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De forma gradual, fazer parte de uma classe específica passou a ser algo
hereditário. A transição definitiva para a nova organização social era a
institucionalização da escravidão.
QUATRO
A MULHER ESCRAVA
F
da escravidão são escassas,
Pode ser significativo que escravos homens apareçam não apenas mais
tarde, como também em menor quantidade do que escravas mulheres. [...] É
provável que os meios para a detenção e o emprego eficaz de escravos
homens ainda não houvessem sido providenciados, então eles costumavam
ser mortos. [ 159 ]
Orlando Patterson descreveu alguns dos meios pelos quais pessoas livres
eram transformadas em escravos:
consensuais dos escravos eram obrigadas a ceder aos apelos sexuais de seus
senhores; escravos não tinham custódia ou direitos sobre os filhos, e os
filhos não herdavam direitos nem tinham nenhum dever para com os pais. [
162 ]
nem poder sobre seus filhos. Mulheres não têm “honra”. O conceito de que
a honra de uma mulher está em sua virgindade e em sua fidelidade sexual
ao marido ainda não havia sido plenamente desenvolvido no segundo
milênio a.C. Defendo que a escravização sexual de mulheres prisioneiras
foi, na realidade, um passo no desenvolvimento e na elaboração das
instituições patriarcais, como o casamento patriarcal e sua contínua
ideologia de colocar a “honra”
A Ilíada, poema escrito no oitavo século a.C., reflete uma situação social
existente na Grécia em cerca de 1200 a.C. [ 175 ] No Livro I da
[...] Mas tomarei Briseida, de belo rosto, sua presa, eu mesmo indo até seu
refúgio, e você verá quanto eu sou melhor do que você, e outro homem
pode recuar de se comparar a mim e competir comigo. [ 176 ]
Após Agamenon levar a cabo sua ameaça e tomar Briseida à força, o que
faz Aquiles se isolar em sua tenda e se retirar da batalha, o rei não a toca.
Na verdade, ele não a queria; desejava apenas ganhar a disputa com Aquiles
– um belo exemplo de reificação de mulheres.
[...] que eu nunca me deitei com ela como é natural de seres humanos, entre
homens e mulheres. [ 177 ]
[...] e uma mulher se deita ao lado dele, alguém que ele havia tirado de
Lesbos, filha de Forbas, Diomeda, de face rosada. No lado oposto, Pátroclo
se deitava com outra garota, Ífis, de bela cintura, que o brilhante Aquiles
lhe havia dado quando tomou Esquiro, refúgio de Enieu. [ 180 ]
Com mais exatidão, havia escravas mulheres, pois guerras e invasões eram
as maiores fontes de fornecimento, e quase não havia motivo, econômico ou
moral, para poupar a vida dos homens derrotados. Como regra, os heróis
matavam os homens e levavam as mulheres, independentemente da posição.
[
183 ]
A prática não estava restrita aos gregos e romanos. Sobre tribos germânicas
no Império Romano, aproximadamente no século II d.C., E. A. Thompson
escreve:
Alguns povos germânicos matavam seus prisioneiros, ou, fosse como fosse,
os prisioneiros homens adultos após uma campanha [...]. Agora é uma
prática bastante comum entre os povos primitivos matar os guerreiros de
um inimigo derrotado e escravizar as mulheres e seus filhos. Mas essa
prática é comum apenas nos estágios mais baixos de desenvolvimento da
agricultura. Nos estágios mais avançados, a frequência do costume cai de
modo drástico, enquanto ocorre um aumento igualmente drástico na prática
de escravizar guerreiros capturados. [ 187 ]
É óbvio que a dominância praticada a princípio sobre mulheres do próprio
grupo foi transferida com mais facilidade a mulheres capturadas do que a
homens nessa mesma situação. [ 188 ]
predispuseram homens a
No caso da mulher escrava, o senhor tinha direito não apenas sobre seu
trabalho, mas sobre seu corpo. Ele ou um membro da família podia
conviver livremente com ela sem assumir a menor obrigação. [ 193 ]
pelos homens
O pai tinha o poder de vida e morte sobre seus filhos. [ 199 ] Tinha o poder
de cometer infanticídio por abandono ou desamparo. Podia dar as filhas em
casamento em troca de um preço para a noiva, mesmo durante sua infância,
ou designá-las a uma vida de celibato a serviço do templo. Podia arranjar
casamentos para filhos de ambos os sexos. Um homem podia penhorar sua
esposa, suas concubinas e seus filhos como garantia por uma dívida sua; se
não conseguisse pagá-la, essas “garantias” se tornariam escravos por dívida.
Esse poder vinha do conceito de que todo o grupo de
Nesse caso, que diz respeito a escravos (servos), a punição parece ser
equivalente para parentes homens ou mulheres.
homem poderia ser descartado por um delito do pai, e que os filhos tinham
ainda menos direitos do que as garantias de dívida. O fato de não haver
menção de penalidades no caso de maus-tratos a mulheres que eram
garantias de dívida pode indicar que maltratá-las era algo visto com mais
tranquilidade. Por outro lado, o Código de Hamurabi (CH § 117) na verdade
representa uma melhora na condição de escravos por dívida ao limitar os
serviços da esposa e dos filhos de um devedor a três anos, período após o
qual seriam libertados. Antes eles podiam ser mantidos por toda a vida. O
CH §
119 especificava que um homem que oferecesse como garantia de dívida
sua escrava-concubina, que fosse mãe de filhos dele, mesmo em venda
direta, tinha o direito de resgatá-la do novo comprador se reembolsasse o
valor da compra. [ 205 ] Embora essas disposições tenham representado
certa melhora na sina de mulheres oferecidas como garantia de dívidas, na
verdade, elas protegiam os direitos dos maridos (devedores) em oposição
aos direitos dos credores.
Sarai, envelhecendo sem filhos, implora a Abrão para que tenha relações
sexuais com sua criada Agar:
E Sarai disse a Abrão: “Eis que o Senhor me impede de ter filhos; suplico
que vá até minha criada; pode ser que eu tenha filhos através dela”. E Abrão
ouviu a voz de Sarai. [ 207 ]
Eis minha criada Bila, vá até ela; que ela possa ter filhos sobre meus joelhos
e que eu também tenha filhos através dela. [ 208 ]
209 ] Quando enfim “Deus a ouviu e abriu seu ventre”, ela disse:
escravas”. Se ela não tiver tido filhos, a senhora pode vendê-la. [ 212
213 ]
215 ]
Uma palavra posterior para “escravo”, em uso após o segundo século a.C.,
era nu, cujos símbolos eram “mão” e “mulher”.
Pulleyblank observa:
S. I. Feigin conclui:
Vamos por fim, mais uma vez, recorrer à literatura para uma explicação
metafórica do significado desse desenvolvimento histórico.
Em uma disputa feroz, ele mata todos os pretendentes no pátio de sua casa e
manda buscar a escrava Euricleia. Antes, ficamos
sabendo que Euricleia havia sido comprada “bem jovem” por Laertes, pai
de Ulisses, pelo “preço de 20 bois”:
Euricleia diz:
Aqui o poeta nos oferece uma cena doméstica metafórica das relações entre
os sexos no patriarcado. Foi reencenada na China imperial, nas
rudimentares comunidades gregas e turcas, de tempos antigos até o século
XX, e na vitimação contemporânea dos filhos ilegítimos de mulheres
vietnamitas e coreanas com soldados norte-americanos. Também foi
reencenada na expulsão indiscriminada, pela própria família, de mulheres
de Bangladesh estupradas por soldados paquistaneses invasores.
CINCO
A ESPOSA E A CONCUBINA