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TERCEIRO MUNDO
UMA HISTÓRIA POPULAR DO
Sendo assim sua ênfase recai nas popular é que ele foi escrito com a certamente mais do que isto
possibilidades de existência de tal atenção voltada para as lutas por um também: inteligente, erudito,
projeto em cada conjuntura, tendo estimulante, bem escrito. Mas sua
tipo de justiça igualitária e libertária,
em conta suas incongruências, necessidade é que deve ser des-
escolhas, tragédias. Em suma, o que significa que as injustiças tacada, pois ela é o que o torna
o estudo das ambivalências e e imaginações dos oprimidos especial.
contradições das ações dos indi- são centrais para a narrativa.
víduos e grupos sociais no tempo. Publicado originalmente em 2008,
As injustiças e esperanças são
Algo que o autor expandirá pos- ele logo se tornou uma referência
muitas, e espero que este livro para aqueles que buscavam cons-
teriormente em sua interpretação
seja parte de um debate que truir uma visão menos eurocên-
do Sul Global, em Poorer Nations
(2012).
busca encontrar um novo trica da história contemporânea e
projeto que possa resolver os das relações internacionais.
Quem vê o mundo desde tal dialé- problemas do nosso mundo,
tica histórica, crítica, projetiva, não Uma razão para isto é que o livro
em um contexto em que os de Vijay Prashad ia para além da
pode se contentar com rótulos e
Estados Unidos, à frente do perspectiva desconstrucionista
esquematismos, nem estruturalis-
tas, nem pós-modernos, no fundo G-7, só podem piorar as que então marcava o viés “pós-co-
igualmente desmobilizadores. coisas e nunca melhorar. lonial” dominante nesta área de
O conhecimento busca o que se interesse e pesquisa no mundo. E
mantém naquilo que se transfor- que, para o senso comum, marca-
ma continuamente, destacando a va inclusive o pensamento inte-
ação humana. lectual recente de sua pátria de
UMA HISTÓRIA
origem: Índia; terra de H. Bhabha,
VIJAY PRASHAD
Daí que este livro não seja uma D. Chakrabarty, G. Spivak.
exumação. É uma (re) visitação
POPULAR DO
de determinada luta, que continua Ao contrário destes (e outros), ao
viva e seguirá conosco: o direito reconstruir a história do Terceiro
dos povos periféricos há existir e Mundo, Prashad se ateve às uto-
se autodeterminar. Algo impen-
sável na estrutura exploratória, TERCEIRO MUNDO pias (algumas concretas, outras
nem tanto) que mobilizavam tal
movimento internacional, em suas
polarizadora e potencialmente
genocida do capitalismo. Falar diversas faces e momentos. É o
deste passado, portanto, é falar Terceiro Mundo como projeto que
concomitantemente do nosso lhe interessa, e não como espaço
presente e futuro.
Muryatan S. Barbosa
Historiador e professor da Univer-
sidade Federal do ABC (UFABC)
Tradução
Rafael Tatemoto
1a edição
Expressão Popular
São Paulo – 2022
Traduzido de: The darker nations – a people’s history of the third world. New York: The New
Press, 2007.
Nota editorial........................................................................... 7
Nota do tradutor..................................................................... 9
Agradecimentos. ......................................................................13
Prefácio à edição brasileira:
Nações mais escuras, histórias possíveis......................................17
Introdução..............................................................................21
PARTE 1 – A BUSCA
Paris....................................................................................... 29
Bruxelas..................................................................................47
Bandung..................................................................................71
C airo.....................................................................................103
Buenos Aires..........................................................................121
Teerã.....................................................................................145
Belgrado...............................................................................175
Havana..................................................................................195
PARTE 2 – ARMADILHAS
Argel. ...................................................................................215
L a Paz.................................................................................. 239
Bali.......................................................................................265
Tawang................................................................................. 287
C aracas................................................................................ 307
Arusha................................................................................. 329
Rafael Tatemoto
dos intelectuais, pois se viesse não teria tido tanto apoio popular. Ele
vem da sabedoria desses movimentos. O Terceiro Mundo, na minha
análise, não é tanto uma condição comum, mas sim uma unidade
de propósito dos regimes que, pelo menos nas duas décadas que
sucederam os anos de 1950, chegaram ao poder com significativa
legitimidade popular. E, por um tempo, representaram um desafio
para a ordem do pós-Segunda Guerra Mundial, particularmente
com sua agenda a favor do desarmamento, de uma ordem econômica
mais justa (uso de subsídios e tarifas, bem como de cartéis de bens
primários) e por um mundo sem racismo.
As condições para algum tipo de projeto certamente existem em
nossos tempos. Acredito que os contornos do projeto do Terceiro
Mundo precisam ser totalmente repensados, pois ele não combateu
plenamente o problema representado por um capital financeiro po-
tente e “livre”, cujas próprias relações com o Estado haviam mudado
já nas décadas de 1960 e 1970. Fidel Castro, na reunião do Movi-
mento dos Países Não Alinhados (MNA) de 1983, levantou esse
problema, que acabou sendo desconsiderado no debate mais amplo.
Ele propôs, por exemplo, que houvesse uma greve no pagamento da
dívida do Terceiro Mundo. Essa poderia ter sido uma forma muito
impactante de pelo menos revelar o poder do capital financeiro e seu
domínio sobre o desenvolvimento sustentável. Mas não aconteceu,
como eu mostrarei. Assim, as condições de exploração continuam,
mas também são aguçadas e transformadas. Precisamos dar conta
das novas condições, das novas lutas contra elas e da possibilidade
de uma plataforma internacional e global capaz de lidar com um
Exército estadunidense cada vez mais agressivo e com a Nova Guer-
ra Fria que vem sendo colocada em prática pelo Ocidente contra
a China e a Rússia. Essa plataforma também precisa lidar com o
“planeta de favelas”, condição que se agrava com o aumento da
pobreza e da fome em um contexto de austeridade e privatizações.
Isso é precisamente o que eu fiz no trabalho que dá sequência a esse,
The Poorer Nations: A Possible History of the Global South.
1
Utilizei “projeto” no lugar de “objetivo”. A citação original é: “Le Tiers-Monde
est aujourd’hui en face de l’Europe comme une masse colossale dont le projet
doit être d’essayer de résoudre les problèmes auxquels cette Europe n’a pas su
apporter de solutions” (Fanon, 1961, p. 241).
2
Em inglês, hair trigger, expressão que designa um gatilho que dispara sob a
menor pressão possível. (N. E.)
3
Termo em sânscrito para “progresso para todos”, “bem-estar de todos”,
cunhado por Mahatma Gandhi na Índia. (N. E.)
4
Acrônimo baseado nas palavras indonésias para nacionalismo, religião e co-
munismo. Termo utilizado para caracterizar o socialismo com características
indonésias. (N. E.)