Junho 2021
Mártir de heroica
inocência
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Ano XX, nº 234, Junho 2021
SumáriO
Escrevem os leitores ���������������������������������������� 4 Santa Germana Cousin –
“A Santa que precisávamos”
ISSN 1982-3193
Revista de cultura Inocência e
e inspiração católica heroísmo da virtude (Editorial) . . . . . . . . . . . . 5 ...................... 30
publicada por:
O “Poema à Virgem”: lavra
Associação Brasileira A voz dos Papas –
Arautos do Evangelho de ouro do Apóstolo do
Divino sinal de salvação Brasil
CNPJ: 03.988.329/0001-09
www.arautos.org.br ...................... 34
........................ 6
Amparo, proteção e
Diretor Responsável:
Mario Luiz Valerio Kühl segurança
Comentário ao Evangelho –
“Basta ter fé!”
Conselho de Redação: ...................... 38
Severiano Antonio de Oliveira;
Silvia Gabriela Panez;
........................ 8 Arautos no mundo
Marcos Aurelio Chacaliaza C.
Escondido nas brumas da
Administração História… um rei mártir! ...................... 42
Rua Diogo de Brito, 41
Aconteceu na Igreja e
02460-110 - São Paulo - SP
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...................... 18 no mundo
Assinatura e Participação
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Assinante (anual): .............. R$ 204,00 únicos Nossa Senhora do
Santíssimo Sacramento Os Santos de
Participante (por tempo indeterminado):
cada dia
Colaborador.................... R$ 40,00 mensais
Benfeitor......................... R$ 50,00 mensais ...................... 24
Grande Benfeitor............ R$ 60,00 mensais ...................... 48
Exemplar avulso................ R$ 17,00
Meditações de um menino Desafiadores dos ares
Os artigos desta revista poderão ser sobre o Coração de Jesus
reproduzidos, desde que se indique a fonte
e se envie cópia à Redação. O conteúdo das
matérias assinadas é da responsabilidade
dos respectivos autores.
...................... 26 ...................... 50
H
á cerca de vinte e cin- do Rei sobre Sião, seu monte santo. Isto, porém, não é tudo. Cris-
co anos – nas vésperas Disse-Me o Senhor: ‘Tu és meu Fi- to impera não só por direito natu-
da comemoração do se- lho, Eu hoje Te gerei. Pede-Me e Te ral, enquanto Filho de Deus, mas
gundo centenário do dia darei por herança todas as nações até também por direito adquirido. “Ele
em que a Bem-Aventurada Margari- os confins da terra’” (Sl 2, 6-8). nos arrancou do poder das trevas”
da Maria Alacoque recebeu de Deus Por estas palavras Jesus Cristo de- (Col 1, 13) e “entregou-Se como res-
a ordem de propagar a devoção ao Sa- clara que recebeu de Deus poder so- gate por todos” (I Tim 2, 6). Por isso
grado Coração – muitas cartas foram bre toda a Igreja, aqui representada não só os católicos e outros cristãos
enviadas a Pio IX, não só por particu- pelo Monte Sião, e sobre o resto do devidamente batizados, mas todos e
lares, mas também por Bispos, instan- mundo, “até os confins da terra”. As cada um dos homens, tornaram-se
do-o a consagrar todo o gênero huma- palavras “Tu és meu Filho” indicam para Ele “um povo adquirido” (I Pd
no ao Sacratíssimo Coração de Jesus. claramente o fundamento do sobera- 2, 9).
Julgou ele de bom alvitre diferir a no poder. Com efeito, pelo fato de ser Assim, comenta com toda razão
decisão, a fim de estudar mais deti- Filho do Rei do universo, Jesus é o Santo Agostinho: “Perguntais o que
damente o assunto. […] Agora, tendo herdeiro de todo o seu poder: “dar- Cristo comprou? Vede o que Ele deu
surgido novos fatores, consideramos -te-ei por herança todas as nações”. e sabereis o que comprou. O preço
que chegou a hora de pôr em execu- Palavras semelhantes diz o Apóstolo: de compra é o Sangue de Cristo. Que
ção tal projeto. “Ao qual constituiu herdeiro de to- objeto pode ter tal valor? Qual, a não
das as coisas” (Hb 1, 2). ser todas as nações? Foi pelo univer-
Supremo Senhor de Entretanto, deve-se tomar em so inteiro que Cristo pagou esse pre-
todas as coisas consideração sobretudo o que J esus ço”.1 […]
Esse geral e solene testemunho afirmou sobre seu império, não
de respeito e piedade convém cer- mais pelos Apóstolos ou pelos pro-
“Meu filho, dá-Me o teu coração”
tamente a Jesus Cristo, pois Ele é o fetas, mas por seus próprios lábios. Contudo, a esse duplo fundamento
Príncipe e Supremo Senhor. […] Quando o governador romano Lhe de seu poder e seu domínio, Jesus nos
Aquele que é o Filho Unigênito de perguntou “Portanto, és Rei?”, res- permite em sua benevolência acres-
Deus Pai, que é consubstancial a Ele, pondeu sem qualquer vacilação: “Tu centar nossa consagração voluntária.
“esplendor de sua glória e imagem de o dizes, Eu sou Rei” (Jo 18, 37). A Deus e Redentor nosso, Ele pos-
sua substância” (Hb 1, 3), possui ne- grandeza desse poder e a infinitu- sui plena e perfeitamente tudo quan-
cessariamente tudo em comum com de desse reinado são claramente to existe. Nós, ao contrário, somos tão
o Pai; portanto, tem o sumo império confirmadas pelas palavras de Nos- pobres e desprovidos que nada temos
sobre todas as coisas. Por esta razão so Senhor aos Apóstolos: “Todo po- para oferecer-Lhe de presente. Entre-
disse de Si mesmo o Filho de Deus, der Me foi dado no Céu e na terra” tanto, em sua bondade e caridade so-
por meio do profeta: “Fui constituí- (Mt 28, 18). […] beranas, Ele aceita de bom grado que
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a Evangelho A
Naquele tempo, 21 Jesus atraves- Uma numerosa multidão O se- eu ao menos tocar na roupa
sou de novo, numa barca, para a guia e O comprimia. d’Ele, ficarei curada”. 29 A he-
outra margem. Uma numerosa 25
Ora, achava-se ali uma mu- morragia parou imediatamen-
multidão se reuniu junto d’Ele, lher que, há doze anos, esta- te, e a mulher sentiu dentro de
e Jesus ficou na praia. 22 Apro- va com uma hemorragia; 26 ti- si que estava curada da doença.
ximou-se, então, um dos che- nha sofrido nas mãos de muitos 30
Jesus logo percebeu que uma
fes da sinagoga, chamado Jairo. médicos, gastou tudo o que pos- força tinha saído d’Ele. E, vol-
Quando viu Jesus, caiu a seus suía, e, em vez de melhorar, tando-Se no meio da multidão,
pés, 23 e pediu com insistência: piorava cada vez mais. 27 Ten- perguntou: “Quem tocou na
“Minha filhinha está nas últi- do ouvido falar de Jesus, apro- minha roupa?” 31 Os discípulos
mas. Vem e põe as mãos sobre ximou-se d’Ele por detrás, no disseram: “Estás vendo a mul-
ela, para que ela sare e viva!” meio da multidão, e tocou na tidão que Te comprime e ainda
24
Jesus então o acompanhou. sua roupa. 28 Ela pensava: “Se perguntas: ‘Quem Me tocou?’”
I – O relato de São Marcos culos recolhidos pela Liturgia deste 13º Domingo
O Evangelista São Marcos se distingue pela do Tempo Comum, tais características não o im-
singeleza de suas descrições. Parco em comentá- pedem de traçar com extrema vivacidade e elo-
rios, de linguagem direta e pouco dado a recur- quência os maravilhosos feitos de Jesus, surpreen-
sos literários, ele desenvolve a narração num es- dendo-nos pela riqueza de detalhes que tornam
tilo conciso, como já tivemos ocasião de obser- as cenas verdadeiramente arrebatadoras. Qua-
var em artigos anteriores. Entretanto, nos versí- se poderíamos julgar desnecessária qualquer ou-
32
Ele, porém, olhava ao redor notícia e disse ao chefe da sina- saíssem, menos o pai e a mãe
para ver quem havia feito aqui- goga: “Não tenhas medo. Bas- da menina, e os três discípulos
lo. 33 A mulher, cheia de medo e ta ter fé!” 37 E não deixou que que O acompanhavam. Depois
tremendo, percebendo o que lhe ninguém O acompanhasse, a entraram no quarto onde esta-
havia acontecido, veio e caiu aos não ser Pedro, Tiago e seu ir- va a criança. 41 Jesus pegou na
pés de Jesus, e contou-Lhe toda mão João. 38 Quando chega- mão da menina e disse: “Talitá
a verdade. 34 Ele lhe disse: “Fi- ram à casa do chefe da sina- cum” – que quer dizer: “Meni-
lha, a tua fé te curou. Vai em goga, Jesus viu a confusão e na, levanta-te!” 42 Ela levantou-
paz e fica curada dessa doença”. como estavam chorando e gri- -se imediatamente e começou a
35
Ele estava ainda falan- tando. 39 Então, Ele entrou e andar, pois tinha doze anos. E
do, quando chegaram alguns disse: “Por que essa confusão e todos ficaram admirados. 43 Ele
da casa do chefe da sinagoga, esse choro? A criança não mor- recomendou com insistência
e disseram a Jairo: “Tua filha reu, mas está dormindo”. 40 Co- que ninguém ficasse sabendo
morreu. Por que ainda incomo- meçaram então a caçoar d’Ele. daquilo. E mandou dar de co-
dar o Mestre?” 36 Jesus ouviu a Mas, Ele mandou que todos mer à menina (Mc 5, 21-43).
Me tocou?’” 32 Ele, porém, olhava ao re- do, percebendo o que lhe havia aconte-
à fé – às dor para ver quem havia feito aquilo. cido, veio e caiu aos pés de Jesus, e con-
vezes sólida, À primeira vista causa certa estranheza a ex-
tou-Lhe toda a verdade. 34 Ele lhe disse:
outras vezes pressão utilizada por São Marcos: “percebeu “Filha, a tua fé te curou. Vai
que uma força tinha saído d’Ele”. De fato, em paz e fica cura-
apoucada por seu conhecimento divino, infalí- da dessa doença”.
vel e sempre presente, Je-
– que sus tudo abarcava. Como Em lugar de sair
encontrava explicar que percebes- às pressas para esca-
se algo que não podia par de uma situação
nas almas ignorar? Em sua hu- embaraçosa, a mu-
manidade, pelo co- lher preferiu acusar-
nhecimento expe- -se, talvez recean-
rimental, compro- do perder a saúde
vou aquilo que vira que acabara de
desde toda a eter- lhe ser restituí-
nidade, enquan- da, se não o fi-
to Deus. E o zesse. Por isso
E v a n g el i s - ajoelhou-se
ta sublinha diante de Je-
este deta- sus, tremendo,
lhe para mas confian-
Francisco Lecaros
te na misericór-
dia d’Ele, e con-
tou o que acontece-
ra. Conduta louvável,
que indica quanto era
A cura da hemorroíssa - Catedral de Notre-Dame de Coutances (França) uma pessoa humilde,
ros
ca
zar de sua natureza divi-
Le
co
na. Sim, naquele instan- É de se imaginar o cho-
cis
n
te ela teve tal enlevo e ad- que de Jairo perante a no-
Fra
miração pelo Filho de Deus, tícia do falecimento de sua fi- Muitas
até a adoração, que lhe foi in- lhinha, ainda mais por ser uma
fundida a graça santifi- época em que o senso fa-
vezes é pela
cante, porque, como ensi- Ressurreição da filha de Jairo – Igreja de miliar era muito mais in- crença de
na São Tomás de Aquino,2 Nossa Senhora da Consolação, Nova York tenso do que hoje e a pa-
quando a criatura racional ternidade se exercia de terceiros que
se ordena ao seu devido fim já está justificada. forma vigorosa. Como as providências para o en-
A vida sobrenatural penetra em quem se entu- terro já deviam ter sido tomadas, temendo que a se estabelece a
siasma e se encanta por algo superior, a ponto de
amá-lo mais que a si próprio. A este respeito co-
chegada de Jesus, acompanhado pela turba, pro-
vocasse um não pequeno tumulto em circunstân-
ligação entre
menta São João Crisóstomo: “Foi pela fé que ela cias tão trágicas, os empregados quiseram deter a onipotência
se tornou, de fato, sua filha”.3 Que glória ter re- o Mestre.
cebido este título dos lábios de Nosso Senhor Je- Contudo, Jesus, num desvelo próprio a ins- de Cristo e
sus Cristo! pirar os costumes do Ancien Régime, fortale-
Ao mesmo tempo, as palavras “a tua fé te ceu a confiança de Jairo. O conselho: “Não te-
a realização
curou” denotam que o restabelecimento tam- nhas medo, basta-te crer e tua filha se curará” – do milagre
bém se deu em razão desta virtude. É ela que nos segundo Santo Agostinho – “não é uma censu-
une a Deus e, por este motivo, quem a possui em ra a quem desconfia, mas uma confirmação para
grau excelente alcança uma força vinda do alto. quem acreditava mais intensamente”.5 A menina
É inegável que Jesus poderia curar unicamente estava morta! Suas articulações enrijeciam, seu
em função de sua vontade onipotente. No entan- cadáver ficava gélido, pronto para ser embalsa-
to, Ele condicionava a realização do milagre à mado, envolto em faixas e sepultado numa gru-
fé – às vezes sólida, outras vezes apoucada – que ta. Se a filha, portanto, já não tinha meios de pra-
encontrava nas almas.4 Onde esta não existia, de ticar um ato de fé, o pai o fazia, manifestando
ordinário Ele não operava milagre algum (cf. Mc sua fé ao apresentar o pedido ao Divino Mes-
6, 5). Não consta, por exemplo, que algum dos tre. É provável até que ao longo do caminho, na
fariseus que tenha se aproximado de Nosso Se- companhia de Cristo, ele tenha reafirmado em
nhor fosse curado… seu íntimo, com crescente fervor, a certeza da
ressurreição da filha. A fé do chefe da sinago-
Nosso Senhor estimula o pai aflito ga, assim como a dos três Apóstolos escolhidos
a crescer na confiança por Jesus para acompanhá-Lo, tornou sua inter-
venção inteiramente viável, pois muitas vezes é
35
Ele estava ainda falando, quando che- pela crença de terceiros que se estabelece a li-
garam alguns da casa do chefe da sina- gação entre a onipotência de Cristo e a realiza-
alj
no Mestre nesta Litur- ressuscitará toda a hu-
tem fé
Kr
vo
gia, “basta ter fé!” Creia- manidade no último dia.
sta
Gu
constitui um mos na misericórdia d’Ele E na filha de Jairo pode-
para além da realidade apa- mos contemplar simbolica-
empecilho rente, lembrando-nos de que, mente nossa própria figura no
quando imploramos alguma gra- túmulo, deteriorada pelo desgas-
para a ação ça útil para a nossa salvação, para te do tempo, à espera do momen-
da graça e o bem do próximo e a gló-
ria da Santa Igreja, Deus
to em que, a uma ordem do
Supremo Juiz e pela força
Ressurreição da filha de Jairo
pesa negati- tem mais empenho em dá- Igreja São Pedro, Bordeaux (França) d’Ele, nosso corpo se unirá
-la do que nós em recebê- à nossa alma no estado que
vamente na -la. Na verdade, este nosso anseio foi precedido a cada uma corresponda.
Comunhão pelo d’Ele, desde sempre. Porém, por serem incrédulos, os circunstan-
tes julgaram que Jesus era um errado, porque
Só os que têm fé assistem ao milagre
dos Santos sabiam que o corpo da menina já se encontrava
38
Quando chegaram à casa do chefe da inerte. Começaram então a debochar d’Ele, re-
sinagoga, Jesus viu a confusão e como velando quanto o seu pranto era fingido e egoís-
estavam chorando e gritando. Então, 39 ta; se fosse autêntico, continuariam chorando
sem se incomodar com o que Ele dizia.
Ele entrou e disse: “Por que essa con- Por este motivo Jesus mandou que todos se
fusão e esse choro? A criança não mor- retirassem, à exceção do pai, da mãe e dos três
reu, mas está dormindo”. 40 Começaram discípulos, os únicos com fé naquele ambien-
então a caçoar d’Ele. Mas, Ele man- te. Quem não tem fé constitui um empecilho
dou que todos saíssem, menos o pai e a para a ação da graça e pesa negativamente na
mãe da menina, e os três discípulos que Comunhão dos Santos. Sinal de que os céticos
obstruem o progresso espiritual de seu próprio
O acompanhavam. Depois entraram no meio. Devemos guardar uma prudente caute-
quarto onde estava a criança. la em relação a eles, para não perdermos graças
por sua má influência. Vemos ainda nesta cena
A comitiva deparou-se à entrada da casa com como Deus preza os liames familiares, pois Ele
um quadro de confusão próprio ao espírito ma- ressuscita a menina, sobretudo por causa de seus
nifestativo dos orientais. Alguns choravam, ou- pais. Bem podemos supor que ambos tenham se
tros gritavam, todos estavam em alvoroço. A pri- salvado e hoje se regozijem no Céu.
ão
uç
de precisamos procu- nós e nos resgatou por
od
pr
Re
rar compreender o que seu sacrifício, franquean-
se passa ao nosso redor. Em do-nos o acesso à vida ver-
Jesus sempre consequência de uma fé dadeira. Meditar nesta ma-
pouco robusta, somos ten- ravilha nos proporciona
está disposto a dentes a conceber a reali-
Cristo Bendizente - Museu do Hermitage,
São Petersburgo (Rússia) um benefício monumen-
nos curar, não dade por um prisma estri- tal, porque com frequência
tamente humano, menosprezando a visão so- somos assaltados por aflições, tentações, medo,
só dos males brenatural. Não obstante, a existência humana e por vezes até incorremos em funestos delitos;
sempre está sujeita à influência do mundo invi- mas se Nosso Senhor cura, ressuscita e perdoa,
físicos, mas, sível e, portanto, às nossas tendências associa- Ele tem poder para minorar nossos problemas e
sobretudo, -se a ação de um demônio ou de um Anjo. As-
sim como é impensável considerar Nosso Senhor
nos soerguer de qualquer queda. O que é preciso
de nossa parte? “Basta ter fé!”
dos morais, apenas como Homem, ignorando a união hipos-
A hemorroíssa, figura do pecador
tática, do mesmo modo é um grave erro nos es-
restaurando- quecermos de que, pelo Batismo, cada cristão,
que ainda tem fé
1
SÃO JERÔNIMO. Trata- cas. Madrid: BAC, 1999, 3
SÃO JOÃO CRISÓSTO- drid: BAC, 2007, v.I,
do sobre el Evangelio de v.I, p.853. MO. Homilías sobre el p.619.
San Marcos. Homilía III Evangelio de San Mateo
2
Cf. SÃO TOMÁS DE 4
Cf. SÃO TOMÁS DE
(5,30-43). In: Obras Com- (1-45). Homilía XXXI,
AQUINO. Suma Teológi- AQUINO, op. cit., III,
pletas. Obras homiléti- n.2. In: Obras. 2.ed. Ma-
ca. I-II, q.89, a.6. q.43, a.2, ad 1.
em Corpo,
Sangue, Alma
e Divindade
Adoração Eucarística na Basílica de Nossa Senhora do Rosário,
Caieiras (SP)
5
SANTO AGOSTINHO. 6
SÃO BEDA. In Mar- In: Obras Completas. Tra- 8
SÃO TOMÁS DE
De consensu evangelis- ci Evangelium expositio. tados apologéticos. Ma- AQUINO, op. cit., III,
tarum. L.II, c.28, n.66. L.II, c.5: PL 92, 182. drid: BAC, 2009, v.VIII, q.44, a.3, ad 2.
In: Obras. Madrid: BAC, p.339; 341.
7
SÃO JERÔNIMO. Con-
1992, v.XXIX, p.377.
tra Joviniano. L.II, c.17.
P
aris, 21 de janeiro de 1793. O “melhor vinho” da O Delfim Louis-Charles, nasci-
O rufar dos tambores soa realeza francesa do em 27 de março de 1785, filho
por toda a capital, seguido Para alguns, a notícia da morte do da ilustre Princesa d’Áustria e Ra-
do urro de uma multidão rei causou terror e consternação; para inha da França, Maria Antonieta,
sedenta de sangue. De repente, faz-se outros, ela foi motivo de danças e cân- e do Rei Luís XVI, era já aclamado
um espantoso silêncio, que toma con- ticos, que rapidamente culminaram como Luís XVII por todas as nações
ta da praça enquanto o criminoso che- em verdadeiras orgias, próprias à vile- da Europa e pelos franceses que se
ga ao cadafalso. za de espírito que a Revolução Fran- mantinham fiéis à monarquia.
Criminoso? Sim. Qual lei ha- cesa propagava entre seus adeptos.
via rompido? A lei que “a liberda- Entretanto, a mão de Deus, que
Um reinado marcado pela
de, a igualdade e a fraternidade” ti- tão bondosamente havia conduzido
fidelidade em meio à tragédia
nham imposto à nação: a monarquia a filha primogênita da Igreja ao lon- “Vive le Roi! Vive Louis XVII!”,
é “opressora” e, portanto, deve-se ex- go dos séculos – desde o Batismo de era o brado que ecoava pelas tropas
terminá-la. O “crime” desse réu con- Clóvis, atravessando o reinado do católicas da Vendée e pelo exército
sistia em ser rei da França, razão pela grande Carlos e rejubilando-se com do Duque de Condé. Entretanto, à
qual estava sendo tratado como o a virtude de São Luís IX, até chegar semelhança do Rei do Universo, que
pior dos bandidos! àquele terrível dia –, não se afastara nasceu numa gruta gélida persegui-
Na praça, o silêncio prolonga-se dela. Estava reservada para a Fran- do pelos chefes do mundo, o pequeno
por mais alguns instantes pois, por ça, assim como para toda a História, Luís XVII viveu os primeiros dias de
incrível que pareça, nos corações dos o “melhor vinho” de sua realeza: um seu reinado numa prisão, carregando
franceses ali presentes ainda palpi- menino! sobre si o pesado jugo do ódio e da
tam restos de respeito pela hierar- Sim, um menino, que chorava indignação revolucionária.
quia e de amor à nobreza. Meses an- amargamente a morte do pai e jazia Sabiam os fautores da Revolução
tes aclamavam com entusiasmo o Rei prisioneiro abraçado por sua mãe, a que por esta criança passava o fio
Luís XVI, o qual agora contemplam partir de então uma pobre viúva. So- dourado da realeza da França, cuja
ser entregue à morte, para logo com- bre este jovenzinho de apenas sete monarquia quase lendária havia im-
parecer ante o justo juízo de Deus. anos recaía o manto dos Reis Cris- pregnado com seu perfume os sécu-
Segue-se um último toque de tam- tianíssimos, o qual, por sua vez, havia los da Cristandade. E sabiam, por-
bores, e a implacável lâmina da gui- de crescer em dignidade ao passar a tanto, que a história do pequeno mo-
lhotina desce sobre a cabeça do infe- cobrir uma criança inocente coroada narca definiria o futuro da Europa e
liz monarca. pela dor e pelo martírio. da Civilização Cristã.
1
CHARLES-ROUX, Jean. Pai- 3
Cf. BEAUCHESNE, Alcide de. 5
Idem, p.138. 10
Cf. Idem, p.325. Referência a
xão e calvário de um menino-rei Louis XVII, sa vie, son agonie, Marie-Thérèse Charlotte, a Ma-
6
Idem, p.136.
de França. In: ESCANDE, OP, sa mort. Captivité de la famille dame Royale, irmã mais velha
Renaud (Dir.). O livro negro da royale au Temple. 8.ed. Paris:
7
Idem, p.143. de Luís XVII e, como ele, pri-
Revolução Francesa. Lisboa: Hachette, 1871, v.II., p.163. 8
Idem, p.141. sioneira num dos compartimen-
Alêtheia, 2010, p.134. tos da Torre do Templo.
4
Cf. CHARLES-ROUX, op. cit., 9
Cf. BEAUCHESNE, op. cit.,
2
Cf. Idem, p.137. p.137-138. p.324-325.
11
Idem, ibidem.
1
ZWEIG, Stefan. Joseph Fou- 3
Idem, p.37. Polícia no Diretório e durante 6
Observa Margaret Thatcher,
ché. Retrato de um homem po- o período napoleônico. ex-primeira-ministra do Rei-
4
Joseph Fouché foi influente e
lítico. Rio de Janeiro: Guana- discreto político durante a Re- 5
FOUCHÉ, Joseph. Memórias no Unido: “Para mim o con-
bara, 1942, p.33. volução Francesa, e dela saiu sobre Fouché. São Paulo: José senso parece ser o processo
ileso; chegou a ser Ministro da Olympio, 1946, p.11. do abandono de todas as cren-
2
Idem, p.30.
As convicções inabaláveis
só nascem da fé
Ao explicar a definição de fé con-
tida na Carta aos Hebreus – “a fé é
a substância das coisas que se devem
Fotos: Reprodução
ças, princípios, valores e polí- cisam ser resolvidos, simples- ‘Eu represento o consenso?’” 7
SÃO TOMÁS DE AQUINO.
ticas, em busca de algo em que mente porque não se consegue (THATCHER, Margaret. Spe- Suma Teológica. II-II, q.4, a.1.
ninguém acredita, mas ao qual chegar a um acordo no cami- ech at Monash University, 6 out. 8
Idem, ibidem.
ninguém se opõe; o processo nho a seguir. Que grande causa 1981. In: www.margarettha-
de evitar os problemas que pre- lutou e venceu sob a b
andeira tcher.org).
9
Idem, q.12, a.1, ad 2.
A
o fundar a Congregação onde Cristo instituiu o Divino Sa- Modelo das almas eucarísticas
do Santíssimo Sacramento cramento, o Cenáculo. Mas, ape- “‘Nossa Senhora do Santíssimo Sa-
em 1856, São Pedro Julião sar de seus esforços, ele não con- cramento é o novo nome de algo mui-
Eymard levou à máxima seguiu concretizar tão simbólico e to antigo’ […]. Veneram-se com razão
exaltação o culto à Eucaristia, me- genial objetivo. todos os mistérios da vida da Mãe de
diante sua exposição perpétua e so- Como não poderia deixar de ser, Deus. As almas contemplativas têm
lene. É esta a originalidade da fun- esse Santo era também um gran- um exemplo na vida de Maria em Na-
dação por ele feita. de devoto de Maria Santíssima, zaré, assim como os corações deso-
Seu zelo o impulsionou a am- que o inspirou a fundar sua provi- lados encontram consolação na Vir-
bicionar e trabalhar empenhada- dencial congregação. Escreveu ele, gem Dolorosa. Há em todas as ações
mente para estabelecer a Ado- para proveito de seus filhos espiri- da Santíssima Virgem uma graça que
ração Perpétua no próprio local tuais, uma breve meditação maria- nos conduz suavemente a honrá-las e
no-eucarística, sintetizada por um imitá-las, cada um conforme sua pró-
de seus discípulos, que interessa- pria vocação.
rá a todos os fiéis amantes da Eu- “Ora, Maria viveu mais de quin-
caristia. ze anos após a Ascensão de seu Di-
vino Filho. Em que foram ocupados
esses longos dias de exílio e que gra-
Maria é chamada ça encerra este importante período
da vida de nossa Mãe? O Livro dos
Mãe da Igreja, pois Atos dos Apóstolos nos responde
desde seus albores com muita clareza. Nele está dito que
os primeiros cristãos viviam na paz,
Ela lhe deu exemplo, na união, na mais ardente caridade
[…], perseverando na fração do pão
força e instrução, e (cf. At 2, 42).
“Viver da Eucaristia e para a Eu-
no Céu Ela continua caristia, reunir-se em torno do ta-
esta missão! bernáculo para cantar hinos e cân-
ticos espirituais: eis o caráter distin-
Gustavo Kralj
ão
uç
de vossas vidas, e de seu serviço vos- dos Arautos do Evangelho se realiza
od
pr
so único labor, Maria é vosso mode- há anos, sem interrupção, a Adora-
Re
lo, sua vida é vossa graça. Perseverai, ção ao Santíssimo Sacramento.
como Ela, na fração do pão”.1 Nossa Senhora do Santíssimo
Sacramento - Basílica de Santa Maria Prêmio eterno dos adoradores
Maggiore, Roma
Convivendo com Jesus nas de Jesus Eucarístico
Espécies consagradas Tão fulgurante realidade não bri-
De fato, ao considerar a vida de “Ó almas, que lha aos olhos do mundo paganizado,
Maria, costuma-se ter em vista sua mas sim ante o trono do Altíssimo.
presença em Belém, em Nazaré ou no fizestes da Quantos benefícios esses atos de ado-
Calvário, deixando de lado o tempo
em que, já sem a presença humana de
Eucaristia o centro ração compram, e quantas desgraças
evitam! A oração aos pés do Senhor
Jesus – como a teve até a Ascensão –, de vossas vidas, Sacramentado conquista graças assi-
Ela continuou em sua companhia naladas.
através das Espécies consagradas que Maria é vosso As muitas horas que São Pedro
palpitavam ininterruptamente em seu Julião Eymard passou junto a Jesus
Coração e se renovavam a cada Co-
modelo, sua vida Sacramentado – no altar, próximo
munhão. é vossa graça” ao sacrário ou diante do ostensório –
Um piedoso autor antigo, Bernar- lhe mereceram o prêmio de ver sem
dino de Paris,2 afirma que Jesus, ao véus o Deus que ele adorou oculto
instituir a Eucaristia, visou de modo albores Ela lhe deu exemplo, força e na Eucaristia e de contemplar Nossa
especial sua Mãe, para que a mais instrução, e no Céu continua a exer- Senhora do Santíssimo Sacramento,
excelsa de suas obras fosse recebida cer até hoje esta missão! sua Mãe. Porque desfrutar para sem-
pela mais nobre de suas criaturas. pre desse celeste convívio é o mara-
Só Maria Santíssima conservou ín-
Fervor sempre crescente, sob a vilhoso destino eterno dos adorado-
tegra a fé enquanto Jesus estava no se-
proteção de Maria res de todos os tempos. ²
pulcro. Após a Ressurreição, Ela ani- A Igreja sempre cresce em santi-
mou os discípulos, manteve-os unidos dade ao longo da História, dado que Transcrição, com adaptações, da
e esperançosos, propiciou a vinda do os pecados de seus membros não mensagem escrita para a Federação
Espírito Santo, instruiu os Apóstolos conseguem desfigurá-la em sua subs- Mundial das Obras Eucarísticas
com seu testemunho, seus conselhos tância. Cristo “amou a Igreja e Se en- da Igreja, de cujo conselho diretivo
e relatos da vida de seu Divino Filho. tregou por ela, para santificá-la, pu- o autor é membro
Quem senão Ela poderia ter nar- rificando-a pela água do Batismo
rado a São Lucas os episódios da com a palavra, para apresentá-la a
infância de Jesus relatados em seu Si mesmo toda gloriosa, sem mácula,
1
TESNIÈRE, SSS, Albert. Le prête de l’Eu-
charistie ou Le Bienheureux Pierre-Julien
Evangelho? E quantas confidências sem ruga, sem qualquer outro defeito
Eymard. 9.ed. Lille: Desclée de Brouwer,
recebeu São João d’Aquela que Cris- semelhante, mas santa e irrepreensí- 1926, p.166-168.
to confiou a seus cuidados, no alto da vel” (Ef 5, 25-27). Pela força da Eu- 2
Cf. BERNARDINO DE PARIS. La Com-
Cruz? Com toda razão Maria é cha- caristia e sob a proteção de Maria, munion de Marie, Mère de Dieu. Paris: Jac-
mada Mãe da Igreja, pois desde seus não se pense que a Igreja apenas “so- ques Lecoffre, 1860, p.18.
“A Santa que
precisávamos”
O corpo perfeitamente intacto décadas após a morte,
os contínuos milagres e a acendrada devoção dos fiéis
demonstraram o empenho do Altíssimo em defender
Francisco Lecaros
A
s janelas altas e estreitas, ções e, às vezes, a guerra tomavam percebem a marca vermelha que a pi-
as torres largas e a facha- por completo aquela gente. Uma careta de Guillaume lhe deixou no
da meio amuralhada da- existência digna e piedosa apoia- rosto. Que milagre!
vam um aspecto de for- da em trabalho honesto era tudo o A notícia logo se espalha pelo po-
taleza à pequena igreja medieval de que almejavam. Até que, numa tar- voado e todos acorrem curiosos.
Santa Maria Madalena, no povoado de do ano 1644, um acontecimento Quem seria aquela Santa nascida
francês de Pibrac. veio modificar a rotina do povoado e, em seu meio, mas de cuja virtude se-
O vilarejo não distava mais que mais tarde, torná-lo conhecido até os quer tinham se dado conta? Por fim,
alguns quilômetros da grande e de- confins do mundo católico. alguns mais experientes e avançados
senvolvida cidade que dominava o sul em idade a reconhecem: é Germana
da França e que muita fama acumu-
Uma insigne descoberta Cousin, a pobre pastorinha escrofu-
lara ao longo dos séculos: Toulouse. Guillaume Cassé trabalha com ar- losa que falecera havia mais de qua-
Entre os inúmeros feitos que compu- dor no piso da igreja de Pibrac para re- renta anos.
nham a sua história, ela contempla- mover uma grossa laje. Falecera uma Mesmo sem saber muito como ela
ra a partida para a Primeira Cruzada piedosa paroquiana e seus familiares vivera ou o que fizera, o povo a reti-
de seu conde, o não pouco ambicioso desejam que o corpo repouse no re- rou do solo e passou a venerá-la numa
Raimundo IV; assistira aos inumerá- cinto sagrado à espera da ressurreição lateral do templo, não tendo a menor
veis golpes desferidos nas suas redon- final. Após numerosas batidas e mui- dúvida de que tanta paz, serenidade e
dezas pela espada de Simão de Mont- to esforço, o coveiro finca novamente jovialidade só podiam emanar de um
fort em luta contra a heresia cátara; e a picareta, fazendo-a penetrar fundo corpo cuja alma estivesse bem próxi-
mais recentemente também fora pal- e desprender a pedra do solo. ma de Deus e da Santíssima Virgem.
co de sangrentas batalhas entre cató- Subitamente, um grito de assom- Mas, afinal, quem era aquela jo-
licos e protestantes huguenotes. bro se faz ouvir, atraindo todos os vem tão atraente quanto desconhe-
Contudo, esses episódios – e mui- circunstantes para junto da abertu- cida?
tíssimos outros – pouco influencia- ra. Algo ao mesmo tempo prodigioso
vam a vida simples e campestre dos e assustador contemplam: o corpo de
Contemplação em meio à dor
habitantes de Pibrac. O gado, as di- uma donzela ali jaz em perfeito esta- A História não registra com segu-
ficuldades climáticas com as planta- do. Tão viva parece estar que todos rança o nome dos pais de Germana,
cinco anos desde a visita do vigá- tem de lutar de peito aberto contra
rio, e não se ouve qualquer notícia as potências de sua época, reman-
dele… O povo, cada vez mais bene- do contra a maré montante dos ví-
ficiado pela santa pastora, não de- cios e desvios de seu tempo. Não
siste. Enviam então o próprio al- raras vezes torna-se objeto de des-
caide de Pibrac, Jacques de Lespi- prezo, senão de ódio. […] Entre-
nasse, para rogar ao Arcebispo de Ela ensinou a todos que o verdadeiro tanto, quando a glória de Deus é
Toulouse, Dom Colbert, que fizes- valor, glória e sucesso são aqueles tocada, devemos defendê-la como
se algo para o reconhecimento da conquistados diante de Deus leões. E ao tratar-se de problemas
glória de Germana Cousin. Santa Germana - Paróquia de São Nicolau, do amor-próprio ou de reivindica-
Após alguns anos de espe- Châteubriant (França) ções pessoais, devemos ser man-
ra, o prelado acede e encarrega o sos como cordeiros. Teremos imita-
Pe. Morel de iniciar o processo. Em chegou ao destino. Foi preciso travar do, então, a nosso modo, as virtudes
1700, com uma solene Missa, à qual ainda muitas batalhas para, no sé- de Santa Germana, ora inclinando a
acorre uma multidão de devotos, esse culo XIX, Gregório XVI retomar o cabeça perante as humilhações, ora
sacerdote abre novamente a urna e processo e Pio IX concluí-lo com a defendendo a glória de Deus como
contempla o prodígio. A seguir, es- solene canonização em 1867. guerreiros”.2
cuta as numerosas narrações de mi- Concluímos, assim, quão oportu-
lagres alcançados por intermédio da
Exemplo para os nossos dias na é, também para o nosso contur-
humilde pastorinha, ouve o parecer No prolongado período que ante- bado século XXI, a exclamação saí-
de médicos e especialistas e, por fim, cedeu a glorificação terrena da San- da dos lábios do Papa Gregório XVI
recolhe também o testemunho de ta, Deus não Se cansou de revelar ao ao tomar contato com os documen-
Françoise Pères, senhora de setenta mundo, através de incessantes prodí- tos para a beatificação da pastorinha
e sete anos que, quando menina, pre- gios, o valor de sua alma generosa e de Pibrac: “É a Santa que precisáva-
senciara a descoberta do corpo e ou- abnegada. E os maus compreendiam mos”.3 ²
vira o relato daqueles que haviam co- bem isso. Tendo explodido a Revolu-
nhecido Germana e atestado a santi- ção Francesa, o Comité de Salut Pu-
dade de sua vida. blique mandou lançar aquele corpo
Estando tudo arquivado, o virginal e luminoso numa fossa de
1
RICHOMME, Agnès. Sainte Germaine de
Pibrac. Paris: Fleurus, 1967, [s.p.].
Pe. Morel encaminha o dossiê a cal. 2
CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa
Roma através de um padre capuchi- Por que a Revolução, que se in-
Germana Cousin. In: Dr. Plinio. São Pau-
nho. Décadas se passam e não rece- titulava defensora dos direitos do lo. Ano XIII. N.147. (jun., 2010); p.14-15.
bem resposta alguma… O que acon- povo, não fez daquela pastora pobre, 3
VEUILLOT, Louis. Sainte Germaine
teceu? Só muito mais tarde se sou- doente e excluída, um ídolo seu? Por- Cousin. 3.ed. Paris: Victor Lecoffre, 1904,
be que o material se perdera e nunca que, antes de tudo, Germana havia p.173.
A
origem do Poema à Virgem a colonização portuguesa na região e, Nesse ínterim, o Pe. Nóbrega foi cha-
está ligada a um dos heroi- com ela, a Fé Católica. mado a São Vicente, onde sua pre-
cos episódios da História O Pe. Manoel da Nóbrega e o sença se fazia muito necessária.
da nação brasileira, no qual Ir. José de Anchieta,1 partindo como Por mais que lhe custasse ver o ve-
transparecem reunidos o espírito de embaixadores de paz em maio de nerável superior partir em tal conjun-
fé, a confiança na Providência, a for- 1563, chegaram às praias de Iperoig, tura, Anchieta preferiu o bem comum
taleza de alma e o fino tato diplomá- atual Ubatuba. Ali passaram meses ao seu privado, oferecendo-se de bom
tico de São José de Anchieta, admirá- de contínua incerteza entre a vida e grado a ficar entre os inimigos, até
vel homem de Deus. a morte, no meio dos tamoios, sem que aprouvesse a Deus abrandar-lhes
conseguir promover nenhum acordo. o coração e fazer com que chegassem
Arriscada embaixada a uma conciliação.
junto aos tamoios
Desde os primeiros anos da funda- Quando se sentia Uma promessa à
ção de Piratininga na capitania de São
Virgem Santíssima
Vicente, vinham os índios tamoios cansado, o jovem Sozinho em meio a uma gente per-
hostilizando as povoações portugue-
sas, confederadas com os tupis do ser-
jesuíta passeava pela versa, o Ir. José viveu todo esse tem-
po como um lírio entre os espinhos.
tão. O ataque se tornou quase inces- praia, compondo A convivência com os nativos – que
sante em 1559, quando os tamoios se para qualquer outro teria sido funes-
aliaram aos franceses estabelecidos na areia, em versos ta – lhe serviu para robustecer e dar
no Rio de Janeiro. Vencidos por Mem novo brilho à sua virtude.
de Sá em 1560, estes instigaram os
latinos, a vida da Para um jovem na flor da idade,
aborígenes a uma insurreição geral, Santíssima Virgem bem espinhoso era estar cercado de
que ameaçava arrasar completamente mil ocasiões de pecado, incontáveis
Reprodução
e doutrina, que assim deixou consig- pois tendo mudado de atitude, pa-
nados para louvor da Rainha do Uni- reciam ter-lhe agora um entranha-
verso e edificação na fé das gerações do amor. Já não poderiam suportar a
futuras. ausência do homem de Deus que tan- São José de Anchieta, por Benedito
O quanto tal composição foi agra- to os tinha assistido, consolado e so- Calixto - Museu Paulista da USP São
Paulo; na página anterior, O poema à
dável aos Céus, bem se deduz das corrido em suas aflições. Heroica foi
Virgem Maria, por Benedito Calixto -
narrações de testemunhas oculares a sua partida, mas a santa obediência Museu Anchieta, São Paulo
que afirmam ter visto muitas vezes o chamava e ele não hesitou.4
um formoso passarinho, de linda e Finalmente, a 21 de setembro de
variada cor, a esvoaçar em torno de 1563, depois de quase cinco meses Anchieta viveu
Anchieta enquanto ele fazia seu poe- afastado, entrava Anchieta em São
ma, e pousar-lhe ora nos ombros, ora Vicente para abrir o tesouro precio- como um lírio
na cabeça, ora nas mãos.2
De sua parte, a Virgem foi fiel ao
so de sua memória e dar ao mundo
as pérolas de inestimável valor do
entre os espinhos.
compromisso, guardando-lhe intac- poema de quase seis mil versos que A convivência com
ta a pureza de alma e a própria vida, lavrara nas areias de Iperoig.
mesmo quando na praia ensolarada os nativos serviu
O poema
os terríveis canibais faziam soar aos
ouvidos do missionário a frase amea- A título de amostragem, apresen-
para dar novo brilho
çadora: “Farta-te de ver o sol, por- tamos alguns trechos do célebre Poe- à sua virtude
que em breve te havemos de matar ma à Virgem. Abaixo segue o ofere-
1
São José de Anchieta foi orde- nhia Editorial Nacional, 1949, 8
Idem, p.340. 11
SÃO JOSÉ DE ANCHIETA.
nado sacerdote três anos de- p.210. De gestis Mendi de Saa, apud
9
Do latim: vaso de eleição
pois, em 6 de junho de 1566, VIOTTI, SJ, Hélio Abran-
4
Cf. SAINTE-FOY, op. cit., (cf. At 9, 15).
na Catedral de Salvador. ches. Anchieta, o Apóstolo do
p.47-48. 10
CORRÊA DE OLIVEI- Brasil. 2.ed. São Paulo: Loyo-
2
Cf. SAINTE-FOY, Charles. 5
SÃO JOSÉ DE ANCHIETA. RA, Plinio. 98ª Sessão, em 19 la, 1980, p.237.
Vida do Venerável Pe. José de
Sobre a Virgem Maria Mãe de de março de 1934. In: Ope-
Anchieta. São Paulo: Jorge Se- 12
SÃO JOSÉ DE ANCHIETA,
Deus. 5.ed. São Paulo: Pauli- ra Omnia. Reedição de escri-
ckler, 1878, p.43-47. Sobre a Virgem Maria Mãe de
nas, 1996, p.57. tos, pronunciamentos e obras.
Deus, op. cit., p.278-279.
3
VIEIRA, Celso. Anchie- São Paulo: Retornarei, 2009,
6
Idem, p.59.
ta. 3.ed. São Paulo: Compa- v.II, p.63.
7
Idem, p.140-141.
Amparo, proteção e
segurança
Gratos pelos inúmeros benefícios recebidos, muitos desejam
externar o enorme contentamento que sentem por
encontrar uma mãe que, da eternidade, lhes tem guiado,
amparado e protegido.
Elizabete Fátima Talarico Astorino
À
incomparável bondade seis centímetros cúbicos estava com Enquanto realizava os exames
de Da. Lucilia para com quarenta centímetros cúbicos. A mé- pré-operatórios, Da. Ana fez uma
aqueles que lhe dirigem dica, desconfiando da ultrassonogra- rápida viagem a São Paulo, durante
súplicas, bem podem ser fia por não ser um exame de tanta pre- a qual teve a oportunidade de visi-
aplicadas as palavras do salmista: cisão, pediu uma ressonância magné- tar uma das casas do Arautos e con-
“Ainda que passe pelo vale tenebro- tica com contraste feita em outro la- versar com um sacerdote da insti-
so, nenhum mal temerei” (Sl 22, 4), boratório de maior confiabilidade. O tuição:
pois sob seu maternal xale encon- resultado não só confirmou o primei- “Contamos todo o acontecido, pe-
tram eles amparo, proteção e segu- ro, como também indicou que se trata- dimos uma bênção, e ele no mesmo
rança (cf. Sl 70, 3). va de um aumento para sessenta centí- instante a concedeu, pedindo a inter-
Sim, jeitosamente Da. Lucilia tem metros cúbicos. Ou seja, estava dez ve- cessão de Da. Lucilia”.
livrado de apuros seus fiéis devotos, zes maior que o normal. Ao voltar para Recife e concluir
conduzindo-os por caminhos retos e “A médica me encaminhou para os exames pré-operatórios, foi mar-
restaurando-lhes as forças nos inú- um cirurgião, que me falou da ne- cado o procedimento cirúrgico de
meros sofrimentos e dificuldades da cessidade de tirar esse ovário e talvez Da. Ana:
vida. até o útero, dependendo de como es- “Fui para a cirurgia pedindo que
tivesse na hora da cirurgia”. ela, Da. Lucilia, estivesse comigo. E,
“Pela intercessão
dela estamos aqui”
De Recife (PE) escre- “A médica ficou
ve-nos Da. Ana Karina
Bueno, a fim de relatar a sem saber o que
cura de uma enfermida-
de, alcançada por inter-
dizer quando viu
médio de Da. Lucilia: a filmagem da
“Estive com minha mé-
dica para fazer os exames cirurgia; disse-me
Reprodução
de rotina e, na ultrassono-
grafia, apresentou-se um
que não sabia como
aumento em um dos ová- explicar tal fato”
rios. O que era para ser de Da. Ana Karina Bueno e sua filha
Fotos: Reprodução
gravidar novamente se
quisesse”.
Admirada, Da. Ana
levou a filmagem da ci-
rurgia à médica que an-
tes lhe atendera, a fim
de informa-lhe do ocor-
rido:
“A médica ficou sem Sr. Jorge Nunes e sua família; em destaque, seu filho, Sr. Miguel Dias Nunes
saber o que dizer quan-
do viu o vídeo, pois
achava que eu queria satisfações. diagnosticada com esgotamento físi-
Disse-me que não tinha como expli- “Após a novena a co seguido de esgotamento mental.
car tal fato”. Em um primeiro momento, procu-
Reconhecedora do enorme favor Da. Lucilia, ramos um tratamento psicológico;
prestado por Da. Lucilia, Da. Ana
afirma: “Eu sabia perfeitamente e
meu filho conseguiu porém, as crises continuavam. Ti-
nha muito medo de enlouquecer. Os
não tive dúvida de que fui curada na realizar os sintomas bombardeavam o meu cor-
bênção que recebi. Pela intercessão po e, sobretudo, a mente.
dela estamos aqui e tenho fé de que exercícios e “Meses depois dei início ao tra-
ela estará me ajudando novamente tamento psiquiátrico. O diagnóstico
para que meu bebê esteja com toda
formou-se no dia era depressão e síndrome do pânico.
a saúde”. 20 de novembro” Comecei então a tomar os medica-
mentos. Tinha dias bons, seguidos
“Comecei uma novena de dias ruins. Os remédios ameniza-
a Da. Lucilia” “A partir daí meu filho conseguiu vam os sintomas, mas não impediam
Tendo conhecimento dos incontá- realizar o exercício além do mínimo as crises.
veis benefícios alcançados por inter- exigido. Passou por todas as etapas “Passado um ano, estava com
médio de Da. Lucilia, Jorge Nunes, e formou-se no dia 20 de novembro, uma viagem marcada para São Pau-
de Xangri-Lá (RS), também recor- data até a qual mantive as orações. lo – nossa família iria participar da
reu a ela, pedindo que ajudasse seu A partir dali mudei a intenção para romaria a Aparecida, com os Arau-
filho a vencer certa dificuldade que o agradecimento”. tos do Evangelho –, quando uma cri-
o impedia de continuar o treinamen- se muito forte de pânico me fez no-
to após passar no concurso do Corpo
Amor maternal, que lhe vamente parar no hospital. Sentia
de Bombeiros:
devolveu a paz e a vida meu corpo todo formigar, a cons-
“Nas provas físicas ele não conse- Também Flávia Emília Duar- ciência chegava a me faltar, conse-
guia realizar as ‘barras’ por ter apa- te, de Campo Grande (MS), escre- guir respirar era praticamente im-
recido um problema muscular. Mas, ve-nos a fim de demonstrar sua gra- possível. Recitaram-me outro an-
feito o exame médico, este não acu- tidão pelo amparo recebido de Da. siolítico, e resolvemos seguir com a
sava nenhuma anomalia. Comecei Lucilia, durante um período atribu- ideia da viagem”.
uma novena a Da. Lucilia, rezando lado de sua vida: Durante o percurso, Da. Flávia
uma Ave-Maria diariamente. Então “Há alguns anos, em meio a cri- recebeu uma fotografia de Da. Lu-
ele encontrou um especialista que in- ses de enxaqueca, dores no peito, cilia e, encantada com aquele olhar
dicou um tratamento possível para o formigamento nos braços e várias bondoso que tanta paz lhe trazia,
desconforto. passagens no pronto-socorro, fui decidiu recorrer à sua intercessão:
Estados Unidos – No mês de maio, a convite do pároco, Pe. Ivan Sciberras, missionárias dos Arautos deram
palestras sobre a Santíssima Virgem na Igreja de São Pedro, em New Jersey, e na escola paroquial. Houve também
procissões e outros atos de piedade em honra à Mãe de Deus.
Fotos: Dora Santos
Brasil – Os Arautos do Evangelho foram convidados a solenizar a posse do Pe. Dorival Aparecido de Morais como
pároco da Igreja Matriz Sant’Anna, Catedral Diocesana de Mogi das Cruzes (SP) .
A Celebração Eucarística, presidida por Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo Diocesano, ocorreu no dia 11 de abril.
Ana Maria Veas
1 2 3
Chile – Missionários e missionárias dos Arautos visitaram a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, de Curacaví,
com a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria (foto 1), e levaram seu Oratório a residências (foto 2) e
instituições, entre estas à Escola Agrícola Las Garzas (foto 3).
Reprodução
Eric Salas
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Eric Salas
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Fotos: Eric Salas
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gaudiumpress.org
tro” para significar os gêneros mas- Agouz, no Oásis Bahariya (Egito),
culino e feminino, foi proibido nas o mosteiro cristão mais antigo já
escolas da França pelo Ministro da descoberto. Exames de radiocarbo-
Educação, Jean-Michel Blanquer. no indicam ser do séc. IV. Até en-
Ele explica que o uso dessa forma de tão, acreditava-se que as primeiras
escrita prejudica a compreensão dos Crianças iraquianas recebem comunidades datavam do séc. V,
alunos, por causa da complexidade e a Primeira Comunhão pelo que o achado trará importan-
instabilidade de que é constituída. Na Igreja de São João Batista, em tes dados sobre o Cristianismo pri-
Qaraqosh, no norte do Iraque, foi rea- mitivo e o monaquismo no Egito.
Polícia inglesa pede desculpas lizada a Primeira Comunhão de cento Seis eremitérios construídos em
por entrada em paróquia e vinte e uma crianças. O celebrante, basalto, escavados na rocha ou fei-
Após uma interrupção realizada Pe. Majeed Attalla, disse que ainda tos de tijolo de argila foram encon-
por oficiais da polícia durante a ce- há mais quatrocentas à espera de re- trados no local. Graças à ausência
rimônia de Sexta-Feira Santa na pa- ceberem este Sacramento, e declarou: de umidade e à areia do deserto, as
róquia polonesa de Londres, os agen- “Graças a Deus temos muitas crian- ruínas ficaram excepcionalmente
tes encarregados desse serviço foram ças e isto é fonte de alegria, porque bem conservadas. Nas paredes es-
instados a pedir desculpas devido à dão força e esperança para continuar, tão gravadas inscrições em grego
ilegalidade da intervenção. representam o futuro. [Todas] foram e pinturas coptas. Os textos foram
A denúncia que chegara à polícia preparadas com um espírito de gran- motivo de surpresa para os estudio-
naquele dia afirmava que as normas de participação. A COVID-19 parou sos e serão objeto de análise.
de prevenção contra a COVID-19 o mundo, mas felizmente não inter-
estavam sendo infringidas na igre- rompeu a vida da comunidade”.
Lançado novo website do
ja. No entanto, verificou-se que to- Qaraqosh é atualmente o centro
Observatório Astronômico
dos os regulamentos foram seguidos cristão mais importante na planície
do Vaticano
à risca pelos paroquianos, que ade- de Nínive: quase a totalidade da po- Um novo website foi lançado pelo
mais afirmaram terem cumprido os pulação professa a fé em Nosso Se- Observatório Astronômico do Vati-
mesmos protocolos durante as Mis- nhor Jesus Cristo. cano, com o intuito de “mostrar ao
sas de Quinta-Feira Santa e Sábado mundo que a Igreja apoia a ciência”,
Santo.
Reabertura de Notre-Dame é asseverou o diretor, Pe. Guy Con-
prevista para o ano 2024 solmagno, SJ, em entrevista à Ca-
Antigo mosteiro retoma O Presidente da França, Emma- tholic News Agency. Juntamente foi
sua produção de cerveja nuel Macron, prometeu que a restau- lançado um podcast que explora “as
A mais antiga abadia do Ociden- ração da histórica catedral parisiense maravilhas do universo de Deus”,
te ativa até os dias de hoje se encon- estaria concluída em 2024. Também com explicações de especialistas no
tra na Suíça. Trata-se do Mosteiro de Michel Picaud, presidente da insti- assunto. O site possui uma série de
Saint-Maurice d’Agaune, fundado tuição de caridade Amigos de Notre- recursos sobre fé e ciência, e mui-
em 515, e que se destaca por possuir -Dame de Paris – associação cujo ob- tos interessados poderão acessá-lo e
gaudiumpress.org
mero cresceu cinco vezes em com- Guadalupe, pertencente à Paróquia
paração à década anterior. Ele aler- Rainha da Paz, em Houston, foi re-
tou ainda que, se os vandalismos per- cebida pelos fiéis numa cerimônia,
sistirem, cinco mil edifícios de nossa após ter sido restaurada. Em dezem-
Religião desaparecerão em um pra- bro do ano passado, ela havia sido
zo relativamente breve. Mais uma igreja atingida com seis tiros de revólver
Lamaze lamentou o fato de tais é queimada no Chile por um delinquente vestido, segundo
locais não serem restaurados nem Em meados de abril um incên- testemunhas, com roupa vermelha e
protegidos pelo governo, desde que dio tomou conta de uma das ca- chapéu preto.
Entre estrelas
O
gélido vento da noite ba- porque se movimentam e quão aci- ficai certas de que lá tudo é muito di-
tia impiedosamente so- ma deste mundo brilham! – excla- ferente. Por isso, quando quiserdes
bre as vilas e bosques. Os mou a Opala. voltar, podereis por vós mesmas
animais se refugiavam em — Sua moradia é o céu! Enquanto descerdes à Terra.
suas tocas, os pássaros em seus ni- que a nossa é este chão tão banal… – E começou a designar
nhos, e os homens dormiam profun- manifestou o Diamante. o destino de cada pedra
damente junto à lareira. Existiam, po- — Algum dia seremos como elas: preciosa:
rém, outras personagens que, sem ne- próximas de nosso Criador! – voltou “Tu, Rubi, por seres
cessidade de fogo ou vestimenta algu- a pronunciar-se o Citrino. reflexo de fortaleza sem
ma, permaneciam insensíveis ao frio — Minhas companheiras, não par, ficarás na constelação
noturno… percamos a esperança! – interveio a de Leão.
Imóveis, apoiadas sobre o solo e Esmeralda – As estrelas são nossas “Por tua generosidade, Ametis-
escondidas do olhar humano, algu- irmãs e certamente nos acolherão. ta, ficarás no Cruzeiro do Sul, sig-
mas pedras preciosas começaram a Vamos! Vamos para o céu! nificando a infinita doação de Deus
considerar uma maravilha da criação A essas palavras, a Ametista con- para com os homens: sua Morte na
que naquele momento se manifesta- testou: Cruz.
va: a luz das estrelas. — Espere um pouco, Esmeralda! “Diamante, tu, que és perene, re-
O Citrino, voltando seus olhos Por nós mesmas, não conseguiremos presentas a verdadeira paz, e por
para o céu, disse às demais: chegar até lá. Precisamos de alguém isso podes unir-te à constelação de
— Minhas irmãs, vede a beleza que nos ajude! Não temos forças nem Águia, para contemplares tranquila-
dessas estrelas! Cada vez que as ana- para nos mover, quanto mais para mente a eternidade.
liso, parece-me que algo além de mi- voar além do globo terrestre… Reze- “Tu, belo Citrino, por tua cor dou-
nhas forças me eleva até Deus. mos ao Anjo que nos guarda. rada, a mais nobre entre as demais,
— Sim! – respondeu o Rubi – Mal iniciarem a oração, o Anjo poderás ficar na constelação de Es-
Como nós, elas também não das Belezas Criadas, forte e lumi- cudo, para significar a virtude da-
sentem o frio, pois são fo- noso como o Sol, apareceu. E, ao queles que combatem pela fé.
gosas como o Sol que escutar o desejo de habitarem “Opala, com tua alegria multico-
nos aquece! o céu, respondeu: lorida, ficarás na Coroa Austral.
— Ah, maior — Certamente as estre- “E tu, ó encantadora Esmeral-
alegria a delas, las vos acolherão! Porém, da, refletirás melhor tua luz nas
e pedras…
Três-Marias, que servem para iden- Entretanto, durante estes dias ela o za, brutalidade. Noto que minha mo-
tificar outras constelações”. procurou por aqui e descobriu que rada não é aqui; o meu céu é o cora-
Ditas estas palavras o Anjo lan- no Céu não se sofre mais. Então ela ção do justo! Irei convosco e tomarei
çou sobre as pedras sua luz. Estas fi- descerá para junto dos homens. posse do que é meu.
caram tão e tão brilhantes que, como Desde que a Ametista se fora, aos Inesperadamente a estrela da paz
o orvalho da manhã ao calor do Sol, poucos tudo começou a mudar. pôs-se a chorar:
aos poucos foram se elevando da ter- Numa manhã, as estrelas-pedras — Ficarei aqui sozinha sem vós?
ra ao céu. assistiam a vida dos homens, sem por Não posso descer, lá embaixo não é
Ao chegarem às belas moradias si- eles serem notadas. Isto, que no iní- lugar de absoluta paz. Deus consti-
derais, as estrelas formaram um cor- cio fora o divertimento das novos as- tuiu a Terra como campo de batalha,
tejo, dançando e cantando alegre- tros, logo tornou-se uma aflição: e a completa posse de meu bem só se
mente para suas novas companhei- — Vede, minhas companheiras – encontra no Céu.
ras. Num misto de exultação e curio- exclamou a Opala –, em todas as ca- — Calma, minha amiga. Dentro
sidade, queriam todas saber como sas as pessoas choram! Elas não co- em breve terás novas companhias,
era a vida na Terra. Em cada cons- nhecem a alegria. O sofrimen- pois também eu irei para visi-
telação ouvia-se contar dos mares e to bate à porta das almas; tar as almas. Enchê-las-ei de
lagos, das montanhas nevadas e vul- minha irmã Ametista esperança em possuir-te eter-
cões incandescentes. Porém, o que está lá para as ajudar, namente – consolou-a Esmeral-
mais as encantava era conhecer a mas ninguém sabe da, que também retornava à sua “ter- Ilustrações: Priscila Vieira
história de Santos. bem sofrer… Preciso ra natal”.
Transcorridos alguns dias, um amparar os homens. Assim, acalmado o belo Diaman-
movimento diferente chamou a aten- — Minha irmã, não faças isso sem te-paz, desceram as demais pedras-
ção dos conjuntos celestes para o mim! A humanidade só terá verda- -estrelas. Até os dias de hoje elas cor-
Cruzeiro do Sul: deira felicidade se se tornar forte tejam a estrela da generosidade e da
— A Estrela-Ametista decidiu re- para lutar destemidamente contra o dor, que diariamente visita os cora-
tornar à Terra – comentavam. mal – explicou o Rubi. ções dos homens, desejosa
— Mas qual o motivo? Uma voz provinda da constelação de levá-los ao gozo do
– perguntou um dos as- de Escudo cortou, então, a conversa Reino da paz eterna.
tros. entre a estrela-alegria e o astro-for- Estejamos nós com a
— Sua generosida- taleza: alma aberta e ouçamos
de tende a se expandir, — E quem conseguirá com que os o que estes fulguran-
mas para que isso acon- homens vivam isto que vós pregais? tes luminares celestes têm a
teça ela precisa do sofrimento. Sem a fé, toda alegria é vã e a fortale- contar! ²
A
o contemplarmos um ho- pulos e seguidores de todos os tem- Nossa vida terrena é uma segui-
rizonte onde predomina o pos. dilha de lutas e conquistas pela so-
límpido firmamento ani- O “campo de batalha” do falcão brevivência e, sobretudo para alcan-
lado, nos extasiamos com transcende o das outras aves de ra- çarmos o Céu, galardão dos verda-
sua placidez. Entretanto, neste mes- pina, as quais costumam capturar deiros heróis que pugnam pela causa
mo palco podem ter acontecido epo- animais terrestres. Ele, por sua vez, de Deus. Compete a nós medirmos
peias na aparência discrepantes da busca aventuras mais arriscadas e os desafios e lançarmo-nos com en-
tranquilidade que o panorama apre- conquistas mais custosas procuran- tusiasmo em direção a eles, segun-
senta. do caça nos ares. Uma vez fixado o do o conselho da Carta aos Hebreus:
Não me refiro a nenhum feito no- alvo com sua visão aguda, larga e “corramos com perseverança ao
tável passado nos céus. O “herói” do analítica, parte célere em direção a combate proposto, com o olhar fixo
qual falo é um grande desafiador dos ele. Enfrentando com prodigiosa vi- no Autor e Consumador de nossa fé,
ares. Ele não procura brilhar diante talidade os ventos e a distância agar- Jesus” (12, 1).
dos homens, pois sua “guerra” é pela ra decididamente a presa com um Não fujamos da dor que fere os
sobrevivência e acontece no dia a dia. élan digno de sua altivez. O discer- nossos sentidos. Abracemos, pelo
A “galhardia” deste lutador costu- nimento foi prévio e cuidadoso, o contrário, os sofrimentos imitando
ma passar despercebida, mas, quan- lance, impetuoso, e o resultado teve o Divino Redentor: “em vez do gozo
do entramos em contato com ela, en- êxito: eis que o falcão volta vitorioso que se Lhe oferecera, Ele suportou a
chemo-nos de admiração. de sua expedição. Cruz” (Hb 12, 2). Com passos reso-
Essa figura não está inteiramen- Podemos encontrar nesta ave uma lutos e com a alma em chamas, avan-
te fora do nosso alcance; basta le- imagem de como age a vontade hu- cemos rumo à santidade, desafiando
vantarmos o olhar para o céu e lá en- mana. O homem, antes de fazer qual- qualquer obstáculo, a fim de nos tor-
contraremos, em pleno voo, travando quer coisa, monta um plano: é a inte- narmos instrumentos para a glorifi-
sua árdua batalha, o falcão. ligência que age. Estando definido o cação de Deus e exaltação da San-
Quando paira no ar, transparece objetivo, ele penetra no coração, isto ta Igreja, o que resultará em nossa
nele uma compostura cheia de tran- é, na vontade. Em seguida, a pessoa eterna salvação. E nunca nos esque-
quilidade, que não lhe impede es- empregará os meios necessários para çamos de que nessa peregrinação ja-
tar atento a tudo o que se passa ao realizar aquilo que concebeu, à se- mais estaremos sozinhos: uma Mãe
seu redor. Evoca assim o estado de melhança do voo decidido e enérgi- cheia de bondade e misericórdia vela
espírito de vigilância e oração, en- co do animal que contemplamos nes- por cada um de nós e nos aponta o
sinado pelo Mestre aos seus discí- te artigo. caminho para a morada eterna. ²
Fir0002/Flagstaffotos
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Bohuš Číčel (CC by-sa 3.0)
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Nas fotos acima: 1. Falcão marrom, Vitória (Austrália); 2. Falcão cenchroides, Vitória (Austrália); 3. Falcão de
coleira; 4. Falcão peneireiro-vulgar; 5. Falcão marrom, Norte da Austrália; 6. Falcão-sacre, Herálec (República
Tcheca); 7. Falcão peregrino em voo; na página anterior Falcão-borni, KwaZulu-Natal (África do Sul)