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A dimensão temporal do conceito de

pessoa jurídica e sua crise

THADEU ANDRADE DA CUNHA

“...Na interpretação de qualquer figura jurídica


é essencial ter em mente a dimensão temporal em
que se insere...o primeiro ponto a considerar é o
posicionamento histórico do fenômeno e a
compreensão de sua eventual mudança de perfil por
agregação de novas características em razão da
constatação de outros...”
Marco Aurelio Greco

SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Noção histórica. 3. Delimitação


do conceito de pessoa jurídica. 4. A “crise” da
pessoa jurídica. 5. Conclusão.

1. Introdução
O estudo da pessoa jurídica constitui um
campo instigante de análise devido à relativa
indefinição, por parte dos doutrinadores, acerca
do seu conceito.
Contrariando as palavras de Francesco
Messineo,
“que, alheiando-se das querelas que tanto
afadigaram os juristas, considerou de
somenos importância o problema sobre
realidade ou ficção das pessoas jurídicas,
satisfazendo-se com a circunstância de
possuírem elas uma realidade no e para
o mundo jurídico”1,
na verdade, a discussão sobre a ontologia da
pessoa jurídica envolve grandes e profundas
considerações.
Em face de inúmeras controvérsias que
ainda envolvem o tema, concordamos que,
“com efeito, a impressão que sobrevive à leitura
1
MESSINEO, Francesco. Manuale di Diritto
Thadeu Andrade da Cunha é Mestre em Direito, Civile e Commerciale. 9. ed. Milano : Giuffrè, 1957.
Professor da Universidade Federal Fluminense e da In REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial,
Universidade Gama Filho. 16. ed. São Paulo : Saraiva. v. 1, l985. p. 279.
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da maior parte dos textos da dogmática jurídica A abordagem histórica fornece um quadro
que versam sobre o conceito de pessoa jurídica da relatividade do conceito de pessoa jurídica
é a de que os autores, antes de solucionar a e de sua função, e a função de um instituto
intrincada questão conceitual desse instituto, jurídico é satisfazer determinadas necessidades
tencionavam, na verdade, verem-se livres dela”.2 compatíveis com o ordenamento jurídico,
Ferrara, citado por Marçal Justen Filho, utilizando-se de uma forma compatível com o
afirmava: mesmo.
“acaso não haverá, em toda a doutrina Contudo, todo instituto jurídico pode ter sua
do Direito Civil, assunto que reclame função desviada ou utilizada de maneira
mais atenção dos jurisconsultos do que contrária às suas finalidades. Assim, o desvio
o das pessoas jurídicas”.3 de função consiste na falta de correspondência
O estudo acerca da pessoa jurídica, como entre o fim perseguido pelas partes e o conteúdo
“qualquer estudo acerca de um instituto que, segundo o ordenamento jurídico, é próprio
jurídico, não pode ser realizado sem levar em da forma utilizada.
conta a realidade circundante, assim como o
estudo de teorias acerca de institutos jurí- Desse modo, a noção de pessoa jurídica há
dicos não pode ser realizado sem levar em que ser uma noção com extraordinária histori-
consideração o contexto histórico em que tais cidade, deixando filtrar ao máximo o panorama
teorias se inseriram.”4 da sociedade e da cultura subjacente que a
modelou, sendo dela espelho fiel.
Marco Aurelio Greco ensina que,
“na interpretação de qualquer figura
jurídica, é essencial ter em mente a 2. Noção histórica
dimensão temporal em que se insere, nela
identificando a etapa da evolução do Não encontrado no direito romano, o
tema no contexto da experiência conceito de pessoa jurídica é retomado na Idade
humana. Ou seja, o primeiro ponto a Média dentro da concepção de que a pessoa
considerar é o posicionamento histórico jurídica era persona ficta. Para os canonistas e
do fenômeno e a compreensão de sua glosadores, a fictio significava criação da mente
eventual mudança de perfil por agregação humana ou existente no mundo das idéias,
de novas características em razão da enquanto para os ficcionistas do século XIX,
constatação de outros valores igualmente destacando-se Savigny, a fictio da pessoa
relevantes, ao lado daqueles que, até então, jurídica estava na sua “falsidade”.7
haviam informado a figura jurídica”5. Marçal Justen Filho ressalta a ocorrência,
Assim, “a evolução dos conceitos, mesmo no século XIX, daquilo que chamou de fratura
dos mais elementares e fundamentais, é no pensamento jurídico acerca da teoria da
um fenômeno normal. Quanto mais pessoa jurídica.
manuseada uma idéia, mais ela fica Até o século XIX, excetuando as atípicas
revestida de minuciosos acréscimos, figuras das companhias ultramarinas, o direito
sempre procurando os pensadores maior não reconhecia a personalidade a agrupamento
penetração, maior exatidão, maior com fins egoísticos, mas tão-somente a entidades
clareza.”6 que transcendessem à individualidade, tanto no
que concerne à duração quanto aos fins
2
COELHO, Fábio Ulhoa. Desconsideração da perseguidos.
personalidade jurídica . Revista dos Tribunais,
1989. p. 14. Desse modo, a igreja, a comuna, a corpora-
3
JUSTEN, Filho Marçal. Desconsideração da ção e a fundação passavam a ser reconhecidas
personalidade societária no direito brasileiro. São como pessoas porque não constituíam fenômenos
Paulo : Revista dos Tribunais, 1987. p. 28. circunstanciais.
4
Ibidem, p. 46.
5
GRECO, Marco Aurelio. Planejamento fiscal No decorrer do século XIX, a figura
e abuso de direito. In Imposto de Renda : Conceitos, chamada de pessoa jurídica adquire um novo
princípios e comentários. 2. ed. São Paulo : Atlas, substrato conceitual que pouco se identificará
1996. p. 84. com as pessoas jurídicas da Idade Média e da
6
CABALLERO, Alexandre. O ser em si e o ser Idade Moderna, mas servirá de base para a
para si. In : Revista Brasileira de Filosofia, v. 48, n.
71, p. 277, 1968. 7
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 18.
232 Revista de Informação Legislativa
generalização do conceito. Essa mudança é o contra-senso estabelecer limites às pessoas e aos
que Justen Filho denomina ruptura no campo seus direitos.11
da teoria das pessoas jurídicas.8 Vale ressaltar que até então os pensadores
Desse modo, com o novo substrato jurídicos – desde os romanos até os pós-glosa-
conceitual, amplia-se a aplicação do conceito dores – não procuram raciocinar abstratamente
para agrupamentos contingentes. A transcen- o fenômeno jurídico. A dogmática desen-
dência deixa de ser pré-requisito para a perso- volvia-se com noções externas e descritivas das
nalização. peculiaridades de cada figura frente ao direito.
Em verdade, a mudança verificada na Porém, mais uma mudança é verificada
ideologia vigente na sociedade daqueles idos nesses tempos, eis que surge o movimento
e, conseqüentemente, no direito produzirá como pandectístico, produzindo concepções que
resultado a generalização do fenômeno da privilegiavam a figura humana como algo
personalização como conseqüência de novos prévio ao direito e desenvolvendo-se a partir
paradigmas estabelecidos. de conceitos abstratos e apriorísticos. A
denominada jurisprudência dos conceitos
Siches, citado por Miranda Rosa, ensina que buscava a natureza lógica, estabelecendo
“a norma jurídica é resultado da referências intrínsecas e essenciais para as
realidade social. Ela emana da sociedade, figuras jurídicas.
por seus instrumentos e instituições As construções pandectísticas alcançaram
destinados a formular o Direito, refle- uma proeminência, representando uma grande
tindo o que a sociedade tem como obje- contribuição para o trabalho doutrinário
tivos e valorações, o complexo de seus verificado até então.
conceitos éticos e finalísticos.”9 Assiste-se à positivação do direito, o papel
O século XIX foi marcado por profundas do costume como elemento produtor de normas
alterações, entre as mais importantes o nasci- é suprimido e o Estado institucionaliza-se como
mento do Estado de Direito. Esse Estado surgiu emissor de normas jurídicas. Um novo direito
como sujeito de direitos e não apenas como nasce; o direito comercial medieval e pós-
titular de poderes, adotando o princípio da medieval de três séculos é, assim, substituído
separação entre os poderes. pelo direito estatal.
Esse novo Estado irá provocar o nascimento Desse modo, a força do passado, que, até
de um direito público, dessa feita inconfundível então, constituía o fundamento de validade da
com a noção de jus publicum do direito romano, norma jurídica, é substituída pelo poder estatal,
que, segundo Marçal Justen Filho, surge que repousava na vontade humana, a bem da
reorganizando a dicotomia tradicional, onde a verdade, a vontade de um pequeno número de
relevância, para o direito privado, é indireta, pessoas.
manifestando maior relevância pela supressão O direito torna-se adaptável às novas
e pelo repúdio a privilégios e monopólios, com realidades sociais, mas ao sacrifício de sua
o que acaba por alterar-se a sistemática da certeza e de sua autoridade.
personalização, que até então constituía-se um
privilégio.10 A insegurança é conseqüência inevitável e
adquire maior relevo na Alemanha, onde
Outro reflexo do surgimento do Estado de desconfia-se das variações normativas e orde-
Direito é verificado na filosofia política que irá nações arbitrárias. Afinal, a produção do direito
repercutir no direito privado. Assim, a filosofia deixou de ter fonte única.
do liberalismo é estabelecida e o Estado passa
a ter como função primordial a realização da É nesse contexto que a dogmática pandec-
segurança jurídica e, dessa maneira, a permitir tística adquire excepcional prestígio. Enquanto
aos indivíduos a liberdade para alcançar seus suas construções teóricas condicionavam o
interesses; o direito privado se confundia com conteúdo do direito objetivo, sua arquitetura
a realização humana e seria um verdadeiro alicerçava-se nos conceitos básicos de direito
objetivo e de direito subjetivo, pois a vontade
8
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 19. humana é a fonte de todas as coisas e, conse-
9
SICHES, Luis Recaséns. Tratado de Sociologia. qüentemente, do direito positivo.
In : ROSA, F. A. Miranda. Sociologia do Direito. 9. Nesse panorama, privilegia-se a noção de
ed. São Paulo : Jorge Zahar, 1992. p. 57.
10 11
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 20. JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 20.
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vontade individual, que tem como correspon- o que era pessoa jurídica e desnudar a sua
dência, no plano estatal, uma ideologia política essência.
liberal, e, assim, a função do Estado cinge-se a A polêmica ficção-realidade da pessoa
assegurar a liberdade da manifestação indi- jurídica está centrada nas concepções acerca
vidual. do direito subjetivo.
Com o advento da Revolução Francesa, a
filosofia liberal, o direito individual e a política Savigny defendia a tese de que a pessoa
do liberalismo compõem um universo que jurídica cria uma ficção. O núcleo do direito
produzirá a generalização da personalidade subjetivo residia na vontade. Como somente
societária, porque a revolução industrial exigia quem tinha vontade era o ser humano, querer
a concentração de grandes capitais para o êxito atribuir a condição de pessoa, no sentido de
empresarial, afinal o Estado retirava-se do exer- titular de direitos, a quem não pode ter vontade,
cício da atividade econômica e, em função dessa como as pessoas jurídicas, é querer falsear a
alteração, o capital individual não era suficiente realidade.
para a nova realidade imposta. Para Justen,
“a Teoria da Ficção é uma resposta
Assim, a responsabilidade subsidiária coerente para o problema da pessoa
ilimitada constituía risco a mais, afinal os que jurídica, desde que uma das balizas do
detinham condições de investir elevadas somas raciocínio seja uma filosofia volunta-
consideravam demasiado permanecer com o rista.”14
risco de comprometer o restante do seu patri-
mônio.12 Ainda analisando a pessoa jurídica na
condição de sujeito de direitos, Winddscheid,
Até então, a sociedade de pessoas não havia citado por Justen Filho, defende a teoria do
produzido o fenômeno da corporificação; a patrimônio sem sujeito. Para ele,
corporação empresarial provocou uma “a pessoa jurídica não seria um sujeito
revolução sobre as concepções de pessoa de direitos, não seria titular de direitos e
jurídica, afinal as circunstâncias permitiram a obrigações, enfim, não existiria a figura
manutenção das concepções tradicionais acerca da pessoa jurídica como sujeito de
da pessoa jurídica, o que termina por colocar direitos.” 15
em cheque o pensamento dogmático, quando Gierke, embora também sendo um volun-
ocorre a generalização da personificação soci- tarista, defende a realidade da pessoa jurídica
etária. por sua identidade ao ser humano.
Claro está que o cerne do conceito de
“A pessoa jurídica não era uma
personificação reside na distinção entre a pessoa
ficção. Não porque correspondesse a um
dos sócios e a pessoa da corporação. substrato real, mas porque seria uma
Marçal Justen Filho Justen afirma que figura identificável ao homem; na
“a grande dificuldade residia na justifi- verdade, Gierke defendia a existência de
cação dogmática para tal fenômeno, uma vontade idêntica à vontade humana
especialmente tendo em vista o concep- na pessoa jurídica.”16
tualismo vigente no Continente. Pôs-se Tanto Gierke quanto Savigny, precursores
em questão a natureza jurídica da pessoa das teorias mais tradicionais sobre a pessoa
jurídica, especialmente na Alemanha – jurídica, compartilhavam conceito aproximado
exatamente porque ali se polarizava a de direito subjetivo. A distinção estabelecida
jurisprudência de conceitos. A polêmica residia em que o último reputava que a única
ficção-realidade da pessoa jurídica inse- vontade real era a humana, enquanto o primeiro
riu-se dentro desse contexto específico, defendia a realidade da vontade de pessoa
construído a partir de uma cosmovisão jurídica, realidade tão efetiva quanto a vontade
jurídica toda peculiar, balizada por humana.
ideologias políticas definidas e por uma Para Justen Filho há
ambientação cultural inconfundível.”13 “o pressuposto de que todas as teorias
Assim a controvérsia ficção-realidade da formuladas sobre a matéria, especial-
pessoa jurídica tinha como objetivo descobrir 14
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 26.
12 15
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 24 Ibidem, p. 27.
13 16
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 24 JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 28
234 Revista de Informação Legislativa
mente no curso do século passado, é necessário promover a evolução das condições
envolveram determinados pressupostos onde a convivência se verifica.
conceituais. A revelação desses pressu- A alteração desse quadro, e da ideologia que
postos de raciocínio pode evidenciar que o norteava, provocou uma alteração substancial
a distância aparente entre as construções na função do direito, que passa, a partir de
teóricas nem sempre correspondem agora, a ter uma natureza ativa, ou seja, o direito
efetivamente a uma disparidade nas passa a ser um instrumento de intervenção sobre
convicções jurídicas.”17 a realidade para se atingirem os fins do Estado.
Na realidade, as concepções teóricas sobre A partir de então, o direito busca a adequação
pessoas jurídicas apoiavam-se em determinados da conduta humana visando à melhor convi-
conceitos prévios, e não há como estudar teorias vência.
acerca de institutos jurídicos sem levar em Como não poderia deixar de ser, a nova
consideração o contexto sócio-econômico e função conferida ao direito altera substancial-
cultural em que essas teorias foram produzidas. mente sua interação com a realidade.
Inobstante serem teorias clássicas, formu-
ladas no século passado, é comum encontrar a Se anteriormente era inviável a imposição
doutrina a debater a teoria da ficção ou da de limites pelo direito objetivo sobre o conteúdo
realidade, sem se aperceberem que a realidade do direito subjetivo, a não ser enquanto retrato
contemporânea está a exigir novos parâmetros e exteriorização do próprio direito subjetivo, a
de análise, afinal os problemas da pessoa extensão e o limite do direito subjetivo eram
jurídica na atualidade não podem ser resolvidos intrínsecos no sentido de serem determinados
com os parâmetros do século XIX. 18 por referências a si mesmo, com a funcionali-
Fábio Ulhoa Coelho considera que, zação do direito objetivo; a funcionalização do
direito subjetivo foi uma decorrência.20
“tradicionalmente, a questão da onto-
logia da pessoa jurídica se sintetiza Para Justen Filho, o limite e a extensão do
através da indagação do caráter real ou direito subjetivo tornam-se externos a ele e a
fictício da pessoa jurídica. Mas essa não seu titular. Seus parâmetros são extrínsecos à
é a melhor forma, a seu ver, de ser coletividade e aos fins do Estado. O direito sub-
esquematizado o problema, pois, na jetivo passa a ser heterorreferido.
verdade, a questão envolve mais a natu- Conseqüentemente desaparecem os direitos
reza pré-jurídica ou jurídica daquele subjetivos absolutos, estando, portanto, estabe-
sujeito de direito.”19 lecidos os limites e a extensão da vontade
Retornando a análise histórica, as mudanças individual. É nesse contexto que nasce a noção
verificadas a partir do século XIX produziram de abuso do direito, categoria impossível de ser
significativas alterações no estudo do direito, balizada sem a funcionalização do direito,
mormente no tocante a sua função. visando à realização de interesses e valores que
transcendem ao individual.
Afinal, o direito que se justificava na
vontade humana tinha função meramente Enquanto nos poderes públicos a funciona-
lização importa na consagração de que a
passiva, buscando tutelar e proteger a emanação atribuição de tais poderes destina-se à
daquela vontade contra imposições do Estado. realização de interesses que ultrapassam o
Mediante o direito, buscava-se a repressão de círculo de interesses do próprio titular, na órbita
qualquer intervenção, considerada de natureza privada há a concepção de que a atribuição de
artificial, seja originária do Estado, seja de outro poderes e de direitos é acompanhada da consa-
indivíduo. gração de deveres. O dever recai sobre o titular
Mas, em função das mudanças referidas, a do direito ou do poder, na acepção de que o
intangibilidade do individual, justificada a exercício desses últimos vincula-se à realização
partir do fundamento voluntarístico do direito, dos interesses sociais. É a natureza da indispo-
desloca a primazia do individual para o nibilidade que se vai reconhecendo como um
coletivo, eis que a sociedade humana se socia- aspecto indissociável do poder. Indisponibili-
lizou, e não basta somente a convivência social, dade não apenas no sentido tradicional da
inalienabilidade, mas indicando a impossi-
17
Ibidem, p. 29. bilidade de pôr em risco a função do instituto.
18
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 29
19 20
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 65. JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 40
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Justen Filho afirma que zação humana (o que significa que nunca pode
“a funcionalização atingiu com maior ele ser enfocado como instrumentalidade – ao
rigor, no campo do direito privado, menos, enquanto pessoa), haver sido transplan-
exatamente àquele que se reputava o mais tado para pessoa jurídica. Prevaleceu, assim, o
absoluto dos direitos subjetivos: o direito vínculo entre as idéias agrupadas através da
de propriedade. Reputado como a mais idéia de pessoa sobre as relações estabelecíveis
perfeita emanação da personalidade, o entre pessoa jurídica e direito subjetivo.”22
direito de propriedade foi conceituado
como a possibilidade de gozar e de fruir
de uma coisa de maneira a mais plena e
3. Delimitação do conceito
absoluta. Propriedade tomada, então, de pessoa jurídica
como arbitrariedade (direito subjetivo Conceituar alguma coisa consiste numa
absoluto e oponível erga omnes). Mas a ação de formular idéias, procurando definir sua
história dos séculos XIX e XX é a razão de ser.
narrativa do reconhecimento da funciona-
lidade do direito de propriedade assegu- No universo das chamadas “ciências
rado na medida exata em que se destaca exatas”, as dificuldades para determinar-se um
a sua função social.”21 objeto de estudo são menores do que no universo
jurídico. Para os físicos e químicos, na maioria
Os reflexos desse fenômeno de funcionali- dos casos, basta assinalar alguns fenômenos e
zação e da socialização do direito se faz sentir dar-lhes uma explicação para que se possa
também sobre a pessoa jurídica. transmitir uma idéia do objeto estudado. No
A personificação societária assegura uma mundo jurídico, não é tão simples assim.
dissociação entre propriedade e controle, espe- A esse propósito, ensina-nos o mestre
cialmente porque o sócio, embora não proprie- Miguel Reale:
tário, mantém o controle sobre os bens e a “Nas ciências exatas, os vocábulos
atividade empresarial desempenhada pela têm, em regra, um significado bastante
pessoa jurídica. preciso: um físico ou um químico jogam
Para Justen Filho, a estreita ligação, sempre com um vocabulário próprio e o fazem
visualizada, entre os conceitos de direito sub- com certa garantia de que dada palavra
jetivo e de pessoa alterava a fundamentação, a traduz sempre um significado constante
natureza e a extensão dos direitos subjetivos, e comum entre os cultores das respectivas
mas havia que alterar também a fundamenta- ciências, ao passo que nas ciências
ção, a natureza e a extensão do conceito de culturais, como é o direito, essa precisão
pessoa (especialmente de pessoa jurídica). terminológica é difícil.”23
Henry Bergson, apud Miguel Reale, afirma
Mas a repercussão é ainda mais intensa por que
outro motivo. É que existe íntima vinculação
entre o direito de propriedade e a pessoa jurídica “as palavras são prisões dentro das quais
– especialmente a pessoa jurídica – de direito se contêm idéias que se transformam, que
privado, orientada à realização de atividades vivem e se ajustam a situações diferentes.
econômicas. É preciso penetrar nessas prisões, partir
a estrutura gráfica das palavras, para
Assim, não mais se justifica o enfoque entrar em contato com a riqueza do
absolutista da pessoa jurídica, haja vista terem conteúdo que nelas se encerra.”24
sido superadas todas as concepções acerca do A operação de definir o objeto de estudo
absolutismo dos direitos subjetivos. consiste em revelar o que o objeto é por meio
A propósito, Justen Filho assevera que da enunciação de seus aspectos inteligíveis,
“a explicação mais plausível para tal impossibilitando, assim, tomar-se um objeto por
fenômeno é a ontologização da pessoa jurídica outro.
e a sua identificação com a idéia de ‘pessoa Qualquer perspectiva visando à elaboração
física’. Ao que se supõe, estenderam-se à
‘pessoa jurídica’ os atributos de ser humano. 22
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 44.
23
Daí o cunho absoluto do ser humano, REALE, Miguel. As três concepções
conquistado como valor inafastável da civili- fundamentais da palavra “Direito”. Revista da
Faculdade de Direito da USP, v. 44, p. 68, 1949.
21 24
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 42. Ibid., p. 16.
236 Revista de Informação Legislativa
de um conceito jurídico há que se pautar pela Assim, quando o direito visa realizar
mesma forma com que se elabora um conceito determinadas pretensões humanas, ele traduz
não-jurídico. para sua linguagem os seres e os fatos sociais
A norma jurídica é um objeto cultural, como relevantes e os recepciona como sujeitos de
tudo que o homem faz. Esta realidade cultural direito. Outros, o direito o recepciona como
não deixa de ter uma essência, que é um objeto objetos de direito, como ato jurídico, relação
ideal. Deve-se então buscar, com absoluta jurídica ou mesmo como negócio jurídico, sem
falar naquelas realidades absolutamente
objetividade, a essência desse objeto. O conceito
de norma jurídica é conseqüência, pois, de uma ignoradas pelo direito.
análise gradual e sistemática de sua essência. Se hoje todos os homens são considerados
como sujeitos de direito, nem sempre fora
Maria Helena Diniz recorre à lógica aristo- assim. Houve tempo, principalmente naqueles
télica para construir definições e conceituações.
idos do regime de escravidão, em que nem todos
O raciocínio é válido, também, para o estabe- os homens eram sujeitos de direito. Natural-
lecimento de um conceito de pessoa jurídica: mente, essa mudança não decorreu de uma
“determina-se a essência das coisas por transformação na qualidade intrínseca do
meio de uma definição, ou seja, por homem, mas, sim, na forma pela qual o direito
indicação do genus proximum e da passou a recepcionar a realidade social visando
differentia específica”.25 atingir as pretensões humanas.
Desse modo, a individualização de um
objeto envolve sua localização no conjunto de A propósito Fábio Ulhoa Coelho assevera:
objetos assemelhados e mais assemelhados “Alguns homens foram tidos como
(gênero próximo) e, dentro desse conjunto, a ‘objeto de direito’ e não como ‘sujeito
sua identidade frente a seus pares (diferença de direito’ porque era essa a idéia que se
específica). tinha na época... pois o conceito de
‘sujeito de direito’ é criação da ideologia
Partindo dessa premissa, Fábio Ulhoa burguesa. Assim, ninguém ou nada é
Coelho afirma que sujeito de direito, objeto de direito,
“o gênero de ‘pessoa jurídica’ é o sujeito obrigação etc. por uma qualidade própria
de direito e a diferença deve ser localizada intrínseca, mas exclusivamente por
em relação aos demais sujeitos de direito repousar sobre esse objeto uma idéia do
(pessoa física, nascituro, condomínio, homem compartilhada com toda uma
massa falida... )”. comunidade de homens: a chamada
Para em seguida concluir que comunidade jurídica que o qualifica com
vistas a extrair dessa qualificação certas
“o ponto de partida para a construção do, conseqüências, o que tem por objetivo,
conceito de pessoa jurídica é a constatação mediato ou imediato, atender, ou não, a
de que se trata de um tipo de sujeito de um interesse de um ser humano.”27
direito.”26 Quando afirmamos que alguém é um sujeito
Preliminarmente, analisando a questão do de direito, deduz-se que esse alguém é o
gênero próximo, quando afirmamos que algo portador ou o destinatário de um interesse
ou alguém é um sujeito de direito, é porque considerado pelo direito. A princípio, somente
esse algo ou alguém é portador ou destinatário seres humanos têm interesse, mas para regular
de um interesse considerado pelo direito. alguns interesses como, por exemplo, separação
Todos os seres ou fatos considerados como patrimonial, limitação de responsabilidade,
portadores de interesse ou mesmo seus desti- torna outros seres, ou mesmo fatos, portadores
natários são sujeitos de direito. Porém, essa de interesse. Assim, todos os seres ou fatos,
qualidade não é original do ser ou do fato, mas considerados como portadores de interesses, ou
depende da interpretação jurídica da realidade mesmo seus destinatários, são os denominados
social e das idéias que o universo jurídico tem sujeito de direito.
da sociedade. Concluindo, afirma Fábio Ulhoa Coelho que
“o gênero próximo da pessoa jurídica é
25
DINIZ, Maria Helena. Conceito de norma o conjunto de seres ou fatos sociais que
jurídica como problema de essência. São Paulo : o direito considera como portador ou
Revista dos Tribunais, 1985. p. 4.
26 27
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 75. COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 76.
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destinatário de um interesse. É o sujeito soma totalizada surja um novo direito, distinto
de direito. A pessoa jurídica é um ser ou de todo os outros.
fato social tornado pelo direito como apto No condomínio, segundo Fábio Ulhoa
a ser referencial subjetivo de direitos e Coelho, os condôminos
obrigações”.28
“solidários são, e permanecem na
Assim, para localização da pessoa jurídica propriedade (...) mas não associados,
no conjunto de assemelhados ou mais asseme- porque (...) não puseram em comum seus
lhados a ela (gênero próximo), podemos afirmar esforços e, por conseguinte, suas pessoas
que ela integra o conjunto de seres e fatos sociais para edificação de uma obra comum, a
concebidos juridicamente como portadores ou um tempo causa e objetivo, fim e imóvel
destinatários de direitos e obrigações. Desse do grupo societário (affectio societatis)”.
modo, compõem esse conjunto a pessoa física, Essas distinções, de sabor clássico, mas com
o nascituro, o espólio, a massa falida, o condo- complementos institucionalistas, levaram-nos
mínio horizontal e outras entidades jurídicas a pré-excluir o condomínio e as comunhões em
que estejam aptas a exercerem direitos e obri- geral do elenco das possíveis pessoas jurídicas,
gações. por incompatíveis ontologicamente com a idéia
A segunda análise a ser feita, buscando o de pessoa jurídica.
conceito de pessoa jurídica segundo a lógica Podemos afirmar que jurídica é a pessoa sem
aristotélica, é a determinação de sua diferença ser, enquanto o ser humano pode ser nascituro
específica. ou pessoa física. Vale ressaltar que pessoa física
Na busca da diferença específica, a primeira não se resume ao homem nem, tampouco, o
distinção a ser estabelecida é entre a pessoa nascituro se resume ao feto. Na realidade, essas
jurídica, a pessoa física e o nascituro. A esse entidades jurídicas não se constituem como tais
respeito, brilhante é a contribuição oferecida por sua natureza intrínseca, mas sim porque o
por Lamartine Oliveira, para quem o direito, direito, após interpretar a realidade social,
ao conferir a certos sujeitos a condição de assim os recepciona. Nesse sentido, afirma
pessoa, parte de uma tarefa de pré-exclusão de Fábio Ulhoa Coelho:
determinadas realidades, reputadas como não- “... A esses seres humanos o direito
compatíveis com o conceito de pessoa jurídica. agrega uma qualidade, um atributo, uma
Afinal, segundo ele, pessoa jurídica é fonte de consideração, consistente em torná-los
atividade orientada pelo bem comum, e a refe- como centro de referência sujetiva de
rência ao bem comum estabelece uma limitação direitos e obrigações. Sem esse elemento
de natureza ética, além de uma limitação de material, o homem é só um ser biológico,
ordem estrutural.29 não-jurídico, não podendo, por isso, ser
Para Justen Filho, ao se reconnhecer que o pessoa física ou nascituro...” 31
conceito de direito subjetivo não se vincula à Embora para a pessoa física e o nascituro o
noção de senhorio da vontade, desapareceu, em ser humano constitua material imprescindível,
grande parte, o fundamento para a constante para a pessoa jurídica o espólio, o condomínio
aproximação entre a pessoa física e a pessoa horizontal e outras entidades jurídicas
jurídica.30 consideradas como sujeito de direito prescindem
A pessoa jurídica implica essencialmente de tal condição, pois sobrevivem sem o “corpo”,
uma idéia de obra a realizar, e, sendo, portanto, não prescindem de um substrato diverso, qual
realidade dinâmica, distinguir-se-ia de modo seja, um fato social; no caso, por exemplo, do
essencial do condomínio ou das comunhões em condomínio horizontal, o edifício de aparta-
geral, que seriam meras realidades estáticas, mentos pertencentes a várias pessoas constitui
o seu substrato.
privadas das características de busca de
objetivos comuns, de idéia de obra a realizar. Assim, a essência constatável da pessoa
No condomínio, a individualização do direito física e do nascituro e não-perceptível como
não é de nenhum modo atingida. É sempre a substrato da pessoa jurídica é que fornece o
equação A mais B mais C etc., sem que desta critério para diferenciá-los.
A primeira conclusão que podemos aferir é
28
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 77. que a pessoa jurídica, tal como o condomínio
29
OLIVEIRA, J. L. Corrêa. A dupla crise da horizontal, o espólio e a massa falida, é um
pessoa jurídica, São Paulo : Saraiva, p. 5l8-615.
30 31
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 29. COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 78.
238 Revista de Informação Legislativa
sujeito de direito incorpóreo diferentemente da qüências jurídicas, por que o direito confere a
pessoa física e do nascituro, que são sujeitos de certos sujeitos a condição de pessoa enquanto
direitos corpóreos. nega a outros? Enfim, em que consiste a perso-
Ainda no estudo da diferença específica, é nalização?
necessário afastá-la das demais entidades O mestre Fábio Konder Comparato, em sua
jurídicas incorpóreas (espólio, massa falida, obra O poder de controle nas Sociedades
condomínio horizontal) e compreendidas no Anônimas, define que
gênero próximo “sujeito de direito”. “a personalização é uma técnica jurídica
A distinção mais marcante entre a pessoa utilizada para se atingirem determinados
jurídica e as outras citadas é a personalização. objetivos práticos – autonomia patri-
Assim, podemos concluir que, enquanto a monial, limitação ou supressão de
pessoa jurídica é uma pessoa, o espólio, a massa responsabilidade individuais –, não
falida e o condomínio horizontal são entidades recobrindo toda a esfera da subjetividade,
despersonalizadas. em direito. Nem todo sujeito de direito é
uma pessoa. Assim, a lei reconhece
A distinção reveste-se de capital importância direitos a certos agregados patrimoniais
na medida em que grande parte da doutrina como o espólio e a massa falida, sem
jurídica defende a idéia de que pessoa é
personalizá-los.”32
sinônimo de sujeito de direito e, portanto,
somente os entes personalizados podem exercer Em assim sendo, a personalização, segundo
direitos e obrigações. o mestre Comparato, não serve para explicar a
personalização da pessoa física que não implica
Na verdade, nada mais incorreto do que nenhuma separação patrimonial nem tampouco
afirmar-se a sinonímia entre pessoa e sujeito nos auxilia na questão da despersonalização de
de direito. Afinal, para ser titular de direitos determinadas entidades visando determinar seu
ou obrigações não é necessário ser pessoa, seja regime jurídico.
física ou jurídica, pois o direito considera
muitas hipóteses de direito despersonalizado. Como vimos, a personalização não é um
Um exemplo dessa categoria de sujeitos fenômeno de geração de um sujeito de direito.
despersonalizados é o nascituro, que possui As pessoas jurídicas, sobretudo no que
direitos e até obrigações, por exemplo, de ordem concerne ao direito brasileiro, constituem uma
fiscal, e, nos termos do art. 4º do Código Civil, criação da lei. Como criação da vontade da lei,
a personalidade da pessoa natural só começa refletem uma realidade, mas uma realidade do
do nascimento com vida. mundo jurídico, e não da vida sensível. O
Outro exemplo da categoria de sujeitos mestre lusitano Cunha Gonçalves ensina que
despersonalizados é o condomínio horizontal, as pessoas jurídicas “são reais, como um
que pode contratar serviços de empregados, contrato ou um testamento”. Essa afirmação
comprar e vender material de limpeza e bens levou Rubens Requião a concluir que as pessoas
para o uso comum dos condôminos, inclusive jurídicas são
ter direito de crédito para os condôminos e estar “associações ou instituições (fundações)
em juízo para reclamar seus direitos ou ser formadas para a realização dum fim e
responsabilizado por suas obrigações, reconhecida pela ordem jurídica como
consoante o art. 12, inciso IX, do Código de sujeitos de direitos.”33
Processo Civil. Piero Verrucoli parte do estudo de evolução
Podemos, pois, descartar a concepção histórica do reconhecimento da personalidade
incorreta de que a personalização é condição jurídica das pessoas jurídicas, em geral, e das
para o exercício de direitos e, a partir dos sociedades comerciais, em especial, nos direitos
argumentos expostos, demonstrar cabalmente italiano, inglês, norte-americano e continental
o porquê da inclusão no gênero próximo – para concluir pela caracterização da personali-
sujeito de direitos – das entidades despersona- 32
lizadas e também afirmar que a pessoa jurídica COMPARATO, Fábio Konder. O poder de
individualiza-se frente a tais entidades desper- controle na sociedade anônima. 3. ed. Rio de
sonalizadas devido ao atributo ou condição de Janeiro : Forense, 1983. p. 268.
33
REQUIÃO, Rubens. Aspectos modernos do
ser pessoa, inexistente naquelas demais. direito comercial. São Paulo : Saraiva, 1977. p. 15:
Essa conclusão nos remete indubitavelmente Abuso de direito e fraude através da personalidade
a um sério questionamento: quais as conse- jurídica (Disregard Doctrine).
Brasília a. 33 n. 132 out./dez. 1996 239
dade jurídica das pessoas jurídicas como um realizados por Norberto Bobbio acerca da noção
privilégio. Um privilégio destinado aos de sanção positiva.
membros da pessoa jurídica, ou, em especial, Ensina o mestre italiano:
aos sócios da sociedade comercial, seja ela de
“... il dirito non si limita più a tutelare
pessoa ou de capital.34
atti conforme alle propue norme ma
Para o jurista italiano, em consonância com tende a stimolare atti inovatii, e pertanto
as lições de Ascarelli, a pessoa jurídica deve la sua funzione nom è piu soltanto
ser vista como um centro de imputação, uma protettiva ma anche promozionale, all
expressão resumida de uma disciplina jurídica ‘impiego quasi exclusivo di sanzioni
que diz respeito, em última análise, à própria negative, che costituiscono la tecnica
pessoa física, e não como um dado real pré- especifica della repressione, se affianca
normativo ou, mesmo, uma ficção. O privilégio
concedido pelo Estado aos membros da pessoa um impiego, non importa se ancora
jurídica obriga a individualização de um ente limitato, di sanzioni positive, che danno
distinto das pessoas dos referidos membros. vita a una tecnica di stimozale e di
Este privilégio pode significar ou a limitação propulsione di atti considerati propul-
da responsabilidade subsidiária dos sócios pelas sione di atti considerati socialmente
obrigações da sociedade (autonomia patrimo- utili...”
nial absoluta) ou a simples subsidiariedade levando Marçal Justen a entender que a
desta responsabilidade (autonomia patrimonial personificação societária envolve uma sanção
relativa). positiva prevista pelo ordenamento jurídico,
“Il regime della responsabilità dei tratando-se de uma técnica de incentivação pela
soci, a proprósito del quale si è visto qual o direito busca conduzir e influenciar a
retro che la limitazione della responsa- conduta dos integrantes da comunidade
bilità ai conferimenti è un beneficio o jurídica. A concentração da riqueza e a
privilegio autonomo rispetto a quello congregação de esforços inter-humanos
della personalità giuridica della società: afiguram-se um resultado desejável não em si
per meglio e più compiutamente dire, la mesmo, mas como meio de atingir outros
personalità significa autonomia patri- valores e ideais comunitários. O progresso
moniale della stessa, o nel senso cultural e econômico propiciado pela união e
dell’esclusione della responsabilità pela soma de esforços humanos interessa não
sussidiaria dei soci (ecco il beneficio di apenas aos particulares, mas ao próprio
cui innazi), o ne senso di una siffatta Estado.36
responsabilità, ma com preventiva escus- Assim, visando estimular a realização de
sione del patrimonio sociale. Sia il associações e incentivar os seres humanos à
beneficio della responsabilità, sia quello concentração de recursos e esforços, o Estado
della preventia escussione del patrimonio vale-se da personificação societária. A
sociale, sono riferiti direttamente ai soci, atribuição da personalidade jurídica corres-
ed infatti è soltanto rispetto ad essi che ponde a uma sanção positiva ou premial, um
può parlasi di limitazione della respon- benefício assegurado pelo direito a quem adotar
sabilità o di preventiva escussione, in a conduta desejada.
quanto là società (comoe soggetto O Estado, desse modo, atribui um regime
autonomo) risponde con tutti i suoi beni jurídico particularmente benéfico para o
presenti e futuri rispetto ai propri credi- exercício associativo da atividade econômica.
tori, nè più meno del soggettto persona A conveniência da associação ingressa no
física, e nom ha certo diritto alla âmbito jurídico, deixando de ser meramente
preventiva escussione dei soci.” 35 uma questão filosófica, política ou econômica
Sob o intrincado tema da personalização, para refletir no conteúdo normativo do orde-
interessante é a contribuição oferecida pelo namento jurídico. Estabelece-se uma conse-
mestre Justen Filho a partir de estudos qüência jurídica para a adoção da conduta
escolhida. Tal conseqüência consiste justamente
34
VERRUCOLI, Piero. Il superamento della no regime mais favorável.
personalità giuridica delle società di capitali nella
36
Common Law e nella Civil Law. Milano : A. Giuffrè, BOBBIO, Norberto. Dalla struttura alla
1964. In : COELHO, Fábio Ulhoa, op. cit., p. 24. funzione : nuovi studi di teoria del diritto. Ed. di
35
Ibid., p. 25. Comunitá, 1977. p.34.
240 Revista de Informação Legislativa
Esse regime mais favorável consiste em aos ataques radicais do positivismo e do nomi-
afastar as regras jurídicas que seriam aplicá- nalismo, está em plena crise.38
veis caso o exercício da atividade fosse feito Na realidade, a expressão “crise da pessoa
isoladamente. jurídica” indica a existência de um descompasso
Desse modo, para Justen Filho a pessoa entre as concepções tradicionais sobre a
jurídica identifica-se como um regime jurídico natureza jurídica da pessoa jurídica e as
mais benéfico do que seria usualmente circunstâncias do mundo social e jurídico a sua
aplicável. A alusão a regime jurídico busca volta.
identificar, no próprio ordenamento, o número
do conceito de pessoa jurídica. A relevância do J. Lamartine Corrêa Oliveira, em sua obra
conceito está nas conseqüências jurídicas A dupla crise da pessoa jurídica, assevera que
cominadas como decorrência de certos pres- a problemática acerca da teoria da pessoa jurídica
supostos. atingia a dogmática jurídica sob dois ângulos.
O primeiro, denominado de crise do
Assim sendo, a personalização, segundo o
sistema, envolvia a construção do sistema
mestre Comparato, não serve para explicar a
normativo sobre pessoa jurídica, porque
personalização da pessoa física, que não implica
nenhuma separação patrimonial nem, inúmeros agrupamentos humanos tinham
tampouco, auxilia-nos na questão da desperso- formalmente negada a condição de pessoa
nalização de determinadas entidades visando jurídica, embora acabassem recebendo um
determinar seu regime jurídico. tratamento jurídico coerente apenas com a
Para Fábio Ulhoa Coelho personalização.
O segundo ângulo da crise, segundo Lamar-
“a personalização de um sujeito de direito
tine, é o que ele chamou de crise de função,
é a subsunção deste sujeito a um regime
jurídico próprio das pessoas, enquanto aque consistia na incompatibilidade entre os fins
despersonalização ou a não-persona- do direito e a conduta específica e concreta de
lização de outro sujeito de direito é a agrupamentos personificados. Na realidade, a
subsunção a um regime jurídico diverso, sociedade personificada estaria desfigurando-
qual seja, o regime jurídico das não- se e, conseqüentemente, produzindo um
pessoas. O que caracteriza o regime resultado antijurídico.
jurídico das pessoas é a atribuição de uma A crise da função significa
autorização genérica para os atos “a utilização do instituto na busca de
jurídicos em geral: autorização que só finalidades consideradas em contradição
pode ser excluída expressamente pelo com os princípios básicos e fundamentais
ordenamento jurídico.”37 que informam o ordenamento jurídico.”39
O desvio de função assemelha-se à figura
Desse modo, o que caracteriza o regime do negócio indireto, onde as partes procuram
jurídico das pessoas é a atribuição de uma
autorização genérica para os atos jurídicos em alcançar um fim que não seja aquele típico do
geral – as pessoas podem fazer tudo o que não negócio. Suzi Koury, apoiando-se em Garri-
estejam desautorizadas por lei –, enquanto a gues, ensina que
característica fundamental do regime jurídico “o negócio indireto é aquele em que as
dos entes despersonalizados é a existência partes se propõem alcançar uma finali-
apenas de autorizações específicas, expressa- dade que não é a finalidade típica,
mente conferidas pelo ordenamento jurídico. segundo a lei, do negócio escolhido”.40
Marçal Justen Filho leciona que
Concluindo, a análise conjunta do gênero
próximo e da diferença específica nos levará a “o negócio indireto não se confunde com
concordar com Fábio Ulhoa Coelho, para quem uma simulação, no sentido de existirem
o conceito de pessoa jurídica é duas vontades, uma aparente e fictícia,
“o sujeito de direito personalizado e outra oculta e real. As partes que
desdotado de corpo”. praticam o negócio indireto externam
38
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 16 .
4. A “crise” da pessoa jurídica 39
40
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 17.
GARRIGUES, Joaquim. Anotaciones de um
O conceito de pessoa jurídica, submetido jurista sobre reforma de la empresa. In : KOURY,
Suzy Elizabeth Cavalcante. Hacia un nuevo derecho
37
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 81. mercantil. Rio de Janeiro : Forense, 1993. p. 68.
Brasília a. 33 n. 132 out./dez. 1996 241
uma vontade real. Sua intenção é praticar fismo da pessoa jurídica – consiste na identifi-
aquele negócio e submeter-se à regulação cação entre pessoa jurídica e pessoa física.”
jurídica prevista para o mesmo. Pretendem Deitando raízes na polêmica entre realistas
obter os efeitos cominados no ordena- e ficcionistas, como derivação da convicção de
mento para o dito negócio. Mas querem que sujeito de direito era quem podia ser titular
mais. O resultado que pretendem vai de direito subjetivo, portanto, o direito subjeti-
além do fixado na norma jurídica, vo derivava do senhorio da vontade.
embora aquele pressuponha a concreti- Ao se reconhecer que o conceito de direito
zação desse.”41 subjetivo não se vincula à noção de senhorio
O fato é que as conclusões e postulados da vontade, desaparece em grande parte o
alicerçados pela dogmática jurídica e consa- fundamento para constante aproximação entre
grados normativamente acerca da natureza pessoa física e pessoa jurídica.
jurídica da pessoa jurídica não satisfazem as Para o mestre Marçal, afirmar a pessoa
exigências do mundo atual, muito embora jurídica sob o fundamento de sua “proximidade”,
tenham satisfeito no passado, pois a personifi- semelhança ou analogia com o ser humano não
cação societária deslocou-se da condição de é solução. Muito pelo contrário, importa numa
solução para necessidades jurídicas para a arbitrariedade do observador que se reserva,
situação do problema em si mesma. assim, a tarefa de localizar as analogias e
Conforme já demonstrado, as teorias acerca escolher quais delas serão suficientemente
da pessoa jurídica refletiram o momento de sua relevantes para estender a outros elementos ou
elaboração, ou seja, um universo próprio de entes os atributos reconhecidos como insepa-
valores e significações. Na realidade, as ráveis da humanidade.
palavras mantiveram-se as mesmas, dentro de
certos limites, mas seu sentido alterou-se, como A pessoa jurídica não constitui uma
também se alterou o sentido da discussão. imitação ao ser humano. A pessoalidade da
Nesse sentido, prestimosa a contribuição do pessoa jurídica não decorre de ela compartilhar
mestre Justen Filho para elucidação da chamada com o homem idênticos atributos ou qualidades.
“crise” da pessoa jurídica. Isso não significa que só o ser humano é
realmente pessoa perante o direito e que a
Para ele, a crise decorre do choque entre pessoa jurídica seria uma ficção. Significa
conceitos inadequados e defasados, herdados exclusivamente que só é “pessoa física” o ser
de uma ambientação ultrapassada, choque que humano, tratando-se de instituto jurídico com
tem como ponto fulcral a crença no absolutismo contornos definitivos e próprios; já o instituto
da pessoa jurídica, que se apresenta sob várias “pessoa jurídica” é inconfundível, sendo
manifestações, que se coalizam para compor
categoria aberta, em evolução constante,
integradamente um painel.42 permanente e indetível – porque a evolução do
A primeira dessas manifestações – “hipos- universo cultural é constante, permanente e
tasia da pessoa jurídica – reside no pensamento
de que pessoa jurídica é expressão a que indetível.
corresponde algo existente – um objeto A terceira manifestação da crença no
cognoscível.”43 absolutismo da pessoa jurídica “baseia-se na fé
Essa crítica não significa que o autor acerca da imutabilidade da pessoa jurídica, que
considera a pessoa jurídica uma ficção, nem se manifesta tanto no entendimento da imuta-
tampouco uma falsidade ou mesmo uma criação bilidade no tempo como na imutabilidade no
do direito. Para ele, pessoa jurídica é uma espaço. Acredita-se que há uma realidade
expressão utilizada pelo direito para indicar indicada pela expressão, que não varia, nem
certas situações jurídicas, ou seja, pessoa jurí- em função do passar do tempo, nem em
dica é, antes de tudo, uma expressão vocabular decorrência do deslocamento geográfico.”44
lingüística, que pode ser utilizada de variadas Essa perspectiva é nitidamente vislumbrável,
formas e para indicar conceitos distintos. quando, na busca de solução para os dilemas
A segunda manifestação da crença no com quais convivemos presentemente acerca
absolutismo da pessoa jurídica – “antropomor- da pessoa jurídica, procura-se investigar a
solução na história do direito ou no direito
41
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 91. comparado.
42
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 30.
43 44
Ibidem, p. 31. JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p. 32.
242 Revista de Informação Legislativa
Ainda dentro dessa terceira manifestação, vigente, propiciadora do acúmulo de capital
o mestre Justen Filho chama atenção para a necessário para alavancar o regime da livre
crença de que a variação terminológica não iniciativa.
impede a identidade conceitual. Resulta na
convicção de que os conceitos que ora detemos É nesse novo quadro, caracterizado pela
também existiram em outros tempos e existem vontade, que a pessoa jurídica passa a adquirir
em outros locais, ainda que indicados por um novo substrato conceitual, que contribui
terminologias distintas. Em suma, o conceito significativamente para a generalização do
de pessoa jurídica corresponderia a algo com conceito, caracterizado pela autonomia patri-
existência própria e autônoma, ou seja, um monial.
conceito universal. O que é falacioso, porque a Mas a história dos séculos XIX e XX é a
identidade conceitual somente pode ser verifi- história da narrativa do reconhecimento da
cada enquanto e na medida de uma identidade funcionalidade do direito. Logo o reconheci-
cultural. mento da personalidade da pessoa jurídica,
Por fim, a quarta manifestação, que considerado por Verrucoli um privilégio
“consiste na exteriorização da fé no absolutismo conferido aos seus membros, também passa a
do conceito de pessoa jurídica, reside no atender a essa funcionalidade.
entendimento de que pessoa jurídica é conceito
único dentro de um mesmo ordenamento A transmutação do conceito de pessoa
jurídico. É a afirmação da identidade das jurídica, conseqüência natural de adaptação do
pessoas jurídicas.” Portanto, a pessoa jurídica conceito em função de sua historicidade,
de uma sociedade anônima seria conceitu- concorreu para o estabelecimento da chamada
almente idêntica à pessoa jurídica de uma “crise da pessoa jurídica”.
fundação.45 É no contexto dessa crise que surgem as
Para o mestre Justen, cada categoria de seguintes indagações: quais os limites do uso
pessoa jurídica é distinta. Desse modo, não há da pessoa jurídica? Qual a sua função?
identidade entre pessoa física e pessoa jurídica Concluindo, pessoa jurídica é um instru-
(não existe pessoa); também inexiste identidade mento lógico-formal utilizável para consecução
entre as pessoas jurídicas (não existe a pessoa de fins valorizados pela ordem jurídica. Nesse
jurídica). Isso não se vincula à idéia de que, sentido, seus limites são estabelecidos pelo
embora possível, não é obrigatório tratamento legislador e, quando ultrapassados, configuram
idêntico para todas as figuras tratadas como um desvio de função, podendo ensejar o abuso
pessoas jurídicas. do direito e a fraude no uso da pessoa jurídica.
A constatação da chamada crise da pessoa Nesse caso, a aplicação da teoria da desconsi-
jurídica, para Lamartine Corrêa, evidencia-se deração da pessoa jurídica constitui um
pelo surgimento da técnica da disregard que, importante instrumento para correção dessa
disfunção, com grande vantagem frente a outros
para ele, é o mais agudo sintoma da crise de
institutos que visam ao mesmo objetivo, por
função vivida pelo instituto, estando a
confirmar a pessoa jurídica, tornando apenas
denunciar a existência de um desvio de função,
transparente aquilo que parece opaco.
assinalada pelo legislador. 46

5. Conclusão
Até o século XIX, o direito não reconhecia Bibliografia
a personalidade a agrupamentos com fins
egoísticos, mas tão-somente a entidades que ALMEIDA, Francisco de Paula Lacerda. Das
transcendessem a individualidade, tanto no que pessoas jurídicas. Rio de Janeiro : Tipografia
concerne à duração quanto aos ultramarinos. Revista dos Tribunais, 1905.
É a partir de então que se observa uma “fratura” ASCARELLI, Tullio. Usos e abusos das sociedades
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no pensamento jurídico no tocante à teoria da 1941. p. 12-41.
pessoa jurídica, por força de uma nova ideologia .
____________________________ Problemas das sociedades
anônimas. 2. ed. São Paulo : Saraiva, 1969.
45
JUSTEN, Filho Marçal. Op. cit., p 35. BOBBIO, Norberto. Dalla struttura alla funzione :
46
OLIVEIRA, J. Lamartine Corrêa. Op. cit., nuovi studi di teoria del diritto.Milano : Edizioni
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