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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS II – CIVIL – UGB –NOVA IGUAÇU

PROF : FRANCISCO ABREU

2.0 – TRAÇÃO/COMPRESSÃO PURA


Neste capítulo estudaremos o comportamento das peças prismáticas (barras
retas) submetidas a um estado de tração (ou compressão) pura, onde o único esforço
solicitante presente é a força normal N.

2.1 – FORÇA NORMAL


A força normal N é a resultante dos esforços locais atuantes sobre a seção, na
direção que lhe é perpendicular (Fig. 21-a). Segundo a convenção de sinais adotada, a
tensão será (+) no caso de tração, e (-) no caso de compressão.
A Fig. 21-c apresenta, para a peça esquematizada em b, o diagrama de esforços
solicitantes que informa o valor da força normal em cada seção, em função de sua
posição na peça (o efeito do preso próprio foi levado em consideração).

T1=30 kN N em kN 30

P1 = 5 kN
+

C1 = 20 kN C2 = 20 kN 15
25

_
P2 = 10 kN

25

(a) (b) (c)

Fig. 21 – Tração (ou compressão). Força Normal. Diagrama de Força Normal.

O caso comum de peças em equilíbrio, submetidas, única e exclusivamente, à


ação de apenas 2 forças, implica necessariamente em que essas duas forças sejam
diretamente opostas. Assim é que sistemas compostos de barras articuladas, com
cargas externas aplicadas nas articulações (nós) são estruturas (treliças) nos quais seus
elementos são submetidos, exclusivamente, à tração ou compressão.
Os métodos de determinação dos esforços nas barras de uma treliça são
apresentados nos cursos de Mecânica Geral (Isostática – método das seções e método
dos nós)

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P
P P
P/2 P/2

2P 2P
X
(a) (b)

Y
Z

Fig. 22 – Treliça Simples. a) método das Seções; b) método dos nós

O conhecimento do sentido do esforço (se de tração ou compressão) é


fundamental levando-se em conta que, enquanto peças esbeltas de aço comprimidas
pelos topos correm o risco de uma instabilidade elástica (flambagem), por outro lado,
peças de concreto são pouco resistentes à tração (necessitando da presença de armadura
de aço).
Muitos são os exemplos de elementos estruturais que trabalham sob tração ou
compressão pura, como os pilares(compressão), os cabos flexíveis ou tirantes (tração),
parafusos, reservatórios sob pressão, etc.

2.2 – TENSÃO NORMAL


Na determinação da distribuição das tensões normais ao longo dos pontos da
seção transversal de uma barra reta submetida a esforço normal, faremos a hipótese
simplificadora de que a seção reta permanece plana após a deformação (hipótese de
Bernoulli). Isto implica em que as deformações específicas  das fibras longitudinais
da barra sejam uniformes e, levando em conta a proporcionalidade entre as tensões
e deformações (Lei de Hooke, ζ = E ε) para o regime elástico, conclui-se que as
tensões se distribuirão uniformemente ao longo dos diversos pontos da seção.

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dA

 z
δ alongamento
L0 y 
L0 = comprimento inicial
N
δL0 x
L = L0 + δ δ δL0
ζ = E ε lei de Hooke
L = comprimento final , deformação específica y
Fig. 23 – Tração ou Compressão. Tensão Normal no regime elástico(lei de Hooke = tensões
proporcionais às deformações ζ = E ε). E =módulo de elasticidade longitudinal
Da definição de Força Normal, podemos escrever:

N =  dA N = dA N = A


e como foi suposto constante, obtemos: L0

 N / A

sendo N a resultante desses esforços uniformemente distribuídos aplicada no
centróide da área da seção, já que, sendo o momento fletor nulo nos casos de
tração/compressão pura (tanto em relação ao eixo y como ao eixo z), será correto
escrever: Mz = N . y , My = N . z ; mas N =  dA. como a carga N é centrada não há
momentos fletores em relação ao eixos y e z , Mz = 0 e My = 0

Mz= ∫ dA . y = 0 e My= ∫ dA . z = 0,  cteportanto, ∫ y dA = 0 e ∫ z dA = 0.

A observação experimental confirma os resultados obtidos pela aplicação deste


modelo simplificado para o cálculo das tensões em seções suficientemente afastadas dos
pontos de aplicação das cargas externas (Princípio de Saint´Venant) ou em regiões onde

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não haja descontinuidades bruscas nas dimensões da seção transversal ao longo da


barra (como furos, escalonamentos, etc), que provocam concentração de tensões.
Como exemplo, analisaremos a estrutura esquematizada na Fig. 24 (aparelho de
carga) composto de uma barra de madeira AB, articulada em A e estaiada em B por
um tirante de aço BC, dimensionada para içar uma carga de 1,0 tonelada.

B
300
C d = 15 mm

70 x 70
mm2
1,00m

1 ton

A Na estrutura em análise (uma treliça simples), a


barra AB estará comprimida enquanto o tirante de aço
ficará tracionado.
Fig. 24 – Pau de Carga. A carga ativa de 1,00 tonelada, aplicada em B,
(correspondente a uma força de 9,81 kN), quando
Forças sobre o nó B () decomposta nas direções da barra e do tirante (atenção,
não confundir o conceito de componente com o de
16,99 kN projeção!) fornece os seguintes valores para os esforços
30° nos dois elementos da estrutura (em kN):

Nbarra = 2 x 9,81 = 19,62; Ntirante = 1,732 x 9,81 =16,99.


9,81 kN
19,62 kN Para as tensões obtemos:

barra = (19,62x103) / (70x70x10-6) = 4,00 MPa


tirante = (16,99x103) / ( x 152 x 10-6 / 4) = 96,14 MPa

Se adotarmos como tensões limites os valores 230 MPa (tração) para o tirante de aço
e 48 MPa (compressão) para a barra de madeira (Tabela 1), avaliaríamos os coeficientes de
segurança adotados como sendo: (CS)aço = 230 / 96,14 = 2,39; (C/S)madeira = 48 / 4,00 = 12. Para
a estrutura como um todo, o coeficiente de segurança teria o valor 2,39 (obviamente o menor).
Na realidade, a barra de madeira comprimida, “por ser longa e esbelta”?, poderá estar
sujeita, não só ao esmagamento do material (como calculado), mas também à uma instabilidade
elástica (flambagem). Como veremos adiante, a carga crítica para flambagem de uma barra
articulada nas extremidades, de seção quadrada de lado a, de comprimento l e módulo de
elasticidade longitudinal E é dada pela fórmula de Euler: Pcrítico = 2 E a4 / 12 L2
No caso em análise Pcrítico = 2 x 13 x 109 x (0,070)4 / (12 x 22 ) = 64,18 kN
O (CS)flambagem valeria (CS)flambagem = Pcrítico / Pbarra = 64,18 / 19,62 = 3,3 (e não o valor 12, calculado
para o esmagamento).
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O efeito do peso próprio no caso em análise (provocando flexão na barra) é


desprezível já que, tendo 2,0 m de comprimento e seção 70 x 70 mm2, com um volume de 2
x 0,072 = 0,0098 m3 , (isto adotando-se uma densidade 0,69t/m3 – Tabela 1). Ρ=690kg/m3=m /
V, m=6,762 kg que corresponde à 6,8 kgf mas como 1kgf=9,81N tem-se 6,8 kgf=66N
No caso de colunas de grande altura, o efeito do peso próprio deve ser levado em
conta.
Se houvesse variação da força normal ou da área da seção transversal, esta
variação provocaria modificações no valor da tensão normal ao longo da coluna que
são determinadas pela análise estática da peça.
A Fig. 25 – a mostra o diagrama de tensões normais para uma coluna em forma
de tronco de cone. No topo, a tensão vale P0 / A0. Na base a tensão será dada por:
 = P0/A0 + [(A0 + Ah)x h x ] / 2Ah], sendo  o peso específico do material.

P0 P0
A0 A0

x
N
A
h
h N + dN
dx

Ah

Fig. 25 – a) Pilar em forma de tronco de cone. b) Pilar de igual resistência (  = constante = P0 / A0 )

A Fig. 25 – b indica o formato do chamado “pilar de igual resistência” (aquele


no qual o valor da tensão é uniforme ao longo da extensão do pilar).
O equilíbrio de forças agindo no elemento de espessura dx nos permite escrever:
N +  A dx = N + dN e portanto, (dN / dx) =  A. Como, por hipótese,  = N/A é
uma constante (* ), dN = * dA e, portanto, (* dA / dx) = A. Separando as variáveis,
teremos:
(dA / A) =  dx, que integrada fornece: A = A0 e x = (P0 / A0) ex

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2.3 – DEFORMAÇÕES
A deformação elástica sofrida por uma barra reta tracionada ou comprimida pode ser calculada, levando em
conta a equação 1.15 aplicada a um elemento infinitesimal, escrevendo-se:

Lo (dx) / dx =  / E = N / E A,

que fornece a variação da dimensão


dx representativa da distância entre
A duas seções contíguas.
Portanto, no cálculo da
N elongação total de uma barra reta
x
submetida à tração/compressão
teremos:
Lo
dx
L= 0
(N / E A) dx ..............(2.1)

O conhecimento de como
variam N, A e E, em função da
Fig. 26 – Elongação de uma barra reta tracionada
ou comprimida. posição x de cada seção, permitirá a
determinação da elongação total
através da integração definida para
os limites da extensão da barra.
No caso simples de barras de seção uniforme (A constante), submetida a uma força
normal N constante e constituída de um mesmo material, a equação 2.1 se converte em
L = N Lo / E A =  Lo / E.
Como um primeiro exemplo de aplicação, calculemos o deslocamento sofrido
pela extremidade B da barra do pau de carga da figura 24, sob a ação da carga de 1,0
tf. 0,793

A barra AB diminuirá seu comprimento em:


Lbarra = (19,62 x 103 x 2) / 13 x 109 x (70x70)x10-6 = =
30° 0,0006160 m = 0,616 mm;
O tirante CB aumentará seu comprimento em:
h Ltirante = (16,99 x 103 x 1,732)/ 210x109 (x152x10-6/4) =
0,616 = 0,0007929 m = 0,793 mm.
Diante das pequenas deformações podemos supor a
manutenção da geometria quanto aos ângulos (por
exemplo, o de 30°) e escrever:
h = 0,793 / tg30° + 0,616 / sen30º = 2,605 mm.

O cálculo efetuado poderia ser desenvolvido por considerações de energia.

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Realmente: o trabalho realizado pela força-peso da carga, ao deslocar seu


ponto de aplicação de uma distância h, para baixo, ficará armazenado, sob a forma de
energia potencial elástica, nas peças deformadas (a barra comprimida e o tirante
tracionado).
Assim, pode-se escrever:
½ P x h = ½ Nb2 Lb / Eb Ab + ½ Nt2 Lt / Et At
(o fator ½ que aparece nas três parcelas representa o fato de que as forças são aplicadas estaticamente, crescendo
linearmente, do valor zero até o seu valor final).

No caso: ½ 9,81 x 103 x h =


= ½ (-19,62 x 103)2 x 2,0 / 13 x 109 x (70x70x10-6) + ½ (16,99 x 103)2 x 1,732 / 210x109x(152x10-3/4)

e, h = 2,605mm.
No presente caso, o efeito do peso próprio da barra (flexionando-a) é
desprezível, em presença da intensidade da carga (segundo a tabela 1, o peso da barra
poderia ser estimado como: 0,60 x 103 kg/m3 x 9,81m/s2 x 2,0 x (0,070)2m3 = 57,68N).

Deixa-se como exercício, demonstrar que, para uma

barra prismática, suspensa por uma das extremidades e

pendendo na vertical sob a ação de seu próprio peso, a tensão

máxima, ocorrente na parte superior onde é fixada, independe

das dimensões da seção, sendo diretamente proporcional a seu


lo
comprimento. Além disso, a elongação total sofrida equivale

à metade daquela a que uma barra de mesmas dimensões

sofreria se lhe fosse aplicada uma força igual a seu peso na

extremidade livre.

Fica também como exercício calcular, por


integração, a elongação sofrida por uma barra em
L forma de um cone (admitindo-se que seja uma peça
longa, de pequena conicidade, para a qual se
Fig. 27 – Ação do peso próprio (exemplos) pudesse supor uniforme a distribuição das tensões
nos diversos pontos da seção).

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2.4 – PROBLEMAS ESTATICAMENTE INDETERMINADOS


A possibilidade de se determinar as deformações sofridas pelas barras
carregadas axialmente permitirá a solução de problemas que, por redundância de
vinculação, se tornam hiperestáticos (ou seja, aqueles para os quais as equações da
Estática são numericamente insuficientes para a determinação dos esforços
vinculares).
Assim é que, por exemplo, para a barra bi-engastada representada na Fig. 28, a equação da
Estática disponível nos fornece, tão somente:
R1 + R2 = P ...................................................... (a),
podendo-se presumir que o trecho (1) estará comprimido, e o trecho (2) tracionado.

P/2
R1 R2
A1 ; E1 A2 ; E2

P/2
L1 L2
+ R2

R1 -

Fig. 28 – Barra bi-engastada. Problema estaticamente indeterminado.

O levantamento da indeterminação pode ser feito de duas maneiras:


A) pela compatibilidade das deslocamentos (deformações): |δ1 |=|δ2 |, δ =RL/EA
Como a manutenção da integridade da barra implica em que a diminuição do
comprimento do trecho (1) deva ser exatamente igual ao aumento do comprimento do
trecho (2), poderemos escrever:
R2 x L2 / E2 x A2 = R1 x L1 / E1 x A1 ............................................................(b),
que, combinada com (a), forma um sistema de equações que permite calcular os valores de R1 e R2.
B) pela superposição dos efeitos:
Supondo que o apoio da direita fosse retirado, a barra (1) ficaria submetida a um esforço de
compressão de valor P, diminuindo seu comprimento no valor δ1 = P L1 / E1 A1. A barra (2) seria
arrastada, deslocando-se por translação, em igual valor. A força R2 necessária para tracionar a barra
(2), para que a sua extremidade da direita volte a tocar o apoio da direita (retornando ao status real),
teria que ser tal que o deslocamento para a esquerda δ1 = P L1 / E1 A1teria quer ser compensado por
um deslocamento para a direita δ2 = δ1,2+ δ2,2 tal que δ1,2 é o deslocamento em 1 provocado pela
reação 2 e δ2,2 é o deslocamento em 2 provocado pela reação 2. Assim:
-δ1 + δ1,2+ δ2,2 = 0 e δ1,2+ δ2,2 = δ1 e como δ =RL/EA
R2 x L1 / E1 x A1 + R2 x L2 / E2 x A2 = P L1 / E1 A1..............................................(b’)
Nas duas alternativas para solução obteremos:

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R1 = [E1 A1 L2 / (E2 A2 L1 + E1 A1 L2 )] P e R2 = [E2 A2 L1 / (E1 A1 L2 + E2 A2 L1 )] P


que, para o caso especial em que E1 = E2, L1 = L2 e A1 = A2, (simetria completa) se converte em
R1 = R2 = P/2.
Observação: inicialmente, pode parecer que a segunda maneira de raciocinar seja mais complicada
que a primeira. Isto realmente ocorre neste exemplo. Há casos, ao contrário, em que o uso da superposição
dos efeitos se mostra mais apropriado que o da compatibilidade de deslocamentos.

Como segundo exemplo de aplicação, seja determinar as tensões de tração nos


cabos de sustentação da barra rígida ABC esquematizada na figura 29.

3,5m

Solução
As equações da Estática nos dão:

Fx = 0 (3/5) C = Ax 300mm2 200mm2


Fy = 0 Ay + B + (4/5) C = 12 (kN) 70GPa 210GPa
2,0m 12 kN
MA = 0 12 x 3 =B x 2 + (4/5)Cx4

e, portanto, trata-se de um problema A B C


hiperestático (o nº de incógnitas é maior
que o n° de equações da Estática
disponíveis), podendo-se escrever:
2,0m 1,0m 1,0m
5B + 8C = 90 (kN) .................... (a)
3
A suposição de que a barra ABC 1,2 kN 5
4
permanece rígida enquanto os cabos de
sustentação se alongam, nos permite
escrever (pela compatibilidade dos Ax B C
pequenos deslocamentos ocorrentes):

B/ 2 = C / 4 e C = 2 B Ay

Mas o deslocamento vertical do ponto B


(B) é a própria elongação do tirante B
B C
(LB) enquanto que o deslocamento vertical
da extremidade C da barra pode ser
decomposto: numa parte que alonga o
tirante C (o LC) e outra que o faz girar. LC C
Como, pelo ângulo de inclinação do cabo,
se tem (LC = (4/5) C, podemos escrever:

2 LB = (5/4) LC e portanto:

2[(B x 2,0)/70x109 x 300x10-6 ] =


= (5/4)[ (C x 2,5)/210x109 x 200x10-6]

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Obtendo-se: C =2,56 B, o que, combinado com (a), nos permite calcular: B = 4,190 kN e C = 10,73
kN.
Ax = (3/5) x 10,73 = 6,436 kN e Ay = - 0,774 kN e [A] = [(6,436)2 + (-0,774)2]1/2 = 6,48 kN (força
no pino A). As tensões pedidas valerão: B = 4,19x103/300x10-6 = 14,0 MPa e C =
10,73x103/200x10-6 = 53,7 MPa.
2.5 – INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA – Tensões térmicas e de montagem.
Como é sabido, as dimensões dos corpos sofrem alterações em função da variação de
temperatura. A propriedade física que estabelece a relação de proporcionalidade, observada
experimentalmente, entre a variação da dimensão longitudinal de uma peça e a variação de
temperatura correspondente é o denominado coeficiente de dilatação térmica linear (dado
pela expressão: 
LT = Lo T ..................... (2.2) sendo  medido em ºC-1.

A tabela 1 anteriormente apresentada relaciona os valores do coeficiente de dilatação


térmica dos materiais lá listados, destacando-se que, para o aço, aço = 12 x 10-6 °C-1.
O espaçamento entre os trilhos das ferrovias, ou entre os tabuleiros das pontes
rodoviárias, como também a colocação de juntas de expansão em canalizações de instalações
a vapor, são exemplos de providências adotadas na construção civil e mecânica objetivando
eliminar as chamadas tensões térmicas decorrentes de um impedimento para a expansão dos
materiais, decorrentes de variações de temperatura a que foram submetidos. São também
freqüentes os casos nos quais, para a montagem de peças com interferência (como luvas em
eixos, revestimentos, mancais etc) é provocada uma alteração de temperatura para
compatibilizar as dimensões e viabilizar o acoplamento das partes, após o que, com o retorno
à temperatura original, aparecem as chamadas tensões de montagem.
Exemplo 1 - Imagine uma barra reta, de comprimento Lo, área de seção Ao, material
com módulo de elasticidade longitudinal E e coeficiente de dilatação térmica 
montada, sem interferência, em um reparo fixo, indeformável, com a mesma extensão Lo.
Suponha que tal peça, depois de montada, sofresse um acréscimo de temperatura T. A
peça, impedida de se expandir, ficará submetida a esforços de compressão. A equação da
Estática disponível para a análise do caso apenas nos indicará que a força normal N que
comprime uma das extremidades será igual e oposta àquela que atua na outra. Trata-se de um
problema hiperestático.
Supondo que a barra fosse liberada de seus vínculos e submetida à
uma variação de temperatura T, aumentaria o seu comprimento
em LT =  Lo T. Supondo agora que a barra dilatada fosse
comprimida mecanicamente pelas extremidades, de forma a retornar a
seu comprimento original teríamos: LM = N Lo / E Ao , o que
permitiria refazer a montagem. Igualando as elongações (térmica e
L mecânica) obtemos:  = N/A = E T (independe das dimensões
N
da barra). Uma peça de aço, impedida de se deformar e sofrendo
um acréscimo de 100°C, apresentará tensões térmicas de valor = 12
x 10-6 x 210x109 x 100 = 252 x 106 N/m2 = 252 MPa (ver tabela
1~tensão de escoamento).

Fig. 30 – Exemplo 1 – Tensões térmicas.


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Exemplo 2
O parafuso de Latão (E = 105 GPa Tubo de Parafuso de
Latão
e  = 20 x 10-6 ºC-1) é colocado Alumínio D=18mm
dentro de um tubo de alumínio (E =  = 10
70 GPa e  = 24 x 10-6 ºC-1) com as d=12
dimensões assinaladas e montado
sem tensões prévias.
Calcule as tensões normais
despertadas no parafuso e no
tubo considerando:
400 mm
a) ; que se dê um acréscimo de
160ºC na temperatura do conjunto
Porca Arruela
b) que se dê um aperto à porca, Passo = 2 mm
com um quarto de volta; Fig. 31 – Tensões térmicas e de montagem
c) que as duas condições anteriores
sejam promovidas
concomitantemente.

Solução – (a) Ao ser promovido o acréscimo de 160°C na temperatura do conjunto, as


duas peças terão tendência a aumentar seus comprimentos. Se estivessem livres para se
expandir, ao final, ficariam com seus comprimentos diferentes (Ltubo > Lparafuso ). Para
a montagem, o tubo ficará comprimido enquanto o parafuso tracionado. O princípio da
ação e reação, combinado com o equilíbrio de forças nas arruelas, implicará em que a
força normal N de compressão no tubo será igual à força normal N de tração no
parafuso (como se vê, trata-se de um problema hiperestático). O levantamento da
indeterminação será feito pela análise da compatibilidade de deslocamentos
(deformações).
LTtubo
LTparaf

LMparaf LMtubo

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A figura acima mostra que tal compatibilidade de deslocamentos fica configurada no

fato de que, ao final, os comprimentos das duas peças será o mesmo, tal que:

[(L)Térmico]parafuso + [(L)Mecânico]parafuso = [(L)Térmico]Tubo - [(L)Mecânico]Tubo.

Portanto: 20x10-6 x0,4x160 + N(0,4)/105x109x((10)2x10-6=

= 24x10-6x0,4x160 – N(0,4)/70x109x(/4)(182-122)x10-6

e N = 2.879N. As tensões pedidas valerão:

Tubo 2.879/4)(182 – 122)x10-6 = 20,4 MPa (C)

Paraf = 2.879/(/4)(10)2x10-6 = 36,7 MPa (T)

(b) – Imaginando que o aperto dado à porca fosse feito com o tubo desmontado, o

comprimento do parafuso seria reduzido de (1/4) x 2 = 0,5mm. Para a montagem, o

parafuso teria que ser tracionado, enquanto o tubo comprimido (como no caso anterior).

Da mesma forma poderemos escrever:

Lparafuso]tração+ [LTubo]compressão = 0,5 mm e

N(0,4)/105x109x(/4)(10)2 x10-6 + N(0,4)/70x109x(/4)(182–122)x10-6 =

0,5 x 10-3.

N = 5.623N;Tubo 5623/4)(182 – 122)x10-6 = 39,8 MPa (C)

Paraf = 5623/(/4)(10)2x10-6 = 71,7 MPa (T)

(c) – Por simples superposição dos efeitos teremos:

Tubo 60,2 MPa(C) e: Parafuso 108 MPa(T)

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