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SUPERMAN E O

CONSERVADORISMO
AMERICANO:
IMAGINÁRIO
HEROICO NA ERA
REAGAN

Fernando Miramontes Forattini

Bruno Leonardo Ramos Andreotti


Demonstrar como a ideologia política
americana é tributária de seu imaginário
heroico a partir de uma análise do contexto
histórico que propiciou a “virada conservadora

Objetivos republicana” consubstanciada no ideário de


Ronald Reagan e de um dos personagens
ficcionais mais emblemáticos dos Estados
Unidos: o Superman.
• Final da década de 70;
• Transformação ideológica; crise do estilo de
vida americano gera uma grave crise de
confiança;
• O tipo de liderança que o público ansiava

Contexto era diferente do tipo que colocou Carter


como presidente em 1976. Seu estilo
baseado no homem comum, de fala calma,
era o oposto do que os eleitores pediam:
como muitos analistas dizem, os eleitores
buscavam um líder com características mais
próximas a de um herói. (PERLSTEIN, 2020)
• Nos Estados Unidos, há tanto a necessidade de heróis quanto uma espécie de clareza em
relação a essa necessidade, possuindo efeitos duradouros no imaginário heroico
americano;
• Politicamente instrumentalizado, o herói capta todos os fervores da esperança coletiva
(GIRARDET, 1987, p.66), expressando uma visão coerente e completa do destino
coletivo (idem, p. 70). Para essa instrumentalização é necessária uma certa adequação
entre a personalidade do herói e as necessidades de uma sociedade em um determinado
momento de sua história, tornando-se objeto de análise privilegiado para se identificar
valores, ideologias e mentalidades (idem, pp. 82-83).
• Assim, heróis representarão, em menor ou maior escala, a tarefa de proteger a
comunidade de ameaças externas, especialmente em momentos históricos essenciais à
sua formação identitária
• Esses heróis, em especial o Superman (criado em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster),
são expressão dos valores culturais contidos no “estilo de vida americano” (American
way of life), uma referência de autoimagem para a maioria daquela população.
• Essa necessidade por heróis pôde ser notada na explosão de popularidade de filmes
como Superman: O Filme (1978) no final da presidência de Carter. Depois de algumas
décadas de queda em popularidade, o Homem de Aço é reavivado num contexto político
nada incidental.
• A nostalgia que o personagem evoca se encaixa perfeitamente a um poder do Superman
mostrado no filme: voltar no tempo para salvar seu interesse romântico, Lois Lane. A
alegoria foi intencional (PERSLETEIN, 2020). Tal percepção é ratificada pelo diretor
do filme, Richard Donner, ao dizer que o Superman representa atitudes conservadoras e
que Donner desejava poder voltar ao que a América fora um dia (idem).
• Donner retrata-se como mais um dos desiludidos com a “filosofia liberal”,
consubstanciada no período Carter. É importante apontar que, ao lado do mito do herói,
o mito da idade de ouro (um passado perfeito em oposição a um presente degradado)
também é altamente capitalizável politicamente (GIRARET, 1987).
A morte de Lois Lane é o que motiva o
Superman a voltar no tempo, contrariando
as expressas instruções de seu pai
kryptoniano, Jor-El.
• A versão do Superman apresentada na minissérie
em seis edições Man of Steel, de 1986, de autoria
de John Byrne, já um dos maiores nomes da
indústria dos comics à época, expressa valores
liberais e conservadores e ecoa aspectos do filme
de 1978 – especialmente porque Byrne quis fazer
dessa versão uma espécie de síntese de todas as
versões do Superman até então, notoriamente a do
seriado televisivo dos anos 50 e da versão
cinematográfica de 1978, sintetizando elementos
nostálgicos e evocando o passado, ao mesmo
tempo em que se propunha a atualizar o
personagem.
• O quadrinho torna-se ponto privilegiado para
entender como o imaginário heróico americano
passa a expressar valores alinhados às
necessidades políticas da Era Reagan (1981-1989).
• Nessa nova origem do personagem sua herança kryptoniana será deixada em segundo plano, dando
ênfase aos valores americanos de sua origem terrestre, valores que recebeu dos pais, Jonathan e Martha
Kent, pequenos proprietários rurais do Kansas – estado do centro-oeste americano.
• O projeto político neoconservador narra a história de uma nação que exclui certos grupos sociais,
notoriamente, mas não só, latino-americanos, e ainda que imigrantes possam ter sua cidadania
reconhecida (e tiveram sob a Era Reagan com a Lei de Reforma de Controle e Imigração de 1986), não
são considerados como pertencentes à tradição fundada miticamente que se expressa principalmente
por meio do Destino Manifesto. É nesse contexto que Clark Kent ganhará predominância sobre Kal-El
(nome kryptoniano do Superman). Digno de nota é fato de que um dos feitos do Superman na
minissérie é impedir o sequestro de um navio por um grupo de criminosos de origem latino-americana,
retratados de maneira extremamente estereotipada, o que parece evidenciar essa cisão entre certos
grupos de imigrantes desejados e não desejados.
• Há um certo medo em relação ao povo
americano também está presente na
história de Byrne. Na história, seu
primeiro grande ato público é impedir a
queda de um avião, despertando um
certo fascínio das pessoas ao redor. O
Superman reage ao povo americano da
seguinte forma “Foi como se a minha
primeira aparição pública simplesmente
despertasse as piores e mais gananciosas
facetas das pessoas” (BYRNE, 2015:
38).
Ao mesmo tempo vemos suas características
de vigilante tornarem-se mais tênues, com o
personagem alinhado à lei e ordem. Na
minissérie, quando em conflito com seu
arqui-inimigo Lex Luthor, nesta versão um
tipo de empresário corrupto, este tenta
contratá-lo, o que prontamente é recusado.
Porém, só toma uma atitude contra Luthor
quando autorizado pelo prefeito de
Metrópolis. Superman nega a autoridade do
poder econômico de Luthor, porém aceita
como legítima a autoridade política do
prefeito, estando assim em consonância com
os valores democráticos dos Estados Unidos.
Considerações
finais
• Procurou-se demonstrar como a ideologia política americana é tributária de seu
imaginário heroico, que se manifesta tanto na figura de seu presidente, no caso, como
Reagan fora percebido em sua época, como em um dos personagens mais emblemáticos
desse país, o Superman. Tanto uma figura quanto outra – e sua sintonia – parecem ser
capazes de captar fervores, esperanças, expectativas e necessidades de uma determinada
época, revelando elementos importantes da ideologia conservadora da Era Reagan.
Referências citadas
• BOORSTIN, Daniel. The Americans. The National Experience. Nova Iorque: Vintage Books, 1965.

• BYRNE, John. O Homem de Aço. São Paulo: Eaglemoss, 2015.

• GIRARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Cia das Letras, 1987.

• LUNDEGAARD, Erik. Did Superman Resurrect Patriotism? On Truth, Innocence, and the American
Way. Julho, 2013. Disponível em: http://eriklundegaard.com/item/did-superman-resurrect-patriotism-on-truth-
innocence-and-the-american-way, Acesso: 27/09/2020.

• PERLSTEIN, Rick. Reaganland: America's Right Turn 1976-1980. Nova Iorque: Simon & Schuster,
2020.

• SUPERMAN: O Filme. Direção de Richard Donner. [s.i]: Dovemead Films, 1978. Son. color.
Legendado.

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