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Ideias para um

Envelhecimento Activo
Coordena~o de
Luis Jacob e Helder Fernandes
Ideias para um Envelhecimento Activo

1.
Edição: RUTIS - Associação Rede de Universidades da Terceira
Idade
Rua Conde da Taipa, 42.- 2080-069 Almeirim – Portugal - www.rutis.pt

Titulo: Ideias para um envelhecimento activo


Autores: Luis Jacob, Hélder Fernandes, Augusta Branco, Lucia França (BR),
Emília Rodrigues, Teresa Almeida Pinto, Carla Santos, Colin Milner (CA), Dora
Rodrigues e Helena Paiva

Direitos de autor: RUTIS

Colecção: RUTIS, nº 1

Foto da capa: Renato Nunes com Lurdes Martins, Joana Mar e Joaquim Martins

Revisão: João Carlos Alvim

1ª Edição, Outubro de 2011

Depósito Legal: 334452/11


ISBN: 978-989-97524-0-5

Reprodução interdita, total ou parcial, sem autorização prévia e expressa do autor,


A cópia ilegal viola os direitos dos autores.
Os prejudicados somos todos nós.

2.
Ideias para um Envelhecimento Activo

Coordenação:
Luís Jacob e Hélder Fernandes

Índice:
Prefácio por Stella António 4

1. O Envelhecimento Activo: Uma Perspectiva Psicossocial por Emília Magalhães 11

2. Gestão de emoções em Seniores por Augusta Veiga Branco 40

3. Memorize! por Hélder Fernandes 81

4. Sexualidade na idade maior por Luís Jacob 94

5. Universidades Seniores: Criar novos projectos de Vida por Luís Jacob 119

6. Novas Tecnologias por Teresa Almeida Pinto 148

7. Turismo sénior: Importância, Desafios e Estratégias por Carla Santos 163

8. Preparação para a reforma: responsabilidade individual e colectiva por Lúcia 192

França (Brasil)

9. Testemunhos de um envelhecimento activo por Dora Rodrigues e Helena Paiva 219

10. Tendências do envelhecimento activo por Colin Milner (Canadá) 224

11. 21 Ideias para o envelhecimento activo por Luís Jacob 231

Autores 237

3.
1. O Envelhecimento Activo: Uma Perspectiva Psicossocial
por Emília Magalhães

«A tendência para colocar uma ênfase especial ou organizar a juventude


nunca me foi cara; para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica
às pessoas vulgares. Todos os seres humanos mais dotados e mais
diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes
ora alegres…»

Hermann Hesse (2002, p. 46)

1. Formas de Envelhecimento: promoção do envelhecimento activo


Tendo em conta o modelo actual de desenvolvimento humano ao longo
do ciclo de vida, com a evolução das diferentes capacidades, para a qual
contribuem vários factores, pode-se dizer que a mudança dessas diferentes
capacidades não é unidireccional, nem universal, nem irreversível. Embora
algumas capacidades se possam deteriorar, outras mantêm-se e podem
inclusive ser enriquecidas. As pessoas evoluem de maneira diferente é de
salientar ainda que há mudanças que são reversíveis: por exemplo, o vigor
da erecção na resposta sexual humana pode diminuir com a idade no
homem, no entanto, a capacidade de ternura pode ser incrementada (López
Sánchez e Olazábal Ulacia, (2005)).
Mudar esta construção social da velhice é essencial para dar sentido a
esta fase da vida que tem as suas próprias características.

Fernández-Ballesteros (2004) menciona que o envelhecimento tem duas


vertentes: o envelhecimento populacional e o envelhecimento individual. O
primeiro refere-se ao que ocorre a nível macro-social, o segundo ocupa-se

11.
do conhecimento de como os indivíduos envelhecem, ou em termos mais
precisos, que mudanças existem ao longo da vida ou com o passar dos
anos.
Desta forma as ciências que contribuem para o estudo do
envelhecimento colocam em relevo um conjunto de características deste
processo:
− A idade não é o único factor determinante dos processos de
desenvolvimento, estabilidade e decréscimo, já que a idade interage
com circunstâncias históricas, sociais e pessoais.
− Ao longo da vida existem padrões diferenciados de crescimento,
estabilidade e decréscimo no conjunto das condições biomédicas,
psicológicas, comportamentais e sociais.
− O envelhecimento psicológico não apresenta o mesmo padrão que o
envelhecimento biológico.
− Estes padrões de mudança têm uma enorme variabilidade inter-
sujeitos: enquanto uns indivíduos experimentam um relativo
desenvolvimento, uma breve estabilidade e um acentuado
decréscimo, outros apresentam padrões de amplo desenvolvimento,
prolongada estabilidade e leve decréscimo.
− Os padrões individuais evolutivos não ocorrem de uma forma
aleatória, pois que o indivíduo e a sociedade podem orientar,
promover e influenciar as formas de envelhecer.
− Envelhecer é um processo que não tem um início preciso, ocorre ao
longo da vida do indivíduo e tem a ver com as condições genéticas,
biológicas, sociais e psicológicas. O envelhecimento é, pois, um
fenómeno individual, já que a pessoa pode fazer muito para ser
agente do seu próprio envelhecimento positivo.

12.
− As condições ambientais, económicas, culturais e sociais, num
determinado contexto histórico, também têm influência nas formas de
envelhecer. Os países com maior nível económico contam com uma
maior esperança de vida e esperança de vida livre de incapacidade,
pelo facto de investirem mais nos programas de promoção e
prevenção para a saúde. Assim também a sociedade e o contexto
sociopolítico desempenham um papel importante neste processo do
envelhecimento activo e com qualidade.
É ainda de salientar, de acordo com a mesma autora, que este novo
paradigma de contemplar a procura dos factores e condições que ajudam a
identificar o potencial do envelhecimento e as vias para as modificar visa a
ruptura com a visão tradicional que era uma visão negativa e
preconceituosa.

Num trabalho realizado por Fernández-Ballestero (2002), foram


revistos os diferentes modelos sobre o envelhecimento com êxito ou
positivo, formulados numa perspectiva populacional e individual por um
conjunto de autores e organizações, que destacavam, todos eles, o modelo
populacional de envelhecimento activo da Organização Mundial de Saúde
(OMS) (2002) e o modelo individual de envelhecimento com êxito de Rowe e
Khan (1997).
De acordo com Sears (1999,p.140) a pirâmide de intervenções anti-
envelhecimento que se apresenta na figura que se segue, tem por base o
componente mais importante de qualquer estilo de vida anti-envelhecimento:
uma dieta de restrição calórica com níveis adequados de proteínas e pouca
gordura, quantidades abundantes de vegetais frescos e quantidades
moderadas de fruta fresca em cada refeição.

13.
O próximo passo do Estilo de Vida Anti-envelhecimento é o exercício
moderado mas consistente, já que o exercício de níveis de intensidade mais
altos leva ao aumento da formação de radicais livres e de cortisol. O topo da
pirâmide tem a ver com a redução do stress, através da meditação. A
meditação pode ter profundos efeitos hormonais, principalmente sobre os
níveis de cortisol.

Fonte: Sears, Barry [1999] - Pirâmide do Estilo de Vida Anti-envelhecimento.

Assim se optarmos por reunir todos os componentes da pirâmide


referida, certamente obteremos a chave para obter sucesso no combate ao
envelhecimento.
A OMS (2002, p.23) define o envelhecimento activo como «o
processo de optimização das oportunidades de saúde, participação e
segurança visando a melhoria do bem-estar das pessoas à medida que
envelhecem». Estabelece ainda os factores que determinam o
envelhecimento activo, salvaguardando, no entanto, que, tratando-se de um
novo conceito, ainda não existe investigação suficiente que permita afirmar

14.
com certeza que os factores que determinam o envelhecimento activo são:
económicos; sociais; ambiente físico; pessoais (biológicos e psicológicos);
comportamentais (estilos de vida); serviços de saúde e sociais e ainda o
género e a cultura.
O modelo individual de envelhecimento com êxito, referido
anteriormente, baseia-se nas investigações através de estudos longitudinais
e aponta para quatro grupos de factores: 1) baixa probabilidade de adoecer
e de incapacidade associada; 2) alto funcionamento cognitivo; 3) alto
funcionamento físico; 4) compromisso com a vida.
Pode concluir-se que qualquer programa que pretenda incrementar o
envelhecimento activo ou com êxito deverá prevenir a doença e a
incapacidade associada, optimizar o funcionamento psicológico e em
especial o funcionamento cognitivo, o ajuste físico e maximizar o
compromisso com a vida, o que implica a participação social.
Os factores psicológicos individuais foram nos últimos anos
amplamente tratados como base do envelhecimento com êxito, mais
concretamente a capacidade de enfrentar situações adversas, o controlo
interno, o pensamento positivo, a auto-eficácia, são condições psicológicas
da personalidade que aparecem associadas à longevidade e ao
envelhecimento satisfatório.
Importante ainda referir as áreas de intervenção psicológica que
deveriam fazer parte de qualquer modelo de optimização do envelhecimento
activo: promover a saúde e o ajuste físico e prevenir a incapacidade;
optimizar e compensar as funções cognitivas, o desenvolvimento afectivo e
da personalidade e maximizar a implicação social (Fernández-Ballesteros
(2004)).

15.
Pode assim concluir-se que, a nível populacional, é de todo o
interesse colocar quais as acções sociopolíticas que devem ser abordadas
para potenciar o envelhecimento positivo numa determinada população
(melhorar o sistema de saúde e de protecção social, aumentar as pensões,
adaptar as condições ambientais, etc.); sob o ponto de vista psicossocial
torna-se importante potenciar nos indivíduos as condições que optimizem
um envelhecimento satisfatório.

Havighurst e Albrecht (1953) na sua publicação Older people referem


que a teoria da actividade, por eles formulada, é a teoria psicossocial mais
antiga fundamentando-se na seguinte hipótese: «La realización de un
elevado número de roles sociales o interpersonales correlaciona de forma
significativa con un elevado nivel de adaptación y satisfacción vital percibido
por la persona mayor». Segundo esta teoria, o indivíduo alcança uma
velhice satisfatória quando descobre e realiza novos papéis ou continua com
os que vinha a desempenhar (Atchley (1980), citado por Motte Celia, Alexis
e Moñoz Tortosa (2002)).

Para verificar esta hipótese os autores aplicaram um questionário


sobre uma amostra de cem sujeitos eleitos de uma população de 670
indivíduos de 65 anos e mais, e os resultados do estudo avaliaram uma
correlação positiva entre o número de actividades realizadas e a adaptação
sentida pelos indivíduos. Assim os autores concluíram que as pessoas
idosas que são mais activas vivenciam a sua velhice com maior adaptação e
bem-estar.

Mais tarde, Tartler (1961), citado pelo mesmo autor, reforça esta
mesma ideia declarando que a satisfação da vida se vincula com os papéis
familiares, laborais, sociais, etc., de forma que quanto mais papel a pessoa
idosa tiver maior será a sua auto-estima e satisfação. Só é feliz quem se

16.
sente activo, e útil. De acordo com a maioria dos autores parece que a
melhor forma de envelhecer radica em adquirir novos papéis ou manter os
anteriores (Maddox y Eisdorfer (1962); Reichard, Livson y Peterson (1962);
Madox (1963 y 1968); Atchley (1977); Longino y Kart (1982)), citados por
Yuste Rossell, N. (2004)).
Esta teoria tem como princípios básicos:

− A satisfação da vida vincula-se a papéis familiares, sociais e laborais;


− Ao prolongar a actividade prolonga-se a idade adulta e a meia-idade;
− É preciso valorizar a idade e atribuir ao idoso papéis apreciados
socialmente;
− A actividade depende do estado de ânimo;
− A satisfação está vinculada com o tipo de actividade.
Burgess (1954), Tobin e Neugarten (1961) e Palmore (1968), através de
um estudo longitudinal onde se comprovou que a redução de actividades e
papéis está associada a uma diminuição de satisfação de vida das pessoas
idosas (Motte Celia, Alexis, M. e Moñoz Tortosa, Juan (2002)).

Segundo os mesmos autores é de salientar que a adaptação dos


indivíduos e a qualidade das actividades têm mais importância que a
quantidade e que esta teoria só é válida para os velhos jovens que têm
meios económicos suficientes.
Fernandez- Ballesteros, R. (2000) refere que esta teoria tem tido enorme
importância aplicada, no sentido de ter orientado políticas sociais até aos
nossos dias.
Nos pontos 3 e 4 do texto, serão descritas algumas dessas orientações
políticas.

2. A Política Social para as Pessoas Idosas

17.
O empenho político em programas de desenvolvimento humano deverá
ter em consideração a promoção da saúde ao longo do ciclo de vida, com
vista a um envelhecimento activo em todas as suas vertentes: física,
cognitiva, social e espiritual, produtiva, etc.
A longevidade e a manutenção da capacidade funcional, tanto física
como mental, são os novos indicadores de saúde, consequentes à redução
da morbilidade e da mortalidade, e devem incorporar-se aos instrumentos de
avaliação das políticas públicas, permitindo que os resultados representem
ganhos nos níveis de saúde (Sayeg, M.A., Mesquita, R.A.V. e Costa, N. E.
(2006)).
A promoção da saúde a favor do envelhecimento bem sucedido
requer o incremento e a renovação dos modelos de atendimento, cuidado,
prevenção, reabilitação, e de directrizes que incluam as alternativas que
permitam a participação da comunidade, que vão desde a defesa dos
direitos sociais e da cidadania até à qualidade de vida (Lima-Costa &Veras
(2003)).
No nosso país, é notória a carência de redes de apoio formal ao
idoso, desde instituições de idosos (lares) até ao serviço de assistência
domiciliária em contexto gerontológico (SAD), podendo afirmar-se este
último como inexistente.
O incremento deste serviço, em nosso entender, seria um passo que
marcaria a diferença em termos de políticas de apoio ao idoso, permitindo
que este pudesse permanecer no seu ambiente com as vantagens daí
inerentes, contrariamente ao que acontece quando tem de ir para um lar
como a sua última residência, o que irá, na maior parte dos casos, acelerar o
processo de envelhecimento, por múltiplas perdas: ambiente; objectos;
amigos; autonomia; actividade física e cognitiva; etc.

18.
Requejo Osório, A. (2007) afirma que o problema das pessoas idosas
é muito mais do que apenas um problema de número: trata-se de um
problema que, como já tivemos ocasião de referir, tem uma dimensão social.
Assim, será conveniente avançar para uma análise das pessoas idosas
enquanto fenómeno social que tem de ser entendido a partir dos gastos que
pode gerar (saúde, assistência, pensões, etc.) como também a partir do
problema de reconhecimento do seu papel social.
Assim, torna-se importante uma política social desenvolvida e
configurada no denominado “ Estado de Bem-Estar”, que junta os cidadãos
a favor da solidariedade e coesão social, assegurando-lhes uma série de
cuidados. O chamado “ Estado de Bem-Estar” surge e desenvolve-se no fim
da Segunda Guerra Mundial, na Europa.
A política social é uma política aplicada pelos Estados e pelos
poderes políticos, que pretende cobrir e satisfazer as necessidades sociais,
apoiar os direitos pessoais e de grupo capazes de proporcionar bem-estar e
qualidade de vida aos cidadãos, através de sistemas públicos de acção
social. (Fermoso, P. (1998, pp. 81-130)).
Esta política desenvolve-se num conjunto de políticas sectoriais
concentradas basicamente no sistema educativo, sistema de saúde,
serviços sociais, sistema de pensões, políticas activas de incremento do
emprego e protecção no desemprego, habitação social, etc. Tal pressupõe
tornar possíveis alguns dos princípios básicos de um Estado de direito:
fomentar a igualdade de oportunidades (educação, políticas activas de
emprego);
- Direito à saúde (sistema sanitário); protecção na privação ou
redução de rendimento em relação ao trabalho (desemprego, serviços

19.
sociais, pensões) e apoio à família (serviços sociais, habitação social, etc.).
(Maravall Gomez- Allende, H. (1998) citado por Requejo Osório, A. (2007)).
O mesmo autor declara ainda que, a partir de uma orientação sócio -
histórica, é possível ter uma política social não determinista e fatalista,
contrariamente às concepções tradicionais. Assim os princípios que a devem
reger são os definidos, com carácter geral e normativo, pelas Nações Unidas
em 1991, e que foram revistos em 2001: princípio da independência, que
inclui temas como a alimentação, a habitação, a saúde, os rendimentos,
trabalho e educação; princípio da participação nas políticas que afectam
directamente o bem-estar próprio; princípio da assistência e cuidados na
área da saúde e também no do acesso aos serviços sociais e jurídicos;
princípio da auto-realização, no que diz respeito aos recursos educativos,
culturais, espirituais e recreativos da sociedade; e por fim princípio da
dignidade, para poder conviver satisfatoriamente e com segurança, livre de
exploração e de maus - tratos físicos e psíquicos.
Citando George Minois (1999, p.18), « Cada sociedade tem os velhos
que merece, como a história antiga e a medieval amplamente demonstram.
Cada tipo de organização socioeconómica e cultural é responsável pelo
papel e imagem dos seus velhos. Cada sociedade segrega um modelo de
homem ideal e é desse modelo que depende a imagem da velhice, a sua
desvalorização ou valorização.»

3. Perspectiva Internacional: I Assembleia Mundial de Viena (1982);


II Assembleia Mundial de Madrid (2002) e III Assembleia Mundial
de León (2007)

20.
Requejo Osório, A. y Pinto Cabral, F. (2007) referem que foram diversos
os acontecimentos internacionais que marcaram a política social em relação
às pessoas idosas a partir dos anos setenta, altura em que se vislumbraram
as primeiras tendências do envelhecimento da população.
O primeiro, foi a celebração da I Assembleia Mundial de Viena sobre o
envelhecimento, em 1982; o segundo, a Assembleia das Nações Unidas a
favor dos idosos, em 1991, que orientou os princípios gerais básicos da
política social para a promoção desta faixa etária.
A primeira reunião mundial para analisar as questões relacionadas
com as pessoas idosas teve lugar em Viena, como referido, tendo sido aí
redigido o “ Plano de Viena”, constituído por duas partes: considerações
gerais de política social e recomendações pontuais de acção.
Como resultado, destacam-se três aspectos fundamentais: 1)
desenvolvimento de um papel activo na sociedade; 2) preparação para esse
papel na fase de reforma; 3) proporcionar nesta fase a oportunidade de
realização pessoal através de uma série de actividades, entre as quais se
incluem as de formação contínua.
No que diz respeito às recomendações pontuais para as acções,
foram tidas em atenção as preocupações das pessoas idosas e
circunscreveram-se aos seguintes aspectos: saúde e nutrição; habitação e
meio ambiente; família; bem-estar social; segurança do rendimento e
emprego e educação. De salientar que estas últimas estão relacionadas com
aspectos tão essenciais como os que vão desde a utilização das pessoas
idosas como transmissores de conhecimento, cultura e valores espirituais
para as novas gerações, à concepção de uma educação disponível para
todas as idades, sem esquecer os aspectos de educação do público sobre o
processo de envelhecimento.

21.
Vinte anos após este acontecimento em Viena, surge a II Assembleia
das Nações Unidas em 2002, que teve lugar em Madrid, cujo lema básico foi
“uma sociedade para todas as idades”, o que implica quatro considerações
(Magalhães, E. E.R. (2004)):
1) O desenvolvimento individual durante toda a vida;
2) As relações multi-geracionais;
3) A relação mútua entre envelhecimento da população e o
desenvolvimento;
4) A situação das pessoas idosas.
As orientações prioritárias relativas a essas considerações propostas
para serem cumpridas são: assegurar e manter o desenvolvimento em todas
as idades, criar ambientes potenciadores para todos os grupos etários;
assegurar o bem-estar das pessoas idosas.
O autor supra citado refere ainda que na II Assembleia Mundial, se
ampliaram e aprofundaram os temas iniciados na I Assembleia, e que se
assumiu que os problemas do envelhecimento afectam mundialmente todos
os países, seja qual for o nível de desenvolvimento de cada um.
A Declaração Ministerial de León, realizada em León em 2007,
centrou-se no tema Una Sociedad para Todas las Edades: Retos y
Oportunidades (Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales (2007)). Dos 24
pontos desta declaração, todos eles de extrema importância, podem-se
salientar os pontos 7, 8, 12, 13 e 17 por estarem estreitamente relacionados
com a temática em questão.
Declararam a importância de fomentar uma imagem positiva das
pessoas idosas, através do sistema educacional e campanhas nos mass
media, mostrando o desenvolvimento de actividades onde os mais velhos
podem dar a sua contribuição quer na família, quer na sociedade. Para

22.
promover a participação, consideram importante que o meio envolvente seja
propício a incrementar uma velhice activa: educação permanente; acesso às
tecnologias modernas e à informação; o voluntariado e a acção cívica. A
promoção da participação das pessoas, à medida que envelhecem, na vida
económica, social, cultural e política da sua sociedade. Esta participação
deve ser plena para conseguir uma velhice activa. Salientam ainda os
aspectos relacionados com os maus tratos e abandono, sendo necessária
uma protecção especial às pessoas idosas. Consideram o crescimento
económico um factor importante para uma sociedade em que todas as
idades sejam contempladas, pelo que será preciso retirar o máximo partido
da experiência e da competência que as pessoas de idade adquiriram ao
longo das suas vidas.
Para terminar, esta declaração ministerial considerou ainda a
importância de promover a solidariedade intergeracional, como sendo um
dos pilares da coesão social e da sociedade civil, para o que é preciso
sensibilizar o público sobre o potencial dos jovens e das pessoas idosas
para promover a compreensão do envelhecimento.

4. Gerontagogia: Intervenção Socioeducativa com Pessoas Idosas


A Gerontologia Educativa centra-se na análise das mudanças
psicossociais, afectivas e cognitivas que ocorrem nas últimas fases do ciclo
vital, para a partir daí poder potenciar os aspectos positivos dessas
mudanças e mesmo se possível diminuir os seus efeitos negativos.
Deste modo o trabalho do educador especializado em Gerontologia
consiste em descobrir o melhor modo de ajudar cada um a reconhecer as
possibilidades oferecidas pelas diferentes fases da vida, para melhor

23.
adaptação e uma maior satisfação vital e a manutenção de níveis óptimos
de qualidade de vida (Requejo Osório, A. e Pinto Cabral, F. (2007, p.56)).
Um dos princípios básicos assumidos pela Gerontologia Educativa
está relacionado com o objectivo de positivar o envelhecimento e a velhice,
acentuando as potencialidades do ser humano, seja qual for a sua idade
vital. Sendo necessário dar ênfase à potencialidade cognitiva, à
aprendizagem ao longo do ciclo vital e à noção de envelhecimento activo.
A noção de potencialidade cognitiva tem de ser entendida como a
capacidade de mudar e aprender ao longo de toda a vida, que depende
fundamentalmente dos contextos, sociais, culturais e do meio, e não
somente dos factores cognitivos. O que significa que a concepção e o
desenvolvimento de programas em Gerontologia Educativa devem ter em
atenção a influência dos efeitos geracionais e de “corte”, o desenvolvimento
cognitivo, a sensibilidade dos adultos e idoso perante determinados
programas de intervenção socioeducativa, em função da natureza desses
contextos e de variáveis como o sexo, a idade, o nível educativo e o nível de
saúde.
O conceito de aprendizagem ao longo do ciclo de vida implica uma
orientação no sentido de reorganizar os sistemas de ensino e construção de
uma sociedade de conhecimento. Entender a aprendizagem como resultado
que se espera da educação, da formação e da capacitação de idosos
implica também aumentar a consideração da potencialidade cognitiva de
aprendizagem de todos os sujeitos de qualquer idade.
Por fim, a noção de envelhecimento activo, a qual já foi referida
anteriormente, pressupõe que, do ponto de vista educativo, as propostas de
intervenção assentem na oferta de um enquadramento da actividade onde
se procura desenvolver uma atitude, uma nova filosofia de vida, um novo

24.
modo de viver a velhice, liberto de estereótipos (Víctor Martín, A. (2007,
p.58)).
O mesmo autor declara que a Gerontologia Educativa como área de
intervenção pode, por um lado, assumir a maior parte dos pressupostos
teóricos e de actividade promovidos na educação social de adultos, tais
como: desenvolvimento comunitário; actividades próprias da educação
popular (participação cívica, recuperação de tradições populares…), acções
de educação para o desenvolvimento, de solidariedade e cooperação social
(voluntariado, grupos de auto-apoio e auto-ajuda, etc.), ou em programas de
educação e formação básicas.

Por outro lado, é necessário especificar também que todas as


intervenções devem atender ao princípio da individualidade, considerar que
cada idoso tem as suas capacidades, necessidades e interesses próprios,
precisando para tal de uma atenção particularizada, mesmo que seja dada
dentro de um grupo.

5. Programas Intergeracionais/Algumas considerações


Os Programas Intergeracionais, cuja designação se apresenta bem
clara, são programas que envolvem várias gerações, cujos objectivos serão
apresentados mais à frente e que se pode adiantar que têm de ser de
interesse para todos os envolvidos e também à própria sociedade.
Vega Vega e Buéno (2001) referem-se a este tipo de programa quando
envolve várias gerações, em actividades planeadas, com o objectivo de
desenvolver novas relações e alcançar objectivos específicos.
O Consórcio Internacional para os Programas Intergeracionais (ICIP)
(1999) chegaram a acordo na seguinte definição do que é um programa
intergeracional: «Los programas intergeracionales son vehículos para el

25.
intercambio determinado y continuado de recursos y aprendizage entre las
geraciones mayores y las más jóvenes con el fin de conseguir benefícios
individuales y sociales», citado por Sánchez Martínez, M. e Díaz Conde, P.
(2005, p. 393).
Para se perceber melhor esta designação entenderam os autores que
tinham de ter um conjunto de características essenciais e que se passam a
descrever:

− Demonstrar benefícios mútuos para os participantes;


− Estabelecer novos papéis sociais e /ou novas perspectivas para as
crianças, jovens e idosos implicados;
− Envolver várias gerações, incluindo pelo menos duas gerações,
não adjacentes e sem laços familiares;
− Promover maior conhecimento e compreensão entre as gerações
mais jovens e as mais idosas, bem como o aumento da auto-
estima para ambas as gerações;
− Ocupar-se dos problemas sociais e das políticas mais apropriadas
para as gerações implicadas;
− Incluir os elementos necessários para uma boa planificação do
programa;
− Proporcionar o desenvolvimento de relações intergeracionais.
Embora esta caracterização possa ser discutida há um aspecto que
não suscita de dúvidas: para falar destes programas, não é suficiente que
pessoas de diferentes gerações participem numa actividade. Trata-se de um
programa e não de simples actividades o que implica uma complexidade
maior, pois o facto de colocar em contacto diferentes grupos de idades não
garante êxito nem o cumprimento de qualquer objectivo. O facto de estarem
presentes diferentes gerações deve ser entendido como a chave da

26.
planificação para a intervenção e não como um elemento decorativo (Fox e
Giles (1993), citados por Sánchez Martínez, M. e Díaz Conde, P. (2005, p.
394)).
De salientar que o termo geração tem uma concepção problemática.
Para um melhor entendimento passa-se a citar uma nova definição numa
perspectiva da sociologia da relação: «La Generación es el conjunto de
personas que comparten una relación, aquella que liga su colocación en la
descendencia propia de la esfera familiar-parental (esto es: hijo, padre,
abuelo, etc.) con la posición definida en la esfera societal con base en el
“edad social» (es decir, de acuerdo con los grupos de edad: jóvenes,
adultos, ancianos, etc.)” (Donati, (1999, p. 37)).
A melhor forma de ilustrar o que é um programa intergeracional será
recorrer a alguns exemplos destes programas a funcionar num certo número
de países:

− Abuelos por decisión própria (Uruguai): pessoas idosas formadas


adequadamente, quase sem relação com filhos e netos devido à
emigração destes, visitam e mantêm contacto telefónico semanal com
crianças vítimas de abusos, internadas em centros de protecção;
− Los mayores tambén cuentan (Espanha): A Fundação Girassol
promove a formação de pessoas idosas como contadoras de contos
para intervirem mais tarde em bibliotecas, escolas, prisões,
associações de imigrantes e outros espaços. Assim ao mesmo tempo
que os idosos adquirem habilidades e capacidades para manter a sua
memória em boas condições, grupos de crianças e jovens aprendem,
entre outras coisas, a relacionar-se e a valorizar os idosos;

27.
− Experience corps (EEUU): pessoas idosas, em ligação com escolas e
famílias, dedicam quinze horas semanais a melhorar as habilidades
de leitura e escrita de crianças que estão na Educação Primária;
− Magic Me (Grã-Bretanha): esta organização dedica-se a programas
intergeracionais que, através da arte, consigam facilitar a interacção
entre crianças na idade escolar, por exemplo, idosos com demência
que vivem em residências ou em centros de dia. Também pretende
promover a compreensão cultural e reduzir o isolamento social de
imigrantes jovens e idosos;
− The granded program (Suécia): com a finalidade de que a figura da
pessoa idosa esteja mais perto das crianças, voluntários idosos vão
às escolas para realizar trabalhos de apoio diversos (preparação de
acontecimentos, ajuda na organização de actividades lúdicas,
resolução de conflitos, etc.) em coordenação com os profissionais
desses centros educativos.

6. O Ócio e Intervenção com Pessoas Idosas


O ócio é um conceito complexo que foi definido de diferentes
maneiras e teve diversas abordagens ao longo da história.

A preocupação intelectual com o ócio – scholé – termo grego que


significa “parar-se”, ter repouso, ter paz, ter tempo desocupado ou ter tempo
para a formação própria, aparece pela primeira vez na Grécia. Assim scholé
ou ócio significa dispor de tempo para a formação não utilitária da pessoa.
Entre os gregos, o ócio é o oposto do trabalho; implica libertar-se da
necessidade do trabalho e dispor de tempo para si mesmo (Pedro y García,
F. (1984), citado por Rodríguez Carrajo, M. (1999)).

28.
Para os romanos, o ócio é um tempo de descanso e de recreação do
espírito, necessário depois do trabalho para poder voltar a ele, não é um fim
em si mesmo, como na Grécia.

Durante a Idade Média o trabalho e o ócio eram controlados pelas


horas de sol e pela Igreja. A duração do trabalho oscilava assim entre o
mínimo de oito ou nove horas e o máximo de dezasseis, segundo Inverno ou
Verão. A Igreja determinava os dias festivos para além dos domingos, nos
quais homens e mulheres não trabalhavam.
A partir do século XVII, os novos valores éticos e religiosos que
passam a considerem o trabalho como uma virtude suprema e o ócio como
um detestável vício, o que leva à desvalorização do ócio.
Com a Revolução Francesa surgem as últimas mudanças que terminam
com a configuração do trabalho e ócio modernos. Surge assim a sociologia
do ócio, que nasce nos Estados Unidos, aproximadamente nos primeiros
vinte e cinco anos do século XX, e depois mais tarde passa à Europa e à
União Soviética. Prepara-se assim o terreno para poder levar a cabo as
actividades do ócio e se estender o tempo livre a todas as classes sociais
(Puig Rovira, J. e Trilla, J. (1996), citados por Rodríguez Carrajo, M. (1999)).
Martínez Rodríguez S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 434), citam
Neulinger (1981) e Neulinger e Breit (1969), que descreveram o ócio sob
uma perspectiva psicológica: a percepção da liberdade por parte do sujeito e
o tipo de motivação que o impulsiona a uma determinada prática. Com esta
caracterização entende-se que qualquer actividade pode ser experimentada
como ócio pela pessoa, se esta a elegeu livremente e se sente motivada por
ela, pela satisfação que a própria actividade lhe proporciona.
Esta concepção permite perceber que o ócio não pode ser entendido
como um tempo determinado (férias, fim-de-semana, etc.) ou uma série de

29.
actividades concretas (ler, ir ao cinema, ver televisão, etc.), mas sim como
uma experiência pessoal e subjectiva, e é neste sentido que deve ser
orientada a intervenção pelos profissionais da Gerontologia.
As múltiplas investigações sobre os benefícios do ócio justificam que
seja considerado pelos profissionais da Gerontologia como um recurso a
utilizar nas intervenções com pessoas idosas (Driver, Brown e Peterson
(1991) citados por Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p.
434)).
Também Vega e Bueno (2000) se referem aos benefícios das
actividades de ócio nas pessoas idosas, pois que têm muito mais tempo livre
e podem desfrutar de novas referências e significados que estas lhes
proporcionam.
Um trabalho realizado por Driver e Bruns (1999) salientou os
benefícios do ócio em quatro categorias: benefícios pessoais (psicológicos e
psico-fisiológicos); benefícios sociais e culturais; benefícios económicos e
benefícios do meio ambiente.
O conhecimento destas vantagens associadas ao desfrute do ócio
pode proporcionar ao gerontólogo aspectos importantes para a sua
intervenção e servir como argumento para motivar a participação e reflexão
dos indivíduos ou grupos que o necessitem (Martínez Rodríguez, S. e
Gómez Marroquín, I. (2005, p. 435)).
O mesmo autor declara que, apesar de o ócio acarretar importantes
benefícios para as pessoas de qualquer idade, melhorando a qualidade de
vida, e de constituir um recurso de primeira importância no ajuste com êxito
em situações vitais durante a velhice (reforma, doença, luto, etc.), sabe-se
através das estatísticas que, em geral, as práticas de ócio são mais pobres,
menos frequentes e menos variadas do que seria desejável.

30.
Os mais importantes modelos conceptuais de ócio terapêutico
elaborados por Peterson e Gunn (1984), Dattilo e Kleiber (1993) e Widmer e
Ellis (1997), citados por (Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I.
(2005, p. 435)), incluem a educação para o ócio entre as fases do processo
terapêutico.
A educação para o ócio deve permitir que a pessoa adquira a
autonomia que lhe permita aceder a experiências de ócio satisfatórias. Esta
autonomia inclui não só a sensibilidade suficiente sobre a importância do
ócio, mas ainda os recursos pessoais que permitam tomar decisões sobre o
mesmo e, especialmente, adquirir confiança em si mesma e iniciativa
pessoal. Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 445)
referem que a função de uma educação para o ócio, numa perspectiva de
desenvolvimento da autonomia pessoal, tem dupla acção:
− Ampliar horizontes de ócio, para que a pessoa descubra novas
realidades (experiências, informações, opiniões, recursos…) que,
directa ou indirectamente, possam favorecer as suas vivências de
ócio, promovendo o aumento de uma sensação pessoal de controlo e
capacidade;
− Constituir um espaço prático de autonomia onde possa desenvolver a
sua criatividade para prosseguir activamente com as novas
realidades.
Assim, o uso de actividades lúdicas e de ócio com pessoas idosas não
pode ser concebido de maneira nenhuma como um recurso «para ter a
pessoa entretida, mas sim como forma de considerar o valor que têm para
estimular o sujeito de várias formas, com a finalidade de provocar o
aparecimento de estados emocionais positivos e para se envolverem em

31.
acções que mantenham a possibilidade de actividade, a integração no
ambiente e que proporcionem sentido à vida.
Importante introduzir, nos programas de intervenção que o gerontólogo
se propõe executar, esta sensibilidade para o ócio, pois que o desfrutar o
ócio é um recurso fundamental para a vivência de experiências positivas,
óptimas, que favorecem estados afectivos positivos, que levam por sua vez
à melhoria das habilidades sociais, treino das funções cognitivas e
funcionais, e estas são as bases para que a pessoa seja autónoma no treino
e desenvolvimento das suas faculdades físicas e psíquicas.

7. Uma abordagem ao Envelhecimento Produtivo. Será uma forma


de Ócio?
Num trabalho recente, Butler (2000, p.12), citado por G. Caro, F. e
Mariano Sánchez (2005) precisava o envelhecimento produtivo desta forma:
«La capacidad de un individuo o una población para servir en la fuerza de
trabajo remunerada, en actividades de voluntariado, ayudar en la familia y
mantenerse tan independiente como sea posible».
Esta concepção mostrou-se limitada, uma vez que define com muita
precisão os âmbitos da aplicação da produtividade.Uma outra proposta que
parece ser mais adequada refere que «El envejecimiento productivo es
cualquier actividad, remunerada o no, desarrollada por una persona mayor,
que produce bienes o servicios o desarrolla la capacidad para producirlos».
Este conceito coloca mais claramente o envelhecimento produtivo no espaço
da sociedade, deixando de lado a possibilidade de que as acções que uma
pessoa idosa efectua para seu próprio benefício e cuidado sejam também
produtivas Bass, Caro e Chen (1993, p.6).

32.
Posto isto, então em que consiste o envelhecimento produtivo? Que
conceito de produtividade deveremos utilizar?
Os autores supra citados declaram que o verdadeiro interesse do
envelhecimento produtivo e o que a distancia dos outros envelhecimentos
(envelhecimento satisfatório, envelhecimento saudável, envelhecimento
activo, envelhecimento normativo, envelhecimento competente…) é a ênfase
no impacto que as actividades realizadas pelas pessoas idosas podem ter
sobre as condições sociais e económicas, a criação de riqueza e o bem
comum. Neste sentido não se presta atenção a acções individuais que têm
como objectivo fundamental a procura de benefício individual: exemplo disso
é o exercício físico para manter-se em forma ou a aprendizagem dirigida
para a activação cognitiva.
Assim o envelhecimento produtivo centra o seu interesse no bem-estar
colectivo e questiona-se sobre o que podem fazer as pessoas idosas para
contribuir para o mesmo. O que interessa para o envelhecimento produtivo
não é a obrigação de participar mas as oportunidades para fazê-lo, os
contextos e as repercussões dessa participação. Pelo que será importante
saber o que os idosos desejam e conceder-lhes esse direito.
A hipótese de Bass, S.A., Caro, F.G. e Chen, Y.P. (1993,pp. 12-13)
clarifica esta ideia dizendo que, se o trabalho e o voluntariado se
apresentassem de modo mais atractivo como opções na fase mais
avançada da vida, muitas destas pessoas se implicariam.
G. Caro, F. e Mariano Sánchez (2005) referem que o envelhecimento
produtivo está ligado ao desenho das políticas de envelhecimento, que
propõem o seguinte:
− Ampliar a vida laboral: recomenda-se, como já está a acontecer no
contexto europeu, flexibilizar o conceito de reforma;

33.
− Fortalecimento dos serviços através do voluntariado: estudando-se de
que maneira pode complementar os serviços públicos;
− Desenvolvimento comunitário mediante a implicação cívica: a
participação das pessoas idosas pode ser muito significativa nesta
construção.
Uma maneira frutífera de encarar o envelhecimento produtivo seria ter
em conta as expectativas públicas acerca das necessidades dos idosos,
sobre a sua capacidade para contribuir significativamente, e acerca da
relação ócio-produtividade.
Nesta linha de pensamento o ócio pode ser produtivo, se os idosos o
pretenderem, o que implica serem autónomos na decisão dessa implicação
social.

8. Conclusão
Salienta-se a importância do envelhecimento activo para uma melhor
qualidade de vida do idoso e a importância do envolvimento pessoal neste
processo que leva a um envelhecimento com êxito.

Urge a implicação político-social neste contexto, com a adopção de


medidas anunciadas nas reuniões da I, II e III Assembleias das Nações
Unidas, o que significa que a preocupação dos países envolvidos no
fenómeno do envelhecimento populacional vem pelo menos de há vinte e
seis anos, altura em que a I Assembleia reuniu em Viena, como já tivemos
ocasião de referir no texto.

O grande passo acontecerá pois, quando as sociedades partirem da


realidade, ou seja, da velhice vivida, em vez da sua concepção abstracta.
Para isso será importante estudar os próprios velhos e adaptar a sociedade

34.
às suas necessidades, permitindo a sua plena satisfação física, psíquica e
social, em vez de decretar que o velho é o sábio e querer obrigá-lo a ser.

Cabe ainda dar relevância à perspectiva psicológica do ócio, já referida


anteriormente, sendo a percepção de liberdade por parte do sujeito e o tipo
de motivação que o impulsiona a uma determinada prática a chave do êxito.
Ou seja, qualquer actividade pode ser experimentada como ócio pela
pessoa se esta a elegeu livremente e se sente motivada por ela, pela
satisfação que a própria actividade lhe proporciona.
Dentro desta perspectiva é de salientar a alusão feita no texto ao
envelhecimento produtivo, tendo a noção que não é para todas as pessoas
idosas, mas salvaguarda as que estão interessadas e podem participar em
actividades socialmente significativas.
Para finalizar, passa-se a citar:
«Quando as pessoas mais jovens, com a superioridade das suas forças e
da sua atitude confiante, se riem de nós nas costas e acham engraçado o
nosso penoso andar, os nossos cabelos brancos e os nossos pescoços
emagrecidos e tendinosos, também nós nos lembramos de ter em tempos
idos, em posse de igual vigor e confiança, rido da mesma maneira; não nos
sentimos derrotados nem inferiores, em vez disso alegramo-nos por ter
atingido esta fase da vida e por nos termos tornado um bocadinho mais
espertos e mais tolerantes.»Hermann Hesse (2002, p. 67)

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