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A Filosofia Política

A FILOSOFIA POLÍTICA

1.1. Politica

A palavra política vem do termo grego Polis - cidade1 e etimologicamente significa a arte de administrar, governar
cidade. Aristóteles também define a política como a arte de governar, ou ciência do governo e concebe o homem como
um animal político.

De uma forma geral, a política pode ser definida como um conjunto de acções que um grupo de pessoas, governantes
exerce para resolução dos problemas de uma certa colectividade humana ou a política pode ser o poder de alguns
homens exercido sobre os outros, tendo como finalidade a promoção do bem comum, da ordem pública, da justiça, da
harmonia e do equilíbrio social. A política é uma actividade ou práxis indispensável na vida humana, pois permite ao
homem uma melhor organização e controlo social.

A política enquanto necessidade humana tem a finalidade de discernir os fins sociais considerados prioritários para a
sociedade. No entanto, este fim é condicionado pelas circunstâncias do momento, em detrimento do bem do estado e do
cidadão, ou seja, o fim da política não é fixo ou estático.

1.2. Poder

Segundo Hobbes o poder é um conjunto de meios adequados orientados à obtenção de qualquer vantagem.

Para Russell, o poder é um conjunto de meios que permitem o alcance dos efeitos desejados, ou relação entre dois
sujeitos em que um impõe no outro a sua própria vontade e lhe determina o querer.

Norberto Bobbio distingue três formas de poder: económico, ideológico e político (este poder é exercido geralmente
recorrendo-se ao uso de força, persuasão e coerção).

O problema da discussão política diz respeito à origem do Estado, a sua estrutura, a função, a finalidade; a melhor
forma de governo, a natureza da acção politica e a relações entre acção política e a acção moral e a relação entre o
estado e individuo, o cidadão; igreja e os partidos.

1.3. A ciência política

A ciência que estuda a política designa-se por ciência política. Ela procura fazer um estudo sistemático sobre o facto
político.

Segundo Bobbio a ciência política é um conjunto de tentativas que vem sendo feitas com maior ou menor sucesso, mas
tendo em vista uma gradual acumulação de resultados e promoção do estudo da política como ciência empírica
rigorosamente compreendida.

1.4. A filosofia política

1
Concretamente república na antiga Grécia – designando uma organização, regime político, a constituição de uma cidade soberana, de uma
comunidade ou estado com individualidade e autonomia própria.

Por Docente EAHuo 1


A Filosofia Política

A filosofia política é o estudo dos princípios gerais da política e idealização da melhor forma do exercício político em
cada época histórica, valendo-se das circunstâncias sociopolíticas. Questões para reflexão2

1.5. A Filosofia Política e a sua Relação com a Política

Tomando como ponto de partida o facto de filosofia ser uma ciência do geral, que investiga o todo, isto é, a totalidade
do real, chega implicitamente à ilação de que a política faz parte do objecto da análise filosófica. Portanto, a filosofia
política é um ramo de filosofia procura analisar os fundamentos últimos da política ou o que legitima uma acção
política.

A relação que existe entre a filosofia e política é, por um lado, positiva e, por outro lado, polémica. Na relação positiva
a filosofia procura esclarecer os conceitos inerentes a política, como a justiça, a tolerância, o bem comum, o Estado, a
Sociedade, e bem como o próprio conceito da politica; e reflectir sobre a questão da liberdade necessária para coesão
social e o equilíbrio na divisão de poderes. Portanto, a decisões políticas devem ter como base as reflexões filosóficas
antecipadas sobre o assunto.

E na relação polémica, a filosofia perturba os governantes, porque ela analisa criticamente a sociedade e acção política,
e propõe soluções dos problemas sociais e, muitas das vezes, não vão de encontro com os interesses dos governantes.
Por isso, o filósofo não é bem-vindo aos governantes, consideram-no perturbador da tranquilidade social, porque
segundo Lévy, o filósofo fala, e aquilo que ele anuncia hoje é a crença de amanha.

Por ex. Sócrates3 foi obrigado a tomar cicuta4, acusado de corromper a juventude e perturbar a ordem social. Por isso,
para Platão, discípulo de Sócrates, o Estado ou república deve ser governado por filósofo - rei filósofo, pois ele é
adotado da inteligência política, génio e sabedoria para melhor governar o povo.

Em suma, podemos dizer que a relação que há entre a filosofia política e política é analógica à da ética e moral, isto
porque a filosofia política é reflexão sobre a política.

1.6. Relação entre a ética e a política

A ética constitui uma área de filosofia que se dedica a reflexão sobre a forma como o homem deve viver na sociedade
em que está inserido, ou seja, é a reflexão sobre a moral - um conjunto de normas, regras que regem a conduta, o
comportamento do indivíduo no seio social.

Portanto, segundo Bobbio, a política e a moral possuem o mesmo campo ou domínio de actuação, o de acção ou praxis
humana; no entanto, diferem-se nos princípios ou critérios usados para a justificação e avaliação das respectivas acções:
o que é obrigatório na moral pode não ser na política, o que é lícito na política pode na ser na moral, em suma, pode a
haver acções morais apolíticas e acções políticas imorais 5 ou amorais6.

2
Porque se diz que não se pode viver sem a política? Qual é o fim último da política? Contrasta a sua resposta com a realidade da política vigente
nos governos actuais. Destaca as duas vertentes em que vista a relação entre a filosofia e política. Aponte as razões possíveis sobre a vertente
polémica. Apoiando-se na vertente positiva, destrince a função da filosofia na política.

3
Filosofo grego, conhecida através das suas máximas “eu só sei que nada sei” e “conheça-te a te mesmo”.
4
Um suco extraído em ervas ou plantas típicas de zonas temperadas do hemisfério norte, ricas em conicina, um dos venenos mais letais que
existem, muito usado na Grécia antiga para executar condenados, cicuta é um tipo de veneno.

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Contudo, o que se deve notar é isto: a acção política deve basear-se em princípios morais, isto é, na ética e é quase
impossível estabelecer uma separação do problema da constituição da comunidade política da determinação de certos
fins éticos como a busca dos ideais da justiça, da felicidade (que é um bem todos aspiram). Exercícios7

1.7. Estado/ Nação

A política implica poder, e o poder é exercido numa determinada Sociedade ou Estado, na sua complexidade, pois,
envolve os conceitos do governo. Deste modo, torna imperiosa a análise dos tais conceitos: Sociedade, Estado,
Governo, Governantes, Nação, Constituição, etc.

i. Sociedade – no sentido técnico, é uma entidade criada por um ato da vontade colectiva dos interessados,
com vistas a um objectivo comum e com a finalidade de obter vantagens ou um fim lucrativo. Cada sócio se
compromete a destinar à disposição dos demais, um património formado por dinheiro, bens ou indústria,
com a intenção de participar nos ganhos. Existem várias classes de sociedades. Em primeiro lugar, há a
distinção entre as sociedades civil e comerciais que, se diferenciam em função de seu objecto; dentro desta
última se fala em sociedade colectiva, comanditária, anónima e de responsabilidade limitada.

ii. Estado – é organismo político administrativo que ocupa um território determinado, dirigido por um
governo próprio e constitui-se como pessoa jurídica de direito internacionalmente reconhecida. Ou ainda,
pode ser um conjunto de todos os elementos que envolvem uma sociedade organizada: população, território,
poder soberano – direito exclusivo que o estado tem sobre si mesmo.

iii. Governo – é a acção de dirigir um estado; um conjunto de pessoas que detém cargos oficiais e exercem
autoridade em nome do Estado, e que lhe foi conferido pelo povo – no caso comum da democracia. Os
governos mudam, mas o Estado mantém-se. O governo é exercido de acordo com a constituição desse
Estado. O Estado é constituído por seguintes: governantes, governados, constituição, soberania 8 e símbolos
nacionais.

iv. Nação é a comunidade natural de homens que habitam num determinado território e que possuem em
comum os elementos essenciais para a constituição de nacionalidade: a tradição e cultura, costumes e
língua; a origem e raça; e que estão conscientes desses factos. Uma nação, normalmente é formada por
diversos povos e culturas. Ex. Moçambique, Itália…

5
Contrário à moral, às regras de conduta vigentes em dada época ou sociedade ou ainda àquelas que um indivíduo estabelece para si próprio; falto
de moralidade; indecoroso, vergonhoso.

6
Moralmente neutro (nem moral, nem imoral); que não leva em consideração preceitos morais; estranho à moral; ou que se mantém exterior ao
julgamento ou qualificação moral, como, p.ex., o animal irracional ou, em circunstâncias frequentes, a infância ou a loucura, em contraste ao
carácter consciente e reflectido da imoralidade.

7
1. Distinga a relação existente entre a política e a ética. Justifica. 2. Explica porque é que a política deve ter como base da sua acção os princípios
morais, ou seja, a ética.

8
Autonomia política que uma governos tem de se autogovernar-se; auto-suficiência.

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v. Constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o relacionamento de todos elementos pertencentes a
um mesmo Estado: indivíduos, instituições, relações de poder; propriedade, etc. A constituição é
considerada a lei - mãe de uma nação da qual derivam todas as outras leis particulares: A Lei de trabalho, A
Lei da família, etc. A função de constituição é de traçar os princípios ideológicos da organização interna de
Estado. A mudança da constituição implica a mudança do Estado ou governo e vice-versa.

1.8. A participação política dos cidadãos

Segundo Pasquino, a participação política é um conjunto de actos e de atitudes que aspiram influenciar de forma mais
ou menos directo e legal as decisões dos detentores de poder no sistema político ou de organizações políticas
particulares, bem como a própria escolha daqueles que devem deter o poder, com o propósito de manter ou modificar a
estrutura do sistema de interesses dominantes.

O problema político é inerente a toda sociedade, sendo a sociedade constituída por cidadãos ou indivíduos, é obrigação
destes, participarem nos eventos de interesses do estado, contribuindo com ideias sobre as decisões a serem tomadas
para o bom funcionamento do Estado: em debates públicas, participando nas votações eleitorais, etc.

Jurgem Habermas considera o espaço público como um lugar onde os cidadãos discutem ideias inerentes ao bom
funcionamento da sociedade.

Em Moçambique a participação dos cidadãos na governação local é regulada pela lei n o8/2003 de 19/05, a lei dos órgãos
locais do Estado (LOLE), que dá a liberdade de participar na vida política através de criação partidos políticos 9.
Portanto, a participação politica é o acto de influencia o poder político, e quando o cidadão, participa da esfera política,
toma parte nas decisões que dizem respeito à sua vida quotidiana.

1.9. Os direitos humanos e justiça social

Os direitos humanos são conjuntos de princípios essenciais à existência humana condigna que apelam ao
reconhecimento mútuo entre os homens, enquanto seres de direitos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos adoptada pela ONU a 10 de Dezembro 1948, e teve John Peters
Humphrey como principal actor em colaboração com os outros pensadores dos EUA, Franca, China, Líbano, etc.

Esta declaração foi uma iniciativa universal, tendente a maximizar o tratamento mútuo digno entre os homens,
considerando-o como um ser com direitos inalienáveis e fundamentais, como direito a vida, a inviolabilidade da sua
dignidade: física e psicológica, etc.

Esta Declaração é tida como um ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas nações, com objectivo de cada
indivíduo e órgão da sociedade, através do ensino e da educação promova o respeito pelos direitos das liberdades
individuais e do reconhecimento da observância universal (a nível nacional e internacional) e efectiva desses direitos.

9
É um conjunto ou agrupamento de indivíduos unidos por ideias e actividades comuns, com vista a consecução de certos fins políticos ou à eleição
de funcionários para o estado, quer se trate de órgãos para o governo central ou para autarquias locais.

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A justiça social está ligada aos direitos humanos e diz respeito à igualdade entre todos os cidadãos e ao direito de
respeito pelos direitos de cada cidadão.

1.10. ESTADO DE DIREITO E A SUAS FUNÇÕES


a) O Estado de direito

O Estado direito corresponde aos Estados onde os membros dos mesmos estão todos sob autoridade da mesma lei, ou
seja, onde a lei prevalece sobre todos os indivíduos; uma sociedade onde ninguém está acima da lei e a lei reina sobre
todos os indivíduos.

O Estado de direito visa reconciliar a política e o direito, e segundo Cabral de Moncada, o direito tem de passar a servir
a política, mas também a política tem de ser limitada pelo direito. Portanto, no Estado de direito o poder não só deve ser
fundamentado no direito como também deve estar externa e internamente, limitado pelo mesmo direito.

b) A função do Estado

De um modo geral, o Estado deve ser capaz de velar pela segurança, pela justiça e pelo bem-estar dos cidadãos. A
função do Estado divide-se em duas partes:

i. Funções jurídicas que correspondem, por um lado, a criação do direito ou da legislação – função legislativa, e
por outro lado, fazer cumprir as respectivas normas tanto pelo governo como pelos cidadãos – função
executiva;

ii. Funções não jurídicas - dividem-se em função política que correspondem à escolha de meios de “produção”
para o bem comum e em função técnica que cinge-se na produção de bens e prestação de serviços.

2. O PERCURSO DA FILOSOFIA POLÍTICA


2.1. A Filosofia Política na Antiguidade: Platão e Aristóteles

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O problema fortemente discutido nos primórdios da filosofia foi o elemento, o princípio primordial (arché) de todas as
coisas. E foi através os Sofistas que iniciou a viragem das reflexões cosmológicas para antropológicas ou
antropocêntricas, e as questões da moral e da política passaram a ocupar o centro das reflexões filosóficas.

Na política, os sofistas elaboram e legitimaram o ideal democrático. A virtude 10 defendida era a justiça 11. Todo o
cidadão12 da polis devia tinha o direito de participar directa e activamente na vida política da polis, e para tal foi criada
uma educação especifica capaz de satisfazer os ideais do homem da polis, que superava a educação anterior, a elitista. O
curriculum desta nova educação era circunscrito em gramática, retórica e dialéctica. Por isso, os sofistas mereceram o
título de ser sistematizador de ensino.

2.1.1. Platão

Platão (428- 347 a.C.), filósofo grego, um dos pensadores mais criativos e influentes da filosofia ocidental, descendente
de uma família aristocrática, discípulo de Sócrates, aceitou sua filosofia e sua forma dialéctica de debate. No ano de 387
a.C., fundou em Atenas a Academia que Aristóteles frequentaria como aluno.

Platão discute o seu pensamento político nas suas duas obras: A República e O político e as leis. Na República, ele
apresenta a utopia de uma Estado ideal, além de ser considerada a própria de utopia - que etimologicamente significa
“em nenhum lugar”. Aqui, Platão idealiza uma cidade que não existe, mas que deve ser modelo do bom governo de
cidades terrenas: a cidade ideal. Nesta obra, ele afirma que o bom governo depende da virtude dos governantes.

O problema político em Platão envolve quatro aspectos: origem do estado, classes sociais, formas de governos e
idealismo ou comunismo.

a) A origem de Estado

Para Platão, o Estado tem a origem convencial. O Estado emerge do facto de o Homem não se bastar a si mesmo ou de
não ser auto-suficiente. O homem para satisfazer todas as suas necessidades precisa do outro. Um homem não pode ao
mesmo tempo ser professor, aluno, médico, motorista, etc. Cada um tem a sua área de aplicação, dai que, precisa do
outro para complementá-lo.

b) Comunismo ou idealismo

Platão concebe ou idealiza um Estado comunista, onde todas as crianças até aos vinte anos devem receber a mesma
educação e ser criadas pelo Estado. Nesta fase são identificadas os três metais ou almas (de bronze, de prata e de ouro)
segundo a inclinação de cada criança, correspondente a três classes sociais: alma de bronze com a virtude de
temperança, para ser agricultores, artesãos e comerciantes; alma de prata com a virtude de coragem para ser guerreiros
ou guardas, e alma de ouro com a virtude de prudência para ser magistrados e governantes.

10
No platonismo e aristotelismo, propriedade inerente à particularidade de um determinado ser, como característica própria e definidora, cuja
realização consuma a excelência ou perfeição deste ser [Aplicada à condição humana, tal definição indica que cada indivíduo possui uma virtude
própria, condizente com sua natureza inata e seu papel social. No aristotelismo, disposição de comportamento adquirida por meio da vontade e do
hábito, e que se caracteriza por buscar o equilíbrio, a justa medida na experiência dos afetos, em oposição a paixões extremas e descontroladas. No
epicurismo, empirismo e utilitarismo, capacidade prudencial e estratégica de conduzir a ação de tal forma a intensificar os prazeres e minimizar as
dores. No cristianismo agostinista, disposição para o amor, compreendida como a essência e finalidade suprema do espírito humano.
11
Qualidade de dar a cada um o que lhe devido
12
Considerava-se todos os homens livres com idade não inferiores a 18 anos, excluindo mulheres, crianças e escravos.

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c) A organização da sociedade do Estado platónico

A sociedade na república de Platão deve estar dividida em três classes sociais correspondentes a três metais: dos
trabalhadores (camponeses, comerciantes e artesãos), Guardas (soldados) e Governantes (magistrados). A justiça em
Platão consiste em cada um ser fiel a sua profissão, ou manter-se executivo na sua classe e, é a principal virtude num
Estado.

d) Formas de Governo

Para Platão, a polis deve ser governado por um rei-filosofo, porque está habilitado a governar de acordo com a justiça e
preservar a unidade, e deve subir ao poder a partir dos 50 anos.

A melhor forma de governo para Platão é a monarquia sob comando de um filosofo-rei e a pior forma de governo é
democracia, porque o poder nas mãos do povo, sem o conhecimento da ciência política, facilita através da demagogia o
aparecimento da tirania. Ou, seja, o melhor sistema político é o sofocrático (filosofo-rei).

2.1.2. Aristóteles

Aristóteles (384-322 a.C.), filósofo e cientista grego. Estudou em Atenas, na Academia de Platão. Foi tutor de
Alexandre III o Grande. Em Atenas, inaugurou o Liceu, que chegou a ser conhecido como escola peripatética. Sua
filosofia se baseia na biologia, no empirismo e no formalismo ou dedução racional

Aristóteles analisou mais de 158 constituições da época, e foi crítico do seu mestre Platão, discordando com o idealismo
platónico, afirmando que a cidade é constituída por indivíduos naturalmente diferentes, impossível então uma unidade
absoluta.

Quanto a origem do estado, segundo Aristóteles é natural. Para ele, o Estado é uma criação da natureza e o homem é,
por natureza, um animal político. A base do Estado é a família e é da união das famílias que são formadas aldeias,
comunidades, sociedades e Estados. O escopo da vida humana é a felicidade e o fim último do Estado é facilitar a
consecução dessa felicidade ou bem comum humano.

As formas de governo para Aristóteles são três divididas em duas espécies rectas e corruptas:

a) Monarquia – governo de um só homem, em promoção de bem comum, e quando se corrompe transforma em


tirania – governo de um homem, dirigido para satisfação de interesses pessoais.
b) Aristocracia – o poder encontra-se nas mãos de um grupos de pessoas ou cidadãos virtuosos, exercido em prol
do bem comum de todos. A forma de governo corrupta é oligarquia, que é governo de alguns homens ricos, em
promoção do bem económico pessoal.
c) República - governo de muitos homens, um governo constituído pelo povo, que cuida do bem de toda a polis. A
forma corrompida desta, é a democracia que acontece quando o povo toma o poder e suprime todas as
diferenças sociais em nome de igualdade.

Para Aristóteles a melhor forma de governo é a monarquia porque consegue preservar a unidade do Estado. Ele foi o
primeiro filósofo a fundamentar a origem do Estado numa base racional e a sua concepção do homem como animal
político a evidenciar a concepção naturalista do Estado.

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2.2. A filosofia política na idade Media: Sto Agostinho e São Tomas de Aquino
2.2.1. Sto Agostinho de Hipona

A doutrina política de Sto Agostinho encontra-se na sua obra intitulada: A cidade de Deus e, é considerada o primeiro
tratado da filosofia e da teologia da história. Para Agostinho o mundo está dividido em duas cidades: a cidade de Deus e
a cidade Terrena. A igreja é a encarnação de cidade de Deus, e o Estado da cidade terrena.

A origem Estado para Agostinho está ligada ao pecado original. O homem depois do pecado precisa sempre do Estado
para obrigar os seus membros ao cumprimento da lei. Neste caso, a autoridade política é necessária para garantir a paz,
a justiça, a ordem e a segurança social.

Na relação da igreja com o Estado, Agostinho afirma ser a igreja superior ao Estado. Contudo, o poder político é
absoluto, uma dádiva divina, por isso, o dever do cidadão é a obediência a esse poder, e não de distinguir os bons e
maus governantes, ou formas de governo justas ou injustas.

2.2.2. São Tomas de Aquino

A obra principal na qual Aquino discute o seu pensamento é intitulada: De Regimine Principum – traduzido “Do
governo dos príncipes”. Nesta obra, ele fala sobre a origem e a natureza do Estado, formas de governo e a relação
existente entre o Estado e a Igreja.

Para Aquino a origem do Estado deve-se ao facto de o homem por natureza ser um ser social. Esta ideia aproxima-se à
de Aristóteles, e distancia-se com de Agostinho e de Platão, que a associa ao pecado original e limitações do indivíduo
respectivamente.

Para ele, o Estado é uma sociedade perfeita, porque possui os meios suficientes para proporcionar um modo de vida que
permita a todos os cidadãos ter aquilo que necessitam para a sua realização como homens. Portanto, o fim último de
Estado é o bem comum dos cidadãos.

Quanto à forma de governo, Aquino segue a linha aristotélica e toma a monarquia absoluta, como governo ideal, mas na
prática considera a monarquia constitucional como a melhor forma de governo.

Quanto à relação de Estado e Igreja, para Aquino, o Estado como uma sociedade perfeita, goza de perfeita autonomia,
contudo, sendo o fim a Igreja o bem sobrenatural, mais importante que o terreno, o seu poder é superior ao do Estado,
devendo nesta vertente, o Estado subordinar-se a Igreja.

2.3. A FILOSOFIA POLÍTICA NA IDADE MODERNA (séc. XVI e XVIII): Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes,
John Locke, Montesquieu, Rousseau,

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A era moderna resumidamente, apresenta três características fundamentais a destacar: 1) A libertação do homem das
explicações teológicas da realidade à razão; 2) a libertação do homem dos regimes ditatoriais à democracia e 3) a
liberdade do homem da dependência à natureza pela técnica.

Esta liberdade permitiu aos pensadores modernos pensar livremente sobre o real, o que ditou a pluralidade de
formulações levantadas sobre política nesta época.

2.3.1. Nicolau Maquiavel (1469 - 1527)

Maquiavel viveu na Florença, numa era do fim do império cristão e o enfraquecimento do poder político devido ao
surgimento de Estados Nacionais em quase toda a Europa, e numa Itália fragmentada em repúblicas e senhorias ou
principados e condados, cada um possuindo a sua milícia. Estes regimes tinham como aspiração a promoção da
liberdade e o bem-estar material dos cidadãos, contra o bem-estar espiritual.

Esta situação (de fragmentação de poder) em que a Itália se encontrava, a tornava propensão às invasões externas dos
seus inimigos: os franceses e os espanhóis. Maquiavel preocupado com a situação e ansioso por uma Itália unificada,
expõe na sua obra “O príncipe” escrita em 1513, a atitude e a característica ou o comportamento do príncipe, capaz de
promover um Estado forte e estável.

Para Maquiavel, o homem é mau por natureza, ele segue cegamente as suas paixões: a cobiça, o desejo de prazeres, a
preguiça, a vileza, a duplicidade e a insolência. Sendo assim, todos os homens são réus, pois são sempre maus, ou
seguem o mal.

Por isso, o príncipe da república deve se impor pelo temor, força, não através de amor, para alcançar os seus objectivos:
como a preservação da vida e dos interesses do Estado. Dai a sua máxima: os fins justificam os meios.

Critica à O Príncipe

Maquiavel afirma que um príncipe, para manter-se no poder é necessário que aprenda a ser mau, que se imponha pela
força não pelo amor. Por isso, muitos que acreditam que ele tenha sido apologista de Absolutismo e muito imoralista e,
actualmente, num senso comum, considera-se maquiavélica, toda a pessoa sem escrúpulos, traiçoeira, astuciosa que,
para alcançar os seus fins, usa todos os meios possíveis ao seu alcance, incluindo a mentira e ma-fé.

2.3.2. Filósofos Políticos Ingleses

Enquanto em França o absolutismo triunfava sem adversário, na Inglaterra ocorriam as revoluções burguesas, contra as
autoridades reis. A revolução puritana foi o primeiro movimento revolucionário (nos meados do séc. XVII), que
terminou com a deposição do Rei Carlos I, no entanto, o fim do absolutismo deu-se com o triunfo da Revolução
Gloriosa de 1688, com o rei Guilherme III, que permitiu a declaração de direitos individuais e concessão de poderes ao
parlamento britânico.

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Dos pensadores ingleses podemos destacar: Tomas Hobbes, John Locke, Berkeley, David Hume. Eles procuram
explicar o fenómeno político, distanciando- se das formulações religiosas, baseando-se assim, nas conclusões apenas
racionais.

2.3.2.1. Tomas Hobbes (1588-1679)

Oriundo de uma família pobre, e estudante e defensor forte do direito absoluto ameado pelas tendências liberais, e do
problema epistemológico e político.

Hobbes discute a sua doutrina política nas duas obras intituladas: De Cive e Leviatã. Ele afirma que o Estado é fruto de
um contrato social. Geralmente, o homem conhece dois estados: Estado da natureza ou natural e o Estado contratual.

No estado natural, os homens são iguais 13. Ele vive ameado pela insegurança, angústia e medo, pois é um Estado de
guerra, de anarquia, decorrentes dos interesses egoístas predominantes de cada um, tornando assim, o próprio homem
lobo do outro homem (homo homini lupus), gerando-se uma guerra de todos contra todos (bellum omnium contra
omnes).

O medo e desejo de paz levam o homem a fundar um Estado socialou contratual e a autoridade política, abdicando-se
dos seus direitos em favor dos do soberano que, por sua vez terá um poder absoluto. Cabe ao soberano julgar sobre o
bem e o mal, justo e o injusto, o cidadão não tem poder ou direito de discordar, porque tudo o que o soberano faz é o
resultado do investimento da autoridade consentida pelo súbdito.

2.3.2.2. John Locke (1632-1702)

Locke foi contemporânea de Hobbes, descendente de uma família burguesa comerciante. Ele tal como Hobbes,
interessou-se pela Gnosiologia e a política. A principal obra na qual Locke expõe o seu pensamento político, é
intitulada: Dos tratados sobre o Governo.

Locke distingue também dois Estados: Estado de Natureza e Estado Contratual. Para Locke os homens no Estado de
natureza são livres, iguais e independentes, ou seja, goza de uma liberdade total e, cada um é juiz de si própria,
contrário de ser um Estado “de guerra de todos contra todos” segundo Hobbes.

O Estado contratual é resultado de um consentimento livre dos cidadãos de se unir e formar uma sociedade civil, para
garantir a segurança ou a preservação, conforto e paz de todos; isto é, no Estado civil os direitos naturais inalienáveis do
ser humano, que são: direito à vida, à liberdade e à propriedade são protegidos pela lei e pela força política 14.

Portanto, os cidadãos, não renunciam todos os seus direitos, como assevera Hobbes, mas o de protecção. Assim é a
função da autoridade política garantir a preservação da propriedade privada, direito a vida do cidadão. Para Locke, o
cidadão tem o direito de eleger o soberano e de depô-lo se não procede segundo o consentimento da maioria, acima de
tudo tem também direito a resistência.

13
Essa igualdade diz respeito à capacidade e à esperança de atingir os seus fins.
14
Francisco C. Weffort, Os clássicos da política, p. 86

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Locke é considerado defensor de propriedade privada, divisão do poder político em (Legislativo ou supremo – que faz
as leis; Executivo – que faz cumprir as leis e Federativo – que cuida das relações exteriores: guerra, paz, alianças e
tratados)15 e a democracia moderna, (ele é liberalista). Ele estabelece ainda uma divisão nítida entre a sociedade política
e civil, entre o público e o privado, devendo ser regidos por leis diferentes. O dever do estado é de garantir e tutelar o
livre exercício da propriedade, da palavra e de iniciativa económica do cidadão, ou seja “todo o governo não possui
outra finalidade além da conservação da propriedade” 16 .

Em suma, os direitos naturais inalienáveis do indivíduo à vida, à liberdade e à propriedade constituem para Locke o
cerne do Estado civil e ele é considerado por isso o pai do individualismo liberal. As ideias de Locke influenciaram a
lutas das três colónias da América de Norte pelas suas independência ou a revolução norte-americana; Voltaire,
Montesquieu e, através deles, a grande revolução 1789, e a declaração de direitos do homem e do cidadão.

2.3.2.3. Charles de Montesquieu (1689-1755)

Montesquieu foi pensador de um saber enciclopédico e pai do constitucionalismo liberal moderno. A sua obra-prima é
intitulada: L’Esprit de Lois ou O espírito das leis. Nesta obra, ele discute sobre as leis naturais e positivas que regulam
a sociedade ou a vida social, além disso, analisa também, o problema das formas de governos e tipos de poderes.

Ele define a lei como relações indispensáveis emanadas da natureza das coisas ou por outras palavras são as “relações
necessárias que derivam da natureza das coisas” 17, ou seja, tudo (divindade, inteligências superiores, a matéria, o
homem, etc.) no mundo tem leis da qual é rígido. E entende a lei social como a relação intercorrente dos fenómenos
empíricos, não como um princípio racional do qual se deve deduzir um sistema de normas abstractas.

Montesquieu distingue dois tipos leis: Naturais ou de natureza e positivas.

a. As leis da natureza são quatro e, podem ser: 1) a lei de igualdade de todos os seres inferiores; 2) de procura de
alimentação; 3) de encanto entre seres de sexos diferentes e 4) a lei de desejo de viver em sociedade (exclusivo
para o homem; provem do conhecimento).
b. As leis positivas são feitas pelo próprio homem, para garantir a harmonia, segurança e paz social e, são três, a
saber: o direito das gentes, político e civil.
i. O direito das gentes – regula a relações harmónica entre as nações, baseando-se no princípio de que as
diversas devem fazer umas às outras, na paz, o maior bem e, na guerra o menor mal possível, sem
prejudicar os seus verdadeiros interesses.

ii. O direito politico – regula o relacionamento entre os governantes e os governados.

iii. O direito civil – é um conjunto de normas que regulam as relações entre os cidadãos.

Montesquieu, quanto às formas de governos, de acordo com a sua natureza e o seu princípio, distingue três,
nomeadamente: a democracia (o povo detém o poder), a monarquia (um só governo, através leis fixas e instituições) e
despotismo (governa a vontade um só), cada uma com leis distintas.

15
Ibidem, p. 87
16
Idem
17
Ibidem, p. 115

Por Docente EAHuo 11


A Filosofia Política

Quanto aos géneros de poderes, Montesquieu traça uma teoria, que ficou conhecida por Teoria de Separação de
Poderes, e distingue três poderes separados entre si, para permitir a consecução de uma liberdade política constitucional
através de uma divisão adequada de funções entre os órgãos do Estado (parlamento, governo e tribunais). Para,
Montesquieu, esta separação efectiva, é capaz de permitir uma independência entre si, no exercício da suas funções, e
uma real imparcialidade no exercício político do Estado.

2.3.2.4. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Ele nasce em genebra, na Suíça, e viveu a partir de 1742 em Paris, onde veio a ser um dos impulsionadores da
Revolução Francesa de 1789. Rousseau, com seu amigo, Diderot, iluminista, elabora uma enciclopédia, versado em
adversos ideais novos: a tolerância religiosa, confiança na razão livre, oposição à autoridade excessiva, naturalismo,
entusiasmo pelas técnicas e pelo progresso.

Rousseau discute o seu pensamento político nas suas duas obras-primas: Discurso Sobre a Desigualdade entre os
Homens e O Contrato Social.

Rousseau, tal como Hobbes e Locke, concebe dois Estados em que homem passa: o Estado de natureza e o Estado
contratual. Para ele o Estado natureza é de igualdade plena entre os homens. O homem por natureza é bom, e “nasce
livre, e por toda parte encontra-se aprisionado” 18. A igualdade do homem no Estado da natureza, desaparece com o
aparecimento da propriedade, que faz com que alguns sejam necessários para os outros.

Portanto, a propriedade introduz a desigualdade entre os homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o
fraco, o senhor e o escravo, culminando na proclamação da lei do mais forte, e o alargamento da corrupção e violência.
Assim sendo se torna necessário um contracto social em que o domínio de uma só vontade, ponha trégua à situação.

O contrato social para ser legítimo, deve ser fruto do consentimento de todos os membros da sociedade. E todos os
cidadãos renunciam a todos os seus direitos a favor da comunidade. Rousseau defende uma democracia directa, não
representativa por que a “vontade não se representa, no momento em que um povo se dá representantes, não é mais
livre, não mais existe”19. Para ele os cidadãos devem participar na tomada de decisões do seu Estado, embora ele, esteja
ciente que isto só é possível nas sociedades pequenas.

2.4. FILOSOFIA POLITICA NA ÉPOCA CONTEMPORÂNEA: Hegel, John Rawls e Karl Popper
2.4.1. Hegel e hegelianismo

Hegel é tão incontornável na filosofia política contemporânea, que ignorar o facto, é tornar difícil ou medíocre a
compreensão desta. A filosofia do Estado de Hegel centra-se na subordinação do indivíduo ao Estado.

Para ele, o Estado é a ordem suprema, sobre a qual a ideia absoluta norteia as outras inteligências e vontades, sob um
espírito ditatorial. No Estado hegeliano, o indivíduo é visto como um simples objecto ao serviço do Estado e não um
sujeito do seu destino, isto é, a vontade do Estado é superior à do indivíduo e este, é inibido automaticamente da sua
liberdade.
18
Ibidem, p. 194
19
Ibidem, p. 198

Por Docente EAHuo 12


A Filosofia Política

Por causa desta ideologia, Hegel é considerado o responsável pelo surgimento de regimes ditatoriais na Europa no séc.
XX e, por isso, foi severamente criticado ou contestado pelos liberais.

Após a morte de Hegel, seus seguidores dividiram-se em dois campos principais e contrários: os hegelianos ou ala da
direita20, que defendiam a ortodoxia evangélica e o conservadorismo político do período posterior à restauração
napoleónica e, os hegelianos ou ala da esquerda21, interpretavam Hegel em um sentido revolucionário, o que os levou a
se aterem ao ateísmo na religião e ao socialismo na política.

Estes dois grupos surgiram como resultado da interpretação do método dialéctico22 de Hegel, concretamente, sobre em
que representava o Estado prussiano, na progressão da história, sendo que, a fase de síntese, no método dialéctico de
Hegel, é da máxima realização da racionalidade do espírito absoluto.

Segundo alemão David Strauss, as duas alas, assim referidas no parlamento francês, (a esquerda de espírito reformista e
a direita de espírito reformista conservador) foram responsáveis pelo surgimento de dois tipos de partidos políticos:
socialistas ou comunistas e capitalistas, liberais, respectivamente.

2.4.2. John Rawls, Filosofo norte-americano

As obras centrais, nas quais Rawls estampa o seu pensamento político são: Uma Teoria de Justiça, de 1971 e O
liberalismo Politico23.

O pensamento político de Rawls espelha fundamentalmente as questões da justiça, igualdade/desigualdade e liberdade.

Para ele, a justiça deve ser a virtude primeira das instituições sociais e a base estrutural da sociedade. A justiça é a
capacidade concedida à pessoa para escolher os seus próprios fins, ou pode ser vista como equidade 24 e imparcialidade.

A justiça, em Rawls, encontra a sua efectivação nas liberdades individuais e na ausência de restrições para o benefício
de outrem. A sociedade justa é aquela em que se privilegia a igualdade de direitos entre os cidadãos.

Para Rawls a liberdade não deve ser limita senão pela sua própria liberdade, e salienta apenas dois casos: 1) onde a
redução de liberdade deve ser para o sistema total da liberdade que todos partilham; 2) onde uma desigualdade deve ser
aceitável se servir para beneficiar os cidadãos menos favorecidos.

Nisto, Rawls estabelece o princípio de diferença, com finalidade de limar as desigualdades, organizando-as, no âmbito
de beneficiarem a todos, principalmente os desfavorecidos. Por isso, para ele o estado deve dividir-se em quatro
departamentos:

20
Discípulos directos do filósofo na Universidade de Berlim
21
Chamados jovens hegelianos
22
O método dialéctico de Hegel consistia em compreender a história da filosofia e do mundo como uma progressão na qual cada movimento
sucessivo surge como solução das contradições inerentes ao movimento anterior. Por exemplo, a Revolução Francesa constitui, para Hegel, a
introdução da verdadeira liberdade nas sociedades ocidentais pela primeira vez na história escrita: onde há: tese (em nosso exemplo, a revolução),
antítese (o terror subsequente) e a síntese (o estado constitucional de cidadãos livres).
23
Que é a revisão da primeiradevido as diversas criticas dos libertários e comunitários.
24
Manifesta senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos

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A Filosofia Política

a. Departamento das atribuições – responsável pela economia, quanto aos sistemas de preços e de impedir
formação de posições dominantes excessivas no mercado.
b. Departamento da estabilização – responsável pelo aspecto laboral, concessão de emprego
c. Departamento das transferências sociais – responsável pela providência e suprimento das necessidades
sociais e intervir para assegurar o mínimo social
d. Departamento para a repartição – responsável pela fiscalização e ajustamentos necessários do direito de
propriedade, de modo a garantir a justiça a isto, inerente.

A teoria de justiça de Rawls, foi criticada por não ser possível executá-la sem violar o princípio da propriedade privada
adquirida de forma legítima. Como afirma Nozick, a teoria de Rawls 25 legitima o uso de alguns indivíduos e dos seus
bens como meios/em benefício dos menos dotados. Por isso, Rawls reconhecendo a inexequibilidade da sua teoria de
justiça, recomenda na sua nova teoria do liberalismo estabeleça uma base sobre a qual se possam erguer instituições
políticas liberais.

2.4.3. Karl Raimund Popper (1902-1994)

Popper filósofo, matemático, físico, psicólogo austríaco, descendente da linguagem dos judeus, e vítima de perseguição
nazi, escreveu várias obras, das quais só importa-nos destacar apenas duas, onde ele estampa o seu pensamento político:
Pobreza do Historicismo e A sociedade Aberta e os seus Inimigos.

A principal preocupação de Popper na política foi de analisar as ideologias de regimes totalitários, onde chegou a
conclusão de que estes regimes tiveram como seus idealizadores Platão, Hegel e Marx.

Popper critica o método dialéctico e, ataca e opõe-se a ideologia historicista que defendia o totalitarismo ou a sociedade
fechada, regida por leis ou normas imutáveis ou inflexíveis.

Popper defende sociedade aberta baseia-se no exercício crítico da razão humana, em que se estimulam instituições
democráticas e liberdades individuais ou dos indivíduos e dos grupos, tendo em vista a solução dos problemas sociais. E
o sufrágio universal é recomendável, porque não só promove o governo representativo, como também as instituições se
aperfeiçoam e passam a ter oportunidade de mudar o estado das coisas.

Popper é por uma sociedade mais racional, em que se maximiza as liberdades individuais em detrimento do poder
excessivo e burocrático do Estado 26. Para ele os governados devem ter a possibilidade efectiva de criticar os seus
governantes e de os substituir sem o derramamento de sangue, para evitar o totalitarismo. As revoluções violentas só
são aceitáveis quando for a única forma para depor um poder tirano.

3. FORMAS DE SISTEMAS POLÍTICOS

O sistema político é a maneira como uma comunidade se estrutura e exerce o poder. A estrutura do poder da
comunidade política é feita de duas formas: como regime político e como sistema de governo. Regime político – diz

25
“Os que foram favorecidos pela natureza … podem tirar benefício da sua sorte somente na condição de esta melhorar os menos bem dotados”
26
Diz Popper: “eu sou pela liberdade individual e odeio o excesso do poder do estado e a arrogância das burocracias”

Por Docente EAHuo 14


A Filosofia Política

respeito as formas de relacionamento entre o indivíduo e o Estado. O Sistema de governo – refere-se a estrutura
funcional de um poder político no exercício de sua função governamental.

O pensamento político clássico a monarquia (governo de um só) opõe à república (governo de um grupo ou assembleia).
Na actualidade, a distinção entre as duas formas de governo está assente ao modo como é designado o chefe do Estado.

Podemos entender por monarquia como um regime político em que a designação do chefe de Estado é por herança e
enquanto a República é um regime político em que a eleição do chefe do Estado é feita de diversas formas: por eleição
directa dos cidadãos ou pelos seus representantes, por golpe de estado.

3.1. Os regimes políticos

Estes podem ser classificados em ditatoriais e democráticos. Para Regimes ditatoriais denota a existência de uma
ideologia exclusiva ou liderante; um aparelho forte para impor a ideologia; e sem garantia efectiva dos direitos pessoais
dos cidadãos; não há participação destes na eleição dos governantes e; não há o controlo do exercício dos governantes.
E os regimes democráticos constituem o inverso dos anteriores.

Os regimes ditatoriais dividem-se em autoritários e totalitários; sendo deste modo, os autoritários assente num poder
politico fundamentado num de controlo sobre a sociedade civil, permitindo, não obstante a existência de uma brecha de
autonomia deste último, e ao passo que, nos totalitários o poder político se exerce subjugando a sociedade civil.

3.2. Os sistemas de governo

Para análise de sistema de governo é preciso ter se conta a existência de concentração e desconcentração de poderes,
isto é, a separação de poderes, a dependência, independência ou interdependência dos mesmos entre si. Os sistemas de
governo dividem-se em ditatoriais e democráticos.

3.2.1. Sistema de governo ditatorial

Para Sistema de governo ditatorial o poder é detido e exercido por uma pessoa ou conjunto de pessoas, sem
participação ou representação da pluralidade dos governados. E, podem ser: monocrático e autocrático. O sistema é
monocrático quando é detido e exercido por um órgão singular (monarquia absoluta de César) e autocrático quando o
poder é detido e exercido por um órgão colegial, por um grupo, ou por um partido político.

3.2.2. Sistema de governo democrático

Por Docente EAHuo 15


A Filosofia Política

O sistema de governo democrático é feito com base na participação dos governados no exercício do poder político e,
classifica-se em directo, semidirecto e representativo. O directo27a assembleia-geral exerce integralmente as suas
funções; semidirecto – exercido por uma órgão representativo da soberania popular, através de um referendo do povo, e
por fim; representativo o poder exercido em nome do povo através de órgão representativo.

3.2.2.1. Sistemas de governo democráticos representativos de concentração e de separação ou divisão de poderes 28.
a. Governos democráticos representativos de concentração de poderes
i. Convencionais – os poderes estão concentrados na assembleia representativa, por delegação do
povo, rejeitando-se formalmente o princípio de separação de poderes;
ii. Simples – o poder é detido simplesmente pelo chefe do estado.

b. Governos democráticos representativos de separação ou divisão de poderes


i. Parlamentar ou parlamentarista – o governo é politicamente responsável perante o parlamento e este
pode o demitir, e o papel do estado é quase nulo.
ii. Presidencial ou presidencialista – o órgão decisivo do governo é o chefe do Estado.
iii. Semipre1sidencial ou semipresidencialista – o chefe do estado tem a possibilidade de exercer poderes
significativos e o governo responde politicamente do parlamento.

A FILOSOFIA AFRICANA

27
Aplicável em pequenas, Cidades-Estado, exemplo da democracia ateniense
28
Notar que, existem a democracia liberal (liberdade individual); democracia popular (própria dos sistemas comunistas que privilegia mais a
igualdade dos cidadãos, e esta reveste-se de um espírito de ditadura – imposição pela força do poder)

Por Docente EAHuo 16


A Filosofia Política

1. A contextualização do debate da filosofia Africana

Antes da obra do Placides Tempels “Filosofia Bantu”, de 1945, o africano era considerada incapaz de entrar
na arena de debate filosófico. Esta ideia pessimista sobre o africano resulta da visão nutrida pelo europeu
sobre o africano, o que Cheik Anta Diop chama de “O Mito da inferioridade do negro”. Este complexo de
inferioridade do negro teve vários factores, a destacar:

a. As viagens de descobrimentos

Através destas viagens, os europeus entraram em contactos com vários povos, os quais no olhar dos europeus
eram considerados de cultura e civilização atrasadas em comparação com a cultura ocidental;

b. A dominação colonial

Segundo Ali Mazrui a humilhação negra através da escravatura, dominação colonial e descriminação serviu
de base para a promoção da inferioridade do negro em relação branco.

Os europeus como forma de autojustificarem-se recorreram a teologia cristã e ciência da época para defender
a inferioridade do negro em relação a superioridade do homem branco. Na visão europeia, o africano é
desprovido da capacidade racional ou reflexiva, por isso, é incapaz de aceder à reflexão filosófica.

i. A teologia cristã – tomando como base o texto bíblico de Géneses 9:20-27, defende que o povo negro
é descendente de Cam, filho de Noé amaldiçoado e por isso, é o símbolo da maldição e passou ser
servo dos seus irmãos.
ii. A ciência da época – através desta, o europeu coloca o negro no grau mais baixo no nível da evolução
da espécie humana, cujo auge pertence ao europeu.

c. No âmbito filosófico

Na sua teoria sobre raças, Imanuel Kant distingue quatro raças dispostas segundo o grau de complexo de
inferioridade e coloca a raça negra no segundo grau após a raça dos índios, em relação a amarela e branca.

Por Docente EAHuo 17


A Filosofia Política

Lévy Brhul (1857-1939), antropólogo francês, considera o africano como um povo com mentalidade
primitiva, pré-lógica e sem conceitos (e sendo a filosofia a discussão de conceitos, logo, é impossível o
africano fazer a filosofia);

Para Hegel, filósofo alemão, o negro é inocente, não conhece a razão: “o africano (subsariano) não pensa, não
reflecte, não raciocina sem necessidade”29. O africano é um povo sem história.

Voltaire afirma que o povo mais elevado é o francês e o mais baixo é o africano. Para Rousseau o africano é o
bom selvagem. Segundo Montesquieu o africano é um povo sem leis. Os antropólogos Morgan e Taylor
afirmam que a África é uma sociedade morta.

Para Henry Maurier a África não tem filosofia porque não devem ser considerada filosofia as tradições, as
narrativas e costumes de um povo - o que é comum em África; a filosofia é ciência distintiva, reflexiva,
racional, coerente, com regras universais.

Portanto, segundo Padmore este facto provocou uma crise no pensamento, na palavra e no agir do homem
africano.

O ocidentalismo promovia directa ou indirectamente uma antropologia triunfalista cujas teorias e doutrinas
exaltavam uma classe que se autoproclamava herdeira exclusiva da humanidade inteira. Mas numa outra
vertente verifica-se o empenho das ciências sociais e humanas de adoptar uma nova visão diferente em
relação aos não-ocidentais: afirmando que toda cultura representa uma determinada civilização,
independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e económica.

A existência de filósofos africanos é pertinente para proteger o futuro do homem africano, reabilitar a imagem
do homem negro; estimulando a sua auto-estima e mostrando-lhe que ele é um homem igual ao branco.

É dentro deste aspecto, que levanta-se o debate sobre A EXISTÊNCIA OU NÃO DA FILOSOFIA
AFRICANA. De notar que a filosofia africana vem para recuperar a auto-estima, o estatuto e o valor de si que
o homem negro perdeu pelo tratamento esclavagista perpetuado pelo branco durante a colonização.

29
A razão na história

Por Docente EAHuo 18


A Filosofia Política

2. Reacções à atitude ocidental


a) Antropólogos ocidentais (ex. de Eduard Taylor e Lewis Morgan), através de conceitos de ideias
universais que são a característica distintiva da natureza humana e da razão ser igual em todos os
homens, começou a colocar em causa a ideia de africano não poder aceder à reflexão filosófica.

b) A reacção dos próprios africanos é verificada nas revoltas africanas contra a escravatura e a
ocupação efectiva colonial; no nacionalismo africano e nas consequentes lutas pelas independências
nacionais; nos movimentos de mobilização contra o racismo nos EUA (e na África de sul, o
Aparthed), dirigidos por Booker Washington, W. Du Bois, Marcus Garvey e; no surgimento da
Negritude através de Aimé Cesaire, Leo Damas e Léopold Sidar Senghor com o objectivo de exaltar a
cultura africana.

3. As correntes da filosofia

Antes de entrarmos no cerne de debate sobre as correntes da filosofia africana, é pertinente analisar a questão
de estatuto da oralidade tradicional africana dentro da filosofia africana.

a. Estatuto da oralidade tradicional africana e a filosofia africana

A questão que se pretende resolver aqui é a seguinte: podem ser considerados filosóficos (ou filosofia) os
provérbios, contos tradicionais, dizeres dos sábios africanos? Existem duas escolas ou alas de filósofos actuais
que procuram dar solução a este problema, a saber:

i. Escola de John Mbiti

Esta escola sustenta que a filosofia africana é um pensamento especulativo que subjaz nos provérbios, nas
máximas, nos costumes, herdados dos antepassados através da tradição oral. O filósofo africano tem como
função a colecção, interpretação e difusão dos mesmos.

O principal defensor desta escola é John Mbiti, autor da obra “African Religions and Philosophy, 1969”. Para
ele, implicitamente, a filosofia africana é uma acção colectiva e comunal e não uma actividade individual.

Por Docente EAHuo 19


A Filosofia Política

ii. Escola de Paulin Hountondji

Esta por sua vez, afirma que actualmente a filosofia africana é o resultante de um pensamento abstracto de
pensadores africanos individuais sobre as questões tanto tradicionais como modernos, ou seja, ela ocupa-se
também de desenvolvimentos modernos no conhecimento e na reflexão. A filosofia africana é uma reflexão
racional e crítica sobre os problemas existenciais da vida humana e do seu ambiente. Por isso, não se pode
considerar filosofia o conjunto de mito e provérbios.

Esta escola tem como principal defensor Paulin Hountondji. Na sua obra “African Philosophy, myth and
Reality, 1974”, Hountondji dá maior ênfase à escrita para criação de uma tradição filosófica moderna
africana. A filosofia africana deve ser um tipo de literatura produzida por africanos e que verse sobre os
problemas africanos.

Por outro lado, odera Oruka defende que a filosofia africana é um produto dos pensadores africanos, mas sem
excluir a participação de pensadores não africanos. Oruka referindo-se aos sábios africanos vivos afirma o
seguinte: estes sábios, alguns dos quais estão destinados a converter-se em filósofos, tem a sua própria
racionalidade elaborada para sustentar as suas doutrinas e seus pontos de vista, embora sem escrita.

Para kwasi Wiredu, um filósofo queniano, o questionamento sobre a existência da filosofia africana devia ser
antes virada à existência da filosofia africana tradicional porque segundo ele o pensamento tradicional
africano contém elementos filósofos, porque é a resposta aos problemas fundamentais do Homem e do
mundo.

2.1. As principais correntes da filosofia africana

As correntes da filosofia africana mais destacadas são quatro, a saber: etnofilosofia, filosofia profissional ou
crítica, filosofia política e filosofia cultural.

a. A etnofilosofia

Por Docente EAHuo 20


A Filosofia Política

A etnofilosofia é uma corrente de pensamento africano que defende que as tradições africanas espelham a
racionalidade do africano, podendo estas (tradições: mitos, provérbios, costumes, etc) ser consideradas a
filosofia africana.

A presente corrente procura mostrar que o povo africano possui um pensar próprio, uma sabedoria por meio
da qual orienta a sua vida e, trata-se de um grito de africanos pelo reconhecimento do negro como homem.

Os etnofilósofos, assim chamados, defendem que toda a filosofia é uma filosofia cultural, isto é, tem como a
base a cultura.

Os principais defensores desta corrente são: Placide Tempels, Anyanw, Alexis Kagame e outros. Para
Tempels o africano possui uma lógica inferior da do europeu. Anynw afirma que a missão do filósofo africano
é de compreender e explicar os princípios da cultura africana.

Em suma, a partir desta corrente chega-se a uma conclusão de que existe uma filosofia do negro, só que esta é
diferente na forma e no conteúdo da filosofia europeia. Esta corrente contribuiu para redefinição do
relacionamento entre o ocidente e o povo negro.

b. Filosofia profissional e crítica à etnofilosofia

Os filósofos críticos da etnofilosofia recusam-se a aceitar a abordagem etnofilosófica como sendo filosofia
africana porque no seu entender reforça a ideia de diferenças entre o africanos e europeus (forma inferior de
fazer filosofia).

A filosofia africana deve ser um projecto de crítica e reflexão de africanos sobre os problemas africanos.
Hountondji um dos grandes críticos da etnofilosofia, na sua obra “African Philosophy, mythe and Reality de
1974” afirma o seguinte:

 A filosofia sendo uma disciplina científica, teorética e individual, linguística e álgebra, não pode ser
igualada ou substituída por crenças populares, costumes e comportamentos mitológicos de um povo. A
filosofia deve ser diferente de mito e religião tradicional; porque ela nasce da ruptura ou oposição ao
mito e às religiões tradicionais (dogmatismo e conservadorismo);

Por Docente EAHuo 21


A Filosofia Política

 A ideia etnofilosófica sufoca a capacidade criativa dos africanos e coloca-os numa posição de simples
activistas, propagadores das tradições culturais e do passado, em vez de ser pensadores originais que
confrontem criativamente as suas ideias com o presente e o futuro;
 Portanto, a africanidade da filosofia vem de uma actividade filosófica de discussão e crítica dos
filósofos africanos, ou seja, consiste na pertença dos filósofos ao continente africano e nos debates
entre filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de forma crítica e criadora.

c. Filosofia política

A filosofia política africana é o conjunto de pensamentos relativos à emancipação e ao reconhecimento do


negro dentro e fora do continente africano. O principal objectivo da filosofia política africana é a libertação
física e psíquica do negro do jugo colonial, ou seja, é uma filosofia de libertação ou da emancipação do negro
da dominação política, económica, social e cultural.

Um dos aspectos fundamentais desta filosofia é de ter a sua origem na diáspora (EUA). E as primeiras formas
de luta de negro pela sua liberdade apresentam-se em três linhas ou correntes:

i. A primeira linha defendida por Booker Washington

Para Washington a melhor forma de combater o racismo branco e garantir a emancipação política dos negros
residia na emancipação económica. O negro só acumulando riquezas conquistaria o respeito e reconhecimento
do branco. Para tal, o negro precisava de uma educação profissional e assumir atitude de humildade aceitando
trabalhos humildes até ganhar confiança do branco e possuir riqueza. É dele a expressão: “unidos como uma
mão e separados socialmente como dedos de uma mão”. Esta tese Washington ficou conhecida por
segregacionista e acomodacionista

ii. A segunda linha defendida por William Du Bois

Du Bois, o primeiro negro universitário, afirmava não ser o problema de negro a questão económica mas a
politica. A liberdade do negro passa por uma educação superior do próprio Negro. Ele defendia que devia

Por Docente EAHuo 22


A Filosofia Política

haver uma elite ou uma camada intelectual negra que garanta a governação política efectiva dos outros, isto é,
na óptica de Du Bois pelo menos a décima parte da população negra devia ter a formação superior.

iii. A terceira linha defendida por Marcus Garvey, jamaicano

Segundo Garvey a libertação da raça negra devia ser feita pelo próprio negro (negro autêntico), por um lado, e
a plena liberdade do negro só podia ser possível na sua terra natal, em África, por outro lado. Para tal, Garvey
funda um movimento de mobilização de negros para o regresso à Africa, conhecido por: “Back Star Line” que
através de um navio do mesmo nome levava os negros de EUA para Africa. Portanto, é dele a expressão
“Back to Africa”. Garvey também foi fundador de um jornal conhecido por “Mundo de Negro”.

Portanto foram criados vários movimentos para alavancar a emancipação do negro como: Pan-africanismo e a
Negritude e outros e, neste ambiente de anseio pela liberdade que Noémia de Sousa escreve o célebre poema:
“Let my people go”.

a. O pan-africanismo

O Pan-africanismo nasce como manifestação de solidariedade entre os africanos e os povos de descendência


africana, com objectivo de criar uma unidade dos Estados Africanos.

A primeira conferência pan-africana foi realizada em 1900, em Londres, dirigida por Du Bois onde afirmou:
“naturalmente a África é minha pátria”. A pretensão desta declaração era de incentivar o africano a conquistar
o direito da sua própria terra e da sua personalidade.

A filosofia política africana engloba pensadores africanos: Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Kenneth
Kaunda e Albert Luthuli. Todos estes convergem-se em considerar o socialismo como o regime ideal para
emancipação do negro, como diz Nkrumah: “África deve unir-se”. Para eles o socialismo constitui o ser do
africano.

Por isso, na década de 1960, nasceram dois grupos: um de Monrovia (California EUA) que defendia a criação
de Estados Unidos de África e outro de CasaBlanca (Marrocos) a criação de nações unidas e deste fundou-se a
OUA – Organização de Unidade Africana, aos 25 de Maio 1963, em Addis Abeba, com assinatura de 32

Por Docente EAHuo 23


A Filosofia Política

governos de países africanos independentes. A criacao de OUA era para promover a unidade e solidariedade
entre os Estados africanos…

Os líderes africanos para promoverem o desenvolvimento económico e as boas condições de vida humana aos
povos nativos idealizaram projectos de criação de algumas instituições tais: UA (união africana, idealizado
pelo Kwame Nkrumah), SADC e NEPAD (Nova pareceria para o Desenvolvimento de África).

b. Renascimento negro (Black Renaissance) e Renascimento Africano

O renascimento negro vai despontar-se entre os anos 1920-40, em Harlen, a maior cidade dos EUA, onde
havia a maior concentração negreira. Este movimento teve como fundador Du Bois e era o seu papel incutir
no negro a ideia de ser igual ao branco e que o negro não devia continuar pacífico à descriminação racial e ao
tratamento desumano perpetuado pelo homem branco.

Segundo Du Bois os brancos deviam saber que em cada acometimento ao negro devia ser restituído em dobro
e por um negro morto em retribuição deviam ser mortos dois brancos.

O renascimento negro e tanto africano visavam defender e proteger o negro e a personalidade do africano.

Segundo E. Blyden a raça negra tem uma história e uma cultura das quais deve se orgulhar. Passo a citação:
“honrai e amai a vossa raça, se não fordes vos mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não havereis
deixando nada no mundo. Não tereis satisfação, utilidade, nada que atraia ou fascine os homens, por que com
a supressão da vossa individualidade havereis perdido o vosso carácter distintivo. Vereis então, que ter
abdicado da vossa personalidade significaria ter abdicado da missão e da glória particular à qual sois
chamados; seria de facto renunciar à vossa divina individualidade, o que seria o pior suicídios”

A conservação do património cultural africana é fundamental, como diz Nkrumah o homem africano é um ser
espiritual dotado de dignidade, integridade e valor intrínseco.

d. A filosofia cultural (Negritude)

Por Docente EAHuo 24


A Filosofia Política

A negritude possui o mesmo espírito de pan-africanismo de união e solidariedade entre os africanos ou


negros, diferindo-se no aspecto deste, revestir-se de um carácter cultural e literário.

Como pan-africanismo, a negritude nasce fora de África, na França, acerca de 1930, com Aimé Cesaire, quem
inventou o próprio termo “negritude”. Cesaire, Senghor e outros publicaram uma revista que exalta a cultura
do homem negro intitulada: “Présence Africaine”.

O surgimento da Negritude teve sua base numa corrente relativista que em defesa da minoria negra americana
contra o imperialismo, promovia os ideais de respeito pelas diferenças, tolerância, crença na pluralidade de
valores e na aceitação da diversidade cultural.

O projecto da Negritude consistia em três conceitos: identidade, fidelidade (negro - terra-mãe) e solidariedade.
Portanto, a negritude foi um movimento marcadamente cultural, literário e artístico, protestante contra a
atitude colonialista e promovendo a luta pela emancipação do povo negro. Entre vários defensores deste,
destacamos: Aimé Cesaire, Leopold S. Senghor e Leo Damas.

Por Docente EAHuo 25


A Filosofia Política

3. A METAFÍSICA

A noção e objecto da ontologia ou metafísica em geral

A palavra ontologia deriva de dois termos gregos onto que significa ser, ente e lógia/logos que significa saber,
doutrina, estudo, investigação. O que nos levaria a entender a ontologia como estudo do ser.

Ontologia como metafísica em geral é um ramo de filosofia que ocupa-se dos problemas relativos ao ser
enquanto ser, ou seja, do ser na sua generalidade e das suas qualidades ou propriedades enquanto tal. O termo
ontologia foi cunhado por Aristóteles no seu livro: “a metafísica”.

O termo, metafísica, tem uma origem grega composta por duas partes: meta – além de…, depois de… e física
– aspectos físicos. Portanto etimologicamente, a metafísica é uma disciplina que estuda os aspectos ultra-
sensíveis das coisas; é a ciência do ser; ela procura dar explicações sobre a essência dos seres e a razão de
estar no mundo – sentido do ser.

O objecto de estudo

A metafísica estuda o ser e o ente enquanto ser e as propriedades que acompanham necessariamente o ser.

Aristóteles é considerado o grande sistematizador da metafísica, a define como estudo do ser enquanto ser; a
filosofia primeira.

As subdivisões da metafísica

1. Metafísica geral ou ontologia – corresponde ao estudo do ser em geral


2. Metafísica Especial – pode ser:
a. Teologia racional ou teodiceia que dedica-se ao estudo do ser necessário
b. Cosmologia (Filosofia da natureza) que preocupa-se com o estudo do universo material
c. Antropologia filosófica que dedica-se ao estudo do homem e o seu sentido existencial.

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A Filosofia Política

A ontologia ou metafísica defere-se dos outros saberes pelo facto de toda e qualquer realidade ser conhecido
directo ou indirectamente pelo pensamento ou por intuição intelectual, sem passar pela sensação, imaginação
e memória.

A definição do ser

O ser é tudo quanto existe independentemente de modo como existe, ou pode ser descrito como oposição ao
nada.

As categorias do ser: substancia e acidente

Entende-se por categorias do ser o modo como o ser apresenta-se, ou seja, refere-se aos géneros supremos ou
divisões originários do ser. Segundo Aristóteles o ser possui dez categorias: a primeira é a substância e as
restantes noves acidentes.

Entende-se por substância aquilo que é em si e por si, ou o substrato a partir do qual encontramos as
qualidades ou acidentes. Em outras palavras, a substância é a síntese da matéria e forma, a concretização da
essência.

Acidente é aquilo que acompanha a substância, mas não lhe é indispensável. Aquilo que ocorre ou acontece
que para ser, necessita de apoiar-se numa substância. Acidente é o predicado de uma determinada substância.
Ex. João é inteligente

Os acidentes aristotélicos são nove, a destacar: qualidade, quantidade, relação, tempo, lugar, acção,
estado, posição e paixão.

Acto e potência

O Acto (entelequia-aristóteles) é a coisa acabada, realização, perfeição que actua ou actuada; materialização
da potência.

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A Potência é a capacidade ou possibilidade que a matéria tem de vir a ser algo em acto; é o carácter dinâmico
da matéria que lhe permite possuir um determinado modo de ser e que lhe confere a capacidade do devir.

A potência pode ser activa ou passiva que é a possibilidade de produzir uma mudança ou de sofrê-la; pode ser
ainda, desejo de realização.

Todas as coisas são potência e acto, porque alguns tendem a ser outras (ex. semente) e outra estão acabadas,
realizadas, isto é, são em simultâneo potência e acto, excepto o acto puro, o sumo-bem (segundo Aristóteles)
que é sempre igual a si (Aquino o chama Deus: o Acto puro).

O movimento é o elemento através do qual a matéria passa da potência para o acto, da privação à posse. A
potência e acto são dois conceitos correlativos, pois enquanto a potência explica a multiplicidade, mudança, a
possibilidade de matéria vir-a-ser o que ainda não é, o acto explica a unidade do ser e sua real existência.

A essência e existência

A essência e a existência são dois conceitos com significados ontológicos e implicativos, tal como a
substância e o acidente.

A essência é tudo aquilo que faz com que o ser seja o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual o ser
não pode ser reconhecido como tal. Ex. Imagine um livro sem palavras.

A existência precede e governa a essência. Ela é a actualização da essência; é a realidade, a substância em


acto.

A essência pode ser vista como substância segunda e a existência a substância primeira, pois é na existência
que a essência do ser manifesta-se e se revela enquanto realidade. Existir significa sair, manifestar-se e
revelar-se através da essência. A filosofia clássica afirma que “a essência nada é sem existência e a existência
não é sem essência”. Existem duas correntes que discutem sobre este assunto, a saber:

1. Essencialismo – afirma que a essência precede a existência ou defende a primazia da essência sobre a
existência. Esta corrente é defendida por Platão a partir da doutrina do mundo das ideias, onde para
ele, as realidades presentes (árvores, animais, flores…) são apenas cópias do que está no perurânio,
por isso, as essências (ideias) são antes das coisas sensíveis (cópias).

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2. Existencialismo – defende a precedência ou a primazia da existência sobre a essência. Esta corrente


teve como principal expoente, Jean-Paul Sartre que afirma que o homem constrói a sua essência
através da liberdade e acção.

O existencialismo apresenta-se sob alguns aspectos, a destacar:

a. A valorização do indivíduo como algo irredutível – o homem existe como indivíduo primeiro, na
sua singularidade, unicidade e irrepetibilidade e, só mais tarde, torna-se em aquilo ou em outra coisa
(ser e o nada).
b. A valorização da liberdade do homem enquanto ser situado no universo – considerando a essência
– o pensamento e a existência a manifestação do ser, a liberdade que afirma no ser é contra todas as
limitações imposta pela natureza. Por isso, para Sartre “o homem está condenado a ser livre”, livre de
tornar-se o que quiser ser. O ser homem significa ser capaz de construir a sua personalidade à medida
que vai buscando valores por si mesmo escolhidos e tomados como paradigmáticos.

A cadeia aristotélica das causas

Para Aristóteles, todos os seres criados são contingentes não têm a razão de ser em si mesmos; possuem uma
capacidade de devir.

Em grego, a termo causa significa, não só, o porque de alguma coisa, mas também o quê e o como uma coisa
é o que ela é. Segundo Aristóteles existem quatro causas primeiras do ser:

a) Causa material – que é aquilo do qual é feita alguma coisa;


b) Causa formal – explica a forma que uma essência possui. Ex. Rio e mar são diferentes formas de
água; a mesa a forma assumida pela matéria – madeira.
c) Causa eficiente – aquilo que explica como a matéria recebe uma forma para constituir uma essência.
Ex. O carpinteiro é a causa eficiente que faz a madeira receber a forma da mesa;
d) Causa final – aquilo que dá o motivo, a razão para alguma coisa existir e ser tal como ela é. Ex. O
bem comum é a causa final da política.

As cinco vias da prova de existência de Deus

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Aliado as causas primeiras de ser aristotélico, Tomas de Aquino, Medievo, na sua obra “summa Theologiae”,
apresenta as cinco vias da prova de existência de Deus, a saber:

1. Motor imóvel – o movimento do mundo só é explicado pela existência de um primeiro motor imóvel;
2. Causa primeira - uma série de causas eficientes no mundo devem conduzir-nos à uma causa sem
causa – a causa incausada;
3. Ser necessário – os seres contingentes e corruptíveis (mundanos) devem depender de um ser
necessário independente e incorruptível;
4. Graus de perfeição – os diversos graus de realidade e bondade do mundo devem ser aproximações a
um máximo grau de realidade e bondade subsistentes; ou os seres mais ou menos perfeitos supõem um
ser maximamente perfeito: no mundo existe seres mais ou menos perfeitos, logo tem de existir um ser
maximamente perfeito;
5. Ordem ou inteligência ordenadora – a teleologia normal de agentes não conscientes no universo
implica a existência de um orientador universal inteligente.

A metafísica e o fim último do homem

Segundo Aristóteles na sua obra “ética nicómaco” toda a acção humana tem um fim. Esse fim é o bem – o
bem supremo que é a felicidade.

Portanto, o fim último da existência humana é ser feliz – a felicidade. A felicidade é o bem supremo por
excelência ao qual se dirige toda a actividade humana.

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