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NA EDUCAÇÃO

A escola que temos forma jovens


"mancos", que podem ser ótimos em
cálculo e biologia, mas são
emocionalmente frágeis.
Nosso "templo do saber" esqueceu-se da
recomendação feita por Sócrates:
"conhece-te a ti mesmo".
O templo do saber

Existe a grande possibilidade de que


toda discussão política entre
antagonistas chegue a um consenso
quando alguém diz:
"precisamos investir em educação".
De fato, a palavra "EDUCAÇÃO"
carrega em nossa sociedade um
imenso prestígio, como se fosse
um traje de gala, um artefato
mágico que pode nos
ILUMINAR O CAMINHO para a
felicidade e para o sucesso.
A escola, por sua vez, é vista pelo
senso comum como o ” TEMPLO DO
SABER”.
O local onde meninas e meninos vão
para adquirir as habilidades que os
tornarão adultos inteligentes e úteis
socialmente, o lugar por excelência
do conhecimento.
Mas, qual saber se persegue aí?
Pergunta:
O que é uma pessoa inteligente?
"É bom em matemática!“... É bom
em ciências, etc... .
Pois, se é verdade que o ser humano
tem o aspecto racional que o
distingue dos outros animais,
também é verdade que possuímos
emoções que contrastam com
nosso intelecto.
"Emoção" vem da palavra
latina "movere", que significa algo
como "mover".
Uma emoção, portanto, é uma
sensação que gera em nós uma
resposta, uma "perturbação",
nublando muitas vezes nossa
racionalidade e criando
inconvenientes para a vida prática.
Quem nunca disse algo
de que se arrepende
quando estava com
raiva, ou fez alguma
loucura (ou estupidez?)
quando estava
apaixonado, que atire a
primeira pedra!
A preocupação com esse poder das
emoções é tão antiga quanto o ser
humano.
Há uma coletânea enorme de
reflexões desde a antiguidade que
tenta responder aos
inconvenientes que resultam de
emoções descontroladas.
Aristóteles, Sêneca,
Epicuro se debruçaram
sobre a questão,
tentando encontrar uma
maneira de viver em
equilíbrio com nossas
paixões.
Bem, parece-me que, infelizmente,
essa parte do legado do mundo greco-
romano tem tido pouco espaço em
nossos dias.

Voltando novamente o olhar para


nossas escolas, veremos que não existe
uma estrutura (física e
“procedimental”) adequada para lidar
com as emoções que ali borbulham.
Ora, quais são as competências
exigidas para um teste escolar?
Domínio de conceitos,
habilidade descritiva, cálculo...
A escola que temos atualmente
quer, ou diz que quer, formar
seres pensantes.
Mas deixa para trás nossos
afetos.
A verdade é que nossos
jovens saem mancos da
escola, saem, na melhor das
hipóteses, ótimos em
cálculo e biologia, mas
emocionalmente frágeis.
Em nosso templo da educação,
não se dá a devida atenção à
recomendação feita por Sócrates
(que chamou atenção para a
inscrição no templo Apolo em
Delfos):

"conhece-te a ti mesmo".
Templo de Apolo em Delfos, Grécia. Na entrada do templo havia a inscrição: "Conhece-te a ti mesmo"; foto:
Frank Fleschner
Inteligência Emocional: revisitando
os clássicos

Em 1995, o psicólogo estadunidense


Daniel Goleman, publicou um livro
chamado "Inteligência Emocional".
Sua tese central vai de encontro às
reflexões dos antigos sobre o perigo
de uma vida emocional conturbada.
Inteligência Emocional: revisitando
os clássicos

Goleman chama de "sequestros


emocionais" aqueles momentos em que
"perdemos a cabeça", ou seja, quando
nossa racionalidade fica desnorteada e
as emoções explodem, causando, por
vezes, arrependimentos.
Acompanhando Aristóteles - e é
com a citação a seguir que o livro
começa, Goleman aponta que o que
está em questão na inteligência
emocional é que:

"Qualquer um pode zangar-se.


Mas zangar-se com a pessoa certa,
na medida certa, na hora certa,
pelo motivo certo e da maneira
certa não é fácil".
Há uma certeza quando olhamos de
perto o ser humano: sua
racionalidade é parte de sua
integralidade, mas não podemos
esquecer sua passionalidade, seu
ímpeto primal que atravessa milênios
como herança do "homem das
cavernas".
A primeira parte do livro é dedicada a
explicar os mecanismos da cognição
humana que tornam os "sequestros
emocionais" possíveis.
A resposta ensaiada pelas pesquisas de
ponta em psicofisiologia corrobora
alguns filósofos da antiguidade que
pregavam a consciência de si para
controlar as paixões.
A proposta de Sócrates é muito
familiar à de Sidarta Gautama e
estes se aproximam em grande
medida dos estoicos e
aristotélicos quanto àquilo que
proporciona uma vida feliz.
Certamente, há nuances e, por vezes
grandes diferenças entre essas
escolas, mas, no entanto, o cerne do
problema é que o controle de si, só
pode advir do conhecimento de si.
E é aí que reside a grande
contradição de nossa escola.
O foco está no exterior, nos "fatos" e
"dados" que se pode conhecer do
funcionamento deste mundo.
Não existe o estímulo à busca interior
dos estudantes, de compreender sua
história pessoal, de entender como
isto influencia seus gostos e
dificuldades.
Volta-se as energias para o conteúdo,
para a memorização.
Em que pesem os avanços da
psicologia e neurociência, ainda
vivemos em uma sociedade de
excessos e de violência física e
simbólica amplamente disseminadas.
Se concordarmos que a consciência
de si e de suas emoções é
determinante para nosso bem-estar,
quando a chamada ocorre sob essa
dinâmica, professor e estudante
ganham.
O primeiro, compreende melhor as
pessoas com quem lida, preparando-
se para orientar de maneira mais
eficaz seu aprendizado.
O segundo, porque sendo
estimulado a falar sobre si,
aprende a reconhecer suas
emoções, cria o hábito de
investigar seus sentimentos.
Estou certo de que é preciso uma
guinada muito maior do que introduzir
o método mencionado acima.
Na realidade, os dois antagonistas que
citei no começo da Live, certamente
discordarão quando a discussão
enveredar para "como vamos investir
em educação".
Mas isso não muda o fato de que é
urgente repensar o atual sistema!
Precisamos de uma escola orientada
por novos valores, por outra
compreensão do que é importante
aprender.
Que tal se as escolas também fossem
lugares para o autoconhecimento?!
E essa nova visão acerca da
inteligência é hoje
fundamentada,
principalmente, nas teorias de
Haward Gardner (Inteligências
Múltiplas) e de Daniel Goleman
(Inteligência Emocional).
.
O objetivo dessas teorias não está
centrado na preocupação em mensurar a
inteligência, mas sim, em otimizá-la.
E isso implica, segundo a teoria de
Gardner, na observação das fontes
naturais de informações (do próprio meio
social), como mecanismos de
desenvolvimento das capacidades
importantes para a vida.
.
Da mesma forma,
Goleman concebe as
emoções como
instrumento de
aperfeiçoamento da
inteligência.
Assim, o espectro de competências
concebidas pela teoria das
inteligências múltiplas (as sete
inteligências inicialmente concebidas e
uma oitava inteligência - a naturalista -
que o autor, hoje já admite como
possível ) e a emoção, da teoria da
inteligência emocional, de certa
forma, originaram a chamada
educação emocional.
Desse modo, a educação
emocional, certamente, não
pode ser vista como um
fenômeno exclusivamente
escolar.
Constitui-se num processo
de construção permanente,
originado no seio da família,
passando pela escola e
continuando por toda a vida.
Porém, não pode ser vista como mais
um tipo de auto ajuda, uma receita
que transforma problemas em
soluções.
E isso fica bastante evidente,
considerando que o principal objetivo
deste novo paradigma tem como
premissa o crescimento emotivo-
intelectual do ser humano.
Embora os estudos acerca da
inteligência e educação emocionais
sejam relativamente recentes,
parece inegável tratar-se de um
processo de caráter
psicopedagógico, derivado dos
próprios processos de evolução da
sociedade, da família e da escola.
Também há fortes indícios de que
esse encaminhamento pedagógico
está. em boa parte, delegado aos
professores.
Ou seja, a função de assumir o papel
de “alfabetizadores emocionais”,
antes exercido intuitivamente, agora
está consciente.
Nesse contexto, o objetivo
preliminar desse momento é
fazer algumas considerações
acerca da inteligência e das
emoções, como uma
possibilidade importante para
uma melhoria da qualidade no
processo de ensino e
aprendizagem.

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