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Deficiência auditiva e AEE


O papel da Língua Brasileira
de Sinais na educação do
surdo e práticas
pedagógicas bilíngues
Língua Brasileira de Sinais - Libras

Bloco 1
Gleidis Roberta Guerra
Língua Brasileira de Sinais - Libras

A Libras foi reconhecida como língua da comunidade


surda brasileira no ano de 2002 (BRASIL, 2002).
No entanto, somente a partir dos anos de 1960 que as
Línguas de Sinais ganharam status de língua, com os
estudos de Willian Stokoe.
Ele comprovou cientificamente que as Línguas de Sinais
são línguas completas e que possuem todos os
elementos que uma língua oral possui.
Logo, elas são línguas autônomas, vivas e com gramática
própria.
Línguas de Sinais

É a língua
Podem aprender Conhecem
materna dos
naturalmente. melhor.
surdos.

A língua oral é
Nela se
sempre um
reconhecem.
treinamento.
Linguagem e Pensamento

A linguagem vai além da comunicação, ela nos torna


capazes de elaborar o nosso pensamento.
Por serem línguas completas, as Línguas de Sinais dão o
aporte cognitivo necessário para o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores.
Para o cérebro, não há diferença entre falar oralmente ou
em sinais.
Há um período crítico para sua aquisição (até os 5 anos
de idade).
Após esse período, a fluência linguística fica prejudicada.
Gramática da Libras
Fonologia O que é denominado palavra na língua oral é
denominado sinal na língua de sinais.

Para formar palavras utilizamos sons, letras e


sílabas.

Para formar sinais utilizamos a combinação


dos movimentos das mãos em um
determinado local.
Em vez de fonemas, para formar sinais
seguimos 5 parâmetros.
Parâmetros das línguas de sinais
A Configuração de Mão indica a posição da mão na hora
de articular o sinal, ela pode ser fixa, como em amarelo,
ou se modificar, como em vermelho.
O Ponto de Articulação se refere ao lugar em que o sinal
será realizado, ele pode ser específico, quando toca o
corpo, como na palavra mentira; ou inespecífico, quando
está em um espaço denominado espaço neutro, como na
palavra bonito.
O movimento se refere ao que fazemos com mãos,
dedos, pulso ou braços, como em água ou, ainda, pode
se referir ao tipo de movimento realizado, como em
queijo.
Parâmetros das línguas de sinais

Orientação se refere à direção que o sinal irá tomar, ela


pode ser para frente ou para trás, para cima ou para
baixo, para direita ou para esquerda. Ainda, quando o
movimento é circular, pode ser no sentido horário ou
anti-horário. Por exemplo: diretor e Deus.
Expressão Facial/Corporal são todas as expressões não
manuais, ou seja, o que não realizamos com a mão, mas
com o restante do corpo. Cabeça, ombros, face são
fundamentais nesse parâmetro. Como exemplo temos a
palavra verde e frio.
Parâmetros das línguas de sinais

CM e PA são Movimento e
parâmetros Orientação, o Expressão facial
obrigatórios, sinal pode ou pode ser neutra.
todo sinal tem. não ter.
Expressões faciais nas línguas de Sinais

As expressões faciais são fundamentais nas línguas de


sinais.
Além de darem o que na língua oral seria a entonação
vocal, elas podem modificar o sentido do sinal.
São também utilizadas para marcar o tipo de sentença.
Em uma sentença interrogativa, a cabeça se ergue
levemente, enquanto que em uma sentença afirmativa,
ela se abaixa. Veja o exemplo: Tudo bem? Tudo bem.
Nas negações há um leve movimento lateral de cabeça.
Por exemplo: conheço, não conheço.
Fonologia das línguas de sinais
Os 5 parâmetros das línguas de sinais são:
• CM.
Configuração de mão. • Posição da mão para
articular o sinal.

• PA.
Ponto de articulação. • Local onde o sinal acontece.

• M.
Movimento. • Tipo de movimento
realizado.

• O.
Orientação. • Direção do sinal.

• EF/C.
Expressão facial/corporal. • Movimentos de corpo e
face.
Exemplo
Figura 1 - Amarelo

CM – mão em D, palma
para a esquerda.
PA – em frente ao rosto.
M – retilíneo.
O – para baixo.
EF/C – neutra.

Fonte: https://wordwall.net/pt-
br/community/cor-libras. Acesso em: 28 jul. 2021.
O papel da Língua Brasileira
de Sinais na educação do
surdo e práticas
pedagógicas bilíngues
Identidade e Cultura Surda

Bloco 2
Gleidis Roberta Guerra
Construção da identidade surda

A aquisição da língua de sinais é a única maneira de


construir identidade surda.
A identidade é sempre construída em relação ao
grupo a que se pertence em oposição a outro.
É construída por papéis sociais diferentes (pode ser
surdo, rico, heterossexual, branco, professor, pai
etc.).
Interação com o mundo

Interação familiar: não Dificilmente chegam à


conhecem LS, interação escola com uma língua
oral e inacessível. desenvolvida.

Nessa interação irão


Importância do contato aprender a língua de
com surdo adulto. sinais e construir sua
identidade.
Cultura surda

As pessoas surdas percebem o mundo de maneira


diferente, elas utilizam a visão.
Dessa experiência visual surge a cultura surda
representada pela língua de sinais, pelo modo
diferente de ser, de se expressar, de conhecer o
mundo de entrar nas artes, no conhecimento
científico e acadêmico.
Interação social

Sem a língua de sinais, a criança surda não


terá um meio efetivo de interação social.

É através dela que acessam o conhecimento


de mundo em geral.
Comportamento comunicativo

Início da conversa.

Chamar a atenção do interlocutor, por exemplo, por


meio de um toque.

Se a pessoa estiver longe, pode-se acenar o braço,


pisar forte no chão ou acender a luz.

Não tocar pelas costas, pois, eles podem se assustar.


Comportamento comunicativo
Assegurar a comunicação
• Informação deve ser acessível a todos.
• Confirmar se todos estão entendendo.

Compartilhar informação
• Este item é valorizado pela cultura surda, pelo difícil
acesso que eles geralmente tem em relação a
informação.
Virar as costas
• Manter contato visual apropriado.
• Virar de costas é um insulto.
• Se tiver que desviar o olhar, explique o motivo.
Comportamento comunicativo

Conversa direta Despedida


Geralmente são diretos, para Deve ser de modo formal e
facilitar a comunicação. demorado.
Geralmente, explicam onde vão e
combinam o próximo encontro.
Despedida longa reflete o desejo
de continuarem juntos.
Retirar-se silenciosamente pode
ser mal interpretado.
O papel da Língua Brasileira
de Sinais na educação do
surdo e práticas
pedagógicas bilíngues
Escola bilíngue e Práticas pedagógicas

Bloco 3
Gleidis Roberta Guerra
Bilinguismo

Surge nos anos 2000, mas, no Brasil, só será mesmo


efetivado a partir de 2010.
Acredita-se que o surdo precisa aprender duas línguas: L1
– Língua de Sinais e L2 – Língua escrita do seu país.
Vê a surdez como diferença e não como deficiência.
Acredita-se na capacidade de aprendizagem do surdo,
desde que respeitada suas especificidades.
Além disso, entende-se que as diferenças devem ser
respeitadas e valorizadas.
Federação Nacional para Educação e Integração dos Surdos (FENEIS)

Primeiramente denominada Imperial Instituo dos Surdos-


Mudos (Séc. XIX).
Órgão governamental com sede no Rio de Janeiro.
Ele passou pelas diversas fases da educação do surdo:
oralismo, comunicação total e bilinguismo.
Atualmente, defende a escola bilíngue para o surdo
desde a mais tenra idade.
Princípio do respeito ao diferente.
Escola inclusiva versus escola bilíngue
A escola bilíngue
A escola inclusiva tem A escola inclusiva
busca condições das
como língua ensina o surdo a
crianças
predominante a partir do uso oral da
desenvolverem as
língua portuguesa. língua.
duas línguas.

A escola bilíngue Nas escolas bilíngues,


utiliza a Libras como todos os funcionários
mediadora do são fluentes em
conhecimento. Libras.
Experiência bilíngue do município de São Paulo

• 5 Polos de escolas bilíngues surdos e ouvintes.


• Início em 2010.
• Professores surdos e intérpretes em seu quadro de
funcionários.
• Todos os alunos aprendem Libras e são fluentes.
• Aulas em comum para surdos e ouvintes, com
exceção das aulas de línguas.
• Língua Portuguesa versus Libras.
• Língua Inglesa versus Língua Portuguesa.
Políticas públicas

A escola bilíngue requer mais do que a mudança na língua, mas uma mudança de
posicionamento político. Ver o surdo não como deficiente, mas como:

Minoria linguística.

Especificidades.

Capacidades.
Escola bilíngue versus classe bilíngue

Nem todos os municípios possuem escolas bilíngues,


então, cada professor, em sua sala de aula, deve
transformar a sua classe em bilíngue, sempre que tiver a
presença de um aluno surdo.
Para isso, a formação do professor é essencial, tanto a
formação inicial como a formação continuada.
Deve-se consolidar a Libras como língua do aluno surdo
antes do ensino da língua portuguesa escrita.
Observar a especificidade linguística do aluno e sua pré-
história linguística.
Práticas pedagógicas bilíngues

Quadro na sala de aula com


Uso de dicionários português –
escrita em português e o sinal de
Libras.
libras correspondente.

Não uso da língua oral como Leitura como predeterminante e


base para a escrita (A de avião?). anterior à escrita.

Histórias e músicas em Valorização da cultura e da


português e Libras. língua do aluno surdo.
Teoria em Prática
Bloco 4
Gleidis Roberta Guerra
Reflita sobre a seguinte situação
Você é o professor de uma turma de primeiro ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública e recebe em sua sala de aula
um aluno surdo. A escola em que você atua não é bilíngue, mas
você teve formação para trabalhar dentro dessa perspectiva,
aprendeu Libras e possui nível intermediário nessa língua, ou seja,
consegue se comunicar com uma certa facilidade, embora ainda
tenha que ganhar mais vocabulário e velocidade na execução dos
sinais.

A proposta é que você transforme a sua sala de aula em uma sala


de bilíngue, em que Libras seja a mediadora do conhecimento e a
cultura surda seja respeitada. A direção da escola, consciente dessa
necessidade, te apoia nessa mudança, inclusive colocando-a de
modelo para que os outros professores, ao receberem alunos
surdos, possam executar as mesmas ações.
Reflita sobre a seguinte situação

Sua tarefa é traçar um planejamento do que modificará


na sua sala de aula para transformar esse ambiente em
bilíngue. Lembre-se que, conforme a legislação vigente,
você terá na sua classe um profissional de Libras, que o
auxiliará e apoiará nas decisões tomadas, mas não
tomará a responsabilidade do aluno única e
exclusivamente para ele.
Norte para a resolução...
Para transformar a sua sala de aula em uma sala bilíngue, você
precisará fazer algumas transformações:
1. Junto a todo material exposto escrito, ter a figura do
sinal em Libras correspondente.
2. Todas as atividades orais devem ser contempladas,
também, em Língua de Sinais (histórias, músicas e
orientações).
3. Tirar um tempo com a turma para ensinar Libras para
todos os alunos.
4. Trabalhar a leitura e a escrita de maneira discursiva, do
texto para a palavra, para a sílaba e para o fonema.
5. Utilizar metodologias sociointeracionistas para o
processo de ensino e aprendizagem.
Dica do(a) Professor(a)
Bloco 5
Gleidis Roberta Guerra
Dica do(a) Professor(a)

A dica de hoje vai para um curta-metragem denominado


O Som do Silêncio, que trará a experiência de um
relacionamento entre uma moça surda e um rapaz
ouvinte.
Durante a história, choques culturais irão mostrar como é
difícil o relacionamento e, até mesmo, a aceitação do
ouvinte pelos amigos surdos da namorada.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 10.436, de 24 de abril
de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da Educação,
2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 28 jul. 2021.

PEREIRA, M. C. Libras: conhecimento além dos sinais. São


Paulo: Person Prentice Hall, 2011.
Bons estudos!

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