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Instituto Superior Politécnico Kalandula de Angola. Prof.

Nzau-2021/2022

UNIDADE I – OBJECTO E SENTIDO DA LÓGICA FORMAL

1.1. O surgimento da Lógica


1.2. O pensamento como objecto de estudo da lógica
1.3. Objecto da lógica
1.4. Principais características da lógica
1.5. Relações entre Lógica, linguagem, gramática e psicologia
1.6. As leis lógicas e a sua compreensão filosófica.

1.1. O surgimento da Lógica

A Lógica é tão antiga como o próprio acto de pensar. Diariamente somos confrontados com
situações, usamos palavras como é lógico, exactamente, correcto, etc. Segundo Augusto
Saraiva, antes mesmo que Arquimedes tivesse formulado a teoria da alavanca, o homem já
fazia o uso da alavanca. Do mesmo modo, antes de existir uma lógica científica, o homem já
pensava com lógica ou seja, já existia uma lógica natural.

O problema lógico surge na Grécia Antiga (mesmo antes na Índia) antes de Aristóteles. Por
esta razão podemos dividir a história da lógica em três grandes períodos:

1. A lógica antes de Aristóteles;


2. A lógica de Aristóteles e;
3. A lógica após Aristóteles.

Antes de Aristóteles o problema foi intensamente debatido entre dois pensadores com uma
visão antitética da realidade: Heráclito e Parménides.

Para Heráclito, o devir, o vir – a – ser, é a essência, o princípio gerador da realidade. Segundo
o seu pensamento, nada permanece estático pois a realidade flui. “Os filósofos de Mileto
haviam notado o dinamismo universal das coisas, que nascem, crescem e perecem, bem como
do mundo, ou melhor, dos mundos submetidos ao mesmo processo. Alem disso, haviam
pensado o dinamismo como característica essencial do próprio “princípio” que gera, sustenta
e reabsorve as coisas. Entretanto, não haviam levado adequadamente tal aspecto da realidade
ao nível temático. E é precisamente isto que Heráclito fez. “Tudo se move”, “tudo escorre”,
nada permanece imóvel e fixo”.1

1
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da Filosofia – Filosofia Pagã Antiga, vol. 1, editora Paulus, 2ª
edição, São Paulo, 2004.

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Parménides nega a realidade do movimento defendendo a imutabilidade do ser: o Ser é, o não


– Ser não É. Parménides introduz a ideia de que o que é contrário a si mesmo, ou se torna o
contrário do que era, não pode ser (existir), não pode ser pensado nem dito porque é
contraditório, e a contradição é o impensável e o indizível, uma vez que uma coisa que se
torne oposta de si mesma destrói-se a si mesma, torna-se nada.Com esta doutrina Parménides
levantava as bases para formulação do princípio de contradição (ou de não contradição): uma
coisa é ou não é2.
Tentando superar este antagonismo metafísico, Platão (apud Marilena Chauí) procurou
conciliar as duas teses opostas fazendo recurso ao seguinte argumento: “…Heráclito tinha
razão no que se refere ao mundo material ou físico, isto é, ao mundo dos seres corporais, pois
a matéria é o que está sujeito a mudanças contínuas e oposições internas…o mundo
verdadeiro é o das essências imutáveis (o mundo das ideias) onde o Ser permanece imutável,
onde não existe geração e corrupção e nisto, Parménides tinha razão”.

Aristóteles veio inaugurar uma nova maneira de pensar e de fazer filosofia e com ele, a lógica
ganha novo rumo. Ele vai sistematizar e dividir a lógica em formal (ou menor), que estabelece
a forma correcta do pensamento e lógica material (ou maior), parte da lógica que trata da
aplicação das operações do pensamento segundo a matéria ou natureza dos objectos a
conhecer. Enquanto a lógica formal se preocupa com a estrutura do pensamento, a lógica
material investiga a adequação do raciocínio a realidade (ARANHA, Maria Lúcia, 1993).

A característica fundamental da lógica aristotélica é predicativa (ou atributiva), ou seja, é


constituída por uma trilogia: sujeito, cópula e o predicado na qual, o predicado é sempre algo
atribuído ao sujeito.

Aristóteles, porém, não usava a palavra lógica, mas sim analítico. No primeiro século antes da
nossa era, os estudantes Bizantinos organizaram as obras de Aristóteles numa colecção que
deram o nome de Organon (instrumento) e passaram então a usar o termo lógica que passa a
concorrer com o termo dialéctica.

Após Aristóteles, os Estóicos deram uma contribuição significativa no estudo da lógica


atribuindo a mesma duas tarefas:

2
Ibidem, pag. 33. Há muito que os intérpretes apontaram nesse princípio de Parmênides a primeira grande
formulação do princípio da não contradição, isto é, daquele princípio que afirma a impossibilidade de que os
contraditórios coexistam ao mesmo tempo. E os dois contraditórios supremos são precisamente o “ser” e o “não
– ser”; se existe o ser, é necessário que não exista o não - ser.

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1. Determinar os critérios pelos quais uma proposição pode ser considerada verdadeira
ou falsa e;
2. Estabelecer as condições para o encadeamento verdadeiro de proposições, isto é, o
raciocínio como ligação entre proposições singulares (CHAUÍ, Marilena. 2000; 243).

Mas o contributo estóico não se limita nas duas tarefas acima descritas. Mais importante foi a
introdução da ideia de relação em contrapartida a de atribuição defendida por Aristóteles ou
seja, “o predicado não é um atributo do sujeito mas sim um acontecimento expresso por
palavras: Pedro Morre (e não Pedro é Mortal); É dia, está claro (e não o dia é claro).”3

1.2.O pensamento como objecto de estudo da lógica

O pensamento é objecto de estudo de diversas disciplinas ou ciências. Contudo, cada uma


delas estuda uma particularidade do mesmo. Assim, o pensamento que é estudado pela
psicologia (estudo do acto de pensar, emoções, espanto, e outros fenómenos psíquicos)
também pode ser objecto de estudo da lógica. Vejamos o esquema seguinte:

A lógica a par da psicologia ocupa – se do estudo do pensamento, mas o seu estudo centra –
se em estabelecer a validade do pensamento. Aristóteles concebeu – a como um instrumento
de conhecer, o procedimento que o cientista ou filósofo deveria usar a priori para chegar ao
conhecimento correcto. O Discurso do Método de René Descartes pode muito bem nos ajudar
a esclarecer o objectivo da lógica. Tal como ela, o discurso foi redigido por Descartes para

3
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia, editora Ática, São Paulo 2000, pag. 244.

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bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências. Aliás o Discurso e o Novum
Organun surgem na idade moderna para contrapor – se ao organon de Aristóteles.

1.3. Objecto da lógica


É usual caracterizar a lógica como sendo a disciplina filosófica, ou ciência, que tem por
objecto o pensar, ou então afirma – se, de um modo mais preciso, que a lógica consiste no
«estudo das leis do pensamento». Etimologicamente lógica é a ciência do logos, que significa
simultaneamente palavra, proposição, oração e pensamento.4 Pode – se assim dizer que o seu
objecto de estudo é o pensamento enquanto governado por leis. Dito de outro modo e como
bem o notou Chauí:
«O objecto da lógica é a proposição, que exprime, através da linguagem, os
juízos formulados pelo pensamento”. A proposição é a atribuição de um
predicado a um sujeito: S é P. O encadeamento dos juízos constituem o
raciocínio e este se exprime logicamente através da conexão de
proposições; essa conexão chama – se silogismo. A lógica estuda os
elementos que constituem uma proposição (as categorias), os tipos de
proposições e de silogismos e os princípios necessários a que toda
proposição e todo silogismo devem obedecer para serem verdadeiros
(princípio da identidade, da não – contradição e do terceiro excluído)»
(CHAUÍ, Marilena. 2002; 183).

1.4. Principais características da lógica


Aristóteles propôs a primeira classificação geral dos conhecimentos ou das ciências
dividindo-as em três tipos: teoréticas, práticas e produtivas. Todos os saberes referentes a
todos os seres, todas as acções e produções humanas encontravam-se distribuídos nessa
classificação que ia da ciência mais alta – a filosofia primeira – até o conhecimento das
técnicas criadas pelos homens para a fabricação de objectos. No entanto, nessa classificação
não encontramos a lógica. Por quê? Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética,
nem prática ou produtiva, mas um instrumento para as ciências. Eis por que o conjunto das
obras lógicas aristotélicas recebeu o nome de Organon, palavra grega que significa
instrumento.
A lógica caracteriza-se como:

4
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Rumos da Filosofia – Lógica e argumentação, vol.1, edições Rumo, 4ª
edição, Coimbra 1997, p. 15.

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Instrumental: é o instrumento do pensamento para pensar correctamente e verificar a


correcção do que está sendo pensado;
Formal: não se ocupa com os conteúdos pensados ou com os objectos referidos pelo
pensamento, mas apenas com a forma pura e geral dos pensamentos, expressa através da
linguagem;
Propedêutica: é o que devemos conhecer antes de iniciar uma investigação científica
ou filosófica, pois somente ela pode indicar os procedimentos (métodos, raciocínios,
demonstrações) que devemos empregar para cada modalidade de conhecimento;
Normativa: fornece princípios, leis, regras e normas que todo pensamento deve seguir
se quiser ser verdadeiro;
Doutrina da prova: estabelece as condições e os fundamentos necessários de todas as
demonstrações. Dada uma hipótese, permite verificar as consequências necessárias que dela
decorrem; dada uma conclusão, permite verificar se é verdadeira ou falsa;
Geral e temporal: as formas do pensamento, seus princípios e suas leis não
dependem do tempo e do lugar, nem das pessoas e circunstâncias, mas são universais,
necessárias e imutáveis como a própria razão.

1.5. Relações entre Lógica, linguagem, gramática e psicologia;


A lógica, disciplina filosófica por excelência, mantém uma relação com as demais ciências ou
ramos do saber. Assim, no presente estudo iremos descrever os pontos de convergência e
divergência entre ela e as ciências afins.
Estudando essencialmente as operações do pensamento para determinar a sua validade, ela
estuda o conceito, o juízo e o raciocínio. Os conceitos são representações mentais de objectos,
mas são expressos por termos. Ora, existe correspondência entre lógica e gramática.
Ora, para compreensão desta relação, Aristóteles estabeleceu os géneros supremos aos quais
deve – se reportar qualquer termo da proposição. Estes géneros supremos são as categorias
ou predicamentos.5 «Tomemos a formulação “Sócrates corre” e vamos decompô-la:

5
No significado comum do vocabulário grego significa “acusação”, “imputação”. Não tem um correspondente
em línguas modernas, e por isso se preferiu, em geral, não traduzir mas transliterar o termo original. Aristóteles
foi o criador do conceito filosófico expresso com este termo. Trata – se de conceito muito importante, que tem
três valências precisas estreitamente ligadas entre si. 1) Em sentido ontológico, significa as divisões originárias
ou “figuras do ser”, ou seja, aquilo em que o ser originariamente se distingue, tendo no vértice a substância, da
qual dependem qualidade, quantidade, e as outras sete categorias. 2) Em sentido lógico significa os predicados
supremos, que exprimem as correspondentes figuras do ser. 3) As categorias têm também um sentido gramatical
enquanto exprimem as partes originárias das proposições: a substância se exprime no sujeito, a quantidade e
qualidade se exprimem com adjectivos, onde e quando em advérbios de tempo e de lugar, as categorias do agir e
sofrer se exprimem nos verbos activos e passivos. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. Op. Cit. P. 227

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obteremos “Sócrates”, que entra na categoria de Substância, e “corre”, que se enquadra na


categoria do “fazer””. Assim, se digo “Sócrates está agora no liceu” e decomponho a
formulação, “no liceu” será redutível a categoria do “onde”, ao passo que “agora”, será
redutível a categoria do “quando” e assim por diante».6
Estas categorias lógicas gramaticalmente também se enquadram.
-Os substantivos designam substâncias (o que gramaticalmente corresponde a pessoas e
coisas). Ex: Sócrates é mortal. A bola é branca.
- Os adjectivos designam qualidades e estado. Ex: Alguns homens são inteligentes.
- Os verbos exprimem a acção que se pratica, se sofre, ou que se beneficia. Alguns africanos
são angolanos. (Na lógica o verbo é a cópula).
- Os numerais designam a quantidade. Ex: Todos homens são mortais. Alguns homens são
infiéis. (Na lógica os numerais correspondem aos quantificadores).
- Os advérbios designam o lugar, o tempo, a quantidade e o modo.
- As preposições e conjunções exprimem a relação entre as coisas (SARAIVA, Augusto;
1972, 10).
Mas a função lógica do conceito difere da sua função gramatical, ou seja, nem sempre
coincidem. Em lógica por exemplo, o conceito homem abrange todo género humano enquanto
a gramática estabelece uma distinção entre género masculino e género feminino (SARAIVA,
Augusto; 1972, 11).
Suponhamos que pretendemos construir um silogismo: Todo homem é mortal (pensamos no
género humano), mas a gramática nos impede de prosseguir: Julieta é homem – Julieta é
mortal.
Com a Psicologia, a lógica também mantém uma relação. Ambas estudam a actividade do
espírito. Enquanto a psicologia se ocupa do acto de pensar, com as operações do pensamento
e comportamento, a lógica estuda a validade do nosso pensamento, ou seja, as leis e princípios
que regem a estrutura de um pensamento coerente. Dito de outra maneira, o que se passa no
espírito quando pensamos, é assunto da psicologia. Como devemos pensar para pensar bem, é
objecto da psicologia.
Finalmente, a lógica também mantém uma relação com o pensamento.

6
Ibidem.

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1.6. As leis lógicas e sua compreensão filosófica


Ninguém precisa estudar lógica para saber se este ou aquele argumento é válido ou não, se
este ou aquele pensamento tem ou não substância. Tomemos como exemplo o seguinte:
O verdadeiro amigo não comenta sobre o próprio sucesso quando o outro está deprimido.
Para distrai – lo, conta – lhe sobre seu prestígio profissional, conquistas amorosas e
capacidade de sair – se bem em situações difíceis.
Há evidentemente aqui uma incoerência. Em que consiste esta incoerência? Existem duas
afirmações contraditórias. Primeiro porque o verdadeiro amigo nunca comenta o seu sucesso
enquanto o outro estiver deprimido, mas na oração seguinte o amigo faz justamente o
contrário. Quando assim acontece implica a existência de uma violação as leis do pensamento.
No pensamento também existem leis? Ou seja, para pensar bem precisamos obedecer a regras
ou princípios?
Embora nem sempre nos apercebamos da existência deles o pensamento tem as suas próprias
leis sem as quais seria impossível formular qualquer juízo e construir um raciocínio. «Sejam
quais forem os seus materiais, seja qual for a sua modalidade ou tipo, o pensamento terá
sempre de ser coerente, isto é, não pode ser auto-contraditório”. Terá de se regular por
condições que funcionam ao mesmo tempo como critérios de racionalidade».7Estes critérios
são os princípios lógicos de identidade, de contradição, do terceiro excluído e o princípio da
razão suficiente.

A Lei (ou princípio) da Identidade


Este princípio exprime a exigência de conservar a mesma significação dos termos, a sua
invariância, no decurso de um raciocínio ou de uma demonstração. Este princípio pressupõe
duas formulações:
• Formulação ontológica - «o ser é, o não ser não é» = «toda coisa é igual a si mesma».
• Formulação lógica - «A=A» «todo A é A».
Este princípio foi anunciado por Parménides com a sua filosofia do ser em contraposição a
filosofia do devir de Heráclito.

A Lei ou princípio de (não) Contradição

7
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Rumos da Lógica – Lógica e Argumentação 11º ano, Edições Rumo, 4ª
edição, volume I, Coimbra 1997. P. 25.

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Parménides e os eleatas defendiam de uma forma geral a imutabilidade do ser afirmando que
o seu contrário, isto é, o não – ser não existe. Este princípio tem igualmente duas formulações:
• Formulação ontológica - «é impossível que o mesmo atributo pertença e não pertença,
ao mesmo tempo, ao mesmo sujeito e sobre a mesma relação» = «a mesma coisa não
pode simultaneamente ser e não ser» = «é impossível simultaneamente ser e não ser».
• Formulação lógica - «é impossível que a afirmação e a negação sejam verdadeiras ao
mesmo tempo» = «as proposições contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo
tempo» = «é impossível afirmar e negar ao mesmo tempo» = «nada pode ser A e não
A».

A Lei do Terceiro Excluído


Este princípio enuncia a impossibilidade de haver um meio-termo entre dois enunciados
contraditórios. Não existe um valor intermédio como o “mais ou menos”. Eis as suas
formulações:
• Formulação ontológica – «uma coisa deve ser, ou então não ser, não há terceira
possibilidade».
• Formulação lógica - «não é possível que haja qualquer intermediário entre enunciados
contraditórios» = «uma proposição é verdadeira ou falsa, não há outra possibilidade».

A Lei ou princípio da Razão Suficiente (Princípio da causalidade).


• Enunciado: «nenhum facto é verdadeiro ou existente, nenhum enunciado é
verdadeiro, sem que haja uma razão suficiente para que seja assim e não de outro
modo» = «nada acontece sem que tenha uma causa ou pelo menos uma razão
determinante».

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UNIDADE II – O CONCEITO E O TERMO

2.1. Noção - Conceito como primeira forma de pensamento abstracto;


2.2. Conteúdo (compreensão) e volume (extensão) do conceito;
2.3. Relação entre conceitos;
2.4. Definição de conceitos;
2.4.1. Definição (Noção);
2.4.2. Tipos de definição;
2.4.3. Regras de definição evidente e erros possíveis na definição.

2.1. Noção – Conceito como primeira forma de pensamento abstracto

Na linguagem comum é frequente as pessoas confundirem o conceito e a definição. Para


muitos, são termos sinónimos que expressam a mesma ideia. Frequentemente as pessoas
pedem: de – me o conceito de X ou de Y quando na verdade o que pretendem é a
compreensão deste X ou Y, ou seja, pretendem a sua definição.

A lógica clássica, a de Aristóteles e dos escolásticos, estudou e analisou fundamentalmente os


três elementos do pensamento. Considera que o homem, ao pensar, se serve de conceitos, faz
juízos e constrói raciocínios.

O conceito é a primeira forma do pensamento abstracto. Ou seja, ao apreendermos um


determinado objecto, captamos as suas propriedades essenciais e formamos o conceito. Este,
porém, não constitui por si só um valor lógico (verdadeiro ou falso), é uma ideia simples ou o
elemento básico do pensamento uma vez que não afirma nem nega absolutamente nada. Eles,
porém, não existem isolados. Constituem redes ou relacionam – se entre si para
consequentemente formarem um juízo.

O que é o conceito? É a representação mental de um objecto, ou seja, é um instrumento


mental que serve para pensar e através do qual representamos diferentes realidades na nossa
mente. O termo8 é como se costuma dizer, a roupagem que o veste, ou seja, é a expressão
verbal ou escrita do conceito. O termo, como diz Abbaganano, “é um signo linguístico ou

8
Os «conceitos» são elementos da esfera ideal dos pensamentos, os «termos» pertencem à esfera objectiva a que
os pensamentos se reportam: o «conceito» é um produto da actividade (…) do «pensamento», o «termo» é a
roupagem que o veste, o vaso que o encerra e pelo qual se fixa e se transmite. PISSARRA, Mário; REIS,
Alfredo. Op. Cit. P. 98.

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conjunto de signos… podemos nos referir a eles como elementos que compõem as premissas
do silogismo categórico: sujeito e objecto”.9

Embora o conceito seja normalmente indicado por um nome não é o nome, já que diferentes
nomes podem exprimir o mesmo conceito, ou diferentes conceitos podem ser indicados, por
equívoco, pelo mesmo nome.10

2.2. Conteúdo (compreensão) e volume (extensão) do conceito

O volume ou extensão de um conceito é formado pelo conjunto dos objectos que ele designa,
de que ele pode ser atributo. Assim, a extensão do conceito “homem” seria o conjunto dos
entes que são designados por este nome. Assim teria – mos, o “Matondo”, o “Kangamba”, o
“João”, o “António”, o “angolano”, o “congolês”, o “maliano”, o “português”, o “americano”,
etc.

Inversamente, quando abordamos o conteúdo de um conceito ou a sua compreensão,


estamos nos referindo ao conjunto das propriedades que o caracterizam e que são comuns a
todos os seres ou objectos que formam a sua extensão. Assim, a extensão do conceito
“homem” seria “animal racional.”

Tomamos ainda como exemplo o homem. Se dois extraterrestres no planeta Marte se


perguntam o que é o homem (e suponhamos que um deles já tivesse visitado a terra e manteve
contacto com humanos) e este respondesse que o homem é o Matondo, Kangamba, angolano,
americano, etc., certamente que o seu interlocutor não compreenderia de facto o que o homem
é. Mas se o dissesse que é um “ser pensante” ou um “animal racional” o seu interlocutor
compreenderia melhor do que se estava a tratar.

Vejamos ainda um exemplo mais elucidativo:

Se alguém perguntar o que é um triângulo e lhe for respondido que o triângulo é o escaleno,
isóscele e o equilátero (que constitui a sua extensão) certamente que este continuaria com uma
ideia pouco clara sobre o objecto. Mas se o dissesse – mos que o triângulo é um polígono de
três lados (compreensão) certamente que aqui o sujeito compreenderia melhor o objecto.

9
ABBAGNANO, Nicolas. Dicionário de Filosofia, Martins Fonte, 4ª edição, São Paulo, 2000, p. 956.
10
Ibidem. P. 164

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2.3. Relação entre conceitos;

Os conceitos não existem isolados, eles constituem redes ou seja, relacionam – se entre si. Isto
quer dizer que naturalmente o homem ao pensar relaciona os conceitos e, ao relacionar os
conceitos formula juízos.

Prestemos atenção nos seguintes conceitos: estudante, jogador, vaca, branca, angolano,
homem, mortal, europeu, africano, etc., qualquer um destes termos representa uma
determinada classe de seres, porém, estes termos isolados estão privados de sentido. Para
formarem um sentido temos de relaciona – los ou seja, temos de formular os juízos. Assim
teremos:

“Os angolanos são africanos”; “alguns homens são europeus”; “alguns estudantes são
jogadores”; “todo homem é mortal”; “algumas vacas são brancas”; “nenhum europeu é
africano”, etc.

2.4. Definição de conceitos


Definição é diferente do conceito uma vez que este é apenas uma representação mental de um
objecto enquanto a definição procura esclarecer determinado conceito ou os conceitos de uma
forma geral.

2.4.1. Definição (Noção)


«Do latim definire, «pôr ou assinalar limites», «circunscrever», «deterninar», «precisar»”. Em
geral, enunciação clara e concisa das propriedades características e distintivas de um objecto.
A definição lógica consiste em determinar com rigor a compreensão exacta de um conceito
com o fim de o situar em relação a outros conceitos, classificando – o e distinguindo – o.

Abbagnano vê a definição como uma declaração da essência. Assim, distinguem – se diversos


conceitos de definição, que correspondem aos diversos conceitos de essência, mais
precisamente: 1º conceito de definição como declaração da essência substancial; 2º conceito
da definição como declaração da essência nominal; 3º conceito de definição como
declaração da essência – significado.11

Assim, podemos afirmar que definir é:

- Estabelecer «limites», «circunscrever», «delimitar», «determinar», «precisar»;


11
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. 235

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- Analisar rigorosamente a compreensão exacta de um conceito;

- Especificar o significado de um termo.

Por outro lado, em toda definição existem dois elementos fundamentais: o definiendum e um
definiens, isto é, algo que é preciso definir e algo pelo qual é definido.

Tomamos a título de exemplo o homem. Geralmente o definimos como um animal racional.


Assim o homem seria o “definiendum”e, animal racional seria o “definiens”.

2.4.2. Tipos de definição


Na lógica existem dois tipos de definição mais estudados. Antes de nos reportarmos
directamente a elas vamos analisar o pensamento de Guilherme de Ockhan. Segundo este
autor, a definição tem dois significados, já que uma é a definição que exprime o que é o
objecto (quid rei) e a outra é a definição que exprime o que é o nome (quid nominis).12
Aquilo que o objecto é interessa – nos mais e nos possibilita compreender a sua essência
enquanto a segunda, que reporta directamente a palavra não elucida a essência do próprio
objecto.
As definições reais e nominais são as mais estudadas na lógica. A primeira (definição real)
pretende definir a realidade através das suas características essenciais. A segunda preocupa –
se mais com os termos.

Assim, ao definirmos a Antropologia teria – mos o seguinte:

Do grego “Antrophos” = homem ou género humano e “logos” = estudo, ciência ou tratado.


Esta corresponde à definição nominal onde nos preocupamos apenas em apresentar não a
essência do objecto, mas a sua etimologia. De outro lado temos a definição real na qual
definiríamos a Antropologia como a ciência que estuda o homem.13

A par destes, outros autores falam noutros tipos de definição que passaremos a expor
sucintamente:
12 12
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. 236
13
Com relação a Antropologia, o termo assumiu três acepções: Antropologia Física (que considera o homem do
ponto de vista biológico, isto é, em sua estrutura somática, em suas relações com o ambiente, em suas
classificações raciais; Antropologia Cultural, que considera o homem nas características que derivam das
relações sociais; Antropologia Filosófica que estuda o homem do ponto de vista dos princípios últimos que o
constituem. Quanto a Antropologia Física, costuma por sua vez, ser dividida em paleontologia humana e
somatologia. A paleontologia humana trata da origem e evolução da espécie humana, especialmente a partir do
que é revelados pelos fósseis. A somatologia trata de todos os aspectos físicos do homem. ABBAGNANO,
Nicolas. Op. Cit. P.67

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- Definição genética: a que ao definir algo diz como se produz, por exemplo, definir o cone
como a figura que se gera pela rotação de um triângulo rectângulo sobre um dos seus catetos.

- Definição descritiva: consiste em indicar as características mais importantes do que se


pretende definir; por exemplo, definir a água como um líquido incolor, inodoro e sem sabor.

- Definição ostensiva: consiste em mostrar, em indicar; muitas vezes não é verbal. Se alguém
me pergunta o que é uma laranja, eu posso apenas mostra – la. Às vezes é a única forma de
definir uma coisa totalmente desconhecida do interlocutor.14

2.4.3. Regras de definição evidente e erros possíveis na definição.


Para definir – mos um conceito temos de respeitar algumas regras de base sem as quais seria
impossível distinguir – mos os objectos definidos. Assim, Aristóteles estabeleceu as regras de
base que passaremos a estudar.
1ª Regra - a definição deve ser clara: se o conceito ou o termo definidos continuassem
obscuros, então a definição seria inútil. Para ser clara a definição deve ser tão breve quanto
possível e o definido não deve entrar na definição.
Nesta regra podemos observar alguns erros evidentes como o próprio Aristóteles fez questão
de mencionar como por exemplo quando acrescentamos algo desnecessário à definição.

«Assim, se na definição de homem, a adição de “capaz de receber


conhecimento” é, supérflua; pois, mesmo quando eliminamos, a expressão é ainda
peculiar ao termo e torna clara a sua essência. Falando em geral, é supérfluo tudo
aquilo cuja remoção não impede que o resto deixe bem claro o termo que se está
definindo» (ARISTÓTELES, 2000).

Assim, ao definirmos o homem bastaria dizer que o mesmo é um “animal racional” e não
acrescentar “capaz de receber conhecimento”. Do mesmo modo, o definido não pode entrar
na definição. Dizer por exemplo que o homem é um “ser humano” é não dizer absolutamente
nada, pois o ser humano é relativo ao homem. Outro exemplo que violaria a regra seria definir
por exemplo a “caça” como o “acto de caçar” ou a justiça como a “qualidade do que é justo”.

14
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P. 118-119. Embora sejam apresentadas estas formas de
definição, muitos lógicos consideram que a descrição não é uma definição. Justificam a sua tese argumentando
que se descrevem os indivíduos, as coisas, os seres concretos e que só se definem os conceitos gerais ou classes.

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Por outro lado e como o faz notar bem Aristóteles, a definição permaneceria obscura se
envolvesse ambiguidade (quando ela pode ser aplicada a outros membros que não pertençam
a espécie e daí a importância da segunda regra) ou ainda se ela fosse metafórica como
descreveu o estagirita:

«Outra regra é: ver se ele usou uma expressão metafórica, como, por
exemplo, se definiu o conhecimento como “insuplantável”, ou a terra como
um “nutriz”, ou a temperança como uma “harmonia”. Porquanto uma
expressão metafórica é sempre obscura…pois a definição proposta não se
aplicará ao termo definido, como, por exemplo, no caso da temperança, uma
vez que a harmonia ocorre sempre entre as notas musicais»
(ARISTÓTELES, 2000).

2ª Regra: a definição deve convir a todo definido e só ao definido, isto é, a definição dever
ser aplicada a todos seres que são definidos e só a eles. Por exemplo, ao definirmos o homem
como «animal racional», podemos atribuir esta característica a todo e qualquer homem e só
ao homem. Violaríamos esta regra se a espécie (neste caso a razão) fosse atribuída a outros
seres que não fosse o homem ou que se privasse alguns homens da racionalidade.

«Veja – se, alem disso, se alguma coisa contida na definição não se aplica a
tudo que se inclui na mesma espécie, pois esse tipo de definição é pior do
que aqueles que incluem um atributo aplicável a todas as coisas
universalmente» (ARISTÓTELES, 2000).

Seria errado conforme o pensamento do estagirita definir – mos o homem como animal
racional, alto, de cabelo loiro e olhos azuis, pois, estes atributos (alto, loiro e olhos azuis) são
acidentais e não são aplicáveis a todos os homens, apenas a alguns.

Embora a ciência moderna tenha criado o conceito de inteligência artificial aplicada aos
equipamentos electrónicos, não se pode dizer agora que as máquinas são racionais. Ainda que
o computador possa ganhar uma partida de xadrez ou o animal puder realizar actividades
tipicamente humanas, isto não significa que podemos defini – lo como um ser racional. No
caso do computador, seria apenas o reflexo da inteligência humana na máquina uma vez que
foi o homem quem a programou, ou no caso do animal que faz o que faz sem ter consciência
daquilo que faz.

14
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3ª Regra: A definição deve fazer – se pelo género15 próximo e pela diferença específica.
Segundo Aristóteles,

«Quem formula uma definição deve primeiro colocar o objecto no seu


género e depois acrescentar as suas diferenças, visto que, de todos os
elementos da definição, o género é geralmente considerado como a marca
principal da essência daquilo que se define» (ARISTÓTELES, 2000).

Segundo Abbagnano, Aristóteles distinguiu três significações16 deste termo, mas para o
presente estudo interessa – nos, sobretudo o terceiro: “o sujeito ao qual se atribuem as
oposições ou as diferenças específicas”. Foi Platão quem deu maiores explicações sobre este
sentido, que é o mais estritamente filosófico, dizendo: “cada figura é semelhante a outra
figura, porque no género todas as figuras formam um todo”.17

Assim, ao definirmos um ser, devemos lhe situar ao género próximo que é aquilo na qual o
ser mais se aproxima. Ao definirmos o “homem”, colocaríamos no género animal uma vez
que este partilha as mesmas características que os definem: “vertebrado”, “locomoção”,
“respiração pulmonar”, “mamífero”.

O género deve distinguir os objectos das coisas em geral e a diferença, de qualquer das outras
coisas contida no mesmo género. Assim e Ainda no caso do homem, a diferença seria um
atributo essência que diz respeito ao homem e só a ele. Neste caso a diferença seria
“racional”. Assim sendo temos: Homem (género próximo de animal); e racional (diferença
específica).

15
Um “género” é aquilo que se predica, na categoria de essência, de várias coisas que apresentam diferenças
específicas. ARISTÓTELES. Www.ciberperfil.org.
16
As três significações que Aristóteles enumera são as seguintes: 1ª geração, particularmente “a geração
contínua de seres que têm a mesma espécie”; 2ª estirpe ou raça como “primeiro motor” ou “aquilo que deu ser às
coisas de uma mesma espécie” neste sentido fala – se de género dos helenos porque descenderam de Heleno ou
do género dos Jônios porque descendem de jónio; 3ª o sujeito ao qual se atribuem as oposições ou as diferenças
específicas, e neste sentido o género é o primeiro constituinte da definição. ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit.
478.
17
Idem.

15
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UNIDADE III – O JUÍZO E A PROPOSIÇÃO


4.1. Noção (característica geral do juízo);
4.2. Análise dos juízos;
4.3. Classificação dos juízos;
4.4. Classificação das proposições;
4.5. Verdade e validade;

4.1. Noção (característica geral do juízo)


Abbagnano apresenta as quatro significações do termo:
«1º Faculdade de distinguir e avaliar ou o produto ou o acto desta faculdade,
bem como sua expressão; 2º uma parte da lógica; 3º em relação a uma
proposição, acto de assentir, discordar, afirmar ou negar; 4º operação
intelectual de síntese que se expressa na proposição». (ABBAGNANO,
Nicolas. 2000; 591).

A lógica formal, isto é, a de Aristóteles estudou fundamentalmente as três


operações do pensamento: conceito, juízo e raciocínio. Podemos considerar o
segundo e terceiro significado, pois, o juízo é uma parte da lógica e
consequentemente uma operação intelectual. Uma vez que o conceito é o
elemento mais básico do pensamento, a condição sine qua non para formular um
acto judicativo seria relaciona – los. Assim, o juízo, é a operação mental que
consiste em afirmar ou negar uma relação entre conceitos.

O juízo afirma ou nega uma relação entre conceitos, consequentemente ele ou é


verdadeiro ou falso. Por esta razão se diz que a lógica de Aristóteles é bivalente,
pois só admite dois valores de verdade: o verdadeiro e o falso.

A teoria dos juízos de Aristóteles também só admite uma forma ou um único


tipo: a forma apofântica ou o juízo atributivo. O predicado é sempre visto como
algo atribuído ao sujeito. Ex: Sócrates é mortal.

16
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O juízo exprime – se pela proposição, isto é, a proposição é o enunciado de um


juízo. O juízo é constituído por conceitos e a proposição por termos daí dizer –
se que o termo está para o conceito assim como a proposição está para o juízo.
O juízo é constituído habitualmente por três (3) elementos:
a) O Sujeito – que é o conceito acerca do qual se afirma ou nega alguma coisa; é
a parte da proposição que representa a coisa de que ou de quem se fala.
b) O Predicado – é aquilo que é afirmado ou negado do sujeito, ou seja, o que se
diz do sujeito.
c) A Cópula – é o elemento que faz a ligação entre o sujeito e o predicado.
Normalmente o sujeito é um substantivo ou expressão equivalente, o predicado é
um adjectivo ou expressão equivalente e a cópula é o verbo ser.

Os juízos são normalmente acompanhados de quantificadores: todos, nenhum,


alguns, certos, uns tantos, etc.

4.2. Análise dos juízos


No ponto anterior, vimos que a lógica de Aristóteles só admitia um tipo de juízo:
a forma apofântica ou o juízo atributivos. Nestes, a cópula é sempre o verbo
“ser” e através dele se predica algo acerca de um sujeito.18 O juízo predicativo
estabelece uma relação entre dois conceitos. Como já vimos, a análise de um
conceito conduz – nos à sua compreensão e extensão. A análise da relação que
o juízo atributivo estabelece entre conceitos pode ser considerada como uma
relação de inclusão ou de inerência.

Tomemos a título de exemplo:

“Todo ortopedista é médico”.

18
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P.128

17
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Nos diagramas apresentados podemos notar uma relação de inclusão pois, o


sujeito (ortopedista) está contido na extensão do predicado (médico), ou seja,
das inúmeras especialidades de medicina, a ortopedia é apenas um dos ramos
que faz parte da extensão do predicado.

4.3. Classificação dos juízos


Kant estabeleceu um esquema clássico para a classificação dos juízos. Assim, os
juízos classificam – se quanto a quantidade, qualidade, modalidade e relação.

- Quanto a quantidade os juízos podem ser universais, particulares e singulares.

- Quanto a qualidade os juízos podem ser afirmativos, negativos e infinitivos.

- Quanto a modalidade os juízos podem ser problemáticos, assertórios e


apodícticos.

- Quanto a relação os juízos podem ser categóricos, hipotéticos e disjuntivos.

Passemos agora a análise de cada uma das classificações tomando como ponto
de partida a quantidade ou extensão:

«O ponto de vista da quantidade é o da extensão; singular, para Kant, é o juízo


que refere o predicado à totalidade do sujeito, e tão-somente a ele».19

Ex: Matondo é bom estudante.


19
PASCAL, Georges. O Pensamento de Kant. 8ª Edição, Editora Vozes, Petrópolis 2003, p. 64.

18
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O juízo é universal quando o sujeito é tomado em toda sua extensão.

Ex: Todo S é P.

O juízo é particular quando o sujeito é tomado em sua parte.

Ex: Alguns S são P.

Quanto a qualidade como já o dissemos, os juízos podem ser afirmativos,


negativos e infinitivos.

O juízo é afirmativo quando estabelece ou afirma uma relação (necessária ou


contingente) entre o sujeito e o predicado.

Ex: Todo A é B.

O juízo é negativo quando a relação entre sujeito e predicado é negada.

Ex: Nenhum A é B; algum A não é B.

«Do ponto de vista da qualidade, Kant julga ser necessário distinguir os juízos
indefinidos; as negações de tais juízos constituem uma espécie de afirmação,
colocando – lhes o objecto numa categoria indeterminada».20 Estes juízos são
afirmativos pela cópula e negativos pelo predicado.

Ex: Os angolanos são não europeus; os pássaros são não racionais.

Quanto a relação o juízo pode ser:

- Categórico, quando afirma sem condições ou restrições. Ex: Todo S é P;

- Hipotético ou condicional, quando estabelece um ligame de princípio a


sequência. Ex: Se P então S; Se aprender o inglês, conseguirei a bolsa.

20
Ibidem. P. 64

19
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- «…O juízo disjuntivo estabelece uma relação de oposição lógica entre duas ou
mais proposições (por exemplo: o mundo existe, ou como efeito de um acaso
cego, ou em virtude de uma necessidade interna, ou por uma causa externa».21

Quanto a modalidade22 os juízos podem ser assertórios, problemáticos e


apodícticos.

Apodícticos, também chamados necessários ou impossíveis: dizem – se assim os


juízos em que o predicado pertence necessariamente ao sujeito, de tal modo que
entre os dois exista um nexo necessário, não podendo ser de outra maneira. O
predicado é, ou género, ou espécie, ou diferença específica, ou propriedade
essencial.

Exemplo: o homem é racional.

Os juízos apodícticos são sempre analíticos.

- Assertóricos ou contingente, quando o predicado pode ser acidente, convém


ao sujeito, mas não de maneira necessária.

Exemplo: a mesa tem 4 (quatro) pernas.

- Problemáticos ou duvidosos, quando a afirmação ou negação envolve simples


probabilidade.

Ex: Eu passarei o exame.

21
PASCAL, Georges. Op. Cit. 64
22
A modalidade não concerne senão ao valor da cópula em relação ao pensamento em geral. Nos juízos
problemáticos, a afirmação ou a negação se consideram como simplesmente possíveis, ao passo que são tidas
como reais nos juízos assertórios e como necessários nos juízos apodícticos. PASCAL, Georges. Op. Cit. 64-65.

20
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4.4. Classificação das proposições23


Uma proposição como já foi dito anteriormente, é o enunciado de um juízo.
Assim como o juízo é formado pelos conceitos, a proposição é formada por
termos. Uma vez que ela é a expressão verbal de um juízo, é natural que a
classificação dos juízos se aplique também à classificação das proposições.

A lógica tradicional considerou quatro tipos de proposições, que simbolizou,


convencionalmente, nas letras A E I O.24 Foi por mérito dos lógicos medievais
que faziam o uso de mnemónicas25. Os medievais usavam – nas como ajuda
memória ou cábulas especiais. Para não se esquecerem da classificação das
proposições lembraram – se de relacionar a quantidade e a qualidade. Assim
tomaram como ponto de partida as palavras afirmo e nego. (AfIrmo e nEgO).
Construiu – se o seguinte quadro:

Universal afirmativa Todo o S é P A Afirmo


Universal negativa Nenhum S é P E nEgo
Particular afirmativa Alguns S são P I afIrmo
Particular negativa Alguns S não são P O negO

Assim, a proposição pode ser Universal (quando o sujeito é tomado em toda sua
extensão, e afirmativa (quando se admite a existência de uma relação entre
sujeito e predicado). Se dissesse – mos “Todos luandenses são angolanos” teria
– mos uma proposição universal afirmativa representada convencionalmente

23
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P.801. Enunciado declarativo ou aquilo que é declarado, expresso ou
designado por tal enunciado. Os dois usos são determinados por conceitos diferentes de proposição, mais
precisamente o seguinte: 1) proposição como expressão verbal de uma operação mental, frequentemente
chamada de juízo. 2) Proposição como entidade objectiva ou valor de verdade de um enunciado. Para o nosso
estudo importa mais o primeiro que o segundo.
24
SARAIVA, Augusto. Filosofia, 7º ano liceal, editora Educação Nacional, 7ª edição, Porto 1972, p.42.
25
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 675.A arte de cultivar a memória. Trata – se de uma arte antiquíssima,
que Cícero atribuiu a Simonides.

21
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com a letra “A”. Utilizaremos o diagrama de Euler para a melhor compreender


– mos.

Leia – se: todo A é B

Mas a proposição universal também pode ser negativa. É negativa quando não
se admite a existência de uma relação entre sujeito e predicado. Assim se
dissesse – mos “Nenhum angolano é europeu” temos uma proposição
universal negativa representada pela letra E. representamos assim no diagrama
de Euler:

Leia – se: nenhum S é P.

A proposição é particular quando o sujeito é tomado apenas em parte. Se


dissesse – mos “alguns animais são mamíferos”, teremos uma proposição
particular afirmativa e representamos pela letra I.

Leia – se: Alguns S são P.

A proposição particular também pode ser negativa. Se dissesse – mos alguns


animais não são aves estaríamos perante uma proposição particular negativa e
representaríamos pela letra O.

22
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Leia – se: Alguns S não são P.

4.5. Verdade e validade

Um juízo pode ser válido do ponto de vista da sua estrutura formal mas invalido
do ponto de vista da sua veracidade. Segundo Abbagnano, o sentido do termo
validade deve ser distinguido de valores de verdade, justiça, etc. De facto, uma
inferência válida, isto é, realizada em conformidade com regras lógicas, não é
uma inferência verdadeira, mas só será verdadeira se as suas premissas forem
verdadeiras. Assim, uma lei ou uma sentença válida nem por isso são justas.26

Os lógicos que seguiram Aristóteles distinguiram verdade formal de verdade


material.

A verdade formal tem a ver com a estrutura, a validade ou correcção. A verdade


material refere – se ao conteúdo, à matéria, às informações, ou seja, o ponto de
partida para esta verdade é a própria realidade.27 Vejamos os seguintes
exemplos:

a) «A parte é maior que o todo»

Este juízo é formalmente errado, isto é, inválido; aceita – lo seria entrar em


contradição, pois, por definição, a parte é sempre uma parte de um todo e o todo
é constituído pelas várias partes. Assim, não se pode conceber que uma parte de
um objecto seja maior que este.

b) «O Sol anda à volta da terra»

26
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 989
27
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P.136

23
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Esta proposição é materialmente falsa, pois, como sabemos desde Copérnico, é


a terra que gira à volta do sol, não corresponde, pois, à realidade; todavia, a sua
estrutura enquanto proposição não infringe nenhuma exigência do pensamento é,
portanto, formalmente válida.

c) «A área de um quadrado inscrito num círculo é maior do que a área do


círculo que o circunscreve».

Este juízo é materialmente e formalmente falso porque não corresponde a


realidade e porque é logicamente impossível uma figura inscrita noutra ser
maior que ela, como o desenho torna visível.

«Na validade material trata – se de confrontar o que se afirma ou nega com a


realidade imediata. “Na validade formal trata – se de analisar os conceitos e a
relação que entre eles é estabelecida, é uma questão de coerência do
pensamento consigo próprio».28

28
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P.137

24
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UNIDADE 4 – ILAÇÃO (RACIOCÍNIO)

5.1. Noção (características gerais do raciocínio);

5.2. Inferências;

5.2.1. Inferências imediatas;

a) Inferência por oposição;

b) Inferência por conversão;

5.3. Silogismo

5.3.1. Noção e constituição

5.3.2. Regras do silogismo;

5.3.3. Figuras e modos do silogismo;

5.3.4. Classificação dos silogismos;

5.3.4.1. Silogismos categóricos

a) Regulares;

b) Irregulares (Entinema, Epiquerema, Polissilogismo, sorites);

c) Hipotéticos (Condicionais, disjuntivos, Dilema).

5.1. Noção (características gerais do raciocínio)

O termo Ilação tem uma origem milenar. «Em Apileio e Boécio, esse termo
traduz o estóico ἐπιφoρά; indica a proposição na qual se conclui um silogismo.
Esse termo desaparece na lógica medieval, sendo substituído por conclusio, para
reaparecer na idade moderna indicando a complexa operação mental –
discursiva graças à qual se chega a estabelecer determinada proposição, ou essa
mesma proposição».29

29
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 534

25
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O raciocínio, do grego «λογισμός, qualquer procedimento de inferência ou


prova; portanto, qualquer argumento, conclusão, inferência, indução, dedução,
analogia, etc. Stuart Mill dizia: “Inferir uma proposição de uma ou mais
proposições precedentes, e crer ou pretender que se creia nela como conclusão
de qualquer outra coisa significa raciocinar, no mais amplo sentido do
termo”».30 Assim, «raciocinar é estabelecer relações entre juízos». Ao raciocinar
discorremos, isto é, o nosso pensamento orienta – se para tirar conclusões a
partir de conhecimentos anteriores, de convicções prévias ou de afirmações
feitas anteriormente por alguém».31Ou para ser ainda mais explícito

«Raciocinar é inferir, ou seja, passar do que já se conhece de algum modo


ao que ainda não se conhece completamente ou parcialmente. Este processo
mental é usado não só para atingir coisas novas, mas também para sustentar
posições anteriormente conquistadas, ou ainda para aprofunda – la»
(KELLER, V; BASTOS, Cleverson. 2009:44).

Assim, todo raciocínio é constituído por premissa ou premissas e por


conclusão. Quer as premissas, quer a conclusão são proposições ou juízos. As
premissas são as proposições donde parte o raciocínio; a conclusão é a
proposição a que se chega pelo raciocínio.

Ex: Todos luandenses são angolanos.

Matondo é luandense

Logo, Matondo é angolano.

Podemos também raciocinar de dois modos: indutivamente e dedutivamente.


Segundo Keeler e Bastos,

«A estrutura do raciocínio indutivo consiste em partir de uma série de casos


individuais, suficientemente enumerados, para deles inferir como
consequência uma lei ou norma geral, que possa ser aplicada a casos não

30
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. 821.
31
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P.143

26
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enumerados pela série; ao passo que o raciocínio dedutivo parte de leis ou


normas gerais para então descer aos casos particulares» (KELLER, V;
BASTOS, Cleverson. 2009:44).

Costuma – se distinguir a indução Aristotélica da Baconiana e ainda a indução


probabilística. A primeira é uma enumeração completa, ou seja, a conclusão
afirma aquilo que já está contido nas premissas. Exemplo: primavera, Outono,
inverno e verão são estações do ano. Primavera, Outono, inverno e verão se
intercalam, a cada três meses. Logo, as estações do ano se intercalam a cada três
meses.32 No caso da segunda, é dita amplificante, ou seja, atribui a uma classe
de seres o que apenas foi verificado em alguns. A conclusão ultrapassa sempre o
número de casos conhecidos. A indução probabilística vê na confirmação das
hipóteses enunciadas nas premissas como meramente prováveis.

O raciocínio dedutivo, que foi amplamente estudado por Aristóteles com a


teoria do silogismo constitui fundamentalmente o objecto deste último capítulo
do presente estudo e que abordaremos com maior substância mais adiante.

5.2. Inferências

No latim medieval, encontram – se em muitos lógicos o termo inferre, que


designa o facto de, numa conexão (ou consequentia) de duas proposições, a
primeira (antecedente) implica (ou melhor, contém por “implicação estrita”) a
segunda (consequente). Na filosofia moderna, o termo inferência é preferido
pelos anglo – saxões, ao passo que, em língua italiana, se prefere illazione
(ilação).33

Inferir é raciocinar. O acto de inferir consiste em tirar uma ou várias proposições


novas, julgadas verdadeiras ou falsas (chamadas «conclusões»), de uma ou

32
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Aprendendo Lógica, Editora Vozes, 18ª edição, 2009, p. 46.
33
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit p. 562

27
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várias proposições dadas ou conhecidas, como verdadeiras ou falsas (chamadas


«premissas»). As inferências mais simples (chamadas imediatas) partem de uma
só proposição. As inferências mais complexas (tal como o silogismo), ditas
mediatas34 partem de duas ou mais proposições.

Passemos ao estudo da primeira para depois então nos atermos na segunda


forma que é a mais complexa e mais estudada na lógica aristotélica.

5.2.1. Inferências imediatas

No capítulo anterior constatamos que as proposições classificam – se quanto a


quantidade e qualidade. Quanto a quantidade elas podem ser universais e
particulares e quanto a qualidade, afirmativas e negativas. Assim teremos as
seguintes combinações de proposições quanto a sua extensão e quanto a sua
qualidade:

- Proposição universal afirmativa →A ex: Todo angolano é africano.

- Proposição universal negativa → E ex: Nenhum angolano é europeu.

- Proposição particular afirmativa → I ex: Alguns angolanos são luandenses.

- Proposição particular negativa → O ex: Alguns angolanos não são luandenses.

34
De “mediação”. Função que relaciona dois termos ou dois objectos em geral. Essa função foi identificada: 1º
no termo médio do silogismo; 2º nas provas na demonstração; 3º na reflexão; 4º nos demónios na religião.
Quanto ao primeiro significado, Aristóteles afirmava que o silogismo é determinado pela função mediadora do
termo médio, que contém um termo e é contido pelo outro. 2º A lógica de Port – Royal, a mediação é
indispensável em qualquer raciocínio. “Quando apenas a consideração de duas ideias não é suficiente para se
julgar se o que se deve fazer é afirmar ou negar uma ideia com a outra, é preciso recorrer a uma terceira ideia,
simples ou complexa, e esta terceira ideia chama – se intermediária”. ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 655.

28
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Quadrado lógico35

A partir deste quadro os lógicos fizeram todas as classificações possíveis das


proposições por oposição. Assim temos:

A – O; E – I: contraditórias (diferem pela quantidade e qualidade);


A – I; E – O: subalternas (diferem pela quantidade);
A – E: contrárias (ambas universais diferem pela qualidade);

I – O: subcontrárias (ambas particulares diferem pela qualidade).

a) Inferência por oposição

Inferir por oposição significa concluir a partir de uma, a veracidade ou falsidade


da outra. Assim e de acordo ao quadrado lógico, estudaremos todos os casos
possíveis também estudados pela lógica clássica.

1º Duas proposições contrárias (A – E): ambas universais diferindo apenas pela


qualidade, sendo a primeira afirmativa e a segunda negativa. Da veracidade de
uma conclui – se imediatamente a falsidade de outra, pois ambas não podem ser
verdadeiras ao mesmo tempo.

Exemplo: (A) Todos sambilas são luandenses (verdade);

(E) Nenhum sambila é luandense (falso).


35
Os lógicos medievais criaram uma figura, conhecida como quadrado dos opostos, na qual podemos visualizar
as proposições segundo a qualidade, a quantidade, a modalidade e a relação. CHAUÍ, Marilena. Op. Cit. Convite
a Filosofia, editora Ática, 12ª edição, São Paulo, 2002, p. 186.

29
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Mas da falsidade de uma não se pode concluir imediatamente a veracidade da


outra, pois, ambas podem ser falsas ao mesmo tempo.

Exemplo: (A) Todos os rios são grandes (falso);

(E) Nenhum rio é grande (falso).

Ou ainda:

(A) Todos os homens são quadrúpedes (falso);

(E) Nenhum homem é quadrúpede (verdade).

2º Duas proposições contraditórias (A – O; E – I): da veracidade ou falsidade


de uma conclui – se imediatamente a veracidade ou falsidade da outra pois,
ambas não podem ser verdadeiras ou falsas ao mesmo tempo.

Exemplos:

(A) Todos os advogados são juristas (verdade);

(O) Alguns advogados não são juristas (falsa).

(I) Alguns homens são imortais (falsa);

(E) Nenhum homem é imortal (verdade).

3º Duas proposições subalternas (A – I; E – O): diferem apenas pela


quantidade ou extensão. Da veracidade da universal conclui – se imediatamente
a veracidade da particular, pois o que é verdadeiro do todo também o deve ser
das partes.

Exemplo:

Quanto às afirmativas,

(A) Todas as galinhas são aves (verdade);

30
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(I) Algumas galinhas são aves (verdade).

Quanto as negativas,

(E) Nenhum pássaro é gato (verdade);

(O) Alguns pássaros não são gatos (verdade).

Mas da falsidade da universal não se pode concluir imediatamente a falsidade


da particular.

Exemplo:

Quanto as afirmativas,

(A) Todos africanos são senegaleses (falsa);

(I) Alguns africanos são senegaleses (verdade).

Quanto as negativas,

(E) Nenhum rio é grande (falso);

(O) Alguns rios não são grandes (verdade).

Da veracidade da particular não se pode concluir imediatamente a veracidade


da universal, pois nem tudo que se afirma da parte deve – o ser necessariamente
do todo.

Exemplo:

(I) Alguns animais são felinos (verdade);

(A) Todos os animais são felinos (falsa).

(O) Alguns juristas não são advogados (verdade);

(E) Nenhum jurista é advogado (falso).

Ou ainda nos casos em que ambas são verdadeiras.

(I) Alguns homens são mamíferos (verdade);

31
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(A) Todos os homens são mamíferos (verdade);

Da falsidade da particular conclui – se imediatamente a falsidade da universal,


pois o que é falso da parte também o deve ser do todo.

Exemplo:

(I) Alguns futebolistas são extraterrestres (falsa);

(A) Todas as futebolistas são extraterrestres (falsa).

4º Duas proposições subcontrárias (I – O): ambas particulares diferem apenas


pela qualidade. Da falsidade de uma conclui – se imediatamente a veracidade de
outra, pois não podem ser ambas falsas ao mesmo tempo.

Exemplo:

(I) Alguns angolanos são europeus (falsa);

(O) Alguns angolanos não são europeus (verdade).

Mas da veracidade de uma nada se pode concluir a respeito da outra, pois ambas
podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.

Exemplo:

(I) Alguns voadores são aves (verdade);

(O) Alguns voadores não são aves (verdade).

Ou ainda nos casos em que uma é verdadeira e a outra falsa

Exemplo:

(I) Alguns gatos são felinos (verdade);


(O) Alguns gatos não são felinos (falso).

32
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É importante obedecermos estas regras para que a inferência por oposição seja
válida. Dominar estas regras é fundamental para criar – mos argumentos com
substância, sobretudo nos casos de debates ou discussões.

b) Inferência por conversão

Converter uma proposição é permutar o sujeito do predicado, ou seja, o sujeito


passa a ser predicado e vice – versa, sem mudar o valor lógico da proposição
(em alguns casos). Abbagnano esclarece – nos melhor esta forma de inferir
como sendo

«…a operação com a qual de um enunciado se extrai outro (considerado


equivalente, o que é muito problemático), mediante a troca das respectivas
posições dos termos (sujeito e predicado). Naturalmente, nem sempre isso é
possível, e às vezes só pode ser feito com a introdução de uma mudança no
quantificador (“tudo”, “alguns”). ABBAGNANO, Nicolas. 2003:208.

Assim, converter uma proposição é «inferir de uma proposição, outra, por


inversão da ordem dos termos»36. Assim, podemos distinguir uma conversão
simples, uma conversão por limitação e a conversão por contraposição.
Começaremos pela conversão simples.

A conversão simples consiste em transformar uma proposição em outra pela


simples permuta dos termos. Isto só é possível se os dois termos tiverem a
mesma extensão, ou seja, nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão que
na premissa.

Exemplo:

Alguns estudantes são inteligentes, convertemos para:

Alguns inteligentes são estudantes.

36
SARAIVA, Augusto. Op. Cit. P. 48.

33
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Nenhum cão é felino, convertemos para:

Nenhum felino é cão.

Para converter uma proposição é necessário prestar atenção a quantidade quer


do sujeito como do predicado. Relativamente ao sujeito não há problema, pois
este é sempre acompanhado de quantificadores: todos, alguns, nenhum, uns
tantos. O mesmo não acontece com o predicado. Assim:

O predicado de uma proposição afirmativa é sempre particular.

O predicado de uma proposição negativa é sempre universal.

Quanto a proposição universal negativa (E), podemos fazer a conversão


simples.

Exemplo:

Nenhum luandense é cabindense = Nenhum cabindense é luandense.

Nenhum gato é cabra = Nenhuma cabra é gato.

Quanto a proposição particular afirmativa (I) também se pode fazer a


conversão simples.

Exemplo:

Alguns angolanos são poliglotas = alguns poliglotas são angolanos.

Alguns felinos são gatos = alguns gatos são felinos.

A proposição particular negativa (O) não permite fazer este tipo de conversão
simples.

Exemplo:

Alguns juristas não são advogados = não posso concluir que alguns advogados
não são juristas.

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Alguns angolanos não são benguelenses = não posso concluir que alguns
benguelenses não são angolanos.

Quanto a proposição universal afirmativa (A) não é possível fazer também este
tipo de conversão.

Exemplo:

Todos os corvos são aves pretas = não posso concluir: todas as aves pretas são
corvos.

Ponto prévio: não existem regras sem excepções. Existem casos em que estas
regras não se aplicam efectivamente. Observemos o seguinte exemplo:

Alguns voadores não são aves = posso converter para algumas aves não são
voadores37.

Todos os triângulos são polígonos de três lados = posso concluir que todo
polígono de três lados é triângulo.

Conversão por limitação ou acidente: transformação da universal afirmativa em


particular afirmativa, ou seja, pode – se converter uma proposição universal
afirmativa desde que se altere a quantidade do sujeito da nova proposição.

Exemplo:

Todos os luandenses são angolanos

Converte – se por limitação em:

Alguns angolanos são luandenses.

O que aconteceu aqui? Se observarmos a regra veremos que o predicado da


proposição universal afirmativa é sempre particular. Assim, no exemplo acima

37
A avestruz é ave, mas não voa.

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“todos os luandenses são angolanos” seria também correcto se o disséssemos


“todos luandenses são alguns angolanos”.

Conversão por contraposição: esta é uma das formas da conversão das


proposições, que consiste em negar o contrário da proposição convertida de
forma tal que, por exemplo, a partir de “todo homem é animal”, se conclua que
todo não animal é não homem”.38

5.3. Silogismo39

5.3.1. Noção e constituição

A palavra “silogismo” na sua origem etimológica «significa reunir com o


pensamento. Segundo a definição clássica: é uma argumentação em que, de um
antecedente que une dois termos a um terceiro, infere – se um consequente que
une estes dois temos».40

Segundo Marilena Chauí, «o silogismo possui três características principais:

1º É mediato: exige um percurso de pensamento e de linguagem para que se


possa chegar a uma conclusão;41 2º é dedutivo: é um movimento de pensamento
e de linguagem que parte de certas afirmações verdadeiras para chegar a outras
também verdadeiras e que dependem necessariamente das primeiras; 3º é
necessário: porque é dedutivo (as consequências a que se chega a conclusão
resulta necessariamente da verdade do ponto de partida. Por isso, Aristóteles
considera o silogismo que parte de proposições apodícticas superior ao que parte
de proposições hipotéticas».42

38
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 205.
39
Essa palavra, que na origem significava cálculo e era empregada por Platão para o raciocínio em geral, foi
adoptada por Aristóteles para indicar o tipo perfeito do raciocínio dedutivo, definido como “um discurso em que,
postas algumas coisas, outras se seguem necessariamente. ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 896.
40
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Op. Cit. 49
41
Isto graças a aplicação do termo médio.
42
CHAUÍ, Marilena. Op. Cit. P. 187.

36
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Todo silogismo perfeito é constituído por premissas e também por três termos.
Quanto as premissas temos:

- Premissa maior: aquela que contém o termo com maior extensão;

- Premissa menor: aquela que contém o termo com menor extensão e;

- Conclusão.

Quer as premissas como a conclusão são proposições.

Exemplo:

Todo homem é mortal = Premissa maior.


Sócrates é homem = Premissa menor.
Logo, Sócrates é mortal = Conclusão.
Quanto aos termos temos:

- Termo maior: é o termo com maior extensão. Está sempre na premissa maior e
na conclusão na condição de predicado. No exemplo acima o termo maior é
mortal.

- Termo menor: é o termo com menor extensão. Está sempre na premissa menor
e é sujeito da conclusão. No exemplo acima o termo maior é Sócrates.

- Termo médio: como o próprio nome indica, é o termo que serve de pivô ou
mediador entre o termo maior e o termo menor. No exemplo acima o termo
médio é homem que aparece nas duas premissas e nunca aparece na conclusão.

Para melhor esclarecer – mos esta problemática dos termos vejamos o diagrama
de Leonard Euler.

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Todo homem é mortal – O conjunto de indivíduos aos quais se atribui o termo


homem está contido na extensão do conjunto das coisas às quais se aplica o
termo mortal.43

Sócrates é homem – O indivíduo ao qual se atribui o termo Sócrates está contido


no conjunto das coisas às quais se aplica o termo homem.44

Sócrates é mortal – pelo facto de Sócrates estar contido no conjunto dos


indivíduos representados por homem, e por homem estar contido no conjunto dos
indivíduos representados por mortal, segue – se que Sócrates faz parte do
conjunto de coisas que estão contidas sob a extensão do termo mortal.45

5.3.2. Regras do silogismo

O silogismo tem oito regras sem as quais não o podemos validar. Passaremos à
um estudo breve das mesmas para esclarecer – mos aos nossos leitores a
importância de se respeitar ou obedecer as mesmas.

1ª Regra: o silogismo tem três termos e só três termos: “termo maior”, “termo

menor” e “termo médio”. Exemplo:

- Todos luandenses são angolanos.


- Makiesse é luandense.

43
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Op. Cit.51
44
Ibidem.
45
Ibidem.

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- Logo, Makiesse é angolano.

2ª Regra: os termos não podem ser mais extensos na conclusão que nas
premissas. Exemplo:

- Todos os elefantes são ruminantes.


- Todos os elefantes são herbívoros (p).
- Logo, todos os herbívoros (u) são ruminantes.

Este silogismo violou a regra, pois o termo herbívoro na premissa menor em


tomado parcialmente e na conclusão foi tomado universalmente, ou seja,
ampliou – se a sua extensão.

3ª Regra: Nunca o termo médio deve aparecer na conclusão uma vez que a
função deste se esgota na mediação entre o termo maior e o termo menor.

Exemplo: todos mamíferos são vertebrados.


- O cão é mamífero.
Não podemos concluir que logo, o cão é mamífero vertebrado.

4ª Regra: o termo médio deve ser tomado pelo menos uma vez universalmente.
Se o termo médio fosse tomado em parte da sua extensão em ambas as
premissas nada nos garantiria que as duas partes consideradas fossem as
mesmas.46 Exemplo:

- Todos os estudantes são benguelenses.

- Alguns benguelenses são angolanos.

Não posso concluir logo que os estudantes são angolanos. O que aconteceu neste
silogismo? O termo médio, “benguelenses” foi sempre tomado em parte. Para
que o silogismo fosse correcto teria – mos de formula – lo da seguinte forma:

46
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P. 193

39
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- Todos estudantes são benguelenses.


- Todos benguelenses são angolanos.
- Logo, Todos estudantes são angolanos.

5ª Regra: De duas premissas negativas, nada se pode concluir. Exemplo:

- Nenhum pássaro é quadrúpede.


- Nenhum quadrúpede é voador.
_________________________

?? ?? ?? ??

6ª Regra: de duas premissas afirmativas, não pode haver uma conclusão


negativa. Exemplo:

- Os peixes nadam.
- O carapau é peixe.
Não posso concluir que “o carapau não nada”.

7ª Regra: a conclusão segue sempre a premissa mais fraca. Assim considera – se


a proposição particular mais fraca em relação a universal e, a proposição
negativa mais fraca em relação a afirmativa. Exemplo:

- Todos os cavalos são elegantes.


- Este animal não é um cavalo.
- Este animal não é elegante.

Ou:

- Nenhum angolano é marroquino.


- Todos marroquinos são árabes.
- Nenhum angolano é árabe.

40
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8ª Regra: De duas premissas particulares, nada se pode concluir. Exemplo:

- Alguns homens são sábios.


- Alguns homens são ignorantes.
__________________________

Nada se pode concluir.

5.3.3. Figuras e modos do silogismo

O silogismo tem quadro figuras e 19 modos. Segundo Marilena Chauí,

«As figuras são quatro e se referem a posição ocupada pelo termo médio nas
premissas (sujeito em ambas, predicado em ambas, sujeito na maior,
predicado na menor, predicado na maior, sujeito na menor). Os modos se
referem aos tipos de proposições que constituem as premissas (universais
afirmativas em ambas, particulares negativas em ambas, particulares
afirmativas em ambas, universal afirmativa na maior e particular afirmativa
na menor, etc.) … existem 64 modos possíveis, mas, desses, apenas dez são
considerados válidos. Combinando – se as quatro figuras e os dês modos
tem – se as 19 formas válidas de silogismo» (CHAUÍ, Marilena. 2002: 188).

Por ordem do nosso estudo começaremos por fazer um estudo mais sintético
primeiro sobre as figuras para depois entrar – mos nos seus modos.

1ª Figura: o termo médio é sujeito na premissa maior e predicado na premissa


menor. Exemplo:

- Todo cão é mamífero.


- Max é cão.
- Logo, Max é mamífero.

A fórmula deste silogismo é SUPRE.

41
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2ª Figura: o termo médio é predicado na premissa maior e predicado na


premissa menor. Exemplo:

- Todo homem é racional.


- O gato não é racional.
- Logo, o gato não é homem.

A fórmula deste silogismo é PREPRE.

3ª Figura: o termo médio é sujeito na premissa maior e sujeito na premissa


menor. Exemplo:

- Todo gato é felino.


- Nenhum gato é homem.
- Nenhum homem é felino.

A fórmula deste silogismo é SUSU.

4ª Figura: o termo médio é predicado na premissa maior e sujeito na premissa


menor. Exemplo:

- Todo o falante é homem.


- Nenhum homem é pedra.
- Logo, nenhuma pedra é falante.
A fórmula deste silogismo é PRESU.

Quanto aos modos, dependem substancialmente da quantidade e qualidade das


proposições. Como cada proposição do silogismo pode ser A, I, E, O, então
teremos 64 modos em cada figura. Esse número traduz o número de arranjos
possíveis entre quatro tipos de proposições agrupadas de três a três. Ao todo são

42
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possíveis 256 modos dos quais apenas 19 são válidos.47 Os escolásticos


inventaram mnemónicas para memorizar estes 19 modos de silogismo.

A primeira figura conforme já estudada, anuncia que o termo médio deve ser
sujeito na premissa maior e predicado na premissa menor. Esta figura
compreende 64 modos dos quais apenas 4 são válidas. Esta figura é dita perfeita
porque nela a extensão dos termos maior, médio e menor é respeitada.48 Nesta
figura, «a premissa maior não pode ser particular e a menor não pode ser
negativa».49 Eis os modos legítimos: AAA – EAE – AII – EIO, associado aos
seguintes termos: BARBARA, CELARENT, DARII e FERIO.

Exemplo:

- Todo angolano é africano. (A)


- Todo luandense é angolano. (A)
- Todo luandense é africano. (A) ou ainda:

______________________________

- Nenhum angolano é europeu (E)


- Todos malanjinhos são angolanos. (A)
- Nenhum malanjinho é europeu. (E)

Na segunda figura, o termo médio é predicado nas duas premissas. Esta figura
também compreende 64 modos dos quais somente quatro são válidas. «Nesta
figura, dita imperfeita, a extensão dos termos não é respeitada porque nela o
termo médio possui extensão maior que o termo maior do silogismo, o que é
ilógico… quanto ao modo, deve respeitar a seguinte regra: uma das premissas
deve ser negativa e a maior não pode ser particular».50

47
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P. 188-189.
48
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Op. Cit. p. 87.
49
Ibidem
50
Ibidem. P. 88

43
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Eis os modos legítimos: EAE – AEE – EIO – AOO, associados aos seguintes
termos: CESARE, CAMESTRES, FESTIMO, BAROCO.

Exemplo:

- Todo círculo é redondo. (A).


- Nenhum triângulo é redondo. (E).
- Nenhum triângulo é círculo. (E) ou ainda:

_________________________

- Nenhuma planta é homem. (E).


- Todo racional é homem. (A)
- Nenhuma planta é racional. (E).

Na terceira figura, o termo médio é sujeito em ambas. Compreende igualmente


64 modos dos quais 6 são legítimos. Quanto ao modo, deve respeitar a seguinte
regra: a premissa menor deve ser afirmativa e a conclusão particular.51 Eis os
seis modos legítimos: AAI – EAO – IAI – OAO – AII – EIO associados aos
seguintes termos: DARAPTI, FELAPTON, DISAMIS, BOCARDO, DATISI,
FERISON.

Exemplo:

- Nenhum mamífero é pássaro. (E).


- Algum mamífero é animal que voa. (I).
- Algum animal que voa não é pássaro. (O) ou ainda:

_______________________________

- Alguns animais não são cabras. (O).


- Todos animais são viventes. (A).
51
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Op. Cit. p. 89

44
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- Alguns viventes não são cabras. (O).

Na quarta e última figura, o termo médio é predicado na premissa maior e


sujeito na premissa menor. Possui igualmente 64 modos dos quais apenas 5 são
legítimos. Eis os modos legítimos: AAI – EAE – AII – AEO – IEO, que estão
associadas as seguintes palavras: BARALIPTON, CELANTES, DABITIS,
FAPESMO, FRISESOMORUM.

Exemplo:

- Todo advogado é jurista. (A).


- Todo jurista é letrado. (A).
- Algum letrado é advogado. (I) ou ainda:

- Nenhum inteligente é cabulador. (E).


- Todo cabulador é fraudulento. (A).
- Nenhum fraudulento é inteligente. (E).

5.3.4. Classificação dos silogismos

No presente estudo, ao falarmos da classificação dos juízos vimos que, quanto a


relação estes podem ser categóricos, hipotéticos e disjuntivos. O silogismo por
sua vez segue mais ou menos esta classificação. Assim sendo podemos classifica
– lo do da seguinte forma:

5.3.4.1. Categóricos (este por sua vez pode ser regular ou irregular).

a) O silogismo regular é o silogismo propriamente dito. Contem três termos e


três proposições conforme estudado acima.

b) O Silogismo irregular, contem mais ou menos de três proposições. Por sua


vez estes podem ser de quatro tipos: entimema, epiquerema, polissilogismo e
sorites. Passemos a análise de cada um deles.

45
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- Entimema: é uma argumentação na qual uma das premissas é


subentendida.52Exemplo:
- As baleias não são peixes.

- Porque não têm guerlas.

Há uma premissa subentendida neste silogismo. Correctamente seria:

- Todos os peixes têm guerlas.

- As baleias não têm guerlas.

- As baleias não são peixes.

- Epiquerema: quando uma ou ambas as premissas são munidas de sua prova ou


razão de ser.53 As premissas de que parte o raciocínio, por vezes, são duvidosas
e susceptíveis de contestação. Por vezes entendem – se melhor acompanhadas de
provas. Exemplo:

“É legítimo matar um agressor injusto: à face da lei natural, do direito positivo e


do costume.

Ora Clódio agrediu injustamente Mílone: provam – no os antecedentes de


Clódio e as circunstâncias do crime.

Logo Mílone podia matar Clódio”.54

Polissilogismo55: é um silogismo múltiplo no qual, a conclusão serve como


premissa menor para o próximo e assim indefinidamente. Exemplo:

- Quem age de acordo com sua vontade é livre.

- Ora, o racional age de acordo com sua vontade.

52
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Op. Cit. p. 98.
53
Idem.
54
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P. 200
55
Do grego “muitos”.

46
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- Logo, o racional é livre.

- Ora, quem é livre é responsável.

- Logo, o racional é responsável.

Sorites: é uma argumentação na qual o predicado da primeira se torna o sujeito


da próxima, assim sucessivamente, até a conclusão que une o predicado da
última com o sujeito da primeira. Dito de outra maneira, é um polissilogismo
abreviado em que a ligação dos extremos se obtém através de vários termos
médios.56 Exemplo:

- O avarento é cobiçoso.

- O cobiçoso é insaciável.

- O insaciável é infeliz.

- O infeliz é um mar de tormentas.

- Logo, o avarento é um mar de tormentas.

c) Hipotéticos (Condicionais, disjuntivos, Dilema).

Ao contrário do silogismo categórico que afirma ou nega em absoluto uma


relação (necessária ou contingente) entre sujeito e objecto (S é P; nenhum S é
P), o silogismo hipotético, como o próprio nome sugere, é do tipo cuja premissa
maior não afirma nem nega de modo absoluto, mas á título condicional.57Ou
ainda,

«por conter proposições hipotéticas ou compostas – duas ou mais


proposições simples, anteriormente formuladas, unidas entre si por uma
cópula não verbal, mas por partículas…O silogismo hipotético é aquele que
56
KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson L. Op. Cit. p. 99. Cf. Também PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo.
Op. Cit. P. 201
57
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P. 202.

47
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tem como premissa maior uma proposição hipotética ou composta e tem


como premissa menor uma das partes da alternativa, afirmada ou negada»
(KELLER, Vicent; BASTOS, Cleverson. 2009: 100-101).

Augusto Saraiva vê no silogismo hipotético como tipo em cuja premissa maior


se estabelece uma relação de antecedente a consequente.58

O silogismo hipotético apresenta três variações: condicionais, disjuntivo e


dilema.

- Condicional, cuja partícula de ligação das proposições é Se. Exemplo:

Se a água tiver a temperatura de 100º, a água ferve.

A temperatura da água é de 100º

Logo, a água ferve.

Este silogismo apresenta duas figuras consideradas legítimas.

a) Ponendo ponens – pondo a condição, põe – se o condicionado. Exemplo:

Se a água tiver a temperatura de 100º, a água ferve.

A temperatura da água é de 100º

Logo,…

b) Tollendo tollens – destruindo o condicionado, destrói – se a condição.


Exemplo:

Se a água tiver a temperatura de 100º, a água ferve.

Ora, ela não ferve.

Logo,…

58
SARAIVA, Augusto. Op. Cit. P. 75

48
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Disjuntivo, cuja partícula de ligação das proposições simples é Ou. É aquele


cuja premissa maior se apresenta sob a forma de alternativa. Exemplo:

Ou estudas, ou ficas de castigo.

Não estudas.

Logo, ficas de castigo

Este silogismo apresenta igualmente duas figuras legítimas:

a) Ponendo tollens – pondo parte da alternativa na premissa menor, destrói


(ou nega) a conclusão. Exemplo:

Ou estudas, ou ficas de castigo.

Estudas.

Logo,…

b) Tollendo ponens – distruindo ou negando parte da alternativa na premissa


menor, põe ou afirma na conclusão. Exemplo:

Ou estudas, ou ficas de castigo.

Não estudas.

Logo,…

O Dilema: “esse termo (que significa “premissa dupla”) começa a ser


empregado por gramáticos e lógicos do século II (…) para indicar os raciocínios
insolúveis ou conversíveis (…) que, segundo Diógenes Laércio apareciam com
frequência no livro dos estóicos. Um desses dilemas se chamava “do crocodilo”.
Um crocodilo que rapta um menino e promete ao pai que vai restituí – lo se
adivinhar o que o crocodilo vai fazer, ou seja, se vai restituir o menino ou não.
Se o pai responder que o crocodilo não vai restituir, o crocodilo estará diante de

49
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um dilema.: se não restituir, a resposta do pai será verdadeira e, de acordo com o


pacto, ele deverá devolver o menino; mas se o devolver, a resposta do pai estará
errada e este perderá o direito a restituição. Dilema semelhante contava – se a
respeito de Protágoras, que levou a juízo seu discípulo Evatlos, de quem deveria
receber honorários quando vencesse a primeira causa.59 Protágoras saiu – se com
esta:

- Levo – te a tribunal e ou perdes ou ganhas a causa.

- Se perderes, pagas – me, porque é essa a decisão do tribunal.

- Se ganhares, pagas – me, porque é esse o nosso contrato.

Ao que o discípulo respondeu:

- Irei a tribunal e ou perco ou ganho a causa.

- Se perder, não pago, porque é esse o nosso contrato.

- Se ganhar, não pago, porque é essa a decisão do tribunal.60

O dilema é, por assim dizer, uma faca de dois gumes, ou seja, em determinado
problema qualquer uma das hipóteses poderá levar ao mesmo resultado. Para
Keller e Bastos,

«É um conjunto de proposições, sendo a primeira proposição uma disjunção


tal que, aceito qualquer um de seus membros na premissa menor, resulta
sempre a mesma conclusão» (KELLER, Vicente; BASTOS, Cleverson.
2009:103).

59
ABBAGNANO, Nicolas. Op. Cit. P. 277
60
PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Op. Cit. P. 205

50
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BIBLIOGRAFIA

• ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, Martins Fonte, 4ª edição, São Paulo


2003.
• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando – Introdução à Filosofia, Editora
Moderna, 2ª edição, São Paulo 1993.
• ARISTÓTELES. Tópicos, www.ciberfil.org, Novembro 2000.
• CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia, Ed. Ática, São Paulo, 2000.
• KELLER, Vicente; BASTOS, Cleverson L. Aprendendo Lógica, Editora Vozes, 18ª
edição, Petrópolis 2009.
• PASCAL, Georges. O Pensamento de Kant, 8ª edição, editora Vozes, Petróplis, 2003.
• PISSARRA, Mário; REIS, Alfredo. Rumos da Lógica – Lógica e Argumentação 11º
ano, Edições Rumo, 4ª edição, volume I, Coimbra 1997.
• REALE, Miguel. Introdução à Filosofia, Editora Saraiva, 4ª edição, São Paulo, 2002.
• SARAIVA, Augusto. Filosofia 7º ano, Editora Educação Nacional, 7ª edição, Porto
1972

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