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AULA 1

Apresentação do plano de aulas, apresentação da disciplina, ementa e conteúdo


programático.
Introdução à mecânica dos solos. Formação e composição mineralógica dos solos.

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SOLOS

Introdução

A definição do que é solo depende em muitos casos de quem o utiliza.

Os agrônomos, por exemplo, o veem como um material de fixação de raízes e um grande


armazém de nutrientes e água para as plantas.

Para o geólogo de mineração, a capa de solo sobrejacente ao minério é simplesmente um


material de rejeito a ser escavado.

Para o engenheiro civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de


decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de
explosivos, e que são utilizados como material de construção ou de suporte para estruturas.

Quase todas as obras de engenharia têm, de alguma forma, de transmitir as cargas sobre elas
impostas ao solo. Mesmo as embarcações, ainda durante o seu período de construção,
transmitem ao solo as cargas devidas ao seu peso próprio.

Como material de construção e de fundação, os solos têm grande importância para o


engenheiro civil. Nas barragens de terra, nas fundações de estruturas, o solo – assim como o
concreto e o aço – está sujeito a esforços que tendem a comprimi-lo e a cisalhá-lo, provocando
deformações e podendo, eventualmente, levá-lo à ruptura.

E o solo é utilizado como o próprio material de construção, assim como o concreto e o aço são
utilizados na construção de pontes e edifícios. São exemplos de obras que utilizam o solo como
material de construção os aterros rodoviários, as bases para pavimentos de aeroportos e as
barragens de terra, estas últimas podendo ser citadas como pertencentes a uma categoria de
obra de engenharia a qual é capaz de concentrar, em um só local, uma enorme quantidade de
recursos, exigindo para a sua boa construção uma gigantesca equipe de trabalho, calçada
principalmente na interdisciplinaridade de seus componentes.

O estudo do comportamento do solo frente às solicitações a ele impostas por estas obras é,
portanto de fundamental importância.

O conhecimento das propriedades e comportamento do solo ajuda a prever e solucionar


problemas comuns como recalques diferenciais (torre de Pisa, estradas, Santos, Pinheiros em
Maceió), rupturas e deslizamentos.

Recalque na Cidade do México é causado por superpopulação, uso indevido dos recursos
naturais e construção de prédios em terrenos arenosos e frágeis, acredita-se que a cidade está
afundando, além da pressão das construções, também há a questão da extração de água para
abastecimento da construção, o solo argiloso se contrai com a saída de água. A principal
solução encontrada foi tratar a água e reinjeta-la pra aumentar o solo úmido.
No caso de Santos, pelo seu caráter litorâneo e pelo fato de ter sido construída em parte sobre
antigos terrenos de manguezais, a cidade de Santos tem um perfil de solos dos mais difíceis no
país para a construção de fundações. Por este motivo, uma série de edifícios foram erigidos ao
longo do século XX (especialmente a partir da década de 1.960) com fundações executadas a
partir de equívocos de sondagem ou de projeto.

Evitar os desastres catastróficos - melhor utilizar o solo sobre o ponto de vista técnico e
econômico.

Pode-se dizer que, de todas as obras de engenharia, aquelas relacionadas ao ramo do


conhecimento humano definido como geotecnia (do qual a mecânica dos solos faz parte), são
responsáveis pela maior parte dos prejuízos causados à humanidade, sejam eles de natureza
econômica ou mesmo a perda de vidas humanas. No Brasil, por exemplo, devido ao seu clima
tropical e ao crescimento desordenado das metrópoles, um sem número de eventos como os
deslizamentos de encostas ocorrem, provocando enormes prejuízos e ceifando a vida de
centenas de pessoas a cada ano. Vê-se daqui a grande importância do engenheiro geotécnico
no acompanhamento destas obras de engenharia, evitando por vezes a ocorrência de
desastres catastróficos.

MECÂNICA DOS SOLOS, A GEOTECNIA E DISCIPLINAS RELACIONADAS

Por ser o solo um material natural, cujo processo de formação não depende de forma direta da
intervenção humana, o seu estudo e o entendimento de seu comportamento depende de uma
série de conceitos desenvolvidos em ramos afins de conhecimento. fϕ

A mecânica dos solos é o estudo do comportamento de engenharia do solo quando este é


usado ou como material de construção ou como material de fundação. Ela é uma disciplina
relativamente jovem da engenharia civil, somente sistematizada e aceita como ciência em
1925, após trabalho publicado por Terzaghi (Terzaghi, 1925), que é conhecido, com todos os
méritos, como o pai da mecânica dos solos.

Embora vários estudo já tivesse sido feitos por Coulomb, investigando parâmetros como
coesão e ângulo de atrito, 1776; Darcy (1856) sobre movimento de água em meios porosos;
Atterberg (1908) estudando sobre os limites de consistência de solos argilosos.

Um entendimento dos princípios da mecânica dos sólidos é essencial para o estudo da


mecânica dos solos. O conhecimento e aplicação de princípios de outras matérias básicas
como física e química são também úteis no entendimento desta disciplina. Por ser um material
de origem natural, o processo de formação do solo, o qual é estudado pela geologia, irá
influenciar em muito no seu comportamento. O solo, como veremos adiante, é um material
trifásico, composto basicamente de ar, água e partículas sólidas.

A parte fluida do solo (ar e água) pode se apresentar em repouso ou pode se movimentar
pelos seus vazios mediante a existência de determinadas forças. O movimento da fase fluida
do solo é estudado com base em conceitos desenvolvidos pela mecânica dos fluidos. Pode-se
citar ainda algumas disciplinas, como a física dos solos, ministrada em cursos de agronomia,
como de grande importância no estudo de uma mecânica dos solos mais avançada,
denominada de mecânica dos solos não saturados. Além disto, o estudo e o desenvolvimento
da mecânica dos solos são fortemente amparados em bases experimentais, a partir de ensaios
de campo e laboratório. A aplicação dos princípios da mecânica dos solos para o projeto e
construção de fundações é denominada de "engenharia de fundações".

APLICAÇÕES DE CAMPO DA MECÂNICA DOS SOLOS

 Fundações: As cargas de qualquer estrutura têm de ser, em última instância,


descarregadas no solo através de sua fundação. Assim a fundação é uma parte
essencial de qualquer estrutura. Seu tipo e detalhes de sua construção podem ser
decididos somente com o conhecimento e aplicação de princípios da mecânica dos
solos.

 Obras subterrâneas e estruturas de contenção: Obras subterrâneas como estruturas


de drenagem, dutos, túneis e as obras de contenção como os muros de arrimo,
cortinas atirantadas somente podem ser projetadas e construídas usando os princípios
da mecânica dos solos e o conceito de "interação solo-estrutura".

 Projeto de pavimentos: o projeto de pavimentos pode consistir de pavimentos


flexíveis ou rígidos. Pavimentos flexíveis dependem mais do solo subjacente para
transmissão das cargas geradas pelo tráfego. Problemas peculiares no projeto de
pavimentos flexíveis são o efeito de carregamentos repetitivos e problemas devidos às
expansões e contrações do solo por variações em seu teor de umidade.

 Escavações, aterros e barragens: A execução de escavações no solo requer


frequentemente o cálculo da estabilidade dos taludes resultantes. Escavações
profundas podem necessitar de escoramentos provisórios, cujos projetos devem ser
feitos com base na mecânica dos solos. Para a construção de aterros e de barragens de
terra, onde o solo é empregado como material de construção e fundação, necessita-se
de um conhecimento completo do comportamento de engenharia dos solos,
especialmente na presença de água. O conhecimento da estabilidade de taludes, dos
efeitos do fluxo de água através do solo, do processo de adensamento e dos recalques
a ele associados, assim como do processo de compactação empregado é essencial para
o projeto e construção eficientes de aterros e barragens de terra.

 Geotecnia ambiental: Os conceitos obtidos do estudo do fluxo de água em solos


podem ser estendidos para a análise do transporte de poluentes miscíveis ou não
miscíveis em sub superfície. A mecânica dos solos é uma das importantes ferramentas
na realização de atividades de diagnóstico, prognóstico e proposição de medidas
corretivas para problemas ambientais, no que mais recentemente se convencionou
chamar de geotecnia ambiental.

ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

Na Engenharia Civil chamamos de solo a rocha já decomposta ao ponto granular e passível de


ser escavada de forma manual ou mecânica, apenas com o auxílio de ferramentas como pás
picaretas ou escavadeiras. A crosta terrestre é composta de vários elementos químicos que se
interligam e formam minerais.
Esses minerais poderão estar agregados como rochas ou solo. Todo solo tem origem na
desintegração e decomposição das rochas pela ação de agentes intempéricos ou antrópicos
(ação do homem).

As partículas resultantes deste processo de intemperismo irão depender fundamentalmente


da composição da rocha matriz e do clima da região. Por ser o produto da decomposição das
rochas, o solo invariavelmente apresenta um maior índice de vazios do que a rocha de origem
(ou rocha mãe), vazios estes ocupados por ar, água ou outro fluido de natureza diversa. Devido
ao seu pequeno índice de vazios e as fortes ligações existentes entre os minerais, as rochas são
coesas, enquanto que os solos são granulares. Os grãos de solo podem ainda estar
impregnados de matéria orgânica. Desta forma, podemos dizer que para a engenharia, solo é
um material granular composto de rocha decomposta, água, ar (ou outro fluido) e
eventualmente matéria orgânica, que pode ser escavado sem o auxílio de explosivos.

INTEMPERISMO

Intemperismo é o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos pelos quais a rocha se


decompõe para formar o solo.

O processo de intemperismo é frequentemente dividido em três categorias: intemperismo


físico químico e biológico. Deve se ressaltar contudo, que na natureza todos estes processos
tendem a acontecer ao mesmo tempo, de modo que um tipo de intemperismo auxilia o outro
no processo de transformação rocha-solo. Os processos de intemperismo físico reduzem o
tamanho das partículas, aumentando sua área de superfície e facilitando o trabalho do
intemperismo químico. Já os processos químicos e biológicos podem causar a completa
alteração física da rocha e alterar suas propriedades químicas.

Intemperismo físico

O processo de decomposição da rocha sem a alteração química dos seus componentes. O


tamanho das partículas diminui e a área superficial aumenta.

Os principais agentes do intemperismo físico são citados a seguir:

 Variações de Temperatura - Da física sabemos que todo material varia de volume em


função de variações na sua temperatura. Estas variações de temperatura ocorrem
entre o dia e a noite e durante o ano, e sua intensidade será função do clima local.
Acontece que uma rocha é geralmente formada de diferentes tipos de minerais, cada
qual possuindo uma constante de dilatação térmica diferente, o que faz a rocha
deformar de maneira desigual em seu interior, provocando o aparecimento de tensões
internas que tendem a fraturá-la. Mesmo rochas formadas por um só mineral não têm
uma arrumação que permita uma expansão uniforme, pois grãos compridos deformam
mais na direção de sua maior dimensão, tendendo a gerar tensões internas e auxiliar
no seu processo de desagregação.

 Alívio de pressões - Alívio de pressões irá ocorrer em um maciço rochoso sempre que
da retirada de material sobre ou ao lado do maciço, provocando a sua expansão, o que
por sua vez, irá contribuir no fraturamento, estricções e formação de juntas na rocha.
Estes processos, isolados ou combinados (caso mais comum) "fraturam" as rochas
continuamente, o que permite a entrada de agentes químicos e biológicos, cujos
efeitos aumentam a fraturação e tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores.

 Ciclos gelo/degelo - As fraturas existentes nas rochas podem se encontrar


parcialmente ou totalmente preenchidas com água. Esta água, em função das
condições locais, pode vir a congelar, expandindo-se e exercendo esforços no sentido
de abrir ainda mais as fraturas preexistentes na rocha, auxiliando no processo de
intemperismo (a água aumenta em cerca de 8% o seu volume devido à nova
arrumação das suas moléculas durante a cristalização). Vale ressaltar também que a
água transporta substâncias ativas quimicamente, incluindo sais que ao reagirem com
ácidos provocam cristalização com aumento de volume.

O intemperismo físico, geralmente, é mais superficial:

– Solos com grãos maiores;

– Minerais pouco degradados.

Intemperismo químico

É o processo de decomposição da rocha com a alteração química dos seus componentes. Há


várias formas pelas quais as rochas decompõem-se quimicamente. Pode-se dizer, contudo,
que praticamente todo processo de intemperismo químico depende da presença da água.
Entre os processos de intemperismo químico destacam-se os seguintes:

 Hidrólise: É o processo mais importante, pois leva a destruição dos silicatos , que são
os componentes mais importantes da litosfera. Em resumo, os minerais na presença
dos íons de hidrogênio, liberados pela água, são atacados. Esse hidrogênio penetra nas
estruturas cristalinas dos minerais causando um desequilíbrio na estrutura cristalina
do mineral, levando-o a destruição.

 Hidratação - Como a própria palavra indica, é a entrada de moléculas de água na


estrutura dos minerais. Alguns minerais quando hidratados (feldspatos, por exemplo)
sofrem expansão, levando ao fraturamento da rocha.

 Carbonatação - O ácido carbônico é o responsável por este tipo de intemperismo. O


intemperismo por carbonatação é mais acentuado em rochas calcárias por causada
diferença de solubilidade entre o carbonato de cálcioCaCO3e o bicarbonato de cálcio
Ca(HCO3)2 formado durante a reação.
Solubilidade é a propriedade física das substâncias de se dissolverem, ou não, em um
determinado líquido.

Os diferentes minerais constituintes das rochas originarão solos com características diversas,
de acordo com a resistência que estes tenham ao intemperismo local. Há, inclusive, minerais
que têm uma estabilidade química e física tal que normalmente não são decompostos. O
quartzo, por exemplo, por possuir uma enorme estabilidade física e química é parte
predominante dos solos grossos, como as areias e os pedregulhos.

O intemperismo químico tem mais poder de desagregar e decompor:

– Solos mais profundos;

– Granulação mais fina;

– Presença de argilominerais.

Intemperismo biológico

Neste caso, a decomposição da rocha se dá graças a esforços mecânicos produzidos por


vegetais através das raízes, por animais através de escavações dos roedores, da atividade de
minhocas ou pela ação do próprio homem, ou por uma combinação destes fatores, ou ainda
pela liberação de substâncias agressivas quimicamente, intensificando assim o intemperismo
químico, seja pela decomposição de seus corpos ou através de secreções, como é o caso dos
ouriços do mar.

Logo, os fatores biológicos de maior importância incluem a influência da vegetação no


processo de fraturamento da rocha e o ciclo de meio ambiente entre solo e planta e entre
animais e solo. Pode-se dizer que a maior parte do intemperismo biológico poderia ser
classificado como uma categoria do intemperismo químico em que as reações químicas que
ocorrem nas rochas são propiciadas por seres vivos.

Topografia:

– Percolação;

– Infiltração;

– Velocidade superficial da água;

– Erosão.

Solos formados nas áreas íngremes são ≠ dos solos de áreas mais baixas e planas

CICLO ROCHA – SOLO

Como vimos, todo solo provem de uma rocha preexistente, mas dada a riqueza da sua
formação não é de se esperar do solo uma estagnação a partir de um certo ponto. Como em
tudo na natureza, o solo continua suas transformações, podendo inclusive voltar a ser rocha.

CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUANTO A ORIGEM E FORMAÇÃO

Há diferentes maneiras de se classificar os solos, como pela origem, pela sua evolução, pela
sua composição, pela estrutura, pelo preenchimento dos vazios, etc.
Neste item apresentar-se-á uma classificação genética para os solos, ou seja, iremos classificá-
los conforme o seu processo geológico de formação. Na classificação genética, os solos são
divididos em dois grandes grupos, sedimentares e residuais, a depender da existência ou não
de um agente de transporte na sua formação, respectivamente.

SOLOS RESIDUAIS

São solos que permanecem no local de decomposição da rocha, não há transporte de material,
pois a velocidade de decomposição da rocha é maior que a velocidade de remoção do solo por
agentes externos.

A velocidade de decomposição depende de vários fatores, entre os quais a temperatura, o


regime de chuvas e a vegetação.

As condições existentes nas regiões tropicais são favoráveis à degradação mais rápida da
rocha, razão pela qual há uma predominância de solos residuais nestas regiões.

Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para baixo, as camadas superiores são,
normalmente, mais trabalhadas (sofreram por mais tempo os processos de intemperismo) que
as inferiores, quanto mais próximo da superfície do terreno, maior o efeito do intemperismo.
Este fato nos permite visualizar todo o processo evolutivo do solo, de modo que passamos de
uma condição de rocha sã, para profundidades maiores, até uma condição de solo residual
maduro, em superfície. A Fig. 3.4 ilustra um perfil típico de solo residual.

Normalmente, esse tipo de solo apresenta um perfil típico onde a rocha sã passa
paulatinamente à rocha fraturada, depois ao saprolito, ao solo residual jovem e ao solo
residual maduro. Em se tratando de solos residuais, é de grande interesse a identificação da
rocha sã, pois ela condiciona, entre outras coisas, a própria composição química do solo. A
rocha alterada caracteriza-se por uma matriz de rocha possuindo intrusões de solo, locais onde
o intemperismo atuou de forma mais eficiente.

O solo saprolítico ainda guarda características da rocha mãe e tem basicamente os mesmos
minerais, porém a sua resistência já se encontra bastante reduzida. Este pode ser
caracterizado como uma matriz de solo envolvendo grandes pedaços de rocha altamente
alterada.

Visualmente pode-se confundir com uma rocha alterada, mas apresenta, em relação à rocha,
pequena resistência ao cisalhamento. Nos horizontes saprolíticos é comum a ocorrência de
grandes blocos de rocha denominados de matacões, responsáveis por muitos problemas
quando do projeto de fundações.
O solo residual jovem apresenta boa quantidade de material que pode ser classificado como
pedregulho (# > 2; 0mm). Geralmente são bastante irregulares quanto a resistência mecânica,
coloração, permeabilidade e compressibilidade, já que o processo de transformação não se dá
em igual intensidade em todos os pontos, comumente existindo fragmentos da rocha no seu
interior. Pode-se dizer também que nos horizontes de solo jovem e saprolítico as sondagens a
percussão a serem realizadas devem ser revestidas de muito cuidado, haja vista que a
presença de material pedregulhoso pode vir a danificar os amostradores utilizados, vindo a
mascarar os resultados obtidos.

Os solos maduros, mais próximos à superfície, são mais homogêneos e não apresentam
semelhanças com a rocha original. De uma forma geral, há um aumento da resistência ao
cisalhamento, da textura (granulometria) e da heterogeneidade do solo com a profundidade,
razão pela qual a realização de ensaios de laboratório em amostras de solo residual jovem ou
do horizonte saprolítico é bastante trabalhosa, requerendo o uso de amostras de grandes
dimensões.

Ver a questão dos solos residuais no Recôncavo Baiano (livro). Perfil com fotos aula profa.
Luciana. Também tem o relatório de sondagem.

SOLOS SEDIMENTARES

Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados ao seu local atual por
algum agente de transporte e lá depositados.

A Fig. 1.3 mostra um perfil típico de solo sedimentar, muito comum no litoral brasileiro devido
à sedimentação do transporte fluvial no ambiente marinho das baías e restingas, como é o
caso, por exemplo, da argila do Rio de Janeiro, depositada em toda a periferia da baía de
Guanabara, e das argilas de Santos, de Florianópolis e de São Luís. A camada superficial de
argila mole é muito fraca e a construção sobre este tipo de terreno é sempre problemática,
requerendo a realização de estudos especiais por engenheiro geotécnico experiente. Um
boletim de sondagem típico é apresentado na Fig. 1.4.

As características dos solos sedimentares são função do agente de transporte.

Os principais agentes de transporte atuando na formação dos solos sedimentares são a água, o
vento e a gravidade. Estes agentes de transporte influenciam fortemente nas propriedades dos
solos sedimentares, a depender do seu grau de seletividade.

Cada agente de transporte seleciona os grãos que transporta com maior ou menor facilidade,
além disto, durante o transporte, as partículas de solo se desgastam e/ou quebram. Resulta
daí um tipo diferente de solo para cada tipo de transporte. Esta influência é tão marcante que
a denominação dos solos sedimentares é feita em função do agente de transporte
predominante. Pode-se listar os agentes de transporte, por ordem decrescente de
seletividade, da seguinte forma:

 Ventos (Solos Eólicos)


 Águas (Solos Aluvionares)
– Água dos Oceanos e Mares (Solos Marinhos)

– Água dos Rios (Solos Fluviais)

– Água de Chuvas (Solos Pluviais)

 Geleiras (Solos Glaciais)


 Gravidade (Solos Coluvionares)

Os agentes naturais citados acima não devem ser encarados apenas como agentes de
transporte, pois eles têm uma participação ativa no intemperismo e, portanto, na formação do
próprio solo, o que ocorre naturalmente antes do seu transporte.

SOLOS EÓLICOS

O transporte pelo vento dá origem aos depósitos eólicos de solo. Em virtude do atrito
constante entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente possuem
forma arredondada. A capacidade do vento de transportar e erodir é muito maior do que
possa parecer à primeira vista. Vários são os exemplos de construções e até cidades soterradas
parcial ou totalmente pelo vento, como foram os casos de Itaúnas - ES e Tutóia - MA; os grãos
mais finos do deserto do Saara atingem em grande escala a Inglaterra, percorrendo uma
distância de mais de 3000km. Como a capacidade de transporte do vento depende de sua
velocidade, o solo é geralmente depositado em zonas de calmaria.

O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por um lado
grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como as argilas,
têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo vento. Esse
efeito também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da linha de lençol
freático (definida por um valor de pressão da água intersticial igual à atmosférica) um limite
para a atuação dos ventos.

Pode-se dizer portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao caso das areias finas
ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos de aproximadamente
mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada de uniforme. São
exemplos de solos eólicos:

- As dunas

As dunas são exemplos comuns de solos eólicos do Nordeste do Brasil. A formação de uma
duna se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento, o que
diminui a sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo (Fig. 3.9).

A deposição continuada de solo neste local acaba por gerar mais deposição de solo, já que o
obstáculo ao caminho do vento se torna cada vez maior. Durante o período de existência da
duna, partículas de areia são levadas até o seu topo, rolando então para o outro lado. Este
movimento faz com que as dunas se desloquem a uma velocidade de poucos metros por ano,
o que para os padrões geológico é muito rápido.
- Solos Loéssicos

Formado por deposições de silte sobre vegetais que ao se decomporem deixam seu molde no
maciço, o Loess é um solo bastante problemático para a engenharia, pois a despeito de uma
capacidade de formar paredões de altura fora do comum e inicialmente suportar grandes
esforços mecânicos, podem se romper completa e abruptamente devido ao umedecimento. O
Loess, comum na Europa oriental, geralmente contem grandes quantidades de cal,
responsável por sua grande resistência inicial. Quando umedecido, contudo, o cimento calcário
existente no solo pode ser dissolvido e solo entra em colapso.

SOLOS ALUVIONARES

São solos resultantes do transporte pela água e sua textura depende da velocidade da água no
momento da deposição, sendo frequente a ocorrência de camadas de granulometrias
distintas, devidas às diversas épocas de deposição. O transporte pela água é bastante
semelhante ao transporte realizado pelo vento, porém algumas características importantes os
distinguem:

 Viscosidade - por ser mais viscosa a água tem uma capacidade de transporte maior,
transportando grãos de tamanhos diversos.

 Velocidade e Direção - ao contrário do vento que em um minuto pode soprar com


forças e direções bastante diferenciadas, a água têm seu roteiro mais estável; suas
variações de velocidade tem em geral um ciclo anual e as mudanças de direção estão
condicionadas ao próprio processo de desmonte e desgaste do relevo.

 Dimensão das Partículas - os solos aluvionares fluviais são, via de regra, mais grossos
que os eólicos, pois as partículas mais finas mantêm-se sempre em suspensão e só se
sedimentam quando existe um processo químico que as flocule (isto é o que acontece
no mar ou em alguns lagos).

 Eliminação da Coesão - vimos que o vento não pode transportar os solos argilosos
devido a coesão entre os seus grãos. A presença de água em abundância diminui este
efeito; com isso somam-se as argilas ao universo de partículas transportadas pela
água.

- Solos pluviais

A água das chuvas pode ser retida em vegetais ou construções, podendo se evaporar a partir
daí. Ela pode se infiltrar no solo ou escoar sobre este e, neste caso, a vegetação rasteira
funciona como elemento de fixação da parte superficial do solo ou como um tapete
impermeabilizador (para as gramíneas), sendo um importante elemento de proteção contra a
erosão. A água que se infiltra pode carrear grãos finos através dos poros existentes nos solos
grossos, mas este transporte é raro e pouco volumoso, portanto de pouca relevância em
relação à erosão superficial. De muito maior importância é o solo que as águas das chuvas
levam ao escoar de pontos mais elevados no relevo aos vales. Os vales contêm rios ou riachos
que serão alimentados não só da água que escoa das escarpas, como também de matéria
sólida.

- Solos fluviais

Os rios durante sua existência têm várias fases. Em áreas de formação geológicas mais
recentes, menos desgastadas, existem irregularidades topográficas muito grandes e por isso os
rios têm uma inclinação maior e consequentemente uma maior velocidade. Existem vários
fatores determinantes da capacidade de erosão e transporte dos rios, sendo a velocidade a
mais importante. Assim, os rios mais jovens transportam mais matéria sólida do que os rios
mais velhos. Sabe-se que os rios não possuem a mesma idade em toda a sua extensão; quanto
mais distantes da nascente, menor a inclinação e a velocidade.

As partículas de determinado tamanho passam a ter peso suficiente para se decantar e


permanecer naquele ponto, outras menores só serão depositadas com velocidade também
menor. O transporte fluvial pode ser descrito sumariamente da seguinte forma:

 Os rios desgastam o relevo em sua parte mais elevada e levam os solos para sua parte
mais baixa, existindo com o tempo uma tendência a planificação do leito. Rios mais
velhos têm portanto menor velocidade e transportam menos sólidos.

 Cada tamanho de grão será depositado em um determinado ponto do rio,


correspondente a uma determinada velocidade, o que leva os solos fluviais a terem
uma certa uniformidade granulométrica. Solos muito finos, como as argilas,
permanecerão em suspensão até decantar em mares ou lagos com água em repouso.

De um modo geral, pode-se dizer que os solos aluvionares apresentam um grau de


uniformidade de tamanho de grãos intermediário entre os solos eólicos (mais uniformes) e
coluvionares (menos uniformes).

- Solos marinhos

As ondas atingem as praias com um pequeno ângulo em relação ao continente. Isso faz com
que a areia, além do movimento de vai e vem das ondas, desloquem-se também ao longo da
praia. Obras que impeçam esse fluxo tendem a ser pontos de deposição de areia, o que pode
acarretar sérios problemas. O mar também se constitui no receptáculo final das partículas
argilosas, de tamanho bastante reduzido, que permanecem em suspensão ao longo de todo o
rio, vindo a se depositar somente em águas salinas, após a sua floculação.

SOLOS GLACIAIS

De pequena importância para nós, os solos formados pelas geleiras, ao se deslocarem pela
ação da gravidade, são comuns nas regiões temperadas. São formados de maneira análoga aos
solos fluviais. A corrente de gelo que escorre de pontos elevados onde o gelo é formado para
as zonas mais baixas, leva consigo partículas de solo e rocha, as quais, por sua vez, aumentam
o desgaste do terreno. Os detritos são depositados nas áreas de degelo. Uma ampla gama de
tamanho de partículas é transportada, levando assim a formação de solos bastante
heterogêneos que possuem desde grandes blocos de rocha até materiais de granulometria
fina.

SOLOS COLUVIONARES

São solos formados pela ação da gravidade. Os solos coluvionares são dentre os solos
transportados os mais heterogêneos granulometricamente, pois a gravidade transporta
indiscriminadamente desde grandes blocos de rocha até as partículas mais finas de argila.

Entre os solos coluvionares estão os escorregamentos das escarpas da Serra do Mar formando
os tálus nos pés do talude, massas de materiais muito diversas e sujeitas a movimentações de
rastejo. Têm sido também classificados como coluviões os solos superficiais do Planalto
Brasileiro depositados sobre solos residuais.

- Tálus

Os tálus são solos coluvionares formados pelo deslizamento de solo do topo das encostas. No
sul da Bahia existem solos formados pela deposição de colúvios em áreas mais baixas, os quais
se apresentam geralmente com altos teores de umidade e são propícios à lavoura cacaueira.
Encontram-se solos coluvionares (tálus) também na Cidade Baixa, em Salvador, ao pé da
encosta paralela à falha geológica que atravessa a Baia de Todos os Santos.

De extrema beleza são os tálus encontrados na Chapada Diamantina, Bahia. A Fig. 3.10 lustra
formações típicas da região. A parte mais inclinada dos morros corresponde à formação
original, enquanto que a parte menos inclinada é composta basicamente de solo coluvionar
(tálus).

A Fig. 1.5 apresenta um tipo de solo denominado coluvial ou talus, muito comum ao pé de
encostas naturais de granito e gnaisse, caso típico dos morros do Rio de Janeiro e de toda a
serra do Mar. Devido ao deslizamento e ao transporte pela água de massas de solo, um
material muito fofo e em geral contendo muitos blocos soltos é depositado próximo ao pé das
encostas. Este depósito é sempre a grande causa de acidentes durante chuvas intensas, que o
saturam e elevam o nível d’água do terreno, levando-o ao deslizamento.

Muitas vezes, a presença de talus pode ser identificada pelo tipo de vegetação. As bananeiras
têm uma predileção especial por esses terrenos, devido à baixa compacidade (muito fofos) e à
elevada umidade.

SOLOS ORGÂNICOS

Formados pela impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em geral


misturados a restos de vegetais e animais. Podem ser identificados pela cor escura e por
possuir forte cheiro característico. Têm granulometria fina, pois os solos grossos têm uma
permeabilidade que permite a "lavagem"dos grãos, eximindo-os da matéria impregnada.

Encorporam florestas soterradas em em estado avançado de decomposição.

– Estrutura fibrilar (restos de vegetais)

– Comportamento singular: não se aplicam as teorias da mecânica dos solos


- Turfas

Solos que incorporam florestas soterradas em estado avançado de decomposição.

Têm estrutura fibrilar composta de restos de fibras vegetais e não se aplicam aí as teorias da
Mecânica dos Solos, sendo necessários estudos especiais. Têm ocorrência registrada na Bahia,
Sergipe, Rio Grande do Sul e outros estados do Brasil.

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