Araçatuba
2010
FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA
CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS
CAMILA MANHAS PARIS
Araçatuba
2010
Paris, Camila Manhas
Implantação de biodigestor e produção de biofertilizante/ Camila Manhas Paris. --
Araçatuba, SP: Fatec, 2010.
59f. : il.
CDD – 333.9539
FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA
CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS
CAMILA MANHAS PARIS
_____________________________________
Profa. Dra. Lucinda Giampietro Brandão
Orientadora- Fatec Araçatuba
_____________________________________
Prof. Dr. Osvaldino Brandão Junior
Fatec Araçatuba
_____________________________________
Prof. Me. Alexandre Witier Mazzonetto
Fatec Piracicaba
Araçatuba
2010
A Deus
Aos meus pais que sempre me ressaltaram da
importância da educação e me deram forças para
alcançar este objetivo. Pelos ensinamentos de curtir
a vida sem perder a responsabilidade e o respeito a
todos os seres vivos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado os bens mais preciosos: a vida, saúde e inteligência para
realização deste trabalho.
Aos meus pais João Carlos e Assunção, irmão Juliano e ao meu namorado Alexandre,
pelo apoio, carinho, pela paciência e, principalmente, pelo incondicional amor que sempre me
deram.
Aos meus amigos de muitos anos que me deram força e incentivo para seguir em
frente com meus estudos, em especial a Caroline Fioriti, Luan Wesley e o Nabil Halabi.
À minha professora de Ginástica Rítmica (Ângela Emiko), que sempre me deu os
melhores conselhos, carinho, bronca, cobrança, dedicação e amizade.
Aos amigos que fiz na graduação, em especial a Vera Lucia Vitorelli, Graziene Alves,
Luana Zar, Adalberto Teruo Ikari e Jonathan Kenji Hisatsugu pela extrema ajuda nas
disciplinas, carinho e momentos agradáveis durante esses três anos.
À Profa. Dra. Lucinda Giampietro Brandão, pela orientação durante todo o
desenvolvimento deste trabalho, pela amizade, paciência, ensinamentos, cobrança e,
principalmente, por acreditar em mim, meu sincero agradecimento.
Ao professor Hélio Moreira da Silva Junior, pelo apoio, disponibilidade, ensinamentos
e sugestões.
Ao professor Gilberto Luis Souza da Silva de Abaetetuba, cujo projeto de biogás com os
ribeirinhos inspirou o desenvolvimento deste.
A todos os professores, que apesar de todas as dificuldades presentes por sermos a
primeira turma, sempre buscaram a melhor forma de conduzir com a maestria o ensinamento
aos seus alunos.
À Faculdade de Tecnologia de Araçatuba “Professor Fernando Amaral de Almeida
Prado” Fatec Araçatuba, pela oportunidade da realização do curso de Tecnologia em
Biocombustíveis.
A todos demais profissionais da Fatec Araçatuba, em especial a Carol pela sua
eficiência, extraordinário caráter com que exerce seu trabalho e pelo seu extremo carinho
conosco.
A todas as demais pessoas que, de alguma maneira, contribuíram para a realização
deste trabalho.
“A vida é realmente escuridão, exceto
quando há um impulso. E todo impulso
é cego, exceto quando há saber.
E todo saber é vão, exceto quando há
trabalho. E todo trabalho é vazio
exceto quando há amor”.
Kalil Gibran
Albert Einstein
RESUMO
Cada vez mais há preocupação em como destinar resíduos, até então chamados de lixo, no
nosso planeta. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi a construção de um biodigestor
anaeróbico para produção de biofertilizante usando esterco bovino, um resíduo orgânico,
como substrato. O biodigestor foi construído a partir de um tambor de metal de 200 litros e
outros componentes como conexões. O esterco foi fermentado no biodigestor e o
biofertilizante produzido. Ao atingir o objetivo proposto, o biofertilizante resultante teve sua
composição analisada em relação a composição de macro e micronutrientes. Os resultados das
análises mostraram a presença de elementos importantes para adubação do solo confirmando
a viabilidade de uso de biodigestor anaeróbico para dar destino a substratos fermentescíveis
produzindo biofertilizante e quem sabe assim diminuindo o uso de fertilizantes químicos.
Palavras-chave: Biofertilizante. Biodigestor. Biomassa.
ABSTRACT
Increasingly there is concern about how to allocate waste, then called up trash on our planet.
Therefore, the aim of this project was to build an anaerobic digester for biofertilizer
production using manure, an organic waste, as a substrate. The digester was constructed from
a steel drum of 200 liters and other components such as connections. The manure was
fermented in the biodigester and biofertilizer was provided. As soon as the aim of the project
was achieved the resulting biofertilizer had the composition analyzed in relation to the
composition of macro and micronutrients. The analysis results showed the presence of
important elements to fertilize the soil confirming the feasibility of using anaerobic digester to
dispose of fermentable substrate producing fertilizer and who knows thus decreasing the use
of chemical fertilizers.
Keys word: Biofertilizer. Digester. Biomass.
LISTA DE FIGURAS
Tabela 1 - Produção mundial dos principais produtos para a obtenção de energia .................. 29
Tabela 2 - Quantidade de rebanho ano 2007 e 2008 ................................................................ 30
Tabela 3 - Volume de carga diária............................................................................................ 30
Tabela 4 - Relação de 1m³ de biogás com outras fontes de energia ......................................... 32
Tabela 5 - Principais gases de efeito estufa .............................................................................. 37
Tabela 6 - Principais adubos orgânicos .................................................................................... 41
Tabela 7 - Materiais usados para construção do biodigestor, quantidades e valores em reais . 45
Tabela 8 - Resultados das análises de macronutrientes presentes no biofertertilizante em 15
dias (amostra 1) e 30 dias (amostra 2) com resultado em (g/L) ............................................... 52
Tabela 9 - Resultados das análises de micronutrientes pH presentes no biofertertilizante em 15
dias (amostra 1) e 30 dias (amostra 2) com resultado em (mg/L), relação C/N e pH ............. 52
LISTA DE ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 14
1. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 17
1.1 Biodigestores ...................................................................................................................... 17
1.1.1 Definição ......................................................................................................................... 17
1.1.2 Materias para construção ................................................................................................. 17
1.1.3 Modelos ........................................................................................................................... 17
1.1.3.1 Chinês ........................................................................................................................... 18
1.1.3.2 Indiano .......................................................................................................................... 18
1.1.3.3 Canadense ou de fluxo tubular ..................................................................................... 20
1.1.3.4 Complexos .................................................................................................................... 20
1.1.3.5 Caseiros ........................................................................................................................ 21
1.1.4 Tipos ................................................................................................................................ 22
1.1.5 Equipamentos anexos ...................................................................................................... 22
1.1.6 Cálculo de dimensões ...................................................................................................... 23
1.2 Matrizes energéticas ........................................................................................................... 23
1.2.1 Definição ......................................................................................................................... 23
1.2.2 Energia não renovável e renovável .................................................................................. 24
1.2.2.1 Energia não renovável e renovável no Brasil e no mundo .......................................... 25
1.3 Biomassa............................................................................................................................. 27
1.3.1 Definição e uso ................................................................................................................ 27
1.3.2 Biomassa no Brasil e no mundo ...................................................................................... 29
1.4 Bovinocultura ..................................................................................................................... 31
1.4.1 Produtos ........................................................................................................................... 31
1.4.2 Rebanho no estado de São Paulo ..................................................................................... 31
1.4.3 Dejetos de bovinos .......................................................................................................... 32
1.5 Biogás ................................................................................................................................. 32
1.5.1 Definição ......................................................................................................................... 32
1.5.2 Processo anaeróbico ........................................................................................................ 33
1.5.3 Formação do biogás ......................................................................................................... 33
1.5.3.1 Hidrólise ....................................................................................................................... 34
1.5.3.2 Acidogênese .................................................................................................................. 34
1.5.3.3 Acetogênese .................................................................................................................. 35
1.5.3.4 Metanogênese ............................................................................................................... 35
1.5.4 Fatores que influenciam na digestão anaeróbia ............................................................... 35
1.6 Efeito estufa ........................................................................................................................ 35
1.6.1 Gases de efeito estufa ...................................................................................................... 37
1.6.2 Contribuição do metano................................................................................................... 37
1.6.3 Contribuição da bovinocultura para a poluição ambiental .............................................. 38
1.7 Fertilizante .......................................................................................................................... 38
1.7.1 Tipos de fertilizantes ....................................................................................................... 39
1.7.2 Principais adubos nitrogenados ....................................................................................... 39
1.8 Biofertilizante ..................................................................................................................... 40
1.8.1 Definição ......................................................................................................................... 40
1.8.2 Principais características do biofertilizante ..................................................................... 41
1.8.3 Formas de aplicação e efeitos do biofertilizante ............................................................. 42
1.9 Importância da adubação .................................................................................................... 42
2. MATERIAIS E MÉTODO ................................................................................................... 43
2.1 Caracterização do local de implantação do biodigestor ..................................................... 43
2.2 Local de implantação do biodigestor .................................................................................. 43
2.3 Dimensionamento do biodigestor ....................................................................................... 44
2.4 Construção do biodigestor .................................................................................................. 45
3. RESULTADOS .................................................................................................................... 51
3.1 Caracterização dos bovinos que forneceram o esterco (substrato) ..................................... 51
3.1.1 Alimentação ..................................................................................................................... 51
3.1.2 Sanidade .......................................................................................................................... 51
3.2 Biofertilizante ..................................................................................................................... 52
3.2.1 Produção .......................................................................................................................... 52
3.2.2 Análises: macro e micronutrientes .................................................................................. 52
4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 57
14
INTRODUÇÃO
Durante anos o setor agropecuário passou por diversas mudanças, onde as mesmas
contribuíram para sua modernização. Sendo assim, a agricultura obteve um fortalecimento de
energias fosseis que até então era abundante, mas nas últimas décadas, tais energias não têm
sido suficientes para suprir a matriz energética dos países, pois não são renováveis e podem se
esgotar futuramente, salientando que esse futuro pode não ser muito distante (BLEY JUNIOR
et al., 2009).
Na tentativa de solucionar problemas referentes à energia, países de todo o mundo
buscam novas tecnologias com objetivo de obter energia de forma renovável, sustentável,
menos poluente, mais adequada à matriz energética e, principalmente, que diminua a
necessidade de usar energias fósseis. A biomassa aparece nesse cenário como a mais velha
energia renovável usada pelo homem e como a melhor alternativa para enfrentar os problemas
futuros de falta de energia (CORTEZ et al., 2008).
As principais fontes de se obter biomassa no Brasil são de um modo geral, os resíduos
orgânicos de indústrias, agricultura e lixo urbano. O esterco bovino, quando não tratado de
forma correta, é fonte efetiva e potente de liberação de metano e dióxido de carbono na
atmosfera, contribuindo significativamente com o efeito estufa. A liberação de amônia
também pode ser prejudicial, pois seu forte odor pode afetar de forma drástica o meio. Isso
sem falar ainda da poluição de lençóis freáticos e afluentes, que podem ser contaminados
através da excessiva carga de matéria orgânica contida nesse tipo de resíduo. Sendo assim, o
crescente aumento da bovinocultura no país tem gerado um volume considerável de esterco e
um destino adequado e eficiente para o mesmo seria a produção de biogás e biofertilizante.
Estudos estão sendo desenvolvidos para produzir biofertilizantes e, consequentemente,
substituir fertilizantes minerais, diminuir consumos de reservas naturais e custos de produção
(VILLELA JUNIOR et al., 2003).
O esterco pode ser aproveitado totalmente, quando fermentado em condições
anaeróbicas. Provavelmente ele contribui para a preservação ambiental, aumentando a
produtividade do solo e melhorando a saúde da população e dos animais. A fermentação
acontece em um tanque fechado, onde a mesma só é processada em ambientes anaeróbicos,
ou seja, sem a presença de ar e na presença de um conjunto de microrganismos específicos. O
tanque muitas vezes recebe o nome de biodigestor (OLIVER et al., 2008).
15
1. REVISÃO DE LITERATURA
Para tal serão abordados a seguir tópicos sobre biodigestores, matrizes energéticas,
biomassa, bovinocultura, biogás e biofertilizante, assim como importância da adubação.
1.1 Biodigestores
1.1.1 Definição
Segundo Oliver et al. (2008), biodigestor nada mais é do que uma câmara fechada
onde vai ser inserido o material orgânico a ser decomposto, devendo ser totalmente vedado,
impedindo a entrada de ar, criando assim um ambiente totalmente anaeróbico, ou seja, sem a
presença de oxigênio.
1.1.3 Modelos
1.1.3.1 Chinês
O modelo Chinês (Figura 1) possui uma base dentro do solo e é construído com pedras
ou tijolos e argamassa sendo seu gasômetro, que é o local de armazenamento do biogás
produzido, em forma de abóbada. O mesmo possui caixa de entrada também chamado de
tanque alimentação ou tanque de entrada para a matéria orgânica a ser digerida (BARRERA,
1993).
1.1.3.2 Indiano
O Indiano (Figura 2) é construído com uma parte subterrânea e outra fora do solo
contendo uma caixa de entrada para matéria orgânica a ser digerida e saída para biogás
formado, assim como uma saída para o material residual que forma o chamado biofertilizante.
O diferencial deste biodigestor é que possui como gasômetro uma campânula feita de metal
19
que deve ser periodicamente pintada devido à corrosão e possui também uma parede interna
que divide o em duas câmaras o que movimenta a matéria orgânica que flui e assim auxilia no
processo de digestão (OLIVER et al., 2008).
1.1.3.4 Complexos
Os biodigestores de grande porte são construídos com base de concreto armado, com
tubulações adequadas, bombas, trocadores de calor, agitadores, dois ou mais reatores (Figura
4). A unidade ainda possui equipamentos de controle de mais de 18 parâmetros diferentes
desde temperatura, volume de carga, volume de saída controle de pH, controle de pressão,
21
controle de acidez entre outros. Todo este controle é feito de forma automatizada
(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).
1.1.3.5 Caseiros
O biodigestor caseiro (Figura 5), geralmente pode ser construído em tambores de 200
litros que pode ser de PVC ou de metal. Possui entrada para matéria orgânica e saída para gás
e biofertilizante (ARRUDA et al., 2002).
1.1.4 Tipos
Além dos modelos de biodigestores temos os reatores com dois tipos de alimentação
diferentes, sistema de batelada e o de fluxo contínuo. Os reatores do sistema de batelada são
carregados com substrato de uma só vez, após fechado ele ainda apresenta certa quantidade de
ar, que é consumido por alguns microrganismos aeróbios e anaeróbios facultativos ainda no
início do processo, também chamada de etapa hidrolítica. O gás gerado pode ser usado
durante o processo ou ser armazenado em gasômetro separado. Após reação completa ele é
esvaziado, e o sistema começa novamente (BARRERA, 1993).
Todos os tipos de biodigestores apresentam vantagens e desvantagem, mas
basicamente o mais importante é que apresentem total ausência de ar, ou seja, um ambiente
anaeróbico para o bom desenvolvimento das bactérias envolvidas no processo. A escolha do
tipo de um biodigestor depende principalmente das condições locais, disponibilidade de
substrato, experiência e conhecimento do construtor, investimento envolvido, entre outros
fatores. Mas qualquer digestor construído, caso seja corretamente instalado e operado, dará
uma boa produção de gás (COMASTRI FILHO, 1981).
VB = VC x TRH
1.2.1 Definição
A matriz energética representa a oferta de energia disponível em cada país, como por
exemplo: os combustíveis fósseis e atualmente biomassa como fonte de energias renováveis.
A análise das mesmas é de grande importância para o planejamento do setor, com o objetivo
de garantir a produção e seu uso adequado, permitindo, inclusive, as projeções futuras
(GOLDENBERG et al., 2008).
24
Figura 6 - Preço anual médio do petróleo dos anos 60 até os dias atuais 2010
Ultimamente muitos países buscam obter uma matriz mais diversificada, pois por meio
de pesquisas concluíram que se depender de uma só fonte de energia pode sofrer escassez no
abastecimento futuro ou enfrentar crises econômicas que venham desestabilizar
completamente o setor (HOLLANDA; ERBER, 2005; DEVIDE, 2000).
Dentre as várias fontes renováveis, a biomassa é considerada uma das mais
promissoras em comparação às demais, onde as crescentes explorações dos recursos naturais
estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento das nações. Assim, com o tempo, os
países que dispuserem de tecnologias para conversão dessas fontes terão capacidade de se
tornar auto-sustentáveis em questões energéticas (GOLDEMBERG et al., 2008).
25
O consumo excessivo das energias não renováveis tem sido um assunto bastante
discutido, principalmente pelo uso exagerado que contribui com o desmatamento, degradação
do solo e principalmente com a poluição. Várias consequências provocadas por essas fontes
são bem conhecidas pela humanidade, bem como as alterações climáticas e o consequente
aquecimento global do planeta, contribuindo para o efeito estufa que tem como o metano
(CH4) e o dióxido de carbono (CO2), seus principais vilões (GOLDEMBERG et al., 2008).
Há algum tempo atrás, num passado não muito remoto, não havia grande preocupação
por parte de líderes mundiais com as fontes de energia convencionais, pois estas eram
acessíveis e abundantes e também não existia grande preocupação por parte dos mesmos em
relação à poluição, visto que há pouco tempo esse fato tem se tornado alarmante (CORTEZ et
al., 2008).
Em contrapartida houve uma mudança acentuada a partir da década de 70, onde foi
deflagrada a crise do petróleo. Nessa época, nações árabes, principais produtores de petróleo,
resolveram usar seus produtos como arma econômica, deixando claro para os exportadores
que o aumento do preço não dependia apenas do esgotamento do mesmo, mas também da
vontade de seus produtores de vender (GOLDEMBERG et al., 2008).
De acordo com Vieira; Silva (2006), nas décadas de 70 e 80 houve um elevado preço
da energia internacional decorrente da situação do petróleo na época. Com as incertezas de
abastecimento de energia muitos países buscaram estratégias de racionamento e
desenvolvimento de fontes alternativas, para garantir as necessidades básicas de consumo.
Evidentemente, as grandes guerras foram geradas principalmente na busca de dominar áreas
produtoras dessas fontes. Diante disso, qualquer questão energética tornava-se extremamente
preocupante e ameaçadora para qualquer governo.
O Brasil pode ser considerado um país com muitas vantagens para liderar o vasto
mercado de energia renovável, tornando-se auto-sustentável nesse setor, pois possui grande
disponibilidade de terras sem competir com o setor de alimento, grande quantidade de matéria
orgânica disponível que pode ser usada como substrato, uma das melhores tecnologias de
ponta no setor, entre outros. Vantagens essas que muitos outros países não possuem. No
Brasil, em 2007, cerca de 50% da Oferta Interna de Energia (OIE), tem origem em fontes
renováveis, enquanto que no mundo essa taxa é de 12,9% e nos países membros da
26
Liquefeito, comprimido,
Energia Uso Final eletricidade distribuída
Perdas de energia
1.3 Biomassa
vegetais lenhosos, como é o caso da madeira e seus resíduos, e também de resíduos orgânicos,
nos quais encontramos os resíduos agrícolas, urbanos e industriais (Figura 8). Assim como
também se pode obter biomassa dos biofluidos, como os óleos vegetais, por exemplo,
mamona e soja. A utilização da biomassa, como fonte de matriz energética, por países que
aderiram a tal tecnologia, tem sido reconhecida como precursora de um ato estratégico para o
futuro, pois trata-se de uma fonte renovável com baixo custo, com aproveitamentos dos
resíduos que ainda podem ser utilizados como biofertilizantes, sem contar seu potencial
menos poluente em relação às fontes convencionais. (CORTEZ, et al., 2008, DEUBLEIN;
STEINHAUSER, 2008).
Industrias
Resíduos
Urbanos
orgânicos
Agrícolas
1.4 Bovinocultura
1.4.1 Produtos
A criação de bovinos tem grande influência sobre a economia do país, pois a pecuária
é tida como uma das mais velhas profissões existentes, em que a domesticação e criação de
animais tiveram por objetivo principal a geração de rendas e empregos. A importância da
bovinocultura no Estado de São Paulo é amplamente reconhecida por diferentes fatores. A
distribuição territorial da pecuária bovina de corte paulista se concentra principalmente na
região oeste, onde um terço do rebanho total se encontra apenas em cinco municípios:
Presidente Prudente com 7,5%; Presidente Venceslau, 7,3%; Andradina, 5,3%; General
Salgado possui 4,7%; e São José do Rio Preto, 4,2%. A pecuária leiteira localiza-se no oposto
do estado, no Vale do Paraíba, onde o destaque de produção fica por conta da regional de
Pindamonhangaba que responde por 9,9% do total do leite produzido (SILVA, 2008).
32
1.5 Biogás
1.5.1 Definição
O biogás é resultante de processo de digestão anaeróbica, sendo que tal processo tem
sido utilizado em muitas aplicações que demonstraram a sua capacidade de tratar resíduos
sólidos e efluentes líquidos constituídos principalmente de matéria orgânica, permitindo
também a reciclagem dos nutrientes (ZANETTE, 2009).
A geração do biogás passa necessariamente por quatro fases sendo elas hidrólise,
acidogênese, acetogênese e metanogênese (Figura 9). Durante o processo de produção, é
indispensável que as reações químicas ocorram de forma sinérgica, sendo que as fases 1-2 e
3-4 possuem uma relação íntima, logo as mesmas são organizadas em dois estágios (I e II),
em que os níveis de degradação devem ter o mesmo tamanho (DEUBLEIN; STEINHAUSER,
2008).
34
Ácidos de Alcoóis
Carboidratos Monossacarídeos
cadeia curta CH4 H2S
CO2 e H2O
Lipídeos Ácidos Graxos
Alcoóis CO2 NH3
Acetato
Proteínas Aminoácidos
CO2 e H2O H2O NH4
H2
Biogás
1.5.3.1 Hidrólise
1.5.3.2 Acidogênese
Os produtos da fase hidrolítica são usados como substratos para a fase acidogênica.
Durante o período de fermentação os hidrogênios podem formar intermediários que
prejudicam a fermentação por inibição de bactérias acetogênicas importantes para próxima
fase. Sendo assim, quanto maior a pressão de hidrogênio menor será a formação de acetato
(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).
35
1.5.3.3 Acetogênese
1.5.3.4 Metanogênese
A fase de produção do metano (CH4) deve estar extremamente isenta de ar, pois as
bactérias dessa fase são anaeróbias restritas. As mesmas produzem metano a partir de duas
fontes principais, ou seja, produzem CH4 a partir do acetato ou da combinação CO2 e H2
(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).
necessidade dos gases estufa. Sendo assim, a radiação do Sol é absorvida pelo solo que
reemite em forma de onda longa (Figura 10). Essa radiação se perderia toda no espaço se não
fosse os gases de efeito estufa que absorve parte dessa radiação e devolve para a superfície da
Terra. Sem o efeito estufa natural a temperatura na Terra seria cerca de -32° C a -23° C, seria
extremamente frio. Com o aumento da concentração de gases oriundos da poluição causada
pelo homem, a camada do efeito estufa fica mais espessa de modo a dificultar a liberação de
radiação para fora da Terra. Essa radiação é devolvida o que elevará drasticamente a
temperatura do planeta (ALVES; FERRER, 2006).
1- A energia solar
chega à Terra em
ondas curtas.
Embora o Brasil possua uma matriz energética considerada mais limpa, por ser
baseada em sua maior parte em hidrelétricas e com uma parcela considerável de
biocombustíveis, o país figura em 4º lugar entre os maiores emissores de gases estufa, em
função das queimadas oriundas do desmatamento, principalmente da Amazônia. Isto
representa 75% das emissões brasileiras (WWF - BRASIL, 2008).
37
Segundo Alves; Ferrer (2006), quase todos os gases de efeito estufa originam- se da
natureza, entre eles temos: metano (CH4), vapor de água (H2Ov), dióxido de carbono (CO2),
óxido nitroso (N2O), ozônio (O3), já o clorofluorcarbonos (CFCs) foram desenvolvidos
sinteticamente. Eles possuem um tempo de vida na atmosfera e potencial de aquecimento
global como mostra a Tabela 5.
1.7 Fertilizante
forma de Champion branco ou granulado com 16% de nitrogênio. Os dois tipos são solúveis
em água e possui boa absorção pelas plantas.
Sulfato de amônio (NH4)2 SO4
Possui cerca de 20% de nitrogênio solúvel em água. É obtido na destilação seca do
carvão, onde sem contado com o ar produz amônia (NH3), a qual reage com ácido sulfúrico
(H2SO4) e produz o sulfato de amônio. Este adubo é muito interessante para o agricultor, pois
apresenta grande concentração de enxofre (S), pois é notada a falta deste mesmo elemento em
solo brasileiro.
Uréia (NH2)2CO
É um produto sintético, geralmente granulado de cor branca, dependendo do tipo de
fabricação. Contem 45% de nitrogênio e é utilizado em pulverização em frutíferas e
hortaliças, apresentando excelentes resultados.
Amônia anidra
É um gás liquefeito e comprimido que apresenta 82% de nitrogênio, tido como o adubo
nitrogenado com maior concentração deste mesmo elemento.
Nitrossulfocálcio ( NH4NO3CaSO4)
Produto sintético fabricado com tecnologia brasileira com 27% de nitrogênio e ainda
possui a vantagem de possuir enxofre (4%) e cálcio (8%) em sua concentração.
É melhor dar preferência as formas amoniacais, como o sulfato de amônia ou as formas
amídicas, como a uréia (MALAVOLTA, 1979).
1.8 Biofertilizante
1.8.1 Definição
de potássio (K). Esse adubo não possui agentes causadores de praga ou doenças e age de
forma eficaz para repor os teores de nutrientes antes escassos no solo (OLIVER, et al. 2008).
Na agricultura pode ser aplicado diretamente no solo em forma líquida ou seca, sendo
que para aplicação direta nas plantas, coloca- se 1 litro de biofertilizante para cada 10 litros de
água, passa- se a mistura por uma peneira fina e realiza- se a aplicação (OLIVER, et al. 2008).
2. MATERIAIS E MÉTODO
Figura 11 - Localização do Sítio São José: a propriedade está indicada pelo balão
vermelho com denominação de sítio Contel.
V= R². h
V = 3,14. (0,28)².0,83
V = 0, 204 m³
ou
V = 204 L
VB = VC x THR
VB = VC x THR
0,1 = VC x 1
VC 0,1 m3 100 L
Inicialmente, foi observado se a base do tambor (Figura 12) não tinha nenhuma
incidência de vazamento, com adição de água, dando início posteriormente à construção do
biodigestor.
46
Usando uma furadeira, foi feito um buraco na tampa móvel do tambor, para encaixar
um cano de PVC, funcionando como alimentador. Este cano possui um comprimento que
chega até o fundo (base) do tambor, vedando o mesmo com uma tampa na parte superior. A
parte inferior to cano de PVC foi recortada utilizando-se um arco de serra (Figura 13). Ainda
na parte de cima do tambor, foi feito um buraco menor com furadeira, onde foi introduzida
uma válvula de fogão com uma mangueira (saída de biogás).
47
Na altura média lateral do tambor, foi feito outro orifício com a furadeira para colocar
um flange, acoplando a este uma torneira de registro (saída do biofertilizante), utilizando veda
rosca para evitar vazamentos de fluidos como mostrado na Figura 14.
48
Assim que o biodigestor foi organizado, preparou-se o substrato a ser digerido. Foram
utilizados 0,04 m3 de esterco bovino e 0,06 m3 de água, conforme consta na Figura 16. Sendo
o tambor de 200 L, ao ser adicionado o substrato diluído essa quantidade de mistura ocupou
49
metade (100 L) do biodigestor, conforme a Figura 17, sendo que a outra metade funcionou o
gasômetro.
Figura 16 - Biomassa
Por fim o biodigestor foi fechado, estando assim pronto para iniciar o processo de
fermentação anaeróbica (Figura 18).
50
3. RESULTADOS
3.1.1 Alimentação
A propriedade possui 50 cabeças de gado, sendo que todas são vacas leiteira, tendo
utilizando como fonte de alimento a pastagem existente no local. Em situações de carência do
alimento através das gramíneas, principalmente na época das secas, são utilizados
suplementos alimentares tais como: sal mineral, rações de subprodutos de culturas da época,
como ponteiros de cana-de-açúcar, de milho verde e sorgo, todos triturados.
3.1.2 Sanidade
3.2 Biofertilizante
3.2.1 Produção
Figura 20 - Biofertilizante
As Tabelas 8 e 9 mostram os resultados obtidos das amostras que foram enviadas para
o laboratório da UNESP, em Botucatu- SP.
4. DISCUSSÃO
que está atacando a planta e repelir e destruir ou paralisar a ação desses elementos (MATOS
et al., 2007 )
A fermentação faz com que ocorra uma série de transformações químicas e biológicas
nos biofertilizantes, que deixa os nutrientes prontamente disponíveis para a planta. O cheiro
do adubo orgânico é forte, mas não é limitante para seu uso (OLIVER et al., 2008).
Em relação aos resultados obtidos com as análise de macro e micronutrientes temos
que os nutrientes presentes nas amostras 1 e 2 se comportaram de formas diferentes, o que
entra em acordo com os resultados obtidos por Silva et al, (2006). Cada nutriente comporta-se
de maneira diferente, de forma geral, essa diferença é constatada na literatura. Após o preparo
do biofertilizante, o mesmo possui em torno de 3,48 g/kg de nitrogênio e 8,0 g/kg de potássio,
onde esses dois nutrientes são os mais relevantes do ponto de vista nutricional para a maioria
das hortaliças. Para a oscilação dos elementos conforme o tempo foi em conseqüência da
constante liberação dos nutrientes do esterco (parte sólida) para o biofertilizante líquido
(SILVA et al., 2006).
As análises de macronutrientes descritas na Tabela 8, quanto à concentração de cálcio,
por exemplo, demonstra que esta foi 10 vezes menor quando comparada a do biofertilizante
Biossolo, produzido por um cafeicultor de São Sebastião do Paraíso- MG, que foi
experimentado por Devide et al. (2000). O valor da concentração de fosfato foi 6 vezes menor
em relação ao referido trabalho. A concentração de nitrogênio e potássio nas amostras foram
de 50% menos quando comparadas ao Biossolo. Por fim magnésio mostrou apenas 1/3 de
redução entre o biofertilizante produzido e o Biossolo. É importante lembrar que as amostras
deste trabalho foram coletadas em 15 e 30 dias de fermentação anaeróbica; já o biofertilizante
Biossolo foi utilizado para dosagem, mas não temos o período de tempo de fermentação
anaeróbica que ele é resultante. Quando comparado com os resultados de Devide et al. (2000)
o valor de pH foi bem próximo do mesmo, ao redor de 6,5. Além disso, o substrato utilizado
pelo cafeicultor era composto de palha de café, esterco de cama de aviário e bovino, farinha
de ossos, farelo de arroz, fermento, açúcar leite e água, enriquecido com micronutrientes,
sendo que esta formulação não é rigorosamente padronizada, sofrendo alguma variação a cada
lote. Devido a todas estas diferenças de metodologia não padronizadas podemos justificar os
diferentes resultados obtidos em nosso trabalho e de Devides et al. (2000).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, J. W. S.; FERRER, J. T. V. Biogás: projetos e pesquisa no Brasil, São Paulo: SMA,
2006.
HOLLANDA, J. B.; ERBER, P. Ferramentas para planejar energia no Brasil: matriz insumo
produto. Disponível em: < www.inee.org.br>. Acesso em: 06 jul. 2010.
WWF- Brasil. Combatendo as causas das mudanças climáticas. Disponível em: <
http://assets.wwfbr.panda.org/downloads/wwf_brasil_combatendo_mudancas_climaticas.pdf>
. Acesso em: 30 out. 2010.