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4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 Explicitar relação do fundamentalismo cristão com o discurso odioso


proferido pelos nazifacistas aos lgbt no Twitter;

A história nos mostra que, ao chegar em terras brasileiras, por estarem atrelados aos
ensinamentos do binômio de gênero cristão, os colonizadores não compreenderam as
pluralidades de identidades existentes entre os nativos. Com isso, os portugueses estavam
carregados de pensamentos morais e preconceitos fundamentados em dogmas religiosos com
base no cristianismo. De tal sorte, o estigma homofóbico originou uma sociedade que, mesmo
diante de uma diversidade cultural, é marcada pelas relações preconceituosas em diversos
campos, como por exemplo, na religião e questões de gênero (ANDRADE, 2019)
Diante disso, a sodomia, palavra de origem bíblica que se refere aos atos sexuais anais
entre os homens, praticada entre os nativos, fomentou uma perseguição aos indivíduos que
realizavam tais feitos, visto que era contrária à natureza humana e divina, e baseava-se nas
sagradas escrituras (ANDRADE, 2019). Assim, conforme o autor, para a igreja, o sexo
deveria ser praticado apenas entre homem e mulher, visto que tinha a finalidade de
reprodução e controle patriarcal na sociedade.
Nesse sentido, o autor Andrade (2019) destaca que:
As instituições cristãs construíram a idealização do homem universal, o sujeito que
deve ser ponto de partida para todos os corpos, sexualidades, desejos, identidades e
religiosidades: o homem branco cisgênero heterossexual e cristão. Assim, as
opressões violentas dirigidas aos corpos que fogem dessa matriz excludente são
justificadas e naturalizadas por fugirem do “normal”. Este homem é o padrão
colonial que a as igrejas cristãs construíram ao longo dos séculos de colonização e
que é perpetuado nas pregações e evangelizações (ANDRADE, 2019, p. 8).

Dessa maneira, a religião por ser um fenômeno essencialmente humano e, tendo sido
construída por homens, em muitos casos foi utilizada como justificante de práticas agressivas,
como os Tribunais da Santa Inquisição, na Idade Média, o terrorismo, fundamentado em
simbolismos islâmico, entre outros (NATIVIDADE, 2013). Portanto, o cristianismo
colonizador buscava na bíblia sagrada fundamentos para moralidades e ética sexual no campo
religioso.
Atualmente, embora exista uma pluralidade, as religiões cristãs ainda são maioria no
Brasil, com uma estimativa de mais de 80% da população brasileira, segundo o instituto
Datafolha. Fundamentalmente, a religião ajudou a humanidade a se organizar e foi
instrumento de espiritualidade e equilíbrio. Observa-se, assim, uma pluralidade de
relacionamentos existentes entre a diversidade sexual e a religião. Com isso, alguns grupos
religiosos podem atuar de maneira colaborativa, já outros pela discordância desses dogmas.
Contudo, existem ainda aqueles que buscam uma mediação para os dois lados
(NATIVIDADE, 2013).
Para tanto, segundo Natividade (2013), se faz necessário entender o conceito de
homofobia religiosa que:
Compreende um conjunto muito heterogêneo de práticas e discursos baseados em
valores religiosos que operam por meio de táticas plurais de desqualificação e
controle da homossexualidade. A homofobia religiosa não se manifesta somente ao
nível de percepções e juízos morais pessoais ou coletivos, mas envolve formas de
atuação em oposição à visibilidade e reconhecimento de minorias sexuais, grassando
as esferas pública e privada (NATIVIDADE, 2013, p. 49).

Inegavelmente, construções homofóbicas de cunho religioso ainda são percebidas com


frequência na sociedade brasileira, fruto do preconceito e, antes de tudo, da discriminação do
ser humano, gerando desigualdades e conflitos sociais (COELHO, 2015). Com isso, é
imperioso observar as percepções religiosas nas ‘políticas LGBTs’. Assim, a articulação entre
os movimentos sociais e o poder público para a superação do preconceito de gênero
desencadeou uma negativa de aceitação por parte da sociedade. Portanto, a preocupação da
desconstrução de valores cristãos e da família brasileira era base teórica de fundamentação
para prejudicar a instauração de políticas públicas voltadas para minorias sexuais
(NATIVIDADE, 2013).
Dessa maneira, ao serem cogitadas leis contra a LGBTfobia, diversos seguimentos e
instituições religiosas se revoltaram, alegando infinitas desculpas para o feito, como explica
as palavras de Natividade (2013):
Essas ideias circularam em canais diversos como mídia televisiva, sites evangélicos,
púlpitos, periódicos religiosos de circulação nacional e regional, construindo o
homossexual como um indivíduo perigoso, cuja sexualidade descontrolada
ameaçava a coletividade, devendo ser objeto de controle e reparação. Alertas contra
os ‘perigos’ da Lei anti-homofobia destacavam o risco de instituições religiosas
serem impedidas de afastar “ministros homossexuais” de seu quadro de membros; o
perigo da instauração de processos para ‘perseguir’ religiosos; o iminente
favorecimento da adoção de crianças por gays e lésbicas; o risco do “extermínio do
heterossexual” através da destruição da família brasileira; a explosão de episódios de
violência contra heterossexuais, expressão de “heterofobia” (NATIVIDADE, 2013,
p. 45).

Essa estrutura social, marcada pela desqualificação de formas plurais de vivências


sexuais e de gênero, esbarra na imposição de normas heterossexuais. Assim, atribui-se a ela
uma indiferença a toda construção homossexual do gênero e do desejo, visto que é
ameaçadora aos ideais da cultura de alguns indivíduos que entendem que toda humanidade é,
ou ao menos deveria ser, heterossexual (NATIVIDADE, 2013).
De tal sorte, é necessário perceber a existência de grupos de ajuda para o tratamento e
cura dessa ‘anormalidade’. Assim, Natividade discorre que, mesmo as fantasias sexuais, o
sexo fora do casamento, a infidelidade e a masturbação sendo reconhecidas como atos
pecaminosos, eles não deram origem a nenhum grupo de ajuda e recuperação por nenhum
tratamento (NATIVIDADE, 2013). Portanto, o preconceito e a intolerância dos religiosos
conservadores são as únicas respostas para tanta discriminação contra esses grupos. Além
disso, existe uma corrente de contradições morais dirigidas à comunidade LGBTQI+ que
ameaçam a naturalidade e a norma heterossexual universal (BECKER, 2008 apud
NATIVIDADE, 2013). Contudo, os discursos, que não são necessariamente religiosos, se
revelam com uma persistência em atribuir um valor negativo à homossexualidade e à
diversidade sexual. Dessa maneira, entende-se que se um indivíduo é homossexual é por
causa de um erro no seu processo de desenvolvimento (NATIVIDADE e OLIVEIRA, 2009
apud NATIVIDADE, 2013).
Desta forma, o ex-homossexual é taxado como um indivíduo superior, já que alcançou
a libertação superando aqueles que continuam a praticar o pecado. Sendo assim, tal discurso
reafirma o sentimento de desprezo e inferioridade com relação aos homossexuais
(NATIVIDADE, 2013). Destarte,, alguns líderes religiosos reconheceram o equívoco ao
relacionar a homossexualidade com algum mecanismo de cura, e na lição de Natividade
(2019) exemplifica:
Na linha dos redirecionamentos, um importante líder norte-americano de um
ministério evangélico interdenominacional que assumia a alcunha de coletivo “ex-
gay”, o Êxodus Internacional, fechou as portas desta instituição e, em carta pública,
pediu desculpas à comunidade homossexual pelo trabalho pastoral de “cura da
homossexualidade”, passando a qualifica-lo como “uma falácia” e admitindo não
haver “cura” para a homossexualidade. Posteriormente, acompanhamos nas mídias,
a realização de um casamento com pessoa de mesmo sexo, por outra de suas
lideranças. No cenário internacional, discursos papais recentes têm sido
interpretados pelos movimentos como mais abertos e hospitaleiros à
homossexualidade. Acompanhei notícias sobre ocasião em que o Papa Francisco
recebeu uma pessoa transexual no Vaticano com discursos de “amor” e “aceitação”
divina, em 2015, possibilitando redimensionar o interdito das sexualidades
dissidentes (NATIVIDADE, 2019)

Assim, o contexto apresentado busca analisar o complicado tema que é a homofobia e


sua relação com os direitos sexuais e a religiosidade. Muito embora não se possa atribuir a
determinado segmento, ou religião específica, como essencialmente homofóbico, mas as
práticas culturais e dogmas religiosos entram no campo do debate e tentam impor uma
construção histórica e equivocada dos fatos. Dessa forma, esses discursos conservadores não
dizem respeito aos ensinamentos de Cristo, referindo-se apenas aos ideais de controle social
de resistência e oposição social ideológica (NATIVIDADE, 2013).
Para compreender o sentido das interações homoafetivas em determinado contexto, os
livros de Boswell são autoridades, partindo da historiografia trabalhada em cima de
documentação das fontes de igrejas. A partir disso, o estigma sexual reproduzido pelas
proibições oficias dessas entidades não resulta essencialmente da religião, no entanto os
acordos culturais, em determinado espaço de tempo, são questionadas pelas mudanças que
prejudicam o cenário social das civilizações.
Outrossim, o preconceito acaba por vitimar não só esses indivíduos, mas também as
famílias e toda rede de relacionamentos que fazem parte do convívio pessoal deles, e nas
palavras de Natividade (2013) essas pessoas são demasiadamente prejudicadas pois:
Elas sofrem discriminação no ambiente religioso, além de redes como a família, a
vizinhança, o comércio/ lazer, o serviço de saúde. As travestis e as transexuais são
mais afetadas pelo preconceito de víeis religioso. Isso sugere que a violência atinge
muito mais pessoas que desafiam padrões hegemônicos do gênero (CARRARA,
2005; 2004) também no caso da discriminação nas redes religiosas (NATIVIDADE,
2013, p. 37).

Por fim, o desprezo dirigido à comunidade LGBT evidencia processos de formação


alicerçados na sobreposição de si pela desvalorização e rebaixamento do outro. Nessa seara, o
preconceito é revestido de medo, pois o sujeito desprestigiado desacredita de certos valores
preconizados (MOTT, 2015).

ANDRADE, Joao Guilherme De. Cristianismo, a religião do colonizador, e a


lgbtfobia no brasil. Anais IV DESFAZENDO GÊNERO... Campina Grande: Realize
Editora, 2019. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/64074>. Acesso
em: 22/04/2022 14:14

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