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BIBLIA Este ro redine um corpo de hteratura bem mais de dos milénos e um processo pscolog 20 que fo descoberto apenas no século XX, atran E PSIQUE simbolismo da individuasao ea ds Nance Beate no Antigo Testamento duistes da psicologia profunda,«cronologa dos even: Edward F. Edinger tos bibliees pode agora ser vista como andioga 20 mo vimento psioldgico em drecdo a iotalidade do hu ‘mano. Dessa forma, a Biba jornece u ‘extraordinaramente ree de imagens erque! tepresentam 0 enconiro com ¢ numinoso. >podemos entender estos imagens como ‘0s com os eventos reveladores que s2 encontram na Biba, EDWARD F. EDINGER - BiBLIA E PSIQUE ‘Taal a ‘The Bled the Poyhe Invidantion Sb int ‘ney Becks Caanoe ottward Bangor ‘rata Io Staraolo Oa Tontement cp AMOR RPSTAUE Avg por Dr. Lan Eenventare oS Prt Marin 8 Baran © rigs ans, (© ogg PAULINA -8AO PAULO 1860 uN apa g11000. SBN 0.910128 (0d cia) INTRODUGAO A COLEGAO AMOR E PSIQUE [Na busca de sua alma e do sentido de sua vida © hhomem deseobriu novos eaminhos que olevam para. sua inlerioridade: osex préprio ospago interior torna-solugar novo de experiéneia. Os viajantes desses caminhos nos ‘revelam que somente o amor 6eapaz de gerara alms, mi também 0 amor precisa da alma. Assim, em lugar de buscar causas, explicagdes psicopatoldgicas para nossas foridaa e sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, ‘amar a nosea alma, assim como ela é, Deste modo é que 108 reconhecer que essas feridas ¢ sofrimentos naseoram da falta de amor. Por outro lado, revelam-nos {que a alma se orienta para um centro pessoal etranspe' soal, para a nosea unidade e a realizago de nossa totali- dade, Assim, a nossa prépria vida porta emsium sentido, ode restaurar a nossa unidade primeira. Finalmente, no 6 9 espiitual que sparse pr. :eiro,esim opsiquico, e depois oespiritual. Ea partir do clhar do fntimo espiritual interior quo a alma toma seu ‘sentido, o que significa quo a psicologia pode de novo ‘estender a mao A teologia, ‘Rasa perspectiva psicoldgica nova é fruto do esfor- ‘0 para libertar a alma da dominagao da psicopatologia, {do espitito analitico e do psicologismo, para que volte a si ‘mesma, & sua prépria originalidade, Hla nasceu de reflo- xdes durante a pritica psicoterdpica, ests eomegando a renovar o modelo e a finalidade da psicotorapia. ff uma nova viaio do homem na aua existincia cotidiana, do seu tempo, e dentro de seu contexto cultural, abrindo dimen- 5 ses diferentes de nosea existéncia para podermos ren fontray a nossa alma. Ela podaré alimentar todos aqules {que so sensiveis h necossidade de inserir mais alma em todas aa atividades humanas. "A finalidade da prosonte colegio 6 precisamente restituira alma a si mesma.e “ver aparecer uma geragio de sacerdotes eapazes de entenderem novamente a lin- ‘guage da alma", como C. G, Jung 0 desejava. Léon Bonaventure cscs toto cm 1 cn eee so po sna rato OD) Prélogo a edigao brasileira $Bstamos no fim doséeulo 6, a0 mesmo tempo, no fim do segundo milénio da era ist. Como em outras épocas a histéria, muitas perguntas vém & nossa mente: Para ‘onde estamos eaminhando? O que é que vai acontecer? ‘Teremos alguma sobrevivencia, eqja ela individual, seja colotiva? Depois de todas as desilustes ¢ frustrayées, podemos ainda acreditar em alguémouem alguma caisa? ‘Haverd ainda alguma esperanpa em meio ao sentimento crescente de angastia e ansiodade que, eonstientemente, csboga aslinhas do grande desespero que aos poucos toma conta de todos? 1, A anflise pulverizadora ‘Chegamos ao limite extremoda anélise, em todos os ‘cempos do conhecimento e da sua aplicagao, a ponto de recisarmos hoje reeorrer ao computador, méquina fasei- xhante que pode armazenar ¢ combinar dados numero. sissimos. Para qué? Para podermos sintetizar o que nos interessa, a fim de darmos mais um passo, as vezes won assinko insignifieante, em qualquer diregio que de- sejarmos. Situagao bem estranha, pols, eonforme pesqui- ‘sas atuais, cada um denéstem no proprio oérebro algo de ‘muito mais perfeito que qualquer computador, ainda que © das ‘itimas geragies. Se quiséssemos construir am ‘computador semelhante ao eérebra humano, precisarfa. ° ‘mesmo:*Na verdade, duvide que aja parao ser pensante instante mais decisivo do que aquele em que, eaindo-Ihe as escamas dos olhos, ele descobre que nia é elemento perdido nas solitudes eésmicas, mas que é vontade uni- versal de viver que nele converge e se hominiza’s 0 que Teithard quis dizer € que a humanidade in- teira e esda pessoa dentro dela 6 o universa inteira que olha para simesmo,reflete sobre si, toma-se nas préprias iiios e encaminha o futuro. Pode haver algo de mais _grandioso do que isso? Espantamo-nos com a imensidao docéuestrelado, enosmaravilhamoscomamultiplicidade cebeleza do mundo. Pois bem, Todos ¢ cada um denés tra- ‘zemos dentro todo esse universo! Mais ainda, em nossas Aecisdes individuais e coletivasjoga-se a sorte definili esse universe quo ha bilhées de anos latou para final- ‘mente nos produsir. Vertigom. H maior vertigem ainds, quando descobrimos que esse universo todo tard futuroow, iio, ependendo de nés. B claro quo neaee instante, nés, que temos o centro nas méos, trememos, E quem nia hhaveria de tremer, diante de tanta responsabilidade? Huberto Rohden Outro grande mistico, brasileiro de Tubariio, Santa Catarina. Em suas mais de seseenta obras, originais ou ‘tradupies comentadas, perpassa a sua visio mistico- filoséfica, que ele proprio chamaou de “Blosofia univérsica”? ‘Trata-se de intuigso profunda, capax de unis todo oeampo do conhecimento e da vivéncia da humanidade. ConformeRohden, todaarealidadeconcretaevisivel apenas versio do Uno misterioso e inviaivel. A fsiea & versio da metafisica, a matéria é versio do espirito, os cexistenies sto versdes do Ser. Lerando sua intuigdo ao Tian ear 0 etme haan, Bi Ca, P19 "une pues inst mtn oneal 0 tile gins Potet Avda Soin emetic, 2 limite do exprimtvel, pode-se entao diner que tudo 0 que 6 visfvel no espago e no tempo é verso do Ser tno inviss- vel, intemporal infinito. Rohden quer dizer com isso que apolémica filoséfiea entre o Sere 08 existentes chegasa na fim. Nio se trata de ou um ou outro, mas de pereeber que cada enisa ou ser eonereto 6 epifania que manifesta a suprema realidade, seja ela um eonecito filas6fieo, amo 0 de Ser, sajareligioso, eomo o de Deus, Melhor dizendo, tratarse de pereeber que cada pessoa ou qualquer outro xr do universo & versio parcial do Deus que, embora invisivel, 6 eriador de eada sor vial, vertendo-ee par- cialmente em cada um deles. E como chegar & totalidade ‘de Deus? Abracando todo o conjunto de seres, e vendo em todos juntos a versio total domistériode Deus. Pantetsmo? Nao, Talver sim opanentefamo do apéstolo Paulo, quando afirma que em Deus “vivemos, nos movemos e existimos" (At17,28), equea realizagao final doprojeta divino é que "Deus s¢ja tudo om todos"(1Cor 15,28). ease modo, nada e ninguém fiea fora da visto de Rohden, Ble supera as cléssicas dicotomias que opunham ‘ sagrado.a0 profeno, osobrenatural ao natural, otrans- cendente a0 imanente, e dat por diante. Na gua visio, 0 {que se costuma chamar de profano, natural eimanente 6 a versto visivel do sagrado, sobrenatural ¢ transeen- dente, Supera-se ento.a m{stica profana ou materialista daqueles que abandonam a viséo do puro Dous para ccontemplar a muléiplicidade dos seres concretos. Supera- ‘se também a mistiea religioga oa eapiitualista daqueles ‘que abendénam a visio da multiplicidade dos sares con- ‘relos para contemplar a visio do puro Dens. Superadas fessas misticas exclusivistas do ow isto oz aquilo, nasce a istica univérsica ou ebamica do isto naquilo, a mistica daquele que 6 capaz de ver 0 Uno no Verso, todos e cada ‘um dos versos como caminhbs que levam sempre ao Uno. Rohden descortina um universo vertiginoso, ao aleance decada um, £0 que se vorifie, por exomplo, na intuiglo 6 de Clarice Lispector,quandodizquo“aintimidade humana vai tao longe que seus tltimos passos ja se confundem ‘com os primeiros pascas do que chamamos de Deus"? Carl Gustav Jung Outra grande vor, agora no campo da psicologia profunda, foiadeC. C. Jung. Também ele foi chamade de Iistico ¢, & somethanga de Teilhard ¢ Rohden, logo pereeberemos por qué. Partindo do campo empirioo de ‘sua propria auto-andlise terapéutica de contenas de paciontes, Jung chegou a eatabelecar as hases de uma cosmovisio da psique universal quo esta presente o se ‘expressa na psique de eada possoa (0, proporcionalment, quom sabe se nfo na dos animais, plantas e pedras, ssoguindo Toilhard © Rohden?), A esta paique tnt Jung deu o nome do Inconsciente Coletive ou psique objetiva, como ele gostava de chamar, em contraposiglo ‘a0 Tneonseiente Pessoal ou peique subjetiva, formada pela curta histéria do cada pessoa, desde 0 éeu nasci- ‘mento. Como ele chegou a isso? ‘ung absorvou, ¢ isso no campo empirieo, que a alma ou psique ¢ formada do imagens. Hssas imagens, porém, nem sempre so explieam pelo ambiente atual oa pela histéria pessoal do individuo, De repente suger, nos sonhos e fantasias, conteidos imagétioos que ex. trapolam completamente 0 campo de conheeimento do individuo, do grupo a que ele pertence, eats do estado do toda a realidade presente, Inusitadamente os individuos se véem confrontados com imagens arcaicas, presentes ‘om mitos, londas e rligides que cosbumamos chamar de primitivas. Assim, doparamos dragéos miticos, eonas que se parecem com as dos eontos de fada, e representagos arcaicas de Deus, ou de deuses e deusas, o até esm fend- ‘menos do mundo animal, vegetal, mineral, para nfiofalar 3 Chari gc, dsabrt do mand, Ra Noes Prosi, a de sain 1k “ | | ‘das mais puras representapdes geométriens e das abs trapies das matematieas! Portanto, o que Teilhard afir- ‘mavana sua visio mistico-postico-cienifica,eRohden na sua visio mfstico-iloséfiea, Jung por eua vex comprovou ‘empiricamente na andlise da psiqua. Acontece aqui uma viragem total do pensamento hhumano. Espirito e matéria deixam de ser opostos incon- cilisveis, para se tornarem apenss dois aspeetos, unidos ‘econcomitantes, da mesma realidade: aalma enearnad, que porta dentro de si a histéria do universo intoito, ‘numa multiplicidade de imagens que so intercombinaim av infinito para formar eada destino individwal eo doting do toda a realidade. Como Teilhard, Jung tambon par= ‘beu que nao 86 0 corpo, mas também a prique tom raizes cebsmieas e universais, A histéria inteira do universo oat dentrode cada ser humano, ponto de chegadao resultado do gigantesco esforyo do cosmos inteiro! It por isso que ang dizia, na tltima carta que esereveu a Miguel Ser- ano: "Parece-me que nunca se perdeu nada de essencial, porque a ‘matriz’ est sempre prosento am nés oa partir dela pode-se reproduzir o original, caso necessério, Mas somente aqueles que aprenderam a arte de afastar seus cothos da luz cegante das opinives erentes e fecham seus ouvidos aos ruldes dos esl6gdos eftmeros podem rect perar 0 essencial”Em outras palavras, Dastaria um Xinico ser humano para reconstituir a historia de todo o tnivoreo e, por outro lado, basta que um 26 ser humano cenderece corrotamente ofuturo,paraquetedeseotniversa inteiro através dele sejam salvos e se realizem. Em decorréncia de suas descobertas, Jung dedicou- se intensamente a todos os produtos naturais cam que 0 hhomem procurou expressar a sua alma através das tera- pos (mitos, lendas, artes, rligides), vendo em tudo 08 passos quo chegaram até nés e,finalmente, se tornaram, gu Sars Oreo hard de Herman Hse 20 Jong, Brash, 1970 ih 15 nds. K cabe a nés, reeehendo essa incomensunsvel heran- ¢, continuar a abrir eaminho ou ao menos projetar so- Jugdes para o problema eentral da humanidade: ac ‘da consciéncia, que é o sentido sitimo de toda reslidade, A Biblia nd ficou fora das consideragies de Jung. Pelo contrétio, ele nao hosita em dizer que “precisamos ler @ Biblia ou nlo entenderemos psicologia. Nossa psi- cologia, nossas vides, nossa linguagem ¢ imagens foram construfdas sobre a Bblia”*De acordo com Jung, a Biblia ‘6 um dos grandes testemunhos universais da historia da prineipalmente ado Ocidente, Nela esto os alicerces fondamentais da alma de todo e qualquer ‘cidental, por mais ateu ou indiforente quo se declare. B aqui vemos o surpreendente encontro de Jung com a intuigao mistiea de Rohden. Conforme o que Jung escre- Resposta a Jé, 0 ser humano é um "vaso repleto do confit divino” Com isso elo queria dizer que em cada ser humano Deus se manifesta e se torna conscionte ou, ge quisermos, se humaniza, ow ae omi- niza, para usar 0 termo de Teilhard, B clare que isso no se faz sem sofrimento: 0 Hgo humano resiste-ao impulso do divino, edease atrito vem o calor de todo 0 procasso. E softimento maiorainda acontece quando Deuse0 Homem se desencontram no caminho, o Homem “subindo” para ser como Deus, e Deus “descondo” para ser Homem. Mas, quando 0 homem se descobre como participante de todo ‘esse drama, e quando pereebe que sua vocagao & ser 0 ccadinho da grande transformagio, ¢ quando se dispie a sero instrument, omeio para Deus se expressar ese hu- manizar, entao ele certamente poderé exclamar com 0 @xtase de Rabindranath Tagore: “Aasim é que a tua alegria em mim é tao completa. Assim 6 que descests a0 15. Jang ude de priate, OVI, Ra Ves, Pp 1,195 88 186-8 dng Pita rigloocdnal eon, 00% Ve, tpi 10786. 16 ‘meu encontro, Tu, Senhor de todos os eéus, onde esta 0 teu amor se eu nao exitisse?™ © Homem a servigo de Deus, 9 Ryo humano a servigo da misteriosa semelhanga divina que est em cada ser humano, equigé em todes os outroa sees... Jung se encontra aqui com o Evangelho, onde Jesus diz que"o Filho do Homem nio veio para ser servido, Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate am favor de ruitos” (Me 10,45). Af esta grandeza da tarefa que se descortina a frente de cada ser humano: servir como adinho onde nio 6 a histéria da humanidade, mas também a histéria da natureza e de todo 0 universo, © finalmente o préprio Deus se espelham, para setornarem conscientes, encontrando-se consigomesmos, nam éxtase indescritivel que se torna a propria razéo do humano, Haverd maior responsabilidade do qua ser simplesments fesse cadinho? E haverd maior prazer do que sero espelho ‘nde todo 0 mistério da Vida se completa, enearnando-se para se encontrar ese refletir a si mesmo? 8. Biblia e psicologi alo da psicologia complexs, come Jung a chamava, ou psicologia arquetfpica, como os diseipulas de Jung ppreforem. Pois bem. Essa psicologia procara rastrear os ‘mistérios da alma em todos os produtos que a huma- nidade produziu e continua produzindo, Nio por mera euriosidade ou erudigao, mas por necessidade, para des- cobrir as dimensies e ¢aminhos desse mistério que se desenrolana humanidadeeem cada serhumano que dela participa. nisso tudo Biblia ocupa ugar proeminente, is foi ela que penetrou o Ocidents, dando forma & sta cultura, espetho do seu modus vivendi, em todos o8 sen- tidos e'dimensées. Assim, um dos muitos esforgos da psicologia junguiana 6 compreender os caminhos percor- 1 findranath Tope, “Ctl, pen Palas, So Poa (et v ridos por essa psique modelada sobre a cosmovil co-crista, a fim de prever ou projetar o thing que vai inexoravelmente se. projetanda i todos e de cada um, Para a psicologia de Jung e de seus soyuiores, po- 16m, todosos produtosda mente eda imaginaplo hunni podem se resumir a um sé fenémeno, com desdobramen- tos espaciais e temporais: abusea de i-mesmo, do centro ‘04 nécleo misterioso que tudo dirige @ tudo realiza para, fem cada um e em todos os individuos, emorgir e se manifestar em plena conseiéncia. A Biblia nao escapa a isso, Relatando as vicissitudes do relacionamento Deus- ‘Homem, espelhado em cada pégina de todos os seus livros, a Biblia 6, para os psiedlogos junguianos, gigan- ‘nsco festemunho das Iutas que a alma individual e cole- tiva realiza para tornar-soconscionte de si mesma. O pre~ sentelivro de Bdward F. Bdingor éexoelente tostemunho disso, Além dele, muitos outres fazem o mesmo. Para nés, cristias, muitas veves ainda acostuma- dosa pensarno homem od neste mundoe Deus ld —onde? —talvez.em outro mundo, sitaado num tempo além do nosso © num espago para ld do nosso, isso tudo pode parecer ou até ser chocante. Afinal, para a psieologia de sJung, o para lé espécio-tomporal, em que imaginamos ‘Deus, est no mais profunde de nés meamos, © 6 dai que ‘Deusnos interpela enos convida para didlogaem que ele se epifaniza, tornando-te presente, através de todos e de cada um de né: [Bsa abordagem psicol6gica, ao mesmo tempo indi- vidual ecoletiva, pode serjustifieada? Seré queer algum lugar a propria Biblia legitima tal tipo de leitura do mis- tério? Parece que sim. Ao abrir a Biblia, jd na primeira pina do livro do Génesis, somos informados de que 0 hhomem foi eriado a imagem e semelhanga de Dets” (Gn 1,26-2'), Nesta afirmagdo desponta um harizonte novo 6 ilimitado, tanto para a teologia como para todas as 18 | ciéneias que se ocupam do humano: Deus se revela no hhumano. Por isso, toda teologia comega seu discurso em Deus e deve, para ser everente, terminar falando do Homem. E vice-versa: qualquer eincia que se ocupa do mundo humano deve, se for prolongada até o fim, se extrapolar e terminar falando de Deus, Deus ¢o Homem ‘io dois mistérios indissoluvelmente ligados, Um nao pole ser explicad sem o outro, Em Gn 1,26-27, portanto, est a informagao funda- ‘mental para quem vai lero resto da Biblia, do Génesis ao ‘Apocalipse: tudo o que nela so desereva tem a ver com 0 ‘nosso mundo, e muito especialmente com o nosso mundo interno, a partir do qual se cria a realidade exterior, eja la qual for. Tudo tem sua raiz,e para osjunguianos.raiz se encontra nas felizes ou infelizes eonexdes da alma in- tena, O mundo externo éreflexo do estado do nosso mun- do interno. Nao adianta reclamar. Seomundonaoéo que querfamos, é em nés mesmoa que devemos procurar a causa do estado das coisas. O que, sem divida, nio é agradével. A loitura psicoligica junguiana, portento, 6 justi- fcdvel elegitima ja a partir da primeira pagina de Biblia, Onde, atiss, tambémse diz que“Deus viu tudooque tinha feito: era muito bom... edeseansou depois detoda a obra ue fizera.. depois do toda a sua obra de eriagao” (Gn 1,81;2,2). Em outras palavras, Deusfezcompletamente ‘oque se propusera a fazer. O resto eabe a nés. Somos nds «que devemos continuar a criar, e no fiear pechinchando ara que Deus continue a eriar, poupando 0 nosso tra balho, Para isso recebemos tudo: temos em nés a imagem ‘esemelhanga do préprio Deus, eomos chamados a deseo. bri-la efazé-la emergir, encarnando-a em nossas vidas. O ‘que isso significa oresio da Biblia conte. Todo o mistério do Deus © do Homem esté contrado na encarnaciio de ‘Deus, ouda imagem deDeus que est em cada um denés, Ba expressio méxima disso 6 a peasoa de Jesus, 9 ‘Jesus 6 Deus? Jesus 6 Homem? #8. K como foi possivel tal fenfmeno? Acantece que, sendo plenamente Homem, Jesus é ao mesmo tempo a plena exprossio de Deus. $6 se espanta com isso quem nao leu & primeira pagina da Béhlia: o Homem feito a imagem e semelhanga de Deus tem, como destino espelhar a propria realidade ‘deDeus, O apéstolo Paulo compreenden bem isso, Na sua carta aos Colossenses ele diz que Jesus “é a imagem do ous invisivel” (Cl 1,15). Em Jesus, portanto, acontecou 0 que dave acontecer em todos e em eada tim de née tornamo-nos oespelho que refleteo mistériode Deus, que 6.a fonte da vida. Todos o cada um de n6s temoa como ‘vocagao sor a epifania do Deus vivo, a semelhanga de Jesus, que 6 0 Homem plenamente realizado em sua hhumanidade e, por isso mesmo, plenamente revelador da prasenga eda apo do préprio Deus, Quem é que nfo se lembrar aqui do que diz Roden: eada ser 6uma versio de Deus? Pois bem, eada um de nds é chamado a ser ¢@ fazer o que Jesus fer. N&o a imité-lo, o que sberiaria tédio ‘com arepetigdo. Mas ontrogar-socomoele er, para servir ‘a Deus, servindo os outros. O que Deus vai querer? O que 98 outros véo querer? Ou melhor, o que é que Deus Vai querer de nés através dos outros? Mistério. Aventura, Semoquo a vidandotemgraga, Para que medirecaleular as coisas, quando a vida 6 infinita? ‘Voltando i psicologia, devemos dizer que ela 6 apo- nas instramento, hermenéutica que procura entender 0 que, neste momento, Deus ou a imagem de Dens pede a todos e a cada um de nés. A psicologia ndo tem e nem ppoderia ter receitas prontas. Sua misslo 6 compreender «fazer compreender os projetos e eaminhos que cada um deve realizar, para quo Deus se manifesto, riando para, todos o mistério inesgotével da vida. Cabe & psicologia tentar compreender e explicar a cada um a versio de Deus que ele & chamado a realizar, a bem de si priprio e de todos o8 outros. 2 4, Teologia hoje: sociologia ou psicologia? Depois de séeulos de hegemonia da teologia, como discurso ltimo sobre toda a cosmovisho, surgiram Marx ¢ Freud, que imprimiram impulso decisivo na sociologia ‘ena psicologia, a ponto de easas duas citncias pretende- rem dar orientagio fundamental para todas as eéncias do humano, Sinal de que alguma coisa nfo andava bem com a teologia. Nao que ela estivesse errada em si. Bque, seeundada pela filosofia essencialista, a telogia ehegou ‘a elaborar tao perfaita abstratamente o diseurso sobre 1 religido, sobre o mistério do Homem e de Deus, que praticamente ja no conseguia dizer mais nada @ ni .guém. Tanio a soeiedade como o individuo fiearam entre- gues a0 "Dens daré, Certo, Deus aeabou dando a socio: logia e a psicologia, para recuporar o que a teclogia, no dizer de Jung transformada em “saeressenta inintel sibilidade"ytinha roubado ao usufruto do individuo em particular © do povo em geral. Sociologia ¢ psicologia surgiram para reensinar 2 teologia o dogma central do cristianismo, queestaparecia eresquecido:a encarnagdo de Deus no mundo humano, sea 9 mundo do individuo, ‘ej omundo do social, Deus dascen do oéu abstrato para se enearnar no eoneroto da humanidade que se forma a partir de cada um de nés, o que vale dizer que Deus se ‘encarna em todos e em cada umn de nés. ‘Hoje existe uma disputa latenta entre socislogos ¢ Deis6logos. Ambos pretendem dizer a ultima palavra. O3 rimeiros aflrmam quo a realidade primeira 60 social, € ue a partir dele quo so forma o8 individuos. Os segundos dizem que a realidade primeira é oindividio, e que é a partir dele que se forma o social. Em quem acreditar? No ovo ou na galinha? Tomados absolutemen- toe exclusivamente, nao se deve acreditar em nenhum 50.0. tng Pili dara didnt coin, OC, AV, IGRI To Seach SSP Daeg cmd a des, pois separados ambos afiemar das fais, Ral ‘ca areditarque o social porsiyossa dar origom a paso ‘havas. final que 60 ocal, endo oespelho das pessoe8 (das complatiainasrelagies qua elas mantém onaigo ‘enmas? Faldia também neredtar quo a yeaboa po proscindir da complexssima rode do relagies coon ‘es politica deagies, quem geal fezem com que a ‘esa sea ama reprodis perfita om quase do social fm que clas vive A redupio a ou isto ou aquilo acaba Sempre nama dessasfaléias. Individuo e sei extéo sempre em relagdo dialética, um dependente do outro. 0 Aecefo, portanto, 6 manter aso e aqui, pereabendo que ‘srealdade humana se fas partir daa relagtesinteapes- Sonis dos individuoso ae expresea nas rlagses inteapos- Sonido social. Um &o esplho do oso, Tatas, por tanta, nd de escolhor sociologia on psicologa, mas de afirmar as duas e manter a relagao dialética entre elas, pois ge @ primeira mostra a pessoa por fora, a outra mostra a pessoa por dentro. Néo prevendamos que 0 produto deuma soma sejamaioredemelhor qualidade do {100 némoro on a qunidede daa parsalaesomedas. 0 Social expla on indvidios que 0 eompéom, cada indivduo eapelha o social pera o quel pessoalmente contrib, Sto intordependentea, e ces dos dis no funciona, outro também nfo poderd funciona. Anal, hoje qualquer psicélogo pode falar dos desastres sociais: «que wm a3 indvidvo pode exusr, assim como qualquer Seeidlogo pode falar ‘dos desasttes peseois que uma dloterminaa frma do social pode carat. Daf quo cura dos problemas nao pode enka deve ar apenas prioligicn tm apenas socal A bom do todos e de cada um, tanto 0 paiflogo quanto osocilogo so chamados a serterapet- fas, cada qual no seu campo. Para so encarnar totalmente, Deus (teolea,tom necessidade tento do individuo (psiologn), como dk Colotvidads(sciloga). Se cada pessoa nfo for compas 2 tamente uma versio pessoal de Deus, ea nfo eonteibuira dom e o socal jamais podera ser a versio total de Deus. Aqui a tarefa da psicologia. Mas também, soo soeial nio proporcionar respeito e condigdes para a liberdade © a vida as quais cada um tem direito, as pessoas jamais podorio funcionar bem, descabrindo e realizando a sua ‘versio pescoal de Dous, a bem de todas as outras. W aqui a tarefa da sociologia. Assim, atinica toologia convineen- te, daqui por diante, seré aquela que leva em conta tanto a Sociologia como a psicologia, Em outras palayras, a que Jove em conta a encarnagio de Deus tanto na humanida- de como na vida irrepetivel de cada individuo que a ‘compte. A teologia precisa, portanto, de uma psicossocio- Jogia, para que todos juntos e cada um em particular funcionom bom, revelendo a prosenga (oua auséncia?) do ‘Deus Vivo, que quis se manifestar no espago-tempo das suas eriaturas. 5. Onde encontrar Deus? Atualmenta nos defrontamas com problema grave. Depois de mildnios de existéncia dos humanos, parece gue o humano ainda nfo se realizou, Depois de milénios dorovelagdo de Deus, através de todas as religites, parece que Deus ainda 60 grande ausente do nosso mundo. Uma parte da humanidade sente essa auséneia de forma dolo- rosa, o que néo deixa de ser uma forma de presenga. Mas ‘hd também uma parte que sequer se dé contada auséncia ‘de Deus, e isso 6 muito pior. ois mil anos de influéncia judaico-crista forma- ‘ram 0 espirito do Oeidente, Tal influéneia nos convocava ‘2 constroir a Jerusalém celeste (Ap 21,1-22,5), uma Iumanidade justa e fraterna, transformada em santud- rio humanodo préprio Deus, onde todos poderiam repar- tira liberdadoa vide. Acsitamas oconvite e pusemo-nos a construir. Mas houve algum orro na exeeugso do proje- to, alguma trocs ou sabotagem nas plantas da constru- B ‘eo, eo que acabames construindo, talver sem querer, foidenovoa torrede Babel (Gn 11,1-9). Dessa ver, prs, om as sofisticagdes da citncia eda tecnologia, eonsegui- ‘mos chegar até 0 fim, © penetramos no oéu. Mes, 6 su pres o eu ests completamente vagiol Cadé Deus? Para onde cle oi? Espantados com essa descoherta frustrante, ‘muitos perdom completamente o sentido de tanto esforgo eseatiram da torreda civilizagéo" absixo;outrosresolvem. descer da torre e procurar Deus, Onde estaré Deus? Alguns ee docidem a procuré-lo nos antigos e famosos tamplos, como o de Jerusalém. Intl. O evangelista Mateus nas informa que, no inatan- tedamortede Jesus, ‘acortina dosantasriorasgou-seem dduas partes, de alto a baixo" (Mt 27,51). Da‘ por diante o ssantadrio mais sagrado do mundo ficou vatio, Depois de ‘Jesus, Deus jd io est enclausarado nos temples, Tago- re entendon bem 0 que isso signifieava: “Deixa esse rosério de salmos e ednticos © palavras! Quem exidas tu ‘que estas venerando nesse reebndito salitérioe escuro de uum templode portas fechadas? Abre os alhos ev que no ‘std diante de tio tet Deus!™Para onde o nosso altissimo Deus terd ide? Tagore continua: Ele est ondo o laveador cava a terra dura, ¢ onde est ‘quabrando pera equele que abre caminhos. Est com eles 0 sole & chuva, com a roupa coberta de ps. Despe o teu ‘manto ritual e doses com ele ao chao positento, Lihertapio? Onde encontrar ess libertagio? Nosso mestre ‘tomou alogrements sobre si os eneargos da crit. Ele ests ligado a todos nés para sempre Sai das tuas meditapses.edeixa delado s tas flores eo tet, ineensol Que importa se as tuas oupas se ragga o men cham? Val encontré-loe fea com elena fadiga e no suor da tua front." 1 Ratna Tego, "ana 10 Tdem dan, Deus saiu do seu santuério para se encarnar em nossa vida, a fim de construir oseu templo dentro da vida Jhumana, euja voeagio 6 de todos os modos humanizar © universo: cultivando a terra, abrindo eaminhos, traba- ‘thando em mil frentes. No primefro momenta nos alegra- ‘mos: Eneontramos Deus. Ele ost aqui, ligado a todos nés para sempre! Mas a alegria dura poueo, Passa o tempo e ‘vemos que Deus andou por aqui, mes ja foi embora, Podemos pereeber suas pogadas, deseobrir as marcas da sua presengs, mas ele mesmo desapareceu, Eagors, para onde terd ido? E outra vex Tagore quem nos dé a pista: Aqui 6 oestrado para 0 tous pi, que repousam aqui, onde vivom os maia pabres, mais humildes eperdidos. Quando tonto incliner-me diante do ts minha revertncin ‘nfo conseyue aleangar a profundidade onde os teus pés ‘repousam, ante os meis ples, mais humiles o perdidos. © orgutho'nunea pode se aproximar desse lag onde cam’- thas com as roupasdo misorivel entre os mais pobres, mals Inumildese perdidos, Orme corago jamais pe encontrar o caminho onde faxes ‘companhia ao que nfo tem eompanhelr, entre os mais pobres, mais humildes e perdido .A{ ests, Deus desceu do e6u para se encamar no ‘mundo humano. Deixou seu templo, para trabalhar com os trabalhadores. Depois saiu das para estar com “os mais pobres, mais obscuros e perdidos”. Todavia, quais aio cesses pobres, obscuros © perdidos? Sto todos aqueles nnossos irmaoa que néo tiverar ver, oa foram desfavore= cidos, ou derrotados, ou marginalizadios pelonosso eaforgo ssigantesco do construir a “civilizagto” que aeabon por ‘encontrar o eéu vazio. Deus desceu até eles, porque eles ‘também sio seus filhos, por nds mesmos marginalizados desua familia. Mas Deus épai, quando um pai ama com ‘amor infinito,o nico amor verdadeiro, le nfo se eequece 1 em, du, 0, de nenhum de seus filbos, © ae estes forem atirados & sarjeta, para 14 vai também ele, fazer-he companhia, 1) slaro que tudo isso nos lembra imediatamente os fextos de Lucas 15 © Mateus 25,31-46: Jesus seguin fielmen- ‘to. passos de seu Pai, o também ele foi parur na sarjeta da nossa sociodade ¢ da nossa historia, para fazer companhia a todos os rejeitadas © marginalizados, F Jesus é 0 Homem, a revelagio plena da imagem e da ‘semethanga do Deus invisivel, Ble 60 modelo, o canvitee oe desafio para née : Se perdemos o sentido de nossa vida pessoal ¢ oletiva,é porque fizemos algo de errada, I foi justamen- tena constragéo da Babel desumana e antidivina, Para ‘constrat-la demos vera alguns e roubames ves de outro favorecemos algunge desfavorecemos outros, derrotames ‘muitos e marginalizamos muitissimos, Pois bem. Para ‘Que a construgao volte ao plano original, épreciso descer, como Deus e Josus, ¢ contogar tudo de nove. ‘Uma gigantesea tarefa aparece & nossa frente: ou vir todos os pobres, cbscuros e perdidos, para resolher to- ass pedras que abandonamos pelo caminho e que hoje ‘se tornaram os marginslizados da histéria eda soeiedade. Gabe nés sentar-nos no baneo dos réus, diante deles, Aispostos a ouvir todas as acusagSas edentineias que eles fardo contranés, Nas palavrasdeles poderemosencontrar © que falta para nos tornarmos humanos, eriados {imagem esemethanga do Deus Vivo encarnado em Jesus, Sentados no bance dos réus, podemos ouvir o que os rimitivos tém a dizer aoe eivilizados, o que os povos de Pele escura téma dizer ao homem branco,o quo oe pobres ‘tm adizer aos ros, o quo os analfabetos tém a dizer aos Tetrados, o que os fracos tém a dizer aos poderosos, 0 que outras religies tm a dizer & nossa religido, 0 que os orientais tm a dizer aos ocidentais, 0 que os povos ‘ubdesenvolvidos tém a dizer aos povos superdesenvolvi- os, 0 que os doentes tém a dizer avs stos, o que os % famintos t8m a dizer aos sacindos, o que as prostitutas © ‘rostitutose amantes tim dizer aoa asus hom easado, © que a mulher tem a dizar ao homer, o quo os bomos. sexuais téma dizer aos heterossexuais, oque os ingénuoas ‘eburres tém a dizer aos aspertose inteligentes, o que om, pecadores tém a dizer aos santos, 9 que as eriangastém a dizer aos adultos, o que os velhos tém a dizer aos novos, Edaf or diante... E haveria ainda que ouvir a natureza, ‘a pedras, as plantas e os animals, se fosse possivel, ‘Mas a tarefa nao termina aqui. Depois de ouvit io das as sombras que a luz da nossa “civilizagdio” projetou, reste outra grandetarefa, Basia viraracadeirae, voltados para nés mesmos, comegar a ouvir tudo o que as nossas Sombras pessoais tém a dizer. B, curiosamente, vamos centiéodescobrirque todos eases pobres,obscurose perdides também estio dentro de nds, reprimidos e relegados as trevas do inconsciente, Mas esto todos vivos, ¢voltam continnamente, através de nossos sonhos e percepgtes ‘momentiineas, ‘sempre nos observando, incomodando, Julgando, perseguindo o, sebretudo, elamando para par ticipar da nossa vida, a fim de Ihe dar plano sentido e rea. lizagéo, Sao eles que nos faltam para sermos intemros. So ‘Quisermos ser mais humanos, 6a eles que nos falta oavir, 'Na vor de todos os pobres, obseurase perdides, que esto dentro fora de nés, 6 0 préprio Deus que noe fale, nos eonvidando e desafiando a reeuperar reintegrar ‘tudo o que o nosso orgulho ¢ auto-suficiéncia pessoal © coletiva havia perdidoot abandonado, Seestivermos dis. postos @ ouvir tudo o que Deus nos diz, entdo estaremos Prontos para construir uma historia nova, onde todos ‘ossam partilhar a liberdade e a vida, que so a prépria Dresenga e ago de Deus em cada um ecm tods, raves do através de nés a sua face total, Desse modo, 0 préprio Deus, como diz oapéstolo Paulo, poder, finalmente, ser "taudo em todos” (LCar 15,28). Pe. Ivo Storniolo ” Preficio 0 titulo deste livro reine dois termos de familiar ade desigual: 0 Antigo Testamento ea Individuagio. O| contatdo do Antigo Testamento 6 conhecido e venerado por hem mais de dois milénios, enquanto que a individ ‘ago como prucesso psicoldgico foi deseoberta apenas no século XX por C. G, Jung. A individuagio 6 algo simples e ao mesmo tempo ‘mpossivel de defini. Na sua define mais simples Tdividuapo signifi tormar-se um ser nic, medida que por“individualidads"entendermornossasingularidade mals ‘timo, dima e incomparével,signifieande tarnbsm que rns tarnamos o noo proprio simeemo, Pedemos pis te. duzir "individusa” como “tornar-se smears” (Verselbe- ‘ang ou realizar-se do s-mesmo” (Selbetverwirlchang) ‘Sua definigdo impassivel pode ser mais bem com- preendida pela letura completa de Mysterium Coniun. ctionis de Jung. Sobre esse livro Jung diz que “o método alquémico completo para unir od epostos, como deserevi em... (Mysterium Coniunctionia), poderia perfeitamente representar o processo de individuap de um individuo singular.» sacra, 806 mere Papo 1) Oot nda nse pusdownateeo brie as Inte urd am tease morse CMT Caled Were {eG fine ge S53 fk Peon Uae Titrim Conic OW 1, § 92.0 bees poder carer ‘anlserstvepane dd, nea proddas, ‘nO Honan ow Setoln HRs Prensa Soncea ig 5525 de Wick Do cancne ¢ DB Ps, So Fe » individuagio 6 0 pprocesso do encontro eda progressiva relagdo do ego cot © sismesmo, Infelizmente isso spenas troca tm Lermg Aesconhecido por outro. Tals definigbes ge tornam preens{veis apenas quando alguém experienciou as real ddades as quais elas se referem. “Tenth Clan ar tte tad con map Bene Ta Rak aod anager, Unies fo 20 2 ABiblia © a psique Precisamos lor a Biblia ov nto entendoremas picologia, "Nossa psiclogia, nossas vidas, nose linguagom «imps foram construfdas sobre a Biblia, ‘mento nova que brota a partir da psicologia profunda, 'Bssa nova eigncia estuda a paique como fenémano objti- voe experiencidvel. Ela toma antigos dados © os enalisa do forma nova, Por exemplo: mitalogia,reigido e aagra- das oscritaras de todos sio tiradas de seus contexios tradieionais e compreendidas psicologicamente, ou sa, ‘so vistas como a fenomenologia da psique abjetiva, De acordo com essa visto a Biblia ¢ eonsiderada como auto-revelapio da psique abjetiva, Como diz Jung, “as afirmagdes da Sagrada Kscritura sio manifestagtes da.lma... las go roferem a realidades que ulirapassam 8 conseiéneia. Estes ‘entia’ (antes) sio os arquétipos do inconsciente coletivo"s Até aqui essaa entidades psiqui- as transcendentais aparecoram como contetidos metaflc sicos do dogma religioso, mas agora, eserove Jung, “uma Psicologia cientifica deve olhar eseas intuigdes transcen- 1 Me Vision Suninre ap. 156 2 Rata J lp cd Pleo dant erin, OX, $6 a Temos quatro nomes no primeiro versiculo do Génesis, Por ease motivo os gnésticos 0 tomaram cons ‘uma referéncia a tétrade divina: ‘Mise, portanto,afrmam cles, pelo seu modo de comesar 0 relat da eriago, imediatamente mostra quo o Prinipie (arché) 6 a mae do todas as aisge quando ele diz que "no rinciploDeuseriouocéucaterra";pls,comoclesalrman, ‘omeando eas uatro— Deus, principio, edu eterra lg demonstra sua trade 0 desdobramento dos primsiros quatro nomes pode ser representado grafieamente deste modo: Principio Cen Terra Nh Deus koe ei 1 ate p Jn Den he a nso corresponde & nogio dos pré-soeritions de que ‘oprimeiro paaso na criagdo do universo foi a diferencis {da matéria-prima em quatro elementos — terra, ar, ogo, ‘gua, O termo grogo para matéria 6 arche, mesma palavra usada pela Setenta para traduzir 0 hebraico reehit, principio. de divisdo em quatro éa imagem cosmo ‘Jang salienta seu importante papel na ‘amo um quatérnio (grupo de quatro), ists ¢, como dois ‘oportos que se opfon em Linhas eruzdas; tals sfo, por txemplo, os quatzo elementos (arr, gue, ar, fog) on a8 ‘quatro propriedades (seo, malhado, quent, fo), on 08 ‘tuatropontoseardaaisoa asestagtesdo ano; dai proven que ‘Teruz 6 0 simbolo dos quatzo elementos, e desse modo ‘também o sfmbol da crip que existe eob a Tu Isso aparece na peicoterapia em momentos cruciais de encanto eriativo com 0 ineonsciente.* (Os cabalistas eonsideram que ‘Dous eri o mundo juntando a elo a Doutrina Secreta (da CCabala)..A pslavra BERE'SHTT, eom a qual se inicia 0 Genesis, fo muitas vanes tradusida por “na sabedori’, tonto por tno pines", para signiicar a Doutrina Socreta ‘su partsipasdo:na obra da cringda ‘Temos aqui uma referénsia a Provérbios 8, nde a Sahedoria diz do ai mesma: Meron Cito OXY Re [nos cauarn git deena til eaten nantandasonee tte once Sosa ‘Sits cctentocrenncerecmnctne tmp puna Upinctasantietssomscain queen sata ctatcmshmeaieentabardocnerary Naeore ‘ida diutesneta a uncon rsd Arye ‘eas reac een pre a pee Aken age Tahweh mo cri, primfcias de sua obra, ‘esos fltos mas antigos Desde a etornidado fui estabelecida, desi 0 prinip, antes da origem da terra [Bu estava junto dela como um mestre-de-abr fou orao seu encanto todos 0 dias, {odo tempo brineava em sua presenea (Pr 8,22-28.0) Conforme Provérbios 9,10, podemos dar um passe ‘adianto nas asaociagéca: *O tomor de Iahweh é o comogo ‘da sabedaria", Deate modo tal temor também se torna a ‘matéria-prima da eriagio, ‘Uma vez que a Sabedoria Divina foi assimilada & figura de Cristo, também ele se tornou sinénimo de principio. im Apocalipse ,14ele échamadode"o Principio (arche) da criagio de Deus”, Outros textos equacionam 0 ‘arche com a Palayra, Assim se nieia o evangelho de Joto: "No principio (arche) era aPalavra”. Teilo de Antioquia esereve que “Deus... gerou (sua palavra) emitindo-a com, ‘sua pripria Sabedoria antes de todas as eoisas... Hla é ‘chamada de "prinefpio governante (arche) porque gover- na e 6 Senhor de todas as coisas formadas por cle» Conforme Hilario, “bere shit 6 palavea hebraica com txts signifieadas:no prinefpio, na eabega, eno filho"s Daniglow ‘spocula quoesse texto pode derivar de Colossenses 1,15- 18, e que ambos refletem a mesma tradigao rabfnica; 08 ‘ds termos — prinefpio, eabora efilho —evidentomente parecer como sindnimos: Ble 6a imagem do Deus invistel, 0 Primoginito ith) da toda erature, porque nele foram eviadas todas a coisas no oa o-na tere, tanta as vefeis como as invinieit: ‘Tronos, Soberanias, Prindpados, Autaridados, tudo fo eviado por lee para cle. lan Dain The Th Joish Chao,» ce subsite eee eran. ues biter Ec comer ernest eee sac ant a le conic ia, ‘como corpo de Cristo pode ser com ea a ceed: en etre disfa aac telzienoabians 10, eo espirito de Deus te ne eee coe A eo ones setae cn ras que oravarae dsr toh bhi Tacdmns ua urate oat the as mont: 2c rontame dna a colina ava. oda Jeet dnretnda, maw to aniqufar completamente (Grapa-2420. ao Spa eee era sunt ee a 8 eis a ear eel ae mar a Stee ti nae Mt dace Lr ee cen Se pacar mae ec saves slo i-dous Marduc. Ele dividiu 0 corpo colossi \duas partes, formando com elas o eéu e a terra.’Tiamat simboliza o caos materno que pasea por uma diferencia, ‘0 quando se encontra com o espirita, Assim, o eapirite de Deus que paira sobre o tehom é sezuido pela dvigao da luz em relagio a treva.« ‘A Setenta traduttehom por abyssos, abismo,signi- ficando profundamente insondavel (dea-, sem, ¢-byseon, fando) "No gnosticismo, o Pai do universo" nlo é desig: nado apenas como masculino-feainino (respectivamen, {e) nenhum das dois), mas também como Bythos {a pre, fandeza do mary"."O simbolismo do mar e do abisme so sobrepdem no uso patristic. Jung faa um resume dias Gempregypatsatco de “mare” oxtécaracerizado poo dito

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