Você está na página 1de 23

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DO TRABALHO DA VARA


DO TRABALHO DE CAMPO GRANDE (MS)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, TRABALHO por


intermédio do Procurador do Trabalho que esta subscreve, vem à
presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 129, III, da
Constituição da República, c/c arts. 5º, I e III, e 83, III, da Lei
Complementar nº 75/93 e na Lei nº 7.347/85, com os acréscimos
introduzidos pela Lei nº 8.078/90, promover a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face de JOCKEY CLUB DE CAMPO GRANDE


(HIPÓDROMO AGUIAR PEREIRA DE SOUZA), SOUZA) CNPJ n. 15.923.089/0001-
35, pessoa jurídica de direito privado, situado na Avenida Delegado
Alfredo Hardman, s/n, BR 163, Km 5, Bairro Jardim Paulo Coelho Machado,
CEP n. 79.072-445, em Campo Grande (MS), com escritório localizado na
Rua 15 de Novembro, n. 230, Centro, CEP n. 79.002-140, em Campo
Grande (MS), pelos fatos e fundamentos de direito abaixo expostos:

1
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

I - DOS FATOS
Em face de denúncia sigilosa formulada, no dia
02.12.2010, por via telefônica (0800-647-5566), dando conta da
existência de menores de idade, entre 14 (catorze) e 17 (dezessete) anos,
ativando-se, dentre outros serviços, na limpeza dos cavalos dentro das
dependências do demandado, instaurou-se nesta Procuradoria Regional
do Trabalho a Representação n. 618.2010.24.000/0, cuja cópia integral
segue em anexo.

A denúncia, reduzida a termo, está encartada à f. 3 da


representação citada1.

Requisitou-se, então, inspeção fiscal à


Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE/MS (f. 7-9).

Em resposta (f. 12-14), protocolizada nesta Regional


em 25.01.2011, a Fiscalização do Trabalho relatou que inspecionou o réu
nos dias 6 e 7 de janeiro do corrente ano, constatando o trabalho de 10
(dez) adolescentes entre 12 (doze) e 17 (dezessete) anos, em atividade
insalubre constante na lista das piores forma de trabalho infantil – item 7
do Decreto n. 6.481/2008, que regulamenta a Convenção n. 182 da
Organização Internacional do Trabalho –, qual seja, o trabalho em
estábulos, currais, sem condições adequadas de higienização.

Ainda segundo o relatório de fiscalização, alguns dos


adolescentes encontrados pernoitavam no local, em alojamento precário,
sem as mínimas condições de higiene, dividindo-o com outros dois jovens
de 18 (dezoito) e 20 (vinte) anos. Os adolescentes não possuíam qualquer
documento legal dos pais ou responsáveis autorizando-os a pernoitarem
no local do serviço.

Foram lavrados durante a ação fiscal 2 (dois) autos de


infração, a saber:
- Auto de Infração n. 018189580 (f. 16): Manter em
serviço trabalhador com idade inferior a 16 (dezesseis) anos (art. 403,
caput, da CLT).

Histórico: “O empregador acima qualificado mantém


trabalhadores em estábulos, no cuidado de baias e cavalos, além de

1 Doravante, todas as indicações contendo numeração de folhas corresponderão à Representação n.


618.2010.24.000/0, que se encontra anexa a esta petição.

2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

montaria, os adolescentes: 1) Gabriel Rodrigues, 13 anos, 2) Alexsandro


Rodrigues, 14 anos, 3) André Luis Correia da Silva, 14 anos, 4) Cristian
Breno Coutinho Bitencourt, 12 anos, 5) Lawender Polssan, 13 anos, 6)
Diego Peixoto da Silva, 14 anos, 7) Tainâ Oliveira dos Santos, 13 anos,
contrariando, dessa forma, as normas de proteção a crianças e
adolescentes”.
- Auto de Infração n. 018189563 (f. 17): Manter
empregado com idade inferior a 18 (dezoito) anos em atividade nos locais
e serviços insalubres ou perigosos, conforme regulamento (art. 405, inciso
I, da CLT e item 7 do Decreto n. 6.481 de 12.06.2008).

Histórico: “O empregador acima qualificado mantém


trabalhando em estábulos, no cuidado de baias e cavalos, além de
montaria, os adolescentes: 1) Gabriel Rodrigues, 13 anos, 2) Alexsandro
Rodrigues, 14 anos, 3) André Luis Correia da Silva, 14 anos, 4) Cristian
Breno Coutinho Bitencourt, 12 anos, 5) Lawender Polssan, 13 anos, 6)
Diego Peixoto da Silva, 14 anos, 7) Tainâ Oliveira dos Santos, 13 anos, 8)
Luck Maike Lopes Domingos , 17 anos, 9) Isaque Ismael de Sousa, 17
anos, contrariando, dessa forma, as normas de proteção a crianças e
adolescentes”.

Também durante a ação fiscal, foi expedido Termo de


Afastamento do Trabalho dos 9 (nove) menores relacionados no AI n.
018189563 e também do menor Matheus Aguilera (17) anos,
determinando o imediato afastamento deles e, no prazo de 8 (oito) dias, a
quitação dos direitos trabalhistas oriundos da prestação de serviços,
incluindo os valores correspondentes ao FGTS, independentemente da
natureza do trabalho desenvolvido (f. 15).
Ademais, estão em anexo as fichas de verificação
física dos adolescente (f. 18-26). Delas se podem extrair algumas
informações reveladoras, a saber:
– todos os menores, sem exceção, desenvolviam
serviços insalubres e penosos e realizavam refeições no ambiente de
trabalho (f. 18-26);
– o menor Gabriel Rodrigues informou que não
está matriculado em nenhuma escola para 2011 e que não sabe qual a
remuneração que ia auferir com seu trabalho (f. 18);

3
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

– todos os outros menores, à exceção de Gabriel


Rodrigues, recebem R$ 300,00 (trezentos reais) mensais a título de
remuneração, valor muito aquém do salário-mínimo (f. 19-26);

– o menor Tainâ Oliveira dos Santos, em algumas


ocasiões, pernoita no alojamento (f. 20) e o menor Cristian Breno
Coutinho Bittencourt mora no alojamento, eis que sua família reside em
Terenos (MS) (f. 26).

Ao término da documentação que acompanha o


relatório de fiscalização, constam 2 (duas) fotos retratando a calamitosa
situação em que se encontram o dormitório e a cozinha desses pequenos
trabalhadores, locais sujos, apertados, desorganizados e com amontoados
de pertences (f. 27-28).

Estando devidamente comprovado que o demandado


se valeu ilegalmente do trabalho desenvolvido por menores de 18
(dezoito) anos de idade, com idade a partir dos 12 (doze) anos, inclusive
em atividades insalubres e sem o adimplemento dos direitos trabalhistas
mais comezinhos, além de não propiciar as condições mínimas de
conforto e de higiene nos locais de trabalho, o ajuizamento da presente
ação civil pública é medida que se impõe.

II – DO DIREITO
II.1. Trabalho de menor
No plano internacional, a Convenção n. 182 da
Organização Internacional do Trabalho cuidou de tratar da vedação de
trabalho aos menores de idade. No artigo 3º da aludida convenção, tem-
se a seguinte disposição:
Artigo 3º
Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas
de trabalho infantil compreende:
(a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à
escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujeição por
dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive
recrutamento forçado ou obrigatório de crianças para
serem utilizadas em conflitos armados;
(b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de
prostituição, produção pornografia ou atuações
pornográficas;

4
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

(c) utilização, recrutamento e oferta de criança para


atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico
de entorpecentes conforme definidos nos tratados
internacionais pertinentes;
(d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias
em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a
saúde, a segurança e a moral da criança.

O Decreto n. 6.481, de 12 de junho de 2008, por sua


vez, que regulamenta a alínea d do art. 3º da já citada Convenção da OIT
e que trata da proibição das piores formas de trabalho infantil, em seu
Anexo, prevê a lista das piores formas de trabalho infantil, a conhecida
LISTA TIP.

Nessa lista, mais especificamente no item 7 da Parte I,


a qual se refere aos trabalhos prejudiciais à saúde e à segurança, há
expressa menção aos trabalhos realizados em estábulos, cavalariças,
currais, estrebarias ou pocilgas, veja-se:

LISTA DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO


INFANTIL (LISTA TIP)
I. Trabalhos prejudiciais à saúde e à segurança

Atividade: Agricultura, Pecuária, Silvicultura e


Exploração Florestal

Ite Descrição dos Prováveis Riscos Prováveis Repercussões


m trabalhos Ocupacionais à Saúde
(...) (...) (…) (...)
7 Em estábulos, Acidentes com Afecções músculo-
cavalariças, currais, animais e contato esqueléticas(bursites,
estrebarias ou permanente com tendinites, dorsalgias,
pocilgas, sem vírus, bactérias, sinovites, tenossinovites);
condições adequadas parasitas, bacilos e contusões; tuberculose;
de higienização fungos carbúnculo; brucelose;
leptospirose; tétano;
psitacose; dengue;
hepatites virais;
dermatofitoses;
candidíases; leishmanioses
cutâneas e cutâneo-
mucosas e blastomicoses

5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

O Poder Constituinte Originário, fruto da vontade da


sociedade brasileira contemporânea, tratou de proteger os direitos da
criança e do adolescente com “absoluta prioridade”. Esta louvável
expressão, a qual denota a magnitude da importância da proteção às
pessoas de tenra idade, somente foi reproduzida no caput do art. 227 da
Constituição Federal, textualmente:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

No capítulo dos Direitos Sociais, mais precisamente no


inciso XXXIII do art. 7º, a Constituição Federal estabelece a idade mínima
para admitir-se trabalhadores, inclusive regulando a idade mínima dos
aprendizes, bem como proíbe qualquer tipo de trabalho noturno, perigoso
ou insalubre aos menores, textualmente:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,
além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
(...)
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre
a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos;

A legislação infraconstitucional, por sua vez, também


proscreve a possibilidade de trabalho para menor de 16 (dezesseis) anos,
salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 (catorze) anos, e de
trabalho noturno para os maiores de 16 e menores de 18 anos, bem
como, ainda, proíbe o trabalho do menor que possa prejudicar a
frequência à escola ou em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
desenvolvimento físico.

Eis os arts. 403 e 404 da CLT, in verbis:


Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a
partir dos quatorze anos.

6
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser


realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em
horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Art. 404 - Ao menor de 18 (dezoito) anos é vedado o


trabalho noturno, considerado este o que for executado no
período compreendido entre as 22 (vinte e duas) e as 5
(cinco) horas.

Verifica-se, portanto, que o réu desrespeita norma


constitucional e infralegal, porquanto se vale dos préstimos de
adolescentes de 12, 13, 14, e 17 anos para trabalharem nos estábulos, no
cuidado de baias e cavalos, além de montaria, atividades
reconhecidamente insalubres, pois expõem a riscos à integridade física
das crianças e dos adolescentes.

Além do que não se pode olvidar que a remuneração


paga a esses trabalhadores girava em torno de R$ 300,00 (trezentos
reais) por mês, valor muito aquém do mínimo legal.

Portanto, requer o Ministério Público do Trabalho a


condenação do réu na obrigação de não-fazer, consistente em abster-se
de utilizar mão-de-obra de trabalhador menor de 18 (dezoito) anos – seja
como empregado, eventual, autônomo, avulso ou qualquer tipo de
trabalho – salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 (catorze) anos,
desde que preenchidos os requisitos legais do contrato de aprendizagem,
nos termos do inciso XXXIII do art. 7º da CF, do caput do art. 403, do art.
404 e do art. 428, todos da CLT, e da Convenção n. 182 da OIT,
promulgada pelo Decreto n. 3.597/2000 e demais legislação internacional
e nacional correlatas.

Requer, ainda, a condenação do réu na obrigação de


não-fazer, consistente em abster-se de utilizar mão-de-obra de
trabalhador maior de 16 (dezesseis) anos e menor de 18 (dezoito) anos –
seja como empregado, eventual, autônomo, avulso ou qualquer outro tipo
de trabalho – em trabalho noturno (das 22h às 5h), perigoso, penoso,
insalubre ou qualquer outro prejudicial ao seu desenvolvimento físico,
mental e social, notadamente aquele relacionado com o labor em
estábulos, no cuidado de baias e cavalos, montaria e/ou qualquer outro
constante na Lista TIP, e, ainda, em horários e locais que não permitam

7
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

e/ou prejudiquem o desempenho escolar, sendo-lhe garantido o


recebimento de, pelo menos, um salário-mínimo mensal, nos termos do
inciso IV e do inciso XXXIII, ambos do art. 7º da CF, do caput do art. 404,
do art. 405, ambos da CLT, da Convenção n. 182 da OIT, promulgada pelo
Decreto n. 3.597/2000, do Decreto n. 6.481/2008 e demais legislação
internacional e nacional correlatas.

Pede ainda condenação na obrigação de fazer,


consistente em, quando contratar trabalhadores, o faça nos termos da
legislação trabalhista, previdenciária e de meio ambiente do trabalho.

Em todos os casos acima, requer cominação de


astreinte no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração
verificada e por trabalhador prejudicado, a ser revertida ao Fundo de
Amparo ao Trabalhador – FAT –, sem prejuízo de se conferir
preferencialmente outra destinação social em favor da coletividade, com
a concordância do juízo e do MPT, em sede de execução.

II.2. Norma Regulamentadora n. 24 do Ministério


do Trabalho e Emprego

A Norma Regulamentadora n. 24 do Ministério do


Trabalho e Emprego trata das condições sanitárias e de conforto nos
locais de trabalho.

Os subitens dos itens 24.5 e 24.6 tratam,


respectivamente, das condições relativas aos alojamentos e às cozinhas,
textualmente:
24.5. Alojamento.
24.5.1. Conceituação.
24.5.1.1. Alojamento é o local destinado ao repouso dos
operários.
24.5.2. Características gerais.
24.5.2.1. A capacidade máxima de cada dormitório será de
100 (cem) operários.
24.5.2.2. Os dormitórios deverão ter áreas mínimas
dimensionadas de acordo com os módulos
(camas/armários) adotados e capazes de atender ao efeito
a ser alojado, conforme o Quadro I.

8
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

Nº de tipos de cama e área de área de armário área


Operári área respectiva circulação lateral lateral à cama total
os 2
(m ) 2
à cama (m ) 2
(m ) (m2)
simples
1 1,45 x 0,6 = 0,87 0,6 x 0,45 = 0,27 2,47
1,9 x 0,7 = 1,33
2 1,9 x 0,7 = 1,33 1,45 x 0,6 = 0,87 0,6 x 0,45 = 0,27 2,47

Obs.: Serão permitidas o máximo de 2 (duas) camas na


mesma vertical.
24.5.3. Os alojamentos deverão ser localizados em áreas
que permitam atender não só às exigências construtivas
como também evitar o devassamento aos prédios vizinhos.
24.5.4. Os alojamentos deverão ter 1 (um) pavimento,
podendo ter, no máximo, 2 (dois) pisos quando a área
disponível para a construção for insuficiente.
24.5.5. Os alojamentos deverão ter área de circulação
interna, nos dormitórios, com a largura mínima de 1,00m
(um metro).
24.5.6. O pé-direito dos alojamentos deverá obedecer às
seguintes dimensões mínimas.
a) 2,6m (dois metros e sessenta centímetros) para camas
simples;
b) 3 (três) metros para camas duplas.
24.5.7. As paredes dos alojamentos poderão ser construídas
em alvenaria de tijolo comum, em concreto ou em madeira.
24.5.8. Os pisos dos alojamentos deverão ser
impermeáveis, laváveis e de acabamento áspero. Deverão
impedir a entrada de umidade e emanações no alojamento.
Não deverão apresentar ressaltos e saliências, sendo o
acabamento compatível com as condições mínimas de
conforto térmico e higiene.
24.5.9. A cobertura dos alojamentos deverá ter estrutura de
madeira ou metálica, as telhas poderão ser de barro ou de
fibrocimento, e não haverá forro.
24.5.9.1. O ponto do telhado deverá ser de 1:4,
independentemente do tipo de telha usada.
24.5.10. As portas dos alojamentos deverão ser metálicas
ou de madeira, abrindo para fora, medindo no mínimo
1,00m x 2,10m (um metro x dois metros e dez centímetros)
para cada 100 (cem) operários.
24.5.11. Existindo corredor, este terá, no mínimo, 1 (uma)
porta em cada extremidade, abrindo para fora.
24.5.12. As janelas dos alojamentos deverão ser de
madeira ou de ferro, de 0,60m x 0,60m (sessenta
centímetros x sessenta centímetros), no mínimo.
24.5.12.1. A parte inferior do caixilho deverá se situar, no
mínimo, no plano da cama superior (caso de camas duplas)
e à altura de 1,60m (um metro e sessenta centímetros) do
piso no caso de camas simples.

9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

24.5.13. A ligação do alojamento com o sanitário será feita


através de portas, com mínimo de 0,80m x 2,10m (oitenta
centímetros x dois metros e dez centímetros).
24.5.14. Todo alojamento será provido de uma rede de
iluminação, cuja fiação deverá ser protegida por
eletrodutos.
24.5.15. Deverá ser mantido um iluminamento mínimo de
100 lux, podendo ser instaladas lâmpadas incandescentes
de 100W/8,00 m2 de área com pé-direito de 3 (três) metros
máximo, ou outro tipo de luminária que produza o mesmo
efeito.
24.5.16. Nos alojamentos deverão ser instalados
bebedouros de acordo com o item 24.6.1.
24.5.17. As pinturas das paredes, portas e janelas, móveis e
utensílios, deverão obedecer ao seguinte:
a) alvenaria - tinta de base plástica;
b) ferro - tinta a óleo;
c) madeira - tinta especial retardante à ação do fogo.
24.5.18. As camas poderão ser de estrutura metálica ou de
madeira, oferecendo perfeita rigidez.
24.5.19. A altura livre das camas duplas deverá ser de, no
mínimo, 1,10m (um metro e dez centímetros) contados do
nível superior do colchão da cama de baixo, ao nível inferior
da longarina da cama de cima.
24.5.19.1. As camas superiores deverão ter proteção lateral
e altura livre, mínimo, de 1,10 m do teto do alojamento.
24.5.19.2. O acesso à cama superior deverá ser fixo e parte
integrante da estrutura da mesma.
24.5.19.3. Os estrados das camas superiores deverão ser
fechados na parte inferior.
24.5.20. Deverão ser colocadas caixas metálicas com areia,
para serem usadas como cinzeiros.
24.5.21. Os armários dos alojamentos poderão ser de aço
ou de madeira, individuais e deverão ter as seguintes
dimensões mínimas: 0,60m (sessenta centímetros) de
frente x 0,45m (quarenta e cinco centímetros) de fundo x
0,90m (noventa centímetros) de altura.
24.5.22. No caso de alojamentos com 2 (dois) pisos deverá
haver, no mínimo, 2 (duas) escadas de saída, guardada a
proporcionalidade de 1 (um) metro de largura para cada
100 (cem) operários;
24.5.23. Escadas e corredores coletivos principais terão
largura mínima de 1,20m (um metro e vinte centímetros),
podendo os secundários ter 0,80m (oitenta centímetros).
24.5.24.1. Estes vãos poderão dar para prisma externo
descoberto, devendo este prisma ter área não-menor que
9m2 (nove metros quadrados) e dimensão linear mínima de
2,00m (dois metros).
24.5.24.2. Os valores enumerados no item são aplicáveis ao
caso de edificações que tenham altura máxima de 6,00m

10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

(seis metros) entre a laje do teto mais alto e o piso mais


baixo.
24.5.25. No caso em que a vertical Vm entre o teto mais
alto e o piso mais baixo for superior a 6,00 (seis metros), a
área do prisma, em metros quadrados, será dada pela
expressão V2/4 (o quadrado do valor V em metros dividido
por quatro), respeitando-se, também, o mínimo linear de
2,00m (dois metros) para uma dimensão do prisma.
24.5.26. Não será permitido ventilação em dormitório, feita
somente de modo indireto.
24.5.27. Os corredores dos alojamentos com mais de 10,00
(dez metros) de comprimento terão vãos para o exterior
com área não-inferior a 1/8 (um oitavo) do respectivo piso.
24.5.28. Nos alojamentos deverão ser obedecidas as
seguintes instruções gerais de uso:
a) todo quarto ou instalação deverá ser conservado limpo e
todos eles serão pulverizados de 30 (trinta) em 30 (trinta)
dias;
b) os sanitários deverão ser desinfetados diariamente;
c) o lixo deverá ser retirado diariamente e depositado em
local adequado;
d) é proibida, nos dormitórios, a instalação para
eletrodomésticos e o uso de fogareiro ou similares.
24.5.29. É vedada a permanência de pessoas com
moléstias infectocontagiosas.
24.5.30. As instalações sanitárias, além de atender às
exigências do item 24.1, deverão fazer parte integrante do
alojamento ou estar localizadas a uma distância máxima de
50,00 (cinqüenta metros) do mesmo.
24.5.31. O pé-direito das instalações sanitárias será, no
mínimo, igual ao do alojamento onde for contíguo sendo
permitidos rebaixos para as instalações hidráulicas de, no
máximo, 0,40m (quarenta centímetros).
24.6. Condições de higiene e conforto por ocasião das
refeições.
24.6.1. As empresas urbanas e rurais, que possuam
empregados regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, e os órgãos governamentais devem
oferecer a seus empregados e servidores condições de
conforto e higiene que garantam refeições adequadas por
ocasião dos intervalos previstos na jornada de trabalho.
24.6.1.1. A empresa que contratar terceiro para a prestação
de serviços em seus estabelecimentos deve estender aos
trabalhadores da contratada as mesmas condições de
higiene e conforto oferecidas aos seus próprios
empregados.
24.6.2. A empresa deverá orientar os trabalhadores sobre a
importância das refeições adequadas e hábitos alimentares
saudáveis.
24.6.3. Na hipótese de o trabalhador trazer a própria

11
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

alimentação, a empresa deve garantir condições de


conservação e higiene adequadas e os meios para o
aquecimento em local próximo ao destinado às refeições.
24.6.3.1. Aos trabalhadores rurais e aos ocupados em
frentes de trabalho devem ser oferecidos dispositivos
térmicos que atendam ao disposto neste item, em número
suficiente para todos os usuários.
24.6.3.2. Os recipientes ou marmitas utilizados pelos
trabalhadores deverão ser fornecidos pelas empresas,
devendo atender às exigências de higiene e conservação e
serem adequados aos equipamentos de aquecimento
disponíveis.
24.6.4. Caberá à Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes - Cipa, à Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes do Trabalho Rural - CIPATR, ao Serviço
Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho -
SESMT e ao Serviço Especializado em Prevenção de
Acidentes do Trabalho Rural - SEPATR, quando houver,
promoverem a divulgação e zelar pela observância desta
Norma.
24.6.5. Os sindicatos de trabalhadores que tiverem
conhecimento de irregularidades quanto ao cumprimento
desta Norma poderão denunciá-las ao Ministério do
Trabalho e solicitar a fiscalização dos respectivos órgãos
regionais.
24.6.6. As empresas que concederem o benefício da
alimentação aos seus empregados poderão inscrever-se no
Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT, do
Ministério do Trabalho, obedecendo aos dispositivos legais
que tratam da matéria.

A Inspeção do Trabalho, todavia, constatou as


péssimas condições de higiene em que se encontravam o alojamento e a
cozinha do réu, sem propiciar aos trabalhadores, maiores e menores de
idade, as mínimas condições de conforto nos locais de trabalho. As fotos
encartadas às f. 27-28 dão conta da lamentável situação encontrada.

Portanto, requer o Ministério Público do Trabalho


especificamente a condenação do réu na obrigação de fazer, consistente
em cumprir rigorosamente a Norma Regulamentadora n. 24 do Ministério
do Trabalho e Emprego, notadamente (mas não apenas) todos os subitens
dos itens 24.5 e 24.6, sob cominação de astreinte no importe de R$
10.000,00 (dez mil reais) por infração verificada e por trabalhador
prejudicado, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT –,
sem prejuízo de se conferir outra destinação social em favor da
coletividade, com a concordância do juízo e do MPT, em sede de

12
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

execução.
II.3. Dano moral coletivo

O dano moral coletivo, nos dizeres do Exmo.


Procurador Regional do Trabalho Xisto Tiago de Medeiros Neto:
“corresponde à lesão injusta e intolerável a interesses ou
direitos titularizados pela coletividade (considerada em seu
todo ou em qualquer de suas expressões – grupos, classes
ou categorias de pessoas), os quais possuem natureza
extrapatrimonial, refletindo valores e bens fundamentais
para a sociedade”. (Dano moral coletivo. 2ª Edição. 2007.
Editora Ltr. Página 137).

O dano moral coletivo desponta, pois, como sendo a


violação em dimensão transindividual dos direitos da personalidade. Se o
particular sofre uma dor psíquica ou passa por uma situação vexatória, a
coletividade, vítima de dano moral, sofre de desapreço, descrença em
relação ao poder público e à ordem jurídica. Padece a coletividade de
intranquilidade, insegurança.

Atualmente, o instituto do dano moral coletivo assume


relevante importância para a ordem jurídica brasileira, em face da
coletivização do direito, isto é, com o reconhecimento e tutela de direitos
coletivos e difusos, que é fruto de uma sociedade de massas, de relações
e conflitos multiformes, geradores de interesses específicos a coletividade
de pessoas (grupos, categorias ou classes), exigindo, portanto, uma
estrutura jurídica necessária e adequada a sua defesa e à punição em
decorrência de violação dessa classe de direitos.

Em se tratando de danos a interesses difusos e


coletivos, a responsabilidade deve ser objetiva, porque é a única capaz de
assegurar proteção eficaz a esses interesses.

Oportuno se torna dizer que:


“não somente a dor psíquica pode gerar danos morais;
devemos ainda considerar que o tratamento transindividual
aos chamados interesses difusos e coletivos origina-se
justamente da importância destes interesses e da
necessidade de uma efetiva tutela jurídica. Ora, tal
importância somente reforça a necessidade de aceitação do
dano moral coletivo, já que a dor psíquica que alicerçou a
teoria do dano moral individual acaba cedendo lugar, no

13
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

caso do dano moral coletivo, a um sentimento de


desapreço e de perda de valores essenciais que afetam
negativamente toda uma coletividade. (...) Assim, é preciso
sempre enfatizar o imenso dano moral coletivo causado
pelas agressões aos interesses transindividuais afeta-se a
boa imagem da proteção legal a estes direitos e afeta-se a
tranquilidade do cidadão, que se vê em verdadeira selva,
onde a lei do mais forte impera.
Tal intranquilidade e sentimento de desapreço gerado pelos
danos coletivos, justamente por serem indivisíveis,
acarretam lesão moral que também deve ser reparada
coletivamente. Ou será que alguém duvida que o cidadão
brasileiro, a cada notícia de lesão a seus direitos, não se vê
desprestigiado e ofendido no seu sentimento de pertencer a
uma comunidade séria, onde as leis são cumpridas? [...].
A reparação moral deve se utilizar dos mesmos
instrumentos da reparação material, já que os pressupostos
(dano e nexo causal) são os mesmos. A destinação de
eventual indenização deve ser o Fundo Federal de Direitos
Difusos, que será responsável pela utilização do montante
para a efetiva reparação deste patrimônio moral lesado.
Com isso, vê-se que a coletividade é passível de ser
indenizada pelo abalo moral, o qual, por sua vez, não
necessita ser a dor subjetiva ou estado anímico negativo,
que caracterizariam o dano moral na pessoa física...” (In,
André de Carvalho Ramos, “A Ação Civil Pública e o Dano
Moral Coletivo”, “Revista de Direito do Consumidor” nº 25,
1998, Editora Revista dos Tribunais, p. 80-98).

É lamentável que ainda nos deparemos com


empregadores que aproveitam de sua condição hierárquica para violar
direitos fundamentais dos trabalhadores, sobretudo os trabalhadores
menores de idade. A conduta representa um retrocesso de mais de um
século nas relações de trabalho, causando indignação difusa e coletiva na
sociedade, ao se deparar com condutas extremamente retrógradas ao
contexto atual.

Dentre as principais diretrizes institucionais do


Ministério Público do Trabalho encontra-se a de resguardar as crianças e
os adolescentes do exercício de labor que viole sua condição de pessoa
ainda em formação. Para cumprir a contento tal mister, imprescindível a
colaboração do Poder Judiciário, de modo a repreender com o rigor
necessário os empregadores que se aproveitam de mão-de-obra barata e

14
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

indefesa.

Hoje, não mais se pode permitir aquele irrefletido


raciocínio no qual se acreditava que o trabalho desenvolvido pelas
crianças e pelos adolescentes era de vital importância para a formação
deles, inclusive sendo um meio de mantê-los afastados da rua e de outros
tipos de problemas.

Em artigo da lavra da Exma. Juíza do Trabalho da 12ª


Região, Drª Viviane Colucci, intitulado “Os Direitos da Infância e da
Juventude”, consta a ressalva que a manutenção do trabalho infantil,
(infelizmente, embora isso venha mudando paulatinamente), ainda é
respaldada pela própria mentalidade social que o concebe nunca como
um problema, mas como uma solução, citando três mitos enumerados
pela OIT que desmascaram esta tese. São eles:

a) O Mito: “o trabalho infantil é necessário porque a


criança está ajudando sua família a sobreviver”. A Verdade: “quando a
família torna-se incapaz de cumprir esta obrigação, cabe ao Estado apoiá-
la, e não às crianças”;

b) O Mito: “a criança que trabalha fica mais esperta,


aprende a lutar pela vida e tem condições de vencer profissionalmente
quando adulta”. A Verdade: “o trabalho precoce é árduo e nunca foi
estágio necessário para uma vida bem-sucedida. Ele não qualifica e,
portanto, é inútil como mecanismo de promoção social”;

c) O Mito: “o trabalho enobrece a criança, antes


trabalhar do que roubar”. A Verdade : “crianças e adolescentes que
trabalham em condições desfavoráveis pagam com o próprio corpo,
quando carregam pesos excessivos, são submetidos a ambientes nocivos
à saúde, vivem nas ruas ou se entregam à prostituição. Também pagam
com a alma quando perdem a possibilidade de um lar, de uma escola, de
uma formação profissional, são jogados em cenários degradados e
degradantes” (COLUCCI, Viviane, Os Direitos da Infância e da Juventude in
Revista LTR. São Paulo, ed. LTR )

Cumpre deixar consignado que a situação encontrada


pelos Ilmos(as). Auditores(as)-Fiscais do Trabalho que efetuaram a ação
fiscal no réu foi tão repugnante que, assim que chegaram ao local,
ligaram diretamente para esta Procuradoria a fim de que algum membro

15
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

do Ministério Público do Trabalho se inteirasse pessoalmente dos ilícitos


trabalhistas e adotasse urgência na adoção das medidas cabíveis.

Outro fato que reforça a afronta perpetrada em


relação à comunidade em geral pode ser observado no modo como a
denúncia chegou ao conhecimento do Parquet. O denunciante que deu
origem à representação que se encontra em anexo é um cidadão que
passava pelo local e se espantou ao ver crianças fazendo serviços
pesados, como higiene nos cavalos, dentre outros.

Despiciendo dizer, portanto, que os jovens – crianças,


melhor dizendo – que foram flagrados em atividades insalubres,
alimentando-se e dormindo em condições precárias perderam boa parte
da sua juventude trabalhando e gerando lucro para o demandado,
pagando caro por isso, uma vez que sofreram as máculas no físico, na
moral e, além de tudo, no próprio desenvolvimento intelectual.

Não se pode olvidar, ainda, que recebiam o irrisório


valor de R$ 300,00 (trezentos reais) mensais. O salário-mínimo atual
perfaz o montante de R$ 540,00 (quinhentos e quarenta reais). Há, pois,
nítido barateamento da mão-de-obra com a utilização desses pobres
trabalhadores pueris.

Ora, a violação da dignidade dos menores não


pode ficar impune. A sociedade sul-mato-grossense foi atingida
como um todo, pois os jovens que ali trabalharam serão o futuro
de nosso Estado.

Faz-se mister ressaltar que a recomposição da ordem


jurídico-social fazendo-se simplesmente mediante ordens de fazer e de
não-fazer, dirigidas ao futuro, é o mesmo que consagrar a impunidade das
infrações trabalhistas, arriscando-se a eficácia do ordenamento jus-
laboral, pois restará cômodo e vantajoso ao demandado o
inadimplemento das leis do trabalho.

Seria um prêmio odioso conferido ao demandado a


limitação de sua condenação à abstenção de se valer, no futuro, do
trabalho de menores, pois o lucro já foi obtido e os direitos já foram
lesados. O atropelamento aos direitos fundamentais dos adolescentes
teria sido vantajoso ao demandado.

Aí reside a necessidade de se deferir o dano moral

16
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

coletivo em valor o suficiente para se atender as várias finalidades deste


louvável instituto.

O Ministério Público pretende com esta ação civil


pública a reparação do dano jurídico social emergente das condutas
ilícitas do réu, cuja responsabilidade pode e deve ser apurada através de
ação civil pública (Lei n° 7.347/85, art. 1º, IV).

A doutrina pátria é assente em reconhecer que o


trabalho de menores à margem da lei é deveras repulsivo, emergindo, por
conseguinte, a necessidade de condenação a título de dano moral
coletivo. A título de ilustração, cita-se o escólio do Exmo. Procurador
Regional do Trabalho Xisto Tiago de Medeiros Neto, in verbis:
“É importante destacar, de forma exemplificativa, algumas
hipóteses específicas – e hoje muito recorrentes – em que
se observam condutas que geram, induvidosamente, dano
moral coletivo, cuja certeza, consoante já salientado, nasce
concomitantemente, com a própria ocorrência do fato
lesivo. Reitere-se, uma vez mais, à luz da mais abalizada
doutrina, que a concepção correta do dano moral coletivo
não se vincula aos elementos e racionalidade que informam
a responsabilidade civil nas relação de cunho individual e
privado.
Eis as hipóteses selecionadas pelo critério de maior
incidência:
(…)
l) exploração de trabalho de crianças e adolescentes, em
violação ao princípio constitucional da dignidade humana e
da proteção integral”. (In, Xisto Tiago de Medeiros Neto,
“Dano Moral Coletivo”, 2007, Editora Ltr, p. 149-150).

Destarte, o Ministério Público requer a condenação do


réu na obrigação de dar, consistente no pagamento de indenização por
dano moral coletivo no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais),
reversível, em princípio, ao FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador (Lei
nº 7.998/90) –, sem prejuízo de se conferir preferencialmente outra
destinação social em favor da coletividade, com a concordância do
juízo e do MPT, em sede de execução.

II.4 – Danos morais individuais

Se a configuração do dano moral coletivo se afigura,

17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

no caso em espeque, de maneira insofismável, não se poderia olvidar de


exigir a reparação em face do dano moral individual experimentado por
cada um dos menores trabalhadores.

Não é difícil se inferir que a exigência de labor em


atividades insalubres, integrantes inclusive da Lista TIP, sem propiciar as
mínimas condições de higiene e conforto nos alojamentos e no preparo e
na servida das refeições, remunerando-lhes com salário muito abaixo do
mínimo legal, atingiu a honra, a integridade, a intimidade desses menores
de idade, pessoas ainda em evolução, incapazes de se defenderem à
altura, situação que deve ser combatida à luz do dano moral individual.

A violação aos direitos fundamentais


indisponíveis dos menores, torna-os paradigmas na construção e
consolidação das normas destinadas às crianças e adolescentes,
haja vista que foram as suas próprias individualidades violadas,
causando a supressão de seu direito a um desenvolvimento
saudável.

Resta necessária a reparação do dano moral sofrido


pelos menores como forma de compensação às limitações causadas ao
seu desenvolvimento.

Consigna-se, na oportunidade, que a ausência de se


propiciar condições mínimas de higiene e conforto no local de trabalho e o
fornecimento de alimentação inadequada aos trabalhadores alojados
foram motivos ensejadores da condenação do empregador a pagamento
de indenização por dano moral em favor do trabalhador prejudicado. Veja-
se a ementa proferida pelo egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 15ª
Região (SP):
“INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CONDIÇÕES DE
TRABALHO INSATISFATÓRIAS. RESTANDO COMPROVADO
NOS AUTOS QUE A RECLAMADA NÃO PROPICIOU A SEU
EMPREGADO CONDIÇÕES MÍNIMAS DE HIGIENE NO LOCAL
DE TRABALHO, ASSIM COMO NÃO LHE FORNECEU
ALIMENTAÇÃO SUFICIENTE E COM PREPARAÇÃO ADEQUADA
DURANTE O PERÍODO EM QUE ESTEVE ALOJADO EM
FAZENDA A SERVIÇO DA EMPRESA, INEGÁVEL O
TRATAMENTO HUMILHANTE E DESRESPEITOSO QUE LHE FOI
DISPENSADO, O QUE OCASIONOU OFENSA À DIGNIDADE DO
AUTOR, NÃO HAVENDO COMO AFASTAR A CONDENAÇÃO
IMPOSTA A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL”.
(TRT 15ª Região. 3ª Turma. 5ª Câmara. Processo n. 14-

18
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

2009-156-15-00-0. Desembargadora Relatora Gisela de


Araújo e Moraes. Publicado no DEJT em 26.02.2010).

Portanto, requer o Ministério Público do


Trabalho a condenação do réu na obrigação de dar, consistente
na indenização por dano moral individual no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais) para cada um dos 10 (dez) menores
especificados no documento de f. 15, devendo referido valor ser
depositado em caderneta de poupança, liberada apenas quando o
menor atingir 18 (dezoito) anos completos, ou ainda, ao seu
representante legal, quando houver necessidade de manutenção
do menor, devidamente comprovada, e desde que esteja provada
a frequência em escola de curso de ensino regular.

II.5. Verbas rescisórias

Por fim, embora se rotule de ilegal a exploração do


trabalho infantil pelo réu, o fato é que desses perniciosos contratos de
trabalho emergiram os direitos trabalhistas assegurados pela legislação
social do trabalho.

A própria Fiscalização do Trabalho, em atuação


louvável, determinou, a par do imediato afastamento dos trabalhadores
menores, o pagamento, no prazo de 8 (oito) dias, dos direitos trabalhistas
oriundos da prestação de serviços, incluindo os valores correspondentes
ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), independentemente
da natureza do trabalho desenvolvido, conforme Termo de Afastamento
do Trabalho (f. 15).

Nos autos da representação, no entanto, não constam


documentos comprobatórios da quitação total dos haveres rescisórios
devidos às crianças e aos adolescentes.

Desse modo, há de se requerer a condenação do


réu na obrigação de dar, consistente no pagamento, direta e
imediatamente a cada um dos 10 (dez) menores especificados no
documento de f. 15 ou seus representantes legais, das
respectivas verbas trabalhistas, as quais compreendem,
exemplificativamente, as seguintes rubricas: diferenças salariais
até atingir o valor do salário-mínimo com as devidas

19
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

repercussões, férias proporcionais e vencidas, salários trezenos


proporcionais e vencidos, FGTS com a multa dos 40%,
contribuições previdenciárias (parte patronal e do trabalhador,
art. 33, § 5º da Lei nº 8.212/91) e, eventualmente, a multa do art.
477 da CLT, cujas individualização e quantificação deverão ser
feitas em liquidação de sentença, ou então, caso já tenham sido
quitadas as verbas rescisórias, que se faça documentalmente a
comprovação nestes autos.

III – DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer o Ministério Público do


Trabalho a procedência dos pedidos da presente ação civil pública para
condenar o réu, seus sucessores ou beneficiados da alteração da
natureza jurídica da empresa, conforme vaticinam o art. 10 e o art.
448, ambos da Consolidação das Leis do Trabalho:

III.1. na obrigação de não-fazer, consistente em


abster-se de utilizar mão-de-obra de trabalhador menor de 18 (dezoito)
anos – seja como empregado, eventual, autônomo, avulso ou qualquer
tipo de trabalho – salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 (catorze)
anos, desde que preenchidos os requisitos legais do contrato de
aprendizagem, nos termos do inciso XXXIII do art. 7º da CF, do caput do
art. 403, do art. 404 e do art. 428, todos da CLT, e da Convenção n. 182
da OIT, promulgada pelo Decreto n. 3.597/2000 e demais legislação
internacional e nacional correlatas, sob pena de cominação de astreinte
no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração verificada e por
trabalhador prejudicado, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao
Trabalhador – FAT –, sem prejuízo de se conferir outra destinação social
em favor da coletividade, com a concordância do juízo e do MPT, em sede
de execução;

III.2. na obrigação de não-fazer, consistente em


abster-se de utilizar mão-de-obra de trabalhador menor de 18 (dezoito)
anos – seja como empregado, eventual, autônomo, avulso ou qualquer
outro tipo de trabalho – em trabalho noturno (das 22h às 5h), perigoso,
penoso, insalubre ou qualquer outro prejudicial ao seu desenvolvimento
físico, mental e social, notadamente aquele relacionado com o labor em
estábulos, no cuidado de baias e cavalos, montaria e/ou qualquer outro
constante na Lista TIP, e, ainda, em horários e locais que não permitam

20
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

e/ou prejudiquem o desempenho escolar, sendo-lhe garantido o


recebimento de, pelo menos, um salário-mínimo mensal, nos termos do
inciso IV e do inciso XXXIII, ambos do art. 7º da CF, do caput do art. 404,
do art. 405, ambos da CLT, da Convenção n. 182 da OIT, promulgada pelo
Decreto n. 3.597/2000, do Decreto n. 6.481/2008 e demais legislação
internacional e nacional correlatas, sob pena de cominação de astreinte
no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração verificada e por
trabalhador prejudicado, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao
Trabalhador – FAT –, sem prejuízo de se conferir outra destinação social
em favor da coletividade, com a concordância do juízo e do MPT, em sede
de execução;

III.3. na obrigação de fazer, consistente em cumprir


rigorosamente a Norma Regulamentadora n. 24 do Ministério do Trabalho
e Emprego, notadamente (mas não apenas) todos os subitens dos itens
24.5 e 24.6, sob pena de cominação de astreinte no importe de R$
10.000,00 (dez mil reais) por infração verificada e por trabalhador
prejudicado, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT –,
sem prejuízo de se conferir outra destinação social em favor da
coletividade, com a concordância do juízo e do MPT, em sede de
execução;

III.4. na obrigação de dar, consistente no pagamento


de indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 300.000,00
(trezentos mil reais), reversível, em princípio, ao FAT – Fundo de Amparo
ao Trabalhador (Lei nº 7.998/90) –, sem prejuízo de se conferir outra
destinação social em favor da coletividade, com a concordância do juízo e
do MPT, em sede de execução;

III.5. na obrigação de dar, consistente na indenização


por dano moral individual no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para
cada um dos 10 (dez) menores especificados nestes autos, devendo
referido valor ser depositado em caderneta de poupança, liberada apenas
quando o menor atingir 18 (dezoito) anos completos, ou ainda, ao seu
representante legal, quando houver necessidade de manutenção do
menor, devidamente comprovada, e desde que esteja provada a
frequência em escola de curso de ensino regular;

III.6. na obrigação de dar, consistente no pagamento,


direto e imediatamente a cada um dos 10 (dez) menores especificados

21
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

nestes autos ou seus representantes legais, das respectivas verbas


rescisórias trabalhistas, as quais compreendem, exemplificativamente, as
seguintes rubricas: diferenças salariais até atingir o valor do salário-
mínimo com as devidas repercussões, férias proporcionais e vencidas,
salários trezenos proporcionais e vencidos, FGTS com a multa dos 40%,
contribuições previdenciárias,nos termos do art. 33, § 5º da Lei nº
8.212/91 e, eventualmente, a multa do art. 477 da CLT, cujas
individualização e quantificação deverão ser feitas em liquidação de
sentença, ou então, caso já tenham sido quitadas as verbas rescisórias,
que se faça documentalmente a comprovação nestes autos.

Também requer este Órgão Ministerial a citação do


réu no primeiro endereço indicado no preâmbulo desta ou, em caso de
insucesso, a citação no escritório do réu no segundo endereço apontado,
para, querendo, contestar a presente ação, sob pena de se presumirem
verdadeiros os fatos ora articulados, bem como a condenação do mesmo
ao pagamento das custas e despesas processuais.

Ainda, requer que se oficie ao Ministério Público


Estadual, à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego e ao Fórum
Estadual de Defesa da Criança e Adolescente, com cópia desta inicial e da
sentença, em caso de eventual procedência, ou acordo.

Por fim, protesta pela produção de todos os meios de


prova em direito admitidos, tais como depoimentos pessoais do réu, oitiva
de testemunhas e juntada de documentos, bem como requer a intimação
pessoal e nos autos do Ministério Público do Trabalho, de todos os atos do
processo, na forma da Lei e do Provimento Geral Consolidado do egrégio
TRT da 24ª Região.

Dá-se à causa o valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil


reais).

Campo Grande (MS), 07 de fevereiro de 2011.

CÍCERO RUFINO PEREIRA


Procurador do Trabalho

22
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região

/opt/scribd/conversion/tmp/scratch6144/60065522.odt

23

Você também pode gostar