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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

12 de abril de 2022

2ª Câmara Cível

Apelação Cível - Nº 0808471-64.2021.8.12.0021 - Três Lagoas


Relator – Exmo. Sr. Des. Julizar Barbosa Trindade
Apelante : Sebastião Marques de Oliveira.
Advogado : Guilherme Marques Pugliese (OAB: 315910/SP).
Advogado : Rafael Quixaba Carvalho (OAB: 335173/SP).
Advogado : João Flávio Lima Palomares (OAB: 351578/SP).
Apelado : Banco Pan S.A..
Advogado : Feliciano Lyra Moura (OAB: 21714/PE).

EMENTA - APELAÇÃO CÍVEL – DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO E INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS – CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO – EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO – RELAÇÃO JURÍDICA DEMONSTRADA E VÁLIDA –
DISPONIBILIZAÇÃO DO PRODUTO DO MÚTUO – AUSÊNCIA DE VÍCIO DE
CONSENTIMENTO – RECURSO NÃO PROVIDO.
Não há falar em cerceamento de defesa no indeferimento de
produção de prova quando se revelar desnecessária para a solução da lide.
Demonstrado que houve o empréstimo e a disponibilização de seu
produto, não há como considerar válida a justificativa de que não se beneficiou do
mútuo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 2ª


Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, Por
unanimidade, negaram provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator.

Campo Grande, 12 de abril de 2022.

Des. Julizar Barbosa Trindade - Relator


Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
R E L A T Ó R I O
O Sr. Des. Julizar Barbosa Trindade.
Sebastião Marques de Oliveira interpõe apelação contra sentença
que, na ação declaratória de inexistência de débito c.c. repetição e indenização por
danos morais movida em face de Banco Pan S.A., julgou improcedente o pedido
formulado na inicial, condenando-o ao pagamento das custas e honorários advocatícios
fixados em 10% sobre o valor atualizado da causa, ressalvado o disposto no § 3º do
artigo 98 do Código de Processo Civil, bem como ao pagamento de multa arbitrada em
5% sobre o valor da causa por litigância de má-fé.
Alega ser nula a sentença em virtude do cerceamento de defesa
causado pelo julgamento antecipado da lide sem possibilitar a realização da perícia
grafotécnica no contrato.
Ao final, requer o provimento do recurso para anular a sentença ou,
no mérito, julgar procedente o pedido para declarar a nulidade da relação jurídica com a
condenação do requerido à restituição em dobro dos valores descontados indevidamente
e indenização por danos morais.
Contrarrazões às fls. 172-181.
O apelado manifestou oposição ao julgamento virtual (f. 186).
É o Relatório.

V O T O
O Sr. Des. Julizar Barbosa Trindade. (Relator)
Trata-se de Apelação Cível interposta por Sebastião Marques de
Oliveira contra sentença que, na ação declaratória de inexistência de débito c.c.
repetição e indenização por danos morais movida em face de Banco Pan S.A., julgou
improcedente o pedido formulado na inicial, condenando-o ao pagamento das custas e
honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor atualizado da causa, ressalvado o
disposto no § 3º do artigo 98 do Código de Processo Civil, bem como ao pagamento de
multa arbitrada em 5% sobre o valor da causa por litigância de má-fé.
O apelado manifestou oposição ao julgamento virtual (f. 186).

1 – Juízo de admissibilidade
O recurso é tempestivo (art. 1.003, § 5º c/c 219, caput, do CPC) e
está em consonância com o artigo 1.010, incisos I a IV, do mesmo diploma. Sem
preparo por ser beneficiário da assistência judiciária.
2 - Nulidade da sentença
Sustenta ter ocorrido cerceamento de defesa em virtude do
julgamento antecipado da lide sem possibilitar a realização da perícia grafotécnica do
contrato.
Sem razão, contudo.
O juiz é o destinatário da prova, possuindo discricionariedade para
analisar se aquelas constantes dos autos são suficientes para esclarecimento das questões
controvertidas, tanto que o artigo 371 do Código de Processo Civil dispõe: O juiz
apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver
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promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.
Logo, o magistrado tem o poder-dever de julgar antecipadamente a
lide, dispensando a realização de provas outras, ao constatar que o acervo documental
acostado aos autos possui suficiente força probante para nortear e instruir seu
entendimento.
Nesse sentido:
E M E N T A - APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE COBRANÇA DE
MULTA CONTRATUAL – CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO -
MÉRITO - CONTRATO DE PROMESSA DE VENDA E COMPRA DE
GÁS – INADIMPLEMENTO CONTRATUAL EVIDENCIADO –
INCIDÊNCIA DA MULTA CONTRATUAL – PRELIMINAR REJEITADA
E, NO MÉRITO, RECURSO NÃO PROVIDO. Não há falar
em cerceamento de defesa no indeferimento de produção de prova
quando esta é desnecessária para a solução da lide. (TJMS. Apelação n.
0823641-15.2016.8.12.0001, Campo Grande, 2ª Câmara Cível, Relator
(a): Des. Marco André Nogueira Hanson, j: 01/03/2019, p: 07/03/2019).
(destacado)

EMENTA – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
– PRELIMINAR CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA –
AFASTADA – MÉRITO – MANUTENÇÃO EM CADASTRO RESTRITIVO
DE CRÉDITO – EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO – DANO
MORAL IMPROCEDENTE – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. I – O Juiz é o destinatário da prova, a
quem incumbe decidir sobre a necessidade ou não de sua produção.
Neste passo, entendendo que as provas produzidas nos autos são
suficientes para a formação de seu livre convencimento, poderá
dispensar a produção de outras, proferindo desde logo sua decisão. II -
Havendo o reconhecimento pelo devedor de ter firmado mais de um
contrato com o credor, sem que comprovasse o pagamento de ambas as
dívidas, resta afastado o pedido de declaração de inexistência de débitos.
III - Ao anotar o nome do devedor em cadastro restritivo de crédito, a
instituição ré não praticou qualquer ato ilícito, mas agiu regularmente no
exercício de um direito. Ato ilícito inexistente que afasta o dever de
indenizar." (Apelação Nº 0810874-78.2012.8.12.0002 Rel. Des. Marco
André Nogueira Hanson, julgado em 15.12.2015). (destacado)

Portanto, estando convencido de que o acervo documental acostado


possui suficiente força probante para nortear seu entendimento e verificando que o
processo encontra-se apto, o magistrado deve julgá-lo.
Ademais, para que seja anulada uma sentença em segundo grau sob o
fundamento de cerceamento de defesa, o recorrente deverá demonstrar de maneira
inequívoca sua indispensabilidade para o deslinde da causa, fato que não ocorreu no
presente caso.
Com efeito, o apelante insurge-se contra descontos a título de
empréstimo consignado realizado em seu benefício previdenciário, tendo o banco
apresentado, além do contrato impugnado, o comprovante de disponibilização do valor
referente ao mútuo, cujo recebimento não foi impugnado, fato que torna despicienda a
produção da prova pericial.
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Ademais, constata-se que o banco juntou aos autos o contrato
devidamente preenchido com todos os dados do recorrente, devidamente assinado e
acompanhado de cópias dos seus documentos pessoais (fls. 39-49), assim como o
comprovante de disponibilização do valor referente ao mútuo (f. 38).
Portanto, apesar de alegar irregularidades no contrato, a verdade é
que não foi apresentada nenhuma evidência de fraude, erro ou coação, defeitos do
negócio jurídico que ensejariam sua nulidade, pois houve observância das formalidades
legais para celebração de contratos dessa natureza, sobretudo por ter sido estipulado por
pessoas maiores e capazes.
Logo, o ajuste firmado entre as partes é válido, eficaz e deve ser
cumprido.
A propósito:
EMENTA - APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE RESCISÃO
CONTRATUAL C/C NULIDADE E DANOS MORAIS – CONTRATO DE
CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL
– DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO – ABUSO NA
CONTRATAÇÃO NÃO CONFIGURADO – RECURSO DESPROVIDO.
Não restando evidenciada qualquer irregularidade nos descontos
efetuados pelo banco réu, não há falar em falha na prestação do serviço,
tampouco em restituição de valores e compensação por danos morais,
notadamente porque está demonstrado a contratação do empréstimo pela
autora, como também que os valores foram recebidos por ela. Não
havendo vício de consentimento da requerente, nessas circunstâncias, é
de se dizer que os ajustes firmados entre as partes são válidos e eficazes e
que, portanto, devem ser cumpridos (Apelação n.
0829824-65.2017.8.12.000, 3ª Câmara Cível, Rel. Des. Eduardo Machado
Rocha, julgado em 22.01.2019). Destacado.

EMENTA – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE, COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS –
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL – DESCONTOS EM FOLHA DE
PAGAMENTO - ABUSO NA CONTRATAÇÃO E
VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO COMPROVADOS – SAQUES E
COMPRAS NO CARTÃO DE CRÉDITO - RECURSO DESPROVIDO. 1 -
Não se comprovando o vício do consentimento alegado pelo autor, na
contratação de empréstimo com reserva de margem consignável, porque
realizou ele compras e saques por meio de cartão de crédito, que afirmou
não ter adquirido, não há falar em ilegalidade da transação bancária
respectiva, nem dos descontos efetuados em sua folha de pagamento. 2.
Reconhecida a regularidade do negócio, não há falar em falha na
prestação do serviço, tampouco em restituição de valores e compensação
por danos morais, notadamente porque está demonstrado a contratação
do empréstimo pelo autor, como também que os valores foram recebidos
por ele (Apelação Cível n. 0843152-62.2017.8.12.0001, 3ª Câmara Cível,
Rel. Des. Fernando Mauro Moreira Marinho, j. Em 10.12.2018.)
Destacado.

Quanto aos pedidos de indenização por danos morais e repetição em


dobro, fica prejudicado considerando que restou reconhecida a legitimidade da
contratação.
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Conclusão
Diante do exposto, voto pelo improvimento do recurso.

D E C I S Ã O
Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO


RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Nélio Stábile


Relator, o Exmo. Sr. Des. Julizar Barbosa Trindade.
Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Julizar Barbosa
Trindade, Des. Fernando Mauro Moreira Marinho e Des. Nélio Stábile.

Campo Grande, 12 de abril de 2022.

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