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A FACE NEGRA
DA TERRA -1
RAYOM RA
Resolvi colocar no Arca de Ouro, tema após tema, embora numa ordem não
exatamente sequenciada, assuntos relacionados que digam sobre a conjuntura
ego-alma, e alguns de seus aspectos ocultos que os estudiosos que avançam
no autoconhecimento conhecem ou necessitam conhecer.
Certa vez li num artigo científico que os astrônomos descobriram uma nuvem
escura, de uma energia extraordinariamente forte e desconhecida, que viajava
em direção ao nosso sistema solar. E caso sua rota fosse confirmada poderia
alcançar a Terra, provocando inúmeras desordens na vida planetária como
provocaria desordens naquilo que encontrasse em sua trajetória, o que incluiria
outros planetas. Portanto, os acontecimentos relatados nesse livro, embora
possam também parecer excessivamente imaginativos, obtém das observações
científicas algum respaldo numa possível ação destrutiva.
Claro que a ciência não trabalha com a visão esotérica e nem com o
conhecimento de mundos paralelos habitados. Muito menos acredita em forças
invisíveis do bem e do mal. A ciência é basicamente instrumental,
excessivamente objetiva, e não fora a moderna física vir projetar através do
quantismo uma nova janela para uma visão mais subjetiva dos enigmas que
permeiam a existência, sequer se falaria em dimensões como possibilidades
mais do que prováveis.
Rayom Ra
4
PARTE I
CAPÍTULO I
REVELAÇÕES
O sol já se debruçava. Neste momento o azul celeste era o único matiz que o
céu mostrava. O vigor da tonificante essência das energias temperadas nos
rarefeitos gases e substâncias etéricas, descia e penetrava a alma do mundo,
retirando-a definitivamente da quase inércia. Ela se sacudia, se espreguiçava e
de novo, à luz do dia, tomava seres e reinos: partes de si que lhe cabia mandar.
Da janela ele não conseguia divisar o fundo, mas assim mesmo deitava os
olhos como se nada conhecesse ou não soubesse o que existiria por lá. Na
realidade, esses movimentos de olhos e cabeça eram parte de seu exercício
matinal: a concentração estava atrelada ao ritmo respiratório; o olhar se
distendia relaxadamente, vendo sem verdadeiramente ver. Dava à treinada
mente a paz que ela necessitava possuir naquele instante.
À agradável maciez da grama sob os pés descalços e o sol a banhar seu alto
corpo, somava-se uma aragem com aroma de caju em meio ao rocio que
desmaiava. Seriam pouco mais de seis horas nessa manhã de sexta feira, o dia
raiava e ele já começava cedo a se movimentar.
Isolar-se era o que ele mais gostava, pensou Olga, olhando o medalhão,
sobrevindo-lhe certa aversão. Por que usa esta coisa que lhe deram? O
medalhão rebrilhava. Ela começou a sentir uma sensação de torpor: abria e
fechava os olhos. Súbito tudo cessou. Sorman inconscientemente cobrira-o
com a mão. Olga pode então reagir.
- Sorman, este medalhão, o que ele tem?
- O medalhão? – ele viu-lhe a palidez do rosto.
- Causou-me algo estranho ao observá-lo! Sorman retirou o cordão do
pescoço, escondendo-o dentro da mão, sentando-se e sorrindo, como Olga
gostava de vê-lo.
- Esqueça o medalhão. O café já está pronto?
- Ainda não, vou começar a prepará-lo. É cedo, a empregada nem ao menos
acordou! – respondeu entre confusa e meio atordoada.
- Não tem importância, perguntei somente por perguntar. Meu pai já acordou?
- Deixei-o dormindo, não creio que se tenha levantado. Olga não estava à
vontade, pressentia que alguma coisa novamente aconteceria com Sorman.
Sobre as loucuras do passado não mais cogitava; não acreditava que ele
buscasse novas aventuras como aquela em que vivera por três anos num
ashram.
- Tem certeza de que deseja ir só? - perguntou após essas reflexões, voltando
ao assunto da viagem.
7
- Ao pé da serra? Oh, sim, naturalmente, eu preciso! – ele sentiu-lhe a
inquietação – não se preocupe, não é nada de grave, a atmosfera do lugar me é
benfazeja, lá me inspiro, compreende?
o o o
Chegando ao portão, hesitou. Olhou novamente para a casa. O que lhe diria?
Voltara para pedir-lhe perdão, reatar o que se tornara impossível? Na verdade,
nem mesmo sabia por que estava aqui. Por seis anos suas vidas haviam
tomado diferentes rumos. Decidido, enfim, apertou a campainha. A porta se
abriu, a figura de uma mulher clara apareceu. Sorman a reconheceu. Ela saiu à
varanda mirando-o surpresa.
- Boa tarde, senhora, como está?
- O que deseja? - ela perguntou secamente, parando na soleira de mármore
diante do degrau.
- Sou Sorman, lembra-se de mim?
- Lembro perfeitamente.
- Eu... - ele hesitou ante a indiferença da mulher – gostaria de falar com Anita.
- Ela não voltou do trabalho, deve chegar tarde.
Sorman olhou-a com mais atenção, notando-lhe a mesma antipatia que lhe
endereçara noutros tempos. Ela nunca o aceitara, não aprovara seu
relacionamento com Anita, muito menos a fuga da filha com ele para o ashram.
Na verdade, sempre o detestara.
- Vovó, quem está ai?
8
Surge à porta um menino loiro, de olhos verdes, que teria quatro anos de
idade. Ao ver Sorman corre para detrás da avó. Ela segura-o pelo braço, o
conduz de volta para a porta, mandando-o aguardar dentro da casa. Fecha a
porta e retorna ao mesmo lugar.
- É o filho de Anita - diz com sabor cáustico, mostrando malicioso brilho nos
olhos.
A porta se entreabre, o menino de novo aparece a princípio se espremendo,
tímido, depois se enfiando por inteiro, e corre para a avó. Ela não se incomoda
desta vez; segura-lhe a mão estendida, voltando a mirar Sorman. O rosto
estampa mistura de ironia, sadismo e ar de vitória: um sorriso imperceptível se
desenha nos seus lábios.
Sorman trouxe a mão suavemente em direção ao queixo, alisando-o, mirando o
chão. Na verdade surpreendia-se por não experimentar qualquer reação pela
notícia. Foi rápida a reflexão, logo retomando:
- Bem, uma vez que Anita não está devo ir-me. Talvez a veja oportunamente.
Boa tarde!
O silêncio seguiu-se às palavras; ele girou nos calcanhares e atravessou a rua.
Ao abrir a porta do carro lançou rápido olhar para a casa, mas não os viu mais.
o o o
A luz declinava. A mescla de cores dos efeitos físicos da refração dos raios no
pôr do sol mostrava-se ao longe, acima do horizonte. Uma perceptível preguiça
se arrastava impregnando todas as coisas que já empalideciam. O fino ar era
também veículo de pré-mensagem, a dizer que dentro em pouco a sonolência
abraçaria. No céu, pássaros se lançavam em derradeiros vôos, rumando para os
ninhos ou refúgios. A terra abria o seio para receber o pouso do orvalho,
exalando ao odor do mato e dos percevejos.
Estas palavras soavam-lhe na mente ao abrir os olhos. O dia mal clareava, ele
se levantou sonolento. Após lavar o rosto, andou até a sala, sentando-se no
sofá; uma sensação de irrealidade o acompanhava e decidiu sair. Ao abrir a
porta, passando à varanda em direção ao fundo, o ar fresco tocou-o, causando-
lhe arrepios, mas nada mudara em si: olhava o céu e pisava a umedecida grama,
sem saber exatamente por que fazia isto.
Neste momento, a coloração dos raios solares tingia o espaço ao qual mirava;
as formas de luzes conformavam uma espécie de leque. Com o olhar um tanto
perdido no vazio, tentava fixar-se naquela aparência: mal conseguia, estava
ébrio, e palavras novamente vieram-lhe:
“Veja como o arco deste leque aparenta ser efêmero. Mas ele vive momentos
reais, embora breves e derradeiros. Nasce para logo morrer e se você não o
observar neste instante não mais o verá. Eis como se definem os momentos de
glória de um iniciado. O sol é perene, o leque é passageiro; conheça-o antes
dele morrer, e quando ele morrer viva-o mil vezes dentro de você. Somente
assim ele terá vida eterna. O sol amanhã esplenderá novamente, como sempre,
porém o leque de seus efeitos será outro e para outros!”
o o o
o o o
14
o o o
As irmãs insistiram em que ele ficasse para o almoço, o que foi reforçado
por Bruno. Não tendo como se negar, deu-se por vencido.
- Você é comprometido? - Lucéa diante dele pegou-o de guarda baixa.
- Na verdade não encontrei ainda a companheira - disfarçou, enquanto trazia o
cálice de vinho aos lábios.
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- Posso insistir no assunto? – a moça indagou com acentuada delicadeza. Os
grandes e negros olhos de Sorman varreram o moreno rosto e súbita imagem
voltou-lhe à percepção, revendo-a à mesa do restaurante, a dirigir-lhe palavras
premonitórias. A imagem sumiu; ele buscou perceber-lhe a mesma estranha
expressão daquele dia. Porém, nada acusou de especial, exceto jovial sorriso.
- Naturalmente - esboçou, por sua vez, medido sorriso.
- Quem é a moça alta e clara? Sorman surpreendeu-se.
- Você a conhece? - insistiu com o sorriso.
- Eu a vejo ao seu lado.
- Não existe mais nada entre nós há alguns anos. Ela já tem um filho com outro
homem.
- Creio que você está enganado – ela agora sorria enigmaticamente.
- Creio que não – assegurou-lhe, lembrando-se do desagradável diálogo com a
mãe de Anita na tarde anterior.
CAPÍTULO II
A CERIMÔNIA
o o o
O Sol brilhava naquela hora. Sorman apeou do jipe aguardando por Bruno.
Nesses breves instantes, ele volveu os olhos para a Casa Rosa. A par de tudo,
via-a maior, mais ampla; grande majestade a permeava, e pela primeira vez
nesses últimos tempos se sentiu apequenar. Aquela fantástica autossuficiência
com que hoje acordara e que o conduzira até aqui, repentinamente cedera,
abandonando-o. Mas não teve tempo para avaliar ou conjeturar sobre a nova
situação: como se houvesse perdido o controle dos próprios atos, incontida e
irresistivelmente viu-se lançar-se ao solo, caindo de joelhos. Genuflexo, assim
permaneceu, ereto da cintura para cima, apoiado sobre as pernas com mãos
suavemente pousadas sobre as coxas. O rosto adquiria expressão de ausência;
os olhos passaram a emitir brilho de transe e percebeu-se no passado, estirado
ao chão, a reverenciar ao Venerável. Sentia nesse momento - onde aqui estava -
o mesmo que sentira naquele passado tempo; vertia lágrimas que lhe
umedeciam a face, como naquele dia lágrimas ele vertera, e vozes de novo
ecoavam em coro: “ Buda! Buda!”
Num piscar de olhos Sorman voltou a ficar novamente diante da Casa Rosa; as
palmas ainda ecoavam aos ouvidos. Mas com tantas e quase simultâneas
referências, ele, de imediato, não conseguia obter o controle da mente na sua
objetiva totalidade. Não pudera ainda, de uma só vez, reunir os extraordinários
fatos para analisá-los. Achava-se um tanto atordoado e sob esse estado
procurou reagir, virando-se para Bruno ao seu lado, perguntando-lhe:
- Quem eram aqueles?
- Os Mestres!
Sorman nem pode absorver o conteúdo dessas palavras por que tocados por
outra realidade, ambos, simultaneamente, voltaram-se para a Casa Rosa. O
verdadeiro compasso do tempo não houvera mudado em seu curso natural,
mas os poucos minutos que ali permaneciam pareceram horas. Somente agora
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se davam conta de estar se preparando para adentrar a Casa Rosa, que no seu
interior havia pessoas os aguardando e o dia era especial também para eles!
Quando Bruno pisou a soleira da porta, Lucéa estendeu a mão sobre a mesa
tomando a sineta de ouro, fazendo-a timbrar algumas vezes, suavemente.
Imediatamente todos foram despertando, pondo-se de pé. Lucen caminhou em
direção à mesa, colocando o turíbulo sobre uma base a um canto,
posicionando-se junto à irmã. Bruno foi até lá, seguido de Sorman, postando-se
detrás da mesa, saudando a todos com o gesto sagrado da irmandade - no que
foi respondido - e falou:
- Irmãos, quero apresentar-lhes aquele a quem hoje renderemos homenagem e
que será empossado de cargo na irmandade, para cuja finalidade obteve a
necessária aprovação. Como sabem, a hierarquia de nossa irmandade dispõe,
no uso de suas atribuições, muitos títulos. Mas ao Irmão Supremo é outorgada
a primazia de transcender a esta sucessiva ordem hierárquica, sempre que
pertinente, para dignificar a um irmão em Ministro Extraordinário, ou seja, para
permiti-lo atuar com perfeita autoridade e autonomia em qualquer
departamento, representando ao Irmão Supremo quando por este solicitado.
Devo também declarar que com nosso irmão Sorman cumpre-se o rompimento
do selo da 30ª revelação da centúria 16, acerca do número 300. É Sorman assim
o número 300 desta revelação, e com tal registro irá atuar na irmandade
confirmando-se o fato através do Primado do Frater Supremus, também
relatado na 30ª revelação.
Muito teria ainda para falar-lhes, mas abster-me-ei de outras palavras pela
importância do momento no íntimo de cada um e Sorman, tenho certeza, não
aprovaria que dele mais eu falasse.
Uma salva de palmas ecoou pelo salão; de imediato eles se moveram em fila
passando diante de Sorman, cumprimentando-o com apertos de mãos. Sorman
achava-se tranquilo. Noutra oportunidade as palavras de Bruno provavelmente
lhe causariam emoção, e por certo estaria inibido. Mas neste momento nada
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disto se passava em seu íntimo. A postura altiva, naturalmente assumida diante
daquelas pessoas estranhas olhando-o com interesse, revelava-se da
disposição que diante da Casa Rosa em si incorporara, e não se abalava. O
orgulho e superioridade mundanos, numa personalidade comum, se mostrariam
venturosos diante de grande exaltação, isto é certo e óbvio. Paradoxalmente,
poderia ocorrer o mesmo com candidatos aprovados em condições especiais,
ao nível de uma irmandade de abrangência esotérica como esta. Mas em
Sorman, não. A fluidez dos sentimentos mais comuns não vinha encontrar
âncoras em seu cérebro e coração. O que o tomava, permeando-o, isto sim, era
algo impessoal, mais elevado, extraordinariamente digno de todos e por todos.
Era uma alma em abrangente expansão, uma tangível presença comungante em
silencioso júbilo.
Adiante existiam duas colunas, uma preta e outra branca, sustentando uma
viga horizontal. A viga era a base de um triângulo perfeito, azul, que se elevava
sem tocar o teto. O interior do triângulo destacava o símbolo secreto da
irmandade, totalmente em ouro. O símbolo rebrilhava pela ação das luzes de
dois candelabros presos às paredes laterais. Aquela construção, por cujo
espaço interno os irmãos passavam, evocou em Sorman a memória de suas
provas iniciais, quando ao galgar uma escada e abrir um portão se deparara
com um portal. Em ambos os lados, diante das colunas, havia uma pira; a da
direita era em ouro, a da esquerda em prata. Elas ardiam, lançando no ambiente
grossas espirais de incenso. As espirais produziam uma nuvem que pairava
acima e adiante do portal. Essa real visão provocou em Sorman estranha
sensação, remetendo-o a um passado distante. Lágrimas começaram a rolar por
sua face, ele teve de secá-las porque lhe embaçavam as vistas.
A certa altura Sorman foi chamado a subir os três degraus e diante de Bruno
consagrado num rito invocatório dos quatro elementos. Dois altos membros da
irmandade, já envergando vestimentas oficiais da ocasião, postaram-se a direita
e a esquerda do iniciando, dando suporte às energias precipitadas. Ele então
pressentiu que os membros ao seu lado faziam um trabalho em conjunto com
duas outras presenças invisíveis em dimensão superior, e aquelas presenças,
verdadeiramente, controlavam o fluxo das energias. Finalmente prestou o
juramento, que não foi o mesmo prestado diante dos Mestres, recebendo a
comenda de ouro simbolizando sua autoridade no alto cargo.
CAPÍTULO III
O IRMÃO SUPERIOR
- Muito prazer, Sorman, sou o Superior Mestre Terra - falou com sotaque
espanhol. Sorman surpreendeu-se por já conhecer aquele homem sem, todavia,
lembrar-se de onde. Emocionou-se e ficou calado, mas se sentiu deslocar em
direção ao passado em busca de recordações.
O homem era alto como ele, tinha os cabelos negros, cheios e lisos, penteados
para trás. Possuía forte compleição; a pele era amorenada como os
descendentes dos povos Incas, embora o rosto não trouxesse, exatamente, os
mesmos caracteres do modelo racial. A idade era impossível precisar. Vestia
elegante terno azul marinho.
- Venham, sentemo-nos - ofereceu apontando para as poltronas; o convidado
permanecia absorto em pensamentos. Sentaram-se formando um triângulo.
Sorman finalmente emergiu e volveu os olhos em redor, vendo os apliques a
lançar suave luz na sala, observando as janelas fechadas e a porta dando
acesso ao corredor. Havia um aparelho de ar condicionado ligado, tornando a
temperatura ambiente agradável. Mas não pôde prender-se a outros detalhes
por que seu interlocutor reiniciou:
- Assisti domingo, de Londres, à cerimônia de sua iniciação e pude fazer
algumas observações a mais sobre sua presença na irmandade. Você evoluiu
bastante desde o primeiro contato com o Irmão Supremo. Evidentemente não
falo em termos de consciência, pois o seu padrão vibratório é o mesmo, desde a
posse do novo veículo físico, mas, sim, da personalidade que já quase se
amolda ao que se irá requerer na irmandade. Neste pouco tempo de reencontro,
os seus arquivos de memória, etéricos ou astrais se revelam, a meu ver,
rapidamente.
A voz do Superior Mestre Terra caia-lhe nesse instante como uma indução
letárgica, quase hipnótica. Sorman lutava por manter os sentidos acordados.
Porém, foi obrigado a fechar os olhos; súbitas imagens perpassaram-lhe a
consciência, e via-se numa planície da extinta Atlântida, onde muitos homens
de tez morena o encurralavam de encontro a um barranco. Da testa corria-lhe
sangue, banhando-lhe a face e peito; havia outros ferimentos pelo corpo a
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também minar-lhe a resistência. Todos os companheiros jaziam estirados
naquele campo de batalha: estava só, era o último sobrevivente!
- Vai morrer, príncipe! - dizia o guerreiro, trazendo uma tira de couro pintada
com símbolos de magia negra que lhe contornava cabeça e testa. Seu tronco e
membros, bem como de seus homens, portavam desenhos em faixas retas e
pequenas, ou longas e curvas, desenhadas com sangue animal imolado em
ritual maligno. Sorria com crueldade: apontava a lança para Sorman,
manipulando-a acima do ombro num vai-e-vem torturante e sádico, no que era
imitado pelos guerreiros. Extenuado, Sorman apoiava-se na lança fincada no
chão, lutando orgulhosamente consigo próprio para não cair. As pernas,
entretanto, ameaçavam dobrar-se; o queixo quase lhe tocava o peito, mas tanto
quanto possível ele reagia, resistia, buscava empertigar-se, e levantava a
cabeça. Ofegante, com a visão turva, não queria tombar: era honroso morrer de
pé.
Uma saraivada de flechas pôs fim àquela angústia de morte, e viu os inimigos
caírem varados nas costas, sem chances de reagir.
- Varun! Varun! - gritava o homem alto e forte, moreno como ele, de negros
cabelos longos. Adornava-lhe a testa uma tiara prateada, terminada com
pequena e sinuosa serpente que lhe subia a fronte. Ele e seus homens, vestidos
com calças apertadas em couro flácido, calçando mocassins, portavam arco
nas mãos guardando as flechas em aljavas presas às costas. Cingiam-nos
cintas ao abdome que depois lhes subiam verticalmente pelos troncos nus aos
ombros, volteando-os, descendo às costas atando-se às aljavas. Corriam e
pulavam sobre os cadáveres amontoados naquela terra tingida de vermelho, e
desfechavam golpes de misericórdia com facões, nos que ainda se mexiam ou
gemiam.
- Rei, meu pai! - dizia Varun, dobrando-se, vendo-o em turvação a aproximar-
se.
Sorman estremeceu e abriu os olhos. O moreno rosto, cuja fisionomia era
como do rei, sorria-lhe. Indizível emoção o tomava, talvez semelhante àquela
que sentira ao rever o pai que lhe chegara ao socorro. Após segundos
conseguiu perguntar:
- Você foi meu pai?
- Sim, algumas vezes - respondeu o Superior ainda sorrindo.
Súbito som eletrônico vibrou dentro do salão. Uma lâmpada vermelha acendeu
na parede, começando a piscar. Michel e o Superior auscultaram o ar e seus
rostos ganharam expressões de ausência.
- É Verônica! - disse finalmente Michel, saindo.
O Superior foi até a porta do salão seguido de Sorman. Poucos minutos depois
surge na escada Michel, acompanhado de uma jovem clara e loura. Ao se
aproximarem ela fez o sinal da irmandade para o Superior, falando com ternura:
- Senhor Mendez, não sabia que estava aqui!
- Desta vez não comuniquei a ninguém. Cheguei poucos minutos depois de
você ter saído para o trabalho. Sorte minha ter encontrado Michel ainda em
casa. Voltando-se para Sorman ela de novo fez o sinal, sendo respondida.
- Sorman, como vai? - perguntou com a mesma ternura.
- Bem, obrigado.
- Verônica também esteve na sua iniciação - informou Michel.
- Eu lembro! Verônica lembrara-lhe Anita. O Superior retomou:
- Sorman, por algum tempo você precisará frequentar esta casa a fim de
inteirar-se tanto quanto possível de assuntos patrimoniais, administrativos,
financeiros e contábeis da irmandade. No princípio, aqui estarei para o exercício
de suas faculdades psíquicas das quais há pouco falamos. Para os assuntos,
você terá a assessoria de Michel e na ausência dele, Verônica. Não creio vir
necessitar de muito tempo para este conhecimento. Poderemos nos reunir
amanhã, após o expediente de seu trabalho?
- Está bem, Superior, gostaria mesmo de inteirar-me de tudo o mais rápido
possível.
- Ótimo. Michel virá com você para, definitivamente, ensinar-lhe o caminho.
CAPÍTULO IV
A ASSEMBLÉIA
Alguém ao seu lado, vestido de branco como ele, apontou para as amplas e
altas portas indicando-lhe que as abrisse. O símbolo secreto da irmandade
abriu-se também em dois e Sorman viu que eles se reuniam ante a mesa onde à
cabeceira encontrava-se Bruno. Todos se levantaram aplaudindo-o. A salva
ecoou pelos quatro cantos daquele salão de teto e paredes absolutamente
brancos.
- Caro Sorman, começou Bruno, esta é a primeira assembléia ordinária de que
você participa depois de iniciado. Aproxime-se a fim de eu apresentá-lo a todos
- ele apontou para o extremo oposto da mesa onde havia uma cadeira vaga, e
em seguida procedeu às apresentações. Sorman conheceu então aos sete
outros Mestres Terra e aos dois Ministros, surpreendendo-se ao constatar
dentre eles duas mulheres. Após, Bruno sinalizou que sentassem,
prosseguindo:
- A pauta principal desta assembléia virá tratar do entrosamento que o Ministro
Extraordinário precisará ter com todos os Mestres Terra. Desejo inicialmente
solicitar a todos os Mestres o fornecimento ao Ministro Extraordinário dos
relatórios de seus territórios para avaliação dele de nossa situação mundial
neste instante. Mas isto precisará ser feito com previsão, em dias distintos, no
estúdio que o Ministro ocupará.
Sorman concluiu ser um tradutor instantâneo dos sinais que o vídeo verde
registrava, operando simultaneamente à decodificação no computador. Esse
pequeno transmissor enviava as vibrações da voz de cada um dos participantes
da assembléia ao ouvido de Verônica, e ela podia então reconhecer quem e o
quê exatamente falava. Dessa maneira, trabalhava o texto compacto na tela do
computador, fruto da decodificação automática, e de forma inteligente dava a
sua redação final. Após esses necessários arranjos, o texto ia à impressora que
fazia o restante do trabalho.
Bruno aprovou aquele primeiro esboço rapidamente elaborado, não sem antes
fazer algumas anotações, inserir algo e inverter a ordem de dois itens. Ao
passá-lo a Mendez, este o leu não fazendo qualquer comentário, endossando-o.
Trataram então de outros assuntos e, tendo esgotado toda a pauta, o Irmão
Supremo fez o encerramento. Ao se despedirem, trocaram sinais e se tocaram
mutuamente em transferências de energias. Nesse momento, Sorman obteve de
todos a exata idéia de seus relacionamentos no passado. Aquela sensação de
familiaridade, que em principio no seu íntimo acordara, fora substancialmente
reforçada de maneira a fazê-lo sentir-se reintegrado à hierarquia, não
importando qual posto houvera anteriormente ocupado. Antes de deixar o salão
de reuniões, falou-lhe particularmente o Superior, em meio ao suave burburinho
de todos que saiam:
- Sorman, neste dia que daqui a pouco amanhece, nos reuniremos novamente
lá embaixo. Não sei quanto desta assembléia ficará em sua memória consciente.
Mas não importa, por que tenho certeza de que com o tempo você conseguirá
resgatar todos os registros dos acontecimentos deste plano. Portanto, não se
sinta atrapalhado caso algumas imagens ou sons aqui produzidos venham
cruzar-se instantaneamente com os registros de seu cérebro físico, em qualquer
momento de suas atividades na Terra. Depois de certo tempo você aprenderá a
conviver com fatos simultâneos.
- Está bem, Superior – ele falou com tranquilidade – de certa maneira coisas
assim já me são cada dia mais frequentes.
- Certo, então até amanhã!
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Ao início da noite Michel encontrou-se novamente com Sorman, que desta feita
dirigia seu próprio carro. Antes de deixarem o centro da cidade, Michel
solicitou-lhe passar no endereço onde Verônica trabalhava, não muito distante
dali. Sorman aquiesceu prazerosamente. Verônica já os esperava e após as
saudações habituais, entrou e sentou-se no banco traseiro.
- Prazer em revê-la mais cedo - disse Sorman, virando ligeiramente o rosto
para trás.
- O prazer é meu, irmão - respondeu ao mesmo tempo em que enlaçava Michel,
à frente, acariciando seu rosto e beijando-lhe os cabelos.
Os homens sentaram-se. Verônica foi tratar das coisas da casa. Após meia
hora, o Superior pediu licença a Michel, indo com Sorman para o Salão de
Conferências, onde iniciaram os exercícios de telepatia. Mais tarde, Michel se
juntaria aos dois para começar a instruir Sorman acerca dos assuntos
administrativos e contábeis da irmandade, tendo o Superior se retirado. Às vinte
e três horas, após ouvir as badaladas do pequeno carrilhão em ouro, Michel
falou-lhe:
- Por hoje basta, foram duas horas de trabalho. Foi ótimo termos chegado mais
cedo; oxalá prossigamos amanhã com a mesma produtividade. Sorman
concordou se espreguiçando. Logo subiram e Sorman os deixava.
Desapontado por precisar ler tantas páginas que lhe consumiriam muito
tempo, Sorman o abriu. Dizia o título: “Ata da Assembléia Ordinária realizada no
Salão Branco em __/__/__. Ele virou a página começando a leitura. Mas não
precisou ler muito por que percebia o ambiente onde a assembléia se realizara,
ouvindo tudo o que se discutira.
- Incrível, pareço ter participando da assembléia, consigo saber de tudo!
- E participou, mas somente agora você é capaz de recordar-se daquela noite.
Poderia deixar o livro de lado por um momento e continuar concentrado nos
registros de seu cérebro? – Sorman entregou o livro à Verônica e fechou os
olhos – diga-me do que a assembleia tratou? Ele passou a relatar-lhe em
detalhes o que se discutira. Logo o Superior o atalhou – Sorman pare um pouco
o relato linear, e tente fazer um resumo global da abordagem de toda a agenda.
Ele ficou por quase um minuto em silêncio; depois recomeçou como lhe pedira
o Superior. Ao cabo de cinco minutos havia terminado. O Superior não
conseguia disfarçar o contentamento.
- Ótimo Sorman! Numa só entrevista você deu mostras de alguns aspectos de
seu alcance psicométrico. É novamente animador! Sorman sorriu, estava
surpreso com tudo; não sabia ser possuidor destas raras faculdades, porém
perguntou:
- Acerca de nossos exercícios, Superior, quando novamente os retomaremos?
- Não haverá qualquer interrupção, fique tranquilo. Daqui para frente
desenvolveremos uma nova etapa, segundo um planejamento. De variadas
distâncias e diferentes latitudes faremos as abordagens - ele enfiou a mão no
bolso interno do paletó, retirando um envelope pardo - leve isto e siga a todas
as recomendações.
CAPÍTULO V
O ATAQUE
Ocupando metade do ambiente havia estreita mesa com objetos usuais, tendo
atrás uma cadeira estofada – tipo poltrona - de especial espaldar de cabeça, e
noutro lado duas outras cadeiras comuns, também estofadas. Numa das
paredes, uma acanhada estante continha livros, pastas com arquivos e um
computador com impressora, vindo totalizarem-se todos móveis e objetos ali
existentes. Sorman deixara atrás de si a porta aberta e, Bruno, delicadamente, a
fechou, logo falando:
Sem que resistisse à idéia, trinta minutos depois entrava pela rua onde Anita
morava, passando lentamente diante de sua casa. Alguns metros à frente
ajeitava o retrovisor do carro para melhor observar. Perguntava-se, não
obstante, se teria esse direito. Segundo soubera, ela tinha um filho,
possivelmente viveria com o companheiro. Por que então imiscuir-se na sua
vida, talvez abrir-lhe antiga chaga, fazendo-a novamente sofrer? Esse provável
fato inquietou-o. Como a provocá-lo, o mágico sorriso de Lucéa vestiu-lhe os
pensamentos e seu beijo foi outra vez sentido. Foi somente uma despedida:
desejou convencer-se! A inquietação perdurou por uns poucos minutos até ele
dar-lhe um fim, desistindo da idéia de ali permanecer. Sentia-se ridículo e
arrancou do lugar indo para o outro lado da cidade.
CAPÍTULO VI
O Quinto Mestre Terra era Stefany, jovial senhora eslava, que realizava o seu
trabalho no país de origem. Como os demais Mestres Terra, ela detinha sob a
sua administração alguns países. Stefany vinha colaborando com a hierarquia
por quase três décadas, tendo antes exercido a função de Mestre Menor de seu
falecido antecessor. Seu ótimo desempenho sob governos socialistas, a
recomendou para ocupar a principal posição desse departamento. Cuidara de
centenas de famílias da célula e ao viver fisicamente entre eles, contribuira para
constituir unidade maior entre os irmãos, avivando-lhes nas almas as
lembranças do por que estarem ali encarnados neste momento. Criou grupos
que se reuniam secretamente para se fortalecer mental e espiritualmente,
desenvolvendo com eles mecanismos de contato com escalões da hierarquia,
bem como trabalhos de cura. Cada grupo tinha senhas e sinais próprios que
identificavam os seus respectivos membros. Possuíam um serviço de
espionagem para salvaguarda de seus interesses. Nos grupos, havia militares
conscientizados de seus papéis externos e internos relativos aos verdadeiros
ideais de vida da célula.
A grande decepção vivida por Stefany, fora a traição de um membro
pertencente a um de seus grupos. Ignorando a todos os alertas acerca das
forças malignas, o irmão deixou-se envolver e seduzir, desejando posição e
dinheiro. Sendo funcionário do governo planejou delatar a todos os membros
de seu grupo com a denúncia de que conspiravam. Já houvera feito contatos
com o serviço secreto do país, e recebera a promessa de um pagamento inicial
47
em espécie quando entregasse a relação com os nomes e endereços. E tão logo
o grupo fosse surpreendido em reunião e levado para interrogatório, a isso se
seguiria a indicação para um cargo superior. O governo proibia reuniões
secretas por suspeitar sempre de conspirações. Sindicatos, mesmo assim,
mediante muita luta e ações, haviam conquistado o direito de se reunir, opor-se
e reivindicar. O governo promovera umas poucas aberturas econômicas com
outras nações, contrariando o comando soviético. Mas a repressão e o
terrorismo contra o povo e pequenas organizações que lutavam pelos direitos
humanos ainda continuava. Torturas, mortes e desaparecimentos se sucediam
na calada da noite.
CAPÍTULO VII
Não houve qualquer reação; diante desta inércia Bruno tomou posição de
retirada. Os homens moveram-se buscando a anterior formação, recolocando
os óculos sobre o visor. O tubo e o cone tornaram-se de novo oblongos. Eles
partiram do local, atravessando de volta o cogumelo. Uma vez fora do campo de
forças, Bruno ordenou-lhes dissolver o tubo e o cone, e retirar os óculos de
sobre o visor. Ao alcançar novamente as imediações da aeronave, já sob luzes,
encontraram Nicolai, que fez o sinal a Bruno, adiantando-se e trazendo o punho
contra o peito, arqueando levemente o tronco:
- Saudações, Irmão Supremo! Em cumprimento às ordens de meu superior
imediato, o Segundo Mestre Terra, venho apresentar-me com meus soldados
para lutar. O Quinto Mestre Terra manda-me também transmitir-lhe que está
neste momento seguindo as suas instruções no gabinete da cúpula do exército.
Conforme o Irmão Supremo sabiamente ordenou, ele não deverá atuar no
sentido de mudar o curso dos insensatos acontecimentos provocados pelos
homens da Terra. Atuará juntamente com o Segundo Mestre e auxiliares, no
chamamento de suas consciências a fim de que reflitam e decidam, eles
mesmos, por não realizar o massacre fratricida.
Logo a batalha chegava ao final. Parte das criaturas fugira enquanto mais de
duas centenas delas jaziam ao solo imobilizadas. Os soldados então iniciaram
uma nova operação. Com grande facilidade agarravam as criaturas do solo,
jogavam-nas às costas e as levavam para um local mais afastado. Nicolai, que
durante o conflito se misturara aos seus comandados, gritando e dando-lhes
ordens, por vezes golpeando uma ou outra das criaturas com o bastão,
aproximou-se do grupo de Bruno, demonstrando alívio e tranqüilidade.
- A batalha terminou, Supremo. As horrendas criaturas serão agora
transportadas em carros-jaulas a fim de serem desmaterializadas. Meus
soldados de vanguarda ainda permanecerão pelas proximidades do
acampamento para o caso de novos ataques.
- Minhas ordens são exatamente estas: permaneçam vigilantes enquanto
realizamos a nossa parte! Nicolai arcou-se em vênia, trazendo o punho direito
sobre o peito, aquiescendo:
- As ordens serão fielmente cumpridas, Supremo.
O que iremos fazer agora, Sorman, é buscar induzir de vez aos homens para
que, de moto próprio, não realizem o bombardeio, visto termos conseguido
obstar a invasão das obsediantes criaturas – dizendo isto ele sorriu, e na noite
algo de claridade se fez. Ele prosseguiu – precisaremos trabalhar nos sombrios
duplos dos homens que aqui vivem como se fora no mundo físico. Mas não
podemos aparecer diante deles, pois nos veriam e teriam reações agressivas,
por isto nos tornaremos invisíveis a eles. Já temos a vantagem de vestir
armaduras que nos isolarão de qualquer energia maligna ou destrutiva a nossa
volta.
Bruno trouxe os homens para a maior das tendas ali instaladas, na intenção de
que fosse a casa das ordens. E de fato era. Ao puxar a cortina, pôde observar
que sob a projeção da luz de um lampião preso ao alto numa das barras de
sustentação da tenda, no meio do ambiente, havia um oficial sentado diante de
uma mesa a estudar um grande mapa. Ladeavam-no dois outros oficiais, em pé,
trocando palavras e apontando para o mapa. A um canto, um quarto oficial com
fones aos ouvidos, manipulava um equipamento de rádio-comunicação,
tentando sintonizar-se com possíveis sinais ou ondas. A tensão era visível,
decorrente da provável falta de notícias do comando superior quanto à
definitiva ordem de iniciar o bombardeio.
Bruno fez sinal com o indicador chamando Sorman para junto de si.
- O que vê em torno dos homens? – perguntou-lhe em cochicho, abrindo a
cortina um pouco mais. Sorman buscou observar com melhor atenção, porém
nada viu além dos próprios homens uniformizados.
- Nada! - respondeu com simplicidade.
- Então se concentre em sua visão interior e projete-a sobre os homens.
Sorman seguindo a recomendação fechou os olhos.
- Estão envoltos por sombras, agora vejo! – exclamou admirado, segundos
depois, também em cochicho.
- Eis a nossa principal tarefa. Precisamos libertá-los daquelas sombras sobre
os seus duplos que os impedem de ter boas reflexões.
o o o
CAPÍTULO VIII
OS FLUXOS
Antes deles, a ação desses fluxos vinha ao Superior Mestre Terra numa
corrente “in totum.” Através de sua mente, esses fluxos separavam-se e se
distinguiam segundo um tipo especial de identidade, e cada um seguia depois
aos respectivos Mestres Terra. Acima dele, o Supremo recebia antes e
prioritariamente a luminosa energia “in natura”, absorvendo-a e a
caracterizando com as qualidades globais que desciam conduzidas através dos
fluxos, para serem trabalhadas pelo Superior Mestre Terra e distinguidas.
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Quarta: Quando uma célula realiza o que se requer – num ou mais ciclos de
sua manifestação - mas unicamente nos seus níveis superiores, e ainda sem ter
conseguido sucesso integral com a ação da força retrátil, poderá, se desejar,
intentar o impulso para cima, deixando para mais tarde o trabalho de graduar os
níveis inferiores. Tendo obtido sucesso na força impulsão, alcançando assim
um padrão superior, necessitará despender considerável soma de energia dos
seus reservatórios e usar técnica mais avançada para nele poder se manter, sob
o risco de não conseguir resultados suficientes habilitadores para graduar os
níveis inferiores. E não tendo sucesso nessa sua intenção de graduar os níveis
inferiores para padrões possíveis com aquele em que agora se mantém,
retrocederá no seu carma evolutivo, caindo para a posição anteriormente
ocupada.
III. Sorman entendia agora que o trabalho das pontas era tão importante
quanto o trabalho da cúpula, tornando-se necessário para toda a hierarquia, no
seu planejamento evolutivo, estimular o progresso das mentes não ligadas
diretamente com a hierarquia. Se a qualidade de um fluxo se condensasse numa
idéia e essa idéia, abortada da hierarquia, encontrasse receptividade nos
homens de mundanas mentes, ela teria possibilidades de vingar, mesmo se no
seu percurso de interesses materiais a idéia fosse desvirtuada. Com o tempo, e
a história provava, teria as correções. Eis porque, concluía ainda, os homens
não iniciados necessitavam também de mecanismos próprios para o
desenvolvimento mental e espiritual. As ciências do mundo precisavam tornar-
se cada vez mais aptas, seguindo imediatamente atrás dos avanços esotéricos
em seus níveis inferiores. E isso era um tipo de clivagem avançando sempre na
sua qualidade à medida que a mente humana, no seu conjunto, evoluía.
Bruno sorriu. Ao mover a mão direita, a grande e lisa pedra do anel, como ônix,
lançou rápido rebrilho. Amanhecia rapidamente, o estúdio do Supremo tomava-
se cada vez mais da luz natural. Ele se levantou e contornou a mesa, ficando
mais próximo do amigo e discípulo. Sorman também se ergueu. O negro rosto
nesse instante tomava-se de um ar grave, estranho ao que o Ministro
Extraordinário conhecia daquele homem.
- Sorman, há segmentos na célula parecendo cristalizados. Após tantos ciclos
de lutas não vejo outra saída para os irmãos nessa situação, senão o
surgimento de uma luz especial para fazê-los romper de uma vez, e para
sempre, com o resistente véu da matéria que neles se aderiu. Essa tentativa
última ainda não foi possível realizarmos por não termos entre nós alguém em
condições de incorporar essa sublime luz e aceitar o sacrifício. E caso não
aconteça uma reação positiva deles, com suficientes avanços nesse nosso
atual ciclo de manifestação, os recalcitrantes serão enviados em grande número
para outro orbe, de onde poucos voltarão.
- O que isso significa em termos práticos?
- Significa o que chamamos nesse estágio de a “morte definitiva”, por que para
a maioria não há mais volta. Eles já terão esgotado todas as possibilidades de
renascimento, perdendo as oportunidades de “acender a luz.” A natureza faz
vigorar as suas leis com tempo de vigência. E tendo se tornado incapazes de
evoluir, malgrado os esforços da célula, sem forças de se renovar, aqueles egos
terrenos serão dissolvidos e suas energias retornadas para os reservatórios
naturais. Terão perdido os milhões de anos de suas vidas na célula. A essência
alma, em cada um, se recolherá para uma dimensão onde ficará à espera de um
novo ciclo de manifestações de células em que possa reincorporar-se e
71
recomeçar todas as experiências dos ciclos elementais, dos reinos não
humanos e finalmente humano.
- Mas não aconteceria um vácuo no espaço de nossa célula, antes ocupado
por aquelas unidades que falharam?
- Sim, a célula irá se contrair quanto a sua dimensão. Todavia, mais adiante,
em ciclos futuros, conseguirá novamente se distender com a incorporação de
outras unidades portadoras de padrões vibratórios possíveis de com ela
sintonizar-se, embora aquelas unidades se tenham atrasado em relação aos
avanços de suas células originais, mas estando adiantadas em relação a nossa.
Assim, os possíveis vácuos de nossa célula de novo estarão preenchidos com
padrões afins, ganhando melhor qualidade, e oferecendo também novas
oportunidades àquelas unidades recentemente incorporadas de se reabilitarem.
CAPÍTULO IX
Mais tarde Sorman a deixaria com Verônica no local combinado, para juntas
fazerem as compras. Naquela madrugada, no estúdio, Sorman despertou para
um fato e iniciou imediatamente uma pesquisa no computador, vindo encontrar
o que desejava. Na relação de todos os nomes dos membros da irmandade
encarnados pelo mundo, conscientes ou inconscientes da existência da FIA,
estava o nome de Anita: como não pensara nisto antes? Ansioso, foi em busca
dos dados pessoais dela, deparando-se com um breve histórico de sua vida e a
árvore genealógica. Pôde também saber que em vidas passadas Anita fora
consagrada num templo atlante como sacerdotisa, recebendo o nome iniciático
de Iana. Entretanto, nada mais conseguiu descobrir por que novo arquivo mais
completo achava-se bloqueado. Somente outra pessoa poderia ter acesso às
informações; no entanto quem?
Chegava o dia da reunião da FIA. Pouco antes das sete da noite, Sorman era
recebido na casa de Michel e Verônica. Em chegando ao Salão de Conferências,
foi recebido por Bruno e deparou-se com várias pessoas que lhe deram a
sensação de já conhecê-las.
- Irmão, Sorman, há quanto tempo não nos vemos neste mundo! – Bruno riu
com grande satisfação, fez o sinal, sendo respondido, e apertou-lhe a mão.
Virou-se para os outros disse – quero apresentar-lhes nosso Ministro
Extraordinário a quem pessoalmente não conhecem – todos fizeram o sinal.
- Estes são cinco dos Mestres Terra e os dois Ministros, falou a Sorman que
lhes respondeu como de hábito. A seguir, mergulharam no burburinho dos
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apertos de mãos e apresentações. Havia uma senhora a quem ele beijou a face.
Logo se aproximou do Superior, ladeado por Michel; esse último pousou-lhe a
mão no ombro sorrindo.
- Sorman, tenho sentido falta de sua inteligente presença.
- Sorman, meu filho, que prazer revê-lo! – disse o Superior abraçando-o e esse
abraço elevou-o de súbito, fazendo-o sentir-se mais leve.
- Estou igualmente feliz com este reencontro. Sinto-me já integrado a todos,
embora neste momento algo diferente esteja se passando comigo.
- Hoje você viverá nova e extraordinária experiência na irmandade – confiou-
lhe o Superior. Sorman, surpreso com aquelas palavras, nem pôde questioná-lo
porque Verônica entrava com dois outros Mestres Terra. Um deles era Stefany.
Ao serem apresentados, e após os mútuos sinais, ela sorriu com imensa
simpatia, beijando-o na face.
- Sua vibração causa-me bem – falou-lhe com carinho. Ele agradeceu. Logo
outro Mestre Terra, oriental, de nome Magashi, fez a própria apresentação em
espanhol, com estranho sotaque e especial vênia.
Isso feito estendeu-lhe pelo entremeio da cortina uma toalha branca, retirada
de uma pilha do interior do móvel. O banho lustral, muito mais que perfumar,
fizera-o sentir-se purificado. Depois de rapidamente se enxugar, Sorman vestiu
o traje menor aqui recebido, estampado com seu nome, e a túnica, saindo em
direção do biombo, ali depositando sua última peça de roupa.
ANITA
- Sorman! Sorman! – ela gritou – Meu Deus é Sorman! Anita murmurou estas
últimas palavras, sem mesmo se dar conta da coragem de tê-lo chamado. Fora
algo instintivo, irrefreável. O coração descompassava. Sorman parou em meio à
onda de transeuntes e virou-se, vendo-a na calçada a acenar-lhe.
- Anita! – exclamou incrédulo, procurando vê-la melhor por sobre a febril
massa. Ele se aproximou; ela, imóvel, olhava-o enternecida e emocionada –
Anita! – falou-lhe com brandura, vencendo todas as possíveis barreiras. Ela
conseguiu sorrir e conter as lágrimas.
- Sorman, como eu poderia imaginar?
- Nem eu! - respondeu-lhe com meio sorriso. Ela olhou seus cabelos curtos,
estudando-lhe o rosto.
- Você mudou muito – disse após breve momento, sentindo ainda a emoção
arder.
- Você, não, continua bonita. Ela sorriu e o sorriso dela entrou-lhe na alma
como um bálsamo.
- Não falo da aparência física, pois ela é quase a mesma de outros tempos.
Vejo, sim, outra pessoa em você, sinto isso facilmente. Algo incomum o envolve
– ela falava rapidamente.
- Reencontrei-me e aos meus – ele sorriu. Ela não conseguiu conter agora uma
pequena lágrima. Tentou ignorá-la, mas a lágrima sobrevivera de um passado
que permanecia vivo, e matou-a com a extremidade do dedo.
- Talvez não devesse tê-lo chamado, deveríamos evitar o encontro. Sorman foi
subitamente esbarrado por um homem apressado que corria para atravessar a
rua; a pasta quase caiu ao chão; ele agarrou-a desajeitado.
- Vamos sair daqui – disse após aprumar-se.
- Sim, preciso ir trabalhar! – as palavras saíram-lhe como a protegê-la.
- O que você faz?
- Trabalho num escritório de advocacia; sou advogada também – Sorman
calou-se. Anita abriu a bolsa e retirou um cartão – telefone-me quando puder –
ela esforçou-se para dominar a emotividade; os olhos impregnaram-se de forte
brilho. Sorman tomou o cartão um tanto desanimado. – Vamos atravessar a rua,
eu ia mesmo para o outro lado! – ela comandou.
Anita desapareceria pouco depois. “Até logo, Sorman!”, foram as suas últimas
palavras. Ele ainda permanecera acompanhando-a com o olhar, vendo-a
misturar-se à multidão sem se voltar uma única vez.
o o o
- Depois de todos estes anos o que o anima a vir conversar comigo? A pouca
luz transformava o reservado num cenário sem atrativos. O claro rosto de Anita
demonstrava tensão; os verdes olhos piscavam intensamente. Sorman, apesar
do inicial desconforto, desligara-se por segundos admirando-a, mas logo
procurou responder-lhe:
- Bem, se você ainda me conhece sabe que sou movido por instâncias; assim,
não saberia explicar, exatamente, porque necessito falar-lhe. Para dizer a
verdade, nem sei como começar – seus dedos uniam-se adiante como atraídos
magneticamente. As mãos pareciam esculturas pétreas. Anita aguardou. Ele
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reiniciou: - deixe-me então tentar. Não desejo de forma alguma entrar em sua
intimidade e novamente atrapalhar-lhe a vida. Você está casada, parece-me –
ela tentou interrompê-lo, mas ele prosseguiu – tem um filho, não sei, porém se
outros.
- Como soube destas coisas?
- Sua mãe contou-me meses atrás quando fui procurá-la. Vi seu filho. Ela
naturalmente não lhe falou a respeito.
- Não..., eu. Por que me procurou, Sorman?
- Necessitava falar-lhe, você me aparece constantemente em visões. Achei que
deveria saber de você. Anita tremeu.
- Este foi o único motivo?
- Bem..., não sei exatamente. Perdoe-me por falar-lhe sobre isto, prometo
respeitar o seu compromisso afastando-me depois, mas você jamais ficou longe
de mim. Muitas coisas aconteceram desde que nos separamos; de alguma
forma você esteve comigo o tempo todo.
- Sorman...! Ela não conteve as lágrimas.
- Não desejava vê-la assim. Não a perturbarei mais a partir de hoje.
- Não, Sorman! Não devemos virar as costas um para o outro. Se aqui estamos
é porque o destino quis. Devemos nos encontrar quando necessário, trocar
impressões, conversar enfim. Coisas também acontecem comigo; são
estranhas, não consigo explicações. É comum, por exemplo, meus sentidos se
apagarem, eu viajar mentalmente – ela parou e assuou o nariz com o
guardanapo de papel, depois passou suavemente os dedos sob os olhos,
enxugando-os e continuou – sei que vou longe. Em ocasiões sei exatamente
onde estou, o que faço, noutras não. Ouço vozes, capto mensagens. Por que
estaria isto acontecendo comigo? Sorman somente mirou-a.
Súbita luz azul veio colocar-se entre ambos.
- Vê o que eu vejo? - ele perguntou.
- Sim, a luz azul, quem a envia? Sorman fixou o olhar sobre a mesa; os olhos
tomaram-se de um brilho hipnótico. Por alguns segundos sua mente
desprendeu-se e o corpo permaneceu absolutamente imóvel. Anita vendo-o
assim procurou não se mover, temendo atrapalhá-lo.
- Seu mestre envia esta luz, a irmandade lhe chama – disse-lhe finalmente,
voltando a mover-se.
- Irmandade? Qual?
- Você saberá em breve. Ela não ficou satisfeita, porém não insistiu.
CAPÍTULO XI
RUDOLFO, O ASTRÓLOGO
Sob este clima, decidiu tentar um contato telepático com Bruno, mas não
obteve sucesso. Forte bloqueio o impedia de se comunicar. Desistindo
temporariamente dessa intenção preparou-se para dormir, idealizando antes a
estratégia de trabalhar objetivamente seu corpo espiritual, a fim de ingressar no
reduto da hierarquia com a consciência desperta. Porém, logo atestaria essa
impossibilidade, por que ao pronunciar a senha que lhe abriria as portas da
Grande Casa dos Estúdios e Câmaras da Hierarquia, viu descer-lhe uma branca
luz que lhe apagaria de imediato a lucidez.
Suave e fresca aragem movia as finas e brancas cortinas, como véus, na janela
totalmente aberta. Os movimentos provocavam seguidos e leves
sombreamentos na réstia solar que se insinuava até bem próximo da mesa,
sobre o bem encerado chão de tábuas. Um homem magro, alto e claro, de
cavanhaque e óculos de fina armação dourada, com cabelos castanhos
deixando à mostra entradas acima da testa e falhas ao alto da cabeça, levantou-
se detrás da mesa tão logo os dois se introduziram ao estúdio. Permanecia com
um lápis à mão e diante dele folhas manuscritas, mapas com zodíaco, livros
abertos, um pequeno globo, uma grossa lupa, um laptop, uma mini calculadora
eletrônica e outros objetos de uso, testemunhavam que uma grande tarefa ali se
realizava.
- Este é o professor Rudolfo, iniciado na FIA, astrólogo de raro talento e
cabalista prático – apresentou-o, Bruno, já próximo à mesa. Ele fez o sinal de
seu grau. Sorman respondeu e depois lhe apertou a mão. Nesse instante, várias
imagens desfilaram na mente de Sorman e viu-se no estúdio do Supremo, na
Grande Casa, exatamente com ambos. “Amanhã nos veremos novamente, antes
do ritual”, dizia-lhe Bruno, ao final daquele encontro.
- Creio já nos conhecermos, irmão - disse-lhe Sorman emergindo.
- É possível – ele sorriu e suas faces mostraram prematuros sulcos. Não teria
mais do que trinta e dois anos, calculou Sorman. – As atividades de nosso
núcleo no plano espiritual são muito intensas, ele continuou, certamente lá nos
encontramos antes.
- Com toda a certeza – reafirmou o recém-chegado, desviando os olhos para a
superfície da mesa.
- Desnecessário dizer de nosso Ministro Extraordinário, principalmente porque
você já está a conhecê-lo melhor do que ele a você - falou Bruno, olhando para
o astrólogo com a intenção óbvia de motivar a curiosidade do Ministro. Rudolfo
sorriu, desta vez, timidamente, baixando os olhos para o mapa em que vinha
trabalhando. Sorman entendeu a mensagem, perguntando-lhes com real
surpresa.
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- Este é o meu mapa astrológico? Bruno riu largamente, mostrando os alvos
dentes.
- Não há segredos na FIA, meu jovem, que não sejam desafios para a nossa
ciência. Nascimento, vida e morte de um iniciado são seus enigmas na Terra.
Cabe-nos, no devido tempo, extrair-lhes todas as coisas importantes que nos
acenem com sinais exatos. Dessa maneira, ganhamos tempo para melhores e
mais proveitosas realizações em favor de nossa célula.
- E o que exatamente descobriram? - Sorman animou-se.
Rudolfo lançou olhar para Bruno. Este ofereceu a cadeira para o visitante,
sentando-se ao seu lado. Rudolfo também sentou-se, apoiando os cotovelos
sobre a mesa e o queixo no dorso de uma das mãos unidas. O lápis ainda
permanecia-lhe nos dedos da mão esquerda.
- O irmão Rudolfo, ao meu pedido, já vinha fazendo levantamentos de seu
mapa natal – falou Bruno jogando a perna direita sobre a esquerda,
entrelaçando as mãos e as descansando sobre a perna – isto é norma da
irmandade, caro Sorman. Permita-me informá-lo sobre isto antes de nos julgar
abelhudos ou invasores de sua privacidade. Ademais, as definições externadas
por este horóscopo não serão de forma alguma reveladas a outrem sem a sua
autorização, fique tranquilo. É necessário você tomar conhecimento desta
pesquisa e das revelações aqui feitas registrando-as no cérebro e memória
físicas. Mas deixo agora a cargo de Rudolfo explicar-lhe o conteúdo do trabalho.
Até então Sorman pensara em expandir sua ação na irmandade, desejando voar
mais alto. Mas agora, diante dessa real situação informada por Bruno, sentiu o
peso da responsabilidade, ficando preocupado.
Na chegada à Casa Rosa, Lucéa aproximou-se dos quatro. Seus negros olhos
cintilavam ao ver Sorman:
- Meu pai não me havia informado que viria! - disse efusivamente beijando-o
nas faces, sorrindo com o encanto habitual.
- Nem mesmo eu sabia. Alguns membros trocavam de roupa; outros, já prontos,
permaneciam no salão em silêncio e concentração.
- Vamos entrar! - ordenou simplesmente Bruno e todos o seguiram.
SEGUE PARTE II