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Curso: Nutrição e Imunidade

Versão 1.0

Alimentos e nutrientes na melhora da imunidade – existe relação?


Raquel Susana Torrinhas, Dan L. Waitzberg

Introdução
Diariamente, o organismo humano é exposto a antígenos (patógenos, células
infectadas ou danificadas e substâncias tóxicas), que podem afetar sua homeostase.
Entretanto, este possui um sistema integrado barreiras físicas, moléculas de superfície,
mediadores bioquímicos e células (leucócitos), especializado na sua defesa - o sistema
imunológico. A resposta mediada pelo sistema imunológico (resposta imunológica)
envolve uma série de eventos moleculares, celulares e teciduais finamente controlados
para eliminar antígenos, enquanto evitam a destruição de tecidos próprios. Falhas nesses
processos podem levar ao desenvolvimento doenças crônicas degenerativas, doenças
autoimunes e câncer.
Mais recentemente, estudos da área de microbiologia vêm destacando a
participação ativa da microbiota endógena na regulação da resposta imunológica do
hospedeiro. Microbiota é o termo empregado para denominar a comunidade microbiana
(bactérias, fungos, arqueias, protozoários e vírus) que habita diferentes nichos do
organismo humano, principalmente concentrada no intestino. A importância da interação
microbiota e resposta imunológica é claramente destacada pelo fato de que 70 a 80% das
células imunológicas do corpo são encontradas justamente no intestino. Particularmente,
a microbiota endógena parece estar envolvida no desenvolvimento da tolerância
imunológica e resposta efetora a antígenos não próprios, colaborando para a distinção de
microrganismos comensais e patogênicos.
Hábitos alimentares e de estilo de vida podem interferir na resposta imunológica,
bem como na composição da microbiota intestinal. Após a revolução industrial, mudanças
profundas nos padrões dietéticos humanos (especialmente ocidentais) e de
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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com
a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir
e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da
propriedade material e intelectual.
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comportamento (sedentarismo) ocorreram de forma brusca e não foram acompanhadas


por adaptação de nossas características genéticas. Em termos nutricionais, essas
mudanças são particularmente marcadas pela diminuição da ingestão de vários
micronutrientes e fibras, em paralelo ao aumento da razão de ácidos graxos ômega-
6:ômega-3 consumidos.
Esse novo cenário vem se relacionando com respostas imunológicas menos
eficientes e o aparecimento de doenças crônicas, como diabetes, obesidade, câncer,
doenças cardiovasculares e outras doenças de caráter inflamatório. O presente texto
discute a importância imunológica de alguns micronutrientes (vitaminas C, D e B12), bem
como o de fibras e de ácidos graxos ômega-3, cuja depleção pós-revolução industrial pode
estar relacionada com o desenvolvimento dessas doenças. Além disso, apresenta as
principais fontes e as recomendações de ingestão diária e de suplementação desses
nutrientes, bem como as populações com maior risco de desenvolver sua deficiência e os
principais sintomas a ela relacionados.

Vitamina C e Imunidade
A vitamina C é um micronutriente hidrossolúvel, que inclui dois compostos
bioativos: ácido ascórbico, sua forma reduzida, e ácido deidroascórbico, sua forma
oxidada. Trata-se de micronutriente hidrossolúvel com potente atividade antioxidante,
devido à sua capacidade de doar prontamente elétrons. O organismo humano não é capaz
de sintetizar vitamina C e possui baixo potencial de armazenamento desse micronutriente.
A propriedade antioxidante da vitamina C é importante para proteger o corpo
contra estímulos oxidativos endógenos e exógenos. Além disso, a vitamina C funciona
como cofator para uma família de enzimas biossintéticas e reguladoras de genes
humanos, que participam, por exemplo, na estabilização da estrutura terciária do
colágeno e biossíntese da carnitina (envolvida na geração de energia a partir de ácidos

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graxos). Em conjunto, essas propriedades também contribuem para a defesa imunológica,


apoiando várias funções celulares dos sistemas inato e adaptativo.
Especificamente na resposta imunológica, a vitamina C contribui para a função da
barreira epitelial contra patógenos e promove atividade antioxidante cutânea,
protegendo-a do estresse oxidativo ambiental. Diversos estudos experimentais e clínicos
indicam que a vitamina C se acumula em células fagocíticas e pode melhorar a
quimiotaxia, fagocitose, geração de espécies reativas de oxigênio e morte microbiana.
Além disso, auxilia na apoptose e remoção de partículas de neutrófilos do local de
infecção, ao reduzir risco de morte desses leucócitos por necrose e subsequente liberação
de componentes intracelulares potencialmente danosos ao tecido (ex: proteases).
Portanto, ao influenciar a função de fagócitos, a disponibilidade endógena da
vitamina C pode ser importante para a ativação e resolução efetiva da resposta
inflamatória. Seu papel nos linfócitos é menos claro, mas estudos experimentais sugerem
que a vitamina C pode promover diferenciação, proliferação e resistência a estímulos de
morte de células B e T e a geração de anticorpos, provavelmente devido a seus efeitos
reguladores de genes. Maior diferenciação e proliferação de linfócitos T e elevação dos
níveis de anticorpos também são descritas após suplementação de vitamina C em
humanos.
Estudos epidemiológicos indicam que hipovitaminose C ainda é relativamente
comum em países ocidentais, e a quarta principal deficiência nutricional nos Estados
Unidos da América do Norte. As principais razões para a deficiência de vitamina C incluem
ingestão reduzida, combinada com reservas endógenas limitadas. Em casos mais graves
pode resultar no desenvolvimento de escorbuto, doença potencialmente fatal,
caracterizada pelo enfraquecimento de estruturas colágenas, prejuízo de cicatrização de
feridas e baixa imunidade. Portanto, garantir a ingestão adequada de vitamina C através
da dieta ou via suplementação, especialmente em indivíduos expostos a fatores de risco
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para sua deficiência, é importante para promover função imunológica adequada e


resistência a infecções.
Informações sobre vitamina C, quanto a fontes dietéticas, recomendações de
ingestão diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus
sintomas, com alvo na população adulta, estão descritas no Quadro 1.

Quadro 1. Vitamina C em adultos - fontes dietéticas, recomendações de ingestão diária,


dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus sintomas

Fonte dietética Frutas cítricas (acerola, goiaba, laranja, maracujá, abacaxi,


morango, tomate), batata, couve-de-bruxelas, couve-flor, brócolis,
repolho, espinafre, fígado, leite, ovos e amendoim

Recomendações Homens
18 anos = 75 -1.800 mg
> 18 anos = 90-2.000 mg
Mulheres
18 anos = 65-1.800 mg
> 18 anos = 75-2.000 mg
Gestantes com 18 anos = 80-1.800 mg; Gestantes > 18 anos = 85-
2.000 mg
Lactantes com 18 anos = 115-1.800 mg; Lactantes > 18 anos = 115-
2.000 mg.

Suplementação 100-200 mg / dia para prevenção profilática de infecções

Toxicidade Necrose tecidual (administração intramuscular de sais de cálcio do

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e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da
propriedade material e intelectual.
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ácido ascórbico), pedras nos rins e distúrbios gastrintestinais


(diarreia osmótica), absorção excessiva de ferro, além de efeito
rebote transitório, com sintomas de escorbuto na interrupção
abrupta da administração de vitamina C

Risco de deficiência Fatores relacionados ao estilo de vida, como dieta desequilibrada e


estresse físico ou psicológico excessivo, principalmente na vigência
de doenças com componentes oxidativos e inflamatórios (ex:
diabetes tipo 2).

Sintomas de Leve: anorexia, fadiga, dor muscular e suscetibilidade aumentada


deficiência ao estresse e infecção.
Moderada: fraqueza muscular intensa e cefaleia
Grave: escorbuto

Adaptada de Hafez VCB e cols. (2017)

Vitamina D e Imunidade
Vitaminas D constituem um grupo de vitaminas lipossolúveis, cujos componentes
mais importantes são as vitaminas D2 (ergocalciferol) e D3 (colecalciferol). A vitamina D2
é disponível em pequenas quantidades e em apenas alguns alimentos. A vitamina D3 é
sintetizada pela pele, por meio de fotólise dependente de luz solar. A forma ativa da
vitamina D (calcitriol) é biossintetizada no rim, através da hidroxilação do 25-
hidroxicolecalciferol pela enzima 1-α-hidroxilase (CYP27B1).
A relevância da vitamina D na regulação da homeostase do fosfato de cálcio,
essencial para a renovação óssea, é bem conhecida. Mais recentemente verificou-se que o
receptor da vitamina D (VDR) e a enzima CYP27B1 são expressos em vários tecidos fora do
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osso e rim, como no intestino, pâncreas e próstata, bem como em plaquetas e células do
sistema imunológico. O calcitriol sintetizado por células imunológicas parece ter
propriedades imunomoduladoras, semelhantes às citocinas.
Estudos em animais, epidemiológicos e clínicos iniciais têm apoiado o papel
potencial da vitamina D na manutenção do equilíbrio do sistema imunológico, em
particular no contexto de autoimunidade. Na resposta imunológica inata, a vitamina D
mostrou contribuir para eliminação de bactérias em vários locais de barreira e em células
imunológicas, ao regular positivamente peptídeos antimicrobianos (catelicidina e β-
defensina). Na resposta imunológica adaptativa, a vitamina D teve efeitos diretos na
ativação das células T, fenótipo e função de células apresentadoras de antígenos.
Adicionalmente, a vitamina D participa da função de barreira do epitélio intestinal e
modulação do sistema imunológico do intestino; além de poder influenciar a composição
da microbiota residente, pela modificação de peptídeos antimicrobianos.
De um lado a vitamina D contribui na promoção da imunidade inata contra
antígenos estranhos, de outro parece atenuar o processamento de antígenos próprios e,
assim, auxiliar na manutenção de autotolerância. Em resumo, os efeitos associados à
autotolerância incluem a diminuição de subpopulações de células T auxiliadoras e
citocinas e aumento das células T reguladoras, além da regulação negativa da produção de
imunoglobulinas ativada por células T e inibição da diferenciação de células dendríticas.
Uma revisão de perspectiva global constatou que 6 a 47% da ingestão de vitamina
D podem provir de suplementos alimentares. Sem suplementação, a manutenção dos
níveis de vitamina D depende muito de sua produção endógena. Esta pode ser limitada
por determinantes genéticos, latitude, estação do ano, pigmentação da pele e estilo de
vida, como o uso de filtro solar e confinamento em ambientes internos (ex: idosos
institucionalizados). Nesse cenário, hipovitaminose D é a deficiência nutricional

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propriedade material e intelectual.
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globalmente mais comum e sua suplementação pode ser recomendada, principalmente


em populações de maior risco.
Informações sobre vitamina D, quanto a fontes dietéticas, recomendações de
ingestão diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus
sintomas, com alvo na população adulta, estão descritas no Quadro 2.

Quadro 2. Vitamina D em adultos - fontes dietéticas, recomendações de ingestão diária,


dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus sintomas

Peixes gordurosos (sardinha, atum, salmão), óleo de fígado de


Fontes dietéticas bacalhau e peixe, cogumelos, gema de ovo e alimentos
fortificados, como leite e cereais.

600-4.000 UI para indivíduos de ambos os sexos, incluindo


Recomendações
mulheres gestantes e lactantes

1500-2.000 UI para indivíduos de ambos os sexos, com exceção de


Suplementação mulheres gestantes e lactantes com idade entre 14-18 anos,
quando essa recomendação é de 600-1.000 UI.

Extremamente rara, os sintomas incluem anorexia, náuseas e


vômitos, frequentemente seguidos por poliúria, polidipsia, fadiga,
Toxicidade
insônia, pruridos, irritabilidade, hipercalcemia e, em última
análise, falência renal.

Idosos, crianças e jovens em fase de crescimento, mulheres


Risco de deficiência gestantes e em fase de amamentação, obesos, pacientes com
enterites, doença de Crohn, fibrose cística, insuficiência hepática,

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propriedade material e intelectual.
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renal ou pancreática, ressecção gástrica e/ou intestinal, má


absorção, e em uso de terapia antiepilética (fenitoína e
fenobarbital), dietas restritivas (principalmente com exclusão de
laticínios e produtos animais) e uso regular de suplementos de
cálcio, de contraceptivos orais ou de medicamentos que
interagem com a vitamina D.

Classicamente, defeitos de mineralização esquelética e


hipocalcemia; mas também pode envolver desenvolvimento de
Sintomas de
doenças cardiovasculares, vários tipos de câncer e doenças
deficiência
autoimunes, como diabetes mellitus tipo 1, esclerose múltipla e
doença inflamatória intestinal.

Adaptada de Hafez VCB e cols. (2017)

Vitamina B12 e Imunidade


A vitamina B12 é um micronutriente hidrossolúvel que se apresenta sob quatro
formas diferentes: desoxiadenosilcobalamina, metilcobalamina, hidroxicobalamina e
cianocobalamina, sendo as duas primeiras formas coenzimáticas. Sua estrutura química é
complexa e as enzimas necessárias para sua síntese são encontradas apenas em bactérias
e arqueias. Portanto, o organismo humano não sintetiza a vitamina B12. Ela é
principalmente obtida por ingestão dietética e biossíntese microbiana, a partir de
bactérias intestinais.
A vitamina B12 é essencial para o metabolismo das proteínas, carboidratos e
lipídios e, juntamente com o ácido fólico, participa na síntese do DNA e mielina e na
prevenção de anemia megaloblástica. Parte dos efeitos da vitamina B12 sobre a
imunidade humana está associada à sua participação na via do folato do metabolismo do

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propriedade material e intelectual.
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carbono-1. Essa via metabólica cataboliza diferentes fontes de carbono, para derivar
unidades de carbonos (metil) e disponibilizá-las para funções celulares fundamentais. Por
exemplo, o metabolismo do carbono-1 pode fornecer às células elementos plásticos e
poder redutor, necessários para promover sua proliferação.
Através da via do metabolismo do carbono-1, a vitamina B12 auxilia na
proliferação de células T e regulação da proporção entre células T auxiliares e células T
citotóxicas. Além disso, contribui para produção e metabolismo de anticorpos, necessários
para expansão clonal. A vitamina B12 também está envolvida na regulação imunológica
intestinal, uma vez que, a microbiota residente a utiliza como cofator de vias metabólicas.
Adicionalmente, pode influenciar a função de células citotóxicas (como células NK e Tc).
A principal causa da deficiência de vitamina B12 não está na sua baixa ingestão,
mas em alterações fisiológicas e hábitos que podem reduzir sua absorção. Entretanto, sua
prevalência em adultos jovens pode ser maior do que suposto anteriormente e em níveis
semelhantes aos encontrados em idosos, conforme mostrou estudo que comparou
participantes de três faixas etárias (26-49 anos, 50-64 anos e 65 anos e mais). Esse mesmo
estudo mostrou que a suplementação com vitamina B12 pode diminuir o risco de
desenvolver sua deficiência.
Informações sobre vitamina B12, quanto a fontes dietéticas, recomendações de
ingestão diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus
sintomas, com alvo na população adulta, estão descritas no Quadro 3.

Quadro 3. Vitamina B12 em adultos - fontes dietéticas, recomendações de ingestão diária,


dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus sintomas

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Fontes dietéticas Alimentos de origem animal, como carne, ovos e produtos lácteos

2,4 μg de vitamina B12 para indivíduos adultos de ambos os sexos,


exceto durante a gestação e amamentação em mulheres, quando
Recomendações a ingestão desse micronutriente deve ser feita nas quantidades de
2,6 μg e 2,8 μg, respectivamente. Não existe descrição de limite
máximo de ingestão desse micronutriente.

2,0 μg / dia, a partir de comprimidos e preparações líquidas orais,


formas aquosas estáveis para injeção intramuscular (não deve ser
Suplementação
administrada por via intravenosa, pois pode causar anafilaxia),
bem como preparações de multivitamínicos.

Toxicidade Não há relatos de toxicidade

Secreção deficiente do fator intrínseco gástrico, responsável pela


absorção de vitamina B12, que ocorre em indivíduos com anemia
perniciosa, após gastrectomias e após a ingestão de agentes
corrosivos, com destruição da mucosa gástrica; consumo
excessivo de fibras, com supercrescimento de bactérias que
Risco de deficiência
competem para a absorção de vitamina B12 (evento que também
pode ser observado em pacientes com lesões no intestino grosso,
independente do consumo excessivo de fibras); uso de drogas
(colchicina, neomicina e contraceptivos orais) e de álcool e dieta
vegetariana estrita.

Anemia megaloblástica, fadiga, fraqueza, constipação e perdas de


Sintomas de
apetite e de peso. Alterações neurológicas também podem
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deficiência ocorrer, como dormência e formigamento nas mãos e pés,


depressão, confusão, demência e falta de memória.

Adaptada de Hafez VCB e cols. (2017)

Fibras dietéticas, intestino e imunidade


As fibras dietéticas são polissacáridos de origem vegetal, resistentes à digestão no
intestino delgado, que chegam intactas ao cólon. No colón, elas são degradadas por
alguns componentes comensais da microbiota residente, e podem estimular crescimento
e/ou atividade bacteriana. Por competição de número de bactérias e substrato, o
crescimento e atividade de bactérias patogênicas (ex: Escherichia coli) é inibido, o que
contribui para perfil microbiano intestinal potencialmente mais benéfico para o
hospedeiro.
As fibras alimentares podem ser classificadas de diversas formas, embora a mais
comum se baseie na sua solubilidade na água (insolúvel ou solúvel) ou na sua
fermentabilidade por microrganismos (fermentável ou não fermentável). As fibras
insolúveis são resistentes à fermentação, e por isso podem aumentar o volume fecal e
normalizar o tempo de trânsito intestinal. Apesar de existirem exceções, as fibras solúveis
são fermentáveis e aumentam a retenção de água, contribuindo para o aumento do
volume e diminuição do pH fecais, bem como para o amolecimento das fezes.
Além disso, fibras solúveis podem promover a produção de metabólitos
microbianos, decorrentes do processo de fermentação. Essa propriedade se relaciona
muito com alguns efeitos sistêmicos associados ao consumo de fibras, que incluem
contribuição para a homeostase da glicose do sangue e diminuição de níveis séricos de
LDL e colesterol total. Particularmente, a produção de ácidos graxos de cadeia curta
(AGCC), derivados da fermentação anaeróbica de fibras por bactérias comensais (como
bifidobactérias e lactobacilos), está associada a esses benefícios.
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AGCC são fontes importantes de energia para colonócitos e contribuem para


fortalecimento da função da barreira intestinal. A melhora da função da barreira intestinal
pode diminuir o risco de translocação de microrganismos e moléculas microbianas para a
circulação sanguínea, por sua vez, associada à inflamação sistêmica de baixo grau
envolvida no desenvolvimento de doenças metabólicas.
Evidências crescentes sugerem efeitos diretos de AGCC sobre o sistema
imunológico, como sua capacidade de se ligar e ativar receptores acoplados à proteína G
(GPR). Assim, pode ocorrer diminuição da síntese de citocinas pró-inflamatórias, por inibir
a atividade transcricional do fator de transcrição nuclear kappa B (NFκB) e melhorar a
secreção de peptídeos antimicrobianos. Pode acontecer também promoção de
diferenciação de células Treg e síntese de interleucina-10 (IL-10) por macrófagos,
associadas à proteção contra o desenvolvimento de colite; e modulação de função de
células dendríticas e células linfoides, associada com diminuição de inflamação em vias
aéreas.
Adiciona-se que a deficiência de fibra alimentar pode promover proliferação de
bactérias degradadoras de muco, levando à erosão do muco colônico, associação de
bactérias luminais ao epitélio intestinal e aumento da suscetibilidade a infecções. Por
outro lado, o AGCC butirato inibe a proliferação de células-tronco intestinais e de células
progenitoras, durante a lesão da mucosa. Essa propriedade do butirato pode ser
importante para proteção contra potencial transformação maligna de células colônicas e
consequente desenvolvimento de câncer colorretal.
Finalmente, outros metabólitos produzidos por microrganismos também podem
afetar a regulação metabólica sistêmica. Estes incluem o indol e a enterolactona, produtos
da conversão microbiana de triptofano e lignana dietéticos, respectivamente. A síntese de
ambos indol e enterolactona está associada ao aumento da ingestão de fibras e a um
menor risco de diabetes.
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A ingestão de alimentos ricos em fibras é frequentemente deficiente, por motivos


que incluem desagrado ao paladar e demanda de tempo para aquisição (uma vez que a
maioria é perecível) e preparo. Portanto, a suplementação com fibras pode ser importante
para prevenir sua deficiência.
Informações sobre fibras alimentares, quanto a fontes dietéticas, recomendações
de ingestão diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e
seus sintomas, com alvo na população adulta, estão descritas no Quadro 4.

Quadro 4. Fibras alimentares em adultos - fontes dietéticas, recomendações de ingestão


diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus sintomas

Fontes dietéticas Frutas, vegetais e cereais

Variam de acordo com a idade, o sexo e o consumo energético,


Recomendações sendo adequada a ingestão em torno de 14 g para cada 1.000 kcal
ingeridas.

Deve visar uma ingestão de fibras de, pelo menos, 30 g/dia e


priorizar a ingestão de alimentos que lhe são fonte. Essa conduta
parece estar associada a uma redução significativa dos níveis de
glicose, pressão arterial e de lipídeos séricos, com alguns relatos
sobre redução de doenças crônicas, incluindo doença
Suplementação
cardiovascular, diabetes tipo 2 e neoplasia de cólon. A
administração de suplementos dietéticos com fibras também
pode ser considerada e priorizar a inclusão de fibras solúveis, uma
vez que estas são majoritariamente mais fermentáveis e
produzem quantidades maiores de AGCC do que fibras insolúveis.

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Versão 1.0

Sua ingestão muito elevada pode contribuir para o crescimento


excessivo de bactérias intestinais que competem para a absorção
Toxicidade de nutrientes (como a vitamina B12) e aumentar fermentação
bacteriana intestinal, com produção elevada de gases e
consequente flatulência

Como a ingestão alimentar é baixa, o risco de deficiência atinge a


população geral; entretanto, na adolescência e idade avançada
Risco de deficiência
são comuns alterações de hábitos alimentares que aumentam
ainda mais esse risco.

Basicamente associados a alterações intestinais, como


Sintomas de
constipação e diarreia. Redução nos níveis de pressão arterial
deficiência
decorrente da alta ingestão de fibras na dieta também é relatada

AGCC, ácidos graxos de cadeia curta

Ácidos graxos ômega-3


Ácidos graxos ômega-3 compreendem uma família de ácidos graxos poli-
insaturados (AGPIs) de cadeia longa, cuja primeira dupla-ligação encontra-se entre o
terceiro e quarto carbono, a partir do radical metil de sua cadeia carboxílica.
Particularmente, os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA), da família
ômega-3 (n-3), são conhecidos por influenciarem a composição e fluidez de membranas
celulares e serem precursores de mediadores imunológicos que participam de todas as
etapas da inflamação.
No organismo humano, EPA e DHA podem ser produzidos a partir do ácido alfa-
linolênico (ALA), encontrado em grande quantidade em vários vegetais. Entretanto,
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mamíferos não possuem a enzima delta (∆)-15 dessaturase, responsável por adicionar
duplas ligações na porção ômega-3 da cadeia de ácidos graxos. Portanto, ALA não pode
ser produzido pelo organismo humano e é exclusivamente obtido pela dieta, por isso
compõe um ácido graxo essencial.
EPA compete com o ácido araquidônico (ARA), um AGPI da família ômega-6, pelas
enzimas lipoxigenase (LOX) e ciclooxigenase (COX). Através dessas vias enzimáticas são
formados os eicosanoides, mediadores lipídicos envolvidos na ativação da inflamação, que
incluem prostaglandinas (PG), leucotrienos (LT) e tromboxanos (TX). Enquanto ARA é
precursor de eicosanóides com alto potencial pró-inflamatório, imunossupressor e pró-
trombótico, EPA gera eicosanoides funcionalmente menos intensos e antitrombóticos. Por
exemplo, o LTB5, derivado de EPA, tem potencial quimiotático 10 a 30 vezes menos
potente sobre neutrófilos do que o LTB4, derivado de ARA.
EPA e DHA também são precursores de resolvinas e DHA é precursor de
protectinas e maresinas. Esses mediadores lipídicos, coletivamente chamados de
mediadores especializados pró-resolução (SPMs), têm papel relevante na resolução da
inflamação e na restauração da homeostase. As resolvinas e protectinas são liberadas
durante a comunicação célula-célula na fase de resolução inflamatória, via biossíntese
transcelular, e participam do controle endógeno da inflamação. As maresinas são
conjugados de sulfido sintetizados por macrófagos, que também participam da resolução
da inflamação aguda e parecem promover regeneração tecidual. A biossíntese de
maresina 1 envolve um intermediário ativo (13S,14S-epoxi-DHA) que estimula a conversão
de macrófagos com fenótipo M1 (pró-inflamatório) para M2 (anti-inflamatório).
Graças às suas propriedades peculiares, resolvinas, protectinas e maresinas
provenientes de AGPI n-3 inibem a ativação de leucócitos polimorfonucleares e estimulam
o recrutamento de monócitos não inflamatórios, que eliminam resquícios provenientes de
apoptose de neutrófilos (eferocitose). Esses SPMs participam ainda do sequestro de
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citocinas pró-inflamatórias e remoção de outros resíduos (como restos de micro-


organismos invasores), propiciando que a estrutura normal e homeostase teciduais
possam ser restauradas.
Além de serem precursores diretos de mediadores imunológicos, EPA e DHA
também podem influenciar a síntese de mediadores proteicos, com inibição da síntese de
citocinas pró-inflamatórias e aumento da síntese de IL-10 (anti-inflamatória. Esses efeitos
advêm da capacidade que EPA e DHA têm de interferir na ativação de fatores de
transcrição gênica. Por exemplo, EPA, DHA e seus metabólitos podem inibir a atividade de
fator nuclear kappa B (NFB), responsável pela transcrição de genes envolvidos na
geração de citocinas pró-inflamatórias.
Outros fatores de transcrição gênica também influenciados por EPA e DHA
incluem o fator nuclear E2 (Nfr2), receptor ativado por proliferador de peroxissoma
(PPAR) e proteínas de ligação ao elemento regulador de esterol (SREBP). Através da
modulação da ativação desses fatores de transcrição gênica, EPA e DHA também podem
atenuar o estresse oxidativo e modular favoravelmente o metabolismo de carboidratos e
lipídios. Sabidamente, essas alterações podem contribuir para a atenuação de danos
teciduais e de alterações metabólicas envolvidas em doenças com potencial inflamatório,
como diabetes tipo-2.
Parte da capacidade que EPA e DHA têm de influenciar a atividade de fatores de
transcrição gênica se associa com a desestruturação de rafts lipídicos. Os rafts lipídicos
são microdomínios de membrana que se caracterizam por seu alto conteúdo de ácidos
saturados (principalmente colesterol) e de receptores proteicos, que incluem receptores
envolvidos na ativação da sinalização inflamatória. O grau de saturação dos rafts lipídicos
confere rigidez necessária para a dimerização de receptores proteicos ao longo da
membrana celular fluida, durante a sinalização celular.
Ao se incorporarem na membrana, as cadeias altamente insaturadas e, portanto,
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flexíveis de EPA e DHA interrompem a estrutura rígida de rafts lipídicos, dificultando a


dimerização de receptores proteicos e, consequentemente, a sinalização por eles
mediada. Por exemplo, os receptores de reconhecimento de padrões (PRR), que
reconhecem padrões moleculares associados a microrganismos (PAMPs), se localizam nos
rafts lipídicos. Quando ativados, os PRR desencadeiam uma resposta sinalizadora no
leucócito, resultando na produção de mediadores imunológicos pró-inflamatórios. A
desestruturação de rafts lipídicos por EPA e DHA pode, portanto, inibir a produção de
mediadores imunológicos pró-inflamatórios via PRR.
Em modelos experimentais e em humanos, frente a estímulo agressor ou
antigênico, a alta disponibilidade celular de AGPI n-6 (especialmente ARA) favorece
respostas inflamatórias intensas e lesivas. Por outro lado, a maior ingestão de AGPI n-3
(especialmente EPA e DHA), seja pela dieta ou suplementação, pode aumentar razões
celulares de AGPI n-3:n-6. Essas alterações favorecem respostas imunológicas mais
eficientes e menos danosas. Digno de nota, a dieta humana (principalmente em países
ocidentais) tem razão AGPI n-3:n-6 considerada muito baixa (1:20), sugerindo que a
suplementação de AGPIs n-3 possa ser importante.
Algumas evidências científicas podem justificar a suplementação de AGPIs ômega-
3 no tratamento de artrite reumatóide (AR), psoríase, doenças inflamatórias intestinais
(DII), pancreatite aguda (PA), obesidade, síndrome metabólica e diabetes mellitus tipo 2
(DM2). No entanto, ainda não há recomendações formais de sociedades nacionais e
internacionais para a aplicação clínica de AGPIs ômega-3 no tratamento dessas doenças.
Evidências mais consistentes apoiam a suplementação de AGPIs ômega-3 na prevenção e
tratamento de doenças cardiovasculares. Entretanto, as diretrizes da Sociedade Brasileira
de Cardiologia (2019) não recomendam a suplementação de EPA e DHA como de
prevenção primária de doenças cardiovasculares.
Informações sobre AGPIs ômega-3, quanto a fontes dietéticas, recomendações de
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ingestão diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus


sintomas, com alvo na população adulta, estão descritas no Quadro 5.

Quadro 5. Ácidos graxos ômega-3 em adultos - fontes dietéticas, recomendações de


ingestão diária, dose de suplementação, toxicidade, fatores de risco de deficiência e seus
sintomas

Óleo de peixe, linhaça, óleo de canola, peixes de água fria


Fontes dietéticas
(salmão, truta, sardinha, arenque).

Sua recomendação de ingestão diária é feita a partir dos


Recomendações requerimentos de ácidos graxos essenciais, que é de 1-3% do valor
calórico total, onde 0,5-0,6% devem ser de AGPIs ômega-3.

Pelo menos 2 a 3 porções semanais de peixes ricos em AGPIs


ômega-3, para manter a boa saúde e reduzir o risco cardiovascular
em indivíduos de alto risco, como os que já apresentaram infarto
do miocárdio; 2-4 g / dia de AGPIs ômega-3 de origem marinha
para indivíduos com hipertrigliceridemia grave (> 500 mg / dL),
Suplementação
com risco de pancreatite refratária às medidas não farmacológicas
e tratamento medicamentoso; 1 g de EPA e DHA em pacientes
portadores de insuficiência cardíaca com classe funcional II a IV; e
de 4 g de EPA / dia como prevenção secundária em pacientes sob
uso de estatinas e triglicérides entre 150-499 mg/dL.

A toxicidade de AGPIs ômega-3 se baseia na ingestão total de


Toxicidade
ácidos graxos essenciais, quando esta é superior a 15% do valor

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calórico total. Pode ocorrer alteração do metabolismo de


triglicérides de cadeia média, influenciando a produção de
mediadores como prostaglandinas e leucotrienos, estresse
oxidativo relacionado à peroxidação lipídica e imunossupressão.
Entretanto, essas alterações são diretamente associadas ao
excesso de AGPIs ômega-6 e não de AGPIs ômega-3.

Basicamente, a população geral está em risco de deficiência,


Risco de deficiência principalmente quando hábitos alimentares ocidentais são
adotados.

Sintomas neurológicos, redução da acuidade visual, lesões de


Sintomas de
pele, retardo do crescimento, diminuição da capacidade de
deficiência
aprendizado e eletrorretinograma anormal.

Adaptado de Campos LDN e cols. (2017). AGPIs, ácidos graxos poli-insaturados

Considerações finais

O suporte imunológico por micronutrientes é historicamente baseado nas


observações iniciais dos efeitos da deficiência e suplementação de vitamina C no
escorbuto. Desde então, cada vez mais, vem sido estabelecido que a disponibilidade de
vários micronutrientes, bem como de metabólitos obtidos a partir de macronutrientes, é
essencial para garantir o bom funcionamento de barreiras físicas e células imunológicas.
Muitos deles têm efeitos diretos na composição e função de componentes imunológicos;
mas também podem promover a imunidade ao modular a microbiota endógena,
particularmente aquela residente no intestino.
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Em paralelo, fica claro que a obtenção dietética de quantidades adequadas desses


nutrientes é importante, uma vez que estes podem não ser sintetizados, ou ser
sintetizados/armazenados de forma insuficiente para finalidades imunológicas, pelo
organismo humano. Além disso, certas populações têm maior necessidade desses
nutrientes (por exemplo, idosos e atletas) e algumas situações aumentam suas
necessidades (por exemplo, infecção, estresse e poluição), o que pode diminuir ainda mais
suas reservas endógenas.
Entretanto, a ingestão dietética de alguns nutrientes importantes para o bom
funcionamento do sistema imunológico encontra-se frequentemente abaixo daquelas
recomendadas por diretrizes. Essa observação chama a atenção ao considerarmos que até
mesmo deficiência marginal de alguns desses nutrientes pode resultar em respostas
imunológicas ineficientes. Embora ainda existam alguns dados contraditórios, as
evidências disponíveis indicam fortemente que a suplementação com múltiplos
micronutrientes e nutrientes com funções de suporte imunológico possa ser importante
para reduzir o risco de infecções.
Cabe ressaltar que, atualmente, na vigência da pandemia da Coronavirus Disease
2019 (COVID-19), a suplementação de nutrientes com capacidades imunomoduladoras
(particularmente vitaminas C e D) pode ser ainda mais relevante. Por exemplo, baixos
níveis de vitamina D estão associados a um risco aumentado de doenças e infecções
respiratórias e sua suplementação profilática (sem sobredosagem) vem sendo sugerida
para reduzir a gravidade da COVID-19, particularmente em locais onde a hipovitaminose D
é frequente.

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