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UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SÃO JOÃO DEL-REI


Departamento de ciências naturais

João Leno Antônio de Sousa

Determinação da Constante Elástica de


Arranjos de Molas em Série e em
Paralelo (Equilíbrio)
São João Del – Rei 18 de Outubro de 2010
Objetivo:
Determinar, experimentalmente, a constante elástica em um sistema massa-mola
e em arranjos em série e em paralelo. Deduzir, utilizando conceitos de conservação de
energia e do trabalho realizado por uma força com dependência espacial (Lei de
Hooke), porém, conservativa, as equações que permitem encontrar a constante elástica
em um sistema massa-mola.

Introdução
A lei de Hooke descreve a força restauradora que existe em diversos sistemas
quando comprimidos ou distendidos. Qualquer material sobre o qual exercermos uma
força sofrerá uma deformação, que pode ou não ser observada. Apertar ou torcer uma
borracha, esticar ou comprimir uma mola, são situações onde a deformação nos
materiais pode ser notada com facilidade. Mesmo ao pressionar uma parede com a mão,
tanto o concreto quanto a mão sofrem deformações, apesar de não serem visíveis. A
força restauradora surge sempre no sentido de recuperar o formato original do material e
tem origem nas forças intermoleculares que mantém as moléculas e/ou átomos unidos.
Assim, por exemplo, uma mola esticada ou comprimida irá retornar ao seu comprimento
original devido à ação dessa força restauradora.
Enquanto a deformação for pequena diz-se que o material está no regime
elástico, ou seja, retorna a sua forma original quando a força que gerou a deformação
cessa. Quando as deformações são grandes, o material pode adquirir uma deformação
permanente, caracterizando o regime plástico. Nesta aula trataremos de deformações
pequenas em molas, ou seja, no regime elástico.
A figura 1a mostra uma mola com comprimento natural x0. Se esta for
comprimida até um comprimento x<xo, a força F (também chamada de força
restauradora) surge no sentido de recuperar o comprimento original, mostrado na figura
1b. Caso a mola seja esticada até um comprimento x>xo a força restauradora F terá o
sentido mostrado em 1c. Em todas as situações descritas a força F é proporcional à
deformação ∆x, definida como ∆x = x − xo.

Figura 1

Em outras palavras, no regime elástico há uma dependência linear entre F e a


deformação ∆x. Este é o comportamento descrito pela lei de Hooke: F = −k∆x, onde k é
a constante de proporcionalidade chamada de constante elástica da mola, e é uma
grandeza característica da mola. O sinal negativo indica o fato de que a força F tem
sentido contrário a ∆x. Se k é muito grande significa que devemos realizar forças muito
grandes para esticar ou comprimir a mola, portanto seria o caso de uma mola ”dura”. Se
k é pequeno quer dizer que a força necessária para realizar uma deformação é pequena,
o que corresponde a uma mola ”macia”.
As figuras 2a e 2b mostram a situação que iremos tratar nesta experiência.
Consiste de uma mola não distendida suspensa verticalmente, com comprimento natural
x0. Em 1b, temos a mesma mola sujeita a ação de uma força que a distende até um
comprimento x=xo+∆x.

Figura 2: (a) Mola sem ação de força externa. x0 corresponde ao seu comprimento natural.
(b) Mola sob ação de um corpo de peso P=mg, o qual deforma a mola de um valor ∆x = x – x0.

A força que distende a mola é devida ao peso P de um corpo com massa m,


pendurado na extremidade inferior da mola. Na situação de equilíbrio mostrada na
figura 1b, temos duas forças de módulos iguais e sentidos contrários F e P agindo sobre
o corpo. Uma delas é devida ao peso P = mg, onde g é a aceleração da gravidade. A
outra se deve á força restauradora da mola e á tal que F = -P.
Temos então da Lei de Hooke:
F = −k∆x = −P =⇒ P = k∆x
Ou, analisando a equação em módulo: P = k∆x
Pode-se notar que a equação acima descreve uma dependência linear entre P e a
deformação da mola ∆x. Escrevendo esta dependência na forma y=ax+b, temos a
seguinte correspondência:

Figura 3

Ou seja, em um gráfico do m´módulo do peso P versus a deformação ∆x da


mola, teremos o coeficiente angular a correspondendo ao valor da constante elástica k
da mola, e o coeficiente linear correspondendo a b=0. Portanto, é possível determinar a
constante elástica da mola graficamente.
Fundamento Teórico
Um sistema massa-mola é constituído por uma massa acoplada a uma mola que
se encontra fixa a um suporte. A deformação da mola e proporcional à força aplicada
para comprimir e/ou esticar a mola, a qual é dada pela Lei de Hooke: F = - kx; onde x é
a deformação da mola em relação à posição de equilíbrio (x = 0) e k é a constante
elástica. No caso de uma massa suspensa em uma mola a força é realizada pela
gravidade agindo sobre a massa. Na situação de equilíbrio temos: mg = kx; portanto:
mg
K= .
∆x
Quando as molas são associadas em série ou em paralelo a constante de
n n
1 1
elasticidade equivalente é dada por: =∑ e k =∑ k i.
k i ki i
Procedimento Experimental
1. MATERIAL UTILIZADO
i) Trena;
ii) Duas molas e um suporte para peso;
iii) Pesos de 10g e 20g;
iv) Suporte de ferro;

2. MON
TAG
EM
DO

EXPERIMENTO

Foi montado o experimento conforme a figura-1


Figura 1 – Arranjo da parte experimental.
Resultados Obtidos

Nessa seção estão as tabelas com os valores obtidos no experimento e os


cálculos realizados para encontrar os valores médios e os respectivos erros.
Para a obtenção dos valores das seguintes tabelas foram feitos os seguintes
procedimentos:
i) Medido o valor do comprimento das molas;
ii) Colocado os pesos e medido por trena a deformação das molas em x1,
x2,x3,x4,x5,x6;
iii) Feito os arranjos em série e em paralelo, e obtidos por medição os valores da
deformação da mola em x1, x2,x3,x4,x5,x6;
iv) Cálculo dos desvios e do valor da constante de k e das forças que agem sobre o
sistema.

1. Tabelas dos valores obtidos nos experimentos com respectivos cálculos de


valor médio.
n

∑ xi 0,201+0,2+0,202+0,2+ 0,2
i
∆ x=
∆ x= 5
n
∆ x=0,2006 m

Tabela 1 - Deformação da mola G01 (metros)


G01 x0 x1 = 10g x2 = 20g x3 = 40g x4 = 60g x5 = 80g x6 = 100g

1 (m) 0,201 0,207 0,21 0,224 0,251 0,282 0,31


2 (m) 0,2 0,206 0,209 0,225 0,25 0,283 0,311
3 (m) 0,202 0,207 0,208 0,224 0,251 0,281 0,309
4 (m) 0,2 0,206 0,211 0,223 0,25 0,283 0,31
5 (m) 0,2 0,206 0,21 0,223 0,251 0,282 0,311
Média (m) 0,2006 0,2064 0,210 0,2238 0,2506 0,2822 0,3102

Legenda das tabelas:


 G01 – Nome da mola;
 x0 – Mola no estado relaxado;
 xn – Valor da deformação da mola em cada vez que foi adicionado uma massa;
 (m) – Unidade de medida do SI, metros;

Tabela 2 - Deformação da mola G02 (metros)

G02 x0 x1 = 10g x2 = 20g x3 = 40g x4 = 60g x5 = 80g x6 = 100g

1 (m) 0,202 0,204 0,208 0,232 0,262 0,3 0,332


2 (m) 0,201 0,205 0,207 0,231 0,261 0,299 0,333
3 (m) 0,2 0,206 0,209 0,234 0,262 0,301 0,334
4 (m) 0,201 0,205 0,207 0,233 0,263 0,302 0,332
5 (m) 0,2 0,204 0,208 0,231 0,261 0,3 0,333
Média (m) 0,2008 0,2048 0,208 0,2322 0,2618 0,3004 0,3328
Tabela 3 - Deformação da associação em série das mola G01 mais G02 (metros)

G01+G02 x0 x1 = 10g x2 = 20g x3 = 40g x4 = 60g x5 = 80g x6 = 100g

1 (m) 0,28 0,286 0,296 0,338 0,4 0,462 0,525


2 (m) 0,279 0,285 0,295 0,339 0,401 0,463 0,524
3 (m) 0,278 0,286 0,297 0,337 0,399 0,464 0,526
4 (m) 0,28 0,287 0,296 0,336 0,4 0,462 0,527
5 (m) 0,279 0,284 0,295 0,338 0,4 0,461 0,524
Média (m) 0,2792 0,2856 0,296 0,3376 0,4000 0,4624 0,5252

Tabela 4 - Deformação da associação em paralelo das mola G01 e G02 (metros)

G01//G02 x0 x1 = 10g x2 = 20g x3 = 40g x4 = 60g x5 = 80g x6 = 100g

1 (m) 0,224 0,226 0,228 0,232 0,236 0,244 0,259


2 (m) 0,225 0,227 0,229 0,231 0,237 0,245 0,26
3 (m) 0,223 0,226 0,227 0,233 0,236 0,243 0,261
4 (m) 0,221 0,228 0,228 0,232 0,235 0,246 0,26
5 (m) 0,224 0,227 0,229 0,232 0,239 0,244 0,262
Média (m) 0,2234 0,2268 0,228 0,2320 0,2366 0,2444 0,2604

2. Tabela dos valores médios e seus respectivos desvios seguindo a equação do


desvio padrão.

n 1 /2

σ=
1
n−1 [
∗ ∑ ( x i−∆ x i )
i
2
]
  Tabela 5 - Médias e Desvios dos Valores Experimentais
Peso σG01 σG02 G01+G02 σ(G01+G02) G01/G02 σ(G01//G02)
G01 (m) G02 (m)
  (Kg) (m) (m) (m) (m) (m) (m)
x0 0 0,2006 0,0009 0,2008 0,0008 0,2792 0,0008 0,223 0,002
x1 0,01 0,2064 0,0005 0,2048 0,0008 0,286 0,001 0,2268 0,0008
x2 0,02 0,210 0,001 0,2078 0,0008 0,2958 0,0008 0,2282 0,0008
x3 0,04 0,2238 0,0008 0,232 0,001 0,338 0,001 0,2320 0,0007
x4 0,06 0,2506 0,0005 0,2618 0,0008 0,4000 0,0007 0,237 0,002
x5 0,08 0,2822 0,0008 0,300 0,001 0,462 0,001 0,244 0,001
x6 0,10 0,3102 0,0008 0,3328 0,0008 0,525 0,001 0,260 0,001

1 1 /2
σ= ∗[ (0,201−0,2006)2 +( 0,2−0,2006)2 +(0,202−0,2006)2+(0,2−0,2006)2 +(0,2−0,2006)2 ]
5−1

σ =0,0009 m
Associação em Série
Na associação em série, temos que a deformação de cada mola equivale à
deformação total da mola, então:

X TOTAL =X 1 + X 2 F F F 1 1 1
= + = +
K eq K 1 K 2 K eq K 1 K 2

Similar a resistores em paralelo ou capacitores em série. Se,


podemos usar também:
1 1 1
= +
K eq K 1 K 2

ou ainda

K1. K2 K
K eq = K eq = o
K 1+ K 2 n de .molas
para duas molas em série para várias molas em série.

Associação em Paralelo
Na associação em paralelo, temos que as molas sofrem ação de duas forças, que
somadas dão a força total, então:

FTOTAL =F1 +F 2 K eq . X=K 1 .X + K 2 . X

K eq =K 1 +K 2

Similar a resistores em série ou capacitores em paralelo.

3. Tabela dos valores calculados para K e seus respectivos desvio, K médio e


seus desvio seguindo as equações abaixo:

mg 0,1∗9,8
K= K= K=17 N / m
∆x 0,0058

∂k ∂ mg ∆ x−1 mg
σ k= | | σ
∂ ∆ x ∆x
σ k=| ∂∆ x |
σ∆ x σ k=
| |∆ x2
σ ∆x
0,1∗9,8
σ k=
| 0,0062
n
|
0,001 σ k =3 N /m
n
1 1
=∑ K paralelo =∑ k i
K Série i k i i

  Tabela 6 – Valores da constante elástica (Newton/metro)


  K G01 σK K G02 σK K G01+G02 σKs K G01//G02 σKp
x0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
x1 17 3 25 12 14 4 26 18
x2 21 5 28 8 12 1 38 24
x3 17 1 13 1 6,7 0,2 44 15
x4 11,8 0,2 9,6 0,3 4,87 0,08 42 12
x5 9,6 0,2 7,9 0,2 4,29 0,05 37 5
x6 8,9 0,2 7,4 0,1 3,99 0,03 26 2
Média 14 2 15 4 8 1 35 13

4. Tabela dos valores calculados para F e P desvio seguindo as equações


abaixo:
F=−k ∆ x F=−16,9*0,0058 F=−0,098 N
P=mg P=0,1∗9,8 P=0,098 N

Obs.: Os valores de m e g são constantes. Não foi calculado o erro de F, devido esta
tabela ser apenas para demonstração da teoria que F=−P. O valor adotado para a
aceleração da gravidade é de 9,8 ms-2.

Tabela 7 - Deformação da mola - Valor da Força (Lei de Hooke) F=-KΔx


F x G01 (N) F x G02 (N) F x G01+G02 (N) F x G01//G02 (N)
x0 0 0 0 0
x1 -0,098 -0,098 -0,098 -0,098
x2 -0,196 -0,196 -0,196 -0,196
x3 -0,392 -0,392 -0,392 -0,392
x4 -0,588 -0,588 -0,588 -0,588
x5 -0,784 -0,784 -0,784 -0,784
x6 -0,980 -0,980 -0,980 -0,980

Tabela 8 - Valor da Força Exercida para a deformação da mola P=mg


P x G01 (N) P x G02 (N) P x G01+G02 (N) P x G01//G02 (N)
x0 0 0 0 0
x1 0,098 0,098 0,098 0,098
x2 0,196 0,196 0,196 0,196
x3 0,392 0,392 0,392 0,392
x4 0,588 0,588 0,588 0,588
x5 0,784 0,784 0,784 0,784
x6 0,980 0,980 0,980 0,980
5. Gráficos da Força Peso em relação a Deformação das molas e suas

associações.
De acordo com a melhor reta entre os pontos dos Gráficos, foi comparada a
equação da reta com a de obtenção da constante elástica conforme figura abaixo:

Onde o coeficiente angular é a constante elástica. Foi feito um calculo para cada
um dos quatro gráficos.
 Gráfico 1

∆F 0,714−0,451
k= k= k =9,39 N /m
∆x 0,067−0,039

 Gráfico 2

∆F 0,742−0,464
k= k= k =7,72 N /m
∆x 0,086−0,050

 Gráfico 3

∆F 0,681−0,389
k= k= k =4,00 N /m
∆x 0,149−0,076

 Gráfico 4

∆F 0,841−0,464
k= k= k =29,00 N /m
∆x 0,026−0,013
Conclusão
De acordo com os resultados, pode-se provar que, à medida que se aumenta o
peso (F), o comprimento da mola aumenta proporcionalmente de acordo com a equação,
na qual k é a constante de deformação da mola e X a deformação sofrida, enunciada
pela lei de Hooke.
Outro ponto observado é que em nenhum dos experimentos realizados a mola
ultrapassou seu limite de elasticidade, uma vez que, ao serem retirados os pesos, as
molas retornaram para a posição inicial. Na associação de molas foi notado que quando
em série o valor da constante elástica obtido é menor que o de uma mola simples e,
quando associada em paralelo, o valor da constante é maior que a simples.
Bibliografia
Universidade Federal de Juiz de Fora, fragmento da aula 6 do departamento de Física.

Universidade Federal de Sergipe.


http://www.fisica.ufs.br/CorpoDocente/egsantana/dinamica/trabajo/muelle/muelle.htm

Biblioteca UFSJ:
 HALLIDAY, David; RESNICK, Robert. Fundamentos de física. 3 ed. Rio de Janeiro: LTC,
1994.
 HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de
física: mecânica. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. 330
 Ramos, Luís Antônio Macedo. Física Experimental. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984. 344 p.

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