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3. O Modelo Físico
∂T
ρ ∂θ θ V ∂ρ V
q h = −λ (6) A1 = 1 − V +
ρ l ∂h ρ l ∂h
T T
∂z (9)
ρ ∂θ θ V ∂ρ V
em que λ é a condutividade térmica B1 = 1 − V +
ρ l ∂T ρ l ∂T
h h
do meio poroso, a qual depende da (10)
temperatura T, da umidade
volumétrica, θ e do teor
onde θ v é o teor volumétrico de
volumétrico de vapor de água no ar.
água sob a forma de vapor.
3.3 O sistema de equações {∂ ρ v/∂h}T e {∂ ρ v/∂h}h
representam respectivamente a
O sistema de equações que variação da massa específica de
compõe o modelo é finalmente vapor de água com o potencial
obtido a partir de uma adequada matricial considerando a
manipulação, das equações (1), (2), temperatura constante e a variação
(3), (4), (5) e (6) e das seguintes da massa específica de vapor de
hipóteses principais: o solo é um água com a temperatura
meio contínuo, poroso, indeformável considerando o potencial matricial
e inerte; a umidade é composta das constante.
fases líquida (água nas formas livre,
capilar ou adsorvida) e de vapor; O termo A2, dado em J.m-4, é
assim como, existe equilíbrio interpretado como sendo uma
termodinâmico entre a fase sólida, capacidade calorífica associada a
líquida e de vapor nos poros. um gradiente do potencial matricial,
Na forma simbólica, o sistema e B2, dado em Jm-3K-1, uma
é finalmente escrito, com a equação capacidade calorífica associada ao
de transporte de umidade e a gradiente de temperatura
equação de transporte de calor ∂ρ ∂θ
A2 = Lθ V V − ( ρ lW + ρ V L )
∂h ∂T ∂ ∂h ∂T ∂h T
∂h T
(11)
A1 + B1 = C1 + D1 + E1
∂t ∂t ∂z ∂z ∂z
∂ρ ∂θ
(7) B2 = C * + Lθ V V − ( ρ lW + ρV L )
∂T h
∂T h
∂h ∂T ∂ ∂h ∂T (12)
A2 + B2 = C 2 + D2 + E2
∂t ∂t ∂z ∂z ∂z
(8) onde: L é o calor latente de
vaporização da água, W é a
diferencial do calor de molhamento
e C* é a capacidade calorífica do associado ao gradiente de potencial
meio poroso. {∂ θ /∂h}T e matricial, e o termo D2, dado em
{∂ θ /∂h}h representam Wm-1K-1, é interpretado como um
respectivamente a variação da coeficiente de transporte de calor
umidade volumétrica com o associado ao gradiente de
potencial matricial considerando a temperatura
temperatura constante e variação
da umidade volumétrica com a C2 = LDVh (15)
temperatura considerando o
potencial matricial constante. D2 = λ *
= λ + LDVT (16)
O termo C1, dado em ms-1, é
interpretado como sendo um onde λ é a condutividade térmica
coeficiente de condução da umidade do solo e λ * representa a
associado ao gradiente de potencial condutividade térmica aparente do
matricial. O termo D1, dado em m2s- solo, a qual incorpora os efeitos
K , é um coeficiente de difusão de
1 -1 devidos aos processos de
umidade associado ao gradiente de convecção, evaporação e
temperatura. condensação dentro do poro (de
Vries, 1963).
Finalmente, E1 e E2 são
C1 = D h = K +
1
D vh
termos fonte, respectivamente, da
(13)
ρl equação de transferência de massa
e da equação de transferência de
calor.
1
D1 = DT = DIT + DvT (14)
ρl
4. Condições de contorno
z P (i)
Combinando-se as equações 22 e 24
obtem-se o valor do fluxo de massa e
à superfície do solo, onde o sinal
E
negativo é colocado porque os ze
fluxos dentro do solo são positivos (i+1)
quando dirigidos para baixo:
Figura 3 – Esquema da malha de
1 1 1 2 discretização
EVAP = − 0,14 λ g 3 b 3 Pr 3 ∆T L βS ν 3
(28) Para a integração temporal
um esquema semi-implicito foi
5. Procedimento numérico escolhido com coeficiente de
relaxação de 0,55. Maiores detalhes
Dada a impossibilidade de sobre a discretização das equações
solução puramente analítica do encontram-se em Werlang (2006). O
sistema representado pelas metodo de cálculo é iterativo.
equações (7) e (8), utiliza-se o Adotou-se o seguinte critério de
método numérico dos volumes convergência da solução:
finitos, através da integração
espaço-temporal das equações ( h( i ) − h ant ( i ) ) ( T( i ) − Tant ( i ) )
< 0,002 e < 0,001
diferenciais sobre o volume finito ( h ant ( i ) ) ( Tant ( i ) )
elementar, conforme descrito por
29
Maliska (1999). A figura 3 apresenta
um esquema da malha. As variaveis
Tendo em vista a necessidade
de estado do sistema, quais sejam,
de descrever com maiores detalhes
h e T são calculadas no centro de
os gradientes de temperatura e de
cada elemento. Na figura 3 ele é
pontencial matricial à superfície e
representado por P, W ou E onde P é
na fronteira inferior do perfil
o elemento de cálculo atual, W o
vertical, uma malha irregular foi
elemnto anterior e E o elemento
adotada. A distribuição de Δz, o
posterior. Por sua vez os fluxos são
tamanho do volume elementar de
cálculados nas fronteiras de
cálculo (figura 3), seguiu uma
montante (w) e de jusante (e) do
distribuição de Gauss. Δz é então
volume finito elementar de cálculo.
mais fino próximo à superfície e à
fronteira inferior e mais grosso no
centro.
6. Resultados
O modelo foi aplicado ao período de e observados experimentalmente da
12 a 22 de Janeiro de 2002, que umidade volumétrica a 5cm de
corresponde a um longo período de profundidade. Os eletrodos da sonda
secagem do solo, iniciando com solo TDR foram dispostos
úmido. Nos dias 10 e 11, anteriores horizontalmente a 2,5 cm e 7,5 cm
ao dia 12, choveram 14,8 mm, num de profundidade, fornecendo o valor
solo já úmido, pois na primeira médio da umidade nesta camada, o
semana de janeiro foi registrado 112 qual foi atribuído à profundidade
mm. Posteriormente a este dia, não média de 5cm.
ocorreram chuvas com exceção do 0,2000
dia 17, quando caiu 2 mm em torno 0,1800
de meio dia. 0,1600
(mca)
0,1400
A simulação foi efetuada 0,1200
Teta 5cm (simul.)
Teta 5cm ( Exp.)
0,0E+00
-1,0E-07 0 4 8 12 16 20 24 reumidificando o solo. Durante a
-2,0E-07 noite e pela manha, os fluxos
(h) simulados a 0,4 cm, a 2 cm e a 5 cm
são negativos, indicando que os
mesmos são dirigidos para cima
provocando certamente evaporação
Figura - 6b Fluxo h noturna.
Fluxo T
1,0E-07
Fluxo (h+T) Figura - 7a Fluxo h
5,0E-08
Fluxo T
2,0E-07
(m/s)
-1,0E-07 0,0E+00
0 4 8 12 16 20 24
(h)
-1,0E-07
-2,0E-07
(h)
0,E+00
cima, ou seja, alimentam o processo -5,E-08 0 4 8 12 16 20 24
evaporativo, quando o seu valor é -1,E-07
negativo. Nos dois dias ilustrados, (h)
nota-se que, a 5 cm de
profundidade, durante o dia, o fluxo
de água é negativo, mas com um
Figura 7 – Fluxos de água devidos ao
valor absoluto muito baixo. Os
gradiente de potencial matricial, ao gradiente
gradientes de temperatura freiam
de temperatura e total a 2 cm de
consideravelmente o processo de
profundidade. (a) no dia 15/01/2002, e (b) no
transferência vertical de água para
dia 18/01/2002.
a superfície. Nas figuras 7 e 8,
representaram-se para os mesmos
Figura - 8a Fluxo h
Durante o período diurno, os
Fluxo T gradientes simulados são inferiores
2,00E-07
Fluxo (h+T)
aos gradientes observados. Caso
1,00E-07
estivessem mais próximos, a
(m/s)
0,00E+00
0 4 8 12 16 20 24
reumidificação diurna, no modelo,
-1,00E-07
que ocorreu apenas algumas horas
-2,00E-07
de alguns dias, ocorreria com um
(h)
padrão mais próximo das
observações de campo.
Duas questões, nesta análise
Fluxo h
Figura - 8b
Fluxo T
tem de ser colocadas. A primeira é:
1,E-07 Fluxo (h+T) de onde vem a água que realimenta
5,E-08 o solo durane o dia? A segunda que
lhe é correlata é: a evaporação
(m/s)
0,E+00
-5,E-08
0 4 8 12 16 20 24
calculada pelo modelo na sua fase
-1,E-07 aérea, representa a dinâmica
(h) sugerida pelo que ocorre no solo?
Assim como a temperatura, o
modelo simula para cada
Figura 8 – Fluxos de água devidos ao profundidade da malha os valores
gradiente de potencial matricial, ao gradiente do potencial matricial. Na Figura (8)
de temperatura e total a 0,4 cm de são comparados os potenciais
profundidade. (a) no dia 15/01/2002, e (b) no matriciais simulados a 5cm de
dia 18/01/2002. profundidade, com os potenciais
Na figura 9, são representados matriciais obtidos das observações
os gradientes de temperatura no experimentais. A comparação não é
solo, observados e simulados pelo boa. Se de um lado, o modelo
modelo. Esses gradientes são simula aparentemente um processo
calculados pela diferença entre as de secagem, mesmo lento,
temperaturas à superfície do solo e considerando que o solo é
a temperatura a 5 cm de descoberto e que a simulação foi
profundidade. realizada no mês de janeiro, mês de
alta radiação solar, do outro lado,
T simulado
400 T experimental não representa as observações
experimentais, as quais indicam que
300
200
o solo praticamente não perde sua
(ºC)
100
10
h exp. base do modelo desenvolvido, a
exemplo da transferência através
1
dos processos de convecção livre no
0 12 24 36 48 60 72 84 96 contorno superior, conforme
T em p o (h )
proposto por Jacobs e Verhoef
(1997) para região semi-árida,
mostrou-se bastante eficiente para
Figura 8 - Comparação entre os determinação das condições de
potenciais matriciais observados e contorno superior do modelo.
simulados a 5cm de profundidade Observou-se, também, a
necessidade da elaboração do
A Figura (9), ainda relativa ao modelo na forma de mosaico, de
potencial matricial do solo, compara acordo com a proposta por Boulet
os valores de umidade observados (1998), onde devem ser
com a sonda TDR e deduzidos dos consideradas de maneira distinta as
valores simulados da potencial transferências: solo-atmosfera mais
matricial por meio da curva de solo-vegetação-atmosfera, nas
retenção. Os resultados superfícies para as porções
apresentados confirmam o que foi vegetadas, e, solo-atmosfera para
observado na Figura (8). Na Figura as superfícies de solo descoberto.
(9), observa-se que o primeiro valor Apesar de ter possibilitado a
simulado indica um solo muito determinação satisfatória, entre
úmido, enquanto o valor outros parâmetros, do perfil de
experimental indica um solo com temperatura no solo, o modelo não
umidade abaixo da capacidade de foi suficiente para representar o
campo. potencial matricial do solo. Nesse
0,30 caso, o modelo simula de forma
0,25
teta (Simu l. 5 cm)
teta (exp . 5 cm)
insatisfatória o processo de
0,20
secagem do solo. Este fato deve ser
θ ( mca )
0,15
pensado juntamente com os
0,10
resultados experimentais de
0,05
umidade do solo, bastante
interessante e peculiar daquela
0,00
12 13 14 15 17 18 19
16
T em p o (dia)
região: durante o período analisado,
o solo secou de forma muito lenta
em algumas profundidades e
Figura 9 – Comparação entre os praticamente não secou em outras.
valores experimentais e A partir destas observações, duas
simulados da umidade hipóteses devem ser investigadas
volumétrica (θ ) a 5 cm com relação ao solo e a vegetação
daquela região semi-árida de de seiva, assim como do potencial
estudo. hídrico foliar.
A primeira hipótese que pode
explicar este fenômeno é a 8. Bibliografia
umidificação do solo, a partir da
superfície, durante o período
noturno, sem a presença de chuvas. Agan, N. Berliner, P.R. 2005. Dew
Nesse caso, o solo retira umidade da formation and water vapor
camada atmosférica mais baixa, adsorpation in semi-arid
com pressão de vapor superior a environments – A review. Journal of
pressão de vapor na matriz porosa, Arid Environments, v. 65, p. 572-
conforme fenômeno descrito em 590.
Agam e Berliner (2005). Esta
possibilidade pode está em Antonino, A. C. D., 1992.
concordância com a distribuição Modélisation des transferts de
fracionada da vegetação masse et de chaleur dans le
característica da região semi-árida système solplante-atmosphère.
de São João do Cariri. Estaria, nesse Influence de la variabilité spatiale
caso, a vegetação formando des caractéristiques
estrategicamente regiões de solo hydrodynamiques du sol, Tese
desnudo para possibilitar a Doutorado, Universidade Joseph
ampliação deste fenômeno? Fourier Grenoble I, Grenoble,
A segunda hipótese é a France, 195 pp.
possibilidade de ocorrer
umidificação do solo através da Boulet, G. 1998. Mosaic versus
vegetação que, nesse caso, retira source approaches for modeling the
água na atmosfera e a conduz surface energy balance or a semi-
através de suas estruturas, em arid land. American Meteorological
sentido inverso ao solo. Este Society – Special Symposium on
fenômeno, que foi observado por Hydrology. Phoenix, Arizona. Paper –
Gutiérrez (2004) em arbustos de 1.7.
região semi-árida do Chile, é
possível de acontecer em diversas Gates, D.M., 1980. Biophysical
espécimes de xerófilas, a exemplo Ecology. Springer-Verlag, New York,
das bromeliáceas, bastante 611p.
abundantes no semi-árido
nordestino. Para a avaliação desta Goldfarb, M. C., 2006. Contribuição
hipótese sugere-se a classificação da vegetação tipo caatinga nos
apresentada neste trabalho, processos de transferência de calor
bastante eficaz para separar grupos e massa no complexo solo-
de vegetação com comportamento vegetação-atmosfera na região
climático semelhante, e, semi-árida de São João do Cariri.
obviamente, a utilização de Tese Doutorado. Universidade
instrumentação necessária para Federal da Paraíba, João Pessoa,
determinação experimental do fluxo 116p.
Chile. Revista Ecosistemas, No 1.
(URL:
Jacobs, A.F.G. & Verhoef A.,. 1997. http//www.aeet.org/ecosistemas/041
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Tese Doutorado. Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa,
145p.