Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
As Palavras
Literatura Portuguesa
Este texto de Eugénio debruça-se, como já foi referido, sobre o valor polissémico das palavras.
A segunda estrofe inicia-se com uma alusão às palavras como essenciais e intemporais pois
atravessam os tempos e trazem consigo ashistórias e os segredos dos homens; funcionam
como elemento essencial nacomunicação entre os seres falantes desde a antiguidade. O resto
da estroferevela a insegurança que os barcos, que agitam as águas, causam assim como as
palavras, que agitam as pessoas causam insegurança; os beijostambém fazem estremecer.
O eu poético acaba o poema com duas interrogações retóricas onde o papel do leitor é
salientado. Na realidade o autor não pretende que se identifiquem os leitores mas pretende
dizer que cada leitor pode interpretaras palavras de diferentes modos e atribuir-lhes um
sentido de acordo com a sua experiência de vida, de foro pessoal; são os leitores que vão
receber as palavras nas suas conchas puras.
Neste poema, Eugénio de Andrade aborda o tema da reflexão sobre o valor polissémico das
palavras.
No primeiro verso, São como cristal, assenta a ênfase da primeira comparação, criando
expectativa. As palavras são definidas como um punhal (remete para agressividade, morte e,
sofrimento); como um incêndio (alude á destruição e purificação; e são como orvalho (refere a
suavidade, esperança e acalmia). As palavras contêm contradições – positividade versus
negatividade – Tecidas são de luz/ e são a noite. As palavras têm uma história secular:
atravessam os temos, recebem novos significados, evoluem, carregam os segredos da história
dos homens e acompanham os seres falantes como instrumento indispensável de
comunicação; trazem consigo um saber muito antigo (Secretas vêm, cheias de memória).
O papel do leitor é realçado na última quadra, porque são os leitores que vão abrir as conchas
puras, palavras inseridas em cofres cheios de sentidos. Cada “receptor” recolhe da palavra o
significado que quiser, de acordo com a experiência de vida. As interrogações retóricas “Quem
as escuta? Quem/as recolhe, assim, /cruéis, desfeitas, /nas suas conchas puras?” apelam à
releitura das palavras.