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Para acolher é preciso, primeiramente, estar bem e ter sido acolhido. Isso pode parecer óbvio, mas
ainda não é algo que acontece na prática em diversas situações, inclusive no contexto escolar. As
ansiedades, inseguranças e medos do biênio pandêmico (2020-2021) deixaram consequências não
apenas nas aprendizagens, mas também no emocional de toda a comunidade escolar. A covid-19 foi
muito dura com os professores, que viveram tanto os impactos da pandemia na suas vidas pessoais,
como foram desafiados profissionalmente a se adaptar ao ensino remoto. Toda essa carga emocional
não pode ser ignorada.
“Não adianta cobrar algo de um profissional que não está bem, por isso é fundamental trabalhar o
emocional e acolher o professor com carinho e atenção para que ele dê seu melhor”, afirma Bruna
Santos da Silva, diretora da Escola de Educação Infantil e Fundamental Francisco Nemesio Cordeiro,
em Tianguá (CE).
Assim, no início de 2022, antes de pensar no planejamento pedagógico e no acolhimento dos alunos, é
preciso olhar para o bem-estar dos professores.
“Eles deram um show, se reinventaram. Não foi e nem está sendo fácil, mas eles são vitoriosos. Por
isso, este começo de ano precisa ser um incentivo [para motivar a equipe]”, resume Cynthia Feliz,
coordenadora pedagógica da Escola Estadual Professor Suetônio Bittencourt Jr, em Santos (SP).
Esse tipo de prática deve, ainda, fazer parte da rotina escolar ao longo do ano. “Deve ser uma diretriz e
não uma ação pontual”, explica Silvia Breim, coordenadora de conteúdo e formadora da plataforma
Vivescer, iniciativa do Instituto Península, que desenvolveu material com orientações para
acolhimento dos educadores. Nesse aspecto, entra o papel da equipe gestora de garantir momentos da
rotina dedicados à escuta e ao diálogo.
Além de ser uma ação regular, é preciso garantir condições que propiciem a externalização das
vulnerabilidades e a empatia. “Para falar como se sente, o professor precisa ter um espaço que
favoreça o diálogo”, diz Angela Luiz Lopes, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa
Cedac. A instituição deve ser vista como um lugar seguro não apenas para expressar as emoções, mas
também em relação ao cumprimento dos protocolos de biossegurança — considerando que ainda
vivemos uma pandemia. Essa discussão deve ser realizada para entender as inseguranças dos
educadores e pensar em como apoiá-los para sanar esses receios.
A coordenadora pedagógica Cynthia conta que a gestão fica à disposição dos professores — e,
realmente, é procurada. “Mantemos horários para conversar, pensar projetos [e a prática docente] e
alinhar e compartilhar ideias”. Ela diz que esses momentos também são utilizados para pensar o
projeto de vida de cada educador. “Pelo menos uma vez por semestre, temos esse momento de
estabelecer metas pessoais para o professor e checar como ele está”, complementa.
Esse olhar cuidadoso para os professores, durante todo o ano, também orienta o trabalho na EEIF
Francisco Nemesio Cordeiro, em Tianguá (CE). “Por ser uma escola de zona rural, os professores
viajam para chegar até ela. Se ele faz esse sacrifício, a gestão precisa recebê-lo bem”, conclui a
diretora Bruna. “Eu quero garantir um bom ambiente e dar as condições [e suporte] de trabalho. Por
exemplo, eu nunca imponho o que os professores devem fazer, sempre pergunto. Esse diálogo e a
forma de falar são caminhos para manter um bom clima na escola.”
Para o início deste ano letivo, está prevista uma tarde descontraída. “Teremos um café da tarde com
música, algumas brincadeiras e um momento para conversar e refletir”, explica. Entre as brincadeiras,
ela destaca uma envolvendo balões. Cada professor terá a missão de não deixar o seu cair. Quem
derrubar, sai da brincadeira, e um colega tem que cuidar da bexiga de quem foi eliminado. “Tem um
momento que uma pessoa vai ficar com todos os balões e não vai dar conta”, antecipa. A ideia é
utilizar a atividade lúdica para mostrar a importância do trabalho em equipe e a necessidade de ter esse
apoio do coletivo.
Ellen ressalta que é fundamental garantir no início do ano um momento coletivo com a equipe para
analisar e levantar ações para atender às demandas. “[O acolhimento] deve motivar os professores a
estarem juntos e mostrar que a escola também é deles. Faremos uma recepção alegre, com a energia
que queremos trabalhar durante todo o ano”.
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Já na Escola Municipal Itaubal, em Tartarugalzinho (AP), o acolhimento dos professores será realizado
a partir da exibição de um vídeo de sensibilização. “Estamos montando um vídeo com depoimentos
das crianças, com suas expectativas sobre a sala aula e os professores”, conta Jeane Gurjão, diretora da
instituição.
Essa apresentação servirá para introduzir uma reflexão e trocas de percepções sobre a importância do
trabalho docente, o que deu certo no ano anterior e o que fazer para oferecer o melhor aos estudantes.
Além disso, haverá uma dinâmica para estimular a colaboração entre os professores. A diretora
também está planejando um momento de descontração com a exibição de outro vídeo dos alunos.
“Fazer uma paródia dos professores, trazendo algo que deu errado ou que foi engraçado como forma
de estimular a aprendizagem com os erros”, compartilha.
Outras ideias para fazer o acolhimento
Especialista do CEDAC dá sugestões de como receber os professores
Outra estratégia, como a proposta pela diretora Jeane, é ler textos curtos ou trechos
de produções literárias, exibir vídeos ou filmes ou levar outro tipo de produção
artística para sensibilizar a equipe e dar início a uma discussão. Esse tipo de
abordagem colabora para o fortalecimento dos vínculos entre as pessoas e pode
gerar uma maior abertura ao diálogo.
Para a gestora, esse momento inicial será fundamental para motivar os educadores para que acreditem
e "vistam a camisa" da escola. “Nossa preocupação é que o professor não se sinta sozinho, mas
acolhido e apoiado.”
A diretora planeja conversas individuais com cada educador, dinâmicas de apresentação e integração
entre a equipe e momentos coletivos de troca e escuta. “Queremos acolher, sensibilizar [sobre os
desafios e a importância do trabalho que está sendo realizado pela escola, que se localiza em uma
região periférica] e ouvir os sonhos uns dos outros”, relata. Ela compartilhou perguntas que gosta de
fazer para conhecer quem está entrando na escola — e que também podem ser utilizadas para se
aproximar da equipe.
- Qual é sua trajetória? Esta pergunta é especial para quem está chegando. Auxilia a conhecer a
história do educador e saber há quanto tempo está na docência, além de seus gostos e interesses.
- Qual é seu sonho para a escola?
- Qual é sua maior habilidade?
- Qual é o seu maior desafio? Como a equipe gestora pode ajudá-lo?
- O que espera da gestão escolar?
“Se o gestor se coloca à disposição dos professores e transmite essa afetividade e respeito, o professor
começa a refletir isso na sua prática de sala de aula também”, finaliza a diretora.
Diferentes níveis de escuta
Não basta abrir espaço para conversar; é preciso refinar a prática
Nível 1 - Escuta habitual (ou downloading): a pessoa não está aberta a receber
novas informações ou mudar suas percepções. O foco não está em quem fala.
Nível 2 - Escuta objetiva ou factual: há uma certa abertura, mas apenas para
concordar ou discordar.
Nível 3 - Escuta empática: gera-se uma conexão emocional com quem fala.
Sair de um nível para outro é um exercício que pode ser realizado coletivamente
pela equipe. O curso gratuito Jornada Emoções, desenvolvido pelo Vivescer, trata
desses conceitos e traz caminhos para desenvolver o trabalho na escola e para os
professores fazerem o mesmo em sala de aula.
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