Lição 04

A Cruz: poder de Deus

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A prática da crucificação era comum entre o povo persa; espalhou-se pelo mun-
do na época do helenismo e durante o Império Romano tornou-se o meio usado
para punir rebeldes e escravos fugitivos. Cidadãos romanos raramente eram cru-
cificados. Tal morte humilhante espalhava medo e impunha obediência pelo terror.
Neste estudo consideraremos a cruz como símbolo cristão, destacando seus prin-
cipais significados.

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 Fundamento bíblico
Parte do conteúdo da pregação dos
primeiros cristãos e cristãs era a confis-
são de que Jesus fora “pendurado no ma-
deiro” (Atos 5.30; 10.39; 13.29). Para que
Jesus tivesse morte de cruz era neces-
sário ser visto como apóstata entre os
judeus, e ameaça política pelos romanos.
Em 1Coríntios Paulo expõe a tensão
que existia entre o modo de viver da po-
pulação de Corinto e a ética do Evangelho,
a forma daquelas pessoas pensarem e as
doutrinas do Evangelho, e se apressa em
fazer isso no início da carta.
De imediato ele fala da mensagem da
cruz e como ela se contrapõe a um de-
terminado tipo de sabedoria – a sabedo-
ria humana. Para o povo judeu a palavra
da cruz é escândalo; para o povo gentio
a palavra da cruz é loucura. “Loucura no
sentido de que isso é um total contras-
senso, contraria todas as aparências.
Parece tolice. Dizer que Deus oferece
salvação através da cruz de Cristo, e não
através da linguagem de sabedoria, é
loucura ...” (OLIVEIRA, 1994). Escândalo
para algumas pessoas; loucura para ou-
tras. Imagine para o povo judeu piedoso
aceitar que o Messias foi crucificado e
que Ele é o próprio Deus Javé.
Numa linguagem clara o apóstolo
expõe as contradições que existem en-
tre crer e não crer na palavra da cruz.
De um lado está a sabedoria, de outro
a loucura; de um lado o poder, de outro
a fraqueza; de um lado a salvação, de
outro a perdição. “Em sua sabedoria o
mundo não conheceu a Deus. Não foi
por simples deficiência, mas sim por
uma rejeição consciente do conheci-
mento, foi uma tentativa do mundo de
criar a sua própria sabedoria. Contudo,
Deus não abandonou simplesmente o
mundo (2Co 5.19); seu amor foi maior
do que a descrença. Ele decidiu esco-
lher um novo meio de salvação em fa-
vor do mundo. O acesso a ele, porém,
está vinculado exclusivamente à fé. A
loucura da palavra da cruz evidencia
o juízo de Deus sobre a sabedoria do
mundo” (OLIVEIRA, 1994).
Ainda que a dúvida faça parte da fé em
determinado momento, não podemos
permanecer na incredulidade. Enquanto
algumas pessoas pedem sinais e outras
buscam sabedoria, a Igreja deve pregar a
Cristo crucificado. Para aqueles e aquelas
que creem Cristo Jesus é poder e sabedo-
ria de Deus.
O significado cristão da cruz em
1Coríntios está diretamente ligado às
duas interpretações principais que o
Novo Testamento dá à morte de Jesus
Cristo: a) Foi sacrifício expiatório. A pala-
vra “expiação” significa cobrir. No Antigo
Testamento (Antiga Aliança), para cobrir
os pecados das pessoas culpadas, um
animal era sacrificado e sangue inocen-
te era derramado em favor de outros
(Levítico 16). Na Nova Aliança, Cristo der-
ramou seu sangue inocente em favor de
toda pessoa culpada. b) Foi sacrifício vi-
cário. Vicário é quando alguém se coloca
no lugar de outra pessoa. Jesus deu a sua
vida como sacrifício no lugar de toda hu-
manidade (Hebreus 10.1-18). Ele se fez
sacrifício por nós.
RAÍZES DA NOSSA FÉ 31
 Palavra que ilumina a
vida
A cruz guarda os seguintes significa-
dos principais:
• Foi instrumento de reconciliação
(2Coríntios 5.18-21). A iniciativa da re-
conciliação foi de Deus! Ele estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo.
• É instrumento de morte usado
para trazer vida (João 3.14-15). Lembra-
se do episódio da serpente no deserto
(Números 21.4-9)? Em Jesus Cristo, o ser
humano, se crer, tem vida. E vive hoje a
vida da eternidade. A exigência é crer.
• Ela estabelece pontes (Efésios
2.13-16). Entre Deus e o ser humano,
entre a própria humanidade (não impor-
tando se judeus e gentios ou homens e
mulheres), entre a humanidade e a cria-
ção/meio ambiente.
• Nela, Cristo levou nossa culpa e
castigo (Colossenses 2.11-15). Há um
novo poder que domina o universo.
• É altar do sacrifício (Hebreus
10.11-14). Jesus Cristo é ao mesmo tem-
po o sacerdote e o sacrifício. Seu sacrifí-
cio foi oferecido uma única vez, e de uma
vez por todas.
• É sinal de que Jesus Cristo levou
todos os nossos pecados (1Pedro 2.21-
24). Fomos perdoados e perdoadas!
• Sua mensagem nos convida a se-
guir o Salvador (Marcos 8.34). Cada pes-
soa que se compromete com Jesus deve
assumir a cruz do discipulado (Mateus
10.34-39; Lucas 14.25-33; Gálatas
2.19-20).
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A cruz, com todo seu escândalo, guar-
da um mistério que, apesar de anun-
ciado, só seria compreensível à Igreja a
partir da ressurreição: “Então, lhes disse
Jesus: ó néscios e tardos de coração para
crer tudo o que os profetas disseram!
Porventura, não convinha que o Cristo
padecesse e entrasse na sua glória? E,
começando por Moisés, discorrendo por
todos os profetas, expunha-lhes o que
a seu respeito constava em todas as
Escrituras” (Lucas 24.25-27).
O sentido para a morte de Jesus, que
do ponto de vista das expectativas em
torno do messias era absurda (1Coríntios
1.23), partiu da leitura do Servo Sofredor
(Isaías) e do justo que sofre. O justo cru-
cificado pelo sistema político, religioso e
econômico é uma denúncia da injustiça, e
proclamação da necessidade de um novo
mundo, da construção do reino de Deus.
Sendo a cruz um símbolo tão rico e
tão importante para cristãos e cristãs, por
que seu uso é tão restrito entre as igrejas
evangélicas? Há pelo menos três razões:
(A) Na época do Império Português os mis-
sionários no Brasil eram proibidos de reu-
nir-se publicamente e os lugares de culto
não podiam ter características externas
de templo, ou seja, nem placa ou título,
nem sinos ou cruzes. (B) Predominou nas
igrejas o espírito anticatólico, isto é, tudo o
que lembrava o catolicismo era terminan-
temente proibido entre protestantes. (C)
O próprio desconhecimento de verdades
bíblicas e da tradição da Igreja acerca do
símbolo da cruz.
No entanto, a mensagem da cruz, lon-
ge de escandalizar ou enlouquecer, deve
gerar paz, aproximação, amizade, reno-
vação, edificação, justiça e, finalmente,
amor. Essa é a revelação do caráter de
Deus na cruz da Calvário.
A inclusão de símbolos na proclama-
ção do Evangelho (tanto no AT como no
NT), ensina que a revelação de Deus não
ocorre somente por palavras. Seu uso
está sempre vinculado ao caráter pe-
dagógico. Além da cruz, a Bíblia destaca
muitos outros símbolos como forma de
tornar acessível a compreensão da men-
sagem revelada.
O uso da cruz, ou de outros símbo-
los, em nosso cotidiano não está firma-
do numa fé supersticiosa. Não a usamos
como amuleto, mas como algo que apon-
ta para a razão da nossa fé. “A cruz não
é enfeite, decoração. Ela é o sinal mais
visível do amor de Deus pela sua cria-
ção e, ao mesmo tempo, é a nossa mais
clara confissão de fé. Ao fixarmos a cruz
em lugar de destaque em nossas igre-
jas estamos testemunhando que nossa
fé se firma e se fortalece no Cristo cru-
cificado, o mesmo que foi ressuscitado
dentre os mortos e está no meio de nós.
Da cruz vazia não podemos abrir mão.
Diante da sabedoria de Deus manifesta
na cruz de Cristo cai por terra toda a arro-
gância e autossuficiência humanas! Deus
escolheu o que há de mais fraco, frágil e
desprezível para revelar todo o seu amor e
salvar quem o busca. “Isso quer dizer que
ninguém pode se orgulhar na presença de
Deus” (1Co 1.29) – diz o apóstolo Paulo”
(DREHER, 2013). A cruz é símbolo da nos-
sa redenção; nela Jesus deu a vida por nós!
Conclusão
Ao recordar o significado da Cruz para
o povo cristão, vale considerar que a cruz
não deve ser motivo de superstição ou
crendice, nem utilizada como amuleto
mágico ou objeto de veneração – assim
como qualquer outro símbolo cristão.
Retomando seus significados bíblicos e
teológicos é importante resgatar a cruz
em nossas celebrações litúrgicas e devo-
cionais, a fim de continuarmos anuncian-
do a mensagem que ela nos traz.
Como símbolo, a cruz aponta para
algo maior: representa o evento único
realizado por Deus em Cristo Jesus por
meio do Espírito Santo, a grande salva-
ção do ser humano e de toda criação.
Para conversar
Como as pessoas na sua comunidade
de fé lidam com a cruz no altar?
A expressão “a cruz nossa de cada
dia” tem alguma relação com o discipu-
lado de Jesus?
Leia durante a semana:
Domingo: 1Coríntios 1.18-25
Segunda-feira: Atos 5.30; 10.39;
Terça-feira: Mateus 10.34-39;
Lucas 14.25-33
Quarta-feira: Gálatas 2.19-20
Quinta-feira: João 3.14-15;
Números 21.4-9
Sexta-feira: Filipenses 2.8
Sábado: João 12.32
RAÍZES DA NOSSA FÉ 33