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Anabela Sardo
Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda
João Estêvão
Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda
RESUMO
Assim, a ECTARC (European Centre for Traditional and Regional Cultures) define os
recursos culturais da seguinte forma:
- Eventos.
Sob a perspectiva da actividade turística, a oferta cultural pode cumprir três funções
diferenciadas:
1. Pode ser a principal motivação da viagem. Neste caso, trata-se de bens de grande
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relevância ou notoriedade que, por si só, são capazes de gerar fluxos turísticos. Os
exemplos são muitos e variados, mas, só para citar alguns, podemos mencionar a
“Semana Santa em Sevilha”, o “Caminho de Santiago”, ou grandes exposições artísticas.
Além dessas atracções mais massificadas, há outras, de natureza mais especializada, que
têm os bens patrimoniais como o principal móbil de determinado fluxo turístico. Temos,
como exemplos, as viagens relacionadas com a ópera; relacionadas com festas populares,
com a vida de determinada personagem histórica ou literária, entre outros.
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(…) O património cultural é capaz de atrair mercados que não dependem tanto do
factor clima”.
• Planeamento estratégico: fundamental ao nível do bem patrimonial específico ou
do destino que se deseja converter em recurso turístico cultural.
• Acessibilidade: apresentação/interpretação do património cultural de uma região
de uma forma compreensível e atractiva para que os turistas o apreendam. De
acordo com F. Ricart (2004: pp. 11), “a interpretação tem como objectivos básicos
facilitar a apresentação e uso social do património. Consequentemente, permite-
nos realizar leituras diversas de um mesmo conteúdo, de forma a obtermos um
uso muito mais dinâmico do património. (…) A interpretação perde o seu sentido
quando o visitante é incapaz de fazer uma leitura própria do discurso proposto,
não obtendo qualquer benefício, intelectual, vivencial ou lúdico”.
• Sustentabilidade no uso: relativamente aos impactes do Turismo, a principal
crítica que, habitualmente, se aponta ao turismo cultural está relacionada com os
impactes de natureza sócio-cultural. Assim, de acordo com F. Torralba (2004),
acusa-se frequentemente o turismo cultural de ser um processo aculturador e
causador da alteração de valores culturais das populações de destino: a um turista
standard corresponde um grupo de indígenas representando o seu papel.
1
NUT – Nomenclatura de Unidade Territorial, para Fins Estatísticos.
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De acordo com Cunha (2000: pp. 97), apesar do seu crescimento fenomenal desde os
anos 80, "o turismo Português passou a viver em um estado de crise latente ou explícita
derivada do excesso de oferta resultante da inadequação das infra-estruturas, do
desordenado aproveitamento dos espaços, do desequilíbrio entre as várias componentes
da oferta e outros factores ligados às condições de recepção internas". O mesmo autor, à
semelhança de outros, enfatiza, como uma das mais importantes vulnerabilidades do
turismo português, as concentrações excessivas em termos territoriais, de mercados de
origem e em termos de motivações (“sol e praia”). Assim, de acordo com Cunha (2000:
pp. 98), “os principais desafios com que o turismo português se depara consistem na sua
diversificação ao nível de mercados, produtos (motivações), territórios e canais de
distribuição."
Relativamente à concentração do turismo em Portugal, bastará constatar que, em finais
dos anos 90, as regiões com maior expressão turística, situadas numa reduzida porção da
faixa costeira, detinham cerca de 80% da capacidade de alojamento turístico, enquanto
todas as outras regiões, incluindo as zonas do interior, se limitavam a 20% da capacidade
total do país. Actualmente, verifica-se que esta situação não mudou. Deste modo, as
regiões do interior do país continuam a ser tão marginais no turismo português, como na
actividade económica em geral. Porém, a situação do turismo é especialmente
preocupante pelo facto de se considerar, frequentemente, a actividade turística como a
grande resposta das regiões do interior à sua estagnação económica.
O caso do Algarve, destino de “sol e praia” por excelência desde os anos 70, é
paradigmático. De facto, nos últimos anos e com poucas excepções, o turismo no Algarve
não só tem vindo a perder quota de mercado, como, também, se tem verificado um
declínio no número de dormidas. Em contrapartida, em Portugal, tal como noutros países
tradicionalmente vistos como “turismo de sol e praia”, outros destinos e outras formas de
turismo têm-se vindo a afirmar progressivamente.
Para estudar o desenvolvimento do turismo cultural, a Associação para a Educação nas
Áreas do Turismo e Lazer (ATLAS) iniciou, em 1992, um projecto com os objectivos
principais da análise do mercado para o turismo cultural na Europa, procurando conhecer
o perfil cultural e turístico dos europeus e desenvolvendo estudos de caso no domínio do
turismo cultural. Actualmente, a ATLAS continua a fazer estudos semelhantes em cerca
de setenta países europeus.
Algumas das primeiras conclusões do estudo iniciado em 1992 revelam a clara evidência
do crescimento exponencial do turismo cultural na Europa, entre 1970 e 1991 (Henriques,
2003). No entanto, o padrão de crescimento da procura de turismo patrimonial revelou
variações significativas entre os países analisados. Assim, enquanto países como o Reino
Unido e a França registaram um aumento de 200% e 130%, respectivamente, países como
a Itália, viram o seu turismo cultural crescer “apenas” 18%" (2003). G. Richards, citado
por Henriques (2003), justifica este facto pela relativa escassez de uma gestão
profissional do património e pelo facto de a Itália já ser, há muitas décadas, o mais forte
destino turístico cultural na Europa.
No caso português, apesar da sua assinalável singularidade e atractividade potencial, o
património cultural nacional ainda não se converteu, cabalmente, no seu principal tema
turístico. Esta situação condiciona o desenvolvimento turístico de vastas regiões do país,
em especial as que não se situam na sua faixa costeira.
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Ainda que, tal como se refere no ponto anterior, o património deva estar exposto e permitir
ser interpretado de uma forma apreensível pelos mais variados públicos, os espaços
museológicos deverão ter igualmente em conta os públicos especializados que visitam esses
espaços com uma forte motivação científica e de investigação. Os museus e centros de
interpretação deverão ser, pois, “acessíveis à investigação”, dispondo de condições de
acompanhamento especiais para tais públicos, através de salas próprias para investigadores,
de um acesso a elementos do espólio, que poderão não estar expostos ao público em geral,
devendo mesmo ser dada a oportunidade de um contacto mais especializado com os técnicos
desses espaços museológicos ou de interpretação.
No que diz respeito à “acessibilidade laboral”, pode-se considerar este tipo de acessibilidade
como a inclusão, nos projectos museológicos e de interpretação, de profissões e saberes não
tradicionais nesta área. Funções como as de conservador ou guia são tradicionais e inerentes
à maioria dos museus. Contudo, um espaço museológico e de interpretação inovador e
ambicioso deverá contar com, por exemplo, um técnico de marketing (imagem, divulgação),
um especialista na área da educação (serviço educativo) e mesmo um técnico de turismo.
A “acessibilidade ao Turismo Cultural” é um aspecto que não pode ser negligenciado em
projectos museológicos e centros de interpretação. Ainda que devam ter como público
privilegiado a própria comunidade em que se situam, a maioria dos seus visitantes acabam
por ser pessoas exteriores a essa mesma comunidade. Ou seja, acabam por ser turistas e
excursionistas. Assim, seria natural considerar que a maior parte dos museus e centros de
interpretação disporiam de uma estratégia para a captação e fidelização de fluxos turísticos.
Porém, tal não é comum, A maior parte dos espaços contentam-se em traduzir a
interpretação do seu espólio ou das suas visitas guiadas para outras línguas. Ao considerar o
turismo cultural como um dos cinco mais relevantes elementos da gestão externa de um
museu, Ricart (2003) está a reconhecer a necessidade de criar e implementar estratégias que
convertam os museus e os centros de interpretação em recursos turísticos.
Assim, actualmente, é essencial que qualquer projecto de interpretação do património, de
cariz inovador, crie e implemente estratégias de aproveitamento turístico, nomeadamente na
proposta e promoção de experiências turísticas.
Um dos seus principais objectivos, ao nível da actividade turística, é o de favorecer a
implantação de actividades produtivas que revertam a favor da população, permitindo, por
um lado, gerar turismo sustentável e evitar sazonalidade e, por outro, melhorar a
coordenação dos diferentes territórios e potenciar as dinâmicas locais.
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O CISE dispõe, ainda, de um jardim, com uma superfície de cerca de dois hectares que
oferece a possibilidade de descobrir espécies botânicas características da flora serrana, bem
como algumas das aves mais características dos habitats florestais nacionais.
Este centro de interpretação, tal como acaba de ser descrito, é o resultado de uma profunda
remodelação, que transformou por completo os seus espaços físicos, bem como os
conteúdos a transmitir aos seus visitantes. Esta transformação pretendeu, igualmente,
imprimir à instituição uma maior dinâmica no que diz respeito ao cumprimento das suas
atribuições e objectivos.
Para a consecução desta remodelação integral do CISE, foi necessário levar a cabo um
elevado valor de investimento, cerca de cinco milhões de Euros. Desse montante, cerca de
75% adveio de fundos comunitários, tendo o remanescente sido suportado pela Câmara
Municipal de Seia e pelo Estado Português.
Após a intervenção, que alterou por completo este centro de interpretação, o mesmo reabriu
as suas portas ao público nos primeiros meses de 2007, podendo o visitante não só visionar
um filme relativo à Serra da Estrela em três dimensões, como realizar uma visita guiada à
sala de Exposição Permanente, que está dividida em três partes: Planeta Terra e Sistema
Solar; Região Centro de Portugal e Serra da Estrela. Neste espaço optou-se pela utilização
de uma linguagem interpretativa sofisticada, atractiva, com uma profusa utilização de novas
tecnologias em que se privilegia a interacção, não apenas com os guias do CISE, mas,
igualmente, com a própria exposição, através de painéis multimédia, apresentações
orográficas, em relevo, e maquetas, em 3D, com projecção de informação.
Um dos objectivos principais deste centro é a Interpretação da Natureza, que consiste num
conjunto de actividades organizadas com o intuito de auxiliar os visitantes e a população das
áreas protegidas a compreender o espaço natural em que se encontram, oferecendo-lhes,
simultaneamente, uma justificação para a sua conservação.
De acordo com os responsáveis pelo CISE, a interpretação da Natureza está mais
relacionada com os aspectos recreativos e de usufruto de uma determinada área do que com
aspectos educativos, ainda que, obviamente, influencie a formação dos indivíduos. Neste
campo, esta estrutura oferece condições para transmitir conhecimentos que permitam, a
todos aqueles que o desejarem, conhecer e compreender a dinâmica natural da Serra da
Estrela. Isso pode acontecer através da realização de percursos nesta zona e, igualmente, por
meio da produção e divulgação de materiais informativos relativos ao património ambiental
da região.
O CISE integra e apoia, também, projectos de investigação, disponibilizando espaços de
reuniões e acolhimento bem como dados científicos inéditos que os técnicos do centro
compilam e organizam (estudos relativos à Serra da Estrela nas áreas da agro-pecuária,
arqueologia, biologia, ordenamento do território, silvicultura entre outras, através de
parcerias com instituições do ensino superior politécnico e universitário). A este nível, o
CISE actua como um centro de acesso e transferência de conhecimentos e tecnologias, de
cooperação técnica e científica com as instituições públicas e privadas da região, permitindo
criar intercâmbios de informação.
Paralelamente, organiza e/ou disponibiliza as instalações para a realização de palestras,
colóquios e conferências, assim como de encontros científicos a vários níveis.
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turísticas, assim como a restante oferta turística de um destino, esteja presente nos mercados
de origem da procura. Tal não apenas se aplica ao nível da promoção/divulgação, mas
igualmente da distribuição/comercialização directa, via Internet, ou através de
intermediários turísticos.
Para que qualquer projecto museológico ou de interpretação possa converter-se em recurso
turístico, o mesmo deve dispor de uma estratégia que o ponha em contacto com o mercado
turístico. Para tal, é necessário compreender esse mesmo mercado. Assim, o CISE deverá
procurar saber, por exemplo:
1. Quais os principais canais de distribuição turísticos (operadores turísticos)
com propostas no turismo de natureza e cultural que poderiam integrar o
CISE na sua oferta;
2. Quais os principais mercados, por exemplo, à escala europeia, para o turismo
de natureza e o que normalmente exigem de um centro de interpretação (por
exemplo, em termos de línguas estrangeiras utilizadas na interpretação do
património);
3. Sabendo que, isoladamente, o CISE jamais se poderá converter num recurso
turístico, de que forma se poderia integrar o mesmo nas experiências
turísticas dos seus visitantes, convertendo-o numa verdadeira “porta de
entrada” da Serra da Estrela para os turistas de natureza;
4. Que tipos de turistas, para além daqueles cuja principal motivação é o turismo
de natureza, poderiam ser utilizadores habituais do CISE (como o turismo de
incentivos, por exemplo).
Todos estes pontos de partida são questões que, posteriormente, se deverão concretizar em
acções conducentes à integração no ainda débil sistema turístico de Seia e da Serra de
Estrela, contribuindo não apenas para uma maior rentabilização do próprio CISE como,
também, para o enriquecimento da actividade turística da região e para a fidelização de uma
procura mais informada e exigente.
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