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COMEÇAR PELO PRINCIPIO LER ESTE DOCUMENTO (SERVE PARA PENAL I,

II e III)

António e Beatriz, portugueses e adeptos de desportos radicais, decidiram viajar em


comemoração dos seus dois meses de namoro. Deste modo, escolheram como destino
Courchevel, nos Alpes franceses, conhecido pelos seus idílicos cenários de neve para a
prática de desportos de inverno.

Na manhã do dia seguinte à chegada, António e Beatriz divertiam-se, sozinhos, a


praticar escalada no gelo, quando, inesperada e subitamente, se formou uma avalanche
que derrubou

António e o projectou pela encosta abaixo.

Beatriz, convencida de que o dever de auxílio se limita aos casos de acidentes


rodoviários, resolveu fugir rapidamente do local, apesar de ter conhecimento da
existência de um posto de socorro muito perto daquele local, e apanhou o primeiro voo
de regresso a Moçambique, sem contar a ninguém o sucedido.

Catarina, que aproveitava para passear ali por perto durante o intervalo de uma aula de
patinagem no gelo, deparou-se com António estendido no chão, mas, quando se
aproximou para o ajudar e o viu inconsciente, entrou em pânico e desmaiou.

Dinis, amigo de Catarina e preocupado com a demora desta, foi à sua procura, tendo-a
encontrado, ainda inconsciente, junto de António. Verificando que o estado de António
era preocupante, Dinis solicitou auxílio de imediato para o número de emergência local
através do seu telemóvel.

António foi transportado para o hospital mais próximo, onde os médicos rapidamente
constataram a necessidade de este ser submetido a uma cirurgia de carácter urgente.
Eduardo, médico anestesista, com a pressa e sem se aperceber, trocou o frasco da
anestesia por um frasco similar que continha uma substância venenosa e ministrou-a a
António, que veio, por isso, a morrer, ainda antes de dar entrada na sala de operações.
Todavia, António padecia de uma rara alergia ao excipiente anestésico ministrado
naquele estabelecimento de saúde que nunca poderia ter sido detectada em tempo útil,
pelo que este teria morrido de qualquer forma, ainda que Eduardo não se tivesse
enganado.

Dinis, tendo tido conhecimento do sucedido, comentou rancorosamente com Catarina


que “os médicos que praticam este tipo de actos criminosos mereciam uma lição”, com
a esperança de que, assim, Catarina fizesse uso da arma de fogo que costumava trazer
consigo para dar uma lição a Eduardo.

Catarina, convencida da injustiça da morte de António, fez uma emboscada a Eduardo,


esquecendo-se, porém, que nessa manhã não tinha carregado a arma, não tendo por isso
conseguido concretizar o seu intento.

Helga, cirurgiã no mesmo hospital, ao ver Catarina apontar a arma e pensando


erradamente que esta estava carregada, correu em socorro de Eduardo e desferiu um
valente soco em Catarina.

Analise a responsabilidade jurídico-penal dos intervenientes.

Cotações: Beatriz, 4v.; Catarina, 4v.; Dinis, 3v.; Eduardo 3,5v.; Helga 3,5v.; apreciação
global,

2v.

Elementos de Correcção

Responsabilidade jurídico-penal de Beatriz (4 vls.)

Neste âmbito, deverá ser analisado o problema do concurso aparente de crimes entre o
tipo incriminador da omissão de auxílio (art. 200.º) e a norma do homicídio por omissão
(arts. 10.º e 131.º), a resolver de acordo com o critério da subsidariedade.

Desta forma, Beatriz deverá ser punida por omissão de auxílio, por ter actuado
dolosamente, uma vez que a punição pelo crime de homicídio por omissão se encontra
prejudicada, quer por se verificar uma interrupção do nexo de imputação objectiva
devida ao comportamento ilícito posterior de Eduardo quer por não existir qualquer
posição de garante por parte de Beatriz, uma vez que a deslocação de dois namorados de
curta data a idílicos cenários de neve para a prática de desportos de Inverno não revela
qualquer autovinculação implícita ao dever de evitar o resultado morte (circunstância
que exclui igualmente a punição por tentativa de homicídio por omissão).

Por outro lado, o erro em que incorre Beatriz e que a faz desconhecer a ilicitude de um
comportamento que é, em si, axiologicamente relevante, não afasta a sua culpa à luz do
art. 17.º, uma vez que é manifestamente censurável.

Responsabilidade jurídico-penal de Catarina (4 vls.)

Já Catarina não poderá vir a ser punida pelo crime de omissão de auxílio, pois o
desmaio não se configura como um comportamento dominável pela vontade e é,
portanto, insusceptível de fundamentar qualquer responsabilidade penal.

Todavia, na medida em que aponta uma arma (que julga carregada) a Eduardo, com
intenção de disparar, deverá responder por tentativa impossível de ofensa à integridade
física, senão mesmo de homicídio, uma vez que praticou um acto de execução (art. 22.º,
n.º2, alínea c), que não surge, a um destinatário médio, como manifestamente inidóneo
para a produção de um resultado de ofensa à integridade física ou de morte (art. 23.º, n.º
3).

Responsabilidade jurídico-penal de Dinis (3 vls.)

Este comportamento sugere, a uma primeira abordagem, uma aparência de instigação,


uma vez que Dinis actua dolosamente e se verifica o início de uma execução típica e
ilícita por parte da Catarina. Todavia, a tentativa impossível levada a cabo por Catarina
não lhe pode ser imputada a título de instigação, pois Dinis não realiza um incitamento
concludente à execução do facto, não se preenchendo, assim, a tipicidade objectiva da
4.ª proposição do art. 26.º.

Responsabilidade jurídico-penal de Eduardo (3,5 vls.)

No que se refere a este ponto da resolução da hipótese, deverá ser analisada a


responsabilidade de Eduardo pelo homicídio negligente de António (art. 137.º). Tendo
em conta que o cumprimento do dever de diligência que lhe cabia não evitaria
seguramente a produção do resultado, deverá ponderar-se a eventual exclusão da
imputação objectiva do resultado morte ao comportamento do agente, em função da
ponderação e verificação cuidada dos pressupostos do instituto do comportamento lícito
alternativo.

Responsabilidade jurídico-penal de Helga (3,5 vls.)

No que se refere à responsabilidade penal desta agente por ofensa dolosa à integridade
física de Catarina (art. 143), deverá ponderar-se o problema de saber se a tentativa
impossível é susceptível de constituir uma agressão actual e ilícita que legitima o
exercício da legítima defesa, excluindo-se a ilicitude do facto, ou se traduz-se, ao invés,
numa mera aparência de agressão que apenas conduz à verificação de um caso de erro-
suposição sobre os pressupostos objectivos da legítima defesa e à exclusão da
imputação dolosa, nos termos do art. 16.º, n.º 2, não sendo o facto justificado. Nesta
última hipótese, Helga não poderia ser punida nos termos dos arts. 16.º, n.º 3, e 148.º,
uma vez que se trataria de um erro desculpavél, não havendo forma de o evitar.

Apreciação Global (2 vls.)

Neste âmbito, deverão ser avaliadas as capacidades de síntese e de organização das


respostas, assim como o domínio da língua portuguesa.

Helena Morão

DIREITO PENAL

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO

01. Armand, tendo cometido diversos assassinatos no seu país de origem - a Bélgica -
quando pretendia entrar em Portugal, mas encontrando-se ainda em território espanhol,
disparou um tiro de revólver sobre um guarda espanhol, que se encontrava
acidentalmente no território português, causando-lhe imediatamente a morte.

- estará aquele sujeito à aplicação da lei penal portuguesa? e em relação a que crimes?

- e se Armand já se encontrasse dentro de Portugal?


02. James Borough, empregado inglês ao serviço do cruzeiro português "Adamastor",
quando esta embarcação se encontrava aportada em Liverpool, saiu em direcção à
cidade, e assassinou barbaramente um amigo seu, voltando imediatamente para bordo.

- estará quele sujeito à aplicação da lei penal portuguesa?

- e se o crime tivesse ocorrido a bordo da embarcação?

03. James Borough, aquando duma zaragata a bordo do "Adamastor", foi projectado
para fora do navio, juntamente com Alcides, estando o navio longe dos limites
territoriais de qualquer país.

Tendo aquele inglês afogado deliberadamente Alcides em alto mar, e depois regressado
a bordo, estará sujeito à aplicação da lei penal portuguesa?

04. Joaquim, quando visitava a sua irmã e cunhado em França, impressionado com o
poder económico dos franceses, resolve raptar uma menor francesa (artº160 para obter
um vultoso resgate. Depois de obtido o resgate regressa a Portugal.

- admitindo que a lei penal francesa tem um regime concretamente mais favorável a
Joaquim enquanto raptor, ser-lhe-á aplicavel a lei portuguesa?

RESPOSTAS por alto

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