A história nos mostra que, ao chegar em terras brasileiras, por estarem atrelados aos
ensinamentos do binômio de gênero cristão, os colonizadores não compreenderam as
pluralidades de identidades existentes entre os nativos. Com isso, os portugueses estavam
carregados de pensamentos morais e preconceitos fundamentados em dogmas religiosos com
base no cristianismo. De tal sorte, o estigma homofóbico originou uma sociedade que, mesmo
diante de uma diversidade cultural, é marcada pelas relações preconceituosas em diversos
campos, como por exemplo, na religião e questões de gênero (ANDRADE, 2019)
Diante disso, a sodomia, palavra de origem bíblica que se refere aos atos sexuais anais
entre os homens, praticada entre os nativos, fomentou uma perseguição aos indivíduos que
realizavam tais feitos, visto que era contrária à natureza humana e divina, e baseava-se nas
sagradas escrituras (ANDRADE, 2019). Assim, conforme o autor, para a igreja, o sexo
deveria ser praticado apenas entre homem e mulher, visto que tinha a finalidade de
reprodução e controle patriarcal na sociedade.
Nesse sentido, o autor Andrade (2019) destaca que:
As instituições cristãs construíram a idealização do homem universal, o sujeito que
deve ser ponto de partida para todos os corpos, sexualidades, desejos, identidades e
religiosidades: o homem branco cisgênero heterossexual e cristão. Assim, as
opressões violentas dirigidas aos corpos que fogem dessa matriz excludente são
justificadas e naturalizadas por fugirem do “normal”. Este homem é o padrão
colonial que a as igrejas cristãs construíram ao longo dos séculos de colonização e
que é perpetuado nas pregações e evangelizações (ANDRADE, 2019, p. 8).
Dessa maneira, a religião por ser um fenômeno essencialmente humano e, tendo sido
construída por homens, em muitos casos foi utilizada como justificante de práticas agressivas,
como os Tribunais da Santa Inquisição, na Idade Média, o terrorismo, fundamentado em
simbolismos islâmico, entre outros (NATIVIDADE, 2013). Portanto, o cristianismo
colonizador buscava na bíblia sagrada fundamentos para moralidades e ética sexual no campo
religioso.
Atualmente, embora exista uma pluralidade, as religiões cristãs ainda são maioria no
Brasil, com uma estimativa de mais de 80% da população brasileira, segundo o instituto
Datafolha. Fundamentalmente, a religião ajudou a humanidade a se organizar e foi
instrumento de espiritualidade e equilíbrio. Observa-se, assim, uma pluralidade de
relacionamentos existentes entre a diversidade sexual e a religião. Com isso, alguns grupos
religiosos podem atuar de maneira colaborativa, já outros pela discordância desses dogmas.
Contudo, existem ainda aqueles que buscam uma mediação para os dois lados
(NATIVIDADE, 2013).
Para tanto, segundo Natividade (2013), se faz necessário entender o conceito de
homofobia religiosa que:
Compreende um conjunto muito heterogêneo de práticas e discursos baseados em
valores religiosos que operam por meio de táticas plurais de desqualificação e
controle da homossexualidade. A homofobia religiosa não se manifesta somente ao
nível de percepções e juízos morais pessoais ou coletivos, mas envolve formas de
atuação em oposição à visibilidade e reconhecimento de minorias sexuais, grassando
as esferas pública e privada (NATIVIDADE, 2013, p. 49).