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André Claudino
3 de abril de 2011
Sumário
Vamos imaginar uma função f (x) de uma variável x. Essa função é descrita
em termos de uma grandeza contı́nua que se estende por todo um domı́nio de
validade. Por exemplo, se a função representa o número de bactérias numa
colônia ao longo do tempo x, podemos observar que ela é limitada a ao domı́nio
de um instante inicial x0 até um instante infinito, isto é x ∈ (x0 , ∞) 1 . Outro
exemplo é se f (x) representa a velocidade de um corpo ao longo da posição x
(casos de sistemas conservativos2 ).
Por vezes é interessante observar o que ocorre com estas funções quando
observadas num domı́nio diferente. Para concluir quem é este domı́nio e o que é
interesse nele vamos precisar da noção de espaço vetorial de dimensão infinita,
ou espaço de Hilbert, que pode ser relembrada em COHEN; TANNOUDJI.
Vamos começar nosso estudo pensando apenas naquelas funções que podem ser
perfeitamente escritas em termos de uma sequência finita de funções senoidais,
1 Na prática, quando se modela um problema por meio de uma função matemática, sabemos
que na verdade valores muito elevados ou muito baixos, ou mesmo valores próximos a outros
determinados restringem nosso domı́nio, pois nossos modelos são sempre válidos dentro de
pequenos domı́nios de validade
2 Um sistema conservativo é um sistema fı́sico no qual as integrais de caminho são
dependentes apenas dos pontos final e inicial, na prática, dizer que uma dada função é
conservativa implica em dizer que ela pode ser escrita como ∇α para α uma hipercurva
escalar qualquer
1
i.e., senos e cossenos 3 . Suponhamos um caos extretamente simples por exemplo
para a modelagem de uma colônia de bactérias em que a população (f x) se
comporte ao longo do tempo x como
7
f (x) = 3sen(x) + 2cos( x) (1)
2π
7 500π
Figura 1: Função f (x) = 3sen(x) + 2cos( x)no intervalo 0 ≥ t ≤
2π 7
3 Podemos utilizar tanto senos e cossenos como exponenciais complexas que são uma outra
2
Perceba que este gráfico continua tendo um comportamento periódico, tal
como as funções que o constituem, cujos gráficos são:
50π
Figura 2: Função 3sen(x)no intervalo 0 ≥ t ≤
7
7 50π
Figura 3: Função 2cos( x)no intervalo 0 ≥ t ≤
2π 7
3
Seria interessante podermos analisar esta função do ponto de vista das
frequências que as constituem. Para iniciarmos esta discussão, vamos definir as
grandezas associadas a uma de uma dada função que precisaremos:
Definição 1.1 Funções periódicas são aquelas para as quais existem valores Ti
tais que f (x+Ti ) = f (x), contanto que x e x+Ti estejam no domı́nio da função.
Definição 1.2 O perı́odo T de uma função f (x) é o menor valor de Ti tal que
f (x + Ti ) = f (x).
1
Definição 1.3 A frequências ωi de uma função f (x) são definidas por ωi = ,
Ti
onde f (x + Ti ) = f (x).
Agora que sabemos o que é a frequência de uma dada função, vamos tentar
montar o espectro de frequências da nossa função, e buscar entender quais as
interpretações que podemos fazer dele.
Num primeiro momento, vamos analisar os espectros de frequência de funções.
Como estamos trabalhando apenas com as funções trigonométricas seno e cosseno,
nos interessa por enquanto conhecer o espectro de uma forma geral destas
funções, e com isto, teremos o espectro de funções construı́das à partir de
combinações lineares4 destas. Com isto estamos simplesmente dizendo que o
operador que constrói espectros à partir de dadas funções é um operador linear.
e o da função seno é
Onde δ(ω) é a função5 delta de Dirac. Assim sendo, os gráficos são determinados
por picos de altura infinita definidos em pontos discretos6 .
4 Uma combinação linear de elementos a com elementos α de um corpo escalar é definida
P i i
como αi ai
i
5 Ainda que na literatura seja muito comum chamá-la de função, a delta de Dirac é na
verdade uma distribuição, assim como a distribuição de Poisson e a de Gauss
6 Um conjunto discreto é aquele que pode, de alguma forma, ser posto em bijeção com
um subconjunto dos números naturais ou inteiros, (ou seja, aquele que é homeomorfo a um
subconjunto dos naturais), e um conjunto contı́nuo é aquele que pode ser posto em bijeção
com os reais (ou seja, o que é homeomorfo à reta x ∈ (0, 1)
4
A delta de Dirac é uma distribuição determinada pelas seguintes condições:
Definição 1.5 (
R f (x0 ) | x0 ∈ ∆
∆
f (x)δ(x − x0 )dx =
0 | x0 6∈ ∆
(
∞|x=0
δ(x) =
0 | x 6= 0
7 7
fˆ(ω) = −3iπδ(ω − 1) − 3iπδ(ω + 1) + 2πδ(ω − ) + 2πδ(ω + ) (4)
2π 2π
5
Podemos perceber que o caminho de volta é muito simples: uma vez conhecidos
os pontos do espectro só precisamos determinar os coeficientes, estes coeficientes
podem ser determinados à partir das propriedades da função delta (a forma de
se fazer isto fica como exercı́cio).
1.1.1 Exercı́cios:
Tendo em mão as relações (2) e (3) e sabendo que o espectro a função δ de Dirac
é a função constante 1, e que o da função constante 1 é 2πδ(ω)
Exercı́cio 1.1.3 Esboce os gráficos dos espectros e das funções das questões
anteriores.
Z T
2
ha(x), b(x)i ≡ a(x)b(x)dx
− T2
6
(
4x
1+ T | T2 < x ≤ 0
b) f (x) = 4x
1− T | 0 ≤ x < T2
Exercı́cio 1.1.5 Agora calcule a chamada Série de Fourier complexa das funções
do problema anterior que é obtida substituindo a base {cos(nωx), sen(nωx)} pela
base {einωx , e−inωx }
Referências
COHEN; TANNOUDJI. Quantum Mechanics. [S.l.: s.n.], 1977.
HSU, H. P. Análise de Fourier. [S.l.: s.n.], 1973.