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Primeira aula 12 de Março 

República de Angola
Universidade Agostinho Neto Faculdade de Ciências Sociais
Normas para apresentação de trabalhos de fim de curso de Licenciatura da FCS/UAN
(Aspectos técnicos e gráficos) Julho de 2011
Normas de formatação e apresentação dos TFCL

ELEMENTOS QUE DEVEM CONSTAR DOS


TFCL
São apresentados a seguir, os elementos que devem constar do trabalho de fim de curso de Licenciatura, na Faculdade de Ciências Sociais da
Universidade Agostinho Neto.
A lista de elementos apresentados a seguir inclui elementos facultativos, em função de cada trabalho específico.
O género de trabalho a apresentar pelo estudante determinará os elementos que dele devem constar. Cabe ao orientador determinar a estrutura
exacta de cada trabalho, depois de ouvido o parecer do estudante.

CAPA
A protecção externa do trabalho deve conter os seguintes elementos:
a) Universidade Agostinho Neto;
b) Faculdade de Ciências Sociais;
c) Departamento de ;
d) Título e subtítulo do trabalho;
e) Nome do autor;
f) Grau académico e nome do orientador;
g) Grau académico e nome do co-orientador (caso haja);
h) Trabalho apresentado para obtenção do grau de Licenciado em Antropologia
i) Luanda, (ano de defesa).

NÚMERO DE REGISTO DO TFC


O número de registo do TFC é atribuído pelo Departamento de Assuntos Académicos. A numeração é aposta em cada Departamento de Ensino e
Investigação, logo após a aprovação na pré-defesa.

FOLHA DE ROSTO
A folha de rosto segue-se imediatamente à capa e nela devem constar os elementos constantes das alíneas a) a e) do número 1.
Logo a seguir, a folha de rosto deve conter, num parágrafo deslocado para a margem direita, na parte inferior da página, os seguintes dizeres:
“Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências
Sociais da UAN como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Antropologia»
Normas de formatação e apresentação dos TFCL
Licenciado em (curso), orientado pelo
(grau académico e nome do orientador).”
No final., deve indicar-se o ano de defesa do trabalho, logo a seguir à menção da localidade - por exemplo: “Luanda, 2011”.

AGRADECIMENTOS
No cimo da página, deve escrever-se a palavra “Agradecimentos”, em Times New Roman, caracteres tamanho 18.
Nesta página, o estudante pode revelar publicamente a sua gratidão a pessoas e instituições ou empresas que tenham contribuído de forma relevante
e decisiva para materialização do trabalho.
Os agradecimentos devem ser feitos de forma sucinta, restrita ou enfática. Tal como no interior do trabalho, deve utilizar-se letra Times New
Roman, caracteres tamanho 12.

ÍNDICE
O índice apresenta a totalidade das divisões e subdivisões do trabalho, tais como capítulos, subcapítulos e secções, exactamente na ordem e na
forma em que se encontram escritos no corpo do trabalho, devendo ser indicado o número da página em que se inicia cada uma das divisões.

LISTA DE TABELAS E QUADROS


As listas de tabelas e quadros só são obrigatórias quando houver, ao longo do texto, um número igual ou superior a cinco (5) tabelas ou quadros. Nas
listas de tabelas e quadros, os títulos devem aparecer na mesma ordem e forma como aparecem no corpo do texto, soído cada item designado pelo
seu nome específico, acompanhado do respectivo número da página. No cimo da página, deve escrever-se a expressão “Lista de tabelas” ou “Lista de
quadros”, em Times New Roman, caracteres tamanho 18.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES
A lista de ilustrações inclui gráficos, fórmulas, desenhos, mapas, figuras, fotografias. As listas de ilustrações só são obrigatórias quando houver, ao
longo do texto, um número igual ou superior a cinco (5) ilustrações no corpo do trabalho. Nas listas de ilustrações, os títulos devem aparecer na
mesma ordem e forma como aparecem no coipo^do;dExtof. sendo cada item designado pelo seu nome específico, respectivo número da página.
Normas de formatação e apresentação dos TFCL
No cimo da página, deve escrever-se a expressão “Lista de ilustrações” ou “Lista de gráficos”, em Times New Roman, caracteres tamanho 18.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS


Havendo disso necessidade, pode ser apresentada uma “Lista de abreviaturas” ou uma “Lista de siglas” nos termos indicados no número anterior.

INTRODUÇÃO
A introdução deve apresentar, de forma clara e panorâmica, o tema do trabalho, a sua importância e a metodologia aplicada Pode ainda apresentar
elementos de cariz contextuai ou histórico, bem como a elucidação acerca do que é tratado em cada capitulo do trabalho.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
O desenvolvimento é a parte que engloba o trabalho em si, podendo ter dois ou mais capítulos, cada um deles com o seu título em função daquilo
que aí seja abordado.
Sempre que possível, os elementos de cariz teórico devem estar em capítulo diferente dos resultados que o trabalho apresente.

CONCLUSÃO
A conclusão é a síntese dè todo o trabalho, consistindo no resumo daquilo que tenha sido apresentado e mostrando a relação entre as diversas partes
do trabalho.
Caso o trabalho tenha pergunta de partida ou hipóteses, a conclusão deve retratar as respostas ou resultados obtidos. Deve apresentar também as
principais conclusões a que o estudante tenha chegado, no estudo ou durante o estágio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aqui se apresenta a relação das obras consultadas, organizadas sempre por ordem alfabética. A lista bibliográfica pode ser apenas uma lista geral ou
estar divida em bibliografia especializada e bibliografia geral, ou ainda segundo o género de fontes utilizadas.
As referências podem ser apresentadas de acordo com cada um dos exemplos seguintes (ou segundo outras regras conhecidas, sendo importante o
cumprimento da mesma regra do princípio ao fim. da fista bibliográfica):
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KONDE, Djalma de Pinho Rebouças de (1986) Planejamento estratégico: conceitos, metodologias epráticas. São Paulo: Atlas
SELLTIZ, Claire et al, Research Methods in Social Relations, New York: Holt, Rinehart and Winston, 1959
KAPINGALA, Pedro & José NSUKA. 2010. “O papel das autoridades tradicionais no Planalto Central”, in: Augusto ANDRÉ As autoridades
tradicionais no período de 1900-2000, Luanda: Editora das Acácias, pp. 242-257
MAZZON, José Afonso; José Augusto GUAGLIARDI; Jairo Simon FONSECA (org.) 1983: Marketing: aplicações de métodos quantitativos. Leituras
selecionadas. São Paulo: Atlas
NSUKA, François 1994: “Langues et politiques linguistiques en Afrique noire”. Letras e Ciências Sociais, vol. I, n° 1, pp. 3-19
As citações bibliográficas podem figurar no corpo do texto, de acordo com um dos seguintes formatos:
a) (nome do autor, ano: páginas);
b) nome do autor, ano: páginas.
Eis alguns exemplos:
(Nsuka 1994: 12-13) ou Nsuka 1994:^12-13
(Mazzon et al 1983: 15-27) ou Mazzon et al 1983:15-27
(Ngonga & Peterson 2008: 124-126) ou Ngonga & Peterson 2008:124-126

ANEXOS
O trabalho pode contar com anexos. Nos anexos podem ser apresentadas informações usadas no estudo (textos e documentos não elaborados pelo
autor do estudo, por exemplo) ou qualquer outro material adicional que sirva de fundamentação, comprovação ou ilustração do texto, tais como
quadros, desenhos, mapas, tabelas, gráficos, ilustrações, instrumentos de pesquisa ou de análise empregues, roteiros ou anotações do trabalho de
campo ou do estágio, etc.
Os anexos são identificados por números consecutivos. Sendo mas que um anexo, deve cada um ter o respectivo título.
Convém que cada um dos anexos esteja identificado no corpo do trabalho, nos locais apropriados. O índice deve, também, conter informação sobre
cada um dos anexos (incluindo os respectivos títulos)
Quanto à paginação, os anexos dão sequência à paginação do resto - do trabalho.
Normas de formatação e apresentação dos TFCL

ASPECTOS TÉCNICOS E GRÁFICOS


DIGITALIZAÇÃO
O TFCL deve ser digitado obedecendo às seguintes normas:
a) PAPEL: Deve utilizar-se papel branco, nas dimensões 21x29,5 cm. (A4), não sendo aceites quaisquer outras dimensões.
b) Qualquer quadro, esquema ou desenho que se apresente em papel de maiores dimensões deve ser dobrado em formato A4.
c) A CAPA deve ser feita de cartolina branca com dimensão A4.
d) TINTA: A cor de impressão é exclusivamente a cor preta, não sendo aceite qualquer outra cor.

FORMATAÇÃO DO TEXTO
O Trabalho de Fim de Curso deve ser obrigatoriamente digitalizado e impresso em folha de formato A4, unicamente de um lado e em sentido
vertical.

MARGENS E ESPAÇAMENTOS
0 trabalho deve possuir margens ponderadas que permitam facilitar a sua leitura, uma vez encadernado ou impresso, como se segue:
a) Margem superior. 3 cm;
b) Margem inferior: 2,5 cm;
c) Margem esquerda: 3,5 cm;
d) Margem direita: 3 cm;
e) Cabeçalho: 2 cm;
f) Rodapé: 1,5 cm;
g) Espaçamento entrelinhas: 1,5;
h) Texto justificado;
i) Tipo e tamanho da letra:
• Títulos de capítulos: Times New Roman, 16;
• Títulos de subcapítulos: Times New Roman, 14;
• Corpo do texto: Times New Roman, 12;
• Notas de rodapé e citações: Times New Roman, 10.

INÍCIO DOS CAPÍTULOS


Cada capítulo deve estar numerado e iniciar sempre numa nova págiga. O título do capítulo deve estar em Times New Roman, tamanho 16.

RASURAS
Não são permitidas rasuras, palavras ou letras superpostas e correcções de qualquer tipo (incluindo correcções à mão).

CITAÇÕES
As citações servem para ilustrar uma ideia e devem ser reproduzidos com precisão, respeitando a forma original, o conteúdo e a pontuação. As
citações textuais devem ter aspas de ambos os lados (“...”) e com referência da fonte primária.
Convém que as citações estejam no corpo do texto. Mas se se optar por indicar as mais extensas em parágrafo à parte, deve manter-se o tamanho
dos caracteres (Times New Roman, 12).

NOTAS DE RODAPÉ
As notas de rodapé devem ser incluídas no fim de cada página, ficando separadas do texto por um espaço que avance um terço (1/3) da página e
fique equidistante cerca de 1 cm. da última linha do texto e da primeira linha da nota.

PAGINAÇÃO
A paginação é apresentada em números arábicos e começa na Introdução. Todas as páginas que antecedem a introdução devem aparecer em
numeração
romana.

ENCADERNAÇÃO
A encadernação do trabalho deve ser feita com capa plástica transparente na frente. Deve usar-se preferencialmente a encadernação colada, mas
pode também usar-se a encadernação à mola espiral (preta).

LINGUAGEM A UTILIZAR
Quanto à linguagem a utilizar, deve evitar-se recorrer a expressões pouco vernáculas, gíria, calão ou palavras contextualmente pouco adequadas.
Deve evitar-se usar períodos longos; devendo repartir-se as ideias por diversos períodos, mesmo que para isso seja necessário repetir o sujeito. Esta
opção visa facilitar a leitura do texto.

INSCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS


Os capítulos do trabalho devem aparecer em numeração romana, ao passo que a numeração de subcapítulos e secções deve ser feita em números
arábicos.(se possível, mencionando o número do capítulo, seguido do número do subcapítulos
Eis alguns exemplos:
Capítulo I—Papel das autoridades tradicionais em meio urbano
1.2- Função social das autoridades tradicionais
1.2.3- Respeito pelos valores morais

APRESENTAÇÃO EXTERIOR
Deve ter-se a preocupação de cuidar da apresentação exterior do trabalho, pois um aspecto exterior mal cuidado e desleixado pode causar má
impressão aos membros do júri e ao leitor.

REVISÃO TÉCNICA FINAL DO TEXTO


Antes de considerar o trabalho concluído, o estudante deve proceder a uma revisão final do texto elaborado, tendo em vista a correcção de erros e
deficiências. Deve cuidar particularmente do seguinte: verificação tipográfica, ortografia e sintaxe, hífens, posicionamento de títulos, tabelas e
figuras e a actualização do índice.

III. ESTRUTURA DO TRABALHO


A estrutura de cada trabalho deve ser acordada com o respectivo orientador. Deve ter-se presente que não existe uma estrutura padrão, já que a
estrutura deve depender do género do trabalho e da forma de abordagem da temática.7

                                           aula 19 de
Março: Etnografia 
 
Dizem que existem tantos métodos de pesquisa antropológica como antropólogos. No entanto, podemos incluí-los nos
chamados métodos etnográficos, que, por sua vez, incluem inúmeras técnicas que nos permitem observar, gravar e participar do
cotidiano de uma cultura e depois escrever relatórios sobre isso.
Vamos ver o quais são.

O método etnográfico
O método etnográfico é um estudo pessoal e de primeira mão dos assentamentos locais. Nasceu como um método de pesquisa
antropológica de sociedades pequenas e relativamente isoladas, com economias e tecnologias simples.
Nesses assentamentos, os antropólogos enfrentam um número menor de pessoas e adotam uma estratégia de ação gratuita para
a coleta de dados: eles se deslocam de um lugar para outro e de um assunto para outro para conhecer a totalidade e a interação
social. O resultado obtido fornece uma base para generalizações sobre o comportamento humano na vida comunitária.
Com o passar do tempo e de acordo com os requisitos das novas organizações de vida, os antropólogos aplicaram outros
métodos para estudar sociedades complexas e industrializadas, como a combinação da etnografia com a pesquisa.

2 Técnicas etnográficas
Os antropólogos usam várias técnicas para estudar estilos de vida dentro de uma cultura. Essas técnicas de campo são:

 Observação direta: através desta técnica, o pesquisador recolhe dados básicos da vida nativa, como
comportamentos típicos, individual e coletivamente em várias situações; os ruídos que as pessoas fazem;
os eventos em que participam; como eles comem; como se olham um para o outro; Que situações
incomuns ocorrem no período de observação, etc.

Em suma, todos os padrões culturais e sociais da comunidade estudados.


Então ele escreve suas impressões em um diário pessoal para depois torná-las em notas mais formais nas chamadas 'notas de
campo'.
A investigação geralmente dura um ano.

 Observação do participante: este é um dos procedimentos característicos da antropologia. O pesquisador


estabelece um bom relacionamento com a população que ele pretende estudar, com base no contato
pessoal e na confiança mútua. Ou seja, o antropólogo faz parte da vida da comunidade ao mesmo tempo
em que o estuda.

Como técnica de pesquisa, é útil entender por que as pessoas se organizam de tal maneira, o que é significativo em um evento,
etc.

 Conversas: são um complemento da observação. O antropólogo fala com as pessoas e pergunta sobre o que
elas observam. Um requisito fundamental para esta técnica é o conhecimento da linguagem da
comunidade estudada.

O pesquisador deve encontrar dados simples, como os nomes dos objetos que o cercam e informações mais complexas, como a
compreensão das discussões públicas.

 A entrevista dirigida: o antropólogo fala cara a cara com seus informantes, faz perguntas e anota as
respostas. Difere da pesquisa porque é uma técnica mais direta e pessoal. Ela serve para avaliar padrões e
exceções da vida comunitária.
Durante a entrevista, emergem dados secundários interessantes que talvez o pesquisador não tenha planejado colecionar.

 A técnica genealógica: é utilizada para conhecer os antepassados e parentes da comunidade estudada. É


uma técnica antropológica bem estabelecida para reconstruir a história e entender as relações atuais,
porque em sociedades não industriais, os laços de parentesco são a chave para a vida social.

O casamento também é importante nesta técnica, porque os casamentos estratégicos entre tribos, povos e clãs geram alianças
políticas.

 Informações privilegiadas: o pesquisador escolhe pessoas que, devido à sua experiência, talento ou
preparação, podem fornecer informações mais completas ou úteis sobre aspectos específicos da
comunidade.
 Histórias de vida: são úteis conhecer as personalidades, interesses e habilidades individuais dos membros
de uma comunidade e, assim, fazer um retrato cultural mais íntimo da sociedade estudada.

O antropólogo escolhe os membros que lhe parecem interessantes e elabora sua história de vida: suas experiências pessoais,
suas percepções de vida, suas reações, suas contribuições comunitárias, etc.
Resumindo: A qual técnica correspondente às descrições?:

 Informação privilegiada
 Entrevista dirigida
 Conversa
 Histórias da vida
 Técnica genealógica
 Observação direta
 Observação do participante

 O pesquisador pode desenvolver anotações genealógicas para lidar com os princípios de parentesco, casamento e filiação.
 O antropólogo numa comunidade: ele se alimenta da mesma maneira que as pessoas que ele estuda, ele compartilha suas
celebrações, ele bebe suas próprias bebidas, etc.
Método etnográfico
Como operar

 Field of Work
O trabalho de campo como método foi caracterizado nas últimas décadas, em primeiro lugar, como uma forma de escrita.
Enfatizando a construção autoral do texto, a caracterização da posição do observador, a visibilidade ou a transparência da sua
subjetividade, a relação entre o tempo da história e o tempo nativo em que os informantes vivem, o caráter de etnografia como
representação do Outro: uma representação frequentemente denunciada como parcial, distorcida, interessada ou congelada; ou
mesmo como reação, tendenciosa, autoritária e dominante. (ver Fabian 1983, Geertz 1987, Clifford e Marcus, 1995).
Etnografia escrita
Embora seja verdade que a etnografia é inevitavelmente escrita, Implica, sobretudo, um longo tempo de contato pessoal, de
pequenas negociações no terreno, de aprender novas formas culturais, de reorganização da própria intimidade e vida diária, de
relacionamentos com linguas e modos de expressão incompreensíveis ou em menos desconhecido, de assimilação de códigos de
conduta estrangeiros, etc. Deste ponto de vista, o trabalho de campo não é apenas narrativo: também é experiência. E,
caracterizado por um processo de idas e vindas incessantes da experiência vivida para o artigo escrito, desde a observação até a
entrevista, da entrevista ao diário, do diário ao texto etnográfico. É assim que se desenha um método, cujos traços distintivos em
comparação com outros métodos das ciências sociais podem ser identificados por:

1. a) a implantação das relações sociais no terreno (um envolvimento de pessoas que inclui a do próprio etnógrafo como
meio de construção do conhecimento) ,
2. b) a importância do ponto de vista local (a etnografia é sempre um modo de conhecimento situado),
3. c) sensibilidade ao contexto e
4. d) Entrelace simultâneo de diferentes níveis de realidade.

 
O resultado é que as representações do Outro que resultam deste dispositivo são mantidas em uma tensão característica entre
proximidade e distância, empatia e distanciamento, observação e participação; uma tensão ausente em outras formas de
narrativa científica, em que a sobreposição entre teoria e dados não está tão intimamente ligada ao locus da pessoa do
observador
(Velasco e Díaz de Rada 1999, Peacock 1993).
O original da invenção malinowskiana foi precisamente em reconfigurar radicalmente a divisão do trabalho científico entre
etnógrafo de campo e antropólogo de mesa, tornando a tarefa etnográfica como aquela de um 'olho que pensa'.
Tradicionalmente, esse método complexo define o ponto de partida da etnografia: uma situação comprometida, deslocamento,
deslocamento ou vagabundagem, em que o antropólogo se coloca voluntariamente e que imediatamente levará à frustração,
mal-entendidos e desentendimentos com os nativos. É a fase de entrada no campo, em que, depois de ter resolvido os principais
problemas materiais de uma estadia, o etnógrafo faz perguntas sem ser respondido, comete descontentamentos involuntários,
procura criar uma rede de relacionamentos ou fugir para outras, maravilhas. Ele  fica frustrado e confinado lendo romances,
atingido por doenças tropicais, etc. Mas, acima de tudo, é o momento em que o recém-chegado enfrenta a outra cultura,
experimentando-a como algo inacessível, enigma, labirinto semiótico. Um exemplo bem conhecido é o de Evans-Pritchard
quando, no início de sua monografia sobre os Nuer, ele diz que estava tornando-se 'nevrótico' face à capacidade dos nativos de
eludir suas perguntas (1977: 25). Ou a frustração de Malinowski na sua primeira tentativa de 'fazer tecnologia' entre os
Trobriands (1993: 135). Exemplos não faltam: somos especialistas pós-jantar em trocar anedotas sobre os problemas,
dificuldades e mal-entendidos vividos no campo. No entanto, devemos adquirir a qualidade de colocar um problema dentro do
seu contexto específico. Por assim dizer, o empasse é vivido como uma situação prática, mas é inserido na história como um
testemunho tangível da diferença cultural e, a partir daí, como pretexto para o desdobramento conceptual que irá organizar a
subsequente monografia.
Alguns autores, como Marvin Harris, construem seus textos como autênticos enigmas susceptíveis de resolução, à maneira de
uma intriga de telenovela. Em outras narrativas etnográficas menos esquemáticas, percebemos o gênero da monografia
antropológica como proposta de tradução intercultural: uma mediação bem sucedida pela qual o senso mundial de estudado
abre para a compreensão do antropólogo e seus leitores. Tomando em consideração a terminologia de Peirce, poderíamos dizer
que o caráter desta operação semiótica é abdutivo. Não se trata de uma indução empírica nem de uma falsificação hipotético-
dedutiva, mas uma operação em que o antropólogo interpreta, como mediador entre duas línguas, a relação de similaridade
postulável entre ambos, estabelecendo pontes de significado através de semelhanças familiares entre fenômenos e regiões de
experiências culturais que lhes permitem abordá-los, torná-los mutuamente inteligíveis. Na escrita etnográfica, portanto, existe
uma espécie de sobreposição entre o trabalho de campo como experiência e como uma história. Na medida em que, através do
discurso científico, o leitor participa de forma indireta na experiência reflexiva da re-socialização do antropólogo, ele pode
auxiliar na abertura desse mundo inicialmente fechado e opaco da cultura observada. Certamente, neste momento, não há
escassez de ironias sobre essa narrativa mestre. O mais divertido de Nigel Barley certamente é sobre seu trabalho entre o
Dowayo dos Camarões em The Innocent Anthropologist, um diário de viagem onde o autor fala sarcasticamente sobre os
enganos dos informantes, as dificuldades da estada e os dois dentes que um O dentista do Camarão tirou sem aviso prévio. A
testemunho das inúteis tentativas dos nativos e dos antropólogos de compreenderem-se entre suas próprias categorias Além
dessas ironias e as desconstruções literais a que nosso procedimento de pesquisa foi recentemente submetido, sua principal
fonte de erosão é, na verdade, nas transformações atuais da cultura contemporânea, que em si representam um desafio à
imaginação teórico-metodológica das novas gerações de antropólogos. Houve, primeiro, uma crise do objeto da antropologia
(nos anos sessenta), e depois uma crise de representação ou autoria (na década de oitenta). Na medida em que este modelo
narrativo constituiu, na realidade, um paradigma da época da antropologia colonial, os processos subsequentes de
descolonização, urbanização, modernização e globalização enfraqueceram suas condições de possibilidade. No entanto, o que
não temos é uma definição suficientemente clara das novas condições em que o trabalho etnográfico é realizado atualmente,
muito menos dos aspectos em que eles afetam nosso método antropológico e das narrativas apropriadas a tais condições, que
são em grande parte a serem explorados. Em outras palavras, o envolvimento é o ajuste entre as histórias que nos guiam e as
circunstâncias em que implantamos nossa prática profissional. Apreendeu-se antropologia nos textos de Evans-Pritchard,
Malinowski, Leach, Levi-Strauss, Harris e Geertz. No momento da etnografia, tivemos que descobrir, que esta tradição oferece, a
imensa distância entre as realidades que estudamos e as leituras onde os métodos de antropologia são depositados. As nossas
etnografias são testemunho de novas tensões para adicionar aos já clássicos: aqueles que derivam, por exemplo da indistinção
entre nosso conhecimento como peritos e aquele dos nossos informantes;

 
AULA DO DIA 21 DE MARÇO

Trabalho de
Campo
Como operar
Field of Work
O trabalho de campo como método foi caracterizado nas últimas décadas, em primeiro lugar, como uma forma de escrita.
Enfatizando a construção autoral do texto, a caracterização da posição do observador, a visibilidade ou a transparência da sua
subjetividade, a relação entre o tempo da história e o tempo nativo em que os informantes vivem, o caráter de etnografia como
representação do Outro: uma representação frequentemente denunciada como parcial, distorcida, interessada ou congelada; ou
mesmo como reação, tendenciosa, autoritária e dominante. (ver Fabian 1983, Geertz 1987, Clifford e Marcus, 1995).

Etnografia escrita
Embora seja verdade que a etnografia é inevitavelmente escrita, Implica, sobretudo, um longo tempo de contato pessoal, de
pequenas negociações no terreno, de aprender novas formas culturais, de reorganização da própria intimidade e vida diária, de
relacionamentos com linguas e modos de expressão incompreensíveis ou em menos desconhecido, de assimilação de códigos de
conduta estrangeiros, etc. Deste ponto de vista, o trabalho de campo não é apenas narrativo: também é experiência. E,
caracterizado por um processo de idas e vindas incessantes da experiência vivida para o artigo escrito, desde a observação até a
entrevista, da entrevista ao diário, do diário ao texto etnográfico. É assim que se desenha um método, cujos traços distintivos em
comparação com outros métodos das ciências sociais podem ser identificados por:
a) a implantação das relações sociais no terreno (um envolvimento de pessoas que inclui a do próprio etnógrafo como meio de
construção do conhecimento) ,
b) a importância do ponto de vista local (a etnografia é sempre um modo de conhecimento situado),
c) sensibilidade ao contexto e
d) Entrelace simultâneo de diferentes níveis de realidade.
O resultado é que as representações do Outro que resultam deste dispositivo são mantidas em uma tensão característica entre
proximidade e distância, empatia e distanciamento, observação e participação; uma tensão ausente em outras formas de
narrativa científica, em que a sobreposição entre teoria e dados não está tão intimamente ligada ao locus da pessoa do
observador (Velasco e Díaz de Rada 1999, Peacock 1993).

Malinowski
O original da invenção malinowskiana foi precisamente em reconfigurar radicalmente a divisão do trabalho científico entre
etnógrafo de campo e antropólogo de mesa, tornando a tarefa etnográfica como aquela de um 'olho que pensa'.
Tradicionalmente, esse método complexo define o ponto de partida da etnografia: uma situação comprometida, deslocamento,
deslocamento ou vagabundagem, em que o antropólogo se coloca voluntariamente e que imediatamente levará à frustração,
mal-entendidos e desentendimentos com os nativos. É a fase de entrada no campo, em que, depois de ter resolvido os principais
problemas materiais de uma estadia, o etnógrafo faz perguntas sem ser respondido, comete descontentamentos involuntários,
procura criar uma rede de relacionamentos ou fugir para outras, maravilhas. Ele  fica frustrado e confinado lendo romances,
atingido por doenças tropicais, etc. Mas, acima de tudo, é o momento em que o recém-chegado enfrenta a outra cultura,
experimentando-a como algo inacessível, enigma, labirinto semiótico.
Evans-Pritchard
Um exemplo bem conhecido é o de Evans-Pritchard quando, no início de sua monografia sobre os Nuer, ele diz que estava
tornando-se 'nevrótico' face à capacidade dos nativos de eludir suas perguntas (1977: 25). Ou a frustração de Malinowski na sua
primeira tentativa de 'fazer tecnologia' entre os Trobriands (1993: 135). Exemplos não faltam: somos especialistas pós-jantar em
trocar anedotas sobre os problemas, dificuldades e mal-entendidos vividos no campo. No entanto, devemos adquirir a qualidade
de colocar um problema dentro do seu contexto específico. Por assim dizer, o empasse é vivido como uma situação prática, mas
é inserido na história como um testemunho tangível da diferença cultural e, a partir daí, como pretexto para o desdobramento
conceptual que irá organizar a subsequente monografia.

Marvin Harris
Alguns autores, como Marvin Harris, construem seus textos como autênticos enigmas susceptíveis de resolução, à maneira de
uma intriga de telenovela. Em outras narrativas etnográficas menos esquemáticas, percebemos o gênero da monografia
antropológica como proposta de tradução intercultural: uma mediação bem sucedida pela qual o senso mundial de estudado
abre para a compreensão do antropólogo e seus leitores. Tomando em consideração a terminologia de Peirce, poderíamos dizer
que o caráter desta operação semiótica é abdutivo. Não se trata de uma indução empírica nem de uma falsificação hipotético-
dedutiva, mas uma operação em que o antropólogo interpreta, como mediador entre duas línguas, a relação de similaridade
postulável entre ambos, estabelecendo pontes de significado através de semelhanças familiares entre fenômenos e regiões de
experiências culturais que lhes permitem abordá-los, torná-los mutuamente inteligíveis. Na escrita etnográfica, portanto, existe
uma espécie de sobreposição entre o trabalho de campo como experiência e como uma história. Na medida em que, através do
discurso científico, o leitor participa de forma indireta na experiência reflexiva da re-socialização do antropólogo, ele pode
auxiliar na abertura desse mundo inicialmente fechado e opaco da cultura observada. Certamente, neste momento, não há
escassez de ironias sobre essa narrativa mestre.

Nigel Barley
O mais divertido de Nigel Barley certamente é sobre seu trabalho entre o Dowayo dos Camarões em The Innocent
Anthropologist, um diário de viagem onde o autor fala sarcasticamente sobre os enganos dos informantes, as dificuldades da
estada e os dois dentes que um O dentista do Camarão tirou sem aviso prévio. A testemunho das inúteis tentativas dos nativos e
dos antropólogos de compreenderem-se entre suas próprias categorias Além dessas ironias e as desconstruções literais a que
nosso procedimento de pesquisa foi recentemente submetido, sua principal fonte de erosão é, na verdade, nas transformações
atuais da cultura contemporânea, que em si representam um desafio à imaginação teórico-metodológica das novas gerações de
antropólogos. Houve, primeiro, uma crise do objeto da antropologia (nos anos sessenta), e depois uma crise de representação ou
autoria (na década de oitenta). Na medida em que este modelo narrativo constituiu, na realidade, um paradigma da época da
antropologia colonial, os processos subsequentes de descolonização, urbanização, modernização e globalização enfraqueceram
suas condições de possibilidade. No entanto, o que não temos é uma definição suficientemente clara das novas condições em que
o trabalho etnográfico é realizado atualmente, muito menos dos aspectos em que eles afetam nosso método antropológico e das
narrativas apropriadas a tais condições, que são em grande parte a serem explorados. Em outras palavras, o envolvimento é o
ajuste entre as histórias que nos guiam e as circunstâncias em que implantamos nossa prática profissional. Apreendeu-se
antropologia nos textos de Evans-Pritchard, Malinowski, Leach, Levi-Strauss, Harris e Geertz. No momento da etnografia,
tivemos que descobrir, que esta tradição oferece, a imensa distância entre as realidades que estudamos e as leituras onde os
métodos de antropologia são depositados. As nossas etnografias são testemunho de novas tensões para adicionar aos já
clássicos: aqueles que derivam, por exemplo da indistinção entre nosso conhecimento como peritos e aquele dos nossos
informantes;

                                           aula 26 de
Março: Paradigma 
 

Paradigma
A palavra paradigma foi usada por Platão (modelo) e por Aristóteles (exemplo). Na antropologia a usamos muito, e tem vários
significados (teoria, estrutura interna de uma teoria, escola ou pensamento). Em 1972, Thomas Kuhn escreveu a ópera 'A
Estrutura das Revoluções Científicas', que rejeita a concepção tradicional de ciência como um acúmulo progressivo de novas
descobertas, afirmando por sua vez que em determinados momentos (tais revolucionários)se interrompe a continuidade com o
passado e se começa um novo curso, não completamente racional. 'A transição de uma teoria para outra é tão global e tem tais
consequências que Kuhn a chama de revolução científica. Há uma mudança nos problemas a serem propostos para a pesquisa
científica e critérios pelos quais deve-se determinar o que é considerado como um problema prioritário, também altera a
estrutura conceitual através da qual os cientistas vêem o mundo (paradigma). O paradigma é uma perspectiva teórica que é
compartilhada e reconhecida pelos cientistas, é baseado em aquisições anteriores e dirige a pesquisa sobre a escolha dos factos
relevantes a serem estudados, a formulação de hipóteses e os métodos necessários e técnicas de pesquisa. Sem um paradigma,
uma ciência não tem diretrizes ou critérios de escolha, porque todos os critérios, problemas e técnicas tornam-se igualmente
relevantes. O paradigma é um guia e fornece aos cientistas um modelo e instruções para construí-lo. Com o paradigma, o
cientista adquire simultaneamente teorias, métodos e critérios. O paradigma é algo mais amplo do que uma teoria é uma visão
de mundo, uma caixa mental, um quadro de leitura anterior à elaboração teórica. A ciência normal corresponde àqueles
períodos em que um paradigma compartilhado pelos cientistas existe dentro de uma disciplina. Na história da antropologia, é
difícil identificar um paradigma predominante, compartilhado por todos os antropólogos. Somente nos anos 40 e 50 o conceito
e a teoria funcionalista de Malinowski prevaleceram. A sociedade responde funcionalmente às necessidades humanas através da
cultura. Este paradigma é contrastado com o de Benedict Ruth, baseado no configuracionismo. Endereço da cultura e
personalidade, combinando e integrando os traços culturais, modelos (padronização social), padrões de cultura. Desta forma,
podemos falar da antropologia como de disciplina multiparadigmática.
Positivismo e interpretativismo
De um ponto de vista histórico, podemos identificar dois paradigmas fundamentais que abordaram a pesquisa social:
positivismo e interpretativismo. A diferença profunda entre os dois paradigmas emerge da respostas que eles dão às principais
questões da antropologia: a realidade (antropológica) existe (ontologia)? É cognoscível (epistemologia)? Como pode ser
conhecido (metodologia)?
Positivismo
O paradigma positivista (o primeiro a ser usado na antropologia juntamente ao evolucionismo) estuda a realidade social usando
aparato conceitual, técnicas de observação e medição, ferramentas de análise matemática e procedimentos de inferência de
ciências naturais. O primeiro verdadeiro antropólogo positivista é Durkheim, cuja teoria impõe tratar os fatos sociais como
coisas que realmente existem fora das consciências individuais e objetivamente as estudam.
A ontologia do positivismo, portanto, afirma que a realidade social tem existência real e é cognoscível, como se fosse uma 'coisa'.
Do ponto de vista epistemológico, baseia-se no dualismo entre pesquisador e objeto de estudo (que não se influencia de forma
alguma), presume-se obter resultados verdadeiros e certos, seu objetivo é explicar e formular leis naturais e gerais imutável. A
metodologia positivista, portanto, prevê experimentos e manipulações da realidade, com observações e distanciamento entre o
observador e o observado; seu modo de proceder é principalmente indutivo (do particular ao geral). As técnicas utilizadas são
quantitativas (experimentos, estatísticas) e as variáveis são utilizadas.

Neopositivismo
O neopositivismo nasceu para responder às críticas que foram avançadas ao positivismo. Do ponto de vista ontológico adota o
realismo crítico, que afirma que existe uma realidade social externa ao homem, mas é cognoscível imperfeitamente, de uma
forma probabilística. A epistemologia do positivismo lógico prevê o reconhecimento da relação interferência entre antropólogo e
o objecto estudado, que deve ser possivelmente evitada para formular leis não absolutas, mas limitadas no tempo e sujeitas a
falsificação continua a ficar cada vez mais perto de conhecimento absoluto. A metodologia permanecesubstancialmente aquela
do positivismo, mesmo se houver uma abertura de métodos qualitativos.

                                           aula 2 de
Abril: Franz Boas 
Método de Boas
Franz Boas
Franz Uri Boas nasceu na pequena cidade prússica de Minden (Vestfália) em 9 de julho de 1858, numa família de comerciantes
judeus já culturalmente assimilados à vida alemã. Entrou para a universidade em 1877 Sem grandes perspectivas em Berlim,
Boas alimentou o plano de realizar uma expedição à ilha de Baffin (Canadá), para estudar os esquimós (hoje conhecidos, no
Canadá, como Inuit). Passou um ano na ilha, convivendo com os esquimós em muitas de suas actividades diárias. Durante a
estada na localidade de Anarnitung, escreveu em seu diário: "Sou agora um verdadeiro esquimó. Vivo como eles, caço com eles e
faço parte dos homens de Anarnitung Visitou, entre outras, a dos Kwakiutl (actualmente denominados Kwakwaka'wakw), que se
tornariam um dos seus grandes interesses de pesquisa. Nessa expedição, os objectivos principais de Boas eram estudar línguas e
mitos nativos e reunir objectos para colecções museológicas

O seu Método
O método do evolucionismo chamado por Boas, de "método comparativo" ou "novo método", era naquela época a doutrina
dominante na antropologia.O novo "método histórico” por ele defendido em oposição ao comparativo, exigia que se limitasse a
comparação a um território restrito e bem definido.
Era um crítico radical dos antropólogos evolucionistas, ensinou que no campo tudo deveria ser anotado meticulosamente e que
um costume só tem significado se estiver relacionado ao seu contexto particular. Ensinou també
m o "relativismo cultural": o pesquisador deveria estudar as culturas com um mínimo de preconceitos etnocéntricos.
Para Boas, o que constitui o «gé
nio próprio» de um povo repousa sobre as experiências individuais e, portanto, o objectivo do pesquisador
é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive.
Boas foi o grande mestre da antropologia americana na primeira metade do s
éculo XX. Formou toda uma geração de antropólogos, como Ralph Linton, Alfred Kroeber (seu primeiro aluno a doutorar-se, em
1901), Edward Sapir, Robert Lowie, Melville Herskovitz, Ruth Benedict e Margaret Mead, considerados representantes da
antropologia cultural americana, que utilizam mé
todos e té
cnicas de pesquisa qualitativa somados a modelos conceituais próximos da psicologia e da psicanálise (Goldenberg 2004: 21).

Particularismo Histórico
Franz Boas e sua abordagem denominada particularismo histórico, representa a principal reação contra os esquemas
evolucionistas e difusionistas, introduzindo uma crítica sistemática às posições especulativas e defendendo pela necessidade de
uma infraestrutura de investigação. Para ele, era preciso perguntar o porquê das diferenças de tribos e nações no mundo e qual
teria sido o processo de desenvolver tais diferenças; e para responder a tais questões, fazendo uma defesa resoluta do empirismo
positivista, considera que é preciso a reconstrução particular de cada cultura, afirmando que esta deve ser vista como um
ambiente que molda a conduta e o pensamento humano.
Contra os estados fixos da evolução ordenados progressivamente, Boas opõe a história, argumentando que o desenvolvimento
da tecnologia, religião, arte, organização social e linguagem não seguem um canal único e que em qualquer caso, não vão desde o
mais simples ao mais complexo. Boas, justifica que muitas semelhanças culturais existiam devido à difusão mais a coincidência
casuais entre culturas autoctonias isoladas, porém também adverte contra o abuso desta perspectiva, enquanto que as
explicações difusionistas não eram aplicáveis a todas as semelhanças culturais, até prova a viabilidade dos contatos geográficos.
Além disso, de acordo com seus críticos, o argumento evolucionista que postula que as semelhanças culturais eram o resultado
das mesmas causas, dado que a mente humana reage de forma semelhante perante as circunstâncias ambientais semelhantes,
foi o que separou os evolucionistas do uso racional do método comparativo.
Defende assim uma visão histórica da cultura, a favor da investigação dos fenômenos culturais locais para estabelecer a
comparação a partir deles, ou seja, a história e o método comparativo se complementam.

Método científico
A constante preocupação de Boas era para que o desenvolvimento dos métodos se submetesse a rigorosos critérios científicos,
tratando de estabelecer um corpo material de dados equivalente ao da ciência natural e a elaboração de leis culturais (uma
perspectiva generalizada). Por isso, criticou muitas informações etnográficas por estar cheias de descrições que não podiam ser
verificadas ou por serem dependentes de opiniões subjetivas dos correspondentes, ou seja, superficiais e não científicas. A única
forma de evitar isto era através do registro extensivo de textos na linguagem nativa (além de artefatos). Somente quando tal
material fosse recolhido, classificado e impresso, a antropologia podia ter dados adequados para aqueles que buscarem fundar
um campo objetivo de estudo (ou seja, os dados brutos eram necessários antes da teoria).
Embora a intenção de Boas sobre a coleta etnográfica fosse clara, seus métodos exatos nunca foram explícitos, apesar de poder
reconstruir o perfil das técnicas utilizadas. Boas realizou uma observação participante nas culturas que ele estudava (ao menos
durante os primeiros anos de seu trabalho), enfatizando a coleta de dados através do uso intensivo de informações particulares,
aos que alentava a registrar informações de suas próprias culturas na língua nativa. Desta aproximação a pesquisa etnográfica
resultou numa compilação massiva de materiais, informes, textos e detalhes da cultura Kwakiutl espessos e difíceis de manejar,
mas não informes gerais ou uma descrição da vida diária. A urgência sobre o objeto de estudo (a disciplina necessitava do
máximo de dados das distintas culturas que estavam em vias de desaparecimento) postergou o passo dos dados a generalização.

Modificação da visão
A sociedade humana cresce e desenvolve-se em qualquer lugar A antropologia começou a receber aquela livre contribuição da
opinião pública que foi atraída por ela. Os primeiros investigadores concentraram a sua atenção sobre este problema puramente
histórico (…) (Boas 1896: 901)
O maré virou completamente agora, para que haja porfim os antropólogos que declaram Quando encontramos uma analogia de
traços únicos da cultura entre povos distantes, a presunção não é que houve uma fonte histórica comum, mas que eles surgiram
independentemente (Boas 1896: 903) «por isso, deve ser claramente entendido que a pesquisa antropológica que compara
fenómenos culturais semelhantes de vária parte do mundo, para descobrir a história uniforme do seu desenvolvimento, faz a
suposição que o mesmo fenómeno etnológico se desenvolveu em todo lugar na mesma maneira» (Boas 1896: 904).
1) o mesmo fenómeno pode desenvolver-se por vários meios
2) a organização social surgiu independentemente repetidas vezes
3) o mesmo fenómeno étnico pode desenvolver-se de fontes diferentes (…) um desta fonte aqui, outro de outra (Boas 1896: 905).
Desejamos aprender as razões por que tal habito e crenças existem (…) desejamos descobrir a história do seu desenvolvimento.
Temos outro método (…) um estudo detalhado das tradições culturais relacionadas à cultura total (Boas 1896: 901)
Os resultados da pesquisa conduzida por este método pode …
1) revelam que as condições ambientais que criaram ou modificaram os traços culturais
2) pode trazer as consequências que as conexões históricas tiveram sobre o crescimento da cultura (Boas 1896: 906-907)
A presunção não é que houve uma fonte histórica comum, mas eles surgiram independentemente. Quando limpamos a história
de uma cultura única e entendemos os efeitos do ambiente (…) fizemos um passo para a frente (Durkheim 2005: 30).
cada sociedade tem a necessidade de preservar e reforçar a intervalos regulares os sentimentos coletivos e idéias coletivas que
constituem a sua unidade e a sua personalidade

Evitando amarrar os fenómenos em uma camisa de força teórica A Antropologia, vista como o estudo das semelhanças e
diferenças entre grupos de pessoas, exigiu investigações detalhadas das origens históricas e do contexto de cada semelhança e
diferença. O plano de Boas foi compreender o desenvolvimento histórico de cada região do mundo. Depois disso, não haveria
tempo suficiente para elaborar em todo o mundo generalizações evolutivas. Foi este plano que mais tarde foi chamado de
'particularismo histórico'.

Ciências de laboratório e ciências históricas


Boas foi formado como um físico e um geógrafo e tinha clara a consciência das diferenças entre as ciências de laboratório e a
pesquisa de campo. As leis científicas se aplicavam a situações de laboratório onde as variáveis podiam ser cuidadosamente
controladas. Os dados etnográficos recolhidos no trabalho de campo por causa da sua natureza incontrolável precisavam ser
analisados em termos de probabilidades. É fácil que uma ciência de campo ou uma ciência histórica se envolva na descoberta de
histórias e, em seguida, escolha a história que melhor se adapta para interpretar os factos que a etnografia descobriu.

Difusionismo
No final do século XIX, Boas forneceu uma demonstração dos seus métodos propostos de estudo antropológico através da
publicação do seu estudo sobre a mitologia dos índios da costa noroeste da América do Norte. Na época, muitos folcloristas e
antropólogos acreditavam que os seres humanos, basicamente, não eram criativos, pois o seu conteúdo cultural tinha sido
emprestado pelos egípcios, ou por culturas que vinham lá de fora, no Atlantis, ou talvez por alienígenas. Se o mesmo conto
popular era proferido no Egipto e na Guatemala, os difusionistas tiravam a conclusão que os egípcios tinham visitado o
Guatemala. Seguindo esse tipo de lógica, tinham sido construídas uma série de reconstruções alarmantes e contraditórias da
história humana passada, cfr Smith (1911) e Rivers (1912). O pressuposto fundamental de que apenas alguns seres humanos são
capazes de ter novas ideias tem implicações políticas, históricas e culturais alarmantes.

Tarefas da antropologia
E' a base para o estudo teórico dos fenómenos sociais humanos. Franz Boas, escrevendo em 1888 e 1896, afirmou que na
Antropologia há duas tarefas a serem empreendidas. Uma delas e "reconstruir" a historia de regiões ou povos particulares, e isso
ele assegura constituir a "primeira tarefa". A segunda ele a descreve como segue:
"Uma comparação da vida social de diferentes povos prova que os fundamentos do seu desenvolvimento cultural sac
notavelmente uniformes. Disso se conclui que há leis a que este desenvolvimento esta sujeito. Sua descoberta e talvez  segundo
mais importante objetivo de nossa ciência. . .. No desenvolvimento desses estudos, percebemos que mesmo costume, a mesma
ideia, ocorrem entre povos para os quais não podemos estabelecer qualquer conexão histórica, de modo que uma origem comum
não pode ser afirmada e se torna necessário deter.
 

O objectivo da antropologia
Compreender a alteridade. O objetivo da etnografia é descrever a vida dos outros diferente da nossa, com uma precisão e
sensibilidade afiada pela observação detalhada e pela experiência prolongada. Com Certeza que a antropologia e a etnografia são
empreendimentos muito diferentes. Isso não é afirmar que um é mais importante do que o outro, ou mais honrosa

                                   aula 10 de Abril:
Edward Burnett Tylor
Método de Tylor
A posição de Tylor na história da antropologia é claramente excepcional. O filólogo alemão Max Müller chamava a antropologia '
a ciência do Sr. Tylor'. Em uma explosão de entusiasmo, R. H. Lowie (1974) escreveu que ‘ninguem mais dignamente de Tylor
representou o campo da etnologia'. A influência predominante de Tylor na antropologia moderna, no entanto, é devida tanto ao
seu talento científico como também às suas qualidades de organizador e promotor. De ambos os pontos de vista a única figura
comparável ao Tylor é o de Franz Boas, que teve um papel semelhante nos Estados Unidos (Palerm 2004: 19).
Há dois fatos de relevância indiscutível na formação intelectual de Edward Burnett Tylor: a sua filiação a uma nova classe social
que estava em ascensão desde o final do século XVIII, e sua adesão a um movimento ético-religioso dissidente, caracterizado
naquela época por suas preocupações sociais, os Quakers. Dois outros fatos decisivos são importantes para perceber a atmosfera
criada na Inglaterra: o evolucionismo biológico e social de Darwin e Spencer, e o processo histórico da expansão colonial do
Império Britânico. A orientação evolutiva e o interesse pelas culturas não-ocidentais, tão características da antropologia de
Tylor, são claramente a resposta a esse tipo de estímulo do ambiente social e histórico (ibidem).

Reconstruir o passado
Edward Burnett Tylor, o fundador da antropologia moderna, quis reconstruir o passado a partir da observação do presente. para
procurar as origens e o desenvolvimento da história das culturas, por isso o pensamento e comportamento moderno deve seguir
o curso da existência primitiva. Também estudando os vivos conheceremos os mortos.
Em 1865, ele publicou Pesquisas sobre o Início da História da Humanidade e o Desenvolvimento da Civilização, onde delineou
os temas analíticos que ele mais tarde desenvolveu no seu livro “A primeira história da cultura da humanidade”, escreveu Tylor,
“deve ser tratada como uma ciência indutiva, coletando e agrupando fatos” (1964: 137). Tylor vasculhou os relatos dos
missionários, os diários dos exploradores, os textos antigos e os relatórios etnológicos para procurar semelhanças nas culturas
humanas. “Quando artes, costumes, crenças ou lendas similares são encontrados em várias regiões distantes, entre povos que
não são conhecidos por serem da mesma raça”, perguntou Tylor, “como essa similaridade é explicada?” (1964: 3).

Sobrevivências
Ele observou, por exemplo, que a prática dos penitentes mexicanos, de fustigar-se na igreja sob as implacáveis exortações de um
monge, eram idênticas aos rituais egípcios de celebração em honra de Ísis.  Este primeiro interesse na sobrevivência de
costumes antigos na sociedade civil foi o ponto de partida de um dos mais importantes resultados por ele alcançados em
antropologia: a doutrina das sobrevivências. Elaborando a teoria das sobrevivências, segundo a qual as crenças e tradições
podem ser explicadas pela persistência, ao longo do tempo, de hábitos e processos mentais que perderam o seu significado
original ou assumiram outro. Tylor denominou de "sobrevivências" (survivals) aos diferentes elementos culturais (que já haviam
perdido sua importância específica) e através dos quais ele tentou reconstruir os diferentes estágios de desenvolvimento
(selvageria, barbárie, civilização), compartilhando com Morgan que se tratava de fases sucessivas, mas acrescentando que alguns
deles podem permanecer inalterados e decair posteriormente.

O método de Tylor
A experiência de campo pessoal de Tylor foi reduzida à viagem ao México e a uma breve visita aos índios Pueblo, no sudoeste
dos Estados Unidos. Apesar disso, observa Lowie (1974), Tylor 'era tudo menos um antropólogo de gabinete ... [Ele se dedicou]
ao estudo da cultura no coração da metrópole [de Londres].
Desta forma, Tylor não foi apenas um dos criadores da teoria e do método antropológico, mas também um grande organizador
da antropologia acadêmica, um notável professor e um extraordinário divulgador (Palerm 2004: 21). Há uma diferença radical
com Spencer e Morgan. Pois o que lhe interessava era a história de elementos culturais separados e não elaborar
sociologicamente sistemas sociais totais. Isso aparece claramente na primeira parte de sua carreira científica. Pelo menos até
1889, quando ele publica o seu famoso artigo 'Sobre o método de investigar o desenvolvimento de instituições aplicadas às leis
do casamento e da descendência’ (1889), Tylor não se preocupa em analisar a mudança geral e sistemática nas sociedades
humanas. Tylor não usa muito o conceito de evolução e não tenta dar uma definição formal do mesmo. Aplica-se de maneira
bastante simplista a qualquer sucessão de formas específicas e não oferece nenhum critério para mostrar o processo evolutivo
(Veiga 2010: 25).
Essas idéias serão repetidas continuamente. Frequentemente, ele diz que nenhum estágio da cultura aparece espontaneamente,
sem crescer ou se desenvolver-se num estágio anterior, e afirma que esse é o princípio que todo pesquisador deve manter se
quiser conhecer o mundo em que vive ou a história do passado.
Devemos considerar que Tylor usa o termo 'sobrevivências' ou sobreviventes como meios para demonstrar a sequência
evolutiva. Estes são definidos como os elementos da cultura que passaram pela força do costume para os estágios posteriores
daquele em que se originaram. De acordo com Tylor, as 'sobrevivências' provam que os estadios de cultura que podemos
observar evoluíram de algo mais antigo.
Como Morgan, ou outros autores anteriores, Tylor divide a pré-história das sociedades humanas em três grandes etapas. É a
selvageria em que os homens sobreviviam com a caça e coleta aplicando uma tecnologia muito limitada, a barbárie que é
alcançada quando a agricultura aparece nas cidades permanentes e na vida urbana com grandes melhorias nos conhecimentos,
costumes e governo. A civilização aparece como 'uma melhoria geral da humanidade por uma organização superior do indivíduo
e da sociedade'. É verdade que é um esquema menos elaborado que o de Morgan, mas basicamente é bastante similar.
É verdade que o evolucionismo de Tylor foi aplicado mais à religião, mito e linguagem. Nisso há uma diferença muito grande
entre ele e Morgan, pois, para ele, a religião não poderia ser tratada do ponto de vista evolucionista porque a religião primitiva
tinha um caráter 'grotesco' e 'ininteligível'. Entretanto, Tylor afirma que a religião primitiva tem uma certa racionalidade e,
portanto, a evolução da religião demonstrou uma compreensão racional do mundo. Ele aplica o método evolucionista
perspectivando uma evolução a partir da crença primitiva em seres animados, depois em espíritos, depois em um panteão
politeísta e depois no monoteísmo (Veiga 2010: 26).

                                   aula 17 de Abril:
Morgan
Método de Morgan
 

Vida de Morgan
Nascido no estado de Nova York em 1818, jurista por formação como Bachofen e MacLennan, Morgan morreu em 1881 em
Rochester, onde se instalou como advogado em 1844. O filho de Jedidiah Morgan, um próspero fazendeiro do estado de Nova
York, Lewis Henry Morgan, recebeu uma excelente educação no Union College, em Schenectady. Lá, Morgan estudou os
clássicos gregos e romanos, a filosofia escocesa do 'senso comum' (especialmente o trabalho de lorde Karnes), a economia
política, a matemática, as ciências e a lei. Dos gregos e dos romanos, Morgan percebeu a importância do autocontrole, da
tranquilidade e da coragem para buscar a verdade, além de uma maior dedicação à tradição republicana. Morgan foi
especialmente influenciado pelos escritores romanos Horácio, Lucrécio, Seneca e Cícero. De Sêneca, ele ganhou uma apreciação
do 'primitivismo clássico' - de como os primeiros seres humanos seguiram os caminhos da natureza, vivendo a boa vida
limitando seus desejos - enquanto de Cícero, ele adquiriu uma noção do valor da civilização e do progresso. Horácio e Lucrécio
deram a Morgan noções rudimentares da evolução da sociedade humana. Morgan também parece ter sido influenciado pelas
teorias de John Locke sobre a condição inicial da humanidade no 'estado de natureza' e a subseqüente entrada de seres humanos
no 'contrato social' por meio do qual o governo foi estabelecido. Morgan também leu The Spirit of the Laws, de Montesquieu.
Um dos mais famosos entre os antropólogos, considerado um dos fundadores da antropologia social (Bryson 2010: 480). Ele é,
antes de tudo, o primeiro grande etnógrafo de campo com sua monografia sobre os iroquenses (1851) sobre o qual ele revela os
principais princípios da organização social (clãs matrilineares) e política. Ele é então o inquestionável iniciador dos estudos de
parentesco mostrando como, entre nativos americanos, aborígines australianos, dravidianos, etc., os termos de parentesco são
organizados de uma maneira muito diferente da nossa e pertencem a uma lógica própria. (1871). Ele é finalmente o teórico
altamente controverso do evolucionismo em antropologia social na Ancient Society (1877).

Obras
Um advogado de sucesso e empresário capitalista que viveu a maior parte de sua vida em Rochester, Nova York, Morgan nunca
ocupou uma posição acadêmica. No entanto, ele se tornou um dos principais antropólogos americanos do século XIX. Assim,
Morgan foi o autor da Liga dos Ho-De '-No-Sau-Nee ou Iroquois (1851), uma etnografia pioneira do povo iroquês; e seus
Sistemas de Consanguinidade e Afinidade da Família Humana (1871) fizeram muito para lançar o estudo dos sistemas de
parentesco. Além disso, a Ancient Society de Morgan (1877) representou uma contribuição importante e influente para a teoria
da evolução social. Ancient Society, publicado em 1877, foi talvez o livro mais importante e influente de Morgan. Morgan
formulou neste livro uma teoria da evolução social na qual as sociedades humanas progrediram da selvageria para a barbárie
para a civilização. A evolução social foi, segundo Morgan, impulsionada por fatores mentais e materiais - mas Morgan enfatizou
mudanças no modo de subsistência para explicar a evolução social. Para Morgan, a mudança do que os antropólogos apelidaram
de sociedades 'primitivas', baseadas na organização de parentesco da sociedade para a civilização (Testart 1985)..

Morgan Comunista?
Morgan terá algum sucesso com os antropólogos britânicos na virada do século, mas está claro desde a década de 1880 que a
antropologia norte-americana, em pleno desenvolvimento, vai virar as costas e aderir ao particolarismo histórico de Boas. Após
a guerra dos 14-18, no momento em que a antropologia parece rejeitar definitivamente o evolucionismo, Morgan não terá mais
nenhuma influência, mesmo em relação ao parentesco, analisada a partir de agora de acordo com princípios bem diferentes. A
publicação de Engels em 1884 de A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, que popularizou as teses de Morgan e as
incorporou em uma visão marxista, causou a Morgan uma grande quantidade de críticas ao fazê-lo suspeitar de conluio com
comunismo e fazê-lo apenas ler a última versão bastante simplista dada por Engels. É verdade que a leitura de Morgan não é
fácil, seja pelo seu estilo ou pelo seu vocabulário envolvido em neologismos complicados, porque as realidades sociais que ele
descreve são particularmente complexas

Sistemas de Consaguineidade
É caricatural reter apenas a famosa hipótese do casamento em grupo. É superficial reduzi-lo a um esquema evolutivo em três
estágios (selvageria, barbárie, civilização). Ou mesmo resumir isso na descoberta da diferença entre parentesco classificatório e
parentesco descritivo. A contribuição essencial de Morgan é, pela primeira vez em dados etnológicos, raciocinar em termos de
sistemas. Ao estudar, primeiro entre os iroqueses, depois entre outras populações ameríndias, os termos parentesco, ele mostra
que eles formam sistemas e não é à toa que seu trabalho especializado sobre parentesco é intitulado Sistemas de
consanguinidade ... Se, por exemplo, os iroqueses chamam de 'mãe' sua mãe e irmã de sua mãe, isso é congruente com o fato de
que ele chama igualmente de 'irmão' um filho da primeira e um filho da segunda. Cada um dos sistemas de parentesco se
desdobra de acordo com uma lógica apropriada. Em segundo lugar, Morgan mostra que essa lógica corresponde, no mínimo, ao
parentes ameríndios, mas não aos nossos, aos grandes princípios da organização social que ele chama de 'gentilice' (diríamos
linhagem). Em terceiro lugar, mas aqui ele está enganado, ele tenta pensar tão de perto uma correspondência com a forma da
família (imaginando uma espécie de comunismo sexual, um 'casamento de grupo' para explicar a pluralidade de indivíduos que
eu chama 'mães' ou 'pais'). Em quarto lugar, e é inegável, mostra que toda a organização política das tribos iroqueses repousa
sobre o parentesco como acaba de ser dissecado. A importância da política em sua reflexão também deve fazer valer o primeiro
representante da antropologia política. É o primeiro a mostrar a importância do parentesco nas sociedades primitivas e o
primeiro a lançar as bases de uma sociologia primitiva (Testart 1985).

Método de Morgan: antropologia histórica


Desde os anos 1960, os historiadores americanos emprestaram extensivamente das ciências sociais. Assim, a antropologia
cultural, a sociologia, a ciência política, a economia e as outras ciências sociais forneceram aos historiadores uma série de
métodos, conceitos e teorias. Significativamente, os historiadores também passaram a abordar outro projeto: tomar a própria
ciência social como objeto de investigação histórica. As origens da ciência social americana de Dorothy Ross (1991) destaca-se
como uma conquista especialmente notável, mas tem havido inúmeras contribuições para este projeto nas últimas décadas.
Mais especificamente, estudiosos passaram a examinar a história de disciplinas específicas dentro das ciências sociais. No
entanto, a nossa pesquisa não poderia ser referida a um objectivo melhor para verificar o grau de poder atribuído ao órgão
governamental e à forma em que a administração interna e as relações políticas foram conduzidas
«O grande mérito de Morgan é o de ter descoberto e restabelecido nos seus traços essenciais o fundamento pré-histórico da
nossa história escrita e o de ter encontrado nas uniões gentílicas dos índios norte-americanos a chave para decifrar
importantíssimos enigmas ainda irresolvidos, da história antiga da Grécia, Roma e Alemanha» (Engels)
Enquanto para os antropólogos a reconstrução histórica não é determinante é útil no entanto de acordo com as últimas
propostas metodológicas a compreensão dos sistemas, formas e funções que os diferentes sistemas sociais no seu contexto
apresentam e possuem para estabelecer metodologias antropológicas mais próximas do dado científico e matemático ou seja a
análise das estruturas sociais. Es.: O jogo de xadrez, eu não tenho de estudar muito, eu estudo não a história mas a aplicação das
regras do jogo: ou seja estudo a fenomenologia. A observação de Morgan
 Henry Lewis Morgan deu passos na direção de aprender acerca das pessoas  e da sua cultura através de observação directa e
interações com mais indivíduos fora do contexto restricto da varanda.  Era advogado, Morgan morava em Rochester, Nova York,
perto do território Iroquês.  Tanto que tornou-se bem familiarizado com muitos dos iroqueses e ganhou as o conhecimento de
todos os particulares das suas vidas cotidianas (Tooker 1992).  Morgan mostrou que as crenças e comportamento dos Iroquênses
fazem sentido se um estranho passa o seu tempo aprendendo sobre eles, no contexto e através da experiência e interações
diretas.  Os Seus escritos mudaram a percepção dos estudiosos Euro-americanos acerca dos Iroquênses e das outras outras
tribos nativas americanas tidas como "perigosos selvagens. "

Constituiu uma Liga da para defender os Iroquenses da agressão. Eles foram considerados como outros, muito longe dos
brancos. Morgan quer defender os índios de acordo com um paradigma evolucionista
1) não matá-los
2) não danificar as suas terras
3) aumentar a consideração
4) civilizá-los
5) torná-los como os brancos.
As culturas indígenas são consistentes e não devem ser destruídas, mas deve atingir o nível dos brancos que estão mais
avançados e têm o seu conhecimento técnico, e subir nas estadeações

Evolucionismo
Sendo E. B. Tylor embora considerado o pai da Etnologia, foi Lewis Morgan, na Ancient Society, quem primeiro formulou e
tentou desenvolver exaustivamente a teoria do evolucionismo social e cultural. Não há distinção entre raça e cultura, evidente já
em Morgan quando escreve:
«Com um só princípio da inteligência e uma só forma humana, em virtude de uma origem comum, os resultados da experiência
humana revelaram-se essencialmente os mesmos em todas as épocas e regiões que possuem o mesmo estatuto étnico»
No esquema deste etnólogo, teria havido um baixo estado de selvajaria, equiparada à infância do homem; a selvajaria média,
iniciada com a manducação do peixe e com o uso do fogo; a alta selvajaria, principiada com a adopção do arco e da flecha; o
baixo barbarismo, começado com a invenção da cerâmica; o médio barbarismo, com a domesticação dos animais; o alto
barbarismo, com a fundição do ferro; e a civilização, com o alfabeto fonético
Morgan L.H. (1851), League of the Ho-De-No-San-Nee or Iroquois, 38.41.
Não é o objectivo deste trabalho relatar os acontecimentos políticos, mas investigar sobre a estrutura e o espírito de governo e a
natureza das instituições, enquanto resultados produzidos pela história foram ( …) inquirir sobre a estrutura do governo

Crítica de Boas
Tomo como referente um artigo publicado por Boas na revista «Sciences». Spencer, Morgan e Tylor juntamente a Lubbock
afirmam um evolucionismo uniformista que é um processo cultural onde toda a humanidade participa. Mas a nova teoria nasce
em parte pelo geografo e cartógrafo Ratzel que sublinha a importância da difusão e emigração. Trata-se da corrente
antropológica chamada difusionismo que nasceu com Foy e Grabner e que mais tarde encontrou a sua aplicação com Elliot
Smith e Pitt Rivers. O ataque ao esquema evolutivo de Morgan - com sua sequência unilinear da selvageria à barbárie à
civilização - por Franz Boas e seus alunos fez muito para desacreditar Morgan. De fato, apesar do reconhecimento da
contribuição de Morgan aos estudos de parentesco por antropólogos como Claude Lévi-Strauss, bem como do ressurgimento da
teoria evolucionista defendido por Leslie White e outros durante o século XX, a reputação de Morgan nunca se recuperou do
ataque crítico boasiano. As críticas feitas contra Morgan por Boas e seus discípulos eram válidas. Morgan supunha a
superioridade das sociedades civilizadas sobre as 'selvagens' e as 'bárbaras', e via as raças indo-européias e semitas como a
guarda avançada da civilização e do progresso. Sua sequência rígida de estágios evolutivos - não levou em conta as
particularidades dos processos de mudança histórica sofridos por diversas sociedades humanas. Finalmente, embora
simpatizante dos índios, Morgan defendeu que eles fossem 'civilizados' - um programa que incluía a divisão das terras tribais em
parcelas de propriedade privada a serem possuídas por indivíduos e suas famílias.

Sociedades humanas
Médico da Filadélfia Samuel Morton e outros. Morgan insistiu que a raça humana tinha uma única fonte e que a família humana
era uma. Além disso, ele era ambivalente em relação à civilização, vendo-a como a culminação do progresso - mas também
vendo-a, em sua forma comercial moderna, como sendo baseada na auto-estima individual e na concentração de propriedade
nas mãos de poucos e, portanto, possuindo aspectos negativos e positivos. Nessa linha, Morgan admirava características de
sociedades 'bárbaras', como os iroqueses, porque respeitavam a 'liberdade, igualdade e fraternidade' de seus membros; eles
também foram caracterizados pelas práticas de assistência mútua e hospitalidade. De fato, Morgan esperava que, à medida que a
civilização evoluísse no futuro, retornaria a algumas das características das sociedades pré-civilizadas. Como ele colocou em uma
passagem famosa na Ancient Society: 'Uma mera carreira de propriedade não é o destino final da humanidade, se o progresso é
para ser a lei do futuro como tem sido do passado ... Democracia no governo, a irmandade na sociedade, a igualdade de direitos
e privilégios e a educação universal prenunciam o próximo plano superior da sociedade. [...] Será um reavivamento, numa forma
superior, da liberdade, igualdade e fraternidade das antigas gentes»

                                   aula 23 de Abril:
O difusionismo

Método
difusionista
Fase da história da antropologia
Mais recentemente, Stocking (1982), com uma abordagem epistemológica diferente, mas com resultados semelhantes e
reconhecendo que a dominância paradigmática, elabora uma cronologia que divide a história da antropologia em cinco grandes
fases:
a etnológica (1800-1860), a
evolucionista (1860-1895),
o histórico (1895-1925),
o clássico (1925-1960)
e o pós-clássico,
sem fingir que os antropólogos de cada um dos os períodos estreitamente compartilham abordagens e perspectivas.
Seguimos o último, enquanto nos primeiros quatro períodos paradigmáticos há uma preponderância razoavelmente clara de um
paradigma sobre os outros, este não é o caso da antropologia pós-clássica.

A fase pós-clássica
Podemos considerar a perspectiva estruturalista como integradora, mas dela encontramos uma antropologia - e
consequentemente alguns modos de praticá-la - fragmentados e com paradigmas indefinidos (processual, interpretativo,
marxista, etc.), aos quais devemos acrescentar a mudança de paisagem (Llobera, 1990) que envolveu passar do estudo do Outro
distante para um outro mais próximo (em relação a Nós).
Sem dúvida, o etnocentrismo, o sentimento de estranheza, o zelo comercial e a preocupação com as almas pagãs promoveram
um bom número de descrições detalhadas por viajantes, administradores, soldados, missionários, etc. escritos e narrações que
subiram à categoria de mitos na iluminada Europa de Locke, Voltaire, Montesquieu, Diderot, Mercier e Morelly, que criaram e
recriaram seu 'selvagem'. Este período aumentou muito o acúmulo de conhecimento sobre os seres humanos não europeus para
fins não só de compreeender a diversidade, mas também para legitimar e fomentar o desenvolvimento da civilização industrial
que ultrapassou o estado feudal predominante. Como vimos, alguns autores situam neste momento o nascimento das questões
centrais da antropologia contemporânea e as primeiras tentativas, embora fracassadas, de formular as leis que regem o curso da
história (Harris, 1978). Durante os séculos XVII e XVIII esses precursores da antropologia se interessaram apenas pelo estudo
da distância física (espacial e temporal) das 'sociedades primitivas' e, sem negar a importância das obras fundadoras da ciência
da sociedade. (Saint-Simon, Adam Smith, Hume, etc.), acreditamos que só no século XIX as teorias antropológicas começam a
se desenvolver e, acima de tudo, obter informações sobre 'outras culturas' de maneira sistemática, indo além do exótico e do
peculiar.

As sociedades antropológicas
Em 1800, na senda das expedições geográficas foi Joseph-Marie Degérando, membro da primeira sociedade 'antropológica'
Société des Observateurs de l'Homme que se preocupou de estudar os estilos de vida de outras culturas por isso dava instruções
acerca das informações a serem registradas. Estas instruções ditadas por ele tiveram uma influência importante nos
questionários subsequentes que desempenharam um papel importante na pesquisa etnográfica do século XIX (Ellen, ed. 1984).
Lowie aponta na sua 'História da Etnologia' que para a teoria se desenvolver é preciso de um grande banco de dados coletado
sistematicamente e não somente incentivar debate, mas também promover o publicação de novas informações sobre outros
culturas. A tal efeito depois da Société des Observateurs de l'Homme nasceram a Société Ethnologique de Paris (1839-1848), a
Etnological Society de Londres (1843-1871), a American Etnological Society (1842-1870), fornecendo uma base firme para a
construção e distribuição de questionários Ele ressaltou por sua importância Instituto Royal de Antropological Institute que
tinha formulado o questionário 'Notas e Consultas sobre Antropologia', que apareceu em sucessivas edições entre 1874 e 1951,
vindo a ter um impacto considerável sobre o padrão de questionário etnográfico até 1914.

O método comparativo
Se num primeiro foi a fundação dessas sociedades, instituições e museus a marcar a antropologia. No contexto da expansão
colonial européia a antropologia cristalizou-se seguindo o método do pensamento evolucionista. Entre 1860 e 1880, apareceram
as primeiras grandes obras de antropologia que expunham as proposições básicas do evolucionismo, entre os quais destacou a
proposta de desenvolver uma história e ciência natural do homem, estruturada em uma escala publicada hierárquica das
civilizações em cujo nível inferior se localizariam as 'tribos selvagens' e nas superiores as 'nações civilizadas'. O mais notável
questionário deste período foi a Circular (1862), originada pelo interesse suscitado em Morgan pelas informações sobre as
relações de parentesco entre os iroqueses, aborda a terminologia do parentesco e foi distribuída pela Smithsonian Institution. Os
resultados desta pesquisa foram dois: por um lado, a compilação dos Sistemas de consanguinidade e afinidade na família
humana (1869) e, por outro, o espírito para lidar com a pesquisa etnográfica. Tanto na Circular quanto no questionário
conduzido por Frazer em 1887, uma série de problemas relativos à sua aplicação foram logo reconhecidos. Mas certos
indivíduos, correspondentes como A.W. Howitt, eles foram capazes de corrigir e preparar novos questionários. A metodologia
seguida, o método comparativo, neste período foi uma consequência da forma como o passado foi concebido e foi inspirado pelo
Iluminismo nas instalações do século XVIII. Segundo Lowie (1974) de acordo com Harris (1978) a biologia darwiniana, a
paleontologia de Lyell e a pré-história de Lubbock, eram baseadas na crença do comparativismo de que os vários sistemas
culturais tinham um grau de semelhança com as culturas desaparecidas. Dominava o pressuposto de que todos os grupos
humanos seguissem um desenvolvimento paralelo, a partir do estado primitivo até a civilização foi construída.
Tylor, chamou de "sobrevivências" (survivals) aos elementos sócio-culturais diferentes (que já haviam perdido sua importância
específica) e através dos quais era possivel tentar reconstruir as diferentes fases de desenvolvimento (selvageria, barbárie e
civilização), e partilha com Morgan a ideia que etapas sucessivas, se acrescentavam permanecendo inalteradas as estadeações
antecedentes. Para nosso interesse, devemos destacar o artigo de Tylor «Acerca do método de investigar o desenvolvimento das
instituições, aplicado às leis de casamento e descendência" (1889), que introduz no método comparativo a base quantitativa e
estatística da Etnologia, calculando a percentagem de elementos (probabilidade) entre diferentes formas parentais.
Armados com questionários, informantes, estadeações (Morgan) e o método comparativo, os antropólogos evolucionistas
tentaram de tornar importantes analogias entre as sociedades muito diferentes e separadas no espaço e no tempo, fornecendo
informações e sistematizações da nascente antropologia. Mas suas conclusões acabaram sendo imponderáveis e não verificáveis,
suas reconstruções históricas foram conjecturais e seu uso do método comparativo pecou em correlacionar dados etnográficos se
nenhum valor cronológico, fora de contexto e sem valor. No início do século XX foi criticada esta corrente pelo seu
etnocentrismo, suas especulações e o seu método aplicava um esquema unilinear de desenvolvimento cultural.

O difusionismo
Em paralelo, nos séculos XIX e início do XX, a abordagem histórico-cultural (difusionismo) destacou o papel do contato cultural
e o 'empréstimo' pela história da maneira intercultural, ao contrário da evolução paralela, formulando a formação da história da
humanidade. Esta não é uma teoria uniforme, uma vez que gerou versões muito diferentes, mas concordou que, se algo não é em
comum em toda a história das culturas é invenção independente e paralela de vários fenômenos culturais (a partir de objetos às
instituições, através de rituais, crenças, etc.), na rejeição acima mencionada da evolução paralela e da não indivisibilidade da
cultura. O próprio Morgan incluía explicitamente a difusão entre os mecanismos que possibilitavam a substancial uniformidade
da evolução sociocultural. A pesquisa difusionista foi orientada a reconstruir a trajetória histórico-geográfica dos traços e
complexos culturais e a estabelecer as suas áreas de expansão, ou seja, era de elucidar a evidência de processos históricos
determinando as suas influências na formação de uma área cultural concreta. Esse procedimento antropológico não era novo
para o folclore (Prats, 1986) que, temporariamente paralelo, desenvolveu o método histórico-geográfico com aplicações à
literatura e à história oral. Nasce assim a escola difusionista alemã (Ratzel, Schmidt, Graebner, entre outros), que substituiu os
esquemas evolutivos, à existência de alguns Kultur-Kreise (círculos culturais ou aglomerados de traços emergentes) que
mostraram como os centros de cultura são formados por traços; Estes foram transmitidos de maneiras diferentes, podendo se
perder ou sofrer adaptações. Com o tempo, os círculos de expansão começaram uma sobreposição, a misturar-se, e muitas vezes
a destruir-se, os representantes de um círculo cultural empurraram o outro ou os outros em áreas marginais de abrigo. Daí surge
a concepção da marginalidade e marginalismo cultural geográfico dentro da mesma cultura como uma expressão das formações
mais arcaicas e primitivas. Desta forma, alguém poderia pensar que grupos com culturas menos desenvolvidas teriam emergido
das culturas mais antigas e conservaram seus traços primitivos, através dos quais era possível estudar a cultura primigénia.

 
                                   aula 4 de Maio:
Alfred Louis Kroeber
 

Método de
Kroeber
O primeiro pós-graduado do departamento de Boas foi A. L. Kroeber; em Berkeley, Lowie juntou-se a
Kroeber. Juntos, os três homens foram fundamentais na concepção e desenvolvimento da antropologia
americana até a década de 1930.

Vida e Vocação
À primeira vista, a vida e o trabalho de Kroeber revelam uma pessoa com um forte senso de disciplina e ordem, mas às vezes
essas restrições o deixam infeliz e desconfortável. Quando menino fundou uma 'sociedade científica' com um amigo que se
dedicava à coleta de espécimes biológicos, à preparação e à leitura de 'ensaios científicos'. A 'sociedade' era composta por cerca
de quinze garotos e exercia sua atividade. Mais tarde sob a influência de Boas, ele começou sua carreira com uma bolsa de
antropologia da Columbia University. A profunda e complexa influência de Boas na vida e obra de Kroeber começou nesse
período. Carl L. Alsberg refere-se às razões que levaram Kroeber à antropologia: este foi o campo que ofereceu a maior chance de
liberar intelectualmente o homem, libertá-lo dos 'velhos tabus tribais'.
Depois de obter o Ph.D. em 1901, Kroeber foi para a Califórnia, como diretor do campo antropológico da Academia de Ciências
da Califórnia, para organizar um estudo antropológico desse Estado. Na realização deste projeto, ele foi afiliado à Universidade
da Califórnia. Ele se aposentou da Universidade da Califórnia em 1946 e continuou sua carreira como professor visitante em
várias grandes universidades, incluindo Columbia, Chicago, Harvard e Brandeis. Até os últimos dias da sua vida, Kroeber estava
ativo e pronto. Ele tinha uma postura muito ereta e andava depressa, carregando uma barba bem arrumada que não escondia a
expressão zombeteira e investigadora em seu rosto. Na sala de aula ele discutiu e debateu com os alunos como se fosse um deles.

Cultura-sociedade-indivíduo
Kroeber descobriu' que a cultura poderia ser considerada ela própria, não simplesmente como um reflexo ou um aspecto da
sociedade, mas que era, em grande medida, determinante tanto para a sociedade quanto para o indivíduo. Ele a ajudou a colocar
sua antiga hostilidade contra a sociedade em favor do indivíduo. Provavelmente a sociedade perdeu um pouco da sua aparência
de opressora e, em vez disso, apareceu como um pára-brisa ou talvez como o instrumento cego de uma cultura impessoal que a
transcende '. A 'descoberta' a que Kroeber se referiu foi a formula da relação entre cultura, sociedade e indivíduo.
Kroeber, junto com muitos outros, sempre teve dificuldade em tentar reconciliar os atos do indivíduo com a cultura impessoal
que está acima deles '. Ele estudou psicologia sob Cattell antes de avançar para estudos antropológicos e mais tarde passou por
uma breve avaliação psicanalítica em San Francisco. Embora essa experiência tenha produzido 'insights sobre a mente humana',
ele a interrompeu porque, como ele disse, 'não senti que essas intuições me ajudassem muito a melhorar minha compreensão da
cultura; que constituiu uma das razões pelas quais abandonei a psicanálise, temendo me dispersar na tentativa permanente de
exercer duas profissões que pareciam irreconciliáveis.

O método de Kroeber
O trabalho de Kroeber é dividido em duas áreas principais: sua pesquisa etnográfica sobre o campo e suas teorias sobre o
progresso cultural e a filosofia da história. O valor de seu trabalho etnográfico é indiscutível. Em vez disso, suas teorias sobre
cultura e sobre a história das culturas são controversas.
Kroeber era um grande etnólogo e tocou em muitos campos como especialista. Ele tinha um conhecimento profundo da cultura
material, como cacos de cerâmica, cestas, cultos secretos e flechas. Destes elementos e de muitos outros ele podia falar por um
longo tempo e em grande detalhe, tomando uma sugestão de uma breve observação. Ele ficou fascinado pelos fatos, colecionou-
os e registrou-os assiduamente de acordo com a melhor tradição de Boas.

Difusionismo
Segundo alguns estudiosos Boas e os seus alunos foram expertos difusionistas. O seu interesse real, mostra-se mais claramente
nos escritos de Kroeber, que explica os crescimentos culturais e mudanças usando seja a difusão e como a invenção
independente. Os factos no terreno mostram que os seres humanos comuns preferem aprender coisas provenientes dos seus
vizinhos, mas também podem rapidamente inventar coisas por conta própria, quando é necessário.
O debate entre invenção e difusão independente não é realmente um debate antropológico, mas um debate filosófico
contextualizado numa época em que o estudo científico dos seres humanos era considerado supérfluo.
A maioria dos antropólogos, poderia ter tido conhecimento de que as frequências relativas da invenção e da difusão têm muito a
ver com as condições em que as pessoas estão vivendo. Às vezes, há um monte de invenções e, outras vezes, nos deparamos com
um monte de difusões.
Mas enquanto a Etnologia Boasiana, estava sendo definida na Grã-Bretanha como, particularismo histórico ideográfico, e não
científico, doutro lado do Atlântico estava sendo criticada por ser demasiado científica nomotética, e não histórica e ideográfica. 
Esta crítica veio de Alfred Kroeber.

Método indutivo
O Seu era um 'método indutivo' no qual ele confiava totalmente.
Escreveu um Manual dos Índios da Califórnia (California Manual of Indians, 1925) é o trabalho básico de campo que ele fez na
Califórnia. É um modelo da etnografia moderna. A maior parte do trabalho é constituída, como diz Kroeber no prefácio, por
'uma série de descrições tribais'. 'Propõe ser uma história ...', afirma, 'enquanto tenta reconstruir e apresentar o padrão de vida
dessas pessoas nos tempos antigos e em tempos mais recentes. 'As' descrições tribais 'dizem respeito a cinquenta' pequenas
nações 'e (com a exceção de alguns capítulos de recapitulação e comparações) as conclusões gerais estão' espalhadas caso no
curso de algumas centenas de páginas. 'Para aqueles que os procuram por acaso em busca de alguns', informações que o
interessam pessoalmente

As áreas culturais
Sua experiência etnológica fundamenta uma importante elaboração e extensão do conceito de 'área cultural', conceito utilizado
pela primeira vez sistematicamente pelo artista americano Clark Vissler. É um método pelo qual os grupos sociais são
classificados de acordo com caracteres culturais semelhantes e marcados como 'áreas culturais'. A descoberta e o estudo de
certas relações - como entre a cultura material e o ambiente físico - são facilitados pelo uso dessa classificação. Em sua foto das
áreas culturais da América do Norte e do Sul, Kroeber superou qualquer outra coisa na pintura de relações específicas entre
cultura e etnologia.
Kroeber foi além do uso descritivo do conceito de 'área cultural' e o empregou para a 'compreensão histórica'.

O "climax"
Ele introduziu os conceitos de 'intensidade' e 'clímax' para descrever e avaliar os resultados e as influências dos grupos sociais
em diferentes partes de uma área cultural e para mostrar as relações entre áreas culturais. As culturas mais intensas são aquelas
ricas em características culturais nas quais as instituições e relações são mais precisamente definidas. O clímax de uma área
cultural é o 'centro'. 'Ou o' fogo ' das margens dessa área.
Os métodos estatísticos usadospor Kroeber para medir a 'intensificação cultural' são os métodos indutivos popularizados por
Boas e praticados sistematicamente pela primeira vez por Tylor. Podemos averiguar a extensão da intensificação cultural
contando o número de elementos culturais distintos de um grupo social - o maior número de elementos que corresponde ao
mais alto grau de especialização - ou podemos medi-lo mais 'subjetivamente' avaliando as formas de instituições às quais de
acordo com Kroeber, se daria um peso considerável como índices culturais sensíveis.

Particular e universal
Cada particular deve ser compreendidos no seu contexto dentro da totalidade à qual pertence.  Assim, ao mesmo tempo a
abordagem histórica — nas palavras de Kroeber -  protege os fenômenos, sem dissolve-los em leis e generalizações e coloca cada
fenômeno preservando-o numa relação de crescente contexto dentro do cosmos fenoménico (Kroeber 1952:123).   Ele especifica
a tarefa da antropologia social como preservação do dado etnográfico finalmente valorizado.
No entanto a antropologia social, segundo Radcliffe-Brown, possui também a tarefa de integrar teoricamente e sincronicamente
os dados etnográficos dispersos no mar da diacronia histórica.  Por último, para generalizar, deve-se primeiramente isolar cada
detalhe dentro do seu contexto a fim de que o fenómeno possa então ser subsumido sob formulações contextuais independentes.
Kroeber critica a compreensão da história de Radcliffe-Brown, que seria apenas uma classificação cronológica de particulares
isolados aguardando as atenções classificadoras e comparativas da teoria antropológica.
 

Origem do mito
Na obra do 1901: Explicação sobre causas e fenómenos empenhado a confutar as concepções evolucionistas de Frazer e Tylor,
Kroeber critica a teoria da origem do mito criado por processos psicológicos derivado de crenças originarias. O Mito era
explicado como resultado psicológico que os homens construíam para dar-se explicação sobre o porque de um dado fenômeno.
Quem constrói o mito interpreta e representa eventos históricos reais deformados em forma alegórica para reiterar princípios
éticos e religiosos. O Mito era vislumbrado como parte do facto religioso. Kroeber afirma que não se pode olhar para uma única
causalidade que origina o mito, mas trata-se de um aparelho maior e complexo. O mito da fundação de Mbanza Kongo não
explica todo o acontecimento histórico, mas serviu para estabelecer as fundações da cidade. Resumindo:
1)   teoria de mito como invenção alegórica e para fins pedagógicos e éticos
2)   as teorias são imprecisas a causa do seu raciocínio subjacente e a rigidez causal, o mito deve ser entendido na sua totalidade
e não nos seus aspectos individuais, o método para Kroeber é colocar o mito no contexto cultural em que se joga cada complexo
mítico e tem a sua comparação, cada um com sua própria história.
3)   As tradições de um povo são válidas enquanto tais. Portanto é impreciso dizer que o mito é
a.  interpretação distorcida dos acontecimentos históricos reais ou a
b.  invenção alegórica a fim ético e pedagógico

Antropologia histórica
 
Completamente familiarizado com os escritos da escola neo-Kantiana, Kroeber apela para uma antropologia que deveria ser
totalmente histórica e, portanto, ideográfica no segundo sentido.  Deve, em suma, atender às indicações em termos de valor e
significado que são atribuídas num segundo momento ao dado ideográfico, interpretando-o dentro de um contexto histórico e
diacrónico particular.
O contexto
Ainda nenhum particular — nenhuma coisa ou acontecimento — pode ter valor e significado em si, fora do contexto mais amplo
da sua ocorrência e contingência diacrónica e histórica. Cada particular deve ser compreendido no seu contexto dentro da
totalidade à qual pertence.  Assim, ao mesmo tempo a abordagem histórica — nas palavras de Kroeber - protege os fenômenos,
sem dissolve-los em leis e generalizações e coloca cada fenômeno preservando-o numa relação de crescente contexto dentro do
cosmos fenoménico (Kroeber 1952:123).

Tarefa da antropologia
Ele especifica a tarefa da antropologia social como preservação do dado etnográfico finalmente valorizado.
Antropologia social
No entanto a antropologia social, segundo Radcliffe-Brown, possui a tarefa de integrar teoricamente e sincronicamente os dados
etnográficos dispersos no mar da diacronia histórica. Por último, para generalizar, deve-se primeiro isolar cada detalhe dentro
do seu contexto a fim de que o fenómeno possa então ser submetido à formulações contextuais independentes. Kroeber critica a
compreensão da história de Radcliffe-Brown, que seria apenas uma classificação cronológica de particulares isolados
aguardando às atenções classificadoras e comparativas da teoria antropológica.

                                   aula 7 de Maio:
Bronislaw Malinowski
 

Método de
Malinowski
Vida
Malinowski nasceu em Cracóvia, Polônia, em 7 de abril de 1884. Seu pai pertencia à pequena nobreza latifundiária, mas exerceu
uma atividade acadêmica como professor de filologia eslava na Universidade Jagelloni, em Cracóvia. Malinowski fez seus
primeiros estudos na escola
Em contraste com o resto de sua vida, a infância de Malinowski foi uma infância solitária. Ele era filho único e seu pai morreu
quando ainda era criança. Naquela época, havia um apego entre mãe e filho que continuou ao longo da vida. Enquanto eles
foram separados da guerra, a mãe acompanhou Malinowski onde quer que ele fosse e o ajudou com carinho. Foi a partir de seus
lábios que ele aprendeu as primeiras noções de antropologia: ficou cego por um ano após uma cirurgia ocular logo no início de
sua carreira como antropólogo, foi sua mãe quem leu os textos. Ela morreu em 1918, quando era prisioneira de soldados russos
que haviam acampado na sua casa, foi uma tragédia por Malinowski.
Entrou na Universidade de Cracóvia, em 1908 e obteve uma licenciatura em física e matemática. A promissora carreira em física,
foi interrompida depois que Malinowski leu o livro de Frazer The Golden Bough (The Golden Bough).
Terminou a sua carreira como físico e tornou-se um fã da antropologia: 'Porque assim que eu comecei a ler esta grande obra',
escreveu Malinowski, 'imediatamente mergulhei nele e eu estava encantado ... e me dediquei a servir a antropologia»
Ao contrário de seu ídolo e mentor, Sir James Frazer, Malinowski não segue uma antropologia de bibliotecas. Após quatro anos
de estudos, pesquisas e escritos na London School of Economics, ele foi para a Austrália como secretário de uma expedição
financiada pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência. Os antropólogos que o apoiaram forma: CG Seligman, que
renunciou aos seus salários para que Malinowski podesse ser assumido no corpo docente da Escola de Londres de Economics.
Além das influências de Seligman e Frazer, deve-se lembrar de seus estudos com Westermarck, Rivers e Hobouse em Londres.
Em 1913 ele publicou seu primeiro livro, The Family, entre os aborígenes australianos.
Foi a infelicidade da guerra, no entanto, que deu à vida de Malinowski duas virtudes a flexibilidade e a determinação.
Durante a guerra, Malinowski ficou preso na Austrália, enquanto ele estava lá em vez de resignar-se a uma ociosidade forçada,
ele persuadiu o governo australiano a deixá-lo explorar o território durante seu internamento. Foi tão convincente que o governo
até lhe deu fundos para continuar seu trabalho.
Malinowski ficou seis anos na Austrália e fez três longas pesquisas, uma em Mailu (1915) e duas nas Ilhas Trobriand (1915-1916 e
1917-1918). A pesquisa de campo na Austrália foi a experiência fundamental que formou Malinowski. Ele viveu como indígena e
os nativos experimentaram diretamente as necessidades e os confortos da sua cultura. Depois dessa experiência insurgiu nele a
intolerância à antropologia acadêmica (baseada em reconstruções históricas, estudos de distribuição e outras investigações
indiretas) .
Malinowski se casou com Elsie Rosaline Masson em Melbourne em 1919, filha do conhecido professor de química Sir David
Masson. Eles deixaram a Austrália pouco depois do casamento e foram para as Ilhas Canárias para um ano de relaxamento e
trabalho pacífico. De fato, depois de receber a notícia da morte de sua mãe, Malinowski ficou seriamente doente.
Em 1921, o casal Malinowski, que entretanto tinha uma filha, mudou-se durante dois anos para Cassise, onde Malinowski
continuou os seus estudos e preparou o seu trabalho para a imprensa. Então eles compraram uma casa no Alto Adige na Itália e
daqui Malinowski ia para Londres periodicamente. Ele aceitou a posição de leitor de antropologia social na Universidade de
Londres em 1924 e a cadeira de antropologia na mesma universidade em 1927. A família, crescida com o nascimento de outras
duas filhas, mudou-se para Londres em 1929. Aqui Malinowski poderia estar mais perto de seus alunos e colegas e de participar,
á vida social ativa.
Malinowski visitou os Estados Unidos em 1926 e trabalhou durante o verão daquele ano na Universidade da Califórnia. Na
época da sua segunda visita (1933) como professor na Universidade de Cornell, ele já era famoso como professor, antropólogo e
cientista. Suas obras tinham sido traduzidas para meia dúzia de idiomas e alguns dos melhores antropólogos haviam se formado
com elas. Ele havia se tornado um palestrante popular de amplo apelo e havia interessado muitos antropólogos e muitos
cientistas em outras áreas da antropologia.
Em 1936 ele foi escolhido para representar a Universidade de Londres e a Academia Polonesa no terceiro centenário de Harvard.
Aqui ele foi aclamado como 'um antropólogo explorador que iniciou uma nova era no estudo dos costumes coletivos da raça
humana'. Embora pessoas famosas, como Sir Arthur Eddington, realizassem outras conferências ao mesmo tempo, uma
multidão enorme foi ouvi-lo.
De volta à Inglaterra em 1937, Malinowski adoeceu novamente e em 1938 ele foi para os Estados Unidos para passar suas férias
no Arizona. Quando Malinowski se preparava para retornar à Europa em 1939, a Segunda Guerra Mundial estourou. Ele decidiu
ficar nos Estados Unidos e teve um lugar na Faculdade de Yale. Em 1940 e 1941 ele estudou os zapoteca do México. Em 15 de
maio de 1942, Malinowski presidiu como presidente na abertura do Instituto Polonês de Artes e Ciências. Ele morreu
repentinamente de um ataque cardíaco no dia seguinte em sua casa em New Haven, Connecticut.
Malinowski não conhecia limites. Ele ignorou a divisão acadêmica do campo do comportamento humano nos departamentos de
antropologia, sociologia e psicologia, e mudou livremente de um setor para outro de acordo com as necessidades do problema.
No mesmo espírito, ele fez contato com seus sujeitos primitivos, livres de premissas intelectuais e emocionais sobre o que
constituía o modo correto de vida. Suas idéias sobre o comportamento individual e instituições e atividades culturais foram
limitadas a: Funciona? Como isso funciona? Por que isso funciona? Com eles fundou a escola ‘funcionalista’ e começou a
tradição de' observador, participante '.
Malinowski era um 'participante' por natureza. Ele estava à vontade no drama imprevisível dos encontros humanos. Sua casa
costumava ser tão cheia de estudantes, amigos, colegas de trabalho e estranhos que sua esposa alugava um alojamento fora de
Londres, onde ela poderia se refugiar periodicamente para escapar dessa confusão.
Se é geralmente verdade que o trabalho de um homem é sempre um certo tipo de expressão de sua personalidade, isso é
particularmente verdadeiro, para Malinowski. Ele era um homem de grande entusiasmo e sinceridade com reações fortes e
apaixonadas; Sua personalidade e seu trabalho sempre foram objeto de intensa controvérsia. Seu sucesso em estabelecer
relacionamentos com os nativos que estava estudando e em descobrir os seus pensamentos e sentimentos mais íntimos. O
sucesso das suas descrições etnográficas deve ser atribuído, em grande parte, à natureza extremamente sensível de Malinowski.
Sua curiosidade e senso humano foram dirigidos a todas as pessoas e foram tão espontâneos e intuitivos quanto analíticos. Seus
gostos e desgostos eram igualmente fortes e espontâneos. Ele tinha um grande talento em por a falar as pessoas. Malinowski
sempre evitava convicções sociais que o impediam de se comunicar abertamente com o povo e, embora em sua classe social ele
fosse chamado de excêntrico, essa liberdade contribuía indubitavelmente para ganhar a confiança daqueles que o interessavam.
Como observador, prestou particular atenção àquelas nuances do comportamento humano que podem escapar a um
pesquisador treinado e escrupuloso, mas menos dotado de sensibilidade, nuances que, no entanto, se revelam indispensáveis
para uma descrição minuciosa de um povo.
Para sua própria experiência, Malinowski estava ciente das razões ocultas que podem influenciar o comportamento humano e da
necessidade de identificá-las, e tentou fazê-lo em todas as suas relações pessoais e profissionais.
De acordo com Raymond Firth, um velho aluno, Malinowski freqüentemente se comportava assim: 'se a discussão chegasse a
um ponto crítico ele tinha uma maneira muito desconcertante de deixar de lado todas a emoções, e 'esticar' toda a questão sobre
a mesa para analisar seus motivos e os de seu interlocutor '.
Essa capacidade de análise objetiva e imparcial foi o foco dos dois extremos emocionais de Malinowski. Embora geralmente
alegre, espirituoso e otimista, às vezes ele estava sujeito a depressões profundas. Ele era sobrecarregado por doença e doença e
defendeu-se com dietas e exercícios. O pesadelo que mais o assustou era de acabar em um hospital.
A revolta de Malinowski contra a ortodoxia começou muito cedo. Sua mãe era católica e ele foi criado estritamente na tradição
católica.
Embora ele não pudesse aceitar nenhum tipo de religião formal, Malinowski sempre manteve a importância da religião na
sociedade. Em uma passagem afirma: 'A vida social sólida deve ser baseada em um sistema de valores puramente religiosos, ou
seja, um sistema que reflete a existência de uma ordem espiritual e moral.' Este tipo de 'inconsistência' 'era comum em
Malinowski.
O que era bom para a sociedade não era necessariamente bom para Malinowski. Como estudioso da sociedade, ele se
considerava livre desses imperativos culturais que impediam uma análise objetiva da sua sociedade.
Malinowski não somente desprezou os costumes e boas maneiras, mas ficou feliz em violá-los e há muitas anedotas sobre seu
comportamento excêntrico.
A partir dos relatos fragmentados da personalidade de Malinowski, obtém-se a impressão de um menino simples ou, diriam
alguns, associal: ele tinha grande energia e usava-o precipitadamente; ele estava intensamente curioso; ele poderia ser suave ou
azedo, de acordo com seus verdadeiros sentimentos; ele sabia como penetrar nos sentimentos ocultos dos outros. Essas
características, juntamente com um senso humano que, como Marett expressa, 'poderia abrir o caminho para o coração do
selvagem mais fechado', desempenharam um papel importante no seu lendário sucesso de pesquisa. Não sendo
indissoluvelmente ligado à sua própria cultura, Malinowski foi capaz, mais do que outros, de compreender as concepções,
atitudes e sentimentos daqueles que pertenciam a outra cultura. Parecia um verdadeiro cosmopolita.
Apesar da sensibilidade aguda, Malinowski não era sentimental nem poderia tolerar uma atitude ingênua e irrealista em relação
ao mundo.
Desprezava todas as tentativas que parassem na intuição e na fé, e embora muitas vezes suas próprias intuições levassem a
novas concepções e diretrizes frutíferas de investigação, ele sempre examinava escrupulosamente seu próprio trabalho e
métodos para eliminar a incerteza, a nebulosidade. e inconsistência. Ele uniu as qualidades do poeta com as do cientista; ou
melhor, as qualidades comumente atribuídas a esses tipos não são completamente diferentes.
Malinowski era um professor e professor muito popular. Sua influência como professor era pelo menos igual àquela exercida por
seus escritos. O sucesso obtido como professor deveu-se, em muitos aspectos, às mesmas características pessoais que lhe
permitiram resultados tão brilhantes na sua pesquisa. Ele tinha um grande entusiasmo pela antropologia e muitas vezes
defendia um ponto de vista geralmente controverso. Seus alunos frequentemente o descreviam como um gladiador que lutava
heroica e brilhantemente por um método, por uma ideia ou por uma interpretação nova ou impopular.
Segundo um de seus alunos favoritos, Audrey Richards, foi a intensidade de seu trabalho que mais impressionou os alunos.
Juntamente com a ingenuidade, Malinowski deplorou especialmente a intolerância ou indiferença ao trabalho duro e não
tolerava absolutamente que seus alunos não estudassem. Ele considerava os seus alunos como uma unidade, um grupo aos quais
dedicar todas as suas energias para resolver os problemas mais difíceis. Aqueles que não puderam ou não quiseram contribuir
ficaram de fora.
Foi fácil para Malinowski sentir um verdadeiro entusiasmo na frente de seus alunos porque ele ignorou o currículo das
disciplinas da universidade, e nas suas aulas só se estudava os problemas que o interessavam na época.
Essa prática pode ter levado a uma organicidade insuficiente na coleta de dados etnográficos, mas teve a grande vantagem de
introduzir diretamente os estudantes nos métodos e teorias da antropologia. Como sempre havia algo importante em jogo,
nessas aulas e nesses seminários o zelo de Malinowski era grande, embora imprevisível. Qualquer que fosse seu humor, ele
estava sempre aberto e provocativo. Audrey Richards lembra que os dois alunos estavam 'irritados com a intolerância dele ou
inspirados pelo entusiasmo dele ... eles nunca ficavam entediados'.
Malinowski preferiu o caráter não formal do seminário à formalidade das palestras públicas, embora fosse brilhante numas,
como noutros. Ele sempre procurava o 'problema geral' subjacente a cada investigação ou estudo e insistia que este deveria ser
descoberto numa 'situação humana fundamental'. Malinowski considerou esse 'coeficiente da realidade', como ele chamava
(segundo Firth), muito importante para entender a nossa própria sociedade. Era, este coeficiente a principal justificativa da
antropologia.
Os estudos funcionais de Malinowski sobre a cultura atraíram para seus seminários acadêmicos alunos de todo o mundo e de
muitas disciplinas. Administradores coloniais, leitores universitários e acadêmicos recém-formados sentavam-se lado a lado e
ouviram Malinowski em quatro ou cinco idiomas diferentes. Não havia barreiras linguísticas e pessoais à comunicação. 'Nele
não havia nada de desconcertante', ele imediatamente colocava todos à vontade .
Como palestrante, Malinowski conseguiu uma grande audiência para a antropologia. Kluckhohn, que faz sérias reservas sobre as
teorias fundamentais de Malinowski, admite que, graças a ele, 'milhares de pessoas em muitos países dedicavam-se com o
interesse à antropologia cujos métodos, intenções e resultados tornavam-se compreensíveis. ’Ele era um orador casual e
espirituoso, às vezes provocante, mas nunca chato '.

A personalidade
Para alguns, no entanto, especialmente entre os antropólogos profissionais, Malinowski não era uma figura tão grande e
empolgante. Kluckhohn disse que, para muitos, incluindo a maioria dos americanos antropólogos de profissão era acusado de
'capitalizar as noções óbvias' e propor como novas concepções pertencentes a outros antropólogos, por exemplo Boas.
No entanto, não há dúvida de que, como personalidade, Malinowski exerceu uma grande influência na história da antropologia.
Todo o seu trabalho - sua pesquisa direta, suas teorias, seus ensinamentos e seu alcance - refletiam a força de sua personalidade.
Já no início os interesses de Malinowski eram amplos e variados. A sua prática em química o serviu como uma introdução às
disciplinas da física, e ele nunca superou um certo desconforto pela multiplicidade de suposições e ilusões tão comuns nas
ciências sociais. Suas primeiras leituras antropológicas (especialmente as obras de Frazer) tiveram que ofender seu senso de
rigor, enquanto estimulavam nele o entusiasmo pela antropologia. Em Londres, ele se reuniu homens como Frazer, C. S.
Seligman, W. H. R. Rivers, Haddon, o príncipe Kropotkin, Havelock Ellis, Hobhouse e Marrett. Entre eles, ele foi
particularmente influenciado e estimulado por Westermarck, Seligman, Rivers e Haddon.

O funcionalismo de Durkheim
Malinowski ficou muito impressionado com o funcionalismo de Durkheim no estudo da sociedade, criticava ao sociólogo francês
e aos seus seguidores porque exageravam quanto à natureza social do homem e subestimavam as mudanças e inovação
individual. Ele tentou mudar o funcionalismo social de Durkheim com as teorias psicológicas de Pavlov, Wundt e, mais tarde,
Freud. Mas a ideia principal de Durkheim - de que por trás dos símbolos institucionalizados da sociedade deve-se sempre
procurar realidades culturais - tornou-se a marca do trabalho de Malinowski.

A psicanalise
O primeiro entusiasmo pelas teorias psicanalíticas de Freud, Rivers, Jung e Jones não durou muito tempo. Ele descobriu que
suas alegações eram exorbitantes e 'caóticas’ e sua terminologia 'complicada'. No entanto, ele se declarou em dívida com eles
pela 'teoria da mente dinâmica' e levou muito em conta seus estudos sobre a psicologia infantil e a 'história da vida'. Ele também
apreciava o tratamento sem escrupolos do sexo. É característico da receptividade de Malinowski que, embora permanecendo um
behaviorista, ele também usou extensivamente doutrinas psicanalíticas para grandes áreas de pesquisa. Segundo Kluckhohn,
Malinowski sabia traduzir de uma linguagem intelectual para outra com lucidez incomparável '. Estudos sobre a família e
parentesco, estudos que requerem a integração de diferentes teorias e diferentes métodos de investigação, se encaixam muito
bem com os interesses e habilidades de Malinowski.

Evolucionismo
Malinowski insistiu em relegar os métodos da antropologia evolutiva a um papel subordinado na análise da cultura. Os
processos culturais estão sujeitos a leis, mas as leis deviam ser buscadas 'na função dos elementos reais da cultura', não nas
'sobrevivências', nas quais os evolucionistas reconstroem os estados e processos da cultura.
Essa partida da teoria evolutiva não foi uma inovação de Malinowski. O funcionalismo tornou-se popular em muitos campos na
época de Malinowski e influenciou o trabalho de cientistas, estadistas, filósofos e artistas. O próprio Malinowski reconecta a
concepção funcionalista da cultura a Bastian e cita muitos nomes e 'escolas' que contribuíram para essa concepção. Entre eles
estão Tylor, Robertson Smith, Wundt, Frazer, Westermarck, Marett, Boas, Wissler, Kroeber, Lowie, Radin, Sapir, Benedict e
sociólogos franceses. Mas só reconhece W. Hoernle, Radcliffe-Brown e R. Thurnwald o mérito de ter aplicado o método
funcional sistemática e exclusivamente à pesquisa etnológica.

Estudo integral da cultura


Embora seu funcionalismo possa ter derivado de outros, Malinowski foi certamente o único que tornou o estudo integral da
cultura um método fundamental da antropologia. O excepcionalmente longo período de tempo que ele gastou nas Ilhas
Trobriand, vivendo como um nativo, o convenceu de que a cultura só podia ser compreendida através de um conhecimento
profundo de como o indivíduo experimentava o seu ambiente cultural.
A metodologia de Malinowski foi baseada na crença de que existiam as 'leis científicas da cultura.' É essencial em uma teoria
científica que os pressupostos sejam explicitados e que sejam fácilmente refutaveis com provas e análise plausível. Malinowski
sempre tentou definir a sua teorias para responder a essas necessidades.

O método comparativo
Embora ele tenha definido a antropologia como a 'ciência comparada das culturas', Malinowski frequentemente criticou o uso
do método comparativo feito pelos antropólogos evolucionistas, em particular, ele criticou o conceito de sobrevivência que teve
um papel tão importante na reconstrução da evolução.

As sobrevivências
Ele não podia aceitar a ideia segundo a qual uma instituição podesse perder a sua função e sublinha o facto de que as chamadas
sobrevivencias desaparecem logo que se aprofunde o conhecimento de uma sociedade e do contexto cultural específico de uma
determinada instituição. Em uma típica polêmica, Malinowski indica como as 'Sobrevivencias’ podem induzir em erro.
Malinowski tinha em comum com Tylor o medo de que a antropologia se tornasse uma coleção de 'exotismo bárbaro' e insistiu
em que emergisse da sua 'Erodotagem’ (de Heródoto) e da sua 'anedótica'. Mas, ao contrário de Tylor, Malinowski temia que a
excessiva confiança nas sobrevivencias ajudasse a elaborar uma concepção errônea das sociedades primitivas. A sociedade de
Malinowski, era constituída por um corpo de instituições ligadas às necessidades reais da adaptação do homem, e é o estudo
dessas instituições - sistemas econômicos e políticos, educação, direito, religião, ciência, organização familiar - e a relação que
liga o indivíduo a essas instituições que devem ter precedência sobre a reconstrução histórica, tanto pelos evolucionistas quanto
pelos difusionistas.
Embora admitindo que reconstruções evolutivas controladas e circunscritas e hipóteses difusionistas podessem ser úteis como
empreendimentos secundários, Malinowski se opunha claramente aos chamados estudos do 'espírito tribal'.

Crítica ao particularismo
histórico
Ele criticou Boas e seus alunos, por exemplo. Ruth Benedict, porque eles apoiaram um conceito de cultura tão geral e vago que
tornava impossível qualquer tipo de avaliação científica. Malinowski não desceu a compromissos neste seu ataque: 'Eu já disse
muitas vezes que não é permitido esconder a própria incapacidade de tratar certos factos com etiquetas místicas como 'o espírito
da cultura' ou descrever este 'espírito' como apolíneo, dionisíaco, megalomaníaco ou histérico. 'E em outro ponto:' Poderiamos
ter a sensação que seria melhor pintar os guerreiros Masai a tintas exageradas, de modo a destacar o espírito violento e
licencioso daquela cultura. '

O funcionalismo
A crítica de Malinowski aos evolucionistas, difusionistas, aos que propunham modelos culturais e outros deve ser vista no
quadro geral da sua cruzada em favor do funcionalismo individual na antropologia. Malinowski foi um 'advogado': era
exagerado em sublinhar as fraquezas das escolas opostas e negligenciou ou minimizou as suas contribuições. É mais importante
considerar as suas concepções positivas, do que tomar em consideração a crítica que ele moveu às escolas concorrentes. Pois foi
excessivo e às vezes infeliz.
Em muitas passagens, Malinowski definiu o método funcionalista. Uma das definições mais claras é a seguinte: 'a concepção
funcionalista da cultura se baseia no princípio de que cada tipo de civilização, todos os trajes, todos os objetos materiais, todas
as idéias, todas as crenças cumprem certas funções vitais, desenvolvem algumas tarefas em cumprir e desempenhar um papel
indispensável no contexto de um todo operante '. De acordo com Malinowski, o funcionalismo está principalmente preocupado
com as realizações atuais da cultura humana e não com as 'reconstruções ambiciosas, mas questionáveis, do passado'.

Necessidades
As leis culturais - as, relações que existem entre as necessidades individuais e as instituições sociais - podem ser descobertas
apenas através de um estudo comparativo de culturas, um estudo em que o indivíduo é considerado nas suas adaptações diárias,
físicas e mentais. O credo e as advertências de Malinowski eram 'nunca esquecer o organismo humano em carne e ossos, vivo e
palpitante, que está no centro de toda instituição'. A história de uma instituição, a sua forma, distribuição, evolução e difusão -
todos esses problemas são de importância secundária. As questões importantes são: como uma instituição funciona agora?
Como ela atende às necessidades individuais e culturais de uma dada sociedade e como ela está vinculada a outras instituições?
Malinowski define o funcionalismo mais especificamente como 'a teoria da transformação das necessidades orgânicas - isto é,
individuais - em necessidades e derivações culturais'. A sociedade, governando coletivamente o aparato condicionador, molda a
personalidade cultural do indivíduo 'O indivíduo humano tem certas necessidades fisiológicas básicas que exigem respostas
coletivas e organizadas dos membros de uma determinada sociedade. Essas necessidades incluem comida, abrigo, segurança,
descanso e movimento, crescimento e reprodução. As respostas organizadas a estes 'imperativos primários' - o a procura de
alimentos para nutrição, abrigo e vestes para o conforto do corpo, as organizações de proteção para segurança, o casamento e
família para reprodução - representam outra ordem derivada de condições com o quais membros da sociedade entram em
contato.
A aquisição de alimentos, por exemplo, requer um sistema econômico mais ou menos complicado, no qual a produção, o
processamento, a troca e a distribuição de alimentos são regidos por certas regras sociais; A procura de um abrigo adequado
requer um esforço cooperativo e um acordo sobre a produção, manutenção e tipo de casa; o csamento e a procriação devem ser
regidas por regras sociais que definem os direitos e obrigações internas de pessoas com vínculos recíprocos e aquelas externas
aos demais membros da comunidade, etc. Assim, as grandes instituições da sociedade - econômicas, políticas, legais,
educacionais e sociais - são consideradas por Malinowski como respostas ao problema da adaptação, reações coletivas mais ou
menos direcionadas às necessidades fisiológicas básicas do homem.
Existe uma terceira ordem de imperativos, os 'imperativos integrativos' ou 'sintéticos', que derivam da criação de sistemas
científicos, mágicos, míticos, religiosos e artísticos. Mesmo estes podem estar ligados, embora menos diretamente, às
necessidades orgânicas do homem. Entre todas as criaturas vivas só o homem sabe acumular experiências, refletir sobre elas e
usá-las para prever o futuro. Essas habilidades tornam o homem um herói trágico: eles colocam cada geração diante de novas
possibilidades e novas oportunidades, mas também revelam a relativa impotência do homem e o abandonam enquanto ele se
esforça para alcançar mais do que ele pode racionalmente esperar obter.

Ciência, Mito, Religião e Arte


Sistemas de conhecimento, tais como, a ciência, serve para organizar e integrar as atividades humanas, de modo que, graças ao
uso sábio da experiência passada, o presente e o futuro possam ser mais bem utilizados para as necessidades humanas. A lacuna
entre o conhecimento e as possibilidades humanas causa angústia e hesitação, e neste ponto pode ser usada como um substituto
para sistemas racionais, a magia que dá ao homem a coragem de agir, mesmo sem conhecimento perfeito. O mito reforça a
tradição social, dotando-a de um começo assustador e glorificado. Assim, promove, suporta e integra um comportamento social
adequado. A religião promove segurança individual e coesão social, santificando a vida humana e fazendo contratos públicos
(com dogmas e ritos) contratos de cooperação social. Malinowski considera a arte como algo que satisfaz 'a necessidade do
organismo humano de combinar diferentes impressões sensoriais' tanto com ritmos de movimentos físicos como com uma
mistura de tons, cores e formas.

Necessidades biológicas
Malinowski acreditava que o seu funcionalismo se destacasse de outras teorias sociais por causa da ênfase dada às necessidades
físicas básicas. As raízes dos aspectos intelectuais, emocionais e estéticos do comportamento humano - a 'extremidade superior'
das atividades humanas, o principal interesse da maioria dos estudiosos - devem ser buscadas nas necessidades fisiológicas do
homem.
Imperativos sociais ou culturais, tanto na forma de prescrições morais e legais, ritos religiosos, normas econômicas e costumes,
quanto no gosto estético, são uma reinterpretação de impulsos orgânicos. Eles devem moldar as motivações do indivíduo para
que seu comportamento, sem saber, satisfaça as condições de sobrevivência e harmonia cultural. Malinowski afirma a este
respeito (em oposição a Frazer) que 'os propósitos sociológicos não estão presentes nas mentes dos nativos e nunca poderia
haver uma legislação tribal em larga escala'.
É tarefa do antropólogo descobrir as funções específicas dos elementos de uma determinada cultura dentro do esquema geral
descrito acima. A famosa pesquisa de campo de Malinowski queria alcançar esse objetivo.

Método da observação
participante
Malinowski foi o primeiro pesquisador a explicar e divulgar o método da observação participante de uma comunidade primitiva,
um método que permitiu deixar para trás os seus valores culturais .
O objetivo de qualquer investigação no campo, de acordo com Malinowski é 'compreender o ponto de vista do nativo, a sua
relação com a vida e perceber como ele vê o seu mundo', ou, como ele muitas vezes afirma, «entrar na pele do indígena». Se por
um lado deve banir toda idéia preconcebida de como uma cultura deve ou deveria trabalhar, é necessário, por outro lado que o
investigador tenha algum esquema teórico positivo pelo qual' ofuscar 'os problemas. Para Malinowski este era funcionalismo.
Malinowski divide a pesquisa científica do campo em três áreas:
1) A organização da tribo e a anatomia da sua cultura devem ser fixadas num esquema claro e bem fundamentado. O método de
documentação estatística concreta é o meio pelo qual tal esquema pode ser obtido.
2) Neste sentido se deve inserir os imprevistos da vida presente e o tipo de comportamento. Devem ser recolhidos com
minuciosas e detalhadas observações, numa espécie de diário etnográfico, possibilitado pelo contato íntimo com a vida dos
nativos.
3) Devemos apresentar uma coleção de relações etnográficas, de histórias características, de expressões típicas, de elementos do
folclore, de fórmulas mágicas, como o corpus inscriptionum, como documentos da mentalidade indígena.

Doutrina do observador
participante
Estas três categorias correspondem no esquema ao funcionalismo de Malinowski: 1) para a rotina prescrita pelo costume e
tradição, 2) para a maneira em que é realizado, 3) e para as observações sobre como eles surgem na mente dos indígenas.
Malinowski insistiu na documentação estatística concreta porque nele viu o método para obter toda esta informação, evitando o
procedimento da entrevista elaborada e do intérprete indígena. Para obter uma imagem completa, o pesquisador deve aprender
a língua, conviver com as pessoas, compartilhar suas refeições e seus costumes e aprender o máximo possível para sentir e
pensar como elas.
Esta é a doutrina do 'observador participante'. Para Malinowski, uma viagem no campo tinha que representar uma experiência
pessoal profunda. Para ele, o estudo de uma cultura era uma fonte de intensa satisfação pessoal e não uma simples satisfação da
curiosidade científica. Ele diz: 'estudar instituições, costumes e normas ou estudar comportamento e mentalidade sem o desejo
subjetivo de sentir o que essas pessoas estão experimentando e imaginar a essência de sua felicidade - significa, na minha
opinião, renunciar à maior recompensa que se pode esperar do estudo do homem '.
A justificativa desse método não se baseia na satisfação pessoal que dá ao observador, mas no fato de ser o único que permite o
conhecimento íntimo de um povo.
Ele estava convencido de que as leis culturais existiam e que descobri-las era a principal tarefa do antropólogo. Essa tarefa exigia
algo mais que uma participação sensível e intuitiva, exigia o paciente e a coleta completa e o registro de enormes massas de
detalhes etnográficos, tudo de acordo com um sistema ditado por considerações teóricas. Os relatórios e livros de Malinowski,
com todos os mapas, documentos, fotografias e casos históricos anexados a eles, não esgotam a massa de material sobre a qual
foram construídos. Muito deste material nunca foi publicado.
A pesquisa de campo de Malinowski foi limitada às ilhas Trobriand, que ele estudou mais ou menos intensivamente por seis
anos. Embora criticado como 'alguém que se encontra à margem da etnografia' (Lowie) e como alguém que tem apenas um
conhecimento superficial de outros dados etnológicos (Kluckhohn), os métodos de pesquisa que Malinowski praticou e
disseminou têm valor universal e são amplamente adotado, graças sobretudo à sua influência.

Teoria geral da cultura


Antes de analisar as concepções e teorias específicas de Malinowski sobre religião, magia, mito e família, precisamos falar
novamente sobre sua teoria geral da cultura.
Para promover a análise funcional da sociedade, Malinowski achou necessário definir e distinguir os vários elementos sociais. É
verdade, como observamos, que outros pesquisadores empregaram, em diferentes graus em seus estudos, uma orientação
funcional, mas deve-se notar que Malinowski foi o primeiro antropólogo a formular consciente e explicitamente uma base
teórica para a antropologia funcionalista. .
Ele define a cultura como aquela 'realidade instrumental que veio a existir para satisfazer as necessidades humanas muito além
de qualquer adaptação direta ao meio ambiente'. Uma cultura pode ser decomposta em instituições, que são definidas como 'um
grupo de pessoas unidas por uma ou mais tarefas comuns relacionadas a um determinado setor do meio ambiente, que lidam
com algum aparato técnico e obedecem a um sistema de regras'.

                                   aula 17 de Maio:
Ruth Benedict
 

Método: Ruth Benedict


Ruth Benedict e o conceito de modelo cultural
 
1. O conceito de modelo cultural (padrão de cultura)
 
Em seu livro Modelos de Cultura (1934), Ruth Benedict enfatiza a importância da cultura versus a biologia como determinante
do comportamento individual. Para Benedict, o que explica as diferenças entre grupos humanos é a influência da cultura.  Ela
compara os modos de vida de três sociedades muito diferentes da sociedade americana: zuñi, dobu e kwakiutl
(kwakwaka'wakw). Os padrões culturais (padrões de cultura) são para Benedict configurações ou complexos de elementos
culturais.
'O que realmente une os homens é a sua cultura, as idéias e os padrões que eles têm em comum'
'Uma cultura, como o indivíduo, é um padrão mais ou menos consistente de pensamento e ação' (Benedict 1934: 16).
 
Para Ruth Benedict a cultura é o conjunto (ou configuração) de conhecimento, crenças, valores, atitudes e emoções que
caracterizam uma sociedade. Não é uma mera acumulação de traços culturais. As culturas têm forma, que se constituem em
padrões. Cada cultura é um todo e está integrada.
'Se estamos interessados nos processos culturais, a única maneira de conhecer a importância do detalhe de comportamento
selecionado é contrastá-lo com os motivos, emoções e valores provenientes doutros contextos e institucionaliza-los em cultura'
(Benedict 1934:49.181).
 
Benedict atribui características psicológicas à cultura, da qual muitas vezes ela fala como o temperamento ou a personalidade de
um povo, retomando o conceito de 'espírito' (Geist) de um povo que já tinha sido empregue por autores como Bastian ou Boas. A
cultura pode ser entendida como um sistema de crenças que possui e fornece coerência interna.
Gestalt
Benedict toma a noção de configuração da psicologia da Gestalt.
'Os psicólogos da Gestalt nos mostraram que, no sentido da percepção mais simples, nenhuma análise das percepções separadas
pode ser considerada como a experiência total. Não basta dividir as percepções em fragmentos objetivos. A estrutura subjetiva,
as formas dadas pela experiência passada, são cruciais e não podem ser omitidas (Benedict 1934: 51/182).
 
De acordo com a psicologia da Gestalt, os indivíduos não experimentam sensações simples e, em seguida, combinam-nas para
formar sensações mais complexas, mas percebem diretamente configurações complexas como todo. A mente do indivíduo é
ativa e, antes de um estímulo externo, busca significados. O indivíduo interpreta os estímulos sensoriais como parte de modelos
ou configurações mentais para dar-lhes significado.
Extrapolando essas idéias para a antropologia, Benedict argumenta que cada cultura deve ser entendida como um todo
integrado. As culturas (...) são mais do que a soma de suas características.
Podemos saber tudo sobre a distribuição das formas de casamento em uma tribo, danças rituais e iniciações na puberdade, e
ainda não entendermos nada sobre a cultura como um todo que tenha usado esses elementos para esse propósito (Benedict
1934: 47/179).
 
A cultura modela o caráter dos indivíduos em uma sociedade, mas eles geralmente não estão conscientes de como isso acontece.
O conhecimento cultural é implícito, os indivíduos muitas vezes não possuem teorias para explicar o que a sua cultura consiste.
'Os diferentes comportamentos relacionados a ganhar vida, acasalar, estar em guerra e adorar os deuses, são transformados em
padrões consistentes de acordo com os cânones inconscientes de escolha que se desenrolam na cultura'.(Benedict 1934: 48/180)
Os modelos culturais explicam por que os membros de uma sociedade se comportam de forma característica. Isto é o que Ruth
Benedict tenta mostrar através de diferentes casos etnográficos.

2. Casos etnográficos: Zuni


Benedict compara no seu livro as culturas de três sociedades muito diferentes: a dos índios Zuñi, que ela mesma estudou
(embora seu material etnográfico não tenha sido particularmente relevante); a dos nativos de Dobu, uma ilha localizada a leste
da Nova Guiné, que havia estudado Reo Fortune; e o Kwakwaka'wakw da costa noroeste canadense, que havia documentado
Boas com a ajuda de George Hunt.  De facto, Ruth Benedict amplia a comparação em seu livro para uma quarta sociedade, a dos
leitores a quem seu trabalho foi dirigido no momento da publicação: os americanos dos Estados Unidos. Benedict realiza a
comparação dessas sociedades usando uma tipologia conceptual dicotômica do temperamento humano, emprestando de
Nietzsche, em particular de seu trabalho The Birth of Tragedy (1872).
Seguindo Nietzsche, Benedict considera que a ampla gama de configurações culturais que podem ser observadas no mundo
oscila entre duas categorias: o caráter apolíneo e o temperamento dionisíaco.
'O dionisíaco busca [os valores da existência] pela' aniquilação dos limites e limites da existência '; tenta escapar em seus
momentos mais valiosos dos limites impostos por seus cinco sentidos para entrar numa outra ordem a de experiência. A
analogia mais próxima com as emoções que ele procura é a embriaguez, e ele valoriza as iluminações do frenesi. O apolíneo
desconfia de tudo isso e muitas vezes tem pouco conhecimento da natureza de tais experiências. Ele permanece no meio da
estrada, permanece dentro do mapa conhecido, não entra em estados mentais perturbadores.
(Benedict 1934: 78-9).
 
Os Zuni eram, segundo Benedict, apolíticos, algo que contrastava com o caráter apaixonadamente dionisíaco da maioria das
culturas indianas nativas americanas. 'Os Zuni são pessoas cerimoniais, pessoas que valorizam a sobriedade e a inofensividade
sobre todas as outras virtudes. Seu interesse é focado na vida cerimonial rica e complexa do grupo. Seus cultos dos deuses
mascarados, da cultura, do sol, dos fetiches sagrados, da guerra e dos mortos, são o corpus ritual formal e bem estabelecido com
seus respectivos sacerdotes oficiantes e observâncias festivas.
(Benedict 1934: 59-60).

Os Dobu

A segunda cultura que Benedict examina é a dobu, para a qual ela usa a monografia de Reo Fortune que escreveu sobre: Sorceres
de Dobu (1932). Neste artigo, a Fortune descreve Dobu com uma personalidade paranóica, obcecada com a magia negra - uma
interpretação que recentemente foi questionada por Susan Kuehling em seu livro Dobu: Ética da troca na ilha de Massim, Papua
Nova Guiné (2005).  Benedict segue fielmente a descrição de Fortune sobre o Dobu.
 
'O dobu (...) é severo, rude e apaixonado, é consumido pelo ciúme, suspeita e ressentimento. Em qualquer momento de
prosperidade, ele imagina-se ter sido arrancado de um mundo malicioso através de um conflito no qual ele derrotou o oponente.
O bom homem é aquele que tem muitos desses conflitos para o seu crédito, como pode ser visto pelo fato de ele ter sobrevivido
prosperamente. Presume-se que ele roubou, matou crianças e seus associados mais próximos através da feitiçaria, enganou o
máximo que pôde. Como vimos, o roubo e o adultério são objeto de encantos valiosos dos homens meritórios da comunidade.
Um dos homens mais respeitados da ilha deu ao Dr. Fortune um feitiço para se tornar invisível com a seguinte recomendação:
«Agora podes ir às lojas em Sydney, roubar o que desejas e sair sem ser visto. Eu roubei muitos porco alheios muitas vezes.
Entrei no grupo sem ser visto. Eu saí sem ser visto com o porco. A magia e a feitiçaria não são, de modo algum, criminosas.  Um
homem auto-respeitado não pode existir sem eles.
(Benedict 1934: 168-9).

 
Os Kwakiutl

A última cultura que ele examina é a do Kwakiutl (kwakwaka'wakw). Para isso, ela usa o extenso banco de dados etnográfico
compilado por George Hunt e Boas. Os Kwakiutl são para Benedict o paradigma de uma cultura dionisíaca. As danças Kwakiutl
são, em sua opinião, um claro exemplo dos excessos de Dioníssiaca da sua cultura.
'Em suas cerimônias religiosas, o propósito final que eles perseguiram era o êxtase. O principal dançarino, pelo menos no auge
de seu desempenho, teve que perder o controle de si mesmo e ser absorvido em outro estado de existência. Ele deve espirrar
através de sua boca, agitar violentamente e anormalmente, realizar atos que em um estado normal seriam considerados
terríveis.
Alguns dos dançarinos estavam amarrados com quatro cordas, que seguradas pelos atendentes para que não pudessem causar
danos irreparáveis durante o seu frenesi. (Benedict 1934: 175-6).
 
3. Conflito entre o indivíduo e a cultura
 
Benedict dedica o capítulo final de Patterns of Culture ao conflito que às vezes ocorre entre a personalidade do indivíduo e os
valores de sua cultura. Embora o mais comum seja que os indivíduos se adaptem ao modelo de sua cultura, chegando a vê-lo
como o mais apropriado, também há pessoas que se desviam disso. O desvio é algo que depende do modelo cultural e não da
pessoa.
Zuni que tem um comportamento dionisíaco perto do dobu será visto como desviante em sua cultura, enquanto o mesmo
ocorrerá entre o dobu com aqueles que mostram um temperamento mais apolíneo.
'As tribos que descrevemos todos têm seus indivíduos' não-participantes 'anormais. O indivíduo totalmente desorientado em
Dobu era um homem amigo por natureza e acreditava que essa atividade era um fim em si mesmo.  Ele era um sujeito honesto
que não tentava derrotar ou punir seus colegas.(Benedict 1934: 25.
 
Na abordagem da cultura de Ruth, não apenas os modelos culturais são relativos, mas também o seu desvio. Desta forma,
Benedict é um dos primeiros antropólogos que levanta o assunto das relações entre cultura e personalidade.
4. Benedict como autor
Clifford Geertz aponta em O Antropólogo como autor (1989) que a estratégia retórica em que depende o estilo retórico de
Benedict é a sátira:
 
'A justaposição do perfeitamente familiar e selvagem, exótico, para que ambos mudem de lugar. No seu trabalho (...), o
culturalmente próximo torna-se estranho e arbitrário, e o que é culturalmente distante é apresentado como lógico e natural.
Nossos modos de vida se tornam costumes estranhos de pessoas estranhas, enquanto os habitantes de terras distantes, reais ou
imaginárias, demonstram que os costumes são perfeitamente esperados nas circunstâncias. (Geertz 1989: 115).
Segundo Geertz, o sucesso de Ruth era de aperfeiçoar o gênero etnográfico edificante, uma antropologia orientada para a
melhoria, através de um estilo narrativo simples, mas ao mesmo tempo muito persuasivo e convincente.
'A forma literária de [Padrões da Cultura] é tão simples, tão compacta e tão delicadamente delineada, que é impossível esquecê-
la. Conjunção de um esquema descritivo triádico (três culturas tribais perfeitamente opostas), uma tipologia conceitual
dicotômica (dois tipos radicalmente diferentes de temperamento humano) e uma metáfora unitária dominante (estilos de vida
alternativos escolhidos entre uma 'gama' de possibilidades universal)
sua composição dificilmente poderia ser mais elementar, nem sua estrutura mais aberta '. (Geertz 1989: 120).
Nem o trabalho de campo - que ela não fez nem a elegância teórica - em que ela não parecia estar muito interessada - são as
chaves da 'autoridade' etnográfica de Benedict. O segredo é, segundo Geertz, o seu estilo retórico, com o qual ela conseguiu criar
um ser imaginário em mundos culturais impossíveis, apesar da profusão de detalhes etnográficos com os quais foram descritos.
Sua tendência para integração e generalização conduziu Ruth Benedict a elaborare uma concepção orgânica da cultura. Pois a
lista e a análise das características culturais eram de pouca utilidade na tentativa de explicar a cultura. Juntamente com os
funcionalistas, como Malinowski, ela insistiu na necessidade de estudar as culturas como totalidades mais ou menos orgânicas.
Mas enquanto Malinowski começou pelo indivíduo e acredita que os fenômenos culturais têm suas raízes por necessidades
individuais, Ruth Benedict partiva das 'configurações culturais' e comportamento individual considerado, em grande parte como
uma adesão a certos imperativos culturais.
De acordo com Benedict, as sociedades em geral têm uma 'tendência dominante' que tende a apresentar certas situações
humanas recorrentes - nascimento, morte e a necessidade de alimento e abrigo - de acordo com a inclinação da pessoa. As
culturas, apresentam-se com performance opostas que Ruth Benedict resume sob os termos nietzschianos: dionisíaco (as
culturas indias das planícies) e Apolíneo (aquelas do Sul-Oeste)
1) o modelo dionisiáco é caracterizado pela agitação e e pelo excesso,
2) O modelo Apolíneo marcado pela medida e pela ordem, pelas práticas religiosas, pela guerra e o sexo em ambas as culturas
fingir para fornecer oportunidades para entrar em suas tendências culturais Assim, o significado e função dessas características
são diferente nas duas culturas;. a variabilidade de qualquer traço cultural é 'quase infinito', segundo Ruth Benedict a
interpretação funcional das culturas poderia ser dada, mas nunca da cultura. Na verdade, nunca pode haver uma ciência da
cultura, no seu modo de ver, embora ela não admita isso. Se houver uma mudança 'quase infinita’ não pode haver explicação
científica: esta é a principal implicação do relativismo cultural radical de Benedict Ruth, e nisto pode ser conectado diretamente
ao seu mestre Boas.
O primeiro trabalho de Benedict pode ser visto como um esforço generoso em favor da concepção de relativismo cultural. Ela
insiste que a liberdade individual pode ser mínima, mas há uma liberdade cultural ilimitada. Ela escreve:
«Parece-me que pode haver culturas construídas solidamente e harmoniosamente em miragens, medo ou complexo de
inferioridade, tais que se possam induzir a hipocrisia e reivindicações».
Para Ruth Benedict é sempre possível indicar uma situação cultural existente ou possível onde os os que pertencem a qualquer
cultura se sintam à vontade. Embora esta conclusão não tem valor prático para qualquer ser humano em contradição com a
sociedade a que pertence, para Benedict parecia reconfortante que eles soubesses que em situações culturais apropriados seu
comportamento teria sido apreciada.

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