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Ric ard o e.

Sal les

/Brasil
Copyright© by Salles, Ricardo C., Rio de Janeiro, RJ
Livro Técnioo S/ A - ·
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1' Ediçã o - 1993

O LE GA DO DE BABEL Edito ra Ao Livro Técni co 5/ A - Indús tria e


Comé rcio

AS LÍN GU AS E SEU S FAL AN TES Rua Bela, 611


São Cristó vão - CEP 20930-381
Tel.: (021) 580-1168
Rio de Janei ro - RJ - Brasil
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Sindi cato Nacio nal dos Edito res de Livro s, RJ

Salles, Ricar do C.
es /
S166L O legad o de Babel : as língu as e seus falant
io Houa iss. - Rio
v.1 Ricar do C. Salles ; prefá cio de Anton
de Janei ro : Ao Livro Técni co, 1993.
Prefá cio de Anto nio Houa iss
língu as
Conte údo: v. 1. Dicio nário descr itivo das
indo- europ éias.
ISBN 85-215-0663-5

1. Língu as indo- europ éias - Histó ria - Dicio ná-


rios. 1. Título .
CDD -409
93-0584 CDU -809.1
Rio de Janei ro
1993
11. ITÁL ICO

gua - nem mesm o o ingl~ s ou o


Latim _ Língu a da Famíl ia Indo- chinê s _ foi jamai s conhe cida por
europ éia, ramo Itálico, sub-r amo um núme ro tão grand e de pesso as.
latino-falisco, desap arecid a como A histór ia do latim literá rio costu -
língu a falad a, mas subsi stent e ma ser divid ida em três grand es
como língua escrit a enqua nto lín- períod os: a) antig o ou arcaic o (sé-
gua oficial, junto com o italian o, do culos III e II a. C.); b) clássi co (sécu -
Estad o Cidad e do Vaticano. O la-
lo Ia. C.); e c) imper ial (do início da
tim foi língua civil (ver esse verbe -
era cristã até o século V, com a que-
te) da República e do Impér io Ro_-
da do Impér io Roma no do Ocide n-
mano s e, como língu a de ciência
te). O cham ado ºlatim vulga r" é
(ver abaixo), foi utiliz ada - inclu-
um caso à parte e será tratad o mais
sive na forma falada - até final do
século XIX. Após a Vulga ta (tradu - adian te. Embo ra os prime iros teste-
ção da Bíblia para o_latim feita, en- munh os da língu a latina datem do
tre 382 e 392, em grand e parte por século III a. C. (algu ns autor es con-
São Jerôn imo), o latim passo u a ser ·sideram que já no século VI a. C. se
a tercei ra língu a litúrg ica da Igreja falava o latim - inscri ções da 'Pe-
Catól ica Roma na, ao lado do grego dra Negra ' [Lapis Níger], em escrit a
e do hebra ico. Sendo , hoje, o Vati- bustrofédon), entre o indo- europ eu
cano, um Estad o sober ano, tanto e o latim existi ram, pelo menos,.
quant o o Brasil ou o Japão , as suas duas outra s unid~ des lingüí sticas ; 269 1

uma delas atesta da. A prime ira, in- ----1


norm as e atos j~rídi cos .são publi-
cado s prime irame nte em latim , ferida, teria sido uma unida de íta-·
sendo este texto consi derad o o ofi- lo-céltica, contr apost a a outra uni-
cial. É muito difícil fazer uma esti- dade lingüí stica que teria saído da
mativ a de qual o maior núme ro de proto língu a comu m, a unida de
pesso as que, ao longo da Histó ria, germ ano-b alto-e slava (a tese da
falou o latim numa determ inada preten dida unida de balto- eslav a é
época . Do que se sabe, pode- se, discu tida nos verbe tes Língu as Bál-
com pouca marg em de erro, afir- ticas e Língu as Eslav as). São nume -
mar que, no ano 200 da era cristã , . rosos os exem plos que os estud io-
só a cidad e de Roma tinha cerca de sos nos dão argum entan do favor a-
1 milhã o de habita ntes, onde pro- velme nte a uma primi tiva unida de
vavel ment e quase todos falava m italo-céltica: junto com o latim credo
- ou, pelo meno s, enten diam - o (' creio' ), têm-s e o irland ês cretim e
latim . O fato, porém , é que tendo o o galês credu; ao latim rex ('rei') cor-
latim subsi stido como língu a escri- respo ndem as forma s céltic as rig e
ta até nosso s dias, isto é, por mais rix (gaulê s), muito embo ra exista a
de vinte e três sécul os (oito dos forma raj- em sânsc rito; a desin ên-
quais mant endo uma inacre ditáve l cia -r da voz passi va (p. -ex., laudor
unifo rmida de), nenh uma outra lín- ['sou louva do']) existe tanto em la-

0 LEGAD O DE BABEL
11. ITÁLICO

:m como em irlandês e bretão, sen-


no-falisco e melhor conhecid a que
. o que nessas é marca da forma 0 falisco, muito se assemelh ava a
impes~o al ou médio-p assiva (p.
um patuá bastante próximo do la-
~x., ben;, em irlandês, que significa tim. Se, em latim, havia a palavra
traz-s~ ' e roeler, em bretão, que civis (anterior mente, ceiuis), o osco
C}Uer dizer vê-se'); em irlandês, o tinha touto e o umbro tin~a tuta, os
d~~oent e (forma passiva com sig- três significando 'povo' e, depois,
nificado ativo) sechur ('sigo') é cor- 'cidade'; ao latim vir ('homem ')
respo~~e n~e e~ato do latim sequor; correspo nde ner, tanto em osco
a desmenc 1a -1, de genitivo singu:.. como em umbro; o latim qui (ante-
lar, é exclusiv a do latim e de algu- riorment e, quoi) tem, tanto em osco
mas línguas célticas, fora um caso como em umbro, o equivale nte em
muito especial que se dá no sâns- poi; e a forma feminina quae, em
crito; as palavras 'filho' e 'filha' latim, tem como equivale ntes, em
formam dois conjunto s cognatos fa- osco, pai e, em umbro, pae e paei; o
cilmente identific áveis nas línguas latim ubi (' onde') equivale ao osco
germâni cas, bálticas e eslavas (cp. puf e ao umbro puje. Tanto o osco
'filho' - son, em inglês, si'mz1s, em como o umbro, de um lado, como o
lituano, e syn, em russo; 'filha' - falisco e o prenestin o, de outra par-
Tochter, em alemão, dochti, em anti- te, foram suplanta dos pelo latim,
270 go prussian o, e dotch', em russo), sendo que o falisco, ao que tudo
mas o mesmo não acontece em la- indica, em época mais remota.
tim e nas línguas célticas. Quebra- Aqui é importan te notar que, ao se
da a unidade ítalo-céltica, surgem falar numa unidade itálica atesta-
dentro do ramo itálico dois sub-ra- da, não se devem esquecer dois fa-
mos atestado s: de um lado, o osco- tos: em primeiro lugar, falava-se ,
úmbrio e, de outro, o latino-falisco, na Perunsul a, uma língua, pelo me-
sendo este último a segunda unida- nos, cuja pertinên cia à Família
de lingüísti ca aludida mais acima. Indo-eur opéia é, senão negada, no
O asco era, no século I, a língua que mínimo discutíve l - o etrusco; em
se falava, por exemplo , em Pom- segundo lugar, havia, aí, também,
péia (MEILLET); o umbro se falava outras línguas Indo-eur opéias que
a nordeste do Lácio, na região que, não teriam integrad o a suposta uni-
atualmen te, correspo nde, mais ou dade ítalo-céltica, como o venético
menos, à Úmbria. Já o falisco, lín- e messápic o (ou messapia no). As-
gua dos falérios e de que se têm sim, nem o etrusco nem línguas
pouquíss imos testemun hos, era fa- como o venético e o messápic o são
lado ao sul do Lácio, mas em re- consider adas línguas "itálicas ".
giões cercadas de falares etruscos. No latim, que se deve ter formado
Uma outra língua, o prenestin o, entre os séculos VII e III a. C., há
também pertence ao sub-ram o lati- vestígios de várias línguas que, por

0 LEGADO DE BABEL
11. ITÁLICO

certo, exerceram grande influência timos diretos do grego, a maioria


Iio período de sua formação. O introduzida no latim através de
etrusco, sem dúvida alguma, muito contatos com mercadores estabele-
contribuiu, mas pouco se sabe ain- cidos em portos do sul da Itália.
da dada a escassez de testemunhos. Mas há outros empréstimos que
A mais evidente contribuição foi o vieram através do grego, como sac-
alfabeto, já que o latino é descen- cus (do fenício) e tunica (do hebrai-
dente direto do etrusco. No voca- co) ou que, embora originariamen -
bulário, sabe-se de origem etrusca te gregos, vieram através de outras
urbs (' cidade'), mundus, histrio (' co- línguas, como, por exemplo, crepida
mediante'), spurius (com o sentido ('sandália'), que chegou ao latim
original de 'público'), persona pelo etrusco. A tradição fixa em 509
('máscara') e sen,us ('escravo'). De a. C. a expulsão de Roma do rei
línguas mediterrâneas pré-indo- etrusco Tarqüínio Soberbo, mas o
européias, pode-se afirmar que são latim de Roma só aparece atestado
empréstimos rosa, vinum ('vinho') e mesmo no século III a. C. com o
vinus ('videira'), ficus ('figueira'), início da literatura. Nesse período,
funda (originariame nte, 'rede de embora inovador se comparado
pesca'), asinus ('burro>), oliva, oleum com o indo-europeu (o latim não é
('azeite') e cupressus ('cipreste'). É mais uma língua tonal) e com o
de se notar que a maior parte des- ítalo-céltico (não há gênero dual 271
sas palavras, em formas iguais ou em latim), bem como, ainda, com o
muito semelhantes, existe, tam- itálico comum (o "s" intervocálico
bém, em grego antigo (especial- !i?m latim já soava como/ z/ [MEIL-
mente, no ático). Esse fato não sig- LET]), o latim ainda é uma língua
nifica, porém, que o latim os te- fortemente conservadora, manten-
nha tornado de empréstimo ao do muitas das inúmeras flexões no-
grego. Estudos de BENVENISTE e minais e formas verbais Indo-euro-
de MEILLET demonstram que, péias (p. ex., o locativo, depois ab-
também em grego, tais termos são sorvido pelo ablativo). A língua se
empréstimos tomados de línguas afirma de fato no período clássico,
(não semíticas) faladas na região pela helenização da cultura (não da
do Mediterrâneo oriental. O grego, língua) latina, na época de Cícero e
não obstante, exerceu influência es- de Virgílio. Com efeito, quando
pecífica na composição do léxico Roma se torna uma potência domi-
latino: palavras como macltina (ori- nante, sua aristocracia, rural, dese-
ginariamente, se escrevia macina), josa de se sofistic?r, só tem como
castanea, elephas (' elefante'), cerasus mestres e exemplos os gregos. Na
(' cerejeira'), amphora (inicialmente, maioria das vezes, eram os escra-
grafava-se ampara), spatha ('espa- vos gregos que ensinavam aos ro-
da'), gubernus, ancora, são ernprés- manos a leitura e a escrita, a poesia

0 L EGADO DE BABEL
11. ITÁL ICO

cont rário do que


e a músi ca. O próp rio Cícero teve tivo) . Em latim , ao
ico, não há ar-
toda uma form ação greg a, falav a ocor re no greg o cláss
ro conj u-
greg o corre ntem ente e estu dou re- tigo. Os verb os têm quat
ais: pres ente ,
tóric a na Gréc ia (80 - 77 a. C.) com gações, com três radic
do parti -
Melo n de Rode s. Para se ter uma perfe ito e supi nó (mat riz
língu a
idéia do grau de helen izaçã o da cípio passa do). Ahis tór4 i da
man ei-
cultu ra latin a, lemb remo -nos de latin a se conf unde , de certa
Rom a, corre s-
que, em latim , não havi a uma pala- ra, com a histó ria de
dênc ia do
vra que tradu zisse o conceito de pond endo , assim , à deca
falad o
ar ven t us era ar , mas em mov i- Impé rio, a evol ução do latim
I / •
I '(

româ nica s,
men to, o perc eptív el fisicamente); em direç ão às língu as
part e,à sua
foram os poet as latin os (dent re os por um lado , e, de outr a
língu a de
prim eiros , Ênio , que era greg o de subs tituiç ão por outr a
com o foi o
nasc ença e usav a no quot idian o o uma cultu ra supe rior -
regiõ es
asco e não o latim ) que troux eram caso do greg o em algu mas
nto em
para a língu a de Rom a o term o gre- - ou ao seu desa pare cime
das - tal
go aer que, mais tarde , se popu lari- área s men os roma niza
ânia . Isso,
zou. No perío do clássico, o latim como ocor reu na Germ
fal~d o,
simp lifica basta nte as flexões nom i- toda via, vale para o latim
a escri ta. No
nais (não resta m senã o traço s do mas não para a língu
o latim se
antig o locat ivo, como , por exem - perío do dito impe rial,
272 legiõ es e a
plo, Romae (' em Rom a']), mas aind a prop agou junto com as
tend o sido
pers istem cinco decli naçõ es para os administração roma na,
ao nort e
subs tanti vos (mui to emb ora vário s falad o das Ilhas Britâ nicas
a Ibéri ca ao
caso s tenh am já as mesm as desi- da África e da Pení nsul
latim vul-
11

nênc ias). Os adjet ivos, ao cont rário Golfo Pérsico. O term o


desi gnar o
do que ocor re com as língu as esla- gar" que se utiliz a para
da époc a im-
vas em que suas decli naçõ es têm latim falad o no curs o
m, em ne-
para digm as próp rios, poss uem peria l não expr essa, poré
em nenh um
apen as três class es e suas decli na- nhum mom ento nem
uno da língu a,
ções segu em os para digm as da pri- luga r, um estad o
É inad mis-
meir a, segu nda e terce ira decli na- defin ível com prec isão.
falad o na Britâ nia
ções apen as. O com para tivo e o su- sível que o latim
crist ã fosse o
per la ti vo dos adje tivo s e dos no sécu lo II da era
plo, que aque le
advé rbio s se form am com desin ên- mesm o, por exem
ante s na Pale stina
cias próp rias (-ior/-ius (m. e f.] e falad o um sécu lo
Lusi tânia .
-issimus/-a/-um (m., f. e n.], respe c- ou um sécu lo depo is na
1 " , tes, um con-
tivam ente ), mas já se obse rva a ten- · "La t·1m vu gar e, an
que se reali za-
dênc ia de amb os serem form ados junto de tend ênci as
entes , em épo-
anal itica men te (magis, para o com - ram de form as difer
inter méd io de fa-
para tivo, e maxime, para o supe rla- cas dive rsas, por

Ü LEGAD O DE BABEL
11. ITÁ LICO

lante s de vários níveis de educ ação desa pare cime nto da voga l final, tal
e nas mais varia das cultu ras. Essas com o ocor reu, por exem plo, no
tendências são, de resto, as mes mas francês: lat. novem> franc. neuf, lat.
tendências lingüísticas do antig o novam> franc. neuve (com o ""f e i-
indo -eur opeu , como bem dem ons- nal prat icam ente ·mud o). A pala ta-
tra a gramática com para da, e elas lização de oclu siva s vela res (/k/ -
se man ifest am na fonética, na gra- / g/) ante s de "e" e "i" já era uma
máti ca e no voca bulá rio. Inicial- tend ênci a no indo -eur opeu , tant o
men te, com um a todo s os falares, o que o fenô men o é bem perc eptí vel
siste ma de quan tida de vocá lica nas líng uas eslav as. No "lat im vul-
(longas e breves) do latim - por si gar" a evolução pros segu e em seu
só já evol ução do siste ma tona l curs o norm al, dand o o itali ano cer-
indo -eur opeu - se alter a para a to / tcherto /, oriu ndo do latim
cer-
nota ção de um acento tônico, em tum /kertum/ e o port
uguê s /ser -
que uma sílaba da pala vra pass a a tu/. No perí odo impe rial,
,a tend ên-
ser pron unci ada com maio r inten - cia de se perd erem as cons
oant es
sida de que as demais. Na sílab a tô- finais do indo -eur opeu
se reali za
nica , entã o novi dade , a voga l acen- na maio ria dos falar
es latin os e de-
tuad a tend e, em algu ns falares, a sapa rece m tanto
o -m" da desi -
11

form ar um diton go, já que orig ina- nênc ia do acus


ativo sing ular (que ,
riam ente , de regr a, ela era long a; segu ndo MEI
LLET, já dev ia ser
assim , focum dá Juoco e pedem dá pie- pron unc iado 273
no· latim clás sico
de, em itali ano, mas , em port uguê s, com o "' m" final em
port uguê s, isto
a voga l tônic a não gera um dito n- é, só nasa
lizan do a voga l ante ce-
go, com o se vê de fogo e pé. Por dent e), com
o o -t" da desi nênc ia
11

outr a part e, quan do o "e" e o o" verb al de


II
terce ira pess oa do sing u-
brev es e o "e" e o "o" long os dei- lar (lat.
cantat> port . 'can ta'). A pró-
xam de ter "dur ação " dife rent e na pria não
marc ação de certo s plur ais
pron únci a, as voga is pass am a se em algu
ns falar es do port ugu ês,
dist ingu ir pelo timb re, as long as cons ider
ada vício de ling uag em
tend endo a ser mais fech adas que ('as casa
'), pod e perf eitam ente ser
as brev es; em algu ns falar es, o fe- uma cont
inua ção natu ral dess a
cham ento das voga is long as cheg a evol ução , tal
com o ocor reu no fran -
ao pon to de o e" long o pass ar a cês (les dame
II

11
s /led am/ ). Se o latim
i" e o II o" long o pass ar a "u" . cláss ico tinh
a quat ro dem onst rati-
Des de a supo sta · unid ade itáli ca vos, depe nden
do do grau de prox i-
que as voga is fina is ·das pala vras mid ade do
falan te e, em cert os ca-
tend em a se pron unci ar de form a sos, do inte rloc
utor (hic, iste, ille, is),
mui to mai s brev e que as dem ais; na além do pron
ome ipse, que, tam -
époc a imp eria l, isso leva ao quas e bém , vali a com
o dem onst rativ o,
desa pare cim ento ou, mes mo, ao . quan do surg e o
artig o algu ns fala-

0 LEGA DO DE BABEL
11. ITÁLICO

res o formam a partir do demons- os pronomes pessoais, é o acusati-


trativo ille e outros, como o antigo vo (no francês moderno ele ainda
c~talão e o sardo, de ipse. Pouquís- está presente no qui, sujeito, e que,
simos falares, porém, mantêm, objeto) e, salvo no romeno (que
como o português, três demonstra- mantém o genitivo/ dativo e o vo-
.
t 1vos (' este, , ' esse', 'aquele'); na cativo), a flexão nominal de caso
maioria dos casos, só há dois e os desaparece completamente. As
graus de afastamento intermediá- circunstâncias de lugar, tempo etc.
rios são marcados com o auxílio de passam a ser marcadas, apenas, por
partículas adverbiais (franc. preposições. Já no latim clássico, os
cefjfcelE). O comparativo sintético três gêneros (m., f ., n .) eram uma
deixa de ser a regra e, ao invés de sobrevivência do indo-europeu.
se dizer altior ('mais alto'), passa-se Como assinala MEILLET, um ro-
à forma simplificada magis altus em mano seria incapaz de dizer por
alguns falares e plus altus em ou- que motivo templum era neutro,
tros. O futuro latino cantabo cede casa era feminino, oculus era mascu-
lugar a formas compostas (cantare lino e corpus era neutro. A tendên-
habeo ou cantare volo, isto é, 'tenho cia a ignorar a distinção dos gêne-
que/ quero cantar') · que deram o ros e, na maioria dos casos, fazê-la
atual futuro nas línguas românicas pela terminação do nome, fundin-
274 (o dalmático é uma exceção). Aqui, do o neutro e o masculino, se reali-
também, não há novidade no do- za na língua vulgar e, com exceção
mínio do indo-europeu, já que o do romeno, as línguas românicas
futuro, em persa, se forma com o só conhecem o masculino e o femi-
auxiliar 'querer' e, em grego, com nino. No "latim vulgar", as coisas
uma partícula oriunda da expres- possuídas ou usadas pelo povo
são 'quero que' (ver essas línguas). mais pobre substituem os seus
O antigo aspecto verbal perde im- equivalentes que designavam as
portância na medida em que se mesmas coisas (ou coisas com a
confunde com os tempos do verbo. mesma utilidade) possuídas pela
Assim, 'conseguir', que seria per- aristocracia. Assim, casa e, não,
fectivo, denotando uma ação com- mais domus e caballu- e, não, mais
pleta pela anteposição do prefixo equus são os termos empregados de
cum-, não mais forma par com o uma maneira geral. Os verbos cujo
imperfectivo 'seguir'; por sua vez, perfeito se forma de maneira irre-
comedere (de cum- e edere), que sig- gular caem em desuso, preferindo-
nificava 'comer junto com', passa a se, na língua vulgar, os que sejam
designar apenas 'comer', caindo o regulares. Assim, toccare substitui
verbo edere em desuso. No latim 11
tangere (perf. tetigi), portare substi-
vulgar", praticamente o único caso tui fe"e (perf. tuli) e iocare substitui
das declinações que subsiste, fora ludere (perf. lusi). Alguns nomes de

0 LEGADO DE BABEL
11. ITÁLICO

partes do corpo e de animais se syngrapha collybi certo die solvenda;


fixam, na língua vulgar, no dimi- 'gerente' é negotiorum curator;
nutivo - forma mais afetuosa e 'avião a jato' é aeronavigium inversa
familiar - e, daí, de regra, passam vi propulsum; 'bqmbardeiro' é veli-
às línguas românicas: auris ('ore- volwn ignivomis globis verberans;
lha'), genu ('joelho') e agnus ('cor- 'pára-quedista ' é miles (ou nauta)
deiro') perdem espaço para aurícu- lento ex caelo volatu lapsus; 'coman-
la, genuculum e agnellus. Com adi- dante de avião' é aeriae classis prae-
fusão do Cristianismo dentro do fectus; 'pólvora' é pulvius tormenta-
Império Romano, o verbo loqui ('fa- rius; 'pistola' é manuballistula; 'gela-
lar') é, em parte, substituído por deira' pode ser armarium frigi-
parabolare (cf. italiano parlare). Por darium ou theca frigidis servandis;
outra_parte, a forma popular fabula- 'caixa de fósforos' é capsula sulphu-
re (cf. português 'falar') é, também, raria. A etimologia proposta para o
preferida ao irregular e depoente topônimo Latium, de onde vem 'la-
loqui, que só subsiste em termos tim', é o adjetivo latus, que significa
cultos como 'loquaz', 'eloqüência' 'amplo', numa alusão à grande pla-
etc. O latim, tendo se mantido até nície que é aquela região. Já,
os nossos dias, pelo menos na for- 'Roma' é de etimologia controver-
ma escrita, como uma língua de tra- sa: para alguns, vem do etrusco
balho (como é o caso do Vaticano), Ruma, que era o a~tigo nome do rio 275
teve que ser adaptado ao mundo Tibre, de significado incerto; para
moderno e termos que obviamente outros, vem do grego rheo (' apro-
não podiam existir na época impe- fundar-se'), que, talvez, pudesse
rial precisaram ser cunhados. Al- explicar a forma Rim das línguas
guns são expressos por verdadei- eslavas; há, ainda, quem afirme
ras frases, outros mais parecem fa- provir do grego rhome, que signifi-
bricados numa espécie de jogo ca 'força'.
acadêmico, mas, em todo caso, fica
Bibliografia
patente a criatividade dos "arqui-
tetos da língua" que os construí- 1. Daitz, S. G., The Pronunciation
ram: 'bomba atômica' é globus ato- and ReadingoJClassical Latin, Jef-
mica vi displodens; 'telegrama' é frey Norton Publishers, Inc.,
nuntium per aetheris undas missum; Guilford (CT), 1984.
'caixa de charutos' é capsellaJasd cu- 2. Desessard, C., Le Latin sans Pei-
/is tabaci assen.,andis; 'cigarro' é nico- ne, Assimil, Paris, 1966.
tina fistula; 'isqueiro' é igniarium; 3. Ernout, A. e Meillet, A., Diction-
'turista' é viator voluptuarius ou pe- naire Étymologique de la Langue
regrinator delectationis causa e 'turis- Latine, Ed. Klincksieck, Paris,
mo' é peregrinationes delectationis 1979.
causa susceptae; 'letra de câmbio' é · 4. Freire, A. (S.J.), Conversação Lati-

0 LEGADO DE BABEL
11. ITÁLICO

na, Liv. Apostolado da Impren- 350 anos (248 a.C. a 107 d .C. -
sa, Porto, 1960. incorporação, respectivamente, da
5. Meillet, A., Esquisse d'une Histoi- primeira e da últimp Província ao
re de la Langue Latine, Ed. Kli.nck- Império). Em latim, o adjetivo ro-
sieck, Paris, 1977. nrnnicus já se contrapunha a roma-
6. Valente, f\1. (Pe.), Gramática Lati- nus, designando o primeiro 'coisas
na, Livraria Selbach, Rio, s/ d. e pessoas próprias da România'
(ver acima) e o segundo se refeiin-
Línguas Românicas - Também do à 'cidade de Roma'. O vocábulo
denominadas latinas, neolatinas e, romanice, de onde provêm os ter-
ainda, de maneira não muito pró- mos 'rornanço' /'romance' (este
pria, romances ou romanços, são as usado, inclusive, para denominar
línguas da Família Indo-européia, certo gênero literário), significa li-
ramo Itálico, sub-ramo latino-falis- teralmente 'em românico' e é con-
co, grupo latino, todas descenden- tração de uma expressão maior, ro-
tes do latim. São elas: o português, manice Jabulare, ou seja, 'falar em
o galego, o castelhano, o ladino (ju- língua da România'. Em cada re-
dezmo), o catalão, o occitano (pro- gião da Rornânia, especialmente a
vençal), o francês, o italiano, o réti- partir do século III de nossa -era,
co (dito, igualmente, ladino), o sar- foram se formando romanços cada
276 do e o romeno. Cumpre, aqui, vez mais diferentes entre si, não só
desfazer uma certa confusão termi- por força dos distintos substratos
nológica. As denominações mais lingüísticos preexistentes em cada
adequadas dessas línguas parecem urna delas (céltico, germânico, esla-
ser românicas ou neolatinas. Com vo etc.), mas, ainda, pelo fato de as
efeito, "línguas latinas" seda um váiias regiões terem tido um tipo
termo mais apropriado às línguas de colonização própria e em épocas
faladas no Lácio, região ocidental diversas. Esses rornanços tinham,
da Península da ltália onde surgiu no entanto, em maior ou menor
Roma. Já "língua românica" (no grau, alguns traços comuns: pro-
singular) se aplica com mais pro- gressiva desflexionalização noini-
priedade ao latim falado pelo povo nal (substantivos, adjetivos, prono-
da România (a princípio, todo o Im- mes e numerais perdem as desinên-
pério Romano e, depois de Carlos cias próprias dos casos latinos das
Magno, apenas uma parte européia declinações); preposições passam a
dele). Essa "língua", que se formou freqüentar mais a frase, expressan-
a partir do latim corrente, apresen- do, assim, as relações entre as pala-
tava grandes variações no espaço vras que, antes, se expressavam
compreendido entre Portugal atual através dos casos das declinações;
e o oriente próximo, bem como perda de importância da quantida-
num período de tempo de cerca de de vocálica para a tonicidade/ ato-

Ü LEGADO DE BABEL
nicidade das sílabas das palavras;
aparece o artigo, que não existia em
latim; termos que designavam coi-
sas pertencentes ou próprias das
classes mais pobres se generalizam
para expressar a coisa indistinta-
mente, mesmo dos ricos (p. ex.:
casa, por donms). A predominância
de um determinado romanço em
cada região da România deu, assim
descrito em rápidas pinceladas,
oiigem às modernas línguas româ-
nicas ou neolatinas.
Bibliografia
1. Lansberg, H., Linguística Româ-
nica, Gulbekian, Lisboa, 1981.
2. Lüdtke, H., Historia dei Léxico
Românico, Ed. Credos, Madri,
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3. Savj-Lopez, P., Le Origine Neola- 277
tine, Cisalpino-Goli ardica, Mi-
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4. Tagliavini, C., Orígenes de las
Lenguas Neolatinas, Fondo de
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5. Wartburg, W. von, La Fragmen-
tación Lingüística de Romania,
Ed. Gredos, Madri, 1952.

O LEGADO DE BABEL

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