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Instituto Politécnico de Leiria

III Congresso Internacional de Turismo de Leiria e Oeste – 2009

A Gestão Turística de Museus e Centros de Interpretação:


O Caso do Centro de Interpretação da Serra da Estrela

Anabela Sardo
Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda
João Estêvão
Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda

Palavras-Chave: Gestão e conservação de recursos turísticos; museus; centros de


interpretação; competitividade de destinos turísticos.

RESUMO

Em Portugal, a actividade turística assume uma importância acrescida pelo facto de


constituir a actividade económica que mais contribui para a riqueza nacional.

Relativamente aos bens patrimoniais, recursos turísticos primários, as entidades gestoras


deverão conhecer e aplicar metodologias que lhes permitam convertê-los em recursos
turístico-culturais.

No caso específico da conversão de projectos museológicos em recursos turísticos


primários (de maior relevância para a competitividade de um destino), não bastará que os
seus gestores se focalizem apenas nas funções/atribuições tradicionais dos museus, tais
como a preservação e valorização do património; a pesquisa e aquisição de obras e/ou a
estratégia de interpretação do património que albergam, entre outras. Para que um museu
se converta em recurso turístico de cariz cultural, será necessário adoptar uma estratégia
de turismo cultural, que possibilite a sua integração no sistema turístico de determinado
destino. Por outras palavras, o mercado turístico actual, marcado por uma forte
concorrência e enorme abundância de ofertas de destinos e atracções turísticas, exige que
os gestores dos projectos museológicos adoptem uma visão mais proactiva face aos seus
visitantes.

O presente artigo pretende avaliar a integração do Centro de Interpretação da Serra da


Estrela (CISE), em Seia, no sistema turístico local e regional, bem como apontar
metodologias e acções conducentes à sua conversão em recurso turístico.

1. OS RECURSOS E PRODUTOS CULTURAIS COMO ATRACÇÕES


TURÍSTICAS

As possibilidades de utilização dos recursos e produtos culturais como atracções turísticas


são amplas e variadas. Porém, antes de aprofundar esta matéria, considera-se pertinente
lembrar a diversidade de recursos culturais, chamando a atenção para uma das diversas
classificações que existem sobre os mesmos.
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Assim, a ECTARC (European Centre for Traditional and Regional Cultures) define os
recursos culturais da seguinte forma:

- Sítios arqueológicos e museus;

- Arquitectura (ruínas, edifícios famosos, aglomerados urbanos);

- Arte, escultura, artesanato, galerias, festivais e eventos;

- Música e dança (clássica, folclórica e contemporânea);

- Drama (teatro, cinema e afins);

- Estudo de línguas e literaturas, incluindo itinerários e eventos nestes campos;

- Festas religiosas e peregrinações;

- Culturas ou subculturas tradicionais e contemporâneas (por exemplo, o folclore);

- Eventos.

1.1. A Oferta Cultural como Atracção Turística

No entanto, o simples facto de haver recursos patrimoniais não implica a existência de


recursos ou atracções turísticos, sendo necessária a implementação de um processo de
estruturação e organização dos bens patrimoniais para o seu adequado aproveitamento
turístico.

Note-se que a actividade turística tem características específicas a considerar. Assim, é


importante ter em conta aspectos como o cálculo da capacidade de carga; uma adequada
política de horários adaptados às exigências dos turistas; o planeamento dos sistemas de
acolhimento; as estratégias de promoção e de comercialização, entre outros.

Um aspecto muito importante são as intervenções no domínio da interpretação dos bens


patrimoniais, que deverão assegurar uma correcta interpretação intelectual para uma boa
acessibilidade ao bem cultural, elemento fundamental para atingir o nível adequado de
satisfação dos turistas. Tal como J. Morales (citado por Osácar, 2003) definiu, as
estratégias interpretativas têm como objectivo central contribuir para a conservação dos
valores naturais e culturais, ajudando o visitante a desenvolver uma consciência e
compreensão do lugar que visita. Além disso, pode-se acrescentar que são uma excelente
ferramenta de gestão que controla o impacte gerado; incrementa a valorização dos bens
patrimoniais, por parte dos visitantes; favorece a obtenção de benefícios económicos e
valoriza a experiência dos visitantes.

Sob a perspectiva da actividade turística, a oferta cultural pode cumprir três funções
diferenciadas:

1. Pode ser a principal motivação da viagem. Neste caso, trata-se de bens de grande
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relevância ou notoriedade que, por si só, são capazes de gerar fluxos turísticos. Os
exemplos são muitos e variados, mas, só para citar alguns, podemos mencionar a
“Semana Santa em Sevilha”, o “Caminho de Santiago”, ou grandes exposições artísticas.
Além dessas atracções mais massificadas, há outras, de natureza mais especializada, que
têm os bens patrimoniais como o principal móbil de determinado fluxo turístico. Temos,
como exemplos, as viagens relacionadas com a ópera; relacionadas com festas populares,
com a vida de determinada personagem histórica ou literária, entre outros.

2. Quando os elementos culturais ou patrimoniais se encontram associados a outros


recursos de outras categorias. Nestes casos, a oferta cultural é apenas uma parte da
atracção, que é complementada por uma grande variedade de tipos de oferta. Este é o
caso dos circuitos de cidade, nos quais o principal interesse é a descoberta de um destino,
mais que o estrito contacto com a oferta cultural da cidade. Porém, em muitas cidades, as
ofertas culturais desempenham um papel significativo para a sua atractividade, enquanto
destinos turísticos.

3. Quando o património cultural adquire um papel complementar ou secundário da oferta


turística, tornando-se um factor diferenciador de um destino turístico em termos de
imagem.

1.2. Chaves para o Desenvolvimento de Recursos Turístico-Culturais

E. Osácar (2003) distingue várias chaves para desenvolver os recursos culturais no


âmbito do Turismo. São elas:

• Importância: relevância intrínseca do património cultural e natural. Não vale a


pena apostar num lugar, se o destino tem um escasso valor ao nível patrimonial.
Nesse caso, será difícil torná-lo um produto turístico sustentável.
• Singularidade: tudo aquilo que distingue uma região de outra, dando-lhe um
posicionamento único.
• Agrupamento: este ponto refere-se à complementaridade entre várias atracções ou
recursos, anteriormente dispersos, que passam a formar um produto. Tem a ver
com a complementaridade entre vários lugares e atracções ou recursos. Às vezes,
um lugar, por si só, não é atractivo. Contudo, pode tornar-se, se for agrupado com
outros.
• Criação de uma marca e estabelecimento de redes: esta questão está directamente
relacionada com o anterior (agrupamento). Trata-se de criar uma marca a partir da
identidade do destino ou estabelecer vários tipos de distintivos de qualidade para
as empresas locais/regionais.
• Acesso: o tempo e a distância são factores que os turistas têm em linha de conta
no momento de eleger um destino. Os lugares devem destacar a sua proximidade
a cidades importantes ou a destinos turísticos tradicionais, como uma forma de
atrair o turista. As acessibilidades, meios de transporte públicos disponíveis e/ou
as barreiras arquitectónicas condicionam este factor.
• Sazonalidade: sobre este ponto como “chave” para o desenvolvimento do
património cultural na actividade turística, Osácar (2003: pp. 10) refere que
“ainda que a sazonalidade seja um problema da actividade turística, o turismo
baseado no património cultural representa uma oportunidade para a minimizar.

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(…) O património cultural é capaz de atrair mercados que não dependem tanto do
factor clima”.
• Planeamento estratégico: fundamental ao nível do bem patrimonial específico ou
do destino que se deseja converter em recurso turístico cultural.
• Acessibilidade: apresentação/interpretação do património cultural de uma região
de uma forma compreensível e atractiva para que os turistas o apreendam. De
acordo com F. Ricart (2004: pp. 11), “a interpretação tem como objectivos básicos
facilitar a apresentação e uso social do património. Consequentemente, permite-
nos realizar leituras diversas de um mesmo conteúdo, de forma a obtermos um
uso muito mais dinâmico do património. (…) A interpretação perde o seu sentido
quando o visitante é incapaz de fazer uma leitura própria do discurso proposto,
não obtendo qualquer benefício, intelectual, vivencial ou lúdico”.
• Sustentabilidade no uso: relativamente aos impactes do Turismo, a principal
crítica que, habitualmente, se aponta ao turismo cultural está relacionada com os
impactes de natureza sócio-cultural. Assim, de acordo com F. Torralba (2004),
acusa-se frequentemente o turismo cultural de ser um processo aculturador e
causador da alteração de valores culturais das populações de destino: a um turista
standard corresponde um grupo de indígenas representando o seu papel.

2. OBSTÁCULOS AO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO CULTURAL EM


PORTUGAL
De acordo com Carlos Costa, um dos mais reconhecidos especialistas no estudo da
actividade turística em Portugal, o turismo é visto, frequentemente, como um sector
estratégico para a economia portuguesa. Assim, Pinto (2004: pp.5), citando Carlos Costa,
afirma que “o turismo é intensamente referido nos discursos políticos nacionais,
organizações governamentais e as administrações locais e regionais, como um dos
‘clusters’ que são mais capazes de alavancar a economia e o desenvolvimento de país”.
De facto, sendo a mais importante actividade económica no país, o turismo poderá vir a
representar, de acordo com dados do Turismo de Portugal, I.P., cerca de 15% do PIB em
2015 (Turismo de Portugal, 2006). Pela sua situação económica menos favorável face aos
grandes mercados da procura, Portugal é um país predominantemente receptor de turistas.
Este facto, decorrente da relativa pobreza do país, faz com que o turismo seja a actividade
económica que mais contribui para o equilíbrio da balança de pagamentos de Portugal
com o exterior. Em Portugal, de acordo com Cunha (2000), a história do crescimento do
sector do turismo está associado às três principais áreas de recepção turística: as NUT1 II
do Algarve, de Lisboa e Vale do Tejo e do Arquipélago da Madeira. As três áreas
contribuíram maioritariamente para o aumento da procura de turistas nacionais e
estrangeiros, entre eles a principal fonte de mercados de Portugal: inglês, alemão,
espanhol, holandês e francês. Além disso, o desenvolvimento do sector do turismo em
Portugal ainda é semelhante às origens e consolidação do turismo Português durante o
século anterior. É um processo de crescimento ligado ao turismo de “sol e praia”, com
uma concentração nas zonas costeiras, oferecendo alojamento apoiado, essencialmente,
ao nível do clássico hotel e apartamentos.

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NUT – Nomenclatura de Unidade Territorial, para Fins Estatísticos.

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De acordo com Cunha (2000: pp. 97), apesar do seu crescimento fenomenal desde os
anos 80, "o turismo Português passou a viver em um estado de crise latente ou explícita
derivada do excesso de oferta resultante da inadequação das infra-estruturas, do
desordenado aproveitamento dos espaços, do desequilíbrio entre as várias componentes
da oferta e outros factores ligados às condições de recepção internas". O mesmo autor, à
semelhança de outros, enfatiza, como uma das mais importantes vulnerabilidades do
turismo português, as concentrações excessivas em termos territoriais, de mercados de
origem e em termos de motivações (“sol e praia”). Assim, de acordo com Cunha (2000:
pp. 98), “os principais desafios com que o turismo português se depara consistem na sua
diversificação ao nível de mercados, produtos (motivações), territórios e canais de
distribuição."
Relativamente à concentração do turismo em Portugal, bastará constatar que, em finais
dos anos 90, as regiões com maior expressão turística, situadas numa reduzida porção da
faixa costeira, detinham cerca de 80% da capacidade de alojamento turístico, enquanto
todas as outras regiões, incluindo as zonas do interior, se limitavam a 20% da capacidade
total do país. Actualmente, verifica-se que esta situação não mudou. Deste modo, as
regiões do interior do país continuam a ser tão marginais no turismo português, como na
actividade económica em geral. Porém, a situação do turismo é especialmente
preocupante pelo facto de se considerar, frequentemente, a actividade turística como a
grande resposta das regiões do interior à sua estagnação económica.
O caso do Algarve, destino de “sol e praia” por excelência desde os anos 70, é
paradigmático. De facto, nos últimos anos e com poucas excepções, o turismo no Algarve
não só tem vindo a perder quota de mercado, como, também, se tem verificado um
declínio no número de dormidas. Em contrapartida, em Portugal, tal como noutros países
tradicionalmente vistos como “turismo de sol e praia”, outros destinos e outras formas de
turismo têm-se vindo a afirmar progressivamente.
Para estudar o desenvolvimento do turismo cultural, a Associação para a Educação nas
Áreas do Turismo e Lazer (ATLAS) iniciou, em 1992, um projecto com os objectivos
principais da análise do mercado para o turismo cultural na Europa, procurando conhecer
o perfil cultural e turístico dos europeus e desenvolvendo estudos de caso no domínio do
turismo cultural. Actualmente, a ATLAS continua a fazer estudos semelhantes em cerca
de setenta países europeus.
Algumas das primeiras conclusões do estudo iniciado em 1992 revelam a clara evidência
do crescimento exponencial do turismo cultural na Europa, entre 1970 e 1991 (Henriques,
2003). No entanto, o padrão de crescimento da procura de turismo patrimonial revelou
variações significativas entre os países analisados. Assim, enquanto países como o Reino
Unido e a França registaram um aumento de 200% e 130%, respectivamente, países como
a Itália, viram o seu turismo cultural crescer “apenas” 18%" (2003). G. Richards, citado
por Henriques (2003), justifica este facto pela relativa escassez de uma gestão
profissional do património e pelo facto de a Itália já ser, há muitas décadas, o mais forte
destino turístico cultural na Europa.
No caso português, apesar da sua assinalável singularidade e atractividade potencial, o
património cultural nacional ainda não se converteu, cabalmente, no seu principal tema
turístico. Esta situação condiciona o desenvolvimento turístico de vastas regiões do país,
em especial as que não se situam na sua faixa costeira.

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A este nível, responsabiliza-se, habitualmente, a escassa orientação estratégica dos


potenciais destinos em matéria de desenvolvimento turístico. Por outras palavras, a
carência de produtos e destinos turísticos diferenciadores, de cariz marcadamente
cultural, é, muitas vezes, justificada pela eventual incapacidade interna de propor, aos
visitantes, experiências turísticas mais profundas, inovadoras, capazes de atrair públicos
mais exigentes e sofisticados. Porém, as causas para o relativamente escasso
aproveitamento do património cultural português, no âmbito do turismo, são muito mais
complexas do que seria de supor numa primeira análise superficial.
De facto, tão ou mais importante que a (in)capacidade dos próprios destinos (actuais ou
potenciais) em idealizar e implementar produtos turístico-culturais diferenciadores, são os
canais de distribuição que possibilitam o acesso aos mercados da procura turística. De
facto, a influência dos canais de distribuição ao nível dos destinos turísticos não se esgota
na mera distribuição em si mesma, sendo estes, igualmente, determinantes na definição
das próprias experiências e produtos que esses destinos conseguirão (ou não)
desenvolver. Deste modo, um dos principais obstáculos ao desenvolvimento de um
turismo cultural fortemente competitivo em todo o país deve-se, em boa parte, à
excessiva predominância de canais de distribuição tradicionais, direccionados para o
turismo de massas, de “sol e praia”, em que se podem mais facilmente praticar economias
de escala.
Em última análise, para desenvolver produtos turístico-culturais sustentáveis, tão ou mais
importante do que conhecer e aplicar metodologias de acondicionamento do património
ao seu uso turístico, ao nível do destino, é a forma como o destino aborda os seus canais
de distribuição específicos. No caso específico do turismo cultural, é necessário um
conhecimento profundo dos seus canais de distribuição preferenciais, com claro destaque
para as plataformas de distribuição online que permitam ao visitante “construir” a sua
própria experiência turística.
Por outro lado, as entidades gestoras dos bens patrimoniais deverão conhecer e aplicar
metodologias que lhes permitam convertê-los em recursos turístico-culturais. No caso
específico da conversão de projectos museológicos em recursos turísticos primários (de
primeira linha na atracção de visitantes a determinado destino), não bastará que os seus
gestores se foquem apenas nas funções/atribuições tradicionais dos museus, tais como a
preservação e valorização do património; a pesquisa e aquisição de obras; a estratégia de
interpretação do património que albergam, entre outras. Para que um museu se converta
em recurso turístico de cariz cultural, será necessário adoptar uma estratégia de turismo
cultural que possibilite a sua integração no sistema turístico de determinado destino. Por
outras palavras, o mercado turístico actual, marcado por uma forte concorrência e enorme
abundância de ofertas de destinos e atracções turísticas, exige que os gestores dos
projectos museológicos adoptem uma visão mais proactiva face aos seus visitantes. É da
sua responsabilidade, cada vez mais, estruturar adequada e inovadoramente a exibição e
interpretação dos respectivos espólios e, igualmente, comunicar activamente com o
sistema turístico, em particular com os canais de distribuição especializados em turismo
cultural.

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3. OS MUSEUS E O SEU APROVEITAMENTO TURÍSTICO

Antes de estabelecer uma correlação entre a oferta patrimonial de um museu e a oferta


turística e de como ambos se convertem em oferta turístico-patrimonial, convém fazer uma
breve análise teórica e conceptual respeitante aos museus e suas funções.
De acordo com Ricart (2003), poder-se-á definir um espaço museológico como uma
instituição sem fins lucrativos ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberto ao
público, que adquire, conserva, investiga, comunica e exibe, para finalidade de estudo e
apreciação, heranças tangíveis e, por vezes, intangíveis, do ser Humano e sua envolvente.
Incluídos nesta definição estão:
1. Institutos de conservação;
2. Galerias de exposição permanente, que pertençam a bibliotecas e arquivos;
3. Sítios e monumentos naturais, arqueológicos e que pela sua actividade
tenham carácter museológico;
4. Jardins (zoológicos, aquários, botânicos);
5. Parques naturais;
6. Centros Científicos e Planetários;
7. Centros de Interpretação.
Será importante referir que, de acordo com Osácar (2003), os projectos museológicos
utilizam diferentes recursos, meios e soluções para aproximar o público ao conhecimento de
um parque natural, um território, um centro histórico, um parque arqueológico ou
paleontológico, uma fábrica/indústria, partindo de um determinado discurso interpretativo.
A diferença fundamental, relativamente ao conceito de museu tradicional, é que os novos
espaços museológicos não têm apenas como finalidade a conservação, estudo, restauro e
difusão de objectos originais. O seu objectivo principal é facilitar a obtenção de
conhecimentos ao público.
Actualmente, quando se idealiza um espaço museológico, deve ser tida em conta a sua
relação dinâmica com o sistema turístico. De facto, se partirmos da premissa de que os
principais garantes da viabilidade financeira de um museu são os seus visitantes externos
(excursionistas e turistas), será de esperar que se delineie uma estratégia capaz de atrair e
fidelizar fluxos turísticos.
No que diz respeito à sua atractividade, enquanto recursos turísticos, os gestores dos
projectos museológicos deverão, entre outros aspectos:
1. A existência de serviços e actividades que diversifiquem a oferta durante o
ano;

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2. A integração de serviços complementares, tais como: alojamento;


restauração; comercialização; canais de distribuição em Turismo;
divulgação/publicidade; comércio.

3.1. As Funções de Gestão Patrimonial de um Projecto Museológico ou Centro de


Interpretação
Ricart (2003) analisou, com particular atenção, as funções de gestão patrimonial de um
espaço museológico. Deste modo, dividiu essas funções em internas e externas.
No âmbito das funções internas, estão as tradicionais tarefas que competem a qualquer
projecto museológico ou de interpretação, como, por exemplo, a conservação, inventariação
e catalogação das obras; as estratégias conducentes à sua interpretação; a aquisição de obras
e equipamentos, entre outras. Porém, o autor dá particular enfoque às funções externas dos
projectos museológicos e de interpretação, ou seja, à forma como esses projectos planeiam e
levam a cabo a sua relação com os seus públicos actuais ou potenciais.
Para melhor explanar a sua teoria relativa às funções de gestão externa, Ricart (2003)
socorreu-se do conceito de “acessibilidade”, subordinando-o às seguintes categorias:
1. Acessibilidade Física;
2. Acessibilidade Pedagógica;
3. Acessibilidade para a investigação;
4. Acessibilidade laboral;
5. Acessibilidade para o Turismo Cultural.
Inerentes à “acessibilidade física”, estão as condições físicas e ergonómicas que os espaços
museológicos e de interpretação oferecem, tendo em vista uma adequada interpretação do
seus espólios aos mais diferentes públicos. Aqui, contam-se a necessidade de supressão de
barreiras arquitectónicas, bem como o planeamento e estabelecimento de estratégias de
interpretação para públicos com necessidades especiais (por exemplo, invisuais). Esta
vertente físico-espacial tem sido a principal preocupação dos projectos museológicos e de
interpretação no que diz respeito à sua acessibilidade. Todavia, como se constatará de
seguida, os outros quatro tipos de acessibilidade são igualmente da maior importância.
A “acessibilidade pedagógica” é, igualmente, fundamental. Qualquer projecto de
interpretação tem como objectivos básicos facilitar a apresentação e uso social do
património. Consequentemente, de acordo com Ricart (2003: pp. 8), a acessibilidade
pedagógica “permite-nos fazer leituras diversas de um mesmo conteúdo, de forma a
obtermos um uso muito mais dinâmico do património. A interpretação perde o seu sentido
quando o visitante é incapaz de fazer uma leitura própria do discurso proposto, não obtendo
qualquer benefício intelectual, vivencial ou lúdico”. Assim, a forma como o património é
interpretado, pelos diferentes públicos, deve ser alvo da maior atenção por parte da gestão de
um museu ou centro de interpretação.

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Ainda que, tal como se refere no ponto anterior, o património deva estar exposto e permitir
ser interpretado de uma forma apreensível pelos mais variados públicos, os espaços
museológicos deverão ter igualmente em conta os públicos especializados que visitam esses
espaços com uma forte motivação científica e de investigação. Os museus e centros de
interpretação deverão ser, pois, “acessíveis à investigação”, dispondo de condições de
acompanhamento especiais para tais públicos, através de salas próprias para investigadores,
de um acesso a elementos do espólio, que poderão não estar expostos ao público em geral,
devendo mesmo ser dada a oportunidade de um contacto mais especializado com os técnicos
desses espaços museológicos ou de interpretação.
No que diz respeito à “acessibilidade laboral”, pode-se considerar este tipo de acessibilidade
como a inclusão, nos projectos museológicos e de interpretação, de profissões e saberes não
tradicionais nesta área. Funções como as de conservador ou guia são tradicionais e inerentes
à maioria dos museus. Contudo, um espaço museológico e de interpretação inovador e
ambicioso deverá contar com, por exemplo, um técnico de marketing (imagem, divulgação),
um especialista na área da educação (serviço educativo) e mesmo um técnico de turismo.
A “acessibilidade ao Turismo Cultural” é um aspecto que não pode ser negligenciado em
projectos museológicos e centros de interpretação. Ainda que devam ter como público
privilegiado a própria comunidade em que se situam, a maioria dos seus visitantes acabam
por ser pessoas exteriores a essa mesma comunidade. Ou seja, acabam por ser turistas e
excursionistas. Assim, seria natural considerar que a maior parte dos museus e centros de
interpretação disporiam de uma estratégia para a captação e fidelização de fluxos turísticos.
Porém, tal não é comum, A maior parte dos espaços contentam-se em traduzir a
interpretação do seu espólio ou das suas visitas guiadas para outras línguas. Ao considerar o
turismo cultural como um dos cinco mais relevantes elementos da gestão externa de um
museu, Ricart (2003) está a reconhecer a necessidade de criar e implementar estratégias que
convertam os museus e os centros de interpretação em recursos turísticos.
Assim, actualmente, é essencial que qualquer projecto de interpretação do património, de
cariz inovador, crie e implemente estratégias de aproveitamento turístico, nomeadamente na
proposta e promoção de experiências turísticas.
Um dos seus principais objectivos, ao nível da actividade turística, é o de favorecer a
implantação de actividades produtivas que revertam a favor da população, permitindo, por
um lado, gerar turismo sustentável e evitar sazonalidade e, por outro, melhorar a
coordenação dos diferentes territórios e potenciar as dinâmicas locais.

3.2 Estudo de caso: O CISE e a acessibilidade ao Turismo Cultural


No panorama da actividade turística mundial, vem-se assistindo a uma progressiva
transformação das motivações e das exigências ao nível da procura turística. Nas décadas de
setenta e oitenta, poder-se-ia dizer que, de forma geral, era a oferta turística que
condicionava, fortemente, os tipos de turismo desenvolvidos, disponibilizando experiências
turísticas, na sua maioria superficiais e pouco inovadoras, dirigidas a uma procura
maioritariamente pouco exigente, pouco experiente e pouco sofisticada.
A grande motivação de tal procura era, na Europa, o “sol e praia” e o principal factor que
pesava na decisão de escolher este ou aquele destino residia no preço oferecido. Tal lógica
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de mercado levou à massificação e à consequente perda de atractividade desses tipos de


turismo. Portugal e Espanha constituíram, nos anos setenta e oitenta, de acordo com a
Organização Mundial de Turismo (OMT), dois paradigmas de como não deve ser
desenvolvida a actividade turística.
Actualmente, assistimos cada vez mais à emergência daquilo a que a OMT designa de
“Novo Turista”, que se caracteriza por uma maior exigência, sofisticação e autonomia (o
chamado do it yourself). Este novo tipo de turista, mais informado e já não tendo como
único grande factor, de escolha de destinos, o preço, mas a qualidade e sustentabilidade dos
mesmos, teve na Internet e no desenvolvimento acelerado do sector dos transportes, a partir
da década de noventa, dois dos seus maiores aliados.
Esta realidade anula cada vez mais a aposta, por parte da oferta turística, em experiências
uniformes, superficiais e massificadas. Verifica-se, a cada dia que passa, que a procura
turística não anseia apenas ver paisagens, mas, sobretudo, interagir com elas e com as
sociedades. Por todo o mundo, destinos e suas ofertas turísticas competem no sentido de
disponibilizar experiências marcantes, com forte carga emocional. Não é por acaso que a
promoção turística de Espanha escolheu como slogan, em anos recentes, Spain Marks ou
Portugal seleccionou a expressão Go Deeper, tentando ambos os países contrariar a ideia
tradicional da oferta de experiências turísticas superficiais, uniformes e massificadas.
Hoje, é a procura que condiciona a oferta turística, devendo a segunda adaptar-se,
quotidianamente, às exigências da primeira. Contudo, quando se fala em oferta turística não
se está apenas a considerar os negócios turísticos, tais como a hotelaria, a restauração ou a
animação turística. Estes até são, habitualmente, os elementos menos relevantes para o
“Novo Turista”. Por exemplo, o hotel é, frequentemente, apenas a base, o ponto de partida,
para a descoberta e usufruto de um destino turístico. Logo, os serviços intrinsecamente
turísticos são considerados, na maior parte dos casos, como recursos turísticos secundários.
Os recursos turísticos de maior relevância para a procura turística, designados de recursos
primários, são todos os bens patrimoniais naturais e culturais de um destino. Por isso
mesmo, cabe aos destinos o estabelecimento de estratégias que aumentem o nível de
satisfação da procura e conduzam à criação de produtos turísticos baseados no património.
Reduzir a experiência turística a um resort é uma prática utilizada por países menos
desenvolvidos, em que não há condições nem interesse em colocar o turista em interacção
com a sociedade local. Tal como refere o vasto estudo de referência, divulgado em 2005,
intitulado Reinventando o Turismo em Portugal (CTP e SAER), Portugal não deverá optar
pela criação de projectos turísticos isolados da envolvente, considerando que é precisamente
o oposto que deverá ser realizado, criando uma verdadeira “oferta de sociedade”.
Devemos, ainda, recordar que as já mencionadas concentrações excessivas do turismo
português (relativamente a mercados - quase metade da procura externa de Portugal é
constituída por britânicos; a motivações - ainda somos vistos como um país de “Sol e Praia”-
e destinos - Lisboa e Algarve representam mais de metade da oferta e procura do turismo
nacional) não têm favorecido a criação e desenvolvimento de uma imagem de Portugal
como destino cultural. Face a esta situação, o actual Governo delineou, há pouco tempo, o
Plano Estratégico Nacional para o Turismo (PENT), com um horizonte temporal até 2015,
que coloca como principal objectivo para o turismo português a diversificação de destinos e
tipos de produtos turísticos.
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O PENT seleccionou precisamente a região da Serra da Estrela como um dos principais


pólos turísticos a desenvolver no país. Tal escolha parece óbvia pelo elevado valor natural e
cultural desta zona. Nesse âmbito, é absolutamente necessário qualificar toda a oferta
turística da região, em especial os seus recursos primários, ou seja, o seu património natural
e cultural. Tal qualificação passa pela reabilitação deste património e pela sua adequação e
acondicionamento à actividade turística.
Tomando o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) como estudo de caso, pode-
se dizer que, analisando-o do ponto de vista da actividade turística e daquilo que se
considera um verdadeiro recurso turístico, não basta que este centro de interpretação
disponha de novas e modernas instalações ou de inovadoras e atractivas formas de
interpretar o património. Tal apenas valoriza o CISE, enquanto recurso patrimonial, mas não
o transforma necessariamente num recurso turístico. Para que tal aconteça, é necessário ter
em conta a sua acessibilidade ao turismo cultural.
De acordo com as informações contidas no sítio Internet do Centro de Interpretação da Serra
da Estrela, (http://www.cise-seia.org.pt/homer.php?familia=CISE: 14/10/2009), o CISE “é
uma estrutura da Câmara Municipal de Seia, criada com o intuito de promover o
conhecimento e divulgação do património ambiental da Serra da Estrela.”
Com sede na cidade de Seia, este centro de interpretação “apresenta um conjunto de espaços
e equipamentos multivalentes que o convertem num local modelar para o desenvolvimento
de actividades de educação e divulgação ambiental, promoção turística e investigação e um
ponto privilegiado para partir à descoberta da Serra da Estrela.”
Os principais objectivos desta estrutura do Município de Seia são: “promover actividades no
âmbito da interpretação da natureza, apoiar a investigação científica, desenvolver projectos
de educação ambiental e fomentar o turismo de natureza. A interpretação da natureza
consiste num conjunto de actividades organizadas com o intuito de auxiliar o público a
compreender o mundo natural, proporcionando, simultaneamente, uma justificação para a
sua conservação. Neste contexto, o CISE oferece condições para transmitir os
conhecimentos que permitem compreender a dinâmica natural da área da Serra da Estrela. A
persecução destes objectivos é feita através da organização de exposições, da realização de
cursos temáticos de natureza, de saídas de campo e da publicação de materiais informativos
relativos ao património ambiental da região.”
No que diz respeito a equipamentos e serviços, “o CISE dispõe de um conjunto diversificado
de valências a nível cultural, científico e turístico, que lhe permite oferecer serviços únicos
no âmbito regional. No edifício principal, construído de raiz, funcionam os equipamentos de
carácter pedagógico, técnico-científico e recreativo, nomeadamente, a sala de natureza, o
centro de documentação, as salas de formação, o auditório, os laboratórios, o banco de
sementes, a sala de Sistemas de Informação Geográfica, o espaço internet, a exposição
permanente, a fototeca, o posto de vendas e o bar. Na casa de apoio, edifício construído na
década de 60 e reestruturado no âmbito do projecto de ampliação do centro de interpretação,
encontram-se gabinetes técnicos, bem como uma área dedicada à realização de exposições
temporárias.”

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O CISE dispõe, ainda, de um jardim, com uma superfície de cerca de dois hectares que
oferece a possibilidade de descobrir espécies botânicas características da flora serrana, bem
como algumas das aves mais características dos habitats florestais nacionais.
Este centro de interpretação, tal como acaba de ser descrito, é o resultado de uma profunda
remodelação, que transformou por completo os seus espaços físicos, bem como os
conteúdos a transmitir aos seus visitantes. Esta transformação pretendeu, igualmente,
imprimir à instituição uma maior dinâmica no que diz respeito ao cumprimento das suas
atribuições e objectivos.
Para a consecução desta remodelação integral do CISE, foi necessário levar a cabo um
elevado valor de investimento, cerca de cinco milhões de Euros. Desse montante, cerca de
75% adveio de fundos comunitários, tendo o remanescente sido suportado pela Câmara
Municipal de Seia e pelo Estado Português.
Após a intervenção, que alterou por completo este centro de interpretação, o mesmo reabriu
as suas portas ao público nos primeiros meses de 2007, podendo o visitante não só visionar
um filme relativo à Serra da Estrela em três dimensões, como realizar uma visita guiada à
sala de Exposição Permanente, que está dividida em três partes: Planeta Terra e Sistema
Solar; Região Centro de Portugal e Serra da Estrela. Neste espaço optou-se pela utilização
de uma linguagem interpretativa sofisticada, atractiva, com uma profusa utilização de novas
tecnologias em que se privilegia a interacção, não apenas com os guias do CISE, mas,
igualmente, com a própria exposição, através de painéis multimédia, apresentações
orográficas, em relevo, e maquetas, em 3D, com projecção de informação.
Um dos objectivos principais deste centro é a Interpretação da Natureza, que consiste num
conjunto de actividades organizadas com o intuito de auxiliar os visitantes e a população das
áreas protegidas a compreender o espaço natural em que se encontram, oferecendo-lhes,
simultaneamente, uma justificação para a sua conservação.
De acordo com os responsáveis pelo CISE, a interpretação da Natureza está mais
relacionada com os aspectos recreativos e de usufruto de uma determinada área do que com
aspectos educativos, ainda que, obviamente, influencie a formação dos indivíduos. Neste
campo, esta estrutura oferece condições para transmitir conhecimentos que permitam, a
todos aqueles que o desejarem, conhecer e compreender a dinâmica natural da Serra da
Estrela. Isso pode acontecer através da realização de percursos nesta zona e, igualmente, por
meio da produção e divulgação de materiais informativos relativos ao património ambiental
da região.
O CISE integra e apoia, também, projectos de investigação, disponibilizando espaços de
reuniões e acolhimento bem como dados científicos inéditos que os técnicos do centro
compilam e organizam (estudos relativos à Serra da Estrela nas áreas da agro-pecuária,
arqueologia, biologia, ordenamento do território, silvicultura entre outras, através de
parcerias com instituições do ensino superior politécnico e universitário). A este nível, o
CISE actua como um centro de acesso e transferência de conhecimentos e tecnologias, de
cooperação técnica e científica com as instituições públicas e privadas da região, permitindo
criar intercâmbios de informação.
Paralelamente, organiza e/ou disponibiliza as instalações para a realização de palestras,
colóquios e conferências, assim como de encontros científicos a vários níveis.
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A interligação, entre a investigação e o tecido empresarial, as escolas, as autarquias e as


instituições regionais, permite a criação de sinergias para o aprofundamento das actividades
do CISE ao nível da Educação, do Ecoturismo e da Interpretação da Natureza, bem como
para o desenvolvimento socioeconómico da região.
No que diz respeito à Educação Ambiental, o CISE procura envolver as escolas e as
autarquias, e através destas a população, no desenvolvimento de uma rede escolar de clubes
de ambiente, englobando as escolas dos ensinos pré-escolar, básico e secundário do
concelho de Seia e de todas as escolas da região interessadas. Nesta vertente são ainda
objectivos do CISE:
1. Realizar acções de formação na área da educação ambiental;
2. Participar no desenvolvimento e acompanhamento de projectos escolares;
3. Sensibilizar e estimular os professores para a integração, nos seus programas
curriculares e actividades extracurriculares, preocupações e procedimentos
ambientais na perspectiva regional;
4. Organizar colóquios de forma a promover debates de ideias para a divulgação de
projectos de educação ambiental e experiências pedagógicas;
5. Produzir materiais pedagógicos de sensibilização para a necessidade de protecção e
valorização dos recursos ambientais da região, apostando nas novas tecnologias de
informação.
Dando continuidade às acções que tem vindo a realizar neste campo, o CISE promove,
também, o desenvolvimento de campanhas temáticas de sensibilização para os problemas
ambientais da região. Por outro lado, o centro organiza visitas temáticas destinadas à
população escolar, relativas a três áreas diferentes: Resíduos Sólidos, Água e Ar,
Conservação da Natureza (Biologia e Geologia).
3.3 O aproveitamento turístico do CISE
Existem evidências de carácter estatístico que permitem considerar que o CISE não é ainda
um ponto de passagem obrigatório para a procura turística de Seia, mesmo se considerarmos
o turismo com motivações culturais e/ou científicas. Para o comprovar, seria pertinente
confrontar os dados relativos ao número de turistas que visitam anualmente Seia, suas
nacionalidades, permanência média, motivação, entre outros, com o número de turistas que
visitam o CISE e respectivas nacionalidades. Tal permitiria saber se, no universo de turistas
que visitam Seia todos os anos, este centro de interpretação constitui um atractivo turístico
de primeira linha, ou se é pouco considerado como atracção turística por parte da procura.
Porém, não estão disponíveis (ou não existem) quaisquer dados estatísticos relativos à
procura turística de Seia, algo que impossibilita a análise anteriormente descrita. De facto, os
Anuários Estatísticos do Instituto Nacional de Estatística, o Turismo de Portugal, o Pólo de
Turismo da Serra da Estrela (ao qual Seia pertence) e a própria Câmara Municipal desta
cidade, não disponibilizam dados estatísticos relativos ao número de turistas, suas
nacionalidades, permanência média ou motivação.

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Apesar desta insuficiência, a Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico


da Guarda realizou, em 2008, um estudo que permite confrontar o número de turistas que
pernoitaram em Seia com o número de visitantes do CISE nesse mesmo ano. Assim, para
estimar o número de entradas de turistas na hotelaria e meios complementares de alojamento
de Seia, em 2007, os autores do estudo basearam-se nos dados de 2004, último ano acerca
do qual existem dados estatísticos divulgados pelo INE sobre o número de hóspedes na
hotelaria de Seia. Nesse ano, o concelho registou um total de 27.558 na hotelaria e em meios
complementares de alojamento. Assim, partindo da média de crescimento de 5% verificada
nos cinco anos anteriores a 2004, estimou-se que o concelho de Seia dificilmente poderia ter
registado menos de 30.000 hóspedes nos vários meios de alojamento legalizados.
Por seu turno, como já referido, o CISE, que, após um período em que esteve encerrado para
uma total remodelação das suas instalações e acervo, reabriu as suas portas em finais de
Março de 2007. Durante esse ano, o CISE não recebeu mais de 12.000 turistas. Pela
observação directa presencial durante os meses de Verão (Julho, Agosto e Setembro), mais
de metade dos visitantes do CISE não eram turistas, mas excursionistas. Do total de
visitantes, turistas e excursionistas, a esmagadora maioria era constituída por residentes em
Portugal. Em suma, um Centro de Interpretação que pretende ser a porta de entrada, não
apenas para ao património natural de Seia, mas de toda a Serra da Estrela, atrai, ainda, uma
porção ínfima dos turistas que pernoitam na Região.
Por outro lado, confrontando o levantamento do número de turistas que visitaram o Posto de
Informação Turística de Seia com o número de visitantes anuais do CISE, conclui-se que
uma percentagem muito baixa destes últimos (cerca de 10%) incluiu o CISE nas suas
experiências turísticas. Assim, parece óbvio considerar que o CISE não constitui um recurso
primário de Seia, ao contrário de outros atractivos, como o Museu do Pão, por exemplo,
considerado, desde há alguns anos, o segundo museu mais visitado do país.
Desta análise se conclui que o CISE ainda não é capaz de se afirmar como um recurso
turístico primário para os turistas que pernoitam em Seia. Se extrapolarmos o potencial raio
de influência do CISE para toda a área da Serra da Estrela, confrontando o número e
pernoitas em toda a região da Serra da Estrela como o número de visitas ao CISE, podemos
concluir, categoricamente, que o seu aproveitamento turístico está muito aquém do
desejável.
Tendo sido alvo de um avultado investimento aquando da sua remodelação, seria expectável
que o processo que deu origem ao “novo CISE” tivesse contemplado uma visão e uma
estratégia conducente à sua integração, como atracção primária, no sistema turístico local e,
inclusive, regional. Porém, confrontando os seus actuais responsáveis acerca das estratégias
e acções visando a valorização turística do CISE, os mesmos salientam apenas um esforço
de disponibilização de informação junto a escolas a nível nacional, de unidades hoteleiras e
turismo rural na região da Serra da Estrela, bem como a existência de um sítio na Internet
que, saliente-se, apenas entrou em funcionamento mais de um ano após a reabertura ao
público do CISE.
Assim, se o esforço promocional relativo à captação de turistas, em comunicação directa
com o sector, se resume à disponibilização de informação em unidades hoteleiras e de
turismo rural regionais, tal significa que aos visitantes só é proposta uma visita ao CISE
quando já se encontram no próprio destino. Contudo, actualmente, exige-se que as atracções
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turísticas, assim como a restante oferta turística de um destino, esteja presente nos mercados
de origem da procura. Tal não apenas se aplica ao nível da promoção/divulgação, mas
igualmente da distribuição/comercialização directa, via Internet, ou através de
intermediários turísticos.
Para que qualquer projecto museológico ou de interpretação possa converter-se em recurso
turístico, o mesmo deve dispor de uma estratégia que o ponha em contacto com o mercado
turístico. Para tal, é necessário compreender esse mesmo mercado. Assim, o CISE deverá
procurar saber, por exemplo:
1. Quais os principais canais de distribuição turísticos (operadores turísticos)
com propostas no turismo de natureza e cultural que poderiam integrar o
CISE na sua oferta;
2. Quais os principais mercados, por exemplo, à escala europeia, para o turismo
de natureza e o que normalmente exigem de um centro de interpretação (por
exemplo, em termos de línguas estrangeiras utilizadas na interpretação do
património);
3. Sabendo que, isoladamente, o CISE jamais se poderá converter num recurso
turístico, de que forma se poderia integrar o mesmo nas experiências
turísticas dos seus visitantes, convertendo-o numa verdadeira “porta de
entrada” da Serra da Estrela para os turistas de natureza;
4. Que tipos de turistas, para além daqueles cuja principal motivação é o turismo
de natureza, poderiam ser utilizadores habituais do CISE (como o turismo de
incentivos, por exemplo).
Todos estes pontos de partida são questões que, posteriormente, se deverão concretizar em
acções conducentes à integração no ainda débil sistema turístico de Seia e da Serra de
Estrela, contribuindo não apenas para uma maior rentabilização do próprio CISE como,
também, para o enriquecimento da actividade turística da região e para a fidelização de uma
procura mais informada e exigente.

Conclusão: o Centro de Interpretação da Serra da Estrela e a sua relação com o


turismo
O concelho de Seia parece já ter definido em que tipo de turismo apostar, devido às
fantásticas condições naturais que tem, únicas no seu país, o que permite ter uma oferta
singular e diferenciada. É neste contexto que surge o investimento num Centro de
Interpretação fortemente direccionado para os seus recursos naturais.
Em primeiro lugar, é de referenciar que o CISE é um valor patrimonial com fins sociais,
quer seja pela sua acção no campo da investigação científica, quer pela sua intervenção na
área da pedagogia e da informação que presta aos locais e aos visitantes. Neste sentido,
podemos dizer que o CISE é, antes de mais, uma mais-valia para a comunidade de Seia e da
região, constituindo, igualmente, um recurso turístico potencial.

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Em muitas ocasiões, recursos primários que deveriam constituir elementos centrais na


dinamização da oferta turística de determinada região, encontram-se isolados e não
integrados na cadeia de valor do turismo. Consequentemente, sofrem de um débil
aproveitamento turístico, não explorando todas as potencialidades e benefícios ao não
contemplarem e integrarem os recursos secundários, ou seja, os serviços intrinsecamente
turísticos, tais como a hotelaria, empresas de animação, restauração, entre outros. Em suma,
é frequente encontrar espaços interpretativos e museológicos de qualidade que carecem de
uma estratégia ao nível da criação e promoção de experiências/produtos turísticos. É esta a
actual situação do CISE em termos de aproveitamento turístico.
Porém, a conversão do CISE ou de qualquer outro espaço interpretativo/museológico não
depende apenas dos seus responsáveis mais directos. O processo de aproveitamento turístico
do CISE e sua consequente conversão em recurso turístico primário não deverão e
dificilmente poderão constituir um sucesso duradouro se não existir, por parte das entidades
locais, uma forte aposta na conversão de Seia num destino turístico sustentável e
competitivo.
Assim, por mais que o CISE planeie a sua estratégia e actuação no âmbito da actividade
turística, o mesmo apenas será competitivo se fizer parte de um produto turístico mais
amplo, de cariz local ou regional. Assim, em última análise, a prioridade em Seia, no que diz
respeito ao turismo, não será apenas planear profissional e rigorosamente o aproveitamento
turístico do CISE, mas fazê-lo em relação a todos os actuais e potenciais recursos turísticos
de Seia.
Algo que é consensual no âmbito da análise da gestão de destinos turísticos, é que, como
refere a Organização Mundial de Turismo, são aquelas comunidades que, a nível local,
enveredam por um processo rigoroso de planificação, execução e monitorização, organizado
por etapas lógicas e comunicantes, que terão êxito a longo prazo. Quando bem conduzidos,
tais processos levam não apenas a um maior investimento em hotéis e infra-estruturas, mas,
também, à criação e desenvolvimento de novos motivos de visita (recorde-se o tema turístico
baseado no pão que é exemplo de uma ideal apropriação de um produto que se tornou uma
atracção turística). Tal processo leva, também, a uma mais eficaz interacção entre os vários
actores relacionados com o turismo (algo absolutamente essencial neste sector), optimizando
a promoção turística (tantas vezes feita de forma casuística e sem conhecimento dos
mercados alvo a atingir) e colocando uma determinada comunidade no mapa turístico dos
intermediários, ou seja, dos canais de distribuição.

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Referências Bibliográficas
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Estudo apresentado à Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda,
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