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Eurico Fernando Sande Nael

A Religião Tradicional em África: Uma perspectiva ao Culto dos Antepassados, a


Crença na Magia e na Feitiçaria

Universidade Rovuma
Nampula
2021

Eurico Fernando Sande Nael


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A Religião Tradicional em África: Uma perspectiva ao Culto dos Antepassados, a


Crença na Magia e na Feitiçaria

Trabalho individual e de carácter avaliativo, da cadeira


de Antropologia cultural de Moçambique, 2° Ano do
curso de Licenciatura em Gestão de Recursos
Humanos.

Docente: Dr Sergio Taibo

Universidade Rovuma
Nampula
2021

Índice
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1. Introdução...............................................................................................................................4

2. Objectivo Geral.......................................................................................................................5

2.1. Objectivos Específicos.........................................................................................................5

3. O papel do adivinho................................................................................................................5

4. Feitiçaria.................................................................................................................................5

5. O culto dos antepassados........................................................................................................6

5.1. A cerimónia de recordação dos defuntos.............................................................................7

5.2. A cerimónia de sacrifício.....................................................................................................7

Conclusão....................................................................................................................................8

Bibliográficas..............................................................................................................................9
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1. Introdução

O estudo trás uma abordagem sobre a Religião Tradicional em África numa perspectiva ao
culto dos antepassados, a crença na magia e na feitiçaria. Importa referir que na África, assim
como no mundo todo, a religião está presente em todos os povos e culturas de todos os
tempos e lugares. No entanto o culto dos antepassados a crença na magia e a feitiçaria se
mantêm como uma das mais poderosas retóricas da cultura política africana.
Os antepassados ocupam uma posição especial. Eles não são os mais poderosos, mas são, na
grande maioria das sociedades africanas, mais amados e respeitados. O mundo dos
antepassados é entendido como contínuo e análogo ao dos vivos, e as interacções entre os dois
reinos são, por avaliação comum, base regular do dia-a-dia. Nesta configuração, os ancestrais
podem ser chamados de guardiões extramundanos da moralidade, toda a sua preocupação é
cuidar dos assuntos dos membros vivos de suas famílias, recompensando a conduta correta e
punindo o seu oposto, com justiça inquestionável, ao mesmo tempo em que, em todos os
momentos, trabalham para o bem-estar deles. É por esse motivo que os antepassados são tão
venerados.
Por outro lado a crença pela magia e feitiçaria é visto como o meio no qual as pessoas irão
depositar suas esperanças na busca de explicar as questões sociais e/ou ascender
economicamente ou seja é o modo mais comum de alcançar sucesso, riqueza e prestígio em
épocas de declínio económico e escassas oportunidades de promoção social num continente
marcado por profundas desigualdades sociais e económicas. No espaço doméstico, os
conflitos familiares e sociais cristalizam-se constantemente em torno de acusações de
feitiçaria, sobretudo quando ocorrem mortes inexplicáveis ou desastres pessoais. Permeando
todo o espectro social e cultural, a feitiçaria destaca-se até os dias de hoje como uma força
ambivalente que ajuda a promover o bem estar individual ou colectiva da sociedade actuando
simultaneamente como mecanismo de controle das diferenças sociais.
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2. Objectivo Geral

 Descrever como decorre na religião tradicional africana os cultos aos antepassados, a


magia e feitiçaria

2.1. Objectivos Específicos

 Descrever os procedimentos efectuados para reverenciar os antepassados;


 Verificar como sucede a magia e feitiçaria em áfrica;
 Analisar efectivamente de que forma estas crenças influenciam na vida da sociedade
africana.

3. O papel do adivinho

Entre os vários papéis dos agentes religiosos africanos estava a figura do adivinho, de real
importância para o equilíbrio harmónico da comunidade africana. Realizavam uma variedade
de actividades ritualísticas para invocar os espíritos ancestrais, fazendo a intercomunicação
entre o mundo dos vivos e dos além-túmulos. Medianeiro entre os dois mundos, poderia ele
predizer acontecimentos passados e futuros, descobrir culpados por ilícitos, causas de
doenças, feitiços, e actuar na pacificação das sociedades africanas, referente ao seu equilíbrio
e harmonia interna. Na intercomunicação entre os dois mundos, a revelação deveria ser
legitimada pela sociedade, ou seja, o adivinho fazia as revelações, mas a interpretação dela era
deixada para a visão da comunidade; a actuação do adivinho era vista, geralmente, como “um
serviço social”, como ponto principal para uma sociedade equilibrada e pacífica “mágico-
religioso” poderia fazer contactos com os mortos, os antepassados, e obter orientações,
respostas para as dificuldades de vida real. MBITI, (1990)

4. Feitiçaria

No contexto das religiões, o feitiço implica a personificação de objectos materiais, a crença


em um poder sobrenatural que actua para que determinada coisa aconteça, além de práticas
determinadas. O feiticeiro é quem faz o feitiço, o manipulador de forças sobrenaturais. São
diversas as formas sob as quais os fetiches aparecem, seja para alcançar sucesso, riqueza e
prestígio em épocas de declínio económico e escassas oportunidades de promoção social,
doença, todo flagelo e toda adversidade. MBITI, (1990)
Os símbolos e rituais dotam a comunidade de uma força e protecção especiais frente à
adversidade da vida diária; seu objectivo principal é preservar a “vida boa. A prática do mal
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era apenas um componente do que deve ser entendido como um pacote de forças religiosas
ocultas. Em muitas sociedade africanas, não havia nenhum diferencial que distinguisse os
bons rituais dos rituais malévolos. Os rituais e simbolismos empregados eram os mesmos para
o bem e o mal; a diferença estava na finalidade ao qual se destinavam. As forças poderiam ser
usadas para uma variedade de actuações positivas, adivinhações, curas, fertilidade, auxílio
com o gado, colheitas, sempre visando restabelecer a harmonia, seja no plano individualizado
ou colectivo. Por outro lado, essas mesmas forças poderiam ser usadas nas práticas de danos
individuais ou colectivos. Para essas sociedades, se um adivinho ou curandeiro tinha o poder
de ver espíritos maus e expulsá-los com seus poderes, então, certamente, estava habilitado a
controlar formas similares do mal, para os próprios propósitos nefastos dele. No entanto
aqueles que usavam suas forças mágicas para causar danos a outros ou para benefícios
próprios, ao invés do melhoramento de sua comunidade, eram considerados malévolos. Um
dos aspectos de malevolência era inexplicável, prosperidade social e económica, causar
doenças diversas aos outros. Contudo, esta circularidade entre o mágico, a divindade e a
reparação demonstra a extraordinária natureza ambígua do discurso religioso nas sociedades
africanas. MBITI, (1990)

5. O culto dos antepassados

A crença na presença dos espíritos dos antepassados no mundo dos vivos é algo que prevalece
em todos os membros das famílias, africanas o espírito é a pessoa na condição de falecido. O
espírito é alguém que viveu no mundo visível e já passou pela morte, e que ganhou uma
transformação profunda, que lhe proporcionou uma nova maneira de ser. Apesar de ele se
encontrar no mundo invisível, o espírito continua a ser membro da comunidade e do grupo
familiar a que pertencia durante a vida. O fato dos antepassados desempenharem a função de
intermediários entre o Ser Supremo e os seres humanos, faz com que tenham poderes, mas
limitados, pois dependem da sua união com a força vital e com o Ser Supremo. De qualquer
forma, são superiores aos seres humanos, capazes de intervir com eficácia em assuntos que os
seres humanos não conseguem enfrentar. ALTUNA, (1985)
De uma forma geral em áfrica o mundo dos mortos e o mundo dos vivos convivem, ficando
estes obrigados a venerar os seus mortos. Além disso, se os antepassados não forem bem
venerados podem causar infortúnios às comunidades, pois se a ancestrolatria não oferece a
perspectiva da vida eterna, visa claramente a obtenção de benefícios materiais, como a paz, a
riqueza ou a saúde.
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culto aos antepassados, ocorre nas principais fases do ciclo vital: nascimento, iniciação,
casamento, doença e morte, nos ciclos da natureza; e em determinados momentos importantes
da vida social, por exemplo, inauguração de uma nova aldeia ou eleição de um novo chefe.
Além disso, há situações especiais na vida da pessoa que é aconselhada a realização do culto:
doença, desgraça, ajuda na resolução de uma grave necessidade e antes de uma viagem
importante. Também é feito quando os antepassados pedem o sacrifício, através de sonhos, de
fenómenos místicos ou de algum acontecimento significativo.
Muitas vezes, os antepassados se servem da linguagem do sofrimento, doenças persistentes
nas famílias do clã e falta de sorte. As pessoas afectadas por este sinais consultam o adivinho
para interpretar o verdadeiro sentido e significado de tais sinais. É revelado que um
antepassado está insatisfeito, ou seja, tem fome, sente-se esquecido e abandonado (fora) do
convívio familiar e pede comida. O resultado é comunicado ao chefe familiar que toma as
medidas necessárias para a celebração. Portanto, o culto aos antepassados pode ser
considerado uma oferenda directa a estes e, indirecta, ao Ser Supremo. MARTINEZ, (1989).

5.1. A cerimónia de recordação dos defuntos

Tem como objectivo lembrar as pessoas da família que já morreram. Inicialmente, a


cerimónia mostra-se triste, depois se oferecem comidas e bebidas, fazem-se as limpezas das
campas, há danças e cantos. Tem que haver um sinal dos defuntos que acolheram as
oferendas, como, por exemplo, chover. O chefe do clã faz a comunicação. É pedido a todos
para rezarem, para prepararem melhor os valores da contribuição, que pode ser dinheiro ou
produtos. SWEET, (2003)

5.2. A cerimónia de sacrifício

ocorre quando dentro da família não há paz. Alguns sinais são infertilidade, desunião
(desagregação, ninguém se interessa pelo outro), produção ou colheita ruim, doenças na
família. A família se junta para saber o que está acontecendo
Há a necessidade de se fazer um sacrifico. Mata-se um animal. Os defuntos determinam qual
o tipo de animal, de que forma deve ser morto, onde deve ser feita a cerimónia. É uma
cerimónia, que diferente da outra, é cheia de prescrições, sendo que há a necessidade de que
todas elas sejam seguidas rigidamente. São muitos os mandamentos e só mediante a
cerimónia, a família tem paz novamente. Quem causa a falta de paz na família são os espíritos
maus. Eles também têm suas exigências. Por vezes, inclusive, exigem altares. SWEET, (2003)
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Conclusão

Diante dos factos descritos no estudo conclui-se que a religião africana ocorre desde os
primórdios, sua aceitação e repetição é uma demonstração da própria necessidade de sua
existência. Entretanto a presença dos defuntos (antepassados) na vida daqueles que estão
vivos é quotidiana, seja no sentido de proporcionar o bem e garantir a boa ventura, seja,
muitas vezes, no sentido de causar o mal. Ocorre que o antepassado de uma família pode ser
um espírito que causa a desarmonia em outra. Percebe-se também que a interacção entre
antepassados e vivos é, normalmente, mediada pela magia. os acontecimentos que fogem da
previsibilidade normalmente são atribuídos à acção dos espíritos maus
Contudo, não se pode negar a eficácia dessas crenças para demonstrar sentimentos colectivos,
dessa sociedade, sabe-se, entretanto, que as crenças, ritos, rituais e cultos são efectivados e
sentidos de diferentes formas e contribuem essencialmente para o bem estar da sociedade.
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Bibliográficas

ALTUNA, P. Raul Ruiz de Asúa. ( 1985) Cultura tradicional banta. Luanda: Secretariado
Arquidiocesano de Pastoral,

MARTINEZ, Francisco Lerma, (1989). O povo macua e a sua cultura. Lisboa: Ministério da
Educação – Instituto de Investigação Científica Tropical, 1989.

MBITI, J. S. (1990) African Religions and Philosophy. London: Heinemann, 1969. 2a. ed.

SWEET, James H. (2003). Recreating Africa: culture, Kinship, and religion in the Africa-
Portuguese world, 1441-1770. London: The University of North Caroline Press.

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