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RIO DE JANEIRO
2010
i
RIO DE JANEIRO
2010
ii
Dedicatória
Epígrafe
xi, xx p.
RESUMO
Sumário
I. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1
IV - O CASO LATINO-AMERICANO........................................................................................35
V- CONSIDERAÇÕES FINAIS----------------------------------------------------------------------------------------48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_______________________________________________________52
1
I. INTRODUÇÃO
"realidade manifesta"?
a realidade deste “Sistema Penal”, que não quer mais “incluir os excluídos” e sim
passo, essa pesquisa busca contribuir, mesmo com suas limitações, para uma
1
A aproximação materialista realizada pela Criminologia Crítica não se faz a partir de versões ortodoxas,
mas antes a partir do que se pode chamar de materialismo aberto. Neste sentido, BARATTA compreende que
“é possível definir a herança de Marx para o nosso tempo, renunciando ao materialismo dialético a favor do
materialismo histórico no seu significado humanista; renunciar ao marxismo acadêmico para recuperar a
grande lição humanista e emancipatória de Marx junto com seu método global de análise das relações
sociais.” (BARATTA,, Alessandro. O Estado Mestiço e a Cidadania Plural. Reflexões para uma
3
discurso e prática punitiva, mas que venha a construir um discurso que deixe a
análise. Sendo assim, ao primeiro capítulo cabe elucidar de que forma se constrói
e sua formação Estatal. Visto que ele é aqui entendido enquanto prática concreta
estrutura social.
resistência. E parecem ser a difusão dessas idéias num trabalho como este uma
sócio-econômica capitalista.
5
Crítica.
perspectiva materialista.
conhecimento.
2
ZAFFARONI, Raúl Eugenio. Sistemas Penales y Derechos Humanos en América Latina. Buenos Aires:
Depalma, 1984. p.70. As escolas criminológicas que se apóiam sobre o paradigma etiológico buscam uma
resposta causal-explicativa para a criminalidade.
6
3
Mudança introduzida por correntes sociológicas de origem fenomenológica que passaram a determinar
como objeto de investigação criminológica não mais a criminalidade como dado pré-constituído da realidade,
mas o próprio processo de definição social e reação social que constituem esse status de criminalidade.
4
BARATTA, Alessandro. Por una teoría materialista de la criminalidad y del control social. Estudios
Penales y Criminológicos, Santiago de Compostela, , nºXI, p.15-68, 1989. Separata. p.19.
5
São considerados autores da Criminologia Radical, especialmente Schwendinger e T.Platt, da Escola de
Criminologia de Berkeley. (ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do
controle da violência à violência do controle penal, 1997. p.187).
6
A Nova Criminologia, por sua vez, tem seu desenvolvimento no continente europeu, Inglaterra, a partir da
National Deviance Conference, que tinha como principais idealizadores Taylor, Walton Young.
(ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à violência
do controle penal, 1997. p.187).
7
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à violência
do controle penal, 1997. p.188.
7
aplicação.9.
Por outro lado, CASTRO entende que a Criminologia deve ser uma
8
BARATTA, Alessandro. Por una teoría materialista de la criminalidad y del control social, 1989. p. 21.
9
“estudio de todas aquellas instancias, instrumentos, categorías y momentos sólo previstos por las normas
jurídico-penales que promuevem la legitimación del orden, pero no ya en su dimensión dogmática sino en
aquella dialéctica que pretende demostrar cuáles son los intereses socio-culturales y político-econômicos que
articulados en el sistema de producción están en su gênesis desarrollo y aplicación”(tradução
livre).BERGALLI, Roberto. Sentido y Contenido de una Sociologia del Control Penal para America Latina.
IN: Criminologia Crítica, I Seminario, Colombia, Universidad de Medellin, p.179-195, agosto/1984. p.191.
10
CASTRO, Lola Anyiar de. Criminologia de la liberacion. Maracaibo: Universidad Del Zulia, 1987. p.33.
8
ainda que não tenha nada a ver com o direito penal ou não
controle que atua de modo difuso, como por exemplo, a família, a escola, os
sistema penal, formado por diversas instâncias (Polícia, Lei, Ministério Público,
11
“ (...) no solo abarque el derecho penal, sino también las penas extralegales y extrajudiciales, la acción de
grupos paramilitares dentro de uma estrategia repesivo-penal, que aunque no tengam nada que ver con el
derecho penal o no sean parte del derecho penal formalmente vigente, representan un elemento esencial, en
determinadas fases del desarrollo de una sociedad, del control social penal.” (tradução livre). BARATTA,
9
depreende que o controle social, nos termos aqui expostos, pode ser entendido
Alessandro. No está en crisis la criminologia crítica. In: MARTINEZ, Maurício (org.). Que pasa en la
criminologia Moderna. Bogotá: Temis, 1990. p.118.
12
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Ilusão de Segurança Jurídica, 1997. p.173.
10
da reação social, o qual por sua vez, atende especialmente aos processos
13
Uma das obras que influenciou sobremaneira os estudos da integração positiva entre as
diversas forma de controle social foi a obra de Althusser. O autor, rompendo com a teoria
marxiana tradicional, passou a compreender que o Estado não era apenas formado por aparelhos
repressivos, mas também por aparelhos ideológicos, que embora difusos na sociedade,
apresentavam uma unidade ideológica, e em cujo espaço se deveriam travar as lutas de classes,
já que ele oferecia um campo objetivo de contradições. (Cf. ALTHUSSER, Louis. Ideologia e
Aparelhos Ideológicos do Estado. Trad. Joaquim J.M. Ramos. Portugal: Ed. Presença, 1978). Na
constituição do controle punitivo, um dos principais trabalhos que ressaltou a função positiva e o
papel da ideologia, entendida aqui enquanto sistema de idéias, ou do saber, , foi Foucault em sua
obra “Vigiar e Punir”, que será melhor abordada no capítulo posterior. Também Melossi e Pavarini,
na obra “Cárcere y Fabrica” identificam um elemento comum de reprodução dessas duas
instâncias do controle, qual seja, a disciplina. Sobre o controle penal enquanto subsistema do
controle social cf. também, BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal.
Introdução à Sociologia do Direito Penal, 1999. p.171-183; BERGALLI, Roberto. La ideologia Del
control social tradicional. Doctrina Penal.Teoria y Práctica en las Ciencias Penales, Buenos Aires,
nº3/12, p.805-818, [19..]; CASTRO, Lola Anyiar de. Criminologia de la liberacion., 1987; COHEN,
Stanley. Visiones de Control Social. Delitos, Castigos y Clasificaciones. Trad. Elena
Larrauri.Barcelona: PPU, 1988; PAVARINI, Massimo. Control y Dominación: teorias criminológicas
burguesas y proyecto hegemónico. 7ºed. Trad. Ignácio Muñagorri. México: Siglo Veintiuno, 1999;
DOS SANTOS, Juarez Cirino. A criminologia radical. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p.43-61.
11
14
Os principais autores da Escola Positiva italiana são Cesare Lombroso, com sua obra “L’Uomo
delinqüente” (1876) de enfoque especialmente antropológico; Raffaele Garofalo, com a obra “Criminologia –
studio sul delitto e sulla teoria della represione” (1891), de enfoque predominantemente jurídico; Enrico Ferri
e a obra “Sociologia Criminale” (1891), de enfoque sociológico. Cf. ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A
Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à violência do controle penal, 1997. p.60-71;
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do Direito
Penal, 1999. p. 38-41; PAVARINI, Massimo. Control y Dominación: teorias criminológicas burguesas y
proyecto hegemónico, 1999. p.95-98; I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia.
Contribución a una teoría social de la conducta desviada. Trad. Adolfo Crosa. Buenos Aires: Amorrortu,
1997. p.58-65.
12
sistema penal tanto sob o prisma do discurso científico quanto do senso comum.
(ressocialização).17
15
Segundo FOUCAULT, apenas com o desenvolvimento do poder disciplinar na sociedade
moderna, e sua expressão mais nítida no sistema penal, qual seja, o cárcere, é que então se
constitui plenamente o saber criminológico, capaz de produzir seu objeto de aplicação
(condenado-delinqüente) e aperfeiçoar a aplicação da pena. É através de um sistema
penitenciário que se torna possível um sistema de documentação individualizante e permanente,
que permite a construção da figura do delinqüente por um saber a serviço do poder punitivo. “É
como condenado e a título de ponto de aplicação de mecanismos punitivos, que o infrator se
constitui como objeto de saber possível.” (FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da Violência
nas Prisões. 23ºed. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987. p.210).
16
O paradigma dogmático da Ciência Penal, construído em fins do século XIX, início do século
XX, estabelecendo uma continuidade ideológica de garantia da liberdade individual frente ao poder
punitivo em relação à Escola Clássica, afirma-se a partir do juspositivismo e do método técnico-
jurídico, restringindo o objeto da Ciência Penal a uma identidade exclusivamente jurídica, mas
determinando por outro lado um diálogo, de caráter subsidiário, com as demais Ciências, como a
Sociologia e Antropologia, a fim de não recair no formalismo. Assim, marca-se um modelo que é
dominante até os dias atuais de integração das Ciências Penais, em que se estabelece o domínio
da Dogmática Penal e o caráter auxiliar da Criminologia, que cumpre apenas a função de
legitimadora da ordem estabelecida pelo discurso dogmático. (ANDRADE, Vera Regina Pereira
de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à violência do controle penal, 1997.
p.88.)
17
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à violência
do controle penal, 1997. p.137.
13
princípios supracitados e tendo-se em conta que ela ainda perdura como fator
18
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do
Direito Penal, 1999. p.41-47; BARATTA, Alessandro. Criminologia y Dogmática Penal. Pasado y Futuro del
Modelo Integral de la Ciencia Penal, 1982. p.30-33.
19
As principais teorias criminológicas que produzem algum avanço desconstrutor da ideologia penal são: as
teorias psicanalíticas da criminalidade e da sociedade punitiva, representadas especialmente por Theodor
Reik, Franz Alexander e Staub; a teoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia, desenvolvida a partir
da obra determinante de Emile Durkheim e do posterior desenvolvimento de Robert Merton; a teoria das
subculturas, que tem como representantes Edwin Sutherland e Albert Cohen; a teoria das técnicas de
neutralização de M. Sykes e David Matza. Cf. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do
Direito Penal. Introdução à Sociologia do Direito Penal, 1999. p.49-85; PAVARINI, Massimo. Control y
Dominación: teorias criminológicas burguesas y proyecto hegemónico, 1999. p.98-123; I. TAYLOR,
P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada,
1997. p.86-156.
14
análise crítica do que antes era dado como preexistente. Só assim se pode
reação social21 é entendida por BARATTA como sua estilização, que busca captar
20
ANDRADE, Vera Regina Pereira. Do paradIgma etiológico ao paradigma da reação social: mudança e
permanência de paradigmas criminológicos na Ciência e no Senso Comum. Seqüência, Florianópolis, Ano
16, nº30, p.24-37, junho de 1995. p.28.
21
Para WALTON, TAYLOR e YOUNG, o enfoque da reação social, influenciada fortemente pelo
interacionismo, não se constitui enquanto teoria cabal, mas antes como um redirecionamento da
criminologia e da sociologia do desvio. (Cf. I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva
criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada, 1997. p. 156-157). Já para
CASTRO, este paradigma compõe a Criminologia da Reação Social, a qual compreende as
teorias da rotulação (Becker, Erikson, Kitsuse, Lemert), do estigma (Goffman) e do estereótipo
15
forma como as outras pessoas atuam com respeito a nós mesmos”.24 Há também
(das intenções do outro com base na qual determinamos nosso curso de ação
subseqüente)”.25
(Chapman), além das variáveis da sociologia do conflito (Turk). (CASTRO, Lola Anyiar de.
Criminologia da Reação Social. Trad. Ester Kosovski. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p.98).
22
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do
Direito Penal, 1999. p.92.
23
A partir dos autores interacionistas desenvolve-se especialmente o que se convencionou chamar de teoria
da rotulação. Entretanto, de modo geral, ela apresenta variações de acordo com cada autor. Vale ressaltar
que, muito próximo à teoria da rotulação, há a também a teoria do estereótipo desenvolvida por Chapman
(Cf. CASTRO, Lola Anyiar de. Criminologia da Reação Social, 1983.p.123-133; sobre as diferenças entre a
teoria da rotulação e teoria do estereótipo, p.132-133; CHAPMAN, Denis. El estereotipo Del delincuente y
sus consecuencias sociales. In: OLMO, Rosa del. Estigmatizacion y conduta desviada.Venezuela:
Universidad del Zulia, 1973. p.161-184). Importante, entretanto, determinar a base comum interacionista de
ambas as teorias.
24
“(...) el yo es un producto social, y que la forma en que actuamos y nos vemos como individuos es en parte
consecuencia de la forma en que otras personas actúan con respecto a nosotros”. (tradução livre) I.
TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la
conducta desviada, 1997. p.159.
25
“(...) la interacción social es un proceso interpretativo y negociado (de las intenciones del otro en base al
cual determinamos nuestro curso de acción subsiguiente).” (tradução livre). LARRAURI, Elena. La herencia
de la criminologia crítica. 2ºed. Mexico: Siglo Veintiuno Editores, 1992. p.26-27.
16
conduta é desviada enquanto definida como tal e que a partir desta primeira
desviado e passa agir enquanto tal, gerando o que Lemert chama de desvio
26
“Desviado para quién? o Desviado respecto de qué?” (tradução livre). Schur, 1971, apud I. TAYLOR,
P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada,
1997. p.157.
27
Para Lemert, no desvio secundário “las ‘causas’ originales de la desviación desaparecen y ceden el lugar a
la importância central de las reacciones de desaprobación, degradación y aislamiento de parte da sociedad.”
(LEMERT, Edwin M. Desviación Primaria y Secundaria. In: OLMO, Rosa del. Estigmatización y conducta
desviada. Venezuela: Universidad de Zulia, 1973. p.98).
28
Emprestando a noção de carreira, normalmente empregada em estudos sobre ocupações profissionais,
Becker desenvolve uma explicação sobre as carreiras dos desviados que é acionada a partir da reação social a
um primeiro comportamento. (Cf. BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la Desviación. Trad. Juan
Tubert. Buenos Aires: Tiempo Contemporâneo, 1971. p.33-45). Desmistifica-se, através da idéia de carreiras
desviantes e desvio secundário o princípio do fim ou da prevenção da pena, pois fica demonstrado que a pena
não realiza uma função de prevenção da ‘criminalidade’, mas ao contrário, é parte constitutiva do processo de
criminalização. (Cf. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à
Sociologia do Direito Penal, 1999. p. 89-92.) Por outro lado, WALTON, TAYLOR e YOUNG entendem que
a compreensão sobre desvio secundário (Lemert) e carreira desviante (Becker) contrariam o próprio
pressuposto do interacionismo ao incluir em suas análises essa variante determinista, além de assentarem-se
em conclusões psicossociais duvidosas. (Sobre as críticas ao interacionismo simbólico, cf. I. TAYLOR,
P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada.,
1997. p.167-174).
17
de uma análise psicossocial, ela constitui o paradigma da reação social, que por
sua vez, reproduz essas limitações, malgrado seu salto qualitativo com referência
ao paradigma etiológico.
29
“Esta se concentra en la forma en la que la sociedad trata a quienes accidental o indeliberadamente
infirngen las normas del juego, describiendo cómo las personas son definidas por los demás (por reacción de
la sociedad) como delincuentes, drogadictos, o pacientes mentales. En otras palabras, lo que comienza siendo
un ataque contra quienes oficial o extraoficialmente detentam el poder de la sociedad (...). Por supuesto que
hay quienes definen y quienes son definidos, pero a ¿a quién representan los primeros? ¿ Qué intereses
defienden? ¿ Cómo aifanzan con sus actos el carácter actual de la sociedad capitalista? No se da ninguna
respuesta a esas preguntas: quienes definen son un grupo de villanos que trabajan por cuenta
propia.”(tradução livre). L.Taylor e I. Taylor, 1968 apud I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva
criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada, 1997. p. 183. Ora, essas
considerações são similares às limitações apresentadas pela doutrina jurídica.
30
Sobre considerações gerais quanto a etnometodologia, cf. LARRAURI, Elena. La herencia de la
criminologia crítica, 1992. p.40-49; I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia.
Contribución a una teoría social de la conducta desviada, 1997. p. 189-225.
31
I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la
conducta desviada, 1997. p.210.
18
32
I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la
conducta desviada, 1997. p. 211 e p.222.
33
I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la
conducta desviada, 1997. p.218.
34
“Las reglas básicas o interpretativas dan al actor um sentido cambiante y em desarrollo de la estructura
social que le permite asignar significado o pertinencia a un ambiente de objetos. Las reglas superficiales
normativa permiten al actor vincular su visión del mundo con la de otros en una acción social concertada y
suponer que el consenso o un acuerdo compartido rige la interacción.” (CICOUREL, 1970 apud I. TAYLOR,
P.WALTON y J. YOUNG. La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada,
1997, p.219). Nesse mesmo sentido, também Sack propõe o deslocamento da análise das normas plano
puramente jurídico para o plano sociológico, distinguindo as regras e as meta-regras, sendo essas últimas, as
“regras objetivas do sistema social”. Desta mudança de perspectiva, Sack radicaliza o paradigma da reação
social no sentido de demonstrar a seletividade que opera no processo de criminalização, verificando que,
através principalmente da utilização de meta-regras por parte das agências de controle social, distribui-se a
etiqueta negativa de desviado no mesmo sentido em que se distribuem desigualmente os privilégios.
Conseqüentemente, desconstrói-se também o princípio da igualdade, que compõe a ideologia penal oficial.
(Cf. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do
19
significados, Garfinkel entende que eles são ainda frágeis para estabelecer uma
ordem comum. Em assim sendo, afirma ser o medo da sanção o que reforça a
possibilidade de se guiar a partir da norma. O que, por sua vez, também não
bem como das atribuições de significados e decisões de ação dos atores, afirma
que:
Direito Penal, 1999. p.104-106; CASTRO, Lola Anyar de. Criminologia da Reação Social, 1983. p.110-
111).
35
LARRAURI, Elena. La herencia de la criminologia crítica., 1992. p.42-45. Também comentários sobre o
estudo das regras de Garfinkel, cf. LEMERT, Edwin M. Desviación Primaria y Secundaria, 1973, p.100-102.
20
próprio ator..36
tornam-se, muitas vezes, estéreis, por manter intactas todas as outras estruturas
36
“A diferencia de la noción algo estática de las actitudes interiorizadas como disposiciones para actuar de
determinada manera, la idea de normas báscias o interpretativas debe especificar cómo el actor tramita y
construye la acción possible y evalúa los resultados de la acción terminada (...). Por conseguiente, el
aprendizaje y uso de reglas o normas generales y su conservación a largo plazo requieren siempre más reglas
interpretativas básicas para reconocer la importacia de las escenas reales y cambiantes, que orientan al actor
respecto de posibles cursos de acción, la organización de muestras de comportamiento y la evaluación
reflexiva del proprio actor.” (tradução livre). Cicourel, 1970, apud I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG.
La nueva criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada, 1997. p.220.
37
Para aprofundar-se nas críticas ao enfoque do interacionismo e da etnometodologia no paradigma da reação
social, cf. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia
do Direito Penal, 1999. p.114-117; PAVARINI, Massimo. Control y Dominación: teorias criminológicas
burguesas y proyecto hegemónico, 1999. p.130-137; I. TAYLOR, P.WALTON y J. YOUNG. La nueva
criminologia. Contribución a una teoría social de la conducta desviada, 1997. p.156-215; LIAZOS,
Alexander. La pobreza de la Sociologia de la Desviacion. In: OLMO, Rosa del. Estigmatización y conducta
desviada. Venezuela: Universidad de Zulia, 1973. p.187;217; ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Do
paradigma etiológico ao paradigma da reação social: mudança e permanência de paradigmas criminológicos
na ciência e no senso comum, 1995.
21
político.
38
“El modelo sociológico conflictivo vê por tanto como momento prioritário el domínio de algunos respecto
de los otros, domínio que se traduce em el poder de coerción (criminalización); (...) Quien detenta el poder
político, detenta también el poder de criminalizar: la criminalidad es así una realidad social creada a través
del proceso de criminalización.” (tradução livre). PAVARINI, Massimo. Control y Dominación: teorias
criminológicas burguesas y proyecto hegemônico, 1999. p.140. Ao politizar a questão criminal, afirmando
que os interesses resguardados no Código Penal correspondem aos interesses de grupos que possuem poder, a
sociologia do conflito desconstrói epistemologicamente o princípio do interesse social e do delito natural, que
tem como um dos pressupostos a homogeneidade de valores e a existência, sob bases jusnaturalistas, de
valores comuns e a-históricos defendidos pelo ordenamento jurídico-penal. (Cf. BARATTA, Alessandro.
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do Direito Penal, 1999. p.119-122.)
39
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do
Direito Penal, 1999. p.143-145.
22
do paradigma da reação social, através dele41. A maior parte delas foi aceita ou
produzida pela Criminologia Crítica e tornou-se ponto de partida para seu ulterior
definição se fará a partir de um universo mais amplo que o próprio sistema penal
Assim sendo:
40
Também foi de fundamental importância o desenvolvimento de estudos sociológicos e historiográficos
sobre o fenômeno criminal para a construção da criminologia contemporânea. Em especial o enfoque
historiográfico, a partir especialmente dos trabalhos de Rusche e Kirshheimer (“Punição e Estrutura Social”)
e Foucault (“Vigiar e Punir”), serão abordados no capítulo subseqüente ao se buscar traçar uma análise
macro-estrutural do processo de criminalização.
41
BARATTA define as críticas de esquerda como sendo “aquellas asumidas por discursos que (...) tiendem a
llevar la crisis a sus consecuencias radicales, desde uma perspectiva científica y política que adopta el punto
de vista de los intereses de las clases subalternas”. (BARATTA, Alessandro. Por una teoría materialista de la
criminalidad y del control social.,1989. p.20)
42
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à violência
do controle penal, 1997. p.215-216.
23
43
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do
24
podem vir a ser qualificadas como desviada47, por tê-las infringido, resultam
la Sociedad ante la Conducta Desviada: Problemas de Teoria y Método. In: OLMO, Rosa del.
Estigmatización y conducta desviada. Venezuela: Universidad de Zulia, 1973.p.54.
47
Para a maioria dos interacionistas, como Becker, a conduta somente é qualificada como desviada quando,
além de transgredir uma norma, é objeto de reação social. Enquanto não há reação social, ela se constitui
apenas enquanto conduta transgressora, que entretanto, não sofre as conseqüências do etiquetamento. Para se
aprofundar nos tipos de conduta desviada tratada por Becker, cf. BECKER, Howard. Los extranõs.
Sociologia de la Desviación, 1971. p.29-33. Essa distinção é bastante questionada na medida em que, em
assim sendo, algumas condutas delitivas não podem ser chamadas de crimes tendo em vista a seletividade do
sistema penal oficial que as imuniza do processo de criminalização. Sobre esta crítica ver, por exemplo,
LARRAURI, Elena. La herencia de la criminologia crítica, 1992. p.30-31.
48
“es una síntesis abstracta de las innumerables veces en que una comunidad se ha manifestado sobre una
cuestión determinada. Asíl, la norma tiene un desarrollo muy parecido al de un artículo de derecho penal: es
una acumulación de decisiones futuras. (...) Así pues, siempre que el grupo censura un acto determinado
como desviado, consolida la autoridad de la norma violada y por el mismo enjuiciamiento ratifica la
delitimación del espacio social.” (tradução livre). ERIKSON, Kai T. Notas sobre la Sociologia de la
Desviación. In: OLMO, Rosa del. Estigmatización y conducta desviada. Venezuela: Universidad de Zulia,
1973. p. 44.
26
transgressoras.
seleção dos indivíduos que serão etiquetados. E esta seleção é variável não pela
conduta em si, mas antes pela maneira como se interpretam os dados pessoais e
49
“sabemos que tiene en cuenta muchos factores no relacionados directamente con el acto desviado
propiamente dicho: la clase social del individuo sospechoso, sus antecedentes, su grado de arrependimento,
etc.” (tradução livre). ERIKSON, Kai T. Notas sobre la Sociologia de la Desviación, 1973. p.41-42. Também
Becker afirma que as regras tendencialmente são aplicadas mais a algumas pessoas que a outras, dependendo
de quem infringe a regra e de quem se sente ofendido por esta infração, levando em consideração variáveis
como classe, gênero e etnia. Portanto, os graus das reações também são seletivos e variáveis, o que o
interacionismo, entretanto, não logra realizar, é a relação entre essa seletividade e a estrutura sócio-
econômica da sociedade em geral. Cf. BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la Desviación,
1971,.p.22-23.
50
Essa seletividade que, a partir do enfoque interacionista restringe-se à análise micro-estrutural da
operacionalidade do processo de criminalização, a partir do enfoque materialista na Criminologia Crítica,
passa a estar relacionada com a reprodução das desigualdades existentes no plano macro-estrutural de dada
formação econômica. (cf. ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle
da violência à violência do controle penal, 1997. p.218-219; BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e
Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do Direito Penal, 1999. p.161-166.)
51
Segundo KITSUSE, “Una teoria sociológica de la desviación debe enfocarse especificamente hacia las
acciones recíprocas que no sólo definen una conducta como desviada sino que también organizan y activan la
27
a partir da reação social ocorre, normalmente, por meio de uma força estatal; já
de meios também informais.52 De todo modo, essa reação é definida por PAYNE
como “etiqueta punitiva”. Para o autor “dita reação se reflete em uma etiqueta
aplicación de sanciones por parte de individuos, grupos e agencias.” (KITSUSE, John I. Reacción de la
Sociedad ante la Conducta Desviada: Problemas de Teoria y Método, 1973. p.69).
52
Cf. BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la Desviación. Trad. Juan Tubert. Buenos Aires:
Tiempo Contemporâneo, 1971, p.13.
53
“Dicha reacción se refleja en una etiqueta social, a saber, una designación con nombre estereotipado,
imputado a una persona sobre la base de alguna información que se tiene sobre él.” (tradução livre). PAYNE,
William D. Etiquetas negativas. Pasadizos y Prisiones, 1973. p.106.
54
“Las etiquetas sociales negativas son paradójicas: éstas hacen al individuo más visible y al mismo tiempo
invisible: Es más visible para la sociedad porque la etiqueta lo aparta de los otros, pero es invisible, en la
medida en que, la etiqueta lo relega a una categoría de personas en la cual la propia identidad se pierde. La
etiqueta se constituye en el principal distintivo de identificación para esa pernosa.” (tradução livre).
(PAYNE, William D. Etiquetas negativas. Pasadizos y Prisiones, 1973. p.107.) Essa é uma das
conseqüências mais drásticas do etiquetamento para Becker, momento em que o indivíduo adquire novo
status,e passa a pertencer a uma classe diferente. (Cf. BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la
Desviación, 1971. p.38-39).
28
perda de confiança.55
55
“Estas etiquetas pueden hacer que una persona se considere a sí misma como alguien sin méritos, inferior e
incompleto. Como consecuencia de la vergüenza y el desprecio propios, se crean en la mente del individuo
pasadizos internos que llevan a la resignación, al alejamiento y a la pérdida de la confianza.” (Tradução
livre).
PAYNE, William D. Etiquetas negativas. Pasadizos y Prisiones, 1973. p.109.
56
“La etiqueta negativa es un pasadizo que determina la dirección que se espera de un determinado
comportamiento. La etiqueta negativa puede generar suspicacias y una actitud muy sutil en la audiencia
social; y esto, a su vez, producirá el mismo comportamiento que se temía.” (tradução livre). PAYNE,
William D. Etiquetas negativas. Pasadizos y Prisiones, 1973. p.110. Para vários autores interacionistas, assim
como Becker, trata-se, nesta conseqüência do etiquetamento, em uma referência à expressão mertoniana, de
uma “profecia que se auto-realiza”, pois se trata de um processo que induz a conformação da pessoa à mesma
imagem que as outras pessoas têm dela. (Cf. BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la Desviación,
1971. p.41).
29
e) as etiquetas se generalizam:
57
“(...) las etiquetas negativas, los tratamientos subsiguientes y los castigos, pueden ser prisiones que
mantienen a la persona en el rol de desviado y cada vez que se lee el guión, se lo recuerda un poco mejor.
Pronto conoce bien todas sus líneas, y así la etiqueta se convierte en su carácter. Un acto de castigo continúa
atando a una persona al rol de desviado mucho después que ha terminado el castigo y aún después que el
actor quiere cambiar de papel. El escape de este tipo de prisión es realmente dificil.” (tradução livre)
PAYNE, William D. Etiquetas negativas. Pasadizos y Prisiones, 1973. p.113.
58
“Las etiquetas se extienden de varias maneras. Una etiqueta que indica una característica negativa, muchas
veces otros rasgos negativos que la sociedad supone sean su consecuencia. A traves de un mecanismo de
culpa por asociación, las etiquetas negativas también pueden pasar de una persona a otra como una
enfermedad.”(tradução livre). PAYNE, William D. Etiquetas negativas. Pasadizos y Prisiones, 1973. p.114.
30
59
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da Identidade deteriorada. 4ºed. Trad.Márcia
Nunes. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. p.15.
60
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da Identidade deteriorada., 1988. p.16.
61
Para BARATTA, diferentemente do termo “distanciamento social” que se refere ao distanciamento da
comunidade em relação aos desviados, a “proibição de coalizão” é uma construção macrossociológica, por se
tratar de um mecanismo de sustentação e legitimação do poder. (BARATTA, Alessandro. Por una teoría
materialista de la criminalidad y del control social, 1989. p.40; BARATTA, Alessandro. Problemas sociales y
percepción de la criminalidad. Revista del Colegio de Abogados Penaistas del Valle, Cali, nº09, p.17-32,
1984.29-30b)
31
62
“Contribuyen a aislar uma pequeña parte de la población concentrando sobre ella la responsabilidad por
todo lo que es negativo en la sociedad. De otro lado aumentan la cohesión ficticia de las mayorías silenciosas,
la que a su vez influye sobre los procesos psicológicos de exclusión de los diferentes y de marginación de las
minorías desaventajadas.”(tradução livre). BARATTA, Alessandro. Por una teoría materialista de la
criminalidad y del control social, 1989,.p.40-41.
63
OLMO, Rosa del. Estigmatización y conducta desviada. Venezuela: Universidad de Zulia, 1973. p.12.
32
tais como sexo, idade, etnia e classe social. São pois, essas variáveis, que por
poder e dominação que se entrelaçam, tais como, por exemplo, a etnia e a classe
social. Neste sentido, BARATTA ressalta que o “labeling approach lançou luz
(grifei)66
teórica de exame dessas questões, não conduz a uma relação entre essa
64
“(...) los problemas de cuáles reglas deben imponerse, qué conducta debe ser considerada desviada, y
cuáles personas deben calificarse de marginales, deben también considerarse cuestiones políticas. Al ignorar
el aspecto político del fenónemo, la concepción funcional de la desviación limita nuestra conprensión del
mismo.” (tradução livre). BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la Desviación, 1971. p.18.
65
BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la Desviación, 1971. p.26.
33
ao diverso grau de seus interesses pessoais. Neste sentido, ele afirma como
superior da estrutura social, reduz o processo a uma imposição ética pessoal por
saber por que tal grupo ou tais indivíduos, e não outros, são criminalizados.
66
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do
Direito Penal, 1999. p.113.
67
“la iniciativa, nacida de intereses personales, armada con el recurso de la publicidad y condicionada por el
carácter de la organización (...)” (tradução livre). BECKER, Howard. Los extranõs. Sociologia de la
Desviación, 1971. p.119.
68
No início do primeiro capítulo, ao se examinar a leitura doutrinária , depreende-se também esta perspectiva
fenomenológica do conflito, atribuindo, de forma individualizada, a alguns sujeitos, a responsabilidade e a
“culpa”, descontextualizadamente, pela existência de alguns casos existentes na estrutura social brasileira.
69
Cf. ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controle da violência à
violência do controle penal, 1997. p.214-218; BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do
Direito Penal. Introdução à Sociologia do Direito Penal. 2ºed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos: Instituto
Carioca de Criminologia, 1999, esp. p.159-170.
34
casos.
35
então exposta.
atingindo EUA e finalmente Japão. Esses são os países que formam o núcleo do
70
Essas características apontadas por Prebisch na relação centro-periferia dizem respeito mais
especificamente ao período que a América posicionava-se apenas enquanto produtora e exportadora de
36
pré-capitalistas71.
dos países periféricos para reter todo o fruto do seu progresso técnico.”72, o que
capital não transcorre de forma similar ao processo dos países centrais, vez que
ele é restrito por fatores de ordens externas e de ordem interna que a impedem73.
deflagrados.
matérias-primas. Nada obsta, entretanto, que se compreenda esse modelo teórico em outras circunstâncias
histórico-econômicas.
71
A obra deste autor influenciou sobremaneira a produção da Criminologia Crítica na década de 70 e 80 na
América Latina, como se pode observar das considerações realizadas por autores como Lola Anyiar de
Castro, Rosa Del Olmo e Raul Eugenio Zaffaroni. Eles ressaltam, em suas obras, essa coexistência própria e
particular da América Latina de diversas estruturas econômicas e modos de produção, ao qual desenvolvem,
em paralelo, o entendimento que há também diversas constituições do controle social.
72
PREBISCH, Raul. Dinâmica do Desenvolvimento Latino-Americano. 2ºed. Trad.Vera Neves Pedroso.
Brasil: Fundo de Cultura, 1968. p.17.
73
Para um estudo aprofundado dos fatores estruturais impeditivos da acumulação capitalista, cf. PREBISCH,
Raul. Dinâmica do Desenvolvimento Latino-Americano, 1968. p. 33-57.
74
Prebisch identifica essa como uma das características estruturais da América Latina ao afirmar que a
distribuição desigual e privilegiada de renda “não se traduz em forte ritmo de acumulação de capital, a não
ser em formas exageradas do consumo nas camadas superiores da sociedade em contraste com a precária
existência de massas populares.”(PREBISCH, Raul. Dinâmica do Desenvolvimento Latino-Americano, 1968.
p.12). Esta sociedade do consumo, entretanto, está presente nas diversas camadas sociais, guardados,
evidente, as devidas proporções. Veja-se, por exemplo, os comentários tecidos por MARTINS ao buscar
compreender a necessidade que os jovens têm em sair de suas casas para buscar empregos, arriscando-se a se
tornarem mais um indigente. Nesse sentido, ele entende que à necessidade decorrente da falta de emprego,
acrescentam-se as exigências crescentes das novas carências produzidas pela inserção de novos bens de
consumo na cotidianeidade dos camponeses, característica agravada pela nova ordem econômica
correspondente à globalização, como se verá adiante. (Cf. MARTINS, José de Souza. Fronteira: a
degradação do Outro nos confins do humano, 1997. p.111.)
37
mundial.
75
Foge dos limites deste trabalho uma discussão mais aprofundada a respeito da teoria da dependência, suas
propostas, críticas, limitações. O objetivo desta pequena abordagem é a inserção deste marco teórico na
compreensão da estrutura latino-americana, vez que os respectivos autores da criminologia crítica, já citados
nesta pesquisa, em muito se utilizam de alguns dos seus pressupostos para compreender as particularidades
do controle social dessa região. Em sendo assim, a fim de proporcionar uma análise metodológica adequada
do presente contexto globalizado, a exposição desses pressupostos se faz necessária para a compreensão das
formas do controle social atual. Não se nega, por óbvio a estrutura de dependência política e econômica da
América Latina em termos gerais. Entretanto, as explicações dessa dependência já não se assentam única e
exclusivamente nos fatores salientados pelos dependentistas. Entre algumas limitações dessa matriz teórica,
são apontadas: a relativização dos fatores internos de cada país; o economicismo na periodicização e na
definição das estruturas; a inexistência da análise das classes, da exploração do trabalho assalariado e dos
conflitos internos das sociedades latino-americanas. Esse marco teórico procurava deduzir toda a história
latino-americana da oposição centro-periferia ou capitalismo clássico-capitalismo dependente.
76
SINGER, Paul. O Brasil no limiar do terceiro milênio. Estudos Avançados, São Paulo, Vol.14, nº38, p. 247-
259, jan/abril 2000. p. 248. Na concepção de Singer, a globalização é compreendida como um fenômeno
38
trabalhavam com taxas de juros baixas (os juros altos, ao contrário, são
burguesia rentista. Essa nova burguesia passou a ser constituída pelos grandes
financeira”.
2000. p. 248-249.)
panorama global teve repercussão desde o início deste processo. O País tornou-
se, portanto, vulnerável à grande flutuação do capital financeiro que tem como
objetivo a maior circulação com custo zero. O que significa que ele busca tanto
quanto planos fiscais vantajosos. Nesse sentido, não há como negar que as
esse investimento representa mais uma extração de valor do que qualquer tipo de
Pode-se dizer que os países periféricos são hoje o grande galpão de produção
das multinacionais que guardam seus gabinetes e seus grandes lucros nos países
77
As idéias que compuseram a política neoliberal - que atingiu seu ponto propulsor máximo com o Consenso
de Washington, impondo uma “nova ordem mundial”, em novembro de 1989 - surgem a partir do final da
Segunda Guerra Mundial e tem como marco a obra de Friedrich Hayek, “O caminho da servidão”.
Posteriormente, fundou-se a Sociedade de Mont Pèlerin, que teve como um dos integrantes, Karl Popper, que
preparou as bases políticas para um novo capitalismo, sustentando a idéia de que a desigualdade era um valor
positivo, imprescindível às sociedades ocidentais. Finalmente, em 1989, liderado por Margaret Tatcher e
Ronald Reagan, impôs-se o receituário neoliberal aos países subdesenvolvidos, qual seja: a contenção de
gastos públicos bem como a redução drástica do Estado; a máxima abertura das importações e a entrada do
capital de risco.
78
Cf. SINGER, Paul. O Brasil no limiar do terceiro milênio, jan/abril 2000. p. 250-255.
40
como o Brasil, se não se pode afirmar, de modo mais contundente, que essa
sociais.
Assim, afirma MELLO: “com ela, reacendem-se, pari passu, as crises de caráter
corporações transnacionais.
79
Os próprios órgãos representantes do poder admitem essa conseqüência da globalização. “(...) o Banco
Mundial declarava em 1999: ‘a globalização parece aumentar a pobreza e a desigualdade (...). Os custos de
ajustamento para a maior abertura são suportados exclusivamente pelo pobre.’ A ONU dizia no mesmo ano:
‘O processo (globalização) está concentrando poder e marginalizando o pobre.’”(KALILI, Sérgio. O levante
da juventude. Caros Amigos, São Paulo, ano VI, nº64, p.32-37, julho 2002. p.32.)
41
2002. p.36.)
diz-se pois, que a miséria também se globalizou. Para sustentar essa afirmação
Somália.”82.
Contudo, embora se possa afirmar, com sérias ressalvas que “o longo ciclo
enquanto uma rede integrada que reproduz o contraste entre riqueza e miséria
80
MELLO, Alex Fiúza de. Marx e a globalização. São Paulo: Boitempo, 1999. p.260.
81
MELLO, Alex Fiúza de. Marx e a globalização, p.260.
82
MELLO, Alex Fiúza de. Marx e a globalização, p.260.
42
83
MELLO, Alex Fiúza de. Marx e a globalização, p.262.
84
Nesses termos, “o Banco Mundial reconhece que ‘existem mais de 100 milhões de pessoas pobres nos
países em desenvolvimento do que uma década atrás’, sem contar a China”. (KALILI, Sérgio. O levante da
juventude, julho 2002, p.34). A importância da reafirmação de uma unidade latino-americana se deve
especialmente à sua validade enquanto um conceito operacional que possibilita, por um lado, a produção de
conhecimento a partir da, e não para a, realidade de poder marginal, e por outro lado, o direcionamento de
políticas e ações conjuntas enquanto bloco referencial nas relações mundiais de poder, resguardados, por
óbvio, as particularidades e diversidades de cada país.
85
MELLO, Alex Fiúza de. Marx e a globalização, p.262. Ora, “em 1997, a Confederação Internacional de
Sindicatos do Livre Comércio denunciou o regime de quase escravidão instaurado em algumas regiões depois
dos acordos de livre comércio. Diz a Confederação: ‘A marca registrada da globalização econômica tem sido
a Export Processing Zone, conhecida na América Central e México como maquiladoras. Esses novos campos
de concentração permitem que companhias estrangeiras produzam com isenção de impostos, leis ambientais
e trabalhistas. Uma média de 80% dos trabalhadores, nessas zonas, são mulheres. A disciplina é severa e
arbitrária e a violência sexual é comum.’’” (KALILI, Sérgio. O levante da juventude, p. 35).
43
contingente excluído, essa obrigação costuma ser mais facilmente acatada. Assim
necessita o Estado, é essa política que lhe convém para seguir sua reprodução a
custo mínimo. E caso não seja ela suficiente, tem como instrumento mortal de
mobilidade x imobilidade. No topo dessa estrutura social estão aqueles que têm a
86
Sustentando essa tese, Wacquant afirma que há a passagem do Welfare ao Workfare, através da “instituição
do trabalho assalariado forçado em condições que ferem o direito social e o direito trabalhista para as pessoas
‘dependentes’ das ajudas do Estado.” (WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria.Trad. André Telles. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p .43) Para sustentar essa proposição, o autor analisa especialmente os estados
europeus ocidentais com tradição do Estado do Bem-estar social. Portanto, essa passagem deve ser vista com
ressalvas em se tratando de países como o Brasil, que não se pode propriamente remeter a uma existência
histórica de um Estado provedor.
44
consumo, já que estão inseridos em uma sociedade consumista, não podem fazê-
dicotomia entre incluídos e excluídos, sendo esses últimos, aqueles que desejam
ser explorados para assim ter um acesso mínimo ao consumo, de cujo processo
87
Sobre uma análise original da sociedade de consumo, referência para os estudos posteriores, cf.
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1975.
88
Essa tese da variável mobilidade/imobilidade enquanto determinante da estratificação social do mundo
globalizado é sustentada por BAUMAN. Embora ele afirme tratar de uma nova hierarquia social,
compreende-se que é mais adequado entender o agravamento dessa estratificação a partir das variáveis
apresentadas pelo autor, vez que, em termos gerais, a hierarquia social permanece sendo a mesma: de um
lado aqueles que possuem maiores condições econômicas (que nos tempos globalizados correspondem aos
que podem consumir intensamente e mover-se livremente) e aqueles que estão achatados na pirâmide
econômica. Para se aprofundar neste tema, cf. BAUMAN, Zygmunt. Globalização. As conseqüências
humanas, 1999. p.77-84;87-97.
89
Esse excedente já não representa uma espécie de regulador do mercado de trabalho, necessário à
acumulação do capital através do aumento da exploração da mais-valia absoluta. A quantidade da força de
trabalho jogada ao círculo do desemprego estrutural é excedente em relação à própria necessidade do
45
superexploração. Quando não consegue nem ascender esse círculo, a ele são
mercado. Nesse sentido, são eles mesmo excluídos do processo de reprodução do capital, e porque não dizer,
do próprio pacto social. Não possuem perspectiva de virem a compor o quadro dos explorados. Cf. análise da
dialética incluídos/excluídos em ZAFFARONI, Raul Eugenio. Globalização e sistema penal na América
Latina: da segurança nacional à urbana. Discursos Sediciosos. Crime, Direito e Sociedade, Rio de Janeiro,
Ano2. nº4, p. 25-36, 2ºsem. de 1997. p.35-36.
90
Afirma BAUMAN que “Hans Peter Martin e Harald Schumann, especialistas em economia da revista
alemã Der Spiegel, calculam que se a tendência atual persistir irrefreada, 20% da força de trabalho global
(potencial) bastará ‘para manter a economia funcionando’ (o que quer que isso signifique), o que tornará
economicamente supérfluos 80% da população mundial capacitada.” (BAUMAN, Zygmunt. Em busca da
política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p.27).
91
Na análise de autores como Wacquant, Bauman e Christie, relativamente à relação entre a sociedade atual,
sob o impacto polarizador da globalização econômica, e o sistema punitivo, a instituição central focalizada é
o cárcere. Assim, embora estabeleçam a relação entre o controle da miséria e o Estado Punitivo, nas palavras
de Wacquant, tem-se como elemento principal de controle a prisão. Entretanto, Bauman e Wacquant
divergem no tocante à função atual do cárcere. Bauman entende que não se está diante de um panoptismo
renovado, vez que, para ele, atualmente, a função do cárcere deixa de ser a disciplina, para tornar-se
propriamente o isolamento e a imposição da imobilidade aos excluídos. Já para Wacquant, o cárcere, em
conjunto com o serviço social, sendo esse relativo à política européia, guarda, ainda que em menor medida, a
função disciplinar, exerce a função de apoiar a disciplina do trabalho assalariado de miséria, produzindo
mão-de-obra submissa a essas condições (Cf. BAUMAN, Zygmunt. Globalização. As conseqüências
humanas, 1999, p.113-126; WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria, 2001. p.96-104). Importa, entretanto,
ressaltar que no funcionamento do controle penal correspondente à estrutura de poder periférica da América
Latina, a extensão do controle não institucionalizado é muito grande. De forma que não se pode afirmar com
precisão que o cárcere ocupe atualmente um papel preponderante na sociedade periférica globalizada. Nesse
sentido, faltam estudos empíricos que confirmem ou refutem a hipótese.
46
92
Cf. WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria, 2001. p.18-19.
93
ZAFFARONI, Raul Eugenio. Globalização e sistema penal na América Latina: da segurança nacional à
urbana, 1997. p.32-33. Não se pretende afirmar que apenas o controle punitivo das sociedades periféricas se
dirige ao controle dos marginalizados. Sabe-se, por certo, que essa é a função latente dos sistemas penais
modernos de modo geral. Todavia, o que se pretende especificar é o grau de violência característico dos
sistemas periféricos.
94
Wacquant refere-se explicitamente à tese dos frankfurtianos Rusche e Kirshheimer para referendar a
relação entre mercado de trabalho e índice de encarceramento. (WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria,
2001. p.96-97; p.106). Todavia, sua interpretação faz-se estritamente em relação à prática punitiva da pena
47
extermínio95.
punitivo, que tem como função controlar esta camada marginalizada, a fim de que
ela não prejudique a contínua reprodução do capital. É sob essa lógica que se
punitivo latino-americano.
privativa de liberdade. Como sustentado anteriormente neste trabalho, a hipótese dos autores suplanta a
relação entre cárcere e mercado de trabalho, referindo-se antes aos sistemas punitivos de modo geral.
95
DOS SANTOS, Juarez Cirino. Criminologia Radical, 1981. p.42.
48
V- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Criminologia Crítica são exemplos recheados por esta questão fatal. Pois bem se
espera-se sempre, ao fim dos trabalhos que se propõem críticos, uma resposta.
punitivos, mas que entretanto, só satisfazem aos olhos urgentes daqueles que se
96
LENIN, Vladimir Ilitch. Que fazer? As questões palpitantes do Nosso Movimento. São Paulo: Hucitec,
1988.
97
BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000,
p.14.
49
política atual que convive com um Estado social mínimo e um Estado punitivo
hierárquicas.
neste trabalho é muito limitada. Ficam ainda entreabertas muitas questões, dentre
Contudo não parece ser que nesse movimento pendular e confuso entre
menos não nos termos em que habitualmente se expõe a questão, qual seja, a
uma daquelas respostas que satisfazem apenas aos espectadores da dor alheia.
de inclusão, as quais, por sua vez, não podem ser generalizáveis, mas antes
então estamos falando de uma trincheira muito importante para os embates pós-
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