
humanos: viver com qualidades sem prejudicar o mesmo direito das gerações futuras de gozar da
mesma qualidade e obter o desenvolvimento social e económico.
17

Bibliografia

Alves, J. C. M. (2002). Direito romano. Rio de Janeiro, Forence.

Declaração da conferência de ONU no âmbito humano Estocolmo, 5-16 de Junho de

1972.

Granziera, M. L. M. (2001). Direito de Águas: disciplina jurídica das águas doces. São

Paulo: Atlas.

Lago, A. A. C (2007). Brasil e as três conferência Ambientais das Nações Unidas. Brasil:
Instituto de Rio Branco, fundação Alexandre de Gusmão, Estocolmo, Rio, Joanesburgo.

Machado, P. A L. (2001). Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 9ª ed. S/E São Paulo:
Malheiros.

Rezek, J. F. (2000). Direito Internacional Público: curso elementar. 8ͣ ed. São Paulo: Saraiva.

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