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UNIVERSIDADE 

TUIUTI DO PARANÁ
BRENDA STACHIW
GUILHERME VILLASBOAS MALBURG
JULIANA PAULA PETROCINIO BRAGAGNOLO
LETICIA VOGT ZITTEL
MARIA EDUARDA NOGUEIRA DOS SANTOS
MATHEUS SUTIL
NAILIANE LOURENÇO DE OLIVEIRA
PAOLA NASCIMENTO BARBOSA DE OLIVEIRA
PRISCILA MUCHOLOWSKI MATEUS
RENATA CAROLINA ZIMMERMANN DO BOMFIM

ESTÁGIO ESPECÍFICO: PSICOLOGIA ESCOLAR EDUCACIONAL I

CURITIBA
2021
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
BRENDA STACHIW
GUILHERME VILLASBOAS MALBURG
JULIANA PAULA PETROCINIO BRAGAGNOLO
LETICIA VOGT ZITTEL
MARIA EDUARDA NOGUEIRA DOS SANTOS
MATHEUS SUTIL
NAILIANE LOURENÇO DE OLIVEIRA
PAOLA NASCIMENTO BARBOSA DE OLIVEIRA
PRISCILA MUCHOLOWSKI MATEUS
RENATA CAROLINA ZIMMERMANN DO BOMFIM

ESTÁGIO ESPECÍFICO: PSICOLOGIA ESCOLAR EDUCACIONAL I


Estudo dirigido elaborado e apresentado como requisito
parcial para obtenção de nota do 1º bimestre do 9º
período do Curso de Graduação de Psicologia, período
noturno.
Professora Supervisora: Iara Elizabeth Redwitz de Souza

CURITIBA
2021
Introdução

Enquanto uma especialidade reconhecida da Psicologia, uma das mais aplicadas - a


Psicologia Escolar teve um longo percurso, experimentando grandes alterações em seus
fundamentos e finalidades.
O presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica que acompanha as origens da
Psicologia Escolar no Brasil e aponta os fundamentos deste campo, as contribuições teóricas
a ele realizadas e descreve os esforços realizados para afirmar a identidade desta especialidade
diante de grandes desafios sociais e demandas feitas aos profissionais da psicologia, tendo por
cenário as circunstâncias históricas e socioeconômicas do país, dentre as mais recentes, a
pandemia de COVID-19.
Para além dos modelos de medicalização e do apontamento de “alunos-problema”
como a causa (e não sintoma) dos percalços experimentados pela educação nacional, a
Psicologia Escolar busca há algum tempo a criação de modelos que valorizem o caráter
interdisciplinar e coletivo do trabalho junto às instituições de ensino, bem como a expansão
de conteúdos para que esteja também contempladas no aprendizado reflexões mais
aprofundadas de males sociais, do funcionamento político da sociedade, bem como questões à
parte da esfera pública, com fenômenos da vida interpessoal, tais como o bullying.
Diante do conteúdo exposto, são apontadas algumas sugestões à atuação dos
psicólogos de tal forma a possibilitar a garantia do bem mais prezado em sua atuação junto às
escolas: uma educação de qualidade, que ultrapassa a mera acumulação de conteúdos,
preocupada com a formação de indivíduos que possam compreender seu papel enquanto
cidadãos e titulares de direitos e exercê-lo da melhor forma que puderem.
Psicologia Escolar no Brasil
Durante muitos anos, o Psicólogo Escolar esteve presente na escola mensurando
habilidades, classificando as crianças quanto à capacidade de aprender e de progredir nos
estudos (Patto, 1984). Além disso, havia foco na aplicação de teste e na emissão de laudos,
individualizando-os como aptos ou não aptos para a aprendizagem. Outra forma de atuação do
Psicólogo Escolar consistia na correção de alunos, através da readaptação e isolamento, e em
caso de alguma deficiência, era retirado da sala de aula para se adaptar, utilizando o método
excluindo para se amoldar, onde o fracasso era totalmente colocado nos ombros do educando
(Patto, 1997). Historicamente, a atuação do Psicólogo Escolar foi voltada para modelo de
clínica, diagnosticando e tratando distúrbios, com foco na individualidade do aluno, nas
deficiências e dificuldades de aprendizagem.
Entretanto, a partir do crescimento das demandas ao longo dos anos, a atuação do
psicólogo escolar vem sendo muito discutida. E dessa forma, foi sendo necessário repensar
esse modo de atuação e de como buscar novas perspectivas para sua intervenção. Passou a se
discutir, portanto, o conhecimento psicológico e seus instrumentos tradicionais, sendo
necessário a adaptação aos novos contextos, porém, sem deixar de considerar as limitações
inerentes às instituições. Com a problematização da prática educativa, o psicólogo escolar
vem estimulando os professores para o pensamento crítico, com a finalidade de maior
compreensão da sua atuação profissional, encorajando-os a desenvolver um papel mais ativo
neste processo educacional, alcançando assim a superação entre as contradições existentes nas
relações docente-estudante (Souza, 2000). Além disso, Souza (2000) também aponta como de
suma importância, os princípios norteadores da prática psicológica na escola, no emprego da
superação da supressão, da estigmatização e da desigualdade. E para isso, é de grande
importância o reconhecimento da psicologia no contexto escolar junto aos professores, alunos
e as famílias.
A participação do Psicólogo Escolar está no cotidiano da escola, no trabalho
multidisciplinar junto à equipe pedagógica, na criação de ambientes semanais de colóquio
com os professores, para juntos construírem novas versões de um feito, reuniões de conselho
de classe, onde poderá se estabelecer novas maneiras de olhar os alunos, eliminando a
possibilidade de estigmatizar aqueles com dificuldades, evitando rótulos, diagnósticos
imprecisos e hipóteses únicas.
No final do século XIX, a psicologia e a educação se alinhavam para juntas buscarem
soluções e métodos para melhorar a aprendizagem e o desempenho escolar. Com as mudanças
na sociedade e o fortalecimento do pensamento liberal, e buscando o processo de
industrialização, a educação cresceu com a influência da Escola Nova, e se espalhou nas
escolas essas novas ideias. Vários trabalhos foram realizados pela psicologia na área da
educação. Com isso, houve uma grande expansão da Psicologia Escolar. Um outro fator que
fez com que a psicologia escolar retrocedesse foi a regulamentação da profissão do psicólogo
no Brasil, pois estes profissionais preferiram a prática clínica e organizacional.
Muitas críticas foram feitas ao modo de trabalho do psicólogo nas escolas, que se
voltou somente à avaliação da inteligência, dificuldades dos alunos, estudos relacionados à
aprendizagem e as testagens, não solucionando todos os problemas existentes na educação
brasileira. Ou seja, o foco estava em avaliações individuais e não em enxergar os problemas
sociais que afetavam a educação, pois não trabalhavam de forma crítica e suas intervenções
não tinham como objetivo transformar as ações individuais e sociais. Além disso, os
psicólogos educacionais atribuíam o fracasso escolar às crianças e suas famílias, sem pensar
nos contextos da sociedade. Assim procurava-se outras propostas que pudessem mudar estes
contextos, além de tentar se encontrar um novo nome para a prática da psicologia no ambiente
escolar, era repensado um novo currículo nas universidades para trazer uma nova proposta aos
estágios e formação dos psicólogos na área escolar.
O Conselho Federal de Psicologia iniciou pesquisas na área para identificar as
demandas e encontrar novas formas de atuação da Psicologia Escolar. Nas literaturas recentes
se encontram duas vertentes: os que mantêm as críticas e os que relatam novas experiências e
enxergam novas formas de atuação. Mitsuko (2008) afirma que é preciso a compreensão do
fenômeno educativo e dar base para o estabelecimento de processos efetivos de intervenção.
A partir dos anos 2000 surgem novas literaturas, essas com experiências positivas e
análises bem sucedidas, a nova psicologia escolar está se fazendo mais presente na prática do
que no discurso (Maluf & Villa, 2008). Assim uma nova Psicologia Educacional nasce a cada
dia e pouco a pouco surgem novas práticas e novas formas, uma delas é o trabalho
interdisciplinar por se entender que vários aspectos da Psicologia devem ser incluídos na
psicologia educacional, como a psicologia social, psicologia geral e do desenvolvimento. De
acordo com Maluf e Villa (2008) pode-se afirmar que os novos psicólogos educacionais
desenvolvem suas práticas com um mesmo denominador em comum, que se encaixam às
necessidades sociais brasileiras, ampliando o trabalho da psicologia escolar, tornando-a
democrática e acessível a todos. Isso se torna possível com políticas públicas e psicólogos
comprometidos com a educação e não do modelo clínico-terapêutico.
Já no ano de 2010, a psicóloga Maria Virgínia Machado Dazzani, no artigo intitulado
“A Psicologia Escolar e a Educação Inclusiva: Uma Leitura Crítica” elabora uma análise
crítica sobre o papel da psicologia escolar e educacional da educação brasileira no processo de
construção de um discurso democratizante, articulando os seguintes pontos: democracia,
direitos humanos e inclusão social; a escola no papel de consolidação da democracia e defesa
de direitos humanos; debate sobre o papel da psicologia na execução de uma educação para a
democracia.
Ao longo do texto, Dazzani (2010) parte do ponto de vista da inclusão/exclusão social
e escolar sendo um dos problemas mais graves dentro do contexto escolar, entendida como
uma violação de direitos humanos, a partir do pensamento de que nem sempre a criança está
fora do ambiente físico escolar, mas fora do espaço simbólico da cultura. Isto como
consequência da concepção de que a escola ofereceria mesmas condições para todos os
educandos e, o sucesso ou fracasso seria decorrente das aptidões de cada um.
Da mesma forma, Dazzani (2010) aborda sobre a inserção das teorias da prática clínica
dentro do contexto escolar, fazendo com que os alunos se adequassem aos critérios e modelos
da escola e não ao contrário, culminando na patologização dos processos pedagógicos e
abandono da investigação de processos socioculturais.
Dazzani (2010) expõe sobre os conceitos de diferenças individuais e dificuldades de
aprendizagem, que projetam um olhar sobre os processos subjetivos e individuais, porém, não
proporcionam esclarecimentos em relação à instituição social escolar.
Com o passar dos tempos o desempenho dos profissionais passou a ter maior
liberdade, com a possibilidade de uma compreensão sistêmica de diferentes âmbitos e
modelos operantes dentro da escola e comunidade. Portanto, o psicólogo passou a ter uma
visão global da escola: validando o contexto familiar e estimulando a sua colaboração para
com a equipe, reconhecendo aspectos sociais e se moldando frente a questões afetivas e
emocionais (Gaspar & Costa, 2011; Carvalho & Souza, 2012).
Logo, o trabalho passa a ser mais humanizado, priorizando o bem-estar, modelos
preventivos e estratégias de manejo frente a queixas específicas, buscando sempre melhorar o
ensino e aprendizagem em seu aspecto global, deixando de ser apenas um solucionador de
conflitos (Carvalho & Souza, 2012).
Contudo, o cenário escolar ainda sofre com resquícios de um fazer psicológico sem a
influência do Materialismo Histórico Dialético, utilizado anteriormente na década de 80
(Carvalho & Souza, 2012). Em um estudo qualitativo realizado por Medeiros e Aquino (2011)
com psicólogos da rede pública, foi observado no diálogo dos profissionais uma
desarticulação em relação às abordagens que regem a prática e o processo educativo, focando
todo o conhecimento em casos específicos, reforçando a visão patologizante do indivíduo.
De outro modo mais efetivo, o psicólogo agente de mudanças pode empregar todo seu
conhecimento da psicologia com trabalhos com grupos de alunos e funcionários da escola,
como resposta de complicações no processo de ensino e aprendizagem; dispor de reflexões
calcadas em estudos para auxiliar a formação de professores; atuar com o monitoramento,
resolução e prevenção de problemas psicossociais; elaborar diagnóstico da instituição;
executar pesquisas de processos de aprendizagem e atuar ativamente no planejamento
pedagógico (Ramos, 2011).
Ou seja, o psicólogo passa a atuar em todos os cenários que se relaciona direta ou
indiretamente com o educando, seja com orientação com os pais, encontros com o(s) aluno(s),
falas com a escola e entrevistas de acompanhamento e fechamento (Lessa & Facci, 2011).
Essas intervenções mobilizam toda a escola com o intuito de solucionar a queixa
trazida pela mesma, rompendo com a percepção de instituição é imutável e com a crença de
que as dificuldades de aprendizados, concerne a responsabilidade integral do aluno (Lessa &
Facci, 2011).
Em 2013 foi realizado um estudo intitulado “As possibilidades de atuação do
Psicólogo Escolar” com uma instituição de cunho social ao atendimento de famílias carentes.
A demanda se deu no atendimento às famílias, no acompanhamento da chegada dos
bebês à creche e também na preparação dos alunos na transição escolar do Ensino Infantil
para o Ensino Fundamental, por meio também do processo de ambientação dos alunos de
quatro a cinco anos na nova escola. Cada um fez um crachá de forma subjetiva, visando
potencializar a autonomia das crianças e para que possam trabalhar as suas expectativas,
imaginação, crenças e mitos no novo ambiente escolar, antes de iniciar o próximo ano letivo.
Além disso, outros quesitos que também foram trabalhados foram a estimulação da fala para
as crianças que tenham dificuldades na linguagem e intervenções individuais.
Ressaltamos que o ambiente precisa ser saudável e facilitador para ajudar no
aprendizado da criança, possibilitando que ela possa se desenvolver, já que a escola é vista
como o primeiro agente socializador externo no ambiente familiar, em que a criança se
constitui como sujeito e aprende a se relacionar nas suas relações com o mundo e consigo
mesmo, na busca da sua identidade e autonomia.
O Projeto de Intervenção ocorreu de forma positiva sendo aceito pela equipe docente e
técnica, uma vez que, no início a abordagem das estagiárias sucedeu-se de modo facilitador,
com ambiente de escuta ativa, de maneira respeitosa e acolhedora, para entender e
compreender os problemas que a instituição precisava desenvolver e resolver. A relação de
cuidado com as crianças é essencial e fez total diferença no Projeto de Intervenção, com
reuniões de forma articulada com as famílias, em busca da sua integração social. Durante a
intervenção foram encontradas algumas limitações, como exemplo disso, as salas de aula e de
atividades serem muito lotadas, dificultando no desenvolvimento das crianças, visto que
precisam de um ambiente que possibilite a realização de atividades e também na observação
da socialização com seus pares.
Neste estudo de 2013, ressalta-se a escassez dos estudos teóricos e práticos nas
atividades do Psicólogo escolar nas instituições, como parte faltante nas equipes
multiprofissionais que atuem junto como parte mediadora e desenvolvedora, pois antigamente
o modo de atuação era eminentemente clínico, se restringindo à aplicação de testes
psicométricos e a ajustamento escolar. Atualmente, vemos o Psicólogo e/ou estagiário escolar
atuando no cotidiano de cada escola, de forma proativa, mas ainda com algumas limitações.
Contudo, se tratando de um estágio de último ano, o trabalho iniciado se mostra como
um processo que precisa de continuidade, havendo a necessidade de um Psicólogo efetivo no
local, que possa viabilizar de maneira dinâmica o desenvolvimento do projeto na instituição.
Já no que se refere aos anos de 2015 e 2016, observa-se uma imensa quantidade de
artigos que têm como tema a importância do psicólogo na escola, os desafios enfrentados na
área, práticas profissionais e também sobre a relação da psicologia escolar em temas como
bullying, inclusão, interculturalismo, medicalização, ensino superior, etc.
Sobre a primeira temática (importância do psicólogo na escola), Santos e Gonçalves
(2016), por exemplo, ressaltam a relevância do papel do psicólogo na inclusão escolar como
propulsor do desenvolvimento infantil e da socialização e concluem que a atuação psicológica
pode diminuir o fracasso escolar e favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno.
A respeito dos desafios enfrentados na psicologia escolar podemos destacar a
formação do psicólogo escolar. Alguns artigos apontaram a necessidade de aprimorar os
conhecimentos da área de psicologia escolar além de desenvolver novas pesquisas com o
objetivo de melhorar o currículo dos cursos e a metodologia utilizada (Santos & Toassa,
2015).
Neste período muitos artigos abordaram a psicologia escolar no ensino superior como
uma experiência inovadora. O ingresso em um curso de graduação afeta a rotina do estudante,
o que pode causar problemas psicológicos. A inserção dentro das universidades de serviços
que visam à otimização do bem-estar físico e psicológico dos estudantes busca auxiliar no
enfrentamento de tais dificuldades (Dias et al., 2015).
No âmbito das práticas profissionais da psicologia escolar foram encontrados artigos
que descrevem as ações realizadas pelos psicólogos tanto em escolas quanto no ensino
superior. Araújo (2015) afirma que o trabalho dos psicólogos escolares está mudando de um
modelo clínico-terapêutico para um mais preventivo-institucional. Outra perspectiva presente
em diversos estudos acerca das práticas profissionais é uma atuação pautada na concepção
teórica da abordagem histórico-cultural, a qual compreende que o sujeito que aprende tem
papel ativo na construção do conhecimento e pode ser influenciado pelo contexto e pelo
mediador (Coutinho, 2015). Assim sendo, muitos artigos buscaram trazer reflexões e levantar
possibilidades quanto à atuação do psicólogo baseada nesta abordagem.
No ano de 2017, no artigo “Formação de psicólogos para a educação: concepções de
docentes” foi realizada uma análise acerca das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de
2004 para a formação em Psicologia, investigando as concepções de professores sobre a
formação do psicólogo, principalmente para os que pretendem atuar em processos educativos.
O artigo traz reflexões sobre a prática da psicologia escolar em ambientes que não são
considerados escolas formais, mas que têm processos educativos envolvidos, mostra a
necessidade de estágios que proporcionem vivência e capacitação do Psicólogo escolar, bem
como a atuação ética e comprometida com as necessidades da comunidade escolar,
entendendo o psicólogo como ator político-social, retirando-o da posição neutra da clínica.
Ainda em 2017, o artigo “Psicologia Escolar em ONGs: Desafios Profissionais e
Perspectivas Contemporâneas de Atuação” traz reflexões acerca da atuação do psicólogo
escolar nas Ongs, prática recente no Brasil. Para isso, traz uma perspectiva histórica da
construção da prática da psicologia escolar, bem como a visão política da época. O artigo
defende três linhas de intervenção para o desenvolvimento do trabalho nas ongs, são eles:
assessoria à gestão institucional; acompanhamento ao trabalho coletivo dos educadores
sociais; acompanhamento ao processo socioeducativo dos educandos. Os autores reforçam a
necessidade de compreender o trabalho do Psicólogo escolar como uma prática libertadora,
que não se desloque do campo político para a caridade e assistência básica.
Nota-se que existe uma tendência em desmistificar a psicologia escolar enquanto
prática clínica, colocando o psicólogo como ator importante nas mudanças sociais e políticas,
aumentando a ótica da psicologia educacional e encarando as questões sociais como parte da
prática profissional. Há uma produção importante de artigos sobre a formação de psicólogos
escolares e as competências críticas necessárias. Além disso, o psicólogo escolar tem sido
inserido em meios educativos que não são a escola, para isso é necessário que o profissional
reconheça seu papel e exerça uma prática libertadora e emancipatória. As questões apontadas
nesse período (2017 a 2018) vão além da problemática acerca do aluno problema, da
patologização ou das demandas da escola, elas são muito mais políticas e urgentes,
correspondentes com o cenário brasileiro.

Sobre o ano de 2019, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou as “Novas

Referências Técnicas para a Atuação de Psicólogas(os) na Educação Básica”. No ano

seguinte, em 2020 o CFP divulgou um documento com orientações sobre a Lei 13.935/2019,

que “Dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas

de educação básica”. Os documentos citados, amparam e orientam sobre a atuação de

profissionais da psicologia no âmbito da educação e também podem contribuir para a

regulamentação de leis estaduais e municipais (Facci, Silva, & Souza, 2020).

Em 2020, a pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19) surpreendeu o mundo.

Instalou-se uma crise sanitária sem precedentes na história, a qual impactou diretamente a

população, não só no sistema de saúde, mas na economia, na política e na educação. Impactos

consideráveis são percebidos na saúde física e mental da população. E se atendo ao campo da

educação, sabe-se que a escola não tem somente um papel educacional, mas também

desempenha uma função de apoio à saúde e bem-estar aos estudantes e à comunidade, bem

como exerce um papel social representativo na população mais pobre (Negreiros & Ferreira,

2021).

Atendendo às medidas preventivas do COVID-19, escolas foram fechadas em 190

países, afetando aproximadamente 1,57 bilhão de estudantes, cerca de 90% de todos os alunos

do mundo (UNESCO, 2020 apud Negreiros & Ferreira, 2021). Para as autoras Facci, Silva e

Souza (2020), os últimos anos que já não foram favoráveis para a Psicologia Escolar e

Educacional, pois ocorreram muitas mudanças na legislação brasileira e direitos conquistados

pelos profissionais da educação, psicologia e trabalhadores em geral foram retirados e nesse

momento da pandemia esse desfavorecimento tem se intensificado. É notável o aumento de

adoecimento de professores e a sobrecarga do trabalho remoto destes profissionais tem uma

conotação de exploração e “mercantilização da educação”.

Diante de um quadro de isolamento e restrições, é notório que haja um sofrimento

psíquico na população e nisso a psicologia tem sido convocada para contribuir com o
enfrentamento destas consequências emocionais. Dentro do cenário da educação, profissionais

da psicologia têm sido chamados para oferecer suporte emocional a professores, alunos e

demais profissionais da comunidade escolar. As inseguranças e incertezas ultrapassam o

ambiente escolar, o medo da doença e da morte atinge a maior parte da população, fugindo ao

controle e planejamento de atuação dos profissionais da psicologia, pois frente a essa situação

inesperada não há resposta pronta. É importante entender que princípios podem orientar as

ações, mas que as e os psicólogos dentro da escola fazem parte de uma equipe de

profissionais, ou seja, não agem sozinhos e é necessário construir coletivamente a

possibilidade de atuação (Negreiros & Ferreira, 2021).

Vale lembrar que, quando Vygotsky (1996 apud Facci, Silva, & Souza, 2020) fala dos

períodos do desenvolvimento humano, comenta que a crise pode acarretar novas formações. E

para que haja uma mudança à outra, há de se negar o que já existe e buscar uma nova

realidade, criar outras atividades, desenvolver novos comportamentos. A pandemia exige

mudanças. É necessário enfrentar as adversidades e ir em busca de novas condições, daquilo

que é possível realizar. É primordial o esforço na continuidade da produção de conhecimento,

pois isto pode mudar a consciência e auxiliar na compreensão da realidade. Na luta pela

transformação do ser humano, a educação tem seu papel fundamental.


Conclusão
Embora seja valorizado atualmente o discurso acerca da necessidade de engajamento e do

enfrentamento de questões sociais com um viés coletivo e fundado em uma análise integral (holística),

abarcando as raízes históricas e econômicas da formação das sociedades que são sutilmente

reproduzidas nos modos e no funcionamento das instituições de educação, é sempre necessário

lembrar que a roupagem reducionista, individualista que durante muito tempo foi sustentada na

psicologia para a abordagem de problemas afetos às práticas de aprendizagem e ensino foi conivente,

senão, no pior dos casos, ativamente prejudicial para a criação de uma sociedade mais justa e

funcional, que é o propósito maior de um sistema educacional.

É a partir disto que se justifica a necessidade por profissionais da Psicologia de aquisição de

uma grande bagagem de conteúdos propedêuticos, além da demanda por formação de alianças junto a

profissionais de outras áreas, especialmente com aqueles que precisam dividir espaço nas instituições,

para a realização de um bom suporte – sendo insuficientes as habilidades básicas de psicologia clínica

e teorias gerais sobre fenômenos, conceitos e processos tais como a inteligência, a aprendizagem,

personalidade e afins.

É a partir destas noções distantes da abstração e dos interesses que assumem quando se

declaram psicólogos escolares que não fiquem à margem, não se eximam de afirmar quais os rumos

que acreditam que as escolas e instituições deveriam tomar – não enquanto sugestões arbitrárias, mas

coerentes com os propósitos e valores consagrados e, não raras vezes, experimentados e percebidos

como mais efetivos do que métodos clássicos e reducionistas. Os desafios impostos pela pandemia

demandam mais do que nunca uma postura ativa para que não haja uma piora, senão um colapso, das

condições de educação, enquanto um direito fundamental consagrado .


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