Sempre soube que escrevo para poucos, muito poucos. A imensa maioria dos
agentes políticos ao criticarem os mecanismos de manipulação das massas o fazem
porque os adversários os tem de melhor qualidade ou eficiência e desejariam – em
alguns casos de forma muito mal disfarçada – que eles tivessem nas mãos aquela
máquina de ganhar eleições. Assim o leitor de boa-fé não terá dificuldade de entender
que se um lado da disputa é mencionado mais do que os outros isto se deve à utilização
concreta e com resultados efetivos.
Não é esta avaliação de Tocqueville o nosso problema central hoje, mas a frase
dele também descreve o nosso dilema de um centro altamente racional – ainda que de
uma Razão Instrumental que tem pouca consideração com questões éticas – frente a
uma população crescentemente privada de sua racionalidade que a faz humana e cidadã
e progressivamente transformada em uma massa guiada pelos seus mais baixos instintos
de ódio, medo, ganância.
Empatia foi produto escasso nesta eleição, em especial nas redes sociais. Se ela é
uma trava profunda do nosso instinto de sobrevivência, o qual depende
fundamentalmente da nossa capacidade de socializar e trabalhar em conjunto - como
acreditam filósofos, cientistas e religiosos – então a profundidade e escuridão das
forças despertadas pelas máquinas de ganhar eleições foram subestimadas até pelos
analistas mais catastróficos. É evidente que até o apelo à empatia pode ser manipulado
também por técnicas avançadas, mas mesmo esta manipulação não tem o mesmo efeito
nefasto sorbe a nossa humanidade quanto o abrir os porões negros da nossa consciência.