Você está na página 1de 61

CAPÍTULO - Órgãos

Hidráulicos de
Barragens
DESCARREGADORES – ÓRGÃOS HIDRÁULICOS DE
BARRAGENS
1. TIPOS E CONSTITUIÇÃO GERAL DOS EVACUADORES DE
CHEIAS
Os evacuadores de cheias são os órgãos de segurança das albufeiras destinadas a
possibilitar a passagem das cheias para jusante das barragens. Podem classificar-se sob
dois aspectos:

a) Quanto à localização e ao controlo do caudal;


b) Quanto ao guiamento da lâmina líquida e ao modo de dissipação de energia.

a) Quanto à localização e controlo:


a.1. Evacuadores sobre barragens – Podem empregar-se em barragens de betão de
qualquer tipo, podendo a descarga processar-se livremente ou ainda ser controlada por
comportas. A lâmina líquida pode atingir directamente o leito do rio ou ser guiada por um
canal que se apoia no total ou em parte sobre a barragem até um trampolim de saída,
de onde é convenientemente orientada para o rio. O trampolim de saída pode ser ainda
substituído por uma estrutura de dissipação de energia (ver
Figura 1 a Figura 4).
Figura 1: Evacuador de cheias da barragem, abóbada, de Bouçã (Portugal)
Figura 2: Evacuador de cheias da barragem, abóbada, de Picote (Portugal)

Figura 3: Evacuador de cheias da barragem, de contrafortes, de Odivelas (Portugal)


Figura 4: Evacuador de cheias da barragem de contrafortes de Miranda (Portugal)

a.2. Evacuadores por orifícios através de barragens – Podem ser empregues em


barragens de betão de qualquer tipo, ou mesmo em barragens de aterro com a zona do
descarregador em betão. O escoamento é neste caso, controlado por comportas. Tal
como no caso anterior, a lâmina líquida pode seguir livremente para jusante do orifício,
atingindo o leito do rio próximo do pé da barragem (orifícios sob cargas pequenas) ou
longe dela (orifícios sob cargas elevadas) – Figura 5 e Figura 6. Estes casos são
válidos geralmente para barragens de betão.
A lâmina líquida pode ainda ser orientada de forma a terminar em jacto ou numa bacia
de dissipação. Estes casos são geralmente válidos para orifícios sob cargas pequenas,
tanto em barragens de betão como de aterro. Nestas últimas, deverá sempre existir uma
parte do evacuador no qual o escoamento se processa livremente (ver
Figura 7).

Figura 5: Evacuador de cheias da barragem em


abóbada de Caniçada (Portugal) Figura 6: Evacuador de cheias da barragem em
abóbada (Cahora-Bassa)

Figura 7: Evacuador de cheias da barragem de arco - gravidade de Castelo de Bode (Portugal)

As soluções de queda livre junto do pé da barragem exigem rocha de boa qualidade na


zona de impacto, sendo necessário ainda o revestimento dessa zona por lajes de betão
armado ancoradas a fundação e por vezes de açudes a jusante que aumentam a
espessura do colchão de água em relação às condições naturais.
Recorre-se por vezes, à descarga simultânea no mesmo perfil (sobre a barragem e
através de orifícios) com a finalidade de aproveitar as condições mais favoráveis de
dissipação de energia de jactos cruzados (caso da Barragem dos Pequenos Libombos
para descarga do caudal de dimensionamento) (ver Figura 8).

Figura 8: Evacuador de cheias da barragem dos Pequenos Libombos. (Moçambique)

a.3. Evacuadores em canal a céu aberto – São geralmente utilizadas em barragens de


aterro (de terra, de enrocamento ou mistas), sendo a estrutura independente da
barragem (ver Figura 9).
1. Barragem
2. Evacuador de cheias
3. Bacia de dissipação
4. Descarga de fundo
5. Circuito hidráulico

Figura 9: Evacuador em canal de aterro da Corumana (Moçambique)

a.4. Evacuadores em poço – Esta estrutura é utilizada geralmente em barragens de


betão. O poço é seguido por uma galeria escavada em subterrâneo na encosta, contudo,
é possível adoptar esta solução de descarga em barragens de terra (Figura 10).
Normalmente nestas últimas, o poço é seguido por uma conduta que é construída a céu
aberto na fundação da barragem, ficando depois recoberta em parte do percurso por
aterro.
Os evacuadores em poço têm a vantagem de, em certos casos, permitir a utilização de
parte das galerias ou das condutas de desvio provisório como galerias ou condutas a
jusante do poço.
Figura 10: Evacuador de cheias em poço

Outra grande vantagem em aproveitamentos hidroeléctricos é a possibilidade de


aproveitar a conduta coberta pelo aterro da barragem para o caudal turbinado, estando
a central integrada no próprio órgão de descarga. Serve assim simultaneamente para
produzir energia e deixar passar o caudal necessário a jusante (ou para rega ou para
abastecimento urbano). Figura 11

Figura 11: Evacuador em poço da barragem de Alqueva (Portugal)

Os evacuadores em canal a céu aberto ou mesmo em poço podem terminar por


trampolim de saída ou por estruturas de dissipação de energia.
a.5. Evacuadores de cheias de diques de fusível – Podem ser adoptados para
funcionar na emergência de ser excedido o caudal de dimensionamento do evacuador
principal. São constituídos, em geral, por um perfil em aterro construído sobre uma
soleira de betão. Quando se dá o galgamento do aterro, inicia-se o processo de
destruição do dique fusível; ao completar-se esta, o evacuador do dique fusível dá
passagem para uma linha de água lateral devendo o fundo do dique fusível ser rochoso
para evitar o aprofundamento e a vazão de um caudal incontrolado, Figura 12. São
construídos geralmente independentes do corpo da barragem e lateralmente.
Figura 12: Descarregador fusível (de emergência) da barragem de Corumana (Moçambique)

b) Quanto ao guiamento da lâmina líquida e dissipação de energia


Ao longo da exposição da alínea a) foram apresentadas já as várias possibilidades do
escoamento da lâmina líquida e de dissipação de energia:
b.1. Queda livre e dissipação de energia directamente no leito (colchão natural) –
Necessita-se de conhecer as condições de escoamento, natureza da rocha para se
estudar a necessidade a necessidade de protecção ou não. Por vezes cria-se este
colchão de água como forma de dissipar a energia do escoamento, construindo a jusante
de um dique de betão que possibilite a sobrelevação do nível de água de jusante.
b2. Queda guiada e trampolim de saída (salto de esqui) com dissipação no leito
(com protecção ou não) – O trampolim vai permitir que o jacto de água seja projectado
para jusante, relativamente afastado do corpo da barragem. Mesmo que se verifique
alguma erosão (leito não revestido) esta não prejudica a estabilidade da barragem. É
necessário, contudo fazer-se o estudo da localização da queda assim como das
características do fundo do leito.
b3. Queda guiada e dispositivo de energia de dissipação – no final do descarregador
é colocada uma estrutura de dissipação de energia que poderá ser uma bacia ou um
órgão equivalente.

2. Condicionamentos principais
Os condicionamentos principais que influem na escolha do tipo e constituição de um
evacuador de cheias são dos seguintes tipos:
2.1. Condicionamentos de fiabilidade
Um evacuador de cheias é um órgão que exige grande fiabilidade. O seu funcionamento
em más condições ou a sua insuficiência em relação aos caudais afluentes podem pôr
em perigo toda barragem, cuja destruição, mesmo parcial, pode ter efeitos catastróficos,
dependendo do volume da albufeira e da ocupação do vale a jusante.
2.2. Condicionamentos relativos à barragem e outros órgãos
O tipo de barragem apresenta condicionamentos para a escolha do tipo de evacuador.
Assim, numa barragem de aterro não se adoptam descarregadores sobre a barragem ou
através de orifícios ou mesmo condutas nela aplicadas. Com efeito, os inevitáveis
assentamentos poderiam dar lugar, durante o funcionamento do evacuador, as forças
hidrodinâmicas capazes de deslocar as lajes do canal de descarga.
O efeito da erosão interna poderia levar também a essa destruição.
Deve notar-se que existem barragens de aterro de pequena altura, sobre as quais têm
sido construídos evacuadores por meio de revestimento de enrocamento (protegido ou
não por malhas metálicas), gabiões e gunite (sobre o enrocamento).
O próprio tipo de barragem condiciona o caudal de dimensionamento do evacuador; a
sua escolha determina a velocidade máxima do escoamento e influi nas soluções a
adoptar para a dissipação de energia.
Os restantes órgãos (descarregador de fundo, tomadas de água e desvio provisório)
devem ser considerados ao escolher o tipo de descarregador.
2.3. Condicionamentos topográficos
Estes condicionamentos influem sobretudo na possibilidade de implantação do
evacuador de cheias. Por exemplo um evacuador de dique de fusível só pode ser
adoptado caso as condições naturais do terreno e a topografia o permita.
2.4. Condicionamentos hidrológicos
Não se limitam estes condicionamentos apenas ao caudal de dimensionamento, pois a
extensão do período em que se verificam as cheias e a duração média anual destas,
poderão influenciar o tipo e, mais frequentemente, a constituição do evacuador. Assim,
quando as cheias são isoladas e curtas as épocas em que são prováveis, podem, em
certos casos, aceitar-se soluções que eventualmente exijam conservação e reparações.
2.5. Condicionamentos geotécnicos
Respeitam as condições de fundação do evacuador e às exigências relativas a dispersão
de energia, permitindo ou não a dispensar a bacia de dissipação ou outra estrutura
análoga e, em caso afirmativo, influir nas dimensões da fossa de erosão e da barra.
2.6. Condicionamentos hidráulicos
Dizem respeito ao escoamento ao longo do evacuador e à dissipação de energia. As
condições de escoamento ao longo do evacuador respeitam à capacidade de vazão, ao
regime de pressões junto das fronteiras sólidas, à ocorrência ou ausência de separação
da lâmina líquida ou de cavitação e à distribuição de alturas no escoamento de superfície
livre.
2.7. Condicionamentos relativos aos equipamentos hidromecânicos
Influem quer ao nível da concepção geral do evacuador pelas limitações a que estão
sujeitas (dimensões do vão a obturar, carga, tipo de accionamento e sua fiabilidade),
quer ao nível das disposições de pormenor a adoptar no projecto.

3. Tipos de evacuadores de cheias nas pequenas barragens


Nas pequenas barragens, os tipos de evacuadores de cheias apresentam-se menos
diversificados do que nas grandes barragens. Nas primeiras não se encontram, em geral,
evacuadores por orifícios e os evacuadores em poço são menos frequentes, além de
exigirem conhecimentos mais especializados para ao projecto e só excepcionalmente
dispensarem ensaios hidráulicos.
Um evacuador de cheias normalmente é formado por três partes:
i) Estrutura descarregadora;
ii) Canal de descarga;
iii) Estrutura de dissipação de energia ou trampolim.

i) A estrutura descarregadora pode apresentar-se como:


 Descarregador rectilíneo, frontal se se desenvolver em direcção do escoamento a
jusante (Figura 13);
 Descarregador para um canal colector, desenvolvendo-se ambos em direcções
paralelas à do escoamento a jusante;
 Descarregador em labirinto (Figura 14 e Figura 15);
 Descarregador em leque (Figura 16);

Figura 13: Descarregador rectilíneo frontal e descarregador para um canal colector (descarregador
lateral)

Figura 14: Descarregador em labirinto de forma Figura 15: Descarregador em labirinto de forma
triangular trapezoidal da barragem de Sta. Justa
Figura 16: Descarregador em leque ou bico de pato

O primeiro tipo de estrutura descarregadora pode aplicar-se a solução de barragens de


betão com descarga superior ou de evacuadores de cheias em canal. A directriz do
descarregador é rectilínea ou com uma curvatura desprezável.
Os outros três tipos de descarregador são utilizados em evacuadores de cheia em canal.
O descarregador para canal colector permite, em determinadas condições topográficas,
reduzir o volume de escavação para criar um canal de alimentação do descarregador.
Normalmente estes evacuadores são construídos junto à encosta, lateralmente à
barragem. Para este caso o escoamento de entrada é feito na direcção perpendicular à
direcção de chegada.
Os descarregadores em labirinto ou em l que aumentam o comprimento de descarga. A
sua utilização não dispensa em geral, a realização de ensaios hidráulicos.
As estruturas com descarregador rectilíneo frontal, tanto sobre barragens como nos
evacuadores em canal, assim como o descarregador para canal colector (descarregador
lateral), podem ter descarga livre ou controlada por comportas.
Para igual nível de pleno armazenamento e, portanto, igual volume disponível na
albufeira, a solução de estruturas descarregadoras com comportas permite que o
escoamento da barragem se situe à cota mais baixa.
4. Estruturas descarregadoras

4.1. Estruturas descarregadoras rectilíneas


4.1.1. Considerações prévias
As soleiras descarregadoras mais frequentemente utilizadas em evacuadores de cheias
têm superfícies regradas de geratriz rectilínea. o paramento de montante é plano,
podendo ser vertical ou inclinado, seguido de uma superfície com a forma da face inferior
da veia líquida descarregadora sobre uma soleira plana, delgada, de crista horizontal.
O ponto mais alto da face inferior dessa veia líquida corresponde à crista da soleira
descarregadora; a distância vertical desse ponto à linha de energia a montante (no
escoamento sobre a soleira plana) denomina-se “carga de definição da soleira”
descarregadora Hd. (Figura 17)

Figura 17: Soleiras descarregadoras e carga de definição Hd

Uma soleira descarregadora ao funcionar sob uma carga H (distância vertical entre a
crista e a linha de energia) igual à carga de definição Hd apresenta na parede, uma
pressão igual à pressão atmosférica, pressão esta que também se verifica na face inferior
da veia líquida descarregada sobre a soleira delgada (para arejamento suficiente do
espaço inferior).
Quando a soleira descarregadora funciona com uma carga h diferente da carga de
definição Hd as pressões na parede da soleira passam a diferir da pressão atmosférica,
alterando-se igualmente o coeficiente de vazão.
Assim, consoante for H > Hd ou H < Hd, a pressão na parede da soleira descarregadora
deste tipo será inferior ou superior à pressão atmosférica (soleira deprimida ou
comprimida); consoante a hipótese, o coeficiente de vazão C excederá o da carga de
definição ou tornar-se-á inferior a esse valor.
Cargas Pressão na parede Coeficiente de vazão

H > Hd P > Patm C > Cd


H < Hd P > Patm C < Cd

Do ponto de vista de vazão, há interesse em que a carga de definição, Hd, seja inferior
à carga máxima de funcionamento Hmax. Obtém-se, para o caudal máximo, um maior
coeficiente de vazão, exigindo-se, portanto, menor carga, ou seja, um valor mais baixo
de Hmax e como consequência um nível mais baixo de NMC (nível de máxima cheia).
O valor limite de Hmax/Hd é, porém, condicionado pela necessidade de evitar o risco de
cavitação em resultado de pressões (médias no tempo) negativos que ocorrem na soleira
e de flutuações turbulentas de pressão ocorridas na camada limite desenvolvida junto da
mesma.
Para evitar o fenómeno de cavitação que poderia originar erosão na parede, a pressão
(média no tempo) na soleira não deve ser inferior a - 6,0m.
De igual forma, também a separação da camada limite (deslocamento da veia líquida)
pode limitar a relação Hmax/Hd.
A separação pode ocorrer na presença de linhas de corrente divergentes para jusante,
que originam um gradiente de pressões positivo.

Figura 18: Separação da camada limite

Existem vários perfis propostos, para o tipo descrito, de soleiras descarregadoras (os
mais antigos por Scimemi e por Creager).
A Waterways Experiment Station (WES) do United States Corps of Engineering realizou
o estudo sistemático destas soleiras descarregadoras, tendo proposto perfis de soleiras,
com paramento a montante vertical ou inclinado (1:3; 2:3; 3:3 horizontal – vertical).
De acordo com Lemos (1981), para evitar a separação da veia líquida da soleira, é
necessário que, em função do declive do paramento de montante, não se ultrapassem
determinados valores da relação H/Hd. Na Tabela 1 apresentam-se os valores obtidos
pelo referido autor.
Tabela 1: Soleiras descarregadoras do tipo WES. Valores máximos da relação Hmax/Hd compatíveis
com a não separação do escoamento (Lemos, 1981)

Declive do paramento de Hmax/Hd


montante
Vertical 1,40
3:1 1,10
3:2 1,25
3:3 1,35

Uma detalhada investigação experimental foi conduzida no LNEC (Laboratório Nacional


de Engenharia Civil) em Portugal sobre as soleiras propostas pela WES com objectivo
de definir critérios para concepção, especificamente quanto ao regime de pressões, aos
coeficientes de vazão e à ocorrência ou não de separação da veia líquida (sem e com
comportas de segmento e planas).
4.1.2. Soleiras WES com paramento de montante vertical
A definição da geometria do perfil das soleiras descarregadoras WES com paramento de
montante vertical, compreende um troço a montante da crista da soleira composto por
três arcos de circunferência tangentes entre si e um troço também a montante da crista
com uma equação do tipo exponencial.
Figura 19: Soleira descarregadora do tipo WES, com paramento vertical a montante. Geometria em
função da carga de dimensionamento Hd (Corps of Engineers, WES)

Realça-se que as soleiras de paramento inclinado apresentam valores limites menores


da relação Hmax/Hd devido à existência de uma aresta na transição do paramento de
montante para a zona curvilínea da soleira. Este facto não acontece nas soleiras de
paramento vertical, nestas existe um arco de circunferência com tangente vertical para
assegurar tal transição (Figura 19). O referido efeito é atenuado com a redução do declive
do paramento de montante. Geralmente considera-se que a altura piezométrica mínima
admissível no paramento da soleira WES para que não ocorra cavitação é p / γ = − 6 m.
Na Figura 21 apresenta-se, de forma adimensional, a variação da pressão sobre uma
soleira WES com o paramento de montante vertical, em que se verifica que, para
H/Hd=1,4, no ponto mais desfavorável se tem p / (γ H d) = −0,64 m. Nestas condições,
para uma soleira WES com paramento de montante vertical, verifica-se que, quando
H=1,4Hd, a carga de definição geométrica a partir da qual ocorre sobre a soleira uma
pressão mínima que dá origem a cavitação é:
𝑝
𝛾 −6
𝐻 = 𝑝 = = 9,4 𝑚
−0.64
𝛾𝐻
Com isso, para cargas de dimensionamento Hd>9,4 m, a condição de não ocorrência de
cavitação passa a impor relações Hmax/Hd1,4.

Figura 20: Descarregador de Bazin e soleira espessa WES, com paramento vertical a montante.

Na maior parte das implantações de soleiras WES, é necessário que, a partir de uma
dada cota, se substitua o perfil da soleira por uma recta tangente, de formas a obter um
perfil transversal que satisfaça os critérios de estabilidade da estrutura do descarregador
ou do troço de barragem em que este se encontra, ou por uma outra curva tangente,
como é o caso de curvas circulares de concordância com um canal a jusante. Esta
substituição pode ser efectuada sem alteração dos coeficientes de vazão definidos para
a soleira, desde que o ponto de tangência esteja a uma distância vertical em relação à
crista superior a 1/3Hd. As coordenadas do ponto de tangência (xT;yT) em função do
declive (tan θ) obtêm-se através das derivadas das expressões de definição do
paramento de jusante, sendo, para o caso da soleira com paramento de montante
vertical.

,
𝑥 = 1,09606𝐻 (tan 𝜃)
,
𝑦 = 0,59246𝐻 (tan 𝜃)
Figura 21: Distribuição da pressão ao longo de soleiras descarregadoras WES de paramento de
montante vertical (LEMOS, 1981)

De igual modo, é possível calcular a pressão mínima na soleira em função de H/Hd. (


Figura 22)

Figura 22: Pressão mínima em soleiras descarregadoras WES de paramento de montante vertical, em
função de H/Hd (LEMOS, 1981)
Ao introduzirmos na
Figura 22 a condição de a pressão mínima dever ser:

≥ −6,0 𝑚 Para Cavitação

sendo γ o peso volúmico da água, permite definir o limite admissível para a relação
Hmax/Hd.
A separação da camada limite (deslocamento da veia líquida) ocorre, segundo estudo
elaborado pelo Engo Oliveira Lemos (LNEC, 1981) quando temos a seguinte relação:
á
≤ 1,4 Para separação da veia líquida

O valor máximo da relação Hmax/Hd para cargas baixas é condicionado pela condição
de não ocorrer separações. Só passa ser condicionado pela pressão mínima quando a
carga de definição excede 9,4m. Com efeito para Hmax/Hd = 1,40 é Pmin/(γHd) = -0,64
(Figura 22) vindo:

= −6,0 𝑚 para 𝐻 ≈ 9,4𝑚

De acordo com estes estudos, as comportas de segmento ou planas não agravam os


riscos de cavitação nem os problemas de separação relativamente ao funcionamento
sem comportas, desde que aqueles estejam colocados para montante da crista a uma
distância superior a 0,10Hd.

4.1.3. Soleiras WES com paramento de montante inclinado a 1:1


Para as soleiras WES com paramento de montante inclinado a 1:1, apresentam-se a
Figura 23 a Figura 26, em correspondência com as Figura 19 a Figura 22 já referidas
para soleira de paramento vertical.
Mantém-se em relação ao risco de cavitação, a condição:

≥ −6 𝑚 Para Cavitação

Como forma de evitar a separação da veia líquida, recomendam os estudos elaborados,


que:
á
≤ 1,35 Para separação da veia líquida
Figura 23: Geometria do perfil de soleiras descarregadoras de paramento de montante a 1:1, para carga
de definição Hd (WES)

𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑋 > 0:
. .
𝑋 = 2𝐻 ×𝑦
𝑋 .
𝑦= .
2×𝐻
Fonte: Manual do USBR – General Spillway Investigation
Figura 24: Coeficiente de vazão de soleiras descarregadoras WES de paramento de montante a 1:1, em
função de H/Hd (LEMOS, 1981)

Figura 25: Perfis superficiais para H=Hd e H=1.25Hd em soleiras descarregadoras WES de paramento
de montante a 1:1
Figura 26: Pressão mínima em soleiras descarregadoras WES de paramento de montante a 1:1, em
função de H/Hd (LEMOS, 1981)

Relativamente ao efeito das comportas, mantém-se válidas as observações


apresentadas para soleiras de paramento de montante vertical. As comportas não
influenciam desde que não sejam instaladas sobre a crista da soleira.
4.1.4. Efeito da profundidade de aproximação
Num descarregador vertical de soleira delgada colocado num canal profundo, a
velocidade de aproximação é pequena e a contracção da veia líquida, na vertical, ao
passar sobre o descarregador, atinge o seu máximo. Se a profundidade a montante
diminuir, a velocidade de aproximação aumentará e a contracção reduzir-se-á,
modificando-se o coeficiente de vazão Cp. (Figura 27)
Figura 27: Influência da profundidade a montante no valor do coeficiente de vazão dum descarregador
de paramento vertical, correspondente a carga de definição Hd – BUREC

Na figura apresentada, vê-se que a variação do coeficiente de vazão correspondente à


carga de definição com o quociente entre a profundidade do canal de aproximação e
aquela carga.
Para vários níveis de escoamento, é possível prever o coeficiente de vazão,
relacionando-se Cw/Cp com H/Hd, sendo Cp o coeficiente de vazão para a carga de
funcionamento Hd.(Figura 28)
Figura 28: Coeficiente de vazão em função da carga de funcionamento H (H Hd) - BUREC

Tanto a Figura 27 como a Figura 28, são válidas para paramentos de montante vertical.
É possível, no entanto ter em conta os efeitos simultâneos da inclinação do paramento
de montante do descarregador e da profundidade do canal de aproximação. (Figura 29)

Figura 29: Influência no coeficiente de vazão da profundidade de aproximação (P) e da inclinação do


paramento de montante – BUREC
4.1.5. Efeito do afogamento
Apesar de ser uma situação muito pouco comum numa barragem por exemplo de aterro,
é possível o nível de jusante dum descarregador exceder a cota da crista, dizendo-se
por isso, afogado.
O afogamento exerce uma certa influência no coeficiente de vazão. Na figura seguinte
pode-se notar que para uma relação Hd/H 0.7, deixa de haver qualquer influência no
coeficiente de vazão, considerando-se que o escoamento se processa livremente.

Figura 30: Relação entre os coeficientes de vazão com e sem afogamento, em função de
hd/H (BUREC)

𝐶𝑑 𝐻𝑑
=𝑓
𝐶𝑑 𝐻
4.1.6. Contracção provocada por pilares e encontros
Quando os pilares da soleira descarregadora e os encontros causam contracção lateral
da corrente, o comprimento efectivamente disponível para o escoamento será inferior ao
comprimento útil da crista. Pode ter-se em conta o efeito da contracção, reduzindo-se o
comprimento útil da crista.
𝐿 = 𝐿 − (2𝑛 × 𝐾𝑝 + 𝐾𝑒)𝐻
em que:
L – Comprimento efectivo da crista
L’ – Comprimento útil da crista (comprimento real da crista)
n – Número de pilares
Kp – Coeficiente de contracção de pilares
Ke – Coeficiente de contracção dos encontros
H – Carga sobre a crista.
O coeficiente de contracção de pilares Kp é condicionada pela forma e localização da
cabeça dos mesmos, pela sua espessura; pela relação entre a carga de funcionamento
e a carga de definição; pela velocidade de aproximação.
Para a carga de definição Hd os coeficientes de contracção médios dos pilares, podem
ser dados por:
Em relação a forma da cabeça: Kp
Pilares quadrados ou com arestas arredondadas, de raio igual a 0.1 da 0.02
espessura do pilar
Pilares redondos 0.01

Pilares pontiagudos 0.00

O coeficiente de contracção dos encontros depende da forma dos mesmos; do ângulo


entre o eixo do escoamento e o muro-guia de montante; da relação entre a carga de
funcionamento e a carga de definição; velocidade de aproximação.
Para a carga de definição Hd, os coeficientes médios podem ser dados por:

Ke
Encontros quadrados, com muros-guia perpendiculares à direcção do 0.20
escoamento
Encontros arredondados com muros-guia perpendiculares à direcção do 0.10
escoamento e 0.5Hd  r  0.15Hd
Encontro arredondado com r  0.5Hd e com um ângulo entre o muro-guia 0.00
e a direcção do escoamento inferior a 45 o

em que r representa o raio de arredondamento.


4.2. Estruturas descarregadoras em labirinto
Os descarregadores em labirinto têm traçado poligonal, permitindo um desenvolvimento
da crista muito superior à largura dos canais nos quais estão inseridos.
Estes descarregadores podem apresentar várias formas em planta, sendo a forma
trapezoidal a mais utilizada (trapezoidal simétrica) que nos limites degenera nas formas
rectangular e triangular.
Figura 31: Soleiras descarregadoras em labirinto: formas em planta com quatro módulos; perfis da
parede da soleira descarregadora.

Os descarregadores são em geral de parede delgada e funcionam com lâminas livres. A


evitar lâminas aderentes que provocam vibrações. Os coeficientes de vazão são função
de h/p e l/w (ver Figura 32 e Figura 33)

Figura 32: Perfis de soleiras delgadas

O coeficiente de vazão pode ser calculado pela expressão:


𝑄
𝑐=
2𝑔𝑏𝐻 /

Na Figura 33 apresentam-se as curvas de variação do coeficiente de vazão sem


afogamento. Neste gráfico pode ser retirado o valor de c segundo a variação de l/w e
H/p. Na expressão os parâmetros são:
H – Carga sobre a crista
b – Largura do canal rectangular no qual está inserido o descarregador.
l – Desenvolvimento total de um módulo
w – Largura de um módulo

Figura 33: Coeficiente de vazão de soleiras em labirinto com crista de directriz trapezoidal (Magalhães,
1983).

A altura da crista descarregadora sobre o fundo “p”, é frequentemente da ordem de 3.0


m. De igual forma, é para vários exemplos a altura máxima do escoamento sobre a
soleira de 2.5 3 m. A maior obra deste tipo é do evacuadr de cheias da barragem de Ute
(USA) comp=9.14 m e Hmáx=5.79 m (MAGALHÃES, 1975)
Estes descarregadores provocam grande turbulência a jusante, no canal de descarga.
4.3. Estruturas descarregadoras para um canal colector
As estruturas descarregadoras lançam o caudal descarregado, segundo a direcção
normal à d escoamento, no canal colector, isto é, o escoamento sobre a soleira,
processa-se perpendicularmente ao sentido de chegada da água sobre a albufeira
(descarregadores laterais). Com esta disposição, pode conseguir-se uma significativa
redução da escavação necessária para implantar o canal de alimentação.
O escoamento no canal colector pode ter lugar em regime rápido ou em regime lento. É
mais corrente a segunda solução, pois no escoamento em regime rápido é difícil reduzir
o efeito de ondas oblíquas no canal colector.
Para obter o escoamento em regime lento no interior do canal colector, constrói-se um
descarregador à saída daquele que determina o nível de água a montante, ou seja, o
nível no colector na secção extrema de jusante do descarregador de alimentação.
A partir deste nível, o regolfo no canal colector é calculado pela condição de constância
da quantidade de movimento total.

Figura 34: Escoamento na soleira descarregadora e no canal colector

Assim, numa secção de canal colector a que corresponde à abcissa x do descarregador


de alimentação:

𝛾 𝑄 𝛾 𝑄
𝛾∙𝑆∙ℎ + ∙ = 𝛾 ∙ 𝑆 ∙ ℎ𝑔 + ∙
𝑔 𝑆 𝑔 𝑆

Onde a área da secção líquida S e a profundidade hg do centro de gravidade são função


de h e o índice j se refere à secção de jusante.

4.4. Estruturas descarregadoras controladas por comportas


Numa estrutura descarregadora de vazão livre, isto é, não controlada por comportas, a
passagem das cheias para jusante implica necessariamente a subida do nível na
albufeira.
O amortecimento pode ser grande ou praticamente nulo. Cresce com a relação entre o
volume armazenado (na faixa entre o nível inicial e o nível máximo atingido na albufeira)
e o volume de cheia natural até o instante em que o nível máximo é atingido.
Se a soleira descarregadora é controlada por comportas, é possível manter o nível a
montante praticamente invariável durante a cheia; nalguns casos, porém, adopta-se a
solução de admitir uma certa subida de nível para conseguir o amortecimento da cheia.
Para evidenciar a vantagem da instalação de comportas, consideram-se duas hipóteses
para a solução a prever para o evacuador de uma albufeira: sem comportas e com
comportas – suponha-se que em ambos casos não há amortecimento apreciável da
cheia na albufeira (pelo que é igual o caudal de dimensionamento) e ainda que o
evacuador, nas duas hipóteses, apresenta a crista à mesma cota e igual largura, sendo
portanto, também igual o nível máximo atingido para o caudal de dimensionamento –
Nível de Máxima Cheia – NMC.
A instalação de comportas permite ter um maior armazenamento disponível na albufeira
para a regularização do caudal, pois o NPA, neste caso, coincide praticamente com o
NMC, enquanto, no caso de vazão livre, se situa ao nível da crista.

Figura 35: Soluções de evacuador com vazão livre (a) e controlada por comportas (b)

Deve se tomar em atenção a importância da correcta operação das comportas caso


contrário no caso de ocorrência de uma cheia, pode de dar o caso de a barragem
descarregar um caudal maior do que o caudal que está a afluir.
O comando das comportas das soleiras descarregadoras dos evacuadores de cheias
deve ser conduzido com o respeito por uma condição extremamente importante:
“O caudal efluente em qualquer instante da fase ascendente de uma cheia não deve
exceder o caudal afluente.”
Se o comando é automático, o automatismo é concebido por forma a contemplar aquela
condição; se é manual, deve existir instrumentos precisos para a sua condução.
Essas construções baseiam-se essencialmente em:
 na fixação de um nível um pouco acima do nível de pleno armazenamento, NPA,
para o qual se deve atingir a plena abertura das comportas;
 no estabelecimento de certo número de escalões de abertura das comportas
correspondendo a outros tantos escalões do nível da albufeira, situados entre o
NPA e o NMC.
Nestas condições, se na posição de abertura das comportas, abertura esta
correspondente a um dado escalão, o caudal afluente excede o caudal efluente e por
consequência o nível na albufeira sobe; quando o nível atinge o valor correspondente ao
escalão seguinte, procede-se ao comando da correspondente manobra de abertura das
comportas.
Se o caudal afluente se torna inferior ao caudal efluente, o nível passa a descer e o
comando do fechamento das comportas para o escalão imediatamente inferior é
ordenado quando o nível atingir o valor correspondente a esse escalão.
As comportas mais frequentemente usados nas soleiras descarregadoras de pequenas
barragens são as comportas planas e as comportas de segmento.
As comportas planas apoiam-se lateralmente em peças fixas e alojadas em ranhuras dos
muros laterais ou pilares das soleiras. Nessas mesmas ranhuras existem peças fixas
para guiamento das comportas. (por exemplo: comporta ensecadeira da barragem dos
Pequenos Libombos).
Quanto à forma de apoio sobre as peças fixas laterais as comportas planas podem ser:
 de deslizamento (distribuído a toda altura da comporta);
 de rolamento (por meio de rodas – comportas vagão – ou por meio de rolos –
comportas de lagarta)
As comportas de deslizamento exigem maiores esforços de manobra.
As comportas de segmento têm dois braços de rotação, com os eixos a passar pelos
pilares ou pelos muros laterais. Não tem ranhuras laterais.
As comportas deste tipo têm perfis de estanqueidade, de material sintético, que se
apoiam em peças metálicas, tanto lateralmente (nas ranhuras no caso de comportas
planas) como na soleira, que têm embebido, um perfil metálico de apoio da
estanqueidade.
Os sistemas de comando e accionamento de comportas das soleiras descarregadoras
dos evacuadores de cheias requerem grande fiabilidade.
As pequenas barragens são, muitas vezes, construídas em pequenos cursos de água,
com resposta muito rápida à precipitação, pelo que o comando manual por um operador
que resida junto das barragens, apresenta alguns riscos. É assim recomendável o
comando automático.
Este comando automático pode fazer-se por meio de um sinal eléctrico emitido por um
flutuador (por vezes o sistema é ligado a dois flutuadores para reduzir o risco de
encravamento) ou por sistemas mais sofisticados, como o de bolha de ar ou ainda de
caixas deformáveis de pressão. Neste caso, o comando será em geral efectuado por
meio de guinchos ou servomotores, com necessidade de alimentação de energia
eléctrica. Dadas as avarias nas redes de distribuição de energia em períodos de
vendavais (fortes chuvadas ou ventos ciclónicos) ou mesmo ainda por sabotagens, é
recomendável um sistema de produção de energia local, de emergência.
Para o comando e o accionamento automáticos em função do nível na albufeira, utiliza-
se frequentemente, no caso de utilização de comportas de segmentos, um sistema de
contrapeso e flutuadores alojados em câmaras dos pilares ou dos muros laterais. O
accionamento das comportas não requere para este caso, fontes exteriores de energia.
O nível no interior das câmaras onde se alojam os flutuadores é função do nível da
albufeira, pois existe um sistema da ligação à albufeira (normalmente por orifícios a
vários níveis dos pilares) e um sistema de saída para jusante. A abertura das comportas
depende da posição do flutuador, variável com o nível de água na câmara.
Este sistema é sujeito a avaria, no caso de obstrução por detritos que possam entupir os
orifícios que ligam a albufeira à câmara do flutuador. Para reduzir este risco, são
colocados mais do que um orifício, a níveis diferentes que permitam os níveis de água
serem iguais dentro e fora da câmara.
Ao se fixar o número de vãos do descarregador e, portanto, do vão das comportas, deve
atender-se ao risco de colmatação dos vãos por material flutuante, em especial em
regiões de floresta.
A exploração de operação das comportas, quer seja de comando automático quer seja
manual, deve ser objecto de cuidado, não só em relação a evitar pontos de cheia a
jusante maiores do que a cheia natural, como também em relação ao funcionamento das
estruturas de dissipação de energia.
Deste ponto de vista, convém que a abertura seja, tanto quanto possível uniforme. Evita-
se assim a concentração de energia a dissipar e correntes de retorno que podem criar
flutuações de pressão susceptíveis de originar cavitação e mais frequentemente
deslocam materiais sólidos para o interior das bacias ou conchas de dissipação, cuja
movimentação produz o efeito chamado abrasão.
5. Canal de Descarga
Para o cálculo da curva de regolfo no canal de descarga de um evacuador de cheias,
admitem-se usualmente as duas hipóteses seguintes:
 A perda de carga é nula entre a albufeira e a secção inicial do canal;
 A camada limite turbulenta está totalmente desenvolvida na secção inicial do canal
(pelo que a perda de carga unitária se pode calcular pelos métodos habituais);
O perfil do canal é definido tendo em conta as condições topográficas e geológicas do
local. É constituído por trechos rectilíneos ligados por curvas de transição.
As curvas convexas devem manter pressões positivas junto da parede pelo que devem
ser mais graduais do que as trajectórias de jactos livres. A equação duma curva convexa
de transição pode ser definida por:
𝑥
−𝑦 = 𝑥 ∙ tan 𝜃 +
𝑣
𝐾∙ 4− 𝐷+ (cos 𝜃)
2𝑔
Em que:
D – Profundidade a montante
V – Velocidade a montante
𝜃 – ângulo com a horizontal do fundo do canal a montante da transição

As curvas côncavas originam o aumento da pressão junto à parede:


𝐷∙𝑣
∆𝑃 =
𝑔∙𝑅
R = Raio da curva circular
Como indicação geral, deve ser R≥10D, a não ser que imediatamente a jusante da crista
onde pode aceitar-se R=5D.
As curvas de transição e os muros do canal convergente e divergente (em planta)
originam ondas transversais oblíquas que são inconvenientes por:
 exigirem maior altura dos muros laterais para evitar galgamento;
 provocarem uma não uniforme distribuição do caudal em largura, prejudicando o
funcionamento de órgãos de dissipação de energia.
O desvio angular de uma parede provoca no escoamento rápido uma onda tal como
ilustra a figura:
Figura 36: Desvio angular da parede num escoamento rápido (MANZANARES)

Admita-se que são uniformes as distribuições da altura líquida e da velocidade a


montante da frente de onda, com valores h 1 e U1, e a jusante dela, com valores h2 e U2
(Figura 36).
Considerando componentes da velocidade normais a frente de onda e uma largura
unitária segundo esta, a equação de continuidade toma a forma:
ℎ ∙ 𝑈 ∙ sin 𝛽 = ℎ ∙ 𝑈 ∙ sin(𝛽 − 𝜎)
E o teorema de Euler (na hipótese de se anularem as componentes respeitantes ao peso
líquido e à resistência do fundo) fornece:
𝛾 𝛾 𝛾 𝛾
∙ ℎ + ∙ ℎ ∙ 𝑈 ∙ (sin 𝛽 ) = ∙ ℎ + ∙ ℎ ∙ 𝑈 ∙ (sin(𝛽 − 𝜎))
2 𝑔 2 𝑔
Uma terceira equação exprime a igualdade das componentes das velocidades segundo
a frente de onda:
𝑈 ∙ cos 𝛽 = 𝑈 ∙ cos(𝛽 − 𝜎)
O sistema das três equações anteriores permite, conhecidos h 1, U1 e β1.
Das duas primeiras equações obtém-se:

1 1 ℎ ℎ
sin 𝛽 = ∙ ∙ ( + 1)
𝐹𝑟 𝑎 ℎ ℎ

Em que Froude Fr1 é definido com as condições a montante da frente da onda.


Esta última equação reduz-se à equação das pequenas perturbações, quando h 2/h1
tende para a unidade.

a uma parede de directriz poligonal, provocando cada vértice uma frente de onda que
deixa a jusante a perturbação respectiva.
As ondas provocadas nas paredes opostas de canais combinam-se, assim como as
ondas a jusante de pilares.
O Bureau of Reclamation (BUREC) recomenda que, de acordo com resultados
experimentais, o ângulo α de desvio de muros laterais (em convergentes ou divergentes)
de canais de descarga de evacuadores de pequenas barragens, não exceda.
1
tan 𝛼 =
3𝐹𝑟
Em que Fr=n° de Froude.
Para ter em conta as irregularidades da superfície do escoamento rápido é a emulção de
ar, as paredes ou canais de descarga de evacuadores devem ter uma folga em relação
aos valores calculados. Assim, o BUREC recomenda para pequenas barragens a folga:

𝑓 = 0.61 + 0.0372 ∙ 𝑣 ∙ √𝐷
Em que
V – Velocidade (m/s)
D – Profundidade do escoamento (m)
f – Folga (m)

6. Dissipação de Energia
6.1. Considerações iniciais
A construção de uma barragem, cria desníveis entre os planos de água a montante
e a jusante, pelo que a saída de água das albufeiras, seja pelos evacuadores de cheia
e descargas de fundo, seja pelos próprios circuitos para utilização de água, implica a
perda de energia do escoamento correspondente ao desnível verificado.
Nos circuitos hidráulicos de centrais hidroeléctricas, essa energia em excesso é
transformada em energia mecânica nas turbinas, e depois em energia eléctrica nos
geradores, o que é a razão de ser exclusiva de muitas barragens. Quando não
existem turbinas, a energia em excesso é do tipo cinético em resultado da
transformação da energia potencial operada nos órgãos hidráulicos a montante. Essa
energia em excesso é dissipada por meio de turbilhões, de dimensões muito variadas.
Em muitos casos, procura-se localizar a dissipação de energia em estruturas que
dispõem de revestimentos de protecção, de forma a evitar a erosão das paredes pela
turbulência associada a dissipação. A jusante das estruturas de dissipação, o
escoamento apresenta energia residual em relação às condições naturais. Assim, a
perda unitária de energia ainda excede a perda do escoamento em regime natural,
mas vai diminuindo gradualmente à medida que o escoamento se aproxima das
condições naturais. (ver Figura 37)

Figura 37: Estrutura de dissipação de energia e linha de energia

Noutros casos, e normalmente só quando se trata de leito rochoso, a dissipação de


energia pode ter lugar no próprio leito natural, originando a escavação de uma fossa
de erosão, que não deve pôr em causa a segurança da fundação das obras ou a
estabilidade das vertentes/encostas.

6.2. Tipos de estruturas de dissipação de energia


Existem muitos tipos de estruturas de dissipação de energia, mencionando-se
somente as que mais correntemente interessam às pequenas barragens:
 Bacias de dissipação de energia por ressalto;
 Dissipadores em concha de rolo (roller bucket);
 Estruturas de dissipação por impacto;
 Estruturas de macrorugosidades;
 Estruturas de lançamento de jactos (em queda livre ou provenientes de
orifícios ou de trampolins).
O BUREC dos EUA define estruturas de dissipação de energia normalizadas,
correspondentes aos primeiros quatro tipos mencionados (Hydraulic Design of Stilling
Basins and Energy Dissipators, Engineering Monograph, n°25, BUREAU OF
RECLAMATION, 1974).
A utilização destas estruturas em pequenas barragens, quando as mesmas satisfazem
estritamente as condições definidas pelo BUREC, dispensam a realização de ensaios
hidráulicos.
6.3. Características do ressalto em canais horizontais de secção rectangular
Examinam-se alguns aspectos bem conhecidos do ressalto em canais de fundo
horizontal e secção rectangular de largura constante.
O princípio da quantidade de movimentos permite estabelecer a seguinte expressão que
relaciona D1 e D2 com igual quantidade de movimento total e designadas por alturas
conjugadas:

𝐷 𝐷 2∙𝑣 ∙𝐷
𝐷 =− + +
2 4 𝑔

D1; D2 – Profundidades (alturas) a montante e jusante respectivamente


V1 – Velocidade média a montante

Como 𝐹𝑟 = então:

=− + ÷ 2𝐹𝑟 ou

= ∙ 1 + 8𝐹𝑟 − 1

O comprimento “L” do ressalto apresenta dificuldades de determinação experimental.


Mede-se desde a secção onde se localiza à frente do ressalto até à secção
imediatamente a jusante do rolo, esto é, onde as velocidades superficiais mudam de
sentido.
Vários autores têm proposto relações entre L/D2 e Fr1, estando reduzida na parte superior
da Figura 38 a curva sugerida pelo BUREAU OF RECLAMATION dos E.U.A (BUREC).
A energia absorvida pelo ressalto EL, corresponde à diferença entre as energias
específicas a montante E1 e a jusante E2.
𝐸 =𝐸 −𝐸
Figura 38: Comprimento do ressalto em bacias I, II e III (BUREC)

𝐸 =𝐷 + ; 𝐸 =𝐷 +

É possível determinar graficamente, a relação D2/D1 em função do n° de Froude. Para


tal considera-se que o nível de água no rio a jusante, (TW), é igual à altura conjugada do
ressalto. Se TW<D2, o ressalto salta para fora da bacia de dissipação provocando
geralmente grandes erosões no leito a jusante. Quando TW=D 2, o ressalto é considerado
perfeito ocorrendo no interior da bacia de dissipação dimensionada. Para valores TW>
D2 o ressalto é afogado havendo maior dissipação de energia do escoamento, ou melhor,
a bacia dimensionada não terá dificuldades em conter o rolo, uma vez se, E 2 maior do
que no caso TW=D2, e por consequência, ser menor a energia E1, absorvida pelo
ressalto.
Figura 39: Quociente da altura de água na restituição TW por D, em função de Fr (em canais de fundo
horizontal e secção rectangular constante) – BUREC

A energia absorvida pelo ressalto é apresentada na Figura 40, em função de Fr1.


Num canal horizontal de secção rectangular constante, o ressalto pode tomar várias
formas, consoante o valor do n° de Froude na secção de montante.
Figura 40: Perda de carga no ressalto em funçao de Fr (canal horizontal de secção rectangular
constante) – BUREC

Designa-se uma bacia de dissipação nas condições mencionadas, por Bacia Tipo I ou
Bacia II (segundo designação do BUREC).
Neste tipo de bacias em que não existe qualquer estrutura própria para dissipação de
energia (o ressalto processa-se naturalmente) as formas do ressalto poderão ser as
seguintes (Figura 41):
Figura 41: Formas do ressalto em Bacias I (BUREC)

D1 e D2 é pequena, notando-se apenas uma ligeira irregularidade da superfície livre da


água.
Para Fr=1.7, pequenas ondulações surgem na superfície que acentuam à medida que
Fr1 aumenta. Estas pequenas ondulações vão aparecendo até Fr1=2.5. Neste intervalo,
a perda de energia do escoamento é de cerca de 20% de E 1.
No intervalo entre 2.5<Fr1≤4.5, o jacto oscila entre o fundo e a superfície, produzindo-se
uma grande onde de período irregular, que se pode manifestar quilómetros para a
jusante causando danos em bermas de terra e em enrocamentos de protecção.
Quando Fr1 está entre 4.5<Fr1≤9 o ressalto é estável e a extremidade de jusante do rolo
situa-se numa mesma secção transversal. A perda de energia é de 45% a 75% de E 1.
Sempre que Fr1>9.0, porções de água do rolo vão atingir intermitentemente a superfície
do jacto a jusante, causando irregularidade da superfície. O ressalto torna-se mais
sensível a variações do nível a jusante (TW).

6.4. Bacias do tipo II do BUREC


As bacias de dissipação são geralmente projectadas para conter o ressalto. É possível
diminuir o comprimento deste em relação ao que ocorre em canais horizontais de secção
rectangular (Bacia I) recorrendo a acessórios nas bacias, tais como soleira e blocos.
A bacia tipo II do BUREC (Bacia II) é de emprego normalizado e dispõe de blocos de
queda a montante (na ligação do canal inclinado à bacia) e de soleira dentada no extremo
de jusante.
Ensaios de modelo

Figura 42: Proporções recomendadas para Bacias II (BUREC, Peterka 1984)

A função dos blocos de queda é dividir a lâmina líquida em jactos diferenciados, sendo
desviados do fundo os que passam sobre os blocos. Cria-se assim, um grande número
de turbilhões dissipadores de energia.
A acção destes permite reduzir o comprimento da bacia e diminuir a tendência para o
ressalto se deslocar para jusante, caso se verificarem níveis a jusante inferiores aos que
correspondem a D2.
A soleira dentada no extremo de jusante cria turbilhões que tendem a estabilizar o fundo
a jusante, ainda que constituído por elementos móveis.
As dimensões e disposição dos blocos de queda e da soleira dentada e o comprimento
da bacia podem obter-se da Figura 38 e Figura 42.
O comportamento da bacia não é influenciado pelo declive do canal a montante, sendo
recomendável, quando aquele declive é igual ou superior a 1 (α≥45°), uma concordância
circular de raio R≥4D1, na ligação do canal à bacia.
A altura a jusante (TW) deve, tal como já foi referenciado, ser pelo menos igual à altura
conjugada D2, sendo recomendável uma margem de segurança de 5% de D2. A linha da
Figura 44 com a indicação Mínimo de TW para Bacias II corresponde à situação limite a
partir da qual a frente do ressalto se desloca para jusante dos blocos de queda, tendendo
o ressalto a ultrapassar a bacia.
O perfil superficial da água no interior da bacia II (médio no tempo) pode ser calculado
em conformidade com as indicações da Figura 43.
Deve notar-se que as pressões correspondentes às alturas de água assim determinadas,
são pressões médias no tempo, verificando-se flutuações de pressão devidas à
turbulência.
Figura 43: Perfil superficial médio (aproximado) em Bacias II (BUREC)

Figura 44: Alturas de água a jusante, TW, em Bacias I, II e III (BUREC)


6.5. Bacias do tipo III do BUREC
As bacias tipo III do BUREAU OF RECLAMATION (Bacia III) são dotadas de blocos de
queda, blocos de amortecimento e ainda de uma soleira a jusante (Figura 45).

Figura 45: Proporções recomendadas para Bacias III (BUREC)

Os blocos de amortecimento recebem o impacto do escoamento, criando grandes


turbilhões que dissipam a energia e originam flutuações de pressão muito importantes.
Essas flutuações de pressão, no caso de velocidades elevadas a montante, provocam
cavitação que, por sua vez, dá lugar à erosão nos blocos de amortecimento e no fundo
da bacia.
Geralmente, o emprego deste tipo de bacias é limitado a:
 Valores de velocidade à entrada: V1 ≤ 15 a 18 m/s
 Caudal por unidade de largura: q ≤ 18 m3/s.m
A finalidade da soleira de jusante é dirigir as correntes do fundo para o alto, afastando-
as do fundo, à saída da bacia.
A altura dos blocos de amortecimento e da soleira de jusante pode ser retirada da Figura
46.
Figura 46: Altura dos blocos de amortecimento e da soleira de jusante em Bacias III (BUREC)

O comprimento da bacia III é de carga de 2/3 d comprimento da bacia II tal como se


deduz da Figura 38.
Como no caso da Bacia II, é recomendado que a altura a jusante, TW, seja a altura
conjugada D2, pois que lhe corresponde o melhor comportamento da bacia. Para
menores valores de TW, verificam-se mais elevadas velocidades superficiais à saída da
bacia. A linha da Figura 44 com a indicação de Mínimo de TW para Bacias III representa
o início da deslocação da frente de ressalto para jusante dos blocos de queda.

Figura 47: Perfil superficial médio (aproximado) em Bacias III (BUREC)

O perfil superficial médio das águas pode ser obtido da Figura 47. Concordâncias
circulares entre o canal e a bacia são recomendadas nas mesmas condições que para
as Bacias II.
É indesejável arredondar as arestas, quer dos blocos de queda e de amortecimento, quer
da soleira de jusante. O emprego de blocos de amortecimento de formas hidrodinâmicas
traduzir-se-ia por uma perda de eficiência de 50%. Podem, no entanto, ser usados
chanfros nas arestas evitando a sua deterioração.
Estudos efectuados concluem que a colocação em posição alternada em planta de
blocos de queda e amortecimento não melhora o comportamento da bacia em termos de
dissipação de energia.

6.6. Bacias do tipo IV do BUREC


As bacias tipo IV do BUREAU OF RECLAMATION (Bacias IV) são utilizados para valores
de Fr1 entre os 2.5 e 4.5 para quais o jacto que pentre no ressalto em Bacias I oscila
intermitente do fundo para a superfície (ver Figura 41 - B). Esta oscilação origina uma
onda que é difícil amortecer e que se pode propagar quilómetros para jusante. Ao
encontrar obstáculos, a onda pode ser amortecida ou amplificada e danificar canais de
terra e protecção de enrocamento.
As bacias IV podem ser utilizadas sem haver necessidade de efectuar ensaios
hidráulicos sempre que o n° de Froude se situa entre os 2.5 e 4.5, sendo a carga H < 15
m. Caso H > 15 m torna-se imperativa a realização de ensaios hidráulicos.
As dimensões dos blocos de queda que têm a finalidade de fortalecer o rolo e estabilizar
o ressalto estão indicados na Figura 48.

Figura 48: Proporções recomendadas para Bacias IV (BUREC)

 Largura máxima dos blocos igual a h1 (geralmente esta largura funciona bem para
valores iguais a 0.75h1).
 Espaçamento entre blocos igual a 2.5 vezes a largura
 Recomenda-se que a altura a jusante TW seja superior em 5 a 10% a altura
conjugada D2
 O comprimento da bacia e dado pela curva superior da Figura 38.
6.7. Bacias de dissipação de energia com muros divergentes em planta e secção
rectangular
A relação entre as alturas conjugadas, D1 e D2 e o n° de Froude a montante, Fr1, em
bacias de dissipação de energia com muros divergentes em planta e secção rectangular,
pode ser estabelecida coim base no princípio da quantidade de movimento. Em relação
às bacias de secção rectangular de largura constante, há a contar adicionalmente com
a componente axial das forças de pressão sobre os muros laterais (no caso do fundo
não horizontal haveria ainda a considerar a componente correspondente).
Considerando, para além das hipóteses habituais, qua linha de alturas piezométricas
sobre o fundo é um segmento de recta, PADERI em 1966, obteve expressões que
permitem calcular a altura conjugada de jusante (D2 e o comprimento do ressalto (X2-X1)
a partir das características do escoamento na secção inicial, para o caso de o fundo ser
horizontal (Figura 49). No LNEC foram realizados ensaios que confirmaram as
expressões de PADERI.

Figura 49: Geometria de bacias de dissipação com muros divergentes em planta, fundo horizontal e
secção rectangular (Magalhães, 1979)

Tanto em relação entre alturas conjugadas do ressalto (D2/D1) como a relação entre o
comprimento do ressalto e D1 (L/D1) podem ser expressas em função de Fr1 e de D1/X1
(ver Figura 50 e Figura 52).
No LNEC foram também comparadas as erosões em modelos de fundo móvel a jusante
das bacias clássicas e de bacias deste tipo tendo-se concluído que, para a mesma
profundidade de erosão, estas últimas exigiam uma área de superfície revestida (fundo
e paredes laterais) não superior a 0.70 da correspondente área para as primeiras.
As bacias de muros divergentes, apresentam um perfil superficial para jusante quase
horizontal, quando o ressalto é um pouco submerso (ver Figura 51) o que se traduz em
vantagem do ponto de vista estrutural, em face da acção desestabilizadora de
subpressão.

Figura 50: Alturas conjugadas do ressalto em bacias de dissipação com muros divergentes (Magalhães,
1979)

Ainda não se dispõe de informação que permita projectar sem o recurso ao estudo em
modelo, bacias deste tipo, mas dotadas de acessórios tais como blocos de queda e de
impacto e soleira a jusante, que permitiriam reduzir as dimensões das bacias.
Figura 51: Perfil superficial em bacias de muros paralelos e de muros divergentes (LEMOS, 1983)

Figura 52: Comprimento do ressalto em bacias com muros divergentes - F1 de 4 a 10 (Magalhães, 1979)

6.8. Bacias de dissipação por impacto do BUREC


A bacia de dissipação por impacto consiste numa estrutura em forma de caixa e não
apresenta exigências de nível na restituição para o funcionamento em condições
desejáveis.
Ela é definida para ser utilizada à saída de condutas (descargas de fundo circulares)
podendo ser adaptada à saída de canais.
Só deve ser utilizada para velocidades na conduta inferiores a 9 m/s.
Utiliza como elemento de impacto, uma laje em forma de L invertido. A veia líquida incide
directamente na parte vertical desse elemento e é desviada para a jusante pela parte
vertical, superior do mesmo elemento e pelo fundo da bacia.
Embora não apresente exigências de nível a jusante, o funcionamento melhora com a
água a um nível um pouco superior ao nível do bordo de saída da caixa. O nível a jusante
não se deve exceder o da face inferior da laje horizontal do elemento de impacto, para
que o escoamento não galgue esse elemento.

Figura 53: Bacia de dissipação por impacto. Proporções e largura em função do caudal (BUREC)

A largura da bacia é definida a partir do caudal de dimensionamento tal como mostra


a Figura 53, onde estão representadas as dimensões principais da bacia, dadas pela
Tabela 2:
Tabela 2: Tabela de dimensões de bacias de impacto (BUREC)

6.9. Dissipador em concha de rolo com ou sem dentes do BUREC


O BUREC fornece indicações para o projecto de dissipadores em concha de rolo, com
ou sem dentes, sendo dispensáveis ensaios hidráulicos, excepto se se verificar uma das
seguintes condições:
 Funcionamento prolongado com caudais próximos do caudal de
dimensionamento;
 Velocidade à entrada da concha superior a 22 m/s;
 Possível existência de correntes de retorno à saída da concha;
 Ondas a jusante podem causar problemas de funcionamento;
Figura 54: Proporções de dissipadores em concha de rolo, sem (a) e com dentes (b) (BUREC)

As proporções de dissipadores estão apresentadas na Figura 54.


Se não existirem dentes, toda a corrente é dirigida para o alto à saída do lábio da concha,
criando um cachão (boil) na superfície da água e um rolo violento no fundo, a jusante.
A violência do cachão e do rolo de fundo dependem do nível de jusante, sendo maior
para níveis baixos.
O rolo desloca o material de fundo de jusante e deposita-o junto do lábio, donde é
sucessivamente captado pela corrente, transportado para jusante e depositado,
originando um movimento constante.
A entrada da água no dissipador em condições assimétricas, provoca a penetração de
material sólido na concha, o que tem o inconveniente de originar abrasão.

Figura 55: Funcionamento de dissipadores em concha de rolo, sem e com dentes (BUREC)

Se a concha dispõe de dentes, parte da corrente passa sobre os dentes. A corrente é


dispersada, ocorrendo menor concentração de escoamento. O material sólido que
penetre na concha é impelido para jusante.
Figura 56: Influência do nível na restituição no funcionamento da dissipação em concha de rolo, supondo
o caudal constante (BUREC)

A Figura 56 ilustra a influência do nível de restituição no funcionamento do dissipador


(supondo o caudal constante e o nível de restituição a variar).
Para um nível suficientemente baixo, o rolo move-se para jusante da concha (Figura 56-
A)
O esquema de escoamento em condições normais de funcionamento corresponde ao
nível a jusante situado entre duas alturas limites. TW máx e TWmin, e está indicado na
Figura 56-B.
Para níveis acima do máximo, verifica-se inicialmente ima configuração em que a veia
líquida mergulha a jusante do lábio, provocando erosão do fundo (Figura 56-C). Quando
a erosão progride, forma-se um turbilhão e a veia deixa de ser mergulhante repondo
material sólido a jusante da concha (Figura 56-D).
Verifica-se um ciclo das duas configurações.
Figura 57: Determinação do raio mínimo de conchas (BUREC)

O raio mínimo da concha Rmin ( que conduz às menores dimensões) pode ser obtido a
partir da Figura 57 onde o parâmetro adimensional R/(D1+V12/2g) é dado em função de
Fr1. A secção de montante para o cálculo de D1 e V1 é a que corresponde à altura na
restituição TW (Figura 58)

Figura 58: Notações para o dimensionamento do dissipador em concha de rolo (BUREC)

As Figura 60 e Figura 61 contém indicações para o cálculo da altura máxima e mínima


na restituição TWmáx e TWmin, no intervalo dos quais o dissipador funciona em condições
desejáveis.
A Figura 62 fornece indicações para obter o perfil superficial unicamente para
dissipadores em concha com dentes.
O dissipador em concha de rolo tem dimensões inferiores às das bacias de dissipação,
mas exige ser implantado a maior profundidade.

6.10. Rampa de dissipação com blocos, do BUREC


Rampas de dissipação de energia com blocos têm sido largamente utilizadas desde há
muito, sobretudo em obras de rega ou de drenagem de águas pluviais. O BUREC define
estas estruturas e as condições de utilização.

Figura 59: Determinação de Rmax em dissipadores em concha de rolo (BUREC)

Indica-se a definição e as dimensões dos blocos destas rampas para declives no


intervalo de 1:2 a 1:4, dispondo-se na publicação original do BUREC de indicações para
declives mais suaves.
O caudal de dimensionamento (caudal máximo a escoar por unidade de largura não deve
ultrapassar a 5.6 m3/s.m verificando-se condições menos severas na base da rampa.

Figura 60: Altura de Restituição (jusante) Mínima


Figura 61: Altura Restituição (jusante) Máxima
Figura 62: Perfil da superfície líquida em dissipadores em concha com dentes

Você também pode gostar