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Elementos de Máquinas I – Carregamento Cíclcio - FADIGA 8

3. CARREGAMENTO CÍCLICO - FADIGA

3.1 Introdução

Em geral, os componentes mecânicos estão submetidos a esforços que variam com o


tempo. Estes esforços podem provocar a falha através da fadiga no material. A falha
por fadiga consiste na nucleação e posterior propagação de trincas. Geralmente esta
falha ocorre com tensões atuantes inferiores ao limite de resistência ao escoamento
do material.

Existem basicamente três metodologias distintas para o dimensionamento à fadiga de


um componente: Fadiga controlada por tensão (ou fadiga de alto ciclo), fadiga
controlada por deformação (ou fadiga de baixo ciclo) e mecânica de fratura aplicada à
fadiga. Neste curso será visto apenas a primeira metodologia.

A metodologia de fadiga controlada por tensão baseia-se nas curvas S-N (ou curvas
de Wöhler) do componente. Esta metodologia é bastante adequada quando as
seguintes condições são verificadas:

• A tensão atuante é inferior ao limite de resistência ao escoamento do material, ou


seja, σEXT < σ0,2.
• A vida prevista é longa. Em geral N>103 ciclos;
• A amplitude dos Esforços é previsível;
Exemplos de componentes onde se aplica esta metodologia: Eixos, engrenagens,
molas;

A vida necessária ao componente deve ser calculada ou avaliada. Segue abaixo um


exemplo de determinação de vida de um virabrequim de automóvel:
Vida esperada do carro ≈ 150.000 km;
Raio do Pneu ≈ 290 mm;
Comprimento =π.580= 1822,12mm = 1822X10-6 km;
1 Rotação pneu 1822X10-6 km
n Rotações pneu 1 km
n = 549 rpm/km. Para N=150.000 km n= 549 x150.000 = 8,2x107 Rotações
Relação típica: nENT/nSAIDA=3x1 nVIRABREQUIM= 2,5x108 Rotações

A vida necessária ao virabrequim será de aproximadamente 250 milhões de


ciclos. Isto significa vida infinita.
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Mecanismo de falhas por fadiga: As trincas de fadiga iniciam na grande maioria dos
casos na superfície do componente. Estas trincas podem ser nucleadas durante o
serviço ou podem estar presentes no material usado na fabricação.

As trincas iniciam em imperfeições ou descontinuidades do material, ou seja, em


locais onde haja concentrações de tensões. Existem três estágios básicos:
nucleação, propagação estável da trinca e fratura brusca devido à propagação
instável da trinca. Um eixo que falhou por fadiga está mostrado na Fig. 3.1. A trinca
foi nucleada no rasgo da chaveta.

Fig. 3.1: Eixo rompido por fadiga

3.2 Forças e Tensões Cíclicas

A fadiga é causada por forças atuantes em componentes mecânicos que variam com
o tempo. Existem várias possibilidades distintas de variação da força ou tensão
atuante com o tempo, como está mostrado na Fig. 3.2.

σMÁX σMÁX
Tensão (MPa)

Tensão (MPa)

∆σ σa ∆σ
t (s) σa

σMÍN σMÍN = 0 t (s)

Fig. 3.2: Tensões variáveis com o tempo: Tensão média nula e tensão média distinta
de zero.
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Equações Básicas:

σ MÁX − σ MÍN σ MÁX +σ MÍN


σa = 2
σm = 2 (3.1)
σm = Tensão média; σa = Tensão alternada;

3.3 Curva S-N

Esta curva relaciona a tensão alternada aplicada com a vida co componente em


números de ciclos. Geralmente estas curvas são produzidas para tensões médias
nulas. A curva S-N de um aço AISI 8620 está mostrada na Fig. 3.3
400

P = 1%
Alternating Stress (MPa)

350

300

250

200

150

100

1E+3 1E+4 1E+5 1E+6 1E+7


Number of Cycles (N)

Fig. 3.3: Curva S-N de uma aço AISI 8620 (Dissertação de Mestrado PUC Minas –
Álvaro Alvarenga Jr. e Ernani S. Palma)

A resistência à fadiga diminui com o aumento da vida ou do número de ciclos. Em


alguns materiais como aços e ferro fundidos ocorre a formação de um cotovelo entre
aproximadamente 106 e 107 ciclos. Este ponto define o limite de resistência à fadiga
do material para vida infinita. Tensões alternadas inferiores a este limite não provoca
dano por fadiga e o material poderá ser submetido a um número infinito de ciclos sem
que ocorra a falha.

Porém, nem todos os materiais apresentam um limite de resistência à fadiga bem


definido. Alumínio e suas ligas são exemplos deste grupo de materiais. Neste caso
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define-se a resistência à fadiga como sendo o valor de tensão alternada
correspondente à vida de 108 ciclos.
A curva S-N pode ser modelada pela equação:

S n = aN b (3.2)
1 S 
log( a ) = log(S m ) − 3b b = − log m  Sm = 0,9σR ou Sm = 0,75σR
3  Se 
A resistência à fadiga torcional (SfS) será aproximadamente 58% do valor da
resistência à fadiga à flexão (Sf), ou seja, SfS = 0,577Sf.

3.4 Influência da Tensão média na Resistência à Fadiga

A influência da tensão média na resistência à fadiga está mostrada na Fig. 3.4.


Tensões médias positivas (de tração) diminuem a resistência à fadiga. Ao contrário,
tensões médias de compressão tendem a aumentar a resistência à fadiga. Existem
vários modelos que determinam a influência da tensão média. Os mais usados são:
σa σm 1
Goodman: + = (3.3a)
Sn Sut FS

2 2
σa  σ  1
Gerber:   +  m  = (3.3b)
 Sn   Sut  FS

Nesta disciplina será usado apenas o modelo de Goodman, mostrado na Fig. 3.5.

σa
Gerber
Sn Para σm = 0 σ a = Sn
Para σm > 0 σ a ≤ Sn

σa
Goodman

σm σR σm
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Fig. 3.5: Diagrama de vida constante

Exemplo: Um aço tem um limite de resistência à fadiga Se=400 MPa, Limite de


resistência à tração = 1200 MPa. Qual o maior valor da tensão alternada que ele
suportaria, para ter a mesma vida e com FS=1, se estivesse atuando a tensão σm=
80 MPa?
σa σm 1 σa 80 1
+ = + = σa ≤ 133,33 MPa
Sn Sut FS 400 1200 1

Limite de Resistência à Fadiga Teórico (S’e)

O limite de resistência à fadiga teórico (S’e) pode ser aproximado através dos
seguintes valores:

AÇOS:
S’e ≈ 0,5σR ⇒ σR < 1400 Mpa
S’e ≈ 700 MPa ⇒ σR ≥ 1400 Mpa

FERRO FUNDIDO:
S’e ≈ 0,4σR ⇒ σR < 400 Mpa
S’e ≈ 160 MPa ⇒ σR ≥ 400 Mpa

O limite de resistência à fadiga teórico (S’e) deve ser corrigido por diversos fatores de
correção, obtendo-se o limite de resistência à fadiga (Se).

Se = S e' .C L .CG C S .CT C R (3.4)


Fator de carregamento (CL)
Flexão alternada e Torção CL = 1,0
Forças Axiais CL= 0,7

Fator de Tamanho (CG)


d ≤ 8 mm - CG = 1,0
-0,097
8 ≤ d ≤ 250 mm - CG = 1,189.(d ) (d) em milímetros (mm).
d > 250 mm - CG = 0,6

Secções distintas da circular: Calcular o diâmetro equivalente - dequiv

A95
d equiv = A95 = tabelada para várias secções transversais
0,0766
Exemplo: Retângulo com lado (b) e altura (h) - A95 = 0,005.b.h
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Fator de Acabamento Superficial (CS)
Determinado pelo processo de fabricação

CS = A (σ R )b σR = Limite de resistência à tração (3.5)

Acabamento superficial: Esmerilhado Usinado ou Laminado Forjado


Estampado a Quente
A (MPa) 1,58 4,51 57,7 272
b -0,085 -0,265 -0,718 -0,995

Fator de Correção da Temperatura (CT)


CT = 1,0 Para T ≤ 450 0C
CT = 1 – 0,0058(T-450) Para 450 ≤ T ≤ 550 0C

Fator de Correção da Confiabilidade (CR)


Confiabilidade (%) 50 90 99 99,9 99,99
CR 1,0 0,897 0,814 0,753 0,702

3.5 Efeito de Entalhes

Kf −1
q= Kf = Fator de concentração de tensões em fadiga
Kt −1
Kt = Fator de concentração de tensões geométrico

1
q=
a r = raio do entalhe (mm)
1+
r
Parâmetro (a):

σR (MPa) 345 380 414 483 552 620 685

a (mm) 0,655 0,595 0,544 0,469 0,403 0,352 0,312

σR (MPa) 758 896 1103 1379 1655

a (mm) 0,277 0,222 0,156 0,091 0,045


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3.6 Tensões multiaxiais

Calcular as tensões equivalentes alternadas (σeqa) e médias (σeqm) através da


equação de von Mises:

σ eqa =
1

2
(σ xa −σ ya
2
) (σ xa −σ za) + (σ ya −σ za) + 6τ
+
2 2 2
xya
2 2 
+ τ xza + τ yza 


σ eqm =
1
(
2 

2
σ xm σ ym + ) (σ xm −σ zm) + (σ ym −σ zm) + 6τ
2 2 2
xym

+ τ xzm + τ yzm 
2 2


PROPRIEDADES MECÂNICAS DE ALGUNS MATERIAIS

SAE/AISI Condição σ0,2 [Mpa] σR [Mpa]


AÇOS (E = 206,8 GPa, ρ = 7,8 Mg/m ) 3

1020 Laminado a quente 207 379


Laminado a Frio 393 469
1040 Laminado a quente 290 524
0
Normalizado (900 C) 372 593
Laminado a Frio 490 586
0
Temper. e Reven. (650 C) 434 634
Temper. E Reven. (200 0C) 593 779
0
4130 Normalizado (900 C) 434 669
0
Temper. e Reven. (650 C) 703 814
Temper. e Reven. (450 0C 1193 1282
4340 Temper. e Reven. (650 0C) 855 965
Temper. e Reven. (450 0C) 1365 1469
Temper. e Reven. (320 0C) 1586 1724
ALUMÍNIO (E = 71,7 GPa, ρ = 2,8 Mg/m )
3

2024 Chapa recozida 76 179


Tratada Termicamente 290 441
6061 Chapa recozida 55 124
Tratada Termicamente 276 310
7075 Barra recozida 103 228
Tratada Termicamente 503 572
A132 Fundido–Tratatamento 296 324
Térmico -(170 0C)
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EXERCÍCIOS
1 Considere uma peça de secção transversal quadrada de lado = a. Esta peça está
submetida às forças axiais que variam de –2 kN até 12 kN. O material desta peça
foi fabricado com um aço com:
Limite de escoamento σ0,2 = 600 MPa;
Limite de resistência à tração σR = 920 MPa;
Estime o valor da resistência à fadiga desta peça. Explique o valor de cada fator
de correção utilizado para esta estimativa.
1.1) Determine o lado (a) desta peça para que ela tenha vida infinita.
Considere fator de segurança S = 1,5.
1.2) Considere o lado (a) igual a 90% do valor calculado no item anterior.
Determine a vida da peça com este novo lado. Considere fator de segurança S
= 1,5.

2. Considere o eixo da Figura abaixo, o qual está submetido a uma força de 6.800 N.
Este eixo terá uma rotação de 850 rpm.
- Selecione um material para este eixo. Estime o limite de resistência à fadiga para
vida infinita (Se).
- Determine os esforços atuantes. Faça o diagrama de momentos fletores.
- Determine os valores dos momentos atuantes nos pontos: B – C – E;
- Determine as tensões atuantes nestes pontos. Determine o ponto crítico, ou seja,
aquele em que atua o valor máximo da tensão.
- Determine se o eixo terá vida infinita. Justifique! Se não tiver, determine a vida do
eixo.
6,8 kN
250 mm 75 100 125 mm

B E C
A D

φ32 φ35
φ38
3. Considere a viga de secção transversal quadrada ou retangular da figura abaixo.
Sobre a extremidade desta viga atuará uma massa (M). Esta massa poderá variar
ciclicamente entre zero e 100 kg. Selecione um material para esta viga. Estime o
limite de resistência à fadiga para vida infinita (Se).Determine as dimensões desta
viga para que ela tenha vida infinita. Quais seriam as dimensões, se a vida fosse
4
igual a 4x10 ciclos?

2,0 m M

0,7 m

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