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Agora que os governos e bancos centrais

estão submetendo suas respectivas economias a


agressivas políticas monetárias e fiscais, muitas
pessoas dizem que as idéias de Keynes voltaram à
moda. Ouvimos constantemente que os remédios
keynesianos podem impedir que as economias
mundiais mergulhem em um severo colapso
econômico. Nos Estados Unidos, por exemplo,
Republicanos e Democratas estão competindo
ferozmente entre si para ver que será o primeiro a
submeter a economia americana a inúmeros
pacotes de estímulo. Sobre isso, o Financial
Times recentemente escreveu,
As recaídas keynesianas tomam formas
diferenciadas. Para os Republicanos, este o
momento de se propor novos cortes de impostos
para os pequenos negócios, incluindo uma
suspensão do imposto sobre ganhos de capital, o
que muitos acreditam que iria ajudar a estimular a
atividade econômica. Já os Democratas preferem
uma expansão do seguro-desemprego e do auxílio-
alimentação, além de uma ajuda aos proprietários
de imóveis que estejam em apuros.
Não obstante os trilhões de dólares que os
bancos centrais de todo o mundo já injetaram na
economia, alguns ilustres comentaristas
asseguram que a quantia ainda não foi suficiente.
Por exemplo, Martin Wolf disse que,
Entretanto, sob as atuais condições, uma
política monetária será insuficiente. Esta é uma
situação keynesiana que requer remédios
keynesianos. Os déficits orçamentários chegarão a
níveis outrora considerados inimagináveis. Que
assim seja.
É extraordinário sugerir que as idéias de
Keynes estejam somente agora retornando para
salvar o mundo. As idéias keynesianas jamais
deixaram as salas dos estrategistas dos governos e
dos bancos centrais. A essência do pensamento
dos mais influentes economistas sempre foi
keynesiana. Logo, os vários pacotes de estímulo
que estão sendo apresentados agora são apenas
uma continuação das mesmas políticas
keynesianas às quais estamos submetidos há
muitas décadas. A atual crise econômica é o
resultado da enorme dose de keynesianismo que
nos foi ministrada nos últimos anos.
Fazendo um breve resumo, John Maynard
Keynes dizia que não se pode confiar plenamente
na economia de mercado, que é inerentemente
instável. Se deixada livre, a economia de mercado
poderia se auto-destruir. Daí a necessidade de os
governos e bancos centrais gerenciarem a
economia.
Um gerenciamento de sucesso, na
abordagem keynesiana, é aquele que influencia o
gasto geral da economia. É o gasto que gera a
renda. O gasto feito por um indivíduo se
transforma em renda para outro indivíduo, de
acordo com Keynes. Quanto mais for o gasto,
melhor será para todos. O que comanda a
economia, portanto, é o gasto geral.
Consumo e produção
Na abordagem keynesiana, a parte mais
significante do gasto é determinada pelas
despesas do consumidor. Portanto, o motor da
economia são as despesas com consumo. É o
consumo que gera o crescimento econômico real.
Mas será que o consumo é mesmo o motor
da economia? É necessário fazer uma distinção
entre consumo produtivo e consumo
improdutivo. Enquanto que o consumo produtivo
é um agente de crescimento econômico, o
consumo improdutivo gera apenas
empobrecimento econômico.
Consumo produtivo
Um padeiro poupa (deixa de consumir) dez
pães para poder trocá-los por dez batatas. As
batatas passam agora a sustentar (ou financiar) o
padeiro enquanto este está envolvido na
manufatura de pães. Da mesma forma, os pães
servirão para sustentar o fazendeiro enquanto
este estiver envolvido na produção de batatas.
São as respectivas produções empreendidas pelo
padeiro e pelo produtor de batatas que permitem
que eles consigam bens de consumo.
O que torna o consumo produtivo neste
exemplo é o fato de que tanto o padeiro quanto o
produtor de batatas consomem para poder
produzir. O consumo de ambos mantém suas
vidas e seu bem-estar. Essa é a única razão da
produção.
A introdução do dinheiro em nada altera o
que foi dito até agora. Por exemplo, o padeiro
pode trocar seus dez pães por $10 e então utilizar
esse dinheiro para obter dez batatas. Da mesma
forma, o produtor de batatas pode agora trocar
seus $10 por dez pães. Observe que, à exceção de
ter cumprido seu papel de meio de troca, o
dinheiro não contribuiu em absolutamente nada
para a produção de pães e batatas.
Consumo improdutivo
Até agora, vimos que, para obter batatas, o
padeiro teve de trocar pão por dinheiro para
então poder trocar esse dinheiro por batatas.
Alguma coisa foi trocada por dinheiro que, por
sua vez, foi trocado por uma outra coisa - uma
coisa é trocada por outra coisa por intermédio do
dinheiro.
Até aí, tudo certo.
Mas o real problema surge quando o
dinheiro passa a ser criado "do nada". Tal criação
de dinheiro estimula o consumo sem que tenha
havido qualquer aumento na produção. Essa
"falsificação" de dinheiro faz com que alguma
coisa seja obtida em troca de nada.
Por exemplo, imagine que um falsificador
imprima uma perfeita cédula de $20. Ele não
obteve esse dinheiro por meio da produção de
algum bem ou pela prestação de algum serviço.
Ele não teve de produzir nada para ganhar esse
dinheiro. O dinheiro simplesmente foi criado do
nada. Portanto, o falsificador obteve $20 sem ter
de dar nada em troca.
O falsificador então utiliza esses $20 para
comprar dez pães. O que houve nesse caso? Os
recursos reais - dez pães - que seriam utilizados
pelo produtor de batatas para financiá-lo foram
desviados para o falsificador. Observe que esse
desvio ocorreu porque o falsificador foi capaz de
pagar um preço maior pelo pão - ele paga $2 por
pão; antes, o preço era de $1 por pão. Observe
também que, dado que o falsificador não produz
nada de útil, o consumo no qual ele está
incorrendo é improdutivo.
Ao produtor de batatas agora lhe é negado o
pão que ele precisa consumir para se sustentar
enquanto estiver produzindo batatas.
Obviamente isso irá prejudicar a produção de
batatas. Como resultado, menos batatas serão
disponibilizadas, o que consequentemente irá
afetar o consumo do padeiro, o que debilitará sua
capacidade de produção.
Podemos ver que, enquanto o consumo
produtivo sustenta as atividades geradoras de
riqueza e promove a expansão da riqueza real, o
consumo improdutivo leva apenas ao
empobrecimento econômico.
Um banco central imprimindo dinheiro
produz exatamente o mesmo efeito danoso do
dinheiro falsificado do exemplo acima. O mesmo
é válido para a criação de dinheiro por meio do
sistema bancário de reservas fracionárias. Ambos
são igualmente perniciosos. A expansão do
dinheiro sem o correspondente lastro na
produção cria as bases para o consumo
improdutivo - é um agente da destruição
econômica.
Segundo a abordagem keynesiana, durante
uma recessão, quando os consumidores tendem a
diminuir seus gastos em consumo, o governo tem
a função de intervir e aumentar seu próprio
gasto. Por exemplo, o governo pode colocar
vários indivíduos desempregados para cavar
buracos no chão.
O dinheiro que o governo paga a esses
trabalhadores irá estimular o consumo deles, e
isso consequentemente irá elevar a renda total da
economia. De acordo com esse modelo, não
interessa se buracos no chão contribuem para o
bem-estar das pessoas; o que de fato interessa é
que as pessoas estão sendo pagas e irão utilizar
esse dinheiro para estimular o consumo.
Mas acontece que o governo não ganha
dinheiro assim como as outras pessoas no
mercado. O governo não é um gerador de
riquezas. Assim, como é que ele vai pagar os
vários indivíduos que estão empregados em
projetos não geradores de riqueza? Ele pode
obter o dinheiro por três métodos: tributação,
pedindo ao banco central que imprima o dinheiro
ou pedindo empréstimos. Excetuando-se os
empréstimos externos, todas as três opções acima
se resumem a tomar a riqueza dos seus genuínos
geradores e desviá-la para as atividades do
governo. O resultado será o mesmo daquele
alcançado pela impressão de dinheiro: o consumo
improdutivo.
De acordo com Mises,
é preciso enfatizar o fato óbvio de que um
governo somente pode gastar ou investir aquilo
que tira dos cidadãos, e que os gastos e
investimentos adicionais diminuem, na mesma
medida, os gastos e os investimentos que seriam
feitos pelos cidadãos.
Disso, podemos concluir que, sendo o
governo um ente que não gera riquezas, ele
consequentemente não pode fazer a economia
crescer em termos reais. Contrariamente à crença
popular, quanto mais o governo gastar, pior será
para a saúde da economia e, por conseguinte,
para o crescimento econômico.
Os pacotes de socorro financeiro destinados
a salvar as economias mundiais estão apenas
criando os fundamentos para mais sofrimento
durante os meses vindouros. Muitos
comentaristas e especialistas econômicos que
defendem fortes medidas de estímulos
governamentais nunca se preocuparam em
perguntar como essas medidas serão financiadas -
e por financiamento estamos nos referindo à coisa
real: de onde virão todos os pães e batatas?
Não ocorre aos simpatizantes do
keynesianismo que foram exatamente as políticas
fiscais e monetárias da década passada que
geraram todo o consumo improdutivo. O
resultado de tudo isso foram as inúmeras bolhas
que surgiram por toda a economia mundial e que
agora estão necessariamente estourando. Como
acreditar ser possível que as mesmas políticas
econômicas keynesianas que causaram danos
maciços aos produtores de riqueza irão reativar a
economia?
Implementar mais políticas keynesianas é
exatamente o oposto do que deve ser feito agora:
permitir que os produtores de riqueza tenham
plena liberdade para começar a gerar riqueza
genuína. O mundo precisa de uma abundância
de consumo produtivo. Mais gastos
governamentais e uma criação maciça de
dinheiro pelos bancos centrais servirão apenas
para fortalecer o consumo improdutivo, adiando
as perspectivas de uma significativa recuperação
econômica.

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