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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___Vara de Família e Sucessõ es do

Foro Regional de ___________________ - Comarca de Sã o Paulo – Capital.


Urgente – Tutela de urgência
Segredo de justiça
[Nome e qualificação completa do autor], por seu advogado infra-assinado, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, para, com fulcro nos artigos 300
e seguintes e 693 e seguintes do Có digo de Processo Civil, bem como nas normas
do Estatuto da Criança e adolescente e do Có digo Civil aplicá veis à espécie, propor
Ação de modificação de guarda c.c. pedido de suspensão da obrigação
alimentar e de tutela de urgência
Em desfavor de [Nome e qualificação completa da ré], ante os elementos de fato,
provas e argumentos de direito abaixo apresentados:
Preliminarmente
O autor se manifesta desde já , nos termos do artigo 319, inciso VII do Có digo de
Processo Civil, informando que nã o pretende qualquer tipo de conciliaçã o em vista
que a natureza dos fatos discutidos nesta açã o sã o inaliená veis, inegociá veis,
motivo que aniquila qualquer chance de acordo.
Por tais razõ es, requer-se que Vossa Excelência nã o designe audiência de tentativa
de conciliaçã o.
1. Dos fatos
O autor e a requerida foram casados, de 00/00/0000 a 00/00/0000, conforme
consta das có pias do pedido de divó rcio do casal, ora juntado, advindo dessa uniã o,
a filha xxxxxxxxxxxx, menor impú bere, nascida aos 00/00/0000, que na separaçã o
ficou sob a guarda da requerida. (Docs.j.)
Assim, cada uma das partes seguiu sua vida, tendo o autor, constituído novo
vínculo matrimonial e tendo mais uma filha menor, de nome xxxxxxxxxxxxxxxxx e
a requerida, ao que se sabe, vive em uniã o está vel com uma pessoa que atende sob
o prenome de xxxxx e tem a alcunha de “xxx”, vivendo ela (requerida), a filha
menor xxxxxxx e o Padrasto xxxxx, ou xxxxx, como é conhecido. (Docs.j.)
Ao autor, foi dado o direito de visitas quinzenalmente à filha xxxxxx e, desde o
divó rcio das partes, nã o abre mã o do exercício desse direito e foi quando começou
a perceber um comportamento diferente da filha nas ú ltimas vezes em que esteve
com ele, nas visitas.
Ocorre Exa., que em xx/xx/2017 a referida filha, na posse do pai, ora autor, no
exercício do direito de visitas, relatou à sua avó paterna, em quem confia muito, até
porque o autor reside nos fundos da casa de seus pais e o convívio familiar é
intenso, que estava acontecendo algo com ela.
Entã o, a menor relatou à avó , que o padrasto, na residência da família e na ausência
da mã e, ora requerida, tentou praticar ato sexual com ela, tendo inclusive abaixado
a calcinha e colocando a menor impú bere, em contato com seu ó rgã o sexual,
demonstrando total desequilíbrio mental, social e uma atitude totalmente
reprová vel.
Ao tomar conhecimento do relato trazido por sua mã e, o autor pediu para que a
menor lhe contasse a verdade sobre o ocorrido e a menor confirmou a tentativa de
abuso sexual sofrido.
Por tais razõ es, o autor procurou o Conselho Tutelar (Doc.j.) e a autoridade Policial
(Doc.j.), na qual apresentou a menor, que prestou depoimento.
Para que Vossa Excelência veja a versã o da menor, ipsis literis, segue a transcriçã o
de um dos trechos, conforme consta do boletim de ocorrência registrado, vejamos:
“[...]Ela declarou que ficaram deitados na cama (ela fingiu que dormia), sendo que
xxxxx abaixou seu short (bem como sua calcinha) e tentou introduzir seu membro
em seu â nus, mas xxxxxxx virou-se, sentindo, entretanto, o membro roçar em sua
perna”
A menor ainda relatou à autoridade policial que também foi tocada na regiã o das
ná degas em outra ocasiã o e, por isso, se sentiu constrangida e passou a dormir na
casa da avó materna, que reside em casa na frente da casa da requerida, onde a
menor vive.
Desde entã o, o autor resolveu ficar na posse da menor e sua filha, a fim de
preservá -la de mais situaçõ es como a relatada acima, já que a requerida trabalha e
a menor ficaria sozinha com o padrasto, o dia todo, o que nã o mais quer permitir,
por motivos ó bvios, até porque parece que, de alguma forma, essa situaçã o
aparentemente influenciou o psicoló gico da menor.
Ante a um histó rico desses, onde a pró pria menor prestou depoimento à Polícia
relatando detalhes só rdidos de uma investida sexual criminosa de seu padastro,
nã o restou alternativa ao autor, senã o manejar a presente açã o de modificaçã o de
guarda, suspensã o da obrigaçã o alimentar, com pedido de tutela de urgência, pois
a situaçã o impõ e que a menor xxxxxxxxx seja protegida, pois se trata de uma
criança indefesa, nas mã os de um possível psicopata.
2. Do direito
2.1. Da necessidade de modificação da guarda da menor
Nã o é necessá rio muito para compreender que estamos diante de uma situaçã o
monstruosa, reprová vel, de covardia extrema, onde um homem cede aos seus
pró prios desejos sexuais, praticando atitudes abominá veis.
Vemos no depoimento, que um ato sexual com uma menor de x (xxxxxx) anos,
ainda que tentado, é suficiente para transgredir tudo que se imagina em termos de
normas morais e uma série de dispositivos legais.
Muito embora tais atos nã o sejam praticados pela requerida, mas no exercício da
guarda, falhou gravemente, pois colocou dentro de casa, um criminoso covarde,
astuto, que se aproveitou e roubou a inocência de uma criança e, se nã o for adotada
uma providência efetiva, algo pior poderá acontecer.
No presente pedido de alteraçã o da guarda, deve imperar o princípio da garantia
prioritá ria do menor, como direitos fundamentais previstos na Constituiçã o
Federal, tais como o direito à vida, à saú de, à alimentaçã o, à educaçã o, à dignidade
da pessoa humana e à convivência familiar.
O Estatuto da Criança e Adolescente, em seus artigos 4º e 6º, sã o corolá rios da
garantia prioritá ria e plena do menor, vejamos:
“ECA - Art. 4º – É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.” (grifos do subscritor)
“ECA - Art. 6º – Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais
a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres
individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente
como pessoa em desenvolvimento.” (grifo do subscritor)
Por isso, interpreta-se sempre, que a criança e o adolescente têm direito à saú de, à
alimentaçã o, à educaçã o, ao lazer, à profissionalizaçã o, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitá ria. Assim, compete aos
pais, primordialmente, assegurar-lhes tais condiçõ es, sendo vedada qualquer
forma de negligência, discriminaçã o, exploraçã o, violência, crueldade e opressã o
(CF, art. 227, caput).
Nessa seara, se a lide envolve um menor, cabe ao Estado zelar por seus interesses.
Trata-se de ser humano em constituiçã o, sem condiçõ es de auto proteger-se.
Portanto, é dever do Estado velar por seus interesses, em qualquer circunstâ ncia.
O Estatuto da Criança e do Adolescente preconiza que deve imperar a
inviolabilidade da integridade física e psíquica da criança, protegendo-se sua
dignidade de tratamentos danosos, vejamos o texto da lei:
“Art. 17 – O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservaçã o da
imagem, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos
pessoais.”
“Art. 18 – É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente,
pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexató rio e constrangedor.”
“Art. 22 – Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educaçã o dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigaçã o de cumprir e fazer
cumprir as determinaçõ es judiciais.”
Com isso vemos que a hipó tese dos autos revela que a integridade física e moral da
menor está ameaçada, se já nã o sofreu danos, deixando a família atual, de proteger,
para prejudicar.
Em sendo dever de todos zelar pela dignidade da criança, nesse caso é a imposiçã o
da condiçã o de pai que prevalece no autor, que está revoltado, aterrorizado com a
possibilidade que tudo se repita ou que aconteça um mal maior.
Mesmo nã o sendo culpada direta, é a requerida quem está proporcionando um
ambiente que agora, reveladamente, é hostil, de risco, totalmente inaceitá vel
deixar uma menina frá gil e inocente, nas garras de um maníaco, o que ocorre pela
negligência em se fazer mais presente no lar.
Os atos praticados pelo padrasto da menor revelaram a intençã o da prá tica de
estupro de vulnerá vel, sendo uma situaçã o que ainda pode piorar e realmente
pode a acontecer mal maior e o Poder Judiciá rio tem de agir, com toda sua força!
Nesse caso, muito difícil que a requerida proporcione um ambiente saudá vel e
seguro para a filha, já que mora com o agressor e ele é “pessoa da família”,
nutrindo ainda, laços amorosos, de uniã o conjugal com o mesmo.
Nã o obstante nã o tenha sido a requerida quem praticou os atos criminosos em
desfavor da menor, de fato está proporcionando um ambiente inseguro,
possibilidade de danos físicos, psicoló gicos e podemos estar até mesmo diante de
um caso de psicopatia do padrasto, razã o que faz com que o autor tema até pela
pró pria vida de sua filha, isso demonstra, de alguma forma, negligência para com a
proteçã o da filha.
Com tal situaçã o tem aplicaçã o o artigo 129 do ECA, que recomenda a perda da
guarda para os pais ou responsá veis que proporcionem ambientes prejudiciais e
possibilidade de graves danos psicoló gicos e físicos à criança, que é o caso dos
autos.
Vejamos a lei:
“ECA - Art. 129 – Sã o medidas aplicá veis aos pais ou responsá vel:
(...)
VIII – a perda da guarda;”
O tema, que é regulado também pelo Có digo Civil, face à sua importâ ncia,
preceitua:
“CC - Art. 1638 – Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mã e que:
I – castigar imoderadamente o filho;
II – deixar o filho em abandono;
III – praticar atos contrá rios à moral e aos bons costumes;
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.”
Em nenhum cená rio, diante dos fatos ocorridos e daqueles que podem acontecer, a
permanência da menor com a mã e, ora requerida, possibilitará seu
desenvolvimento está vel e saudá vel, porque foi vítima de violência sexual
presumida.
A menor já pode estar sofrendo sequelas psicoló gicas, pois nã o quer mais voltar
para a casa da requerida e lá , só dormia na casa da avó materna, que como já
explicado, fica em frente da casa da requerida, no mesmo terreno.
Os fatos registrados no Boletim de ocorrência, de per si, sã o suficientes para a
alteraçã o da guarda, de forma urgente, mas nã o se pode deixar de ponderar sobre
as condiçõ es emocionais e econô micas de cada uma das partes, que entra na
avaliaçã o com quem deve ficar a guarda.
Ademais, o autor tem uma família melhor estruturada, com esposa e uma irmã
para a filha, além de uma cama só para ela.
Além disso, a mã e e o padrasto do autor, residem na casa da frente, no mesmo
terreno de sua residência, com mais três sobrinhos menores, o que amplia a
sensaçã o do abrigo e das relaçõ es familiares, já que estará convivendo com o pai,
irmã , madrasta, com a avó paterna e com primos.
Para ajudar, o autor reside em casa pró pria que, inclusive, está em reforma e em
breve será mais aconchegante para a menor, como demonstram as fotos, além do
local ser organizado, limpo, enfim, um ambiente saudá vel.
Já as condiçõ es financeiras do autor, sã o suficientes para proporcionar o sustento
da menor, já que possui duas ocupaçõ es remuneradas, uma durante a semana,
conforme demonstra as có pias de sua CTPS ora juntadas e outra aos fins de
semana, conforme consta da Declaraçã o do estabelecimento para qual presta
serviços aos fins de semana, durante o período noturno apenas.
Assim, a manutençã o da guarda com a requerida, ou mesmo a guarda
compartilhada, nesse caso é impossível, face à s suas particularidades, sendo de
rigor a decretaçã o da modificaçã o da guarda unilateral em favor do autor.
O direito de visitas também deve ser reduzido e supervisionado, uma vez que nã o
se pode mais permitir que a menor conviva em ambiente arriscado, traumatizante,
enfim, danoso à sua saú de, tampouco que retorne à casa de sua mã e, pois terá que
ver o padrasto.
Deixando a filha abandonada com o padrasto maníaco, a requerida infringe os
artigos 17, 18 e 22 do ECA e a doutrina abaixo revela que essa conduta enseja até a
perda do poder familiar, quiçá a modificaçã o da guarda. Vejamos:
“A perda do poder familiar (pá trio poder) para ser decretada deve estar de acordo
com as regras do ECA em combinaçã o com o CC. Assim, incide a decisã o de
destituiçã o do pá trio poder na conduta omissiva do genitor diante de suas
obrigaçõ es elencadas no art. 22 do ECA e no art. 1.634 do CC, infra-assinalado.
Mais, deve o genitor amoldar-se a uma ou mais hipó teses do art. 1638 do CC: “
(ISHIDA, Vá lter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e
jurisprudência. 12ª Ed. Sã o Paulo: Atlas, 2010, p. 38)
Com efeito, do conjunto desses elementos deverá ser formado o juízo acerca da
parte que demonstra melhores condiçõ es para exercer a guarda, atendendo-se,
quanto mais, aos interesses do menor.
E a gravidade dessa sançã o (perda da guarda), há de prevalecer quando presente o
mau exercício do poder-dever dos pais, o que no caso é revelado em relaçã o à
requerida, que indiretamente está proporcionando momentos de terror para a
menor.
Como mostra a prova documental levada a efeito com esta inicial, principalmente o
Boletim de Ocorrência registrado perante a Polícia Civil, revela, sem sombra de
dú vidas, a gravidade dos fatos.
É inegá vel que existe uma situaçã o de degradaçã o moral, por abandono da menor
junto a pessoa que tem intençõ es sexuais reveladas e tentadas.
Por conta disso, o Autor deve ser amparado com a medida judicial ora almejada,
sobretudo porquanto o art. 1.583 da Legislaçã o Substantiva Civil estipula que deve
agir na defesa de sua filha quando nã o se detém a guarda, vejamos:
“Art. 1.583 – a guarda será unilateral ou compartilhada.
[...]
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mã e que nã o a detenha a supervisionar
os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisã o, qualquer dos genitores
sempre será parte legítima para solicitar informaçõ es e/ou prestaçã o de contas,
objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situaçõ es que direta ou indiretamente
afetem a saú de física e psicoló gica e a educaçã o de seus filhos.”
Na realidade, comprovada a quebra dos deveres da mã e, é permitida uma
reavaliaçã o concernente à guarda, pois estamos diante de uma situaçã o
naturalmente grave.
Flá vio Tartuce, em nada discrepando do entendimento supra, ao comentar o
enunciado 338 da IV Jornada de Direito Civil, assevera que:
“De acordo com o teor do enunciado doutrinário, qualquer pessoa que
detenha a guarda do menor, seja ela pai, mãe, avó, parente consanguíneo ou
sociafetivo, poderá perdê-la ao não dar tratamento conveniente ao incapaz.
O enunciado, com razão, estende a toda e qualquer pessoa os deveres de
exercício da guarda de acordo com o maior interesse da criança e do
adolescente. Tal premissa doutrinária deve ser plenamente mantida com a
emergência da Lei 13.058/2014. “ (TARTUCE, Flávio. Direito de família. 10ª
Ed. São Paulo: Método, 2015, p. 254) (grifo do subscritor)
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o magistério de Conrado Paulino
da Rosa, ipsis litteris:
“A gravidade do fato poderá justificar, em virtude do melhor interesse da criança,
decisõ es emergenciais e provisó rias baseadas no juízo da verossimilhança e do
periculum in mora (arts. 798 e 273 do CPC)“ (ROSA, Conrado Paulino da. Nova lei
da guarda compartilhada. Sã o Paulo: Saraiva, 2015, p. 91)
Destarte, para que nã o paire qualquer dú vida quanto à pretensã o judicial, o que se
busca, aqui, é um provimento jurisdicional de se modificar a guarda, visto que o
Autor detém maiores condiçõ es exercê-la.
Com esse enfoque:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA DE URGÊNCIA. MODIFICAÇÃO DE
GUARDA. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PRINCÍPIO
DA ABSOLUTA PRIORIDADE E DA PROTEÇÃO INTEGRAL. 1. Apesar da
argumentaçã o da genitora, resumidamente, ser de que todos os obstá culos havidos
sã o em decorrência de eventual alienaçã o parental por parte do genitor, o
depoimento da menor em audiência demonstra a impossibilidade, ao menos por
ora, de convivência com a mã e. 2. O convívio com ambos os genitores é sempre
encorajado e apoiado. Todavia, no caso examinado, nã o se verifica tal
possibilidade. É fundamental para o desenvolvimento equilibrado da infante seja
ela mantida sob a guarda do genitor até decisã o final do processo. 3. Recurso
desprovido. Unâ nime. (TJDF; AGI 2016.00.2.040449-3; Ac. 987.495; Sétima Turma
Cível; Rel. Des. Romeu Gonzaga Neiva; Julg. 30/11/2016; DJDFTE 19/12/2016)”
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE MODIFICAÇÃO DE GUARDA C/C
EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. REALIZAÇÃO DE ESTUDO SOCIAL E
PSICOLÓGICO. INTERESSE DO MENOR. SOFRIMENTO PSICOLÓGICO
EVIDENCIADO. RETORNO DA GUARDA À GENITORA. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO DE ACORDO COM O PARECER DA PGJ. I. À Luz do texto constitucional,
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saú de, à alimentaçã o, à
educaçã o, ao lazer, à profissionalizaçã o, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitá ria, além de colocá -los a salvo de toda
forma de negligência, discriminaçã o, exploraçã o, violência, crueldade e opressã o.
II. Considerando o relató rio psicoló gico e social recentemente realizados por
determinaçã o deste juízo, infere-se que os direitos fundamentais do menor estarã o
melhor resguardados na companhia materna. (TJMS; AI 1404201-
84.2016.8.12.0000; Terceira Câ mara Cível; Rel. Des. Marco André Nogueira
Hanson; DJMS 14/12/2016; Pá g. 62)”
A fim de que fique claro que o autor tem total condiçõ es de suportar a guarda da
menor, possui emprego fixo e família está vel, além do que é vizinho de sua mã e
(avó da menor), que reside com três netos menores também, primos de xxxxxxx, o
que configura um melhor nú cleo familiar.
O autor também é pessoa tranquila, com total domínio de suas faculdades mentais
e em boas condiçõ es físicas, além de nunca ter sido processado criminalmente.
Com a modificaçã o da guarda, a assistência moral e material seria permanente e o
espaço físico da residência já está adaptado para a menor, que tem cama pró pria e
tem o desejo de residir com o pai, por conta do que foi vítima na residência da mã e.
O autor até já foi atrá s da mudança de escola da menor, conforme consta da
documentaçã o anexada, demonstrando que se preocupa com todos os detalhes, no
que se refere à assistência paterna.
Por tais razõ es, é de rigor que se modifique a guarda da menor, a fim de que seja
transferida ao autor, para que seja preservada a integridade da criança e tenha
prevalência a proteçã o integral.
2.2. Da necessidade de suspensão do dever de alimentar
Conforme consta das có pias do procedimento de divó rcio das partes ora juntadas,
o autor ficou responsá vel em pagar 30% (trinta por cento) de seus rendimentos a
título de alimentos quando empregado e 27,52% (vinte e sete vírgula cinquenta e
dois por cento) do salá rio mínimo, quando desempregado.
Com a modificaçã o da guarda, desaparecerá a necessidade do envio de dinheiro
para o sustento da menor xxxxxxxx por meio de sua mã e, pois o autor estará
responsá vel por esses cuidados.
Assim, nã o há porque manter a obrigaçõ es do autor no pagamento de alimentos,
pois deixa de existir a causa do pagamento, a exigibilidade do direito.
O Tribunal de Justiça de Sã o Paulo já enfrentou o tema, vejamos:
“AÇÃO DE MODIFICAÇÃO DE GUARDA CUMULADA COM EXONERAÇÃO DE
ALIMENTOS. Deferimento do pedido de tutela provisó ria de urgência para conferir
ao autor a guarda provisó ria do filho e suspender o pagamento de alimentos.
Decisã o proferida apó s audiência de justificaçã o. Inocorrência de afronta ao
disposto no Artigo 1.585 do Có digo Civil. Possibilidade de deferimento da tutela
provisó ria de urgência sem a oitiva da parte contrá ria. Verossimilhança na
alegaçã o do agravado no sentido de que detém a guarda fá tica do menor. Ausência
de elementos concretos que desabonem o genitor no trato com o filho. Alternâ ncia
de decisõ es liminares nã o recomendá vel em açõ es desta espécie. Observâ ncia do
interesse prioritá rio do menor no feito. Oportuno o aguardo da instruçã o
probató ria. Decisã o mantida. Recurso nã o provido. (TJSP; AI 2102641-
76.2016.8.26.0000; Ac. 9933157; Ribeirã o Preto; Terceira Câ mara de Direito
Privado; Relª Desª Marcia Dalla Déa Barone; Julg. 27/10/2016; DJESP
24/11/2016)”
De mais a mais, se fosse mantida a obrigaçã o do pagamento dos alimentos mesmo
com a modificaçã o da guarda, isso seria diretamente prejudicial ao menor, que
teria um pai prejudicado financeiramente e, consequentemente proporcionando
menos, no sentido material, para os filhos, o que é inadmissível, pois essa situaçã o,
além disso, proporcionaria o enriquecimento sem causa da requerida.
Por tais razõ es, a exigibilidade da prestaçã o alimentar, sem a guarda, nã o existe,
pois a causa do dever de alimentar, que é prestar assistência material à menor,
desapareceu quando o autor iniciou o custeio direto de suas necessidades, pelo
fato de estar na sua posse.
Pelo exposto e como ao final se requer, necessá rio se faz, ao se modificar a guarda
da menor, que seja suspenso o dever de pagar alimentos até que a situaçã o assim
perdure, a fim de que nã o gere situaçã o injusta e ilegal e, diretamente prejudicial à
menor.
3. Da necessidade do pedido de tutela provisória de urgência
Ficou destacado claramente nesta peça processual, em tó pico pró prio, que houvera
abuso sexual à infante e, por conta da gravidade desse fato, formula-se pleito de
tutela provisó ria de urgência.
O Có digo de Processo Civil autoriza o Juiz conceder a tutela de urgência quando
“probabilidade do direito” e o “perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do
processo”, vejamos o dispositivo que prevê isso:
“CPC - Art. 300 – A tutela de urgência será concedida quando houver elementos
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado ú til do processo.”
Há nos autos “prova inequívoca” da ilicitude cometida contra a menor,
comprovada por seu pró prio depoimento perante a Polícia.
Por esse â ngulo, claramente comprovados, objetivamente, os requisitos do “fumus
boni iuris” e do “periculum in mora“, a justificar o deferimento da medida ora
pretendida.
Sobretudo quanto ao segundo requisito, a demora na prestaçã o jurisdicional
ocasionará gravame potencial à menor, visto que já sofreu abuso sexual e isso pode
continuar, além do que, hoje o autor encontra-se com a posse da menor, a fim de
protegê-la, e isso necessita de regularizaçã o o mais rá pido possível;
Desse modo, à guisa da cogniçã o sumá ria, os elementos indicativos de ilegalidades,
contidos na prova ora apresentada, trazem à tona circunstâ ncias de que o direito
muito provavelmente existe.
Acerca do tema do tema em espécie, do magistério de José Miguel Garcia Medina as
seguintes linhas:
“. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como
requisito, no sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo, que o
direito afirmado é provável (e mais se exigirá, no sentido de se demonstrar
que tal direito muito provavelmente existe, quanto menor for o grau de
periculum.“ (MEDINA, José Miguel Garcia. Novo có digo de processo civil
comentado … – Sã o Paulo: RT, 2015, p. 472)
Com esse mesmo enfoque, sustenta Nélson Nery Jú nior, delimitando comparaçõ es
acerca da “probabilidade de direito” e o “fumus boni iuris”, esse professa, in verbis:
“Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris:
Também é preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade do
direito por ela afirmado (fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa
assegurar a eficácia do processo de conhecimento ou do processo de
execução…” (NERY JÚNIOR, Nélson. Comentá rios ao có digo de processo civil. –
Sã o Paulo: RT, 2015, p. 857-858)
Diante dessas circunstâ ncias jurídicas, faz-se necessá ria a concessã o da tutela de
urgência antecipató ria, o que também sustentamos sob a égide dos ensinamentos
de Tereza Arruda Alvim Wambier:
“O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose significativa de
subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano, dependendo do periculum
evidenciado. Mesmo em situaçõ es que o magistrado nã o vislumbre uma maior
probabilidade do direito invocado, dependendo do bem em jogo e da urgência
demonstrada (princípio da proporcionalidade), deverá ser deferida a tutela de
urgência, mesmo que satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim … [et al]. – Sã o
Paulo: RT, 2015, p. 499) (grifo do subscritor)
Diante disso, o Autor vem pleitear, sem a oitiva prévia da parte contrá ria (CPC, art.
300, § 2º), independente de cauçã o (CPC, art. 300, § 1º), tutela de urgência
antecipató ria no sentido de expedir-se mandado de modificaçã o provisó ria da
guarda, mantendo a posse da menor com o autor, o qual ficará com sua guarda
provisó ria, até ulterior determinaçã o deste juízo, possibilitando visitas quinzenais
da requerida à filha, na residência do autor, sob sua supervisã o, a fim de evitar
mais danos dos que aqui já foram noticiados.
4. Considerações finais
O caso é de extrema gravidade, pois um atentado à dignidade da menor foi
colocado em prá tica e indícios que essa situaçã o pode piorar existem, razã o pela
qual o Poder Judiciá rio tem que intervir com sua mã o forte!
O depoimento da pró pria menor perante a autoridade policial, nã o deixa dú vidas
que ela deve ser protegida da situaçã o na qual narra ter sido vítima, com a
modificaçã o imediata da guarda, para que, de forma unilateral, fique com o pai, ora
autor.
Condiçõ es físicas, psíquicas e financeiras sã o suficientes para que o pai possa, junto
de sua família, abrigar sua filha da situaçã o que a aflige.
A modificaçã o da guarda nã o admite espera e deve ser urgente, uma vez que a
menor pode ser vítima novamente e, agora com a denú ncia que fez, nã o quer voltar
para a casa de sua mã e, ora requerida, por motivos ó bvios.
Permitir que a menor volte ao lar materno, seria, talvez, o anú ncio de uma tragédia,
ou, no mínimo, uma situaçã o muito constrangedora, uma vez que teria que encarar
seu algoz, situaçã o da qual deve ser salvaguardada pelo Poder Judiciá rio.
Ex positis, aguarda-se que Vossa Excelência, de forma liminar e apó s, de forma
definitiva, modifique a guarda da menor xxxxxxxxxx, retirando a guarda da mã e e
entregando-a ao pai, ora autor, para que sua dignidade, seu bem estar físico e
mental sejam protegidos e, para que esse caso nã o seja daqueles em que as
providências adotadas sejam tardias, a ponto de nã o proteger integralmente do
menor.
4. Dos pedidos
Ante ao exposto, requer o autor:
a) a concessã o da medida de tutela provisó ria de urgência, sem oitiva da parte
contrá ria, para que seja expedido mandado determinando a modificaçã o da guarda
da menor xxxxxxxxxxxxx em favor de seu pai e autor da açã o, mantendo-a sob sua
posse e permitindo visitas quinzenais da requerida à menor, sem retirá -la do lar
paterno e sob a supervisã o do pai ou de pessoa de sua confiança, até decisã o
definitiva de mérito;
b) Notificar o membro do Ministério Pú blico, inclusive para apreciar a eventual
ocorrência de delito penal na espécie;
c) que seja determinada a realizaçã o de estudo social e psicoló gico das partes, bem
como da menor xxxxxxx, nã o só para a confirmaçã o dos fatos, mas para
demonstrar quem possui melhores condiçõ es de deter a guarda da menor;
d) que Vossa Excelência julgue totalmente procedente a presente Açã o de
Modificaçã o de Guarda, para que, nos termos do quanto pleiteado, acolher em
definitivo a tutela provisó ria de urgência, concedendo-se a guarda definitiva da
menor em favor do autor e também para suspender o dever de prestar alimentos,
em funçã o da modificaçã o da guarda;
Protesta-se pela possibilidade de provar o alegado por todas as formas de direito
admissíveis, maiormente por meio do depoimento pessoal da Ré, depoimento da
menor, oitiva de testemunhas (que constam do Rol abaixo e deverã o ser
regularmente intimadas) perícias, vistorias, estudo social e qualquer outra
necessá ria para o deslinde da questã o.
Atribui-se à causa o valor estimativo de R$ 7.256,52 (Sete mil, duzentos e
cinquenta e seis reais e cinquenta e dois centavos) para os fins de direito e retrata
a pretensã o relativa à suspensã o da obrigaçã o alimentar, em vista que o pedido
principal, de modificaçã o de guarda nã o tem valor financeiro.
Nestes termos,
P. deferimento.
Sã o Paulo, maio de 2.017.
É RICO T. B. OLIVIERI
OAB/SP 184.337
ADVOGADO

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