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SUA PETIÇÃO
DIREITO DO
TRABALHO
Seção 3
DIREITO DO TRABALHO
Sua causa!
Uma vez que já foram apresentadas as peças processuais da fase de conhecimento e de que já
houve a audiência de instrução processual, vamos analisar o recurso cabível em face da sentença
prolatada pela 100ª Vara do Trabalho de Salvador/BA.
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃO
100ª VARA DO TRABALHO DE SALVADOR/BA
RITO ORDINÁRIO
PROCESSO N. 0000001-00.2021.5.05.0100
RECLAMANTE: RAÍSSA PINHEIRO
RECLAMADO: PÃO DE LÓ LTDA.
SENTENÇA
1- RELATÓRIO
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Aduz, ainda, que teve o seu contrato de trabalho suspenso nos termos da MP n. 1.045, mas
que laborou durante o período, razão pela qual faz jus à remuneração do período de
04/05/2021 e 02/06/2021.
Como declararam que não desejavam produzir outras provas, encerrou-se a instrução.
2- FUNDAMENTAÇÃO
A reclamante alega que o contrato de trabalho foi rescindido por justa causa por ausência
de vacinação contra a COVID-19. Afirma que apresentou laudo médico no sentido de que
não deveria se vacinar. Afirma que a reclamada ignorou a justificativa apresentada e sequer
observou o caráter pedagógico necessário para eventual aplicação da justa causa.
Dessa forma, pugna pela reversão da justa causa com o consequente pagamento.
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A reclamada se defende afirmando que não recebeu laudo médico justificando a ausência
de vacinação. Assevera que orientou seus funcionários acerca da obrigatoriedade e
importância da vacinação e que aplicou advertência na reclamante antes de proceder à
dispensa por justa causa.
A prova oral não modifica em nada a situação, vez que as testemunhas nada mencionaram
acerca do suposto laudo médico.
No atual contexto a recusa à vacinação é legítima, pois as vacinas disponíveis ainda são
recentes, desenvolvidas às pressas, sendo desconhecidos os efeitos adversos que podem
causar.
Neste sentido, invoca-se decisão da 2ª Vara Cível da Comarca de Gaspar/SC, nos autos do
julgamento do Mandado de Segurança n. 5005078-34.2021.8.24.0025, destacando-se o
seguinte trecho:
A relação de efeitos adversos originário das vacinas é tão ou mais extenso que as próprias bulas
ignoradas pelas autoridades, que no afã de salvar vidas, estão se comprometendo civilmente pelos
efeitos adversos que seus servidores, população e contribuintes em geral terão a curto médio e longo
prazo, sem ao menos darem a chance das pessoas de escolher o momento adequado para se
vacinar. Aqui incluo a responsabilidade também da esfera privada que esteja a exigir de seus
funcionários conduta semelhante sob pena de demissão, o raciocínio é o mesmo
Negar os riscos para saúde relacionados a qualquer vacina é uma postura anticientífica,
especialmente se tratando de uma vacina cujos testes de segurança e eficácia não estão concluídos.
Além disso a maior evidência de risco é que os próprios laboratórios não se responsabilizam pelos
efeitos adversos, ou seja, se o fabricante não garante segurança do produto é evidente que ele
apresenta riscos que nem ele quer assumir.
O entendimento acima adotado é o mais adequado para o momento histórico vivido. Em que
pese a inexistência de laudo médico justificando a recusa em se vacinar, trata-se de direito
individual, que não pode ser cerceado. Neste contexto, irrelevante a questão documental.
Diante do exposto, julgo procedente o pedido de reversão da justa causa, eis que inexistente
falta grava da trabalhadora. Consequentemente, defiro o pagamento de aviso prévio de 36
dias, 7/12 de férias proporcionais + 1/3, 8/12 de décimo terceiro salário proporcional e a
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multa de 40% sobre o saldo do FGTS. Além disso, condeno a reclamada na obrigação de
entregar as guias para saque do FGTS e para recebimento do seguro desemprego, no prazo
de 10 (dez) dias corridos, contados da intimação para tal fim, após o trânsito em julgado.
No caso em tela é incontroverso que houve a suspensão do contrato de trabalho, por comum
acordo, nos termos da MP n. 1.045, no período de 04/05/2021 a 02/06/2021.
A alegação autoral é de que neste período continuou trabalhando normalmente, o que não
poderia ocorrer. A reclamada, por sua vez, nega este fato.
Tendo em vista que estamos diante de prova dividida, nos termos do art. 818, da CLT, julgo
procedente o pedido, condenando a reclamada ao pagamento dos salários do período de
04/05/2021 a 02/06/2021, com a devida incidência dos encargos legais.
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Em que pese a reclamação trabalhista ter sido julgada totalmente procedente, defiro a
assistência judiciária gratuita para a trabalhadora, vez que auferia a quantia mensal de R$
1.500,00 (mil e quinhentos reais), valor que ultrapassa os 40% (quarenta por cento) do limite
máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
A Lei n. 13.467/17 acrescentou na CLT o art. 791-A, que prevê o pagamento de honorários
advocatícios, mesmo quando for concedida a assistência judiciária gratuita (§4º).
3 - DISPOSITIVO
São devidos honorários advocatícios de 10% pela reclamada, percentual que deve ser
calculado sobre o valor a ser apurado em liquidação de sentença.
Salvador, 08/11/2021.
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Juiz do Trabalho
Agora é com você! A sentença foi disponibilizada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho
no dia 08/11/2021.
Fundamentando!
Para lhe auxiliar a elaborar corretamente a peça processual, vamos analisar os principais
aspectos de Direito Processual do Trabalho e de Direito Material do Trabalho que devem ser
observados.
1) RECURSO
De início, é fundamental a leitura do art. 895, da CLT, a fim de identificar qual o recurso pode
ser interposto no caso em questão, assim como o prazo conferido na CLT para a prática
deste ato processual.
A elaboração deste recurso inicia-se com o seu endereçamento, que na hipótese vertente é
o juízo que prolatou a sentença. Ele fará o primeiro juízo de admissibilidade, nos termos do
art. 659, inciso VI, da CLT, oportunidade em que irá analisar se estão preenchidos os
pressupostos recursais, tais como tempestividade, regularidade de representação
processual e regularização do preparo.
Admitido o recurso, será intimada a parte adversa para apresentar contrarrazões, conforme
disciplina o art. 900, da CLT).
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2) PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS RECURSAIS
Cada ato processual é revestido de algumas formalidades. Com os recursos não é diferente,
isto é, existem pressupostos ou requisitos que necessitam ser observados pela parte que
interpõe o recurso, sob pena dele ser conhecido (não ter o mérito analisado).
Além disso, é fundamental que a peça processual seja interposta no prazo legal, ou seja,
tempestivamente. A maior parte dos prazos recursais trabalhistas são de 08 (oito) dias. O
art. 775, da CLT, com a redação dada pela Lei nº 13.467/17, estipula que os prazos
processuais trabalhistas são contados em dias úteis.
O preparo, que é mais um requisito formal, abrange o pagamento das custas e o depósito
recursal. Ele tem natureza de garantia, razão pela qual somente deve ser realizado pela
parte devedora, quando há condenação em pecúnia
PONTO DE ATENÇÃO
Nos termos do art. 789, inciso I, da CLT, as custas devem ser recolhidas (2% do valor
arbitrado à condenação) e comprovadas no processo no prazo previsto para o recurso. Na
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hipótese de a reclamação trabalhista ser julgada parcialmente procedente, não há que se
falar em rateio das custas entre as partes, pois não existe previsão legal neste sentido no
Direito Processual do Trabalho. Para melhor compreensão e contextualização, sugere-se a
leitura da ementa de julgado da lavra do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região:
Dessa forma, a parte terá o prazo de 5 (cinco) dias para sanar o vício de representação
também na fase recursal.
Não se pode deixar de lado a legitimidade recursal. Somente pode apresentar recurso a
quem a lei conferiu este direito: à parte vencida, ao terceiro prejudicado e ao Ministério
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Público do Trabalho, como parte ou como fiscal da lei (aplicação subsidiária do art. 996 do
CPC de 2015).
Além de todo o exposto, a parte tem que ter interesse em recorrer, isto é, tem que ser
sucumbente no objeto da demanda para que possa recorrer daquilo que lhe foi desfavorável.
No caso sob análise, a reclamante não tem interesse recursal, vez que a reclamação
trabalhista foi julgada totalmente procedente.
Estas são as principais questões de ordem processual que devem ser observadas quando
da elaboração da peça recursal.
Você, aluno, deve analisar se a decisão judicial aplicou corretamente as disposições do art.
818, da CLT, cuja redação é a seguinte:
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A quem incumbe o ônus de prova no caso da existência de prestação de serviços durante o
período de suspensão contratual? Sendo o depoimento divergente, como deve ser decidido
o mérito da demanda?
4) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Caso o recurso seja totalmente provido, a demanda for julgada completamente improcedente
e não haverá sucumbência para a reclamada.
Os argumentos a serem lançados na peça recursal são os mesmos utilizados na Ação Direta
de Inconstitucionalidade nº 5766, em trâmite no Supremo Tribunal Federal e que pode ser
acessada no seguinte endereço eletrônico:
• http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/ADI5766reformatrabalhista.pdf
5) JUSTIÇA GRATUITA
O deferimento ao pedido de justiça gratuita não precisa ser abordado, vez que preenchidos
os requisitos legais para o seu deferimento.
Além das questões procedimentais deve-se analisar o Direito Material do Trabalho que pode
amparar a pretensão recursal da reclamada. Vamos lá?
1) VACINAÇÃO
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A sentença julgou procedente o pedido de reversão de justa causa, ao fundamento de que
a recusa à vacinação é um direito do cidadão, independentemente de justificativa. Este é o
principal argumento a ser combatido na peça processual a ser elaborada.
Mais uma vez valha-se da decisão do STF, no ARE 1267879, que teve tese de repercussão
geral fixada e pode ser acessada no seguinte link:
• https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=457462&ori=1
• https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_
de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf
A jurisprudência, embora não vincule o julgamento a ser proferido pelo Tribunal Regional do
Trabalho da 5ª Região, é uma fonte importante para o convencimento dos julgadores. Dessa
forma, pesquise decisões judicias dos Tribunais do Trabalho que sejam no interesse da tese
a ser defendida.
Por fim, não se esqueça que houve orientação de todos os funcionários acerca da
importância e da obrigatoriedade da vacina contra a COVID-19, além de aplicação de
advertência à reclamante antes da dispensa por justa causa.
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Recurso - Art. 789; Art. Art. 76; - Súmula n. -
795; Art. Art. 219; 197;
893; Art. Art. 996 Súmula n.
895; Art. 383;
899; Art. 900 Instrução
Normativa
n. 41.
Vamos peticionar!
Ela deve ser endereçada ao juízo que prolatou a decisão. No recurso deve-se insurgir, de
maneira fundamentada, contra os aspetos que foram desfavoráveis ao interesse do seu
cliente.
A peça processual deve ser elaborada utilizando linguagem impessoal. Quando se referir à
decisão não faça menção ao juiz ou juíza prolator(a) da decisão, pois o recurso não visa
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combatê-lo, mas sim a decisão por ele(a) prolatada. Refira-se, portanto, à decisão ou à
sentença, que é justamente o que se ataca pela peça recursal.
Mãos à obra.
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